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PRODUÇÃO TEXTUAL

AULA 2

Prof. Jeferson Ferro


CONVERSA INICIAL

Nesta rota, abordaremos a prática da leitura como pilar central do


jornalismo. Como lidar com os textos jornalísticos do ponto de vista da leitura e
da escrita, pensados, por sua vez, para um determinado público leitor? Isso
significa refletir sobre a relação do texto com seu público, com seu contexto de
produção e recepção, ou seja, pensar na pragmática.
Um parâmetro clássico que delimita o texto jornalístico é o da objetividade.
A objetividade é uma amarra ou uma meta a ser alcançada? É possível escrever
um texto completamente objetivo? Se sim, como fazer para conciliar as
diferentes subjetividades envolvidas na reconstrução jornalística de um relato?
Levantaremos aqui questões que deverão acompanhar o jornalista profissional
por toda a sua carreira.
Depois de refletir sobre os pressupostos fundamentais da prática textual,
é hora de considerar como estruturar um relato jornalístico. Assim, discutiremos
a conceituação de lide e pirâmide invertida, dois princípios básicos do texto
jornalístico – e que você retomará em outros momentos ao longo do curso.
Por fim, refletiremos a respeito dos elementos menores que compõem um
texto. Se a física tem o átomo, o jornalismo tem o parágrafo – medida central na
articulação de ideias. Um texto é uma coleção de parágrafos, mas como eles se
constituem e se organizam? A lógica própria de cada bloco de palavras é o tema
da última aula desta rota.

CONTEXTUALIZANDO

Falar do texto jornalístico talvez seja uma generalização grosseira. Há


muitos tipos de textos jornalísticos, com características as mais diversas. Um
texto jornalístico pode ser descontraído, criativo e até mesmo poético, como as
crônicas de Carlos Drummond de Andrade. Mas pode também ser bastante
sério, objetivo, repleto de informações especializadas, como um texto da editoria
de economia – principalmente se for publicado num veículo direcionado a essa
área, como o Valor Econômico.
Por outro lado, o jornalista não pode se dar ao luxo de escrever apenas
para si mesmo, ou mesmo para um conjunto restrito de leitores. Um dos critérios
mais básicos da escrita jornalística envolve a sua acessibilidade para qualquer
tipo de leitor, que deverá encontrar as informações elementares, mesmo em uma

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passada de olhos rápida e superficial do texto. Portanto, desenvolver a escrita
simples, clara e objetiva é um objetivo que todo estudante deve buscar atingir
em seu processo de aprendizado.
De toda forma, a melhor maneira de se familiarizar com o texto jornalístico
e de se preparar para redigir os mais diversos gêneros que a profissão abarca
é, sem dúvidas, lendo bastante. Portanto, procure ler diariamente e, se possível,
busque uma diversidade de gêneros e veículos.
Abordaremos os seguintes temas:

1. Leitura e interpretação do texto jornalístico


2. Texto e pragmática
3. Texto e objetividade
4. A ordem do texto
5. O parágrafo

Deixamos a seguir algumas sugestões de portais de conteúdo jornalístico


para sua leitura:

BBC Brasil – site brasileiro de uma das mais tradicionais redes de


comunicação do mundo, com diversas editorias:
https://www.bbc.com/portuguese

Ciência USP – site do núcleo de divulgação científica da USP (maior


universidade brasileira), que divulga informações científicas de todas as áreas
de pesquisa: http://ciencia.usp.br/

Revista Piauí – revista brasileira que publica textos elaborados e


criativos, muitas vezes próximos do estilo “jornalismo literário”, com excelentes
reportagens sobre cultura e política: https://piaui.folha.uol.com.br/

Nexo Jornal – jornal nascido na web, caracterizado pela objetividade e


profundidade no tratamento dos temas, com uma qualidade destacada na
infografia: https://www.nexojornal.com.br/

TEMA 1 – LEITURA E INTERPRETAÇÃO DO TEXTO JORNALÍSTICO

Nesta rota vamos discutir alguns aspectos fundamentais do texto


jornalístico. É preciso levar em conta que o leitor de um jornal não pretende,
geralmente, fazer um mergulho profundo no texto, como é de se esperar com a

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literatura, por exemplo. Cada reportagem compete pela atenção do leitor com
diversos outros componentes externos. Por isso o texto jornalístico busca ser
leve e direto, de forma que as informações básicas possam ser encontradas e
reencontradas em caso de distração. Ao mesmo tempo, é preciso que a escrita
seja elegante o suficiente para que a atenção seja capturada. Afinal, o objetivo
de todo jornal é que os artigos sejam lidos na íntegra.
Um projeto gráfico atraente e o uso de imagens (como discutiremos mais
à frente) são muito importantes. Mas prender o leitor implica, em primeiro lugar,
a escolha dos temas que serão abordados em cada edição. Claro, é preciso que
se equilibrem pautas de “interesse do público”, aquelas que atraem leitores
pelo apelo intrínseco ao tema (temas da moda, celebridades etc.), e pautas de
“interesse público”, aquelas que abordam questões sensíveis para o estado de
direito democrático.
A apresentação visual e o tema são responsáveis por atrair o leitor para a
matéria, mas é a articulação do texto que irá garantir a sua permanência na
página, questão ainda mais importante na era do jornalismo digital. A quantidade
de cliques segue como a questão central para definir o sucesso de um site, mas
apenas se vier associada a uma taxa de rejeição baixa, o que se define pela
qualidade do texto.
A escrita jornalística precisa ser simples e direta, sem ser simplista,
evitando o didatismo que pode infantilizar o leitor. Afinal, ninguém gosta de se
sentir menosprezado. Isso não quer dizer que o texto deverá ter apenas frases
curtas em ordem direta (sujeito-verbo-predicado), mas que, ao se optar por uma
construção mais complexa, se considere, primeiro, se esta é a melhor forma de
expressar determinada ideia e, segundo, se a pontuação está bem colocada,
evitando sentidos diferentes dos pretendidos originalmente.
Palavras homógrafas – com sentidos diferentes, mas com a mesma grafia
– são problemáticas. Erbolato (2008) menciona o seguinte exemplo: “Um navio
brasileiro entrava no porto um navio português”. Você conseguiu entender?
Entrava pode ser lido como a conjugação do verbo entrar ou como a do verbo
entravar, esta última, a pretendida por quem escreveu. Em casos como esse, a
leitura fica prejudicada, mas é possível encontrar o sentido pretendido. O
problema é que há uma interrupção no fluxo de leitura, o que é um pecado grave
no texto jornalístico – corre-se o risco de perder a atenção do leitor.

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Outro problema a ser evitado: a cacofonia. Trata-se do caso em que o
final de uma palavra se junta com o começo da próxima, produzindo o som de
uma outra construção, em geral criando um sentido engraçado. Um dos mais
famosos entre estudantes é a expressão o bum da comunicação, que cria,
quando lida, o sinônimo chulo de glúteos. Para não cair nessa armadilha,
recomenda-se reler os textos em voz alta, buscando identificar o efeito
cacofônico. Mais exemplos: “ela tinha” = é latinha; “vez passada” = vespa
assada; “vi ela” = viela.

Cada um desses casos abordados implica uma espécie de quebra-molas


metafórico para o percurso da leitura. O que deveria fluir segue sendo
interrompido por forçar que o leitor decodifique ativamente o texto. Mas evitar
esses erros é apenas o começo. A convenção jornalística prega algumas regras
básicas para facilitar a leitura do texto jornalístico. Entre elas:

• Divida os assuntos em parágrafos;

• Use linguagem direta: evite frases na voz passiva e o uso frequente de


adjetivos ou repetições;

• Quando necessário, use siglas, palavras técnicas ou em língua


estrangeira e explique o que significam.

Confira a um exemplo de texto escrito de forma simples e direta:

PIB de 16 municípios do Paraná tem crescimento igual ou superior a 100%

O PIB (Produto Interno Bruto) de 16 dos 399 municípios do Paraná teve


aumento igual ou superior a 100% em 2013 na comparação com o levantamento
anterior, de 2010. Os dados foram divulgados na sexta-feira (18) pelo IBGE.
Os números refletem o crescimento da participação das cidades do interior
na economia do Paraná nos últimos anos, segundo o Ipardes (Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social). Em 2013, a fatia dessa
região no PIB do estado atingiu o recorde de 58,7%, contra 55,2% em 2010.
PIB de 16 municípios do Paraná tem crescimento igual ou superior a 100%.
Gazeta do Povo, 19 dez. 2015. Disponível em:
<https://www.gazetadopovo.com.br/economia/pib-de-16-municipios-do-parana-
tem-crescimento-igual-ou-superior-a-100-d3xltdj1rl1irmwfnrr3k2x92/>. Acesso
em: 15 dez. 2019.

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Por fim, gostaríamos de mencionar um aspecto importante relacionado ao
processo de leitura de forma geral. Do ponto de vista cognitivo, a leitura se dá a
partir de um processo de encaixe entre o texto e a mente do leitor (como já
mencionamos). Ou seja, deve haver pontos de contato entre o que o leitor já
sabe sobre o mundo e as novas informações trazidas pelo texto. Imagine um
leitor que não sabe absolutamente nada sobre política brasileira – alguém que
morava em outro país e não tinha internet, por exemplo. Esse leitor, ao se
deparar com a manchete “O que esperar da Lava-Jato em 2016”, saberá do que
se trata? Certamente não, pois não é possível inferir o significado da expressão
lava-jato apenas a partir do título. Imagine, por exemplo, que você recebesse um
texto com o seguinte título: “Aspectos práticos das descobertas de drogas para
moléculas pequenas – a interface entre biologia, química e farmacologia”. Seria
uma leitura fácil para você? Haveria muitos pontos de contato entre o seu
conhecimento de mundo e as informações que o texto traz? Acredito que não.
Isso quer dizer que o jornalista deve ter em mente, quando escreve um
texto, qual o volume de “novidade” a colocar diante do leitor. As informações
apresentadas são suficientes para a compreensão do texto? O vocabulário exige
conhecimento contextual que não está explícito na matéria? Naturalmente, os
textos já partem do princípio de que os leitores sabem alguma coisa sobre o
assunto. Quem escreve sobre o campeonato brasileiro de futebol não precisará
explicar ao leitor o que é Flamengo, certo? Mas ainda assim é importante ter em
mente essa característica fundamental do processo de leitura, pois do contrário
você poderá escrever textos que deixarão lacunas de compreensão.

TEMA 2 – TEXTO E PRAGMÁTICA

Como o texto se articula com seu contexto de publicação? Para responder


a essa pergunta, podemos nos aproximar da pragmática, uma área dos estudos
da linguagem que investiga como o sentido é criado em função do contexto
comunicativo em que está inserido.
Na linguagem coloquial, quando dizemos que uma pessoa é pragmática,
estamos, na verdade, dizendo que ela é prática e objetiva, certo? Uma pessoa
que vai direto ao assunto, que tem os pés no chão e tende a ser bastante realista.
O problema é que isso não nos ajuda muito a entender o significado da palavra
do ponto de vista linguístico.

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Para Borges Neto (2012), esse conceito se refere a uma forma particular
de olhar para o que ele chama de enunciado linguístico real. Grosso modo, se a
semântica vai se deter sobre as significações de um texto dentro do escopo da
linguagem, a pragmática se interessa por todo o processo que circunda esse
mesmo texto, processo determinante para a sua compreensão. Nesse sentido,
a pragmática está ligada ao “processo de encaixe” sobre o qual falamos
anteriormente: o conteúdo de um texto deve ter pontos de contato com o
conhecimento de mundo do leitor, assim como suas interações sociais.
Isso quer dizer que a pragmática considera não apenas o texto em si, mas
também seu contexto e as intenções do enunciador. O texto é colocado em
perspectiva, como parte de um processo sociopolítico-cultural, e não fechado em
si mesmo, como seria a lógica da semântica.
Um mesmo objeto pode ser visto por diferentes ângulos, revelando
diversas possibilidades interpretativas. A ideia de colocar o texto como parte de
um processo maior, que envolve o seu contexto de produção e recepção, é o
que nos interessa quando estudamos o jornalismo.

Saiba mais

Leia o artigo De que trata a pragmática?, de José Borges Neto, disponível


em <http://people.ufpr.br/~borges/publicacoes/para_download/pragmatica.pdf>.

2.1 Jornalismo e pragmática

O tema do jornalismo é, simplesmente, a vida. O relato jornalístico busca


se aproximar do real ao se apresentar como uma forma de representação
fidedigna. Mas a vida é muito maior e mais dinâmica do que o jornalismo jamais
conseguirá ser. Por isso, nenhum texto jornalístico encerrará em si mesmo toda
a realidade objetiva de um fato, que será sempre colocado em perspectiva. O
texto é apenas um fragmento de um processo que segue em andamento.
Tomemos como exemplo uma cobertura longa de algum tema, como uma
eleição presidencial. Para contar a história de como cada candidato decidiu
concorrer e convenceu seus respectivos partidos, de como todos eles se
enfrentaram e do resultado decorrente dessa disputa, seria necessário um livro
bastante extenso. Por mais completa que fosse a pesquisa para esse livro, no
momento de sua publicação ele já poderia estar defasado, pois acontecimentos
posteriores poderiam mudar a perspectiva de como foi a eleição. O fato é que a
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cobertura jornalística acompanha o “tempo real”, publicando desenvolvimentos
à medida que os fatos acontecem.
Não há espaço, também, para recapitular toda a história a cada novo
desenvolvimento. Por isso, cada texto depende de que o leitor tenha um mínimo
de conhecimento sobre o assunto, já que precisa de contexto para ser lido. O
que torna o relato jornalístico um prato cheio para a análise da pragmática. É o
caso da Lava-Jato que mencionamos: os jornalistas que cobrem o
desenvolvimento da investigação não podem, a cada novo texto, explicar o que
é a Lava-Jato partindo do pressuposto de que o leitor nunca ouviu falar nisso.
Eles simplesmente seguem o desenrolar dos fatos a partir do presente, e
pressupõem que o leitor conheça os fatos anteriores necessários à interpretação
do novo texto.
Mas isso não quer dizer que o texto jornalístico prescinda de qualquer
contextualização, podendo confiar cegamente na capacidade do leitor de colocar
as informações em perspectiva. O dilema do jornalismo, nas primeiras décadas
do século XX, era que os leitores simplesmente não conseguiam conectar fatos
noticiados separadamente (disputa territorial da Alsácia-Lorena; assassinato do
Príncipe Francisco Ferdinando etc.) com a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
Era preciso surgir uma nova forma de trabalhar a informação em perspectiva,
reunindo fatos distantes no tempo e no espaço, mas que faziam parte de um
quadro maior. Surge, então, a reportagem, já bastante próxima do que se
pratica hoje, que mais do que simplesmente relatar acontecimentos faz
conexões entre eles, oferecendo uma perspectiva de interpretação ao leitor.
Mesmo a reportagem mais completa, mesmo um livro-reportagem, não
terá como ser um relato total de algum fato. Sempre é exigido do leitor algum
conhecimento prévio que preencha lacunas e amplie os sentidos do texto. Cabe,
portanto, ao jornalista calcular o ponto exato desse equilíbrio entre informações
novas e conhecimento de contexto necessário ao entendimento do texto.
A seguir, você encontra quatro manchetes publicadas em jornais
brasileiros. Você saberia dizer do que cada uma delas está falando, ou seja, qual
é a notícia?

1. As marcas de um massacre. E o sentido de comunidade


2. Sandra Annenberg repudia vídeo de brasileiros na Copa
3. O uso das redes sociais ao vivo no atentado da Nova Zelândia
4. Com dores, Neymar deixa treino da seleção mais cedo

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TEMA 3 – TEXTO E OBJETIVIDADE

Vamos agora discutir uma das questões mais centrais do jornalismo


contemporâneo: a objetividade. Podemos pensar na noção de objetividade sob
dois aspectos. O primeiro deles é o linguístico: o texto objetivo depende de um
estilo de escrita que preze pela clareza, por ser direto e relatar os fatos sem
emitir opinião sobre eles. Veja abaixo duas formas de relato de uma mesma
notícia. Qual delas é, nesse sentido, objetiva?

A.

A Secretaria da Fazenda do Paraná informa que o pagamento do IPVA,


relativo ao exercício de 2016, começa nesta quinta-feira (21) para os veículos
com os finais de placas 1 e 2. A data é a mesma para quem vai pagar o imposto
à vista e para os proprietários que vão parcelar em três vezes.
O Estado concede desconto de 3% aos contribuintes que optarem pela
quitação em parcela única. Os donos de veículos com outros finais de placas
devem ficar atentos ao calendário de pagamentos (confira AQUI a tabela). A
Secretaria da Fazenda informa que quem que não pagar o imposto nos prazos
definidos pela legislação terá multa de 10% e os valores sofrerão acréscimo de
juros e atualização pela variação da taxa Selic.

B.

Foi informado pela Secretaria da Fazenda do Paraná que o pagamento


do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), relativo ao
exercício de 2016, começa nesta quinta-feira (21) para os veículos com os finais
de placas 1 e 2. Independentemente do fato de o contribuinte decidir pagar à
vista ou não, a data de início do pagamento é a mesma.
O desconto concedido para quem optar pelo pagamento à vista será de
míseros 3%, o que não chega a ser nem um pouco atraente. Os donos de
veículos com outros finais de placas devem ficar atentos ao calendário de
pagamentos. A Secretaria da Fazenda informa ainda que quem que não pagar
o imposto nos prazos definidos pela legislação terá multa de 10%. Além disso,
os valores sofrerão acréscimo de juros e atualização pela variação da taxa Selic
– portanto, não adianta chorar, pode preparar o bolso já em janeiro.
PAGAMENTO do IPVA 2016 começou no dia 21. Secretaria da Fazenda
do Paraná, 19 jan. 2016. Disponível em: <
http://www.fazenda.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=648>.
Acesso em: 16 dez. 2019.

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Há uma clara diferença de construção entre as duas opções, não é
mesmo? Enquanto na opção A as informações estão todas escritas em frases
curtas, em ordem direta, e sem o uso de adjetivos que emitem um julgamento
sobre elas, na opção B o que acontece é o oposto. A comparação entre essas
duas versões do mesmo texto deixa muito claro o que significa ser objetivo do
ponto de vista linguístico, o que apenas o texto A consegue fazer.
O outro aspecto sob o qual podemos pensar a noção de objetividade é o
conceitual, ou seja, a objetividade como abordagem do assunto a partir de um
ponto de vista equilibrado, sem tendências ou paixões. Aqui estamos falando
mais das decisões do jornalista antes mesmo de escrever o texto do que do
próprio texto em si, ainda que, naturalmente, a questão da postura se reflita nele.
O conceito de objetividade jornalística surge a partir da compreensão de
que seria possível fazer a apreensão “dos fatos do mundo” por meio de um relato
narrativo preciso. De certa forma, é uma herança do positivismo de Auguste
Comte, que pregava a observação de fenômenos socais e a produção de
verdades científicas. Nessa perspectiva, o jornalismo seria capaz de produzir um
relato que não sofresse qualquer tipo de interferência cultural, simbólica ou
ideológica de quem o produz, como se fosse possível atingir a “verdade” por
meio de um método de observação testado e aprovado. Hoje sabemos que não
é bem assim. Todos nós falamos a partir de um ponto de vista pessoal que
carrega nossas crenças, nossos desejos e nossa história particular, e que
qualquer apreensão da “realidade” é, ao menos de certa forma, parcial.
O princípio da objetividade impacta desde a escolha do que será noticiado
até a noção de hierarquização das informações dentro de uma matéria (pirâmide
invertida, noção que será abordada mais adiante, nas próximas aulas), passando
pelas relações de poder entre jornalistas e fontes.
Há uma confusão natural no jornalismo que coloca a objetividade em pé
de igualdade com a imparcialidade. Ou, ainda, o entendimento de que uma
decorre da outra, diretamente. O conceito surgiria, então, como um pacto entre
o jornalista e o leitor, que pode acreditar no que está publicado em um jornal
porque o jornalista não tem interesse no assunto, sendo imparcial, portanto. Isso,
em tese, gera um relato objetivo da realidade.
Mas esse “pacto da objetividade” pode, na verdade, ser usado para
enganar o leitor. Os jornalistas podem empregar recursos e estratégias
linguísticas com o objetivo de dar a impressão de que o texto foi escrito de forma

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isenta, quando, na verdade, fizeram escolhas claramente tendenciosas. O leitor
estaria, então, sendo levado a acreditar que a “verdade dos fatos” estaria
representada nas publicações. A objetividade seria, dessa forma, um
instrumento de manipulação dos veículos que empurrariam quase
subliminarmente a sua própria interpretação dos fatos para os leitores.
Esse pensamento levou a uma certa crise da objetividade em decorrência
da constatação de que o relato jornalístico: (1) não dá conta da realidade; (2)
dificilmente é totalmente desprovido de paixões; e (3) fica patente, pela
comparação entre diversos veículos, que há a defesa de interesses
corporativistas por trás dos textos.
Com a crise da objetividade, cabe questionar: sem objetividade, é possível
fazer jornalismo? Não há resposta simples para essa questão. Simplesmente
abraçar a subjetividade intrínseca de cada jornalista e redação de jornal,
deixando claro ao leitor com uma série de ressalvas que o texto pode conter
algum tipo de interferência, não resolve a questão.
A outra possibilidade é demolir a fronteira entre o jornalismo objetivo e o
jornalismo de opinião. Os jornais e as revistas se tornariam uma coleção de
artigos em que os pensamentos de cada autor, articulados ou não com outros
textos ou depoimentos de pessoas, estariam à frente de qualquer conjunto de
normas e práticas de redação.
Muitos jornais vêm adotando essa postura, mesclando artigos escritos
com “objetividade”, como pregam os manuais de jornalismo, com textos de
opinião – alguns desses até escritos por jornalistas cujo nome e conhecimento
em uma determinada área tenham se tornado notórios de alguma forma. Dois
veículos relativamente jovens em nosso país, o El País Brasil e o HuffPost Brasil,
usam essa técnica. Curiosamente, ambos são veículos estrangeiros que vieram
ao nosso país montar novas redações.
Um bom exemplo desse balanço é a coluna de Eliane Brum para o El País
Brasil. A jornalista se tornou notória ao escrever uma série de livros de não
ficção, o que gerou convites para assumir a coluna semanal em que debate
questões ligadas à política e à sociedade brasileira. Seus textos longos misturam
a opinião da autora, embasada pela experiência e pela articulação com
pensamentos de cientistas sociais, com dados estatísticos e depoimentos.
Se essa postura ajuda os veículos como um todo, oferecendo ao leitor
diversos pontos de vista articulados, ainda resta ao jornalista a solução de seu

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dilema. Sem um valor como o da objetividade, a própria prática jornalística corre
o risco de perder sua função social.
Para muitos pesquisadores, a saída está em abraçar a lógica da
intersubjetividade. A função do jornalista seria, então, buscar conciliar diferentes
pontos de vista – diferentes subjetividades – de forma a criar um relato que se
aproxime ao máximo de uma realidade objetiva. O foco na objetividade como um
ideal final a ser alcançado se desloca para o processo de apuração e redação.
Um dos pontos de vista que deverão, invariavelmente, ser articulados é o do
próprio jornalista, que deverá se mostrar consciente de seu papel no processo
de mediação desses diferentes relatos colhidos.

Saiba mais

No artigo Em busca da honestidade intelectual, o jornalista Rogério


Galindo discute a questão da objetividade/imparcialidade na prática do
jornalismo. Disponível em: <
http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/em-busca-da-honestidade-
intelectual-ec24pxig6itw9r3shdx5fxpou>. Acesso em: 13 jan. 2020.

TEMA 4 – A ORDEM DO TEXTO

Como você já sabe, o texto jornalístico é fruto de um processo técnico que


envolve a captação de informações brutas e sua articulação de forma que o leitor
melhor as compreenda. Já exploramos também algumas questões da
pragmática e da objetividade como pressupostos conceituais para o jornalista
durante o seu processo de apuração e redação. Chega, agora, a hora de colocar
a mão na massa. Como ordenar as ideias?
A noção fundamental: é preciso planejar o texto. Ou seja, antes de
começar a escrevê-lo, propriamente, você deve fazer um plano, uma lista de
tópicos, de informações etc. Definem-se o ponto de partida e o de chegada para
depois se considerar o que é necessário para ir de um ao outro. Ou seja, o
desenvolvimento é a ponte entre a introdução e a conclusão. Então, vamos por
partes. Observe abaixo o plano inicial de um texto que leremos a seguir:

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Planejamento do texto:

Resultados do Enade (GPI e Pedagogia)

Fala da coordenadora de Pedagogia

Preparação dos alunos

Nota 5

A introdução funciona como um convite à leitura. Já adianta, em si, boa


parte do que será exposto ao longo da escrita, mas não tudo. É uma
apresentação do objeto que será examinado, já considerando algumas
abordagens que deverão ser ampliadas adiante. É, também, onde deverá vir boa
parte da contextualização, situando o tema dos pontos de vista temporal e
espacial, apontando para a abordagem que virá a seguir. Veja abaixo o primeiro
parágrafo do texto cujo planejamento você já conferiu:

Pedagogia Uninter tem 3 no top 10

por Valéria Alves

No último mês de dezembro, o Exame Nacional de Desempenho dos


Estudantes (Enade) trouxe ótimos resultados para a Uninter: o curso de Gestão
da Produção Industrial foi avaliado com nota 5 pela comissão do MEC –
conforme já noticiado por nós. A prova do Enade é parte essencial da avaliação
de qualidade dos cursos superiores feita pelo MEC. Desde que foi criada, em
2004, os estudantes precisam realizá-la para que possam concluir a graduação.

O desenvolvimento deverá ser dividido em partes. Parágrafos em um


texto curto, subtítulos em um texto longo, capítulos em um livro. Cada uma
dessas partes inclui novas informações, fatos e perspectivas em torno do tema
que foi apresentado na introdução.

Mas não foi apenas o curso de GPI que obteve boas notas: dos 10
primeiros classificados do curso de Pedagogia no Brasil, dentre todas as
instituições e modalidades de ensino, três são alunos de educação a distância
da Uninter – e um deles se classificou com a terceira maior nota do país.

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“É um orgulho saber que nós estamos fazendo um bom trabalho, que os
alunos estão conseguindo entender os conteúdos. A prova não é fácil e traz
todos os conteúdos da grade de Pedagogia, e ver que eles têm condições de
responder uma prova dessas, que eles assimilaram o conteúdo dos quatro anos
do curso, é gratificante”, diz a coordenador do curso de licenciatura
em Pedagogia, Gisele Cordeiro.

Na educação a distância, os alunos tiveram a mesma preparação que os


estudantes do presencial, feita por meio do AVA (Ambiente Virtual de
Aprendizagem). Além da revisão dos conteúdos, foram realizadas palestras
sobre temas de conhecimentos gerais. “A nossa equipe faz todo o trabalho em
relação à grade atualizada e aos conteúdos, mas o aluno precisa estudar, então
o mérito é deles”, conclui Gisele.

A conclusão deve ser um resumo marcante. Os temas da introdução


deverão ser retomados à luz do que foi exposto ao longo do desenvolvimento
fazendo as amarrações finais. Se ainda há questões a serem respondidas, elas
deverão ser feitas (ou refeitas) neste momento, apontando caminhos para outros
textos no futuro.

Saiba mais

Este ano, durante o processo de recredenciamento feito pelo MEC/INEP,


a educação a distância da Uninter recebeu cinco estrelas, tornando-se a única
instituição do Brasil a receber a nota máxima nesta modalidade.
PEDAGOGIA Uninter tem 3 no top 10. Uninter Notícias, 15 mar. 2019.
Disponível em: <https://www.uninter.com/noticias/pedagogia-uninter-tem-3-no-
top-10>. Acesso em: 16 dez. 2019.
O texto jornalístico possui algumas especificidades pelo seu modo
industrial de produção. As regras gerais se aplicam, mas com algumas ressalvas,
começando pela noção de lide. A definição do que seja um lide varia de autor
para autor. Para alguns, é a primeira frase, para outros, é o primeiro parágrafo.
Independentemente de qual seja o recorte que defina um lide, todos os
pesquisadores concordam que ele deve buscar responder às seguintes
questões: quem fez o quê, a quem, quando, onde, como, por que e para quê.
Ou seja, as questões centrais abordadas no texto deverão vir respondidas já nas
primeiras frases.

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Depois do lide, o texto deverá trabalhar no sentido de explicar e
contextualizar essas questões iniciais. Então, diferentemente da proposição de
Boaventura, o texto jornalístico não caminha para uma conclusão; ao contrário,
se desenvolve a partir de um postulado. Isso envolve uma questão prática de
outra ordem: a relação com o espaço da página, uma herança do jornalismo
impresso. Dessa forma, uma matéria que precisasse ceder espaço para outra
mais urgente e importante deveria ser cortada. Mas onde cortar? O clichê
jornalístico prega que sempre se deve “cortar pelo pé”, ou seja, os últimos
parágrafos são progressivamente menos importantes.
É quando entra em cena outra técnica clássica do jornalismo: a pirâmide
invertida. Trata-se de uma imagem mental que ajuda a visualizar como o texto
será organizado. No topo, ou seja, no lide, as informações mais importantes e
centrais. A partir dele, são trabalhadas questões que vão caindo em importância
até chegarem ao fim. Por isso, se for necessário cortar, os últimos parágrafos
serão os sacrificados.
A aproximação ou rejeição a esses modelos dependem da inclinação de
cada jornal e de seu contexto cultural. No final dos anos 1990 os editores não
pensariam duas vezes para cortar uma abertura mais literária em uma matéria
(“nariz de cera”, no jargão). Hoje, é possível que um texto que comece direto no
lide seja devolvido ao jornalista para que ele trabalhe um pouco mais na
apresentação, deixando as informações para o segundo ou terceiro parágrafos,
buscando fisgar o leitor pelo clima de mistério de uma abertura mais policialesca,
por exemplo. De certa forma, é o que vimos no texto analisado neste tema – as
informações que se referem ao título, da nota dos alunos de Pedagogia, só
aparecem no segundo parágrafo, sendo o primeiro usado para criar uma
introdução geral ao assunto.
Portanto, a lógica do lide e a da pirâmide invertida são pontos de partida
para a construção de um texto. Mas não devem ser vistas como regras rígidas.
Diversos modelos surgiram para questionar esses formatos e apresentar outras
possibilidades. Entre elas, estão o jornalismo literário e o New Journalism, que
incorporam elementos da literatura no texto jornalístico.

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TEMA 5 – O PARÁGRAFO

Como vimos anteriormente, se o desenvolvimento de um texto é a ligação


entre a introdução e a conclusão, e se esse mesmo desenvolvimento é composto
por partes, cada parte é um parágrafo, ou um conjunto de parágrafos.
Um parágrafo começa com um tópico frasal, que é a oração que introduz
a ideia central a ser trabalhada ao longo das próximas linhas. O tópico frasal é
construído a partir de uma ideia-núcleo, que é a parte do objeto de análise do
texto como um todo a ser examinada naquele parágrafo de maneira particular.
Essa ideia-núcleo é seguida de ideias secundárias, que desenvolvem o conceito
original.
Um bom parágrafo é, essencialmente, monotemático. Se duas
abordagens diferentes do mesmo tema estiverem em um mesmo parágrafo, o
resultado será pura confusão, o que é o contrário do que pretende um texto
jornalístico. Observe como o repórter da Vice, revista conhecida pelos textos
descontraídos sobre comportamento moderno, articula um parágrafo:

Porém, para mim, a estatística mais reveladora surgiu algum tempo atrás,
quando uma pesquisa sugeriu que 72% dos trabalhadores britânicos acumulam
dez horas extras de trabalho não remunerado por semana. Se eu acredito nos
resultados desse estudo? Não, ele foi realizado pela Travelodge. Mas aí vi outro
estudo realizado pelo ligeiramente mais confiável Trade Union Congress,
segundo o qual o trabalhador britânico médio – tenha isso em mente, o
trabalhador britânico médio – faz sete horas e 18 minutos extras de trabalho não
remunerado toda semana. Essa sim é uma estatística aterrorizante, que sugere
que aceitamos um código secreto de conduta para o trabalho diário: trabalhar
por muito mais tempo do que se deveria, por muito menos, com menos
vantagens – e sendo obrigado a repetir o mantra da empresa.

MARTIN, C. Nossa cultura de trabalho está nos matando. Vice, 02 out. 2015.
Disponível em: <http://www.vice.com/pt_br/read/nossa-cultura-de-trabalho-esta-
nos-matando?utm_source=vicefbbr>. Acesso em: 16 dez. 2019.

Você deve ter percebido que esse parágrafo está no meio do texto, certo?
Desta forma, ele naturalmente retoma informações que já foram mencionadas.
Quando na primeira frase ele diz “a estatística mais reveladora surgiu algum
tempo atrás”, podemos concluir que no parágrafo anterior o texto apresentou
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estatísticas. E que esse parágrafo, como a primeira frase deixa claro,
apresentará outras estatísticas que o autor julga mais relevantes – o centro da
sua exposição. Fica claro que é um texto sobre as relações de trabalho e que os
dados de duas pesquisas diferentes serão comparados para corroborar a
mesma ideia-núcleo: a maioria dos britânicos trabalha quase 10 horas a mais
por semana. Note, ainda, como a última frase busca resumir e contextualizar as
informações expostas. Observemos o parágrafo seguinte:

Essas sete horas e 18 minutos são uma coisa se você é empreendedor,


advogado de direitos humanos ou fotógrafo freelance de street style. Quem entra
para uma dessas profissões sabe que não vai poder (não todos os dias) ir para
a casa ou para o bar assim que der seis da tarde. No entanto, considerando que
a maioria das pessoas na Inglaterra pós-Thatcher trabalha na indústria de
serviços ou em escritórios de administração, o que diabos estamos fazendo?
Terminando tabelas na nossa própria cozinha? Fazendo “pub office”? Cobrando
dos filhos a fatura pelos serviços prestados?

A ideia-núcleo já não é a mesma. O autor reflete que há casos em que é


possível trabalhar horas-extras e se sentir recompensado não materialmente,
mas só para depois reforçar que essa não é a situação da maioria das pessoas.
Ele, por fim, retoma a questão com uma série de perguntas de ordem retórica,
reforçando o seu pensamento sobre o assunto.
Esses dois parágrafos fazem parte do desenvolvimento do texto. Ambos
falam sobre o mesmo assunto, o emprego na contemporaneidade e a quebra do
acordo entre empregadores e empregados. Mas cada um o desenvolve sob um
aspecto ligeiramente diferente, de forma autônoma, porém concatenada (ou
seja, um está na sequência lógica do outro), de forma que ambos são
determinantes para a construção do argumento que o autor propõe.

TROCANDO IDEIAS

Que tal explorarmos um pouco mais a questão da linguagem e dos


contextos envolvidos em matérias e reportagens? Acesse um dos links que
sugerimos para leitura no começo do texto desta rota (Pesquisa). Leia um texto
de sua livre escolha. Pense sobre ele, procurando responder às seguintes
perguntas: 1. Em algum momento, você ficou em dúvida durante a leitura do
texto? Por quê? 2. Há palavras ou mesmo construções textuais de difícil
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compreensão? 3. Que tipo de leitor não seria capaz de compreender esse texto?
Apresente suas conclusões para os colegas, compartilhando suas respostas no
fórum.

NA PRÁTICA

1. No link abaixo, você encontra o texto Amarrado em uma cruz, empresário


protesta no centro de Curitiba. Do ponto de vista linguístico, o texto segue
os princípios da objetividade: frases curtas e na ordem direta, não há
comentários que indiquem uma posição pró ou contra por parte do autor
da reportagem. Analise seu parágrafo introdutório a partir do conceito de
lide. A quais perguntas ele responde? Link: <http://www.parana-
online.com.br/editoria/cidades/news/929490/?noticia=AMARRADO+EM+
UMA+CRUZ+EMPRESARIO+PROTESTA+NO+CENTRO+DE+CURITIB
A>.
2. Tente reescrever as seguintes frases de forma a resolver o problema de
duplo sentido:

a. “A mãe encontrou o filho em seu quarto. ” (O quarto era da mãe ou do


filho?)

b. “O rapaz olhava a garota com óculos.” (Quem estava de óculos?)

c. “A mãe pediu para o filho dirigir seu carro.” (Carro da mãe ou do filho?)

d. “Nós vimos o incêndio do prédio.” (Estávamos no prédio ou o prédio


pegou fogo?)

Respostas:

1. O lide responde às seguintes perguntas: quem, quando, onde, por quê.

2. a. “A mãe entrou em seu quarto e lá encontrou o filho. ” b. “O rapaz


olhava a garota que estava com óculos. ” c. “A mãe pediu que seu carro fosse
dirigido pelo filho. ” d. “Do prédio, nós vimos o incêndio. ”

FINALIZANDO

Nesta unidade, fizemos um mergulho no texto jornalístico do ponto de


vista de sua técnica, ética e estética. A abordagem inicial foi em relação a uma
questão que diferencia a escrita jornalística da maioria das demais: a

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preocupação com o leitor. O texto jornalístico precisa ser compreendido mesmo
na mais superficial das leituras.
Em seguida, tivemos contato com duas abordagens possíveis para a
escrita. Ou, ainda, duas posturas a serem adotadas pelo jornalista diante da
produção de um texto: a pragmática e a objetividade. Nenhuma das duas pode
ser tratada como uma diretriz totalizante e fechada em si mesma, mas antes
como possibilidades durante a confecção de um texto.
A pragmática nos leva a refletir sobre o texto como parte de um processo
sociopolítico-cultural muito mais amplo do que a sintaxe, o que é determinante
para um artigo publicado em um veículo. A discussão sobre a objetividade, por
outro lado, evoca a distância radical que há entre um fato e a sua representação,
e que o dever do jornalista é refletir sobre sua própria subjetividade de forma a
ser capaz de produzir um relato que busque a aproximação com o mundo real.
Depois de abordar a escrita de um ponto de vista conceitual, direcionamos
nosso olhar para a estrutura do texto, refletindo sobre como começar, terminar e
o que colocar no meio. E, como qualquer texto moderno é uma coleção de
parágrafos, encerramos essa rota refletindo sobre como se faz um deles.
Todas essas questões acompanharão a vida profissional do jornalista.
Como procuramos deixar claro ao longo desse texto, não há respostas fáceis.
Todavia, ao mesmo tempo, parte da prática jornalística está na busca e no eterno
questionamento do como fazer. Cada novo texto é, em si, um desafio complexo
que demandará escolhas e decisões.

LEITURA OBRIGATÓRIA DA DISCIPLINA

Acesse na biblioteca virtual o livro A arte de escrever bem: um guia para


jornalistas e profissionais do texto, de Dad Squarisi e Arlete Salvador, e leia o
capítulo O texto jornalístico.
Capítulo 2, Estudo do parágrafo (p. 21), do livro-base de nossa disciplina:
CORREA, V. L. et al. Teorias do texto [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes,
2013. (Disponível na biblioteca virtual).

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REFERÊNCIAS

CORREA, V. L. et al. Teorias do texto. Curitiba: InterSaberes, 2013.

ERBOLATO, M. L. Técnicas de codificação em jornalismo: redação, captação


e edição no jornal diário. São Paulo: Ática, 2008.

HARTMANN, S. H. de G.; SANTAROSA, S. D. Práticas de escrita para o


letramento no ensino superior. Curitiba: Ibpex, 2011.

KOCH. I. V.; ELIAS, V. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São


Paulo: Contexto, 2010.

LAGE, N. Linguagem jornalística. 8. ed. São Paulo: Ática, 2006.

MOTTA, L. G. A análise pragmática da narrativa jornalística. Disponível em:


<http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/105768052842738740828590501726
523142462.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2019.

SALVADOR, A.; SQUARISI, D. A arte de escrever bem: um guia para


jornalistas e profissionais do texto. São Paulo: Contexto, 2009.

WACHOWICZ, T. Análise linguística nos gêneros textuais. Curitiba: Ibpex,


2010.

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