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Que contradição: meritocracia é errada, Prêmio Optica, não

Jacque Mário Almeida Ié1

“Si pekaduris ika baka, enton nô kritika ika mbuka” (FBMJP)


A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) é
uma instituição de educação superior brasileira que se coloca como lugar e projeto de
emancipação das minorias sociais. Nessa instituição se debate o quanto o modelo de ensino
ocidental/ou ocidentalizado é neocolonial e capitalista, portanto contra as lutas de quaisquer
minorias em qualquer parte do mundo. A política discursiva e de prática pedagógica da
UNILAB é sempre apresentada como uma luta contra esse modelo de educação neocolonial.
Portanto, em quase todos os cursos, fala-se da importância de uma educação emancipadora.
Uma educação que não objetiva capacitar meras novas forças de trabalho para sustentar a
produção capitalista. Um ensino que pretende formar novos seres críticos. Crítica é a palavra
que resumiria as mentes formadas pela UNILAB.
Em todas as áreas de conhecimento científico que a instituição faculta, no mínimo as
pessoas por ela formadas precisam ter consciência crítica no sentido de desconstruir os modelos
ocidentais, neocoloniais, machistas, racistas e elitistas da produção e da funcionalidade do
conhecimento científico nas sociedades. Essa seria uma educação que valoriza as lutas de
minorias e para o reconhecimento da contribuição do Sul Global na produção científica.
Nessa perspectiva de uma educação anticapitalista, teoricamente a meritocracia é uma
das questões mais mal vistas e recalcadas na UNILAB. O que seria muito bom para a
convivência de “unilabianas/os”, porque incentivava a tal da integração, afinal a universidade
é da integração internacional da lusofonia afro-brasileira. Ela deveria evitar qualquer forma de
distinção pelo discurso da “meritocracia”, porque seus constituintes não partiram da mesma
base, não tiveram as mesmas oportunidades e nem têm as mesmas capacidades de explorar as
mínimas condições que a administração burocrática lhes dá ao longo de suas permanências na
instituição.
Entretanto, esse discurso contra a meritocracia parece só um elemento indispensável
para enfeitar as aulas, os debates, as palestras e as reuniões administrativas e de movimentos
estudantis na UNILAB. Porque, na prática, grande parte dos sistemas de seleção de estudantes
em diferentes fases e aspectos não parecem diferentes de critérios meritocráticos. Por exemplo,
no Processo Seletivo de Estudantes Internacionais convoca-se para as fases de provas só

1
Estudante de Relações Internacionais / Unilab-Malês – E-mail: almeidajamaral2018@gmail.com
inscrições de estudantes com maiores notas nos seus históricos escolares até atingirem os
números pretendidos na seleção; para ser bolsista em muitos programas institucionais (como
Pulsar e Bolsa Monitoria), o critério base de classificação é o maior índice do desenvolvimento
acadêmico (IDE); e esse critério é o mesmo em muitos projetos de extensão.
Para apresentar a sua cara pró-meritocracia e acabar com a dissimulação das distinções
que faz de seus discentes, por meio de Unilab Student Chapter- Capítulo estudantil da Unilab
vinculado à OPTICA, antiga OSA (The Optical Society), a UNILAB criou o “Prêmio Optica”.
Muitos críticos meus podem até dizer: mas porque muitos estudantes, inclusive eu, não
recusaram esses critérios meritocráticos quando foram beneficiados por eles em programas e
projetos de extensão e os de pesquisa? Uma das minhas respostas poderia ser: Porque em
condições que a UNILAB nos ampara só nos resta a opção de aderir a esse seu sistema
burocrático e seletivo de gestão de seus corpos. Bardadi i malgueta. Mas isso seria assunto para
outro debate. Então, vamos ao que interessa.
Literalmente, o prêmio faz distinção de melhores estudantes de cada instituto, de cada
turma de formandos. Já foram realizadas duas edições dessa premiação. E pretendem ainda
fazer a terceira, quarta, continuar e continuar distinguindo estudantes pelo mérito, mas são
contra discursos da meritocracia. Mas a sustentação dessa premiação é: “despertar o interesse e
motivar a comunidade acadêmica, destacando a importância do envolvimento dos estudantes
nos três pilares – ensino, pesquisa e extensão –, em contraste com o foco tradicional dado apenas
ao ensino”, apesar da instituição ser contra “meritocracia”. Isso é uma contradição institucional.
A UNILAB é contra o discurso da meritocracia, mas alega que “o prêmio busca homenagear
aqueles estudantes que, ao longo de sua trajetória acadêmica, conseguiram engajar-se de forma
bem-sucedida nessas atividades, contribuindo para o cumprimento dos objetivos da Unilab”.
Isso não é meritocracia? Quais são esses os objetivos da UNILAB? Será que o alcance desses
objetivos não passa também pela distinção de melhores docentes, melhores Pró-reitorias?
Afinal a universidade não se constrói só com o esforço de estudantes, mas por um conjunto de
entidades interdependentes!
O Prêmio Optica só reforça os modelos tradicionais ocidentais de incentivo à produção
científica. Ele ainda incentiva a individualidade das/os estudantes nos seus processos de
aprendizado e de produção científica. E isso impactará negativamente a qualidade de resultados
acadêmicos e as relações de convivência desses estudantes na universidade. Que contradição:
somos contra a meritocracia, mas usamos os mesmos critérios para avaliar a qualidade de
produtos da nossa universidade!
I Kukula!

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