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COMPLIANCE TRABALHISTA EM TEMPOS DE PANDEMIA: BOAS


PRÁTICAS EMPRESARIAIS E O DIREITO AO MEIO AMBIENTE DO
TRABALHO SAUDÁVEL

Larissa Alves Criste1


Paula Dalla Bernardina Folador Seixas Pinto2

RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de demonstrar a importância do


compliance trabalhista em tempos de pandemia, cuja finalidade é assegurar o
efetivo cumprimento das normas de saúde e segurança do trabalho pelos
empresários. A pesquisa demonstra que o meio ambiente saudável e seguro possui
proteção constitucional, e tal amparo alcança tanto o meio ambiente natural como o
meio ambiente artificial, especialmente em tempos de pandemia. O
método/procedimento utilizado é o de pesquisas bibliográficas em sites, doutrina,
jurisprudência e legislação. O método de abordagem é dedutivo, por intermédio de
uma cadeia de raciocínio chega-se a uma conclusão particular. Finalmente, o artigo
demonstra que a implementação do compliance trabalhista enquanto medida
preventiva empresarial auxilia que a empresa cumpra sua função social,
proporcionando um ambiente de trabalho sadio e equilibrado.

Palavras-chave: pandemia; coronavírus; compliance trabalhista; meio ambiente


do trabalho; saúde do trabalhador; direito fundamental.

ABSTRACT: This article aims to demonstrate the importance of labor compliance


in times of a pandemic, the purpose of which is to ensure the effective fulfillment of
occupational health and safety standards by entrepreneurs. The research

1
Pós-Graduanda em Governança, Gestão de Riscos e Compliance – FDV; Pós-Graduanda em
Advocacia Consumerista – EBRADI; Membro da Comissão da Mulher e da Mulher Advogada da 8ª
Subseção da OAB/ES; Advogada inscrita na OAB/ES com o n. 32.620. E-mail:
larissacriste@jeanemartins.com.br.
2
Pós-Graduada em Direito e Processo do Trabalho – FDV; Pós-Graduanda em Governança, Gestão
de Riscos e Compliance – FDV; Membro da Comissão de Direito do Trabalho e Sindical da OAB/ES;
Membro da Comissão de Compliance da 17ª Subseção da OAB/ES; Advogada inscrita na OAB/ES
com o n. 23.108. Sócia fundadora do escritório Dalla Bernardina & Seixas Pinto Advogados. E-mail:
paula@dbspadvogados.adv.br.
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demonstrates that the healthy and safe environment has constitutional protection,
and such protection reaches both the natural environment and the artificial
environment, especially in times of pandemic. The method / procedure used is that of
bibliographic searches on websites, doctrine, jurisprudence and legislation. The
method of approach is deductive, through a chain of reasoning a particular
conclusion is reached. Finally, the article demonstrates that the implementation of
labor compliance as a preventive business measure helps the company to fulfill its
social function, providing a healthy and balanced work environment.

Keywords: pandemic; coronavirus; labor compliance; work environment; Worker's


health; fundamental right.

INTRODUÇÃO

Independente da época em que se vive, ou do espaço no qual você está inserido, o


meio ambiente laboral é uma temática urgente e de extrema relevância. As
discussões acerca do tema demandam ações concretas e inadiáveis capazes de
permitir que todos os indivíduos possam usufruir de forma plena desse direito.

Conforme será explanado, o meio ambiente saudável e seguro possui ampla


proteção constitucional, e seu amparo alcança não só o meio ambiente natural, mas
também o meio ambiente artificial e, neste ponto, merece destaque o local de
trabalho de cada indivíduo. Portanto, não resta dúvida de que surge para o
empregador o dever de assegurar o meio ambiente de trabalho seguro e saudável,
permitindo que os trabalhadores que ali exercem suas atividades gozem de uma
sadia qualidade de vida.

Em tempos de pandemia, toda essa narrativa fica ainda mais aflorada. Os cuidados
devem ser redobrados e toda atenção se volta às formas de prevenção e ao
importante papel da organização em gerir os impactos da crise pandêmica. Nesta
seara, o compliance trabalhista surge como uma importante ferramenta para as
micro, pequenas, médias e grandes empresas. Afinal, nunca se fez tão necessário o
“agir preventivo”.
3

Sendo assim, o presente artigo demonstrou como o compliance trabalhista é


imprescindível no ambiente laboral, especialmente no cenário de enfrentamento à
COVID-19, identificando as práticas positivas que podem ser adotadas pelos
empregadores e como tais práticas são capazes de garantir um meio ambiente de
trabalho seguro e saudável.

1 COMPLIANCE TRABALHISTA: IMPORTÂNCIA PARA A EMPRESA

Antes de mais nada, importa esclarecer o que é compliance. Segundo lecionam os


juízes do trabalho Fabrício Lima e Iuri Pinheiro (2020, p. 42):

O compliance pode ser definido como o princípio de governança corporativa


que tem por objetivo promover a cultura organizacional de ética,
transparência e eficiência da gestão, para que todas as ações dos
integrantes da empresa estejam em conformidade com a legislação,
controles internos e externos, valores e princípios, além das demais
regulamentações de seu seguimento.

Em breves linhas, um programa de compliance (ou integridade) é um conjunto de


medidas a serem adotadas pelas empresas com objetivo de detectar, prevenir e
remediar eventuais riscos. Em outras palavras, suas ferramentas auxiliam na gestão,
no planejamento estratégico, na governança e, principalmente, no estabelecimento
de controles internos aptos a organizar o ambiente de trabalho e assegurar os
direitos legalmente previstos. Nas palavras de Rogéria Gieremek, (Gieremek, 2015) 3

Aplicado na criação e na manutenção de um código de condutas


comportamentais da companhia, o compliance trabalhista entra em cena
para imunizar a atmosfera corporativa contra práticas antiéticas e
ilegais, atendendo à necessidade das corporações de se manterem
pautadas na ética e na legislação vigente.

Segundo informações constantes no relatório “Justiça em números”, produzido pelo


Conselho Nacional de Justiça (CNJ)4, em 2019 2.898.238 (dois milhões, oitocentos e
noventa e oito mil, duzentos e trinta e oito) trabalhadores pleitearam a intervenção
do Poder Judiciário para a resolução de questões envolvendo pendências

3
Disponível em http://compliancebrasil.org/compliance-trabalhista/. Acesso aos 17/08/2020.
4
Disponível em: https://paineis.cnj.jus.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=qvw_l
%2FPainelCNJ.qvw&host=QVS%40neodimio03&anonymous=true&sheet=shResumoDespFT .
Acesso aos 23/04/2020.
4

profissionais. Tais números tornam o Brasil o país com maior número de demandas
laborais.

As informações acima fazem saltar aos olhos que os empreendedores concentram


seus esforços no lucro e na redução de custos, excluindo do espectro do
planejamento empresarial a governança corporativa, o compliance e a consultoria
preventiva trabalhista. Como consequência disso a organização pode até alcançar
seus objetivos, mas a reboque vêem também o crescimento do passivo trabalhista 5.
E não é só, pois a presença de questões judiciais laborais são indicativos de que a
empresa não se preocupa com seus empregados, de modo que há perceptível piora
no clima organizacional e, como nos dias atuais o mercado é o maior regulador, tudo
isso influencia na reputação da empresa perante o mercado e seus consumidores.

O programa de integridade laboral surge justamente para adequar a rotina


trabalhista empresarial à realidade do negócio, oferecendo ao empregador inúmeras
ferramentas capazes de proporcionar uma nova cultura pautada na ética e na
transparência, no treinamento de seus empregados, na aplicação imediata e correta
de medidas disciplinares quando se fizer necessário e na criação de um ambiente de
trabalho seguro e saudável. Segundo leciona Selma Carloto (2019, p. 20):

O compliance trabalhista tem escopo de prevenção de incidentes no


ambiente de trabalho, por meio da busca da efetiva aplicação de um
Programa de Integridade trabalhista, tendo como principais ferramentas:
programas de treinamento e palestras, consultivo, regulamentos internos
trabalhistas, códigos de ética e de conduta, incluindo canais de denúncia,
registros do cumprimento da lei, relatórios e avaliações de desempenho e
correção de erros na empresa das falhas na legislação trabalhista vigente.

Com efeito, além de estabelecer rotinas com vista a prevenir erros, fraudes, multas e
prejuízos, a empresa que está “em compliance” tem a possibilidade de reduzir a
judicialização das questões relativas a relações de emprego. Isso porque nas
demandas levadas à apreciação do Judiciário Trabalhista é notório que as empresas
que implementaram as ferramentas do compliance detém fartas provas a seu favor,
pelo fato de possuírem documentos que comprovam a realização de controles

5
Dívidas oriundas de questões laborais descumpridas que se tornam passivo financeiro da pessoa
jurídica.
5

internos, treinamentos e aplicação de penalidades de acordo com o regulamento


interno elaborado à luz da lei, o que proporciona maior chance de êxito na demanda.

No ambiente de trabalho, especialmente com relação à saúde do trabalhador, o


compliance figura como forte instrumento de compilamento das normas de
segurança e saúde de cada setor do empreendimento, sendo capaz de detectar os
ambientes, equipamentos e funções de risco à integridade dos colaboradores.

Há de se destacar, portanto, que cada vez mais o mercado vem deixando para trás
a mentalidade obsoleta de infringir as leis trabalhistas no intuito de aumentar o lucro,
e as próprias empresas têm exigido a apresentação de relatórios de demandas
judiciais, administrativas, doenças e acidentes profissionais antes da concretização
da parceria comercial. Em outras palavras, as organizações têm deixado patente a
preocupação com a política preventiva, o que se dá por meio do compliance.

Dessa maneira, uma organização que possua baixos índices de demandas


trabalhistas e boa reputação no mercado possui mais chances de firmar parcerias
comerciais tanto nacional quanto internacionalmente.

De ver está que o mercado atual age como verdadeiro agente fiscalizador, de modo
que não é mais possível empreender com base nas premissas antigas de reduzir
custos e aumentar o lucro a qualquer custo. Limitar a atuação da empresa a esses
dois elementos ultrapassados é o mesmo que fadar o negócio ao insucesso, de
modo que é medida de saúde e prosperidade organizacional a adoção das
ferramentas do programa de integridade trabalhista.

Importa, por fim, esclarecer, que não há uma “receita pronta” a ser aplicada
indistintamente a todo e qualquer tipo de gestão empresarial. Todo programa de
integridade deve ser elaborado a partir das particularidades e realidade de cada
empresa e, nesta oportunidade, serão avaliados os riscos, a legislação vigente, o
porte empresarial, o segmento no qual atua, bem como a complexidade das
relações ali existentes.
6

2 O DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO


SAUDÁVEL

No ordenamento jurídico brasileiro, o meio ambiente goza de status de direito


fundamental. A Constituição de 1988, em seu artigo 5º, inciso LXXIII, assegura a
todo cidadão o direito de pleitear a anulação de todo e qualquer ato que venha a
lesionar o meio ambiente. E, ainda, há um capítulo da Carta Magna dedicado a
discorrer sobre as previsões atinentes a esta temática, assegurando que:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Importa destacar que este é um direito que deve estar em constante observação,
vez que diante de um cenário cujo meio ambiente é desvalorizado, diversos são os
direitos que poderão ser igualmente prejudicados. A fim de reforçar esta importância,
foi consagrada na Conferência das Nações Unidas, em Estocolmo (1972), a
Declaração Sobre o Ambiente Humano:

O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute


de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal
que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene
obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações
presentes e futuras. (Grifo nosso)6

Há, portanto, um dever de defesa e preservação do meio ambiente, que obriga não
só o Poder Público, mas toda a coletividade a garantir um meio seguramente
equilibrado, que corrobore com a sadia qualidade de vida de todos. Neste ponto, ao
falar em qualidade de vida, impossível não mencionar o meio onde os indivíduos
passam grande parte de seu tempo ao longo da vida, garantindo sua fonte de renda
e provendo algum tipo de desenvolvimento: o ambiente laboral.

Entende-se por meio ambiente de trabalho o local onde o trabalhador se encontra


aguardando ordens ou realizando obrigações que são fruto da relação de trabalho.
Ney Maranhão (2016, p.83-84), elucida quais seriam os três elementos nucleares

6
Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Meio-Ambiente/declaracao-de-estocolmo-sobre-
o-ambiente-humano.html. Acesso em:18 de jun. 2020.
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para compor a estrutura básica de um meio ambiente de trabalho: ambiente, técnica


e homem.

O ambiente coincide com o local no qual os serviços são prestados, englobando


todos os itens móveis e imóveis, sendo, de fato, o cenário da prestação dos
serviços. A técnica é a atividade exercida naquele espaço, a ação realizada pelo
trabalhador que estará de acordo com a finalidade para qual o mesmo foi
contratado. E, por fim, temos a figura central do homem. Central porque qualquer
ambiente pode ser adaptado para o meio laboral, mas sem a figura do homem,
enquanto trabalhador, este locus nunca poderia ser chamado de meio ambiente do
trabalho.

Outrossim, Francisca Jeane Pereira da Silva Martins e Daury Cesar Fabriz (2018, p.
05) somente reforçam tal ideia, ressaltando que:

(…) as alterações na forma de se prestar o serviço (trabalho em domicílio,


teletrabalho, terceirização, etc) faz com que o conceito de meio ambiente do
trabalho se estenda aos espaços para além dos estabelecimentos daquele
que se beneficiam da força de trabalho do obreiro.

Em outros termos, independente do local de prestação de serviços, surge para o


empregador o dever de assegurar o meio ambiente saudável e equilibrado, de forma
que o trabalhador não venha a sofrer nenhum dano, seja físico ou emocional, em
decorrência da simples execução dos serviços.

Como se não bastasse, cumpre reforçar que a dignidade do ser humano e, portanto,
do trabalhador, é para ele uma garantia fundamental. Os caminhos que levam à
preservação dessa garantia sempre deverão trilhar rumos paralelos àqueles que
compreendem que o local de trabalho de um indivíduo deve, necessariamente,
assegurar condições sólidas de saúde e segurança, garantindo, assim, bases dignas
para uma sadia qualidade de vida. Qualquer cenário que esteja em descompasso
com esses parâmetros deve ser considerado um desrespeito, por parte do
empregador, às mínimas condições que devem ser oferecidas a qualquer
trabalhador, bem como ao seu direito constitucionalmente previsto.
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2. 1 BOAS PRÁTICAS EMPRESARIAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA

Com a pandemia do novo Coronavírus, muitas empresas se viram obrigadas a


fechar as portas temporariamente, em prol de um bem maior que é a saúde coletiva.
O Brasil e o mundo encontram-se em um momento excepcional, que demanda o
empenho de todos em ações de enfrentamento à COVID-19.

Passados alguns meses em quarentena, cumprindo as medidas de isolamento


social, atualmente, a maior parte dos setores da economia pôde voltar às atividades.
A flexibilização existe, mas de forma alguma significa abandonar os cuidados
mínimos para evitar o contágio, afinal, enquanto a vacina não é uma realidade
tangível, o meio mais eficaz de combate à doença é a prevenção.

É fato que a pandemia deu origem, em diversos países do mundo, a um cenário


nunca vivido anteriormente. Forçou o indivíduo a criar meios e soluções para uma
nova forma de viver e conviver em sociedade, fez com que o ser humano se
adaptasse ao novo e ressignificou relações interpessoais. E não poderia ser
diferente com as relações de trabalho. A questão que impera é: como o empregador
pode agir, no sentido de garantir o direito fundamental do trabalhador ao meio
ambiente de trabalho saudável, em tempos de pandemia?

Não podemos fugir daquilo que é inequívoco: a observação aos cuidados básicos de
prevenção, sugeridos em todo protocolo de combate ao novo Coronavírus, é medida
que se impõe. Primeiramente, destaca-se que a realidade virtual tomou grandes
proporções e cabe à cada empresa saber explorar este novo cenário e as suas
possibilidades, bem como prestar orientação constante aos seus empregados sobre
a importância da ergonomia e dos momentos de descanso, por exemplo. Retomar
sua força produtiva não significa, de modo algum, trazer todos os obreiros para
trabalhar, novamente, de modo presencial. O teletrabalho é uma alternativa que, se
bem aproveitada, poderá, inclusive, potencializar a força de trabalho empenhada na
empresa, bem como seus resultados.
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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC


(2020, p. 14-15), constatou a necessidade de adaptação a um novo cenário.
Comprovou-se que, com base na amostragem, 97,9% dos empregados tiveram
mudanças em sua rotina de trabalho durante a pandemia. Ao serem questionados
sobre as principais mudanças, 40,5% dos entrevistados apontaram a modalidade do
teletrabalho como sendo a maior mudança.

Neste ponto, é imprescindível que a política da empresa esteja previamente


estabelecida e que seja de conhecimento do trabalhador, para que as normas sejam
conhecidas por todas e cumpridas de forma ética. O home office não se configura
oportunidade para que o empregado trabalhe mais. Muda-se o ambiente da
prestação do serviço, mas os horários devem ser cumpridos. Claro, há exigências a
serem observadas, mas elas não podem extrapolar o limite da dignidade daquele
trabalhador. O descanso deve ser respeitado, a fiscalização do serviço deve ser
realizada de forma íntegra, deve haver comunicação efetiva entre as partes
envolvidas, o que, em outras palavras, significa dizer que o meio ambiente de
trabalho deve estar saudável, assegurando uma sadia qualidade de trabalho e de
vida ao empregado.

Verificada a necessidade de ter trabalhadores atuando dentro da empresa, ainda


que em modo de revezamento, o empregador deve garantir que todas as medidas
preventivas implementadas sejam adotadas e seguidas. Medição de temperatura
sempre que possível, distanciamento predeterminado entre os funcionários,
higienização do ambiente, utilização de máscara, obrigatoriedade quanto à lavagem
das mãos e utilização de álcool, além de todas outras iniciativas básicas de
segurança dos protocolos de combate à COVID-19, garantindo o mínimo de
segurança aos trabalhadores. Nesse sentido, Norma Sueli Padilha (2011, p. 243)
compartilha o seguinte entendimento:

A valorização do meio ambiente do trabalho implica uma mudança de


postura ética, ou seja, na consideração de que o homem está à frente dos
meios de produção. O meio ambiente do trabalho deve garantir o exercício
da atividade produtiva do indivíduo, não considerado como máquina
produtora de bens e serviços, mas, sim, como ser humano ao qual são
asseguradas bases dignas para manutenção de uma sadia qualidade de
vida. As interações do homem com o meio ambiente, no qual se dá a
implementação de uma atividade produtiva, não podem, por si só,
comprometer esse direito albergado constitucionalmente.
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Sendo assim, fica claro que a garantia do direito fundamental ao meio ambiente do
trabalho tem como pressupostos básicos a segurança e a saúde do trabalhador.
Nestes termos, ao falarmos de um cenário pandêmico, a prevenção sempre será o
melhor caminho. A pandemia ainda é uma realidade em diversos países do mundo
e, portanto, ainda demanda muito cuidado e extrema atenção a fim de evitar a
disseminação do contágio pelo vírus.

Destaca-se, portanto, o papel do empregador diante da crise e quais medidas são


assertivas para gerenciá-la. Sem dúvidas, as ferramentas do compliance trabalhista
se apresentam extremamente úteis neste momento, afinal, a empresa deve elaborar
normas internas preventivas de modo a evitar o contágio e o adoecimento de seus
empregados assim como implementá-las no ambiente de trabalho.

Segundo uma pesquisa recente do IBGC (2020, p. 17) a respeito do gerenciamento


de crises, os entrevistados afirmaram que, diante de uma crise, é fundamental que
os administradores saibam liderar, dar apoio, suporte e orientação aos executivos, o
que deve ser realizado por meio de uma comunicação harmônica, repleta de
tranquilidade e positividade. Ressaltaram, ainda, a importância da revisão contínua
do plano de gerenciamento de crises e de gestão de riscos, com a consequente
elaboração de novas estratégias a serem adotadas pela empresa diante de um novo
cenário. Tudo isso se faz por meio da adoção das ferramentas do compliance
trabalhista.

Nesta lógica, além da orientação e treinamento dos empregados sobre os cuidados


básicos a título de prevenção, é recomendado que a empresa esteja preparada,
também, para fiscalizações dos órgãos competentes. Ricardo Calcini e Emanuela
Bezerra Moreira (2020) destacam a importância de a empresa compilar em relatórios
as medidas preventivas adotadas, com a devida comprovação de ciência por parte
dos empregados, a fim de evitar algum tipo de multa e estarem devidamente
resguardados caso, eventualmente, surja alguma reclamação trabalhista. Todas as
informações devem estar contidas nesse relatório: medidas e campanhas de
conscientização, relação de trabalhadores ativos, modalidade de trabalho (se é
presencial ou não), quais são os trabalhadores pertencentes a grupo de risco, quais
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apresentaram confirmação de contaminação pelo COVID-19, e todas as demais


informações que julgarem necessárias.

Essas são algumas formas da empresa não só cumprir com os cuidados básicos e
garantir os direitos de seus empregados, mas também evitar qualquer dano ou
prejuízo que possam ser frutos da inobservância de medidas preventivas.

De ver está que por meio do compliance trabalhistas se faz possível a


implementação das boas práticas empresariais aptas a assegurar o meio ambiente
do trabalho saudável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O compliance aplicado à seara do trabalho consiste no cumprimento das normas


trabalhistas e todas as demais regras atinentes à atividade empresarial, além da
garantia de que as políticas organizacionais sejam cumpridas de forma ética, moral
e transparente. Ou seja, em linhas gerais, trata-se de um plano de prevenção. Por
tal razão, parece imprescindível que toda e qualquer empresa implemente o
programa de compliance.

A prevenção no Direito do Trabalho vai muito além de evitar ações trabalhistas. As


práticas preventivas atendem uma demanda que se mostra mais urgente e
relevante: a garantia de que a empresa cumpre sua função social e visa garantir que
o trabalhador goze de um ambiente de trabalho sadio e equilibrado.

Se em outros tempos as precauções sempre foram importantes, diante do cenário


atual e conturbado o qual todos enfrentam ao redor do mundo em razão da
pandemia, a prevenção hoje se mostra indispensável.

Em tempos de pandemia, todos vivem momentos de incerteza, preocupações e


angústias, cabendo aos gestores das empresas o papel de efetivamente liderar e
gerenciar a crise que se instaura. As ações preventivas, neste caso, englobam
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questões primordiais, como implementar as orientações da Organização Mundial da


Saúde (OMS), além da adoção das ações inerentes ao próprio processo de
produção da empresa.

Um dos grandes atributos do compliance trabalhista é o seu dinamismo e as


diferentes roupagens que podem ser a ele atribuídas, a fim de haver uma perfeita
adequação do método à realidade da empresa a qual se aplica. Assim, não há
desculpas para fugir de um caminho com tantas possibilidades.

O programa de compliance, quando bem elaborado, é ainda capaz de potencializar


os resultados da organização, além de elevar o grau de satisfação e confiança dos
empregados. Afinal, as diretrizes, a transparência e a ética do empregador
demonstrarão àquele trabalhador o quanto ele é importante para o bom
funcionamento da estrutura empresarial e o quanto os seus superiores se esforçam
em garantir que as normas sejam observadas e respeitadas, o que permite a
consolidação de um meio ambiente de trabalho justo, sadio e equilibrado.

REFERÊNCIAS

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Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC. Impactos da Covid-19 nas


organizações: a visão de colaboradores e administradores. São Paulo: Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, 2020.
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Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC. COVID-19, gerenciamento


de crises e o papel dos administradores nas organizações. São Paulo: Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, 2020.

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Patronal de Reduzir os Riscos Inerentes ao Trabalho da Grávida e da Lactante:
aplicação da teoria da horizontalidade dos deveres humanos. Artigo
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Doutorado, como parte integrante das atividades do Grupo de Pesquisa Estado
Democracia Constitucional e Direitos Fundamentais. Vitória: Faculdade de Direito de
Vitória, 2018.

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PINHEIRO, Iuri. SILVA, Fabrício Lima. Manual de Compliance Trabalhista: Teoria


e Prática. Salvador: Editora JusPodivm, 2020.

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