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Artigo: Reorganização de matérias primas na composição de cargas dos fornos

Autoria: Engº Alex Sandro Bigaton Perrony


Contato Skype/e-mail: alex.perrony@gmail.com
Reorganização de matérias primas na composição de cargas dos fornos

Ações para reduzir custos estão sempre presentes em todas as empresas


e não seria diferente no ramo metalúrgico, ainda mais em tempo de recessão
como o que se enfrenta atualmente.
É de extrema importância que ocorra a priorização dessas reduções, pois
o desejo é de que elas ocorram com o menor custo e tempo possível.
A grande maioria das fundições perde dinheiro diariamente, em cada
batelada que funde, pois geram custos adicionais, e estes são tão bem
camuflados nas cargas dos fornos que passam despercebidos.
Este trabalho mostra como reduzir custos com matérias primas nas
fundições, com uma ferramenta conhecida por todos os fundidores, mas que
geralmente não é utilizada na sua totalidade, o cálculo de carga.

Considerações iniciais

Os cálculos de carga são modelos matemáticos desenvolvidos por


profissionais do ramo metalúrgico com know how para isso, que visam calcular
as cargas dos fornos de modo que determinada composição química seja obtida.
Também auxiliam na redução de correções nos fornos, diminuindo o tempo de
espera para o vazamento, consequentemente ampliando capacidade de fusão e
melhorando a eficiência energética.
Não há como definir um cálculo de carga flexível o suficiente para atender
todas as fundições, pois existem peculiaridades nos processos, composições
específicas e matérias primas distintas entre as empresas, mesmo que estas
produzam o mesmo item com o mesmo material, logo, cada fundição precisa
desenvolver um modelo matemático que atenda às suas necessidades.
Os cálculos de carga não são explorados da forma como deveriam, pois,
existem ganhos nas composições de carga que são de difícil percepção.
Imagine que se queira fundir um ferro fundido nodular, com a seguinte
composição:
Carbono Silício Enxofre Manganês Ferro
% % % % % % % % % %
mínimo máximo mínimo máximo mínimo máximo mínimo máximo mínimo máximo
3,50 3,65 2,40 2,70 0 0,025 0,45 0,55 Restante

Com os ranges de composição fornecidos se pode obter milhares de


combinações e mesmo assim atender o solicitado. Para vislumbrar isso basta
manter todos os percentuais fixos e variar somente o Carbono de 3,5% até
3,65%, já são 16 possíveis combinações.
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Imagine agora que para produzir esse mesmo material você disponha das
seguintes matérias primas:
• Sucata de aço
• Ferro gusa
• Retorno ferro fundido cinzento
• Retorno ferro fundido nodular
• Retorno ferro fundido branco
• Carburante
• Ferro Mn
• FeSi
• Inoculante
• Liga nº01
Com essas 10 matérias primas as possibilidades de combinações
mencionadas anteriormente são aumentadas exponencialmente, pois fora as
possibilidades que o range de composição permite, existem também as
diferentes combinações de carga que podem ser realizadas.
Sabendo que existem milhares de combinações de matérias primas que
possibilitam um mesmo resultado, é inevitável perguntar qual combinação é
melhor para seu processo, e sem dúvida alguma, a reposta será a combinação
que forneça a composição especificada com o menor custo possível, logo o
cálculo de carga não deve mais fornecer somente uma composição dentro do
range especificado, mas esse deve ser feito visando também uma carga com o
menor custo possível.

Experimento prático

Com o intuito de comprovar o exposto aqui realizei experimento


acompanhando fusão de ferro fundido nodular com a composição de carga
usualmente utilizada e com uma composição de carga previamente calculada
por um modelo matemático que desenvolvi.
A composição do metal no forno antes da transferência para a panela
deveria ficar como o descrito a seguir:
Elemento % mínimo % máximo
C 3,55 3,70
Si 1,30 1,50
Mn 0,45 0,55
P 0 0,05
S 0 0,025
Cr 0 0,05
Fe Restante
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As matérias primas que dispunha para esse experimento, assim como


suas devidas composições e custos estão listadas abaixo.

Matéria %C %Si %Mn %P %S %Cr %Fe R$/Kg


prima
Sucata de 0 0,05 0,16 0,02 0,01 0,02 99,74 0,70
aço
Ferro gusa 4,12 1,38 0,05 0,07 0,01 0,01 94,36 1,30
Retorno 3,20 2,25 0,60 0,15 0,07 0,25 93,48 0,70
ferro
fundido
cinzento
Retorno 3,60 2,60 0,50 0 0 0 93,3 0,70
ferro
fundido
nodular
Retorno 3,40 1,00 0,80 0 0 2,40 92,4 0,70
ferro
fundido
branco
Carburante 100 0 0 0 0 0 0 2,70
Ferro Mn 0 1,47 74,06 6,92 0,02 0 17,53 3,80
FeSi 0,18 75,1 0 0,02 0 0 24,7 5,50

Como pode ser observado tanto as matérias primas quanto a composição


são em geral semelhantes ou muito próximas da realidade da maioria das
fundições.
Na realização do experimento tive que inserir algumas restrições nos
cálculos, em relação a duas matérias primas:
1. Retorno de ferro fundido nodular –não poderia divergir em mais de 2,5%
da composição de carga usualmente utilizada.
2. Ferro gusa – no mínimo 10% da carga deveria ser composta dessa
matéria prima.
Essas condições foram necessárias para aferir algumas variáveis que
utilizei, mas podem surgir inúmeras condições inerentes ao processo de cada
empresa que irão condicionar aos modelos matemáticos situações restritivas.
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Na primeira etapa do experimento, foi acompanhada a confecção de uma
carga de ferro fundido nodular na sua totalidade e os dados dessa foram
coletados, foi necessário realizar uma correção de composição química na
batelada após terminada a fusão e as matérias primas e respectivas proporções
que compuseram essa carga se encontram abaixo:

Matéria prima Peso Participação da carga


Sucata de aço 581 38,2%
Carburante 30 2%
FeSi 8 0,5%
Ferro gusa nodular 300 19,7%
Retorno nodular 600 39,4%
Ferro Mn A/C 3 0,2%

Já na segunda etapa do experimento, preparei a carga com os dados obtidos


no modelo matemático que desenvolvi, não houve necessidade de realizar
correção, e a composição da carga se encontra abaixo:

Matéria prima Peso Participação da carga


Sucata de aço 600 39,4%
Carburante 29 1,9%
FeSi 2 0,1%
Ferro gusa nodular 150 9,9%
Retorno nodular 633 41,6%
Ferro Mn A/C 7,5 0,5%
Retorno cinzento 100 6,6%

Foi definido um mesmo item para ser vazado com as diferentes cargas, e
estes após realização do experimento foram pesados. Houve um incremento de
peso de 0,2% no item confeccionado com a carga proposta.

Análise do experimento

Em ambas as cargas o mesmo resultado foi obtido, que era carregar um forno
de aproximadamente 1500 Kg com ferro fundido nodular na composição química
anteriormente especificada. No entanto, vamos agora avaliar o custo de cada
carga.
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Na primeira carga, o custo por Kg de metal fundido, levando em consideração
somente a matéria prima pode ser definido como:

Matéria Participação Custo MP Participação Total R$/Kg


prima na carga em R$/Kg em R$/Kg na
carga
Sucata de 38,2% R$ 0,70 R$ 0,27 R$ 0,89
aço
Carburante 2% R$ 2,70 R$ 0,05
FeSi 0,5% R$ 5,50 R$ 0,03
Ferro gusa 19,7% R$ 1,30 R$ 0,26
nodular
Retorno 39,4% R$ 0,70 R$ 0,28
nodular
Ferro Mn A/C 0,2% R$ 3,80 R$ 0,01

Já na segunda carga, utilizando a metodologia de cálculo de carga, visando


reorganização de matérias primas, o custo por Kg de metal fundido, levando em
consideração somente a matéria prima pode ser definido como:

Matéria Participação Custo MP Participação Total R$/Kg


prima na carga em R$/Kg em R$/Kg na
carga
Sucata de 39,4% R$ 0,70 R$ 0,82
aço R$ 0,28
Carburante 1,9% R$ 2,70 R$ 0,05
FeSi 0,1% R$ 5,50 R$ 0,01
Ferro gusa 9,9% R$ 1,30
nodular R$ 0,13
Retorno 41,6% R$ 0,70
nodular R$ 0,29
Ferro Mn A/C 0,5% R$ 3,80 R$ 0,02
Retorno 6,6% R$ 0,70
cinzento R$ 0,05

Foi obtida uma redução de 7,9% com matérias primas para compor o material
líquido no forno, no entanto como houve um incremento de 0,2% no peso do
item, pode-se afirmar que na realidade foi obtida uma redução de 7,7%.

Conclusões e direcionamentos

É possível reduzir significativamente o custo com matérias primas nas cargas


dos fornos, apenas reorganizando a composição de sua carga.
Como mencionado anteriormente é comum se utilizar cálculos de carga
apenas para reduzir tempos com correções nos fornos, no entanto como pode
ser visto até aqui essa é apenas uma pequena aplicação desse tipo de cálculo,
inclusive, não é a que traz maior retorno financeiro.
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No experimento que realizei inseri duas restrições que impactam diretamente
no resultado final, sem as restrições que inseri poderia ser obtida uma redução
de custos de cerca de 16% com base nos cálculos realizados, reduzindo ferro
gusa e aumentando adições de retorno de ferro fundido nodular.
É importante salientar que esse tipo de redução de custo deve ser priorizado,
pois a implantação é rápida e não requer investimentos ou alterações
significativas no processo, sem mencionar que se aplica a todos os itens
produzidos, indiferente a curva que pertençam.
Nesse trabalho foi considerado apenas o estoque existente de matérias
primas, no entanto, para que uma empresa obtenha o menor custo possível com
matérias primas deve ser realizado trabalho semelhante a nível de suprimentos,
pois para cada nova matéria prima desenvolvida, milhares de novas
possibilidades de combinação são geradas.
Sempre deve ser levado em consideração incrementos / decrementos de
peso no fundido, pois variações de densidade podem ocorrer em virtude de
variações químicas, mesmo dentro do especificado e isso irá acarretar em peças
com pesos divergentes.

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