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Justificativas:
Objetivos gerais:
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Fomentar a revisão de valores, visando a contribuir para o fortalecimento de uma
sociedade democrática e para a defesa dos direitos humanos.
Metodologia de trabalho:
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Recursos didáticos:
Além dos tradicionais giz e lousa, faremos uso de alguns textos impressos, sejam
eles fragmentos de artigos científicos e ensaios ou artigos de revistas. Esses textos são
excertos de outros materiais mais extensos, que possam ser lidos, discutidos e esgotados
em poucas aulas. Os estudantes de hoje são formados numa cultura multimídia e tem
muita dificuldade em se concentrar por muito tempo em longas e demoradas leituras.
Utilizar textos muito longos poderia ser um fator de desmotivação frente ao processo, o
que não nos interessa. Também recorrerei a apresentações de Powerpoint para
sistematizar informações importantes ou apresentar imagens e vídeos para análise e
discussão coletiva.
Cronograma de encontros:
A opção por usar o termo “encontro” em vez de “aula” tem sua razão de ser. A
aula é uma estratégia metodológica que implica necessariamente na exposição oral de
um professor para uma turma de estudantes. As aulas podem ser magistrais ou
dialógicas. Aulas magistrais são aquelas em que o professor primeiro faz toda a sua
exposição e, ao final, abre espaço para perguntas sobre o tema que expôs. Já as aulas
dialógicas são aquelas em que o professor levanta algumas questões oralmente para que
os estudantes discorram sobre seus pontos de vista e, ao longo de um diálogo travado
com os mesmos, vai expondo o seu tema e sistematizando suas conclusões. Nem todo
encontro pedagógico, no entanto, é ocasião para uma aula. Se a aula se impôs como o
sinônimo de um encontro pedagógico é porque, sem dúvida, é a estratégia metodológica
tradicionalmente mais utilizada pelos docentes.
Além das aulas, um encontro pode ser o espaço-tempo de uma oficina, um
estudo dirigido de texto, um debate, um fórum-simulado, uma dinâmica de grupo, uma
dramatização, entre tantas outras estratégias metodológicas possíveis. Cabe ao professor
diversificar as estratégias, de modo a permitir que o maior número de estudantes interaja
com o tema proposto e exercite suas habilidades cognitivas. Segue uma tabela com a
descrição resumida do objetivo específico e da estratégia adotada em cada encontro:
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Encontro nº Descrição resumida
1 Objetivo específico: Sensibilizar para o caráter construído dos gêneros
Estratégia: Dividir a turma em subgrupos de até 5 pessoas, misturando
meninos e meninas. Distribuir para cada subgrupo uma tabela dividida
em duas colunas em que se encontram os enunciados “Coisas de
menina/mulher” e “Coisas de menino/homem”. Solicitar que cada
subgrupo descreva comportamentos, objetos e práticas que considerem
típicos de um gênero e de outro, preenchendo então sua respectiva
tabela. Pedir que cada subgrupo apresente os resultados sistematizados
em sua tabela, levantando as seguintes questões: “Houve controvérsias
internas ao grupo ou os resultados foram consensuais?”; “Será que essas
coisas de menino e de menina sempre pertenceram ao gênero que vocês
indicaram ou foram atribuídas num determinado momento da história?”.
Ao final das discussões pedir que, em casa, cada estudante redija uma
dissertação sobre o assunto tratado, expondo sua posição no debate.
2 Objetivo específico: Conceituar e distinguir natureza e cultura, a fim de
questionar se o gênero é naturalmente dado ou culturalmente construído.
Estratégia: Pedir que alguns estudantes leiam a dissertação que fizeram
em casa. Recolhê-las para, posteriormente, avaliá-las. Distribuir o texto
de Marilena Chauí, “Natureza e Cultura”. Pedir para que, em duplas,
eles leiam o texto, atentando para os conceitos referidos. Após a leitura,
pedir que os alunos respondam oralmente acerca dos elementos
elencados nas tabelas: “Esses comportamentos, objetos e práticas são
naturais ou aprendidos/construídos socialmente?”. Ao final do encontro,
solicitar que os alunos escrevam em casa uma dissertação,
sistematizando seu posicionamento nas discussões realizadas em sala.
3 Objetivo específico: Problematizar a naturalização do gênero feminino.
Estratégia: Solicitar que alguns estudantes leiam em voz alta a
dissertação feita em casa. Distribuir aos estudantes o texto de Simone de
Beauvoir composto por excertos selecionados de “Introdução” e
“Infância”. Pedir a elas/es que leiam o texto e respondam em duplas,por
escrito: Para a filósofa, “ser mulher” é uma subjetividade natural ou
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construída? Que argumentos utilizados pela autora justificam sua
resposta? Pedir que algumas duplas leiam em voz alta suas respostas e
retomar alguns aspectos dos textos, analisando-os, comentando-os e
problematizando-os a partir das seguintes questões levantadas para uma
discussão oral: O que é ser mulher em nossa sociedade atual? As
formas de “ser mulher” são as mesmas em todas as sociedades e em
todas as épocas? Ao final do encontro, solicitar que cada estudante, em
casa e individualmente, escreva uma pequena dissertação em seu
caderno, sistematizando sua posição frente ao nosso debate.
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Pinto, “Feminismo, história e poder”. Dividi-la/os em trios e distribuir
para cada trio um tabela sobre as três ondas do feminismo contendo
quatro colunas. (Primeira coluna - critérios de comparação/Segunda
coluna - Primeira onda/ Terceira coluna - segunda onda/ Quarta coluna -
terceira onda). Solicitar que os trios leiam o texto e, com base nas
informações encontradas, preencham as suas respectivas tabelas,
estabelecendo critérios de comparação e efetivamente comparando as 3
ondas do movimento feminista segundo os critérios estabelecidos.
7 Objetivo específico: Contextualizar historicamente a emergência do
conceito de gênero no interior do movimento feminista. (Continuação
do encontro anterior).
Estratégia: Pedir que cada trio apresente os critérios de comparação que
elencaram no encontro anterior, bem como as diferenças e semelhanças
encontradas entre cada onda do movimento feminista. Ao longo das
apresentações, sistematizar uma única tabela na lousa e solicitar que
todos a copiem nos cadernos.
8 Objetivo específico: Problematizar a ideia do sexo como uma categoria
exclusivamente natural e a ideia de gênero como uma categoria
unicamente cultural. Reconhecer que sexo e gênero, bem como natureza
e cultura, são conceitos intercambiáveis.
Estratégia: Distribuir aos estudantes o texto de Thomas Laqueur, “Da
linguagem a carne”. Solicitar que eles façam a leitura e, em duplas,
respondam por escrito: O corpo foi interpretado de diferentes formas ao
longo da história? Quais as diferenças entre o modelo do unissexo que
vigorou da antiguidade até o século XVIII e o modelo dos dois sexos
que surgiu a partir de então? Pedir que algumas duplas leiam as suas
respostas e depois comentá-las e sistematizar o assunto.
9 Objetivo específico: reconhecer que as subjetividades não são dadas,
mas produzidas socialmente.
Estratégia: Apresentar aos estudantes, no PowerPoint, o aforismo a
seguir e lê-lo coletivamente: “O sujeito, segundo toda a tradição da
filosofia e das ciências humanas, é algo que encontramos como um
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“sempre aí”, algo do domínio de uma suposta natureza humana.
Proponho, ao contrário, a ideia de uma subjetividade de natureza
industrial, maquínica, ou seja, essencialmente fabricada, modelada,
recebida, consumida. As máquinas de produção da subjetividade
variam. (...)” Guattari, Félix; Rolnik, Sueli. “Subjetividade e História”.
In: Cartografias do desejo. RJ: Vozes, 2000. (p. 25). Logo em seguida,
apresentar aos estudantes em powerpoint, os aconselhamentos para
mulheres realizados nas décadas de 1940, 50 e 60 pelo “Jornal das
Moças” e pela revista “Querida”: “- Não se deve irritar o homem com
ciúmes e dúvidas .(Jornal das Moças, 1957) - Se desconfiar da
infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de
afeto. (Revista Claudia, 1962)- A desordem em um banheiro desperta no
marido a vontade de ir tomar banho fora de casa. (Jornal das Moças,
1945) - A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, nada
de incomodá-lo com serviços domésticos . (Jornal das Moça, 1959) - A
esposa deve vestir-se depois de casada com a mesma elegância de
solteira, pois é preciso lembrar-se de que a caça já foi feita, mas é
preciso mantê-la bem presa. (Jornal das Moças, 1955) - Se o seu
marido fuma , não arrume briga pelo simples fato de cair cinzas no
tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa. (Jornal das Moças,
1957) - A mulher deve estar ciente de que dificilmente um homem pode
perdoar uma mulher por não ter resistido às experiências pré-nupciais,
mostrando que era perfeita e única, exatamente como ele a idealizara.
(Revista Claudia, 1962) - Mesmo que um homem consiga divertir-se
com sua namorada ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela
cedeu. (Revista Querida,1954) - O noivado longo é um perigo. (Revista
Querida, 1953) - É fundamental manter sempre a aparência impecável
diante do marido. (Jornal da Moças, 1957) - O lugar de mulher é no lar.
O trabalho fora de casa masculiniza. (Revista Querida, 1955)”
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femininas como “máquinas de produção de subjetividade”, que tipos de
subjetividades masculina e feminina os aconselhamentos das referidas
revistas estariam produzindo? Pedir que algumas duplas leiam suas
respostas e, partindo delas, tecer considerações sobre o caráter
construído das subjetividades, incluindo as de gênero. Comentar os
aconselhamentos das revistas femininas, à luz do aforismo de Guattari e
do conceito de produção da subjetividade, bem como dos textos de
Beauvoir e Badinter.
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Estratégia: Considerando nossas leituras, reflexões e debates, escreva
uma dissertação de no mínimo 20 linhas, contendo introdução,
desenvolvimento e conclusão, sobre o seguinte tema:
Avaliação:
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- O texto problematiza a ideia de que ser homem é algo natural, argumentando em
defesa do caráter construído do gênero masculino.
COSTA, Jurandir Freire. “Nota 2 – Introdução”. In: A face e o verso. SP: Escuta, 1995.
(pp. 21-22);
- Trata-se de uma nota da introdução do livro, em que o autor imagina uma sociedade
futura na qual as pessoas seriam classificadas sexualmente segundo o papel
desempenhado pelos sentidos do tato, do olfato, do paladar, da visão e da audição
durante as relações sexuais. Por evidenciar o absurdo de tal classificação, o autor
problematiza o caráter supostamente natural da divisão das pessoas em homo e
heterossexuais.
CHAUÍ, Marilena. “Natureza e cultura”. In: Convite à filosofia. SP: Ática, 1997. (pp.
291-293);
- O texto mostra os vários significados atribuídos ao longo do tempo às palavras
natureza e cultura, permitindo-nos uma conceituação dos termos.
PINTO, Célia Regina Jardim. Feminismo, História e poder. In: Rev. Sociol. Polít.,
Curitiba, v. 18, n. 36, p. 15-23, jun. 2010 (pp. 15-17).
- O texto nos apresenta uma breve história das três ondas do movimento feminista e da
emergência do conceito de gênero;
Videografia:
Guacira Lopes Louro, “Feminilidades e pós-modernidade” (de 10’47’’ a 18’16’’). In:
https://www.youtube.com/watch?v=LxYkRyH4QN8
Exemplo de Aula
É importante que se diga: uma coisa é o sexo e outra bem diferente são as
sexualidades, embora ambos estejam relacionados. Primeiramente, trataremos aqui do
que, usualmente, entendemos por sexo.
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A palavra sexo pode ser utilizada com dois significados distintos e interligados.
Chamamos de sexo à parte da fisiologia e da anatomia humanas que correspondem aos
órgãos genitais, masculino e feminino, e que, por sua vez, servem costumeiramente
para distinguir os corpos humanos, como os de quaisquer outros animais, entre machos
e fêmeas. Mas também usamos a palavra sexo para designar as práticas sexuais, ou seja,
aquilo que dois ou mais corpos podem fazer entre si, simplesmente com o objetivo de
obter prazer uns com os outros ou mesmo com a finalidade intencional de se reproduzir
e gerar descendentes.
Se, em princípio, o sexo anatômico nos parece muito natural porque próprio a
uma natureza corporal supostamente inconteste, é importante que se diga que esta
natureza, aparentemente dada desde o nascimento, foi e é constantemente revestida de
significados e interpretações culturais. Da Antiguidade grega até o século XVIII, por
exemplo, era corrente entre os médicos a interpretação de que a genitália masculina era
idêntica à feminina, se diferenciando apenas pelo fato de a primeira ser voltada para
fora do corpo e a segunda, para dentro1. A nomenclatura dada aos órgãos genitais até
esta época é reveladora desse modelo do unissexo: mulheres não tinham vagina, mas um
pênis voltado para dentro; os lábios da vulva equivaliam ao prepúcio; não tinham útero,
mas um saco escrotal interno; e os ovários nada mais eram do que testículos
internalizados. Tratava-se assim da mesma constituição anatômica, só que posicionada
de modos diferentes num corpo e no outro.
A vida era entendida por essas sociedades como uma espécie de chama a
aquecer e animar o corpo. Acreditava-se que a anatomia do sexo feminino era
internalizada devido à concentração de grande parte do calor vital das mulheres na
região do ventre, o que as levaria a gerar descendentes. Por conseguinte, se o sexo
masculino era todo exposto ao mundo externo, isso se devia ao imenso calor vital do
corpo masculino que expandia sua genitália para fora. Segunda essa interpretação, o
sexo das mulheres era, portanto, “naturalmente” voltado para dentro do corpo, o que
justificava seus corpos serem socialmente direcionados para dentro das casas, para a
vida doméstica, a educação dos filhos e, em suma, para o mundo da ética. Já, se o sexo
1
Ver Laqueur, Thomas, Inventando o Sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. RJ: Relume Dumará,
2001.
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dos homens era completamente externalizado, também pareciam dadas as razões para
que seus corpos fossem socialmente voltados para as ruas, para os espaços e a vida
públicos, para o mundo do trabalho e da política. A natureza servia a uma naturalização
das posições sociais de uns e de outros. Ser homem e ser mulher era mais uma diferença
de grau de perfeição anatômica em que o corpo masculino aparecia como a forma mais
bem acabada de um sexo comum a homens e mulheres. Desse modo, o discurso
dominante interpretava a anatomia sexual dos corpos masculinos e femininos como
versões hierárquicas de um sexo anatômico idêntico.
Não pense, cara/o estudante, que o surgimento do modelo dos dois sexos como
novo modo de interpretação do corpo sexuado resultou de um avanço da Ciência que,
com suas novas descobertas, ajudou os indivíduos a superar a ignorância do passado e
alcançar a verdade pura e cristalina sobre o corpo. Na verdade, o interesse científico em
buscar evidências para as distinções anatômicas e fisiológicas entre homens e mulheres
só se tornou uma obstinação dos cientistas quando naturalizar as diferenças entre esses
corpos se tornou social e politicamente importante. A Revolução Francesa no século
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XVIII, por exemplo, defensora dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade,
utilizou-se das novas interpretações médicas sobre o corpo sexuado para justificar que,
sendo homens e mulheres portadores de anatomias sexuais natural e radicalmente
distintas, não poderiam então ser considerados livres e iguais perante as leis. Em
síntese, segundo tal interpretação, a natureza havia de antemão determinado o lugar
social de cada um, fazendo com que os ideais da Revolução não fossem destinados a
todos. A primeira “Declaração Universal de Direitos” da história da humanidade,
elaborada nesse contexto revolucionário, era uma “Declaração Universal dos Direitos
do Homem e do Cidadão” e não “dos Direitos Humanos”, não contemplando as
mulheres nessa universalidade.
Os exemplos citados até aqui, caro/a estudante, nos levam a uma importante
afirmação: o sexo anatômico não é a causa natural do gênero. Em outras palavras, ser
homem ou ser mulher não são identidades naturais dadas irrevogavelmente desde o
nascimento, mas identidades sociais construídas culturalmente de diferentes formas em
diferentes sociedades e atreladas à natureza do corpo como se fosse uma prótese. Você
deve ter notado que, já algumas vezes no decorrer desse curso, mencionamos a palavra
“gênero”. Mas o que é gênero e por que é importante distingui-lo de sexo?
Dito de outro modo, aprendemos desde a mais tenra infância certos modelos de
masculinidade e de feminilidade como se fossem naturais, passamos a acreditar que
nascemos homens ou mulheres e deixamos de perceber que nos tornamos isto ou aquilo
num processo contínuo de vigilância, de restrições, bem como de introjeção de regras e
valores. “Homens são mais racionais e mulheres mais sensíveis”. “Homens são mais
fortes e mulheres mais delicadas”. “Azul é cor de homem, enquanto rosa é cor de
mulher”. “Carrinho é brinquedo de menino e boneca é brinquedo de menina”. “Homens
usam terno e gravata, enquanto mulheres vestem saias”. “Mulheres devem ser ‘belas,
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recatadas e do lar’2, enquanto homens devem ser fortes, arrojados, viris, dispostos o
tempo todo ao intercurso sexual com qualquer mulher, além de dedicados à vida
boêmia”. Essas imagens do feminino e do masculino que você deve conhecer muito
bem fazem parte da nossa cultura e nada possuem de natural, embora sejam
“naturalizadas” por nossa sociedade e, por isso mesmo, produzem seus efeitos de poder,
dominação e exclusão sobre homens e mulheres. O próprio uso que fazemos da
linguagem costuma refletir os privilégios masculinos e as desigualdades de gênero. É
comum nos referirmos à espécie humana, composta por homens e mulheres, como “o
Homem”. Além disso, mesmo quando nos dirigimos a um grupo de pessoas cuja
maioria é feminina, basta que nele haja apenas um integrante homem para que nos
refiramos a todos no gênero masculino: “os alunos”, “os educadores”, “os
trabalhadores”, etc.
Até agora, pudemos perceber que a natureza do sexo anatômico não é uma
realidade inconteste e nem determinante das identidades de gênero que nada mais são
que construções sociais resultantes de um longo investimento histórico e educativo. Mas
e as práticas sexuais? Podemos nos referir a elas como atividades puramente naturais?
Certamente que não! Fazer sexo não é uma atividade exclusivamente natural, o que nos
torna diferentes dos outros animais e, portanto, algo além de machos e fêmeas.
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Referência a uma entrevista realizada pela Revista VEJA com a primeira-dama, esposa do então
presidente interino, Michel Temer, cujo título era “Bela, recatada e do lar”. O estereótipo de mulher
difundido pela revista foi muito discutido e polemizado nas redes sociais.
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relacionando-se a rituais de fertilidade e sacramentos religiosos, ou apenas se desnudam
como práticas profanas; se conectam à sedução e à corte galante ou são compradas pelo
dinheiro como qualquer outro serviço no mercado; são obtidas pelo encontro presencial
de dois seres humanos ou promovidas virtualmente pelas novas tecnologias de
comunicação, tais como, os vídeos, as câmeras acopladas aos computadores, as salas de
bate-papo na internet, os aplicativos de celular. Tudo isso são invenções humanas em
torno do sexo que fazem emergir uma imensa gama de culturas sexuais, construindo um
mundo em torno de tais práticas que só o animal humano é capaz de fabricar e cuja
presença não é verificada entre os indivíduos de nenhuma outra espécie.
Você deve ter percebido, amigo/a estudante, que há algum tempo estamos nos
referimos às sexualidades no plural e deve ter se questionado o porquê. Esta é uma
maneira de deixar claro que não existe uma sexualidade. Melhor seria dizê-la sempre no
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plural, como “sexualidades”, pois ela não é única, monolítica, imutável. Não há “a”
sexualidade, verdadeira, “normal”, incontestável e eterna, mas múltiplas e variadas
sexualidades, cheias de nuances, transformáveis no espaço e no tempo, cujas naturezas
são culturalmente construídas e se modificam ao sabor das épocas. Até mesmo o plural
tem suas limitações para nomear as sexualidades, pois pode nos levar a crer que estamos
nos referindo apenas à multiplicação de uma mesma forma, à repetição de algo comum,
a “mais do mesmo”, o que também não é verdadeiro.
BANDEIRA, Marcio Leopoldo Gomes. “Um olhar histórico sobre a sexualidade”. In:
FRANÇA, H. (org.) As minhas, as suas, as nossas sexualidades. SP: CEPCoS, 2013.
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente. SP: Cia. das Letras, 1989.
FARIA, Nalu; NOBRE, Miriam. “O que é ser mulher? O que é ser homem? Subsídios
para uma discussão das relações de gênero”. In: Gênero e educação – caderno para
professores. SP: SME, 2003.
______________. História da Sexualidade II: o uso dos prazeres. RJ: Graal, 1997.
LAQUEUR, Thomas. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. RJ:
Relume-Dumará, 2001.
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LOURO, Guacira Lopes. “Pedagogias da sexualidade”. In: LOURO, Guacira Lopes
(org.). O corpo educado – pedagogias da sexualidade.- 2ª ed.- BH: Autêntica, 2011.
NIETZSCHE, Friedrich. Humano demasiado humano. SP: Cia. das Letras, 1992.
SAMARA, Eni de Mesquita; SOIHET, Rachel; MATOS, Maria Izilda S. de. Gênero
em debate: trajetórias e perspectivas na historiografia contemporânea. SP: EDUC,
1997.
WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo
educado – pedagogias da sexualidade.- 2ª ed.- BH: Autêntica, 2011.
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