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A cor vermelha até os dias de hoje é uma cor um tanto polêmica devido aos seus

diversos significados. Entre seus vários sentidos, a cor vermelha pode significar o amor, mas
também o desejo, a sedução e o pecado. Seu nome vem da palavra latina que significa
“pequeno verme”. Essa cor surge ainda no período pré-histórico, quando os considerados
homens das cavernas extraiam pigmento do ocre e do dióxido de ferro para pintar suas artes
nas paredes das cavernas.
No Egito antigo o ocre era considerado a cor da vitória, da vida e da saúde, por isso
durante celebrações os egípcios coloriam-se de vermelho, já as mulheres utilizavam o
vermelho do ocre como cosméticos, utilizando-o para pintar seus lábios e bochechas, além de
usar hena para tingir as unhas e os cabelos. Contudo o vermelho também poderia expressar
um significado ruim, sendo referido também ao calor, a maldade e a destruição.
Em diversos países, como Egito, China e Índia, desde a antiguidade o vermelho é
extraído da planta Rubia conhecida como a planta mais louca, utilizado para fazer pinturas em
cerâmica. Na China antiga, assim como os egípcios, eles faziam um corante vermelho
extraído da planta mais louca para dar cor aos tecidos de seda com os quais faziam vestidos e
usavam pigmentos coloridos com roupas mais furiosas para fazer laca vermelha.
Na América, os primeiros habitantes possuiam seu próprio corante vermelho vivo, feito
da cochonilha, um inseto da mesma família dos Kermes da Europa e do Oriente Médio, que se
alimenta da Opuntia, ou planta do cacto da pera espinhosa. Têxteis tingidos de vermelho da
cultura Paracas (800-100 aC) foram encontrados em túmulos no Peru. O vermelho também
apareceu nos enterros da realeza nas cidades-estados maias.
Na Grécia antiga e na civilização minóica da antiga Creta, o vermelho era muito usado
em murais e na decoração policromada de templos e palácios. Os gregos começaram a usar
chumbo vermelho como pigmento. Na Roma Antiga, a púrpura de Tyrian era da cor do
imperador. O vermelho também tinha um importante simbolismo religioso, de modo que os
romanos usavam togas com listras vermelhas nos feriados, e a noiva em um casamento usava
um xale vermelho, chamado de flammeum. O vermelho era usado para colorir as estátuas e a
pele dos gladiadores.
Essa cor também estava associada ao exército, assim os soldados romanos usavam
túnicas vermelhas, e os oficiais usavam um manto chamado paludamentum e dependendo das
propriedades do corante, variava entre carmesim, escarlate ou púrpura. O vermelho, na
mitologia romana, é associado ao deus da guerra, Marte. O vexilóide do Império Romano
tinha um fundo vermelho com as letras SPQR em ouro. Um general romano que recebia um
triunfo era homenageado com todo o seu corpo sendo pintado de vermelho.
Na Europa pós- clássica com a queda do Império Romano do Ocidente – meados do séc.
IV d. C. – o vermelho é instituído como a cor de majestade e autoridade do Império
Bizantino, pelos príncipes da Europa e pela Igreja Católica Apostólica Romana. As bandeiras
dos imperadores bizantinos eram de tecido vermelho. Carlos magno em demonstração de seu
poder em sua coroação utilizou sapatos vermelhos e também pintou todo o seu palácio dessa
cor. Posteriormente, Reis príncipes e a partir do ano 1295 os cardeais católicos, passaram a
utilizar hábitos de cor vermelha.
O vermelho possuía o significado de status e riqueza, sendo utilizado não so por reis,
cardeais e príncipes, mas também por mercadores e artesãos e pessoas da cidade que
utilizavam roupas dessa cor, sobretudo em ocasiões especiais e em feriados. Contudo as
roupas dessas pessoas eram tingidas com o vermelho das raízes da planta mais louca, a Rubia,
o que fazia com que se desbotasse facilmente no sol ou na agua quente. Já os tecidos
vermelhos dos ricos e aristocratas eram tingidos com o Kermes, ou acido carmínico extraído
de um inseto que viviam em folhas de carvalhos da Europa e ao redor do mediterrâneo. Os
insetos eram recolhidos, secos, esmagados e cozidos com ingredientes diferentes em um
processo longo e complicado, que produziu um escarlate brilhante.
Além dos pigmentos já citado, havia também o Brasilin, que era outro corante vermelho
popular na Idade Média. Vindo da árvore de sapanwood, que cresceu na Índia, Malásia eSri
Lanka, era uma árvore semelhante ao pau-brasil, que cresceu na costa da América do Sul. A
madeira vermelha foi moída em serragem e misturada com uma solução alcalina para fazer
corante e pigmento. Tornou-se uma das exportações mais lucrativas do Novo Mundo,
principalmente no Brasil, que recebeu esse nome devido a essa árvore tão lucrativa para
Portugal.
Na idade moderna, mais especificamente nos séculos XVI e XVII, as pinturas
renascentistas possuíam bastante a cor vermelha, uma vez que os artistas representavam com
ela, muitas vezes, o manto e o traje de Jesus Cristo, da virgem Maria ou de algum outro
personagem que estivesse representado no centro da pintura, essa ideia era utilizada para
atrair os olhares do espectador. Com as grandes navegações, abriram-se as portas para o novo
mundo e também para a Ádia e para o Oriente Médio, isso possibilitou a exportação de novos
pigmentos vermelhos, que eram exportados geralmente através de Veneza, Gênova ou
Sevilha, e Marselha. Veneza era o principal depósito de importação e fabricação de pigmentos
para artistas e tintureiros do final do século XV.
Contudo logo no início do século 16, um novo vermelho brilhante apareceu na Europa.
Quando o conquistador espanhol Hernán Cortés e seus soldados conquistaram o Império
Asteca em 1519-21, descobriram um tesouro a mais ao lado de prata e ouro; os astecas
possuíam a pequena cochonilha, um inseto de escamas parasitas que vivia de cactos. Esses
insetos quando secos e esmagados, liberavam um magnífico tom de vermelho. A cochonilha
do México estava intimamente relacionada às variedades Kermes da Europa, porém
diferentemente do europeu Kermes, podia ser colhida várias vezes ao ano, e era dez vezes
mais forte que os Kermes da Polônia. Funcionou particularmente bem em seda, cetim e outros
têxteis de luxo. Em 1523 ocorreu o primeiro carregamento para a Espanha.
Rapidamente a cochonilha começou a surgir em portos europeus a bordo de comboios
de galeões espanhóis enviados por Cortés. Contudo, inicialmente, as guildas de tintureiros em
Veneza e em outras cidades recusaram e proibiam a cochonilha para proteger seus produtos
locais, mas a qualidade superior da tintura de cochonilha tornava impossível resistir. No início
do século XVII, o vermelho da cochonilha tornou-se o vermelho de luxo preferido para as
roupas de cardeais, banqueiros, cortesãs e aristocratas.
Na Revolução Francesa, os jacobinos e outros partidos mais radicais adotaram a
bandeira vermelha; foi tirado de bandeiras vermelhas içadas pelo governo francês para
declarar estado de sítio ou emergência. Muitos usavam um gorro vermelho da Frígia, ou boné
da liberdade, inspirado nos bonés usados pelos escravos libertos na Roma Antiga. Durante o
auge do Reinado do Terror, as mulheres vestindo bonés vermelhos reuniram-se em torno da
guilhotina para celebrar as execuções. Elas foram chamadas de “Fúrias da guilhotina”. As
guilhotinas usadas durante o Reinado do Terror em 1792 e 1793 eram pintadas de vermelho
ou produzidas em madeira vermelha. Durante este reinado, uma estátua de uma mulher
denominada liberdade e pintada de vermelho, foi erguida na praça em frente à guilhotina.
Após o fim do Reino do Terror, a França voltou ao tricolor azul, branco e vermelho, cujo
vermelho foi tirado das cores vermelha e azul da cidade de Paris, e era a cor tradicional de
Saint Denis, o mártir cristão e padroeiro de Paris.
Em meados do século XIX, o vermelho apareceu como a cor de um novo movimento
político e social, o socialismo. A bandeira vermelha então se torna a bandeira mais comum do
movimento operário, da Revolução Francesa de 1848, da Comuna de Paris em 1870 e dos
partidos socialistas em toda a Europa.
À medida que a Revolução Industrial se espalhava pela Europa, os químicos e os
fabricantes procuravam novos corantes vermelhos que pudessem ser usados para a fabricação
em larga escala de têxteis. Uma cor popular importada para a Europa da Turquia e da Índia no
século XVIII e início do século 19 era o vermelho da Turquia, conhecido na França como
rouge d’Adrinople.
A partir da década de 1740, esse vermelho brilhante foi usado para tingir ou imprimir
tecidos de algodão na Inglaterra, na Holanda e na França. O vermelho de peru usava a
cordeirada como o corante, mas o processo era mais complicado e extenso, envolvendo a
imersão múltipla dos tecidos em soda cáustica, azeite de oliva, esterco de ovelha e outros
ingredientes. O tecido era mais caro, porem tinha um resultado vermelho brilhante e
duradouro, semelhante ao carmim, perfeitamente adequado ao algodão. Tal tecido foi
amplamente exportado da Europa para a África, Oriente Médio e América. Na América do
século XIX, foi amplamente usada na fabricação da tradicional colcha de retalhos.
O século XIX também serviu de palco para o uso do vermelho na arte para criar
emoções específicas, não apenas para imitar a natureza. Foi neste século que ocorreu o estudo
sistemático da teoria das cores e, particularmente, o estudo de como as cores complementares,
como vermelho e verde, reforçavam umas às outras quando eram colocadas juntas. Esses
estudos foram acompanhados de perto por artistas como Vincent van Gogh. Ao descrever sua
pintura, The Night Cafe, para seu irmão Theo em 1888, Van Gogh registrou: Eu tentei
expressar com vermelho e verde as terríveis paixões humanas. O salão é vermelho sangue e
amarelo pálido, com uma mesa de bilhar verde no centro e quatro lâmpadas de amarelo
limão, com raios de laranja e verde. Em todos os lugares é uma batalha e antítese dos mais
diferentes vermelhos e verdes.
No final do século 19 e início do século 20, a indústria química alemã criou dois novos
pigmentos vermelhos sintéticos: o cádmio vermelho, que era a cor do vermelhão natural, e o
vermelho mars, que era um ocre vermelho sintético, a cor do primeiro pigmento vermelho
natural. No século 20, o vermelho ainda assim o vermelho era a cor da Revolução; foi a cor da
Revolução Bolchevique de 1917 e da Revolução Chinesa de 1949 e, posteriormente, da
Revolução Cultural. O vermelho era a cor dos partidos comunistas da Europa Oriental a Cuba
e ao Vietnã. Até os dias atuais as bandeiras socialistas e comunistas são representadas pela cor
vermelha (e até hoje tais temáticas geram grande polêmica).
Atualmente a cor vermelha possui significado do amor, a raiva, da paixão a sedução,
também é muito ligada ao proibido e pecaminoso. Muito se diz para que quando se quer
chamar atenção, vestir “aquele vestido vermelho”, “aquele sapato vermelho”, ou ainda
“aquele batom vermelho”, ou ate mesmo o conjunto da obra (o vestido, o sapato e o batom
kkkkk). Por último, até os dias atuais essa cor possui um simbolismo preconceituoso em
relação às mulheres, que ao usar objetos de tal cor, como os citados anteriormente são taxadas
como vulgares e promiscuas, sendo o vermelho a cor da maçã que comida por Eva, a qual é o
símbolo do pecado.

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