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1. Introdução
O setor da construção civil está atrelado ao desenvolvimento econômico, porém é
caracterizado por problemas sérios em relação às condições de trabalho, baixa qualificação e
altos índices de acidentes (OLIVEIRA, 2012). Segundo Fang e Wu (2013) a taxa de acidentes
de trabalho no setor de construção, em todo o mundo, está entre as mais altas em relação a
outras indústrias, com aproximadamente cinco mortes ocorrendo a cada dia de trabalho.
No que diz respeito a segurança, a falta de atenção a determinados fatores na fase da
concepção do projeto, trazem como consequências inúmeras situações de risco nas etapas de
execução e manutenção (MELO FILHO et al., 2012). A situação ideal é que a segurança dos
trabalhadores da construção seja uma consideração primordial dos projetistas e planejadores
nas fases conceitual e preliminar do projeto (GAMBATESE; BEHM; RAJENDRAN, 2008).
De acordo com Gambatese, Behm e Rajendran (2008), o interesse sobre o conceito de
projetar para a segurança na construção vem crescendo e sendo reconhecido como uma
intervenção viável e vantajosa a ser implementada, a fim de melhorar o desempenho de projetos
na construção civil. Projetar para a segurança do trabalhador da construção deve ter como
finalidade a redução dos riscos, devendo ser realizada através de uma abordagem em equipe,
com colaboração entre o projetista, proprietário e construtor (GAMBATESE; BEHM;
RAJENDRAN, 2008). As escolhas de projeto, frequentemente, determinam os métodos de
construção e cronograma, no entanto, é dada atenção limitada à segurança durante a fase de
projeto (HINZE E WIEGAND, 1992).
Buscando compreender o conhecimento e a utilização do conceito de prevenção através
do projeto (PtD) em empresas de construção, este artigo apresenta os resultados da analise da
atividade dos projetistas (arquiteto e engenheiros) em uma empresa de projetos de construção
civil, que elabora projetos de obras de infraestrutura em parceria público-privada, utilizando a
a metodologia fundamentada na Análise Ergonômica do Trabalho (AET).
Este artigo está inserido no projeto de pesquisa e desenvolvimento “Projetando a partir
da análise da atividade de execução, uso e manutenção de edificações: abordagem da
Ergonomia, da Engenharia de Resiliência e do Safety II” (SALDANHA, 2016).
2. Principais conceitos
2.1 Prevention Through Design (PtD)
Prevention Through Design (prevenção através do projeto) é uma metodologia aplicada
à diversas fases do processo de projeto, que busca identificar e mitigar os riscos e perigos que
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3. Metodologia
Este artigo utiliza a metodologia fundamentada na Análise Ergonômica do trabalho –
AET, a qual é constituída pelas seguintes fases: instrução/construção das demandas,
modelagem da atividade, projeto e construção de soluções adequadas à organização (VIDAL,
2003). Em virtude do isolamento social decorrente da pandemia de covid-19, algumas atividades
previstas na metodologia da AET tiveram que ser adaptadas. Assim, as reuniões e ações
conversacionais foram realizadas de modo virtual e, não foram realizadas observações in loco.
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Ao longo das fases das fases de análise global e análise da atividade, três profissionais
foram entrevistados, uma engenheira civil que é mais focada na área administrativa da empresa,
mas que também elabora orçamentos e projetos, uma engenheira civil que elaboração projetos
complementares e o arquiteto, que é responsável por todos os projetos arquitetônicos. Essas
reuniões foram realizadas de forma virtual individual e duraram em média 60 minutos.
Após a modelagem da atividade e a identificação de seus determinantes foi possível
elaborar recomendações de melhorias para o processo de elaboração do projeto básico.
4. Resultados
A empresa foco desse estudo é um escritório de projetos, que elabora projetos de obras
de infraestrutura com parceria público-privada. Foi fundada em 2018, através da identificação
de uma oportunidade de mercado, sendo fruto do investimento de um empreendedor da região.
A empresa está localizada em uma capital do nordeste do Brasil e, elabora projetos para diversos
municípios do estado.
Atualmente, conta com um quadro de 8 funcionários, sendo 1 coordenadora de projetos
formada em engenharia civil, 1 técnico em edificações, 4 engenheiras civis, 1 arquiteto e 1
design de interiores, que trabalham de segunda a sexta de 8:00 às 17:00 com intervalo de 1:00
para o almoço. Essa equipe é responsável por elaborar, em média, 20 projetos por mês, sendo
estes projetos de diferentes tipos como: pavimentação, postos de saúde, escolas, quadras
esportivas, hospitais, portais de entrada da cidade, dentre outros, atendendo as demandas de
todas as cidades do estado da Paraíba.
O arquiteto da empresa possui 4 anos de experiência, que envolvem elaboração e
execução de projetos/obras e, trabalha na empresa analisada há 4 anos. A design de interiores é
a mais experiente da equipe no setor de projetos, estando há mais de 5 anos nesse mercado e 1
ano na empresa. A engenheira civil é responsável pelos projetos estruturais e complementares,
tem 1 ano de experiência e, apenas 5 meses na empresa. A engenheira civil responsável pelos
projetos complementares e setor administrativo tem 1 ano e 3 meses de experiência, todos estes
na empresa. Nenhum dos profissionais possuem cursos de especialização ou outra modadlidade
de pós-graduação.
A empresa é subdivida nos setores: administrativo e projetos. O setor administrativo faz
o controle do fluxo de caixa da empresa, controla e acompanha o processo dos projetos junto
as prefeituras, verifica os prazos e envia os projetos para aprovação na Caixa Econômica
Federal-CEF e demais órgãos necessários. O setor de projetos é responsável pela elaboração de
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todos elementos do projeto básico composto por: projeto arquitetônico, projeto estrutural,
projeto elétrico, projeto hidráulico e sanitário, memorial descritivo, relatório fotográfico,
Anotação de Responsabilidade Técnica-ART, orçamento e cronograma.
Por ser uma empresa que presta serviços para o setor público, o produto que é gerado
ao final do processo de trabalho faz parte de um fluxograma maior que faz parte do
procedimento licitatório regulamentado pela lei 8.666/1993, que os órgãos públicos são
obrigados a seguir e que envolve as seguintes fases: - preliminar (estudo de viabilidade e
elaboração do projeto básico), - aprovação de projeto, contratual (contratar a empresa que irá
executar), e fase posterior, - contratação (execução) (Figura 2). A empresa analisada gera o
produto da fase preliminar, que se refere ao estudo de viabilidade do projeto, elaboração do
projeto e, aprovação do projeto perante a CEF, para liberação da verba (recurso) do projeto.
municípios recebem recursos federais para obras, a Caixa Econômica Federal (CEF) precisa
aprovar o projeto da construção para a prefeitura receber o recurso financeiro. O escritório de
projetos atua neste setor de aprovação.
O projeto básico é composto pelas seguintes partes: projeto arquitetônico, projeto
estrutural, projeto elétrico, projeto hidráulico e sanitário, memorial descritivo, relatório
fotográfico, ART, orçamento e cronograma. Para a elaboração do projeto básico a empresa
segue o fluxo mostrado na Figura 3.
Fonte: autores
O primeiro passo realizado pela empresa é alinhar com o prefeito ou com um de seus
representantes as necessidades do município, para isto, uma primeira reunião é realizada na
empresa para discussões iniciais. O recurso público já vem nomeado com um “objeto” que
especifica a sua finalidade, por exemplo, se o objeto de determinado recurso é pavimentação
asfáltica, este recurso só poderá ser usado para esta finalidade. O prefeito não tem poder para
mudar a finalidade do recurso, podendo apenas escolher qual rua será pavimentada. Este recurso
tem o prazo de 180 dias para ser aprovado junto a CEF, podendo este prazo ser estentido por
mais 180 dias, mediante justificativa plausível.
Após recolher as informações necessárias para a elaboração do projeto, é feito um
croqui (esboço inicial do projeto) da proposita inicial, que é apresentada para a prefeitura em
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eles buscam uma nova solução para resolver o problema identificado. Além disso, destacou que
o dono da empresa faz algumas visitas às obras, pois considera as visitas um momento de
aprendizado e de negociações, quando há divergências entre o projeto e a execução. Segundo a
arquiteto, em função do acervo de projetos armazenado na rede do servidor da empresa, onde
estão organizados em pastas específicas documentos, projetos e normas, a quantidade de
retrabalhos reduziu bastante. No início da empresa, quando se tinha muita coisa nova, havia
muito retrabalho. A empresa não realiza, após a finalização das obras, análise dos feedbacks
positivos ou negativos dos projetos. Desta forma, podemos inferir a possibilidade de repetição
de erros nos projetos, acarretando desperdícios, baixa qualidade, atraso no cronograma da obra,
problemas de construtubilidade e segurança do trabalho, dentre outros.
5. Discussões
A partir da análise da atividade de concepção e desenvolvimento de projetos de
construção civil em uma empresa, foi possível identificar: falta de
conhecimento/conscientização e aceitação do conceito de PtD; falta de conscientização do
impacto das decisões projetuais sobre a segurança nas fases de execução e manutenção; falta
de conhecimento prático sobre os processos de construtivos pelos projetistas; ausência de
colaboração entre construtores e projetistas; baixa comunicação entre projetistas e executores
do projeto; falta da análise das condições de segurança do trabalho na fase de execução das
obras para melhoria dos projeto futuros; falta de feedback dos aspectos positivos e negativos da
execução para melhoria dos projetos futuros; falta de conhecimento sobre os softwares que
identificam riscos durante a elaboração de seus projetos, como o software Synchro PRO. O
estudo de caso de Jin, Gambatese e Liu (2019) mostra como foi utilizado esse software para
detectar os riscos no projeto.
A construção civil caracteriza-se pela rotatividade de trabalhadores, tanto das equipes
técnicas (projetistas e engenheiros de obra) quanto dos quadros operacionais de obra (mestres,
encarregados e operadores), gerando uma perda do conhecimento técnico informal, acumulado
pela experiência e vivência. Entretanto, como não existe a formalização de conhecimentos
adquiridos, muitas informações e experiências acumuladas são perdidas no momento em que
algum funcionário é demitido, conforme relatado pelos entrevistados.
Desse moodo, torna-se importante que as empresas adotem sistemática de análise e
arquivamento dos feedback dos projetos desenvolvidos, envolvendo tantos as boas práticas de
projeto que possam ser replicadas em outras projetos reforçando os pontos de êxito, como as
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soluções negativas, que devem ser evitadas, evitando a repetição de erros. Informações sobre
boas praticas de construtibilidade e segurança do trabalho, podem servir como subsídio para a
retroalimentação de projetos que promovam situações de trabalho mais seguras, foram
sistematizadas por Araújo et al. (2022). Estudo realizado por Gambatese e Hinze (1999)
também apresenta sugestões projetuais que poderiam ser realizadas para melhorar a segurança
durante a construção.
Embora se saiba que os projetistas têm a capacidade de definir o cenário da segurança
das obras nos estágios iniciais do projeto, poucos profissionais tem conhecimento de como
utilizar práticas para melhorar a segurança nos projetos de construção. Com isso, os projetistas
podem apresentar aptidão para utilizarem listas de verificação ou outras ferramentas para
realizarem revisões e mudanças nos projetos por meio de análises preliminares de riscos
(HINZE E WIEGAND, 1992).
Estes estudos mostram que a falta de consideração de alguns aspectos na fase projetual
trazem impactos direto na segurança ocupacional, deixando os trabalhadores vulneráveis a
riscos quando executavam a atividade. Identifica-se, portanto, a necessidade da capacitação
e/ou conscientização da importância do conceito de PtD, a fim de se promoverem situações de
trabalho mais seguras para aqueles que realizam as atividades. Dessa forma, projetar pensando
nas etapas posteriores do ciclo construtivo pode facilitar o processo de execução e manutenção,
trazendo benefícios para a segurança dos trabalhadores, construtibilidade, usabilidade e
manutenabilidade. (SALDANHA, 2016).
5. Conclusão
Este artigo teve como objetivo para fornecer melhor entendimento sobre a atividade de
concepção e desenvolvimento de projetos em uma empresa de projetos voltados para
empreendimentos de construção civil, com foco no conhecimento e implementação dos
conhecimentos de PtD. As decisões tomadas em etapas iniciais do projeto arquitetônico,
repercutem fortemente em etapas subsequentes como a execução e/ou manutenção. Sendo
assim, é importante projetar pensando sobre a segurança do trabalhador integrando-se, assim,
todas as equipes que atuam nas diferentes etapas do ciclo construtivo.
A pesquisa desenvolvida apresenta algumas contribuições. Primeiro, do ponto de vista
teórico, possibilitou o avanço do conhecimento na discussão sobre projeto e segurança do
trabalho. Segundo, do ponto de vista prático, o foco na análise da atividade projetual permitiu
identificar falta de conhecimento dos profissionais sobre PtD e outras práticas que melhoram a
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_basicas_contratacao_fiscalizacao_obras_edificacoes_publicas_4_edicao.PDF. Acesso em 20 jan. 2022.
VIDAL, M. C. Guia para Análise Ergonômica do Trabalho na Empresa: uma metodologia realista, ordenada
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