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Ribeirão Preto, agosto de 2012

Edição: 05/2012

NEGOCIAÇÃO ESTRATÉGICA:
UMA ABORDAGEM SISTÊMICA DAS COMPETÊNCIAS E
DOS RELACIONAMENTOS ENVOLVIDOS NO PROCESSO.

Adriana CrisƟna Ferreira Caldanaa, Verônica Angélica Freitas de Paulab ,


Lucas Sciencia do Pradoc, Ana Paula de Almeidad e Dante Pinheiro MarƟnellie
a
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo
caldana@fearp.usp.br
b
Faculdade de Gestão e Negócios - Universidade Federal de Uberlândia
veronica@fagen.ufu.br
c
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo
ls.doprado@usp.br
d
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo
anap.almeida@bol.com.br
e
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo
dantepm@usp.br

Palavras-chave: Resumo Neste ar go, busca-se discu r o campo das negociações empresariais,
Negociação, sob o ponto de vista do enfoque sistêmico. A visão sistêmica permite iden ficar
Visão Sistêmica, os elementos que podem gerar uma negociação “ganha-ganha”. O processo de
Enfoque sistêmico, negociação como um sistema de transformação pode ser definido a par r dos
objetos que compõem o “sistema negociação”. A visão tradicional de concorrência
Compe vidade.
precisa ser ampliada para incorporar as possibilidades de parcerias e cooperação
que se apresentam às empresas no mercado. Pelo enfoque sistêmico apresentado,
o processo de negociação é visto a par r do direcionamento estratégico da
empresa, mas essa estratégia não pode ser pensada de modo independente
dos demais elementos do sistema. A empresa deve estruturar seus processos de
negociação, realizando análises que contemplem: o posicionamento da empresa
perante os demais atores do mercado, as competências necessárias ao negociador,
as variáveis básicas envolvidas no processo de negociação a ser iniciado, o nível
de integração interna entre as diferentes áreas da empresa e as ferramentas
de negociação disponíveis. Vale ressaltar que o modelo é adaptável a qualquer
porte, segmento e cultura de empresa, mas que a configuração final de cada um
dos seus elementos apresentará variações em função de contextos específicos.
Negociação estratégica: uma abordagem sistêmica das competências e dos relacionamentos envolvidos no processo.
Adriana Cris na Ferreira Caldana, Verônica Angélica Freitas de Paula, Lucas Sciencia do Prado,
Ana Paula de Almeida e Dante Pinheiro Mar nellie 2

Abstract This paper aims at discussing business nego a ons in a systemic


Key words:
approach. The systemic view allows the iden fica on of elements that may result in
Nego a on,
a win-win nego a on. The nego a on process as a transforma onal system may be
Systemic View, S defined from the objects that build the “nego a on system”. The tradi onal concept
ystemic Approach, of compe on may be extended to include the possibili es of partnership and coope-
Compe veness ra on that are presented to the companies in the market. In the systemic approach
presented, the analysis of the nego a on process is based on the company’s strategic
guidance, but this strategy may not be analysed independently from other elements
in the system. The company may structure its nego a on processes by developing
analyses that include: the company’s posi oning in the market, the nego ator’s essen-
al competences, the basic variables of the nego a on process, the level of internal
integra on among its areas and the available nego a on tools. It is possible to adapt
this model to any type of company – of any size, market segment or culture, but each
element’s final configura on will present differences according to its specific context.

1 INTRODUÇÃO ao tema negociação, são poucas as pesquisas que


se preocupam em aplicar o enfoque sistêmico como
No ambiente atual, turbulento e em constante base de seu estudo (MARTINELLI, 2006). Nesse
mutação, as empresas necessitam ser flexíveis, pró- sen do, torna-se relevante entender: como as
a vas e com uma visão estratégica sempre presente negociações empresariais podem evoluir a par r do
nas suas ações. Assim, precisam da visão sistêmica enfoque sistêmico?
para um melhor entendimento do contexto no qual Assim, este ar go tem como obje vo discu r
estão inseridas, aperfeiçoando as relações entre as o campo das negociações empresariais a par r
várias partes envolvidas nos seus ambientes interno do enfoque sistêmico. A visão sistêmica é um dos
e externo. principais fatores que permite a iden ficação de
Para se tornarem mais compe vas, as empresas, elementos que podem gerar uma negociação
além de agilidade para se adaptar às mudanças “ganha-ganha”.
necessárias nesse contexto, precisam ainda valorizar A importância deste trabalho está em fomentar
os talentos humanos nas organizações, buscando uma discussão teórica, relacionando alguns dos
a mo vação, par cipação e liderança de seus principais componentes que podem afetar as
colaboradores, comprometendo-os com a visão e a negociações empresariais, tornando-as mais
missão da empresa, em busca da concre zação dos compe vas, por meio do enfoque sistêmico.
seus obje vos e metas.
Dessa forma, par ndo de uma postura pró- 2 VISÃO SISTÊMICA E PROCESSOS
a va (antecipando acontecimentos, aproveitando DE NEGOCIAÇÃO
oportunidades e a tudes, transformando fatores
nega vos em posi vos e tendo sempre uma postura A sociedade atual tem passado por profundas
de líder), u lizando a visão sistêmica, as empresas transformações econômicas, sociais, polí cas,
devem assumir uma posição de vanguarda, culturais e ambientais, em um ambiente de grande
estratégica e viável em temos de globalização, evolução e constante desenvolvimento.
na busca da excelência, para uma gestão auto- Conforme já observava Laszlo (1987, p. 70), “(...)
organizada e sinérgica, dentro do novo enfoque de as mudanças constantes do meio produzem, mais
compe vidade. cedo ou mais tarde, as condições em que certos
Nesse contexto tem-se a negociação como uma ciclos deixam de funcionar”. Assim, os sistemas
habilidade básica dos membros das organizações a ngem um ponto denominado bifurcação, no qual
do século XXI, uma vez que o número de parcerias, a sequência dos acontecimentos é essencialmente
acordos e contratos e, como consequência, os indeterminada, não variando nem em função das
conflitos, se mul plicaram (CAVALCANTI; SAUAIA, condições iniciais e nem das mudanças que ocorrem
2006). Ressalta-se, entretanto, que apesar do no próprio meio. As bifurcações dão origem a uma
aumento do número de publicações relacionadas seleção aleatória entre os numerosos estados de
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estabilidade que o sistema pode adotar, em função engenharia, fisiologia e até da própria administração
das flutuações existentes. (MARTINELLI; VENTURA, 2006).
Cada mudança no ambiente leva a uma Cada ciência, porém, necessita desenvolver
evolução natural que aumenta o conhecimento uma estrutura própria para se disciplinar. Essa é a
progressivamente, permi ndo aos envolvidos grande tarefa da Teoria Geral de Sistemas que, para
iden ficar a melhor maneira para agir diante dessas tal, apresenta duas abordagens possíveis e, de certa
mudanças, reduzindo cada vez mais o seu tempo forma, complementares: por um lado, estudar o
de resposta. As empresas transformam-se, cada dia que há de comum entre as diferentes disciplinas,
mais, em organizações de aprendizagem, devendo examinando o universo empírico existente e, por
desenvolver cinco disciplinas fundamentais (domínio outro lado, u lizar a abordagem da hierarquização
pessoal, para conhecer os próprios obje vos; idéias, de sistemas por complexidade crescente, tentando
influenciando a visão e a a tude das pessoas; desenvolver um nível de abstração apropriado para
visões compar lhadas; aprendizagem em grupo; casa um deles.
pensamento sistêmico), conforme proposto por A diversidade de estudos em vários campos da
Senge (2009). ciência necessita de um grupo de pesquisadores
Assim, sob pressão de experiências adversas, as que consiga integrá-los em um todo coerente
empresas aprendem a adaptar seus mecanismos de e consistente. Com isso, se desenvolveu e se
resposta ao aumento da turbulência no ambiente, ampliou a teoria de sistemas, com um grupo de
passando de uma gestão rea va a uma pró-a va, a estudiosos preocupados com essa integração e com
par r de uma visão sistêmica, sempre em busca de a possível sinergia gerada a par r dela. No campo
maior compe vidade (ALMEIDA, 1995). da negociação, até os dias de hoje ainda pouco
Novos paradigmas podem surgir a par r do pesquisada e objeto de um número reduzido de
momento em que a abrangência dos anteriores publicações de impacto, abre-se uma grande lacuna
deixa de ser efe va no campo de soluções de para novos estudos. Este trabalho vem nessa linha,
problemas existentes. Dessa forma, algumas pessoas procurando dar uma pequena contribuição para
acompanham a direção das mudanças seguindo começar a preencher essa lacuna.
as tendências dos mercados, enquanto outras O processo de negociação pode ser tratado como
antecipam e prevêem essas tendências, tornando- um sistema de transformação de entradas (es mulos)
se inovadoras, entendendo que o momento das em saídas (respostas), conforme proposto por
mudanças é oportuno para as novas formas de Cavalcan (2006). Essa concepção vem da proposta
pensar. de Mesarovic e Takahara (apud MARTINELLI, 2002),
A Teoria Geral de Sistemas sempre mostrou, por que a chamam de abordagem causal ou visão
meio de um amplo quadro de referência, para onde sistêmica como processo. Assim, o processo de
se deve caminhar nas pesquisas. Um exemplo claro negociação como sistema de transformação pode
dessa u lidade refere-se ao caso da tabela periódica, ser definido a par r dos objetos que compõem o
para a qual a visão sistêmica acabou mostrando “sistema negociação”.
os vazios existentes e, por meio de pesquisas Há diferentes visões e focos principais dos
direcionadas, novos elementos vieram a completá-la autores que estudam o tema negociação. Alguns
(MARTINELLI; VENTURA, 2006). se focam nas variáveis básicas do processo, outros
Nota-se ainda uma grande lacuna nos estudos dão atenção especial às questões da comunicação,
sobre a necessidade de uma visão sistêmica alguns ressaltam a busca pelo acordo e a procura por
nas negociações, para lhe dar um tratamento relações duradouras e outros, ainda, tem seu foco
abrangente, integrado, holís co e estratégico. nos resultados finais ob dos.
Áreas de estudos híbridas e interdisciplinares Existem também aqueles que enfa zam as
resultam da reorganização de material de diferentes questões da sa sfação das necessidades dos
campos de estudo. Como exemplos, pode-se citar a envolvidos no processo, enquanto outros se
Teoria da Informação, originária da engenharia de preocupam mais com as questões de poder
comunicações e com muitas aplicações importantes envolvidas e com o processo de solução de conflitos.
em campos específicos da biologia e até das Assim, como afirma Cavalcan (2006), a
ciências sociais, ou a Teoria das Organizações, negociação deve ser conceituada como um
que vem da economia, sociologia, psicologia, somatório de todos esses aspectos, pois, em função
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do po de negociação ou do ambiente em que se está A aliança se torna viável e efe va na medida


envolvido, algum aspecto pode ser mais ou menos em que se obtém a troca de conhecimentos, que
relevante no contexto. Assim, torna-se de grande se mantém um excelente poder de comunicação,
importância para o bom negociador conhecer todos com compreensão adequada das necessidades
os elementos do processo e saber lidar com eles da do mercado em que foi feita a parceria. Assim,
melhor maneira possível. quando a aliança for favorável, há superposição de
A vantagem de analisar a negociação como interesses, podendo surgir associações transitórias,
um processo é a de iden ficar, por meio da visão porém sempre convergentes, na busca de resultados
sistêmica, todos os prováveis elementos que favoráveis para os diversos lados envolvidos.
poderiam gerar uma negociação “ganha-ganha”, A compe ção global e a alta velocidade de
de acordo com a situação prá ca vivenciada pelo mudanças exigem, por sua vez, uma revisão da
negociador. estrutura organizacional rumo à cooperação
Mar nelli (2002) analisou o processo de horizontal, associada à gestão por processos,
negociação por meio de uma visão mais detalhada das permi ndo a visão sistêmica de toda a organização.
entradas e saídas, avaliando o nível de sistemicidade A visão global do processo nas negociações
na negociação, de acordo com a visão de diferentes leva as empresas à busca cada vez mais intensa
autores consagrados do assunto, propondo a par r da cria vidade, que poderá torná-las mais e mais
disso uma visão mais sistêmica da negociação. inovadoras ao longo do tempo. A inovação pode
Dentro da compe vidade das empresas, e também nascer das pressões e dos desafios,
fruto da globalização dos negócios e do progresso num mundo cada vez mais compe vo, no qual é
tecnológico, a formação de alianças econômicas fundamental poder iden ficar bem os desafios a
globais é um fator muito importante na busca de serem enfrentados. Para isso, a visão sistêmica é
novos mercados. Pode-se fortalecer parecerias muito ú l e pode trazer excelentes resultados.
inseridas em mercados distantes e adequar os A percepção imediata das necessidades, forças e
enfoques e estratégias das empresas às necessidades tendências ambientais, resultado da visão global do
individuais dos mercados, sem perder de vista a processo e da postura pró-a va u lizada, também
missão e a visão da organização. gera fatores que levam a inovações e mudanças. A
Se, no passado, as alianças eram vistas inovação nas empresas também pode ser vista como
primariamente como redutoras de inves mento uma metodologia para percepção da complexidade
de capital, e diminuição dos riscos associados com do ambiente, permi ndo apontar os fatores crí cos
a entrada em novos mercados (LEWIS, 1992), hoje de sucesso frente aos concorrentes. Dessa forma,
o relacionamento por trás da formação de novas a inovação deve ser entendida de maneira ampla,
alianças é realizado, na maioria dos casos, para incluindo tanto melhorias tecnológicas quanto
aumentar a velocidade de mudança tecnológica e os melhores métodos para realizar os processos
um rápido crescimento compe vo no mercado envolvidos nos negócios.
global. Para o acompanhamento da rápida velocidade
As parcerias são formadas para diversificar riscos da inovação, é fundamental que a empresa
inerentes ao desenvolvimento de novas tecnologias, invista em pequenos projetos de aplicação, com
ou para absorver vantagens da complementariedade resultados imediatos possíveis, criando equipes
das habilidades desenvolvidas pelo parceiro. As mul disciplinares para todas as a vidades de
parcerias podem, ainda, proporcionar economia de desenvolvimento, buscando o envolvimento de
escala e poder de mercado, opondo-se à dominação fornecedores, distribuidores e clientes, na concepção
do concorrente que não pode ser desafiado de produtos e serviços, encorajando sempre a
individualmente, ou, também, permi r que se experimentação, que es mulará a cria vidade e
enfrentem condições adversas de mercado. gerará as inovações.
Assim, o uso da análise da negociação sob um Assim, a empresa compe va precisa desenvolver
ponto de vista de processo pode trazer grandes e adaptar soluções inovadoras, inéditas, corajosas e
vantagens, em termos de visualização do contexto cria vas, que resolvam problemas emergentes, mas
completo do mercado, de obtenção da maior também que modelem os caminhos da sobrevivência,
sinergia possível na busca do “ganha-ganha” e de qualidade de vida equilibrada e sa sfatória, num
proporcionar uma visão estratégica e integrada no contexto de sustentabilidade, considerando os
contexto das parcerias e alianças globais. problemas atuais enfrentados pela humanidade.
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Com isso, a empresa se fortalece, ganha O marke ng interno compreende o funcionamento


adeptos das idéias de evolução, crescimento e conjunto das várias funções de marke ng e
desenvolvimento sem resistências, tornando-se também a par cipação dos outros departamentos.
compe va, prevendo e criando as novas regras O marke ng socialmente responsável representa
de compe ção, pensando e agindo de maneira preocupações com a sociedade como um todo, mais
diferente, sa sfazendo seus clientes, favorecendo a abrangentes, como questões ambientais, é cas,
sociedade e administrando estrategicamente, como legais e sociais. O marke ng de relacionamento
a chave para alcançar o sucesso (ALMEIDA, 1995). busca construir relacionamentos duradouros com
Dessa forma, é possível prever uma empresa clientes e outros parceiros. Por fim, o marke ng
que privilegie a informação, fruto da diversidade de integrado corresponde aos programas e a vidades
idéias e do escopo global da empresa, da expansão de marke ng, desenvolvidos pela empresa para criar,
das variáveis de decisão relevantes e da conseqüente comunicar e entregar valor aos clientes (KOTLER;
complexidade das decisões gerenciais, bem como KELLER, 2006).
da intensificação da necessidade das pessoas, No ambiente empresarial complexo e cada vez
dependendo muito da imaginação, cria vidade e mais exigente e informado, as empresas precisam
inicia va humanas, bem como da descon nuidade definir estratégias corpora vas e de marke ng que
crescente dos desafios ambientais. lhes proporcionem alto desempenho e vantagens
compe vas. Dentre as opções de mudanças que as
empresas devem buscar para conseguir prosperar
3 INTERFACE ENTRE AS OPERAÇÕES nesse ambiente turbulento destacam-se as parcerias
E MARKETING com outras organizações, alteração de foco
mercadológico e expansão do escopo do produto,
O contexto de transformações velozes exige entre outras (CRAVENS; PIERCY, 2007).
que clientes, concorrentes, parceiros e tecnologias Day (1999) entende estratégia como um conjunto
evoluam, fazendo com que as empresas consigam de ações integradas na busca por vantagem
dar respostas mais rápidas e eficientes. “Os desafios compe va. Para Doyle (2002), a alocação de
impostos por profundas mudanças mercadológicas recursos e o desenvolvimento de vantagem
e concorrentes cada vez mais compe vos [...] são compe va sustentável são as duas dimensões
complexos e emergem velozmente” (CRAVENS; principais da estratégia.
PIERCY, 2007, p.1). É importante diferenciar as estratégias
Assim, cada vez mais as empresas devem corpora vas e as estratégias de marke ng de
buscar estratégias orientadas para o mercado, ou uma empresa. Enquanto a estratégia corpora va
seja, devem ter como ponto de par da de suas refere-se à tomada de decisão quanto ao escopo e
formulações estratégicas o entendimento do à finalidade do negócio, mapeando as inicia vas e
mercado, bem como a previsão de suas prováveis os recursos necessários para alcançar os obje vos,
mudanças. E isso inclui obter informações sobre a estratégia de marke ng remete às decisões da
clientes, concorrentes e demais atores do mercado alta administração, quanto ao como, quando e onde
(CRAVENS; PIERCY, 2007). concorrer (CRAVENS; PIERCY, 2007, p.20).
Neste sen do, é importante destacar a orientação Porter (apud CRAVENS; PIERCY, 2007, p.22) indica
de marke ng holís co, que pode ser visto como “o caracterís cas de uma estratégia corpora va eficaz:
desenvolvimento, o projeto e a implementação de posição compe va exclusiva da empresa, a vidades
programas, processos e a vidades de marke ng, adaptadas à estratégia, acordos e opções claras
com o reconhecimento da amplitude e das em relação à concorrência, vantagem compe va
interdependências de seus efeitos” (KOTLER; KELLER, proveniente do ajuste de a vidades, sustentabilidade
2006, p. 15). procedente do sistema de a vidades e eficiência
O marke ng holís co inclui quatro dimensões, operacional.
na busca por uma abordagem que inclua, As decisões de marke ng referem-se a quatro
reconheça e harmonize as diferentes a vidades áreas: segmentação de mercado, seleção de
desempenhadas nas empresas: marke ng interno, mercados-alvo, posicionamento e planejamento de
marke ng socialmente responsável, marke ng de marke ng (DOYLE, 2002). Para este estudo, cabe
relacionamento e marke ng integrado (KOTLER; destacar que o posicionamento é uma das estratégias
KELLER, 2006). que as empresas podem usar para oferecer maior
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valor aos seus consumidores. Assim, seria uma das de concorrência e cooperação, para que se tenha
formas de aumentar a compe vidade da empresa, uma visão de co-ope ção mais adequada às
da mesma forma que outras estratégias, como oportunidades do nosso tempo” (NALEBUFF;
redução de custos ou aumento de valor (DOYLE, BRANDENBURGER, 1996, p. 16). Esses autores
2002). destacam que a teoria dos jogos leva a decisões
Ao fazer a análise do mercado e da situação atual mais acertadas, sendo mais eficaz em situações
da empresa, uma ferramenta bastante u lizada é a em que existem muitos fatores interdependentes e
análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportuni es nenhuma decisão pode ser tomada isoladamente.
e Threats), que abrange tanto o ambiente Par ndo dos conceitos sobre a teoria dos
interno (forças e fraquezas) quanto o externo jogos, tem-se que, além de fornecedores, clientes
(oportunidades e ameaças) das empresas. A par r e concorrentes, o mercado também é composto
da análise dos elementos da matriz SWOT, a empresa de complementadores. Nesta abordagem,
pode combinar suas forças e oportunidades para uma outra empresa pode ser considerada uma
iden ficar suas vantagens compe vas (FERRELL; complementadora todas as vezes que os clientes
HARTLINE, 2010). valorizarem mais o seu produto em conjunto com
Vantagens compe vas consistem em diferenças o produto dessa outra empresa, em relação à
da empresa em relação aos concorrentes, seja por situação em que têm o seu produto isoladamente
forças da empresa ou por fraquezas das outras (NALEBUFF; BRANDENBURGER, 1996). Assim, dois
empresas, podendo ser vantagens reais ou percebidas produtos são complementadores quando a compra
(FERRELL; HARTLINE, 2010). E cada vez mais as de um deles impulsiona a compra do outro, ainda
empresas precisam buscar vantagem compe va que de fabricantes ou marcas diferentes.
sustentável, um diferencial que os concorrentes Desse modo, nota-se que a rede de valores inclui
não possam copiar rapidamente (THOMPSON; os clientes e fornecedores da empresa, mas também
STRICKLAND, 1992; BHARADWAJ; VARADARAJAN; inclui seus concorrentes e empresas fornecedoras
FALRY, 1993; OLIVER, 1998; ROSENBLOOM, 2002). de produtos complementadores. Com isso, a visão
A concorrência é um aspecto essencial a tradicional de concorrência deve ser ampliada
ser considerado na definição das estratégias para incorporar as possibilidades de parcerias e
compe vas das empresas. Ferrell e Hartline (2010) cooperação que se apresentam às empresas no
apresentam quatro pos básicos de concorrência mercado.
que as empresas podem enfrentar: concorrentes
de marca (produtos com caracterís cas, bene cios 4 A NEGOCIAÇÃO EM UM
e preços semelhantes oferecidos aos mesmos
consumidores); concorrentes de produto (mesma
AMBIENTE SISTÊMICO
classe de produtos, com caracterís cas, bene cios
e preços diferentes); concorrentes genéricos Dado esse ambiente compe vo apresentado,
(produtos diferentes, mas que sa sfazem a mesma bem como a relação do enfoque sistêmico com a
necessidade do consumidor); concorrentes de negociação (MARTINELLI, 2002), faz-se necessário
orçamento total (competem pelos mesmos recursos o destaque de alguns pontos, considerados crí cos
limitados dos consumidores). para o sucesso das relações de uma empresa que
Cravens e Piercy (2007) também destacam a envolve a vidades com outras partes. Destacam-se
importância da análise setorial na empresa, de neste tópico dois aspectos da negociação que, se
modo a analisar todos os níveis de concorrência que bem trabalhados, podem levar a uma negociação
a empresa enfrenta no mercado, definindo o cenário “ganha-ganha”: a comunicação e as variáveis básicas
compe vo para o básico, o específico e as variações do processo.
do mercado do produto. O conceito do “ganha-ganha” baseia-se no fato
Nalebuff e Brandenburger (1996) trazem os dos dois lados envolvidos na negociação ganharem
conceitos de co-ope ção (compe r e cooperar ao de alguma forma (ACUFF, 2004). Desse modo, para
mesmo tempo) e da teoria dos jogos, para esclarecer que uma negociação possa a ngir o “ganha-ganha”,
o paradoxo entre as funções das empresas de hoje as partes não devem assumir uma posição rígida
no mercado. “A teoria dos jogos torna possível e inflexível. Devem manter o foco nos interesses e
extrapolar as idéias extremamente simplificadas nas necessidades das partes, tendo-se, assim, um
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resultado muito melhor para todos os envolvidos no ser tão sa sfatório”. Os autores ainda ressaltam que,
processo. normalmente, todas as partes de uma negociação
Nesse ambiente dinâmico, em que a relação têm prazos limites para concluí-la, e que o sucesso
entre as partes é fundamental, deve-se ressaltar a dos bons relacionamentos está diretamente ligado à
importância que o processo de comunicação tem maneira como o tempo é u lizado.
para as empresas. Segundo Mar nelli e Almeida Cohen (2007) diz que o tempo pode favorecer
(1997), 80% do tempo gasto pelos administradores ambos os lados de uma negociação. Assim, quando
é u lizado com comunicações diretas com outras ocorre um processo de negociação, é importante
pessoas. Para Fisher, Ury e Pa on (2005), a que os negociadores sejam pacientes, ponderados,
negociação não pode ocorrer sem a comunicação, tranqüilos e sensatos (MARTINELLI; ALMEIDA 1997).
sendo que essa deve ter um caráter bilateral, de Por fim, a terceira variável básica é a informação.
forma que a decisão seja alcançada de maneira Lewicki, Saunders e Minton (2002) colocam a
conjunta. informação como a força vital da negociação, sendo
Além da comunicação, em qualquer negociação, que, quanto mais o negociador descobre sobre
seja qual for o interesse, exis rão sempre três a outra parte, mais fácil será o acontecimento
elementos básicos no processo: poder, tempo e de um acordo favorável. Segundo os autores, as
informação (MARTINELLI; ALMEIDA, 1997; COHEN, negociações envolvem um código que transmite as
2007). informações durante o processo.
Segundo Mar nelli e Ghisi (2006), a definição Cohen (2007) apresenta a idéia de que a
do poder é complexa. Para Mar nelli e Almeida informação é a questão central das negociações.
(1997), ele transmite várias idéias que lembram Para esse autor, ela afeta tanto as avaliações quanto
conotações nega vas, como, por exemplo, controle, as decisões dos negociadores e pode ser um meio de
superioridade ou autoridade. Porém essa definição abertura da “porta do sucesso”. Para Stark (1999), o
não é justa. Essa conotação nega va de poder vem lado que ob ver mais informações terá um resultado
da definição u lizada, na qual o poder implica em melhor em suas negociações.
relacionamentos nos quais um lado domina o outro Assim, este tópico apresentou alguns aspectos
(COHEN, 2007), chocando-se com o conceito do destacados por Mar nelli (2002) como essenciais
“ganha-ganha”. para a busca de uma negociação sistêmica. O bom
O uso do poder, de modo sensato, para a ngir uso da comunicação e das variáveis básicas pode ser
os obje vos considerados importantes, é destacado o fator defini vo para o sucesso de uma negociação,
por Cohen (2007). Para Mar nelli e Almeida porém não se deve deixar de considerar outros
(1997), os processos de negociação podem u lizar aspectos, que são parte do perfil do negociador,
a forma posi va do poder, em que ele transmite como suas habilidades e seus es los. Esses aspectos
autoconfiança aos demais. Os autores subdividem os serão detalhados a seguir.
poderes em dois grupos: pessoais e circunstanciais.
O primeiro grupo, segundo os autores, são aqueles 5 PERFIL DO NEGOCIADOR:
inatos, que estão presentes em qualquer situação,
e que não dependem do papel das habilidades e
COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E
do conhecimento. Já o segundo grupo envolve a ESTILOS
situação, o momento e o meio. Para eles, um fato
pode ser analisado de diversas maneiras, além Com as pressões por compe vidade apontadas,
da influência que o ambiente exerce sobre as os modelos tradicionais de gestão de pessoas
negociações (MARTINELLI; ALMEIDA, 1997). também não se adequam mais à dinâmica
A segunda variável básica que pode ser destacada organizacional. Neste cenário, o modelo de gestão
é o tempo. Para Cohen (2007), o fato do homem não por competências organizacionais e individuais
ter o controle sobre a passagem do tempo faz com desponta como a estratégia mais apropriada para
que o tempo seja algo fundamental nas negociações. gerenciamento de pessoas e processos, pois o foco
Mar nelli e Almeida (1997, p. 79) destacam que, nas deixa de ser o controle e a hierarquia, para ser a
negociações, “quanto mais próximo do fim, maior é criação de valor e de diferenciais compe vos.
a pressão do tempo, a tensão de fazer concessões Para tanto, a literatura especializada e os
para a realização de um acordo, que tenderá a não profissionais de recursos humanos tem se esforçado
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para gerar uma definição adequada ao conceito de necessárias, do mesmo modo que as competências
competência. Fleury (2002) ressalta que a discussão existentes refletem na escolha das estratégias e todo
acerca do tema competência não é recente, tanto esse processo ocorre por meio da aprendizagem.
é verdade que McClelland já se preocupava com Percebe-se assim que ser competente
a mensuração de competências pessoais que compreende o desenvolvimento de múl plos
pudessem gerar desempenho superior desde 1973. saberes, que geram resultados para a organização.
Zarifian (2001) propõe que as competências sejam Um negociador competente deverá apresentar um
entendidas como capacidade de tomar inicia va e ir conjunto de conhecimentos, habilidades e a tudes
além do que está prescrito, conseguindo lidar com necessárias à sua atuação e que estejam conectados
situações novas, responsabilizando-se por elas. às estratégias da empresa. Mar nelli e Almeida
Dessa forma, o modelo de gestão por competências (1997) sugerem algumas das habilidades que os
realmente envolve um modo de agir mais adequado negociadores efe vos devem possuir, dentre as quais
a ambientes de mudanças. algumas das principais podem ser consideradas:
O conceito de competência é uma abstração saber ouvir e falar, colocar-se no lugar da outra
que depende das pessoas para sua concre zação parte, saber iden ficar o comportamento humano e
(LE BOTERF, 2003). Para esse autor, os diversos proporcionar alterna vas.
pos de conhecimentos, tais como conhecimentos Na literatura específica de negociação, essas
teóricos, de processos, empíricos, sociais e habilidades aparecem dispersas entre os diferentes
cogni vos, cumprem funções dis ntas e podem ser es los do negociador. O estudo dos es los dos
desenvolvidos por meio de educação formal e de negociadores vem ganhando uma atenção especial
experiências profissionais e sociais. na ul ma década (MA; LEE; YU, 2008). De acordo
Fleury (2002) assume que competência é: com Mar nelli e Ghisi (2006), a par r do estudo
“saber agir responsável e reconhecido, que implica dos diferentes pos psicológicos, o negociador pode
saber mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, reconhecer o es lo da outra parte, definindo melhor
recursos, habilidades, que agreguem valor suas estratégias, uma vez que pode prever quais
econômico à organização e valor social ao indivíduo” deverão ser suas ações e reações.
(FLEURY, 2002, p. 55). Para a autora, as competências Analisando as diferentes pologias de es los,
humanas também podem ser dimensionadas em três percebe-se uma semelhança entre as diversas
níveis de saber: Conhecimentos - saber; Habilidades definições, das quais pode-se destacar: Marcondes
- saber fazer; e A tudes - saber ser, modelo esse que (1992), Sparks (1992), Bergamini, (1980), Shell
ficou conhecido como CHA. (2001). Para um melhor entendimento dessas
Para Fleury (2002), há um processo dialé co entre pologias, elas serão apresentados em cinco grupos:
estratégia, aprendizagem e competência, pois as es lo 1, es lo 2, es lo 3, es lo 4 e es lo 5, conforme
estratégias organizacionais definem as competências Figura 1.
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Figura 1. Síntese dos esƟlos

Fonte: Elaborado pelos autores com base em Marcondes (1992), Sparks (1992), Bergamini (1980) e Shell (2001).

O esƟlo 1 resume as principais caracterís cas como o relacionamento de longo prazo com a outra
dos es los Persuasão, Ardiloso, Mantém e Conserva parte, são fundamentais para as boas negociações.
e Evita Conflito. Assim, pode-se destacar que os Uma importante habilidade do processo de
negociadores es lo 1 são pessoas ques onadoras, comunicação é observada nesses negociadores:
que buscam obter o máximo de detalhes em suas escutar com atenção e pedir opiniões à outra parte.
negociações, para que, assim, possam chegar a O esƟlo 4 combina as caracterís cas do
um resultado perfeito. Os argumentos que esse negociador Atração e do Presta vo. Esse es lo sabe
negociador u liza são somente aqueles que ele reconhecer os seus limites durante as negociações,
pode jus ficar, além de u lizar fatos vivenciados o que contribui para uma minimização dos conflitos.
como um aliado em suas negociações. Suas decisões Outro fator importante é que, mesmo quando um
são sempre aquelas consideradas mais viáveis nas conflito surge, a inicia va de resolução parte desse
situações vivenciadas. negociador. Esse negociador tem como caracterís ca
No esƟlo 2 tem-se o agrupamento dos es los marcante gerar mo vação no outro lado durante as
Afirmação, Restri vo, Toma e Controla e Compe dor. negociações.
O negociador es lo 2 tem como caracterís ca ver Para compor o esƟlo 5, foram agrupados os
a negociação como uma compe ção. É comum es los Destensão, Confrontador, Adapta e Negocia
que o negociador es lo 2 exerça pressão no outro e Solucionador de Problemas. Esse es lo reúne
lado da negociação, para que possa alcançar o as caracterís cas da figura empreendedora. A
resultado desejado. As ameaças são constantes nas cria vidade e o espírito inovador são caracterís cas
negociações com esse es lo de negociador, assim fortes nessas pessoas. Os negociadores es lo 5,
como a desconsideração e a tenta va de controle muitas vezes, conseguem propor soluções diferentes
da situação. Outra caracterís ca marcante é o seu para que uma negociação que esteja di cil de ser
comportamento simplista nas negociações. resolvida possa ser finalizada.
Já o agrupamento do esƟlo 3 reúne os es los A par r desta descrição das diversas habilidades
Ligação, Amigável, Dá e Apóia e Transigente. Esse e es los do negociador, pode-se notar que a
es lo pode ser caracterizado como o do negociador negociação é uma competência complexa de
efe vo. Os negociadores es lo 3 valorizam a ser adquirida, pois a pessoa deverá possuir um
negociação “ganha-ganha”, em que o resultado conjunto amplo de conhecimentos, informações
favorável é o melhor para ambas as partes envolvidas e experiências concretas para que possa alcançar
nas negociações. O relacionamento humano, assim sucesso em processos de negociação.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E pode ser pensada de modo independente dos


demais elementos do sistema. A empresa deve
IMPLICAÇÕES GERENCIAIS
estruturar seus processos de negociação realizando
análises que contemplem: o posicionamento da
Com as bases conceituais lançadas anteriormente,
empresa perante os demais atores do mercado, as
o presente ar go propõe que todos os elementos
competências necessárias ao negociador, as variáveis
necessários para um processo efe vo de negociação
básicas envolvidas no processo de negociação a
em ambientes compe vos sejam visualizados
ser iniciado, o nível de integração interna entre as
conjuntamente, conforme a Figura 2.
diferentes áreas da empresa e as ferramentas de
No enfoque sistêmico apresentado, o processo
negociação disponíveis.
de negociação é visto a par r do direcionamento
estratégico da empresa, mas essa estratégia não
Figura 2. Visão sistêmica do processo de negociação

Fonte: Elaborado pelos autores.

Este modelo apresenta contribuições tanto de maneira desconectada. Trabalhar para que as
para o campo teórico da negociação quanto negociações sejam sistêmicas exige um esforço
para profissionais interessados no tema. Para o de toda a organização. Para isso é preciso que os
primeiro, o modelo contribui discu ndo com maior relacionamentos e os fluxos de comunicação da
profundidade como a visão sistêmica está imbricada organização funcionem efe vamente. Isso contribui
nas negociações ro neiras das empresa e como essas para que os envolvidos no processo da negociação
podem se tornar mais efe vas. A par r do enfoque apresentem suas ideias e interesses, de forma que o
sistêmico é possível entender que componentes do resultado tenha um alinhamento com as demandas
processo não podem e não devem ser analisados das diversas áreas. Por fim, uma contribuição
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adicional do ar go está na tenta va de ampliar o como posi vas (por exemplo, solução do conflito e
conhecimento teórico da negociação integrada com sa sfação das necessidades das partes), também
a visão sistêmica. aumenta.
Já para os gestores de organizações, o Vale ressaltar que o modelo é adaptável a
modelo contribui ao mostrar que as negociações qualquer porte, segmento e cultura de organização,
empresariais, além de serem influenciadas pelas mas que a configuração final de cada um dos seus
variáveis básicas e pelas habilidades e competências elementos apresentará variações em função de
dos negociadores, também dependem da interação contextos específicos.
entre as áreas, relacionamento com parceiros e Por exemplo, as ferramentas de negociação
fornecedores, além da necessidade de alinhamento da empresa podem ser customizadas para que
com a estratégia empresarial adotada. o negociador tenha em mãos, no momento da
Ademais, encarar a negociação de forma negociação, um instrumento que lhe forneça:
sistêmica, pode auxiliar os gestores no preparo dados de mercado, normas internas da empresa,
para o processo da negociação, de forma que mais limites da negociação (prazo, preços e condições
entradas consideradas posi vas (por exemplo, de pagamento) e outras informações relevantes,
busca de interesses comuns, uso da informação para que ele, u lizando as habilidades necessárias,
e do poder e flexibilidade) serão apresentadas. realize o processo do modo mais benéfico para si e
Consequentemente, o número de saídas avaliadas para as demais partes envolvidas.
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