Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Objetivos da Unidade:
📄 Material Teórico
📄 Material Complementar
📄 Referências
📄 Material Teórico
1 /3
Reflita
Qual é o papel Associação Psicanalítica Internacional (IPA) para a
transmissão do legado freudiano? A escola inglesa trabalha com quais
temas e conceitos?
Introdução
Juntamente com Sándor Ferenczi, Sigmund Freud fundou a Associação Psicanalítica
Internacional (IPA), em 23 março, de 1910. Essa instituição, desde a década de 1920, estenderia
seus braços em torno de todo o globo, do Japão ao Novo Mundo.
Figura 1 – Aniversário de 70 anos de Melaine Klein na
Sociedade Inglesa de Psicanálise. Entre os convidados,
estão Winnicott, Bálint e Ernest Jones
Fonte: Wikimedia Commons
Após a morte de Freud e a chegada dos psicanalistas refugiados, os Estados Unidos e a Grã-
Bretanha se tornariam duas grandes potências. A IPA predominantemente anglófona se
caracterizaria pelas crises entre as linhas pós-freudianas. O conflito entre as “duas cabeças da
Hidra”, o annafreudismo e o kleinismo colocou em cena um limite entre maneiras inconciliáveis
de pensar a teoria de Freud e a clínica com crianças.
Você Sabia?
IPA é a sigla de Associação Psicanalítica Internacional (em vez de API).
PLON, 1998).
Uma década depois de sua fundação, a IPA adotou regras de formação mais rígidas, como a
obrigatoriedade da análise didática e a proibição de que homossexuais atuassem como
psicanalistas.
Você Sabia?
A análise didática e a supervisão (análise de controle) são partes
essenciais para os candidatos a analista ligados à IPA, sendo práticas
oficializadas por Max Eitingon, no congresso de Bad-Hombrug, em
1925 (ROUDINESCO; PLON, 1998).
Leitura
Os Três Modelos de Treinamento
A IPA aceita atualmente três modelos de formação: o de Eitingon, o
ACESSE
Ernest Jones é, sem dúvida, um dos nomes mais importantes na história da IPA e da psicanálise
anglo-saxã. Ele integrou a primeira geração internacional de analistas, transformando-se em
um dos “embaixadores” da linha inglesa na era das escolas.
Sob seu domínio, o inglês se tornaria uma língua standard da psicanálise. Diferentemente de
Melaine Klein ou de Donald Winnicott, que produziram novidades para a teoria e a clínica
psicanalíticas, ele era, sobretudo, um líder político do movimento, presidindo a Associação
Psicanalítica Internacional (IPA), nos períodos de 1920-1924 e 1934-1949. Além de trabalhos
teóricos de pouca expressividade (muitos deles esquecidos), a sua maior contribuição é, sem
dúvida, um trabalho inédito da historiografia da psicanálise: a publicação de uma extensa
biografia de Freud, em três volumes.
Foi na IPA que Ernest Jones e Marie Bonaparte financiaram a mais conhecida tradução de obras
psicológicas completas de Freud, a Standard Edition, edição crítica de James Strachey, lançada
em 24 volumes. As escolhas estilísticas e literárias do tradutor destoam dos originais em alemão
e possuem uma ênfase nas linguagens médica, científica e técnica que nem sempre eram as de
Freud, mas que se alinhavam perfeitamente com os ideais da escola inglesa. Leia o Dicionário de
Psicanálise, de Elisabeth Roudinesco e Michel Plon. Por que os termos foram traduzidos para
palavras latinas e gregas? Quais fatores foram decisivos para a “anglicização” da psicanálise?
“Na verdade, Strachey obedecia à vontade do próprio Freud de transformar a
palavras latinas e gregas e por uma certa “anglicização”. Assim, para traduzir o
Isso (Es), o Eu (Ich) e o Supereu (Überich), Strachey utilizou os pronomes latinos Id,
a termos gregos: cathexis, parapraxis. Enfim, cometeu o erro de traduzir pulsão por
instinct, a pretexto de que o termo drive não existia em inglês. Assim, Strachey
Unidos da totalidade dos psicanalistas de língua alemã. Quanto aos russos e aos
húngaros, estes já estavam germanizados por razões políticas por volta dos anos
durante muito tempo, o representante de uma política de discriminação que pesaria muito sobre
o destino da psicanálise no mundo” (ROUDINESCO; PLON, 1998, p. 353).
Saiba Mais
Em “Carta a uma Mãe Preocupada com a Homossexualidade de seu
Filho” (1935), Freud ([1935] 2019) defendia que a psicanálise não
deveria ser usada para “curar” a homossexualidade, tomando partido
por sua descriminalização. Em sua visão, a homossexualidade não é
um vício ou uma “degradação” e “não pode ser classificada como
doença; nós a consideramos uma variação da função sexual produzida
homossexuais à análise didática, com base em julgamentos morais. Tidos como “pervertidos
sexuais”, eram vistos ora como inaptos ao tratamento psicanalítico ora como “curáveis” por
meio dos efeitos “adaptativos” da análise. A IPA nunca editou uma norma por escrito sobre o
tema, mas as sociedades ligadas a essa instituição evitaram aceitar candidatos que fossem
assumidamente homossexuais.
A Sociedade Inglesa de Psicanálise também teve seu papel na difusão desses preconceitos. Além
de Jones, Anna Freud – que mantinha uma relação afetiva com Dorothy Burlingham – defendia
uma posição abertamente contrária ao acesso de homossexuais à análise didática. Melanie Klein
e seus aliados na instituição, mais liberais em diversos aspectos, nada disseram contra o
posicionamento de Anna Freud ou da IPA.
Hoje, a IPA já não tem o mesmo poder de decidir sobre os rumos da psicanálise mundial.
Contudo, vemos que ao final da era das escolas, ela produziu atores e linhas de pesquisa cruciais
dentro da psicanálise pós-freudiana, principalmente no interior da Sociedade Inglesa de
Psicanálise.
defesa. De outro, as diversas formas de pensar as relações de objeto no quadro de uma teoria da
sexualidade na psicogênese da neurose e da psicose.
Importante!
Os tópicos essenciais da teoria freudiana nessa escola são:
O tema da angústia, por exemplo, atravessa os escritos de Anna Freud sobre os mecanismos de
defesa em crianças normais e neuróticas, os textos de Melanie Klein a respeito das mudanças de
posição da criança (esquizoparanoide e depressiva) em relação ao casal parental e os de
Reflita
Por que o conceito de sexual, para Freud, não se confunde com o sexo
em si? Qual é a novidade da concepção freudiana da sexualidade?
Figura 2 – Foto de Melaine Klein (ao centro), Anna Freud e
Ernest Jones
Fonte: Wikimedia Commons
Quais são as principais concepções de sexualidade para a psicanálise? Um resumo pode ser
encontrado em “Compêndio de psicanálise”, obra póstuma de Freud (1938/1940):
A vida sexual não começa somente após a puberdade, mas inicia-se sim, e com claras
manifestações, logo após o nascimento;
A vida sexual abrange a função de obtenção de prazer das zonas do corpo que são
colocadas posteriormente a serviço de reprodução. Frequentemente, ambas as funções
não chegam a coincidir por exemplo.
- FREUD, 2019, p. 35
Para Freud, a sexualidade começa desde a primeira infância e se desenvolve até chegar a um
período de latência, que, por sua vez, dura até a puberdade. Isso implica a amnésia, com exceção
de alguns resquícios, das experiências sexuais anteriores à puberdade. A concepção psicanalítica
da sexualidade é mais ampla do que o ato sexual ou a masturbação em si, pois se liga à pulsão,
conceito limítrofe entre o psíquico e o somático, às formas de obtenção de prazer/desprazer.
A boca, o ânus, o falo e a genital seriam protótipos de diferentes formas de obtenção do prazer e
da sexualidade.
A fase oral se refere ao aparecimento da primeira zona erógena, pois além da função
propriamente alimentar, existiria uma obtenção de prazer.
Na fase anal-sádica, acentuam-se os impulsos sádicos que apareceram, na outra fase, com o
A fase fálica precede à configuração final da vida sexual. A fase fálica define a inscrição de uma
diferença sexual para as meninas e para os meninos, ainda que a presença universal do pênis
seja um pressuposto comum para ambos.
No menino, haveria o ingresso na fase propriamente edípica. No início da fase edípica, ele
manipulará o órgão ao mesmo tempo em que terá fantasias de se relacionar com a mãe. A
ameaça da castração associada à descoberta da ausência de pênis na mulher conduzirá o menino
a um recuo e a entrada no período de latência.
Na menina, haveria uma frustração após a tentativa de agir como um menino. A menina
descobre a falta do pênis e a inveja por ele. As fases não devem ser pensadas como etapas
lineares, elas podem coexistir e se sobrepor. A sexualidade se organiza de modo completo a
partir da puberdade com a quarta fase, a genital.
A teoria de Freud sobre a sexualidade e sobre o objeto deu base para que a tradição inglesa
adentrasse em territórios pouco explorados: a análise de crianças e de pacientes não neuróticos.
Leia os apontamentos de Melanie Klein sobre a análise de crianças. Quais são as diferenças em
relação à perspectiva de Anna Freud? Utilize os grifos (termos em negrito) como guias.
“Anna Freud foi levada, por suas descobertas, no que se refere ao ego da criança, a
fundamental para o tratamento analítico. Além do mais, ela acha que não se deve
caso dos adultos, surgirá uma situação transferencial desde que empreguemos
analista. Constatei, também, que, com crianças de todas as idades é muito difícil,
A visão de Anna Freud pretende uma adaptação do Eu (ego) à realidade exterior, com base na
oposição médica entre saúde e doença e da oposição moral entre virtude e vício. Confira o trecho
de introdução de “O ego e os mecanismos de defesa”. Observe qual é a finalidade da sua
concepção da prática analítica:
“Desde o começo, a análise, como método terapêutico, preocupou-se com o ego e
- FREUD, 2006, p. 10
Do lado de Melanie Klein, o “desvio” da teoria freudiana não significou um regresso a questões
já superadas, mas a abertura de uma trilha pouco explorada. As luzes do conflito edipiano já não
seriam dadas (somente) à figura potencialmente castradora do pai, mas sobretudo à
ambivalência em torno da mãe entre o seio ideal e o seio mau. Os conflitos com o objeto levam à
posição depressiva assumida diante da dimensão monstruosa, devoradora e onipotente figura
Saiba Mais
A técnica de interpretação de desenhos na análise de uma neurose
O caso foi publicado em 1905. Nesse comentário, você verá como Freud
relê o caso 21 anos depois, em “Inibição, sintoma e angústia” (1926),
quando já havia apresentado sua nova teoria das pulsões (pulsões de
vida e de morte), as instâncias da segunda tópica e desenvolvido outra
teoria da sexualidade (complexo de Édipo).
O pequeno Hans não conseguia sair de casa, pois tinha medo de cavalos (o que
equivaleria aos carros ou motos numa cidade movimentada!);
Ele não tinha medo de estar diante de um cavalo, mas também sofria com a
expectativa de ser mordido pelo animal (o que Freud chama de angústia de
castração);
Hans apresentava uma postura edípica ambivalente em relação ao pai: era hostil
com ele, mas o amava intensamente;
Para solucionar esse impasse, ele passa a ter fobia a cavalos. O cavalo seria, portanto,
um substituto do pai. Para Freud, esse deslocamento (pai → cavalo) é o que
caracterizaria uma neurose (fobia), isto é, os impulsos hostis são direcionados para
o cavalo e não mais para o pai. Contudo, essa substituição é completa, mas ele não
deixa de hostilizar o pai;
A fantasia de ser devorado pelo pai expressa (de forma substitutiva) o desejo de ser
objeto de amor paterno (no sentido do erotismo genital); e a formação da fobia inibe
o investimento objetal (sexual) em relação à mãe;
Em Síntese
Com a sua teoria da sexualidade infantil e por meio do caso do pequeno
Hans, Freud havia traçado um caminho para a clínica com crianças.
Além da leitura do complexo de Édipo, Klein apresenta uma hipótese original sobre a gênese das
Leia a seguir a definição de objeto transicional. Repare que, diferentemente dos objetos parciais
(seio ideal/seio mau), o objeto transicional pode ser qualquer coisa (até uma melodia ou um
gesto) utilizada para mediar a separação entre o bebê e a mãe, entre o eu e o não-eu.
“Pode surgir alguma coisa ou algum fenômeno – talvez uma bola de lã, a ponta de
tipo depressivo. Talvez um objeto macio, ou outro tipo de objeto, tenha sido
encontrado e usado pelo bebê, tornando-se então aquilo que estou chamando de
objeto transicional. Esse objeto continua sendo importante. Os pais vêm a saber de
seu valor e levam-no consigo quando viajam. A mãe permite que fique sujo e até
Foi a partir de estudos sobre a psicanálise de crianças que Anna adquiriu mais reconhecimento
na sociedade psicanalítica, após a publicação de sua principal obra sobre o tema: O Tratamento
Psicanalítico das Crianças (1927). Nesse livro, a autora já defendia que o papel do analista de
crianças deve ser pedagógico. “O analista deveria, portanto, analisar e educar. Para isso é
necessário funcionar como o ‘eu’ auxiliar da criança, seduzindo-a inicialmente para ganhar a
sua confiança e exercendo, a partir daí, uma autoridade ainda maior que a dos pais” (COSTA,
2010, p. 26). Além disso, Anna Freud argumentava que a criança não conseguia construir uma
neurose de transferência e nem associar livremente como um adulto. A perspectiva de Anna
Freud em relação à análise infantil será bastante diversa da de Melanie Klein.
Melanie Klein resolveu analisar o seu próprio filho a partir de princípios rigorosamente
psicanalíticos. Em 1921, ela se muda para Berlim com propósito de atender crianças, uma
sugestão dada por Abraham, seu segundo analista. Ele foi uma importante influência para Klein,
Brincar – atividade natural das crianças – foi considerado por ela a expressão
traduz de modo simbólico suas fantasias, seus desejos e suas experiências vividas.
A partir dessa constatação, ela conclui que a diferença que existe entre a análise de
outras palavras, a prática psicanalítica com crianças repousa sobre o mesmo corpo
Enquanto Anna Freud se apoia em arcabouço teórico que une pedagogia e psicanálise, Melanie
Klein se embasa nos conceitos fundamentais para aplicar uma técnica específica com o uso de
brinquedos e da atividade lúdica.
Outro teórico que contribuiu para uma abordagem sobre a psicanálise de crianças foi Donald
Winnicott. Era formado em medicina, com especialização em pediatria. Em meados de 1930,
passou a integrar a Sociedade Britânica de Psicanálise.
A experiência como pediatra se interliga com a sua prática clínica, associando dois polos que
eram até o momento colocados como completamente distintos. Haveria uma relação entre o
meio ambiente do bebê e o desenvolvimento dos transtornos mentais.
Winnicott enfatiza a profunda dependência do bebê para com a sua mãe (CELERI, 2007). A sua
teoria se distingue da de Melanie Klein, pois se ela destaca a estruturação interna da
subjetividade, Winnicott foca na relação de dependência do sujeito com o meio ambiente. O
ambiente, segundo a sua perspectiva, é equivalente aos cuidados maternos, isto é, “a mãe, ou
algum substituto desta, irá favorecer ou dificultar o desenrolar desse processo” (COSTA, 2010, p.
48). Winnicott utiliza a expressão “mãe suficientemente boa” para atribuir a função de cuidado
com o bebê. Para o autor, “assim como o cuidado materno adequado conduz à integração do ego,
as falhas no cuidado levam à desintegração” (CELERI, 2007, p. 426).
Ainda segundo Winnicott, haveria fases em que o bebê passa da total dependência para a
desvinculação gradual do elo materno e ambiental. Essas fases se dividem em:
Fase inicial: do nascimento aos seis meses. Dependência absoluta com os cuidados
maternos e o meio ambiente;
Segunda fase: dos seis meses aos dois anos. Dependência relativa. Nessa fase, “a
criança descobre, aos poucos, que ela e sua mãe são separadas, que suas fantasias
não correspondem à realidade e que há uma dependência [externa] para a satisfação
de suas necessidades” (COSTA, 2007, p. 49-50). Nessa etapa, a mãe também se
desliga gradativamente do bebê. Para Winnicott, a “mãe suficientemente boa”
consegue fazer essa adaptação entre a dependência absoluta para um ambiente em
que o bebê seja capaz de suportar a angústia de separação;
Terceira fase: esse último momento se refere à criança e à sua interação com
objetos para se situar no mundo externo. Esses objetos serão denominados como
objetos transicionais. Winnicott formula sua teorização com base no jogo de
carretel do Freud. A relação da criança com objeto se dá quando ocorre um jogo
entre ela e o mundo em um espaço transicional. O objeto não se trata da coisa em si
que a criança mexe (chupeta, brinquedo, ursinho, paninho, babador carretel etc.),
mas o modo como ela se utiliza desse objeto. Dessa forma, é por meio de um espaço
transicional, ou seja, um espaço que anteriormente não existia para o bebê e passa
ser o lugar onde ele encontrará os objetos transicionais. Segundo o Winnicott, esse
momento termina quando a criança deixa cair um objeto e deseja descer ao chão
para brincar com ele.
Veja o seguinte Quadro de Teresinha Costa. A autora mostra as diferenças entre Anna Freud,
Melaine Klein e Winnicott em relação à psicanálise de crianças.
Abandono do
O complexo de Édipo precoce – complexo de Édipo
Édipo dá-se com com um ano e meio clássico. Faz uma
cinco anos de idade redefinição do
materno e do feminino
Não recomenda a
análise para todas as
Não analisa a
O complexo de crianças que
criança antes do
Édipo deve ser apresentam sintomas,
final do complexo
trabalhado pois isto pode
de Édipo
desresponsabilizar os
pais
O supereu
O supereu está em primitivo é
fase de extremamente
constituição – cruel e precisa ser
ênfase no eu interpretado para
aliviar a angústia
Anna Freud Melanie Klein Winnicott
Não é possível
combinar o Enfatiza o lugar
Analista tem ação
trabalho analítico “materno” do analista
pedagógica
com trabalho na transferência
educativo
Técnica utilizada:
desenho, perguntas e
sugestões de modo a
Técnica utilizada: Técnica utilizada: despertar o interesse
desenho brinquedo da criança, levando-a
falar de situações e
coisas que não falaria
com outra pessoa
Wilfred Bion
Wilfred Bion foi um psicanalista britânico. De família inglesa, nasceu na Índia, onde viveu parte
da infância. Na Primeira Guerra Mundial, alcançou a patente de capitão do exército com
condecorações do governo britânico. Após entrar no setor de história da Universidade de
Oxford, ele se formou em Medicina. Passou a atuar nas áreas da psiquiatria e da psicanálise,
fazendo sua análise didática com Melanie Klein. Com o final da Segunda Guerra Mundial, ele
retomou o trabalho com a clínica e participou da Sociedade Britânica de Psicanálise, na qual foi
presidente entre os anos de 1962-1965. Nas décadas de 1960 e 1970, Bion se mudou para Los
Angeles e realizou diversas viagens para o Brasil e para outros países da América Latina, com o
objetivo de divulgar seus trabalhos.
Para Sandler (2007), ele rejeitava a ideia de construir uma escola ou uma tradição em torno de
seu nome. Isso não diminui a sua relevância para a psicanálise inglesa e para a corrente dos pós-
kleinianos, em que o seu trabalho geralmente é enquadrado. Para Zimerman (2007), Bion seria o
fundador de uma escola que poderia ser nomeada como vincular-dialética, já que possui
condições que caracterizam uma “escola psicanalítica”: o autor deve ter contribuições originais
que não se distanciem do legado freudiano; seus conceitos fundamentais devem possuir
aplicabilidade na prática clínica e abarcar o trabalho de psicanalistas que se ramificam ao longo
dos anos.
Independentemente de ele fundar uma escola ou ser um sucessor de Klein, seu trabalho tem
contribuições para a terapia de grupos fundamentais na psicanálise. Em “Um singular plural: a
Psicanálise à prova do grupo”, René Kaës (2011) comenta que ele mobilizou as estruturas do
grupo para mobilizar certas patologias traumáticas, borderline e psicóticas e lançou outras
hipóteses sobre os processos de grupo no livro Experiências com Grupos (1961). Confira a
seguir algumas contribuições do autor:
André Green
André Green, médico especializado em Psiquiatria, foi uma figura de exceção na era das escolas.
Suas leituras atravessam a oposição entre a escola inglesa (Klein, Bion e Winnicott) e a escola
francesa. A título de curiosidade, Green acompanhou, durante sete anos, o ensino de Lacan. Ao
rejeitar a armadilha do “ecletismo”, André Green toma esse referencial para pensar aspectos de
sua prática clínica, dedicando-se ao campo mais além da neurose: a psicose, os casos-limites
(borderline) e os transtornos psicossomáticos.
Em sua perspectiva, a análise deveria “desenlutar a linguagem”, dando-lhe uma nova vitalidade.
Essa posição só seria possível rejeitando o privilégio lacaniano sobre a formalização matemática
e o significante quanto à ingenuidade de uma perspectiva biologizante da escola inglesa. Em
outras palavras, a situação analítica valoriza tanto a linguagem quanto as pulsões, propiciando
Esse despertar e essa contenção criariam, por intermédio da função parental, a internalização e
o esquecimento do objeto absolutamente necessário para possibilitar a representação e a
fantasia dos objetos faltantes (ou objetos de desejo). Quando isso não ocorresse – diante da
inacessibilidade da mãe deprimida, por exemplo –, veríamos os efeitos devastadores da
ausência ou da falha dos objetos primários na constituição do funcionamento-limite.
Em sua teoria sobre a relação de objeto, o autor se distinguiria da escola inglesa, já que não aceita
Confira a resposta de André Green a Fernando Urribarri (2019). Ele comenta a mudança de
quanto à sua definição. Não acredito que uma abordagem psicopatológica – sem
simples linha, é toda uma zona de transformações entre o dentro e o fora, assim
como entre as instâncias psíquicas. Não há psiquismo sem limite. Não há sujeito
sem limite. Eu insistiria, ainda hoje, no fato de que o conceito de “caso-limite”
Livro
Vídeo
Leitura
ACESSE
BLEICHMAR, N. M.; BLEICHMAR, C. L. A psicanálise depois de Freud: teoria e clínica. 1. ed. Porto
Alegre: Artmed, 1992.
COSTA, T. Psicanálise com crianças. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. (Coleção Psicanálise
Passo a passo). v. 75.
FIGUEIREDO, L. C. André Green: o discurso vivo. In: PINTO, M. D. C. (org.). O livro de ouro da
psicanálise: o pensamento de Freud, Jung, Melaine Klein, Lacan, Winnicott e outros. 1. ed. Rio de
FREUD, A. O ego e os mecanismos de defesa. Trad. Francisco Settíneri. 1. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2006.
FREUD, S. Carta a uma mãe preocupada com a homossexualidade de seu filho (1935). In: FREUD,
S. Amor, sexualidade, feminilidade. Trad. Maria Rita Salzano Moraes. Belo Horizonte: Autêntica,
2019. p. 349-352. (Obras Incompletas de Sigmund Freud). v. 7.
KAËS, R. Um singular plural: a Psicanálise à prova do grupo. 1. ed. São Paulo: Loloya, 2011.
KLEIN, M. Amor, culpa e reparação e outros trabalhos (1921-1945). Trad. André Cardoso. 1. ed.
Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Obras completas de Melanie Klein). v.1.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Trad. Vera Ribeiro; Lucy Magalhães. 1. ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
SANDLER, P. C. Wilfred R. Bion: uma obra em paradoxo. In: PINTO, M. D. C. (org.). O livro de ouro
da psicanálise: o pensamento de Freud, Jung, Melaine Klein, Lacan, Winnicott e outros. 1. ed. Rio
de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 439-450.
ZIMERMAN, D. E. Uma vida dialética. In: PINTO, M. D. C. (org.). O livro de ouro da psicanálise: o
pensamento de Freud, Jung, Melaine Klein, Lacan, Winnicott e outros. 1. ed. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2007. p. 451-464.