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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Salvador
2016
LAÍS SANTANA MUNIZ
Salvador
2016
LAÍS SANTANA MUNIZ
RESUMO
Alguma leituras foram feitas durante todo esse processo aqui descrito, vale
ressaltar o livro “A escola vista pelas crianças” organizado por Júlia Oliveira-
Formosinho. Como diz o título o livro traz inferências das crianças acerca dos
contextos escolares nos quais estão inseridas destacando o papel das educadoras e
a qualidade do processo ensino/aprendizagem do ponto de vista infantil. Para elas
os adultos acreditam que a Educação Infantil é uma preparação para a vida adulta
dentro de uma expectativa de vida melhor, e tem a função de torná-las mais
inteligentes (Oliveira-Formosinho,2008).
A criança tem sido muito considerada como Objeto de estudo, mas pouco
ouvida como Sujeito ativo nas pesquisas. Embora teóricos e comunidade
científica tenham construído relevantes conhecimentos sobre a
aprendizagem e o desenvolvimento infantil, ainda é incipiente o
conhecimento da experiência a partir da voz da criança para a criança. O
conhecimento sobre a criança restringe-se, predominantemente, a uma
representação do adulto a respeito dela, constituindo, desse modo, tão
somente uma percepção dos sentimentos e pensamentos de crianças sobre
aspectos de interesses daquele. (Almeida, 2014, p. 14)
Para a etnopesquisa a partida é considerar que o ator social nunca deve ser
percebido como um “imbecil cultural”, porque concebido como portador e
produtor de significantes, de singularidades experienciais que
interativamente, instituem, por suas ações, as realidades com as quais
também é constituído. É nesse processo dialógico e dialético que produz
seus etnométodos, ou seja, suas formas de perceber para compreender e
intervir de forma estruturante e propositiva na vida (p. 30).
Desta forma torna-se necessário uma escuta sensível das vozes dessas
crianças e, mais que escutar é imprescindível perguntar, indagar e assim, tentar
compreender os etnométodos produzidos por elas. Nessa pesquisa da experiência
visando a compreensão da prática é que se destaca a narrativa. A experiência se
expressa a partir das narrativas, é através da narração enquanto dispositivo de
pesquisa que se desperta e dá sentido à experiência. “Nesses termos a experiência
precisa da narração para expressar-se e fazer-se como tal, por consequência, e em
geral, o saber da experiência tem uma forma narrativa” (MACEDO, 2015, p. 46).
Toda essa dinâmica de roda de conversas sempre fez parte da minha prática
pedagógica, e ganhou reforço após o curso de Especialização de Docência em
Educação Infantil, principalmente na oficina de Linguagem, Oralidade e Cultura
Escrita, com a Prof.ª Jucineide Melo e as leituras sobre o tema.
A análise dos dados pode contribuir para que educadores possam fazer do
seu espaço de educação infantil um ambiente de aprendizagem prazerosa, onde
ocorra o desenvolvimento das crianças.
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Ainda Forneiro (1998) citando Battini define o espaço a partir da visão das
crianças.
Para a criança, o espaço é o que sente, o que vê, o que faz nele. Portanto,
o espaço é sombra e escuridão; é grande, enorme ou, pelo contrário,
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pequeno; é poder correr ou ter que ficar quieto, é esse lugar onde pode ir,
olhar, ler, pensar.
O espaço é em cima, embaixo, é tocar ou não chegar a tocar; é barulho
forte, forte demais ou, pelo contrário, silêncio, é tantas cores, todas juntas
ao mesmo tempo ou uma única cor grande ou nenhuma cor ...
O espaço, então, começa quando abrimos os olhos pela manhã em cada
despertar do sono; desde quando, com a luz, retornamos ao espaço.
(BATTINI apud FORNEIRO, 1998, p. 231)
etc.), quando as crianças não fazem parte dessa construção elas não veem sentido
naquele monte de papel colado nas paredes e acabam rasgando tudo,
principalmente as crianças menores. É preciso dar sentido ao espaço da sala, torna-
lo acolhedor e significativo, e isso só pode ser feito em conjunto, com as crianças.
YAS: Eu sou a madrinha, e quem vai ser o pai? [Elas olham para os meninos que
estão brincando com os brinquedos de encaixe]
SAM: Vou fazer comida pra quando ele chegar do trabalho. [Pegando a panelinha e
de dirigindo ao fogão improvisado com uma cadeira]
YAS: Eu vou dar comida a sua filha. [Coloca a colega no colo e com uma mamadeira
lhe dá o mingau]
desta forma captei as respostas. Apesar de todas as crianças relatarem que gostam
da sala, alguns propuseram mudanças:
LUC: Pró eu já sei, “umbora” arrumar a nossa sala todinha pra ficar bonita!?”
A primeira roda de conversas revela que embora gostem de como a sala está
organizada as crianças sugerem mudanças. A partir das sugestões realizadas é
perceptível a necessidade de torná-lo mais colorido, mais alegre.
Quando LUC diz: “(...) arrumar a nossa sala todinha pra ficar bonita”, revela
que o espaço no seu ponto de vista não está tão legal como tinham dito os seus
colegas anteriormente. Cruz (2008) acrescenta que ouvir o que as crianças tem a
dizer fornece subsídios para transformar os espaços escolares em locais para o
cuidar e o educar respeitando seus anseios.
Outro aspecto relevante é a fala de ANA: “Pegar o dado que está em cima do
armário e bota embaixo”. A atitude nos permite perceber o quanto a criança
desejava aquele brinquedo. Horn (2004, p. 86) alerta sobre a importância da
disposição dos objetos:
Mais uma vez Horn (2004) vem corroborar com esse estudo. Citando
Perrenoud (2002) ela acrescenta que:
A forma de agir e de estar no mundo de uma pessoa não pode mudar sem
transformações advindas de suas atitudes, de suas representações, de
seus saberes, de suas competências e de seus esquemas de pensamento e
ação. Essa modificação pode até ser modesta, limitando-se a modificar um
pouco o olhar sobre as coisas. (p. 87-88)
De acordo com Carvalho e Guizzo (2016) pelo fato da escola ser uma instituição
implicada na produção das diferenças torna-se necessário abordar temáticas de
gênero e sexualidade na formação inicial e continuada dos educadores visando não
reforçar regras e comportamentos de desigualdade entre meninos e meninas.
A pesquisa aqui apresentada indica a relevância de colocar a criança como
protagonista do processo educativo, agregando sentidos aos seus dizeres. Nessa
direção emerge a necessidade da escuta das crianças no contexto educacional na
qual estão inseridas, pois enquanto sujeito ativo no processo de aprendizagem
constrói saberes, desenvolve a linguagem, a autonomia, a criatividade, a
imaginação, convive socialmente criando e respeitando regras dos grupos que
participa. É através do brincar em um espaço organizado adequadamente que essas
aprendizagens vão sendo construídas. E a escola precisa oportunizar e validar as
falas das crianças criando uma atitude de escuta constante, valorizando a
construção da prática docente baseada no diálogo.
Ouvir o que as crianças pensam do espaço em que estão inseridas, que foi
preparado antecipadamente a sua chegada e que elas tiveram que se adaptar para
se inserir foi muito precioso. O ecoar das vozes infantis percorreu todo o nosso
espaço de tal forma que os acontecimentos fizeram florescer uma nova sala. Que o
ecoar das vozes infantis transcenda a sala do grupo 4 do CIEI Areias e avance por
todos os espaços de Educação Infantil. Que todas as crianças possam falar e serem
ouvidas. Que os seus dizeres transformem os espaços de suas salas e ambientes
para o aprender brincando.
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REFERÊNCIAS
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portugues&palavra=espa%E7o. Acesso em 18/05/16
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APÊNDICE
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1ª Roda:
1.Vocês gostam da sala?
2. Vocês gostam das coisas que estão na sala e o local onde estão arrumados?
3. Gostariam de mudar alguma coisa na sala?
2ª Roda:
1. O que podemos fazer para deixar a nossa sala mais bonita?
3ª Roda:
4ª Roda:
1. Qual o brinquedo/ brincadeira que vocês mais gostam de brincar na sala?
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