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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS APLICADAS E EDUCAÇÃO


DEPARTAMENTO DE LETRAS
LICENCIATURA EM LINGUA PORTUGESA

Docente: Profª. Drª. Mylena de Lima Queiroz


Carga horária: 60 horas Créditos: 4
Estudante: Maria José Xavier da Silva

POESIA BRASILEIRA DO FIM DO SÉCULO XIX: O CASO PARNASIANISMO

Leia atentamente o poema abaixo e responda às perguntas a seguir:

Vaso chinês, de Alberto de Oliveira

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,


Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,


Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,


Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;

Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,


Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

A leitura do poema Vaso Chinês, de autoria de Alberto de Oliveira, tradicionalmente


identificado como parnasiano-esteticista, permite-nos identificar elementos desta vertente
poética de influências francesas: O Parnasianismo – termo que faz alusão ao Monte Parnasso
(segundo a mitologia grega, residência do deus Apolo e de suas musas). Tendo essa percepção
em vista, busque identificar no poema: 1) a posição da “arte pela arte” e o culto à perfeição 2)
o rigor estético e o tipo de vocabulário utilizado 3) O preciosismo estético (foco no detalhe e
no objeto). Localizados e identificados, comente como esses elementos apontam para a poética
parnasiano-esteticista que vigorou no final do século XIX no Brasil.

O poema “Vaso Chinês” de Alberto de Oliveira constitui-se em um soneto italiano de


rimas alternadas, atendendo a estética formal parnasiana, na qual se apresenta em uma forma
fixa. Podemos perceber que o eu-lírico está em terceira pessoa, afastando-se do objeto, de modo
que o faz a partir do olhar que ele lança sobre o vaso e narra a cena de uma forma descritiva e
objetiva.
No primeiro quarteto, vemos que ele destina-se a apresentar o vaso de forma casual,
mas introduzindo-o a partir da adjetivação como “perfumado” e “luzidio” “bordado”, ou seja,
o tornando singular e diferente. No segundo quarteto, o eu-lírico volta seu olhar não mais para
o objeto, mas para o artista que lhe dá vida, de modo a enaltecer esse “fino artista chinês”, que
coloca seu coração na sua arte, a faz de forma sutil, com tinta ardente. Dessa forma, nos levando
a entender que esse artista faz sua arte com emoção e sutileza. Os tercetos, por sua vez, nos
revelam o reflexo do artista em sua própria arte, isto é, a arte é o artista.
Diante do que foi descrito, podemos perceber um afastamento do eu-lírico sobre o
poema, ele não participa subjetivamente, isto é, não expões suas emoções. Dessa forma,
percebemos um olha voltado apenas para arte e para o artista, ou seja, ele assume a posição da
“arte pela arte”, tendo em vista que ao descrever o objeto, está assim descrevendo a arte e seu
artista, como podemos ver no segundo terceto:

Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,


Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

O eu-lírico extasia-se com arte em fazer a arte e que nela revela-se aquele que dá vida
a ela. No entanto, não configura-se em uma arte qualquer, uma vez que o vaso é colocado como
um objeto diferente, como é destacado no primeiro quarteto:

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,


Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

O “mármor luzidio”, isto é, o mármore iluminado, perfumado e bordado descreve o


vaso de forma pausadamente, a fim de que paremos nosso olhar sobre o objeto e contemplemos
sua perfeição, até porque ele não fora feito de qualquer forma, mas por um “fino artista chinês”
(v 5) apaixonado que pôs não só a técnica, mas seu “coração doentio” (v 6).
É importante ressaltar que essa estética valoriza a forma, por isso, dentro dessa
perspectiva, podemos perceber que este soneto possui uma métrica rígida, uma vez que ele é
um decassílabo com rimas ricas, isto é, possuem rimas das quais suas palavras são de classe
gramatical diferentes, acentuando o rigor estético dele. Além disso, outro ponto que elenca esse
rigor nessa estética formal, é em relação ao seu vocabulário que possui um certo rebuscamento,
como por exemplo, o uso de verbos no pretérito mais-que-perfeito, como “pusera” (v 6), a
ordem das orações indiretas, ou seja, inversas, uma linguagem distante da cotidiana entre outros
pontos.
Ainda sobre a escolha vocabular, percebemos a presença do estilo literário do
preciosismo, quando, por exemplo, o eu-lírico usa desmedidamente dos pronomes oblíquos,
como “Vi-o” (v 1), “Quem o sabe?” (v 10), “pintá-la” (v 12) e “vendo-a” (v 12) e o uso do
pretérito mais-que-perfeito “pusera” (v 6). Por fim, além desses empregos linguísticos, o
preciosismo também aparece no poema nas escolhas do poeta acerca de algumas palavras pouco
utilizadas na língua, como “mármor” e “luzidio”, que foi usado para se referir ao vaso.
Assim, compreendemos que mármor, diz respeito ao mármore, material que o objeto
possui, e luzidio que significa brilhante, lustroso, reluzente, adjetivando – intensificando – uma
característica do objeto. Sendo assim, percebemos que ele usa dessas palavras para indicar que
o vaso é de mármore reluzente/brilhante, desse modo, trazendo um foco para o objeto por meio
do preciosismo.

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