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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS E SAÚDE – ICS

ANA CAROLINA S.SORIANO RIBEIRO D877HA5

RELATÓRIO DE ESTÁGIO NUTRIÇÃO CLÍNICA

SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS


2022
ANA CAROLINA S.S. RIBEIRO D877HA5

RELATÓRIO DE ESTÁGIO NUTRIÇÃO CLÍNICA

SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL

Relatório para conclusão de curso de estágio do


ciclo de nutrição clínica para obtenção do título de
graduação, apresentado a Universidade Paulista –
UNIP
Professora: Msc. Maria Juciara de Abreu Reis
Auxiliar de Supervisão: Andréa Bucco

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS


2022
RESUMO
Revisão de literatura sobre síndrome do intestino irritável. Dieta restrita de
FODMAP’s como opção terapêutica na síndrome do intestino irritável. Foram
pesquisados artigos científicos disponíveis gratuitamente, estudos de caso ou
revisão bibliográfica, monografias, trabalhos de conclusão de curso e mestrado,
através de bases de dados como: Google Acadêmico, Scielo, PUBMED. Os
descritores utilizados para a pesquisa foram: síndrome do intestino irritável,
FODMAP’s, doenças gastrointestinais, nutrição clínica, nutrição e patologia,
nutricionista, nos idiomas português, inglês e espanhol. A Síndrome do Intestino
Irritável (SII) é uma doença funcional do trato gastrointestinal, complexa e
multifatorial. A característica predominante da SII é a dor abdominal, em média pelo
menos um dia na semana por três meses consecutivos associada a dois ou mais
sintomas como: náuseas, fadiga, diarreia, obstipação, dor abdominal, flatulência, por
no mínimo seis meses, logicamente com a exclusão de outras possíveis doenças
como doença celíaca, doença de Crohn, colite ulcerativa, entre outras. O quadro
sintomático pode ter predomínio de diarreia, de constipação ou alternância entre os
dois. Evidências emergentes apoiam a eficácia de uma dieta com conteúdo reduzido
de carboidratos fermentáveis de cadeia curta. A chamada dieta low FODMAP’s
(oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis) é uma
abordagem promissora de base fisiopatológica para dietas direcionadas a SII. A
estratégia geral é evitar alimentos ricos em FODMAP’s com a intenção de limitar a
entrega de substratos osmoticamente ativos e prontamente fermentáveis ao
intestino, minimizando assim sintomas característicos. No entanto, é ainda
necessário compreender melhor os efeitos a longo prazo e os efeitos secundários,
comparar a sua eficácia e custo em relação às alternativas já existentes e estudar
melhor a forma de ensinar, implementar e reforçar esta intervenção dietética.
Importante ainda avaliar as preocupações nutricionais possivelmente significativas,
especialmente quando o nutricionista não é um interveniente ativo neste processo,
realizar uma pesquisa mais aprofundada no que diz respeito ao conteúdo de
FODMAP’s de vários alimentos e reforçar a ideia de que esta dieta não representa a
cura, mas sim uma aproximação dietética sugerida para melhorar os sintomas e
qualidade de vida.

Palavra Chave: FODMAP’S, síndrome do intestino irritável, trato gastrointestinal


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................7
2 OBJETIVO........................................................................................................................................8
2.1 Objetivo Geral..............................................................................................................................8
2.2 Objetivos Específicos............................................................................................................8
3 METODOLOGIA..............................................................................................................................9
4 DESENVOLVIMENTO...................................................................................................................10
4.1 Síndrome do Intestino Irritável..........................................................................................10
4.2 Prevalência Mundial.............................................................................................................11
4.3 Fisiopatologia da Síndrome do Intestino Irritável.........................................................11
4.4 Tratamento da Síndrome Intestino Irritável....................................................................12
4.5 Conceito de FODMAP’s.......................................................................................................14
4.6 Frutanos e Galactanos........................................................................................................14
4.7 Lactose....................................................................................................................................14
4.8 Frutose....................................................................................................................................15
4.9 Polióis......................................................................................................................................15
4.10 Mecanismos pelos quais FODMAP’s induzem os sintomas....................................17
4.11 Dieta com baixo teor em FODMAP’s..............................................................................17
4.12 Limitações............................................................................................................................19
REFERÊNCIA....................................................................................................................................21
TABELAS

Tabela 1: Classificação da Síndrome do Intestino


Irritável...................................10
Tabela 2: Características e fontes comuns de
FODMAP’s....................................16
Tabela 3: Alimentos com baixo teor de
FODMAP’s...............................................18
LISTA DE ABREVIATURAS

FODMAP’S Oligossacarídeos, Dissacarídeos, Monossacarídeos e Polióis


Fermentáveis
GLUT-2 Transportador de Glicose 2
GLUT-5 Transportador de Glicose 5
SII Síndrome do intestino Irritável
SII-D Síndrome do Intestino Irritável forma diarreica
SII-I Síndrome do Intestino Irritável sem classificação
SII-M Síndrome do Intestino Irritável forma mista
SII-O Síndrome do Intestino Irritável forma obstipada
7

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é uma doença funcional do trato


gastrointestinal, complexa e multifatorial (Andrade, et al, 2015).
A característica predominante da SII é a dor abdominal, em média pelo
menos um dia na semana por três meses consecutivos associada a dois ou mais
sintomas como: náuseas, fadiga, diarreia, obstipação, dor abdominal, flatulência, por
no mínimo seis meses, logicamente com a exclusão de outras possíveis doenças
como doença celíaca, doença de Crohn, colite ulcerativa, entre outras. O quadro
sintomático pode ter predomínio de diarreia, de constipação ou alternância entre os
dois (Gibson et al, 2015).
Direta ou indiretamente, a SII tem um impacto significativo na saúde e nos
custos de cuidados. Além da carga econômica sobre os pacientes, há uma
importante redução da qualidade de vida (Bellini, et al, 2020).
A etiologia da SII permanece desconhecida, mas vários fatores patogenéticos
parecem estar envolvidos, incluindo hipersensibilidade visceral e motilidade intestinal
alterada. Entretanto a SII é cada vez mais vista como uma disfunção do "eixo
intestino-cérebro”, devendo ser considerada em um contexto biopsicossocial mais
amplo (Bellini, et al, 2020).
Embora cerca de três quartos dos pacientes com SII afirmem que os
alimentos desencadeiam os sintomas gastrintestinais, os tratamentos dietéticos, até
recentemente, não eram uma parte central da terapia (Guerreiro, 2018).
Mas com a evolução dos planos de cuidado da SII, atualmente o tratamento
não farmacológico, o qual inclui tratamento nutricional, é o de primeira escolha
(Braz, et al, 2021).
Evidências emergentes apoiam a eficácia de uma dieta com conteúdo
reduzido de carboidratos fermentáveis de cadeia curta. A chamada dieta low
FODMAP’s (oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e
polióis) é uma abordagem promissora de base fisiopatológica para dietas
direcionadas a SII. A estratégia geral é evitar alimentos ricos em FODMAP’s com a
intenção de limitar a entrega de substratos osmoticamente ativos e prontamente
fermentáveis ao intestino, minimizando assim sintomas característicos (Braz, et al,
2021).
8

2 OBJETIVO

2.1 Objetivo Geral

 Revisar a literatura sobre a síndrome do intestino irritável.

2.2 Objetivos Específicos

 Dieta restrita de FODMAP’s como opção terapêutica na síndrome do intestino


irritável.
 Elaborar lâmina informativa sobre principais sinais e sintomas e fatores
alimentares que contribuem para o quadro.
9

3 METODOLOGIA

Foram pesquisados artigos científicos disponíveis gratuitamente, estudos de


caso ou revisão bibliográfica, monografias, trabalhos de conclusão de curso e
mestrado, através de bases de dados como: Google Acadêmico, Scielo, PUBMED.
Os descritores utilizados para a pesquisa foram: síndrome do intestino
irritável, FODMAP’s, doenças gastrointestinais, nutrição clínica, nutrição e patologia,
nutricionista, nos idiomas português, inglês e espanhol.
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4 DESENVOLVIMENTO

4.1 Síndrome do Intestino Irritável

A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio gastrointestinal


multifatorial. Embora a sua etiologia ainda não seja totalmente compreendida, várias
alterações fisiopatológicas estão associadas, tais como motilidade intestinal
alterada, hipersensibilidade visceral, inflamação intestinal de baixo grau, aumento da
permeabilidade intestinal, desregulação do eixo cérebro-intestino e microbiota
intestinal alterada sendo também a predisposição genética um fator associado a
este distúrbio (Passos & Moraes, 2017).
O diagnóstico da SII é feito primariamente a partir dos Critérios de Roma IV.
Segundo estes, o diagnóstico pode ser feito quando o indivíduo sofre de dor
abdominal recorrente, em média, pelo menos 1 dia por semana durante os últimos 3
meses, com início há pelo menos 6 meses, estando está associada a pelo menos
dois dos seguintes sintomas: dor relacionada à defecação, alteração na frequência
das fezes e alteração na aparência das fezes (Passos & Moraes, 2017).
Todos os casos diagnosticados são posteriormente atribuídos a um subtipo
de SII dependendo dos hábitos intestinais, como obstipação (SII-O), diarreia (SII-D),
combinação de obstipação e diarreia (SII-M) e indefinida (SII-I) podendo, cada um
deles associar-se também aos seguintes sintomas: distensão abdominal e/ou
flatulência excessiva. Alguns dos sintomas digestivos mais frequentes associados à
SII incluem saciedade precoce, dispepsia intermitente e náusea (Gibson et al, 2015).

Tabela 1 - Classificação da Síndrome do Intestino Irritável


SII COM SII COM DIARREIA SII COM PADRÃO SII NÃO
OBSTIPAÇÃO (SII- (SII-D) MISTO OU CLASSIFICÁVEL
O) CÍCLICO (SII-M)
Fezes duras em> 25% Fezes moles em> 25% Fezes duras e moles Alteração na
das defecações e fezes das defecações e fezes em> 25% das vezes consistência das vezes
moles em <25% das duras em <25% das insuficiente para
vezes vezes corresponder a SII-O,
Até um terço dos casos Até um terço dos casos SII-D ou SII-M
Mais comum entre Mais comum entre
mulheres homens

Fonte: Adaptado de Barros, 2020


11

4.2 Prevalência Mundial

A SII é o distúrbio gastrointestinal mais comumente diagnosticado, estimando-


se que afete aproximadamente 11% da população global. Com maior prevalência
na população adulta, a SII afeta principalmente indivíduos do sexo feminino, tendo
como faixa etária mais acometida entre 30 a 49 anos (Bastos,2016).

4.3 Fisiopatologia da Síndrome do Intestino Irritável

A SII ocorre por uma complexa conjunção de fatores. Várias alterações de


motilidade gastrointestinal estão presentes nesses pacientes, porém elas não se
correlacionam bem com a presença dos sintomas. Pesquisas recentes têm
demonstrado a existência de uma hiperalgesia visceral fazendo parte da patogênese
dos sintomas. Um limiar alterado de percepção retal foi encontrado na maioria dos
pacientes com SII frente à distensão retal com balão (Andrade, et al, 2015).
Outros estudos, utilizando tomografia de emissão de pósitrons, mostram que,
frente à distensão de um balão retal, o cérebro de pacientes com SII ativa o córtex
pré-frontal, área que amplia a percepção de dor, enquanto pacientes normais ativam
uma área do sistema límbico associada com a inibição da dor (Andrade, et al, 2015).
Uma outra área recente de investigação na fisiopatologia da SII refere-se aos
mecanismos de inflamação da mucosa intestinal, particularmente a liberação de
citocinas, neuronais do sistema nervoso entérico. Estas substâncias poderiam ser
liberadas da mucosa intestinal por estímulos dietéticos ou infecciosos (Passos &
Moraes, 2017).
Em muitos casos de SII, o início dos sintomas segue-se a um episódio de
gastroenterite aguda. Em pacientes com SII, encontrou-se um aumento da
celularidade da lâmina própria e um aumento no número de mastócitos na
muscularis mucosa e no cólon e íleo terminal (Braz, et al, 2021).
A influência dos fatores psicológicos é notável nos doentes com SII. A maioria
dos estudos demonstra que alterações de humor e doenças psiquiátricas são mais
comuns em pacientes com SII que procuram o especialista do que naqueles não
portadores da síndrome ou ainda entre portadores que não procuram o médico com
freqüência, indicando que provavelmente a estrutura de personalidade do indivíduo
age como um fator modulador dos sintomas (Andrade, et al, 2015).
12

Eventos estressantes comumente precedem o início das queixas.


Antecedentes de abuso sexual ou físico, especialmente em mulheres, são mais
comuns nesses pacientes do que na população em geral, sendo muito
freqüentemente sub-relatados ou investigados (Passos & Moraes, 2017).
Alterações no equilíbrio da microbiota intestinal com a predominância de
microrganismos patogênicos faz com que ocorra aumento da liberação de toxinas,
inflamação e permeabilidade do epitélio intestinal, ocasionando respostas do
sistema nervoso na tentativa de regular as propriedades epiteliais (Braz, et al, 2020).
Pela sua natureza multifatorial, o tratamento da SII se baseia em mudanças
no estilo de vida, assistência psicológica e terapia farmacológica (Guerreiro, 2018).
Contudo, tratamentos mais tradicionais como o uso de fármacos para controle
de sintomas, normalmente são pouco eficazes, trazendo luz a novos meios para
investigação como a intervenção dietética (Guerreiro, 2018).
O diagnóstico da SII é geralmente tardio, o que contribui para que seja um
fator de risco para outras doenças crônicas, incluindo o câncer gastrointestinal
(Silva, et al 2020).
A qualidade de vida do portador é diretamente afetada por diversos impactos
negativos emocionais, sociais e físicos. A debilidade por conta dos sintomas
causados pode acarretar isolamento social e menor produtividade. Causando assim,
aumento da necessidade de consultas médicas e encargos para o sistema de saúde
(Cardoso, 2018).

4.4 Tratamento da Síndrome Intestino Irritável

Tendo em conta os diferentes mecanismos fisiopatológicos citados


anteriormente, é expectável que o tratamento do SII não seja dirigido a um único
fator causal. Sendo assim, o tratamento tem como objetivo o alívio sintomático e não
a alteração do mecanismo fisiopatológico subjacente. A abordagem terapêutica
baseia-se, sobretudo, na sintomatologia predominante, na intensidade dos sintomas,
no grau de comprometimento funcional e nos fatores psicossociais envolvidos
(Bastos, 2016).
A maioria dos doentes têm sintomas leves (70%). Normalmente são tratados
nos cuidados de saúde primários, têm poucas ou nenhumas dificuldades
psicossociais. O tratamento geralmente envolve educação e alteração do estilo de
13

vida, incluindo a dieta. Uma parcela menor (25%) tem sintomas moderados que são
geralmente intermitentes e se correlacionam com a alteração da fisiologia intestinal.
Uma pequena porção (5%) dos doentes com SII têm sintomas graves e refratários,
são geralmente seguidos em centros de referência e frequentemente sofrem de dor
constante e dificuldades psicossociais. Este último grupo de doentes são melhor
tratados com antidepressivos e outros tratamentos psicológicos (Costa, 2020).
SII não tem tratamento definitivo, mas pode ser controlada com estratégias
não farmacológicas e farmacológicas. No que diz respeito às estratégias não
farmacológicas e atendendo ao fato que SII é uma doença crónica, o
estabelecimento de uma boa relação médico doente é a base para que se possa
garantir um tratamento adequado e redução da procura de serviços médicos
desnecessários (Guerreiro, 2018).
É necessária educação para a saúde, confiança na relação estabelecida com
o profissional de saúde, mudanças de dieta e do estilo de vida. As estratégias
farmacológicas são mais complexas. Devido à heterogeneidade do SII, não existe
nenhum tratamento padrão. O uso crónico de fármacos deve ser minimizado o
máximo possível. Importante ainda perceber que em períodos de tempo diferentes
podem ser necessárias abordagens diferentes tanto farmacológicas como não
farmacológicas (Bastos, 2016).
Há um destaque na necessidade de tratamentos mais eficazes para o SII
porque as terapias atuais não são uniformemente bem-sucedidas. Isto conduziu a
um interesse em intervenções dietéticas para o tratamento do SII, que é bastante
lógico uma vez que, 60 a 70% dos pacientes com esta síndrome relatam um
agravamento dos sintomas após as refeições, 50 a 70% relatam intolerância a vários
alimentos e mais de 70% acreditam que alimentos podem ser causadores de
sintomas. Importante ainda ressalvar que, como referido anteriormente, cerca de
70% dos doentes têm sintomas leves e que o seu tratamento inclui educação e
alteração do estilo de vida, inclusive a dieta. Este agravamento de sintomas
associado a intolerância a determinados alimentos, fazem com que muitos doentes
acabem por excluir alguns alimentos que consideram prejudiciais. É então PAPEL
DA DIETA NO SÍNDROME DO INTESTINO (Costa, 2020).
14

4.5 Conceito de FODMAP’s

FODMAP é o acrónimo para "oligo-, di- e monossacarídeos e polióis


fermentáveis" e designa um grupo de hidratos de carbono de cadeia curta (frutanos,
galactanos, lactose, frutose e polióis), osmoticamente ativos e altamente
fermentáveis no cólon uma vez que a sua absorção é incompleta no intestino
delgado (Andrade, et al, 2015).

4.6 Frutanos e Galactanos

Os oligossacarídeos, frutanos e galactanos, não sendo digeridos no trato


digestivo devido a défices enzimáticos, atravessam o trato gastrointestinal até atingir
o intestino grosso onde são fermentados, com consequente formação de gases e
ácidos gordos de cadeia curta (Bastos, 2016).
Estes hidratos de carbono apresentam função de prebióticos uma vez que
estimulam o crescimento e a atividade bacteriana de Bifidobacteria e Lactobacilli,
potencialmente benéficas. Os frutanos são polímeros de frutose ligados a uma
molécula de glicose no final e os galactanos são polímeros de galactose. Estes
oligossacarídeos apresentam o maior comprimento de cadeia quando comparados
com os restantes FODMAPs (Costa, 2020).

4.7 Lactose

A lactose é um dissacarídeo constituído pela junção de glicose e galactose e


dependente da enzima lactase, presente nas vilosidades do intestino delgado, para
a sua hidrolisação e posterior absorção. A quantidade disponível desta enzima no
intestino está sujeita a fatores genéticos e étnicos ou até de condições
gastrointestinais (Bellini, 2020).
Quando esta enzima se encontra inativa ou numa concentração insuficiente, a
lactose não absorvida no intestino delgado é mais tarde utilizada pelas bactérias
como substrato fermentável no cólon distal, produzindo ácidos gordos de cadeia
curta, hidrogénio e metano em excesso. Uma ingestão superior a 7g de lactose está
associada a sintomas decorrentes da sua má absorção (Andrade, et al, 2015).
15

4.8 Frutose

Este monossacarídeo de 6 carbonos pode ser absorvido através de várias


vias de transporte facilitado no epitélio intestinal. Quando a frutose está presente na
sua forma livre, ou seja, enquanto monossacarídeo, é absorvida por difusão
facilitada através do transportador de glicose 5 (GLUT-5), localizado na membrana
apical dos enterócitos (Bastos, 2016).
Como a frutose livre é absorvida na sua maioria por mecanismos mediados
por transportadores de baixa capacidade, quanto maior for o excesso deste
monossacarídeo, maior a probabilidade de ocorrer má absorção. A absorção deste
açúcar também pode ser mediada pelo transportador de glicose 2 (GLUT-2) quando
se encontra na presença de glicose e galactose podendo ser minimizada na
presença de sorbitol. Assim, o excesso de consumo de frutose, a inibição de GLUT-
2 ou outros problemas podem resultar na acumulação de frutose não absorvida no
grosso (Costa, 2020).
Quantidades de frutose superiores a 25 g não são bem absorvidas por
metade da população, sendo que desta má absorção resulta um aumento da carga
osmótica no lúmen intestinal e consequente fermentação (Bellini, 2020).

4.9 Polióis

Sorbitol, manitol, lactitol, xilitol, maltitol e isomalte são polióis (álcoois de


açúcar) parcialmente digeridos e absorvidos no intestino delgado e fermentados no
intestino grosso. Quando ingeridos em excesso, por exemplo numa quantidade
superior a 50g de sorbitol por dia ou superior a 20g de manitol por dia, podem
desencadear sintomas gastrointestinais (Bastos, 2016).
16

Tabela 2 - Características e fontes comuns de FODMAPs

Fermentáveis por
F bactérias do cólon
Frutas: melancia, creme
de maçã, pêssegos
Legumes: alcachofras,
aspargos, beterraba,
Oligossacarídeos Frutanos e/ou galactanos couve-de-bruxelas,
O
brócolos, repolho, erva-
doce, alho, cebola,
ervilha, chalotas
Cereais: trigo e centeio
quando consumidos em
grandes quantidades,
cevada
Nozes e sementes:
pistachos
Legumes: grão-de-bico,
lentilhas, feijão
Inulina
Leite: vaca, cabra,
Dissacarídeos Lactose ovelha
D
Gelado
Manteiga
Iogurte
Queijos
Frutas: maçãs, pêras,
pêssegos, pêssego,
manga, ervilhas,
melancia, cerejas, fruta
enlatada em sumo
natural
M Monossacarídeos Frutose Mel
Legumes: espargos,
alcachofras, ervilhas
instantâneas de açúcar
Edulcorantes: frutose,
xarope de milho
Grande dose de frutose
no total: fontes de frutas
concentrados; grandes
porções de frutas, frutas
secas, sumo de frutas
A E (“and”)
Frutas: maçãs,
damascos, cerejas,
pêras, nectarinas,
pêssegos, ameixas,
Sorbitol, Manitol, Xilitol, ameixas, melancia
Eritritol, Polidextrose, Legumes: abacate,
P Polióis Isomalte couve-flor, cogumelos,
ervilhas
Adoçantes: sorbitol
(E420), manitol (E421),
xilitol (E967), maltitol
(E965), isomalte (E953),
e outros que terminam
em -ol
Laxante
Fonte: Costa,2020
17

4.10 Mecanismos pelos quais FODMAP’s induzem os sintomas

Apesar de alguns dos seus efeitos sobre a saúde serem desejáveis, a


ingestão de hidratos de carbono fermentáveis de cadeia curta pode desencadear
sintomas gastrointestinais indesejáveis, tais como dor abdominal, flatulência e
diarreia. FODMAP’s têm propriedades funcionais comuns (Passos & Moraes, 2017).
São mal absorvidos no intestino delgado e isto ocorre por várias causas: há
mecanismos de transporte de baixa capacidade através do epitélio (frutose);
atividade reduzida de hidrolases de fronteira (lactose); falta de hidrolases (frutanos e
galactanos); ou moléculas demasiado grandes para difusão simples (polióis). São
moléculas pequenas, portanto, osmoticamente ativas. E são rapidamente
fermentados por bactérias: a rapidez de fermentação é ditado pelo comprimento da
cadeia de hidratos de carbono (quanto mais pequenas mais rapidamente
fermentáveis (Costa, 2020).

4.11 Dieta com baixo teor em FODMAP’s

A dieta em si possui três etapas principais: restrição, reintrodução e


manutenção da dieta. O período de restrição de alimentos fontes dos FODMAP’s
possui duração de 4 a 6 semanas, podendo então, introduzir alimentos com um teor
baixo desses nutrientes, o que promove a variação da dieta e diminui o risco de
deficiências nutricionais (Martins et al, 2020).
A reintrodução dos alimentos ricos em FODMAP’s é realizada de forma
gradual, para identificar os níveis de flexibilidade dos pacientes para cada alimento e
subgrupo (Fernandes, M, et al, 2020).
As quantidades devem ser pequenas, evoluindo à medida que o paciente se
sinta bem para uma dose normal (Fernandes, M, et al, 2020).
A manutenção da dieta é feita com os subgrupos de FODMAP’s tolerados
pelo indivíduo, em longo prazo, para controlar os sintomas. Assim, caso não haja
uma melhora sintomática entre uma a oito semana, a dieta deve ser interrompida
(Guerreiro, 2018).
Em síntese, a dieta com baixo teor do FODMAP’s leva a uma ingestão
consideravelmente reduzida de frutanos, prebioticos e galacto-oligossacarídeos e,
18

por isso, ocorre uma redução considerável no substrato disponível para a


fermentação do cólon (Bastos, 2016).
A sua correta realização possibilita autonomia para o indivíduo, o controle em
longo prazo dos sintomas e melhoria na qualidade de vida, sem efeitos adversos
relevantes, ocasionando uma menor procura de cuidados médicos e encargos para
o sistema de saúde (Silva, et al, 2020).

Tabela 3 - Alimentos com baixo teor de FODMAP’s

FODMAP’s ALIMENTOS COM BAIXO TEOR EM


FODMAP’S
Frutose Frutas: banana, mirtilo, melão, uva,
melão, kiwi, limão, lima, laranja,
maracujá, mamão, framboesa, morango
Edulcorantes: nenhum adoçante exceto
polióis
Lactose Leite: livre de lactose, leite de arroz
Substitutos de gelados Iogurtes:
iogurtes sem lactose Queijos: queijos
duros
Frutanos e/ou Galactanos Legumes: bambu, cenoura, aipo,
cebolinha, milho, berinjela, feijão verde,
alface, abóbora, cebola primavera
(parte verde apenas) Cebola substituída
por alho e óleo com infusão de alho
Cereais: sem glúten e produtos de pão /
cereais específicos Frutas: tomate
Polióis Frutas: banana, mirtilo, melão,
carambola, uva, melão, kiwi, limão, lima,
laranja, maracujá, mamão, framboesa
Edulcorantes: glicose, açúcar
(sacarose), outros adoçantes artificiais
não terminam em "ol"
Fonte Grez, et al, 2019.
19

Os ensaios clínicos têm mostrado que os participantes que aderem à dieta


geralmente respondem dentro de uma semana, mas há um aumento progressivo de
eficácia e esta é verificada nas primeiras 6 semanas (Martins et al, 2020).
Se a resposta é excelente, em seguida, os doentes seguem um plano de
reintrodução alimentar individualizada para determinar a tolerância a determinados
subgrupos de FODMAP’s. Segundo observações em estudos, a maioria dos doentes
não necessitam de um longo tempo de restrição, vão desenvolvendo as suas regras,
ditadas por um equilíbrio entre a tolerabilidade de sintomas e a vontade de restringir
na dieta (Martins et al, 2020).
O objetivo da dieta não é a de excluir por completo FODMAP’s, mas sim uma
restrição ajustada e controlada de modo a que haja melhoria dos sintomas (Silva, et
al, 2020).
Em geral, a seguinte abordagem sugerida por Gibson (2015), pode ser
implementada ao iniciar esta dieta;
1. Teste do hidrogénio expirado;
2. Consulta de nutricionista que está confortável com a abordagem desta dieta;
3. Restrição completa de FODMAP’s por um período de 6 semanas;
4. Uma lenta e controlada reintrodução de FODMAP’s para determinar o nível de
tolerância dos alimentos.

4.12 Limitações

Em primeiro lugar é necessário perceber que a restrição destes alimentos que


funcionam como causa para o aparecimento de sintomas funcionais não é uma cura
para o SII, é sim uma escolha de alimentos levando a uma dieta que melhora os
sintoma e qualidade de vida (Guerreiro, 2018).
Embora os dados de eficácia clínica tenham aumentado, com mais qualidade,
com estudos bem controlados, são necessários ainda mais estudos para confirmar
que esta dieta pode ser considerada terapia para SII (Bellini, 2020).
Outro dos principais problemas relaciona-se com a falta de profissionais de
saúde (médicos, enfermeiros e nutricionistas) especializados nesta área (Costa,
2020).
20

5 CONCLUSÃO

Sabe-se que uma boa alimentação está diretamente ligada a qualidade de


vida dos seres humanos, podendo exercer um papel de extrema importância na
prevenção e tratamento de patologias.
As ocorrências da SII têm se tornado cada vez mais comuns e evidências
científicas deixam claro que os FODMAP’s podem estar ligados à piora de sintomas
como distensão abdominal, gases, dor e hipersensibilidade visceral devido a sua
rápida fermentação e alta atividade osmótica.
A dieta baixa em FODMAP’s é uma dieta nutricionalmente adequada se o
aconselhamento dietético for igualmente adequado. Em contraste com outras
restrições dietéticas, a dieta baixa em FODMAP’s permite que os pacientes possam
consumir alimentos de todos os grupos alimentares principais, portanto, minimizar o
efeito de mal nutrição. No entanto, é ainda necessário compreender melhor os
efeitos a longo prazo e os efeitos secundários, comparar a sua eficácia e custo em
relação às alternativas já existentes e estudar melhor a forma de ensinar,
implementar e reforçar esta intervenção dietética. Importante ainda avaliar as
preocupações nutricionais possivelmente significativas, especialmente quando o
nutricionista não é um interveniente ativo neste processo, realizar uma pesquisa
mais aprofundada no que diz respeito ao conteúdo de FODMAP’s de vários
alimentos e reforçar a ideia de que esta dieta não representa a cura, mas sim uma
aproximação dietética sugerida para melhorar os sintomas e qualidade de vida.
21

REFERÊNCIA

Andrade VLA, Fonseca TN, Gouveia CA, Kobayashi TG, Leite RGS, Mattar RA, et al.
Dieta restrita de FODMEPs como opção terapêutica na síndrome do intestino
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