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HISTÓRIA DA TERAPIA OCUPACIONAL

Prof. João Victor Messias


Curso de Terapia Ocupacional - UnG
INTRODUÇÃO

 Ao contarmos a história da Terapia Ocupacional, por


onde devemos começar?

 Pannunzio, 2002, pontua que, ao apresentarmos a


história da Terapia Ocupacional, deveríamos começar a
partir do momento em que foi entendida oficialmente
como profissão (início do século XX). Tudo que se
abordar antes disso são tentativas de compreender
como a ocupação foi usada, ao longo da história, como
recurso para tratar indivíduos acometidos por males
físicos ou mentais.

 Apesar de compreender a perspectiva da autora,


considero importante discutirmos aspectos históricos
que antecedem o estabelecimento da Terapia
Ocupacional como profissão.
O uso da ocupação humana como meio terapêutico
remonta aos tempos bíblicos do Antigo Testamento e ao
período clássico dos Antigos Gregos e Romanos (Duncan,
2016 apud Wilcock, 2001).

NÃO HÁ UM CONSENSO SOBRE ISSO!


RAIZ FILOSÓFICA

TRATAMENTO MORAL
TRATAMENTO MORAL

 Philippe Pinel (1745 – 1826).

 Baseava-se na ideia de que a internação e o isolamento


era a melhor resposta social para as tensões
ocasionadas pela loucura.

 Propõe-se o uso sistemático da ocupação, a


laborterapia, como um “eixo regulador das mazelas da
sociedade”.

 Acreditava-se que a laborterapia desempenhava uma


função corretiva e disciplinar, sendo o principal
recurso para a organização e manutenção do ambiente
asilar, porque contrapunha-se ao ócio desorganizador.

(Shimoguiri e Costa-Rosa, 2017).


TRATAMENTO MORAL

 O Tratamento Moral tinha como crença a ideia de que


seria possível introduzir mudanças significativas no
comportamento dos doentes por meio de atitudes
humanas, mas firmes da equipe técnica.

 Embora tenha preceitos nobres, termos como


“repressão”, “intimidação”, “doçura” e “filantropia”
passam a ser encontradas com frequência no
vocabulário técnico cotidiano e, em particular, nos
próprios textos de Pinel.

(Pereira, 2004).

 Apesar de sua relevância, o Tratamento Moral sozinho


não pode ser considerado o porquê da terapia
ocupacional ter emergido.

(Clark et. al., 2002).


 Pelo contrário, o surgimento da profissão é atribuível à
confluência de diversos movimentos sociais da virada
do século XX.

 No início do século XX, o Movimento de Integração


Social, encabeçado por Eleanor Clark Slagle, assistente
social, que viria a ser uma influente líder inicial da terapia
ocupacional, abraçou o ativismo social progressista,
amplamente divulgado por mulheres, para atenuar os
efeitos debilitantes da pobreza, industrialização e alienação
cultural nas pessoas discriminadas, especialmente
imigrantes.

(Clark, Larson e Wood, 2002).


TERAPIA OCUPACIONAL
Seu desenvolvimento enquanto profissão
 Atualmente, há um esforço importante para que nos
debrucemos no desenvolvimento da profissão na
América Latina.

 No entanto, não tem como falar da história da Terapia


Ocupacional sem estudarmos o seu desenvolvimento
em países de língua inglesa, pois foi a partir deles que a
profissão se expandiu a nível mundial.
OS ANOS DE FUNDAÇÃO

 Embora se saiba que os programas de ocupação foram


desenvolvidos desde o início do século XX (Duncan, 2016,
apud Wilcock, 2001) foi em 1917 que a profissão foi
fundada.

 15 de Março de 1917, em Clifton Springs, Nova York.

 Os membros estatutários da National Society For The


Promotion Of Occupational Therapy (NSPOT) trouxeram
uma rica mistura de origens, interesses e habilidades.

(Schwartz, 2002).

 O termo Terapia Ocupacional foi cunhado por George


Edward Barton.

(Vizzotto et. al., 2021).


OS FUNDADORES

WILLIAM RUSH DUNTON GEORGE BARTON ELEANOR SLAGLE SUSAN C. JOHNSON


Psiquiatra Arquiteto Assistente Social Professora de Artes

(Schwartz, 2002).
OS FUNDADORES

THOMAS B. KIDNER SUSAN TRACY


Arquiteto Enfermeira

(Schwartz, 2002).
 Este grupo de indivíduos teve um impacto significativo
na conceituação inicial da terapia ocupacional, e suas
contribuições são de grande importância (Duncan,
2016, apud Schwartz, 1994).

“Se existe uma doença ocupacional, por que não existe uma
terapia ocupacional?”.

George Edward Barton.

O Treinamento de Hábitos, considerada a primeira


técnica de terapia ocupacional, desenvolvido por Eleanor
Slagle nos anos 20, é base para o Método Terapia
Ocupacional Dinâmica (MTOD), desenvolvido pela
brasileira Maria José Bennetton.
ADOLF MEYER

 Outro personagem importante para a história da profissão.

 Dr. Adolf Meyer (1866 – 1950) foi um psiquiatra suíço que


desenvolveu seu trabalho nos EUA. Foi diretor da
Faculdade de Medicina da Universidade John Hopkins.

 Se descrevia como um “higienista mental”.

 O movimento de higiene mental visava:

o Trabalhar pela conservação da saúde mental;


o Promover o estudo dos transtornos mentais;
o Obter e divulgar dados confiáveis sobre estes transtornos;
o Ajudar a elevar o padrão de cuidados e tratamento.

(Duncan, 2016).
 Meyer foi fortemente influenciado pela Psiquiatria
Britânica e reconhecia o impacto dos instintos, hábitos
e interesses, bem como das experiências na vida das
pessoas, e por isso desenvolveu interesse no impacto da
ocupação na saúde.

 A partir do seu interesse pela ocupação, Meyer


contratou Eleanor Slagle, que desenvolveu o programa
de terapia ocupacional do Hospital John Hopkins.

 Um ponto com pouca menção na literatura da Terapia


Ocupacional é o fato de Adolf Meyer ter sido um
defensor da eugenia.

(Duncan, 2016).
TERAPIA OCUPACIONAL
Outros aspectos que influenciaram o início da profissão
TRATAMENTO ÉTICO

Inspirado no Tratamento Moral e visando um cuidado


humanizado em psiquiatria, Dunton incorporou estas ideias,
avocando a função da terapia ocupacional como o fornecimento
de um “regime criterioso de atividade”.

(Schwartz, 2002).

MOVIMENTO DE ARTES E OFÍCIOS

Iniciado na Inglaterra, baseou-se nas ideias de John Ruskin,


que apontava a necessidade de um retorno a uma vida simples,
na qual corpo e mente poderiam ser engajados no trabalho
gratificante.

(Schwartz, 2002).
 A ideia de usar artes e ofícios como uma ocupação
criativa atraiu os fundadores da Terapia Ocupacional.

 Enquanto o tratamento ético fornecia a ideia de usar


ocupações envolvendo o trabalho e as tarefas manuais,
como jardinagem e carpintaria, o movimento de artes e
ofícios sugeria o potencial das habilidades para o
processo curativo e para o estudo dos resultados.

 De acordo com Johnson (1920):

“Os trabalhos manuais possuem um valor terapêutico


especial, já que geram ocupação, que combina elementos de
recreação e lazer com o trabalho e a realização. Eles
fornecem um retorno concreto e proporcionam um estímulo
para a atividade mental e o exercício muscular ao
mesmo tempo, e permitem uma oportunidade para criação e
autoexpressão”.
(Schwartz, 2002).
 Ao adaptar o movimento de artes e ofícios para curar física e
mentalmente os doentes, a profissão criou um foco para os
domínios médicos, se afastando de valores humanitários do
tratamento ético.

IDEOLOGIA DA MEDICINA CIENTÍFICA

 Em sua teoria de controle científico, Frederik Taylor propôs


que valores organizadores de racionalidade, eficiência e
observação sistemática fossem aplicados em todos os males
presentes na sociedade.

 Fundadores da TO concordavam com este raciocínio,


fazendo a profissão se aproximar de uma visão mecanicista
do ser humano, pensando em um tratamento similar que
gerasse um resultado esperado, falhando em não levar em
consideração aspectos individuais, trazendo um conflito
para a prática da Terapia Ocupacional na época.

(Schwartz, 2002).
GUERRAS MUNDIAIS
Sua importância para a profissão
1º GUERRA MUNDIAL: RECONHECIMENTO

 As Guerras Mundiais propuseram grande impulso.

 Voluntárias, em um trabalho civil, não militar, eram


recrutadas como auxiliares de reconstrução. Havia dois
tipos de auxiliares: fisioterapeutas e terapeutas
ocupacionais.

 FISIOTERAPEUTAS:
o Uso de exercícios e massagens – enfoque físico.

 TERAPEUTAS OCUPACIONAIS:
o Uso de diferentes atividades – enfoque psíquico e físico.

(Schwartz, 2002).
1º GUERRA MUNDIAL: RECONHECIMENTO

 Embora vistas com desconfiança inicialmente, logo estas


profissionais passaram a ser reconhecidas por suas
contribuições para a saúde e bem estar dos soldados.

 Isso fez com que aumentasse a necessidade destas


profissionais, fazendo com que fossem criados novos
serviços de treinamento por todos os EUA.

 A NSPOT serviu como uma casa para apuração de


informações sobre auxiliares de recuperação de terapia
ocupacional e buscou monitorar a qualidade dos
programas de formação.

(Schwartz, 2002).
2º GUERRA MUNDIAL: EXPANSÃO

 A 2º Guerra Mundial evidenciou ainda mais a necessidade


de terapeutas ocupacionais.

 No cuidado aos soldados, a profissão ganhou status de


militar, não mais civil. As exigências educacionais, no
entanto, eram maiores.

 Para garantir padrões mínimos de formação, a AOTA,


antiga NSPOT, criou – junto à Associação Americana de
Medicina – um livro norteador para práticas em TO.

 A edição de um livro-base importante foi publicado em


1947: Willard & Spackman Principles Of Occupational
Therapy.

(Schwartz, 2002).
2º GUERRA MUNDIAL: EXPANSÃO

 Foi na segunda guerra que a ênfase deixou de ser


trabalhos puramente manuais e foram para demandas
mais funcionais, principalmente o trabalho.

 Também, o enfoque na reabilitação física ganhou grande


relevância, inclusive tornando a área um importante
destaque da TO nos EUA.
(Schwartz, 2002).

 Apesar de sempre ter existido um olhar para os interesses,


hábitos e rotinas ocupacionais, foi a partir da segunda
guerra que a Terapia Ocupacional começou a direcionar
sua ação para as atividades de vida diária, se
aproximando inicialmente mais do modelo biomédico.
 Conhecer a história da Terapia Ocupacional é
essencial para entendermos como a profissão
evoluiu ao longo do tempo, indo de uma prática
direcionada ao uso de atividades para fins
diversos até se tornar uma especialidade voltada
para promover o envolvimento em ocupações
diárias em todos os ciclos de vida, olhando para a
ocupação humana em todos os seus vieses.

 É a partir disso que as análises críticas sobre os


paradigmas da profissão foram se colocando,
gerando mudanças que se sustentam – e ainda
são discutidas – até hoje.
Paradigma da Ocupação

Paradigma Mecanicista

Paradigma Contemporâneo

Assunto para a próxima aula...


LINHA DO TEMPO

1917 1921 1º GUERRA 2º GUERRA 1951

Terapia Ocupacional NSPOT = AOTA Início de maior Profissionalização efetiva WFOT


Uma profissão profissionalização da e expansão da TO no
TO. mundo
LINHA DO TEMPO

1960 - 1970 1970 - 1980 1980 1990 2000...

Modelos e perspectivas Aprofundamento em Viés do paradigma Modelo social da Fortalecimento da


específicas da questões específicas contemporâneo deficiência ganha profissão,
profissão iniciam suas da TO. influencia fortemente destaque. evidenciando sua
trajetórias e a ciência da TO relevância a nível
ganha corpo e volume. mundial. Ênfase das
demais profissões para
os domínios da
funcionalidade (CIF).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOARES, L. B. T. História da Terapia Ocupacional. In: Terapia Ocupacional –


Fundamentação e Prática. Rio de Janeiro. Editora: Guanabara Koogan. 2007.

SCHWARTZ, K. B. A história da Terapia Ocupacional. In: Willard & Spackman Terapia


Ocupacional. Rio de Janeiro. Editora: Guanabara Koogan. 2002.

CLARK, F. et. al. Ciência Ocupacional: Um Legado da Terapia Ocupacional para o Século
XXI. In: Willard & Spackman Terapia Ocupacional. Rio de Janeiro. Editora: Guanabara
Koogan. 2002.

VIZZOTTO et. al. Aspectos históricos sobre a clínica da Terapia Ocupacional em


Neuropsiquiatria e Saúde Mental. In: Terapia Ocupacional em Neuropsiquiatria e Saúde
Mental. São Paulo. Editora: Manole. 2021.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PEREIRA, M. E. C. Pinel – A mania, o tratamento moral e o início da psiquiatria


contemporânea. Revista Latinoamericana de Psicologia Fundamental. Vol. 2, p. 113-116.
2004.

SHIMOGUIRI, A. F. D. T., COSTA-ROSA, A. Do tratamento moral à atenção psicossocial: A


Terapia Ocupacional a partir da reforma psiquiátrica brasileira. Revista Interfaces –
Comunicação, Saúde e Educação. Vol. 21, p. 845 – 856. 2017.

DUNCAN, E. A. Fundamentos Teóricos de Terapia Ocupacional. Musculoskeletalkey.


Disponível em: https://musculoskeletalkey.com/theoretical-foundations-of-occupational-
therapy-2/ Acessado em: 20/08/2023.
OBRIGADO

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