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Mobilidade Inclusão e Direito a Cidade: Novas Conquistas 71 Sistemas estruturadores promovem desenvolvimento econômico das cidades

Participação Popular e Gestão Democrática


73 Alguns antecedentes
SUMÁRIO
74 Instrumentos de gestão democrática
76 MDT e FNRU querem cidades justas, moradia digna e transporte público de qualidade
8 Apresentação
78 A hora da mobilidade urbana: pacto nacional e PEC 90 dos Direitos Sociais nascem como respostas
às manifestações de junho de 2013
9 Introdução
80 Ações nas Conferências Nacionais das Cidades
81 A bandeira do barateamento das tarifas do transporte público
O que é Mobilidade Urbana?
83 As jornadas brasileiras “Na Cidade, Sem Meu Carro”
12 Mobilidade x cidade
83 Movimento social das pessoas com deficiência por uma mobilidade sustentável
16 Entendendo a mobilidade urbana
83 Participação e Conquistas dos trabalhadores de transporte: regulamentação, capacitação e boas
20 Os tipos de deslocamento e de serviço
condições de trabalho
22 Estatuto da Mobilidade Sustentável - Lei 12.587/12 -Z 22
86 Encontro Nacional do MDT
23 Pacto Nacional da Mobilidade Urbana: qualificando o transporte e reduzindo as tarifas
87 Explicações e comentários: Lei n. 12.587/2012, que instituiu a Política Nacional da Mobilidade
O Império do Automóvel
Urbana
28 Quanto o automóvel custa para a cidade
32 Disciplinando o uso do automóvel: política de estacionamento
Textos complementares
33 Paz no trânsito e democratização das vias: desafios da mobilidade urbana
105 Boas práticas de melhorias da mobilidade
35 Mobilidade urbana com sustentabilidade
106 Planos de mobilidade de outros países
106 Plano de gestão e melhoria da qualidade da mobilidade
Direito ao Transporte Público Coletivo de Qualidade
107 Experiências de pedágios urbanos em outros países
37 Da mobilidade que temos para a mobilidade que queremos
108 Ações quanto à segurança viária que cabem ao poder público
43 Planejamento e gestão para garantir qualidade
109 Plano setorial de transporte e da mobilidade urbana para mitigação das mudanças climáticas
46 Modernizando a gestão: Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS)
111 Manifesto da 15ª jornada brasileira ‘na cidade, sem meu carro’
46 Implementando a acessibilidade universal
47 Barateamento das tarifas: inclusão e justiça social
114 Súmula da Legislação
52 Avanços da luta pelo barateamento das tarifas: qualidade e sustentabilidade do serviço
55 Mobilização social conquista investimentos em sistemas estruturais de transportes 116 Referências Bibliográficas
56 Qualificação do sistema convencional de mobilidade urbana
58 Entraves retardam e encarecem projetos de transporte

Promovendo a Circulação Não Motorizada


60 Andar a pé
62 Andar de bicicleta

Mobilidade e Economia: o direito à cidade que queremos


66 Planejamento integrado: mobilidade e uso do solo
67 Estatuto da Cidade e os recursos para a mobilidade sustentável
69 Estatuto da Metrópole
• Eixo 4 - Prioridade ao transporte público no Confederação Nacional das Associações de Mora-
trânsito dores – CONAM
MDT Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte • Eixo 5 - Transporte público com desenvolvi- Transporte e Logística – CNTTL/CUT
Público de Qualidade para Todos mento tecnológico e respeito ao meio ambiente Federação Interestadual de Sindicatos de Enge-
nheiros – FISENGE
PELO TRANSPORTE PÚBLICO COM INCLUSÃO Fórum Nacional da Reforma Urbana – FNRU

MDT
SOCIAL, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, GE- Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvi-
RAÇÃO DE EMPREGOS E RENDA. mento - ITDP
Movimento Nacional de Luta pela Moradia –
ENTIDADES QUE COMPÕEM O MDT MNLM
Associação Nacional de Transportes Públicos – Nova Central Sindical – NCST
Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte ANTP União Nacional da Moradia Popular – UNMP
Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Me- Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo
trô/SP – AEAMESP – SEESP
Associação Nacional das Empresas de Transportes Sindicato dos Engenheiros do Estado da Bahia –
O MDT foi criado em 2003. Congrega organiza- oposição a esse modelo a democratização do uso
Urbanos – NTU SENGE
ções não governamentais, entidades representa- das vias, com a priorização de sua utilização para
Central Nacional de Movimentos Populares – CMP Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públi-
tivas de trabalhadores, empresas operadoras e o transporte público coletivo e para os modos não
cos de Transporte Urbano e Trânsito
fabricantes de equipamentos para o transporte motorizados de deslocamentos.
Maurilio Cheli
público, associações de profissionais liberais, uni-
versidades, movimentos populares nacionais, ór- Para alcançar esses objetivos, constrói uma agenda
gãos e empresas vinculados a governos estaduais comum de luta por meio de ampla articulação dos
e municipais. vários segmentos da sociedade, na luta por mobili-
dade urbana com inclusão social.
Sua bandeira é a inclusão social por meio da ga-
rantia do direito de acesso ao transporte público Nesta publicação estão expressas suas propostas
coletivo de qualidade para todos, do barateamen- de luta e seus resultados.
to das tarifas e da efetiva priorização para esse
modo de transporte. OBJETIVO DO MDT. Incluir na agenda social e eco-
nômica da nação o transporte público, um serviço
Busca, por meio da mobilização da sociedade, sen- essencial, como um direito para todos, visando à
sibilizar os governos para que destinem recursos inclusão social, à melhoria da qualidade de vida
para a infraestrutura do transporte público coleti- e ao desenvolvimento sustentável com geração de
vo e para os modos não motorizados de transpor- emprego e renda.
tes (bicicletas e pedestres).
Os cinco eixos para a concretização do objetivo
O MDT tem claro que, para a promoção da inclu- do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte
são social e da qualidade de vida, é necessário Público de Qualidade para Todos são:
garantir a acessibilidade universal e a preserva- • Eixo 1 - Mobilidade para todos
ção ambiental.
• Eixo 2 - Investimento permanente no transpor-
Combate a atual política excludente de mobili- te público
dade urbana praticada pelos governos, que tem
como base garantir e ampliar os privilégios ao • Eixo 3 - Barateamento das tarifas para a in-
transporte individual motorizado, defendendo em clusão social
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coletivamente construída, que combina diferentes Bento Rubião - Centro de Defesa dos Direitos Hu-
escalas de intervenção. manos
Centro de Assessoria e Autogestão Popular – CAAP
OUTRO BRASIL, COM JUSTIÇA SOCIAL E CIDADA- Cáritas Brasileira
Fórum Nacional de Reforma Urbana NIA, É POSSÍVEL! REFORMA URBANA JÁ! CDES – Direitos Humanos
Cearah Periferia
Contatos Centro de Defesa dos Direitos Humanos Dom Hél-
Secretaria do Fórum Nacional de Reforma Urbana der Câmara
Rua Araújo, 124, Vila Buarque, Centro Conselho Federal do Serviço Social – CFESS
01220-020 – São Paulo, SP Fórum da Amazônia Ocidental – FAOC
Tel. (11) 2174-6800 Federação de Órgãos para Assistência Social e
e-mail: secretaria.fnru@gmail.com Educacional – FASE
Skype: secretaria.fnru Federação Nacional das Associações de Emprega-
Site: www.forumreformaurbana.org.br dos da Caixa Econômica – FENAE
Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura
O FÓRUM NACIONAL DE REFORMA URBANA É e Urbanismo do Brasil – FENEA
COMPOSTO POR: Federação Interestadual dos Sindicatos de Enge-
Confederação Nacional de Associações de Mora- nharia – FISENGE
dores – CONAM Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas –
Central de Movimentos Populares – CMP FNA
O Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) é controle social e garantia de maior participa- Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas – Fórum Sul de Reforma Urbana
uma coalizão de organizações brasileiras que lu- ção da sociedade civil para a promoção do di- MLB Fórum Nordeste de Reforma Urbana
tam por cidades melhores para todos nós. São mo- reito à cidade. Movimento Nacional de Luta pela Moradia – Habitat para Humanidade
vimentos populares, associações de classe, ONGs MNLM Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
e instituições de pesquisa que querem promover a • Função Social da Cidade e da Propriedade: é União Nacional por Moradia Popular – UNMP – IBASE
reforma urbana. O que isso quer dizer? Significa o uso socialmente justo do espaço urbano. O es- Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e PÓLIS – Instituto de Estudos, Formação e Assessoria
que precisamos lutar por políticas que garantam paço das cidades tem que servir, antes de tudo, Urbanismo – ABEA em Políticas Sociais
direitos básicos de todos, como moradia de qua- aos interesses coletivos das grandes maiorias. ActionAid Brasil Rede Observatório das Metrópoles
lidade, água e saneamento, transporte acessível e Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB Terra de Direitos
eficiente. Estamos organizados em todas as regiões Em que atuamos Associação Nacional de Transportes Públicos –
do Brasil, e nosso trabalho é mobilizar pessoas e ANTP
entidades para alterar o quadro de injustiças em O Fórum Nacional de Reforma Urbana existe des-
nossas cidades. de 1987. Em todos esses anos, temos estimulado
a participação social em conselhos, organizamos
O FNRU se fundamenta em três princípios: cursos de capacitação para lideranças sociais, dis-
• Direito à Cidade: todos os moradores das ci- cutimos a elaboração de planos diretores demo-
dades devem ter direito à moradia digna, ao cráticos para as cidades. Uma de nossas maiores
saneamento ambiental, a saúde e educação, ao conquistas é o Estatuto da Cidade, uma lei que
transporte público e à alimentação, ao traba- após 12 anos no Congresso foi aprovada devido à
lho, ao lazer e à informação. pressão popular. Com grande expressão no movi-
mento nacional pela reforma urbana, o FNRU tem
• Gestão Democrática das Cidades: significa a conseguido influir nas políticas urbanas brasileiras, MDT Divulgação
participação dos cidadãos nas decisões funda- atuando de forma incisiva para a aprovação de
mentais para o seu próprio futuro. É a forma de políticas sintonizadas com o ideário da reforma
planejar, produzir e governar as cidades, como urbana. Tudo isso com base em uma estratégia

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Apresentação Introdução
Mobilidade, Inclusão e Direito à
A publicação Mobilidade, Inclusão e Direito à Ci-
dade : novas conquistas é uma atualização do ca-
Em diálogo constante com movimentos populares
e outras entidades da sociedade civil organizada,
Cidade : novas conquistas
derno Mobilidade Urbana e Inclusão Social elabo- por intermédio do Fórum Nacional da Reforma Ur-
rado em 2009 pelo MDT e pelo Fórum Nacional bana, o MDT identificou a necessidade de desen-
da Reforma Urbana (FNRU) em parceria com o volver um trabalho de formação para lideranças e
Sindicato dos Engenheiros da Bahia (SENGE-BA), agentes sociais, abordando os vários aspectos da
Desde os anos 1950, os poderes públicos têm atu- Brasil para financiar a compra de veículos e subsi-
o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia mobilidade urbana, em que se apresentem infor-
ado no âmbito da mobilidade urbana para uni- diar fortemente a gasolina, transferindo renda di-
(CONFEA) e entidades que apóiam o MDT de Goi- mações, conceitos e propostas que possam contri-
versalizar o uso e a propriedade dos automóveis retamente para os usuários de automóveis.
ás. As tiragens desse caderno, que somaram 55 mil buir para a qualificação da elaboração e imple-
– e mais recentemente das motos – como política
exemplares, já estão esgotadas. mentação de políticas públicas de desenvolvimento
de Estado. Dessa forma, foram construídas imen- Em contrapartida, o transporte público ficou entre-
urbano.
sas áreas de estacionamento e o sistema viário gue às leis de mercado, segundo as quais o usuá-
Esta edição atualizada foi elaborada em parce-
é constituído e administrado essencialmente para rio é o principal financiador dos serviços, enquanto
ria Gabriel Jabur do Instituto Brasileiro de Direito Com base nesta publicação, o MDT criou o curso
permitir a melhor circulação dos automóveis. Tudo parte dos custos é coberta pelo setor empresarial,
Urbanístico (IBDU) com financiamento da Fundação também denominado Mobilidade Urbana e Inclu-
isso respeita a uma lógica perversa, centrada no que fornece vales-transporte. Assim, há uma injus-
Ford. Os primeiros dois mil exemplares da nova são Social, tendo desenvolvido até 2015 quatro
favorecimento da fluidez do transporte individual tiça social, pois os usuários e os fornecedores de
publicação foram produzidos em 2015. A atua- programas, em Natal, Goiânia, Consórcio do Gran-
motorizado, como se fosse possível a todos os cida- vales-transporte pagam todos os impostos e ar-
lização compreende as importantes mudanças e de ABC e Macapá. Tais programas foram de fato
dãos possuir um veículo e a todos esses automóveis cam com os custos das políticas sociais (gratuidade
avanços conquistados entre 2009 e 2014 e apro- os primeiros passos desse trabalho de formação,
e motos trafegar livremente pelas vias urbanas para os idosos e pessoas com deficiência e 50%
funda as pautas centrais da luta pela mobilida- e mostraram a efetividade de um instrumento que
sem gerar crise na circulação em nossas cidades. do valor da passagem para os estudantes), que
de urbana sustentável, pela inclusão social e pela tem facilitado a discussão, trazendo informações
oneram em mais de 40% as tarifas. Além disso,
constitucionalização do transporte público como sobre os conceitos, a realidade atual e os desafios
Junto com essa política, interesses econômicos têm os usuários pagam uma espécie de pedágio urba-
direito social. relacionados à mobilidade urbana sustentável com
privilegiado a indústria automobilística sediada no no, pois o fato de o transporte público rodar nos
qualidade de vida e inclusão social. Mais recente-
mente, o MDT passou a oferecer esse mesmo curso
na modalidade a distância; o primeiro curso foi re-
alizado, com sucesso, em Brasília, em setembro de
2014.

Com o caderno Mobilidade, Inclusão e Direito à Ci-


dade: novas conquistas, o MDT quer contribuir com
a formação e sensibilização das lideranças popu-
lares e da sociedade sobre a necessidade de se
conquistar uma mobilidade sustentável nas nossas
cidades, quer que esse tema integre a agenda po-
MDT Divulgação

lítica, econômica e social do país e tem a intenção


de informar ou contribuir na organização da luta
Rafael Neddermeyer

pela Mobilidade Urbana com inclusão social em


sua cidade.

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congestionamentos dos automóveis faz com que as tante alcançava no primeiro semestre de 2015, se- visto como mero serviço e passe a ser tratado como Para isso, é necessário ampliar a atuação organi-
tarifas aumentem em mais 20% devido ao custo gundo o Ministério das Cidades, o total de R$ 153 fator de inclusão social. Entre tais razões, estão a zada da sociedade em torno da mobilidade urba-
adicional de combustível, salários dos motoristas e bilhões. expansão dos processos de urbanização e de me- na sustentável e disseminar conceitos básicos entre
ampliação da frota, além de aumentar significat- tropolização na realidade brasileira, as longas dé- os diversos atores, para que possam identificar
vamente o tempo de viagem. Os megaeventos esportivos e também a pressão cadas de ausência de investimentos em infraestru- corretamente suas necessidades, discutir soluções
social nos espaços institucionais de participação tura de transporte público urbano, o aumento real eficazes e duradouras e, assim, contribuir para a
A gestão é normalmente feita de forma desarticu- do Conselho Nacional das Cidades influenciaram das tarifas ocorrido ao longo da década passada, construção de uma pauta unificada dos movimen-
lada, por órgãos que administram separadamente a aprovação da Lei 12.587/12, a Lei da Política o preço subsidiado da gasolina, o aumento do nú- tos populares e entidades que atuam nas políticas
o trânsito, o transporte público coletivo, a infraes- Nacional da Mobilidade Urbana, e a ocorrência mero de veículos particulares em razão das faci- urbanas, no âmbito da reforma urbana. Uma ex-
trutura, a distribuição de bens e mercadorias e o das manifestações sociais nos bairros e movimentos lidades de financiamento e de preços reduzidos periência recente que avançou nessa direção foi o
deslocamento de pedestres e ciclistas. Falta ainda de rua contra os aumentos tarifários e por melho- para venda ao consumidor, que levou à quase total Pacto Nacional da Mobilidade Urbana, elaborado
uma política que vincule a mobilidade urbana à res condições de transporte, que culminaram com o imobilização das cidades devido aos congestiona- pelo Comitê Técnico de Trânsito, Transporte e Mo-
política de desenvolvimento urbano. grito das ruas em junho de 2013. mentos de automóveis, e, finalmente, a aprovação bilidade Urbana do Conselho Nacional das Cida-
da Lei de Mobilidade Urbana. des, formado por representantes de todos os seg-
Vê-se, portanto, que a política de mobilidade atu- A mobilidade ganhou centralidade nas agendas mentos sociais – movimentos sociais, trabalhadores,
almente praticada em nosso país é arcaica e exclu- políticas e econômicas do país com a insurgência É necessário e possível mudar a realidade obser- entidades acadêmicas e profissionais, empresários
dente. Gera congestionamentos e prejuízo econô- da população nas ruas e dos trabalhos nos espa- vada até aqui. A mobilidade pode ser inclusiva, e representantes de todas as instâncias de governo
mico e social às cidades, tornando-as muito menos ços institucionais (Conselho Nacional das Cidades social e ambientalmente sustentável, moderna e in- O Pacto serve como um mapa de navegação para
atraentes para os investimentos do setor produtivo, principalmente). Ela entrou nos principais debates teligente, de forma a melhorar a circulação nas ci- a implementação das propostas da Lei de Mobili-
além de dificultar e tornar mais arriscada a circu- sobre políticas urbanas dos grandes centros na- dades e o dia a dia dos que nelas vivem, atraindo dade Urbana.
lação das pessoas. cionais. Isso porque foi além da discussão sobre mais investimentos e melhorias. Sua gestão pode e
a prestação de um serviço público de forma efi- deve ser compartilhada, participativa e democrá-
Mas, ao longo dos últimos anos, as pautas do trans- ciente, universal e adequada, e passou a trazer tica, integrada às demais políticas de desenvolvi-
porte público, e consequentemente da mobilidade uma verdadeira mudança de perspectiva: a mo- mento urbano.
urbana sustentável, ganharam força na esfera pú- bilidade urbana deixou de ser encarada somente
blica nacional, entrando na agenda de políticas como mais um serviço a ser prestado e passou a
e investimentos públicos. As exigências da Fede- ser compreendida também como um catalisador de
ração Internacional de Futebol (FIFA) para ade- demandas por inclusão social.
quação do sistema de transporte público para a
Copa do Mundo de 2014 – e também a escolha Inclusão social é entendida como a capacidade de
da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos a pessoa participar adequadamente da socieda-
Olímpicos de 2016 – tiveram como consequência de em aspectos como educação, emprego, acesso
a ampliação significativa da alocação de recursos aos serviços públicos e atividades sociais e recre-
em diferentes etapas do Programa de Aceleração ativas, ao passo que exclusão social diz respeito
do Crescimento (PAC) concernentes à mobilidade às restrições a essa participação adequada; tal
urbana. Tais recursos se compõem de uma pequena conceito enfatiza que as instituições sociais têm a
parte de verbas do Orçamento Geral da União responsabilidade de atender às necessidades das

Jaelson Lucas
(OGU), a fundo perdido; linhas de crédito de ins- pessoas.
tituições financeiras federais e contrapartidas de
agentes públicos (estados e municípios) e do setor São diversas as razões para a mudança de pers-
privado. Apenas parcialmente utilizado, tal mon- pectiva em que o transporte público deixe de ser

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O que é
Enquanto isso, as pessoas mais pobres vivem em com que a marginalização geográfica aprofunde
Mobilidade x cidade a exclusão social (Ureta, 2008), como se observa
áreas urbanas física e socialmente marginalizadas,
Com o fenômeno da urbanização em todo o plane-
nas quais os preços dos terrenos e imóveis para lo- nas grandes cidades brasileiras.

mobilidade
ta e também no Brasil – mais de 84% da popula-
cação ainda são acessíveis à população de menor
ção brasileira vive em áreas urbanas (IBGE, 2010)
renda; trata-se geralmente de bairros distantes do O financiamento público de vias predominante-
–, as cidades são responsáveis por uma parcela
centro da cidade, em terrenos íngremes, despre- mente utilizadas e apropriadas pelos automóveis

urbana?
crescente da economia e, como consequência, con-
zíveis ou inundáveis, em aterros antigos (Dávila, atua de forma regressiva, beneficiando mais as
centram grande parte dos efeitos perniciosos das
2012). parcelas da população de maior renda. Além dis-
atividades humanas –, os quais precisam ser elimi-
so, a impossibilidade de encontrar uma alternativa
nados ou, pelo menos, minimizados. Um exemplo é
As deficiências nos sistemas de mobilidade urbana para as deficiências na oferta de transporte pú-
a poluição da atmosfera, que, segundo muitos pes-
compõem um dos aspectos capazes de demons- blico urbano também é um fator que reforça as
quisadores, tem contribuído para a mudança do
trar às populações mais pobres o quanto elas es- desigualdades já existentes.
clima. Torna-se, portanto, urgente e necessário en-
tão efetivamente distantes do processo de inclusão
contrar formas de gestão e planejamento urbano
social. Uma vez deficiente, a mobilidade urbana O diagnóstico é que para os setores pobres des-
equitativas, que maximizem o potencial individual
– instrumento de acesso a bens, serviços, cultura, conectados da economia moderna formal, a vida
e o desenvolvimento coletivo da sociedade e pro-
oportunidades de empregos e a quase todos ou- coletiva continua girando ao redor de um território
piciem a utilização mais sustentável dos recursos
tros aspectos da vida moderna – é especialmen- local ou bairro que se torna uma fonte de sustento
naturais (Dávila, 2012).
te severa com aqueles já prejudicados pela de- e identidade. Dito de outro modo, em muitas peri-
sigualdade social. Para os grupos sociais pobres, ferias isoladas da cidade se pode esperar encon-
Em muitos países e também no Brasil, a globali-
que vivem na periferia, a falta de mobilidade faz trar, no entanto, comunidades espaciais relativa-
zação da economia e a urbanização têm sido
acompanhadas da concentração de riqueza em
Foto: Breno Patano - PBH
segmentos cada vez menores da população. Como
reflexo dessa situação, em muitas cidades ocorre
um aumento significativo do agrupamento espacial
dos estratos de maior renda, muitas vezes em zo-
nas isoladas do resto da população urbana, em
condomínios fechados e outras formas de isola-
mento físico e social, frequentemente em municípios
contíguos aos centros urbanos tradicionais.

Breno Patano

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Jaelson Lucas
As pessoas precisam ter acesso ao que a cidade É necessário e possível mudar essa realidade. A
oferece: trabalho, comércio, estudo, lazer, ser- mobilidade pode ser inclusiva, social e ambiental-
viços públicos e outros. Deslocam-se pela cidade mente sustentável, moderna e inteligente, de forma
utilizando meios diferentes: a pé, de bicicleta, de a melhorar a circulação nas cidades e o cotidiano
carro, de moto, de ônibus, de trem, de metrô e de dos que nela vivem, atraindo mais investimentos e
barco, especialmente na região norte. Encontram melhorias. Sua gestão pode e deve ser comparti-
facilidades e dificuldades, mas não podem deixar lhada, participativa e democrática, integrada às
de fazer esses deslocamentos. Sem o acesso aos demais políticas de desenvolvimento urbano.
serviços públicos essenciais, e o transporte é um de- É exatamente com base nesse raciocínio que se jus-
les, as pessoas estão limitadas para desenvolver tifica a Proposta de Emenda à Constituição Federal
suas capacidades, exercer seus direitos ou para n. 90 de 2011:
acessar oportunidades. “A presente proposta de Emenda à Constituição
– PEC pretende acrescer o transporte ao rol dos
A localização dos equipamentos urbanos, dos lo- direitos fundamentais, mediante sua inclusão entre
teamentos e conjuntos habitacionais, das fábricas, aqueles direitos elencados no mencionado artigo
do comércio e as relações territoriais urbanas em 6o da Constituição Federal.
geral devem ser pensadas de forma integrada à
mente fortes, onde a falta de mobilidade constitui, Nesse panorama geral de expansão urbana des- disponibilidade de serviços de transporte, e prover Esse artigo enumera aspectos relevantes da vida
nessa perspectiva, uma nova desvantagem (Brand, controlada, a fragmentação social, espacial e ad- o mínimo necessário para uma vida digna. em sociedade. Educação, saúde, trabalho, dentre
2012). ministrativa e os altos níveis de isolamento físico outros, são elementos centrais de políticas públi-
e, portanto, social e econômico, resulta inspirador A mobilidade urbana deve ser garantida para cas necessárias ao alcance de uma coletividade
A exclusão social refere-se a restrições que impe- para examinar os alcances e limites das propostas todos e todas: homens, mulheres, crianças, idosos, que prime pela justa garantia do desenvolvimento,
dem as pessoas de participar de forma adequada de mobilidade urbana. Essas propostas são resul- pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, erradicação da pobreza e promoção do bem co-
na sociedade, incluindo a educação, o emprego, tado da lei nacional n. 12.587/2012 e do Pacto gestantes, obesos, sem discriminação. A liberdade mum, conforme preceitua o artigo 3o, também da
os serviços públicos e atividades. Transporte ina- Nacional da Mobilidade Urbana, elaborado pela de ir e vir, direito garantido pela Constituição Fe- Carta Magna.
dequado, por vezes, contribui para a exclusão so- sociedade civil, trabalhadores e movimentos sociais deral e pela Lei n. 12.587, de 3 de janeiro de
cial, particularmente para pessoas que vivem em no Conselho Nacional das Cidades e que espera 2012, que institui as diretrizes da Política Nacional (...) o transporte, notadamente o público, cumpre
comunidades dependentes de automóveis e são de sua implementação pelos governos. de Mobilidade Urbana, é o princípio que norteia a função social vital, uma vez que o maior ou me-
deficientes físicos, de baixa renda ou incapazes de mobilidade urbana e deve ser exercida com auto- nor acesso aos meios de transporte pode tornar-se
possuir e dirigir um automóvel pessoal. Em 2012, O processo de urbanização das cidades brasilei- nomia e liberdade pelos indivíduos. É preciso pen- determinante da própria emancipação social e do
cerca de 46% das famílias brasileiras não possuí- ras caracteriza-se pela segregação territorial. A sar a mobilidade urbana na perspectiva do direito bem-estar daqueles segmentos que não possuem
am um automóvel ou motocicleta (IPEA, 2013); em população é gradativamente expulsa dos centros à cidade, estruturado em três eixos: meios próprios de locomoção.
2008, aproximadamente 30,6% da população para as periferias, numa lógica de exclusão social • O direito de ir e vir e circular livremente nos
brasileira era considerada de baixa renda – para que concentra a oferta de serviços públicos e em- espaços da cidade nos diferentes modos/mo-
a região Nordeste, tal ordem superava os 52% pregos no centro, distribuídos de forma desigual, dais de transporte;
(IBGE/PNAD, 2011); em 2010, 23,9% da popu- o que aumenta a demanda por transporte público
lação total brasileira tinham alguma deficiência para deslocamentos entre grandes distâncias. O • O direito ao espaço público, ao seu uso e
que limita a mobilidade – visual, auditiva, motora sistema de transporte geralmente não supre a de- apropriação;

André Gomes de Melo


e mental ou intelectual (IBGE, 2010). Esses números manda adequadamente. Como resultado, os mais
indicam que 50% ou mais das famílias brasileiras pobres ficam segregados espacialmente e limita- • O direito a acessar os serviços e equipamentos
têm pelo menos um membro que apresenta carên- dos em suas condições de mobilidade. públicos.
cia de transporte ou de mobilidade.

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Portanto, a evidente importância do transporte coletivo e as facilidades para a compra e posse de • A Lei n. 10.257/2001 – Estatuto da Cidade
para o dinamismo da sociedade qualifica sua apo- veículos, o uso do transporte individual foi intensifi- – Diretrizes Gerais e Instrumentos da Política
sição na relação dos direitos sociais expressos no cado, o que fez aumentarem os congestionamentos, Urbana, que estabelece a obrigatoriedade de
art. 6o da Constituição. (...)” o consumo de espaço urbano, os acidentes e a po- Plano de Transporte Integrado para municípios
luição ambiental. com mais de 500 mil habitantes;
A proposta é necessária e louvável. No entanto, a
perspectiva de inclusão social deve ir além. Não Tradicionalmente, o trânsito, o transporte públi- • A Lei n. 12.587/2012 – Mobilidade Urbana
basta entender que a mobilidade urbana é um di- co coletivo e a distribuição de bens e mercado- – Institui as diretrizes da Política Nacional de
reito social e elemento central no processo de inclu- rias são tratados de forma desarticulada, como Mobilidade Urbana (PNMU), que em seu artigo

MDT Divulgação
são social determinado pela Constituição; é preci- se todos esses deslocamentos não fizessem parte 24 obriga aos municípios com mais de 20.000
so também priorizá-la na elaboração de políticas de um mesmo conjunto. Em contraposição a essa (vinte mil) habitantes a elaborar seus planos di-
públicas. A própria noção de inclusão social envol- visão segmentada, desenvolveu-se o conceito de retores até abril de 2015 e o Plano de Mobi-
ve o aspecto democrático e participativo da dis- mobilidade urbana, com o objetivo de explicitar lidade Urbana, integrado e compatível com os
cussão, elaboração, implementação e fiscalização como tem sido praticada a circulação nas cidades por meios não motorizados. Resulta da interação respectivos planos diretores ou neles inserido.
das políticas públicas. Não há espaços, na socie- brasileiras, identificando os privilégios concedidos entre os deslocamentos de pessoas e bens com a Se o plano não for elaborado no prazo ou não
dade moderna, para um governo tecnocrata que aos automóveis, principalmente com a apropriação cidade. seguir as diretrizes mencionadas acima, as cida-
não atenda às reais necessidades da população, desigual do sistema viário e a exclusão de setores des deixarão de receber verbas federais desti-
e para atender aos anseios dos cidadãos a políti- da sociedade com violação de direitos. Com a abertura das economias e o acirramento nadas à mobilidade urbana, até que cumpram
ca pública deve ser permeável ao diálogo com a da concorrência mundial – situação que requer o as exigências da PNMU.
sociedade, completando – assim – o processo de É possível desdobrar a nomeação desse conceito, máximo de eficiência dos centros urbanos na gera-
efetiva inclusão social. para que ele represente a formulação das bases ção de riquezas –, nossas cidades ficaram em real Contudo, em que pese essa nova legislação, nas
de uma mobilidade urbana sustentável, inclusiva e desvantagem. grandes cidades, devido à política de privilégios
Entendendo a mobilidade urbana acessível, em contraposição à existente, que deno- públicos aos automóveis, as principais artérias vi-
As cidades foram transformadas em espaços para minamos mobilidade urbana da exclusão social. Em Apesar das leis vigentes, que exigem a integração árias estão congestionadas e têm sido destinadas
a circulação do automóvel. A frota aumentou, o poucas palavras, a mobilidade urbana é o atributo de políticas de uso do solo com as de planejamento prioritariamente aos carros.
sistema viário foi adaptado e ampliado e órgãos das cidades que se refere à facilidade de deslo- e de mobilidade nas cidades brasileiras, a maioria
governamentais foram criados para garantir boas camentos de pessoas e bens (mercadorias) no es- dos municípios não tem um plano de mobilidade. E Com a Lei n. 12.587/2012, as novas políticas de
condições de fluidez. Com a carência do transporte paço urbano, tanto por meios motorizados quanto quando tal plano existe, com frequência não leva mobilidade urbana devem ter como objetivos ofe-
em consideração o transporte ‘porta a porta’, ou recer, melhorar, priorizar e fomentar as opções de
seja, o entendimento de que a viagem começa no transporte público e de transporte não motorizado
ponto de origem e se prolonga até o local de des- – hoje insuficientes e sem a necessária qualidade
tino, incluindo deslocamentos a pé, utilização de –, assim como minimizar o uso do veículo privado e
meios motorizados ou não motorizados de trans- suas externalidades negativas para as cidades e
porte e a adequada disponibilidade de infraes- seus habitantes. Isso se obtém com ações efetivas
truturas específicas, tais como calçadas, abrigos em visando, principalmente, entre outros, à redução
pontos de parada de ônibus, semáforos e faixas das ocorrências com mortos e feridos no trânsito,
dos congestionamentos e da poluição ambiental
MDT Divulgação

de travessia para pedestres, ciclovias, entre outras.


De modo geral, também faltam racionalização e ocasionada por emissões veiculares. Espaço urba-
integração nos sistemas de transporte. no, qualidade de vida, inclusão social e meio am-
biente são temas transversais às políticas de mobi-
Duas leis tratam expressamente da necessidade de lidade, e, portanto, se apresentam como desafios
o município adotar planos de transporte urbano: para a situação atual do país.

16 17
Quanto ao transporte público, ensaia-se a utiliza- Caruaru (PE), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Feira de
ção de políticas de priorização do transporte, prin- Santana (BA), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), Jun-
cipalmente no uso exclusivo da via para faixas e diaí (SP), Londrina (PR), Niterói (RJ), Recife (PE), Rio
corredores de ônibus e na implantação de sistemas de Janeiro (RJ), São José dos Campos (SP), São
metroferroviários, mas com sérias dificuldades em Luís (MA), São Paulo (SP), Sorocaba (SP), Uberaba
implantá-los. (MG), Uberlândia (MG).

Seja pelas novidades operacionais e tecnológicas Entre meados dos anos 1990 e 2015 houve avan-
envolvidas ou pelo efetivo impacto de eficiência ços quanto ao transporte urbano e metropolitano
que são capazes de oferecer, os projetos referen- de passageiros sobre trilhos – com ampliação da
tes a sistemas estruturantes de média e alta ca- rede de metrôs, recuperação de diferentes sistemas
pacidade exercem fascínio sobre a população, de trens metropolitanos e o início de implantação
a imprensa e os gestores técnicos e políticos. Nos de novas tecnologias, notadamente os monotrilhos
últimos anos, especialmente em razão dos megae- e veículos leves sobre trilhos (VLT). Em 2013 essa
ventos esportivos desta década, tais projetos têm rede tinha extensão operacional total de 1.000
Luis Costa logrado obter recursos para implantação e mo- km, havendo a perspectiva concreta de que até o
dernização de sistemas: uma pequena parte de 2020 ela cresça cerca de 30%.
Quanto aos pedestres, a situação é crítica: nossas tam todo tipo de obstrução: buracos, rampas e de- verbas do Orçamento Geral da União, a fundo
calçadas perderam espaço físico para os carros graus, além de mobiliários urbanos inadequada- perdido, e linhas de financiamento para os setores O MDT afirma que são falsas as alegações de que
e foram esquecidas como um meio de circulação mente posicionados, estacionamento impróprio de público e privado. investir em uma rede estruturadora de transporte
de pessoas. É uma verdadeira aventura utilizá-las, veículos, descarte de lixo e apropriação do espa- coletivo é caro e de que o Brasil não tem condições
pois além da falta de conservação e do emprego ço da via pública por ambulantes e mesmo comer- O MDT defende a continuidade e, sobretudo, a de fazê-lo. A implantação de redes estruturado-
desmesurado e sem critério de diferentes mobiliá- ciantes estabelecidos, entre outras irregularidades. ampliação desses recursos, mas advoga também ras de transporte, além de requalificar as cidades,
rios urbanos, grande parte delas foi transforma- Na maioria das cidades brasileiras, o panorama que sejam utilizados segundo critérios técnicos de torná-las mais eficientes e diminuir a exclusão so-
da em acessos para os automóveis, o que criando não é diferente. planejamento e de adequação do projeto às ca- cial, propicia retorno aos três níveis de governo,
obstáculos para os pedestres. Além disso, nas cal- racterísticas da demanda nas cidades ou regiões em montante maior do que o investido. Dispor de
çadas acontecem mais de 20% dos acidentes de Pode-se pesquisar sobre calçadas no site http:// em que serão implantados, observando-se so- sistemas de transporte público compatíveis com as
percurso. www.mobilize.org.br/midias/pesquisas/relatorio- bretudo as oportunidades integração intermodal, necessidades das cidades e com a renda da po-
calcadas-do-brasil---jan-2013.pdf ganhos de desempenho sistêmicos, racionalização pulação garante a movimentação das pessoas de
Há exemplos ainda muito tímidos de municipalida- e qualificação dos serviços, redução de custos e, forma rápida e eficiente, permite às empresas ne-
des que estão tomando previdências para melho- Apesar de as diretrizes orientadoras da Política principalmente, redução da tarifa. las instaladas se tornarem mais competitivas e seus
rar a situação das calçadas, utilizando para tanto Nacional de Mobilidade Urbana estabelecerem funcionários mais produtivos, formando um ciclo vir-
o caminho da legislação, que será eficaz se tais leis a “prioridade dos modos de transportes não mo- Os sistemas de BRT (Bus Rapid Transit) começaram tuoso de desenvolvimento com geração de empre-
servirem de base para ações práticas. torizados sobre os motorizados e dos serviços de a operar em Curitiba em 1974. Desde então, esse gos e renda, qualidade de vida e inclusão social.
Na maior metrópole do país, foi sancionada em transporte público coletivo sobre o transporte indi- sistema inspirou muitos outros semelhantes em di-
2013 uma lei a respeito de muros, passeios e lim- vidual motorizado”, o panorama do Brasil no que versos países e também no Brasil. Atualmente, ao Para se chegar a uma mobilidade sustentável, é
peza, com destaque maior para a questão das cal- diz respeito ao uso das bicicletas está longe de redor do mundo, há 160 cidades com sistemas necessário que o poder público a encare como po-
çadas, cujo objetivo é garantir condições de aces- ser o adequado: as ciclovias representam apenas BRT, totalizando 4.119 km de corredores (dados lítica de Estado (e não apenas de governo), volta-
sibilidade, mobilidade e segurança para toda a 1% da malha viária das capitais estaduais (dado de agosto 2013). No Brasil, em 2015, várias ci- da para as demandas e propostas advindas das
população. Mesmo assim, basta andar pela cidade de 2014) e o incentivo ao uso da bicicleta é ma- dades implantaram ou estão implantando sistemas
para ver que, dos bairros mais nobres à periferia, joritariamente focado no lazer, e não na utilização mobilizações e dos espaços democráticos de parti-
de BRT: Aparecida de Goiânia (GO), Belém (PA),
as calçadas padecem de má conservação e osten- desse modal para a mobilidade urbana diária. cipação da sociedade.
Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campinas (SP),

18 19
Sistemas convencionais por meio de caminhões, carros, motos, ônibus, trens, Transporte por fretamento Táxi
metrôs e barcas, ou seja, utilizando veículos auto- Surgido no país há mais de 50 anos como forma Serviço de utilidade pública de transporte indivi-
Os sistemas estruturadores são e serão cada vez
motores. de transportar trabalhadores para as fábricas em dual (artigo 12-A da Lei n. 12.587/2012), herdei-
mais importantes na organização do transporte
áreas industriais distantes, o transporte por fre- ro dos antigos carros ou charretes de aluguel. É o
público nas cidades, mas o MDT defende também tamento cresceu, se diversificou e atualmente faz poder público quem define suas tarifas máximas e
o aprimoramento dos sistemas de ônibus conven- parte da estrutura de transporte de diferentes emite as autorizações para a prestação dos ser-
A pé
cionais, que alcançam toda a mancha urbana e, cidades e regiões, ajudando a retirar carros das viços.
36% Ônibus
Metropolitanos
por isso mesmo, são fundamentais para atender às Transporte ruas. De modo geral, há dois tipos de serviços de
Bicicleta Coletivo Ônibus
Municipais
5%
necessidades de deslocamento no dia a dia, em 4% 29% fretamento: o “fretamento contínuo”, que corres-
Motocicleta
20% Trilho Mototáxi
grandes e médias cidades brasileiras. São os ôni- Automóvel 4% ponde ao transporte diário de trabalhadores, es-
4% 27% Serviço de transporte executado por motocicletas
tudantes, e o “transporte de fretamento eventual”,
bus convencionais que recolhem e deixam as pes- no qual o passageiro é transportado na garupa do
que, essencialmente, corresponde ao turismo.
soas nos pontos de parada mais próximos das re- veículo e utiliza um capacete utilizado por outros
sidências, escolas, hospitais e trabalho ou de lazer, Transporte não motorizado Muitas vezes a administração municipal não faz passageiros. É uma realidade na maioria das cida-
e viabilizam a conexão com os sistemas de maior É todo transporte de pessoas ou mercadorias feito a regulamentação e o controle adequados, o que des com menos de 30 mil habitantes e responsável
capacidade. a pé, por meio de tração animal (o próprio animal gera problemas como veículos sem condições de por inúmeros acidentes com vítimas. Por razões de
ou veículos como carroças, charretes e assemelha- segurança e conforto, veículos operados por autô- segurança, o MDT afirma que a motocicleta não é
Em linhas gerais, a qualificação passa pela retira- dos) ou por meio de veículos tração humana, como nomos ou por empresas inescrupulosas e o trans- um veículo adequado para o transporte de passa-
carroças, bicicletas e similares (como os triciclos). porte “clandestino” de passageiros. geiros e defende que nas cidades onde o serviço
da dos ônibus dos congestionamentos provocados
já existe o veículo da motocicleta seja substituído
pelo excesso de automóveis – o que é factível com
A mobilidade urbana é organizada em serviços, e De acordo com os artigos 4, VII e 22, V da lei de pelo triciclo, mais seguro e com velocidade limita-
a adoção de faixas exclusivas para os ônibus à di- da. Contudo, a função de mototaxista foi aprova-
compreende: mobilidade urbana, o fretamento deverá constar
reita, monitoradas eletronicamente contra invasão da pelo Congresso Nacional, cabendo a cada mu-
dos planos municipais de mobilidade urbana.
de outros veículos, um recurso que tem sido cres- nicípio decidir sobre a regulamentação do serviço,
centemente utilizado em médias e grandes cidades Transporte público coletivo O fretamento é um importante elemento no reequi- com todas as consequências para a saúde pública.
brasileiras. Passa também pela qualificação dos Transporte de passageiros por ônibus, micro-ôni- líbrio espacial da relação trabalho-moradia.
pontos de parada, com abrigos iluminados e segu- bus, trens, metrô ou barcas, destinado ao conjunto
da população. Transporte urbano de carga
ros, a prestação de informações aos usuários sobre
Transporte escolar Serviço de transporte de bens, animais ou merca-
horários e trajetos, inclusive via celular, e controle
Entendido como serviço destinado ao transporte dorias, essencial para o funcionamento da econo-
operacional com monitoramento e georreferencia- Transporte aquaviário de passageiros mia das cidades. A falta de regulamentação e de
crianças em idade pré-escolar e escolar, é regido
mento, entre outros incrementos já disponíveis no Transporte de passageiros por embarcações de medidas de facilidades e regras de funcionamento
por contratação direta entre cliente e operador. A
mercado brasileiro. O MDT defende ainda uma diferentes tipos que navegam em rios, lagos ou no no meio urbano gera sérios problemas para a flui-
precariedade de controle por parte do poder pú-
profunda mudança do perfil dos ônibus, “de ma- mar. blico em várias localidades facilita a atuação de dez e segurança do tráfego de pessoas e veículos.
neira que eles tenham motor traseiro, suspensão a Em diferentes regiões do país, parte considerável transportadores não autorizados, o que acarreta
ar, câmbio automático”. da população depende do transporte aquaviário riscos para os estudantes.
para seus deslocamentos. Há pelo menos 50 mi- Transporte regional
Os tipos de deslocamento As regiões metropolitanas e aglomerados urbanos

Marcela Barbosa
lhões de passageiros por ano ou aproximadamen-
e de serviço te 150 mil passageiros por dia, para este modo são territórios em que se observa elevado volume
de transporte, conforme levantamento abrangendo de deslocamentos internos por diferentes motivos:
nove estados. trabalho, estudo, relações pessoais e familiares e
Transporte motorizado utilização de serviços públicos essenciais – como o
É todo transporte de pessoas ou mercadorias feito atendimento de saúde. A oferta de transporte pú-
blico, de forma análoga ao que ocorre dentro de
20 21
um município, deve ser concebida como rede, consi- proposta de alteração desse projeto. O Capítulo II compreende seis artigos e trata da Desde abril de 2015, nenhum projeto de mobili-
derando integração física e tarifária com meio de Essa proposta estabelecia mudanças em 12 dos política tarifária – incluindo, sem resolver, a ques- dade urbana poderá ter financiamento federal do
pagamento unificado. 30 artigos constantes do projeto encaminhado tão das gratuidades que oneram as tarifas, e foca- Orçamento Geral da União se não tiver regula-
pelo Executivo ao Congresso em agosto de 2007 lizando também o processo de concessão e fiscali- mentado seu Plano de Mobilidade Urbana e não
Estatuto da Mobilidade e sugeria a inclusão de quatro novos artigos. As zação dos serviços pelo poder público. seguir todas as exigências da Lei de Mobilidade.
Sustentável - Lei 12.587/12 mudanças foram examinadas e aprovadas pelo
plenário do Conselho das Cidades, que emitiu uma O Capítulo III tem dois artigos que descrevem os di- Pacto da Nacional da Mobilidade
resolução datada de 15 de outubro de 2009, re- reitos dos usuários do sistema de transporte urbano Urbana: qualificando o transporte
Processo democrático de construção comendando ao Ministério das Cidades o encami- e os instrumentos que garantem a participação da e reduzindo as tarifas
e aprovação da lei nhamento ao Congresso Nacional das propostas sociedade civil no planejamento, na fiscalização e Junho de 2013 ficou marcado pela ocorrência de
A Lei da Mobilidade Urbana (Lei n. 12.587/2012) de aperfeiçoamento do texto do projeto de lei. na avaliação da Política Nacional de Mobilidade manifestações populares em grandes e médias ci-
foi aprovada pelo Congresso no fim de 2011, san- Urbana. dades de todo o país. De modo geral, essas ma-
cionada com vetos pela presidente Dilma Rousseff As recomendações foram acolhidas em substitutivo nifestações pediam serviços públicos de melhor
em 3 de janeiro de 2012, publicada no Diário Ofi- da relatora da Comissão Especial do Transporte O Capítulo VI trata especificamente dos instrumen- qualidade, honestidade e cuidado na gestão do
Coletivo Urbano, deputada Ângela Amin, aprova- tos de apoio à mobilidade urbana e o Capítulo dinheiro destinado a implantar e oferecer serviços
do em junho de 2010. A matéria seguiu para o VII compreende as disposições finais. A estrutura essenciais para a população – especialmente para
PARA REFLETIR Senado, que o aprovou no final de 2011, possibili- completa da lei, com explicações sobre cada um aqueles segmentos mais pobres, que não têm al-
O que você identifica como avanços tando que a presidente da República abrisse o ano de seus dispositivos, está disponível no Capítulo 7 ternativas.
de 2012 com a sanção da nova lei. desta publicação.
de mobilidade urbana sustentável O estopim dessas manifestações foi o aumento de
em seu município? O Plano de Mobilidade Urbana é o instrumento vinte centavos ou, em alguns casos, até menos, nas
A estrutura essencial da lei criada para de efetivação da Política Nacional de Mobilida- tarifas do transporte público. A força das manifes-
organizar a mobilidade sustentável no país de Urbana e deverá contemplar os princípios, os tações determinou o recuo do poder público e a
cial da União em 4 de janeiro e entrou em vigor na Está em vigor a Lei n. 12.587/2012, que institui as objetivos e as diretrizes dessa lei, bem como: I - os manutenção das tarifas em inúmeras cidades, fa-
primeira quinzena de abril. Seu texto tem 27 arti- diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Ur- serviços de transporte público coletivo; II - a cir- zendo com que o problema do custo, qualidade e
gos estruturados em sete capítulos, e sua a intenção bana Aprovada pelo Congresso no final de 2011 culação viária; III - as infraestruturas do sistema padrão de oferta do transporte de passageiros
é organizar a mobilidade urbana no país. e sancionada com vetos pela presidente Dilma de mobilidade urbana; IV - a acessibilidade para entrasse na agenda política e social do país.
Rousseff em 3 de janeiro de 2012, essa lei cumpre pessoas com deficiência e restrição de mobilidade;
O projeto que redundou na Lei da Mobilidade o preceito constitucional de que cabe à União defi- V - a integração dos modos de transporte público No mês de julho de 2013, a presidente Dilma Rou-
começou a tramitar no Congresso em agosto de nir as diretrizes da política de Mobilidade Urbana, e destes com os privados e os não motorizados; VI sseff se comprometeu a apresentar a proposta de
2007. No início de 2009, o MDT defendeu que trazendo um novo conceito de mobilidade urbana - a operação e o disciplinamento do transporte de um pacto nacional para encaminhar a questão do
o governo adotasse postura firme com vistas à que democratize o uso das vias, e priorize nas po- carga na infraestrutura viária; VII - os polos gera- transporte público e decidiu que tal acordo teria
aprovação dessa matéria. No decorrer do ano, no líticas públicas os modais não motorizados e coleti- dores de viagens; VIII - as áreas de estacionamen- como suporte a aplicação de novos recursos em
âmbito do Conselho das Cidades e, em particular, vos sobre os individuais, para promover mudanças tos públicos e privados, gratuitos ou onerosos; IX mobilidade urbana, totalizando mais R$ 50 bilhões
entre as entidades que compõem o Comitê de Trân- estruturais de longo prazo. - as áreas e horários de acesso e circulação restrita para o setor, que se somariam aos investimentos já
sito, Transporte e Mobilidade Urbana – incluindo o ou controlada; X - os mecanismos e instrumentos de previstos em diferentes estágios do Programa de
próprio MDT, a Associação Nacional de Transpor- A Lei de Mobilidade Urbana está estruturada em financiamento do transporte público coletivo e da Aceleração do Crescimento (PAC).
tes Públicos (ANTP), o Fórum Nacional da Reforma sete capítulos que abrigam 28 artigos – um dos infraestrutura de mobilidade urbana; e XI - a sis-
Urbana (FNRU), o Fórum Nacional de Secretários quais foi vetado. No Capítulo I, referente às dispo- temática de avaliação, revisão e atualização pe- A presidente prometeu criar um Conselho Nacional
e Dirigentes Públicos de Transporte e Trânsito e a sições gerais, a lei define o Sistema de Mobilidade riódica do Plano de Mobilidade Urbana em prazo de Mobilidade Urbana. Mais tarde – por pressão
Frente Nacional de Prefeitos (FNP) – houve um pro- Urbana e os seus elementos constitutivos. não superior a 10 (dez) anos. de organizações atuantes no Conselho Nacional
fundo debate para elaboração de uma consistente das Cidades, entre as quais entidades integrantes

22 23
fora do texto final. 6) Prioridade para os ônibus no sistema
2) Redução do custo da energia elétrica. viário. Priorização do transporte coletivo no
Redução em 75% no preço da energia elé- trânsito, com a adoção de faixas exclusivas,
trica e eliminação da tarifa horo-sazonal no com fiscalização.
transporte público, favorecendo o transporte 7) Racionalização e integração. Promoção
metroferroviário e por trólebus sobre trilhos. da racionalização e integração das redes de
A tarifa horo-sazonal de energia elétrica ho- transporte público.
ro-sazonal é o sistema em que o preço das
tarifas elétricas é diferenciado para os dife- • Fundos. A resolução propõe a criação de um
rentes horários do dia – pico e fora de pico fundo nacional e de fundos estaduais e munici-
– e períodos do ano – seco e úmido. pais de desenvolvimento urbano, e, para asse-
3) Redução do preço do óleo diesel. Re- gurar melhorias, recomenda subvenções e inves-
dução de 50% do preço do diesel para o timentos na política de mobilidade urbana, por
transporte público. meio de dotações orçamentárias e outras fontes.
4) Integração física e tarifária. Promoção
Fabio Lima
da integração física e tarifária das redes de • Não remoção de comunidades. O terceiro
transportes. artigo propõe que sejam garantidos os direi-
do MDT, as funções que seriam desse novo conselho mitê Técnico de Trânsito, Transporte e Mobilidade 5) Fontes de custeio além da tarifa. Cria- tos das comunidades, priorizando o princípio da
foram assumidas pelo Comitê Técnico de Trânsito, Urbana elaborou uma proposta de resolução com ção de fontes extratarifárias para custeio não remoção das populações na implementa-
Transporte e Mobilidade Urbana, já existente no 11 artigos, aprovada pelo plenário Conselho Na- das gratuidades sociais hoje custeadas por ção do Pacto Nacional de Mobilidade Urbana.
Conselho Nacional das Cidades. cional das Cidades e, semanas mais tarde, referen- aqueles que pagam as passagens.
dada pela 5ª Conferência Nacional das Cidades.
O texto da resolução ficou sob exame da área ju-
MDT participa da formulação do texto do pacto rídica do Ministério das Cidades por seis meses,
Entre julho e setembro de 2013, o Comitê Técnico até a primeira reunião do Conselho Nacional das
de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana reco- Cidades em março de 2014. Foram sugeridas mu-
lheu e sistematizou cerca de 180 propostas para danças, aceitas pelo pleno do Conselho das Ci-
melhorar a mobilidade urbana no país. Com apoio dades, o que resultou na Resolução Recomendada
do Instituto Energia e Meio Ambiente (IEMA), tais 151, de 26 de março de 2014. A resolução reco-
propostas foram consolidadas em um documento menda, mas não pode obrigar o governo federal
final reduzido a 60 propostas. Em 12 de setembro a adotar as medidas propostas. Acompanhe a se-
de 2013, foi apresentada uma síntese desse docu- guir os pontos da resolução:
mento ao Comitê de Articulação Federativa (CAF), • Redução da tarifa. O primeiro dos artigos
órgão da Presidência da República, posteriormen- propõe a redução de, no mínimo, 50% das tari-
te extinto, como início do processo de estabeleci- fas pagas pelos usuários do transporte público
mento de um pacto entre os entes federativos, nes- por meio de sete medidas:
se caso os municípios e o governo federal. 1) Desoneração de tributos. Promover a
desoneração dos tributos sobre o transpor-
te público e seus insumos. Originalmente, a
Resolução do Conselho das Cidades faz
proposta era recomendar a aprovação do
Marcelo Casal Jr.

recomendações à Presidência da República


projeto de lei que estabelece o Regime Es-
Durante reunião do Conselho Nacional das Cida-
pecial de Incentivo ao Transporte Urbano de
des ocorrida no início de outubro de 2013, o Co-
Passageiros (REITUP), mas esse ponto ficou de

24
• Financiamento. O quarto artigo indica que li- artigo recomenda que os serviços de transpor- de investimentos em acessibilidade universal,
nhas de financiamento especiais e contínuas de- te público urbano sejam qualificados, racionali- calçadas, ciclofaixas e ciclovias.
verão garantir os investimentos públicos e priva- zados, integrados física e tarifariamente e com 6) Sistemas estruturais de média capacida-
dos no setor, considerando aplicação de 100% acessibilidade universal. de. Investimento em sistemas estruturais de
da Contribuição de Intervenção no Domínio média e alta capacidade, consolidando a
Econômico sobre combustíveis dos automóveis e • Aplicação dos novos R$ 50 bilhões. De acor- rede de transporte público como direito so-

Ricardo Cassiano
motos (CIDE Combustível) para o transporte pú- do com o artigo oitavo da Resolução, os novos cial.
blico urbano. Ficaram de fora outras fontes da recursos – R$ 50 bilhões – anunciados para o
receita propostas no texto original: 2% do Or- Pacto Nacional de Mobilidade Urbana deverão • Proposta de Emenda Constitucional (PEC)
çamento Geral da União por dez anos; recursos ser aplicados em seis áreas: 90/2011. A resolução manifesta apoio à Pro-
provenientes da arrecadação do Imposto sobre 1) Qualificação para elaboração dos pla- posta de Emenda Constitucional (PEC) 90/2011,
Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); nos de mobilidade. Qualificação dos órgãos proposta pela deputada Luiza Erundina, que
taxação de estacionamentos dos polos gerado- gestores, operadores e sociedade civil para define o transporte público como direito social, com a infraestrutura necessária para o exercício
res de tráfego; taxação do uso e ocupação do a elaboração dos planos de mobilidade ur- junto com a educação, a saúde, a alimentação, desta função”.
solo urbano (Estatuto das Cidades) e pedágios bana. o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
urbanos nas grandes cidades. previdência social, a proteção à maternidade • Grupo de Trabalho. Como complemento do
2) Planejamento, implantação e operação e à infância e a assistência aos desampara- décimo artigo, a resolução propõe a criação
• Controle social. O quinto artigo recomenda de sistemas. Planejamento, implantação e dos. Direitos sociais, segundo o professor João de um Grupo de Trabalho formado pelos seg-
que o controle social seja exercido, no âmbito operação de sistemas de transportes públi- Alencar Oliveira Júnior, em seu livro Direito à mentos que compõem o Comitê Técnico de Mo-
federal, pelo Conselho Nacional das Cidades, cos e modais não motorizados nos âmbitos mobilidade urbana: a construção de um direito bilidade Urbana, que se responsabilizará por
por intermédio de seu Comitê Técnico de Trânsi- federal, estadual e municipal. social, “são compreendidos como uma evolução sistematizar as propostas desenvolvidas pelo
to, Transporte e Mobilidade Urbana, e nos âm- dos direitos de 1ª geração (direitos civis), que comitê – que embasam tecnicamente a resolu-
bitos estadual e municipal pelos seus respectivos 3) Estruturação do governo federal para implicam na abstenção do Estado de agir arbi- ção – e subsidiá-lo em suas funções.
Conselhos das Cidades ou equivalentes. assessorar municípios. Estruturação do go- trariamente e em desconformidade com a lei”.
verno federal para apoiar e capacitar a O Estado deve, portanto, chamar para si a res-
• Observatório. Para apoio dos conselhos que implantação dos projetos dos Programas de ponsabilidade por uma mobilidade urbana que
atuarão no controle, a resolução recomenda a Aceleração do Crescimento (PAC) voltados permita o direito individual de ir e vir.
criação de um observatório com a participação para os transportes públicos e não motori-
dos entes federados, compreendendo um banco zados, com assessoramento técnico aos mu- • Regulamentação profissional no setor de trans-
de dados, monitoramento de projetos e trans- nicípios. porte. A resolução manifesta também apoio à
parência dos custos e contratos. regulamentação da profissão e do regime de
4) Qualificação dos sistemas convencio- trabalho no setor de transporte, prevista em
• Estruturação da gestão pública. O sexto ar- nais. Qualificação das redes convencionais diversos projetos em tramitação no Congresso
tigo assinala que a gestão pública deve ser de transporte público e vias de tráfego dos Nacional.
estruturada e capacitada nas diversas esferas transportes públicos, com aumento de veloci-
de governo, de acordo com a Política Nacional dade comercial, implantação de um sistema • Plano Nacional. A resolução propõe que o
de Mobilidade Urbana, para garantir o plane- de informação aos usuários, construção de “processo da construção do Pacto Nacional de
jamento, projeto, execução e implantação dos abrigos e veículos de transporte coletivo de Mobilidade Urbana é a primeira parte do Pla-
programas de investimento em mobilidade ur- qualidade e com acessibilidade. no Nacional de Mobilidade Urbana, a ser cons-
bana. truído pelo Conselho Nacional das Cidades por
5) Acessibilidade e deslocamentos a pé ou meio do Comitê Técnico de Mobilidade Urbana,
• Racionalização e acessibilidade. O sétimo com bicicletas. Implantação de programas que acompanhará a implementação do Pacto,

26 27
O Império
• forte e constante aumento do número de ocor- • expulsão da população de baixa renda para
rências com mortos e feridos no trânsito; as periferias das cidades.

do Automóvel • significativos custos socioeconômicos para a


população;
A maior parte do sistema de bondes nas cidades
brasileiras foi implantada nas primeiras décadas
do século passado; esses sistemas tiveram signifi-
• desmobilização dos sistemas eletrificados (tró- cativa importância em grandes e médios centros
lebus e bondes); e, de modo geral, garantiram que as cidades se
adensassem em torno dessa rede efetiva de trans-
Quanto o automóvel • congestionamentos e aumento da poluição at- porte público. Contudo, o fortalecimento da opção
mosférica; rodoviarista já esboçada a partir dos anos 1920 e
custa para a cidade
concretizada a partir dos anos 1950 acabou por
Vários fatores determinaram a presença do auto-
• espraiamento das cidades, com a criação de determinar a erradicação gradativa desse meio
móvel em grande escala na vida contemporânea.
grandes espaços ociosos; de transporte em praticamente todas as cidades.
O advento e consolidação da indústria automo-
Em um grande centro como o Rio de Janeiro, sobrou
bilística nos anos 1950 e 1960, a aceleração do
• abandono dos investimentos no transportes co- apenas o sistema de bonde do morro carioca de
processo migratório em direção às cidades – o
letivos e não motorizados; Santa Teresa, que em 2015 ainda estava fora de
chamado êxodo rural, intensificado nas décadas
de 1960 e 1970 –, a falta de diretrizes nacionais
sobre políticas urbanas e de planejamento estraté- MDT Divulgação
gico. Os problemas derivados foram o crescimento
acentuado da frota de veículos, a ocupação espa-
cial urbana desordenada, os sensíveis impactos so-
bre a infraestrutura viária urbana e a insuficiência
de recursos financeiros para atender às crescentes
demandas urbanas.

As consequências do modelo baseado na implan-


tação da indústria automobilística são:
• os conflitos na ocupação da via pública;

28
Kelsen Fernandes

de ônibus elétricos com baterias em algumas cida- da perda de atividades em 7 bilhões de dias e
des brasileiras. 2,5 milhões de ausências ao trabalho. Ele acres-
centa que somente no ano de 2011, a poluição da
Na segunda metade do século passado, como re- atmosfera contribuiu para 17,4 mil mortes no esta-
sultado de um eficiente e ininterrupto processo de do de São Paulo (apresentação pessoal disponível
criação na sociedade de uma imagem positiva e em www2.camara.leg.br/a-camara/altosestudos/
estimulante para seus produtos, a indústria auto- arquivos/apresentacao-mobilidade-urbana-se-
mobilística conseguiu fazer com que o automóvel verino-soares). O modelo baseado no automóvel
se tornasse um dos principais – talvez, o principal afeta também a balança comercial: no acumulado
– objeto de desejo das populações urbanas. As de janeiro a outubro de 2013, o Brasil fechou com
montadoras também conseguiram fazer com que déficit de US$ 1,8 bilhão, e a Petrobras precisou
o automóvel concentrasse os grandes investimen- importar US$ 4,3 bilhões em combustíveis (outubro
tos públicos, o que definitivamente alterou o perfil 2013). aumento do tempo de viagem para quem depen-
de deslocamento e de organização das cidades, de do ônibus e o aumento de custos operacionais
que se tornaram mais espraiadas e caras. Como De acordo com a ANTP, a distribuição dos desloca- que, mais tarde, serão necessariamente repassa-
havia ocorrido anteriormente nos Estados Unidos, mentos por modos nas cidades do Brasil é a seguin- dos para as tarifas.
também no Brasil o transporte público deixou de te: deslocamentos feitos a pé representam 36%;
Oswaldo Corneti

ter prioridade nos investimentos públicos, enquanto por transporte coletivo, 29%; por transporte indivi- As administrações públicas priorizam o automóvel
o número de automóveis crescia vertiginosamente. dual motorizado, 27%; motos, 4%; bicicletas, 4%. e a sua fluidez, favorecendo sua aquisição e fo-
Atualmente, o país conta com uma frota de mais Mas os automóveis ocupam mais de 80% do siste- mentando os congestionamentos, os acidentes, a
de 60 milhões de veículos, registrando o aumen- ma viário, e os pedestres, as bicicletas e o trans- poluição, o estresse e a precarização do transpor-
circulação para reformas e requalificação depois to expressivo dos congestionamentos, o avanço da porte coletivo são vistos como empecilhos para a te coletivo. A produção e ampliação da infraestru-
de um trágico acidente quatro anos antes. degradação do meio ambiente urbano e o aumen- fluidez do trânsito. É a privatização da via pública. tura viária (túneis, pontes, avenidas) compromete
to dos custos das cidades, em particular os gastos boa parte dos orçamentos municipais, que são o
No Brasil, os trólebus surgiram em 1949 na cida- com a saúde. Em levantamento sobre a cidade de São Paulo re- resultado do pagamento de impostos pagos por
de de São Paulo. Vários sistemas seriam criados alizado em 2012 pela Companhia de Engenharia toda a população, e não apenas por quem tem
no país nas décadas de 1950 e 1960, sendo a Anualmente, acidentes e vítimas do trânsito e a po- de Trafego (CET) daquele município, verificou-se carro.
maioria extintos até o início da década de 1970. luição ambiental e sonora geram um custo de R$ que “nas 32 rotas pesquisadas, que correspondem
Com as crises do petróleo (1973-74 e 1979), fo- 12,3 bilhões aos cofres públicos, valor pago por a 255 km lineares de vias principais da cidade, Adicionalmente, em estudo sobre cenários de de-
ram retomados esses sistemas eletrificados. Nos toda a sociedade; 79% desse custo são de respon- 78% do volume contado nas horas de pico é com- senvolvimento urbano realizado, em conjunto, pela
anos 1980, os trólebus ganharam novo fôlego por sabilidade dos automóveis, que representam ape- posto de automóveis; 3%, de ônibus urbano e 1%, Secretaria de Transportes Metropolitanos do Es-
meio da Empresa Brasileira de Transportes Urba- nas 27,3% dos deslocamentos, e das motos, que de ônibus fretados, além de 15% de motos e 3% tado de São Paulo e a Secretaria Municipal de
nos (EBTU), que estruturou o Plano Nacional de respondem por 4% das viagens (dados da ANTP). de caminhões”. Desenvolvimento Urbano de São Paulo, apurou-se
Transporte de Massa (PNTM). Extinta a EBTU em tendência de crescimento do uso do transporte in-
1991, dada a falta de interesse dos empresários O engenheiro civil Severino Soares Silva afirma O automóvel é o meio de transporte que impede a dividual para os próximos anos: a divisão modal,
de ônibus, os trólebus foram gradativamente dei- que, se houvesse uma redução de 10% nos poluen- democratização do uso da via pública, pois quanto que em 2010 era de 45% para o transporte indi-
xados de lado e desativados na maioria das lo- tes na capital paulista, entre 2000 e 2020, pode- mais é utilizado, menos espaço sobra para o trans- vidual e 55% para o transporte público, no cenário
calidades onde um dia operaram; continuam em riam ser evitadas nada menos que 114 mil mortes, porte público e para as calçadas e ciclovias. Obri- tendencial para o ano de 2025 é de 48% para o
operação nas cidades de São Paulo e de Santos 118 mil visitas de crianças e jovens a consultórios gado a disputar espaço com veículos particulares transporte individual e 52% para o transporte pú-
e no Corredor Metropolitano ABD, que interliga a e 103 mil visitas a prontos-socorros (por causa de – muitas vezes em longos congestionamentos –, os blico (www.stm.sp.gov.br/index.php/publicacoes/
capital paulista e municípios da região do ABC. doenças respiratórias), 817 mil ataques de asma, sistemas de ônibus têm seu desempenho reduzido, cenarios-de-desenvolvimento-urbano). Tais resul-
Atualmente, observa-se a perspectiva de adoção 50 mil casos de bronquite aguda e crônica, além com pelo menos duas consequências negativas: o tados consideram o aumento da oferta de trans-

30 31
porte coletivo de massa e um quadro equilibrado à disposição das prefeituras para serem imple- Como solução mais adequada para grandes ci-
de adensamento populacional ao longo das suas mentadas de imediato e sem grandes investimen- dades, a Lei de Mobilidade Urbana estimula as
linhas. tos; bons exemplos disso são o estabelecimento de prefeituras a implantarem o pedágio urbano como
Para evitar esse cenário, o MDT sugere que as faixas exclusivas para os ônibus convencionais e a forma de reduzir a circulação dos automóveis e
políticas de mobilidade focalizem dois pontos: a proibição de estacionamentos onde circulam ôni- ainda produzir recursos que viabilizem a melhoria
melhora de todos os modos e infraestruturas de bus. dos sistemas de transportes públicos e não moto-
transporte público e a implantação de medidas rizados. Experiências internacionais comprovam o
para reduzir o uso abusivo do carro, disciplinando Outra forma é a eliminação de estacionamentos sucesso de iniciativas desse tipo.
e restringindo a circulação do transporte individual nas vias públicas em áreas centrais e centros de
motorizado. Sem o disciplinamento do uso do car- bairros, de forma a transformá-los em ciclovias,
ro, o aumento de oferta do sistema metroviário e faixas exclusivas de ônibus e ciclofaixas, a baixís- Paz no trânsito e democratização
outras melhorias, como a ampliação de corredores simo custo e com grande impacto na qualidade da das vias: desafios da mobilidade
de ônibus e implantação de ciclovias, não será pos- mobilidade da cidade como um todo. Para citar urbana
sível garantir a fluidez do deslocamento das pesso- alguns exemplos, a cidade de Joinville em Santa O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) considera
as nas vias urbanas. Catarina implantou 110 quilômetros de ciclofaixas como trânsito “a utilização das vias por pessoas, Antonio Cruz

em áreas antes utilizadas para estacionamentos de veículos e animais, isolados ou em grupos, con-
automóveis e a cidade de São Paulo implantou em duzidos ou não, para fins de circulação, parada, Foi marcada para novembro de 2015, no Brasil,
Disciplinando a circulação um ano mais de 400 quilômetros de faixas exclusi- estacionamento e operação de carga ou descar- a 2ª Conferência Global de Alto Nível: Tempo e
dos automóveis: política de vas de ônibus monitoradas eletronicamente contra ga”. A Lei de Mobilidade Urbana, por sua vez, Resultado, em que se avaliará o andamento da
estacionamento invasão dos automóveis. determina que a via deve ser ocupada de forma Década Mundial de Segurança Viária – 2011-
Como já demonstrado por diversos estudos, como proporcional ao volume de pessoas transportadas, 2020, liderada pela ONU. O Brasil tem alguma
os de Anthony Downs e Gomide e Morato, entre Também devemos considerar a integração do au- com prioridade para os modos não motorizados, coisa para mostrar, mas não conseguiu cumprir a
outros, , embora a saída histórica do Estado bra- tomóvel com os sistemas estruturadores do trans- depois para o transporte público, a carga urba- meta de reduzir pela metade o número de mortos
sileiro para os problemas de trânsito tivesse sido porte público – metrôs, trens urbanos, linhas de BRT na, e finalmente para os automóveis e motos. Como no trânsito.
a expansão da malha viária, essa solução já não – por meio de estacionamentos seguros, preferen- os automóveis transportam 30% dessas pessoas, a
consegue absorver o número de veículos privados cialmente com integração tarifária, instalados junto eles não deve ser reservado mais que essa por- No fim de seu 20º Congresso, em meados de 2015,
atualmente existentes e, portanto, fica claro que às estações, sobretudo nas periferias; isso facilita o centagem. Logo, o desafio é grande: promover a a Associação Nacional de Transportes Públicos
não há como solucionar os congestionamentos dos uso comedido do transporte individual, que ganha democratização do uso das vias, hoje ocupadas em (ANTP), entidade fundadora do MDT, sublinhou
automóveis. Mas é possível garantir fluidez para o papel de alimentador do sistema de transporte 80% pelos automóveis. que, além de não ter alcançado a meta de redu-
as pessoas que utilizam o transporte público, as bi- público. ção, o Brasil viu o número de mortes no trânsito
cicletas e o deslocamento a pé, desde que sejam A gestão das cidades deve estar centrada na paz subir 30%, o que demanda ação urgente, e propôs
reduzidos os espaços de circulação e de estaciona- O MDT tem defendido que o estacionamento pas- no trânsito. A vida e a saúde das pessoas são os que, sem números positivos para mostrar ao mun-
mento para automóveis, de modo a estimular o uso se a ser uma concessão pública em todas as áre- bens mais importantes a serem preservados. O po- do, pelo menos adotemos imediatamente uma nova
de outros meios de locomoção. A equidade no uso as centrais urbanas, o que possibilitará ao poder der público deve planejar e operar o trânsito de postura diante do problema.
do espaço público de circulação, com a democra- público planejar e executar políticas capazes de modo a garantir a segurança das pessoas, utilizan-
tização do uso das vias com os diferentes modos determinar quantas vagas estariam disponíveis, do diversos instrumentos. Nos últimos anos, o Brasil aprovou e depois e revi-
de transporte, é premissa fundamental da lei de possibilitando assim regular o acesso e permanên- sou a chamada Lei Seca – nome com que são cha-
mobilidade urbana para se possa atingir a mobili- cia de automóveis nessas áreas; atualmente, estão O Brasil aceitou em 2011 o desafio proposto pela madas das leis federais 11.705/08 e 12.760/12,
dade sustentável. disponíveis tecnologias que permitem até mesmo o Organização das Nações Unidas (ONU) de reduzir que instituíram novos instrumentos de comprovação
uso de celular para informação aos interessados pela metade, até 2020, o número de vítimas de de abuso do álcool ao volante, tornaram mais rí-
As políticas de desestímulo ao uso de automóveis sobre o número de vagas disponíveis em determi- acidentes de trânsito. Trata-se da Década de Ação gidas as penas para motoristas infratores e são
e de estímulo ao uso do transporte coletivo estão nado momento em estacionamentos controlados. pela Segurança no Trânsito – 2011-2020. qualificadas pela Organização Mundial da Saúde

32 33
competição, dentro de máquinas possantes e po-
deroso símbolo de poder: os automóveis.

Não se pode mais conceber que as políticas públi-


cas sejam implementadas de forma fragmentada,
improvisada e eleitoreira. Deve-se buscar um novo
sentido para a gestão pública que dê qualidade
ao desenvolvimento, tornando-o mais eficiente e
eficaz e enfatizando a necessidade de repensar o
modo de viver inspirados na conexão entre a téc-
nica e a ética. É preciso refazer o caminho no sen-
problema, como, por exemplo, taxas próximas a tido inverso, em direção à valorização da vida das
20 mortes no trânsito para cada grupo de 100 pessoas e do planeta, alterando os valores atuais,
mil habitantes. Dados mais recentes, referentes a as instituições e organizações para a construção de
2011 – divulgados no Mapa da Violência 2013, cidades e meio ambiente sustentáveis para todos.
acidentes de trânsito e motocicletas, editado pelo
Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos Essa a razão pela qual o MDT, orientado por seu 5º
(CEBELA) –, mostram que o país atingiu o índice eixo – Transporte público com desenvolvimento tec-
Embratur Florianópolis

de 22,5 mortes por 100 mil habitantes (Waiselfisz, nológico e respeito ao meio ambiente –, defende
2013). outra urbanidade, ancorada no princípio sustenta-
bilidade, na inclusão social, na cultura da paz, na
integração entre políticas públicas. A mobilidade
Mobilidade urbana com urbana é fator primordial de integração entre as
sustentabilidade pessoas, e não engrenagem promotora da morte,
(OMS) como iniciativas jurídicas importantes; por talhada no Programa Nacional de Trânsito. Na 34ª A Terra, morada comum a todos os seres humanos, como vem ocorrendo.
outro lado, há o crescimento significativo do número Reunião do Conselho Nacional das Cidades, em corre perigo. O atual modelo de desenvolvimen-
de vítimas do trânsito: entre o início do século XXI agosto de 2012, foi aprovada resolução que co- to, fundado no primado da economia de mercado, É importante repensar o futuro do desenvolvimento
e o começo de sua segunda década, o número de brava do governo federal pressa na implantação tem provocado enorme desequilíbrio no planeta local considerando a variável da sustentabilida-
mortos no trânsito por ano no Brasil saltou de 29 do Plano de Redução de Acidentes e Segurança azul, tornando-o vermelho triste e gerando destrui- de em uma era pós-automóvel. Planejar, integrar,
mil para 43 mil. Viária. Três anos depois dessa resolução, o plano ção dos ecossistemas, poluindo o ar e empobrecen- inovar na forma de fazer e viver cidades, rede-
ainda não existe. do uma ampla parcela da humanidade. senhar territórios, cuidar dos resíduos, promover
Em 2011, o Brasil aderiu oficialmente a essa convo- combustíveis limpos e evitar a poluição atmosféri-
cação da ONU e entidades do setor (muitas delas O Brasil figura no Relatório da Situação Mundial São muitos os desatinos, mas dois chamam atenção ca (especialmente as provenientes dos autos) que
integrantes do Secretariado do MDT), por intermé- da Segurança no Trânsito 2013, editado pela OMS pela sua gravidade. Por um lado, o que os cien- tem provocado mudanças climáticas, proteger as
dio do Comitê de Mobilização pela Saúde e Paz para evidenciar o progresso percebido desde a tistas chamam de mudanças climáticas ou, como é águas, conservar as florestas, gerar empregos com
no Trânsito, formularam um consistente conjunto de publicação do relatório anterior, datado de 2009. popularmente conhecido, “aquecimento global”, e, qualidade, devolver as ruas às pessoas e requa-
propostas de ação. O governo recebeu esse docu- Esse tipo de publicação foi adotado pela OMS por outro, os atuais padrões de produção e consu- lificar espaços de convívio menos vulneráveis são
mento dando a entender que desencadearia ações como instrumento de monitoramento da Década de mo que corrompem a vida saudável. Ambos base- desafios prementes.
concretas já em 2012, mas, além de desarticular Ação pela Segurança no Trânsito – 2011/2020. ados em um paradigma de desenvolvimento que
o comitê, só em fins de 2014 emitiu uma resolução Os dados relativos ao Brasil são de 2010 e foram não consideram o princípio sustentabilidade. O MDT propõe que se aproveite o momento de
em que assumia as linhas gerais dessas propostas informados por um grupo coordenado pelo Minis- Muitos defendem que é preciso circular livremente implementação da Política Nacional de Mobilida-
na Política Nacional de Trânsito, que viria a ser de- tério da Saúde. Revelam aspectos estruturais do pelas ruas das cidades, em nome da pressa e da de Urbana (Lei 12.587/12) e da implementação

34 35
Direito ao Transporte
do Plano Setorial de Transporte e da Mobilidade Para reduzir os impactos ambientais provocados
Urbana para Mitigação das Mudanças Climáticas pela mobilidade urbana, é preciso:
para que, juntos, ministérios, secretarias estaduais • priorizar o transporte público coletivo e incen-
e municipais, movimentos sociais e de trabalhado-
res em rede, formulem as bases de outra urbanida-
tivar a utilização dos modos não motorizados,
de forma a que haja menos viagens por veículos Público Coletivo de
Qualidade
de, desta vez sustentável. motorizados;

O transporte motorizado é um dos principais pro- • incentivar o desenvolvimento científico-tecnoló-


dutores de impactos sobre o meio ambiente, como gico e o uso de energias renováveis e não po-
poluição atmosférica e sonora, devido principal- luentes no transporte público;
mente ao uso de combustíveis poluentes como fonte
de energia. No Brasil, é o segundo maior responsá- • implantar política de estacionamento nas cida-
vel pela emissão de gases de efeito estufa. Gran- des e pedágios urbanos nas grandes aglomera-
Da mobilidade que temos para a
de parte dessas emissões (49%) decorre do uso ções para disciplinar o uso dos automóveis;
diário e em larga escala do carro e de motos. Esses
mobilidade que queremos
As pessoas que utilizam o transporte público co-
gases causam o aumento da temperatura global, • implantar a inspeção veicular obrigatória.
letivo representam 29% do total de deslocamen-
levando a eventos climáticos extremos e à inten-
tos (ANTP 2013, www.antp.org.br/_5dotSystem/
sificação dos desastres naturais. Uma mobilidade
userFiles/SIMOB/Rel2013V3.pdf). O sistema de
urbana baseada no uso de meios de deslocamento
transporte público coletivo, na maioria das cida-
não motorizados e coletivos é essencial para re-
des, é constituído apenas por um conjunto de linhas
duzir a utilização diária do automóvel e motos e,
de ônibus; São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto
consequentemente, das emissões do setor (Dados
Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, João
Greenpeace Brasil).
Pessoa, Maceió, Natal e Brasília contam também
com sistemas sobre trilhos (metrôs e/ou trens), ha-
vendo ainda cidades que contam com serviços de
barcas.
Daniel Guimaraes

36 37
motorizado cresceram 18%, sendo que as viagens
por modo coletivo aumentaram 16% e, por modo
individual, 21% (dados Pesquisa de Mobilidade
da RMSP 2012).

Uma consequência nefasta do modelo vigente de


transporte público coletivo é a promoção da ex-
clusão e da segregação urbana das pessoas que
estão abaixo da linha da pobreza, as quais, por
não conseguirem pagar as tarifas, têm dificultado
ou impedido seu acesso às facilidades, serviços e
oportunidades que a cidade oferece. Estima-se
que haja 17,5 milhões de brasileiros que não uti-
MDT Divulgação
lizam o transporte coletivo porque não conseguem
pagar a tarifa.
e pessoas com deficiência e 50% das passagens
dos estudantes), mas injustas por serem pagas pelo Atualmente, o transporte coletivo não é tratado
usuários, e outras claramente injustas, como as gra- como serviço público essencial, como determina a
tuidades para profissionais de instituições que têm Constituição Federal de 1988, mas submetido à
orçamentos próprios, como os carteiros, fiscais de lógica do mercado. O Projeto de Emenda Constitu-
imposto de renda e policiais militares, só para citar cional (PEC) 90/2011 propõe uma nova redação
algumas que oneram em mais de 20% as tarifas. ao art. 6º da Constituição Federal, para introduzir
o transporte como direito social. O MDT apoiou e
Adicionalmente, há outros fatores que interferem e reforçou essa proposta no Pacto Nacional da Mo-
Bruno Covello provocam a elevação das tarifas, dentre os quais bilidade Urbana com uma resolução.
Em grande parte das cidades, esses tipos de trans- cias, levando em conta todos os custos envolvidos: o se destacam: frequentes congestionamentos de
porte não são integrados, o que gera dificuldades combustível, o preço dos veículos e da manutenção, trânsito (aumento de 20% em média); altos custos Nesse contexto, têm vigorado a falta de medidas
para as pessoas se locomoverem e obriga ao pa- o valor das garagens e instalações, a folha de pa- dos insumos (diesel sobretaxado e gasolina sub- de integração dos sistemas de transporte; o trata-
gamento de duas ou mais tarifas. gamento de todos os funcionários, os impostos e o sidiada); elevada carga de tributos incidentes; mento tributário inadequado em relação ao ser-
lucro dos empresários. Há localidades em que se dispersão urbana; falta de integração entre os viço; o aumento do preço dos insumos (principal-
Garantir a qualidade do transporte público exis- incluem, nesses custos, gastos com a infraestrutura e modais – ônibus, metrô, trem; má distribuição dos mente do óleo diesel, bem acima da gasolina); a
tente é responsabilidade da administração pública a taxa de gestão, para manter os órgãos gestores. serviços e equipamentos públicos no território das concorrência dos automóveis, mototáxi e transporte
municipal, no âmbito de sua competência, e esta- A soma desses custos é dividida pelo número de cidades. clandestino, que resulta em tarifas acima da capa-
dual para o transporte intermunicipal ou de alta passageiros que pagam as passagens, ou seja:
capacidade, à qual compete planejar e fiscalizar quanto maior for o custo e menor o número de Com a expansão territorial das cidades, as distân-

Comunicação da SMSU
os serviços do transporte público coletivo. No caso passageiros pagantes, mais cara fica a tarifa. cias percorridas nas linhas do transporte público
dos serviços prestados por ônibus, esse plane- São poucas as cidades que têm subsídios capazes coletivo têm aumentado. As viagens diárias entre
jamento abrange a definição dos itinerários, da de reduzir um pouco o valor da tarifa. Em regra, 2007 e 2012 cresceram 15%, enquanto a po-
quantidade de viagens por faixa horária do tipo os usuários, com exceção dos que recebem o va- pulação aumentou 2% e os empregos cresceram
de veículo que deve operar em cada linha. le-transporte, pagam todos os custos, incluindo as 8%. Em 2012, foram registradas 43,7 milhões de
As tarifas também são fixadas pelo poder público políticas sociais dos governos, algumas justas no viagens diárias na Região Metropolitana de São
municipal e estadual no âmbito de suas competên- seu objetivo (como as gratuidades para os idosos Paulo por todos os modais. As viagens em modo

38 39
Cesar Brustoli

móveis aos corredores de ônibus, trens ou metrôs e em redes de média e alta capacidade, destinan- O poder público (municípios, estados e União) tem
desestimulam o estacionamento nas áreas centrais. do para tanto uma parcela menor de recursos do a incumbência de prover transporte público coleti-
Ações nos diversos modais, com melhoria no seu de- Orçamento Geral da União (OGU), a fundo perdi- vo à população. Concedente e gestor desse serviço
sempenho e priorização do transporte coletivo nas do, e uma parcela maior de créditos para agentes público e o titular dos serviços e linhas, pode pres-
vias, também são medidas que podem e devem ser públicos e privados, com exigência de contrapar- tar os serviços diretamente ou delegá-los na for-
tomadas para reduzir tempo de viagem para os tidas. Tais investimentos – consubstanciados em di- ma de concessão ou permissão a particular. Quan-
usuários e diminuir o volume de trânsito, mitigando ferentes etapas do Programa de Aceleração do do os delega, cabe-lhe conservar a titularidade,
seus efeitos perniciosos sobre o meio ambiente. Crescimento (PAC) – têm contribuído para reduzir guardar obrigações de continuidade, modicidade
em alguma medida a defasagem de infraestrutura das tarifas e universalidade, planejar e fiscalizar
Somente com a definição do Brasil como sede de de transporte público urbano estrutural, mas não a prestação dos serviços, aplicar as penalidades
duas grandes competições esportivas globais – a trouxeram ainda qualquer benefício para a qua- contratuais quando infringidos dispositivos regula-
Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos lificação do serviço de transporte público conven- tórios, fixar as tarifas e estabelecer canais de in-
de 2016 – o governo federal começou a investir cional no Brasil. formação e participação social.

cidade de pagamento da população; o aumento Cesar Brustoli Compreender os conceitos e os elementos que Na prestação do serviço, a contratada é a exe-
nos custos da operação do transporte público cole- envolvem as competências, o planejamento ope- cutora do serviço, cabendo-lhe garantir a quali-
tivo e a perda de passageiros que estão migrando racional e as tarifas são questões-chave para a dade do serviço fixada em contrato, mas fiscali-
para outros modos de transporte privado. Estima- construção de um sistema em que os serviços pres- zar os serviços e manter a relação com os usuários
se que, nos últimos dez anos, 20 milhões de pas- tados tenham qualidade e o acesso das pessoas continua sendo responsabilidade do poder público
sageiros migraram do transporte público coletivo ao transporte público coletivo seja garantido. contratante.
para o transporte privado, provocando diminuição
de 35% no total de pessoas que pagam os custos
do transporte público (dados referentes ao perío-
do entre 1995 e 2005).

Para que cidades sejam econômica, social e am-


bientalmente sustentáveis, é necessário que o trans-
porte público coletivo seja a espinha dorsal da
mobilidade urbana, com tarifas acessíveis, quali-
dade, boa frequência, menor geração de poluição
atmosférica e sonora, e que alcance todo o espaço
urbano, promovendo a inclusão social e o direito à
cidade, de modo que os usuários lhe deem prefe-
rência como meio de deslocamento. Suas modali-
dades devem ser integradas (ônibus, metrô, trens,
barcas), tanto nos municípios pequenos e médios
como nas regiões metropolitanas.

Mary Leal
Medidas paliativas podem e devem ser adotadas;
as cidades que construíram uma boa mobilidade
têm políticas de estacionamento que, fora do cen-
tro expandido, incentivam a integração dos auto-

40 41
QUEM É QUEM NO
TRANSPORTE PÚBLICO O QUE ESTÁ NA LEI DA MOBILIDADE, LEI 1.2587/12
COLETIVO

Planeja, executa e avalia a política de mobilidade urbana, bem como promove


Planejamento e gestão para o fluxo de passageiros em cada trecho, calcular o
índice de renovação de passageiros e determinar
a regulamentação dos serviços de transporte urbano; presta, direta, garantir qualidade
indiretamente ou por gestão associada, os serviços de transporte público a quantidade máxima de passageiros suportável
MUNICÍPIO coletivo urbano, que têm caráter essencial; capacita pessoas e desenvolve as sem degradar a qualidade do serviço. Assim se
instituições vinculadas à política municipal de mobilidade urbana.
Planejamento operacional chega ao que se chama de “programação de li-
O planejamento operacional do transporte tem nha”.
Poder concedente que presta, diretamente ou por delegação ou gestão como objetivo principal garantir o acesso das pes-
associada, os serviços de transporte público coletivo intermunicipais de caráter Em termos gerais, o traçado de uma linha de trans-
urbano; propõe política tributária especíca e de incentivos para a implantação soas a todos os pontos da cidade com a maior efi-
da Política Nacional de Mobilidade Urbana; garante o apoio e promove a ciência e eficácia possíveis, considerando padrões porte urbano deve proporcionar o acesso a vários
integração dos serviços nas áreas que ultrapassem os limites de um município. Os lugares dentro dos limites aceitáveis para percursos
ESTADO estados poderão delegar aos municípios a organização e a prestação dos
de conforto, rapidez, segurança e tarifas condizen-
serviços de transporte público coletivo intermunicipal de caráter urbano, desde tes com o serviço prestado. a pé, ser o mais direto possível, evitando desvios e
que constituído consórcio público ou convênio de cooperação para tal m. sinuosidades, evitar sobreposição de itinerários no
Para ter efetividade, o planejamento deve incor- traçado de várias linhas e, preferencialmente, ser
porar a participação e o controle dos usuários, integrado a outros serviços e modalidades como as
Poder competente para estabelecer as diretrizes da política nacional para o
transporte público coletivo. Presta assistência técnica e nanceira aos outros das operadoras, dos empregadores e de outras bicicletas, os automóveis, ferrovias, barcas e metrô.
entes; contribui para a capacitação continuada de pessoas e para o entidades da sociedade civil, ajustando a oferta
desenvolvimento das instituições vinculadas à Política Nacional de Mobilidade
Urbana nos outros entes; organiza e disponibiliza informações sobre o Sistema dos serviços tanto às necessidades do usuário como O planejamento começa com a identificação de
Nacional de Mobilidade Urbana e a qualidade e produtividade dos serviços de às condições operacionais pré-fixadas pelo poder dados estatísticos obtidos para cada grupo de
transporte público coletivo; fomenta a implantação de projetos de transporte
público coletivo de grande e média capacidade nas aglomerações urbanas e público. dias semelhantes: dias úteis, sábados, domingos e
nas regiões metropolitanas; fomenta o desenvolvimento tecnológico e cientíco feriados, que mostram a quantidade e quantida-
visando ao atendimento dos princípios e diretrizes da lei; e presta, diretamente de de deslocamentos feitos ou demandados pelos
ou por delegação ou gestão associada, os serviços de transporte público A unidade básica de organização da produção do
UNIÃO interestadual de caráter urbano. transporte coletivo por ônibus é a linha, caracteri- passageiros para ir às escolas, a hospitais, indús-
A União apoiará e estimulará ações coordenadas e integradas entre municípios trias, ao comércio, a áreas residenciais etc., identi-
e estados em áreas conurbadas, aglomerações urbanas e regiões zada por um itinerário, uma programação de ho-
metropolitanas destinadas a políticas comuns de mobilidade urbana, inclusive rários, pela quantidade e tipo de veículos e pelos ficados por meio de pesquisas de campo ou no in-
nas cidades denidas como cidades gêmeas localizadas em regiões de terior dos veículos. Onde há bilhetagem eletrônica,
fronteira com outros países.
trabalhadores (motoristas e cobradores).
A União poderá delegar aos estados, ao Distrito Federal ou aos municípios a ela é também influenciada pelo preço do serviço e
organização e a prestação dos serviços de transporte público coletivo Para dimensionar o número de veículos e intervalos pela renda do usuário.
interestadual e internacional de caráter urbano, desde que constituído consórcio
público ou convênio de cooperação para tal m. de tempo entre eles em uma linha é preciso saber

Consumidor e o mantenedor do serviço prestado, é quem o sustenta


nanceiramente, e como tal goza do direito de recebê-lo adequadamente, com
regularidade, segurança, higiene, conforto, bom atendimento e acesso às
informações sobre o ser viço em linguagem simples e acessível.
USUÁRIO O usuário também tem o direito de participar tanto do planejamento do sistema
como do controle dos serviços, porque afetam diretamente o seu dia a dia.

Empresas ou cooperativas de operadores, que têm com o poder público contrato


OPERADORES de concessão ou permissão. São os proprietários de veículos e equipamentos
utilizados na prestação dos serviços, e têm a obrigação de operar de acordo
concessionários ou com o contrato, submetidos à scalização do poder público nas condições
permissionários xadas. Operam também os sistemas metroferroviários de passageiros e
corredores exclusivos de ônibus.

MDT Divulgação
42 43
A determinação da oferta dos serviços baseia-se co diante desse serviço irregular, o que decorre,
nos seguintes atributos operacionais: facilidade de sobretudo da incapacidade política e operacional
acesso; conforto (espaço interior e ruído do veículo, dos municípios e estados de exercerem a fiscaliza-
associado aos parâmetros de ocupação máxima e ção efetiva e garantirem a melhoria dos serviços
às condições dos pontos de parada e dos termi- regulares. Inicialmente, a população apoia esse
nais); rapidez (facilidade de circulação pelo sis- serviço irregular, acreditando que os operadores
Tipos de pesquisa:
tema viário e intervalo máximo entre viagens por clandestinos são uma solução para o transporte co-
período ao longo do dia); segurança (forma de letivo, mas rapidamente percebe que as condições
condução dos veículos pelos motoristas); confiabili- de segurança são precárias, com a operação irres-
Pesquisa Objetivo ponsável e perigosa e veículos em péssimas condi-
dade (regularidade no cumprimento de horários e
itinerários, capacidade de operação dos veículos ções. Onde o transporte clandestino proliferou, a
Origem/Destino – Base domiciliar Identicar a demanda de
sem apresentar falhas etc.); preço (cobrado por qualidade do transporte coletivo piorou e suas ta-
ou base não domiciliar deslocamento da população, a
modalidade de transporte utilizada meio de tarifas passagens). rifas ficaram ainda mais caras, devido à queda no
e o motivo da viagem. número de passageiros e à concorrência desleal.
A ocorrência do transporte clandestino é motivada
Embarque/desembarque Identicar o número de passageiros pelas vantagens econômicas dos operadores au- O desafio do transporte público coletivo é oferecer
transportados por linha de tônomos, que atuam em áreas de alta rentabili- um nível de qualidade do serviço que satisfaça às
transporte, trechos críticos, pontos dade (o “filé”), e gozam de situação privilegiada expectativas de seus usuários, com preço acessível
de maior movimento de embarque
e desembarque, e assim por diante. na concorrência por não pagarem impostos, não ao seu poder aquisitivo, visto que 86,5% da de-
atenderem áreas sem rentabilidade, além de não manda atual de transporte público são atendidos
Catraca Identicar o total de passageiros transportarem passageiros que têm direito a gra- por ônibus (IPEA, 2011) e que os usuários desse
transportados em cada viagem, tuidades ou benefícios. Isso é resultado, em muitos serviço devem deixar de arcar com a totalidade
pela leitura dos números casos, da péssima qualidade do serviço ofertado, desses custos (www.ipea.gov.br/portal/images/
registrados na catraca. mas, principalmente, da omissão do poder públi- stories/PDFs/SIPS/110504_sips_mobilidadeurba-
na.pdf).
Contagem volumétrica/classicada Indicar o volume de veículos em
determinado trecho de uma via e o
percentual do tráfego,

Metrô SP
diferenciando-o em automóveis,
ônibus, caminhões, motos e outros.

De opinião Identicar a satisfação ou


insatisfação dos usuários com os
serviços de transporte.

44 45
Modernizando a gestão: para que eles saibam que linhas passam em cada em nossas cidades beneficiem a todos (vejam o link 5296/2004 para a adequação dos sistemas, veí-
ponto, o trajeto de cada linha, o tempo até a che- de normativas de acessibilidade: http://goo.gl/ culos e edifícios do transporte público era de dez
Sistemas de Transporte gada do próximo ônibus, bem como o conjunto dos cw77j8). anos a partir de 2004 e, portanto, já venceu; as-
Ultimamente, um ponto de grande debate relacio-
horários e itinerários. Tais sistemas devem possibili- sim, com certeza, no universo do transporte público
nado à redução das tarifas e do custo de transporte
tar, também, o acesso público a informações sobre Estão em vigor as leis n. 10.048/2000 e e em outros aspectos da vida urbana nem todos os
para os passageiros é a qualificação do transporte
viagens realizadas, controle da frota e seu desem- n. 10.098/2000; o Decreto Presidencial n. sistemas tiveram efetivadas integralmente a ade-
público, que deve acompanhar o desenvolvimento
penho na via, ocorrências mecânicas, situação de 5296/2004 e as normas NBR 14022 Transporte quação necessária, e o pior é que não existe um
tecnológico com respeito ao meio ambiente.
tráfego e ocorrências emergenciais. - Acessibilidade à pessoa portadora de deficiên- levantamento seguro a respeito das não conformi-
cia em ônibus trólebus, para atendimento urbano e dades.
A tecnologia em prol da qualificação do sistema é
As centrais de monitoramento urbano, com seus sis- intermunicipal (goo.gl/b9r93g) e ABNT NBR9050
elemento que leva o MDT a acompanhar e apoiar
temas de câmeras telecomandadas, acesso a ba- - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços Também é preciso estar atento para aprimorar
a adoção dos chamados ITS (sigla em inglês para
ses de dados complexas e comunicação em tempo e equipamentos urbanos (http://goo.gl/lQdmZC), cada vez mais as leis e normas e sua efetivação.
sistemas inteligentes de transporte). Os ITS são ele-
real, constituem outra modalidade de sistema tec- além da promulgação do decreto legislativo que Um exemplo: desde 2009 não é mais permitida
mentos de qualificação do transporte público, com
nológico significativamente importante para a mo- aprova o texto da Convenção da Organização das a renovação da frota com veículos que não pro-
ganhos em termos de conforto, facilidades, segu-
bilidade, a segurança viária, a segurança pública Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos da Pessoa movam à acessibilidade; na maioria dos casos, a
rança e redução de custos.
e as respostas a emergências nas cidades. A mo- com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo. frota de veículos tem sido renovada com ônibus
nitoração do tráfego permite que medidas sejam convencionais adaptados com elevadores que têm
Há uma gama variada de alternativas tecnológi-
tomadas quando ocorrem, por exemplo, acidente Com esses instrumentos, o Ministério Público e a so- se mostrado inadequados para suas finalidades de
cas aplicadas ao transporte. Uma das mais comuns
que demandem rápida retirada dos veículos, a co- ciedade podem exigir que o transporte público, as acesso a cadeirantes. Para que se possa de fato
é a bilhetagem eletrônica, que permite vantagens
ordenação de semáforos para dar mais fluidez ao calçadas, o acesso a prédios públicos, shoppings, dar qualidade a essa frota, é preciso que apenas
diversas para os usuários, em especial a integra-
tráfego, o controle de velocidade e de avanço de terminais, pontos de parada etc. sejam acessíveis. os veículos com piso baixo ou de acesso em nível
ção temporal, que, ao custo de uma tarifa, permite
semáforos para evitar acidentes com morte e feri- O prazo concedido pelo Decreto Presidencial n. contem com incentivos fiscais.
certo número de viagens dentro de determinado
dos, e mesmo para evitar engarrafamentos.
período, com considerável economia e muita fle-
xibilidade. A bilhetagem retira a maior parte do Barateamento das tarifas:
dinheiro vivo dos ônibus, diminuindo o interesse de Implementando a acessibilidade inclusão e justiça social
criminosos e a insegurança dos usuários, e também universal
ajuda órgãos gestores e empresas operadoras A acessibilidade universal pressupõe que veículos Custos das tarifas

Everson Bressan
com informações que facilitam o planejamento e a e infraestrutura urbana sejam produzidos levan- O valor da tarifa é obtido com base na divisão
gestão dos sistemas de transporte. Um dos exem- do em conta toda a diversidade existente, e não dos custos da operação dos serviços (diesel, pneus,
plos mais famosos é o Bilhete Único, da cidade de apenas um modelo padrão de ser humano; não se salários, manutenção do ônibus, remuneração das
São Paulo. pode excluir ou discriminar as pessoas por terem empresas operadoras, tributos federais, estadu-
características físicas distintas desse padrão. Mais ais e municipais incidentes etc.) pelo número de
Os sistemas eletrônicos de fiscalização de veloci- do que isso, todas as pessoas, independentemente passageiros pagantes, excluindo-se os passagei-
dade ou de monitoramento da invasão das faixas de suas condições físicas, têm o direito de acessar, ros beneficiários de gratuidades e apurando-se
exclusivas para ônibus favorecem o respeito e a de forma segura e eficiente, as facilidades, os ser- a equivalência dos passageiros beneficiários de
segurança no trânsito e podem fazer toda a dife- viços e as oportunidades que a cidade oferece. descontos – se o estudante paga meia tarifa (des-
rença na segurança de pedestres e de ciclistas e
conto de 50%), ele é contado no cálculo tarifário
na prioridade para o transporte coletivo nas ruas O Brasil avançou em aspectos legais e normativos como meio passageiro. Dessa forma, quando não
e avenidas das cidades. quanto aos direitos das pessoas com deficiência há subsídio, os usuários que pagam tarifa inteira,
O MDT defende a disseminação de sistemas tec- ou com mobilidade reduzida, mas é preciso que
Manu Dias

inclusive os que financiam o vale-transporte, estão


nológicos que permitam o fornecimento de infor- esses avanços consolidados em leis e normas se arcando com os custos dos que têm descontos ou
mações em tempo real aos usuários do transporte, tornem realidade e sejam efetivamente aplicados gratuidade.
46 47
de veículo e os gastos com pessoal são os fatores de interesse social, mas há também outras, como ciedade, como seria mais justo. O usuário faz filan-
Custo variável
determinantes no preço final da tarifa. para carteiros, oficiais de justiça, policiais milita- tropia, pagando todas as políticas sociais deter-
É aquele que mantém uma relação direta com a
minadas pelos governos e parlamentos municipais,
quilometragem percorrida. Quanto maior a qui- 46% estaduais e federal, que oneram as tarifas em, em
lometragem realizada por um ônibus, maior será Tributos média, 20%.
essa parcela dos custos. Nesta categoria de custos Os tributos sobre combustíveis, peças, acessórios,
incluem-se o diesel, lubrificantes, peças e acessórios veículos, salários, instalações, ganhos de capital 25% No Brasil há exceções a essa regra: já existem al-
e pneus. A quilometragem percorrida é resultado etc. incidem sobre as tarifas de forma direta. Além
11,65% gumas experiências de uso de recursos públicos
da extensão das linhas e dos os intervalos entre disso, em muitas cidades acrescenta-se o Imposto
ônibus em uma linha (que exige mais ônibus quan- 8% 9,35% para subsidiar gratuidades e benefícios tarifários
sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e a nos sistemas de transporte a estudantes, portado-
do há congestionamentos). taxa de gerenciamento nas linhas urbanas; nas li- res de necessidades especiais e idosos, como por
nhas metropolitanas acrescenta-se o Imposto sobre Combustível Pessoal e Peças, Outras Tributos e exemplo no metrô de São Paulo e no transporte
Custo fixo Encargos Acessórios e Despesas Taxas
Circulação de Mercadorias e Prestação de Servi- Lubricantes por ônibus nas cidades do Rio de Janeiro, Distrito
É a parcela do custo que não se altera em função
ços (ICMS). Federal, São Paulo, Cascavel, Maringá e Cuiabá,
da quilometragem, ou seja, incide esteja o veículo
em circulação ou parado. É calculada com base res etc., sem base social e a maioria por interesses entre outras, por meio do repasse das despesas
Em síntese, e admitindo-se os valores e índices mé- eleitorais e, embora apresentem justificativas so- com estudantes, portadores de necessidades espe-
no preço do veículo novo em relação à frota total
dios adotados pela maioria dos municípios, o custo ciais consistentes, nem sempre amparadas por lei. ciais e idosos à municipalidade.
(operantes e reservas), na depreciação (reposição
total do transporte está assim distribuído: No sentido mais social, em muitos países da Europa
da frota), na remuneração dos empresários e nas
As gratuidades e descontos refletem objetivos de Na decisão de criação de desconto ou gratuidade o subsídio à tarifa é feita pelo governo local, que
despesas administrativas. Outra parte é relativa às
atendimento preferencial a certos grupos (estudan- pelo poder público, não se consideram as fontes de cobre parte significativa dos custos do transporte
despesas com pessoal (salários e benefícios conce-
tes, idosos, pessoas com deficiência) considerados recursos necessárias à sua cobertura. Assim, esse com recursos orçamentários (Subsídio público na
didos). Nos custos fixos, a idade da frota, o tipo
ônus é repartido entre os passageiros pagantes tabela) Outras cidades, como Paris e Lyon, conse-
dos serviços de transporte, e não entre toda a so- guiram taxar os setores produtivos (Outras receitas

Quadro atual das tributações

Subsídio público Outras receitas Receita tarifária


100%
74% 68% 60% 56% 56% 54% 54% 53% 50% 50% 50% 46% 44% 43% 42% 41% 36% 32% 26% 25% 25% 20%

80%
1%

60% 9%
40%
10% 14%
45%
9%
4% 18%
1% 4%
40%
9% 7%

20%
26% 32% 31% 38% 44% 45% 46% 43% 46% 50% 50% 54% 46% 50% 39% 59% 48% 68% 72% 53% 31% 40%

0%

M e

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Fabio Arantes

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St
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Fonte: European Metropolitan Transport Authorities - EMTA Barometer 2011

48 49
Quadro atual das tributações • Reduzir os preços dos insumos do transporte sobretarifação de outros beneficiários. No caso
público coletivo e sua carga tributária, median- do transporte público urbano, em primeiro lu-
te: gar, seriam retirados privilégios hoje concedidos
Tipo de Tipos de Tributação Carga na - tratamento tributário diferenciado para aos automóveis para subsidiar os usuários do
tributação Item impostos atual tarifa insumos como combustível, peças e veículos transporte coletivo. A ideia se baseia em cobrar
tal como o dispensado aos produtos de que pedágios urbanos, tarifar estacionamentos pú-
ISS/Taxas compõem a cesta básica e praticados para blicos de maneira adequada, tributar a polui-
Tributo municipal Tributos 8,00% 8,00% os serviços públicos essenciais (como saúde e ção advinda da utilização de veículos privados,
municipais
educação); taxar a gasolina para um fundo de transpor-
Tributo federal Tributos PIS/COFINS 0,00% 0,00% - aprovação do projeto que institui o Regi- tes públicos e utilizar a CIDE Combustível, que
ICMS 16,00% me Especial de Incentivos para o Transporte desde 2003 era revertida para baratear a
Combustível 20,00%
PIS/COFINS 7,74% Urbano e Metropolitano de Passageiros (REI- gasolina. Além desses exemplos de como gerar
ICMS 12,00% TUP), que estrutura o sistema da cidade que receitas para subsidiar as tarifas do transporte
Insumos Veículo 14,53%
(tributos PIS/COFINS 6,02% a ele aderir, condicionando a participação público urbano, sugere-se também tributar seto-
estaduais e ICMS 17,00% a isenções tributárias, a que o serviço esteja res econômicos que lucram com a implantação
federais) Rodagem licitado, a que esteja implantado o bilhete de sistemas estruturais de transportes, como o
(pneus e IPI 2,00%
5,89% temporal (bilhete único) ou um sistema inte- setor imobiliário.
câmaras de PIS/PASEP 1,43%
ar) grado em terminais;
COFINS 6,60%
- desconto de 60% na energia elétrica de O barateamento das tarifas do transporte público
Fonte: NTU 2013, tração, eliminando a tarifa horo-sazonal (a coletivo representará a inclusão social de mais de
disponível em: http://tarifazero.org/wp-content/uploads/2010/08/DesoneracaoCustosTarifasAbr2009.pdf
energia elétrica para o transporte público 17 milhões de brasileiros que não utilizam o serviço
coletivo é mais cara nos horários de pico, pe- porque não conseguem pagar as tarifas.
ríodo em que é necessário ter maior oferta
na tabela). Exemplos de subsídios públicos: Praga as famílias participantes dos programas sociais dos serviços, elevando o preço das tarifas)
74%; Turim 68%; Madrid 56%; Amsterdã 46%; dos governos. - reduzir em 50% do valor do diesel e for-
Berlin 54%. necimento de gás natural veicular (GNV),
• Subsidiar as tarifas significa repartir os cus- biodiesel e álcool a preço reduzido para o
Para garantir a todas as pessoas o direito de tos do transporte público coletivo com toda a transporte coletivo;
acessar os locais de atendimento de suas neces- sociedade, utilizando recursos públicos para - isenção do Imposto Predial e Territorial Ur-
sidades básicas, deslocando-se em um sistema de promover a redução da tarifa final. Para tal, bano (IPTU) para terminais, estações, gara-
transporte de qualidade com inclusão social, o po- aplicar os recursos provenientes dos tributos ISS gens, pátios e imóveis utilizados no transpor-
der público deve dar transparência aos custos de e ICMS para cobrir gratuidades com função so- te público urbano.
deslocamento, incluindo as gratuidades (planilha cial (idosos, pessoas portadoras de deficiência
tarifária), e constituir espaços de participação e e estudantes). Além de recursos do tesouro ou • Racionalizar a operação e gestão para al-
controle popular. A maior parte dessas propostas impostos já existentes, a tarifa pode ser subsi- cançar melhor qualidade e custos menores na
está incluída no Pacto da Mobilidade apresentado diada com recursos de diversas outras fontes, operação do transporte público coletivo, princi-
nesta publicação. Para isso, é importante: como, por exemplo a taxação do setor imobiliá- palmente implantando em grande escala faixas
• Institucionalizar o vale-transporte como direi- rio ou da gasolina utilizada nos automóveis, que exclusivas de ônibus e proibindo estacionamen-
to trabalhista e estender o benefício aos par- envolve organizações e pessoas que se benefi- tos em vias onde circulam ônibus.
ticipantes de programas sociais do Governo ciam indiretamente da existência do transporte
Federal. Fortalecer e ampliar o uso do vale- público. • Subsídios cruzados – mecanismos de finan-
transporte, e criar vale-transporte social para ciamento das tarifas de serviços por meio da

50 51
A Frente Nacional de Prefeitos juntamente com as
entidades que compõe o MDT propõem que a CIDE
Combustível passe a financiar o transporte públi-
Avanços da luta pelo TE) e a Lei 12.852/13, denominada Estatuto da
co (a CIDE foi zerada desde 2003 para manter a
barateamento das tarifas: Juventude. As gratuidades também poderiam ser
gasolina barata e voltou a ser cobrada em 2015).
qualidade e sustentabilidade revistas, com a adoção de critérios de renda, para
Esse modelo funciona na Colômbia, possibilitando
do serviço favorecer somente quem de fato não tem como pa-
recursos para investimentos e custeio do transporte
Desde sua criação, em 2003, o MDT reivindica, no gar a tarifa.
público com alíquota de 25% sobre a gasolina.
âmbito do seu 2º Eixo, investimentos permanentes
do transporte coletivo, e em seu 3º Eixo, o baratea- A alocação adequada de recursos com gratuida-
Além de desoneração tributária e da destinação
mento das tarifas. Durante todo esse tempo, o MDT des é parte essencial do barateamento das tarifas.
de outras fontes tributárias para financiar o trans-
também procurou difundir a ideia de que, como Estimativa elaborada em estudo conjunto da CEPAL Fabio Arantes
porte público urbano, há propostas de fontes alter-
ocorre em outros países, em especial nas principais e do IPEA concluiu que as gratuidades e reduções
nativas de recursos. Entre elas, pode-se destacar a
economias, além da redução da carga tributária tarifárias afetam em 20% o valor da tarifa (Vas- ção, capacitação de profissionais, adoção de no- cobrança pelo uso privado de infraestrutura pú-
é preciso haver fontes permanentes de recursos concellos et al., 2010, www.energiaeambiente.org. vas tecnologias e também condições especiais de blica (pedágios urbanos e estacionamento em vias
para investimentos na ampliação e qualificação do br/arquivos/files/CEPAltransportes.pdf). tráfego, como aquelas permitidas pelas faixas públicas), taxação específica de empresas com
transporte público e para subsidiar o custo das ta- exclusivas e outras formas de prioridade para o base no número de empregados para fins de com-
rifas. Essa ideia ganhou novo ânimo recentemente Isso, contudo, não deve ser entendido como um transporte coletivo nas ruas e avenidas. posição do subsídio à tarifa (como a Taux du Ver-
e parece mais viva do que nunca. argumento contra as gratuidades e reduções ta-
sement Transport utilizada na França), instrumentos
rifárias. Argumenta-se, somente, a favor de uma De todo modo, cresce o entendimento de que, mes- de captura da valorização imobiliária (contribui-
No primeiro semestre de 2015, continuava na Câ- utilização com justiça social adequada. Além disso, mo com as desonerações, o fim das gratuidades, a ção de melhoria, IPTU e operações urbanas consor-
mara Federal, em fase final de aprovação em tra- é perfeitamente cabível que esse impacto tarifário redução de custos com ganhos de eficiência, a for- ciadas), fontes oriundas do comércio, publicidade
mitação no Congresso, o Projeto de Lei 310/09, seja absorvido por fundos extratarifários compos- mulação e adoção de uma nova planilha que per- e outras atividades acessórias ao transporte, entre
que propõe a instituição do REITUP – Regime Espe- tos por rendas acessórias ao serviço ou por recei- mita o gerenciamento mais preciso dos custos dos outras (Nota técnica n. 2 IPEA, 2013, www.ipea.
cial de Incentivo ao Transporte Urbano de Passa- tas alternativas (publicidade nas estações, receitas sistemas por parte de operadores e gerenciadores gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecni-
geiros, que possibilita acordos entre os três níveis orçamentárias, rendas advindas de negociação de para que seja oferecida a qualidade requerida a ca/130714_notatecnicadirur02.pdf).
de governo para a tributação de insumos e servi- créditos de carbonos adquiridos com a implanta- um preço que a maioria dos usuários possa pagar,
ços voltados para o transporte público, de modo ção de sistemas de transporte urbano, receitas de será preciso buscar uma ou mais fontes perenes e
a reduzir tarifas; o projeto enfrenta resistência do estacionamentos e pedágios urbanos e de multas sustentáveis de financiamento para os sistemas. Tais Tarifa zero
Ministério da Fazenda, e o Congresso evita apro- de trânsito, entre outras). fontes envolvem a contribuição de beneficiários in- A tarifa zero é uma proposta que vem do Movi-
vá-lo para não vê-lo vetado em seguida pela pre- diretos do transporte coletivo, em especial proprie- mento Passe Livre, que “luta por um transporte pú-
sidenta. A desoneração da cadeia produtiva do A elaboração de uma planilha referencial com tários que circulam com seus automóveis, e os em- blico de verdade, gratuito para o conjunto da po-
transporte sempre foi considerada pelo MDT como base na atual realidade de custos do setor tam- pregadores, que têm na mobilidade de sua força pulação e fora da iniciativa privada” (tarifazero.
um objetivo estratégico para a redução das tari- bém é encarada como uma iniciativa capaz de de trabalho um fator importante de produção. org/mpl/).
fas. contribuir para eliminar gorduras e superfatura-
mentos nos sistemas, ajudando a baratear o trans- Algumas propostas estão sendo apresentadas. A tarifa zero é uma iniciativa que, se aprovada,
Outro grande desafio para atingir o barateamen- porte para o usuário. Em 2014, essa iniciativa foi Uma delas diz respeito à mudança no vale-trans- terá que ser implantada forma gradual. Requer
to das tarifas está nas gratuidades constitucionais levada à frente pela ANTP, pela NTU, pelo Fórum porte, que deixaria de constituir um benefício in- uma série de mudanças estruturais para que de
e em outras criadas por leis das três esferas de Nacional de Dirigentes e Secretários de Transporte dividualizado e teria seus recursos ser destinados fato possa trazer os benefícios esperados. Sem o
governo. Há fontes de recursos públicos instituídas e Trânsito e pela Frente Nacional de Prefeitos, e a um fundo do sistema de transporte, permitindo devido preparo, a aplicação da tarifa zero ge-
por mecanismos legais já existentes que podem seus resultados devem ser publicados no segundo drástica redução de tarifa. Essa ideia se aproxima raria de imediato um aumento significativo do nú-
garantir subsídios especiais para idosos – a Lei semestre de 2015. Também podem contribuir as do modelo francês, segundo o qual empresas com mero de viagens e dos custos, pois seria preciso
12.213/10, em conformidade com o Estatuto do ações voltadas para melhorar o desempenho dos mais de nove funcionários pagam uma taxa que aumentar frotas e gastos com combustível e mão
Idoso (Lei 10.741/03) – e estudantes – o Progra- sistemas – considerando aspectos como renovação alimenta um fundo que subsidia as tarifas. de obra.
ma Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNA- da frota, otimização da operação e da manuten-

52 53
Rafael Neddermeyer

e contrapartidas de estados, municípios e de inves-


tidores privados.

São investimentos concernentes a diferentes mo-


dalidades do Programa de Aceleração do Cres-
cimento (PAC), com projetos inicialmente voltados
para a Copa de 2014 e depois vinculados ao PAC
Mobilidade Grandes Cidades, PAC Mobilidade
Médias Cidades, PAC Pavimentação e, mais recen-
temente, recursos vinculados ao Pacto da Mobilida-
de Urbana.

De acordo ainda com o levantamento da Secreta-


ria Nacional de Transportes e Mobilidade Urba-
na, os recursos correspondiam em 2014 a mais de
Mobilização social conquista 400 empreendimentos, significando 3.959 km de
investimentos em sistemas vias de transporte público em obras e outros 935
estruturais de transportes km em projetos. Aos sistemas sobre pneus foram
A mobilização dos setores sociais comprometidos destinados R$ 40 bilhões, com aplicação previs-
Everson Bressan com a implantação da Lei da Mobilidade Urbana ta em 254 projetos, totalizando, em 2014, 3.143
nas cidades brasileiras, principalmente dentro do km em obras e 604 km na fase de projeto. Aos
Se, por exemplo, a licitação previsse o pagamento tividade do serviço e os custos reais dos insumos. Conselho Nacional das Cidades, com participação sistemas sobre trilhos foram endereçados R$ 99 bi-
da empresa pelo número de passageiros, isso au- Sem esse controle, os recursos públicos seriam geri- de conselheiros que integram o Secretariado do lhões, com 86 empreendimentos que somavam, no
mentaria em muito o rendimento das empresas de dos também sem controle social dos reais custos au- MDT, contribuiu decisivamente para que houvesse ano da Copa do Mundo do Brasil, 637 km de vias
transporte. Um quadro possível seria a estatização feridos, o que pode levar a grandes desperdícios. nos últimos anos considerável mudança no ambien- em obras e 281 km na etapa de projeto. Outros
do sistema de transporte. Atualmente, temos ape- te de investimentos no setor. 56 empreendimentos incluem terminais, sistemas de
nas uma empresa estatal, mas nenhuma das empre- Há também a questão da qualidade. Com um monitoramento de tráfego, transporte fluvial, pla-
sas estatais de transporte que houve no país teria aumento repentino de passageiros, haveria uma Os investimentos concatenados pelo governo fe- nos inclinados e intervenções viárias, corresponden-
sido considerada competitiva, o que permite supor queda também repentina na qualidade. Essas as deral se intensificaram na segunda metade da do a 179 km de vias em obras e 50 km em fase de
que a estatização geraria ineficiências e inoperân- razões pelas quais o barateamento das tarifas de- primeira década do século XXI, sobretudo após a projeto, que absorverão R$ 5,8 bilhões.
cias que aumentariam significativamente os custos verá ser acompanhado de um gradual e controla- definição do Brasil como sede de grandes eventos
do sistema. Em ambos os quadros, seria necessário do aumento da qualidade. esportivos. O levantamento apresentado no pri- O MDT tem apontado uma distorção que precisa
um investimento suplementar para permitir ao Es- meiro semestre de 2014 pela Secretaria Nacional ser corrigida: até o início de 2015, todos os inves-
tado cobrir os custos hoje pagos pelos usuários e Uma proposta do MDT que contempla parte da de Transportes e Mobilidade Urbana, do Ministé- timentos com chancela federal foram canalizados
fornecedores de vale-transporte, bem como pagar proposta da tarifa zero é a inclusão de um auxí- rio das Cidades, contabilizava investimentos con- para obras em sistemas estruturais de transportes
os novos passageiros advindos da gratuidade total lio nos programas assistenciais do governo para as cretizados ou programados da ordem de R$ 143 públicos e nenhuma parte desse montante se desti-
das tarifas. pessoas que estão excluídas do sistema público por bilhões. Um ano depois, no primeiro semestre de nou a qualificar os sistemas convencionais de trans-
não poderem pagar as passagens e não têm aces- 2015, a mesma secretaria informava que recursos portes públicos ou a capacitar as equipes munici-
Outra questão diz respeito à gestão dos sistemas. so ao vale-transporte. Isso permitiria a inclusão de passaram a ser da ordem de R$ 153 bilhões. É im- pais para planejar, projetar, implantar e operar
Nossas prefeituras não têm como repassar subsí- 13 milhões de famílias brasileiras no sistema de portante frisar que esse montante inclui recursos do sistemas de mobilidade urbana.
dios quando não controlam a operação das linhas, transporte público. Orçamento Geral da União (OGU), linhas de cré-
pois precisam saber o número de viagens, a efe- dito subsidiadas de bancos federais, investimentos

54 55
O governo paulista anunciou investimentos de R$ 2) Ampliar e revitalizar os sistemas metroviários Qualidade de porta a porta
47,69 bilhões de reais (uma parte menor já conti- e ferroviários, resgatando seu papel estrutura- Para quem usa o transporte público, a viagem tem
da na contabilização federal e outra, maior, refe- dor da mobilidade urbana nas grandes cidades início na porta de casa e termina na chegada ao
rente a recursos do tesouro estadual e financiamen- e regiões metropolitanas; destino. Dessa maneira, todos os elementos que fa-
tos obtidos diretamente pelo estado), que estão zem parte do deslocamento – as calçadas, faixas
permitindo a implantação de novos 141,2 km de 3) Investir na infraestrutura do transporte aqua- de travessia, pontos de parada, terminais etc. –
trilhos nos sistemas de metrô, monotrilho, trens e ve- viário de passageiros; devem apresentar um bom padrão qualidade, e
ículos leves sobre trilhos (VLT), com construção de os ônibus convencionais devem ser muito parecidos
138 estações e 287 trens, além de 97,2 km de 4) Investir em tecnologias para veículos, siste- com os sistemas estruturais em termos de conforto,
corredores de ônibus, com a aquisição de 1.252 mas de bilhetagem e de informação aos usuá- desempenho e segurança.
ônibus veículos. rios, nos abrigos e on-line via celulares, voltadas
para o controle público e social dos custos e da Conforto e segurança na espera
Com recursos próprios, participação da iniciativa qualidade dos serviços; O usuário precisa encontrar conforto e segurança
privada e do governo federal, o município e o para aguardar o transporte: pontos bem identifi-
estado do Rio de Janeiro têm investido na com- 5) Promover a integração de todos os modais cados e iluminados, acessíveis a todos, e proteção
posição de uma nova rede de transporte para a (ônibus, metrô, trens e barcas); contra o sol e a chuva. A dimensão do abrigo deve
capital e região metropolitana, levando em conta Maurilio Cheli ser compatível com o número de pessoas que espe-
a ampliação do metrô, a requalificação do sistema 6) Incentivar a ação integrada entre cidades e, de lazer, e alimentam os sistemas de maior capa- ram o ônibus nas horas de maior movimento, justa-
de trens, a implantação de um sistema de veícu- sobretudo, entre os municípios incluídos em regi- cidade. Os ônibus comuns realizam cerca de 70% mente para que ninguém acabe desprotegido. A
los leves sobre trilhos (VLT), o recondicionamento ões metropolitanas, com sistema intermunicipal. das viagens no transporte público em todo o país, pista em frente ao ponto deve ser bem pavimenta-
dos bondes de Santa Teresa e a implantação de 28 milhões de pessoas todos os dias. da, com um bom sistema de escoamento das águas,
quatro sistemas de transporte rápido por ônibus, São os ônibus convencionais que recolhem e dei- O resultado do esforço para reivindicar a qualifi- evitando que se formem as poças que servem para
os BRT (Bus Rapid Transit). xam as pessoas nos pontos mais próximos de suas cação dos ônibus convencionais foi a inclusão desta molhar quem espera a condução. Nesse mesmo pa-
residências, escolas, hospitais, locais de trabalho ou proposta entre as prioridades de investimento dos drão os terminais centrais e de bairros devem ter
R$ 50 bilhões a serem destinados ao Pacto Na- acessibilidade universal e informação em painéis
Qualificação do sistema conven- cional da Mobilidade Urbana, conforme expressa digitais dos horários de partida e chega como nos
cional de mobilidade urbana a Resolução 151 do Conselho das Cidades. São aeroportos.
O MDT tem alertado a sociedade civil e os gover- apresentadas a seguir as diretrizes para a qua-
nos sobre a aplicação dos recursos do PAC unica- lificação dos sistemas convencionais de transporte
mente nos sistemas estruturais como os metrôs ou por ônibus. Informações ao usuário
os corredores de ônibus de elevado desempenho Os pontos devem oferecer um conjunto mínimo de
(os sistemas de BRT), já que até 2014 não mais de Faixas exclusivas informações para que os passageiros saibam que
15% desses recursos foram de fato investidos. É Para melhorar as condições operacionais dos ôni- linhas param naquele local, as respectivas indica-
urgente cuidar, a curto prazo, da qualificação dos bus comuns, garantindo maior velocidade e menor ções de origem e destino, horário de início e fim
sistemas convencionais (redes de transporte que já tempo de viagem, uma boa saída são faixas ex- dos serviços em cada linha, preços e forma de pa-
estão operando e que ocupam praticamente toda clusivas com monitoramento eletrônico permanente. gamento. Fora do ponto, é importante que os usu-
a malha urbana nos grandes médios centros). O O MDT defende que o governo federal reserve ários disponham de números telefônicos e páginas
MDT defende que pelo menos 10% desses recursos parte dos recursos a serem investidos no transporte na internet para contato com operadores e gesto-
sejam alocados para: urbano para apoiar a implantação de sistemas de res para acessarem a programação das linhas com
1) Instalar corredores ou faixas exclusivas para faixas exclusivas, com monitoramento, nas capitais horários em cada ponto. É preciso ainda implantar
Fabio Arantes

ônibus, aumentando a velocidade e reduzindo estaduais e municípios com mais de 300 mil habi- tecnologias já disponíveis capazes de oferecer nos
custos; tantes. pontos, em painéis ou mesmo nos aparelhos celu-

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lares, informações sobre trajetos e horários, o que te impostas à implantação e operação de sistemas cionais que retardam sua disponibilização para referentes a projetos, sistemas, serviços e obras de
permite planejar melhor a viagem e ajuda a pre- de transporte público. a população. Defendemos o respeito absoluto às engenharia necessárias à implantação de uma li-
venir contratempos, além de reduzir a ansiedade normas ambientais e o esclarecimento das dúvidas nha de metrô. De acordo com esse levantamento,
da espera. Do ponto de vista ambiental, praticamente não há levantadas por órgãos técnicos, pelo Ministério Pú- grosso modo a etapa de concepção do empreen-
qualquer tipo de embaraço para um cidadão com- blico e pela Justiça, mas sustentamos que é neces- dimento consome 18 meses, com 11 licitações; o
Veículos prar um carro ou uma moto e dirigir pelas cidades sário levar em conta a prioridade da implantação desenvolvimento do projeto demanda 30 meses,
Com relação ao conforto a ser oferecido nos veí- e estradas, mesmo com a poluição atmosférica e de projetos estruturantes de transporte e que eles com outras 11 licitações, e a implantação propria-
culos, o ideal será que haja assentos para no míni- sonora causada por veículos desse tipo. Por outro requerem celeridade, reconhecimento da comple- mente dita exige 48 meses, com mais oito licitações,
mo 50% da capacidade, e que, no máximo, haja lado, no processo de implantação de sistemas de xidade dos projetos, fundamentação e equidade totalizando 96 meses, ou oito anos, e 30 licitações.
quatro passageiros por metro quadrado entre os transporte público – sejam eles sobre trilhos ou so- nos procedimentos em relação aos automóveis e As implantações de corredores de ônibus que co-
que viajarem de pé. Os veículos devem ter motor bre pneus – normalmente há exigências de contra- motos. mecem do zero são apenas um ano ou um ano e
traseiro, suspensão a ar, câmbio automático, aces- partidas e medidas mitigatórias para compensar meio mais breves. Tudo isso indica a necessidade
sibilidade às pessoas com deficiência e mobilidade eventuais danos ambientais, sem que se considere A Secretaria de Transportes Metropolitanos do Es- de tornar mais ágeis esses projetos.
reduzida e contar com ar condicionado (em cida- que o próprio sistema de transporte público é uma tado de São Paulo divulgou um quadro geral de
des muito quentes). forma de reduzir a poluição e diminuir o tempo de exigências de estudos, licenciamentos e licitações
viagem e o desgaste dos passageiros nos grandes
centros.
Vias conservadas
É fundamental que as vias nas quais transitam ve- O MDT defende que órgãos e empresas responsá-
ículos de transporte público sejam pavimentadas veis por grandes projetos de transporte público ur-
e não apresentem buracos, valetas ou obstáculos bano e entidades representativas do setor se apro-
transversais, justamente para que não se observem ximem dos órgãos públicos da área ambiental, do
solavancos durante a viagem, garantindo o confor- Ministério Público e mesmo do Judiciário, para que
to e segurança dos usuários. se estabeleça melhor compreensão a respeito da
importância dos investimentos em transporte públi-
Controle e segurança
co para a redução da poluição, para a melhoria
No tocante à segurança, a sugestão é para que
da situação de saúde nos grandes centros e tam-
haja monitoramento centralizado dos veículos, com
bém para a melhoria da mobilidade, com redução
sistema de localização e contato pelo menos por
dos tempos de deslocamento e favorecimento da
canal de voz, além de gravação de imagens a bor-
economia nas cidades.
do e no entorno, controle de velocidade e chama-
da de emergência nos pontos principais.
De modo geral, não existe uma adequada com-
preensão a respeito do significado dos empreendi-
Entraves retardam e encarecem mentos estruturadores do transporte público para
projetos de transporte o bem-estar nas cidades, razão pela qual se es-
O MDT tem procurado apontar e combater a dis- tabelecem entraves que alongam e encarecem a
crepância entre a proteção e o estímulo concedido implantação de novos projetos: rigor excessivo, a
aos veículos individuais motorizados – em especial demora em certos procedimentos e a obrigação
automóveis e motos – e as dificuldades normalmen- de contrapartidas acarretam atrasos e custos adi-

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Promovendo a
Circulação Não
Motorizada
Andar a pé
Do total de deslocamentos não motorizados, 36%
são feitos a pé (dados da ANTP 2013). Uma parte
das pessoas que se deslocam a pé é forçada a isso
pelos valores das tarifas do transporte coletivo, in-
compatíveis com sua renda familiar. Para muitos, Heloisa Ballarini
principalmente aqueles que não têm direito ao va- mas como falta de calçadas ou calçadas esburaca- e fiscalizadas adequadamente. Brasília, a capital
le-transporte, pagar diariamente a passagem do das, mal conservadas, com obstáculos de diversas onde reinavam os automóveis, é o principal exem-
transporte coletivo representa reduzir a já precá- ordens e sem de iluminação. plo de que é possível existir motoristas e pedestres
ria qualidade de vida de sua família. igualmente cidadãos.
A calçada é parte da via pública e deve ter o
Deve-se ressaltar que vários deslocamentos para mesmo cuidado que é dedicado à pista em que Para compreender a problemática das calçadas
escolas e postos de saúde na forma motorizada circulam os veículos motorizados: iluminação, sinali- no país, o MDT recomenda a leitura do relatório
foram reduzidos, devido à descentralização desses zação, manutenção permanente para evitar bura- final da campanha Calçadas do Brasil, desenca-
serviços. Andar é um modo saudável de transporte cos etc. O MDT defende que o poder público deve deada pelo portal Mobilize Brasil para estimular
para curtas distâncias, porém quem faz esses des- assumir a responsabilidade por implantar e fazer a melhoria das condições de mobilidade para pe-
locamentos a pé com frequência enfrenta proble- a manutenção adequada pelo menos nos trechos destres nas cidades brasileiras. A publicação, que
onde há grande trânsito de pedestres. Além dis- traz um estudo a respeito do tema, tem também um
so, é preciso lembrar que, de acordo com a Lei formulário para que qualquer pessoa possa ava-
de Mobilidade, a rua, que inclui as calçadas, deve liar o estado da calçada na região onde mora. Os
ser democratizada, de acordo com o critério de quesitos importantes são denominados e descritos,
concessão de espaço viário proporcional ao per- permitindo uma boa compreensão de cada um dos
centual de pessoas transportadas, significando que principais problemas observados nas calçadas das
às calçadas são devidos mais de 30% do espaço cidades brasileiras, como irregularidades, degraus,
disponível. Imaginem nossas cidades com calçadas inclinações que dificultam o caminhar, presença de
largas e acessíveis! rampas para acesso de automóveis às garagens de
casas e prédios, obstáculos na faixa que deveria
As faixas de pedestres devem ser entendidas como ser livre para os pedestres, condição da iluminação
uma continuidade natural das calçadas e respei- noturna e presença de sinalização para pedestres
tadas como os redutos seguros para as travessias; (www.mobilize.org.br/midias/pesquisas/relatorio-
para tanto, precisam ser iluminadas, planejadas calcadas-do-brasil---jan-2013.pdf).

60 61
ou de bicicleta pelas ruas e assegura que possam se observa que esse tipo de transporte, tratado
fazer isso com segurança e autonomia, desfrutan- como modo de deslocamento marginal e obstáculo
do do espaço público. aos veículos motorizados, não está incorporado no
planejamento urbano de circulação. Além disso, é
precária a política de educação para a seguran-
Andar de bicicleta ça e respeito aos ciclistas, o que contribui também
A bicicleta entrou na pauta da mobilidade urbana para os crescentes índices de mortes e ferimentos
no Brasil. Nas cidades grandes, começam a des- no trânsito.
Sergio Ogata
MDT Divulgação
pontar ciclistas em meio a carros, calçadas e ciclo-
iluminadas e sinalizadas que permitam integração
vias. Atualmente, de acordo com a ANTP, 4,0% das
com o transporte de massas e acesso a todos os
viagens nas regiões metropolitanas e 16% das via-
cantos da cidade e 3) fiscalização por parte do
gens em cidades situadas na faixa de 60 mil a 100
poder público das ciclovias, ciclofaixas e outras es-
mil habitantes são feitas com bicicletas. Com base
truturas, para que sejam respeitadas pelos usuários
em dados disponíveis da Pesquisa de Orçamento
MDT Divulgação de carros; e 4) campanhas de educação, que po-
Familiar realizada pelo IBGE em 2008-2009, ve-
dem abarcar o modelo tradicional e também polí-
rifica-se que no Brasil a bicicleta é utilizada princi-
ticas mais arrojadas, como a inclusão de conteúdos
palmente por famílias de baixa renda, as quais se
Nossas cidades mudaram muito nas últimas déca- referentes à bicicleta na formação de condutores e
concentram em maior proporção nas regiões Norte
das, com a criação de centros comerciais regionais na grade horária escolar das crianças.
e Nordeste. Em função desse perfil, pode-se infe-
e a descentralização de serviços públicos, o que rir que a principal razão que leva os brasileiros a
facilita o acesso a pé. Muitas vias se transforma- A frota estimada de bicicletas no Brasil em 2014
adquirirem uma bicicleta é o fato de esse veículo
ram em calçadões no vale do Anhangabaú e em era de 60 milhões, segundo a Associação Brasilei-
ser uma alternativa mais barata em comparação
outras ruas do centro de São Paulo, e também em ra dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores,
com os meios de transporte individuais motoriza-
Curitiba e Blumenau foram implantadas vias para Motonetas, Bicicletas e Similares (ABRACICLO) e a
dos, como automóveis e motos, e mesmo em relação
pedestres – os calçadões; em diversos outros cen- Associação de Fabricantes, Montadoras, Distribui-
aos transportes coletivos.
tros urbanos, os leitos das vias foram estreitados doras, Exportadoras e Importadoras de Bicicletas,
para a ampliação das calçadas, como em Gua- Peças e Acessórios (ABRADIBI). Maior que o total
rulhos e na Avenida Paulista de São Paulo, além O uso da bicicleta cresce no país de carros, que somam 46,4 milhões (Denatran,
das calçadas à beira-mar como em Boa Viagem O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de maio 2014).
no Recife, em Aracaju e na orla de Salvador, só bicicletas, com cerca de cinco milhões de unidades
para dar alguns exemplos, até planos mais globais produzidas anualmente, atrás apenas da China Levando em conta o percentual de utilização, os Cidades de diversos países têm investido na bici-
como o Rio Cidade, que transformou radicalmente e da Índia. Em Indaiatuba (SP), em 2014 a fro- modos não motorizados de transporte (andar a pé, cleta como meio de transporte integrado ao metrô
as regiões Sul e Centro do Rio de Janeiro. ta de bicicletas (130.000) superava a de carros bicicletas) têm direito a um terço da via, espaço e a corredores de ônibus. A Holanda é um país com
(94.000). Cidades como Sorocaba, Santos e Ubatu- que deve ser destinado para calçadas e malha ci- tradição ciclística: adultos, crianças e idosos utili-
As crianças são um dos grupos demográficos mais ba, todas localizadas no estado de São Paulo, bem cloviária. Toda obra financiada pelo governo fe- zam a bicicleta no dia a dia. Copenhague, na Di-
afetados pelos hábitos de vida e mobilidade atu- como Rio de Janeiro e Dourados, no Mato Grosso deral deve atender a essa proporção, como de- namarca, e Bogotá, na Colômbia, têm se destaca-
ais, pois dependem dos adultos para se locomover. do Sul, também merecem destaque em razão do finido na Lei 12.587/12. Para que as políticas de do como cidades que priorizam o uso da bicicleta.
Para elas, foi criado o projeto Caminho Escolar – estímulo a esse meio de transporte. A bicicleta já estímulo ao transporte por bicicleta aconteçam, são
desenvolvido em diversas partes do mundo, como faz parte dos financiamentos federais, mas há ain- necessárias: 1) a criação de uma malha cicloviária O fenômeno que temos visto é a percepção de que
Estados Unidos, Canadá, Austrália e países da Eu- da imensa carência de infraestrutura adequada, (ciclovias, ciclofaixas) com instalação de paraciclos a bicicleta pode contribuir na solução do problema
ropa, mas ainda pouco difundido no Brasil. Esse como ciclovias, ciclofaixas, áreas de estacionamen- (os estacionamentos das bicicletas) em áreas co- que são as caóticas metrópoles brasileiras. As bi-
projeto estimula as crianças se locomoverem a pé to e integração com transportes coletivos. Também merciais; 2) calçadas compartilhadas devidamente cicletas são de fácil integração com sistemas estru-
turais (basta um bom e seguro paraciclo); ocupam
62 63
pouco espaço na via e nos estacionamentos; permi- Um dos temas atualmente em pauta é a tributa-
tem viagens rápidas em um raio de 7 km; aumen- ção que incide sobre as bicicletas, que varia entre
tam a visibilidade dos negócios locais (todo ciclista 38,2% e 73,2%, segundo estudo da consultoria
decora o comércio perto de sua casa); diminuem o Tendências para o site www.bicicletaparatodos.
número de acidentes com mortes por trafegarem com.br
em baixas velocidades; não poluem e ajudam a
manter a saúde da população, com a redução de
doenças associadas ao sedentarismo e ao excesso
de peso (hipertensão e diabetes) e, com isso, di-
minuem a necessidade de investimentos na saúde
(calcula-se o gasto de R$ 84,6 milhões pelo SUS
com o tratamento de doenças decorrentes do ex-
cesso de peso).

O grande desafio da modalidade por bicicleta


hoje no Brasil é convencer de maneira geral o po- O Rio de Janeiro é a única cidade da América La-
der público a implementar as conquistas da Lei da tina incluída no ranking elaborado pela consultoria
Cesar Brustoli
Mobilidade, priorizando pedestres e bicicletas ao dinamarquesa Copenhagenize, que lista as cida-
ceder o espaço devido aos não motorizados na des mais amigáveis ao trânsito de bicicletas. Atual- A cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, tem
via, o que democratiza o espaço viário privatizado mente, o Rio conta com 320 km de ciclovias. a maior rede de ciclovias do estado, com 106 km
para os carros. de extensão, e o menor índice de acidentes en-
MDT Divulgação volvendo ciclistas. São Paulo, Brasília, Rio Branco PARA REFLETIR
e Aracaju também foram apontadas por ciclistas
como bons exemplos de implantação cicloviária. Como são tratados os pedestres e
ciclistas no trânsito de sua cidade?
Bicicletas públicas Eles têm prioridade e segurança em
A proposta do sistema de bicicletas públicas veio
da experiência de várias cidades europeias e atu- seus deslocamentos?
almente está implantada nas cidades que buscam
ser vanguarda na política cicloviária no Brasil. É
um sistema em que uma empresa oferece bicicletas
para alugar a preços módicos em diversos pontos
pela cidade, normalmente regiões turísticas ou po-
los geradores de tráfego, como escolas, shoppings,
estádios de futebol etc. Esta modalidade está pre-
sente atualmente no Rio de Janeiro, em São Ca-
etano do Sul, São Paulo, Campinas, Brasília, Sal-
vador, Santos, Porto Alegre, Recife e Sorocaba. É
uma forma muito interessante de estimular o uso da
bicicleta como transporte urbano.

Kelsen Fernandes
64
Mobilidade e Economia:
soas de baixa renda, num processo que decorre de dos equipamentos públicos em geral e as relações
um círculo vicioso que inclui: territoriais que se desenvolvem no espaço da cida-
a) custos de deslocamento altos em razão dos de devem ser pensadas de forma integrada com

o direito à cidade congestionamentos; a disponibilidade de serviços de transporte e de


outros serviços públicos como água, energia, co-

que queremos
b) perda de passageiros do transporte público leta de lixo etc., para prover o necessário para
para o transporte individual; garantir uma vida digna. Daí a importância de se
planejar e adotar um sistema de transporte coleti-
c) a dispersão urbana; vo urbano de média e alta capacidade, integrado
e eficiente, o menos poluente possível, com conforto
d) a falta de integração entre os modais; e regularidade.

Planejamento integrado: mobili- e) pagamento das gratuidades unicamente pe- Quando lutamos por moradia, equipamentos de
dade e uso do solo los usuários do serviço; saúde, educação etc., na luta pela reforma urbana,
A mobilidade das pessoas é o que possibilita a
devemos ter a preocupação com as facilidades ou
plena realização das demais funções urbanas da
f) a má distribuição dos serviços e equipamen- dificuldades de acesso das pessoas. Devemos nos
cidade, ou seja, os deslocamentos diários dos lo-
tos públicos no território das cidades. preocupar com a mobilidade urbana sustentável.
cais de moradia para acessar as várias atividades
Dessa forma, o planejamento urbano é um ponto
urbanas: trabalho, lazer, cultura, esportes, saúde,
Todos esses fatores resultam em aumentos das ta- central da mobilidade. O reforço da escala local
educação etc.
rifas do transporte coletivo, aumento progressivo e o plano de bairros são essenciais para a dimi-
do tempo de deslocamento e queda na qualidade nuição de distâncias a serem percorridas cotidia-
Quanto menor o tempo gasto com os deslocamen-
do serviço, atingindo principalmente as pessoas de namente. Contudo, o isolamento dos bairros e dos
tos, agregando qualidade e eficiência aos meios
baixa renda. O que significa que essas pessoas nichos econômicos localizados é prejudicial à inte-
empregados, melhor a qualidade de vida dos ci-
não usufruem das facilidades, serviços e oportu- gração e ao desenvolvimento econômico. Assim, os
dadãos. Os deslocamentos não devem ser medidos
nidades que a cidade oferece, ou submetidas a bairros e seus nichos econômicos devem estar inter-
somente em distância, mas também em tempo.
gastar seu escasso tempo livre em deslocamentos ligados e conectados às centralidades da cidade.
entre casa e trabalho, sem acesso pleno ao restan- A composição de modais de transporte público, de
A mobilidade da exclusão tem como principal e
te da cidade; suas vidas ficam restritas à região massa e de pequeno porte, com a utilização de
triste característica a segregação urbana das pes-
onde moram. meios não motorizados é essencial para a obten-
ção desse modelo de cidade.
Não se trata, portanto, das pessoas optarem por
viver, trabalhar e estudar próximo às suas casas,
pois na maioria dos casos, especialmente nas pe- Estatuto da Cidade e os recursos
riferias das cidades, não há essa possibilidade. As para a mobilidade sustentável
oportunidades de trabalho, especialmente, concen- Os movimentos da sociedade civil organizada,
tram-se nas áreas mais centrais. após anos de luta pela Reforma Urbana, alcança-
ram a regulamentação dos artigos 182 e 183 da
De forma geral, a forma como a cidade é produ- Constituição Federal, através da Medida Provisó-
zida e gerida define a sustentabilidade ou insus- ria 2.220, de 2001, e da Lei Federal n. 10.257, do
tentabilidade da mobilidade urbana. A localiza- mesmo ano, denominada Estatuto da Cidade.
ção dos equipamentos urbanos, dos loteamentos e
conjuntos habitacionais, das fábricas, do comércio,

66 67
Essa lei introduziu diversos instrumentos legais de • Transferência do direito de construir tanas deverão ser criadas e como ficarão as atu-
gestão e regulação do uso e ocupação do solo A municipalidade pode requalificar edificações almente existentes. Também fixa ou reforça princí-
urbano, que, se apropriados pelo poder público deterioradas ou subutilizadas, recuperar centros pios como a prevalência do interesse comum sobre
municipal, podem permitir melhor distribuição dos históricos, antigos distritos industriais desativa- o local, o compartilhamento de responsabilidades
serviços e da ocupação da cidade. Esta poderá, dos, áreas de preservação ambiental, transfe- para a promoção do desenvolvimento urbano in-
assim, enfrentar e minimizar as ações da especu- rindo o direito de construir nestas para aquelas, tegrado, a autonomia dos entes da federação, a
lação imobiliária e de expulsão da população do com vistas a ordenar as movimentações e deslo- observância das peculiaridades regionais e locais,
centro para a periferia e assim evitar aumentar camentos por meio do transporte público. a gestão democrática da cidade, a efetividade no
as distâncias entre moradia, trabalho, comércio, uso dos recursos públicos e a busca do desenvolvi-
estudo e serviços e os custos de investimentos na • Consórcio imobiliário mento sustentável.
infraestrutura. É a cooperação entre o poder público e a inicia-
tiva privada para realizar urbanização em áre- Com base nesses princípios, o projeto estabelece
Os municípios podem, com seus planos diretores, as que apresentem carência de infraestrutura e diretrizes específicas, como a responsabilidade
regular, direcionar e promover o desenvolvimento serviços urbanos e contenham imóveis urbanos compartilhada de planejamento, administração e
urbano sustentável, para as atuais e futuras ge- subutilizados e/ou não utilizados; pode gerar custeio. Também considera a participação da so-
rações, editando subsequentemente leis específicas receitas aplicáveis nos transportes públicos. ciedade civil nos processos de planejamento e de
e planos setoriais – de uso e ocupação do solo, Rafael Neddermeyer
tomada de decisão, no acompanhamento da pres-
de mobilidade urbana, de habitação, de pontos • Operações urbanas consorciadas tação de serviços e na realização de obras. Outras
geradores de tráfego, etc. – e adotando todos os São intervenções coordenadas pelo poder pú- diretrizes são a compatibilização de planos pluria-
• Parcelamento, Edificação e Utilização Com-
instrumentos legais de gestão urbana previstos no blico, com a participação dos proprietários, nuais, leis de diretrizes orçamentárias e orçamentos
pulsórios (PEUC)
Estatuto da Cidade. moradores, usuários permanentes e investidores anuais e a compensação por serviços – ambientais
Um dos principais fatores de exclusão social nos
• Plano Diretor privados, para promover em determinada área ou outros – prestados pelo município.
centros urbanos é a especulação imobiliária.
É peça fundamental, pois os novos instrumen- da cidade transformações urbanísticas e estru-
Com o intuito de efetivamente cumprir a função
tos de gestão que traz podem orientar a de- turantes, revitalizando áreas deterioradas, pro- A lei prevê um plano de desenvolvimento urbano
social da propriedade, o Estatuto da Cidade
finição das ações tanto dos agentes públicos porcionando melhorias sociais e recuperação integrado, aprovado mediante lei estadual, com
previu um mecanismo para coagir o proprietá-
quanto dos privados. Estes, constituindo-se em ambiental. As operações consorciadas são uma revisão pelo menos a cada dez anos. Diz como de-
rio a utilizar seu imóvel, sob pena de desapro-
agentes de mercado, ao realizar seus interes- forma de se obter recursos de outros setores da verá ser a participação da União – incluindo apoio
priação com pagamentos em títulos da dívida
ses impactam a vida da cidade tanto para o economia para a implantação de infraestrutu- às iniciativas dos estados e municípios voltadas
pública, e assim impedir a criação de vazios
bem, criando emprego, renda e oportunidades ras para o transporte público coletivo. para a governança interfederativa e apoio para
urbanos. Em última análise, a desapropriação
de negócios, como para o mal, trazendo “dese- a elaboração e a revisão do plano de desenvolvi-
por meio da PEUC poderá resultar em obten-
conomias”, poluição etc., e agregam os bônus mento urbano integrado.
ção de espaços públicos para habitação social
(o lucro) privadamente e distribuem os ônus (os
próxima às centralidades, reduzindo problemas
prejuízos) socialmente. Merece nota o fato de o projeto incluir em suas
de mobilidade ou mesmo de espaço para trans-
disposições finais um artigo que descreve as con-
porte público urbano.
•Outorga onerosa do direito de construir dições em que governadores e prefeitos incorre-
Proporciona aos empreendedores imobiliários rão em improbidade administrativa (Lei n. 8.429,
a possibilidade de construir acima do índice Estatuto da Metrópole de 2 de junho de 1992) se deixarem de tomar
de aproveitamento definido pela Lei de Zone- Uma solução para a questão da gestão metropo- providências específicas para a implementação do
amento, mediante uma contrapartida paga à litana do transporte poderá ganhar impulso com a Estatuto da Metrópole.
MDT Divulgação

municipalidade, que pode aplicar esses recursos Lei Federal n. 13.089, de 12 de janeiro de 2015,
na infraestrutura de transporte coletivo. que institui o Estatuto da Metrópole. O Estatuto da Metrópole é uma lei condicional, o
O projeto estabelece como as regiões metropoli- que significa que as cidades podem definir se que-

68 69
Rafael Neddermeyer
pendência no plano da produção, do mercado de
trabalho e da vida coletiva.

Lamenta-se também que não se tenha avançado


na formulação de algum meio de rever o quadro
metropolitano oficial que se criou com a prolifera-
ção das regiões metropolitanas nos estados. Con-
forme determina a Constituição Federal, os estados
permanecem, segundo o Estatuto das Metrópoles,
responsáveis pela instituição das “regiões metro-
politanas e aglomerações urbanas, constituídas por
agrupamento de municípios limítrofes, para inte-
Pedro Ribas
rem formar uma região metropolitana. As metró- Paulo, com seus 19,6 milhões de pessoas ou 10% grar a organização, o planejamento e a execução
poles já formalizadas são, por sua vez, obrigadas da população do Brasil, e a região metropolitana de funções públicas de interesse comum” (Art. 3º).
a apresentar o plano de desenvolvimento urbano Sul do Estado de Roraima, com população de pou- O adensamento e a valorização imobiliária acar-
integrado em até três anos. Tendo os municípios co mais de 21 mil habitantes”. Nesse caso, como a nova lei garante que sejam retados pelas obras de sistemas estruturais (metro,
aprovado o plano, isso permitirá um macrozone- adotados os parâmetros para definição das aglo- ferrovias, corredores de ônibus e VLT) podem ser
amento do território da metrópole e um planeja- Segundo Luiz Cesar Ribeiro, Orlando dos Santos merações metropolitanas que assegurem a cons- aferidos pelos municípios com base no aumento do
mento urbano conjunto entre os municípios. Prevê- Jr. e Juciano M. Rodrigues do Observatório das tituição de um território funcional e socialmente recolhimento do Imposto Predial e Territorial Urba-
se que esse processo seja socialmente controlado Metrópoles, uma questão que ficou pendente é a coeso se as definições dos limites das regiões me- no (IPTU) e no recolhimento do ITBI (Imposto sobre a
e que essa proposta permita uma real integração atual situação das regiões metropolitanas criadas tropolitanas permanecem submetidas às contingên- Transmissão de Bens Imóveis), os quais, a exemplo
no planejamento territorial dos municípios, com a antes do estatuto. De acordo com o último estudo cias políticas e à falta de critério? Efetivamente, do que ocorre em outros países, poderiam com-
adequação do plano diretor. Para a mobilidade, do IBGE sobre a rede urbana brasileira (Região não há essa exigência. Pelo contrário, a nova Lei só por um fundo de investimento para a implantação
isso poderá criar redes de transportes público inte- de Influência de Cidades 2008) o Brasil conta com obriga a “observância do conceito” de região me- de novas linhas de transportes públicos e melhoria
gradas e com tarifa equalizada, redes cicloviárias 12 metrópoles, compostas por aproximadamente tropolitana estabelecido pelo Estatuto das Metró- das existentes, propiciando uma espiral positiva de
interligadas e melhor comunicação entre o sistema 172 municípios. Trata-se de um quadro bastante poles para as leis complementares estaduais que desenvolvimento e inclusão social com aumento de
viário. O plano em si deve ser analisado pela so- distinto daquele desenhado pela definição das instituírem regiões metropolitanas após a entrada arrecadação.
ciedade em audiências públicas e posteriormente leis estaduais. Para se ter uma ideia, nesse quadro em vigor do Estatuto, ou seja, após 13 de janeiro
aprovado pelas câmaras legislativas. oficial está ao mesmo tempo São Paulo, com seus de 2015 (§ 2º, art. 5º). Tomando como exemplo o Metrô de São Paulo, po-
19,6 milhões de pessoas ou 10% da população do de-se destacar:
Mas a lei pode ter sua atuação limitada, pois as di- Brasil, e a região metropolitana Sul do Estado de • Entre 1996 e 2007, resultado do benefício so-
versas definições usadas pelos estados federativos Roraima, com população de pouco mais de 21 mil Sistemas estruturadores cial, o Metrô SP acumulou um saldo positivo de
permitiu a criação de regiões metropolitanas (RMs) habitantes. promovem desenvolvimento R$ 49 bilhões, soma expressiva que seria sufi-
que são distantes entre si e não têm relação econô- econômico das cidades ciente para propiciar o retorno dos investimen-
mica e social, o que reduz o efeito e até incapacita Observa-se, apesar disso, um parcial avanço na O transporte coletivo torna as cidades mais racio-
tos aplicados na construção da rede metroviá-
os planos de desenvolvimento. O Observatório das lei, na medida em que os legisladores buscaram nais, amigáveis, menos poluídas e mais baratas.
ria. Esse total de R$ 49 bilhões representaria,
Metrópoles emitiu a seguinte opinião a respeito: criar as bases da legitimação funcional da condi- Estudos efetuados pela União Internacional de
aproximadamente, a construção, a operação e
“De acordo com o último estudo do IBGE sobre a ção de aglomerado urbano metropolitano. Entre- Transporte Público (UITP) nas grandes metrópoles
a cobertura de déficits tarifários, por 25 anos,
rede urbana brasileira (Região de Influência de tanto, não houve a preocupação de constituir crité- mundiais mostraram que os custos de deslocamento
de cinco linhas idênticas à recém-contratada li-
Cidades 2008), o Brasil conta com 12 metrópoles, rios também funcionais para identificar o território variam de 5% do PIB (nas cidades densas com uso
nha 6 – laranja.
compostas por aproximadamente 172 municípios. funcional de cada metrópole, compreendido pelos intenso do transporte público) a mais de 12% (nas
Nesse quadro oficial está ao mesmo tempo São municípios que efetivamente têm relações de inter- cidades pouco densas, focadas nos automóveis).
• O trabalho Impacto das obras metroviárias na

70 71
Participação Popular e
valorização imobiliária e no desenvolvimento normalmente quantificadas as emissões de mo-
urbano mostrou que os imóveis junto à futura li- nóxido de carbono, hidrocarbonetos, óxidos de
nha que liga o centro histórico à região sudoeste nitrogênio, óxidos de enxofre e material parti-
do metrô de São Paulo tiveram valorização de
até 191 vezes (Nigriello, Rottmann & Ferreira,
2006).
culado. Os benefícios relacionados a esse as-
pecto foram quantificados e representam uma
redução de R$ 2,1 bilhões.
Gestão Democrática
• A economia em combustíveis pode chegar a Assim, podemos concluir que investir em transpor-
627,5 milhões de litros/ano, se implantada a te público não apenas é viável economicamente, Alguns antecedentes
Rede Essencial do Metrô. Só essa economia re- como representa um investimento estrutural nas ci- Na década de 1970, eclodiram lutas por trans-
presenta cerca de R$ 1,4 bilhão por ano, mais dades, cuja atratividade aumenta (de investimen- porte público coletivo nas periferias das grandes
do que o suficiente para pagar todo o investi- tos, inclusive) juntamente com a qualidade de vida cidades. As reivindicações surgiam isoladamente,
mento. da população, garantido o direito à mobilidade pela criação ou extensão de linha de ônibus ou por
urbana sustentável e socialmente inclusiva. aumento da quantidade de viagens da linha, tam-
• De acordo com estudo da FIA/USP (Fundação bém em razão da lotação muito além da capaci-
Instituto de Administração), no transporte metro- A rentabilidade dos investimentos deve ser econô- dade. Quando aumentava a tarifa e/ou eram pés-
viário a arrecadação suplementar dos tributos mica ou social? Para entender os benefícios, para simas as condições de transporte, havia a revolta
federais, estaduais e municipais que incidem so- um território, da opção por medidas de fomento espontânea da população, às vezes transformada
bre projetos, serviços de engenharia, aquisição do transporte por bicicleta e, por extensão, de um em depredações de ônibus e trens, com quebra-
de equipamentos, obras e operação poderia modelo de mobilidade mais sustentável, devemos quebra e veículos incendiados.
render R$ 4,6 bilhões aos governos (FIA, 2005). considerar conceitos como a maior despesa por
parte do sistema de saúde, a perda de produtivi- Quando várias lutas de uma mesma região da ci-
Outro exemplo é o impacto econômico dos custos dade que registram as empresas ou a dívida es- dade se articulavam, surgiam os movimentos po-
dos acidentes – resgate das vítimas, despesas mé- tatal gerada pelas importações de combustíveis. pulares unificados de transporte. Esses movimentos
dico-hospitalares, danos ao mobiliário urbano e à Estudos mostram que os investimentos em infraes- de diversas regiões do país viram a necessidade
sinalização, atendimento policial e de agentes de trutura cicloviária geram reduções de gastos com de se unificarem em uma organização nacional e
trânsito etc. Segundo o IPEA, esses itens custam aos saúde, poluição e custos associados ao uso do es- constituíram, na década de 1980, a Articulação
governos R$ 5 bilhões por ano. paço público, da ordem de quatro a cinco vezes os Nacional das Lutas por Transporte (ANLUT).
valores investidos. (SAELENSMINDE, 2004)
O retorno econômico total que teriam os governos
caso fossem implantados os sistemas de transpor-
te público previstos no Plano de Transporte para
a Região Metropolitana de São Paulo (PITU) de
2012 concluiu que:
• A população arca com 87,3% do custo dos
acidentes e 50% dos custos da poluição, e a im-
plantação do PITU 2012 acarretaria um ganho
aos governos de R$ 3,7 bilhões.

• Os principais poluentes lançados na atmosfe-


ra pelos veículos automotores são provenientes
do processo de combustão incompleta, sendo

72 73
formações, em linguagem clara e acessível, para • O orçamento participativo, o referendo, o ple-
que a sociedade civil organizada se instrumenta- biscito, as consultas e audiências públicas etc.;
lize e possa atuar de forma mais eficiente nos es-
paços de participação criados. Essas informações • As audiências públicas que são realizadas na
incluem horários de linhas, telefones de ouvidorias, discussão de planos diretores mas também na
padrões de qualidade estabelecidos via licitação, definição de projetos a serem contratados para
dados sobre tráfego e malha viária etc. a realização de políticas urbanas, inclusive de
mobilidade urbana;
Dentre os instrumentos de gestão democrática das
cidades que constituem canais de participação e • As consultas públicas, que devem ser abertas
controle social, podem-se destacar: quando da realização de licitações para con-
• O plano diretor estratégico municipal e o res- tratações de parcerias público-privadas;
pectivo plano de transporte e mobilidade, pre-
vistos no Estatuto das Cidades, que tem como • O instrumento da iniciativa popular: a popula-
premissa a participação popular; ção pode propor planos, projetos ou alterações
na legislação por meio da iniciativa popular
• Os conselhos municipais e estaduais, além do de projetos de lei. Um projeto de lei de inicia-
Conselho Nacional das Cidades e as conferên- tiva popular deve reunir um grande número de
cias respectivas; assinaturas de cidadãos (número que deve ser
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Essas organizações obtiveram importantes conquis- social sobre a implementação da política urbana.
tas que faziam parte da pauta da mobilidade ur- Por meio dela, pode-se romper o círculo vicioso do
bana sustentável elaborada pela ANLUT e pelos clientelismo na gestão urbana, à medida que se es-
movimentos unificados regionais. Houve melhora tabelecem mecanismos transparentes e legitimados
da gestão dos serviços e na qualidade de veícu- pelos diferentes setores da sociedade.
los e equipamentos; criação de canais formais de
participação em várias cidades; implantação do O Estatuto da Cidade, em seu artigo 2º, prevê a
vale-transporte; a luta pela inclusão do transporte participação popular, medida de democracia dire-
urbano na Constituição Federal como serviço pú- ta, como instrumento de garantia da justiça distri-
blico essencial; a incorporação da acessibilidade butiva. O inciso I dispõe sobre o direito a cidades
universal, inclusão social e preservação ambiental sustentáveis, e o inciso II preceitua a “gestão de-
na edição, pelo Conselho Nacional de Metrologia, mocrática por meio da participação da população
Normalização e Qualidade Industrial (CONME- e de associações representativas dos vários seg-
TRO), de novas normas de controle dos níveis de mentos da comunidade na formulação, execução e
poluentes nos veículos motorizados. acompanhamento de planos, programas e projetos
de desenvolvimento urbano”.

Instrumentos de gestão A Lei da Mobilidade Urbana prevê no seu capítulo


democrática III os direitos dos usuários e as formas como sua
A gestão democrática da cidade significa a de- participação se dará. Uma característica essencial
mocratização dos processos decisórios e o controle para o controle social é a transparência das in-

74
MDT Divulgação

definido em lei no próprio município). Nesse reito à moradia e à cidade, o MDT tem, nos últimos
processo, a partir da coleção das assinaturas, anos, intensificado ações em conjunto com o Fórum
o projeto de lei tramita e é votado, de forma Nacional da Reforma Urbana (FNRU).
regular, na Câmara de Vereadores.
O MDT tem participado das Marchas pela Re-
Na Lei da Mobilidade Urbana, estão previstos ou- forma Urbana comandadas pelo FNRU, que pro-
tros espaços além dos já citados: clamam o “Direito a uma cidade mais justa para
• Conselhos de Mobilidade nos níveis estadual todos, com moradia digna, transporte público de
e municipal; qualidade, trabalho decente, educação, saúde e
cultura”. Além disso, o MDT participa das ativida-
• Ouvidorias nas instituições responsáveis pela des da coordenação do FNRU, contribuindo com
gestão do Sistema Nacional de Mobilidade ur- propostas. O resultado evidente dessa cooperação
bana ou nos órgãos com atribuições análogas; é o fato de que cada vez mais as reivindicações
e propostas da mobilidade urbana estejam entre
• Procedimentos sistemáticos de comunicação, aquelas de importância fundamental nas agendas
de avaliação da satisfação dos cidadãos e dos das centrais nacionais de movimentos populares
usuários e de prestação de contas públicas. (CONAM, UNLM, CMP e MNLM), integrando na
luta pela moradia e outros serviços públicos essen-
A construção de um projeto de mobilidade urbana ciais.
não deve se restringir apenas ao campo da polí-
tica institucional, pois envolve um amplo conjunto A exemplo do que aconteceu na 4ª Conferência
de propostas sociais. A participação e o controle Nacional das Cidades, em 2010, e na 5ª Con-
social são instrumentos essenciais para garantir a ferência, em 2013, nas reuniões e atividades do
gestão democrática das cidades e a permanência Conselho Nacional das Cidades os membros das
das conquistas e avanços da mobilidade urbana. A organizações que compõem o secretariado do
cidade deve ser pensada e construída por aqueles MDT atuam muito próximos do Fórum Nacional da sintetizava os resultados de sua Oficina de Plane- meter com a agenda da reforma urbana tenha a
que nela vivem, e esse é o papel dos movimentos Reforma Urbana em temas comuns. jamento para aquele ano, criticou a ação governa- parceria dos movimentos sociais na elaboração de
sociais. mental de beneficiar, via renúncia fiscal, a produ- projetos e ações públicas em defesa do direito à
MDT e FNRU também têm manifestado para a so- ção e a venda de automóveis no país, apesar da moradia digna e adequada, ao transporte público
Impor aos governos a necessidade de mudar o ciedade pontos de vista solidários sobre questões contrapartida dos investimentos dos PACs da Mobi- de qualidade, ao saneamento ambiental universal.
desenho da atual mobilidade urbana é o sonho a concernentes à vida urbana. Em 2010, por exem- lidade para Grandes Cidades e para a Copa do
ser perseguido e possível de ser alcançado. Mas plo, as duas organizações participaram do 5º Fó- Mundo de futebol. A cada uma das recentes edições da Jornada Bra-
é preciso que os movimentos sociais e entidades rum Urbano Mundial e do Fórum Social Urbano, sileira “Na Cidade, Sem Meu Carro” – realizada
priorizem a mobilidade urbana em suas pautas de acontecido no Rio de janeiro, expressaram a preo- Nos anos em que há eleição, o MDT colabora com anualmente em 22 de setembro como parte da
reivindicações. cupação de que não venha a se repetir no Brasil o o desenvolvimento da Campanha “De Olho no Seu Jornada internacional com mesmo nome e que hoje
que aconteceu em países em que grandes eventos Voto”, promovida pelo Fórum Nacional da Refor- está nas propostas da Semana Europeia da Mobi-
esportivos foram utilizados para mudar e valorizar ma Urbana (FNRU), uma iniciativa dos movimentos lidade – o MDT, o Fórum Nacional da Reforma Ur-
MDT e FNRU querem cidades o capital imobiliário das cidades à custa da expul- populares e ONGs que lutam pela reforma urbana bana e a ANTP lançaram um manifesto renovado,
justas, moradia digna e são das pessoas de baixa renda. para comprometer candidatos a todos os cargos propondo a reflexão sobre a mobilidade neces-
transporte público de qualidade eletivos no país com a pauta da reforma urbana, sária para as cidades e defendendo que as ruas
Tendo em vista a defesa do direito ao transporte Naquele mesmo ano, expressando visão compar- incluindo temas da mobilidade urbana. A proposta sejam para as pessoas, e não para os automóveis.
público de qualidade como parte inerente ao di- tilhada com o MDT, o FNRU, no relatório em que é que, uma vez eleito, o candidato que se compro-

76 77
Em 2012, a manifestação da Jornada Brasileira seguiram, com aumento de participantes e também financiar ações do PAC: uma parcela proveniente
“Na Cidade, Sem Meu Carro” versou mais espe- com confrontos com a PM. do Orçamento Geral da União (OGU), linhas de
cificamente sobre a então recém-editada Lei da crédito de instituições governamentais e contrapar-
Mobilidade Urbana (Lei 12.587/12), comemoran- As chamadas Jornadas de Junho se transformaram tidas de agentes públicos e privados. Elaborados
do a sua aprovação, destacando vários de seus em um fenômeno político plural e extremamente pelo Conselho das Cidades, os pontos da proposta
pontos mais relevantes e realçando a retomada de complexo que se espalhou por todo Brasil. Diversas constituem uma verdadeira carta de navegação
investimentos federais e estaduais em projetos de manifestações eclodiram, com diferentes pleitos em para a implantação de aspectos cruciais da Lei de
mobilidade urbana. A partir daquela ocasião, o diversas cidades. A primeira vitória política pode Mobilidade Urbana, muitos dos quais de interesse
RUAVIVA, o MDT e o FNRU fizeram questão de evi- ser atribuída ao movimento: no dia 19 de junho direto dos movimentos.
denciar nos manifestos de 2013 e 2014 (reprodu- de 2013 diversos prefeitos e governos estaduais
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zidos na íntegra na presente publicação) a difusão revogaram o aumento das passagens. Esse pacto reforçou a urgência na aprovação da
da Lei de Mobilidade Urbana (Lei n. 12.587/12) Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 90/2011,
e os esforços visando à sua efetiva implantação A hora da mobilidade urbana: O resultado mais significativo das manifestações que dá nova redação ao artigo 6º da Constituição
em todo o país, tendo como eixos a democratiza- pacto nacional e PEC 90 dos de junho de 2013 foi o fato de o governo fede- Federal, para introduzir o transporte como direito
ção do espaço das vias públicas, a luta por inves- Direito Sociais nascem como ral, com envolvimento direto da própria presidente social. Em 2013 essa PEC foi aprovada na Câmara
timentos em sistemas estruturantes (metrôs, BRTs, respostas às manifestações de da República, ter se comprometido a determinar Federal e em agosto de 2015 tramitava no Sena-
VLTs, trens urbanos e monotrilhos), a qualificação junho de 2013 a elaboração um conjunto de propostas da socie- do.
do transporte público convencional e a luta pelo Em 22 de maio de 2013, o município de São Pau- dade e do governo que pudessem compor o Pacto
barateamento das tarifas na busca de cidade jus- lo aumentou em vinte centavos o valor das tarifas Nacional da Mobilidade Urbana, com alocação R$ Embora não seja possível traçar um rumo para es-
ta, com moradia digna e transporte público e meio dos ônibus. Houve também o anúncio do reajuste 50 bilhões para que tais propostas pudessem ser sas manifestações políticas que eclodiram a partir
ambiente de qualidade. da integração para aqueles que utilizam o ônibus implementadas conforme o modelo utilizado para da insatisfação popular com o aumento das tarifas
A mobilidade urbana com inclusão social e o di- (por até quatro vezes no intervalo de duas horas) e
reito ao transporte público coletivo de qualidade algum meio de transporte sobre trilhos (uma única MDT Divulgação
para todos é um sonho possível de ser alcançado. vez nesse mesmo intervalo), que passou de R$ 4,65
Para isso é preciso que esta luta seja de todos. (quatro reais e sessenta e cinco centavos) para R$
5,00 (cinco reais.

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Esse reajuste, planejado pelos governos municipais
e estaduais para o início do ano, foi adiado para
junho de 2013 a pedido do ministro da Fazenda,
como forma de conter o avanço inflacionário que
assombrou o governo federal ao longo do primeiro
semestre de 2013.

O adiamento, contudo, não foi suficiente para evi-


tar que parcela da população se revoltasse quan-
do o reajuste foi finalmente oficializado e fosse
às ruas protestar. No dia 6 de junho de 2013, um
grupo de manifestantes do Movimento Passe Livre
fechou o tráfego em algumas das principais vias
da cidade de São Paulo e entrou em confronto com
a Polícia Militar. A essa manifestação, mais duas se

78
MDT Divulgação

o referendo ao Pacto Nacional de Mobilidade Ur-


bana, cuja elaboração teve participação decisiva
de representantes de organizações com assento no
secretariado do MDT e do FNRU. O texto do pacto
foi redigido no formato de uma proposta de reso-
lução, aprovada pelo pleno do Conselho Nacional
das Cidades e, assim, transformada em uma reso-
lução com recomendação ao governo federal.

na maior cidade do Brasil, muito menos suas conse-


quências para o transporte público urbano no país,
elas evidenciaram que a qualidade, o preço do MDT Divulgação
serviço de transporte público urbano nos grandes
centros urbanos brasileiros estão em descompasso cos correspondentes aos principais desafios para A bandeira do barateamento
com os anseios sociais. a implantação da Política Nacional de Desenvolvi- das tarifas do transporte público
mento Urbano. A questão da mobilidade foi inclu- Desde 2003, foram várias as tentativas de imple-
A inclusão, pelos movimentos populares nacionais ída em todos eles, com destaque para o terceiro mentar o barateamento das tarifas do transporte
e pelo FNRU, das propostas relacionadas à mo- eixo, concernente à integração da política urba-
Rafael Neddermeyer público coletivo, e muitas as promessas, não cum-
bilidade urbana nas pautas de reivindicações de na no território, considerando política fundiária, pridas pelo governo federal, de isenções tributá-
jornadas de lutas e em congressos representou um mobilidade e acessibilidade urbana, habitação e rias e subvenções aos municípios. Essa luta tem con-
avanço social de expressivo significado. Promover saneamento. Foram apresentadas nove propostas tado com uma forte articulação da Frente Nacional
a discussão com propostas efetivas em direção à Ações nas Conferências relacionadas a esse eixo: disponibilização de re- de Prefeitos, do MDT, da Associação Nacional de
mobilidade urbana sustentável com conceitos e ele- Nacionais das Cidades cursos para pesquisas e execução de projetos de Transportes Públicos (ANTP) e das frentes parla-
mentos do planejamento dos serviços de transporte Na Marcha dos Prefeitos de 2007, as propostas transporte, mobilidade e acessibilidade nos muni- mentares do Transporte Público e da Reforma Ur-
é dar instrumentos para que os movimentos sociais do MDT – incluindo as reivindicações de barate- cípios; implementação de comissões permanentes bana.
organizados tenham acesso e deem um passo im- amento das tarifas e de recursos para a infraes- de acessibilidade; promoção de melhoria da mo-
portante para a conquista das propostas do Pacto trutura da mobilidade urbana – foram levadas ao bilidade e acessibilidade urbana e rural por meio O projeto de lei federal que propõe o Regime Es-
da Mobilidade. governo federal. das políticas de transporte trânsito e sistema viá- pecial de Incentivo ao Transporte Público Urbano
rio; integração das políticas setoriais nos municí-
A expectativa do MDT é que as propostas do Pacto No fim do mesmo ano, a 3ª Conferência Nacional pios conurbados; desburocratização do acesso aos
da Mobilidade sejam incorporadas na agenda de das Cidades aprovou propostas importantes sobre recursos de mobilidade; estabelecimento de par-

MDT Divulgação
lutas dos movimentos populares, conferindo foco e mobilidade urbana, graças à ação dos movimentos cerias público-público com integração de progra-
efetividade a suas ações políticas e firmando junto populares e das demais entidades que compõem mas locais e regionais e integração das políticas
aos governos a necessidade de mudar o desenho o MDT, cujas propostas foram consolidadas pelas setoriais; instituição do Sistema Nacional de De-
atual das políticas públicas para a mobilidade nas bases e lideranças que participaram como dele- senvolvimento Urbano, com integração de políticas;
cidades brasileiras. gados. planejamento de conjuntos residenciais dotados de
toda infraestrutura; garantia de recursos e capa-
Em 2013, a 5ª Conferência Nacional das Cidades Na 4ª Conferência Nacional das Cidades, em citação para a elaboração e implementação das
teve como uma de suas mais importantes decisões 2010, foram estabelecidos quatro eixos temáti- políticas de desenvolvimento urbano.

80
e Metropolitano de passageiros (REITUP) está pra- reivindicações históricas do MDT e do FNRU. como política de Estado, ao uso e à propriedade
ticamente aprovado no Senado e na Câmara dos do automóvel e aos privilégios decorrentes.
Deputados e aguarda sinais do governo federal Em várias cidades do país houve, nos últimos anos,
para ser enviado para sanção presidencial. Tam- uma forte mobilização estudantil pelo passe livre,
bém foram conquistadas a isenção de PIS/COFINS que inibiu aumentos tarifários. Em alguns municípios Movimento social das
e a desoneração dos tributos que incidiam sobre e nos estados foram implementadas diversas pro- pessoas com deficiência
os encargos sociais e sobre o faturamento, o que postas que evitaram, em sua maioria, novas majo- por uma mobilidade sustentável
reduziu por volta de 7% os custos da tarifa, ambas rações das tarifas, tais como: A luta pelo direito a uma cidade acessível foi uma
das principais conquistas do movimento social das
pessoas com deficiência por uma mobilidade sus-
tentável. Essa luta obteve a aprovação das leis
10.048/00 e 10.098/00 e a edição do Decreto
Presidencial n. 5296/04 (esse último elaborado
com participação do MDT/ANTP). Tais dispositivos
MDT Divulgação legais tiveram como resultado, entre outros, a obri-
gatoriedade, a partir de 2009, de renovação da
As Jornadas Brasileiras frota com veículos de transporte público acessíveis,
Item de desoneração “Na Cidade, Sem Meu Carro” e a obrigatoriedade de que até o fim de 2014
As jornadas, iniciadas em 2001, comemoraram sua
Taxa de Gerenciamento essa frota, os prédios públicos e as calçadas es-
ISS Operacional (TGO)* ICMS sobre o óleo diesel 15ª edição em 2015, sempre com a coordenação
tivessem, em todo o Brasil, totalmente adequados
nacional do Instituto de Mobilidade Sustentável RU-
Belo Horizonte, MG - isento Florianópolis, SC - 0,00% Brasília, DF - isento quanto à acessibilidade. A adequação total de
AVIVA. O Brasil se engajou na jornada internacio-
Brasília, DF - isento Fortaleza, CE - 0,00% Fortaleza, CE - 8,50% fato ainda não aconteceu, por isso as reivindica-
Florianópolis, SC - 0,01% Goiânia, GO - 0,00% Macapá, AP - isento nal com o mesmo nome que, realizada sempre no
ções são permanentemente reiteradas pelo MDT,
Fortaleza, CE - 0,01% João Pessoa, PB - 0,50% Manaus, AM - isento dia 22 de setembro, tem envolvido mais de 1.600
para que o tema não seja esquecido.
Rio de Janeiro, RJ - 0,01% Manaus, AM - 0,00% Recife, PE - 8,50% e cidades no mundo.
São Luís, MA - 1,00% Natal, RN - não existe Rio de Janeiro, RJ - 7,00%
São Paulo, SP - isento Palmas, TO - 0,00%
Teresina, PI - 0,02% Rio de Janeiro, RJ - 0,00% Para que as jornadas “Na Cidade, Sem Meu Car- Participação e Conquistas dos
Salvador, BA - 0,00%
São Luís, MA - 0,00%
ro” realizem seu objetivo de conscientizar a po- Trabalhadores de Transporte:
São Paulo, SP - não existe
pulação sobre privilégios e sobre os problemas regulamentação, capacitação
Teresina, PI - 0,00% ambientais e urbanos gerados pela circulação dos e boas condições de trabalho
Vitória, ES - não existe automóveis, é fundamental que cada prefeitura O motorista de ônibus carrega milhares de vidas
desenvolva ações de grande visibilidade sobre o todos os dias no trânsito muitas vezes caótico de
uso da via pública e defina área ou avenida im- nossas cidades. Infelizmente, essa profissão cobra
*A alíquota varia de 1% a 6% (média 3,4%) e tem como base de cálculo a receita total da empresa. portante na qual os automóveis sejam impedidos
Fonte: NTU, 2013, disponível em de transitar durante a jornada, havendo permissão
www.antp.org.br/_5dotSystem/download/dcmDocument/2013/08/13/5AF6CFF7-086F-4D88-8C90- apenas para o trânsito de pedestres ou de veículos
A08ED903DE7C.pdf não motorizados, de transporte público ou de ser-
viços essenciais.

As jornadas “Na Cidade, Sem Meu Carro” já al-

MDT Divulgação
cançaram mais de 50 cidades em cada ano e têm
sido um momento privilegiado para a reflexão so-
bre a insustentabilidade provocada pelo incentivo,
82 83
Oficinas de convívio pacífico com outros modais,
como as que ocorreram em Recife em 2013, en-
sinam os motoristas a se comportarem perante os
ciclistas e outros (vadebike.org/2013/10/motoris-
tas-de-onibus-sentem-o-que-e-levar-fino-numa-bi-
cicleta/).

A integração do profissional de transporte na mo-


bilidade urbana mediante sua valorização e condi-
ções dignas de trabalho, o que lhe permitirá ofere-
cer um serviço de acordo com o que necessitamos.
Edilson Rodrigues
O MDT defende que se conceba o transporte pú-
Para corrigir essa situação, o MDT sugere a ado- blico com a visão da qualificação da infraestrutura,
ção do ônibus Padron, que teria o motor traseiro, dos equipamentos e da tecnologia, mas, também,
câmbio automático, chassi de ônibus (mais baixo) e considerando a capacitação e as boas condições
motor que usa diesel S10 ou outro combustível me- de trabalho – incluindo condições ergonômicas do
nos poluente, sanando várias condições insalubres posto de trabalho e o respeito à jornada de tra-
de uma vez. balho – nos segmentos do transporte, do trânsito e
MDT Divulgação em outras áreas relacionadas com a mobilidade
Além disso, as entidades de trabalhadores de urbana, para que o trabalhador atue adequada-
seu preço. Uma pesquisa realizada pelo site de O motorista é o primeiro elo da empresa de ônibus transporte lutam pela estabilidade no emprego e mente, em segurança, e para que seu desempenho
busca de empregos Adzuna.com acusou que a pior com a população. Ele enfrenta as agruras do coti- pela regulamentação da profissão, que representa contribua para qualificar os serviços disponibiliza-
profissão é a de motorista de ônibus, junto com a diano junto com os passageiros, tendo que absor- segurança para a categoria durante o exercício dos à população.
de entregador. Não é por menos: doenças como ver muitas vezes o impacto das críticas. Ao mesmo normal da profissão e nas situações de afasta-
surdez, estresse, úlcera, dores na coluna, aleija- tempo, há a cobrança de eficiência por parte da mento em razão de incapacidade temporária ou No Pacto Nacional de Mobilidade Urbana, foi in-
mento consequente do ressecamento dos tendões empresa e a fiscalização feita pelos órgãos ges- permanente para trabalhar, reivindica também a cluído o apoio à regulamentação profissional para
pela exposição ao calor do motor e dor no joelho tores. São vários os interesses que pressionam esse jornada de 6 horas, que permitiria ao profissio- trabalhadores no setor de transporte, prevista em
são alguns dos males que acometem a categoria. profissional. nal cumprir seu horário sem intervalos, o que nor- diversos projetos em tramitação no Congresso Na-
Tudo isso fruto de ônibus arcaicos que não ofere- malizaria sua vida; e a permanência do cobrador cional.
cem a mínima condição para o motorista. O motor como apoio no ônibus, auxiliando o motorista e no
dianteiro produz ruídos que com o tempo minam a embarque de idosos e deficientes.
audição, a trepidação pressiona a coluna e a re-
petição do movimento de pisar na embreagem le- Outra reivindicação dos motoristas é a restituição
siona os joelhos. Além disso, os horários de trabalho do direito adquirido à aposentadoria especial aos
atrapalham as necessidades mais básicas do ser 25 anos de trabalho, obtida em razão do desgaste
humano: as estações de ônibus raramente têm um dessa atividade e restringida em razão do cálculo
banheiro e uma sala de convivência para que eles da aposentadoria com utilização do fator previ-
possam realizar suas refeições (classificados.folha. denciário.
uol.com.br/empregos/2013/09/1340405-pes-
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Antonio Cruz
quisa-indica-as-10-piores-profissoes-do-brasil-ser- Reivindica-se também melhor qualificação e treina-
motorista-lidera-ranking.shtml). mento dos profissionais para valorizar a categoria.

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Encontro Nacional do MDT
Em 2004, o Encontro Nacional do MDT foi reali- Explicações e comentários
sobre a Lei n. 12.587/ 2012
zado em São Paulo com a presença de 300 re-
presentantes de diversas organizações e destaque
para a participação de lideranças de movimentos
populares e sociais de todo o Brasil, do ministro
das Cidades, do presidente da Frente Nacional de
Prefeitos e do secretário municipal de Transporte
Que instituiu a Política Nacional da
de São Paulo. Nesse encontro foram debatidas as
teses que semanas depois seriam publicadas no
Mobilidade Urbana
Manifesto do MDT 2004.
MDT Divulgação
Por meio da Campanha Nacional “Tarifa Cidadã:
transporte com inclusão social”, que atingiu mais entidades e movimentos populares nacionais. Além
de 120 cidades no país com outdoors, busdoors, de ter sido base para a publicação Mobilidade Com o intuito de tornar a Lei Nacional de Mobilida-
Urbana e Inclusão Social, a oficina deu suporte de Urbana (Lei n. 12.587/2012) mais compreensí-
cartilhas, panfletos e uma forte divulgação na mí-
ao planejamento do Fórum Nacional da Reforma vel ao cidadão apresentam-se a seguir explicações e
dia nacional e local, em 2005 o MDT promoveu a comentários do MDT.
sua mobilização mais abrangente em defesa do Urbana (FNRU) nestes últimos anos, com algumas
barateamento das tarifas. No mesmo ano, o Fórum propostas de luta: CAPÍTULO I – DISPOSIÇÕES GERAIS
Nacional de Reforma Urbana promoveu a Marcha • Construir uma plataforma e uma articulação • Com o Capítulo I (Disposições Gerais, sete ar-
pela Reforma Urbana, que levou ao presidente da nacional de luta pela mobilidade urbana sus- tigos) a nova lei define o Sistema de Mobilidade
República as propostas de mobilidade sustentável tentável, priorizando o direito ao transporte pú- Urbana e os seus elementos constitutivos.
defendidas pelo MDT. blico coletivo de qualidade e acessível a todos;
O Artigo 1º explicita que a União, ao promulgar a
• Fortalecer o Comitê Técnico de Trânsito, Trans- Lei Mobilidade Urbana e ao criar a Política Nacional
Em 2006, o MDT realizou oficina intitulada “O di-
porte e Mobilidade Urbana, do Conselho das de Mobilidade Urbana, atende à Constituição Fede-
reito ao transporte e a pauta dos movimentos so- ral e à lei que trata da organização das cidades: o
ciais”, que da qual participaram representantes de Cidades, e criar similares em todas as unidades
Estatuto das Cidades. Esse mesmo artigo, em razão
da federação; da menção expressa aos artigos constitucionais e do
Estatuto da Cidade, deixa claro que se trata de uma
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• Constituir canais formais de participação, com


a presença de representação dos usuários, com
poder de deliberar sobre o planejamento, ges-
tão e operação dos serviços, e de definir políti-
cas de barateamento e investimento nos municí-
pios e estados.

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de pessoas e cargas no território do Município. atividade não é definida em lei e seu conceito acaba
Parágrafo 1º [Modos de transporte] São mo- por ser definido casuisticamente, o que não mais é o
dos de transporte urbano: I - motorizados; e II caso do setor de mobilidade.
- não motorizados. Parágrafo 2º [Serviços de
transporte urbano] Os serviços de transporte • Art. 4º – Para os fins desta Lei, considera-
urbano são classificados: I - quanto ao objeto: se: I - transporte urbano: conjunto dos mo-
a) de passageiros; b) de cargas; II - quanto à dos e serviços de transporte público e priva-
característica do serviço: a) coletivo; b) indi- do utilizado para o deslocamento de pessoas
vidual; III - quanto à natureza do serviço: a) e cargas nas cidades integrantes da Política
público; b) privado. Parágrafo 3º [Infraestru- Nacional de Mobilidade Urbana; II - mobili-
tura de mobilidade urbana] São infraestrutu- dade urbana: condição em que se realizam os
ras de mobilidade urbana: I - vias e demais deslocamentos de pessoas e cargas no espaço
logradouros públicos, inclusive metroferrovias, urbano; III - acessibilidade: facilidade dispo-
hidrovias e ciclovias; II - estacionamentos; III nibilizada às pessoas que possibilite a todos
- terminais, estações e demais conexões; IV autonomia nos deslocamentos desejados, res-
- pontos para embarque e desembarque de peitando-se a legislação em vigor; IV - modos
passageiros e cargas; V - sinalização viária de transporte motorizado: modalidades que se
e de trânsito; VI - equipamentos e instalações; utilizam de veículos automotores; V - modos
e VII - instrumentos de controle, fiscalização, de transporte não motorizado: modalidades
arrecadação de taxas e tarifas e difusão de que se utilizam do esforço humano ou tração
informações. animal; VI - transporte público coletivo: serviço
Cesar Ogata público de transporte de passageiros acessível
Para estabelecer um entendimento comum sobre os a toda a população mediante pagamento in-
lei de aspectos gerais e de diretrizes para o setor. sobre a organização da mobilidade, mediante a par- elementos que compõem a mobilidade urbana, o Ar- dividualizado, com itinerários e preços fixados
ticipação na gestão democrática do Sistema Nacio- tigo 4º da lei define os termos e os conceitos legais pelo poder público; VII - transporte privado
• Art. 1º – A Política Nacional de Mobilidade nal de Mobilidade Urbana. da Política Nacional de Mobilidade Urbana. São de- coletivo [NOTA – serviço de fretamento]: ser-
Urbana é instrumento da política de desenvol- finidos: transporte urbano, mobilidade urbana, aces- viço de transporte de passageiros não aberto
vimento urbano de que tratam o inciso XX do • Art. 2º – A Política Nacional de Mobilida- sibilidade, modos de transporte motorizados, modos ao público para a realização de viagens com
art. 21 e o art. 182 da Constituição Federal, de Urbana tem por objetivo contribuir para de transporte não motorizado, transporte público características operacionais exclusivas para
objetivando a integração entre os diferentes o acesso universal à cidade, o fomento e a coletivo, transporte privado coletivo (serviços de fre- cada linha e demanda; VIII - transporte públi-
modos de transporte e a melhoria da acessi- concretização das condições que contribuam tamento), transporte público individual (serviço de co individual [NOTA– serviço de táxi]: servi-
bilidade e mobilidade das pessoas e cargas para a efetivação dos princípios, objetivos e táxi), transporte urbano de cargas, transporte moto- ço remunerado de transporte de passageiros
no território do Município. Parágrafo único. A diretrizes da política de desenvolvimento ur- rizado privado, transporte público coletivo intermu- aberto ao público, por intermédio de veículos
Política Nacional a que se refere o caput deve bano, por meio do planejamento e da gestão nicipal de caráter urbano, transporte público coletivo de aluguel, para a realização de viagens indi-
atender ao previsto no inciso VII do art. 2º e democrática do Sistema Nacional de Mobili- interestadual de caráter urbano e transporte público vidualizadas; IX - transporte urbano de cargas:
no § 2º do art. 40 da Lei no 10.257, de 10 de dade Urbana. coletivo internacional de caráter urbano. Relevância serviço de transporte de bens, animais ou mer-
julho de 2001 (Estatuto da Cidade). da definição de termos e conceitos. A definição legal cadorias; X - transporte motorizado privado:
O Artigo 3º descreve os elementos que constituem o desses termos e conceitos é de extrema relevância, meio motorizado de transporte de passageiros
O Artigo 2º explicita o caráter instrumental e fun- Sistema Nacional de Mobilidade Urbana, sem deixar uma vez que a própria definição de serviço público, utilizado para a realização de viagens indivi-
damental da mobilidade ao conectá-la diretamente nada de fora: veículos, vias, instalações, fiscalização para fins de aferição de regime jurídico aplicável, dualizadas por intermédio de veículos particu-
ao desenvolvimento urbano. Desse modo, o objetivo e organização do trânsito, os serviços de transporte em muitos casos depende do enquadramento em um lares; XI - transporte público coletivo intermu-
central da Política Nacional de Mobilidade Urbana, e as tarifas. conceito material da atividade em questão (exemplo, nicipal de caráter urbano: serviço de transporte
criada por meio desta lei, é fazer com que a mobi- se a atividade “x” é compreendida como transporte público coletivo entre Municípios que tenham
lidade seja organizada de tal forma que permita a • Art. 3º – O Sistema Nacional de Mobilidade público, será serviço público e será regida pelo res- contiguidade nos seus perímetros urbanos; XII
todos os cidadãos usufruir plenamente dos benefícios Urbana é o conjunto organizado e coordena- pectivo arcabouço jurídico de direito administrativo - transporte público coletivo interestadual de
da cidade (ampliando o acesso a empregos, escola, do dos modos de transporte, de serviços e de dos serviços públicos). Por vezes, a definição de uma caráter urbano: serviço de transporte público
lazer, saúde e outros) e atuar de fato nas escolhas infraestruturas que garante os deslocamentos

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coletivo entre Municípios de diferentes Estados COMENTÁRIO assegurar a paz no trânsito nos I - integração com a política de desenvolvi-
que mantenham contiguidade nos seus períme- deslocamentos urbanos: ao caminhar, andar de mento urbano e respectivas políticas setoriais
tros urbanos; e XIII - transporte público coleti- bicicleta, usar o transporte público ou automó- de habitação, saneamento básico, planejamen-
vo internacional de caráter urbano: serviço de veis, motos e outros veículos motorizados; VII - to e gestão do uso do solo no âmbito dos en-
transporte coletivo entre Municípios localiza- justa distribuição dos benefícios e ônus decor- tes federativos. COMENTÁRIO Neste ponto
dos em regiões de fronteira cujas cidades são rentes do uso dos diferentes modos e serviços se defende a integração das ações de mo-
definidas como cidades gêmeas. COMENTÁRIO Este item é um dos principais da bilidade com as demais políticas urbanas,
Lei de Mobilidade Urbana, pois determina cla- potencializando-se, assim, os investimen-
O Artigo 5º mostra quais são os princípios, ou seja, ramente que se deve distribuir com equidade tos em ações públicas. II - prioridade dos
as bases ou os fundamentos sobre os quais está as- os recursos (benefícios) e dividir proporcional- modos de transportes não motorizados sobre
sentada a Política Nacional de Mobilidade Urbana. mente os ônus (gastos e deseconomias). Assim, os motorizados e dos serviços de transporte
rompe-se com a política de investimentos pú- público coletivo sobre o transporte individual
• Art. 5º – A Política Nacional de Mobilida- blicos e privilégios voltados para os automóveis motorizado COMENTÁRIO Esta diretriz sub-
de Urbana está fundamentada nos seguintes (como a concessão de isenção de tributos ou verte totalmente o modelo (anteriormente) em
princípios: I - acessibilidade universal. CO- a construção de vias exclusivas) e, ao mesmo vigor, que concede prioridade para os automó-
MENTÁRIO O termo “universal” remete à tempo, se estabelece a possibilidade de que veis e outros veículos motorizados privados no
ideia de atender desde as pessoas mais aptas os proprietários arquem com os custos gera- sistema de deslocamento urbano, em especial
ao automóvel devem ser reservados por volta
e vigorosas até as mais frágeis e com limita- dos pelo uso do transporte individual (como os amplo espaço nas vias para trânsito e estacio-
de 30% do espaço de circulação da via, ca-
ções de movimentos – tais como pessoas com recursos aplicados na mitigação da poluição e namento. Esse, portanto é o grande desafio,
bendo aos pedestres, ciclistas aos veículos de
deficiência, com mobilidade reduzida, idosos, tratamentos de moléstias dela decorrentes ou pois a sociedade brasileira ainda considera a
transporte público e de carga urbana os ou-
crianças, obesos, entre outras; II - desenvolvi- os consideráveis custos gerados pela violência mobilidade dos automóveis com todos os seus
tros 70%. Hoje o automóvel ocupa mais de
mento sustentável das cidades, nas dimensões do trânsito). O Estado brasileiro precisa passar privilégios como um direito. III - integração en-
90% desse espaço. IX - eficiência, eficácia e
socioeconômicas e ambientais COMENTÁRIO a pagar sua dívida social referente à circula- tre os modos e serviços de transporte urbano
efetividade na circulação urbana. COMENTÁ-
o transporte deve existir dentro de um equilí- ção de pedestres, de bicicletas e do transportes COMENTÁRIO Este inciso diz respeito à racio-
RIO Entre formas de atender a este item estão
brio que favoreça ao mesmo tempo as pessoas, público, a começar pelos novos investimentos e, nalidade dos sistemas: deve-se buscar uma or-
a garantia da fluidez dos transportes públicos
as empresas e outros agentes da economia e depois, com a reestruturação das cidades para ganização em que todos os sistemas cooperem
e não motorizados, a redução dos estaciona-
também o meio ambiente; III - equidade no esses modos de deslocamento; VIII - equidade e não concorram entre si, reduzindo custos e
mentos de veículos particulares nas vias em
acesso dos cidadãos ao transporte público no uso do espaço público de circulação, vias e ampliando a eficiência nos deslocamentos ur-
que circulam veículos de transporte público, a
coletivo COMENTÁRIO Garantir oportunida- logradouros COMENTÁRIO Este é certamente banos. IV - mitigação dos custos ambientais,
implantação de faixas exclusivas nos principais
des iguais (tanto econômica como física) para o principal item da Lei de Mobilidade Urbana, sociais e econômicos dos deslocamentos de
corredores de transportes públicos, a criação
todos, independentemente de classes, no uso pois trata do uso equilibrado das vias públi- pessoas e cargas na cidade COMENTÁRIO
de ciclovias e a ampliação de calçadas (apro-
do transporte público para seus deslocamen- cas, o que, em linhas gerais, significa dizer que Este ponto está diretamente relacionado com
veitando espaços viários originalmente desti-
tos; IV - eficiência, eficácia e efetividade na a racionalidade apregoada no item anterior e
nados aos automóveis) e outras iniciativas que
prestação dos serviços de transporte urbano considera a noção de equilíbrio entre as neces-
devolvam aos pedestres ciclistas e usuários de
COMENTÁRIO Prestar um serviço que cumpra sidades das pessoas se deslocarem e pagarem
transporte público o espaço perdido nas vias
os horários, tenha informação aos usuários, e pouco por isso, as empresas operarem ade-
para os automóveis.
veículos e terminais de qualidade capazes de quadamente e haver o mínimo de sobrecarga
torná-lo disponível para todos; V - gestão de- ao meio ambiente urbano. É preciso destacar
O Artigo 6º estabelece sete diretrizes que guiarão a
mocrática e controle social do planejamento e a prioridade a ser consignada à questão am-
Política Nacional de Mobilidade Urbana, elabora-
avaliação da Política Nacional de Mobilidade biental; é preciso haver políticas públicas vol-
das com base nos princípios do artigo anterior. Tais
Urbana COMENTÁRIO Garantir que existam tadas para a redução do uso dos automóveis e
diretrizes deverão ser observadas quando da toma-
em todos os níveis de governo espaços de par- para a contenção do crescimento da poluição
da de decisão da aplicação das políticas públicas de
ticipação nos quais a sociedade civil organiza- local e do efeito estufa produzido por esse tipo
mobilidade.
da participe das decisões de planejamento e de veículo, bem como um política ambiental
avaliações da política implementação dessa lei; concernente à circulação de carga urbana.
• Art. 6º – A Política Nacional de Mobilidade
VI - segurança nos deslocamentos das pessoas V- incentivo ao desenvolvimento científico-tec-
Urbana é orientada pelas seguintes diretrizes:

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nológico e ao uso de energias renováveis e da grande extensão dos limites internacionais possibilidade (os parágrafos 1º e 3º do artigo 8º) nal dos órgãos gestores dos entes federativos
menos poluentes COMENTÁRIO A ideia aqui do Brasil, esta é uma situação encontrada em foram vetados pela presidente da República por re- por meio de consórcios públicos COMENTÁRIO
é estimular descobertas em termos de veículo, vários pontos da fronteira. comendação do Ministério da Fazenda. Visando à modicidade das tarifas, a lei incenti-
combustíveis e gestão que favoreçam a intro- va que os órgãos responsáveis pelo transporte
dução de melhorias em termos de desempe- O último artigo do Capítulo I, Artigo 7º, enumera os • Art. 8º – A política tarifária do serviço de público nos níveis federal, estadual e municipal
nho, conforto e economia, e que favoreçam objetivos da Política Nacional de Mobilidade Urba- transporte público coletivo é orientada pelas atuem coordenadamente, utilizando-se do res-
também o meio ambiente, com a redução de na. Este segmento permite que se tenha uma noção seguintes diretrizes: I - promoção da equidade paldo institucional dos consórcios públicos. e IX
poluição atmosférica e sonora. VI - prioriza- mais exata do espírito da lei, explicita seus compro- no acesso aos serviços; II - melhoria da efici- - estabelecimento e publicidade de parâmetros
ção de projetos de transporte público coletivo missos com a inclusão social, o acesso aos serviços ência e da eficácia na prestação dos serviços; de qualidade e quantidade na prestação dos
estruturadores do território e indutores do de- básicos, o desenvolvimento sustentável e a gestão III - ser instrumento da política de ocupação serviços de transporte público coletivo CO-
senvolvimento urbano integrado. COMENTÁ- democrática. equilibrada da cidade de acordo com o pla- MENTÁRIO Tendo em vista o controle social da
RIO Isso já vem acontecendo, pois as escolhas no diretor municipal, regional e metropolita- qualidade de serviço ofertada, as autoridades
dos projetos do Programa de Aceleração do • Art. 7º – A Política Nacional de Mobilidade no; COMENTÁRIO Estes três primeiros itens responsáveis pela gestão do transporte público
Crescimento (PAC) na área de mobilidade es- Urbana possui os seguintes objetivos: I - reduzir determinam que a Lei de Mobilidade Urbana coletivo devem fixar e informar aos usuários
tão praticamente voltadas para investimentos as desigualdades e promover a inclusão social; promova a equidade de acesso, tenha eficá- quais os padrões de qualidade a que eles têm
nesses sistemas, que contribuem muito por re- II - promover o acesso aos serviços básicos e cia e eficiência e leve a uma ocupação urbana direito pela tarifa que pagam. Assim os usuá-
tirar os ônibus dos congestionamentos gerados equipamentos sociais; III - proporcionar me- equilibrada. IV - contribuição dos beneficiários rios podem avaliar e reclamar do serviço pres-
pelos automóveis, reduzem custos e diminuem lhoria nas condições urbanas da população no diretos e indiretos para custeio da operação tado. Parágrafo 1º (VETADO); Parágrafo 2º
a poluição. Mas o desafio continua, pois os pro- que se refere à acessibilidade e à mobilidade; dos serviços COMENTÁRIO Estimula o poder – Os Municípios deverão divulgar, de forma
jetos estão dando pouca atenção às linhas ali- IV - promover o desenvolvimento sustentável público a buscar formas de obtenção de justiça sistemática e periódica, os impactos dos bene-
mentadoras e à política de estacionamento de com a mitigação dos custos ambientais e so- tarifária dentro de um modelo pelo qual bene- fícios tarifários concedidos no valor das tari-
automóveis nas estações periféricas. Também cioeconômicos dos deslocamentos de pessoas ficiários diretos e indiretos contribuam por meio fas dos serviços de transporte público coletivo.
dão pouca ênfase à implantação de projetos e cargas nas cidades; e V - consolidar a ges- de diferentes mecanismos, como a taxação de COMENTÁRIO O poder público fica obrigado
integrados com os equipamentos públicos, ha- tão democrática como instrumento e garantia gasolina, de estacionamentos e dos lucros imo- a divulgar quanto o passageiro paga a mais na
bitação e programas de desenvolvimento urba- da construção contínua do aprimoramento da biliários, ou a ampliação da participação dos sua tarifa para custear as gratuidades e outros
mobilidade urbana. empregadores no vale-transporte. V - simpli- benefícios tarifários. Parágrafo 3º (VETADO).
cidade na compreensão, transparência da es-
CAPÍTULO II – DAS DIRETRIZES PARA A REGULA- trutura tarifária para o usuário e publicidade O Artigo 9º estabelece parâmetros para a remu-
ÇÃO DOS SERVIÇOS DE TRANSPORTE PÚBLICO do processo de revisão COMENTÁRIO Essen- neração dos serviços prestados pelos operadores e
COLETIVO cialmente, determina que haja transparência e do preço pago pelos usuários, os quais devem estar
O Capítulo II compreende seis artigos. Este segmen- principalmente que seja dada publicidade dos explicitados no edital de licitação da concessão ou
to da lei trata da política tarifária – incluindo, sem cálculos das tarifas bem como sua revisão pe- permissão de serviço de transporte coletivo.
resolver, a questão das gratuidades que oneram as riódica desse preço. VI – modicidade da tarifa
tarifas. Trata também do processo de concessão e de para o usuário COMENTÁRIO A tarifa deve ter • Art. 9º - O regime econômico e financeiro
fiscalização dos serviços pelo poder público. um preço que seja acessível a todos os estratos da concessão e o da permissão do serviço de
da população, sobretudo os de menor renda. transporte público coletivo será estabelecido
O Artigo 8º diz respeito às diretrizes da política ta- VII – integração física, tarifária e operacional no respectivo edital de licitação, sendo a tarifa
rifária, tema que, na história do país, tem levado a dos diferentes modos e das redes de transporte de remuneração da prestação de serviço de
muitas revoltas sociais; o transporte público é o único público e privado nas cidades. COMENTÁRIO transporte público coletivo resultante do pro-
Heloisa Ballarini serviço sobre o qual há pressão social por transpa- O usuário deve encontrar ao seu dispor uma cesso licitatório da outorga do poder público.
no, de modo a que as cidades se tornem mais rência. Este artigo foi razão de dois dos cinco vetos estrutura articulada de transporte coletivo que Parágrafo 1º – A tarifa de remuneração da
compactas, reduzindo os custos de investimento presidenciais à Lei 12.587/12. Se o texto do projeto permita a ele, com apenas uma tarifa, realizar prestação do serviço de transporte público co-
e de custeio do transporte e a aumentando a tivesse sido sancionado integralmente, as gratuida- uma viagem urbana; e essa rede deve favore- letivo deverá ser constituída pelo preço públi-
qualidade da vida urbana; VII - integração en- des não mais poderiam onerar os usuários, deven- cer condições de integração com veículos in- co cobrado do usuário pelos serviços somado
tre as cidades gêmeas localizadas na faixa de do ser custeadas com recursos financeiros específicos dividuais, em especial bicicletas, automóveis e à receita oriunda de outras fontes de custeio,
fronteira com outros países sobre a linha di- previstos em lei. Os dispositivos que garantiam essa motocicletas. VIII - articulação interinstitucio- de forma a cobrir os reais custos do serviço
visória internacional COMENTÁRIO Em razão

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prestado ao usuário por operador público ou serviços em terminais, publicidade nos veícu- • Art. 10 – A contratação dos serviços de trans-
privado, além da remuneração do prestador. los ou em pontos de parada e outros) deverá porte público coletivo será precedida de licita-
COMENTÁRIO O parágrafo explica os fatores servir para reduzir o preço da passagem para ção e deverá observar as seguintes diretrizes:
que compõem a remuneração do prestador de o usuário. e III - aferir o equilíbrio econômico I - fixação de metas de qualidade e desempe-
serviço do transporte público, que será a soma e financeiro da concessão e o da permissão, nho a serem atingidas e seus instrumentos de
da tarifa paga pelo usuário e outras formas de conforme parâmetro ou indicador definido em controle e avaliação; II - definição dos incenti-
subsídios diretos do poder público ou de outras contrato COMENTÁRIO Determina que deva vos e das penalidades aplicáveis vinculadas à
fontes como taxação da gasolina, estaciona- haver um indicador, definido em contrato, para consecução ou não das metas COMENTÁRIO
mentos, lucro imobiliário e outros. Parágrafo que se possa verificar se a atividade econômi- Os dois incisos acima definem que a licitação
2º – O preço público cobrado do usuário pelo ca do transporte não traz ganho excessivo ou e o contrato deverão estabelecer padrões de-
uso do transporte público coletivo denomina-se insuficiente para o operador, de modo a permi- sejados de qualidade e desempenho e a forma
tarifa pública, sendo instituída por ato especí- tir que anomalias sejam corrigidas. Parágrafo como tais padrões serão medidos, permitindo
fico do poder público outorgante. Parágrafo 11º – O operador do serviço, por sua conta e que se saiba se a operadora cumpriu ou não o
3º – A existência de diferença a menor entre Fabio Lima risco e sob anuência do poder público, poderá que foi determinado, bem como os critérios de
o valor monetário da tarifa de remuneração realizar descontos nas tarifas ao usuário, in- penalização ou recompensa, dependendo da
da prestação do serviço de transporte público muneração da prestação do serviço e da tarifa clusive de caráter sazonal, sem que isso possa situação encontrada. III - alocação dos riscos
de passageiros e a tarifa pública cobrada do pública a ser cobrada do usuário. Parágrafo gerar qualquer direito à solicitação de revisão econômicos e financeiros entre os contratados
usuário denomina-se déficit ou subsídio tarifá- 8º – Compete ao poder público delegante a da tarifa de remuneração. COMENTÁRIO Este e o poder concedente; COMENTÁRIO O in-
rio. Parágrafo 4º – A existência de diferença a fixação dos níveis tarifários. COMENTÁRIO dispositivo torna possível à operadora pres- ciso acima estabelece que, no contrato para
maior entre o valor monetário da tarifa de re- Este parágrafo explicita a responsabilidade do tadora do serviço público de transporte, com prestação do serviço de transporte público, de-
muneração da prestação do serviço de trans- poder público de fixar o preço público da tari- autorização do poder público, praticar tarifas vem estar previstos riscos como existência de
porte público de passageiros e a tarifa pública fa bem como a remuneração do operador. Pa- reduzidas para buscar atrair e beneficiar os transporte clandestino, implantação de sistemas
cobrada do usuário denomina-se superávit ta- rágrafo 9º – Os reajustes das tarifas de remu- usuários. Parágrafo 12º – O poder público po- estruturais de transporte e outros que possam
rifário. Parágrafo 5º – Caso o poder público neração da prestação do serviço observarão a derá, em caráter excepcional e desde que ob- interferir no equilíbrio econômico dos contra-
opte pela adoção de subsídio tarifário, o dé- periodicidade mínima estabelecida pelo poder servado o interesse público, proceder à revisão tos. IV - estabelecimento das condições e meios
ficit originado deverá ser coberto por receitas público delegante no edital e no contrato ad- extraordinária das tarifas, por ato de ofício para a prestação de informações operacionais,
extratarifárias, receitas alternativas, subsídios ministrativo e incluirão a transferência de par- ou mediante provocação da empresa, caso em contábeis e financeiras ao poder concedente
orçamentários, subsídios cruzados intrasseto- cela dos ganhos de eficiência e produtividade que esta deverá demonstrar sua cabal neces- COMENTÁRIO O contrato deverá definir como
riais e intersetoriais provenientes de outras ca- das empresas aos usuários. COMENTÁRIO O sidade, instruindo o requerimento com todos (com que plataforma, periodicidade, nível de
tegorias de beneficiários dos serviços de trans- parágrafo anterior deixa claro que as tarifas os elementos indispensáveis e suficientes para detalhamento, entre outros critérios) a opera-
porte, dentre outras fontes, instituídos pelo deverão ser reduzidas ou reajustadas em per- subsidiar a decisão, dando publicidade ao ato. dora manterá o poder público informado de
poder público delegante. Parágrafo 6º – Na centuais menores, caso cresçam a eficiência e COMENTÁRIO Este parágrafo prevê que, em suas atividades. e V - identificação de eventu-
ocorrência de superávit tarifário proveniente a produtividade dos sistemas de transporte. Pa- caso de comprovado desequilíbrio econômico ais fontes de receitas alternativas, complemen-
de receita adicional originada em determina- rágrafo 10º – As revisões ordinárias das tarifas das operadoras, sejam permitidos reajustes ta- tares, acessórias ou de projetos associados,
dos serviços delegados, a receita deverá ser de remuneração terão periodicidade mínima rifários fora de prazo. bem como da parcela destinada à modicidade
revertida para o próprio Sistema de Mobilida- estabelecida pelo poder público delegante no tarifária. COMENTÁRIO Identificação e crité-
de Urbana. COMENTÁRIO De modo geral, es- edital e no contrato administrativo, e deverão: O Artigo 10 determina que a operação do serviço rios de apropriação das receitas não tarifárias
tes últimos cinco parágrafos deixam claro que I - incorporar parcela das receitas alternativas de transporte só poderá ser feita se houver licitação para redução do custo das tarifas. Parágrafo
a tarifa paga pelo usuário pode cobrir todos os em favor da modicidade da tarifa ao usuário; para o estabelecimento da concessão ou da permis- único. Qualquer subsídio tarifário ao custeio da
custos (como acontece na maioria das cidades) II - incorporar índice de transferência de par- são de serviço de transporte coletivo, e estabelece operação do transporte público coletivo deve-
ou ser subsidiada por outras fontes provenien- cela dos ganhos de eficiência e produtivida- diretrizes para esse fim: metas e indicadores de qua- rá ser definido em contrato, com base em crité-
tes do orçamento público (caso dos ônibus e de das empresas aos usuários. COMENTÁRIO lidade, incentivos e penalidades, consideração dos rios transparentes e objetivos de produtividade
do metrô de São Paulo) ou dos beneficiários Em linhas gerais, os dois incisos acima afirmam riscos econômicos e financeiros, prestação de infor- e eficiência, especificando, minimamente, o ob-
diretos e indiretos (vale-transporte). Parágrafo que parte dos ganhos que a concessionária do mações, e a identificação e critérios de apropriação jetivo, a fonte, a periodicidade e o beneficiário,
7º – Competem ao poder público delegante a transporte obtiver com atividades extras liga- das receitas não tarifárias para redução dos valores conforme o estabelecido nos arts. 8º e 9º desta
fixação, o reajuste e a revisão da tarifa de re- das ao transporte (receitas acessórias como, das tarifas. Lei. COMENTÁRIO Apesar de ter sido vetado
por exemplo, com exploração de comércios e

94 95
pela presidente da República, a exigência de nal do Artigo 12 da Lei de Mobilidade Urbana, que transporte individual de passageiros deverão táxi nos casos de transferência.
definir as fontes de recursos para conceder be- passou a considerar o táxi um “serviço de utilida- ser organizados, disciplinados e fiscalizados
nefícios tarifários (gratuidades), por meio deste de pública de transporte individual”, e não mais um pelo poder público municipal, com base nos O Artigo 13 diz respeito ao papel do poder público
parágrafo a lei determina que devam ser defi- “serviço público”, com implicações que ainda estão requisitos mínimos de segurança, de confor- delegante na fiscalização dos serviços de transporte
nidos em contrato, e de forma transparente, a em debate, sobretudo nas administrações municipais. to, de higiene, de qualidade dos serviços e de e dá especial ênfase à necessidade de cooperação
fonte, a periodicidade e o beneficiário do sub- Com a mudança, o artigo também passou a permitir fixação prévia dos valores máximos das ta- federativa. A temática federativa se mostra de gran-
sídio. a transferência de outorga para terceiros, outra fon- rifas a serem cobradas. (Redação dada pela de relevância no caso das regiões metropolitanas e
te de dúvidas. Serviço de utilidade pública. Com a Lei n. 12.865, de 2013). COMENTÁRIO É aglomerados urbanos nas situações em que haja a
O Artigo 11 diz respeito ao regime jurídico do trans- modificação, o artigo 12 caracteriza a operação dos importante observar que com este dispositivo necessidade de cooperação entre uma ou mais admi-
porte por fretamento, definido no Artigo 4, Inciso táxis não mais como um ‘serviço público’, mas como modifica-se o regime de definição das tarifas nistrações municipais e o governo estadual.
VII, com a denominação “transporte privado cole- ‘serviço de utilidade pública de transporte individual de táxi: em vez de um valor específico fixado
tivo”. Ao mencionar que “deverão ser autorizados, de passageiros’, desobrigando o poder público de pelo poder público, adota-se o regime de “ta- • Art. 13 – Na prestação de serviços de
disciplinados e fiscalizados pelo poder público com- acompanhar aqueles dispositivos constitucionais que rifa máxima”, o que possibilita a concessão de transporte público coletivo, o poder público
petente”, a lei informa que a depender da abran- exigem a realização de licitação para concessão ou descontos individuais ou coletivos, beneficiando delegante deverá realizar atividades de fis-
gência do transporte ele deverá ser disciplinado pela permissão. A nova redação não fere o artigo 4º da os usuários – prática adotada desde o fim dos calização e controle dos serviços delegados,
autoridade municipal, estadual ou federal. própria Lei de Mobilidade Urbana, que define o táxi anos 1990 em Brasília. preferencialmente em parceria com os demais
como “serviço remunerado de transporte de passa- entes federativos. COMENTÁRIO Este artigo
• Art. 11 – Os serviços de transporte privado geiros aberto ao público”, e não um serviço públi- • Art. 12-A – (Redação dada pela Lei n. incentiva o trabalho conjunto de fiscalização
coletivo, prestados entre pessoas físicas ou ju- co, estando a expressão em oposição à ideia de um 12.865, de 2013) O direito à exploração de entre os entes federativos em particular dos
rídicas, deverão ser autorizados, disciplinados serviço de transporte de passageiros não aberto ao serviços de táxi poderá ser outorgado a qual- serviços metropolitanos com os municipais e
e fiscalizados pelo poder público competente, público, chamado, na lei, de privado. quer interessado que satisfaça os requisitos mesmo os interestaduais de caráter urbano.
com base nos princípios e diretrizes desta Lei. exigidos pelo poder público local. Parágrafo
A Lei Federal 12.865/13 alterou a redação origi- • Art. 12 – Os serviços de utilidade pública de 1º É permitida a transferência da outorga a CAPÍTULO III – DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS
terceiros que atendam aos requisitos exigidos O Capítulo III tem dois artigos que descrevem os di-
em legislação municipal. COMENTÁRIO O pa- reitos dos os usuários do sistema de transporte urba-
Fabio Arantes
rágrafo acima permite a sub-rogação de ter- no e os instrumentos que garantem a participação da
ceiros na autorização estatal dada ao primeiro sociedade civil no planejamento, fiscalização e ava-
explorador das atividades, uma vez cumpridos liação da Política Nacional de Mobilidade Urbana.
os requisitos legais. Parágrafo 2º Em caso de
falecimento do outorgado, o direito à explo- O Artigo 14 complementa as regras gerais dos di-
ração do serviço será transferido a seus su- reitos dos usuários dos serviços públicos previstas nos
cessores legítimos, nos termos dos arts. 1.829 artigos 6º e 7º da Lei 8.987/95 (Lei de Concessões)
e seguintes do Título II do Livro V da Parte e indica os direitos específicos dos usuários do siste-
Especial da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro ma de transporte urbano. Um importante aspecto dos
de 2002 (Código Civil). COMENTÁRIO O di- direitos previstos no artigo é a gestão democrática
reito de exploração da atividade toma caráter dos serviços, ressaltada no inciso II e especificada no
eminentemente patrimonial ao ser considerado artigo seguinte.
como direito sujeito à sucessão, o que é explici-
tado nesse parágrafo. Parágrafo 3º As transfe- • Art. 14 – São direitos dos usuários do Sis-
rências de que tratam os §§ 1º e 2º dar-se-ão tema Nacional de Mobilidade Urbana, sem
pelo prazo da outorga e são condicionadas à prejuízo dos previstos nas leis n. 8.078, de
prévia anuência do poder público municipal e 11 de setembro de 1990, e 8.987, de 13 de
ao atendimento dos requisitos fixados para a fevereiro de 1995: I - receber o serviço ade-
outorga. COMENTÁRIO Por fim, o parágrafo quado, nos termos do art. 6º da Lei n. 8.987,
3º estabelece a necessidade de chancela do de 13 de fevereiro de 1995; COMENTÁRIO
ente competente para regular a atividade de O artigo faz referência ao Código de Defesa

97
do Consumidor e à lei que trata do regime de quantidade dos serviços ofertados, bem como Federal ou aos Municípios a organização e a
concessão e permissão da prestação de servi- os meios para reclamações e respectivos pra- O Artigo 16 define as atribuições da União quanto à prestação dos serviços de transporte público
ços pública, conforme previsto no art. 175 da zos de resposta. COMENTÁRIO Este parágrafo Política Nacional de Mobilidade Urbana. Por se refe- coletivo interestadual e internacional de ca-
Constituição Federal. II - participar do plane- alerta que o poder público precisa confeccio- rir mais comumente a interesses locais, os municípios ráter urbano, desde que constituído consórcio
jamento, da fiscalização e da avaliação da nar e distribuir cartilhas e, também, criar sites, e, por vezes, autoridades metropolitanas e os estados público ou convênio de cooperação para tal
política local de mobilidade urbana; COMEN- blogs e páginas em redes sociais para distribuir são os principais atores federativos na administração fim, observado o art. 178 da Constituição Fe-
TÁRIO Este dispositivo guarda relação com o e informar aos vários segmentos organizados da mobilidade urbana. No entanto, isso não exime deral. COMENTÁRIO Este parágrafo 2º trata
artigo 5º, inciso V, da própria Lei de Mobilidade da sociedade e à população em geral sobre a União de participar ativamente ao prestar apoio, do transporte interestadual de caráter urbano,
Urbana, sobre gestão democrática e controle seus direitos, as obrigações dos operadores e dirigir e induzir mercados e de se valer de sua estru- como acontece entre Brasília e seu entorno,
social da política de mobilidade urbana. III - os padrões de qualidade ofertados. tura, de seus recursos e de sua capacidade técnica pertencente a Goiás, e prevê a hipótese de de-
ser informado nos pontos de embarque e de- para promover a assistência técnica e financeira, a legar a organização e prestação desse serviço
sembarque de passageiros, de forma gratuita Também o Artigo 15 é resultante da pressão de mui- capacitação e a disponibilização de informações (já aos estados, municípios e Distrito Federal.
e acessível, sobre itinerários, horários, tarifas tos anos de luta dos movimentos populares e trata que a União possui a capacidade de congregar os
dos serviços e modos de interação com outros dos instrumentos que garantem a participação da dados dispersos pelo país). O Artigo 17 define as atribuições dos estados quan-
modais; COMENTÁRIO Este dispositivo torna sociedade civil no planejamento, fiscalização e ava- to à Política Nacional de Mobilidade Urbana. A atri-
obrigatória uma antiga reivindicação dos mo- liação da Política Nacional de Mobilidade Urbana. • Art. 16 – São atribuições da União: I - pres- buição principal dos estados é prestar, diretamente
vimentos populares: a fixação nos pontos de tar assistência técnica e financeira aos Estados, ou por delegação ou gestão associada, os serviços
parada, abrigos e terminais de informações so- • Art. 15 – A participação da sociedade civil Distrito Federal e Municípios, nos termos desta de transporte público coletivo intermunicipais de ca-
bre os horários, itinerários e tarifas das linhas no planejamento, fiscalização e avaliação da Lei; II - contribuir para a capacitação conti- ráter urbano e delegá-los aos municípios em forma
de ônibus, bem como onde se pode integrar Política Nacional de Mobilidade Urbana de- nuada de pessoas e para o desenvolvimento de gestão associada, desde que constituído consór-
com os demais modos de transporte público. verá ser assegurada pelos seguintes instrumen- das instituições vinculadas à Política Nacional cio público ou convênio de cooperação para tal fim.
Atualmente, estão disponíveis recursos de in- tos: I - órgãos colegiados com a participação de Mobilidade Urbana nos Estados, Municípios Cabe também aos estados propor política tributária
formática, inclusive via celular, que possibilita de representantes do Poder Executivo, da so- e Distrito Federal, nos termos desta Lei; III - específica e de incentivos para a implantação dos
ao usuário saber em quanto tempo seu ônibus ciedade civil e dos operadores dos serviços; II organizar e disponibilizar informações sobre dispositivos dessa lei.
chegará a seu ponto de embarque. IV - ter - ouvidorias nas instituições responsáveis pela o Sistema Nacional de Mobilidade Urbana e
ambiente seguro e acessível para a utilização gestão do Sistema Nacional de Mobilidade a qualidade e produtividade dos serviços de • Art. 17 – São atribuições dos Estados: I -
do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana, Urbana ou nos órgãos com atribuições aná- transporte público coletivo; IV - fomentar a prestar, diretamente ou por delegação ou ges-
conforme as leis n. 10.048, de 8 de novem- logas; III - audiências e consultas públicas; e implantação de projetos de transporte públi- tão associada, os serviços de transporte públi-
bro de 2000, e 10.098, de 19 de dezembro IV - procedimentos sistemáticos de comunica- co coletivo de grande e média capacidade nas co coletivo intermunicipais de caráter urbano,
de 2000. OBSERVAÇÃO Neste dispositivo, ção, de avaliação da satisfação dos cidadãos aglomerações urbanas e nas regiões metropo- em conformidade com o § 1º do art. 25 da
são feitas referências às Leis de Acessibilidade, e dos usuários e de prestação de contas públi- litanas; V – (VETADO); VI - fomentar o desen- Constituição Federal; II - propor política tri-
valendo lembrar que há o Decreto Presiden- cas. COMENTÁRIO Este artigo obriga o poder volvimento tecnológico e científico visando ao butária específica e de incentivos para a im-
cial n. 5.296, de 2 de dezembro de 2004, que público a criar espaços institucionais por meio atendimento dos princípios e diretrizes desta plantação da Política Nacional de Mobilidade
regulamentou aquelas leis e concedeu pra- dos quais a sociedade civil poderá exercer seu Lei; e VII - prestar, diretamente ou por delega- Urbana; e III - garantir o apoio e promover a
zo de dez anos (até o fimde 2014 – prazo, controle sobre o planejamento, fiscalizar o po- ção ou gestão associada, os serviços de trans- integração dos serviços nas áreas que ultra-
portanto,já expirado) para que os sistemas de der público e fazer a avaliação dos serviços e porte público interestadual de caráter urbano. passem os limites de um Município, em confor-
transporte público urbano estejam adaptados a investimentos do setor. Além disso, determina Parágrafo 1º – A União apoiará e estimulará midade com o § 3º do art. 25 da Constituição
elas, e também o decreto legislativo que torna que sejam constituídas ouvidorias nos órgão ações coordenadas e integradas entre Muni- Federal. Parágrafo único. Os Estados poderão
parte da legislação brasileira a Convenção da públicos e realizadas pesquisa de opinião dos cípios e Estados em áreas conurbadas, aglo- delegar aos Municípios a organização e a
ONU sobre Direitos da Pessoa com Deficiência. usuários sobre os serviços prestados. merações urbanas e regiões metropolitanas prestação dos serviços de transporte público
Parágrafo único. Os usuários dos serviços te- destinadas a políticas comuns de mobilidade coletivo intermunicipal de caráter urbano, des-
rão o direito de ser informados, em linguagem CAPÍTULO IV – DAS ATRIBUIÇÕES urbana, inclusive nas cidades definidas como de que constituído consórcio público ou convê-
acessível e de fácil compreensão, sobre: I - seus O Capítulo IV tem cinco artigos que definem as atri- cidades gêmeas localizadas em regiões de nio de cooperação para tal fim.
direitos e responsabilidades; II - os direitos e buições da União, dos estados, dos municípios e do fronteira com outros países, observado o art.
obrigações dos operadores dos serviços; e III Distrito Federal no que concerne à Política de Mobi- 178 da Constituição Federal. Parágrafo 2º – A O Artigo 18 define as atribuições dos Municípios
- os padrões preestabelecidos de qualidade e lidade Urbana. União poderá delegar aos Estados, ao Distrito quanto à Política Nacional de Mobilidade Urbana.

98 99
As atribuições dos municípios apresentam maior con- neste Capítulo subordinar-se-á, em cada ente O Artigo 22 descreve as atribuições mínimas dos so e circulação, permanente ou temporário,
cretude e aderência à realidade da mobilidade ur- federativo, às normas fixadas pelas respecti- órgãos gestores do sistema de mobilidade urbana de veículos motorizados em locais e horários
bana. São os municípios os titulares constitucionais vas leis de diretrizes orçamentárias, às efeti- nos diferentes entes federados. Caberão aos órgãos predeterminados; II - estipulação de padrões
(artigo 29 da Constituição Federal) do serviço de vas disponibilidades asseguradas pelas suas gestores atribuições de planejamento e coordenação de emissão de poluentes para locais e horários
transporte público urbano e também competentes leis orçamentárias anuais e aos imperativos da dos modos de serviços; avaliação e fiscalização de determinados, podendo condicionar o acesso e
para tratar das matérias de interesse local, nelas Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de desempenho; implantação de política tarifária; de- a circulação aos espaços urbanos sob controle;
certamente se incluindo as questões de planejamento, 2000. COMENTÁRIO Este dispositivo trata de finição de itinerários e rotas; estímulo à eficácia e III - aplicação de tributos sobre modos e servi-
execução, avaliação e regulação da Política de Mo- vincular as ações que cada ente federado em- eficiência dos serviços; garantia dos direitos dos usu- ços de transporte urbano pela utilização da in-
bilidade Urbana. preenderá no campo da Política de Mobilidade ários e combate ao transporte clandestino. fraestrutura urbana, visando a desestimular o
Urbana à legislação orçamentária a que estão uso de determinados modos e serviços de mo-
• Art. 18 – São atribuições dos Municípios: I - subordinados e à lei federal que fixa normas de • Art. 22 – Consideram-se atribuições mínimas bilidade, vinculando-se a receita à aplicação
planejar, executar e avaliar a política de mobi- finanças públicas voltadas para a responsabili- dos órgãos gestores dos entes federativos in- exclusiva em infraestrutura urbana destinada
lidade urbana, bem como promover a regula- dade na gestão fiscal. cumbidos respectivamente do planejamento e ao transporte público coletivo e ao transporte
mentação dos serviços de transporte urbano; II gestão do sistema de mobilidade urbana: I - não motorizado e no financiamento do subsí-
- prestar, direta, indiretamente ou por gestão planejar e coordenar os diferentes modos e dio público da tarifa de transporte público, na
associada, os serviços de transporte público CAPÍTULO V – DAS DIRETRIZES PARA O PLANEJA- serviços, observados os princípios e diretrizes forma da lei; IV - dedicação de espaço ex-
coletivo urbano, que têm caráter essencial; III - MENTO E GESTÃO DOS SISTEMAS DE MOBILIDADE desta Lei; II - avaliar e fiscalizar os serviços clusivo nas vias públicas para os serviços de
capacitar pessoas e desenvolver as instituições URBANA e monitorar desempenhos garantindo a conse- transporte público coletivo e modos de trans-
vinculadas à política de mobilidade urbana do O Capítulo V tem quatro artigos que orientam a for- cução das metas de universalização e de qua- porte não motorizados; V - estabelecimento
Município; e IV – (VETADO). ma como devem ser feitos o planejamento e a gestão lidade; III - implantar a política tarifária; IV da política de estacionamentos de uso público
dos sistemas de mobilidade urbana. - dispor sobre itinerários, frequências e padrão e privado, com e sem pagamento pela sua uti-
O Artigo 19 define as atribuições do Distrito Federal de qualidade dos serviços; V - estimular a efi- lização, como parte integrante da Política Na-
quanto à Política Nacional de Mobilidade Urbana. O Artigo 21 define como devem ser organizados o cácia e a eficiência dos serviços de transporte cional de Mobilidade Urbana; VI - controle do
O Distrito Federal, em virtude da vedação consti- planejamento, a gestão e a avaliação dos sistemas público coletivo; VI - garantir os direitos e ob- uso e operação da infraestrutura viária desti-
tucional à sua divisão em municípios, congloba as de mobilidade. A definição dos itens indispensáveis servar as responsabilidades dos usuários; e VII nada à circulação e operação do transporte de
atribuições dos estados e dos municípios, acima co- do planejamento, da gestão e da avaliação dos sis- - combater o transporte ilegal de passageiros. carga, concedendo prioridades ou restrições;
mentadas. temas de mobilidade urbana prevista neste artigo VII - monitoramento e controle das emissões
contempla objetivos, recursos financeiros e mecanis- O Artigo 23 define os instrumentos que poderão ser dos gases de efeito local e de efeito estufa dos
• Art. 19º Aplicam-se ao Distrito Federal, no mos de implantação e principalmente metas para a utilizados para a gestão dos sistemas de transporte modos de transporte motorizado, facultando
que couber, as atribuições previstas para os universalização da oferta do serviço e indicadores e de mobilidade urbana, incluindo restrição de circu- a restrição de acesso a determinadas vias em
Estados e os Municípios, nos termos dos arts. para monitorá-las. lação, padrões de emissão de poluentes, aplicação razão da criticidade dos índices de emissões
17 e 18. de tributos por uso da via urbana (pedágio urba- de poluição; VIII - convênios para o comba-
• Art. 21 – O planejamento, a gestão e a ava- no), priorização de parcela do espaço viário para te ao transporte ilegal de passageiros; e IX
O Artigo 20 subordina o exercício das atribuições liação dos sistemas de mobilidade deverão o transporte coletivo e transporte não motorizado, - convênio para o transporte coletivo urbano
previstas Capítulo IV às normas estabelecidas pelas contemplar: I - a identificação clara e trans- estabelecimento de política de estacionamento, com- internacional nas cidades definidas como cida-
leis de diretrizes orçamentárias de cada ente fede- parente dos objetivos de curto, médio e longo bate ao transporte clandestino. Cabe ressaltar que o des gêmeas nas regiões de fronteira do Brasil
rado, aos recursos efetivados pelas leis orçamentá- prazo; II - a identificação dos meios financeiros rol de instrumentos previstos neste artigo é enumera- com outros países, observado o art. 178 da
rias anuais e à Lei Complementar n. 101, de 4 de e institucionais que assegurem sua implantação tivo e não taxativo, podendo os municípios, os esta- Constituição Federal.
maio de 2000, que estabelece normas de finanças e execução; III - a formulação e implantação dos, o Distrito Federal e a União acrescentar outros
públicas voltadas para a responsabilidade na gestão dos mecanismos de monitoramento e avalia- instrumentos para alcançar os objetivos da Política O Artigo 24 define os produtos mínimos que devem
fiscal. Trata-se de artigo meramente elucidativo, uma ção sistemáticos e permanentes dos objetivos Nacional de Mobilidade Urbana. compor um Plano de Mobilidade Urbana, indican-
vez que as matérias nele referidas não poderiam ser estabelecidos; e IV - a definição das metas de do-o como instrumento de efetivação da Política
revogadas por lei ordinária, como é o caso da Lei de atendimento e universalização da oferta de • Art. 23 – Os entes federativos poderão uti- Nacional de Mobilidade Urbana, e contemplar os
Mobilidade Urbana. transporte público coletivo, monitorados por lizar, dentre outros instrumentos de gestão do princípios, os objetivos e as diretrizes desta Lei. Ex-
indicadores preestabelecidos. sistema de transporte e da mobilidade urbana, tensão da abrangência. O Plano de Mobilidade Ur-
• Art. 20 O exercício das atribuições previstas os seguintes: I - restrição e controle de aces- bana já era previsto no Estatuto da Cidade (artigo

100 101
41, parágrafo 2º), mas não havia a determinação CAPÍTULO VI – DOS INSTRUMENTOS DE APOIO À
de seu conteúdo e itens essenciais, e era direcionado MOBILIDADE URBANA
a município com mais quinhentos mil habitantes; a
O Capítulo VI trata dos instrumentos de apoio à mo-
Lei de Mobilidade Urbana amplia a obrigatoriedade
do plano para municípios com mais de 20 mil habi- bilidade urbana.
tantes. Prazo. No Estatuto das Cidade, não houve o
estabelecimento de um prazo para a elaboração do O Artigo 25 trata dos instrumentos de apoio finan-
Plano de Mobilidade Urbana, elaboração, enquanto ceiro e orçamentário ao aprimoramento dos sistemas
nesta lei esse prazo foi fixado: três anos, a partir
do início de vigência da lei, o que vale dizer: abril de mobilidade urbana e melhoria da qualidade dos
de 2015. Elementos. Ele deverá incluir os serviços e serviços, bem como da fixação de critérios e con-
integração dos modos de transporte público coletivo dições para o acesso aos recursos financeiros e às
e destes com os privados e os não motorizados; a outras formas de benefícios.
circulação viária; as infraestruturas; a acessibilidade
MDT Divulgação
universal; o transporte de carga; os polos geradores
de viagens e as áreas de estacionamentos; pedágios • Art. 25 – O Poder Executivo da União, o dos
ser elaborado o Plano de Mobilidade Urba-
ou rodízios; os mecanismos e instrumentos de finan- Estados, o do Distrito Federal e o dos Municí- MDT Divulgação
na, integrado e compatível com os respectivos
ciamento e integrados ao Plano Diretor até abril de pios, segundo suas possibilidades orçamentá-
planos diretores ou neles inserido. Parágrafo
2015.
2º – Nos Municípios sem sistema de transporte rias e financeiras e observados os princípios e planejamento, controle, fiscalização e opera-
público coletivo ou individual, o Plano de Mo- diretrizes desta Lei, farão constar dos respecti- ção dos serviços de transporte público coletivo
• Art. 24. O Plano de Mobilidade Urbana é o
bilidade Urbana deverá ter o foco no trans-
instrumento de efetivação da Política Nacional vos projetos de planos plurianuais e de leis de intermunicipal, interestadual e internacional de
porte não motorizado e no planejamento da
de Mobilidade Urbana e deverá contemplar os diretrizes orçamentárias as ações programáti- caráter urbano.
infraestrutura urbana destinada aos desloca-
princípios, os objetivos e as diretrizes desta Lei,
mentos a pé e por bicicleta, de acordo com a cas e instrumentos de apoio que serão utiliza-
bem como: I - os serviços de transporte público
legislação vigente. Parágrafo 3º – O Plano de dos, em cada período, para o aprimoramento O Artigo 27 foi vetado pela presidente da República
coletivo; II - a circulação viária; III - as infra-
Mobilidade Urbana deverá ser integrado ao
estruturas do sistema de mobilidade urbana; dos sistemas de mobilidade urbana e melhoria por recomendação dos ministérios das Comunicações
plano diretor municipal, existente ou em ela-
IV - a acessibilidade para pessoas com defici- da qualidade dos serviços. Parágrafo único. e do Trabalho e Emprego.
boração, no prazo máximo de 3 (três) anos
ência e restrição de mobilidade; V - a integra-
da vigência desta Lei; Parágrafo 4º – Os Mu- A indicação das ações e dos instrumentos de
ção dos modos de transporte público e destes
nicípios que não tenham elaborado o Plano de apoio a que se refere o caput será acompa- • Art. 27 (VETADO). COMENTÁRIO Este arti-
com os privados e os não motorizados; VI - a
Mobilidade Urbana na data de promulgação
operação e o disciplinamento do transporte de nhada, sempre que possível, da fixação de cri- go também diz respeito ao fato de as gratuida-
desta Lei terão o prazo máximo de 3 (três)
carga na infraestrutura viária; VII - os polos térios e condições para o acesso aos recursos des onerarem o usuário comum do transporte
anos de sua vigência para elaborá-lo. Findo
geradores de viagens; VIII - as áreas de esta- financeiros e às outras formas de benefícios
o prazo, ficam impedidos de receber recursos público; se estivesse em vigor junto com os ou-
cionamentos públicos e privados, gratuitos ou
orçamentários federais destinados à mobilida- que sejam estabelecidos. tros pontos da Lei de Mobilidade Urbana, teria
onerosos; IX - as áreas e horários de acesso e
de urbana até que atendam à exigência desta
circulação restrita ou controlada; X - os me- revogado todos os dispositivos que garantem
Lei. COMENTÁRIO Este parágrafo 4º é muito
canismos e instrumentos de financiamento do CAPÍTULO VII – DISPOSIÇÕES FINAIS gratuidade para carteiros e fiscais do trabalho
relevante, pois, até abril de 2015 os municí-
transporte público coletivo e da infraestrutura O Capítulo VI estabelece disposições finais quando em serviço – cujo custo é repassado
pios e estados poderão apresentar projetos
de mobilidade urbana; e XI - a sistemática de
para financiamento federal, desde que dentro para a tarifa.
avaliação, revisão e atualização periódica do
das exigências da presente lei; a partir daquela O Artigo 26 estende os dispositivos da lei ao trans-
Plano de Mobilidade Urbana em prazo não su-
data, contudo, só poderão ser analisados proje-
perior a 10 (dez) anos. Parágrafo1º – Em Mu- porte coletivo intermunicipal, interestadual e interna- O Artigo 28 estabelece o início de vigência da nova
tos que estiverem incluídos dentro do Plano de
nicípios acima de 20.000 (vinte mil) habitan- cional. lei.
Mobilidade Urbana.
tes e em todos os demais obrigados, na forma
da lei, à elaboração do plano diretor, deverá
• Art. 26 – Esta Lei se aplica, no que couber, ao • Art. 28 – Esta Lei entra em vigor 100 (cem)
dias após a data de sua publicação.
102 103
PONTOS QUE NÃO FORAM CONSIDERADOS NA
LEI DE MOBILIDADE URBANA

Textos complementares
O Comunicado 128 do IPEA assinala que a Lei da
Mobilidade Urbana deixou diversas questões em
aberto. Gratuidades sem fonte de custeio. Em razão
do veto presidencial ao parágrafo 1º do 8º artigo
da lei, as gratuidades e benefícios tarifários continu-
am sendo arcados pelos usuários que pagam a tarifa
cheia. Mecanismos permanentes de financiamento.
Mesmo com a Lei de Mobilidade Urbana, o setor BOAS PRÁTICAS DE MELHORIAS
DA MOBILIDADE
continua sem mecanismos permanentes de financia-
Capítulo 1
mento da infraestrutura.
Cidades com sistemas BRT em operação: Belo Hori-
Transporte urbano em cidades que são patrimô- zonte, MG; Brasília, DF; Cascavel, Maringá e Curi-
tiba, PR; Goiânia, GO; Rio de Janeiro, RJ (construiu
nio histórico. A lei não cuidou da questão do trans- mais 153 km); São Paulo, SP (prevê construir 150
porte urbano em cidades patrimônio histórico. km de novos corredores até 2016); Corredor Metro-
politano do ABD – São Mateus/Jabaquara no muni-
Condições de acesso a fundos e financiamento. A lei cípio de São Paulo; Uberlândia, MG; Fortaleza, CE;
Recife, PE; Goiânia, GO; Campo Grande, MS; Porto
também não disciplinou as condições de acesso a Alegre, RS; Vitória, ES.
fundos, garantias públicas, transferências financei-
ras, empréstimos, avais e os financiamentos, inclusive Cidades com faixas exclusivas em operação: Belo
Horizonte, MG; Blumenau, SC; Brasília, DF; Campi-
para aquisição e renovação de frotas realizadas por
na Grande, PB; Campinas, SP; Campo Grande, MS;
instituições federais. Caxias do Sul, RS; Criciúma, SC; Curitiba, PR; Dia-

104
dema, SP; Feira de Santana, BA; Fortaleza, CE; Goiânia, GO; Guarulhos, SP; Jaboatão dos Guararapes, B - Circulação de bicicletas
PE; João Pessoa, PB; Joinville, SC; Juiz de Fora, MG; Londrina, PR, Macaé, RJ; Maceió, AL; Manaus, AM; • Projeto de uma rede ciclável, contendo ciclovias, ciclofaixas, rotas e espaços compartilhados, que interli-
Mauá, SP; Natal, RN; Niterói, RJ; Olinda, PE; Porto Alegre, RS; Recife, PE; Rio de Janeiro, RJ; Salvador, gue todas as regiões da cidade.
BA; Santos, SP; São Paulo, SP; Sorocaba e Sumaré, SP; Uberlândia, MG, • Localização de infraestruturas de apoio, como paraciclos, bicicletários, estações de bicicletas públicas,
oficinas, dentre outros, visando também à integração da bicicleta com os outros modais de transporte.
Houve a implantação de calçadas públicas qualificadas e com acessibilidade nas cidades do Rio de Janeiro,
RJ, Rio Branco, AC e Guarulhos, SP. Há também Plano Estratégico de Calçadas de Curitiba, PR. C - Transporte de passageiros
• Projeto da rede estrutural do transporte coletivo urbano e vias de faixas exclusivas monitoradas eletro-
Houve a instalação de ciclovias em Dourado, MS; Santos, Sorocaba e Ubatuba, SP; Rio Branco, AC; Ara- nicamente, linhas de metrô, VLT, monotrilhos.
caju, SE; Brasília, DF. O município do Rio de Janeiro, RJ tem como meta para 2016 a implantação de 450 • Definição das integrações física e econômica entre os diversos modais, tendo como eixo estruturador o
km de malha viária para bicicletas. transporte coletivo.
• Qualificação do serviço de transporte convencional: indicação de implantação de abrigos, faixas e pa-
No transporte sobre trilhos (metrô e trens regionais), a rede existente no ano de 2013 é de 972,5 km de vimentação de vias de ônibus, informações aos usuários.
linhas. Ampliação do metrô e qualificação das ferrovias urbanas em São Paulo e Região Metropolitana.
Estima-se que até 2020 a rede de transporte sobre trilhos vai se expandir na ordem de 30%, com 331 D - Segurança viária
km em todo Brasil. • Ações para atingir a meta ONU de redução de 50% dos mortos e feridos no trânsito em 10 anos (de
2011 a 2021 - Década de Segurança Viária).
PLANOS DE MOBILIDADE DE OUTROS PAÍSES • Ações de conscientização da população para mudança de comportamento em relação à escolha modal
Capítulo 1 e ao respeito aos demais usuários da via, estimulando uma mobilidade cidadã.

Os planos de mobilidade de outros países, como os europeus, adicionam temas transversais prioritários, E - Transporte motorizado individual
como o impacto ambiental e social, e a segurança viária. • Políticas de disciplinamento dos automóveis: proibição de estacionamentos onde circulem transportes
públicos; restrição de estacionamento em áreas centrais e corredores, estímulos de criação de estaciona-
Plano de Gestão de Demanda mentos em áreas nas periferias dos sistemas estruturais de transporte público, pedágio urbano, rodízio de
• Programas de desestímulo ao uso de automóveis – criação de áreas com tráfego reduzido, restrições de placas, zonas de velocidade controlada (Zonas 30), traffic calming, ruas de lazer.
circulação, políticas de estacionamentos, dentre outros. • Revisão da hierarquização viária atual, com a redefinição das vias arteriais, coletoras e de trânsito rá-
• Plano de incentivo aos deslocamentos a pé, como sinalização informativa e de orientação voltada para pido, e rede de vias com faixas exclusivas monitoradas eletronicamente.
os pedestres, campanhas educativas de respeito às faixas não semaforizadas, dentre outros.
• Estratégias econômicas para todos os modos de transporte – sistema tarifário, pedágio urbano, valor de F - Carga urbana
estacionamentos, dentre outros. • Proposta de legislação que defina regras de circulação por tipo de veículo, por região ou função, horá-
• Incentivos ao uso do transporte coletivo – melhoria na qualidade, informação e comunicação. rios e paradas para carga e descarga.
• Regulamentação da logística urbana – especialmente a questão de transporte de cargas. • Rede prioritária para circulação de mercadorias, com proposta diferenciada para as centralidades e
• Programas de incentivos ao uso de bicicletas para pequenos deslocamentos e para deslocamentos a tra- cargas perigosas.
balho, com a participação da iniciativa privada.
• Propostas para alteração da Lei de Uso e Ocupação do Solo, buscando formas de direcionar as escolhas G - Plano de implantação, gestão e monitoramento
modais por meio da diminuição da necessidade de viagens longas e da alteração da matriz de origem e • Estratégias de implantação gradativa com metas, programa de avaliação e monitoramento com indica-
destino dos deslocamentos. dores das ações de transporte coletivo; qualidade do ar (controle de emissão de poluentes, e da poluição
sonora; trânsito com ênfase na cultura da paz e da Inclusão Social).
PLANO DE GESTÃO E MELHORIA DA QUALIDADE DA MOBILIDADE • Elaboração de Projeto de Lei para aprovação do Plano de Mobilidade Urbana pela Câmara Municipal,
Capítulo 1 que só estará concluído após aprovação na Câmara e sanção com os vetos do prefeito.

A - Circulação de pessoas a pé
• Definição e projeto de caminhos pedonais, garantindo acessibilidade universal e priorizando-os em detri- EXPERIÊNCIAS DE PEDÁGIOS URBANOS EM OUTROS PAÍSES
mento dos demais modos e padronização do sistema de sinalização. Capítulo 2
• Plano de segurança e acessibilidade para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
• Definição da rede de calçadas de responsabilidade do poder público em áreas de grande movimentação Em 1975, Singapura introduziu um pedágio urbano – taxa de congestionamento – e publicou um manual
de pedestres e de acesso ao transporte público. anticongestionamento. Em 1991, Trondheim (Noruega) criou o primeiro sistema automatizado de pedágio
urbano. Mas a efetiva utilização desse mecanismo de regulação por desincentivo do uso do automóvel se
iniciou em Londres

106 107
Em 2003, após intensos estudos e debates, iniciou-se na capital do Reino Unido e da Inglaterra a opera- educação para o trânsito, em nível nacional e local, e ampliando a fiscalização humana e eletrônica nas
ção do sistema intitulado London Congestion Charge (LCC), o sistema de pedágio urbano mais conhecido cidades e estradas, com recursos do Fundo Nacional de Segurança no Trânsito (FUNSET) e do Seguro de
internacionalmente, que abrange uma área de 21 km2. O sistema londrino funciona das 7h às 18h nos Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), ainda contingenciados
dias úteis; de 1 milhão de veículos existentes na cidade, 250 mil costumam trafegar na área. De veículos pelo governo federal.
elétricos, não é cobrada a taxa. Não estão sujeitos ao pagamento das taxas os táxis, os veículos “verdes”,
as motos e os veículos de transporte público. O sistema é totalmente eletrônico e o pagamento pelo uso o Revitalizar o uso das faixas de pedestres e calçadas com iluminação e fiscalização.
pode ser feito em diversos locais convenientes ao usuário. A multa pelo descumprimento do pagamento,
todavia, é bastante alta, alcançando, aproximadamente, 10 vezes o valor do pagamento da taxa . o Garantir segurança para a circulação de bicicletas.

Os estudos que embasaram e justificaram economicamente o emprego de ferramentas eletrônicas de o Fiscalizar com rigor os abusos de velocidade e álcool ao volante. Como exemplo da fiscalização rigo-
identificação de veículos para fins de correção de externalidades negativas no tráfego urbano datam das rosa, podemos observar à DGT (Direção Geral de Trânsito), entidade nacional da Espanha, que consegui
décadas de 1950-60. Contudo, somente em 1999 foi aprovada lei que autorizou utilização de recursos reduzir o número de mortes em acidentes de carro 60% dos anos 2004 ao 2012, com medidas fiscaliza-
de eventual pedágio urbano na melhoria das condições de transporte. doras firmes como prioridade política, muitas delas mal aceitas pelos motoristas pelas multas aplicadas.
Os elementos fundamentais foram: álcool ao volante, uso de cinto de segurança e de capacete, excesso de
Conforme expõem Gomide e Morato (2011), com base em dados providos pelo próprio governo local velocidade e infratores reincidentes.
(disponíveis no site www.tfl.gov.uk), ainda que o sistema eletrônico de monitoramento, pagamento e gestão
para fins de facilitação e não obstrução do tráfego seja extremamente sofisticado e, por isso, custoso, eles PLANO SETORIAL DE TRANSPORTE E DA MOBILIDADE URBANA PARA MITIGAÇÃO DAS MU-
provocaram um considerável aumento de receita líquida (já descontados todos os custos de manutenção do DANÇAS CLIMÁTICAS
sistema, custos financeiros de oportunidade, como também perdas de arrecadação com estacionamento e Capítulo 2
tributação de combustível) ao governo de Londres. Em 2005, 2006 e 2007, as receitas líquidas geradas
foram, respectivamente, de 74, 123 e 137 milhões de libras esterlinas. Uma iniciativa do Ministério dos Transportes e do Ministério das Cidades é o Plano Setorial de Transporte e
da Mobilidade Urbana para Mitigação das Mudanças Climáticas (PSTM). O documento faz parte de uma
Diversos autores registram que o sistema de Londres possui externalidades na circulação de pessoas que série de iniciativas do governo brasileiro para o cumprimento dos compromissos de redução de gases po-
residem dentro da área abrangida e no comércio da região; também indicam que o sistema poderia ser luentes apresentados na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima em dezembro de 2009.
mais bem modulado para fins de adequação a horários mais caros e mais baratos. Mas concluem que os
maiores beneficiários têm sido os usuários de transporte público, moradores de áreas mais distantes do A Lei n. 12.187, de 29 de dezembro de 2009, instituiu a Política Nacional sobre Mudanças do Clima
centro, bem como o setor privado e a maior parte dos negócios do centro da cidade, com impacto na pro- – PNMC, que prevê, por meio de um decreto, o estabelecimento de “Planos setoriais de mitigação e de
dutividade em geral. Essa é, certamente, uma experiência a ser mais bem estudada e adaptada à realidade adaptação às mudanças climáticas, visando à consolidação de uma economia de baixo consumo de carbo-
dos grandes centros urbanos brasileiros. no, na geração e distribuição de energia elétrica, no transporte público urbano e nos sistemas modais de
transporte interestadual de cargas e passageiros”.
Pedágio urbano na América Latina. O Ministério de Transporte da Colômbia emitiu em 11 de dezembro
de 2013 o Decreto 2.883, segundo o qual as cidades colombianas com mais de 300.000 habitantes po- O PSTM visa à exploração de potenciais de abatimento das emissões no setor que levam em conta as
derão, para evitar engarrafamentos nas zonas de maior circulação de tráfego veicular, estabelecer taxas dimensões do uso de modos de transportes mais eficientes energeticamente. O Ministério dos Transportes
pelo uso de áreas de alto congestionamento, contaminação ou de infraestrutura construída ou melhorada. ficou incumbido da elaboração do plano setorial de transporte regional, ficando a cargo do Ministério
das Cidades a elaboração do plano no que se refere ao transporte urbano. Após apreciação pelo Grupo
Com esse decreto, pelo menos 20 cidades do país poderiam programar pedágios urbanos, entre as quais Executivo do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima, o documento deverá seguir para consulta
Medellín, Cali, Cúcuta, Pereira, Soacha, Ibagué, Manizales e Bogotá. Em Medellín, não serão implemen- pública.
tados pedágios urbanos a curto prazo, pois, segundo o secretário de Mobilidade ,ainda não há estudos
suficientes que permitam a adoção da medida. Embora estudos da Universidade Nacional tenham deter- O Plano Setorial de Transporte e da Mobilidade Urbana para Mitigação das Mudanças Climáticas avan-
minado que a medida seria viável, esse secretário argumentou que “faltariam estudos de engenharia, de çou em quatro frentes:
mobilidade, determinação de zonas, estudos tarifários, projeção dos impactos econômicos, entre outros”.
o Ampliação da implantação de infraestrutura para mobilidade urbana.
AÇÕES QUANTO À SEGURANÇA VIÁRIA QUE CABEM AO PODER PÚBLICO o Melhoria do gerenciamento da mobilidade urbana a partir de novas tecnologias e atuação em novos
Capítulo 2 espaços, como estacionamentos.

o Promover treinamento de direção defensiva para motofrete. o Planejamento urbano (adensamento urbano, promoção do uso misto do solo, aproximação dos locais de
moradia, trabalho e lazer etc.) associado aos eixos de transporte público e políticas de estímulo a viagens
o Implantar programas permanentes de paz no trânsito, para a redução de mortos e feridos, por meio da não motorizadas e traffic calming.

108 109
o Incorporação da mudança da matriz energética do transporte público por ônibus, visando ao abatimento MANIFESTO DA 15ª JORNADA BRASILEIRA “NA CIDADE, SEM MEU CARRO”
de gases de efeito local e estufa, especialmente o CO2, assim como os possíveis impactos na tarifa do tran Capítulo 6
Fonte: MMA 2011
PAZ NO TRÂNSITO, FAIXAS EXCLUSIVAS, BICICLETAS, E CALÇADAS ACESSÍVEIS DOMINEM AS RUAS!
É A LEI DA MOBILIDADE URBANA!
Ônibus Ônibus
urbanoss rodoviários Brasília, 22 de setembro de 2015
26% 6%
Transporte RUAVIVA, MDT, SEMOB, FNRU, FNP, ANTP, ITDP
coletivo
Motocicletas 32% Congestionamentos cada vez maiores, viagens urbanas mais longas, estresse, poluição e mais colisões com
6% mortos e feridos no trânsito. Diante de tudo isso, finalmente, setores cada vez mais amplos da sociedade
Automóveis percebem que não há como abrigar nas ruas tantos carros e que, portanto, a promessa de mais carros,
50% Transporte mais vias e mais estacionamentos faliu. Além disso, em 2012, entrou em vigor a Lei da Mobilidade Urbana
Comerciais leves individual
68% (Lei 12.587/2012), que cria UM NOVO PARADIGMA: a prioridade no uso e nos investimentos no sistema
viário é para os pedestres, bicicletas, transporte público e para promover a Paz no Trânsito.
Neste quarto ano de vigência da LEI DA MOBILIDADE URBANA, a 15ª Jornada Brasileira ‘Na Cidade, sem
meu carro’ convoca os cidadãos a deixarem as ruas repletas de PAZ NO TRÂNSITO, através das FAIXAS
No fim das contas, apenas investir em transporte público não mudaria o aumento constante das emissões EXCLUSIVAS, BICICLETAS E CALÇADAS ACESSÍVEIS. Desse modo, democratizaremos as ruas, para que
na atmosfera. Uma política agressiva de desestímulo ao uso do automóvel é necessária para que haja uma se tornem o espaço de construção de uma nova urbanidade e de uma nova vida para os moradores das
inversão na tendência que se apresenta atualmente. Da mesma forma, o país precisa repensar seu trans- cidades.
porte de carga. A utilização de transporte ferroviário poderia gerar uma redução de 75% da emissão de
CO2 na atmosfera. A prioridade para o transporte público se consolida como linha norteadora das políticas de financiamen-
to da mobilidade urbana. Projetos referentes ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)– com
Considerando o papel determinante dos caminhões nas emissões de CO2 associadas ao transporte de R$ 153 bilhões, incluindo recursos do Orçamento Geral da União, linhas de crédito e contrapartidas de
carga (aproximadamente 90% do total), ganhos de eficiência energética nesta categoria de veículos agentes públicos e privados - e projetos de vários governos estaduais estão possibilitando a implantação
poderiam trazer benefícios bastante significativos. No entanto, o Brasil não dispõe até este momento de de Sistemas Estruturais de Transportes Públicos, como metrôs, ferrovias urbanas, corredores exclusivos de
políticas orientadas especificamente para promover tal eficiência, como por exemplo padrões mínimos de ônibus segregados e monitorados (BRT), corredores fiscalizados eletronicamente para não serem invadi-
eficiência, tributação diferenciada para veículos mais eficientes etc. (Fonte: Apresentação de David Shiling dos, Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) e monotrilhos.
Tsai, “Plano Setorial de Transporte e da Mobilidade Urbana para Mitigação das Mudanças Climáticas:
subsídios para elaboração”, fevereiro de 2012) Outras ações avançam a olhos vistos. A Cidade de São Paulo implantou mais de 520 km de faixas exclu-
sivas monitoradas com câmeras e ainda pretende fechar o ano com 400 km de ciclovias. Enquanto isso, o
Governo do Estado de São Paulo vem construindo 72 km de metrôs, monotrilhos e trens urbanos. Já no Rio
de Janeiro estão em operação 53 km de faixas exclusivas (BRS) e 95 km de BRT. Curitiba promete 300
km de infraestrutura cicloviária até 2016. Algumas ações de cidades brasileiras mostram que é possível
Fatores de emissão por modal de transporte de carga por gCO2/tku melhorar a condição de circulação para os pedestres. Rio de janeiro, Curitiba, São Paulo, Salvador, Araca-
jú, Recife e mesmo em centros médios, como São José dos Campos/SP têm realizado ações para melhorar
Caminhões pesados 93,3 as calçadas e estimular a caminhada; os resultados ainda são iniciais, comparados com o desafio nacional
Ferroviário: outras cargas 23,3
que é reverter o abandono de nossas calçadas.

Navegação interior 20,0 Em 2009, ocorreu em Moscou a 1ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito,que pro-
Cabotagem: outras cargas 13,8 pôs a Década de Ação para a Segurança no Trânsito 2011-2020, declarada em seguida pela Assembléia
Geral das Nações Unidas.A ONU recomenda aos países membros – entre eles o Brasil – a elaboração e
Ferroviário: minério de ferro 7,9
aplicação de um plano diretor para reduzir em 50% o número de mortos e sequelados em ocorrências
Cabotagem: petróleo e gás natural 5,0 de trânsito. O Brasil aderiu a esse chamamento, assinando em 2011 uma carta compromisso a respeito,
mas, infelizmente,em vez de reduzir pela metade seus índices, viu crescer em 30% o número de mortes no
trânsito nestes últimos anos.

Para avaliar a Década de Ação para a Segurança no Trânsito 2011, a ONU convocou a 2ª Conferência

110 111
Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito, que acontecerá na capital do Brasil, nos dias 18 e 19 soas portadoras de deficiência (implantadas e fiscalizadas pelo poder público). Nas demais calçadas,que
de novembro de 2015. O encontro reunirá ministros de áreas afins ao tema para analisar o progresso da sejam garantidos a circulação com acessibilidade universal – como determinam as leis e decretos sobre
implementação do Plano Global para a Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011 – 2020 e o acessibilidade para pessoas com deficiência– e o plantio de árvores e a instalação de equipamentos que
alcance das metas. Estima-se que reunirá cerca de 1.500 participantes de 150 países. promovam o convívio e bem estar no espaço público;

As pessoas começam a vislumbrar uma alternativa além da cidade acelerada, onde as bicicletas, os ônibus 6. Que, nos bairros, as prefeituras estreitarem as vias e alargarem as calçadas e implantem ciclofaixas ou
fora dos congestionamentos dos carros, as reduções de velocidades, as zonas de 30 Km/h e a caminhada ciclovias;
transformam a cidade em um lugar mais humanizado e seguro. Em 2014, de acordo com relatório do
Seguro DPVAT, quase oito mil pedestres foram mortos em atropelamentos no Brasil, o que significa 43 7. Que a fiscalização da faixa de pedestre seja feita com o uso do instrumento da multa, para que a norma
mortes de pedestres por dia; outros quase 116 mil sobreviveram, mas ficaram com lesões permanentes de seja respeitada, como acontece em Brasília, onde o rigor da fiscalização levou a maioria dos motoristas a
acordo com a mesma fonte. Em ocorrências de trânsito, os números são ainda piores: 43 mil mortos por respeitar a cidadania dos pedestres, fazendo valer o Código de Trânsito Brasileiro;
ano e mais de 250 mil lesionados.
8. Que se estabeleçam políticas de estacionamento de automóveis com regulação pública; que haja esta-
Continua a luta para ‘emplacar’ a Lei da Mobilidade, a Paz no Trânsito e para mudar mentalidades, pos- cionamentos junto aos corredores estruturais, estimulando o uso do carro como alimentador do transporte
sibilitando a implantação da cultura da Mobilidade Sustentável no País. E, nesse quadro, o Instituto da público, e que as taxas para estacionamentos não vinculados ao transporte público sejam progressivamen-
Mobilidade Sustentável (RUAVIVA), o Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualida- te mais altas à medida que o estabelecimento esteja mais próximo das áreas centrais ou das regiões mais
de para Todos (MDT), o Fórum Nacional da Reforma Urbana (FNRU), Secretaria Nacional de Transporte congestionadas da cidade e que tais taxas urbanas formem um fundo público para investimentos exclusivos
e Mobilidade Urbana (SEMOB)/Ministério das Cidades ,a Associação Nacional de Transporte Públicos em obras de transportes públicos, calçadas e ciclovias;
(ANTP) e o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento- ITDP Brasil- lançam este Manifesto na
15ª Jornada Brasileira‘Na Cidade, Sem Meu Carro’, propondo à população que 22 de setembro,uma 9. Que se proíba o estacionamento em todas as vias de circulação dos transportes públicos. E que o espaço
terça feira, seja um dia de reflexão e consciência, para que os pedestres, bicicletas e transportes públicos, destinado ao estacionamento nas vias sirva para aumentar calçadas, criar ciclovias, faixas exclusivas de
ocupem as ruas, mobilizando a sociedade para implementar a Lei da Mobilidade - nosso ESTATUTO DA ônibus e ‘parklets’ (áreas de repouso e recreação para pessoas);
MOBILIDADE SUSTENTÁVEL, propondo:
1. Que os Governos Federal, Estaduais e Municipais elaborem um programa e coloquem em prática me- 10. Que seja garantida a qualidade dos serviços convencionais de ônibus e do ar nas cidades, com o apoio
didas efetivas que demonstrem que o Brasil reduzirá em pelo menos 50% o número de mortos e feridos de recursos federais e estaduais, para que a frota tenha piso baixo, câmbio automático, motores traseiros
no trânsito até 2020. Que esse programa seja discutido com a sociedade elevado como compromisso do de ultima geração, não poluentes (elétricos, etanol, hidrogênio) ou a diesel com baixa emissão de enxofre
País à 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito.Que seja assumido o combate regulados e voltados para cima, de modo a não emitir fumaça preta nos pedestres e na cidade;
ao excesso de velocidade e ao uso de álcool por motoristas, nas vias urbanas e rodovias,e também que o
dinheiro arrecadado em razão das multas de trânsito e das taxas na fiscalização seja aplicados em edu- 11. Que os Governos Federal e Estaduais apóiem, com recursos extratarifários, as experiências munici-
cação de trânsito, reforma de calçadas, ciclovias e faixas exclusivas de ônibus, e, ainda, que, a cada ano, pais de barateamento das tarifas, passe livre e outras ações, com vistas a sustentabilidade econômica dos
o Poder Público preste contas publicamente da aplicação desse dinheiro; serviços, para conquistar a qualidade de serviço , a universalização do acesso à mobilidade urbana e o
direito à cidade.;
2. Que seja aplicada da Lei de Mobilidade Urbana de forma a garantir que os investimentos em vias públi-
cas, incluindo os viadutos, sejam prioritariamente destinados aos pedestres, ônibus e bicicletas; e que estes 12. E que os investimentos em sistemas estruturais de transportes públicos entrem em operação com con-
sejam os eixos principais dos Planos de Mobilidade; trole social, integrados,com calçadas acessíveis, ciclovias e estacionamentos e acompanhados do baratea-
mento das tarifas em todo território nacional,para finalmente transformar a “rua dos carros” em “rua das
3. Que 70% da utilização das vias sejam para implantar faixas exclusivas de ônibus fiscalizados eletro- pessoas”, com Paz no Trânsito.
nicamente, ciclovias, ciclofaixas, corredores segregados de ônibus, bondes modernos (VLTs) e monotrilhos,
como obriga a Lei de Mobilidade Urbana;

4. Que haja a integração dos sistemas estruturais de transporte – como metrôs, ferrovias urbanas, VLTs,mo-
notrilhos, barcos e ônibus (BRT e faixas exclusivas), e que tenham garantias de acessibilidade para pessoas
com deficiência e integração com as bicicletas (públicas e privadas), calçadas acessíveis e bilhetagem
eletrônica temporal (“bilhete único”);

5. Que, pelo menos onde houver grande fluxo de pedestres, as calçadas públicas sejam acessíveis às pes-

112 113
Súmula da legislação nômico e social, visando a seu desenvolvimento e à Portadores de deficiência e acessibilidade
Constituição Federal redução das desigualdades regionais. Lei n. 10.048/00
Art. 21. Compete à União: Lei n. 10.098/00
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, Art. 175. Incumbe ao poder público, na forma da Decreto Federal n. 5296/04
concessão ou permissão: e) os serviços de transporte lei, diretamente ou sob regime de concessão ou per-
rodoviário interestadual e internacional de passagei- missão, sempre através de licitação, a prestação de Lei n. 12.379/12 - Dispõe sobre Sistema Nacional
ros; serviços públicos. de Viação
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urba- Lei n. 13.103/15 - Dispõe sobre exercício da profis-
no, inclusive habitação, saneamento básico e trans- Art. 227. (...). são de motorista
portes urbanos; § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos Lei n. 9.503/97 - Código de Trânsito Brasileiro
logradouros e dos edifícios de uso público e de fa- Lei n. 10.257/01 - Estatuto da Cidade
Art. 22. Compete privativamente à União legislar bricação de veículos de transporte coletivo, a fim de Lei n. 11.107 /05 - Lei dos consórcios
sobre: garantir acesso adequado às pessoas portadoras de Lei n. 13.089/15 - Estatuto da Metrópole
IX - diretrizes da política nacional de transportes; deficiência. Lei n. 8.078/90 - Código de Proteção e Defesa do
XI - trânsito e transporte; Consumidor
Art. 230. (...).
Art. 23. É competência comum da União, dos Esta- § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garan- Leis de licitações e concessões
dos, do Distrito Federal e dos Municípios: tida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. Lei n. 8.666/93 - Regulamenta o art. 37, inciso XXI,
XII - estabelecer e implantar política de educação da Constituição Federal, institui normas para licita-
para a segurança do trânsito. Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os ções e contratos da Administração Pública e dá ou-
Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios tras providências.
Art. 25. (...). públicos e os convênios de cooperação entre os entes Lei n. 8.98795 - Dispõe sobre o regime de conces-
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complemen- federados, autorizando a gestão associada de servi- são e permissão da prestação de serviços públicos
tar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações ços públicos, bem como a transferência total ou par- previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá
urbanas e microrregiões, constituídas por agrupa- cial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à outras providências.
mentos de Municípios limítrofes, para integrar a or- continuidade dos serviços transferidos. Lei n. 9.074/95 -Estabelece normas para outorga e
ganização, o planejamento e a execução de funções prorrogações das concessões e permissões de servi-
públicas de interesse comum. Art. 244. A lei disporá sobre a adaptação dos lo- ços públicos e dá outras providências.
gradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos
Art. 30. Compete aos Municípios: de transporte coletivo atualmente existentes a fim de
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime garantir acesso adequado às pessoas portadoras de
de concessão ou permissão, os serviços públicos de deficiência, conforme o disposto no art. 227, § 2º.
interesse local, incluído o de transporte coletivo, que
tem caráter essencial; Leis específicas
Lei n. 12.587/12- Institui as diretrizes da política de
Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá mobilidade urbana e dá outras providências.
articular sua ação em um mesmo complexo geoeco-

115
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116 117
Créditos
Equipe Editorial
Nazareno Sposito Neto Stanislau Affonso - coordenador
Alexandre Asquini
Raphael Barros Dorneles
José Leandro de Resende Fernandes
Irene Quintáns
Diana Daste Marmolejo
Pedro do Carmo Baumgratz de Paula

Colaboração: Associação Nacional das Empresas de Transportes Públicos (NTU), Paulo de Souza Neto (MDT Goi-
ás), Pedro Henrique Campello Torres (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento- ITDP Brasil)

Projeto gráfico e arte


Zenith Marketing

Uma publicação do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos (MDT)/
Fórum Nacional de Reforma Urbana ( FNRU)/ Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU)

Apoio: Fundação Ford

Referência publicação original


1ª edição, out. 2009: Mobilidade urbana e inclusão social
Texto original: Nazareno Stanislau Affonso, Juliana Machado Brito, Clovis Granado, Emiliano Affonso Neto
Colaboração: Liane Born, Uirá Felipe Lourenço. Marcos Bicalho dos Santos (NTU)

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