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Washington Franco Mathias

José Maria Gomes

Matemática
Financeira
Com + de 600 exercícios
resolvidos e propostos

Material de Apoio (Portal Atlas)

5a Edição

SÃO PAULO
EDITORA ATLAS S.A. – 2008
2 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

Capitalização contínua

Admitamos uma importância de $ 1.000,00, que pode ser aplicada por 1 ano à
taxa de 12% a.a. nas seguintes hipóteses de capitalização:

– anual
– semestral
– trimestral
– mensal
– diária

Vejamos o montante que resulta em cada uma das hipóteses de capitalização:

Capitalização Montante ($)

Anual 1.120,00

Semestral 1.123,60

Trimestral 1.125,51

Mensal 1.126,83

Diária 1.127,47

Constatamos que o valor do montante aumenta à medida que aumentamos o nú-


mero de capitalizações de uma dada taxa nominal. À primeira vista parece, inclusive,
que o valor do montante cresce indefinidamente, à medida que as capitalizações vão
sendo feitas com maior freqüência. Vejamos então o que ocorre quando admitimos
uma capitalização horária:

24×365
⎛ 0,12 ⎞
Ch = 1.000 ⎜ 1 + ⎟
⎝ 24 × 365 ⎠

Ch ≅ 1.000 (1 + 0,000013699)8760
Ch ≅ 1.127,49

Este resultado nos permite inferir que o valor do montante não cresce indefini-
damente com a freqüência de capitalização, tendendo para um limite. E, de fato, se
admitirmos uma capitalização infinitamente grande, ou seja, que a capitalização seja
feita em intervalos de tempo infinitesimais, teremos o montante como sendo:

C ≅ $ 1.127,50
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Cálculo do montante em capitalização contínua


kn
⎛ i⎞
Seja: Cnk = C0 ⎜ 1 + ⎟
⎝ k⎠
⎛ ⎞ ki ⋅ ni
⎜⎛ 1 ⎟⎞⎟
Cnk = C0 ⎜⎜1 + ⎟
⎜⎜⎜ k ⎟⎟

⎝⎜⎝ i ⎠⎟⎠

Fazendo-se:

k
k’ =
i

k'ni
⎛ 1⎞
temos: Cnk = C0 ⎜ 1 + ⎟
⎝ k' ⎠
ni
⎡⎛ 1⎞ ⎤
k'

Cnk = C0 ⎢⎜ 1 + ⎟ ⎥
⎢⎣⎝ k' ⎠ ⎥⎦

Se: k → ∞ ⇒ k' → ∞

⎧ ⎡ k ' ni ⎫
⎪ ⎛ 1⎞ ⎤ ⎪
Então: C’n = lim(Cnk ) = lim ⎨C0 ⎢⎜ 1 + ⎟ ⎥ ⎬
⎪⎩ ⎢⎣⎝ k ' ⎠ ⎥⎦ ⎪
k ' →∞ k ' →∞

k' ni
⎡ ⎛ 1⎞ ⎤
C’n = C0 ⎢ lim ⎜ 1 + ⎟ ⎥
⎣⎢
k' → ∞
⎝ k' ⎠ ⎥⎦

Demonstra-se em cálculo que:


k'
⎛ 1⎞
lim ⎜ 1 + ⎟ = e
k → ∞
⎝ k' ⎠

Onde e é um número irracional que serve de base para os logaritmos naturais ou


neperianos (e = 2,718281828459...)
Portanto, tem-se: C’n = C0eni
A taxa i é chamada taxa instantânea e a notação comumente adotada é a letra
grega δ (delta). Escrevemos então.)

C’n = C0 enδ
4 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

O conceito de capitalização contínua perde muito do seu significado nas aplica-


ções práticas, e por isto raramente é usado. Porém, existem ocasiões em que se admite
que os fluxos monetários não são devidos ou recebidos em dado instante, mas que
se encontram distribuídos no tempo. É o caso, por exemplo, da geração de lucro na
operação de uma empresa, que ocorre ao longo do ano e que pode ser associado a
um fluxo uniforme. O mesmo se dá com o desgaste dos equipamentos (depreciação)
e, como as entradas de caixa são constituídas de lucros gerados mais depreciação, po-
demos dizer que este é um fluxo que pode ser considerado uniformemente distribuído
no tempo.
Neste caso, e no tratamento matemático de certos modelos decisórios, o conceito
de capitalização contínua é muito útil.

Exemplo: Calcular o montante que resulta quando $ 1.000,00 são aplicados à


taxa de juros de 12% a.a. por um prazo de 4 anos e com capitalização
contínua. Comparar o resultado obtido com o resultante da aplicação
nas mesmas condições em juros compostos.

Resolução: Capitalização contínua

C’n= C0 enδ

onde: C0 = 1.000,00
n = 4 anos
δ = 12% a.a.

Então: C’n = 1.000,00 e 4 x 0,12


C’n = 1.000,00 e 0,48
In (C’n) = In (1.000,00) + 0,48
In (C’n) = 6,907755 + 0,48
In (C’n) = 7,387755
∴ C’n ≅ $ 1.616,07

Nota: É comum indicarem-se os logaritmos na base e por In e os logaritmos na base


10 por log.

Capitalização em juros compostos:

Cn = C0 (1 + i)n

onde: C0 = 1.000,00
n = 4 anos
i = 12% a.a.
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Nestas condições:

C4 = 1.000,00 (1,12)4
C4 ≅ $ 1.573,52

Como se esperava o montante obtido quando se fez capitalização contínua


(1.616,07) é maior que o obtido através de juros compostos (1.573,52). Este fato
torna conveniente a determinação de uma taxa de juros efetiva que permita fazer-se
a equivalência entre a capitalização contínua e a composta.

Obs.: Um outro modo de visualizar-se o processo de capitalização contínua é o racio-


cínio feito através de juros simples.

Seja: J = Cin

Em um período muito pequeno (Δn), podemos escrever que o juro (ΔJ), que tam-
bém é um valor pequeno, é dado por:

ΔJ = Ci Δn

Por exemplo, aplicando-se $ 1.000,00 à taxa de juros simples de 10% a.a., por 1
dia, teremos:
1
ΔJ = 1.000 × 0,10 × = $ 0,27
365
Sabemos que o montante, em juros simples, é dado por:

N = C (1 + in)
N = C + Cin

Nestas condições, um acréscimo pequeno no montante (ΔN) pode ser expresso do


seguinte modo:

ΔN = Ci Δn

Fazendo-se com que o acréscimo seja cada vez menor, até tomar-se infinitesimal-
mente pequeno o período de capitalização (dn), teremos também acréscimos infinite-
simais ao montante (dN), já que ambos são proporcionais:

dN = Cidn

Como o diferencial do montante é um acréscimo infinitesimal ao capital, podemos


fazer:

dC = Cidn
dC
= idn
C
d (InC) = idn
6 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

Para obter o valor do montante temos de integrar esta expressão. Ou seja, temos
de calcular a soma de seus infinitos termos e, nestas condições, estaremos fazendo
uma capitalização contínua. A integração deve ser feita entre o principal (C0) e o mon-
tante (C’n) para o primeiro membro e entre a data de aplicação (zero) e de recebimen-
to (n) para o segundo membro:
C 'n n
∫C0
d( lnC ) = ∫
0
idn

In (C’n) – In (C0) = in

⎛C' ⎞
In ⎜ n ⎟ = in
⎝ C0 ⎠
C 'n
= ein
Co
∴ C’n = C0 ein

Taxa efetiva em capitalização contínua

Já foi visto que:


k
⎛ i⎞
if + 1 = ⎜ 1 + ⎟
⎝ k⎠

onde i é a taxa de juros nominal e if é a taxa efetiva.

⎛ ⎞ ki ⋅ i
⎜⎛ 1 ⎟⎞
Temos: if + 1 = ⎜⎜1 + ⎟⎟
⎜⎜⎜ k ⎟⎟

⎜⎝ i ⎠⎟
⎝ ⎠
k
Fazendo: = k’
i
k' i
⎛ 1⎞
temos: if + 1 = ⎜ 1 + ⎟
⎝ k '⎠

No limite, fazendo-se k’ → ∞, colocamos if = δ, que é a taxa de juros instantânea:

k' i
⎡⎛ 1⎞ ⎤
δ + 1 = lim ⎢⎜ 1 + ⎟ ⎥ = ei
k' → ∞
⎣⎢⎝ k' ⎠ ⎥⎦

Portanto:

δ = ei – 1
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Podemos escrever também:

δ + 1 = ei
In (δ + 1) = Inei

i = In (δ + 1)

Deste modo, pode-se calcular a taxa efetiva (δ) que resulta quando se capitaliza
uma taxa nominal (i) de modo contínuo e vice-versa.

Exemplo: Dada a taxa de juros nominal de 12% a.a., determinar a taxa efetiva
instantânea.

Resolução: δ = ei – 1
δ = e0,12 – 1
δ ≅ 1,1275 – 1
δ ≅ 0,1275 ou δ ≅ 12,75% a.a.

Obs.: Existe também um outro problema: dada a taxa efetiva (i), poderemos querer
determinar a taxa instantânea (δ) que lhe seja equivalente.
k
⎛ i⎞
Sendo: if + 1 = ⎜ 1 + ⎟
⎝ k⎠

i
= (if + 1)
1/ k
1+
k
i
= (1 + if)1/k – 1
k
i = k [(1 + if)1/k – 1]

[(1 + if )1/ k − 1]
i =
1
k

⎡ ⎤
⎢ (1 + i )1/ k − 1⎥
Portanto: δ = lim ⎢ ⎥ = In (1 + if )
k →∞
⎢ 1 ⎥
⎣ k ⎦

Logo:

δ = In (1 + if)
8 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

Exemplo: Sendo dada a taxa de juros efetiva de 12% a.a., determinar a taxa ins-
tantânea que lhe é equivalente.

Resolução: δ = In (1 + if)
δ = In (1 + 0,12) ≅ 0,1133
δ ≅ 11,33% a.a.

O número e

O número e, sendo irracional (como o número π), só pode ser expresso precisa-
mente como o limite de uma série infinita e convergente ou como o limite de uma
fração contínua.
O leitor poderá obter o valor de i e com a precisão desejada através da série seguinte:

1 1 1 1 1
e = 1+ + + + + +...
1! 2! 3! 4! 5!

1
Exemplo: e=1+ =2
1!
1 1
e=1+ + = 2,5
1! 2!
1 1 1
e=1+ + + ≅ 2,67
1! 2! 3!
1 1 1 1
e=1+ + + + ≅ 2,7083
1! 2! 3! 4!

E procedendo deste modo, poder-se-á obter o valor de e com a aproximação de-


sejada.

1.2 Inflações elevadas e hiperinflação

Quanto mais elevada é a taxa de inflação, maior é a necessidade de indicadores


que permitam fazer a correção da perda do valor da moeda.
As forças econômicas que causam inflações elevadas num país (da ordem de 20%
a 30% ao ano) tendem a ser instáveis. Como resultado, podemos ter uma taxa de in-
flação em elevação constante ou, então, uma taxa oscilante. Neste último caso, a taxa
de inflação pode ser de 30% a.a., num dado ano e passar para 100% no ano seguinte,
para cair a 50% no terceiro ano.
Nestas condições, é impossível fazer previsões, o que torna necessário usar o jul-
gamento ou apelar para indicadores físicos, como a quantidade de insumos requerida
para a produção de um dado bem, por exemplo.
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A América Latina tem-se caracterizado por uma “cultura inflacionária”, onde as


inflações elevadas têm sido mais a norma do que a exceção. Como pode ser visto
no Quadro 1.

Quadro 1 Inflação na América Latina.

País Período Taxa anual equivalente


Argentina 1947-1960 27% a.a.
1960-1974 27% a.a.
Brasil 1947-1960 16% a.a.
1960-1974 36% a.a.
Chile 1947-1960 31% a.a.
1960-1971 25% a.a.
Uruguai 1949-1960 11% a.a.
1960-1970 49% a.a.
Fonte: Jones (1982).

Quando a taxa de inflação passa a crescer de modo explosivo, diz-se que existe
uma hiperinflação. Nestas condições, os preços passam a crescer por um fator de 10,
de 100 ou mais em um único ano.
Diz-se que um país está em hiperinflação quando a taxa de inflação ultrapassa
a marca dos 50% num mês e fica acima deste percentual por vários meses seguidos.
Esta, pelo menos, têm sido a experiência histórica recente.
O Quadro 2 contém algumas das hiperinflações conhecidas.

Quadro 2 Incidência da hiperinflação.

Número de meses
País Período (19XX) Taxa média mensal
de hiperinflação
Áustria out./21 a ago./22 47,1% 11
Alemanha ago./22 a nov./23 322% 16
China (Xangai) ago./48 a abr./49 400% –
China (Chunking) ago./48 a abr./49 298% –
Grécia nov./43 a nov./44 365% 13
Hungria mar./23 a fev./24 46% 10
Hungria ago./45 a jul./46 19.800% 12
Polônia jan./23 a jan./24 81,4% 11
Rússia dez./21 a jan./24 57% 26
Fonte: Jones (1982) e Cagan (1973).
10 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

Na hiperinflação, o valor da moeda cai rapidamente porque a população perde a


confiança na mesma. Isto pode ocorrer, por exemplo, se o governo gasta mais do que
arrecada e passa a emitir moeda para financiar o seu déficit orçamentário. Pode ser
também que o governo esteja se financiando com títulos, porém estes títulos perderam
a credibilidade e a população só aceita ficar com os títulos por um prazo muito curto.
O importante, qualquer que seja a causa, é que uma situação de hiperinflação pro-
voca uma fuga para ativos reais, como ouro, dólar e bens (terrenos, automóveis etc.).

Correção monetária
Histórico

A correção monetária, ou indexação, foi introduzida no Brasil pela equipe econô-


mica do governo que se iniciou em 1964. A idéia era corrigir ou minorar as distorções
que a inflação provocava na economia e, com isto, garantir a colocação de títulos da
dívida pública. A Introdução da correção monetária foi, então, um instrumento auxiliar
na estratégia gradualista de combate à inflação. Porque, segundo se dizia, uma políti-
ca ortodoxa de combate à inflação (tratamento de choque) seria política inviável para
a nossa economia na época.
Primeiramente foram criadas as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional
(ORTN), que desempenharam um papel importante no financiamento não inflacionário
do déficit federal, pois foi restabelecida a confiança nos títulos da dívida pública. De-
pois, foram estabelecidas normas para a correção monetária dos débitos fiscais, do ati-
vo imobilizado, das depreciações, do capital de giro, dos títulos da dívida pública etc.
Foi criado o Banco Nacional da Habitação (BNH, já extinto) para operar financia-
mentos habitacionais com fundos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
O BNH também começou a operar empréstimos com correção monetária, o que con-
tribuiu para generalizar a idéia de indexação da economia.
No início, os coeficientes de correção eram estabelecidos pelo Conselho Nacional
de Economia, que depois foi extinto. A partir de 1967 os coeficientes passaram a ser
fixados pelo Ministério do Planejamento, também depois extinto.
Ao longo do tempo, todo o processo de correção acabou, de certo modo, vincu-
lado aos índices de variação das ORTN. A variação das ORTN passou a desempenhar o
mesmo papel que já desempenhava o índice 2 (o IGP-DI: índice geral de preços – dis-
ponibilidade interna) como medida de inflação. O próprio valor da Unidade Padrão de
Capital (UPC), do BNH, ficou definido como o valor da ORTN do mês inicial de cada
trimestre civil.
A UPC passou a ser a unidade-padrão para os cálculos de financiamentos e amor-
tizações do Sistema Financeiro Habitacional (SFH), ou seja, do sistema ligado ao BNH.
Por outro lado, a ORTN passou a ser a unidade-padrão para os financiamentos feitos
para o setor industrial pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (o BNDE
Material de Apoio (Portal Atlas) 11

que, depois passaria a ser BNDES, com o “S” significando “Social”) e pelos demais
bancos repassadores.
A partir de agosto de 1968 foi introduzida a taxa flexível de câmbio, também
conhecida como processo de minidesvalorização cambial. Com isto, a taxa cambial,
que mede a relação entre o cruzeiro e as outras moedas, passou a variar em intervalos
curtos e não regulares de tempo. Nestas condições, as mudanças nos valores da taxa
de câmbio passaram a compensar, aproximadamente, as diferenças entre as inflações
interna e externa. Uma medida da inflação externa é dada pela inflação americana.
Uma medida melhor da inflação externa pode ser obtida considerando-se uma média
ponderada das inflações dos principais países com os quais o Brasil mantém comércio:
Estados Unidos, Comunidade Econômica Européia e Japão.
Assim, a indexação acabou difundindo-se por toda economia brasileira, o que
introduziu mais um complicador em nosso já complexo quadro de regulamentação.

Indexação e decisões econômicas

Em 1985, algumas correntes de economistas teorizaram que a inflação brasileira


era “inercial”, ou seja, perpetuada pelos próprios mecanismos de indexação difundi-
dos na economia nos últimos 20 anos.
Estas idéias obtiveram uma aceitação imediata entre os políticos e a elite, por-
que prometiam um ajuste indolor. Foi um grande experimento econômico, que se
consubstanciou nos chamados planos de ajuste heterodoxos ou, mais popularmente,
“congelamentos”.
No período de 1985/1990 tivemos seis Ministros da Fazenda, dez Presidentes do
Banco Central cinco planos de ajustes, com resultados duvidosos, porque a inflação
voltou a subir depois de cada plano (v. Gráfico 1).
Tivemos também, no período, quatro unidades Monetárias diferentes. Em cada
plano foram introduzidas regras novas de indexação, como as “tablitas”, regulamen-
tações sobre as regras de correção dos contratos, mudanças nos critérios para cálculo
dos índices etc. A ORTN foi substituída pela OTN (Obrigação do Tesouro Nacional) que,
por sua vez, foi substituída pelo BTN (Bônus do Tesouro Nacional).
O custo social destes planos ainda não foi estimado.
Deve-se dizer que a correção monetária foi extinta em janeiro de 1989, para ser
reintroduzida logo em seguida com a retomada da inflação. Foi extinta novamente
em fevereiro de 1991 e, em seu lugar, foi colocada a TR (Taxa Referencial de Juros) e a
TRD (Taxa Referencial de Juros Diária) como indicadores da taxa de juros semelhantes à
prime rate americana e à LIBOR inglesa. Porém, quem abrisse o jornal em dezembro de
1991 encontraria uma enorme variedade de indexadores como: o INPC do IBGE, o IGP
e o IGP-M da FGV, o IPC da FIPE, o ICV do DIEESE, o ICVM da Ordem dos Economistas, a
TR e a TRD, a cotação do dólar (no câmbio oficial, no turismo e no paralelo), a cotação
do ouro, a BTNF atualizada pela TRD etc.
12 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

A complexidade decorrente desta multiplicidade de índices faz com que seja reco-
mendável um exame cuidadoso de qualquer operação financeira sujeita a indexação.

(%) Gráfico 1 INFLAÇÃO / IGP – E OS PLANOS NO BRASIL


100
Funaro Bresser Mailson Zélia Marcilio
27/2/86 29/4/87 5/1/88 15/3/90 10/5/91

80 Plano Verão
Plano Cruzado
Plano Bresser Plano Collor I
60 Liberação de preços
Flexibilização

40 Plano Collor II

20

0
J M J S D M J S D M J S D M J S D M J S D M J S
86 87 88 89 90 91
Tabelas Financeiras

A s tabelas financeiras apresentadas a seguir se destinam à complementação do


aprendizado, ou seja, são auxiliares na resolução dos problemas e exemplos pro-
postos, sendo portanto muito simplificadas, quer quanto às taxas apresentadas, quer
quanto ao número de períodos considerados.

(1 + i)n = montante de 1, à taxa i pelo prazo n


Cálculo de montante e de valor atual

Este fator é utilizado para cálculo do montante de um capital aplicado à taxa i


pelo prazo n. Em termos genéricos, pode-se dizer que este fator é o elo entre o capital
aplicado e o montante.

1º Exemplo: O capital de $ 2.000,00 é aplicado por 12 meses, à taxa de 0,5% a.m.


Qual é o montante?

Resolução: C0 = 2.000
i = 0,5% a.m.
n = 12 meses
Cn = ?
Cn = C0 (1 + i)n

Entrando na tabela para i = 0,5%, encontramos, para n = 12, o fator (1 + i)n =


1,061 678.
14 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

Então:

Cn = 2.000 (1 + 0,005)12
Cn = 2.000 (1, 061678)
Cn ≅ $ 2.123,36

2º Exemplo: Quanto deve ser aplicado à taxa de 2% a.t. para que após 36 trimestres
se tenha o montante de $ 12.000,00?

Resolução: Cn = 12.000
i = 2% a.t.
n = 36 trimestres
C0 = ?
Cn = C0 (1 + i)n

Cn
C0 =
(1 + i )n

Para i = 2% e n = 36, temos: (1 + i)n = 2,039887


12.000
C0 =
2,039887
C0 ≅ $ 5.882,68

Cálculo de (1 + i)n para períodos não constantes na tabela

Considerando a propriedade de, na multiplicação de potências de mesma base,


somarem-se os expoentes, temos que:

am + j = am . aj

Deste modo pode-se calcular o fator para um dado n, tomando-se dois ou mais
fatores cuja soma de períodos a que se referem seja igual a n.

Exemplo: Calcular (1 + 0,02)70

Resolução: Na tabela de 2% temos o fator para n = 60 e para n = 72. O cálculo


para n = 70 pode ser feito de diversos modos:
a) 1,02)70 = (1,02)60 . (1,02)10, visto que 70 = 60 + 10
(1,02)70 = (3,281031) (1,218994) ≅ 3,999557
b) (1,02)70 = (1,02)35 . (1,02)35, visto que 70 = 35 + 35
(1,02)70 = (1,999890) (1,999890) ≅ 3,999560
Material de Apoio (Portal Atlas) 15

c) (1,02)70 = (1,02)72 . (1,02)– 2, pois 70 = 72 – 2


4,161140
(1,02)70 = = 3,999558
1,040400
Observação: A diferença entre os resultados se deve a aproximações nos valores ta-
belados.

(1 + i)1/k – Taxas equivalentes

Para facilitar interpolações exponenciais no cálculo de períodos não inteiros, fo-


ram tabeladas as taxas equivalentes mais usuais, sendo as taxas apresentadas em sua
forma percentual.

Exemplo: Calcular o montante referente à aplicação de $ 5.000,00 por 3 anos e 4


meses, à taxa de 20% a.a.

Resolução: C0 = 5.000
i = 20% a.a.
n = 3 anos e 4 meses
Cn = ?
Cn = C0 (1 + i)n
Cn = 5.000 (1 + 0,20)3 (1+ iq),

onde

iq = taxa equivalente quadrimestral

Na tabela de 20%, tem-se:

(1,20)3 = 1,728000
iq = 6,265857% a.q.

Portanto, Cn = 5.000(1,728)(1,06265857) = $ 9.181,37

an i –
Valor presente à taxa i de “n” anuidades unitárias, imediatas,
postecipadas e periódicas

O fator an i é a soma de uma progressão geométrica de n termos e razão (1 + i)– 1,


sendo o 1º termo igual a (1 + i)–1 e o último (1 + i)– n. Portanto:

1 − (1 + i ) − n
an i =
i
16 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

1º Exemplo: Calcular o valor presente (valor ou preço a vista) de 24 prestações men-


sais de $ 100,00, a taxa de 2,5% a.m.
Resolução:

Temos que:

P=?

0 1 2 3 22 23 24 Meses

100 100 100 100 100 100

R = 100
i = 2,5% a.m.
n = 24 meses
P =?
P = R ⋅ an i
P = 100 ⋅ a24 2,5

Na tabela de 2,5%, encontramos:

a24 2,5 = 17,884986


P = 100(17,884986)
P = $ 1.788,50

2º Exemplo: Calcular o preço a vista de um carro que é vendido em 12 prestações


trimestrais de $ 5.000,00, considerando-se que a taxa contratada fora
de 8% a.t.?

Resolução: R = 5.000
i = 8% a.t.
n = 12 trimestres
P =?
P = R ⋅ an i
P = 5.000 ⋅ a12 8
P = 5.000(7,536078= $ 37.680,39

3º Exemplo: Uma geladeira é vendida por $ 10.000,00 a vista ou em 12 prestações


mensais de $ 1.065,52 sem entrada. Qual é a taxa de juros mensal
cobrada?
Material de Apoio (Portal Atlas) 17

Resolução: P = 10.000
R = 1.065.52
n = 12 meses
i =?
P = R ⋅ an i
10.000 = 1.065,62 ⋅ a12 i

10.000
a12 i = = 9,385089
1.065,52

Procurando-se nas tabelas, tem-se:

a12 4 = 9,385074

Visto que 9,385074 ≅ 9,385089, pode-se concluir que a taxa cobrada é de 4% a.m.

Variações do fator an i

O valor de an i depende da taxa considerada e/ou do valor de n. Os efeitos indivi-


duais podem ser analisados do seguinte modo:

Variação na taxa de juros com n constante

Seja n = 12

Então a12 0 = 12,000000


a12 5 = 8,863252
a12 10 = 6,813692
a12 50 = 1,984585

Vemos, por conseguinte, que mantendo-se n constante, o fator an i decresce com


o aumento da taxa de juros. Graficamente vem:

a
n i

0 i
18 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

Variação em n com a taxa de juros constante

Seja i = 10%

Então: a6 10 = 4,355261
a12 10 = 6,813692
a24 10 = 8,984744
a48 10 = 9,896926

Concluímos que, mantendo-se i constante, o fator an i cresce com o aumento de n.

a
n i
1/i

0 n

( an i )−1
– Prestações constantes, imediatas, postecipadas e
periódicas para o valor atual igual a 1, considerando-se a taxa de
juros i e n prestações

O fator ( an i )−1 nada mais é do que o inverso de an i ,então:

1 i
( an i )−1 = =
an i 1 − (1 + i )− n

Portanto, se temos o valor atual (preço a vista) e queremos encontrar o valor da


prestação, considerando-se a taxa i e o número de prestações n, basta multiplicar o
valor atual pelo fator ( an i )−1

1º Exemplo: Qual é a prestação mensal de um carro, cujo preço a vista é de $ 50.000,00,


se for contratada a taxa de 3,5% a.m. e o prazo for de 24 meses?

Resolução: P = 50.000
i = 3,5% a.m.
n = 24 meses
( a24 3,5 )−1 = 0,062273
R = P ( an i )−1
R = 50.000(0,062273) = $ 3.113,65
Material de Apoio (Portal Atlas) 19

2º Exemplo: Um financiamento de $ 100.000,00 é concedido a uma firma, para ser


pago em 4 prestações semestrais iguais, a taxa de 20% a.s. Qual é o
valor das prestações?

Resolução: P = 100.000
i = 20% a.s.
n = 4 semestres
( a4 20 )– 1 = 0,386289
R = P ( an i )−1
R = 100.000(0,386289)
R = $ 38.628,90

Variações do fator ( an i )−1

De modo análogo ao apresentado no item anterior, pode-se analisar o efeito da


taxa ou do número de períodos mantendo-se uma variável constante e variando ape-
nas a outra. Assim:

Variação na taxa de juros com n constante

Seja n = 12

Então: ( a12 0 )−1 = 0,083333


( a12 5 )−1 = 0,112825
( a12 10 )−1 = 0,146763
( a12 50 )−1 = 0,503884

Portanto, mantendo-se n constante, o fator ( an i )−1 cresce com o aumento da taxa


de juros. Graficamente tem-se:

(a )–1
ni

1/n

0 i
20 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

Variação em n a taxa de juros constante

Seja i = 10%

Então: ( a6 10 )−1 = 0,229607


( a12 10 )−1 = 0,146763
( a24 10 )−1 = 0,111300
( a48 10 )−1 = 0,101041

Concluindo-se que, mantendo a taxa constante, o fator ( an i )−1 decresce com o


aumento do número de períodos.

(a )–1
ni

0 n

Nota: Constata-se que as conclusões do item 4.1 são o inverso das conclusões
do item 3.1, o que é lógico, visto que
1
( an i )−1 =
an i

sn i – Montante à taxa i de n prestações unitárias, imediatas,


postecipadas e periódicas

O fator sn i é a soma de uma progressão geométrica de n termos, sendo o 1º ter-


mo igual a (1 + i)n – 1, o último igual a 1 e a razão igual a (1 + i). Portanto:

(1 + i )n − 1
sn i =
i
1º Exemplo: Qual é o montante de 60 depósitos mensais de $ 200,00, se o banco
pagar 2% a.m. sobre o saldo credor?

Resolução:
S=?

0 1 2 3 58 59 60 Meses

200 200 200 200 200 200


Material de Apoio (Portal Atlas) 21

R = 200
i = 2% a.m.
n = 60 meses
S =?
s60 2 = 114,051540
S = R ⋅ sn i
S = 200 (114,051540)
S = $ 22.810,31

2º Exemplo: Quanto deve ser depositado trimestralmente em uma instituição que


paga 8% a.t. sobre o saldo credor, para que, ao efetuar o 36º depósito,
o correntista possua $ 100.000,00?

Resolução: S = 100.000
i = 8% a.t.
n = 36 trimestres
R =?
s36 8 = 187,102148
S = R sn i
S
R=
sn i

100.000
R=
187,102148
R = $ 534,47

Variações do fator sn i

O valor do sn i depende da taxa considerada e/ou do valor de n. Analisando os


efeitos individuais, temos:

Variação na taxa de juros com n constante

Seja n = 12
Então: s12 0 = 12,000000
s12 5 = 15,917127
s12 10 = 21,384284
s12 50 = 257,492676
22 Matemática Financeira • Mathias e Gomes

Conclui-se, portanto, que, mantendo o número de períodos constante, o fator sn i


aumenta com o acréscimo nas taxas de juros. Graficamente, teríamos:

sn i

0 i

Variação em n com a taxa de juros constante

Seja i = 10%

Então: s6 10 = 7,715610
s12 10 = 21,384284

s24 10 = 88,497327
s48 10 = 960,173337

Por conseguinte, mantendo-se a taxa de juros constante, o fator sn i aumenta com


o aumento do número de períodos. No gráfico visualizaríamos:

sn i

0 n

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