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Apreciação Crítica sobre a Área de Saúde e Segurança no Trabalho

Autora: Karla Theonila V Maciel

1 Introdução
As empresas estão dando, cada vez mais, atenção aos aspectos mais gerais do
ser humano, que envolvem não apenas o seu bem estar físico, como também as condições
psicológicas e de seu bem estar social. A gestão da saúde e segurança do trabalhador é
uma das formas pelas quais as empresas demonstram essa preocupação com seus
funcionários, visto que, ao proporcionar um ambiente seguro e que promova a saúde do
trabalhador, ela permite que este indivíduo permaneça íntegro em suas atividades laborais e
ajustado com o seu meio de atuação. Já que em grande parte de sua vida e de seu tempo
cotidiano, o indivíduo encontra-se dentro ou relacionado ao seu ambiente de trabalho.
Esta temática começa a ser referenciada já em torno dos acontecimentos que
envolveram a Revolução Industrial, no século XVIII. A esta época, observa-se que questões
relacionadas à saúde do trabalhador eram sobrepujadas pela priorização de meios de
produção que, muitas vezes, exigiam condições desfavoráveis dos empregados, gerando
diversos problemas de ordem psíquica e física para o ser humano.
Com o passar do tempo, várias medidas foram sendo tomadas e organizações
de apoio ao trabalhador foram sendo criadas, no intuito de minimizar a situação de
desfavorabilidade na qual os trabalhadores se encontravam, em relação à sua saúde e à
segurança nas suas atribuições no trabalho.
No Brasil, existem atualmente, diversas normas que visam ações de medicina do
trabalho e de segurança. Tais normas, referenciadas desde a década de 70, buscam
regulamentar a situação do trabalhador em seu ambiente de trabalho, de forma que estes
permaneçam protegidos, em termos de riscos, perigos e acidentes, bem como de situações
que causem danos psicológicos ao mesmo, prejudicando o desempenho de suas atividades
e até de sua socialização neste ambiente.
A busca da minimização de riscos ao trabalhador, gerando muitas vezes um
estreitamento da identificação do mesmo com a tarefa que executa (pois se sentindo mais
seguro e cuidado pela empresa, o trabalhador tende a aumentar sua auto estima e até
satisfação no trabalho), vem constituindo-se uma preocupação às empresas também
porque, por meio destas ações, consegue-se garantir um aprimoramento na produtividade
da organização, bem como uma melhoria em sua imagem institucional. Estes últimos itens
são de bastante importância hoje no mundo corporativo, pois facilitam a competitividade das
organizações num cenário onde a produtividade tende a ser cada vez mais relacionada à
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identificação do trabalhador com sua tarefa e onde as ações de responsabilidade social são
cada vez mais valorizadas em âmbito social e das relações comerciais.
Um vasto debate poderia ser empreendido a respeito de se essa preocupação
por parte das empresas com a saúde e segurança do trabalhador reflete um sentimento
genuíno ou é apenas fruto de uma correspondência às questões legais ou exigências do
ambiente externo. Entretanto, tal debate não necessariamente suscitaria numa conclusão
definitiva, pois questionamentos e incertezas sempre rondariam as reais intenções
organizacionais, para os estudiosos que empreendessem tal estudo. Talvez seja importante
referenciar e focar apenas no resultado dessa preocupação, que vem se refletindo cada vez
mais em ações atuantes na área, gerando respostas satisfatórias aos que fazem parte deste
contexto. Talvez ainda, fosse o caso de aceitar mais brandamente a célebre frase, atribuída
a Maquiavel, de que “os fins justificam os meios”, no sentido de que, na finalidade da
proteção, segurança e saúde do trabalhador, não importariam, a priori, as reais intenções
organizacionais. Mas antes, os resultados que advém das ações empreendidas neste
intento, com vias a promover um ambiente de trabalho onde existam boas condições
laborativas e sociais de desempenho das atividades e de uma inter-relação saudável e
integradora entre o ser humano, o trabalho que ele executa e as demais pessoas que se
encontram neste contexto.

2. Conteúdo da pesquisa
Na realização deste trabalho foi feito um breve levantamento bibliográfico,
buscando em algumas fontes, informações acerca da realidade da saúde e segurança no
trabalho. Com a finalidade de dar um corte metodológico, com uma proposta mais focada na
realidade brasileira, visou-se observar o contexto da saúde e segurança no trabalho voltado
para as organizações nacionais.
A visualização, ainda que incipiente, de como se encontram as ações na área,
no contexto brasileiro, permite uma aproximação à nossa realidade organizacional, bem
como tem o intuito de gerar reflexões que resultem em ações produtivas e benéficas, por
parte de empresários brasileiros.
Crê-se que as mudanças são geradas por meio da conscientização e informação
crescentes, bem como da boa vontade em empreender ações que reflitam essa consciência
e conhecimento, na prática, e beneficiem os envolvidos no processo da mudança.
Pretende-se, portanto, a seguir, apresentar alguns destes aspectos, já
trabalhados por estudiosos na área, a fim de mais adiante, realizar uma apreciação crítica
em torno do tema, juntamente com os apontamentos apresentados neste trabalho.

2.2 O Contexto da Saúde e Segurança no Trabalho


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Como já comentado anteriormente, as organizações demonstram, de maneira


crescente, uma preocupação voltada às práticas de saúde e segurança no trabalho. Tal
preocupação não deixa de refletir a inter-relação das organizações com seu ambiente
externo, com vias a corresponder às principais demandas deste meio e proporcionar a
consequente sobrevivência das organizações, neste contexto.
Cada vez mais, a sociedade propõe o reconhecimento e legitimidade às
organizações que tratam seus funcionários de forma a respeitá-los e proporcioná-los
condições seguras para o desenvolvimento de suas atividades. As relações comerciais
também refletem essa dinâmica. Na escolha de parceiros de negócios, visando o alcance de
uma boa imagem e de resultados satisfatórios, as empresas têm buscado outras entidades
que demonstrem que refletem não apenas essa preocupação, como também aquelas que
efetivamente realizam ações no intuito de fazer valer os valores que tal temática aborda
(saúde, segurança e trabalho).
Segundo Chaib (2005,p.3),
As questões concernentes à saúde e segurança do trabalho também têm
sido objeto de discussão, assegurando a não-admissibilidade da existência
de ambientes laborais e processos produtivos que condenem os
trabalhadores a sofrerem danos à sua saúde, muitas vezes irreversíveis, ou
acidentes que possam gerar lesões que os incapacitem a permanecer no
exercício de suas atividades.

Conforme aponta o referido autor, com os avanços nos direitos sociais e a


crescente conscientização cidadã a respeito de seus direitos e deveres e de suas
atribuições laborativas, as organizações precisaram adotar medidas para corresponder a
estas demandas. Neste contexto, torna-se muito difícil aceitar uma empresa que, nos dias
atuais, não apresente sequer práticas incipientes de melhoria nas condições de saúde e
segurança no trabalho aos seus funcionários.
A legislação corrente em diversos países apresenta-se como um mecanismo
coercitivo e regulador destas práticas, incitando e estimulando as empresas a adotarem
mecanismos que possam favorecer o contexto produtivo e permitir aos trabalhadores
condições dignas de atuação.
A globalização permite que as práticas, neste sentido, adotadas em diferentes
países, possam ser vistas, revistas e discutidas num contexto local, a fim de serem
adaptadas à realidade vigente, proporcionando o alcance de seus resultados primordiais,
tais quais, a promoção da saúde e segurança no trabalho, com a conseqüente criação de
um ambiente laborativo que demonstre condições de atividade e produtividade.
No Brasil, não poderia ser diferente. Governo e empresas começaram a
demonstrar interesse na área, o que gerou a promoção de diversas práticas e programas
específicos a fim de viabilizar ações focadas na saúde e segurança do trabalhador, no
contexto das organizações locais.
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2.3 A Saúde e Segurança do Trabalho no Brasil


Normas regulamentadoras de ações específicas sempre foram instituídas com o
intuito de parametrizar atuações desejadas. No contexto da saúde e segurança no trabalho,
várias normas passaram a ser criadas, levando as empresas a certa obrigatoriedade em sua
execução. Como demonstram Costa e Costa (2004), várias ações de segurança e medicina
no trabalho foram regidas, no Brasil, pela Portaria n°3.214, de 8 de junho de 1978,
aprovando diversas Normas Regulamentadoras (NR) que abrangem variadas temáticas
sobre o assunto. Por meio da criação desta portaria foi estabelecida, no Brasil, a concepção
de saúde ocupacional.
Os autores citam, como exemplo, cerca de 32 NRs, que envolvem desde as
disposições gerais sobre o tema até questões sobre a CIPA (Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes), os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), os programas de
Controle Médico e Saúde Ocupacional (PMCO) e de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA), até questões voltadas a como instalar e prestar serviços perigosos (eletricidade,
mineração, etc) ou como manusear e transportar máquinas, equipamentos e materiais de
risco (líquidos inflamáveis, resíduos, gases, etc.), bem como questões envolvendo
atividades profissionais cuja insalubridade e periculosidade são inerentes à atuação.
Segundo Barreto e Bruven, na década de 70, o Brasil possuía o título de
campeão mundial de acidentes, o que culminou, em 1977, na formalização de um texto na
CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), contendo um capítulo específico sobre o tema da
Saúde e Segurança no Trabalho.
“Trata-se do Capítulo V, Título II, artigos 154 a 201, com redação da Lei nº
6.514/77. O Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria de
Segurança e Saúde no Trabalho, regulamentou os artigos contidos na CLT
por meio da Portaria nº 3.214/78, criando vinte e oito Normas
Regulamentadoras. Com a publicação da Portaria nº 3214/78, se
estabeleceu a concepção de saúde ocupacional (BARRETO e BRUVEN).

Outro grande evento que foi expoente na área, para os brasileiros, se deu com a
promulgação da Constituição da República em 1988. Nela, foi enfatizada a garantia
constitucional da “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança” (art. 7º, inciso XXII, da Constituição Federal, 1988). Assim, foram
ressaltados pontos relativos à saúde e segurança do trabalhador, reforçando ainda mais a
temática, já que a transformava em lei constitucional do país.

Como tais normas, alguns programas governamentais foram também


desenvolvidos com este intuito. Conforme Bombardi (2000) nos aponta, o Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), que veio sendo delineado por volta da
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década de 90, trouxe a “expressão mobilizante ‘TRABALHO É VIDA’ e a meta de redução


dos acidentes fatais em cinco anos” (BOMBARDI, 2000, p.16).
Percebe-se, que a partir deste advento da formação do PBQP, envolvendo o
Ministério do Trabalho e Emprego com a FUNDACENTRO (Fundação Jorge Duprat
Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho), muitas diretrizes relacionadas à saúde e
segurança no trabalho foram sendo desenvolvidas. Mesmo a criação da Fundacentro como
orgão atuante na temática, já proporcionou um grande avanço nas designações do que deve
ser realizado de forma coerente, para permitir boas práticas de saúde e segurança no
ambiente de trabalho. A fundação em questão “é designada como centro colaborador da
Organização Mundial da Saúde (OMS), além de ser colaboradora da Organização
Internacional do Trabalho (OIT)” e apresenta como missão institucional a proposta de
“Produzir e difundir conhecimento sobre Segurança e Saúde no Trabalho e Meio Ambiente,
para fomentar, entre os parceiros sociais, a incorporação do tema na elaboração e gestão
de políticas que visem o desenvolvimento sustentável com crescimento econômico,
promoção da eqüidade social e proteção do meio ambiente” (PORTAL FUNDACENTRO).
Percebe-se, assim, a grande disseminação do tema no contexto sócio político, o
que permite uma irradiação mais abrangente dos aspectos relacionados à saúde e
segurança do trabalhador. As organizações, a partir desta difusão de normas e conceitos,
passaram a refletir e reagir com ações pontuais, em prol da obtenção de resultados que
expressassem a consonância de sua atuação com as demandas exigidas deste ambiente
político, legal e social. Os trabalhadores passaram a ter não só mais consciência de seus
direitos como mais respaldo para fazer valer as melhores condições de trabalho a que todos
devem estar sujeitos.

3. Apreciação crítica
A realidade da área de saúde e segurança no trabalho vem sendo pautada, de
forma crescente, por uma maior conscientização de sua necessidade de existir. Tal
conscientização ocorre em vários âmbitos, envolvendo a sociedade, os trabalhadores, as
organizações, os governos e os órgãos reguladores. Esta abrangência permite debates
cada vez mais frutíferos, que levam a ações cada vez mais efetivas na área.
O contexto brasileiro segue o panorama global. Leis, normas e práticas são
adotadas, no sentido de regulamentar as ações e promover ambientes de atuação fecunda,
que ofereçam cada vez mais e melhores condições de produtividade e desempenho digno
de atividades laborativas. Os avanços na área de saúde e segurança no Brasil ganharam
forte ênfase, principalmente com a Constituição Federal de 1988, que incluiu em seu texto
partes específicas sobre o tema, tornando o patamar das diretrizes formais em leis
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constitucionais (hierarquicamente e institucionalmente mais fortes). Isto foi um grande


avanço aos trabalhadores brasileiros.
É possivelmente certo que as empresas compreenderam também que a
prevenção de riscos e de acidentes produz redução de custos, aumentando sua
competitividade, não apenas no que diz respeito ao quanto ela consegue economizar (ou
não despender), mas também em relação à sua imagem como organização responsável
socialmente. Os custos humanos e econômicos envolvidos num processo de maior
negligência por parte das empresas podem gerar danos irreversíveis, não só aos
trabalhadores que dela fazem parte, mas à própria empresa, enquanto entidade atuante
num mercado altamente competitivo.
Quando os trabalhadores, conscientizados, passam a exigir da empresa um
“tratamento mais adequado”, em termos de condições de trabalho e de saúde ocupacional,
eles reforçam estas ações e se tornam agentes efetivos do processo de melhoria. É
importante salientar, que embora haja uma difusão crescente do tema, ainda se percebem
contextos nos quais os próprios trabalhadores é que necessitam de uma mudança no modo
de pensar e de agir, no que diz respeito à sua saúde e à sua própria segurança no ambiente
de trabalho. Muitos ainda demonstram resistência em relação ao uso de equipamentos de
proteção ou de cuidados específicos com a saúde, com os excessos, com os riscos. Mas aí,
inicia o papel da empresa, agora ela, como agente efetivo na educação deste trabalhador,
mostrando ao mesmo uma realidade de cuidado, de proteção e de necessidade de
correspondência às exigências de um trabalho saudável e seguro. E isto não apenas porque
as normas devem ser seguidas correspondendo à sua formalidade, mas antes e sobretudo,
porque compreende-se que é a maneira mais coerente de proceder.
Creio que muito ainda há para ser feito e explorado na área. As questões
psicológicas, por exemplo, que durante muito tempo foram relegadas (talvez por nem
sempre serem visíveis como os acidentes físicos, por exemplo) vêm ganhando cada vez
mais espaço neste debate. O estresse ocupacional, o assédio moral no trabalho, são temas
que ganham cada vez maior relevância e espaço nos ciclos acadêmicos e de mercado.
A atuação do psicólogo do trabalho aí se torna ainda mais relevante, pois passa
a ser identificado como o agente capaz de lidar com essas questões psicológicas e sociais
do indivíduo, promovendo prevenção e saúde, abrangendo as esferas mais subjetivas do
ser humano.
O conceito de trabalho, modificado gradativamente de um “castigo” para algo
que “dignifica” o ser humano tem sua contribuição nesta perspectiva. À medida que ganha
espaço como expressão do talento humano, o trabalho aproxima a subjetividade do ser e de
sua identidade, tanto dos aspectos positivos que realizam o indivíduo, como também das
possibilidades de adoecimento. Já dizia o poeta que “sem o seu trabalho o homem não tem
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honra e sem a sua honra, se morre, se mata”... Assim, profissionais de psicologia,


organizações e trabalhadores devem estar cada vez mais atentos a esta realidade e
despender esforços e conhecimentos, técnicas e ações que promovam a inter-relação
saudável, segura e promissora entre os elementos que fazem parte do contexto do trabalho,
da produtividade e da realização pessoal e profissional dos indivíduos.

Referências bibliográficas

BARRETO, Glaucia; BRUVER, Irvend. Segurança e saúde no trabalho. Cursos On-line.


Disponível em: http://www.asmtreinamentos.com.br/imagens/downloads/eletricista/aula.pdf.
Acesso em 02/10/2011.

BOMBARDI, Sônia Maria José. O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade e a


Saúde e Segurança no Trabalho. In.: Anais do Seminário Nacional de Estatísticas sobre
Doenças e Acidentes do Trabalho no Brasil: situação e perspectivas. São Paulo, Nov, 2000.
Disponível em: http://www.ibram.org.br/sites/700/784/00001034.pdf. Acesso em 02/10/2011.

COSTA, Marco Antônio F. da.; COSTA, Maria de Fátima Barroso. Segurança e saúde no
trabalho: cidadania, competitividade e produtividade. Qualitimark. Rio de Janeiro, 2004.

CHAIB, Erick Brizon D´Angelo. Proposta para implementação de sistema de gestão


integrada de meio ambiente, saúde e segurança do trabalho em empresas de pequeno
e médio porte: um estudo de caso da Indústria Metal-Mecânica. Dissertação de
Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade
Federal do Rio De Janeiro. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em:
http://www.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/ebdchaib.pdf. Acesso em 03/10/2011.

PORTAL FUNDACENTRO. http://www.fundacentro.gov.br/. Acesso em 01/10/2011.

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