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Revista Portuguesa de Filosofia
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Ética e Direito: Que Diálogo?
ANTÓNIO ARY, SJ*
Resumo
O presente texto surge do desejo de pensar a relação entre direito e ética. O diálogo
estas duas áreas, sentido como um desafio premente para os dias de hoje, coloca em
relação da própria ciência jurídica com a sociedade onde se insere. A teoria da argum
apresentada por autores como Jürgen Habermas, Chaim Perelman e Paul Ricoeur
iluminar de modo renovado esta temática clássica, superando a actual dificuldade em
belecer uma ligação entre os domínios da ética e do direito. A reflexão parte de um p
enquadramento teórico, analisando o confronto histórico entre ética e direito e apo
caminhos de conciliação para a actualidade. Em seguida, apresentam-se algumas
tizações do papel da ética na prática jurídica, pelo seu contributo para a elaboraçã
cação do direito. Por último, o texto aborda possíveis contribuições do direito par
construção ética.
Abstract
This paper aims to discuss the relationship between law and ethics. The dialogue between
both areas is a pressing and current challenge, which puts into play the relationship of
legal science with the society. The theory of argumentation presented by authors such as
Jürgen Habermas, Chaim Perelman and Paul Ricoeur, illuminates in a new way this classic
issue, overcoming the present difficulties in establishing a link between the fields of ethics
and law. The reflection starts with a theoretical framework, which analyzes the historical
clash between the two approaches and points out a possible path of reconciliation. Then, it
presents some embodiments of the role of ethics in legal practice, for its contribution to the
elaboration and application of law. Finally, it discusses some possible contributions of law
for the moral discourse.
Introdução
Vol. 70
Fases. 2-3 Q RPF 2014 | 539-552
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540 António Ary, SI
I. As bases do diálog
a) Ponto da situação
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Ética e Direito: Que Diálogo? 541
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b) Direito e vedores
7. Cf., Rebelo de Sousa, M. & Galvão, S. - Introdução ao Estudo do Direito , ed. cit.,
p. 223; Perelman, C. - Ética e Direito, ed. cit., p. 272
8. Cf., Ricœur, P. - "Ética e política", art. cit., p. 392. Reale, M. - "Relações e diferenças
entre moral e direito", art. cit., p. 195, fala em "totalidades históricas de sentido".
9. Tal como a cultura, a economia ou a política.
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Ética e Direito: Que Diálogo? 545
a) A elaboração do direito
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546 António Ary, SI
18. A título de exemplo, basta recordar o caso de um deputado que determinou o seu
voto, em sentido oposto ao do partido que integrava, contra a promessa de contrapartidas
para a sua região (um critério de oportunidade muito duvidoso). A sua actuação foi censurada
por grande parte da comunidade política e pela opinião pública. A valorização moral desta
"quebra de confiança" (juridicamente válida) não deixou de ter consequências na carreira
política deste deputado.
19. A racionalidade é geralmente associada à total objectividade, com a consequente
desvalorização do contributo ético.
20. Estas justificações criam o perigo de instalação de uma verdadeira tecnocracia, em
que os cidadãos são incapazes de se pronunciar acerca de assuntos cuja especificidade e
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Ética e Direito: Que Diálogo? 547
b) Aplicação do direito
complexidade lhes escapa, sendo excluídos do escrutínio das razões que fundamentam a
actividade legislativa.
21. Cf., Ricœur, P. -Op. cit. p. 78 ; Ricœur, P. -"La conscience et la loi. Enjeux
philosophiques". In: - Ricœur, P .-Le Juste, ed. cit., pp. 217-218.
22. Rebelo de Sousa, M. & Galvão, S. - Introdução ao Estudo do Direito, ed. cit.,
pp. 55-75.
23. Diz o Código Civil:
Artigo 9.° (Interpretação da lei)
1. A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos
o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é
aplicada.
2. Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não
tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente
expresso.
3. Na fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete presumirá que o legislador
consagrou as soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termo
adequados.
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548 António Ary, SI
No entanto, a interpretação qu
o regime jurídico adequado não
neutra. Interpretar a realidade
hierarquia entre eles. Do mesm
permanentemente em competiç
ração particular em cada situaç
ideia de argumentação, pois o a
determinado regime a uma real
aplicação perante o auditório un
tação e aplicação do direito ver
adoptada tem de obedecer ao
sentar as razões das escolhas ef
Surge então a distinção tradi
Uma perspectiva do direito fec
duas faces da norma jurídica,
elemento exterior e objectivo.
superado se as duas dimensões f
mento abrangente do texto é p
da intenção e objectivos atribuído
norma jurídica, que recorre ao
se integrar esta intenção no quad
dos valores e objectivos da com
No contexto de um Estado so
concretas e abrangentes, tem e
pública na aplicação do Direit
vinculada a um critério de legal
que determina que os órgãos ad
lei, nem sem a injunção desta (c
competência). A legalidade que v
um papel determinante da ét
Uma dimensão ética encontra-
nistração do direito aplicável a
relações que estabelece com os
lares de normas jurídicas, os ór
chamados a fazer a ponderação de
resolve. Por outro lado, na sua re
suas opções, bem como permit
interessados e tidas em conta as
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Ética e Direito: Que Diálogo ? 549
a) Racionalidade
O que foi dito até aqui coloca a ética no horizonte do direito, mas
esta relação é também, em sentido inverso, uma contribuição do direito
na estruturação da própria ética. O sistema jurídico contém uma racio-
nalidade própria que pode servir de modelo também para a reflexão
ética. Numa perspectiva utópica, o direito é muitas vezes encarado como
ligado à imperfeição da sociedade e do homem. Na cidade ideal não seria
assim mais necessário o direito pois bastaria a razão.26 Esta desconfiança
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Fases. 2-3 Q RPF 2014
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b) Estabilidade e peda
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Ética e Direito: Que Diálogo? 551
31. Cf., McIntyre, A. - "A visão de Aristóteles sobre a justiça". In: McIntyre, A- Justiça
de quem? Qual racionalidade?. São Paulo: Loyola, 1991, pp. 1 17-137.
32. Cf. , Ricœur, P. - "La conscience et la loi", art. cit., p. 2 14. 0 autor fala numa dialéctica
de interiorização da norma.
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Conclusão
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