Você está na página 1de 2

2.2.

Código literário como policódigo

Em primeiro lugar, refira-se que a abordagem do código literário como policódigo, será
feita com base em Aguiar e Silva (1988).
Em segundo, é importante que se sublinhe que o código literário como resultado da
interacção dos diferentes códigos e sub-códigos pertencentes ao sistema modelizante
secundário configura-se como policódigo. Nele distinguem-se os seguintes códigos:
a) Código fónico-rítmico
O código fónico-rítmico regula aspectos importantes do enredo do texto literário,
mantém uma imediata e fundamental relação de interdependência com o código
fonológico e ainda com o código léxico-gramatical, com o código semântico do sistema
linguístico, para além das que mantém com o código grafemático e a interdependência
com o código métrico e com o estilístico.

b) Código métrico
O código métrico regula a organização particular da forma de expressão dos textos
poéticos, considerados sub-conjunto dos textos literários, quer no concernente à
constituição do verso quer na combinação e agrupamento dos versos em estrofes. À
semelhança dos outros códigos este tem relações com o código fonológico. Tem
também relações de interdependência com o código léxico-gramatical, visto que a
distribuição dos acentos exigida pelo modelo do verso pode impor, por exemplo,
modificação na estrutura frásica. Finalmente relaciona-se com o código semântico.

c) Código estilístico
O código estilístico regula a organização das formas do conteúdo e da expressão do
texto literário, considerando a sua relação de interdependência com o código léxico-
gramatical e suas sensíveis variações diacrónicas e sincrónicas. Relaciona-se ainda
com os códigos: semântico, fonológico, pragmático e técnico-compositivo.
Este código é responsável pela organização da coerência textual a nível semântico
(estrutura profunda) como a nível de textura (estrutura de superfície), mediante
microestruturas que operam no âmbito dos constituintes textuais próximos.

d) Código técnico-compositivo
O código técnico-compositivo orienta e ordena a coerência textual, mediante regras
opcionais ou constritivas de aplicação transtópicas. Tem uma elevada autonomia
perante o código linguístico. Desenvolve relações de interdependência com o código
métrico, com o código estilístico e com o código semântico-pragmático.
Segundo Uspensky apud Aguiar e Silva (1988:105), as influências exercidas sobre o
sistema semiótico literário por outros sistemas modelizantes secundários de natureza
estética, sobretudo a música, a pintura e o cinema, embora verificáveis a qualquer
nível do policódigo literário, ocorrem muito frequentemente ao nível do código técnico-
compositivo.

e)Código semântico-pragmático
Designação justificada pela simples razão de ser impossível estabelecer uma rígida
linha divisória entre os factores semânticos e os pragmáticos, considera-se que a
substância do conteúdo quer no âmbito sintagmático como no pragmático é sujeita a
específicos processos de semiotização até que seja conteúdo numa forma peculiar.
É assim que, como escreve Greimas citado por Aguiar e Silva (1988:105/106):
O código semântico-pragmático regula, no plano pragmático, a produção das unidades
e dos conjuntos semioliterários, resultantes da interacção de factores lógico-
semânticos, histórico-sociais e estético-literários, que manifestam ou o universo
semiótico cosmológico ou o universo semiótico antropológico ou o universo semiótico
social ou um universo semiótico configurado pelas inter-relaçõesdos três universos
antes referidos.

Este código correlaciona-se, através do código semântico, com os códigos religiosos,


míticos, éticos e ideológicos actuantes num determinado espaço geográfico e social e
num tempo histórico, manifestando assim, de forma primordial e privilegiada a visão do
mundo, o modelo do mundo, consubstanciados ao texto literário.
Segundo Dijk apud Aguiar e Silva (1988:106), o código semântico-pragmático
desempenha uma função dominante no policódigo literário, porque a estrutura
profunda do texto é de natureza semântica e só a partir desta estrutura, considerada
programa, se pode analisar e compreender adequadamente a estrutura superficial do
texto, as regras e as convenções fónicas, prosódicas, grafemáticas, métricas,
estilísticas, técnico-compositivas e semântico-pragmáticas que a organizam.

Você também pode gostar