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Biografia de Carl Rogers - Biography of Carl Rogers

Research · May 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.4188.3049

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1 author:

Sandra Ramos and Jorge A. Ramos


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Biografia de Carl R. Rogers

Sandra Ramos e Jorge A. Ramos

ISCTE-IUL

Notas dos Autores

Sandra Ramos (n.º 60164) e Jorge A. Ramos (n.º 60113) são discentes que pertencem

à turma PB1 do 2.º ano da Licenciatura em Psicologia no ISCTE-IUL em Lisboa, ano letivo

de 2013-2014.

Este trabalho faz parte da Unidade Curricular com o nome História da Psicologia

ministrada pela Professora Doutora Paula Castro.

A correspondência para os autores deste trabalho pode ser remetida para

ankhsj@gmail.com ou para a Escola de Ciências Sociais e Humanas do ISCTE-IUL sito na

Avenida das Forças Armadas, Edifício I, Sala 1W6, 1649-026 Lisboa, Portugal.
BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 2

Tabela de Conteúdos

Síntese Biográfica ...................................................................................................................... 3

Os Anos de Formação e Algumas Influências .................................................................... 4

A Carreira Profissional e o Despontar das Teorias ............................................................. 4

Contextualização Temporal do Autor e Sua Obra ..................................................................... 6

Principais Contribuições para a Psicologia ................................................................................ 7

Influência Macrossistémica – A Corrente da Psicologia Humanista .................................. 8

Influência Transsistémica – A Terapia Centrada na Pessoa ............................................... 9

A teoria da personalidade. ......................................................................................... 9

A teoria da psicoterapia. .......................................................................................... 10

Influência Microssistémica – Alguns Casos ..................................................................... 11

Terapia lúdica não-diretiva. ..................................................................................... 11

A empatia e a psicopatia. ......................................................................................... 12

Localização das Contribuições nas Principais Correntes da Psicologia ........................... 13

Apreciação global .................................................................................................................... 14

Referências ............................................................................................................................... 15
BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 3

Carl Rogers foi o psicólogo que escolhemos para este trabalho devido ao facto de

ambos pretendermos ser psicólogos clínicos e termos uma noção (embora muito pequena) da

sua abordagem psicoterapêutica humanista e positiva. Foi um exercício desafiante prensar em

doze páginas a enorme (e muito mais rica do que imaginávamos) quantidade de informação

que descobrimos sobre este grande psicólogo que nos deixou positivamente impressionados.

Síntese Biográfica
Segundo Hansenne (2003, p. 155) Carl Ransom Rogers nasceu no dia 8 de Janeiro de

1902 em Illinois (E.U.A.) numa família (onde tinha cinco irmãos) que fomentava a religião

(de forma fundamentalista) e o trabalho (como valor seguro). Rogers era uma criança solitária

interessada pela leitura, pela agricultura e pelos animais. Conforme Trull e Prinstein (2013, p.

372) Rogers entrou na Universidade de Wisconsin (nos E.U.A.) em 1919 (com 17 anos) e,

face ao seu interesse pelos assuntos religiosos, quando foi assistir a uma conferência em

Pequim (na China) ficou impressionado com a diversidade cultural e religiosa que lá

encontrou, o que contrastou com, e redefiniu, as suas orientações mais fundamentalistas.

De acordo com Thorne e Sanders (2013, p. 131) Rogers casou (com 22 anos, em

1924) com Helen Elliot com quem teve dois filhos: David Elliott Rogers (em 1926) e Natalie

Rogers (em 1928). Uma semana depois de ter sido nomeado para o Prémio Nobel da Paz (em

28 de Janeiro, pelo congressista Jim Bates), Carl Rogers faleceu com 85 anos de idade (no dia

4 de Fevereiro de 1987) em La Jolla, Califórnia (segundo Hergenhahn & Henley, 2013, p.

556), após uma paragem cardíaca durante uma cirurgia a uma fratura na anca.

Segundo Natalie Rogers (n.d.) o seu pai escreveu 16 livros (dois deles publicados

postumamente) e mais de 200 artigos profissionais. O reconhecimento do seu trabalho foi

feito através de dezenas de prémios e de títulos que lhe foram atribuídos por instituições um

pouco por todo o mundo.


BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 4

Os Anos de Formação e Algumas Influências

Em 1924, de acordo com Zimring (2010, p. 135), Rogers licenciou-se em História (na

Universidade de Wisconsin) aos 22 anos. No mesmo ano matriculou-se no Seminário da

União Teológica (em Nova Iorque) tendo chegado a realizar um estágio como pastor

substituto (num paróquia em Vermont), o que de acordo com Thorne e Sanders (2013, p. 131)

ocorreu já em 1925. Segundo Hergenhahn e Henley (2013, p. 555) “as dúvidas de Rogers

sobre se a abordagem religiosa era a forma mais eficaz de ajudar as pessoas, levou-o a

transferir-se [em 1926] para a Universidade de Columbia” onde (segundo Zimring, 2010, p.

135) paralelamente à teologia frequentou cursos de psicologia clínica e de psicopedagogia.

Ainda segundo Zimring (2010, p. 135) Rogers trabalhou (em 1926) no Instituto de

Aconselhamento Infantil (em Nova Iorque) e após o seu mestrado (obtido em 1928 na

Universidade de Columbia) iniciou, um ano depois (também em Nova Iorque), o seu trabalho

de doze anos como diretor do Centro de Observação e Orientação Infantil da Sociedade para

a Prevenção da Crueldade sobre as Crianças. Finalmente, em 1931, obteve o título de Doutor

(também na Universidade de Columbia) segundo referem Hergenhahn & Henley (2013, p.

555) com uma dissertação sobre a medição do ajustamento da personalidade das crianças.

Parece-nos também que a obra de Rogers não terá deixado de ser influenciada pela já

referida educação familiar (e pela sua viagem à China), tal como pelas políticas sociais de

Franklin D. Roosevelt (presidente dos E.U.A. entre 1933-1945) “que era otimista,

empoderava os indivíduos envolvendo-os em atividades sociais e políticas, e apoiava a

criatividade dos seus subordinados (Bohart, 1995)”. (Flanagan & Flanagan, 2004, p. 176)

A Carreira Profissional e o Despontar das Teorias

De acordo com Hergenhahn e Henley (2013, p. 555) o Centro de Observação Infantil

(COI) onde Roger trabalhou era dominado por terapeutas formados na tradição psicanalítica,
BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 5

cujo objetivo era compreender as causas dos problemas para os partilharem com os pacientes.

Porém “progressivamente, Rogers abandonou uma orientação diretiva ou interpretativa,

optando por uma perspetiva mais pragmática de escuta dos clientes, numa posição que

antecipou o que mais tarde denominará de Orientação Não-diretiva em terapia” (Zimring,

2010, pp. 135-136). Em simultâneo, Rogers iniciou em 1935 um trabalho de docência nos

departamentos de sociologia e de psicopedagogia do Teachers’ College [da Universidade de

Columbia]. Em 1938 foi nomeado diretor do novo Centro de Aconselhamento (uma expansão

do COI) tendo sido neste período que surgiram as suas ideias psicoterapêuticas inovadoras.

Segundo referem Hergenhahn e Henley (2010, p. 555) a publicação do seu primeiro

livro (em 1939) designado The Clinical Treatment of the Problem Child, valeu a Rogers um

convite para um cargo académico na Universidade de Ohio (tinha 38 anos) onde legou as

suas ideias sobre o processo terapêutico no seu famoso livro (considerado revolucionário)

Counseling and Psychotherapy: Newer Concepts in Practice que foi, em 1942, a primeira

grande alternativa à psicanálise (dado que e.g., eliminou a busca das causas dos transtornos e

sua rotulagem; e os sujeitos perturbados foram designados por ‘clientes’ em vez de

‘pacientes’). Esta publicação também ficou marcada por (segundo Flanagan & Flanagan,

2004, p. 177) ter sido pioneira no uso de gravações em cassete para o estudo das terapias.

Em 1945, segundo conta Zimring (2010, p. 137) Carl Rogers “tornou-se professor de

Psicologia na Universidade de Chicago e secretário executivo do Centro de Aconselhamento

Terapêutico”, onde foi definindo o seu método mais conhecido, a terapia centrada na pessoa

(TCP). De acordo com Hergenhahn & Henley (2013, p. 556) Rogers foi presidente (em 1947)

da American Psychological Association (APA) e (segundo Zimring, 2010, p. 137) em 1949

“ocupou a cátedra de Psicologia da Universidade de Ohio”. Publicou uma ampla bibliografia

entre 1945-1957 de onde se salienta o seu livro mais importante (publicado em 1951): Client-

Centered Therapy que (de acordo com Hergenhahn & Henley, 2013, pp. 555-556) mudou a
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abordagem terapêutica rogeriana de não-diretiva (onde se acreditava que perante uma

atmosfera positiva os clientes resolviam os seus problemas) para centrada-no-cliente (onde se

percebeu a importância de o terapeuta entender a realidade subjetiva de cada cliente).

Em 1956 (conforme Hergenhahn & Henley) Rogers recebeu da APA o Distinguished

Scientific Contribution Award (DSCA) e em 1957 regressou à Universidade de Wisconsin

como docente de psicologia e de psiquiatria. No mesmo ano (segundo Zimring, 2010, p. 137)

publicou um dos seus mais importantes artigos: The Necessary and Sufficient Conditions of

Therapeutic Personality Change. Em 1961 publicou outro livro que se tornou rapidamente

um sucesso de vendas: Carl Rogers - On Becoming a Person. Em 1963 (conforme

Hergenhahn & Henley, 2013, p. 556) juntou-se ao Western Behavioral Sciences Institute

(WBSI) em La Jolla (na Califórnia) onde (segundo Zimring, 2010, p. 137) contatou com

outro grande psicólogo humanista: Abraham Maslow. Em 1968 Rogers e 75 dos seus colegas

da WBSI formaram o Center for the Studies of the Person (também em La Jolla) onde Rogers

expandiu os seus interesses pela educação e pela política internacional.

Conforme Flanagan e Flanagan (2004, p. 178) durante os anos 70 e 80 (do século XX)

Rogers dedicou-se à paz mundial e publicou mais dois livros importantes: Carl Rogers on

Personal Power (em 1977) e A Way of Being (em 1980). De acordo com Hergenhahn e

Henley (2013, p. 556) em 1972 Rogers recebeu o Distinguished Professional Contribution

Award (DPCA) fazendo dele o primeiro na história da APA a receber o DSCA e o DPCA.

Contextualização Temporal do Autor e Sua Obra


A obra de Carl Rogers enquadra-se em dois grandes períodos da história da psicologia

moderna, onde (conforme refere Jesuíno, 1994, p. 89) se usam como critérios de periodização

as duas guerras mundiais: um primeiro período de formação das disciplinas, entre as origens

(à volta de 1880) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), um segundo período entre

guerras e um terceiro que vai da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) aos nossos dias.
BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 7

Ora, tendo Rogers iniciado os estudos em psicologia nos anos 20 (do século XX) e

feito o seu doutoramento em 1931, parece-nos que o período entre guerras foi para ele

essencialmente de estruturação pois esteve sujeito à influência de duas grandes correntes da

psicologia. Em 1926, quando entrou na Universidade de Columbia (segundo Flanagan &

Flanagan, 2004, p. 176) estava inculcado o comportamentalismo (de John Watson) por isso

foi inicialmente orientado para uma corrente mais experimental da psicologia (o que terá

contribuído para o facto de Rogers ter sido o pioneiro da pesquisa em psicoterapia com as

gravações das suas consultas). Mais tarde, em 1929 quando trabalhou no Centro de

Observação Infantil (orientado pelas ideias do psiquiatra neo-freudiano Alfred Adler) Rogers

recebeu influências da psicanálise tendo sido então treinado para o diagnóstico, a prescrição e

para uma abordagem profissional impessoal. Porém Rogers apercebeu-se da ineficiência da

psicanálise e começou a ouvir e a seguir os clientes (o que se revelou mais eficaz).

Durante a Segunda Grande Guerra viveu uma fase de consolidação (marcada por dois

importantes livros) para um período de autorrealização após 1945. Foi aliás na fase de

consolidação que Rogers mais desenvolveu a TCP (1942-1945) para depois lhe dar grande

aplicabilidade (e maturá-la) uma vez que (segundo Hergenhahn & Henley, 2013, p. 613) após

a Segunda Guerra a necessidade de psicoterapia excedeu a capacidade dos psicoterapeutas.

Em 1944 Rogers estimou que cerca de 80% dos veteranos pediram apoio no reajustamento à

vida civil, desgostosos (porque a família não percebia os horrores da guerra) e manifestando

inquietações, perturbações do sono, excessiva emocionalidade e problemas conjugais.

Principais Contribuições para a Psicologia


Perspetivamos as contribuições de Rogers para a psicologia segundo três ângulos:

macrossistémico (as influências sobre a psicologia em geral), transsistémico (as influências

da TCP sobre a psicoterapia em geral) e microssistémico (as influências sobre outros

psicoterapeutas e investigadores em psicologia).


BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 8

Influência Macrossistémica – A Corrente da Psicologia Humanista

Conforme reconhece Hansenne (2004, p. 153) Rogers “é, sem sombra de dúvidas, o

maior representante da psicologia humanista (…) [uma nova corrente que se impôs] nos anos

1950-1960, na sequência da publicação de diversos livros de Rogers (1961, 1969, 1980) e de

Maslow (1962, 1968)” assim como do Jornal de Psicologia Humanista (criado em 1961).

Segundo Aanstoos, Serlin e Greening (2000, pp. 6-11) em 1963 (em Filadélfia) ocorreu a

primeira reunião da Associação de Psicologia Humanista (APH) de onde resultou um artigo

(Humanistic Psychology: A New Breakthrough) que serviu de base para a orientação da APH.

Em 1970 a APH criou o Instituto de Psicologia Humanista e em 1971 a psicologia humanista

passou a ser a 32.ª Divisão da APA (com o nome Society for Humanistic Psychology).

De acordo com o site da APA (2013): “A sociedade representa uma constelação de

‘psicologias humanistas’, que inclui as orientações Rogerianas iniciais, transpessoal e

existencial, bem como as perspetivas em desenvolvimento mais recentes das psicologias

fenomenológica, hermenêutica, construtivista, feminista e pós-moderna”. Hoje em dia a

divisão humanista busca contribuir para a “educação, teoria, investigação, diversidade

epistemológica, diversidade cultural, organização, gestão, mudança e responsabilidade

social”. Myers (2013, p. 434) acrescenta que “uma coisa que se disse de Freud também pode

ser dito dos psicólogos humanistas: o seu impacto tem sido generalizado (…) influenciaram o

aconselhamento, a educação, a disciplina infantil e a gestão. E prepararam o terreno para a

psicologia positiva científica contemporânea”.

Mas houve outro efeito macrossistémico: conforme suprarreferido (gravando as

consultas) Rogers foi pioneiro na investigação do processo terapêutico dado que até então “a

inviolabilidade da sala de terapia era guardada firmemente. Rogers abriu a terapia e tornou-a

um objeto de estudo, em vez de um assunto misterioso”. (Trull & Prinstein, 2013, p. 378)
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Influência Transsistémica – A Terapia Centrada na Pessoa

Transsistemicamente, a principal contribuição teórico-prática de Carl Rogers para a

psicologia foi a TCP, que (segundo Trull & Prinstein, 2013, p. 378) providenciou uma séria

alternativa às tradicionais terapias psicanalíticas através do foco na pessoa em evolução (em

vez de se centrar na vítima da história pessoal) e na substituição do papel do paciente (de

passivo e dependente da opinião do médico, para ativo na sua procura de liberdade) e do

terapeuta (que passou de um papel autoritário para uma posição positivamente colaborativa),

o que resultou numa terapia muito mais breve que a psicanálise e com menos requisitos de

formação (o que foi de encontro às grandes necessidades de saúde mental nos E.U.A).

Segundo Flanagan e Flanagan (2004, p. 179-182) a TCP inclui duas teorias: (1) uma

sobre a personalidade que engloba 19 proposições (complexa e difícil de articular, e talvez

por isso lhe seja dada pouca atenção) e (2) uma sobre a psicoterapia onde se assume que se as

psicopatologias radicam nas experiências de julgamento e de invalidação do eu (por outros

sujeitos significativos), então, um ambiente de não-julgamento pode propiciar a saúde

psicológica. Observaremos de seguida as principais caraterísticas de cada uma destas teorias.

A teoria da personalidade. Como esclarecem Flanagan e Flanagan (2004, p. 179-

180) esta teoria é essencialmente sobre o self, o qual é uma porção do organismo (ou

verdadeiro self, cf. p. 181) englobando este toda a experiência psicológica. Por sua vez a

distinção entre self (uma parte) e organismo (o todo) abre a possibilidade de inconsistências

entre ambos, ao que Rogers chamou de incongruência; em contraste haverá congruência

quando as experiências e perceções do self são consistentes com a experiência psicológica

geral (do organismo), o que é desejável pois leva ao ajustamento e à maturidade.

Rogers defendia ainda que o ser humano possui uma tendência atualizante ou

formativa (num sentido de uma maior realização, que envolve não só a manutenção como a

melhoria do organismo) que é acompanhada da capacidade de aprender e de necessidades


BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 10

aprendidas: a de consideração positiva e a de autoconsideração, ambas, condições de valor.

Estas porém não se desenvolveriam se um sujeito só experienciasse consideração positiva

incondicional; e assim, sem incongruência, o sujeito seria psicologicamente ajustado).

A teoria da psicoterapia. Conforme Flanagan e Flanagan (2004, p. 182) a

incapacidade de aprender com a experiência (evitando-a ou ignorando-a) é o que melhor

caracteriza a psicopatologia, por isso na TCP os clientes são estimulados a tornarem-se mais

abertos a aprenderem com novas experiências em vez de se agarrarem às condições de valor

introjetadas dos pais (para modificarem o seu autoconceito com base nas novas experiências).

Rogers advogava que se os terapeutas confiarem nos clientes e criarem uma relação

específica, estes serão mais autoconfiantes e voltar-se-ão para um maior desenvolvimento

pessoal e saúde psicológica. Para isso é necessário considerar seis condições: (1) duas

pessoas (cliente e terapeuta) estão em contato psicológico; (2) o cliente está num estado de

incongruência, vulnerável ou ansioso; (3) o terapeuta, é congruente ou integrado na relação;

(4) o terapeuta experiencia consideração positiva incondicional para com o cliente; (5) assim

como “uma compreensão empática do quadro de referência interno do cliente e esforça-se

para lhe comunicar esta experiência; (6) a comunicação com o cliente da compreensão

empática e da consideração positiva incondicional do terapeuta é um grau mínimo

alcançado”. (Rogers, 1957, p. 95; citado por Flanagan & Flanagan, 2004, pp. 182-183)

Assim, de acordo com Flanagan e Flanagan (2004, p. 183), as condições nucleares

desta terapia são a congruência, a consideração positiva incondicional e a empatia. Segundo

Trull e Prinstein (2013, pp. 374-375) a congruência diz respeito à genuinidade do terapeuta

ao expressar os sentimentos que o cliente lhe estimula (ao invés de se esconder numa máscara

de calma perante observações perturbadoras); a consideração positiva incondicional é o

respeito do terapeuta pelo cliente, não o julgando mas aceitando-o e confiando na sua

capacidade de atingir o seu potencial interno (criando uma atmosfera onde solta as defesas e
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pode, na ausência de ameaças, começar a crescer como pessoa); a empatia implica que o

cliente sinta que o terapeuta se esforça para o compreender (sendo sensível às suas

necessidades, sentimentos e circunstâncias). E foi precisamente porque (conforme referem

Flanagan & Flanagan, 2004, pp. 184-185) a empatia é a condição terapêutica mais pesquisada

e reconhecida por várias orientações psicoterapêuticas (incluindo as cognitivas e as

comportamentalistas), que designámos esta influência de Rogers por transsistémica.

Influência Microssistémica – Alguns Casos

Conforme Flanagan e Flanagan (2004, p. 178) alguns dos alunos e seguidores

influenciados por Rogers foram: Eugene Gendlin (criador da terapia experiencial chamada

focusing), Leslie Greenberg (criadora da psicoterapia processo-experiencial), Bernard e

Louise Guerney (criadores da Relationship Enhancement Therapy), William Miller e Stephen

Rollnick (criadores de estratégias de entrevistas motivacionais para pessoas com problemas

de dependência) e Virginia Axline, criadora da ludoterapia também conhecida por:

Terapia lúdica não-diretiva. Axline escreveu um livro importante (Play Therapy)

sobre a ludoterapia (que aplica a TCP a crianças), a qual foi considerada por Carl Rogers (no

prefácio da obra de Axline) como:

A porta de entrada para o mundo interior da infância, sobre o qual tanto tem sido

escrito, mas que raramente é desvendado. Aqui as crianças são vistas de dentro, seus

temores, suas necessidades mais profundas, seus ódios mais amargos, suas emoções

mais remotas, seu desejo de crescer em espírito tanto quanto no físico. (1972, p. 13)

Segundo Axline (1972, pp. 25-34) quando os objetivos de autorrealização são

bloqueados por pressões externas cria-se uma área de resistência interior, não obstante, o

desejo continua e é demonstrado no comportamento: através de uma luta exterior (para

alcançar o objetivo na realidade) ou confinando-o internamente (onde, de forma artificiosa e


BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 12

com menos esforço, pode satisfazer o seu desejo). Porém, quanto mais o sujeito se volta para

o seu interior, mais se separa da realidade (e mais difícil é ajudá-lo). A ludoterapia baseia-se

no pressuposto de que os sujeitos com problemas possuem internamente a capacidade de os

resolver; assim sendo, o terapeuta aceita os sujeitos, sem avaliações, instruções ou pressões

para mudarem, mas dando-lhes retorno empático, sendo congruente e demonstrando-lhes uma

consideração positiva incondicional, para que as crianças usem os brinquedos como um meio

para expressarem livremente (verbal e/ou corporalmente) os seus sentimentos tensos,

frustrações, agressividades, medos e confusões (sem serem recriminadas por um adulto). Esta

ausência de forças externas bloqueadoras e a expressão das tensões da criança leva ao

desaparecimento da sua barreira psicológica e à sua maturidade construtiva e positiva.

A empatia e a psicopatia. Um outro exemplo, também atual, da influência do legado

de Carl Rogers é o que se encontra no âmbito de estudo da psicopatia onde Besche-Richard

questiona se este transtorno não radicará em perturbações na capacidade de empatizar.

Segundo esta autora (2008, pp. 159-169) a empatia é determinante no êxito da psicoterapia,

pois os clínicos mais eficazes (independentemente da sua formação teórica) são os que

conseguem empatizar (sem confundir os seus sentimentos com os do cliente) o que parece ser

uma base para compreender os comportamentos do cliente e predizer as suas ações.

Como resultados das investigações a autora destaca vários estudos: o de Soderstrom

(Psychopathy as a disorder of empathy, 2003) advogando que os psicopatas sofrem de uma

“perturbação do funcionamento das zonas cerebrais envolvidas na compreensão e na gestão

das situações sociais” (Besche-Richard, 2008, p. 161); o de Abu-Akel et al. (2004) onde se

afere em doentes esquizofrénicos paranoides uma fraca capacidade de empatizar; o de

Mehrabian (1997) onde foram comparados psicopatas com sujeitos com esquizofrenia

paranoide (com comportamentos violentos) e se concluiu que quanto menos empáticos mais

agressivos são; a meta-análise feita por Jolliffe et al. (2004) sugerindo que a delinquência
BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 13

está inversamente relacionada com a empatia; e o de Palmeri Sans et al. (2004) concluindo

que “uma fraca capacidade de empatia aumenta a tendência para comportamentos agressivos,

ou até violentos, e para dificuldades de adaptação social” (Besche-Richard, 2008, p. 163).

Localização das Contribuições nas Principais Correntes da Psicologia

Conforme se afere em Moghaddam (2005, p. 8) as contribuições de Rogers seguem-se

às influências do estruturalismo, do comportamentalismo e da psicanálise; e coexistem com

as influências das correntes da psicologia cognitiva e da forma (ou gestalt). Refere também

Moghaddam que apesar das várias escolas diferirem nas suas orientações, todas buscam as

causas do comportamento, daí que se possam dividir em duas grandes ciências: causal (com

foco nas relações de causa-efeito entre pensamento e ação) e normativa (com foco nas

“regularidades do pensamento e da ação, em associação com normas, regras, valores e outras

características culturais”. 2005, p. 7). Observa-se então que a obra de Rogers se espraia nas

duas divisões: as teorias (da personalidade e da psicoterapia) na causalidade e a investigação

(estudando padrões de comportamento através das gravações das sessões) na normatividade.

Todavia Moghaddam refere ainda que uma forma de reconcetualizar a distinção entre

a psicologia causal e a normativa é pensar em todo o comportamento numa dimensão com

diversos graus de liberdade, dado que em algumas circunstâncias fica disponível uma ampla

gama de comportamentos possíveis (e neste caso o grau de liberdade é alto), enquanto

noutras situações a variedade de comportamentos possíveis é pequena (e neste caso o grau de

liberdade é baixo); assim, “o estudo do comportamento com menos graus de liberdade tem

sido mais rigoroso e representativo do lado da psicologia mais próximo das ciências duras”

(2005, p. 9) ou seja, da psicologia causal. Então, teremos de relocalizar Rogers com um maior

peso na psicologia normativa, dado que para além da investigação a TCP permite altos graus

de liberdade (pois os clientes recebem apoio incondicional para se expressarem).


BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 14

Apreciação global
Face ao supraexposto e com base na questão de Moghaddam (2005, p. 2): “O que

produz uma grande ideia?” No âmbito da psicologia e nos critérios que lhe dão resposta,

afere-se que Carl Rogers teve uma grande ideia com a sua TCP uma vez que influenciou a

perceção sobre o comportamento humano (e.g., na relação terapêutica onde o cliente é visto

de outra forma), continua a ser eficaz na sua aplicação prática (não só na psicoterapia como

noutras áreas, e.g., a educação), continua a estimular investigação (e.g., as centenas de

artigos já publicados em 2013, listados, com as chaves de pesquisa <person-centered rogers>,

no site http://www.sciencedirect.com) e sobreviveu ao tempo (e.g., no Reino Unido existe a

World Association for Person Centered & Experiential Psychotherapy & Counseling, que

agrega organizações de várias partes do mundo, listadas no site http://www.pce-world.org).

Ainda assim Trull e Prinstein (2013, p. 381) advogam que a linguagem Rogeriana

quase possui uma função publicitária; palavras como não-diretiva e centrada-no-cliente além

de transmitirem algo de positivo implicitam que outras abordagens são diretivas ou

centradas-no-terapeuta. Esta é uma opinião linguisticamente discutível em termos de análise

semântica. Menos discutível é o facto de Rogers (conforme Thorne, 1992; citado em Gross,

2009, p. 24) ter feito entre 1940 e 1960 “a investigação mais intensiva da psicoterapia tentada

em qualquer parte do mundo até aquele momento” deixando claro que a psicoterapia poderia

e deveria ser submetida ao rigor da investigação científica, o que está alinhado com a genuína

cientificidade (do ponto de vista de uma abordagem qualitativa-indutiva) veiculada pelas

palavras de Rogers (2009, p. 29): “nenhuma ideia de qualquer outra pessoa, nem nenhuma

das minhas próprias ideias, tem a autoridade de que se reveste a minha experiência.” E é

cientes de que a experiência de estudar a vida e a obra do Professor Doutor Carl Ramson

Rogers foi para nós muito enriquecedora, que lhe dedicamos uma última palavra: gratos.
BIOGRAFIA DE CARL R. ROGERS 15

Referências
Aanstoos, C. Serlin, I., & Greening, T. (2000). History of Division 32 (Humanistic

Psychology) of the American Psychological Association. In D. Dewsbury (Ed.),

Unification Through Division: Histories of the Divisions of the American

Psychological Association, Vol. V. Washington, DC: American Psychological

Association.

American Psychological Association, About Us. (2013). Report of the APA Task Force on

About Division 32 Society for Humanistic Psychology. Retrieved from

http://www.apadivisions.org/division-32/about/index.aspx

Axline, V. M. (1972). Ludoterapia: A Dinâmica Interior da Criança. Minas Gerais:

Interlivros.

Besche-Richard C. (2008). Comportamentos Anti-Sociais: das Emoções à Cognição Social.

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