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Das profundezas às alturas

Quando um mergulhador submerge, a pressão dos gases fornecidos pelo cilindro aumenta – para compensar a pressão externa,
exercida pela água sobre o tórax e que poderia esmagá-lo. Quanto mais profundo o mergulho, claro, maior a pressão. E, com esse
aumento da pressão dentro do pulmão, mais moléculas de gases penetram no sangue, e, consequentemente, em outros locais do
organismo.

Quando o mergulhador vai retornando à superfície, ele deve seguir regras específicas e fazer algumas paradas. Isso é necessário
para permitir que os gases até então dissolvidos no organismo retornem ao sangue e, em seguida, para os pulmões, agora com
pressão mais baixa, por onde são eliminados. Caso o mergulhador não obedeça a esse procedimento, o gás dissolvido criará
bolhas – e problemas! Esse fenômeno é visto rotineiramente, quando se abre um refrigerante: o gás dissolvido no líquido, sem a
pressão que o diluía, cria as bolhas que observamos.

Se o mergulhador não eliminou todos os gases introduzidos em seu organismo pela alta pressão intrapulmonar do mergulho e
sobe a grandes altitudes, pode ocorrer em seu organismo o que se vê na abertura de um refrigerante
Em aviões a jato, a altitude de cruzeiro – cerca de 10 mil metros – a pressão é inferior à pressão que experimentamos ao nível do
mar (1 atmosfera). A pressurização simula, dentro do avião, uma pressão próxima àquela encontrada a 3 mil metros de altitude.
Estamos, portanto, diante de um processo inverso ao do mergulho. Assim, se o mergulhador não eliminou todos os gases
introduzidos em seu organismo pela alta pressão intrapulmonar do mergulho e sobe a grandes altitudes, pode ocorrer em seu
organismo o que se vê na abertura de um refrigerante.

Uma das consequências desse cenário é o que mergulhadores chamam de doença descompressiva. Quando a eliminação do
nitrogênio acumulado no sangue e nos tecidos é muito abrupta, esse gás formará bolhas no organismo e elas poderão causar vários
problemas – comprimir nervos, obstruir artérias e vasos linfáticos, provocar dores, desencadear reações químicas que podem ser
danosas ao sangue…

A doença descompressiva é bastante rara entre os mergulhadores. Recomenda-se que, após o término dos mergulhos, espere-se
pelo menos 24 horas antes de embarcar em um voo.

Walter Araujo Zin


Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Texto originalmente publicado na CH 323 (março de 2015). Clique aqui para acessar uma versão parcial da revista.

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