Você está na página 1de 18

Organização, Recursos Humanos e Planejamento

VANTAGEM COMPETITIVA:
os modelos teóricos atuais e a
convergência entre estratégia e
teoria organizacional

Flávio C. Vasconcelos
DEA em Sociologia pelo Institut d’Etudes Politiques de Paris, Docteur ès Sciences de Gestion pela Ecole des Hautes Etudes
Commerciales (Paris) e Professor do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da EAESP/FGV.
E-mail: fvasconcelos@fgvsp.br

Álvaro B. Cyrino
DEA em Gestão da Tecnologia pela Université Tecnologique de Compiègne, Doutorando em Administração na Ecole des
Hautes Etudes Commerciales (Paris) e Gerente de Projetos da Fundação Dom Cabral.
E-mail: abcyrino@fdc.org.br

RESUMO ABSTRACT
Este artigo faz uma análise das quatro principais correntes teóricas que This article analyzes the convergence between business
tratam do fenômeno da vantagem competitiva, isto é, a ocorrência de strategy and organizational theory, by making a detailed
níveis de performance econômica acima da média de mercado em fun- comparative study of four theories focusing competitive
ção das estratégias adotadas pelas firmas. São examinadas, em ter- advantage phenomena. These theories include the strategic
mos de seus pressupostos e de suas conseqüências, as teorias de po- positioning school, the resource-based view, the market pro-
sicionamento estratégico, a teoria dos recursos, as teorias baseadas cesses and the dynamic competencies theory. We conclude
nos processos de mercado e as teorias de competências dinâmicas. the convergence between organizational theory and business
Finalmente, este artigo defende a tese de uma convergência entre es- strategy is a promising research opportunity for both disci-
tratégia empresarial e teoria organizacional como uma via de pesquisa plines.
fundamental para a evolução de ambas as disciplinas.

PALAVRAS-CHAVE
Estratégia empresarial, teoria organizacional, posicionamento estratégico, teoria dos recursos, competências.

KEY WORDS
Business policy, organizational theory, strategic positioning, resource-based view, competencies.

20 RAE - Revista de Administração de Empresas • Out./Dez. 2000 RAE


São• Paulo,
v. 40 •v.n.404 •• n.
Out./Dez.
4 • p. 20-37
2000
Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

UMA TENDÊNCIA DE CONVERGÊNCIA uma interface entre a estratégia como fenômeno in-
tencional e o comportamento organizacional como
Dois temas fundamentais estruturam a evolução re- fenômeno emergente. Essa aproximação implica, fi-
cente do pensamento sobre estratégia empresarial: a nalmente, dar um aspecto mais normativo aos estu-
vantagem competitiva e a mudança organizacional e dos sobre mudança organizacional.
estratégica. Embora distantes nas suas origens, tendo Em segundo lugar, a ausência de estabilidade e
seguido por vários anos trajetórias paralelas, esses previsibilidade coloca em evidência as fraquezas de
dois tópicos tendem a convergir progressivamente em uma grande parte dos modelos utilizados em Admi-
função das rápidas mudanças econômicas e sociais que nistração Estratégica, primeiramente, no plano práti-
caracterizam a economia mundial na virada do sécu- co e, em seguida, no plano teórico. A decadência do
lo XXI. planejamento estratégico, analisada por Mintzberg
Uma série de contribuições teóricas e conceituais, (1994), pode ser vista, nesse sentido, como um sinal
tanto no campo da Administração
Estratégica como no campo da Teo-
ria das Organizações, levou a essa A estrutura da indústria determina o
convergência: no campo da Estra-
tégia Empresarial, os trabalhos de comportamento dos agentes econômicos,
pesquisa costumam basear-se em
fundamentos econômicos, focali-
que determina a performance das firmas.
zando o “conteúdo” das estratégias.
Esses trabalhos normalmente utilizam abordagens da inadequação dos modelos de Estratégia Empresa-
metodológicas estruturadas dirigidas à verificação em- rial às características do mundo real. Para a discipli-
pírica de hipóteses generalizáveis. Também é comum na de Administração Estratégica, que, tradicionalmen-
que tais estudos concedam uma especial importância te, visa a informar e orientar a prática, a rejeição dos
às implicações normativas dos resultados. Seu obje- principais modelos de planejamento estratégico fez
tivo principal costuma ser identificar os fatores res- soar um alarme, apontando para a necessidade da
ponsáveis pelo sucesso ou fracasso das empresas em redefinição de seu escopo e de sua inter-relação com
diferentes contextos. outras disciplinas, levando, em última instância, a uma
Um segundo grupo de contribuições embasa-se nas aproximação entre a fundamentação econômica e a
Ciências Sociais em geral e na Sociologia em parti- descrição sociológica.
cular. Essas contribuições focalizam-se sobre a natu- As análises dos modelos teóricos e das contribui-
reza da mudança organizacional e os processos inter- ções empíricas feitas neste artigo visam a evidenciar
nos de adaptação, inovação e aprendizagem, utilizan- as duas dimensões responsáveis pela convergência aci-
do, preferencialmente, métodos qualitativos com o ma citada:
objetivo de entender e explicar, no seu contexto, a a) o reconhecimento do aumento da complexidade
natureza e a dinâmica dos processos de mudança or- ambiental e de seus impactos sobre o comporta-
ganizacional. mento das firmas;
No entanto, apesar das consideráveis diferenças b) o foco nos processos e recursos intra-organizacio-
teóricas e metodológicas, diversas razões justificam nais.
a convergência dessas duas correntes. Primeiramen-
te, a evolução dos ambientes organizacionais, cada A TEORIA ECONÔMICA
vez mais marcados pela evolução tecnológica, pela NEOCLÁSSICA E SEUS LIMITES
interconexão entre grandes redes de organizações e
pela integração dos mercados mundiais. Altos níveis Até os anos 70, a explicação ortodoxa sobre o
de incerteza e ambigüidade ambiental contribuem for- comportamento econômico das organizações en-
temente para que a mudança organizacional seja vis- contrava-se predominantemente na economia
ta não como um evento raro, mas como uma ocorrên- neoclássica de inspiração walrasiana. A firma
cia cada vez mais freqüente nas organizações. A im- neoclássica, no entanto, revelava-se uma simplifi-
portância da mudança organizacional é, assim, posta cação demasiadamente grosseira para definir o com-
em evidência pela percepção generalizada de que a portamento real das empresas, o que explica a au-
mudança é essencialmente inevitável. Daí surge uma sência de aplicações da análise econômica clássica
forte motivação para compreender e influenciar os nas empresas e o seu papel secundário nos trabalhos
processos de mudança organizacional, estabelecendo de estratégia empresarial.

©
RAE
2000,
• v.RAE
40 -• Revista
n. 4 • de
Out./Dez.
Administração
2000 de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil. 21
Organização, Recursos Humanos e Planejamento

Na realidade, na concepção econômica neoclássica, res obstáculos à aplicabilidade estratégica dos modelos
a vantagem competitiva – resultados consistentemente de análise econômica: “(...) The notion that a firm can
superiores à média – é um epifenômeno: seja um aci- choose from a finite set of strategies (...) implies that a
dente excepcional, seja uma imperfeição temporária firm’s resources and capabilities are not completely
do funcionamento dos mercados. O poder das forças fungible and generalizable, certainly in the short run, if
de concorrência, dirigido pela mão invisível dos mer- not in the long run. Particular strategies imply particu-
cados, tende a corroer todo lucro acima da média por lar investment decisions, organizational structures, and
meio de mecanismos de fluxo livre de capitais à pro- possibly particular organizational cultures. Put it
cura da máxima lucratividade. differently, the concept implies that certain factors of
production are semi permanently tied
to the firm by recontracting costs and,
O processo competitivo é caracterizado por perhaps, market imperfections (...)”
(Teece, 1984, p. 88).
um processo interativo de descoberta, no Uma parte importante da estraté-
gia empresarial focaliza-se justamen-
qual novos conhecimentos são produzidos. te no longo prazo, em que as caracte-
rísticas dinâmicas, as inter-relações
Além disso, falta à microeconomia ortodoxa uma entre as decisões, a mudança e a incerteza devem ser
teoria da firma como fenômeno coletivo. A firma não tratadas como fenômenos essenciais, e não como im-
é tratada como uma instituição, mas como um ator perfeições capazes de ameaçar a elegância matemáti-
individual, sem nenhuma autonomia de decisão que ca dos modelos econométricos. Assim, a própria no-
responda racionalmente (e passivamente) às mudan- ção de estratégia é estranha aos preceitos da econo-
ças no ambiente (reduzido, na concepção clássica, aos mia neoclássica, em que as decisões das firmas se con-
mecanismos de preços e quantidades). centram na alocação de recursos fungíveis entre al-
Assim, a firma “(...) se présente comme un agent ternativas finitas e conhecidas. A tecnologia e o know-
sans épaisseur ni dimension, une ‘firme point’; et how são dados, e sua difusão faz-se de uma maneira
comme un agent passif, la ‘firme automate’ (...)” perfeitamente fluida. Nesse sentido, as idéias de es-
(Coriat e Weinstein, 1995, p. 14). tratégia, antecipação e planejamento são desnecessá-
A firma é, então, dotada do mesmo estatuto teóri- rias e, até mesmo, disfuncionais.
co do consumidor individual, que apenas aplica me-
canicamente as regras do cálculo econômico e é re- A QUESTÃO DA VANTAGEM COMPETITIVA
presentado em termos de uma função de transforma-
ção de insumos em produtos. Teece assim resumiu A partir dos anos 70, diversas correntes do pensa-
esses limites da firma: “(...) With little exaggeration, mento econômico abordaram a questão da vantagem
we can assert that, until very recently, economics competitiva utilizando abordagens conceituais dife-
lacked a theory of the firm. (...) one finds a theory of rentes. Algumas das correntes contemporâneas não co-
production masquerading as a theory of the firm. locam verdadeiramente a questão das estratégias em-
Firms are typically represented as production presariais no centro de suas preocupações. É o caso,
functions, or, in some formulations, production sets. como vimos anteriormente, da economia neoclássica,
The (neoclassic) firm is a ‘black box’ which das abordagens contratuais da firma (da economia de
transforms the factors of production into usually just custos de transação e da teoria da agência).
one output” (Teece, 1984, p. 90). As teorias de Estratégia Empresarial que tratam
A teoria econômica neoclássica é baseada em pre- da questão da vantagem competitiva podem ser divi-
missas de equilíbrio, certeza e racionalidade perfeita didas em dois eixos principais. O primeiro eixo clas-
que resultam em um tipo de análise estática do proces- sifica os estudos segundo sua concepção da origem
so de tomada de decisão, focalizando a maximização da vantagem competitiva. Dois casos são, assim, iden-
da função objetivo (utilidade) em um momento espe- tificados: a) as teorias que consideram a vantagem
cífico, dados os processos tecnológicos e o preço dos competitiva como um atributo de posicionamento, ex-
fatores e dos produtos. Os limites práticos à conversão terior à organização, derivado da estrutura da indús-
de recursos, a especificidade de ativos, as particulari- tria, da dinâmica da concorrência e do mercado e b)
dades tecnológicas e o conceito de interação organiza- as que consideram a performance superior como um
cional não têm nenhum espaço nesse modelo. Esses fenômeno decorrente primariamente de característi-
problemas representam, segundo Teece, um dos maio- cas internas da organização.

22 RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000


Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

A segunda dimensão discrimina as abordagens se- zada pelo número e pelo tamanho relativo de concor-
gundo suas premissas sobre a concorrência. Uma di- rentes, compradores e vendedores, pelo grau de dife-
visão se faz entre os pesquisadores que possuem uma renciação dos produtos, pela existência de barreiras de
visão estrutural, essencialmente estática, da concor- entrada de novas firmas, pelo grau de integração verti-
rência, fundada na noção de equilíbrio econômico, e cal existente, etc. Em resumo, o modelo SCP supõe que
os que enfocam os aspectos dinâmicos e mutáveis da a performance econômica das firmas é o resultado dire-
concorrência, acentuando fenômenos como inovação, to de seu comportamento concorrencial em termos de
descontinuidade e desequilíbrio. fixação de preços e custos e que esse comportamento
As teorias de Estratégia Empresarial podem ser re- depende da estrutura da indústria na qual as firmas es-
presentadas seguindo essas duas dimensões, como tão inseridas.
mostra a Figura 1. Devemos notar que os trabalhos de Mason e Bain
visavam a explicar e analisar a lucratividade dos oli-
A ESTRUTURA DA INDÚSTRIA: DEFININDO gopólios com o objetivo de implantar políticas de pro-
O CENÁRIO DA CONCORRÊNCIA moção da concorrência (anti-trust). Para esses dois
pesquisadores, o poder dos monopólios e dos oligo-
Um dos modelos conceituais mais difundidos para a pólios representavam uma ameaça à sociedade e ao
análise da vantagem competitiva é o modelo da nova seu equilíbrio econômico. Trabalhos neo-estruturalis-
organização industrial (new industrial organization). tas, como os desenvolvidos por Michael Porter, utili-
Esse conjunto de idéias apóia-se nos trabalhos pionei- zaram o modelo básico de Mason e Bain para a for-
ros de Edward Mason e Joe Bain sobre a estrutura da mulação de estratégias de empresas utilizando o po-
indústria, um modelo que ficou conhecido como análise der dos monopólios em favor das empresas, e não
SCP (Structure–Conduct–Performance) ou Estrutura– numa perspectiva de regulamentação governamental,
Comportamento–Performance. De acordo com essa ten- como fizeram anteriormente Mason e Bain. O papel
dência, a performance das firmas em uma indústria par- determinante da estrutura industrial é um tema recor-
ticular depende do comportamento (estratégia) de com- rente entre os pesquisadores dessa corrente. Influen-
pradores e vendedores no tocante a fixação de preços, ciados pela noção simplificada de firma “pontual”
níveis de cooperação tácita e competição, políticas de inspirada nos modelos neoclássicos, os pesquisado-
pesquisa e desenvolvimento, publicidade, investimen- res da economia industrial tendem a ignorar os as-
to, etc. O comportamento das firmas é, por sua vez, de- pectos organizacionais da estratégia empresarial. Se-
finido pela estrutura da indústria em questão, caracteri- gundo Bain: “(...) I am concerned with the

Figura 1 – As correntes explicativas da vantagem competitiva

1 – Análise estrutural da indústria 3 – Processos de mercado


A vantagem competitiva explica-se
por fatores externos (mercados, Organização industrial: Modelo SCP Escola Austríaca
estrutura das indústrias). Análise de Posicionamento (Hayek, Schumpeter)
(Porter)

2 – Recursos e competências 4 – Capacidades dinâmicas


A vantagem competitiva explica-se
por fatores internos específicos à
Teoria dos Recursos Teoria das Capacidades Dinâmicas
firma.

Estrutura da indústria Processos de mercado


(market process)
Estática: equilíbrio e estrutura Dinâmica: mudança e incerteza

RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000 23


Organização, Recursos Humanos e Planejamento

environmental setting within enterprises operate and representam os ativos acumulados pela empresa no
in how they behave in these settings as producers, decorrer do tempo, geralmente derivados de sua re-
sellers and buyers. By contrast, I do not take an lação com o ambiente externo imediato (ambiente
internal approach, more appropriate to the field of transacional). A estratégia, nesse modelo, consiste
management science, such as could inquire how em posicionar a empresa dentro do seu ambiente e,
enterprises do and should behave in ordering their especialmente, da sua indústria. O papel reservado
internal operations and would attempt to instruct them à estratégia, nesse sentido, é proteger a firma da ação
accordingly (...) my primary unit of analysis is the das forças competitivas. Segundo Porter: “(...) The
industry of competing group of firms, rather than the goal of competitive strategy for a business unit in
individual firm or the economy wide aggregate of an industry is to find a position in the industry where
enterprises (...)” (Bain, 1959, p. VII-VIII, citado por the company can best defend itself against these
Foss, 1996). competitive forces or can influence them in its fa-
A análise inicial de Porter sobre a vantagem com- vor (...)” (Porter, 1980, p. 4).
petitiva acentua alguns elementos característicos da A principal maneira de chegar a essa posição pro-
nova organização industrial. Em primeiro lugar, Porter tegida é construir barreiras à entrada de outras firmas
compartilha com o modelo de Mason e Bain a mesma na indústria em questão para impedir a erosão das mar-
unidade de análise, a indústria, e não a firma indivi- gens de lucratividade, o que implica, em geral, esta-
dual: “The basic unit of analysis in a theory of strategy belecer mecanismos de acordo tácito entre os atores
must ultimately be a strategically distinct business or econômicos na indústria. Dessa maneira, as indústri-
industry” (Porter, 1991, p. 99). as consideradas mais atraentes pelos pesquisadores
Em segundo lugar, a lógica dos modelos de orga- da economia industrial são as situações que se apro-
nização industrial é muito clara sobre as origens e o ximam dos monopólios e oligopólios.
sentido de causalidade do modelo, começando pela A noção de estratégia é, assim, fortemente orien-
estrutura da indústria que determina o comporta- tada em direção à noção de adaptação (fit). Em pri-
mento dos agentes econômicos, que determina a meiro lugar, há a noção de adaptação externa implíci-
performance das firmas. Ainda que outros elementos ta na lógica do posicionamento da firma na indústria.
sejam ocasionalmente considerados, o posicionamento É a partir da análise objetiva de seu ambiente que a
da firma dentro da estrutura industrial é, segundo firma será capaz de identificar a posição mais favorá-
Porter, o principal determinante de seu sucesso ou fra- vel. A escolha da estratégia correta permitirá à firma
casso no cenário competitivo. adaptar-se à estrutura da indústria. Em segundo lu-
“(...) At the broadest level, firm success is a gar, a estratégia deve ser internamente coerente, adap-
function of two areas: the attractiveness of the industry tando os elementos internos da firma à sua posição
in which the firm competes and its relative position na indústria. As atividades da firma devem, dessa
in that industry. Firm profitability can be decomposed maneira, ser configuradas de maneira coerente, cada
into an industry effect and a positioning effect. Some uma dando suporte e complementando a outra. É essa
firm successes come almost wholly from the industry sinergia e coerência interna que tornam possível a
in which they compete; most of their rivals are execução de uma estratégia bem-sucedida (Porter,
successful too! (...)” (Porter, 1991, p. 100). 1991, 1996).
No seu segundo livro, Porter inclui um elo adici- Outras abordagens derivadas das idéias da orga-
onal na explicação do sucesso competitivo, explo- nização industrial surgiram recentemente na litera-
rando os conceitos de atividades e fatores determi- tura sobre estratégia. A primeira dessas abordagens
nantes. As atividades ali analisadas constituem as estrutura-se em torno da idéia de concorrência
“unidades básicas de análise de uma firma”, e sua engajada (commited competition), identificando a
configuração particular determina a estratégia da vantagem competitiva sustentável em função de de-
empresa. A vantagem competitiva é, assim, o resul- cisões de investimento irreversíveis que sinalizam
tado da capacidade da firma de realizar eficiente- o fechamento de oportunidades de mercado ou de
mente o conjunto de atividades necessárias para ob- acesso a recursos, condicionando a tomada de ou-
ter um custo mais baixo que o dos concorrentes ou tras decisões. Os engajamentos estratégicos sinali-
de organizar essas atividades de uma forma única, zam aos concorrentes a disposição da firma em lu-
capaz de gerar um valor diferenciado para os com- tar por um certo mercado, ainda que baixando radi-
pradores. Segundo Porter, apenas dois fatores deter- calmente sua rentabilidade, funcionando como fa-
minam a vantagem competitiva: as condições inici- tores dissuasivos de novos entrantes potenciais
ais e a escolha dos dirigentes. As condições iniciais (Ghemawat, 1986, 1991).

24 RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000


Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

Uma segunda contribuição deriva da teoria dos jo- RECURSOS E COMPETÊNCIAS:


gos aplicada à modelização do comportamento das fir- DESCOBRINDO AS ESPECIFICIDADES
mas a partir das variáveis estruturais da indústria, ten- DAS ORGANIZAÇÕES
tando dar uma dimensão mais dinâmica à estratégia
(Shapiro, 1989). A correspondência dos modelos ao O conjunto de idéias que se convencionou chamar
comportamento real das empresas depende, no entan- de teoria dos recursos aparece durante os anos 80
to, das premissas utilizadas para a construção da es- como uma alternativa à posição dominante da organi-
trutura do jogo. As idéias da organização industrial zação industrial.
têm uma influência decisiva nesse sentido. As estru- A proposição central dessa corrente é que a fon-
turas do modelo devem traduzir um conjunto de pre- te da vantagem competitiva se encontra primaria-
missas compartilhadas pelos atores, de forma que se mente nos recursos e nas competências desenvol-
possa estruturar um “jogo” entre eles. Por essa razão, vidos e controlados pelas empresas e apenas se-
a teoria dos jogos foi mais bem-sucedida em explicar cundariamente na estrutura das indústrias nas quais
o comportamento de indústrias maduras e estáveis, elas se posicionam.
nas quais as estratégias dos
atores são simétricas e não
existem descontinuidades fre- O enfoque privilegiado nos processos organizacionais
qüentes na relação de forças
entre os competidores. permite a criação de uma teoria estratégica mais
Porter articulou o primeiro
e provavelmente o mais influ- flexível do que as visões economicistas.
ente “paradigma” no campo da
Estratégia Empresarial, o que
explica a importante difusão de suas idéias nos últi- As firmas são, assim, consideradas como “feixes
mos 25 anos. Porter oferece a promessa de uma ex- de recursos” (Wernerfelt, 1984) ou como conjuntos
plicação fundada sobre uma estrutura teórica consis- de competências e capacidades (Prahalad e Hamel,
tente e empiricamente verificável, capaz de prever o 1990). Esses recursos e capacidades são vistos como
comportamento das empresas em muitos casos reais. elementos raros, de imitação e substituição difícil e
Alguns aspectos críticos, no entanto, fazem-se notar. custosa no quadro de uma organização particular
Em primeiro lugar, os processos intra-organizacionais (Barney, 1991, 1997). A idéia de recursos inclui não
têm um papel secundário nos trabalhos da escola de apenas recursos físicos e financeiros mas também re-
organização industrial. Sendo a indústria a unidade cursos intangíveis (Hall, 1992) ou invisíveis (Itami
de análise, a firma é vista apenas como um conjunto e Roehl, 1987).
de atividades organizadas. As diferenças entre as fir- A origem recente da teoria dos recursos é nor-
mas são reduzidas a diferenças de tamanho e posicio- malmente associada ao trabalho de Wernerfelt
namento, sem maiores considerações sobre o que (1984). No entanto, diversas contribuições teóricas
acontece no interior das fronteiras organizacionais. mais antigas abriram caminho para a constituição
Fortes premissas de racionalidade econômica também da teoria dos recursos. Entre essas contribuições,
estão embutidas nessa corrente de comportamento das encontramos a obra de Philip Selznick, que, a par-
firmas. As teorias da economia industrial adotam um tir dos seus estudos sobre a TVA e os partidos
modelo de racionalidade próximo ao da economia bolchevistas, foi um dos primeiros a caracterizar
neoclássica. Os dirigentes são capazes de analisar as organizações como entidades que constroem
completa e objetivamente todos os aspectos relevan- recursos específicos por meio do processo de insti-
tes da indústria e formular estratégias otimizadas para tucionalização, um processo no qual a organização
eles. A estratégia é, nessa perspectiva, uma escolha passa de um instrumento à materialização de um
de otimização entre tipos gerais de combinações en- conjunto específico de valores. Selznick mostra que
tre produtos e mercados (liderança de custos, dife- as organizações, por meio das escolhas estratégi-
renciação e focalização). cas que fazem, adquirem um caráter individual:
O caráter exógeno e determinante das forças ex- “(...) The formation of an institution is marked by
ternas em relação à dinâmica interna da firma trans- the making of value commitments, that is, choices
forma a estratégia em um esforço contínuo de adap- which fix the assumptions of policymakers as to the
tação ex post, uma série de conformações sucessivas nature of the enterprise – its distinctive aims,
a forças externas incontroláveis. m e t h o d s , a n d r o l e i n t h e c o m m u n i t y. T h e s e

RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000 25


Organização, Recursos Humanos e Planejamento

character defining choices are not made verbally; descoberta de muitos temas centrais da teoria dos
they may not even be made consciously. When such r e cursos, como a especificidade das firmas, a
commitments are made, the values in question are heterogeneidade dos recursos, a importância do co-
actually built into the social structure (...)” nhecimento sobre eles e seus possíveis usos.
(Selznick, 1957, p. 55-56). Um outro grupo de precursores da teoria dos re-
Os trabalhos da economista Edith Penrose tam- cursos é composto pelos proponentes da escola de
bém exerceram uma influência decisiva na forma- design estratégico (Andrews, 1980). O modelo de aná-
ção da teoria dos recursos. Essa pesquisadora foi uma lise SWOT (forças e fraquezas, oportunidades e ame-
das primeiras a conceber a firma como um “feixe de aças) supõe alguns dos conceitos básicos da teoria dos
recursos”, antecipando, dessa forma, um dos concei- recursos na medida em que a análise de forças e fra-
tos básicos da teoria dos recursos. Penrose concen- quezas se baseia em uma análise interna (focada em
trou-se sobre a questão do crescimento das empre- recursos e competências distintivas) e a análise de
sas, adotando uma perspectiva que se diferenciava oportunidades e ameaças se baseia em uma análise
daquela defendida pelos economistas neoclássicos. externa (focada nas condições de concorrência e de-
Para ela, a firma se definia como uma entidade ad- manda). Em geral, as forças e fraquezas de uma orga-
ministrativa e um conjunto de recursos, e não como nização são resultado: a) das forças e fraquezas dos
uma função abstrata de transformação de insumos indivíduos que compõem a organização; b) da forma
em produtos. como essas capacidades individuais são integradas no
A idéia de recursos no lugar do conceito clássico trabalho coletivo e c) da qualidade da coordenação
de fatores de produção representa uma significativa dos esforços de equipe (Andrews, 1980). Essa análi-
mudança: “(...) Une entreprise est donc quelque chose se aproxima-se bastante da visão proposta pela teoria
de plus qu’une unité administrative; elle est également dos recursos, isto é, que a competitividade de uma
un ensemble de facteurs de production, dont organização se fundamenta essencialmente em sua
l’utilisation pour différents usages et dans le cours capacidade de selecionar e combinar recursos adequa-
du temps est déterminée par une décision dos e mutuamente complementares.
administrative. Si nous considérons la fonction de A teoria dos recursos, em sua forma atual, funda-
l’entreprise privée sous cet angle, le meilleur moyen menta-se em duas generalizações empíricas e dois pos-
d’évaluer les dimensions d’une entreprise est de tulados (Foss, 1997).
trouver une mesure des facteurs de production qu’elle As generalizações empíricas são:
utilize (...)” (Penrose, 1959/1963, p. 31). a) Há diferenças sistemáticas entre as firmas no to-
Os processos de expansão das firmas são, dessa cante à forma com que elas controlam os recursos
maneira, caracterizados tanto pelas oportunidades ex- necessários à implementação de suas estratégias.
ternas como pelas internas derivadas do conjunto de b) Essas diferenças são relativamente estáveis.
recursos da firma. A ênfase de Penrose recai sobre os Os postulados são:
limites e as possibilidades que os recursos internos a) As diferenças nas dotações de recursos causam di-
colocam à expansão das firmas. ferenças de performance.
Esse reconhecimento da heterogeneidade impli- b) As firmas procuram constantemente melhorar sua
ca a valorização do processo de aprendizagem inter- performance econômica.
na da organização: “(...) d’apprendre à mieux A primeira constatação empírica, sobre as dife-
connaître les facteurs de production avec lesquels renças sistemáticas das dotações de recursos, entra
ils travaillent, et qu’une meilleure connaissance a em conflito com a teoria econômica tradicional, que
des chances d’augmenter la rentabilité et la vê as diferenças entre firmas como, na melhor das
productivité de leur entreprises (...) (en orientant) la hipóteses, o resultado de diferenças particulares de-
recherche soit sur les caractéristiques propres de ce vidas ao acaso (Nelson, 1991). Além do mais, na
f a c t e u r, s o i t s u r l e s f a ç o n s d e c o m b i n e r s e s maior parte das visões ortodoxas da firma, as dife-
caractéristiques avec celles d’autres facteurs de renças são apenas diferenças de escala, sem a consi-
production (...)” (Penrose, 1959/1963, p. 75). deração efetiva das diferenças qualitativas. A esta-
Dessa forma, é a procura constante da utilização bilidade das diferenças contradiz também o postula-
plena dos recursos que impede o equilíbrio das fir- do do equilíbrio geral do sistema econômico, que
mas e dos mercados. Mesmo se as condições da in- pressupõe que os mecanismos de mercado e da con-
dústria e da concorrência forem estáveis, cada firma, corrência tendem a anular todas as diferenças no
tentando otimizar o uso do seu “feixe de recursos”, decorrer do tempo. A idéia de que as diferenças qua-
se afastaria do equilíbrio. Penrose, assim, antecipa a litativas das firmas possam ser atribuídas a recursos

26 RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000


Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

específicos representa também uma ruptura com as Para que as rendas ricardianas não sejam erodidas,
teorias focalizadas na estrutura da indústria (Mason, é necessário que elas sejam protegidas da ação dos
Bain, Porter), que atribuem a diferença entre as fir- concorrentes, evitando que estes tenham acesso aos
mas a fatores externos, como seu posicionamento mesmos recursos ou a recursos que produzam um re-
dentro da indústria. Duas conseqüências importan- sultado equivalente. Em resumo, é necessário que as
tes derivam desse postulado: primeiramente, para condições de heterogeneidade sejam preservadas. Dois
justificar as diferenças de performance, os recursos mecanismos que previnem a erosão das rendas são ana-
devem ser capazes de gerar produtos ou serviços co- lisados: a imitabilidade imperfeita e a substituibilidade
mercializáveis (Collis, 1996). Não é o bastante que imperfeita (Peteraf, 1993). A imitabilidade imperfeita
as firmas tenham recursos distintos. O que diferen- (imperfect imitability) dos recursos explica a dificul-
cia os recursos, na realidade, é sua capacidade de dade das firmas em identificar e reproduzir os recur-
gerar valor para os clientes
(Hamel, 1995) ou a sua ca-
pacidade de permitir a im-
plantação de estratégias di-
A convergência entre estratégia e teoria abre
ferenciadas (Barney, 1997). espaços para que as disciplinas possam se
Esse raciocínio leva a
uma mudança fundamental enriquecer mutuamente, mas, por outro lado,
da visão sobre a natureza da
concorrência, que, em lugar torna o trabalho de pesquisa mais e mais
de ser uma concorrência en-
tre produtos, passa a ser uma complexo, dado o aumento das variáveis
concorrência entre recursos
e competências (Sanchez e que devem ser levadas em consideração.
Heene, 1996; Hamel, 1994).
Partindo desses postula-
dos de base, os trabalhos da teoria dos recursos ex- sos mais importantes dos seus concorrentes. A
ploram alguns temas comuns. substituibilidade imperfeita diz respeito à dificuldade
A vantagem competitiva pressupõe que as dota- de substituir os recursos utilizados pelos concorrentes
ções de recursos das firmas sejam heterogêneas. Por por outros que poderiam ter os mesmos resultados com
causa dessa heterogeneidade de recursos, as firmas um rendimento econômico igual ou superior. Esses dois
apresentam diferenças de performance econômica, mecanismos juntos funcionam como um sistema de iso-
algumas apresentando baixa lucratividade e outras lamento das forças da concorrência e garantem a
apresentando lucratividade excepcionalmente alta em heterogeneidade dos recursos e das rendas a eles asso-
relação à média do mercado. ciados (Rumelt, 1984).
O controle por algumas firmas de recursos capa- Entre os fatores que tornam difícil a imitação dos
zes de gerar uma performance superior pressupõe que concorrentes, encontram-se os fatores naturais (geo-
a oferta desses recursos seja limitada. A raridade des- grafia, raridade de materiais), os mecanismos legais
ses recursos provém seja de razões estruturais (limi- e institucionais (marcas, patentes, reservas de merca-
tes físicos, naturais, legais ou temporais), seja de ra- do, direitos de propriedade), além de fatores econô-
zões ligadas ao comportamento das firmas (a sua ca- micos e organizacionais. Esses fatores contemplam a
pacidade de desenvolver recursos únicos, de difícil natureza tácita dos recursos (Reed e Defillippi, 1990),
imitação, a partir de insumos indiferenciados dispo- as condições históricas únicas do desenvolvimento dos
níveis no mercado). A restrição à oferta pode ser per- recursos e das competências (Barney, 1997; Arthur,
manente ou temporária. O que atrai a atenção dos 1989), a ambigüidade causal e a complexidade dos
pesquisadores da teoria dos recursos são os recursos recursos (Reed e Defillippi, 1990; Barney, 1997), as
cuja oferta não pode ser aumentada a curto prazo. A “deseconomias de tempo” (time compression
inelasticidade da oferta desses recursos permite a ob- diseconomies), as vantagens das massas de ativos e
tenção de lucros acima da média do mercado (ren- seu grau de erosão (Dierickx e Cool, 1989) e a dispo-
das ricardianas) enquanto durar a relativa raridade nibilidade de substitutos para esses recursos.
dos recursos e não existirem outras combinações de O Quadro 1 apresenta algumas referências aos me-
recursos capazes de produzir os mesmos bens ou bens canismos de isolamento de recursos encontradas na
substitutos. literatura.

RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000 27


Organização, Recursos Humanos e Planejamento

A diversidade dos mecanismos de isolamento re- direitos de propriedade bem definidos, o valor de uma
flete os interesses específicos e as abordagens parti- grande parte dos recursos de uma firma não é captu-
culares de um grande número de autores. Podemos, rado pelos preços de mercado e é essencialmente imó-
no entanto, notar que os autores que se identificam vel, devido a seu desenvolvimento ser atrelado às ca-
com a teoria dos recursos se concentram sobre os fa- racterísticas específicas da firma. As razões para essa
tores e mecanismos que impedem a imitação de re- imperfeição dos mecanismos de mercado encontram-
cursos específicos à firma, ao passo que, para os au- se na natureza interdependente dos recursos e na de-
tores que se identificam com a economia industrial, pendência contextual das competências e do know-
as barreiras de entrada e saída (barreiras à mobilida- how das firmas.
de) são os principais elementos para explicar a dife- As firmas, em geral, empregam esses recursos em
rença de performance entre as firmas. “feixes” caracterizados por relações de complemen-
Uma das condições necessárias para que recursos taridade e co-especialização (Teece, 1988). A depen-
específicos sejam capazes de gerar rendas acima do dência dos outros recursos limita a mobilidade de
nível médio de mercado é que sua transferência de um recurso em particular, tornando as configurações
uma firma a outra seja difícil ou até impossível. A individuais de recursos muito específicas às firmas
mobilidade perfeita dos recursos eliminaria as rendas que as desenvolveram (Black e Boal, 1994). Excetua-
excepcionais, pois estas seriam incorporadas no sis- da a aquisição da firma inteira, o mercado não dispõe
tema de equilíbrio geral de preços por meio do mer- de mecanismos para a transferência de sistemas (ou
cado de fatores. redes) de recursos, o que justifica o argumento da não-
Além dos fatores genéricos de produção utiliza- transferência dos recursos.
dos pela firma – capital, maquinário, mão-de-obra, pa- A imperfeição dos mercados de fatores gera, tam-
tentes – que são limitados por características físicas e bém, a imposição de limites ex ante à concorrência.

Quadro 1 – Mecanismos de isolamento

MECANISMO REFERÊNCIA

Recursos únicos/raros e imperfeitamente móveis Wernerfelt, 1984; Barney, 1991

Talentos pessoais dos administradores Penrose, 1959/1963

Recursos não disponíveis no mercado Barney, 1991

Competências fundamentais de difícil reprodução Andrews, 1980; Hamel e Prahalad, 1994

Combinações únicas de experiências Prahalad e Bettis, 1986; Spender, 1989

Culturas organizacionais, conhecimentos tácitos Barney, 1986

Ativos invisíveis de imitação difícil Itami e Roehl, 1987

Heurísticas e processos não facilmente imitáveis Schoemaker, 1990

Economias ligadas ao tempo Dierickx e Cool, 1989

Combinação de fatores de produção Schumpeter, 1934

Capacidades gerenciais e de trabalho em equipe Nelson e Winter, 1982

Dependência de trajeto (path dependency) Arthur, 1989; Barney, 1991

Ambigüidade causal e racionalidade limitada Simon, 1987; Lippman e Rumelt, 1982

Ativos idiossincráticos Williamson, 1989

Ativos co-especializados (interconexão elevada) Teece, 1988, 1994, 1997; Dierickx e Cool, 1989

Informação assimétrica, conhecimentos específicos Barney, 1986; Winter, 1988

Irreversibilidade, engajamento de recursos Ghemawat, 1991

Mercados imperfeitos de fatores Barney, 1986; Rumelt, 1987

Barreiras de saída e “switching costs” Porter, 1980

28 RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000


Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

Se os preços esperados dos recursos estratégicos são ças na análise SWOT), para adotar recursos e compe-
homogêneos e conhecidos (como suposto pela teoria tências (forças e fraquezas) como sendo a origem das
microeconômica neoclássica) e se esses recursos po- estratégias bem-sucedidas.
dem ser transferidos de uma firma a outra, então, eles A idéia de que os recursos devem guiar a estraté-
seriam avaliados como um fator de produção da mes- gia mais fortemente que as restrições do ambiente
ma forma que os outros insumos, e a rentabilidade externo (estrutura da indústria) está também no cen-
média do conjunto capital/recursos tenderia a se igua- tro de diversas teorias sobre a diversificação das em-
lar à média de mercado. A existência de mercados im- presas. Nessas teorias, é o agrupamento de diversos
perfeitos de recursos é, assim, uma condição neces- conjuntos produto/mercado em torno de competênci-
sária para a existência de vantagem competitiva as únicas que explica os esforços bem-sucedidos de
(Barney, 1986). diversificação (Barney, 1997; Collis, 1991; Grant,
Os mercados de recursos não são apenas imperfei- 1991).
tos, eles são também incompletos: uma grande parte Barney (1986) observa, ainda, que rendas excep-
dos recursos não é negociável no mercado. Não po- cionais não podem ser concretizadas a partir da aná-
dendo ser vendidos ou comprados, esses recursos de- lise de oportunidades externas, pois as informações e
vem forçosamente ser construídos no interior da fir- as técnicas de análise dessas oportunidades estão aces-
ma. A sua acumulação interna garante, enfim, o cará- síveis a todos os concorrentes. Por outro lado, as in-
ter específico do conjunto de recursos de uma firma formações sobre os recursos da firma permanecem
(Dierickx e Cool, 1989). como suas propriedades exclusivas, protegidas pe-
São, por fim, as falhas do mercado de recursos – los mecanismos de isolamento. Dessa forma, é a
sua imperfeição e sua incompletude – que tornam pos- assimetria de informação relativa ao potencial dos re-
sível a realização das rendas ricardianas e garantem a cursos e das competências específicas da firma que
continuidade da heterogeneidade dos recursos. deve guiar a estratégia, pois é a única fonte possível
A teoria dos recursos coloca em evidência as dife- de vantagem competitiva.
renças entre as firmas em função das diversidades Um balanço preliminar das contribuições da teo-
entre suas bases de recursos e competências. Essas ria dos recursos ancoradas na disciplina econômica
diferenças são desenvolvidas por meio das diversida- mostra certos limites dessa abordagem. Foss (1997)
des de escolhas e compromissos dos dirigentes das identifica três limites maiores à teoria dos recursos:
firmas (Selznick, 1957). Essas decisões não são to- a) a ênfase na noção de equilíbrio; b) a ênfase em
madas por acaso, elas interagem fortemente com as recursos discretos e c) o papel secundário atribuído
decisões passadas condicionando as decisões presen- ao ambiente.
tes. A história é, dessa maneira, extremamente im- A teoria dos recursos permanece, em geral, mui-
portante, engendrando irreversibilidades e impondo to ligada às idéias neoclássicas de racionalidade, de
restrições (Arthur, 1989). O passado e o futuro estão, comportamento econômico e de estabilidade e previ-
assim, intimamente ligados: “(...) not only may a sibilidade dos mercados (Foss, 1996, 1997). Esse foco
strategic change lead to the need for a change in na estabilidade é reconhecido por Barney (1997, p.
organizational structure (...), but the past, embedded 171): “(...) The resource-based view of the firm can
in the current organizational structure and systems, help managers choose strategies to gain sustained
itself determines the strategic opportunities of the competitive advantage only as long as the rules of the
present (...)” (Nanda, 1996). game in an industry remain relatively fixed. But, after
Os trabalhos pioneiros de Penrose e da escola de a Schumpeterian revolution, what were weaknesses
design estratégico já haviam destacado a importância may become strengths and what were strengths may
estratégica dos fatores internos à firma. Nessa visão, become weaknesses. (...) Thus, although sustained
o papel da firma não é apenas a alocação de recursos competitive advantages will not last forever, they are
escassos entre finalidades alternativas (Doz, 1996). not competed away through imitation but can be
Levando em conta a importância dos recursos para a displaced through revolutionary environmental
performance competitiva, a gestão dos processos de changes (...).”
acumulação, coordenação e difusão dos recursos pas- No entanto, quando tratamos de ambientes com
sa a ser a função primordial da administração de em- alto grau de incerteza, ambigüidade e complexida-
presas (Prahalad e Hamel, 1990). de, como indústrias emergentes, fragmentadas ou em
A teoria dos recursos inverte, assim, o sentido da vias de internacionalização, as mudanças de contex-
análise estratégica clássica, fundada em primeiro lu- to passam a ser ameaças concretas à sobrevivência
gar na primazia do mercado (oportunidades e amea- das firmas. Nesse caso, temos situações de concor-

RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000 29


Organização, Recursos Humanos e Planejamento

rência schumpeteriana, que modificam a estrutura eco- Schumpeter. As contribuições dos teóricos austríacos
nômica de toda a indústria, por meio do processo de podem ser organizadas em quatro temas principais:
destruição criativa, da emergência de novas estraté- a) os processos de mercado, b) o papel do empreen-
gias, de novas formas organizacionais e de novas com- dedor, c) a heterogeneidade das firmas e, finalmente,
petências (Schumpeter, 1982). d) um conjunto de fatores não observáveis.
Um segundo limite aos trabalhos da teoria dos re- O papel do mercado na maior parte da literatura
cursos, especialmente àqueles de natureza empírica, microeconômica neoclássica é o de um mecanismo
é o seu foco sobre recursos discretos, utilizando um equalizador, responsável pela redução de diferenças
modo de análise estático e ex post (Levinthal, 1995; de rentabilidade entre as várias atividades econômi-
Grant, 1991). Na maioria das vezes, por razões cas possíveis. O mercado é a força niveladora que co-
metodológicas, uma grande parte dos pesquisadores ordena as ações dos agentes econômicos individuais
da teoria dos recursos se focaliza na existência ou não permitindo o atingimento do equilíbrio econômico por
de recursos individuais em certas situações e em suas meio do mecanismo de preços como alocador univer-
conseqüências em termos de performance. Essa ênfa- sal de recursos. Os fenômenos econômicos que se des-
se em recursos individuais pode, no entanto, revelar- viam do equilíbrio podem ser produtos de acidentes
se problemática, pois o caráter específico dos recur- temporários, corrigíveis pela ação livre do mecanis-
sos encontra-se freqüentemente na sua configuração, mo de preços, que dirige a alocação de recursos, ga-
isto é, no arranjo relativo entre vários recursos inter- rantindo o equilíbrio geral do sistema econômico.
dependentes (Penrose, 1959/1963). Constatando que a mudança, a inovação, o
Finalmente, ao privilegiar a determinação da es- surgimento de novos concorrentes, os fenômenos de
tratégia “de dentro para fora” (inside-out), as aborda- rendimento crescente e os resultados financeiros dis-
gens centradas na teoria dos recursos descartam um crepantes da média do mercado são fenômenos co-
papel predominante que pode ser atribuído às condi- muns, alguns pesquisadores em economia partem em
ções ambientais. Essa posição pode ser considerada busca de um quadro conceitual capaz de explicar es-
um limite à teoria dos recursos: “(...) An error of ses fenômenos não como aberrações de um modelo
omission that the resource perspective seems to be de equilíbrio, mas como ocorrências esperadas em
making is the obverse of some of the same mistakes um modelo que gera e preserva diferenças de
it accuses the competitive strategy approach of making performance. Para a escola austríaca, o mercado, lon-
– it seems to be ascribing preeminence to the inside- ge de ser caracterizado pelo equilíbrio, é um proces-
out perspective of strategy. Barney, for instance, so de descoberta interativa que mobiliza informações
asserted that the analysis of a firm’s skills and divergentes e conhecimentos dispersos. As firmas
capabilities will be of greater strategic value than the obtêm lucros por meio da descoberta de oportuni-
analysis of its competitive environment. However, as dades e da mobilização pioneira de recursos opera-
Wernerfelt (1984), Collis (1991) and Ghemawat da pelos empreendedores. Estes últimos, motivados
(1991) pointed out, strategic analysis must recognize pela perspectiva de lucros excepcionais, procuram
the duality between the resource-based and the sempre inovar, gerando novos arranjos econômicos
product-based perspectives of the firm (...)” (Nanda, e, conseqüentemente, causando o desequilíbrio do
1996, p. 103). mercado. Tendo em vista que os concorrentes pro-
curam imitar e suplantar os inovadores introduzin-
PROCESSOS DE MERCADO: FOCALIZANDO do outras inovações, o desequilíbrio do mercado
MUDANÇA, INOVAÇÃO E DINÂMICA passa a ser um estado permanente, e não um fenô-
DA CONCORRÊNCIA meno transitório.
Kirzner descreve os processos de mercado desta-
Um importante grupo de contribuições às teorias cando quatro aspectos fundamentais:
sobre a vantagem competitiva concentra-se na dinâ- a) Competição: o que mantém os processos de mer-
mica da empresa, dos mercados e da concorrência, cado é a competição, não a concorrência perfeita
enfatizando mais os processos de mudança e inova- em termos de ajustes de preços e quantidades, mas
ção do que as estruturas das indústrias (Porter, a competição entre firmas rivais que procuram au-
1980) ou os arranjos estáveis de recursos. As origens mentar os seus lucros oferecendo melhores pro-
desse movimento remontam aos trabalhos, em Viena, dutos e serviços que aqueles existentes. A condi-
de Carl Menger, um dos fundadores da escola aus- ção necessária para manter essa competição não
tríaca de economia, que inclui outros economistas é a existência de um grande número de rivais, mas
importantes, como Von Mises, Hayek, Kirzner e sim a liberdade de fluxos de capitais, associada à

30 RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000


Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

inexistência de barreiras de entrada significati- d) Os preços de mercado: em vez de se aproximarem


vas nas indústrias. dos preços de equilíbrio, para a escola austríaca,
b) Conhecimento e descoberta: segundo Hayek, o pro- os preços traduzem o valor relativo das descober-
cesso competitivo é caracterizado por um proces- tas feitas pelos empreendedores. Eles sinalizam,
so interativo de descoberta, em que novos conhe- assim, oportunidades de lucros excepcionais, ou
cimentos são produzidos. Como os mercados po- seja, de estabelecimento de rendas de empreendi-
dem assimilar e transmitir informações (preços, mento (Rumelt, 1987), que, na prática, correspon-
quantidades, recursos) somente sobre as práticas dem a monopólios transitórios. A descoberta e ex-
correntes, cabe ao empreendedor a tarefa de des- ploração dessas oportunidades de pioneirismo é o
cobrir novas oportunidades de aplicação e gerar motor dos processos de mercado como geração de
conhecimento relativo a essas oportunidades, co- conhecimento.
nhecimento esse que alimentará o mercado e o pro- É nos trabalhos de Schumpeter que o empreende-
cesso de competição. Segundo Kirzner (1985, p. dor adquire sua expressão mais plena. O empreende-
131): “(...) The market, in other words, is not dor é, segundo esse autor, o responsável pela introdu-
merely a process of search for information of the ção de inovações capazes de melhor satisfazer as de-
need of which men had previously been aware; mandas do mercado. Segundo ele, o desenvolvimen-
it is a discovery procedure that tends to correct to econômico ocorre quando as firmas desenvolvem
ignorance where the discoverers themselves were inovações perturbando o equilíbrio de forças compe-
totally unaware that they indeed were ignorant titivas anteriormente prevalecentes. Para Schumpeter,
(...).” é esse processo de “destruição criadora”, a renova-
c) Incentivos e recompensas: as noções de lucro na ção constante de produtos, processos e formas orga-
teoria neoclássica e na escola austríaca não são as nizacionais, que permite o estabelecimento temporá-
mesmas. Na versão ortodoxa, o lucro é o resultado rio de rendas do empreendedor e que impede o mer-
da otimização do uso dos fatores de produção em cado de manter uma posição de equilíbrio.
oportunidades de aplicação conhecidas, dadas pela O papel dos empreendedores é descobrir novas
livre circulação de informação no mercado. Para a oportunidades de produção, isto é, métodos de pro-
escola austríaca, lucros são resultantes da desco- dução mais eficientes e produtos mais eficazes em
berta de novas oportunidades de produção e da cri- termos de resultados finais para os consumidores.
ação de novas combinações de fatores de produ- Isso implica a utilização simultânea de dois tipos de
ção. A primeira noção de lucro tende a se confun- conhecimento: a) métodos científicos e mobilização
dir com o custo de oportunidade do capital, ao pas- de conhecimentos explícitos e b) informações cir-
so que a segunda representa as rendas do empre- cunstanciais e contextuais, comumente associadas a
endedor, obtidas por meio da descoberta de novas formas tácitas de conhecimento das especificidades
fronteiras de produtividade e do estabelecimento locais.
de situações de monopólio temporário. “(...) the Cabe lembrar, ainda, que as funções do empreen-
availability of pure entrepreneurial profit has the dedor não estão apenas ligadas à inovação radical mas
function not of outweighting the cost associated também à rápida capacidade de imitação dos concor-
with withdrawing inputs from alternative uses, but rentes, uma vez que ambos os comportamentos con-
of alerting decision makers to the present error of tribuem para a maior eficiência do sistema econômi-
committing factors to uses less valuable to the co como um todo.
markets than others waiting to be served (...)” A escola austríaca considera a firma como uma en-
(Kirzner, 1985, p. 133). tidade na qual a história e as características individu-

Quadro 2 – Diferenças entre a escola de organização industrial e a escola austríaca

ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL ESCOLA AUSTRÍACA

OBJETIVO ESTRATÉGICO Restrição de forças competitivas Descoberta empreendedora


MERCADO Equilíbrio Desequilíbrio
MODELO DE RENTABILIDADE Regularidades empíricas Diversidade
FATORES DE SUCESSO Variáveis observáveis Variáveis inobserváveis

Fonte: Jacobson (1992, p. 7).

RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000 31


Organização, Recursos Humanos e Planejamento

ais tornam muito difícil a imitação perfeita pelos con- trutura da indústria deve ser vista como o resultado
correntes. A natureza da competição entre firmas su- endógeno das diferenças de performance das firmas
gere que nenhuma estratégia que possa ser livremen- no decorrer do tempo em vez de ser considerada um
te replicada pode assegurar taxas de rentabilidade fator determinante da performance destas últimas.
acima da média do mercado. Nessas condições, para
que uma firma possa manter uma rentabilidade ele- O MODELO DE CAPACIDADES DINÂMICAS
vada, ela deve basear-se em estratégias de inovação (DYNAMIC CAPABILITIES): INOVAÇÃO
permanente, derivadas de elementos de difícil imita- E RECONFIGURAÇÕES
ção por parte dos concorrentes. Para atingir esse ob-
jetivo, os teóricos da escola austríaca ressaltam a im- Um segundo grupo de contribuições elabora as
portância dos “fatores inobserváveis”. Esses fatores idéias colocadas nas teorias dos processos de mer-
de natureza subjetiva seriam justamente aqueles ca- cado e na teoria dos recursos tentando formular uma
pazes de escapar à dinâmica da imitação do mercado, teoria da formação das competências organizacio-
sendo, assim, responsáveis pelo estabelecimento da nais em ambientes de alta complexidade e mudan-
vantagem competitiva. ça constante.
Em primeiro lugar, essa síntese te-
órica pretende acentuar os aspectos
É importante compreender e influenciar os d e co-evolução entre ambientes
concorrenciais crescentemente comple-
processos de mudança organizacional, xos e as capacidades e os recursos das
firmas (Amit e Schoemaker, 1993;
estabelecendo uma interface entre a estratégia Gorman et al., 1996; Teece et al., 1997).
Por outro lado, essa síntese pretende
e o comportamento organizacional. estudar mais detalhadamente os meca-
nismos e processos organizacionais ca-
Essa proposição fundamenta-se na constatação de pazes de explicar a acumulação e a configuração das
que certas empresas conseguem sustentar uma bases de recursos das firmas (Dierickx e Cool, 1989;
performance superior apesar dos contínuos esforços Teece et al., 1997; Sanchez e Heene, 1996).
de imitação dos concorrentes no tocante às suas es- Partindo da concepção geral da firma como um
tratégias, produtos, métodos de produção e esquemas conjunto de recursos, esse modelo procura estudar as
de distribuição. A diferença de performance é, então, relações entre os processos de decisão, as ações em-
atribuída a fatores inobserváveis, invisíveis, que se preendidas e as suas conseqüências gerenciais, em
escondem por trás dos fatores objetivamente termos da formação, conservação e destruição de re-
mensuráveis dos processos de produção. cursos.
As premissas dos pesquisadores da escola austría- Hogarth e Michaud (1991) identificam quatro fon-
ca em relação à vantagem competitiva são fundamen- tes diferentes da vantagem competitiva das firmas,
talmente distintas das adotadas pelos teóricos da or- cada uma fundada sobre tipos específicos de recur-
ganização industrial. O Quadro 2 compara essas duas sos:
abordagens. a) O acesso privilegiado a recursos únicos, em que
Alguns pesquisadores vinculados à escola austría- as rendas são derivadas da propriedade ou do aces-
ca colocam em questão a estrutura central do modelo so a recursos raros e valiosos. Concessões, paten-
da organização industrial. Para Hill e Deeds, o mode- tes ou localizações geográficas privilegiadas são
lo da análise estrutural da indústria identifica errone- exemplos de recursos desse tipo. Nesse caso, as
amente a estrutura da indústria como o fator causal rendas derivam diretamente dos direitos de pro-
mais importante na determinação da natureza da con- priedade ou do acesso aos recursos. É o caso das
corrência e dos níveis de rentabilidade (Hill e Deeds, rendas ricardianas por excelência.
1996). Para esses autores, a natureza da competição b) A capacidade de transformação dos fatores de pro-
entre as firmas é independente da estrutura da indús- dução em produtos vendáveis no mercado. Nesse
tria, sendo um dado característico do sistema capita- caso, a vantagem competitiva deriva de capacida-
lista. Por serem processos independentes, são a dinâ- des ou processos distintivos acumulados no decor-
mica competitiva e a descoberta das inovações que rer do tempo. A vantagem competitiva se exprime
influenciam os níveis de performance econômica das na capacidade de empregar métodos operacionais
firmas. No modelo proposto por esses autores, a es- mais eficientes que os empregados pelas firmas con-

32 RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000


Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

correntes. No entanto, esses recursos e essas capa- rendas ricardianas. Na abordagem das capacidades di-
cidades são fixos, e a firma não é capaz de modificá- nâmicas, mais importante que o estoque atual de re-
los, embora a vantagem competitiva derive deles. cursos é a capacidade de acumular e combinar novos
c) A alavancagem de recursos e capacidades. Nesse recursos em novas configurações capazes de gerar fon-
estágio, a firma é capaz de agir deliberadamente tes adicionais de rendas.
para renovar seu estoque de recur-
sos e competências, aperfeiçoan-
do e recombinando os recursos Com a alteração das condições ambientais,
existentes com o objetivo de cri-
ar novos produtos e mercados. mudam também os recursos essenciais para
d) A regeneração de recursos e capa-
cidades. Nesse último estágio, as garantir a sobrevivência e a performance
firmas devem ser capaz de criar um
fluxo contínuo de inovações gra- econômica diferenciada das firmas. É a antecipação
ças ao desenvolvimento de compe-
tências de ordem superior, ligadas
dessas transformações nos portfólios de recursos
à própria capacidade de gerar no- que garante às empresas a possibilidade de
vas competências e recursos. Tra-
ta-se, nesse caso, de construir um continuação da vantagem competitiva.
sistema capaz de gerar uma série
continuada de inovações a partir
da reconfiguração repetida da base de recursos da A posição atual dos recursos é, dessa forma, o re-
firma. sultado das ações e decisões (deliberadas ou aciden-
Os primeiros trabalhos na linha da teoria dos re- tais) tomadas pelos integrantes da firma no exercício
cursos concentraram-se, como analisamos anterior- de suas tarefas e rotinas cotidianas. Por essa razão,
mente, em recursos discretos estáveis e cuja identifi- para poder compreender o sentido da acumulação de
cação era relativamente simples e direta: os recursos recursos, é necessário entender as rotinas e os pro-
previstos nos itens “a” e “b” da classificação de cessos organizacionais. O ponto central dessa análise
Hogarth e Michaud. Mesmo que esses recursos sejam é justamente o conjunto de processos administrativos
capazes de explicar a vantagem competitiva das fir- (rotinas, atividades, culturas, prioridades) que influ-
mas no longo prazo, é preciso levar em consideração, enciam a produção de ativos tangíveis e intangíveis
segundo essa corrente, os itens “c” e “d” da classifi- nas firmas. Os processos aqui referidos são: “(...) the
cação anterior. As capacidades e os recursos previs- way things are done in the firm, or what might be
tos nesse tipo de recursos são essencialmente dinâ- referred to as its routines, or patterns, of current
micos e pautam-se por um processo de renovação con- practice and learning (...)” (Teece et al., 1997, p. 518).
tínua: “(...) The term ‘dynamic’ refers to the capacity Esses processos administrativos e organizacionais
to renew competences so as to achieve congruence cumprem três funções básicas:
with the changing business environment (...) The term a) Uma função de coordenação/integração (conceito
‘capabilities’ emphasizes the key role of strategic estático): visando a coordenar o uso interno e ex-
management in appropriately adapting, integrating, terno dos recursos da firma.
and reconfiguring internal and external organizational b) Uma função de aprendizagem (conceito dinâmi-
skills, resources, and functional competences to match co): focalizando os processos pelos quais a repeti-
the requirements of a changing environment (...)” ção da experimentação possibilita a utilização mais
(Teece et al., 1997, p. 515). eficaz dos recursos.
A dependência de recursos e capacidades estáti- c) Uma função de reconfiguração (conceito
cas pode, então, gerar riscos para as firmas, como os transformacional): dedicada aos mecanismos de an-
problemas advindos da superespecialização (Miller, tecipação da necessidade de novas competências e
1992), e rigidez (core rigidities) em suas competên- aos métodos de reconfiguração dos recursos que per-
cias e recursos (Leonard-Barton, 1992, 1995). mitirão a continuidade de performances superiores.
Nos trabalhos da teoria dos recursos, os recursos e Os autores que trabalham dentro da corrente das
as capacidades são tratados essencialmente como va- capacidades dinâmicas tentam construir um edifício
riáveis de estoque, como dados mais ou menos fixos, teórico com base em premissas mais realistas sobre
o que é uma condição crítica para a realização das as relações entre as estruturas cognitivas dos agentes

RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000 33


Organização, Recursos Humanos e Planejamento

econômicos e as decisões estratégicas das firmas das firmas, reforçando suas competências (competence
(Prahalad e Bettis, 1986; Barr, 1992; Gorman et al., strengthening) a fim de desenvolver recursos estraté-
1996). Dessa maneira, a noção de capacidades dinâ- gicos mais amplos (meta-recursos) capazes de permi-
micas: “(...) extends the resource-based view of the tir a rápida modificação da base de recursos da firma
firm as a collection of asset stocks and flows (...) by (Chakravarthy, 1997; D’Aveni e Gunther, 1994).
explicitly incorporating (1) managerial cognition A teoria das capacidades dinâmicas aceita as pre-
that affects what kinds of asset stocks and flows missas de que: a) nem todas as competências são igual-
the firm will try to achieve, (2) managers’ mente importantes para a vantagem competitiva e b)
coordination ability in deploying resources and uma dada firma só pode se destacar em um número
managing asset flows, and (3) managers’ abilities relativamente restrito de competências. Essas com-
to manage knowledge in processes for building and petências são, assim, definidas como competências
leveraging competences (...)” (Sanchez e Heene, centrais (core competencies): “(...) (1) core
1996, p. 15). competences are competences that ‘span’ across
Em resumo, o enfoque privilegiado nos processos businesses and products within a corporation. They
organizacionais permite a criação de uma teoria es- support several products or businesses. (2)
tratégica mais flexível do que as visões economicistas Competences have ‘temporal dominance’ over
nas quais os recursos são vistos como elementos es- products in that they evolve more slowly than the
táveis, identificados ex post. products they make possible. (3) Competences arise
Os desenvolvimentos teóricos que levaram a uma through the ‘collective learning’ of the firm, especially
teoria dinâmica das capacidades retomam a análise dos through the coordination of diverse production skills
fatores ambientais, que, na teoria dos recursos, fica- and the integration of multiple streams of
ram em segundo plano como um dos fatores determi- technologies. (...)” (Rumelt, 1994).
nantes no processo de decisão estratégica. A concor- Os processos de aquisição e estruturação do co-
rência entre as firmas, tradicionalmente concentrada nhecimento em nível organizacional estão no centro
na análise de mercados e produtos, passa a ser analisa- do processo de configuração de recursos (Henderson
da em termos de recursos únicos ou raros que derivam e Clark, 1990; Leonard-Barton, 1992) e, por essa ra-
de processos organizacionais específicos às firmas. A zão, a aprendizagem organizacional e os conhecimen-
concorrência fundada sobre as competências das fir- tos tácitos têm um papel determinante na identifica-
mas (competence-based competition) sobrepõe-se à ção e no desenvolvimento das competências centrais.
noção tradicional de concorrências entre produtos e A importância do conhecimento da informação e
serviços (Prahalad e Hamel, 1990; Stalk et al., 1992). da tecnologia para a performance das empresas tem
“(...) The ‘competitive locus’ of competence-based sido amplamente reconhecida por diversas correntes
competition is a contest for acquisition of skills. teóricas. Para os estudiosos da teoria dos recursos e
Competition in product markets is ‘merely a superfi- para os que defendem uma visão dinâmica das capa-
cial expression’ of the underlying competition over cidades organizacionais, os recursos e as capacida-
competencies (...)” (Rumelt, 1994). des da firma são resultado de um processo de apren-
Essa abertura para o ambiente permite a conside- dizagem por experiência (learning by doing), que
ração da evolução dinâmica das dotações de recursos constitui o repertório de ações coletivas disponíveis
das firmas sem prejuízo à importância dos estoques para as firmas. As competências centrais traduzem,
de recursos específicos de cada firma. dessa maneira, os conhecimentos tácitos da firma ob-
As mudanças nas condições ambientais freqüen- tidos com a aplicação de seus recursos específicos
temente exigem das empresas uma regeneração da (Winter, 1987; Spender e Grant, 1996).
sua base de recursos e competências. Com a altera- Assim, as firmas são descritas como locais de in-
ção das condições ambientais, mudam também os tegração de conhecimento (Grant, 1996), de criação
recursos essenciais para garantir a sobrevivência e a de conhecimento (Nonaka, 1994) ou de proteção do
performance econômica diferenciada das firmas. É conhecimento (Liebeskind, 1996), o que coloca aos
a antecipação dessas transformações nos portfólios pesquisadores desafios metodológicos importantes
de recursos que garante às empresas a possibilidade (Godfrey e Hill, 1995).
de continuação da vantagem competitiva (Amit e A corrente de capacidades dinâmicas reconhece
Schoemaker, 1993). as restrições impostas pela base atual de recursos e
Finalmente, os autores que examinam os ambientes pela trajetória histórica da firma. No entanto, diante
hipercompetitivos e turbulentos destacaram a necessi- da incerteza, da instabilidade do contexto concor-
dade de continuamente redefinir as bases de recursos rencial e da inevitabilidade, em longo prazo, da de-

34 RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000


Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

gradação da base de recursos, a corrente de capaci- Dessa forma: “(...) indeed, if control over scarce
dades dinâmicas procura fornecer uma explicação de resources is the source of economic profits, then it
como as firmas podem agir para reconfigurar, follows that such issues as skill acquisition, the
proativa ou reativamente, a sua base de recursos. management of knowledge and know-how, and

Quadro 3 – Comparação das teorias sobre vantagem competitiva

DIMENSÕES ORGANIZAÇÃO RECURSOS PROCESSOS DE CAPACIDADES


INDUSTRIAL MERCADO DINÂMICAS

Unidade de Indústria Estoques de recursos Dinâmica do mercado, Processos e rotinas


análise e competências ciclos de criação e organizacionais; fluxos de
específicas destruição, inovação recursos e competências
imitação e seleção específicas

Concepção da Função técnica de Conjunto estável de Empreendedora: Conjunto evolutivo de


firma produção recursos, produção de recursos, competências e
Conjunto de atividades competências e inovações, criação de capacidades
complementares capacidades conhecimento

Natureza da Sustentável, fundada Sustentável, fundada Transitória e cíclica, Sustentável, fundada sobre
vantagem no exercício de sobre recursos fundada em rendas de recursos em evolução
competitiva situações de quase- estáveis empreendedor Rendas ricardianas e de
monopólio Rendas ricardianas empreendedor

Fonte de Atratividade e Acesso privilegiado a Inovação e Rotinas e processos


vantagem posicionamento da recursos únicos de “destruição criadora” organizacionais capazes
competitiva firma na indústria difícil imitação de regenerar a base de
recursos da firma

Estratégia Orientada para o Orientada para o Orientada para o Orientada para o processo
conteúdo conteúdo processo e o conteúdo
Abordagem racional Abordagem racional Procura contínua de Interação entre
“de fora para dentro” “de dentro para fora” oportunidades de competências e
(outside-in) (inside-out) inovação oportunidades do
Procura de indústrias Desenvolvimento e Esforços de imitação mercado
atrativas, busca do exploração de das inovações bem- Reconfiguração de
posicionamento ideal competências sucedidas competências e know-how
na indústria e defesa existentes Racionalidade limitada,
dessa posição pela incerteza, complexidade e
construção de barreiras conflito
à concorrência

Fundadores E. Mason P. Selznick L. Mises D. Teece


J. S. Bain E. Penrose F. Hayek R. Nelson
K. Andrews J. Schumpeter S. Winter

Autores M. Porter R. Rumelt R. Jacobson D. Teece, G. Pisano e A.


representativos P. Ghemawat B. Wernerfelt R. D’Aveni Shuen
C. Shapiro J. B. Barney C. K. Prahalad e G. Hamel
M. Peteraf I. Dierickx e K. Cool
R. Amit e P. Shoemaker
R. Sanchez, A. Heene e H.
Thomas

RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000 35


Organização, Recursos Humanos e Planejamento

learning become fundamental strategic issues (...)” mercado, a estratégia permanece um tópico relativa-
(Teece et al., 1997, p. 514). mente distante da análise organizacional, quando abor-
damos a questão da vantagem competitiva sob o ponto
OS MODELOS EXPLICATIVOS DA VANTAGEM de vista da teoria das capacidades dinâmicas, abre-se
COMPETITIVA: UMA SÍNTESE COMPARATIVA uma significativa possibilidade de convergência entre
a estratégia e a teoria. Essa convergência propicia es-
Este artigo identificou quatro grandes modelos ex- paços para que as disciplinas possam se enriquecer mu-
plicativos da vantagem competitiva, cada um deles tuamente, mas, por outro lado, torna o trabalho de pes-
com suas premissas variáveis e relações explicativas quisa mais e mais complexo, dado o aumento das vari-
focalizadas em níveis de análise distintos, conforme áveis que devem ser levadas em consideração.
demonstrado no Quadro 3. O que determinará a viabilidade em longo prazo
A comparação dessas quatro abordagens teóricas deste trabalho interdisciplinar será justamente a sua
permite-nos retornar à questão inicial deste artigo, a capacidade de explicar os diversos aspectos das rea-
convergência entre teoria organizacional e análise es- lidades sociais e econômicas. Nesse sentido, o que a
tratégica. Podemos observar que se, nas teorias da or- análise interdisciplinar perde em simplicidade ela ga-
ganização industrial, dos recursos e dos processos de nha em poder explicativo. m

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMIT, R., SCHOEMAKER, P. Strategic assets and COLLIS, D. J. A resource-based analysis of global GHEMAWAT, P. Sustainable advantage. Harvard Business
organizational rent. Strategic Management Journal, v. competition: the case of the bearings industry. Strategic Review, v. 64, n. 5, p. 53-58, Sep./Oct. 1986.
14, n. 1, p. 33-46, Jan. 1993. Management Journal, v. 12, p. 49-68, Summer 1991.
Special issue.
GHEMAWAT, P. Commitment: the dynamic of strategy.
ANDREWS, K. R. The concept of corporate strategy. New York : Free Press, 1991.
New York : Richard D. Irwin, 1980. COLLIS, D. J. Organizational capability as a source of profit.
In: MOINGEON, B., EDMONDSON, A. Organizational GODFREY, P. C., HILL, C. W. L. The problem of
learning and competitive advantage. London : Sage unobservables in strategic management research.
ARTHUR, W. B. Competing technologies, increasing Publications, 1996. V. 1, p. 229. Strategic Management Journal, v. 16, n. 7, p. 519-
returns, and lock-in by historical events. The Economic 533, Oct. 1995.
Journal, v. 99, n. 394, p. 116-131, Mar. 1989.
CORIAT, B., WEINSTEIN, O. Les nouvelles théories de
l’entreprise. Paris : Le Livre de Poche, 1995. GORMAN, P. et al. Industry dynamics in competence-
BARNEY, J. B. Strategic factor markets: expectations, based competition. In: SANCHEZ, R., HEENE, A.,
luck, and business strategy. Management Science, v. 32, THOMAS, H. Dynamics of competence-based
D’AVENI, R. A., GUNTHER, R. Hypercompetition:
n. 10, p. 1231-1241, 1986. competition: theory and practice. Oxford : Pergamon,
managing the dynamics of strategic maneuvering. New
1996. p. 85-98.
York : Free Press, 1994.
BARNEY, J. B. Firm resources and sustained competitive
advantage. Journal of Management, v. 17, n. 1, p. 99- GRANT, R. M. The resource-based theory of competitive
DIERICKX, I., COOL, K. Asset stock accumulation and advantage: implications for strategy formulation.
120, 1991.
sustainability of competitive advantage. Management California Management Review, p. 114-135, Spring
Science, v. 35, n. 12, p. 1504-1513, 1989. 1991.
BARNEY, J. B. Gaining and sustaining competitive
advantage. Reading, MA : Addison-Wesley Publishing DOZ, Y. Managing core competency for corporate renewal: GRANT, R. M. Prospering in dynamically-competitive
Company, 1997. towards a managerial theory of core competencies. In: environments: organizational capability as knowledge
DOSI, G., MALERBA, F. Organization strategy in the integration. Organizational Science, v. 7 , n. 4, p. 375-
evolution of the enterprise. New York : MacMillan Press, 397, 1996.
BARR, P. S. et al. Cognitive change, strategic action, and
1996. p. 155-178.
organizational renewal. Strategic Management Journal,
v. 13, p. 15-36, Summer 1992. Special issue. HALL, R. The strategic analysis of intangible resources.
FAMA, E. F. Agency problems and the theory of the firm. Strategic Management Journal, v. 13, n. 2, p. 135-144, Feb.
Journal of Political Economy, v. 88, n. 2, p. 288-307, 1992.
BLACK, J. A., BOAL, K. B. Strategic resources: traits, 1980.
configurations and paths to sustainable competitive
advantage. Strategic Management Journal, v. 15, p. 131- HAMEL, G. The concept of core competence. In: HAMEL,
148, Summer 1994. Special issue. G., HEENE, A. Competence-based competition.
FOSS, N. J. Research in strategy, economics, and Michael
Chichester : John Wiley & Sons, 1994. p. 11-33.
Porter. Journal of Management Studies, v. 33, n. 1, p. 1-
24, 1996.
CHAKRAVARTHY, B. A new strategy framework for coping HAMEL, G. The next round of competitive challenges for
with turbulence. Sloan Management Review, v. 38, n. 2, industry. EFDM Forum, v. 2, n. 1, 1995.
p. 69-82, Winter 1997. FOSS, N. J. Resources and strategy: a brief overview of
themes and contributions. In: FOSS, N. J. Resources,
firms and strategies: a reader in the resource-based HAMEL, G., PRAHALAD, C. K. Competing for the future.
COASE, R. H. La nature de la firme. Revue Française perspective. New York : Oxford University Press, 1997. Harvard Business Review, v. 72, n. 4, p. 122-128, July/
d’Economie, v. 2, n. 1, p. 133-156, 1987. p. 3-18. Aug. 1994.

36 RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000


Vantagem competitiva: os modelos teóricos atuais e a convergência entre estratégia e teoria organizacional

HENDERSON, R. M., CLARK, K. B. Architectural NELSON, R. R. Why do firms differ, and how does it matter. SCHOEMAKER, P. J. H. Strategy, complexity and economic
innovation: the reconfiguration of existing product Strategic Management Journal, v. 12, p. 61-74, Winter rent. Management Science, v. 36, n. 10, p. 1178-1192,
technologies and the failure of established firms. 1991. Special issue. 1990.
Administrative Science Quarterly, v. 35, n. 1, p. 9-30,
Mar. 1990. SCHUMPETER, J. A. The Theory of Economic Development:
NELSON, R., WINTER, S. An evolutionary theory of an inquiry into profits, capital, credit, interest and the
economic change. Cambridge, MA : Belknap Press, 1982. business cycle. Cambridge, MA : Harvard University Press,
HILL, C. W. L., DEEDS, D. L. The importance of industry
1934/1955.
structure for the determination of firm profitability: a new-
Austrian perspective. Journal of Management Studies, NONAKA, I. A dynamic theory of organizational
v. 33, n. 4, p. 429-451, 1996. knowledge creation. Organizational Science, v. 5, n. 1, SCHUMPETER, J. A. Capitalisme, socialisme et
p. 14-37, 1994. démocratie. Paris : Editions Payot, 1982.

HOGARTH, R., MICHAUD, C. Longevity of business firms:


a four-stage framework. Fontainebleau : INSEAD, 1991. SELZNICK, P. Leadership and administration. New York :
PENROSE, E. T. Facteurs, conditions et mécanismes Harper & Row, 1957.
de la croissance de l’entreprise. Neuilly-sur-Seine :
ITAMI, H., ROEHL, T. Mobilizing invisible assets. Editions Hommes et Techniques, 1959/1963.
Cambridge, MA : Harvard University Press, 1987. SHAPIRO, C. The theory of business strategy. RAND Journal
of Economics, v. 20, n. 1, p. 125-137, 1989.
PETERAF, M. A. The cornerstones of competitive
JACOBSON, R. The “Austrian” School of Strategy. advantage: a resource-based view. Strategic SIMON, H. A. Making management decisions: the role of
Academy of Management Review, v. 17, n. 4, p. 782- Management Journal, v. 14, n. 3, p. 179-191, Mar. 1993. intuition and emotion. Academy of Management Executive,
807, 1992.
p. 57-64, Feb. 1987.

JENSEN, M. C., MECKLING, W. H. Theory of the firm: PORTER, M. E. Competitive strategy. New York : Free
SPENDER, J. C. Industry recipes. Oxford : BasilBlackwell,
managerial behavior, agency costs and ownership Press, 1980.
1989.
behavior. Journal of Financial Economics, v. 3, p. 305-
360, 1976.
PORTER, M. E. Towards a dynamic theory of strategy. SPENDER, J. C., GRANT, R. M. Knowledge and the firm:
Strategic Management Journal, v. 12, p. 95-117, Winter overview. Strategic Management Journal, v. 17, p. 5-9,
KIRZNER, I. M. Discovery and the capitalist process. 1991. Special issue. Winter 1996. Special issue.
Chicago : The University of Chicago Press, 1985.
STALK, G. et al. Competing on capabilities: the new rules of
PORTER, M. E. What is strategy? Harvard Business
LEONARD-BARTON, D. Core capabilities and core corporate strategy. Harvard Business Review, v. 70, n. 2, p.
Review, v. 74, n. 6, p. 61-78, Nov./Dec. 1996.
rigidities: a paradox in managing new product 57-69, Mar./Apr. 1992.
development. Strategic Management Journal, v. 13, p.
111-125, Summer 1992. Special issue. PRAHALAD, C. K., BETTIS, R. A. The dominant logic: a TEECE, D. J. Economic analysis and strategic management.
new linkage between diversity and per formance. California Management Review, v. 26, n. 3, p. 87-110,
LEONARD-BARTON, D. Wellsprings of knowledge: Strategic Management Journal, v. 7, n. 6, p. 485-501, Spring 1984.
building and sustaining the sources of innovation. Boston Nov./Dec. 1986.
: Harvard Business School Press, 1995. TEECE, D. J. Profiting from technological innovation:
implications for integration, collaboration, licensing and
PRAHALAD, C. K., HAMEL, G. The core competence of
LEVINTHAL, D. A. Strategic management and the public policy. In: TUSHMAN, M. L., MOORE, W. L. Readings
the corporation. Harvard Business Review, v. 68, n. 3,
exploration of diversity. In: MONTGOMERY, C. A. in the management of innovation. s.l. : HarperBusinness,
p. 79-91, May/June 1990.
Resource-based and evolutionary theories of the firm: 1988. p. 621-647.
towards a synthesis. Boston : Kluwer Academic
Publishers, 1995. p. 19-41. REED, R., DEFILLIPPI, R. J. Causal ambiguity, barriers TEECE, D. J. History of strategic management. In: RUMELT,
to imitation, and sustainable competitive advantage. R. P., SCHENDEL, D. E., TEECE, D. J. Fundamental issues
Academy of Management Review, v. 15, n. 1, p. 88-102, in strategy: a research agenda. Cambridge : Harvard
LIEBESKIND, J. P. Knowledge, strategy and the theory of 1990. Business Press, 1994.
the firm. Strategic Management Journal, v. 17, p. 93-
107, Winter 1996. Special issue.
RUMELT, R. P. Toward a strategic theory of the firm. In: TEECE, D. J. et al. Dynamic capabilities and strategic
LAMB, R. Competitive strategic management. management. Strategic Management Journal, v. 18, n. 7,
LIPPMAN, S. A., RUMELT, R. P. Uncertain imitability: an p. 509-533, Aug. 1997.
analysis of interfirm differences in efficiency under Englewood Cliffs, NJ : Prentice-Hall, 1984.
competition. The Bell Journal of Economics, v. 13, p. 418-
438, 1982. WERNERFELT, B. A resource-based view of the firm.
RUMELT, R. P. Theory, strategy and the entrepreneurship. Strategic Management Journal, v. 5, p. 171-180, 1984.
In: TEECE, D. J. The competitive challenge: strategies
MAHONEY, J. T., PANDIAN, J. R. The resource-based view for industrial innovation and renewal. Cambridge, MA :
within the conversation of strategic management. WILLIAMSON, O. E. Market and hierarchies: analysis and
Harper and Row, 1987. p. 137-158.
Strategic Management Journal, v. 13, n. 5, p. 363-380, antitrust implications. New York : Free Press, 1975.
June 1992.
RUMELT, R. P. How much does industry matter? Strategic WILLIAMSON, O. E. Transaction cost economics. In:
Management Journal, v. 12, n. 3, p. 167-185, Mar. 1991. SCHMALENSEE, R., WILLIG, R. D. Handbook of industrial
MILLER, D. The generic strategy trap. Journal of
organization. s.l. : Elsevier Science Publishers, 1989. v. 1,
Business Strategy, p. 37-41, Jan./Feb. 1992.
p. 136-182.
RUMELT, R. P. Foreword. In: HAMEL, G., HEENE, A.
MINTZBERG, H. The fall and rise of strategic planning. Competence-based competition. Chichester, UK : John
Wiley & Sons, 1994. p. XV-XIX. WINTER, S. G. Knowledge and competence as strategic
Harvard Business Review, v. 72, n. 1, p. 107-114, Jan./ assets. In: TEECE, D. J. The competitive challenge:
Feb. 1994. strategies for industrial innovation and renewal. New York :
SANCHEZ, R., HEENE, A. Introduction: towards the theory Harper & Row, 1987. p. 159-184.
NANDA, A. Resources, capabilities and competencies. In: and practice of competence-based competition. In: SANCHEZ,
MOINGEON, B., EDMONDSON, A. Organizational R., HEENE, A., THOMAS, H. Dynamics of competence-based WINTER, S. On Coase, competence, and the corporation.
learning and competitive advantage. London : Sage competition: theory and practice in the new strategic Journal of Law, Economics, and Organization, v. 4, p. 163-
Publications, 1996. p. 229. management. Oxford : Pergamon, 1996. p. 1-35. 180, 1988.

RAE • v. 40 • n. 4 • Out./Dez. 2000 37

Você também pode gostar