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VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 3353-3365

CAPACITAÇÃO DE PAIS ATRAVÉS DE PROGRAMA EDUCATIVO


INFORMATIZADO: ANÁLISE FUNCIONAL E REFORÇAMENTO DIFERENCIAL
DE COMPORTAMENTOS ALTERNATIVOS (DRA).

Silvia Aparecida FORNAZARI1


Patrícia Belgamo ROSSETTO
Aline Cristina Monteiro FERREIRA
Josiane Ferreira ZORZENON
Mariana PROENÇA

Universidade Estadual de Londrina – UEL – Londrina/PR


Apoio: FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA

Introdução
É de fundamental importância capacitar pais de crianças e jovens portadores de deficiência,
para que possam lidar adequadamente com os comportamentos inadequados de seus filhos.
Para tanto, de acordo com o presente trabalho, torna-se necessário o ensino de novas
habilidades sociais e princípios da Análise do Comportamento.
Além disso, o homem é por natureza um ser social, portanto, é essencial que esteja apto a se
relacionar em diversos contextos, tendo assim uma agradável vida em sociedade. Deste modo
os pais podem auxiliar no desenvolvimento e manutenção de habilidades sociais e
conseqüentemente no relacionamento social desejável durante o processo de aprendizagem,
seja ele formal ou informal (VILA, 2005).
A rotina do lar é alterada quando há o nascimento de uma criança com deficiência ou quando
há o aparecimento de qualquer necessidade especial em algum membro da família. Os pais
acabam se perguntando de quem é a culpa, como seu filho passará pelas dificuldades e como
eles, como pais, agirão. Segundo Maciel (2000), nesse momento a dinâmica familiar fica
fragilizada, pois os pais imaginam que terão um caminho longo e tortuoso de combate à
discriminação e ao isolamento. Os pais ou responsáveis por pessoas com necessidades
educacionais especiais acabam se tornando pessoas com necessidades especiais, uma vez que
eles precisam de orientação e principalmente do acesso a grupos de apoio. Maciel (2000, p.
53) afirma que os pais "intermediarão a integração ou inclusão de seus filhos junto à
comunidade. Cada deficiência acaba acarretando um tipo de comportamento e suscitando
diferentes formas de reações, preconceitos e inquietações".
De acordo com Matos (1999), uma análise funcional considera aspectos do ambiente e a
função que o comportamento tem nele. São permitidos futuras intervenções e o planejamento
de condições para a generalização e manutenção da ocorrência de um fenômeno a partir da
identificação de variáveis importantes para a sua ocorrência, podendo, este fenômeno, ser um
comportamento em estudo. Segundo Skinner (1998), analisar as contingências das quais um
comportamento é função é extremamente importante no controle comportamental, tendo a
noção de controle implícita em uma análise funcional. O conceito de contingência é o
principal instrumento conceitual adotado para realizar uma análise funcional, este conceito foi
introduzido por Skinner em 1938 e aparece como central em seu livro Ciência e
Comportamento Humano. Explica que as relações entre (1) freqüência de resposta, (2) a

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ocasião na qual esta ocorre e (3) as conseqüências da mesma, constituem as chamadas


"contingências de reforço", sempre tendo todas estas partes especificadas. A análise
funcional, segundo Meyer (2003), consiste em identificar as relações entre eventos ambientais
e as ações do organismo. É afirmado pela autora que primeiro deve-se identificar o
comportamento de interesse, enunciado tanto em termos de ação ou omissão de ação tanto
como em termo de classe de ações, ao se fazer esse tipo de análise.
A população com deficiência mental severa ou múltipla apresenta um repertório
comportamental bastante limitado. A instalação de comportamentos adequados que possam
ser reforçados, isto é, mantidos através da apresentação de conseqüências que resultam no
fortalecimento do mesmo, é fundamental para um processo que procura reduzir
comportamentos inadequados que, segundo Fornazari (2005), são tidos como
comportamentos-problema, sendo indesejados e que contribuem para a estigmatização social
da pessoa que os apresentam. O procedimento de Reforço Diferencial de Comportamentos
Alternativos (DRA) mostra resultados relevantes na redução destes comportamentos
chamados de inadequados que esta população apresenta. Neste procedimento, o reforçamento
para um comportamento que está sendo ensinado ou treinado é liberado depois de uma ou
mais ocorrências desse comportamento particular, que não necessariamente é incompatível
com o comportamento indesejado.
Partindo dessas informações é possível perceber a relevância na capacitação, em Análise
Funcional e DRA, de pais de crianças que freqüentam a educação especial, assim como dos
pais de crianças que freqüentam a educação regular. Capacitar pais para manejar os
comportamentos inadequados e possibilitar o ganho de habilidades sociais, é aspecto
fundamental para a redução de riscos de transtornos mentais, sendo que é na família que são
encontradas as primeiras possibilidades de prevenção e promoção da saúde mental. A
instalação de novas habilidades que sejam requeridas como adequadas e importantes para o
desenvolvimento cognitivo, físico e social da criança é de extrema importância.
A utilização de um programa informatizado para a capacitação de pais e professores
elaborado para o estudo de Fornazari (2005) entra em conformidade com características
expostas por Skinner (1972) para uma aprendizagem adequada e eficaz. Programando uma
seqüência cuidadosamente programada de pequenos passos, que possam ser dados sem
esforço e sem erros, um software adquire estas características. Neste estudo, o software foi
iniciado com uma etapa de treino de conceitos-chave no entendimento e utilização de
princípios da análise do comportamento, passando para uma segunda etapa em que análise
funcional foi ensinada, apresentando situações específicas de sala de aula ou de ambiente
institucional, em que as respostas implicavam na correta utilização do procedimento de
reforçamento diferencial de comportamentos alternativos (DRA). Concomitante ao presente
estudo, tal software utilizado está sendo reformulado visando readequar o programa com o
objetivo de sanar dificuldades encontradas no estudo de Fornazari (2005), para possibilitar o
uso, além de professores, também a pais de alunos inseridos no ensino especial e regular, que
atendam crianças com problemas comportamentais e em habilidades sociais. Enquanto
resultados, espera-se que os pais sejam capazes de atuar de forma a desenvolver
comportamentos mais adequados socialmente em seus filhos, através da correta utilização da
análise funcional e do procedimento de reforçamento diferencial de comportamentos
alternativos (DRA), assim como dos princípios das habilidades sociais educativas.
Portanto, o presente estudo visa oferecer à pais um conhecimento acerca das questões
referentes à análise funcional, capacitando-os a identificar as contingências que estejam

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atuando em cada situação específica, e agir de acordo com os princípios da Análise do


Comportamento visando reduzir os comportamentos inadequados e ao mesmo tempo treinar
comportamentos adequados que possibilitem a inclusão total dessas pessoas.

Materiais e métodos
Participantes:
Pais ou responsáveis de doze alunos com necessidades educacionais especiais ou com alguma
queixa de problemas de comportamento ou inadequação social. Os participantes assinarão o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Local:
Escolas participantes do projeto ou na residência da criança, quando os pais não puderem
comparecer à escola para a capacitação.
Materiais e Equipamentos:
Para a readequação do software foi utilizado o serviço terceirizado de um programador. E
para a aplicação do software, serão necessários dois computadores do tipo portáteis
(notebooks), os quais possibilitarão o trânsito dos mesmos pelos locais de treinamento dos
pais. Na coleta de dados além dos computadores com o software instalado, será utilizada uma
filmadora digital, DVDs e impressora. Para a análise dos dados serão utilizados Microsoft
Office Excel e Word.

Instrumentos:
Inventário de Habilidades Sociais (IHS - DEL PRETTE): este instrumento de auto-relato é
composto por 38 itens que descrevem situações de interação social em contextos distintos
(trabalho, família, lazer, entre outros), nos quais a pessoa faz uma estimativa da freqüência
dos comportamentos mais prováveis na interação com diferentes interlocutores.
Software "ENSINO": Terceira versão do software “Ensino a professores”. Os participantes
passam por três etapas com duas fases cada (fases de treino e teste). O programa fornece
conceitos e situações-problema as quais simulam comportamentos inesperados de alunos,
onde são apresentados para cada conceito uma definição e 3 exemplos de situações na mesma
tela, posteriormente mudando para outra tela em que o usuário do programa recebe uma
orientação e tem duas alternativas para responder à veracidade da afirmação feita sobre a
situação.
As etapas constituem-se de ensinar na seguinte ordem: 1) conceitos básicos de princípios de
aprendizagem, 2) capacitação em análise funcional e 3) capacitação no procedimento de
DRA. As duas fases presentes em cada etapa serão Fase de Treino e Fase de Teste. No treino,
ao clicar em algum dos botões para resposta, é apresentada uma tela de feedback dizendo se a
alternativa escolhida está correta ou errada. Não há um critério mínimo de acerto para
prosseguir para a Fase de Teste, onde cobra-se um critério de 80% de acerto para prosseguir à
outro conceito, e as respostas não tem como conseqüência a apresentação de tela de feedback.
São reapresentadas 50% das questões da Fase de Treino. Se não for alcançado o critério, o
participante volta para a Fase de Treino do conceito em estudo. Entre cada conceito estudado,
haverá a apresentação de uma tela em que o participante pode fazer sugestões ou escrever
dúvidas sobre o programa. Estas respostas ficam gravadas para futura análise e servem para
aperfeiçoamento do software.

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Procedimento
Fase 1- Reformulação do software: A reformulação foi feita considerando as seguintes
necessidades citadas por Fornazari (2005) e Fornazari e Oliveira (2008). Com a nova versão
há a possibilidade de reiniciar o trabalho no ponto em que foi interrompido, já que a versão
antiga do software permite apenas que o participante inicie o treinamento por uma das etapas
previstas. Além disso, espera-se também que seja possível a inclusão do número de etapas que
um estudo possa requerer: esta alteração é interessante devido ao objetivo de que o software
possa ser utilizado para a inclusão de conteúdos diferentes, para treinamentos em assuntos
distintos, assim o conteúdo pode ser desenvolvido da maneira mais adequada ao tema.
Fase 2 – Análise sistemática do ambiente em que será desenvolvida a pesquisa, para levantar
situações-problema e necessidades: No levantamento das necessidades específicas do
ambiente estudado, foram realizadas filmagens e observações sistemáticas. Foram obtidos os
dados necessários em um ambiente específico onde possa ser observada a interação dos pais
com seus filhos. Também foi realizada a avaliação do repertório de habilidades através da
aplicação do Inventário de Habilidades Sociais (IHS - DEL PRETTE, 2001). Esta foi
realizada em um encontro individual a fim de avaliar o repertório social dos participantes e
contribuir para aferir habilidades e dificuldades interpessoais na interação com diferentes
interlocutores em contextos sociais distintos.
Fase 3 – Elaboração e descrição das estratégias e conteúdos: Os dados obtidos na Fase 2
foram utilizados no desenvolvimento das estratégias e conteúdos específicos inseridos no
software. Nesta fase, pretendeu-se garantir o desenvolvimento de estratégias e conteúdos que
possam ser expostos pelo software de modo a que seja suficiente, sem a necessidade de
procedimentos complementares como as sessões de treinamento por vídeo feedback utilizados
em Fornazari (2005) e Giansante e Fornazari (2008). Contudo, vale à pena considerar que, na
obtenção de dados que demonstrem que tal objetivo não tenha sido alcançado, as sessões de
vídeo feedback serão utilizadas, garantindo assim, a efetividade da capacitação oferecida aos
participantes.
Fase 4 – Capacitação em manejo comportamental e do THS educativas, com ênfase em
análise funcional para promoção da saúde mental, por meio do Software: Nesta fase será
realizada uma filmagem de linha de base antes da aplicação do software, com o propósito de
verificar se os problemas de comportamento e habilidade social observados nas filmagens da
Fase 2 se mantêm. Então será realizada a capacitação em manejo comportamental, utilizando
de 4 a 6 sessões de cerca de uma hora cada. Para a verificação de modificações no repertório
comportamental dos participantes será realizada uma nova filmagem. Será então realizado o
programa de THS, com ênfase em análise funcional. As categorias que serão trabalhadas no
Programa de THS Educativas para que os professores generalizem para o contexto de
interação com os alunos, serão baseadas nos dados obtidos a partir das filmagens da Fase 1,
além dos estudos de Vila (2005) e Del Prette (2001). A seqüência de filmagem, aplicação e
filmagem será repetida.
Fase 5 – Análise dos dados e encontro de encerramento: Os dados das filmagens serão obtidos
a partir da utilização do software EthoLog 2.25 (OTTONI, 2000), que possibilita a
quantificação de freqüência e duração dos comportamentos registrados. Será feita a
reaplicação do Inventário de Habilidades Sociais e o processo será finalizado com um
encontro individual para avaliação do programa de capacitação.

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Resultados
A execução da Fase 1, reformulação do software, demorou mais do que o estimado devido a
algumas dificuldades. Dentre estas, podemos citar a dificuldade do programador em
compreender o que havia sido pedido e/ou, a dificuldade em construir de determinada
maneira. As correções feitas nos conceitos e situações presentes no software, também
contribuíram para o atraso da aplicação.
Uma vez que a possibilidade de aplicar o software em doze pais, objetivo deste projeto, não
era mais viável por causa do atraso na reformulação do software, foi feito um teste piloto em
uma mãe de uma criança com problemas de comportamento. A participante demorou três
sessões, com duração de cerca de 90 minutos para concluir a capacitação.
A seguir, as Figuras 1, 2 e 3 apresentam os resultados para cada conceito e/ou categoria
estudada pela participante, de acordo com as 3 etapas do software.
Na Etapa 1, pode-se constatar que a participante não teve muitas dificuldades, uma vez que
obteve o resultado de 100% em 13 conceitos, dos 14 estudados. Apenas no conceito de
consequência obteve um resultado inferior, acertando 80%.

Figura 1 – Porcentagem de acertos na Fase de Teste, de acordo com os conceitos estudados


na Etapa 1 apresentada pelo Software ENSINO.

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Figura 2 – Porcentagem de acertos na Fase de Teste, de acordo com as categorias estudadas


na Etapa 2 apresentada pelo Software ENSINO.

A Etapa 2, por envolver Análise Funcional e DRA, mostrou-se mais complexa, sendo que a
participante obteve resultado de 100% em apenas 2 das 6 categorias. Nesta etapa, também
houve a necessidade de realizar o treino novamente nos conceitos de birra e indisciplina, uma
vez que o critério de 80% não foi alcançado no primeiro teste. Na segunda tentativa a
participante obeteve 83,3% de acerto nas duas categorias.

Figura 3 – Porcentagem de acertos na Fase de teste, de acordo com os conceitos estudados na


Etapa 3 apresentada pelo Software ENSINO.

A Figura 3 expõe o bom desempenho da participante, uma vez que dos 9 conceitos
apresentados, em 8 ela conseguiu obter 100% de acertos nas Fases de Teste. O conceito de
solicitar mudança de comportamento foi o único que apresentou 80% de acertos na Fase de
Teste.

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Para comparar os comportamentos da mãe antes e depois da aplicação do software, foram


realizadas filmagens em interação com a filha. Os gráficos a seguir mostram o número de
ocorrência dos comportamentos de Habilidade Social na primeira filmagem, antes do
treinamento com o software, e na segunda filmagem, após o treinamento.
Na Figura 4, nota-se que, embora já houvesse uma quantidade razoável dos comportamentos
de habilidade social, antes da aplicação do software, após a capacitação, a frequência de
comportamentos adequados aumentou.

Figura 4:

Número de ocorrências de comportamentos de Habilidades Sociais, de acordo com o tempo


de observação, dividido em intervalos de 5 minutos.

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Figura 5: Número de ocorrências de comportamentos de Assertividade de acordo com o


tempo de observação, dividido em intervalos de 5 minutos.
Nos primeiros minutos das duas filmagens, como demonstrado na Figura 5, a freqüência do
comportamento de assertividade foi a mesma, no entanto no decorrer do tempo, este
comportamento foi mais apresentado na segunda filmagem.
A Figura 6 apresenta o número de ocorrências do comportamento não verbal de habilidades
sociais. Nesta figura, pode-se observar que os comportamentos não verbais de habilidade
social, estão mais presentes na primeira filmagem, do que na segunda. Uma possível
explicação para tal resultado é que, por se tratarem de filmagens de atividades diferentes, a
primeira atividade requisitava mais comportamentos desta ordem.

Figura 6: Número de ocorrências de comportamentos não verbais de Habilidades Sociais de


acordo com o tempo de observação, dividido em intervalos de 5 minutos.

Figura 7: Número de ocorrências de comportamentos de Habilidades Empáticas de acordo


com o tempo de observação, dividido em intervalos de 5 minutos.
A Figura 7 demonstra que, comportamentos relacionados à empatia aparecem mais na
segunda filmagem do que na primeira, sendo que a freqüência é maior no tempo de 10-15
min. O comportamento de elogiar, representado na Figura 8, não apareceu nenhuma vez na

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primeira filmagem. Após a aplicação do software, ele apareceu 4 vezes, sendo que na sua
maior freqüência foi no intervalo de 15-20 min.

Figura 8: Número de ocorrências de comportamentos de elogiar, de acordo com o tempo de


observação, dividido em intervalos de 5 minutos.
Um inventário de Habilidades Sociais também foi aplicado, antes e após o software, com
objetivo de verificar se haveria mudanças significativas nesses comportamentos. A
Tabela 1 apresenta os resultados para as 1ª e 2ª aplicações do Inventário de Habilidades
Sociais (IHS):
Tabela 1- Resultados obtidos com o Inventário de Habilidades Sociais.

Escore Pecentílico Escore Percentílico


Fatores 1ª Aplicação 2ª Aplicação

Escore total 67 77
Escore fator 1: Enfrentamento e auto -afirmação
com risco 70 70
Escore Fator 2: Auto -afirmação na expressão de
sentimentos Positivos 40 80
Escore fator 3: Conversação e desenvoltura social 70 80
Escore fator 4: Auto- exposição a desconhecidos
e situações novas 25 30
Escore 5: Autocontrole agressividade 55 77

Pode-se observar que os resultados obtidos após a realização do software, foram


superiores aos que foram obtidos na 1ª aplicação.

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Discussão
O teste piloto, realizado com uma mãe, além de fornecer resultados sobre o funcionamento do
software, possibilitou uma análise geral do grau de dificuldade dos conceitos e categorias. Na
primeira etapa, foram trabalhados os conceitos básicos da análise do comportamento, sendo
que, esses conceitos foram expostos com uma linguagem mais acessível do que a linguagem
científica. Pode-se constatar que a participante não encontrou muitas dificuldades nesta
primeira etapa, uma vez que finalizou o seu treinamento com 100% de aprovação em 13, dos
14 conceitos estudados. Apenas o conceito consequência teve um aproveitamento de 80%.
A segunda etapa mostrou-se mais complexa, uma vez que ia além de mostrar apenas os
conceitos. Nesta etapa, a mãe, após aprender os conceitos, fazia análise funcional,
identificando a possível função daquele comportamento e, depois, ela tinha que identificar o
procedimento de DRA para lidar com tais comportamentos. Das 6 categorias apresentadas,
apenas 2 foram finalizadas com 100% de acertos (autolesão e agressão). Também houve a
necessidade de realizar a Fase de Treino novamente nos conceitos de birra e indisciplina,
uma vez que o critério de 80% não foi alcançado no primeiro teste. Na segunda tentativa a
participante obteve 83,3% de acerto nas duas categorias.
Trabalhar a análise funcional no software é algo impressindível, pois é um procedimento
básico e importante na análise do comportamento. Segundo Fornazari (2005), uma análise
funcional estuda a interação entre o comportamento do organismo e seu ambiente, para
descrever as contingências em que ocorrem os comportamentos, ou seja, consiste em fazer
uma análise dos eventos antecedentes, o comportamento e os eventos conseqüentes, em suas
relações de dependência. A partir dela, podemos identificar qual é a função daquele
comportamento e com isso, possibilitar controle e generalização.
Skinner (1998) traz que, analisar as contingências das quais um comportamento é função é
extremamente importante no controle comportamental, tendo a noção de controle implícita
em uma análise funcional. Não é possível entender o que mantém determinado
comportamento se a análise funcional não for feita. Assim, aprender apenas os conceitos não
seria útil para os pais. Faz-se necessário que eles compreendam que existem vários fatores
envolvidos no comportamento do seu filho e que, investigando e descobrindo o que está nessa
relação, à proposta de mudança será mais efetiva no sentido em que pode ajudar a se
estabelecerem novos repertórios mais adequados.
A Etapa 2 também expõe o participante ao conceito de DRA, mostrando assim, uma
alternativa eficaz na mudança de comportamentos inadequados para comportamentos
adequados. Essa parte do treino exige mais atenção e raciocínio, sendo uma das partes mais
complexas do software. Esse grau de dificuldade fica comprovado quando se compara o
desempenho da participante nas três etapas e a necessidade de realizar um segundo treino por
não obter o critério mínimo no teste.
Na Etapa 3 a participante teve um bom desempenho, uma vez que dos 9 conceitos
apresentados, em 8 ela conseguiu obter 100% de aprovação. O conceito de solicitar mudança
de comportamento foi o único que apresentou 80% de aprovação.
As Habilidades Sociais, ensinadas na Etapa 3, são de suma importância no repertório de todas
as pessoas, devido à convivência em sociedade. Pais com filhos com deficiência ou com
problemas de comportamento precisam ter essas habilidades para que consigam ensinar seus
filhos. Através da capacitação eles podem refinar essas habilidades ou aprender algumas que
não estão presentes em seus repertórios comportamentais. Deste modo os pais podem auxiliar
no desenvolvimento e manutenção de habilidades sociais e consequentemente no

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relacionamento social desejável durante o processo de aprendizagem, seja ele formal ou


informal (VILA, 2005).
Nas filmagens realizadas para observação da interação entre mãe e filha, pode-se constatar
que, embora já houvesse uma quantidade razoável de comportamentos adequados de
habilidades sociais antes da aplicação do software, a frequência de comportamentos
adequados aumentou consideravelmente após o procedimento de ensino.
É válido ressaltar que as duas filmagens foram realizadas a partir de atividades diferentes, que
apresentavam objetivos distintos. Na primeira filmagem, o jogo em questão trabalhava o
conhecimento que uma tinha sobre as preferências e sentimentos da outra, ou seja, elas
deveriam acertar as mesmas respostas e comemoravam juntas quando isto acontecia. Já a
segunda atividade tratava-se de uma competição, na qual ganharia quem acertasse mais
palavras. Nesta situação, havia uma rivalidade. A razão pela qual o primeiro jogo não foi
repetido na segunda filmagem faz-se clara diante do fato de que, por tratarem-se de perguntas
de múltipla escolha com alternativas facilmente possíveis de serem decoradas, o jogo não se
apresentaria eficiente para aquisição de novos resultados e interações entre mãe e filha,
principalmente levando-se em conta que as duas filmagens ocorreram em um curto espaço de
tempo.
Observando que as propostas dos jogos foram diferentes, podemos dizer que tais diferenças
tiveram influência sobre a ocorrência de comportamentos de habilidades sociais. Mesmo
assim, foi possível observar melhoria significativa de ocorrência de comportamentos
adequados na segunda filmagem, mesmo tratando-se de uma situação de rivalidade, onde
diante de comportamentos de contestar e discutir da filha, a mãe soube ser mais habilidosa.
Com relação aos comportamentos de assertividade e empatia, houve um aumento de
frequência destes comportamentos na segunda filmagem. Na primeira filmagem, a mãe
apresentou apenas um comportamento de empatia, enquanto que na segunda ele ocorreu 4
vezes. Dentre esses comportamentos, podemos citar, como um exemplo, a fala da mãe,
quando sua filha diz não conhecer nenhuma profissão com Z, a mãe diz “existe zootecnista!
Você é muito novinha ainda, não ia mesmo conhecer essa palavra”.
Os comportamentos não verbais de habilidades sociais ocorreram em maior frequência na
Filmagem 1 do que na 2, infere-se que isso ocorreu devido a diferença dos jogos, como já
citado. O comportamento de elogiar não apareceu nenhuma vez na primeira filmagem,
enquanto que na segunda ele ocorreu 4 vezes.
Quanto ao conceito de DRA ensinado no software, foi observado, na segunda filmagem, que a
mãe teve aproveitamento deste conhecimento quando, em diversas situações, mostrou-se
empática e capaz de explicar e ensinar palavras e situações novas para a filha. Pode-se dizer
que o DRA esteve presente, pois possibilitou que a mãe ensinasse algo novo e solicitasse que
a menina desse determinada resposta durante a brincadeira, o que seria reforçado
naturalmente já que a conseqüência seria que a filha acertasse a palavra e ganhasse o jogo.
Os resultados do Inventário de Habilidades Sociais (IHS) diferiram entre a primeira e a
segunda aplicação, mesmo as aplicações tendo sido realizadas em um curto intervalo de
tempo. O escore percentílico total foi de 67 na primeira aplicação e de 77 na segunda, ou seja,
na primeira aplicação, 33% das pessoas dada às mesmas condições se sairiam melhor que a
participante e, na segunda aplicação apenas 23% se sairiam melhor.
O Escore percentílico do primeiro fator que corresponde ao enfrentamento e auto -afirmação
com risco, permaneceu o mesmo nas duas aplicações, 70. Isso significa que apenas 30% das
pessoas superariam a participante neste quesito. No segundo fator, que corresponde à auto-

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afirmação na expressão de sentimentos positivos, houve uma grande variação nos escores
percentílicos. Na primeira aplicação ele foi de 40, já na segunda foi de 80. Esse dado
corrobora o que foi visto na filmagem, após o software, a mãe passa a elogiar mais a filha,
expressar mais sentimentos positivos.
No terceiro fator, que corresponde à conversação e desenvoltura social, a participante teve um
melhor desempenho na segunda aplicação, apresentando um escore percentílico de 80, ou
seja, apenas 20% da população a superaria nesse quesito. No quarto fator, auto-exposição a
desconhecidos e situações novas, não houve uma grande variação. Já no quinto fator,
autocontrole e agressividade, o escore percentílico passou de 55 para 77.

Conclusão
O estudo realizado com o programa de ensino para capacitação de pais visou à aprendizagem
dos conceitos básicos da analise do comportamento, possibilitando então um entendimento
sobre a análise funcional e DRA. Esse conhecimento foi fundamental na capacitação piloto
feita em uma única mãe, para que ela soubesse identificar as contingências que estivessem
atuando em uma situação específica. Essa identificação foi vivenciada nas filmagens e ela
pode agir de acordo com os princípios da Análise do Comportamento, visando reduzir os
comportamentos inadequados e ao mesmo tempo ensinar comportamentos adequados para a
filha.
A aplicação piloto realizada, possibilitou observar que, mesmo havendo uma diferença de
tempo consideravelmente curta entre as filmagens antes e após aplicação do software, houve
melhoria e aumento de freqüência de comportamentos de habilidade social por parte da mãe
em situações de interação com sua filha. Mesmo com duas filmagens de apenas 25 minutos
cada, observou-se também a capacidade da mãe de ensinar e solicitar novos comportamentos
para a filha na segunda filmagem, após o software. Isto remete ao conceito de DRA,
demonstrando claramente que o conteúdo sobre DRA e também a forma como foi ensinado à
mãe, teve sua efetividade. Comportamentos de empatia, elogiar, ensinar e solicitar novos
comportamentos foram significativamente aumentados após a aplicação do software. A mãe
colocava-se no lugar da filha, compreendendo que ela não saberia algumas palavras, e a
ensinava assertivamente, solicitando depois que a menina respondesse ao comportamento
aprendido, reforçando-a em seguida.
Através dos resultados obtidos na aplicação piloto, foi possível analisar a efetividade do
software. Corroborando com Fornazari (2005), torna-se mais uma vez válida a persistência
em utilizar o software como forma de introduzir os princípios necessários para a futura
compreensão do que é uma análise funcional, como fazê-la, e por fim, de qual a importância
em utilizar DRA para que comportamentos condizentes no contexto social sejam adquiridos, e
aqueles comportamentos não condizentes sejam enfraquecidos.
Outras considerações mais globais podem ser feitas através deste estudo de capacitação. A
aprendizagem de novos comportamentos e aumento do repertório de habilidades sociais é
fundamental na melhoria das relações entre os indivíduos e qualidade de vida. Considerando
que muitas crianças apresentam dificuldades específicas, e que os pais destas encontram
desafios na educação a ser dada para seus filhos, esta capacitação torna-se efetiva na tentativa
de redução da estigmatização social a partir da redução de comportamentos inadequados e
aumento dos adequados. Isso poderia ser generalizado para todo o contexto social da criança,
aumentando seu repertório de habilidades sociais e proporcionando um melhor
relacionamento com os demais.

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VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 3353-3365

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