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Como Fazer Uma Anamnese
Como Fazer Uma Anamnese
Anamnese (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) é uma entrevista realizada
por um profissional da área da saúde com um paciente, que tem a intenção de ser um
ponto inicial no diagnóstico de uma doença. Em outras palavras, é uma entrevista que
busca relembrar todos os fatos que se relacionam com a doença e à pessoa doente.
Uma anamnese, como qualquer outro tipo de entrevista, possui formas ou técnicas
corretas de serem aplicadas. Ao seguir as técnicas pode-se aproveitar ao máximo o
tempo disponível para o atendimento, o que produz um diagnóstico seguro e um
tratamento correto. Sabe-se hoje que a anamnese, quando bem conduzida, é responsável
por 85% do diagnóstico na clínica médica, liberando 10% para o exame clínico (físico)
e apenas 5% para os exames laboratoriais ou complementares.
Elementos da Anamnese
Identificação: A identificação é o início do relacionamento com o paciente. Adquire-se
o nome, idade, sexo, cor (raça), estado civil, profissão atual, profissão anterior, local de
trabalho, naturalidade, nacionalidade, residência atual e residência anterior.
História da doença atual (HDA): No histórico da doença atual é registrado tudo que se
relaciona quanto à doença atual: sintomatologia, época de início, história da evolução da
doença, entre outros. Em caso de dor, deve-se caracterizá-la por completo.
Histórico familiar (HF): Neste histórico é perguntado ao paciente sobre sua família e
suas condições de trabalho e vida. Procura-se alguma relação de hereditariedade das
doenças.
Caracterização da dor
As principais perguntas que se referem à dor, nos dão bons indicativos para continuação
da anamnese. São elas:
• E que piora?
Questionário
• Perguntas Abertas - As do tipo abertas devem ser feitas de tal maneira que o
paciente se sinta livre para expressar-se, sem que haja nem um tipo de restrição.
Ex: "O que o sr. está sentindo?"
Objetivos da Anamnese
OBJETIVIDADE
Pcte: Não tenho passado bem neste dois últimos anos. Nada parece estar
funcionando direito.
Pcte: Minhas pernas. Tenho dores constantes nas minhas pernas. Esta tão ruim
que eu não consigo dormir.
Dr: E a falta de ar ?
Pcte: Oh! Tudo bem. Não tenho tido crises. Estou sentindo dores nas minhas
pernas.
Pcte: Não
Pcte: Bem, eu conseguia fazer tudo até 2 anos atrás, mas agora mal consigo
caminhar dois quarteirões.
Pcte: Elas estão um pouco inchadas nestas últimas 2 ou 3 semanas, mas a dor
continua estando ou não inchadas.
Dr: Tudo bem! Agora vou perguntar ao Sr. algumas questões a respeito da sua
saúde geral...
O médico desta pequena história esta cometendo um erro importante ao ignorar a dor
que o paciente sente nas pernas. O médico da nossa história não esta realmente ouvindo
o paciente. O fato de saber que o paciente é portador de DPOC fez com que dirigisse o
interrogatório para o aparelho respiratório, o que representa uma atitude anti-científica
podendo levar a um erro diagnóstico. Além do mais o paciente se sentirá ignorado,
podendo negar dados importantes para o estabelecimento do diagnóstico.
Pcte: Eu não estou muito bem há cerca de 2 anos. Nada parece funcionar bem.
Pcte: Bem, elas estão tão ruins que não consigo caminhar mais que um
quarteirão.
Pcte: Sim. Elas melhoram quando paro, mas a dor não desaparece totalmente.
Mesmo a noite, quando estou dormindo, as dores me acordam.
O paciente aqui esta fornecendo uma história consistente com doença vascular
periférica e o médico esta fornecendo a devida atenção. Ser objetivo requer, em
primeiro lugar, ouvir efetivamente o que o paciente esta dizendo e, em segundo lugar,
fornecer o retorno ao paciente; em outras palavras deixar o paciente saber que você esta
ouvindo o que ele esta dizendo
INTERPRETAÇÃO E OBSERVAÇÃO
Objetividade significa não somente separar a nossa interpretação do dado objetivo, mas
também separar a interpretação do paciente. É importante lembrarmos este ponto
quando o paciente chega contando-nos que a sua úlcera esta doendo ou que seu coração
esta causando sérios problemas à sua vida. Nesta situação o paciente esta interpretando
certos sintomas ou reportando um diagnóstico ao invés de fornecer o dado objetivo.
Exemplo:
Pcte: É uma dor em aperto aqui no meio do tórax e sobe queimando até a minha
garganta. Às vezes dói um pouco no braço e nas costas.
Dr: Quando a dor aparece ?
Pcte: Aparece nos mais diferentes momentos e situações. Algumas vezes aparece
no meio da noite.
Mesmo tendo em vista que a paciente nunca apresentou dor torácica aos exercícios, foi
realizado investigação cardiológica, completa incluíndo a angiografia coronariana.
Apesar de todos os exames terem sido negativos, a paciente recebeu o diagnóstico de
doença arterial coronariana. Posteriormente, outro médico foi consultado e tendo
achado que a história da paciente não era compatível com o diagnóstico, realizou
investigação radiológica do esôfago e estomago, tendo sido estabelecido a existência de
refluxo e espasmo esofagiano. Após 6 anos de convivência com o diagnóstico de
insuficiência coronariana, a paciente não acreditou que nada tinha no coroção e não
conseguiu ser reabilidada para uma vida ativa.
PRECISÃO
SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE
A história clínica obtida com objetividade e precisão fornece um conjunto de dados que
permitem delinear um eficiente (e pequeno) plano diagnóstico.
REPRODUTIBILIDADE
RESPEITO
1. Apresentar-se com clareza e deixar claro por qual motivo você esta ali.
2. Não demonstre intimidade que você não tem com o paciente. Utilize sempre o
nome do paciente e nunca utilize apelidos genéricos como "tia", "mãe", "avó"
etc.
3. Garanta o conforto e a privacidade do paciente.
4. Sente-se próximo, mas não excessivamente, e no mesmo nível do paciente.
Evite a presença de barreira física entre você o paciente (mesas, macas, etc.)
5. Avise sempre que for realizar uma mudança na condução da entrevista ou uma
manobra nova ou dolorosa no exame físico.
6. Responda ao paciente de forma a deixar registrado que você o esta ouvindo
atentamente.
SINCERIDADE
Significa não pretender ser alguém ou algo diferente daquilo que você é. Significa ser
exatamente quem você é pessoal e profissionalmente. O estudante deve sempre se
apresentar como tal e nunca pretender assumir o papel do médico que ele ainda não é.
EMPATIA
NÍVEIS DE RESPOSTA
Para que o médico mantenha a comunicação empática com o paciente é importante que
as respostas, principalmente aos sentimentos que o paciente expõe, sejam adequadas.
Quatro categorias ou níveis de resposta devem ser consideradas:
1. Ignorando – quando o médico não ouve o que o paciente disse ou age como se
não tivesse ouvido. Não existe resposta aos sintomas ou sentimentos expostos
pelo paciente.
2. Minimizando – o médico responde aos sintomas ou sentimentos expostos pelo
paciente diminuindo a sua importância ou intensidade.
3. Intercambiando – o médico reconhece os sintomas e sentimentos expressos
pelo paciente de forma adequada e responde no mesmo nível de intensidade.
A resposta de intercâmbio é um objetivo importante no processo de obtenção
da história clínica. Em termos práticos significa a repetição das palavras do
próprio paciente de forma a demonstrar que o médico esta entendendo o que
o paciente esta tentando dizer.
4. Adicionando – o médico reconhece o que o paciente esta tentando expressar e
também aquilo que o paciente pode estar sentindo mas não consegue
expressar
O INÍCIO DA ENTREVISTA
O AMBIENTE
Hospital – O paciente hospitalizado não esta no seu habitat natural. Encontra-se doente,
afastado dos seus entes queridos, confinado em um ambiente hostil, com pessoas
desconhecidas e não preocupadas com a sua individualidade. Neste ambiente o paciente
pode apresentar-se hostil e extremamente ansioso.
Para superar os aspectos negativos relacionados à doença, o médico tem que tomar
algumas providências.
A ANAMNESE
1. Identificação
2. Queixa Principal ou Queixa e Duração (QD)
3. História da Moléstia Atual (HMA)
4. Interrogatório sobre os Diferentes Aparelhos (IDA) ou Interrogatório
Sintomatológico ou Anamnese Especial
5. Antecedentes Pessoais
6. Antecedente Familiares
1. IDENTIFICAÇÃO
Nome
Idade
Sexo
Cor (raça)
Estado civil
Profissão
Local de trabalho
Naturalidade
Nacionalidade
Data do atendimento
Na maior parte das vezes estas perguntas são suficientes para identificar o ponto
principal do problema do paciente. Algumas vezes isto não ocorre, podendo o motivo
referido para a consulta não ser a razão real que motivou o paciente. Esta situação é
freqüente em pacientes que têm doenças crônicas, pessoas com sintomas vagos e
recorrentes e pessoas que dizem que estão interessadas em um "check-up". Alvan
Feinstein propôs o termo "estímulo iatrotrópico" (que dirige o paciente ao médico) para
designar o motivo de o paciente ter procurado ajuda médica neste momento e não ontem
ou amanhã. O estímulo iatrotrópico pode ser identificado com a pergunta: porque
agora ?
O foco do médico
O HMA nõa é o registro puro e direto das informações fornecidas pelo paciente.
Estas informações precisam ser elaboradas ou digeridas pelo médico que as
purifica dos elementos inúteis.
SINAIS E SINTOMAS
As palavras usadas pelos pacientes para descrever seus sintomas não são
inequívocas. A mesma palavra pode descrever sensações diferentes. A palavra
tontura, p.ex., pode ser o descritor de pelo menos 4 tipos diferentes de
sensações:
em Situações Especiais
O paciente Adolescente
" Olá, sou o Dr. X e é um prazer conhecê-lo. Diga-me o que o levou a decidir-se por
me procurar; (ou o que é mais frequente) o que levou seus pais a trazerem você para a
consulta ?"
É importante que você deixe claro para o adolescente que a conversa entre vocês
é confidencial e protegida pelo segredo médico:
"Sempre costumo deixar claro para os meus pacientes que o que eles me contam aqui
no consultório é assunto privado. Jamais direi o que você me contar a menos que você
me autorize. Você sabe que a sua mãe se preocupa com você e pode querer saber o que
nós conversamos aqui. Caso ela me faça alguma pergunta, para proteger a sua
privacidade, direi que ela deverá perguntar esta questão a você. Você deve pensar no
que você gostaria de dizer a este respeito para a sua mãe."
paciente idoso
É difícil definir o paciente idoso apenas com base na idade cronológica. O melhor é
individualizar a aproximação preferindo uma avaliação em relação ao estágio da vida
do indivíduo. Neste sentido é possível encontrarmos pacientes com menos de 60 anos
que se sentem velhor e desmotivados, apresentando inúmeros problemas da velhice e,
ao contrário, encontrarmo pacientes com mais de 75 anos em plena forma física e
intelectual. Especial atenção deve ser dirigida na investigação da capacidade do paciente
idoso de realizar suas atividades diárias e das suas habilidades em manter atividades
que tornam a vida agradável. Neste tópico devemos verificar a capacidade de se
alimentar (incluindo mastigação e deglutição), de dormir, banhar, trocar, e de se
movimentar com ou sem ajuda. Para pessoas idosas que moram sózinhas é importante
verificar se conseguem cozinhar e realizar as atividades de forma independente. A
questão da dieta também é importante, devendo ser meticulosamente avaliada a
quantidade e a qualidade dos alimentos ingeridos, lembrando das necessidades maiores
de cálcio e fibras. Pessoas idosas frequentemente utilizam-se cronicamente de
medicamentos que devem ser detalhadamente checados.
na Relação Médico-Paciente
1. Dificuldades Técnicas
O paciente prolixo
O paciente vago
3. Dificuldades decorrentes do teor do assunto abordado
Alcool e drogas
Atividade sexual
4. Dificuldades decorrentes da difícil caracterização dos sintomas
5.1 Do paciente
Ansiedade
Raiva
Depressão
Negação
Manipulação e sedução
5.2 Do médico
É aquele que não diz o suficiente a respeito dos seus sintomas. Em certas situações,
informações detalhadas sobre os sintomas são fundamentais para o diagnóstico. O
paciente lacônico representa uma armadilha potencial para o médico que pode
enveredar para o questionamento seriado diante de um paciente que responde "sim" ou
"não". O médico deve evitar proceder dessa maneira, assumindo um questionamento
mais ativo, mas baseado em questões abertas, e usar de forma intensa os facilitadores :
conte-me mais...., esclareça melhor este ponto ...., quantifique este sintoma ...., conte-me
de forma detalhada ... etc. O paciente pode estar reticente em decorrência da sua doença
(depressão, demência, hipotireoidismo etc) ou por ansiedade ou negação da doença.
paciente Prolixo
É aquele que relata seu problema com uma quantidade imensa de detalhes
relacionados ou não com a doença que motivou a consulta. Este tipo de paciente,
deixado livremente, não respeita o limitado tempo da consulta médica e pode levar o
médico à impaciência e à indelicadeza. Deve-se evitar estes perigos. A solução é dirigir
o paciente para a queixa principal sempre que necessário. Também é útil lembrar ao
paciente que o tempo da consulta é limitado e que ele deve se concentrar nos pontos
principais das suas queixas. Quando ocorre a exposição simultânea de inúmeros
problemas a melhor abordagem é abordar cada um dos problemas por vez, sempre
mantendo o paciente no foco, não permitindo que ele faça algum desvio. A prolixidade
pode ser determinada pela ansiedade, solidão ou problemas psiquiátricos.
paciente Vago
É o paciente que não consegue descrever seus sintomas com precisão. A solução
desta dificuldade reside em fornecer alternativas claras ao paciente, tomando o cuidado
de não dirigí-lo: a dor foi aguda ou se instalou progressivamente ? É localizada ou não ?
É superficial ou profunda ? etc.
Todos os pacientes devem fornecer uma história clínica. O desejo do médico é que a
história seja clara e coerente. Os pacientes também desejam - a maioria pelo menos -
contar uma história que faça sentido e permita ao médico ajudá-lo. As dificuldades
decorrem de entendimento divergente sobre o que é importante. A primeira tarefa do
médico é educar, esclarecer, ensinar o paciente daquilo que seria desejável em termos
de história.
Difíceis
Álcool e Drogas - questões que dizem respeito à intimidade do paciente ou
relacionados com hábitos ilícitos sempre são difícieis de serem feitas. Entretanto, pela
sua relevância na determinação das doenças não podem deixar de serem feitas. A regra
de ouro é nunca abordar o paciente com questões diretas, mas sim adotar uma
aproximação progressiva a partir de perguntas menos problemáticas. A questão do uso
de álcool se segue às questões de uso de café e cigarro. Deve-se perguntar
especificamente acerca de cerveja, vinho, licor, pinga, uísque. Após esta fase
prosseguir para questões relacionadas a maconha e outras drogas ilícitas (cocaína,
heroína, etc.). Sempre quantifique em termos de ml, gramas, doses injetadas,
comprimidos etc. Expressões como "etilista social " " uma ou duas cervejas por dia"
são vagas e oferecem margem a confusão. O médico nunca deve julgar o
comportamente do paciente em relação a qualquer assunto. O comportamento neutro do
médico é fundamental para que as informações sejam obtidas. Remova qualquer pré-
julgamento quanto estiver abordando estes assuntos. Não emita opiniões a menos que o
paciente as solicite. Não recrimine o paciente, pois isso o afastará. Caso o paciente se
mostre muito reticente em relação a estes assuntos, faça uma abordagem lateral.
Pergunte se ele conhece amigos ou pessoas próximas que usam drogas ou se ele usou
drogas no passado.
Por isso, tem utilidade o conhecimento dos principais tipos de pacientes, analisados a
seguir.
O paciente ansioso
Toda enfermidade, até o medo de estar doente, provoca certo grau de ansiedade -
ansiedade reativa - e, em muitas ocasiões, são as manifestações da ansiedade que levam
o indivíduo ao médico.
Por outro lado, não é correto e nem surtem efeito as tentativas de "acalmar" o paciente,
exortando-o a ficar tranqüilo e dizendo de antemão, sem ter ainda elementos que
justifiquem a afirmativa, que ele não tem nada ou que sua doença não é grave.
O paciente sugestionável
O paciente hipocondríaco
O paciente deprimido
O paciente deprimido apresenta desinteresse por si mesmo e pelas coisas que acontecem
ao seu redor. Tem forte tendência para se isolar e, durante a entrevista, reluta em
descrever seus padecimentos, respondendo pela metade às perguntas feitas a ele ou
permanecendo calado.
É comum que se ponha cabisbaixo, os olhos sem brilho e a face toda exprimindo
tristeza. Não raramente cai em pranto durante o exame. Relata choro fácil e imotivado,
despertar precoce, redução de capacidade de trabalho e perda da vontade de viver.
De maneira geral, a primeira tarefa do médico é conquistar sua atenção e confiança. Isto
pode ser conseguido demonstrando-se um sincero interesse pela sua pessoa. Moderada
dose de otimismo deve transparecer na linguagem e no comportamento do médico.
A anamnese, nestes casos, quase invariavelmente se arrasta num ritmo lento e frio, e é
muito difícil alcançar uma boa sintonia entre o médico e o paciente.
A depressão neurótica, a mais freqüente, é mais intensa à noite, pois o paciente tem
medo de dormir. O exame da curva de sua vida mostra ser ele uma pessoa neurótica
desde a infância ou adolescência.
O paciente eufórico
o paciente hostil
A hostilidade pode ser percebida à primeira vista, após as primeiras palavras, ou pode
ser velada, traduzida em respostas reticentes e insinuações mal disfarçadas.
Ultimamente, surgiu como fonte de hostilidade, da qual são, ao mesmo tempo, a causa e
as vítimas, os médicos das instituições previdenciárias. O trabalho sem motivação, o
exame feito às pressas, a pouca atenção dada aos pacientes, vai levando-os a sentirem-se
desprezados. Daí nasce a hostilidade específica contra um determinado médico, mas que
pode tomar-se genérica a todos os médicos e contra a própria medicina.
Os estudantes, por sua vez, podem ser alvo da hostilidade dos pacientes dos hospitais de
ensino, pelo fato de serem procurados com muita freqüência para serem examinados,
nem sempre estando dispostos a atender tais solicitações.
O paciente inibido ou tímido não encara o médico, senta-se na beirada da cadeira e fala
baixo. Não é difícil notar que ele não está à vontade naquele lugar e naquele momento.
O médico deve ajudá-Io a vencer a inibição. Para isso, uma demonstração de interesse
pelos seus problemas é fundamental. Algumas palavras amistosas podem ajudar.
o paciente psicótico
Reconhecer o paciente psicótico ou doente mental costuma ser difícil para o estudante
ou até mesmo para o médico pouco experiente nesta área.
A verdadeira doença mental pode ser uma alteração orgânica de base conhecida e
demonstrável (psicoses orgânicas) ou não ter substrato orgânico demonstrável (psicoses
endógenas).
O paciente em estado grave cria problemas especiais para o médico, do ponto de vista
psicológico. De uma maneira geral, não desejam ser perturbados por ninguém, e os
exames, de qualquer natureza, representam um incômodo para eles. Por isso, no que
respeita ao exame clínico, é necessário ser objetivo, fazendo-se apenas o que for
estritamente necessário e, mesmo assim, adaptando-se a semiotécnica às condições do
paciente.Ao entrevistá-Io, as perguntas precisam ser simples, diretas e objetivas, pois
sua capacidade de colaborar está diminuída. Para a realização do exame físico,
respeitam-se suas conveniências quanto à posição no leito e a dificuldade ou
impossibilidade para sentar-se ou levantar-se. Muitas vezes, solicita-se a ajuda de um
parente ou enfermeira para virá-Io na cama ou recostá-Io. Tudo é feito com a
permanente preocupação de não agravar o sofrimento do paciente. Por outro lado,
convém ressaltar que as doenças graves acompanham-se de uma ansiedade que pode ser
de grande intensidade. O paciente ansioso deseja a presença do médico, manifestando
este sentimento pelo olhar ou segurando suas mãos quando ele se aproxima do leito.
O paciente terminal
Conceituar paciente terminal é uma tarefa difícil. Em senso estrito, é o que sofre de uma
doença incurável em fase avançada, para a qual não há recursos médicos capazes de
alterar o prognóstico de morte em curto ou médio prazos. Os exemplos mais freqüentes
são as neoplasias malignas avançadas, as cardiopatias graves, as nefropatias com
insuficiência renal intensa, a AIDS. Não confundir paciente em estado grave com
paciente terminal. Por mais grave que sejam as condições de um paciente, quando há
possibilidade de reversão do quadro clínico os mecanismos psicodinâmicos da relação
médico-paciente são diferentes dos que ocorrem quando não há esperança de
recuperação.
A primeira fase é a da negação. O paciente usa todos os meios para desconhecer o que
está acontecendo com ele. É comum que se expresse assim: "Não, não é possível que
isto esteja acontecendo comigo!" Quase sempre a família e o próprio médico reforçam
esta negação - a família escondendo todas as informações que lhe são fornecidas, o
médico dando ao paciente uma idéia falsamente otimista de seu estado de saúde. A fase
de negação é inerente à condição humana e ela se torna mais evidente nas pessoas que
estão vivendo um momento de grandes responsabilidades, prestígio e poder. Não
adianta o médico enfrentar a negação do paciente. É mais conveniente calar-se e deixá-
Io vivenciar sua frustração, só falando o essencial e respondendo às questões de maneira
sincera e serena.
A segunda fase é a da raiva. A pessoa que até então negava sua realidade começa a
aceitá-Ia como concreta, mas passa a agredir familiares e os profissionais que lhe
prestam assistência. Alguns se revoltam contra Deus, expressam desencanto, proferem
blasfêmias. Nesta fase, a relação médico/paciente atinge suas maiores dificuldades, pois
o paciente mostra decepção com a medicina e o médico pode ser o alvo de suas palavras
de desespero e raiva.
Não estamos fazendo referências apenas aos casos de franco retardamento mental.
A todo momento, o médico entra em contato com pessoas de inteligência reduzida. É
necessário reconhecê-Ias para adotar uma linguagem mais simples, adequada ao nível
de compreensão do paciente. Do contrário, ele se retrairá ou dará respostas
despropositadas, pelo simples fato de não estar compreendendo nossa linguagem. Pode
preferir calar-se a deixar transparecer a incapacidade de entender o médico.
O paciente surdo-mudo
Em tais situações, é óbvio, a anamnese terá de ser resumida aos dados essenciais, e suas
possibilidades no diagnóstico terão sido irremediavelmente restringidas. Contudo, as
poucas informações que se conseguem poderão ser cruciais para uma correta orientação
diagnóstica.
A capacidade profissional do médico pode ser mais bem avaliada exatamente nas
condições em que se torna penosa a relação médico/ paciente.
As crianças e os adolescentes
O comportamento das crianças varia conforme a idade, e o médico deve adaptar-se para
conseguir estabelecer uma boa relação com o pequeno paciente. Comumente, as
crianças têm medo do médico e dos aparelhos. Este receio é lógico porque elas temem o
desconhecido.Talvez a qualidade mais importante para lidar com elas seja a bondade,
traduzida na atenção, no manuseio delicado e no respeito pela sua natural insegurança.
Conquistar a confiança e a simpatia de uma criança é mais do que um ato profissional. É
um ato de amor cujo significado será facilmente percebido pelo médico sensível.
Os idosos
O comportamento dos velhos varia muito em função de seu temperamento e, talvez, seja
em boa parte um reflexo do que a vida lhe propiciou.
O paciente idoso precisa sentir desde o primeiro momento que está sendo alvo de
atenção e respeito, pois as pessoas idosas costumam ter uma certa amargura e uma dose
de pessimismo diante de todas as coisas da vida; às vezes, tornam-se indiferentes e
arredias, principalmente diante do jovem médico que está fazendo sua iniciação clínica.
Antes de mais nada, faz-se mister compreendê-Ios, aceitando suas "manias" e agindo
com paciência e delicadeza.
Tal atitude entra em conflito com o desejo do paciente de ver reconhecida sua
personalidade original, de adulto, que repudia as manifestações de superproteção.
O médico, por outro lado, não escapa à angústia da morte de que o velho é o símbolo
por excelência. Perante o paciente idoso, o significado do ato médico pode ser
conturbado por um sentimento de mal-estar cuja origem provém do conflito interior do
médico que percebe, ao cuidar de um paciente velho, freqüentemente portador de
doença incurável, as limitadas possibilidades de seu saber.
Esta relação de incerteza e de impotência pode ser ampliada quando o médico vive
momentos de inquietação latente a propósito de sua própria velhice.