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AULA
Os antecedentes históricos
da gestão ambiental
Meta da aula
Apresentar a perspectiva histórica da
gestão ambiental.
objetivos

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:


1 identificar a trajetória evolutiva da preocu-
pação com o meio ambiente;

2 identificar a importância dos limites para a


exploração econômica do meio ambiente;
3 caracterizar as conexões entre meio am-
biente, bem-estar e desenvolvimento
sustentável.
Gestão Ambiental | Os antecedentes históricos da gestão ambiental

INTRODUÇÃO Você pode se perguntar: o que tem a ver a questão do meio ambiente com a
gestão das empresas? Atualmente, podemos dizer que a gestão empresarial que
desconsidere os aspectos relativos ao meio ambiente está fadada ao fracasso,
tamanha é a sua inter-relação.
Nesta aula, vamos iniciar o curso de Gestão do Meio Ambiente. Trata-se de um
assunto da maior importância para os administradores de empresas, pois sua correta
implementação será fundamental para a continuidade da vida na Terra.
Vamos apresentar uma perspectiva histórica da preocupação do homem com
o meio ambiente, destacando os principais eventos que a sociedade moderna
promoveu no sentido de salvaguardar esse importante recurso. Ficará evidenciado
que a exploração do meio ambiente tem limites e que a sobrevivência humana
e a manutenção da atividade econômica e, consequentemente, do bem-estar
social dependem de sua correta gestão.

OS ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA PREOCUPAÇÃO COM


O MEIO AMBIENTE

O ser humano passou a impactar com maior intensidade o meio


ambiente a partir do advento da agricultura, há cerca de 10.000 anos.
Com esta inovação tecnológica, o homem substituiu a enorme diversidade
ECOSSISTEMA de espécies presentes em um determinado ECOSSISTEMA florestal por um
(S I S T E M A
limitado conjunto de espécies selecionadas em razão de seu valor como
ECOLÓGICO)

É uma unidade alimento ou matéria-prima.


básica de estudo da Não obstante, em razão de seus efeitos não serem muito agressivos,
ecologia que inclui
todos os organismos o manejo sistemático da agricultura não comprometeu o equilíbrio
de uma determinada
área, interagindo ambiental do planeta Terra durante os séculos iniciais da história das
com o meio físico,
civilizações. Apenas com o advento da Revolução Industrial é que a AÇÃO
de forma a originar
um fluxo de matéria ANTRÓPICA conseguiu causar impactos crescentes no meio ambiente. A partir
e energia.
de então, esta intervenção humana nos múltiplos ecossistemas do planeta
cresceu sem parar.
Conforme assinalam May et al. (2003, p. 4), em princípio é
AÇÃO ANTRÓPICA

É aquela cujos
possível intervir no meio ambiente de tal forma que seja transformado
efeitos derivam da radicalmente um ecossistema natural, substituindo-o por outro, que,
atividade humana.
embora artificial, também é equilibrado do ponto de vista ecológico, na

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medida em que mantém suas características ao longo do tempo. Porém,

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o problema reside no fato de que, a partir de então, a manutenção do

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equilíbrio nesse ambiente transformado dependerá sempre da participação
ativa dos seres humanos, que deverão atuar com base em determinados
princípios básicos de regulação ecológica, tais como a reciclagem de
materiais e nutrientes e a manutenção de uma certa diversidade biológica.
Um exemplo dessa transformação seria a cultura de espécies florestais em
área sujeita à desertificação por meio de canais de irrigação que deveriam
ser mantidos em operação para que o cultivo se sustentasse.
A Revolução Industrial trouxe uma enorme quantidade de danos
ao meio ambiente, que foram potencializados pelo uso sistemático de
combustíveis fósseis. O emprego dessa nova fonte de energia permitiu uma
ampliação sem precedentes da escala das atividades humanas. Este fato passou
a pressionar cada vez mais a base dos recursos naturais do planeta.
Dessa forma, estabeleceu-se um marco histórico, pois, desde o ad-
vento da primeira Revolução Industrial, em fins do século XVIII, descor-
tinou-se um processo de devastação dos bens ambientais sem precedentes
na História, pois a ação humana foi potencializada pela escala industrial
que a produção de bens assumiu, com um vigoroso uso de matérias-primas
e de energia, com a sua consequente extração do meio ambiente.
Nesse sentido, fatores como a explosão demográfica, a produção
industrial em larga escala, as demandas de consumo cada vez maiores, a
competitividade desenfreada por mercados e a ocupação desregrada dos
espaços públicos passaram a atuar de forma combinada no sentido de
incorporar ao planeta Terra novas formas de poluição do meio ambiente.
Assim, ocorrências como o fenômeno do aquecimento global,
os recorrentes desastres ecológicos, a extinção de espécies, o crescente
despejo de resíduos tóxicos nas águas e na atmosfera, além da ameaça
de escassez generalizada de elementos naturais indispensáveis à atividade
humana passaram a despertar na sociedade o interesse pela temática
ambiental. A figura a seguir nos apresenta um dramático efeito das
mudanças climáticas que o planeta atravessa.

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Figura 1.1: O aquecimento global promove o degelo da montanha Kilimanjaro – África.


Fonte: http://www.fcf.usp.br/SGA/Apresentacoes

Percebemos que a expansão da atividade humana não poderá


ultrapassar um determinado limite ambiental global. Este limite é
denominado, pela economia do meio ambiente, como sendo a carrying
capacity, ou seja, a capacidade de carga do planeta. Essa capacidade de
carga representa a capacidade que o planeta teria, representada pela soma
das capacidades isoladas de seus múltiplos ecossistemas, de suportar a
ação antrópica sem sofrer degradação irreversível. Por exemplo, a baía da
Guanabara, no estado do Rio de Janeiro, na época do seu descobrimento
pelos navegadores portugueses, era um local paradisíaco, no qual as
baleias vinham ter as suas crias. Atualmente, boa parte da baía já está
completamente degradada, fruto do esgotamento da capacidade de carga
desse ecossistema.
O avanço da ação humana sobre os recursos do planeta é conhecido
por punção ou ecological footprint (pegada ecológica) e é o resultado do
tamanho da população mundial multiplicado pelo consumo per capita
dos recursos naturais, ou seja, as variáveis relevantes para essa análise
são tanto o tamanho da população quanto o seu perfil de consumo.

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Figura 1.2: O desmatamento da Amazônia pode levar ao colapso do seu ecossistema.
Fonte: http://www.fcf.usp.br/SGA/Apresentacoes

Um dado nível de punção da humanidade vai demandar,


em contrapartida, o uso de áreas de terra e de água nos diversos
ecossistemas, que deverão fornecer os recursos naturais, renováveis
ou não, necessários ao consumo humano. Além disso, para efeito de
mensuração da capacidade de carga do planeta, deve ser considerada a
capacidade que estes ecossistemas possuem para assimilar os rejeitos e
as descargas gerados pela ação humana no meio ambiente.
Verifica-se que o progresso técnico é capaz de atenuar os efeitos
da punção sobre o meio ambiente, mas jamais eliminá-la. É o caso
do desenvolvimento de combustíveis menos poluentes ou de filtros
de resíduos industriais. O fato é que não será possível ultrapassar a
capacidade de carga do planeta sem que sejam gerados efeitos deletérios
ao meio ambiente, de magnitudes catastróficas.
Para complicar o quadro, os pesquisadores se deparam com o
problema da difícil mensuração da verdadeira capacidade de carga que o
planeta é capaz de suportar. Dessa forma, como não existe uma precisão
no cálculo desta variável, é preciso, de antemão, adotar uma postura de
precaução em face do uso dos recursos naturais.
Constitui-se em ato de urgência a criação das condições políticas,
econômicas, institucionais, sociais, jurídicas e culturais que tenham por
propósito, de um lado, o desenvolvimento de inovações tecnológicas

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poupadoras de recursos naturais (qualquer nova tecnologia que use


menos recursos do que as atuais) e, de outro, o estabelecimento de novos
padrões de consumo que não impliquem um crescimento contínuo e
ilimitado do uso dos recursos naturais.
Destarte, o desenvolvimento de inovações tecnológicas poupadoras
de recursos é uma ação coerente com o modelo de produção vigente desde
a aurora do capitalismo industrial, pois está alinhado com a ideia de
eficiência. Já a estabilização dos níveis de consumo per capita está em
desacordo com o modelo capitalista tradicional, que tem se caracterizado
por uma criação incessante de novas necessidades de consumo, tais como
o advento da internet e do telefone celular.
Verificamos em Thomas (2002, XXXI) que a degradação do meio
ambiente sofreu um agudo incremento em razão, entre outros fatores,
do crescimento populacional, das pressões domésticas e globais sobre os
recursos econômicos escassos, das políticas econômicas e da negligência
com os bens públicos naturais (globais e locais). Um bem público global
seria um oceano, enquanto um bem público local pode ser um bosque.
Os custos decorrentes da poluição ambiental e da exploração acelerada
dos recursos são enormes, e, em alguns casos, irreversíveis.
É preciso que tenhamos uma perspectiva de sustentabilidade a
longo prazo na condução do sistema econômico, sob pena de o mesmo
chegar a um ponto de colapso.
O problema das sociedades contemporâneas não é propriamente
a incapacidade de obter inovações tecnológicas poupadoras de recursos
naturais, mas sim conseguir uma mudança nos padrões de consumo que
permita, ao menos, estabilizar os níveis de consumo per capita.
Não obstante, uma mudança de atitude e de comportamento
das sociedades é difícil de ser obtida porque isso contraria as condutas
prevalecentes na lógica do processo de acumulação de capital vigente
desde os primórdios do capitalismo, caracterizado pela criação constante
de novas necessidades de consumo.
Ferreira (2003, p. 12) registra que, embora a preocupação com o
meio ambiente tenha surgido ainda no século XIX, foi apenas no século
XX, e mais precisamente no início dos anos 1970, que esta temática
passou a repercutir na sociedade. O marco de evolução do pensamento
relativo à questão ambiental nessa época foi traduzido pela ideia de que
o problema não poderia ser gerenciado com base em responsabilidade

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localizada, mas sim com um enfoque de responsabilidade global. A autora

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também assinala que uma frase era capaz de resumir o pensamento

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dominante dos organismos ambientalistas em várias partes do mundo:
“pensar globalmente, agir localmente”. Isso significa que são as pequenas
iniciativas que, somadas, produzem o grande efeito.
À medida que esta conscientização foi se ampliando, a comunidade
internacional passou a agir em conformidade com a perspectiva da
dimensão transnacional da questão ecológica, desencadeando uma série
de programas e conferências, com vistas à sensibilização dos decisores
em diversas partes do mundo, bem como para o alinhamento de medidas
comuns para mitigar o problema. Essa perspectiva transnacional representa
a compreensão de que as ações humanas na natureza transcendem a
fronteira dos países em que elas ocorrem, afetando todo o planeta.
O primeiro evento digno de registro com relação ao meio ambiente
foi a conferência com a temática “O Homem e a Biosfera”, da Unesco,
em 1971. Logo em seguida, em 1972, ocorreu a Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente, na cidade de Estocolmo, com grande
repercussão internacional.
Na cidade de Belgrado, em 1975, foi realizado um Seminário
Internacional de Educação, com a participação de vários países do
mundo, que gerou uma lista de resultados apresentados no documento
que ficou conhecido como Carta de Belgrado, cujo conteúdo contem-
plava resumidamente a seguinte pauta, toda ela subordinada à harmonia
com o meio ambiente: qualidade de vida ligada à felicidade humana,
preservação e melhoria das potencialidades humanas e desenvolvimento
do bem-estar social e individual.

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A Carta de Belgrado propunha
que as ações de preservação ambiental deveriam
passar por uma etapa preliminar que consistiria num programa
de educação ambiental. Os objetivos a serem atingidos com este programa
eram os seguintes: 1º – conscientizar os cidadãos de todo o mundo sobre o
problema ambiental; 2º – disponibilizar acesso a conhecimentos específicos sobre
o meio ambiente; 3º – promover atitudes para a preservação do meio ambiente;
4º – desenvolver habilidades específicas para ações ambientais; 5º – criar
uma capacidade de avaliação das ações e programas implantados; e 6º
– promover a participação de todos na solução dos problemas.
Fonte: www.ufpa.br/npadc/gpeea/DocsEA/A%20Carta%20d
e%20Belgrado.pdf

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A ideia contida nos programas de educação ambiental, a serem


desenvolvidos nos países que aderiram à Carta de Belgrado, consistia
basicamente na conscientização das crianças acerca da importância de
cuidar do meio ambiente. Porém, acreditava-se que apenas a conscientização
seria insuficiente para permitir a implementação de ações efetivas por parte
das crianças e mesmo depois que se tornassem adultos. Por esta razão, seria
fundamental que os conhecimentos adequados sobre a ciência ambiental
fossem disseminados por meio de um processo educacional. Assim, a
combinação da conscientização com o conhecimento poderia promover
as atitudes corretas e o desenvolvimento de habilidades específicas para a
busca de soluções para o problema ambiental.
A educação ambiental passou a assumir um grande desafio,
desdobrado em quatro tópicos: (1) conscientização; (2) sensibilização; (3)
responsabilidade social; (4) desenvolvimento sustentável. Solucionar este
desafio é essencial para manter o objetivo de permitir que a humanidade
continue a viver.
Um outro marco histórico relevante deste processo foi a constituição da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, formada pela
ONU, em 1983. Registrou-se outra reunião em Estocolmo, no ano de 1988.
Contudo, o maior compromisso com a questão do meio ambiente
foi firmado, entre os países participantes, com a Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), conhecida
como Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, oportunidade em que as
nações, pela primeira vez, estabeleceram, em caráter definitivo, critérios
para se atingir o desenvolvimento sustentável.

?
O conceito
de desenvolvimento
sustentável consta no documento

Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório


Bruntland, publicado em 1987 e elaborado pela Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
e foi a definição adotada pelo Governo brasileiro para
o desenvolvimento sustentável. Trata-se do “desenvolvi-
mento que satisfaz as necessidades presentes, sem com-
prometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades“ (FERREIRA, 2003, p. 34).

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Figura 1.3: A poluição gerada pelo homem compromete a sustentabilidade do
meio ambiente.
Fonte: http://www.fcf.usp.br/SGA/Apresentacoes

Um importante documento foi produzido na Conferência Eco-92.


Trata-se da Agenda 21, que ainda é um ponto de referência na implantação
de programas e política de governos e de empresas no mundo todo, na
medida em que promoveu significativa mudança nas relações comerciais,
em suas diversas formas. Este documento foi assinado por 170 países e
ainda é considerado o maior esforço conjunto de governos dos países do
mundo para identificar ações que permitam combinar o desenvolvimento
com a proteção do meio ambiente.
A Agenda 21 basicamente definiu que deve existir uma reorien-
tação na educação no sentido do desenvolvimento sustentável, aliada
à ampliação da conscientização pública e do incentivo ao treinamento.
Ela se divide em quatro seções: 1ª – trata de aspectos sociais, que versam
sobre as relações entre meio ambiente e pobreza, saúde, comércio, dívida
externa, consumo e população; 2ª – trata da conservação e administração
de recursos, com foco no gerenciamento de recursos físicos, tais como
os mares, a terra, a energia e o lixo, de tal forma a garantir o desen-
volvimento sustentável; 3ª – trata do fortalecimento dos grupos sociais
organizados e minoritários que colaboram com a sustentabilidade, por
meio de formas variadas de apoio; 4ª – trata dos meios de implantação,
por meio de programas de financiamento e do papel das atividades
governamentais e não governamentais.

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No Brasil, os primeiros diplomas legais de proteção ao meio am-


biente foram a Lei nº 6.938, de 31/8/81, conhecida como Lei de Política
Nacional do Meio Ambiente (PNMA), e a Lei nº 7.347, de 24/7/85,
denominada Lei de Ação Civil Pública. Ambas as legislações foram
bastante influenciadas pelos ordenamentos jurídicos de países europeus,
que, desde a década dos anos 1970, passaram a promulgar normas de
caráter ambiental em suas Constituições. O Brasil também acolheu essas
posições mais afirmativamente na Carta Magna de 1988, a qual reserva
um capítulo no bojo do Título VIII (Da Ordem Social), para tratar do
Meio Ambiente, em seu artigo 225, e qualificá-lo como “bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”.
A partir da Eco-92, tornou-se imperativa, para a atual sociedade
tecnológica e de consumo, completamente envolvida numa economia
ESTRANGULAMENTO globalizada, e em constante modificação, a necessidade de conciliar o
DO SISTEMA
progresso com a conservação da biosfera, sob pena de ESTRANGULAMENTO
ECOLÓGICO
DO SISTEMA ECOLÓGICO, haja vista o seu aproveitamento sempre crescente
Consiste na
descontinuidade de por parte do sistema econômico, com riscos para a continuidade da
seu fluxo circular
de nascimento, vida no planeta.
crescimento, morte e
renovação dos seres Não obstante, dentre os múltiplos desequilíbrios e problemas
vivos. provocados pela malversação dos recursos naturais, destaca-se, pela
grandeza e relevância, a mudança de clima, cuja maior manifestação é
o aquecimento global. Essa importante questão será tratada em uma de
nossas futuras aulas.
Em 1979, a questão do aquecimento global obteve foros de
notoriedade com a realização da Primeira Conferência Mundial sobre
o Clima, evento inaugural de uma série que propiciou o surgimento do
GASES DE EFEITO
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da Organização
ESTUFA
Meteorológica Mundial.
De acordo com
o Anexo A do Estas entidades foram posteriormente unidas no Painel Intergo-
Protocolo de Quioto,
são gases de efeito vernamental sobre Mudanças Climáticas – Intergovernmental Panel
estufa (GEE) o
dióxido de carbono
on Climate Changes (IPCC), de cujos estudos extraiu-se o arcabouço
(CO2), o metano teórico-científico para a elaboração da Convenção-Quadro das Nações
(CH4), o óxido
nitroso (N20), os Unidas Sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), adotada na Eco-92
hidrofluorcarbonos
(HFC), os (Cúpula da Terra) e em vigor desde 21/3/1994, quando então se fixou,
perfluorcarbonos como meta, a estabilização das concentrações de GASES DE EFEITO ESTUFA na
(PFC) e o
hexafluoreto de atmosfera, num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa
enxofre (SF6).
no sistema climático.

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Atividade 1

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A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(UNCED), conhecida como Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, marcou o início da
preocupação da comunidade internacional com a questão do meio ambiente?

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Resposta Comentada
Não. Ela foi um marco importante dessa trajetória, mas o primeiro evento de caráter
relevante para a questão do meio ambiente no mundo foi a conferência com a
temática “O Homem e a Biosfera”, da Unesco, em 1971. Logo em seguida, em 1972,
ocorreu a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, na cidade de
Estocolmo, com grande repercussão internacional.

Com o advento da FCCC (Framework Convention on Climate


Change), as suas partes componentes (em torno de 185 países mais a
União Europeia) passaram a se reunir periodicamente. Como resultado
destas reuniões, alguns debates iniciados na Alemanha (Grupo Ad Hoc do
Mandato de Berlim), visando definir medidas de consenso sobre os esforços
a serem envidados para combater as alterações climáticas, culminaram
com a adesão dos países a um protocolo da UNFCCC, o denominado
Protocolo de Quioto, em 11 de dezembro de 1997, em reunião da Terceira
Conferência das Partes, ocorrida naquela cidade japonesa.
No âmbito desse Protocolo, foi estabelecido que, para o período
compreendido entre 2008 e 2012, haveria o compromisso de diminuição
de emissões totais dos gases geradores do efeito estufa, por parte dos
países listados no Anexo I do Protocolo, em um volume ao menos 5%
abaixo dos níveis monitorados em 1990.
Também foram ali consagrados os princípios das “responsabilidades
comuns, mas diferenciadas” e do “poluidor pagador”, segundo os quais,

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Gestão Ambiental | Os antecedentes históricos da gestão ambiental

embora seja global o problema ambiental, caberia aos países tradicionalmente


industrializados e, por esta razão, historicamente responsáveis pelos danos
ambientais, o ônus de evitar a sua agudização, sendo que, para esta tarefa,
contariam com o auxílio dos países em desenvolvimento.
Buscando viabilizar instrumentos para atingir os parâmetros
propostos, o Protocolo criou o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL), que passaria a possibilitar compensações entre os países do
Anexo I que investissem em projetos redutores de emissões em países
não-Anexo I, de tal forma a manterem seus compromissos de reduções,
num balanço atmosférico global, sem prejudicar os aspectos econômicos
que poderiam acarretar problemas sociais.
Estes foram os principais eventos e fatos que marcaram a evolução do
pensamento ambiental no mundo sobre o meio ambiente e que determinam
atualmente a condução de políticas de gerenciamento ambiental.

Atividade 2
2
O homem poderá explorar indefinidamente os recursos do planeta Terra, no
modelo de produção da economia capitalista neoclássica em vigor?

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Resposta Comentada
Não. A expansão da atividade humana não poderá ultrapassar um determinado limite
ambiental global. Este limite é denominado pela economia do meio ambiente como
sendo a carrying capacity, ou seja, a capacidade de carga do planeta. O avanço da
ação humana sobre os recursos do planeta é conhecido como punção ou ecological
footprint (pegada ecológica) e é o resultado do tamanho da população mundial
multiplicado pelo consumo per capita dos recursos naturais.

18 CEDERJ
AS CONEXÕES ENTRE O MEIO AMBIENTE, O BEM-ESTAR E

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O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

AULA
No mundo de hoje, em virtude do atual estágio de exploração de
recursos, são enormes as pressões sobre os ecossistemas do planeta. No para-
digma tecnológico vigente, não existem recursos suficientes para que toda a
população da Terra consiga atingir um nível de bem-estar social equivalente
ao da nossa classe média (pessoas com renda entre R$ 1.064 a R$ 4.591,
segundo o Instituto de Pesquisa Aplicada – IPEA, por exemplo). Para o
conceito de bem-estar social, tal circunstância impõe que uma enorme parcela
da população mundial se veja privada de condições mínimas de bem-estar
para que possa levar uma existência digna. Com isso, são geradas profundas
desigualdades entre os atores sociais, o que leva a uma permanente tensão
e grande instabilidade política e social em vários países.
A superação do problema resultante do aumento da desigualdade
social fez com que o desenvolvimento econômico passasse a se
constituir em palavra de ordem na pauta das discussões políticas do
mundo contemporâneo. Isto se deve ao fato de que, em face da efetiva
implementação de um conjunto de políticas articuladas e coordenadas,
o nível de pressão social que ora se estabelece poderá ser reduzido por
meio de um gerenciamento mais eficiente dos recursos.
As assimetrias entre os países de todo o mundo e mesmo dentro
deles são de múltiplas dimensões e possuem vários aspectos de avaliação.
A etapa preliminar dessa questão reside na construção de um conjunto de
indicadores que permita estabelecer prioridades na orientação das políticas.
Entrementes, existe uma carência de indicadores e de instrumentos de
avaliação, pois o sentido do que venha a ser bem-estar é muito mais difuso
do que o conceito da economia neoclássica tradicional poderia abarcar.
O indicador mais amplamente utilizado para representar o nível de
desenvolvimento de uma dada região ou país é a renda per capita, que pode
não ser o mais apropriado para permitir uma investigação um pouco mais
profunda acerca da questão. As deficiências desse indicador decorrem do
fato de ele ser um valor médio, não permitindo inferências sobre a forma
pela qual esta renda se distribui entre os membros da sociedade.
Conforme sugere Clemente (2000, p. 130), para uma análise
mais abrangente do desenvolvimento, seria preciso considerar seus vários
aspectos, dentre eles se destacando o econômico, o social, o cultural e
o político. Nesse sentido, os aspectos econômico e social deveriam ser

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Gestão Ambiental | Os antecedentes históricos da gestão ambiental

tomados em conjunto, em razão da dificuldade de separá-los de forma


conveniente, na medida em que constituem bons indicadores do nível de
vida da população. Este nível de vida seria expresso pela medida do acesso
que um dado agente econômico e social porventura possuísse de um
conjunto de utilidades (renda, emprego, saúde, educação, alimentação,
segurança, lazer, moradia, transporte etc.).
Verificamos em Thomas et al. (2002, p. 2) que os teóricos
do desenvolvimento empregaram durante muito tempo a noção de
PIB per capita como referência para o crescimento, sobretudo porque
acreditavam que o progresso social está associado ao crescimento do
PIB, porém também lançavam mão dessa métrica por conveniência
metodológica, pois seu cálculo é relativamente simples.
Não obstante, a confiança no PIB como medida de desenvol-
vimento é bastante restritiva, pois o crescimento do PIB pode ser tanto de
alta quanto de baixa qualidade. A atividade humana, ao degradar o meio
ambiente, pode reduzir o bem-estar ao invés de aumentá-lo. Dessa forma,
para promover a integração da qualidade do crescimento em avaliações
sobre o desenvolvimento, são necessários índices multidimensionais de
bem-estar, ou seja, aqueles que possam aferir as múltiplas dimensões da
felicidade humana.
Nesse quesito, em particular, é imperativo assinalar que a própria
MÉTRICA MÉTRICA empregada na mensuração do bem-estar constitui-se num
Escala de valores REDUCIONISMO perigoso, na medida em que propõe uma simplificação da
empregada num
processo de medida. realidade, que pode não ser condizente com as EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS.
Nos trabalhos de Amartya Sen (2001, p. 12), verificamos a importância
que este autor atribui à questão da métrica mental a ser empregada na
REDUCIONISMO
mensuração do bem-estar, enquanto os formuladores de políticas públicas
Simplificação da
realidade para fins se preocupam em corrigir ou mitigar as desigualdades sociais.
de análise.
A primeira questão a ser apresentada, segundo Sen, diz respeito
à caracterização dessas desigualdades. Ele indaga: “Igualdade de quê?”
EVIDÊNCIAS O argumento de Sen decorre de sua percepção de que a noção tradicional
EMPÍRICAS
de igualdade é contrariada devido às diversidades de dois tipos distintos:
Constatações de
fatos no mundo real.
primeiro, a heterogeneidade básica dos seres humanos; segundo, a
multiplicidade das variáveis em cujos termos a desigualdade presente na
sociedade pode ser examinada. No primeiro caso, temos a variedade de raças,
religiões, culturas e costumes. No segundo, podemos inferir questões tais
como acesso à água potável, saneamento básico, educação, rede hospitalar,
segurança alimentar e os múltiplos aspectos dos direitos humanos.

20 CEDERJ
Assim, segundo Sen, a avaliação das demandas de igualdade deve

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ajustar-se à existência da diversidade humana generalizada, e o efeito

AULA
de se ignorar de forma deliberada estas variações interpessoais pode ser
profundamente não-igualitário.
O julgamento e a mensuração de desigualdades na sociedade são
dependentes da escolha da variável focal (renda, riqueza etc.) em cujos
termos é feita a comparação. Todavia, mesmo as variáveis focais possuem
grande pluralidade interna. A igualdade, em termos de uma particular
variável focal, pode não coincidir com a igualdade na escala de outra
(oportunidades iguais podem resultar em fluxos de rendas desiguais;
fluxos de rendas iguais podem resultar em estoques de riquezas desi-
guais). Esse autor conclui ainda que uma das consequências da
diversidade humana é o fato de que a igualdade considerada num espaço
de variável focal tende a acarretar uma desigualdade em outro espaço. Por
exemplo, se estabelecermos uma renda mínima a ser subsidiada para um
determinado grupo de pessoas idosas, sem que se leve em consideração
aspectos específicos relativos à saúde de cada um deles, podemos distorcer
a lógica igualitária.
Silva (2007, p. 172) nos oferece uma síntese interessante do
pensamento de Sen. A abordagem de Sen atribui um peso maior à capa-
cidade dos indivíduos, para que os mesmos possam atingir os seus objeti-
vos. No seu modelo, Sen também define as funções ou funcionamentos,
que são os pré-requisitos para que as capacitações existam. As funções
são representadas pela alimentação, saúde e até mesmo autoestima do
indivíduo e sua autonomia. Os bens materiais, por sua vez, seriam apenas
as condições para que estas funções se realizem.
Não obstante, para Sen, o bem-estar dos agentes não seria apenas
o resultado do acesso às condições básicas de vida, mas sim, e principal-
mente, da liberdade de escolha que possuem quando decidem os rumos
que darão às suas vidas.
Nesse sentido, configura-se o conceito de capacitação, que seria
diferente do conceito de funcionamento, pois se refere às liberdades
de escolha, tanto instrumental quanto substantiva, com as quais os
agentes se deparam e que os permitem alcançar um determinado nível
de bem-estar empregando as funções que cada um possui. A capacitação,
portanto, é a liberdade de escolha.

CEDERJ 21
Gestão Ambiental | Os antecedentes históricos da gestão ambiental

A liberdade instrumental é definida como a liberdade de escolha,


pura e simples, acerca dos rumos que os indivíduos são capazes de dar
para as suas próprias vidas, seja no trabalho ou na comunidade. Já a
liberdade substantiva é a liberdade em si mesma, como um valor, e se
confunde com a liberdade política, nas suas múltiplas manifestações.
Verificamos que, em países totalitários, os níveis de bem-estar tendem a
ser muito baixos em razão da ausência desses dois tipos de liberdades.
Assim, para Sen, as políticas públicas não deveriam buscar
maximizar a quantidade dos bens primários acessíveis às pessoas num
espaço econômico, mas sim buscar condições para que os indivíduos
desenvolvam funções e tenham liberdade de escolha para exercê-las.

Toda a argumentação analítica do indiano Amartya Sen foi apresentada


ao meio acadêmico no último quartel do século XX. Ele foi laureado com
o Prêmio Nobel de Economia em 1998 por seus estudos relacionados à
pobreza. Suas contribuições têm influenciado análises e programas da
Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial, tendo sido um
dos criadores do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), publicado em
1999 e adotado pela ONU como um indicador mais sofisticado e preciso do
que outras referências para a análise do bem-estar das pessoas, tais como
o PIB per capita, pois, em vez do poder de compra ditado pelo nível de
renda, essa métrica traça um perfil da qualidade de vida das pessoas.

?
Índice de
Desenvolvimento Humano
(IDH): Trata-se de um índice que se
propõe a medir o desempenho geral de um
país, ou de uma outra coletividade, a partir de
três dimensões: a longevidade de seus habitantes; os
conhecimentos e o nível de vida. O IDH foi adotado pelo
PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)
em 1990 e ainda está em fase de consolidação dos seus métodos
de trabalho. O IDH não se propõe a substituir outras medidas de
bem-estar, como se fosse um indicador perfeito e acabado para
representar o estágio de desenvolvimento de um país, pois isso
seria substituir um reducionismo da realidade por outro, haja vista
que o desenvolvimento humano é algo mais abrangente do que
aquilo que o IDH consegue mensurar. Não obstante, o IDH tem
sido um útil instrumento para estimular o debate sobre o
desenvolvimento, enfatizando as condições de bem-
estar da população e evidenciando a necessidade
do estabelecimento de uma base de dados
a esse respeito.

22 CEDERJ
Não obstante, existe ainda a distinção entre os conceitos de cres-

1
cimento e desenvolvimento econômicos. O crescimento econômico refere-

AULA
se ao aumento da produção e da renda, enquanto o desenvolvimento
econômico corresponde à elevação do nível de vida da população,
compreendendo outras dimensões da existência, tais como saúde,
educação, segurança alimentar e outros aspectos caracterizadores da
dignidade humana. É verdade que um crescimento econômico pode
proporcionar as condições para o desenvolvimento econômico, mas
não necessariamente, pois o crescimento pode ocorrer apenas em um
setor da economia, como a apropriação da renda gerada por uns poucos
beneficiários, que oprimem e submetem os demais numa relação de
tirania. Nesse caso, a renda per capita poderia sugerir riqueza, mas não
haveria desenvolvimento econômico.
Para o atendimento da condição de desenvolvimento econômico,
portanto, ou a renda da sociedade como um todo aumentaria ou haveria
uma transferência líquida de renda dos setores mais ricos para os setores
mais pobres, de forma a aumentar o nível de vida desses últimos, sem
uma queda substancial do padrão de vida daqueles.
Adicionalmente, para estabelecer as condições do desenvolvimento
econômico, ainda seria preciso condicionar que a taxa de incremento
da renda seja maior do que a taxa de crescimento demográfico, pois, do
contrário, a população estaria empobrecendo e não seria razoável falar
em desenvolvimento.
O problema do desenvolvimento amplia-se quando se inclui
a questão do esgotamento de fatores ambientais que são despendidos
no processo, tais como os combustíveis fósseis e as áreas de florestas
nativas. Além disso, o efeito deletério da degradação do meio ambiente,
ocasionado pela emissão de poluentes e demais rejeitos descartados pelo
modelo de produção, constitui fonte de permanente tensão política entre
os atores sociais, na medida em que a ação de um grupo de países e ins-
tituições produz um efeito externo não compensado em grande parte da
população do planeta, com desdobramentos para as futuras gerações, tais
como a extinção de várias espécies de animais em virtude da destruição
de seus habitats. A figura a seguir nos apresenta uma das consequências
da poluição nos animais marinhos.

CEDERJ 23
Gestão Ambiental | Os antecedentes históricos da gestão ambiental

Figura 1.4: Com a poluição do mar pelo petróleo, as aves marinhas ficam com o
corpo impregnado de óleo e deixam de reter o ar entre as penas, morrendo afoga-
das ao mergulhar.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/file:pollution_swan.jpg

O drama social do fim do século XX pode ser caracterizado pela


evidência de grandes polos atratores de recursos, no centro de um modelo
de produção capitalista, em que os fatores de produção são empregados
de forma cada vez mais eficiente. Como um desses fatores de produção é o
trabalho, ou seja, a mão-de-obra dos trabalhadores, o aumento da eficiência
do sistema implica menos uso desse fator por unidade de produção.
Isso significa um processo de permanente expulsão de trabalhadores
do núcleo desse modelo de produção para as periferias, com grande
concentração de renda para os que permanecem no jogo vis-à-vis com a
redução da qualidade de vida para aqueles que são excluídos do processo.
Esta dinâmica pode ocorrer dentro de um país, onde as disparidades de
renda e os níveis de bem-estar social podem atingir proporções acintosas,
ou pode se verificar entre conjuntos de países, quando se toma por
comparação o padrão de vida dos países da Comunidade Europeia e os
países da África ao Sul do Saara.
Entretanto, se bem conduzido, o desenvolvimento econômico pode
melhorar a qualidade de vida das pessoas, aumentando a capacidade de
delinearem seu próprio futuro. O desenvolvimento requer uma renda
per capita maior e também uma educação mais equitativa e melhores

24 CEDERJ
Gestão Ambiental | Os antecedentes históricos da gestão ambiental

mais estável e equilibrada, pois os capitais humano e natural também


contribuem para a acumulação do capital físico, ao aumentar a taxa de
retorno deste último. Assim, estariam sendo lançadas as bases de um
desenvolvimento sustentável que integrasse o desenvolvimento humano,
o crescimento da renda e a sustentabilidade ambiental.
Por fim, registramos o ensinamento de Panayotou (1994, p. 151),
quando afirma que o desenvolvimento sustentável precisa beneficiar tanto
a atual geração quanto as futuras gerações. Não se trata de uma questão
de meras permutas temporais ou de transferências entre gerações, mas
sim de análise de custo e eficiência do crescimento, em vez de taxas e de
velocidade com que ocorre o crescimento. Até porque a sustentabilidade
não é possível sem o crescimento econômico, pois ela requer o alívio da
pobreza, a potencialização do capital humano e a redução do uso e um
suprimento responsável dos recursos naturais, com um manejo coerente
do meio ambiente.
Logo, a gestão ambiental deverá, de alguma forma, responder
a essas demandas da sociedade contemporânea, pois se trata de um
imperativo da própria sobrevivência da humanidade.

Atividade 3
3
Responda por que a renda per capita, que é o indicador mais amplamente
utilizado para representar o nível de desenvolvimento de uma dada região ou
país, pode não ser o mais apropriado para avaliar as questões mais amplas do bem-
estar humano e do desenvolvimento?

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Resposta Comentada
As deficiências desse indicador decorrem do fato de ele ser um valor médio, não
permitindo inferências sobre a forma pela qual esta renda se distribui entre os membros
da sociedade. Além disso, para uma análise mais abrangente do desenvolvimento,
seria preciso considerar seus vários aspectos, dentre eles se destacando o econômico,
o social, o cultural e o político.

26 CEDERJ
CONCLUSÃO

1
AULA
É importante destacar as conexões entre o papel do gestor
contemporâneo e o impacto de suas ações sobre o meio ambiente. O sis-
tema econômico e social se mantém com o uso indiscriminado de
recursos naturais, cuja retirada da natureza provocou transformações
dramáticas nos vários ecossistemas. Tais transformações envolveram a
degradação ambiental e a alteração dos ciclos da natureza, que agora
se voltam contra os seres humanos sob a forma do aquecimento global
e das mudanças climáticas.
O homem passou a buscar alternativas para enfrentar esse
desafio, que vão implicar mudanças de hábitos e de modelos de produção
já consagrados, na tentativa de conciliar as demandas por lucros e por
níveis de consumo cada vez maiores, com o esgotamento da capacidade
do planeta em prover os recursos necessários à produção e assimilar os
rejeitos lançados no ambiente.
Tais alternativas, que assumem atualmente uma dimensão de
caráter transnacional, são buscadas por países e instituições que se
comprometeram a atuar em favor daquilo que passou a ser designado
Desenvolvimento Sustentável, que consiste na promoção do desenvol-
vimento econômico sem comprometer os recursos que permitirão a
sobrevivência das gerações futuras.

Atividade Final 1 2 3

Em face da degradação ambiental que acomete o meio ambiente na atualidade,


não é difícil perceber que devem ser promovidas significativas mudanças de atitude
nos modelos de produção e consumo praticados até o momento. Em face dessa
circunstância, você poderia dizer que o desenvolvimento econômico seria incompatível
com a manutenção do meio ambiente?

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Gestão Ambiental | Os antecedentes históricos da gestão ambiental

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Resposta Comentada
Se bem conduzido, o desenvolvimento econômico pode melhorar a qualidade de vida das
pessoas. Na medida em que as políticas econômicas conduziriam à acumulação de bens
mais estável e equilibrada estariam sendo lançadas as bases de um desenvolvimento
sustentável, que integrasse o desenvolvimento humano, o crescimento da renda e a
sustentabilidade ambiental. Não obstante, a sustentabilidade não é possível sem o
crescimento econômico, pois ela requer o alívio da pobreza, a potencialização do capital
humano e a redução do uso indiscriminado dos recursos naturais com um manejo
coerente do meio ambiente.

RESUMO

Iniciamos este curso com o registro da ameaça da ação humana sobre o meio
ambiente terrestre. Vimos que ocorrências tais como o fenômeno do aquecimento
global, os recorrentes desastres ecológicos, a extinção de espécies, o crescente
despejo de resíduos tóxicos nas águas e na atmosfera, além da ameaça de escassez
generalizada de elementos naturais indispensáveis à atividade humana, passaram
a despertar na sociedade o interesse pela temática ambiental.
Aparentemente, a expansão da atividade humana não poderá ultrapassar um
determinado limite ambiental global. Este limite é denominado pela economia
do meio ambiente como sendo a carrying capacity, ou seja, a capacidade de
carga do planeta. O avanço da ação humana sobre os recursos do planeta é
conhecido por punção ou ecological footprint (pegada ecológica) e é o resultado
do tamanho da população mundial multiplicado pelo consumo per capita dos
recursos naturais.
Nesta aula, vimos que, embora a preocupação com o meio ambiente tenha surgido
ainda no século XIX, foi apenas no século XX, e mais precisamente no início dos
anos 1970, que esta temática passou a repercutir na sociedade.

28 CEDERJ
1
AULA
Registramos que a superação do problema resultante do aumento da
desigualdade social fez com que o desenvolvimento econômico passasse a se
constituir em palavra de ordem na pauta das discussões políticas do mundo
contemporâneo.
Verificamos que as distorções políticas, a corrupção e os maus governos, as falhas
dos mercados e as externalidades (efeitos externos decorrentes da produção e
do consumo, tais como emissão de efluentes nas águas e no ar) podem colocar
os países num caminho de acumulação de bens distorcido e desequilibrado.
Os efeitos dessas políticas distorcidas e equivocadas com relação ao tratamento
dispensado aos capitais humano e natural em favor da priorização do capital
físico podem reduzir, ao invés de aumentar, tanto o crescimento quanto o bem-
estar dos agentes econômicos.
Vimos que, quando se combate a corrupção e se estimula o bom governo,
as políticas econômicas conduzem à acumulação de bens mais estável e
equilibrada, pois os capitais humano e natural também contribuem para
a acumulação do capital físico, ao aumentar a taxa de retorno deste
último. Assim, estariam sendo lançadas as bases de um desenvolvimento
sustentável, integrando o desenvolvimento humano, o crescimento da renda
e a sustentabilidade ambiental.
Por fim, reafirmamos a ideia de que a sustentabilidade não é possível sem o
crescimento econômico, pois ela requer o alívio da pobreza, a potencialização
do capital humano e a redução do uso indiscriminado dos recursos naturais, com
um manejo coerente do meio ambiente.

CEDERJ 29
oportunidades de emprego. Requer mais igualdade de gênero (ausência de

1
distinções entre homens e mulheres). Requer um meio ambiente mais limpo

AULA
e mais sustentável, que viabilize uma oferta de saúde maior e segurança
alimentar, ou seja, um nível adequado de alimentos para o atendimento das
necessidades calóricas dos indivíduos. Requer também um sistema judicial
e legal imparcial, bem como liberdades civis e políticas mais amplas.
Os valores que importam para o desenvolvimento e que devem
ser entendidos como os verdadeiros fatores de produção econômicos
num sentido amplo são: capital físico, capital humano e capital natural.
O capital físico é representado por instrumentos e máquinas gerados a
partir do engenho humano e que são indispensáveis ao modelo de pro-
dução vigente. O capital humano compreende o complexo de habilidades
e conhecimentos dos indivíduos, bem como a sua rede de relacionamen-
tos e o grau de articulação sinérgica com outros indivíduos. O capital
natural corresponde aos fatores, renováveis e não renováveis, extraídos
da natureza para atender ao modelo de produção de riqueza da huma-
nidade, bem como à capacidade de absorção e de regeneração dessa
mesma natureza aos efeitos da ação antrópica. O progresso tecnológico
relacionado ao uso desses valores também é um elemento fundamental
para a promoção do desenvolvimento.
Ocorre que a busca de taxas aceleradas de crescimento econômico
tem enfatizado a promoção do capital físico em detrimento do capital
humano e do capital natural. Os investimentos em saúde e educação têm
sido negligenciados, o que reduz o capital humano. Além disso, muitas
vezes o crescimento acelerado tem sido o resultado de superexploração
de florestas e de outros bens naturais, de forma a esgotar o capital natural
e comprometer a sustentabilidade ambiental.
Verificamos que as distorções políticas, a corrupção e os maus
governos, as falhas dos mercados e as externalidades (efeitos externos
decorrentes da produção e do consumo, tais como emissão de efluentes
nas águas e no ar) podem colocar os países num caminho de acumulação
de bens distorcido e desequilibrado. Os efeitos dessas políticas distorcidas
e equivocadas com relação ao tratamento dispensado aos capitais
humano e natural, em favor da priorização do capital físico, podem
reduzir, ao invés de aumentar, tanto o crescimento quanto o bem-estar.
Ao contrário, quando se combate a corrupção e se estimula o bom
governo, as políticas econômicas conduzem à acumulação de bens

CEDERJ 25

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