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ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS: O PERFIL DOS INGRESSANTES

DO CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO DE SANTA MARIA


(2004 A 2012)

SCREMIN, Greice – UNIFRA/UFSM1

DALLACORT, Marisa Diniz - UNIFRA2

ESTEFANEL, Valduíno - UNIFRA3

KREBS, Marloá Eggres - UNIFRA4

Grupo de Trabalho - Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Esse artigo tem o objetivo de apresentar e discutir uma série histórica do perfil dos alunos
ingressantes no Centro Universitário Franciscano de Santa Maria. O levantamento desse perfil
é realizado pela Comissão Própria de Avaliação e os resultados apresentados nesse texto
compreendem o período do ano de 2004 a 2012. Esse perfil possibilita aos cursos de
graduação conhecer os estudantes que ingressam na instituição, bem como propicia que os
docentes reconheçam a sua clientela de alunos. A metodologia utilizada para realizar esse
trabalho foi de abordagem quanti/qualitativa, de tipo estudo de caso que possibilitou o
agrupamento dos dados de forma descritiva/comparativa e a análise pautada no estudo teórico
das condições da educação superior no país. No referencial teórico, busca-se discutir o papel
do ensino superior na sociedade, bem como a atuação da instituição estudada nesse contexto.
Outro aspecto discutido trata da caracterização dos estudantes universitários da atualidade.
Nesse contexto, como resultados foi possível identificar que aumentou o acesso de estudantes
com faixas de renda inferiores, o que corrobora com a democratização do acesso à esse nível
de ensino; o perfil de estudantes oriundos do ensino público vem se mantendo nos anos

1
Pedagoga, mestre e doutoranda em Educação pelo PPGE/UFSM; Professora e Representante Docente da
Comissão Própria de Avaliação Institucional do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA; Professora-
Pesquisadora do curso de Pedagogia EAD/UAB/UFSM; Integrante do Grupo de Pesquisas do CNPq GTFORMA
– Trajetórias de Formação.
2
Pedagoga, mestre em Educação; Professora e coordenadora da Comissão Própria de Avaliação Institucional do
Centro Universitário Franciscano – UNIFRA.
3
Mestre em Estatística pela Universidade de São Paulo; Professor e representante docente da Comissão Própria
de Avaliação Institucional do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA.
4
Licenciada em Letras Espanhol, Mestre em Letras pela Universidade Católica de Pelotas; Professora e
representante docente da Comissão Própria de Avaliação Institucional do Centro Universitário Franciscano –
UNIFRA.
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analisados; os estudantes que escolheram o Centro Universitário Franciscano de Santa Maria


muito mais pela qualidade do ensino oferecido; e a instituição atende estudantes de Santa
Maria e região. Portanto, foi possível perceber que o perfil de estudantes que ingressam na
instituição vem se modificando, de acordo com as transformações sociais que vêm ocorrendo
na sociedade e nas políticas de acesso ao ensino superior. Esses dados contribuem nas
discussões sobre a oferta e sobre a formação em nível de graduação nas diferentes áreas.

Palavras-chave: Estudantes universitários. Perfil dos ingressantes. Educação superior.

Introdução

A educação superior ocupa um papel de destaque no desenvolvimento científico e


tecnológico no país. Nesse contexto, é fundamental a preocupação com a qualidade da
educação oferecida nas diferentes instituições de ensino superior.
O processo de autoavaliação institucional se constitui como fundamental para o
conhecimento da realidade de cada instituição e possíveis avanços nas fragilidades
encontradas. Nesse sentido, a Comissão Própria de Avaliação tem a responsabilidade de
organizar e coordenar esse processo na instituição. E, nesse contexto, a autoavaliação se
constitui em um diagnóstico da instituição que possibilita visualizar as principais fragilidades
e potencialidades da mesma.
Este trabalho trata de um dos componentes do diagnóstico realizado no Centro
Universitário Franciscano de Santa Maria - RS em seu processo de autoavaliação
institucional. O perfil do aluno ingressante é um levantamento realizado pela Comissão
Própria de Avaliação do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria a fim de identificar
as características pessoais e acadêmicas dos estudantes que ingressam na Instituição. Esse
levantamento possibilita aos coordenadores de cursos de graduação a divulgação dessas
características aos docentes a fim de que esses possam planejar as atividades didático-
pedagógicas direcionadas às características específicas de cada turma ingressante.
O Centro Universitário Franciscano realiza esse levantamento desde o ano de 2004,
por isso a CPA, decidiu organizar os dados coletados desde então para identificar as possíveis
mudanças nesse perfil tendo em vista as transformações políticas e sociais ocorridas nos
últimos anos.
Portanto, o objetivo desse artigo é discutir o contexto universitário, dentro da realidade
de transformações que se encontra, bem como a atuação da UNIFRA nesse contexto. Outro
aspecto que vislumbramos interesse é relacionado aos estudantes universitários, pois esses
1108

configuram o público alvo do ensino superior da atualidade e os futuros profissionais para o


mercado de trabalho.
A apresentação da série histórica desse perfil tem como objetivo verificar as mudanças
no público que procura a Instituição a fim de poder contemplar os estudantes da melhor
maneira no que tange aos seus interesses formativos e profissionais.
Para a apresentação dos dados foram utilizados gráficos do Excel que demonstram as
mudanças ocorridas durante o período de tempo estudado. A análise dos dados foi realizada
de acordo com os referenciais teóricos estudados para a pesquisa da CPA.

Referencial teórico

Contexto universitário

As mudanças que a sociedade tem experimentado geram também, mudanças na


educação superior e, isso, demanda uma nova universidade que não pode ficar indiferente aos
desafios com os quais a sociedade se depara. Nesse sentido, Follmann (2008, p.313) enfatiza
que

a Universidade enquanto espaço onde, além da formação de profissionais e liderança


para o desenvolvimento da sociedade e o seu desenvolvimento científico e
tecnológico, se aprende a pensar, a produzir conhecimento e a construir avanços
tecnológicos e soluções para os problemas que afligem a mesma sociedade,
impulsionando-a para o futuro.

A instituição universitária se constitui, portanto, como espaço de construção do


conhecimento, do desenvolvimento do espírito crítico, do pensamento reflexivo, ou seja, um
espaço de formação do cidadão. A aquisição/produção do conhecimento se dá por meio das
atividades de ensino, de pesquisa, de extensão bem como nas atividades de gestão. Sabe-se,
também, que “o processo de aquisição organizada do conhecimento constitui uma das
dimensões mais importantes do fenômeno educativo” (DEFOURNY e CUNHA, 2008, p.
288).
Nesse contexto, a instituição universitária é uma instituição social complexa,
possuidora de uma identidade própria, mas que, ao mesmo tempo está submetida “as
incertezas do âmbito político, econômico e cultural que afetam qualquer uma das outras
realidades e instituições sociais com as quais convive” (ZABALZA, 2004, p. 25).
1109

A conquista da excelência da educação na universidade é responsabilidade de toda a


comunidade acadêmica. Ao professor compete “dominar a estrutura dos conteúdos, estar
atento à estrutura do sujeito, ter em conta as expectativas da comunidade em que se integra e
escolher a forma mais adequada para a comunicação pedagógica” (SOUSA, 2003, p. 59). Ao
estudante cabe comprometer-se efetivamente com a sua aprendizagem, ou seja, envolver-se
em todas as formas de atividades acadêmicas; pois a universidade é uma instituição educativa,
de formação e nesse sentido, os estudantes devem ser considerados como sujeitos que
encontram-se em um período de aprendizagem, de formação cidadã e profissional.
Portanto, “estar apto a inserir-se profissionalmente constitui-se um dos pontos
importantes para definir a qualidade da formação dos alunos na educação superior” (CUNHA;
FERNANDES e PINTO, 2008, p.113). Para isso, é necessário compreender a aula
universitária como o espaço e o tempo de aprendizagem, como uma prática pedagógica
dialética na qual o conhecimento deve ser socializado, recriado e onde o professor e os
estudantes realizem juntos uma série de interações. Nesse contexto, “o papel condutor do
professor e a autoatividade do aluno se efetivaram em dupla mão” (ANASTASIOU, 2004,
p.15).
Assim, de acordo com o contexto acima, a universidade é uma instituição social cuja
função primordial é a formação humana, ou seja, formar profissionais e cidadãos qualificados
para que possam contribuir com o desenvolvimento da sociedade.

Atuação do Centro Universitário Franciscano no ensino superior

O contexto universitário vem se modificando com o passar dos anos, especialmente no


que se refere ao acesso no ensino superior, pois a ampliação do acesso gerou mudanças no
perfil dos estudantes universitários. O aumento significativo de vagas, possibilitou que o
ingresso no ensino superior se consolidasse como um importante recurso para a ascensão
social.
Esse aumento de estudantes no ensino superior gerou uma procura significativa pelas
instituições do campo privado pois, o público de estudantes que já são trabalhadores acabam
por procurar, muitas vezes os cursos noturnos ou, pelo menos que acontecem em um único
turno, a fim de contemplar suas exigências no trabalho.
O município de Santa Maria é um polo educacional que atrai estudantes de todo o
estado do Rio Grande do Sul, nesse sentido, o Centro Universitário Franciscano se constitui
1110

como a maior instituição privada de ensino superior da região central e, desde que se tornou
Centro Universitário, vem ampliando significativamente sua atuação em ensino, pesquisa e
extensão. Desse modo, é importante destacar que, nesse contexto, tem-se outras instituições
de ensino superior (públicas e privadas) que atendem um grande número de estudantes em
diversas áreas de conhecimento, entretanto, possuem perfis diferentes de alunos.
O Centro Universitário Franciscano de Santa Maria – RS tem se consolidado como
uma instituição atenta com a formação profissional de qualidade que, em sua concepção de
educação superior compreende que sua missão é a de contribuir para o desenvolvimento da
pessoa humana e, em consequência, a transformação social. Para isso, investe na formação do
ser humano mediante um processo sistemático de ensino que desenvolve o conhecimento
técnico-científico vinculado à realidade. Dessa forma, o compromisso educativo é o de
“contribuir para a promoção de uma educação alicerçada na visão prospectiva para
transcender os desafios atuais, na competência acadêmica e na inovação pedagógica” (PPI
UNIFRA, 2007, p. 15).

Características dos estudantes universitários

Zabalza (2004) evidencia que os alunos universitários possuem como característica


principal a adultez que se configura como uma condição geral, da qual derivam outras várias
que têm grande relevância ao desenvolver o trabalho no contexto universitário. Uma das
principais condições atreladas a isso é o processo de democratização que permite a
participação dos estudantes nas decisões referentes à sua formação acadêmica. Levando em
conta a característica de alunos adultos, a instituição universitária deve levar em conta as sua
decisões, pois, de acordo com Zabalza (2004, p.187) “uma das prerrogativas dos adultos é que
eles sabem o que querem”. Outro elemento fundamental é que, em os estudantes sendo
adultos, estes possuem um amplo “backgraund cultural”, o que implica que a instituição eleve
seu ensino para um nível mais alto, considerando as aprendizagens prévias dos alunos
(Zabalza, 2004).
Zabalza (2004) considera ainda a condição de aprendizes dos estudantes universitários
e enfatiza a confluência entre a atuação dos professores e a disposição (motivação) dos
estudantes em direção à aprendizagem no marco da instituição. Ou seja, o autor propõe a ideia
de conceber a instituição universitária como “instituição de aprendizagem” e não como
instituição de ensino, considerando a concepção de comunidades de aprendizagem. As
1111

comunidades de aprendizagem devem, nesse sentido, considerar os modos como os


estudantes aprendem, os recursos que utilizam e como organizam seu próprio processo de
aprender. Nesse sentido, há a necessidade de os professores se envolverem nesse processo a
fim de poder orientar as aprendizagens. Desse modo,

[...] o objetivo da docência é melhorar os resultados da aprendizagem dos alunos e


otimizar sua formação. Isso implica, sem dúvida, grandes esforços didáticos para
adequar a organização dos cursos e os métodos de ensino utilizados aos diferentes
modos e estilos de aprendizagem dos alunos e aos seus diversos interesses
profissionais, já que se trata de adultos (ZABALZA, 2004, p. 190).

Zabalza (2004) compara os alunos universitários aos seus professores no sentido de


que ambos, mesmo possuindo características específicas no processo de ensino, são membros
pertencentes a uma mesma comunidade acadêmica e aprendizes dentro da instituição. Esse
autor considera que na interação entre o acadêmico e a instituição universitária, o aluno, como
principal aprendiz é o eixo central das atividades acadêmicas. Este, por sua vez, não exerce
com maestria a autoridade que lhe é concedida. Deste modo, compreendemos que também o
professor será um aprendiz principal do processo formativo seja do aluno, como de seu
próprio. Isto é, a lógica do processo do aprender deve ser incorporada no contínuo do seu
exercício profissional, e, nos parece que é isso que os acadêmicos clamam quando apontam
tais problemas em relação aos seus professores.
Leite (2010) apresenta os estudantes universitários em três grupos distintos: estudantes
consumidores, geração Y e estudantes aprendizes de feiticeiro/herdeiros. Os estudantes
consumidores caracterizariam um público voltado às instituições privadas, pois esses são alvo
e procuram desfrutar de todo o marketing realizado pela instituição.
Os estudantes geração Y seriam aqueles nativos digitais que nasceram entre 1978 e
1988-90, ou seja, uma geração de estudantes que está sempre conectada às tecnologias da
informação. Os jovens da geração Y são caracterizados por Leite (2010) como aqueles que
estão envolvidos em várias atividades ao mesmo tempo, mantendo a fidelidade em si, esses
jovens possuem “senso de oportunidade, bom relacionamento, ansiedade e agilidade. Seriam
até certo ponto arrogantes, permanentemente inquietos, superficiais e com vínculos voláteis”
(LEITE, 2010, p. 566).
Os aprendizes de feiticeiros e/ou herdeiros são caracterizados por Leite (2010) como
aqueles estudantes que acompanham o professor nas pesquisas, que possuem um engajamento
intelectual, buscando ascensão através da carreira acadêmica. Para obter êxito em suas
1112

atividades, “basta acompanhar o pesquisador, o líder de um grupo de pesquisa, e o aprendiz


de feiticeiro terá seus dias contados para sair “bem” da graduação, vivendo com recursos
materiais e simbólicos que não possuiria caso não estivesse no grupo da pesquisa” (LEITE,
2010, p. 566). Assim, ao final desse processo de acompanhamento e reprodução, esse
estudante transformar-se-á em docente universitário porque seguiu a mesma trajetória da
distinção acadêmica, ou seja, possui direito sobre ela, é seu herdeiro natural.
Após descrever esses tipos de estudantes observados por Leite (2010), questiona-se:
conhecemos esses estudantes? O quê eles possuem em comum? Quais seus interesses? Como
atendê-los de modo a formar profissionais autônomos em sua profissão?
Por isso, compreende-se que os alunos universitários ao se constituírem como um
grupo possuem certas características as quais devem ser consideradas nas formas pelas quais
os professores exercitam sua docência. Desse modo, suas especificidades interferem no modo
pelo qual o professor exerce sua docência.
Ainda nesse contexto, Imbernón (2009) destaca que a fim de fomentar o
desenvolvimento da autonomia dos alunos, as aulas na universidade deveriam constituir-se
como comunidades de aprendizagem aproveitando, assim a potencialidade da aprendizagem
colaborativa e das trocas proporcionadas pelo trabalho em equipe.

Aspectos metodológicos

O levantamento quanto ao perfil do aluno ingressante do Centro Universitário


Franciscano vem sendo realizado desde 2004, nesse sentido, buscou-se identificar as questões
que se repetiam no decorrer dos anos analisados a fim de construir gráficos comparativos
entre os anos e identificar possíveis mudanças nesse perfil.
A metodologia utilizada para esse trabalho se caracteriza como quanti-qualitativa, pois
a partir dos dados quantitativos produzidos pelos sujeitos através dos questionários fechados,
realizou-se uma análise interpretativa quanto ao contexto envolvido nas respostas.
No caso desse trabalho, foram utilizados os princípios do estudo de caso de
organizações numa perspectiva histórica (Bogdan e Biklen 1994), pois esses incidem em uma
instituição específica, ao longo de um período de tempo determinado e relata o seu
desenvolvimento.
Os instrumentos utilizados no decorrer do período analisado foram questionários com
perguntas fechadas. De acordo com BARBETTA (1999, p. 24), “a construção do questionário
1113

é uma etapa longa, que deve ser executada com muita cautela”. É necessário ter em mãos os
objetivos da pesquisa claramente definidos, bem como os sujeitos a serem entrevistados e as
situações a serem investigadas.
Foram tabulados alguns itens do questionário socioeconômico aplicado aos alunos
ingressantes do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria, RS, do 2º semestre de 2004
até o 1º semestre de 2012. Nos primeiros perfis levantados, o instrumento era respondido em
um cartão de leitura ótica ao fazer a inscrição para o vestibular. Depois, passou a ser
respondido on line ainda ao se inscrever para o vestibular. A partir do 1º semestre de 2008 e
até o 1º semestre de 2011, o questionário foi respondido em cartão de leitura ótica em sala de
aula quando o aluno já estava matriculado e cursando e, depois disso, novamente on line já
durante o primeiro semestre do curso. É importante destacar que, por razões estruturais, o
instrumento não foi aplicado no 2º semestre de 2006.
O Centro Universitário Franciscano cultiva a característica de não realizar o
preenchimento do instrumento de forma obrigatória, pois se preocupa com a relevância
pedagógica do levantamento do perfil. Entretanto, pode-se afirmar que em todos os semestres
o instrumento foi respondido pela maioria dos ingressantes. Na tabela 1 é apresentado o
número de respondentes em cada semestre.
Tabela 1: Número de respostas obtidas no questionário apresentado aos alunos ingressantes do Centro
Universitário Franciscano de Santa Maria, RS.
Ano 1º semestre 2º semestre
2004  431
2005 1127 478
2006 1063 
2007 1004 466
2008 720 381
2009 696 414
2010 840 321
2011 811 291
2012 622 

Como se pode observar, o número de respondentes no 1º semestre é sempre maior


tendo em vista o número de vagas ofertadas que também é maior para a entrada no início do
ano. Também é possível observar que o número de respondentes oscilou, havendo uma
redução no decorrer dos anos analisados.
1114

Resultados e discussão

A seguir, apresenta-se os principais resultados encontrados na análise, buscando


refletir teoricamente acerca dos dados descritos.
Na figura 1 são apresentadas as percentagens de alunos que estudaram todo ou a maior
parte do ensino médio em escola pública e a percentagem daqueles que cursaram o Supletivo
ou o EJA. Quanto ao tipo de escola verifica-se que a maioria dos ingressantes estudou em
escola pública e que a proporção é maior para o turno da noite do que para o diurno
alcançando 83,3% no 1º semestre de 2012. Houve, no período estudado, uma leve tendência a
aumentar a proporção de ingressantes provenientes de escola pública. A maior proporção de
ingressantes que vieram da escola particular observada no período diurno leva a crer que os
acadêmicos desse turno tem condições econômicas mais confortáveis. Quanto ao tipo de
curso, na maioria dos semestres, a percentagem de alunos que cursou Supletivo ou EJA ficou
entre 10 e 20%. Os Alunos dos cursos diurnos apresentaram maior percentagem de egressos
desses cursos do que aqueles do turno da noite. Nos primeiros semestres estudados houve um
aumento na proporção de ingressantes que frequentaram esses cursos, mas, a partir do 2º
semestre de 2005, permaneceu estável.

Figura 1: Percentagem de ingressantes do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria, RS, que cursaram o
ensino médio em escola pública e percentagem daqueles que cursaram supletivo ou EJA.

A percentagem de ingressantes que não exerciam atividade remunerada é apresentada


na tabela 2. Nos cursos diurnos, esta percentagem está acima de 70%, com exceção do 2º
1115

semestre de 2011, enquanto que no turno da noite varia em torno de 45 a 60% com exceção
do 2º semestre de 2010 e do 2º semestre de 2011 que foram mais baixas. Deve-se ressaltar que
alguns cursos do período diurno tem período integral, dificultando o exercício de atividade
remunerada e, também, que muitos estudantes desse turno são jovens que ainda não
ingressaram no mercado de trabalho. Verifica-se que existem variações de um semestre para
outro, mas, a longo prazo as proporções permanecem estacionárias.

Figura 2: Percentagem de alunos do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria, RS, que não frequentaram
curso pré-vestibular e percentagem daqueles que não exercem atividade remunerada.

Na figura 2 também são apresentadas as proporções de ingressantes que não


frequentaram cursos pré-vestibular. Observa-se que os acadêmicos dos cursos noturnos
apresentaram menor frequência em cursos pré-vestibular do que aqueles dos cursos diurnos.
Isso pode ser explicado pelo fato de que à noite é maior a proporção de alunos que trabalham
e, com isso, têm menos tempo para dedicarem-se aos estudos. Verifica-se, a partir de 2010,
em ambos os grupos, uma tendência a aumentar a proporção de ingressantes que não
frequentaram cursos pré-vestibular. Isso pode ser consequência de que, nos últimos anos,
houve abertura de muitas vagas para o ensino superior na região facilitando o acesso dos
estudantes aos mesmos e, consequentemente, diminuindo a pressão para frequentar cursos
preparatórios.
1116

A renda familiar dos ingressantes é apresentada na figura 3. A proporção de


ingressantes que declararam ter renda familiar menor ou igual a 3,0 Salários Mínimos (S. M.)
foi maior entre aqueles dos cursos noturnos do que naqueles dos cursos diurnos.
Em ambos os turnos houve um aumento na proporção de estudantes nessa faixa de
renda, nos cursos diurnos de 15,5 a 46,6% e nos cursos noturnos de 28,1 a 54,2%.

Figura 3- Renda familiar dos ingressantes do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria, RS.

Figura 4: Renda familiar dos ingressantes do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria, RS.
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Esse significativo aumento pode ser atribuído à políticas de auxílio a alunos carentes
adotadas pela Instituição e a programas governamentais como o PROUNI que propiciaram o
acesso ao curso superior de alunos com renda familiar mais baixa.
Os dois turnos apresentaram percentagens semelhantes na faixa de renda entre 3,1 e
7,0 Salários Mínimos e essas percentagens diminuíram no decorrer do período abrangido
nesse estudo. Nos cursos diurnos de 50,0 para 32,9 e naqueles noturnos de 44,9 para 31,0%.
Na faixa de 7,1 a 15,0 S. M. as percentagens são maiores nos cursos do período diurno
do que naqueles do noturno e houve uma diminuição da percentagem de alunos, de 28,4 para
14,9% para o diurno e de 22,7 para 11,3% para o noturno. Para a faixa de renda acima de 15,0
S. M. as percentagens variaram menos durante o período de estudo, mas, nos alunos dos
cursos noturnos, se situou quase sempre abaixo de 5% e para aqueles dos cursos diurnos entre
5 e 10%.
Verifica-se que os alunos dos cursos diurnos tem, em média, renda maior do que
aqueles dos cursos noturnos. Seria esta também uma das causas de que menor percentagem de
alunos dos cursos diurnos trabalha. Teriam menor necessidade de trabalho, podendo dedicar
mais tempo ao estudo.
A proporção de ingressantes cujas famílias residem em Santa Maria foi sempre maior
que 45% para os cursos diurnos e maior que 50% para os cursos noturnos (figura 4). Essa
proporção é menor nos primeiros do que nos últimos. Este fato pode ser atribuído a que
muitos trabalham no município de origem e não podem se afastar de lá enquanto os que não
trabalham deixam seus familiares, vem a Santa Maria e preferem estudar de dia. Também se
observa uma tendência a diminuir a percentagem dos que tem a família que mora em Santa
Maria principalmente para os cursos do turno da noite. Uma das causas pode ser a melhora do
sistema de transporte nos últimos anos que facilitou o deslocamento dos estudantes de seus
municípios a Santa Maria.
1118

Figura 5: Percentagem de ingressantes no Centro Universitário Franciscano de Santa Maria cujas famílias
residem em Santa Maria.

Aos alunos ingressantes também se perguntou qual o principal motivo que os levou a
escolher o Centro Universitário Franciscano para frequentar o curso superior. “Pela qualidade
do ensino” e “por influência de familiares ou amigos” foram as razões mais citadas. Suas
percentagens são mostradas na figura 5. “Pela qualidade do ensino” apresentou valores
sempre acima de 60% nos cursos diurnos alcançando 84,6% no primeiro semestre de 2010.
Nos cursos noturnos foi sempre acima de 50% alcançando 72,1% no segundo semestre de
2007. A opção “por influência de familiares e/ou amigos” obteve percentual semelhante nos
dois turnos, mas sempre abaixo de 10%. As outras opções: “porque funciona à noite”,
“porque é uma Instituição Católica” “pela localização da Instituição” e “por ter menor
concorrência no vestibular” tiveram valores baixos, com exceção da primeira, para o turno da
noite, que teve percentuais próximos a 10%. Esses números mostram o prestígio que o Centro
Universitário Franciscano possui junto à comunidade. Os fatos de ser confessional, de
localizar-se no centro da cidade e por ter menor concorrência no vestibular, tiveram pouca
influência na escolha da Instituição pelos alunos.
1119

Figura 6: Motivos pelos quais os ingressantes do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria, RS,
escolheram a Instituição.

Quanto à escolha do curso os alunos podiam escolher uma das seguintes opções: “pela
qualidade do ensino”, “pelo mercado de trabalho”, “atendimento de seus interesses”,
“realização pessoal” e “necessidade de atualização profissional”. A figura 6 apresenta as
percentagens de respostas das três opções com maior frequência. A opção “atendimento de
seus interesses” obteve as maiores percentagens de escolha alcançando 70,3% nos cursos
diurnos e 61,1% naqueles noturnos e teve tendência a diminuir no decorrer do período
estudado. Em todos os semestres as percentagens dos alunos dos cursos diurnos ficaram
acima daquelas dos cursos noturnos. A opção “pelo mercado de trabalho” obteve
percentagens mais baixas, com os cursos noturnos ultrapassando 30% em alguns semestres e
os cursos diurnos oscilando entre 10 e 20%.
A opção “pela qualidade do ensino” obteve valores semelhantes nos dois turnos, os
percentuais variando de 8,7 a 22,6%. A opção “possibilidade de ganhos financeiros” obteve
percentagens abaixo de 5% nos dois turnos e a opção “compatibilidade de horário” também
teve valores abaixo de 5% para os cursos diurnos, alcançando 6,2% nos cursos noturnos.
Observa-se que grande parte dos alunos escolhe o Centro Universitário Franciscano
“pela qualidade do ensino”, mas a escolha do curso é baseada em outros critérios. A
“compatibilidade de horário” e a “possibilidade de ganhos financeiros” não são importantes
na escolha do curso.
1120

Figura 7 - Motivos da escolha do curso que frequentam os ingressantes do Centro Universitário Franciscano de
Santa Maria, RS.

Figura 8: Motivos da escolha do curso que frequentam os ingressantes do Centro Universitário Franciscano de
Santa Maria, RS.

Considerações Finais

Em nível conclusivo, é possível afirmar que o perfil de estudantes ingressantes do


Centro Universitário Franciscano sofreu algumas mudanças no decorrer de nove anos de
análise. Essas mudanças são elencadas a seguir e refletem as transformações sociais, políticas
e econômicas ocorridas no contexto atual.
1121

Conforme foi possível perceber na reflexão teórica proposta nesse trabalho, o contexto
universitário está em constante transformação e demanda da adequação das instituições
universitárias para o atendimento das necessidades desse público. No Centro Universitário
Franciscano de Santa Maria - RS, é possível observar um perfil de estudantes ingressantes que
vem se modificando no período analisado.
Nesse sentido, a análise dos dados permite evidenciar que, do 2º semestre de 2004 ao
1º semestre de 2012, em relação aos alunos ingressantes no Centro Universitário Franciscano:
Houve um aumento na percentagem de alunos com renda familiar menor de 3,0
salários mínimos, uma diminuição na percentagem de alunos com renda familiar entre 3,1 e
15,0 salários mínimos e que os alunos dos cursos diurnos tem renda familiar maior do que os
alunos do turno da noite. Fato que comprova a maior democratização no acesso ao ensino
superior, conforme têm objetivado as políticas educacionais.
A maioria dos alunos ingressantes (até 84,7% no 1º semestre de 2010) escolheu o
Centro Universitário Franciscano para cursar o ensino superior “pela qualidade do ensino”.
Outras opções “Por ser uma Instituição Católica”, “por localizar-se no centro da cidade” e
“por ter menor concorrência no vestibular” foram apontadas por uma baixa percentagem de
alunos, quase sempre abaixo de 5% tendo ultrapassado 10% somente num semestre. O horário
de funcionamento do curso teve alguma importância para os alunos do turno da noite, em
torno de 10%. O que evidencia a credibilidade da Instituição no contexto em que atua.
A maioria dos alunos ingressantes do Centro Universitário Franciscano cursou o
segundo grau em escola pública (acima de 50% nos cursos diurnos e acima de 70% nos cursos
noturnos). Fato que explicita a necessidade formativa que os estudantes sentem e, por vezes
não conseguem acesso ao ensino superior pelo sistema público e acabam procurando a
educação privada a fim de suprir as necessidades de seu desenvolvimento profissional.
Em torno de 50% das famílias dos ingressantes dos cursos diurnos e 60% dos cursos
noturnos residem em Santa Maria. Esse dado confirma que a UNIFRA de fato supre uma
necessidade da população do município, abrangendo também outras cidades da região.
Portanto, pode-se concluir que o levantamento desse perfil tem contribuído
significativamente em duas dimensões para a Instituição. Por um lado, no nível dos cursos
possibilitando um trabalho voltado para o perfil de estudantes ingressantes, contemplando
seus interesses e necessidade. E por outro lado, no nível da Instituição, pois identifica
historicamente o perfil de estudantes, possibilitando a reorganização de políticas
1122

institucionais, bem como um atendimento mais efetivo às necessidades da comunidade onde


atua.

REFERÊNCIAS

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38). In: ANASTASIOU, l. das G. C.; ALVES, L. P. (Orgs.) Processos de ensinagem na
universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 3ªed.Joinville, SC:
UNIVILLE, 2004.

BARBETTA, P. A. Estatística Aplicada às Ciências Sociais. 3ª. ed. Revisada.


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