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Sumário

0. Sobre Bernardo Stamato


1. Escrita Básica (​Revisado​)
2. Escrita de Contos
3. Diálogos
4. Bloqueio Criativo
5. Envio de Originais
6. Parcerias Literárias (​Novo​)

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Leitura
Foco
0. Sobre Bernardo Stamato

No princípio, a nerdice

E quem apontar algum erro atribuível à minha ignorância não fará grande descoberta, pois não
posso dar a outrem garantias acerca do que escrevo, não estando sequer satisfeito comigo
mesmo. — Michel de Montaigne.

Como nasce um escritor? Certamente seria presunçoso da minha parte tentar responder a uma
pergunta tão elevada. Mas talvez eu possa lhe contar como eu me tornei um escritor. E já aviso
de antemão que também não há uma resposta precisa para tal assunto, por isso tentarei seguir
a ordem cronológica. Então, vou começar pelas minhas origens como um nerd: o videogame —
mais precisamente, o Nintendinho que herdei dos meus irmãos mais velhos.
Veja bem, eu sou nerd. E não sou pouco nerd, sou nerd até o osso. Tão nerd que escrevo
livros de Fantasia Sombria e, quando me questionei sobre minhas origens de escritor nerd, me
dei conta que meu jogo favorito do meu primeiro videogame foi Castlevania — o maior clássico
de Fantasia Sombria dos videogames. Hoje temos Dark Souls, Dragon Age, The Witcher, mas
na década de 80, Castlevania foi o auge do misto entre horror e aventura.
Eu lembro quando minha mãe me deu um cartucho com quatro jogos, Contra, California
Games, Castlevania e um último que eu não me lembro. De tudo que joguei naquele console —
e acredito que joguei bastante coisa —, Castlevania sempre foi meu favorito — apesar de eu
nunca ter chegado muito longe. Lembro do protagonista, Simon Belmont, chegando nos
portões do castelo, os gráficos e sons toscos, mas épicos, deixando claro o perigo que estava
pela frente. Em seguida, os jardins do castelo, com uma música menos suspense e mais
aventura, num cenário simples, que me permitia testar os controles sem me arriscar. Então a
primeira fase, com zumbis, morcegos e sahuagins me perseguindo e me cercando. Para
finalmente o primeiro chefe, um morcego gigante — que eu chamava simplesmente de
“morcegão”. Eu me senti a criança mais corajosa do planeta ao vencer todos esses desafios. A
cada nova fase, sentia o misto de medo e curiosidade, que me impulsionavam a seguir em
frente para derrotar o Drácula. Lógico que eu nunca consegui zerar esse jogo, ele é
infernalmente difícil. Mas fui longe, chegava até ao Monstro de Frankenstein.
Enfim, eu adorei esse jogo e ainda adoro a série como um todo. E é esse o tom de narrativa
que eu mais gosto numa ficção: não tão colorido quanto O Senhor dos Anéis ou Final Fantasy,
não tão visceral quanto It: A Coisa ou Sexta-Feira 13. O foco de Castlevania ainda é a ação,
mas uma ação menos frenética e mais cautelosa. Quer correr e estourar inimigos? Tem Mario,
Sonic e Mega Man. Quer sentir um frio no umbigo enquanto caça os monstros dentro de um
castelo mal-assombrado? Castlevania é um prato cheio. Lógico que Castlevania não foi o único
jogo que eu adorei no Nintendinho, tampouco o único jogo que me influenciou.
Lembro que Contra foi o primeiro jogo que eu zerei — lógico que foi com a ajuda do meu irmão.
Era um jogo de plataformas bem desafiador, como Castlevania, mas em vez de controlar um
guerreiro num castelo mal-assombrado, você controlava soldados ao estilo Rambo enfrentando
uma invasão alienígena. A jogabilidade era bem mais ágil e intensa e era bem mais divertido
jogar no multiplayer — algo que Castlevania não permitia. Acredito que Contra me influenciou
nessa pegada mais ação colaborativa. Eu ainda prefiro histórias em que vários personagens
fazem a diferença, do que apenas um único herói dando conta de todo o recado. Tanto que me
inspirei em Contra — e The Last of Us e Capitão América: O Primeiro Vingador — para
escrever o conto Cavaleiro Branco, que abre meu segundo livro, A Era do Abismo: Crônicas do
Éden. De onde saiu a ideia de um grupo de aventureiros explorando uma ilha misteriosa e
enfrentando invasores cósmicos? Contra + The Last of Us + Capitão América = O Cavaleiro
Branco.
Por último, mas não menos importante, Street Fighter 2 é uma das minhas principais
inspirações para escrever — acredite se quiser. E sim, o Nintendinho teve uma versão do
Street Fighter 2. Era muito tosco! Só dava para jogar com Ryu, Guile, Chun Li e Zangief e eu
nunca cheguei a zerar porque era muito difícil — mas passava horas no versus com meu irmão.
Minha mãe deve ter se arrependido de dar esse jogo para a gente, porque nosso tio tinha um
Mega Drive com o jogo de verdade e nós passamos a implorar um Mega Drive aos nossos pais
— que o meu avô acabou dando de aniversário para o meu irmão. Enquanto Castlevania foi
meu jogo favorito do Nintendinho, Super Street Fighter 2 foi o meu favorito do Mega Drive.
Enquanto Castlevania e Contra tinham poucas opções de personagens, Street Fighter já trazia
de cara quatro lutadores (e a versão de Mega Drive chegou ao total de dezesseis), o que é um
bom exemplo de pluralidade no elenco. E boa parte do elenco do meu primeiro livro veio de
Street Fighter. Sendo bem específico: Ryu, Ken, Chun Li, Guile e Rosa inspiraram Draco,
Gladius, Zhi Wu, Alberich e Rosa, respectivamente.
Dois dos meus jogos favoritos de todos os tempos também tiveram origens no Nintendinho,
mas eu só fui descobri-los na adolescência: Final Fantasy e The Legend of Zelda. Eu zerei o
primeiro Final Fantasy na versão de PSP e o primeiro Zelda num emulador de Nintendinho —
usando e abusando do “quick save”. Mas eu joguei essas versões mais por nostalgia e para
descobrir as origens de duas franquias que amo. Com certeza seus jogos não tão antigos,
como Final Fantasy 6 e Ocarina of Time, me influenciaram muito mais do que suas origens
arcaicas.
O Cavaleiro do Caos é outro conto que escrevi cheio de inspirações em videogames. O
começo é inspirado na primeira missão de Final Fantasy 1, quando heróis brotam sem nenhum
contexto num reino fantástico e partem para resgatar uma princesa. A Máscara da Verdade é
mistura da Majora’s Mask e Mask of Truth dos jogos The Legend of Zelda do Nintendo 64. O
Cavaleiro do Caos “despencando” — e um bocado da ideia da jornada dele — veio da franquia
Kingdom Hearts. A cena do flashback se inspirou na introdução do Final Fantasy X e o “ser
dourado” se inspirou no conceito de Weapons da franquia Final Fantasy num geral. E a
escadaria foi inspirada na introdução de Kingdom Hearts 2 — e o duelo da princesa no
videoclipe da música Die Another Day da Madonna. Como eu disse, sou nerd até o osso.
Bom, eu certamente não comecei a escrever por causa de nenhum desses jogos, mas foi com
eles que eu comecei a me tornar um nerd. E sinceramente acho mais do que natural que os
videogames influenciem tanto o meu livro. Os autores do passado não se inspiravam apenas
na literatura, com certeza o teatro e a música sempre dialogaram com a escrita fictícia.
Posteriormente, a televisão e o cinema passaram a influenciar também. E a geração atual de
escritores cresceu jogando videogame — como por exemplo Taran Matharu, bestseller
britânico que declara abertamente como Pokémon e Skyrim inspiraram sua série O Conjurador.
O brasileiro Raphael Draccon, diga-se de passagem, emula cenas de jogos em vários de seus
livros. Hoje em dia, cinema, videogame, histórias em quadrinhos, música, teatro e literatura
estão em diálogo constante, nenhum escritor se baseia unicamente na literatura para escrever.
E com certeza as gerações vindouras terão a internet, o smartphone, o Netflix, o YouTube e o
que mais surgir como referências.
Então digo seguramente que meu Nintendinho foi minha primeira nerdice e seus jogos foram a
minha primeira inspiração para contar histórias. Seja com a fantasia sombria de Castlevania, a
ação cooperativa de Contra ou a pluralidade de elenco do Street Fighter, a nerdice faz parte
essencial da minha vida, o que é no mínimo bastante divertido.

Da nerdice para a leitura


“Não devemos nos questionar porque algumas coisas nos acontecem e sim o que podemos
fazer com o tempo que nos é dado.” — J. R. R. Tolkien.

Videogame não forma escritores, apenas os livros têm esse poder. Diferente de muitos colegas
escritores, eu não fui uma criança leitora. Não devorei a biblioteca da escola, não desbravei
páginas e mais páginas, céus, eu detestava ler. Desculpa, mas minha vida de leitor não
começa como a maioria das outras.

Começando a ler

Minha vida de leitor começa — adivinhe só — nos videogames. Ao longo da infância e


adolescência, joguei muita coisa e criei gosto pelos RPGs eletrônicos, especialmente a série
Final Fantasy. Acontece que os videogames se inspiram muito em mitologia e literatura.
Dragões, fadas, demônios, a maioria das criaturas que matamos nos jogos tem origens na
mitologia. Sem falar nos jogos inspirados diretamente em literatura, como The Witcher, Metro
2033 e até O Guia do Mochileiro das Galáxias. Céus, existe até um MMORPG inspirado em
Jane Austen.
E como eu já conhecia bastante de videogames, comecei a reparar que várias criaturas dos
jogos apareciam em filmes, séries e animes que eu assistia. Lembro especificamente de
assistir Beowulf no cinema — era 2007, eu tinha 19 anos — e quando citam o monstro Grendel,
pensei na hora “conheço esse nome, vai dar ruim”. Adorei o filme e saí curioso para relembrar
onde tinha ouvido esse nome antes — a resposta foi Final Fantasy. Então pesquisei nomes de
outras criaturas, como Abadom, Quetzalcóatl, Shiva e descobri que muitas das criaturas que eu
conhecia através dos jogos vinham das mais diversas mitologias. Eu já tentava ler desde o
Ensino Médio, mas num ritmo bem insatisfatório — hoje sei que tenho déficit de atenção. Mas
foi nessa ocasião que minha fome por livros se intensificou.
Isso mesmo, só aos 19 anos. Daí em diante foi tudo muito rápido. Li tanto sobre Mitologia
Grega, que comecei a achar os livros repetitivos — não sou doutor no assunto, mas sei
bastante. Li também sobre Mitologia Nórdica, Celta, Iorubá e um pouco de cada continente do
nosso mundo. Depois comecei a ler Tolkien, o autor que influenciou praticamente toda a
literatura fantástica contemporânea. Mas o primeiro livro de literatura que adorei de verdade foi
O Inimigo do Mundo, do Leonel Caldela. Ainda aos 19 anos, escrevi meu primeiro conto, vou
contar em detalhes mais para frente.
Do Videogame para a Mitologia

O Livro de Ouro da Mitologia é uma leitura excelente sobre mitologia… grega. São várias
lendas, algumas famosas, outras nem tanto, mas é quase tudo — tipo ¾ — só sobre cultura
greco-romana. No finalzinho tem alguma coisa sobre mitologia nórdica e só. O título deveria ser
O Livro de Ouro da Mitologia Grega, mas se você quer uma leitura básica, divertida e simples
sobre esse assunto em específico, pode ir sem medo.
Curiosamente um dos melhores livros sobre mitologia que já li foi Divindades e Semideuses, do
D&D 3ª Edição, infelizmente fora de linha. O livro dá um excelente resumo sobre mitologia
grega, nórdica e egípcia, uma ótima leitura até para quem não é rpgista — é só ignorar as
estatísticas de jogo. Afinal, o Filhos do Éden: Universo Expandido do Eduardo Spohr também
inclui estatísticas de RPG e aposto que a maioria dos fãs do autor não joga, não é?
Outra ótima referência mitológica é a Enciclopédia de Mitologia de Marcelo Del Debbio. Esse
calhamaço parece um dicionário de heróis, entidades e deuses de inúmeras mitologias —
grega, nórdica, egípcia, iorubá, indígena, cristã, tudo. Por citar literalmente milhares de
personalidades, as informações são bem resumidas, mas com certeza norteiam o leitor e
podem ser o pontapé inicial para pesquisas mais complexas.
Acredito que toda essa leitura sobre mitologia me influenciou quando fiz questão de usar várias
fontes para criar o mundo do meu livro. Pesquisei mitologia grega, nórdica, japonesa, até
filipina para criar os personagens e as criaturas. Afinal, se um escritor é capaz de criar um
mundo fértil, é porque ele também buscou inspirações diversificadas.

Da Mitologia para a Literatura

Dando um passo para longe de mitologia e nos aproximando da literatura, lógico que eu não
quis ficar só em pesquisas e quis conhecer também as narrativas. Um dos primeiros livros que
eu li e adorei foi A Canção de Tróia, que narra a guerra entre Grécia e Tróia, mas de uma
perspectiva mais humana e menos fantástica. Os deuses são abstratos e as bestas lendárias
são apenas animais do nosso mundo real — como os pégasos, uma unidade de corcéis
exemplares. Cada capítulo é narrado por um herói diferente, a saga é contada desde as
intrigas diplomáticas que motivaram a guerra até a divisão dos espólios, e vários temas
polêmicos, como a religiosidade da época, a brutalidade da guerra e a homossexualidade dos
gregos, são tratados da forma como devem ser tratados: natural, espontânea, parte da nossa
história e da nossa natureza humana.
Gosto de livros que pegam lendas e mitos e trazem para um contexto histórico. Outro bom
exemplo disso é a trilogia Crônicas de Artur de Bernard Cornwell. Quando li o primeiro livro, O
Rei do Inverno, achei chato e cansativo e larguei antes da metade. Como eu tinha consciência
de que estava ainda desenvolvendo o hábito de ler, devolvi o livro para a estante e decidi
retomá-lo depois. E quando o fiz, adorei cada página.
Cornwell pegou os fatos comprovados sobre a história da Inglaterra e traduziu num romance
épico e visceral. Sacerdotes de religiões diferentes disputam sua fé, mas o leitor pode
interpretar como preferir: poderes místicos colidiram de fato ou foi apenas a crendice em ação?
Artur, Merlin, Morgana, Lancelot, cada um dos personagens arturianos é apresentado de forma
renovada e intrigantemente plausível. No fim do romance, Cornwell explica cada fato real que
narrou e cada licença poética que precisou tomar — principalmente para personagens
famosos, mas questionáveis, como Merlin e Lancelot.
Outro passo maior que a perna que dei nessa época foi tentar ler Contos Inacabados, de
ninguém menos que J. R. R. Tolkien. Diferente de O Rei do Inverno, eu li Contos Inacabados
até o final, não gostei e depois continuei não sendo fã da escrita de Tolkien. Gosto do mundo
que o Tolkien criou, mas não da narrativa dele. Contos Inacabados reunem rascunhos e
fragmentos que o Tolkien não concluiu, sendo uma leitura excelente para os fãs de O Senhor
dos Anéis e para quem quiser conhecer melhor como que um dos escritores mais famosos de
todos os tempos trabalhava, mas é uma leitura bem cansativa e me entediou bastante.
Através da leitura desses clássicos internacionais, comecei a descobrir o que gosto e o que
não gosto numa narrativa. Gostei dos múltiplos personagens e da naturalidade como certos
temas foram abordados n’A Canção de Tróia, gostei do mundo áspero e estoico que Bernard
Cornwell elaborou e não gostei da prolixidade de Tolkien.

Da Literatura Internacional para a Literatura Nacional

Foi nessa época que descobri meu gosto por literatura nacional. Eu não lembro qual livro li
primeiro, A Canção de Tróia ou O Inimigo do Mundo, mas com certeza esses foram os
primeiros livros que adorei. O Inimigo do Mundo, por sua vez, fica num lugar especial no meu
coração e Leonel Caldela é meu escritor favorito.
Eu já falei minha opinião sobre a Trilogia Tormenta em textos e vídeos pela internet, mas vale
falar um pouco sobre o elenco criado por Cadela e todo o mundo de Arton. Caldela é um belo
exemplo de como fazer personagens que parecem pessoas reais, de carne e osso, com suas
motivações, suas peculiaridades e seus defeitos e ele também soube explorar o cenário de
Tormenta, várias cidades, masmorras e desafios, cada um único a sua própria forma. Tormenta
é minha saga favorita e O Inimigo do Mundo é um livro de estreia épico em todos os sentidos.
Outro livro que adorei instantaneamente foi O Espadachim de Carvão do Affonso Solano.
Diferente da maioria, que segue arquétipos e mitos, Solano busca inspiração em obras
inusitadas e cria um mundo tão único, que os fãs se deleitam em debater se é uma fantasia ou
uma ficção científica. O Espadachim de Carvão é a aventura de um herói clássico num mundo
estranho e hostil, uma narrativa enérgica num universo singular, uma lufada de ar fresco para
os leitores acostumados a leituras tão repetitivas que temos por aí.
Depois de Caldela e Solano, decidi ler um certo livro que todo mundo estava falando, A Batalha
do Apocalipse. Eduardo Spohr fez um excelente trabalho em criar um universo baseado em
várias mitologias reais, mas sem medo de usar a própria interpretação e basicamente revirar
tudo de cabeça para baixo. A Batalha do Apocalipse é cheio de aventuras e batalhas cósmicas
e a sequência, a Trilogia Filhos do Éden, mostra como um autor pode evoluir em sua própria
jornada.
Caldela, Spohr e Solano são três dos melhores autores da atualidade. Você já deve ter ouvido
falar que muito se perde na tradução, e a vantagem de ler nacionais é que eles já falam no
nosso idioma. Impossível um livro traduzido ser tão espontâneo ou sarcástico quanto um
nacional, simplesmente porque o brasileiro já usa os maneirismos e os trejeitos do nosso dia a
dia. Sem falar que poder ir num evento e papear com um autor nacional é uma experiência
única, convenhamos.

Da Literatura para o RPG

RPG é um tema bem específico, muito possivelmente você que está lendo nem joga, mas o
hobby faz parte da minha vida de leitor, então falarei brevemente dos meus favoritos.
Já falei um bocado de Tormenta RPG, então não deve ser surpresa eu falar que é o meu
cenário favorito. Fantasia Medieval e Horror Cósmico, como não amar? Mas Tormenta é mais
do que isso, os livros falam de magia, de guerras, de piratas, ilhas pré-históricas, enfim,
Tormenta é o maior mundo fictício nacional, são décadas de publicações, dezenas de livros de
RPG, quatro romances, duas coletâneas de contos, vários mangás, um jogo digital… É muito
improvável que você não se apaixone por nenhuma dessas obras.
Ravenloft é a minha aventura de D&D favorita. A aventura Castelo Ravenloft é inspirada no
Conde Drácula, mas o reino de Baróvia e o antagonista Conde Strahd Von Zarovich são
apavorantes e apaixonantes ao mesmo tempo e o jogo apresenta variáveis que permitem que o
mesmo grupo jogue a aventura diversas vezes, sempre tendo experiências novas. A aventura
fez tanto sucesso, que Ravenloft se tornou um mundo inteiro, um cenário gótico onde o mal
sempre vence e você simplesmente nada contra a correnteza até seu inevitável fim trágico. Ler
sobre os Domínios do Medo com certeza me dá várias ideias divertidas para torturar e
assombrar meus personagens.
Dragon Age é o meu jogo favorito da atualidade e Dragon Age RPG é um dos melhores RPGs
de mesa dos últimos tempos. As regras são simples, dinâmicas e divertidas e os reinos, a
cosmologia e os personagens são fascinantes. Enquanto Tormenta puxa mais para o Horror
Cósmico e Ravenloft mergulha de cabeça no gótico, Dragon Age é um mundo medieval com
muitos dragões e demônios e poucas esperanças, sendo a Fantasia Sombria em seu primor.
Numenera foi o RPG que me pegou de surpresa. Ganhei o livro num concurso, comecei a ler e
viciei nesse calhamaço. O mundo é o equilíbrio perfeito entre Fantasia Medieval e Sci-fi: a
civilização é feudal, mas os reinos foram erguidos em cima de milhões de anos de tecnologias
perdidas, esperando para serem desenterradas e redescobertas. Não existe magia, existe itens
tecnológicos misteriosos e os aventureiros que fazem uso, sem nunca de fato compreendê-los.
Numenera, assim como Kurgala, é um mundo onde o divertido é explorar os mistérios sem
desvendá-los por completo. É impossível compreender as civilizações do passado e sua
tecnologia surreal. O que nos resta é usá-la a nosso favor e sobreviver aos monstros,
autômatos e alienígenas que agora dividem o nosso mundo.

Surpresas e frustrações como leitor

Também tiveram livros que me surpreenderam — no bom e no mau sentido. Eu imaginei que
iria adorar os livros inspirados nos videogames, mas nenhum está entre meus favoritos. World
of Warcraft, Diablo, God of War, Assassin’s Creed, todos são muito mais merchandise do que
uma boa leitura. Se você gostar de jogar e de ler, pode gostar de um desses livros, mas não
são boas leituras nem para conhecer esses jogos e nem para o jogador conhecer a literatura.
Por outro lado, torci o nariz para alguns livros, que adorei no final. Especialmente dois livros
nada a ver com o meu gosto individual. Philomena é um livro baseado em fatos reais, que
inspirou o filme homônimo, indicado a vários prêmios, como Oscar e Globo de Ouro. É a
história de uma mulher que foi obrigada a entregar o filho à adoção pela igreja irlandesa.
Depois de décadas, ela decide contratar um jornalista para investigar o paradeiro do filho
perdido. Enquanto o filme retrata a busca da mãe idosa, o livro foca na história do menino. É
trágico, é emocionante e é real, impossível não adorar.
O Livro de Julieta, por sua vez, é os relatos de uma mãe com sua filha com Síndrome de Down,
sua vivência, os desafios e a dificuldade de aceitar a própria criança. Numa página, você ri da
espontaneidade de Julieta, e na outra, você engole em seco com a inevitável amargura da
mãe, que batalha contra os próprios sentimentos de rejeição.
Eu li esses dois livros por obrigação e adorei ambos. Vida de leitor é assim, a gente se frustra
com livros que pareciam incríveis e se surpreende com leituras nada a ver com nosso perfil.

Vida de leitor

Falei muito e falei pouco ao mesmo tempo. Se eu falasse de cada autor que me influenciou,
como Stephen King, Kafka, Saramago, Renata Ventura, Raphael Draccon, André Vianco e
muitos outros, daria para escrever um livro por si só.
Vida de leitor é um caminho sem volta. Já li de tudo um muito, desde mitologia e fantasia, até
biografia e estudos acadêmicos. Acredito que leitura é a melhor forma de experimentar
histórias, pois abre espaço para a criatividade complementar a narrativa de forma que cinema e
videogame não permitem. Talvez esse tenha sido um dos motivos de eu ter me tornado
escritor.

Da leitura para a escrita

“Se você vai tentar, vá até o fim. Se não, nem ao menos comece.” – Charles Bukowski.

Decidir ser escritor é um divisor de águas na vida de uma pessoa. É um ato de bravura,
audácia e esperança. Por isso estou compartilhando com você o começo da minha carreira.
Acredito que cada pessoa tem sua própria jornada e é a singularidade de cada um que torna
sua história especial. Sendo assim, primeiro eu me tornei um nerd, depois eu me tornei um
leitor — um tanto tarde, confesso — e enfim eu decidi ser escritor. O ponto de virada foi um
telefonema que mudou a minha vida, mas vou começar pelo começo.
Eu tinha uns 21 anos e cursava História na UERJ quando a Devir Livraria lançou o concurso
cultural Eu, Criatura, onde cada participante poderia enviar até três contos ambientados no
Mundo das Trevas, sistema de RPG de terror. A principal regra era que o personagem-narrador
deveria ser uma criatura das trevas, um vampiro, lobisomem, mago etc. Eu nunca tinha escrito
ficção na minha vida, mas não tinha nada a perder e tentei a sorte.
Ao todo foram mais de cem contos inscritos de todos os estados do país e minhas chances
eram mínimas. Confesso que nem sequer havia jogado aquela edição do RPG, havia jogado
apenas o Vampiro: A Máscara anos antes. Céus, eu nem tinha nenhum livro dessa edição. Eu
peguei um livro emprestado de um amigo, li metade, escrevi um conto e enviei. Com certeza
haveria outros participantes com mais experiência tanto em escrita quanto no Mundo das
Trevas.
Escrever aquele conto foi uma experiência pitoresca. Lembro quando a ideia veio: eu estava
entrando no meu prédio tarde da noite, a luz do corredor começou a piscar e eu pensei “nossa,
esse é o cenário perfeito para uma cena de assassinato”. Subi no elevador e entrei no meu
apartamento com a cena na minha cabeça e o conto começou a surgir. Acho que foi minha
ideia mais genuína, porque ela não surgiu lendo um livro, jogando videogame ou vendo tevê.
Surgiu do nada, em um momento real, soturno e corriqueiro ao mesmo tempo. Depois disso, só
precisei fazer algumas adaptações — como decidir qual seria a criatura das trevas narradora —
e pronto, eu tinha a minha história.
Lembro também que havia planejado três contos, escrevi dois, mas um ficou grande demais
para os limites do concurso, não tive tempo de revisar por conta da faculdade, tive menos
tempo ainda para escrever um terceiro e acabei enviando só um. Lembro até de mandar o
e-mail, não receber confirmação, ficar paranoico achando que a internet estava com problema,
correr para a faculdade, tentar por lá e enviar o e-mail por mais de um servidor diferente até um
deles receber a confirmação. Depois me achei bobo pela preocupação, hoje agradeço por ter
sido tão precavido.
O tempo passou... e absolutamente nada aconteceu. O dia de anunciarem os vencedores veio
e foi, o site da Devir cricrilava e eu simplesmente assumi que não havia ganhado nada, como
era de se esperar. Até o dia que eu estava dormindo no ônibus a caminho da faculdade —
provavelmente de boca aberta e roncando — e meu telefone tocou. Estranhei o DDD de São
Paulo e atendi ainda sonolento.
— Alô...
— Alô, Bernardo? Aqui é a Zanini, da Devir, tudo bom?
Fiquei sóbrio na hora.
— Alô, oi! Tudo!
— Você participou do concurso cultural Eu, Criatura, né?
— Sim, participei.
— Você olhou o seu e-mail recentemente?
— Acho que sim, por quê?
— Então, Bernardo, você venceu o concurso.
— O quê?
— O concurso Eu, Criatura. Você é o Bernardo, né? Escreveu o conto Aberração na Coleira.
— Sim, sim, sou eu. Mas eu fiquei em segundo lugar? Terceiro?
Risos do outro lado da linha.
— Não, Bernardo. Você ficou em primeiro lugar.

Eu pirei.
Fiquei tão incrédulo que achei que era trote — o que arrancou mais risadas da Zanini. Cheguei
na faculdade, ignorei minha aula e corri para um computador para abrir meu e-mail e estava lá.
Primeiro lugar com o primeiro conto que escrevi na vida.
Contei para a minha namorada da época e decidimos matar aula para comemorar. Antes de ir
para casa, encontrei dois amigos, sendo um deles aquele que havia me emprestado o livro e
mostrei o e-mail para eles também. Nisso, minha mãe já estava me ligando, me dando bronca
porque estava tarde e eu tinha aula cedo dia seguinte. Cheguei em casa, ela queria conversar
comigo e eu peguei meu notebook enquanto ela me dava bronca. Quando ela terminou, eu já
estava com o e-mail do concurso aberto e mostrei para ela. Pronto, acabou a bronca, ela me
deu os parabéns e eu terminei o dia com minha mente em ebulição — acho que está em
ebulição até hoje.
Eu sempre tive uma vontade reprimida de escrever livros, mas repetia para mim mesmo que
era uma carreira muito arriscada e que não valia a pena. Tudo havia mudado naquele
momento: agora, era inegável que eu tinha algum potencial, então decidi arriscar. Decidi mudar
de carreira e ser escritor.
Vários blogues de RPG comentaram o concurso e eu conheci muita gente na época. Sou muito
agradecido à Zanini, em especial, por todo o nosso diálogo e por tudo que aprendi enquanto
revisávamos meu conto — reconheço que eu devia ter teimado menos com ela. Outras
pessoas foram — felizmente — passageiras, mas me mostraram o ecossistema do mercado
editorial brasileiro. Devo ter um certo pé atrás com e-zines até hoje por causa disso — e agora
planejo lançar uma e-zine, irônico, não?
De lá para cá, muita coisa aconteceu. Hoje, sou formado em Letras, pós-graduado em
Produção Textual, trabalhei com roteiros para YouTube e sou pai. O mercado editorial também
mudou, mas aprendi muito, aprimorei minha escrita, conheci pessoas, escrevi muitos contos, já
publiquei dois livros da saga A Era do Abismo e estou a caminho do meu primeiro livro de
Horror Psicológico, intitulado Pesadelos Através do Espelho.
E agradeço a você por ter lido até aqui. Seja você um leitor que teve a curiosidade de saber
como foi o começo de carreira de um autor brasileiro ou um escritor em busca de inspiração,
somos nós que mantemos a chama da cultura — e também do entretenimento — acesas.
1. Escrita Básica

Escrever um livro é uma tarefa árdua e complexa. Ouso dizer que a distância entre um
romance e uma redação básica é similar à distância entre estudar cálculo na faculdade e
aprender a somar e subtrair na escola. E tanto quanto um aluno precisa aprender contas
básicas antes de aprender cálculo, um escritor precisa praticar escrita básica antes de narrar
suas histórias.
Com certeza esse não é o assunto mais empolgante do mundo, mas é aqui que separamos as
crianças dos adultos e adultas. Gente grande sabe a importância de se dedicar ao máximo e
sempre buscar melhorar da mesma forma que um lutador faixa preta sabe a importância de
praticar os mesmos fundamentos que os faixas brancas — apesar da diferença de experiência
e compreensão do assunto —, enquanto faixas azuis e amarelas desprezam tais fundamentos.
Seja você um escritor ou escritora que ainda está começando a botar suas primeiras histórias
no papel ou se já tiver publicado um ou mais livros, esse artigo vai ser enriquecedor para você.

Como elaborar uma frase

Recentemente, eu li um livro com parágrafos muito longos e que se perdiam ao transitar entre
assuntos, resultando numa apresentação de ideias disforme e confusa. Uma solução para
aquele escritor em específico poderia simplesmente ser acrescentar pontos finais ao longo dos
parágrafos para que ele pudesse organizar melhor cada ideia. Ou seja, uma simples
elaboração de frases.
Para escrever um livro coerente e prazeroso, é necessário saber escrever parágrafos
coerentes e prazerosos. E para tal, é necessário escrever frases coerentes e prazerosas. Por
isso é importante praticar o simples e o básico primeiro.
Você já deve saber, mas não custa repetir. Uma frase é formada por sujeito, verbo e
complemento. Exemplo simples: o seu personagem favorito morre no final do livro. “O seu
personagem favorito” é o sujeito e “personagem” é o núcleo do sujeito. “Morre” é o verbo. “No
final do livro” é o complemento.
Perceba que não tem vírgula nessa frase. Não vou me alongar nesse tópico, então a dica é: só
inclua vírgula quando souber que ela é necessária. Na dúvida, não inclua vírgula. Geralmente a
vírgula é usada quando mudamos a ordem da frase. Exemplo: no final do livro, seu
personagem favorito morre — ou seu personagem favorito, no final do livro, morre. Recomendo
que pratique frases mais simples, seguindo a ordem de sujeito, verbo e complemento até sentir
que consegue expressar suas ideias com clareza seguindo essa lógica básica. Como tudo na
vida, a gente primeiro pratica o simples e depois avança para o mais complexo. Não dá para
fazer bife à parmegiana sem antes aprender um bom feijão com arroz, não é mesmo?
Falando em praticar, você provavelmente está achando tudo isso fácil demais, então sugiro que
pratique enquanto lê. Escolha um tema — que tal a sua opinião sobre seu livro favorito? — e
escreva uma frase simples. Em seguida, vamos transformar essa frase simples em um
parágrafo e por fim vamos transformar o parágrafo em redação. Assim, esse artigo deixa de ser
apenas um beabá e se torna também uma aula prática.

Como elaborar um parágrafo

Uma frase esclarecida pode transmitir uma ideia sucinta, uma informação pequena que pode
transmitir tudo o que for necessário de uma vez só ou que pode fazer parte de um contexto
maior. Se a informação está completa em uma frase, não há a necessidade de encher linguíça.
Mas se a frase faz parte de um parágrafo maior, precisamos nos preocupar com a construção
das ideias apresentadas.
Acredito que a chave para um bom parágrafo é o tópico frasal. Não quero ser técnico demais,
então vou simplificar. Tópico frasal é basicamente o assunto do qual se trata a frase. Se eu
começo falando “seu personagem favorito”, espera-se que a frase seja sobre o seu
personagem favorito. Como o exemplo é simples, isso fica bem óbvio, mas a situação pode
ficar complicada numa frase de três linhas ou mais.
Além do tópico frasal, coerência e coesão também são importantes. Coerência é quando as
ideias fazem sentido e coesão é quando a gramática faz sentido. Exemplo: acordei, levantei,
bebi café, escovei os dentes. Essa frase teve coerência porque você entendeu a lógica das
ações, mas não teve coesão porque são apenas ações soltas. Outro exemplo: acordei e
levantei do meu saleiro, peguei miopia e cheguei ao processo civil. Essa frase teve coesão
porque a gramática está correta, mas não teve coerência porque as ideias não fazem sentido.
Lembre-se desses dois elementos principalmente quando for revisar o que escreveu.
Dito tudo isso, minha recomendação para escrita de um parágrafo básico é: uma frase de
introdução, três frases de argumentação e uma frase de conclusão. A introdução apresenta a
ideia que vai elaborar, a argumentação explana a ideia e a conclusão a encerra. É lógico que
você pode ter mais ou menos frases, que pode só explicitar o tópico frasal na conclusão e fazer
todo tipo de mistura que quiser, mas como eu disse e não canso de repetir: pratique e aprimore
o básico primeiro, depois invente suas doideiras.
Usando o nosso exemplo inicial:
“O seu personagem favorito morre no final desse livro. O autor decidiu encerrar sua história
com a morte de um personagem marcante para causar impacto emocional aos leitores. A morte
também serve de gancho narrativo para conectar com o próximo livro. Esse tipo de desfecho
assume o risco de frustrar uma parcela dos leitores em prol de cativar intensamente um número
ainda maior de fãs dedicados. Os leitores apresentaram opiniões favoráveis sobre a conclusão
do livro.”
Perceba que usei o modelo de sujeito, verbo e complemento e que não usei nenhuma vírgula
no parágrafo. Apenas cinco frases sequenciadas que elaboram o tema. Se eu fosse escrever o
mesmo parágrafo sem me preocupar em manter cada frase simples, ficaria assim:
O seu personagem favorito morre no final desse livro. O autor decidiu encerrar sua história com
a morte de um personagem marcante para causar um impacto emocional aos leitores,
aumentando as expectativas por uma sequência. Falando em sequência, a morte também
serve de gancho narrativo para conectar com o próximo livro. Esse tipo de desfecho assume o
risco de frustrar uma parcela dos leitores em prol de cativar intensamente um número ainda
maior de fãs dedicados. Até agora, os leitores apresentaram opiniões favoráveis sobre a
conclusão do livro.
Sua vez de botar a mão na massa. Pegue a frase que você formulou anteriormente e use-a
como introdução de um parágrafo maior, adaptando-a, se necessário. Perceba que minha frase
dizia “final do livro” no começo e agora disse “desse livro”, pois precisei modificá-la para se
encaixar melhor no parágrafo. Experimente também escrever uma versão mais simples,
seguindo a fórmula básica, e depois uma versão mais livre, usando conectores, adjuntos
adverbiais e o que mais desejar.

Como elaborar um texto

Agora que já falamos sobre escrever frases e parágrafos, estamos prontos compreender a
escrita do texto.
O primeiro passo para escrever um bom texto é rascunhar o seu esqueleto. Liste “rascunho,
argumento 1, argumento 2, argumento 3 e conclusão” e então escreva o assunto — tópico
frasal — de cada um desses parágrafos. É claro que você pode ter mais ou menos argumentos
dependendo do texto, eu só acho que três é o mínimo. Exemplo:

Introdução: Morte de personagens como ferramenta narrativa


Argumento 1: Impacto emocional.
Argumento 2: Gancho narrativo.
Argumento 3: Frustrar ou cativar leitores.
Conclusão: Mais prós do que contras.

Particularmente, nunca gostei de escrever rascunhos. Desde o colégio, sempre fiz o esqueleto
do texto e partia direto para a escrita. E sempre tirei boas notas com esse método. Hoje, eu
sigo esse modelo tanto para textos dissertativos quanto para narrativos, como já demonstrei
em aulas práticas — ​https://www.youtube.com/watch?v=lhrGkma8VsI​. Como sempre escrevo
direto no computador, acho fácil reajustar tanto as ideias quanto a ortografia e vocabulário
durante as revisões.
O “passo a passo” basicamente é: primeiro, montar o esqueleto do texto; segundo, escrever
parágrafo por parágrafo, frase por frase, palavra por palavra, sempre relembrando os
fundamentos básicos da escrita; terceiro, revisar tudo.
Recomendo que primeiro bote as ideias no papel — ou na tela —, sem perfeccionismo em
relação a ortografia, vocabulário e afins. A princípio, você foca em expressar as ideias. Na
primeira revisão, seu foco ainda é o conteúdo. Coloque-se no lugar do leitor e observe se as
ideias estão esclarecidas e de fato levam às conclusões que você deseja. Só depois você
revisa de novo focando na forma desse conteúdo.
Sobre ortografia, recomendo que você instale um revisor ortográfico no seu computador ou use
algum online. O que eu costumo usar é o FLiP direto no meu navegador mesmo — não
confundir com a Festa Literária Internacional de Paraty. Recomendo que use o site do FLiP no
momento da sua última revisão, como uma forma de passar um pente fino na escrita.
Outra dica é ler as frases em ordem inversa. Não ler de trás para frente, por favor! É ler a última
frase, depois a penúltima, depois a antepenúltima e assim vai. Lendo fora de ordem, você sai
do contexto e foca naquele trecho isolado, aumentando sua atenção à escrita em si.
Também é fundamental sempre ter — e tirar — dúvidas. Se eu escrevo e tenho uma pequena
dúvida, já abro o Google e jogo a palavra em questão nele para conferir. Enxergo é com X ou
CH? E encharcado? Exceção é com Ç ou SS? E excesso? Quem diabos decorou todas as
regras de acento na vida? Todos os livros passam por revisão ortográfica profissional
justamente porque não existe escritor impecável. Nosso texto nunca vai ser perfeito, mas
devemos nos esforçar para escrever o melhor possível, por isso precisamos reconhecer que
sempre vamos ter dúvidas.
Outro fator importante na revisão é o vício de linguagem. Todos temos. O meu maior vício de
linguagem é o “mas”. Eu adoro elaborar minhas ideias através de contrastes e até de
contradições. É muito comum eu apertar um “ctrl + F” e pesquisar cada mas, porém, contudo,
entretanto, todavia e não obstante dos meus textos. Lembrando que faço isso na hora da
revisão. Enquanto escrevo, uso o “mas” quinhentas vezes mesmo. Conforme vou revisando, eu
vou polindo, enxugando e reduzindo meus vícios de linguagem. Procure as palavras, termos e
até expressões que você mais repete e se force a variar não só aquele trecho em específico,
mas toda a forma como você constrói uma frase.
Recomendo pelo menos três revisões. A primeira focando só no conteúdo. A segunda focando
no conteúdo e na ortografia. E a terceira focando só na ortografia. E então comece a escrever
seu próximo texto. Você aprimora mais escrevendo textos diferentes do que tentando alcançar
a perfeição — que não existe — em um só. Tão importante quanto seu texto ficar melhor em
cada revisão é o próximo texto ser melhor que anterior.
E, como exercício prático, uma boa ideia é pegar a frase que já virou um parágrafo e usar como
base para escrever um texto. Pode começar agora.

Pratique escrita básica

Como eu disse anteriormente, atletas campeões e astros musicais sabem a importância de


estudar o fundamental. Precisamos estudar Escrita Básica tanto quanto precisamos ler para ter
inspiração e beber água e respirar para viver.
Ouso dizer que a leitura é o que dá inspiração para nossas ideias e a Escrita Básica é o que
exercita a nossa habilidade de dar forma ao nosso conteúdo. Ninguém alcança a medalha de
ouro só assistindo a esportes na televisão, ninguém compõe o próximo hit número 1 só ouvindo
música, tanto quanto ninguém escreve o próximo bestseller só lendo e relendo seus livros
favoritos. A aprimoração é alcançada através da prática e do esforço.
A propósito, já escreveu hoje?
2. Escrita de Contos

Por muito tempo, o Mercado Editorial priorizou a publicação de romances sob o argumento de
que outros gêneros, como contos e poesias, não tinham tanto retorno financeiro. Hoje em dia, o
cenário é outro. Não sei se o público contemporâneo desenvolveu o gosto por leituras mais
sucintas, se a leitura de contos de autores consagrados nas escolas e faculdades influenciou
algo ou se as editoras simplesmente estavam equivocadas. Mas tenho certeza que quase
todos os grandes escritores nacionais e internacionais escreveram contos ao menos em um
período das suas carreiras, que o público está sim lendo narrativas curtas e que os autores e
autoras de hoje deveriam estar escrevendo contos.

Por que todos escritores deveriam escrever contos?

Além do fato dos leitores de hoje estarem interessados em narrativas curtas — seja em
coletâneas, ou em plataformas digitais como Kindle e Wattpad, ou onde for —, contos são a
melhor forma de exercitar a Escrita Criativa.
Suponhamos que você escreva dez mil palavras do seu próximo romance e fique ruim — um
risco especialmente grave para escritores de primeira viagem. As chances são que você queira
jogar essas dez mil palavras no lixo e começar tudo de novo. Mas e, se em vez de começar
direto no romance, você escrever um ou dois contos totalizando também dez mil palavras? O
esforço foi praticamente o mesmo, mas você vai poder avaliar com mais precisão os pontos em
que acertou, os pontos em que pode melhorar e vai ter praticado sua escrita. Seja você autor
ou autora iniciante ou experiente, todos precisamos buscar o aprimoramento e a melhor forma
de praticar é escrevendo contos.
E os escritores e escritoras ainda podem publicar seus contos na internet para alcançar seus
primeiros leitores e receber as primeiras críticas. Graças às plataformas digitais, podemos
escrever e publicar para literalmente o mundo inteiro ler quase que instantaneamente e
acredito que devemos usar todos os recursos disponíveis ao nosso dispor. Por mais que a
gente não queira disponibilizar gratuitamente nosso primeiro livro, uma opção interessante é
justamente escrever contos e publicar na internet para angariar leitores e opiniões, o que dá
experiência e segurança para nossa escrita.
O que não descarta a validade do conto a longo prazo. Sir Arthur Conan Doyle, Robert E.
Howard e H. P. Lovecraft são exemplos de autores que basearam suas carreiras literárias na
escrita de contos e até hoje suas coletâneas são vendidas e suas histórias são adaptadas para
outras mídias. Recentemente li Anacrônicas: Contos Mágicos e Trágicos, da Ana Cristina
Rodrigues, onde a autora juntou diversos textos publicados em revistas e antologias e também
inéditos e publicou como um livro próprio. O conto pode ser escrito e lido em curto prazo, mas
sua validade se estende à eternidade.
Além desses exemplos, você provavelmente já leu algum autor ou autora que se beneficiou
com a escrita de contos ao longo da carreira — talvez a carreira inteira. Tanto internacionais,
como Edgar Allan Poe, Franz Kafka, Julio Cortázar e Charles Bukowski, quanto nacionais,
como Rubem Fonseca, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Dalton Trevisan
e Machado de Assis, é mais difícil encontrar um grande escritor que não tenha escrito contos
do que o contrário. Eu não sei você, mas eu quero que meu nome esteja ao lado dos grandes
futuramente.
Seja para praticar Escrita Criativa ou para pavimentar sua carreira literária, não há motivo para
não escrever contos.

O que define um conto?

Conto é uma narrativa curta e autossuficiente. Se você pesquisar, vai encontrar incontáveis
especificidades e tecnicidades e também um monte de gente dizendo que o conto é “aquilo que
o autor chamou de conto”. Acredito que você deva estabelecer seus próprios critérios à
vontade, sempre lembrando dessas duas palavras: curta e autossuficiente.
O que é uma narrativa curta? Eu já li que um conto tem até 7.5 mil palavras, sendo que eu
tenho um conto com mais de 20 mil palavras. Devemos lembrar que existem romances com
menos de 50 mil palavras e outros com mais de 400 mil. Se o tamanho do romance pode variar
tanto, por que o do conto não poderia o mesmo? Não se apegue aos números e sim ao
conceito.
O que é uma narrativa autossuficiente? Acredito que esse sim é o X da questão. Muitos
escritores têm a ideia de escrever um conto e, quando terminam, percebem que escreveram o
primeiro capítulo de um novo romance. Um conto não pode terminar no começo de uma
história ou depender de qualquer outro texto além dele mesmo. O conto precisa narrar uma
história por si só, independente de qualquer contexto ou narrativa além dele mesmo. Um leitor
precisa ler, entender e gostar do seu conto mesmo que nunca tenha lido nenhum outro texto
seu e que nunca mais venha a ler nenhum outro depois. Acredite, o leitor vai querer ler mais,
se gostar do seu conto — mas ele precisa funcionar como uma história completa e não como
uma parte de algo maior.
Se quiser, você pode pesquisar por explicações mais específicas e até técnicas sobre a
definição de conto, mas como escritor ou escritora, a prática da escrita é o que vai importar no
fim das contas. Escreva, teste, experimente, revise e reescreva até que você encontre o seu
estilo e a sua voz narrativa. Seu foco precisa ser contar as suas histórias do seu próprio jeito.

Como escrever um conto

Sabe aqueles momentos breves, que passam rápido, mas ficam marcados na memória? Esse
é o objetivo de um conto: marcar a memória do seu leitor de forma breve. Existem várias
formas de se alcançar esse objetivo, então recomendo que você leia esse artigo até o final e
experimente cada elemento apresentado a seguir.
O ditado de “menos é mais” prevalece no conto. É desfavorável que a narrativa curta tenha
muitos personagens, se passe por diversas localidades e que transcorra por um longo período
de tempo. O conto precisa focar numa quantidade mínima de elementos para conseguir
elaborar cada um da melhor forma possível.
Uma das maiores vantagens de escrever um conto é que a inspiração pode vir de qualquer
lugar. Pode vir de outro conto que você leu, ou do capítulo de um livro, ou de uma cena de um
filme, ou de uma música etc. Escrever um romance é como minerar e lapidar até formar uma
joia polida, enquanto que escrever um conto é como peneirar a inspiração em busca de um
minério raro. Com certeza você pode encontrar um conto excelente no meio dos últimos textos,
filmes, séries, músicas e jogos que experimentou.
Existe escritores que planejam o romance todo antes de escrever, outros que planejam mais ou
menos e outros que não planejam nada. A respeito de contos, acredito que o final precisa estar
claro antes do começo da escrita. Um conto com um final insatisfatório é como uma comida
bonita, mas com gosto desagradável. Ou uma música que desafina no final. É comum o
desfecho de uma narrativa ficar na nossa memória, seja o fim de uma história ou de um
capítulo. Acontece que, quanto menor a narrativa, mais peso tem o final. Lógico que a
introdução e o desenvolvimento também precisam ser bons, a questão é que acredito que a
melhor forma de escrever introdução e desenvolvimento de bons contos é tendo em mente a
conclusão desde o princípio.
O único excesso saudável é a própria leitura. Ao decidir escrever um conto, nada mais justo —
e coerente — do que buscar ler muitos contos. Antes de escrever, experimente ler contos do
seu gênero favorito tanto para se inspirar em seu conteúdo quanto para começar a perceber a
forma como foram escritos. Isso vai ajudar a elaborar o conteúdo e a forma dos seus próprios
contos.

Os personagens do conto

Naturalmente, o escopo do conto é menor do que o de um romance. Isso significa menos


páginas, menos arcos narrativos e menos personagens, o que é uma boa notícia. Com um
elenco menor, podemos dar mais atenção a cada personagem. Todos devem ser marcantes,
portanto menos — quantidade — é mais — profundidade.
Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, não obstante um elemento nunca muda: cada
personagem precisa ter objetivo. Inclusive, recomendo que o conto priorize um ou uma
personagem e um objetivo. Dedique toda o seu esforço em criar um personagem cativante com
um objetivo esclarecido. Exemplo: no primeiro conto de Witcher, o foco é Geralt de Rívia e sua
missão, sem se aprofundar na história do mundo e nem no passado do personagem. Esses
elementos vieram a ser criados posteriormente, mas com certeza o autor só teve oportunidade
de ir mais longe porque escreveu um primeiro conto sucinto e satisfatório.
E para cativar os leitores com seus personagens e objetivos, é fundamental que a leitura seja
emocionante. Pense em uma emoção principal que o leitor deve sentir. Pode ser medo, paixão,
adrenalina, o que você quiser. O que importa é que essa emoção exploda os miolos do leitor.
Digo por mim mesmo, meu primeiro conto venceu o Concurso Cultural Eu, Criatura porque
ambientava bem o Mundo das Trevas através da melancolia e desesperança. O ditado popular
diz que “romance vence por ponto e conto vence por nocaute” e histórias nocauteiam através
de emoções intensas.
Basicamente, contistas devem apresentar um personagem cativante com um objetivo
esclarecido e narrar sua história de forma emocionante. A narrativa é o que desenvolve
personagem e objetivo e conduz o leitor às emoções. Recomendo que você pense em uma
única cena que informe tudo o que você precisa de uma vez só. Introdução, desenvolvimento e
clímax, ponto final — leu o artigo sobre Escrita Básica, né? Fique bom em fazer o simples
primeiro e vai adicionando mais complexidade conforme for aprimorando. Escreva, pratique e
depois elabore contos com mais cenas, mas que ainda sejam narrativas sucintas.
Lembre-se que o foco de todas as histórias é os personagens. Um elenco cativante é o que
separa uma história emocionante de uma história tediosa. Como o conto é uma narrativa curta,
o ideal é ter menos quantidade de elementos e mais foco em um ou uma personagem.

O cenário do conto

O foco do conto é o personagem, o que não quer dizer que os outros elementos narrativos não
sejam relevantes, como o cenário. Pense em um filme ou numa peça de teatro. Quem conduz a
narrativa são os atores, mas o cenário ainda está presente. Essa lógica pode ser aplicada de
várias formas no conto.
A narrativa pode se passar em um local, como uma casa — ou apenas um cômodo de uma
casa —, a cena de um crime, uma espaçonave, um castelo etc. A vantagem de usar um único
lugar é ter uma única ambientação, ajudando a manter o clima da narrativa. A casa pode ser
confortável ou melancólica, a cena do crime pode ser sombria ou sangrenta, a espaçonave
pode ser um centro de pesquisa ou um veículo de guerra, o castelo pode ser luxuoso ou
decadente e assim por diante. O que importa é conectar a emoção que você quer passar no
conto com a ambientação do cenário para acentuar o clima da narrativa.
O que não impede que o conto se passe em diversas localidades. Eu recomendo que uma
maior quantidade de cenários diminua o detalhamento da descrição de cada um deles para
aumentar ainda mais o foco nos personagens. Escrever entre um a três parágrafos para
descrever um único cenário em um conto está de bom tamanho, porém escrever três
parágrafos para três cenários diferentes totaliza nove parágrafos só de descrição, o que pode
tornar a leitura confusa e/ou cansativa. Imagine uma sala de cirurgia em um hospital. Se esse
for o único cenário, faz sentido descrever cada detalhe, afinal a descrição está ambientando a
narrativa. Mas se esse for mais um cenário entre outros vários, qual é a necessidade de
descrever cada instrumento na bandeja do cirurgião?
E temos também a opção de não usar cenário nenhum. Ou descrever apenas um ou outro
elemento, como citar uma janela ou uma cadeira, mas sem detalhar se o elenco está em uma
casa, apartamento, escritório ou qualquer coisa, ou até mesmo não citar nenhum elemento de
cenário em momento algum. A vantagem de abstrair por completo o cenário é focar ainda mais
nos personagens, descrevendo em cada detalhe a aparência de cada um e dando maior
ênfase nos diálogos e nas ações.
O cenário também pode ser o foco do conto. Talvez seja a casa de uma família ou toda uma
cidade. Nesse caso, podemos pensar no cenário como um membro do elenco. Se os
personagens são um casal de irmãos, por exemplo, a casa onde eles cresceram seria um
terceiro personagem e o foco é a relação e a memória desses três elementos. Ainda assim, o
cenário é um elemento passivo e os personagens são elementos ativos. Como disse
anteriormente, o personagem conduz a narrativa e o cenário serve para ambientá-la.
Lembre-se disso quando narrar um conto a respeito de uma localidade em específico.

Enquanto os personagens conduzem a narrativa, o cenário dá vida ao mundo ao redor deles.

Como concluir o conto

Você já sabe que o conto vence por nocaute, mas agora vamos nos aprofundar nesse tema. A
conclusão do conto precisa explodir os miolos do leitor, ou causar um embrulho no estômago,
ou fazê-lo derreter de amores, ou o que quer que seja. Só não pode ser um final morno, que
não fede e nem cheira.
O golpe mais clássico para levar ao nocaute é o clímax do conto. O momento em que os
piratas abrem o baú do tesouro perdido, em que o agente secreto corta o fio da bomba relógio,
quando a luz do dia desintegra o vampiro etc. O leitor acompanhou a trajetória do seu ou sua
protagonista do começo ao fim na expectativa de que haja uma recompensa no final. Portanto
dê valor ao clímax, dedique todo os seus esforços e esmero para criar um final satisfatório.
Mas o final não precisa ser sempre tão óbvio. E se o baú do tesouro estiver vazio? E se o
agente secreto corta o fio errado? E se o vampiro não desintegrar na luz do dia? O anti-clímax
também pode ser satisfatório. Bom, ao menos satisfatório para o leitor. Não basta encher o
leitor de esperanças e frustrá-las no final. Se o mocinho morre, é bom que a história tenha um
clima mais pessimista, até mesmo impiedoso. Se o casal não fica junto, talvez haja alguma
mensagem interessante a ser aprendida. Se o assassino continua à solta, ele precisa ser um
personagem cativante por si só. Esse é o segredo do bom anti-clímax: frustrante para
personagens, satisfatório para leitores.
Outro tipo de final que funciona bem é as reticências. Um final que não conclui, que apenas
sugere o que pode ter acontecido e deixa a imaginação do leitor completar o resto. Alguns
leitores vão imaginar um final feliz, outros vão imaginar um final trágico, e também vão ter
aqueles que vão preferir ficar só com o “gostinho” das reticências, sem tirar conclusões. E
todos eles vão poder discurtir sobre qual deveria ser o final verdadeiro. Ler é um ato de
imaginar. E nada dá tanto combustível para a imaginação quanto um final em reticências.
Por fim, muitos bons contos terminam com uma grande reviravolta — o “plot twist”. Talvez o
imediato tenha armado um motim contra o capitão pirata que buscava o baú. Talvez o agente
secreto é na verdade um agente duplo. Talvez o vampiro não estivesse caçando o mocinho, e
sim ensinando um novo vampiro a usar os seus poderes, enquanto o próprio protagonista não
consegue aceitar no que se tornou. A reviravolta precisa subverter as expectativas do leitor.
Não basta algo totalmente inesperado acontecer sem mais nem menos. O leitor precisa
esperar um clímax ou anti-clímax e então ser surpreendido com algo interessante, mas
coerente dentro da narrativa. A reviravolta é aquela carta tirada da manga, não um balde de
água fria que cai do nada.
Tanto quanto o final do conto é o momento de tudo ou nada para a narrativa, ele também é o
momento de tudo ou nada para o leitor virar seu fã ou virar a página e esquecer que você
existe.

Contos como parte de uma narrativa maior

É válido esclarecer que, por mais que o conto precise ser uma leitura autossuficiente, isso não
impede que ele faça parte de uma narrativa maior. Então como escrever contos que
complementam narrativas maiores sem perder sua essência autossuficiente? Acredito que
existem três principais opções que funcionam muito bem.
A primeira é o conto que expande personagens. Você pode pegar um ou uma personagem do
seu romance / saga e contar uma história de origem, ou um história que aconteceu durante o
livro enquanto esse personagem estava ausente, ou até narrar o que aconteceu com ele ou ela
depois do fim do livro. Apesar dessa opção parecer fácil, na verdade pode se revelar
desafiadora, porque você vai precisar narrar de forma que não seja redudante para os leitores
veteranos e nem alienante para os novatos. A boa notícia é que leitores são insasiáveis e
sempre querem novas histórias de seus personagens favoritos.
A segunda é o conto que expande o cenário. Você pode escrever um conto que se passa antes
e do seu romance / saga, pode contar uma história que se passar no mesmo cenário, mas em
regiões distantes e inéditas, ou apresentar toda a origem cósmica do mundo em forma de
narrativa. Essa é a opção que dá mais liberdade para a escrita, só não pode ser um conto tão
desconectado que fique irrelevante para o seu cenário. O mais importante é a narrativa reforçar
a ambientação do mundo já apresentado.

A terceira é o conto que expande a própria narrativa. Você pode contar uma história que
aconteceu durante seu romance / saga — como algum ação “por trás das cortinas” de um
antagonista ou coadjuvante —, pode escrever uma história extra que se passa entre um livro e
outro, ou pode renarrar os fatos de um novo ponto de vista. Essa é a opção mais delicada
porque é muito difícil expandir uma história já contada de forma autossuficiente. Seu conto não
pode ser obrigatório para o entendimento da sua narrativa maior e precisa ser compreensível
para quem nunca leu nenhum texto seu antes. Nada de errado em escrever um “capítulo extra”,
só é fundamental compreender que isso não seria um conto.
Um conto como parte de uma narrativa maior é a união perfeita entre o útil e o agradável. Um
leitor novato pode gostar do seu conto e querer ler suas histórias maiores e um leitor veterano
vai adorar retornar aos seus personagens e/ou cenários através de uma narrativa menor.
Contos são uma das melhores formas de ganhar leitores novatos e de evoluir os novatos para
veteranos.

Quem conta um conto aumenta um ponto

A magia da literatura é a sua subjetividade que nos permite reinterpretar infinitas histórias e até
infinitas frases. Afinal, quem conta um conto, aumenta um ponto. Ou seja, a cada conto que
escreve, você vai fortalecer sua escrita criativa, expandir sua carreira literária e ainda fortalecer
seus laços com seus leitores, tudo isso de uma vez só. As possibilidades — e as vantagens —
são infinitas.
3. Diálogos

Nunca conheci um leitor que não gostasse de um bom diálogo. Pelo contrário, os leitores
sempre ressaltam os bons diálogos dos seus livros favoritos. É através dos bate-papos e dos
discursos que os personagens realmente se destacam, não só pelas suas ideias e
divergências, mas também pela forma como se expressam. Os diálogos podem tornar uma
história única — ou pode arruiná-la. A seguir, confira três dicas para melhorar sua escrita.

Por que escrevi esse artigo?

Antes de mais nada, quero contar uma breve história. Eu decidi escrever esse texto porque,
quando comecei minha carreira de escritor, os diálogos eram o meu ponto fraco. Meu
Calcanhar de Aquiles.
Sei disso porque já havia ganhado um concurso cultural, mas com um conto quase sem falas.
Então, na faculdade, por coincidência — e um pouco de mérito —, eu passei a ser visto como o
aluno que escrevia bem. E uma professora pediu para ler um conto meu. Eu escrevi, mostrei a
ela e fui elogiado. Com um porém: os diálogos não estavam muito bons.
Eu meio que já sabia que tinha essa dificuldade. Num paradoxo irônico, sempre adorei ler
diálogos, mas quando fui escrever, eles foram minha maior dificuldade. Se eu continuasse a
escrever sabendo que as falas dos meus personagens não estavam boas o suficiente, não me
sentiria um autor bom o suficiente. Eu precisava resolver essa questão.
E o que fiz? Estudei. Li um livro sobre o assunto, pesquisei na internet e pratiquei. Pratiquei
muito. E continuo praticando. Posteriormente, outros professores pediram para ler meus
contos. E passaram a elogiar os diálogos. Hoje, com dois livros publicados, os leitores e críticos
literários costumam ressaltar a qualidade dos diálogos também.
Por isso tenho certeza que sempre podemos melhorar. Podemos pesquisar, estudar e
exercitar. Podemos transmutar fraqueza em força. Se eu saí de um futuro escritor com diálogos
fracos para um escritor publicado com bons diálogos, acredito que todos podem melhorar, seja
um iniciante ou um expert. Se você também busca melhorar sempre, boa leitura.

Não seja formal demais


Nossa fala é essencialmente informal. O escritor precisa encontrar o equilíbrio ideal entre a
licença poética para que seus personagens não falem como se estivessem recitando um
manual de instruções e a fidelidade à forma culta padrão para o texto não ficar sobrecarregado
de oralismo. O escritor precisa manter a forma culta padrão durante descrições e narrações,
tanto quanto precisa flexibilizar seu vocabulário durante os diálogos.
O equilíbrio ideal depende de cada escritor, do seu público-alvo de leitores e da história em si.
Uma narrativa contemporânea pode ter mais gírias, enquanto que uma narrativa nos séculos
ou milênios passados pode precisar apenas de uma pequena dose de informalidade para uma
conversa não ficar artificial. Não existe uma tabela de informalidades permitidas ou proibidas ou
qualquer fórmula de bolo aqui, cabe ao escritor praticar e desenvolver a própria voz.
Particularmente, prefiro ler “me passa o sal” do que “passa-me o sal” simplesmente porque
ninguém fala da segunda forma, por mais que seja gramaticalmente incorreto começar frase
com pronome oblíquo. Por outro lado, não gosto de misturar “você” com “tu” — e
respectivamente “seu” e “teu” ou “lhe” e “te” —, então busco usar o “você” sem pronome
oblíquo. Exemplo: não escreveria “você pode me dizer o seu telefone, vou te ligar depois”, pois
o “te” se refere a “tu” e não a “você”, mas também não escreveria “você pode me dizer o seu
telefone, vou lhe ligar depois” porque ninguém falaria assim. Optaria apenas por “você pode me
dizer seu telefone, a gente se fala mais tarde”. Dessa forma, não misturo nada e mantenho a
oralidade.
Outra questão que também rondou minha mente foi usar “para” ou “pra”, “está” ou “tá”, “estou”
ou “tô” e outras abreviações. Nesse caso, decidi sempre usar o “pra” nos diálogos porque me
soa artificial imaginar a voz de um personagem e então ler um “para”, fica evidente que o autor
só escreveu assim para manter a forma culta. Porém descartei qualquer “tá” ou “tô” e afins, pois
me pareceu exagerado ou até desleixado. Ler “estou com saudades” ou “o almoço está pronto”
não me incomoda como ler um “comprei um presente para você”. Talvez concorde ou discorde
de mim, o que importa é você tomar as suas decisões sobre sua voz narrativa com consciência
e propriedade.
Conversas precisam ser fluídas, jamais rígidas. A regra de ouro é ler o diálogo e não ter aquela
sensação de “ninguém falaria assim na vida real”.

Torne o personagem singular


Pessoas têm trejeitos e maneirismos. Um personagem com um modo de falar próprio tem boas
chances de cativar o leitor, desde que o escritor não cometa um preconceito linguístico. Pode
ser um vício de linguagem, uma gíria, uma mania ou a obsessão de contar a mesma história o
tempo todo, os leitores adoram esses tipos de personagens — ou adoram odiar, dependendo
do caso.
Renata Ventura, por exemplo, emula os sotaques de diferentes estados brasileiros através dos
seus personagens, tornando-os únicos e inesquecíveis. Particularmente, busco diferenciar os
diferentes povos do mundo através de detalhes na fala — anões nunca usam ponto de
interrogação e elfos usam muitas metáforas em suas falas, por exemplo. E como não lembrar
do Coringa do Heath Ledger contando versões diferentes das origens das cicatrizes dele —
entre uma lambida no lábio e outra — ao longo do filme do Batman: O Cavaleiro das Trevas?
Outra opção interessante é dois ou mais personagens terem uma forma específica de falar
entre si, talvez até um código. Pode ser porque são amigos de longa data ou profissionais que
precisam falar coisas importantes com discrição, essas pessoas têm uma ou mais frases-chave
que vão ser recorrentes na narrativa, compreendidas apenas por elas e pelo leitor. Lembro dos
livros Os Karas, do Pedro Bandeira, onde as crianças tinham um clube secreto cheio de
códigos entre elas, ao ponto de uma delas cruzar os braços como um sinal para a outra ficar
em silêncio durante uma discussão na diretoria do colégio até que um dos adultos reclamou
que aquilo não era postura de um aluno.
Mas também é importante salientar que preconceito linguístico — retratar de forma pejorativa
um grupo social — é inadmissível. Por mais que grupos de pessoas usem variações
linguísticas que geram algum estranhamento a outras pessoas, é ofensivo retratar um
personagem através de estereótipos pejorativos, sob o risco de cometer crime de racismo,
homofobia e afins. Quando for representar um grupo social através de uma fala específica, faça
isso com espontaneidade e lisonjeio, jamais através de um insulto.
Para praticar, escolha um personagem e experimente dar a ele um vício de linguagem ou jeito
de falar bem específico.

Info Dump jamais

Com certeza o pior pecado dos diálogos — e da narrativa em si — é o “info dump” — o


excesso de exposição, tornando o texto sobrecarregado e artificial.
É comum o escritor encontrar o dilema de precisar explicar algo da história e não ter certeza de
como fazê-lo. Identificar e compreender esse dilema é o primeiro passo para evitar o info dump.
“Essa conversa é importante, mas ele ficou artificial”. Talvez o diálogo possa ficar mais
espontâneo ou talvez seja melhor explicar o contexto de outra forma. Um diálogo ruim não é
uma opção. Nunca.
Outro info dump comum é quando os personagens se apresentam demais ou introduzirem um
assunto já conhecido pelos personagens, mas novo para o leitor de forma clichê, o que é
péssimo. “Comigo, missão dada é missão cumprida”, “eu sou aquele tipo de pessoa que…”,
“você me conhece, eu sou…”, “como você sabe, nossa missão é se infiltrar na base inimiga”,
você com certeza já leu essas variações algumas — muitas — vezes. Nesse caso, uma
solução é a boa e velha regra de ouro “mostre, não conte”. Narre uma cena que demonstre o
caráter do personagem, apresente um dilema moral durante uma conversa ou simplesmente
uma divergência de opiniões entre o elenco.
Mais uma solução para o info dump é precisamente o contexto ao redor do diálogo. Onde e
quando os personagens estão conversando? Se for um patrão abusivo, é melhor apresentá-lo
em casa com a família ou gritando com os funcionários no escritório? Seguindo essa lógica, se
temos um jovem inconsequente, ele pode estar matando aula ou saindo da sala da diretoria.
Um mago poderoso pode dividir a atenção entre o protagonista e um livro ou pode apressar a
conversa porque tem uma reunião agendada com um semideus extradimensional em meia
hora. Em qualquer uma dessas cenas, uma única linha de diálogo pode funcionar mil vezes
melhor do que um parágrafo inteiro dissertando sobre cada personagem.
Info dump é um assunto que poderia levar a outro artigo por inteiro, mas por enquanto vou
encerrar com o lembrete: aconteça o que acontecer, nunca use o info dump.

A prática leva ao aprimoramento

Escrever bons diálogos pode ser um desafio, mas como tudo na vida, quanto mais prática,
mais facilidade.
Minha última recomendação é: escreva uma cena apenas de conversa, nada mais. Depois
revise. E depois mostre para alguém e peça uma opinião externa. E depois revise de novo. E
depois escreva outra conversa.
Eu também tive dificuldades no início e hoje sou elogiado pelos diálogos. Não se esqueça que,
como qualquer arte, a escrita exige prática e aprimoramento constante. Todos podem — e
devem — buscar melhorar — e também experimentar coisas novas e diferentes.
Então, continue escrevendo.
4. Bloqueio Criativo

Bloqueio criativo é o pior pesadelo de 92.87% dos escritores — esse dado é totalmente
preciso, eu mesmo fiz a pesquisa diretamente da minha cabeça e digitando as teclas
aleatoriamente depois do 9. Dispersei? Desculpa, é que eu tenho déficit de atenção. Como ia
dizendo, o bloqueio criativo assombra a maioria dos escritores. Parece que as ideias se
esgotaram, ou que elas estão aqui dentro, só se recusam a sair. Já sentiu isso? Sim ou
sempre? Por isso decidi trazer 13 dicas para superar o bloqueio criativo — prometo que meu
déficit de atenção não vai retornar ao longo do artigo, pode seguir lendo sem receios.

Mergulhe no gênero

O escritor lê diversos livros de um gênero que adora — ópera espacial, por exemplo. E vê
filmes desse gênero. E joga videogames desse gênero. Talvez assista a animes também. Ou
até jogue RPG. Então tem várias ideias. Começa a escrever. Fica empolgado com a própria
história. E trava. Em vez de se questionar se é bom o suficiente, é válido conferir quanto tempo
tem que não leu, assistiu ou jogou algo dentro desse gênero.
Às vezes, por conta de trabalho, estudos, vida social e tudo mais, a gente fica afastado do que
gosta e isso é natural. Então, para conquistar nosso sonho de contar nossas histórias, nos
forçamos a escrever com rigor, o que também toma muito tempo. Mas uma hora a inspiração
seca e precisamos ir buscar mais. Digo por experiência própria, às vezes algumas horas lendo,
assistindo ou jogando o que gostamos é tudo o que precisamos para voltar a escrever com
ímpeto!
Seja revistando uma história que influenciou sua obra ou desbravando histórias diferentes que
você não havia experimentado ainda — talvez clássicos, talvez a última novidade lançada —,
não podemos esquecer que para transpirar, precisamos inspirar primeiro.

Fuja do gênero

Falando em inspiração e criatividade, o excesso também pode ser um problema. Pode ser que
ler, assistir e jogar demais o mesmo gênero acabe bloqueando nossas ideias. Quando nos
damos conta, estamos copiando e não criando, ou simplesmente sem ideia nenhuma na
cabeça. E quanto mais buscamos inspiração, sentimos o bloqueio ainda mais intenso. É um
tanto contraintuitivo, mas talvez o melhor seja justamente mudar os ares nesses momentos.
Experimente consumir histórias de qualquer outro gênero. Star Wars — ficção científica — se
inspirou em muitos gêneros, desde velho oeste a samurais, além de fábulas e mitologias, por
exemplo. R. A. Salvatore criou a cultura dos elfos negros da saga A Lenda de Drizzt — fantasia
medieval — inspirado em O Poderoso Chefão. Um dos contos do meu livro A Era do Abismo:
Crônicas do Éden se chama O Silêncio dos Condenados, tente adivinhar qual foi minha
inspiração.
Pense fora da caixa. Tire da estante aquele livro do seu pai, mãe, irmão, irmã, namorado ou
namorada e dê uma lida como quem não quer nada. Vá no cinema mais próximo e experimente
algo diferente do que escolheria em qualquer outro dia. Ouça outros gêneros musicais ou mude
o canal da televisão por um dia, que seja! O que importa é trazer novidade para dentro do seu
cérebro para arejar suas ideias.

Não desista de primeira

Deixa eu contar rapidinho como comecei a escrever esse texto que você está lendo agora. Eu
havia começada outro texto e então achei que estava ficando ruim. Decidi fazer uma pausa.
Dias depois, voltei nele e já não achava tão ruim. Fiz os ajustes que achei necessário, mas
ainda não estava satisfeito. Percebi que precisava escrever outra coisa antes dele. Movi aquele
texto para outra pasta e criei o arquivo do artigo atual. Aconteceu algo parecido com outros
textos meus. Achei que não estavam bons, parei e, quando voltei, eles estavam bons sim. Eu
só precisei não desistir deles.
Não é porque uma ideia está parecendo ruim, que ela com certeza seja ruim — pode ser que
até seja, mas é sempre importante avaliar mais de uma vez. Sabia que Stephen King jogou no
lixo o rascunho de Carrie: A Estranha — o livro que o tornou mundialmente famoso — e a
esposa dele achou o papel, leu e mandou ele continuar escrevendo? Se até Stephen King
achou que Carrie estava ruim em algum momento, o seu texto também merece mais uma
chance.
Não desista de um texto ruim de imediato. Eu já deletei um conto que estava ruim, mas eu reli
algumas vezes até ter certeza. Também já modifiquei um capítulo do meu primeiro livro quase
que por inteiro. Também já deletei um conto e recomecei do zero. Mas antes de tomar essas
decisões mais bruscas, eu li, reli, descansei e li de novo e aí sim dei o diagnóstico — um foi
para o esquecimento, outro foi brutalmente modificado e o último só precisei recomeçar do
zero, mas a ideia ainda era a mesma.

Volte duas casas

Essa dica funciona melhor para textos longos, mas também serve para curtos. Particularmente,
os capítulos dos meus livros têm entre cinco mil a vinte mil palavras. Quando sinto que travei
em uma parte, volto para o começo do capítulo e reviso tudo antes de seguir em frente.
Isso refresca as ideias que estão em andamento e ajuda o cérebro a voltar aos trilhos. Pode
ser que você encontre trechos problemáticos e corrija-os durante a revisão ou que retome o fio
da meada e consiga desengatar. Talvez sejam os astros se alinhando ao seu favor. Eu não
entendo a ciência por trás de tudo, sei que funciona e estou aqui para te apresentar soluções,
não teorias.
Tanto quanto você enfia o dedão no computador quando ele trava, tente resetar sua
criatividade ao voltar ao começo do texto.

Escreva mais de uma coisa

Variedade faz bem para o cérebro. Há quem diga que faz bem usar sua mão inapta para
tarefas cotidianas, como escovar os dentes ou pôr a comida no prato, ou até comer comidas
diferentes para “desviciar” o cérebro e ficar mais inteligente. Seguindo essa lógica, faz bem
escrever coisas diferentes.
Se não está conseguindo seguir em frente com seu romance, talvez escrever um conto ajude a
criar algo novo e fresco para depois voltar revigorado ao seu projeto inicial. Escrever críticas
sobre os livros que leu — ou filmes, jogos ou tudo — também é uma boa forma de exercitar a
mente e fugir da mesmice ao mesmo tempo. Se você for doido o suficiente — como eu — pode
até escrever mais de um livro ao mesmo tempo — atualmente, escrevo um atlas e mais um
romance de A Era do Abismo e um livro de terror totalmente novo e diferente de tudo que já
escrevi, mas só recomendo algo tão extremo para quem amar o caos, como eu.
Pode ser que você esteja plenamente capaz de escrever, só não é exatamente aquele texto
que está em aberto agora. Escrita não é um casamento, você pode pular a cerca e depois
voltar sem problema nenhum. Na verdade, talvez até faça bem. Quem sabe um conto
interligado ao seu livro atual não lhe ajude a compreender um certo personagem ou mundo ao
redor dele e ainda sirva como um complemento interessante para sua história?

Total abstinência

Por outro lado, excesso de informação pode sobrecarregar nossa mente. É como comer
demais e sentir o estômago estufado, sabe? Então a gente só deita na cama e deixa o corpo
fazer digestão até se sentir aliviado e voltar a viver. Algo similar pode acontecer com o cérebro:
excesso de informações entopem nossa criatividade e precisamos deixar a caixola digerir os
pensamentos para então voltar a confeccionar as próprias ideias.
A dica aqui é total abstinência mesmo. Tire um dia de folga para passear no parque, fazer uma
caminhada na praia, visitar os avós, praticar algum esporte — há quem diga que tem
excelentes ideias enquanto se exercita. Yoga ou meditação também vale. Ou aprender a tocar
instrumento musical novo ou pintar uma tela a óleo. O que importa é fazer algo extremamente
diferente daquilo que está criando, com absolutamente conexão nenhuma.
Pode ser que você sinta até vontade de escrever enquanto está longe do seu texto — talvez
essa seja a deixa para voltar a pôr a mão na massa.

Não se cobre

Quanto mais a gente pensa num problema, mas grave ele parece. No caso do bloqueio criativo,
pode ser que pensar demais nele e insistir e solucioná-lo gere um efeito de “cutucar a ferida”.
Você sabe, quando a gente cutuca até aumentar ainda mais um machucado que já estava
quase sarado. No fim das contas, excesso de cobrança só leva a mais estresse e estresse só
agrava o bloqueio criativo.
Experimente fazer algo relaxante antes de escrever. Pode ser comer um doce, assistir a um
filme de comédia romântica, jogar videogame, o que preferir. O foco não é inspirar e nem
transpirar, é apenas espairecer. Afinal, o problema pode não ser o excesso ou a escassez de
criatividade e sim um estresse que impede que o cérebro processe a criatividade.
E quando sentar no computador — ou com seu caderno, papiro, seja lá o que for —, mantenha
a cabeça fria enquanto escreve. Você não precisa escrever o melhor livro do mundo, ou
escrever tão rápido quanto o Stephen King, nem nada disso. Você precisa contar a história que
quer contar, simples assim. Exigir demais de si mesmo é uma das autossabotagens mais
comuns.

Prazo

Mas, porém, contudo, entretanto, todavia, não obstante a gente precisa sempre ter uma noção
de prazo. Digo por experiência própria: quando eu não me dava prazos, meus projetos nunca
viravam realidade e hoje, que eu sempre estabeleço prazos, tenho resultados muito mais
substanciais.
Um professor de uma oficina escrita criativa que participei chamou isso de “soltar os
cachorros”. Sem prazo, os alunos nunca entregavam os trabalhos. Com prazos, entregavam
trabalhos ainda melhores! Afinal, a gente só sabe o quão rápido corre quando tem um cachorro
brabo perseguindo nossos calcanhares.
Comece estabelecendo um prazo para terminar a escrita do seu próximo capítulo ou conto. Se
não conseguir cumprir o prazo, dê foco total à escrita até concluí-lo. Ninguém torna um sonho
em realidade sem sacrificar algumas horas de sono ou algumas festas nos fins de semana.

Replaneje

Algumas ideias são ótimas na teoria e não dão certo na prática. Talvez você tenha pensado
numa cena excelente, mas não tenha conseguido encaixá-la na sua história. Talvez seus
personagens precisem ir do ponto A ao ponto B, mas isso não faz sentido dentro da motivação
deles. Talvez o fato de você não ter planejado tenha te levado a um beco sem saída.
Pare e repense na sua narrativa. O erro está em algo que você escreveu e não ficou bom ou
está na dificuldade de seguir em frente de onde travou? Quando diagnosticar o problema, volte
para a prancheta, revise os planos, faça todos os ajustes necessários e só depois volte a
escrever.
Replanejar ajuda tanto a resolver um problema que bloqueou a sua criatividade, quanto para
revisar e alimentar as ideias em sua mente e até para renovar seu fôlego para voltar a
escrever.

Prazer
Não faz sentido escrever, se isso não gera prazer. Consegue imaginar um cantor que não
gosta de cantar ou ilustrador que não gosta de ilustrar? A gente lê porque é prazeroso, logo a
escrita também precisa ser prazerosa.
É difícil sempre ter prazer quando estamos trabalhando num texto de dezenas de milhares de
palavras — talvez centenas de milhares. Se o texto atual não faz seus olhos brilharem como
antes, talvez você precise escrever aquele capítulo excelente, mas que ainda não era o
momento de escrever. Ou talvez você possa escrever qualquer outra coisa só pelo prazer de
escrever, o que te der na telha. Você precisa reencontrar o prazer na escrita de alguma forma,
talvez através de um método que só você seja capaz de descobrir.
Pare e pensa: por que não estou tendo prazer em escrever? Encontre o problema, resolva e
depois volte a escrever. Se você não está gostando de escrever, provavelmente nem ninguém
vai gostar de ler.

Beba café

Tudo bem, isso é algo bem particular, mas funciona comigo. Sério! Eu estou sentado sem
conseguir escrever, levanto, busco um café, tomo um gole e os dedos fuzilam o teclado. Isso
quer dizer que você também deveria ser viciar em café? Estou fazendo apologia? Sim, com
certeza. Beba café. Sério. Pare de ler, pegue um café e só depois continue.

Faça um ritual

Ritual é tudo o que fazemos de forma padronizada. Se a primeira coisa que você faz quando
acorda é escovar os dentes, isso é um ritual. Um tia minha sempre fuma depois de beber café,
o que também é um ritual. Todos nós temos rituais pessoais e isso influencia a forma como
nossa mente funciona. É como se certos gatilhos fossem acionados dentro da nossa cabeça.
Podemos usar isso a nosso favor. Crie o seu próprio ritual para escrever. Para mim, é jogar
uma partida de videogame e tomar um café — além de começar a sentir algum prazer com a
jogatina e das propriedades mágicas da cafeína, o hábito ritualístico também me ajuda meu
cérebro a “entrar no clima”. Experimente condicionar a sua mente a uma ordem de fatores
específica. Pode ser uma comida, uma música, leitura, um banho quente, o que você quiser,
apenas crie o hábito de escrever em seguida.
Se você achar essa ideia estranha, pesquise “hábitos estranhos de escritores famosos”. Você
vai até se achar normal — ou vai gostar ainda mais de ser estranho. Preciso nem falar qual é o
meu caso, né?

Escreva mesmo sem vontade

Se nada funcionar, apenas escreva. É sério. Sei que é péssimo — sei MUITO bem que é
péssimo. Mas fazer o quê? Sendo brutalmente honesto, não podemos confundir bloqueio
criativo com procrastinação. Se você já tentou de tudo e continua com dificuldade, a solução é
nadar contra a correnteza e lembrar que feito é melhor do que perfeito.
Se você leu até aqui, deve estar com disposição para tentar de tudo. Seu livro precisa ser
escrito. Você precisa sair da inércia. Não é fácil, mas vale à pena. Pode ser que o texto passe a
fluir melhor depois do primeiro parágrafo. Talvez só depois da primeira página. Talvez nem flua,
mas pelo menos você escreveu! Ao menos você vai ter a sensação de progresso, o que
também é empolgante. Se você quer mesmo escrever, vai escrever de um jeito ou de outro.
Algumas pessoas comparam livros com filhos, não é mesmo? Pois é, a grande maioria dos
partos exige muito esforço e dor. Não sei como é dar a luz, mas tenho tatuagens, então posso
falar disso com mais propriedade. Dói. Sempre dói. Mas vale a pena e eu gosto. Para mim,
escrever é assim às vezes também. Dói, mas vale à pena.

A sua criatividade pertence a você

Criatividade exige esforço. Quando você começa a aprender algo novo, tem dificuldade até
pegar o jeito e então fazer naturalmente, seja uma equação matemática ou um instrumento
musical. Criatividade não é diferente.
Sempre haverá obstáculos no caminho, a questão é saber como superá-los. Uma vez que
superamos, o próximo é mais fácil. E o seguinte é mais fácil ainda. E depois encontramos um
obstáculo ainda mais difícil do que nunca. Mas a vida é assim. A gente encara. Sofre. Supera.
E continua fazendo o que ama, mesmo sabendo que haverá dificuldades no caminho. Sempre
há obstáculos. Que venham!
Apenas lembre-se: somos os donos da nossa criatividade.
5. Envio de Originais

Escrever um livro exige um esforço hercúleo, mas é preciso mais do que escrever para ter um
livro publicado. Na verdade, escrever é a primeira etapa, depois precisamos revisar o nosso
próprio trabalho quantas vezes for necessário, enviar o original para as editoras, fazer o
copidesque e a revisão ortográfica, diagramação, capa, enfim muita coisa.
Infelizmente, temos mais livros sendo recusados pelas editoras do que aprovados. Pior, temos
bons livros sendo recusados. Pode parecer injusto um bom livro ser recusado, mas precisamos
entender por que isso acontece.
A editora não tem tempo de ler cada palavra de cada original que recebe antes de decidir qual
publicar e os profissionais envolvidos no processo de publicação também não serão leitores de
cada livro em que trabalham. Em outras palavras, o escritor precisa deixar claro de forma
sucinta sobre o que seu livro trata, seus pontos fortes, seus diferenciais e cada bom motivo que
o editor tem para apostar naquela obra.
O presente manual vai esclarecer as principais etapas que uma editora leva para escolher qual
livro publicar para que você possa melhorar em cada aspecto e aumentar suas chances de ter
seu livro publicado.

Antes do original

O profissional que lê o original para ser aprovado pela editora é o parecerista, mas antes da
editora enviar um original para o parecerista, ela confere algumas questões: a proposta do livro
— também chamada de book proposal —, as redes sociais do autor e se o original está na
formatação exigida pela editora.
A propósito, o parecerista é o profissional responsável por de fato ler os originais e dar um
feedback para a editora. Ele já conhece as linhas de publicação da editora, conhece o mercado
editorial como um todo e entende das várias etapas de uma publicação. Em editoras menores,
um editor pode cumprir o dever de parecerista — como toda empresa que acumula várias
funções em um funcionário só —, mas o normal é ter um parecerista e algumas editoras
maiores chegam a ter vários pareceristas fornecendo múltiplas avaliações para cada original.
A proposta do livro é um texto que varia entre uma a dez páginas que explica todos os
aspectos que a editora precisa saber sobre a obra, desde sinopse, informações sobre o autor,
até o resumo de cada capítulo do livro. Falaremos com mais detalhes a respeito mais para
frente.
A editora avalia as redes sociais do autor para conferir que tipo de postura ele adota
publicamente. Por exemplo: já houve caso de escritores comentarem de forma enervada nas
redes sociais que uma determinada editora estava demorando para responder se seu original
seria aceito ou não. Por motivos óbvios, nenhuma editora aprovaria um original de um autor
depois de ser ofendida em redes sociais, além de que outras editoras também pensariam duas
vezes antes de lidar com alguém com uma postura tão antiprofissional. Posturas intolerantes,
agressivas e/ou polêmicas podem ser mal vistas por qualquer tipo de empresa, incluindo
editoras.
A formatação do original também é um passo importante na avaliação. Se a editora especifica
a fonte, espaçamento, tamanho de letra, margem das páginas e afins, o original precisa estar
nesse formato específico para ser aprovado. Enviar um original fora da formatação exigida
pode indicar que o autor nem sequer se deu ao trabalho de ler os requisitos antes de enviar o
livro, ou que ele tenha preguiça de trabalhar no próprio texto, ou que não saiba cumprir
exigências externas. Seja qual for o motivo para um autor não formatar seu livro de acordo com
as especificações da editora, isso é um sinal que ele é um profissional menos qualificado para
se lidar.
Além da proposta do livro, das redes sociais e da formatação do original, muitas editoras têm
formulários de envio de originais. Como cada formulário é único, o que podemos dizer aqui é
que o autor precisa dedicar atenção e tempo para preencher o formulário da melhor forma
possível. Tanto quanto o autor quer que seu original seja tratado com esmero, a editora
também demanda esmero por parte dos autores para aprová-los. Leia cada item e responda
tudo sem pressa. Pode ser cansativo, mas é a aprovação do original que está em jogo, então o
formulário precisa ser levado a sério.
Algumas editoras não oferecem formulário, mas pedem a proposta do livro. Outras oferecem o
formulário e não falam nada sobre a proposta do livro. De uma forma ou de outra, o autor
precisa estar preparado para enviar a proposta do livro e para responder ao formulário. Não
podemos prever o que cada empresa vai nos exigir, mas podemos e devemos estar
preparados para todos os cenários. A editora com certeza vai dar prioridade em analisar a
proposta do livro, ou o formulário, ou ambos, portanto essas são as etapas mais importantes
antes do original em si.
A Proposta do Livro

A proposta do livro é uma apresentação resumida do livro e deve conter todas as informações
que a editora precisa saber a respeito dele.
Um editor nunca lê um livro inteiro para decidir se vai publicar um livro ou não. Alguns leem o
primeiro capítulo e decidem se enviam o original para o parecerista ou não. Outros, leem a
primeira página. Há aqueles que leem apenas o primeiro parágrafo. Por outro lado, as chances
do editor enviar um original para o parecerista aumentam caso ele também receba uma
proposta do livro.
Com uma proposta do livro, o editor vai conhecer sua obra de forma muito mais eficiente. E se
ele leu toda a proposta do livro, as chances dele de fato dar a atenção que o seu original
merece aumentam.
Uma proposta do livro bem escrita aumenta em muito as chances de um original ser aprovado,
por isso o autor deve prepará-la com tanto esmero quanto escreve os principais capítulos do
seu livro.
O recomendado é que a apresentação geral caiba em uma página e um resumo do livro caiba
entre uma a quatro páginas.

A apresentação geral deve conter:

Título do livro: autoexplicativo.

Biografia resumida: principais informações a respeito do autor, em uma ou duas linhas.

Resumo do livro em uma frase: uma sinopse extremamente resumida, apresentando os


conceitos essenciais da obra;

Sinopse: uma prévia do livro em um parágrafo.

Informações sobre o autor: uma biografia mais detalhada em um parágrafo.

Obras de referência: três livros nacionais e três livros internacionais que se assemelham ao
seu.
Plano de marketing: principais formas de divulgação que podem potencializar as vendas do
livro, desde parcerias com influenciadores de um nicho específico, até eventos culturais em que
o livro pode ser apresentado e todas as ações que o autor tiver em mente.

Dados técnicos: informar quantidade de palavras, quantidade de capítulos, valor de capa


pretendido, formato da obra (romance, novela, coletânea de contos etc), gênero e subgênero,
público-alvo e faixa etária do público-alvo.

Resumo do livro

Apesar de ser a parte mais cansativa de escrever da proposta do livro, é também uma das
mais importantes. Aqui, tudo deve ser dito, cada capítulo, cada personagem, cada reviravolta
na trama, tudo, incluindo o final. Lembre-se que o editor e o parecerista não são leitores e fãs
em potencial, eles são profissionais que precisam tomar uma decisão que vai acarretar em
investimento financeiro e pessoal pelos próximos meses, talvez anos da vida deles. Eles
precisam saber de tudo e não ser esclarecido na proposta do livro é um grave sinal de
amadorismo.
É recomendável que, antes de apresentar cada capítulo, cada personagem principal da trama
seja também apresentado de forma resumida, no máximo uma linha para cada um.
O resumo de cada capítulo deve conter:

Sinopse do capítulo.

Como os personagens são explorados e desenvolvidos.

Como o mundo ou cenário é explorado e desenvolvido (caso o mundo ou cenário for relevante
para trama, como em romances de fantasia, policial ou que focam a história em um bairro ou
cidade).

Como a narrativa é desenvolvida e avança.

Cada aspecto citado deve ser resumido, cabendo em uma ou duas linhas.
Considerações Finais

Uma boa apresentação faz toda a diferença, tanto nos deveres da escola e da faculdade,
quanto em uma entrevista de emprego e até no envio de um original. Quando nos preparamos
com mais cuidado, aumentamos as chances de nos destacarmos. Um autor pode apenas
enviar um original para as editoras e cruzar os dedos para ser escolhido ou pode fazer mais do
que a maioria e enviar mais do que um livro com potencial.
Para a editora enxergar o potencial da sua obra com mais clareza, é importante você provar
suas singularidades e facilitar o trabalho tanto do editor, quanto do parecerista.
Conheça a editora e, se possível, os profissionais dessa editora, prepare uma apresentação
eficiente e invista tempo e atenção no momento de enviar seu original. Suas chances com
certeza são muito maiores quando você cuida de cada detalhe com esmero.

Exemplo de Proposta de Livro

A seguir, a proposta do livro A Era do Abismo: O Torneio dos Campeões, que foi aprovado por
quatro editoras e publicado pela Pendragon.
Título da série: A Era do Abismo

Sobre o autor: Bernardo Stamato, vencedor do concurso cultural Eu, Criatura pela Devir,
redator-chefe do portal Mundo Epic e instagrammer conhecido como Nerd & Louco.

Resumo do romance em uma frase: Em um mundo antigo, audazes aventureiros unem armas e
magias para desafiar um torneio que reunirá gladiadores e mercenários.

Sinopse: A Liga Prateada tem fama de ser a região mais próspera e segura do continente, mas
isso não impede que um grupo de aventureiros desbrave suas estradas e proteja o povo de
orcs, mortos-vivos e magos insanos. Enquanto Draco e Gladius investigam o assassinato do
seu mestre, o guerreiro Marcus cobiça a glória do combate e suas fortunas, a cartomante Rosa
busca por sua família perdida, o paladino anão Alberich propaga o ideal da Justiça, a
sacerdotisa elfa Ravenlla promove as graças da Liberdade e a kunoichi Zhi Wu protege os
mistérios do seu passado. Unidos pelo acaso, eles irão desafiar não só monstros selvagens,
mas também nobres corruptos e cultistas profanos. Conseguirão eles triunfar em meio aos
incontáveis desafios da sua jornada? O fim de uma vida dará início a uma saga épica onde
Virtudes e Vícios colidem e aventureiros lutam contra todas as expectativas em um mundo
condenado.

Informações sobre o autor: Bernardo Stamato participou do concurso cultural “Eu, Criatura”,
ficando em primeiro lugar. Desde então, escreve contos, se tornou crítico literário e
instagrammer Nerd & Louco (mais de 13 mil seguidores). Além deste romance, os leitores
podem desbravar mais fábulas d’A Era do Abismo através de contos gratuitos no Wattpad.

Obras de Referência:
Nacionais: Trilogia Tormenta - Leonel Caldela -, O Espadachim de Carvão - Affonso Solano - e
Tetralogia Angélica - Eduardo Spohr.
Internacionais: Conan - Robert E. Howard -, O Senhor dos Anéis - J. R. R. Tolkien - e a série
Dragon Age - David Gaider.

Plano de Marketing: Foco em parceria com influenciadores, especialmente os mais ativos no


Instagram, rede social com maior foco no público-alvo. Divulgação via web através de contos
dentro deste mesmo cenário, textos informativos sobre o cenário e a saga e ilustrações. Além
disso, distribuição do livro para sites e canais de YouTube para resenhas.

Detalhes técnicos: 111.686 palavras. 18 capítulos, prólogo, epílogo e codex. Valor de capa
pretendido: R$ 40,00. Público alvo: jovem/adulto. Público de literatura fantástica e jogadores de
videogame - como o caso do brasileiro Raphael Draccon e do britânico Taran Matharu. Outra
referência são sagas derivadas de jogos, com as séries de Diablo, World of Warcraft e God of
War.
Resumo d’A Era do Abismo (alerta spoiler, caso você deseje ler o livro futuramente):

O romance foi escrito em estrutura procedimental, com inspiração nos folhetins e pulp fictions
como Dom Quixote de la Mancha, Sherlock Holmes e Conan. Cada capítulo é uma célula
narrativa própria com início, meio e fim e narrado por um personagem entre os sete
protagonistas, seguindo uma ordem cronológica, mas dedicado a apresentar o cenário e os
personagens, além da narrativa maior.

Prólogo: Dois guerreiros se enfrentam. Um dia, eles foram mestre e discípulo, agora seguem
ideologias antagônicas. Quando o ex-pupilo mata o mestre, revela que sabe dos outros dois
jovens guerreiros que foram treinados pelo ancião.

Capítulo 1: O grupo se reúne ao atender o chamado de um nobre para uma missão na Floresta
Feérica, território élfico.
Desenvolvimento dos personagens: cinco dos protagonistas são apresentados, os guerreiros
Draco, Gladius e Marcus, o paladino anão Alberich e a kunoichi Zhi Wu.
Desenvolvimento do cenário: primeiro contato do leitor com o mundo e suas regras básicas,
elfos, anões, goblins e magia existem, mas os elfos estão isolados das demais civilizações.
Desenvolvimento da narrativa: o grupo começa a sua jornada, ainda sem destino definido,
Draco e Gladius citam que têm uma missão em comum, mas não entram em detalhes e um dos
Sete Males Primordiais é apresentado, Uraxtor, o Lorde da Tirania.

Capítulo 2: O grupo passa por uma aldeia onde uma série de assassinatos está ameaçando o
povo local.
Personagens: Gladius revela que não quer assumir seus deveres familiares.
Cenário: aswang - monstro do folclore filipino - é apresentado, a Aniquilação é citada, evento
onde os Patriarcas Celestiais e todos os celestiais foram derrotados e dizimados pelos Males
Primordiais e os abissais.
Narrativa: contrariando a resolução através de combate do primeiro capítulo, os protagonistas
precisam investigar e descobrir quem ou o que está por trás dos assassinatos.

Capítulo 3: O grupo investiga uma mansão mal-assombrada para livrar um condado de zumbis.
Personagens: Marcus demonstra egoísmo excedente.
Cenário: em vez de adversários corpóreos, os protagonistas precisam lidar com um
necromante e uma assombração, ambos usuários de magia.
Narrativa: a Mácula - fonte de poder adormecido que cada mortal carrega dentro de si e
desperta conforme seus Vícios se tornam mais fortes que suas Virtudes - e as Armas do
Legado - itens com poderes sobrenaturais - são citadas.

Capítulo 4: O grupo enfrenta um bando de orcs para livrar uma cidadela, mas descobre que os
orcs haviam sido expulsos das cavernas por uma outra criatura ainda mais ameaçadora.
Personagens: Marcus morre em combate e o grupo fica abalado.
Cenário: orcs e minotauros são apresentados.
Narrativa: capítulo dedicado a expor as nuances entre moralidade e humanidade ao apresentar
antagonistas que atacaram por necessidade e expor os riscos que os protagonistas assumem
através da morte de um dos personagens.

Capítulo 5: O grupo para em uma cidade para descansar e comprar novos equipamentos, mas
fica em dúvida entre agir ou só observar ao presenciar um conflito que não lhes diz respeito.
Personagens: a cartomante Rosa e a elfa sacerdotisa da liberdade Ravenlla são apresentadas.
Cenário: a raça bestial - humanoide com aspecto animalesco - e Aura - uma cidade com um
templo tão grande no centro que pode ser visto por todas as extremidades da região - são
apresentadas.
Narrativa: o grupo descobre que haverá um torneio e parte em direção ao evento.

Capítulo 6: O grupo descobre uma aldeia devastada por mortos-vivos e vai até o templo
abandonado para caçar seu líder.
Personagens: Draco sofre o efeito da Mácula e entra em frenesi em combate.
Cenário: duques abissais - criaturas muito mais poderosas do que os abissais comuns, mas
ainda abaixo dos Males Primordiais - são citados.
Narrativa: por que Gladius não ficou surpreso com a Mácula de Draco?

Capítulo 7: Após o confronto desastroso, o grupo recupera as energias e discute sobre suas
motivações e segredos.
Personagens: cada um fala um pouco mais sobre si, ainda que uma certa desconfiança
permaneça, o grupo descobre que Gladius vem de linhagem nobre e Draco e Gladius revelam
que, desde o início, estão em busca do assassino do mestre deles.
Cenário: a Mácula é explicada em detalhes.
Narrativa: ninguém confia com plenitude em ninguém.

Capítulo 8: O grupo é rendido e capturado por um batalhão de robgoblins até que um feiticeiro
mercenário ataca os raptores porque foi contratado por um duque local.
Personagens: Ravenlla não venera a Virtude que declara venerar.
Cenário: decaído - humanoide com linhagem abissal - é apresentado.
Narrativa: o elenco desvia sua rota, fazendo com que mais cidades sejam apresentadas ao
longo do romance.

Capítulo 9: O grupo descansa em uma estalagem, mas descobre que o local é o covil de uma
bruxa e seus capangas ogros ao ser emboscado.
Personagens: Zhi Wu precisa decidir entre fugir pela própria vida ou se arriscar para salvar
seus aliados.
Cenário: bruxas e ogros são apresentados.
Narrativa: Zhi Wu está espionando o grupo desde o início.

Capítulo 10: O grupo se depara com uma elfa sombria condenada a uma morte lenta em uma
praça pública e decide intervir.
Personagens: Ravenlla e Alberich não confiam na nova personagem por causa do histórico do
seu povo, uma linha renegada dos elfos.
Cenário: elfos sombrios, gênios, alquimia - um uso variante de magia - e Gálata - cidade notória
por suas torres - são apresentados.
Narrativa: o altruísmo do elenco é posto em cheque depois da traição da elfa sombria, que já
estava sendo considerada a nova integrante da equipe.

Capítulo 11: Grupo passa por uma aldeia que está sendo atacada por abissais e precisa evitar
que uma invocação perigosa aconteça.
Personagens: um romance entre Draco e Rosa começa a surgir.
Cenário: abissais aparecem pela primeira vez - um desafio brutal em comparação a todos os
anteriores.
Narrativa: o escudo de Gladius é uma arma do legado desde o início e ninguém sabia e o título
“Guerreiros da Luz” é citado pela primeira vez.

Capítulo 12: No que parecia ser uma estadia tranquila em uma grande cidade, o grupo recebe
um pedido de socorro através de mensagens telepáticas.
Personagens: a frustração de Alberich em relação à Ordem dos Paladinos é revelada.
Cenário: psiquismo - um poder diferente de magia -, o clero de Rhazmodon, a Lady do
Sadismo, e Polímnia - cidade notória pela geometria, meditação e agricultura - são
apresentados.
Narrativa: o grupo precisa superar suas desconfianças e inseguranças.

Capítulo 13: O grupo finalmente chega à última cidade do romance e participa da etapa seletiva
do torneio.
Personagens: o elenco não resiste à tentação de investigar um assassinato, mostrando que
ainda há altruísmo neles.
Cenário: Tália, a Cidade Festiva, é apresentada.
Narrativa: dois adversários relevantes do torneio são apresentados.

Capítulo 14: O grupo tira um dia para descansar e coletar informações sobre os demais
competidores do torneio.
Personagens: o romance entre Draco e Rosa fica ainda mais evidente.
Cenário: a reta final do romance é dedicada à narrativa, sem novidades em relação ao mundo.
Narrativa: a cartomante lê a sorte do grupo e descobre derrota e morte no futuro.

Capítulo 15: Primeira fase do torneio.


Personagens: Gladius fala abertamente sobre a relação de Draco e Rosa, gerando
constrangimento ao amigo.
Cenário: a reta final do romance é dedicada à narrativa, sem novidades em relação ao mundo.
Narrativa: Rosa e Zhi Wu não passam para a segunda etapa do torneio, enquanto Draco,
Gladius, Alberich e Ravenlla se preparam para o dia seguinte.

Capítulo 16: Segunda fase do torneio.


Personagens: Draco questiona seus sentimentos por Rosa.
Cenário: a reta final do romance é dedicada à narrativa, sem novidades em relação ao mundo.
Narrativa: Ravenlla é brutalmente derrotada por um dos adversários, gerando o sentimento de
vingança entre os demais.

Capítulo 17: Semifinais do torneio.


Personagens: Gladius enfrenta seu adversário decidido a vingar Ravenlla, mas é derrotado e
quebra uma das pernas.
Cenário: a reta final do romance é dedicada à narrativa, sem novidades em relação ao mundo.
Narrativa: Draco é qualificado para a última etapa do torneio com o sentimento de vingança
redobrado, estabelecendo o clima da batalha final.

Capítulo 18: Batalha final do livro.


Personagens: Draco está prestes a perder, sente a Mácula se manifestando, mas a contém
com sucesso e consegue revirar o combate e derrotar seu adversário. Quando tudo parecia
concluído, o real vilão surge na arena: o assassino do mestre dos protagonistas.
Cenário: a reta final do romance é dedicada à narrativa, sem novidades em relação ao mundo.
Narrativa: Todos em condições de lutar se unem à batalha, mas o vilão é nitidamente superior
e, no momento final, quando Draco vai finalmente ser morto, Rosa se joga no caminho da
espada e se sacrifica em seu lugar, quebrando as expectativas de que o casal consolidaria seu
romance. A cena final é Draco desmaiando na frente do corpo de sua amada.

Epílogo: Personagem misterioso recebe relatório das aventuras do grupo e anuncia que
chegou a hora de recrutá-los para a Legião Protetora.
6. Parcerias Literárias

Blogues literários são uma das engrenagens mais importantes do mercado editorial nos dias de
hoje. A lógica é simples: para os leitores saberem que o livro existe e sentirem vontade de lê-lo,
alguém precisa falar sobre o livro — e a pessoa ideal para indicar o seu livro é um blogueiro ou
blogueira que já tem seguidores interessados no seu nicho. O artigo a seguir explica tudo o que
os escritores e escritoras precisam saber sobre parcerias literárias.

O que você ganha com parcerias

Vamos pensar como leitores por um instante. O que leva alguém a se interessar em ler um
livro? Poderíamos listar vários elementos, como a capa, o título, a sinopse, o gênero etc. Mas
considerando que todo livro já apresenta todos esses elementos, alguns também oferecem
gatilhos de venda extras que despertam o interesse no leitor. Imagine que, em um dia, o leitor
toma conhecimento de dois livros, busca sobre eles na internet e encontra três críticas literárias
sobre um e nenhuma sobre o outro. Adivinhe qual dos dois o leitor vai querer adquirir.
Mas por quê? A seguir, alguns gatilhos de venda que são ativados na mente do leitor quando
ele lê uma resenha literária:
Prova social: Comprar é um risco e ninguém quer sentir que desperdiçou dinheiro e tempo com
um livro — ou no cinema, restaurante, cabeleireiro e qualquer transação comercial. Por isso é
comum buscarmos recomendações antes de pagarmos por algo. A partir do momento em que
lemos uma opinião favorável em um ou mais blogues, sentimos que é mais provável que a
nossa experiência ao ler tal livro será agradável.
Autoridade: Os seguidores dos blogueiros e blogueiras reconhecem essas pessoas como
formadoras de opiniões. Em outras palavras: autoridades naquele assunto. Ao criticar
positivamente um livro, o blogue está dando seu selo de aprovação e seus seguidores ficam
mais propensos a adquirirem seja lá o que foi indicado. Da mesma forma, um livro que foi
elogiado por diversos blogues ganha autoridade e passa a ser mais desejado tanto pelos
leitores como também por outros blogues.
Familiaridade: Já aconteceu de você ver um produto numa prateleira algumas vezes até chegar
o momento em que botou no carrinho e comprou? É comum não comprarmos algo de primeira
até que simplesmente decidimos que queremos experimentá-lo. O mesmo acontece com livros.
O leitor vê um blogue elogiando um livro um dia, depois vê outro blogue elogiando o mesmo
livro e mais outro, até que decide que quer conferir se a história é realmente boa por si mesmo.
Todo escritor e escritora quer que seu livro seja lido, mas primeiro o leitor precisa desejar o livro
— e os blogues são a melhor forma de um livro ser descoberto e desejado pelos leitores.

Antes de buscar parcerias literárias

Tanto quanto um maratonista precisa calçar o tênis e se aquecer antes de correr ou um


guitarrista precisa afinar seu instrumento e ensaiar antes do show, escritores e escritoras
precisam cumprir algumas etapas antes de buscar parcerias literárias.
Antes de mais nada, o livro precisa estar no mínimo escrito. Sabe quando você assiste ao
trailer de um filme, mas passam anos, ele não é lançado e seu interesse diminuiu ou até some?
O mesmo pode acontecer com o seu livro, se você simplesmente falar dele e demorar para
lançá-lo. Particularmente, eu só combino parceria se tiver um exemplar pronto para ser enviado
no dia seguinte justamente para evitar qualquer atraso. Da mesma forma, recomendo que você
só busque parceiros, se estiver com o livro pronto para ser enviado — seja versão física ou
digital.
É importante definir o que você vai oferecer e o que vai esperar em troca da parceria. O mínimo
que o autor ou autora deve oferecer é uma cópia digital para a leitura. Mas com certeza o
blogue vai ficar mais grato, se receber um exemplar físico em sua casa. Se o exemplar vier
com brindes, melhor ainda. Particularmente, envio o livro, um pôster e sete marcadores
personalizados para minhas parcerias, o que já rende um vídeo de unboxing interessante.
Também não exijo prazo ou detalhes sobre a divulgação, apenas envio e espero, deixando a
parceria mais à vontade sobre o que e como fazer.
Por fim, informação é poder, então é favorável que você saiba como fechar uma parceria e
tanto quanto como aproveitar cada parceria da melhor forma possível. Também recomendo
que leia todo esse artigo antes de começar a seguir cada passo apresentado. Não tem
problema em voltar em cada tópico e revisá-lo depois de concluir a leitura. Como eu disse:
informação é poder. Esse artigo está aqui para você estudá-lo e consultá-lo quando e quanto
quiser.

Defina que tipo de parceiros você quer


É fundamental que um livro seja criticado por blogues literários, mas outros nichos também
podem ser válidos dependendo do gênero.
Particularmente, como escritor de literatura fantástica, eu testei fazer parceria com diversos
nichos, como por exemplo: perfils geeks e nerds, gamers, cosplayers e modelos góticas. Todos
esses nichos trouxeram algum resultado, mas uns trouxeram mais do que os outros, por isso
vou falar sobre a relação de qualidade e quantidade mais para frente.
Um livro infanto-juvenil poderia fazer parceria com perfis com público-alvo infantil, como um
livro de fantasia medieval poderia fazer parceria com perfis de RPGistas e um livro hot poderia
fazer parceria com perfis de modelos que combinem com seu subgênero, como plus-size ou
bdsm por exemplo. Pense que tipo de conteúdo os seus leitores consomem além de livros e
busque perfis com sinergia com sua obra.

A cada quatro livros que envio para parcerias, separo três para perfis literários e um para um
perfil diversificado. Ou a cada dez livros, envio sete ou oito para perfis literários e três ou dois
para perfis diversificados, dependendo do momento.
Recomendo que você priorize blogues literários, principalmente se está lançando seu primeiro
livro. Mas não se esqueça que os leitores estão por toda parte, então pense fora da caixa
também.

Liste os possíveis parceiros

Abra o Google, YouTube, Instagram e demais meios de comunicação por onde você se informa
sobre livros — talvez Twitter ou Skoob, por exemplo.
Se preocupe menos em buscar termos genéricos, como blogue literário ou booktuber, e foque
em pesquisar termos associados ao seu nicho. Tente pensar o que o seu futuro leitor buscaria.
Se seu livro é de terror, por exemplo, experimente buscar por “melhores livros de terror”,
“stephen king resenha”, ou “horror gótico / cósmico / psicológico”.
Dependendo, o uso de hashtags é mais útil, mas a lógica é a mesma. Buscar pelo nicho, como
#fantasiamedieval, #steampunkbrasil ou #livrofofo é mais recomendável do que apenas #livro,
#livros #leitores.
A lógica é encontrar perfis que já falem de livros similares ao seu. Busque pelo seu subnicho e
também por críticas a livros do mesmo gênero. Assim, quando você abordar o blogue, tem mais
chance dele gostar, entender e ter seguidores interessados no seu livro.
Faça uma lista com no mínimo dez e não mais de cem blogues, canais no YouTube, perfis no
Instagram e afins.

Registre os dados relevantes dos candidatos

Cria uma planilha no Excel, no Google Docs, ou onde preferir e anote os dados relevantes de
cada uma das possíveis parcerias.
Minha planilha inclui: nome do perfil, nicho, quantidades de seguidores, se eu mandei
mensagem nas redes sociais, se mandei e-mail, se a pessoa me respondeu, se confirmou a
parceria, endereço de envio, se eu já enviei o livro, se ela já recebeu, se fez a crítica e se vou
enviar a sequência ou não. Talvez você queira incluir mais informações na sua planilha, como
endereço do site e/ou e-mail.
Com isso, eu mantenho controle dos influenciadores e influenciadores que me despertaram o
interesse, o nicho e a quantidade do público, se eu já me comuniquei, se já cumpri a minha
parte na parceria (enviar o livro e brindes), se a pessoa cumpriu a parte dela (divulgar meu
livro) e se eu vou manter a parceria para o próximo livro ou não.
Essa planilha serve tanto para você avaliar e selecionar suas parcerias quanto para manter o
controle de quantos livros enviou, para quem enviou e se obteve o resultado desejado.

Filtre os parceiros

Eu já disse que informação é poder, né? Durante o processo de pesquisar e listar as possíveis
parcerias, você também acabará aprendendo muito sobre cada uma delas.
Talvez você encontre erros ortográficos em postagens de alguns perfis. Talvez algum perfil
tenha parecido interessante, mas então você descobre que ele só falou do seu subnicho uma
vez e nunca mais. Talvez você perceba que certos perfis têm menos de mil seguidores, o que é
muito pouco. Outros até têm muitos seguidores, mas ninguém comenta nas postagens. Isso
tudo são bons motivos para riscar esse perfil da sua lista.
Seja criterioso. Não adianta ter uma crítica mal escrita, nem uma crítica que não seja vista por
quase ninguém ou que seja vista pelos leitores errados. Você está investindo seu tempo e seu
dinheiro na parceria, portanto merece um retorno à altura.

Primeiro qualidade, depois quantidade


Por onde começar?
Pelos melhores.
Mas o que define qualidade?
Num primeiro momento, desconsidere quantidade de seguidores e perfis que não sejam
nichados. Por mais que pareça intuitivo buscar visibilidade, é melhor se preocupar com a
quantidade só depois de garantir a qualidade. Suas primeiras parcerias precisam entregar uma
boa crítica, independente da quantidade de visualizações, curtidas e comentários.
Não adianta muitas pessoas saberem que seu livro existe, mas encontrarem poucas
informações sobre você e sua obra depois do primeiro momento. Quando o futuro leitor souber
que você existe, precisa encontrar outras boas avaliações e também seu perfil pessoal com
conteúdo interessante. O momento de ter visibilidade vai chegar, por isso você precisa otimizar
a primeira impressão que cada futuro leitor vai ter.
Outro fator importante é o tipo de postagem feito pelas parcerias. Um story no Instagram só fica
visível por um dia. Uma foto no feed do Instagram perde a relevância em menos de uma
semana. Um vídeo no YouTube ou uma postagem em um blogue tem menos visibilidade assim
que é postado, mas pelo menos é mais fácil de ser encontrado em uma busca. Portanto
postagens que continuam relevantes a longo prazo são favoráveis, ainda mais para autores
estreantes.
Separe os perfis que apresentam críticas bem escritas, fotos atraentes e que também já
trabalhem com o seu subnicho. A longo prazo, essas postagens vão agregar valor a sua
carreira literária — ainda mais quando você publicar seus próximos livros.

Entrando em contato com os influenciadores

A primeira impressão é importante, tanto para leitores quanto para blogues. Cuidado para não
parecer invasivo ou interesseiro no primeiro contato. É fundamental demonstrar respeito e
reconhecimento do valor da pessoa com quem estamos entrando em contato.
Não envie mensagem direta ou e-mail já apresentando suas exigências e nem sequer seu livro
de imediato. Primeiro, certifique-se que a pessoa tem disponibilidade e interesse em parceria e
aí sim você faz sua apresentação. Se o blogueiro ou blogueira tiver a impressão de que você
só se interessou pelos números de seguidores dele ou dela e/ou que está enviando mensagem
para o máximo de pessoas possível até que alguém aceite, poderá se sentir ofendido ou
ofendida — e com razão.
Mande uma mensagem inicial e aguarde o retorno. Particularmente, enviei mensagem por
“inbox“ do Instagram e por email. A seguir, meu modelo de mensagem.

Inbox:

Olá, tudo bom? Você faz parcerias com autores independentes?

Sinceramente acho que haveria uma sinergia legal entre nossos seguidores.

E-mail:

Saudações!

Eu sou Bernardo Stamato, autor de A Era do Abismo, e gostaria de saber se há interesse e


disponibilidade em uma parceria entre a gente. Acredito que haveria uma sinergia legal entre
nossos seguidores (meu instagram é o @mochileiros_do_multiverso)

Segue em anexo algumas artes do livro e aqui está o link da pré-venda (com sinopse e demais
informações): ​https://www.lojapendragon.com.br/fantasia/livro-a-era-do-abismo

Há interesse? Quais as condições?

Obrigado desde já.

Um abraço!

Muitas parcerias responderam com interesse depois desse contato inicial. Algumas informaram
que não tinham disponibilidade por diversos motivos. Outras responderam apresentando
valores a serem pagos antes da parceria — que eu não tinha disponibilidade para pagar. E
outras nem responderam. Isso tudo faz partes. Recomendo que apenas responda com
educação quando não for fechar parceria e foque suas energias em quem teve interesse.
Depois do primeiro contato, eu informo o que ofereço, solicito endereço para envio e mantenho
algum contato. Acredito que uma parceria é, também, uma relação humana, então costumo
perguntar se a pessoa está bem, como vai a família e interagir em redes sociais comentando
em postagens. Como disse antes, demonstrar respeito e reconhecimento é valoroso.

Envie o livro e espere

Antes de mais nada, não recomendo que você vá aos correios com vários livros para postar de
uma vez só. Isso poupa esforços, mas os blogues também vão receber os pacotes em datas
aproximadas, você vai ter uma divulgação forte, porém curta nas redes sociais. Acho melhor ir
aos correios uma vez por semana no máximo, então os blogues vão divulgando cada um no
seu devido tempo e você garante uma constância nas redes sociais.
Tem escritores que enviam pacotes lindos demais, outros que enviam pacotes simples demais.
É interessante caprichar na dedicatória e no autógrafo e preparar um pacote dentro do que está
ao seu alcance, mas que não seja um prejuízo para você. Eu envio o livro, marcadores e pôster
num envelope pardo simples. Os vídeos dos blogues fazendo unboxing e reagindo aos brindes
costumam ficar excelentes. Um colega escritor me enviou seu livro com uma caricatura minha
na dedicatória, eu adorei. O importante é ter esmero e criatividade na hora de agradar suas
parcerias.
E informe ao blogue o código de rastreamento do correio. Isso mantém o contato entre vocês
aquecido e garante que o pacote não desapareça nos correios — um risco lamentável, mas
real. Eu já recebi pacote de volta algumas vezes, inclusive, faz parte.
Eu nunca cobro minhas parcerias. Por mais que a ansiedade seja grande, prefiro não
incomodar. Se passar uma ou duas semanas e o blogue não se manifestar, eu costumo só
enviar uma mensagem dizendo “Oi, tudo bom? O livro chegou direitinho?”. Já aconteceu de
blogues levarem tantos meses para fazerem um post, que eu só desencanei da parceria e não
enviei meu segundo livro depois. E tiveram também alguns que nunca nem postaram nada nas
redes sociais. Foi frustrante, é claro. Mas, como eu sempre digo, prefiro focar no que dá
resultado, então, quando sinto que a parceria foi boa, mantenho. Quando não foi por qualquer
motivo que seja — o post não ficou bem-feito ou demorou demais —, eu simplesmente sigo em
frente. Por mais que dê vontade de falar algumas palavras atravessadas para algumas
pessoas, realmente acho que o desgaste não compensa nem um pouco.
Atualize seu registro

Lembra da planilha de parcerias? Ela vai ser sua melhor ferramenta para manter controle das
suas ações e para não se perder — ou enlouquecer. Tão importante quanto criar e preencher a
planilha é mantê-la atualizada.
Eu tenho colunas destinadas a controlar quando envio o livro, quando o livro é recebido,
quando o post foi feito e se eu vou manter a parceria para o próximo livro ou não. Assim que
chego em casa dos correios, já atualizo a planilha e informo o código de rastreamento para o
blogue. Daí em diante, vou acompanhando e atualizando.
Se necessário, releia os emails e as conversas nas redes sociais para relembrar algum detalhe
que deixou alguma dúvida ou simplesmente mande uma mensagem perguntando. Afinal, não
adianta de nada planejar o controle sem mantê-lo atualizado.
Atualizar a planilha é até fácil, só não pode se esquecer e se enrolar.

Compartilhe o conteúdo

Fazer parceria é uma trabalheira enorme. Então que tal expandir e multiplicar seus benefícios?
Tudo o que for postado sobre seu livro, republique. Use todas as suas redes sociais e não
poupe nenhuma publicação. Unboxing, início de leitura, fim de leitura, crítica, foto aleatória,
republique tudo.
Além da republicação servir para expandir ainda mais as visualizações da postagem original,
ela vai fortalecer as suas próprias redes sociais e sua relação com o seu público. Seus
seguidores vão ver que você está em atividade, que seu trabalho está sendo apreciado por
outras pessoas, que você está crescendo e se fortalecendo. No começo do artigo falei de
alguns gatilhos mentais — prova social, autoridade e familiaridade —, lembra? Então, esses
são os gatilhos que você dispara na republicação.
E sua republicação também estreita sua relação com o blogue. Você estará divulgando e
valorizando o trabalho da parceria, o que vai ser saudável para ambas as partes. Alguns
blogues voltam a falar dos livros que gostaram depois de publicar a crítica e com certeza os
escritores mais proativos são os primeiros a serem lembrados nessa hora.
Na minha humilde opinião de um mero mortal, não republicar o conteúdo das suas parceria é
simplesmente fazer o trabalho pela metade — sem falar que essa é uma das partes que nos
exigem menos esforços.
Extra: impulsione o conteúdo

Se você pode duplicar, talvez triplicar o alcance de uma postagem ao republicá-la, pode
multiplicar esse alcance em dez ou até mais ao impulsionar nas redes sociais. Impulsionar não
gera vendas instantâneas, mas atrai novos leitores que vão engajar nas redes sociais e vão se
interessar pelo seu livro em um longo prazo — desde que você mantenha o trabalho bem-feito
e constante. Sempre que você tiver pelo menos R$ 50,00 ou R$ 100,00 sobrando no mês, vale
a pena investir em publicidade — você vai gastar muito mais que isso só para publicar seu
livro, então esse valor é bem razoável.
Eu faço da seguinte forma:
Abro a foto no Instagram e clico na barrinha azul dizendo “promover” — precisa ter conta
comercial para isso. Seleciono a opção para direcionar a publicação como “seu perfil”. Crio um
público especificando a localização como Brasil — caso queira focar em algum estado ou
cidade, pode —, defino interesses relacionados ao meu livro — recomendo que você selecione
livros e autores do seu gênero — e limito a idade para 21 a 40 anos — que é a faixa etária do
meu público, é válido conferir a faixa do seu na aba de informações do seu perfil. Por fim, eu
informo o valor diário que quero investir e o tempo da divulgação e confirmo o pagamento.
Caso você prefira usar as ferramentas do Facebook ou do Google, elas são bem similares ao
do Instagram, só precisa se adaptar a cada plataforma.
É importante entender a diferença entre marketing e remarketing. Com o marketing, você
alcança pessoas novas. Com o remarketing, você alcança de novo as pessoas que já
demonstraram interesse por você antes.
O Instagram não oferece ferramentas de remarketing, então eu faço através do Facebook. Eu
vou para o gerenciador de anúncios e clico na aba de “públicos”. Nessa janela, eu clico na
barrinha azul dizendo “criar público” e na opção “público personalizado”. Então, clico em “Perfil
comercial do Instagram” e seleciono as opções “‘qualquer um dos’ seguintes critérios”, “todas
as pessoas que se envolveram com seu negócio” e “nos últimos 30 dias”. Perceba que esse
método alcança até quem curtiu sua publicação patrocinada, mas não seguiu sua conta, então
é uma nova chance de conquistar esse futuro leitor.
Para fazer o remarketing pelo Facebook, eu vou na janela de Campanhas e clico no botão
verde “Criar”. As melhores opções são alcance — para fotos e vídeos — e reconhecimento de
marca — para publicação com várias fotos juntas, os carrosséis. Primeiro, dou o nome da
campanha e deixo as configurações padrões mesmo — tipo de compra como leilão e objetivo
da campanha como alcance. Em Conjunto de anúncios, uso minha página de Instagram,
informo meu orçamento, defino o público como o público que criei anteriormente e seleciono
onde desejo que minha publicação apareça em Posicionamentos — geralmente escolho só
Instagram, mas Facebook pode ser útil para você. Então, dou o nome do anúncio, em
“configurações do anúncio”, seleciono “usar publicação existente”, escolho a publicação,
informo o link do meu perfil e escolho “cadastre-se” em Chamada para ação”. Por fim, clico no
botão verde “publicar”.
A propósito, andei mexendo no Facebook e talvez dê para impulsionar fotos em carrossel como
opção de alcance em vez de reconhecimento de marca. Não sei, não testei ainda, mas talvez
seja possível. A diferença é: o alcance vai mostrar uma ou duas vezes para muita gente,
enquanto reconhecimento de marca vai mostrar várias vezes para algumas pessoas.
Particularmente, prefiro impulsionar uma publicação diferente por semana e manter focando em
alcance para quem já interagiu comigo antes.
Lembre-se de investir apenas o que não for fazer falta para sua vida pessoal e carreira literária.
Esse investimento traz retorno a longo prazo e não substitui todos os outros esforços que
sempre temos que ter — como manter redes sociais atualizadas e escrever, é claro. Não sou
especialista em marketing, mas ouvi dizer que nunca se deve arriscar demais em uma
divulgação. Toda ação de marketing visa a possibilidade de falha, lembre-se disso.
Falando em falha, eu já configurei errado minhas divulgações e um monte de gente aleatória
começou a me seguir. Se nosso objetivo é divulgar — e vender — nossos livros, de que
adianta ganhar seguidores que não são leitores? De nada, confie em mim. Se começar a
aparecer seguidores fora do seu perfil de leitores, cancele e replaneje o público — e encare o
dinheiro investido como aprendizagem.

Recapitulando

Influenciadores e influenciadoras são fundamentais para o mercado literário. Liste os perfis que
trabalham com o seu gênero, entre em contato, envie seu livro — e, se possível, alguns brindes
—, republique tudo o que for postado sobre o seu livro e mantenha o controle das suas ações
na sua planilha. Faça isso pelo menos uma vez por mês e não mais que uma vez por semana.
Se possível, impulsione suas publicações. Matenha um trabalho constante, que o resultado
vem no longo prazo.

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