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religiosos e educacionais. E cujas soluções dependem de


estéticos. Que são
considerem situações específicas em sua complexidade".
pesquisas que
chegava então, nem nos chega hoje - aos brasi
Apelo que não nos realizando
gue nos achamos ligados a estorços como 08 que se vm nume k
leiros
como 0s da Fundação Nabuco -
em centro de Pesquisas Sociais LDentro doS nossos
modestíssimoe
estranha ou nova.
guagem, para nós, Manifesto de Telaive
vinham sendo - antes do
tes, essas preocupações primeiros dias de atividade do Institk
crescentemente as nossas desde os
particularmente atento a situações rurais dos carentes de volo
de início algumas das nes.
o digam
jáem vigor em espaços urbanos do Nordeste. Que rurais para cida
quisas realizadas pelo Instituto: sobre migrações de espaços
brasileira.
des; sobre habitação rural na região; sobre a ecologia da habitação

0 de procurar controlar-se a ação desordenada de progressismossobre


rios através da poluição de suas águas; e sobre aquelas economias regionais co
mo do Nordeste brasileiro entravada pela monocultura e pelo latifúndio açu
careiro; sobre hábitos ligados ao uso de aparelhos eletrodomésticos no Nor
deste: pesquisa admiravelmente conduzida; sobre o abastecimento de viveres
frescos àcidade do Recife; sobre mercados de peixe no Nordeste; toda uma
série de pesquisas realizadas, de modo exemplar, por um economista a quem
não falta sensibilidade a aspectos psicológicos e sociológicos de problema
aparentemente só econômico. Orientação que atualmente étambém ada
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste.
OInstituto de Pesquisas Sociais, da Fundação Nabuco - dizia o autor
desta Rurbanização: que é? há anos - jáé "o comeco de uma elite brasileira
de pesquisadores em Ciências Sociais.E uma elite gue, como
outras elites re
clamadas pelo Brasil em desenvolvimento, precisa de ser aperfeiçoada e de
senvolvida. E uma elite que precisa de constante acréscimo de
lhe deva faltar a presença, quanto possível jovens sem que
contanto que tais provectos se conservem a seuprolongada, dos já provectos.
modo aprendizes, em vez de
se endurecerem em mestres
estatuescos. Pois o
propósito de se atualizarem nos saberes e de ideal gue a todoS animeO
é
seja trepidação ou arritmia social nova ou continuarem atentos a quanto
que não importa em repúdio ao que, nos insólita dos nossOs dias. Atitude
chamadas Ciências do Ilomem, seja saber, conhecimentoOs
além de
gue constituem as
apurado pelo tempo e, assim apurado, capaz de acumulado, criticamente
8ervir de base ou
perspectiva a novos
subsistir a novos tempos e u
vas pesquisas". E saberes por vezes, de motivação a no-
e,
comentava: aliás, todo homem de hoje, seja um intelectual
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ou um empresário, um técnico ou um industrial, um político ou um educa


para evitar
dor, seja jovem ou provecto, éum indivíduo em luta com o tempo
Somos
n¥o a velhice, nem a morte, que ninguém as evita, mas a obsolescência.
Manag
uma geração descreve à página 18 James T. Mc Cay, no seu The
ment of Time (N. Y. 1959) cuja educação mal termina, já corre o risco de
se haver tornado obsoleta. Tanto éassim que o técnico que seja encarregado
ao
de dirigir um reator nuclear, por mais sábio que seja nessa especialidade
conser
graduar-se nela, em curso pós-graduado de universidade, precisa de
var-se - na palavra de Mc Cay no seu estudo das relações de tecnologia
admirar. De 1945
moderna com o tempo a perpetual student" Não é de
para cá, de quatro em quatro anos, tem havido um exemplo
um noVo

tipo de avião, cada um dos quais exige do moderno técnico emMeaviação que
dramático de Cay: the
sejaoutro "perpetual student'" Daí o comentário
que, a
most striking aspect of obsolescence today is its suddeness . Contra o
cria
atual,
seu ver, a única garantia estána inteligência que se mantenha viva,
dora, inclusive nos estudos e nas pesquisas sociais em torno das repercussões,
sobre sociedade e culturas, dos avanços tecnológicos. Essa criatividade só é
possível, pelo estudo incessante, que não deixe, em momento algum, nessa
corrida do Homem com o Tempo, que o saber pare de acompanhar o tempo
animado da imagina
e, se possível, ultrapassá-lo, projetando-se, pelo estudomoderno.
ção científica, sobre o futuro. Sobre o além do apenas Pois há atua
lidades que anoitecem e não amanhecem. Nada do que é puramente científi
co, ou só tecnológico, resiste ao tempo sob a forma de obras soberanamente
imutáveis. 0 privilégio de se perpetuarem como clássicos é um privilegio dos
dos
autores de obras poeticamente científicas do tipo da dos de Da Vinci, da
Bacon, da de Vives, da dos Darwin, da dos Pascal, da dos Goethe, da dos
Nietzsche, da dos Marx, a parte, sua projeção em política fechada e sectária,
da dos William James, da dos Freud. Obras que são, por sua própria potência,
além de científicas, poéticas, isto é, criativas. Desafios constantes ao tempo.
No caso das próprias obras sistematicamente filosóficas, o triunfo do Tempo
sobre o Homem se vem fazendo sentir, se não de todo, em parte, em constan
tes renovações. Renovações, algumas delas, radicais: o platonismo se atualizan
do em neo-platonismo, por exemplo".
E acrescentava: "seria estranho que, após ter sido pioneiro, dentro e
fora do Brasil, do interrelacionismo nos estudos, nas pesquisas e nos cursos
de preparação para as pesquisas sociais, o Instituto Joaquinm Nabuco de Pes
quisas Sociais, para acompanhar uma voga, como já observou o sociólogo
Renato Campos, retardatária no Brasil"" uma voga em torno de algo já
faisandé como é o economicismo puro -resvalasse. Ainda há pouco era o que
salientava, um artigo em The New Society, de Londres, autorizado crítico in
gtês, Christopher Roper: o pioneirismo brasileiro neste particular, isto é,
abrangentes abordagensplurais de assuntos complexos. Um pioneirismo que o
críticoingdes salienta estar presente enm obra brasileira de pesquisador social,
que aabordagem multipla, segundo ele, tanto quanto segundo o conheci.
do Existencialista francês Jean Pouillon, madrugara - para Roper como para
Pouillon, no livro Casa-Grande & Senzala - tendo se tornado moda nos Esta-
dos lnidos e na Europa - ainda segundo expressão literalmente de Roper
sÓ mais de vinte anos depois do livro brasileiro. Tal primado no tempo,
tal antecipação, tal projeçâo sobre ofuturo de um complexo, além de meto-
dlosico. de Filosofia de iência, e honroso para a cultura do nosSO Dais: es
Se deve
fha å msma nova perspectiva em estudos soCiais a que se pode, ou
fliar o aparecimento do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais a
1949.

Compreende-se. assim, que aos diretores, pesquisadores e assistentes


desequi
para problemas de
de pesquisa do mesmo Instituto, sempre voltadoscidades inchadas ", identifi.
líbrio ecológico nas relações entre Brasis rurais e
caiba especial respon
cados com o que, no programa do Instituto, égerminal, arrojo já
sabilidade na ampliação, na intensificação e na sistematização de um
de pesquisas
hé anos em vigor no Brasil. 0 desenvolvimento, no nosso pais,
cientificamente sociais, vem concorrendo para que nossos legisladores, parla
ja arcaico
mentares. homens de governo, deixem de acastelar-se apenas num
Ciência Politica ou nurma
Direito Püblico ou mesmo numa nova mas exclusiva
estreita iência Econômica, supondo poder recorrer a soluções convencional
econômicas para o
mente juridicas ou somente políticas ou exclusivamente
esclarecimento ou a solução de problemas complexamente sociais; e desae
nhando da Sociologia. da Antropologia, da Psicologia Social, da Demnograia,
da Ecologia, como ciências tâo somente de cursos pedagógicos destinado
mas a moças, futuras professoras de escolas secundárias, do que
a futuro8
do ensino su
nomens publicos. Esta uma das desorientacões, até há pouco, atualíssimas, 0
perior no Brasil'". Palavras de há anos que parecem continuar
mesmo podendo-se sugerir destas outras, da mesma época:
Brasil
Quando Georges Gurvitch, após segundo contato com o
seu Sociais
em grande parte com o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas
que
observou da maioria dos politicos, juristas e economistas brasileiros,
perspectiva
eram gente necessitada de
nova que lhes abria o mesmo
iniciação em Sociologia, destacando a Sociais,
não Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas
Presidentes
exagerava. Sabemos até onde chegava ent¥o - nos dias dos
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Kubitschek, Quadros, Goulart: governos n¥o de todo destitu ídos de aspectos


positivos - a empáfia de alguns desses juristas-políticos, empoleirados em che
fias disto ou daquilo,em presidéncias de institutos, em conselhos, em ministé
rios, em delegações a reuniões internacionais; e, ao mesmo tempo, até onde ia
a ignorância, de alguns deles, de elementos ou de rudimentos sociológicos ou
antropológicos ou psicológico-s0ciais ou demográficos e mesmo geográficos
e histórico s0ciais. Oque seria apenas cômico se essa empáfia e essa ignorán
cia não fizessem de uns tantos desses homens públicos - dentre os mais infu
entes - elementos ativamente pernicios06 ao seu e nosso país, pelo que seu
bacharelismo arcaicamente juridico ou apenas político numa época um tan
torebelde à "politique d'abord" pura e simples, e de todo destituído de infor
mação sociológica ou antropológica,tendiaa resultar, ou jáchegava aresultar,
em dano para a legislação, a política, a diplomacia, a economia, as finanças
nacionais. Estudos como os que se realizam no Instituto de Pesquisas Sociais
da Fundação Nabuco e, particularmente, os que se voltam para os Brasis ru
rais em relação com os urbanos, é o que concorrem para evitar: a continua
ção do domínio, no nosso Pais, de saberes, quer somente abstratos, quer ape
nas importados; e perigosos pelo seu exchusivismo ou pelo seu extremo espe
cialismo. O corretivo a eSses extremos está, principalmente, ern pesquisas s0
ciais; além de interrelacionistas, situacionais, ecológicas - atentas a espaços
ea tempos sociais - e na preparação, sob ocritérnointerrelacio nalista, situa
cional e ecológico, de pesquisadores idôneos".

Pesquisadores idôneos. Será que, em tomo da matéria aqui em foco -


o relacionamento ou o desencontro do rurbano como rural -- eles vêm fal
tando? Idoneamente científicos, no sentido de objetivamente científico, sim.
Porém vários os que, sem essa objetividade sistemática, mas através de intui
ções, raras vezes, predecessores dessa espécie de objetividade, e até não ul
trapassadas ou não atingidas por ele, têm deixado páginas já clássicas sobre o
assunto: Antônio Pedro de Figueredo, Inglês de Sousa, Silvio Romero, José
Verissimo, o prôprio Joaquim Nabuco, talvez os principais. E mais do que
qualquer outro, Eucly des da Cunha. 0 Euclydes não só de Os Sertões como
de Contrastes e Confrontos e A Margem da História.
timado com relação ao que no Brasil se tem pensado Impossível ser ele subes
e escrito de mais valiOSo
sobre o relacionamento do urbano com o rural na formação
brasileira.
Lembre-se que para Euclydes, da Cunha o tipo ideal de brasileiro
o, por excelência, virtuoso, bravo, telúico e até racial mente
pela mistura branco-ameríndio teria sido um
aprimorado
em mãos 0s originais de excelente trabalho ruralita: o sertanejo. Tenho
de"Brazialista"não estadunidense
30
britânico cuja formação intelectual se fez esmerada-
britânico - jovem Henry Bacon, intitulado AEpopéia Brasileira: uma
mas Cambridge, Mr. admirável, ain da inédito, o pesquisador inglês pre-
mente em estudo
Introdução. Nesse da Cunha descreve em Os Sertões uma sociedade herói-
Mas com
tende que
Euclydes
Euclydes brasileiro do litoral, não fazia, aliás, parte.
ca" da qual ele, própriosugeri em ensaio sobre Euclides -o grande escritor,
a qual - como
eu
procurou enfaticamente identificar-se e solidarizar-se
litoral -
brasileiro do solidarizar-se com esse já antigo caráter heróico". Identifi-
sentindo-se não so nas
ate fisicamente: enfaticamente com ele. Como que
carseempática e magro e anguloso do homem ruralmente sertanejo como nas
formas de corpo magras e asperas dos vegetais do ambiente: OS mandacarus,
também formas
entre outros.
como de
identiicação com essas formas tanto de homem
he.
E na sua Sertões, narcisisticamente, n¥o
de Os
paisagem ruralitas , o autor urbanita "rocha viva de nossa raça", o cerne da
sita em es colhê-laspara considerá-las significativa.
nacionalidade". Escolha arbitrária, écerto. Mas
nossa
extremo
E nessa glorificação ruralita do sertanejo, Euclydes vai a este primei
surpreendido peloseu apologista britânico:o ter havido, no Brasil, um
população indígena e os brancos: um
ro cruzamento de sangue feito entre aoutros elementos e do qual, nos ser.
cruzamento a dois, sem intrusão de
um tipo estável. E se procrássemos
tões ", só nos sertões", teria evoluído brasileiridade se quiséssemos uma a
por
um tipo que concretize entendemosentão não achariamos na amostra mais
mostra do que seria a nossa raça,
da verdade do que o homem dos sertões baianos. Nas próprias palavras
perto incompreendida e olvidada, era o
do autor de Os Sertões, "aquela sociedade,com um caráter de originalidade
cerme vigoroso da nossa nacionalidade
completa". De onde a interpretação de Mr. Bacon:Oa que de para Euclydes -
importaria em re
sendo o vaqueiro um forte, o brasileiro éum forte. de indí
conhecer-se num ruralita particular o sertanejo e num mestiço só la
brasileiro, sendo para
gena e branco - excluído o negro - otipo ideal de que parece.
mentar o seu oposto: o homem do litoral, urbanita ou ruralita, ao

quer de
Evidentes excesso6, por arroubo eloquentemente retórico, do de rurali-
emotiva parcialidade a favor de um tipo arbitrariamente idealiza
ta bras1leiro, quer de um tipo também arbitrariamente reduzido de mesuyo
por Mr.
nacional. Mas não deixa de ser digno de nota, o fato salientado Os
Bacon e muito destacado por mim no ensaio sobre O grande autor de ter
Sertões no livro Perfil de Euclydes e outros Perfis (Rio) - de não
31

escapado ao escritor, meio poeta, mein científico, que foi Eaclydes,na sua fi
Kação de um para ele brasileiro ideal, a integração dease brasileiro num com
plexo ecológico. E. ease complexo - acrescente4e - rural. Pastoril.
A parcialidade de Euclydes da Cunha, com relação a um ertanejo ru
ralmente pastoril, parece estar na glorificação, nos espaços rurais brasileiros
apenas un dos seus tipos humanos mais característicos: o da sua predileção
como que arnorosa, isto é. o sertanejo baiano. Uma glorificação excluiva.
E os outros sertanejos? E ocacaueiro? Eo desbravador da Amazônia do cau
cho? Eo gaúcho? Eo matuto? Eo jangadeiro, tão exaltado por Nabuco?

Euclydes da Cunha como que deixa esses outros ruralitas numa como
sombra, embora seu desapreço se requinte quanto ao mestiço neurástico do
litoral, um mestiço bastante tocado, em algumas áreas, de sangue afronegro,
que, em termos socialmente ecológicos, seria antes um rbanita que un ru
ralita. Todos, porém, sem se aproximarem em virtudes do sertanejo vaqueiro
dos ermos baianos: ".
. forte, esperto, resignado e prático ". Oque, sendo
exato, Euclydes da Cunha teria razão em consideráBo modelo para o brasileiro
total. Ou como ele próprio se justifica, conforme lembra seu brilhante intér
prete inglês: "era natural que, admitida a arrojada e animadora conjectura de
que estamos destinados à integridade nacional, eu visse naqueles rijos cabo clos
o núcleo de força da nossa constituição futura". Um Euclydes da Cunha, futu
rólogo e otimista, a admitir uma venturosa ruralização, pela sertanejação
através do tipo de sertanejo de sua superestima dos brasileiros vindouros,
fosse qual fosse sua situação ecológica diversa da do seu tipo ideal. De onde
a conclusão de Mr. Bacon: a de ser o livro Os Sertões um livro
patriótico".
E mais: a crença num brasileiro idealmente vindouro como um
macroserta
nejo que viesse a expressar valores universais. E poderia ser mais socioantropo
logicamente ou sociologicamente aceito se, como sujeito, ros nosSos dias, por
atuais analistas do Homem brasileiro, e, sobre essas suas análises,
se admitisse vir a ser esse brasileiro, de valor universal futurólogos,
como admite, concor
dando com tais analistas brasileiros, Arnold Toy nbee
por ser um miscigena
do nos seus sangues e sintese de interpenetrações de caráter
ve - sugira-se aqui a interpenetração rurbana. A que cultural: inclusi
to em suas experiências, ja seculares, urbanas,
junte os positivos tan
como nas rurais, estas tendo
tido antecedentes épicos ou heróicos, antes dos
pelos olhos apologéticos de Euclydes, vários nos surpreendidos no vaqueiro
nos Paulistas. Nos desbravadores de espaços Bandeirantes, principalmente
dando-lhes,
instintivos, destinos nacionlmente brasileiros. Vastos espaços já como precursores
je por uma política social de rurbanização que leve a clamarem ho
até eles -insista-se nesse
32
Donto - valoresurbanos que nlolhes destrua o essencial da ruralidade ecoló-
gicaoutelhirica,Inchusiveapotência, de repercussão sobre homens e popula-
Euclydes em árvores sertanejas, como aquelas,
para ele, até
por
pões, sentida como recorda Mr. Bacon, como aquela anacardia humilde, 80-
"nisteriosas,
coisa n¥o é senão um mágico
cajueiro
sUScetível
terrada, outra sertanejo. Mágico e
de ser humanizado, dentro da tendência de Euclydes para conferir
que

vegetal a vegetais: tendência, no autor de Os Sertões, já sur-


vida mais que
preendida tanto pelo arguto Cavalcanti Proença como pelo lúcido Franklin
de Oliveira e confirmada por Mr. Bacon. Ao qual passou despercebido ofato
outro estudios80 brasileiro da relação de Euclydes com o Brasil agreste
de ter
mente rural,- para ele representado por certo tipo de ecologia sertaneja, ter
próprio, particularizado aantropomorfização - ido ao extremo de euclidi.
derantobiograficamente essa relação, encontrando-se de modo personalíssimo
na ecologia baiano-sertaneja.

Mas n¥o foi só a0 Vegetal sertanejamente brasileiro rural, portanto -


gue Eaclydes da Cunha estendeu seu modo de fazer de coisas,seres humanos:
estendeu-o aOS, nOS 8eús dias, já terriveis canhões Krupp, para ele monstruo
so fetiche" Por que o aço e o ferro são considerados em Os Sertões, segundo
Sinala Mr. Bacon? Por terem sertanejos bravos, um sobretudo, tentado um
asalto, com o6 próprios braços de ingênuo ruralita, aos Krupp de origem
superurbana lançados contra eles; abarcando o engenho soisticado "nos bra
ços musculosos como 8e estrangulasse um monstro". Mas um monstro supe
rurbano antiecológico. Tanto que, como lembra Mr. Bacon, diicultava as ex
pedições do Exército de todo acrescente-se - urbanita. Urbanita acrescen
tese mais - nAS ecologias a que se destinava como engenho de arte econômica
europias para espaços semelhantes aos europeus e urbanita por ser manga
o por urbanitas desgarrados em, para ele, traiçoeiros, ermos rurais. O terro
ou o aço a capitular - destaque-se - diante de energias primárias associadas
auma ecologia rural com elas
solidárias.
Canudos pode ser considerado uma antecipação a Vietnans dos nossos
dias, Ealição é que, com ruralitas senhores dos seus espaçostelúricos e com
ecologias diferentes das Susceptíveis de ser dominadas violentamente ou por
8ofisticações civilizadaS ou Superurbanas, não se brinca sem mais aquela. Sa-
bedorias instintivas aliadas aecologias agrestes eaté misteriosamente rurais
represent
to, éumaamdasforça como que mágica em face das racionais. O que, sendoexa-
vantaainda
instintivas dos seus gens, para o Brasil, dos seus espaços rurais e das sabedorias
muitosruralitas .
33

Através de On Sertões - sobretudo de sua expreasÃo literária -Eucly


des da Cunha deu a seu tipo ideal de ruralita brasileiro, destaque máximo
entre valores humanos do Brasil. E o fez, ele próprio repitae-identifican
do-se com esse tipo ideal de ruralita. Quando se diz expresão literária, toca
8e, é evidente, no problema da língua: ou do abrasileiramento da língua por
um Brasil já, hoje, mais senhor desa língua que ado tronco europeu. A do
tronco europeu, na sua projeção sobre o vasto continente ou arquipélago so
ciocultural que é, como espaço, além de urbano, rural, o Brasil, aquela língua,
para a boca brasileira, sob medida e, como tal, a desabrochar plenamente em
ar e terra brasileiras, a que se refere o sociólogo da linguagem, inteligente de
saparecido, Herbert Parente Fortes, de quem acabam de ser republicados
pioneiríssimos estudos, por iniciativa de Gumercindo Rocha Doria, sob o títu
lo 0 Ensino da Língua e a Criue Didática na Expressão e Comunicoção (São
Paulo, 1981). Que dizia há anos esse clarividente Herberto Prentes Fortes?
Que "a língua do Brasil é a que abriu a Eucly des da Cunhao segredo do nos
so esquecimento (do Brasil Rural) e o converteu do litoral pra Os Sertões".

Sem, de modo algum, concordar em que se passe a falar numa "íingua


brasileira" a pretender ser assim oficialmente chamada, compreende, oautor
de Rurbanização: que é? com Fortes, que o brasileiro não hesite em continuar
a abrasileirar criativa e ecologicamente - uma sua ou nossa - lingua portu
guesa, em vez de procurar conservá-la, nas cidadese nas academias, uma lín
gua castiça e artificialmente subportuguesa. Sublingua da de Portugal ou
da Europa portuguesa em vez de solidária com desenvolvimento luso-tropi
cais paralelos aos do tronco europeu como o8 que vêm ocorrendo, fora do
Brasil, sob inspiração brasileira, em Goa, em Angola, em Moçambique, na Gui
né, em Cabo Verde. E não só nos sertões brasileiros e nos espaços brasileiros
teluricamente rurais, como nos urbanos cuja mais genuína deseuropeização
ou descolonização vem ocorrendo através de procesS0s por vezes sutilmente
rurbanos. As mesmas sutis influências descentralizadoras, no sentido de deseu
ropeizantes, em casos de centralizações opressoras de energias, formas de vida,
estilos de cultura, modos de falar, de rezar, de escrever, que sem repudiarem
raízes européias, ou valores de civilizações maternalmente européias, lhes vem
acrescentando vigores no-europeus e até espontaneidades não-civilizadas, e,
com esses vigores e essas espontaneidades, enriquecendo a criatividade pan-hu
mana. Processo que, em ponto grande, é, essencial e existencialmente o mes
mo definido pelo conceito e pelo neologismo sociológico: rurbanização.
Uma explicação: o porquêde ser este livro dedicado à memóia de Má
rio TravassO8. Não sei de militar brasileiro mais merecedor do apreço de sua
34
Admirei-o.
gente. Conheci-o de perto. Geografia Deu-me a honra
um dos seus valiosos ivros:
anova
dos
Transportes. Lieovrogosto de prefaciar
Sociologia. E que interessa
geografia parenta de uma
essencial, ao Brasil de hoje, uma política social de
pioneiconsideram
aos que ro de uma
Ouando me foi concedido, pela Escola
rurbanização.
que mito prezo, de Doutor
H. C. em
Estudos Superior de
Guerra, título,
o
Brasileiros,
me lembre: de Mário Travassos. Dele eo do também militar foi de
quem mais
de estudo, que nos aproximou: Inácio Jo8é Veríssimo.
estudo, esses dois, que vêm tendo continuadores Mi litabrresasileirohomens
- , homem
brilhantes:
Correia. Outro, Lira Tavares. Váios. As ForçaS Armadas do um
deles,
de
além de seus medalhões, seus quase completos inocentes de Brasil podemJonas
Mas n¥o estáo deixando de contribuir, através de ter,
assunto8 culturai.
blemas brasileiros, para o maior
conhecimento, estudiosos
em vários idoneos de pro-
des nacionais. Um reparo a0 que pos8a 8er
considerado setores, de realida-
autor de referir-8e a si próprio: ora,
de "eu'": uma sem como "o autor, ora
irregular
sob a
no modo do
cerimônia talvez deselegante. Oautor resolveuforma peanal
maneiras coexistiriam, conforme .seu maior ou que as duaa
intervenções diretas em assuntos abordados. menor personalismo nas LAS
BRASIL:
EM TORNO DEUM ASSUNTO ATUAL PARA O
DESENVOLVIMENTO,
AS RELAÇÓES, NA SUA SOCIEDADE EM
DORURAL COM OURBANO: UMA NECESSÄRIA RURBANIZAÇÃO

Oconceito sociológico ou socioantropológico de rurbanização, parti


do do Recife, está sendo posto em prática, de maneira a mais inteligente e
criativamente brasileira, em Curitiba a cidade brasileira de desenvolvimen
Executivo da
to mais harmônico - pelo Prefeito Jaime Lerner. O Presidente
Fundação Joaquim Nabuco, Fernando Freyre - Fundação, que inclui o Ins
tituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, criado em 1949 pelo Govemo
Federal - solicitou do fundador dessa Fundação e pioneiro, no Brasil, da apli
atualizas
cação do mesmo conceito, abrasileirado, a situações brasileiras, que, tem
mesmo
se, em novo trabalho, suas idéias sobre o assunto, recordando, ao
que contém a
po, algumas de suas antecipações nese abrasileiramento. E oespecifico sobre
presente publicação, como se tornará a dizer, de modo mais
o assunto, no decorrer deste pequeno livro.

0 autor confessase grato ao dinâmico Prefeito de Curitiba por esta


Sua elegante atitude: a de recordar constantemente estar pondo em prática,
36
ou socioantropológico
conceito sociológico brasileiro
em Curitiba,
início, e, abrasileirado, por do Recife.
introedui-sedo
Lembr no
do do
de no século X\VII, no Brasil do Nordeste, sob o governo esclarecido
sil. sido,
ter
Bra-
Recife
NaSSAu, cidade com alguma coisa dee
Conde Maurício de
Nassau de tormá-la de talImodo ecologicamente rurbana,
tropical
tal o
que aaencheu
de Portanto, de verdes. Eesses verdes, impactos rurais 8obre
nhoárvores. empe:
de cidade
moderma, no continente americano, de
nova mais arrojadamente sua
Com Jardim Botânico. Com Observatório Astronômico. Com sobrados época.
de vá-
rios andares. E mais que isto: com umjá científico planejamento urbano. Um
planejamento urbano a que não faltava o já referido apreço por verdes
grestemente tropicais ou agrestemente ecológicos.
Não será a Curitiba de hoje, como capital de um Estado brasileiro, tão
notável pelo espírito público epela inteligéncia de seus políticos eadministra.
dores, uma espécie, no Brasil de hoje, do que foi o Recife, sob Nassau, no Rro.
sildo século XVI?

Notese mais de Nassau: o ter, de certo modo, ruralizado o Recife, da


do o grande número de árvores que fez plantar na Cidade; o vasto parque, o
muito verde, amuita vegetação, de que dotou cidade tão sua. Isto, em conjun
to com asua grande ênfase numa policultura para o Nordeste açucareiro: uma
poicultura que importasse em moderar-se o furor da monocultura dominan
te. Pelo que, pode-se atribuir ao esclarecido "Europeu da Renascença", por
alguns ano8, Governador do Brasil Holandês, uma vis¥O Superiormente social
e,dentro do social, ecológica, da sua missão.

Havia no seu pre-ecologismo um como que intuitivo rurbanismo. 0


Recife que projetou n¯o seria convencionalmente só urbano porém transror
dante de verdes e de viços rurais. Por conseguinte, antecipadamente, Pa
rurbanidade ou
rurbano, embora a NasSau faltasse, éclaro, osentido exato de
osentido de equilíbrio ecológico: políticas, em suas sistemáticas, t¥o dos T0
s08 dias. T'ão modermas.
decênios, de-
Acontece que no Brasil vêm se acentuando, nos últimosdesenvolvimento
sequilíbrios ecológicos de várias espécies prejudiciais a um exprimindo em
pan-nacionalmente
Brasis e
saudável, com esses desequilíbrios já se
ricos Brasis pobres. Com o excesso destes dois ânimos: 0 industriali
zante eo urbanizante. tomado, por ve
Desequilíbrio
zes, aspecto de desequilíbrio entre rural
entre espaço espaços que tem
e espaço urbano, genterural
e gente urbana, com o urbano tendendo a ser o primo rico" e orural, o
37

pobre. Mas havendo abrangéncias dessas caracterizações que vem atingindo


regiões totais. O Centro-Sul, rico em predominâncias e o Norte-Nordeste,
pobre.
Em prefácio - lúcido prefácio - ao livro Ouase Política, de minha au
toria, o Professor Munhoz da Rocha - ex-Governador do Estado do Paranáe,
por algum tempo, Secretário da Câmara dos Deputado8 lira o aDarecimento
da Sudene ao que vinha sendo, da parte do autor de Rurbanizaç&o: - que é?
um esforço de valorização, no Brasil, das regiões menos favorecidas por ampa
ros federais. E, na verdade, uma tecla em que este autor tem batido desde jo
vem. Tanto que, em São Paulo - Estado de gente tão do seu apreço - uma
vez por outra, há quem veja, nessa minha insistência, um ressentirnento de
brasileiro de Brasil pobre contra brasileiro8 de Brasil rico.
Não creio que o autor sofra desse ressentimento que seria expressão
de uma mesquinharia. Säo Paulo éum braileirisimo Brasil. Sua iqueza re
verte em proveito de todos os Brasis. Se, por exemplo, tenho destacado que,
ainda nos dias do Império, um pauista da alta inteligência do Conselheiro
Antônio Prado preparou aquela ainda Província para receber forte contingen
te de imigração européia - imigração européia que ali atenuase os efeitos da
Abolição -não significa, esse reparo, despeito de brasileiro de Brasil pobre
em face de triunfos de um Brasil rico. Um Brasil, hoje rico, destinado, desde
aqueles dias, a hegemonia, na futura Federação, por todo um conjunto de cir
cunstâncias favoráveis: desde as ecologicamente climáticas, propícias àquele
tipo de imigração, à superior objetividade, no trato de assuntos econômicos,
além de políticos, de váios dos seus homens públicos. Um deles, Antônio
Prado.
Além do que, não havendo mais mercado munial para o açúcar, na
produção do qual vinha se salientando, nos dias coloniais aos do Império,
a Província de Pernambuco, já se tornara evidente, desde os meados do
sécu
lo XIX, viria a fome da Europae dos Estados Unidos pelo café brasileiro. Eo
café brasileiro, era São Paulo que melhor e em maior extensão
duzi-lo. E com a maior fome desses bons mercados, o declínio, passara
a pro
entre os mes
mos mercados, de um açúcar brasileiro ou do Nordeste do Brasil, com cres
centes competidores de produtores de outros espaços tropicais.
Ainda bem que o ilustre paulista Honório de
OEstado de S. Paulo, reconheceu ter o autor de Silos, em recente carta a
Ordem e Progresso registra
do, nesse livro, que a hegemonia de São Paulo se firmou
fé e à base de um sistema de estradas (de ferro) com a cultura do ca
superior aos caminhos de Mi
38

nas Gerais, tornando, essa superioridade paulista, possível o


da Província, sob vários aspecto8, superior ao de
da época. Nãosó as áreas nordestinas,
tras, do Pais.
qualquer
predominantementeoutra área
desenvolvimento
brasileirou-a
rurais, porém
Aceito do ilustre paulista, que é Honório de Silos
ter sido aimigração européia para São Paulo estimuladaSilos, esta retificação:
por Antônio Prado, por Martinho Prado; e, mais ainda, pelomuito mais do que
dista Antônio de Queiroz Telles, Conde de Parmaiba» quando
São Paulo. O que mostra não ter faltado a esses
admiPrersiádvelente de
esta-
líderes
dade que não teria havido da parte dos brasileiros da:s paulistas uma objetivi-
temente agrárias, atingidas pela crise do açúcar. províncias, predominan-
Entretanto, é certo, também, terem sido esses paulistas inteligentes
favorecidos, quer por aquelas ja referidas circunstâncias ecológicas - as climá
ticas e de solos - quer por, se não favores, simpatias federais, que aliás lhes
viriam da nova República, com o decidido prestígio de São Paulo no regime
instituído em 89. Sobre o assunto há quemn, como historiador idôneo que é,
tenha em preparo um livro do maior interesse além de histórico, sociológico:
Evaldo Cabral de Mello. Sociológico porque esclarece origens, desde dias ain
da monárquicos, de desequilíbrios regionais no Brasil que não podem ser atri
buídos apenas a diferenças de ecologia entre regiões brasileiras. Teriam resul
tado, também, de domínios políticos sobre decisões ou orientações econôm
cas que criariam desigualdades regionais sob a República de 89 que, acentuan
do-se, viriam até os no88Os dias. Até à criação da Superint endên cia de Desen
volvimento Regional, como ógão federal capaz de deter o crescente desequt
líbrio entre o Centro-Sul e o Nordeste assim como o Norte - do Pais.

um desequilíbrio que se tornou complexamente socioeconômico.


ÀSudene não faltou um ímpeto inicial que, a despeito de sua ênfase em de-
nOva fase
8envolvimento sócioeconômico,
nas relaçöes Centro-
pareceu assinalar o começo de uma outra
seguiria
Sul e Nordeste. Mas a esse começo logo 8e veemência re-
fase e essa, de burocratização de um animado de
novadora, poderia ter verdadeiramenteórgão que, só uma resposta válida ao
se afirmado Houve
desafio de um desequilíbrio dramáticonas relações
interregionais. de ter
assim, a despeito de intencionados, e
sido o primeiro deles, oSuperintendentes dignos e bem fechado - Profes
notável - mas na epoca economista proveniente
8Or Celso Furtado, uma coordenadora chamada
da grande redução de descontinuidade de ação da
prestígio nas próprias fontes deautoridade
de outrOs orgão8.
Superintendência, reduzida åà mais tristonha dependência de ou
39

Fase que, nos seus excessos, parece estar tendo corretivos, sendo hoje Supe
rintendente da Sudene um idôneo mais-que-economísta: o cearense Salmito.
Ao Presidente Jodo Figueiredo, a itusção de desprestígio ede descon
tinuidade da ação c0ordenadora da Sudene sensibilizou desde os seus dias de
candidato. A atitude federal para com o Nordeste pasou a ser,com o Gover
no Figueiredo, e com o seu dinámico Ministro do Interior, Mário Andreazza,
a de uma atenção séria e transburocrática a problemas que, sendo regionais,
sÃo, pela importância da região Nordeste no complexo brasileiro, pungente
mente nacionais.

Sob uma perspectiva sociológica, não há outra política nacionala não


ser a interregional. E quer ela uma orientação rurbana: dinamicamente rurba
na. Politica e orientação em que órgäo8 coordenadores de energja regjonais
concorram para a integração brasileira atendendo a necessidades e aspirações
vindas das regiões que confluam para este objetivo: a integração brasileira
através de uma dinâmica interregional e de uma dinämica rurbana. Adiversi
dade harrmonizada com a unidade. O que exclui centralismos por sua própria
natureza burocratizantes e, no pior sentido, tecnocratizantes. Pois uma coisa
é a tecnologia aserviço de comunidades eoutra é uma sujeição tal de comuni
dades a tecnocratas que a teenocratização importe a Estados se não totalitá
rios, abafadas de todo forças de energias regionais.

Num Manifesto ou Pronunciamento que ficaria conhecido como Re


gionalista, jáse dizia - fixando atitudes de brasileiros, estudiosoe de proble
mas brasileiros que, desde a década 20, deram início a um movimento nease
sentido partido do Recife -ser o Brasil uma constelação de regiões. Esa pBu
ralidade estaria à base da unidade nacional. Uma perspectiva sociológica den
tro da qual caberia uma reorientação econômica e outra, política, quanto a
espaços regionais componentes de um espaço brasileiramente total.

Não se concebe uma economia validamente pambrasileira que prescin


da de atuantes energias regionais, vindas tanto de fontes urbanas e industriais
como de fontes rurais e agropastoris. Como não se concebe uma organização
política do Brasil que procure ser de tal modo estatal e tecnocraticamente
unitária que o centralismo considere antibrasileiro todo regionalismo. Acon
ciliação entre esses aparentes contrários precisa de procurar-8e tanto no setor
econômico como no político. Não éuma conciliação de todo fácil. Trata-se
de solução a ser obtida através da conjugação daquelas três Engenharias
Fisica, a Humana, a Social - que, completando-e nos objetivos e nas Suas
40
dinâmica efetiva a um sistema nacional
atuações, podem dar
comobrasileiro.
interregional e pan-nacional. E
dinâmica ao mesmo tempo Uma
- acentue-se -
especificamente rurbana.
primeiras
inter egional
A Sudene nasceu para ser uma das bases dessa
Enfraquecida sua atuação, voltou essa base a ser valorizada através deoperação,
outra vez plena, utilização dos seus instrumentos.
valorização do
Válido o conceito que auma,Su-
dene representa, trata-se agora da que nela é
conjunto aing- de
trumentos a serviço do conceito.
Obra, repita-se, de Engenharia
completada por Engenharia Humana e por Engenharia Social. EFísessca, ser
Engenharias, nas suas complementações, de fato inspiradas num sentido
namicamente rurbano.

Instrumentos a favor da conciliação do que é, para to do bom brasilei.


m. oideal de um Brasil uno, com a realidade que não contradiz seu ideal
de um Brasil, que, pela sua diversidade, éregional:plural. Conciliação que vem
sendo uma vocação brasileira desde dias prenacionais. Desde as vitórias pre
brasileiras nos muito nordestinos Montes Guararapes. Em espaço rural, por.
tanto. Isto no século XVI. Batalhas estas, rurais, que o General Lira Tavares
talvez incluisse no começo de um Exército a favor de um Brasil já quase na
cional na sua vontade de ser um só e não dois ou três. Mestiço e não dividido
racialmente. E pode-se sugerir que já como que instintivamente ou intuitiva
mente rurbano. Abrangendo campos e cidades como Igarassus e Olindas, no
Nordeste, e São Vicentes no Sul, além de Salvador.

Uno e, ao mesmo tempo, plural, o Brasilvem combinando aparentes


antagonismo8 inclusive o rural e ourbano - desde o começo de sua exis
tencia: desde os começo8 - acentue-se - prenacionais dessa existência. A ain
da colônia de Portugal foi, durante anos, nada insignificantes, colôna da
panha. Absorveu influências espanholas ao lado das portuguesas, tendo em
uma de suas áreas - a
paulista os descendentes de espanhóis sido, sob và
rhos aspectos, rivais, dos descendentes de portugueses. A pluralidade nue
ica caracterizou, assim, de modo singular, a formacão inicial do Brasl,
bém afetada pela pluralidade intraeuropéia. Noutra área do pais -exatamen-
te o Nordeste chegou a haver, no século XVII, um significativo domínio
nórdico-europeu,
urbano que rural, epredominantemente Protestante,
em sentido contrário
sua vocação,
e, em ibéricase Católi-
ao das influências
cas: o predominante rural ou agrário, embora já com Salvador e Olinda. As
mals

constantes ibéricas e católicas acabariam por se sobrepor àquele período de


exceção que durou algumas dezenas de anos, em uma das regiões - repita-se
41

que justamente o Nordeste - da vasta colônia por algum tempo panibérica.


Mas sem que aquele domínio de nórdico deixasee de concorrer para a plura
lidade cuitural que subsiste no Brasil, embora condicionada por sua unidade:
uma unidade bastante vigorosa para tolerare, até estirmar a pluralidade que,
entre nós, vern coexistindo, em vários setores, com a unidade.

Houve tempo em que na imprensa inglesa o Brasil apareceu mais co


mo os Brasis" do que como "o Brasil ". Reconheciase assim uma pluralida
de que de fato era característico da situação brasileira sem que, entretanto,
deixasse de haver entre nós uma unidade nacional que contrastava com a
fragmentação da América Espanhola em várias repúblicas, e, em alguns cas08,
nos seus começos, inimigas quase de morte umas das outras. Os chamados
Brasis* formaram politicamente, durante quase um século, um império
que 8ocial e culturalmente, vem constituindo um sistema de convivência
em que a unidade e a diversidade se completam à man eira dos sist emas fede
rais.

Tem esse sistema a língua portuguesa por principal expressão de sua


unidade e os contrastes regionais de predominâncias étnicas oameríndio na
Amazônia, o branco no Sul, o negro na Bahia foram as afirmações, por
algum tempo mais ostensivas de sua diversidade ou pluralidade étnica. Mas
além de étnica, ela foi ou vem sendo cultural. Mas um cultural também
ele, plural: confluência de difterenças regionais para um total brasileiro.

Hoje, sem ser Império, mas Repúbica federativa, o Brasil continua a


ser um conjunto de Brasis, inchusive de Brasis predominantemente rurais e
Brasis predominantemente urbanos, aos quais vêmn faltandoa integração dese
jável. Pois esse conjunto de Brasis só tem sentido - social, cultural, étnico,
econômico, político - sob a forma de um vasto e só Brasil que, por ser plural,
n¥o deixa de ser uno e até singular: uno nas suas bases, uno nas
constantes
que lhe dão individualidade cultural e singular no seu modo de ser nação de
formação duplamente ibérica e de vocação duplamente rural-urbana.
Trata-se de uma das combinações sociologicamente mais express1vas,
de unidade com pluralidade, que o mun do moderno conhece. Contrasta
as situações de outros sistemas nacionais projetados sobre com
espaços vastos : con
tinentalmente vastos. Só a Rússia moderna parece apresentar-se como exem
plo de país extenso em que se verifiquem combinações
leira, de unidade com diversidade, em largo espaço semelhantes à brasi
contíguo. Mas
de, sob vários aspectos, forçada. Sob poder totalitáio. A China uma unida
dividida,
42
como a India,
pela pluralidade lingüística, não parece
mesmatanto
quase oferecer
combinação de pluralidade étnica com unidade cultural que o Brasila
apresenta, tanto nos seus espaços rurais como nos urbanos, Ao Canadá
outraimensidade teritorial - falta unidade étnica, unidade cultural e unidade
lingüística, com dois sistemas de cultura defrontando-se dentro daquela imen-
as místicas de antagonismo pareçam ir se
de espaço, sem que
sidade
do ade unidade combinada com pluralidade. Quanto aos Estados Unidos são
um pais em que a mística de americanização devora atualmente, com grande
sobrepon-
rapidez, as divergências ou aS variações de ordem cultural: as regionais mais
antigas. 0 "velho Sul" por exemplo, entre os antigos e os neocidadãos, re-
presentados pelos grupos de adventicios hospitaleiramente acolhidos pela
Denss da Liberdade, depois de ouvida a Deusa da Saúde, entre os Sucessiva.
mente novOs. Hospitalidade, entretanto, cada vez mais conicionada por uma
"americanidade" que ainda procura resolver o problema de um negro" ame.
ricano diferente do branco.

O espaço brasileiro não é imenso só para os ufanistas retóricos. E, geo


graficamente, uma realidade imensa. E ecologicamente um conjunto de espa
ços que se contrapõem, com suas diferenças, completando-se, porém, no es
sencial de sua unidade. A qual, em síntese, émarcada por uma ecologia tro
pical - úmida, seca, intermediária que se estende noutra, subtropical ou
temperada, onde pode, em certas altitudes, ocorrer mais de uma surpresa
não-tropical. Mas a maior parte do espaço brasileiro é, nas suas predominân
cias ecológicas, tropical. E susceptível, dentro dessas predominâncias, de su
par populações de outras partes do mundo, de produtos ou valores que vao
alem do açúcar, do café e do cacau, e de laranjas e abacax is. E ao mundo não
faltam bocas em busca de alimentos. Ao futuro do Brasil total está associado
um destino neste importante particular: o de ser uma crescente fonte de alr
menação. O de precisar, para cumprir esse destino, de não deixar de ser agra
agropastoril, irredutíveis espaços ru
um país dede também
como outroe,de como
0rais,u Eagropastoril, seus destinos é oindustrial, irredutíveis es-
quedá
paços urbanos ou urbanoindustriais, a vocação brasileira é dupla.brasileiro. 0
consistência a uma solução rurbana para problemas de futuro quanto a essa
Brasil, em face desse, como de outros desafios, está empenhado, batalhas:
de suas
dupla vOcação, na mais fecunda e historicamente Constante
Ser a
equilibrar antagonismo8. Conciliar diferenças. Harmonizar contrários.
um só tempo, plural e uno.
contextura
Sua
8e vão
Problema dos mais complexOs da vida nacional, na
simplificação,
talvez
encontrar 08 mais varidos motivos que, numa falta de re
meio forçada, se possam como resultantes da n088a
compreender
43

cursos para atender, como épreciso, às questQes relacionadas com a "civili


zação" do nogso interior", disse antigo governador de Permambuco dos desen
contros, no Brasil da década 50, entre situações urbanas e situações rurais.
E acrescentou em pronunciamento des8a época, a propósito de conferência
então proferida pelo autor de Rurbanização: - que é?: "E para abono desse
ponto de vista, compare-se a vida, em seu conjunto, dos Estados sulinos com
o8 do resto do país, mesmo naqueles onde a questão ecológca, como nío
acontece com o Nordeste, apresenta condições favoráveis para um surto de
progresso. Frise-se, ainda, para uma compreensáo exata da conferência de
Gilberto Freyre que, do observatório alto onde se colocou o grande sociódo
go, como urbano e rural, numa generalização adequsda aos objetivos que de
sejava alcançar, deve ser entendida a vida das grandes cidades (no caso de Per
nambuco, 86 Recife) em contraste com a do resto do país. A realidade, po
rém, quaisquer que sejam as razões explicativas da existência do problemna, é
que ele aí está desafiando a argúcia, a sabedoria, o espírito público dos atuais
detentores do poder". A rurbanização é "sintese baseada em nossa própria
experiência e na alheia os rumos para a solução de tão grave problema, indis
pensável ànossa sobrevivência porque diz respeito, no fundo, à própria uni
dade do Brasil. E prega a "rurbanização", num sentido mais amplo e mais ló
gico do que na sua acepção original - definidora de uma situação
ria entre a puramente rural e a exchusivamente urbana pois que aintermediá
define co
mo posição mista, dinâmica e conjugal entre os valores que aquelas
vidas re
presentam. Para isso, desce a detalhes de programação a fim de alcançar esse
alvo. Poder-se-áobjetar que teórico éo caminho que ele
ao país falecem meios para uma obra dessa envergadura. Mas preconiza, porque
nos dá um roteiro para se alcançar uma solução. A viagem pode Gilberto Freyre
certamente o será. Mas tem que ser empreendida e por menor que ser seja
longae
cidade para atingir aquele objetivo, mais uma razão para não se a velo
nenhuma circunstância que favoreça a busca desse ideal". Concluía odesprezar
dor Osvaldo Cordeiro de Farias: "Regozijo-me pela governa
lar, de meu pensamento com o do grande Mestre. E identidade,
minha
neste particu
nida desde a campanha governamental de 54, não foge a esse atuação, aliás defi
8o, com entusiasmo, o papel relevante que, nessa luta, rumo. E endos
àprofessora rural que "com sua formação em meio atribui Gilberto Freyre
meio rural fazem dela igura idealmente anfíbia paraurbano e sua atividade em
ese
zação do Brasil", pois que "sua missão de professora no esforço de rurbani
nas acadêmica ou simplesmente interior não é ape
intelectual, mas social". E sim, na verdade
dinamicamente social. Construtivamente brasileira. Palavras de homem pú
blico brasileiro eminente: 0svaldo Cordeiro de Farias, quando Governador
de Pernambuco.
44

Pronunciamento tãO enfático de Osvaldo


Cordeiro
de
aplicação, ao Brasil, da idéia de rurbanização, leva o
autor
tivesse sido maiot a influência de t¥o esclarecido homem a esta
Farias 80bre
pelo Movimento de 64, Castello 8obre oconjectura:
da República, consagrado tivesse
vel que a soluçlo rurbana sido política social Branco,
seguida, com o .
Pr
eéesident
pomíe
com expressivo apoio popular, desse Movimento. sua primeira triunfo,
Em
Recife, apó8 esse triunfo, por ocasião do banquete que lhe vista ao
foi
então Governador Paulo Guerra, o Presidente Castello
oferecido
Branco,da sala do oDpelorur-
banólogo para uma conversa reservada, 80 O8 dois, num canto chamou
cio. Anunciou-me, então, oseguinte:"vamos realizar a
jada por Voc, pela Rurbanização ". Reforma Agrária, dese.
Não a realizou, como é evidente. E em novos
não tocou no assunto. Pelo que
contatos com este
consolidou-se, autor,
no rurbanista frustrado,
idéia de que o Movimento de 64 não seria Revolução, com
a
cial, como teve a oportunidade pensa este autor um conteúdo so-
de ser. Pelo que, já de
Bencantado, recusara o honroso convite, da parte do
co, para um belo, mas nas Presidente Castello Bran
circunstâncias, decorativo
e Cultura, do merno modo que recusaria o convite, Ministério
pelo mesmo
da Educacão
do Brasil junto a Ünesco Presidente
e ilustre brasileiro, para ser
Embaixador
outra bela mas também ornamental em Paris:
posição.
Por que teria o Presidente Castello
cialmente revolucionáia rurbanização do Branco recuado da idéia de uma so
Brasil? Justamente por terem pre
valecido 8obre ele influências, civis ou
vencionalmente conservador que tivessemilitares,
ou mistas, num sentido con
por justificativa o por vezes mito aa
Segurança Nacional.
Um erro, a meu ver, do Movimento de 64,
luções econômicas o como gue obietivo gue procurou em puras o
sem dúvida, váido, de livrar o máximo de suas realizações, alem u
zindo líderes País do caos ostensivo a que vinham condu-
uma politica
não deixaria
desorientadíssimos.
expansionista
Ejá, então, é hoje evidente, tivera início
ou imperialista da União Soviética: política que
escapar
todo desorientado. das suas garras um atraente Brasil de todo caótico ou de
A
rurbaniQuase
oportunísima. zação,umacomo política social, aplicada, sido,
teria em 64,
açãore
formista associada auma járeforma
indesejável
agráriaconotação demagógica
sem os riscos da expresso
de tornar-se
"reforma agrária". Eé precis0 reconhecer-se que, em iniciativyas de açãopolí-
45

tica que importe em transformação social, éarriscado empregarem-9e pala


vras ou expressões com tal conotação. Conotaçöes inexata8, porén inisten
tes, podem prejudicar objetivos salutares. Asemântica não existe apenas para
lingiistas ou gramáticos. Existe também para os ouvidos do chamado homem
comum.

A4 de junho de 1981, ojornal 0 Dia, de Teresina, abordando em edi


torial, o tema "Centros Sociais" eaplaudindo aimplantação, no Estado do
Piauí, de três desses centros, observou, entretanto, de tais centros, que deviam
denominar-ge rurbanos. Ea explicaço da opção vai, de semântica, aobjetiva
mente sociológica: "o programa é da maior relevância social e, se bem execu
tado, terá dado em poucos anos amais positiva contribuiço ao Piauí, quanto
ao item da fixação e ajustamento do homem em sua terra de origem. Aliás
este é o objetivo central do8 centros 8ociais o de ajustar o piauiense em suas
pequenas províncias, evitando sua corrida no sentido da capital. Antes, havia
também os centro8 sociais urbanos, e, salvo engano, eles não aprovaram tanto
quanto o8 rurais. Quem os craniou, no Piauí, na verdade, não teve infeliz
mente uma visão mais clara das realidades no que diz respeito ao binômio
campo/ cidade. E, sendo pernambucano, não teve a idéia de colocar em sua
construção social aquele sentido estimulado pela imaginação sociológjca de
mestre Gilberto Freyre -o sentido da rurbanidade, que é afusão do rurbano
ao rural resultando numa unidade social".

Mais: por outras palavras: nem urbano nem rural, e sim rurbano, o
que significa colocar o centro social na periferia da urbe e não no seu centro.
Ao que parece, os centro8 urbano8 não estão aprovando e no final terão que
ser desativados, virando os famosos elefantes brancos. Em princípio, a idéia
dos centro8 sociais é muito positiva, bastando apenas que sejam adaptados
àquela filosofia do mestre de Apipuco8, um do8 nossos mais criativos enge
nheiros sociais. Porque, em suma, o programa dos centros sociais se insere
nessa Engenharia Social tão defendida e realçada por Gilberto Freyre. O se
cretário Carvalho e Silva deve, assim, examinar de imediato esse.aspecto colo
cado teoricamente pelo sociólogo pernambucano".

Talvez não 8e encontre, na imprensa brasileira, defesa mais exatamen


te 8ociológica e mais sensatamente semântica, das expressões "rurbano"
"rurbanização", do que as aparecidas nesse editornal de jornal de Teresina.
Nem no Rio nem em São Paulo nem em Brasiia apareceu, até hoje, comen
táio igual em torno de tais expressões. Inclusive pelo que nele é sensibilida
de a uma Engenharia Social que, desde José Bonifácio, se tem feito sentir na
46
vida e na história brasileira, quanto ao modo de constituir-se uma sociedade

nacional.
Discutível, como eu próprio admito que seja, minha condição de his-
toriador repito aqui oque já disse ou escrevi noutra ocasião não me pare
ce que se possa duvidar do meu empenho de vir procurando sugerir interpre-
tações sociológicas não só dajá antiga formação brasileira, como do conjunto
sóciocultural do que o Brasil tanto no espaço como no tempo socialmente
tríbio, vem sendo e éparte importante. Esse conjunto, oluso e até ohispano-
tropical.
Interpretações de tal conjunto, considerado ele, o mais possível, ges.
taltianamente: na sua configuração geral nos espaços por onde se vem esten.
dendo enos tempos através dos quais vem se desenvolvendo e parece projetar
se Tempos e espaços susceptíveis de interpretação sociológica. E desses espa
cultural que
ços, grande parte teria que ser assinalada, num mapa historico
apresentasse origens principalmente hispânicas, ameríndias e afronegras das
quais o Brasil se desenvolveu, as que marcaram vocações rurais dos primeiros
prebrasileiros, possíveis de ser distinguidas de também madrugadoras vocações
urbanas.

Aidentificação dos começos, entre prebrasileiros, dessas vocações e de


projeções em espaços físicos eem espaços socioculturais é necessária à
exata compreensão ou à completa ou, quanto pos8ível, completa inter
pretação de conjuntos ou de complexos, como, no caso o brasileiro, dentro
do complexo total: oluso ou hispanocultural.
Sabemos hoje que - continua oautor a repetirse - ao moderno ge
apresentam-se
ralista em estudos sociais, as interrelações pessoa-i8o ciedade
de tal modo entre estudos
complexas, envolvendo de tal maneira as relações a crescente
pessoalmente biográficos e estudos impessoalmente históricos, quenos últimos
importância, dada por historiadores a essas interrelações, vem, Social ou
anos, transbordando do setor da História
para o da Antropologia de
Sociocultural. Não poucos antropólogos, em estudos entre sociedadesdedas
indiví.
nominadas primitivas,
duos socializados em vêm procurando
membrOs dessas sociedades e combiografias
não só levantar atuação, de algum
ou de outros
modo, notável, sobre elas, como provocar autobiografias deles
que possam ser pessoas e
entre
considerado8 típicos das relações normais
8Ociedades, ou pessoas e culturas, quer do tipo chamado primitivo, querdo
pioneiramente,
civilizado.no Precisamente o que procurouo autor, supondo que especiais
realizar livro Ordem e atualmente alvo de atenções
Progresso
47

de homens de estudo da Repáblica Democrática Alemå, segundo informa o


Reitor Cândido Mendes de Almeida, da Faculdade Mendes de Almeida, do
Rio de Janeiro, há pouco chegado desse País. Em Ordem e Progresso se re
nem, se analisam e se interpretam numeroe08 depoimentos autobiográfico8
provocados, 8obre os dias de transição do trabalho escravo para o livre. Entre
es8es depoimentos, não poucos, esplendidamente representativo8: nordestinoe
ao lado dos de paulistas, mineiros, riograndenBes-do-sul, esempre, ruralits ao
lado de urbanitas. Nordestino, de origem urbana com aventuras ou experiên
cias amazônicas como foi o filho do sergipano Tobias Barreto, o já pernarnbu
cano João Barreto de Menezes. Riograndenses do Sul, entre os quais Getúlio
Vargas, de especial origem ruralita, ao, por algum tempo, se transferirem para
espaços ain da mais agrestes como os amazônicos.

Talvez já seja oportuno, algum estudioso menos convencional das nos


sas sociedades ou das nossas culturas, pormenorizar estudos desea espécie atra
vés de autobiografias provocadas inclusive de analfabetos rústicos - que
permitam a análise de transferências de espaços, quer de ruralitas, quer de ur
banitas de origem, para espaços contráios. São transferências que transcen
dem do seu caráter apenas individualmente pessoal, por se constituirem em
contribuições não só para o estudo de um processo de unidade pambrasileira,
em geral, como parao de análises desta outra espécie: brasileiros de experiên
cia urbana a procurarem seu contraste, ou sua complementação, numa experi
ência rural. Ou os de experiência sulista a procurarem igual contraste, ou com
plementação, numa experiência nortista.

0 exercício de cargos de magistratura, advocacia, magistério, missões


sacerdotais, tarefas militares, por sua vez, vêm concorrendo de mo do expres
sivo, e ainda concorrem, para tais complementações na expeiência de braai
leiros, tendo feito, e fazendo, ainda hoje, de numerosos, dentre eles, rurbanos
sem a especíica intenção de o serem. Nesse particnlar, as Forças Armadas,
quer pelas vocações que têm atraido para atividades transregionais, quer pelo
recrutamento de adolescentes ou jovens de origens tanto urbana como rural,
para o serviço militar, muito têm contribuido para essa espécie de rurbaniza
ção de brasil eiros. Um dos mais valios0s serviços das Forças Armadas para a
consolidação de uma unidade nacional, como a brasileira, que tanto tem sur
preendido observadores estrangeiros. Unidade que, entretanto, com todos o8
seus positivos, ainda sofre de deficiências na integração, no nosso Pais, do ur
bano no rural e do rural no urbano em termos do melhor
pambrasileiro de valores das duas origens. aproveitamento
48
estudiosos de
Aimportância que atribuimos,
não-alfabéticos de cultura culturas nacionais
a brasileira, aos elementos eà
necessidade de,comono
estudo de passados e de presentes sócioculturais como o8
sado e o presente de um
homem e de uma sociedade brasileirO8 o euro-pas-
trapicais, nos quais a elementos de caaractdúvida
cultura civilizada, sem eristicament e
predominan-
tes, se vêm juntando, mais ativa que passivamente, desde oS mais remotos dias
prenacionais do Brasil, elementos não-civilizados - principalmente nos
espa-
ços e entre gentes rurais - justifica-se. São elementos humanos e culturais,
dos chamados intuitivos, que são, alguns deles, mesmo quando irracionais,
criadores ou criativos. Recorrermos, para 0s identificarmos, a técnicas que
transbordem das de convencional investigação histórica e se tornem antes
antropossociológicas do que dependentes de documentos escritos e de fontes
acadèmicase oficiais de informação, éa orientação válida. Daí a perspectiva
trans-histórica a que o autor recorreu, na época em que o fez, quase escandalo
samente, para escrever seu primeiro livrO de novo tipo sobre a formação psj
cossociocultural de um Brasil mais dependente de suas origens e constantes
ruralmente agrárias. E com isto, mais ecológicas.

Oque torna oportuno perguntar-se : não estarão sendo ignoradas - da


da a indiferença de governos brasileiros por populações mais rusticamente ru
rais - altas aptidões que o paíspossua em potencial, encarnadas nessas diver
sas vocações e entre as camadas sociais e étnicas mais desprezadas da sua po
pulação rural? Com oaproveitamento desses talentos, dessas inteligências,des
sas aptidões,acrescentadas às urbanas, é que se constituirá,em seu todo,a elite
de um novo tipo capaz de orientar a nação brasileira, em face de transforma
ções de caráter tecnológico e,principalmente,com relação às repercussôes 8o
ciais dessas transformações. Repercussões que o Brasil teráque sofrer -na ver
dade já está sofrendo -de modos diferentes,nas suas várias regiões, antes ae
rearticular-se num sistema, também novo,de convivëncia humana e de solidar
edade nacional,caracteriz ado por novas relacões do Homem brasileiro com o
mundo
tempo,com o espaço,com otrópico,com as demais nações e regiões8 do
de hoje sobre o qual um tempo futuro jácomeça a fazer-se sentir como tenp
presente.
aos brasj-
Nunca, como em face de tais problemas, foi mais necessário
aparentemente
leiros se desprenderem de falsas noções de um igualitarismo
democrático que devesse ser aplicado de tal modoao ensino Buperior a ponto
de, também ele, deixar de ser um sistema de aperfeiçoamento de supradota-
dos de inteligência postos a servi
ço da sejam quais forem suas origens a seremnfoi mais necessá-
comunidade. Nunca, como em face de tais problemas,
49

rio ao Brasil, escolher suas elites, através de um sistema de ensino psicológica


e sociologicamente orientado em que tais superioridades sejam pesquisadas e
reconhecidas; e reconhecido o fato de a Nação delas precisar agudamente
para oseudesenvolvimento. Para tantoéurgente que se aperfeiçoe, entre nós,
uma Sociologia, uma Antropologia, uma Ciência Social, além de sociométri
cas, compreensivas. E capazes, através de antropólogos ou sociólogo8 ou cien
tistas sociais do tipo misto - empático e sociométrico a um tempo de ori
entar homens públicos na escolha de novos lideres em potencial, para novas
funções de comando, quer na vida nacional em dramática transformação, quer
nas relações do Brasil, como Estado nacional, com outros Estados nacionais,
também em transformação. E não poucos desses lideres em potencial é de su
por que estejam em Brasis rurais àespera de ser descobertos.

Como processar-se, além da escolha, o aproveitamento, de aptidões


para essas funções de comando, sobretudo em fases de transição aguda como
aquela que o Brasi começa a atravessar, senão reconhecendo-se ser desigual,
entre os componentes do conjunto nacional, a distribuição de talentos ou de
inteligências superiores, precisando, por vezes, essas superioridades, de um
amparo ou de uma proteção que, atualmente, em comunidades demasiada
mente ciosas da sua condição de democráticas, são dispensados, quando o
são, antes aos subnormais que aos supranormais? Para os pesquisadores so
ciais as inteligências superiores estão entre esses valores merecedores de pro
teção e de estímulos especiais da parte de governos e de empresas. E entre
eles, os Marias Borralheiras perdidos em rústicos, ignorados, desprezados es
paços rurais.

Para o Prof. W. I. B. Beveridge, autor de The Art of Seientific


Inves tigation - obra-prima sobre esse assunto quem diz pesquisa científica,
inclusive a social, no seu sentido mais puro, diz descoberta. Quem diz pesqui
sador, diz descobridor. 0 treinamento em técnicas de pesquisa é um treina
mento em técnicas de descobrimento: descobrimento de realidades ocultas,
encobertas, por vezes com aparências quase de todo diversas do que nelas são
as formas e os conteúdos mais caracteristicos. Ou mais reais que o
real, como
diria Jean Cocteau. Daí o que tem havido de revelador em
de Thomas e Znanieski sobre o imigrante polonês nos pesquisas como a
Estados Unidos um
ruralita, quase sempre - no começo do século XX. Pesquisa realizada menos
por meios matemáticos - nunca desprez íveis - que através do
tas e de outros documento8 pessoais; como a de estu do de car
que tornou indiscutível o erro de Freud ao Malinowski, entre primitivos,
pretender
complexos psiquiátricos ou psicossociais válidos somenteuniversalidade para
- se realmente
válidos para a Europa burguesa e capitalista do
século XIX; como a de Max
50

Weber - de Sociologia da História sobre o


mo pelo Calvinismo - condicionamento que pode não tercondicionamento Capitalie
do
sido mas foi,
decerto, quanto: o bastante para pôr em dúvida a
marxistas mais ortodoxos, no seu marxismo, que o
pretensão de uns tanto
próprio e tantos
grande No
ser sempre o fator econômico o
mais
influente sobre 0s demais, Marx, de
pesquisas de Sociologia Genética partidas do Recife,
do mostraram, contra
Brmitoasil,
já estabelecido, ter sido a contribuição cultural negro africano para a
mação brasileira, maior que a do ameríndio, tendo, em certos for-
tajado à européia. Já Roquette Pinto, pesquisador magistral, pontos, 8e avan-
enganado Euclydes da Cunha ao supor os sertanejos antes de tudo mostrara ter se

da frase retórica, quase exclusivamente brancos ou mistos de brancos n fortes"


ríndios. Roquette identificou, como antropölogo desdobrado em pesquisador
social, a considerável presença negra entre os sertanejos de Canudos. Portanto.
não só em espaçOs rurais canavieirOS Ou mneiros, como nos rurais agTo-pasto
ris. Alias, como o próprio autor deste Rurbanização salienta, em seu livro
Sobrados e Mucambos, o admirável arrojo de escravos fugidos que se consti
tuíram na famosa "República de Palmares" não se fechou nem numa fanática
negritude nem numa agreste ruralidade e sim deu ao seu experimento um ca
ráter misto ou plural que, em linguagem sociológica de hoje poderia ser deno
minada, por um lado, eurotropical, dado que seguiram vários modelos euro
cristãos e, por outro lado, o rurbano. Pois, em espaço rural se constituiram em
uma como cidade.

Descobertas, todas essas, de realidades encobertas, das que só se dei-


xam revelar pelas intuições de uns raros. Intuições que sejam, porém, outros:
conu
madas - ou não ou por 0s do
por pesquisas realizadas por eles própriosComo são
estes, quando pesquisadores, cientificamente sistemáticos Sociólo-
Instituto de Pesquisas Sociais da Fundação Nabuco: antropólogoa,
gos, economistas, geógrafos, historiadores, educadores.
revelar o
Há quem diga das pesquisas sociais que elas não fazem senãoé detodo
que o escritor Nelson Rodrigues chama o óbvio ululante 3 Não ser con-
exato. 0 óbvio pode ser confirmado ou não por tais pesquisas. Pode de to-
guase
firmado nuns pontos e retificado noutros. Pode ser desmentidoFundação
Nabu-
do. Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais da migrações
co - um queas
exemplo - foi o que revelou: desmentiu o mito de principalmen-
de gentes rurais ouresultam - de
para a cidade do Recife resultavam exclusiva ou
te do impacto das secas Resultavam -
sobre essas
causas principalmente socioeconômicas.gentes.
51

Vêm háanos insistindo os orientadores desse Instituto o Joaquim


Nabuco - na necessidade de considerarem-4e as gentes dos trópicos, o8 pro
blemas tropicais, as gentes rurais, o8 problemas rurais. E também o8 proble
mas de Tecnologia, de Economia, de Sociologia que exigem tratamento espe
cífico, em vez de serem tidos por iguais aos dos povos situados em regiões
frias e temperadas. Daí a necessidade de uma Tropicologia - que ainda no
existe de todo mas se acha em formação principalmente no Brasil: no Semi
nário de Tropicologia da Fundação Nabuco e no referido Instituto - que sis
tematize o estudo de tais problemas, do ponto de vista do que seja aplicaçáo
de Ciência - de um conjunto de Ciências ou de Saberes - a problemas vivos,
específicos, inconfundíveis em seu caráter de problemas regionais ou ecológi
cos cujas particularidades sejam esclarecidas por pesquisas idôneas.
Hácondicionamentos ecológicos - de Ecologia Física e de Ecologia
Social - que são inevitáveis no trato, pelo cientista social, de ocorrências
ou recorrências sociais. O pesquisador social precisa de inteirar-se deles.
Desprezados tais condicionamentos, as pesquisas sociais correm o risco de se
bizantinizarem em puras abstrações. Esabemos dessas abstrações que, por ve
zes, são de todo retóricas, arroubos oratórios, dós de peito de eloqüência. G
nero a que vem pertencendo não pouco do palavrário politico sobre o"Ho
mem do Campo". Ou sobre o por alguns chamado, à européia,
Quando o que problemas complexos como o de um mais adequado "Camponês".
relaciona
mento, no Brasil, entre gentes rudes e gentes urbanas, pedem são abordagens
interdisciplinares.
A situação hoje é, com relação a
a de reconhecer-se a necessidade de se problemas brasileiros complexos,
cas, em estudos sobre assuntos assim maisconjugarem duas e, até, vánias técni
que mistos, em que culturas civili
zadas se vêm misturando a primitivas. Repete aqui o
autor o que ja disse em
pronunciamento na Fundação Nabuco. Que a
tíficas se acrescentem outras - a própria abordagens propriamente cien
captar em culturas vivas, ou em parte, abordagem artística capazes de
extintas, ou em formação, que sejam
complexas, símbolos ou sinais que escapam ao registro
literária ou somente cientíica. O caso não só da ou a captação apenas
cultura do Brasil
a propósito de tais símbolos -
como os de várias outras culturas -repita-se
das por modernas sociedades desenvolvi
Orientes. eurotropicais das Américas, das Africas e dos

E crescente a importância que, em estudos desse


que em recente trabalho,
intitulado no original francês La gênero, se atribui ao
Tradition orale-Pro
52

blematique et Methodologie des Sourcesoreilles de 'Histoire


Niger 1972), se chama "L heritage des ". Eesse
mO toda uma reabilitação daquelas entrevistas com analfabetena
Afrioaine (Nianey.
livro de
autor aiica
começo da década 30, já havia, quem a elas recorresse pioneiramente no Bra-
sil, em trabalho de análise einterpretação, além de científica e de
traliterária, contrapondo, por vezes, verdades literána,
colhidas em testemunhos Oraikek
de iletrados às dos documentos ou escritos oficiais ou acadêmicOs ou eclesás.
ticos; e varios deles, assim eruditose oficiais puros reflexos não do
taliano de uma cultura mas do interesse e requintes dos seus grupos econami. total ges
ca e culturalmente dominantes.

Averdade éque há séculos, tanto os homens como os tempos, se Co:


municam, uns com os outros, e, também, as culturas, umas com as outras,
por meio de sinais e de símbolos - plásticos, sonoros, intuitivos, sensuais -
que excedem, em não poucos caso8, em importância antroposociológjka,
as comunicações apenas alfabéticas ou somente literárias ou por meio de le
tras, de manuscritos, de impressos. Há muito de artes de ruralitas analfabetos
a ser melhor incorporado ao que vem sendo o todo da cultura brasileira:
não só muito de literatura oral como de cerâmica e não só cerâmica como de
canto, música, de devoção religiosa culturalmente sugestivos e informativo8.
preciso ao pesquisador social ir além do evidente ou ostensivamente rea.

Come-
que
Note-se do movimento revolucionário de 1930, no Brasil,democrático-
çou com um sentido de ação além de política, social, de sentido prt
liberal, para, dentro de Pouco tempo, seguir outro, de todo contrário ao um
dentro de
meiro; e quase sempre essas alterações contra-revolucionárias,Movimento, pela
complexo revolucionáio, se verificaram, entre nós, naquele desas
concluir,
vontade particularíssima de pequenos grupos. Pode-se, talvez,
revolucionáios, que
alterações contra-revolucionáias dentro de complexo8 oracomconsegúên
tem ocorrido, quase sempre - dentro e fora do Brasil 8ociedades que de-
cias vantajosas, ora com resultados desvantajo808, para as renovadores.
veriam ter sido beneficiadas por movimentos ostensivamente
equilíbrio,decerto
No Brasil dos mantendo um contra-revolu-
ültimos
modo, saudável, entre as duasanos,
vem se
a
tendências: a revolucionáia e exigemque
cionária. Algumas situações, Como a agrária, do Nordeste, de mo
sentirefetiva
a ação
revolucionária, porém,8ocialmente renovador, se uma com
de sentido
faça
do, quanto com
a acontecer Deacordo
possível, incisivo. Foi o que começourevolucionária. alem
aplicação do Proterra. Uma
os ideais do grande
D que,
ação suave porém demais recordá-lo -
José Bonifácio nunca é
53

Independência Política do Brasil, cogitou, em termos quase


de organizador da organização socioeconômica da nova Nação que fosse
sociológicos, de uma Inclusive, democrática
democrática.
verdadeiramente cristå e brasileiramente
interrelações regionais.
quanto as interrelações raciais e
aero
construção de estradas de rodagem, estradas de ferro, portos,
A
de canalização, linhas de telégrafo são obras de Engenharia
portos, linhas psicossocioculturais capazes de beneficiarem
tais
Física com repercussões rurais.
interrélações, sobretudo as interrelações entre gentes urbanase gentes
têm de luxos. Uma
Obras de construção e manutenção dispendiosas, nada
ser três vezes mais dispendiosa em
estrada de rodagem calculam entendidos
região tropical do que em região temperada. E a duração do esforço exigido
vezes maior en região tropical
para essa construção calcula-se que équatro
do que em região temperada. O custo de manutenção acompanharia o mesmo
tratando-8e de região tro
ritmo. O rendimento em termos sócio-econômicos,
menos de um terço do
pical subpovoada, este, porém, é, numa região dessas,
que énuma região temperada.

Entretanto, são obras, essas, de comunicação, tão essenciais aos países


tropicais e subtropicais como o Brasil países em desenvolvimento como
Obras
aos países temperados já desenvolvidos econômica e tecnicamente.
essenciais e - repita-se não de luxo, por mais antieconômicas que pareçam
aos economistas mais fechados no seu economicisno. E com este aspecto im
portantissimo: o de concorrerem para mais saudável articulação entre ativida
des urbanas e atividades rurais.

Oque se diz das estradas de rodagem, aplica-se a outras obras de En


genharia Fisica associadas à Engenharia Social e à Engenharia hoje chamada
Humana: são obras que, nos trópicos, precisam de seguir técnicas diferentes
das já empregadas em áreas temperadas. Diferentes também pelo muito que
nos trópicos sua construção e sua conservação custam emn dinheiro e pelo que
de particular, de difícil ede novo exigem de administradores e de técnicos cu
Ja formação europeia ou angloamericana precisa de refazer-se em face de
situações novas.
E evidente a necessidade de várias dessas técnicas e de todos esses téc
nicos, sejam adventícios ou nativos, como que nasceram de novo em face de
condições de ecologia tropical que tornam como que antieconômica, nos tró
picos, a construção de certas pontes, de certos portos, de certas
várias estradas, de
outras obras de Engenharia Física. Obras de Engenharia Física insep ará
52

des Sources de l'Histoire Africaine (Niamey.


blematique et Methodalogie oreilles" E esse livro de autor africa.
1972), se chama "Lheritage des
Niger
daquelas entrevistas com analfabetos a gue. ne
no toda uma reabilitação recorresse pioneiramente no Bra
começo da década 30, já havia, quem a elas científica e de literáia, ex
além de
sil, em trabalho de análise e interpretação, colhidas em testemunho8 orais
traliterária, contrapondo, por vezes, verdadesoficiais ou acadêmicos ou eclesiás
de iletrados às dos documentos ou escritos reflexOS não do total ges
ticos; e vários deles, assim eruditos e oficiais puros grupos econômi
taltiano de uma cultura mas do interesse e requintes dos seus
ca e culturalmente dominantes.

Averdade é que háséculos, tanto os homens como os tempos, se co


outras,
municam, uns com os outros, e, tambm, as culturas, umas comn as
sensuais
por meio de sinais e de simbolos - plásticos, Sonoros, intuitivOs,
que excedem, em não poucos casos, em importância antropossociológica,
as comunicações apenas alfabéticas ou somente literárias ou por meio de le
tras, de manuscritos, de impressOS. Há muito de artes de ruralitas analfab etos
a ser melhor incorporado ao que vem sendo o todo da cultura brasileira :
não só muito de literatura oral como de cerâmica e não só cerâmica como de
canto, música, de devoção religiosa culturalmente sugestivos e inform ativos.
E preciso ao pesquisador social ir além do evidente ou ostensivamente real.

Note-se do movimento revolucionário de 1930, no Brasil, que come


çou com um sentido de ação além de política, social, de sentido democrático
liberal, para, dentro de pouco temp0, seguir outro, de todo contrário ao pri
meiro; e quase sermpre essas alterações contra-revolucionárias, dentro de um
complexo revolucionáio, se verificaram, entre nó8, naquele Movimento, pela
vontade particularíssima de pegquenos grupos. Pode-se, talvez, concluir, dessas
alterações contra-revolucionárias dentro de complexos revolucionários, que
têm ocorrido, quase sempre - dentrO e fora do Brasil - ora com consegüên
cias vantajosas, ora com resultados desvantajoso8, para as 8ociedades que de
veriam ter sido beneficiadas por movimentos ostensivamente
renovadores.
No Brasil dos últimos anos, vem se mantendo um
modo, saudável, entre as duas tendências: a revolucionáriaequilíbrio, de certO
e a contra-revolu
cionária. Algumas situações, porém, como a grária, do Nordeste, exigem que
a ação revolucionária, de sentido
socialmente renovador, Be faça sentir de mo
do, quanto possivel, incisivo. Foi o que
aplicação do Proterra. Uma ação suave começou
a acontecer com uma efetiva
Os ideais do grande José Bonifácio porém revolucionária. De acordo com
nunca édemais recordá-lo - que, além
53

de organizador da Independência Política do Brasil, cogitou, em termos quase


8ociológicos, de uma organização socioeconômica da nova Nação que fosse
verdadeiramente cristå e brasileiramente democrática. Inclusive, democrática
quanto às interrelações raciais e interrelações regionais.
A construção de estradas de rodagem, estradas de ferro, portos, aero
portos, linhas de canalização, linhas de telégrafo s¥o obras de Engenharia
Física com repercussões psicossocioculturais capazes de beneficiarem tais
interrelações, sobretudo as interrelações entre gentes urbanas egentes rurais.
Obras de construção e manutenção dispendiosas, nada têm de luxos. Uma
estrada de rodagem calculam entendidos ser três vezes mais dispendiosa em
região tropical do que em região temperada. E a duração do esforço exigido
para essa construção calcula-se que é quatro vezes maior em regilo tropical
do que em região temperada. Ocusto de manutenção acompanharia o mesmo
ritmo. 0 rendimento em termos sócio-econômicO8, tratando-se de regiaio tro
pical subpovoada, este, porém, é, numa região desas, menos de um terço do
que énuma região temperada.

Entretanto, são obras, essas, de comunicação, tão essenciais aos países


tropicais esubtropicais como oBrasil - países em desenvolvimento Como
aos países temperados já desenvolvidos econômica e tecnicamente. Obras
essenciais e - repita-se não de luxo, por mais antieconômicas que pareçam
aos economistas mais fechados no seu economicismo. E com este aspecto im
portantíssino: o de concorrerem para mais saudável articulação entre ativida
des urbanas e atividades rurais.

0 que se diz das estradas de rodagem, aplica-se a outras obras de En


genharia Física associadas à Engenharia Social e à Engenharia hoje chamada
Humana: são obras que, nos trópicos, precisam de seguir técnicas diferentes
das já empregadas em áreas temperadas. Diferentes também pelo muito que
nos trópicos sua construção e sua conservação custam em dinheiro e pelo que
de particular, de difícil e de novo exigem de administradores e de técnicos cu
ja formação européia ou angloamericana precisa de refazerse em face de
situações novas.
É evidente a necessidade de várias dessas técnicas e de todos esses téc
nicos, sejam adventicios ou nativos, como que nasceram de novo em face de
condições de ecologia tropical que tornam como que antieconômica, nos tró
picos, a construção de certas pontes, de certos portos, de certas estradas, de
váias outras obras de Engenharia Física. Obras de Engenharia Física insepará
54

veis de suas projeções 8obre a Engenharia Social e sobre a Engenharia chame.


da Humana. Obras de ligação - repita-se entre gentes rurais e gentes urha.
nas e suas atividades. Por conseguinte rurbanizantes nos seus efeitos pgeraia
DA ECOLOGIA SOCIAL ÀRURBANIZAÇÃ0: CONSIDERAÇÖES
GERAIS E UM TANTO DESORDENADAS

Artigo háalgum tempo aparecido num hebdomadário de Bonn (Bole


tim do Governo Federal de 18de janeiro de 1961), sobre o problema da es
trutura agráia da República Federal Alemã uma República em que começa
va a realizar-se experimento social de considerável interesse para os sociólogo8
interessados em Engenharia Social -, já confirmava o que eu próprio vinha
observando em visitas àquele país desde 1956. Isto é,que era no sentido rur
bano que estava começando a processar-se um reajustamento de relações ur
bano-rurais que resultaria numa sensacional ressurgência da agricultura na Re
pública Federal Alem. Essa ressurgência tornara-ee, mais que isto, o começo
de um novo surto no relacionamento dos dois espaços:o urbano eo rural,
que tanto da Alemanha Ocidental como dos Estados Unidos, começavam
aassinalar grandes superioridades nas suas economias sobre a economia rus
80-8Oviética.
Passavam tanto a República Federal Alemãcomo os Estados Unidos,
a precisar apenas de 10% da sua população empenhada em atividades de pro
56

União Soviética, necessitan do de 40% da sua populacão


dução agr¥ria,com a espaco
emperhada nas mesmas atividades. Uma nova relação de gente com
nacional.

a cogitar de um movi
Na Alemanha Ocidental, passou-se, desde então,
maior que o já verificado de transferência de atividades econômicas ca
mento
de caráter amplamente so
paz de resultar numa revolucionária modificaçãolíderes não se deixaram, de modo
cial: esse movimento, orurbanizante. Seus
tecnológico-econômico da operação.
algum, empolgar pelo exclusivo aspecto tecnologia agrária, com dimensões
Passaram a conciliar o aperfeiçoamento da estrutura técnico-eco
consideradas ideais para a participação farmilial na nova homens de governo
nômica. Para tanto tornou-se valioSo o auxilio que, aos
levar, tendo a Socie
e aos líderes agrários, industriais e religiosos, decidiram
dade de Sociologia Agrícola de Gottingen, que reunia especialistas no assun
to, de diversas tendências e opiniões politicas, chegado a acordo, quer quanto
ao papel que deve ser atribuído à agricultura numa sociedade moderna, quer
sobre as soluções práticas para um aperfeiçoamento da estrutura agrária da
Alemanha Ocidental. Aperfeiçoamento não só técnico-econômico como tam
bém psicossociocultural.

Em conseqüência desses entendimentos, uma das tendências vitoriosas


naquele país, passou a ser no sentido de separar-se, nas áreas rurais, o lugar de
trabalho agrário do lugar de residência ou de habitação familial do agricultor,
facilitando-se assim, nos lugares de trabalho, através de novas formas de co
operativas de produçâão, a adoção em ambientes predominantemente rurais,
de valores urbanos, adaptados aesses ambientes. Achave das saudáveis rurba
nizações. Os ambientes sempre respeitados no que, neles são condições, ao
mesmo tempo que essencial, existenciariamente rurais pois, como o Brasil,
que pela sua extensão continental, clama por inteligentes rurbanizações.

Orientando se o excesso urbanístico, ou panurbanístico, não se resvala


em parcialidade ou em rumo contrário, ou seja, em valorização absurda de
uma vivência arcaicamente, ou antimodernamente, rural, isto é, de todo rural.
Vivência que seria difícil, dada a atual tendência fator psicosso cial e não
apenas socioeconômico no Brasil, como noutro8 países, para
se tornarem urbanitas.
ruralitas

Essa reorientação está a procurar, o mais possivel, rurbanizar o Brasil,


apenas arcaicamente rural como éo Nordeste, em face de algumas áreas de
rápido desenvolvimento econômico e tecnológico. Areas aonde vem chegan
57

do o migrante nordestino como o brasileiro dinanicamente


transregional
que é, para aí verificar com o8 próprios olhos, haver situações intermediáDas
das que, tanto anglo-americano como indiano, vêm caracterizando como rur
banas. Neologismo há cerca de trinta anos introduzido no Brail por sociólo
go8 brasileiros junto com um abrasileiramento desse novo conceito sociocul
tural ou socioeconômico, que o torna também sociopolítico.
Que significa rurbanização? Um processo de desenvolvimento socioe
conômico que combina, como formas e conteúdos de uma só vivência regjo
nal - a do Nordeste, por exemplo ou nacional - a do Brasil como um todo
valores e estilos de vida rurais e valorese estilos de vida urban os. Daí o neolo
gismo: rurbanos.

Trata-se de uma rejeição àmística absoluta de urbanização, por um


lado, e, por outro lado, ao sonho lírico de alguns de se conservarem popula
ções inteiras dentro de formas arcaicamente rurais de vida. Numerosas popu
lações poderiam viver com vida mista: juntando a urbanismos, ruralismos
como que desidratados sem deixarem de corresponder ao apego que parece
haver na maioria dos seres humanos a contatos com a natureza. Com a tera.
Com águas de rios, com árvores, plantas e até matas.

Esse sentido do telúrico, dentro de um afä de reforma sociopolítica


reclamada pelo Brasil é que, em Brasíia, parece ter faltado a mestres de uma
superior visão de arguitetura estética, como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.
Oque lhes faltou, nesse sentido, talvez tenha sido uma orientação socioecolo
gicamente rurbanizante que os fizesse integrar suas construções, ao mesmo
tempo que num ritmo moderno de convivência, num spaço teluricamente
brasileiro e num ambiente psicossociocultural também brasileiro :condiciona
do por hábitos, modos de ser, gostos brasileiros como reaultados de uma for
mação históricossocial, ou psicocultural., ou antropocultural diferente da eu
ropéia ou da anglo-americana. Em vez de terem dado ao Brasil, elitistamente,
uma cidade modernistamente européia ou subeuropéia - poderiam ter fei
to de Brasília um grande foco de rurbanização.

0Brasil está atualmente numa fase de desenvolvimento em que neces


SIta pungentemente de conciliar os dois aparentes contrários:o de atualizar-se,
o de modernizar-se, o de desenvolver-se, e conservando valores já muito seus:
caracteristicamente suae de for
sensivel ao que, para um País de ecologia tâo herança valiosa. Valiosíssima
mação histórica, também tão sua, constitui uma
até.
58
fizesse o Brasil desprender
Seria lastimável que o afã de modernização
condicionamentos essenciais, além de
se de suas aquisições básicas ou desses
próprias e o da sua tam
existenciais: o da sua ecologia ou das suas ecologiastambém, própria formacão
sua
bém específica formação historicossocial, oda à gente brasil eira respo nsa
antropocultural. São condicionamentos que dão
está sendo um exemplo de
bilidade transnacional,sabido como éque o Brasilcomo foi e é ainda, na Ama
repercuão transnacional. Um autocolonizador, brasileiro que está
zônia, o Bandeirante, como foram outros pioneiros, o-o brasileiro de hoje:
abrasileirando mundo tão áspero. Um abrasileiramento
neobrasileiros como vem
inclusive com seu velho ânimo, o Paulista entre
para
sendo em áreas do Centro-Sul: o povoador saído dos Brasis mais antigos
criar novo Brasil harmonizado com seus ambientes.

As referências a soluções rurbanos para muitos dos problemas brasi


leiros de desenvolvimento considerados como problemas inter-regionais no
seu modo de ser dinamicamente nacionais poderiam ser ampliadas em toda
uma perspectiva desse desenvolvimento que seja uma perspectiva rurbana. E
claro que um rurbanisno aplicado de modo diverso a situações regionais di
ferentes.

Nenhum líder que se prepare para enfrentar novas ituações na socie


dade neocapitalista neocapitalismo penetrado de impactos socializantes
em desordenado, e ao mesmo tempo, rápido desenvolvimento, com diferentes
grupos de sua população vivendo tempos sociais diversos, comno a do Brasil,
pode ser indiferente ao problema das relações dessa sociedade como tempo, à
medida que as indústrias e outras atividades se automatizam.

Sociólogos já advertem que, em sociedades superindustriais, as horas


de trabalho começam a ser menores que as de lazer. Trata-se de uma situação
de tal modo revolucionáia, essa da intrusão do tempo lazer no tempo traba
Iho, em relação com que vinha dominando nas relações do Homem com o
Tempo, que tormaarcaicas várias das principais reivindicações trab alhistas ou
socialistas. E faz do problema da organização do lazer assunto de maior im
portância, para homens de governo, industriais, educadores, urbanistas, que
o próprio problema de organização do trabalho.
Uma nova distribuição de trabalho se impõe àquelas
sendo mais rápida e efcientemente automatizadas, tal o indústrias que vao
que a automatização já deixa a numerosos operáios tempo edesocupado
breve a trabalhadores rurais, em contraste com a urbanos, vai deixar
exigência de qualidades Su
59
periores, por parte da nova tecnologia, 8obre pequenos mas
de técnicos e operários especializados a serviço das essenciais grupos
indústrias
Arárias - automatizadas. Sao técnicos, operários urbanos, - urbanas e
rais especializados, esses, que tendem a tornare trabalhadores ru
associados
de indústrias através da importância de suas funções e de dos proprietários
suas responsabilida
des nas novas organizações.
Por outro lado, industriais - tanto rurais como urban08 e
8e vêem obrigado8 a cuidar, com a máxima seriedade, e de um pontogovernos
de vista
psicossocial que inchui de modo efetivo o médico sociológico através do jurí
dico-sociológico, do problema aparentemente frivoin da recreação para aque
les técnicos e operários de tempo desocupado grandemente superior ao tem
po ocupado. Não se trata de dirigir tal recreação nem de ordenar rigidamen
teo lazer desses grupos mas de conceder-lhes facilidades lúdicas as mais varia
das, para que uns possam entregar8e a recreações artisticas, outros a passa
tempos esportivos, ainda outros, a devoções religiosas, aprazeres intelectuais,
a experimentos científcos, a danças (inclusive carnavalescas), conforme as
inclinações de cada um. Daí os espaços que devem ser destinados a fins re
creativos, ou lúdicos ou ociosos tanto para gentes de trabalho urbano-indus
trial comno de trabalho agrário-rural.

A esse propósito, lamente-ee que a recreação oceânica precisa de ser


estendida, por governos e industriais, a brasileiros outrora favorecidos por
numerosos rios, outrora saudáveis, hoje terivelmente poluidos e malignos.
Os rios brasileiros, tantos deles degradados pela esquistossomose e por outras
poluições, já não servem ao brasileiro jovem para esportes ou divertimento.
A natureza brasileira solos, ares, águas vem sendo vítima de não poucas
poluições que constituem aspecto vergonhoso do chamado desenvolvimento
brasileiro. Desenvolvimentismo que extremou-4e em glorifcar, para o Brasil,
um presente e um futuro guase de todo urbano-industriais. Com um desprezo
absurdo pela lavoura, pela agricultura, menos, porém também, pela pecuária,
quando uma das mais criativas vocações apresentava8e em tornar-se um gran
de mercado de alimentos para populações não-brasileiras, e não apenas bra
sileiras, crescentemente famintas.

como futuro necessário para


A esse pendor urbanóide-industrialóide, ambientes em que desvai
a
O Brasil, deve-se, aliás, toda uma série de traições época brasileira. Ho
ram-se homens públicos dos mais brilhantes, de certa
bons começos, em no8so Pais, de
s publicos que deixaram ao abandono britânica;
hação férrea no qual foi valio8aa cooperação da Engenharia Fisica
60

abandono aos também bons começos de navegação costeira, t¥o útil co.
em inter-regional; ao abandono de va
mo a ferroviária, ao transporte econômico
em agricultura e em pecuária que
liosos experimentoseoportunas iniciativasmonoculturas latifun diárias, como
poderiam ter realizado a substituições de
policulturas. Faltas de visão difíceis
a do açúcar e a do café, em adequadas retóricos que objetivOs no
de serem perdoadas a tais homens públicos, mais bem-estar da gente brasi
do
seu progresismo. Progresso é relação de defesas indústrias descontrola das.
leira com as poluições de ares, águas e terras por idôneos, de Osvaldo
Com a falta de substitutos prestigiosos, e não apenas Marias e
Cruz e de Saturninos de Britos. Viriam, é certo, grandiosos Três
grandiosíssimos Itaipus e Transamazônicas. Mas com desprezos terríveis
por obras menos monumentais porém necessárias de Engenharia Física
conflitada pela Humana e pela Social: todas atentas à necessidade de se reali
zarem em harmonia, com ambientes brasileiros e em circunstâncias brasilei
ras.

São inevitáveis, em qualquer sociedade - e o Brasil, comno sociedade


neo-capitalista - dando-se ênfase ao neo - não escapa a essa condição - os
conflitos,dentro de suas populações ou de suas economias, entre as chamadas
situações adquiridas - situations acquises, dizem os franceses - e as situações
desejadas. Em arguto estudo sociológico, Les groupes de pressions en France
(Paris 1958), M. Jean Meynaud estudou pioneiramente tal conflito na França,
mostrando que os grupos em conflito buscam, cada um a seu modo, influir
sobre a política, quer econômica, quer social, do governo francês; e com
implicações sobre aspectos jurídico-s0ciais ou médico-socias em que esa po
lítica possa definir-se. Conflito que continua a dividir franceses.

Não será difícil encontrar, no Brasil, equivalentes para alguns dos gru
pos sócioeconômicos na França atual que é, também, com recursos tecnológi
cO8 vastamente superiores aos do Brasil, uma s80ciedade ainda ne0-industrial
a desembaraçar-se de sobrevivências paleo-industriais. Pequenas indústrias
ainda resistem ao emprego de tecnologias avançadas que impliquem em absor
ção dessas indústrias por novas indústrias como que imperiais; e so
cialmente,
têm razões para fazêlo, embora tais resistências retardem o desenvolvimento
francs em termos idealmente tecnológicos e econômicos. Mas, na França co
mo no Brasil, tais termos precisam de não ser atendidos à
e brasileiros capazes de opinar sobre tais
revelia de franceses
assuntos.
Interessante é o choque que se verifica na França, ainda ago-indus
trial, e, sob certos aspectos, saudavelmente
agro-industrial, entre os produto
61

res tradicionalmente agro-industriais de manteiga e os industriais de Qleo-mar


garina. Conflito que é exemplo de outros conflitos.
Hácondicionamento8 ecológicos de ecologia física e de ecologia s8o
cial que s¥o inevitáveis no trato, pelo cientista social, de ocorrên cias ou re
corrências 8ociais que precisam de ser condideradas em Buas circunstâncías
regionais. Opesquisador social precisa de inteirar-se deles. Desprezados, as
pesquisas 8ociais, correm o risco de soluções governamentais e empresariais
e pleitos trabalhistas de se bizantinizarem em puras abstrações ou pura retó
rica. Em vez de concretamente regionais ou situacionais, são abstratas. Dai
anecessidade de o Nordeste ser estudado sociologicamente, considerando se
a sua nordestinidade.

A construção de estradas de rodagem, de estradas de ferro, de por


tos, de aeroportos, de linhas de canalizaçio, de linhas de telégrato de to
das essas obras de Engenharia Física lembremo-nos de que é mis difícil
emais dispendiosa nas regiões tropicais do que nas temperadas, munca de
vendo esquecer-se do Brasil que é país em grande parte situado em espaço
tropical. Não só a construção: a manutenção. Üma estrada de rodagem do
mesmo tipo calcula-se que seja de construção três vezes emeia mais dispendi
Osa em região tropical do que em região temperada; eque a duração do esfor
ço exigido para esa construção seja quatro vezes em região tropical do que
éem região temperada. O custo de manutenção acompanharia o mesmo it
mo. O rendimento em termos econômicos, tratando-ee de regilo tropical, se
ria menos de um terço do que é numa regiao temperada. O cálculo é de eco
nomistas.
Entretanto são obras, essas, de comunicação, tão essenciais aos paises,
tropicais ou não, em desenvolvimento como aos países temperados já desen
volvidos econômica e tecnicamente. 0bras essenciais e não de luxo, por mais
antieconômicas que pareçam aos economistas mais fechados no 8eu econo
mismo, indiferente a necessidades sociais.
-
que se diz das estradas de rodagem - das hoje chamadas agrovias
O
à Engenharia Social
aplica-se a outras obras de Engenharia Física associadasquando urbano indus
e à Engenharia hoje chamada Humana: são obras, quer de seguir técnicas
trópicos precisam
thals, quer quando agro-rurais, que nostemperadas.
diterentes das já emprega das em áreas Diferentes também pelo
custam em dinheiro
mito que nos trópicos sua construção e sua conservação administradores e de
exigem de
pelo que de particular, de difícil ede novo, anglo-americana.
tecnicos, de formação apenas européia ou exclusivamente
62

No campo dos estudos sociais, as situações sócio-econômicas peculia


res a regiões tropicais, como grande parte das regiões que constituem o Brasil,
exigem abordagens diferentes dos empregados por cientistas sociais europeus
e anglo-americanos para o estudo, a análise, a interpretação de situaçõe8 pró
prias dos seus países de origens. Se há transplantes que fracassam por força
de rejeições são os transplantes de métodos, de conceitos, de soluções de ca
ráter socioeconômico. Compreende-se que as novas nações africanas venham
rejeitando transplantes, para a solução de seus problemas nacionais e regio
nais, de "parlamentarismos ingleses e franceses, de "socialisnos russos e
chineses, de "democratismos" anglo-americanos. Os lideres mais lúcidos des
sas novas nações não-européiaS e tropicais um deles, o admirável Leopold
Sengho estão atualmente procurando desenvolver seus próprios modelos
de govermo, suas próprias técnicas de agicultura, seus próprios tipos de ali
mentação, seus próprios estilos de recreação, seus próprios estilos de habita
ção que sejam de tipo civilizado sem deixarem de ser ecológicos ou ambien
tais. Ou adaptadas as suas condições ecológicas ou a seus ambientes, quer
urbenos, quer rurais. Adaptações com relação a residên cias que, no Brasil,
em geral, datam de velhos dias coloniais, sob a forma de casas com protetores
alpendres em volta, tradicionalmente tão características das paisagens brasi
leiras. Um, para alguns, arcaismo rural, que só merece desprezo. Entretanto,
não pensou assim o mais urbanocêntrico dos magistralmente modernos arqui
tetos brasileiros, ao levantar para sua residência, casa em Brasília. Seguiu nessa
construção o modelo tradicional e regionalmente brasileiro de casa-grande ru
ral. No caso, de sede de fazenda de café.
Compreendeee que palavras como ecologia", primeiro em 1937
e "rurbanização", posteriornente, tenham sido lariçadas em línguas portugue
sa, junto com os conceitos sociais a ela correspondentes, pelo mesmo autor de
Casa-Grande & Senzala que, nesse livro publicado em 1933, e nos pequenos
estudos que o precederarm, antecipando-0, já se ocupasse com perspectivas no
vas, e algumas originais, do fenômeno dos começos brasileiros, ou pré.brasilei
ros, como aspectos de uma onda de invasão civilizadora, e esta para-urbana,
de espaços, então, de todo, ou quase de todo, agrestes ou para-rurais.

Notava-se, no mesmo livro, dos Bandeirantes ou Paulistas que, numa


primeira invasão civilizante e pré-abrasileirante de espaço virgem, tendo agido
horizontalmente, rentes com ou a natureza selvagem ou o espaço, desvirgna
do por suas botas de civilizados e civilizadores, tiveram quase contempora
neos, como outros desvirginadores de espaços para utilizações civilizadoras,
o8 nordestinos daquela Nova Lusitânia, onde teve início, com uma civiliza
ção canavieira, uma ocupação vertical, estavelmente Bocioeconômica, de
63

espaço, através de igrejas, conventos, torres - as torres de Duarte Coelho


em Olinda e as primeiras casa8-grandes de arquitetura dominadora e, lite
ralmente, domesticadora e civilizadora, desse espaço virgem,em vez de, cono
As choças efêmeras e quase iguais a construções indígenas, dos ousados Ban
deirantes, rentes com o solo; elas próprias agrestes;elas própria8, vegetais.E
como abrigos vegetais, telúricos. E assim telúrica, uma ocupaçlo de espaço
agreste que, sendo civilizadora - ou preurbanizante - confraternizava com a
natureza ou com o trópico que desvirginava.
Um e outro proces80 - o Bandeirante ou Paulistae o Permambucano
ou Nordestino abriram o espaço que viria a denominar-ee ecologicamente
Brasil, em virtude de sua, para europeu8 civilizado8, valiosa madeira de tinta,
ao seu destino grandioso : o de utilização, primeiro, prénacional, depois, na
cional, de um dos mais vastos espaços do universo, sU8ceptível de tais utiliza
ções. Essas utilizações, principalmente por europeus ibéricos especialmente
o português além de ibéricos arabizado8 e israelitizados, predominantemen
te católicos: por eles, uma religião irmã de suas vocações quer nacionais, quer
imperiais.
Se outro0s europeus lhes disputaram a posse do espaço prenacional
mente brasileiro, foi pouco o êxito de seus pleitos. Excetue-se o de holande
ses no Nordeste, menos, talvez como holandeses, do que como norteeuro
peus, na maioria Calvinistas, quando sua tentativa de se fixarem no Brasil lu
so-Católico obedeceu às orientações caracteríisticas de um tipo de colonizaçÃo
superior:o representado pelo não apenas alenão, mas europeu da Renascença
mediterranizado, portanto Conde Maurício de Nassau, quando Governa
dor do Brasil holandês. Um tipo de colonização européia de espaço tropical
que, incluindo, de modo notável, desvelos supeiormente científicos, e cui
dados também superiormente artísticos, pela natureza desse espaço e a fxa
gões, por bons pintores holandeses, de já expressivas instalações eexpansõea,
nesse quase fim de mundo luso-Católico - figuras humanas de indígenas, de
português, de negros importados da Áfica, de mestiços, igrejas, mosteiros, ca
sas-grandes de engenho de açúcar implicouesta importante reorientação, da
parte de Nassau, num modo europeu de assenhorear-se de terra não-européia:
uma como prérurbanização. Pois foi o que Naau procurou fazer do Recife,
como substituto norte europeu de uma luso-Católica Olinda: um burgo que,
sendo, urbanamente marítimo, comercial, de arquitetura civil, para a época,
extremamente vertical, guardasse, dentro dos seus muro8, tal riqueza de vege
tação tropical, que se assemelhasse a um aberto ou livre jardim botânico. Ru
ralidade, portanto. Äum episó dio, na história de ocupações civilizadoras e,
em vários casos, urbanizadoras de espaços, por europeus, no Brasil,
que, pela
64

sua excepcionalidade, não deve ser esquecido. Pois importou numa antecipa
ção rurbanizante dentro de tendências para se separarem espaços urbanos, dos
rurais.

Entretanto, como se observa em estudos pioneiros, como podem, tal


vez, ser considerados os livros Casa-Grande &Senzala, Sobrados e Mucambos
e Nordeste, essas separações, dentro dos processos de ocupação luso-Católica
de espaços - dos prebrasileiros aos brasileiros não se apresentam como ten
do sido, sempre, absolutas. Lembre-se dos civilizadores engenhos de açúcar,
presentes no Brasil, desde o século XVI o primeiro, como presença históri
ca, em So Vicente, os imediatamente seguintes, em Permambuco - ou Nova
Lusitänia que, sempre completados por patriarcais casas-grandes e senzalas
de residência e capelas, essa complementação envolveu abrangente aço quase
rurbanizante. É que, a unidade de produção econômica agroindustrial
representada pelo complexo encarnado pelo engenho de açúcar, envolveu
além de duas específicas populações a das famílias senhoris das casas-gran
des e a dos escravos das senzalas - numerosos lavradores ou moradores, resi
dentes nos arredores das casas-grandes, vários deles compadres dos senhores
de engenhos. Portanto, toda uma população de nível superior ao de puros ru
ralitas isolados, desde que desfrutava de vantagens civilizadoras irradiantes de
casas-grandes. E essas vantagens civilizadoras tocadas de contatos de ruralitas
de tipo superior - as famílias patriarcais das casas-gran des comn valores ur
banos e, até certo ponto, urbanizantes de suas formas de vivência e de convi
vência. Mesmo porque era hábito dessas famílias
passarem parte do ano em ci
dades. Olinda um exemplo e, posteriormente, Rio Formoso, foi, em
Pernambuco, uma dessas cidades de residência, durante parte do ano, de fa
mílias senhorialmente rurais, agrárias, canavieiras. E de Olinda se sabe ter si
do, desde o século XVI, ponto brasileiro de íntimo e freq üente
contato com
vantagens e requintes, além de europeus - civilizantemente europeus - urba
nizantes. Daí, através de sua situação de residência parcial, ano após ano, de
senhores de engenho, de suas famílias e de parte de mucamas e de
escravos, acompanhantes dessas famiias, ter desempenhado, durante apajens épo
ca colonial, uma nada insignificante função urbanizante,
quanto a mo de
alimentação, trajo, recreação, devoção, junto a gentes rurais sem quedas,
gentes, quando senhoras de casas-grandes, ou mesmo, escravos dessas essas
gentes,
deixassem de orgulhar-se de sua ruralidade. Apenas não desdenhavam requin
tes de origem urbana que assimilassem a seus estilos de vivência e
rurais. Por conseguinte, uma como rurbanização, em tempos que,convivência
reduzidos, não deixaram de ser socioculturalmente significativos.porE oserem
aconteceu com Olinda, aconteceu com outras cidades antigas do Brasil que não
65

o em Pernambuco como noutras áreas. E não só no espaço socioc ultural


mente canavieiro, como no 8ob tantos aspecto6, seu equivalente, ern época
posterior: oespaço sócioculturalmente cafeeiro. Vasaouras terá sido un equi-
valente Auminense de Olinda. Taubaté, um equivalente paulista, Santarém,
um equivalente paraense. Caxias, um equivalente maranhense. Os equivalen
tes são de extrema importância, na consideração como que sociologicamente
panorâmica de fenômenos psicossocioculturais que, considerando hferenças
de substâncias, em fatores econômicos - dentro das semelhanças das suas for
mas - não deixe de integrá losem perspectivas, repitase que panorâmicas.
Sob perspectiva sociologicamente panorâmica, a recorréncia rurbani
zante tendo estado presente, de modos, por vezes, sutis, em começos de for
mação sociocultural brasileira, tem se feito sentir, desse mesno modo, ern de
senvolvimentos menos remotos dessa formação. Ma8 sob uma crescente ten
dência para o impacto avassaladoramente urbanizante ligado ao industria
lizante anular, repudiar, além de superar valores brasileiramente rurais - al
guns deles telúrica ou ecologicamente rurais sob a formna de resistência ou
8obrevivência a uniformizações de formas de vidae estilos de cultura segundo
padrões como que, tiranicamente, só urbanos ou exclusiva e tecnocraticamen
te urbanÑides, à tecnocratização tendo se acrescentado, através de primores
de arquitetura monumental, maravilhas de estetização também urbana.
Brasileira parece apresentar-se como tendo sido, nos começos do seu
- des
quase fuiminante triunfo soberanamente e exclusivamente urban ístico
destinado
prezada a consideração de outros fatores na ocupação de espaçoMas com o
a sede do governo nacional exemplo dessa espécie de tirania.
próprio residente de Brasilia, vindo de diferentes partes do Brasil para insta
posteriores aos
lar-se no seu centro como gue nobre, vindo a tender, em anos íssima,
cidade cidad
da euforia, a se aliarem, aos candangos, dos arredores da craticamente de
como agentes de uma como sua ruralização de espaço tecno
das chamadas cidades
todo urbanizado. Processo em situaçáo dos brasileiros
satelites, tem sido notavelmente abrasileirante, ao mesmo tempo que rurali
ponto ideal de
zante de excessos urbanóides. Daí Brasilia estar atingindo um co
circunstância não só rural
equl+brio entre sua modernidade urbana e a sua
mo quase saudavelmente selvagem. O grande parque que hoje Ihe supre de
bons e ramalhudos verdes quase virgens, tal a sua pujança, constitui-se para
urbanistica em idilio com suges
doxalmente como obra de engenharia ruralidade ou do elemento selvagem
tões rurais numa defesa efetiva de sua
essencial àsua ecologia. Um dagueles equilíbrios de antagonismos que, para
com alguma re
analistas em profundidade do que talvez possa ser chamado, brasileiro. OBra
torca, mas, também, com outro tanto de verdade, milagre
66
que, precisamente como
sil vem sendo um equilibrio de vários antagonismos para a criatividade bra
antagonismos coexistentes, é que parece concorTerem juntam em suas ing.
sileira numa cultura em que, à primitividade ainda viva, se permanece
pirações e espontaneidades, sofisticações racionalizantes. Do que
exemplo magnífico a música genial de Villa-Lobos.
De vários desses equilíbrios de antagonismos o conceito brasileiro
de "equilibrio de antagonismos" é dos que mais esclarecem aparentes contra
Casa-Grande & Senzala
dições na formação sociocultural, apresentadas em
talvez se possa sugerir que tendem a integrar-se numa abrangente condição
de rurbanidade com ruralidade que venha a expressar-se em sistèmática
política social de alcance nacional: a de rurbanização. A de juntar-se a um
constante respeito pela natureza a parte basicamente ecológica dessa polí
tica - um arrojo de modernização a que não falte esta outra intenção:o apre
ço pelos, por alguns sociólogos chamados, "passados úteis", susc eptíveis de se
prolongarem em presentes valiosos e até de se projetarem em futuros adapta
dos a constantes nacionais. Passados úteis que não vêm faltando ao Brasil,
em momentos em que lhe tem sido preciso refrear ânimos exageradamente
modernistas ou desvairadamente neófilo. Aquele furor neófilo denunciado em
brasileiros dos seus próprios tempos de intelectual ainda jovem, por Joaquim
Nabuco.
Um desses momentos, o que resultou na lndependência política a 7 de
setembro de 1822. Rompendo com a solução em voga indiscriminada na
América Latina - a republicana o Brasil, considerando útil" ou válido" o
seu passado monárquico, optou por uma solução monárquica que, entre ou
tras conseqüências significativas, lhe garantia este bem supremo: o da sua uni
dade em vastíssimo espaço físico. Um vastíssimo espaço
grande parte, rural. Mas já com começos de futuras grandes fisico então, em
jetariam valores urbanos sobre esse espaço sem o afetarem, senão cidades que pro
vel tempo após a Independência, na sua ruralidade. Uma considerá
volvendo graves desajustamentos entre grupos ruralidade que, en
dominadores e os dominados - da população rural, 80cioeconomicamente O8
projeção da nova sociedade nacional no exterior, porsignificaria,
produtos
entretanto, a
de uma ocupação, por essa sociedade, jå característicO8
efetiva, como ocupação agrária ou
econômica, do espaço de que lhe cabia a posse ea utilização. Entre
dutos, um açúcar, desde a época colonial, a que, esses pro
com maiores possibilidades de dominio sobre começava a suceder um café,
mercados
que importaria no deslocamento do centro político de decisõ externos. Domínio
do Nordeste predominantemente es, no Brasil.
te cafeeiro, com as predominânciascanavieiro para o Centro Sul,
agrárias refletindo-se, quer imperialmen
sobre maior
a
67
R80ensão do Rio de Janeiro, como suces8Or de Salvador na categoria de
o Brasil, quer sobre o começo da importáncia urbana de Säo capital
Paulo como ca
pital econômica de um império cafeeiro ainda agrário e rral.

Mas não seja esquecida ocorrência importante no século XVIM:a que


bra, durante esse s¿culo, da uniformidade brasileira como economia agrária e.
nor conseguinte, rural, projetada sobre outros aspectos de sucesivas itusções
socioculturais caracteristicamente brasileiras, pela explosão de uma indústria
sensacional: a da exploração de ouro e de diamantes nas Minas Gereis, com
grande repercussão na Europa. Mas a essa repercussão no exterior correspon
deram, dentro do Brasil, várias alterações de caráter socioeultural, al¿m do
impacto econômico, E dentro dessas alterações, um rumo peculiarmente mi
neiro de relações entre cidades e espaços agrestes que importou em aspectos,
também peculiares a Minas Gerais, de expressões rurbanas de desenvolvimen
to. Assunto versado por pesquisador minucioso em obra deveras interesante.

Averdade, porém, éque oesplendor metalúrgico mineiro não foi pro


longado. Absorveu-o, decididamente, desde o meado do século XIX, a voca
ção agrária do Brasil, a esta altura já afetada por tendências, ainda inaparen
tes no sentido de um paralelo industrialismo urbano - têxtil, sobretudo -
que, ironicamente,tornaria sem maior vigor quando Presidente da Repúbbica
brasileiro nascido em área, por suas aparências, antes rural que urbana de Mi
nas Gerais, sem que, a essa área, faltasse alguma coisa de sutilmente rurbano,
como sobrevivência daquela primeira experiência industrial - a metalirgica
- da Província: Juscelino Kubitschek, mineiro de uma antes dionisíaca que
apolínea Diamantina. Um Kubitschek que se tornaria, quer com sua identifi
Cação quase religiosa com a arrojada construção de Brasília, quer com seu
apoio ou sua promoção de outros surtos ora urbanizantes, ora industrializan
tes, um campeão do desequilíbrio de rurbanizações, tal o ânimo como que
urbanomaníaco que revelou, no modo por que orientou, quase itatorial
mo
mente, a construção de Bras ilia. Uma cidade de todo esculturalmente ousados
derna na sua arquitetura modernismos dos mais brilhantemente
mportados da Europa - a erguer-se do trópico brasileiro, à revelia desa si
valores rurais que
tuaçao ou dessa ecologia, como cidade antes desdenhosa de
valorizadora desta sua circunstância ecológica e até telúrica: a de surgr ae
tanto o Presidente responsavel
Oyago de vocação rural. Arrojo que tornou arquitetos encarregado8 de
Por sua rápida realizacão como os dois admiráveis tem
maiores heróis brasileiros de todos 0s
d tao ggantesca - três dos
po8.
68

Entretanto, esses fulgurantes arrojos, da parte de Juscelino Kubitschek


pode-se atribuir auma nâco pequena parte de responsabilidade por quanto tem
havido de arbitrariamente pan-industrializante e pan-urbanizante na economia
e na politica brasileiras dos últimos decênios, tal a repercussão de iniciativas
politicas, além de econömicas, do bravo homem público, sobre outros aspec
tos do desenvolvinento. por um lado, da integração, por outro lado, brasilei
ros. Lm e outro sofreram repercussões negativas, ao lado das incontestavel
mente positivas, de tais arrojos. Praticou-as o dinâmico Presidente sem aten
der a advertencias de velhos de Restelo", tantas vezes merecedores, antes de
se praticarem arrojos complexos, não só de ser ouvidos como, em parte, aten
didos nos seus clamores ou nas suas advertências.

Pode-se sugerir da construção de Brasília, como foi realizada - arbi


trária e. num mau sentido, ditatorial ou faraonescamente ter representado,
na história da cultura brasileira dos últimos cinqüenta anos, o maior arrojo
sectariamente Modernista, uma, ao surgir esse arrojo, aparentemente ja extin
ta Semana de Arte de São Paulo de 1922. A Semana de Arte de São Paulo
nâo foi toda de arrojos sectariamente Modernistas. Teve arrojos de uma es
pontaneidade juvenil na sua revolta a convenções academicamente literárias,
a purismos gramaticais estagnantes da lingua portuguesa, a rotinas nas artes
na música, na pintura, na escultura - que vinham impedindo a cultura brasi
leira de ser criativamente nacional em vez de, nas piores maneiras de ser sub,
sub-européia e sub-acadêmica. Os Andrades, os Menotti, o8 Cassianos, 08
Brecherts., as Tarsilas, agiram, a despeito de exageros, imitações passivas de
europeus, como ibertadores da cultura do seu e nosso País como se fossem,
a margem do mesmo lpiranga, outros Pedros Primeiros a atenderem a outros
Josés Bonifácios.

Juscelino Kubitschek quis ser, como Modernista, seguidor dos de 22,


outro desses libertadores, através de extremos de urbanização e de absolutos
de industrialização. uns e outros, antes de todo importados que atentos a paß
sados brasileiramente úteis, que libertassem o Brasil de uma, para ele, arcaica,
estéril e infecunda estrutura nacional apegada a tradições agrárias e rurais.

Foi, com esse ánimo, uma espécie de misto de Mário e de Oswald de


Andrade, a servir-6e, alias, de uma arma a da ação política de que Oswald,
em 30 - antes da chamada Revolução que então ocorreu -
pretendeu servir
Se, através de um amigo sernsível a umas tantas de suas persuasões
modernizan
tes. Esse amigo, o Prestes, Jülio, que Ihe pareceu - como uma vez me
intor
mou - vastarnente supenor em inteligéncia ao outro Prestes: Luis Carlos.
69

Brasília pode ser tida como semitriunfo anexado aos fracassO8 brilhan
tes comotendern a ser vários fracassos dos llodernistas de 22. E próprio
dos Modernistas absolutos fracassarern um tanto nos seus arrojos iniciais, sen
deixarem de alcançar êxitos indiretos, tempos depois. 0 maor éxito dos Mo
dernistas da Semana de 1922 foi Brasília. O triunfador. Jusc elino Jubitschek
ao entregar surrealistamente a construção de uma cidade a dois arquitetos es
culturais: Oscar Niemeyer e Lúcio (osta. Fssa obra-prima de escultura escul
tural Modernista, de todo urbano-industrial alheia à sua ecologia. an seu am
biente, ao seu espaço: teluricos, rurais. selvagens. agrestes. tropicais.

Repetiu-se com esse triunfo de Modernisne inportado um triunfo


especifico para Le Corbusier o que sucedera com o triunfo, no Brail, do
Positivismo de Comte: Le Corbusier mais consagrado pelo Brasil do que pela
Suíça. Mais consagrado, oficialmente. num país para o qual não se de stinava
sua arquitetura de europeu ecologicamente não tropical. do que na sua pro
pria terra, sempre desfavorável ao seu modo se ser modernista.

Oponto a ser aqui notado de Le Corbusier éque foi segido. no Bra


sil, pelo que na sua arte constituiu resposta lembre-se Toynbee - a uma si
tuação exclusivamente urbana e sectariamente \Modernista. a uma ecologia. a
um ambiente de todo opostos àrealidade brasileira à ruralidade caracteristica
de seus maiores espaços. Ruralidade resistente a urbanizações em ternos abso
lutos e de todo destoantes dos espaços ruralizados ou potencialmente ruralzá
veis. Em termos de todo verticalizantes em vez de também atentos a vocações
horizontais.
£ do alemão Kurt W. \lark um livro, Notes on llan Progress tal o
titulo de sua tradução inglesa, o título do orignal alemão sendo Pronokato
rische Notizen - Nova York 1961 em que o autor pretende que. ao con
trario da suposição comum, os sentidos do homem civilizado vem se to rnando
mais apurados do que os do homem primitivo. lais:o homem urbano, vanta
jOsamente artificializado por tecnologias estaria superando no homem rural os
chamados dons naturais. Não nos iz o teorico alemão em que se basela para
chegar em sua tese, de nmodo absoluto, a tão surpreendente conclusão: ó que
o futuro humano mais lógico, é o tecnologicanente e urbanane nte condi
cionado.
As evidências parecen ser no sentido de o homen rural sendo nnais in
tuitivamente perceptivo da natureza do seu ambiente do que o urbano com
relação a seu espaço. 0 brasileiro rústico do planalto central seria mais percep
70

tivo por antecipações intuitivas, de mudanças na temperatura do seu espaco


de residência - um exemplo dessa percepção - do que ohomenm sofisticada
mente urbano com relação a seu pröprio espaço. O que, se exato, indicaria
uma relação mais íntima ou mais fraterna do homem rural com seu espaço.
Mas sem que o teórico alemão pudesse contestar dessas intuições que tendem
a ser de todo superadas por previsões tecnológicas. Superações, entretanto,
ainda nâo atingidas pela meteorologia tecnologica. Nem, quanto à alimenta
ção humana, pela nutrologia tecnologicamente médica, com relação ao como
que instinto nutritivo do homem - principalmente do rural tão valorizado
pelo saber médico do Professor Silva Melo ao opor alimentos, segundo ele,
naturais - 0s principalmente da gente rural - aos tecnocratizados, industriali
zados e urbanizados.

Oque mostrarna uma pesquisa, nesse sentido, em que se controntasse


o homem superurbanizado de Brasília com o can dango em estado quase virgi
nalmente rural? E de supor que maior percepção dos caracteristicos do espaço
comum aos dois tipos de homem, o urbano e o rural, da parte do rural que da
parte do urbano. Essa probabilidade é aqui registrada para procurar-se reivin
dicar, para um homem rural identificações com seu espaço que podem
impor
tar na vantagem de se conservarerm valores de condição humana rural em face
de sua total superação por valores inteiramente urbanos.

0 que parece, em face de dois tipos de homem, um, rural,


urbano, éo ideal estar num misto : um quanto possivel rurbano queoutro, jun
te virtudes de homem urbano às de homem rural. E o
que está se procuran
do conseguir, em certos paises, através de um
de cidade que não se limite a ter casa em
residente de subúrbio de gran
local suburbano mas a posSuir, jun
to a essa casa de residência, um mais que
decorativo jardim, bastante agreste
para dar um toque de ruralidade ao espaço residente, um
onde cultive suas plantas, de onde colha além de jardim-horta, maior,
lores, legumes para sua ali
mentação, e com árvores capazes de atrair pássaros. Cresce a
valorizar-se esse tipo de residente de subúrbio que, mais que um tendncia para
burbano seja um pequeno mas efetivo e criativo rurbano. simples su

E como se, por muitos homens de hoje, a concepção rurbana de vivên


cia estivesse sendo aceita através daquela
como que instintiva inteligência
através da qual, segundo psicólogos modernos, crianças, também de
adotam inovações recreativas e juntam-nas a brinquedos hoje,
cia rurbana tradicionais. vivên
talvez tenha, entre seus atrativos, o lúdico ou
A
ao alcance da gente civil1zada, erm seus recreativo, de por
cotidianos domésticos, contatos, ou
trora, excepcionas, com a natureza: árvores e plantas, ao
redor das próprias
71

casas; cultivo de legumes e de frutas em quintais domésticos;toda umasoma


de quebras de distâncias entre viveres cotidianos e aventuras rústicas ou agres
tes, outrora difíceis para quem fosse urbano em vez de rurbano no seu dia-a
dia.

0 modo rurbano de vida em subúrbio tem este outro aspecto: o de


prolongar no adulto pequenas aventuras dos dias de meninice. Encontros
aventurosos que tão cedo desaparecem no viver estritamente urbano, do adul
to. Inclusive andar de pés descalços. Que mais delicioso contato de um adulto
com a natureza que aquele que se processa através do pé livremente, aventuro
samente descalço? A residência em subúrbio, que, alem da casa, inclui um
terreno, um jardim, uma horta, se possivel uma piscina, é o que permite: uma
série de contatos através de pés descalços. Os quais, é claro, também podem
ser obtidos pertencendo o urbano residente em apartamento a clube situado
em campo ou em praia: à beira-mar.

Indicam estatísticos recentes queo número desses clubes está crescen


do. Mas épreciso que eles não sejam clubes somente burgueses mas populares.
Acessíveis àgente chamada de baixa renda. Pois esta é uma parte de popula
gões do Brasil de hoje à qual é preciso que sejam estendidos beneficios de
uma rurbanização de modos de vida que beneficie tanto adultos como crian
ças. E, éclaro, os dois sexos e, quanto possivel, várias idades, e não apenas
05 Jovens. O que pode acontecer, e vem acontecendo, em experimentos rur
banos junto a grandes cidades, como os que vém ocorrendo de modo interes
santíssimo nos Estados Ünidos.

Suburbia - assim em latim -é hoje um crescente mito nos superurba


nizados Estados Unidos, com arquitetos delirantemente Modernistas planejan
do novos arrojos de verticalizações urbanisticas. \las tambm com numerosa
gente pretendendo residir em subúrbios com também novos arrojos horizon
talizantes de suas resideèncias: acrescentando-lhes jardins-hortas; produzindo,
alem de suas próprias rosas, seus próprios tomates: juntando-lhes piscinas, Pa
ra psicólogos sociais e sociólogos, seduzidos pelo assunto, trata-se de novo as
pecto de uma mitologia nacional atraves de nova e romântica procura de um
Status e de uma segurança em ternos neorurbanos. Interessantissima, a esse
respeito, reportagen de caráter sociologico da revista Time, de Nova York.
que tendo aparecido a l5 de março de l971, continua válida por ter ido além
de jornalisno e have se constituido de tal modo, em ciência aplicada que pas
Sou a ser adotado por professores da materia em universidades e 'high
Schools", Provocantemente Sociológico o titulo com que surgiu: The New
72

American Plurality". Em síntese, Su burbia viria atendendo no estadunidense


médio "the persistent dream of agreen and pleasant roses. . .a plot of ground
that offers the calm of the country with all the advantages of the city within
easy reach". Para o sociólogo Herbert Gans, professor do conjunto de estudos
e pesquisas de caráter sociológico constituido pela Universidade de Harvard
e pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets, Suburbia , como movimento
social triunfante, revela no estadunidense médio, ao lado de repulsa à residên
cia em apartamento ubano, repúdio à própria condição de rbanita.

O movimento vem sendo tal, que a população suburbanita - ou seja:


rurbana de um novo tipo passando de 79,9 milhões apresenta-se com ten
dência a tornar-se a grande maioria da população aparentemente ou estatisti
camente urbana do país. Na verdade, como suburbana de um novo tipo,
representa decidida opçâo pela residência rurbana ou não-urbana. Sociologica
mente, uma nova tipologia como pioneiramente revelou a reportagem socioló
gica em Time, conduzida pelo sociólogo Louis Harris.

Note-se dessa populaçâo estadunidense de um novo tipo, e este tipo,


decerto rurbano, que não éconstituida por maioria de ricos: uma terça parte
deles é de empregados em centros urbanos. Tem que depender de um trans
porte diáno rápido que, sob influência desse aumento de população rurbana,
vem se tornando mais rápido: a tecnologia avançada a serviço de um repúdio
àabsorção do homem ao natural pela antitelúrica ou antiecológica residência
tecnocraticamente artificial em centros urbanos. Além do que tem se verifica
do, ao lado de aumento de residéncias em subúrbios, aumento n¥o só de esco
las, de playgrounds, de parques de repouso, como de filiais de empresas, de
atividades, e de instituições urbanas, ruralizadas em suas instalaçõ es, impor
tando essa ruralização de edifícios não-residências em uma arquitetura não
residencial tão rurbana quanto a de residências.
Outro aspecto da rurbanização através da nova configuração de comu
nidades residenciais suburbanas, nos atuais Estados Unidos, é que suas escolas,
mais próximas de residéncias do que nos centros urbanos, vêm refletindo
maior colaboração das familias com essas escolas ruralizadas: com seu ensino
e com suas facilidades lúdicas ou recreativas ou
esportivas em ambientes rur
banos.

Interessantes os depoimentos de suburbanitas quanto às suas experien


cias rurbanas. Um deles, o de que a vida lhes
parece decorrer em ritmo agrada
velmente mais lento. Outro, o de maior contato comn O8 verdes contribuir, por
73

si 8ó, para o bem-estar cotidiano. Ainda outro, o de serem favore cidos com
um maior senso de vizinhança solidária. Ainda outro.o do novg tipo de resi
dência gue é o neossuburbano ou rurbano que dá ao residente a impressão de
estar vivendo e convivendo num laboratório social, corm os problemas emer
gentes mais susceptiveis de serem resolvidos que os de residë ncia puramente
urbana. Pois problemas de uma como que nova especie terem surgido. pare
cendo haver, paradoxalmente, entre neo-suburbanitas quem sinta a falta de
vibrantes recreações do tipo das especificamente urbanas ao seu alcance. Daí,
ao que parece, não ter deixado de haver, entre neo-suburbanitas adultos, alco
olismo, e entre adolescentes, o uso de drogas. E parece caracteristico tanto
em face de problemas como para a defesa de vantagens. das faclidades de
viver e do conviver neossuburbanita. um maior envolvimento do8 residentes
em solidariedades cívicas.

Há uma perspectiva socialmente realista de futuro de um proces80


no qual pode ser entrevista a, talvez, principal politica social a ser seguida
mais vantajosamente apelo Brasil: a da rurbanização. Compiexa. é posi
vel de simplificar-se o essencial do seu objetivo dizendose que é uma respos
ta a uma situação comum a várias partes ou áreas ou regiões do Brasilea as
pirações, por sua vez, comuns a numerosos brasileiros: situação e aspiração
que, atendendo, por um lado, à busca de conforto8, modernizações de estilos
de vida, valores urbanos, por outro lado, coresponde a uma, há anos, como
que ressurgência do desejo de preservar-se e., até, desenvolver-se, a ligação do
desenvolvimento com constantes, com tradições, com valores ecológica, telú
rica e regionalmente rurais.

Avalorização do complexo em ingls atual dos Estados Unidos desg


nado como suburbia representa crescente expressão, não só de descontenta
mentos como de repulsa, nesse pais superurbanizado como superindustrializa
do, a esses dois excessos. Arevista Time, de New York, publicou. há poucos
anos, valiosa reportagem de caráter sociologico a esse respeito, em que esse
descontentamento e essa repulsa foram documentados através de cuidadosos
inquéritos entre moradores de suburbios tipicos, dentre os vários que vem
constituindo,nos Estados U'nidos de agora, mais que uma microrurbanização,
tais as dimensôes já aleançadas pelo processo. Esses moradores jå constituem
grupos estáveis: além de experinentais ou aventurosos. De modo que ao se
dizerenn satisfeitos com suas novas residncias suburbanas miniaturas ex
pressivas de rurbanas depoinentos desses moradores de comunidades de
um tipo como que antiurbano, valem como indicios de que os conaideráveis
aumentos de populações desse tipo exprimem repulsa significantemente pai
COSsocial aos supostos encantos superiores de residencias urbanas.
74

Quando o autor desta, em parte, nova, em parte, ressurgente, apologia,


de uma politica social brasileira, em termos nacionais ou mais amplo8, de con
ciliação de contráios ou de antagonismos aparentemente irreconciliáveis,
insiste nessa sua atitude, não o faz por sentimento ou emoção brasileirista mas
convencido de continuar identificado com uma causa, nas suas bases, cientifi
camente social. Mesmo porque, válida para o Brasil, parece-lhe válida para ou
tros paises, de situação ecológica transnacionalmente semelhante à brasileira.

Paises que, tanto quanto o Brasil, precisam de se resguardarem das se


duções de pan-industrialismos e de pan-urbanismos sob o aspecto de progres
sismos ideais ou messiânicos. Paises como os da América Latina. Como novas
Repúblicas do Oriente e da Åfrica. Países, ainda com áreas rurais, dotados
de matas em condição agreste, à espera de pesquisas científicas que desses
redutos florestais venham a incorporar ao consumo de populações, em parte
carentes, vegetais nutritivamente valiosos tanto quanto, àmedicina uma
medicina - a homeopática mais ao seu alcance que de população tecnocrá
tica, outros vegetais de valor terapêutico, para alguns entendidos no assunto,
de eiciência superior àdos caros remédios alopáticos importados. Ainda há
pouco, um desses entendidos, falando pela idônea publicação Bloch. Desfile
(Rio de Janeiro 1981), em palavras recolhidas por Thaís de Mendonça na
colaboração "A Ciência volta à Natureza", recorda não 8ó continuar grande
receptividade do brasileiro rural à Homeopatia como o fato de ter sido "atra
vés de nOSsa cultura popular'9 note-se: em grande parte rural através das
mezinhas, misturas caseiras dos nossos avó8, que muitas ervas curativas se in
corporaram à terapêutica das doenças. Atualmente há mais pessoas acreditan
do na .Meopatia do que se possa imaginar".O que aliás acontece também na
Gr-Bretanha de agora: uma revalorização da homeopatia ao lado de uma re
valorização de alimentos e de culinária britânico8, castiçamnente brit¥nicos e
castiçamente rurais: anterior à Revolução Industrial.

Ao que se acrescente o registro de pesquisas, em matas


sob direção brasileiras, e
cientificamente idoneas, de ervas que possam ser incorporadas a
alimentação estritamente vegetariana, e portanto de procedência rural ou sil
vestre, de grupos evangélicos cada vez mais numerosO8 entre brasileiro8. Com
sua alimentação agrestemente vegetariana esses grupos
podem ufanar-se de um
brasileirismo verdadeiramente ecológico no seu modo de ser cristãos. E como
não poucos, dentre eles, estão se fixando em
classes médias brasileiras urbanas, podem ser cidades, como uma das novas
banos.
considerados Baudavelmente rur
75

Quando primeiro empregou o autor a palavra rurbanização? Talvez em


artigo de jornal de que não se recorda a data. Mas, de modo sstematico, de.
pois do conceito transparecer nos livros Casa-Grande & Senzala e em Sobra
dos e Mucambos e Nordeste - livros do início da década 30 - a palavra sur
ge didaticamente na obra Sociologia: Introdução ao Estudo dos Seus Princ (
pios, (Rio 1945). Cabe reler-8e, aqui, a esta altura, esse livrO, prefaciado ma
gistralmente pelo educador Anísio Teixeira, pois vários dos seus trechos apre
sentam-se de todo atuais: de modo algum envelhecidos pelo tempo com rela
ção ao que possa ser, com inteira atualidade. reorientação s0cioecologica,
quer para a analise e a interpretação de fenomenos brasileiros de vivencia e
convivência, quer para a adaptação dessa reorientaç ão a problemas atuais de
desajustamentos, além de socioeconômicos, psicosso ciais, de relações. no
Brasil, entre grupos diversamente situados da população nacional principal
mente as relações entre brasileirosS situados em espaços urbanos e os situa
dos em espaços rurais. As quais avultam entre as mais desajustadas. E esses
desajustamentos, a reclamarem soluções rurbanas. Ao mesmo tempo. h£ på
ginas de Sociologia que sugerem ter havido, no Brasil, experimentos quase
concretamente rurbanos. Sugestões que podem ser encontradas noutros li
VrOs de Ciência Social ou de História.

Pelos Ensaios sobre o Ciclo do Ouro (Belo Horizonte 1978) por exem
plo, do bom historiador mineiro que éesse Washington Peluso AJbino de Sou
za, sabe-se que, em Minas Gerais, com adecadència da mineração, houve pro
Cura do que o historiador chama "novas fronteiras de atividade fora das mi
nas", dentro da Capitania ou da Província. Essa procura levou não poucos
brasileiros da antiga Capitania àagricultura e à pecuária com as gentes voltan
do-se agora para ocupações especifcamente rurais, embora, e, ao mesmo
tempo, para estilos de vida e de economia industrialmente urban as. Daí te
rem surgido pequenas cidades, sucedidas por cidades de outros tipos - todas
elas, lembra o mestre mineiro, brilhantemente estudadas pelo pesquisador
francês Yves Lelouh, em Les Villes de Minas Gerais (Paris 1970). Apurações
de uma urbanidade ao lado de uma ruralidade: agricultura e pecuária e tanto
quanto ao lado de sobrevivência de mineração. Dai. no desenvolvimento psi
cOssociocultural, e n«o apenas socioeconômico, de Minas Gerais, um misto
que pode ser considerado, à sua maneira, rurbano. Mineiramente rurbano,
talvez se possa dizer, com o adjetivo ligado ao conceito sociológico de minei
ndade: sugestão, a deste conceito, partida do autor destas notas, isto é, do
8eu ensaio de 1946 Ordem, Liberdade e Mineiridade. Esse misto rurbano no
desenvolvinmento mineiro continuava até o final do século XIX; do historia:
dor Washington Peluso Albino de Souza é a observação de terem então surgi
76

do, outra vez - note-se muito mineiran1ente, industrias do ramo têxtil, O


calizadas em fazendas, criando, assim, no meio rural, núcleos urbanos que
mais tarde tornaram-se cidades. ."A própria indústria do ferro teria surgido,
na decada 60 do século XIX, entre os mineiros, em regiðes que dispunham de
minerio de ferro. do mesmo modo obliquamente rurbano, com a rurbanidade
aconpanhando - ver a rurbanização para acentuar-se uma dinâmica come
ços industriais, ou dinamicamente industrializantes. Constatarann pesquisado
res, em \linas Gerais, do que vem ocorrendo de dinamicamente urbanizante,
em áreas industrializantes dentro do vasto complexo rural de Minas Gerais,
decorrncias de consolidações de siderurgias, mais positivas, do ponto de vista
socioeconomico geral, que as da atividade extrativa do ouro. A qual, entretan
to - note-se de passagem - não teria deixado de contribuir, em dias escravo
cratas. para, um tanto mais rurbanamente que através da exploração agrária
à base do açúcar, constituirem se, em áreas mineiras, começos de pequenas
classes médias formadas por escravos, peritos na arte da extração do ouro;
e por essa superioridade capacitados a se tornarem rurbanamente homens e,
taly ez, sobretudo, mulheres livres e
importantes.

Para o futurólogo alemão, já citado, Kurt W. Mark, a


do homem do futuro estaráem deixar de ser potencialidade
clos naturais: de ambientes naturais. Em outras
dependente da natureza; de ci
palavras, em tornar-se, atraves
de apuros cada dia maiores de tecnologia,
um fabricante de robós mas ele artificial. Pode-se, sugerir: não 80
proprio um supremo robô. Pois a natureza
precisava de ser de tal modo artificializada, para
ro homem artificial ou harmonizar-se com esse futu
robotizado, que ele, sim, éque, apresentando-se gran
demente imperfeito, estaria necessitado de correções soba forma de
lizações: "needful of inumerable artificia
improvements"". A tese não deixa de ser
nietzschianamente brilhante. E de corresponder a uma também nietzschiana
concepção de um homem sem Deus ou sem Criador. Uma e outra
tormariam inócua e, até, ridícula, toda defesa de concepção
reserv as naturais, todas as atuais ecologias, de ambientes, de
Ções arcaismos romanticóides.
a
concepções de espaço. Passariarn tais
concep

Entretanto, não é a esses


tender as principais atitudes repúdioOs radicais ou absolutos que parecem
até populares, de uma intelectuais, cientifícas, religiosas, artísticas, e
de hoje. que, sendo epoca, como a ja em parte
atual, já e uma atualidade em atrave68ada pelo Homem
Futuros à revelia de uns tantos que se projetam futuros.
de presentes. futurólogos, é certo. Mas futuros já superações
77

Mas presentes que. juntando-se a passados persistentes, parecem resis


tir aabsorções precipitadas de suas potências, ainda ern vigor, por futuros
impacientes de sobrevivências tanto de presentes como de passados em várias
de suas expressöes, ao que parece, irresist íveis.

Una dessas expresões iredutíveis seria a da natureza não abdicar


de seu impacto sobre o Homem, o seu comportamento, a sua ciência, a sua
tecnologia, por mais criativos. Uma imensa criatividade capaz de acrescentar
arrojos aos jå conseguidos. Capaz, por exemplo - ao que parece - tanto de
mudar climas condicionadores de condições caracteristicas de espaços como,
em genética, de permitir desdobramentos dos chamados bebs de proveta.
Mas não sem que venham a se levantar resisténcias a tais extremos, talvez pos
siveis, baseadas em também possíveis políticas, s0cial e culturalrnente huma
nas, de defesa de equilíbrios entre climas, condicionadores de condições de
espaços, tanto quanto de controle de interferências em processos geneticos
quando desacompanhadas de defesas de outros desequil ibrios humanos.

0 futurólogo alemão Kurt . Mark pode dizer quase arrOgantemente:


the magic carpet is no longer a pipe dream", pois "it is no longer a scientific
problem, but only a problem in construction " Resta saber se o futuro huma
no será de livres construções tecnológicas em vez de, como futuro humano,
condicionado também por Ciências do Homem que. como Ciëncias do Ho
mem, ser¥o crescentemente humanisticas.
Ainda para o futurólogo Mark o que hoje se vÁ é a ivilizaç ão Oci
dental envolvendo não-Ocidentes e nâu civilizações no só nas suas realiza
çoes tecnológicas como na sua moderna Lrquitetura, e na sua moderna \lusi
Ca. E esta sendo adotada junto com Máquinas e Tecnicas. \las não o Cristia
nismo. De onde sua conclusão nietzschiana: 0 Cistianismo esta morto. E com
o Cristianisn1o, estariam já nortas, ou morrendo, as demas religoes.

Serå exatamente isto este morticinio espiritual em dimensões gigan


tescas que está ocorrendo atualmente en todos 0s espaços povoados por
homens, nos rurais, conmo nos urbanos? Nos civilizados como nos n£o-civiliza
dos? Estar«o sendo comuns a todos esses espaçus marcados por presenças hu
manas, repúdios absolutos a religiöes tornadas incompativeis com avassal ado
Tes triuntos tecnológicos? Estaråo se tornando impossiveis no Brasil continua
dores de Freis Damioes rurais a contagiarem com ua mistica cr1st porventu
ra animada de sobrevivencias uedievais Eo modo brasileiro, o mo do afrone
gro, e, ao mesno tenupo, o uodo estudunidense -gente de espaço tão tecno
78

cêntrico por que vem sendo recebido por multidões, o Papa Joâo Paulo I!.
a despeito de recentes tecnocratizações do Catolicismo nesses e noutros espa
sos, alguns deles, não só agrorurais, como o estadunidense superurbanizado e
esuperindustrializado?

São interrogações que se impòem. E que talvez favoreçam a suposi


ções de uma vasta resurgência de adesão aopções por valores, por vários ana
listas de atualidades humanas de comportamento, considerados arcaicas e
incompativeis com aqueles triunfos Tecnológicos - o T maiüsculo - tidos
por futurólogos racionalistas, como o autor alemão de Pronokatorische
Notizen, como dominadores de todos espaços atuais marcados por presenças
humanas: civilizadas ou nâo-civilizadas, européias e n¥o-europeias, brancos e
de cor. cristâs e não-crists, urbanos e rurais, industriais e artesanais. Oque
torna precárias as palavras do editor em língua inglesa de Kurt W. Mark -
Alfred A. hnopí, este editor - de estarnos, como afirma enfaticamente futu
rologo tâo arrogante, numa fase de declínio splengeriano assinalada de tal mo
do pelo desaparecimento de valores ideais", pela "diminuição de energias
criativas" e enfraquecimento pelo "poder de criação de mitos", que otriunfo
seria. para seguidores de Spengler, o de extremos de tecnificaçáão " e de "ra
cionalização" da vida. Torna-se. talvez, oportuno dizer-se a tão radicais apolo
gistas desse triunfo que caminharm mais devagar com o andor que levam n0s
ombros : no caso. um anti-andor. Pois mnitos novOs podem surgir e velho8,
ressurgir. Energias criativas, rebentar. Valores ideais, reerguerem-se. Estao
em crise racionalismos e com eles, em crise, a certeza de evolucões uniinea
res e continuas de absolutos progressos: os sobriamente tecnológicos, em
epoca recente, entre eles.

Nova Yorks podem vir a capitular ante possíveis sobrevivências da


quelas aldeias rurais de ainda artesão5, cantadas, exaltadas, glorificadas, nos
próprios Estados Unidos deste século, demasiadamente urbanístico, por
Vachels Lindsays ao desejarem novos Lincolns na Presidência da grande
Republica, hoje. não só de grandes técnicOs, grandes cientistas, grandes
homens práticos como de alguns dos maiores poetas,
tas, místicos, pregadores, dramaturgos, na língua pensadores, romancis
inglesa.
Não se espere deste livro, nem exemplo de correta
rial que o const1t ui nem auséncia total de ordenação do mate
repetições. Elas, sobret udo, ocor*
rem. para que sejam entatizadas perspectivas porventura
reproduziu-6e numa espécie de introdução geral ao livro novas. Nun1 capitulo
moderno, trecBho de
pronunciamento antigo do autor. Logo após reproduz-6e, em conferência,
também antiga - de 1955 - "Palavras dirigidas a Professoras Prinárias
79

Transcrição na íntegra dessa conferência, com repetições evidents desoe pro


nunciamento, nas com o interesse de aparecer tal como foi publicada em
opúsculo, em 1956, pela então Secretaria da Educação e Cultura do Estado
de Pernambuco.

Junto a essa transcrição, observações de todo novas,em torno de sem


pre renov ada pre0cupação do autor, com problema, para ele, t¯o atual em
nossos dias, como há trinta ano8 ou mais. Tão pungentemente atual para o
Brasil.
PALAVRAS ÀS PROFESSORAS PRIMÁRIAS DE PERNAMBUC0 EM 1956

Que dizer a Vocês, professoras rurais, sobre uma, no Bras1l, pungen


Lemente necessária política de rurbanização, que atenda à solução de desajus
Lamentos entre valores urbanos e rurais, numa provincia como a de Fernam
Duco, metade rural e metade urbana: valores gue devem ser considerados no
Gu conjunto e não em oposicão uns aos outros? Formando, como tormam,
compiexo, e preciso que sejam tratados como um complexo. Como o to
uO que na realidade são: e gue não se deixa partir ou dividir em dois ou tres
perder,
taos opostos sem descaracterizar-se do ponto de, assim dividdo,
além do caráter, a própria vida.

produção de tex to publicado com o título "Sugestöes para uma nova Polittca no
Dsu , pela Secretaria da Educacão e ultura do Estado de Pernambuco - Secre tário
Cordeiro de
Oessor Aderbal Jurema - com prefácio do então Covernador 0.
Farias, Recife, 1956.
82

0 que não significa que se deva tratar aqui ou em qualquer Estado ou


pais o problema rural de ensino da mesma maneira queo urbano. De modo al.
gum. Oque se sugere éque o problema rural de ensino em Pernambuco, como
noutras áreas do Brasil, não deve ser considerado como se fosse independente
do urbano: nem o urbano resolvido - cenograficamente resolvido, é bem de
ver - como se raizes profundas não o prendessem ao rural; ou como se as
mais intimas das interdependências regionais não fizessem, em vários pontos
essenciais, de dois problemas contraditórios um problema regional só, embora
complexo.
No momento em que falsos sociólogos e improvisados polític0s
cogitam, com pretensões messi£nicas, de fazer, sem mais aquela, do Recife o
que denominam indiscriminadamente o Recife maior"% pelo acréscimo, ao
já sobrecarregado Recife de hoje. de populações e subárias de municípios vi 1

zinhos, com fins talvez eleitorais, perigosamente políticos e de todo desastro


sOS do ponto de vista social em vez de se estimular nesses municipios sua
rurbanização é bom que se diga, em alta voz, se não de alarme, de advertn
Cia, que se pretende praticar contra Pernambuco, ao lado de verdadeiro crime
politico, imenso erro sociológico. Pois do que se necessita em Pernambuco
jå o indicam estudos repetidos do assunto, realizados aqui e em areas Selie
Ihantes ao Nordeste brasileiro - é precisamente da descentralização do Reate
e não de maior centralização de atividades regionais na já
Capital deste Estado e, sob váios aspectos, do Nordeste. sobrecarregaaiss
Do que se necessite
em Pernambuco - venho agora sugerir à base desses estudos - é uma politica
SOClal que não se extreme nem na urbanizacão nem na ruralização da comun
dade pernambucana mas se esmere na sua rurbanização. Ou seja: no eq
brio, dentro dessa comunidade complexa e já antiga e ecológica e sociologca
mente diversa pelOs seus vários espaçOs naturais e culturais que
curar transformar de antagönicos em devemos P
dustriais dos valores e estilos urbanOs complenientares - agrários, pastoe
com os valores e estilos rurals. "
que equilibrio: interpretação. Compenetraç ão. Precisarn os
ver aqui uma mentalidade rurbana, na acepço por assim formar e desen de
dizer conjugal.
rurbanidade. Por conseguinte, rurbana não apenas no
Se atnbui a palavra criada por Galpin para definir sentido que de ordina
tre a puramente urbana e a puramente rural, mas no
situacões intermediarias en
gue expandindo idela do
Professor Cole, venho, no Brasil, procurando
tuação mista, dinamica e, repito, conjugal, desenvolver para caractertzas
tuação desenvolvida pela conjugação de fecundarnente conjugal: tercer
as vezes contrárias ou valores das duas situações orignan
desarmônicas,
po pela vontade dos que buscan quando puras. Urbana e rural a un tem
quando as circunstáncias a impõem. desenvolver tal situacao em vez de aceitae
Pois rurbana é palavra derivada de rural
83

e de urbana como certos nomes modernos de meninos que se chamam Jomar,


pelo fato de o pai se chamar João e a mãe, Maria; ou Editónio, de Edite.
nome da m¥e, e Antônio, nome do pai.

Para a formação dessa mentalidade ou desse espirito conjugal rurbano,


em Pernambuco ou no Nordeste do Brasil, quem mais capaz de concorrer que
a professora, a mestra primária, a educadora cujo ensino ou inluência alcance
não só a gente miúda como a grande ou adulta? Ela, educadora com alguma
coisa de missionåria, está como ninguém em ituação de mostrar as popula
ções rurais que no meio rural, seja agrario ou pastoril, se conservam, as vezes
sob o maior desprezo, escondidos no fundo dos sitios ou no fundo dos baús,
valores que os requintadamente urbanos não substituem nunca. Valores in
substituíveis como motivos de vida e fundamentos de existência e essen ciais
ao todo nacionl.

Está a educadora em situacão ideal de concorer pela técnica ou arte


missionária para que a esses valores essenciais ou, antes, existe nciais 08 agra
de dar sen tido
nos, os rurais, os telúricos se juntem os urbanos, capazes
mais amplo àvida, à atividade e à cultura das populações do interior. Oque alé
perfeitamente possível: vános desses valores urbarnos são móveis e plasticos;
a novas con
guns são até fluidos. Podem adaptarse a novas condições de vida,
peque
ngurações de existência. Podem ser transferidos das cidades grandes as
em escala ru
nas, urbanizando-as e tornando os benefícios dessa urbarnização
ral Se assim se pode dizer - extensivos a largos espaços rurais, a ponto de
seus modos de ser.
Parte deles tornar-se saudavelmente rurbana ou mista nos

hesse esforço de transferncia de valores urbanos, ou de sua trans


egonalização - vá o neologismo - para espaços rurais, que devemos nos em
Estado, como o de Pernambuco,
Peinar com o nosso melhor ånimo, num
já se denominou de inchação recifense. In
que vem h£anos sofrendo do gue
interior rural.
iagão recifense acompanhada de depauperação do
sociólogo, hoje clássico, John MI. Gillette,
ia ja dezenas de anos, um estudo sociológico da vida rural em livro
empreendeu nos Estados Unidos o
sem prejuizo da sua
Urajosahente pioneiro com alguma coisa de evangeicoespeculativo e pratico,
Cencia, antes a um temno cientifico e humanistico, compatrio
la Sua unaneira de ser socilhgico. E descobriu
aos olhos dos seus
raptando dos campos 08 me
aS esta situaçâo alarmante: as cidades estavam desenvolvidos em meios rurais.
Ihores valores hunanos nascidos, nutridos e
Absorvendo-os. Tornando.os exclusivamente urbanoa.
84

Vinha resultando desse rapto social - chamemo-lo assim - oseguinte:


a crescente ausência de lideres entre as populações rurais dos Estados Unidos.
Para essa crescente redução de valores capazes de orientar, dirigir, guiar o8
seus compatriotas rurais - redução logo verificada ou confirmada por outros
sociólogos, inclusive os especializados em estatística - estava concorrendo, na
vasta República, o seu próprio sistema de educação chamado nacional mas,
na verdade urbano, exclusivamente urbano, em seus objetivos e métodos. Pan
urbano é o neologismo brasileiro e nosso para designar o exclusivismo de um
sistema organizado de tal modo que tudo nele tende, como no norteamerica
no do século XIX até os primeiros decênios do XX, a arrancar a criança rural
do meio rural, a raptar o adolescente rural do campo ou da aldeia materna, a
atrair o homem rural para a cidade anti-rural. Como não existir esse desenrai
zamento sstemático do homem ural - desenraizamento pela educação, ás ve
zes pelo próprio cinema ironicamente chamado educativo, pelo rádio - se tu
do nessa educação, nesse rádio, nesse cinema educativo é glorificação de valo
res urbanos e só urbanos?

OProfessor Gillette e os sociólogos que sob seu estímulo principia


ram há quarenta anos e tantos a estudar o assunto de perto, verificaram que
não havia nos Estados Unidos daguela época - hoje a situação édiferente, en
grande parte devido ao alarme dado por esses sociólogos um tanto evangeli
cOs - am Sistema de ensino que valorizasse a parte rural da civilização, do
passado eda grandeza anglo-americana. Que na história nacional daquele pais
como alias na estudada hoje no Brasil - a figura do lavrador quase não apa
recla. Que nos livros de Geografia ensinados nas escolas primáriaS e secundarias
eram as cidades que os geógrafos nacionais exaltavam. Oue na literatura oo
Astados Unidos, como ainda hoje no Brasil, o matuto ouotabaréu surgla q
Se 5empre cancaturado: raramente o
no. No teatro, a mesma
apresentavam no seu exato relevo ne
coisa. Ainda hoje, no teatro brasileiro quando aparece
matuto em cena sabemos que é quase sempre para fazer a
riso, tais as suas leseiras, seu linguajar, sua pronúncia erradaplateia rebenesmais
das palavras
simples, seus modos8 rústicos de pitar, de tomar rape, de masC&carfumo, de cu8-
pir, de arrotar, de palitar os
dentes. Em vez dissO, que era na verdade necessa
0 que se 1zesse ou se tentasse fazer nos Est ados Unidos? Oue é neceSBalro
que se faça hoje no Brasil?
do ensino No Nordeste? em Pernambuco? Arurbanização
dos seus temas, dos seus métodos, das suas práticas não para
oporse a extrerna idealização da vida rural à glorificação da urbana, mas para
procurar-se dar ao ensino nacional, regional ou estadual, O8eu verdadeiro sen-
tido de ensino íntegro eharmônico, que se empenhe tanto na valorização dos
homens e das coisas rurais quanto na valorização dos homens e das coisas ur-
banas, considerando-as complermentares.
85

Talvez não haja hoje grande país em que a figura do lavrador seja
cercada de maior simpatia nos livros didáticos, na literatura., no teatro, no
cinema do que nos Estados Unidos. E mesrno este um dos pontos de superio
ridade da civilização da massa anglo-americana - ainda marcada por deficién
cias enormes - sobre a civilização de massa russo-soviética: ao que parece ain
da mais deficiente que a sua rival americana no seu empenho de juntar ao nú
mero a qualidade. Conseguiram os russ0s, através de um esforço sob vários as
pectos admirável, melhorar a condição do operário urbano da sua U'nião de
Repúblicas chamadas Socialistas e desenvolver pela ciénciae pela técnica asua
agricultura, tão arcaica em relação à da Europa ocidental nos velhos dias do
Tzar. Mas tudo indica que seu lavrador continua uase o mesmo sub-homem
daqueles dias: sub-homem que os propagandistas dos progress08 soviéticos es
condem cuidadosamente dos olhos dos turistas e da curiosidade dos estrangei
ros. Não é figura que se apresente ao público, tal a degradação em que conti
nua a viver.

Enquanto nos Estados Unidos há hoje largas áreas em que as peque


nas tazendas - pequenas e médias - de lavradores parecem todas fazen das
modelo, para ser vistas pelos estrangeiros e admiradas pelos turistas. Os valo
tes urbanos estão há anos de tal modo ao alcance deses felizes ruralitas que
eles não se sentem inferiores aos seus compatriotas urbanitas. Asistem pela
elevisão aOS mesmos grandes jogos nacionais de basebal ou de football que
O5 urbanitas. Ouvem pelo rádio a mesma música, o mesmo teatro falado, os
esmos programas políticos, literáios e religiosos. E a facilidade de trans
POrte e tal que é como se cada casa de moderno matuto anglo-ameicano ti
Veose o seu tapete mágico ou voador. Sua fala já quase não se distingue, pois
Turalitas falam como se urhanitas fossem.muitos dos quais sentem a necess
dade de se conservar na língua nacional o sabor de pitorescas expressoes rus
ticas, hoje admiradas, em vez de ridicularizadas, pela gente mais culta das
Cidades; e por ela até imitadas ou revividas.

Outrora, nos Estados Unidos, a moça do interior que recebesse algu


ma
bem educação logo esperava casar com um moço da cidade: bem penteado,
trajado, falando oinglês urbano. Hoje, nas áreas rurais mais desenvolvi-
das da grande República, éoutra a tendencia: as moças ai nascidas vêm en-
contrando
Ção é
noivos eesposos ideais em rapazes ilhos de lavradores cuja ambi-
se
honiemtornarem
zer pais de laVradores. Porque lavrador deixou de querer di-
mo arcaico, ultrapassado, desprezivel, despenteado, mal trajado, co-
chegouou pan-industrialista em sua mística, caracterizando, com esa de-
urbanista
a ser dentro de uma civilização que poderiamos denominar pan-
86

nominação, uma fase mórbida e já vencida da história dus Estados Unidos


que alguns brasileiros de hoje dão mostra de querer repetir ou reviver no
Brasil.

Sociölogos-historiadores, como Joseph Shafer autor de The


Social History of American Agriculture (N. Y., 1936) - já demonstraram, em
estudos documentados, não ser verdade a lenda do lavrador ou criador de
gado significar fatalmente homem ignorante: sempre retardado em relação
com o urbano e sempre ultrapassado em conhecimentos e em inteligencia
pelos homens da cidade. Shafer recorda a esse respeito fatos significativos não
da moderna fase de equilíbrio dos valores rurais com os urbanos, nos Estados
Unidos, mas de velhos tempos: fatos que vinham sendo esquecidos pelos his
toriadores convencionais, dominados pelo afã de glorificação do passado ape
nas urbano da República (República fundada, aliás, em grande parte, por ho
mens do campo como Thomas Jefferson e o próprio Washington). Recorda a
esplèndida figura do fidalgo de origem alemã Frederick Hecker, que tendo
se estabelecido no interior de Ilinois, aí se tornou notável pela qualidade do
gado que conseguiu criar sem entretanto perder a sua distinção intelectual ou
0S seus hábitos de letrado. Recorda a fgura igualmente esplêndida de Thure
Kumhen graduado em ciência pela Universidade sueca de Uppsala eque, ten
do &e estabelecido como lavrador em Wisconsin, foi, como lavrador, pleno su
cesso, sem que deixasse de continuar a estudar Botânica, de corresponderse,
do retiro da fazenda com sábios da Europa e de receber em sua casa rural v
tas de alguns dos maiores cientistas
anglo-americanos da época. NO va
Missouri- éainda Shafer guem o destaca - no 8éculo XIX floresceu una
lonia inteira de lavradores letrados que chegou a denominar-se de "latino
por saberem os colonos latimeo cultivarem, 8ob a direção de.latinista erudi-
to: latnistas que misturavam o latim dos livrosà arte tamb¿m clássica de lavrar
o homem as terras e cuidar das plantas, Sem deixarem de ser lavradoree P
gosto e vOcação - bons e eficientes lavradores - continuavam ie18 &
io, a Horácio, às leis antigas. O caso, entre nós.
brasileiro8, do Morals, do
cionário, que, no seu engenho de Muribeca, juntou à atividade de agricultor a
de intelectual. De Feijo, em Itu. De Assis Brasil. no
ra o caso de Alexandre Hercul ano, em RioGrande do Sul. Ja to
são alas numerosO8; e desmancham a Val-dos-]obos Exemplos desse sabol
lenda de ser a vida rural- militanes
ativa, efetiva - inimiga da
compativel com o saber ou inteligência; e a atividade agrária ou
com a ciência mais pastole
nobre. Não o foram
país, como aliás não o foram no naqu
prias epocas de comunicação maisBrasil, nem o tem sido em Portugal, na
que essa difícil do interior com as cidadeB.
comunicação
tir-se a suposta
é
relativamente fácil, não há motivo para sequer admi-
incompatibilidade.
87

O que é preciso éque, além da moderna expansão do rádio, do cine


ma, do tráfego aéreo, nos sertões de países da extensão do Brasil, os governos
e os particulares, donos de empresas ou indústrias rurais, façam chezar as po
pulações do interior maior número de livros e revistas de qualidade, além de
teatro, conferencistas, concertistas, tambem de qualidade. para o que é evi
dentemente necessário que se projete com inteligente cuidado a consolidação
de vários dois outrês por exemplo, num só - dos atuais rnunicípios, ex
cessivos em Estados pobres como o de Pernambuco. Conslidação de dois
ou três num sómunicípio tornada possivel, praticável edesejável pela moder
na facilidade de transporte: e desejável tarmbém pela maior eficiência e mior
economia de administração quando, até certo ponto, centralizada. Consolida
ção senão sempre total político-administrativa - para efeitos recreativos.
Para escolas, hospitais, teatros, estádios comuns a dois ou três ou quatro
municipios. Impõe-se a criaçãO no depauperado interior de Pernambuco., em
município8 que mal se sustentam de pé economicamente como municipios,
de centros assim trans-municipais de cultura intelectual e artistica, de assis
tência médica, hospitalar e social, e de recreação, aos quais se torne possivel
levar do Recife, não esporadicamente ou uma vez na vida, mas regular econs
tantemente, bom teatro, boa música, boa declamação. além de bons livros e
bons autores de livros: homens cujo simples ato de presença seja um estimulo
para adolescentes e moças. Esses centros transmunicipais de cultura, asisten
cia e recreação dariam vida intelectualmente nova ao interior do Brasil, mos
trando às populações rurais que elas têm direito ao contato vivo, direto.pes
0al como que a inteligência, o saber e a arte do pais têm de melhor. O direi
0 de ver e ouvir um Villa-Lobos, ele próprio, e não apenas escuta-lo em dsco
relo no cinema. O direito de vere ouvir um Manuel de Abreu: oinventor
e aDreugrafia. O direito de ver e ouvir um poeta como Manuel Bandeira. 0
direito de ver e ouvir um Cesar Lattes, um José Lins do Rego, um Jorge Ama
o, um Procópio Ferreira, um Lúcio Costa, um Carlos Drummond, uma Ra
chel de Queiroz, uma Carolina Nabuco, um Gilberto Amado, um Péricles,
um Silva Melo, um Gastão Cruls, um Sérgio Cardoso, um Cândido Portinari,
um Vão Gogo, um Fernando de Azevedo, um Afonso Arinos, um Carlos Est-
vat rontes de Miranda, um Luis Jardim, um lvaro Lins, um Anisio Tei
xeira, um Dellgado de Carvalho - enão apenas l-los em livros, revistas, jor-
nais; ou vÇ-los apenas - a eles e aos seus trabalho em totogra tias ou repro-
duções de jornais erevistas ou em titas de cinema.
Éclaro que seria impossível trazer a Pernanmbuco uma celebridade na-
cional dessas Ou uma celebridade estrangeira - para faz-la percorrer evanos
gelicamente o Estado todo, municipio por municipio: martirio a que nem
88

candidatos àPresidência da Republica se submetem nos nosSOs dias. Mas cria.


dos num Estado como o nosso - e o plano e sugerido para o país inteiro
a Pernam
centros transmunicipais de cultura e recreação, seria possivel trazer
da noutro
buco num ano, um \illa-Lobos, noutro ano, Rachel de Queiroz, ain
ou um
um Manuel de Abreu ou um Cesar Lattes ou um José Lins do Rêgo
Magalhes Júnior ou uma Lúcia Miguel Pereira ou um Oscar Niemeyer ou um
Erico Veriimo ou um Sérgio Cardoso. para que a mocidade e a inteligencia
do interior pernambucano os ficassem conhecendo de fato, no próprio ambi
ente do interior pernambucano. Mostrando-lhes nesse ambiente sua cerâmica,
sua arte de madeira e de renda, seus mamulengos. seus pastoris, seus prese
pes: todas as expressões mais caracteristicas da vida própria ou de tradição
local. Como. por exemplo, seu carnaval com música de chocalho e fantasias
transmu
quase todas de couro e alusivas a vaqueiros, como é hoje o carnaval
nicipal de Caruaru.
Acresce que cada centro transmunicipal desses - centro de cultura,
de asistència erecreação - poderia ser pela arquitetura,pela decoração care
teristica do edificio e pelo jardim-horta que a completasse, dentro da boa ar
qutetura paisagística: expressão sintética da vida e da paisagem transmunic+
pais, de acordo. é claro. com a orientação que fosse traçada por arquiteto u
saber e ao mesmo tempo de sensibilidade aos valores brasileiros: virtudes que
distinguen \lestre Lúcio Costa;e um jardineiro-paisagista atento a esses me
mos valores como é Mestre Roberto Burle Marx. Poderia ter cada centro e
ses o seu restaurante no qual os visitantes ilustrese os turistas, em geral, en-
contrassem quitutes tradicionais da sub-região representada pelo centro trang-
municipal. Quitutes, doces, frutas, especialidades sub-regionais, que pudes-
sem ser saboreadas ao som de música e canto também sub-regionais. 121
cigarros de palha, refrescos, caldo de cana, combinações desses refresco8 com
aguardentes de engenhos ou engenhocas dos arredores: reação saudável ao
império da coca-cola que, se vem avançando entre nós, juntamente com ou-
tras bebidas incaracteristicas preparadas ninguém sabe ao certo de que, épelo
fato de não valoizarmos, como devemos valorizar, a nos8a agua de coco, &
nossa cajuada, o nosso refresco de tamarindo ou de carambola:: tâo deliciosa-
mente tropicals nos seus sabores e nos seus
efeitos refrescantes.
Talvez relita a proposito dessas sugestões alguma das jovens profeaso-
ras ora em missão no
ra: mas que
interior, e aqui reunidas para o curs0 que hoje se ina ugu
tenho eu a ver refresco8, com
restaurantes, corn mamulengo,comcerámica,
isso? Com quitutes, Com
jardins, hortas? Minha função é
oUtra:e ensinar menino. Nada tenho ue ver com
essas outras atinauuc
89

Averdade éque tem que ver e muito. Amissão de professora no in


terior não éapenas acadmica ou simplesmente intelectual mas social. Ela é
tanto quanto o padre ou o medico ou o magistrado, que também se encon
tran e missão social e não somente técnica no interior, um agente não do
imperialisno pan-urbano ou pan-industrial como que empenhado em explo
rar populaçòes nativas e subdesenvolvidas das áreas rurais e em conservá
las rústicas e inermes, para o industrialismo urbano melhor as explorar. mas
um agente de cultura brasileira e sociologicamente crist. todo o seu afã eto
da a sua capacidade de ação e de irradiação missionária devendo transbordar
do esforço de ensinar menino no de orientar adultos no sentido do desenvol
vimento dos melhores valores rurais em articulação com os urbanos. Pois jun
tos é que esses valores aparentemente inconciliáveis. mas na verdade. comple
mentares, poderão formar nova e vigorosa civilização brasileira que não eja
nem exclusivamente urbana nem predominantemente rural mas rurbana.

Para a formaçâo dessa civilização dinamicamente rurbana. por imposi


ção de circunstâncias e que, resistindo ao sebastianismo dos velhos unda nos
talgicos do passado agrário brasileiro resista, sobretudo, ao sectarismo urba
nóide, tanto quanto industrialóide. dos adeptos, nem todos jovens, de um
pan-industrialisno até hápouco tão poderoso entre nós que a historia ainda
recente e um tanto sangrenta do seu poder, às vezes contrario ao melhor inte
resse nacional, jápoderia ser matéria de romance policial, muito pode concor
rer, na verdade, a professora primáia. Sua formação em meio urbano e sua
atividade em meio rural fazem dela figura idealmente anfibia para esse esfor
ço de rurbanização do Brasil emn gue seu tato de mulher, seu saber de norma
ka sua Sensibilidade, sua inteligencia, sua ternura de irmä, ora mais velha,
Ota mais moça, de meninos. de homens. de velhos, de outras mulheres, se
Juntan precisamente para o delicado esforço. quase de fazet renda soclal, em
que ela terá de aplicar ao cotidiano toda a psicologia aprendida nos Reetes
OS UlLsses Pernambucanos ou com os continuadores dos Llses P'ernam
Ducanos: oesforço de juntar irmãos separados. Pois outra nãoeno bras1l
quase inteiro excetuados, talvez, trechos do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina a situaçâo dos homens e valores rurais em face dos homens
e valo
res urbanos: irmâos separados. Irmãos às vezes inimigos. rmãos que não se
compreendem. Que falando todos a lingua portuguesa, nem sempre dão às
mesmas palavras os mesmos Signiticados.
uen como a mulher culta. a mulher normalista, a mulher profeso
. a Cudar de tais desajustauentos que, em alguns casos, tem chegado a
emos morbidos? Parece estar demonstrada a especial aptidão da mulher
90

para o trabalho mais dificil de enfermagem e para o chamado serviço social:


e nas modernas ciências sSociais ela se vem distinguindo, às vezes genialmente
que o diga a obra realizada pelas Ruth Benedict e pelas Margaret Mead -
pelos estudos de antropologia e sociologia em que se tem feito sentir a neces.
sidade de lidar o pesquisador principalmente com a vida psíquica dos homens:
com as sutilezas de vida psiquica prolongada em vida social.
Amissâo social da professora brasileira no int erior do Brasil,tal co
mo esse interior hoje se apresenta - desajustado do litoral urbano, deteriora
do em alguns dos seus melhores valores superficialmente imitador das piores
präticas urbanas ou pseudo -urbanas, recebendo as visitas importantes com
peru e fiambre, envergonhado de seus sarapatéis, de suas tapiocas ou de seus
beijus de coco, de suas fritadas de siri, de suas paneladas oude seu mocotQ
com pirão, de suas carnes de bode com farofa cheia de coentro, de seu alfe
nim, de suas umbuzadas e uma missão em que a tarefa de ensinar meni
nos - para a qual homem nenhum, a não ser por exceção, parece revelar a
competéncia da mulher se deve juntar uma atividade complexa e sutil em
que a missionária precisa de ser um pouco enfermeira pois terá muitas ve
zes de hdar com doentes, sabido como é, gue os homens do interior brasilei
ro no Norte são vários deles doentes: fazer um pouco de serviço soCial , e"
tre populações que sofrem intensamente de desajustamentos sociais; e tam
bem aplicar -repita-se- toda a sua ciência psicológica adquirida dos mestres
além de toda a sua intuição, ao esforço de articulação de valores ruraisS Co
valores urbanos, tendo antes o cuidado de despertar em populações do inte
nor o gosto pelos seus próprios valores, o brio rural, o sentimento de lealdaue
do homem rural àsua aldeia, à sua casa. à terra da sua
fazenda ou do Seu s
o, a sua horta, ao seu gado, àsua gente. à gente gue com ele
ele deve considerar extensão da trabalna e 4
suaprópria familia.

E ainda: "Somos um país em cujo


tO8 profundos entre populações rurais e passado ocorreram desajusta

professoras, os padres, os magistrados, ou urbanas por falta de quem
medicos, os agrônomos
coi
mais consci
ssao naCional que devem desem penhar ao lado da técnica, arucu
lsse essas populações separadas,
lores, seus interessEs, seus conciliando ou procurando concliar beu
problemas.
mais trágico dessa desarticulação, Ocaso de
da cultura Canudos
urbana, constitui
da rural o exemplo
num pais exten-
50 Como o noss0. Mas não foi o único". Estados do Sul do Brasil como o Rio
Grande, Santa
lações rurais Catarina das Paraná chegaram aabrigar nos nosso8 diasprópria
eo popu-
desajustadas urbanas não só pela cultura como pela
91

língua: a língua alemã, numas subáreas, a japonesa noutras, ostensivamente


conservadas com intuito8 políticos em oposição å lingua portuguesa. Dou o
meu testemunho - pois conheço de perto aquelas áreas da obra admirável
que realizou quando interventor Federal no Rio Grande do Sul o atual Gover
nador de Pernambuco, no sentido de articular naquele Estado os rupos neo
brasileirOs de subáreas rurais com os grupos ja tradicionalmente brasleiros
das subáreas de antiga colonização: trab alho de assimilação. harmonização e
integração em que teve por colaborador principal menos que o seu Secretario
ou Chefe de Polícia, que o seu Secretário da Educação. o ilustre brasileiro
do Rio Grande do Sul, descendente de portugueses e de alemes. Professor
Coelho de Souza.

Nós próprios, em Pernambuco, além de Pedra Branca. tivemos o Que


bra-Quilos, que foi uma insurreição de gente rural contra a urbana: con tra im
posições do imperialismo urbano - chamemolo assim - à revelia de conveni
ëncias, aspirações e sentimentos das populações rurais das áreas pastoris. man
tidas numa espécie de servidão colonial com relaço às agrárias do litorale às
urbanas. Como se verificaria em Canudos, quis se resolver, nos sertões do Nor
deste pernambucano, o desajuste terrivel entre aqueles extremos de vida e de
cultura, por meio da simples violência policial. E antes de Euclv des da Cunha,
em livro célebre, ter-se insurgido contra simplismo tão brutal, insurgu-se con
tra ele em Pernambuco um engenheiro francês que aqui se naturalizara bras
olro, CaSara-se com moça de um ramo da famíia Albuquerque, fazendo-se
grncultor no Sul da então Província do Império. Refiro-me ao engenheiro
nenrique Augusto Millet, amigo e discípulo de Louis Léger Vauthier. francès
esSe Vauthier de superior valor técnico e human istico que aqul esteve
de
o+0 a l846, tendo com a sua presença desenvolvido no Brasil um ciclo
uuencla renovadora da nossa vida - inclusive da agrarna em relação com a
ana -- cuja extensão e importância só nos nossos dias vem sendo destaca
das como merecem.

Ienrique Augusto Millet, colaborador de Vauthier nas grandes obras


técnicas e de arte que este engenheiro francès empreendeu no Bras1l na pri-
aa metade do século NIX, antecipando-se a Euclvdes da Cunha, escreveu
o70, em trabalho sohre 0Ouebra quilos e a Crise da Lavou ra que domi
nada policialmente a insurreicão dos matutos que acabara de agitar a Provin
cia na verdade, grande parte do Nordeste n£u havia mais que recear pela
conservação"- dizia ele *'da ordenm mater1al . las acrescentava: estara
porventura con semelhante resultado preenchido o dever do governo" Nin-
e o dirá: agora principia tarefa mais árdua e complhcada: cumpre indagar
92

das causas da sedição e procurar removê-las pois os povOs, e com speciali


dade o nosso, tão obediente e respeitador das autoridades, não se levantem
sem motivOs reais ao aceno de alguns agitadores sem prestigio, como se tem
querido inculcar!

Para ele, Millet, a sedição não era, como se supunha, em certos meios,
simples pronunciamento politico ou protesto religioso mas tinha "raízes mais
profundas": nascia do "mal-estar das nossas populações do interior, mal-estar
de que não pode duvidar quem se acha em contato com elas !.

Esse mal-estar - pode-se hoje dizer - era econômico mas era também
cultural. Cltural e psiquico. Como cultural epsíquico foi o mal-estar que le
vou sertanejos da Bahia a se concentrarem em Canudos em torno de Antônio
Conselheiro em atitude de resistëncia auma civilização - a do litoral - que se
dizia, ou pretendia ser, a nacional quando era apenas subnacional: urbana e
quando muito agrária; alheia à vida, às necesidades, às aspirações da gente ir
mã que vivia nos sertões, vida arcaicamente, mas honestamente pastoril. Fa
lando um português ainda do tempo colonial e praticando um cristianismo
que, por talta de padres, se tornara menos ortodoxo, porém não menos sn
cero que o das gentes mais assistidas pela Igreja e pelos padres, das cidades
do litoral.

Cm dos aspectos mais interessantes da obra dos técnicos franceses que


estiveram em Pernambuco na primeira metade do século dois dos quais,
Boulitreau e illet, se pernambucanizaram inteiramente, tendo Millet e
nado, além de agricultor, estudioso dos problemas agrários brasileiros - 1oo
e terem eles, sob a orientação de Vauthier, dotado o interior desta entao
provincia de um sistema de estradas gue veio diminuir a distáncia entre va
das populações rurais e tornar possíveis feiras de outro modo inconcebíveis.
Ao lado dessas feiras, operou-se o
desenvolvimento econômico de sub3 e
ruras ate então quase segregados do resto da comunidade pern ambuCate E
um exemplo de que a engenharia técnica bem
orientada po de tornar
genharla SOCial; de que as pontes de madeira e de ferro sobre os rios ou Bo
Os despenhadeiros podem tornar-se, quando sociologicamente bem situadas
ou bem lançadas, pontes sociais que
cias sociais, psiquicas e concorrem para fazer desaparevo m
grupos huma
nos. culturais - e não apenas físicas - entre

Semelhantes distáncias ainda perturbam avida da comunidade per


nambucana, dividindo-a de tal modo en urbana erural que muito ruralita de-
93

8ajustado ao seu meio ou aí fracassado econômica e socialmente dos produ


tos desse meio para a Capital - volta-se para o Recife como para um refúgio.
messiânico, expressão máxima, na região, de ciilização tida por superior. por
única, isto é, a urbana.

Se é fato que muito deve a civilização pernambucana ou nordestina


ao Recife urbano é também verdade que vém sendo rurais as fontes de que
mais longamente se tem alimentado essa civilização. Oque nos faltaé uma
história de Pernambuco ou do Nordeste em que se atribua aesas fontes ajus
ta importância que lhes deve ser atribuida.

Daí ser desejável que se juntem o Instituto Joaquim Nabuco de Pes


quisas Sociais, a Univeridade Rural de Pernambuco, o Instituto Arqueológi
co, Histórico e Geográfico Pernambucano e a Sociedade Auxiliadora da Agri
cutura com sede no Recife e ora dignamente presidida pelo decano dos agri
cultores pernambucanos, o velho Antônio Alves de Araujo. de Amaragi, para
presthgiarem a organização de que seja encarregadó individuo competente
de preferência um historiador orientado por um sociologo - se no de uma
história rural quanto possível completa da região, de uma antologia que reúna
bobre a matéria trechos de cronistas, historiadores esociólogos de várias épo
cas -trechos dos Diálogos das Gran dezas do Brasil, de Barleus, de Loreto Cou
to,de Tolenare, de Koster, de relatórios de Vauthier quer veraem problemas v
nnos dos de lavoura rural.o ensaio de \llet sobre a crise da lavoura no Nor
este na segunda metade do século NIX, artigos de Duprat,páginas de Joaquim
abuco,Arthur Orlando,Pereira da Costa,Alfredo de Carvalho, Oiveira Lima,
1polonio
há e Gaspar Peres, Professor Tadeu Rocha, o engenheiro Meneses
do Pouco recordado, em justa homenagem, Inácio de Barros, Paulo Salga
para sÏ me referir a mortos - em torno de problemas pernambucanos
ordestinos de economia ou sociologia de apoio a cursoS como este: cur
808 em que se procura dar aos valores rurais na formação ena atualidade per-
nambucanos a sua justa importância, estabelecendo-se pela atenção que se
consagra aesquecidos assuntos rurais -agrarios e pastoris - oequilibrio dese-
Jado, que é o rurbano.
Precisamos de n0s aperceber, os pernambucanos, de que em Pernam-
buco, Como noutras áreas brasileiraS, economia, cultura ecivlização tornam-
8e mais compreensiveis estudadas sob o critério de constituirem um complexo

rurbano, misto,
te. Precisamos derural e urbano a um tempo, do que conaideradas
orientar
isoladamen-
oensino no sentido de corresponder aessa realida-
de complexa do noSso passado e de nossa atualidade e, ao que parece, ja pro-
jetada desordenadamente Sobre onosso futuro. Precisamos de estender esse
94

eritério ao próprio sistema estadual de administração e de governo, tantas


vezes prejudicado pela inconsciência com que por simetria burocrática se uni.
formizam medidas ou providências pelo padro urbano, esquecido o legislador
ou o administrador do fato de que aquele sistema deve atender ao complexo
regional e não apenas a um dos elementos do complexXO hoje o urbano, qua
se sempre - com exclusão ou sacrifício dos demais: do agrário e do pastoril,
entre nós tão sacrificados de ordinário ao urbano. A nâo ser quando por
agrário" se entende o interesSse na verdade urbano de falsos usineiros, resi
dentes de palacetes nas cidades e exploradores distantes dos campos de cana.
E por pecuária a atividade mágica de homens também urbanos de negócios,
fantasiados em criadores de gado, mas na verdade mestres nas artes de super
valorização chamadas de "reajustamentos" de animais de pasto ede corte.
Etempo de pensarmos em Pernambuco no desenvolvimento de peque
nos Recifes que desafoguem oatual efalsamente grande, morbidamente gran
dioso, doentermente metropolitano, levando-se ao mesmo tempo a urbanueu
a espaços urais distantes do litoral atlântico : espaços onde essa urbanidade
expansiva., por um processo chamado em sociologia de transculturação, se
impregnará de influências rurais, tornando-se rurbana. Do mesmo nou,
tempo de trazermos ao Recife valores rurais gue o integrem mais do que o
hoje, doente e inchado, na vida, na paisagem, na natureza, na sttuay
condição, na realidade regional de que ele, o Recife de sermpre, deve ser asu
ma e ao mesmo tempO o sumo. Do contrário o Recife se tornarácidade inca-
racteristica. e quase sem contacto com os valores rurais do complexo aque
pertence: tendo por frutas a maç da Califórnia, a uva argentina ou a ameixa
portuguesa, em vez da Goiana, da pinha
de Caruaru e da mangabamanga de Itamaracá,
de Ilha: tendo por do abacaxi de de
especialidades mesa esobre-
mesa as que lhe chegam secas ou em latas, do Rio Grande do Sul ou, congela-
das, do Maranhão, em vez dos pitus do rio Una ou dos queijos, requeijões
e carnesdesol ou de-vento, do sertão, ou dos doces de cajus frescos dolitoral;
tendo por árvores públicas de sombra e plantas ornamentais nas Suas ruAs e
praças, nos parques poblicos e nos quintais das casas, as importadas e exóti
cas, em vez de paus-d'arco, de jacarandás, de tapoamas, de oitizeiros, de ca
jueiros, de paus-brasil vindos de
matas regionais.
para urna civilizaço assim integra, complexa, harmônica, emque 0
rural e o urbano Segundoa
fornem uma terceira denomine, se
adaptação ao
Galpin, rurbanaportugués do situaçao, que se inglesapor
neologismo "rurban"
dinarnica1nente rurbana - que alguns de língua
criado em nós nâo deagora,
mas desde velhos dias, e baseados no estudo de várias situações regionaisbrasi-
leiras, entendemos que caminlar.
Pernambuco, o Nordeste, o Brasil precisa
95

Para uma civilização deliberadamente rurbana, com todo o sal brasileiro que
se possa dar ao neologismo criado em lingua inglesa com sentido apenas está
tico e estatístico.
Em vez de continuarmos prejudicados por uma civilização de extre
mos antagonicos o Recife eo Interior, a Indústria urbana glorificada e a La
voura ou a Pecuária tratada de resto o justo sera procurarmos desenvolver.
em Pernambuco ou no Nordeste, harmônica civilização regional dentro da
civilização brasileira. E, no Brasil, harmonica civilização rurbana em articula
ção com as da América ou dos trópicos que sejam suas afins ou co mplemen
tares: principalmente as lusotropicais da Africa e do Oriente. Epreciso que
desde já o ensino estadual se oriente no sentido de um ideal dinamicamente
ou construtivamente rurbano de formação das crianças e dos adolescentes ser
tanejos para colônias de férias à beira-mar e levando-se crianças eadolescentes
das zonas em Pernambuco chamadas da "praia" e da "mata" para colönias de
férias no sertão. Urge que as professoras de quem vai principalmente depender
o êxito desse esforço difícil de integraçãoe articulação regional. resistindo ao
pan-urbanismo ainda em moda em alguns meios brasileiros, tornem-se pionei
ras em Pernambuco desse novo tipo sociocultural de civilização branleira:
orurbano.
"Sem o auxílio dos serviços educacionais escreveu ha doZe anos no
seu livro The Education of the Countryman (Londres, 1943),. que se refere a
nglaterra, o inglês Mr. H. M. Burton - ë provável que nada se consiga quan
to a reabilização da vida inglesa". Pois averdade éque aprópna Inglaterra
Sendo atingida, ao explodir a última Grande Guerra, pela deav alorização
tonte rural da sua civilizacâo, sacrificada à excessiva valonzação da urbana.
dem plena guera sociólogos (ali geralmente chamados antropologos).
adores, economistas, homens públicos, começaram apreocuparse com o
PODlema, o referido livro de Mr. Burton. publicado em 1943, tendo ado uma
expressões mais vividas dessa preocupaçã£o ou desse empenho de reabl1
tação, em alguns pontos semelhantes ao regionalista do Brasl, ha vìnte ecinco
anos iniciado no Recife: e desde então operante ou atuante no Brasil. 0ponto
de vista desses índices era o de que a reabilitaçâo da vida rural da Inglatera,
Sem deixar de ser e ja conslderado, alias, sob esse as
problema
econômico Rural da Inglaterra desde 1936 no
pecto, pela Associação de Reconstrução
livro ent«o publicado sob otitulo The Revial of Agriculture era

problema também de educaçâo, Evitemos ser sentimentaus arespeito do aa-


Sunto" dizia Mr. Burton en1 1943, em livro que se tornou intluente no senti-
do daquela reabilitação necessária. Mas acrescentava, em palavras que pode-
nam servir de apoio a quanto sugerimos atavor de um ideal rurbano de civi-
lização brasileira, vir procurando, com outros ingleses, "uma concepço de
96

civiização" que trouxesse à Inglaterra "justo equilibrio entre a cidade eo


campo", acreditando que em tal equilíbrio viesse a gente inglesa encontrar
não só maior estabilidade econômica" como "maior liberdade de espírito"
Maior liberdade de espírito para afirmar-se, exprimir-se, expandir-se em arte,
em cultura, em recreação, como será com certeza o caso do brasileiro quando
a civilização do nosso país, hoje desorientada e desajustada pela excessiva
glorificação dos valores urbanos exaltados quase sempre sobre os rurais,
equilibrar-se em civilização saudavelmente rurbano.

Foi ainda durante a iltima Grande Guerra que apareceram dois


outros livros de importância para quem se preocupa com relações entre
O8 valores rurais e urbanos dentro de uma cultura regional ou nacional;e dos
valores nacionais de qualquer dessas culturas a alemãouabrasileira, adina
marquesa ou a portuguesa - com os valores internacionais. Reiro-me å
Internationa! Economic Desintegration (Londres - Edimburgo Glasgow,
1942), de Wihelm Roepke, e Bread and Democracy in Germany (Berkeley
eLos Angeles, 1943), por Alexander Gerschenkon. Ecomentava: "0 primeiro
talvez se extreme na apologia da ruralidade como um estado social, ou, antes,
da ruralização, como um meio ou processo de assegurar-se o que chama u
modo de vida humana' que devesse ser considerado uma das principais rest
tências a oporse à"sociedade massa'", sendo para lamentar, segundo Roepke
que essa resistência tenha quase deixado de existir na Inglaterra, privandoa
moderna vida inglesa do quede qualidade
denomina que
de "valores sutilmente humanos"
só possiveis em civilizações permitam o máximo desenvolvi-
mento de virtudes rurais. Osegundo,embora sem desconhecer em tais valores
ine.
sua dependência de meios ou ambientes rurais, salienta ser
vigorosamente
vitável, em face do próprio desenvolvimento moderno das técnicas de produ-
ção agrária e pastoril, a redução das populações empenhadas, em meios rurais,
em atividades rurais, tornando-se assim necessário habilitar grande parte des-
sAs populações a atividades industriais nas cidades ou em meios rurais onde
seja possivel desenvolver indústrias. Sendo assim, as migrações internacionai:
e dentro das nacionais, as inter e intra-regionais, e as relações econômicas en-
tre nações e regiões, teriam de atender à necessidade ou àinevitabilidade des8e
desenvolvimento".

E comentava: "ma das naneiras de atendé-las com major vantagem


para as culturas ou economias nacionais e para as relações pacíficas entre eco-
nomias e culturas, parece ser a solução rurbana, aqui sugerida ou seja, o desen-
volvimento, em áreas rurais, de indústrias que, não prejudicando ocaráter das
97

regiões, embora o alterando, permitarn que, dentro dea8as áreas, populações


sem oportunidades de ai desenvolverem atividades rigorosamente agrárias e
pastoris, continuem a ser sermi-rurais. Ou antes, tornarem se rurbanas" pela
sua permanência em meios predominantemente rurais onde exerçam ativida
des industriais. Seria esse beneficio que a empresa de alumínio que a
Reynolds pretendia - e pretende ainda, segundo me informam - estabelecer
no Nordeste agrário, valendo-se da energia elétrica de Paulo Afonso, viria
prestar a esta região: àsua população agrária - hoje obrigada a emigrar em
condições desfavoráveis e àpopulação das cidades a recifense., inclusive
que seria beneficiada pela redução de 60% nos preços de eletricidade graças
a presença, em nosso meio, de uma grande industria instalada em área rural.
Foi contra isto que se ergueu a crítica talvez justa, de lustre empresário
brasileiro.

Vivemos, homens de hoje. num mundo cada dia mais interde pendente.
Mais interdependente nas relações entre culturas ou economias rurais e urba
nas, dentro de um conjunto nacional, o mais interdependente nas relações
entre economias e culturas nacionais. Tal interdependència não deixa espaço
para purismos ou exclusivismos de espécie alguma: nem étnico nem ec onomi
co; nem político nem culturl.

Percebeu argutamente a situação a necessária interdependencia


entre o urbano e o rural - o Padre Louis Joseph Lebret quando. depois de ra
Pdo estudo desta Região brasileira, admitindo a possibilidade, em futuro an
e remoto, de um grande Recife" evidentemente como zona urbana mais
urbana que ruralsem deixar evidentemente de ser rural nas suas margens
e insurgiu de modo lúcido contra a crescente concentraço de desertores do
cerlor nordestino no mesmo Recife, jáa tornar-se o que lhe pareceu Cidade
monstruosa". Daí a sua sugestáo em trabalho agora publicado, com inteli
8te pre fácio do engenheiro-urbanista Antonio Baltar - sugestão com que
concilia velha idéia nossa. mais uma vez esboçada aqui, de uma cvlbzaçao
na verdade
deliberadamente rurbana
Dras1l inteiro
para Pernambuco, ou para o Nordeste:
de se levantarem no interior do Estado ou da regao
do pais barragens implicitamente rurbanas, "onde o èxodo para a cidade"
Caso do Nordeste, para o Recife.
Engenheiro An-
Essas estou certo, o Padre Lebret e o
barragens que,
tônio Baltar concordariam comigo em especiticar que fossem rurbanas, seriam
6edes de novas indústrias, n¥o escapando ao Padre Lebret a conveniencia da
""utilização dede
sibilidade
Paulo Afonso com uma grande usina de aluminio":
existirem na regi@o riquezas ninerais que
nem a po
encontradas - e ele
98

encarece a necessidade de pesquisas por "técnicos internacionais" (e agora


mesmo um técnico internacional", o geólogo francês Pierre TaltaSSO, realiza
no Nordeste, em missão da Unesco, pesquisa interessant issima, já tendo anun
ciado dispor achapada do Araripe de água bastante para sua população desen
volver uma economia agrária em pleno interior seco desta parte do Brasil) -
viriam facilitar o processo a que chamamos de rurbanização do Nordeste. Pro
cesso de aproveitamento de quantos recursos naturais possam suprir, nesta
região, a auséncia de condições favoráveis a uma agricultura semelhante à
uruguaia ou a uma pecuária igual à argentina, sem que seja preciso ao homem
da região artificializar-se em falso urbanita ou em precário suburbanita fugin
do ao empobrecimento do interior ou das áreas rurais abandonadas, esqueci
das, mal estudadas. Pois tudo indica podero Nordeste, como, aliás, oBrasil,
em geral, tornar-se uma saudável civilização rurbana através de inteligente ar
ticulação ou integração de tais valores; écomo se dissesse que ela é impossi
vel sem o esforço sistemático de que são capazes as educadoras: tão necessa
rias a qualquer obra de engenharia social". Engenharia Social não é só peso
másculo nem apenas material bruto:étambém renda como, na outra Enge
nharia, a Fisica, a renda em ferrO das modernas pontes, suspensas sobre os
grandes rios como se fossem filigrana de prata ou de ouro feita por mulher.
E renda social. É renda tecida com o que háde mais delicado na natureza hu
mana. Juntando-se contrários. Harmonizando-se extremos. Lançando-se pon
tes entre eles.
RETORNANDO AO ASSUNTO EM BRASILIA NA FUNDAÇAO
MILTON CAMPOs (*)
Convoca-me o Presidente da Fundação Milton Campos, o Deputado
Maciel,otavel
parapor sua atuação
participar de um deSimpósio
político-intelectual que é daMarco
em torno de assunto mais Antönio
vibrante
atualidade: arelação, no Brasil de agora, entre avanços urbanos eestagnações
BcOmo situações quase de todo desencontradas. Iniciativa essa, de uma
agremiação política consciente de Suas responsabilidades so ciais.
co Deve notar que me impressiona, e me impressiona viv amente, o publi
com que me defrrontar. Público cuja presença signitica apoio de ca-
ráter social aestou
a
uma iniciativa de um partido politico. Ecoisa animadora no Bra-

*
o PalavrasPresidente
ento proferidas em Brasilha, na década 70, na Fun dação Milton Campos,
o Prestdente da
presentes
Fundaçio
Milton Campos, ofuturo da
Governador
Câmara Gerais,Maciel,
Minas Marco
dos Depudetados, Franceluno Pereua, os Senadores
Accioly Filho, Teotônio Vilela, Jarbas Passarinho enumerosos outros parlamentares.
100

sil de hoje. Animadora no sentido de que começa entre nós uma nova fase de
ação politica, cheia de preocupações sociais, que estavam faltando ao político
eà ação politica brasileiros.

Agradeço a oportunidade que me é dada de participar menos em deba


tes - no que não sou forte- do que na consideração de aspectos de tema tão
aliciante para o analista empenhado em esclarecer quanto para o homem pú
blico desejoso de resolver. Aliás, os dois empenhos deveriam' estar entre nós
mais proximos, um sempre completando o outro.

Não estão. Hárelutância, no Brasil de hoje, da parte de certos executi


vOs e legislativos, em recorrerem, para a consideração de certos problemas, ao
assessoramento de outros cientistas sociais, além dos atualmente supervalori
zados economistas, alguns, é certo, já notáveis colaboradores efetivos de ho
mens de governo, quer por sua própria atuação projetada de cientista em poli
tica, quer como assessores eminentes, ouvidos e consultados, de governantes.
Essa complementação, porém, vem tardando entre nós aestender-se a relações
entre governantes e outros cientistas sociais igualmente válidos como posivei8
colaboradores de governos e de governantes no trato de não poucos proble
mas que, sendo politicos, administrativo8, práticos, são também dos que recla
mam, para sua melhor solução, análises cientificamente sociais que resultem
em esclarecimentos ou em orientações nas quais a ciência de analistas se junte
existindo no
àintuiçâo de governantes. Não se compreende, por exemplo, que
Pais, hávinte e sete anos, como criação do Congresso Nacional, um Instituto
Federal de Pesquisas Sociais, seus serviços venham sendo utilizados tão pouco
por homens de governo e suas advertências,à base de pesquisas idôneas, segu
das tão raras vezes pelos mesmos homens de governo. Que sirvam de exemplo
pesquisas, pelo mesmo Instituto, pioneiras, sobre poluição de rios brasleiro
como efeito da perverso das suas águas por despejos de usinas de açúcar,
nas de usineiros irresponsáveis, indiferentes ao bem-estar do8 ruralitas.
responsáveis
Aqui está presente, folgo em salientar, um dos principais eminente
científicos por essas pesquisas sobre poluição de rio8 no Brasil::o deveriam
geograío Gilberto Osório de Andrade. São pesquisas cujos alarmes decorrer
ter sido atendidos de modo sistemático e contínuo. Entretanto, no
desses vinte e sete anos de atuação do Instituto Nabuco apenasum Presidente
da República deixou-se sensibilizar por elas logo depois de apresentadas, há
cerca de quinze anos. Do mesmo Instituto vêm partindo adverténcias igual-
rur
mente pioneiras sobre a conveniência de seguir-se no Brasil uma politica do
bana. Como lembrou o Presidente Aderbal Jurema, em 1956já se cogitava
101

Asaunto no Brasil. Numa reunlão na cidade do Recife, por iniciativa do me smo


Aderbal Jurema, então Secretário da Educação e Cultura desse brasileiro ilus
tre que é Cordeiro de Farias, então Governador de Pernambuco, considerou
seriamente o problema: para o conferencista, já naquela oportunidade, se co
gitava de seguir-se, no Brasil, uma politica rurbana - rurbano é um neologis
mo formado de rural e urbano -
procurando-se mostrar que a
muitos do8 problemas do nosso Pais estava hoje numa integraçãosolução
do
para
ruralidade e urbanidade e nunca num desmedido que seja
pan-urbanismo ou pan-in
dustrialismo urbano com desprezo pelos valores e pelos interesses rurais.

Não pretendo apresentar o assunto rurbanismo, rurbanidade, nesta


reunião, senão por alto, isto é, caracterizando em traçoS
sOciológica de desenvolvimento que se denomine rurbano. gerais uma concepção
a materia poderão ser obtidos guer do Pormenores sobre
jovem e jáadmirável mestre no assun
to, como é atualmente o Dr. Jorge Guilherme
da antaga e crescente competência na
Francisconi, de Brasília, quer
Saber do Professor Freitas Marcondes, deespecialidade,
São Paulo,
representada pelo alto
quer,
o próprio conferencista de agora. ainda, de trabalhos
neiros no Brasil no trato da matéria Trabalhos desculpem que o diga - pio
Brasis, Brasil, Braslia. Este livro tem como alguns dos que constam do livro
com o problema uma história curiosa, que se relaciona
censura.no ser escrito, há mais de quinze anos, praticamente
eo pode ser publicado
Ao
Brasil. Não gue houvesse uma censura
censura declarada contra ele. Mas havia una censura ambigua da aberta, uma
tores parte de edi-
tres admiradores
arquitetos
quer do ilustre homem público, quer dos igualmente ilus-
responsáveis pela fundação de Brasília. E olivTO era crítico.
Crítico não da idéia de Brasilia, da criação de Brasilia, idéia, segundo oautor.
magnífica.
ção de uma
E sim da
maneira como estava se processando essa criação : a cria-
lhor das cidade entregue, por aquele eminente homem público, com a me-
intenções, a dois arquitetos. Adois grandes mestres em arquitetura,
Vamos dizer,
escultural estética.
ou
Ora, o autor havia sido convidado pelo então Presidente Juscelino
Kubitsachek,meio,seua amigo pessoal, para opinar sobre como estava decorrendo,
ainda
Tios aspectos lheconstrução de Brasília e opinou. Opinou dizendo que em vá-
e8cul
do tural,
ia parecia satisfatória; que a arquitetura, do ponto de vista
causar verdadeira comoção mundial, como criação onginal,
80cial:pontonão de vista estético, Mas que estava inteiramente deficiente na parte
o8 tinham sido ouvidos o8 ecologistas, os cientistas sociais, os geogra-
dois educadores, os urbanistas; não tinham sido ouvidos outros além dos
arquitetos responsáveis pela arquitetura puramente estética e, sob vários
102

aspectos, abstrata, de Brasilia. E, no livro se fizeram críticas a essas deficiÁn.


cias, sem se deixar de reconhecer o grande, o imenso, o notável, o já histórico,
esforço representado pela construçâo de Brasília.
Mas, assim rejeitado por editores brasileiros, uma espécie - repito -
de censura obliqua, o livro teve de ser impresso e aparecer, na sua primeira
edição, em Portugal, que. paradoxalmente, então sob o govermo de um dita
dor, desempenhou o papel de um país livre em relação a um pais que, liberal
de algum modo, reprimia aliberdade de expressão. Creio que éa primeira vez
que noticio este fato. Eo noticio sem nenhum ressentimento. Sem nenhuma
amargura. Somente como fato histórico.

Meus amigos, vem da década de cinqüenta, como recordou Aderbal


Jurema, em palavras tão generosas etão amigas, minha insistência na solução
rurbana como uma daquelas mais reclamadas pelo Brasil para um desenvolvi
mento que se processe em termos modernos, ao mesmo tempo que ecolog
cos. Um desenvolvimento que junte o técnico ao telúrico.Ao econômico, o
social. Ao social, além do psicológico, o cultural, esse cultural a que souberam
dar uma tão justa ênfase os dois eminentes conferencistas da reunião de hoje
o Senador Teotônio Vilela e oilustre Ministro Nascimento eSilva: um Mi
nistro que está sendo realmente notável na sua Pasta de Previdência Social. E
falo agora não só como brasileiro mas na qualidade de membro de um grupo
etario particularnente favorecido por uma das suas mais recentes providên
cias, uma providência que se impunha da parte do atual Governo do Brasil
através do seu Ministério da Previdncia Social.
Ha anos escrevi que era inteiramente cretino, no Brasi, estarmo8 0
vangloriando de ser uma Nação jovem, uma Nação jovem porque vivíamo8
pouco, porque a mnedia de vida era baixa,
Não nos devemos vangloriar nem de ser Nação assim jovem nem de
estarmo6 a nos tornar Nacão perurbana. Ou pan-industrial.Contra o que cedo
me coloquei. Cedo propus a solução rurbana.
Coincidiu com essa minha advertência a idéia do
Padre Jose ph Lebret, de se criarem, no interior do Brasil, sociologo run
do campo para as cidades, as cidades barreiras. Conversamospara deter o ex0u
largamente sobre
o assunto. Ele concluiria que a solução rurbana, por mim proposta, seria mais
abrangente e mas Compreensiva que a sua, de cidades barreiras como que
estáticas, ja que asolução rurbana continha em si uma dinâmica que a solução
das simples cidades barreiras não
comportava.
103

Asolução rurbana éessencial e existencialmente din©mica, além de


mais abrangente que a solução Lebret ou a solução russa adotada até hoje,
não sei por que, na Amazônia, das agrovilas. As agrovilas são também cidades
barreiras. São estáticas. Por que não a solução rurbana na Amazônia, esse
laboratório magnífico aberto ao Brasil e que o Brasil não está utilizando como
deveria utilizar? Porque o Governo e entidades outras não estão convocando
para seu assessoramento na autocolonização que se processa na Amazônia
cientistas sociais.

Repito:so estamos vendo como cientistas sociais os economistas, aliás


muito úteis. Muito valiosos. Mas há vários assuntos em que os economistas
não podem auxiliar homens de governo, executivos, empresários. Estes preci
sam do auxílio de cientistas sociais outros : os sociólogos, os antropologos, o8
psicólogos. A solução rurbana é aplicável a situações brasileiras, sem ser exata
mente preciso adaptar situações brasileiras a uma fórmula de todo importada.
Pode-se dizer que asolução rurbana - embora formalmente de origem estadu
nense, por um lado, com o sociólogo Galpin, e indiana, por outro, com o
ocologo Mukerjee - já ésubstancialmente brasileira, de tal modo correspon
de å ecologia brasileira. Corresponde quer ao espaço brasileiro, quer a tradiço
brasileira que é uma espécie de ecologia deturpada pelo tempo.
0 Brasil e as conferências que precederam a minha rápida palestra
Oje bem o mostraram - brotou deste vasto espaço de formação rural, de
gte oram núcleos as casas-grandes de engenhos, como foram as das fazendas,
COmo toram outros estabelecimentos rurais para depois se desdobrarem a
B anormalmente, antologicamente, nmorbidamente, inchadamente em cida
que esses espaços, tão telúrica quanto socialmente brasileiros pediam
Pedem dos atuais orientadores de sua ocupação ou de sua reocupaçao, nao
clusivo deeeSser8e implantem grandes cidades, como que mágicas no seu modo ex
a sua dinamização em termo8 mistos, isto é, rur
banos sem queurbanas, mas
aurbanização de espaços importe em desruralização radical.
Em termos, por urbanização jun tan
conseguinte
acentue-se
do-se a formas não só utilizáveis como saudáveis de aruralidade persistente,
- rurbanos:
e8sencial, brasileira, telúrica, humana, natural.
Quando, pouco antes de 1964, certas regiões do Pais foram atingidas
pela febre de sozinho contra
0 que
lme criação de novos municípios, levantei-me quasesabedoria políti-
ca como depareceu
de
medida,Socioeconòmica
consistência até destituída
e só
no Seu furor não de alcance so ciocultural, pois
O que se brasileiro sob o pretex-
to de suafavorecia era a incipiência cultural do interiorvantagem eleitoreira do
vitalização
política confundida com a pura
104
aumento do número de municipios. Ante a medida demagógica propus guase
o seu oposto: a articulação de certos municipios em torno de sedes transmuni.
cipais nas quais se pudessem iniciar, manter e desenvolver, além de servicos de
educação. de assistência social, de assisténcia hospitalar, de assist ência médica.
de assisténcia ao trabalho, facilidades de recreação, de aculturação, de espor
te, de contato com a natureza, de arte, impossiveis de ser obtidos criando-8e
novos e indigentes municípios incapazes de ter, em sedes assim carnavalesca
mente urbanoides, boas escolas, bons hospitais, bons cinemas, bons teatros,
salas para concertos. E podendo receber visitas de artistas, conferencistas,
educadores de renome nacional e até internacional. sso, em sedes transmu
nicipais seria possível. Seria inteiramente possivel.
e até
Com quatro, cinco ou seis municípios predominantemente rurais
trans
agrestes, reunindo-se para possuirem dentro de sua área global uma sede
municipal capaz de desenvolver, no interesse e em benefício da área, valores
urbanos, resolve-se, em grande parte, em espaços brasileiros de estruturas mu
napais antigas, o problema de sua rurbanização através de meios saudáveis.
lão saudáveis que não se destrói, nessas estruturas, o que nelas éde perima
como
nente valor como presença rural, como contato maior com a natureza,
com essa
presença de campo, de natureza, de facilidades de contato humano
natureza.

semelhan-
TeriamosS então sedes transmunicipais em espaços Agrestes Nova
tes, pelos seus valores urbanos dentro de domínios rurais, ao que hojeé espa-
Friburgo, ao que é Campos, ao que Garanhuns. Avantagem para esses
çOs estarna no desenvolvimento neles de valores mistos- rurbanos - co a
rurbanizaçâo impedindo aurbanização maciça efavorecendo ainterpee
Conservando-se parte
ção, nos mesmos espaços, de valores urbanos e rurais. usos na-
essencial de ambiéncias rurais sem se dificultar ao ruralita apegado a
culturais,
tivos e agrestes o contato com aquelas artes, aquelas atualidades
com a urbanizaçBo
aqueles refinamentos de vida, Supostamente só po8síveis
maciça de grandes conjuntos.
dinheiro
Por que foi que meu tio José Maria, ainda rapazote, com o Rio,
que lhe deixou o pai, senhor de Para o
engenho em Palmares, partiu que ou-
onde depressa gastaria toda a herança? Foi para conhecer cinema, de itambém
via falar, mas não havia nenhum em Palmares nem em Agua Preta;foiimposí-
para conhecer Rui Barbosa, de era
quem ouvia falar, mas sabia queRuis Barbo-
vel poder vé-lo discursando no
Largo da Matriz de Palmares. Ostornariamem
Bas eram então para muitos ruralitas
brasileiro8 o que O8 Pelés 8e
nossOs dias: herois que deviam ser vistos de perto.
105
As sedes transmunicipais de
logés Marias conhecerem cinemas emunicípios reunidos permitem a outros
teatros e desfrutar delicias ou atrações
urbanas como restaurantes e boites, quase iguais as do Rio e
nas próprias supersedes dos seus municipios Ruis virem e ouvirem
Barbosas e Pelés, boas or
questras e até violinistas farnos0s. Em escala mais larga é o que, do ponto de
vista da ampliação de oportunidades para maiores contatos de caráter cultu
ral, artístico, recreativo, a
rurbanização permitirá, se dela se fizer uma siste
mática política de integração, a
numerosos brasileiros hoje segregados nos
borralhos de suas aldeias. A televisão
ção. Mas, parte somente. 0 brasileiro resolve parte do problema dessa
do interior é quase sempre um segrega
me que quer tocar com os dedos no8 São To
valores urbanos.
E assim
possivel, até certo ponto, levarem-se ao rralita valores ur
Danos do8 quais se supõe só ser possível o seu gozo em meios so fisticadamen
te metropolitanos ou
altamente
do problema de possível urbanizados. é um aspecto psicossocial
Este
e de
solução desde que se faça a transferencia de valores
atrativos considerados intransferivelmente urbanos para
meios predominantemente rurais. ambientes ou

Isso
nos leva a considerar a presenca da tecnologia na vivência
na, noS
Seus aSpectosS não apenas huma
de parte, através das positivos, porém negativos, estes, em gran-
e
maciças
décadas. Sobre o assunto são urbanizações que se vêm verificando nas últimas
quase trágicas as perspectivas que nos abrem
ecologos idôneos. 0 próprio futuro da tecnologia, como possivel corretivo
dos males já trazidos
presente, para o homem urbanizado pela mesma teenologia até o
não pode depender,
ilimitadoS
para
e de uma capacidade virtualmente
como também
vinha dependendo,ilimitada da
de recursos biosfera
naturais
assimilá-los.
se sente impotente. Ea
tecnologia que, diante da própria filoso Ba tecnológica,
Como queCompreende-se, assim, que uma nova tecnologia esteja surgindo para
reorientar a convencional e até agora quase onipotente. Essa nova
sitedcnoladeogiade seriHarvard,
a aque Harney Brooks, professor de Fisica Aplicada da L'niver-
apresenta em trabalho recente - 1973 - sobre The
Technol
ele que oagy of Zero Growth a tecnologia do crescimen to zero. Diz
sOcial., uma
que tecnologia apenas material precisa ser superada por outra que seja
daria tecnologia social controladora da tecnologia apenas material, o
ciais, aos uma importância enorme aos cientistas sociais, aos pensadores s0-
cadores, aosecóleconomi
ogos,aos antropólogos, aos sociologos, aos pacalogos, aos edu-
stas, quando n¥o apenas economistas.
106
Daí o professor Harney Brooks deinir tecnologia como man eira es
pecifica de conhecimento aplicável ou já aplicado, incluidos nesse conhecj.
mento processos administrativos - e poderia ter acrescentado politicos
de conduzirem-se funções especificas de organização de ocupação de espa
ços, influenciando-se, através desses processos, o comportamento humano,
além do seu relacionamento com o ambiente, incluindo 6e neste, é claro,
anatureza da qual estamos, em alguns casos, perigosamente nos afastando.

A essa possibilidade, favorável àsolução rurbana para o desenvolvi


mento brasileiro, corresponde, e cada vez mais, no Brasil como noutros pai
ses em desenvolvimento ou já desenvolvidos, a relutância em sacrificarem-se
a esse desenvolvimento, em termos econômicos e tecnológicos mais quantita
tivos que qualitativos, aspectos principalmente qualitativos de aperfeiçoamen
to de formas nacionais de vivÇncia e de convivência. A mística de que as gran
des cidades não devem parar Contrapõe-se hoje a oposta: a mistica de que
tais crescimentos estão se fazendo acompanhar de tal modo de desequilibrios
ecológicos, através dos efeitos de crescentes poluições, de crescentes desaus
tes entre o suprimento de alimentos e aumento de populações urbanas, de
crescente devastação, por empreendimentos urbanos descontrolados, de re
Cursos naturais, que é preciso realmente parar o crescimento desordenado.
Sabe-se que, no úultimo quartel de século, o ar das cidades maiores tornou-8e
a conta-
em alguns casos quase hostil àsaúde de suas populações, enquanto
minação por essa espécie de poluição da vida animal em águas urbanas come
peri-
ça a ser problema alarmante, até para cidades que se resguardam de tais
gos, como Londres. E a advertência dramática do economista E. J. Mishan,
autor de The Costs of Economic Growth (1967) e, recentemente, de
Wages of Growth , no valioSO número da revista de Boston, Deadalus, dedl
defensiva
cada ao que os seus editores Consideraram como já sendo a mistica
do não crescer: no growth. E que hoje não se admite adesão indiscriminaaa a
planos de crescimento. No Brasil, há anos, juntamente com outros, vo
advertindo que estávamos nos iludindo ao considerar progressO8 urban0
que eramn inchações urbanas:a patologa urbana disfarçadaem progressismo.

Engenharia social ou necessarias social sentido da de.finição


de Brooks são presençAs tecnologia esta no
a uma quanto possivel sistemática re
orientação do desenvolvimento brasileiro que livre o Brasil tanto doseviden-
Ja e
dentes excessos patológicos da urbanização maciça como dos também
tes arcaísmos de um ruralisrno romanticóide: impraticável por estático. Aso-
lução rurbana realiza uma dinamização da ocupação pelo homem brasileiro
desafio
de espaços biossociais que, contendo os dois extremos, responde ao
dos éxodos de áreas rurais para cidades, tâo grande na China de hoje, conside-
107

rável na União Soviética, considerável também na própria América do Sul


tro
pical. Inclusive no Brasil. E o que mostra documentado estudo que aparece
no último número da revista especializada em assuntos
de Londres, sob o título inguieto "Can the cities cope?"populacionais, People,
Esse estudo termina
por mostrar a necessidade ou a urgéncia de maior
euuilíbrio entre as ocupa
Ções dos dois espaços, o urbano e o rural. Exatamente o
problema que a rur
banização procura resolver.

Semelhante equilíbrio só pode oferecêlo a solução rurbana com vari


antes que atendam a diferentes situações nacionais, diferentes ecologias regio
nais que reclamem condicionamentos especiais. Não se trata de solução mági
Ca e sim complexa, exigindo que os governos, os homens públicos, o8
congres
S08 nacionais formulem políticas de ocupação de espaços. Assim tambem os
grandes empresários, a meu ver tão importantes na fase de desenvolvimento
em que Se encontra o Brasil, devem, assessorados, dedicar maior atenção ao
que seja tecnologia social ou engenharia social.

Uma politica rurbana brasileira - talvez váias e não uma só - só terá


ose assim orientada: com os órgãos políticos ou administrativos que a
executem, orientados por cientistas sociais desdobrados em engenheiroS ou
técnicos sociais. Éalguma cosa que nos está faltando de modo por vezes agu-
do, dado ofato de que o Brasil oficial, tendo descoberto ovalor dos econo-
mistas e passado, em alguns casos, até asupervalorizá-lo8, continua aver nos
cientistas 80ciais, nos engenheiros sociais, figuras quase inúteis. No entanto,
Com asua ciência e o seu humanismo, podem ser úteis como orientadores de
homens públicos ede grandes empresários. Desprezou-se esta orientação
repito
zando construção de
o mesmo
Brasília, com resultados infeizes. Vem-se despre
assessoramento na obraimensa que é a autocolonização da
Amazõnia:
na aplicada empreendimento a experimentos
tão favorávelanfíbio.
aum trópico brasileiramente
de política rurba-
Portanto, um trópico raro.
Em recente encontro no Estado de Lsrael, para considerar problemas
de atraido maiores
ocupação
atenções de espaços-desertos, a solução que parece ter amazònico seria
um deles, foi aque propôs a criação, nos representar nessa reunião
espaços-desertos - o
para
embora o Brasil não se tivesse feito
nos tão importante - de cidades industriais de tipo medio ou pequeno para
suas atatividades urbano-industriais. Não se precisaria, para tais fins rurbanos,
um vasto espaço Þara uma agricultura talvez impossível de dar bons resul-
tados em solos Oamazônico, de pequena espessura
de valor agrário.
como
108

Desenvolvase a tese para a especifca situação amazônica que se apre


senta com pouca vocação agrária de seus solos, resolvendo-se sua ocupacio
por intermédio de pequenas ou médias cidades, que se valeriam - foi a reco
mendação dessa importante reunião, no Estado de lsrael - da energia solar,
capaz de alimentar cidades pequenas e médias, sem se precisar recorrer à
devastação como caos total de florestas do porte das amazônicas.

Seguiram-se debates em torno do assunto. O conferencista da reuniáo


de Brasília resumiria suas sugestões - de 1955 a favor de uma politica rur
bana, no Brasil, de extensão nacional.
NOV AS REFLEXÕES EM TORNO DE UMA REORIENTAÇÃO PARA O
DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: ARURBANA

Quando se humanos, a consi


procura associar a problemas de futuros
deração de aspectosexplosão
safio da chamada nacionais ou regionais, é inevitável o encontro
como de
demográfica, por sua vez, ligado ao das explosões
urbanas. Várias dessas explosões urbanas, inchações, sob aaparencla, para o
olhar de ingênuos ou simplistas, de
progressos.
so-
Brasil em desenvolvimento
Precisan1ente
bre um dos cinco maiores o
aqui é que surge, para mundo de hoje, a solução rur
espaços nacionais do
bana, para esse desenvolvimento, Como a mais capaz de, emn tempo habil, de
ter desequilíbrios, quer nacional,
geral, de relações do homem
coni seus espaços, quer ecológicus, em
demográticos, em particular, de localização de grupos
humanoS
urbanas,
e
atividades criativas, em
perturbano expansão. E que,
desejado desenvolvinento,
sil, criando aquelas inchações
concentrando-seem areas
nacionais do Bra
em ternos
urbanas e deixando de favorecer relacionamen-
tos de
grupos e atividades essenciais com espaços
rurais.
110

Aênfase numa possível, e não utópica, rurbanização do desenvolvi.


mento brasileiro em termos verdadeiramente nacionais de grande parte
desse desenvolvimento senm importar em panacéia simpista, corresponde
evidentemente a possibilidades de planejamento do tipo, é claro, flexível.
Mesmo porque não está o Brasil, nem atual nem efetiva nem potencialmen
te, sob regime de ordenação dos seus relacionamentos de homens com espa
como os da Uni¥o So
ços, que possa, por meios violentamente totalitários
viética determinar não só que profissões devem seguir, como que espaços
de território nacional devem ocupar, brasileiros de hoje ou gerações a desabro
charem. A rurbanização precisa de, por si própria, oferecer-se a esses brasilei
ros de hoje e a essas gerações novas, como solucão com atrativos humanos:
psicoculturais e nâo apenas econômicos. Atrativos que despertem, nesses bra
aventura no melhor
Sleiros e nessas gerações, o que, nelas, exista de senso de
sentido desta palavra: aventura. Aventura como experimento a que na Tal
tem condições de êxito no seu modo de ser, em parte, negação daquele outO
extremo: ode uma segurança tal, de futuro pessoal dentro de esquema toe
litariamente social ou de previdência despoticamente estatal, que tenda a ex*
tinguir, em individuos ou em grupos humanos, desejos de experién cias ou vi
vencias ou rumos de novas espécies. O excesso de segurança futura, burocral
Camente garantida, que parece estar diminuindo até em excelentes europeuo
escandinavos, suas antigas capacidades para arrojos criativos ou inovador
alarmantes
vezes
Ou para ressurgências igualmente criativas. Aspectos por
das próprias soluções socialistas, ditas democráticas, quando estatans co
Sueca.

e atual-
0 problema de controle de aumentos de população apresenta-seMesmo
mente, em várias partes do mundo, sob aspectos OS mais dramáticos. de cres
quando já obtidas, em certos paises, reduções consideréveis no ritmo pa-
cimento de suas populações, essas reduções, supostamente terapêuticas,
nada, para
recem colocar tais paises em situações parciais de inferioridade,
Populações de
eles, insignifcantes. As próprias disparidades de ren da, nessas atra-
aumentos já controlados, em vez de resolvidas, vêm sendo continuadas,
vés da inmportação de braços para suas atividades
produtivas.
do assun
Eo que vem salientando, em excelente estudo, ainda atual, Century
to, o pesquisador Kenneth Bowldir em The Meaning ofthe Twenth importa
The Great Transition braços Federal
(Londres 1965):ique, precisando dessesRepública
dos de paises ou de areas
pobres, paises ricos - o caso da
Alemã - vem perpetuandoe até aumentando "disparities of incoe
111

O Brasil dispõe de vasto espaço físico para, controlando se us aumen


tos de população, procurar redistribuir, no seu próprio território, tal popula
C¥O estendendo concentrações em áreas urbanas e levando facilidades trang
feríveis de vivência e convivência urbanas a espaços rurais, onde se desenvol
vam formas mistas de vivência e convivência, quer satisfatórias para
indivi
duos socializados em pessoas, quer vantajosas para o conjunto nacional em de
senvolvimento.

Contrariando opiniões dominantes, Boulding sugere que as ideologjas


tendem a adaptar-se, cada uma a seu jeito, à ação de termpos histórico8, sobre
essas áreas, por aí podendo ser
compreendidos um exemplo da sugestão de
Boulding - comportamentOs eleitorais rurais em contraste com
mentos eleitorais urbanos num mesmo pais, podendo -se talvez admitir comporta
dencias a ten
comportamentos potencialmente rurbanos nesse setor. E possivel
que o proprio exame de comportamentos eleitorais
antigas e de dias modernos ou recentes, venha a fornecer a
brasileiros, de epocas
cOntrastes entre as mesmas áreas, dados esclarecedores dopesquisadores dos
que urban1dade
e rüralidade vêm representando de desequilíbrios na
tural, em geral, e ecologia psicoSsociocul
política, em particular, de um Brasil durante longos ano8
predominantemente
te agrário-rurl e, em época recente, quase sensacionalmen-
alterado, nessa ecologia, a favor da predominância industrial-urbana. Po-
dese, apropósito, sugerir poder uma influente presença rurbana vir aconsti
tuir, em dias
proximos, considerável força nova em decisões nacionalmente
brasileiras, por expressões eleitorais. Um equilíbrio entre possiveis excesos de
conser
dicalismovador-ismo ou de
inclusive caboclismo
através rural e excesos
de influências de progressismo
importadas. ou de ra-
E, sobretudo, um
Corretivo a desorientações da espécie há pouco denunciada pelo Professor
Poty guar Matos,
de num dos seus sempre bem orientados editoriais no Diario
e
Pernambuco:
escrito
pela
à base do
de
o 31 de agosto de 1981, intitulado Distorções Perigosas
estudo \Movimentos migratórios 1980-1981 ", divulgado
Fundação de Informações para o Desenvolvimento de Pernambuco.
te em Segundo esse idôneo comentário, oque está ocorrendo alarman temen-
área rural importante do - a canavieira do Nordeste - é"'um des-
lpriocament
mitivoo doespacinomadi
al dosmo,homem,
Brasil
como encontrado,
sem haver que em permanent
ainda,eciregressão
vilizaçõesaoecond-
ciclo
Inicas, sociais e politicas para sedentarizar-se.
doras eEsse honen1 rural estaria sendo 'polarizado por duas forças desagrega-
poderOsas: uma que oexpulsa da região rural, 'na eterna e vergonho-
112
outra. 'ue a
sa fuga para outras Regiões, buscando uma Canaã inexistente"; trágica.
transamazónica
joga dentro das nossas proprias fronteiras, numa
E entre projetos, a ""modernização da agroindustria
canavieira e o crescimen:
figura típica e saudavelmente
to do setor pecuário", estaria desaparecendo atrabalhador deslocado para ou
rural, do chamado morador, transformado em
devorando a pe.
tros centros urbanos, já desruralizado, com a "perenização
lavoura de subsistência", "oro
quena propriedade" tornando antipática a sedução das grandes cida
letarizando o camponês e expulsando-o para a
des..."

apresenta evitavel
Proletarização que, contra previsões marxistas se
figuras rurais como a alias tra
através de providências que ten dam a valorizar
valores e incentivos transter
dicional do "morador pondo, a seu alcance,
reforçassem o status de gente po
velmente urbanos ou urbanizantes que lhe valiosamente sociais da rurba
tencialmente média: um dos prováveis efeitos proletariza-
profilaxia contra aquela
nização. U'ma, de modo algum utópica, paradoxalmen-
ção do homem brasileiro com que se defronta o Brasil de hoje, que nos urba-
te, mais em amploS espaços rurais, favoráveis a essa profilaxia, ex-proletários
ascensões de
nos, em alguns dos quais vem ocorrendo saudáveis falarse
eclasses médias. Classes médias, no plural, certo como e, precarto
numa classe média unida, monolítica e exclusiva.
Nordeste, vêmsendo
do
Aspectos do assunto quanto à área canavieira Pesquisas Sociais da hoje
considerados, de modo objetivo pelo Instituto de por
pesquisa modelar,
estudos
Fundação Joaquim Nabuco, bastando que se recorde cidades e
para Fernan
equipe interdisciplinar, sobre o êxodo de áreas rurais Gonçalves norde&-
magistrais do geógrafo Mário Lacerda, do psicólogo 8ocial
des e do economista Clóvis Cavalcanti sobre a mobilidade do homem
psicológico-s0cial,o
tino considerada sob esses vários critérios: o geogrático, o Caldas Linse
RachelPernambucano
económico. E ainda os dos geógrafos Gilberto Osório e
0s do antropólogo Roberto Motta e do historiador Frederico
de lello, este em torno do cangaço
nordestino.
Boulding deque
geograti.
Não se desdenhe da
observação do referido e arguto ser
"the danger of that ideological ele admite poder nummesmo
conflit
camente condicionado por conseguinte,
que Warunderthese
inclusive o choque,
pais, de população rural e a urbana - intranacional ein
degenerate into
circunstances". Guerra, no caso, sob aa"'mforma
ay
de conflito passadosocial
bra-
trarregional. Alias, em ternos dramáticosSe até trágicos, ao culturasrurajse
sileiro não têm faltado Ou
choques entre opções de gentes
113

gentes ou culturas urbanas, como foran o Quebra-quilos, no Nordeste do sé.


culo XIX, e as cabanadas e tapuiadas, no século XVI, a própria
de escravos fugidos reação talvez, insurreição
fim do mesmo século, XIX, o conflito principalmente ao jugo holands; e no
inter-regional e intranacional mais que
dramático, trágico, representado por Canudos: objeto do grande livro de Eu
clydes da Cunha e motivo para sua glorificação do sertanejo como "antes de
tudo um forte"junto com seu desapreço injusto pelo
brasileiro do litoral.
Quando Boulding adnite dos contraditórios, sob vários aspectos, esta
dunidense e russo-sovietico se apresentarem, no "caráter geral" de cada um,
semelhantes, essa semelhança talvez possa ser relacionada com o crescente au
mento, em décadas decisivas, em cada uma das duas importantes
nacionais modernas, de industrialização e da urbanização de suas sociedades
rorem quanto ao "impacto ideológico" sobre individuos populações.
SOVetejado, russosSoviéthcosS
estes se assemelhariam, sob a ação de impactos. no 08
mais
mas mesmos,
equivalentes, aos espanhóis, éclaro que considerando-se nesses impactos,
ouas puras formas sociológicas. Lsto é, admitindo-se do russo mais que
ideolo
gicamente
dois
soviético, que se assemelhe ao Católico espanhol, nos modos dos
serem, ou tenderem a ser,
camente, decisivas: um, a sua feextremados, nas suas opções, mitica ou misti-
religiosa,outro, asua fé politica. Extremos
que
fe encontrando-se,
sovietica,
quando expressões de fé Católica, em espanhóis ou de
em europeus, eslavos dos muito russossovieticamente condiciona-
dos nas suas formações
ralitas, tornados urbanitas,decisivas, podem, entretanto, vir a caracterizar a exru-
anti-ruralitas, como parecemn ser vários dos atuais
rteulussossoviéticos cm
ricamente russO8. contraste com russos, ainda hoje, teluricamente rurais e

8e e a Cabe, talvez, a interrogação: ao termo Marxista de deinição de clas-


tar expressão de Marx de uma inevitável luta entre classes, que viria a resul-
numa ideal do erítico ob-
jetivo de Marx sociedade
e do marxisrmo que énãooautor
sem classes, de Theasugestão
cabe opor Meaning of the 20 th
Century de que OS grandes conflitos entre grupos humanos vem tendendo a
8er, sob
circunstâncias
ocupational or regional não previstas por Marx no século XIX,
"betw een
groups rather thenbetween classes' E que "the
Working class is fragmented
com atendência para maiores intointegrações:
inumerable Sociais,
regionalouandsociedades
ocupationaltotais.groups",
Ten-
dênciaems, conseqüência
Tro, por um lado, através de contribuições de dialogus politicos, por ou-
Socioeconòmico no sentido
de de um continuo process0 so
crescente previ-
posse de propriedades, desnnoralizadora da pobres
alargamento darxista
Convencionalmente mar do8 ricos tornarem-se nais ricos e os
114

mais pobres. Dentre esses "grupos regionais" pode vir a nâo avultar orural
dentro do rurbano? Não será uma crescente rurbanização a resposta mais efe.
tiva a essa luta entre regiões ou espaços que psicossocioculturalmente repre
sentariam atitudes antagônicas com relação à própria natureza. cujo resguardo
de caráter ecológico se impõe como uma das urgèncias do no88o tempo e do
futuro humano e essa urgência favorável, talvez, ao revigoramento da rurali
dade?

Essa resposta seria das que parecem incluir-se entre os fatores que
Boulding considera capazes de atuarem em vez de acordo com a previsão
paneconomicamente marxista - aparentemente válida, diante de circunstán
cias caracteristicas do século XIX com as que vêm se tornando "particulary
inaplicable" no século atual ou em termos de futuros previsiveis. Pois the
industrial worker, who was seen by Marx, as the man of the future. . . gets
too rich to function as the Marxian proletariat", enguanto acrescente-se
a Boulding através de uma crescente rurbanização, é possivel, e até prova
vel, que o rurbano, trabalhador rural deixe de pretender seguir o trabalhador
urbano para firmar-se nessa condição. E espaços rurais, rurbanizando-se, e
possivel virem a tornar-se, neste particular, espaços favoráveis a ascenso es
dos proletários a classes médias. Ascensões que madrugaram, paradoxalmente.
alias, nos próprios dias brasileiros de casas-grandes e senzalas, dominantes na
paisagem rural do Brasil, através de uma miscigenação biológica de etnias e
desmoraliza
de uma interpenetração de culturas - as senhoriais e as servis - - da
dora de absolutos de lutas entre classes". Eram lutas entre ocupações
classificação de Boulding atenuadas por processOS envolventes da pura re
lação senhor-escravo. E criadoras de outras incorporações de elementos
manos criativos a uma sociedade nacional capaz não só de recebé-los, a bast
de seus méritos, como de absorvé-las vantajosamente, para essa sociedade e
para os absorvidos. Absorv-los, prestigiando-os: dando-lhes, em vários caso5,
posições de lideranças profissionais, ocupacionais, técnicas, poliíticas, intelec*
tuais, artísticas. Que foi como, de modo considerável, formou-se no Bras
uma s0ciedade media ou intermediária, entre extremos, e diferente de outrar
sociedades no seu modo de conciliar, equilibrar e utilizar contrários.

As reações registradas, àmargem da rivalidade entre extrenos de rura


idade e extremos de urbanidade, ou entre um imaginário - no sentido soCl0
rivali-
lógico da expressão rurale um imaginário urbano, mostran que essa
dade vem suscitando pronunciamentos e estudos de interesse cientifico-s0cl
em torno de tais opostos. OpOstos susceptiveis de ser considerados expressoes
situacional.
de valores caracteristicos tanto de um, como de outro extremo
115

Justamente em torno da existência de tais valores é que toca ao8 analistas da


situação conflitante - ruralidade, urhbanidade - considerarem possibilidades
de uma reinterpretação de tal situação, que admitam asistematização de uma
terceira situação e essa, harmonizadora dos extremos que representam. Har
monizadora desses contrários, à base de admitiremse, em termos moderno8,
transferência de valores aliás, já verificados quando o Brasil sociedade pre
dominantemente patriarcal - de um oposto para outro que venham a consti
tuirse em espaço nem exlcusivamente urbano.nem exclusivam ente rural. Rur
bano. Uma rurbanidade há anos imaginada e recomendada por
sociologos
teoricos que, nos últimos anos, vem encontrando adeptos e executores de sua
aplicação, em homens públicos de ånimo realizadore de capacidade executi
Va

L interessante, a esse propósito, atentar-se em significativa ocorrëncia,


a decada 30, em conexão com opções principalmente urbanas ou principal
4ruraas, -mais que intermediárias ou mistas -, da parte de franceses
da epoca. A Exposição de Paris de 1937 foi essa ocorrência. E o que
na verdade, o mostra,
estudo Les Imaginaires dans l'Exposition de 1937", por
Gérard Namei, no vol. LXX, 1981 dos excelentes Cahiers Internationaur de
Sociologie (Presses Univ ersitaries de France, Paris). Estudo àbase de docu-
mentos da época.
ALXposição realizou-se sob a influencia, nos últimos anos de sua orga
nização,
e que,
da chamada Frente Popular. de orientação crescentemente socialista
assin de todo se tornava detentora do governo francês. Mas
o inicio orientada,
dessa organização
de dessa antes da predominância ou da plenitu
verificou-se
regionalisinfluência. Ea tendencia dessa fase foi para dar relevo a um critério
ta considerado. depois, sob orientação socialista, pejorativamente
"provincial et consevateur", Critério que deveria ser substitu1do por um ima-
gnario intitulado
"Parisien et progressist
Pretendeu-se
lura caracterizada porentâo que esse imaginário fosse servido por uma arquite-
como rationaliste" e elaborada por
Franzt Jourdain et Le apologistas
Seus
Mas sob um
Greber ContemporizadorCorbusier:
de extremos,
pepela Architecture chamadahui.arquitetura
oextremo daAujourd ra-
Clonalista não Vingou: "Le Corbuseisno" teria que aguardar oportunidade
brasipleno
seu leira para alcançar, através de seus adeptos Lúcio Costa eOscar Niemeyer
esplendor urbanistico racional e progressista"
Sob o criterio desdenhado pelos Socialistas "'progressisl as, como
provincial econservador, oque considerável núuero de franceses preten-
116

deu, antes de vencidos por certo "Socialismo Progressista" foi acolher, na


Exposição de Paris, valores que talvez pudessem vir a ser considerados ur-.
banos, tal o relevo que foi dado ao artesanato e as regioes. Até que o triunfo
politico do Partido Socialista Francs permitiu que Leon Blun enfaticamente
proclamasse: 1Exposition sera l'exposition du Front Populaire".
Um golpe na sistemática que vinha sendo imaginada. para a Exposiçâo
de 37, por franceses incinados a que aí surgisse uma França não apenas pari
siense porém provinciana ou regional. Modermizada na sua provincianidade e
na sua regionalidade. Modernizada sem que essas suas raizes deixassem de ser
valorizadas.
Dai a proclamação, por esses franceses, de um paradoxal "modernisme
provincial". Esse "modernismo provincial "' deveria caracterizar aquela criativi
dade francesa de que a Exposição de 37 seriaa demonstração eloqüente ede
repercussão mundial. Destacava a proclamação em termos para-sociológicosS:
"l nest pas douteux qu'avec le progres de la route. du rail, de l'avion, avec la
publicité continuelle des flms et de la radio, avec le développement tourist
que. les vieilles provinces de France ce sont modernisées. C'est précisement
Ce modernisme provincial que le commissariat général a entendu présenter,
faire compendre. faire apprecier en montrant tout ce quil yad'actuel, de
VIvant, d'exact dans les manifestations de la vie de chacune des 27 regious
entre lesquelles avait été répartie la carte de France".
Os pavilhões da Exposição era o que deveriam acentuar : conciliações
entre artes industriais e belas artes a técnica, a indústria, mas ao lado de suas

expressões de arrojoÉ modernos, jardins. música, folclore, culinária, evidente-


sem
mente tradicionais e regionais. Uma se antecipava,
orientação com a que
se ter inspirado em qualquer modelo estrangeiro, do Movimento Regionalista,
Tradicionalista e. a seu modo, Modernista, partido do Recife, na década 20.
conciliadora
Dai Demond L'Abbé orientação
de extremismos, ter acentuadocomo intérprete
do seu plano dessa
para a Exposição de 37, num
Rapport general, Paris passé, dans
rechercher dans le
les traditions, tous les 19381940: "Il a fallu à ce mode
de

présentation àla fois deéléments qui étaient de nature aà donner régiona-


la et de l'éclat, rechercher de quele lindivi
lisme pouvait puisser dans sincérité
l'inspiration du passe pour maintenir.
dualité de chacune de nos
provinces.
E, na Paris-Regiao, Jeant
mesma epoca, outro adepto da conciliaçâo paradoxalmen-
Charles Brun, destacava Exposição
da de 37 de concepção tão
117

tt Regionalista, Tradicionalista e Modernista: "Dans un article intitulé:"Sous


e sgne du Régionalis1ne, lIExposition de 1937", Jean Charles Brun écrit:
"Montrer que le régionalisme n'est pas le passéisme, qu il emprunte au passé
ce qui est vivant; sil lui demande des régles et des exemples, il interprète la
tradition, il choisit entre la tradition bienfaisante et les routines.

Ao que se acrescente este comentário de Gerard Namei num seu


recente estudo no Cahiers Internacionaux de Sociologie: L'idée première
de L'Abbé de reconstitution" se modifie donc en un compromis esthetique
proscrivant le pastiche, el cherchant à la fois à utiliser la modernité par des
procédés nouveaux et la tradition de la culture locale (gui va de l'artisanat
ala poésie en passant par la cuisine): le regionalisme ne devait pas viser au
mantien intégral des formes anciennes et prétendre condamner le arts locaux
alimmobilité;, s'agissait-il de l'architecture, il y avait lieu de tenir compte des
progres techniques qui ont été obtenus tout en empruntant aux architectures
dautrefois le lignes fondamentales, celles qu avaient été jugees par l experl
ence comme les mieux
adaptés aux exigences du climat et àla couleur du
teolr. . Pas de copie et de pastiche du passé, mais une réssurrection de son
aprit sous les formes appropriées aux temps actuel. Les comités departe
aux determinent ce que pouvaient apporter Iinspiration et les techiques
modernes pour donner une âme aux formes nouvelles. . . Ne pas confiner le
regionalisme dans le culte du passé et mettre en relief ce que les architectes,
les artistes et leurs
artisans pouvaient produire de bien en alliant les apports
combinés de l'expérience et des arts locaux. . L'àme d'une région ne se
traduit
mer.
pas seulement dans l'objet oevré; elle adix autres manieres de s'expri-

ObjetivoS
- no Recife - pelosacentue-se coincidiam come,osa defendidos
queTradicionalistas
Regionalistas,
no Brasil
seu modo, Modernis-
tas, Tanto francesa e a do Re
Ce, a ela uma orientação como a outra a Regionalista
prestanm-6e a ser acusadas de romanti
pioneiramente anterior
coidemente
Zações de
arc aizantes e anti-industriais e anti-urbanas, atraves de suas valori
valores
te a vivências regionais e tradicionais, por muitos associados principalmen
válidas essas acusações? Serão
arcaicamente
tS formas rurais de vivência, rurais, Mas serãoanti-progressistas
necessariamente ou anti-mo der-
las, por constituirem Opostos a formas urbanas e urbano-industriais? Ou ha-
Vera em
dernas de atitudes suppostanmente antecipações de formas pós-mo-
arcaizantes,
urbanos transferí
vels aareasequilibrio ou de Contemporização
rurais e desejos, entre valores
da parte ate de jovens dos nossos dias, de desfru-
larem de um convívio com aguas, arvores, plantas, animais rurais, imposSI-
118

vel dentro dos muros estritamente urbanos Não será possivel pós-modern8.
mente conciliar-se experiência telúrica com ogozo de modernas conveniências
urbanas? Essas concliações não poderão ser realizadas tanto através de indi.
viduos socializados em pessoas como de pessoas constituidas em populações,
sociedades, aglomerados rurbanos?

Em 1937 o que houve em Paris sabe-se pelo Relatório L'Abbé foi


verdadeira disputa de caráter ideológico, em torno do que deveria ser a Expo
sição Parisiense daquele ano. Eque repudiou essa conciliação de opostos tidos
por alguns "progressistas"e "modernistas" como inconciliáveis. AExposição
terminou por tornar-se estreita, soturna e intolerantemente urbano-industrial,
sem concessôes ao que fosse regional ou rural ou artesanal. Intolerância abso
luta. Entusiasmo doutrinário ou ideológico aplicado ao que poderia ter sido
ciência social aplicada sem deixar de ser expressão imaginária no superior sen
tido de expressão imaginária. Na exclusividade do que expôs como tipo 1deal
de uma moderna - para a década trinta deste século - al¿m de modernas,
ideal. - civilização nacional e internacionalmente francesa.

Obrasileiro não é gente chegada, em sua maioria, a qualquer esp


de sectarismo fechado eintolerante. Avocação do brasileiro é, ou vem sendo,
esta para a conciliaço não só de diferenças como, até, de contrários. Se Bra
sília representa, na sua concepção arquitetónica e na execução de uma opção
esculturalmente arquitetural, esteticismo fechado no seu modo de ter P
rado ser apenas modernista, sua corrigindo a inicial
projeção no tempo Vem
exciusvndade no espaço:e representando correcão de elitismo arbitrário por
brasileirismo envolvente.
Dai poder-se Supor de todo possivel, desenvolver-se, no Brasil, uma
concihação de vivências rurais com conveniências urbanas. Conciliação que se
venha adefinir numa civilizaçâo nacionalmente rurbana nas suas predominán-
cias. Uma vasta civilização des5a espécie a desdobrar-se vantajosamente por
espaço de dimensões continentais, como é o brasileiro. Pois, voltando-se a
Brasilia, a retifcação que se vem verificando dos seus primeiros excessos,
estreitar violentamente portanto, da ecolo-
urbanizadores da
selva tropical
gia, ao mesmo tempo que contráriO5 a constáncias e,
psicossocioculturais repre-
sentadas por experiéncias imposiçõesarbi-
trárias com relação a espaçobrasileiras
e atempo válidas, para,
s0ciais ja Sobre eSsas
nacionais, afirmar-se, supra-
nacionalmente e triunfoesté.
anti-ecologicamente,
tico de genialidade em arquitetura de todoum Sem dúvida magnífico
urbanocéntrica. Sobre ela,porém,
119

outra espécie de triunfo ainda mais significativo, nem nos últimos anos obser
vando-o de uma vontade coletivamente brasileira sobre desvio quer de suas
constantes psicossócioculturais, já confirmadas por positivos, contra negati
vO3, de experiência prénacional desdobrada em nacional, quer ecologicamente
tropicais e espacialmente horizontais, em vez de tendentes a só verticais. A ser
exata a ültima sugestão - quanto ao espaço rasileiro 8olicitar perspectivas ru
ralmente horizontais de opções e de construções, que se juntem às vertical
mente urbanizantes, só aí estaria forte justificativa de encaminhar-se a civiliza
ção nacional do Brasil em desenvolvimento, para rumos rurbanos, corrigindo
se soluções de todo urbanas. Ou arbitrariamente só urbanas. Ou urbanoma
níacas.

Cabe aqui atentar-se em recente pronunciamento do economista Celso


Furtado, ex-Ministro de Planejamento e organizador, no governo Juscelino
Kubitschek, da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, no qual
ha referência oportuna ao, para a sua superior inteligencia. "questão funda
mental" para o Brasil de hoje: a da organização do espaço, isto e, do espaço
acional. Nas suas palavras, na abertura a 28 de agosto último do Simpósio
Aternativas para a crise econômica ", realizado na Câmara dos Deputados
em Brasilia, é necessário, no Brasil atual, "o não isolamento do sistema
Clergetico", do contexto econômico e social, uma vez que "a necessidade que
poe de reduzir os custos em dividas do sist ema energético obriga a repen
estao fundamental da organização do espaço:a localização das ativida
des industriais e do tipo de
urbanizaçâo".
Convocado o único brasileiro, aliás, - para a segunda grande reuni
oomovida pela Corning Glass - a grande indústria de cristais artísticos,
localizada nos arredores de Nova York - participei de simpósio de caráter
pluralista, em que aempresários, líderes industriais, executivos dentre os mais
preocupados comajuntar-se,
ram convidados responsabilidades de empresas deprivadas
para a consideração
neo-capitalistas , fo-
problemas psicossóciocul-
turais ligados a desenvolvimentos modernos, intelectuais como osábio inglês
Julian lluxley. oromancista estadunidense John Dos Passos, oensaista es-
panhol Salvador de Madariaga,,o sociólogo francês Raymond Aron. Logo no-
tei que essa segunda reunião se realizaria sob oimpacto da primeira, com al-
guns dos assuntos desvirginados na primeira impondo-se a aprofundamen-
tos na segunda.

Da primeira e memorável reunião de Corning Glass da qual o livro


Creating an Indus trial Civilization, organizado por Eugene Stanley, (N. Y.
1952)% constaram pioneiros estudos sociológicos sobre temas parentes dos
120

rurbanos, que repercutiram na segunda reunião. Entre eles, o de William


F. Rhvte, Professor de Relações Industriais da Universidade de Cornell, 80bre
"The Rorld of Work" no qual o autor considera sob perspectivas noas, entre
outros problemas, o de participação do trabalhador na atividade industrial
total. E critica a tendência de esperar-se no trabalhador que se ajuste, sem
mais aquela. aqualquer mudança de nmáquina realizada do ponto de vista da
eficiéncia de produção, sem que, antes, se torne o trabalhador um participan
te psicológico dessa mudança tecnológica. O problema do trabalhador como
pessoa. Como indivíduo biológico.Ograu de sua adaptação de homem de
origem ruralita a atividade e vivência de todo urbanóides.

Outro notável estudo sociológico tocando no assunto: o de Francis


Chase Rosecrance, Deão da Facul dade de Educacão da Universidade de Nova
Tork, sobre problemas de civilizações urbano-industriais. Estudo em que o
autor também aborda incisivamente este aspectoda participação do trabalna
dor na atividade industrial: o da origem, em vários casos, rural, desse trabaln
dor e o efeito, sobre ele, ruralita jovem. de estilos de vida em comunidades a
nâo-ru-
que se liga: comunidades dominadas por tabricas situadas em espaços
rais. Em geral. pequenas cidades, mas, também, bairros de cidades grandes.
Faltam a esse ruralita tornado não ruralita, pela sua condiçâo de operário
industrial. circunstáncias favoráveis à afirmação do seu eu formaao
meio rural. De onde a grande conveniëncia de indústrias local1zacas
integradas em ambientes rurbanos.
desfavorável å
Sugeriria tal conseqüência de espaço de todo urbano operários ou
pessoa, no caso de ruralitas, transferências pela condição de mostra-8e
descentralização de sedes de indústrias? 0 Professor Rosecrance indivíduo8
preocupado, no seu estudo, com o problema de valores para empresas
deslocados de seus meios de origem e pergunta se não caberá asas it ha8 a
industriais uma educative function in this sense just as surely be taken
productive function?" E também should
interroga: what steps combine the
to decentralize metropolitan areas?"" E mais: "How can we "
benefits of industrialized society and the values of small-comunity life?
possivel,
que
Interrogações tocam na
que conveniência de, sempre
de indústrias em
substituir-5e a situação urbano-industrial pela localização ambientes
áreas rurbanas. Åreas ein
a que não faltariam valores urbano6 os
favoráveis a estilo8 mais personalizados de vivéncia e de convivência que
de todo urbanos ou
metropolitanos.
121

Entre os assuntos considerados nas reuniões de Corning Glass, estava


0caracterizado recentemente por Mlestre Celso Furtado, no tocante ao Bra
sil, como "organização de espaço" e localização de atividades industriais
e tipo de urbanização". Assunto que continua um desafio a respostas não
apenas econômicas mas psicosSocioculturais. Perspectivas que, envolvendo
uma dinâmica interrelação de espaç0s, dentre os
abrangentemente necesá
rios a consolidações e desenvolvimentos nacionais., impõem reduções de urba
nizações ou de industrializações corno que imperiais, nas suas tendências
para o que se pode denominar, como aqui ja se sugeriu, verticalização de so
luções e essa verticalização a urbanística como expressão
absoluta de moder
nismo, progressismo e racionalismo. Exatamente - em termos simbolicamen
te arquiteturais
a solução representada por um Le Corbusier que, talvez.
tenha repetido, como europeu arrojadamente inovador de
SUCedeu, um século antes dele, com Auguste Comte, no setor arquitetura , o que
da Sociologa:
ter sido mais seguido, no seu progressismo e no seu racionalismo, fora da Eu
Opa - em paises como o Brasil do que por europeus. Pois não
foi pouca
reelção européia ao Le Corbuseismo, nos nossos dias, e em dias dos
avo8, ao Comtismo tâo seguido por militares brasileiros de formação nosSOS
tica. matema

om Le Corbusier ocorreria, paradoxalmente, num pais de vocaçoes


horizontais
de todo
de espaço como oBrasil, tonar-se inspirador de uma arquite tura
do que eleoposta à de um seu contemporâneo, o catalão talvez mais genial
Pois ao Brasilbaudi. O qual era para ter tido repercussão empática mais
no Brasil.
lqueeirament Gaudi poderia ter inspirado uma nova arquitetura brasi-
e de Curvas espontâneas, criativas, intuitivas, líricas, horizontais,
as retas
Corbusier. Umantibrasileiras, as retas racionalistas, as retas lógicas, de Le
antibrasileiramente racionalmente de retas que, felizmente,
encontque,rou
tos, num Oscar Niemeyer eum Lúcio Costa, brasileiros de altos talen-
fvilhaelizmentetocados
abrasileporiréaramoalguma coisa de oriental, muito da formação brasileira,
excessos de suiço racionalMaravilha,
ista. Eproduzi ram a mara-
estética quecom Itamaraty de verdes.
Brasilia. inclusive, pela sua
harmonização brasileiríssimos 0s verdes que, desde a ocupação
abrleira.erataassilememirantetecnocratas,
de
Brasilia
por residentes brasileiros, não de todo, nem buro-
Para o que nåo vêm rurbanizando o anbiente da nova capital brasi-
ede lhes vem faltando uma valiosa cooperação de japoneses

mentedes
Vocação cendent
rural e
esde jatendência
brasileirosruralizante
de jap através
japoneses. Descendentes de japoneses de
do que sua inteligncia, agil-
tes. SolInventiva e suas
os, para eles, tãomãos destramente rurais, vêm obtendo de solos quen
novos quanto tavoráveis a experinnentos; eesses expe-
122

rimentos paradoxalmente abrasileiradores de Brasília. Abrasileiradores e rur.


banizadores.

Mas a importância dessa presença japonesa no abrasileiramento vege


tal, ruralizante, telúrico de Brasilia não é, de modo algum, maior que o reali
zado por candangos vindos do Nordeste, do Rio Grande do Sul e de Mato
Grosso; eque, de seus, a princípio, acampamentos nos arredores da nova capi
tal brasileira, desde então a vêm rurbanizando: e a abrasileiran do de um de fo
ra para dentro que vem representando retificação telúrica, ecológica e até fol
clorica, ao racionalismo puramente urbanóide, le corbusiano, de Brasília.

ao
Ocontacto com as povoações chamadas satélites de Brasília mostra
observador, quase como se elas constit uissenn um laboratório sociolögico, a
atuação do processo de rurbanizaço de Brasília: corretivo a inovação no
que estas tiveram, ao lado de benefícios, violências àecologia e a constantes
psicossocioculturais brasileiras. Desses arredores rurais, caboclos, telúricos de
ex-árabe
Brasília, a brasileiríssima mandioca, aindigeníssima farinha, o cuscuz
eja brasileiro, quer de milho, quer de mandioca. A carne de charque, a5
tas mais brasileiras do Brasil, estão sendo respostas ecologicamente vigorosas
selva do
ao desafio de Brasília como presença intensamente urbanizante na
vitalidade
centro do Brasil. E tais respostas são válidas para uma extensão da
caboclamente brasileira. que é uma vitalidade rural, diante do desafio pan-ur-
construção
banizante com gue o Brasil começou a se defrontar na década dapprojeção na-
de Brasília. Dessa uma
extensão de vitalidade rural vai depender
rurbanamente.
Aliás,
cional do Brasil sobre o seu vasto realize
espaço que se sefazendo sua
sentir,
5e o coretivo rurbano a
excessos urbanose urbanóides está esperar
atualmente, tanto nos Estados Unidos como na Europa, Como n¥o tropi-
insurgencia, ainda maior, num Brasil em que o clima, em grande
maiores
parte
contactos hu
cal, a vastidão de esp
espaço verde, favorecem opções por
manos com esse espaço e sob esse calor?
Brasilia
arquitetosde Bra-
Um do5, a meu ver,
que se
erros, que denunciei, dos capital para o
homen8de ou
constituiram
sil, deixando
em
de ouvir oniscientes
criadores de uma nova
experiências,
eles ou o governo central, por eles cidade.
tros saberes, outras outras
foi o cometido com perspectivas, outras espaços imaginações,
urbanos da
futura
Sobreum
0 erro de relação aos próprnos projet
tar-se lazer
deixar-6e de considerar que a nova cidade ia muito
maior
com
ternpo 6ocial de nuito maior tempo livre que ocupado. De cdontactos
do que
trabalho. revalorização, pelo
De homem civilizado, de
123
a natureza. Necessitada, portanto, a nova capital, de
espaços, desde o
reservados contactos com a natureza, a recreações ao ar livre, a inicio,a
a
música, a dança, em termos populares e não lazeres,
dos: clubes exclusivos ou esportes superburguesmente condiciona
o início, deixassem
verdes, com a
sofisticados. Mais: de espaços que, desde
de: para deleite e higiene diretos demaior abundância possível, dentro da cida
de crianças. Ao seus moradores: para recreio e
contrário, educação
contoume Anisio Teixeira, o grande educador,
ter sido esquecido, nos
espaços destinados a escolas, que às salas de aula
Vam juntar-se espaços para de
nlzante a se impor a uma recreios. Sempre a obsessão fechadamente urba
perspectiva abertamente rurbarizante.
e onde, a
uma civilização opção rurbana para o desenvoivimento em, amplitude. de
sar de se realizar,nacionalmente brasileira
através de informacões,sobre vasto espaço nacional. preci
o
nais, as mais orientações. perspectivas operacio
ca, relativaa aabrangentes. Reunindo,
nais de construções basicamente, as três Engenharias: a Fisi-
materiais e relacionamentos dos vários tipos rego-
Homem
tropológica entre brasileiro
os Com espaços físicos: a Humana, atenta à relaçio an-
gões do País, e tipos predominantes de homens
brasileiros, nas varas re
tipos defabricados transportes,
serem máquinas,
por indústrias
cadeiras, móveis, vestuarios, sapatos a
para esses homens situados e não para outrOs
vOs com homens; e a Social, atenta a esses relacionamentos em termos coleti-
pos relação a formas sociais de convivncia e de inter-relação entre gru-
tras. humanos situados nas várias áreas do
Inclusive urbanas com as rurais. Inchusive uma orientação
as Pais e dessas áreas,
umas com as ou-

dyruposesenvolvimento
procure resolver Social,
Socioeconômico,
rurbana de
picOssociocultural brasileiro que
industriais, atentas ao bem-estar humanamente brasileiro em geral enão a
problemas de localização de atividades agrárias, pastoris,
mais. particulares ciosos apenas de interesses proprios e desatentos a0s de
mos Pode-se considerar como ja
Îentrontreosocicomológiespaços
cos, existentes, no Brasil, niniaturas, em ter
de
Aos quais traços espaços rurbanamente ocupados e susceptiveis de con-
estritamente psicossocioculturais
ou estritamente urbanos. Contrastes
rurais
vOS, possam caractsererissurpreendidos,
valores tambémn ticamente sob critérios mistos, vbjetivoa e subjeti-
de rurbanidade, dentro

Iruir, emLenmbre-se, de passagemn,


caract eristic os
e situaçòes rurbanas.
cons-
que o arquiteto Oscar iemeyer, ao
Correu Brasilha, edificio para
de casa foi o de residencia de sua faniha, o modelo a que re-
Casa-grande
alui r aaantigaeim mineira ou brasileira do tipo tradicional. lma reninusencia
Pernanbucana ou baiana. Talvez ate de casa por ele
Apipucos.
124

Apipucos. no Recife, sem ser tipo urbanamente ideal de espaco rurba.


no - prejudicam-no olarias, serrarias e depositos de ferro velho em ostensivo
desapreço por suas residências ruralizadas pelas quase matas agrestes, cheias
de pássaros cantadores, que as rodeiam, em beneficio do todo ou do conjun
to subúrbio -aproxima-se dessa caracterização. Quem chega, do Recife, à
antiga Porta d'Agua, outrora célebre pelos rústicos banheiros de palha, e pe
las lavadeiras à beira de pequeno canal, sente-se em ambiente quase ecologi
camente rural e quase livre de poluição. Ainda muita árvore. Um povoado
de casas pintadas de várias cores, surpreende a quem chega. Surpreende que
continue a existir, com seus característicos de habitações rurbanas, t¥o den
tro do espaço oficialmente urbano do Recife.
Contrastado com outros subúrbios do Recife, guase destituidos de
toques rurais no que neles são aspectos urbanoides, é miniatura repita-se
em termos sociológicos, do que se pode considerar espaço rurbanamente oct
pado. Ate quando, porém, essa exceção rurbana na área urbana de um Kecate
sob avassaladores impactos de destruiçãao de suas sobrevivências pré-industriais
-o Recife fezse cidade. em grande parte aproveitando-se de värios e ve
engenhos patriarcais, dominadores de vastos canaviais - é uma interrogação.
A disputa de terra para construções verticalmente urbanas e urbanizantes
talvez não tarde a destruir os ApipucOs gue restam ao Brasil. Um espgo
se aproxima do Apipucos do Recife: construção recente em espaço - para a
além de Casa-Forte preservá-lode
- que parecia haver uma decisão oficial a
arranha-céus.
Quando se fala em a referéncia éa
miniatura termos sociológicos,
modelos cientificamente sociais de em complexamenteso
ciais a tais modelos. redução de situaçõesclássica em literatura
Modelos que já tiveram consagração magistrais
sociológica da melhor. Basta
que se- recordem
e clássicas: de persistente valor de G. W. páginas
magistrais -
Allport. em Personality:
"miniature
Prychological
life situation",Interpretation (N. Y. 1937) sobre o que
a0 tratar de tipos de Comportamento denomina
humano condicionados
macrossociedades,
por especifcas
podem ser vistassituações
em
sociais, que, encontrando-se em
De tal
metodologia ocu-
situation
pa-se, alias, microgrupos representativos.
especificanente W.E. Vinacke em The miniature
sOcial
(Honolulu 1954).
26
Para o rurbanas, com
ruras por um confronto de
lado, e com as situações
microssocioculturais de "'mi-
métodoCahiers
atraves do
nuature B0Cial urbanas, por outro, do

Internationaux situations",o já número mate-


citado, texto, último assunto,
de
Sociologie, de Paris, neste
oferece ao analista do
125

ril interessa ntíssimo, sob a forma de inforne, à base de documentos da épo


ca, do que chegou a ser disputa ideológica, ao mesmo tempo que sociologica:
informe sobre o que deveria ser a Exposição de Paris de 1937. Isto é, se valori
zadora de bens culturais nacionalmente franceses, rurais, regionais, tradicio
nais; se valorizadora de bens culturais, também um pouco franceses, mas prin
cipaimente internacionais, progressistas, modernistas, industriais e racionais,
representados menos pela França total que por um Paris metropolitano e,
como tal, superurbanizado, em particular, à revelia de regiões e de seus valo
res menos racionais e menos modernos, tal a sua ruralidade, considerada pelos
urbanomaníacos pró-Paris, arcaicos e não-progressistas. Desfavoravelmente
rüras: uma ruralidade considerada por certos ideólogos socialistas de então,
Sem tuturo. No que sabe-se hoje que se enganaram.A tendència para a recupe
ração de valores rurais é considerável.

Estas palavras para nova edição de um talvez pioneiro pequeno ensaio


brasileiro sobre rurbanismo ou
rurbanização como valorizaç ão de valores
uas dentro de progressos urbanos - o autor de tal ensaio creio ter sido o
Pmeiro a usar a palavra, no Brasil, não só aportuguesando vocábulo ate
então sóinglês, mesmo quando usado de ponto de vista indiano por Mukerjee
Oabrasileirando o seu sentido sociológico e dando-lhe, talvez, nesse
abrloresMelalosilFreyre,
erurais,
iramententreoSensível
, os apróprios
um alcance politico escrevo-a, a pedido de Fernando de
novas atitudes, estas favoráveis àreabilitação de va-
soviéticos com suas agrovilas. Um Fernando
de Mello Freyre de quem é a iniciativa de recordar-se tal pioneirismo reci-
fense. Recifense, em grande parte, pela pressão de circunstâncias particular-
mente, angustiosamente, quase tragicamente recifenses aum crescimento de
popul ação urbana,
de então em cidades brasileiras, para o qual criei a expressão, des
tão repetida, inchaçãourbana". Inchação enão progresso.

tre Assileirnoalede-se que a soluçãochamada


de SãobrasiPaulo,
rurbana encontrou no, a meu ver, maior
Rural, o Professor Freitas
mes
Marcondes,
Sociologia
des da mesma quem se socializasse no estudo cientifico-social de possibilida
ner um solução no Brasil. Até que, em Curitiba, surgiu no Prefeito Ler
a Corajoso e dinâmico executor da sociologia de rurbanização em cidade
capital do Paraná que e hoje modelo de crescimento harmoniosamente
rurbano. Crescimento harmonizante rurbano em vez de desregramento urba-
ho.

0 que e preciso é ir-se mais longe e entreverse ofuturo brasileiro to-


lal, e não o de
recuperação de áreas patologicamente superurbanizadas, em
126

particular sob perspectivas ou planejamentos urbanos. Entrevê-se uma civiliza.


ção arrojadamente moderna a desenvolver-se à base de maior uso de fore
sobretudo um ferro capaz de transtormar-se em numerosa ferramenta a servi,
ço tanto de uma agricultura criativamente ecológica como de uma arquitetura
urbana mais ecologicamente brasileira na sua modernidade - no Brasil, com
seus minerais a lhe darem relevOS superiores. Ao lado do maior aproveitamen.
to dos seus vegetaise dos seus rebanhos, nunca a serem desprezados - como
vasta civilização rurbana. Harmoniosamente rurbana.
ANEXO I
UMA REFORMA
AGRÁRIA VIÁVEL(*)
meira vezRurbana. Apalavra nem está no dicionário. Quem ateria dito pela pri-
teria sido o Gilberto Freyre. E, mais recente-
Ima que "a
sociólogo
mente, em artigo publicado e escritor
no Diario de Pernambuco, opróprio Freyre afir-
soluação rurbana diz 'basta' às urbanizações absolutas para"Caberá
que é urbano juntar ao
se
começo
que ja 8e de sobrevi
realizaçãovência
do teluricamente rural". E pergunta:
ao atuante e corajoso prefeito Lerner, de
es-
Curitiba,
proclarmou adepto da solução rurbana?"
(a Jaime Lerner, 42 anos de idade, prefeito de Curitiba pela segunda vez
prim eira foi de
Tanto que 1971 a 1975), é, de fato, um adepto da solução rurbana.
é
Comunidades apresentou,
Rurbanas, que
logo consiassumir,
dera umaemreforma
ao
agrária viável". Ele acha
março 1979, proposta das
de a

(*)
Transcrito de Expresso, de Curitiba, n. 8, Outubro de 1980.
128

ser impossivel dissociar a questão urbana da questão do campo. "A atuação


a nivel das grandes cidades - diz ele - torna-se absolutamente ineficaz se
não for precedida ou acompanhada de outra, junto ao campo'

Pelo projeto que idealizou, que interessou o próprio Governo Federal,


é possivel dar terra e trabalho a 10 milhões de pessoas, ou seja, 25 por cento
da população rural brasileira. Ao invés de investir apenas nos grandes centros,
o Governo Federal deve inverter o processo. E preciso atuar no campo, depoi8
das comunidades junto às áreas rurais, nas cidades pequenas, nas medias e, por
fim, nas metrópoles, agindo preferencialmente sobre as causas. "Não signifi
ca - airma - que deixemos de atuar também sobre os efeitos'.
Comunidades
O problema está em definir como e onde fazê-lo. As
Rurbanas seriam implantadas ao longo de rodovias, pelas facilidades de acessose
e porque ali a estrutura de propriedade é bem
definida. Escolhido o local,
na aberta uma rua paralela àmargem da rodovia. De frente para a rua
de mais ou menos um alqueire, destinados aos trabalhadores rurais e suas ke
equipamentos básicos:
milias. As casas ficariam Junto å rua. E, nesta faixa, os infra-estru-
escola, centro social, comércio, áreas de lazer e recreaç¥o. Nada de
turas caras. Cada núcleo totalizaria 100 lotes.
mas desenvol-
Os moradores poderiam trabalhar em fazendas vizinhas, excedente. A
veriam culturas de subsistência em seus lotes, comercializando o
ressarcir os investi-
renda auferida lhes daria condições de, em curto prazo,
financiável. Ogovemo
mentos feitos. 0 empreendimento torna-se, assim, auto
famílias.
Compraria as áreas pagando o5 preços reais, repassando-as às
estradas
nas
Para Lerner, é fácil demonstrar a viabilidade. Sem falar estaduase
rodovias
municipais, o Brasil conta com 300 mil quilômetros de Seriam 15 mil comu-
federais. Se instalado um núcleo a cada 20 quilômetros, popula-
cento da
nidades rurbanas no País, com terra e trabalho para 25 por está mais próxi-
ção rural brasileira, que
por certo, a faixa mnais carente, a
¬,
ma de optar pelas
migrações. papel
só no
Lerner sentiu, entretanto, que a idéia não poderia ficar
preciso colocá

ou sendo levada a em seminários. Era


intermináveis discussões
la em prática. Testá-la.
Comunidade
primeiraCuritiba. On-
Curitiba a testaria. E assim que está nascendo a Sul de Vaspå-
Rurbana do Brasil. Na localidade chamada Tatuquara, ao elas.
de ja moram juntar-seia
10 famílias e outras 50 se preparam para
129

ginas deste Expres$0, um pouco da iniciativa nais uma vez pioneira da idade
de Curitiba.

A primeira Comunidade Rurbana do Brasil já saiu do


terreno dos pro
jetos e está se tormando uma experiência concreta. com a
meiras famílias na área destinada a este fim, na localidade deinstalação das pri
quilômetros do centro de Curitiba, com acesso pela BR-116.Tatuquara, a l8
A alternativa,
idealizada pelo prefeito Jaime Lerner e sua equipe. para conter o èxodo rral
da população mais carente, está envolvendo a ação
conjugada dos diferentes
orgãos municipais, como a Fundação de Recuperação do Inigente (FREI).
Companhia de Habitação Popular de Curitiba e Instituto de Pesquisa e Pla
nejamento Urbano de Curitiba, além do Departamento de Desenvolvimento
Social.
As 60 familias envolvidas na experiência inédita terão, cada uma, áreas
com cerca de cinco mil metros quadrados, onde se dedicarão ao
cultivo de
nortl-granjeiros. Elas próprias, em regime de mutirão, colaboram na constru
Çao das habitações, dos equipamentos necessários para o funcionamento das
granjas e na infra-estrutura do projeto.
Seleção As famílias da primeira comunidade
nadas na Região Metropolitana, com preferència para asrurbana
foram selecio
Po. Foram tiradas de áreas faveladas e dos bairros que vieram do cam
periféricos de Curitiba. 0
interesse em participar do empreendimento também foi decisivo para a sele
ção. Elas estão
do Departamentosendo
de
treinadas no local do projeto por técnicos da FREI e
Desenvolvimento Social.
No
313 mil m²,Drojeto de Tatuquara, sâo 60 granjas, ocupando uma area total de
tes. ligeiramente ondulada, ladeada por pequenos corregos e nascen-
Localiza-se
to, h£ a um quilonetro da
escola de primeiro grau, pequenoBR-116, por estrada macadamizada. Per-
comércio e transporte coletivo.
n
COm nmarcostopografia original está sendo mantida e os lotes såo
de concreto, de acordo com oS acidentes do terreno.assinalados
A eles se
esSO através de vias com cerea de seis metrus de largura,
ensaibradasSe com valeteamento para 0escoamento das águas deterTaplenadas,
superficie.
cipal se Equipament os Ao longo dessas ruas, ligadas ao sistema viario prnin
implantam equipamentos sociais
os
para qqualquer e de comércio e hav erá outros
atividade decorrente
Casas, de madeira, possuem do desenvolvimento da comunidade.
25 metros quadrados, do tipo das da zona
130

rural e poderão ser ampliadas de acordo com as necessidades e disponibilida


des financeiras de seus proprietários.
Estudos de viabilidade econômica, feitos pela Prefeitura mostraram
que cada granja, depois de instalada, deverá possibilitar uma renda mensal
inicial de 10 mil cruzeiros, por familia, possibilitando cumprir seus compro
missos.
1980

Curiiba

Rurbenes

Comunldedee

A
Fonte.

0WUNTNIO
CENTNO

NODOVA

Rurbens

Comunidades

das
Proposta
ANEXO 2
Discurso dade pose do Prefeito Jaime Lerner em suaabrilsegunda
à
Administração
frente Prefeitura da Cidade de Curitiba, em de 1981
COMUNIDADES RURBANAS - - APROPOSTA E AIMPLANIAÇÃO
(")
As metrópoles brasileiras são o grande desaguadouro das levas migrató-
rias que vêm do interior do Pais. Este fenômeno tornou-se intenso nos ulti-
mos anos, e gerou um inchamento populacional que as nossas cidades estäo
8endo incapazes de absorver. Eele que está na origem da proliferação das fa-
velas, do aumento da marginalidade social, da falta de moradia etornou insu-
ficielazer.
nte oPlanos
atendimento nos setores de saúde, educação, saneamento,
de emergência, de desfavelanento e de asaistencia
transpor-
social tem

(* ) Estes anexos aparecem nesta Rurbanizaç§o. que é? graças ao Superintendente de


Mussalem, que recebeu os pro
Plnunci
anejiaament
mentoos
da Fundação Joaquim Nabuco, Josué
do Prefeito Jaime Lerner, aqui reproduzidos, do
próprio Prefeito de
Curitiba, de quem é amigo pesso
134

sido aplicados. Maso problema da nigração forçada continua, o migrante che.


à cidade com todos os traumas de que veio porque não aguentava mais a vË.
ga
da lá fora. E os problemas se agitaram porque suas causas estão sem soluções.
Ea pergunta permanece ao ar.
Montar estruturas gigantescas nas cidades não se torna mais caro do
que atender as necessidades da população là nos pequenos núcleos comunitá
rios onde ela vive?

fruto de uma livre


As migrações rurais que ocorrem no Brasil não são
seu
opção do homem do campo. Ao contrário: ele é literalmente expulso de
meio pela falta de empregos, pelas ausências de novas oportunidadées,bempelas
co
péssimas condições de vida. E a história do que aqui lhe acontece ja
nhecida. Num ambiente estranho, dominado por regras desconhecidas, se
dinheiro e nem qualificaço profissional, o migrante cumpre seu destino: a
favela e, em casos extremos, a marginalidade social.
produtivos lá em
Quantos milhares de brasileiros que seriam úteis e
gerações não estão
seu ambiente de origem, não estão se perdendo; quantas o trauma
e
sendo comprometidas? E até quando a sociedade poderá suportar problema, e
é um
a insegrança, se para a cidade o simples crescimento já
para o campo o esvaziamento torna-se insuportável?
por
Uma sociedade livre e democrática certamente não sobreviverá
muito tempo em semelhante situação.
guer dar um enog
andagações como esta são feitas guando se
abrangente ao problema urbano e rural no Brasil.
pauperizadas,
Por outro lado, as grandes cidades. Economicamente crises, incapa-
perplexas diante do crescimento explosivo. Sobrecarregadas de o campo;
zes de definir com lucidez as suas prioridades. Do outro lado, £ mercê
lhões de trabalhadores volantes sem terra e nem esperança. O
campo
das crises que afetam a lavoura de grandes e de pequenob.
Concentrado no8
prioridade dada ao desenvolvimento industrial imenso contin
A
grandes centros urbanos trouxe, para os pólos industriais, umtodas as pressôe5
gente de mão-de-obra. ba
das Trabalhadores que passaran1 a viver paramanter
grandes cidades, forçando alimen-
o governo a criar mecanismo de
XOS 08 preços dos produtos agricolas, sem prejuízo dos produtores
135

tos de primeira necessidade, que na


maioria são pequenos
o ciclo se fecha agravando ainda mais a proprietários. E aí
situação no campo.
Toda 1nedida destinada a frear a
deve, pois, oferecer melhores condições dehipertroia das grandes metrópoles
versão, de aplicação de recursos, deve atingirtrabalho áreasosrurais. Esta in
nas
principalmente peque nos nú
cleos de apoio rural, e as pesquisas feitas na favela de
Ihadores rurais mostraram que eles preferem a favela, Curitiba
onde
com ex-traba
vivem
vida no interior, como melhor, a
trabalhador rural.
HIl, com a aplicação de programas agroindustriais, com a im plantação
de projetos e programas de
do sistema de transporte,
estímulos à agricultura, com o
aperfeiçoamento
poderão
go como hoje oferecem os grandes
ser geradas tantas oportunidades de empre
cleos, haverá centros. Com o apoio aos pequenos nu
trabalho
para otrabalhador rural e urbano que ali vive.

s
pequenas cidades localizadas mais próximas das zonas rurals deve
rão
estruturar-se
educação, para oferecer às populações vizinhas os serviços essen ciais de
saúde, transporte, comunicação, cultura elazer, constituindo-se
em ponto de apoio à
difusão do bem-estar.
AS pequenas cidades, assim revitalizadas, reteriam o seu propno
mento cresci
campo, populacional. E representariam uma nova opção para o homem do
desejoso de experimentar avida urbana. Estariamos desta forma evi-
tando que todo o
Mas, para que isso impacto das migrações se projetasse sobre as metrópoles.
ridades, é preciso queaconteça, não basta que o Governo apenas inverta as pno-
ele altere sua sSistematica de concessão de recursos ao
muni cipio, abolindo
as barreiras da burocracia. Ao invés de, a priori, descon-
ConfPacidades dos nunicipios, de bem usar os recursos, deve o bovemo
confiar.
8ua Deve istto sim, fiscalizar aaplicação dos recursos cedidos, depois da
aplicação zelando
Para que seja feita dentro das prioridades estabelecidas.
tra o seuPor outro lado oapoio ao campo e aos núcleos de apoio rural en con-
do ponto mais vulnerável na condiçåo, hoje, de completa instabilidade
nalitzradoabalhadortodos oS programas governarnentais.
de
rural. 0 trabalhador rural vive hoje mais desamparado e marg-

Sar as De novo, aqui, Parece o conceito de yualidade de vida" Basta anali-


condições de
com as transporte
para o trabalho, oferecidas ao boi-fra, em
comparação mesnmas condições numa grande cidade. Ou as condições
136

de moradia. as oportunidades de lazer, o atendimento de saúde, ou mesmo a


sua condição de profissional, como trabalhador.
Obiscateiro, na cidade, ou o trabalhador autônomo, encontra emais
amparado de ponto de vista trabalhista do que a bóia-fria, sujeito a flutua
ções de oferta de trabalho, preso a intermediação do gato", que detém o8
meios de transporte do trabalhador volante ao local de trabalho.

A natureza do trabalho volante, na agricultura, que se define como


sendo Por Tarefa" eadefinição das responsabilidades trabalhistas do próprio
produtor, que ermprega o boia-fria, são responsáveis por toda a sorte de mani
pulações a que se vÁ submetido o trabalhador volante, como já ficou eviden
ciado em documento elaborado pela Secretaria da Agricultura do Paraná do
qual participaram representantes da Federação dos Trabalhadores na Agricul
tura. E hora de investir no campo e nos núcleos ligados às áreas rurais.
Ainversâo das prioridades e em conseqüências, a fixação das popula
ções rurais em seus locais de trabalho e origem não podem jamais esquecer
que otrabalhador rural éuma das peças mais importantes neste proceS80.
APrefeitura de Curitiba tem uma proposta clara e já testada para 4u
dar na fixação do trabalhador rural no campo. Esta proposta leva em con
que, antes de mais nada, o trabalhador rural deve ter acesso à terra e morau
da mesma forma que o trabalhador urbano.
Aproposta de Curitiba éo programa chamado Comunidades UrbanaS.
As Comunidades Urbanas, vinculadas aos demais programas de
apoono
quenos nucleos e pequenas cidades do interior poderãotransformar a Mai
campo e devolver
tenta Estas o equilíbrio
comunidades seriamrompido com aoalongo
implantadas ênfase das
industrial doseanos
rodovias, aprovei-
tando os núcleos de apoio rural já seriam distritos, sedes, patrimo
existentes,
nios ou vilarejos como tanto6 existentes nos municípios do
P'araã
paralela
Aproposta ésimples. Escolhido olocal, seria aberta uma rua umal-
a margem da
estrada. De frente para a rua, lotes que poderiam Ber deacordo
queire, um hectare, uma quarta de variar de
vai prestaçâO
a fam ilia medida
com opreço da terra: de modo quealqueire, passe aque
pagar condi
Zente Com a ua renda.
As casas ficam junto a rua, e nesta faixa os equipamentos básicos: es
colas, centro social, de estruturas
Caras. conércio, áreas de lazer e recreação. Nada
137

Cada núcleo poderia ter 100, 200, 300, medidas que irão variar de
acordo com as necessidades da região e custos de infra-estrutura da
de: Transporte, comunicação, educação e associatisno.
comunida

Os moradores poderiam trabalhar nas


veriam culturas de subsistência em lotes, fazendas vizinhas, mas desenvol
renda do lote poderia dar-lhe condições decomercializando
os excedentes. A
casa tornando o pagar as prestações da terra e da
empreendimento viável econômico.
e

OGoverno compraria a terra pagando os preços reais e o fin anciamen


to poderia ser feito pelo Banco Nacional da Habitação, ou bancos
desde que
fosse criado um programa especial de crédito para a estaduais.
das comunidades rurbanas. implantação,
Ihador rural e da sua obedecendo as caracteristicas proprias do traba
capacidade de pagamento.
O município de
rurbanas como tambémCuritiba não só está propondo idéia das comunidades
chamada Campo de Santana.ja a está testando, numa área rural do municipio
ra da 5equipes da Pre feitura, obedecendo idéia inicial, selecionaram à bei
BR-116
cada um a
uma área de 31 hectares., dividida em 60 lotes de 5 mil metros.
Em custo bruto de 16,5 UPCs e foi elaborado o projeto pela COHAB.
seguida Prefeitura
a
deu início àabertura das ruas, valeteamento onde era
ànecessário, drenagem eensaibramento das vias internas, bem como de acesso
comunidade.

Todo Operimetro da
e,hcando comunidade foi cercado com quatro ios de ara-
livre a divisão entre os lotes.
Em seguida a Prefeitura deu inicio as construções das casas, feitas em
madeira, de acordo com seguidos em todo o Estado do Paraná.
OS Costumes

As casas têm 25 metros quadrados, sem instalaço sanitaria, nem insta-


laçãoja vinham sendo0 projeto toi iniciado em agosto de 1980, porém, desde ju-
lho
granta.
hidráulica. selecionadas as famibas candidatas a participar do pro
Estado, Sendo um projeto
aPrefeitura piloto,entre
fez a: seleção cuja aaplicaçao
populaçàoéviável
nigranteparada regiáo
ointeriormetdo
ro-
politana adotando como critérios básicos que sfamil as inscritas fossem de
tralbalhadores rurais da morado
área ou fussem de ex-trabalhadores rurais, já
138

res no Município. Deu-se preferência ås familias numerosas, algumas delas


moradoras das favelas e a maioria de bairros periféricos ou de zona rural do
Nunicipio.
Uma das condições exigidas foi a de que um dos membros da família
exercesse uma atividade remunerada, seja como biscateiro, como autônomo
ou como operário. Aexigência de emprego está na essência do programa. Se
o programa destina-se aos trabalhadores rurais, só deve participar quem exerça
uma atividade. ficando a propriedade para fornecer alimentos de subsistência,
moradia, e excedente comercializável.

Já com as casas construídas, a Prefeitura iniciou a transferência das


tamilias para a área, processo que durou desde setembro de l980 até feverei
ro de 1981.

Com a assistência técnica agrícola da Prefeitura, os moradores inicia


ram os trabalhos de limpeza de terrenos, que exigiu a roçada do mato que co
brna a area e foi procedida a queima do material amontoado pelo trabalhador
rural. Depois as máquinas agrícolas da Prefeitura efetuaram a destoca e o
enleiramento dos terrenos para permitir a implantação de culturas.
Cada família escolhida para participar da primeira comunidade rurba
na o pais assinou um contrato com a Prefeitura comprometen do-se a tazer
u50 o terreno, seja com cultivos de manutenção, seja com
tos hortigranjeiros. Caso a fam ília assim o deseje plantio de proau
para plantar o "mantimento' de consumo poderá usar parte do terreno
nada a implantação de doméstico e a parte restante desu
culturas agropecuárias destinadas ao comércio.
Um técnico agrícola da
com cada um deles um plano de Prefeitura orienta os moradores elaborando
família. producão, de acordo com a vontade de cadd

Ocontrato
assinado entre a fam1ia e a
Cia tecnica e
estabelece ainda gue decorridos noPrefeitura preve eta abalo
familia venha cumprindo as cláusulas máximo três ano5, :
tiva de do contrato. ela assine a escritura defini-
propriedade mediante financiamento junto à COHAB.
Asaim, neste projeto piloto, como medida de precaução, epor ser uma
área em teste, a
a posse da Prefeitura reservou o direito de não transferir imediatamente
terra ao usuáno, em
que a area esteja o que será feito nodevido tempo, na medida
solidamente constituída como uma Comunidade.
139

Em março de 81, já com as hortas e lavouras em


res da comunidade rurbana de Campo de Santana
produção, os morado
iniciaram uma feira semanal
num dos bairros da cidade, sendo essa uma das opções de
comercialização de
8eus produtos. A venda poderáser feita também em feiras livres,
mercado mu
nicipal, Ceasa, ou mediante contratos com industrias, com
hospitais, corn rea
taurantes, com quarteis ou outros consumidores de hortiranjeiras.

A comunidade rurbana de Campos de Santana conta ainda com um


serviço de transporte de escolares que leva as 90 crianças para duas escolas.
uma a 2,5 quiômetros e outra a5.5 quilömetros da Comunidade.
Na sede social e administrativa estäão concentrados alguns serviços, co
mo a creche, para atendimento a 80 crianças. que nela permanecem por meio
periodo enquanto a mãe realiza atividades agrícolas. No outro periodo a cri
ança permanece em casa junto com a familia.

Na sede social encontra-se ainda um escritório e um almoxarifado,


onde estão centralizados os serviços comunitarios.

A medida em que entre em funcionamento a irngação (que será feita


por meio de cinco açudes em construção) icarão sob responsab1lidade co
mum o uso da água, o funcionamento das bombas e a escala dos hor£nos da
Irrigação. Da mesma forma, na medida em que a comunidade se organ1ze.
irão sendo adguiridos microtratores, caminhðes ou outros velculos, máquinas
e implementos para uso comunitário.
A Prefeitura mantém um serviço de asslstencia soc1al, que atende a
Comunidade rurbana, nas åreas de saúde. atendimento amaternidade e a in
fa
tancia e organizacão comunitária. A assistencia social vem onentando as
e
milhas na construção de poços e privadas e no encam1nhamento das mås
crianças ao serviço médico.

Numa das propriedades toi inplantado, e esta ainda en tate, um bl0


m tecnico da
igestor, em modelo pequeno com a assistencia da Emater PR.l
Prefeitura está acompanhando o funcionamento da unidade, com vistas à
o
possibilidade de uso de biogas e da biomassa da conunidade. 0 teste com
biodigestor vem sendo acon1panhado com bastante interesst, pela Pre feitura,
que deverádefinir a sua viabildade de uso en proprtedades pequenas, ainda
e o caso do
Sem a implantaç£o da rede convencIonal de energia eletrica, como
projeto-piloto de C'ampo de Santana.
140

Eis ai a proposta de Curitiba.


APrefeitura tem consciência de que a questão do Campo nâo será re
solvida de uma vez só. e por apenas um programa, ou apenas um projeto. A
comple xidade dos problemas do campo está a exigir um trabalho de equipe,
e determinação imediata em resolv-los.

Odesejo de restabelecer o equilíbrio e a escala de desenvolvimento já


estão expressos em importantes documentos e pronunciamentos de lideres
de classe e homens de governo. Quando há três anos atrás a proposta que ho
je Curitiba apresenta já estava delineada, poucas vozes se aven turaram a tratar
claramente da questâo do Campo e da questão das cidades.

Hoje. o plano do ioverno Ney Braga procura definir um subprograma


de habitaçòes rurais para populações de baixa-renda, onde a ação deverá ser
pautada em estudos para adequação do sistema de financiamento às peculia
ridades das propriedades e rendas rurais.

Omesmo plano do governo Ney Braga estabelece um programa de as


sisténcia através de unidades médico-hospitalares no interior.

Odocumento da Secretaria da Agricultura chamado "Proposições


sobre Intervenção no problema de mão-de-obra volante na Agricultura
da medidas trabalhistas, Sociais, as sisten ciais, socio-econômicas e outras
imas profun das que afetam a própria estrutura fundiána do Estado, no
sentido de impor melhorias às condições de qualidade de vida do traba
lhador rural.

As politicas de desenvolvimento econômico baseadas somente na im


portancia do capital da tecnologia criaram o processo de empobrecimento
t8 maloria da população. Este tipo de funcionamento usual nos anos setenta,
que toi teito para o país,como um todo, era bom para cada membro da popu
lação.

à realidade, o crescimento económico beneficiou mais uma camada


privilegiada de promotores eexecutores da tecnologia proposta, 08 portadores
de capital. resultando, para cada parte da população, no que ve nãs lare
Talta de alinentob, a doença, a marinalidade do bóia-fria e t antos outroo
malee.
141

A população, sem consciência do problema, permaneceu durante mui


to tempo orgulhosa do gigantismo de certas realizações governamentais, das
estatisticas ufanistas e dos conceitos que consideravam desenvolvimento co
mo sinônimo de crescirnento econômico.

Mas esse tempo já passou.

Hoje, quando o governo norteia asua ação sob um enfoque "predom


nantemente social" como estáexplícito no plano do Governo Ney Braga, para
o quadriênio 80-83, nós temos certeza que chegamos a uma nova etapa; uma
etapa onde a medida vai ser realmente o homem.
Uma escala menos monum ental, é certo, mas profundamente calcada
nos ideais cristãos, de solidariedade humana, em busca de uma sociedade mais
justa. Estamos a caminho.
1940

Curteibe-

Rurbanos

Carmunidedes

Fonta:
As

Rurbanas

Comunidedes

das
Proporta
FAA PLANDA

OA
oHTA
ALIA

csE ATSTA

ARTUA

NORTE

Rurbana do Tatuquara SITUAÇ¢O.c. 1:10.000

ESTATSTICA
AREA TOTAL DO TERRENO 313.122,00 m2
ÅREA DOS ACESSOS 14.500,00 m2
ÅREA COMUM 8.990,00 m2
ÅREA DOS LOTES 289.632,00 m2
N9 DE UNIDADES 60
ÅREA MÉDIA P/ LOTE 4.827,20 m2

Fonte: Expresso de Curitiba no, 8 out. 1980


Administracko do Prefeito Jaime Lerner
ÎNDICE ONOMÁSTICO

Aron, Raymond, 119


Abreu, Manuel de, 87,88
Academia Mundial de Artes e Ciências de Telavive, 25
Accioly Filho, (Francisco Accioly Rodrigues da Costa Filho), 99
Aguirre Beltran, Gonzalo, 7
Allport, G. W., 124
Almeida, Cândido Mlendes de, 47
Amado, Gilberto, 87
Amado, Jorge, 87
Andrade, Carlos Drummond de, 87
Andrade, Gilberto Osorio de, 100, 112
Andrade, Mário de, 68
Andrade, Oswald de, 68
Andreazza, Mário David, 18, 39
Apolonio, 93
Araujo, Antonio Alves de, 93
Arinos, Afonso (Atonso Arino0s de Mello Franco), 87
148

Assis Brasl, Francisco de, 86


Azevedo, Fernando de, 87
Bacon, Henry, 30, 31, 32
Baltar, Antonio Bezerra, 97
Banco Nacional de Habitação (BNH), 137
Bandeira, Manuel. 87
Barbosa, Rui, 104
Barleus, Gasp ar, 93
Barreto, Tobias (Tobias Barreto de Menezes), 47
Barros, Inácio de. 93
Benedict, Ruth, 90
Beveridge, W. I. B., 49
Bews, J. W., 11
Blum, Leon, 116
Boulding, Kenneth, 111, 112, 113, 114
Boulitreau, 92
Bowldir, Keneth. 110
Braga, Ney Aminthas de Barros, 140, 141
Brooks, Harney, 105, 106
Brun, Jean-Charles, 116, 117
Burle Marx, Roberto, 88
Burton, H. M., 95
Cmara dos Deputados, 37, 119
Campos, Renato Carmeiro, 27
Campos, Roberto de Oliveira, 19
Cardoso, Sérgio, 87, 88
Carlos Estév«o, 87
Carvalho, Alfredo de, 93
Carvalho, Delgado de, 87
Carvalho eSilva (Secretário do Govermo do Estado do Piaui), 40
Castello Branco, Humberto de Alencar, 16,44
Cavalcanti, (lóvis de Vasconcelos, 112
Ceasa (Central Estadual de
Cocteau, Jean, 49 Abastecimento S.A.), 139
Cole, William E.,7,82
Companhi a de Habitação
Comte, Auguste, 69, 121 Popular de Curitiba, (COHAB), 129, 137, 138
Congresso Nacional, 100
Conselheiro, (Antönio Vicente
Coming Glass Antönio Mendes Maciel), 92
(Nova York), 119, 121l
149

Correia, Jonas, 34
Costa, Lúcio, 57, 69, 87, 88, l15, 121
Couto, Domingos de Loreto, 93
Cruls, Gastão, 87
Cruz, Oswaldo, 60
Cunha, Euclydes da (Euclydes Rodrigues Pimenta da Cunha), 29, 30, 31, 32,
33, 50, 91, 113
Departamento de Desenvolvimento Social (Curitiba), 129
O Dia (Teresina, P), 45
Diario de Pernambuco, 17, 111, 127
Dória, Gumercindo Rocha, 33
Duprat, 93
Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Cultural, Paraná), 139
Empresa Reynolds, 97
Escola Superior de Guerra, 34
Espasa-Calpe,
O
Editora, 13
Estado de São Paulo, 37
Faculdade de Educação da Universidade de Nova York, 120
Faoro, Raimundo, 24
Farias, Osvaldo Cordeiro de, 43, 44, 81, 101
Febvre, Lucien, 16
F'ederação dos Trabalhadores na Agricultura (Paraná), 136
Feijo, Diogo Antonio, 86
Fernandes, Albino Gonçalves, 112
Ferreira, Procópio, 87
Figueiredo, Antônio Pedro de, 29
Figueiredo, João
Fortes, Herbert Baptista de, 39
Parente, 33
Francisconi, Jorge Guilherme, 101
Freud, Sigmund, 49
Freyre, Fernando Alfredo Guedes Pereira de Mello, 35, 125
Freyre, Gilberto de Mello, 17, 43, 45, 127
Freyre, José Maria, 104
Fundação de Informações para o Desenvolvimento de Pernambuco, 111
Fundação de Recuperação do Indigente (FREI), 129
Fundação Joaquim
93, 100, 112, 133 Nabuco FUNDAJ), 15, 25, 26, 27, 28, 29, 35, 50, 51,
Fundação
Furtado, Milton Campos, 99
Celso, 19, 38, 119, 121
Galpin, Charles J., 82, 94, 103
150
Gallimard, Editora, 13
Gans, Herbert, 72
Gaudi, Antônio, 121
Gersckenkon,Alexander, 96
Gillette. John M., 83, 84
Goulart, João Belchior Marques, 29
Gourou, Pierre,7
Greber, 115
Gudin, Eugênio, 19
Guerra, Paulo Pessoa, 44
Guritch,Georges, 16, 28
Harris, Louis, 72
Hecker, Frederick, 86
Herculano, Alexandre (Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo), 86
Horácio, 86
Huxley, Julian, 119
Inglês de Sousa, Herculano Marcos, 29
Instituto Arqueológico Histórico eGeográfico Pernarnbucano, 93
Instituto de França, 16
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, 129
Instituto de Pesquisas Sociais ver Fundação Joaquim Nabuco,
Instituto Federal de Pesquisas Sociais, 100
Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais ver Fundação Joaqum INa
Co,

ltamaraty (MMinistério das Relações Exteriores) - edificio em Brasilia, 121


Jardim, Luis, 87
Jefferson, Thomas, 86
João Paulo IPapa. (Karol Wojtyla), 78
Jourdain, Franzt. 13, 115
Jurema. Aderbal de Araújo, 81, 100, 101,102
Kissinger, Henry. 21
Knopf, Alfred A.,78
Koster, Henry, 93
Kubitschek. Juscelino (Juscelino Kubitschek de Oliveira), 29, 67,68, 69, 101,
I19
Kumhen, Thure, 86
L'Abbé. Demond, 116, 117
Lacerda, Mário, 112
Lattes, César Mansueto,
Lebret, Louis 87,88
Le Joseph Pe, 97, 102, 103
Corbusier, Charles Edouard Jeanneret-Gris, 69, 115, 121
151
Lelouh, Yves, 75
Lerner, Jaime, 16, 17, 20, 35, 125, 127, 128,129, 133
Lins Älvaro, 87
Lins, Rachel Caldas, l12
Lira Tavares, Aurélio, 34, 40
Mc Cay, James T., 27
Maciel, Marco Antônio, 17,99
Madariaga, Salvador de, 119
Magalhães Júnior, Raimundo, 88
Malino wski, Bronislau, 49
Maranhão, Péricles de Andrade, 87
Marias, Julian, 15
Marcondes, José Vicente de Freitas, 101, 125
Mark, Kurt W., 69, 76,77, 78
Marx, Karl, 50, 113, 114
Mattos, Potyguar, 1ll
Mead, Margaret, 90
Mello, Evaldo Cabral de, 38
Mello, Frederico Pernambucano de, 112
Mendonça, Thais de, 74
Menezes (engenheiro). 93
Menezes, João Barreto de, 47
Meynaud, M. Jean, 60
Millet, Henrique Augusto, 91,92, 93
Ministério da Previdência Social, 102
Mishan, E. J., 106
MIT (MMassachussets Institute of
Motta, Technology). 2
Roberto Mauro Cortez, l1, l12
Mukerjee,J. N., 11, 103, 125
Mumford, Lewis, ?
Mussalém, Josué Souto Maior, 133
Nabuco, Carolina (Carolina Nabuco de Araujo), 8?
Nabuco, Joaquin (Joaquim Aurélio Nabuco de Araujo), 29, 31, 66, 93
Namei, Gerard, l15, 117
Nascimento e Silva, Luiz
Gonzaga do, l02
Nassau Siegen, Johann Mauritius van,
-
36,03
Niemeyer, Oscar, 57, 69, 88, l15, 121, 123
Oliveira, Franklin de, 32
Oliveira Lima, Manuel, 93
Partido Socialista Francês, ll6
Passarinho,
Passos, JohnJarbas, 99
dos, l19
152

Pereira, Duarte Coelho, 63


Pereira, Francelino, 99
Pereira, Lúcia Miguel, 88
Pereira da Costa, Francisco Augusto, 93
Peres, Gaspar, 93
Péricles ver MaranhÃo, Péricles de Andrade,
Pontes de Miranda, Francisco Cavalcanti, 87
Pouillon, Jean, 28
Portinari, Cândido, 87
Prado, Antônio da Silva, 37, 38
Prado, Martinho, 38
Prefeitura de Curitiba, 136, 137, 138, 139, 140
Prestes, Júlio, 68
Prestes, Luis Carlos, 68
Proença, Mlanuel Cavalcanti, 32
Quadros. Jânio da Silva, 29
Queiroz, Rachel de, 87, 88
Rêgo. José Lins do, 87, 88
Rizzoli, Editora, 13
Rocha, Tadeu, 93
Rocha, Munhoz da, 37
Rodrigues, Nelson, 50
Roepke, Wilhelm, 96
Romero, Silvio, 29
Roper, Christopher, 28
Roquette Pinto, Edgar, 50
Rosecrance, Francis Chase, 120
Salgado, Paulo, 93
Secretaria da EducaçãoeCultura do Estado de Pernambuco, 79, 81
Secretaria de Agricultura do Paraná, 136, 140
Seminário de Tropicologia, 15, 51
Senghor, Lépold Sédar, 62
Shafer, Joseph, 86
Silos, Honório de, 37, 38
Silva, Antönio de Morais, 86
Silva, Arthur Orlando da, 93
Silva, José Bonifácio de Andrada e, 45, 52
Silva Melo, Antönio da, 70,87
Simposio Altemativas para a Crise Económica, l19
Sociedade Auxiliadora da Agricultura (Recife), 93
Sociedade de Sociologia Agricola de
Götingen,50
153

Souza, Coelho de, 91


Souza, Washington Peluso Albino de, 75
Spengler. Oswald, 78
Superintendéncia de [Desenvolvimento Regional, 38
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), 26, 37, 38.
39, 40, 119
Stanley, Eugene, 119
Taltasso, Pierre, 98
Teixeira, Anisio, 75, 87, 123
Telles, Antônio de Queiroz (Conde de Parnaíba), 38
Thomas, 49
Tollenare, L. F.. 93
Toynbee, Arnold, 31l, 69
Travassos, Mário, 33, 34
UNESCO(Organização das Nações Unidas para Educação), 44,98
Universidade Cândido Mendes, 47
Universidade de Cornell, 120
Universidade de Harvard, 72, 105
Universidade de Uppsala (Suécia), 86
Universidade Rural de Pernambuco, 93
Vão Gogo pseud. (lillor Fernandes), 87
Vargas, Getúlio Dornelles, 47
Vauthier, Louis Léger, 91, 92,93, 103
Verissinno, Erico, 88
Verisimo, Inácio José, 29, 34
Vilela, Teotônio, 99, 102
Villa-Lobos, lleitor, 66, 87, 88
Vinacke, W. E., 124
Virgílio, 86
Washington,
Weber, lax, George,
49, 50
86
Whyte, William F., 120
Znaniecki, Florian Nitold, 49
1882
1982

MoNTE0RO
LobaTO
CMENAGEM OA RNDCAO 00MA

1981-1990

Este livro foi impress0 para a Fundação Joaquim


Nabuco na Editors Gráfica e Papelaria Star
situada à Avenida Beberibe, 1432/1442 -
Aruda, Recife, em 1982, Ano Nacional do Ido0,
Centenário Monteiro Lobato e octogésimo
de
aniversário da primeira edição do livro
Os Sertões de Euclydes da Cunha, dentro da
Década Internacional da Ågua Potável
e do Saneamento Ambiental.

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