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CURSO DE

INSPETOR DE EQUIPAMENTOS

Módulo

NOÇÕES SOBRE PROTEÇÃO AMBIENTAL

Módulo 4 – Noções sobre Proteção Ambiental


CURSO DE
INSPETOR DE EQUIPAMENTOS

OBJETIVO

O conteúdo desta apostila visa discutir resumidamente os aspectos que devem nortear como
esperamos a interação do homem com a natureza.

Neste início de século, em que o mundo vem passando por um importante processo de
reorganização, a questão ambiental tenta resgatar sua essência frente ás relações sociedade
natureza.

A compreensão tradicional das relações entre a sociedade e a natureza desenvolvidas até o


século XIX, vinculadas ao processo de produção capitalista, considerava o homem e a natureza
como pólos excludentes, tendo subjacente a concepção de uma natureza objeto, fonte, ilimitada
de recursos à disposição do homem.

Nossa geração parece ter presenciado a data limite para este processo extrativista predatório e
todas as formas irracionais e insustentáveis de utilização dos recursos naturais. Precisamos, de
forma urgente e inadiável, estabelecer procedimentos e técnicas que permitam minimizar as
agressões ao meio ambiente ocasionados pelas atividades exercidas pelo homem. Precisamos
ter a consciência que não há preço para o ar que se respira, a água que se bebe, o Sol que nos
ilumina e ter a consciência de que os “donos da natureza” ainda estão por chegar, nossos filhos
e netos que mesmo antes de nascer devem ter direito a um mundo habitável.

Um acidente industrial, como os que infelizmente temos presenciado, seja na bacia de campos,
seja no Atlântico Norte, podem e devem ser evitados através da inspeção e manutenção dos
equipamentos, e por isso serão apresentadas informações importantes buscando abrir canais
de discussão e assim possibilitar, em cada um, a criação de um “senso crítico de proteção
ecológica” para que exerçam a função de inspetor de equipamentos conscientes de sua
responsabilidade na preservação ambiental.

Módulo 4 – Noções sobre Proteção Ambiental


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1. O HOMEM E SUA INTERAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE

1.1. Introdução

As tradições das diferentes culturas, sempre desempenharam o seu papel quanto ao


comportamento humano em relação ao ambiente. O homem ocidental com seu dogma cristão-
judaico, segundo o qual, ao contrário de outras criaturas, foi feito à imagem e semelhança de
Deus, tendo, portanto o direito de dominar o mundo.

“As plantas foram criadas por causa dos animais e os animais por causa do homem” (Aristóteles,
350 a. C). Esta premissa grega da Antigüidade reforça a noção do mundo destinado ao homem.

A concepção do mundo para os índios americanos que viam na natureza virgem símbolos do
mundo espiritual, na antiga China, determinados aspectos da terra eram interpretados como
manifestações do ser cósmico, a noção Budista do consumo, sendo o máximo de felicidade com
o mínimo de consumo, contrastando com o pensamento ocidental que prega o aumento de
consumo para um “viver melhor”.

”O homem como elemento da natureza constitui uma noção relativamente recente no


pensamento ocidental, em parte como conseqüência do darwinismo, que não o descrevia senão
como outra forma de vida sobre a terra”. Alterações prejudiciais ao ambiente, resultantes das
atividades humanas, acabaram por acarretar na concepção “ecológica”, na qual o homem não
passa de um elemento como outro qualquer do ecossistema geográfico.

Estas abordagens, no entanto, não são necessariamente certas ou erradas, mas todas elas
afetaram vigorosamente como o homem procurou moldar o ambiente que o cerca. No passado
estas diferenças teriam interesse puramente acadêmico, mas hoje a relação do homem com o
meio está chegando a uma situação crítica, na medida em que as mudanças por ele processadas
talvez se tornem irreversíveis. O homem deixou de ser mero integrante do ecossistema em que
vive, para se tornar cada vez mais um elemento afastado do meio físico e biológico. “Quando se
tornar capaz de fabricar ou sintetizar alimentos de matérias inorgânicas – perspectiva que não
é improvável -, um vínculo basilar, o do homem com a terra viva, estará rompido”.

1.2. O controle sobre a natureza

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Figura 1 – Reação do homem ao ambiente natural

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“A teoria segundo a qual as condições naturais governam o comportamento do homem e até


mesmo aspectos do seu caráter chama-se determinismo ou casualidade”. Esta idéia antiquada
de que o homem deve ser controlado pela natureza e se adaptar a ela, se contrapõe com a noção
do possibilismo que diz; o homem não é um ser passivo e se conformar com os caprichos da
natureza e deve, dessa forma prosperar e agir sobre o meio e a modificá-lo, dentro de limites
naturais de espaço e de possibilidades de desenvolvimento.

É impossível explicar as decisões e atividades humanas com base apenas nas limitações
ambientais. Se assim fosse, uma determinada fábrica para ser instalada, deveria ser
determinada sua localização pela proximidade de matéria-prima e energia e admitindo a
existência de um mercado. Na realidade, fatores econômicos, sociais e políticos, ou mesmo à
vontade do empresário, têm, no mínimo, importância igual. No entanto, a espécie humana ainda
está sujeita a natureza, a escassez de peixes em determinado local em virtude de mudanças na
temperatura das correntes em determinado ano, as secas no Sudão e Etiópia, etc.

Ao contrário, há exemplos do homem dominando a natureza, como uma área urbana em


Phoenix, no Arizona nos Estados Unidos, construída no deserto, através de recursos de irrigação.
Nos arredores da cidade, cultiva-se algodão, frutas e tâmaras, num verdadeiro oásis, são
exemplos de interação homem-ambiente, demonstrando a variedade do domínio do homem
sobre a natureza e vice-versa.

Há sempre desastres noticiados pela imprensa todos os anos em diversas partes do mundo. “Em
certa medida, o esforço que se requer para a obtenção de um dado retorno é proporcional ao
grau de submissão às condições naturais – contrariar a natureza das coisas” exige mais esforço.
As aplicações de tecnologia ultramoderna têm de ser estudadas com o maior dos cuidados, a
fim de que sejam adequadas ao meio ambiente e não tragam mais prejuízo do que benefício à
população.

Em certos casos, o homem é subjugado pela natureza e aceita suas limitações, como as áreas
áridas, regiões tórridas e desérticas do planeta. É a natureza dominando o homem.

1.3. Níveis de Interferência

De fato, como vimos à manipulação do meio pelo homem, vai do controle quase total do
ambiente, como uma casa com calefação ou ar condicionado, e diversos aparelhos, até uma
influência mínima sobre o meio físico (indígenas da Austrália).

A distribuição do homem sobre a superfície da terra está desigualmente distribuída. Devemos


observar que o homem distribuiu-se na terra em larga escala, basicamente em áreas de
potencial agrícola ou florestal e também em regiões temperadas e quentes. Devemos atentar
também que, as áreas cobertas de gelo, as subárticas os desertos, densidade demográfica baixa
ou zero. Vale lembrar que a ausência física do homem em determinada área, não significa que
sua influência não está presente. Alterações nos oceanos, no clima, efeito estufa, etc. podem
afetar a terra como um todo.

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1.4. Sistemas Naturais

A terra pode ser considerada como um enorme sistema, porém ela pode também ser dividia em
inúmeros subsistemas como:

 Atmosférico;

 Continental ou litosférico;

 Aquático ou hidrosférico.

É na zona de interação desses subsistemas que ocorre a vida (biosfera).

Figura 2 – Interação dos subsistemas básicos do ambiente natural.

Portanto, a Terra funciona como uma inter-relação de sistemas, todos parcialmente


independentes, mas fortemente vinculados entre si. A intervenção humana não pode afetar de
maneira significativa a atividade dos sistemas em escala global, como o sistema atmosférico,
mas os sistemas de ordem inferior, principalmente aqueles que envolvem seres vivos
(ecossistemas), são bastante vulneráveis as ações do homem.

Os exemplos abaixo são de subsistemas nos quais houve um percentual de intervenção do


homem, e conseqüentemente alteração do atual sistema.

• Ciclo do Nitrogênio

Algumas causas:
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- Introdução pelo homem de fontes artificiais;

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- Volume de nitrogênio oriundo de fontes industriais.

Um dos efeitos desse fenômeno é o crescimento excessivo de algas.

• Ciclo do Fósforo

Algumas causas:

- Encurtamento, pelo homem, da escala em que o ciclo do fósforo se manifesta;

- Exploração de substâncias naturais ricas em fosfato

- Uso de fosfato mineral como fertilizantes e a fabricação de detergentes. Os resíduos de


detergentes são lançados indiscriminadamente em corpos d’água;

- Lançamento de elevadas cargas de fosfato oriundo dos esgotos vindo a contaminar sistemas
hídricos.

Ciclo do Mercúrio

Algumas causas:

- Este metal apresenta-se em pequeninas quantidades nos sistemas naturais;

- Uso em larga escala para fins industriais;

- Na extração do ouro sendo lançados em rios, vindo a contaminar organismos marinhos e


conseqüentemente ao homem.

1.5. Impactos sobre os meios físicos

1.5.1. Os Solos

Fatores como clima, materiais de origem, topografia, a biota e o tempo determinam um


equilíbrio dinâmico com os solos. Qualquer alteração nesses mecanismos reverterá ao solo.

De modo consciente ou não, são exemplos de como o homem modifica os solos:

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Tabela 1

Fator do Solo Mudança benéfica Mud. neutra Desequilíbrio

- Fertilizantes minerais - Altera balanço iônico - Desequilíbrio químico


(maior fertilidade)
- Altera pH (cal) - Pesticidas salinização
- Adição de elementos
microquímicos - Mudanças na - Retirada de
Química do solo vegetação nutrientes
- Dessalinização
(irrigação)

- Maior oxidação
(aeração)

- Induzir a estrutura - Altera estr. arar, - Compactação, água


granular (cal e grama) gradear empoçada (estr.
pobre)
Física do solo - Arar a fundo, - Alteração do
alteração da umidade microclima - Mudanças químicas
(irrigação ou (sais)
drenagem)

Adubo orgânico, - Altera veget. E - Elimina vegetação,


aumento do pH, microclima elementos químicos
Organismos do solo
drenar/umedecer tóxicos
aerar

Rejuvenescer (arar a - Erosão acelerada, uso


Tempo (ritmo da fundo, juntar solo excessivo de
mudança) novo, recuperar a nutrientes,
terra) urbanização

Dentre os mais negativos efeitos do homem sobre o solo, está à erosão. Em ambientes de
delicado equilíbrio como os semi-áridos ou montanhosos, a erosão se mostra mais prejudicial.

1.5.2. Plantas e Animais

A grande mudança na relação do homem e os demais seres vivos ocorreram com a transição dos
hábitos humanos da “caça e coleta” para a da “agricultura, domesticação”.

Introduções pelo homem de espécies vegetais quando de suas migrações pelo planeta, deve-se
ao fato de serem importantes fontes de alimentos, ou seja, aonde ele ia, levava aquelas espécies
conhecidas para o ambiente desconhecido.

Animais e insetos muitas vezes foram introduzidos acidentalmente, transportados por barcos e
sementes trazidas com a roupa, etc.

Modificações profundas nos ecossistemas animais, através de desmatamentos ocasionando


transformações no habitat de várias espécies inclusive promovendo a extinção de insetos,
construção de represas para obtenção de energia hidroelétrica acarretando paralisação da
desova de trutas, etc. 7

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1.6. Efeitos na Atmosfera, água, formas de relevo e nos oceanos.

1.6.1. Atmosfera

A – Alterações microclimáticas:

A construção de um edifício busca obter abrigo criando um clima artificial inteiramente


controlado. Este edifício modifica muitos parâmetros climáticos ainda que em pequena escala.
No entanto, imagine uma grande cidade com centenas de milhares de edifícios modernos,
convertendo em calor a radiação solar que entra e modificando o padrão do fluxo de ventos nas
vizinhanças. Deste modo estas construções funcionam como ilhas de calor como uma célula de
convecção própria de ar quente ascendente.

B – Alterações mesoclimáticas:

Mudanças no uso da terra nas áreas rurais afetam o clima por centenas ou milhares de
quilômetros quadrados. Os efeitos se fazem maiores junto ao chão, mas as condições
atmosféricas são alteradas numa abóbada de 30 a100 metros de altura daquele ponto.

Queimadas em solos, prática bastante comum, alteram a zona protetora da vegetação,


aumentando a temperatura do solo e ainda a média de temperatura de dia e de noite em mais
de 10° C. o gradiente térmico aumenta 10 centímetros mais baixos da atmosfera, cerca de 2°
positivos.

A falta de árvores, por exemplo, afeta a velocidade do vento, aumenta a infiltração da água da
chuva no solo e em longo prazo, alterará a evolução do solo (maior lixiviação), e daí a vegetação
e novamente, portanto o microclima.

C – Alterações macroclimáticas:

O caso do deserto de Rajputana na fronteira entre o Paquistão e a Índia onde numa área de
cerca de 30 mil quilômetros quadrados, trata-se de um exemplo extremo de desertificação.
Deve-se em grande parte a intensa criação de cabras que através dos anos acabou com a
vegetação baixa existente. Com isso, a poeira em suspensão na atmosfera faz que este deserto
seja mais poeirento do mundo, ultrapassando os valores de partículas em suspensão no ar, de
muitas cidades industrializadas. Estas partículas de pó fazem decrescer a quantidade de radiação
solar incidente promovendo o rebaixamento da temperatura na superfície da terra. Por sua vez,
isso reduz o volume do ar elevado por convecção, possível fonte de chuvas.

1.6.2. Água

“Pode-se dizer que a água doce é o mais importante recurso da humanidade, individualmente
considerado”. Setenta por cento do corpo humano é composto de água, o que a torna vital para
nossa sobrevivência.

Especialistas afirmam que é muito mais difícil suportar a sede que a fome. Por que eu devo me
preocupar, afinal, não basta abrir a torneira para ter água?

Normalmente, não temos consciência da importância da água. Somente nos períodos de


estiagem, quando falta água nas nossas casas, lembramos, um tanto nervoso, que dependemos
da água para as mais variadas atividades domésticas. E, com paciência, temos que esperar. 8

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Dificilmente alguém se pergunta quanto consome de água por mês; a maior parte das pessoas
somente paga a conta no banco. Essa inconsciência pode ser explicada pelo fato de vivermos
em regiões onde a oferta de água é bastante satisfatória.

Os moradores do Sertão, no Nordeste Brasileiro, provavelmente atribuem um valor bem


diferente à água. Em todo o mundo, com exceção da Europa, a principal utilização da água está
na agricultura. Ela é usada na irrigação de cultura e criação de animais. Em algumas áreas da
Ásia, o consumo de água na atividade agropecuária chega a ser dez vezes maior que na produção
industrial.

Durante muito tempo, pensou-se que a água, ao circular na natureza, seria capaz de eliminar
todos os seus poluentes e seria um bem infinito, assim os esgoto industriais e domésticos eram
despejados, sem tratamento, nos rios. Mas, atualmente, a água é concebida pelos especialistas
como um recurso renovável, porém finito, já que a poluição e o uso dos recursos hídricos têm
aumentado tanto, que não permitem a reposição na velocidade necessária ao consumo.

Numa escala mundial, é o que inibe a expansão da agricultura e conseqüentemente o


povoamento das vastas regiões do planeta. Já em uma escala local, os recursos hídricos
determinam a localização de certas industriais, como a geração de energia; antigamente, o
estabelecimento de povoações estava em relação estreita com a localização de rios e fontes.

As tecnologias desenvolvidas pelo homem como a construção de represas, desvios de rios,


drenagem de terras, extração de água subterrânea e até rebocamento de icebergs, interferem
no ciclo hidrológico.

O movimento da água entre os continentes, oceanos e a atmosfera é chamado de ciclo


hidrológico. Na atmosfera, o vapor da água em forma de nuvens pode ser transformado em
chuva, neve ou granizo, dependendo das condições do clima. Essa transformação provoca o que
se chama de precipitação. A precipitação ocorre sobre a superfície do planeta, tanto nos
continentes como nos oceanos.

Nos continentes, uma parte das precipitações é devolvida para a atmosfera, graças à
evaporação, outra parte acaba desaguando nos oceanos depois de percorrer os caminhos
recortados pelos rios. Os oceanos, portanto recebem água de duas fontes: das precipitações e
do desaguamento dos rios, e perdem pela evaporação. Na atmosfera, o excesso de vapor sobre
os oceanos é transportado para os continentes, em sentido inverso ao desaguamento.

Abaixo a representação do ciclo hidrológico, mostrando grandes e pequenos pontos da


interferência humana.

1.6.3. Formas de Relevo

As alterações introduzidas no relevo podem ser conseqüências deliberada ou inadvertida de


qualquer outra atividade. Na construção de rodovias e ferrovias, vales artificiais ou a deposição
de sedimentos nos estuários dos rios devido à erosão do solo carregada pêlos rios, depressões
gigantescas escavadas para a exploração de minérios, assim como o surgimento de fossas
internas quando da abertura de minas e da drenagem da terra.

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1.6.4. Oceanos

Os oceanos perfazem sete décimos da superfície do globo. O que se sabe é a importância dos
oceanos no controle dos fluxos globais de energia e no ambiente geral do planeta. Todos os
oceanos estão ligados entre si e as únicas barreiras são na verdade, as diferenças de salinidade
e temperatura. Os oceanos são considerados a lata de lixo do mundo.

2. A POLÍTICA E A GESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL

2.1 Evolução

Um dos mais importantes movimentos sociais dos últimos anos, promovendo significantes
transformações no comportamento da sociedade e na organização política econômica, foi
chamada “revolução ambiental”. Com raízes no final do século XIX, a questão ambiental emergiu
após a Segunda Guerra mundial, promovendo importantes mudanças na visão do mundo. Pela
primeira vez a humanidade percebeu que os recursos naturais são finitos e que seu uso incorreto
pode representar o fim de sua própria existência. Com o surgimento da consciência ambiental,
a ciência e a tecnologia passaram a ser questionadas.

A exploração dos recursos naturais, o desbravamento do território, o saneamento rural, a


educação sanitária e os embates entre os interesses econômicos externos, os conservacionistas
que defendiam a proteção da natureza através da exploração controlada como a Fundação
Brasileira de Conservação da Natureza (FBCN), e os nacionalistas que defendiam a exploração
pêlos brasileiros como a Campanha Nacional de Defesa e Desenvolvimento da Amazônia
(CNDDA), eram os temas dominantes.

2.1.1. Histórico

É possível identificar pelo menos três tipos de políticas ambientais: as regulatórias, as


estruturadoras e as indutoras de comportamento.

• Políticas Regulatórias – Dizem à elaboração de legislação específica para estabelecer ou


regulamentar as normas e regras do uso e acesso ao ambiente natural, bem como à
criação de aparatos institucionais que o garantam o cumprimento da lei.

• Políticas Estruturadoras – intervenção direta do poder público ou de organismos não-


governamentais na proteção ao meio ambiente (ex: unidade de conservação).

• Políticas Indutoras – referem-se a ações que objetivam influenciar o comportamento de


indivíduos ou grupos sociais. (ex: linhas especiais de financiamento ou de políticas fiscais
e tributárias.

Foi somente no século XX que a preocupação com o meio ambiente resultou, no Brasil, na
elaboração e implementação de políticas públicas com caráter marcadamente ambiental,
especialmente a partir da década de setenta, quando a percepção da degradação ambiental
aumenta onde os efeitos podem ser irreversíveis e catastróficos.
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Podemos dividir a política ambiental brasileira em três grandes períodos:

a) O primeiro período de 1930 a 1971, marcado pela construção de uma base de


regulamentação dos usos dos recursos naturais.

b) O segundo período, de 1972 a 1987, em que a ação intervencionista do Estado chega ao


seu momento máximo, e ao mesmo tempo em que a percepção ecológica aumenta.

c) O terceiro período, de 1988 ao dias atuais, marcado pelo processo de descentralização e


pela rápida disseminação da noção de desenvolvimento sustentável.

2.2. Período de 1930 a 1971 – Base Regulamentadora

A Revolução de 1930 e a constituição de 1934 marcam a transição de um país dominado pelas


elites rurais para um Brasil que começa a se industrializar e urbanizar, particularmente na Região
Sudeste. Nacionaliza a exploração do petróleo estatiza a Companhia Vale do Rio Doce. Tem um
período caracterizado por políticas regulatórias, mesmo que incipientes.

O decreto nº23. 793, de 23 de Janeiro de 1934, previa a criação de parques nacionais e de áreas
florestais protegidos nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste.

O crescimento populacional desordenado e concentrado na região litorânea do país levou a uma


reestruturação levando assim á criação de unidades de conservação. Em 1937 foi criado o
Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro parque nacional do país, localizado no Rio de Janeiro.

Nas décadas de 1950 e 1960, criação de várias unidades de conservação no Centro-Oeste estava
associada ao processo de transferência da capital nacional para o interior do país. Lembrando
que em 1934 foram promulgados os códigos florestais, das águas e das minas.

O fim da Segunda Guerra Mundial chamou a atenção do mundo para o poder de destruição das
bombas atômicas.

Em 1958, o governo federal criou a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN),
onde o objetivo principal defender a fauna marítima, a flora aquática e fiscalizar a pesca do
litoral. O primeiro código de pesca foi promulgado em 1965. As ações públicas foram
basicamente nas regiões Sul e Sudeste em função do processo de industrialização e urbanização
estar avançados.

2.3. Período de 1972 a 1987 – Intervencionismo do Estado e a Crise Ecológica Global

Neste segundo período o Brasil foi fortemente influenciado pela repercussão do informe do
Clube de Roma onde a primeira reunião significativa aconteceu em 1968 onde a conclusão foi
que o mundo teria que diminuir a produção de forma que os recursos naturais fossem menos
solicitados, e que houvesse uma redução gradual dos resíduos, fundamentalmente do lixo
industrial. ”Então, a primeira proposta do Clube de Roma foi essa: vamos diminuir a produção”.

A próxima iniciativa no que diz a respeito à evolução do conceito de sustentabilidade e


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consequentemente de produção mais limpa, ocorreu em Estocolmo na Suécia em 1972. Diante

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da previsão do relatório do Clube de Roma e das movimentações dos anos 60, a ONU –
Organização das Nações Unidas realizou, em junho de 1972,a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano, congregando mais de 110 países entre eles o Brasil que teve
uma participação vergonhosa ao convidar empresas poluidoras a se instalarem no país; quando
então se chegou à conclusão de que a solução não era diminuir a produção como propôs o Clube
de Roma à solução era começar a pensar em produzir melhor. Ao invés de produzirmos
indiscriminadamente, com grandes desperdícios, gerando grande quantidade de resíduos tanto
em forma de emissões gasosos, quanto efluentes líquidos e resíduos sólidos, vamos pensar em
produzir melhor, isto é produzir de forma mais limpa. Foi consolidado, então o conceito de
Desenvolvimento Sustentável que veio emergir em 92.

A crise do petróleo no início de década de 1970 ampliou o debate mundial. Em 1971, foi fundado
o Greenpeace, uma das organizações não governamentais de maior visibilidade no setor
ambientalista. As políticas ambientais entram em contradição com as políticas modernizantes e
de integração nacional implementadas pelo regime militar. As atividades de construção de
estradas, barragens e linhas de transmissão de energia elétrica etc. Entre 1975 e 1985, foram
pressionadas a realizar estudos de impacto ambiental, bancados por empresas estatais e
privadas. Em 1973, foi criada a Secretaria Especial do Meio ambiente (SEMA).

2.4. Período de 1988 – Aos Dias atuais

Neste terceiro momento as políticas ambientais correspondem a uma mudança significativa


embora não radical, no que tange a problemática ambiental do país. A divulgação do Relatório
Brundtland, em 1987, introduz com grande repercussão o conceito de desenvolvimento
sustentável. No âmbito interno, o processo de redemocratização leva à promulgação de uma
nova Constituição, em 1988, com forte tendência descentralizadora.

A sociedade de uma maneira geral começou a se envolver nas questões ambientais. As


responsabilidades passaram a ser divididas entre as várias competências federais, estaduais e
municipais acompanhadas pelas discussões sobre o papel dos diversos atores sociais na
reformulação das políticas públicas e no reordenamento das demandas setoriais e regionais.

A Constituição de 1988 foi a primeira a tratar especificamente da questão ambiental, há


capítulos específicos sobre meio ambiente e nela se declarou como patrimônio nacional a Mata
Atlântica, Floresta Amazônica e o Pantanal.

Em 1989, Através de pressões sobre queimadas na Amazônia no governo Sarney, é redefinida a


política ambiental, reestruturando o setor público encarregado dessa política o antigo Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) foi transformado em Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) As políticas ambientais voltadas para a
adoção de medidas de cunho normativo foram as que mais evoluíram no Brasil. Um novo código
florestal foi promulgado em 1996, ampliando a área de reserva legal de floresta nativa de 50
para 80% nas propriedades privadas.

No campo não-estatal ganharam força medidas voltadas para a certificação ambiental (Selo
verde) e para aquisição dos padrões ISO 9001 e 14000. As ONGs reuniram-se durante a
Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) firmaram
compromisso coma elaboração das Agendas 21 locais e regionais que abordou como o centro
da nova temática ambiental, o Desenvolvimento Sustentável, Biodiversidade, Mudanças 12

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Climáticas, Águas (doces e oceanos) e Resíduos. Abaixo segue o resumo das discussões que
pautaram a Agenda 21:

• Desenvolvimento Sustentável – Sujeito as definições de ocasião, aponta em dois sentidos


principais. “Para os ricos, sustentabilidade exige transformações no estilo de vida,
melhoria da eficiência energética, moderação do consumo e a reciclagem ou o
reaproveitamento dos materiais. Para os pobres, onde existam recursos naturais, se
trata de programar a exploração não predatória que minimize impactos adversos,
priorize a renovação, gere empregos e renda”. Com isso não se pode separar,
desenvolvimento e meio ambiente.

• Biodiversidade – À Biodiversidade estão relacionados os temas da biotecnologia, do


controle do desmatamento, do patenteamento, da proteção das culturas locais ou
primitivas e da agricultura sustentável. Basicamente, preservar, estudar e conhecer as
espécies para, eventualmente, utilizá-las.

 Mudanças Climáticas – Se concentram no efeito estufa e na destruição da camada de


ozônio. Agora as ações são de âmbito global. Material particulado, CO, SO2, HC, são
problemas de saúde e CO2/CFC são problemas da humanidade.

Cooperação Internacional, apoio financeiro, transferência de tecnologia deverão prevalecer


para aqueles que reduzam contribuições para o efeito estufa (CO2).

Felizmente sobre o ar que respiramos, já existem centenas ou milhares de estações


automáticas espalhadas pelo mundo, filtros de mangas e lavadores de gases nos
equipamentos das indústrias. Felizmente, CO e CO2 não são totalmente dissociados, e a
redução de CO2 acabará resultando na melhoria da qualidade do ar.

• Águas – Trata-se de controlar a poluição, os acidentes ou a produtividade dos mares e


oceanos, a água doce está escassa no mundo e as reservas estão se contaminando a
ponto de se tornar inaproveitável. As ações não estão voltadas apenas para vibrião,
metais pesados ou substâncias tóxicas que possam estar presentes nos corpos d’água
mais também na escassez que já produz conflitos entre grupos étnicos e nações,
estimulam a migração e pode ser prenúncio de novas guerras. A desertificação também
está relacionada às águas.

• Resíduos – Da mera saída das latas de lixo doméstico indo aos aterros sanitários para uma
questão bem mais ampla de como coibir o tráfico internacional de resíduos tóxicos.
Normalizar o comércio de resíduos entre nações, definir medidas para redução ou a
destinação adequada de resíduos nucleares. Dando sequência a um processo que
passou pela Conferência da Basiléia, Protocolo de Montreal e pela atuação de ONG’s
internacionais.

No quadro geral da crise financeira das décadas de 1980 e 1990 as mudanças nas estratégicas
econômicas do Estado brasileiro repercutiram na política tradicional de defesa dos recursos
naturais. A privatização dos setores energéticos resultou na transferência de responsabilidades
na condução da gestão ambiental para alguns segmentos do setor empresarial.
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Tabela: Políticas ambientais brasileiras (de 1930 aos dias atuais).


Contexto Políticas Aspectos Escala de atuação
Período Políticas regulatórias Políticas estruturadoras
Mundial Nacional indutoras principais priorizada

- Propostas de criação de
parques nacionais e
- Promulgação dos códigos: estaduais; declaração de
- II Guerra Florestais, das águas e de áreas florestais como
mundial - Revolução de Minas (1934) florestas protetoras Nacional com ações
1930 (1934); voltadas para as
- Risco Nuclear - Criação do Departamento
1930 - Constituição Idéiam não Poder regiões
Nacional Contra as secas - Criação do primeiro
- Risco de de 1934 formalizadas Público desenvolvidas (Sul e
A (DNOCS) (1963). Parque Nacional de
crescimento no período Federal Sudeste) e regiões
- Itatiaia (1937);
1971 populacional - Promulgação ou problema (Nordeste
Industrialização reformulação dos códigos - Criação da primeira e Amazônia)
- Riscos de e urbanização de pesca (1965), de minas floresta nacional da
contaminação aceleradas (1967) e florestal (1967); Amazônica.
química
- etc. - 26 unidades de
Conservação foram
criadas.

-Divulgação do
-Criação de estações
Relatório do
- Criação da secretária biológicas federais no RJ e
Clube de Roma
Especial do Meio Ambiente BA para proteger a
(1971);
(Sema) (1973); espécie do mico-leão;
- Geração de -Regionais
-Criação da Companhia de -Criação de parques
movimentos - Milagre Poder (Nordeste) e
desenvolvimento do Vale nacionais, florestas
ambientalistas econômico; Público metropolitanas do
do São Francisco (1974); nacionais; Idéiam ainda
(Greenpeace Federal; Sul e Sudeste do
1972 -Crescimento não
em 1971); -Criação do ministério do -Formulação da Política Agências país. Cresce o
das áreas concretizada
A Desenvolvimento Nacional do Meio Regionais interesse pela
-Conferência de metropolitanas; s no período
Urbanização e Meio Ambiente (1981); ONGs; Região Amazônica
1987 Estocolmo
-Crise Ambiente (1985); empresas escala dos
(1972); -Definição e criação de
econômica Ecossistemas.
-Resolução sobre a áreas de Proteção
-Ameaças das financeira.
obrigatoriedade do Estudo Ambiental em todo o
usinas
de Impacto ambiental (EIA) território Nacional (APA)
nucleares;
e do relatório de Impacto criadas em 1981 e
-Crise do Ambiental (RIMA) (1986). regulamentada em 1990.
Petróleo (1973
- etc.
e 1979).

-Proposição
de
estratégias,
-Crise mecanismos
ambiental e
mundial instrumentos
econômicos
-Lançamento
-Formulação da Política e sociais para
do relatório
nacional do meio a melhoria
Brundtland de
Ambiente (1989) da qualidade
1987
-Criação da Secretaria do ambiental e
-Constituição -Criação das Estações
1988 -Crise Meio Ambiental (1990). do uso dos
de 1988 Ecológicas e Áreas de
aos dias financeira recursos
-Criação do Ministério do Proteção Ambiental
atuais -Discussão naturais
-Realização da Meio Ambiente e do Meio (1990)
sobre os (1990);
ECO 92 e do Ambiente e da Amazônia
transgênicos -Um total de 119 unidades
Fórum das Legal (1993) e etc. -Construção
variadas foi criado (23 em
organizações da Agenda
área da Mata Atlântica e
não 21 Local,
51 em área da Floresta Regional;
governamentais
Amazônica)
- Conferência -Implantação
do Clima Global de
em Kyoto certificação
(1977) ambiental
(selo verde) e
das ISO 9000
– 14000.

14

Módulo 4 – Noções sobre Proteção Ambiental


CURSO DE
INSPETOR DE EQUIPAMENTOS

A política ambiental ideal seria aquela que incorporasse as diversas dimensões da vida
humana em sociedade, o que inclui as suas dimensões sociais, ambientais, políticas e
econômicas. O planejamento deve assim orientar-se em torno do princípio de sustentabilidade,
entendido aqui como o princípio que fornece as bases sólidas para um estilo de desenvolvimento
humano que preserve a qualidade de vida da espécie no planeta. A dimensão ambiental deve,
por isso, integrar de forma relevante a política de desenvolvimento das nações em geral. A
adoção da perspectiva ambiental significa reconhecer que todos os processos de ajuste setorial
e de crescimento estão condicionados pelo entorno biofísico local, nacional e global. Deve,
portanto, ser combinada com outras perspectivas críticas baseadas na preocupação com os
direitos humanos, com os valores da autonomia nacional e da identidade cultural dos povos a
que se referirem.

3. CONTROLE AMBIENTAL

O saldo deixado pela Conferência de Estocolmo, no plano das Normas há desde legislação
constitucional (nacionais e estaduais) até capítulos de leis orgânicas e planos diretores. Há ainda,
legislação específica, como a lei da Política Nacional do Meio Ambiente, até resoluções CONAMA
(Conselho Nacional do Meio Ambiente), leis estaduais e deliberação de conselhos e comissões
estaduais de controle. Há ainda, institucionalização rotinas de licenciamento e a fiscalização de
atividades poluidoras ou o controle ambiental.

No plano dos métodos, existem metodologias para monitoramento e diagnóstico da qualidade


do meio ambiente, avaliação do impacto, prevenção de riscos e poluição acidental, tratamento
de efluentes e resíduos, redução de emissões e de gases poluentes, e despoluição.

No plano de recursos humanos, há pessoal especializado em planejamento ambiental, análise


de projetos e estudos de impacto ambiental, legislação, fiscalização, licenciamento, despoluição,
comunicação, pesquisa e educação ambiental.

O modelo era executado de forma descentralizada propiciando o florescimento de experiências


adaptadas às realidades dos estados:

• Rio Grande do Sul – voltou prioritariamente para a questão dos agrotóxicos;

• Minas Gerais – Para a siderurgia, mineração e carvão vegetal;

• São Paulo – Poluição industrial e meio urbano;

• Rio de Janeiro – Proteção dos corpos hídricos (Paraíba do Sul e Baía de Guanabara);

• Paraná – Para o meio urbano e agrotóxicos;

• Santa Catarina – Carvão mineral;

• Bahia – Para as indústrias do pólo petroquímico.

Depois veio a criação das OEMAS (Órgãos Estaduais de Meio Ambiente) em quase todos os
estados.
15

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INSPETOR DE EQUIPAMENTOS

A SEMA se dedicava a fazer avançar a legislação e aos assuntos que demandavam negociação a
nível nacional, como a produção de detergentes biodegradáveis, a poluição por veículos e a
criação de Unidades de Conservação. A pauta política mudou e esse sistema entra em crise, pois
o meio ambiente é matéria de relações exteriores e se reflete internamente no país, através de
articulações para a aprovação de convenções internacionais e de leis (lei das patentes,
contratação de créditos para a proteção à biodiversidade) e pela própria reestruturação do
aparelho do Estado. Surge um novo mercado de créditos e tecnologias. Novos instrumentos
neste nível são oferecidos: auditorias, certificação de processos e produtos, análise de
mapeamento de risco, centrais de tratamento de resíduos, redes automáticas de
monitoramento, sistemas de informações geográficas, solo verde, etc. Novos atores estão em
cena.

Tabela – Principais Atores da Política Ambiental.

MERCADO ESTADO SOCIEDADE

Internacionais Federal Político

- Bancos e Fundos (BID-BIRD- - Min. Meio Ambiente (IBAMA, - Movimentos Sociais, Ecológico,
GEF) CONAMA, SISNAMA) Moradores, Trabalhadores

- Agências de Cooperação
(JICA,GTZ)

- Programas da ONU - Min. Ciência e Tecnologia, Min. - ONGs


Relações Ext. (Zoneamento
Ecológico) - Partidos

Empresas Estadual Corporativos

- Multinacionais, Nacionais, -Poder Executivo: - Associações Funcionais


Locais * Sistema Estadual do Meio (ASFEEMA, ASSE)
Ambiente
- Órgãos de Classe (FIRJAN, * Secretarias de Gestão - Sindicatos (Urbanitários,
ABIQUIM, FETRANSPORT, * Secretarias de Engenheiros, Químicos,
FLUPEME Desenvolvimento Biólogos)

- Consultoras -Poder Legislativo - Conselhos (CREA, OAB, ABI)


* Estatais (Energia, Petróleo, * Comissão de Meio Ambiente
Aço, Mineração) - Entidades (ABES, ABEMA)
da Assembléia Legislativa.
* Concessionárias de Serviços
Públicos - Poder Judiciário
* Propaganda / Marketing *Procuradoria
*Secretarias Sociais

Municipal Técnicos

- Prefeituras - Universidades
* Centros de Pesquisa e Pós-
* Secretaria de Meio Ambiente Graduação

Comunicação

- Mídia 16

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4. A CRISE DA POLÍTICA AMBIENTAL

SEMA, CONAMA, SISNAMA, não dariam conta desse desafio político. O modelo de gestão dos
órgãos estaduais de meio ambiente também entram em crise. A população está mais
consciente, questiona e exige novas posturas. É impossível dar conta das demandas locais e da
crise dos órgãos do SISNAMA.

É interessante notar que o caráter autoritário do Estado, restos de uma cultura autoritária, fica
escondido, aparecendo na ação dos órgãos públicos, na definição e gestão de políticas, na
morosidade da justiça, na representação parlamentar desproporcional ao número de eleitores,
na votação dos orçamentos, na burocracia, no suborno, no jeitinho, no quebra-galho, no excesso
de leis e nas leis que não pegam.

No entanto, no campo ambiental, conquistas democráticas moderaram esse caráter autoritário


do Estado na gestão da política como:

• Criação de órgãos colegiados com representações da sociedade (CONAMA, etc.);

• Realização de audiência públicas exigindo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), quando


do licenciamento de novos empreendimentos;

• Apoio financeiro a iniciativas da sociedade através do Fundo Nacional do Meio Ambiente,


Fundos Estaduais, parcerias em projetos.

5. ONGs

Segundo estimativa do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a atuação
das ONGs beneficia cerca de 250 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento. As
organizações não governamentais e voluntárias tornaram-se importantes peças de apoio aos
programas de desenvolvimento nas últimas décadas. Existem ONG’s atuando no plano local,
nacional, regional e internacional. A vinculação local e a conexão internacional possibilitam que
as ações locais possam se interligar globalmente. Os principais temas abordados são: cidadania,
educação, políticas públicas, movimentos sociais, direitos humanos e meio ambientes.

Atualmente as ONGs e Movimentos Ambientais vêm se organizando através de redes temáticas


como as redes Mata Atlântica, Cerrados, Águas, Educação Ambiental e outras, promovem
reuniões regionais, publicam boletins e estudos, se comunicam intensamente através da
Internet. No plano internacional as articulações se dirigem às diferentes convenções (Clima,
Biodiversidade, Resíduos, Águas, Doces e outras).

6. EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

6.1. Introdução

Para um estudo mais aprofundado, seria necessário um exame simultâneo da história e das
normas portuguesas na época do descobrimento, do Brasil-Colônia, das Capitanias Hereditárias,
do Governo Geral, etc.

17

Módulo 4 – Noções sobre Proteção Ambiental


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Portanto, este resumo, abordará a Evolução da Legislação Ambiental após o advento da


República.

6.2. O Código Civil e as Questões relativas ao meio ambiente

O código Civil de 1916, quando a palavra “ecologia” tinha apenas algumas décadas e o assunto
não havia tomado proporções atuais, não trata de forma expressiva das questões ambientais.
Contudo os artigos 554 e 555, na seção relativa aos Direitos de vizinhança, reprimem o uso
nocivo da propriedade. O proprietário ou inquilino de um prédio pode impedir que o mau uso
da propriedade vizinha prejudique a segurança, o sossego e a saúde. Ainda o Código Civil, no
artigo 582, confere ao dono do prédio vizinho que se sinta ameaçado, a possibilidade de solicitar
o embargo de obras de chaminés, fogões ou fornos.

6.3.Os anos vinte

Enquanto se inicia uma nova linguagem nacional, através de música, da pintura e da literatura
surge à construção de uma legislação própria brasileira.

Tal movimento, semana de arte moderna de 1922, na idade de São Paulo, surge à exaltação das
riquezas naturais (florestas, Pão de Açúcar, etc.), preconizadas por Oswald de Andrade. É a
época do impulso da industrialização e do urbanismo brasileiro.

Com o decreto número 16.300 (de 31/12/1923), que rege sobre a saúde e saneamento,
importante passo foram dados em favor do controle da poluição, quando proibiu instalações de
indústrias nocivas e prejudiciais à saúde de residências vizinhas.

6.4. Os anos trinta

É a época voltada para a construção dos “interesses nacionais”. É criado o Ministério do Trabalho
em 1931 e são editadas inúmeras leis trabalhistas.

A constituição de 1934, no seu artigo 10 estabelecido a competência da União e dos Estados


para proteger as belezas naturais e os monumentos de valor histórico. Entretanto, houve uma
grave omissão constitucional em relação aos Municípios que ficaram sem previsão expressa do
poder de polícia para proteção de suas riquezas naturais.
ª
No artigo 5 , inciso XIX atribuiu exclusivamente à União, competência legislativa sobre bens de
domínio federal, riquezas do subsolo, mineração, metalurgia, água, energia elétrica, florestas e
sobre a caça e pesca.

São dessa época também o Código de Águas nos seus artigos 98 e 109, que, respectivamente,
proíbem construções capazes de poluir a água de poço ou nascente, assim como classificam
como ato ilícito à contaminação deliberada da água.

Já na constituição de1937, o artigo 16, inciso XIV, determinava a competência privativa da União
para legislar sobre os bens de domínio federal, minas, metalurgia, energia hidráulica, águas,
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florestas, caça e pesca e sua exploração, não incluindo expressamente (a exemplo da


Constituição de 1934), a competência para legislar sobre as riquezas do subsolo.

6.5. Os anos quarenta

Com relação à Legislação Florestal, no Decreto-lei nº 2.014 de 14/02/1940, autoriza os Governos


estaduais a promoverem a guarda e fiscalização das florestas. Na Constituição Federal de 1946,
consagrando o fim d Estado Novo e o restabelecimento da vida democrática brasileira, no seu
º
artigo 5 , inciso XV, voltou a atribuir à União competência para legislar sobre as riquezas do
subsolo, além da mineração metalurgia, águas, energia elétrica, florestas, caça e pesca.

Já no Decreto Legislativo n.3 de 13.02.1948, importante passo foi dado com a proteção da flora,
da fauna e a conceituação de parques nacionais, reservas nacionais, monumentos naturais,
reservas de regiões virgens e aves migratórias.

6.6. Os anos sessenta

Em 21 de abril de 1960, é inaugurada a nova Capital, Brasília. Consequentemente o Rio de


Janeiro vai perdendo gradualmente seu status de capital cultural do Brasil.

Neste período, uns grandes números de Leis Ambientais são editados.

• Lei n° 3.964 (1961) – Protege os monumentos arqueológicos e pré-históricos;

• Lei n° 4.132 – Define os casos de desapropriação de terras por interesse social, na hipótese
de proteção do solo e preservação de cursos e mananciais de água, bem como de
reservas florestais;

• Lei Delegada n° 10 – Criava a SUDEPE (Superintendência do Desenvolvimento da Pesca);

• Lei n° 4.504 – (30/11/1964), dispõe sobre o estatuto da terra, trazendo no seu texto a
função social da terra, ou seja, o Poder Público pode desapropriá-la para quando seus
proprietários não ponham em práticas normas de conservação de recursos naturais;

• Decreto n° 55.795, de 24/01/1965 – Fica estabelecido à festa anual da árvore, com o


objetivo de difundir ensinamentos sobre a preservação florestal e estimular a prática
dos mesmos;

• Lei n° 4.717 de 29/06/1965 – Esta lei institui a ação popular, que constitui um dos
instrumentos legais para o cidadão, em nome da coletividade, obter a invalidação de
atos ou contratos administrativos, ilegais e lesivos ao patrimônio federal, estadual e
municipal. Foi proposta para anular uma autorização para a extração de madeira em
floresta protetora, mas também pode dela se servir o cidadão que vise a pleitear em
Juízo a invalidade do registro de loteamento que esteja em desacordo com a legislação
estadual ou municipal pertinente;

• Lei n° 5.197 de 03/01/1967 – Dispõe sobre a proteção à fauna e cria o tutelados pelo
Estado, conforme determinava o Decreto n° 24.646, de 1934. Conceituação de fauna,
19

Módulo 4 – Noções sobre Proteção Ambiental


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para estender proteção da norma aos ninhos, abrigos e criadouros naturais de animais
fora do cativeiro;

• A constituição Federal de 1967 e a Emenda número 1 de 14/10/1969 – Esta constituição


que respaldou o regime autoritário em nosso país, não trouxe maiores mudanças
quanto à legislação ambiental;

• Decreto – Lei n° 32 de 18/11/1966 – institui o Código Brasileiro do Ar.

• Decreto – Lei n° 221 de 28/02/67 – Dispõe sobre a proteção e estímulos à Pesca, trazendo
em seu artigo 37, o conceito de poluição;

• Lei n° 5.357 e 17/11/1967 – estabelece penalidades para embarcações e terminais


marítimos ou fluviais que lançarem detritos ou óleo em águas brasileiras;

• Decreto n° 62.127 de 16/01/1968 – Aprova o Código Nacional de Trânsito, que através do


seu artigo 8, fixa a competência do Conselho Nacional de Trânsito para determinar o
uso, nos veículos automotores, de aparelhos que diminuam ou impeçam a poluição do
ar.

6.7. Os anos setenta


ª
• Lei n° 6.151 de 4/11/1974 – Dispõe sobre o 2 Plano Nacional de Desenvolvimento (PND)
e dá enfoque à Política habitacional, além de Ter traçado as prioridades, quanto à
preservação do meio ambiente;

• Decreto n° 75.000, de 7/05/1975 – Protege as fontes de água mineral;

• Decreto n° 76.389, de 3/10/1975 – Dispõe sobre as medidas de prevenção e controle da


poluição industrial;

• Decreto n° 79.367, de 9/03/1977 – Determina as normas e o padrão de potabilidade de


água;

• Lei n° 6.576 de 30/09/1978 – declara o Pau-Brasil árvore nacional e institui o dia do Pau-
Brasil;

• Decreto n° 84.017 de 21/09/1979 – Institui o Código Florestal e regulamenta os Parques


Nacionais.

6.8. Os anos oitenta e noventa

Um dos maiores avanços na Legislação ambiental brasileira foi proporcionado pela Lei n. 6.803
de 02/09/1980, que determinou as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas
críticas de poluição.

O estudo de impacto ambiental (Lei n° 6.803) passou a ser realizada de forma preventiva para a
aprovação de zonas de uso estritamente industrial que se destinem a localização de pólos
petroquímicos, cloroquímicos, carboquímicos, bem como instalações nucleares. Esse estudo
20

Módulo 4 – Noções sobre Proteção Ambiental


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resulta na elaboração do relatório de impacto ambiental - RIMA, que deverá ser apresentado
aos órgãos públicos competentes e à população.

Na resolução CONAMA n.001, de 23/01/1986, em seu artigo 1°, conceituou impacto ambiental
como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam:

I – a saúde, a segurança e o bem–estar da população;

II – as atividades sociais e econômicas;

III – a biota;

IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V – a qualidade dos recursos naturais.

Lei n° 6.938 de 31/08/1981 – Estabelece a política Nacional do Meio Ambiente, constitui o


sistema Nacional do Meio Ambiente, cria o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e
institui o Cadastro Técnico Federal de atividades e instrumentos da defesa ambiental. No artigo
2° dessa norma, a Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando a assegurar, no País, condições
ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I. Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente


como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista
o uso coletivo;

II. Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e doa ar;

III. Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV. Proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V. Controle e zoneamento das atividades potencial e efetivamente poluidor;

VI. Incentivos aos estudos e à pesquisa de tecnologias orientadas para uso racional e a proteção
dos recursos ambientais;

VII. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII. Recuperação de áreas degradadas;

IX. Proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X. Educação ambiental em todos os níveis de ensino, incluindo a educação da comunidade,


objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Ainda nesta Lei, temos um importante instrumento de defesa ambiental que é a ação de
responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente.
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Módulo 4 – Noções sobre Proteção Ambiental


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• Lei n° 7347 de 24/07/1985 – Institui a ação civil pública de responsabilidade por danos
causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens de direito de valor histórico, artístico,
estético e paisagístico.

• Constituição Federal de 1988 – Traz enormes mudanças no Tratamento do meio ambiente no


Brasil. Nos trabalhos na subcomissão do Meio Ambiente da Comissão de Direitos Humanos, se
tornaram disposições constitucionais:

a) O estudo prévio do impacto ambiental;

b) O conceito do meio ambiente como patrimônio público e direito difuso da coletividade;

c) Não se questiona mais sobre a responsabilidade civil do poluidor;

d) No artigo 5°, inciso LXXIII, possibilita a qualquer cidadão a proposta de ação popular para
anular ato lesivo ao meio ambiente;

e) À questão indígena também tem tratamento detalhado, “os direitos territoriais dos povos
indígenas como primeiros habitantes do Brasil”, cabendo a União demarcar e reconhecer
essas terras;

f) A localização das usinas nucleares deve ser definida por lei federal;

g) A Floresta Amazônica brasileira e a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense


e a Zona costeira, foram declarados patrimônio nacional;

h) Os sítios de valor ecológicos foram declarados patrimônio cultural brasileiro, sujeitando os


causadores de danos ou ameaças à sanção, na forma de lei;

i) A educação ambiental como princípio da Política nacional do Meio Ambiente, passa a ser
determinação federal contida expressamente no artigo 225, inciso VI, incentivando-se a
promoção desse tipo de educação em todos os níveis de ensino;

j) Determina aos exploradores de recursos minerais a recuperação do meio ambiente


degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão competente, na forma da lei;

k) Criado o controle de produção, comercialização e emprego de técnicas, métodos e


substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.

Hoje, podemos afirmar que a regulamentação da legislação ambiental brasileira é uma das mais
avançadas do mundo.

Nas décadas de oitenta e noventa, temos algumas importantes leis e decretos ambientais
estruturadas na constituição de 1988.

22

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7. ISO-14000

7.1. Introdução

Com o objetivo de uniformizar as ações a serem tomadas nesta nova postura mundial quanto
ao meio ambiente, a ISO – Organização Internacional para a Normalização (Internacional
Organization for Standardization, organismo mundial constituído em 1947, que tem a
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT – como um de seus membros fundadores).

A ISO é uma organização não governamental e conta com mais de 100 membros, (representando
cada um seu país de origem) – decidiu criar um sistema de normas que trata basicamente da
gestão ambiental. A série ISO–14000, a nova série de normas trata basicamente da gestão
ambiental e não deve ser confundida com um conjunto de normas técnicas.

A série ISO – 14000 constituem provavelmente o conjunto de normas mais amplo que já se
tentou criarem de forma simultânea. Contêm, em seu corpo, normas que regulam sua própria
utilização e que definem as qualificações daqueles que deverão auditar sua aplicação (ISO–
14010 – Diretrizes para Auditoria Ambiental – incluindo os critérios de qualificação dos próprios
auditores).

Um dos grandes méritos deste sistema consiste em proteger produtores responsáveis contra
outros concorrentes predadores que por não respeitarem as leis e os princípios da conservação
ambiental, produzem mais barato e não internalizam alguns custos que acabam sendo arcados
pelas sociedades.

Portanto, seria perfeito se a implantação da nova série de normas ambiental respeitasse


conceitos e procedimentos se perderem de vista características e valores regionais.

7.2. Histórico

Por outro lado, algumas iniciativas foram tomadas de forma isolada, em alguns países, com a
criação de símbolos ou rótulos ecológicos de produtos que não agrediam o meio ambiente. Um
produto que os tivesse, seria considerado um produto “ambientalmente correto”, merecedor,
portanto da preferência do consumidor.

Um novo passo para a abordagem sistêmica as atividades relacionadas ao meio ambiente foi
dado pela British Standards Institution (BSI), em 1992, com a homologação da norma BS 7750
que cria procedimentos para se estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental nas empresas. A
norma BS 7750 estabelece um paralelo ambiental com a norma britânica de gestão da qualidade
BS 5750 e esta, por sua vez, serviu de base para a elaboração das normas internacionais da série
ISO 9000 de Gestão da Qualidade e garantia de Qualidade, já adotadas Universalmente.

Com esta experiência, a cumulada na elaboração das normas de série 9000 e sensibilizada pelas
ações que já vinham sendo tomadas por diversos países para criar suas próprias normas de
gestão e certificação ambiental, a ISO criou, em 1993, um novo comitê técnico, o TC 207,
incumbido de elaborar normas internacionais que assegurem essa abordagem sistêmica à
gestão ambiental e possibilitem a certificação das empresas e dos produtos que as cumpram.

Para poder desenvolver esse plano de normalização, ambicioso por sua abrangência e pelo curto
prazo em que se pretende implantá-lo, o TC207 foi estruturado em seis subcomitês técnicos,
23
além de um comitê coordenador:

Módulo 4 – Noções sobre Proteção Ambiental


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• SC1 – Subcomitê de Gerenciamento Ambiental

• SC2 – Subcomitê de Auditoria Ambiental

• SC3 – Subcomitê de Rotulagem Ambiental

• SC4 – Subcomitê de Avaliação de Desempenho Ambiental

• SC5 – Subcomitê de Análise de Ciclo de Vida

• SC6 – Subcomitê de Termos e Definições

Pretende-se unificar, no futuro, as séries 14000 e 9000, relacionando os aspectos da qualidade


na empresa e em seus produtos, incluindo a qualidade da produção, do meio ambiente, da
segurança e da saúde ocupacional.

Além do mais, as normas ISO 14000, são voluntárias e não preveem a imposições de limites
próprios para medidas de poluição, padronização de produtos, níveis de desempenho, etc. são,
ao contrário, sistemas orientadores.

7.3. A Nova Ordem

Com a entrada em vigor da série ISO 14000, as fronteiras são derrubadas e colocam a gestão
ambiental, no mesmo plano já alcançado pela gestão da qualidade.

Conciliar as características ambientais dos produtos com os paradigmas da conservação


ambiental será, por isso e cada vez mais, um requisito essencial para as empresas serem
competitivas e manterem posições comerciais arduamente conquistadas.

Por outro lado, as empresas que veem na qualidade ambiental não um empecilho, mas um fator
de sucesso para se posicionarem no mercado tem, nas normas ISO 14000, a oportunidade para
se valorizarem internacionalmente.

Um dos grandes méritos do programa de normalização da série ISO 14000 é a uniformização das
rotinas e procedimentos necessários para uma empresa certificar-se ambientalmente,
cumprindo um mesmo roteiro-padrão de exigências que será válido internacionalmente. Para
que esse certificado seja reconhecido internacionalmente é necessário, contudo, que o
procedimento de certificação seja feito por uma terceira parte, isto é, umas entidades
especializadas, reconhecidas junto a um organismo autorizado ou credenciadas.

As dificuldades atualmente encontradas por empresas que são obrigadas a comprovar a


correção ambiental de seus produtos e processos e a cumprir exigências burocráticas em cada
país onde exportam ficam, assim, superadas ou, pelo menos, bastante reduzidas.

Para alcançar a certificação ambiental, uma empresa deve:

• Ter implantado um sistema de Gestão Ambiental;

• Cumprir a legislação ambiental aplicável ao local da instalação;

• Assumir um compromisso com a melhoria contínua de seu desempenho ambiental.


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7.4. Objetivos e Abrangência

Em sua concepção a série de normas ISO 14000 tem como objetivo central um sistema de Gestão
Ambiental que auxilie as empresas a cumprirem seus compromissos assumidos com o meio
ambiente. Como conseqüência, cria sistemas de certificação, tanto das empresas como de seus
produtos, possibilitando assim distinguir aquelas empresas que atendem à legislação ambiental
e cumprem os princípios do desenvolvimento sustentável.

Tendo por base um Sistema de gestão Ambiental, as normas da série ISO 14000 também vão
estabelecer, quando inteiramente implantadas, as diretrizes para Auditorias Ambientais,
Avaliação do Desempenho Ambiental, Rotulagem Ambiental e Análise do Ciclo de Vida dos
produtos, exigindo assim a total transparência da empresa e de seus produtos com relação aos
aspectos ambientais. As normas deverão, portanto, servir de modelo para a implantação desses
programas no âmbito da empresa, possibilitando harmonizar os procedimentos e diretrizes
aceitas internacionalmente com a experiência e a tradição empresarial local.

SÉRIE DE NORMAS

ISO 14000

GESTÃO AMBIENTAL

NORMAS QUE TRATAM DA NORMAS QUE TRATAM DOS


ORGANIZAÇÃO PRODUTOS

Normas 14001 e 14004 Normas 14020 e seguintes

SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ROTULAGEM AMBIENTAL

Normas 14010 e seguintes Normas 14040 e seguintes

AUDITORIA AMBIENTAL ANÁLISE DO CICLO DE VIDA

Norma 14031 Guia ISO 64

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ASPECTOS AMBIENTAIS NOS


AMBIENTAL PRODUTOS

Norma 14050 VOCABULÁRIO (termos e definições)

Figura 06. Séries de Normas ISO 14000 25

Módulo 4 – Noções sobre Proteção Ambiental


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8. SEGURANÇA AMBIENTAL

Dois são os enfoques “tradicionais” que damos à segurança no meio industrial: seguranças
patrimoniais, que visa à proteção dos bens das industriais sejam eles físicos, sejam
conhecimentos específicos da atividade e a segurança no trabalho, que está relacionada à
manutenção da integridade física das pessoas, tendo como foco a prevenção dos acidentes.

Contemporaneamente veio à tona a necessidade de se estabelecer critérios para a obtenção da


Segurança Ambiental. A segurança ambiental é aquela que visa proteger os ecossistemas locais
de possíveis impactos ocasionados pela atividade industrial, e verificou-se que este deve ser
mais um enfoque dado ao tema segurança.

Estas duas últimas, segurança do trabalho e segurança ambiental, estão intimamente ligadas
principalmente pelo fato de que um indivíduo que pratica atos inseguros pode vir a lesar a si
próprio, a colegas de trabalho, a indústria e, com grande frequência, ao meio ambiente; e que
clamam por atenção urgente das empresas preocupadas com a sustentabilidade do negócio, e
devem fazer parte (como vimos no capítulo anterior) da visão estratégica da empresa. Esta
ligação é tanta que na prática as grandes empresas mantém uma única diretoria para os
principais enfoques de segurança, por exemplo, o SMS (Saúde, Meio Ambiente e Segurança
Patrimonial) a Petrobrás ou o HSE (Healthy, Safety/Security and Environment) da Shell.

A atividade de inspeção de equipamentos mostra-se intrinsecamente ligada a estes conceitos


quando tenta prevenir as falhas que podem vir a causar não só paralisação das atividades
industriais como acidentes. Por diversas vezes ao exercer a profissão deve-se levar em
consideração o “peso” de um risco ambiental, seja ao inspecionar um equipamento de
conservação ambiental, como separadores água óleo, seja prevenindo a corrosão em um duo
enterrado. Para tanto é necessário se estabelecer critérios claros de prioridade e detalhamento
de equipamentos, conceito da moderna inspeção baseada em riscos (RBI). Uma técnica que tem
sido usada para a elaboração de planos de inspeção é o uso de uma matriz de riscos, por
exemplo:

Contaminação Contaminação Contaminação


Desastre
ambiental não de área de área
ambiental
considerável controlada circunvizinha

Ocorre com Frequência 2 1 1 1

Já ocorreu com o equipamento 2 2 1 1

Já ocorreu na instalação industrial 3 3 2 1

Existe ocorrência na indústria 4 3 2 1

Não há casos relatados na indústria 4 4 3 2

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LEGENDA:

1 Inaceitável – Prioridade, inspeção detalhada e frequente

2 Atenção – Inspeção completa e frequente

3 Inspeção completa mas com menor frequência

4 Verificação de estado, com baixa frequência

É bem verdade que gostaríamos que fosse possível manter todo o nosso parque industrial
mundial sob atenta vigilância e análise a fim de erradicarmos os acidentes ambientais causados
por grandes indústrias, entretanto, isso se mostra uma utopia devido a seus custos proibitivos e
que, portanto justifica o uso de tabelas como a acima.

A seguir, faremos um breve estudo do maior risco, em abrangência e em frequência, presente


nas indústrias Brasileiras.

- Derrames

No Brasil a atividade de inspeção de equipamentos industriais está muito concentrada no ramo


Petroquímico (não que seja inexistente em outros ramos) e quando falamos de Petróleo e seus
derivados estão em geral falando de produtos fluidos e, portanto do risco de derrames.

O primeiro passo para estudarmos um risco, no caso os derrames, é procurarmos suas causas,
ou seja, a forma como o petróleo e seus derivados fluidos vão parar em rios e mares, neste caso:

• Despejos acidentais ou propositais, criminosos, ocorridos em áreas urbanas (postos de


gasolina, oficinas mecânicas...);

• Operações de navios petroleiros e/ou acidentes em transporte

• Esgotos oleosos de fábricas, vazamentos em refinarias e terminais...

• Vazamento natural (poços) e a condensação das frações leves que se evaporam e


retornam em forma de chuva.

O segundo passo pode ser a percepção de que todas estas causas podem ser evitadas pela
elaboração de normas rígidas de manejo e principalmente a criação e o cumprimento de
legislação que regulamente o tópico.

Um terceiro passo é aquele que gostaríamos de não ter que pôr em prática, a elaboração de
planos de contingência para a redução do impacto ambiental, para tanto se faz necessário
conhecer o problema e seus fenômenos.

Ao ser derramado na água a primeira modificação que o óleo sofre é o seu espalhamento na
superfície líquida formando uma grande mancha que se alongará em função das correntes,
normalmente se tratando de petróleo este processo pode levar uma semana, podemos então, 27

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notar que, de forma geral, o petróleo e seus derivados são mais leves do que a água e por isso
flutuarão, ficando sobrenadando na superfície na forma de uma fina, mas extensa camada,
como um filme. Durante estes processos estará havendo a evaporação das fazes mais leves
tornado o derrame cada vez mais viscoso e aderente às pedras, praias e tudo o que encontrar
no caminho, incluindo a vida marinha. A evaporação também é a maior responsável pelo grande
risco de incêndio, e explosões, nas 24 h após o derrame.

Considerando o problema exposto acima podemos pensar em casos hipotéticos para a aplicação
da matriz de riscos apresentada anteriormente, sendo os casos:

• Tubulações aéreas, sobre o mar, que transporta grandes volumes de petróleo entre um
terminal e uma refinaria;

• Trecho de tubulação aérea dentro da bacia de tanques de armazenamento,


movimentando grandes volumes de petróleo entre tanques.

Qual será o caso que necessita de maior atenção e dispêndio de tempo e dinheiro?

Analisando a matriz de risco podemos verificar que a ocorrência de um furo pode acontecer com
ambos com a mesma frequência, ou seja, provavelmente “já ocorreu na instalação”, entretanto
ao analisarmos frente ao impacto causado verificamos que a tubulação na bacia de tanques
atinge uma área controlada, confinada, enquanto a tubulação sobre o mar pode causar desastre
ambiental, ou seja, risco 3 e 1 respectivamente em nossa matriz. Racionalmente a tubulação
sobre o mar exige maior atenção.

A técnica acima trata de como gerenciar a prevenção do problema, ou seja, focar os esforços
onde realmente é necessário para prevenir os acidentes, entretanto, como atuar quando não
conseguimos evitar um acidente? Neste caso, como vimos anteriormente é necessário Ter um
plano de contingência muito bem estruturado e uma forma de se conseguir elaborá-lo é através
da Análise Histórica de Acidentes.

A análise histórica de acidentes consiste na associação dos perigos identificados na análise


crítica dos resultados e das causas dos acidentes ocorridos em instalações similares a analisada.
A forma mais comum de elaboração desta análise é a consulta a bancos de dados e referências
bibliográficas.

É importante que a pesquisa seja abrangente, envolvendo publicações internacionais e


consultas até mesmo a empresas concorrentes, e deve ser tratada de forma estatística,
fornecendo assim índices de trabalho para causas e conseqüências, possibilitando a
estruturação de um plano de contingência.

Voltando a relacionar o derrame como principal problema, em ocorrências, vamos citar como
exemplo acidentes que foram exaustivamente estudados para a definição de planos de
contingência:

TORREY CANYON - Até o acidente de Torrey Canyon a preservação do meio ambiente marinho
estava praticamente restrita a Convenção Internacional para a prevenção da Poluição do Mar
por Óleo (Internacional Convention for the Prevention of Pollution of Sea by Oil).

O Petroleiro encalhou na costa da Bretanha, em 1967, sendo totalmente destruído pelo mar,
derramado 117000 toneladas de Petróleo do Kuwait, cerca de 390 Km de litoral da França e 28

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Inglaterra foram atingidos, mostrando ao mundo o quanto estava despreparado para enfrentar
estas situações.

Devido ao emprego de dispersantes a população marinha sofreu agressões por mais de dez
anos.

BARCAÇA FLÒRIDA – Em 1969, a Barcaça Flórida, que levava cerca de 2500 toneladas de óleo
combustível, naufraga na baia de Bazzard em Massachusetts. Este acidente é muito importante,
pois ocorreu em águas interiores e foi muito estudado pelos Nortes Americanos. Suas
conseqüências mais notáveis foram à mortandade de pequenos peixes, invertebrados e
organismos de pântano além de trocas na estrutura genética de populações marinhas locais,
esterilidade de alguns moluscos e principalmente desajuste comportamental.

Estes são exemplos de acidentes que poderiam ser evitados ou ter suas conseqüências reduzidas
pelo uso das técnicas que discutimos. Entretanto, o desenvolvimento destas e de outras
técnicas, todas muito eficientes por sinal, só acarretaram em resultados se forem aplicadas de
forma extensiva, e para tanto se faz necessária à formação de uma cultura ambiental, não
apenas na gestão das empresas como se encarrega a ISO 14000, mas determinantemente no
dia a dia das pessoas sejam eles operários de indústrias sejam donas de casa ou crianças, com a
mesma determinação que devemos buscar um sistema de gestão ambiental “vivo”, dinâmico,
devemos incentivar a coleta seletiva de lixo, dar preferência a produtos “ecologicamente
corretos” e incentivar a educação ambiental em casa e na escola, dentre outros.

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9. BIBLIOGRAFIA

• Drew, David. Processos Interativos Homem-Ambiente – 4 ª Ed. – 1998.

• Valle, Cyro Eyer. Como se preparar para as Normas ISO 14000 – 2 ª Ed. – 1995.

• Heinrich Boll Foundation. The jo´burg-Memo – Memorandum for the World Summit on
Sustainable Development. 2 ª Ed. – 2002.

• Apostila de proteção Ambiental na Indústria do Petróleo. CEFET- 2002.

• A questão Ambiental Diferentes: diferentes abordagens-/ Sandra Baptista da Cunha e


Antonio José Teixeira Guerra (organizadores) – 3º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2007

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