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Ferenczi nutria por Freud uma admiração devotada, quase cega. Era
um fiel escudeiro do criador da psicanálise e Freud, embora precisasse
muito de Ferenczi como ouvinte atento e capaz de discutir em profundidade
as ideias do professor, inquietava-se algumas vezes com a constante
exigência de retribuição amorosa que Ferenczi cobrava. É possível que a
história biográfica de cada um possa nos orientar a entender o que ocorreu
entre eles.
Ferenczi era o oitavo de uma família com 12 filhos. Quando Sándor
nasceu seu irmão mais velho tinha 13 anos. Neste mesmo ano, Sigmund
Freud, então com 17 anos, estava começando a faculdade de medicina. O
pai de Ferenczi, Bernáth Frankel era um imigrante judeu polonês, muito
ativo da esquerda marxista na política da pequena e provinciana Miskolcz.
Tinha uma livraria e editora, onde o pequeno Sándor se criou, entre livros.
Róza, a mãe, governava o casarão da família, bem como própria família
com mão de ferro. Eficiente, ajudava o esposo na livraria e ainda presidia a
União das Mulheres Judias da cidade. Nesse cenário é fácil compreender
que Sàndor (diminutivo de Alexandre) não pode desfrutar do amor e
cuidados maternos como ele parece ter necessitado. Havia muitas outras
crianças para Róza cuidar, além da casa e de seus outros interesses
intelectuais e políticos junto ao seu esposo, pois o espaço da editora livraria
também servia de cenário para concertos e reuniões de intelectuais e
artistas de destaque à época. Sándor era, segundo sua irmã Zsófia, o
preferido de seu pai, mas esse faleceu enquanto Sándor Ferenczi era ainda
um jovem adolescente. Parece que o carinho materno sempre fez falta a
Sándor Ferenczi ao longo de toda sua vida. Quem sabe buscava isso em
Freud. Ou buscava o amor perdido quando da morte de seu pai. O certo é
que buscava em Freud, amor, carinho, ternura enfim, reconhecimento e
retribuição por sua dedicação a ele e à causa psicanalítica.
Sigmund Freud por sua vez, foi sempre o filho dileto de sua jovem
mãe Amalie, que deu à luz a seu primogênito e preferido filho aos 21 anos
de idade. Amalie cultivou em Freud a ideia de filho especial, querido
predileto e seu amor e dedicação a esse filho em particular foram
fantásticos.
Isso nunca foi uma técnica. O que Ferenczi estava pesquisando dizia
respeito a “técnica ativa” versus o “princípio de relaxamento”. Para fugir
ao rígido apego à técnica da frustração, ele optou por ser mais passivo.
Deixar o paciente mais livre na sessão. Arrependeu-se e escreveu com
relação a isso “Os pacientes começam a abusar da minha paciência,
permitem-se cada vez mais coisas, metem-nos em grandes embaraços. Dm
(Clara Thompson) que “obedecendo” a minha passividade permitia-se cada
vez mais liberdades, e houve até uma ocasião em que me beijou.
Considerando que isso foi autorizado sem resistência, como algo permitido
em análise e, no máximo, comentado teoricamente, ela permitiu-se chegar
num grupo de colegas, pacientes de outros analistas e dizer: “Quanto a
mim, posso beijar papai Ferenczi quantas vezes quiser”. O episódio chegou
aos ouvidos de Freud que escreveu uma carta em tom bastante irritado:
seu Ferenczi”
Obrigada.
Anette
Referências Bibliográficas