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* Antropologia Dialética
- O esclarecimento é totalitário
O homem de ciência conhece as coisas na medida em que pode fazê-las. É assim que seu em-
si-torna para-ele.
Nessa metamorfose, a essência das coisas revela-se como sempre a mesma, como substrato
da dominação.
A magia é pura e simples inverdade, mas nela a dominação ainda não é negada.
Para substituir as práticas localizadas do curandeiro pela técnica industrial universal foi
preciso, que os pensamentos se tornassem autônomos em face dos objetos, como ocorre no
ego ajustado à realidade.
Quanto mais se desvanece a ilusão mágica, tanto mais inexoravelmente a repetição, sob o
titulo da submissão à lei, prende o homem naquele ciclo que, objetualizando sob a forma da
lei natural, parecia garanti-lo como sujeito livre.
- A unidade da coletividade manipulada consiste na negação de cada indivíduo, seria digna de
escárnio a sociedade que conseguisse transformar os homens em indivíduos.
- A distância do sujeito com relação ao objeto, que é o pressuposto da abstração, está fundada
na distância em relação às coisas, que o senhor conquista através do dominado.
“Aquilo que transcende o âmbito da experiência, aquilo que nas coisas é mais do que sua
realidade já conhecida. O que o primitivo aí sente como algo do sobrenatural não é uma
substância espiritual oposta à substância material, mas o emaranhado da natureza em face do
elemento individual”. Pré-Animismo. Nele já está virtualmente contida até mesmo a
separação do sujeito e do objeto.
O esclarecimento acabou por consumir não apenas os símbolos, mas também seus sucessores,
os conceitos universais, e da metafisica não deixou nada senão o medo abstrato frente a
coletividade do qual surgira. Diante do esclarecimento, os conceitos estão na mesma situação
que os aposentados diante dos trustes industriais: ninguém pode sentir-se seguro. Se o
positivismo lógico ainda deu uma chance à probabilidade, o positivismo etnológico equipara-
a já à essência. A dialética revela toda imagem como uma forma escrita. Ela ensina ler em
seus traços a confissão de sua falsidade, confissão essa que a priva de seu poder e o transfere
para a verdade.
O pensamento se iguala ao mundo, onde o factual tornou-se agora a tal ponto a única
referência.
Compreender o dado quanto tal, descobrir nos dados não apenas sua relação espaço-
temporais abstrata, com as quais se possa então agarrá-las, mas ao contrário pensá-las como a
superfície, como aspectos mediatizados do conceito, que só se realizam no desdobramento de
seu sentido social, histórico, humano- toda pretensão do conhecimento é abandonada. Ela não
consiste no mero perceber, classificar e calcular, mais precisamente na negação determinante
de cada dado imediato.
Quanto mais a maquinaria do pensamento subjuga o que existe, tanto mais cegamente ela se
contenta com essa reprodução.
O pensamento se torna ilusório sempre que tenta renegar sua função separadora, de
distanciamento objetivação. O esclarecimento é mais que esclarecimento: natureza que se
torna perceptível em sua alienação. Pág. 44