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01/03/2024, 18:17 CAP2

Conceitos sobre produtividade

Muitos fatores afetam a maneira como a produtividade é interpretada e definida. Pessoas em áreas tais como
contabilidade, economia, engenharia e psicologia industrial interpretam a produtividade de maneiras
diferentes. Entretanto, o objetivo comum de ser competitivo e de manter lucros requer monitoramento
constante de esforços humanos e organizacionais; em outras palavras, sucesso requer medição da
produtividade (Smith, 1993).

Do ponto de vista do próprio processo produtivo, a produtividade pode ser referir a diversos níveis de
agregação de atividades. Desses, o mais geral é a nação como um todo, onde a produção confunde-se com
alguma medida do produto nacional. É claro que nada obsta, também, que as medidas envolvam grupos de
países, se isso for de interesse - como por exemplo, na comparação da produtividade industrial da
Comunidade Européia com a dos tigres asiáticos ou do Mercosul com os Estados Unidos.

Em um nível de agregação imediatamente abaixo ao do país como um conjunto, pode-se pensar em alguma
composição de setores, tais como agropecuária, indústria e serviços, apenas para citar a composição mais
comum. Como cada um desses grandes agregados econômicos comporta subdivisões, é possível prosseguir
desta forma, passando por exemplo a analisar a produtividade da construção civil, de cada um de seus
gêneros (construção pesada, edificações), subdivisões de seus gêneros (edificações: habitacionais,
comerciais, públicas), até atingir o nível de uma empresa em particular, e dentro desta, caminhar por
partições sucessivas até o nível de uma atividade ou processo unitário.

O significado do termo produtividade tem diversas interpretações também na indústria da construção civil,
conforme a percepção e o interesse das pessoas. As definições variam desde parâmetros econômicos amplos,
até medidas de desempenhos de equipes e operários. Uma visão clara e bem focalizada é o primeiro passo
para o entendimento e melhoria da produtividade na construção.

Pontos de vista sobre produtividade

Alguns enfoques sobre produtividade na construção civil são apresentados a seguir.

Enfoque Econômico

Os dados usados em análise econômica envolvem uma visão de ampla de empresas ou da indústria como um
todo. É uma visão apropriada para desenvolvimento de políticas e avaliações econômicas, mas inadequada ao
nível de projetos ou obras, devido ao nível de detalhe exigido. A expressão da produtividade neste caso é do
tipo:

Produtividade (economia)

= Total de produção ................(1a)


Força de trabalho+capital+materiais+equipamewntos+energia

Produtividade (economia)

= Saídas de recursos (dinheiro) ................................................................(1b)


Entradas de recursos (dinheiro)

A expressão apresentada pode ter alguns usos específicos no planejamento econômico de obras, onde as
saídas são expressas em termos de unidades físicas, como por exemplo em construção de estradas:

Produtividade
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= Produção ....................................................(2a)
Projeto+Construção+Inspeção+Manutenção

Produtividade

= Km de estrada .........................................................................................(2b)
Reais

Apesar de ser uma informação útil para definição de políticas e planejamento de investimento a expressão 2
também é subjetiva quando aplicada a projetos isolados.

Enfoque em Projetos

Uma forma mais precisa de definição usada em políticas governamentais em programas específicos e pelo
setor privado para estimativas ou para projetos individuais é a expressão na forma

Produtividade

= Produção ..................................................(3a)
Força de trabalho + equipamentos + materiais

Produtividade

= M² ...............................................................................................................(3b)
Reais

Muitas vezes se utiliza o inverso desta fórmula, como uma medida de produtividade:

Produtividade

= Reais ...............................................................................................................(3c)

Este é o caso típico dos valores do CUB no Brasil, em que os vários Sindicatos da Indústria da Construção,
divulgas valores de custo do m² de diversos tipos de projeto e de um valor médio do custo de construção.

Enfoque em Atividades

Um construtor é mais interessado em uma definição mais específica de produtividade, que aquela expressa na
equação 3. O nível de detalhe ó o de unidades de produção para tipos de serviços em particular. Unidades
típicas são metros cúbicos, metros quadrados, toneladas. Várias atividades podem ser relacionadas, tais como
fabricação e montagem de formas, concretagens, execução de revestimentos e alvenarias. Neste caso, a
produtividade é expressa em termos de unidades de produção (metros cúbicos, metros quadrados) por recurso
consumido (dinheiro) ou horas trabalhadas (homens-hora).

Produtividade da atividade

= Produção física ......................................................................................(4)


Custo de produção
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Produtividade da atividade

= Produção física ......................................................................................(5)


Horas trabalhadas

Da mesma forma que para projetos, nas atividades também se utiliza o inverso desta fórmula, como uma
medida de produtividade:

Produtividade da atividade

= Horas trabalhadas ......................................................................................(6)


Produção física

No âmbito do presente estudo, se abordará a produtividade conforme as expressões 5 e 6, enfocando-a no


nível de atividade ou serviço, com as horas trabalhadas sendo representados por hh (homens-hora). Apesar
dos demais níveis terem importância para determinadas aplicações, a proposta de abordagem do trabalho se
concentra e apresenta uma sistemática de apoio a gestão da construção na fase de execução de obras, útil a
construtores ou responsáveis pela realização dos serviços.

Índices de produtividade na construção civil

É amplamente aceito que as medidas de produtividade são importantes para o gerenciamento dos processos
da construção. As medições de produtividade proporcionam um importante meio para obter dados para
controlar o progresso dos processos de obras e para estimar o custo de futuros projetos. As medições
comparativas de consumos de homens-hora (hh) por metro quadrado de construção tem sido um parâmetro
mencionado como referência de busca de melhorias das atividades da construção. Os índices de
produtividade são utilizados para o controle de eficiência, através da comparação de valores pré-
estabelecidos (índices históricos do setor, índices históricos da empresa, índices objetivos do projeto).

Como exemplo, o Quadro 1 apresenta valores de produtividade na construção de edifícios de vários países,
demonstrando o consumo de mão-de-obra por m2 de projeção horizontal em planta. No Brasil os valores para
obras tradicionais são da ordem de 45 hh/ m2, podendo atingir até cerca de 70 a 80 hh/m2.

Quadro 1 - Produtividade da mão-de-obra na construção de edifícios em vários países

País Produtividade (hh/m²)

Suécia 10,6 a 10,7

Iugoslávia 20,9 a 43,0

Rússia 4,3 a 26,9

Tcheco-Eslováquia 8,8 a 20,6

Polônia 14,0 a 26,6

Holanda 11,4 a 17,1

FONTE: ROSSO, Teodoro "Racionalização da Construção", São Paulo, SP,

www.habitare.org.br/pdf/relatorios/8/obrasprod/manual/Cap2/CAP2.htm 3/7
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FAUUSP, 1980, pg. 190

Assim como em um projeto como um todo, as atividades ou serviços específicos também apresentam dados
de referência sobre produtividade. Na execução das alvenarias a produtividade é expressa através de
consumo de mão-de-obra por m2 de parede (homem-horas/m2). Alguns valores históricos estão apresentados
no

Quadro 2

, demonstrando consumos médios na execução das alvenarias, em pesquisa realizada em diversos países.
Quadro 2 - Produtividade da mão-de-obra na execução de alvenarias em vários países

País Produtividade (hh/m²)

Finlândia 2,10

Escócia 0,85

Suécia 1,19

Austrália 1,15

Reino Unido 2,96

FONTE: THOMAS, H.R.; VANDA, V.K.; HORNER, R.M. "Productivity similarities

amongmasonry crews in seven countries", CIB 90, vol. 6, pg. 548

Outra forma de comparação é a diferença entre índices de produtividade, conforme o grau de industrialização
dos processos de construção, conforme apresentado no Quadro 3.

Quadro 3 - Produtividade da mão-de-obra na em diferentes sistemas tecnológicos

Processo Produtividade (hh/m²)

Tradicional 22,0

Racionalizado 15,0

Racionalizado e 13,0

Padronizado

Industrializado 09,0

Industrializado 05,0

Aperfeiçoado

FONTE: ROSSO, Teodoro "Produtividade da Construção", Rio de Janeiro, RJ,

II Encontro Nacional da Construção, 1974, pg. 30

www.habitare.org.br/pdf/relatorios/8/obrasprod/manual/Cap2/CAP2.htm 4/7
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Como ressaltado no capítulo 1, apesar deste tipo de quadro poder servir de referência, as comparações devem
ser feitas com reserva, a fim de considerar o contexto onde os dados foram coletados. No trabalho, considera-
se as referências apenas uma base inicial, dando-se maior importância na busca por parte das empresas de
melhorias de seus processos e não a aceitação de índices pré-estabelecidos.

Medição da produtividade

A produtividade associada a um dado sistema produtivo, em um dado período, deve ser expressa por algum
número que compare a produção do sistema com os insumos que foram consumidos para essa produção,
naquele período (dia, mês ou ano). Como a produtividade é essencialmente uma relação entre produção e
insumos, é imediata a importância de se estabelecer formas de se medir essas grandezas. Esta relação entre
saídas (produção) e entradas (insumos), pode variar quanto (Souza, 1996):

abrangência: índices globais (Ex.: custo total por área construída) ou índices parciais (custo da
mão-de-obra por metro quadrado de alvenaria)
ao que se mede como entradas e saídas;
à constituição da razão entre entradas e saídas (qual é o numerador).

Como mencionado anteriormente, neste trabalho se utiliza basicamente um índice parcial, com a medição do
insumo mão-de-obra, um indicador comum na literatura de produtividade e também na construção civil. Esse
indicador é de obtenção relativamente simples em nível de empresa, porque geralmente existem registros
confiáveis da mão-de-obra ou se pode padronizar as formas de coleta nas obras. Além disso, a maioria dos
processos na construção civil ainda usam intensivamente a mão-de-obra. Quanto a medição da produção, esta
se refere ao nível de atividade ou serviço, tais como: alvenaria, revestimentos e execução de estrutura em
concreto armado. As formas de coletas desses dados estão apresentadas no capítulo 3.Os dados são obtidos
através do acompanhamento da execução dos serviços em obras, levando em consideração as particularidades
dos procedimentos adotados e dos operários envolvidos.

Através das informações verifica-se o desempenho da produção e gera-se dados para planejamento e busca-se
observar os fatores que podem ser gerenciados, possibilitando alterar os métodos ineficientes por outros que
atinjam índices de produtividade cada vez melhores.

Fatores que afetam a produtividade

Diversos são os aspectos abordados sobre fatores que afetam a produtividade ou o que causa a baixa ou alta
produtividade. É necessário detectar quais os fatores que a fazem variar e quantificar tal influência. Muitos
destes fatores apresentam dificuldade em termos de controle ou possibilidade de influência. Outros podem
ser escolhidos e manipulados pelos encarregados da concepção e execução das obras.

Os fatores que afetam a produtividade podem ser agrupados em grupos, tais como (Thomas et all., 1990):

mão-de-obra;
aspectos de projeto e conteúdo do trabalho;
condições ambientais do canteiro;
práticas gerenciais de controle;
métodos construtivos;
estrutura organizacional do projeto.

É através do controle e do gerenciamento destes fatores que se pode controlar os índices de produtividade.
Alguns não podem ser controlados, tais como intempéries (chuva, vento), porém o seu conhecimento é
importante para se agir previamente. No entanto, boa parte dos fatores são plenamente passíveis de atuação, a
fim de uma ação positiva e obtenção de melhores índices de produtividade, como por exemplo:

treinamento, qualificação e motivação da mão-de-obra;


estudos preliminares à execução da obra, buscando alternativas mais produtivas;

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utilização de ferramentas e equipamentos mais adequados à execução das tarefas;


organização do canteiro e dos serviços a serem executados;
planejamento e controle da execução, fluxo de materiais, fluxo de informações e emprego de
métodos construtivos apropriados;
adoção de práticas gerenciais e organização do projeto, visando o aumento da produtividade.

No presente trabalho, é dada ênfase a fatores influente em obras repetitivas, como apresentado na próxima
seção.

Efeito Aprendizagem e Repetição

Entre todos os fatores citados, nas obras de caráter repetitivo surge o chamado efeito aprendizagem, onde
após o operário já ter executado várias vezes um trabalho ele possui maior confiança e agilidade em sua
execução, aumentando assim sua produtividade. Porém este fenômeno só é possível se o trabalho for
contínuo e repetitivo, isto é, não ocorrer interrupções no processos e nem alterações do método construtivo
do serviço analisado, sendo este executado por uma mesma equipe de operários.

A repetição de uma tarefa, o treinamento e aprendizagem na sua execução, enfim a experiência, conduzem a
um melhor desempenho, ou seja, em aumento da produtividade (Heineck, 1991). Várias são as razões que
explicam o efeito aprendizagem: (1) familiarização com o trabalho; (2) melhoria da coordenação da equipe e
dos equipamentos; (3) melhoria na coordenação do trabalho; (4) melhor gerenciamento e supervisão no dia a
dia; (5) desenvolvimento de melhores métodos de execução; (6) melhores formas de suprimento às tarefas; e
(7) menores alterações nos trabalhos e redução de retrabalho (Thomas, 1986).

Para que os efeitos citados acima realmente ocorram, é necessário que o trabalho realizado não sofra longas
interrupções e que não haja grande variação de equipes de operários.

Este gráfico mostra a ocorrência do Efeito Aprendizagem, com o aumento da produtividade, no serviço de
alvenaria interna.

O que são obras repetitivas?

Para aplicação desta metodologia são consideradas obras repetitivas, as edificações que apresentem um
número mínimo de repetições em suas unidades, propiciando assim o estudo do aumento e da variação da
produtividade ao longo de sua execução:

Prédios Altos: edifícios compostos por no mínimo10 pavimentos tipo;


Conjuntos Prediais: conjuntos formados por 2 ou mais blocos, com no mínimo 5 pavimentos
tipo;
Conjuntos Habitacionais.

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Estes são os tipos de obras em que se aplicou a metodologia e se coletou dados, conforme apresentado nos
próximos capítulos.

Para comprovação que este tipo de obra é freqüentemente executado, foi realizado uma pesquisa das obras
com estas características no Município de Cascavel/PR nos últimos quarenta anos. A apresentação dos dados
coletados está em anexo ao final deste volume (ANEXO I).

Considerações finais

Como resumo das considerações realizadas neste capítulo, destaca-se:

há diferentes pontos de vista e níveis de agregação sobre os índices de produtividade. No


presente trabalho se adota um índice parcial, com medição do insumo mão-de-obra, sendo a
produção referenciada ao nível de atividade ou serviço;
a metodologia apresenta ênfase na obtenção de dados em um tipo particular de projeto, as obras
repetitivas, e em fatores que afetam a produtividade neste tipo especial de construção;
a validade maior da metodologia é a obtenção de dados e informações pelas empresas executoras
dos serviços, para que essas possam reconhecer fatores que afetam a produtividade,
positivamente ou negativamente, de tal forma a atuar em seus processos na busca de maior
eficácia na execução de suas obras ou atividades.

Nos próximos capítulos serão apresentadas as formas utilizadas no trabalho para coleta de dados e os
resultados obtidos com a aplicação da metodologia em uma série de obras e serviços.

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