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Conceitos históricos básicos:

1) Procedimentos históricos: A atividade historiográfica, como qualquer trabalho humano, requer a realização
de procedimentos e esses procedimentos são afetados por quem está na função de produzir essa historiografia e para
quem ela é produzida. Com o tempo tanto os produtores, quanto o público, assim como os procedimentos se
modificam. Paralelamente a isso, concepção de "educação" e seus métodos também se modificam com o tempo, mas
com seus próprios ritmos ao longo do tempo e não em paralelo às mudanças historiográficas.

2) Duração: Quando se trabalha com a dimensão do TEMPO é necessário não perder de vista os aspectos que o
compõem, a “duração” é um dos elementos do tempo que nos remete aos de “mudança” e “permanência”. Estar atento
ao que mudou e ao que não mudou no seu tema ao longo do tempo é o eixo central de qualquer pesquisa historiográfica.
Esses aspectos foram muitos trabalhados e de diferentes formas por escolas historiográficas ao longo do século XIX e
XX, escolas alemã, francesa e inglesa sobretudo. Faz parte da tradição de nosso foco de análise estar atento a esses
aspectos e a suas variantes como “por que mudou?”, “por que permaneceu?”, “como – em quê – mudou ou não
mudou?”, “quanto demorou essa mudança? Por quê?”, “que impacto causou essa mudança ou essa permanência?”,
etc. Investiga é fazer perguntas que não costumam ser feitas e tentar responde-las, mas para um historiador ou
historiadora serão perguntas sobre seu tema ao longo do tempo! Levantar trajetórias e questioná-las.

3) Historicidade dos conceitos: Os conceitos também são históricos. O termo "democracia" teve um significado
entre os atenienses do século V a. C. que não corresponde ao significado que damos hoje ao mesmo termo. Ser um
"homem livre e pobre" no capitalismo hoje não tem o mesmo significado que esse termo tinha na sociedade escravista
do século XIX, onde também existiram homens chamados “livres e pobres”. O conceito do que era ser "mulher" no início
do século XX é muito diferente do conceito atual. As vezes para ler um documento de época é importante ter a mão um
dicionário de época caso existirem dicionários para a época em questão... caso contrário será necessário uma pesquisa
em vários documentos de época para se afinar dos sentidos dados às palavras. Além disso, outros conceitos de
elementos ágrafos – não escritos – são tão importantes, e as vezes até mais, quando se dedica a pesquisar momentos
ou grupos cuja oralidade, gestual, vestimentas, etc; possuem significados sem os quais não se pode compreender o
conjunto de uma época ou povo ou grupo ou classe social.

3) Os Sujeitos históricos são coletivos: São sujeitos coletivos. Todo ser humano nasce num coletivo que o forma
e a partir do qual se constrói (ou até se construindo contra esse coletivo de origem). Até a ideia de “indivíduo” é uma
concepção transmitida coletivamente por uma sociedade que se pensa composta por seres in divisos (sem divisões),
que são inteiriços, que estão soltos na ordem social, concepção que se expressa no termo "indivíduo" construído
historicamente com o surgimento da sociedade capitalista. Entretanto, como seres sociais, sempre somos resultados
de nossas relações com os outros, de nossas múltiplas relações com outros que explicam quem nós somos: a) parentes
- filho(a), irmã(o), pai, tio, etc; b) fiel comungando de uma mesma religião ou crença; c) amigos por afinidades diversas,
etc. Então, somos seres socialmente constituídos por várias partes, seres “compartidos”, frutos da compartilhação social
dos outros conosco. Etimologicamente falando a palavra "compartilhar" vem do Latim: “COM” = “junto, com” mais o
termo “PARTÍCULA” = “parte pequena”, ou seja, somos uma pequena parte dos outros junto a nós e os outros uma
pequena parte de nós junto a eles. Então, mesmo que se escreva uma biografia, que se centre em fazer o relato da
trajetória de uma pessoa, inevitavelmente se estará contando a história dos coletivos do qual faz parte: família, religião,
povo, trabalho, convicções, sentimentos, etc; que são de uma mesma época, cultura e sociedade. Mesmo que esse
membro dessa sociedade queira ir contra tudo nessa sociedade, no final e será o “espelho invertido” dessa sociedade,
ou seja, um testemunho “a contra pelo” do que aquela sociedade era ou é.

4) Rigor profissional: Deixar claro os métodos e as fontes utilizadas, compartilhar esses procedimentos e os
processos de análise. Quando utilizamos as fontes - de diferentes tipos – somo obrigados a nos especializarmos nas
análises apropriadas para os tipos de fontes escolhidos. As discussões teóricas e metodológicas para a análise dessas
fontes serão as disponíveis na época de nossa produção acadêmica. Mas, essas discussões teórico-metodológicas estão
sempre em contínuo debate e nada impede que novos entendimentos teórico-metodológicos – novos “óculos” –
possam, futuramente, trazer um repensar de sua própria produção sobre seu tema. Outros historiadores no futuro,
inclusive tu mesmo, poderão “enxergar” como outros “óculos” seu tema de uma outra forma. A verdade sendo tentativa
de representação da realidade e a realidade passível de se modificar em diferentes aspectos e em diferentes ritmos. A
produção do conhecimento histórico tem um começo, mas não um fim.

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