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UNIVERSIDADE INDEPENDENTE DE ANGOLA

FACULDADE DE ECONOMIA E GESTÃO

APONTAMENTOS DE MICROECONOMIA PARA O SEGUNDO SEMESTRE


2020/21

Luanda/2021
ÍNDICE

CAPÍTULO VI – TEORIA DO CONSUMIDOR....................................................................1

6.1 Nota introdutória ...........................................................................................................1

6.2 Utilidade e consumo ......................................................................................................1

6.3 Função utilidade ............................................................................................................2

6.4 Utilidade marginal. As leis de Gossen ...........................................................................3

6.5 Utilidade, eficiência e bem-estar....................................................................................4

6.6 Orçamento e consumo óptimo .......................................................................................5

6.7 Curva de indiferença .....................................................................................................6

6.8 Restrição orçamental com dois bens e no caso de um bem compósito ............................9

6.9 Equilíbrio do consumidor ............................................................................................ 11

6.10 Alterações ao equilíbrio do consumidor ..................................................................... 12

6.10.1 Variações no rendimento, ceteris paribus – curva consumo rendimento (CCR) e


curva de Engel ............................................................................................................... 12

6.10.2 Variações no preço de um bem, ceteris paribus – curva consumo preço (CCP),
curva da procura e decomposição do efeito preço .......................................................... 12

6.11 Taxa marginal de substituição ................................................................................... 14

6.11.1 Análise gráfica e analítica da TMS ......................................................................... 14

6.11.2 A TMS e as diferentes tipologias de curvas de indiferença...................................... 14

Bibliografia .......................................................................................................................... 15

Tabelas

Tabela 1: Utilidade total e marginal ........................................................................................1


Tabela 2: Relação entre utilidade total, marginal, preço e excedente do consumidor ...............2
CAPÍTULO VI – TEORIA DO CONSUMIDOR
6.1 Nota introdutória

Ao analisar-se o comportamento do consumidor é necessário saber que tipo de bens o mesmo


quer, como reage perante as características desses bens e, sobretudo, quais os sentimentos que
expressa em relação ao bem. É suposto que cada consumidor busque maximizar a satisfação a
ter com o consumo de um bem. A medida da satisfação está relacionada com a utilidade do
consumidor, conceito económico usado para compreender o seu comportamento.

A utilidade, conceito base de toda teoria do consumidor, mede a sua satisfação, em resultado
do consumo de bens e serviços. O desenvolvimento do conceito de utilidade permite explicar
e justificar as escolhas dos consumidores, tendo em conta o seu rendimento disponível e os
preços dos bens e, ainda, compreender a curva da procura. Embora não seja fácil medir a
utilidade é possível ordenar os bens por ordem de preferência.

6.2 Utilidade e consumo

Em economia o conceito de utilidade significa satisfação ou prazer que os consumidores


retiram do consumo de determinado bem e é através dele que é possível explicar a forma
como os consumidores conseguem efectuar as suas escolhas de consumo, tendo em conta o
rendimento disponível e os preços dos bens (Nabais & Ferreira, 2010). Qualquer consumidor
tem satisfação em consumir um determinado bem. É a esta “satisfação”, ou “prazer”, que dá-
se a designação de utilidade, não em termos objectivos mas sim em termos subjectivos,
porque o grau de utilidade do mesmo bem varia de consumidor para consumidor.

Para melhor entendimento verifique o exemplo que se segue que faz menção a função
utilidade referente ao consumo de refrigerantes:
Tabela 1: Utilidade total e marginal
Quantidade Utilidade Total Utilidade Marginal
0 0 -
1 3 3
2 5,7 2,7
3 7,9 2,2
4 9,6 1,7
5 10,6 1
6 11 0,4
7 11,2 0,2
8 11,2 0
Fonte: (Nabais & Ferreira, 2010, p. 140)
Veja que a teoria económica distingue os conceitos de utilidade inicial (referente à primeira
unidade consumida), total (soma das utilidades de todas as unidades) e a marginal. O conceito

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de utilidade marginal expressa o acréscimo de utilidade que se verifica quando é consumida
mais uma unidade do bem conservando-se constantes as quantidades consumidas se outros
bens. Por exemplo, existe uma utilidade marginal para o primeiro copo de refrigerante, outra
para o segundo, outra para o terceiro, e assim sucessivamente.

Obs: note-se que a utilidade total, que é a soma das utilidades marginais, cresce à medida que
se consome unidades adicionais, mas esse crescimento é cada vez menor, a partir de
determinado nível de consumo.

Enquanto não é atingida a saciedade, a utilidade marginal é sempre positiva, ou seja, existirá
sempre algum acréscimo de utilidade quando é consumida mais uma unidade do bem.
Contudo, devido á lei das utilidades marginais decrescentes, este acréscimo de utilidade é
cada vez menor.

6.3 Função utilidade

Cada consumidor gasta o seu rendimento em bens e serviços com o intuito de maximizar a
sua utilidade. A relação entre o consumo de vários bens e o total da utilidade que gera é
designada por função de utilidade. Esta é uma característica de cada um dos consumidores,
daí a necessidade de utilizar uma função utilidade total, que não é mais do que uma junção de
várias funções de utilidade individual (Nabais & Ferreira, 2010).

A título de exemplo vamos considerar a função utilidade mencionada na tabela nº 1,


representada na página nº 1 do presente apontamento para as aulas, em que considera-se o
seguinte:

Tabela 2: Relação entre utilidade total, marginal, preço e excedente do consumidor


Quantidade Utilidade Total Utilidade Marginal Preço Excedente do
consumidor
0 0 - - -
1 3 3 1,70 1,3
2 5,7 2,7 1,70 1
3 7,9 2,2 1,70 0,5
4 9,6 1,7 1,70 0
5 10,6 1 1,70 -0,7
6 11 0,4 1,70 -1,3
7 11,2 0,2 1,70 -1,5
8 11,2 0 1,70 -1,7
Fonte: (Nabais & Ferreira, 2010, p. 142)
Em termos gráficos, o representado na tabela acima, significaria que a zona acima da linha de
P, representaria a utilidade que o consumidor usufrui ao consumir os refrigerantes, mas que
pela qual não paga. Esta “utilidade não paga” é designada como excedente do consumidor.

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Obs: segundo a teoria do consumidor, sempre que a utilidade marginal for positiva, o
consumidor deve continuar a comprar, se for negativa deixa de comprar. Contudo, se tem por
objectivo maximizar a utilidade, o consumidor compra até a utilidade marginal igualar o
preço (4 unidades/copos).

Importa ainda fazer a seguinte referência:

Que partindo da utilidade marginal – base do valor como apreciação subjectiva dos bens –
Von Wieser chegou aos conceitos de utilidade e de valor total. Utilidade total será a soma das
utilidades potenciais de cada unidade, ou seja, daquelas a que cada uma caberiam se fossem as
últimas. E o valor total é o resultado da multiplicação da utilidade marginal pelo número de
utilidades disponíveis de um bem. Assim, enquanto a utilidade marginal decresce a medida
que aumenta o número de unidades disponíveis, mas em proporção decrescente. Já o valor
total aumenta com o número de unidades até ao ponto em que decréscimo da utilidade
marginal compense, no produto, aquele aumento. Contudo, o valor reduz, até poder chegar a
zero, quando os bens se tornam livres, por deixarem de ser raros.

Obs: o conceito de utilidade total é relevante para se saber qual a diferença entre a utilidade
efectivamente recebida e a utilidade subjectiva dos bens.

6.4 Utilidade marginal. As leis de Gossen

Em meados do século XIX, o conceito de utilidade marginal surgiu como fundamento de


valor económico e como critério de apreciação da actividade económica em geral. Conceito
desenvolvido por Gosses que exprime o seguinte:

 A intensidade de uma dada satisfação, à medida que se prolonga no tempo, vai


diminuindo até à saciedade;
 O sujeito económico pode escolher entre varias satisfações, mas não tem a
possibilidade de as alcançar a todas de uma maneira completa, por isso, ainda que
possam existir grandes diferenças absolutas, para alcançar o máximo possível de
satisfação, tem de as disfrutar a todas parcialmente, e de tal maneira que a intensidade
de cada uma seja, no momento em que, igual às demais.

Obs: Para Gossen, o sujeito económico só pode, aumentar a sua satisfação total na medida em
que o prazer provocado pelas coisas produzidas for maior do que o sacrifício imposto pelo
esforço de trabalho necessário a essa criação.

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Surge o conceito de “desutilidade” que expressa o sacrifício suportado para além da satisfação
de uma necessidade.

Associado ao conceito de utilidade está o conceito paradoxo do valor. Muitas questões se


colocam. Porque é que bens tão necessários à vida (como a àgua) apresentam um preço baixo,
enquanto outros bens menos necessários (como os diamantes) apresentam um preço tão
elevado? Trata-se da questão do paradoxo do valor que está associada à escassez dos bens e
que é analisada com base na lei da utilidade marginal.

Como o preço é influenciado pela utilidade marginal da última unidade consumida, nos bens
abundantes essa utilidade marginal é baixa e nos bens escassos é alta. Então o preço é baixo
nos bens abundantes e alto nos bens escassos, independentemente da sua utilidade total.

O paradoxo do valor esclarece a distinção entre valor de uso e valor de troca. Com o princípio
da utilidade marginal é possível explicar a formação do valor de troca em directa
correspondência com o conceito económico de utilidade. O valor de troca representa as
proporções nas diversas quantidades de bens quando se realizam permutas para que se
proceda ao nivelamento das utilidades dos diferentes bens afectos à satisfação das diversas
necessidades.

6.5 Utilidade, eficiência e bem-estar

Segundo (Nabais & Ferreira, 2010), a utilidade esperada de um bem ou serviço vai pesar
decisivamente na concretização da troca e na atribuição de um valor ao bem ou serviço que se
pretende adquirir. O consumidor e o produtor têm comportamentos diferentes. Enquanto o
produtor, deseja vender o bem ou serviço a um preço que cubra o preço de custo e obter um
lucro, o consumidor visa comprar mais quantidades a um preço mais baixo. O mercado como
mecanismo coordenador da economia promove o equilíbrio entre as duas partes com a
formação do preço de equilíbrio que resulta da intersecção das curvas da procura e da oferta.

Na análise do bem-estar é indispensável saber-se qual a repercussão prática, para os sujeitos


económicos individualmente considerados e para a comunidade económica, do
funcionamento do mercado e do modo como as necessidades são satisfeitas.

Nota: o excedente do consumidor atras estudado, é o montante líquido que corresponde ao


acréscimo de bem-estar que o comprador obtém através das trocas e que foi desenvolvido
com recurso ao conceito de utilidade marginal.

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6.6 Orçamento e consumo óptimo

Qualquer consumidor que tencione consumir um conjunto de bens depara-se com uma curva
de orçamento que representa todas as combinações possíveis de quantidades dos bens em
causa. Entende-se também que o comportamento do consumidor não é apenas determinado
pelas suas preferências mas também pelo rendimento auferido, como veremos adiante.

A localização e o declive da curva mencionada no parágrafo anterior, dependem do


rendimento do consumidor e dos preços dos bens. Assim se o rendimento do consumidor por
alguma situação diminuir a curva do orçamento desloca-se para esquerda e o consumidor em
causa passa a ter menos possibilidade de consumo. Como o orçamento constitui uma restrição
é natural que o consumidor tente maximizar o seu consumo. O ponto óptimo de consumo
corresponde à alternativa que maximiza a utilidade total.

Obs: pode-se igualmente apurar o ponto óptimo de consumo recorrendo à análise da utilidade
marginal, sabendo como utilizar uma unidade monetária marginal.

Para o efeito, é necessário dividir a utilidade marginal de um bem pelo seu preço. Este
quociente também se designa como utilidade marginal por unidade monetária. Se dividir-se a
respectiva utilidade marginal pelo preço, obtém-se a “utilidade marginal por cada unidade
monetária” que é proporcionada com o consumo desse bem.

A lei do consumo óptimo diz-nos que, numa curva de utilidade marginal, por uma unidade
monetária gasta por cada bem ou serviço, o ponto óptimo corresponde ao nível de consumo
em que a utilidade marginal do bem ou serviço dividida pelo seu preço é a mesma.

Obs: A lei da igualdade das utilidades marginais por cada unidade monetária, significa que os
consumidores, ao adquirirem os bens 1,2,…n, escolhem as quantidades de tal forma que as
utilidades marginais por cada unidade monetária são todas iguais.

Portanto para melhor sustentar o parágrafo anterior importa fazer as seguintes suposições:

Se deixar de haver esta igualdade e que o bem 1 tinha uma utilidade marginal por
unidade monetária maior do que a dos outros. Neste caso o consumo deste bem
proporcionava mais utilidade marginal por cada unidade monetária, pelo que, o

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consumidor iria preferir consumir maior quantidade deste produto. Mas, ao consumir
mais, diminuiria a utilidade marginal, o que faria restabelecer a igualdade.
Se o bem 1 tiver uma utilidade marginal por cada unidade monetária menor do que a
dos outros, o consumo deste bem, proporcionava menos utilidade marginal por cada
unidade monetária. Sendo assim o consumidor iria preferir consumir menos
quantidade deste produto. Ao consumir menos, aumentaria a utilidade marginal, o que
faria restabelecer de novo a igualdade referida.

A igualdade anterior, tal como vamos ver no estudo da restrição orçamental e da curva da
indiferença, pode ser expressa do seguinte modo:

O ponto óptimo de consumo corresponde ao nível em que a razão entre as utilidades


marginais é igual à razão entre o preço dos bens ou serviços.

6.7 Curva de indiferença

Importa ter em atenção os axiomas das preferências individuais:

As preferências dos consumidores obedecem a dois pressupostos ou axiomas:

As preferências dos consumidores são completas  admite-se que os consumidores


conseguem sempre estabelecer relações de preferência ou indiferença entre as
combinações de bens.
Simbologia:
- A  B (combinação A de bens é preferida á combinação B de bens) ou
- A  B (indiferença entre as combinações A e B de bens).
As preferências dos consumidores são coerentes  admite-se que os consumidores
são coerentes nas escolhas que fazem  as escolhas são reflexivas e transitivas:
Simbologia:
- Escolhas reflexivas: A (X=8; Y=5)  B (X=8; Y=5)
- Escolhas transitivas: A (X,Y)  B (X,Y) e B (X,Y)  C (X,Y)  A (X,Y) 
C(X,Y).

As escolhas dos consumidores baseiam-se em preferências, que pressupõem comparações


entre bens ou conjuntos de bens. O consumidor, no processo de consumo, tem a necessidade

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de verificar qual a fronteira do seu rendimento para efeito de realização de escolhas e, dentro
dessa fronteira, poderá encontrar os recursos indispensáveis para uma satisfação equilibrada
das suas necessidades.

De acordo com (Pinho, 2012), as preferências do consumidor podem ser representadas por
curvas de indiferença que retratam a utilidade/satisfação obtida do consumo de diferentes
combinações de bens. Entende-se por curva de indiferença o lugar geométrico das diferentes
combinações de bens (X e Y) entre as quais o consumidor permanece indiferente. Ao longo
de uma curva de indiferença a combinação dos bens altera-se mas a utilidade é sempre a
mesma. Em termos analíticos: UT(X,Y) = f(X,Y).

Y Curva de indiferença Y Mapa de indiferença

A AB A

B B U3
U2
U1
0 0
X X
As preferências do consumidor dizem-se racionais ou «bem comportadas» se obedecerem a
determinados axiomas:

Axioma da «não saciedade» ou «mais é preferido a menos» - entre duas


combinações o consumidor prefere a que tiver mais de um ou dois bens:
Exemplo: A (X=10; Y=20)  B (X=10 ; Y =19).
As curvas de indiferença são decrescentes da esquerda para a direita  não podem
ser crescentes, nem horizontais e nem verticais de acordo com o axioma da «não
saciedade».
Demonstração:

Y Y BA Y BA
BA

B A B
B

A
A

0 0 0
X X X
As curvas de indiferença não se podem cruzar sob pena de violarem o axioma da
transitividade.

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Demonstração:
Y
A C

0
X
De acordo com esta demonstração é possível concluir que:

A  B e B  C  A  C  não é verdade porque A e C estão em curvas de


indiferença diferentes e, pelo axioma da não saciedade: C  A.
Quanto mais afastadas da origem estiverem as curvas de indiferença maior é a
utilidade que representam.
Demonstração:

A B

U2

U1

0 XA XB X
As curvas de indiferença são convexas em relação à origem Lei da Utilidade
Marginal Decrescente.
Demonstração:

Y Curva de indiferença Y Curva de indiferença


A côncava
convexa
A
B

0 0
X X
Diversidade no Especialização no
consumo consumo
De acordo com (Pinho, 2012), qualquer que seja a curvatura da curva de indiferença é
evidente que para consumir mais de um dos bens e manter a mesma utilidade o indivíduo tem
de abdicar do consumo do outro bem. Por exemplo, fazendo uma análise da esquerda para a
direita é possível concluir que se a CI for côncava, o consumidor prescinde cada vez mais do
bem Y para consumir quantidades adicionais do bem X. O contrário sucede se a CI for
convexa, ou seja, o consumidor prescinde cada vez menos do bem Y por quantidades
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adicionais do bem X. Esta situação é consistente com a realidade porque à medida que um
indivíduo consome quantidades adicionais de um mesmo bem, os acréscimos de utilidade
fornecidos vão diminuindo  Lei da Utilidade Marginal Decrescente.

A utilidade marginal de um bem representa os acréscimos de utilidade resultantes do consumo


de quantidades adicionais desse bem. Algebricamente:

No entender de (Nabais & Ferreira, 2010), a curva de indiferença apresenta as seguintes


características:

Nas curvas de indiferença, as deslocações ao longo da curva apresentam sempre o


mesmo significado: trata-se de combinações possíveis que apresentam a mesma
utilidade ao longo de cada curva;
Cada uma das curvas apresenta uma utilidade diferente: as curvas mais a direita
representam combinações de maior utilidade do que as curvas à esquerda, porque
representam maiores quantidades de um ou de ambos os bens;
As curvas de indiferença nunca se intersectam porque cada uma corresponde a um
único nível de utilidade total. Uma preferência do consumidor não pode corresponder
a dois níveis diferentes de utilidade total;
A curva da indiferença possui uma inclinação negativa e convexa em relação à origem
(lei da substituição);
O consumidor prescinde de maior quantidade do bem abundante para ter uma unidade
de bem escasso.

6.8 Restrição orçamental com dois bens e no caso de um bem compósito

Corroborando com (Pinho, 2012), o objectivo do consumidor é maximizar a sua utilidade. No


entanto esta procura da maximização está condicionada ao respeito da sua restrição
orçamental. O rendimento disponível (R) do consumidor é aplicado na aquisição dos bens X e
Y, sendo que o produto de cada unidade pelo seu preço unitário se traduz em gasto total ou
despesa total com cada um dos bens. Assim a restrição orçamental (RO) do consumidor é:

Graficamente:

Deve resolver-se a RO em ordem a Y:

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Em que:

equivale à ordenada na origem  quantidade máxima adquirida do bem Y se todo

rendimento for aplicado na aquisição deste bem.

Resolvendo em ordem a X ter-se-ia:

equivale à abcissa na origem  quantidade máxima adquirida do bem X se todo

rendimento for aplicado na aquisição deste bem;

equivale ao declive da RO  .

R/PY

0 R/PX
X
Todas as combinações de bens localizadas à esquerda da RO pressupõem que a dotação
orçamental não é toda gasta  poupança ou o consumidor é aforrador. Por outro lado, as
combinações localizadas à sua direita são inatingíveis, não sendo a dotação orçamental
suficiente  crédito ou o consumidor é devedor. Qualquer combinação situada sobre a RO
pressupõe o gasto integral do rendimento disponível.

Por outro lado sabe-se que na realidade um qualquer consumidor depara-se com a escolha
entre n bens e não apenas entre dois. Para tornar a análise mais real e ao mesmo tempo
minimizar as dificuldades que daí podem advir, Alfred Marshall, propôs uma solução que
passa por considerar que o consumidor tem de escolher entre um determinado bem específico
– chamemos-lhe bem X e um conjunto de outros bens chamemos-lhe M ou bem compósito.
Por questões de simplificação assume-se que o preço do bem compósito é 1.

Um bem compósito representa o rendimento que resta ao consumidor depois de ter comprado
o bem X;

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Y

0 R/PX
X
6.9 Equilíbrio do consumidor

O equilíbrio do consumidor pressupõe a maximização da utilidade dada uma determinada


dotação orçamental.

Graficamente:

Y
A

E
U3
B U2
U1
0
Algebricamente: X

Declive da RO
Declive da curva de indiferença
Ponto A :

Ponto B :

Equilíbrio

Equilíbrio bem compósito

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De com o gráfico é possível constatar que por muito que o consumidor maximize o seu nível
de satisfação em o rendimento de que dispõe não lhe permite alcançar essa utilidade
(encontra-se a direita da RO). O equilíbrio corresponde assim ao ponto assinalado com E que
equivale ao ponto de tangencia entre a restrição orçamental e a curva de indiferença mais
afastada da origem. Deve-se notar que a curva de indiferença U3 não representa a
maximização da utilidade do consumidor porque está aquém da sua dotação orçamental. Os
pontos A e B ainda que sobre a RO não são pontos óptimos porque, embora o individuo gaste
o mesmo que em E, alcança um menor índice de satisfação.

6.10 Alterações ao equilíbrio do consumidor

6.10.1 Variações no rendimento, ceteris paribus – curva consumo rendimento (CCR) e


curva de Engel
Sempre que o rendimento do consumidor se altera, permanecendo tudo o mais constante, a
reta orçamental desloca-se paralelamente dando origem a novos pontos de equilíbrio. A CCR
traduz a união destes novos equilíbrios, isto é, corresponde ao lugar geométrico dos pontos de
equilíbrio do consumidor quando varia o seu nível de rendimento, ceteris paribus. A partir da
CCR é possível deduzir de Engel que traduz a relação directa entre nível de rendimento e
quantidade procurada de um bem (Pinho, 2012).

Y R
R``/PY
R`/PY
R/PY
CCR: Y=f(X) X=f(R) ou Y=f(R)

0 R/PX R`/PX R``/PX X 0 X ou Y

Obs: A curva de Engel é crescente no


caso dos bens normais e é decrescente
no caso dos bens inferiores

6.10.2 Variações no preço de um bem, ceteris paribus – curva consumo preço (CCP),
curva da procura e decomposição do efeito preço
Sempre que o preço de um dos bens se altera, permanecendo tudo o mais constante, a reta
orçamental sofre uma deslocação perpendicular dando origem a novos pontos de equilíbrio. A
CCP traduz a união destes novos equilíbrios, isto é, corresponde ao lugar geométrico dos

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pontos de equilíbrio do consumidor quando varia o preço de um dos bens, ceteris paribus. A
partir da CCPx (ou CCPy) é possível deduzir a curva da procura de X (ou Y) que traduz a
relação direta entre a quantidade procurada de um bem e o seu preço.

Y Y
R/PY R´´/PY

R´/PY
CCPx: Y=f(X) CCPy: X=f(y)
R/PY

0 R/PX R/PX´ R/PX´´ 0 R/PX


X X

Px Py

X=f(Px) Y=f(Py)
)

0 X 0
PxPx´Px´´ Y
PyPy´Py´´
Sempre que o preço de um bem, por exemplo, aumenta (diminui), ceteris paribus, ocorrem
dois efeitos:

- Efeito substituição: resulta do facto de o consumidor tender a substituir o bem cujo preço
aumentou (diminui) pelo outro bem que ficou, relactivamente, aquele mais barato (caro) 
deslocação sobre a mesma curva de indiferença.

- Efeito rendimento – resulta do facto de o consumidor sentir que, face a subida (descida) do
preço do bem, o seu rendimento real (R/P) diminuiu (aumentou) o que faz com que consuma
menos (mais) de ambos os bens.

A decomposição do efeito preço pode ser explicada através de duas abordagens distintas:
abordagem Hicks e abordagem Slutsky.

Decomposição do efeito preço segundo Hicks – de acordo com Hicks, sempre que o
preço de um bem sobe (desce) o rendimento real do consumidor diminui (aumenta)
pelo que se deve compensar («descompensar») o consumidor dando-lhe (retirando-

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lhe) rendimento de modo a que ele aos novos preços obtenha a mesma utilidade
inicial;
Decomposição do efeito preço segundo Slutsky – de acordo com Slutsky, sempre que
o preço de um bem sobe (desce) o rendimento real do consumidor diminui (aumenta)
pelo que se deve compensar («descompensar») o consumidor dando-lhe (retirando-
lhe) rendimento de modo a que ele aos novos preços possa adquirir a combinação
inicial de bens.

6.11 Taxa marginal de substituição

A configuração gráfica (decrescente e convexa) de uma curva de indiferença informa-nos que,


para que o consumidor consuma mais de um dos bens sem ver alterado o seu nível de
satisfação, terá de prescindir do consumo do outro bem. A medida desta substituibilidade
entre dois bens designa-se Taxa Marginal de substituição (TMS). A TMS pode ser lida de
duas formas, dependendo do sentido da deslocação sobre a mesma curva de indiferença:

- TMSyx- mede o número de unidades do bem Y de que o consumidor está disposto a


prescindir para conseguir consumir uma unidade adicional do bem X, mantendo a mesma
utilidade.

Ou:

- TMSxy- mede o número de unidades do bem X de que o consumidor está disposto a


prescindir para conseguir consumir uma unidade adicional do bem Y, mantendo a mesma
utilidade.

TMSyx= 1/ TMSxy

Obs: A TMS só mede a substituibilidade entre os bens considerando a mesma curva de


indiferença e nunca entre curvas de indiferença.

6.11.1 Análise gráfica e analítica da TMS

6.11.2 A TMS e as diferentes tipologias de curvas de indiferença

Obs: a informação relacionada aos dois últimos pontos encontra-se na adenda a este material

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Bibliografia
NABAIS, C.; FERREIRA, R. V. Microeconomia: lições e exercícios. Porto: Lidel, 2010.

PINHO, M. Microeconomia: teoria e prática simplificada. Lisboa: [s.n.], 2012.

VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos, uma abordagem moderna. São Paulo:


Elsevier, 2006.

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