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Michel de Certeau

Professora Bia Olinto

Introdução ao Certeau e Operação Historiográfica


https://www.youtube.com/watch?v=ReiuBOqF948

Neste texto, discutiremos a introdução ao pensamento de Michel de Certeau e sua


abordagem na operação historiográfica. O ponto de partida é o podcast do monitor
Natan, que aborda a prática historiográfica e seu papel na vida e obra de Certeau.

Michel de Certeau, apesar de sua formação em letras e filosofia, desenvolveu sua


carreira prática na Companhia de Jesus, tornando-se um historiador. Ele é
reconhecido como um dos Pais da historiografia devido à sua sistematização das
etapas da produção do conhecimento histórico.

O vídeo sobre o documentário da vida e obra de Certeau destaca sua reflexão sobre a
historiografia e a diferenciação entre história e historiografia. Enquanto o
acontecimento é o passado, a história é a escrita sobre o passado, e essa disciplina
muitas vezes lida com vestígios e ruínas.

Antes de entrar na operação historiográfica, é relevante relembrar outras contribuições


de Certeau. O documentário destaca seu trabalho "A Invenção do Cotidiano" (Volumes
1 e 2), onde ele explora a cultura no plural, quebrando hierarquias entre cultura erudita
e popular. Ele também aborda questões relacionadas ao ensino universitário,
especialmente os desafios de democratização do acesso, enfrentados tanto pela
França nos anos 80 quanto pelo Brasil no início do século 21.

Certeau destaca a importância da cultura no cotidiano, enfatizando a criatividade das


práticas culturais. Ele introduz o conceito de bricolagem, destacando como as pessoas
consomem de maneira criativa, transformando produtos culturais em invenções
cotidianas.

Ao aplicar essa perspectiva à educação, Certeau destaca a importância de mostrar o


processo de construção do conhecimento em sala de aula. Ele defende a ideia de que
a sala de aula pode ser um espaço para a humanização dos alunos, criatividade e
construção do conhecimento, indo além da reprodução de conteúdos dominantes.
Certeau diferencia estratégia e tática, onde a estratégia representa as relações de
poder institucionais e a tática são práticas ordinárias que sobrevivem nas frestas
dessas estratégias. Ele sugere que, na educação, é possível criar espaços de
autonomia e humanização por meio de táticas.

O texto ressalta que a escola não é apenas um dispositivo disciplinar, mas também um
espaço para a construção de táticas de liberdade e autonomia, baseado na leitura de
Certeau e Paulo Freire.

A operação historiográfica, tema central do próximo vídeo, é apresentada como a


escrita da história com notas de rodapé, destacando o processo de construção do
conhecimento histórico. Esse enfoque desafia a visão de reprodução de conteúdo
dominantes na educação.

O próximo vídeo se concentrará na exploração detalhada da operação historiográfica,


dividido em dois segmentos para uma compreensão mais aprofundada.

Operação historiográfica: 1) o lugar


https://www.youtube.com/watch?v=YXn-Zs6OUcM

**Operação Historiográfica: Uma Análise de Michel Certeau**

Agora, falando sobre o texto "Operação Historiográfica do Setor", trata-se de um


documento escrito em 1175, no qual Certeau define as condições do fazer histórico.
Nas aulas anteriores, já discutimos como Certeau é um dos pioneiros na noção
contemporânea de historiografia, reconhecendo que fazer história é escrever história,
uma operação historiográfica que envolve a mediação na escrita da história.

**Divisão do Texto:**

1. **Introdução ao Conceito:**
- O historiador fabrica um lugar entre a vida e a morte, utilizando documentos e
fontes como vestígios do passado.
- A operação historiográfica produz um espaço para os mortos no presente.

2. **Análise Detalhada do Texto:**


- Iniciando pela página 65, Certeau aborda a grande questão e divide a operação
historiográfica em três fases: lugar, procedimento e escrita.
- Essa divisão é encontrada em outras obras, como o livro de Espetinho, que
também destaca as três fases da produção historiográfica.

3. **Fases da Produção Historiográfica:**


- Lugar: Refere-se ao contexto social, cultural, econômico e temporal em que a
produção histórica ocorre. A instituição e o grupo social influenciam o lugar.
- Procedimento: Envolvem textos, como o arquivo, e práticas diante desses
documentos. A análise inclui textos escritos, mas também outros formatos como
imagens, músicas e filmes.
- Escrita: Resulta na produção de um texto escrito, um discurso que é o produto final
da operação historiográfica.

4. **Reflexões sobre o Texto:**


- Certeau questiona o que o historiador fabrica ao escrever história, destacando a
importância de reconhecer o lugar social e os procedimentos utilizados.
- A necessidade de confessar o lugar e os procedimentos na produção do
conhecimento é enfatizada para evitar falta de objetividade.

5. **Lugar Social e Historicidade:**


- Certeau ressalta que a história é produzida a partir do presente, destacando a
historicidade da disciplina.
- A ideia de teleologia é questionada, e a importância de se livrar da exterioridade do
fato histórico é discutida.

6. **Instituição Historiador e Historicidade:**


- O historiador está vinculado a uma instituição que define as regras e normas para
os procedimentos.
- A ideia de disciplina universitária é discutida, ressaltando que todas as ciências são
produzidas por grupos e instituições.

7. **Fundamento Social da Ciência:**


- O Fundo Social da ciência é explorado, demonstrando como as escolhas de
pesquisa são influenciadas pelo contexto histórico e social.

8. **Conclusão:**
- Certeau destaca que o historiador que pensa que não tem teoria é um "sonâmbulo
teórico", enfatizando a importância de confessar o lugar e os procedimentos na
produção do conhecimento histórico.

**Considerações Finais:**
- O texto de Certeau é uma análise crítica da operação historiográfica, destacando a
necessidade de reconhecer o lugar social, os procedimentos e a escrita na produção
do conhecimento histórico.

Operação historiográfica: 2) prática


https://www.youtube.com/watch?v=0LcSC-Xgo80

Vamos para a fase dois da operação historiográfica, uma prática. Assim, o lugar que
você ocupa nessa produção do conhecimento histórico vai te dar a prática, ou seja, vai
te submeter a uma prática. O setor vai dizer: é esse lugar que vai dar para você. Se
você acha que história é literatura, é, ou a ciência.

O procedimento que vai te formatar para fazer é o lugar certo. Então, é a partir desse
lugar que você vai aprender técnicas, reflexões, conceitos, referencial teórico-
metodológico para ir para prática, ou seja, ir ao arquivo, né? A história é um
conhecimento empírico inacabado, sempre aberto, que é a partir das ruínas, dos
vestígios desse passado, que é um morto que não existe mais. Onde estão esses
vestígios? Até então, no arquivo, né? Claro que hoje...

Você vai compreender arquivo não só como um local físico, né, onde os documentos
estão guardados, porque nós temos locais virtuais, cinemas, temos a internet, e esses
acervos disponibilizados lá, às vezes acervos que estão reproduzidos lá e também são
guardados materialmente em instituições. Às vezes, acervos que só estão na internet.
Se você vai pesquisar blogs e sites, redes sociais, tudo isso é fonte para o historiador.
Só que nós trabalhamos sempre com esse morto, com o que não existe mais, ou seja,
o arquivo é essa memória. O povo requer a memória, história, esquecimento. A
memória é o que garante que alguma coisa aconteceu. Entender a memória é a nossa
fonte, o nosso documento, compreendendo assim a memória como uma pessoa
entrevistada, uma ata da reunião de câmara de vereadores, um vídeo, um filme
postado na internet. Todas essas ruínas, todos esses vestidos, todos esses vestígios
são as nossas fontes, os nossos documentos. É uma visão ampla de documento, é
uma visão que a gente deve também ao Félix, né? Tudo que representou o ser
humano, é feito pelo ser humano, que sobrou da presença humana, que foi alterado
pela presença humana, tudo isso é fonte para um historiador. O que a gente tem que
pensar no primeiro ponto sobre essa, essas fontes, esses arquivos, né? Essa memória
de revestir, Jesus e fragmentos. Eles são de prior, é um elemento natural que foi
artificializado, um papel em silício, um acervo documental. Tudo isso foi produzido a
partir de elementos da natureza. Então, o ser humano parte da natureza, artificializa a
natureza e produz resíduos, que são os nossos pontos, né? Que essa fonte que vem
sempre da atividade humana, de produzi-la, de calar, de esquecê-la, né? É assim,
esses vestígios, além de acessos oficializados pela atividade humana dentro da
natureza, eles já são, vão ser uma segunda vez artificializados, que nós vamos
transformá-los em documentos da história.

Então, vamos ver uma cadeira, né? Cadê a cadeira? Que vai ter de madeira, ela já foi
uma árvore, né? Então, a natureza árvore foi transformada em... e agora essa cadeira
foi usada e ela sobrou, né? Ela é representante de um período estético importante. Vai
para o museu ou então vai ser parte de uma fonte de cultura material sobre como
eram as habitações humanas no início do século 21. Vejam, duas vezes
artificializados: de árvore em cadeira, de cadeira em fonte sobre o passado histórico,
documento histórico. Então, a gente tem que ver sempre que é esse processo que
envolve a nossa abordagem documento. A gente vai no arquivo histórico, vamos pegar
uma coisa mais palpável, a gente tá aí pesquisar os processos criminais dos anos 30
para ver o papel das mulheres como testemunha. Aquele processo crime não foi feito
para mostrar o papel das mulheres como testemunhas, foi feito como dispositivo do
poder judiciário para condenar alguém ou não sentenciar alguém. Essa é a primeira
artificialidade, o papel celulose, a árvore foi transformado em processo para condenar
alguém ou inocentar alguém, certo? Um dispositivo do aparelho judiciário, agora ele
está guardado no arquivo histórico, que alguém, uma sociedade concordou que aquilo
deveria ser preservado para ser fonte histórica no futuro. Vai lá o historiador recorta
uma problemática, a questão das mulheres no processo, que não era previsto quando
ele foi feito. É uma segunda artificialização daquele documento, daquele vestígio.
Entenderam?

Então, essa é a primeira questão que a gente tem que colocar, e é uma sociedade que
transforma o natural e o utilitário e um historiador que transforma aquele utilitário, um
outro recorte, para virar documento histórico, né? É esse o debate que ele faz logo no
início da safra dois da operação historiográfica, para compreender que o passado
nunca é dado. O passado, ele é um morto que deixou vestígios que vão sendo
artificializados, transformados em documentos pela nossa problemática, pelo nosso
procedimento. Assim, ele vai prestar para o estabelecimento da etapa dois, não ponto
dois, da etapa dois, página 81.

Estabelecimento das fontes e a redistribuição do espaço, vou aqui na primeira parte


desse dessa fase e história. Tudo começa com um gesto de separar, de reunir, de
transformar em documentos certos objetos, de distribuir de outra maneira. Essa nova
distribuição cultural é o primeiro trabalho. Na realidade, ela consiste em produzir tais
documentos pelo simples fato de recuperar, transcrever, fotografar esses objetos,
mudando ao mesmo tempo o seu lugar, o seu estatuto. Vejam, você tem uma panela
de cozinha. Se você tá trabalhando com a história da alimentação, você vai recortar
essa panela de cozinha e vai transformar do uso cotidiano para fazer alimentos e vai
transformar ela num documento da história da alimentação do Paraná. Nesse caso,
por exemplo, na época que a Nelly, no mestrado, trabalhou com as bodegas,

ela pegou essa bodega que era uma loja de utilidades domésticas e recortou isso da
ação cotidiana da panela de cozinha e transformou na representação de uma cultura
alimentar. Ela não pode dizer que naquela bodega estava dizendo o que era a comida
do Paraná, mas ela está dizendo o que era a representação da comida do Paraná.
Então, se a gente tem uma panela de cozinha, vamos ver isso. Ela é um objeto útil, ela
tem sua função, mas ela foi artificializada por um historiador, ela vai ser utilizada por
um historiador para representar um recorte da cultura alimentar do Paraná, que na
verdade é uma cultura alimentar imaginada, né? Porque ela não está mostrando o que
a comida era, ela está mostrando como as pessoas, os empresários, as donas de
casa, que liam aquele informativo de jornal, de uma revista, como elas imaginavam a
cultura alimentar, né? Então, é isso que ele está dizendo, é produzir os documentos
pelo simples fato de recuperar, transcrever, fotografar esses objetos.

Operação historiográfica 3) uma escrita e os desafios do século XXI


https://www.youtube.com/watch?v=yHnElg-
qPTo&list=PLcK4mxcR6uTJkVLPhgrreg2FZRzw59J1K&index=5
A beleza da operação historiográfica é explorada no segundo vídeo, destacando a
importância de compreender a narração e a expansão do conteúdo. O texto aborda a
tabela que ilustra a narrativa e expansão nos discursos histórico, lógico e literário.
O autor destaca a narrativa literária, exemplificando com a saga de Harry Potter, onde
a ordem cronológica da narrativa é escolhida criativamente. Em contraste, o discurso
lógico da ciência é apresentado, destacando a busca pela verdade por meio da
indução e dedução.

No contexto da operação historiográfica, o texto explora o discurso histórico,


ressaltando a escolha do historiador na sucessão temporal. O autor enfatiza que a
história é um discurso misto, combinando verdades históricas com narrativa,
proporcionando menos rigor, mas mais credibilidade.

A ciência histórica é comparada com outras disciplinas, destacando sua


verificabilidade por meio de fontes e bibliografia. O autor ressalta a importância de
confessar o método de produção e fornecer acesso à bibliografia, tornando o
conhecimento histórico verificável.

A escrita historiográfica, com notas de rodapé e referências bibliográficas, é vista como


didática e simulando uma linguagem referencial. O texto enfatiza a função do conceito
na ligação de eventos singulares e gerais, permitindo a comparação de momentos
diferentes.

Finalmente, o autor destaca o papel da história em proporcionar um lugar para os


mortos no presente, permitindo que o leitor/aluno se encontre com o passado. O texto
conclui abordando a dualidade da história como arte e ciência, uma narrativa
verdadeira que oscila entre o fazer e o contar. O autor encerra expressando a
capacidade única da história de conectar passado e presente, proporcionando um
lugar para os perdedores e esquecidos no presente. O texto termina anunciando a
retomada dos desafios da historiografia no século 21, com base nas contribuições do
século 20.

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