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Newsletter Edição 7 - Agosto de 2010

ERIK H. ERIKSON - TEORIA DO


DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL
Dra. Berenice Carpigiani
Texto elaborado para fins didáticos.

“O psicanalista Erik H. Erikson, criador do conceito ‘crise de identidade’,


morreu aos 91, anteontem à noite em Harwick, Massachussets, Costa Leste
dos EUA. Amigo e discípulo de Sigmund Freud, Erikson formulou a teoria
do desenvolvimento emocional do ser humano, segundo a qual cada está-
gio da vida está associado a lutas psicológicas que ajudam a moldar a per-
sonalidade. Na sua teoria, a dinâmica da sociedade em que o indivíduo
vive também é considerada influência determinante para a maneira como
as mudanças emocionais são resolvidas. Erikson nasceu em Frankfurt, Ale-
manha. Foi professor em Viena, Áustria, numa escola dirigida por Anna
Freud, filha de Sigmund. Refugiou-se do nazismo nos EUA em 1933. En-
sinou em várias universidades dos EUA até estabelecer-se na de Harvard,
uma das melhores do país, em 1960. O auge da fama de Erikson se deu
nas décadas de 60 e 70, quando suas teorias foram usadas para ajudar a
entender as mudanças sociais, em especial na juventude. Ele ajudou a con-
solidar o gênero literário da psicobiografia. A que escreveu sobre Gandhi
lhe valeu o Pulitzer de 70”.

Jornal “Folha de São Paulo” de 14 de maio de1994. Jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva.

INTRODUÇÃO voltadas para administração de em- maneira: informações sobre a his-


presas – buscam sustentação teórica tória de vida do autor como clínico
Desta maneira, o Brasil foi noticiado tanto nos conceitos por ele elabo- e teórico, sua visão sobre a psica-
da morte de Erik H. Erikson, teórico rados quanto na formatação muito nálise e sobre os conceitos por ele
da psicologia do desenvolvimento e própria que desenvolveu a partir dos revisitados. Apresenta também a Te-
da personalidade, que sustentado estudos da psicanálise freudiana. oria do Ciclo Vital e as nove idades
pelos alicerces da teoria psicanalíti- do desenvolvimento humano. Farei
ca tem estado presente no processo As Universidades brasileiras tam- citações de seus livros, traduções e
de discussão sobre estes campos te- bém contemplam, nas matrizes cur- edições e, retomarei sua própria fala
óricos. Mundialmente reconhecido e riculares de diferentes Cursos o en- no sentido de torná-lo cúmplice des-
discutido em Universidades européias sino de sua teoria e esta é a razão te texto.
e norte americanas, Erikson forneceu para a elaboração deste texto, que
elementos para a compreensão do pretende enfatizar a importância Sugiro que o leitor possua algum
papel do processo de internalização das fontes conceituais propostas conhecimento sobre a psicanálise
da cultura no universo inconsciente por Erik H. Erikson, principalmen- freudiana para facilitar o acom-
individual e na formação da perso- te no que diz respeito à conceitua- panhamento do significado de al-
nalidade do ser humano. ção do papel do Ego e da Cultura, guns conceitos, o que possibilitará
como fatores de estruturação do a compreensão das harmonias e
Diferentes áreas de estudos da psico- sujeito intrapsíquico. dissonâncias conceituais entre sua
logia, assim como áreas afins, como teoria e a origem do pensamento
por exemplo a pedagogia e as áreas O texto foi organizado da seguinte psicanalítico.

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A VIDA DE ERIK H. ERIKSON com o pediatra judeu alemão Theo- ter muitas conversas informais
dor Homberger. O casal combinou com Freud. Poucas semanas
No prefácio do livro Diálogo com de não contar para Erik sobre seu depois, recebeu um convite
Erik Erikson, publicado pelo Fondo verdadeiro pai e, quando ele estava escrito por Freud para inscre-
de Cultura Econômica Del Méxi- com cinco anos Theodor documen- ver-se no Instituto Psicanalítico
co em 1967, Evans o entrevistador, tou a paternidade. Daí o sobrenome de Viena e estudar para ser
apresentou Erikson como Homberger. analista de crianças. Erikson
aceitou o convite, deixou as
um homem notável. Seu esti- Embora realmente gostasse viagens e a pintura e compro-
lo analítico, tolerante, sereno, de seu padrasto, ele escreveu meteu-se com a Psicologia.
está apoiado numa incisiva em um estudo autobiográfico (BARROS. 1991, p.74).
perspicácia ... Erikson cami- (1970) que este background
nhou do campo da arte para misto criou-lhe alguns ´pro- Outra versão a respeito de seu en-
o estudo psicanalítico. Como blemas de identidade’. Por ser contro com a psicanálise é a de
artista ofereceu uma perspecti- alto e loiro, era chamado de que:
va pouco comum para a psica- gentile por seus amigos da si-
nálise. Depois de estudar com nagoga local e, à medida que Quando contava com vin-
Anna Freud, tornou-se um dos era filho de um médico judeu, te e cinco anos, Peter Bloss,
pioneiros da psicanálise infan- seus colegas de classe o ape- um amigo de Hamburgo com
til. Viveu seus primeiros anos lidavam jocosamente de `ju- quem ele encontrava de vez
numa cultura européia variada deu` ” (GALLATIN, 1978). em quando em suas viagens
e depois foi para os Estados convidou-o para juntar-se a
Unidos. Ali desenvolveu uma Segundo alguns biógrafos, durante um grupo pertencente a uma
brilhante carreira como psica- sua formação sofreu alguns proble- pequena escola progressista
nalista, realizou importantes mas de adaptação ao sistema de em Viena. A escola era finan-
estudos comparativos entre ensino da Alemanha daqueles tem- ciada por Dorothy Burlingham,
culturas, foi escritor, ensinou pos. Ao invés de ingressar para o uma americana rica que se in-
psicanálise e foi professor da estudo da medicina, que parecia ser teressou muito pela psicanáli-
Universidade de Harvard. Mui- o esperado, Erikson foi estudar arte se, foi para Viena a fim de ser
tos o consideram um dos pro- e abraçou a profissão de pintor de analisada por Sigmund Freud
fessores mais simpáticos e po- retratos. Sua adolescência foi marca- e permanecera lá, tendo se
pulares que existem no corpo da por uma série de viagens através tornado analista leiga. Através
docente de Harvard. Em fun- da Europa e, aparentemente possuía de Mrs. Burlingham, Erikson
ção de seus antecedentes ele talento, pois foi ficando conhecido entrou em contato com outros
se tornou um indivíduo criati- principalmente, pela qualidade dos membros do famoso circulo
vo e único cujas obras estão retratos de crianças que realizava. de Viena, entre os quais Anna,
atraindo grande atenção. (tra- Na passagem da adolescência para a filha de Sigmund Freud, que
dução da p.18, realizada pela a vida adulta- jovem Erik, além da estava extremamente envolvi-
organizadora deste texto). Arte, teve outro encontro importan- da com a escola. Após alguns
te: Com a psicanálise. estudos posteriores no Institu-
A história da vida de Erikson em al- to de Viena, Erikson tornou-se
guns momentos chega a ser misterio- Uma das versões conhecidas sobre um profissional independente
sa. Na verdade ao ir buscar dados esta época de sua vida é a de que e começou a especializar-se
sobre sua vida pessoal deparei-me numa destas viagens teria sido: no tratamento de crianças.
com diferentes informações que, (GALLATIN,1978, p.178).
mutas vezes não combinavam, no convidado para fazer o retrato
entanto, sabe-se que foi o primeiro de uma criança numa residên- Erikson, por sua vez, nos diz o se-
filho de Karla Abrahamsen, nascido cia na Áustria. A menina per- guinte:
na Dinamarca em 1902. Viveu os tencia á família de Sigmund
três primeiros anos de vida exclusiva- Freud. Enquanto realizava seu Vim da arte para a psicologia,
mente sob os cuidados de sua mãe trabalho de pintura, Erikson o que pode explicar; ainda
até que ela se casasse, na Alemanha, teve a oportunidade de man- que não justificar, o fato de

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ERIK H. ERIKSON - TEORIA DO


DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL

foto meramente ilustrativa

que às vezes o leitor me veja Erik foi convidado para apre- sétimo (...) Incluímos um novo
pintando contextos e cenários sentar os estágios para um estágio intitulado Generativi-
em ocasiões em que ele pre- grupo de psicólogos e psiquia- dade X Estagnação (...). Como
feriria que assinalasse fatos e tras em Los Angeles... o plano é difícil para a pessoa reco-
conceitos...” (ERIKSON,1976, era o seguinte: nós iríamos de nhecer e ter a perspectiva de
p.14). carro até a estação ferroviária onde ela está presentemente
mais próxima, onde Erik pode- no próprio ciclo da vida” (ERI-
Casou-se com Joan, a professora que ria pegar o trem para Los An- KSON,1998, p.VII).
ensinava ballet, na escola onde ele geles, e eu voltaria logo para
trabalhava sob a supervisão de Anna casa e para as crianças... Era O início de sua vida intelectual foi
Freud, e o casal teve quatro filhos: uma distância longa... e nós norteado pela análise e supervisão
Kai (1931) Jon (1933), Sue (1938) aproveitamos o tempo para com Anna Freud e mesmo já moran-
e Neil (1944) este último portador discutir (...) sua apresentação. do nos Estados Unidos, ambos con-
de Síndrome de Down e que faleceu Também ficamos deliciados ao tinuaram trabalhando e discutindo a
aos 21 anos. Sua esposa é bastan- lembrar que, quando Shakes- psicanálise. Circulou entre antropólo-
te citada em seus trabalhos e pare- peare escreveu As sete idades gos e, no prefácio do livro “Infância e
ce ter tido uma participação grande do Homem, ele não incluiu – Sociedade” ele cita Gregory Bateson,
no desenvolvimento do pensamento imaginem só – o estágio do Ruth Benedict, Martin Loeb e Marga-
e na elaboração dos conceitos que brincar ( ... ). Sentada com ret Mead, destacando Skudder Meke-
norteiam sua teoria. Ela acompanha- o gráfico do ciclo da vida no el e Alfred Kroeber como os princi-
va, revisava os textos, sobretudo pelo colo, enquanto Erik dirigia, pais responsáveis pela sua iniciação
fato de dominar a língua inglesa ( a eu comecei a ficar inquieta. no método da pesquisa-ação.
língua- mãe de Erikson era o alemão) Shakespeare tinha sete está-
e por isso era ela quem preparava a gios, como nós, e ele tinha O desenvolvimento de sua vida pro-
edição de seus livros. Nos prefácios omitido um estágio importante fissional se fez num ritmo constante
das edições de todos os seus livros (...) num chocante momento e consistente e, no final deste texto,
ele cita e agradece a colaboração de lucidez, eu percebi o que você encontrará sua obra em ordem
da esposa. Veja que interessante esta estava errado: nós estávamos cronológica a partir do início dos
descrição da cumplicidade profissio- faltando (...) Os sete estágios anos 1930, pois com a subida de
nal de ambos, descrita por Joan no do gráfico pulavam de Intimi- Hittler ao poder ele precisou mudar-
prefácio da visão ampliada de “O dade para Velhice. Nós cer- se de Viena para Copenhagen e daí
ciclo de vida completo”: tamente precisávamos de um para os Estados Unidos, onde desen-
outro estágio entre o sexto e o volveu a maior parte de sua teoria.

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TEORIA GERAL – CONCEITOS reprimida gerava os sintomas. a fronteira entre mundo externo e in-
ESPECÍFICOS Freud defendia a teoria de que terno é o movimento mais forte e ativo
a fase inicial do desenvolvimen- em direção à normalidade e mais forte
Erikson, no início de seu trabalho, to – denominada fase oral, por que o conceito de instinto. Na verda-
imaginou que estivesse apenas crian- conter a energia instintiva que de Erikson mudou o foco da dinâmica
do exemplos para a teoria psicanalíti- subsidiaria tanto o desenvolvi- teórica de compreensão da persona-
ca que havia aprendido com Sigmund mento sexual normal quanto o lidade, ressaltando o papel do Ego
e Anna Freud - essas foram suas pala- patológico, era a fonte gera- como o principal responsável pela or-
vras durante a entrevista realizada em dora dos sintomas neuróticos ganização das memórias e síntese das
1975 – mas na realidade ele percorreu e era responsável pelo desen- experiências emocionais vivenciadas
um caminho no qual alguns conceitos volvimento da personalidade e pelas pessoas. Este é o mecanismo
foram profundamente revistos. Para entendia também que a com- que garantirá a construção da vida
entendermos como Erik Erikson pen- preensão das psicopatologias psíquica saudável.
sava a psicanálise tal qual proposta seria a fonte principal de com-
pelo núcleo psicanalítico, é importan- preensão da psicologia normal. É importante entendermos o desen-
te lembrarmos que sua preocupação (ERIKSON,1976, p.340). volvimento da personalidade a partir
estava em rediscutir pontos do pen- da integração indissociável de três di-
samento freudiano, pois segundo ele Esta idéia da compreensão da psico- mensões:
explica, o próprio clima científico que logia normal através da psicopatolo-
emoldurava as descobertas, na época gia é rebatida por Erikson, pois ele en- 1. A dimensão biológica: assim
de Freud era muito diferente do clima tendeu que tanto a patologia quanto a como apontado na psicanálise freu-
intelectual que ele passou a viver nos normalidade deveriam ser entendidas diana, o ser humano se constitui de
Estados Unidos no desenrolar de seu dentro de padrões culturais, ou seja, um conjunto de pulsões que necessi-
trabalho como psicanalista. ambos os conceitos podem mudar ta ordem, consistência e sistematiza-
conforme a época e a cultura que se ção. Para Erikson, o desenvolvimento
Num momento em que a teoria da re- modificam de tempos em tempos. Para ocorre numa sequência sustentada na
latividade dava o tom das descobertas iniciar a discussão de seu pensamen- maturação biológica, ou seja, é a es-
da ciência e sistematizava o pensa- to Erikson explica que sua teoria se trutura biológica herdada que alicerça
mento filosófico, Erikson sentia dificul- propõe a entender a constituição dos o desenvolvimento de qualquer ser
dades em apoiar suas formulações da aspectos adaptativos e criativos que vivo. Nesta dimensão é apontado um
mesma maneira que Freud, que esta- compõem a estruturação da persona- conceito importante: Princípio Epige-
va sustentado pela idéia da transfor- lidade ao longo do desenvolvimento nético. Assim explicado: “Epi significa
mação de energia que caracterizava desde o nascimento até a morte. Isto ´Sobre` e Gênese significa `Surgi-
os efeitos da física do século XIX. Isto significa dizer que há uma nova forma mento´. Então epigênese significa que
significa dizer que o tom das pesqui- de olhar a relação entre as instâncias algo se desenvolve sobre outra coisa
sas sobre mundo mental deveria ser psíquicas (Id, Ego e Superego) estendi- no espaço e no tempo. Isto me pare-
escutado de uma nova maneira. Por da para a velhice. ceu uma idéia simples e suficiente a
exemplo, a sexualidade era entendida ser adotada para nossos objetivos”
como uma das mais definidas Vamos ao primeiro conceito. Ele irá (1967).
utilizar o termo modalidade: “para
áreas onde podem ser encon- descrever a forma como o Ego da Isto significa dizer que todo ser vivo
trados núcleos de excitação criança se relaciona com o mundo está apoiado sobre uma base que
que se originam da química do e, portanto, este é um conceito mais proporciona potencialmente o desen-
corpo” e os pacientes da épo- amplo do que o conceito de instinto” volvimento de funções determinadas.
ca eram exemplos vivos de que (Gallatin, 1975, p.190). Ou seja, a É o suporte biológico que sustenta o
alguma coisa em excesso ou maneira como o Ego vai desenhando plano psicológico.

Integridade X Desespero
Generatividade X Estagnação
Intimidade X Isolamento
Identidade X Confusão de papéis
Produtividade X Inferioridade
Iniciativa X Culpa
Autonomia X Vergonha/Dúvida
Confiança X Desconfiança

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2. Dimensão social: desenvolve-se capacidades absolutamente próprias salta a importância de conhecermos


nas relações culturais primeiras dentro de cada um, ou seja, o aparato bio- a história da discussão a respeito do
das quais o bebê está inserido. Aqui lógico é característico da espécie, a conceito de Ego. Ele nos conta que
Erikson já começa a delinear a força aprendizagem se faz dentro de in- no período em que circulou pelo
da cultura na constituição da perso- formações próprias de cada cultura, grupo psicanalítico de Viena havia
nalidade. A gratificação das necessi- mas a pessoa garante sua identidade uma posição teórica bastante conso-
dades iniciais, a satisfação dos instin- no permanente processo de organi- lidada sobre o papel do Ego para o
tos que garantirá a sobrevivência se zação e arranjo destas informações. funcionamento do psiquismo: Anna
dará na relação com outras pessoas, Freud defendia a idéia de que o Ego
ou seja: o bebê precisa ser cuidado A idéia das três dimensões nos ajuda se constitui a partir da diferenciação
dentro dos padrões da sua cultura. a compreeender o desenvolvimento do Id, ou seja: pensamento, percep-
Temos aqui um elemento muito im- psicológico saudável e a explicação ção, coordenação, localização es-
portante para a compreensão desta para a infinita capacidade de adap- pacial, memória são funções psíqui-
teoria. Segundo Erikson este processo tabilidade do ser humano, sua con- cas que não existem no momento do
de organização das pulsões se dá de dição de integrar experiências e or- nascimento. Ao nascer o bebê possui
diferentes maneiras de acordo com a ganizar sua história, o que lhe trará impulsos e pulsões e a partir do cres-
família, sociedade e cultura. um senso de continuidade, pertença cimento biológico e das frustrações
e significado para a vida cotidiana. das necessidades é que o ego vai se
O modo como a mãe cuida de O Homem evolui porque precisa desenvolvendo, o que significa di-
seu bebê varia de cultura para manter-se em equilíbrio, portanto, zer que a parte inconsciente do Ego
cultura mas, todos os pais cui- deve estabelecer a continuidade e deve exercer a função defensiva con-
dam de seus filhos com obje- sentido para os conflitos que experi- tra as exigências pulsionais que nas-
tivo de torná-los capacitados menta ao longo de sua vida. As três cem no Id. Por outro lado, havia um
a pertencer a seu grupo cultu- dimensões, tais como propostas por membro do grupo de psicanalistas
ral. O cuidado é diferente em ele estão profundamente interrelacio- de Viena, chamado Hartmann, que
cada cultura. Algumas pessoas nadas com o conceito de Ego. defendia a idéia de que muitas das
pensam que o bebê (...) deve funções mentais como, por exem-
permanecer enfaixado a maior Em FOCO: O EGO plo: falar, ler, atos motores reflexos
parte do dia e durante quase existem independente dos possíveis
todo o primeiro ano de vida e No livro “Infância e Sociedade” Eri- conflitos causados pelo Id, isto quer
que devem ser embalados e kson relembra que Freud “conside- dizer que, para este estudioso, o Ego
alimentados toda vez que cho- rava o Id a mais antiga província da possui partes rudimentares que exis-
ramingar. Outros pensam que mente, tanto em termos individuais – tem como capacidades inatas no
deve sentir a liberdade de seus pois sustentava que o recém–nascido Ego em formação e é por isso que
membros e movê-los á vonta- é “todo Id” – como em termos filoge- ele é capaz de reagir a mudanças
de o mais cedo possível, mas néticos, porque o Id é o depósito, em ambientais, ou seja: o ser humano
também que, de modo geral, nós, de toda a história evolucionária. nasce pré-adaptado ao ambiente e
deve ser forçado a chorar, im- O Id é tudo o que fica em nossa or- isso garantirá ao bebê a condição
plorando por suas refeições ganização das respostas da ameba e de adaptabilidade.
até que fique roxo. (Erikson, dos impulsos do macaco, dos espas-
1967, p.33). mos cegos de nossa existência intra Para a teoria psicossocial, tal como
uterina e das necessidades de nossos proposta por Erikson, o Ego se de-
3. Dimensão Individual: A articu- dias pós-natal, tudo o que faria de senvolve na interdependência entre
lação entre os elementos que cons- nós “simples criatura”. O nome Id, a organização interna e a social; na
tituem a dimensão biológica e a naturalmente, designa a suposição integração da história vivenciada no
dimensão social é realizada de ma- de que o Ego se encontra ligado a tempo; no estabelecimento de con-
neira pessoal e é esta articulação que essa impessoal camada (...)” tinuidade das experiências afetivas
irá garantir ao sujeito sua identida- desde muito cedo. Ele foi bastante
de. A dimensão individual liga-se ao No seu livro “Identidade, juventude audacioso no sentido de afirmar em
conceito de ego, portanto a integra- e crise” há um capítulo fundamen- 1950, na primeira edição de Infância
ção da percepção e da memória dos tal chamado Entreato Teórico: Ego e e Sociedade que:
fatos passados pela pessoa formam meio ambiente, no qual Erikson res-

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A psicanálise na atualidade riências científicas pode ser encon- de crianças”. Suas primeiras pergun-
está implementando o estudo trada no livro Infância e Sociedade, tas foram: ”Como criavam seus filhos
do ego, um conceito que carac- publicado pela Zahar Editores. antes da chegada do homem bran-
teriza a capacidade do homem co?”
de unificar de modo adaptati- Nos dois trabalhos Erikson enfatiza
vo sua experiência e sua ação. que a construção da Identidade indi- Foi então conversando com os índios
Está transferindo a importância vidual pode sofrer profundas marcas, e ouvindo suas memórias relatadas
que atribuía ao concentrado quando ocorre um trauma ou uma de maneira espontânea e seria, que
estuda das condições que en- sequência de traumas, ao longo do foi conhecendo a maneira como os
torpecem e deformam o ego desenvolvimento da cultura à qual a índios educavam suas crianças a fim
individual para o estudo das pessoa pertence. Estes traumas que- de desenvolverem a “virtude” para o
raízes do ego na organização bram a formatação histórica original homem e a “força” para a mulher. Es-
social (...) este livro é um estu- de um determinado povo além de tes eram os valores desejados para
do psicanalítico da relação do gerar a perda de referências culturais que uma pessoa fosse considerada
ego com a sociedade ( ERIK- nos indivíduos. boa para a cultura: “Isto serviu mais
SON, 1976, p. 13). tarde para a minha descrição das
Em uma entrevista concedida a Ri- forças humanas básicas” (1976. p.
Ao considerar a cultura, o observador chard I. Evans, em 1967, Erik H. Eri- 82) e foi o alicerce para o desenvol-
psicanalista se vê frente a frente “com kson relata que teve a oportunidade vimento, num primeiro momento das
uma escala dinâmica de conduta co- de conhecer e trabalhar com um an- oito idades do homem, juntamente
letiva”. Lembrança histórica, mitos, ri- tropólogo chamado Scudder Mekeel, com a percepção de que as como
tuais, diversões, sonhos, podem ofe- à época responsável pelos assuntos etapas pregenitais do desenvolvimen-
recer subsídios para a investigação referentes aos indígenas, junto ao to individual, tal como formuladas
dos sintomas atuais apresentados governo norteamericano. Juntos vi- por Freud também eram importantes
individual ou coletivamente. sitaram a reserva indígena especial- como etapas preculturais do ponto
mente com o objetivo de observar as de vista da cultura, por estarem in-
O INÍCIO: ANÁLISES INTERCUL- crianças e as escolas, nas quais tra- trinsecamente relacionadas com a
TURAIS E PSICOHISTORICAS balhavam profissionais que não eram tecnologia e a imagem do mundo de
índios. Esta experiência, na verdade é um determinado povo.
A Infância em duas Tribos Índias considerada uma das primeiras pes-
Norte-Americanas in: Infância e quisas denominada “observação par- Erikson descreve que ao chegar ao
Sociedade - cap. 3). ticipante”. Erikson explica que gostou campo de pesquisa (reserva indíge-
muito de desenvolver esta pesquisa, na), foi apresentado aos idosos, ao
O estudo comparativo das cultu- pois a “observação participante im- pessoal técnico da reserva, ás crian-
ras, utilizando a teoria psicanalítica, plica que, na observação de seres ças e com eles conversou.
marcou sobremaneira o trabalho de humanos, o observador também é
Erik H. Erikson, especialmente duas participante e isto se deve ser parte Crianças apáticas. Dificuldade?
das pesquisas, por ele realizadas, no de um plano de trabalho. Creio que Patologia?
início da década de 1970 (que ini- devemos desenvolver a capacidade
ciaram a modalidade da pesquisa- de nos convertermos em participan- No caso dos índios sioux, aconteceu
ação), fundamentaram sua teoria tes observadores em terrenos como que, em função da colonização, este
do ciclo vital e também subsidiaram a política, isto é, devemos participar povo perdeu, primeiramente sua
a formulação da Teoria das Nove sem sacrificar a compreensão”. condição de nômade e caçador de
Idades do Homem. Estas pesquisas búfalos , depois foi derrotado em sua
foram realizadas em dois momentos O que já havia á época desta viagem tentativa de se amoldar a uma função
e em duas comunidades com ca- era um grande número de informa- de guerreiro e, em seguida sua ne-
racterísticas culturais muito próprias. ções coletadas por antropólogos, cessidade de sobrevivência o tornou
A primeira, realizada com os índios que ele pode estudar e também do- cuidador de gado – o que também
sioux e a segunda com a colônia dos cumentos do próprio governo ameri- lhe foi tomado e, finalmente tornou-
pescadores yurok. cano, sobre os índios sioux “de 300 se um povo lavrador sedentário, si-
páginas sobre os índios sioux, apenas lencioso, sem vigor, adoecido e des-
A descrição completa destas expe- meia página era dedicada ao ensino confiado. Condições contrastantes

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com suas características originárias e mais urgente de nossa investigação com a condição de que aquele impe-
- de povo viril e nômade. era tentar descobrir a origem da trá- disse que os brancos caçassem e se
gica apatia com que as crianças sioux estabelecessem em seu território.
O governo, muito tempo depois que aceitavam silenciosamente e depois
toda essa história se desenrolou, refugavam também em silêncio mui- Só o mais obstinado dos românticos
tomou a atitude de gerar ações de tos dos valores que lhes ensinava a esperará encontrar em uma reserva
ajuda na tentativa de remediar a experiência extraordinariamente pon- da época atual alguma coisa que se
condição de passividade detectada, derada e custosa de educação índia pareça com a imagem dos antigos
especialmente, nas crianças sioux, federal.A injustiça com essas crian- Dakota que uma vez encarnaram o
mas mesmo oferecendo escola, saú- ças era bastante evidente: havia dois “verdadeiro índio”: caçador e guer-
de, cuidado, não conseguiu integrar direitos:um branco e outro índio. Mas reiro, dotado de coragem, astúcia e
as imagens originais que caracteri- só ao investigar essa discrepância pu- crueldade (...).
zavam a cultura, como por exemplo demos descobrir os vestígios do que
sua coragem, capacidade de luta, foi, em outra época o direito para os Organizados em um flexível sistema
vigor, procriação, orgulho na edu- filhos da pradaria. de bandos, os Dakota, em longas
cação das suas crianças. Represen- cavalgadas sobre as vastas planícies,
tações que foram se esvaziando ao Para ser fiel à natureza clínica de perseguiam o búfalo. Periodicamente
longo do tempo e que mal podiam nossa investigação, devo introduzir se reuniam em acampamentos bem
ser percebidas no atual estilo de vida o material sobre a antiga educação ordenados que eram um conjunto de
que os descendentes indígenas con- infantil que se apresentará aqui com tendas pequenas. Tudo que faziam
seguiram adotar a fim de sobreviver. uma abundante descrição circuns- em conjunto _ acampar, caça grande
Suas crianças tornaram-se apáticas, tancial. Para chegar a um,a clareira do búfalo, dançar – era estritamente
preocupantemente dóceis e retraídas. onde uma luz mais forte nos permi- regulado. Mas constantemente pe-
Por essas razões, apresentadas espe- ta ver o problema da infância e da quenos grupos coloridos e ruidosos
cialmente pelos agentes educacio- sociedade, devo levar o leitor através não resistiam ao impulso de des-
nais da reserva indígena, o governo dos espinhosos arbustos das relações garrar do conjunto para se entregar
convidou o antropólogo e o psicana- raciais contemporâneas. à caça leve, ao roubo de cavalos, a
lista para realizar um estudo e propor ataques de surpresa ao inimigo.
ações para a situação detectada.
A crueldade dos sioux era proverbial
Erikson enfocou sobremaneira o pa- entre os primeiros colonizadores.
pel da educação infantil neste estu- Aplicavam-se sem piedade a eles
do e revelou um dilema profundo: mesmos quando em solitária autotor-
O projeto e o planejamento educa- tura suplicavam a presença do gran-
cional oferecido pelo governo não de espírito.
haviam considerado os resíduos do
Universo primitivo cultural da tribo e Mas este povo, outrora orgulhoso
este foi considerado o ponto de parti- se viu acossado por uma sequencia
da para a desagregação da identida- apocalíptica de catástrofes, como se
de coletiva e do enfraquecimento da a natureza e a história se tivessem
formação da identidade pessoal. A reserva índia de Pine Ridge se es- aliado para desencadear uma guerra
tende ao longo dos limites do Esta- total à sua valorosa raça e descen-
Seguem, recortes da pesquisa e a in- do de Nebraska com o sudoeste do dência.
tegra conclusões, na própria escrita Dakota do Sul. Compartilha de altas
de Erikson, traduzida do inglês para campinas onduladas (...). Aí , 8.000 É necessário lembrar que só uns pou-
o português por Gildásio Amado membros da subtribo Oglada dos cos séculos antes que os brancos se
(1963). Sioux, ou Dakota, vivem em um ter- instalassem entre eles, os sioux ha-
ritório que lhes fora destinado pelo viam chegado às altas campinas,
“Na época de nossa viagem ao Governo. Quando os índios se ins- procedentes do Mississipi e do Mis-
Dakota do Sul, Scudder Mekeel era talaram nesta reserva, transferiram souri, e haviam organizado sua vida
representante do Departamento de ao Governo dos Estados Unidos sua em torno da caça do búfalo. Por ser
Assuntos Índios. O propósito imediato independência política e econômica relativamente recente esta adaptação,

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talvez possa explicar o fato de que, barbeados e são muito cordiais. En- para uma consciência nova tanto na
como diz Wissler (no livro Depression tretanto, quanto mais tempo se per- forma quanto no conteúdo.
e Revolt. Natural History. Vol 41, nº2. maneça na reserva, quanto mais se
1938): “quando os búfalos desapa- percorra e mais de perto se a obser- A Educação infantil, insistimos em
receram, os sioux morreram, étnica e ve, será mais evidente que os índios afirmar, continua sendo o instrumen-
espiritualmente. O corpo do búfalo possuem muito pouco e o conservem to sensível de uma síntese cultural até
havia fornecido não só alimento e pessimamente. Aparentemente cal- que uma nova síntese se revele con-
material para roupa, abrigo e tendas, mos, em geral amistosos, mas quase vincente e inevitável. Na realidade, o
mas também utilidades como sacos e sempre lerdos e apáticos, os índios problema da educação índia é uma
canoas, cordas para os arcos e fios apresentam sinais surpreendentes de questão de contato cultural entre um
para coser, tigelas e colheres. Partes subnutrição e enfermidade. Só em grupo de funcionários representativos
do búfalo eram utilizadas para fazer uma eventual dança ritual ou nas bri- dos valores de classe média de um
remédios e adornos; os excremen- gas de bêbados nos bares que con- sistema de livre empresa, de um lado,
tos, secados ao sol, como combus- trabandeiam bebidas fora dos limites e, de outro, os restos de uma tribo
tível para o inverno. As sociedades da reserva, pode-se ver extravasar que, toda vez que renuncia o amparo
e as estações, as cerimônias e as uma parte da imensa energia laten- do governo, necessariamente se situa
danças, a mitologia e os jogos das te que arde sob a superfície apática. entre os subprivilegiados daquele sis-
crianças exaltavam-lhes o nome e a Sob condições traumáticas, o sioux tema.
imagem”. perdeu a realidade à qual se amolda-
va a última forma histórica de sua in- Os antigos princípios da Educação
Assim (...) os búfalos desaparece- tegridade coletiva. Antes da chegada infantil, de fato, ainda atuantes nos
ram. Os brancos ansiosos por as- do homem branco, era um nômade resíduos da tribo, solapam a fixação
segurar rotas comerciais na direção aguerrido e um caçador de búfalos. de uma consciência branca. Nesse
dos pastos mais verdes do oeste, Os búfalos desapareceram, trucida- sistema, o princípio do desenvolvi-
arruinaram os campos de caça (...) do pelos invasores. O sioux se tornou mento sustenta que se deve permitir
trucidaram búfalos às centenas e mi- então um guerreiro na defensiva, e a uma criança ser individualista logo
lhares. À procura de ouro, invadiram foi derrotado. Aprendeu quase ale- na primeira fase de sua infância. Os
em massa as Black Hills, montanhas gremente a arrebanhar gado em vez pais não manifestam nenhuma hosti-
sagradas dos sioux , sua reserva de de sitiar búfalos; mas o gado lhe foi lidade em relação ao corpo como tal,
caça e seu refúgio no inverno (...). A arrebatado. Conseguiu transformar- nem reprovam, especialmente nos
guerra selvagem mas esporádica que se em um lavrador sedentário, mas meninos, a autodeterminação.
sobreveio só terminou em 1890 (...) ao preço de se tornar um homem
quando, centenas de sioux, na pro- doente em uma terra insalubre. As- Não há nenhuma condenação dos
porção de quatro para um, morreram sim, passo a passo, negaram-se aos hábitos infantis, enquanto a criança
enfrentando soldados bem armados sioux as bases da formação de uma desenvolve aquele sistema de comu-
(...). (1976. pg 107). identidade de povo e, com ela, aque- nicação entre o eu e o corpo e entre
la reserva de integridade coletiva da o eu e a família, em que se baseia o
(...) É natural que quem visite uma re- qual o indivíduo deve derivar seu va- ego infantil. Só quando chega a ser
serva se sinta depois de pouco tempo lor como ser social. forte fisicamente e confiante em si
como se fosse parte de um filme em mesma, a opinião pública lhe exige
câmara lenta, como se um fardo his- O temor da fome levou os sioux a que se curve a uma tradição menos
tórico estivesse detendo a vida a seu renunciarem às funções comunitárias severa, focalizada sobre sua condu-
redor. em favor do conquistador que provê ta social real mais do que sobre suas
o alimento. A ajuda federal, longe de funções corporais e suas fantasias.
É verdade que a pequena cidade de constituir uma solução intermediária Incorpora-se a criança a uma tradi-
Pine Ridge muito se parece com qual- decorrente de compromissos firma- ção elástica que em uma forma es-
quer sede rural de condado das re- dos em tratados, continuou a ser ne- tritamente institucionalizada atende a
giões mais pobres do Centro-Oeste. cessária e, cada vez mais, com um suas necessidades sociais, desviando
Os prédios e as Escolas do governo caráter assistencial. Ao mesmo tempo suas tendências instintivas, perigosas
são limpos, amplos e bem aparelha- o Governo não conseguiu reconciliar para os inimigos externos e permitin-
dos. Os professores e funcionários, as imagens velhas com as novas, e do-lhe sempre projetar, no sobrena-
índios e brancos, apresentam-se bem nem sequer estabelecer o núcleo tural, a fonte de alguma culpa inad-

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missível. Vimos quão obstinada se quer uma consciência cada vez mais 5. A divisão da agressão na direção
manteve essa consciência mesmo em interiorizada, que atue automática e da presa e do exogrupo.
face da flagrante realidade das mu- inconscientemente contra a tentação,
danças históricas. sem a presença de observadores crí- A educação sioux cria uma base firme
ticos. A consciência índia, mais preo- para este sistema de centrifugalidade,
Em contraste, as classes dominantes cupada em evitar situações embara- ao estabelecer um centro permanen-
na civilização ocidental, representa- çosas dentro de um sistema de honras te de confiança, isto é, a mãe que
das no caso por sua burocracia, se e vergonhas claramente definido, fica amamenta, e depois ao tratar os pro-
deixaram guiar pela convicção de sem orientação em situações confli- blemas de dentição, da raiva infantil
que uma regulação sistemática das tantes cuja solução dependa de uma e da agressão muscular de modo que
funções e dos impulsos na primeira voz interior. o maior grau possível de ferocidade
fase da infância constitui a mais se- seja provocado, canalizado social-
gura proteção no que diz respeito O sistema a que se subordina a edu- mente e, finalmente, liberado contra
a uma atuação posterior efetiva na cação sioux inicialmente é primitivo, a presa e o inimigo. Acreditamos que
sociedade. Implantam o metrônomo isto é , baseia-se na adaptação de um aqui nos encontremos não diante de
contínuo da rotina na criancinha im- grupo altamente etnocêntrico e rela- uma causalidade simples, mas de
pressionável, para regular suas pri- tivamente pequeno de indivíduos que uma assimilação mútua de padrões
meiras experiências com seu corpo e se consideram únicos e importantes somáticos, mentais e sociais, que se
com seu ambiente físico imediato. Só para a humanidade ... O sistema cul- desenvolvem reciprocamente e ela-
depois dessa socialização mecânica, tural primitivo se limita: boram o plano cultural para uma
é incentivada a se declarar uma indi- vida econômica e eficiente. Só essa
vidualista áspera. Persegue objetivos 1. A especializar a criança para uma integração proporciona o sentimento
ambiciosos, mas permanece com- carreira importante: a de caçador de de estar à vontade neste mundo.
pulsoriamente dentro dos limites das búfalos.
carreiras estandardizadas que, na Transplantada para nosso sistema,
medida em que aumenta a complexi- 2. A aperfeiçoar uma restrita área do porém, a expressão mesma do que
dade da economia, tendem a substi- mundo das ferramentas que amplie em outros tempos se considerou uma
tuir as responsabilidades mais gerais. o poder do corpo humano sobre a conduta eficaz e aristocrática – tal
A especialização assim incrementada presa; como o descanso pela propriedade
conduziu esta civilização ocidental ao e a recusa – só conduz a uma asso-
domínio da máquina, mas também a 3. Ao uso da magia como meio de ciação com os extratos mais baixos
uma corrente subterrânea de ilimita- coagir a natureza; de nossa sociedade. Sobre esta base,
do descontentamento e de desorien- assim claramente definida a crian-
tação individual. Essas autorestrições favorecem a ho- ça crescia e se tornava um cidadão
mogeneidade. Há uma sólida síntese sioux. A perda destas estruturas tor-
Naturalmente, os benefícios de um de padrões geográficos, econômicos nou estas crianças desprovidas de
sistema educacional pouco significam e autômicos que na vida sioux se ex- vitalidade, silenciosas, sem conseguir
para os membros de outro sistema, pressam em vários aspectos: utilizar sua agressividade de forma
por todo o tempo em que o custo lhe adequada e, portanto pouco envol-
seja demasiado evidente. Os impas- 1. A organização social em bandos, vidas com o aprendizado.”
síveis sioux não podiam compreender que contribui para a fácil dispersão e
que houvesse outra coisa, além da migração, Crises agressivas e Retraimento:
restituição, que valesse a pena lutar, Dificuldades? Patologia?
uma vez que sua história individual e 2. A dispersão da tensão no sistema
racial lhes haviam proporcionado a da grande família; A segunda comunidade estudada
recordação da abundância. por Erikson exigiu dele um esforço
3. A tecnologia nômade e o uso de- diferente. Ao continuar sua pesquisa
A consciência do homem branco, simpedido do cavalo e do rifle; sobre aspectos históricos-culturais na
por outro lado, exige uma contínua constituição do psiquismo, permane-
reforma dele próprio, na procura de 4. A distribuição da propriedade por ceu na mesma linha investigativa na
carreiras que conduzam a padrões meio do sistema de presentes; qual se embasou bpara estudar as
sempre mais altos. Essa reforma re- crianças sioux.

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Diz ele “ Para comparação e contra- sexuais com uma mulher, ou de ter A atitude insubmissa e manifesta-
ponto passemos dos melancólicos dormido na mesma cama com mu- mente cínica da maioria dos yurok
“guerreiros sem arma” para uma lheres, o pescador deve passar pelo em relação ao homem branco deve-
tribo de pescadores: os yurok que “teste” da casa do suor. Entra pela se atribuir ao fato de que a distância
viviam num vale estreito, montanho- porta de tamanho normal (...) contu- interna entre os yurok e os brancos
so e densamente arborizado, junto do, o homem só pode sair da casa não é tão grande como a que existe
à embocadura de um, rio, na costa por uma pequena abertura que dei- entre os brancos e os sioux (...). O yu-
do Pacífico, vivendo num universo xa passar um homem que não tenha rok vivia em sólidas casas de madeira
circunscrito. Consideravam que um o hábito de comer demais e que por meio enterradas no solo. As casas de
disco de cerca de 150 milhas de di- causa da transpiração causada pelo madeiras atuais estão situadas junto
âmetro, cortado aomeio pelo curso fogo sagrado tenha perdido bastante das covas que em outra época conti-
do rio, continha tudo o que havia no gordura para se poder esgueirar por nham as habitações subterrâneas dos
mundo. Ignoravam o resto e conde- ela. Depois deve completar a purifi- antepassados (...). atualmente ainda
navam ao ostracismo como “louco” cação nadando no rio. O pescador vêem, pescam, comem e discutem
ou de “origem ignóbil” todo aquer- escrupuloso se submete a este teste salmão. (...) sua vida está relaciona-
le que revelasse acentuada tendên- todas as manhãs (...) . Comer qual- da com a propriedade. Sabe como
cia ase aventurar além do território. quer coisa em um barco desagrada discutir um assunto em dólares, sem
Oravam a seus horizontes que, supu- ao salmão e ao rio (...), a urina não abandonar sua tendência “primitiva”
nham, continha os “lares” sobrena- deve se misturar com as águas do rio no mundo branco centrado no di-
turais de onde os espíritos generosos (...) os salmões exigem que as mu- nheiro (...)
lhes mandavam a substância da vida: lheres, em suas excursões pelo rio,
o lago (que na realidade não existia) atendam a certas formalidades, pois As crianças Yurok eram tratadas dentro
e do qual fluía o Rio; a Terra do outro podem estar menstruadas. dos rituais da tribo. Erikson conversou
lado do oceano, que é o lar do sal- bastante com Fanny – uma das velhas
mão, a região do céu que envia os Só uma vez por ano, quando o cardu- da tribo considerada como “um mé-
cervos e os lugares na costa, de onde me de salmões sobe o rio, deixam-se dico” Fanny era chamada para curar
vem o dinheiro – isto é- as conchas de lado essas evitações. Nessa época, a falta de apetite, pesadelos, delinqü-
que usavam como tal” obedecendo a complicado cerimo- ências etc e seu tratamento partia do
nial, é construído um grande açude seguinte pensamento:
Dentro desse terreno tudo se cons- que impede que os salmões subam o
truía em termos de sua história e dos rio e permite que os yurok consigam “Se uma criança, depois do anoite-
mitos sobre a origem de sua raça. uma abundante provisão para o inver- cer, vê um dos integrantes do “povo
no (...). Depois de dez dias de pesca sábio” – raça de pequenos seres que
“’Esses mitos não mencionam picos coletiva, há nas margens do rio ver- precederam na terra a raça huma-
de montanhas nem as árvores gigan- dadeiras orgias de liberdades sexuais, na, ataca-a uma neurose e, se não
tescas que tanto impressionam os reminiscentes das antigas cerimônias for tratada eventualmente morre (...)
viajantes brancos – o Yurok destaca pagãs da primavera na Europa (,,,). se uma criança manifesta sintomas
certos rochedos e árvores da aparên- Situada em uma clareira ensolarada, de perturbação nervosa ou se queixa
cia insignificante, que admitia fos- só é acessível por lancha partindo da de dores que possam indicar ter visto
sem “ a origem” dos acontecimentos costa ou por caminhos enevoados e um “sábio”, sua avó corre ao jardim
mais importantes. A aquisição e a perigosos. Quando decidi a passar ou à enseada ou onde quer que lhe
conservação de bens é e foi o pro- ali algumas semanas com o objetivo tenham indicado que a criança es-
blema em torno do qual os yurok de completar e conferir meus dados teve brincando depois do anoitecer,
pensam, falam e oram (...). Continua sobre a infância Yurok, desde o iní- lamenta-se aos brados, e fala aos es-
Erikson descrevendo a comunidade: cio me deparei com o temperamento píritos : É nosso filho, não lhe façam
“ Os yourok se referem a uma “vida esquivo e desconfiado do grupo (...) mal. Se isso não der resultado pede à
limpa”, não a uma “vida forte” como me abstive de sustentar opiniões que avó vizinha que “cante sua canção”
os sioux. A pureza consiste na evita- representassem crítica à sua conduta para a criança. Toda av[ó tem sua
ção contínua dos contatos e conta- ou, mesmo, evitar que ela me de- própria canção. Se a avó vizinha não
minações impuros, e na purificação sestimulasse. Assim instalei-me num resolve apela-se para Fanny e se fixa
constante das contaminações possí- acampamento abandonado, perto um preço pela cura”.
veis. Depois de ter mantido relações do rio, e esperei (...).

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Sobre a infância no mundo Yurok Eri- ta protocolar, com boas razões, pode Inicialmente, as oito idades foram
kson relata que: “Protegem o nasci- ter concorrido para elevar ao nível de desenvolvidas para uma conferência
mento da criança as proibições orais uma alucinação aquela necessidade realizada em 1950 na Casa Bran-
(...). Durante o parto a mãe deve fe- nostálgica de ingestão, cuja causa ca. Os organizadores desse evento,
char a boca. O pai e a mãe não co- talvez tenha sido a prematura perda conforme nos conta Erikson por meio
mem carne de cervo nem salmão até do seio e do contato com a mãe, na da entrevista realizada com Evans,
que o umbigo da criança cicatrize. O etapa caracterizada pelo desejo de sugeriram que discorresse sobre o
desprezo por esse tabu era a causa morder. desenvolvimento “normal”. Mais tar-
das convulsões infantis. Durante dez de inseriu a discussão sobre a nona
dias, o alimento da criança não é o (...) A criança aprende desde muito idade. A cada uma das nove idades
leite materno, mas uma sopa de no- cedo que não deve urinar no rio, ou existe um tipo de conflito ou crise a
zes servida em uma concha diminu- em seus afluentes porque o salmão ser vivenciado. Cada crise vai subsi-
ta. A amamentação começa com a não gosta de flutuar em águas que diando a construção da personalida-
generosidade e a freqüência das ín- contém fluidos corporais. Então, não de num permanente movimento que
dias. Entretanto, há uma época para se trata propriamente da idéia de que relaciona e dá sentido às memórias e
o desmame, por volta dos seis meses, a urina é “suja”, mas de que os flui- experiências vividas num determina-
isto é, na fase inicial da dentição (...) dos procedentes de diferentes siste- do momento (idade) da vida com as
diziam que o desmame significava mas de conduto são antagônicos e experiências vivenciadas nos estágios
“esquecer a mãe” e, se necessário, mutuamente destrutivos.” anteriores.
era forçada nos fins do primeiro ano,
a mãe afastando-se de casa por al- A comparação entre os estudos re- PRImEIRA IDADE: CONFIAN-
guns dias. O primeiro alimento sóli- alizados com as crianças sioux e as ÇA BÁSICA X DESCONFIANÇA
do é salmão. O desmame precoce yurok mostra que: “as configurações BÁSICA - (zERO A Um ANO E
força a criança a se desprender da com as quais estas duas tribos ten- mEIO). PALAVRA CHAVE: ESPE-
mãe. Na versão yurok de um berço, tam sintetizar seus conceitos e ideais RANÇA. ETHOS SOCIAL: RELI-
as pernas do bebê fica descoberta e, em um plano coerente de vida. Este GIÃO
do vigésimo dia em diante a avó lhe plano infunde eficiência a suas primi-
aplica massagens para incentivar a tivas formas de tecnologia e mágica Impossível não retornar ao pensa-
engatinhar o mais cedo possível. A e os protege da ansiedade infantil mento freudiano quando se fala em
cooperação dos pais a esse respeito que pode levar ao pânico: a ansie- desenvolvimento afetivo. Esta primei-
é assegurada pela norma de que po- dade dos caçadores da pradaria re- ra idade corresponde, em alguns as-
derão recomeçar as relações sexuais lativa à castração e à imobilização, pectos à fase oral descrita por Freud
logo que o bebê comece a engati- a dos pescadores do Pacífico ante a e, em parte à etapa de desenvolvi-
nhar. perspectiva de falta de provisão. Para mento intelectual denominada perí-
realizar este objetivo, uma socieda- odo sensório motor por Jean Piaget.
Mais tarde a alimentação seguia de primitiva parece usar a infância Estes três estudiosos ao enfocarem
também ritual bastante organizado: “ de vários modos: atribui significados os dois primeiros anos de vida assim
Aconselhava-se a criança a não pegar específicos às primeiras experiências o fizeram: Piaget falou a respeito do
comida sem pedir primeiro, a comer corporais e interpessoais, a fim de período sensório motor como o ponto
devagar e a não pedir uma segun- criar a combinação adequada de de partida para o desenvolvimento da
da porção (...) durante as refeições, modos orgânicos e a ênfase apro- inteligência caracterizando o período
mantinha-se uma estreita ordem de priada nas modalidades sociais; ca- em que as percepções apoiadas nas
lugares e se ensinava à criança a ob- naliza cuidadosa e sistematicamente, estimulações oferecidas pelo ambien-
servar as normas como por exemplo: através do intrincado padrão da vida te serão a base para a construção do
não encher a colher, a levá-la à boca diária, as energias assim provocadas pensamento lógico e abstrato, pos-
comedidamente, a largar a colher e desviadas; e confere significado teriormente. Freud falou sobre um
enquanto mastigava, e , sobretudo, sobrenatural coerente às ansiedades nível de desenvolvimento pulsional
durante esse processo pensar em fi- infantis que tem explorado”. com características narcisistas ine-
car rico. Devia-se manter o silêncio xoravelmente presos à oralidade e,
durante as refeições para que todos Estas experiências foram determi- Erikson postulou que a oralidade que
pudessem concentrar o pensamento nantes para desenvolver a teoria das se desenvolve na primeira relação,
no dinheiro e no salmão. Esta condu- idades do desenvolvimento humano. com a mãe que alimenta, tranqüiliza,

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acaricia, oferece aconchego tem um KSON,1976 p.229). ficantes da infância, também


caráter incorporativo, pois esse é o podemos reconhecer agrade-
primeiro movimento inconsciente em Estas atitudes parentais irão dar sus- cidos, o fato de que, em princí-
direção à normalidade. Para ele, o tentação para que o bebê vá criando pio, a glória da infância sobre-
ser humano é receptivo, incorpora a uma base sólida para o desenvolvi- vive também na vida adulta.
estimulação através de todos os sen- mento de sua identidade e do estabe- (ERIKSON,1968,p.106).
tidos e, muito precocemente faz um lecimento no futuro, de um sentimen-
movimento de reconhecer o mundo to de aceitação dentro de seu grupo. A figura materna através de sua cons-
de fora através daquilo que já está in- No entanto, a desconfiança também tância amorosa no cuidar e atender é
corporado dentro de si. A atitude psi- é necessária para o desenvolvimento a primeira responsável pela implanta-
cossocial básica que se aprende nesta inicial. ção do embrião de um sentimento de
idade é a de que é possível confiar no identidade que irá desabrochar futu-
mundo a partir da mãe que alimen- ... o fator crítico é uma certa ramente. A mãe afinada com a saúde
ta de forma adequada (quantidade, proporção de confiança e des- de sua cultura irá apoiar no bebê o
horário etc) e a atende ao seu bem confiança em nossa atitude desenvolvimento de um desejo futuro
estar geral (frio equilíbrio etc). Erikson social básica. Quando enfren- de pertencer e atuar na sociedade.
escolheu a palavra “confiança” para tamos uma situação devemos Os aspectos do desenvolvimento psi-
este momento pois entendeu que esta diferenciar quanto podemos cossocial desta idade vinculam-se ao
palavra: confiar e quanto podemos conceito de esperança, como a virtu-
desconfiar, para estarmos pre- de básica para a construção da moral
Implica não só que um indi- parados para o perigo e pre- do Homem é explicada POR Erikson
víduo aprendeu a confiar na venirmos doenças. O homem como: “... a esperança é a virtude
uniformidade e continuidade de vê aprender de acordo com básica, sem a qual não poderíamos
dos provedores externos, mas seu universo cultural (ERIK- viver e ela não foi inventada nem
também que pode confiar em SON, 1967 pg.25). pelos teólogos nem pelos filósofos”
si mesmo e na capacidade de (1967 p.27). Ele é muito firme em
seus órgãos para enfrentar os Considera esta idade a “pedra angu- apontar que a ausência da confiança
desejos urgentes (ERIKSON, lar” da personalidade, pois é neste básica está no alicerce da esquizofre-
1976 p.228). momento que a criança vai enfrentar nia infantil e também adulta porque
experiências que a levarão confiar o sujeito se desenvolve sem perceber
A mãe ensinará consoante com a ou não em sua mãe e, por genera- a fronteira entre a sensação, a reali-
maneira própria da cultura na qual lização, no mundo à sua volta. Este dade , as palavras e os significados.
está inserida de tal maneira que o seu sentimento de confiança é a primeira Por outro lado, no desenvolvimento
aquele bebê possa se adaptar a esta tarefa do ego da qual irá depender da cultura:
determinada versão do universo. O sua identidade estável:
primeiro trabalho do ego é estruturar ... a fé dos pais que sustenta
o equilíbrio entre confiança básica e A primeira realização social a confiança que emerge no
desconfiança básica e depende da do bebê é sua disposição de recém-nascido tem procurado
forma como acontece a harmonia permitir que sua mãe saia de ao longo da história sua salva-
entre prover com cuidado e firmeza seu alcance sem que se pro- guarda institucional (e, as ve-
dentro das expectativas da cultura. duza nele ansiedade ou raiva zes, encontrou seu maior inimi-
Os pais devem: indevidas, porque ela (a mãe) go) na religião organizada. A
tornou-se uma certeza inter- confiança nascida do cuidado
Ser capazes de afirmar à crian- na, tanto quanto um evento é, de fato, a pedra de toque da
ça uma convicção profunda, externo previsível. É esta con- realidade de uma determinada
quase somática, de que tudo sistência, continuidade e mes- religião (...) Cada sociedade e
o que fazem tem um signifi- midade da experiência que lhe cada idade devem encontrar
cado. Enfim as crianças não proporciona um sentido rudi- sua forma institucionalizada
ficam neuróticas por causa mentar de identidade do ego de veneração que deriva vi-
das frustrações, mas sim pela ... (1950, p.247). “Quando talidade de sua imagem de
falta ou perda de significado superamos a nossa amnésia mundo, da predestinação à
social nessas frustrações (ERI- universal dos aspectos terri- indeterminação. O clínico só

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pode observar que muitos se da criança nesta idade tem o papel de vergonha “(1976 p.232).
orgulham, de não ter religião fundamental de mostrar sentido e Ainda para Erikson: “este está-
mas que seus filhos não são firmeza de tal maneira que ela fique gio torna-se decisivo para que
capazes de viver sem ela. Por protegida tanto do desejo caótico de se estabaleça uma proporção
outro lado, há muitos que pa- autonomia e experimentação quanto entre boa vontade amorosa e
recem derivar uma fé vital da da dúvida em relação á sua própria a auto-insistência odiosa, en-
ação social ou da atividade capacidade de acerto e de ser com- tre a cooperação e a teimosia,
científica, E, ainda mais, mui- preendida, o que pode gerar o senti- entre a expressão pessoal e a
tos há, que professam uma fé, mento acentuado de vergonha. auto-repressão compulsiva ...
mas na prática insuflam a des- Somente a firmeza parental
confiança na vida e no homem A vergonha é uma emoção pode proteger a criança con-
(ERIKSON, 1976, p.231) insuficientemente estudada, tra as conseqüências de sua
porque em nossa civilização discriminação e circunspecção
A primeira etapa seria então a do ela é muito cedo e facilmente ainda não educadas. Mas o
desenvolvimento da esperança que absorvida pela culpa. A ver- seu ambiente também deve
surge de uma proporção favorável da gonha pressupõe que o indi- apoiá-la em seu desejo de ‘fa-
confiança oposta à desconfiança. víduo se sente completamente zer as coisas por si mesma’, ao
exposto e que está ciente de mesmo tempo em que a prote-
SEGUNDA IDADE : AUTONOmIA que o estão olhando: em uma ge de duas forças emergentes:
X VERGONHA E DúVIDA - (Um palavra: é autoconsciente (...) a primeira dela é o sentimento
ANO E mEIO A TRêS ANOS): A vergonha se manifesta logo de que se expôs, prematura e
SURGE A FORÇA DE VONTADE. por um impulso de esconder insensatamente e que nós de-
ETHOS SOCIAL: A LEI. o rosto (...) mas creio que isto nominamos de vergonha; e a
seja essencialmente raiva vol- segunda, aquela desconfiança
A transição da primeira para a se- tada contra si mesmo. Quem secundária, aquela ‘dupla ad-
gunda idade não é um trajeto fácil. se sente envergonhado gosta- miração’ a que n´s chamamos
No instante em que o bebê aprende ria de obrigar o mundo a não dúvida - dúvida de si mesmo
a confiar em sua mãe e no mundo vê-lo (...) gostaria de destruir e dúvida quanto à firmeza e
deve ter vontade própria e arriscar- os olhos do mundo. Como isso perspicácia de seus educado-
se a perdê-la, pois só assim poderá não é possível, vê-se forçado a res. (ERIKSON,1969, pp.109-
começar a discriminar o que deseja. desejar sua própria invisibilida- 110).
No instante em que a criança come- de. (...) A vergonha individual
ça a opor sua vontade à dos outros, precede a culpa auditiva, que A criança desta idade deve aprender
cada cultura apresentará um padrão é um sentimento de maldade, a controlar todos os músculos inclu-
para estimular ou desestimular este experimentado solitariamente sive os esfíncteres. Os órgãos uriná-
despontar da vontade. e quando tudo está em silên- rios e anais estão vinculados fisiolo-
cio – menos a voz do supere- gicamente com o desenvolvimento
O significado desta segunda idade go. Esse envergonhamento ex- psicossexual e também com os me-
está localizado na crescente matu- plora um sentimento crescente canismos da agressão. O exercício
ração muscular, da verbalização, da de pequenez, que se pode de autonomia irá convalidar a se-
coordenação e conseqüentemente desenvolver quando a crian- gurança básica vivenciada na idade
de comportamentos exploratórios su- ça é capaz de se por de pé e anterior. Por outro lado se a vergonha
jeitos a acertos gratificantes e a erros à medida que sua percepção prevalece sobre a autonomia então
angustiantes. O exercício do controle lhe permita notar as medidas um profundo sentimento de inferio-
da musculatura faz com que a criança relativas das dimensões e do ridade poderá se desenvolver. Nesta
experimente sua condição de “man- poder. Envergonhar demais idade, portanto, surgirão os rudimen-
ter” ou “soltar”. Fisicamente agarrar não conduz a uma verdadeira tos da força de vontade, que irão se
algo, controlar os esfíncteres vem car- retidão, mas a uma secreta de- desenvolvendo e se diferenciando ao
regado de sentimentos de controle de terminação de fazer tudo que longo das idades seguintes, a fim de
sentimentos e fantasias que envolvem se quer, impunemente, sem sustentar a vida psíquica madura e,
agressividade, destrutividade e hosti- ser visto, quando não dá em neste sentido a relatividade cultural é
lidade. O adulto saudável que cuida resultado uma desafiante falta entendida com um fator importante.

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A salvaguarda institucional referente sugerem a alegria da compe- O que a teoria de Erikson postula
a esta idade é o princípio da lei e da tição, a insistência nos objeti- é que o Complexo de Édipo pode
ordem . Toda sociedade estabelece- vos, o prazer da conquista. No ser compreendido como conseqü-
se fundamentada em alicerces que menino, a ênfase permanece ência natural do desenvolvimento.
norteiem os conceitos de direito, de- em ‘produzir’ um ataque fron- Sexualidade infantil, tabu do incesto,
ver e justiça garantindo a convivência tal; na menina, pode conver- complexo de castração e superego
política e econômica da sociedade. ter-se em ‘captar’ arrebatando formam um núcleo aglutinado de
agressivamente ou ‘cativar’ fenômenos que fundamentam o pri-
TERCEIRA IDADE : INICIATIVA tornando-se ela própria atra- meiro encontro com a sexualidade.
X CULPA – SURGE O EmBRIÃO ente e meiga. Assim, a criança Com relação ao desenvolvimento da
DO PROPóSITO (TRêS A SEIS desenvolve os pré-requisitos sexualidade feminina e masculina, da
ANOS) da iniciativa masculina ou fe- forma como Freud formulou, assim
minina e, sobretudo, certas ele se posiciona numa entrevista re-
Particularmente importante na deter- auto-imagens sexuais que se alizada em1967:
minação da sexualidade futura do tornarão os elementos essen-
indivíduo e de como ele irá aceitar ciais dos aspectos positivo e Minha sensação é de que o
e vivenciar seus papéis femininos ou negativo de sua identidade fu- julgamento geral da identida-
masculinos, no final desta idade a tura (ERIKSON, 1968 p.118). de da mulher foi provavelmen-
criança deverá ter adquirido um sen- te o aspecto mais fraco de sua
timento de iniciativa, que implica a Neste momento a criança é extre- teoria. Qual é exatamente sua
consciência do que ela pode agora mamente vigorosa, curiosa, falante, culpa por isso não sei, exceto
fazer e do que será capaz de fazer. atuante na realidade e todas estas que ele foi um homem vito-
Nesta idade a criança é vigorosa, características subsidiam um sentido riano, um homem patriarcal.
raciocina de forma rápida, não se de iniciativa. As diferenças entre me- Ele pode ter omitido todo o
constrange em fazer perguntas. Con- ninos e meninas são assim explicadas substrato do matriarcado no
fiança e autonomia desenvolvidas por Erikson: homem. Ele também foi médi-
nas idades anteriores fornecem os co e, obviamente, via nas suas
subsídios para o exercício de inicia- As meninas sofrem freqüente- pacientes o que você obtém
tivas, planejamentos de ações, con- mente uma importante mudan- primeiro na associação livre
quistas, seduções e competições. É ça nesta idade porque, mais de qualquer paciente, a saber,
uma idade de inquietações profundas cedo ou mais tarde, elas ob- uma história de privação e res-
tanto em meninos através do modo servam que embora sua intru- sentimento. E, finalmente, é
fálico-intrusivo com que se insere no sividade locomotora, mental e quase certo que houve neces-
mundo quanto na menina através do social seja tão vigorosa quanto sidade de um desenvolvimento
modo receptivo com que inicia sua a do menino, permitindo-lhes do campo, incluindo a partici-
de conquista do mundo. assim tornarem-se verdadei- pação de mulheres na medici-
ros moleques, falta-lhes um na, que ajudou o homem a es-
Chegamos a um ponto nevrálgico do item, o pênis; e por isso elas tabelecer uma empatia com as
pensamento de Erikson. Esta idade perdem algumas prerrogativas mulheres – um empreendimen-
corresponde à fase fálica, proposta importantes, na maioria das to perigoso para um homem,
por Freud, na qual aparece o Com- culturas e classes. Enquanto o já que o seu papel público, o
plexo de Èdipo, conceito que Erikson menino tem este órgão visível, seu método e a sua identida-
discute de maneira intrigante. erétil e compreensível, ao qual de masculina, tudo depende
pode ligar sonhos de grandeza um do outro. A questão não é
O estágio de modalidades so- adulta, o clitóris da menina só rejeitar o que Freud viu e ge-
ciais básicas em ambos os se- muito pobremente alimentará neralizou. Não há dúvida que
xos e a do ‘produzir’, primeiro sonhos de igualdade sexual e as mulheres invejam profunda-
na acepção infantil de ‘estar ela não possui sequer seios, mente e de várias maneiras, a
em fabricação’. Não há pala- como testemunho analoga- masculinidade. Qualquer me-
vras simples nem fortes no in- mente tangível do seu futuro nina em crescimento naquela
glês que correspondam às mo- (ERIKSON,1968 p.117). época, ou no que diz respeito
dalidades básicas. As palavras ao assunto, através de toda a

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era patriarcal da humanidade mais instruídos onde há profis- lógica e o contato com a vida fora de
podia ver que o menino, ape- sões mais especializadas, de- casa coloca a criança frente a frente
nas devido ao seu suplemento vem preparar a criança come- com as diferenças e conseqüente-
anatômico, era considerado çando por sua alfabetização ... mente com a experiência de um sen-
mais importante. Mas ao lado Depois lhe é dada a educação timento de inferioridade provenientes
da insistência do homem na para as possíveis carreiras. da constatação de inadequação e
superioridade masculina, há Quanto mais especialização dificuldades. As bases da tecnologia
uma inveja antiqüíssima das mais indistinto se torna o obje- próprias da cultura onde esta criança
mulheres porque elas têm tivo da iniciativa, mais compli- está se desenvolvendo são passadas
certeza da sua maternidade, cada a realidade social e mais através da educação de tal maneira
enquanto o homem só pode vagos os papéis de pai e de que ela consiga manejar de forma
estar certo de sua paternidade mãe. (Eriksom, 1967). produtiva as ferramentas utilizadas
se mantiver a mulher confina- pelos adultos que a educam. Leitura,
da, porém, isto já é outra ques- Nesta idade a criança tem a experiên- escrita, geografia, história são infor-
tão. De qualquer maneira a cia de que é capaz de fazer as coisas mações que garantirão á criança um
literatura psicanalítica tende a e fazê-las bem. Ao se perceber desta sentido de lugar e de tempo, fatores
descrever a mulher como uma forma desenvolve um sentimento de constituintes da identidade adulta.
criatura essencialmente passi- domínio e de industriosidade ao ser
va e masoquista que, não só bem sucedida, como também desen- O grande risco desta idade é a pos-
aceita os papéis ou identidade volve o sentimento de inferioridade, sibilidade do recrudescimento de um
a elas destinadas com submis- de apego à mãe, ao considerar-se sentimento de inadequação e de in-
são, mas, também precisa de mal sucedida. Este período estende- ferioridade quando não alcança ou
todo o masoquismo que possa se durante o tempo em que a criança é desestimulada a desenvolver suas
reunir para apreciar o macho freqüenta a escola elementar e Erik- habilidades dentro do grupo. Nestes
fálico. (ERIKSON, 1967P.348). son enfatiza o impacto que a educa- casos pode se desenvolver a possi-
ção pode exercer durante esses anos. bilidade de permanecer regredida,
O representante cultural desta idade Vejamos: ou pode desenvolver a referência do
refere-se tanto a um sentimento moral trabalho como única forma de valor
que determina o limite entre o que é É nesse ponto que a sociedade para com a vida.-
possível no real e na fantasia e dirige, mais ampla torna-se significati-
de certa maneira os objetivos adiante va para a criança, ao admiti-la O representante cultural desta idade
na vida adulta. As instituições sociais em papéis preparatórios para está apoiado no fato de que ela de-
ligam-se a um ethos econômico que a tecnologia e a economia re- senvolve neste instante sua primeira
substitui gradativamente os contos de ais. Entretanto, é quando ela impressão sobre o sentido da pro-
fadas e os heróis. descobre, imediatamente, que dução e do trabalho. Desenvolve-se
a cor de sua pele ou os ante- então o ethos tecnológico e cada
QUARTA IDADE: PRODUTI- cedentes de sua família, mais cultura.
VIDADE X INFERIORIDADE – do que seu desejo e vontade
COmPETêNCIA - (SETE A DOzE de aprender são os fatores que Estas quatro primeiras idades formam
ANOS) decidem o seu valor como alu- a primeira infância. A vivência dos
no ou aprendiz. A propensão conflitos entre ConfiançaXDescon-
Quando alcançam a idade humana para se sentir impres- fiança; AutonomiaXVergonha e Dúvi-
escolar, as crianças de todas tável pode ser fatalmente agra- da; IniciativaXCulpa e ProdutividadeX
as culturas recebem instrução vada como um determinante Inferioridade fornecem relativa calma
sistemática ... Nos povos pré do desenvolvimento do cará- antes da entrada na adolescência.
letrados muito é aprendido ter. (ERIKSON, 1968,p.124).
através dos adultos ... E tam- QUINTA IDADE: IDENTIDADE X
bém com as crianças mais ve- No estudo desta idade é que será en- CONFUSÃO DE PAPéIS - FIDE-
lhas ... A criança ingressa na fatizada a importância da aprendiza- LIDADE (DOzE AOS DEzOITO
tecnologia de sua tribo muito gem . É o tempo da criança integrar ANOS)
gradualmente, mas também o sistema instrucional de sua cultura,
muito diretamente ... Os povos seja ela primitiva ou altamente tecno- O livro “Identidade Juventude e cri-

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se” foi editado em 1968 e a segunda agora tem lugar sob a forma de iden- minar sobremaneira oi que está por
edição brasileira saiu em 1968. Nes- tidade do ego é mais que a soma vir. O adolescente está amadurecen-
te livro Erikson revê um conjunto de das identificações da infância e diz do, assimilando os valores de sua
conceitos escritos em diferentes arti- respeito à experiência acumulada da cultura, desenvolvendo senso crítico,
gos e trabalhos. A tônica recai sobre capacidade do ego para integrar to- observando de forma muito particu-
os conceitos: Ego, Identidade e Crise das as identificações realizadas mais lar a realidade, refletindo, utilizando
de Identidade, estudando especial- as aptidões naturais da pessoa mais suas atividades cognitivas. Erikson
mente a juventude. as oportunidades oferecidas pelas observava que todo este mecanismo
funções sociais. O sentimento de psíquico em direção á identidade ex-
Correspondendo à adolescência, pe- identidade do ego, então firma a cer- plicitava a necessidade atual da ju-
ríodo de grande atenção do autor, teza de que coerência e continuida- ventude daquele tempo de definir sua
a quinta idade supõe que as identi- de interiores elaboradas no passado identidade no mundo moderno e in-
ficações que foram sendo feitas no alicerçam e equivalem á coerência e dustrializado. Durante a adolescência
decorrer das idades anteriores pos- á continuidade do próprio significado os conflitos vivenciados nas idades
sibilitarão o indivíduo a encontrar e de si mesmo para a cultura, o que se anteriores são revividos com confli-
fortalecer sua identidade: evidencia, por exemplo, na escolha tos parciais (desconfiança, vergonha,
de uma carreira. culpa, inferioridade, assim como bus-
é um período da vida em que ca por confiança, autonomia, inicia-
o corpo muda radicalmente de A confusão de papéis pode ser en- tiva e produtividade) e vão ajudando
proporções, a puberdade ge- tendida como parte do processo de a moldar sua Identidade adolescente
nital inunda o corpo e a ima- conquista da identidade, principal em direção à vida adulta-jovem. Fica
ginação com toda espécie de trabalho do ego nesta idade. Se o claro o processo de expansão do
impulsos, a intimidade com o adolescente trouxer consigo descon- ego ao longo das quatro primeiras
outro sexo se inicia e o futuro fianças, vergonhas, culpas e inferio- idades, na adolescência e observa-
imediato o coloca diante de ridades muito acentuadas o conflito remos agora como a expansão acon-
um número excessivo de pos- em relação á aquisição da identida- tece ao longo das idades posteriores
sibilidades e escolhas confli- de sexual e social fica intensificado. á adolescência.
tantes. (1968,pp.132-133) ... Erikson explica que:
ele deve fazer uma série de SEXTA IDADE : INTImIDADE X
seleções cada vez mais espe- A mente do adolescente é es- ISOLAmENTO - AmOR (DEzOI-
cíficas de compromissos pes- sencialmente uma mente do TO AOS TRINTA ANOS)
soais, ocupacionais, sexuais e moratorium que é uma etapa
ideológicos (ERIKSON, 1968, psicossocial entre a infância A saída da adolescência é marcada
p.245). e a idade adulta, entre a mo- por um conjunto de conquistas que
ral aprendida pela criança e desemboca em novas formas de in-
Nesta idade o ego tem um papel fun- a ética a ser desenvolvida no teração social. A conquista da iden-
damental de revisão e síntese das vi- adulto.É uma mente ideológica tidade dará ao sujeito a condição do
vências de todas as idades anteriores. e, de fato, é a visão ideológica estabelecimento de real intimidade
Se ao longo de seu desenvolvimento de uma sociedade a que afeta entre as pessoas numa contraposição
a criança conseguir uma boa relação mais claramente o adolescente saudável com a condição de isola-
inicial com o mundo e com a cultura ansioso por se afirmar perante mento.
através dos questionamentos próprios seus iguais e que está prepa-
desta idade, buscando novo sentido rado para ser confirmado pe- O adulto jovem, como é denomi-
de continuidade e de coerência para los rituais, credos e programas nado o sujeito desta idade, deve ser
suas vidas, ela terá maior possibilida- que definem ao mesmo tempo capaz de “expressar carinho e afeto
de de ser bem sucedida no futuro. o que é mau, fantástico e hos- para com os outros e também de
til. (ERIKSON,1976,p.242). distinguir seus amigos de seus ini-
É sabido que a adolescência localiza- migos, mas também deve se sentir
se numa zona intermediária entre a É um período crítico, pois ao mesmo suficientemente seguro a respeito de
vida infantil e as expectativas e me- tempo em que o ego da criança já si mesmo, para que possa tolerar e
dos referentes á vida futura. O quê fez um trabalho de síntese também mesmo gostar de ser quem ele é”.
ele explica é que a integração que este período de confusão irá deter- (GALLATIN,1975,pg.204).

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A incapacidade de prover intimidade que exige da pessoa produtividade, não existem desafios, podemos
pode gerar dificuldade no contato afeto, envolvimento e empenho no ser tomados por um senso de
com outras pessoas gerando diver- cuidado com a nova geração. Este estagnação. Outras pessoas,
sos meios de proteção como, por cuidado assegurará, nas crianças e naturalmente, podem receber
exemplo, o trabalho, por outro lado adolescentes que estão sob sua aten- isso com satisfação, como uma
a pessoa que não consegue isolar-se, ção o desenvolvimento de confiança, promessa de descanso, mas
que não suporta estar sozinha terá autonomia, iniciativa, produtividade afastar-se totalmente da gene-
problemas em produzir. e formação de identidade. ratividade, da criatividade, do
cuidado de e com os outros,
A instituição social que está associa- Criar uma nova geração, cuidar e seria pior do que a morte.(ERI-
da a esta idade é a estrutura social de orientar os mais novos são o signi- KSON,, 1998,pg.94).
sistemas éticos, pois após ter encon- ficado que Erikson atribuiu à palavra
trado sua identidade, o jovem se dis- generatividade: O sentido de “cuidar” é a virtude
põe a ligar sua identidade com a de adulta atribuída na sétima idade e
outros. Deverá estar preparado para A evolução fez do Homem um portanto todas as instituições que
a intimidade, para entregar-se a liga- animal capaz de aprender e garantem a ética nas relações entre
ções afetivas duradouras, e deverá ensinar, visto que a dependên- as pessoas, quer através da família
também estar apto para desenvolver cia e a maturidade são recípro- quer através do trabalho, são respon-
a força ética necessária para ser fiel a cas: o homem maduro precisa sáveis pela manutenção da organiza-
essas ligações mesmo que elas impo- sentir que é um ser necessário ção humana.
nham compromissos significativos: e a maturidade é dirigida, pela
natureza, a cuidar daqueles OITAVA IDADE: INTEGRIDADE
à medida que as áreas de res- que ainda deverão atingi-la. X DESESPERANÇA - SABEDORIA
ponsabilidades do adulto vão A generatividade, portanto, é (APóS OS SESSENTA ANOS)
sendo gradativamente deline- primordialmente, a preocupa-
adas, e que a competição, o ção em estabelecer e orientar O indivíduo que resolveu as etapas
vínculo erótico e a inimizade a geração seguinte... Nós já anteriores articulando angústias, ale-
irredutível são diferenciados sugerimos que o sentimento de grias, vitórias, derrotas e medos de
um do outro, eles acabam confiança do bebê é um reflexo tal maneira a manter a integração
eventualmente ficando sujei- da dignidade deles enquanto de seu ego, chegará a esta idade
tos àquele sentimento ético seres autônomos. Pois, seja o com tranquilidade e segurança para
que caracteriza o adulto e que que for que façamos, a criança enfrentar o fechamento de seu ciclo
sucede as convicções ideológi- perceberá, basicamente, o que vital. Diz Erikson:
cas da adolescência e o mora- rege nossas vidas enquanto se-
lismo da infância. (ERIKSON, res amorosos, cooperativos e Somente a pessoa idosa que
1968,p.138). firmes, e o que nos torna odio- zelou pelas coisas e pessoas e
sos, angustiados e divididos. se adaptou aos triunfos e desa-
SéTImA IDADE: GENERATIVI- (ERIKSON, 1968,p.113). pontamentos de ser, necessa-
DADE X ESTAGNAÇÃO - CUI- riamente, a geradora de outras
DADO (TRINTA AOS SESSENTA Para o final desta idade, que pode pessoas e a criadora de coisas
ANOS) durar em torno de trinta anos, o sen- e idéias - só nela se amadure-
tido da generatividade pode alterar. ceu gradativamente o fruto das
Este é um período que, quando as sete idades do homem. Eu não
articulações egóicas das idades an- A generatividade, que inclui conheço melhor palavra para
teriores aconteceram relativamente o maior envolvimento de vida expressar isso do que integri-
bem proporciona capacidade de dos indivíduos ativos, necessa- dade. Na falta de uma defini-
criar e enfrentar desafios, cuidar dos riamente já não é esperada na ção precisa, assinalarei alguns
bens conquistados e fazer a manu- velhice. Isso liberta os anciãos atributos desta fase mental. É a
tenção das relações afetivas. É talvez da tarefa de cuidador. Entre- garantia acumulada do ego de
a idade mais longa descrita no ciclo tanto, não ser necessário pode sua propensão para a ordem
vital, pois envolve a construção de ser sentido como uma desig- e significado - uma integração
uma família, a expansão profissional nação de inutilidade. Quando emocional fiel ás imagens do

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passado e pronta para assumir de produtor e de provedor. Por outro AS SETE IDADES DO HOMEM
a liderança no presente, even- lado, existem ainda culturas que en-
tualmente renunciar a esta. É xergam o velho como aquele que de- SHEAKSPEARE
a aceitação de seu ciclo vital tém a sabedoria e a ética de sua so-
único e das pessoas que se ciedade e garantem a ele um espaço O mundo é um palco e todos
tornaram significativas e in- de dignidade e importância. Palavras os homens e mulheres são me-
dispensáveis à sua vida, não como virtude, sabedoria, tradição e ros atores:
permitindo, por isso, substitui- integridade são características desta
ção. Significa, assim, um novo oitava idade. Se o velho não alcança Têm suas saídas e suas entra-
e diferente amor pelos pais, estes valores reformatando para as das;
liberto do desejo de que eles limitações da vida atual, e se o ego
poderiam ter sido diferentes, não consegue fazer a integração e No princípio, apenas uma
e uma aceitação do fato de dar sentido aos conflitos vivenciados criança, miando, vomitando
que cada um é responsável ao longo da vida, o sentimento que nos braços de uma babá.
pela sua própria vida. É uma surge é o de desesperança.
sensação de camaradagem Depois, vem o escolar, com
para com homens e mulheres A continuidade das gerações de- a sua pasta, reclamando aos
de épocas distantes e de di- pende por um lado do plano social gritos,
ferentes ocupações, que cria- determinado pela cultura e por outro
ram ordens, objetos e idéias do plano biológico característico da Com o rosto fresco da manhã,
transmitindo dignidade e amor espécie e não há como desarticular se arrastando qual lesma, des-
humanos. Embora cônscio da estes dois planos: gostoso de ir para a escola.
relatividade de todos os vários
estilos de vida que deram sig- a partir das fases da vida, dis- Mais tarde, surge o amante,
nificado ao esforço humano, o posições tais como a fé, força suspirando que nem uma for-
indivíduo que atingiu a integri- de vontade, determinação, nalha,
dade está pronto a defender a competência, fidelidade, amor,
dignidade de seu próprio estilo zelo e sabedoria – sendo todos compondo tristes baladas às
de vida, contra todas as ame- estes critérios da força vital in- sobrancelhas de sua amada.
aças físicas e econômicas. Pois dividual – também fluem para a
ele sabe que uma vida indivi- vida das instituições. Sem elas, Tempos depois, vem um solda-
dual é a coincidência aciden- as instituições definham, mas, do –
tal de um único ciclo vital com sem que o espírito das institui-
um único segmento da história ções impregne os padrões de Cheio de estranhos juramen-
e que, para ele, toda a inte- zelo e amor, instrução e treino, tos, peludo como um leopardo
gridade humana se mantém nenhuma força poderia emer-
e coincide com aquele estilo gir da seqüência de gerações Zeloso de sua honra, pronto e
de integridade que ele com- (1968.pg.141). rápido para uma briga,
partilha (ERIKSON,1968, pp.
139,140). NONA IDADE: A TRANSCEN- Na procura de vã notoriedade,
DêNCIA mesmo diante da boca de um
É inegável que o valor cultural e o canhão.
papel institucional do velho nas dife- Este é um trecho da comédia shakes-
rentes culturas dará as diretrizes para peariana As you like it, que Passa o tempo.
a valorização ou não do papel do ve-
lho. Por um lado ele pode ser conside- é considerada a mais famosa comé- Agora, é a vez dos sentimen-
rado como fraco, lento, desorganiza- dia e diz respeito à fala de Jaques, tos de justiça, mas de barriga
do, desmemoriado portanto incapaz um dos senhores a serviço de um ho- cheia de suculento capão for-
de produzir com a rapidez com que nesto Duque da França, que foi bani- rada
os tempos atuais exigem. Pode muito do dos seus domínios por Roderick,
cedo entrar num programa de apo- seu irmão mais jovem e usurpador. Com olhar sisudo, barba de
sentadoria q que retira dele o papel corte conservador,

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Dono de sábios conselhos e de um limite, exceder, superar´ e superego. Insere, de maneira crite-
exemplos atuais: Dessa forma, também, ´ir além do universo riosa e consistente o papel da repre-
cumpre seu papel. e do tempo´ .... Os historia- sentações culturais na constituição
dores de épocas anteriores do inconsciente individual . Fornece
Na sexta idade, se enfia em apresentam evidências de material muito rico para a pesquisa
calças e em chinelas simples como, no Oriente, os velhos nas áreas da psicologia clínica, social
eram muito respeitados por e educacional.
Agora, usa óculos, bolsa de uma longa vida de serviço e de
lado; bom julgamento. Os anciãos O jornalista Evans, pergunta a Erik
sábios eram aplaudidos por Erikson em entrevista:
Num mundo muito vasto, as deixar a azáfama da vida da
meias juvenis, bem conserva- comunidade, retirando-se para O Sr. Se considera psicanalista?
das, as montanhas e locais remotos
para acabar de viver suas vi- Ele responde:
Não são de mais valia paras das. Embora o recolhimento
para suas pernas agora finas. possa ter sido solitário, ele não Vim da arte para a psicologia,
terminava com o auto respei- o que pode explicar, ainda que
Sua voz viril e portentosa volta to, e muitos eram alimentados não justificar, o fato de que às
aos sons agudos de criança, e cuidados adequadamente vezes o leitor me veja pintando
agora pia, vira assobio. por muitos anos de retiro (...) contextos e cenários em ocasi-
talvez os realmente velhos só ões em que ele preferiria que
Última cena de um desfecho encontrem um lugar seguro assinalasse fatos e conceitos
de uma estranha e episódica para refletir sobre seu estado ...” Sim. Basicamente sou.
história: de espírito na privacidade e no Psicanálise é a única disciplina
isolamento. Afinal de contas, que estudei e sinto-me feliz por
Volta a ser criança. Vai-se a de que outra maneira pode- ter começado a praticá-la com
antiga memória saudável: mos encontrar paz e aceitação pacientes infantis e adolescen-
das mudanças que o tempo tes sob a supervisão de Anna
Sem dentes, sem visão, sem impõe ao corpo e à mente? A Freud. Meu primeiro encontro
paladar, sem nada. corrida e a competição estão com a psicanálise foi pelo ca-
terminadas; libertar-se da pres- minho da arte (...) Freud pen-
A nona idade foi formulada mais tar- sa e da tensão é obrigatório na sava que a psicanálise situava-
diamente na produção de Erik Eri- velhice. Alguns aprendem isso se na fronteira entre ciência e
kson. Ele viveu lucidamente até os cedo, e outros, tarde demais. arte.
noventa e quatro anos e, portanto (ERIKSON, 1998, p.104).
teve oportunidade de discutir e de Acredito que tenham me acei-
vivenciar experiências próprias das Uma das tarefas desta idade é a re- tado porque, como artista, es-
limitações e inquietações dos últimos visão da identidade temporal. Isto tava muito próximo das crian-
anos do ciclo vital. A nona idade foi aponta para a árdua tarefa de recu- ças ... Foi esta a primeira área
principalmente conceituada por Joan perar habilidades e enfrentamento na qual me especializei depois
M Erikson na revisão da teoria de Erik do medo da proximidade da morte, de ter estudado o método psi-
que resultou no livro “O ciclo de vida através da coragem da retrospectiva canalítico geral. Quando che-
completo” lançado pela Artmed em sobre a vida. guei a Boston (1933) fui ana-
1998. lista de crianças e logo após
Erik Erikson é considerado como um fui ensinar psicanálise na esco-
A palavra utilizada para melhor de- descendente da psicanálise freudia- la de medicina.
finir esta idade é “transcendência”, na. Sua teoria permite a compreen-
que conforme Joan Erikson: são do desenvolvimento psicológico PRODUÇÃO
humano apoiado na constituição da
Segundo o dicionário trans- força pulsional, no relevante e funda- 1930: Trabalhou na Harvard Pshyco-
cender significa simplesmente mental papel do ego e dos mecanis- logical Clinic e no Yale Institute of
´erguer-se acima ou ir além de mos de defesa e na constituição do Human Relations.

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1931: Publicou Bidderbucher Zeits- Infância e Sociedade. Rio de Janeiro. desenvolvimento do adolescente exa-
chrift fur Psychoanalytische Pedagogik Zahar.1976). Este livro foi lido, se- tamente dentro do período bastante
5: 417-445 gundo o próprio Erikson por um nú- crítico em relação ao comportamento
mero grande de pessoas de diferen- dos jovens.
1933: Graduou-se pelo Instituto psi- tes idades e que não eram do campo
canalítico de Viena e, neste mesmo da Psicologia clínica, muito embora 1964: Publicou Insight and Respon-
ano iniciou seu trabalho clínico nos tenha sido um trabalho utilizado para sibility. New York: W.W. Norton Inner
Estados Unidos. a formação de “profissionais interes- and Outer Space: Reflections on Wo-
sados pela psicanálise” porque na manhood. In R.J.lifton (ed), The wo-
1937: Publicou Configurations in play verdade, o livro teve origem a partir man in America. Boston. Beacon.
– clinical notes. Psychoanalitic Quar- da sua prática em Psicanálise prin-
terly 6 139-214 e Freud´s The origins cipalmente em situações que envol- 1966: Juntamente com Joan M, pu-
of Psychoanalisis. International Jour- viam “crianças pequenas, apatia em blicou Eye to eye. In The man-made
nal of Psyco-Analisis 36: 1-15. índios norte-americanos, confusão Object, edited by G. Kepes New York.
em veteranos de guerra, arrogância Braziller
1938:Participou de um núcleo de em jovens nazistas”. Destas situações
estudos numa reserva indígena em o trabalho delineou-se abarcando a 1968: Publicou Identity: Youth and
Nebraska e estudou a vida dos índios discussão sobre os “fenômenos de Crisis. New York. Norton, traduzido
Sioux. Esta pesquisa de campo foi o massa, cultura, religião, revolução” para o português por Álvaro Cabral
pano de fundo para ao alicerçamen- apontando para o estudo da Psico- como Juventude, Identidade e crise,
to das idades do desenvolvimento e logia do Ego, que tem suas raízes na Rio de Janeiro. Editora Guanaba-
do aprofundamento conceitual sobre organização social. Ele define o livro ra,1987). Esta obra discute a idéia de
o papel da cultura no desenvolvimen- como sendo “um estudo psicanalítico Identidade e sucede Infância e Socie-
to psicológico individual. da relação do ego com a socieda- dade. Faz uma recapitulação históri-
de. É um livro sobre a infância”. Um ca do termo, explora o conceito de
1940: Trabalhou no Guidance Stu- estudo psicanalítico, que enquanto “crise de identidade”, sempre supor-
dy no Institute of Human Develop- método é “essencialmente histórico”. tado pela transcrição do significado
ment na Universidade da Califórnia (1976). cultural, a universalidade do termo e
– Berkeley seu papel no processo de amadure-
1958:Publicou Young man Luther: A cimento humano, sobretudo durante
1950:Trabalhou no Austenm Riggs study in Psychoanalisys and History. a juventude.
Center em Berkhires. Morava na Cali- New York: W.W. Norton. Um dos as-
fórnia quando recebeu o convite para pectos abordados nesta obra e que 1969: Publicou Gandhi`s trust. New
apresentar um artigo sobre os está- vai para além da biografia diz respei- York. Norton.
gios do desenvolvimento chamado to ao posicionamento do conceito de
Grouth and crises of healthy persona- identidade, na conjunção indiscutível 1974: Publicou Dimensions of a New
lity., na Midcentury White House Con- entre o “psicológico e o social, entre Identity: The 1973 Jeffersos Lectures.
ference on Children and youth. Este o desenvolvimento e a história (...) e New York. W.W.Norton.
trabalho foi publicado em conjunto a relatividade psicossocial” e, como
com Joan M. Em seguida apresentou consultor das forças armadas ameri- 1977: Publicou Toys and Reasons:
os estágios do desenvolvimento para canas estudou o processo de adap- Stages in Ritualization of Experience.
um grupo de psicólogos e psiquiatras tabilidade do ser humano através de New York. W.W. Norton.
em Los Angeles. Foi para esta pales- estudos realizados junto a dos tripu-
tra que ele inseriu o estágio Genera- lantes de submarinos. 1978 : Publicou Life story and the
tividade X Estagnação entre as idades Historical Moment. New York. W.W.
adulta jovem e a velhice conforme 1959: Publicou Identity and the life Norton.
citado acima. cycle. Psychological Issues 1,1-171.
1980: Escreveu um ensaio para publi-
1951:Publicou Chilhood and Socie- 1960: Vinculado à Universidade de cação que constava de três volumes
ty. New York. Willey (revised 1963). Harvard começou a trabalhar a ex- chamado The course of life, psycho-
Traduzido da segunda edição para o pressão “crise de identidade”, loca- analytic contribuitions toward unders-
português por Gildásio Amado como lizando este conceito na dinâmica de tanding personality development, que

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Newsletter Edição 7 - Agosto de 2010

contou com artigos de Anna Freud e 1982: Publicou The life cycle com- .ERIKSON,E. Identity: Youth and cri-
a equipe da Clínica Hampstead. Este pleted. New York. Norton. Traduzido sis. New York.Norton.1968.
trabalho caracterizou duas teorias para o português como O ciclo de
fundamentais: por um lado a psi- vida completo pela psicóloga Maria __________ Juventude, Identidade e
canálise do desenvolvimento sexual Adriana Veríssimo Veronese. Porto crise, Rio de Janeiro. Editora Guana-
e por outro a do ego. Nesta publi- Alegre. Artmed. Este livro é resultado bara,1987.
cação aparece, tal como proposta de revisão e ampliação feita por Joan
por Erikson a psicanálise do desen- Erikson, após a morte de Erik e insere __________ Autobiograph notes on
volvimento psicossocial. Foi editado a nona idade como fechamento para identity crisis. Daedalus,1970.
por S.I. Geespan and G.H.Pollack. o ciclo vital.
WashingtonD.C: U.S. Government __________ O ciclo de vida comple-
Printing Office. REFERêNCIA BIBLIOGRÁFICA to. Porto Alegre. Artmed,1998

Escreveu também neste ano: Psychoa- BARROS, M.C.S. Pontos de psicologia __________ Infância e Sociedade.
nalytic reflection on Einstein`s Cente- do desenvolvimento. SP.Àtica.1991 Rio de Janeiro. Zahar.1976.
nary. In Einstein and Humanism. New
York: aspen Institute for Humanistic COLES, R. The Erik Erikson reader. __________ Gandhi`s trust. New
Studies, e On generationa cycle: New York. W.W. Norton & company. York. Norton.1969.
an address. International Journal of 1978.
Psychoanalysis 61 213-222 ___________The life cycle completed.
EVANS, R.I. (1979).Construtores New York. Norton.1982.
1980: Publicou Identity and the Life da Psicologia. São Paulo. Summus-
Cicle. New York: Norton. EDUSP GALLATIN,J. Adolescência e individu-
alidade. SP.Harbra.1978.
1981: Publicou The Galilean sayin- __________ (1976).Diálogo com
gs and the sense of “T”. Yale Review Erik Erikson. México. Fondo de cultu- RAPPAPORT,C.R. et all. Teorias do
Spring 321-362 ra económica desenvolvimento.Vol.IV. SP.EPU.1982.

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