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Carl A.

Burtis

Edward R. Ashwood

David E. Bruns

FUNDAMENTOS
DE QUÍMICA CLÍNICA

TRADUÇÃO DA 6° EDIÇÃO
S U M Á R I O

PARTE I. PRINCÍPIOS LABORATORIAIS, 1 5. Eletroquímica e Sensores Químicos, 87


Paul D'Orazio, P h . D . e Mark E. Meyerhoff, Ph.D.
1. Introdução à Química Clínica e Potenciometria, 88
Voltametria/Amperometria, 94
Medicina Laboratorial Baseada em Conductometria, 97
Evidências, 1 Coulometria, 98
Christopher P. Price, Ph.D., F.R.C. Path., Patrick M.M. Sensores Químicos Ópticos, 98
Bossuyt, Ph.D. e David E. Bruns, M.D. Biossensores, 99
Conceitos, Definições e Relações, 2
Medicina Baseada em Evidências - O que E?, 2 6. Eletroforese, 105
Medicina Baseada em Evidências e Medicina Raymond E. Karcher, P h . D . e James P. Landers, Ph.D.
Laboratorial, 3 Conceitos Básicos e Definições, 105
Informações de Necessidades na Medicina Laboratorial Teoria de Eletroforese, 105
Baseada em Evidências, 4 Descrição da Técnica, 106
Relato de Estudos de Acurácia Diagnostica e o Papel da Tipos de Eletroforese, 109
Iniciativa STARD, 6 Considerações Técnicas, 113
Desfechos, 6
Revisões Sistemáticas dos Exames Diagnósticos, 9
Avaliações Econômicas dos Exames Diagnósticos, 11 7. Cromatografia, 115
Diretrizes da Prática Clínica, 13 M. David Ullman, P h . D . e Carl A. Burtis, Ph.D.
Auditoria Clínica, 16 Conceitos Básicos, 115
Aplicação dos Princípios da Medicina Laboratorial Mecanismos dc Separação; 117
Baseada em Evidências na Prática Rotina, 17 Resolução, 119
Cromatografia Planar, 120
Cromatografia em Coluna, 120
2. Introdução aos Princípios da Análise e Análises Qualitativas e Quantitativas, 129
Segurança Laboratorial, 19
Edward W. Bermes, Jr., Ph.D., Stephen E. Kahn, P h . 8. Espectrometria de Massas, 131
D., D.A.B.C.C., F.A.C.B. e Donald S. Young, M.B.,
Thomas M. Annesley, Ph.D., Alan L. Rockwood,
Ch.B., Ph.D. Ph.D. e Nicholas E. Sherman, Ph.D.
Conceito de Soluto e Solvente, 20
Conceitos Básicos e Definições, 131
Unidades de Medida, 21
Instrumentos, 133
Compostos Químicos e Materiais de Referência, 22
Aplicações Clínicas, 139
Procedimentos e Técnicas Básicos, 24
Segurança, 34 9. Princípios da Enzimologia Clínica, 143
Renze Bais, Ph.D., A.RC.P.A. e Mauro Panteghiní, M.D.
3. Coleta de Amostras e Outras Variáveis Princípios Básicos, 144
Pré-Analíticas, 43 Cinética Enzimática, 147
Donald S. Young, M.B., Ch-B-, Ph.D., Edward W. Enzimologia Analítica, 152
Bermes, Jr., P h . D e Dóris M. Harverstick, Ph.D.
Coleta de Amostra, 43 10. Princípios das Técnicas
Manipulação de Amostras para Análise, 52
Outras Variáveis Pré-Analíticas, 53
Imunoquímicas, 159
L. J. Kricka, D.Phil-, F.A.C.B., C.Chem., F.R.S.C.,
Variabilidade Biológica Normal, 62
F.R.C.Path.
Conceitos Básicos e Definições, 159
PARTE II. INSTRUMENTAÇÃO E TÉCNICAS Interação Antígeno-Anticorpo, 161
ANALÍTICAS
Métodos Qualitativos, 162
Métodos Quantitativos, 165
4. Técnicas Ópticas, 65 Outras Técnicas Imunoquímicas, 174
L.J. Kricka, D. Phil., F.A.C.B., C.Chem., F.R.S.C., F.
R.C.Path. e Jason Y. Park, M.D., Ph.D.
11. Automação em Laboratório de Análises
Fotometria e Espectrometria, 66
Instrumentação, 68 Clínicas, 175
Fotometria de Reflexão, 73 James C. Boyd, M.D. e Charles D. Hawlter, Ph.D., M.
Espectrofotometria de Emissão de Chama, 73 B.Â., F.A.C.B.
Espectrometria de Absorção de Atômica, 73 Conceitos Básicos, 176
Fluorimetria, 74 Automação do Processo Analítico, 176
Fosforimetria, 81 Automação Integrada para o Laboratório Clínico, 184
Luminometria, 81 Considerações Práticas, 189
Nefelometria e Turbidimetria, 82 Outras Áreas de Automação, 190
xviii SUMÁRIO

12. Testagem Laboratorial Remota, 193 Enzimas de Ácidos Nucléicos, 281


Christopher P.Price, Ph.D., F.R.C.Path. e Andrew St. Técnicas de Amplificação, 282
John. Ph.D-, M.A.A.C.B. Técnicas de Detecção, 285
Considerações Analíticas e Tecnológicas; 194 Técnicas de Discriminação, 286
Considerações sobre Implementação e Gerenciamento, Resumo, 293
200
• 18. Aminoácidos e Proteínas, 295
PARTE III. OPERAÇÕES LABORATORIAIS A. Myron Johnson, M.D.
Aminoácidos, 295
13. Seleção e Avaliação Analítica de Métodos Proteínas Plasmáticas, 303
Análise de Proteínas, 319
- Com Técnicas Estatísticas, 205
Kristian Linnet, M.D., D.M.Sc, e James C. Boyd, M.D.
Seleção do Método, 206 ' 19. Enzimas, 327
Estatística Básica, 207 Mauro Panteghini, M.D. e R e m e Bais, Ph.D., A.R.C.P.A,
Conceitos Básicos Relacionados com Métodos Conceitos Básicos, 327
Analíticos, 210 Enzimas Musculares, 328
Metas Analíticas, 215 Enzimas Hepáticas, 332
Comparação de Métodos, 216 Enzimas Pancreáticas, 340
Acompanhamento de Resultados Seriados, 229 Outras Enzimas Clinicamente Importantes, 344
Rastreabilidade e Medição de Incerteza, 229
Orientações, Exigências Reguladoras e Licenciamento, 231 20. Marcadores Tumoraisf 347
Pacotes de Programas de Computadores, 232 Daniel W. Chan, Ph.D., D.A.B.C.C., F.A.C.B.,
Ronald A. Booth, Ph.D., F.C.A.C.B., e Eleftherios
14. Estabelecimento e Uso de Valores de P. Diamandís, M.D., Ph.D., F.R.C.P.(C.)
Câncer, 348
Referência, 233 Passado, Presente e Futuro dos Marcadores Tu morais, 348
Helge Erik Solberg, M.D., P h D .
Aplicações Clínicas, 349
Estabelecimento de Valores de Referência, 233
Avaliação da Utilidade Clínica, 349
Uso de Valores de Referência, 239
Orientações Clínicas, 352
Metodologia Analítica, 352
15. Informática no Laboratório de Análises Enzimas, 354
Clínicas, 243 Hormônios, 359
Brian R. Jackson, M.D., M.S. e James H. Harrison, Jr., Antígenos oncofetais, 360
M.D., P h . D . Citoceratinas, 362
Fundamentos da Computação, 244 Marcadores de carboidrato, 363
Sistemas de Informação Laboratorial, 248 Antígenos de Grupos Sanguíneos, 365
Segurança do Sistema de Informação, 251 Proteínas, 366
Receptores e Outros Marcadores Tumor ais, 367
Marcadores Genéticos, 368
16. Gestão da Qualidade, 255 Diferentes Marcadores, 372
George G. Klee, M.O., P h D . e James O. Westgard, Ph.D.
Fundamentos da Gestão da Qualidade Total, 256
Implementando a TQM, 257
' 21. Creatinina, Uréia e Ácido Úrico, 373
E d m u n d ]. Lamb Ph.D., F.R.C.Path. e Christopher P.
Processo de Teste Completo, 258
Price, P h . D , F.R.C.Path.
Controle das Variáveis Pré-Analíticas, 258
Creatinina, 373
Controle das Variáveis Analíticas, 259
Uréia, 376
Avaliação da Qualidade Externa e Programas de Testes
Ácido Úrico, 378
de Proficiência, 264
Movas Iniciativas de Qualidade, 266
- 22. Carboidratos, 383
PARTE IV. ANALITOS David B. Sacks M.B, Ch.B., F.R.C.Path.
Química, 384
Bioquímica e Fisiologia, 386
17. Ácidos Nucléicos, 271 Significância Clínica, 390
Yuk Ming Dennis Lo, M.A. (Cantab), D.M. (Oxon), Metodologia Analítica, 399
D.Phil. (Oxon), F.R.C.P. (Edin), M.R.C.P. (Lond),
F.R.C.Path., Rossa W.K. Chiu, M.B.B.S., Ph.D.,
F.H.K.A.M. (Patologia), F.R.C.P.A., Noriki * 23. Lipídios, Lipoproteínas,
Kusukawa, P h . D . e Carl T. Wittwer, M.D., Ph.D. Apolipoproteínas e Outros Fatores de
Essencial, 273
Estrutura e Organização dos Ácidos Nucléicos, 274
Risco Cardiovascular\ 413
Nader Rifai, Ph.D., G. Russel Warnick, M.S., M.B.A.
Fisiologia e Regulação Funcional do Acido Nucléico, 277
e Alan T. Remaley, M.D., Ph.D.
Variação de Seqüência dos Ácidos Nucléicos, 280
Lipídios Básicos, 414
SUMÁRIO xix

Lipoproteínas, 422 Metodologia Analítica, 558


Apolipoproteínas, 424 Grupos Específicos de Drogas, 559
Metabolismo das Lipoproteínas, 424
Importância Clínica, 426 31. Toxicologia Clínica, 575
Análise de Lipídios, Lipoproteínas e Apolipoproteínas, 433 William H . Porter, Ph.D.
Outros Fatores de Risco Cardíaco, 438 Agentes que Causam Hipoxia Celular, 576
Álcoois, 578
24. Etetrólitos e G a s e s Sanguíneos, 443 Analgésicos (isentos de prescrição), 582
Mitchell G. Scott, Ph.D., Vicky A. LeGrys, D.A., Fármacos Anticolinérgicos, 585
M.T.<A.S.C.P.), C.L.S.ÍN.C.A.) e Drogas de Uso Abusivo, 587
J. Stacey Klutts, M.D., Ph.D. Etileno Glicol, 612
Hletrólitos, 444 Ferro, 613
Osmolalidade do Plasma e da Urina, 450 Inseticidas Organofosfarado e de Carbamato, 614
Gases e pH, 452
32. Metais Tóxicos, 617
25. Hormônios, 463 Thomas P. Moyer, Ph.D., Mary F. Burritt, P h . D . e
Michael Kleerekoper, M.D., F.A.C.B., M.A.C.E. John A. Butz, III, B.A.
Classificação, 463 Conceitos Básicos, 617
Ação dos Hormônios, 464 Metais Específicos, 619
Receptores Hormonais, 467
Ações Hormonais Pós-receptor, 468 PARTE V. FISIOPATOLOGIA
Desordens Clínicas dos Hormônios, 469
Formas de Medida dos Hormônios e Analitos * 33. Doença Cardiovascular; 629
Relacionados, 471 Fred S. Apple, Ph.D. e Allan S. Jaffe, M.D.
Anatomia e Fisiologia do Coração, 630
26. Catecolaminas e Serotonina, 473 Doença Cardíaca, 630
Graeme Eisenhofer, Ph.D., Thomas G. Rosano, Ph.D., Bioquímica dos Biomarcadores Cardíacos, 634
D.A.B.F.T., D.A.B.C.C. e Testes e Intervalos de Referência para Proteínas de
Ronald J. Whitley, Ph.D., F.A.C.B., D.A.B.C.C Marcadores Cardíacos, 636
Química, Biossíntese, Liberação e Metabolismo, 474 Lógica Clínica Subjacente ao Uso de Marcadores de
Fisiologia dos Sistemas da Catecolaminérgicos e Dano Cardíaco, 639
Serotoninérgicos, 476 Observações Clínicas Gerais sobre Biomarcadores, 640
Aplicações Clinicas, 479 Marcadores de Lesão Cardíaca na Prática Clínica em
Metodologia Analítica, 483 Geral, 642

27. Vitaminas e Elementos-traço, 489 34. Função Renal e Doença, 647


Alan Shenkin, Ph.D., F.R.C.P., F.R.C.Path. e Malcom Michael P. Delaney, M.D., F.R.C.P,, Christopher P.
Baines, F.R.S.C., F.R.C.Path. Price, Ph.D, F.R.C.Path. e E d m u n d J. Lamh, P h .
Vitaminas, 489 D., F . R C . P a t h .
Elementos-traço, 409 Anatomia, 648
Função Renal, 650
28. Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina, 523 Fisiologia do Rim, 652
Trefor Higgins, F.C.A.C.B., Ernest Beutler, M.D. e Fisiopatologia da Insuficiência Renal, 657
Basil T. Doumas, Ph.D. Doenças Renais, 660
Hemoglobina, 524 Terapia de Reposição Renal, 668
Ferro, 530
» Bilirrubina, 534 * 35. Fisiologia e Distúrbios da Água,
Eletróhto e Metabolismo Acido-base, 671
29. Porfirinas e Doenças Associadas ao J. Stacey Klutts, M.D., Ph.D. e Mitchell G. Scott,
Metabolismo das Porfirinas, 541 Ph.D.
Allan Deacon, B.S.C., Ph.D., F.R.C.Path., Sharon D. Agua Corporal total - Volume e Distribuição, 671
Whatley, P h . D . e George H . Élder, M.D. Eletrólitos, 673
Porfirina e Química do Heme, 541 Fisiologia Ácido-Base, 678
As Principais Doenças Associadas às Porfirinas, 545 Condições Associadas ao Status Ácido-Base Anormal e à
Anormalidades do Metabolismo de Porfirinas não Composição de Elerrólito Anormal do Sangue, 684
Causados pela Porfiria, 547
Diagnóstico Laboratorial de Porfirias, 548 36. Doenças do Fígado, 691
Métodos Analíticos, 550 D. Robert Dufour, M.D.
Anatomia do Fígado, 692
30. Drogas Terapêuticas, 553 Funções Bioquímicas do Fígado, 693
Thomas P. Moyer., P h . D . e Gwendolyn A. McMillin, Manifestações Clínicas de Doença Hepática, 696
Ph.D. Doenças Hepáticas, 700
Conceitos Básicos, 554 Estratégia Diagnostica, 710
XX SUMÁRIO

37. Doenças Gastrointestinais, 713 Disfunção Tireoidiana, 793


Peter G. Hill, Ph.D., F.R.C.Path. Diagnóstico da Disfunção Tireoidiana, 797
Anatomia, 714
O Processo Digestivo, 715 42. Distúrbios Reprodutivos, 799
Peptídeos Reguladores do Trato GI 13 , 715 A n n M. Gronowski, Ph.D.
Distúrbios e Doenças Estomacais, Intestinais e Biologia Reprodutiva Masculina, 799
Pancreáticas, 718 Biologia Reprodutiva Feminina, 805
Infertilidade, 817
38. Doenças Ósseas, 729
David B. Endres, P h . D . e Robert K. Rude, M.D. 43. Distúrbios da Gravidez, 821
Visão Geral do Osso e dos Minerais, 730 Edward R. Ashwood, M.D. e George ]. Knight, Ph.D.
Cálcio, 730 Gravidez Humana, 821
Fosfato, 736 Avaliação da Saúde Materna e Fetal, 825
Magnésio, 737 Complicações da Gravidez, 826
Hormônios Reguladores do Metabolismo Mineral, 739 Triagem Sérica Materna para Defeitos Fetais, 830
Controle Integrado do Metaholismo Mineral, 746 Testes Laboratoriais, 836
Doenças Osteometabólicas, 747
Marcadores Bioquímicos do Turnover Ósseo, 749
44. Triagem Neonatai, 845
Marzia Pasquali, Ph.D., F.A.C.M.G. e Barbara G.
39. Distúrbios Hipofisários, 753 Sawyer, Ph.D., M.T.(A.S.C.R), C.L.S.ÍN.C.A.), C.
Laurence M. Demers, Ph.D., D.A.B.C.C., F.A.C.B. e L.Sp(M.B.)
Mary Lee Vance, M.D. Princípios Básicos, 845
Regulação Hipotalâmica, 754 Recomendações de Triagem, 846
Hormônios da Adeno-hipófise, 755 Erros Inatos do Metabolismo, 846
Hormônios da Neuro-hipófise, 763 Métodos de Triagem Neonatai, 852
Avaliação da Reserva da Adeno-hipófise, 7Ó5 Interpretação dos Resultados, 854

40. Distúrbios Adrenocorticais, 767 PARTE VI. INFORMAÇÕES DE REFERÊNCIA


Laurence M. Demers, Ph.D., D.A.B.C.C., F.A.C.B.
Química Geral dos Esteróides, 767 45. Informações de Referências para
Esteróides Adrenocorticais, 769
Regulação Hormonal - Eixo Hipotalâmico-Hipofisário- Laboratórios Clínicos, 857
Adrenocortical, 772 William L. Roberts, M.D., Ph.D., Gwendolyn A.
Metodologia Analítica, 773 McMillin, Ph.D., Carl A. Burtis, Ph.D. e David E.
Bruns, M.D.
Distúrbios do Córtex Adrenal, 774
Exame do Estado Funcional do Córtex Adrenal, 781
Glossário, 895
41. Doenças Tireoidianas, 785
Laurence M. Demers, Ph.D., D.A.B.C.C., F.A.C.B. índice Remissivo, 919
Hormônios Tireoidianos, 785
Metodologia Analítica, 788
PRINCÍPIOS LABORATORIAIS PARTE I

C A P Í T U L O 1

Introdução à Química Clínica e


Medicina Laboratorial Baseada
em Evidências
Christopher P. Price, Ph.D., F.R.C. Path., Patrick M.M. Bossuyt, Ph.D.,
e David E. Bruns, M.D.

OBJETIVOS sensibilidade e especificidade, valores preditivos, razões de


1. Listar cinco razões para realização de um exame laboratorial. probabilidade, odâs ratio diagnósticos e áreas sob curvas
2. Especificar os objetivos da prática da medicina baseada em ROC (receiver operaúng characieristic).
A u d i t o r i a Clínica: Revisão de histórias de casos de pacientes
evidências e da medicina laboratorial baseada em evidências.
em comparação com o padrão de melhor prática vigente;
3. Listar e descrever as quatro perguntas diagnosticas abordadas pele
usada como ferramenta para melborar a prática clínica.
processo de tomada de decisões na medicina laboratorial.
Desfechos: Os resultados relacionados com qualidade ou
4. Descrever os cinco objetivos principais envoividos nos estudos da
sobrevida dos pacientes; os exemplos incluem mortalidade,
medicina laboratorial baseada em evidências.
estado funcional, qualidade de vida, bem-estar.
5. Projetar um experimento que compare um exame de referência Diagnóstico Molecular: U m campo da medicina laboratorial
com um teste-índice e avaliar os resultados para estudos n o qual os princípios e técnicas de biologia molecular são
diagnósticos. aplicados para o estudo da doença.
6. Comparar e contrastar a validação interna e externa com relação ao Diretrizes da Prática Clinica: Afirmações sistematicamente
estudo da acurácia diagnostica. desenvolvidas para auxiliar nas decisões do profissional e
7. Discutir a iniciativa STARD, que inclui seus uses, componentes e do paciente sobre a assistência adequada para circunstâncias
aplicação no laboratório clinico. clínicas específicas; no laboratório, elas incluem objetivos
8. Explicar a necessidade de estudos de desfechos na prática clínica. para acurácia, precisão e tempo de execução dos exames.
d. Projetar um experimento controlado randomizado, dados os sujeitos Estudos dos Desfechos: Estudos realizados para determinar se
e tratamentos ou intervenções; determinar que resultados devem u m a intervenção médica (tal c o m o u m exame laboratorial
ser avaliados e como estes influenciarão na assistência à saúde. específico) melhorará o desfecho do paciente.
10. Listar os cinco componentes de uma revisão sistemática de um E x p e r i m e n t o C o n t r o l a d o R a n d o m i z a d o : U m estudo
exame diagnóstico. experimental no qual os participantes do estudo são
11. Definir c "custo" em relação à assistência de saúde e listar cinco randomicamente alocados em um grupo de intervenção
métodos para avaliação do impacto econômico de um exame (tratamento) ou e m u m grupo alternativo de tratamento
(controle).
diagnóstico.
Medicina Baseada e m Evidências (EBM): O uso
12. Especificar como as avaliações econômicas são percebidas pelos
consciencioso, criterioso e explícito das melhores evidências
diferentes grupos, incluindo pacientes, profissionais de laboratórios,
na tomada de decisões sobre o cuidado dos pacientes
médicos, companhias de seguros e a sociedade.
ind ividu almente.
13. Discutir a utilidade das diretrizes da prática clínica e das auditorias
Medicina Laboratorial Baseada e m Evidências: Aplicação de
clínicas. princípios e técnicas da medicina baseada em evidências na
14. Listar quatro componentes de uma auditoria clínica. medicina laboratorial; o uso consciencioso, criterioso e
15. Discutir como os princípios da medicina laboratorial baseada em explícito de melhores evidências no uso de investigações da
evidências podem ser aplicados na prática laboratorial de rolina. medicina laboratorial para auxiliar na tomada de decisões
sobre o cuidado de pacientes individualmente.
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES P a d r ã o d e Referência: O melhor método disponível para
Acurácia do Diagnóstico: A proximidade de concordância estabelecer a presença ou ausência da doença ou distúrbio-
entre os valores obtidos a partir de u m exame diagnóstico alvo; este pode ser u m único exame ou uma combinação de
(teste-índice) e aqueles de padrão de referência (padrão- métodos e técnicas.
ouro) para u m a doença ou distúrbio específico; estes Revisão Sistemática: U m a revisão metodológica e abrangente
resultados são expressos de inúmeras formas, incluindo de todas as informações publicadas e não publicadas sobre
2 PARTE I Princípios Laboratoriais

u m assunto específica para responder uma pergunta clínica distribuídos a partir de laboratórios centrais ou através de u m
precisamente definida. tipo d e serviço mais distribuído [exames laboratoriais portáteis
STARDi D o inglês Standards foi Repoiting of Diagnostic Accu- (POCT, aqueles realizados fora da área técnica de u m laboratório,
racy - Padrões paia Relato de Acurácia Diagnostica; u m piojeto em geral em local próximo do paciente)] ou ambos.
delineado para melhorar a qualidade dos relatos dos resulta- O manejo e a interpretação das informações (incluindo infor-
dos dos estudos de acurácia diagnostica. mática laboratorial) são aspectos essenciais do serviço de medi-
Teste-Indicej Nos estudos de acurácia diagnostica, o "novo" teste cina laboratorial) assim como o são as atividades relacionadas
ou o teste de interesse. com a m a n u t e n ç ã o da qualidade [p.ex., controle de qualidade e
Validação: (na pesquisa) o grau até o qual u m exame ou estudo teste d e proficiência, auditoria, aferição (benchmarking) e gestão
mede o que ele se p r o p õ e a medit.
clínica (administração das organizações de saúde)].
Validação Externa: O grau até o qual os resultados de u m estudo
p o d e m ser generalizados para a população como definido
pelos critérios de inclusão do estudo.
Química Clínica e Medicina Laboratorial
Validação I n t e r n a i O grau até o qual se pode confiar nos resul- A ligação entre química clínica (ou bioquímica clínica) e outras
tados de u m estudo; para a amostra de pessoas que estão áreas da medicina laboratorial tem raízes profundas. Os indivíduos
sendo estudadas. que trabalham principalmente na área da química clínica têm
Viés: Erro sistemático na coleta ou na interpretação dos dados, desenvolvido ferramentas e métodos que vêm se tornando parte
superestimado ou subestimado, ou outra forma de desvio dos da estrutura da medicina laboratorial, Exemplos incluem a teoria
resultados ou das inferências a partiT da verdade. O viés p o d e e prática dos intervalos de referência, o uso tanto do controle
resultar de falhas sistemáticas na elaboração do estudo, na (interno) de qualidade como o teste de proficiência, a introdução
mensuração, na coleta de dados ou análise ou na interpreta- de automação no laboratório clínico e conceitos de exame diag-
ção dos resultados. nóstico, que são discutidos nesta e em outras seções do livro.

E
As fronteiras entre as partes do laboratório clínico são indis-
ste capítulo introduz os princípios da medicina laborato-
tintas devido à ênfase crescente ao uso d e exames químicos e
rial. No começo do capítulo, consideramos o significado
"moleculares" em todas as áreas do lahoratórío. A relação entre
do termo "medicina laboratorial" e as relações entre a
medicina laboratorial e química clínica desenvolveu-se ainda
química clínica, a medicina laboratorial e a medicina laboratorial
mais c o m o advento do laboratório "central". Estes laboratórios,
baseada em evidências. O restante do capítulo concentra-se nos
responsáveis pelo alto volume de exames, incluindo os de emer-
principais conceitos da m e d i c i n a laboratorial baseada e m evi-
gência, sem muitos hospitais, d e p e n d e m de automação, informá-
dências. Os principais assuntos do capítulo são:
tica, computadores, controle de qualidade e administração da
• C o m o avaliar a acurácia do diagnóstico dos exames.
qualidade. Os especialistas em química clínica, que há muito
• C o m o usar os estudos de desfechos clínicos.
tempo trabalham nestas áreas, têm assumido u m a u m e n t o de
" Maneiras de avaliar o valor econômico de exames clínicos.
responsabilidade nos laboratórios centrais e p o r t a n t o tornaram-
• C o m o conduzir revisões sistemáticas de exames
se mais envolvidos nas áreas como hematologia, coagulação, uri-
diagnósticos.
nálise, e mesmo microbiologia.
• C o m o usar as diretrizes da prática clínica.
• Q u a n d o e c o m o conduzir uma auditoria clínica.
Estes princípios fornecem uma base para o uso racional e apro-
Química Clínica, Medicina Laboratorial e
priado dos exames diagnósticos.
Medicina Laboratorial Baseada em Evidências
Neste capítulo, revisamos as novas influências na química clinica
CONCEITOS, DEFINIÇÕES E RELAÇÕES e medicina laboratorial a partir dos campos da epidemiologia
clínica e da medicina baseada e m evidências (EBM). Epidemio-
Nesta seção, a medicina laboratorial e a química clínica são defi-
logistas clínicos têm desenvolvido projetos de estudo para quan-
nidas. As relações entre estas duas especialidades são discutidas,
tificar a acurácia do diagnóstico dos exames desenvolvidos em
medicina laboratorial e os métodos de estudo para avaliar o efeito
O que É a Medicina Laboratorial? e valor do exame laboratorial na assistência à saúde. Os profis-
O termo "medicina laboratorial" refere-se à disciplina envolvida sionais de EBM priorizam o uso da melhor evidência disponível
na seleção, provisão e interpretação do exame diagnóstico que a partir dos estudos bem projetados no cuidado dos pacientes
usa principalmente amostras de pacientes. O campo inclui a individualmente. A EBM reformula problemas no cuidado clí-
pesquisa, administração e atividades de ensino e serviço clínico. nico dos pacientes em perguntas clínicas estruturadas, procura
Os exames na medicina laboratorial p o d e m ser direcionados para evidências disponíveis, avalia a qualidade dos estudos clínicos,
(1) confirmar uma suspeita clínica (que poderia incluir fazer o avalia as implicações clínicas dos resultados e fornece ferramentas
diagnóstico), (2) excluir u m diagnóstico, (3) auxiliar na seleção, para ajudar os médicos a usar de maneira ideal aqueles resultados
otimização e monitoramento do tratamento, (4) fornecer u m prog- no cuidado dos pacientes individualmente.
nóstico ou (5) fazei a triagem para doença na ausência de sinais ou
sintomas clínicos. O exame também é usado para estabelecer e MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS -
monitorar a gravidade de u m distúrbio fisiológico. O QUEÉ?
O campo da medicina laboratorial inclui química clínica e diag- Desde q u e o termo medicina baseada em evidências foi introdu-
nósticos moleculares e suas subdisciplinas tradicionais (incluindo zido em 1991, a EBM tem exercido uma influência importante
toxicologia e m o n i t o r a m e n t o medicamentoso, provas de função na medicina, mas nem sempre é compreendida.
endócrina e de órgãos e genética "bioquímica" e "molecular") e
áreas como microbiologia, hematologia, hemostasia e trombose, Definição e Objetivos da Medicina Baseada
banco de sangue (medicina de transfusão), imunologia e exame em Evidências
de identidade. Em algumas partes do m u n d o , a medicina labo-
Dentre as definições propostas para EBM, provavelmente a prin-
ratorial t a m b é m abrange citologia e anatomopatologia (histopa-
cipal é "uso consciencioso, criterioso e explícito da melhor evidência n a
tologia). O s componentes analíticos destas especialidades são
tomada de decisões sobre o cuidado individual dos pacientes."21 A palavra

T
Introdução à Química Clínica e Medicina Laboratorial Baseada em Evidências CAPÍTULO 1 3

criterioso significa o uso de habilidades de médicos experientes em O que É a Medicina Laboratorial Baseada em
colocar as evidências em u m contexto e em reconhecei a indivi- Evidências?
dualidade e as preferências do paciente. U m dos objetivos da EBM A medicina laboratorial baseada em evidências é simplesmente a
é "incorporar as melhores evidências da pesquisa clínica às decisões clíni- aplicação de princípios e técnicas de EBM na medicina laborato-
cas."11 A palavra melhores significa a necessidade de avaliação rial. U m médico que pede uma investigação tem uma pergunta e
crítica. As palavras tomar decisões indicam porque os princípios da tem que tomar uma decisão. O médico espera que o resultado do
EBM podem, e devem, ser aplicados na medicina laboratorial, exame ajude a responder a pergunta e auxilie na tomada de
pois a medicina laboratorial é uma das ferramentas essenciais decisão. Assim, uma definição da medicina baseada em evidências
usadas na tomada de decisões na prática da medicina. poderia ser "a uso consciencioso, criterioso e explícito das melhores evi-
As justificativas para u m a abordagem baseada em evidências dências nas investigações da medicina laboratorial para ajudar na tomada
para a medicina estão f u n d a m e n t a d a s na constante exigência de de decisão sobre o cuidado de pacientes individualmente." Também
informações, na adição constante de novas informações, na qua- poderia ser expressa mais diretamente em termos dos desfechos
lidade precária do acesso a boas informações, n o declínio do de saúde como a "garantia de que a melhor evidência do exame seja
conhecimento atualizado e / o u experiência com o passar dos anos disponibilizada e que o médico seja auxihada em seu uso, para assegurar
de uma prática médica individual, no tempo limitado disponível que sejam tomadas as melhores decisões sobre o cuidado dos pacientes
para consultar a literatura, e na variabilidade dos valores e prefe- individualmente, e que elas levem a um aumento da probabilidade dos
rências individuais dos pacientes. A estas se p o d e m adicionar, desfechos de saúde melhorados." C o m o discutido adiante, os desfe-
especificamente em relação à medicina lahoratorial, (!) o n ú m e r o chos podem ser clínicos, operacionais e / o u econômicos.
limitado e a qualidade precária dos estudos que ligam os resulta-
dos dos exames aos benefícios aos pacientes, (2) a avaliação pre- Tipos de Perguntas Diagnosticas Abordadas
cária do valor dos exames diagnósticos, (3) a d e m a n d a sempre na Medicina Laboratorial
crescente d e exames e (4) a abordagem incoerente à alocação de O processo de tomada de decisão envolve u m dos quatro cenários
recursos (reembolso) na medicina laboratorial, o "orçamento tipificados p o r estas perguntas (Figura 1-1):
departamentaliiado (siío budgeting)", que aborda apenas os custos • Q u a l é o diagnóstico?
do laboratório sem considerar os benefícios fora dele. O orça- " O u t r o diagnóstico pode ser descartado?
mento departamentalizado força decisões paia economizar des- • Qual é o prognóstico deste paciente?
pesas no laboratório com atenção insuficiente para as • Qual é a condição do paciente?
necessidades dos pacientes, seus cuidadores e seus pagadores. Na primeira situação, procura-se um diagnóstico. As conclusões
diagnosticas levam a uma decisão e alguma forma de ação, que fre-
A Prática da Medicina Baseada em Evidências qüentemente envolve uma intervenção projetada para melhorar os
Guyatt e colaboradores 1 1 resumiram a prática da EBM como se desfechos. Assim, quando u m exame do paracetamol revela uma
segue: " U m profissional que se baseia em evidências tem de concentração perigosamente alta do fármaco, a administração de
compreender as circunstâncias ou a situação aflitiva do paciente, N-acetilcisteina reduzirá o TÍSCO de u m desfecho fatal. A mensuraçao
identificar as lacunas de conhecimento e formular perguntas que do paracetamol neste cenário é chamada de "exame para inclusão".
preencham estas lacunas, conduzir uma pesquisa literária efi- Na segunda situação, o resultado do exame exclui u m diag-
ciente, avaliar criticamente as evidências da pesquisa e aplicar nóstico; este é chamado de "exame para exclusão". Por exemplo,
esta evidência no cuidado do paciente." q u a n d o u m paciente é admitido com dor torácica e há suspeita
A prática eficiente da EBM requer: de infarto agudo do miocárdio, o achado de que a t r o p o n i n a
• C o n h e c i m e n t o do processo clínico e conversão de u m cardíaca é indetectável no plasma pode ser usado para descartar
objetivo clínico em pergunta que possa ser respondida; a necrose miocárdica aguda.
• Facilidade para originar e avaliai criticamente as
informações para gerar conhecimento; Pergunta clínica
• U m recurso do conhecimento criticamente avaliado;
• Capacidade para usar o recurso do conhecimento;
• U m meio de acessar e distribuir o recurso do
conhecimento;
Resultado do
• U m a estrutura de responsabilidade clínica e econômica exame diagnóstico
de prestação de contas;
• U m a estrutura de administração da qualidade. Prognóstico

MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS A


I
Decisão
/
E MEDICINA LABORATORIAL I
Os serviços da medicina laboratorial são ferramentas importan- A
I
\ Diagnóstico
tes à disposição dos médicos para responder perguntas diagnos- descartado
I
ticas e para ajudar a tomar decisões.
As ferramentas fornecidas pela medicina laboratorial são cha- Monitoramento Diagnóstico
madas exames diagnósticos, mas os exames são usados muito mais
A
a m p l a m e n t e do que para fazer u m diagnóstico. C o m o mencio-
n a d o anteriormente e discutido adiante, eles também são usados
para fazer u m prognóstico, excluir u m diagnóstico, monitorar u m Repetir
tratamento ou processo de doença e fazei a triagem para a doença. intervenção
pergunta
Assim, a palavra "diagnóstico" é usada (freqüentemente involun-
tariamente) em um sentido muito mais amplo, e u m exemplo F i g u r a 1 -1 Representação esquemática de quatro etapas comuns da
diário disso seria uma previsão do tempo. tomada de decisão, nas quais o resultado de uma investigação esteja envolvido.
4 PARTE I Princípios Laboratoriais

O terceiro uso da investigação é para o prognóstico, que pode NECESSIDADES DE INFORMAÇÕES NA


ser considerado a avaliação de risco e complementa a aplicação MEDICINA BASEADA EM EVIDENCIAS
d o diagnóstico. Por exemplo, a mensuração da concentração de Estudos no campo da medicina laboratorial baseada em evi-
R N A do vírus da imunodeficiência h u m a n a (HIV) n o plasma dências têm cinco objetivos principais:
após o diagnósdco inicial de infecção por H I V pode ser usada 1. Caracterização da acurácia diagnostica dos exames pelo
para prever o intervalo de tempo antes d o colapso imune se o estudo de grupos de pacientes
distúrbio não for tratado. 2. Determinação d o valor d o exame {desfechos) para os
O quarto uso amplo de u m Tesultado de exame está relacio- indivíduos testados
n a d o com o tratamento d o paciente. O resultado do exame de 3. Reuisão sistemática dos estudos de acurácia diagnostica ou
u m paciente com u m a doença crônica pode ser usado para sele- desfechos dos exames para responder u m a pergunta clínica
cionar o tipo de intervenção e avaliar a efetividade de u m a específica
intervenção. Por exemplo, em u m a pessoa com diabetes, as men- 4. Avaliação econômica dos exames para determinar quais
surações de hemoglobina (Hb) A ] c são usadas paTa avaliar o con- exames usar
trole glicêmico e, assim, a efetividade da terapia. Se a HbA ] c foi 5. Auditoria d o d e s e m p e n h o n o decorrer dos exames para
alta, deve-se considerar a mudança do tratamento. Se a HbAi c não responder questões sobre seu uso.
estiver elevada, o tratamento vigente deve ser mantido. As seções seguintes deste capítulo fornecem breves introdu-
Em cada u m destes exemplos, três componentes estão presen- ções aos princípios de como obter estes importantes tipos de
tes: u m a pergunta, uma decisão e u m a ação. Identificar estes três informações que são necessárias para o cuidado d o paciente.
componentes é crucial para o planejamento de estudos de utili-
dade ou desfechos d o exame (ver adiante neste capítulo). Estes CARACTERIZAÇÃO DA ACURÁCIA
componentes t a m b é m são importantes na auditoria (veT adiante) DIAGNÓSTICA DOS EXAMES
sobre o uso de investigações dos pontos de vista t a n t o da gestão Q u a n d o u m novo exame é desenvolvido ou u m exame antigo é
clínica como da financeira. O reconhecimento desta tríade levou aplicado para u m a nova pergunta clínica, os usuários precisam
à definição de u m pedido de exame adequado como aquele n o qual de informações sobre a extensão da concordância dos resultados
há uma pergunta clínica para a qual o resultado fornecerá u m a do exame com o diagnóstico correto dos pacientes. C h a m a m o s
resposta, possibilitando ao médico t o m a i u m a decisão e iniciar estes estudos de estudos de acurácia diagnostica.
alguma forma de ação que leve a um benefício de saúde para o
paciente. Este benefício poderia ser estendido ao profissional de Planejamento do Estudo
saúde e para a sociedade como u m todo para abranger mais Nos estudos de acurácia diagnostica, os resultados de u m exame
diretamente o potencial para beneficio econômico. (freqüentemente chamado de teste-índice, o exame de interesse)
Exemplos de perguntas que especifiquem o detalhe necessá- são comparados com aqueles do padrão de referência (a melhor
rio para qualificar de maneira precisa o uso de u m resultado de prática vigente para se chegaT a u m diagnóstico). U m padrão de
exame são apresentados na Tabela 1-1. Os critérios para introdu- referência pode ser qualquer método para obtenção de informa-
ção de u m exame de triagem foram estabelecidos p a n muitos ções adicionais sobre o estado de saúde de u m paciente. Isto
anos; ressalta-se que um dos critérios principais é a existência de inclui não apenas os exames laboratoriais, exames de imagens e
u m tratamento válido disponível. provas de função, mas t a m b é m dados da anamnese e d o exame
físico e os dados genéticos.
Usando o Resultado do Exame O padrão de referência é o melhor método disponível para
O critério principal para u m exame útil é que o resultado pode estabelecer a presença ou ausência d o distúrbio-alvo (a condição
levar a u m a m u d a n ç a na probabilidade da presença do distúrbio- ou doença suspeita para a qual o exame tem que ser aplicado).
alvo. A m u d a n ç a na probabilidade em si não é fator decisivo. O O padrão de referência pode ser um exame único ou u m a com-
médico tem que usar esta informação, j u n t a m e n t e com outros binação de métodos e técnicas, incluindo o a c o m p a n h a m e n t o
achados e o julgamento clínico, para tomar decisões ou fazer clínico destes pacientes.
recomendações sobre o cuidado. H á várias ameaças potenciais à validação i n t e r n a e externa
de u m estudo de acurácia diagnostica, d o qual apenas os princi-
Apenas os Resultados de Exames Não pais serão abordados nesta seção. (Para mais detalhes e exemplos,
Produzem Desfechos Clínicos ver Capítulo 13.) A validação interna precária (problemas n o pla-
Na maioria dos casos, o exame deve ser seguido de u m a inter- n e j a m e n t o do estudo) produzirá viés, ou erro sistemático, porque
venção apropriada para produzir u m desfecho desejado. U m as estimativas de acurácia diagnostica diferem daquelas que
resultado de exame sozinho p o d e fornecer tranquilização ou a seriam obtidas u s a n d o u m planejamento ideal para o estudo. A
compreensão da origem de u m a queixa, mas mesmo isto pode vahdação externa precária limita a capacidade de generalizar os
exigir explicações e tranquiliiação por parte d o médico. Devido achados porque os resultados d o estudo, mesmo que sem vieses,
à dificuldade de se d o c u m e n t a r que aquele exame melhora os não correspondem às situações encontradas por aquele que toma
desfechos do paciente, a maioria das pesquisas na medicina labo- a decisão. Por exemplo, estudos realizados exclusivamente nos
ratorial aborda apenas as características analíticas e o desempe- h o m e n s idosos p o d e m não ser aplicáveis em mulheres em idade
n h o diagnóstico dos exames, e não os efeitos dos exames nas reprodutiva avaliadas por u m obstetra, que poderia querer usar
vidas dos pacientes. Esta pesquisa restrita leva a u m a compreen- os resultados deste estudo.
são e avaliação precárias da contribuição dada pelo resultado do O estudo ideal examina u m a série consecutiva de pacientes,
exame para melhores desfechos. Por exemplo, um estudo rando- inscrevendo todos os pacientes, com consentimento, sob suspeita
miiado de u m protocolo rápido de avaliação de dor torácica que de apresentar u m distúrbio alvo em u m periodo específico. Todos
mostra que os resultados normais para marcadores cardíacos estes pacientes submetem-se ao teste-índice e são então avaliados
descartaram o infarto do miocárdio não aborda a questão de se pelo padrão de referência. O termo "consecutivo" refere-se à
o exame leva a menos admissões na unidade de cuidados coro- ausência total de qualquer forma de seleção, fora a definição
narianos, com redução da morbidade e mortalidade. (determinada n o início d o estudo) dos critérios para inclusão
Introdução à Química Clínica e Medicina Laboratorial Baseada em Evidências CAPÍTULO 1 5

TABELA 1-1 E x e m p l o s d e P e r g u n t a s Clínicas nas quais u m a Avaliacao L a b o r a t o r i a l P o d e Ser d e Valor, Ação Associada
e D e s f e c h o P o t e n c i a l (Benefício)
k. '
Exame Pergunta Resultado Possível Ação Potencial Desfecho

INCLUIR
BNP Este paciente com falta de 450 ng/L Confirmar com ultra-sonografia Redução dos sintomasj redução
ar sofre de insuficiência cardíaca, decidir internar e tratar da morbidade e mortalidade
cardíaca?
cTnl Este paciente teve infarto 7,2 (íg/L Decidir se interna e a intensidade Redução da morbidade e
do miocárdio? necessária de tratamento, e tratar mortalidade
TSH Esta criança lem 12,2 mU/L Tratar com tiroxina Redução da morbidade e
hipotirecidismo? mortalidade
LE da urina Este paciente tem infecção LE positivo, nitrito Enviar urina para laboratório Uso apropriado de antibióticas,
e nitrito do trato urinário? positivo, ou ambos para microscopia, cultura e redução da morbidade
sensibilidade e tratar se positivo

DESCARTAR
BNP Este paciente cam falta 56 ng/L Procurar diagnóstico alternativo Evitar diagnóstico e tratamento
de ar sofre de insuficiência incorretos com potencial
cardíaca ? risco
cTnl Este paciente teve infarto <0,1 ug/L Considerar outros passíveis Menos preocupação para o
do miocárdio? diagnósticos e alta precoce paciente, reduzir internações
desnecessárias na unidade
de cuidados cardíacos
TSH 0 paciente tem 2,1 mU/L Nenhuma outra ação Tranqüilizaçãü sobre qualquer
tiipotireoidismo? preocupação do paciente
LE da urina Este paciente tem infecção Resultado normal Não enviar urina para laboratório, Evitam-se antibioticolerapia
e nitritc do trato urinário? do dipstick procurar causa alternativa dos inadequada e trabalha
sintomas laboratorial desnecessário

MO NITOH AMENTO
BNP 0 paciente está tomando Menhuma alteração Revisar dosagem e adesão do Nenhuma alteração dos
a dosagem correta do paciente sintomas, riscc de evento
p-bloqueador? cardíaco, mais consultas
BNP 0 paciente está tomando Queda de 216 para Nenhuma alteração na dosagem, Redução dos sintomas e do
a dosagem correta 160 ng/L incentivar paciente risco de evento cardíaco
do (3-bloqueador?
HbA1c 0 paciente está aderindo 10,6% (nenhuma Considerar alteração do HbA lc persistentemente alto
ac protocolo de alteração em tratamento, monitoramento implica aumento de risco de
tratamento? um ano) rigoroso da adesão, consultas complicações; intervenção
com enfermeiro para auxílio necessária para reduzir risco
no cuidado dc diabetes
HbA,c 0 paciente está aderindo 5,8% Parabenizar paciente, manter Risco reduzido de
ao protocolo de tratamento? esquema de tratamento complicações

PROGNÓSTICO
BNP A insuficiência cardiaca Aumenta de 450 para Ajustar terapia, talvez aconselhar Prognóstico ruim
do paciente está 650 ng/L no último sobre cuidados paliativos
deteriorando? ano
cTnl Qual o risco de um 0,9 |ug/L Considerar intervenção Aumente do risco sem
evento cardíaco posterior intervenção
para este paciente?
Her-2/neu Qual o prognóstico do 3 + por coloração Considerar tratamento ccm Melhora de prognóstico
paciente? imunoistoquimica Herceptina precário pela seleção de
no diagnóstico primário terapia apropriada

BNP, peptideo rmcnurenco tifo B; cTnl, tropanina cardíaca I; TSH, fiormdnio eilimuLuite da tireóide; LE, esterasí leucocitâna.

(e exclusão) no estudo, e requer esforços explícitos para identifi- o desempenho dos exames em situações nas quais o distúrbio de
cai e inscrever pacientes que se qualificam para a inclusão. interesse é incomum, como nos exames de triagem do soro materno
Projetos alternativos são possíveis. Alguns estudos selecionam para detectar síndrome de Down no feto. Também é usada nos
primeiro os pacientes que sabidamente apresentam o distÚTbío-alvo estudos preliminares para avaliar o potencial de u m exame antes de
e então contrastam os resultados destes pacientes com aqueles de embarcar em estudos prospectivos de uma série de pacientes. C o m
u m grupo-controle. Esta abordagem tem sido usada para caracterizar este projeto, a seleção do grupo-controle é crucial. Se o grupocon-
6 PARTE I Princípios Laboratoriais

tTole consiste em indivíduos sadios apenas, a acurácia diagnostica do Relato de Estudos de Acurácia Diagnóstica e
exame tenderá a ser superestimada. O grupo-controle deve incluir o Papel da Iniciativa STARD
pacientes nos quais a doença é suspeita, mas é excluída.16 O relato completo e preciso dos estudos de acurácia diagnóstica
N o estudo ideal, os resultados de todos os pacientes subme- deve possibilitar ao responsável pela leitura d o escame detectar o
tidos ao exame sob avaliação são contrastados com os resultados potencial para viés no estudo e avaliar a capacidade de generalizar
de um Único padrão de referência. Se o padrão de referência não os resultados e sua aplicabilidade em u m paciente isoladamente
for aplicado em todos os pacientes, então existe uma verificação ou no grupo. Reid, Lachs e Feinstein 2 0 d o c u m e n t a r a m que a
parcial. Em u m caso típico, alguns pacientes com resultados de maioria dos estudos de acurácia diagnostica publicados nos prin-
exames negativos (negativos para o exame) não são verificados cipais periódicos médicos gerais tinha adesão precária aos padrões
por u m padrão de referência caro o u invasivo e estes pacientes da pesquisa epidemiológica clínica ou falhou e m fornecer infor-
são excluídos da análise. Isto p o d e resultaT em u m a subestimação mações sobre a adesão àqueles padrões. Este e outros relatos
do n ú m e r o de resultados falso-negativos. fizeram com q u e o periódico Clinicai CfiemistT} e m 1997 se empe-
Pode ocorrer u m a forma diferente de viés de verificação se nhasse em produzir u m a lista de verificação para relatar os
mais de u m padrão de referência for usado e se os dois padrões estudos de acurácia diagnostica. A qualidade deste relato naquele
de referência correspondem a diferentes manifestações da doença. periódico a u m e n t o u após a introdução desta lista de verificação, 17
Este projeto de estudo pode produzir uiás de verificação diferencial, embora não em u m nivel ideal. e
s u p o n d o que os diagnósticos dos pacientes com exame positivo E m 1999, Lijmer et al16 mostraram que o p l a n e j a m e n t o e o
são verificados por meio do uso de exames adicionais, mas os relato precários do estudo estão associados a estimativas exagera-
diagnósticos dos pacientes com exame negativo são verificados por das da acurácia diagnostica dos exames avaliados. Estes dados
a c o m p a n h a m e n t o clínico. U m exemplo é a verificação de suspeita reforçaram a necessidade de melhorar os relatos dos estudos de
de apendicite, com histopatologia do apêndice versus acompanha- acurácia diagnostica para todos os tipos de exames, n ã o apenas
m e n t o como os dois padrões de referência. U m paciente é classi- aqueles na química clínica. U m a iniciativa relacionada c o m os
ficado como tendo u m resultado de exame falso-positivo se o Padrões para Relato de Acurácia Diagnostica (STARD) foi ini-
exame adicional n ã o confirmar a presença de doença após u m ciada em 1999 e tinha c o m o objetivo melhoraT a qualidade dos
resultado de teste-índice positivo. Alternativamente, u m paciente relatos dos estudos de acurácia diagnostica.
é classificado com exame falso-negativo se um evento compatível Os principais componentes do d o c u m e n t o 1 do STARD são
com apendicite for observado durante o a c o m p a n h a m e n t o após u m a lista de verificação dos itens a serem incluídos nos relatos
u m resultado de exame negativo. Entretanto, estas são definições dos estudos de acUTácia diagnóstica e u m diagrama para documen-
diferentes da doença, p o r q u e n e m todos os pacientes que apre- tar o fluxo dos participantes n o estudo. Vale a pena ler e compre-
sentam resultados de exame positivos por meio do padrão de ender os 25 itens da lista de verificação (Figura 1-2). O fluxograma
referência passariam por u m evento durante o a c o m p a n h a m e n t o (Figura 1-3) pode fornecer informações vitais sobre o planejamento
se não fossem tratados. O uso de dois padrões de referência, u m de um estudo - incluindo o método de recrutamento e a ordem de
patológico e outro baseado n o prognóstico clínico, p o d e afetar a execução do exame - e sobre o fluxo dos participantes.
avaliação da acurácia diagnostica. Isso t a m b é m p o d e levar a u m a O d o c u m e n t o S T A R D foi endossado por inúmeros periódi-
variabilidade entre os estudos q u a n d o estes diferem nas propor- cos, incluindo todos os mais importantes de química clínica. U m
ções dos pacientes verificados com cada um dos dois padrões. o u t r o d o c u m e n t o com explicações do significado e do funda-
As informações clínicas devem ser fornecidas para os que m e n t o lógico de cada item e o resumo breve das evidências está
estão realizando ou fazendo a leitura d o teste-índice para o estudo disponível 5 . O uso da iniciativa STARD é r e c o m e n d a d o para
de sua acurácia diagnostica? Por exemplo, o radiologista que vai todos os relatos de estudos de acurácia diagnostica. A maior parte,
fa^er a leitura d o novo tipo de imagem de raio X deve saber os se n ã o todo o c o n t e ú d o do STARD, aplica-se aos estudos de
resultados dos exames anteriores do paciente? A retenção destas exames usados para prognóstico, m o n i t o r a m e n t o ou tTiagem.
informações é conhecida c o m o mascaramento. Algumas informa-
ções clínicas são rotineiramente conhecidas pelo leitor do exame, ESTUDOS DOS DESFECHOS
c o m o q u a n d o u m patologista fica sabendo de o n d e a amostra As intervenções clínicas e de saúde pública têm c o m o objetivo
para biópsia foi retirada. A tentativa de reter estas informações m e l h o r a r o bem-estar dos pacientes, da população em geral ou
n o contexto de u m estudo de acurácia diagnostica pode criar u m d e segmentos da população. Para as intervenções terapêuticas, os
cenário artificial q u e não tem contrapartida n o cuidado d o pacientes estão interessados, por exemplo, n ã o apenas se u m
paciente. Para a maioria das perguntas do estudo, c o n t u d o , o fármaco Teduz o colesterol sérico ou a pressão arterial (fatores de
mascaramento é preferível p o r q u e o c o n h e c i m e n t o dos resulta- risco), mas, mais importante, se ele reduz o risco de ataque car-
dos tenderá a a u m e n t a r a concordância entre o resultado d o díaco, AVC e m o r t e cardiovascular. N o aspecto diagnóstico da
exame (índice) estudado e o (exame) padrão de referência. medicina, a maioria dos pacientes tem pouco interesse em saber
A gravidade da doença nos pacientes estudados com o distúr- sua concentração séTÍca de colesterol, a m e n o s q u e o conheci-
bio-alvo e a gama de outros distúrbios nos outros pacientes (con- m e n t o leve a ações que melhorem sua qualidade ou q u a n t i d a d e
troles) p o d e m afetar a aparente acurácia diagnostica de u m de vida. As pessoas q u e r e m melhorar os desfechos.
exame. Por exemplo, se u m exame projetado para detectar câncer
precoce for avaliado em pacientes com câncer clinicamente apa- O que São Estudos de Desfechos?
rente, é provável que o exame tenha u m melhor d e s e m p e n h o do O s desfechos p o d e m ser definidos c o m o resultados de interven-
que q u a n d o usado para pessoas que ainda n ã o apresentam sinais ções clínicas em termos de saúde ou custo. "Desfechos do
d o distúrbio. Este problema t e m sido c h a m a d o de "uiés de espec- paciente" são resultados q u e são perceptíveis para o paciente. 2 Os
tro". D e maneira semelhante, se u m exame é desenvolvido para desfechos que foram estudados c o m u m e n t e incluem mortali-
distinguir paciences com u m distúrbio-alvo dos pacientes com u m dade, taxas de complicação, tempo de estada n o hospital, tempos
distúrbio semelhante, p o d e ser enganoso usar sujeitos sadios d e espera em u m consultório, custo da assistência e satisfação dos
c o m o controles, e n ã o pacientes com sintomas semelhantes, na pacientes com o atendimento. Os resultados dos exames em si
avaliação da acurácia diagnostica do exame. n ã o são a m p l a m e n t e considerados c o m o desfechos. Entretanto,
Introdução à Química Clínica e Medicina Laboratorial Baseada em Evidências CAPÍTULO 1 7

Seção e Tópico Item Na página #


TITULO/RESUMO/ 1 Identificar o artigo como um estudo de acurácia diagnostica (recomendar
PALAVRAS-CHAVE sensibilidade e especificidade do cabeçalho MeSH)
INTRODUÇÃO 2 Especificar as perguntas da pesquisa ou os objetivos do estudo, como estimar acurácia
diagnostica ou comparar a acurácia entre os exames ou através dos grupos participantes.

MÉTODOS Descrever

Participantes 3 A população do estudo: os critérios de inclusão e exclusão, cenário e locais onde os


dados foram coletados.

4 Recrutamento dos participantes: 0 recrutamento baseou-se nos sintomas apresentados,


resultados de exames anteriores ou no fato de que os participantes receberam os
testes-Indices ou o padrão de referência?

5 Amostragem de participantes: a população do estudo era uma série consecutiva de


participantes definida pelos critérios de seleção no itens 3 e 4? Se não, especificar
como os participantes foram posteriormente selecionados.

6 Coleta de dados: a coleta de dados foi planejada antes (estudo prospectivo) ou depois
(estudo retrospectivo) do teste-índice e do padrão de referência serem realizados?
V

Métodos do exame 7 0 padrão de referência e seu fundamento lógico.


8 Especificações técnicas dos materiais e métodos envolvidos, incluindo como e quando as
mensurações foram feitas e/ou citação de referências para testes-índices e padrão de referência.

9 Definição e fundamento lógico para as unidades, cortes e/ou categorias dos


resultados dos testes-índices e padrão de referência.

10 O número, treinamento e especialidade das pessoas que executam e analisam os


testes-índices e o padrão de referência.

11 Se os responsáveis pela leitura dos testes-índices e do padrão de referência eram cegos


(mascarados) para os resultados do outro exame e descrever qualquer outra informação
clínica disponível para os leitores.

Métodos estatísticos 12 Métodos para cálculo ou medidas de comparação de acurácia diagnostica e métodos
estatísticos usados para quantificar incerteza (p.ex., 95% de intervalos de confiança).
13 Métodos para cálculo da reprodutibilidade do exame, se realizado.

RESULTADOS Relato
Participantes 14 Quando o estudo foi realizado, incluindo datas de início e final do recrutamento.
15 Características clínicas e demográficas da população do estudo (p.ex., idade, sexo, espectro dos
sintomas apresentados, co-morbidade, tratamentos vigentes, centros de recrutamento).

16 O número de participantes que satisfazem os critérios para inclusão que se submeteram


ou não aos testes-indices e/ou padrão de referência; descrever por que os participantes
falharam em receber um ou outro exame (um fluxograma é altamente recomendado).

Resultados dos exames 17 Intervalo de tempo desde os testes-indices até o padrão de referência e qualquer
tratamento administrado entre eles.

18 Distribuição da gravidade da doença (definir critérios) naqueles com distúrbio-aivo;


outros diagnósticos nos participantes sem o distúrbio-aivo.

19 Uma tabulação cruzada dos resultados dos testes-índices (incluindo resultados indeterminados
e perdidos) por meio dos resultados do padrão de referência; para resultados contínuos, a
distribuição dos resultados do exame por meio do padrão de referência.

20 Quaisquer eventos adversos devidos à realização dos testes-indices ou padrão de referência.

Estimativas 21 Estimativas da acurácia diagnostica e medidas de incerteza estatística (p.ex., 95% de


intervalos de confiança).
22 Como os resultados indeterminados, respostas perdidas e valores discrepantes dos
testes-índices foram gerenciados.

23 Estimativas de variabilidade da acurácia diagnostica entre subgrupos de participantes,


responsáveis pela leitura ou centros, se realizadas.

24 Estimativas da reprodutibilidade do exame, se realizadas.

DISCUSSÃO 25 Discutir a aplicabilidade clínica dos achados do estudo.

Figura 1 - 2 Lista de verificaçao de STARD.


8 PARTE I Princípios Laboratoriais

Exemplo geral

Pacientes elegíveis
n=

Pacientes exduídOb \
Razões n - J

Toste-
indioe n =

V
Resultado anormal
n=
N
J 0 Resultado normalf \
n= C Resultado inooncunivo \
J

Nenhum padrão de \ r Nenhum padrão de \ / Nenhum padrão do \


referência n = r~ Kv referência n =
s
referência n =
/
r
Padrão de referência Padrão dc referência Padrão de referência
=
n n n•

/ i n c o n c l u s IVO Inconclusivo Inconclusivo


r -
n -
r n=

X
Distúrbio-aivo \ Distúrbio-aivo Distúrbio-aivo Distúrbio-aivo Dislúrbio-aivo f Distúrbio-aivo
presente ausente presente ausente presente ausente
n =
V
• n= n=
J V V
n=
J V. n= J
Figura 1 - 3 Fluxcgrama STARD.

u m exame a p r i m o r a d o melhorará os desfechos q u a n d o estes a taxa d e m o r t a l i d a d e após infarto d o miocárdio?" U m estudo


d e p e n d e m da realização do diagnóstico correto. (Desfechos de desfechos poderia perguntar: "A taxa de mortalidade dos
melhorados p o d e m ser difíceis de ser estabelecidos se n ã o houver pacientes c o m suspeita de i n f a r t o d o miocárdio é reduzida
t r a t a m e n t o bem-sucedido para o distúrbio diagnosticado ou se q u a n d o os médicos u s a m dosagem de t r o p o n i n a I para orientar
este ou outros distúrbios, c o m os quais foi c o n f u n d i d o , forem as decisões?"
tratados da mesma maneira). Muitos atributos do exame são receptivos aos estudos de
Alguns exames são usados como marcadores de desfecho subs- desfechos. O s estudos p o d e m abordaT não apenas a disponibili-
tituto nos estudos de intervenções q u a n d o se documenta uma foite dade do exame, relativamente à não-disponibilidade, mas t a m b é m
relação entre o resultado d o exame e a morbidade ou mortalidade; atributos c o m o a metodologia usada para a mensuração, a quali-
exemplos incluem o uso de H b A l e e a razão albumina:creatinina na dade analítica do d e s e m p e n h o d o exame, o t e m p o de execução
urina nos estudos sobre o tratamento de diabetes me/iitits. (como para o P O C T n o Setor d e Emergência) e o m é t o d o de
O s estudos de desfechos têm de ser distinguidos dos estudos relato dos resultados dos exames (p.ex., c o m ou sem interpreta-
de prognóstico. O s estudos d o valor prognóstico de u m exame ção extensa do resultado).
perguntam: " O exame p o d e ser usado para prever u m desfecho?"
Em contrapartida, os estudos de desfechos p e r g u n t a m : " O uso Por que os Estudos sobre Desfechos?
de um exame melhora os desfechos?" Por exemplo, u m estudo O s estudos sobre desfechos têm tido considerável importância na
da capacidade prognóstica de u m exame poderia perguntar: "A medicina. N o aspecto terapêutico da medicina, poucos fármacos
concentração séríca de t r o p o n i n a I cardíaca correlaciona-se com p o d e m ser aprovados pelas agências governamentais m o d e r n a s
Introdução à Química Clínica e Medicina Laboratorial Baseada em Evidências CAPÍTULO 1 9

(ou pagos pelas organizações de assistência médica ou segurado- for sempre pior do que o tratamento convencional, os pacientes
ras de saúde) sem experimentos controlados randomizados de n o grupo testado se sairão pior e o exame será considerado inútil
sua segurança e eficácia. C a d a dia mais, o exame diagnóstico i n d e p e n d e n t e de quão diagnosticamente preciso ele seja. De
entra em u m a m b i e n t e semelhante, n o qual médicos, governos, maneira semelhante, se dois tratamentos são igualmente efetivos,
seguradoras comerciais de saúde e pacientes exigem evidências os desfechos serão os mesmos com ou sem exame; esta situação
da efetividade dos procedimentos diagnósticos. Para analisar isto, levará à conclusão de que o exame não é bom, independente da
é necessário apenas lembrar o e n o r m e interesse nas controvérsias precisão do diagnóstico. Q u a n d o uma terapia verdadeiramente melhor
sobre o valor da mamografia e a efetividade de se m e n s u r a r o torna-se disponível, o exame pode ser comprovadamente valioso, por-
antígeno específico da próstata n o soro. Estas questões (e muitas tanto é importante não desprezar o potencial do exame com base em
outras) d e p e n d e m da d e m o n s t r a ç ã o da melhora dos desfechos. u m estudo com uma nova terapia que não oferece n e n h u m a vantagem
Nos EUA, a i m p o r t a n t e Joint C o m m i s s i o n on Accreditation sobre a terapia antiga.
of Health Care Organizations (JCAHO) define qualidade c o m o O s projetos alternativos foram descritos para abordar a questão
a u m e n t o da probabilidade de des/eckos desejados e redução da do uso do exame em u m RCT. 3 Em u m projeto, todos os pacien-
probabilidade de desfechos indesejados. Se u m a organização de tes submetem-se a u m novo exame, mas os resultados são oculta-
assistência à saúde, ou sua unidade, c o m o u m laboratório clinico, dos d u r a n t e o experimento. O s pacientes são randomizados para
quer p r o p o r que sua qualidade é alta ou que esta contribui para receber ou não a nova terapia. Neste projeto, o novo exame deve
a qualidade da instituição, a mensagem é clara: d e m o n s t r a r ser a d o t a d o apenas se houver u m a melhora n o desfecho do
melhora dos desfechos. paciente causada por u m a m u d a n ç a para a nova terapia e se a
m e l h o r a n o desfecho estiver associada ao desfecho do exame.
U m R C T n e m sempre é viável. Alternativas ao R C T incluem
Planejamento dos Estudos de Desfechos estudos que u s a m pacientes-controle históricos ou contemporâ-
Clínicos neos nos quais a intervenção não foi empreendida. Estes estudos
O e x p e r i m e n t o c o n t r o l a d o r a n d o m i z a d o (RCT) é o padrão de são c h a m a d o s estudos de caso-controle. A incerteza sobre a com-
fato para estudos dos efeitos na saúde das intervenções clínicas. parabilidade entre os controles e os pacientes em tais projetos é
Nestes estudos, os pacientes são randomizados para receber a u m a ameaça à validação destes estudos.
intervenção a ser testada (como u m novo fármaco ou exame) ou
u m a alternativa (tipicamente u m placebo ou u m fármaco ou u m
REVISÕES SISTEMÁTICAS DOS EXAMES
exame convencional), e u m desfecho é medido. O s RCTs têm sido
DIAGNÓSTICOS
usados para avaliar as intervenções terapêuticas, incluindo fárma-
As revisões sistemáticas são adições recentes à literatura médica. A o
cos, radioterapia e intervenções cirúrgicas, entre outras. O s desfe-
contrário das revisões "narrativas" tradicionais, estas revisões têm
chos medidos variam de fortes evidências, como mortalidade e
c o m o objetivo responder u m a p e r g u n t a clínica definida com
morbidade, até evidências mais fracas, c o m o a satisfação relatada
precisão e fazer isto de f o r m a que seja transparente e p r o j e t a d o
pelo paciente e os p o n t o s finais substitutos tipificados pelos mar-
para minimizar o viés. Algumas das características de definição
cadores da atividade da doença (p.ex., HbAi c e razão albumina:
das revisões sistemáticas são: (1) definição clara da p e r g u n t a
creatinina na urina c o m o m e n c i o n a d o anteriormente).
clínica a ser abordada; (2) estratégia extensa e explícita para
O alto impacto dos RCTs das intervenções terapêuticas levou
encontrar todos os estudos (publicados ou n ã o publicados) que
ao escrutínio de sua c o n d u t a e relato. U m grupo interdisciplinar
possam ser adequados para a inclusão na revisão; (3) critérios
(principalmente epidemiologistas e editores clínicos de periódicos
pelos quais os estudos são incluídos e excluídos; (4) mecanismo
médicos) desenvolveu u m a diretriz conhecida c o m o C O N S O R T 1 0
para avaliar a qualidade de cada estudo; e, em alguns casos, (5)
para a condução destes estudos. Embora inicialmente planejado
síntese dos resultados pelo uso de técnicas estatísticas d e meta-
para avaliação de terapias, o C O N S O R T fornece lembretes úteis
nálise. E m contrapartida, as revisões tradicionais são subjetivas,
q u a n d o do planejamento ou avaliação dos estudos de desfechos
r a r a m e n t e são b e m focadas em u m a p e r g u n t a clinica, n ã o
dos exames na química clínica. Assim c o m o para o STARD, as
p o s s u e m critérios explícitos para seleção dos estudos a serem
principais características das diretrizes d o C O N S O R T são uma
revisados, não indicam critérios para avaliar a qualidade dos
lista de verificação d e itens a serem incluídos n o relato e u m
estudos incluídos e r a r a m e n t e p o d e m usar metanálise.
fluxograma dos pacientes n o estudo.
A metodologia explícita das revisões sistemáticas sugere que
O planejamento ideal de u m R C T de u m exame diagnóstico
as pessoas habilitadas na arte da revisão sistemática devem ser
n e m sempre é evidente. U m planejamento clássico é randomizar
capazes de reproduzir os dados de u m a revisão sistemática, exa-
pacientes para receber ou não u m exame, e então modificar a
t a m e n t e c o m o os pesquisadores na química e bioquímica esperam
terapia, da convencional para u m a diferente, baseada n o resultado
ser capazes de reproduzir estudos primários publicados em seus
do exame nos pacientes testados. Esta abordagem leva a problemas
campos. Este conceito fortalece a credibilidade das revisões siste-
interpretativos. 3 Por exemplo, se a nova terapia é sempre efetiva, o
máticas, e os profissionais da área de EBM geralmente conside-
grupo examinado sempre se sairá melhor mesmo se o exame for
ram revisões sistemáticas bem conduzidas de estudos primários
u m jogo de cara/coroa porque apenas o grupo examinado tem
de alta qualidade para constituir o mais alto nível de evidências
acesso à nova terapia. A conclusão de que o exame teve valor seria
em u m a questão médica.
então errônea. U m problema semelhante ocorre se o grupo exami-
n a d o teve meramente u m acesso a u m e n t a d o à terapia. (Um Por que Revisões Sistemáticas?
exemplo possível é o aparente benefício da prova de sangue oculto A literatura médica é tão vasta que n i n g u é m p o d e ler, muito
nas fezes na redução da incidência de câncer de cólon o n d e o m e n o s compreender, todos os trabalhos relevantes. Este é u m
grupo examinado é mais propenso a submeter-se a u m a colonos- impulso em direção às revisões sistemáticas. O u t r a s motivações
copia e remoção das lesões pré-malignas n o cólon. U m a seleção i n c l u e m a q u a n t i d a d e maciça de nova tecnologia, a baixa quali-
randomizada dos pacientes para colonoscopia poderia atingir resul- d a d e das revisões narrativas e a necessidade de fornecer u m
tados semelhantes aos resultados para o grupo examinado para r e s u m o preciso para os médicos em atuação.
sangue oculto nas fezes). Este problema levará à conclusão errônea A s revisões sistemáticas p o d e m atingir múltiplos objetivos.
de que o exame em si é útil. E m contrapartida, se a nova terapia Elas p o d e m identificar o n ú m e r o , o escopo e a qualidade dos
10 PARTE I Princípios Laboratoriais

estudos primários; fornecer u m resumo da acurácia diagnostica QUADRO 1 - 1 Etapas Principais Selecionadas em uma
de u m exame; comparar as acurácias diagnosticas dos exames; Revisão Sistemática de um Exame Diagnóstico
determinar a d e p e n d ê n c i a das acurácias diagnosticas relatadas à
qualidade d o projeto d o estudo; identificar a d e p e n d ê n c i a da Identificar a pergunta clínica
acurácia do diagnóstico às características dos pacientes estuda' Definir os critérios de inclusão e exclusão
dos ou d o m é t o d o usado para o exame; e identificar as áreas q u e Pesquisar na literatura
requerem mais pesquisas e reconhecem as perguntas que são Identificar os estudos relevantes
Selecionar estudos usando critérios de qualidade explícitos
bem respondidas e para as quais os estudos adicionais p o d e m
Extrair dados e avaliar a qualidade
n ã o ser necessários.
Analisar e interpretar cs dados
Apresentar e resumir os achados
Condução de uma Revisão Sistemática
A revisão sistemática c o n s o m e t e m p o e requer múltiplas habili-
dades. Em geral é necessária u m a equipe, a qual deve incluir pelo
Exemplos:
menos u m a pessoa com experiência em ciência e arte da revisão
Pergunta d o tipo 1, relacionada com a acurácia diagnostica
sistemática. A equipe tem q u e concordar sobre o problema clínico
de u m exame:
a ser e n f r e n t a d o n o escopo da revisão.
Nos pacientes que p r o c u r a m o Setor de Emergência de u m
A etapa inicial na preparação para realização de uma revisão
hospital com falta de ar, quão b e m o peptídeo natriurético tipo
sistemática é identificar se uma revisão semelhante foi realizada
B (BNP) ou fragmento N-terminal d o pro-BNP prevê (identifica
recentemente. D e n t r e outras coisas, esta busca ajudará a enfocar
a presença de) insuficiência cardíaca c o m o avaliado pela fração
a revisão. O C o c h r a n e Collaboration fornece u m excelente
de ejeção cardíaca m e d i d a pela ecocardiografia?
recurso para revisões, mas infelizmente poucas são revisões de
Pergunta d o tipo 2, com relação ao valor de u m exame na
exames diagnósticos. A base de dados dos Abstracts of Review of
melhora d o desfecho para o paciente (chamada de avaliação de
Effectiveness (DARE), que é administrada pelo C e n t r o de Revi-
fase 4 de u m exame):
sões e Disseminação da Universidade de York n o Reino U n i d o ,
Nos pacientes admitidos n o hospital para t r a t a m e n t o de insu-
contém revisões de alguns exames diagnósticos. U m terceiro
ficiência cardíaca, q u ã o bem o uso de B N P ou N-terminal do
recurso é a biblioteca Bayes Library of Diagnostic Studies and
pro-BNP ajuda c o m o guia da terapia ou melhora a capacidade de
Reviews, que é associada ao C o c h r a n e Collaboration 1 2 ( h t t p : / /
se tratar a insuficiência cardíaca, como avaliado pela taxa de rea-
www.bice.ch/engl/content_e/bayes_librarv.htm, acessado em 4
dmissão subseqüente por insuficiência cardíaca?
de janeiro de 2007). O u t r o s recursos incluem bases de dados
Observar que cada pergunta identifica: (1) o problema do
eletrônicas, c o m o P u b M e d e Embase, e diretrizes recentes da
paciente [falta d e ar e local de a t e n d i m e n t o (Setor de Emergência
prática clínica, que provavelmente citam revisões sistemáticas q u e
o u hospital)]; (2) o exame que está sendo usado (BNP o u N-ter-
estavam disponíveis n o m o m e n t o d o desenvolvimento das dire-
minal pro-BNP); (3) padrão de referência para o diagnóstico {fração
trizes (ver seção sobre diretrizes, adiante neste capítulo).
de ejeção como medida pelo eco) ou para desfecho clínico (taxa
A equipe de revisão tem de desenvolver u m protocolo para o
de readmissão subseqüente) e (4) u m desfecho (capacidade para
projeto. O protocolo deve incluir:
detectar a presença de insuficiência cardíaca ou capacidade para
U m título;
tratar insuficiência cardíaca).
Informações sobre antecedentes;
F r e q ü e n t e m e n t e , surgem perguntas mais complexas. Por
C o m p o s i ç ã o do grupo de revisão;
exemplo, u m a p e r g u n t a do tipo 1 p o d e envolver a comparação
U m cronograma;
entre as acurácias diagnosticas de dois ou mais exames, ou p o d e
A(s) pergunta(s) clínicas a serem abordadas n a revisão;
abordar a melhoria na acurácia diagnostica a partir dos resultados
Estratégia de pesquisa;
acrescentados de u m novo exame aos resultados do exame ou
Critérios de inclusão e exclusão para seleção de estudos;
exames existentes. E m todos os casos, c o n t u d o , em geral é melhor
Metodologia das listas de verificação e listas de
que a pergunta clínica seja específica e focada em cenários clíni-
verificação para avaliação crítica dos estudos;
cos definidos.
Metodologia e formas de extração dos dados;
A pergunta clínica leva aos critérios de inclusão e exclusão
Metodologia de medidas para síntese e r e s u m o de
paTa estudos a serem incluídos na revisão. Estes critérios incluem
estudo a ser usada.
a coorte de pacientes e o local n o qual o exame será usado, assim
A descrição de todos os detalhes está além d o escopo deste
c o m o as medidas d e desfecho a serem consideradas. Eles são
capítulo e apenas alguns mais importantes serão discutidos. A
todos importantes, pois tanto o "local d o paciente" c o m o a
revisão das referências citadas aqui, c o m o a H o r v a r t h et aí.,13 é natureza da pergunta afetam o d e s e m p e n h o diagnóstico de u m
recomendada antes de se embarcar em uma revisão sistemática, exame.
Até recentemente, os metodologistas interessados e m revisões
A Pergunta Clínica e os Critérios para Seleção de sistemáticas se concentravam em estudos dos efeitos das interven-
Estudos ções, especialmente fármacos, nos desfechos do paciente. O tra-
Dentre as etapas na condução de u m a revisão sistemática de u m balho deles geralmente é aplicável nas revisões sistemáticas dos
exame diagnóstico ( Q u a d r o 1-1), o mais i m p o r t a n t e é a identifi- exames diagnósticos q u e começam com u m a pergunta d o segundo
cação da questão clínica para a qual o resultado d o exame é tipo anteriormente citado. Infelizmente, para as revisões sistemá-
necessário para que se dê u m a resposta e, p o r t a n t o , a formulação ticas dos exames diagnósticos, é incomum, atualmente, e n c o n t r a r
da pergunta q u e f o r m a a base da revisão. Dois tipos d e perguntas mais de u m estudo sobre qualquer combinação de u m exame
p o d e m ser abordados em u m a revisão sistemática n a medicina com u m desfecho. Nós, p o r t a n t o , nos concentramos nas revisões
diagnostica: u m tipo está relacionado à acurácia diagnostica de sistemáticas da acurácia diagnostica dos exames.
u m exame, e a outra, ao valor clínico (para pacientes ou para os Q u a n d o as perguntas a serem feitas são definidas, o g r u p o de
outros) d o uso d o exame. As perguntas q u e surgem são seme- revisão tem que entrar e m u m acordo sobre o escopo da revisão.
lhantes em estrutura, mas requerem abordagens diferentes. O grupo de revisão pode:
Introdução à Química Clínica e Medicina Laboratorial Baseada em Evidências CAPÍTULO 1 11

• Restringir a revisão a estudos d e alta q u a l i d a d e direta- Metanálise


m e n t e aplicáveis ao p r o b l e m a de interesse imediato, o u A m e t a n á l i s e é u m a m a n e i r a estatística de analisar d a d o s de
• Explorar o efeito d a variabilidade n a q u a l i d a d e d o e s t u d o múltiplos estudos. Pode ser possível realizar u m a metanálise se
e outras características (local, t i p o d e p o p u l a ç ã o , espectro os d a d o s estiverem disponíveis a p a r t i r de i n ú m e r o s estudos
d a d o e n ç a etc) nas estimativas d e acurácia, u s a n d o análise s e m e l h a n t e s (isto é, fazer a m e s m a p e r g u n t a p a r a o m e s m o tipo
ou modelagem d o subgrupo. d e paciente e n o m e s m o local clinico o u e m local semelhante).
A s e g u n d a a b o r d a g e m é mais complexa, mas possibilita As metanálises p o d e m explorar f o n t e s d e variabilidade n o s resul-
avaliar, p o r exemplo, a aplicabilidade das estimativas da acurácia t a d o s d e e s t u d o s clínicos, a u m e n t a r a c o n f i a n ç a n o s d a d o s e
diagnostica e m diferentes locais e o efeito d o p l a n e j a m e n t o d o conclusões e sinalizar q u a n d o mais n e n h u m e s t u d o for necessá-
e s t u d o e das características inerentes ao paciente ( c o m o idade, rio. Para diretrizes sobre c o n d u t a d e metanálises d e RCTs, ver a
sexo e sintomas) nas estimativas da acurácia diagnóstica d e u m i n s t r u ç ã o d a Q u a l i d a d e d o Relato das Metanálises ( Q U O R O M )
exame. e m w w w . c o n s o r t s t a t e m e n t . o r g ^ ' Q U O R O M . p d f (acesso e m 4 de
janeiro d e 2007).
Estratégia de Pesquisa Para descrições d e técnicas metanalíticas n a pesquisa diagnos-
A pesquisa da literatura p r i m á r i a e m geral é realizada de três tica, c o m o o r e s u m o d a curva R O C , ver trabalhos feitos p o r Irwig
maneiras: (1) busca eletrônica nas bases d e dados da literatura; et allj e Deeks 9 e o capítulo d o livro de Boyd e Deeks. 7 Deeks
(2) pesquisa m a n u a l dos principais periódicos e (3) revisão das a r g u m e n t o u q u e as razões de p r o b a b i l i d a d e f o r n e c e m a expressão
referências dos principais artigos de revisão. N o r m a l m e n t e , faz-se mais t r a n s p a r e n t e da utilidade de u m e x a m e p o r q u e elas possi-
pesquisa t a n t o n o M e d l i n e c o m o n o E m b a s e p o r q u e as coinci- bilitam ao m é d i c o calcular a p r o b a b i l i d a d e pós-exame se a p r o
dências e n t r e os dois p o d e m ser d e a p e n a s 3 5 % . A busca e m habilidade pré-exame for conhecida. 9
bases de d a d o s é u m exercício d e t a l h a d o , e a a j u d a d e u m biblio-
tecário o u d e u m cientista é r e c o m e n d a d a . As orientações p a r a AVALIAÇÕES ECONÔMICAS DOS EXAMES
pesquisas d e estudos de acurácia diagnóstica publicados n a lite-
DIAGNÓSTICOS _
ratura estão disponíveis e m Irwig e Glasziou (www.cochrane.
O s custos c o m assistência à s a ú d e e m t o d o o m u n d o a u m e n t a r a m
o r g / d o c s / s a d t d o c l . h t m . Acesso e m 4 de j a n e i r o d e 2007). 14
s u b i t a m e n t e nas ú l t i m a s décadas. Por exemplo, os E U A gastaram
E s t u d o s adicionais p o d e m ser e n c o n t r a d o s n a literatura
1,68 trilhões d e dólares e m assistência à s a ú d e e m 2 0 0 3 , o i
"cinza" (literatura n ã o convencional) das teses, atas d e conferên-
1 5 , 3 % de seu p r o d u t o i n t e r n o b r u t o . E m b o r a os custos labora
cias, relatos técnicos e monografias. A consulta de indivíduos
toriais diretos sejam c o m p a r a t i v a m e n t e p e q u e n o s , os exames têir
ativos n a área p o d e desvendar estudos nestas f o n t e s e estudos q u e
u m a i n f l u ê n c i a p r o f u n d a nas decisões médicas e, p o r t a n t o , noí
estão s e n d o p r e p a r a d o s para publicação.
custos totais.

Extração de Dados e Avaliação Crítica dos Uma Hierarquia de Evidências


Estudos U m a h i e r a r q u i a d e evidências c o m relação aos exames clínicof
T r a b a l h o s identificados devem ser lidos i n d e p e n d e n t e m e n t e por começa c o m a avaliação d o d e s e m p e n h o técnico d o exame £
d u a s pessoas, e os dados, extraídos d e acordo c o m u m m o d e l o . c o n t i n u a c o m o e s t u d o d o d e s e m p e n h o diagnóstico d o exam(
H á , disponível online, u m a lista d e verificação d o s itens a serem até u m a identificação de potenciais benefícios e, p o r t a n t o , até í
extraídos d e estudos p r i m á r i o s ao se p r e p a r a r u m a revisão siste- avaliação e c o n ô m i c a . Esta h i e r a r q u i a d e evidências t a m b é m podt
mática sobre a acurácia d o exame. 1 4 A lista de verificação 4 S T A R D ser observada n o c o n t e x t o dos d a d o s q u e são necessários par:
p o d e t a m b é m ser usada c o m o u m guia adicional n o planeja- t o m a r decisões sobre a i m p l e m e n t a ç ã o d e u m exame. Ela s<
mento do modelo. baseia, p o r t a n t o , n o n ú c l e o d o processo de elaboração d e políti
A q u a l i d a d e dos estudos deve ser avaliada c o m o p a r t e da cas e a d m i n i s t r a ç ã o d o serviço. A avaliação e c o n ô m i c a forneci
revisão sistemática. O p l a n e j a m e n t o d o e s t u d o é u m a considera- u m m e i o de avaliação d o s custos comparativos d e estratégias di
ção i m p o r t a n t e . Para muitas p e r g u n t a s relacionadas c o m os des- c u i d a d o s alternativas.
fechos, u m R C T será o p l a n e j a m e n t o d e mais alta qualidade. Para
estudos de acurácia diagnostica, os e s t u d o s d e séries consecutivas Metodologias para Avaliações Econômicas
d e pacientes estarão localizados acima d o s estudos q u e u s a m A e c o n o m i a e m S a ú d e está relacionada c o m o custo e as const
controles históricos. O b v i a m e n t e , u m e s t u d o p o d e usar u m b o m qüências de decisões t o m a d a s sobre o c u i d a d o dos pacientes
projeto, mas ter graves desvantagens e m outras dimensões; por Envolve, p o r t a n t o , a identificação, m e n s u r a ç ã o e estipulação d o
exemplo, muitos pacientes p o d e m ser perdidos d u r a n t e o acompa- valores dos custos e conseqüências. O processo é complexo e i
n h a m e n t o (follüw-up) o u o exame estudado p o d e ser realizado de u m a "ciência inexata", As a b o r d a g e n s à avaliação econòmic;
maneira precária d u r a n t e o estudo, c o m o indicado por precisão i n c l u e m análise de: (1) custo-minimização, (2) custo-benefício, (3
diária precária. Assim, a graduação adequada da qualidade dos custo-efetividade e (4) custo-utilidade (Tabela 1-2).
estudos deve ir além da categorização d o p l a n e j a m e n t o d o estudo. A análise d e custo-minimização d e t e r m i n a os custos de a b o r d í
gens alternativas q u e p r o d u z e m o m e s m o desfecho. Ela p o d e se
Resumo dos Dados c o n s i d e r a d a o t i p o d e avaliação e c o n ô m i c a mais simples, m a
As características e os d a d o s d e estudos criticamente avaliados m e n o s informativo. N a área d e e x a m e diagnóstico, ela é aplicáve
devem ser a p r e s e n t a d o s e m tabelas. O s d a d o s dos estudos d e ao custo de provedores alternativos d o m e s m o exame, dispositivi
acurácia diagnostica devem incluir sensibilidades, especificidades o u i n s t r u m e n t o . E, p o r t a n t o , u m a técnica q u e está l i m i t a d a ai
e razões d e probabilidade, s e m p r e q u e possível. Estes p o d e m , processo d e aquisição o n d e as especificações d o serviço já sã>
então, ser r e s u m i d o s e m gráficos q u e f o r n e c e m u m a indicação estabelecidas e os desfechos, c l a r a m e n t e d e f i n i d o s . Poderia se
da variação e n t r e os estudos. O r e s u m o deve t a m b é m incluir u m a c o n s i d e r a d a f o r n e c e d o r a d o "custo p o r exame", u m indicado
avaliação da q u a l i d a d e d e cada estudo, u s a n d o u m sistema d e f r e q ü e n t e m e n t e citado q u e n ã o é, c o n t u d o , u m a avaliação ecc
escores explícito. A revisão deve t a m b é m apresentar análise n ô m i c a verdadeira p o r q u e n ã o identifica u m desfecho, exceto i
crítica dos d a d o s destacados. f o r n e c i m e n t o d e u m resultado d e e x a m e .
12 PARTE I Princípios Laboratoriais

TABELA 1-2 A b o r d a g e n s para Avaliações E c o n ô m i c a s

Tipo de Avaliação E x a m e Avaliado Efeito ou Desfecho Critérios de Decisão

Minimização do custo Exames alternativos ou opções de fornecimento Desfechos idênticos Alternativa menos cara
Custo-benefíoio Exames alternativos ou opções de f o r n e c i m e n t o Efeito ou desfecho melhorado Efeito avaliado puramente e m t e r m o s
monetários
Custo-efetividade Exames alternativos ou opções de fornecimento Unidade c o m u m de efeito, porém Custo por unidade de efeito (p.ex., dólares
efeito diferencial por anos de vida ganhos)
Custo-utilidade Exames alternativos ou opções de fornecimento Efeito ou desfecha melhorado Desfecho expresso e m termos da
sobrevida e qualidade de vida

A análise cusLo-beneficio determina se o valor do benefício (que podem ser capazes de produzir u m beneficio
excede o custo da intervenção e, p o r t a n t o , se a intervenção é demonstravelmente maior se gasto em uma intervenção ou
compensadora. O valor da conseqüência o u benefício é avaliado exame diferente).
em termos monetários; isto pode ser bastante desafiador p o r q u e
p o d e exigir que o analista equacione u m a n o de vida com u m a Perspectivas de Avaliações Econômicas
quantia monetária. H á inúmeros métodos, incluindo a "aborda- A perspectiva a partir da qual u m a avaliação é realizada afeta o
gem de capital h u m a n o " , que avalia a produtividade do indiví- projeto, a conduta e os resultados da avaliação. A perspectiva pode,
d u o (em termos de lucros) e a "abordagem da vontade de pagar", por exemplo, ser aquela de u m paciente, de u m pagador (agência
q u e avalia q u a n t o s indivíduos estão preparados para pagar. de saúde do governo ou companhia de seguros de saúde) ou da
A análise cust&efetividade contempla a maneira mais eficiente sociedade. A perspectiva pode ser de longo prazo ou de curto prazo.
de gastar u m o r ç a m e n t o fixo. O s efeitos são m e n s u r a d o s em As perguntas adiante ilustram a importância da perspectiva:
termos de u m a u n i d a d e natural, c o m o u m a n o de vida ou o • Q u a l é o custo do resultado d o exame produzido n o
n ú m e r o de AVC que são evitados. As medidas substitutivas com analisador A c o m p a r a d o com o analisador B?
relações claras para morbidade e mortalidade t a m b é m foram • Q u a l é o custo do resultado d o exame produzido pelo
usadas (p.ex., m u d a n ç a na pressão arterial). Q u a n d o se avalia laboratório A c o m p a r a d o com o laboratório B?
u m a intervenção, o n ú m e r o de casos de doenças evitadas pode • Q u a l é o custo do resultado d o exame produzido p o r
ser usado c o m o m e d i d a de beneficio. P O C T comparado com o laboratório?
A análise custoutilidade inclui a qualidade e quantidade d o des- • O fornecimento de exames rápidos de sangue para o
fecho de saúde ou, em outras palavras, a contemplação da qualidade Setor de Emergência reduzirá o t e m p o de estada dos
de anos de vida ganhos. O custo da intervenção é avaliado em pacientes na Emergência e, p o r t a n t o , reduzirá o custo
termos monetários, mas os desfechos são expressos em "anos de para o hospital?
vida ajustados pela qualidade" (QALYs). A análise custo-utilidade • O exame rápido de H b A l c em u m a clínica (e não em
foi usada para avaliar a utilidade de alguns programas de triagem. u m laboratório distante) economiza t e m p o para os
A adição de nova tecnologia f r e q ü e n t e m e n t e a u m e n t a t a n t o pacientes ao fornecer os resultados n o m o m e n t o da
o custo c o m o o beneficio. U m estudo d e custo-efetividade 10 da consulta? Ele economizará dinheiro para os empregadores
triagem para câncer colorretal (versus n e n h u m a triagem) mostrou dos pacientes ao reduzir o t e m p o que o empregado fica
q u e a estratégia "menos caca" foi u m a sigmoidoscopia simples fora do trabalho para ir a consultas médicas repetidas?
aos 5 5 anos de idade, com u m a u m e n t o da razão custo-efetivi- Economizará t e m p o para o médico e, portanto,
dade incremental de 1.200 dólares p o r ano de vida salvo. Estra- dinheiro para a cíínica? Melhorará o cuidado do
tégias alternativas conferiram razões custo-efetividade incrementais diabetes (talvez facilitando o a c o n s e l h a m e n t o n o
de 21.200, 51.200 e 92.900 dólares com a adição de triagem cada m o m e n t o da consulta) p a r a o paciente c o m o indicado
vez mais complexa e freqüente para sangue oculto nas fezes. pelas medidas i n d e p e n d e n t e s d o controle glicêmico? Ele
Q u a n d o os exames a u m e n t a m tanto o custo como o benefí- economizará dinheiro para o sistema de saúde ao
cio, as decisões acerca de seu uso d e p e n d e r ã o de fatores c o m o m e l h o r a i o controle glicêmico e, portanto, reduzirá as
v o n t a d e de pagar e outras pressões políticas e individuais. U m a hospitalizações relacionadas com o controle glicêmico
q u a n t i a de 50.000 dólares por QALY foi usada nos EUA como precário? Ele promoverá o benefício para a sociedade
p o n t o de referência. Isto reflete u m a decisão t o m a d a pelo Con- reduzindo os custos de assistência à saúde da sociedade
gresso norte-americano de aprovar o tratamento de diálise para (paTa hospitalizações) e a u m e n t a n d o a f u n ç ã o e a
insuficiência renal em estágio final, u m t r a t a m e n t o com aproxi- contribuição dos pacientes para a sociedade?
m a d a m e n t e este custo p o r QALY. O primeiro cenário é o tipo d e avaliação feita q u a n d o se faz
H á quatro possíveis achados advindos das análises custo-uti- u m acordo e é u m exercício simples de aquisição. O desfecho é
lidade e possíveis decisões correspondentes: o mesmo - o fornecimento de u m d e t e r m i n a d o resultado de
• Exame mais caro, mas que fornece maior benefício - exame, para u m d e t e r m i n a d o padrão de acurácia e precisão em
possivelmente introduzir o exame, d e p e n d e n d o do ganho u m d e t e r m i n a d o período de t e m p o (a especificação). A segunda
geral p e r g u n t a poderia parecer a mesma, mas não é e, indubitavel-
• Exame mais caro, mas que promove m e n o s benefício - m e n t e , deve levar em consideração outras questões, isto é, as
n ã o introduzir o exame questões logísticas associadas ao transporte de amostras ou ao
• Exame m e n o s caro, mas q u e promove maior benefício - suporte d o nível de comunicação fornecido pelos laboratórios.
introduzir o exame Para fazer u m a avaliação relevante d o terceiro cenário relacionada
• Exame menos caro, mas que promove menos benefício - ao valor d o P O C T , é i m p o r t a n t e t a m b é m levar em consideração
possivelmente introduzir o exame, dependendo do as implicações fora do laboratório que p o d e m resultar de atraso
t a m a n h o da perda n o benefício e da magnitude dos ganhos n o envio da amostra para o laboratório. As implicações das per-
Introdução à Química Clínica e Medicina Laboratorial Baseada em Evidências CAPÍTULO 1 13

guntas restantes são semelhantes, e deve-se observar que as com- d e p a r t a m e n t a l i z a d o estão s e n d o reconhecidas e u m a visão mais
plicações clínicas do controle glicêmico precário são a m p l a m e n t e ampla da e c o n o m i a de saúde parece estar se desenvolvendo e m
de longo prazo e p o d e m estar além do intervalo de tempo reco- alguns serviços de assistência à saúde.
m e n d a d o dos interesses financeiros daqueles que realizam u m a
análise econômica. N a verdade, avaliações econômicas rigorosas DIRETRIZES PARA A PRÁTICA CLÍNICA
de longo prazo do uso dos exames são raras. N ã o se consegue atingir os objetivos o r ie n ta d o s para o paciente
da medicina laboratorial baseada em evidências por meio de
Qualidade das Avaliações Econômicas estudos primários e revisões sistemáticas apenas. O s resultados
O s critérios para avaliação de u m estudo e c o n ô m i c o de u m exame destas investigações devem se t r a n s f o r m a r em ação. C a d a dia
diagnóstico incluem: mais, os sistemas de saúde e grupos de profissionais na medicina
• Definição nítida da p e r g u n t a econômica, c o m o a têm se voltado para o uso de diretrizes da prática clínica. As
perspectiva da avaliação (p.ex., perspectiva de u m diretrizes são u m a f e r r a m e n t a para facilitar a i m p l e m e n t a ç ã o de
paciente, sociedade, empregador, c o m p a n h i a de seguros lições a partir de estudos primários e revisões sistemáticas. O s
de saúde o u u m a d m i n i s t r a d o r de hospital; perspectiva impulsos i m p o r t a n t e s para o desenvolvimento de diretrizes têm
de longo prazo uersi^s d e curto prazo); sido os de reduzir a variabilidade n a prática (e desenvolver o uso
• Descrição de alternativas conflitantes; de melhores práticas) e reduzir o ( f r e q ü e n t e m e n t e prolongado)
• Evidências de efetividade da intervenção; tempo necessário para que novas informações sejam usadas em
• Identificação e quantificação claras dos custos e benefício dos pacientes o u p a r a prevenção de doenças.
conseqüências que incluem análise incremental; O desenvolvimento das diretrizes práticas para o laboratório
• C o n s i d e r a ç ã o apropriada dos efeitos da ocorrência clinico é u m a nova área desafiadora. H á poucas informações
temporal diferencial dos custos e benefícios; disponíveis sobre c o m o p r e p a r a r tais diretrizes, mas r e c e n t e m e n t e
• D e s e m p e n h o da análise de sensibilidade (quão sensíveis surgiu u m impulso inicial nesta direção. 19
são os resultados a m u d a n ç a s nas suposições ou na
entrada? [p.ex., m u d a n ç a s n o custo dos fármacos o u O que É uma Diretriz de Prática Clínica?
benefício nos anos d e vidai); D e acordo com o Instituto d e Medicina dos EUA, "As diretrizes
• Inclusão de medidas sumárias de eficiência, assegurando da prática clínica são instruções sistematicamente desenvolvidas
que todas as questões são abordadas. para auxiliar nas decisões do profissional e do paciente sobre os
Muitas avaliações econômicas dos exames diagnósticos n ã o cuidados apropriados em circunstâncias clínicas específicas". Dire-
a t e n d e m estes critérios. trizes de vários tipos há m u i t o abordam questões de interesse para
os profissionais que trabalham em laboratórios, c o m o exigências
Uso de Avaliações Econômicas na Tomada de o u metas para acurácia, precisão e o tempo de execução dos exames
Decisão e as considerações sobre a freqüência de repetição de exames n o
O fluxo de novos exames e m m e d i c i n a laboratorial exige decisões m o n i t o r a m e n t o dos pacientes. O foco das direrrizes da m o d e r n a
f r e q ü e n t e s sobre implementá-los o u não. Avaliações econômicas prática clínica, c o m o as mais recentes sobre exames laboratoriais
p o d e m a j u d a r a t o m a r decisões. O s recursos limitados para a no diabetes e doença hepática, é o paciente em "circunstâncias
assistência à saúde r e q u e r e m o uso de u m meio objetivo de clínicas específicas" referidas n a definição das diretrizes de prática
d e t e r m i n a r c o m o os recursos são alocados e c o m o a eficiência e clínica. As ferramentas de EBM e epidemiologia clínica possibili-
a efetividade da distribuição d o serviço p o d e m ser melhoradas. tam que as diretrizes sejam desenvolvidas de f o r m a mais transpa-
As avaliações econômicas p o d e m ser i m p o r t a n t e s para os rente a partir de estudos b e m conduzidos e revisões sistemáticas.
laboratórios. Primeiramente, o o r ç a m e n t o d o laboratório em
geral é "controlado" i n d e p e n d e n t e m e n t e dos outros custos de Deve Ser Usado um Processo Transparente
assistência à saúde. Isto f r e q ü e n t e m e n t e é c h a m a d o de "orça- no Desenvolvimento de Diretrizes
m e n t o departamentalizado". O o r ç a m e n t o para o exame é esta- N a ausência de u m processo transparente p a r a desenvolvimento
belecido i n d e p e n d e n t e m e n t e dos o r ç a m e n t o s para serviços que de u m a diretriz, a credibilidade d o p r o d u t o está c o m p r o m e t i d a
possam alcançar algum benefício se u m novo exame diagnóstico e p o d e ser legitimamente questionada. Q u a n d o as diretrizes são
for introduzido. E m segundo, atingir u m desfecho favorável desenvolvidas por u m g r u p o de profissionais (como médicos
(p.ex., u m a redução n o t e m p o de estada o u a r e d u ç ã o das inter- especialistas ou profissionais d e laboratórios)) as recomendações
nações na u n i d a d e de cuidados coronarianos) é útil do p o n t o de (p.ex., para realizar u m p r o c e d i m e n t o diagnóstico e m determi-
vista de administração apenas se aquele desfecho p u d e r ser trans- n a d o local) p o d e m ser suspeitas de promover o bem-estar do
f o r m a d o e m g a n h o m o n e t á r i o real. Em terceiro lugar, a introdu- g r u p o de profissionais. E m contrapartida, q u a n d o as diretrizes
cão de u m novo exame ou m o d a l i d a d e de exame (p.ex., P O C T ) são preparadas sob auspicioso controle dos que pagam pela assis-
irá produzir benefícios apenas se u m a alteração c o r r e s p o n d e n t e tência de saúde (governos e c o m p a n h i a s de seguro), as recomen-
n a prática for i m p l e m e n t a d a . Por exemplo, o teste do D-dímero dações p o d e m ser suspeitas de serem medidas de controle de
t e m sido usado para excluir diagnósticos de d o e n ç a t r o m b o e m - custos, que p o d e m prejudicar os pacientes. Neste ú l t i m o caso,
bolítica e, p o r t a n t o , evitar a necessidade de p r o c e d i m e n t o s radio- corre-se o grande perigo de q u e a ausência de evidências de u m
lógicos caros. Esta a b o r d a g e m f u n c i o n a apenas se os médicos benefício a partir de u m a intervenção médica seja interpretada
realmente consideram os resultados do D-dímero e p a r a m de c o m o prova de ausência d o benefício.
pedir os caros exames de imagens, q u a n d o o resultado d o D-
d í m e r o e os achados clínicos indicarem que estes exames n ã o são Etapas do Desenvolvimento de Diretrizes
necessários. Finalmente, m e s m o s e n d o atingida a economia de O desenvolvimento de diretrizes é mais b e m a d o t a d o seguindo-se
custo desejada, o o r ç a m e n t o d e p a r t a m e n t a l i z a d o assegura que as u m p l a n o etapa por etapa. U m e s q u e m a c o m o este é m o s t r a d a
economias são observadas em u m o r ç a m e n t o diferente daquele na Figura 1-4, da qual apenas as questões selecionadas serão
d o laboratório e o o r ç a m e n t o d o laboratório mostra apenas u m discutidas aqui. Para u m a discussão mais detalhada, ver B r u n s e
a u m e n t o d o custo. Felizmente, as desvantagens do o r ç a m e n t o O o s t e r h u i s s ou Oosterhuis et al.ig
14 PARTE ! Princípios Laboratoriais

1. Seleção do tópico

2 OftarrniriaçãiD d o grupo-afw e estabelecimento <te


uivtç) equipo rníjltidígdpftiaf de dss&nvatvJniento da <fwv*ri?

3. Identificação de d«sfer.hn

4. rounufaçíto d* pergunta o busca por ovldèitdae,


tr>cli>lnc*o < ü r a » r l a e & e x i s t e n t e s

5. Avalia çfco cfiíica de <Jtt esti l a » e*_>u evidências prirnárae


a, resumo de dados na tabala de ewid^ioMs

\
Evidências de alto grau para \ nao
Chegamos a um
nao
todas as recomendações?
/ -•< consenso?
\
srrri sim
Desenvolvimento de recomenda-
ções baseadas no consenso
fif FôrmuJeiç^o da r<3>oornendaçõ*s da dhreute

Afirmações ou opiniões curtas não


baseadas e m um consenso

7. Consulta, revisão p<jr especiaUstes, conferência de


consenscv teste piloto
Figura 1 - 4 Enapas n o
desenvolvimento de u m a diretriz de
prática clínica (Modificado dc
<3. Apresentação da diretriz
Oosterhuis WP, Biuns DE, Watine J,
Sandberg S, H o r v a t h AR. Evidence-
based guidelines in laborafcory
9. Ütesair.i nação, iryt(jlémeotapâo
medieme: principies and methods.
Cün Chem 2004;50:806-18.)

10. Monhofafifefikj. avaliação, revteSo

Seleção e Refinamento de um Tópico blema de diabetes e obesidade? H á uma necessidade percebida


A importância crucial desta primeira etapa é semelhante à impor- para redução do custo?
tância da etapa correspondente no desenvolvimento de uma O refinamento do tópico envolve idealmente u m grupo mul-
revisão sistemática. O escopo não pode exceder as capacidades (de tidisciplinar que inclui médicos, especialistas em laboratórios,
tempo, financiamento e especialidade) d o grupo, o tópico não pacientes e prováveis usuários das diretrizes. O escopo será
pode ser sem evidências (ou a diretriz não terá credibilidade) e a afetado pela equipe de apoio (se houver) e suporte financeiro
área tem de ser uma que requeira atenção (ou a diretriz terá pouco disponível para o grupo da diretriz. O custo em geral é subesti-
valor) mado.
As diretrizes podem abordar distúrbios clínicos (como diabe-
tes e doença hepática), sintomas (dor torácica), sinais (sangra- Determinação de Grupo-Alvo e Estabelecimento
mento anormal) ou intervenções, sejam elas terapêuticas de uma Equipe Multidisciplinar de
(angioplastia coronariana e ácido acetilsalicílico) ou diagnosticas Desen voivimen to
(marcadores cardíacos). A prioridade paia urna diretriz deve ser: O público almejado deve ser identificado: são enfermeiros,
Há uma variação na prática que sugira incerteza? A questão é de médicos clínicos gerais, médicos especialistas, especialistas de
importância para a saúde pública, como no aumento do pro- laboratórios ou pacientes?
Introdução à Química Clínica e Medicina Laboratorial Baseada em Evidências CAPÍTULO 1 15

Esquema para Graduação da Força das TABELA 1 - 4 I Hierarquia dc Critérios para Especificações

Nível
Recomendações nas Diretrizes Clínicas
Características
L nivei •ase
de Qualidade

A Diretamente baseada na metanálise de RCTs ou em pelo 1A Tomada de decisão clínica: uso de exame em situações
menos um RCT clinicas específicas
B Diretamente baseado em pelo menos um estudo controlado 18 Tomada de decisão clínica: uso de exame na medicina
sem ranúomização ou pelo menos um outro tipo de em geral
estudo "quase-experimental" ou extrapolado de RCTs 2 Diretrizes - "especialistas"
C Diretamente baseado em estudos não experimentais 3 Reguladores ou organizadores de projetas de garantia de
ou extrapolado de RCTs ou estudos não randomizados qualidade externos
• Diretamente baseado em relatos de especialistas ou 4 Estado da arte em dados publicados

CG, Petersen PH. Anafyrical performance chmacter


opinlãc ou experiência de autoridades, ou extrapolado
De FIOSCT
de RCTs, estudos não randomizados ou estudos não
againsi objective quality speci/icarions. Ciin CFiem. 1999;45m3
experimentais

De Sfifilueile PG, Woolf SH, Eccles iA, Grimshauj ]. CIÍTIÍMI giiídelincsr jgveloping
gHÍddmfs. BMJ 1999-,318:593-6.
das opiniões de cada pessoa. Recomenda-se o uso de subgrupos
q u e e n f o q u e m questões específicas, com u m comitê geral de
gestão responsável pela coordenação e produção da diretriz final.
QUADRO 1 - 2 Sistema de Classificação da Força de um
O u t r a s formas de uso dos subgrupos p o d e m ser empregadas.
Corpo de Evidências19

QUALIDADE DOS ESTUDOS PRIMÁRIOS E REVISÕES: CLASSIFICAÇÃO DO


identificação e Avaliação das Evidências
NÍVEL DE EVIDÊNCIA DOS ARTIGOS ISOLADAMENTE Q u a n d o disponíveis, as revisões sistemáticas bem realizadas
la Metanálise ou revisão sistemática baseada em pelo menos vários f o r m a m a parte mais i m p o r t a n t e da base de evidências para as
estudos de nível lb diretrizes. As revisões sistemáticas são necessárias q u a n d o se
lb Experimento diagnóstico ou estudo de desfecho de boa qualidade espera variação entre os estudos, algumas vezes atribuível a efeitos
II Experimento diagnóstico ou estudo de desfecho de qualidade p e q u e n o s demais para serem m e d i d o s . O n d e não existem revi-
média, pacientes insuficientes ou outros experimentos (controle de sões sistemáticas, o grupo efetivamente deve adotar medidas para
caso, outros projetos)
produzir u m a . O nível de evidências q u e sustentam cada conclu-
III Estudos descritivos, relatos de casos, outros estudos
são na revisão afetará as r e c o m e n d a ç õ e s feitas nas diretrizes.
IV instruções de comitês, opinião de especialistas etc, revisão; não
sistemático
A Tradução das Evidências em uma Diretriz e a
CLASSIFICAÇÃO DA FORÇA DA EVIDÊNCIA QUE SUSTENTA AS Graduação da Força das Recomendações
RECOMENDAÇÕES DAS DIRETRIZES O s processos para atingir as recomendações d e n t r o de u m g r u p o
A Sustentado por pelo menos dois estudos independentes de nível lb ou especialista são precariamente compreendidos. Para as diretrizes
uma revisão de nível la ("foi mostrado/demnnstrado") da prática clínica, o processo p o d e envolver o equilíbrio de custos
B Sustentado por pelo menos dois estudos Independentes de nível II e benefícios após os valores serem determinados e a força das
("é plausível") evidências ser avaliada. Evidências conclusivas para as recomen-
C Não sustentado por estudos suficientes de nível I ou li ("indicações") dações estão r a r a m e n t e disponíveis. O s autores das diretrizes,
D Conselho de especialistas etc. ("não há provas") p o r t a n t o , têm u m a responsabilidade ética de esclarecer b e m o
nível de evidências que sustenta cada recomendação.
Vários esquemas estão disponíveis para graduação d o nível
de evidência e u m deles deve ser a d o t a d o e usado de m a n e i r a
A e q u i p e deve incluir representantes de todos os grupos explícita. U m bem simples, c o m quatro níveis b e m típicos (A até
principais envolvidos n o t r a t a m e n t o d o distúrbio-alvo. N o desen- D), é m o s t r a d o na Tabela 1-3. U m esquema mais complexo é
volvimento de diretrizes na medicina laboratorial, as equipes m o s t r a d o n o Q u a d r o 1-2. Para u m a abordagem recente e dife-
incluem idealmente especialistas clinicos relevantes, especialistas rente, ver Atkins et al O nível de evidências n e m sempre prevê
em laboratórios, metodologistas (para experiência em estatística, a força de u m a r e c o m e n d a ç ã o p o r q u e as recomendações p o d e m
pesquisa na literatura, avaliação crítica e desenvolvimento de requerer extrapolação dos resultados dos estudos. Por exemplo,
diretrizes) e aquelas q u e p r e s t a m serviços (como os profissionais múltiplos estudos que s u s t e n t a m o uso de u m fármaco p o d e m
de e n f e r m a g e m e pacientes para diretrizes de m o n i t o r a m e n t o ter sido b e m feitos e u m a revisão sistemática competente p o d e
doméstico da glicose; técnicos de laboratório e administradores estar disponível, de forma q u e as evidências possam ser graduadas
para u m a diretriz q u e aborde os tempos de execução para marca- n o m e s m o nível. E n t r e t a n t o , se os estudos foram feitos em
dores cardíacos). adultos e as diretrizes forem p a r a crianças, a força da recomen-
O s potenciais conflitos d e interesse de todos os m e m b r o s têm dação p o d e ser pequena. 8
que ser observados. O papel dos patrocinadores (comerciais ou O nível mais alto de evidências é raro nas diretrizes n o uso de
sem fins lucrativos) n o processo de desenvolvimento da diretriz, exames diagnósticos. Na m a i o r parte destas diretrizes, a maioria
se há, deve ser consensual e registrado. Idealmente, h á u m a das recomendações é baseada na opinião de u m especialista. A
equipe d e apoio disponível para a organização de reuniões e medida que mais estudos são publicados sobre a acurácia diagnós-
conferências e paTa o auxílio com publicação e outras formas de tica dos exames e sobre a relação destes exames com os desfechos,
disseminação (p.ex., audioconferências). deve-se reduzir a dependência das diretrizes em uma "opinião".
Recomendam-se grupos m í n i m o s de seis c o m p o n e n t e s . Para estabelecimento de u m objetivo analítico ou "especifica-
G r u p o s c o m mais de 12 a 15 pessoas p o d e m inibir a expressão ções de qualidade" para métodos analíticos nas diretrizes, rara-
1G PARTE I Princípios Laboratoriais

mente os experimentos clínicos controlados randomizados identificar a


(estudos de desfecho) estão disponíveis. U m a diferente hierarquia pergunta
de evidências (Tabela 1-4) p o d e ser útil para graduar estas reco-
mendações relacionadas c o m laboratórios. O nível mais alto de
auditar a
evidências é a evidência relacionada com necessidades clínicas. E
prática
concebível que mesmo a modelagem estatística de decisões clíni-
cas específicas poderia ser considerada como u m subtipo de
evidência relacionado com as necessidades médicas. Por exemplo,
u m estuda de modelagem p o d e mostrar como as taxas de classi-
ficação errônea d o risco cardíaco são aumentadas q u a n d o os procurar
exames de colesterol apresentam viés analítico. E m b o r a estes evidências
modificar a
estudos n ã o d e m o n s t r e m u m efeito nos desfechos do paciente prática
("real"), eles p o d e m ser u m avanço marcante sobre os relatos de
casos isolados.

\
O nível 1B na Tabela 1-4 refere-se primariamente aos conceitos aplicar na
de variação biológica intrapessoal e interpessoal. Os níveis de prática
desempenho ótimo, desejável e mínimo tanto para imprecisão
como viés foram definidos com base nesres conceitos. Atender a avaliar
estes objetivos de desempenho assegura que a imprecisão analítica evidências
é pequena se comparada com as variações normais diárias que criticamente
ocorrem em u m indivíduo. Assim, q u a n d o um exame é usado para
monitorar u m distúrbio d o paciente, a variabilidade analítica não
é uma questão importante. D e maneira semelhante, o objetivo para Figura 1-S Ciclo de auditoria. {De Price CP. Evidence-based
o viés é tomá-lo pequeno se comparado com a variação entre os laboratory medicine: s u p p o i t i n g decision-making. Clin C h e m
indivíduos. Então, os intervalos de referência (anteriormente cha- 2000:4^:1041-50.)
mados de "faixas normais") para um exame em u m determinado
grupo de referência não será afetado pela pequena quantidade de usada como parte do exercício de administração mais amplo de
erro ou viés analíticos. O uso deste tipo de especificação de quali- aferição do d e s e m p e n h o com o uso d e indicadores de desempe-
dade para imprecisão e viés parece apropriado nas diretrizes. Na n h o relevantes em comparação ao desempenho dos especialistas.
verdade, a falha em usat esta abordagem é difícil de justificar porque A auditoria pode ser usada para: (1) resolver problemas, (2)
as dados sobre a variação biológica intrapessoal e interpessoal estão m o n i t o r a r a carga de trabalho n o contexto da d e m a n d a de con-
disponíveis para praticamente todos os exames comumente usados. trole, (3) monitorar a introdução de u m novo exame e / o u
A capacidade de usar exames para monitoramento e a capacidade mudança n a prática e (4) m o n i t o r a r a adesão às melhores práticas
de usar intervalos de referência comuns dentro de u m a população (p.ex., com diretrizes).
podem ser consideradas objetivos centrados n o paciente em u m Os componentes do ciclo de auditoria são descritos na Figura
sentido amplo, ou mesmo em u m sentido estreito. 1-5. Todas as atividades da auditoria são encontradas na prática
da medicina laboratorial baseada em evidências. Há uma pergunta
Obtenção de Revisão Externa e Atualização clínica para a qual o resultado do exame deve fornecer u m a res-
posta, e a resposta conduzirá a uma decisão a ser feita e u m a ação
das Diretrizes
a ser adotada, levando a u m a melhora do desfecho de saúde.
Três tipos de examinadores externos p o d e m avaliar a diretriz22-.
• Especialistas clínicos n a área - para avaliar a integridade
da revisão literária e a racionalidade das recomendações; Auditoria para Ajudar a Resolver Problemas
Todas as auditorias envolvem a coleta de dados observacionais e
• Especialistas em revisão sistemática e desenvolvimento
a comparação com u m p a d r ã o ou especificação. Em muitos casos
de diretrizes - para revisar o processo de
não existe u m padrão e talvez n e m m e s m o u m a especificação.
desenvolvimento da diretriz;
Nestes casos, o primeiro passo do processo de auditoria é estabe-
• Potenciais usuários das diretrizes. lecer u m a especificação. Esta especificação pode então gerar
Além disso, periódicos, organizações patrocinadoras e outros observações, que p o d e m levar à criação de u m padrão. N o prin-
potenciais endossantes das diretrizes p o d e m empreender revisões cípio, ela fornece a medida comparativa com a qual julgar os
formais. C a d a u m a destas revisões pode adicionar valor. dad os de d e s e m p e n h o coletados.
C o m o parte do processo de desenvolvimento de diretrizes, Resolver u m problema relacionado com u m processo pode
deve-se desenvolver u m p l a n o para atualização. A importância primeiramente envolver a coleta de dados sobre aspectos do pro-
desta etapa é enfatizada pelo achado de que u m a das razoes mais cesso q u e são considerados como t e n d o influência n o desfecho
c o m u n s para não adesão às diretrizes é sua desatualização. Cerca com o objetivo de identificar as etapas limitantes. Por exemplo,
de metade das diretrizes publicadas estão desatualizadas em 5 a u m estudo dos tempos de execução para o resultado do exame
7 anos e não mais que 9 0 % das conclusões ainda são válidas após pode coletar dados sobre t e m p o de espera da flebotomia, quali-
3 a 5 anos. Estes achados sugerem que n intervalo de t e m p o entre dade da identificação do paciente, tempo de transporte, tempo de
a conclusão e revisão de u m a diretriz deve ser curto. registro da amostra, qualidade de identificação da amostra, tempo
de preparação da amostra, tempo de análise, tempo de validação
AUDITORIA CLÍNICA do resultado do exame e t e m p o para entrega do exame.
Na assistência à saúde, o termo "auditoria" refere-se à revisão das
histórias de casos dos pacientes comparando-a com o referencial Auditoria para Monitorar Carga de Trabalho e
de excelência da prática clínica vigente. A auditoria clínica pode Demanda
melhorar a prática clínica, embora os efeitos sejam modestos. U m A verdadeira d e m a n d a para u m exame dependerá d o n ú m e r o
papel mais geral para a auditoria, contudo, é que ela pode ser de pacientes e do espectro da doença n o grupo para o qual o
Introdução à Química Clínica e Medicina Laboratorial Baseada em Evidências CAPÍTULO 1 17

exame e apropriado. D u r a n t e a c o n d u ç ã o de u m a auditoria de pleto de educação dos usuários foi concluído e que quaisquer
carga de trabalho para u m exame, é possível fazer algumas per- outras mudanças na prática foram acomodadas na clínica e / o u
guntas que a b o r d e m a adequação dos pedidos de exame. Estas rotinas da enfermaria.
perguntas, que p o d e m ser feitas por m e i o de u m questionário,
incluem: Auditoria para Monitorar Adesão à Melhor
• Q u e pergunta clínica está sendo feita?
Prática
• Q u e decisão será auxiliada pelos resultados d o exame?
Este é o cenário q u e provavelmente melhor reflete a f o r m a pela
• Q u e ação será adotada após a decisão?
qual a "auditoria clínica" foi primeiramente contemplada e pra-
• Q u e riscos estão associados ao não-recebimento d o
ticada. Tipicamente, ela se baseia na revisão de casos randomi-
resultado?
camente selecionados a partir de uma equipe clínica com a
• Quais são os desfechos esperados?
revisão feita p o r u m médico i n d e p e n d e n t e . Esta abordagem é
• H á evidências que sustentem o uso d o exame neste caso?
que apresenta maior probabilidade de identificar q u a n d o u m
• E, para exames pedidos com urgência, p o i que este
exame n ã o foi realizado e de identificar exames desnecessários.
resultado de exame foi p e d i d o com urgência?
A auditoria é mais b e m realizada q u a n d o comparada com alguma
Esta abordagem é propensa a identificar o uso desnecessário
forma de referencial de excelência, que pode ser u m a diretriz
ou equivocado dos exames e exemplos de uso d o exame errado.
local, regional ou nacional; u m a diretriz terá usado a melhor
C o m o advento d o p e d i d o eletrônico e do p r o n t u á r i o eletrônico,
evidência e p o r t a n t o removido as diferenças de opinião que
é possível construir esta abordagem em u m a prática rotineira.
p o d e m existir entre as equipes clínicas.
As ações que p o d e m seguir as respostas a estas perguntas
incluem: (1) feedback dos resultados aos usuários; (2) reeducação
dos usuários; (3) identificação de necessidades n ã o atendidas e APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DE MEDICINA
pesquisa para satisfazer, p o r exemplo, u m a necessidade de acon-
LABORATORIAL BASEADA EM EVIDÊNCIAS
s e l h a m e n t o sobre u m exame alternativo; (4) criação de u m algo-
r i t m o ou diretriz sobre o uso do exame e (5) fazer n o v a m e n t e
NA PRÁTICA DE ROTINA
O s princípios da medicina laboratorial baseada em evidências
u m a auditoria após 6 meses para revisar as m u d a n ç a s na prática.
p o d e m servir de base para a forma c o m o a medicina laboratorial
U m algoritmo p o d e ser integrado ao pacote de pedidos eletrô-
é praticada, desde a descoberta de u m novo exame diagnóstico
nicos para fornecer uma barreira automática paTa pedidos ina-
até sua aplicação n o cuidado de rotina do paciente. O s princí-
propriados (p.ex., evitar que provas de f u n ç ã o hepática sejam
pios fornecem a lógica pela qual todos os elementos da prática
pedidas todos os dias).
são f u n d a m e n t a d o s . As ferramentas da medicina laboratorial
baseada em evidências fornecem os meios para a prestação da
Auditoria para Monitorar a Introdução de um mais alta qualidade de serviço ao a t e n d e i às necessidades dos
Novo Exame pacientes e profissionais de saúde que os servem. A aplicação da
U m a auditoria p o d e ser usada para assegurar: (1) que a m u d a n ç a prática baseada em evidências é m u i t o mais complexa para a
na prática que deve a c o m p a n h a r a introdução de u m novo medicina laboratorial d o que para as intervenções terapêuticas,
exame ocorreu e (2) que os desfechos originalmente previstos mas são cruciais para o sucesso.
estão sendo atingidos. O desenvolvimento de qualquer novo
exame deve levar a evidências que identifiquem a maneira c o m o
o exame está sendo usado, incluindo:
• Identificação da(s) pergunta(s) clínicas, coorte de REFERÊNCIAS
pacientes e local clínico; 1. Atldns D, Best D, Briss PA, Eccles M, Falclc-YttcT Y, Flottorp S, et al.
• Identificação de exigências pré-analíticas e analíticas (GRADE Working Group). Grading quality of evidence and strength of
para o exame; recommendations. BMJ 2004;328:1490.
• Identificação de qualquer algoritmo n o qual o exame 2 Bissel MG Laboratoiy related measures of parient outcomes: an
possa ser inserido (p.ex., em c o n j u n ç ã o com outros introduction. "Washington, DC. AACC Press, 2000; 194pp.
exames, sinais ou sintomas); 3. Bossuyr PM, Lijmei JG, Mol BW. Randomised comparisons of
• Identificação da(s) decisão(ões) com probabilidade de medicai tests: sometimes invalid, not always efficient Lancei
ser(em) tomada(s) ao se receber o resultado; 2000;356:1844-7.
• Identificação dã(s) ação(ões) com probabilidade de 4 Bossuyt PM, Reitsma JB, Bnms DE, Gatsonis CA, Glasziou PP, Iiwig
ser(em) empreendida(s) ao se receber o resultado; LM, et al. Towards complete and accurate reporting of studies of
diagnostic accmacy: the STARD initiatíve. Standards for Repotting of
• Identificação do(s) desfecho(s) provável(is);
Diagnostic Accuracy. Clin Chem 2003;49:1-6.
• Identificação de quaisquer riscos associados à
5. Bossuyt PM, Reitsma JB, Bruns DE, Gatsonis CA, Glasziou PP,
introdução de u m novo exame;
Irwig LM, et al. The STARD statement for reporting studies of
• As evidências (e força destas evidências) que sustentam
diagnostic accuracy: explanation and elaboration. Clin Chem
o uso do exame e os desfechos a serem esperados;
2003;49:7-18.
• Identificação de quaisquer mudanças na prática (p ex., 6. Bossuyt PM The quallry of reporting in diagnostic cest research: getring
exclusão de outro exame da análise laboratorial, better, still not opcimal Clin Chem 2004,50.458-6.
m u d a n ç a para P O C T e redução da carga de trabalho 7. Boyd JC, Deeks JJ. Analysis and presentation of data. In: Piice CP,
no laboratório) Christenson RH, eds. Evidence-based laboratory medicine: from
Este "resumo d o uso" e portfólio de evidências f o r m a a base principies to outcomes. Washington: AACC Press, 2003:115-36.
do " p r o c e d i m e n t o de operação padrão" para o uso clínico do 8. Bruns DE, Oosterhuis WP. From evidence to guidelines. In. Price CP,
exame, o cerne d o material educacional para usuários do serviço Christenson RH, eds. Evidence-based laboratoiy medicine: from
e a base para c o n d u ç ã o da auditoria. principies to outcomes, Washington: AACC Press, 2003:187-208.
Antes de fazer a auditoria da introdução de u m novo exame, 9. Deeks JJ. Systematic reviews in health care: systematic revíews of
obviamente é i m p o r t a n t e ter assegurado que u m programa com- evaluations of diagnostic and screening tests. BMJ 2001^323 157-62
ia PARTE I Princípios Laboratoriais

10. Frazier AL, Colditz GA, Fuchs CS, Kuncz KM. Cosr-eFfectiveness of 16. Líjmer JG, Mol BW, Heisterkamp S, Bonsel GJ, Prins M H , van der
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2002;736 pp.
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12. Hnrvath AR, Pewsner D, Eggcr M. Systcmacic reviews in laboratory
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CAPÍTULO 2

Introdução aos Princípios de


Análise e Segurança Laboratorial
Edward W. Bermes, Jr., Ph.D., Stephen E. Kahn, Ph.D., D.A.B.C.C., F.A.C.B.,
e Donald S. Young, M.B., Ch.B., Ph.D.

OBJETIVOS Diluição: O processo (diluindo) de redução da concentração de


1. Explicar as propriedades de solutos, solventes e soluções e um soluto pela adição de solvente adicional.
Ergonomia: O estudo de suscetibilidades em lelação ao
expressar e calcular a concentração de soluções usando vários
trabalho exigido pela definição de posturas que minimizam
métodos.
o trabalho estático desnecessário e reduzem as forças que
2. Definir unidades de medida e relacionar as diferenças entre várias atuam sobre o corpo.
unidades. Ficha de Informação de Segurança de P r o d u t o (MSDS): U m
3. Distinguir os diferentes tipos de água usados em laboratório de boletim técnico que contém informações sobre uma
acordo com o preparo e o uso. substância química perigosa, tais como a composição
4. Listar as diferentes pipetas disponíveis, de acordo com seu uso, tipo química, os riscos químicos e físicos e as precauções para
e capacidade, e descrever como calibrá-las. manuseio e uso seguros.
Gravimetria: O processo de medição da massa (peso) de uma
5. Entender centrifugação e balanças e a terminologia relacionada a
substância.
cada uma delas e calcular RCF e rpm quando a informação
Material de Referência: U m material ou substância, com uma
apropriada é dada. ou mais propriedades físicas ou químicas suficientemente
6. Descrever um átomo e definir número atômico, número de massa, bem estabelecidas, para ser usado para a calibração de um
isótopo, meia-vida e nuclídeo. aparelho, para a verificação de u m método de medida ou
7. Definir decaimento radioativo. para atribuir valores a materiais. Certificados primário e
8. Listar quatro tipos de decaimento radioativo, o tipo de partícula secundário são tipos de materiais de referência.
produzida por cada um e o modo como cada tipo interage com a Material de Referência Certificado: U m material de referência
que tem um ou mais valores certificados por um
matéria.
procedimento tecnicamente válido e é acompanhado, ou
9. Explicar os princípios de auto-radiografia e de contagem de
reconhecido, por um certificado ou outro documento, por
cintilação. um corpo certificador.
10. Listar dois tipos de contadores de cintilação e seus usos no Material de Referência Primário: U m material perfeitamente
laboratório. caracterizado, estável, homogêneo, do qual uma ou mais
11. Descrever os perigos da radiação e os riscos da exposição à propriedades físicas ou químicas foram determinadas
radiação. experimentalmente dentro de medidas fixadas. Usado para
12. Reconhecer e interpretar os vários sinais de risco em laboratório e calibração de métodos definitivos; no desenvolvimento)
explicar o método de ação apropriado quando ocorre um acidente.
estimativa e calibração de métodos de referência; e para
atribuir valores a um material de referência secundário.
13. Descrever as Precauções Universais e o Plano de Exposição ao
Material de Referência-Padrão (SRM): Um material de
Perigo da OSHA. referência certificado (CRM) que é certificado e distribuído
14. Explicar a proposta de um programa ergonômico. pelo National Institute of Standards and Technology
(NIST), uma agência do governo dos EUA antes conhecida
como National Bureau of Standards (NBS).
Material de Referência Secundário: U m material de referência
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES que contém u m ou mais analitos em uma matriz que
Agua de Grau Reagentes Agua purificada e classificada para reproduz ou estimula a matriz esperada. Usado
usos analíticos específicos. primariamente para propósitos internos ou externos de
Análise: As etapas de procedimento desenvolvidas para garantia de qualidade.
determinar o tipo ou a quantidade de u m analito em um Meia-vida: O período de tempo necessário para um
espécime. radionuclídeo decair à metade da quantidade presente
Analito: Uma substância ou u m constituinte para o qual o originalmente.
laboratório conduz o teste. Partícula Beta (P): Elétron de alta energia emitido como
Auto-radiografia: Uso de uma emulsão fotográfica (filme de resultado de um decaimento radioativo.
raios X) para visualizai moléculas radioativamente Patógenos Hematogênicos: Microrganismos patogênicos que
marcadas. estão presentes no sangue humano. Estes patógenos incluem
Balança: U m instrumento usado para pesar. o vírus da hepatite B (HBV) e o vírus da imunodeficiência
Centrifugação: O processo de separação de moléculas por humana (HIV), mas não se limitam a eles.
tamanho ou densidade usando foiças centrífugas geradas Plano de Controle de Exposição: U m conjunto de instruções
por uma rotação do rotor. Forças G de várias centenas de escritas descrevendo os procedimentos necessários para
milhares de vezes a gravidade são geradas na proteger trabalhadores de laboratório contra a exposição
ultracentrifugação. potencial a patógenos hematogênicos.
20 PARTE I Princípios Laboratoriais

P l a n o d e H i g i e n e Q u í m i c a s U m c o n j u n t o de instruções d e solução, u s u a l m e n t e o decilitro. E n t r e t a n t o , o S i s t e m a I n t e r


escritas d e s c r e v e n d o os p r o c e d i m e n t o s necessários para n a c i o n a l d e U n i d a d e s (SI) r e c o m e n d a o u s o d e moles d e solute
prot eger os e m p r e g a d o s d e riscos à s a ú d e , r e l a c i o n a d o s às p o r v o l u m e d e solução p a r a c o n c e n t r a ç õ e s d e a n a l i t o ( c o n c e n t r a
substâncias q u í m i c a s presentes rio l a b o r a t ó r i o . ções d e substância), s e m p r e q u e possível, e o u s o d e litro comc
Precauções Universais: U m a abordagem para o controle de o v o l u m e d e referência. E m b o r a c o n s i d e r a d o i n c o r r e t o e i n a p r o
infecção. D e a c o r d o c o m o c o n c e i t o das Precauções p r i a d o p o r metrologistas, a c o n c e n t r a ç ã o d e massa t a m b é m <
Universais, t o d o s a n g u e h u m a n o ou certos f l u i d o s relatada c o m o gramas p o r c e n t o ou p o r c e n t o . É assim q u e aí
orgânicos h u m a n o s são t r a t a d o s c o m o se f o s s e m i n f e c t a d o s c o n c e n t r a ç õ e s d e e t a n o l n o s a n g u e são t i p i c a m e n t e expressas
p e l o HIV, H B V e o u t r o s p a t ó g e n o s h e m a t o g ê n i c o s .
Essa t e r m i n o l o g i a indica u m a q u a n t i d a d e d e s o l u t o p o r massí
Radioatividade! Decaimento espontâneo de átomos
d e solução (p. ex., g r a m a s p o r 100 g) e seria a p r o p r i a d a somentE
(radionuclídeos) q u e p r o d u z r a d i a ç ã o detectável.
se o material d e referência c o n t r a o qual o d e s c o n h e c i d o fosse
R a i o G a m a : F ó t o n d e alta energia e m i t i d o c o m o r e s u l t a d o de
c o m p a r a d o tivesse s i d o t a m b é m m e d i d o d o m e s m o m o d o . U m í
d e c a i m e n t o radioativo.
S i s t e m a I n t e r n a c i o n a l d e U n i d a d e s (SI): U m sistema d e exceção à expressão u s u a l d e c o n c e n t r a ç õ e s d e analito e m termos
m e d i d a s a d o t a d o i n t e r n a c i o n a l m e n t e . As u n i d a d e s d o d e v o l u m e de solução é a m e d i d a d e o s m o l a l i d a d e , n a q u a l a;
sistema são c h a m a d a s u n i d a d e s d o SI. c o n c e n t r a ç õ e s são expressas c o m o massa d e solvente ( m O s m o l /
S i s t e m a M é t r i c o : U m sistema de pesos e m e d i d a s b a s e a d o n o kg o u m m o l / k g ) .
metro como unidade padrão de comprimento. Q u a n d o a solução e o solvente são a m b o s líquidos, c o m o naí
T a m p ã o : U m a solução o u u m r e a g e n t e q u e resiste à m u d a n ç a soluções alcoólicas, a c o n c e n t r a ç ã o de tal solução é freqüente-
d e p H após a adição de u m á c i d o o u u m a base. m e n t e expressa c o m o v o l u m e p o r v o l u m e (vol/vol). Adicionando-
T e s t e : N o l a b o r a t ó r i o clínico, u m teste é u m p r o c e d i m e n t o se 70 m L d e álcool a u m frasco e c o m p l e t a n d o c o m água para um
qualitativo, semiqualitativo, q u a n t i t a t i v o o u v o l u m e d e 100 mL, u m a solução cuja c o n c e n t r a ç ã o é 7 0 0 m L / L
s e m i q u a n t i t a t i v o p a r a detectar a presença ou m e d i r a p o d e r i a ser obtida. A expressão "700 m L / L " p o d e ser substituída
q u a n t i d a d e d e u m a n a l i t o e m u m espécime. p o r alternativas 70 v o l u m e s p o r c e n t o o u 7 0 % (vol/vol).
As equações abaixo d e f i n e m as expressões d e concentrações:

P
ara realizar análises qualitativas o u quantitativas confiáveis de
fluidos e tecidos d o corpo, o laboratorista precisa e n t e n d e r
os princípios e procedimentos básicos que afetam o processo e a massa (g)
mol =
operação analíticos d o laboratório clínico. Estes incluem o conhe-
p e s o m o l e c u l a r e m gramas (g)
c i m e n t o d e (1) conceito d e soluto e solvente; (2) u n i d a d e s de
medida; (3) materiais d e referência e substâncias químicas; (4)
técnicas básicas, tais c o m o amostragem volumétrica e descarte, cen-
trifugação, m e d i d a de radioatividade, gravimetria, termometria,
n ú m e r o d e moles de s o l u t o
solução t a m p ã o e processamento de soluções e (5) segurança.*
M o l a r i d a d e d e u m a solução =
n ú m e r o d e litros d a solução

CONCEITO DE SOLUTO E SOLVENTE


M u i t a s análises n o l a b o r a t ó r i o clínico estão interessadas n a deter-
n ú m e r o de moles d o s o l u t o
m i n a ç ã o da p r e s e n ç a d e substâncias ou n a c o n c e n t r a ç ã o destas
Mol ali d a d e da solução =
substâncias e m soluções, s e n d o a m a i o r i a das soluções f r e q ü e n -
n ú m e r o d e q u i l o g r a m a s d o solvente
t e m e n t e sangue, soro, u r i n a , l í q u i d o e s p i n h a l o u o u t r o s f l u i d o s
d o c o r p o ( C a p í t u l o 3).

N o r m a l i d a d e d e u m a solução
Definições n ú m e r o d e equivalentes g r a m a d o s o l u t o
U m a solução é u m a mistura h o m o g ê n e a de u m o u mais solutos
dispersos m o l e c u l a r m e n t e n u m a q u a n t i d a d e suficiente d e u m sol- n ú m e r o d e litros d o solvente
vente. N a prática d e laboratório, os solutos são t i p i c a m e n t e m e d i d o s
e são f r e q ü e n t e m e n t e conhecidos c o m o analitos U m a solução
p o d e ser gasosa, líquida ou sólida. U m laboratorista clínico está
interessado p r i n c i p a l m e n t e nas m e d i d a s de gases o u sólidos e m Peso d o equivalente g r a m a ( c o m o o x i d a n t e o u r e d u t o r )
líquidos, o n d e há sempre q u a n t i d a d e s relativamente grandes d e p e s o da f ó r m u l a (g)
solvente e m comparação c o m a q u a n t i d a d e d e soluto.
d i f e r e n ç a n o estado d e oxidação

Expressando Concentrações de Soluções


N o s Estados LJnidos, os resultados analíticos são t i p i c a m e n t e
r e l a t a d o s e m t e r m o s de massa de s o l u t o p o r u n i d a d e d e v o l u m e Por exemplo, u s a n d o estas equações, u m a solução 1 molar d e H 2 S 0 4
c o n t é m 9 8 , 0 8 g de H 2 S 0 4 p o r litro de solução. (Nota: O símbolo
M, para d e n o t a r molaridade n ã o é mais aceito e t e m sido substituído
p o r m o l / L ) . U m a solução molal c o n t é m 1 m o l de soluto e m 1 k g
"Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias dos Drs. de solvente e é a d e q u a d a m e n t e expressa c o m o m o l / k g .
Edward R. Powsner e J o h n C. W i d m a n nas quais se baseia a parte Medição N o passado, miliequivalente ( m E q ) foi u s a d o p a r a expressar
d e Radioatividade deste capítulo. a c o n c e n t r a ç ã o de u m eletrólito n o plasma. A g o r a , a u n i d a d e
Introdução aos Princípios de Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 21

recomendada pata expressar a concentração de u m eletrólito n o acordo com o SI, mas que n ã o foi classificada n e m c o m o básica
plasma é milimoles por litro (mmol/L). Por exemplo, se u m a n e m como derivada. N o m o m e n t o somente o radiano (para
amostra contém 322 mg de Na por litro, a concentração molar ângulos planos) e o esterradiano (para ângulos sólidos) são clas-
de Na é: sificados desta forma.
A Conférénce Générales des Poids et Measures (CGPM) reco-
1 /t mg/L 3 2 2 x 10 x 1 1, nhece que algumas unidades fora d o SI c o n t i n u a m a ser impor-
mmol/L = — = 140 m m o l / L
massa molecular em mg 23 tantes e úteis em aplicações particulares. U m exemplo é o litro
c o m o volume de referência em análises clínicas. Litro é o n o m e
do submúltiplo (decímetro cúbico) da unidade do SI para volume,
N a prática do laboratório clínico, u m a titulação é conceituada
o metro cúbico. Considerando que 1 metro cúbico representa
c o m o a m e n o r diluição na qual u m a determinada reação ocorre.
cerca de 200 vezes o volume sanguíneo de u m adulto h u m a n o , a
A titulação é usualmente expressa c o m o u m a razão, p. ex., LIO
unidade de volume do SI não é u m volume de referência adequado
ou 1 para 10.
ou razoável n u m contexto clínico. C o n t u d o , a C G P M recomenda
C o m relação aos gases em solução, a lei de H e n r y afirma que
que tais unidades excepcionais, como o litro, n ã o devem ser com-
a solubilidade de u m gás em u m líquido é diretamente proporcio-
binadas com unidades do SI e devem ser preferencialmente subs-
nal à pressão do gás sobre o líquido em equilíbrio. Então, q u a n d o
tituídas por unidades do SI sempre que possível.
a pressão de u m gás dobra, sua solubilidade também é duplicada.
M i n u t o , hora e dia têm sido usados há t a n t o tempo na vida
A relação entre a pressão e a solubilidade varia com a natureza do
cotidiana que é improvável que novas unidades do SI derivadas
gás Q u a n d o vários gases são dissolvidos ao mesmo t e m p o em u m
do segundo possam substituí-los. Algumas outras unidades não-
único solvente, a solubilidade de cada gás é proporcional à sua
SI são ainda aceitas, embora sejam raramente usadas pela maioria
pressão parcial na mistura. A solubilidade da maioria dos gases
dos indivíduos nas suas vidas diárias, e têm sido m u i t o impor-
em líquidos diminui com um a u m e n t o de temperatura e, de fato,
tantes em alguns campos especializados. Detalhes do SI são
a fervura de u m líquido f r e q ü e n t e m e n t e expulsa todos os gases
encontrados na versão ampliada deste capítulo. 1
dissolvidos. Tradicionalmente a unidade usada para descrever a
concentração de gases em líquidos tem sido volume por cento de
gases (vol/vcil). Usando-se n SI, as concentrações de gases são
Múltiplos e Submúltiplos Decimais
Na aplicação prática de unidades, certos valores são muito gran-
expressas em moles por metro cúbico (mol/m 1 ).
des ou m u i t o pequenos para serem expressos convenientemente.
Valores numéricos são trazidos para o t a m a n h o conveniente
UNIDADES DE MEDIDA
q u a n d o a u n i d a d e é apropriadamente modificada por prefixos
U m a medida significativa é expressa com u m n ú m e r o e uma uni-
oficiais (Tabela 2-3).
dade. A unidade identifica a dimensão — massa, volume ou con-
centração — de uma propriedade medida. O n ú m e r o indica quantas
unidades estão contidas na propriedade.
Aplicações do SI no Laboratório Médico
Muitas organizações internacionais de laboratórios clínicos e
Tradicionalmente, as medidas n o laboratório clínico têm sido
sociedades profissionais nacionais têm aceitado as unidades do
feitas em unidades métricas. N o início d o desenvolvimento d o
sistema métrico, foram recomendadas unidades para compri-
m e n t o , massa e tempo. Os primeiros sistemas absolutos foram
baseados em centímetro, grama e segundo (CGS) e posterior-
TABELA 2-1 U n i d a d e s - B a s e d o SI
mente, em metro, quilograma e segundo (MKS). O SI é u m
sistema diferente que foi aceito internacionalmente em 1960. As Quantidade Nome Símbolo

unidades do sistema são d e n o m i n a d a s unidades d o SL Comprimento metro m


Massa quilograma kg
Sistema Internacional de Unidades Tempo segundo s
As unidades básicas, derivadas e suplementares são as três classes Corrente elétrica ampere A
das u n i d a d e s do SL 13 As oito unidades f u n d a m e n t a i s básicas Temperatura termodinâmica kelvin K
estão listadas na Tabela 2-1. U m a unidade derivada é derivada Quantidade de substância mol mel
matematicamente a partir de duas ou mais unidades básicas Intensidade luminosa cardela cd

(Tabela 2-2). U m a unidade suplementar é u m a u n i d a d e q u e está de Quantidade catalítica katal kat

T A B E L A 2 - 2 I Exemplo de Unidades Derivadas do SI I m p o r t a n t e s cm Medicina Clínica, Expressas cm Termos de Unidades-Base

Expressão e m Termos de Expressão e m Termos


Quantidade Nome Símbolo do SI outras Unidades do SI d e Unidades do SI

3 3
Volume metro cúbico m m
Densidade de massa quilograma por metro cúbico kg/m3 kg/m a
Concentração de quantidade de substância mol por metro cúbico mol/m 3
mol/m 3
Freqüência hertz Hz s1
Força newton N m kg s 2
Pressão pascal Pa N/m 2
m1kgs~2
Energia, trabalho, quantidade de calor joule J Mm m2 kQS'2
Potência watt W J/seg m2 kgs 3
Potencial elétriGo, diferença de potencial, volt V WA1 m2kgsaA"
força eletromotriz
22 PARTE I Princípios Laboratoriais

SI na sua aplicação ampla. O s Estados U n i d o s são um dos poucos facilitar a transmissão eletrônica de dados laboratoriais intra e
países que ainda estão p o r aceitar as unidades do SI. A compa- entre instituições (http://www.loinc.org). 1 0 Estes códigos devem
ração de resultados d e alguns dos constituintes séricos comu- ser usados n o contexto com outras n o r m a s existentes, tais c o m o
m e n t e medidos, na concentração encontrada em indivíduos a A S T M E1238 (American Sociecy for Testing and Materials),
saudáveis, é mostrada na Tabela 2-4. H L 7 Versão 2.2, (Health Levei Seven; h t t p : / / w w w . K I 7 . o r g / ) e a
Systematized N o m e n c l a t u r e of Medicine, Reference Technology
Relatório Padronizado de Resultados de (SNOMED-RT). U m a n o r m a similar, conhecida c o m o C E N
Exames E N V 1613, está sendo desenvolvida pelo E u r o p e a n C o m m i t t e e
Para descrever resultados de exames a d e q u a d a m e n t e , é impor- for Standardization of the C o m i t é Européen de Normalisation
tante que todas as informações necessárias sejam incluídas na (CEN) Technical C o m m i t t e e 251 ( h t t p : / / w w w . c e n o i m . b e ) .
descrição do exame. O s sistemas desenvolvidos para expressar os A base de dados do L O I N C atualmente tem registros de mais
resultados produzidos pelo laboratório clínico incluem os siste- de 3 0 . 0 0 0 observações. 10 Para cada observação, existe u m código,
mas Logical Observation Identifier Names and Codes ( L O I N C ) um n o m e convencional por extenso, u m n o m e curto com 30
e International Federation of Clinicai C h e m i s t r y / I n t e r n a t i o n a l caracteres e sinônimos. U m programa m a p e a d o r d e n o m i n a d o
U n i o n of Pure a n d Applied Chemistry ( I F C C / I U P A C ) . "Regenstrief L O I N C m a p p i n g assistam" (RELMA) está disponí-
vel para mapear códigos locais de exames para os códigos L O I N C
Sistema LOINC e facilitar a busca na base de dados do L O I N C . T a n t o o L O I N C
O sistema L O I N C é u m sistema de código universal para infor- q u a n t o o R E L M A estão disponíveis sem custo em h t t p : / / w w w .
mar observações de laboratório e outras observações clínicas para regenstrief.org/loinc/.

Sistema IFCC/IUPAC
O sistema I F C C / I U P A C r e c o m e n d a que os seguintes itens sejam
TABELA 2 - 3 Prefixos Métricos de Unidades do SI* incluídos em cada resultado de exame:
Fator Prefixa Símbolo Fator Prefhco Símbolo 1. O n o m e d o sistema ou sua abreviação;
1
2. U m travessão (dois hífens);
10" yotta Y 10 deci d
3. O n o m e d o analito (nunca abreviado) com u m a letra inicial
1051 zetta Z 10z centi c
maiúscula;
101B exa E 1G"3 mili m
101S
4. U m a vírgula;
peta P 10' 6 micra V-
101S tera T 10"9 nano
5. O n o m e da m e d i d a ou sua abreviação;
n
10 s giga G 10-12 pico
6. U m símbolo de igualdade;
P
10 a mega M 10"15 fento f 7. O valor numérico e a u n i d a d e o u sua abreviação.
10 3 kilo K 10 1 0 ato a
10* hectc H 10"21 zepto z
COMPOSTOS QUÍMICOS E MATERIAIS DE
10' deca* da 10 M
iocto y REFERÊNCIA
Do Sistema Internacional de Unidades (SI). Washington, DC, National institute of A qualidade dos resultados analíticos produzidos p o r u m labora-
Standards and Tecfinology, 1991. tório é u m a indicação direta da puresa dos compostos químicos
'A Eleve ntfi Conférínce Génévale da Foids ei Mesurei (CGFM) (1960, ReiOÍuçdü 12) usados como reagentes analíticos. A disponibilidade e a qualidade
adowu a primeira série de prefixos t símbolos de pwfíxas para formar os nomes e. símbolos dos materiais de referência usados para calibrar ensaios e para
Ji
dos múIí[/j!os e íuírnirilliploi decimais d as unidades do Sí. Os prefixos para 10" e m o n i t o r a r seu desempenho analítico t a m b é m são importantes.
10" foram adicionaAós [:rL; ildcima segunda C G PM (1964, Resolução 8], aqueles para
O s compostos químicos laboratoriais estão disponíveis em
30H e J0IS pela décima quinza CGPM {1975, Resolução 10) e aqueles para IO21, IO24
vários graus. O s solutos e solventes usados n o trabalho analítico
Ê ICr24 foram propostos pelo Cl PM (1990) para aprovação peia décimã nona CGPM
(1991). são compostos químicos de grau reagente, dentre os quais a água é
1
Fora dos Estados Unidos, a ortografia "deca" é usada ealensiuamence. u m solvente de importância primária. A I U P A C tem estabelecido
critérios para os "padrões primários". O National lnstitute of

TABELA 2-4 Valores Típicos para Analíticos e Incrementos Relatados


Unidades
Recomendadas Menor Incremento
Unidades Convencionais Unidades Recomendadas Arredondadas Relatado Recomendado

Albumina 3,8 g/dL 550,6 pmol/L 550,0 pmol/L 10,0 pmol/L


Bílirrubina 0,2 mg/dL 3,42 pmol/L 3 gmoi/L 2 pmol/L
Cálcio 9,8 mg/dL 2,45 mmol/L 2,45 mmol/L 0,02 mmol/L
CG leste rol 200 mg/dL 5,17 mmol/L 5,2 mmol/L 0,05 mmol/L
Creatinina 0,8 mg/dL 904S pmol/L 90 pmol/L 10 pmol/L
Glicose 90 mg/dL 5,00 mmol/L 5,0 mmol/L 0,1 mmol/L
Fósforo 3,0 mg/dL 0,97 mmol/L 1,0 mmol/L 0,05 mmol/L
Tiroxina 7,0 mg/dL 90,09 mmol/L 90 mmol/L 10 mmol/L
Triglicerídeos 100 mg/dL 1,14 mmol/L 1,15 mmnl/L 0,05 mmol/L
Nitrogênio da uréia* 10 mg/dL 3,57 mmol/L 3,5 mmol/L 0,05 mmol/L
Acido úrico 5,0 mg/dL 297 pmol/L 300 pmol/L 10 pmol/L

'Nitrogénio da uréia ê relatado como uréia (mmol/L) eivando as unidades d o SI são usados.
Introdução aos Princípios de Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 23

Standards a n d Technology (NIST; h t t p : / / t s . n i s t . g o v / t s / h t d o c s / Troca Iônica


2 3 0 / 2 3 2 / 2 3 2 . h t m ) tem vários Materiais de Referência-Padrão Troca iônica é u m processo q u e remove os íons para produzir água
(SRMs) disponíveis para o laboratório químico clínico. O Clini- deionizada livre de minerais. Tal água é mais convenientemente
cai Laboratory Standards Institute (CLSI) — anteriormente Natio- preparada usando-se equipamentos comerciais, que variam em
nal C o m m i t t e e for Clinicai Laboratory Standards (NCCLS; t a m a n h o desde pequenos cartuchos descartáveis até grandes
http://www.nccls.org) — tem publicado vários documentos que reservatórios c o n t e n d o resina. A deionização é alcançada pas-
descrevem e discutem o uso de materiais de referência em medi- sando-se a água através de colunas contendo polímeros de resina
cina laboratorial clínica. Materiais d e r e f e r ê n c i a certificados de insolúveis q u e trocam H + e O H ' pelas impurezas presentes sob
relevância clínica também estão disponíveis n o Institute for Refe- forma ionizada na água. As colunas p o d e m conter trocadores
rence Materials and Measurements (IRMM) em Geel, Bélgica catiônicos, trocadores amônicos ou u m a "resina de troca mista",
(http://www.irmm.jrc.be/) e na Organização M u n d i a l de Saúde a qual é u m a mistura de resinas trocadoras de ânions e de cátions
(OMS; http://www.who.int/biologicals). n o mesmo recipiente.
U m deionizador de troca simples geralmente é capaz de produ-
Água Grau Reagente zir água que tem uma resistência específica que excede 1 M D / c m .
O preparo d e muitos reagentes e soluções usados n o laboratório Q u a n d o conectado em série, deonizadores de troca mista normal-
clínico requer água "pura". A água simplesmente destilada n ã o mente produzem água com uma resistência específica que excede
possui as especificações para a Clinicai Laboratory Reagent Water 10 M Q / c m .
(CLRW) estabelecida pelo C L S I / N C C L S . 6 U m a vez que os
termos "água deionizada" e "água destilada" descrevem técnicas Osmose Reversa
de preparação, eles precisam ser substituídos por água grau rea- Osmose Reversa é u m processo pelo qual a água é forçada através
gente, seguido pela designação da CLRW, a qual define melhor de u m a m e m b r a n a semipermeável que age c o m o u m filtro mole-
as especificações da água e é i n d e p e n d e n t e d o m é t o d o de prepa- cular. A m e m b r a n a remove de 9 5 % a 9 9 % dos composcos orgâ-
ração (Tabela 2-5). nicos, bactérias e outras substâncias particuladas e de 9 0 % a 9 7 %
de todos os minerais ionizados e dissolvidos, porém pouco das
Preparo de Água Grau Reagente impurezas gasosas. Embora o processo seja i n a d e q u a d o para pro-
Destilação, troca iônica, osmose reversa e oxidação ultravioleta duzir água grau reagente para o laboratório, ele p o d e ser usado
são processos usados para preparar água grau reagente. Na prática, como u m m é t o d o de purificação preliminar.
a água é filtrada antes q u e qualquer destes processos seja
usado. Oxidação Ultravioleta
Oxidação ultravioleta é outro m é t o d o que é bem empregado
Destilação q u a n d o faz parte de u m sistema. O uso de radiação ultravioleta
Destilação é o processo de vaporizar e condensar u m líquido para n o c o m p r i m e n t o de o n d a biocida de 254 n a n ô m e t r o s elimina
purificar o u concentrar u m a substância ou para separar u m a muitas bactérias e cliva muitas das substâncias orgânicas ionizá-
substância volátil de substâncias m e n o s voláteis. Este é o m é t o d o veis, que são, então, removidas pela deionização.
mais antigo de purificação de água. Os problemas com destilação
para preparar água reagente são o transporte d e impurezas volá- Qualidade, Uso e Estocagem de Água Grau
teis e as gotículas de água aprisionadas q u e p o d e m carrear impu- Reagente
rezas à água purificada. Isto resultará em contaminação do desti- A água tipo 111 p o d e ser usada para lavagem d e vidraria. (A rinsa-
lado com substâncias voláteis, sódio, potássio, manganês, carbo- gem final, entretanto, precisa ser feita com água em grau ade-
natos e sulfatos. C o m o resultado, a água tratada por destilação q u a d o para o uso pretendido da vidraria). Ela t a m b é m pode ser
sozinha n ã o tem o requerimento de condutividade específico da usada para certos procedimentos qualitativos, tais como aqueles
água tipo I. utilizados em urinálise.

TABELA 2 - 5 Especificações do CLSI/NCCLS para a Água Reagente


CLRW
Conteúdo microbiológico*, unidades formadoras de colônia por mL, 10
ufc/mL (máximo)
pH N.A.
Resistividade,por centímetro (Wlíí/cm), 25°C > 10 na linha
Silicato, mg SiO,/L (máximo) 0,05
Substâncias particuladaé Água passada através de filtra de 0,2
Orgânicas Água passada através de carbono ativado

Do Clinicai Laboratory Standards Institute (CLSI); Prepara Lion and Teíring of Reagem Wacer m the Clinicai Laboratory, 4'h ed, CLSI
Document C3A4- W I I W É , PA, CLSI, 2006.
*Conie údo microbiológico. O conte titio micro biológico tie organismos wdveis, como de termina tio pela contagem total de colônias após incubação
a 36 ± 1 °C por 14 h, seguido de 48 h a 25 ± 1 °C, e descrito como unidades formadoras de colônias poT mL (u/c/niL).
1
Resistência específica ou ras is ti cidade. A resistência elétrica em ohms entre faces opostas de um cubo de l cm de uma solução aquosa numa
temperatura especificada. Para estas especificações, a resistividade será corrigida pãra 25°C e descri tu em M Q / c m . Quanto maior a quantidade
de materiais ionijmreis, menor a TEsism/idade e maior a condutividade.
* Substâncias particuladas: quando a ãgcia é passada através de um /rltro de membrana com poros de 0,2 JJTTI, eia é considerada livre de subs-
tâncias particuladas; Orgânicas'. Quando a água é passadã atraués de um suporte de carbono ativado, consitkra-sé que ela contém õ mínimo ds.
material orgânico.
24 PARTE I Princípios Laboratoriais

A água tipo II é usada paia exames de laboratório q u e não produzir u m a solução cuja concentração é exatamente conhe-
requerem água tipo I. A estocagem p o d e ser mantida em u m cida. A I U P A C tem proposto u m grau de 9 9 , 9 8 % de pureza para
m í n i m o ; os sistemas de estocagem e distribuição devem ser cons- materiais de referência primários.
truídos para assegurar o m í n i m o de contaminação química ou Estas substâncias químicas altamente purificadas p o d e m ser
bacteriana. pesadas diretamente para o preparo de soluções de concentração
A água tipo I deve ser usada em métodos de exames q u e selecionada ou para a calibração de soluções de força desconhe-
requerem interferência m í n i m a e precisão máxima. Tais procedi- cida. Elas são fornecidas com u m certificado de análise para cada
m e n t o s incluem metais traço, enzimas e medidas eletrolíticas e o lote. Estas substâncias químicas precisam ser substâncias estáveis
preparo de todos os calibradores e soluções de materiais de refe- de composição definida q u e p o d e m ser secas, preferencialmente
rência. Esta água deve ser usada imediatamente após sua produ- de 104°C a 110°C, sem u m a m u d a n ç a n a composição. Elas n ã o
ção. N e n h u m a especificação de sistemas de estocagem para água devem ser higroscópicas, de tal forma que a água n ã o seja absor-
tipo I é dada p o r q u e n ã o é possível m a n t e r a alta resistividade vida d u r a n t e a pesagem.
q u a n d o se retira a água e a estoca. Materiais d e referência secundários são soluções cujas con-
centrações n ã o p o d e m ser preparadas pesando-se o soluto e dis-
Teste de Pureza da Água solvendo-o em u m volume de solução. A concentração de mate-
N o mínimo, a água p o d e ser testada para c o n t e ú d o microbioló- riais de referência secundários é usualmente determinada pela
gico, p H , resistividade e sílica solúvel 8 , e o intervalo máximo n o análise de u m a alíquota da solução através de u m m é t o d o de
ciclo de testes para pureza da água reagente deve ser 1 semana. referência satisfatório, u s a n d o u m material de referência primá-
Note-se que as medidas realizadas n o m o m e n t o da p r o d u ç ã o rio para calibrar o m é t o d o .
p o d e m diferir daquelas n o m o m e n t o e n o local de uso. Por Padrões de Referência Certificados (Materiais de Referência-
exemplo, se a água corre em canos por u m a longa distância, deve- Padrão, SRMs) para laboratórios clínicos estão disponíveis n o
se considerar a deterioração na via até o local de uso. Para con- N I S T e n o I R M M . O colesterol, o primeiro SRM desenvolvido
seguir as especificações para a cromatografia líquida alta eficiên- pelo NIST, foi emitido em 1967 Exemplos de tais padrões dis-
cia (HPLC), em alguns casos, é necessário adicionar u m filtro poníveis n o N I S T e n o I R M M estão listados nas Tabelas 2-6 e
final com u m a m e m b r a n a de 0,1 p m . A água p o d e ser testada 2-7. N e m todos os materiais de referencia-padrão têm as proprie-
por H P L C usando-se u m programa de gradiente e m o n i t o r a n d o - dades e o grau de pureza especificado por u m padrão primário,
se com u m detector ultravioleta. N e n h u m pico que exceda o mas cada u m tem sido b e m caracterizado para certas proprieda-
ruído analítico do sistema p o d e ser encontrado. des químicas ou físicas e é emitido com u m certificado q u e
oferece os resultados da caracterização. Estes p o d e m , então, ser
Substâncias Químicas de Grau Reagente usados para caracterizar outros materiais.
Analítico (AR) ou de Grau Reagente
As substâncias químicas que satisfazem as especificações da Ame-
PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS BÁSICOS
rican Chemical Society (ACS) são descritas como de grau reagente As práticas básicas usadas nos laboratórios de diagnósticos clíni-
ou reagente analítico. Estas especificações têm se tornado, também, cos e moleculares incluem técnicas óticas, cromatográficas, eletro-
as normas usadas em muitas aplicações de alta pureza Estão dis- químicas, eletroforéticas, espectro métricas de massa, enzimáticas
poníveis em duas formas: (1) reagentes analisados em lotes, na qual e de imunoensaio Estas técnicas são discutidas em detalhes nos
cada lote individual é analisado e a quantidade real de impureza é Capítulos 4 a 10. Aqui serão discutidas as técnicas básicas de-
informada, e (2) reagentes com impureza máxima, paia os quais as amostragem e distribuição volumétricas, centrifugação, medição
impurezas máximas são listadas. O Committee o n Analytical Rea- de radioatividade, gravimetria, termometria, verificação da con-
gents da ACS periodicamente publica "Reagents Chemicals" lis- centração do íon hidrogênio e processamento de soluções.
tando as especificações (htpp-//pubs.acs.org/Teagents/index html).
Estas substâncias de grau reagente são de pureza muito alta e são Amostragem e Distribuição Volumétricas
recomendadas para análises qualitativas e quantitativas. Os procedimentos químicos clínicos necessitam de medidas volu-
métricas acuradas para garantir resultados precisos. Para o traba-
Reagentes Ultrapuros lho acurado, somente vidraria Classe A deve ser usada. A vidraria
Muitas técnicas analíticas necessitam de reagentes cuja pureza Classe A é certificada para obedecer às especificações descritas
excede as especificações daquelas descritas previamente. Os fabri- na circular C-602 d o NIST.
cantes oferecem substâncias químicas selecionadas pata satisfazer
as exigências específicas. N ã o há u m a designação uniforme para Pipetas
estas substâncias e solventes orgânicos. Termos como "grau espec- As pipetas são usadas para a transferência de u m volume de
trométrico", "grau nano" e "pureza H P L C " têm sido usados. Dados líquido de u m recipiente para outro. Elas são projetadas para (1)
de interesse para o usuário (p. ex., a absorvância em u m compri- contei (TC, to contam) u m volume específico de líquido ou (2)
m e n t o de onda específico) são fornecidos com o reagente. liberar (TD, to deliver) u m volume específico. As pipetas usadas em
Outras designações de pureza química incluem. Quimica- laboratórios clínicos, de diagnósticos moleculares e de análise
mente Pura (CP); Graus U S P e N F (substâncias químicas produ- incluem (1) pipetas de m e d i d a e transferência manual, (2) micro-
zidas para satisfazer as especificações registradas na U n i t e d States pipetas e (3) dispositivos mecânicos e eletrônicos de pipetagem.
Pharmacopeia (USP) ou n o National Formulary (NF)]. As subs- O desenvolvimento de melhorias d o projeto de sistemas de pipe-
tâncias químicas rotuladas c o m o grau purificado, prático, técnico tagem inclui a automação robótica, a capacidade de permitir o
ou comercial n ã o devem ser usadas em análises químicas clínicas controle eletrônico e por computadores pessoais (PC) dos dispo-
sem purificação anterior. sitivos de pipetagem e a atenção cuidadosa com os aspectos
ergonômicos d o projeto. Existem, t a m b é m , os sistemas de cali-
Materiais de Referência bração de pipetas fotométricos automáticos que reduzem o t e m p o
Materiais d e referência p r i m á r i o s são substâncias químicas alta- de checagem periódica da pipeta e potencialmente supre o uso
m e n t e purificadas q u e são diretamente pesadas ou medidas para mais eficiente de pessoal.
Introdução aos Princípios de Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 25

TABELA 2-6 M a t e r iais d e R e f e r ê n c i a - P a d r ã o ( S R M s ) T A B E L A 2 - 7 I M a t e riais d e R e f e r ê n c i a ( M R s ) D i s p o n í v e i s n o


D i s p o n í v e i s n o N a t i o n a l I n s t i t u t e of S t a n d a r d s National Institute for Reference Materials and
a n d T e c h n o l o g y (www.nist.gov) Measurements (www.irmm.jrc.be)

Analito Número SRM Analiteo N ú m e r o UM í

Ensaio para níveis de drogas antiepilepsia (fenitoína, 900 Soro humano liotilizado BCR-304
etosuximida, tenobarbital e priiriidona) Creatinina no soro humano BCR-573; 5 7 4 ; 5 7 5
Soro humano 909b Esferas de látex de tamanho certificado BCR-165; 166; 167
Piruvatü de sódio 910 (tamanho de célula sanguínea)
Colesterol 911b Painel de reterència do cortisol mnWIFCC-451
Uréia 912a Pnogesterona no soro humane BCR-347
Acido úrico 913a Estradiol no soro humano BCR-57G; 577; 578

Creatinina 911a Chumbo e cádmio no sangue BCR-194; 195; 196

Carbonato de cálcio 915a Creatinina quinase (placenta humana] BCR-299

Bilirrubina 916a Gama-glutamiltransíerase (rim de porco) BCR-319; IRRM/IFCC-452

D-gliccse (dextrose] 917b Fosfatase alcalina (rim de porco) BCR-371

Cloreto de potássio 918a Lactato desidrogenase (isoenzima BCR-404; IRRM/IFCC-453

Cloreto de sódio 919a humana)

D-manitcl 920 Fosfatase ácida prostática (próstata BCR-410


humana)
Cortisol (hidrocortisona) 921
Alanina aminotransterase (coração de BCR-426; IRRM/IFCC-454
Carbonato de lítio 924a
porco)
VMA (ácido 4-fiidroxi-3-metoximandélico) 925
a - a m i l a s e (pâncreas humano) BCB-476; IRRM/1FCG-456
Albumina sérica bovina 927c
Creatina quinase (coração humana) BCR-608; IRRIWIFCC-455
Nitrato de chumbo 928
Adenosina desaminase (eritrccitos BCR-647
Gluconato de magnésio (clínico) 929
humanas)
Ferro metálico (clínico) 937
Cortisol no soro humano BCR-192; 193
4-nitrofenol 938
Proteínas séricas BCR-470
Chumbo sanguíneo 955b
Hemoglobina glicada BCR-405
Eletrólitos no soro humano congelado 956a
Hemiglobinacianeto BCR-522
Glicose no soro humano congelado 965
Antigeno prostático específico BCR-613
Elementos tóxicos sanguíneos 966
Tromboplastinas BCR-148; 149S
Vitaminas lipossolúveis, carotenóides e colesterol 968c
Apolipoproteínas BCR-393; 3 9 4
no soro humano
Alfa-tetoproteína fiCR-486
Ácido ascórbico no som humano congelado 970
Tirecglcbulina BCR-457
Angictensina 1 (humana) 998
Cinza óssea 1.400 BCR, Bureau CommMTumtaire de Re/erence (Community Bureflii of ReJfereTtce);

Farinha óssea 1.486 IRMM, Institute for Re/erettce Materials and Meítsiíremertts; IFCC, Internationãl
Fedcratío n of Cimiítfl Ctamisfq
Metabólito de maconha na urina 1,507b
Benzoilecgonina (metabólito da cocaína] na urina 1.508b
Palmitina 1.595
PCBs, pesticidas e dicxína/turanos no soro humano 1.589c
Constituintes inorgânicos no soro bovino 1.598
Ensaio para niveis de drogas anticonvulsivantes 1.599
consistem em u m bulbo cilíndrico ligado nas duas extremidades
(ácido valpróico e carbamazepina)
por tubos de vidro mais estreitos. U m a marca de calibração é
Solução etanol-água 1.828
gravada ao redor do tubo de sucção superior, e o tubo de dispensa
Lipídios no soro humano congelado (liotilizado) 1.951a
inferior é prolongado até u m cone gradual. O calibre do orifício
Colesterol no soro humano Gongelado (liotilizado) 1.952a
de dispensa deve ser suficientemente estreito de tal forma que o
Ponto de fusão do gálio 1.968
rápido fluxo de líquido e a drenagem incompleta não causem
Drogas de abuso no cabelo humano I 2.379
erros de medição acima da tolerância especificada.
Drogas de abuso no cabelo humano II 2.380
U m a pipeta volumétrica de transferência (Figura 2-1, A) é
Gliouronídeo de morfina 2.382
calibrada para liberar exatamente u m volume fixo de uma solução
Aminoácidos/ácido tiidroclóricc 2.389
Metais tóxicos 2.670
aquosa diluída. A confiabilidade da calibração de uma pipeta
Fluoreto urinário (liotilizado] 2.671 a
volumétrica diminui com a diminuição do tamanho, e, portanto,
Mercúrio urinário (liotilizado) 2.672a
micropipetas especiais têm sido desenvolvidas.
Cotinina na urina humana (liotilizado) 8.444
As pipetas de Ostwald-Folin (Figura 2-1, B) são similares às
pipetas volumétricas, mas têm seu bulbo mais próximo da pon-
teira de dispensa e são usadas para a medição exata de fluidos
viscosos, tais como sangue ou soro. Ao contrário de u m a pipeta
Pipetas de Transferência e de Medição volumétrica, uma pipeta de Ostwald-Folin tem u m anel gravado
U m a pipeta de referência é projetada para transferir u m volume próximo ao bocal, indicando que é uma pipeta de escape. C o m
conhecido de líquido. As pipetas de medição e sorológicas são o uso de u m bulbo pipetador, o líquido é empurrado da pipeta
marcadas em unidades tais que qualquer volume, ao chegar na somente depois que o sangue ou o soro tenham drenado até a
capacidade máxima, é liberado. última gota na ponteira de dispensa. Q u a n d o cheia com fluidos
Pipetas de Transferência. As pipetas de transferência abrangem opacos tal como o sangue, deve-se observar a parte superior do
as pipetas volumétricas e as de Ostwald-Folin (Figura 2-1). Elas menisco. A drenagem lenta controlada é necessária com todas as
26 PARTE I Princípios Laboratoriais

Micropi petas

n
As micropipetas são pipetas usadas para a medição de volumes
em microlitro. Em tais dispositivos, o volume restante que reveste
a parede interna da pipeta causa u m erro notável. Por esta razão,

SI a maioria das micropipetas é calibrada para conter (TC) o volume


declarado, e não para dispensá-lo. O uso a d e q u a d o requer a
rinsagem da pipeta com a solução final após a dispensa dos
c o n t e ú d o s n o diluente. O s volumes são expressos em microlitros
(pL); o termo antigo lambda n ã o é mais r e c o m e n d a d o . (Um
J
•20 * C
lambda [Aj = í pL = 0,001 mL) As micropipetas geralmente estão
i[ disponíveis em t a m a n h o s pequenos, de 1 a 5 0 0 pL, Elas t a m b é m
20 X
mL 0
0 estão disponíveis para volumes tão baixos q u a n t o 0,2. pL.

Pipetas e Dispensadores Automáticos e Semi-automáticos


A Figura 2-2, A e B ilustra dois tipos de dispositivos de micropi-
petagem ajustáveis que t a m b é m contêm características de projeto

V
ergonômico ímpar. Estes dispositivos são programáveis e são
usados para dispensar alíquotas de liquido s i m u l t a n e a m e n t e em
vários poços. Na práticaj usando-se ponteiras plásticas descartá-
C veis os dispositivos permitem a aspiração e a dispensa simultânea
em múltiplos micropoços. C a d a canal é impulsionado p o r
Figura 2-1 Pipetas. A, Volumétrica (transferência) B, de OsCwald-
êmbolo e permite ao usuário pipetar com tantas ponteiras q u a n t o
Folin (transferência). C, de M o h r (medição). D , Sorológica (graduada até
necessárias. Alíquotas de líquidos tão pequenas q u a n t o 0,2 p L
a ponteira).
são dispensadas em três diferentes velocidades de aspiração ou
dispensa.
As versões de pipetas e dispensadores semi-automáticos
manuais ou eletrônicos estão disponíveis em t a m a n h o s de 0,5 pL
a 10 mL. A Figura 2-2, C ilustra u m pipetador multicanal de
soluções viscosas de tal forma que n e n h u m filme residual seja deslocamento positivo eletronicamente operado. Este dispositivo
deixado nas paredes da pipeta. aspira e dispensa seus volumes predefinidos (de 0,5 a 200 pL)
Pipetas de Medição. O segundo tipo principal de pipetas é a q u a n d o seu pistão é movido através de u m ciclo completo. Suas
pipeta graduada ou de medição (Figura 2-1, C). Ela é u m pedaço ponteiras descartáveis são feitas de u m material plástico que
de t u b o de vidro que é alongada até uma ponteira e graduada t e n d e a reter menos filme na superfície interna d o que o vidro.
u n i f o r m e m e n t e ao longo de seu c o m p r i m e n t o . Dois tipos estão Tais pipetas: (1) evitam o risco de c o n t a m i n a ç ã o cruzada entre as
disponíveis. A pipeta de M o h r é calibrada entre duas marcas na amostras, (2) eliminam a necessidade de lavagem entre as amos-
direção da ponteira. A pipeta sorológica (Figura 2-1, D) precisa tras e (3) melhoram a precisão das medidas. Modelos que permi-
ser assoprada para liberar t o d o o volume da pipeta e tem um anel tem O ajuste digital d o volume, aspirado p dispensado estão dis-
gravado (ou u m par de anéis) próximo ao bulbo terminal da poníveis.
pipeta, significando que é u m a pipeta de escape. As pipetas de A Figura 2-3, A mostra u m aparelho de dispensa automático
M o h r requerem u m a dispensa controlada da solução entre as que aspira e dispensa volumes pré-ajustados de dois diferentes
marcas de calibração. As pipetas sorológicas têm u m orifício líquidos por meio de duas seringas impulsionadas por motor, uma
maior do que os das pipetas de M o h r e, portanto, d r e n a m mais para medir o volume da amostra e outra para medir o volume do
rapidamente. Na prática, as pipetas de medição são usadas prin- diluente. E possível ajustar este dispositivo para aspirar tão pouco
cipalmente para a medição de reagentes e geralmente n ã o são q u a n t o 1 pL de u m líquido e dispensá-lo em até 999 p L de outro.
consideradas suficientemente exatas para a medição de amostras Este tipo de dispositivo, disponível como diluidor ou dispensador,
e calibradores. é adquirido na forma manual, eletrônica e de dispositivo contro-
lado p o r computador. O dispositivo é controlado por u m micro-
processador e é facilmente programado. Vinte e dois programas
Técnica de Pipetagem de dispensação são armazenados na memória e recuperados. Este
Existem técnicas gerais de pipetagem q u e se aplicam às pipetas tipo de dispositivo de dispensa de líquido está t a m b é m disponível
descritas a n t e r i o r m e n t e . Por exemplo, bulbos pipetadores devem c o m o u m sistema controlado p o r computador.
sempre ser usados e as pipetas devem ser seguradas n a posição U m e q u i p a m e n t o mais versátil é a estação robótica de traba-
durante o ajuste do nível de líquido na linha de calibração e durante lho dc manipulação de líquidos mostrada na Figura 2-3, B. Esta
a dispensa. A parte inferior d o menisco, q u a n d o é olhada n o estação de pipetagem automatizada é usada com tubos de reação
nível dos olhos, deve se: nivelada com a linha de calibração da individuais e t a m b é m com placas de microtítulo de 96 e 3 8 4
pipeta. O fluxo de líquido deve ser irrestrito n o uso de pipetas poços. D e p e n d e n d o d o projeto do sistema, uma ou múltiplas
volumétricas, e as ponteiras devem tocar a superfície inclinada sondas são usadas r a p i d a m e n t e para transferir volumes de solução
d o recipiente por 2 segundos após o líquido ter p a r a d o de programados de u m recipiente para as placas de microtítulo
fluir. (p. ex., de tal forma que a transferência para todos os 9 6 poços
C o m pipetas graduadas, o fluxo do líquido deve ser lento esteja completa em 1 minuto). Em alguns sistemas, sensores de
d u r a n t e a dispensa. As pipetas sorológicas são calibradas em líquido são incorporados nas sondas de amostras para minimizar
direção à ponteira, e o anel gravado n o t o p o da pipeta significa o contato da amostra e reagentes, m e s m o que a lavagem automa-
que ela é para ser assoprada. Primeiro permite-se que a pipeta tizada das sondas seja feita entre exemplares. O m o v i m e n t o bidi-
seja drenada, e então o líquido remanescente é assoprado. mensional (X-Y) das sondas e tubos ou placas de microtítulo é
introdução aos Princípios de Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 27

Figura 2 - 2 A, Dispositivo de micropipetagem de v o l u m e ajustável com projeto ergométrico. B , Dispositivo


de micropipetagem eletrônico de v o l u m e ajustável com projeto eTgnmérrico. C, Pipeta multicanal programável
eletrônica. (A, Cortesia Biohit Plc, B, Cortesia VistaLab Technologies, Inc C, Cortesia R a i n i n I n s t r i i m e n t L L C )

desenvolvido nas estações de pipetagem paia minimizar a neces- d o menisco- O menisco então aparece c o m o u m a linha preta fina
sidade de intervenção do operador. Este dispositivo dispensa e claramente definida. Este cartão t a m b é m é útil na leitura do
volumes programados de 0,5 |J,La 1.000 jiL em diluições seriadas menisco de uma bureta.
de 4 a 16 canais empregando u m sistema autocarregado com O e q u i p a m e n t o volumétrico deve ser usado com soluções
códigos de barra para a identificação positiva. equilibradas na temperatura ambiente. As soluções diluídas em
frascos volumétricos precisam ser repetidamente misturadas
d u r a n t e a diluição de tal forma que os c o n t e ú d o s estejam homo-
Frascos Volumétricos gêneos antes que a solução seja elevada ao volume final. O s erros
O s frascos volumétricos (Figura 2-4) são usados para medir causados pela expansão ou contração dos líquidos na mistura são,
volumes exatos; eles são c o m u m e n t e encontrados em t a m a n h o s p o r t a n t o , minimizados.
que variam de 1 a 4-000 mL. N a prática, eles são usados prima- O s frascos volumétricos devem ser perfeitamente limpos e
riamente n o preparo de soluções de concentração conhecida, e secos antes da calibração. O frasco é então pesado e preenchido
estão disponíveis em vários graus. Os mais exatos são certificados com água deionizada, livre de dióxido de carbono, logo acima da
para satisfazer padrões publicados pelo NIST. marca de graduação. O gargalo do frasco logo acima d o nível da
U m fator importante n o uso de u m utensílio volumétrico é água deve ser m a n t i d o livre de água. A marca do menisco é
a necessidade de u m ajuste exato do menisco. U m p e q u e n o d e t e r m i n a d a na linha de graduação removendo-se o excesso de
cartão, que é m e t a d e branco e metade preto, é m u i t o útil. O água e o frasco é pesado novamente. O peso final é corrigido para
cartão é colocado 1 cm atrás do utensílio com a metade branca a água equilibrada na temperatura ambiente a fim de obter o
para cima e a parte superior da área preta cerca de 1 m m abaixo volume do frasco.
28 PARTE I Princípios Laboratoriais

Figura 2-4 Fra*co» Volumetria» \ , Mu iu. ü> Mlcjo.

Centrifugação
C e n t r i f u g a ç ã o é o processo d e uso da força c e n t r í f u g a p a r a
separar a p o r ç ã o mais leve de u m a solução, m i s t u r a o u s u s p e n s ã o
das porções mais pesadas. U m a centrífuga é u m a p a r e l h o pelo q u a l
a c e n t r i f u g a ç ã o é realizada.
N o l a b o r a t ó r i o clínico, a c e n t r i f u g a ç ã o é usada para:
1. R e m o v e r e l e m e n t o s celulares d o sangue para p r o d u z i r plasma
ou s o r o livre d e células p a r a análise ( C a p í t u l o 3);
2. C o n c e n t r a r e l e m e n t o s celulares e o u t r o s c o m p o n e n t e s d e
f l u i d o s biológicos p a r a o e x a m e microscópico o u análise
química;
3. R e m o v e r p r o t e í n a p r e c i p i t a d a q u i m i c a m e n t e de u m exemplar
analítico;
4. Separar ligantes livres d a q u e l e s ligados a p r o t e í n a s o u anti-
c o r p o s e m i m u n o q u í m i c a o u o u t r o s ensaios ( C a p í t u l o 10);
5. Extrair solutos e m f l u i d o s biológicos d e solventes aquosos
p a r a orgânicos;
6. Separar os c o m p o n e n t e s lipídicos tais c o m o os q u i l o m í c r o n s
d e o u t r o s c o m p o n e n t e s d o p l a s m a o u soro, e u m a l i p o p r o t e í n a
da o u t r a ( C a p í t u l o 23).

Tipos de Centrífugas
O s tipos de centrífugas utilizadas n o l a b o r a t ó r i o clínico são de
cruzeta h o r i z o n t a l o u c a ç a m b a móvel, d e â n g u l o fixo ou d e cru-
zeta angular, u l t r a c e n t r í f u g a e axial. A l é m disso, o desenvolvi-
m e n t o d e centrífugas de b a l a n c e a m e n t o a u t o m á t i c o t e m permi-
t i d o q u e a c e n t r i f u g a ç ã o seja i n c o r p o r a d a c o m o u m a e t a p a inte-
gral na a u t o m a ç ã o total dos testes laboratoriais.
Figura 2 - 3 A, Aparelho diluidor e/ou dispensador controlado por
PC que aspira e dispensa volumes pré-ajustados de um ou dois Princípios da Centrifugação
diferentes líquidos, tais como o diluente e a amostra através de seringas O t e r m o c o r r e t o p a r a descrever a força necessária p a r a separar
impulsionadas por motor. B, Estações de trabalho robóticas de d u a s fases e m u m a c e n t r í f u g a é a força c e n t r í f u g a relativa (RCF),
manipulação de líquidos. (A e B, Cortesia Hamilton Co.) t a m b é m c h a m a d o d e campo centrífugo relativo. As u n i d a d e s são
expressas c o m o n ú m e r o de vezes a gravidade (p. ex., 5 0 0 x g).
Introdução aos Princípios ds Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 29

A R C F é calculada c o m o a seguir: Para u m a operação da centrífuga de forma suave, o rotor deve


ser balanceado adequadamente. O peso das estantes, dos tubos
R C F = 1,118 x IO 5 x r x r p m 2 e de outros conteúdos em lados opostos de u m rotor n ã o deve
diferir mais d o q u e 1% ou em u m limite estabelecido pelo fabri-
Onde cante. Centrífugas que balanceiam automaticamente seus rotores
estão disponíveis atualmente.
1,118 X 10^= u m fator empírico Os tubos de sangue coletados devem ser centrifugados antes
de serem destampados para reduzir a probabilidade de u m aeros-
r = raio em centímetros a partir do centro de rotação até a sol ser produzido q u a n d o o t u b o é aberto. A prática de se usar
parte inferior do tubo n a cavidade d o rotor ou na caçamba u m aplicador de madeira para liberar u m coágulo aderido à parte
d u r a n t e a centrifugação superior d o tubo ou à sua tampa deve ser evitada; esta é u m a
r p m = a velocidade de rotação d o rotor em rotações por causa potencial de hemólise. A centrifugação em u m a R C F apro-
minuto priada geralmente garante que o coágulo seja liberado da parede
d o tubo e e m p u r r a d o para o f u n d o .
A R C F de u m a centrífuga t a m b é m p o d e ser determinada a partir Apesar de anos de experiência com centrífugas, existem
de u m n o m o g r a m a distribuído pelos fabricantes de centrífugas. poucas recomendações específicas para RCFs ou tempo de cen-
A R C F é deduzida a partir da distância d o centro d o rotor até a trifugação para amostras de sangue. Por exemplo, a n o r m a H18-
parte inferior d o tubo, se o t u b o é horizontal ou a u m ângulo A3 3 do CLSI propõe u m a R C F de 1.000 a 1.200 xg por 1 0 + 5
até o centro do rotor. minutos. As n o r m a s n ã o foram estabelecidas para a centrifugação
O tempo necessário para sedimentar partículas depende: (1) de outras amostras, tais c o m o o soro ao qual u m a proteína pre-
da velocidade d o rotor, (2) do raio do rotor e (3) do c o m p r i m e n t o cipitante t e n h a sido adicionada.
do trajeto efetivo percorrido pelas partículas sedimentadas, que
é a p r o f u n d i d a d e d o líquido n o tubo. A duplicação das condições Prática de Operação
de centrifugação é f r e q ü e n t e m e n t e desejável. A fórmula seguinte A limpeza de u m a centrífuga é i m p o r t a n t e para minimizar u m a
é útil para calcular a velocidade necessária de u m rotor cujo raio possível propagação de u m agente infeccioso, tais c o m o os vírus
difere daquele que u m a R C F d e t e r m i n a d a foi originalmente defi- da hepatite. C o m a operação a d e q u a d a da centrífuga, poucos
nida: tubos se q u e b r a m . N o caso de quebra, as estantes e a câmara da
centrífuga precisam ser cuidadosamente limpas. Q u a l q u e r derra-
m a m e n t o deve ser considerado u m possível risco de patógenos
r p m (rotor substituto) hematogênicos. O pó cinza q u e surge do jateamento da câmara
pelos fragmentos de vidro indica q u e b r a de tubo e possível con-
— 1 ooox I R C F
' r Q t o r origma
^ taminação, necessitando-se da limpeza da câmara. Os vidros que-
\ 1 1 , 18 X r ( c m ) , rotor substituto brados enterrados nos amortecedores dos recipientes de tubos
p o d e m ser uma causa contínua de quebra se estes n ã o forem
inspecionados e substituídos n o processo de limpeza.
A duração de tempo para a centrifugação é calculada de tal forma A velocidade da centrífuga deve ser checada pelo m e n o s u m a
que a corrida com u m rotor substituto de u m t a m a n h o diferente vez a cada 3 meses. A velocidade m e d i d a n ã o p o d e diferir mais
é equivalente à corrida com o rotor original: d o que 5 % da velocidade padronizada sob condições especifica-
das. Todas as velocidades nas quais a centrífuga é c o m u m e n t e
t e m p o X R C F (rotor original) operada devem ser checadas. O tímer da centrífuga deve ser checado
t e m p o (rotur substituto) = semanalmente contra um tímer de referência (como um cronôme-
R C F (rotor substituto) tro) e não p o d e ter mais d o que 10% de erro. Os comutadores e
as escovas devem ser checados pelo m e n o s a cada 3 meses. As
Note, entretanto, que p o d e n ã o ser possível reproduzir as condi- escovas ( q u a n d o usadas) devem ser substituídas q u a n d o parecem
consideravelmente gastas. Entretanto, em muitos dos motores de
ções exatamente q u a n d o u m a centrífuga diferente é usada. As
descrições dos tempos de centrifugação incluem o tempo para o indução modernos, as escovas f o r a m eliminadas, r e m o v e n d o
então uma fonte de p ó que causa falha n o motor.
Totor atingir a velocidade de operação (a qual p o d e variar de
i n s t r u m e n t o para i n s t r u m e n t o ) e n ã o incluem o t e m p o de desa- C o m o as centrífugas geram calor, a temperatura n a câmara
em muitos modelos de centrífugas p o d e a u m e n t a r 5°C após u m a
celeração, d u r a n t e o qual a sedimentação ainda está ocorrendo
embora menos eficientemente. M e s m o na frenagem máxima, a única centrifugação. Q u a n d o o material a ser centrifugado apre-
desaceleração p o d e levar até 3 m i n u t o s em algumas centrífugas. senta uma temperatura lábil, u m a centrífuga refrigerada deve ser
usada. Na f o r m a mais simples, u m a u n i d a d e refrigeradora é
montada ao lado da centrífuga, e o ar frio é soprado para d e n t r o
da câmara do rotor. Esta técnica é n o r m a l m e n t e inadequada para
Operação da Centrífuga
estabilizar a baixa temperatura. E m centrífugas mais sofisticadas,
Para a operação adequada de u m a centrífuga, somente aqueles
a refrigeração em espiral em t o r n o da câmara torna possível
tubos recomendados pelo fabricante devem ser usados. O material
manter u m a temperatura pré-ajustada dentro de ± 1°C. A tempe-
usado para o tubo precisa resistir à RCF a qual o tubo estará pro-
ratura da centrífuga refrigerada p o d e ser m e d i d a m e n s a l m e n t e
vavelmente submetido. Os tubos de polipropileno são geralmente
sob condições reprodutíveis e deve variar até 2"C da temperatura
capazes de resistir a RCFs maiores do que 5.000 xg. Os tubos
esperada.
precisam ter u m f u n d o cónico, particularmente se o sobrenadante
vir a ser Temovido, e devem ser de u m t a m a n h o que se ajuste
seguramente na estante o n d e será centrifugado. A parte superior Medição de Radioatividade
do tubo n ã o pode se projetar acima da caçamba para que o balanço A rápida aceitação e o extenso uso de ímunoensaios não-isotópi-
n u m a posição horizontal não seja impedido pelo rotor. cos pelo laboratório clínico têm resultado na diminuição do uso
30 PARTE 1 Princípios Laboratoriais

de r a d í o i m u n o e n s a i o s (RIAs) e, e n f i m , n a redução da necessi- moléculas provocam u m a série de d a n o s ; p o r t a n t o , emissores a


dade de medição de radioatividade. Em virtude dessa m e n o r são considerados a l t a m e n t e perigosos.
ênfase dada à necessidade de se m e d i r radioatividade) s o m e n t e Decaimento Beta. Para alguns nuclídeos pesados e para a
u m a breve discussão deste tópico será apresentada aqui. maioria daqueles c o m n ú m e r o s atômicos abaixo de 60, a estabi-
lidade é conseguida pelo r e a r r a n j o do n ú c l e o n o qual o n ú m e r o
total de n ú c l e o n s está inalterado. Em termos d o m o d e l o nêutron-
Conceitos Básicos p r ó t o n d o núcleo, este r e a r r a n j o é a conversão de u m n ê u t r o n
U m átomo é a m e n o r u n i d a d e de u m e l e m e n t o t e n d o as proprie- para u m p r ó t o n o u vice-versa. D u r a n t e tais conversões, o núcleo
dades daquele elemento. U m á t o m o individual consiste em u m emire u m elétron negativo o u seu equivalente positivo, u m pási-
n ú c l e o carregado positivamente ao r e d o r do qual giram elétrons tron. A emissão do elétron negativo, d e n o m i n a d o p a r t í c u l a beta
carregados negativamente. O núcleo é c o m p o s t o de p r ó t o n s car- íp ), é n o r m a l m e n t e c o n h e c i d a pelo t e r m o decaimento p-,
regados positivamente e n ê u t r o n s n e u t r o s . O número atômico (Z) A emissão de u m a partícula p negativa deixa o núcleo c o m
de u m elemento é o n ú m e r o de p r ó t o n s em seu núcleo; o n ú m e r o u m a carga positiva adicional, u m n ê u t r o n é convertido em u m
total de núcleons, p r ó t o n s mais n ê u t r o n s , é seu n ú m e r o de massa p r ó t o n e o núcleo assume o maior n ú m e r o atômico seguinte. A
(A). U m nuclideo é u m a espécie atômica c o m u m d a d o n ú m e r o emissão p- negativa é característica de u m núcleo q u e t e m mais
atômico e u m d a d o n ú m e r o de massa. O s isótopos são nuclídeos n ê u t r o n s d o q u e o exigido por seus p r ó t o n s para estabilidade.
com o m e s m o n ú m e r o atômico, mas diferentes n ú m e r o s de Por exemplo, o trítio ( 3 H) é u m isótopo instável do hidrogênio,
massa. Eles r e p r e s e n t a m várias espécies nucleares do m e s m o ele- consistindo e m u m p r ó t o n , u m elétron e dois n ê u t r o n s . Q u a n d o
m e n t o . Os radionuclídeos de interesse clínico estão listados na u m á t o m o de trítio decai, u m dos n ê u t r o n s é convertido a u m
Tabela 2-8. p r ó t o n , u m a partícula beta e u m n e u t r i n o são liberados e u m
isótopo de hélio { 3 He) p e r m a n e c e . O trítio é c o n h e c i d o c o m o
Decaimento Radioativo u m emissor (3- fraco, u m a vez q u e suas partículas p têm baixas
O d e c a i m e n t o radioativo é u m a p r o p r i e d a d e de u m núcleo velocidades. U m emissOT p- forte tal c o m o o fósforo 32 ( 32 P) é mais
a t ô m i c o e é evidência de instabilidade nuclear. A taxa de decai- perigoso p o r q u e suas partículas p- carregam mais energia cinética;
m e n t o n ã o é afetada pela t e m p e r a t u r a , pela pressão o u por qual- entretanto, é mais fácil de detectaT.
q u e r outra condição química o u física, mas é característica de O u t r o s exemplos de nuclídeos q u e decaem através da emissão
cada r a d i o n u c l í d e o individual. P' negativa são o carbono-14 ( 14 C), o ferro-59 ( 59 Fe) e o iodo 131
D6C3Íl7IBnt0 Alfa. Para alcançar configurações estáveis, os ele- ( l31 I). As partículas p negativamente carregadas são m e n o r e s e m
m e n t o s pesados, p a r t i c u l a r m e n t e aqueles c o m n ú m e r o s atômicos massa e interagem m e n o s c o m a matéria d o q u e as partículas 0-,
acima de 70, p o d e m perder parte de sua massa nuclear e m i t i n d o atravessando facilmente papel e papel-cartão, mas absorvidas p o r
u m f r a g m e n t o de dois p r ó t o n s e dois n ê u t r o n s identificável, após folhas de metal.
a emissão, c o m o u m núcleo de hélio. C o m o as radiações nucle- Captura Eletrônica. U m processo de d e c a i m e n t o alternativo
ares f o r a m observadas antes q u e suas identidades fossem conhe- para a emissão de partículas P positivas é a captura de u m elétron.
cidas, este f r a g m e n t o foi c h a m a d o d e parzícula alfa (a-), e sua Neste processo, u m elétron orbital é "absorvido" pelo núcleo. O
emissão foi d e n o m i n a d a d e c a i m e n t o a . As partículas alfa são efeito final na estrutura nuclear é o mesmo: u m p r ó t o n parece ter
relativamente grandes e m massa, interagem f o r t e m e n t e com a se transformado em u m n ê u t r o n , o n ú m e r o atômico d i m i n u i em
matéria, mas são absorvidas p o r algo tão f i n o q u a n t o u m a folha Um e a massa atômica p e r m a n e c e a mesma. Por exemplo, o 125I
de papel. E n t r e t a n t o , por serem tão pesadas, m e s m o c o m baixa decai exclusivamente por captura eletrônica para telúrio 125.
velocidade, suas cinéticas são altas. C o n s e q ü e n t e m e n t e , elas n ã o Radiação Gama e Conversão Interna. A radiação gama é u m a
p e r c o r r e m longas distâncias, mas q u a n d o colidem c o m outras radiação eletromagnética de alta energia q u e se assemelha aos

TABELA 2-8 Propriedades da Radiação de Alguns Radionuclídeos Usados em Laboratório Clínico


EMERGIA MÁXIMA DA RADIAÇÃO ( M E V ) 1
Nuclídeos Meia-uida Tipo de D e c a i m e n t o * Bela Gama

H 3
12,3 anos P 0,186 Nenhuma
n c
5.730 anos P- 0,155 Nenhuma
32 p
14,3 dias P' 1.71 Nenhuma
87 dias P" D,167 Nenhuma
51
Cr 27,7 dias EC Nenhuma 0,320
57
Co 2 7 2 dias EC Nenhuma 0,122; 0 , 1 3 6 : 0 , 0 1 4
^Co 71 dias EC. p + 0,474 0 , 8 1 1 , s o m e n t e fátons de destruição
M
Fe 4 5 dias P" 0,475; 0 , 2 7 3 1,10; 1,29
afl
Mc 6 6 horas P 1,21; 0 , 4 5 0 0,740; 0,181; 0,778
S9m
Tc 6,0 horas IT Nenhuma 0,141
12S|
GO dias EC Nenhuma 0,035

P"
131 |
8,04 dias 0,607; 0 , 3 3 6 0,364; 0,637; 0,284

*P P', E C e I T SÉ referem d decãímento P~, decaimento (jósitron, captura eleirânica e Eransiçáo isomériai, respectivamente. Q u a n d o i conhecido que u m nuclideo tem mais do que u m
modo de decaimento, eles jãn listados n a ordem de sicas prevalências
energias são dadas somente porá as radiações p~ r y mais prevalentes e estão em ordem aproximada de prevalência. O decaimento par captura eletrônica ( E C ) também gera raios X
característicos dN núcleo filhe; as energias dos raios 'X nãa estão mcluldcls nesta iistafem. Como notado na coluna Y, o decaimento £ÓSÍ£TOTI (p") ê acompanhado pela radiação de destruição,
a qual consiste principalmente em u m par de fátons de 0 , 5 / 1 M.eV.
Introdução aos Princípios de Análise e Segurança Lahoratorial CAPÍTULO 2 31

raios X. U m exemplo de emissor y é o ,31 I. U m a vez que os raios sondas de ácidos nucléicos marcadas com 32 P radioativo são
y são fótons de alta energia, seu poder de penetração é muito incubadas com o ácido nucléico-alvo. Após a hibridização, a
alto e mais difícil de proteger. hidrólise e a separação dos fragmentos por eletToforese e m gel,
u m filme fotográfico é aplicado ao gel coberto e incubado. Alter-
Atividade e Meia-vida nativamente os fragmentos de ácidos nucléicos são transferidos
A taxa de decaimento de u m a fonte radioativa é chamada de sua para uma membrana de náilon e o filme fotográfico é aplicado
atividade e é simplesmente a taxa na qual os átomos originais à m e m b r a n a (Capítulo 6). Nos dois casos o filme é revelado com
radioativos decaem a átomos filhos mais estáveis. Na prática, é a imagem resultante refletindo a radioatividade dos fragmentos
sempre conveniente descrever a taxa de decaimento em termos de ácidos nucléicos.
da meia-vida ( t ^ ) , o tempo necessário para a atividade de u m Detectores Preenchidos com Gás. Detectores preenchidos com
nuclideo diminuir à metade de seu valor inicial: certos gases ou misturas de gases são feitos para capturar e medir
os íons produzidos pela radiação dentro do detector. O s detec-
tores preenchidos com gás usados para medir radioatividade
ln 2 0,693 i n c l u e m : (1) a câmara de ionização, (2) o contador proporcional e (3)
,V2 o contador Geiger. No laboratório químico clínico, o contador
~ I ~~T
Geiger é usado como u m monitor de radiação poTtátil.
Contagem de Cintilação. N o processo de cintilação, a abs
da radiação produz u m / k s h de luz. Os tipos principais d e detec-
O n d e X é a constante de decaimento característica de u m dado tores de cintilação encontrados n o laboratório químico clínico
nuclideo. são: o detector de cintilação de cristal de iodeto de sódio e o detector
Esta equação é útil no planejamento de experimentos e na de cintilação líquido orgânico. Devido à facilidade relativa de ope-
dispensação de lixo radioativo. Paia a dispensação, a norma ração do detector de cristal e a economia de preparo da amostra,
prática é que o tempo de decaimento de 7 meias-vidas reduz a a maioria dos procedimentos de laboratórios clínicos tem sido
atividade a menos d e 1% de seu valor original (2"7 = 1/128 = desenvolvida para medir nuclídeos, tais como o 125I, os quais são
0,78%) e após 10 meias-vidas, a menos de 0,1%. contados eficientemente em u m detector de cristal. U m detector
de cintilação liquida é usado para medir emissores P-puros, tais
Unidades de Radioatividade c o m o o trítio e o 14 C.
O becqucrcl (Bq) é a unidade SI de radioatividade e é definida D e te c to r d e Cintilação de Cristal. O detector de poço (freqüen-
como u m decaimento por segundo (dps). U m a vez que 1 Bq é t e m e n t e conhecido como u m contador y) é u m tipo c o m u m de
uma quantidade muito pequena de atividade, a atividade de detector de cintilação de cristal e tem u m orifício p e r f u r a d o na
amostras químicas típicas é f r e q ü e n t e m e n t e expressa em quilobe- extremidade ou na lateral do cristal cilíndrico para Teceber u m
cqueTéis (kBq). O cwrie (Ci) é a unidade mais antiga, a unidade t u b o teste. Por ser higroscópico, o cristal é hermeticamente
convencional, é definida como 3,7 x IO10 dps. U m curie equivale lacrado em u m container de alumínio com uma janela de quartzo
a 37 gigabecqueréis (GBq). U m a vez que o becquerel é inconve- transparente em uma extremidade através da qual as cintilações
nientemente p e q u e n o e o curie muito grande, eles são tipica- azuis violetas (420 nm) são detectadas. Os fótons dos emissores
mente usados como seus múltiplos ou submúlriplos, p. ex., mega- gama, tais como o s l Cr, o 57 Co, o 59 Fe, o I25I e o 1311 (Tabela 2-8)
becqueréis (MBq) e milicuiies (mCi). U m m C i equivale a 37 na amostra facilmente penetram o tubo da amostra e o container
MBq. fino e de baixa densidade, e entram no cristal o n d e eles serão
provavelmente absorvidos n o iodeto de sódio espesso e de alta
Atividade Específica densidade. U m contador de poço não é adequado para medir
O termo "atividade específica" tem vários significados. Pode radiação fi- poTque tal radiação não penetra no recipiente da
referir-se a: (1) radioatividade por unidade de massa de u m ele- amostra e na camada de alumínio da parede.
mento, (2) radioatividade por massa de composto marcado ou D e te c to r de Cintilação Líquida. Este detector mede a radio-
(3) radioatividade por unidade de volume de uma solução. O atividade pelo registro de cintilações que ocorrem dentro de u m
d e n o m i n a d o r de referência precisa ser especificado. Em termos frasco que contém a amostra desconhecida e o líquido d e cinti-
de radioarividade por u n i d a d e de massa, a atividade específica lação. C o m o o radionuclídeo está intimamente misturado ou
máxima atingível para cada radionuclídeo é aquela para o radio- realmente dissolvido no líquido de cintilação, a técnica é ideal
nuclideo puro. Por exemplo, o 14 C puro tem uma atividade espe- para emissores (3-puros, como o J H , o 14 C e o "2P. As eficiências
cífica de 62 C i / m o l ou 4.400 Ci/kg. C o m o normalmente dispo- típicas para a contagem por cintilação líquida sem perda de efi-
nível, o 14 C é u m traçador para compostos nos quais ele repre- ciência de detecção {íjitónc/iing) significativa são de 6 0 % para o
senta somente uma pequena fração do carbono total, cuja maior trítio e de 9 0 % para o M C.
parte é uma mistura de ocorrência natural de 12 C estável e 13 C O líquido de cintilação é conhecido como coquetel de cintila-
estável. Se não existe elemento estável presente, o radionuclídeo ção e contém pelo menos dois componentes (o solvente primário
é dito ser livre de portador (carrier free). e o cintilador primário). O solvente primário é n o r m a l m e n t e u m
dos hidrocarbonetos aromáticos tais como o tolueno, o xileno
Detecção e Medida de Radioatividade ou o pseudocumeno (1,2,4-trimetil benzeno). O cintilador primário
A auto-radiografia, a ionização gasosa e a cintilação fluorescente absorve a energia do solvente primário e a converte e m luz. O
são as bases para as técnicas usadas para detectar e medir a radio- material usual é o 2,5-difeniloxazol (PPO) usado em uma concen-
atividade no laboratório clínico. tração de 3 a 6 g/L. O P P O emite luz ultravioleta de 380 n m .
Auto-radiografia. Na auto-radiografia u m a emulsão fotográfica Além disso, outros componentes adicionados ao líquido cintila-
é usada para visualizar as moléculas marcadas com o elemento dor são: (1) u m solvente secundário para melhorar a solubilidade
radioativo. Por exemplo, esta técnica é usada para visualizar de amostras aquosas, (2) u m surfactante para estabilizar o u emul-
ácidos nucléicos e fragmentos hibridizados com sondas de ácidos sificar a amostra, (3) u m cintilador secundário, algumas vezes
nucléicos marcadas com 32 P (Capítulo 17). C o m tais técnicas, as c h a m a d o de deslocador de comprimento de onda, para absorver
32 PARTE I Princípios Laboratoriais

os f ó t o n s ultravioletas d o cintilador primário e reemitir a energia braços são de c o m p r i m e n t o s diferentes. O objeto a ser pesado é
em u m c o m p r i m e n t o de o n d a m a i s longo, o q u e facilita a res- colocado sobre o prato a n e x a d o ao b r a ç o mais curto. U m a força
posta de alguns tubos fotomultiplicadores, e (4) u m ou mais de restauração é aplicada m e c a n i c a m e n t e o u e le t r o n i c a m e n t e ao
adjuvantes, tais c o m o agentes de suspensão, solubilizadores para o u t r o braço para retornar o travessão a sua posição nula. Balanças
tecidos biológicos e anticongelantes, para prevenir o congela- c o m dois o u três travessões são f o r m a s de balanças de braços
m e n t o e a separação da água e m baixas temperaturas. des iguais.
A descrição de o u t r o s c o m p o n e n t e s de u m c o n t a d o r de cin-
tilação e a discussão de tópicos relevante é e n c o n t r a d a n a edição Balança de Prato Único
anterior deste livro texto. 15 A balança de p r a t o ú n i c o é u m a balança c o m u m e n t e usada n o
laboratório clinico. Ela é mais f r e q ü e n t e m e n t e operada eletroni-
Gravimetria c a m e n t e e de a u t o b a l a n c e a m e n t o . Tal balança p o d e estar aco-
Massa é u m a p r o p r i e d a d e invariável da matéria. A gravimetria é plada d i r e t a m e n t e a u m c o m p u t a d o r o u a u m dispositivo de
o processo u s a d o para m e d i r a massa de u m a substância. O peso registro. N u m a balança de prato ú n ic o , u m carregamento n o
é u m a f u n ç ã o da massa sob a i n f l u ê n c i a da gravidade, u m a prato faz o travessão inclinar-se para baixo. U m detector nulo
relação expressa por: percebe a posição d o travessão e indica q u a n d o o travessão
desviou do p o n t o de equilíbrio.
Peso = massa x gravidade
Balança Eletrônica
Duas substâncias de igual peso e sujeitas a m e s m a força gravita- Em u m a balança eletrônica, u m a força eletromagnética é aplicada
cional têm massas iguais. A d e t e r m i n a ç ã o da massa é feita usando- para restituir o travessão para sua posição nula. Esta força é
se u m a balança para c o m p a r a r a massa de u m a desconhecida com proporcional a o peso do prato. A maioria das balanças eletrôni-
aquela de u m a massa conhecida. Esta comparação é d e n o m i n a d a cas tem u m dispositivo e m b u t i d o para a taTa, de tal f o r m a q u e a
pesagem, e os padrões absolutos c o m os quais as massas são com- massa do recipiente é facilmente s u b t r a í d a da massa total medida.
paradas são d e n o m i n a d o s pesos. N a prática, os teTmos nmssa e Além disso, e m muitas balanças m o d e r n a s , u m c o m p u t a d o r
peso são usados c o m o s i n ô n i m o s . e m b u t i d o c o m p e n s a as m u d a n ç a s na t e m p e r a t u r a e p r o p o r c i o n a
A forma clássica de u m a balança é u m travessão equilibrado o rastreamento do 2ero a u t o m á t i c o e a calibração.
em u m sustentáculo com gume de ágata, com u m prato suspenso
em cada extremidade do travessão e u m ponteiro mclinado-se do Pesos Analíticos
travessão até o p o n t o de equilíbrio. C o m o objeto a seT pesado em O s pesos analíticos são usados para contrabalançar o peso de
u m prato e pesos de igual massa n o outro prato, o ponteiro pára objetos pesados em balanças de dois pratos e para verificar o
n u m equilíbrio ou p o n t o de balanço entre os extremos do caminho. d e s e m p e n h o de balanças de u m e dois pratos. O N I S T reconhece
O peso necessário para atingir o equilíbrio é, portanto, igual ao cinco classes de pesos analíticos. O s pesos classe S são usados para
peso da substância q u e está s e n d o pesada. a calibração de balanças. N o laboratório clínico, as balanças
devem ser calibradas pelo menos m e n s a l m e n t e e antes da condu-
Princípios de Pesagem ção de trabalho analítico m u i t o acurado. Estes pesos são feitos
Na prática, dois m o d o s de pesagem são usados: (1) pesos analíti- tipicamente de latão ou de aço inoxidável e são envernizados o u
cos são adicionados para se e q u i p a r a r e m ao peso d o objeto a ser blindados para a proteção. Os pesos fracionais de u m c o n j u n t o
p e s a d o ou (2) o material a ser p e s a d o é a d i c i o n a d o a u m prato de padrões classe S são n o r m a l m e n t e feitos de platina ou alumí-
de balança para atingir o equilíbrio c o m u m peso presente. Este nio. As tolerâncias de diferentes pesos f o r a m definidas pelo NIST.
s egundo m o d o é usado mais c o r a u m e n t e e m laboratórios clíni- Para pesos classe S de 1 a 5 g, a tolerância é ±0,054 mg; de 100 a
cos, o n d e a principal necessidade é pesar u m a q u a n t i d a d e fixa 500 mg, ela é ±0,025 mg; e de I a 50 mg, ela é ±0,014 mg.
de u m p r o d u t o q u í m i c o de tal f o r m a q u e u m calibrador ou u m a
solução reagente de concentração c o n h e c i d a possa ser preparada. Termometria
A n t e s da pesagem de u m a amostra de u m p r o d u t o químico, o N o laboratório q u í m i c o clínico, as m e d i d a s de temperatura são
peso d o recipiente precisa ser d e t e r m i n a d o para subseqüente- feitas p r i m a r i a m e n t e para verificar q u e aparelhos estão d e n t r o de
m e n t e permitir a subtração d o peso d o recipiente do peso h r u t o seus limites de t e m p e r a t u r a prescritos. O s banhos-maria ou as
do recipiente mais a amostra para se obter o peso real da amostra. células aquecedoras o n d e as reações são realizadas são exemplos
Isto é c h a m a d o de "tara". Q u a n d o a tara é impraticável, o peso de tais aparelhos, assim c o m o os refrigeradores, cujas temperatu-
d o recipiente vazio precisa ser s u b t r a í d o d o peso c o m b i n a d o d o ras precisam ser m e d i d a s e registradas d i a r i a m e n t e para satisfazer
recipiente e do material para se obter o peso do material as exigências reguladoras do laboratório.
sozinho. Os dois tipos mais populares de t e r m ô m e t r o s n o laboratório
q u í m i c o são os t e r m ô m e t r o s de líquido em vidro e as sondas
Tipos de Balanças termistor.
Balanças com u m o u dois pratos e eletrônicas são freqüente- Todos os t e r m ô m e t r o s devem ser verificados contra u m ter-
m e n t e usadas n o laboratório clínico. m ô m e t r o certificado antes de serem colocados e m uso. Por exem-
pla, o N I S T S R M 934 é u m t e r m ô m e t r o de mercúrio em vidro
Balança de Dois Pratos c o m p o n t o s de calibração a 0 C , 25 C , 3 0 C e 37 C. Alguns
IJma balança c o m dois pratos c o n f o r m e o m o d e l o clássico, con- fabricantes f o r n e c e m t e r m ô m e t r o s de líquido e m vidro q u e têm
sistindo e m u m ú n i c o travessão c o m dois braços de c o m p r i m e n - faixas maiores d o q u e o t e r m ô m e t r o S R M e q u e são calibrados
tos iguais. Pesos-padrão são n o r m a l m e n t e adicionados manual- c o m os t e r m ô m e t r o s NIST. O s detalhes d a verificação da calibra-
m e n t e ao prato d o lado direito para contrabalançar o peso d o ção de u m t e r m ô m e t r o têm sido descritos. 7 O N I S T t a m b é m
objeto n o o u t r o lado, mas, em alguns modelos, u m indicador ou fornece vários materiais que f u n d e m em temperaturas conheci-
calibrador c o m corrente é usado para fazer ajustes finos à massa das, c o m o o gálio (SRM 1968), que f u n d e a 29,7723 C , e o
associada ao p r a t o do lado direito. N a s balanças de prato único, os r u b í d i o (SRM 1969), q u e f u n d e a 39,3 C .
Introdução aos Princípios de Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 33

Verificação da Concentração de Ion Esta derivação d e m o n s t r a que o p H d o sistema é determi-


Hidrogênio n a d o pela pK;i d o ácido e pela proporção de [A ] para [HA]. O
N o laboratório, a concentração de íon hidrogênio é verificada tampão tem sua maior capacidade t a m p o n a n t e no seu pK 3 , que
com tampões. O s t a m p õ e s são definidos c o m o substâncias que é o p H n o qual a [A~] = [HA].
resistem a m u d a n ç a s n o p H de u m sistema- Todos os ácidos ou A capacidade d o campão d i m i n u i com o desvio da proporção
bases fracos, na presença de seus sais, f o r m a m sistemas tampões. de 1. Em geral, os tampões n ã o devem ser usados em u m p H
A ação de tampões e seu papel na m a n u t e n ç ã o do p H de u m a maior d o que 1 u n i d a d e de seus pK a . Se a proporção é além de
solução são explicados com a ajuda da equação de Henderson- 5 0 / 1 ou 1 / 5 0 , considera-se que o sistema perdeu sua capacidade
Hasselbach, que é derivada c o m o a seguir. tamponante. Este p o n t o é a p r o x i m a d a m e n t e 1,7 unidades acima
Q u i m i c a m e n t e , a ionização de u m ácido fraco, H A , e de u m e abaixo do pK a d o ácido p o r q u e
sal daquele ácido, BA, é representada como:
p H = pK a ± 1,7

HA 4 H + + A~ Procedimentos para o Processamento de


-*

Soluções
BA B+ + A " Vários procedimentos são rotineiramente usados para processar
soluções n o laboratório clínico, inclusive aqueles para diluição,
A constante de dissociação para u m ácido fraco (KJ pode ser concentração e filtragem de soluções.
calculada a partir da seguinte equação:
Diluição
Diluição é o processo através d o qual a concentração ou atividade
K, - de u m a dada solução é d i m i n u í d a pela adição de u m solvente.
[HA] N a prática laboratorial, a maioria das diluições é feita transfe-
rindo-se u m volume exato de u m a solução concentrada para u m
Então frasco apropriado e então adicionando-se água ou outro diluente
até o volume necessário, m i s t u r a n d o apropriadamente para
garantir a h o m o g e n e i d a d e . U m a diluição seriada é o c o n j u n t o
[HA]
[H4]= K, x seqüencial de diluições em seqüência matemática. U m a dada
[ A " ] solução é expressa como a quantidade, em volume ou peso, de
u m soluto (analito) em u m volume específico. Por exemplo, uma
OU diluição 1:5 volume a volume (vol/vol) c o n t é m u m volume em
u m total de cinco volumes (um volume mais quatro volumes).
Para evitar erros que surgem q u a n d o dois líquidos de com-
[HA]
l o g [ H + ] = l o g Ka + l o g posições m u i t o diferentes são misturados, a técnica de diluição
ao volume é usada. Em vez de se adicionar 90 m L de água a
10 m L de solução concentrada, os 10 m L de solução concentrada
o n d e os colchetes indicam a concentração d o composto d e n t r o devem ser pipetados em u m frasco volumétrico de 100 mL. A
deles. Agora multiplicando-se por - 1 ; água é adicionada elevando o volume até a marca de 100 m L
n o gargalo do frasco.
Q u a n d o se efetua u m a diluição, a equação seguinte é usada
- l o g [ H + ] - - l o g Ka - l o g p ^ j para determinar o volume (V2) necessário para diluir u m d a d o
L A
J volume (Vj) de solução de u m a concentração conhecida (Ci) até
a concentração mais baixa desejada (C 2 ):
Por definição, p H = -log[H + ] e pK a = -log[KJ, p o r t a n t o
Cj x V j = C 2 X V 2

= fK + log
K]
[HA]

V2 = C, x X
Esta equação é conhecida c o m o a equação de Henderson-Has-
selbach. C o m o A" é derivada principalmente d o sal, a equação
t a m b é m é escrita como:
D o m e s m o modo, a equação t a m b é m é usada para calcular
a concentração da solução diluida q u a n d o u m d a d o volume é
[sal] adicionado à solução inicial.
pH = pK a + log
\[áciâo não dissociado]
Evaporação
Evaporação é u m processo usado para converter u m liquido ou
ou simplesmente:
u m sólido volátil em vapor. Ela é usada n o laboratório clínico
| [sal] para remover liquido de u m a amostra e dessa maneira a u m e n t a r
= pK a + l o g as concentrações de analito(s) que permanece(m).
|íácido]
Liofilização
o n d e [sal] = [A ] = concentração do sal dissociado e [ácidoj = [HA] Liofilização (também conhecida c o m o "desidratação por coiige-
= concentração d o sal não dissociado. lamento") é usada na medicina de laboratório para o preparo de
34 PARTE I Princípios Laboratoriais

(1) calibradores, (2) materiais de controle, (3) reagentes e (4) Programa de Segurança
amostras individuais para análise. Primeiro, a liofilização requer Todo laboratório clínico deve ter u m programa de segurança
o congelamento de u m material a "40°C ou menos e depois formal ampln e efetivo. I n d e p e n d e n t e m e n t e do t a m a n h o d o labo-
submete-o a u m alto vácuo. As temperaturas m u i t o baixas causam ratório clínico, deve-se designar u m individuo específico como o
a sublimação do gelo a um estado de vapor. O material sólido "Oficial de Segurança" ou "Presidente d o C o m i t ê de Segurança"
n ã o sublimado permanece em u m estado seco. e dar a ele a responsabilidade d e implementar e m a n t e r u m
programa de segurança. A segurança é responsabilidade de cada
Filtração empregado, mas a responsabilidade pelo programa como u m
A filtração é definida c o m o a passagem de u m líquido através de t o d o se inicia com a chefia d o laboratório (diretores, diretores
u m filtro e é efetuada pela gravidade, pressão ou vácuo. O filtrado administrativos, supervisores, gerentes etc.) e é delegada através
é o líquido que passa através do filtro. O propósito da filtração é da chefia ao oficial de segurança o u ao comitê de segurança. Este
remover material particulado do líquido. Muitas filtrações no indivíduo ou comitê, então, tem a obrigação de prover as orien-
laboratório clinico são realizadas com papel de filtro e com membra- tações à chefia do laboratório em relação a assuntos relacionados
nas plásticas de t a m a n h o de p o r o controlado. à provisão de u m local seguro de trabalho para todos os empre-
O s filtros de m e m b r a n a são usados (1) sob vácuo, (2) com gados. E m b o r a uma instituição p e q u e n a precise ter u m indivíduo
pressão positiva ou (3) com gravidade. O s filtros têm sido incor- que lide com todos os assuntos relacionados à segurança para
porados em certas ponteiras descartáveis para o uso em pipetas todos os departamentos, inclusive o laboratório, a O S H A ordena
semi-automáticas. Estes filtros minimizam a troca de gotas de q u e o laboratório tenha especificamente u m oficial de higiene
aerossol entre as ponteiras e a pipeta. Isto é de grande importân- química que é designado com base em t r e i n a m e n t o ou experiên-
cia para a amplificação de D N A e procedimentos microbiológi- cia para prover orientação técnica n o desenvolvimento do p l a n o
cos. O u t r o s filtros de m e m b r a n a são projetados para a ultrafiltra- de higiene q u í m i c a (CHP) discutido posteriormente.
ção e estão disponíveis em u m a variedade de t a m a n h o s de poros U m a parte integral d o programa de segurança do laboratório
para filtração seletiva. Ultrafiltração é a técnica para a remoção de é a educação e a motivação de todos os empregados d o laborató-
partículas dissolvidas com o uso de u m filtro extremamente fino. rio em todos os assuntos relacionados à segurança. A todos os
Ela é usada para concentrar macromoléculas, tais c o m o proteí- novos empregados deve ser dada u m a cópia do m a n u a l geral de
nas, p o r q u e moléculas menores dissolvidas passam através do segurança d o laboratório c o m o parte de suas orientações. O pro-
filtro. grama de educação continuada d o laboratório deve incluir pales-
tras periódicas sobre segurança. Vários recursos audiovisuais estão
disponíveis a partir de uma variedade de fontes para auxiliar na
SEGURANÇA parte de educação continuada do programa de segurança. 4 , e
Nos Estados Unidos, o A t o de Saúde e Segurança Ocupacional U m a o u t r a parte i m p o r t a n t e d o programa de segurança do
Federal de 1970 foi o início da vigilância reguladora formal da laboratório diz respeito à garantia de que o ambiente d o labora-
segurança de empregados. Desde 1970 a Occupntional Safety and tório satisfaz os padrões de segurança aceitos. Este esforço inclui-
Health A d m i n i s t r a t i o n (OSHA) e o Centers for Disease C o n t r o l ria, mas n ã o se limitaria à atenção para itens tais como: (1)
and Prevention ( C D C ) têm publicado numerosas n o r m a s de rótulos apropriados dos produtos químicos, (2) tipos e localiza-
segurança que se aplicam aos laboratórios clínicos. A cada a n o ções dos extintores de incêndio, (3) capelas em boas condições
que a Joint C o m m i s s i o n o n Accreditation of Healthcare Organi- de trabalho, (4) aterramento adequado de e q u i p a m e n t o s elétri-
zations (JCAHO) e o College of A m e r i c a n Pathologists (CAP) cos, (5) questões ergonômicas (as quais incluem equipamento,
revisam suas diretrizes, mais atenção é devotada à segurança. As tais c o m o dispositivos de pipetagem, mobília de laboratório e a
deliberações para a saúde e responsabilidade pela segurança dos prevenção de desordens musculoesqueléticas) 1 2 e (6) meios de
empregados são agora aceitas c o m o obrigações de todos os empre- manipulação e descarte apropriados dos materiais biologicamente
gados e diretores de laboratórios. E m maio de 1988, a O S H A perigosos, incluindo as amostras de todos os pacientes. 5
expandiu o Hazard C o m m u n i c a t i o n Standard para a aplicação a
trabalhadores de hospitais. Parte destas n o r m a s é f r e q ü e n t e m e n t e Equipamento de Segurança
referida c o m o a "Lab Right to Know Standard". A O S H A requer que as instituições forneçam a seus empregados
Existem vários aspectos para a operação segura de u m labo- todos os e q u i p a m e n t o s de proteção pessoal (PPE) necessários.
ratório clínico. O s elementos-chave para segurança n o laborató- I m p o r t a n t e s itens-chave de segurança são: (1) vestimentas (tais
rio clínico incluem: c o m o jalecos e guarda-pós), (2) luvas e (3) proteção para os olhos.
Estes itens de segurança devem ser usados em áreas o n d e são
1. U m programa de segurança formal; apropriados. Lavadores de olhos e de face devem estar disponíveis
2. Orientações d o c u m e n t a d a s e uso efetivo de planos delegados em todos os laboratórios químicos. Muitos tipos estão disponí-
e / o u programas nas áreas d e higiene química, controle de veis e alguns simplesmente se c o n e c t a m a e n c a n a m e n t o s existen-
exposição a patógenos hematogênicos, controle de tubercu- tes. U m sfmry de segurança para olhos e / o u face à m ã o é u m
lose e e r g o n o m i a ; dispositivo de segurança necessário e é colocado n o r m a l m e n t e
3. Identificação de riscos ocupacionais significantes, c o m o bio- próximo a cada pia, o c u p a n d o s o m e n t e poucos centímetros de
lógicos, químicos, fogo e riscos elétricos, e orientações clara- espaço. Chuveiros de segurança localizados estrategicamente n o
m e n t e identificadas e d o c u m e n t a d a s para os empregados laboratório devem estar disponíveis e devem ser testados regular-
lidarem com cada tipo de risca (p. ex., e m p a c o t a m e n t o e mente.
remessa de amostras diagnosticas e substâncias infecciosas); Luvas resistentes ao calor (não-asbesto) devem estar disponíveis
4. R e c o n h e c i m e n t o de que existem áreas de interesse e m segu- para manipulação de vidro quente e de gelo seco. Óculos de pro-
rança relevantes e importantes. Estas áreas incluem o m a n e j o teção, óculos e visores de segurança, inclusive aqueles que se
efetivo de resíduos e planos de resposta ao bioterrorismo e ajustam convenientemente sobre óculos comuns, estão disponíveis
terrorismo químico n o caso de ameaças ou acidentes envol- em vários tamanhos e formatos. Os funcionários que usam lentes
v e n d o estes tipos de agentes de contato devem ser advertidos do risco de substâncias irritantes
Introdução aos Princípios de Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 35

sob as lentes, pois estas dificultam a irrigação adequada do olho. que o ambiente do local de trabalho expõe os empregados ao
Proteções à prova de estilhaçamento devem ser usadas em frente a risco ocupacional de desenvolver várias desordens musculoesque-
sistemas que apresentam u m risco potencial devido à implosão Iéticas. C o m o resultado, o foco da O S H A em laboratórios com
(colapso por vácuo) ou explosões de pressão. Protetores de desseca- um programa ergonômico efetivo tem levado grupos de aprova-
dores devem ser usados em dessecadores a vácuo. Os béqueres ção federal, estaduais e privados a tratar desta área de segurança
quentes devem ser manuseados com pinças. Bombas de polietileno ocupacional. Tem havido, entretanto, considerável controvérsia
de baixo custo estão disponíveis para bombear ácidos de frascos sobre este assunto com uma regra final de ergonomia publicada
grandes. Equipamentos para despejo de ácidos, materiais cáusticos e, então, revogada em 2001. 9
ou solventes inflamáveis existem em vários tamanhos. Tais equipa-
mentos e outros materiais de segurança devem estar localizados em Plano de Higiene Química
locais convenientes e apropriados no laboratório. Os principais elementos de u m C H P incluem a listagem de
U m a capela de exaustão é necessária para rodo laboratório responsabilidades para empregadores e empregados e u m oficial
químico clínico. A capela de exaustão é o único lugar seguro para: de higiene química. Também, cada laboratório precisa ter um
(1) abrir u m recipiente de u m material que desprende vapores inventário químico completo que é atualizado anualmente.
nocivos, (2) preparar reagentes que produzem fumaça e (3) U m a cópia da Ficha de I n f o r m a ç ã o de Segurança de P r o d u t o
aquecer solventes inflamáveis. Em caso de u m a explosão ou fogo (MSDS), a qual define cada composto químico como tóxico,
na capela, o fechamento de sua janela controla o fogo. carcinogênico ou perigoso, precisa ser arquivada e p r o n t a m e n t e
acessível a todos os empregados 24 horas p o r dia, sete dias por
Inspeções de Segurança semana. A M S D S contém informações importantes para o
É uma boa prática de laboratório organizar uma equipe de ins- benefício dos empregados do laboratório. A informação do
peção de segurança entre o pessoal do laboratório. Esta equipe fabricante da substância química, como fornecida na MSDS, é
é, então, responsável pela condução periódica e programada de usada para averiguar se certa substância química é perigosa
inspeções do laboratório. 6 Cada MSDS precisa fornecer a identidade do p r o d u t o como ela
Nos Estados U n i d o s existem várias organizações reguladoras aparece no rótulo do frasco e o composto químico e nomes
privadas autorizadas, estaduais e federais que podem conduzir comuns de seus componentes nocivos. A MSDS t a m b é m fornece
uma inspeção de segurança do laboratório Algumas destas ins- dados físicos sobre o produto, tais como o p o n t o de ebulição, a
peções de segurança podem ocorrer sem aviso. A partir de uma pressão de vapor e a gravidade específica. As características facil-
perspectiva externa, os inspetores da O S H A têm a autoridade de mente reconhecidas do p r o d u t o químico t a m b é m estão listadas
entrar em um laboratório clínico sem aviso e, apresentando suas n o item "aparência e odor". As informações sobre propriedades
credenciais, inspecioná-lo. A inspeção pode ser de rotina ou nocivas são dadas em detalhes n a MSDS; elas incluem dados
como resultado de uma queixa. Além disso, a Comissão de Ins- sobre o risco de fogo e explosão e dados relacionados à saúde,
peção e Autorização do CAP inspeciona laboratórios clínicos e incluindo o valor limite limiar (TLV), os limites de exposição e
usa várias listas de checagem de segurança (disponíveis ao labo- os valores de toxicidade. O TLV é a exposição permissível para
ratório antes da inspeção) na avaliação de u m laboratório para um empregado durante 8 horas por dia. A M S D s também
aprovação. Embora a J C A H O vá aceitar uma autorização de u m aponta os efeitos de superexposição e fornece informações sobre
laboratório pelo CAP, ela pode ainda conduzir u m a inspeção de os procedimentos de primeiros socorros e de d e r r a m a m e n t o e
segurança do laboratório q u a n d o inspecionar o hospital. A descarte, e sobre equipamentos de proteção pessoal e os requisi-
J C A H O e o CAP conduzem suas inspeções de aprovação, as tos dos equipamentos.
quais p o d e m incluir o laboratório completo ou o componente
de segurança do laboratório, sem aviso.
D e p e n d e n d o do grupo responsável designado para aprovação Plano de Controle de Exposição
de um laboratório particular, laboratórios selecionados podem Os regulamentos da O S H A exigem que cada laboratório desen-
ser submetidos a inspeções com propósito de aprovação e / o u volva, implemente e adira a um plano que garanta a proteção dos
segurança somente pelas agências estatais ou grupos Center for trabalhadores de laboratório contra a exposição potencial a pató-
Medicate and Medicaid Services (CMS) locais. As inspeções genos hematogênicos 4 f 5 e garanta que os resíduos médicos produ-
também p o d e m ser feitas regularmente pelos departamentos de zidos pelo laboratório sejam gerenciados e manipulados de uma
saúde local ou estadual ou pelo departamento de incêndio local maneira segura e efetiva. 5,6 Os regulamentos da O S H A também
para determinar a conformidade com suas exigências de segu- colocam a responsabilidade nos empregados para implementar
rança. Geralmente u m laboratório que satisfaz as exigências da novos desenvolvimentos na tecnologia de controle da exposição,
O S H A estadual ou federal provavelmente irá satisfazer as normas para solicitar sugestões dos empregados diretamente envolvidos
de qualquer outra agência de inspeção. n o cuidado d o paciente na identificação, avaliação e seleção
deste controles de prática de trabalho e, em alguns casos, manter
Planos Delegados um registro para injúrias percutâneas dos empregados com dis-
Em 1991 a O S H A ordenou que todos os laboratórios clínicos positivos afiados, tais como agulhas de seringas. 14 Em termos da
nos Estados Unidos tivessem u m C H P e um plano de controle organização, o plano deve incluir seções sobre: (1) propósito, (2)
de exposição. A O S H A tinha, então, atualizado suas exigências finalidade, (3) referências aplicáveis, (4) definições aplicáveis, (5)
para o plano de controle de exposição para estabelecer novos definição das responsabilidades e (6) etapas detalhadas de pro-
exemplos de controles de manejo e colocar responsabilidades cedimento.
significativamente maiores nos empregadores para minimizar e Na implementação do plano, cada empregado do laboratório
gerenciar a exposição ocupacional dos empregados a patógenos precisa ser colocado em u m dos três grupos. As crês classificações
hematogênicos. 14 O C A P e outros grupos exigem que um labora- são feitas como a seguir:
tório autorizado renha plano de controle de exposição à tubercu- Grupo I: U m a classificação de emprego na qual todos os empre-
lose d o c u m e n t a d o de acordo com as diretrizes de biossegurança gados têm exposição ocupacional a sangue ou outros mate-
publicadas pelo C D C / A l é m disso, atualmente, é reconhecido riais potencialmente infecciosos.
36 PARTE I Princípios Laboratoriais

Grupo II: U m a classificação de emprego na q u a l alguns empre- 6, especificamente os materiais hiológicos e p o t e n c i a l m e n t e infec-
gados t ê m exposição o c u p a c i o n a l a sangue o u o u t r o s mate- ciosos, t ê m recebido considerável atenção. E m 2 0 0 2 , o Departa-
riais p o t e n c i a l m e n t e infecciosos. m e n t o de Transportes N o r t e - a m e r i c a n o ( D O T ) l i b e r o u u m a regra
Grupo III: U m a classificação de emprego n a q u a l os empregados revisada c o m n o r m a s para m a n i p u l a ç ã o de m a t e r i a l perigoso
n ã o t ê m qualquer exposição o c u p a c i o n a l a sangue o u outros c o n t e n d o substância infecciosa. O i m p a c t o e as exigências destes
materiais p o t e n c i a l m e n t e infecciosos. regulamentos estão descritos n a seção He riscos biológicos.
Etiquetas de advertência a j u d a m na identificação de riscos
Plano de Controle da Tuberculose químicos d u r a n t e o transporte. Sob os regulamentos d o D O T ,
O p r o p ó s i t o d o p l a n o de c o n t r o l e da tuberculose é p r e v e n i r a os compostos q u í m i c o s q u e são transportados nos Estados
transmissão da tuberculose (TB), a q u a l ocorre q u a n d o u m i n d i - U n i d o s d e v e m possuir etiquetas de acordo c o m a classificação
v í d u o inala u m a gotícula que c o n t é m M.ycobacterium tuberculosis. das N U , Os cartazes o u etiquetas d o D O T são em f o r m a de
M . tubérculos is se propaga e m aerossol q u a n d o u m i n d i v í d u o losango c o m u m d í g i t o impresso n o canto i n f e r i o r que i d e n t i f i c a
i n f e c t a d o espirra, fala o u tosse. A transmissão e a exposição à T B a classe de risco das N U (1 a 9). O risco é i d e n t i f i c a d o mais
são f o r t e m e n t e d i m i n u í d a s c o m : ( I ) a i d e n t i f i c a ç ã o precoce e o especificamente e m palavras impressas colocadas ao l o n g o d o
i s o l a m e n t o de pacientes e m risco, (2) controles ambientais, (3) eixo h o r i z o n t a l d o losango. O c ó d i g o de cor e uma descrição
uso a p r o p r i a d o de e q u i p a m e n t o de proteção respiratório, (4) ilustrada d o risco s u p l e m e n t a m a identificação d o m a t e r i a l peri-
educação dos empregados d o l a b o r a t ó r i o e (5) i n í c i o precoce de goso n a etiqueta; a ilustração aparece n o c a n t o superior d o
terapia. losango (Figura 2-5, A ) .
U m p l a n o de c o n t r o l e da tuberculose efetivo i n c l u i r á a deter- O sistema é usado pelo D O T para o t r a n s p o r t e de materiais
m i n a ç ã o da exposição e m intervalos regulares para todos os perigosos; e n t r e t a n t o , q u a n d o o m a t e r i a l perigoso chega ao seu
empregados que estão e m risco o c u p a c i o n a l . Os controles de destino e é r e t i r a d o de seu r e c i p i e n t e de transporte, esta i d e n t i -
m a n e j o e práticas de t r a b a l h o são p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e s ficação é p e r d i d a . O l a b o r a t ó r i o precisa então etiquetar cada
nas áreas d o l a b o r a t ó r i o , tais c o m o m i c r o b i o l o g i a e c i r u r g i a pato-
lógica. Mas existe claramente u m risco de exposição a p a r t i r de
amostras de pacientes c o m tuberculose, suspeita o u c o n f i r m a d a ,
e m todas as seções do l a b o r a t ó r i o , i n c l u i n d o a q u í m i c a .

Programa Ergonômico
Existem várias áreas de risco o c u p a c i o n a l para o d e s e n v o l v i m e n t o
de desordens musculoesqueléticas n o l a b o r a t ó r i o c l í n i c o . Estas
i n c l u e m a atividade de l a b o r a t ó r i o de r o t i n a , a f u n c i o n a l i d a d e
d o local de t r a b a l h o ( i n c l u i n d o o revestimento d o piso d o labo-
r a t ó r i o , a i l u m i n a ç ã o clara e a geração de b a r u l h o ) e o p r o j e t o
d o e q u i p a m e n t o (teclados e telas de computadores, estações de
t r a b a l h o e cadeiras). U m a f u n ç ã o p a r t i c u l a r d o l a b o r a t ó r i o , a
p i p e t a g e m e o projeto da pipeta, t e m recebido atenção conside-
rável. C o m o descrito n a Figura 2-2, as pipetas têm sido desenha-
X /
das c o m o o b j e t i v o de reduzir o risco de o empregado ter desor-
dens de estresse cumulativas causadas pela postura inadequada,
m o v i m e n t o repetitivo e uso r e p e t i d o de força. HAZARDOUS MATERIALS
CLASSIF1CATI0N
O C A P exige que laboratórios autorizados t e n h a m u m pro-
grama e r g o n ô m i c o d e f i n i d o e abrangente que é p r o j e t a d o para
prevenir desordens musculoesqueléticas relacionadas ao t r a b a l h o
HEALTH HA2ARD FIRE HAZARD
através de controles de prevenção e m a n e j o . O p l a n o e r g o n ô m i c o FlBEÍ Poinís
4- Desdly
d o c u m e n t a d o deve i n c l u i r elementos de t r e i n a m e n t o de empre- 3 - EjdreiTB i- Be Iam 73' F
dinger 3- BelWs10(]"F
gados relativos a área? de risco, controles de m a n e j o para m i n i - i - HHjrítw . I -fchA'330t
1- «j»«P2È0' f
mizar o u e l i m i n a r riscos e u m processo de determinação para • • 8 S í » X 0 - Wilf r;jl ísLjn
i d e n t i f i c a r problemas para d o c u m e n t a ç ã o e reparação. 0- Norma! /
maiwlal /

Riscos no Laboratório
V á r i o s tipos de risco são enc ontr ados na operação de u m labo-
r a t ó r i o clínico. Estes riscos precisam ser i d e n t i f i c a d o s e marcados,
e as práticas de trabalho, desenvolvidas para lidar c o m eles. As
p r i n c i p a i s categorias de riscos encontradas i n c l u e m : (1) b i o l ó g i c o ,
REACT1VITY
(2) q u í m i c o , (3) elétrico e (4) risco de i n c ê n d i o . I • f*r aelMíV
3- âhacfc afld lieal
Oildber may dllonâlá
Identificação do Risco Aci d Iffolcfll tíümlul
CHaH iej
Al Hall 1- Unsl atile II
Os l a b o r a t ó r i o s clínicos l i d a m c o m cada u m a de nove classes de CflilOíiíí h o ate d
materiais perigosos. Eles estão classificados pelas Nações U n i d a s Ut NC Vi Min 0- Sladle
Fadalion Hoiarri
( N U ) c o m o : (1) explosivos, (2) gases c o m p r i m i d o s , (3) l í q u i d o s
inflamáveis, (4) sólidos inflamáveis, (5) materiais oxidantes, (6) B
materiais tóxicos, (7) materiais radioativos, (8) materiais corrosi-
Figura 2 - 5 A, Etiqueta d o D e p a r t m e n t of Transportation para
vos e (9) materiais variados q u e não estão classificados e m o u t r o
corrosivos. B, Sistema de identificação da National Fíre Protection
lugar. O t r a n s p o r t e e a m a n i p u l a ç ã o dos materiais tóxicos classe
Associatíon. (Cortesia do Lab Safety Supply Inc, Janesville, Wis.)
Introdução aos Princípios de Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 37

recipiente individualmente. Geralmente, a informação necessária tiverem de ser usadas, elas devem ser sem talco e de látex pouco
para classificar apropriadamente o conteúdo do recipiente está alergênico.
contida na etiqueta de transporte e pode ser notada. Informações Novos produtos para o a u m e n t o da proteção de empregados
importantes de primeiros socorros t a m b é m são geralmente for- contra perfuração com agulhas i n c l u e m uma série de novos reci'
necidas nesta etiqueta. pientes para objetos afiados (p.ex., agulhas, escalpes e vidro) e
M e s m o que a O S H A determine o uso de etiquetas ou outras sacos de descarte de segurança biológica e revestimento para
advertências apropriadas atualmente, não existe u m sistema agulhas que podem ser fechados após uma punção venosa sem
ú n i c o de marcação u n i f o r m e para compostos químicos perigosos que exista contato físico c o m a agulha ou o revestimento. E m b o r a
para laboratórios clínicos. As advertências de risco apropriadas sejam necessários estudos adicionais sobre sua eficácia e efeitos
incluem palavras, figuras e símbolos, combinados o u não, que sobre os resultados de testes de laboratório, dispositivos de micro
t r a n s m i t a m os riscos físicos ou para a saúde do conteúdo dos laser estão atualmente disponíveis para perfuração da pele de u m
recipientes e precisam ser especificadas pelo efeito do composto paciente para coletar u m a amostra de sangue capilar.
químico e os órgãos-alvo específicos envolvidos. A N a t i o n a l Fire O C S L I também tem publicado u m c o n j u n t o similar de
Protection Association (NFPA) desenvolveu o Sistema de Identi- recomendações, 4,6 muitas das quais são especificadas como exi-
ficação 704-M, o qual classifica os materiais perigosos de 0 a 4 gências no plano de controle de exposição da O S H A . Elas
(o mais perigoso) de acordo com a inflamabilidade e a reatividade incluem:
(instabilidade). Este sistema usa etiquetas em forma de losango
(Figura 2-5, B), as quais estão disponíveis na maioria das compa- 1. Nunca pipetar com a boca e nunca assoprar pipetas que
nhias que vendem equipamentos de segurança para laboratórios. contêm material potencialmente infeccioso.
As etiquetas são codificadas pela cor e divididas em quadrantes. 2. Não misturar material potencialmente infeccioso
Três dos quadrantes têm u m a cor característica e representa u m b o r b u l h a n d o ar através do líquido.
dpo de risco. U m n ú m e r o n o quadrante indica o grau de risco. 3. As barreiras de proteção, tais como: luvas, máscaras e
O quarto (inferior) quadrante contém informação de especial protetores dos olhos e jalecos, devem estar disponíveis e ser
interesse para os bombeiros. usadas quando o sangue de u m paciente é coletado e
quando todas as amostras de pacientes são manuseadas.
Isso i n c l u i a remoção das tampas dos tubos. As luvas
Riscos Biológicos devem ser descartáveis, de látex não estéril, o u de outro
E essencial m i n i m i z a r a exposição dos trabalhadores do labora- material que forneça barreira adequada. Os flebotomistas
tório a agentes infecciosos, tais como as hepatites e H I V . A devem trocar de luvas e descartá-las adequadamente entre
exposição a agentes infecciosos resulta de: (1) perfuração aciden- as retiradas de sangue de diferentes pacientes.
tal com agulhas, (2) pulverização de materiais infecciosos por uma 4. Lavar as mãos quando trocar de luvas.
seringa o u derramamento e espirro destes materiais nos tampos 5. A barreira de proteção facial deve ser usada se existe u m
das bancadas o u no chão, (3) acidentes na centrifugação e (4) potencial significante de respingo de sangue o u fluidos
cortes o u arranhões com vasilhas contaminadas. Qualquer tecido corporais.
não fixado, inclusive lâminas com sangue, precisam ser tratados 6. Evitar o uso de seringas sempre que possível e descartar as
como materiais infecciosos potenciais. agulhas em recipientes rígidos (Figura 2-6, A) sem
A O S H A t e m ordenado que todos os laboratórios dos E U A manuseá-las (Figura 2-6, B).
tenham u m plano de controle de exposição. A l é m disso, o Natio- 7. Descartar apropriadamente todos os objetos afiados.
nal Institute for Occupational Safety and H e a l t h ( N I O S H ) , uma 8. Vestir roupas protetoras, as quais servem como uma barreira
unidade f u n c i o n a l do C D C , tem preparado e distribuído ampla- efetiva contra materiais potencialmente infecciosos. Q u a n d o
mente u m d o c u m e n t o i n t i t u l a d o Precauções Universais que deixar o laboratório, as roupas protetoras devem ser retiradas.
especifica c o m o os laboratórios clínicos dos E U A devem lidar 9. Esforçar-se para evitar ferimentos acidentais.
c o m agentes infecciosos. 11 E m geral ele ordena que os laborató- 10. Encorajar a freqüente lavagem de mãos no laboratório; os
rios clínicos tratem todo sangue h u m a n o e outros materiais empregados devem lavar suas mãos sempre que deixarem o
potencialmente infecciosos como se eles contivessem agentes laboratório.
infecciosos, tais como H B V , H I V e outros patógenos hematogê- 11. Tornar u m hábito manter as mãos longe da boca, nariz,
nicos. Estas exigências se aplicam a todas as amostras de: (1) olhos e qualquer outra membrana mucosa Isso reduz a
sangue, (2) soro, (3) plasma, (4) produtos sanguíneos, (5) secre- possibilidade de auto-inoculação.
ções vaginais, (6) sêmen, (7) f l u i d o cerebrospinal, (8) f l u i d o sino- 12. M i n i m i z a r os derramamentos e os respingos.
vial e (9) vírus H B V ou H I V concentrados. A l é m disso, qualquer 13. Descontaminar todas as superfícies e dispositivos
amostra de qualquer t i p o que contenha traços visíveis de sangue reutilizáveis, após o uso, c o m desinfetantes hospitalares
deve ser manuseada usando-se estas Precauções Universais. apropriados registrados na U S. Environmental Protection
As Precauções Universais também especificam que barreiras Agency (EPA). Esterilização, desinfecção e descontaminação
de proteção devem ser usadas pelos trabalhadores de laboratório são discutidas em detalhes na publicação M29-A3 do CLSI. 4
para evitar a contaminação da pele e membranas mucosas com 14. N e n h u m a etiqueta de advertência deve ser usada em
as amostras. Estas barreiras, também conhecidas como PPE, amostras de pacientes, uma vez que todas devem ser
incluem: (1) luvas, (2) jalecos, (3) casacos de laboratório, (4) tratadas como potencialmente perigosas.
proteção para a face ou máscara e proteção para os olhos, (5) 15. Os procedimentos de biossegurança nível 2 devem ser
máscara de ressuscitação, (6) sacos de ressuscitação, (7) máscaras usados sempre que apropriado.
portáteis o u (8) outros dispositivos ventiladores. Para alguns indi- 16. Antes de centrifugar tubos, veja se eles possuem
víduos, a alergia a látex é u m problema durante o uso de luvas rachaduras. Inspecione o interior do rotor para sinais de
de látex para a barreira de proteção. Para tais indivíduos, luvas erosão o u de material aderido. Certifique-se que os
de grau médico feitas de materiais como vinil, nitrila, neoprene amortecedores de borracha estão livres de qualquer
o u elastômero termoplástico estão disponíveis. Se luvas de látex partícula de vidro.
38 PARTE I Princípios Laboratoriais

f l e b o t o m i s t a s e patologistas sejam vacinados c o m a v a c i n a


c o n t r a hepatite B. É u m a exigência reguladora que p e l o
m e n o s aos empregados de l a b o r a t ó r i o s a n t e r i o r m e n t e
descritos seja dada a opção de receber a vacina c o n t r a
h e p a t i t e B de graça,

A investigação de acidentes aéreos trágicos n o f i n a l dos anos


de 1990 pela U . S . N a t i o n a l T r a n s p o r t a t i o n Safety B o a r d ( N T S B )
levou ao DOT, em cooperação com a International Air Transport
Association (IATA) e a International Civil Aviation Organization
( I C A O ) , o d e s e n v o l v i m e n t o das exigências estritas e revisadas
p a r a o t r a n s p o r t e e m a n u s e i o de materiais perigosos. 2 C o m a
ciência c o n t i n u a d a da necessidade das Precauções Universais, d o
risco d e patógenos h e m a t o g ê n i c o s e das conseqüências adversas
de infecções sérias e m p o t e n c i a l , o t r a n s p o r t e e o m a n u s e i o de
materiais classe 6 — materiais b i o l ó g i c o s —são p o n t o s críticos de
segurança.
A s n o r m a s de t r a n s p o r t e f e d e r a l e e m p a c o t a m e n t o d i v i d e m
amostras p o t e n c i a l m e n t e infecciosas e m q u a t r o grupos de risco
q u e v a r i a m de risco b a i x o a alto.
Estas n o r m a s c o l o c a m p a r t i c u l a r ênfase n o t r e i n a m e n t o para
m a t e r i a l perigoso ( H A Z M A T ) q u e deve ser d a d o a empregados
de l a b o r a t ó r i o q u a n d o t r a n s p o r t a n d o e m a n u s e a n d o substâncias
infecciosas. O s elementos i n c l u e m a conscientização geral e fami-
lirização, e o t r e i n a m e n t o de segurança e específico de cada
f u n ç ã o . O t r e i n a m e n t o a d e q u a d o , p a r t i c u l a r m e n t e e m áreas de
marcação de pacotes e d o c u m e n t a ç ã o ( i n c l u i n d o u m a declaração
de c o n t e ú d o d o r e m e t e n t e para cargas perigosas), é o b r i g a t ó r i o ,
c o m certificação d o c u m e n t a d a , exigida dos empregadores, de q u e
os empregados relevantes t e n h a m t i d o programas de t r e i n a m e n t o

>L
a p r o p r i a d o s . E m b o r a o i m p a c t o adverso de t r e i n a m e n t o inade-
q u a d o possa ser r e f l e t i d o p r i n c i p a l m e n t e pela m o r t a l i d a d e e
m o r b i d a d e h u m a n a s potenciais, as violações a estas regias iden-
tificadas t a m b é m i m p õ e grandes m u l t a s e p u n i ç ã o para o i n d i v i -
d u o e o empregador o u i n s t i t u i ç ã o .

Riscos Químicos
O a r m a z e n a m e n t o e o uso adequados de p r o d u t o s q u í m i c o s são
necessários para evitar riscos, tais c o m o queimas, explosões, fogos
e fumaças tóxicas. P o r t a n t o , o c o n h e c i m e n t o das p r o p r i e d a d e s
dos compostos q u í m i c o s e m uso e dos p r o c e d i m e n t o s de m a n u -
seio adequados reduz bastante as situações perigosas. A s garrafas
de substâncias químicas e soluções d e v e m t a m b é m ser manusea-
das c u i d a d o s a m e n t e , e u m a caçamba deve ser usada para trans-
p o r t a r recipientes pesados o u m u i t o s recipientes de u m a área para
F i g u r a 2 - 6 A , Sistema de descarte de agulha, conveniente pata o u t r a . Recipientes de vidros c o m substâncias químicas d e v e m ser
ofcjetos pontiagudos. B, Dispositivos de revestimento de agulhas para t r a n s p o r t a d o s e m caixas de b o r r a c h a o u plástico que os p r o t e g e m
prevenir o contato d o c o r p o com a agulha. (B, Cortesia de MarketLab da quebra e, e m caso de quebra, c o n t r o l a m o d e r r a m a m e n t o .
Inc.). Estojos de d e r r a m a m e n t o a p r o p r i a d o s devem estar disponíveis e m
locais estratégicos. U m kit de d e r r a m a m e n t o usual, t a l c o m o o
Sasco S o l i d i f i e r S p i l l Response K i t ( h t t p ; / / w w w . s a s c o c h e m i c a l .
17. U s e técnicas de descarte de materiais b i o l ó g i c o s perigosos com), p o d e conter materiais específicos p a t a ser usado c o m der-
(p. ex., "Saco V e r m e l h o " ) . rames d e ácido o u de materiais orgânicos o u cáusticos. A s i n s t r u -
18. N u n c a deixe u m t u b o descartado o u u m m a t e r i a l ções d e uso destes materiais estão contidas n o estojo.
i n f e c t a d o a b a n d o n a d o o u sem etiqueta. O r e s p i n g o de ácidos, materiais cáusticos e agentes o x i d a n t e s
19. P e r i o d i c a m e n t e , l i m p e o freezev e as caixas de gelo seco fortes é u m perigo para as roupas e o l h o s e é u m a f o n t e p o t e n c i a l
para r e m o v e r ampolas quebradas e tubos de amostras de q u e i m a d u r a s químicas. U m a garrafa n u n c a deve ser segurada
biológicas. Use luvas de b o r r a c h a e proteção r e s p i r a t ó r i a pelo seu gargalo e s i m f i r m e m e n t e e m v o l t a de seu c o r p o c o m
d u r a n t e esta limpeza. u m a o u ambas as mãos, d e p e n d e n d o d o t a m a n h o d a garrafa. O s
20. A O S H A exige q u e a v a c i n a c o n t r a hepatite B seja ácidos precisam ser d i l u í d o s adicionando-se l e n t a m e n t e a eles
oferecida a todos os empregados e m risco de exposição água e n q u a n t o se m i s t u r a ; a água n u n c a deve ser a d i c i o n a d a a
p o t e n c i a l c o m o u m a par te regular o u ocasional de suas ácido c o n c e n t r a d o . A o se t r a b a l h a r c o m soluções ácidas o u alca-
tarefas. O A d v i s o r y C o m m i t t e e o n I m m u n i - a t i o n Practices linas, os óculos de segurança d e v e m ser usados. M a t e r i a i s ácidos
( A C I P ) d o C D C r e c o m e n d a que tecnólogos médicos, e cáusticos e agentes oxidantes fortes d e v e m ser m i s t u r a d o s na
Introdução aos Princípios de Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 39

pia. Esta fornece água paia o resfriamento e para a contenção do regulada por regras atribuídas pela O S H A . Entretanto, algumas
reagente n o caso de o frasco o u garrafa quebrar. regras locais de departamentos de incêndio são mais severas. Os
Todas as garrafas contendo reagentes devem ser etiquetadas solventes devem ser estocados em u m gabinete metálico de esto-
adequadamente. E u m a boa prática de laboratório etiquetar o cagem aprovado pela O S H A que é adequadamente ventilado. O
recipiente antes de adicionar o reagente, evitando então a possi- v o l u m e de trabalho m á x i m o de solventes inflamáveis p e r m i t i d o
bilidade de se ter u m reagente sem etiqueta. A etiqueta deve fora dos gabinetes de estocagem é de 18,9 L por sala. N ã o mais
exibir: (1) o n o m e e a concentração do reagente, (2) as iniciais do que 227,1 L de solventes dos tipos I e I I podem ser estocados
da pessoa que fez o reagente e (3) a data na qual o reagente f o i em u m único gabinete. N ã o mais do que três gabinetes p o d e m
preparado. Q u a n d o apropriado, a data de validade deve ser estar localizados em cada 464,5 m z de espaço de laboratório.
também incluída. As etiquetas devem ter u m código de cor ou A vaporização é o principal problema na ignição e n o espa-
u m a etiqueta adicional para designar as condições específicas de l h a m e n t o de fogo. Os vapores de líquidos e sólidos combustíveis
estocagem, tais como a necessidade de refrigeração o u estocagem e inflamáveis f o r m a m uma mistura inflamável c o m o ar. Eles são
especial relacionada a u m risco potencial. Todos os reagentes caracterizados pelos seus pontos de flash; o p o n t o de flash é defi-
encontrados em garrafas sem etiquetas devem ser descartados n i d o como a menor temperatura na qual u m solvente desprende
c o m o uso de procedimentos e precauções adequados. vapores inflamáveis na proximidade da sua superfície. A mistura
Ácidos fortes, materiais cáusticos e agentes oxidantes fortes em seu p o n t o de flash inflama-se quando exposta a uma fonte de
devem ser distribuídos airavés de u m dispositivo de dispensação ignição. E m temperaturas abaixo do p o n t o de fkish, o vapor
disponível comercialmente. E m n e n h u m a circunstância a pipeta- desprendido é considerado m u i t o pobre para ignição.
gem com a boca é permitida. O descarte de solventes inflamáveis no esgoto pluvial ou
E m alguns casos, os materiais para o lixo não são coletados sanitário não é normalmente permitido. As exceções são peque-
no mesmo recipiente. C o m certos tipos de equipamento, os nas quantidades daqueles materiais misciveis c o m a água, mas
ácidos fortes o u outros materiais perigosos são bombeados dire- mesmo o descarte destes deve ser seguido por grandes quantida-
tamente n o ralo. Isso sempre precisa ser associado a u m f l u x o des de água fria. Outros solventes podem ser coletados e m latas
constante de água da torneira. Óculos de segurança devem ser de segurança. Latas separadas p o d e m ser utilizadas para éter e
usados pelos operadores do instrumento quando ácidos são bom- para solventes clorados; todos os outros solventes p o d e m ser
beados sob pressão. misturados em uma terceira lata. As latas podem ser estocadas,
O ácido perclórico, por ser potencialmente explosivo em mantendo-se as regras de quantidade de estocagem, em u m gabi-
contato com materiais orgânicos, requer manuseio cuidadoso. O nete seguro até serem recolhidas por u m a firma de descarte de
ácido perclórico não deve ser usado em bancadas c o m tampo de Tesíduos. U m a abordagem mais econômica é transferir os solven-
madeira, e as garrafas deste ácido devem ser estocadas em uma tes para latas maiores, ou tambores, em u m depósito externo, de
cápsula de vidro. O descarte deve set acompanhado pela adição tal f o r m a que a coleta pode ser menos freqüente. Algumas
de ácido gotejante (usando-se u m a proteção contra respingos) em grandes instituições têm seus próprios depósitos de descarte.
pelo menos 100 volumes de água fria, derramando-se o ácido
d i l u í d o no ralo com quantidades adicionais de água fria. Capelas Riscos de Gases Comprimidos
especiais de ácido perclórico, c o m facilidades especiais de lavagem, A regulação do D O T exige a marcação de cilindros de gases com-
devem ser instaladas se quantidades grandes deste ácido são p r i m i d o s que são transportados por transportadores interestadu-
usadas. ais. As marcações em forma de losango descritas anteriormente
C u i d a d o especial é necessário quando lidar c o m mercúrio. são usadas em todos os grandes cilindros e em qualquer caixa
Mesmo pequenas gotas de mercúrio nos tampos das bancadas e contendo cilindros pequenos. Algumas regras gerais para a mani-
no chão podem contaminar a atmosfera n u m a sala pouco venti- pulação de grandes cilindros de gás c o m p r i m i d o são:
lada. A capacidade d o elemento de amalgamar c o m vários metais 1. Sempre transportar cilindros usando u m catTinho no qual o
é bem conhecida. A p ó s u m derramamento acidental de mercú- c i l i n d r o esteja seguro.
rio, a área contaminada deve ser limpa cuidadosamente até que 2. Deixar a tampa de proteção da válvula n o cilindro até que
não tenha gotas remanescentes. Todos os recipientes c o m mercú- ele esteja p r o n t o para o uso, quando o cilindro deverá estar
rio devem ser mantidos bem tampados. C o m o é altamente peri- seguro por u m suporte em torno do terço superior de seu
goso, é recomendado que não se use mercúrio n o laboratório. corpo. Desconectar a luva o u regulador, fechar a válvula e
A EPA controla o descarte de resíduos perigosos não-radioa- recolocar a proteção antes que o cilindro esteja completa-
civos. O Resource Conservation and Recovety A c t ( R C R A ) de mente vazio paia evitar a possibilidade de desenvolvimento
1976 define que o descarte de materiais classificados em uma das de uma pressão negativa. Colocar uma etiqueta o u sinal
nove classes de materiais das N U é obrigado, de tal maneira que "vazio" n o cilindro.
os profissionais de segurança e saúde envolvidos neste descarte 3. Acorrentar o u amarrar os cilindros todo o tempo, mesmo
são pessoalmente responsáveis por cada violação individual. q u a n d o vazios.
U m a publicação 5 do C L S I abrange o descarte de resíduos 4. Sempre checar a composição dos conteúdos dos cilindros
perigosos, entretanto, muitos municípios e estados têm suas pró- antes da conexão.
prias normas. As agências devem ser contatadas pelo laboratório 5. N u n c a forçar as roscas; se u m regulador não rosquear facil-
para as peculiaridades. mente, algo está errado.
Substâncias químicas voláteis e gases c o m p r i m i d o s apresen- As precauções citadas para cilindros de gás recarregáveis
tam perigos específicos. grandes também se aplicam a cilindros menores que não são
recarregáveis. Os cilindros de propano e os cilindros de gases
Riscos de Substâncias Voláteis calibrados para equipamento de gás sanguíneo são exemplos de
O uso de solventes orgânicos em u m laboratório clínico repre- cilindros descartáveis. Os cilindros em suportes com base para
senta u m risco potencial de incêndio e perigo pela inalação de serem usados n o chão necessitam da segurança adicional de uma
vapores tóxicos o u contato c o m a pele. Estes solventes devem ser corrente o u alça presa a uma parede o u fixada a uma mobília.
usados em uma capela. A estocagem de solventes orgânicos é As normas do departamento de incêndio local (as quais variam
40 PARTE I Princípios Laboratoriais

TABELA 2-9 Classificação dos Incêndios e as Exigências dos Extintores de I n c ê n d i o


Tipo de Risca Classe de Incêndio Agentes Extintores Recomendados

Combustíveis comuns: Madeira, roupa, papel A Água, espuma química seca, vapor
Líquidos G gases inflamáveis: Solventes e graxas, gases naturais ou B Químico seco, dióxido de carbono, vapor, espuma
manufaturados de Halon 1211 ou 1301
Equipamento elétrico: Qualquer equipamento elétrico ligado na fonte de energia. C Químico seco, dióxido de carbono, espuma de Halon
Se a eletricidade está desligada na fonte, este se toma Classe A ou B 1211 ou 1301
Combinações de: Combustíveis comuns e líquidos e gases inflamáveis A&B Químico seco, vapor, espuma
Combinações de: Combustíveis comuns e equipamento elétrico A&C Químico seco
Combinações de: Líquidos e gases inflamáveis e equipamento elétrico B&C Químico seco, dióxido de carbono, espuma de Halon
1211 ou 1301
Combinações de: Combustíveis comuns, líquidos e gases inflamáveis e A, B&C Pó multiuso
equipamento elétrico

consideravelmente de u m lugar para o u t r o ) d i t a m o descarte dos veniente o u pendente d o chuveiro; a corrente deve ter u m grande
c i l i n d r o s descarregados. anel, de cal forma que o chuveiro possa ser facilmente ativado,
mesmo c o m os olhos fechados. M a n t a s de i n c ê n d i o para extin-
Riscos Elétricos guir o fogo e m roupas devem estar disponíveis e m u m a caixa
Os fios elétricos e as conexões são riscos de choque e i n c ê n d i o . O s facilmente acessível fixada na parede. A m a n t a é desenrolada da
fios gastos de qualquer e q u i p a m e n t o elétrico devem ser substituí- caixa e enrolada e m t o r n o d o c o r p o tiiando-se o cordão que está
dos i m e d i a t a m e n t e e t o d o e q u i p a m e n t o deve ser aterrado usando- na m a n t a e enrolando-a e m volta d o corpo. A localização deste
se tomadas de três pinos. A s n o r m a s da O S H A e s t i p u l a m q u e as e q u i p a m e n t o e as localizações dos alarmes de i n c ê n d i o e mapas
exigências para a t e r r a m e n t o de e q u i p a m e n t o s elétricos d o N a t i o - das vias de evacuação são diradas pelo oficial de i n c ê n d i o local.
n a l Electrical C o d e ( p u b l i c a d o pela N F P A ) sejam satisfeitas. Se V á r i o s t i p o s de extintores de i n c ê n d i o estão disponíveis. O
as hastes para a t e r r a m e n t o não estiverem disponíveis, u m eletri- t i p o a ser usado depende d o t i p o de i n c ê n d i o . U m a vez que é
cista autorizado deve ser c o n s u l t a d o sobre técnicas alternativas i m p r a t i c á v e l ter vários tipos de extintores de i n c ê n d i o presentes
e m todas as áreas, os extintores de i n c ê n d i o de p ó q u í m i c o seco
de aterramenro adequadas. A l g u n s códigos locais são mais severos
estão e n t r e os melhores extintores m u l t i u s o para áreas de labo-
d o q u e as exigências da O S H A e n ã o p e r m i t e m o uso de tomadas
r a t ó r i o . U m e x t i n t o r deve ser localizado p r ó x i m o a cada p o r t a
de dois p i n o s c o m adaptadores para crês p i n o s . d o l a b o r a t ó r i o e, e m u m l a b o r a t ó r i o maior, n o f i n a l da sala
O uso de fios d e extensão é p r o i b i d o . Esta n o r m a é mais severa oposta à p o r t a . Todos n o l a b o r a t ó r i o d e v e m ser i n s t r u í d o s sobre
d o q u e q u a l q u e r o u t r a regra existente. E m alguns casos, u m f i o o uso destes extintores e de q u a l q u e r o u t r o e q u i p a m e n t o de
de extensão p o d e ser usado t e m p o r a r i a m e n t e . Nestes casos, a c o m b a t e a i n c ê n d i o . T o d o s os extintores de i n c ê n d i o devem ser
extensão deve: (1) ser m e n o r d o que 3,66 m de c o m p r i m e n t o , (2) testados p o r pessoas qualificadas e m intervalos especificados
ter u m f i o de pelo m e n o s 1,3 m m , (3) ser aprovado pelo U n d e r w r í - pelo fabricante. As três classes de i n c ê n d i o e os tipos de extin-
ters Laborarory ( U L ) e (4) ter somente u m a saída na extremidade. tores de i n c ê n d i o a serem usados para cada classe estão listados
n a Tabela 2-9. T o d o e x t i n t o r de i n c ê n d i o é r o t u l a d o q u a n t o ao
Se várias saídas são necessárias e m u m a área, u m f i l t r o de l i n h a
t i p o de i n c ê n d i o e m que p o d e ser usado.
c o m seu p r ó p r i o fusível o u d i s j u n t o r deve ser instalado a pelo
D o i s tipos adicionais de i n c ê n d i o s , designados " D " e " E " ,
m e n o s 7,6 c m acima d o nível d o t a m p o da bancada. V á r i o s fabri-
devem ser c o n t r o l a d o s p o r pessoal t r e i n a d o . Os incêndios t i p o
cantes agora v e n d e m dispositivos para checar a alta resistência n a " D " são aqueles envolvendo materiais metálicos e m p ó (p. ex.,
fiação neutra o u terra o u a voltagem excessiva na fiação neutra. magnésio). U m p ó especial é usado para combater este perigo.
Os e q u i p a m e n t o s elétricos e as conexões não devem ser m a n i - U m i n c ê n d i o t i p o " E " n ã o p o d e ser e x t i n t o o u é provável que
pulados c o m as mãos úmidas, n e m u m e q u i p a m e n t o elétrico p o d e resulte e m explosão ( c o m o u m i n c ê n d i o e m u m arsenal). U m
ser usado após a l g u m l í q u i d o ter sido d e r r a m a d o sobre ele. O incêndio tipo "E" é normalmente deixado a queimar enquanto
e q u i p a m e n t o deve ser desligado i m e d i a t a m e n t e e c o m p l e t a m e n t e materiais p r ó x i m o s estão sendo a d e q u a d a m e n t e protegidos.
M u i t o s laboratórios clínicos agora t ê m u m c o m p u t a d o r que
seco. N o caso de u m i n s t r u m e n t o elétrico ú m i d o o u e m m a u
é abrigado e m u m a sala c o m t e m p e r a t u r a e u m i d a d e controla-
f u n c i o n a m e n t o q u e seja usado p o r várias pessoas, a t o m a d a deve
das. O sistema de c o n t r o l e de i n c ê n d i o a u t o m a t i z a d o mais
ser desconectada e u m a n o t a a l e r t a n d o os trabalhadores deve ser
p o p u l a r para estas salas é o H a l o n 1301 ( b r o m o t r i f l u o r o m e -
deixada sobre o i n s t r u m e n t o . tano). E m b o r a este seja o m e n o s t ó x i c o dos halons, as n o r m a s
da N F P A exigem u m sinal de aviso n a entrada da sala e a dis-
Riscos de incêndio p o n i b i l i d a d e de u m a máscara para respiração.
A N F P A e a O S H A p u b l i c a m n o r m a s abrangendo assuntos desde
as saídas de emergência (inclusive rotas de fuga) até a segurança e
os equipamentos de combate a incêndios. A N F P A t a m b é m p u b l i c a
o N a t i o n a l Fire Codes. M u i t o s estados e agências locais t ê m REFERÊNCIAS
adotado estes códigos (alguns dos quais são mais severos d o que as 1. Bermes EW Jr, Kahn SE, Young DS. General laborarory techniques
exigências da O S H A ) e então os t o r n a legalmente obrigatórios. and procedures. In: Burtis CA, Ashwond ER, eds, Tietz textbook
T o d o l a b o r a t ó r i o deve ter o e q u i p a m e n t o necessário para extin- of clinicai chemistry 4ch ed. Philadelphía: WB Saunders, 2006:3-
guir o u controlar u m i n c ê n d i o n o laboratório e extinguir o fogo 40.
n a roupa de u m i n d i v í d u o . O acesso fácil a chuveiros de segurança 2. Biosafety in microbiological and biomedical laboratories. 4th ed.
é essencial. U m chuveiro de segurança deve ter u m a corrente, para Washington, DC: Department of Health and Human Services,
ser puxada e liberar a água, instalada na parede n u m a altura con- Centers for Disease Contro I and Prevention and the National
Introdução aos Princípios de Análise e Segurança Laboratorial CAPÍTULO 2 41

Institutes of Health. Washington, D C US Government Piinting Office, 10. McDonald CJ, Huff SM, Suico JG, Hill G, Leavelle D, et al LOINC, a
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9. Ergonomics program. Final tule: remova! Occupational Safety and
Health Administration (OSHA). Fed Reg 2001;666:20403.
Coleta de Amostras e Outras
Variáveis Pré-analíticas
Donald S. Young, M.B., Ch.B., Ph.D., Edward W. Bermes, Jr., Ph.D.,
e Dóris M. Haverstick, Ph.D.

OBJETIVOS Plasma A p o r ç ã o f l u i d a d o sangue n a q u a l as células estão e m


1. Determinar o que é uma variável pré-analítica.
suspensão. D i f e r e d o soro p o r conter f i b r i n o g è n i o e
c o m p o n e n t e s relacionados que são removidos d o soro
2. Determinar os tipos de amostras coletados rotineiramente e não
q u a n d o o sangue coagula,
rotineiramente para exames e as vantagens e desvantagens de
P u n ç ã o da Pele: C o l e t a de sangue capilar geralmente de u m
cada um.
paciente pediátrico, p o r m e i o de u m p e q u e n o corte feito n a
3. Descrever as variáveis pré-analíticas, controláveis e não
pele, f r e q ü e n t e m e n t e n o calcanhar.
controláveis, vinculadas à coleta da amostra propriamente dita,
S o r o : O l í q u i d o claro que se separa q u a n d o o sangue coagula.
manipulação e transporte para a maioria dos tipos de amostras
T o r n i q u e t e : U m dispositivo aplicado ao redor da extremidade
comuns examinadas.
para c o n t r o l a r a circulação e evitar o f l u x o de sangue para
4. Determinar qual tipo do código de cor do tubo a vácuo é apropriado o u a d v i n d o da área distai.
para a avaliação dos vários analitos e a ordem correta de uso. Variáveis Pré-analíticas: Fatores q u e afetam as amostras ances
5. Listar os anticoagulantes e determinar tanto sua ação no sangue de serem realizados os exames; são classificadas c o m o
total, como seus usos apropriados para os vários exames controláveis o u não controláveis.
laboratoriais. V e n o p u n t u r a : O processo e n v o l v i d o na obtenção de u m a
6. Determinar os efeitos dos fatores psicológicos, biológicos e amostra de sangue da veia d o paciente.
ambientais nas análises laboratoriais e como diferenciar uma

A
alteração esperada/fisiologicamente aceitável de uma alteração que
pode indicar um erro pré-analítico. coleta p r o p r i a m e n t e dita, o processamento e estoque de
tipos c o m u n s de amostras associados a requisições para
testes diagnósticos são imprescindíveis para a provisão de
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES resultados de exames de qualidade, e m u i t o s erros p o d e m ocorrer
A d i t i v o s : C o m p o n e n t e s adicionados a amostras biológicas para d u r a n t e esses passos. Esses erros são considerados erros pré-anãlí-
evitar que coagulem o u para preservar seus constituintes. ticos e são conhecidos p o r c o n t r i b u i r para u m a t e n d i m e n t o demo-
A m o s t r a : U m exemplar o u parte de u m f l u i d o c o r p ó r e o o u rado e s u b o t i m i z a d o d o paciente. O r e c o n h e c i m e n t o e a
tecido coletado para exame, estudo o u análise. m i n i m i z a ç ã o desses erros através de cuidadosa adesão aos concei-
A n t i c o a g u l a n t e s : Q u a l q u e r substrato q u e evite a coagulação d o tos a seguÍT e quaisquer políticas i n s t i t u c i o n a i s i n d i v i d u a i s resul-
sangue. tarão em i n f o r m a ç ã o mais confiável para uso n o a t e n d i m e n t o de
C o n s e r v a n t e s : U m a substância usada o u preparação a d i c i o n a d a qualidade ao paciente p o r profissionais de saúde.
a u m a amostra para evitar alterações e m seus c o n s t i t u i n t e s . C o n t r o l á v e l e não c o n t r o l á v e l são duas classificações das vari-
D e l t a C l i e c k : A diferença entre duas mensurações consecutivas áveis pré-analíticas. As variáveis controláveis referem-se à padro-
d o m e s m o analito d o m e s m o paciente, p a d r o n i z a d o de nização da coleta, t r a n s p o r t e e processamento das amostras. As
a c o r d o c o m porcentagem, valor absoluto e / o u t e m p o e variáveis não controláveis são aquelas relacionadas c o m a fisiolo-
usado c o m o u m a m e d i d a de c o n t r o l e de qualidade. gia d o paciente e m p a r t i c u l a r (idade, sexo, doenças de base etc.).
F l e b o t o m i a : A punção de u m vaso sanguíneo para coletar Os laboratoristas precisam entender as i n f l u ê n c i a s das variáveis
sangue. controláveis e não controláveis n a composição dos f l u i d o s corpó-
F l e b o t o m i s t a : Q u e m pratica a f l e b o t o m i a ; o i n d i v í d u o retira reos e ser capazes de i n t e r p r e t a r os resultados dos exames.
u m a amostra de sangue.
H e m o c o n c e n t r a ç ã o : D i m i n u i ç ã o do conteúdo f l u i d o do COLETA DA AMOSTRA
sangue que resulta e m a u m e n t o da concentração dos Os exemplos de amostras biológicas analisadas e m l a b o r a t ó r i o de
c o n s t i t u i n t e s sanguíneos. análises clínicas i n c l u e m : (1) sangue total; (2) soro; (3) plasma;
H e m o d i l u i ç ã o : A u m e n t o d o c o n t e ú d o f l u i d o d o sangue q u e (4) u r i n a ; (5) fezes; (6) saliva; (7) l í q u i d o espinal, sinovial, a m n i -
resulta e m d i m i n u i ç ã o da concentração dos c o n s t i t u i n t e s ótico, pleural, pericárdico e ascítico; e (8) diversos tipos de tecido
sanguíneos. sólido, i n c l u i n d o tipos celulares específicos. O C l i n i c a i a n d Labo-
H e m ó l i s e ; R u p t u r a da m e m b r a n a das hemácias causando r a t o r y Standards I n s t i t u t e ( C L S I , f o r m a l m e n t e c o n h e c i d o c o m o
liberação de h e m o g l o b i n a e outros c o m p o n e n t e s das células National Committee for Clinicai Laboratory Standards ou
vermelhas d o sangue N C C L S ) p u b l i c o u diversos p r o c e d i m e n t o s para coleta de m u i t o s
O c l u s ã o Venosa: B l o q u e i o t e m p o r á r i o d o r e t o r n o d o f l u x o dos mais c o m u n s tipos de amostras sob condições padronizadas 1 " 4 ,
sanguíneo ao coração através da aplicação de pressão, assim c o m o de amostras especiais, c o m o para diagnóstico mole-
geralmente usando u m t o r n i q u e t e . cular 5 e para análise de cloro n o suor. 8

43
44 PARTE I Princípios Laboratoriais

Sangue paciente ambulatorial, geralmente se recomenda que esses pacien-


O sangue, para análise, é obtido de veias, artérias ou capilares. O tes f i q u e m sentados até o processo de identificação estar com-
sangue venoso é geralmente a amostra preferencial, e a venopun- pleto, para maximizar seu relaxamento. A venopuntura nunca
t u r a é o método para a obtenção da amostra. E m crianças peque- deve ser feita em u m paciente em pé. Os braços do paciente
nas e para muitos testes "ao leito", a punção da pele é freqüen- devem estar estendidos em linha reta a partir do o m b r o até o
temente usada para obter o que é em sua maioria sangue capilar; pulso Deve-se evitar u m braço com linha intravenosa inserida,
a punção arterial é usada principalmente para a análise de gases assim como se deve evitar u m braço com escoriação excessiva o u
sanguíneos. O processo de coleta de uma amostra de sangue é hematoma n o local em que se pretende fazer a coleta. Se uma
conhecido como f l e b o t o m i a e deve sempre ser realizado por u m m u l h e r tiver sido submetida e mastectomia, as veias do braço
flehotomista treinado. Após a coleta, a amostra pode ser exami- nesse lado do corpo não devem ser usadas, pois a cirurgia pode
nada como sangue total, plasma (o l í q u i d o amarelo claro que ter causado linfoestasia (interrupção do f l u x o de sangue n o r m a l
permanece após os componentes celulares serem removidos por e drenagem de l i n f a por esse local), afetando a composição do
centrifugação) ou soro (líquido normalmente claro que se separa sangue. Se a m u l h e r foi submetida a dupla mastectomia, o
do sangue que se permite coagular). sangue deve ser coletado do braço n o lado em que foi feito o
p r i m e i r o procedimento. Se a cirurgia tiver sido feita dentro de
Venopuntura 6 meses nos dois lados, deve ser usada uma veia n o dorso da
A venopuntura é definida como todos os passos envolvidos na mão o u tornozelo.
obtenção de uma amostra de sangue apropriada e identificada da Antes de realizar a venopuntura, o flebotomista deve (1) veri-
veia do paciente. ficar os exames pedidos, (2) estimai o volume de sangue a ser
coletado e (3) selecionar os números e os tipos de tubos apropria-
Passos Preliminares dos para sangue, plasma ou soro necessários. E m muitas situações,
Antes de qualquer amostra ser coletada, o flebotomista precisa isto será facilitado por uma coleção de recomendações gerada por
confirmar a identidade do paciente. Dois o u três itens da iden- computador e deverá ser planejado para coletar a m í n i m a quan-
tificação devem ser usados (p.ex., nome, n ú m e r o de registro tidade de sangue necessária para o teste. As seções a seguir, Coleta
médico, data de nascimento, endereço se o paciente for ambula- de Sangue com Tubos ã Vácuo e Ordem de Obtenção para Coletas
torial). E m situações especiais, como testes de uso de drogas ou Múltiplas, discutem os tipos de tubos e a ordem de coleta reco-
outros testes de importância médico-legal, o estabelecimento de mendada para múltiplas amostras com mais detalhes.
uma cadeia de custódia para a amostra requer uma identificação A l é m dos tubos, é preciso selecionar uma agulha apropriada.
extra do paciente, como identificação por fotografia. Os calibres mais comumente utilizados são os gauges 19 a 22.
A identificação é u m processo ativo O n d e for possível, o Q u a n t o maior o gauge, menor o calibre. A escolha usual para
paciente deve declarar seu n o m e e o flebotomista deve verificar u m adulto com veias normais é o gauge 20; se as veias tendem a
a informação na pulseira de identificação do paciente, se este colabar facilmente, prefere-se u m gauge 21. Para volumes de
estiver hospitalizado. Se o paciente for ambulatoiial, o fleboto- sangue de 30 a 50 m L , pode ser necessária uma agulha 18 gauge,
mista deve pedir ao paciente que diga seu nome e confirmar a que garanta u m fluxo de sangue adequado. Geralmente as
informação na requisição de exame com informações de identi- agulhas têm 1,5 polegadas (3,7 cm) de comprimento, embora
ficação fornecidas pelo paciente. N o caso de pacientes pediátri- também se usem agulhas de 1 polegada (2,5 em), geralmente
cos, o pai ou responsável deve estar presente e fornecei a identi- conectadas a u m dispositivo de coleta escalpe ou "butterfly" (bor-
ficação ativa da criança. E m muitas instituições, nesta fase do boleta). Todas as agulhas precisam ser estéreis, afiadas e sem
processo, deve-se perguntar ao paciente sobre alergia a látex. Se rebarbas. Q u a n d o o sangue for coletado para a mensuração de
houver histórico ou preocupação com alergias a luvas de látex o u elementos-traço, a agulha deve ser de aço inoxidável e livre de
torniquete de látex, o flebotomista deve ter u m t o r n i q u e t e alter- contaminação
nativo e luvas sem látex.
Antes da coleta de uma amostra, o flebotomista deve estar Localização
vestido adequadamente e com equipamento pessoal de segu- A veia cubital média na fossa antecubital, o u curva do cotovelo,
rança. Esses equipamentos i n c l u e m u m jaleco impermeável e é o local preferido em adultos, pois a veia é larga e próxima à
luvas calçadas imediatamente antes da abordagem do paciente*" superfície da pele.13 As veias no dorso da mão e no tornozelo
para aderir às precauções padiões contra material potencialmente podem ser usadas, embora sejam menos desejáveis e devam ser
infeccioso e para limitar a disseminação de doenças infecciosas evitadas em diabéticos e outros indivíduos com problemas circu-
de u m paciente para outro. Se o flebotomista for coletar uma latórios. Nos pacientes internados, é apropriado coletar o sangue
amostra de u m paciente em isolamento no hospital, precisa através de uma cânula que é inserida para infusões de líquido
colocar jaleco e luvas limpas e uma máscara facial para limitar a por longos períodos n o m o m e n t o da primeira inserção, para
disseminação de gotículas potencialmente infecciosas e óculos de evitar uma segunda picada. Não se deve usar u m braço canulado
proteção para limitar a possível entrada de material infeccioso no ou com fístula arteriovenosa sem o consentimento do médico do
o l h o antes de entrar na sala do paciente. A extensão das precau- paciente. Se o f l u i d o estiver v i n d o de u m membro i n f u n d i d o por
ções requeridas varia com a natureza da doença do paciente e as via intravenosa, deve-se interromper o fluxo por 3 minutos antes
políticas da instituição e programa para patógenos veiculados da coleta da amostra e deve ser feita uma anotação pertinente n o
pelo sangue, aos quais o flebotomista precisa aderir. Se forem prontuário do paciente. Os primeiros 5 a 10 m L de sangue cole-
indicadas precauções para patógenos veiculados pelo ar, o flebo- tados devem ser descartados e não podem ser usados na realiza-
tomista deve usar u m respirador N 9 5 para proteção contra tuber- ção de exames devido a possíveis contaminações pelo l í q u i d o
culose (TB). i n f u n d i d o . As amostras obtidas d o braço oposto o u abaixo do
O paciente deve estar confortável: sentado o u deitado de local de infusão no mesmo braço são satisfatórias para a maioria
costas, se não for possível sentar, e deve ficar nessa posição quanto dos exames, pois o fluxo retrógrado de sangue não ocorre nas
tempo for possível antes da coleta da amostra ser feita (veja a seção veias e o f l u i d o i n f u n d i d o precisa p r i m e i r o circular pelo coração
a seguir sobre efeitos da postura nos valores de exames). Para o e então retornar antes de atingir o local de coleta.
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-analíticas CAPÍTULO 3 45

Preparo do Local da Coleta Muitas instituições têm substituído os tubos de vidro por tubos
A área ao redor do local onde se pretende fazer a punção deve de plástico devido à d i m i n u i ç ã o na probabilidade de quebra e
ser limpa com qualquer substância anti-séptica que seja aprovada conseqüente exposição a materiais infectantes. C o n t u d o , o vácuo
para o uso pela instituição. Os materiais mais comumente utili- nesses tubos se perde c o m o tempo e se deve prestar atenção
zados são (1) swab pré-embalado com álcool, (2) u m a gaze satu- especial às datas de expiração impressas em cada tubo.
Tada em isopropanol a 7 0 % e (3) solução de cloreto de benzalcõ- Existem diversos tipos de tubos usados para a coleta por
n i o (solução cloreto de Zephiran 1:750). Esta ú l t i m a deve ser venopuntura. 7 Eles variam pelo t i p o de aditivo presente e seu
usada quando as amostras são coletadas para a determinação de volume. A COT da tampa usada identifica o aditivo (Tabela 3-1).
etanol. A limpeza do local da p u n ç ã o deve ser feita c o m movi- Alguns tubos de vidro são siliconizados para reduzir a adesão de
m e n t o circular e a partir do centro em direção centrífuga. Deve- coágulos às paredes e à tampa e para diminuÍT o risco de hemó-
se deixar que a pele seque naturalmente ao ar. N e n h u m anti- lise. Os tubos de v i d r o podem liberar ele mentos-traço e existem
séptico o u álcool deve permanecer sobre a pele, pois os traços tubos especiais para essas coletas. A l é m disso, a tampa pode
podem causar hemólise e invalidar os resultados dos exames. c o n t r i b u i r para u m erro pié-analítico através da liberação de
U m a vez que a pele esteja limpaj não deve ser tocada até após o zinco o u interferência por T B E P (tri[2-butoxietil]fosfato), u m
t é r m i n o da venopuntura. constituinte da borracha.
A coleta de sangue em tubo contendo aditivo nunca deve ser
Tempo de Coleta transferida para outro tubo, pois o primeiro aditivo pode inter-
O m o m e n t o no qual u m a coleta é obtida é importante para ferir nos exames para amostras especificadas com outro aditivo.
aqueles constituintes do sangue sujeitos a variações diurnas mar- A l é m disso, a transferência de aditivo de u m t u b o para o u t r o
cantes (p.ex., corticosteróides e ferro) e para aqueles usados paia deve ser minimizada (ou seus efeitos adversos reduzidos) através
m o n i t o r a r o tratamento medicamentoso (Capítulos 28, 30 e 40). de u m a adesão estrita às recomendações para a ordem dos tubos
O m o m e n t o da coleta t a m b é m é importante em relação às amos- utilizados (Tabela 3-2).'
tras destinadas a mensurações de álcool e drogas em associação A Figura 3-1 mostra u m sistema típico de coleta de sangue
com t u b o a vácuo. Este é u m exemplo de u m dispositivo de uso
a considerações médico-legais.
ú n i c o c o m u m que incorpora uma cobertura que é seguramente
acoplada sobre a agulha quando a coleta está completa, de m o d o
Oclusão Venosa
a Teduzir o risco de o flebotomista se picar c o m uma agulha
Após a pele ser limpa, deve-se aplicar u m manguito de aferir
recém-contaminada. U m a agulha o u escalpe ("kwtter/ty") é conec-
pressão arterial ou u m torniquete de 4 a 6 polegadas (10 a 15
tada n o adaptador para tubos de coleta (Figura 3-2), e o tubo é
cm) acima do local em que se pretende puncionar (distância para
então cuidadosamente inserido nesse adaptador. Antes de ser
adultos). Essa oclusão venosa obstrui o retorno do sangue venoso
usado, deve se bater levemente no tubo pata desalojar qualquer
para o coração e distende as veias. Q u a n d o se utiliza u m manguito
aditivo da tampa antes de a agulha ser inserida na veia. Isso evita
de aferir pTessão arterial, este deve ser inflado a aproximada-
a aspiração do aditivo pela veia do paciente.
mente 60 m m H g (8,0 kPa). Os torniquetes são geralmente feitos
Após a pele estar limpa, a agulha deve ser guiada gentilmente
de tiras de borracha ou bandas de fita tipo Velcro. Raramente é
pata dentro da veia do paciente (Figura 3-3); uma vez a agulha
necessário manter o torniquete n o local por mais de 1 m i n u t o .
posicionada, o tubo deve ser pressionado contra o adaptador
O c o r r e m pequenas mudanças na composição do sangue dentro
paTa perfurar a tampa e liberar o vácuo. Q u a n d o o sangue começa
de 1 m i n u t o , p o r é m mudanças marcantes podem ser observadas
a f l u i r para dentro do tubo, o torniquete deve ser liberado sem
após 3 minutos.
movimentar a agulha. O t u b o é preenchido até acabar o vácuo.
A composição do primeiro sangue drenado, o sangue mais
E de suma importância que o tubo a vácuo seja completamente
próximo ao torniquete, é mais representativa da composição do
preenchido. M u i t o s aditivos são colocados no t u b o com base na
sangue circulante. A primeira amostra coletada deveria, portanto,
coleta "total". U m a vez que o tuho esteja completamente cheio,
ser usada para aqueles analitos, como cálcio, que são pertinentes
este é então retirado do adaptador, levemente agitado por inver-
para decisões médicas críticas. O sangue coletado depois mostra
são e substituído por outro tubo, se necessário. Outros tubos
um efeito maior do baixo fluxo de sangue (estase venosa), e a
podem ser preenchidos usando-se o mesmo torniquete com o
ordem recomendada de coleta (veja a seguir) foi desenvolvida com
adaptador no local. Q u a n d o forem necessários diversos tubos
essas alterações em mente. C o m a estase venosa, água e pequenas
para uma única coleta de sangue, uma válvula de interrupção—
moléculas são absorvidas para dentro das células, concentrando os
contida no dispositivo de coleta e consistindo em uma borracha
materiais não dissolvidos, como proteínas e constituintes ligados à
tubular que desliza sobre a agulha que se abre para dentro do
proteína. Assim, o primeiro tubo pode mostrar u m aumento de
tubo — é usada para evitar derramamento de sangue durante a
5 % de proteína, enquanto o terceiro tubo pode mostrar uma
troca de tubos.
alteração de 10%. A estase prolongada pode aumentar a concen-
tração de constituintes ligados à proteína em até 15%.
O bombeamento d o p u n h o antes da venopuntura deve ser
evitado, pois causa u m aumento das concentrações de potássio,
fosfato e lactato plasmático. A d i m i n u i ç ã o do p H sanguíneo pelo m

\ ,• , \. . .- y
lactato acumulado pode causar o aumento da concentração de
cálcio ionizado, embora isso se reverta ao n o r m a l dentro de 10
minutos após o torniquete ser liberado.

Coleta de Sangue com Tubos a Vácuo


Os tubos a vácuo para coleta de sangue geralmente são conside-
rados (1) menos caros, (2) mais convenientes e (3) mais fáceis de
usar do que as seringas. Os tubos a vácuo podem ser de vidro Figura 3-1 Conjunto de venopuntura montado. (De Flynn JC:
soda-cal ou borossilicato, ou plástico (tereftalato de polietileno). Procedures in phlebotomy. 3rd ed. St Louis:Saunders, 2005:84 )
46 PARTE I Princípios Laboratoriais

TABELA 3-1 C n d i f i c a ç a o da C o r da T a m p a p a r a I n d i c a r o A d i t i v o n o T u b o de C o l e t a de Sangue a V á c u o

Tipo de Tubo Aditivo Cor da Tampa Alternativa

Tubos com gel separador Gel polímero sílica-ativador Vermelha/preta Ouro


Gel polímero/sílioa-ativador/heparina lítio Verde/cinza Verde-clara
Tubos para soro (sem aditivo) Interior revestido de silicone Vermelha Vermelha
Interior não revestido Vermelha Cor-de-rosa
Tubos para soro (com aditivos) Trombina (aditivo seco) Cinza/amarela Laranja
Ativados de coágulo particulado Amarela/vermelha Vermelha
Trombina (aditivo seco] Azul-clara Azul-clara
Tubos para sangue total/ plasma KjEDTA (aditivo seco) Roxa Roxa
KjEDTA (aditivo liquido) Roxa Roxa
Na2EDTA (aditivo seca) Roxa Roxa
Citrato, trissódio (coagulação) Azul-clara Azul-clara
Citrato, trissódio (taxa de sedimentação eritrocítária) Preta Preta
Fluoreto de sódio (agente anticoagulante) Cinza Verde clara
Heparina, lítio (aditivo líquido ou seco) Verde Verde
Oxalato de potássio/fluoreto de sódio Verde-clara Verde-clara
Heparina lítio/iodoacetato Verde-clara Verde-clara
Specialty tube (microbiologia)
Cultura de sangue Polianelo! sulfonato de sódio (SPS) Amarela-clara Amarela- clara
SpeciaUy tube (bioquímica)
Chumbo Heparina, potássio (aditivo líquido) Bege Bege
Heparina, sódio (aditivo seco) Azul royal Azul royal
Elementos-traço Interior revestido com silicone (tubo para soro) Azul royal Azul royal
Bioquímica (urgência) Trombina Cinza/amarela Laranja
Specialty tube (diagnóstico molecular)
Plasma K2EDTA (aditivo seco)/ polímero Opalescente Opalescente
Gel sílica-ativada Branca Branca
Solução ACD-A (NaaCitrato, 22,0 g/L; Amarelo-brilbante Amarelo-brilhante
ácido cítrico, 8,0 g/L; dextrose, 24,5 g/L)
Solução ACD-A (Na3Citrato, 13,2 g/L; ácido cítrico, Amarelo-brilhante Amarelo-brilhante
4,8 g/L; dextrose, 14,7 g/L)
Tubo para preparo de células Citrato de sódio com polímero líquido para gradiente Azul/preta Azul/preta
mononucleares de densidade
Heparina sódica com polímero líquido para Verdes/vermelha Verde/vermelha
gradiente de densidade

Modificado de Clinicai and Laboratory Standards Instititte/NCCLS. Evacuaied Tubes and Additives for Blood Spííimen Collectiov: CLSI/NCCLS Approved Standíirds HLA5, 5a
ed. Wtfyne, PA, Cíínical Lãbordiory institu te, 2003 e informação listada na página elenôníca à& Becion Dietiman (http://wvuw.bd.cam/)..

TABELA 3-2 O r d e m de C o l e t a R e c o m e n d a d a para C o l e t a de M ú l t i p l a s A m o s t r a s

Cor da Tampa Conteúdo Número de Inversões

Amarela Meio estéril para cultura de sangue 8


Azul royal Sem aditivo 0
Claro Sem aditivo, descartar o tubo se o azul royal não for usado 0
Azul-clara Citrato de sódio 3-4
Ouro/vermelha Tubo separador de soro 5
Vermelha/vermelha, laranjaVamarela, aiul royat Tudo para soro, com ou sem ativados de coágulo, com ou sem gel 5
Verde Tubo com heparina com ou sem gel 8
Bege (vidro) Heparina sódica 8
Azul myal Heparina sódica, EDTA sódico 8
Roxa, branca perolada, cor-de-rosa/cor-de-rosa, bege (plástico) Tubos com EDTA, com ou sem gel 8
Cinza Inibidor glicolítico 8
Amarela (vidro) AC D para estudos moleculares e cultura celular 8

Modificado das infuimaçâes nas referências. Cíinical and Laboratoiy Standards Injtitute/NCCLS. Evacua ted Tufa ar and AdcJitiiies for Blood SjJÉcimín Collection. CLSi/NCCLS
Approved Stãndar.s H1-A5, 5" ed. Wayne, PA, Clinicai Laboratory Institute, 2003 e 5o youte going to colifict a blood sperímen: An introducritm to phlehotomy. íla ed. Kieàile Fl
Noríhfifilíí, Í L Í CoIlegÉ of American Patluilogisti, 2005.

O c o n t a t o d i r e t o d e c o á g u l o o u células c o m o s o r o o u p l a s m a 1,04, a q u a l é i n t e r m e d i á r i a e n t r e o p l a s m a o u s o r o e os c o m p o -
p o d e l e v a r a alterações m e t a b ó l i c a s , p o r isso e x i s t e m t u b o s d e n e n t e s c e l u l a r e s d o s a n g u e . Q u a n d o os t u b o s p r e e n c h i d o s são
c o l e t a c o m s e p a r a d o r p a r a e l i m i n a r esse p r o b l e m a ( T a b e l a 3-1). c e n t r i f u g a d o s , esse gel sobe d o f u n d o d o tubo e forma uma
Cada tubo c o n t é m u m material de p o l í m e r o de gel i n e r t e e c a m a d a e n t r e o l í q u i d o e os c o m p o n e n t e s c e l u l a r e s d a a m o s t r a .
t í x o t r ó p i c o c o m u m a g r a v i d a d e específica d e a p r o x i m a d a m e n t e U m a vez c e n t r i f u g a d o , o gel serve c o m o u m a b a t r e i r a m e c â n i c a
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-analíticas CAPÍTULO 3 47

Ordem de Obtenção para Coletas Múltiplas


E m alguns pacientes pode o c o r r e r u m r e t o r n o d o f l u x o dos t u b o s
para as veias e m decorrência da d i m i n u i ç ã o da pressão venosa.
Esse f l u x o r e t r ó g r a d o é m i n i m i z a d o se o braço estiver posicio-
n a d o para baixo e o sangue for m a n t i d o sem c o n t a t o c o m a
t a m p a d u r a n t e o p r o c e d i m e n t o de coleta. Para m i n i m i z a r os
problemas, se ocorrer esse c o n t r a f l u x o , e para o t i m i z a r a quali-
dade das amostras — especialmente para evitar a c o n t a m i n a ç ã o
cruzada c o m a n t i c o a g u l a n t e s — o sangue deve ser coletado e m
tubos c o m a o r d e m delineada na Tabela 3-2.' Essa tabela t a m b é m
fornece o n ú m e r o r e c o m e n d a d o de inversões para cada t i p o de
t u b o , pois é f u n d a m e n t a l q u e a c o m p l e t a m i s t u r a de q u a l q u e r
aditivo c o m o sangue coletado seja c o m p l e t a d a o mais r á p i d o
possível.

Coleta de Sangue com Seringa


A s seringas são c o s t u m e i r a m e n t e usadas para pacientes c o m veias
Figura 3-2 Diversos adaptadores para tubos usados na venopuntura
das quais é d i f í c i l coletar sangue e para a análise de gases n o
(De Ftynn J C Procedures in phlebotomy. 3rd ed. St Louis.Saunders,
sangue. Q u a n d o se usa u m a seringa, a agulha é colocada f i r m e -
2005:79.)
m e n t e sobre o b i c o da seringa e a c o b e r t u r a da agulha é r e m o v i d a .
A seringa e a agulha devem estar alinhadas c o m a veia para ser
i n t r o d u z i d a e a agulha e m p u r r a d a para d e n t r o da veia n o â n g u l o
c o m a pele de a p r o x i m a d a m e n t e 15°. Q u a n d o a resistência i n i c i a l
da parede da veia é v e n c i d a n o m o m e n t o da perfuração, d i m m u i -
se pressão aplicada na seringa. Se f o r necessária u m a segunda
seringa, u m a gaze p o d e ser colocada sob o conector da agulha
para absorver o derrame; a p r i m e i r a seringa é então r a p i d a m e n t e
desconectada e a segunda colocada e m seu lugar para c o n t i n u a i
a coleta A p ó s remover a agulha da seringa, o sangue coletado
deve ser r a p i d a m e n t e t r a n s f e r i d o p o r ejeção suave e m t u b o s pre-
parados para sua recepção o u p r o n t a m e n t e analisado n o caso de
gases sanguíneos. Os tubos devem então ser fechados e cuidado-
samente agitados.
A retirada vigorosa de sangue para a seringa d u r a n t e a coleta
o u a transferência c o m força da seringa para o t u b o receptor p o d e
causar h c m ó l i s c d o sangue. A h c m ó l i s c geralmente é m e n o r
q u a n d o o sangue é d r e n a d o através de u m a agulha de calibre
p e q u e n o d o q u a n d o se usa u m a agulha de calibre maior.

Término da Coleta
Q u a n d o a coleta de sangue está c o m p l e t a e a agulha é retirada,
o paciente é i n s t r u í d o a segurar u m a gaze seca sobre o local da
p u n ç ã o , c o m o braço elevado para d i m i n u i r a p r o b a b i l i d a d e de
extravasamento de sangue. U m a nova compressa é subseqüente-
m e n t e segura n o local p o r u m a bandagem, a q u a l é r e m o v i d a
após 15 m i n u t o s . C o m u m dispositivo de coleta c o m o o mos-
trado n a Figura 3-1, a agulha é coberta e a agulha e o a d a p t a d o r
são i m e d i a t a m e n t e descartados e m u m a caixa para descarte de
objetos p e r f u r o c o r t a n t e s . N o caso de se usar u m escalpe ("butter-
fly"), as abas são puxadas para frente para c o b r i r a agulha, o u ,
Figura 3-3 V en o p u n tu r a (Cortesia de R u t h A n n M. Jacobsen, c o m u m novo e q u i p a m e n t o disponível, u m b o t ã o é pressionado,
Assistente Médica, Tecnóloga Médica (ASCP [Sociedade Americana de l i b e r a n d o u m a m o l a que retrai a agulha.
Patologistas Clínicos]), Cientista de Laboratório Clínico & Flebotomista T o d o s os t u b o s d e v e m então ser etiquetados para a p o l i t i c a
de laboratório clinico (NCA [National Credentialing Agency for i n s t i t u c i o n a l ; r a r a m e n t e é aceitável u m t u b o pré-etiquetado. A s
Laboratory Personnel]), Mayo Clinic, Rochesrer, MN.) luvas devem ser descartadas e m u m receptáculo para resíduos
perigosos se estiver visivelmente c o n t a m i n a d a . D e p e n d e n d o da
p o l í t i c a i n s t i t u c i o n a l , as mãos devem ser lavadas c o m sabão e
e e l i m i n a as alterações metabólicas que o c o r r e m q u a n d o da per- água o u u m anti-séptico à base de álcool deve ser usado antes de
m a n ê n c i a de coágulo o u células e m c o n t a t o d i r e t o c o m o soro se calçarem luvas novas e atender o p r ó x i m o paciente.
o u plasma. A força centrífuga relativa (RCF) precisa ser de pelo
m e n o s 1.100 x g para a liberação d o gel e f o r m a ç ã o da barreira. Venopuntura e m Crianças
A liberação de c o m p o n e n t e s intracelulares para o sobrenadante A s técnicas de v e n o p u n t u r a e m crianças e adultos são semelhan-
é evitada pela barreira p o r diversas horas ou, e m alguns casos, tes. C o n t u d o , as crianças apresentam m a i o r p r o b a b i l i d a d e de
p o r alguns dias. fazer m o v i m e n t o s inesperados e f r e q ü e n t e m e n t e é desejável ajuda
48 PARTE I Princípios Laboratoriais

para contê-las. Pode-se usar o u u m a seringa o u u m tubo a vácuo para é r e m o v i d a , e as gotas subseqüentes são transferidas para u m t u b o
coletar as amostras. A seringa deve ser d o t i p o t u b e r c u l i n a o u de coleta a p r o p r i a d o p o r leve c o n t a t o . O p r e e n c h i m e n t o deve ser
u m a seringa de capacidade para 3 m L , exceto q u a n d o se necessita feito r a p i d a m e n t e para evitar a coagulação, e a i n t r o d u ç ã o de
u m grande v o l u m e de sangue para a análise. U m a agulha de 21 bolhas de ar deve ser evitada.
a 23 gauge o u u m escalpe de 20 a 23 gauge c o m sonda conectada O sangue é coletado e m t u b o s capilares p o r ação capilar.
são apropriados para coletar as amostras. Existem diversos tipos de t u b o s capilares disponíveis comercial-
m e n t e , i n c l u i n d o aqueles q u e c o n t ê m diferentes anticoagulantes,
Punção da Pele c o m o heparina sódica e h e p a r i n a a m ó n i o , e alguns estão dispo-
A p u n ç ã o da pele é u m a técnica de coleta aberta na q u a l a pele níveis e m v i d r o escuro para a coleta de analitos sensíveis à luz,
é puncionada por u m a lanceta e u m pequeno v o l u m e de sangue é c o m o a b i l i r r u b i n a . A s s i m c o m o para os tubos a vácuo, para
coletado e m u m m i c r o dispositivo. N a prática, é usada e m situa- evitar a p r o b a b i l i d a d e de q u e b r a e disseminação da infecção, os
ções nas quais (1) o v o l u m e da amostra é l i m i t a d o (p.ex., aplica- capilares f r e q ü e n t e m e n t e são de plástico o u revestidos p o r plás-
ções pediátricas), (2) as v e n o p u n t u r a s repetidas t e n h a m resultado ticos. U m a desvantagem de alguns desses dispositivos de coleta
e m grave d a n o à veia o u (3) os pacientes t e n h a m s o f r i d o queima- é que o sangue tende a se a c u m u l a r na boca d o t u b o e precisa
duras o u estejam c o m b a n d a g e m e as veias estejam, p o r t a n t o , ser r e m o v i d o c o m u m leve peteleco, c r i a n d o o risco de hemólise.
indisponíveis para a v e n o p u n t u r a . Essa técnica é t a m b é m c o m u - A coleta gota-a-gota deve ser evitada, pois a u m e n t a a hemólise.
m e n t e utilizada q u a n d o a amostra é aplicada d i r e t a m e n t e ao Para a coleta de amostras de sangue e m papel de f i l t r o para
aparelho de exame e m u m a situação de exame ao pé d o leito o u exames neonatais, e crescentemente para testes de genética mole-
papel de f i l t r o . E mais f r e q ü e n t e m e n t e realizada (1) n a p o n t a do cular, o papel de f i l t r o é levemente tocado contra u m a grande
dedo, (2) n o lobo da o r e l h a e (3) n o calcanhar o u dedão d o pé gota de sangue a q u a l se p e r m i t e absorver pelo papel para preen-
de crianças. Por exemplo, e m u m a criança c o m menos de 1 ano cher u m c i r c u l o marcado. Deve-se fazer apenas u m a ú n i c a apli-
de idade, a superfície p l a n t a r (sola) lateral o u m e d i a l d o pé deve cação p o r círculo. T a l c o m o n a coleta e m tubos capilares, deve-se
ser usada para a punção da pele (Figura 3^4). E m crianças mais evitar espremer o u " o r d e n h a r " o dedo o u o pé. Os papéis de
velhas, pode ser usada a superfície p l a n t a r d o dedão d o pé, f i l t r o devem ser secos ao ar (geralmente 2 a 3 horas para evitar
e m b o r a a coleta de sangue de qualquer local d o pé deva ser m o f o e supercrescimento bacteriano) antes de serem armazena-
evitada e m pacientes ambulatoriais. O p r o c e d i m e n t o c o m p l e t o dos e m u m envelope de papel etiquetado a p r o p r i a d a m e n t e . O
para coleta de sangue de crianças usando a p u n ç ã o de pele é sangue n u n c a deve ser transferido pata o papel de f i l t r o após ter
descrita n o CLS1 padrão H 4 - H 5 . 2 sido coletado e m tubos capilares, p o r q u e p o d e ter o c o r r i d o coa-
Para coletar uma amostra de sangue p o r p u n ç ã o da pele, o gulação parcial, c o m p r o m e t e n d o a q u a l i d a d e da amostra.
f l e b o t o m i s t a precisa p r i m e i r o l i m p a r m i n u c i o s a m e n t e a pele c o m
u m a compressa de gaze satuiada e m u m a solução anri-séptica P u n ç ã o Arterial
aprovada para o uso pela i n s t i t u i ç ã o c o m o descrito a n t e r i o r m e n t e As punções arteriais r e q u e r e m u m a considerável h a b i l i d a d e e
para a v e n o p u n t u r a . Q u a n d o a pele estiver seca, é r a p i d a m e n t e geralmente são realizadas apenas p o r médicos o u técnicos e enfer-
p u n c i o n a d a p o r uma lanceta. A p r o f u n d i d a d e da incisão deve meiras especialmente treinados. As amostras arteriais são usadas
ser m e n o r que 2,5 m m para evitar c o n t a t o c o m o osso. Para p r i m o r d i a l m e n t e para a análise de gases sanguíneos. Os locais
m i n i m i z a r a p r o b a b i l i d a d e de infecção, deve-se selecionar u m preferidos para a p u n ç ã o arterial são (1) a artéria radial n o pulso,
local diferente a cada p u n ç ã o . Se f o r usado u m dedo, este deve (2) a artéria b r a q u i a l n o cotovelo e (3) a artéria f e m o r a l na v i r i l h a .
ficar e m u m a posição de m o d o q u e a gravidade auxilie a coleta Faz-se uso mais f r e q ü e n t e dos locais n o braço, pois o extravasa-
d o sangue na p o n t a d o d e d o e a lanceta deve ser segura de m o d o m e n t o de sangue da artéria f e m o r a l t e n d e a ser m a i o r , especial-
a realizar a incisão o mais p e r p e n d i c u l a r possível à unha. 1 3 Deve- m e n t e e m idosos. A técnica apropriada para a punção arterial é
se evitar massagear o dedo para estimular o f l u x o de sangue, pois descrita n o CLS1 p a d r ã o H 1 1 - A 4 J
isso causa a saída de debris e o tecido f l u i d o q u e não t e m a mesma
composição d o plasma. Para m e l h o r a r a circulação d o sangue, o Fatores que Afetam a Coleta de Sangue
dedo ( o u o calcanhar n o caso de p u n ç ã o p l a n t a r ) p o d e ser aque- Os fatores que afetam a coleta de sangue i n c l u e m o uso de anti-
cid o p o r m e i o da aplicação de u m a toalha seca aquecida o u u m coagulantes e conservantes, local da coleta e hemólise.
dispositivo especializado, c o m o u m aquecedor de calcanhar, p o r
3 m i n u t o s antes de aplicar a lanceta. A p r i m e i r a gota de sangue Anticoagulantes e Conservantes para o Sangue
Para coletar o plasma o u u m a amostra de sangue na ausência de
coagulação, é preciso a d i c i o n a r u m anticoagulante n o sangue
total. Existe u m a variedade de anticoagulantes, i n c l u i n d o hepa-
rina, e t i l e n o d i a m i n o tetr acético ( E D T A ) , ácido citrato dextrose
( A C D ) , f l u o r e t o de sódio, c i t r a t o , oxalato e iodoacetato.
Heparina. A h e p a r i n a é o anticoagulante mais a m p l a m e n t e
utilizado para exames b i o q u í m i c o s e hematológicos, mas é ina-
ceitável para a m a i o r i a dos exames realizados utilizando-se reação
em cadeia da polimerase (PCR), p o r q u e este grande polissacari-
deo i n i b e a enzima polimerase. A h e p a r i n a é u m glicosaminogli-
cano e é d i s p o n i b i l i z a d a c o m o sais de sódio, potássio, l í t i o e
a m ó n i o , todos os quais evitam adequadamente a coagulação. A
h e p a r i n a t e m a desvantagem d o custo elevado e produz u m f u n d o
Figura 3-4 Locais aceitáveis para a punção de pele para coleta de
azul nos esfregaços de sangue corados c o m o corante de W r i g h t .
sangue do pé de um bebê. (Modificado de Blumenfeld, TA, Turi GK,
Tem-se relatado que a h e p a r i n a inibe a atividade da fosfatase
Blanc "WA. Recommended sice and depth of new b o r n heel punctures
ácida e interfere na ligação d o cálcio c o m o E D T A em métodos
base on anatomical measurements and histopathology. Reimpresso com
analíticos para mensuração de cálcio envolvendo a formação de u m
permissão da Elsevier [Lancei: 1979:1:230-3]).
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-analíticas CAPÍTULO 3 49

complexo com o E D T A . Também tem sido relatado que afeta a O sangue obtido por punção da pele é contaminado de
ligação da t r i i o d o t i r o n i n a (T 3 ) e da tiroxina (T 4 ) às suas proteínas alguma forma com fluidos intersticial e intracelular, resultando
carreadoras, produzindo assim altas concentrações livres desses no aumento da glicose e potássio e com diminuição da bilirru-
hormônios. bina, cálcio, cloro, sódio e proteína total, comparado ao sangue
EDTA. O E D T A é u m agente quelante, ligando-se a cátions venoso."
hivalentes como o Ca 2+ e o Mg 2 ". E particularmente ú t i l para
exames hematológicos e isolamento de D N A genômico, pois
preserva os componentes celulares do sangue. O E D T A é usado Coleta de Sangue de Linhas Intravenosa ou Arterial
como sal dissódico, dipotássico e tripotássico, sendo os dois Q u a n d o o sangue é coletado através de u m cateter venoso central
últimos mais solúveis. É efetivo na concentração final de 1 a 2 g / L ou uma linha arterial, é necessário garantir que a composição da
de sangue. Altas concentrações hipertõnicas retraem as células amostra não seja afetada pelo f l u i d o que está sendo i n f u n d i d o
vermelhas. O E D T A evita a coagulação por se ligar ao cálcio, o n o paciente. Os fluidos devem ser interrompidos usando u m a
qual é essencial para o mecanismo de coagulação. Os novos válvula de interrupção de fluxo no cateter e 10 m L de sangue são
avanços no uso do E D T A compreendem a inclusão de uma aspirados através da válvula de três vias e descartados antes de a
barreira de gel {tubos brancos, Tabela 3-1). amostra a ser analisada ser coletada. O sangue coletado adequa-
ACD. C o m o indicado anteriormente, a coleta de amostras n o damente através de u m cateter venoso central e comparado com
E D T A pode ser usada para o isolamento do D N A genômico do o sangue retirado de uma veia periférica no mesmo m o m e n t o
paciente, e, simultaneamente a esse teste, exames diagnósticos mostra diferenças notáveis na concentração de alguns componen-
adicionais e complementares, como exames de citogenética, serão tes como ilustrado na Tabela 3-3.
cada vez mais requisitados. Por essa razão, as amostras para diag-
nóstico molecular são freqüentemente coletadas em anticoagu-
lante A C D de modo a preservar tanto a forma como a função dos Hemólise
componentes celulares. Existem dois aditivos A C D comumente A hemólise é definida como a ruptura da membrana das hemá-
utilizados (Tabela 3-1), que diferem entre si pela concentração dos cias e resulta na liberação de hemoglobina e outros componentes
aditivos com base no volume da amostra a ser coletada. celulares. O soro mostra evidência visual de hemólise quando as
Outros Anticoagulantes. O fluoreto de sódio é u m anticoagu- concentrações de hemoglobina excedem 200 m g / L . A hemólise
lante fraco, mas é freqüentemente adicionado como u m conser- leve apresenta pouco efeito na maioria dos valoies dos exames.
vante da glicose no sangue. C o m o conservante, j u n t o com outro Para os testes bioquímicos comuns, a hemólise grave causa u m
anticoagulante, como o oxalato de potássio, é efetivo na concen- ligeiro efeito de diluição naqueles constituintes presentes em
tração de aproximadamente 2 g / L de sangue; quando usado menor concentração nos eritrócitos do que no plasma. C o n t u d o ,
sozinho para evitar a coagulação, é necessária uma concentração u m efeito notável pode ser observado naqueles constituintes que
3 a 5 vezes maior. Exerce sua ação conservante p o i i n i b i r os sis- estão presentes em concentração maior nos eritrócitos do que no
temas enzimáticos envolvidos na glicólise, mas interfere em plasma, como a lactato desidrogenase (LD), potássio, magnésio e
muitos exames comuns para uréia nitrogenada através da inibi- fosfato. A interferência espectral pela hemoglobina em sistemas
ção da enzima urease. de exames bioquímicos deve ser avaliada no m o m e n t o da imple-
A solução de citrato de sódio (não confunda com a solução mentação do novo método.
A C D descrita anteriormente), a uma concentração de 24 a 28 g / L
em uma razão de 1 parte para 9 partes de sangue, é amplamente
usada para estudos de coagulação porque seu efeito é facilmente
reversível pela ação do Ca 2+ . Justamente por o citrato quelar o
cálcio, este anticoagulante é claramente inapropriado para as TABELA 3-3 Influência do Local de Coleta na
amostras destinadas à mensuração deste elemento. Composição do Plasma*
Os oxalatos de sódio, potássio, a m ó n i o e lítio i n i b e m a coa- Venoso Venosa
gulação sanguínea pela formação de complexos u m pouco inso- Arterial Central Periférica
lúveis com íons cálcio. O oxalato de potássio (K2C2O4 • H 2 0 ) ,
Alanina aminotransferase (U/L) 62 61 81
na concentração de aproximadamente 1 a 2 g / L de sangue, é o
Fosfatase alcalina (U/L) 114 113 107
oxalato mais amplamente utilizado.
Amilase (U/L) 149 148 177
O iodoacetato de sódio na concentração de 2 g / L é u m
CálCiD (mg/L) 81 82 83
agente anticoagulante efetivo e u m substituto do fluoreto de Cloro (mmol/L) 99 97 101
sódio. Por não exercer n e n h u m efeito sobre a urease, é usado Creatinina quinase (U/L) 82 73 91
quando são realizados testes de glicose e uréia na mesma amostra. Potássio (mmol/L) 4,0 3,9 3,8
Apresenta pouco efeito na maioria dos testes. Sódio (mmol/L) 144 145 144
Proteína total (g/L) 66 60 77
Uréia nitrogenada (mg/L) 320 310 250
Local da Coleta Modificado de Rom-meí K Koch CD, Spiiler D. Ein/liiss der macerkiÍgí«línnung auf
As amostras de sangue obtidas de diferentes locais diferem em ícliniíchrcfiemiíchÉ Parameter in BÍIÍE, PIÍUTTW und Serum bei Taiiemen míi stflbílem
composição. O sangue obtido por punção da pele é mais seme- und centra li siCTtem Kreislau/. J Clin Ctiem Clin Biocfiem 1978; 16:373-80
lhante ao sangue arterial do que ao sangue venoso. Não existem *Para estimar o provável efeito de um famr seW cs TÊSUIIÜAJÍ, •ráíflrions 0 aumento
diferenças clinicamente significantes entre o sangue capilar livre- pzrcemual ou diminuição mostrada (ou sugerida) na tabela para variação analítica
(±% CV) rotineiramente encontrada para analhos.
mente circulante e o sangue arterial em p H , P C 0 2 , P02 e satura-
Não foi mostrada diferença entre albumina, A,ST, aeaiinma, G G T & ácido lírico.
ção de oxigênio, enquanto a P C 0 2 do sangue venoso é maior do
que 6 a 7 m m H g (0,8 a 0,9 kPa). A glicose do sangue venoso é
cerca de 70 m g / L (0,39 m m o l / L ) u m pouco menor que a glicose
do sangue capilar como resultado do metabolismo tecidual.
50 PARTE I Princípios Laboratoriais

Urina da coleta, incluindo alertas a respeito da manipulação da amostra,


O tipo de amostra de urina a ser coletada é ditado pelos exames deve aparecer na etiqueta do frasco.
a serem realizados. As amostras aleatórias o u com tempo de
coleta não determinado são confiáveis para apenas poucos testes
bioquímicos; geralmente as amostras de urina são coletadas Coleta de Urina de Crianças
durante u m intervalo de tempo predeterminado, como 1, 4 ou Para coletar uma amostra de urina aleatória de uma criança, o
24 horas. U m a amostra colhida pela manhã cedo, em j e j u m e pênis e a área perineal e escrotal são primeiro limpos e secos, para
limpa é geralmente a amostra mais concentrada e, assim, prefe- remover qualquer óleo da pele, natural ou aplicado. U m a bolsa
rida para exames de microscopia e para a detecção de quantida- plástica (U-bag, Hollister Inc, Chicago; o u Tink-Col, C.R. Bard,
des anormais de constituintes, como proteínas, ou de compo- Inc, Murray H i l l , N.J.) é colocada ao redor da genitália do bebê e
nentes não usuais, como a gonadotrofina coriônica. deixada no local até a urina ser excretada. Para coleta minutada
A amostra limpa com tempo exato pode ser obtida em de bebês, usa-se uma cama metabólica. O bebê é deitado sobre
momentos específicos do dia o u durante certas fases do ato de uma fina tela sobre u m a base em forma de f u n i l contendo u m
micção. O exame bacteriológico dos primeiros 10 m L de urina dreno sob o qual o coletor é colocado para receber a urina. A tela
eliminados é mais apropriado para detectar uretrite, enquanto fina retém o material fecal. Todavia, é provável que a urina esteja
o jato médio é melhor para a investigação de problemas na contaminada, em alguma quantidade, poT esse material. A coleta
bexiga. A amostra por micção dupla é a urina excretada durante de amostras de crianças mais velhas é feita como em adultos,
u m período de tempo após o completo esvaziamento da bexiga; usando a ajuda de u m dos pais quando necessário.
é usada, por exemplo, para avaliar a excreção de glicose durante
o teste de tolerância à glicose. De m o d o semelhante, em alguns
distúrbios metabólicos, a urina precisa ser coletada durante ou Conservantes de Urina
imediatamente após os sintomas da doença aparecerem. Os conservantes mais comuns e os volumes recomendados para
Embora os exames n o laboratório He análises bioquímicas a coleta m i n u t a d a estão listados na Tabela 3-4. Os conservantes
não sejam usualmente afetados pela coleta de amostras não possuem papéis diferentes, mas geralmente são adicionados para
estéreis, a genitália do paciente deve ser higienizada antes de reduzir a ação bacteriana o u decomposição química ou para solu-
cada micção para minimizar a transferência de bactérias da bilizar constituintes que possam de outra forma precipitar na
superfície para a urina. A higiene é essencial quando se pretende solução. As amostras para alguns testes não devem ter quaisquer
obter a verdadeira concentração de células brancas na urina. Os conservantes adicionados devido à possibilidade de interferência
detalhes para a coleta de amostras de u r i n a estão contidos em com os métodos analíticos.
u m manual do CLSI.^ U m a das formas mais satisfatórias de conservação da urina é
a refrigeração imediatamente após a coleta. A refrigeração tem
ainda mais sucesso quando combinada com a conservação
A m o s t r a s de Urina Minutadas química, como pastilhas de conservante urinário ou acidificação.
O período de coleta para amostras minutadas deve ser de A acidificação para p H abaixo de 3 é amplamente usada para
duração longa o suficiente para minimizar a influência de varia- conservar as amostras de 24 horas e é particularmente ú t i l para
ções biológicas de curta duração. Q u a n d o as amostras são cole- as amostras destinadas à mensuração de cálcio, esteróides e ácido
tadas durante u m período de tempo determinado, é importante vanililmandélico ( V M A ) .
a adesão do paciente às instruções. A bexiga precisa ser esvaziada U m a base fraca, como o bicarbonato de sódio ou u m a
no m o m e n t o em que a coleta se inicia, e, assim, a primeira urina pequena quantidade de h i d r ó x i d o de sódio (NaOH), é usada
é descartada. Depois, toda a urina precisa ser coletada até o f i m para conservar as amostras para determinações de porfirinas,
do tempo estabelecido. Se o paciente apresentar uma movimen- urobilinogênio e ácido úrico. U m a quantidade suficiente deve
tação intestinal durante o período de coleta, devem-se tomar ser adicionada para ajustar o p H entre 8 e 9.
precauções para evitar a contaminação fecal. Se a coleta for feita Quando uma coleta minutada é completada, a amostra deve
durante várias horas, a u r i n a deve ser passada para u m frasco ser entregue sem demora no laboratório de análises clínicas, onde
separado em cada micção e então esvaziada em u m frasco maior o volume deve ser mensurado. Isto pode ser feito usandn-se cilin-
para completar a amostra. Esse procedimento em dois passos dros graduados ou por pesagem do frasco e urina quando são
evita o perigo de o paciente derramar sobre si mesmo conser- usados frascos pré-pesados ou uniformes. A massa em gramas pode
vantes, como ácido. O frasco maior deve ser armazenado a 4°C ser registrada como se fosse o volume em mililitros. Raramente
em u m refrigerador durante todo o período de coleta.
Para urina de 2 horas, geralmente é adequado u m frasco de
u m litro pré-etiquetado. Para a urina de 12 horas, geralmente
u m frasco de 2 litros é o suficiente; para a urina de 24 horas, é
apropriado, para a maioria dos pacientes, u m frasco de 3 a 4 TABELA 3-4 Conservantes de U r i n a C o m u m e n t e U f i l h a d o s *
litros. U m único frasco permite a mistura adequada da amostra
Conservante Concentrações/Volumes
e evita a possível perda de alguma parte da amostTa se u m
segundo frasco não chegar ao laboratório. A urina não deve ser HCI 6 mol/L; 30 mL por coleta de 24 lioras
coletada ao mesmo tempo para dois ou mais exames que neces- Acido Acético 50%; 25 mL por coleta de 24 horas
sitem de conservantes diferentes. As alíquotas para cada análise, NajCOa 5 g por nnifita dfi 24 horas
como exame microscópico o u testes moleculares, não devem ser HNOa 6 mol/L; 15 mL por coleta de 24 horas

removidas enquanto a coleta de 24 horas estiver em processo. Acido bórico 10 g por coleta de 24 horas

A remoção das alíquotas não é permissível mesmo quando o "Modificado das in/ormaçõâs disponiueij em Cínica! and Laboratory Standartk
volume removido é medido e corrigido, pois a excreção da J[rtlí[c/Tv'( "C1S Rouline (jVí^Lií}'n anti CoiíecriDn, Transportai! on, and
maioria dos componentes varia ao longo do dia e os resultados Preseruarion of Urine SpÉcim^ns: CLSI/NCCLS Approved Guiíleíine GP16-A2, 2"
ed. Wayn£, PA: Ciínica! arul Laboraíory Standards insrituce, 200].
dos exames serão afetados. A informação apropriada a respeito
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-analíticas CAPÍTULO 3 51

existe a necessidade de medir a gravidade específica de uma amostra uma seringa conectada a uma agulha espinal. Para o transporte
pesada, pois os erros na análise geralmente excedem o erro que do líquido para o laboratório são utilizados coletores estéreis,
advém da falha em corrigir o volume da urina por sua massa. como tubos de ensaio de polipropileno o u coletores de utina. O
Para cada exame solicitado, antes de a amostra ser transferida coletor deve seT colocado imediatamente no gelo se a amostra for
paia fiascos pequenos, esta precisa ser minuciosamente misturada destinada à determinação do desenvolvimento do pulmão fetal
para. garantir a liornogeneidade, pois a composicão da urina irá u s a n d o a relação lecitiiia/esfingoiiiieliiia (L/S) ou u m a razão
variar durante o período de coleta. A etiqueta nos frascos menores albumina/surfactante. Para análise por espectofotometria, a
precisa ser colocada no próprio frasco, e não na tampa. amostra deve ser transferida para u m tubo escuro para se evitar
a fotodegradação da bilirrubina. C o m o alternativa, o coletor da
Fezes amostra pode ser embrulhado em papel de alumínio.
As fezes são mais comumente testadas para microrganismos
como causa de diarréia e p a r a o g r u p o heme como indicador de Líquidos Pleural, Pericárdico e Ascítico
uma úlcera sangrante o u doença maligna no trato gastrointesti- Normalmente as cavidades pleural, pericárdica e peritoneal contêm
nal. As fezes de crianças podem ser examinadas para a atividade uma pequena quantidade de liquido seroso que lubrifica as super-
tríptica para determinar a fibrose cística. E m adultos, a excreção fícies das membranas parietal e visceral. As inflamações o u infec-
fecal de nitrogênio e gordura é usada para avaliar a gravidade da ções que afetam as cavidades causam o acúmulo de líquido. O
malabsorção e a mensuração das porfirinas fecais é ocasional- líquido pode seT removido para determinar se é uma efusão ou u m
mente requerida para caracterizar o tipo de porfiria. exsudato, uma distinção possível por análise de proteínas o u
Geralmente não se adiciona n e n h u m conservante nas fezes, enzimas. O procedimento de coleta é chamado de paracentese.
mas o coletor pode ser mantido refrigerado durante o período Quando especificamente aplicado à cavidade pleural, o procedi-
de coleta e deve-se tomar cuidado paia evitar a contaminação mento chama-se toracocentese; se aplicado à cavidade pericárdica,
com urina. pericardiocentese. As parecenteses devem ser realizadas apenas por
médicos treinados c experientes. Atualmente, a pcricardiocentcsc
tem sido largamente suplantada pela ecocardiografia.
Líquido Cerebrospinal
O liquido espinal é normalmente obtido da região lombar,
embora o médico possa ocasionalmente solicitar o líquido obtido
Saliva
durante a cirurgia de região cervical o u de uma cisterna ou ven- Embora se defenda mensurar concentrações de certos analitos
na saliva, as aplicações clínicas dos métodos usando saliva são
trículo do cérebro. O líquido espinal é examinado quando existe
limitadas. As exceções são as mensurações de substâncias do
dúvida a respeito da presença de (1) acidente vascular cerebral,
grupo sanguíneo para determinar o estado secretor e o genótipo
(2) meningite, (3) doença desmielinizante ou (4) envolvimento
e, mais recentemente, para detectar a presença de anticorpos
da meninge em doença maligna. As punções lombares devem ser
anti-HIV. Veja nos Capítulos 30 e 31 discussões sobre a mensu-
sempre realizadas pelo médico. Os tubos de coleta devem estar
ração de drogas na saliva.
estéreis, especialmente se forem solicitados testes microbiológi-
Q u a n d o se necessita de uma amostra de saliva, pede-se ao
cos. O primeiro tubo deve ser usado para testes bioquímicos e
indivíduo que enxágüe a boca com água e então masque u m
sorológicos; o segundo, para testes microbiológicos; e o terceiro,
material inerte, como u m pedaço de borracha o u cera de parafina
para exame microscópico e citológico, pois a amostra inicial pode
por 30 segundos ou até alguns minutos. A primeira saliva que
estar contaminada por deferis teciduais o u bactérias da pele.
preenche a boca é descartada; depois a saliva é coletada em u m
pequeno frasco de vidro.
Líquido Sinovial
A técnica de obtenção do líquido sinovial para exame é chamada Células Específicas
de artrocentese. O líquido sinovial é retirado das articulações A coleta de células bucais especificas da cavidade bucal tem sido
para auxiliar a caracterizar o tipo de artrite e para diferenciar identificada como uma excelente fonte de D N A genômico.
efusões não-inflamatórias de fluidos inflamatórios. Normal- Existem dois métodos comuns de coleta. Em u m método, uma
mente, nas condições inflamatórias, está presente apenas uma pequena quantidade de enxágüe bucal é dada ao paciente, que
quantidade m u i t o pequena de líquido. A artrocentese deve ser deve bochechar e então devolver o líquido do enxágüe a u m tubo
realizada pelo médico usando-se procedimento estéril, e a técnica de coleta. E preciso testar a presença de fenol e etanol no líquido
precisa ser modificada para cada articulação dependendo da loca- de enxágüe bucal específico para garantir a recuperação de células
lização anatômica e do tamanho da articulação. O médico deve viáveis. N o segundo método, utiliza-se swab para coleta de amostra
estabelecer prioridades para os exames a serem realizados no caso para exames microbiológicos; contudo, swab são algumas vezes
de o volume de líquido disponível ser insuficiente para todos os utilizados para coletar células bucais. Dá-se preferência siuaf) de
testes. Os tubos estéreis devem ser usados para diagnóstico mole- Dacron ou íayon com haste plástica, porque siuaks de alginato de
cular, cultura e para mensuração de glicose e proteínas; é preciso cálcio inibem os testes com base em PCR. Após a coleta, o mwb
u m tubo com E D T A para contagem total e diferencial de leucó- pede ser armazenado em u m frasco plástico hermeticamente
citos e de eritrócitos, As lâminas de microscopia são preparadas fechado ou imerso em líquido, como solução salina tamponada
com coloração de G r a m ou outras colorações indicadas e para a com fosfato (PBS) ou meio de transporte virai. U m a coleta adi-
inspeção visual macroscópica. cional do tipo de células individuais é amostra do vilo coriõnico
(CVS). E uma técnica que insere u m cateter o u u m a agulha dentro
Líquido Amniótico da placenta e remove u m pouco das vilosidades coriônicas, que
A coleta do líquido amniótico (amniocentese) é realizada por u m são projeções vasculares do córion. Este tecido tem a mesma
médico para (1) diagnóstico pré-natal de doenças congênitas, (2) constituição genética e cromossômica do feto e é utilizado para
avaliar a maturidade fetal ou (3) procurar por isoimunização R h testes para detecção de anomalias fetais. C o m uma amostra de
o u infecção intra-uterina. CVS, é possível realizar o teste entre a lO^e a 12- semana deges-
Para obter uma amostra de líquido amniótico, a pele é pri- tação enquanto que o teste com a amostra do líquido amniótico
meiro limpa e anestesiada, e são aspirados 10 m L de líquido em não pode ser realizado até a 15a e a 20a semana de gestação.
52 PARTE I Princípios Laboratoriais

Tecido Sólido duração, o tempo gasto desde a separação do componente da


O tecido maligno da mama é u m tecido sólido que é analisado amostra a ser analisada até a análise pode ser considerável.
quanto a receptores de estrógeno e progesterona. Nesses ensaios, A amostra precisa ser tratada adequadamente tanto durante o
pelo menos 0,5 a 1,0 g de tecido são removidos durante a cirur- trânsito para o laboratório q u a n t o em relação ao tempo da sepa-
gia e devem ser livres de gordura e material não tumoral. O tecido ração do soro, células etc., até a análise começar. Para alguns
é freqüentemente congelado dentro de 20 minutos, preferivel- testes, as amostras precisam ser mantidas a 4° C desde o m o m e n t o
mente em nitrogênio l í q u i d o ou em uma mistura de gelo seco e em que o sangue é coletado até as amostras serem analisadas;
álcool. A secção histológica é examinada para confirmar que a outros requerem permanência à temperatura ambiente ou
amostra é de fato de tecido maligno. O mesmo procedimento p r ó x i m o dela.
pode ser usado para se obter e preparar tecido sólido para análise Para todos os constituintes dos testes que são termolábeis, o
toxicológica; contudo, quando são solicitadas determinações de soro e o plasma devem ser separados das células em centrífuga
elementos-traço, todos os materiais usados na coleta e manipula- refrigerada. As amostras para análise de b i l i r r u b i n a e caroteno e
ção do tecido devem ser feitos de plástico ou materiais livres de algumas drogas, como metotrexano, precisam ser protegidas
contaminação por elementos-traço. tanto da luz solar como da luz fluorescente para evitar a fotode-
Mais recentemente, as análises de genes somáticos, como o gradação.
rearranjo do receptor de célula T e expansão clonal, estão gerando Embora o transporte das amostras a partir do paciente para
informações importantes para os clínicos. Por esses estudos, o o laboratório de análises clínicas seja freqüentemente realizado
laboratório de diagnóstico molecular freqüentemente recebe por u m mensageiro, os sistemas de tubos pneumáticos têm sido
material que foi fixado e m formalina e embebido em parafina usados para transportar as amostras mais rapidamente por
(tecido FFPE). E m geral, prefere-se a formalina neutra tamponada longas distâncias d e n t r o do hospital. Nesses sistemas pode
que não contém metais pesados. C o m o alternativa, a retenção ocorrer hemólise, a menos que os tubos sejam completamente
da estrutura do tecido sem fixação permanente é conseguida pelo preenchidos e o m o v i m e n t o dos tubos de sangue d e n t r o do
congelamento da amostra em u m meio para corte histológico transportador de amostras seja m i n i m i z a d o ou, m e l h o r ainda,
( O C T , optimal cutting compoMnd). O O C T è uma mistura de álcool evitado. O sistema de tubos pneumáticos deve ser projetado para
p o l i v i n i l e polietileno glicol que envolve, mas não se i n f i l t r a no eliminar curvas acentuadas e paradas súbitas das amostras trans-
tecido. portadas, pois esses fatores p o d e m provocar hemólise. C o m
muitos sistemas, entretanto, a concentração de hemoglobina
Cabelo e Unhas plasmática pode aumentar, e a quantidade de hemólise, contri-
Os cabelos e as unhas da mão e do pé têm sido usados para a b u i r para a interferência em exames químicos c o m base em
análise de metal-traço. C o n t u d o , os procedimentos de coleta espectofotometria. E m casos especiais, como em u m paciente
estão pouco padronizados e as mensurações quantitativas são submetido à quimioterapia e que possui células frágeis, as amos-
mais bem obtidas no sangue o u na urina. O uso de amostras de tras devem ser centrifugadas antes de ser colocadas n o sistema
cabelo o u unha geralmente é l i m i t a d o para as análises forenses de tubos pneumáticos o u identificadas como "entrega apenas
hoje em dia (Capítulo 31). por mensageiro".
Para as amostras que forem coletas em instalações remotas
c o m transporte pouco freqüente por correio a u m laboratório
MANIPULAÇÃO DE AMOSTRAS central, o processamento adequado da amostra precisa ser feito
PARA ANÁLISE na instalação remota para que os componentes separados e
Os resultados válidos de exames requerem uma amostra repre- preservados adequadamente sejam entregues ao laboratório. É
sentativa, coletada e preservada adequadamente. A identificação necessário que as instalações remotas possuam p r o n t o acesso a
adequada da amostra precisa ser mantida em cada paço do pro- todos os conservantes c o m u m e n t e utilizados, congeladores e
cesso de teste para evitar erros (Veja n o Capítulo 1 1 a discussão gelo seco.
sobre o uso de códigos de barras para identificar amostras). Cada
frasco de amostra precisa ser adequadamente etiquetado mesmo
se a amostra precisar ser colocada no gelo o u se o frasco for tão Separação e Armazenamento de Amostras
pequeno que a etiqueta não possa ser colocada ao redor do tubo, O soro e o plasma devem ser separados das células o mais breve-
como pode acontecer com u m tubo de sangue capilar. Prefere-se mente possível e preferencialmente dentro de duas horas. A
etiquetar diretamente o t u b o de sangue capilar pela dobra da sepaiação prematura do soro, c o n t u d o , pode p e r m i t i r a formação
etiqueta c o m o uma bandeira ao redor do tubo. Para qualquer continuada de b i l i r r u b i n a e levar à obstrução da sondas da
amostra enviada em u m t u b o de ensaio ou frasco c o m tampa amostra em equipamentos de exames. Se for impossível centrifu-
rosca, a etiqueta deve ser colocada diretamente no frasco o u tubo, gar uma amostra de sangue dentro de duas horas, a amostra deve
e não na tampa. A informação m í n i m a na etiqueta deve i n c l u i r ser m a n t i d a em temperatura ambiente, em vez de a 4 °C, para
o nome do paciente, n ú m e r o de identificação e data e hora da d i m i n u i r a hemólise. Para muitos analitos lábeis, como os hor-
coleta. Todas as etiquetas devem estar conforme os requisitos do mônios, o plasma e o soro devem ser congelados imediatamente
estado do laboratório para facilitar o adequado processamento após a centrifugação. Devem-se evitar os congeladores livres de
das amostras. N ã o se deve colocar etiqueta específica nas amos- gelo (frost free freezers), pois possuem uma ampla oscilação de
tras dos pacientes c o m doenças infecciosas para sugerir que temperatura durante ciclo congelamento/descongelamento, e os
aquela amostra deve ser manipulada c o m cuidado especial. Todas ciclos repetidos de congelamento/descongelamento p o d e m
as amostras devem ser tratadas como se fossem potencialmente degradar o analito de interesse.14
infecciosas. Os tubos de amostras devem ser centrifugados com tampa de
m o d o a (1) reduzir a evaporação particularmente de voláteis,
Conservação das Amostras em Trânsito como etanol, (2) evitar a aerolização de partículas infecciosas e
Embora os atrasos de uma amostra em trânsito do paciente em (3) manter condições anaeróbicas, o que é i m p o r t a n t e na men-
u m hospital para o laboratório sejam geralmente de curta suração de d i ó x i d o de carbono e cálcio ionizado.
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-analíticas CAPÍTULO 3 53

Transporte de Amostras Postura


O tempo necessário para transportar uma amostra a partir do E m u m adulto, a troca de uma posição em decúbito para uma
m o m e n t o de sua coleta até esta atingir o laboratório varia de posição em estação resulta em uma redução de volume de sangue
poucos minutos a 72 horas. O frasco ou tubo usado para conter do indivíduo em cerca de 10% (perda de - 6 0 0 a 700 mL). U m a
a amostra (frasco p i i m á t i o ) deve ser construído de m o d o que o vez que só o f l u i d o livre de proteína passa através dos capilares
conteúdo não escape caso o frasco seja exposto a extremos de para o tecido, essa alteração na postura resulta na redução do
calor, frio ou luz solar. Pode-se encontrar pressão reduzida de volume de plasma no sangue e em u m aumento ( - 8 % a 10%)
0,50 atmosfera (50kPa) durante o transporte de ar j u n t o com na concentração de proteínas do plasma. N o r m a l m e n t e o volume
vibração e as amoscras devem ser protegidas dentro de u m frasco d i m i n u í d o de sangue seguido de uma troca de posição em decú-
apropriado para essas condições adversas. b i t o por estação acaba em 10 minutos, exceto em casos especiais
O frasco expedidor, ou secundário, usado para contei u m o u de prolongado repouso n o leito. C o n t u d o , são necessários 30
mais tubos o u frascos de amostras deve ser construído de m o d o minutos para que essa alteração ocorra quando se muda da
a evitar quebras. Podem ser usadas caixas corrugadas de painéis posição em estação para decúbito.
de fibra ou Styrofoam (espuma de poliestireno extrudido), proje- D e m o d o geral, as concentrações de constituintes livremente
tadas para circundar u m único tubo de amostra. U m envelope difundíveis, com pesos moleculares de menos de 5.000 Da, não
almofadado pode gerar a proteção adequada para a expedição de são afetados pelas alterações de postura. Entretanto, ocorre u m
amostras únicas Q u a n d o as amostras são expedidas como gotas aumento significativo no potássio (—0,2 a 0,3 m m o l / L ) após u m
de sangue sobre u m filtro de papel (por exemplo, para triagem i n d i v í d u o ficar em estação por 30 minutos. As alterações nas
neonatal), o papel pode ser colocado em u m envelope de expe- concentrações de alguns dos principais constituintes do soro com
dição, e raramente se requer uma expedição rápida. a mudança de postura estão listadas na Tabela 3-5.
Para o transporte de amostras congeladas o u refrigeradas, As alterações na concentração de proteínas e componentes
usa-se u m frasco isolado. Deve ser ventilado para evitar o acúmulo ligados a proteínas no soro são maiores em (1) pacientes hipertensos
de dióxido de carbono sob pressão e possível explosão. Os pacotes do que em normotensos, (2) indivíduos com uma baixa concentra-
de gelo são comumente utilizados para amostras refrigeradas. ção de proteína no plasma do que naqueles com uma concentração
O dióxido de carbono sólido (gelo seco) é u m material refrige- normal e (3) nos idosos, comparados aos jovens. A maior parte da
rante conveniente que pode ajudar a manter amostras congela- pressão oncótica plasmática é atribuída à albumina p o i causa da
das, alcançando temperaturas de até -70°C. sua alta concentração, de modo que a malnutrição protéica—asso-
Diversas leis e regulamentações se aplicam ao envio de amos- ciada à redução na concentração plasmática de albumina—reduz a
tras biológicas. Embora essas regulamentações se apliquem teori- retenção de fluido dentro dos capilares. De modo contrário, o
camente apenas a agentes etiológicos (conhecidos como agentes impacto das alterações de postura é menor em indivíduos com
infecciosos), todas as amostras devem ser transportadas como se concentrações de proteína anormalmente altas, como aqueles como
a elas fossem aplicadas as mesmas regulamentações. 9 As linhas gamopatia monoclonal (mieloma múltiplo).
aéreas possuem regulamentações rígidas com relação ao trans- As condições descritas anteriormente referem-se a alterações
porte de amostras. As empresas aéreas consideram o gelo seco de postura em períodos curtos; a situação é mais pronunciada
u m material perigoso. Portanto, o transporte da maioria das em paciente sob prolongado repouso ao leito. O plasma e os
amostras para laboratórios de análises clínicas é afetado por essas volumes de fluidos extracelulares d i m i n u e m em poucos dias do
regulamentações, e é preciso treinar os funcionários para as regu- início do repouso- Inicialmente, há uma ligeira redução da água
lamentações apropriadas. do sangue total resultante do prolongado repouso ao leito. C o m
Os vários meios de transporte de amostras i n f l u e n c i a m no o repouso prolongado, ocorre a retenção de fluidos e a d i m i n u í -
t e m p o de envio e custo, e cada l a b o r a t ó r i o necessitará fazer sua
p i ó p r i a avaliação quanto ao serviço adequado. O objetivo é
garantir que a amostra corretamente coletada e identificada
chegue o local de exame a t e m p o e sob condições corretas de
armazenamento para que a p r ó x i m a fase (analítica) possa pro-
TABELA 3 - 5 Variação na Concentração do Soro com a
ceder.
Mudança da Posição Deitada para a de
Estacão
L
OUTRAS VARIÁVEIS PRÉ-ANALÍTICAS Constituinte Aumento Médio (%)
As variáveis pré-analíticas são classificadas como controláveis ou Alar ira aminotransíerase 7
não controláveis.' 5,17 Albumina g
Fosfatase alcalina 7
Amílase 6
Variáveis Controláveis Aspartato aminotransíerase 5
Muitas das variáveis pré-analíticas relacionadas à coleta da amostra Cálcio 3
discutidas anteriormente são exemplos de variáveis controláveis. Colesterol 7
Outras incluem as variáveis fisiológicas 12 e aquelas associadas a (1) igA 7
dieta, (2) estilo cie vida, (3) estimulantes, (4) medicamentos, (5) igG 7
preparações de ervas e (6) ingestão de drogas recreativas. igM 5
Tírcxina 11
Tfiglicerídeos 6
Variáveis Fisiológicas
As variáveis pessoais controláveis que afetam os resultados analí- De Feldins P, Tryáng N, Hykofí Fecmen F, Horder M . Effects of posturc on

ticos incluem (1) postura, (2) prolongado repouso n o leito, (3) concentrariam of bíood eon<íir«£nfs in heahhy adalts: prãctical application of bíooíl
Specimen colíecticm jyrocedures rei
còiAme-nded tí\£ ScwnAmíivinn Ccrnimiitee on 1
exercício, (4) treinamento físico, (5) variação circadiana e (6) ciclo
Referente Volnei. Scflruí J Clifi Lab Muesi 1980,40:615 21.
menstrual.
54 PARTE I Princípios Laboratoriais

cão da concentração plasmática de proteína, albumina e consti- ocorre após uma perda inicial de f l u i d o e proteína através dos
tuintes ligados à proteína através de efeitos de diluição. A mobi- capilares.15
lização do cálcio dos ossos como aumento da fração de ferro O treinamento físico minimiza muitos dos efeitos de curto
ionizado livre é compensada pela redução de cálcio ligado à prazo relacionados anteriormente. Geralmente os atletas possuem
proteína, e, portanto, o cálcio sérico total é menos afetado. O uma maior atividade sérica de enzimas de origem muscular esque-
potássio séiico pode estar reduzido em mais de 0,5 m m o l / L lética em repouso do que os não atletas. C o n t u d o , a resposta
devido à redução da massa de músculo esquelético. dessas enzimas ao exercício é menor em atletas do que em outros
O prolongado repouso ao leito está associado ao aumento da indivíduos. A proporção de creatinina quinase (CK) que é CK-
excreção de nitrogênio urinário assim como à excreção de cálcio, M B (isoenzíma do músculo e cérebro) é m u i t o maior em u m
sódio, potássio, fosfato e sulfeto. A excreção de íons hidrogênio indivíduo treinado do que em u m não treinado. As concentra-
fica reduzida, presumivelmente devido ao metabolismo diminu- ções séricas de uréia, ácido úrico, creatinina e tiroxina são maiores
ído do músculo esquelético. A amplitude da variação citcadiana em atletas em comparação a indivíduos não treinados. Essas
do cortisol plasmático é reduzida pela imobilização prolongada, alterações estão provavelmente relacionadas à massa muscular
e a excreção urinária de catecolaminas pode estar reduzida a u m aumentada e a uma maior renovação da massa muscular em
terço da concentração em u m indivíduo ativo. A excreção de atletas.
V M A (ácido vanilmandélico) é reduzida em u m quarto após 2 A concentração sérica total de lipídios é reduzida pelo con-
ou 3 semanas de repouso ao leito. dicionamento físico. Por exemplo, o colesterol sérico pode estar
Q u a n d o o indivíduo volta a ficar ativo após u m período de d i m i n u í d o em até 25%. A fração H D L do colesterol, contudo,
repouso ao leito, são necessárias mais de 3 semanas até que a está aumentada. Assim, a diminuição na concentração total do
excreção de cálcio volte ao n o r m a l e mais outras 3 semanas para colesterol se deve à redução na lipoproteína de baixa densidade
que seja alcançado o equilíbrio positivo do cálcio. São necessárias (LDL) do colesterol.
várias semanas para o equilíbrio positivo de nitrogênio ser res-
taurado. Variação Circadiana
A variação circadiana se refere ao padrão de produção, excreção
e concentração de analitos a cada 24 horas. 15 Muitos constituin-
Exercício e Treinamento Físico tes dos fluidos sanguíneos exibem uma variação cíclica ao longo
A natureza e a extensão do exercício devem ser levadas em con- do d ia. Os fatores que contribuem para essas variações incluem
sideração. O exercício estático o u isométrico, geralmente de curta postura, atividade, ingestão de alimento, estresse, luz do dia o u
d u r a ç ã o , m a s d e alta i n t e n s i d a d e , utiliza a a d e n o s m a trifosfato escuridão e sono ou aleita. Essas variações cíclicas podem yer
(ATP) e a creatinina fosfato previamente armazenadas, enquanto m u i t o grandes e, portanto, a coleta da amostra precisa ser m u i t o
o exercício mais prolongado precisa de A T P gerado pelas vias bem controlada. Por exemplo, a concentração de ferro sérico
metabólicas normais. As alterações nas concentrações de analitos pode mudar em até 5 0 % das 08:00 horas (h) às 14:00 h, e o
como resultado do exercício se devem, em sua maioria, a (1) troca cortisol, em quantidade semelhante entre 08'00 h e 16:00 h.
de fluidos entre os compartimentos intravascular e intersticial, Tem-se relatado que o potássio sérico d i m i n u i de 5,4 m m o l / L às
(2) alteração na concentração de h o r m ô n i o estimulada pela troca 08:00 h para 4,3 m m o l / L às 14-.00 h. A variação total típica da
da atividade e (3) perda de f l u i d o devido ao suor. A boa forma concentração dos diversos constituintes séricos comumente men-
física de u m indivíduo também pode afetar a extensão da altera- surados durante 6 horas está ilustrada na Tabela 3-6; a variação
ção na concentração de u m constituinte. O fato de uma quanti- total está listada j u n t o com o erro analítico.
dade de exercício afetar de maneira significativa os resultados Os hormônios são secretados em pulsos, e isso, j u n t o com a
laboratoriais também depende de quanto tempo após a atividade variação circadiana a qual a maioria dos hormônios está sujeita,
física a amostra foi coletada. pode tornar m u i t o difícil a interpretação adequada de suas con-
C o m o exercício moderado, a resposta ao estresse provocado centrações séricas (Capítulos 35 e 38-42). A l é m disso, o efeito
causa u m aumento da glicose sanguínea, o que estimula a secre- dos hormônios sobre outros analitos torna extremamente impor-
ção de insulina. A diferença arteriovenosa na concentração de tante o tempo de coleta da amostra. Por exemplo, a insulina
glicose é aumentada pela maior demanda tecidual por glicose. O plasmática basal é mais elevada pela manhã do que em outras
piruvato e o lactato plasmáticos aumentam devido à maior ativi- horas do dia, e sua resposta à glicose também é maior pela manhã
dade metabólica do músculo esquelético. O exercício d i m i n u i o e menor por volta da meia-noite. Q u a n d o o teste de tolerância à
p H e a PC O 2 arterial. O uso do A T P celular aumenta a permea- glicose é feito durante a tarde, p o d e m ocorrer valores mais altos
bilidade celular levando a pequenos aumentos da atividade sérica de glicose do que se o teste fosse realizado pela manhã cedo. A
de enzimas originárias do músculo esquelético. O aumento da glicose plasmática mais elevada ocorre apesar de uma maior res-
atividade enzimática tende a ser maior em indivíduos sem preparo posta à insulina, a qual é, n o entanto, mais demorada e menos
físico do que em indivíduos em forma- O exercício leve produz efetiva.
uma ligeira diminuição nas concentrações de colesterol e trigli-
cerídeos séricos que pode persistir por diversos dias. As pessoas Ciclo Menstrual
que caminham cerca de 4 horas a cada semana possuem uma As concentrações plasmáticas de muitos hormônios sexuais femi-
concentração média de colesterol 5% menor e a concentração de ninos e outros hormônios são afetadas pelo ciclo menstrual (Veja
lipoproteína de alta densidade ( H D L ) 3,4% maior do que os também os Capítulos 42 e 43). N o dia pré-ovulatório, a concen-
indivíduos inativos. tração de aldosterona pode ser na realidade o dobro daquela na
D e m o d o geral, os efeitos do exercício e x t e n u a n t e são exacer- parte precoce da fase folicular. A alteração na atividade da renina
bações daqueles que ocorrem com o exercício médio. Assim, é quase tão grande quanto à da aldosterona. Essas alterações são
podem ocorrer a bipoglicemia e o aumento da tolerância à geralmente mais pronunciadas em mulheres que retêm f l u i d o
glicose. O lactato plasmático pode aumentar dez vezes. O exercí- antes da menstruação. A excreção urinária de catecolaminas
cio intenso aumenta a concentração n o plasma de proteínas aumenta n o meio do ciclo e permanece alta durante toda a fase
devido ao i n f l u x o de proteínas dos espaços intersticiais, o que lútea. Essas alterações dentro do ciclo menstrual tornam essen-
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-analíticas CAPÍTULO 3 55

TABELA 3-6 Variação T o t a l e A n a l í t i c a para Exames Séricos de Amostras O b t i d a s às 8 : 0 0 horas e 14:00 horas 4

Constituinte Média Variação Total (%) Variação Analítica (%)

Sódio (mmol/L) 141 1,9 1.8


Potássio (mmol/L) 4,4 7,1 2,8
Cálcio (mg/dL) 10,8 3,2 2,7
Cloro (mmo!/L) 102 3,8 3,4
Fcsfato (mg/dL) 3,8 10,7 2,4
Uréia nitrogenada (mg/dL) 14 22,5 2,5
Creatinina (mg/dL) 1,0 14,5 6,3
Ácido úrico (mg/dL) 5,6 11,5 2,6
Ferra (jig/dL) 116 36,6 3,4
Colesterol (mg/dL) 193 14,8 5,7
Albumina (g/dL) 4,5 5,5 3,9
Proteína total (mg/dL) 7,3 4,8 1,7
Lipídios totais (g/L) 5,3 25,0 3,6
Aspartato aminotransferase (U/L) 9 25 6
Alanina aminotransíerase (U/L) 6 56 17
Fosfatase ácida (U/L) 3 15 8
Foslatase alcalina (U/L) 63 20 3
Lactato desidrogenase (U/L) 195 16 12

De Winkel P, StoclflncJ, BE, Bokdu-nd H The efjects of time of venipunciuK on vajiatiçn of sewtn conítiiwents. A m J Cim Pa th oi 1975;64:433-47. Todos os direitos reservados 1975
pela American Socieiy of Clinicai Pathologists. Reimpiesso com permissão.
*11 indivíduos da sexn masculino, idade de 21-27 anos, ÉUudados às 08:00, J J -00 e. 14:00 fioras.

ciais as mensurações repetidas na mulher no mesmo m o m e n t o Quatro dias após a mudança de uma dieta n o r m a l para u m a
durante o ciclo. dieta rica em proteína, ocorre a duplicação da concentração da
As concentrações plasmáticas de colesterol e triglicerídeos uréia plasmática com u m aumento de sua excreção urinária. As
tendem a estar altas no meio do ciclo, o m o m e n t o de secreção concentrações séricas de colesterol, fosfato, ácido úrico e amónia
máxima de estrógeno, embora a variação cíclica n o colesterol não também aumentam. U m a dieta rica em gordura, ao contrário,
seja observada com ciclos anovulatórios. As concentrações de causa depleção do reservatório de nitrogênio devido à necessi-
proteína total e albumina d i m i n u e m no m o m e n t o da ovulação, dade de excreção dos íons amónio para manter a homeostase
e o cálcio sérico está correlacionado com as alterações de albu- ácido-base. U m a dieta rica em gordura aumenta a concentração
mina. As concentrações de fibrinogênio plasmático e fosfato sérica dc trigliccrídcos, mas t a m b é m reduz o á c i d o ú r i c o sérico.
séiico d i m i n u e m drasticamente na menstruação. As concentra- A redução da ingestão de gordura reduz a atividade sérica de L D
ções de creatinina e ácido úrico são maiores nesse m o m e n t o e (lactato desidrogenase). A ingestão cie quantidades m u i t o diferen-
são menores n o final do período inteimenstrual. tes de colesterol tem pouco efeito na concentração do colesterol
A concentração plasmática de ferro pode estar m u i t o baixa sérico. A ingestão de gordura monoinsaturada em vez de gordura
com o início da menstruação; a concentração de magnésio é saturada reduz o colesterol e as concentrações de L D L . Q u a n d o
menor nesse p o n t o do ciclo. As concentrações plasmáticas de a gordura polmsaturada é substituída pela gordura saturada, as
sódio e cloro aumentam até o início da menstruação, mas podem concentrações de triglicerídeos e colesterol H D L são reduzidas.
cair em 2 m m o l / L com a diurese pós-mens trual. Q u a n d o os carboidratos da dieta consistem principalmente
em amido o u sacarose, em vez de outros açúcares, as atividades
Viagem séticas da fosfatase alcalina (ALP) e da L D aumentam. D e modo
Viajar através de diversos fusos horários afeta o r i t m o circadiano. contrário, a concentração plasmática de triglicerideos é reduzida
São necessários cinco dias para se estabelecer u m novo r i t m o quando se d i m i n u i a ingestão de sacarose. São observadas curvas
d i u r n o estável após uma viagem por 10 fusos horários. As altera- mais achatadas de tolerância à glicose quando se tem uma dieta
ções nos resultados dos exames laboratoriais são geralmente atri- à base de pão do que quando se faz ingestão de uma dieta rica
buídas à função alterada da hipófise e da adrenal. A excreção em sacarose. A dieta rica em carboidrato d i m i n u i as concentra-
urinária de catecolaminas geralmente fica aumentada por 2 dias; ções séricas da lipoproteína de densidade m u i t o baixa ( V L D L )
o cortisol sérico d i m i n u i . D u r a n t e u m vôo, as concentrações de colesterol, triglicerídeos, colesterol e proteína. Os indivíduos
séricas de glicose e triglicerídeos aumentam, enquanto a secreção que comem muitas refeições pequenas durante o dia tendem a
de glicocorticóide é estimulada. Durante u m vôo prolongado, ter concentrações menores de colesterol L D L e H D L totais do
ocorre retenção de líquido e sódio, mas a excreção urinária que quando o alimento de mesmo t i p o e quantidade é ingerido
retorna ao n o r m a l após 2 dias. em três refeições.

Dieta Ingestão de Alimento


A dieta tem influência considerável na composição do plasma. A concencração de certos constituintes plasmáticos é afetada pela
Estudos com dietas sintéticas têm mostrado que as alterações do ingestão de u m a refeição, sendo que o tempo entre a ingestão da
dia-a-dia na quantidade de proteína são refletidas em poucos dias refeição e a coleta de sangue afeta as concentrações plasmáticas
na composição do plasma e na excreção de produtos finais do de muitos analitos Por exemplo, o j e j u m n o t u r n o por 10 a 14
metabolismo das proteínas. horas d i m i n u i notavelmente a variabilidade nas concentrações
56 PARTE I Princípios Laboratoriais

de muitos analitos e é visto como o tempo ó t i m o de j e j u m pelo da diminuição da massa esquelética, e a depuração de creatinina
qual se devem padronizar as coletas de sanguej particularmente também é diminuída.
para análise de lipídios. Os maiores aumentos nas concentrações A concentração plasmática de cortisol fica aumentada devido
plasmáticas após uma refeição ocorrem para a glicose, ferro, à depuração metabólica diminuída. As concentrações plasmáticas
lipídios totais e fosfatase alcalina. O aumento desta ú l t i m a se dá totais de T3, T 4 e h o r m ô n i o tireoestimulante (TSH) são conside-
principalmente pela isoenzima intestinal e é maior quando se ravelmente reduzidas, com a concentração de tiroxma sendo a
ingere uma refeição gordurosa. A alteração é influenciada pelo mais afetada. Isso se deve parcialmente às reduzidas concentra-
grupo sanguíneo do indivíduo e o substrato utilizado para o ções de globulina ligada à tiroxina e pré-albumina.
ensaio enzimático. A l é m disso, a lipemia associada à refeição As concentrações de eritrócitos e folato plasmático são redu-
gordurosa pode contribuir para erros analíticos na mensuração zidas na malnutriçào protéica-calórica, mas a concentração sérica
de alguns constituintes séricos e requer passos adicionais no de vitamina B n não é afetada o u pode estar ligeiramente aumen-
tratamento pré-analítico, como a ultracentrifugação ou uso de tada. A concentração plasmática de vitaminas A e E estão m u i t o
u m branco da amostra, para reduzir os efeitos analíticos adversos reduzidas. Embora a concentração de hemoglobina no sangue
da lipemia. esteja reduzida, a concentração de ferro sérico é, inicialmente,
Os efeitos da uma refeição podem ser de longa duração e pouco afetada pela malnutriçào.
variam com os diferentes grupos de alimento. 15 Assim, a ingestão A atividade da maioria das enzimas comumente mensuradas
de u m a refeição rica em proteína à noite pode causar aumentos é reduzida, mas aumenta com a restauração da boa nutrição.
nas concentrações séricas de uréia nitrogenada, fósforo e urato,
as quais ainda são aparentes 12 horas depois. Todavia, essas Jejum e Inanição
alterações podem ser menores que a variabilidade individual C o m o conseqüências de u m j e j u m de mais de 24 horas ou ina-
típica. Grandes refeições proteicas no almoço ou à noite também nição, o corpo tenta conservar a proteína com o gasto de outras
aumentam as concentrações séricas de colesterol e h o r m ô n i o do fontes de energia, como a gordura. A concentração de glicose cai
crescimento por pelo menos 1 hora após a refeição. O efeito das para níveis de até 18 m g / d L (1 m m o l / L ) dentro dos primeiros 3
refeições ricas em carboidratos na composição do sangue é menor dias do mício do jejum, apesar de o corpo tentar manter a pro-
do que o das refeições protéicas. As secreções de glucagon e dução de glicose, A secreção de insulina fica bastante reduzida,
insulina são estimuladas pela refeição protéica e a insulina enquanto a secreção de glucagon pode dobrar n u m a tentativa de
também é estimulada pelas refeições ricas em carboidratos. manter a concentração normal de glicose. A lipólise e a cetogê-
nese hepática são estimuladas. Os cetoácidos e os ácidos graxos
Vegetaríanism o tornam-se a principal fonte de energia para o músculo. Isso
Nos indivíduos vegetarianos há m u i t o tempo, as concentrações resulta no acúmulo de ácidos orgânicos que leva à acidose meta-
de L D L e V L D L são reduzidas tipicamente em 37% a 12%, res- bólica com redução do p H sanguíneo, P C 0 2 e concentrações de
pectivamente. A l é m disso, suas concentrações de lipídios totais bicarbonato. A l é m disso, as concentrações de corpos cetônicos
e de fosfolipídios são reduzidas e as concentrações de colesterol {ácido cetoacético e ácido p-hidroxibutil), ácidos graxos e glicerol
e de triglicerídeos podem ser apenas dois terços daquelas encon- no soro aumentam consideravelmente. Freqüentemente a P 0 2
tradas em pessoas com uma dieta mista. As concentrações de H D L do sangue também está reduzida. O j e j u m por 6 dias aumenta
e L D L são afetadas. Nos vegetarianos estritos, a concentração de as concentrações plasmáticas de colesterol e triglicerídeos, mas
L D L pode ser 37% menor e a de H D L 12% menor do que nos causa a d i m i n u i ç ã o da concentração de H D L . C o m o j e j u m mais
não vegetarianos. Os efeitos são menos notados em indivíduos prolongado, as concentrações de colesterol e triglicerídeos caem-
que adotam u m a dieta vegetariana apenas por u m curto período Os aminoácidos são liberados do músculo esquelético e a con-
de tempo. As concentrações de lipídios também são menores nos centração plasmática dos aminoácidos de cadeia ramificada pode
indivíduos que consomem apenas uma dieta vegetariana do que aumentar em até 10% com 1 dia de jejum.
naqueles que também consomem ovos e leite. Q u a n d o os indi-
víduos que anteriormente eram adeptos de u m a dita mista se
tornam vegetarianos, suas concentrações séricas de albumina Estilo de Vida
podem cair cerca de 10% e sua concentração de uréia em cerca O tabagismo e a ingestão de álcool são fatores do estilo de vida
de 50%. C o n t u d o , pouca diferença existe entre as concentração que afetam a concentração dos analitos comumente mensurados.
de proteína o u atividade de enzimas no soro de indivíduos que
são vegetarianos há u m longo tempo e nas daqueles adeptos da Tabagismo
dieta mista. O tabagismo, através da ação da nicotina, pode afetar diversos
exames laboratoriais. A extensão desses efeitos está relacionada ao
Malnutriçào número de cigarros fumados e à quantidade de fumaça inalada.
Na malnutriçào, as concentrações séricas de proteína total, albu- Através da estimulação da medula adrenal, a nicotina aumenta
m i n a e (3-globulina estão diminuídas. O aumento da concentra- as concentrações de epinefrina n o plasma e a excreção urinária
ção de y-globulina não compensa totalmente essa diminuição em de catecolaminas e seus metabólicos. A concentração de glicose
outras proteínas. As concentrações de (1) complemento C3, (2) pode estar aumentada em 10 m g / d L (0,56 m m o l / L ) após fumar
globulina ligada ao retinol, (3) transferrina e (4) pré-albumina por 10 minutos. O aumento pode persistir por 1 hora. O lactato
d i m i n u e m rapidamente com o início da malnutriçào e são men- plasmático aumenta, e como a concentração de piruvato está
suradas para definir a gravidade da condição. As concentrações reduzida, a razão lactato/píruvato aumenta. As concentrações de
plasmáticas de lipoproteínas estão reduzidas e o colesterol e tri- insulina plasmática mostram u m a resposta tardia ao aumento da
glicerídeos séricos podem estar com concentração de apenas 5 0 % glicose sanguínea, elevando-se cerca de 1 hora após o cigarro ter
daquela encontrada em indivíduos saudáveis. Apesar da malnu- sido fumado. Tipicamente, a concentração plasmática de glicose
triçào grave, as concentrações de glicose se mantêm iguais às dos é maior em fumantes do que em não-fumantes e a tolerância à
indivíduos saudáveis. C o n t u d o , as concentrações séricas de uréia glicose é levemente prejudicada nos fumantes. A concentração
nitrogenada e creatinina são bastante reduzidas como resultado plasmática do h o r m ô n i o do crescimento é particularmente sen-
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-analíticas CAPÍTULO 3 57

sível ao tabagismo e pode aumentar dez vezes dentro de 30 homem, com u m aumento da concentração plasmática do hor-
minutos após u m indivíduo ter fumado u m cigarro. m ô n i o luteinizante.
As concentrações no plasma de colesterol, triglicerídeos e coles- A ingestão crônica de álcool afeta a atividade de muitas
terol L D L s ã o maiores (cerca de 3%, 9,1% e 1,7%, respectivamente) enzimas plasmáticas. Por exemplo, a atividade aumentada de
e o H D L é menor em fumantes do que em não-fumantes. O taba- gamaglutamiltransferase (GGT) é usada como u m marcador do
gismo afeta tanto o córtex como a medula adrenal. Os 11-hidra cor- ato permanente de beber. O alcoolismo está relacionado com
ticos ter óides plasmáticos podem estar aumentados em 75% com o muitas anormalidades bioquímicas características, que incluem
tabagismo intenso. A l é m disso, a concentração de cortisol plasmá- funções anormais da hipófise, adrenocortical e medular. A men-
tico pode aumentar era até 40% dentro de 5 minutos após se suração de transferrina deficiente em carboidratos é usada para
começar a fumar u m cigarro. Embora a ritmicidade diurna normal identificar a ingestão habitual de álcool. O volume corpuscular
do cortisol não seja afetada. Os fumantes excretam mais ácido 5- médio ( M C V ) também tem sido usado como u m marcador do
hidroxindoleacético do que os não-fumantes. uso habitual de álcool e pode estar relacionado à deficiência de
A contagem de eritrócitos no sangue é aumentada em fuman- ácido fólico o u a u m efeito tóxico direto do álcool sobre os pre-
tes. A quantidade de carboxiemoglobina pode exceder 10% do cursores de células vermelhas.
total de hemoglobina nos fumantes pesados, e o número aumen-
tado de células compensa a habilidade prejudicada das células Administração de Medicamentos
vermelhas em transportar oxigênio. A P 0 2 do sangue de u m Os efeitos dos medicamentos nos exames laboratoriais complica-
fumante habitual é geralmente cerca de 5 m m H g (0,7 kPa) menor dos pela ingestão conhecida ou não de medicações prescritas, uso
que a de u m não-fumante, enquanto a P C 0 2 não é afetada. A de drogas ilícitas e extratos fitoterápicos.
concentração de leucócitos no sangue é aumentada em até 3 0 % Tipicamente, os paciente hospitalizados recebem medicação.
nos fumantes, mas a concentração leucocitária de ácido ascórbico Para certas condições médicas, podem ser administrados mais de
fica bastante diminuída. A contagem de linfócitos aumenta em 10 medicamentos de uma só vez. Mesmo muitos indivíduos sau-
proporção à contagem total de leucócitos. dáveis t o m a m diversos medicamentos regularmente, como vita-
O tabagismo afeta a resposta i m u n e do organismo. Por minas, contraceptivos orais ou pílulas para dormir. Os indivíduos
exemplo, os níveis séricos de IgA, IgG e I g M geralmente são com doenças crônicas muitas vezes ingerem medicamentos de
menores nos fumantes do que nos não-fumantes, enquanto a uso contínuo. Foi publicada uma lista abrangente dos efeitos dos
concentração de IgE é maior. Os fumantes podem mostrar, com medicamentos nos exames laboratoriais. 16 É importante entender
maior freqüência do que os não-fumantes, a presença de anti- as diferenças entre (1) o ato de receber uma medicação, (2) o
corpos antinucleares e apresentarem teste fracamente positivo efeito fisiológico de u m a medicação e (3) a interferência analitica
para antígeno carcinoembriogênico. A contagem espermática com o método usado no teste específico.
dos homens fumantes é freqüentemente reduzida se comparada Muitas drogas, quando administradas por via intramuscular,
à dos não-fumantes: o número de formas anormais é maior e a causam uma irritação muscular suficiente para aumentar as quan-
motilidade espermática menor. tidades de enzimas liberadas, como a C K e a L D , n o soro. As
A concentração sérica de vitamina B ] z muitas vezes é notavel- atividades enzimáticas podem persistir por diversos dias após
mente reduzida nos fumantes, e essa diminuição é inversamente uma única injeção, e p o d e m ser observados valores consistente-
proporcional à concentração sérica de tiocianato. mente elevados durante o curso do tratamento. Isto contrasta
com a redução na concentração plasmática de potássio e possível
Ingestão de Álcool hiponatremia seguida à administração prolongada de u m medi-
U m a única dose moderada de álcool tem poucos efeitos nos camento diurético devida à excreção urinária (resposta fisioló-
exames laboratoriais. A ingestão de álcool suficiente para produzir gica). As interferências analíticas variam significativamente entre
uma embriaguez leve pode aumentar a concentração de glicose os métodos dos exames.
n o s a n g u e de 2 0 % a 5 0 % . O aumento pode ser a i n d a maior cm
diabéticos. Mais comumente, a inibição da glicogênese ocorre e Ingestão de Drogas Recreativas
torna-se aparente como hipoglicemia e cetose quando o etanol é A ingestão de drogas recreativas refere-se à ingestão de compo-
metabolizado a acetaldeído e a acetato. O lactato acumula-se e nentes com propósito entorpecente. Muitas medicações comu-
compete com o ácido úrico pela excreção pelos rins, de modo que mente prescritas para dor têm migrado do uso farmacêutico para
o ácido úrico sérico também aumenta. O lactato e o acetato, a categoria de "droga de abuso" (Capítulo 31). Entre as mais
juntos, d i m i n u e m o bicarbonato plasmático, o que leva à acidose clássicas drogas de abuso, as anfetaminas aumentam a concentra-
metabólica. Q u a n d o quantidades moderadas de álcool são inge- ção de ácidos graxos livres. A m o r f i n a aumenta a atividade da
ridas durante 1 semana, a concentração sérica de triglicerídeos amilase, lípase, ALT, A S T e A L P e a concentração sérica de
aumenta em mais de 20 m g / d L (0,23 m m o l / L ) . A ingestão mode- b i l i r r u b i n a . As concentrações de gastrina, T S H e prolactina
rada e prolongada de álcool pode aumentar a concentração de ta mb é m aumentam. E m contraste, as concentrações de insulina,
H D L , o que está associado à reduzida concentração plasmática de norepinefrina, polipeptídeo pancreático e neurotensina dimi-
proteínas de transferência de ésteres de colesterol (CETP). Os n u e m A heroína aumenta a concentração plasmática de coleste-
fenóis n o v i n h o com potente atividade antioxidante são provavel- rol, T , e potássio. A P C 0 2 aumenta, mas a P 0 2 d i m i n u i . A
mente responsáveis pela redução da oxidação do colesterol L D L . concentração de albumina plasmática também d i m i n u i . A Cdn-
Quantidades tóxicas de álcool estimulam a liberação de cor- natus aumenta a concentração plasmática de sódio, potássio,
tisol, embora o efeito seja mais relacionado à intoxicação do que uréia, cloro e insulina, mas d i m i n u i as concentrações de creati-
ao álcool per se. A atividade simpaticomedular é aumentada pela nina, glicose e urato.
ingestão aguda de álcool, mas sem efeito detectável na concen-
tração plasmática de epinefrina e apenas efeito leve sobre a note- Preparações de Ervas
pinefrina. C o m a intoxicação, as concentrações plasmáticas de As preparações de ervas não são regulamentadas pelas práticas
catecolamínas ficam substancialmente elevadas. A ingestão aguda padronizadas de fabricação, resultando em grande variabilidade
de álcool leva à redução drástica da testosterona plasmática no em sua composição e, assim, nos efeitos a elas atribuídos. O uso
58 PARTE I Princípios Laboratoriais

p o r l o n g o t e m p o de aloe vera, sândalo e cáscara sagrada p o d e m A S T , são elevadas ao n a s c i m e n t o , mas o a u m e n t o da atividade


causai h e m a t ú r i a e a l b u m i n ú r i a . O uso p r o l o n g a d o de ãloe vera, da A L T é m e n o r que das outras enzimas.
r u i b a r b o chinês, cascas de frângula, sene e e s p i n h e i r o p o d e m H m bebês, m e s m o na ausência de doença, a concentração de
levar a h i p o c a l e m i a , p r o v o c a n d o h i p e r a l d o s t e r o m s m o . O arbusto b i l i r r u b i n a se eleva d e v i d o à destruição e r i t r o c i t á r i a a u m e n t a d a
rasteiro (trailing arbutus—Epigeac repens) p o d e causar anemia hemo- e chega ao pico entre o terceiro e o q u i n t o dia de vida. A conju-
lítica e d a n o ao fígado. F o i relatado que o chá verde causa anemia gação da b i l i r r u b i n a é relativamente pobre n o n e o n a t o c o m o
microcítica. F o i observado que a q u i n i n a e a q u i n i d i n a causam resultado da f u n ç ã o hepática i m a t u r a . A icterícia fisiológica d o
t r o m b o c i t o p e n i a . A p i m e n t a caiena (Caímcum annuum) a u m e n t a recém-nascido raramente p r o d u z valores de b i l i r r u b i n a sérica
a atividade f i b r i n o l í t i c a e i n d u z à h i p o c o a g u l a b i l i d a d e . O fucus maiores q u e 5 m g / d L (85 | U m o l / L ) . Pode ser d i f í c i l d i s t i n g u i r
causa h i p e r t i r e o i d i s m o . esse f e n ô m e n o que ocorre n a t u r a l m e n t e de outras condições que
M u i t a s preparações de ervas afetam a f u n ç ã o d o fígado. Por p r o d u z e m a h i p e r b i l i r r u b i n e m i a n e o n a t a l , e o curso c r o n o l ó g i c o
exemplo, relatou-se q u e o t ê u c r i o causa necrose das células hepá- da h i p e r b i l i r r u b i n e m i a é i m p o r t a n t e .
ticas e a podagráTia r a r a m e n t e causa icterícia colestática. O A concentração de glicose n o sangue é baixa e m recém-nas-
c u m a r u é c o n h e c i d o por causar d a n o reversivel ao fígado. O cidos d e v i d o às suas pequenas reservas de glicogênio, e m b o r a
c o n f r e i é associado à m o r t e p o r i n s u f i c i ê n c i a hepática. A ajuga alguns a t r i b u a m a baixa glicose à i m a t u r i d a d e adrenal. As con-
reduz a concentração plasmática de p r o l a c t i n a e reduz a d e i o m - centrações de lípídios n o sangue são baixas, mas a t i n g e m 8 0 %
zação do T 4 . M u i t o s dos efeitos das preparações de ervas na dos valores de adultos após 2 semanas. A concentração plasmá-
f u n ç ã o hepática p o d e m estar associados aos c o n t a m i n a n t e s tica de sódio e m u m bebê ao n a s c i m e n t o é ligeiramente mais alta
advindos d o processo de fabricação. que a de u m a d u l t o ; e m 12 horas, esta d i m i n u i e fica abaixo d o
valor de a d u l t o antes de se elevai a u m valor l i g e i r a m e n t e maiOT
d o que o de u m a d u l t o . A concentração de cloro se altera de
Variáveis Não Controláveis m o d o semelhante e as alterações são largamente relacionadas à
Os exemplos de variáveis pié-analíticas não controláveis i n c l u e m transferência de l í q u i d o para d e n t r o e fora dos capilares sanguí-
aqueles relacionados a i n f l u ê n c i a s (1) biológicas, (2) ambientais, neos. A concentração de potássio n o plasma p o d e estar alta, e m
(3) cíclicas de longa duração e (4) relacionadas às condições até 7 m m o l / L ao n a s c i m e n t o , mas cai r a p i d a m e n t e depois disso.
médicas de base.13 O cálcio plasmático i n i c i a l m e n t e t a m b é m está elevado, mas
d i m i n u i e m cerca de 1,4 m g / d L (0,35 m m o l / L ) d u i a n t e o pri-
Influências Biológicas m e i r o dia de vida.
A idade, o sexo e a raça i n f l u e n c i a m os resultados de exames A concentração de uréia nitrogenada n o plasma d i m i n u i após
laboratoriais d o i n d i v í d u o e são discutidos i n d i v i d u a l m e n t e e m o n a s c i m e n t o , c o n f o r m e o bebê passa a sintetizar novas proteínas,
vários capítulos desse livro, e os intervalos de referência para os e n ã o v o l t a a a u m e n t a r até que o catabolismo tecidual se t o r n e
diversos analitos e m f u n ç ã o dessas i n f l u ê n c i a s biológicas estão p r o e m i n e n t e . D e o u t r o m o d o , n a ausência de doença metabólica
listados n a Tabela 45-1, n o C a p i t u l o 45. ( C a p í t u l o 44), a concentração plasmática de a m i n o á c i d o s é baixa
c o m o resultado da síntese de tecido protéico, e m b o i a a excreção
Idade u r i n á r i a de a m i n o á c i d o s possa estar u m p o u c o alta p o r causa da
A idade t e m u m efeito n o t á v e l sobre os intervalos de referência i m a t u r i d a d e dos mecanismos de reabsorção tubular. A concen-
( p a r t i c u l a r m e n t e de h o r m ô n i o s ) , e m b o r a o grau de alteração tração plasmática d o ácido ú r i c o é elevada ao nascimento, mas a
d i f i r a e m diversos relatos e pode depender d o m é t o d o analítico alta depuração logo reduz a concentração plasmática a valores
utilizado. D e m o d o geral, os i n d i v í d u o s são categorizados e m 4 abaixo dos d o a d u l t o .
grupos—recém-nascido, criança o u púbere, a d u l t o sexualmente A concentração de T 4 sérico d o recém-nascido saudável, assim
m a d u r o e a d u l t o idoso. c o m o na m u l h e r grávida, é consideravelmente m a i o r d o que e m
Recém-nascido. Os f l u i d o s corporais de u m a criança recém- mulheres n ã o grávidas. O bebê, após o n a s c i m e n t o , secreta T S H ,
nascida r e f l e t e m (1) a m a t u r i d a d e d o bebê ao n a s c i m e n t o , (2) o o qual causa u m a u m e n t o a d i c i o n a l na concentração de T 4 s é r i c o .
t r a u m a d o n a s c i m e n t o e (3) as alterações relacionadas à adapta- O h i p e r t i r e o i d i s m o fisiológico declina g r a d u a l m e n t e d u r a n t e o
ção d o bebê a u m a existência i n d e p e n d e n t e . A c o n t a g e m de p r i m e i r o a n o de vida.
hemácias e a concentração de h e m o g l o b i n a n o n e o n a t o ao nas- Infância e Puberdade O c o r r e m m u i t a s mudanças n a c o m p o -
c i m e n t o são m u i t o maiores d o que aquelas do a d u l t o , mas, sição dos f l u i d o s sanguíneos entre a infância e a puberdade.
d e n t r o de poucos dias após o n a s c i m e n t o , os e n t r o c i t o s degra- As mudanças, e m sua maioria, são graduais, e raramente ocorrem
d a m c m resposta à m a i o r concentração de o x i g ê n i o c o m p a r a d a mudanças abruptas para concentrações de adultos.
àquela que o feto era exposto n o útero. N o bebê m a d u r o , a m a i o r As concentrações de proteína plasmática a u m e n t a m após a
parte da h e m o g l o b i n a é d a f o r m a adulta, h e m o g l o b i n a A , infância, e os valores de concentração e m adultos são atingidos por
e n q u a n t o n o bebê i m a t u r a , a m a i o r parte da h e m o g l o b i n a pode volta dos 10 anos de idade. A atividade sérica da m a i o r i a das
ser da f o r m a fetal, h e m o g l o b i n a F. T a n t o n o bebê m a d u r o c o m o enzimas d i m i n u i d u r a n t e a i n f â n c i a para valores de adultos até
i m a t u r o , a saturação de oxigênio d o sangue arterial é m u i t o baixa a puberdade, o u antes, e m b o r a a atividade da A L T possa conti-
i n i c i a l m e n t e . N o s recém-nascidos, desenvolve-se u m a acidose n u a r a aumentar, pelo m e n o s n o h o m e m , até a meia-idade. A
metabólica decorrente d o a c ú m u l o de ácidos orgânicos, especial' atividade sérica de A L P é m a i o r na p r i m e i r a i n f â n c i a , mas
m e n t e ácido lático. Esse estado ácido-base, c o n t u d o , se reverte d i m i n u i d u r a n t e a i n f â n c i a e a u m e n t a n o v a m e n t e c o m o cresci-
ao n o r m a l d e n t r o de 24 horas n a ausência de doença. m e n t o antes da puberdade. A atividade da enzima é mais b e m
D e n t r o de poucos m i n u t o s após o n a s c i m e n t o d o bebê, o l e l a c i o n a d a c o m o crescimento esquelético e a m a t u i i d a d e sexual
l í q u i d o passa dos vasos sanguíneos para os espaços extravascula- d o que c o m a idade cronológica, e é m a i o r n o m o m e n t o de ati-
res. O l í q u i d o é semelhante ao plasma, exceto pelo l í q u i d o vidade osteoblástica m á x i m a que ocorre c o m o crescimento dos
p e r d i d o para o espaço intravascular c o n t e r m e n o s proteína. C o n - ossos. A atividade d i m i n u i r a p i d a m e n t e após a puberdade, espe-
seqüentemente, a concentração de p r o t e í n a n o plasma a u m e n t a . c i a l m e n t e nas meninas. A s concentrações totais de L D L aumen-
As atividades séricas de diversas enzimas, i n c l u i n d o C K , G G T e t a m t a m b é m d u i a n t e a rápida estirada de crescimento.
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-analíticas CAPÍTULO 3 59

A creatinina sérica aumenta constantemente da infância à de uréia no plasma aumenta com a idade, assim como a excreção
puberdade, paralelamente ao desenvolvimento da musculatura urinária de proteína. As concentrações médias de IgG e I g M no
esquelética; até a puberdade, existe pouca diferença nas concen- soro são reduzidas nos idosos embora as concentrações séricas de
trações dos dois sexos. A concentração sérica de ácido úrico IgA nos homens aumentem ligeiramente na idade avançada.
d i m i n u i de seu valor elevado ao nascimento até a idade entre 7 As concentrações de hormônios também são afetadas pela
e 10 anos, m o m e n t o no qual começa a aumentar, especialmente idade. Por exemplo, a concentração de T 3 d i m i n u i em até 4 0 %
em meninos, até cerca dos 16 anos de idade. em pessoas com mais 40 anos de idade. Embora a secreção de
0 Adulto. Os valores para adultos são geralmente tidos como T4 esteja diminuída, sua concentração não se altera porque sua
intervalo de referência para comparações com aqueles de jovens degradação também está d i m i n u í d a . N o entanto, a concentração
e idosos. As concentrações da maioria dos constituintes perma- plasmática do paratormônio d i m i n u i com a idade. A secreção de
necem quase constantes entre a puberdade e a menopausa nas cortisol é reduzida, embora a concentração sérica possa não ser
mulheres e entre a puberdade e a meia-idade nos homens. afetada, e a secreção reduzida leva à redução da excreção urinária
D u r a n t e os anos da maturidade, as concentrações séricas de de 17-hidroxicorticosteróides. A excreção de 17-cetosteróides n o
proteína total e albumina d i m i n u e m ligeiramente. Pode haver adulto idoso é cerca da metade da de u m adulto jovem. A secre-
uma ligeira diminuição na concentração sérica de cálcio em ção e a depuração metabólica da aldosterona decrescem, com
ambos os sexos. Nos homens, o fosfato séiico d i m i n u i bastante uma redução de 5 0 % na concentração plasmática. A resposta da
após os 20 anos de idade; nas mulheres, o fosfato também aldosterona à restrição de sódio é diminuída. A concentração
d i m i n u i até a menopausa, quando ocoire u m aumento agudo, A basal de insulina não é afetada pela idade, mas sua resposta à
A L P sérica começa a aumentar nas mulheres na menopausa, de glicose é reduzida. E m homens, a taxa de secreção e a concentra-
m o d o que a atividade dessa enzima em mulheres idosas possa ser ção da testosterona são reduzidas após os 50 anos de idade. Nas
realmente maior do que em homens. mulheres, a concentração das gonadotrofinas hipofisárias, espe-
As concentrações de ácido úrico atingem seu pico em homens cialmente o h o r m ô n i o folículo-estimulante (FSH), estão aumen-
por volta dos vinte anos e em mulheres durante a meia-idade. A tadas n o sangue e na urina.
concentração de uréia em ambos os sexos aumenta na meia-idade. A secreção de estrõgeno na mulher começa a decrescer antes
A idade não afeta a concentração de creatinina sérica n o homem, da menopausa e continua a decrescer a uma maior velocidade
mas aumenta nas mulheres. A s concentrações séricas de colesterol após a menopausa, enquanto as gonadotrofinas mostram u m
total e triglicerídeos aumentam tanto em homens como em aumento recíproco mediado por retroalimentação. As concentra-
mulheres a uma taxa de 2 m g / d L (0,02 m m o l / L ) por ano a u m ções séricas de estrógenos d i m i n u e m em 7 0 % ou mais, e a excre-
máximo entre as idades de 50 e 60 anos. A atividade da maioria ção urinária dos estrógenos d i m i n u i de m o d o compatível. A
das enzimas no soro é maior durante a adolescência do que secreção diminuída de estrõgeno pode ser responsável pelo
durante a vida adulta. Essa atividade enzimática aumentada pre- aumento do colesterol sérico que ocorre até os 60 anos de idade
sumivelmente reflete a maior atividade física dos adolescentes. nas mulheres. A secreção de estrógeno em homens, embora
0 Adulto IdOSO. As concentrações plasmáticas de muitos cons- sempre menor que nas mulheres, declina com a idade.
tituintes aumentam nas mulheres após a menopausa (Tabela 3-7).
A habilidade renal de concentração fica reduzida na idade avan- Sexo
çada, de m o d o que a depuração da creatinina pode declinar em A t é a puberdade existem poucas diferenças nos dad os laborato-
até 5 0 % entre a terceira e n o n a década de vida. Essa depuração riais entre moças e moços jovens. Após a puberdade, as alterações
d i m i n u í d a é causada mais p o r uma diminuição na excreção da características nas concentrações dos hormônios sexuais, incluindo
creatinina urinária como resultado da massa magra corpórea prolactina, se tornam aparentes. Após a puberdade, a maior ati-
d i m i n u í d a do que pela função renal alterada. A capacidade vidade sérica de enzima originada do músculo esquelético em
tubular máxima para a glicose fica diminuída. A concentração homens está relacionada à sua maior massa muscular. Após a
menopausa, a atividade da A L P aumenta nas mulheres e pode
até ficar tão elevada quanto nos homens. Embora a atividade
total de L D seja similar e m homens e mulheres, as atividades das
isoenzimas LD-1 e LD-3 são altas, e a LD-2 é menor em mulheres
jovens do que em homens. Essas diferenças desaparecem após a
TABELA 3-7 Alterações na Composição do Soro com a
menopausa.
Menopausa
As concentrações de albumina, cálcio e magnésio são maiores
Constituinte % de Aumento nos homens que nas mulheres, mas a concentração de y-globu-
Alanina aminotransferase 12 lina é menor. As concentrações de hemoglobina n o sangue são
Albumina 2 menores na mulher; assim, as concentrações de b i l i r r u b i n a sérica
Fosfatase alcalina 25 também são menores. A renovação aumentada dos eritrócitos nas
Apolipoproteina A-1 4 mulheres as leva a ter u m a contagem de reticulócitos maior que
Aspartato aminotransferase 11 a dos homens. O ferro sérico é baixo durante os anos férteis da
Colesterol 10 mulher, e sua concentração de ferritma pode ser apenas u m terço
Glicose 2 da concentração n o h o m e m . A concentração reduzida de ferro
Fosfato 10 na mulher é atribuída à perda menstrual de sangue. E m con-
Fosfolipídios 8 traste, a concentração sérica de cobre tende a seT mais elevada
Sódio 1,5 em mulheres que em homens. As concentrações de colesterol e
Proteína total 0,7 L D L são tipicamente maiores no h o m e m , enquanto as concen-
Ácido úrico 10 trações de a-lipoproteína, apolipoproteina A - l e o H D L são
De WiUing P, Roííáson JG, Robinson D. PdICem of change for varwus bíochamicdl menores. As concentrações plasmáticas de aminoácidos e de
coiiítúwents detecmd in uiel-populntion screening, Clin Cfiem Acta 1972- creatinina, uréia e ácido úrico são maiores no h o m e m do que na
41.375-87- mulher. 13
60 PARTE I Princípios Laboratoriais

Raça plasmático pelo influxo de líquido intersticial para o espaço


Muitas vezes é difícil diferenciar se os efeitos nos exames labora- intravascular, e pela redução da filtração glomerular. A concen-
toriais advêm da raça ou das condições socioeconómicas, assim tração de proteína plasmática pode d i m i n u i r em mais de 10%.
como é difícil, muitas vezes, determinar a raça do paciente. A sudorese pode causar perda de sais e água, mas geralmente não
Todavia, a concentração sérica de proteína total é conhecida por há alterações nas concentrações plasmáticas de sódio e cloro. A
ser mais elevada em negros do que em brancos. Isso se atribui concentração de potássio no plasma pode cair a até 10% quando
bastante a uma concentração m u i t o maior de y-globulina, embora o potássio é capturado pelas células. Se houver uma sudorese
usualmente as concentrações de (X|- e p-globulinas também sejam excessiva, pode ocorrer hemoconcen tração em vez de hemodi-
mais elevadas A albumina sérica é tipicamente menor em negros luição.
que em brancos. Nos homens negros, a IgG sérica é freqüente-
mente 40% maior e a IgA sérica pode ser até 20% maior do que Localização Geográfica da Residência
no homem branco. A localização geográfica de onde o indivíduo vive pode afetar
A atividade de C K e L D geralmente é m u i t o maior em negros, a composição de seus líquidos corpóreos. Por exemple, existe u m
homens e mulheres, do que nos brancos. Esse efeito é presumi- aumento significativo na concentração sérica de colesterol, trigli-
velmente relacionado à quantidade de músculo esquelético, que cerídeos e magnésio em pessoas que vivem em áreas de água dura.
tende a ser maior nos negros que nos brancos. Devido ao seu As concentrações de elementos-traço também são afetadas pela
maior desenvolvimento esquelético, as crianças negras geralmente localização geográfica; por exemplo, em áreas onde há fusão de
apresentam uma atividade sérica de A L P mais elevada na puber- muitos minérios, as concentrações de elementos-traço envolvidos
dade que as crianças brancas. A atividade da amilase nos imigran- pode estar aumentada. As concentrações de carboxiemoglobina
tes das índias Ocidentais no Reino U n i d o é tipicamente maior são elevadas nas áreas onde há tráfego m u i t o intenso de automó-
que nos nativos britânicos. veis em comparação às áreas rurais (assim como ocorreu com o
O metabolismo do carboidrato e dos lipídios difere em negros chumbo sanguíneo na década de 1970 nos Estados Unidos). Os
e em brancos. A tolerância à glicose é menor em negros, poliné- indivíduos que trabalham primordialmente em recintos fechados
sios, nativos das Américas e inuítes se comparados a brancos com apresentam tipicamente menores concentrações de 25-hidroxivi-
sexo e idade equivalentes. Após os 40 anos de idade, as concen- tamina D do que os que trabalham ao ar livre, levando a uma
trações séricas de colesterol e triglicerídeos são consistentemente concentração sérica de cálcio mais elevada e maior excreção uri-
maiores em brancos, tanto homens quanto mulheres, que em nária de cálcio.
negros. A concentração de lipoproreina (a) em negros pode ser
duas vezes mais elevada que em brancos. Esses podem ser fatores Influências Sazonais
da dieta, e não raciais, pois a concentração plasmática de lipídios
As influências sazonais na composição dos fluidos corpóreos são
tem se mostrado diferente para o mesmo grupo racial em dife- comparadas com aquelas relacionadas a alterações na postura ou
rentes partes do m u n d o . A concentração de hemoglobina no
uso impróprio do torniquete. Os fatores prováveis são as mudan-
sangue é de até 10 g / L mais elevada em brancos que em negros. ças na dieta conforme os diferentes alimentos da estação e a
Os negros americanos de ambos os sexos possuem uma baixa
atividade física diferente quando mais e diferentes formas de
contagem de leucócitos, comparados aos brancos americanos,
esportes se tornam possíveis. A avaliação da variação sazonal é
causada em grande parte por um baixo número de granulócitos,
difícil, pois depende da definição da estação e da magnitude da
mas sua contagem de monócitos também é menor. mudança de temperatura de uma estação para a outra. A variabi-
lidade do dia-a-dia na composição dos fluidos corpóreos é maior
Fatores Ambientais no verão do que no inverno. Todavia, a variabilidade biológica é,
Os fatores ambientais que afetam os resultados incluem (1) alti- em geral, apenas pouco menor que a variabilidade analítica. 15
tude, (2) temperatura ambiente, (3) localização geográfica da resi-
dência e (4) influências sazonais.
Condições Médicas de Base
Altitude Algumas condições médicas gerais apresentam efeito na composi-
Nos indivíduos que vivem em alta altitude, a hemoglobina do ção dos fluidos corpóreos. Essas incluem (1) obesidade, (2) cegueira,
sangue e o hematócTito são bastante aumentados, por causa (3) febre, (4) choque e trauma e (5) transfusões e infusões.
da reduzida PO z atmosférica. O 2,3-difosfoglicerato eritrocitário
também está aumentado, e a curva de dissociação dn oxigênio é Obesidade
inclinada para a direita. A concentração aumentada de hemácias
As concentrações séricas de colesterol, triglicerídeos e (i-lipopro-
leva à renovação de nucleoproteínas e excreção de ácido úrico teínas estão positivamente relacionadas com a obesidade. O
aumentadas. A concentração basal em jejum do h o r m ô n i o de aumento na concentração de colesterol é atribuída à fração L D L ,
crescimento é alta em indivíduos que vivem em altas altitudes,
pois o H D L está tipicamente d i m i n u í d o . A concentração sérica
mas a concentração de renina e aldosterona são diminuídas em
de ácido Úrico também se relaciona com o peso corporal, espe-
indivíduos saudáveis. As concentrações plasmáticas de sódio e cialmente em indivíduos que pesam mais de 80 kg. A atividade
potássio tipicamente não são afetadas pela alta altitude, embora
sérica de L D e a concentração de glicose aumentam nos dois
a osmolaridade seja reduzida. As concentrações séricas de proteína sexos com o ganho de peso. C o m o ganho de peso, as concen-
C-reativa, transferrina e p 2 -globulina são notavelmente aumenta-
trações séricas de AST, creatinina, proteína total e hemoglobina
das com a transição a uma alta altitude. A adaptação completa a aumentam nos homens, e o cálcio sérico aumenta nas mulheres,
uma altitude elevada leva muitas semanas, enquanto o ajuste a
E m ambos os sexos, o fosfato sérico d i m i n u i com o aumento da
baixas altitudes leva menos tempo. massa corpórea.
A produção de cortisol é aumentada em indivíduos obesos
Temperatura Ambiente C o n t u d o , o metabolismo aumentado mantém a concentração
A temperatura ambiente afeta a composição dos líquidos sanguí- sérica inalterada, de modo que a excreção urinária de 17-hidro-
neos. A exposição aguda ao calor causa a expansão do volume corticosteróides e 17-cetosteróides é aumentada. Os indivíduos
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-analíticas CAPÍTULO 3 61

obesos respondem pouco aos desafios normais, pois sua concen- cortisol, (5) prolactma, (ó) renina, (7) somatotrofina, (8) T S H e
tração do h o r m ô n i o de crescimento é reduzida. A concentração (9) vasopressina. As concentrações plasmáticas de (1) albumina,
plasmática de insulina é aumentada, mas a tolerância à glicose é (2) colesterol, (3) fibrmogênio, (4) glicose, (5) insulina e (6) lactato
prejudicada n o obeso (Capítulo 22). Embora a concentração de também aumentam.
T 4 sérico não seja afetada pela obesidade, o T 3 sérico se relaciona
significativamente com o peso corporal e aumenta mais com o Febre
sobrepeso. N o h o m e m obeso, a concentração sérica de testoste- A febre provoca muitas respostas hormonais. Por exemplo, a
rona está reduzida. hiperglicemia ocorre n o início e estimula a secreção de insulina.
As concentrações em jejum de (1) piruvato, (2) lactato, (3) Isto melhora a tolerância à glicose, mas a secreção de insuli-
citrato e (4) ácidos graxos não esterificados são maiores nos na não reduz necessariamente a concentração de glicose n o
obesos que nos indivíduos de peso normal. As concentrações sangue por causa da aumentada secreção de h o r m ô n i o de cresci-
séricas de ferro e transferrina são baixas. mento e glucagon. A febre parece Teduzir a secreção de T 4 assim
como faz a doença aguda mesmo sem febre. C o m o resposta a
Cegueira maior secreção de corticotrofina, a concentração de cortisol no
O estímulo n o r m a l do eixo hipotalâmico-hipofisário é reduzido plasma aumenta e a variação diurna n o r m a l pode ser abolida. A
com a cegueira. Conseqüentemente, p o d e m ser observadas certas excreção urinária do cortisol livre, 17-hidrocorticosteróides e 17-
características do hipo-hipofisarismo e hipoadrenalismo. E m cetosteróides aumenta. Q u a n d o a febre aguda cede, o u é mais
alguns indivíduos cegos, a variação diurna n o r m a l de cortisol branda e ainda persiste por u m longo período, as respostas hor-
pode o u não persistir. A excreção urinária de 17-cetosteróides e monais d i m i n u e m .
17-hidrocorticosteióides é reduzida. O sódio e o cloro plasmáti' A glicogenólise e o equilíbrio negativo de nitrogênio ocorrem
cos são muitas vezes baixos nos indivíduos cegos, provavelmente com o início da febre. Isto é provocado pela ingestão de alimento
como resultado de u m a secreção reduzida de aldosterona. A tipicamente d i m i n u í d a e perda de músculo esquelético que acom-
glicose plasmática pode estar reduzida em pessoas cegas, e a panha a febre. Embora seja n o r m a l u m aumento no volume
tolerância à insulina geralmente é menor. A excreção de ácido sanguíneo com a febre, as concentrações séricas de creatinina e
úrico é d i m i n u í d a . A função renal pode estar ligeiramente com- ácido úrico geralmente se elevam. A secreção de aldosterona
prometida, como evidenciado pelo leve aumento da creatinina e aumenta com a retenção de sódio e cloro. A secreção de hormô-
uréia nitrogenada séricas. n i o antidiurético ta mb é m contribui para a retenção de água pelos
Nas pessoas cegas, pode ocorrer o equilíbrio negativo do nitro- rins. Mas a síntese aumentada de proteína ocorre n o fígado, e as
gênio, e a concentração sérica de proteína pode estar reduzida. O concentrações plasmáticas de proteínas de fase aguda e glicopro-
colesterol sérico está freqüentemente aumentado, e a concentra- teínas aumentam.
ção sérica de b i l i r r u b i n a também excede o l i m i t e superior ao Muitas vezes a febre está associada a u m a alcalose respiratória
normal. A variação diurna do ferro sérico muitas vezes se perde. causada pela hiperventilação. Esse aumento de p H causa redução
da concentração plasmática de fosfato com uma excreção aumen-
Gravidez tada de fosfato e outros eletrólitos. As concentrações séricas de
O c o r r e m muitas mudanças nas concentrações dos analitos ferro e zinco declinam com o acúmulo de ambos os elementos
duiante a gravidez, e a interpretação apropriada dos resultados no fígado. A concentração de cobre aumenta devido a maior
dos exames depende do conhecimento da duração da gestação produção de ceruloplasmina pelo fígado.
(Capítulo 43).
Durante a gestação ocorrem mudanças substanciais nos hor- Choque e Trauma
mônios, i n c l u i n d o muitas n o r m a l m e n t e não associadas à repro- Apesar da causa do choque ou do trauma, ocorrem certas altera-
dução. Muitas das mudanças estão relacionadas ao grande ções bioquímicas características. Por exemplo, a secreção de cor-
aumento no volume de sangue que ocorre durante a gravidez, de ticotrofina é estimulada a produzir u m aumento de três a cinco
cerca de 2.600 m L no início a 3.500 m L por volta de 35 semanas. vezes na concentração sérica de cortisol. A excreção de 17-hidro-
Essa hemodiluição reduz a concentração de proteínas plasmáti- corticosteróides está bastante aumentada, embora a excreção de
cas. Entretanto, as concentrações de algumas proteínas de trans- 17-cetosteróides e metabólitos dos andrógenos adrenais possa
porte, i n c l u i n d o a ceruloplasmma e a globulina ligada à tiroxina, não ser afetada. A secreção de aldosterona é estimulada. A ativi-
estão aumentadas, resultando no aumento da concentração de dade plasmática da renina aumenta, assim como as secreções de
cobre e T 4 . As concentrações de colesterol e triglicerídeos são h o r m ô n i o do crescimento, glucagon e insulina. A ansiedade e o
notavelmente aumentadas. E m contraste, a gestação cria uma estresse reduzem o T 3 sérico em 5 0 % nos pacientes sem doença
relativa deficiência de ferro e ferritina. na tireóide. As alterações nas concentrações dos componentes do
O volume u r i n á r i o aumenta durante a gravidez, de m o d o que sangue refletem a resposta fisiológica a essas mudanças hormo-
é tipicamente 2 5 % maior n o terceiro trimestre da gestação, com- nais. D e m o d o geral, a resposta metabólica ao choque i n c l u i a
parado ao de mulheres não grávidas. A taxa de filtração glome- resposta n o r m a l ao estresse.
rular aumenta em 5 0 % durante o terceiro trimestre. Isto resulta Imediatamente após a injúria, ocorre uma perda de líquido
em uma excreção urinária aumentada de h i d r o x i p r o l m a e uma para o tecido extravascular, resultando em uma diminuição do
maior depuração de creatinina. A gestação engatilha muitas volume plasmático. Q u a n d o a diminuição é suficiente para com-
reações de estresse fisiológico e está associada às concentrações prometer a circulação, a filtração glomerular d i m i n u i . A função
aumentadas de proteínas reativas de fase aguda. A taxa de sedi- renal d i m i n u í d a leva ao acúmulo de uréia e outros produtos do
mentação eritiocitáiia aumenta cinco vezes durante a gravidez. metabolismo da proteína na circulação. E m pacientes queimados,
a concentração de proteína total sérica cai em até 0,8 g / d L devido
Esiresse à perda para espaços extravasculares e catabolismo de proteína.
O estresse físico e mental influencia as concentrações de muitos As concentrações séricas de ÜJ-, a 2 - e P-globulina aumentam, mas
c nnstiruintes do plasma. A ansiedade estimula a secreção aumen- não o suficiente para compensar a concentração reduzida de albumina.
tada de (1) aldosterona, (2) angiotensina, (3) catecolaminas, (4) A concentração plasmática de fibrinogênio responde dramatica-
62 PARTE I Princípios Laboratoriais

mente ao t r a u m a e pode dobrar e m 2 a 8 dias após uma cirurgia. entre os resultados sucessivos p o d e ser usada c o m o u m a f o r m a
A concentração de proteína C-reativa se eleva n o mesmo de controle de qualidade ( C a p í t u l o 16). A m a i o r i a dos médicos
período. decide a r b i t r a r i a m e n t e q u a n d o há diferença c l i n i c a m e n t e signi-
O dano muscular associado ao t r a u m a da cirurgia a u m e n t a ficativa entre mensurações repetidas de u m m e s m o analito.
a atividade sérica de enzimas originárias d o m ú s c u l o esquelético, C o n t u d o , é possível c o n d u z i r o tema mais sistemática e logica-
e esse a u m e n t o na atividade pode persistir por diversos dias. 15 O mente. O conceito de delta check é aplicado a dois valores suces-
m a i o r catabolismo tecidual requer u m m a i o r c o n s u m o de oxigê- sivos i n d e p e n d e n t e m e n t e do i n t e r v a l o de t e m p o entre eles. Os
n i o e t a m b é m leva à p r o d u ç ã o de metabólitos ácidos. Assim, o valores de delta check são t i p i c a m e n t e gerados de u m o u dois
lactato sanguíneo pode a u m e n t a r de duas a três vezes. A acidose modos: o p r i m e i r o é derivado de diferença entre os valores con-
metabólica ocorre c o m a anóxia t e c i d u a l e o c o m p r o m e t i m e n t o secutivos coletados para u m anahto e m m u i t o s i n d i v í d u o s , os
das funções renal e respiratória. C o m a destruição tecidual, quais são então diagramados e m u m histograma c o m o central
ocorre o a u m e n t o da excreção u r i n á r i a de componentes b i o q u í - 9 5 % ou 9 9 % de todos os valores usados para i d e n t i f i c a r u m a
micos principais do m ú s c u l o esquelético. alteração significativa nos valores. Os delta cfiecks p o d e m envolver
a diferença absoluta o u a variação percentual entre n ú m e r o s
Transfusões e Infusões consecutivos. A segunda abordagem para estabelecer os valores
A perda de l í q u i d o rico e m proteínas d o espaço intravascular de delta check conta c o m a m e l h o r estimativa de u m laboratorista
após o t r a u m a é reposta c o m f l u i d o p o b r e e m proteínas do o u de u m m é d i c o de u m a a m p l i t u d e (delta (A]) a p r o p r i a d a para
espaço intersticial. Sub s eqüentem ente este f l u i d o é reposto p o r a q u a l se deve coletar u m n ú m e r o gerenciável de resultados sina-
u m l í q u i d o semelhante à c ons ti tui ç ão do plasma. A transfusão lizados para a c o m p a n h a m e n t o . T a m b é m se usa a taxa de verifi-
de sangue t o t a l o u plasma eleva a concentração de proteína cações envolvida na divisão de u m valor de delta check pelo
plasmática; a dimensão dessa elevação depende da q u a n t i d a d e intervalo de t e m p o entre as mensurações consecutivas. Diversos
de sangue a d m i n i s t r a d o . A atividade sérica da L D , principal- métodos diferentes de delta check f o r a m propostos, i n c l u i n d o (1)
m e n t e isoenzimas L D - 1 e L D - 2 e b i l i r r u b i n a , a u m e n t a devido à delta diferença: resultado atual menos resultado anterior; (2)
r u p t u r a dos eritrócitos t r a n s f u n d i d o s . A transfusão para repor delta variação percentual: (resultado atual - resultado anterior)
perda de sangue em função da i n j ú r i a reduz a retenção de sódio, x 1 0 0 % / r e s u l t a d o anterior; (3) taxa de diferença: delta d i f e r e n ç a /
cloro e água p r e c i p i t a d a pela i n j ú r i a . As concentrações séricas de delta t e m p o ; e (4) taxa de variação percentual: delta variação
ferro e transferrina reduzem i m e d i a t a m e n t e após a i n j ú r i a , mas p e r c e n t u a l / d e l t a t e m p o (onde o delta t e m p o é o i n t e r v a l o entre
grandes transfusões de sangue p o d e m levar a siderose e a u m os m o m e n t o s de coleta da amostra atual e anterior). A l g u n s sis-
a u m e n t o da concentração de ferro sérico. O potássio sérico pode temas de i n f o r m a ç ã o l a b o r a t o r i a l i n c l u e m delta checícs n o r e l a t ó r i o
a u m e n t a r c o m a transfusão de sangue armazenado. dos resultados dos exames, mas geralmente o m e i o mais simples,
As infusões de glicose geralmente resultam n u m a redução das c o m o o delta diferença o u o delta variação percentual.
concentrações plasmáticas de fosfato e potássio. As infusões de E m indivíduos saudáveis e e m pacientes estáveis, o valor de
soluções de a l b u m i n a p o d e m a u m e n t a r a atividade plasmática de delta entre dois resultados deve ser pequeno. Os valores aceitáveis
A L P se a a l b u m i n a tiver sido preparada a p a r t i r de placentas. de delta p o d e m ser calculados d e n t r o de u m a população de indi-
D e v i d o à possível i n f l u ê n c i a dos componentes i n f u n d i d o s da víduos saudáveis, e então é feita a média, sendo esta usada c o m o
concentração dos constituintes circulantes, não é confiável coletar u m guia para d e t e r m i n a r se ocorreu u m a diferença de possível
sangue para a análise menos de 8 horas após a infusão de u m a significado clínico entre mensurações seriadas em pacientes.
emulsão de gordura o u 1 h o r a após a infusão de carboidratos,
aminoácidos e proteínas hidrolisadas o u eletrólitos. Valores de Referência da Variação
Para d e t e r m i n a r se a diferença entre resultados consecutivos de
VARIABILIDADE BIOLÓGICA NORMAL u m ú n i c o analito de u m paciente pode ter significância clínica,
Os dados de estudos de variação biológica p o d e m ser usados para H a r r i s e Yasaka 11 desenvolveram o conceito de valores de referên-
(1) avaliar a i m p o r t â n c i a das mudanças nos valores dos testes de cia da variação (RCVs). U m R C V , t a m b é m c o n h e c i d o c o m o
u m i n d i v í d u o de u m a ocasião para outra, (2) d e t e r m i n a r adequa- diferença crítica (criticai difference), é o valor que precisa ser exce-
cidade dos intervalos de referência e em c o n j u n t o c o m dados de d i d o antes que u m a alteração e m resultados de exames consecu-
variação analítica, (3) estabelecer objetivos analíticos laborato- tivos seja estatisticamente significativa em u m a p r o b a b i l i d a d e
riais. A aplicação pelos clínicos da i n f o r m a ç ã o sobre variabilidade predeterminada. O conceito i n t r o d u z u m a abordagem científica
biológica m e l h o r a sua h a b i l i d a d e de i d e n t i f i c a r precisamente para u m a área o n d e os clínicos t ê m se apoiado bastante em sua
mudanças i m p o r t a n t e s nos resultados dos exames de seus pacien- intuição e experiência. H i s t o r i c a m e n t e , as impressões de u m
tes. As categorias de variação biológicas i n c l u e m (1) variações de clínico de diferenças c l i n i c a m e n t e significativas t ê m variado con-
u m mesmo i n d i v í d u o e (2) entre diferentes i n d i v í d u o s . A altera- sideravelmente. Fraser e colaboradores m o s t r a r a m que as diferen-
ção nos dados laboratoriais ao r e d o r de u m p o n t o de e q u i l í b r i o ças críticas calculadas sistematicamente para m u i t o s analitos
homeostático de u m a ocasião para a o u t r a de u m a mesma pessoa t e n d e m a ser menores d o que assumem os médicos a respeito das
é chamada de variação intra-sujeito o u i n t r a d i v i d u a l . A diferença diferenças c l i n i c a m e n t e significativas. 10
entre o p o n t o de e q u i l í b r i o dos diferentes i n d i v í d u o s é chamada U m R C V leva e m consideração tanto a variação analítica
de variação i n t e r d i v i d u a l . A v a r i a b i l i d a d e i n t r a d i v i d u a l m é d i a c o m o a i n t r a - i n d i v í d u o . Para m e l h o r a r a u t i l i d a d e d o R C V , a
varia bastante para diferentes analitos, mesmo d e n t r o da mesma variabilidade i n t r a - i n d i v i d u a l t a m b é m deve ser m i n i m i z a d a c o m
classe de c o m p o n e n t e s b i o q u í m i c o s . a padronização da preparação d o paciente e práticas de coleta e
O s mecanismos usados para avaliar a v a r i a b i l i d a d e i n c l u e m processamento da amostra. A padronização é mais r a p i d a m e n t e
o delta cfiecíc e valores de referência da variação. conseguida na prática hospitalar, na q u a l muitas vezes são possí-
veis coletas em intervalos de t e m p o u n i f o r m e s p o r flebotomistas
Delta Check treinados, do que e m pacientes ambulatoriais.
Q u a n d o a c o n d i ç ã o clínica d o paciente está estável e as diferenças - A variação nos valores entre mensurações sucessivas em u m
entre resultados de exames sucessivos são pequenas, a diferença paciente i n t e r n a d o geralmente é m a i o r d o que os valores relata-
Coleta de Amostras e Outras Variáveis Pré-a na líticas CAPÍTULO 3 63

dos na l i t e r a t u r a derivados de estudos c o m i n d i v í d u o s saudáveis Standard H1-A5. 5th ed. Wayne, PA. National Clinicai and Laboratory
devido à variação na c o n d i ç ã o m é d i c a d o paciente e à resposta Standards Institute, 2003.
ao t r a t a m e n t o . O s R C V s não são constantes, e a variação signi- 8. Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS. Sweat testing:
ficativa é provavelmente m e n o r d u r a n t e u m p e r í o d o mais c u r t o sample collection and quantitative analysis- CLSI/NCCLS Approved
Standard C34-A2 2nd ed Wayne, PA: National Clinicai and Laboratory
do que d u i a n t e u m p e r í o d o mais longo. Assim, a aplicação dos
Standards Institute, 2000.
R C V s de i n d i v í d u o s saudáveis derivados de u m c u r t o p e r í o d o irá
9. Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS. Procedures for the
i d e n t i f i c a r u m n u m e r o i n a d e q u a d a m e n t e grande de variações
handling and transport of domesric diagnostic specimens and etiologic
aparentemente significativas nos pacientes hospitalizados.
agents: Approved Standard H5-A3 3rd ed. Wayne, PA: National
C l i n i c a i a n d L a b o r a t o r y Standards Institute, 1994
REFERÊNCIAS 10. Fraser CG, Oummings ST, Wilkinson SP, Neville RG, Knox JDE, et al.
1. Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS Procedures for the Biological vatiabílity of 26 clinicai chemistry analytes in elderly people.
collection of diagnostic blood specimens by venipuncture: CLSI/ Clin Chem 1989;5:783-6.
NCCLS Approved Standard H3-A5 5th ed. Wayne, PA- Clinicai and 11 Harris EK, Yasaka T. On the calculation of a "Reference Change" for
Laboratory Standards Institute, 2003. comparmg two consecutive measurements. Clin Chem 1983:29.
2. Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS. Procedures and 25-30.
devices for the collection of capillary blood specimens1 CLSI/NCCLS 12. Ladenson JH. Nonanalyrical sources of variation in clinicai chemistry
Approved Standard H4-A5. 5th ed. Wayne, PA. Clinicai and Laboratory results. In: GradwohPs clinicai laboratory methods and diagnosis. 8th
Standards Institute, 2004. ed. Sonnenwirth AC, Jarett L, eds. St. Louis: CV Mosby Co, 19S0-
3 Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS. Procedures for the 149-92.
collecrion of arterial specimens- CLSI/NCCLS Approved Standard H l l - 13. So you're going to collect a blood specimen: an introduction to
A4 4th ed. Wayne, PA: Clinicai and Laboratory Standards Institute, phlebotomy 11 th ed Kiechle FL, ed. Northfield, IL. College of
2004. American Pathologísts, 2005.
4- Clinicai and Laboratory Standards Instirute/NCCLS Routine urinalysis 14. Young DS, Bermes EW, Haverstick DM. Specimen collection and
and collection, transportation, and pTesetvation of urine specimens processing In: Tietz textbook of clinicai chemistry and molecular
CLSI/NCCLS Approved Guideline GP16-A2. 2nd ed. Wayne, PA: diagnostics. 4th ed. Burtis CA, Ashwood ER, Btuns DE, eds. St Louis.-
Clinicai and Laboratory Standards Institute, 2001. Elsevier Saunders, 2006-41-58.
5 Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS. Collection, 15 Young DS, Bermes EW. Preanalytical variables and biological variation.
transport, preparation, and storage of specimens for molecular methods. In: Tietz textbook of clinicai chemistry and molecular diagnostics 4th
CLSI/NCCLS Approved Guideline MM13-A. lst ed. Wayne, PA: ed. Burtis CA, Ashwood ER, Bruns DE, eds. St Louis: Elsevier,
Clinicai and Laboratory Standards Institute, 2006. 2006:449-73.
6. Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS. Piotection of 16. Young DS. Effects of drugs on clinicai laboratory tests, 5 th ed.
laboratory workers from occupationally acquired infections. CLSI/ Washington, DC: AACC Press, 2001.
NCCLS Approved Guideline M29-A3. Wayne, PA: National Clinica! 17. Young DS; Effects of Preanalytical Variables on Clinicai Laboratory
and Laboratory Standards Institute, 2005. Teses 3rd ed. Washington DC: AACC Press, 2007. Note: An electronic
7 Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS. Evacuated tubes version of this book is also availahle with subscription information
and additives for blood specimen collection: CLSI/NCCLS Approved available at www.fxol org.
INSTRUMENTAÇÃO E TÉCNICAS P A R T E II

ANALÍTICAS

CAPÍTULO 4

Técnicas Ópticas*
L.J. Kricka, D. PhiL, F.A.C.B., C.Chem., F.R.S.C., F.R.C.Path.,
e Jason Y. Park, M.D., Ph.D.

OBJETIVOS A h s o r v â n c i a (A): A capacidade de u m a substância em absorver


radiação; ela é expressa c o m o o l o g a r i t m o (log) do recíproco
1. Fornecer duas definições para radiação eletromagnética em termos
da transmitância (T) da substância:
de fóton e comprimento de onda e descrever os comprimentos de
ondas associados aos espectros ultravioleta, infravermelho e visível.
A = log ( l / T ) = log (T)
2. Descrever a lei de Beer e calcular a absorvância ou concentração
de uma solução utilizando a fórmula.
A r r a n j o de F o t o d i o d o : M a t r i z b i d i m e n s i o n a l de
3. Definir fotometria, absorvância, percentagem de transmitância,
semicondutores sensíveis à luz, que é utilizada para registrar
amplitude de banda, desvio da luz e linearidade.
a completa absorção d o espectro em milissegundos.
4. Determinar absorvância a partir da medida de percentagem de
B i o l u m i n e s c ê n c i a : E a emissão de luz c o m o conseqüência da
transmitância. oxidação de a l g u m substrato celular (luciferinas) na
5. Listar os componentes de um espectrofotômetro e fornecer presença de u m a enzima (luciferases); existe em bactérias,
exemplos de cada componente. fungos, protozoários e espécies pertencentes a 40 diferentes
6. Determinar os princípios de espectrofotometria de absorção atômica ordens de animais.
e listar as substâncias analisadas por essa técnica. B r a n c o : Solução composta de todos os componentes de u m a
7. Definir luminescência, fluorescência, polarização da fluorescência, reação, exceto a substância a ser analisada.
nefelcmelria e turbidimetria. C o m p r i m e n t o de O n d a : U m a característica da radiação
8. Descrever o princípio da fiuorimetria e os fatores que interferem electromagnética, a distância entre duas cristas de onda.
nas medidas de fluorescência. D e s l o c a m e n t o de Stokes: O f e n ô m e n o pelo q u a l substâncias
9. Listar os componentes de um fluorímetro básico. luminescentes o u fluorescentes e m i t e m luz em
10. Descrever os princípios da nefelometria e turbidimetria e os fatores c o m p r i m e n t o s de ondas superiores ao c o m p r i m e n t o de
que interferem nas medidas de dispersão da luz. o n d a de excitação em que a luz é absorvida.
Dispersão d a L u z : A dispersão da luz ocorre q u a n d o a energia
radiante, passando p o r u m a solução, encontra u m a
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES partícula e é dispersada em todas as direções.
A b s o r t i v i d a d e : A m e d i d a da absorção de energia radiante em Espectro de Absorção: Descrição gráfica da absorvância uersus
u m dado c o m p r i m e n t o de o n d a e / o u a freqüência ao c o m p r i m e n t o de onda (espectro absorvância) para u m
passar p o r u m a solução de u m a substância na concentração composto específico.
de 1 m o l / L ; expressa c o m o a absorvância d i v i d i d a pelo E s p e c t r o f o t o m e t r i a de A b s o r ç ã o A t ô m i c a ( A A ) : U m m é t o d o
p r o d u t o da concentração de u m a substância e o analítico o n d e a amostra é vaporizada e a concentração de
c o m p r i m e n t o da trajetória da amostra. u m m e t a l é d e t e r m i n a d a a p a r t i r da absorção de luz pelo
A b s o r t i v i d a d e M o l a r (E): U m a constante para u m a solução u m á t o m o n e u t r o , e m u m a das linhas fortes de emissão do
m o l a r de u m d e t e r m i n a d o composto, e m u m d e t e r m i n a d o elemento.
c o m p r i m e n t o de o n d a e c o m 1 c m de espessura, sob E s p e c t r o f o t o m e t r i a : M e d i d a da intensidade da luz em
condições prescritas do solvente, temperatura, p H etc.; c o m p r i m e n t o s de ondas selecionados.
expressa e m L / m o l X cm' 1 . Fenda (Bandfiass): A faixa de c o m p r i m e n t o de o n d a que passa
p o r u m f i l t r o o u m o n o c r o m a d o r ; t a m b é m chamada de
largura da banda, é expressa c o m o o i n t e r v a l o de
c o m p r i m e n t o s de ondas t r a n s m i t i d o s em u m p o n t o igual à
metade do m á x i m o de intensidade t r a n s m i t i d a .
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias dos Drs.
Merle A. Evenson e DT. Thomas O. Tifíany, nas quais se baseiam partes deste Fosforescência: Luminescência p r o d u z i d a p o r cenas substâncias
capitula. após terem absorvido energia radiante o u de outros tipos;

65
66 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

M
distinguida da fluorescência na medida em que continua uitas determinações realizadas em u m laboratório
mesmo depois que a radiação incidente tenha desaparecido. clínico baseiam-se em medições da energia radiante (1)
Fluorescência: A emissão de radiação eletromagnética por uma emitida, (2) transmitida, (3) absorvida, (4) dispersa ou
substância após a absorção de energia de alguma forma (por (5) refletida sob condições controladas (Tabela 4-1). Os princípios
exemplo, a emissão de luz de uma cor [comprimento de envolvidos em tais medições são considerados neste capítulo.
onda], quando uma substância é excitada por irradiação
com luz de diferente comprimento de onda); distinguida de FOTOMETRIA E ESPECT RO FOTO M ET R IA
fosforescência por apresentar vida ú t i l inferior a 10 A fotometria é a medida da intensidade luminosa ou a quanti-
milissegundos, após cessada a excitação. dade de luminosidade incidente em uma superfície. A espectro-
Fotodetector; U m dispositivo utilizado para medir ou indicar a fotometria é a medida da intensidade da luz em comprimentos
presença de luz. de ondas selecionados.5 O termo medida fotométnea foi original-
Fotometria: A medição de luz. mente definido como o processo utilizado para medir a intensi-
Fotometria de Reflexão: Técnica de espectro fotometria em que dade de luz independente do comprimento de onda. Os instru-
a luz é refletida da superfície de uma reação e é utilizada mentos modernos, no entanto, isolam uma faixa estreita do com-
para medir a quantidade da substância analisada. primento de onda do espectro para as medições. Aqueles que
Fotômetro/Espectrofotômetro. Dispositivo utilizado para utilizam filtros para este f i m são referidos como fotômetros de
medir a intensidade da luz emitida que atravessa ou é fiítro, enquanto aqueles que utilizam prismas ou grades são cha-
refletida por uma substância. mados espectrofotômetros. A principal utilidade analítica dos
Fóton: U m quantum de energia radiante. fotômetros de filtro ou espectrofotômetros é o isolamento e a
í n d i c e Refrativo (índice de Refração): Razão entre as utilização de regiões discretas do espectro para fins de medição.
velocidades da luz em u m meio e em u m segundo meio.
L e i de Beer: Equação matemática que estipula que a Conceitos Básicos
absorvância da luz monocromática por uma solução é A energia é transmitida por ondas eletromagnéticas que são
proporcional à absortividade (a), ac comprimento da caracterizadas pela freqüência e c o m p r i m e n t o de onda. Analiti-
trajetória da luz (b) e à concentração (c) camente, o termo comprimento de onda descreve uma posição
dentro de u m espectro. A radiação eletromagnética inclui energia
A = abe
radiante que se estende desde raios cósmicos, com comprimentos
de ondas tão pequenos quanto 10 q nm, até as ondas de rádio,
Luminescência: Luminescência é a emissão de luz ou de com mais de 1 000 k m de comprimento. C o n t u d o , neste capí-
energia radiante quando u m elétron retorna de u m nível tulo, o termo luz é utilizado para descrever a energia radiante das
excitado ou de u m nível de energia superior para u m nível regiões de luz visível e ultravioleta do espectro (290 a 800 nm).
energético inferior. Entretanto, a luz não é apenas uma onda eletromagnética
Luz Parasita: Qualquer luz de fora de u m fotômetro ou com suas características usuais, a luz também se comporta como
espectrofotômetro, ou de dispersão dentro do instrumento, se fosse composta de pacotes discretos de energia chamados
que é detectada e provoca erros na medida da transmitància fótons, cuja energia é inversamente proporcional ao compri-
ou absorvância. mento de onda. Por exemplo, radiação ultravioleta ( U V ) em 200
Luz Visível: Região do espectro eletromagnético com n m possui energia maior que a radiação infravermelha (IR) em
comprimento de onda entre 390 e 780 tirti, visível para o 750 nm.
olho humano. A Tabela 4-2 mostra as relações aproximadas entre compri-
M o n o c r o m á t i c a : A radiação electromagnética de um mento de onda e as cores características das regiões de U V visíveis
comprimento de onda ou de uma faixa m u i t o restrita de e I R do espectro.
comprimento de onda.
Nefelometria: U m a técnica que utiliza u m nefelômetro para Relação entre Transmitància e Absorvância
medir o número e o tamanho de partículas em suspensão; Quando u m feixe de luz incidente com intensidade IQ passa
mede a intensidade da luz dispersa pelas partículas, com através de uma célula quadrada contendo uma solução com u m
u m detector em ângulo com o feixe luz incidente. composto que absorve luz em u m comprimento de onda especí-
Quimioluminescência: Emissão de luz por moléculas nos
estados excitados produzidos por uma reação química,
como em vagalumes.
Radiação Infravermelha (IR): Região do espectro TABELA 4-1 Identificação dos Métodos Ópticos
eletromagnético entre 770 e 12.000 n m .
Tipo Exemplo
Radiação Ultravioleta (UV): Região do espectro eletromagnético
com comprimento de onda entre 180 e 390 nm. Absorção Absorção atômica, densitornetria. espectroscopia de luz
Refração: Desvio oblíquo de u m raio de luz ou comprimento infravermelha com transformação de Fouríer, fotometria,
espectrofotometria, fotometria de reflexão, espectroscopia
de onda em trajetória linear, quando passa de u m meio
de raio X
para outro.
Em iasão Espectrofotometria de emissão de cliama, espectroscopia
Turbidez: Opacidade de u m a solução causada por partículas
de correlação de fluorescência (fes), espectroscopia de
em suspensão que dispersam luz, sendo que a quantidade
transferência de energia de fluorescência (fret),
de luz dispersa está relacionada de maneira complexa com a
fluorimetria, luminometria (luz emitida de luminiscência,
concentração, tamanhos e formas das partículas. quimioluminescência ou reação de
T u r b i d i m e t r i a . A medição de turbidez; geralmente executada eletroquimioiuminescência), fosforimetria, fluorimetria com
em instrumento (espectrofotômetro ou fotômetro) que resolução temporal
mede a razão entre a intensidade de luz transmitida por Polarização Espectroscopia de polarização de fluorescência, polarimetria
dispersão e a intensidade de luz incidente. Dispersão Nefelometria. turbidimetria
Técnicas Ópticas CAPÍTULO 4 67

Amostra

Concentração Concentração
Luz * 1 1 , 1 1
monocromática ( | | |

Unidades de 1„ „ „
absorvância '° °'5 °'25 °'125 °'06

lR Referência %T 10 31 56 75 87

Figura 4-2 Relação entre absorvância e % T

F i g u r a 4 - 1 Transmitância de luz através da amostra e das células de


postos em solução é d e f i n i d a , então, c o m o l s d i v i d i d o p o r I R .
referência. Transmitância da amostra contra a referência IS/IR.
N a prática, a célula de referência é inserida e o i n s t r u m e n t o
10 = intensidade da luz incidente; Is = intensidade de luz transmitida
ajustado p o r u m a escala arbitrária de l e i t u r a de 100 (corres-
por compostos da solução; I R = intensidade de luz transmitida através
p o n d e n t e a 100% transmitância), após o q u a l a l e i t u r a d o
da célula de referência.
percentual de t r a n s m i t â n c i a da amostra é realizada. A quan-
tidade de luz absorvida (A) e n q u a n t o a luz i n c i d e n t e passa
através da amostra é equivalente a

TABELA 4-2 Características das Cores dos Espectros


U l t r a v i o l e t a , Visível e I n f r a v e r m e l h o C u r t o A = — log = —1 oa; T (2)
4
Comprimento de Onda (nm) Nome da Faixa Observado

<380 UltraviolEtat Invisível Lei de Beer


380-440 Visível Violeta A Lei de Beer estabelece que a concentração de u m a substân-
440-500 Visível Azul
cia é diretamente p r o p o r c i o n a l à q u a n t i d a d e de luz absorvida
500-580 Visível Verde
o u inversamente p r o p o r c i o n a l ao l o g a r i t m o da luz t r a n s m i t i d a
580-600 Visível Amarelo
(Figura 4-2). M a t e m a t i c a m e n t e , a lei de Beer é expressa c o m o
600-620 Visível Laranja
620-750 Visível Vermelho
A = abe (3)
800-2.500 Infravermelho Próximo Não perceptível
onde
2,500-15.000 Infravermelho Médic Não perceptível
A = Absorvância
15.000-1.000.000 Infravermelho Distante Não perceptível
a = C o n s t a n t e de p r o p o r c i o n a l i d a d e d e f i n i d a c o m o absor-
*Em uirtudá da natureza subjetiva das cores, os iníerajlos de comprimento de onda
tividade
müSÊrcídüs sâo aproximações. b =
f
Trajetória da luz em centímetros
A regido ultravioleta (UV) do espectro é por vezes subdividida em UV "próximo"
c = C o n c e n t r a ç ã o d o c o m p o s t o absorvido, usualmente
(200-350 nm) e UV "distante" (<2Z0 nm). Esta distinção arbitrária tem base prática
porque a sílita utilizada para fazer cri fie tas tTa-nsTnjte ã lu; eficazmente em expresso e m gramas p o r l i t r o .
comjmitiíntos de ondas i220 nm.
i Esta equação é a base da análise q u a n t i t a t i v a p o r absorção
f o t o m é t r i c a . Os valores de absorvância (A) não t ê m unidades;
então, as unidades para a são as recíprocas daquelas para b e
c. Q u a n d o b é 1 c m e c é expressa em moles p o r l i t r o , o
fico, X (Figura 4-1), a inte ns i dade do feixe de luz t r a n s m i t i d a I s é s í m b o l o £ (épsilon) é s u b s t i t u í d o pela constante a. O v a l o r de
i n f e r i o r a I 0 , e a luz t r a n s m i t i d a (T) é d e f i n i d a c o m o E é constante para u m d e t e r m i n a d o c o m p o s t o , em u m deter-
m i n a d o c o m p r i m e n t o de o n d a , sob condições prescritas d o
solvente, da temperatura, d o p H etc., e é c h a m a d o de absor-
T = — t i v i d a d e m o l a r (E). A n o m e n c l a t u r a da espectrofotometria
(1)
está r e s u m i d a na Tabela 4-3.

Aplicação da Lei de Beer


Parte da luz i n c i d e n t e , e n t r e t a n t o , p o d e ser r e f l e t i d a pela superfície N a prática, a p r o p o r c i o n a l i d a d e direta entre a absorvância e
da célula o u absorvida pela parede da célula o u solvente. Estes fatores a concentração deve sei estabelecida e x p e r i m e n t a l m e n t e para
são e l i m i n a d o s pela utilização de u m a célula de referência i d ê n t i c a a u m d e t e r m i n a d o i n s t r u m e n t o sob condições especificadas.
da amostra, c o m exceção do c o m p o s t o de interesse que é o m i t i d o d o F r e q ü e n t e m e n t e existe u m a relação linear até certa concentra-
solvente na célula de referência. A t r a n s m i t â n c i a (T) através desta ção o u absorvância. Q u a n d o essa relação ocorre, é d i t o que a
célula de referência é I R d i v i d i d o por IQ; a t r a n s m i t â n c i a pata os com- solução obedece à lei de Beer até aquele p o n t o . D e n t r o desta
68 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

TABELA 4-3 Nomenclatura da Espectrofotometria concentrações variadas, é i n c l u í d o para c o b r i r todas as faixas de


leituras desconhecidas.
Nome Símbolo Definição
E m alguns casos, u m m a t e r i a l p u r o de referência p o d e não
Absorvância A iog T ou log V f estar f a c i l m e n t e disponível e as constantes obtidas para o m a t e r i a l
Absortividade a A/bc (c ín g/L) p u r o , relatadas na literatura, p o d e m ser utilizadas. E m geral,
Absortividade molar E A/bc (c in mol/L) constantes publicadas devem ser utilizadas apenas se o m é t o d o é
Largura da trajetória b Largura interna da seguido em detalhes e as leituras são realizadas em u m espectro-
célula ou da amostra,
f o t ô m e t r o capaz de fornecer luz c o m alta pureza espectral n o
em cm
c o m p r i m e n t o de o n d a verificado. A utilização de fontes l u m i n o -
Transmitància r IV
sas mais c o m ampla faixa de luz geralmente c o n d u z à d i m i n u i ç ã o
Unidade de comprimento de onda nm 10 a m
Absorção máxima Comprimento de onda da absorvância. A absorvância da n i c o t i n a m i d a a d e n i n a dinucle-
^-rn.tx
onde ocorre absorção otídeo reduzida ( N A D H ) e m 3 4 0 n m , p o r exemplo, é freqüente-
máxima m e n t e utilizada c o m o referência para a determinação da ativi-
dade enzimática, c o m base e m absortividade m o l a r de 6,22 X 103
"I/ln é d razão entre as intensidades da lu* incidente e da luz transmitida.
( C a p í t u l o 19). Este v a l o r é aceitável apenas sob condições cuida-
dosamente controladas a n t e r i o r m e n t e descritas e não deve ser
utilizado a menos que essas condições sejam satisfeitas. Valores
publicados para absortividades molares e coeficientes de absor-
limitação, u m a constante de calibração (K) pode ser derivada e
ção devem ser utilizados apenas c o m o orientações até que sejam
utilizada para calcular a concentração de u m a solução desconhecida
c o n f i r m a d o s p o r leituras do m a t e r i a l de referência p u r o em u m
pela comparação c o m u m a solução de calibração. D a equação (3)
d e t e r m i n a d o i n s t r u m e n t o . E m adição, a lei de Beer é seguida
apenas se as seguintes condições estiverem reunidas;
(4) • A radiação incidente sohre a substância de interesse é
monocromática.
• A absorção pelo solvente é insignificante, q u a n d o compa-
Portanto, rada c o m a absorvância do soluto.
• A concentração do s o l u t o está d e n t r o dos limites.
A, • Interferência óptica não está presente.
(5) • N ã o ocorre reação q u í m i c a entre a m o l é c u l a de interesse
bf\ bf2
e o u t r a molécula do s o l u t o o u solvente.

o n d e os n ú m e r o s subscritos 1 e 2 i n d i c a m a absorvância (a),


Erros de Medição
distância da trajetória (fc) e concentração (c) das soluções de
Para a m a i o r i a dos fotômetros, a resposta d o detector a u m sinal
calibração e desconhecidas, respectivamente.
de luz t r a n s m i n d a é de tal o r d e m que qualquer incerteza e m % T
E m v i r t u d e de a trajetória da luz (fc) se m a n t e r constante em
é constante em relação à escala % T completa. A incerteza p r o v é m
u m d e t e r m i n a d o m é t o d o de análise para u m valor fixe do
de imperfeições elétricas e mecânicas d o e q u i p a m e n t o e de varia-
t a m a n h o da cubeta, !)! = b 2l a equação (8) torna-se
ções i n d i v i d u a i s na utilização d o i n s t r u m e n t o .
U m a distância fixa na escala linear (p. ex., \ % T ) representa
mudanças maiores na absorvância para valores baixos de % T d o
A, A- A^_ A^
(6) que para os valores altos de % T . Por esta razão, o erro da con-
centração absoluta, o u incerteza, é m a i o r q u a n d o as leituras de
absorvâncías obtidas são altas. N o e n t a n t o , o erro de concentra-
o n d e c e u representam calibrador e desconhecido, respectiva- ção relativa é alto t a n t o para leituras de absorvãncias baixas
mente. q u a n t o para altas. Estudos t ê m d e m o n s t r a d o que o erro relativo
Resolvendo para a concentração do desconhecido é m í n i m o para u m a absorvância de 0 , 4 3 4 ( 3 6 , 8 % T ) . Conseqüen-
temente, os métodos deveriam ser desenhados c o m u m intervalo
• , = — *ce de absorvância de 0,1 a 0,7 ( 2 0 % a 8 0 % T ) .
(7)
A,

INSTRUMENTAÇÃO
o u a expressão equivalente
I n s t r u m e n t o s m o d e r n o s isolam u m i n t e r v a l o de c o m p r i m e n t o de
o n d a estreito do espectro para as medições. Aqueles que u t i l i z a m
= A. x K filtros para este f i m são referidos c o m o fotômetios de filtro-, aqueles
<8)
x = a
^ 7 ' que u t i l i z a m prismas o u grades são chamados espectrofotômeiros.
Os espectrofotômetros são classificados c o m o port adores de feixe
o n d e K ~ c.JÀc. O valor d a c o n s t a n t e K é o b t i d o pela m e d i d a da simples o u d u p l o s .
absorvância ( A j de u m calibrador de concentração conhecida ( c j . Os principais componentes de u m espectrofotômetro de feixe
Certas precauções devem ser observadas c o m a utilização de simpteí são mostrados, esquematicamente, na Figura 4-3. Nesse
tais constantes de calibração. Sob n e n h u m a circunstância, a cons- i n s t r u m e n t o , u m feixe de luz é t r a n s m i t i d o através de u m m o n o -
tante deve ser utilizada q u a n d o o calibrador o u as leituras desco- c r o m a d o r q u e isola a região d o espectro desejada para as m e d i -
nhecidas excedem a porção linear da curva de calibração (isto é, ções. Fendas são utilizadas para isolar u m feixe de luz estreito e
q u a n d o a curva já não obedece a lei de Beer). Pelo menos dois o t i m i z a r a pureza cromática. E m seguida, a luz atravessa u m a
o u , de preferência, mais calibradores devem ser incluídos para célula de absorção (cubeta), o n d e u m a p a r t e da energia radiante
gerar a curva de calibração. U m a curva de calibração não linear é absorvida, d e p e n d e n d o da natureza e concentração da substân-
p o d e ser utilizada se u m n ú m e r o suficiente de calibradores, c o m cia em solução. Q u a l q u e r luz não absorvida é t r a n s m i t i d a para
Técnicas Ópticas CAPÍTULO 4 69

O ÜJLU

Figura 4-3 Principais componentes de um Fonte Fenda de Monocromador Fenda de Cubeta Detector Medidor
espectrofotômetrro com feixe simples. luminosa entrada saída

Fonie
luminosa Amostra

O — >

Referência

\ — >
Espelho v

Figura 4-4 Especttofotômetro de feixe duplo Fendas de Monocromadores Fenda Cubetas Detectores Medidor
espacial. entrada de
saída

Amostra

Espelhos

Modulador

x.
y
O Referência
5 "
l l l l l

Detector Medidor
Fonte Fenda de Monocromador Fenda de
luminosa entrada saída
\
Espelhos Espelho

Cubetas

Figura 4 - 5 Espectrofotômetro de feixe duplo com resolução temporal.

u m detector (fotocélula o u f o t o t u b o ) , que converte a luz e m fotômetros, periféricos e aplicativos digitais são c o m p o n e n t e s
energia elétrica, que p o d e ser registrada e m u m m e d i d o r o u integrantes, o que possibilita executar essas funções automatica-
registrador, o u ser d i g i t a l m e n t e exibida. mente.
N a operação m a n u a l , a cubeta é substituída p o r u m b l o c o A Figura 4-4 ilustra, esquematicamente, u m sistema de feixe
opaco, de m o d o que n e n h u m a luz atinge a fotocélula e o m e d i d o r d u p l o c o m resolução espacial, o n d e todos os c o m p o n e n t e s ,
é ajustado para 0 % T. E n t ã o , u m a cubeta c o n t e n d o o b r a n c o é exceto a f o n t e de luz, estão d u p l i c a d o s . O u t r a abordagem utiliza
inserida e o m e d i d o r é ajustado para 100% T (zero de absorvân- u m i n s t r u m e n t o c o m resolução t e m p o r a l , o n d e u m m o d u l a d o r
cia). A composição do branco deve ser idêntica à de calibragem de feixe de luz ( u m círculo c o m rotação e c o m seções alternadas
o u da amostra, exceto pela presença da substância a ser m e d i d a de p r a t a e i n t e r r u p t o r e s ) é i n s e r i d o após a fenda de saída (Figura
c o n t i d a na amostra. Soluções de calibração, c o n t e n d o diversas 4-5). U m sistema de espelhos c o n d u z as frações de luz refletidas
concentrações conhecidas da substância são inseridas, e as leitu- fora d o m o d u l a d o r , alternadamente, através da amostra e de u m a
ras são registradas. F i n a l m e n t e , é realizada a l e i t u r a da solução cubeta referência para u m detector c o m u m . A abordagem de
desconhecida e, p o r comparação c o m as leituras obtidas na cali- m o d u l a d o r de feixe, u t i l i z a n d o u m detector, compensa a variação
bração, a concentração é d e t e r m i n a d a . N a m a i o r i a dos espectro- da f o n t e l u m i n o s a e as mudanças de sensibilidade d o detector.
70 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Componentes TABELA 4-4 Vários T i p os de Laser e C o m p r i m e n t o s de


Os c o m p o n e n t e s básicos de u m espectrofotômetro i n c l u e m (1)
Ondas em que O p e r a m
f o n t e de luz, (2) u m m e i o para isolar a luz, c o m u m c o m p r i m e n t o
de o n d a desejado, (3) fibras ópticas, (4) cubetas, (5) fotodetector, Laser Comprimento(s] de Onda(s) (mm)
(6) dispositivo de leitura, (7) registrador e (8) c o m p u t a d o r . Fluoreto de argônio 193
Fluoreto de argônio 248
Fontes Luminosas Hélio-cádmio 325 ou 442
Os tipos d e fontes l u m i n o s a s utilizadas e m espectro f o t ô m e t r o s Nitrogênio 337
i n c l u e m lâmpadas incandescentes e laser. Argônio (azul) 488
Argônio (verde) 514
Lâmpadas Incandescentes Hélio-néon (verde) 543
A fonte l u m i n o s a para medidas na região visível d o espectro é Emissor de luz diodo - GaP 550 ou 700
n o r m a l m e n t e u m a lâmpada de tungsténio. A v i d a de u m f i l a m e n t o Corante rodamina GG (ajustado) 570-650
tungsténio é grandemente a u m e n t a d a pela presença de vapores de Laser diodo (AlGalnP, GaAIAs) 634-1,660
i o d o o u b r o m o e m baixa pressão d e n t r o da lâmpada. U m exemplo Hélio-néon (vermelho) 633
é a lâmpada de quartzo-halogênio, que t e m u m envelope de sílica Rubi (CrAlOa) (vermelho) 694
f u n d i d a e q u e p r o p o r c i o n a alta intensidade d e luz e m u m a m p l o Emissor de luz diodo - GaAs 880
espectro e p o r longos períodos de f u n c i o n a m e n t o . Emissor de luz diodo - Si 1.100
Neodímio - YAG (rtrio alumínio granada) 1.064
A fonte l u m i n o s a de t u n g s t é n i o n ã o fornece energia radiante
Dióxido de carbono 9.300, 9.600,1G.3G0 ou 10.600
suficiente para medições inferiores a 3 2 0 n m . N a região de ultra-
violeta do espectro, u m a l â m p a d a de vapor d e m e r c ú r i o e m baixa
pressão, q u e e m i t e u m espectro d e s c o n t í n u o o u u m a l i n h a espec-
tral é ú t i l para calibração, mas n ã o é p r á t i c o para medidas de
absorvância, pois p o d e ser utilizada apenas e m d e t e r m i n a d o s
c o m p r i m e n t o s de ondas. Lâmpadas de h i d r o g ê n i o e d e u t é r i o são
fontes de espectros c o n t í n u o s n a região de U V , c o m algumas
linhas intensas de emissões, c o m o íazem as lâmpadas de v a p o r
de m e r c ú r i o e m alta pressão e de arco de x e n ô n i o . Estas fontes
são mais c o m u m e n t e utilizadas nas medidas de absorção de U V .
U m a l â m p a d a de d e u t é r i o é mais estável e t e m vida mais longa
que u m a l â m p a d a de h i d r o g ê n i o .
U m f o t ô m e t r o a m p l a m e n t e u t i l i z a d o c o m o u m detector de
c r o m a t o g r a f i a l í q u i d a de alta pressão ( H P L C ) utiliza u m a l i n h a
de ressonância intensa a 254 n m , p r o d u z i d a p o r u m a l â m p a d a
de arco de m e r c ú r i o ( C a p í t u l o 7). O u t r o s e m p r e g a m u m a l â m p a d a
m i n i a t u r a de tubos de raios catódicos c o m o f o n t e intensa, e m
faixa m u i t o estreita de c o m p r i m e n t o de o n d a . Por exemplo, u m a
l â m p a d a d e cátodo o c o de zinco fornece u m a l i n h a e m 214 n m ,
que está a d e q u a d a m e n t e p r ó x i m a d o c o m p r i m e n t o de o n d a
m á x i m o de absorção da ligação p e p t í d i c a (206 n m ) e t e m sido
utilizada para m e d i r peptidíos e proteínas. Detalhes sobre
l â m p a d a de cátodo oco são e n c o n t r a d o s na seção sobre Espectro- Comprimento dQ onda
f o t o m e t r i a de A b s o r ç ã o A t ô m i c a .
Figura 4-6 Características dn espectro de filtro corta-banda
Fontes de Laser pronunciado (a) e (b) filtro de fenda amplo. O filtro de fenda restrito (c)
O laser (amplificação de luz p o r emissão e s t i m u l a d a de radiação) é obtido da combinação dos filtros a e b. A largura de banda espectral
é u m dispositivo que t a m b é m é u t i l i z a d o c o m o fonte de luz e m do filtro c (distância n-m) é definida como a largura, em nanômetros, da
espectrofotômetros. Estes dispositivos t r a n s f o r m a m a luz de várias curva da rtansmitância espectral em um ponto igual à metade do
freqüências e m u m feixe de luz m o n o c r o m á t i c o e x t r e m a m e n t e máximo da transmitância.
intenso, focalizado e quase não divergente. Pela seleção de dife-
rentes materiais, diferentes c o m p r i m e n t o s de ondas da luz e m i t i d a
p o r laser são o b t i d o s (Tabela 4-4).
Filtros
O t i p o mais simples de f i l t r o é f o r m a d o p o i u m a f i n a camada de
Isolamento Espectral v i d r o c o l o r i d o . D e u m p o n t o de vista estrito, u m f i l t r o de v i d r o
U m sistema de i s o l a m e n t o de energia r a d i a n t e c o m c o m p r i m e n t o não é u m verdadeiro m o n o c r o m a d o r , p o r q u e esse t r a n s m i t e luz
de o n d a desejado, e x c l u i n d o outros c o m p r i m e n t o s de ondas, é sobre u m a faixa relativamente vasta de c o m p r i m e n t o de onda. A
chamado d e monocromador. Os dispositivos utilizados para isola- pureza espectral de u m f i l t r o o u o u t r o m o n o c r o m a d o r é n o r m a l -
m e n t o espectral i n c l u e m (1) filtros, (2) prismas e (3) grades de mente descrita em termos da respectiva lãrgma dã bãndã d o espec-
difração. A l é m disso, combinações de lentes e fendas são freqüen- tro. Esta é d e f i n i d a c o m o a largura, e m n a n ô m e t r o s , da curva de
t e m e n t e inseridas antes ou depois d o m o n o c r o m a d o r para t o r n a r t r a n s m i t â n c i a espectral, e m u m p o n t o igual à metade d o pi co de
os raios de luz paralelos o u para isolar regiões estreitas d o feixe. transmitância (Figura 4-6). Os filtros de v i d r o c o m u m e n t e utiliza-
Fendas variáveis t a m b é m são utilizadas para p e r m i t i r ajustes n o dos apresentam largura de banda espectral de a p r o x i m a d a m e n t e
t o t a l de energia r a d i a n t e que chega à fotocélula. 5 0 n m e são referidos c o m o filtros fenda (bandpass) amplos.
Técnicas Ópticas CAPÍTULO <4 71

O u t r o s filtros de v i d r o i n c l u e m os tipos fenda estreita e corta- tificar e resolver os picos de absorção acentuados q u e estão i n t i -
b a n d a {Figura 4-6). C o m o d e m o n s t r a d o , u m f i l t r o corta-banda m a m e n t e adjacentes. Q u a n d o u m a p a r t e do espectro de energia
t i p i c a m e n t e mostra u m crescimento p r o n u n c i a d o na t r a n s m i t à n - t r a n s m i t i d a pelo m o n o c r o r n a d o r n ã o for absorvida pela substân-
cia ao l o n g o de u m a região estreita d o espectro e é utilizado p a i a cia a ser m e d i d a , u m a discrepância c o m a lei de Beer deverá
e l i m i n a r a luz abaixo de u m c o m p r i m e n t o de o n d a d e t e r m i n a d o . ocorrer. Isto é mais c o m u m e n c e observado em i n s t r u m e n t o s c o m
Filtros do t i p o fenda estreita são construídos pela c o m b i n a ç ã o de fenda ampla.
dois o u mais filtros corta-banda o u regular. A l g u m a u m e n t o da absorvância e u m a m e l h o r linearidade
Filtros d e interferência t a m b é m são utilizados c o m o m o n o c r o - c o m a concentração são geralmente observados em i n s t r u m e n t o s
madores. Esses filtros apresentam larguras espectrais estreitas, que o p e r a m em u m a faixa estreita de luz. Isto é especialmente
geralmente, entre 5 a 15 n m . E m v i r t u d e de t a m b é m t r a n s m i t i r e m verdade para as substâncias q u e apresentam u m pico de absorção
c o m p r i m e n t o s de ondas h a r m ô n i c o s o u m ú l t i p l o s além do com- p r o n u n c i a d o A s curvas de absorvâncias espectrais de u m a
p r i m e n t o desejado, f i l t r o s de v i d r o a c e s s ó r i o s são necessários p a r a solução de c o p r o p o i T i d n a I (Figura 4-7) d e m o n s t r a m uma notável
e l i m i n a r esses c o m p r i m e n t o s de ondas indesejáveis. Assim, u m d i m i n u i ç ã o na absorvância m á x i m a espectral q u a n d o a largura
f i l t r o de interferência projetado para 6 2 0 n m t a m b é m irá trans- da b a n d a é a u m e n t a d a de 1 a 20 n m . As larguras de banda naturais
m i t i r alguma radiação e m 310 e 1.240 n m , salvo se filtros de corte de u m a substância absorvente são definidas c o m o "curva de
acessórios f o r e m adicionados, para absorver esta luz parasita. absorvância espectral de u m a largura de b a n d a em u m p o n t o
igual à metade da absorvância m á x i m a " . A curva da Figura 4-7
Prismas e Grades de Difração apresenta u m a varredura de laTgura de b a n d a espectral de 1 n m
Prismas e grades de difração t a m b é m são a m p l a m e n t e utilizados e mostra u m a b a n d a natural de a p r o x i m a d a m e n t e 10 n m . C o m o
c o m o m o n o c r o m a d o r e s . Por refração, u m fmsma separa a luz regra geral, para leituras de picos de absorvância estarem d e n t r o
branca em u m espectro c o n t í n u o , sendo mais d o b r a d a o u refra- de 9 9 , 5 % dos valores verdadeiros, a largura de b a n d a espectral
tada em c o m p r i m e n t o s de ondas curtos do q u e e m longos. U m a não deve ultrapassar 10% da banda n a t u r a l . Por exemplo, m u i t o s
grade de difração é preparada pela deposição de u m a f i n a camada
de u m a liga de a l u m í n i o e cobre na superfície de u m a placa de
v i d r o plana e, em seguida, pequenos sulcos paralelos são riscados
n o revestimento metálico.
As grades holográficas m oder nas são construídas utilizando-se
u m laser na m o d a l i d a d e "usinagem de alta precisão". A superfície
de u m material fotossensível, designado "fotorresistente" é varrida
acuradamente p o r u m feixe do User focalizado. Depois de diversas
linhas t e r e m sido gravadas no material fotorresistente, p r o d u t o s
q u í m i c o s são utilizados para dissolver e eluir o material fotorresis-
tente exposto, para criar os canais que se t o m a r ã o as linhas da
grade. U m a camada de u m m a t e r i a l altamente reflexivo é então
depositada na superfície dos canais construídos a laser, e a grade
está p r o n t a para ser utilizada. T a n t o as superfícies fotorresistentes
planas q u a n t o as côncavas são utilizadas para c o n s t r u i r este t i p o
de grade. Estes tipos de grade (1) são extremamente precisos, (2)
apresentam baixa dispersão de luz e (3) são componentes freqüen-
tes de espectrofotômetros utilizados na q u í m i c a clínica. Por
exemplo, a m a i o r i a dos espectrofotômetros de U V visível e prati-
camente todos os espectrofotômetros de IR u t i l i z a m grades refle'
xivas. A l é m dissOj detectores de H P L C freqüentemente u t i l i z a m
u m a grade reflexiva holográfica côncava nos sistemas ópticos.
Q u a n d o i l u m i n a d a , cada t r i l h o sobre a grade dá origem a u m
espectro estreito. Frentes de c o m p r i m e n t o de o n d a são formadas
para reforçar esses c o m p r i m e n t o s de ondas em fase e cancelar os
que não estão em fase. O resultado l íqui do é u m espectro linear
u n i f o r m e . A l g u n s instrumentos c o n t ê m grades de difração que
p r o d u z e m amplitudes de faixas espectrais de 2 0 n m o u mais; ins-
t r u m e n t o s mais caros p o d e m ter resolução de 0,5 n m o u menos.
A grade de superfície p l a n a discutida a n t e r i o r m e n t e é
chamada de grade de transmissão plana. A s linhas são gravadas na
superfície de u m espelho, que p o d e ser t a n t o u m a placa de m e t a l
p o l i d o q u a n t o de v i d r o , o n d e u m f i n o f i l m e metálico é deposi- 370 380 390 400 410 420
tado. A grade t a m b é m p o d e ser riscada n u m d e t e r m i n a d o ângulo, Comprimento de onda (nm)
de m o d o q u e a fração m á x i m a de energia radiante é d i r e c i o n a d a
para c o m p r i m e n t o s de ondas difratados e m ângulos seleciona-
Figura 4-7 Efeito da largura de banda espectral (SBW) sobre o
dos. Este t i p o de grade é d e n o m i n a d a echektte e é c o n h e c i d a p o r
espectro de absorção de coproporfirina I. Concentração n o m m a l de 1
brilhar em u m d e t e r m i n a d o â n g u l o o u ter b r i l h a d o e m certo
\ig/mb d e H C I 0,1 m o l / L . S B W : curva a, 1 n m , e s p e c t r o f o t ô m e t r o
c o m p r i m e n t o de o n d a (p. ex., 2 5 0 n m ) .
B e c k m a n D B - G ; curva b, 10 n m ; e curva c, 2 0 n m , e s p e c t r o f o t ô m e t r o
Beckman DB. A linha pontilhada horizontal mostra largura de banda
Seleção de um Monocrornador natural de 10 nm para coproporfirina I, quando varrida em faixa de
O t i p o de m o n o c r o r n a d o r a ser escolhido depende dos objetivos espectro de 1 n m . A mudança de para comprimentos de ondas
das análises a q u e se destinam. Por exemplo, e m espectrofotôme- inferiores enquanto a SBW é aumentada está relacionada à inclinação
tros são exigidas bandas de larguras espectrais estreitas para iden- do espectro de absorção para a esquerda.
72 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

procedimentos químicos utilizados em laboratório clínico produ- de absorvância. As cubetas utilizadas na região do visível devem
zem espécies absorventes para a qual a largura natural varia de ser lavadas abundantemente com água de torneira e enxaguadas
40 a mais de 200 n m . A largura de banda natural do N A D H é com água destilada. Soluções alcalinas não devem ser deixadas no
58 n m (Àmáx = 339 nm). Portanto, para medições precisas desse interior das cubetas por períodos prolongados, já que essas
composto, u m instrumenrn que tenha uma largura de banda corroem lentamente o vidro. As cubetas podem ser lavadas com
espectral de 6 n m ou menos deve sei utilizado. detergente suave ou ser colocadas de m o l h o em mistura de HC1
Na prática, para atingir a sensibilidade máxima, o compri- concentrado: água:etanol (1:3:4). As cubetas nunca devem ser
mento de onda é normalmente selecionado no pico máximo de colocadas de m o l h o em solução sulfocrómica pata limpeza, porque
absorvância; entretanto, pode ser desejável escolher outro com- a solução é perigosa e tende a adsorver-se e corroer o vidro.
primento de onda para minimizar substâncias interferentes. Por As cubetas utilizadas para medidas na região U V devem ser
exemplo, leituras de turhidez são maiores na região azul do manipuladas com cuidados especiais. Arranhões invisíveis,
espectro que na região vermelha; nn entanto, esta ú l t i m a região impressões digitais ou traços de substâncias previamente medidas
é escolhida para medidas de turbidez para evitar a absorção de podem estar presentes e absorver significativamente a luz. U m a
luz por bilir r ubina (460 nm) ou hemoglobina (417 e 575 nm). boa prática é preencher ã capacidade total dessas cubetas com
A l é m disso, as medições não devem ser realizadas no limite da água destilada e medir, por diversos comprimentos de ondas, a
linearidade de uma curva de absorção, porque u m ligeiro erro absorvância de cada uma contra u m branco. Este valor deve ser
no ajuste do comprimento de onda irá introduzir erros nas lei- essencialmente zero.
turas das absorvâncias.
Fotodetectores
Fibras Ópticas Fotodetectores são dispositivos que convertem luz em sinal elé-
Nos e sp ectro foto metros de feixe simples e duplo apresentados nos trico, proporcional ao número de fótons que colidem com a
diagramas das Figuras 4-4 e 4-1), o posicionamento dos componentes superfície fotossensivel. O tubo fotomultiplicador (PMT) é u m
individuais dita a trajetória que o feixe de luz deve seguir enquanto fotodetector comumente utilizado para medir a intensidade lumi-
esse viaja desde a fonte até o detector. Esta abordagem impõe certas nosa das regiões U V e visível do espectro. Os PMTs exibem
restrições ao formato, tamanho e custo de tais instrumentos. Essas tempos de respostas extremamente rápidos, são m u i t o sensíveis
restrições estão sendo superadas pela integração de fibras ópticas ao e se desgastam lentamente. Nos instrumentos mais antigos, bar-
desenho óptico dos espectrofotômetros. Fibra óptica, também reiras de camadas de células (também conhecidas como células
conhecida como tubos de hiz, são feixes de fibras finas e transparentes fotovoltaicas) foram utilizadas como fotodetectores, pois eram
de vidro, quaTtzo ou plástico, revestidas com material com índice de robustas e menos dispendiosas.
refração baixo, e que, por reflexões internas, transmitem luz em toda Fotodiodos também são utilizados como fotodetectores. Esses
a superfície. A utilização de fibras ópticas em espectrofotômetros são dispositivos sólidos, fabricados a partir de materiais semicon-
oferece a vantagem de otimizar o controle direcional do feixe de luz dutores fotossensíveis, tais como silício, arsenieto de gálio, anti-
dentro dos limites geométricos de u m instrumento. Isto permite a m o n í d i o de índio, arsenieto de índio, seleneto de chumbo e
concepção e fabricação de subsistemas ópticos em miniatura e de sulfeto de chumbo. Esses materiais absorvem luz em uma faixa
baixo custo, utilizados em instrumentos automatizados. Por exemplo, característica de comprimento de onda (p. ex., 250 a 1.100 n m
em u m sistema automatizado, uma única fonte luminosa pode ser paTa o silicone). O desenvolvimento e utilização desses materiais
multiplicada por fibra óptica, ter detectores múltiplos e, assim, deter- como detectores em espectrofotômetros deram origem a instru-
minar o posicionamento ótimo da fonte e dos detectores. As des- mentos capazes de medir a luz em múltiplos comprimentos de
vantagens das fibras ópticas incluem uma maior quantidade de luz ondas. Quando u m fotodetector consiste em dois arranjos bidi-
parasita; mudanças no índice de refração das hastes de vidro, quartzo mensionais de diodo, cada u m responde a u m comprimento de
ou plástico, bem como perda da energia transmitida após utilização onda específico e é conhecido como arranjo de fotodiodo. Por
continuada na região ultravioleta do espectro. Esta perda de energia exemplo, arranjos de fotodiodos foram concebidos pata ter uma
é conhecida como solarização e resulta na diminuição de sensibili- resolução de 2 n m por diodo, entre 200 e 340 n m e resolução
dade de u m instrumento óptico. de 1 n m por diodo, entre 340 a 800 n m .

Cubetas Dispositivos de Leitura


A cubeta (freqüentemente também designada euvette) é u m A energia elétrica captada por u m detector é exibida em algum
pequeno vaso utilizado para manter uma amostra líquida a ser tipo de medidor ou sistema de leitura. N o passado, aparelhos
analisada na trajetória da luz em u m espectro metro. As cubetas analógicos eram amplamente utilizados como dispositivos de
podem ser redondas, quadradas ou retangulares e são construídas leitura em espectrofotômetros. N o entanto, esses foram substituí-
de vidro, sílica (quartzo) ou plástico. Cubetas quadradas ou retan- dos pelos leitores digitais, dispositivos que exibem o número
gulares apresentam superfícies ópticas planas e paralelas, com relativo à absorvância ou a conversão em valores de concentra-
trajetória de luz constante. A maioria tem u m 1,0 cm de espessura ções. Estes operam com base n o princípio de iluminação seletiva
(trajetória da luz), com tolerância baixa (limite de erro). Cubetas de frações de u m banco de diodos emissores de luz (LEDs),
ordinárias, de vidro de borossilicato, são adequadas para as medi- controlada pela tensão de sinal gerado. LEDs visiveis incorporam
ções na região do visível do espectro. Para leituras abaixo de 340 gálio como componente principal, e, no momento, diodos
n m , no entanto, células de quartzo são geralmente exigidas. GaAs x P„ que emitem luz vermelha são os mais utilizados. Com-
Algumas células de plástico oferecem transparência adequada, parados com medidores, dispositivos com leitura digital forne-
tanto na região de U V quanto do visível, porém, freqüentemente cem resposta mais rápida e são mais fáceis de ler.
apresentam problemas relacionados a limite de erro, limpeza,
corrosão por solventes e deformações p o i temperatura. Muitas Computadores
cubetas plásticas são descartáveis, utilizáveis uma única vez. Computadores são incorporados e integrados em ambos os fotõ-
As cubetas devem ser limpas e opticamente transparentes metros e espectrofotômetros. C o m computador e aplicativos resi-
porque a corrosão ou os depósitos na superfície afetam os valores dentes, (l) a saída de u m calibrador é armazenada digitalmente,
Técnicas Ópticas CAPÍTULO 4 73

(2) sinais digitais d o b r a n c o são subtraídos dos calibradores e das c o m u m e n t e utilizadas para converter os dados e m u m f o r m a t o
amostras desconhecidas e (3) as concentrações desconhecidas são l i n e a r ( C a p í t u l o 10). Os c o m p o n e n t e s eletroópticos utilizados na
a u t o m a t i c a m e n t e calculadas. D a d o s de m ú l t i p l o s calibradores f o t o m e t r i a de reflexão são essencialmente os mesmos exigidos
são f r e q ü e n t e m e n t e utilizados para (1) armazenar u m a c u r v a de para a f o t o m e t r i a de absorvância. A f o t o m e t r i a de reflexão é
calibração c o m p l e t a , (2) e x i b i r o u i m p r i m i r a curva para inspeção utilizada para medidas em sistemas q u í m i c o s c o m película seca.
visual e (3) calcular os resultados desconhecidos baseando-se n a
curva o u t r a n s f o r m a ç ã o m a t e m á t i c a dos dados. Os c o m p u t a d o r e s ESPECTROFOTOMETRIA DE EMISSÃO DE
e os aplicativos instalados t a m b é m são utilizados para converter CHAMA
dados cinéticos e m concentração o u atividade enzimática A espectrofotometria de emissão de chama baseia-se nas caracte-
rísticas de emissão de luz p o r átomos de diversos elementos
Registradores metálicos q u a n d o é f o r n e c i d a energia suficiente, c o m o , p o r
Os espectrofotômetros p o d e m ser equipados c o m registradores, e m exemplo, u m a chama quente. O c o m p r i m e n t o de o n d a a seT
adição à exposição digital o u n o lugar dela. Estes são sincronizados u t i l i z a d o para a m e d i ç ã o de u m e l e m e n t o d e p e n d e da seleção de
para fornecer traços de transmitància o u absorvância e m função d o u m a l i n h a c o m i n t e n s i d a d e suficiente para p r o p o r c i o n a r sensibi-
tempo ou c o m p r i m e n t o de onda. Q u a n d o u m a detecção contínua lidade adequada e da ausência de i n t e r f e r ê n c i a de outras l i n h a s
de absorvância tJerws c o m p r i m e n t o de onda é registrada, o valor n o c o m p r i m e n t o de o n d a selecionado o u p r ó x i m o dele. Por
resultante é chamado de espectro de absorção. Se u m a substância exemplo, a c h a m a de l í t i o p r o d u z u m a cor v e r m e l h a ; a de sódio,
absorve lua, picos distintos de absorvância serão observados. A amarela; de potássio, violeta; de r u b í d i o , v e r m e l h a ; e de magné-
medida do espectro de absorção de u m a amostra desconhecida sio, azul. Essas cores são características dos á t o m o s de metal, que
pode ser comparada ao espectro de compostos conhecidos e é m u i t o estão presentes c o m o cátions n a solução. Sob condições cont ro-
ú t i l para fins qualitativos. Por exemplo, este t i p o de procedimento ladas e constantes, a intensidade l u m i n o s a característica d o com-
é especialmente ú t i l para identificação de drogas que absorvem na p r i m e n t o de o n d a p r o d u z i d a p o r cada u m dos átomos é direta-
região d o U V . Vários critérios são utilizados, i n c l u i n d o a determi- m e n t e p r o p o r c i o n a l a o n ú m e r o de átomos q u e está e m i t i n d o
nação daqueles c o m p r i m e n t o s de ondas que apresentam absorvân- energia, que, p o r sua vez, é d i r e t a m e n t e p r o p o r c i o n a l à concen-
cias m á x i m a e m í n i m a em ambas as soluções ácidas e alcalinas tração da substância de interesse na amostra. E m b o r a esta técnica
diluídas; a absortividade n o c o m p r i m e n t o de o n d a de absorvância tenha sido a m p l a m e n t e utilizada para a análise de sódio, potássio
máxima; e a razão entre absorvâncias obtidas e m dois c o m p r i m e n - e l í t i o e m f l u i d o s corporais, ela foi substituída, e m grande parte,
tos de ondas. Finalmente, o espectro inteiro é comparado c o m u m p o r técnicas eletroquimicas.
o b t i d o para amostra conhecida da droga investigada.
ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORÇÃO
Parâmetros de Desempenho ATÔMICA
N a m a i o r i a dos p r o c e d i m e n t o s analíticas espectrofotométricos, a A e s p e c t r o f o t o m e t r i a de absorção a t ô m i c a ( A A ) é a m p l a m e n t e
absorvância de u m a amostra desconhecida é comparada direta- utilizada e m l a b o r a t ó r i o s clínicos para m e d i r elementos, tais
mente c o m a de u m calibrador o u séries de calibradores. Nestas c o m o (1) a l u m í n i o , (2) cálcio, (3) cobre, (4) c h u m b o , (5) l í t i o , (6)
circunstâncias, pequenos erros na calibração de c o m p r i m e n t o de magnésio e (7) zinco
onda, a variação espectral das larguras de b a n d a o u a presença de
luz parasita são compensados e, e m geral, não c o n t r i b u e m para Conceitos Básicos
erros graves. A utilização de u m a série de calibradores abrangendo
A A A é u m a técnica de emissão e m que u m e l e m e n t o na amostra
u m a vasta faixa de concentração t a m b é m fornece u m a m e d i d a de
é excitado e a energia radiante, o b t i d a ao l o n g o d o processo, é
linearidade e a validação da lei de Beer para u m d e t e r m i n a d o
m e d i d a e n q u a n t o o e l e m e n t o r e t o r n a ao nível energético mais
p r o c e d i m e n t o e i n s t r u m e n t o . N o e n t a n t o , q u a n d o os cálculos são
baixo. N o e n t a n t o , o e l e m e n t o n ã o é apreciavelmente excitado
baseados e m valores de absortividades molares o u de coeficientes
pela chama, mas é m e r a m e n t e dissociado das respectivas ligações
de absorção publicados o u previamente determinados, o espectro-
químicas (atomizado) e transferido para o estado não excitado o u
f o t ô m e t r o deve ser inspecionado c o m m a i o r rigor.
O N a t i o n a l I n s t i t u t e o f Standards a n d T e c h n o l o g y ( N I S T ) f u n d a m e n t a l ( á t o m o n e u t r o ) . A s s i m , o á t o m o está e m u m nível
fornece diversos materiais de referência-padrão (SRMs) para de energia b a i x o e é capaz de absorver radiação e m largura de
espectrofotometria, que são úteis para a calibração o u verificação b a n d a m u i t o estreita, c o i r e s p o n d e n t e à p r ó p r i a l i n h a espectral.
de d e s e m p e n h o de f o t ô m e t r o s o u espectrofotômetros (p. ex., A l â m p a d a de c á t o d o oco c o m o cátodo c o n s t i t u í d o d o m a t e r i a l
S R M 930e é u t i l i z a d o para verificar e calibrar escalas de transmi- a ser analisado, é utilizada para p r o d u z i r u m c o m p r i m e n t o de
tància e absorvância da absorção espectrométrica d o visível) o n d a de luz específico d o material. Dessa f o r m a , se o cátodo é
( h t t p : / / w w w . n i s t . g o v ) . O I n s t i t u t e f o r Reference Materials a n d c o m p o s t o de sódio, a luz de sódio, p r e d o m i n a n t e m e n t e de 5 8 9
M e a s u r e m e n t s ( I R M M ) , u m i n s t i t u t o de m e t r o l o g i a que pertence n m , será e m i t i d a pela lâmpada. Q u a n d o a luz da l â m p a d a de
à comissão européia, t a m b é m fornece materiais de referência cátodo oco penetra na chama, parte dessa é absorvida pelos
para a verificação de desempenho de f o t ô m e t r o s o u espectrofo- átomos n o estado f u n d a m e n t a l , r e s u l t a n d o e m u m a redução
tômetros ( h t t p - / / w w w . u m m . j r c . b e / ) . l í q u i d a de i n t e n s i d a d e dos raios n a chama. Este processo é desig-
n a d o absorção atômica.
FOTOMETRIA DE REFLEXÃO E m geral, métodos de A A são a p r o x i m a d a m e n t e 100 vezes
N a f o t o m e t r i a de reflexão, a luz d i f u n d i d a i n c i d e e m u m a mais sensíveis que os métodos de emissão de chama. E m adição,
m i s t u r a de reação localizada e m u m carreador e a luz r e f l e t i d a é graças à especificidade ú n i c a d o c o m p r i m e n t o de o n d a da
medida. 4 A l t e r n a t i v a m e n t e , o carreador é i l u m i n a d o e a m i s t u r a l â m p a d a de cátodo oco, esses métodos são a l t a m e n t e específicos
de reação gera u m a luz r e f l e t i d a difusa, que é m e d i d a . A inten- para o e l e m e n t o a ser m e d i d o .
sidade da luz r e f l e t i d a a p a r t i r d o reagente carreador é c o m p a r a d a
c o m a i n t e n s i d a d e da luz r e f l e t i d a de u m a superfície de referên-
cia. E m v i r t u d e de a intensidade da luz r e f l e t i d a n ã o ser linear Instrumentação
e m relação à concentração da substância analisada, a equação de Os c o m p o n e n t e s de u m espectrofotômecro de A A são mostrados
K u b e l k a - M u n k o u a t r a n s f o r m a ç ã o de C l a p p e r - W i l l i a m s são n a Figura 4-8 U m a l â m p a d a de cátodo oco f u n c i o n a c o m o f o n t e
74 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

d -

Cátodo oco Modulador Chama Fenda de Monocromador Fenda de Detector


entrada saída

Figura 4-8 Componentes básicos de um especcrofotômetro de absorção atômica.

de luz e m u m espectrofotômetro de A A . Essas lâmpadas são Interferências Não Espectrais


constituídas d o metal de interesse presente na substância a ser As interferências não espectrais p o d e m ser inespecíficas o u específicas.
analisada, sendo específica para cada análise. Q u a n d o u m a liga As interferências inespecíficas afetam a nebulização, alterando a vis-
é utilizada para c o n s t r u i r o cátodo, resulta e m u m a lâmpada cosidade, tensão superficial o u densidade da solução da substância
multielemento. a ser analisada e, conseqüentemente, a velocidade do f l u x o de
E m técnicas de A A sem chama (haste de carbono o u " f o r n o de amostra. As interferências específicas (interferências químicas) são
grafite")) a amostra é colocada em u m a depressão da vareta de dependentes da substância a ser analisada. A interferência de volati-
carbono e m u m a câmara fechada. Tiras de tântalo o u platina liza çã o do soluto refere-se à situação em que o c o n t a m i n a n t e forma
metálica t a m b é m são utilizadas c o m o copos de amostra. E m etapas c o m a substância analisada espécies não voláteis. U m exemplo é a
sucessivas, a temperatura da haste é aumentada para secar, carbo- interferência de fosfato na determinação do cálcio, causada pela
nizar e, finalmente, atomizar a amostra na câmara. O elemento formação de complexos de cálcio-fosfato. A interferência de fosfato
atomizado então absorve energia da lâmpada de cátodo oco cor- é e l i m i n a d a c o m a adição de u m cátion, geralmente lantânio o u
respondente. Esta abordagem é mais sensível que os métodos
estrôncio, que competem c o m o cálcio p o r fosfato. U m incremento
convencionais que utilizam chama e permite a determinação de
de efeito t a m b é m é observado q u a n d o a adição de contaminantes
traços de metais em pequenas amostras de sangue o u tecido.
aumenta a eficiência de volatilização. É o caso do a l u m í n i o , que
Para técnicas de A A sem chama, urna abordagem designada
n o r m a l m e n t e produz óxidos n ã o voláteis, mas, na presença de
de correção de Zeeman t e m sido utilizada para corrigir a absorção
ácido h i d r o f l u ó r i c o , foTma f l u o r e t o de a l u m í n i o , u m composto
de fundo. 1 0 N a correção do r u í d o de f u n d o de Zeeman, a subs-
mais volátil, interferências de dissociação afetam o grau de dissociação
tância a ser analisada é s u b m e t i d a a u m f o r t e campo magnético.
Esse intenso campo magnético d i v i d e os níveis de energia a t ô m i c a da substância analisada. Estas substâncias f o r m a m óxidos e hidró-
degenerada (isto é, energia semelhante) em dois componentes xidos que são especialmente sensíveis às interferências de dissocia-
que são polarizados em paralelo e p e r p e n d i c u l a r ao campo mag- ção. A interferência de ionização ocorre q u a n d o a p r e s e n ç a de u m
nético, respectivamente. O c o m p o n e n t e paralelo está n a l i n h a de elemento facilmente ionizável, c o m o o K , afeta o grau de ionização
ressonância da fonte, e n q u a n t o os dois componentes perpendi- da substância, o que leva a alterações n o sinal da substância anali-
culares são deslocados para diferentes c o m p r i m e n t o s de ondas. sada. E m caso de interferência de excitação, os átomos da substância
Os dois c o m p o n e n t e s interagem de maneira diferente c o m luz são excitados no atomizador, c o m subseqüente emissão n o com-
polarizada. U m polarizador é colocado entre a f o n t e e o atomi- p r i m e n t o de o n d a de absorção adequado. Este t i p o de interferên-
zador, e duas medidas, em diferentes configurações d o polariza- cia é mais p r o n u n c i a d o em temperaturas mais elevadas.
dor, são realizadas. U m a m e d i d a é feita da absorção do (A c ) da
substância a ser analisada e de r u í d o de f u n d o , a o u t r a apenas
da absorção de r u í d o de f u n d o (Aj, c ). A diferença entre as duas
FLUORIMETRIA
leituras de absorção é a absorvância corrigida. A f l u o r e s c ê n c i a ocorre q u a n d o u m a m o l é c u l a absorve luz e m u m
A grande vantagem do m é t o d o de correção de Zeeman é que c o m p r i m e n t o de o n d a e reemite essa luz em c o m p r i m e n t o de
a mesma f o n t e l u m i n o s a c o m c o m p r i m e n t o de o n d a semelhante o n d a m a i o r . U m á t o m o o u m o l é c u l a que apresenta fluorescência
é utilizada para m e d i r a absorção total e d o r u í d o de f u n d o . A é considerado u m f l u o r ó f o r o . A fluarametria é d e f i n i d a c o m o a
execução é complexa e de alto custo, e a intensidade do campo medição da fluorescência da luz e m i t i d a . A análise f l u o r i m é t r i c a
magnético precisa ser o t i m i z a d a para cada elemento, mas o é u m m é t o d o m u i t o sensível e a m p l a m e n t e utilizado em análises
m é t o d o p r o p o r c i o n a resultados mais precisos em medidas c o m quantitativas na q u í m i c a e ciências biológicas.
r u í d o de f u n d o elevado que as outras técnicas de correção.
Conceitos Básicos
Limitações da Espectrofotometria de A relação entre a absorção, a fluorescência e a fosforescência é
Absorção Atômica mostrada na Figura 4-9. C o m o i n d i c a d o , cada m o l é c u l a c o n t é m
Interferências espectrais e n ã o espectrais são limitações da espec- u m a série de níveis de energia m u i t o p r ó x i m o s espacialmente. A
t r o f o t o m e t r i a de A A . absorção de u m quantum de energia da luz p o r u m a m o l é c u l a
provoca a transição de u m e l é t r o n n o estado f u n d a m e n t a l sin-
Interferências Espectrais gleto (singlet) para u m dos diversos níveis vibracionais possíveis
As interferências espectrais i n c l u e m (1) a absorção de outras espé- do seu p r i m e i r o estado singleto. O n ú m e r o real de moléculas n o
cies atômicas relacionadas, (2) absorção p o r espécies moleculares, estado excitado sob condições de u m a reação típica e excitado
0 ) dispersão p o r partículas de sais não voláteis o u de óxidos e c o m u m a f o n t e l u m i n o s a c o n v e n c i o n a l de 1 5 0 W é m u i t o
(4) emissões de r u í d o de f u n d o (que p o d e m ser filtradas eletro- p e q u e n o e é estimado e m cerca de 10 n m o l por m o l do f l u o r ó -
nicamente). E m v i r t u d e da laTgura de banda ser extremamente foro. U m a vez q u e a molécula está n u m estado excitado, essa
estreita (0,01 n m ) , a absorção por outras espécies atômicas não r e t o m a ao estado i n i c i a l de energia p o r diferentes mecanismos.
c o n s t i t u i u m problema. A absorção e dispersão p o r espécies Estes i n c l u e m (1) o e q u i l í b r i o v i b r a c i o n a l não radioativo, (2) o
moleculares são p a r t i c u l a r m e n t e problemáticas q u a n d o a atomi- processo de fluorescência, (3) a dissipação do estado excitado
zação é realizada em temperaturas baixas. singleto, (4) o c r u z a m e n t o não r a d i o a t i v o para u m estado t r i p l e t o
Técnicas Ópticas CAPÍTULO 4 75

Excitação

l
Itv
I O

I * \

1 1 1 1 1 Y I 1 1 1
10~ 15 10" 14 10~ 13 10" 12 1Q^ 11 10 _10 10" 9 10 -0 10" 7 10~s 10~5 10~4 10~3
F i g u r a 4 - 9 Diagrama do nível de energia luminescente de uma
Tempo (segundos)
molécula orgânica típica. SQ é o estado f u n d a m e n t a l singleto; S[ é o
primeiro estado excitado singleto; A é o processo de absorção; T] é o
Figura 4 - 1 0 Processo de decaimento de fluorescência. E é a
primeiro estado excitado tripleto; e RVD é a desativação vibracional não
absorção de energia; I é a fase d o tempo de desativação vibracional; II é
radioativa. Q é atenuação do estado excitado d o singleto ou tripleto. F é
a fase do tempo de emissão de fluorescência; a é u m tempo longo de
o processo de fluorescência de primeiro estado excitado d o singleto. P é
decaimento de fluorescência, e b é u m tempo CUTEO de decaimento de
o processo de fosforescência de primeiro estado excitado do tripleto. RC
fluorescência.
é o cruzamento não radioativo de primeiro estado de excitação singleto
para o primeiro estado de excitação tripleto.
O t e m p o entre a absorção de u m quantum de energia e a
fluorescência é u t i l i z a d o e m i n s t r u m e n t a ç ã o de fluorescência
d e n o m i n a d o f l u o r í m e t r o de resolução temporal. A vantagem da
(tripíet), (5) a dissipação d o p r i m e i r o estado t r i p l e t o e (6) o pTO- f l u o r i m e t r i a de resolução t e m p o r a l é a e l i m i n a ç ã o dos r u í d o s de
cesso de fosforescência. f u n d o provocados pela luz dispersa, resultantes dos sinais Ray-
C o n f o r m e m o s t r a d o n a Figura 4-9, o e q u i l í b r i o v i b r a c i o n a l leigb e R a m a n e de ruídos de f u n d o de fluorescência de v i d a
antes da fluorescência resulta e m perda de energia de excitação. curta. C o n s e q ü e n t e m e n t e , isto resulta n u m expressivo a u m e n t o
A fluorescência e m i t i d a c o n t é m , p o r t a n t o , m e n o s energia o u tem d o sinal de interesse e n a d i m i n u i ç ã o d o l i m i t e de detecção d o
u m c o m p r i m e n t o de o n d a m a i o r que o de excitação da luz. A equipamento.
diferença entre os c o m p r i m e n t o s de o n d a m á x i m o s de excitação D e p e n d e n d o de c o m o a resposta de emissão de fluorescência
da luz e de fluorescência e m i t i d a é u m a constante designada é m e d i d a , a f l u o r i m e t r i a de resolução t e m p o r a l ' é classificada
" d e s l o c a m e n t o de Stokes". Esta constante é u m a m e d i d a de c o m o f l u o r i m e t r i a de pulso o u de fase. N a f l u o r i m e t r i a de pulso,
energia p e r d i d a durante a vigência d o estado excitado (desativa- a amostra é i l u m i n a d a p o r u m pulso de luz i n t e n s o e breve e a
ção v i b r a c i o n a l não radioativa) antes de r e t o r n a r ao n í v e l funda- intensidade de fluorescência e m i t i d a é avaliada e m função d o
m e n t a l singleto (emissão de fluorescência). t e m p o , p o r u m sistema de detecção r á p i d a N a f l u o r i m e t r i a de
fase, a amostra é i l u m i n a d a p o r u m a o n d a c o n t í n u a de laser, e a
Relações do Tempo de Emissão de Fluorescência resposta da emissão de fluorescência é acompanhada pela res-
O t e m p o necessário para u m a m o l é c u l a absorver energia radiante posta de i m p u l s o e freqüência. ú
e p r o m o v e r essa para u m estado excitado é de a p r o x i m a d a m e n t e
IO'15 s. A duração d o t e m p o para o e q u i l í b r i o v i b r a c i o n a l ocorrer, Relação entre a Concentração e a Intensidade de
em u m estado de m e n o r excitação, é da o r d e m de I0*1lt a IO"12 s. Fluorescência
A duração d o t e m p o necessário para a emissão de fluorescência A relação entre a concentração e a intensidade de fluorescência
ocorrer é da o r d e m de IO 8 a IO*7 s. E m termos relativos, ocorre e m i t i d a é derivada da lei de Beer-Lambert e é expressa, c o m o :
u m t e m p o considerável entre (1) a absorção da energia l u m i n o s a ,
(2) o r e t o r n o ao estado de m e n o r excitação e (3) a emissão de F = (Dloflbc (9)
fluorescência. A relação entre esse p e r í o d o de t e m p o é mostrada
na Figura 4-10. A fase I representa o t e m p o entre a absorção da onde
energia l u m i n o s a e a perda de energia n ã o r a d i o a t i v a d u r a n t e o F = a i n t e n s i d a d e relativa
rearranjo v i b r a c i o n a l n o estado de m e n o r energia de excitação. CD = a eficiência de fluorescência (ou seja, a relação entre os
Este p e r í o d o de t e m p o está representado n o diagrama p o r setas quanta de luz e m i t i d o s e os quanta de luz absorvidos)
apontadas para cima e para baixo. A fase I I mostra a emissão e I 0 = a intensidade de excitação i n i c i a l
o d e c a i m e n t o de u m f l u o r ó f o r o de v i d a c u r t a (b) e de v i d a longa a = a absortividade m o l a r
(a). Se a emissão de fluorescência é m e d i d a ao l o n g o de u m h = o v o l u m e d o e l e m e n t o , d e f i n i d o pela geometria das fendas
t e m p o subseqüente a u m p u l s o de luz, o r i g i n á r i o de u m a f o n t e de excitação e emissão
de excitação c o m o u m a lâmpada de x e n ô n i o o u laser, a intensi- c = a concentração e m m o l / L
dade d o d e c a i m e n t o de luz e m i t i d a é de p r i m e i r a o r d e m , pro-
cesso s i m i l a r ao decaimento r a d i o a t i v o O t e m p o necessário para A equação (9) i n d i c a que a i n t e n s i d a d e de fluorescência é
a luz e m i t i d a alcançar l / e da i n t e n s i d a d e i n i c i a l , o n d e e é o diretamente p r o p o r c i o n a l à concentração d o f l u o r ó f o r o e à inten-
l o g a r i t m o n e p e r i a n o n a base 2,718, é d e n o m i n a d o v i d a média sidade de excitação. Esta relação é a p r o p r i a d a apenas para solu-
d o estado excitado da m o l é c u l a o u t e m p o de d e c a i m e n t o de ções diluídas, o n d e a absorvância é i n f e r i o r a 2 % da radiação
f l u orescência. excitante. Para intensidade de fluorescência superior a 2 % , a
76 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

relação não é linear. Este f e n ô m e n o é c h a m a d o de efeito de filtro


interior e é d i s c u t i d o c o m mais detalhes em seção a seguir. O u t r o s

I
fatores que i n f l u e n c i a m a medição de intensidade de fluorescên-
cia são a sensibilidade d o detector e o grau d o r u í d o de f u n d o
da luz dispersa captada pelo detector.
As medições de intensidade de fluorescência são mais sensí- ExM P
veis que da absorvância. A m a g n i t u d e de absorção de u m cromó-
f o r o em solução é determinada pela concentração desse e da
espessma da cubeta. A m a g n i t u d e de intensidade de fluorescência
de u m f l u o r ó f o r o é d e t e r m i n a d a (1) pela concentração, (2) pelo
c o m p r i m e n t o da trajetória e (3) pela intensidade da f o n t e l u m i -
nosa. C o m p a r a t i v a m e n t e , as medições de fluorescência são de 100 v / X / A ™
a 1.000 vezes mais sensíveis que as de absorvância. Isto acontece
graças a (1) fontes luminosas mais intensas, (2) técnicas de filtra-
\
ção d i g i t a l do sinal e (3) fotômetros de emissão sensíveis.
F r e q ü e n t e m e n t e , medidas de fluorescência são expressas em
unidades de intensidade relativa. A palavra relativa é utilizada Figura 4-11 Diagrama esquemático de um analisador de polarização
p o r q u e a i n t e n s i d a d e m e d i d a não é u m a q u a n t i d a d e absoluta. da fluorescência. Ia é a intensidade de luz de excitação. P é o
Trata-se de u m a p e q u e n a parte d o total de emissões de fluores- polarizador que fornece excitação de luz polarizada. PA é o analisador
cência, e a m a g n i t u d e ê d e f i n i d a pela (1) largura da fenda do da polarização, que é girado para fornecer a medição de intensidade de
i n s t r u m e n t o , (2) sensibilidade do detector, (3) eficiência do emissão de fluorescências polarizadas paralelas e perpendiculares. ExM é
m o n o c r o m a d o r e (4) intensidade de excitação. E m v i r t u d e de o monocromador de excitação, EmM é o monocromador de emissão, D
essas características serem variáveis associadas ao i n s t r u m e n t o , é é o detector, e C é a célula de reação cu cubeta.
difícil, se não impossível, estabelecer u m a u n i d a d e de i n t e n s i d a d e
absoluta para u m a d e t e r m i n a d a concentração de f l u o r ó f o r o que
seja válida para i n s t r u m e n t o s diferentes.
n o m o d o de i n s t r u m e n t a ç ã o n o r m a l . O analisador de polarização
Polarização de Fluorescência é p o s i c i o n a d o para m e d i r p r i m e i r o a intensidade de luz de f l u o -
A luz é c o m p o s t a p o r ondas elétricas e magnéticas dispostas e m rescência, e m i t i d a n o p l a n o vertical ( I J , e, em seguida, o analisa-
ângulos perpendiculares. O n d a s de luz produzidas p o r fontes de d o r de polarização é g i r a d o p o r 90° para m e d i r a intensidade da
excitação-padrão t ê m vetores elétricos orientados aleatoriamente. luz de fluorescência e m i t i d a no p l a n o h o r i z o n t a l (I h ). P é, então,
As ondas de luz, q u e atravessam certos materiais cristalinos (pola- calculado m a n u a l o u a u t o m a t i c a m e n t e pela equação (10).
rizadores), t ê m os vetores elétricos o r i e n t a d o s para u m ú n i c o A polarização de fluorescência é utilizada para quantificar subs-
p l a n o e são ditas ondas de p l a n o polarizado. Os f l u o r ó f o r o s tâncias pela detecção da mudança de despolarização de fluorescência,
absorvem luz mais eficientemente nos planos dos respectivos que sucedem reações imunológicas (Capitulo 10). A quantificação é
níveis de energia eletrônica. Se o relaxamento r o t a c i o n a l (movi- realizada adicionando u m a quantidade conhecida de moléculas da
m e n t o b r o w n i a n o ) f o r mais lento que o t e m p o de d e c a i m e n t o da substância marcada c o m fluorescência a u m a solução de reação con-
fluorescência, c o m o é o caso de grandes moléculas marcadas c o m tendo u m anticorpo específico para a substância analisada. A subs-
moléculas fluorescentes, a fluorescência e m i t i d a será polarizada. tância marcada liga-se ao anticorpo, resultando em mudança n o
E m função de apresentarem t e m p o de relaxamento r o t a c i o n a l tempo de relaxamento rotacional e de polarização de fluorescência.
m u i t o mais curtos que o t e m p o de d e c a i m e n t o de fluorescência, A adição de u m a suhstância não marcada, como u m a quantidade
nas pequenas moléculas a luz de fluorescência e m i t i d a é despo- desconhecida de u m a droga terapêutica em u m a amostra de soro,
larizada. N o e n t a n t o , se a pequena m o l é c u l a fluorescente for resultará em competição pela ligação ao anticorpo c o m a substância
ligada a u m a m a c r o m o l é c u l a , o u se for colocada e m solução marcada. Esta mudança na ligação da substância mamada c o m u m
viscosa, a p e q u e n a m o l é c u l a e m i t i r á luz polarizada. Polarização fluoróforo provoca uma mudança de polarização de fluorescência,
de fluorescência, P, é d e f i n i d a pela seguinte equação: inversamente proporcional à quantidade da substância contida n u m a
determinada amostra. C o m o a mudança de polarização de fluores-
cência é u m a resposta direta à mistura de reação, o f l uoróf oro ligado
P = k z k não precisa ser separado do f l u o r ó f o r o livre. Assim, a polarização de
(10) fluorescência é aplicável aos ensaios homogêneos de substâncias de
K + k
baixa massa molecular c o m o drogas terapêuticas. 7

onde
I v = a intensidade de luz e m i t i d a p o r fluorescência n o p l a n o Instrumentação
vertical F l u o r í m e t r o s e espectrofluo ri metros são utilizados para m e d i r
Ih = a intensidade de luz e m i t i d a p o r fluorescência n o p l a n o fluorescência. O p e r a c i o n a l m e n t e , u m f l u o r í m e t r o utiliza filtros
horizontal de interferência o u filtros de v i d r o pata p r o d u z i r luz m o n o c r o -
m á t i c a para a excitação da amostra e para o isolamento da emissão
C o m o i n d i c a d o , P é a diferença entre as duas intensidades de fluorescência, e n q u a n t o u m e s p e c t r o f l u o r í m e t r o utiliza u m
observadas, d i v i d i d a pela soma dessas intensidades. A polarização m o n o c r o m a d o r de grade o u prisma.
da fluorescência é m e d i d a pela inserção de u m polarizador i m p u l -
s i o n a d o mecânica o u eletricamente entre a cubeta de amostra e Componentes
o detector. U m diagrama de u m sistema de m e d i d a de fluores- C o m p o n e n t e s básicos de f l u o r í m e t r o s e espectrofluorimetros
cência polarizada é m o s t r a d o na Figura 4-11. Para o b t e n ç ã o de i n c l u e m (1) u m a f o n t e de excitação, (2) u m m o n o c r o m a d o r de
sensibilidade m á x i m a , a amostra é excitada c o m luz polarizada excitação, (3) u m a cubeta, (4) u m m o n o c r o m a d o r de emissão e
Técnicas Ópticas CAPÍTULO 4 77

Mi
PS — I Xs 1-

•>
ExM EmM
Geometria ponta-a-ponla

ExM

| | EmM

V
Geometria de ângulo reta

F i g u r a 4 - 1 2 Diagrama de bloco de espectrofluorímetro típico: XS é


a fonce de xenônio; PS é a fonte de alimentação; M j é o monocrornador
de excitação; C é a célula de amostra; M 2 é o monocrornador de
emissão. D j e D 2 são detectores; D, monitora a variação da intensidade
Geometria de superfície frontal
de excitação, e D 2 mede a intensidade da emissão de fluorescência. A j e
A j são sinais de excitação e amplificação, respectivamente.
Figura 4-13 Geometiias de excitação/emissão de fluorescência: I 0 é
a energia inicial de excitação; ExM é o monocrornador de excitação; C é
a cubeta de amostra; If é a intensidade de fluorescência; EmM é o
(5) u m detector. N a Figura 4-12, esses c o m p o n e n t e s são mostra-
monocrornador de emissão; e D é o detector.
dos c o m o sistema ó p t i c o c o n f i g u r a d o para 90°.
E m fluoiímetros e espectrofluorimetros, o posicionamento
da cubeta e d o feixe de excitação, relativos à célula fotoelétrica,
é essencial para estabelecer a geometria óptica para medições de efeito de f i l t r o i n t e r n o e (3) o v o l u m e da amostra visto pelo
fluorescência. C o m o a fluorescência é e m i t i d a a p a r t i r de u m a d e t e c t o r A Figura 4-14 mostra a célula de amostra e o arranjo de
molécula, e m todas as direções, diversas geometrias de e x c i t a ç ã o / fenda para u m espectrofotômetro de fluorescência convencional,
emissão são utilizadas para m e d i r a fluorescência (Figura 4-13). c o m as fendas de excitação e emissão orientadas em ângulo reto.
A m a i o r p a r t e dos f l u o r í m e t r o s e e s p e c t r o f l u o r i m e t r o s c o m e r ' Sx e S 2 designam as fendas de excitação e emissão, respectiva-
ciais utiliza detector de ângulo reto, p o r q u e essa abordagem m i n i - m e n t e . A posição e a largura da fenda de emissão são i m p o r t a n -
miza o r u í d o de f u n d o , que l i m i t a a detecção analítica. A abor- tes. Se a fenda de emissão está localizada p e r t o da b o r d a a n t e r i o r
dagem ponta-a-ponta p e r m i t e a adaptação de u m detector de da célula de amostra, c o m o m o s t r a d o na Figura 4-14, B, o efeito
fluorescência aos i n s t r u m e n t o s de 180° de absorção existentes. de f i l t r o i n t e r i o r é m i n i m i z a d o . Se a largura da fenda de emissão
O l i m i t e de detecção é l i m i t a d o pela (1) q u a l i d a d e d o par de f i l t r o é aumentada, o detector p o d e se t o r n a r mais sensível, mas a
de interferências de excitação e / o u emissão, (2) sobreposição de especificidade p o d e d i m i n u i r .
b a n d a espectral de excitação e / o u e m i s s ã o e (3) efeito de f i l t r o
i n t e r n o , que é d i s c u t i d o p o s t e r i o r m e n t e . A abordagem de super- Verificação de Desempenho
fície f r o n t a l p r o p o r c i o n a a m a i o r l i n e a r i d a d e ao l o n g o de u m Tal c o m o acontece c o m espectrofotômetros, o N I S T fornece u m a
vasto n ú m e r o de concentração, u m a vez que m i n i m i z a o efeito série n u m e r o s a de S R M s para calibração o u verificação de desem-
do f i l t r o i n t e r n o . A abordagem de superfície f r o n t a l apresenta p e n h o de f l u o r í m e t r o s o u espectrofotômetros de fluorescência.
limites de detecção comparáveis àqueles alcançados p o r detecto- Estes i n c l u e m S R M 936a (sulfato de q u i n i n a d i i d r a t a d o ) , para
res de ângulo reto, mas são mais suscetíveis ao r u í d o de f u n d o calibrar tais i n s t r u m e n t o s , e S R M 1932 (fluoresceína), para esta-
causado pela luz dispersa. A f l u o r i m e t r i a de superfície f r o n t a l belecer u m a escala de referência para medidas de fluorescência
t e m sido a m p l a m e n t e aplicada a sistemas heterogêneos de i m u - (http://www.nist.gov).
noensaios c o m fluorescência de fase sólida.
Para a c o m o d a r essas diferentes geometrias, a célula de amostra Tipos de Fluorímetros e Espectrofluorimetros
é o r i e n t a d a em diferentes ângulos e m relação à f o n t e de excitação F l u o r í m e t r o s e espectrofotômetros de fluorescência q u e oferecem
e ao detector. A s p r i n c i p a i s preocupações relacionadas c o m a u m a variedade de recursos estão disponíveis. Esses recursos
geometria da célula de amostra são (1) a dispersão da luz, (2) o i n c l u e m (1) razão de referência, (2) m o n o c r o m a d o r e s de excita-
78 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

c r o m a d o r excitador (Ml) é dividida, e u m a p e q u e n a p a r t e (10%)


é d i r e c i o n a d a à referência F M T ( D l ) para fins de razão de refe-
rência. O r e s t a n t e de luz d e excitação é focalizado n a cubeta de
a m o s t r a (C). O s dispositivos ópticos de emissão são p o s i c i o n a d o s
p e r p e n d i c u l a r m e n t e àqueles d e excitação. U m m o n o c r o m a d o r
de emissão (M2) é utilizado p a r a selecionar o u varrer a região d o
espectro d e emissão desejada, q u e é d i r e c i o n a d o para a a m o s t r a
do P M T (D2) p a r a m e d i r a i n t e n s i d a d e d e emissão. O s sinais
e m i t i d o s pela referência e a m o s t r a de P M T s são a m p l i a d o s (AI e
A2), e a razão e n t r e esses sinais é f o r n e c i d a e m f o r m a d e u m
gráfico digital e m u m m o n i t o r ou e m u m registrador. O m o d o
o p e r a c i o n a l de u m f l u o r í m e t r o de razão é s e m e l h a n t e ao de u m
espectrofluorímetro; entretanto, apenas poucos comprimentos
de o n d a s de excitação e emissão são disponíveis, b e m c o m o a
utilização deste tipo de i n s t r u m e n t o é l i m i t a d a à v a r r e d u r a de
f l u o r ó f o r o s p a t a o b t e n ç ã o d e espectros d e excitação e emissão.
i

¥
O f l u o r í m e t r o de razão d e referência é mais útil p a r a a avaliação
d e c o n c e n t r a ç ã o e m c o m p r i m e n t o s d e o n d a s de excitação e
emissão d e f i n i d a s .
O e s p e c t r o f l u o r í m e t r o d e razão d e referência é o p e r a d o e m
q u a l q u e r c o m p r i m e n t o de o n d a de excitação e emissão fixas para
m e d i r c o n c e n t r a ç ã o o u utilizado para avaliar espectro de excita-
ção o u emissão de u m d e t e r m i n a d o c o m p o s t o , A m e d i d a d e
c o n c e n t r a ç õ e s d e s c o n h e c i d a s é realizada d e f o r m a s e m e l h a n t e a
Si _L de u m fluoTÍmetro c o m u m ú n i c o feixe. O b r a n c o e u m calibra-
• d o r são m e d i d o s p r i m e i r a m e n t e e, e m seguida, as a m o s t r a s des-
T c o n h e c i d a s são lidas. O e s p e c t r o f l u o r í m e t r o d e razão d e referên-
cia da Figura 4-15 f o r n e c e d u a s v a n t a g e n s e m relação a espectro-
32 1) f l u o r í m e t r o s d e feixe simples. Primeira, elimina as f l u t u a ç õ e s d e
H energia d a l â m p a d a d e x e n ô n i o , a c u r t o e l o n g o prazo (ou seja,
o d e c a i m e n t o d a l â m p a d a e o m o v i m e n t o d o arco) e, p o r t a n t o ,
m i n i m i z a a necessidade f r e q ü e n t e d e calibração d o i n s t r u m e n t o
\ r d u r a n t e a análise. E m s e g u n d o lugar, oferece "essencialmente"
espectros d e excitação corrigidos para c o m p e n s a ç ã o de f l u t u a ç õ e s
M2
d e energia d e p e n d e n t e s d o c o m p r i m e n t o d e o n d a .

¥ Fluorimetros com Resolução Temporal


Os fluorimetros com resolução temporal foram introduzidos em
m e a d o s d o s a n o s 1970, q u a n d o W e i d e r desenvolveu u m fluorí-
Figura 4 - 1 4 Posições de cubeta de fluorescência de ângulo reco. A é m e t r o a laser de n i t r o g ê n i o p u l s a d o e m c o n j u n t o c o m u m sistema
a configuração padrão em 90°. B é o posicionamento de compensação de i m u n o e n s a i o b a s e a d o e m l a n t a n í d e o s . Este i n s t r u m e n t o
da cubeta para minimizar os efeitos internos de filtro. m e d i a o d e c a i m e n t o de f l u o r e s c ê n c i a d e quelatos d e l a n t a n í d e o s
c o m o u m m e i o de e l i m i n a r interferências de luz de f u n d o dis-
persa e d e c o m p o s t o s c o m t e m p o d e d e c a i m e n t o de f l u o r e s c ê n c i a
c u r t o . O f l u o r í m e t r o c o m resolução t e m p o r a l 3 é s e m e l h a n t e ao
f l u o r í m e t r o de razão de referência, c o m a ressalva de q u e a f o n t e
ção e emissão c o n t r o l a d o s p o r c o m p u t a d o r , (3) f o n t e s de luz de de luz é p u l s a d a 9 e q u e , e m m o d o de c o n t a g e m rápida, o detector
x e n ô n i o p u l s a d o , (4) c o n t a d o r e s de f ó t o n , (5) célula d e r o d a m i n a m o n i t o r a o d e c a i m e n t o e x p o n e n c i a l de sinal d e f l u o r e s c ê n c i a
p a r a espectros corrigidos, (6) polarizadores, (7) células d e fluxo, após a excitação. O f l u o r í m e t r o c o m resolução t e m p o r a l r e q u e r
(8) a d a p t a d o r e s de visor d e superfície f r o n t a l , (9) c o m p a r t i m e n t o a utilização de f l u o r ó f o r o s d e longa d u r a ç ã o , c o m o o íons metá-
m ú l t i p l o de c u b e t a s e (10) sistemas d e r e d u ç ã o d e d a d o s c o m p u - licos d e l a n t a n í d e o s (terras raras), e u r ó p i o (Eu 3 *) e s a m á r i o (Sm 3+ ).
tadorizados. C o n s i d e r a n d o que a maioria dos compostos de fluorescência
E m a d i ç ã o ao e s p e c t r o f l u o r í m e t r o básico d i s c u t i d o anterior- possui t e m p o de d e c a i m e n t o de 5 a 100 ns, os q u e l a t o s d e
m e n t e (Figura 4-12), o u t r o s tipos de i n s t r u m e n t o s f l ú o r i m é t r i c o s e u r ó p i o d e c a e m e m 0,6 a 100 s. Assim, ensaios d e f l u o r i m e t r i a
i n c l u e m (1) e s p e c t r o f l u o r í m e t r o de razão d e referência, (2) fluo- c o m resolução t e m p o r a l t i r a m p a r t i d o d e diferenças de t e m p o s
r í m e t r o c o m resolução t e m p o r a l , (3) c i t ô m e t r o de f l u x o e (4) d e vida de f l u o r ó f o r o s e d e f l u o r e s c ê n c i a d o r u í d o d e f u n d o ,
h e m ato flu o r í m e t r o . a v a l i a n d o o d e c a i m e n t o d o sinal d e fluorescência. Isso e l i m i n a
interferências d e r u í d o d e f u n d o e, ao m e s m o t e m p o , lê o sinal
Espectrofluorímetro de Razão de Referência m é d i o p a r a otimizar a precisão da leitura. Limites de detecção d e
U m e s p e c t r o f l u o r í m e t r o de razão de referência típico é ilustrado a p r o x i m a d a m e n t e 10" lj m o l / L f o r a m alcançados c o m f l u o r i m e -
n a Figura 4-15. Basicamente, este é u m i n s t r u m e n t o d e â n g u l o tria c o m resolução t e m p o r a l ; u m avanço de cerca de q u a t r o
reto simples q u e utiliza dois m o n n c r o m a d o r e s ( M l , M 2 ) , dois o r d e n s d e m a g n i t u d e , c o m p a r a n d o c o m avaliações f l u o r i m é t r i c a s
detectores d e t u b o s f o t o m u l t i p l i c a d o r e s ( D l e D 2 , referência e c o n v e n c i o n a i s . Por e x e m p l o , n a n o p a r t í c u l a s m a r c a d a s c o m Eu 3 + ,
a m o s t r a d e F M T s ) e u m a l â m p a d a d e x e n ô n i o . A luz d o m o n o - e m c o m b i n a ç ã o c o m f l u o r i m e t r i a de resolução t e m p o r a l , f o r a m
Técnicas Ópticas CAPÍTULO 4 79

0Lâmpada
de Xe

Figura 4 - 1 5 Diagrama de espectrofluorimetro de razão de referência típico.

utilizadas para desenvolver u m i m u n o e n s a i o a l t a m e n t e sensível C i t ô m e t r o s de f l u x o são capazes d e m e d i r m ú l t i p l o s p a r â m e -


para os a n t í g e n o s específicos prostáticos livre e total e c o m sen- tros, i n c l u i n d o (1) t a m a n h o das células (dispersão p a r a frente),
sibilidade f u n c i o n a l de 0,5 n g/L. 11 (2) g r a n u l o s i d a d e (dispersão e m 90°), (3) c o n t e ú d o de D N A e
R N A , (4) p e r c e n t u a l d e n u c l e o t í d e o s ( A T ) / ( G C ) d o D N A , (5)
Citômeíro de Fluxo e s t r u t u r a de c r o m a t i n a , (6) antígenos, (7) c o n t e ú d o p r o t é i c o
A citometria refere-se à m e d i d a física e / o u q u í m i c a d e caracterís- total, (8) receptores celulares, (9) potencial de m e m b r a n a e (10)
ticas celulares ou, p o r extensão, outras partículas biológicas. A c o n c e n t r a ç ã o d o íon cálcio e m f u n ç ã o d o p H . O desenvolvi-
citometria de f l u x o é u m processo e m q u e essas m e d i ç õ e s são m e n t o e a utilização d e ensaios d e citometria de f l u x o de partí-
realizadas e n q u a n t o as células o u partículas p a s s a m c o m o u m culas são de relevância especial. C o m esta tecnologia, u m citôme-
f l u x o d e f l u i d o , de preferência e m linha ú n i c a , através d o tro d e f l u x o é c o m b i n a d o c o m microesferas q u e são utilizadas
m e d i d o r . A t r i a g e m de f l u x o a m p l i a a utilidade da c i t o m e t r i a de c o m o s u p o r t e sólido p a r a i m u n o e n s a i o c o n v e n c i o n a l , ensaio de
fluxo, pois e m p r e g a m e i o s m e c â n i c o s ou elétricos p a r a desviar e a f i n i d a d e ou h i b r i d a ç ã o de D N A M O sistema r e s u l t a n t e é m u i t o
coletar células, c o m u m a o u m a i s características, d e n t r o d e u m flexível e levou ao d e s e n v o l v i m e n t o d e ensaios m ú l t i p l o s q u e
intervalo ou intervalos d e valores d e f i n i d o s pelo usuário. 8 , 9 analisam, s i m u l t a n e a m e n t e , várias substâncias, e m u m p e q u e n o
E m t e r m o s operacionais, a c i t o m e t r i a de f l u x o c o m b i n a fluo- v o l u m e d e amostra.
rimetria i n d u z i d a p o r laser e análise d e dispersão da luz e m par-
tículas, q u e p e r m i t e diferenciar p o p u l a ç õ e s de moléculas, células Hematoflucrímetro
ou partículas pela f o r m a e t a m a n h o , utilizando luz baixa e dis- O hematofluorímetro é u m f o t o f l u o r í m e t r o de superfície f r o n t a l
persão d e luz e m â n g u l o reto. O laser é i d e a l m e n t e a d e q u a d o p a r a c o m canal simples d e d i c a d o à análise de zinco p r o t o p o r f i r i n a n o
dispersão de luz e m â n g u l o baixo. As células, m o l é c u l a s o u par- s a n g u e total ( C a p í t u l o 29). U m h e m a t o f l u o r í m e t r o típico utiliza
tículas são m a r c a d a s c o m fluorescências diferentes e específicas, u m a l â m p a d a d e q u a r t z o e t u n g s t é n i o , filtro de excitação c o m
c o m o P-ficoeritiina, isotiocianato de fluoresceína, r o d a m i n a - 6 G largura d e b a n d a estreita (420 n m ) , óptica d e superfície f r o n t a l ,
e a n t i c o r p o s m a r c a d o s c o m corantes. E n q u a n t o esses p a s s a m pela u m filtro c o m largura de b a n d a estreita (594 n m ) e u m P M T .
célula de f l u x o , medições s i m u l t â n e a s de fluorescência e luz U m a gota d e sangue t o t a l é d e p o s i t a d a sobre u m p e q u e n o v i d r o
dispersa são a u t o m a t i c a m e n t e executadas p e l o c i t ô m e t r o de r e t a n g u l a r q u e f u n c i o n a c o m o cubefca.
fluxo. A m a i o r i a dos c i t ô m e t r o s d e f l u x o i n c o r p o r a d o i s ou mais
sistemas d e d e t e c ç ã o de emissão de fluorescência, p a r a q u e vários Limitações de Medidas de Fluorescência
m a r c a d o r e s f l u o r e s c e n t e s p o s s a m ser utilizados. D e s t a f o r m a , Fatores q u e i n f l u e n c i a m as m e d i ç õ e s de fluorescência i n c l u e m
moléculas, células ou partículas são classificadas p o r t a m a n h o , (1) efeitos d e c o n c e n t r a ç ã o (p. ex., efeito de filtro i n t e r i o r e dis-
f o r m a e tipo, d e a c o r d o c o m a dispersão de luz e as p r o p r i e d a d e s sipação de c o n c e n t r a ç ã o ) , (2) efeitos d e r u í d o de f u n d o (em
f l u o r e s c e n t e s . U m d e s e n h o e s q u e m á t i c o de u m c i t ô m e t r o de f u n ç ã o das dispersões d e Rayleigh e R a m a n ) , (3) efeitos de sol-
f l u x o é m o s t r a d o n a Figura 4-16. v e n t e (p. ex., i n t e r f e r ê n c i a d e f l u o r e s c ê n c i a inespecífica e d e
dissipação de solvente), (4) efeitos de a m o s t r a (p. ex., d i s p e r s ã o
80 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Amostra
Dispersor de fluo-
Filtro rescência/luz
Divisor
Fluido

l > °
de feixe
envol-
0 ^ vente
Dispersar de Objetiva

f
luz frontal de microscópio
(20x)
20x) . - ^

Interruptor de
1) Abertura
â Fluorescência

feixe de laser j
Lentes PMT
Filtro Sinais para o
analisador de
pulso alto
Feixe de laser

Janela de quartzo
Lentes
cilíndricas

a de
triagem

Figura 4 - 1 6 Diagrama esquemático de um citômetro de fluxo.

de luz, fluorescência i n t e r f e r e n t e e adsorção da amostra), (5) se t e n t a baixar a s e n s i b i l i d a d e d e detecção, a u m e n t a n d o a densi-


efeitos d e t e m p e r a t u r a e (6) f o t o d e c o m p o s i ç ã o (clareamento) de d a d e d o m a r c a d o r d e fluorescência.
amostra.
Dispersão da Luz
Efeito de Filtro Interno A dispersão d e Rayleigh e R a m a n limita a utilização de fluores-
A relação linear e n t r e a c o n c e n t r a ç ã o e a emissão de fluorescên- cência. A dispersão de Rayleigh ocorre sem alteração n o compri-
cia (equação [9]) è válida q u a n d o soluções q u e a b s o r v e m m e n o s m e n t o de o n d a . Para f l u o r ó f o r o s c o m p e q u e n o s d e s l o c a m e n t o s
de 2 % d e luz excitada são utilizadas. Q u a n d o a absorvância da de Stokes, os espectros de excitação e emissão se s o b r e p õ e m ;
solução a u m e n t a acima desse valor, a relação torna-se n ã o linear, assim, a detecção é p a r t i c u l a r m e n t e afetada p e l o r u i d o d e f u n d o
u m f e n ô m e n o c o n h e c i d o c o m o o "efeito de filtro interno". Esse de dispersão de luz. A d i s p e r s ã o d e Rayleigh é c o n t r o l a d a pela
é c o n s e q ü ê n c i a da perda d e i n t e n s i d a d e d e excitação e n q u a n t o utilização d e filtros de i n t e r f e r ê n c i a s de emissão e excitação b e m
a luz é absorvida p e l o f l u o r ó f o r o ao l o n g o da trajetória através definidos, por configurações apropriadas do m o n o c r o m a d o r e
da cubeta. Assim, q u a n d o o f l u o r ó f o r o se t o r n a mais concen- utilização d e polarizadores.
trado, a absorvância da i n t e n s i d a d e d e excitação a u m e n t a , assim A dispersão d e R a m a n o c o r r e com u m a l o n g a m e n t o d o com-
c o m o ocorre p e r d a de luz excitante e n q u a n t o essa passa através p r i m e n t o de o n d a . Este tipo d e dispersão d e luz é i n d e p e n d e n t e
da cubeta. Este efeito é mais f r e q ü e n t e e m i n s t r u m e n t o d e fluo- d o c o m p r i m e n t o de o n d a d e excitação e é p r o p r i e d a d e d o sol-
rescência c o m ângulo reto, o n d e as f e n d a s d e emissão são confi- vente. E m v i r t u d e de a dispersão d e R a m a n a c o n t e c e r e m com-
guradas p a r a m o n i t o r a r o c e n t r o da a m o s t r a , o n d e a a b s o r v â n c i a p r i m e n t o s d e o n d a s maiores q u e aqueles de radiação excitante,
da luz d e excitação é s u p e r i o r àquela da superfície f r o n t a l da e l i m i n a r essa i n t e r f e r ê n c i a é u m a tarefa difícíl q u a n d o se trabalha
cubeta. Assim, o efeito será m i n i m i z a d o se u m i n s t r u m e n t o d e c o m c o n c e n t r a ç õ e s m u i t o baixas d e f l u o r ó f o r o s .
fluorescência d e superfície f r o n t a l for utilizado. C o n t u d o , c o m o
a maioria das medições de fluorescência é Tealizada e m soluções Material da Cubeta e Efeitos do Solvente
m u i t o diluídas, esse efeito n ã o é u m p r o b l e m a . C e r t o s vidros de q u a r t z o e material plástico q u e c o n t ê m absor-
ventes de ultravioleta irão a p r e s e n t a r fluorescência. A l g u n s sol-
Atenuação de Concentração ventes c o m o o e t a n o l t a m b é m são c o n h e c i d o s p o r a p r e s e n t a r e m
O u t r o f e n ô m e n o relacionado, q u e resulta e m geração d e q u a n t i - apreciável fluorescência. Por isso, a o se desenvolver u m ensaio d e
d a d e d e energia q u â n t i c a i n f e r i o r ao esperado, é a atenuação de fluorescência é i m p o r t a n t e avaliar o r u i d o de f u n d o de todos os
concentração (do inglês ^uencfiing). Essa ocorre q u a n d o u m a macro- c o m p o n e n t e s da m i s t u r a de reação. Solventes de grau d e fluores-
molécula, c o m o u m a n t i c o r p o , é f o r t e m e n t e m a r c a d a p o r u m cência e cubetas c o m emissão d e fluorescência m í n i m a , q u e
f l u o r ó f o r o , c o m o isotiocianato de f l u o r e s c e í n a . Q u a n d o este m i n i m i z a m estes p r o b l e m a s , estão disponíveis c o m e r c i a l m e n t e .
c o m p o s t o é excitado, o m a r c a d o r de fluorescência está de tal
m o d o p r ó x i m o , q u e o c o r r e t r a n s f e r ê n c i a d e energia n ã o radioa- Efeitos da Matriz de Amostra
tiva. Assim, a fluorescência r e s u l t a n t e é m u i t o inferior à esperada A m o s t r a s d e soro o u u r i n a c o n t ê m m u i t o s c o m p o s t o s q u e apre-
p a r a a c o n c e n t r a ç ã o d o m a r c a d o r . Este é u m p r o b l e m a c o m u m s e n t a m fluorescência. Assim, a matriz de a m o s t r a é u m a f o n t e
e m citometria d e fluxo e fluorescência i n d u z i d a p o r laser, q u a n d o potencial d e r u i d o s d e f u n d o indesejáveis e deve ser e x a m i n a d a
Técnicas Ópticas CAPÍTULO 4 81

q u a n d o n o v o s m é t o d o s f o r e m desenvolvidos. Proteínas e bilirru- FOSFORIMETRIA


b i n a c o n t r i b u e m e m grau m a i s a c e n t u a d o para a p r o d u ç ã o de F o s f o r i m e t r i a é a m e d i ç ã o da f o s f o r e s c ê n c i a , u m tipo de l u m i -
f l u o r e s c ê n c i a i n d e s e j a d a . N o e n t a n t o , c o m o a excitação m á x i m a n e s c ê n c i a p r o d u z i d a p o r certas substâncias após a a b s o r ç ã o d e
d e p r o t e í n a o c o r r e n a região d o espectro d e 260 a 2 9 0 n m , a energia r a d i a n t e ou o u t r o s tipos d e energia. A fosforescência
c o n t r i b u i ç ã o dessa para o r u í d o de f u n d o d e f l u o r e s c ê n c i a global distingue-se da fluorescência n a m e d i d a e m q u e c o n t i n u a pre-
é m e n o r q u a n d o a excitação o c o r r e acima d e 3 0 0 n m . s e n t e m e s m o após o d e s a p a r e c i d o d a radiação. O t e m p o d e
A dispersão d e luz p o r p r o t e í n a s e o u t r a s m a c i o m o l é c u l a s da d e c a i m e n t o de emissão de luz d a fosforescência é mais l o n g o
matriz d e a m o s t r a é c o n h e c i d a c a u s a d o r a de r u í d o s de f u n d o d e (IO*4 a IO'2 s) q u e o t e m p o de d e c a i m e n t o d e emissão d a fluores-
f l u o r e s c ê n c i a indesejáveis. A m o s t r a s c o m c o n t e ú d o s lipídicos, cência. T e m p o s de d e c a i m e n t o são expressos e m intervalos de
p o r exemplo, são dispersores i n t e n s o s de luz, dessa m a n e i r a , várias o r d e n s d e grandeza e v a r i a m de a c o r d o c o m a m o l é c u l a e
q u a n d o u m n o v o m é t o d o for criado, a c o n t r i b u i ç ã o relativa d o s as características da solução. A fosforescência a p r e s e n t a m a i o r
lipídios p a r a o r u í d o d e f u n d o deve ser investigada. alteração n o c o m p r i m e n t o d e o n d a d a luz e m i t i d a q u e a fluores-
E m a d i ç ã o às i n t e r f e r ê n c i a s causadas p e l o r u í d o d e f u n d o , cência.
diluir soluções d e alguns f l u o r ó f o r o s n u m intervalo de c o n c e n -
tração d e IO"9 m o l / L o u i n f e r i o r leva, e n t r e o u t r a s reações, à
LUMINOMETRIA
absorção desses às p a r e d e s d e v i d r o das cubetas. A l é m disso, as A q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a , b i o l u m i n e s c ê n c i a e eletroquimiolumines-
soluções diluídas d e f l u o r ó f o r o s , excitados p o r l o n g o s p e r í o d o s cênáã são tipos de l u m i n e s c ê n c i a n o s quais o e v e n t o excitatório
de t e m p o , são sensíveis à f o t o d e c o m p o s i ç ã o pela excitação de luz é p r o v o c a d o p o r u m a reação q u í m i c a , b i o q u í m i c a ou eletroquí-
i n t e n s a . O p e r a c i o n a l m e n t e , estes p r o b l e m a s são evitados esco- mica, e n ã o p o r f o t o i l u m i n a ç ã o . I n s t r u m e n t o s para m e d i r esse
lhendo-se a d e q u a d a m e n t e o r e c i p i e n t e de reação, a d i c i o n a n d o - s e tipo de emissão de luz são c o n h e c i d o s , g e n e r i c a m e n t e , c o m o
agentes h u m e c t a n t e s e m i n i m i z a n d o - s e o t e m p o de exposição d a luminômetros.
a m o s t r a à luz de excitação.
Conceitos Básicos
Efeitos da Temperatura O e v e n t o físico emissão d e luz n a q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a , biolu-
A eficiência q u â n t i c a de f l u o r e s c ê n c i a de vários c o m p o s t o s é minescência e eletroquimioluminescência é semelhante àquele
sensível a f l u t u a ç õ e s d e t e m p e r a t u r a . P o r t a n t o , a t e m p e r a t u r a de d a fluorescência, n a m e d i d a e m q u e o c o r r e a partir de u m e s t a d o
reação deve ser r e g u l a d a c o m variação d e ± 0,1 ° C . E m geral, a excitado singleto, e a luz é e m i t i d a q u a n d o o e l é t r o n r e t o r n a ao
i n t e n s i d a d e de f l u o r e s c ê n c i a d i m i n u i c o m o a u m e n t o de tempe- estado fundamental.
r a t u r a e m cerca d e 1% a 5 % p o r grau Celsius. A l é m disso, a
conversão e x t e r n a o u supressão colisional (colíisionaí ^uenching) Quimioluminescência e Bioluminescência
d i m i n u i c o m o a u m e n t o de viscosidade, r e d u z i n d o assim a ate- A q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a é a e m i s s ã o d e luz q u a n d o u m e l é t r o n
n u a ç ã o d e f l u o r e s c ê n c i a . O p e r a c i o n a l m e n t e , a i n t e n s i d a d e de r e t o r n a de u m nível excitado o u s u p e r i o r de energia a u m nível
f l u o r e s c ê n c i a é, p o r t a n t o , r e f o r ç a d a p e l o a u m e n t o de viscosidade energético mais baixo. O e v e n t o excitatório é c a u s a d o p o r u m a
d e reação ou pela d i m i n u i ç ã o d e t e m p e r a t u r a d o solvente. O s reação q u í m i c a e envolve a oxidação de u m c o m p o s t o orgânico,
efeitos de t e m p e r a t u r a são m i n i m i z a d o s p e l o c o n t r o l e de tempe- c o m o l u m i n o l , i s o l u m i n o l , ésteres d e acridina o u luciferina, c o m
r a t u r a d e reação e p e l o p r é v i o equilíbrio d e t e m p e r a t u r a s de o auxílio d e u m oxidante, c o m o água oxigenada, h i p o c l o r i t o o u
a m o s t r a s o u reagentes, ou a m b o s , q u a n d o esses a p r e s e n t a r e m oxigênio. A luz é e m i t i d a a p a r t i r de u m p r o d u t o excitado,
t e m p e r a t u r a s inferiores à da reação. f o r m a d o pela reação d e oxidação. Estas reações o c o r r e m n a pre-
sença de catalisadores, tais c o m o enzimas [p. ex., fosfatase alca-
Fo todecomposição lina, peroxidase d o r á b a n o silvestre (raiz-forte) e microperoxi-
N a f l u o r i m e t r i a c o n v e n c i o n a l , a exposição de soluções fraca- dase], íons metálicos o u d e metais c o m p l e x o s {p. ex., c o m p l e x o
m e n t e f l u o r e s c e n t e s o u diluídas, a f o n t e d e excitação l u m i n o s a d e f t a l o c i a n i n a Cu 2 + e Fe 3+ ), e h e m i n a . 2 1 5
d e alta i n t e n s i d a d e p o d e levar à d e c o m p o s i ç ã o f o t o q u í m i c a d a A b i o l u m i n e s c ê n c i a é u m a f o r m a especial d e q u i m i o l u m i n e s -
substância ( f o t o c l a r e a m e n t o ) . cência e n c o n t r a d a e m sistemas biológicos. N a b i o l u m i n e s c ê n c i a ,
O s seguintes passos a j u d a m a m i n i m i z a r os efeitos de f o t o d e - u m a enzima ou u m a f o t o p r o t e í n a a u m e n t a a eficiência d a reação
composição: d e l u m i n e s c ê n c i a . A luciferase e a a q u o r i n a são dois exemplos
1. S e m p r e utilize c o m p r i m e n t o de o n d a d e excitação o mais desses catalisadores biológicos. O r e n d i m e n t o q u â n t i c o (p. ex., o
l o n g o possivel e q u e n ã o i n t r o d u z a efeitos de d i s p e r s ã o da total d e f ó t o n s e m i t i d o s p o r m o l é c u l a s reativas totais) é d e cerca
luz. d e 0,1% a 10% para q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a e de 10% a 3 0 % p a r a
2. D i m i n u a a d u r a ç ã o de excitação de amostra, m e d i n d o a a bioluminescência.
i n t e n s i d a d e de f l u o r e s c ê n c i a i m e d i a t a m e n t e após a excita- O s ensaios d e q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a são ultra-sensíveis (limites
ção. d e detecção de a t o m o l e a zeptomole), a p r e s e n t a n d o u m a faixa
3. Proteja d a luz a m b i e n t e as soluções instáveis, a r m a z e n a n d o - a s d i n â m i c a ampla. Eles são agora f r e q ü e n t e m e n t e utilizados e m
e m vidrarias escuras. i m u n o e n s a i o a u t o m a t i z a d o e e m ensaios e n v o l v e n d o s o n d a de
4. R e m o v a o oxigênio dissolvido da solução. D N A [p. ex., m a r c a d o r e s d e éster de acridina e acridina sulfa-
A l é m disso, f o n t e s de laser m u i t o intensas, c o m saída de m i d a , substratos d o 1,2-dioxetano, p a r a m a r c a d o r e s de fosfatase
energia s u p e r i o r a 5 a 10 m W , utilizadas n a citometria d e fluxo, alcalina, e a reação otimizada de l u m i n o l , para m a r c a d o r e s d e
microscopia de f l u o r e s c ê n c i a e f l u o r e s c ê n c i a i n d u z i d a p o r laser, peroxidase de r á b a n o silvestre (raiz-forte) ( C a p í t u l o 10)].
irão r a p i d a m e n t e d e c o m p o r algumas substâncias de f l u o r e s c ê n -
cia Esta d e c o m p o s i ç ã o i n t r o d u z curvas d e resposta n ã o lineares Eletroquimioluminescência
e a p e r d a d a m a i o r p a r t e d a f l u o r e s c ê n c i a da a m o s t r a . E n s a i o s A e l e t r o q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a difere d a q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a
de f l u o r e s c ê n c i a b a s e a d o s e m substâncias c o m c o n c e n t r a ç õ e s p o r q u e as espécies reativas q u e p r o d u z e m q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a
ultrabaixas exigem a otimização de i n t e n s i d a d e d e laser e a utili- são geradas e l e t r o q u u n i c a m e n t e , p o r p r e c u r s o r e s estáveis, n a
zação de u m d e t e c t o r sensível. superfície de u m eletrodo.' O q u e l a t o tris (bipiridil) r u t ê n i o
82 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

(Ru í+ ) é o marcador de eletroquimioluminescêncía mais comu- Tamanho da Partícula


mente utilizado e a eletroquimioluminescêncía é gerada, em u m A equação de dispersão de Rayleigh (11) aplica-se à dispersão de
eletrodo, a partir de u m tipo de reação de oxidação-redução com luz por pequenas partículas, com dimensões muito menores que
tripropilamina. Este quelato é muito estável e relativamente as do comprimento de onda da luz incidente (p. ex., t a m a n h o
pequeno e tem sido utilizado para marcar haprenos o u grandes das partículas inferior a X/ÍO). Q u a n d o as dimensões das partí-
moléculas (p. ex., proteínas ou oligonucleótidos). O processo de culas são muito menores que as d o comprimento de o n d a de luz
eletroquimioluminescêncía tem sido utilizado em ensaios imuno- incidente, cada partícula está sujeita, ao mesmo tempo, às foiças
lógicos e de ácidos nucléicos. A vantagem desse processo consiste de campo elétrico similares. As ondas reincidentes ou de luz
na preparação simples, na alta estabilidade dos reagentes e em dispersa de pequenas partículas estão em fase e reforçam-se mutu-
uma grande sensibilidade. A utilização desse processo propor- amente. A medida que as partículas se tornam maiores que o
ciona limites de detecção de 200 f m o l / L e uma escala dinâmica, c o m p r im e n to de onda da luz incidente, a luz irradiada já não
que se estende por seis ordens de magnitude. está em fase. O reforço da radiação ocorre em algumas direções
e a interferência destrutiva ocorre em outras. Os padrões de
Instrumentação dispersão dessas partículas maiores são característicos da forma
Os componentes básicos de u m luminômetro são (l) a célula de e do t a m a n h o da partícula.
amostra alojada em uma câmara protegida da luz, (2) u m sistema
paia injeção dos reagentes na célula de amostra e (3) o detec- Dependência do Comprimento de Onda da Luz
tor.2,13 O detecroT é n o r m a l m e n t e u m tubo fotomultiplicador. N o Dispersa
entanto, u m detector carregado acoplado (CCD), um filme de E m 1871, Lord Rayleigh desenvolveu a seguinte equação, que
raio X ou u m filme fotográfico foram utilizados para capturar a mostra a relação entre a intensidade (Is) da luz dispersa e a inten-
imagem bioluminescente ou de reações de quimioluminescência sidade (J0) da luz incidente:
realizada em m e m b r a n a ou em poços de microplaca. Para a ele-
troquimioluminescência, é incorporado u m eletrodo ao reci- I5 \6jT2aá.n2 6
piente de reação, o n d e a eletroquimioluminescêncía é gerada. (u)
i r AV
Limitações de Medidas de onde
Quimioluminescência, Bioluminescência e I, = intensidade da luz dispersa
Eletroquimioluminescêncía 10 = intensidade da luz excitante
Vazamentos e canalizações de luz e alta luminescência d e f u n d o s a = polarização de pequenas partículas
provenientes de ensaios e recipientes de reação (p. ex., tubos de 0 = ângulo de observação
plástico expostos à luz) são fatores comuns que degradam o X = comprimento de onda da luz incidente
desempenho analítico nas medições de luminescência. A natu- r = distância entre a luz dispersa e o detector
reza ultra-sensível de ensaios de quimioluminescência exige con-
troles rigorosos na pureza de reagentes e solventes (p. ex., a água) C o m o indicado, a intensidade da luz dispersa a u m e n t a com
utilizados para preparar soluções reagentes. A captação eficiente a quarta potência do comprimento de onda, q u a n d o o compri-
das emissões provenientes de reações que produzem clarão de luz m e n t o de onda da luz incidente é diminuído. Outra observação
requeT que o reagente desencadeador seja adicionado à reação útil sobre a equação (11) é o fato de que a intensidade da luz
por injeção e homogeinização adequadas. Os ensaios de biolumi- d i m i n u i com o quadrado da distância entre o r das partículas
nescência, quimioluminescência e eletroquimioluminescêncía dispersoras da luz e o detector. Assim, o detector deve ser locali-
apresentam alta linearidade, geralmente de várias ordens de gran- zado próximo à célula analítica, o que pode ser viabilizado pela
deza, mas a altíssima intensidade de emissão de luz levou à utili- combinação da célula e do detector ou pela utilização de b o m
zação de tubos fotomultiplicadores de pulsos em cadeia, ocasio- dispositivo óptico.
n a n d o uma grave subestimação da verdadeira intensidade da
emissão.
Fatores de Concentração e Massa Molecular na
NEFELOMETRIA E TURBIDIMETRIA Dispersão da Luz
A dispersão da luz é u m f e n ô m e n o físico resultante da interação A relação direta entre a luz dispersa e a concentração e massa mole-
da luz com partículas em solução. Nefelometria e t u r b i d i m e t r i a cular de partículas é derivada da equação (11), mostrando que:
são técnicas analíticas utilizadas para medir l m dispersa. Medi-
ções de luz dispersa são aplicadas a imunoensaios de proteínas 4íT2(cM /<£ ) 2 M c s i n 2 #
específicas e haptenos. As aplicações específicas são descritas nos <12)
Capítulos 10, 18 e 23. Io N.AV

Conceitos Básicos onde


A dispersão da luz ocorre q u a n d o a energia radiante atravessando 1 = a intensidade da luz dispersa por pequenas partículas
u m a solução colide elasticamente com u m a molécula, o que ío = a intensidade da luz excitante
resulta no espalhamento da luz por todas as direções. Ao contrá- dn/dc = a mudança n o índice de refração do solvente em relação
rio da emissão de fluorescência, o comprimento de onda da luz à mudança de concentração do soluto
dispersa é o mesmo que o da luz incidente M = massa molecular (g/mol)
Fatores que influenciam na dispersão da luz incluem (1) o c = concentração (g/mL) de partículas
efeito do t a m a n h o da partícula, (2) a dependência do compri- e = ângulo de observação
mento de onda, (3) a distância de observação, (4) o efeito de Nfl = n ú m e r o de Avogadro
polarização da luz incidente, (5) a concentração das partículas e X = c o m p r im e n to de onda da luz incidente
(6) a massa molecular das partículas. i = distância entre a luz dispersa e o detectot
Técnicas Ópticas CAPÍTULO 4 83

C o m o indicado n a e q u a ç ã o (12), n ã o exisre relaçao direta e n t r e a Dispersão de Rayleigh


luz dispersa e a c o n c e n tr a ç ã o e a massa m o l e c u l a r de partículas^. 90'

0 Efeito da Luz Polarizada na Dispersão da Luz


As e q u a ç õ e s (11) e (12) são f o r m a s d i f e r e n t e s d a expressão d e
Rayleigh aplicadas à dispersão da luz p o r p e q u e n a s partículas,
q u a n d o excitadas pela luz polarizada. A Figura 4-17, A m o s t r a o Luz
efeito d a luz polarizada e n ã o polarizada s o b r e a i n t e n s i d a d e d a incidente
luz dispersa p o r p e q u e n a s partículas, e m f u n ç ã o d o â n g u l o d e
dispersão. A c u r v a 2 m o s t r a u m d i a g r a m a d e i n t e n s i d a d e c o m
simetria esférica, c o m o previsto pela e q u a ç ã o (11). A curva 3 é o
diagrama r e s u l t a n t e d a i n t e n s i d a d e , q u a n d o as curvas 1 e 2 são
somadas e o d i a g r a m a d e i n t e n s i d a d e angulai d a dispersão o b t i d o
q u a n d o a luz n ã o polarizada excita p e q u e n a s partículas. A s curvas Dispersão para trás Dispersão para
1 e 2 r e p r e s e n t a m diagramas d e i n t e n s i d a d e d e c o m p o n e n t e s d a frente
luz polarizada vertical e h o r i z o n t a l m e n t e , c o n s i d e r a d a s c o m o luz
n ã o polarizada. A expressão da d i s p e r s ã o da luz de Rayleigh para Dispersor de Rayleigh-Debye
p e q u e n a s partículas excitadas p o r luz n ã o polarizada é d a d a pela 90'
e q u a ç ã o (13):

Is 27l2(ân/<k)7Mc(\ + cosÔ)
(13)
L ~ Í\LÃV
Luz incidente B

A Dependência Angular de Dispersão da Luz


A d e p e n d ê n c i a angular de d i s p e r s ã o de luz p o r p e q u e n a s partí-
Dispersão para frente
culas ( m e n o r q u e X./10) está r e p r e s e n t a d a p e l a Figura 4-17, A.
C o m o foi m o s t r a d o n a curva 3, a i n t e n s i d a d e d e lus dispersa p a r a Partícula >
f r e n t e e paTa trás (Io e m 0 o e 180°), a partir de p e q u e n a s partícu-
las excitadas p o r luz n ã o polarizada, é igual. C o n t u d o , a intensi-
Figura 4 - 1 7 A dependência angular da intensidade da luz dispersa
d a d e de dispersão d a luz e m 90° é m u i t o m e n o r . Q u a n d o as
com luz incidente não polarizada e polarizada para pequenas partículas
partículas se t o r n a m maiores (p. ex., superiores a À/10), a d e p e n -
(A) e a dependência angular da luz dispersa com luz não polarizada para
dência a n g u l a r de dispersão d a luz a s s u m e u m a relação assimé-
partículas maiores (B).
trica m o s t r a d a n a Figura 4-17, B. Nesta situação, as i n t e n s i d a d e s
de dispersão e m â n g u l o s p a r a f r e n t e e p a r a trás n ã o são iguais; a
i n t e n s i d a d e d e dispersão de â n g u l o p a r a f r e n t e é m u i t o maior.
A l é m disso, a i n t e n s i d a d e d e d i s p e r s ã o a 90° é m u i t o m e n o r d o
que a i n t e n s i d a d e d o â n g u l o para f r e n t e (0 o ). Q u a n d o as partí- onde
culas se t o r n a r e m a i n d a maiores, esta assimetria a u m e n t a r á a i n d a t - turbidez
mais. Esta assimetria e a m u d a n ç a n a d e p e n d ê n c i a angular de h = distância d a trajetória de luz i n c i d e n t e através d a solução de
e s p a l h a m e n t o d a luz c o m a m u d a n ç a d o t a m a n h o d e partículas partículas dispersoras da luz
são m u i t o úteis para a caracterização e d i f e r e n c i a ç ã o d e diversas I = i n t e n s i d a d e d a luz t r a n s m i t i d a
classes de m a c r o m o l é c u l a s e células. L - i n t e n s i d a d e d a luz i n c i d e n t e

Medidas de Luz Dispersa A t u r b i d i m e t r i a é utilizada p a r a m e d i r a i n t e n s i d a d e d a luz


A t u r b i d i m e t r i a e a n e f e l o m e t r i a são m é t o d o s utilizados para dispersa. F o t ô m e t r o s o u e s p e c t r o f o t â m e t r o s são f r e q ü e n t e m e n t e
m e d i r a luz dispersa. Eles se revelaram úteis p a r a a q u a n t i f i c a ç ã o utilizados c o m o t u r b í d í m e t r o s , u m a vez q u e m e d i d a s t u r b i d i m é -
de p r o t e í n a s séricas ( C a p í t u l o s 10 e 18). tricas são f a c i l m e n t e executáveis nesses e q u i p a m e n t o s , exigindo
p o u c a otimização. A p r i n c i p a l p r e o c u p a ç ã o r e l a c i o n a d a às
Turbidimetria m e d i d a s t u r b i d i m é t r i c a s é a relação e n t r e o sinal e r u í d o d e
A turbidez d i m i n u i a i n t e n s i d a d e d o feixe d e luz i n c i d e n t e , f u n d o . Sistemas f o t o m é t r i c o s c o m r u í d o e l e t r o ó p t i c o n o inter-
e n q u a n t o este passa p o r u m a solução c o n t e n d o partículas. A valo d e ± 0 , 0 0 0 2 u n i d a d e d e a b s o r v â n c i a o u inferiores são úteis
m e d i d a desta d i m i n u i ç ã o de i n t e n s i d a d e é c h a m a d a t u r b i d i m e - para m e d i ç õ e s de turbidez.
tria. A n á l o g a à espectroscopia de absorção, a t u r b i d e z é d e f i n i d a
como:

-bi
Nefelometria
1 = 4< (14) A n e f e l o m e t r i a é d e f i n i d a c o m o a detecção d e energia d a luz
dispersa o u refletida e m direção a u m detector q u e n ã o se e n c o n -
tra n a trajetória direta d a luz t r a n s m i t i d a . N e f e l ô m e t r o s c o m u -
m e n t e m e d e m luz dispersa e m â n g u l o reto e m relação à luz
ou
i n c i d e n t e . A l g u n s n e f e l ô m e t r o s são p r o j e t a d o s p a r a m e d i r a luz
dispersa e m ângulos d i f e r e n t e s de 90°, p a r a aproveitar o a u m e n t o
1, In k
t = — — (15) n a i n t e n s i d a d e p a r a f r e n t e causada pela dispersão d a luz p o r
b i partículas m a i o r e s (p. ex., complexos i m u n e s ) .
84 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

O s f l u o r í m e t r o s são f r e q ü e n t e m e n t e utilizados para executar razao d e referência t a m b é m estão b e m a p r o p r i a d o s às m e d i ç õ e s


medições nefelométricas. N o e n t a n t o , a d e p e n d ê n c i a a n g u l a r da nefelométricas.
i n t e n s i d a d e de dispersão r e s u l t o u n a c o n c e p ç ã o d e n e f e l ô m e t r o s
especiais. Nesses dispositivos o d e t e c t o r foto m u l t i p l i c a d o r é colo- Limitações das Medidas de Dispersão de Luz
c a d o e m ângulos a d e q u a d o s p a r a o feixe d e luz de excitação. O O excesso d e a n t í g e n o e efeitos d e matriz são limitações e n c o n -
p r i n c í p i o de d e s e n h o d e u m n e f e l õ m e t r o é s e m e l h a n t e àquele t r a d a s n a utilização d e t u r b i d í m e t r o s e n e f e l ô m e t r o s nas medi-
aplicado e m f l u o r e s c ê n c i a . A d i f e r e n ç a o p e r a c i o n a l p r i n c i p a l ções d e substâncias d e interesse clínico.
e n t r e u m f l u o r i m e t r o e u m n e f e l õ m e t r o é q u e os c o m p r i m e n t o s
de o n d a de excitação e detecção t ê m o m e s m o valor n o ú l t i m o . Excesso de Antígeno
As principais p r e o c u p a ç õ e s relativas à i n s t r u m e n t a ç ã o d e disper- A s reações antígeno-anticorpo são complexas e r e s u l t a m e m
são d a luz são (1) a i n t e n s i d a d e d e excitação, (2) o c o m p r i m e n t o mistura heterogênea d e t a m a n h o s d e agregados. C o m o a turbidez
de o n d a , (3) a distância e n t r e o d e t e c t o r e a c u b e t a de a m o s t r a e a u m e n t a d u r a n t e a adição de a n t i c o r p o s ao a n t í g e n o , o sinal
(4) a m i n i m i z a ç ã o d a luz parasita externa. C o m o m o s t r a d o n a a u m e n t a para u m valor m á x i m o e depois d i m i n u i . O p o n t o e m
Figura 4-18, os c o m p o n e n t e s básicos de u m n e f e l õ m e t r o i n c l u e m q u e a d i m i n u i ç ã o começa m a r c a o início da fase d e excesso d e
(1) f o n t e de lu2, (2) c o l i m a d o r óptico, (3) célula de a m o s t r a e (4) antígeno; este f e n ô m e n o é explicado n o C a p í t u l o 10. C o n s e q ü e n -
sistema óptico, q u e inclui u m d i s p e r s o i óptico, filtro óptico p a i a t e m e n t e , os m é t o d o s de q u a n t i f i c a ç ã o d e dispersão d e luz e m
o detector e u m detector. O d e s e n h o e s q u e m á t i c o t a m b é m reações antígeno-anticorpo f o r n e c e m u m m é t o d o de detecção d e
m o s t r a os diferentes ângulos de feixe de luz i n c i d e n t e , e m q u e o excesso d e a n t í g e n o . As cinéticas d e f o r m a ç ã o de complexos
detector, o filtro e d e m a i s dispositivos ópticos são o r i e n t a d o s para i m u n e s m e d i d a s p o r nefelometria ou t u r b i d i m e t r i a são suficien-
m e d i r a dispersão d a luz. N a Figura 4-18, a é o a r r a n j o linear d a t e m e n t e diferentes nas três fases — excesso de a n t i c o r p o , equiva-
t u r b i d i m e t r i a , e n q u a n t o b e c são a r r a n j o s f r e q ü e n t e m e n t e e n c o n - lência e excesso d e antígeno — , e algoritmos desenvolvidos e m
trados e m n e f e l ô m e t r o s . A disposição d o detector m o s t r a d o n a c o m p u t a d o r sinalizam o excesso de a n t í g e n o a u t o m a t i c a m e n t e . 1 2
Figura 4-18, b se aplica a m e d i d a s d e dispersão para f r e n t e a 30°,
a r r a n j o óptico utilizado e m alguns n e f e l ô m e t r o s comerciais. Efeitos de Matriz
E m t e r m o s o p e r a c i o n a i s , os c o m p o n e n t e s ópticos utilizados Partículas, solvente e todas as m a c r o moléculas d o s o r o d i s p e r s a m
e m t u r b i d í m e t r o s e n e f e l ô m e t r o s são s e m e l h a n t e s àqueles utiliza- a luz. L i p o p r o t e í n a s e q u i l o m í c r c n s e m s o r o lipêmico f o r n e c e m
d o s e m f l u o r í m e t r o s ou f o t ô m e t r o s . Por exemplo, as fontes lumi- os r u í d o s de f u n d o mais i n t e n s o s n a t u r b i d e z o u n e f e l o m e t r i a .
nosas c o m u m e n t e utilizadas são l â m p a d a s de q u a r t z o h a l o g ê n i o Para diluições a d e q u a d a s , a i n t e n s i d a d e relativa d e dispersão d e
d e x e n ô n i o e laser. Laser He-Ne, q u e o p e r a m e m 633 n m , t ê m luz e m u m a a m o s t r a lipêmica é i n f e r i o r a d o b r a n c o . N o e n t a n t o ,
sido t r a d i c i o n a l m e n t e aplicados e m dispersão d a luz, tais c o m o e n q u a n t o a c o n c e n t r a ç ã o d o a n t í g e n o n o soro d i m i n u i e, conse-
i m u n o e n s a i o s n e f e l o m é t r i c o s e d e t e r m i n a ç õ e s de t a m a n h o e q ü e n t e m e n t e , amostras m e n o s d i l u í d a s são utilizadas, a interfe-
f o r m a de partículas. O raio laser é utilizado e s p e c i f i c a m e n t e e m r ê n c i a d o r u í d o d e f u n d o de u m a a m o s t r a lipêmica torna-se
alguns n e f e l ô m e t r o s e m f u n ç ã o da elevada i n t e n s i d a d e ; e m maior. U m m é t o d o eficaz para m i n i m i z a r este c e n á r i o de inter-
adição, a natureza c o e r e n t e da luz d e Liser é i d e a l m e n t e a d e q u a d a ferência é a utilização d e taxas d e medições, o n d e o b r a n c o inicial
para aplicações n e f e l o m é t r i c a s . A l é m disso, os f l u o r í m e t r o s d e é eliminado.

Figura 4 - 1 8 Diagrama esquemático de


instrumentação da dispersão da luz mostrando a,
posição do dispositivo óptico para turbidimetro; b,
(a) = Turbidímetra 0 o
(b) = Nefelâmelro de posição do dispositivo óptico para nefelõmetro de
dispersão para dispersão para trás e c, posição do dispositivo óptico
frente 30° para nefelõmetro de ângulo reto.
(c) = Nefelõmetro 90G
Técnicas Ópticas CAPÍTULO 4 85

Partículas grandes, c o m o p o e i r a suspensa, t a m b é m c a u s a m 7. Jolley ME, Stroupe SD, Schwenzer KS, et al. Fluorescence
i n t e r f e r ê n c i a significativa n o r u í d o de f u n d o . Esta i n t e r f e r ê n c i a polarization immunoassay. III. An automated system for therapeutic
é c o n t r o l a d a pela filtração prévia de todos os t a m p õ e s e s o r o drug determination. Clin Chem 1981;27:1575-9.
diluído. 8. Patrick CW. Clinicai flow cytometry. MLO 2002;34:10-16.
9. Shapiro HM. Piacrical flow cytometry, 4th ed. Hoboken, NJ: John
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CAPÍTULO O

Eletroquímica e
Sensores Químicos*
Paul DJOrazio, Ph.D., e Mark E. Meyerhoff, Ph.D.

OBJETIVOS C o u l o m e t r i a : U m processo e l e t r o q u í m i c o n o q u a l a
1. Definir eletroquímica e desenhar uma célula eletroquímica. q u a n t i d a d e t o t a l d e eletricidade (ou seja, carga = c o r r e n t e X
2. Definir potencial e descrever o princípio da potenciometria e a sua t e m p o ) necessária p a r a eletrolisar u m a espécie eletroativa
específica é m e d i d a e m soluções s o b agitação e e m
utilização em laboratório.
c o n d i ç õ e s de p o t e n c i a l c o n t r o l a d o ou c o r r e n t e c o n s t a n t e .
3. Listar quatro tipos de eletrodos potenciométricos disponíveis para a
E l e t r o d o : U m c o n d u t o r através d o q u a l a c o r r e n t e elétrica
utilização laboratorial.
e n t r a o u sai de u m a região n ã o metálica de u m circuito. O s
4. Descrever os princípios de amperometria e coulometria e listar as
eletrodos i n d i c a d o r , de t r a b a l h o e d e referência são
utilizações de cada técnica em laboratório clínico.
utilizados c o m p r o p ó s i t o s eletroanalíticos. U m e l e t r o d o
5. Definir biossensor e fornecer exemplos de biossensores
i n d i c a d o r , utilizado e m p o t e n c i o m e t r i a , p r o d u z u m
configurados para a utilização clínica. p o t e n c i a l representativo d a espécie a ser m e d i d a . U m
6. Definir optodo e fornecer exemplas de optodos configurados para a e l e t r o d o d e t r a b a l h o é utilizado e m células eletrolíticas o n d e
utilização clínica. o c o r r e a reação d e interesse. U m eletrodo de referência,
o n d e n ã o é p e r m i t i d o u m f l u x o apreciável de c o r r e n t e , é
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES utilizado p a r a observar o u c o n t r o l a r o p o t e n c i a l dos
eletrodos i n d i c a d o r ou d e t r a b a l h o , respectivamente. E m
A m p e r o m e t r i a : U m processo e l e t r o q u í m i c a e m q u e a c o r r e n t e
certos tipos d e células, u m e l e t r o d o c o n t a d o r o u auxiliar é
é d e t e r m i n a d a e m d i f e r e n ç a d e p o t e n c i a l fixo ( c o n t r o l a d o )
utilizado para t r a n s p o r t a r a c o r r e n t e q u e passa através d o
e n t r e os e le tr o d o s d e t r a b a l h o e d e referência e m u m a
e l e t r o d o d e trabalho.
célula e l e t r o q u i m i c a .
Eletrodo de M e m b r a n a de V i d r o : U m eletrodo contendo u m a
Biossensor: U m tipo especial d e sensor, n o qual u m
fina m e m b r a n a de vidro (geralmente em forma de u m
c o m p o n e n t e b i o l ó g i c o / b i o q u í m i c o , capaz d e interagir c o m o
b u l b o n o f i n a l d e u m t u b o d e vidro) c o m o e l e m e n t o
analito e p r o d u z i r u m sinal p r o p o r c i o n a l à c o n c e n t r a ç ã o d o
sensor. É a m p l a m e n t e utilizado c o m o e l e t r o d o d e p H , m a s
analito, é imobilizado n a superfície d o eletrodo, ou e m
algumas c o m p o s i ç õ e s de v i d r o são sensíveis a c o n c e n t r a ç õ e s
p r o x i m i d a d e a ela. A interação entre o b i o c o m p o n e n t e e o
de cátions, c o m o o s ó d i o .
analito é u m a reação b i o q u í m i c a (p. ex., enzimas) ou u m
E l e t r o d o s Seletivos d e í o n s (ISEs): U m tipo de e l e t r o d o
processo de ligação (p. ex., anticorpos), que é p e r c e b i d o pelo
p o t e n c i o m é t r i c o c o m f i n a l i d a d e s especiais, c o n s t i t u í d o de
t r a n s d u t o r eletioquímico.
u m a m e m b r a n a seletivamente permeável a u m a única
C é l u l a E l e t r o q u í m i c a : U m dispositivo e l e t r o q u í m i c o q u e
espécie iônica. O p o t e n c i a l p r o d u z i d o n a i n t e r f a c e e n t r e a
p r o d u z u m a força eletromotiva. C é l u l a s galvânicas e
m e m b r a n a e a solução de a m o s t r a é p r o p o r c i o n a l ao
eletrolíticas s ã o classes d e células e l e t r o q u í m i c a s .
l o g a r i t m o d a c o n c e n t r a ç ã o o u atividade iônica.
C é l u l a E l e t r o q u í m i c a E l e t r o l í t k a : U m t i p o d e célula
Equação de N e r n s t : Equação n o m e a d a em h o m e n a g e m a
e l e t r o q u í m i c a e m q u e o c o r r e m reações q u í m i c a s pela
W a l t h e r H . N e r n s t , q u e c o r r e l a c i o n o u energia q u í m i c a e
aplicação de u m a diferença de p o t e n c i a l e x t e r n o . Este t i p o
p o t e n c i a l elétrico de u m a célula o u p i l h a galvânica.
d e célula f o r m a a base p a r a técnicas eletroanalíticas
O p t o d o : O o p t o d o é u m sensor óptico que mede opticamente
amperométricas, condutimétricas, coulométricas e
substâncias específicas, c o m o p H , gases sanguíneos e eletrólitos.
voltamétricas.
P o t e n c i o m e t r i a : U m processo e l e t r o q u í m i c o n o q u a l a
C é l u l a E l e t r o q u í m i c a G a l v â n i c a : U m t i p o d e célula
diferença d e p o t e n c i a l e n t r e u m e l e t r o d o i n d i c a d o r e u m
eletroquímica que opera espontaneamente e produz u m a
e l e t r o d o d e referência (ou s e g u n d o e l e t r o d o i n d i c a d o r ) é
d i f e r e n ç a de p o t e n c i a l {força eletromotiva) pela conversão
medida e n q u a n t o não é permitido fluxo de corrente na
d e energia q u í m i c a e m elétrica. Estas células f o r m a m a base
célula eletroquímica.
para técnicas eletroanalíticas p o t e n c i o m é t r i c a s .
V o l t a m e t r i a : U m processo e l e t r o q u í m i c o q u e envolve a m e d i d a
C o n d u t o m e t r i a : U m processo e l e t r o q u í m i c o utilizado p a r a
d e c o r r e n t e d a célula c o m o u m a f u n ç ã o de potenci al ,
m e d i r a c a p a c i d a d e d e u m a solução d e eletrólito e m
q u a n d o o p o t e n c i a l d o e l e t r o d o d e t r a b a l h o versus o
t r a n s p o r t a r u m a c o r r e n t e elétrica pela migração de í o n s e m
e l e t r o d o de referência varia e m f u n ç ã o d o t e m p o .
u m g r a d i e n t e de c a m p o potencial. U m p o t e n c i a l a l t e r n a d o é

D
aplicado e n t r e dois eletrodos e m u m a célula d e d i m e n s õ e s
definidas. iversos m é t o d o s analíticos utilizados n o l a b o r a t ó r i o
clínico baseiam-se e m m e d i d a s eletroquímicas. N e s t e
capítulo, os princípios e l e t r o q u í m i c o s f u n d a m e n t a i s d e
(1) p o t e n c i o m e t r i a , (2) v o l t a m e t r i a / a m p e r o m e t r i a , (3) c o n d u t o -
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias dos Drs. Richard metria e (4) c o u l o m e t r i a s e r ã o r e s u m i d o s , e as aplicações clínicas,
A. Dutst e Ole Siggard-Andersen, nas quais se baseiam partes deste capítulo. apresentadas. O p t o d o s e b i o s s e n s o r e s t a m b é m são discutidos.

87
88 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

POTENCIOMETRIA absoluta d o s g r a d i e n t e s d e p o t e n c i a l individuais e n t r e as fases, é


Sensores p o t e n c i o métricos são a m p l a m e n t e utilizados n a clínica d e s c o n h e c i d o e n ã o p o d e ser m e d i d o . A p e n a s as diferenças de
p a r a m e d i r p H , P C 0 2 e eletrólitos (Na*, K \ C l , Ca 2 ", Mg 2 * e Li+) potencial e n t r e dois eletrodos (semicélulas) são m e d i d a s . O s gra-
e m s a n g u e total, soro, p l a s m a e u r i n a e c o m o t r a n s d u t o r e s para d i e n t e s d e p o t e n c i a l f o r a m classificados c o m o (1) potenciais d e
o d e s e n v o l v i m e n t o de biossensores d e metabólitos de interesse redox, (2) potenciais de m e m b r a n a o u (3) potenciais de d i f u s ã o .
clínico. G e r a l m e n t e , é possível c o n c e b e r u m a célula d e tal f o r m a q u e
todos os gradientes d e potencial, exceto u m , sejam c o n s t a n t e s .
Conceitos Básicos Esse p o t e n c i a l é e n t ã o r e l a c i o n a d o c o m a atividade d e u m deter-
P o t e n c i o m e t r i a é a m e d i d a de d i f e r e n ç a d e p o t e n c i a l elétrico m i n a d o í o n d e interesse (p. ex., H* o u Na*).
e n t r e dois eletrodos (semicélulas), e m u m a célula e l e t r o q u í m i c a
(Figura 5 4 ) . Este t i p o de célula e l e t r o q u í m i c a galvânica consiste
e m dois eletrodos (elétron o u c o n d u t o r e s metálicos), q u e estão Tipos de Eletrodos
c o n e c t a d o s p o r u m a s o l u ç ã o eletrolítica q u e c o n d u z íons. U m M u i t o s t i p o s diferentes d e eletrodos p o t e n c i o m é t r i c o s são utili-
eletrodo, o u semicélula, consiste e m u m ú n i c o c o n d u t o r metálico, zados e m aplicações clínicas. Esses i n c l u e m (1) redox, (2) m e m -
q u e está e m c o n t a t o c o m u m a solução d e eletrólito. O s c o n d u - b r a n a seletiva paTa í o n (vidro e polímero) e (3) eletrodos d e
tores d e í o n consistem e m u m a o u mais fases q u e estão e m PC02.
c o n t a t o direto u n s c o m os o u t r o s o u separados p o r m e m b r a n a s
permeáveis u n i c a m e n t e a ânions o u cátions específicos (Figura 5 -1).
U m a das soluções d e eletrólito é a a m o s t r a c o n t e n d o o(s) analito Eletrodos Redox
(s) a ser medido(s). Esta s o l u ç ã o p o d e ser substituída p o r u m a Potenciais redox são os resultados d o equilíbrio q u í m i c o envol-
solução de referência a d e q u a d a p a r a f i n s d e calibração. Por con- v e n d o reações d e transferência d e elétrons:
venção, a n o t a ç ã o d e célula é m o s t r a d a de m a n e i r a q u e o eletrodo
e s q u e r d o ( M j é o e l e t r o d o d e referência; o eletrodo direito (M R )
é o eletrodo indicador (medida) (ver mais a d i a n t e a e q u a ç ã o 3). 3
F o r m a oxidada (Ox) + n e F o r m a Reduzida (Red) (1)
A força eleiromotiva (E o u EMF) é d e f i n i d a c o m o a diferença
m á x i m a de potencial entre dois eletrodos (direito m e n o s esquerdo),
o n d e n r e p r e s e n t a o n ú m e r o d e elétrons envolvidos na reação.
o b t i d a q u a n d o a corrente d a célula é zero. O potencial da célula
Q u a l q u e r substância q u e aceita elétrons é oxidante (Ox) e qual-
é m e d i d o através de potenciómetros, d e n t r e os quais o p H m e t r o
q u e r substância q u e d o a elétrons é redutora (Red). As d u a s formas,
c o m u m é u m t i p o especial. O potenciâmetro de leitura direta é u m
O x e Red, r e p r e s e n t a m u m p a r redox (par c o n j u g a d o d e redox).
voltímetro q u e m e d e o potencial através da célula (entre os dois
N o r m a l m e n t e , processos d e iedox h o m o g ê n e o s a c o n t e c e m
eletrodos); e n t r e t a n t o , para a o b t e n ç ã o d e u m a m e d i d a exata d o
apenas e n t r e dois pares redox. Nesses casos, os elétrons são trans-
potencial é necessário q u e o f l u x o de c o r r e n t e através da célula
feridos d e u m r e d u t o r (Redi) para u m o x i d a n t e (OX 2 ). N e s t e
seja zero. Isso é realizado pela i n c o r p o r a ç ã o d e u m a alta resistên-
processo, R e d i é o x i d a d o p a r a o c o n j u g a d o c o r r e s p o n d e n t e Ox!,
cia ao voltímetro (impedância d e e n t r a d a > IO12 £2). O s potenció-
e n q u a n t o OX 2 é r e d u z i d o para R e d i :
metros d e leitura direta m o d e r n o s são acurados e f o r a m modifi-
cados para exibir imagem digital direta o u impressas.
D e n t r o de q u a l q u e r fase c o n d u t o r a , d e s d e q u e o f l u x o d e Red] + 0 x 2 <—-> O x , + R e d 2 (2)
c o r r e n t e seja zero, o p o t e n c i a l é c o n s t a n t e . N o e n t a n t o , u m a
diferença de potencial surge entre d u a s fases distintas e m c o n t a t o E m u m a célula eletroquímica, elétrons p o d e m ser aceitos a p a r t i r
u m a c o m a o u t r a . O p o t e n c i a l global de u m a célula e l e t r o q u í m i c a de, o u d o a d o s a u m c o n d u t o r metálico i n e r t e (p. ex., platina).
é a s o m a d e todas as diferenças d e p o t e n c i a l existentes e n t r e as U m processo d e r e d u ç ã o t e n d e a carregar o e l e t r o d o positiva-
fases adjacentes da célula. E n t r e t a n t o , o potencial de u m ú n i c o m e n t e (remover elétrons) e u m processo d e oxidação t e n d e a
eletrodo, c o m relação ao eletrólito c i r c u n d a n t e e a m a g n i t u d e carregar o eletrodo n e g a t i v a m e n t e (adicionar elétrons). Por con-
venção, u m equilíbrio r e d o x h e t e r o g ê n e o (equação 2) é represen-
t a d o pela célula:
Voltímetro de alta
impedância de entrada

ML| R e d , — 0 x ^ : 0 x 2 - R e d 2 | M, (3)

U m p o t e n c i a l positivo (E > 0) para esta célula significa que a


reação da célula a c o n t e c e e s p o n t a n e a m e n t e da e s q u e r d a p a r a a
direita; E < 0 significa q u e a reação p r o c e d e da direita para a
Ag/Ag Cl
Ag/AgCI esquerda, e E = 0 indica q u e os dois pares Tedox estão e m equi-
Eletrólito líbrio m ú t u o .
interno O potencial do eletrodo (potencial de redução) para u m p a r
r e d o x é d e f i n i d o c o m o o p o t e n c i a l d o par m e d i d o e m relação ao
Membrana eletrodo-padrão de h i d r o g ê n i o , q u e é a j u s t a d o p a r a zero (ver
seletiva para íon eletrodo d e h i d r o g ê n i o p o s t e r i o r m e n t e ) . Este potencial, p o r con-
venção, é a força eletromotiva de u m a célula, o n d e o eletrodo-
p a d r ã o d e h i d r o g ê n i o é o e l e t r o d o de referência (eletrodo
esquerdo) e u m a dada semicélula é o eletrodo i n d i c a d o r (eletrodo
Figura 5 - 1 Diagrama de eletrodo de membrana seletiva para Ion direito). O p o t e n c i a l d e r e d u ç ã o de u m d e t e r m i n a d o par redox
baseado em célula potenciomctrica. é d a d o pela e q u a ç ã o d e N e r n s t :
Eletroquímica e S e n s o r e s Químicos CAPÍTULO 5 89

3 0 , 0 5 9 2 V
Eletrodos de Metal que Participam em Reações Redox
E = E -—x l o g ^ - = E°- x l o g ^ - Í4)
O e l e t r o d o de cloreto prata-prata é u m exemplo de e l e t r o d o d e
» «:>, » «o*
m e t a l d o s e g u n d o t i p o q u e p a r t i c i p a c o m o m e m b r o de u m par
Tedox. O e l e t r o d o d e cloreto prata-prata é c o n s t i t u í d o p o r u m fio
onde
de p r a t a ou haste revestida c o m AgCI(6Ó],a0), q u e está i m e r s o e m
E = p o t e n c i a l d o e l e t r o d o da sernicélula
u m a s o l u ç ã o de cloreto d e atividade c o n s t a n t e ; isso d e f i n e o
E° = potencial d o eletrodo-padrão q u a n d o a^d/aox = 1
p o t e n c i a l da sernicélula. O e l e t r o d o d e A g / A g C l é, p o r si só,
n = n ú m e r o d e elétrons envolvidos na reação de r e d u ç ã o
c o n s i d e r a d o u m eletrodo p o t e n c i o m é t r i c o p o r q u e o p o t e n c i a l d e
N = (R x T x l n 1 0 ) / F (fator d e N e r n s t , se n = 1)
f r o n t e i r a d e fase é g o v e r n a d o p o r u m a reação d e equilíbrio d e
N = 0 , 0 5 9 2 V, se T = 2 9 8 , 1 5 K (25 °C)
t r a n s f e r ê n c i a de elétrons p o r oxidação-redução q u e o c o r r e na
N - 0,0615 V, se T = 310,15 K (37 °C)
s u p e r f í c i e da p r a t a :
R = c o n s t a n t e d o s gases (= 8,31431 Joules X K 1 x mol" 1 )
T = t e m p e r a t u r a a b s o l u t a ( u n i d a d e : K, Kelvin)
A g C Í(5(lii[íj + e < > A g(soM) + C í (8)
F = c o n s t a n t e d e Faraday (= 9 6 . 4 8 7 C o u l o m b s X mol' 1 )
ln 10 = l o g a r i t m o n a t u r a l d e 10 = 2 , 3 0 3
a = atividade A e q u a ç a o de N e r n s t para o p o t e n c i a l de sernicélula de r e f e r ê n c i a
ü RejJ /«q, = p r o d u t o d e ação das massas p a t a a reação de r e d u ç ã o e m u m e l e t r o d o de referência de A g / A g C l t a m b é m é escrito
como;
O s eletrodos d e r e d o x e m utilização a t u a l m e n t e são (1) eletrodos
metálicos inertes i m e r s o s e m soluções c o n t e n d o pares r e d o x ou
RT MgCI
(2) eletrodos metálicos cujos metais f u n c i o n a m c o m o m e m b r o =
E w i ^Ag/AgCl + ~ r T X
(9)
d o par redox. nr a .«ac. r

Eletrodos de Metais Inertes D e s d e que A g C l e A g são a m b o s sólidos, as atividades desses


Platina e ouro são e x e m p l o s de m e t a i s inertes utilizados para são iguais à u n i d a d e (fl/^ci = a°Ai, = 1). P o r t a n t o , a p a r t i r d e
registrar o p o t e n c i a l r e d o x de u m par r e d o x dissolvido n u m a e q u a ç ã o 9 o potencial d e sernicélula é c o n t r o l a d o pela atividade
solução eletrolítica. O eletrodo de hidrogênio é u m e l e t r o d o r e d o x d o í o n cloreto n a solução ( a ^ ) e m c o n t a t o c o m o e l e t r o d o .
especial p a r a m e d i r p H . Esse consiste e m u m eletrodo d e platina O e l e t r o d o d e A g / A g C l é utilizado t a n t o c o m o u m e l e m e n t o
o u o u r o revestido e l e t r o l i t i c a m e n t e (platinizado) c o m platina alta- d e r e f e r ê n c i a i n t e r n a e m eletrodos p o t e n c i o m é t r i c o s específicos
m e n t e p o r o s a (platina preta) para catalisar a reação eletrodo. para í o n s (ISEs) q u a n t o u m a sernicélula externa d e e l e t r o d o d e
referência com p o t e n c i a l c o n s t a n t e , necessário p a r a c o m p l e t a r
u m a célula p o t e n c i o m é t r i c a (Figura 5-1). E m a m b o s os casos, o
H + + e <- -»^H2 (5) e l e t r o d o de A g / A g C l deve estar e m equilíbrio c o m u m a s o l u ç ã o
c o m atividade d o í o n cloreto c o n s t a n t e .
O e l e m e n t o A g / A g C l da sernicélula externa d o e l e t r o d o d e
referência está e m c o n t a t o c o m u m a solução a l t a m e n t e c o n c e n -
O potencial d e e l e t r o d o é d a d o p o r t r a d a d e u m sal de cloreto solúvel. C l o r e t o d e potássio s a t u r a d o
é c o m u m e n t e utilizado. U m a m e m b r a n a porosa o u frita é fre-
1/2 q ü e n t e m e n t e utilizada p a r a separar KC1 c o n c e n t r a d o da s o l u ç ã o
Í/H,)
E = E ° - N xlog de a m o s t r a . A frita serve t a n t o c o m o u m a barreira física p a i a
(6)
m a n t e r a concentração d o eletrólito n o interior d o eletrodo q u a n t o
u m a barreira de d i f u s ã o para prevenir o contato de proteínas e d e
outras espécies da amostra c o m o e l e m e n t o A g / A g C l i n t e r n o , q u e
ou p o d e r i a m c o r r o m p e r e alterar o potencial desse último. A interface
entre dois eletrólitos diferentes (KC1 c o n c e n t r a d o / c a l i b r a d o r ou
amostra) ocorre d e n t r o da frita e Tesulfca n o potencial d e j u n ç ã o
E= F-NxllogtiJ^-loga ] (7) líquido-líquido (Ej), u m a f o n t e d e erro e m medidas potenciométri-
cas. A diferença d e potencial d e j u n ç ã o líquido-líquido e n t r e u m
onde calibrador e u m a amostra (potencial d e junção líquida residual), é
E° = 0 e m t o d a s as t e m p e r a t u r a s (por convenção) responsável p o r esse erro, que é m i n i m i z a d o e geralmente negli-
genciado na prática se as composições das soluções de calibração
Íhz = f u g a c i d a d e d o gás h i d r o g ê n i o
ÍÍH-t = atividade d o s íons h i d r o g ê n i o apresentam composição o mais p r ó x i m a possível da amostra, com
- log = log negativo da atividade ET (f«zH+ o u p H ) respeito ao c o n t e ú d o iônico e à força iônica. E m adição, u m ele-
trólito equitransferente* c o m c o n c e n t r a ç ã o tão elevada q u a n t o a
Q u a n d o a pressão parcial de h i d r o g ê n i o (PH 2 ) da solução (e, c o n c e n t r a ç ã o d o eletrólito de referência contribui para m i n i m i z a r
c o n s e q ü e n t e m e n t e , fn2) é m a n t i d a c o n s t a n t e , p e l o b o r b u l h a - o potencial de junção líquida residual. O cloreto de potássio n u m a
m e n t o d e h i d r o g ê n i o n a solução, o p o t e n c i a l é u m a f u n ç ã o linear c o n c e n t r a ç ã o > 2 m o l / L é mais a p r o p r i a d o .
d o log flH+, q u e é e q u i v a l e n t e a o p H da solução. E m u m eletrodo- A presença d e eritrócitos n a a m o s t r a t a m b é m p o d e afetar a
padrão de hidrogênio (SHE), o eletrólito consiste e m solução aquosa m a g n i t u d e d e p o t e n c i a l d e j u n ç ã o d e líquida residual de m a n e i r a
de cloreto de h i d r o g ê n i o c o m u m a aHci igual a 1,000 (ou CHa = m e n o s previsível. Por exemplo, estima-se q u e eritrócitos e m
1,2 m o l / L ) , e m e q u i l í b r i o c o m u m a fase gasosa e c o m igual a h e m a t ó c r i t o n o r m a l p r o d u z e m cerca d e 1,8 m m o l / L d e erro
1,000 (ou PH 2 = 101,3 k P a = 1 atm). U m S H E t a m b é m é utilizado *Uma solução é equitransferente se os íons têm a mesma mobilidade.
c o m o e l e t r o d o de referência. * Matéria-prima utilizada na fabricação da porcelana.
90 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

positivo na m e d i d a d e s ó d i o p o r ISEs, q u a n d o é utilizada u m a V a r i a n d o a c o m p o s i ç ã o de vidro, eletrodos seletivos p a r a H + , Na 1 ,


j u n ç ã o líquido-líquido aberta, irrestrita. 5 Esta t e n d ê n c i a p o d e sei K \ L f , Rb*, C s \ A g ' , T T e N H 4 + f o r a m p r o d u z i d o s . N o e n t a n t o ,
minimizada se u m a m e m b r a n a restritiva o u frita é utilizada para eletrodos de vidro p a r a H + e Na + são h n j e os ú n i c o s tipos q u e
m o d i f i c a r a j u n ç ã o líquido-líquido. a p r e s e n t a m seletividade suficiente p a r a evitai interferência d e
O eletrodo de cflíomelano consiste em m e r c ú r i o c o b e r t o p o r o u t r o s íons e p e r m i t i r a aplicação prática e m q u í m i c a clínica.
u m a c a m a d a de c a l o m e l a n o (Hg 2 CI z ), q u e está em c o n t a t o c o m U m a f o r m u l a ç ã o típica d e vidro seletiva p a r a bT é: 7 2 % S i 0 2 ;
u m a solução de eletrólito c o n t e n d o Cl~. Eletrodos d e c a l o m e l a n o 2 2 % N a 2 0 ; 6 % C a O , q u e tem u m a o r d e m de seletividade H*
são f r e q ü e n t e m e n t e utilizados c o m o e l e t r o d o d e referências para » > Na*> IO. Esta m e m b r a n a de vidro t e m seletividade suficiente
m e d i d a s d e p H utilizando eletrodos d e vidro. para H + s o b r e o Na + , p e r m i t i n d o m e d i d a s d e p H n o intervalo de
7,0 a 8,0 ([H + ] = IO"7 a IO"8 m o l / L ) n a p r e s e n ç a d e > 0,l m o l / L
d e Na +1 livres d e erro. A l t e r a n d o ligeiramente a f o r m u l a ç ã o da
Eletrodos Seietivos para íons m e m b r a n a de vidro para: 71% S i 0 2 ; 11% N a 2 0 ; 18% Á l z 0 3 a
O s potenciais d e m e m b r a n a são gerados pela p e r m e a b i l i d a d e de o r d e m de seletividade torna-se H + > Na + > K + e a preferência d a
certos tip os d e m e m b r a n a s a â n i o n s o u cátions selecionados. m e m b r a n a d e vidro p a r a H + sobre o Na + é r e d u z i d a g r a n d e m e n t e ,
Essas m e m b r a n a s são utilizadas p a r a fabricar eletrodos seletivos r e s u l t a n d o e m u m sensor p r á t i c o p a r a N a + e m valores de p H
p a r a íons (ISEs), q u e seletivamente interagem c o m u m a única t i p i c a m e n t e e n c o n t r a d o s n o sangue.
espécie iônica. O potencial p r o d u z i d o na interface da solução
m e m b r a n a - a m o s t r a é p r o p o r c i o n a l ao l o g a r i t m o da atividade
iônica ou c o n c e n t r a ç ã o d o íon e m questão. M e d i d a s c o m ISEs Eletrodos de Membranas Pcliméricas
são simples, m u i t a s vezes rápidas, n ã o destrutivas e aplicáveis a ISEs c o m m e m b r a n a s poliméricas são e m p r e g a d o s para o acom-
u m a vasta gama de concentrações. p a n h a m e n t o de p H e medir eletrólitos, i n c l u i n d o K \ Na + , C l ,
A m e m b r a n a seletiva para íon é o "coração" d e u m ISE, u m a Ca 2 + , Li+, M g 2 ' e C 0 3 z " (para m e d i r C 0 2 total). Esses são a classe
vez q u e c o n t r o l a a seletividade d o eletrodo. As m e m b r a n a s sele- p r e d o m i n a n t e d e eletrodos p o t e n c i o m é t r i c o s utilizada n o s instru-
tivas p a r a íons t i p i c a m e n t e consistem e m material d e vidro, cris- m e n t o s m o d e r n o s d e análises clínicas.
talino o u p o l i m é r i c o . A c o m p o s i ç ã o q u í m i c a da m e m b r a n a é O m e c a n i s m o de resposta destes ISEs divide-se e m três cate-
c o n c e b i d a p a r a alcançai u m a ó t i m a q u a l i d a d e d e p e r m e a b i l i d a d e gorias: (1) p e r m u t a d o r de í o n dissociado, carregado; (2) carreador
seletiva p a r a u m íon d e interesse. N a prática, o u t r o s íons e x i b e m associado carregado e (3) carreador de í o n n e u t r o (ionóforo). U m
interações l i m i t a d a s c o m as faces da m e m b r a n a e ÍTão a p r e s e n t a r dos p r i m e i r a s tipos d e ISE p e r m u t a d o r d e íons associados carre-
u m certo grau d e interferência p a r a a d e t e r m i n a ç ã o de u m íon. gados p a r a Ca z + foi desenvolvido e comercializado para a aplica-
N a prática clínica, se a interferência excede u m valor aceitável, ção clínica na d é c a d a d e 1960. Este e l e t r o d o foi b a s e a d o nas
u m a correção é necessária. p r o p r i e d a d e s d e c o m p l e x a ç ã o / t r o c a seletiva d e íon Ca 2 + d o ácido
A e q u a ç ã o d e Nicolsky-Eisenman descreve a seletividade de fosfórico 2-etil-hexil dissolvido e m dioctil fenil f o s f o n a t o (carrea-
u m ISE para u m íon d e interesse e m d e t r i m e n t o de íons interfe- d o r associado carregado). U m a m e m b r a n a p o r o s a foi i m p r e g n a d a
rentes: c o m esta solução e m o n t a d a n a e x t r e m i d a d e d o c o r p o d e u m
eletrodo. Este t i p o d e sensor foi designado ISE d e " m e m b r a n a
E = p + (2!3TORT ) l o g ( a + ^. (10) líquida". Mais tarde foi c o n c e b i d o u m m é t o d o o n d e estes ingre-
dientes f o r a m m o n t a d o s em u m a m e m b r a n a d e poli (cloreto de
vinilo) (PVC) q u e era mais resistente e c o n v e n i e n t e p a r a ser uti-
lizado que o antecessor u m e d e c i d o c o m l í q u i d o . Esta m e s m a
onde a b o r d a g e m é utilizada ainda h o j e para f o r m u l a r ISEs baseados
a, = atividade d o í o n d e interesse e m P V C , p a r a utilização clínica.
a] = atividade d o í o n d e interferência U m grande avanço n o desenvolvimento e aplicação rotineira
Kj/j = coeficiente de seletividade para o í o n p r i m á r i o sobre o íon de ISEs d o tipo P V C foi a descoberta da possibilidade de incorpo-
de interferência. Valores baixos i n d i c a m b o a seletividade ração d o antibiótico n e u t r o valinomicina e m m e m b r a n a s orgânicas
para o a n a l i t o "i" sobre a interferência d o íon "j". líquidas (e mais tarde m e m b r a n a s d e P V C plastificadas), resul-
Zj = carga d o í o n p r i m á r i o t a n d o em u m sensor com alta seletividade p a r a IC sobre o Na +
Zj = carga d o í o n de interferência ( K ^ a = 2,5 X IO4).17 O ISE de K + b a s e a d o em valinomicina é
a m p l a m e n t e utilizado hoje para a medir r o t i n e i r a m e n t e K+ n o
T o d o s os d e m a i s t e r m o s são idênticos aos da e q u a ç ã o N e r n s t sangue. U m a faixa linear vasta sobre três o r d e n s de m a g n i t u d e
(equação 4). t o m a este ISE a d e q u a d o para medir K+ n o sangue e na urina. A
Eletrodos d e m e m b r a n a de v i d r o e de p o l í m e r o s São dois faixa d e K + n o sangue é apenas u m a p e q u e n a p a r t e da faixa linear
tipos d e ISEs, q u e são c o m u m e n t e utilizados e m aplicações de d o eletrodo e é atravessada por u m a E M F total de cerca de 9 mV.
q u í m i c a clínica. Interferência de outros cátions, interpretada c o m o desvio de line-
aridade, n ã o é perceptível para atividades d e IC > 10^ m o l / L .
0 Eletrodo de Vidro O u t r o s ISEs m e n o s seletivos, baseados e m polímeros (p. ex., para
E l e t r o d o s d e m e m b r a n a d e v i d r o são utilizados p a r a m e d i r p H medir Mg 2 * e Li+), estão sujeitos a interferências d e C a 3 i / N a * eNa*,
e Na + , e t a m b é m c o m o t r a n s d u t o r i n t e r n o p a r a sensores de PCO2. respectivamente, exigindo d e t e r m i n a ç ã o s i m u l t â n e a e correção da
A resposta d e 1HT à m e m b r a n a f i n a d e vidro foi d e m o n s t r a d a pela presença de concentrações significativas d e íons interferentes.
p r i m e i r a vez e m 1906 p o r C r e m e r . N a década de 1930, a aplica- E s t u d o s envolvendo a relação e n t r e a e s t r u t u r a m o l e c u l a r e a
ção prática deste f e n ô m e n o p a r a m e d i r acidez e m s u m o d e limão seletividade iônica, r e s u l t a r a m n o d e s e n v o l v i m e n t o de ISEs base-
tornou-se possível graças à invenção d o p H m e t r o p o r A r n o l d ados e m p o l í m e r o s utilizando u m g r a n d e n ú m e r o d e i o n ó f o r o s
B e c k m a n . 3 As m e m b r a n a s de vidro para eletrodos são f o r m u l a d a s d e ocorrência n a t u r a l e sintéticos, c o m seletividade suficiente
a partir d e óxidos d e silício e / o u a l u m í n i o f u n d i d o s , m i s t u r a d o s p a r a aplicação e m análises clínicas. As e s t r u t u r a s químicas de
c o m óxidos de alcalino terrosos o u cátions de metais alcalinos. diversos destes i o n ó f o r o s n e u t r o s estão ilusrradas n a Figura 5-2.
Eletroquímica e Sensores Químicos CAPÍTULO 5 91

v W , Tridodecilamina: H+
X
ortí'
w

y u Juuu^
o. R O

* | ^
N
H^ N^° C
o—/ \—CH-
1 o o
v ° o i V ii,c O
( o. ,L, , .o. y
A V I Y1 Yo Y T Y~\
e r '•——
Noacetina: NH„+
3
1

Valinomicina: K"

H
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r \ / V U V J ^ Z J V^cii
H3C N
r ° H3C-0 "X-Ô
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> .'II Oll OH
11,r / VH* Mfitilmonenslrifl: Na"
.N.. yv
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o
ETH 227: Na*

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Di(benzo-15-coroa-5)-heptanoatQ): K"
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ETH 1117: Mg"
XX y

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-o o—s o Y"
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>\ t
/ Figura 5 - 2 Estruturas de ionóforos

x > O 2
1 comuns utilizados para fabricai
membrana do tipo polimérica de ISEs
ETH 157; Na' ETH 1001: Ca" paia análise clínica.

Eletrodos baseados e m p e r m u t a d o r e s d e â n i o n s dissociados a amostras q u e n ã o c o n t e n h a m c o n c e n t r a ç õ e s significativas d e


e m p r e g a n d o sais de a m ó n i o q u a t e r n á r i o lipofílicos c o m o c o m p o - íons mais lipofílicos q u e Cl'. A m o s t r a s de sangue c o n t e n d o salici-
n e n t e s ativos de m e m b i a n a a i n d a são utilizados c o m e r c i a l m e n t e lato o u tiocianato, p o r exemplo, levarão à i n t e i f e i ê n c i a positiva
para a d e t e i m i n a ç ã o d e Cl" n o s a n g u e total, s o t o e plasma, apesar n a m e d i d a de Cl'. A exposição r e p e t i d a d o eletrodo ao anticoagu-
de algumas limitações. A seletividade para este tipo de ISE é l a n t e h e p a r i n a conduzirá à p e r d a d e sensibilidade d o eletrodo ao
c o n t r o l a d a pela extração d e íons da fase orgânica d a m e m b r a n a e Cl', e m v i r t u d e da extração da h e p a r i n a carregada n e g a t i v a m e n t e
é u m a f u n ç ã o d o caráter lipofílico d o í o n (porque, ao c o n t r á r i o n o interior da m e m b r a n a . N a verdade, este processo de extração
d o s carreadores desciitos a n t e r i o r m e n t e , n ã o existe i n t e i a ç ã o foi utilizado c o m sucesso para elaborar u m m é t o d o d e detecção
direta e n t r e o sítio p e r m u t a d o r e o â n i o n n a fase de m e m b r a n a ) . p o r p o t e n c i o m e t r i a d e c o n c e n t r a ç õ e s d e h e p a r i n a n o sangue.
Assim, a o r d e m d e seletividade de u m ISE de Cl" b a s e a d o e m A elevada seletividade p a r a â n i o n s c a r b o n a t o foi alcançada
p e r m u t a d o r de â n i o n s é fixada e m R > CIO4 > T > N 0 3 ' > Bf > utilizando-se c o m o c a r r e a d o r u m i o n ó f o r o n e u t r o a p r e s e n t a n d o
Cl" > F , o n d e R' r e p r e s e n t a â n i o n s mais lipofílicos q u e C10 4 *. A g r u p o s t r i f l u o r o a c e t o f e n o n a ligados e m u m a m e m b r a n a pol i m é-
aplicação d o e l e t r o d o p e r m u t a d o r de íon Cl' é, p o r t a n t o , limitada rica. 10 Tais i o n ó f o r o s f o r m a m a d u t o s carregados n e g a t i v a m e n t e
92 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

c o m â n i o n s c a r b o n a t o , e os eletrodos resultantes são úteis e m pressão parcial de dióxido de carbono. 2 Este i m p o r t a n t e aconteci-
i n s t r u m e n t o s disponíveis c o m e r c i a l m e n t e para d e t e r m i n a ç ã o de m e n t o levou à disponibilidade comercial de analisador d e sangue de
d i ó x i d o d e c a r b o n o total n o s o r o / p l a s m a , após a diluição d o três canais (pH, P C 0 2 ) P0 2 ), q u e demonstra clinicamente o q u a d r o
s a n g u e p a r a o intervalo d e valor de p H de 8,5 a 9,0, o n d e a fração completo d o estado de oxigenação e ácido-básico d o sangue.
significativa d o d i ó x i d o d e c a r b o n o total se a p r e s e n t a c o m o A Figura 5-3 m o s t r a u m d i a g r a m a d e u m eletrodo p a r a P C 0 2
ânions carbonato. n o estilo Severinghaus típico. U m a m e m b r a n a f i n a c o m aproxi-
N a prática, os limites finais de detecção d e ISEs de m e m b r a n a m a d a m e n t e 20 p.m d e espessura e permeável apenas a gases e
polimérica são c o n t r o l a d o s p a r c i a l m e n t e p e l o v a z a m e n t o d e ana- vapores d e água está e m c o n t a t o c o m a a m o s t r a . M e m b r a n a s de
litos iónicos, a p a r t i r da s o l u ç ã o i n t e r n a p a r a a superfície exterior b o r r a c h a d e silicone, T e f l o n e o u t r o s materiais p o l i m é r i c o s são
d a m e m b r a n a e p a r a a fase da a m o s t r a q u e está e m estreito a d e q u a d a s para esse p r o p ó s i t o . N o lado o p o s t o da m e m b r a n a
c o n t a t o c o m a m e m b r a n a . 1 3 Assim, limites d e detecção m u i t o está u m a f i n a c a m a d a d e eletrólito c o n s t i t u í d a d e u m sal f r a c o
m e n o r e s são alcançados pela d i m i n u i ç ã o da c o n c e n t r a ç ã o d o d e b i c a r b o n a t o (cerca d e 5 m m o l / L ) e u m sal d e cloreto. U m
analito iônico p r i m á r i o da solução i n t e r n a d o eletrodo. A l é m e l e t r o d o de p H e u m eletrodo d e referência de A g / A g C l estão
disso, este v a z a m e n t o de a n a l i t o iônico, a c o p l a d o ao processo de e m c o n t a t o c o m esta solução. O e l e t r o d o para P C 0 2 p o r si só
troca iônica n a i n t e r f a c e da m e m b r a n a de amostra, q u a n d o for equivale a u m a célula p o t e n c i o m é t r i c a . O gás d i ó x i d o d e c a r b o n o
acessada a seletividade da m e m b r a n a sobre o u t r o s íons, f r e q ü e n - da a m o s t r a o u da matriz d e calibração d i f u n d e - s e a através da
t e m e n t e gera m e d i d a s p o t e n c i o m á t r i c a s d e coeficiente de seleti- m e m b r a n a e dissolve-se n a c a m a d a i n t e r n a d o eletrólito. O ácido
vidade q u e s u b e s t i m a m a seletividade real da m e m b r a n a . Para c a r b ô n i c o é f o r m a d o e dissocia-se, m u d a n d o o p H da solução de
d e t e r m i n a r coeficientes de seletividade "imparciais" pelo m é t o d o b i c a r b o n a t o da c a m a d a i n t e r n a :
de solução de diferenciação, a m e m b r a n a n ã o deve ser exposta
ao íon analisado p o r longos p e r í o d o s d e t e m p o , b e m c o m o a C 0 2 + H 2 0 f ^H2C0 3 <- H+ +HCCX (11)
c o n c e n t r a c ã o deste n a s o l u ç ã o i n t e r n a deve ser baixa.

Eletrodos para PC0 2


Eletrodos para medir P C 0 2 e m fluidos corporais estão disponíveis.
O primeiro eletrodo d e P C 0 2 , desenvolvido na década de 1950 p o r A l o g P C O 2( ífflUEcra) - "*í " 1T( mmaja Imana) (12)
Stow e Severinghaus, utilizara u m eletrodo vidro para p H c o m o
elemento i n t e r n o d e u m a célula potenciométrica para a m e d i d a de

Haste do eletrodo de vidro

Coldre plástico

Encaixe do eletrodo

Eletrodo de referência (Ag/AgCl) — Eletrodo interno (Ag/AgCl)

Bicarhonato de sódio Tampão fosfato

Anel O

Entrada de amostra Saída de Amostra

Membrana de vidro sensível a pH

Espaçador poroso
Membrana permeável a C 0 2 (borracha de silicone)
Cubeta
Janela de vidro

Figura 5 - 3 Diagrama do sensor de PC0 2 estilo Severinghaus utilizado para monitorar concentrações de CO2
em amostras de sangue. (De Siggard-Andersen O. The acid-base status of the blood, 4th ed. Baltimore: Williams
£l Willcins, 1974:172.)
Eletroquímica e S e n s o r e s Químicos CAPÍTULO 5 93

! pH sódio c o m o exemplo, a relação e n t r e a c o n c e n t r a ç ã o e a molali-


Membrana d a d e é d a d a por:
de PVC ( H >

cNa+ - m N / x p H 2 0 (13)

o n d e p H 2 0 é a c o n c e n t r a ç ã o da massa de água e m k g / L . Para o


i (HO.r r í Solução contendoJyr (H'},
plasma s a n g u í n e o n o r m a l , a concentração da massa d e água é de,
bic-ait»nato 1
a p r o x i m a d a m e n t e , 0,93 kg/L, mas e m espécimes c o m concentra-
Eletrodo
ções elevadas de lipídios ou proteínas, o valor p o d e ser tão baixo
interno (Ag/
AgClj q u a n t o 0,8 kg/L. Nestes espécimes, a diferença entre c o n c e n t r a ç ã o
e molalidade p o d e ser tão elevada q u a n t o 2 0 % . U m a v a n t a g e m
significativa de p o t e n c i o m e t r i a direta p o r ISE para m e d i d a de
eletrólitos é q u e a técnica é sensível à molalidade e n ã o é, p o r t a n t o ,
Figura 5 - 4 Esquema do sensor potenciométtico de PC0 2 planar, afetada p o r variações e m concentração d e proteínas ou lipídios da
baseado em dois eletrodos de pH com membranas poliméricas idênticas, amostra. Técnicas c o m o fotometria de c h a m a e outros m é t o d o s
mas com soluções de referência internas contendo eletrólitos diferentes. fotométricos, q u e necessitam de diluição de amostra, são afetadas
Ambas as membranas sensoras de pH são preparadas com ionóforos pela presença de proteínas e lipídios. Nestes m é t o d o s , apenas a fase
seletivos para H*. aquosa da amostra é diluída, p r o d u z i n d o resultados inferiores à
molalidade c o m o f u n ç ã o da concentração de proteínas e lipídios
na amostra. Assim, existe o risco de erros, c o m o u m a falsa baixa
c o n c e n t r a ç ã o de Na + (pseudo-hiponatremia) e m casos de extrema
elevação das concentrações de proteínas e lipídios. 1
A relação e n t r e a PC02 da a m o s t r a e d o sinal g e r a d o p e l o e l e t r o d o E m adição à diferença entre molalidade e concentração, a
i n t e r n o d e p H é logarítmica e regulada pela e q u a ç ã o de N e r n s t m e d i d a d e íons p o r p o t e n c i o m e t r i a direta fornece ainda u m a o u t r a
(equação 4). O e l e t r o d o p o d e ser calibrado utilizando-se m i s t u r a s u n i d a d e de m e d i d a conhecida c o m o atividade (a), a c o n c e n t r a ç ã o
gasosas exatas o u p o r soluções c o m c o n c e n t r a ç õ e s estáveis de d e íons n ã o associados, livres e m solução. A o contrário de m é t o d o s
P C 0 2 . E m b o r a os eletrodos p a r a PC02 estilo Severinghaus sensíveis à concentração de íons, os ISEs n ã o d e t e c t a m a presença
t e n h a m a l c a n ç a d o u t i l i d a d e generalizada p a r a os analisadores de d e íons complexados ou eletrostaticamente "obstruídos" n a amostra.
gases d o sangue, o f o r m a t o desses sensores é l i m i t a d o p e l o A relação entre a atividade e a concentração utilizando-se, nova-
t a m a n h o , f o r m a e c a p a c idade de gerat o e l e m e n t o i n t e r n o sensí- m e n t e , íons de sódio c o m o exemplo, é expressa c o m o :
vel ao p H .
U m a célula p o t e n c i o m é t r i c a para PC02 u m p o u c o d i f e r e n t e ~ 7N«' X
Cfr a (14)
é m o s t r a d a na Figura 5-4- O a r r a n j o dessa célula envolve dois
eletrodos de P V C seletivos p a r a p H e m u m m o d o diferencial. As o n d e y é u m a q u a n t i d a d e a d i m e n s i o n a l c o n h e c i d a c o m o coefi-
m e m b r a n a s dos eletrodos c o n t ê m u m i o n ó f o r o n e u t r o d o tipo ciente d e atividade. O coeficiente d e atividade é p r i m a r i a m e n t e
a m i n a lipofílica, c o m altíssima seletividade para FT (Figura 5-2). d e p e n d e n t e da força iônica da a m o s t r a , c o n f o r m e descrito pela
U m e l e t r o d o tem u m a c a m a d a i n t e r n a t a m p o n a d a , e n q u a n t o n o e q u a ç ã o de Debye-Huckel:
o u t r o a c a m a d a n ã o é t a m p o n a d a , s e n d o c o n s t i t u í d a p o r baixa
c o n c e n t r a ç ã o de sal d e b i c a r b o n a t o . O gás d i ó x i d o d e c a r b o n o ( A x r j
x r )
da a m o s t r a o u da matriz d e calibração d i f u n d e - s e através das logy = - (15)
l + ( B x axl1/2)
m e m b r a n a s externas d e P V C seletivas p a r a FT d e a m b o s os sen-
sores. N o lado n ã o t a m p o n a d o , a d i f u s ã o d e C 0 2 provoca u m a
m u d a n ç a n o p o t e n c i a l da interface i n t e r n a da m e m b r a n a respon-
siva ao p H , q u e é p r o p o r c i o n a l à c o n c e n t r a ç ã o d e P C 0 2 da o n d e A e B são c o n s t a n t e s d e p e n d e n t e s d e t e m p e r a t u r a (A =
amostra. O sinal n o e l e t r o d o c o m c a m a d a i n t e r n a t a m p o n a d a 0,5213 e B = 3 , 3 0 5 e m água a 37 °C), a é o p a r â m e t r o d o t a m a n h o
n ã o é a f e t a d o pela d i f u s ã o d o C 0 2 através da m e m b r a n a . C o n - d o í o n p a r a u m í o n específico e í é a força iônica (I = 0 , 5 H m x
s e q ü e n t e m e n t e , m e t a d e d o sensor r e s p o n d e ao p H u n i c a m e n t e , z2, o n d e z é o n ú m e r o de carga d o íons). A e q u a ç ã o 15 m o s t r a
e n q u a n t o a o u t r a m e t a d e r e s p o n d e a a m b o s , p H e PC02. A q u e u m a r e d u ç ã o n o c o e f i c i e n t e d e atividade ocorre c o m o
diferença de sinal e n t r e os dois eletrodos a n u l a q u a l q u e r contri- a u m e n t o da força iônica. Este efeito é mais a c e n t u a d o q u a n d o a
b u i ç ã o d o p H da a m o s t r a na m e d i d a global d o p o t e n c i a l da carga (2) d o í o n é elevada. O s coeficientes de atividade d e í o n s
célula. O sinal diferencial é p r o p o r c i o n a l a p e n a s a P C 0 2 . A o e m f l u i d o s biológicos, c o m o s a n g u e e soro, são difíceis de s e r e m
c o n t r á r i o d o s eletrodos tradicionais n o estilo Severinghaus, este calculados c o m precisão p o r causa da incerteza da c o n t r i b u i ç ã o
sensor diferencial de PCO2 d e célula p o t e n c i o m é t r i c a foi comer- d e íons d e m a c r o m o l é c u l a s , c o m o proteínas, p a i a a força iônica
cializado e m u m f o r m a t o p l a n a r e é mais f a c i l m e n t e adaptável à total. N o e n t a n t o , a s s u m i n d o q u e a força iônica n o r m a l d o
p r o d u ç ã o e m massa e m a r r a n j o d e sensores. p l a s m a s a n g u í n e o é 0,160 m o l / k g , as estimativas de coeficientes
de atividade a 37 ° C são: Na + = 0,75, K + = 0,74 e Ca 2 * = 0,31.
Potenciometria Direta por ISE — Unidades de T o m a n d o a e q u a ç ã o 14 c o m o referência, a atividade e c o n c e n t r a -
Medida e Aplicações Clínicas ção irão diferir g r a n d e m e n t e e m a m o s t r a s c o m força iônica fisio-
M é t o d o s analíticos, c o m o f o t o m e t r i a d e c h a m a , m e d e m a concen- lógica, e s p e c i a l m e n t e p a r a os íons dívalentes.
tração total (c) de u m d a d o í o n n u m a a m o s t r a , n o r m a l m e n t e Fisiologicamente, q u a n d o se c o n s i d e r a m equilíbrios q u í m i c o s
expressa e m u n i d a d e s d e m i l i m o l e s d o í o n p o r litro d e a m o s t r a ou processos biológicos, a atividade iônica é c o n s i d e r a d a mais
( m r n o l / L ) . Molalidade (m) é u m a m e d i d a d o n ú m e r o d e moles d e relevante q u e a c o n c e n t r a ç ã o . P o r é m , a c o n c e n t r a ç ã o iônica é o
íon p o r massa d e água ( m m o l / k g ) na a m o s t r a . U t i l i z a n d o o íon t e r m o mais familiar na prática clínica, c o n s t i t u i n d o a base de
94 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

intervalos de referência p a t a eletrólitos e o p a r â m e t r o para esses Cátodo


na t o m a d a de decisão médica. Logo n o início da evolução de ISEs
c o m o i n s t r u m e n t o s práticos em química clínica, foi decidido q u e Potencial de
/ \
Corrente limitante
a alteração dos intervalos d e referência clínica para u m sistema decomposição
b a s e a d o e m atividade, e m vez d e concentração, n ã o seria prática
e poderia levar ao risco d e interpretação errônea d o estado clínico.
U m a a b o r d a g e m prática da utilização ISEs nos analisadores
m o d e r n o s , sem alterar os intervalos de referência baseados em
i 0
V
concentração estabelecidas, é f o r m u l a r soluções de calibração com
força e composição iónicas o mais próximas possível daquelas E 1C - Potencial no qual
e n c o n t r a d a s nn plasma sanguíneo. Assim, o coeficiente de ativi- ocorre 1/2 da corrente
d a d e de cada íon nas soluções d e calibração se aproximaria limitante
daquele da matriz de amostra, p e r m i t i n d o a calibração e a m e d i d a Ânodo
de eletrólitos e m u n i d a d e s d e concentracão e m vez de atividade.

VOLTAMETR IA/AM PERO METR IA Figura 5 - 5 Ilustração da curva de corrente contra a de tensão
Técnicas voltamétricas e amperométricas estão entre as mais sensíveis
(voltamograma) obtida para espécie oxidada (Ox) sendo reduzida a Red
e amplamente aplicáveis dentre todos os métodos eletroanalíticos.
na superfície do elecrodo de trabalho, quando Eapi é varrida mais
negativamente e a solução é agitada para resultar em resposta de estado
Conceitos Básicos de equilíbrio.
E m contraste c o m a p o t e n c i o m e t r i a , os m é t o d o s voltamétricos e
amperométricos são baseados em células e l e t r o q u í m i c a s eletrolí-
ticas, o n d e u m a tensão externa é aplicada a u m eletrodo de tra-
b a l h o polarizável ( m e d i d o contra u m eletrodo de referência ade-
d e corrente observada t a m b é m é a l t a m e n t e d e p e n d e n t e da área
q u a d o : E ap] = Entalho - E ief ) e as correntes catódicas (para reduções
da superfície (A) d o eletrodo d e t r a b a l h o .
analíticas) o u anódicas (para oxidações analíticas) resultantes da
Q u a n d o u m p o t e n c i a l é aplicado a u m eletrodo d e t r a b a l h o
célula são m o n i t o r a d a s e proporcionais à concentração d o analito
q u e irá oxidar o u reduzir u m a espécie na fase d e solução e m
presente n a amostra teste. A corrente é transmitida apenas se Eap]
c o n t a t o c o m o eletrodo, a reação eletroquímica provoca a dimi-
é superior a u m a certa tensão (tensão de decomposição), determi-
n u i ç ã o d e c o n c e n t r a ç ã o de espécies eletroativas n a superfície d o
n a d a pela t e r m o d i n â m i c a para u m a d a d a reação redox d e interesse
eletrodo (Figura 5-6), u m processo d e n o m i n a d o "polarização d e
(Ox + ne* Red; d e f i n i d a pelo valor de E° para aquela reação
concentração". Este, p o r sua vez, provoca u m gradiente de con-
[potencial d e r e d u ç ã o padrão]) e a cinética heterogénea d e trans-
centração d e analito entre a solução de amostra total e a super-
ferência d e elétrons na interface d o eletrodo de trabalho. Muitas
fície d o eletrodo. Q u a n d o toda a solução é agitada, a c a m a d a d e
vezes, a cinética lenta de transferência d e elétrons para a reação
d i f u s ã o d e analito cresce m u i t o r a p i d a m e n t e para fora da super-
redox e m u m d a d o eletrodo de trabalho inerte (Pt, c a r b o n o , o u r o
fície d o eletrodo p a r a u m a distância fixa c o n t r o l a d a pela vigoro-
etc.) exjge a utilização de E a p i m u i t o mais negativa (para reduções)
sidade da agitação d a solução. Esta c a m a d a de d i f u s ã o é desig-
o u positiva (para oxidações) q u e o previsto, baseando-se mera-
n a d a c a m a d a N e r n s t e tem espessura finita (5), após u m espaço
m e n t e e m E° para u m a dada reação redox. Isto é designado
d e t e m p o relativamente c u r t o (Figura 5-6), q u a n d o a solução está
sobretensão (t|). I n d e p e n d e n t e m e n t e de haver o u n ã o sobretensão
e m m o v i m e n t o (convecção). A voltametria realizada n a presença
para a transferência d e elétrons, em v o l t a m e t r i a / a m p e r o m e t r i a ,
d e convecção (pela agitação da solução, pelo giro d o eletrodo,
ocorre u m a reação de oxidação ou redução especifica na superfície
circulação da solução pelo eletrodo etc.) é designada voltametria
d o eletrodo d e trabalho e é a transferência d e carga nesta interface
d o estado d e equilíbrio. Q u a n d o a solução está imóvel, a c a m a d a
(fluxo d e corrente) q u e f o r n e c e a i n f o r m a ç ã o analítica.
d e d i f u s ã o cresce mais e mais c o m o t e m p o (isto é, n ã o é cons-
Para células eletrolíticas q u e c o n s t i t u e m a base dos m é t o d o s
tante), criando valores de S c o n t i n u a m e n t e maiores c o m o t e m p o .
voltamétricos e a m p e r o m é t r i c o s :
Esta é designada voltametria d e estado de não-equilíbrio e fre-
q ü e n t e m e n t e resulta e m picos de corrente e m gráficos represen-
Egpl Ecí| T| - Í-Rc^l (16)
t a n d o i versus E a p l p a r a células eletrolíticas.
N a voltametria d e estado de equilíbrio, q u a n d o o potencial
o n d e E Ié i é o potencial t e r m o d i n â m i c o e n t r e os eletrodos de
d o eletrodo de t r a b a l h o é varrido, p a s s a n d o p o r u m valor q u e irá
t r a b a l h o e de referência n a ausência de u m a tensão aplicada
provocar u m a reação eletroquímica, a corrente irá a u m e n t a r rapi-
e x t e r n a m e n t e . Q u a n d o a tensão externa é m a i o r ou m e n o r q u e
d a m e n t e e, e m seguida, baixar para valor p r ó x i m o d o constante,
este potencial de equilíbrio, a sobretensão (rj) positiva o u nega-
m e s m o q u a n d o o c o r r e m m u d a n ç a s s u b s e q ü e n t e s d e Eapi_ A
tiva, e n t ã o a corrente será t r a n s m i t i d a graças a u m a reação de
Figura 5-5 ilustra tal o n d a para u m a r e d u ç ã o hipotética d e u m a
oxidação o u r e d u ç ã o n o e l e t r o d o d e trabalho. U m v o l t a m o g r a m a
espécie oxidada (Ox) pela r e d u ç ã o n d e u m e l é t r o n a u m a espécie
é s i m p le sm e n te o gráfico da corrente observada, i, contra E a p l
reduzida (Red). Q u a n d o o p o t e n c i a l aplicado é m u i t o mais nega-
(Figura 5-5). E m a m p e r o m e t r i a (ver a seguir), u m valor fixo de
tivo d o q u e o exigido, a corrente atinge u m valor limite (deno-
tensão é aplicado e a c o r r e n t e r e s u l t a n t e é m o n i t o r a d a . A quan-
m i n a d o o limite corrente, ij). Esta limitação de c o r r e n t e é pro-
tidade de c o r r e n t e é i n v e r s a m e n t e relacionada à resistência da
porcional à c o n c e n t r a ç ã o da espécie eletroativa ( Q x n e s t e caso),
solução de eletrólito, b e m c o m o q u a l q u e r resistência "aparente"
tal c o m o expressa pela seguinte equação:
q u e se desenvolve p o r causa da transferência d e massa de u m a
espécie de analito para a superfície d o eletrodo de trabalho. E m
v i r t u d e de as reações eletroquímicas serem heterogéneas, ocor- i, = n F A ^ jC„, (17)
r e n d o apenas n a superfície d o eletrodo de t r a b a l h o , a q u a n t i d a d e
Eletroquímica e Sensores Químicos CAPÍTULO 5 95

Solução de amostra f i c a t i v a m e n t e (p. ex., > 120 mV), e n t ã o m e d i d a s d e diversas


Eletrodo
c o r r e n t e s limitantes, e m u m d a d o v o l t a m o g r a m a , são capazes de
Ox
p r o d u z i r r e s u l t a d o s q u a n t i t a t i v o s de diversas espécies s i m u l t a n e -
amente.
n©~ C é l u l a s e l e t r o q u í m i c a s e m p r e g a d a s p a r a realizar m e d i d a s vol-
t a m é t r i c a s o u a m p e r o m é t r i c a s t i p i c a m e n t e envolvem configura-
\ ções de dois o u três eletrodos. N a c o n f i g u r a ç ã o d e dois eletrodos,
V . a t e n s ã o externa é aplicada e n t r e os eletrodos de t r a b a l h o e de
Red
referência e a c o r r e n t e é m o n i t o r i z a d a . D e s d e q u e a c o r r e n t e
t a m b é m deve passar p e l o e l e t r o d o d e referência, este f l u x o de
c o r r e n t e irá alterar a c o n c e n t r a ç ã o de superfície d a espécie ele-
troativa q u e equilibra o p o t e n c i a l real d e sernicélula d n e l e t r o d o
de referência, a l t e r a n d o o valor p o r u m processo de polarização
d e c o n c e n t r a ç ã o . Por exemplo, se u m e l e t r o d o d e referência
c* A g / A g C l fosse utilizado e m u m a célula o n d e a reação d e r e d u ç ã o
i / /
d o analito o c o r r e n o e l e t r o d o de t r a b a l h o , u m a reação d e oxida-
ti/ W ly/
ção aconteceria n a superfície d o e l e t r o d o d e referência:
r / /
t f /
c,« / /
iàAKVfy.V
/ / /
++-/-/-* *
A g ° + C r —^AgCi^ + l e (18)

// /
ir Distância
C o n s e q ü e n t e m e n t e , a a t i v i d a d e / c o n c e n t r a ç ã o d e íons cloreto
p e r t o d a superfície d o e l e t r o d o iria d i m i n u i r , o q u e t o r n a r i a o
p o t e n c i a l d o e l e t r o d o d e r e f e r ê n c i a mais positivo q u e o verda-
d e i r o valor de equilíbrio, c o m base n a atividade real d o íon
cloreto n a sernicélula d e referência, d e s d e q u e a e q u a ç ã o de
Figura 5 - 6 Conceito de reação eletroquímica aumentando a N e r n s t para esta sernicélula é:
espessura da camada de difusão (polarização de concentração) do analito
E E
por redução (ou oxidação) na superfície eletrodo de trabalho. Quando o Ag/Agci = A fi A g ci - 0 , 0 5 9 log (a cr
(19)
tempo (t) aumenta, a espessura da camada de difusão cresce
rapidamente para um valor determinado pelo grau de convecção na
solução de amostra. Essa polarização de c o n c e n t r a ç ã o d o e l e t r o d o d e referência é
p r e v e n i d a pela m a n u t e n ç ã o d a d e n s i d a d e d e c o r r e n t e (J; a m p è r e s /
cm 2 ) m u i t o baixa n o e l e t r o d o de referência Isto é a l c a n ç a d o , n a
prática, certificando-se d e q u e a área d e t r a b a l h o d o e l e t r o d o n a
célula e l e t r o q u í m i c a é m u i t o m e n o r d o q u e a superfície d o ele-
o n d e i é a c o r r e n t e m e d i d a e m a m p è r e s , n é igual ao n ú m e r o de t r o d o d e referência; c o n s e q ü e n t e m e n t e , o f l u x o de c o r r e n t e total
elétrons n a reação e l e t r o q u í m i c a (redução n e s t e caso), F é a será l i m i t a d o p o r esta área m u i t o m e n o r , e os valores de J para
c o n s t a n t e d e Faraday (96.487 c o u l o m b s / m o l ) , A é a área d a referência serão m u i t o p e q u e n o s c o m o p r e t e n d i d o p a r a evitar a
superfície e l e t r o q u í m i c a d o e l e t r o d o de t r a b a l h o ( e m cm 2 ) (assu- polarização d e c o n c e n t r a ç ã o .
m i n d o u m a g e o m e t r i a p l a n a r d o eletrodo), D é o c o e f i c i e n t e de Para e l i m i n a r c o m p l e t a m e n t e as m u d a n ç a s e m potenciais da
d i f u s ã o (em c m 2 / s e c ) d a espécie eletroativa (neste caso Ox), 5 é sernicélula d o e l e t r o d o d e referência, u m p o t e n c i o s t a t o d e três
a espessura d a c a m a d a de d i f u s ã o (em cm) e C é a c o n c e n t r a ç ã o eletrodos é f r e q ü e n t e m e n t e utilizado. S i m p l i f i c a n d o , o potencios-
d a espécie de a n a l i t o e m m o l / c m 3 . O t e r m o D / 5 é f r e q ü e n t e - tato aplica u m a tensão n o e l e t r o d o de t r a b a l h o , q u e é m e d i d a
m e n t e d e s i g n a d o m 0 1 o coeficiente d e t rans ferênci a d e massa da c o n t r a u m e l e t r o d o d e r e f e r ê n c i a via m e d i ç ã o p o t e n c i o m é t r i c a
espécie O x p a r a a superfície d o e l e t r o d o d e t r a b a l h o . N o t e q u e c o r r e n t e zero, mas o f l u x o de c o r r e n t e o c o r r e e n t r e o e l e t r o d o de
a e q u a ç ã o 17 indica u m a relação linear e n t r e a c o r r e n t e l i m i t a n t e t r a b a l h o e u m terceiro eletrodo, d e n o m i n a d o contra-eletrodo.
e a c o n c e n t r a ç ã o . A m e s m a e q u a ç ã o se aplica p a r a detectar espé- Assim, se ocorre r e d u ç ã o n o e l e t r o d o d e t r a b a l h o , a oxidação irá
cies reduzidas, p o r u m a r e a ç ã o d e oxidação, n o e l e t r o d o d e tra- ocorrer n o contra-eletrodo; mas n ã o a c o n t e c e r i a reação líquida
b a l h o . N e s s e caso, p o r c o n v e n ç ã o , a c o r r e n t e a n ó d i c a r e s u l t a n t e n a superfície d o e l e t r o d o de referência, u m a vez q u e a c o r r e n t e
é c o n s i d e r a d a c o r r e n t e negativa. C o n f o r m e m o s t r a d o n a Figura n ã o circula p o r este e l e t r o d o .
5-5, o p o t e n c i a l d o e l e t r o d o d e t r a b a l h o que c o r r e s p o n d e a u m a E m m é t o d o s voltamétricos, o E apl é v a r i a d o p o r a l g u m a s
c o r r e n t e q u e é e x a t a m e n t e a m e t a d e da c o r r e n t e l i m i t a n t e é f o r m a s d e o n d a q u e alteram o p o t e n c i a l d o e l e t r o d o d e t r a b a l h o
d e s i g n a d o valor E y 2 . Este valor n ã o é d e p e n d e n t e d a c o n c e n t r a - e m f u n ç ã o d o t e m p o , e a c o r r e n t e r e s u l t a n t e é m e d i d a - A altera-
ção d o analito. O E y i é d e t e r m i n a d o pela t e r m o d i n â m i c a (E°) ção d e c o r r e n t e o c o r r e n a faixa d e p o t e n c i a l d e d e c o m p o s i ç ã o ,
de u m a d e t e r m i n a d a reação r e d o x , pelas c o n d i ç õ e s de solução q u e se espera ser específica p a r a u m d a d o analito. Todavia, a
(p. ex., se p r ó t o n s estão envolvidos n a reação, e n t ã o o p H irá p o s i ç ã o da resposta d e c o r r e n t e , c o m o f u n ç ã o de E apl , f o r n e c e
i n f l u e n c i a r o valor d e E]/ 2 ), j u n t a m e n t e c o m q u a l q u e r sobreten- i n f o r m a ç õ e s sobre a n a t u r e z a das espécies p r e s e n t e s (p. ex., Ei/ 2 ),
são c a u s a d a pela t r a n s f e r ê n c i a l e n t a d e elétrons etc., e m superfí- j u n t a m e n t e c o m sinal d e p e n d e n t e d a c o n c e n t r a ç ã o . Esta varre-
cie de u m e l e t r o d o d e t r a b a l h o particular. Valores Eyz são indi- d u r a d e E a p l é linear (voltametria d e v a r r e d u r a linear) ou p o d e ter
cativos de u m a d e t e r m i n a d a espécie s o f r e n d o r e a ç ã o eletroquí- f o r m a s mais c o m p l e x a s q u e p e r m i t e m significativa m e l h o r i a de
mica s o b c o n d i ç õ e s especificas; p o r t a n t o , os valores d e E ] / z per- sensibilidade p a r a ser alcançada p a r a o m o n i t o r a m e n t o d a con-
m i t e m distinguir u m a espécie eletroativa d e o u t r a , n a m e s m a c e n t r a ç ã o d e u m a d a d a espécie eletroativa (p. ex-, v o l t a m e t r i a
a m o s t r a . Se os valores de Ei/z para várias espécies d i f e r e m signi- p u l s a d a n o r m a l , v o l t a m e t r i a de p u l s o diferencial, v o l t a m e t r i a de
96 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

o n d a q u a d r a d a etc.). Q u a n d o u m e l e t r o d o gotejante de m e r c ú r i o p i l e n o , b o r r a c h a d e silicone, T e f l o n etc.) é m a n t i d a n a extremi-


( D M E ) é utilizado, esses m é t o d o s voltamétricos são c o n s i d e r a d o s d a d e distai. O i n t e r i o r que c o n t é m o e l e t r o d o d e t r a b a l h o de
m é t o d o s de análise polarográficas. platina é fortemente pressionado contra a m e m b r a n a permeável
M é t o d o s a m p e r o m é t r i c o s d i f e r e m dos voltamétricos, pelo fato a gás p a r a criar u m a f i n a película d e solução i n t e r n a de eletrólito
d e q u e o Eap] é fixado g e r a l m e n t e e m u m valor de potenciai q u e ( n o r m a l m e n t e t a m p ã o a d i c i o n a d o de KC1). O oxigênio da
ocorre n a região de platô d e c o r r e n t e l i m i t a n t e d o v o l t a m o g r a m a a m o s t r a p e r m e i a a m e m b r a n a e é reduzido, e m c o n f o r m i d a d e
e a c o r r e n t e r e s u l t a n t e s i m p l e s m e n t e é a c o m p a n h a d a , e será pro- c o m a reação eletroquímica a c i m a . U m Eap] de -0,050 o u - 0 , 7 0 0
p o r c i o n a l à c o n c e n t r a ç ã o . A a m p e r o m e t r i a n o r m a l m e n t e é mais V versus A g / A g C l ( d e n t r o d o regime de c o r r e n t e l i m i t a n t e ) p a r a
sensível q u e os m é t o d o s voltamétricos c o m u n s p o r q u e as corren- o e l e t r o d o d e t r a b a l h o de Pt irá resultar e m c o r r e n t e o b s e r v a d a
tes carregadas de f u n d o , q u e surgem c o m a m u d a n ç a de Eapi c o m o p r o p o r c i o n a l à P 0 2 p r e s e n t e n a a m o s t r a ( i n c l u i n d o sangue total).
f u n ç ã o d o t e m p o e q u e o c o r r e m e m voltametria, n ã o existem. N a ausência de oxigênio e sob c o n d i ç õ e s a m p e r o m é t r i c a s dessa
Assim, para o b t e r m e d i d a s quantitativas mais sensíveis q u a n d o a t e n s ã o aplicada, a c o r r e n t e será quase nula-
seletividade é g a r a n t i d a e m u m d a d o valor E ap] , a a m p e r o m e t r i a A m e m b r a n a externa permeável a gás p e r m i t e que o eletrodo
p o d e ser preferida e m d e t r i m e n t o de m é t o d o s voltamétricos. de Clark detecte oxigênio c o m elevada seletividade e m relação a
outras espécies f a c i l m e n t e reduzidas que p o d e m estar presentes e m
u m a d e t e r m i n a d a amostra (p. ex., íons metálicos, cistina etc.) De
Aplicações fato, apenas outras espécies gasosas ou orgânicas, a l t a m e n t e lipofí-
O oxigênio m o l e c u l a r é capaz de sofrer diversas reações d e licas, seião separadas e passarão pelas m e m b r a n a s externas perme-
r e d u ç ã o , t o d a s c o m so bret ens ões significativas e m eletrodos áveis a gases. U m tipo de interferência e m amostras clínicas é
sólidos, c o m o Pt, A u ou Ag. Por exemplo, a s e g u i n t e reação; atribuída a certos gases anestésicos, tais c o m o óxido nitroso, halo-
t a n o e isoflurano. Estas espécies t a m b é m (1) se d i f u n d e m através
0 2 +2H 2 0 + 4e~ —> 4 0 H " da m e m b r a n a exterior d o sensor, (2) são e l e t r o q u i m i c a m e n t e redu-
zidas n o eletrodo d e platina e (3) resultam e m falso positivo para
(E° = + 0 , 1 7 9 ws Ag/A tPl-.lmd/LCÍ~) (20)
m e d i d a s de P 0 2 . N o e n t a n t o , o uso de materiais de m e m b r a n a s
permeáveis a gases otimizados e o controle a d e q u a d o d o potencial
exibe u m E y i d e a p r o x i m a d a m e n t e -0,500 V e m u m e l e t r o d o Pt aplicado para o c á t o d o d o sensor reduziram m u i t o este p r o b l e m a
(versus A g / A g C l ) , c o m p l a t ô d e c o r r e n t e l i m i t a n t e e m cerca d e e m i n s t r u m e n t o s m o d e r n o s . As m e m b r a n a s externas permeáveis a
- 0 , 6 0 0 V. Esta reação t e m sido utilizada pata m o n i t o r a r a pressão gases t a m b é m c o n t r i b u e m para limitar a difusão d o analito para o
parcial de oxigênio n o sangue ( P 0 2 ) e é a base d o sensor ampe- eletrodo de trabalho interior; assim, a m e m b r a n a p o d e controlar
r o m é t r i c o d e oxigênio n o estilo Clark, a m p l a m e n t e utilizado o ttansporte de massa d o analito ( t e r m o D / 8 n a e q u a ç ã o 17), de
(Figura 5-7). Este dispositivo utiliza eletrodo d e p l a t i n a c o m tal m o d o que, n a presença o u ausência d e convecção d e amostra,
p e q u e n a área p l a n a r c o m o e l e t r o d o de t r a b a l h o (envolvido p o r o t r a n s p o r t e de massa de oxigênio para a superfície d o eletrodo de
v i d r o isolante o u o u t r o material) e u m e l e t r o d o de referência t r a b a l h o de platina é essencialmente o m e s m o .
A g / A g C l , t i p i c a m e n t e c o m d e s e n h o cilíndrico (Figura 5-7). Essa A l t e r a n d o a tensão aplicada a o e l e t r o d o d e t r a b a l h o , o p r o j e t o
célula eletrolítica d e dois eletrodos é colocada d e n t r o de u m básico d o sensor a m p e r o m é t r i c o de P 0 2 de C l a r k foi a m p l i a d o
sensor, o n d e u m a m e m b r a n a p e r m e á v e l a gases (p. ex., polipro- para detectar o u t r a s espécies de gases. Por exemplo, é possível

Solução de eletrólito
i tamponada
O z + H 2 0 + 4a" ^ 4 0 H

Superfície de Pt

Solução tamponada de -4-


eletrólito e
e
,4 e e e
// [
Eletrodo de
trabalho de platina
H2O OH
Detentor de
membrana do \
anel "O" 02

Membrana
permeável a gás O2 O2 O2 O2 Membrana
permeável a g á s

Eletrodo cilíndrico de Ag/AgCl

Figura 5 - 7 Esquema de sensor amperométrico de oxigênio do tipo Clark utilizado para monitorar
concentrações de P0 2 no sangue.
Eletroquímica e Sensores Químicos CAPÍTULO 5 97

detectar o ó x i d o n í t r i c o ( N O ) , c o m alta seletividade, utilizando m u i t a s espécies p o d e m ser eletroativas - é b a s t a n t e limitada. Por


u m e l e t r o d o para gás s e m e l h a n t e , c o m c o n f i g u r a ç ã o e m q u e a exemplo, c o m o r e l a t a d o n a discussão a n t e r i o r relativa ao sensor
p l a t i n a é polarizada e m + 0 , 9 0 0 A g / A g C l p a r a oxidar N O de oxigênio de Clark, n a ausência d e m e m b r a n a p e r m e á v e l a gás,
a n i t r a t o n o â n o d o d e platina. 11 Esses sensores de N O f o r a m o u t r a s espécies são reduzidas p a r a o m e s m o E a p i, ou p r ó x i m o
utilizados e m g r a n d e v a r i e d a d e de estudos b i o m é d i c o s i m p o r t a n - dele, u m a vez q u e o oxigênio causaria i n t e r f e r ê n c i a significa-
tes, para d e d u z i r a q u a n t i d a d e de N O local ou n a v i z i n h a n ç a da tiva.
superfície de várias células p r o d u t o r a s de N O . C o m o objetivo de e x p a n d i r g r a n d e m e n t e o elenco d e anali-
A l é m d e dispositivos a m p e r o m é t r i c o s , u m m é t o d o especiali- tos d e t e c t a d o s p o r m é t o d o s v o l t a m é c r i c o s / a m p e r o m é t r i c ô s , téc-
zado p a r a detectar traços d e c o n c e n t r a ç õ e s d e í o n s metálicos nicas e l e t r o q u í m i c a s t ê m sido utilizadas c o m o detectores alta-
tóxicos de amostras clínicas é a voltametria d e redissolução m e n t e sensíveis para o m o d e r n o sistema de c r o m a t o g r a f i a líquida
a n ó d i c a (ASV). E m ASV, u m e l e t r o d o de t r a b a l h o d e c a r b o n o é d e alto d e s e m p e n h o ( H P L C ) ( C a p í t u l o 7). E m c r o m a t o g r a f i a
utilizado (algumas vezes revestido c o m película de H g adicional) l í q u i d a c o m detecção e l e t r o q u í m i c a (LC-EC), solutos eluidos são
e o E a p l é i n i c i a l m e n t e f i x a d o e m nível m u i t o negativo, a f i m d e d e t e c t a d o s p o r e l e t r o d o d e f l u x o ( g e r a l m e n t e c a r b o n o o u mercú-
q u e t o d o s os í o n s metálicos e m solução sejam reduzidos para rio), p r o j e t a d o s para a p r e s e n t a r e m v o l u m e m o r t o (ou vazio) extre-
metais e l e m e n t a r e s (M°) n o i n t e r i o r d o f i l m e de m e r c ú r i o e / o u m a m e n t e baixo (Figura 5-8). O s eletrodos são o p e r a d o s em
n a s u p e r f í c i e de c a r b o n o . E n t ã o , o E apl é v a r r i d o d e m a n e i r a mais m o d o s a m p e r o m é t r i c o ou v o l t a m é t t i c o (com altas velocidades de
positiva, e os metais r e d u z i d o s d e p o s i t a d o s n o e l e t r o d o de traba- varredura), e vários eletrodos p o d e m ser o p e r a d o s s i m u l t a n e a -
l h o o u n a superfície deste são reoxidados, r e s u l t a n d o e m u m alto m e n t e e m a r r a n j o s de f l u x o e m série ou e m paralelo p a r a obter
pico de c o r r e n t e a n ó d i c a , p r o p o r c i o n a l à c o n c e n t r a ç ã o d e íons g a n h o adicional de seletividade. Por exemplo, a h o m o c i s t e í n a
metálicos d a a m o str a inicial. O potencial e m que esses picos são t e m sido m e d i d a c o m (1) a adição d e agentes r e d u t o r e s à am os t r a
o b s e r v a d o s indica q u e cada m e t a l está presente, e a altura d o pico de soro paTa gerar h o m o c i s t e í n a livre, (2) p r e c i p i t a ç ã o de proteí-
d e c o r r e n t e d e redissolução é d i r e t a m e n t e p r o p o r c i o n a l à con- nas n a a m o s t r a (com ácido tricloroacético) e (3) separação de
c e n t r a ç ã o d o í o n m e t á l i c o n a a m o s t r a inicial. Tais técnicas de c o m p o n e n t e s d o soro e m c o l u n a de H P L C de octadecilsilano
A S V t ê m sido utilizadas para detectar a c o n c e n t r a ç ã o de P b e m c o m fase reversa. Por oxidação d e h o m o c i s t e í n a ao c o m p l e x o de
a m o s t r a s d e sangue total, p r o p o r c i o n a n d o u m m é t o d o r á p i d o de ditiolato de m e r c ú r i o c o r r e s p o n d e n t e , a h o m o c i s t e í n a eluida é
v a r r e d u r a de exposição e e n v e n e n a m e n t o p o r c h u m b o . 9 d e t e c t a d a e m e d i d a e m t e m p o real.
O u t r o exemplo b i o m é d i c o d e voltametria m o d e r n a é u m a
técnica v o l t a m é t r i c a cíclica d e varredura r á p i d a q u e t e m sido CQNDUTOMETRIA
utilizada p a r a q u a n t i f i c a r d o p a m i n a n o tecido cerebral de animais A c o n d u t o m e t r i a é u m a técnica eletroquímica utilizada para
d e m o v i m e n t a ç ã o livre. 18 N e s t a aplicação, a oxidação d e dopa- d e t e r m i n a r a q u a n t i d a d e de u m analito p r e s e n t e e m u m a mistura,
m i n a a u m tipo de q u i n o n a n o e l e t r o d o de m i c r o c a r b o n o implan- m e d i n d o o efeito dele sobre a c o n d u t i v i d a d e elétrica d a mistura.
t a d o (em a p r o x i m a d a m e n t e + 0 , 6 0 0 V uersus A g / A g C l ) p r o d u z Essa é a m e d i d a d a capacidade d o s íons e m solução de t r a n s p o r t a r
picos d e c o r r e n t e p r o p o r c i o n a i s às c o n c e n t r a ç õ e s d e d o p a m i n a . c o r r e n t e sob a i n f l u ê n c i a de u m a diferença d e potencial. E m u m a
O e l e t r o d o t e m sido utilizado para medir esse n e u r o t r a n s m i s s o r célula c o n d u t o m é t r i c a , o p o t e n c i a l é aplicado e n t r e dois eletrodos
e m diferentes regiões d o cérebro o u n u m local fixo. metálicos inertes. U m potencial alternado, c o m u m a f r e q ü ê n c i a
E m b o r a técnicas v o l t a m é t r i c a / a m p e r o m é c r i c a sejam aplica- e n t r e 100 e 3 . 0 0 0 Hz é utilizado para evitar a polarização dos
das p a r a detectar u m a g r a n d e v a r i e d a d e de espécies, a seletividade eletrodos. A d i m i n u i ç ã o n a resistência d a solução resulta em u m
oferecida e m m e d i d a s de a m o s t r a s clínicas c o m p l e x a s — e m q u e a u m e n t o de c o n d u t â n c i a , e m a i s c o r r e n t e é passada e n t r e os ele-

F i g u r a 5 - 8 Diagrama de sistema LC-EC, com detector eletroquímico monitorando a eluição de analitos de


coluna de HPLC por oxidação ou redução (mostrado aqui como exemplo) em camada fina de eletrodo de
trabalho adequada.
98 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

trodos. O fluxo de corrente resultante também é alternado. A Tituladores coulométricos comerciais foram desenvolvidos
corrente é diretamente proporcional à condutância da solução. A para a determinação de cloreto n o sangue, plasma ou soro. U m a
condutância é considerada o inverso da resistência e pode ser corrente constante é aplicada entre um fio de prata (ânodo) e um
expressa em unidades de ohms" 1 (siemens). Em análises clínicas, fio de platina (cátodo). N o ânodo, Ag é oxidada a Ag*. N o cátodo,
a condutometria é freqüentemente utiliiada para medir a fração FT é Teduzido a gás hidrogênio. Em aplicação de corrente cons-
de volume de eritrócitos em sangue total (hematócrito) e como o tante, o n ú m e r o de coulombs que passa entre o â n o d o e cátodo
mecanismo de transdução para alguns biossensores. é diretamente proporcional ao t e m p o (coulombs = amperes x
Os eritrócitos agem como insuladores elétricos graças à compo- segundos). Assim, o n ú m e r o absoluto de íons de prata produzi-
sição da membrana lipídica. Este fenômeno foi inicialmente utili- dos n o â n o d o p o d e ser calculado a partir da quantidade de tempo
zado nos anos 1940 para medir a fração de volume de eritrócitos em que a corrente passa por esse. N a presença de Cl", os íons AgH
n o sangue total (hematócrito) por condutividade e atualmente é formados são precipitados como A g C l ^ ^ ) e a quantidade de Ag+
Utilizado para medir O hematócrito em instrumentos multianalíti- livre em solução é baixa. Q u a n d o todos os íons Cl' são comple-
cos para a análise clínica. Além disso, geralmente concentrações de xados, acontece u m a u m e n t o súbito da concentração de Ag" em
Na e K+ também são medidas em conjugação com o hematócrito, solução. O excesso de Ag+ é percebido amperometricamente em
em sistemas concebidos para análises clínicas. u m segundo eletrodo de Ag, polarizado em potencial negativo.
Medidas d o hematócrito baseadas em condutividade são limi- O excesso Ag" é reduzido para Ag, produzindo u m a corrente.
tadas. Por exemplo, concentrações anormais de proteínas alteram Q u a n d o essa corrente ultrapassa u m certo valor, a titulação é
a condutividade plasmática e interferem na medida. Concentra- interrompida. O n ú m e r o absoluto de íons Cl" presentes na
ções baixas de proteínas, resultantes de diluição de sangue con- amostra é calculado a partir do tempo d u r a n t e o qual a titulação
t e n d o soluções de eletrólitos livres de proteínas em circunvalação com Ag* estava em a n d a m e n t o . C o n h e c e n d o o volume de amostra
cirúrgica cardiopulmonar resultará em valores de hematócrito de soro ou plasma originalmente utilizado, é possível calcular a
com valores baixos de condutividade falsos. Variáveis pré-analíti- concentração de C l ' n a amostra. A titulação coulométrica é u m a
cas, como homogeneização insuficiente de amostra, t a m b é m das técnicas eletroquímicas mais precisas desde que o método
induzem a erros. A hemoglobina é o analito de eleição para mede a quantidade absoluta de substância eletroativa da amostra.
acompanhar a perda sanguínea e a necessidade de transfusão A coulometria é considerada o padrão-ouro para a determinação
d u r a n t e trauma e cirurgia. No entanto, a medida eletroquímica de cloreto n o soro ou plasma. Entretanto, o método está sujeito
de hematócrito em conjugação com os gases d o sangue e eletró- à interferência de ânions da amostra com maior afinidade por
litos permanece em utilização, principalmente, em f u n ç ã o da Ag+ que o cloreto, tal como o brometo.
simplicidade e conveniência, apesar de algumas limitações.
O u t r a aplicação clínica de condutância é a contagem eletrô- SENSORES QUÍMICOS ÓPTICOS
nica de células sanguíneas em suspensão. D e n o m i n a d a "princípio U m "optodo" é u m sensor óptico utilizado em instrumentos
Coulter", baseia-se n o fato de que a condutividade de células analíticos para medir p H , gases d o sangue e eletrólitos. Optodos
sanguíneas é inferior à da solução salina utilizada como meio de apresentam certas vantagens sobre eletrodos, incluindo (1) a
suspensão. 0 A suspensão de células é forçada através de u m tubo facilidade de miniaturização, (2) menos ruído eletrônico (sem
com p e q u e n o orifício. Dois eletrodos são colocados em ambas as fios para transdução), (3) estabilidade a longo prazo utilizando
extremidades d o tubo e u m a corrente constante é estabelecida medidas d o tipo radiométricas e m múltiplos comprimentos de
entre os eletrodos. Cada vez que u m a célula passa através do onda e (4) não exige u m eletrodo de referência em separado.
orifício, a resistência aumenta; isto causa u m a mudança na dife- Estas vantagens promoveram o desenvolvimento da tecnologia
rença de potencial elétrico entre os eletrodos. Os pulsos são então de sensores ópticos inicialmente para a concepção de sensores
amplificados e contados. intravasculares de gases do sangue. N o entanto, os mesmos prin-
cípios básicos de sensoriamento foram utilizados na instrumen-
COULOMETRIA tação da química clínica projetada para medidas, in vitro, mais
A coulometria mede a carga elétrica que atravessa dois eletrodos clássicas em amostras distintas. Nesses sistemas, a luz é transmi-
de u m a célula eletroquímica. A quantidade de carga passada tida para o local de sensoriamento, e a partir dele, quer seja por
entre os eletrodos é diretamente proporcional à oxidação ou fibras ópticas ou simplesmente pelo posicionamento adequado
redução de u m a substância eletroativa em u m dos eletrodos. O das fontes luminosas (luz emissora de diodos, LEDs), filtros e
n ú m e r o de coulombs transferidos neste processo está relacionado fotodetecrores para acompanhar a absorvância (por reflectãncia),
com a quantidade absoluta de substância eletroativa descrita na fluorescência ou fosforescência (Figura 5-9).
lei de Faraday:
Conceitos Básicos
Q =n x N x F (21) Sensores ópticos concebidos para medidas de P02 são tipica-
Onde mente baseados na imobilização d e certos corantes orgânicos, tais
Q = a quantidade de carga que atravessa a célula (unidade: como (1) pireno, (2) difenilfenantreno, (3) fenantreno, (4) fluo-
C = coulomb = ampere • segundo) ranteno ou (5) complexos de metais ligantes, tais como rutênio
n •= o n ú m e r o de elétrons transferidos na reação de oxidação ou [II] tris[dipiridina], Pt e Pd metaloporfirinas n o interior de filmes
redução de polímeros hidrofóbicos (p. ex., borracha de silicone), o n d e o
N = a quantidade de substância reduzida ou oxidada em moles oxigênio é muito solúvel. A fluorescência ou fosforescência de
F •= constante de Faraday (96.487 coulombs/mole) tais espécies em u m determinado comprimento de onda é fre-
q ü e n t e m e n t e atenuada na presença de espécies paramagnéticas,
A medida de corrente está relacionada com a carga, sendo a incluindo oxigênio molecular. N o caso de corantes fluorescentes
quantidade de carga transmitida por unidade de tempo (ampère embutidos, a intensidade de fluorescência emitida desses filmes
•= coulomb/segundo). A coulometria é utilizada em aplicações diminuirá proporcionalmente ao nível da pressão parcial de 0 3
clínicas para a determinação de cloreto n o soro ou plasma e como da amostra em contato com o filme polimérico, de acordo com
m o d o de transdução em certos tipos de biossensores. a equação de Stern-Volmer para atenuação:
Eletroquímica e Sensores Químicos CAPÍTULO 5 99

Isoladc r óptico
c o m fins de s e n s o r i a m e n t o . U m p r o b l e m a c o m relação à utiliza-
Camada de sensor fluorescente ção de i n d i c a d o r e s imobilizados p a r a m e d i d a s precisas de p H
SANGUfcA fisiológico é o efeito d a força iônica sobre o p K a d o i n d i c a d o r .
A A A fl
1 \ Variações n a força iônica em a m o s t r a s fisiológicas são c o n h e c i d a s

lllliil •
i
>
+W M M . p o r i n f l u e n c i a r a precisão d a m e d i d a de p H , p o r q u e sensores
ópticos m e d e m a c o n c e n t r a ç ã o d e c o r a n t e s p r o t o n a d o s ou des-
p r o t o n a d o s c o m o m e d i d a i n d i r e t a d a atividade í o n h i d r o g ê n i o .
Lcnlú-
v Aplicações
Plástico Sensores ópticos a d e q u a d o s p a r a a d e t e r m i n a ç ã o d o PCO? empre-
Luz dâ
gam t r a n s d u t o r e s ópticos de p H (com i n d i c a d o r e s imobilizados),
oxcitaçáo
c o m o t r a n s d u t o r e s i n t e r n o s c o m a r r a n j o b a s t a n t e similar ao
p r o j e t o d o sensor e l e t r o q u í m i c o n o estilo clássico Severinghaus
Luz emitida ou (Figura 5-3). A a d i ç ã o d e sal de b i c a r b o n a t o à c a m a d a de hidrogel,
refletida sensora d e p H , cria a c a m a d a de f i l m e d o eletrólito exigido, o n d e
s o p H varia d e p e n d e n d o d a pressão parcial d e P C 0 2 e m e q u i l í b r i o
/ \ com o filme. O sensor óptico d e p H é c o b e r t o p o r u m f i l m e
e x t e r n o h i d r o f ó b i c o e permeável a gás (p. ex., b o r r a c h a de sili-
* * cone), para i m p e d i r o acesso de p r ó t o n s e a i n d a p e r m i t e o equi-
Detector Fonte líbrio de C 0 2 c o m a c a m a d a de s e n s o r i a m e n t o de p H . E n q u a n t o
a pressão parcial d e PCO? n a a m o s t r a a u m e n t a , o p H da c a m a d a
Figura 5 - 9 Esquema geial de sensor óptico de vidro para detecção de b i c a r b o n a t o d i m i n u i e a c o r r e s p o n d e n t e d i m i n u i ç ã o d e con-
de um dado analito no sangue. O filme de polímero contém corante c e n t r a ç ã o da f o r m a d e s p r o t o n a d a d o i n d i c a d o r (ou a u m e n t o da
que modifica as propriedades espectrais proporcionalmente à c o n c e n t r a ç ã o da f o r m a p r o t o n a d a ) é percebida o p t i c a m e n t e .
quantidade de analito na fase de amostra. O exemplo mostrado é para D u a s a b o r d a g e n s t ê m sido utilizadas p a r a detecção óptica d e
filme de sensoriamento que muda a luminescência (fluorescência ou íons eletrólitos e m amostras fisiológicas. U m m é t o d o e m p r e g a
fosforescência). m u i t o s d o s m e s m o s i o n ó f o r o s lipofílicos desenvolvidos para ele-
t r o d o s seletivos p a r a íon c o m m e m b r a n a s poliméricas (Figura
5-2). Estas espécies são ligadas e m f i l m e s p o l i m é r i c o s h i d r o f ó b i -
cos m u i t o finos, j u n t a m e n t e c o m u m i n d i c a d o r de p H lipofílico.
N o caso de i o n ó f o r o s catiônicos (p. ex., v a l m o m i c i n a para senso-
r i a m e n t o de potássio), q u a n d o os cátions d a a m o s t r a são extraí-
d o s pelo i o n ó f o r o da f i n a película, o p H i n d i c a d o r ( R H ) p e r d e
= kPOz +1 u m p r ó t o n para a fase de a m o s t r a , para m a n t e r a carga n e u t r a
(22)
d e n t r o d o f i l m e o r g â n i c o ( p r o d u z i n d o R"). Isto resulta e m u m a
m u d a n ç a da absorção óptica ou d o espectro d e f l u o r e s c ê n c i a da
Onde c a m a d a de p o l í m e r o . Se a espessura dos filmes é m a n t i d a <10
In = i n t e n s i d a d e d e f l u o r e s c ê n c i a n a ausência d e oxigênio Um, t e m p o s d e resposta de equilíbrio < 1 m i n u t o são atingidos.
IpTJ7 ~ i n t e n s i d a d e de f l u o r e s c ê n c i a e m u m a d e t e r m i n a d a pressão A principal limitação deste d e s e n h o é q u e o p H da fase de
parcial de P 0 3 a m o s t r a t a m b é m i n f l u e n c i a o equilíbrio global d e extração de
k = c o n s t a n t e de a t e n u a ç ã o para f l u o r ó f o r o s particulares uti- íons d e n t r o d o filme. Assim, p a r a o b t e r valores precisos de ele-
lizados trólitos, são necessárias m e d i d a s s i m u l t â n e a e i n d e p e n d e n t e d e
p H d a amostra o u a diluição d o t a m p ã o e / o u c o n t r o l e d e p H d a
C o m o indicado, a relação e n t r e a razão Iq/Ipoj e P 0 3 da fase fase de a m o s t r a são exigidos.
de a m o s t r a é linear. A l é m disso, q u a n t o m a i o r a c o n s t a n t e d e U m a s e g u n d a m e t o d o l o g i a utilizada para detectar íons eletró-
a t e n u a ç ã o , m a i o r será o grau d e a t e n u a ç ã o para u m d a d o fluo- litos é imobilizar u m agente d e r e c o n h e c i m e n t o de cátion e / o u
r ó f o r o . N o e n t a n t o , é i m p o r t a n t e q u e a c o n s t a n t e de a t e n u a ç ã o â n i o n d e n t r o de u m a matriz de hidrogel, s e m e l h a n t e às d e sen-
esteja e m u m a faixa q u e vá p r o d u z i r c o m p o r t a m e n t o linear d e sores d e p H descritos a n t e r i o r m e n t e . O agente d e reconheci-
Stern-Volmer ao l o n g o d e i n t e r v a l o fisiologicamente relevante de m e n t o , neste caso, g e r a l m e n t e n ã o é lipofílico e, p o r isso, deve
P 0 2 n o sangue. ser a n c o r a d o c o v a l e n t e m e n t e ao h i d r o g e l para q u e n ã o seja lixi-
M e d i d a s de i n t e n s i d a d e d e fosforescência o u vida útil de viado p a r a a fase d e a m o s t r a . O agente é p r o j e t a d o para q u e a
fosforescência d e complexos d e metais ligantes imobilizados ligação seletiva d e cátion ou â n i o n altere o espectro de absorvân-
t a m b é m t ê m sido utilizadas p a r a m e d i r p H , gases d o sangue ou cia ou f l u o r e s c ê n c i a d a espécie n o interior d o h i d r o g e l Tipica-
eletrólitos. Sensores b a s e a d o s e m alterações n a vida útil de lumi- m e n t e , isto é a l c a n ç a d o pela associação de r e c o n h e c i m e n t o d o
nescência t ê m a v a n t a g e m inerente de serem insensíveis a pertur- íon e das p r o p r i e d a d e s d o c r o m ó f o r o d e n t r o de u m a ú n i c a molé-
b a ç õ e s n o t a m a n h o d o p e r c u r s o ó p t i c o e q u a n t i d a d e de c o r a n t e cula orgânica. Tais sensores de íons f o r a m e m p r e g a d o s c o m
ativo p r e s e n t e n a c a m a d a de s e n s o r i a m e n t o . sucesso e m p e l o m e n o s u m analisador e l e t r o q u í m i c o de gases
Sensores ópticos d e p H r e q u e r e m imobilização d e indicado- s a n g u í n e o s comercial, c o m a r r a n j o de sensores de d e s e n h o uni-
res de p H a p r o p r i a d o s d e n t r o das c a m a d a s f i n a s de p o l í m e r o s versal, similar ao q u e é ilustrado n a Figura 5-9.
hidrofílicos (p. ex., hidrogéis) p o r q u e o acesso e q u i l i b r a d o de
p r ó t o n s para o i n d i c a d o r é essencial. Fluoresceína, 8-hidroxi- BIOSSENSORES
1,2,6-pireno trissulfonato ( H P T S ) e v e r m e l h o de f e n o l são utili- U m b i o s s e n s o r é u m t i p o específico de sensor q u í m i c o constitu-
zados c o m o indicadores. A a b s o r v â n c i a o u f l u o r e s c ê n c i a d e ído d e u m e l e m e n t o biológico d e r e c o n h e c i m e n t o e u m t r a n s d u -
f o r m a s p r o t o n a d a s o u d e s p r o t o n a d a s d o c o r a n t e são utilizadas t o r físico-químico, f r e q u e n t e m e n t e u m dispositivo eletroquí-
100 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

mico 1 9 ou óptico. O e l e m e n t o biológico é capaz de r e c o n h e c e r a N a prática, u m a t e n s ã o s u f i c i e n t e m e n t e alta (sobretensão)


p r e s e n ç a e atividade e / o u c o n c e n t r a ç ã o de u m d e t e r m i n a d o aplicada ao â n o d o de p l a t i n a p a r a c o n d u z i r a oxidação d o p e r c
a n a l i t o e m solução. O r e c o n h e c i m e n t o p o d e ser t a n t o u m a reação x i d o d e h i d r o g ê n i o . U m a t e n s ã o de +0,7 volt, ou s u p e r i o r , apli
biocatalítica (biosseruor baseado em enzima) quaiiLu u m processo de cada (relativa à A g / A g C l ) é t i p i c a m e n t e utilizada. A Figura 5-1
ligação (biossemor baseado em afinidade), q u a n d o o e l e m e n t o d e ilustra o e s q u e m a básico de detecção d o p e r ó x i d o de h i d r o g ê n i o
r e c o n h e c i m e n t o é, p o r exemplo, u m a n t i c o r p o , s e g m e n t o d e q u e é a d e q u a d o p a r a a e l a b o r a ç ã o d e sensores de glicose útei:
D N A o u receptores celulares. A interação d o e l e m e n t o de reco- c l i n i c a m e n t e , mas t a m b é m para a a c o m o d a ç ã o de o u t r o s substra
n h e c i m e n t o c o m u m analito-alvo resulta n a m u d a n ç a m e n s u r á v e l tos p a r a os quais existem enzimas oxidases a d e q u a d a s para gera
e m p r o p r i e d a d e local d e u m a s o l u ç ã o n a s u p e r f í c i e d o disposi- peróxido de hidrogênio.
tivo, tais c o m o a f o r m a ç ã o d e u m p r o d u t o o u o c o n s u m o d e u m A imobilização d e enzimas n o s biossensores iniciais era m e r a
reagente. O t r a n s d u t o r e n t ã o c o n v e r t e a m u d a n ç a de p r o p r i e d a d e m e n t e a r e t e n ç ã o e m u m a m e m b r a n a d e baixo corte de mass;
d a solução e m sinal elétrico. O m o d o d e t r a n s d u ç ã o p o d e ser u m molecular, e esta a b o r d a g e m é a i n d a utilizada em algumas apli
d e n t r e vários, i n c l u i n d o e l e t r o q u f m i c o e ó p t i c o , b e m c o m o a cações comerciais. M u i t o s o u t r o s e s q u e m a s para a imobilizaçãc
m e d i d a d e massa ou calor. A p r e s e n t e discussão será l i m i t a d a aos de enzimas p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o de biossensores f o r a m suge
b i o s s e n s o r e s baseados e m m o d o s de t r a n s d u ç ã o c l c t r o q u í m i c o s lidos. O s mais c o m u n s são (1) ligações cruzadas e n t r e a enzimE
e ópticos, u m a vez q u e c o m p õ e m a m a i o r i a d o s biossensores e u m a p r o t e í n a inerte, c o m o a a l b u m i n a bovina sérica (BSA).
aplicados à clínica, utilizando-se g l u t a r a l d e í d o , (2) simples adsorção d a e n z i m a em
superfícies de e l e t r o d o s o u (3) ligação covalente e n t r e a enzima
Biossensores Baseados em Enzimas com e carreadores insolúveis, tais c o m o n á i l o n o u vidro. O u t r a técnica
Detecção Amperométrica d e imobilização envolve m o d i f i c a ç ã o global d o m a t e r i a l d e ele-
Biossensores baseados e m enzimas e f u n d a m e n t a d o s e m t r a n s d u - t r o d o , m i s t u r a n d o - s e enzimas c o m pasta de c a r b o n o , q u e serve
tores eletroquímicos, e s p e c i f i c a m e n t e eletrodos a m p e r o m é t r i c o s , t a n t o c o m o matriz de imobilização d e e n z i m a c o m o s u p e r f í c i e
são a m p l a m e n t e utilizados p a r a análises clínicas e f r e q ü e n t e - eletroativa.
m e n t e citados na literatura. E m 1962, Clarlc e Lyons desenvolve- U m dos p r i m e i r o s sistemas b a s e a d o s e m biossensores para
r a m u m e l e t r o d o d e e n z i m a para glicose, q u e acopla u m e l e t r o d o dosar glicose n o s a n g u e foi comercializado pela Yellow Springs
de P ü 2 c o m reação catalisada pela glicose oxidase. A d i m i n u i ç ã o I n s t r u m e n t s , Inc. (YSI), Yellow Springs, O h i o , e m 1975, e utilizava
d e P 0 3 l r e s u l t a n t e d a ação d e glicose oxidase n a glicose, foi pro- detecção a m p e r o m é t r i c a de H 2 0 2 c o m o p r i n c í p i o d e m e d i d a
p o r c i o n a l à c o n c e n t r a ç ã o d e glicose d a a m o s t r a . C o m isso, u m a (Figura 5-11). A d e p e n d ê n c i a d o valor m e d i d o de glicose pela
s o l u ç ã o de glicose oxidase foi f i s i c a m e n t e imobilizada e n t r e a c o n c e n t r a ç ã o de oxigênio d a a m o s t r a era u m p r o b l e m a , p o r q u e a
m e m b r a n a permeável a gás d o e l e t r o d o d e P 0 2 e u m a m e m b r a n a q u a n t i d a d e d e oxigênio dissolvido n o s a n g u e é significativamente
s e m i p e r m e á v e l externa (Figura 5-10, p r o j e t o geral). A m e m b r a n a inferior à e s t e q u i o m e t r i a necessária para m a n t e r a reação da
externa p e r m i t i u a d i f u s ã o de s u b s t r a t o (glicose) e oxigênio da glicose oxidase e p r o d u z i r u m a relação linear d o sinal c o m a con-
a m o s t r a , mas excluiu p r o t e í n a s e o u t r a s m a c r o m o l é c u l a s . c e n t r a ç ã o de glicose. Isto é e s p e c i a l m e n t e verdadeiro e m altas
Se a tensão polarizante d o eletrodo de P 0 2 é invertida, tor- c o n c e n t r a ç õ e s d e glicose e n c o n t r a d a s e m amostras d e pacientes
n a n d o o eletrodo de platina positivo (ânodo) relativamente ao diabéticos (>500 m g / d L ) . N o p r o j e t o d o YSI, este p r o b l e m a foi
eletrodo de referência A g / A g C l , e, se a m e m b r a n a permeável a gás resolvido c o m a diluição de a m o s t r a e soluções de calibração, pelo
é substituída por u m a m e m b r a n a hidrofílica c o n t e n d o a enzima m e n o s 1:10 c o m t a m p ã o , assim f i x a n d o a c o n c e n t r a ç ã o d e oxigê-
imobilizada, é possível oxidar H2O2 p r o d u z i d o pela reação da n i o e m calibrador e a m o s t r a e m u m a c o n c e n t r a ç ã o c o n s t a n t e .
glicose oxidase. A c o r r e n t e d o estado de equilíbrio produzida é O p r o b l e m a d a limitação d e oxigênio para biossensores rela-
d i r e t a m e n t e proporcional à c o n c e n t r a ç ã o d e glicose na amostra. c i o n a d o s ás enzimas oxidases t a m b é m foi resolvido (1) proje-

Platina r~
\

Vidro M l 1N Eletrodo úe
referência

.
'A

mÊÊÊ Membrana
semipermeável
o> a gás
Camada
de enzima P 4 HVOÍ

x
Substrato (p ex.,
Diminuição d e
Membrana
oxigênio dentro da
glicose) semipermeável
camada de enzima

Figura 5 - 1 0 Ilustração de eletrodo de enzima preparado utilizando-se enzima oxidase imobilizada na


superfície do sensor amperométrico de P0 2 . O aumento na concentração do substrato S reduz a quantidade de
oxigênio presente na superfície do sensor.
Eletroquímica e Sensores Químicos CAPÍTULO 5 101

+0,7V Eletrodo

MC< ...--£>GOo* P> Produto


Corrente =
glicose] V \/

A
y/ \ v
Ag/AgCl A ••
Ânodo — \J" *" Glicose
de Pt
Figura 5 - 1 2 Esquema mostrando a utilização de mediador
eletioatívo no projeto de eletrodo amperométrico de enzima. O
mediador aceita elétrons diretamente da enzima e é oxidado na
superfície do eletrodo de trabalho, criando um mediador mais oxidado
Membranas para continuar este processo. {De D'Orazio P. Electroehemistty. ín:
externa e Lewandrowski, K, ed. Clinicai ctamísrrç labotaiory managemenL and clinica!
interna correÍíttiotvs, Pliiladelphia: Lippincott, Williams and Wilkms, 2002:464.)
Enzima
imobilizada
cinéticas (pouca o u n e n h u m a s o b r e t e n s ã o ) mais favoráveis q u e a
d o oxigênio p e r m i t e m a o p e r a ç ã o d o sensor e m valores m e n o r e s
de potenciais aplicados (+0,2 V versus A g / A g C l ou inferior) q u e
Ânodo
o n o r m a l m e n t e utilizado p a r a a oxidação de H 2 0 2 . Esta aborda-
de Pt
gem n ã o a p e n a s e l i m i n a a d e p e n d ê n c i a da velocidade de reação
H 2 0 2 - 2e —>0 2 + 2H pelo oxigênio, m a s t a m b é m serve p a r a reduzir a c o n t r i b u i ç ã o d e
Membrana de
baixo corte substâncias oxidáveis i n t e r f e r e n t e s (p. ex., ácido úrico, ácido
de massa ascórbico, a c e t a m i n o f e n o etc.) sobre a resposta d o sensor. Exem-
molecular Glicose B plos de aceptores q u e t ê m sido utilizados i n c l u e m (1) q u i n o n a s ,
Membrana — oxidase (2) sais orgânicos c o n d u t i v o s , c o m o tetratiafulvaleno-tetraciano-
externa q u i n o d i m e t a n o ( T T F - T C N Q ) , e (3) derivados de f e r n c i a n i d a e
_^'uc Ç fbtT) Gluc (. rbc *) ferrocena.
- —- •••._ y O u t r a técnica para d i m i n u i r interferências de espécie facil-
rbc
(frtic) Gluc m e n t e oxidável e m u m a a m o s t r a s a n g u í n e a , q u a n d o a d e t e c ç ã o
Gluc
e l e t r o q u í m i c a d e H 2 0 2 t r a d i c i o n a l f o r utilizada, é e m p r e g a r m e m -
b r a n a s seletivamente permeáveis e m p r o x i m i d a d e c o m a superfí-
Figura 5 - 1 1 Esquema do eletrodo amperométrico de enzima
cie d o eletrodo, q u e p e r m i t e o t r a n s p o r t e de H 2 0 2 para a super-
baseado na detecção anódica de peróxido de hidrogênio gerado a partir
fície d o eletrodo, mas rejeita as substâncias i n t e r f e r e n t e s c o m
de reação de oxidação enzimática (p. ex, glicose oxidase) (A) e visão
base n a exclusão p o r t a m a n h o (Figura 5-11, B). U m exemplo é
ampliada de superfície de sensoriamento mostrando as diferentes
u m a m e m b r a n a de baixo c o r t e d e massa molecular, c o m o o
membranas e os processos eletroquimicos que produzem a corrente
acetato d e celulose, utilizada e m m u i t o s biossensores a m p e r o m é -
anódica proporcional à concentração do substrato na amostra (B). (De
trícos comerciais. T a m b é m são utilizados filmes eletropolimeriza-
Meyerhoff M. New m vitro analyticãl apfiroaches for clinicai chemistiy
dos, tais c o m o poli ( f e n i l e n o d i a m i n a ) , f o r m a d o in si tu p a r a rejei-
memuremenis in criticai eme. Clin Ctam 1990; 36:1570.)
tar substâncias i n t e r f e r e n t e s c o m b a s e n o r a m a n h o . 8 O u t r a abor-
d a g e m comercial envolve a utilização de u m s e g u n d o e l e t r o d o de
correção, i d ê n t i c o ao e l e t r o d o d e trabalho, m a s s e m e n z i m a ,
t a n d o s e membranas semipermeáveis que restringem a difusão d o sensível a p e n a s à p r e s e n ç a d e substâncias i n t e r f e r e n t e s oxidáveis.
analito p r i m á r i o (substrato) p a r a a c a m a d a d e e n z i m a , (2) evi- O sinal diferencial r e s u l t a n t e é proporcional à c o n c e n t r a ç ã o d o
tando-se a s a t u r a ç ã o da e n z i m a e (3) m a n t e n d o - s e a razão de analito.
oxigênio para analito s e m p r e s u p e r i o r a 1. Isto e s t e n d e a lineari- U m a n o v a a b o r d a g e m utilizada p a r a a e l i m i n a ç ã o de substân-
d a d e d e resposta ao analito p a r a c o n c e n t r a ç õ e s s u b s t a n c i a l m e n t e cias eletroativas i n t e r f e r e n t e s e m sensor de glicose, disponível
superiores ao da e n z i m a e reduz a d e p e n d ê n c i a d o sinal ao c o m e r c i a l m e n t e , é d i r e t a m e n t e "telegrafar" o c e n t r o r e d o x d a
oxigênio. M e m b r a n a s externas de p o l i c a r b o n a t o c o m trilhas gra- e n z i m a glicose oxidase para u m e l e t r o d o a m p e r o m é t r i c o metá-
vadas são c o m u m e n t e utilizadas, b e m c o m o m e m b r a n a s de poli lico, utilizando-se hidrogel r e d o x b a s e a d o e m ó s m i o (III/IV). 1 5 O s
(cloreto de vinilo), p o l i u r e t a n o s e e m u l s õ e s de silicone. O u t r a sítios de ó s m i o e f e t i v a m e n t e s e r v e m c o m o m e d i a d o r e s e p o d e m
estratégia é utilizar u m e l e t r o d o d e m a t e r i a l rico e m oxigênio, aceitar elétrons d i r e t a m e n t e da e n z i m a a p r i s i o n a d a , s e m a neces-
q u e serve c o m o reservatório d e oxigênio para auxiliar a biorrea- sidade d e oxigênio. Essa a b o r d a g e m p e r m i t e q u e o p o t e n c i a l de
ção. U m f l u o r o c a r b o n o (óleo Kel-F) foi utilizado p a r a f o r m u l a r o p e r a ç ã o de e l e t r o d o seja d r a m a t i c a m e n t e r e b a i x a d o a +0,2 V
u m e l e t r o d o de pasta d e c a r b o n o q u e age c o m o f o n t e de oxigênio versus S C E ( e l e t r o d o de referência d e c a l o m e l a n o saturado), o n d e
e c o m o e l e t r o d o d e trabalho. 2 1 c o r r e n t e s r e s u l t a n t e s de eletrooxidação d o ascorbato, u r a t o , ace-
A c e p t o r e s de elétrons d i f e r e n t e s d e oxigênio t a m b é m f o r a m t a m i n o f e n o e L-cisteína sejam negligenciáveis.
utilizados n a reação d e glicose oxidase, o q u e e l i m i n o u comple- A s u b s t i t u i ç ã o de o u t r a s enzimas o x o r r e d u t a s e p o r glicose
t a m e n t e q u a l q u e r d e p e n d ê n c i a da resposta a m p e r o m é t r i c a à con- oxidase p e r m i t e a c o n s t r u ç ã o d e biossensores a m p e r o m é t r i c o s
c e n t r a ç ã o de oxigênio d a a m o s t r a . O a c e p t o r de elétrons, geral- para o u t r o s substratos d e interesse clínico. Por exemplo, f o r a m
m e n t e imobilizados j u n t a m e n t e c o m a enzima, t r a n s p o r t a elé- desenvolvidos sensores p a r a m e d i r (1) lactato s a n g u í n e o , (2)
t r o n s à s u p e r f í c i e d o â n o d o , o n d e esse é r e o x i d a d o , r e s u l t a n d o colesterol, (3) p i r u v a t o , (4) a l a n i n a , (5) g l u t a m a t o e (6) g l u t a m i n a .
e m u m m e c a n i s m o de reação cíclica (Figura 5-12). A c e p t o r e s c o m E m adição, c o m a utilização d e cascata m u l t i e n z i m á t i c a , u m
102 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

b i o s s e n s o r a m p e r o m é t r i c o p a r a c r e a t i n i n a t a m b é m foi desenvol- uréia p r o d u z i r p H local alcalino n a v i z i n h a n ç a d a m e m b r a n a de


vido. s e n s o r i a m e n t o de a m ó n i o , c o n v e r t e n d o p a r c i a l m e n t e N H / e m
N H 3 (pKa 9,3). A a m ó n i a ( N l l j ) a ã u é p e r c e b i d a p e l o ISE. O
Biossensores Potenciométricos e grau de n ã o l i n e a r i d a d e p o d e ser r e d u z i d o pela inserção d e u m a
Condutimétricos Baseados em Enzimas m e m b r a n a s e m i p e r m e á v e l e n t r e e n z i m a e amostr a p a r a restringir
E l e t r o d o s seletivos para í o n s t a m b é m t ê m sido utilizados c o m o a d i f u s ã o de uréia p a r a a c a m a d a d e e n z i m a imobilizada.
t r a n s d u t o r e s e m biossensores p o t e n c i o m é t r i c o s . U m exemplo é A m u d a n ç a de c o n d u t i v i d a d e de solução t a m b é m t e m sido
o b i o s s e n s o r para uréia (do inglês n i t r o g ê n i o d e uréia s a n g u í n e a , utilizada c o m o u m m e c a n i s m o d e t r a n s d u ç ã o e m biossensores
B U N ) b a s e a d o e m u m ISE d e p o l i m e m b r a n a (cloreto d e vinilo) b a s e a d o s e m enzimas. O s e x e m p l o s i n c l u e m m e d i d a s d e glicose,
para o íon a m ó n i o (Figura 5-13). A e n z i m a urease é imobilizada c r e a t i n i n a e a c e t a m i n o f e n o , utilizando-se eletrodos interdigitais. 7
n a superfície de u m ISE seletivo p a r a a m ó n i a , baseado n o anti- E m f u n ç ã o d a variação do r u í d o de f u n d o iônico de a m o s t r a s
b i ó t i c o n o n a c t i n a (veja a e s t r u t u r a d o l o n ó f o r o n a Figura 5-2), e clínicas e d a exigência e m m e d i r p e q u e n a s variações d e c o n d u t i -
catalisa a hidrólise d e uréia a N H 3 e C O ^ . A a m ó n i a p r o d u z i d a v i d a d e de u m m e i o c o m força iônica elevada, as aplicações prá-
dissolvesse para f o r m a r N H / , q u e é p e r c e b i d o p e l o ISE. O sinal ticas de biossensores c o n d u t i m é t r i c o s são p o u c a s . U m sistema
g e r a d o pelo N H 4 T p r o d u z i d o é p r o p o r c i o n a l ao l o g a r i t m o da comercial para m e d i r uréia de soro, p l a s m a e u r i n a é o a n a l i s a d o r
c o n c e n t r a ç ã o de uréia d a a m o s t r a . A resposta p o d e ser o e s t a d o B U N ( B e c k m a n - C o u l t e r , F u l l e r t o n , CA), b a s e a d o n a e n z i m a
e s t a c i o n á r i o ou o transitório. T i p i c a m e n t e , a correção d e r u í d o urease. A dissolução d e p r o d u t o s a N H ^ 4 e H C O j " gera u m a
d e f u n d o d e potássio é necessária p o r q u e o i o n ó f o r o n o n a c t i n a m u d a n ç a n a c o n d u t i v i d a d e d a a m o s t r a . A taxa inicial d e variação
a p r e s e n t a seletividade l i m i t a d a p a r a a m ó n i a sobre c potássio d e c o n d u t i v i d a d e é m e d i d a p a r a c o m p e n s a r a c o n d u t i v i d a d e de
(Knh4+/k = Ojl)- O potássio é m e d i d o s i m u l t a n e a m e n t e com uréia f u n d o da a m o s t r a . Esta a b o r d a g e m é l i m i t a d a a dosagens de
e é utilizado para corrigir a saída d o sensor de uréia utilizando-se analitos e m c o n c e n t r a ç õ e s r e l a t i v a m e n t e elevadas e m f u n ç ã o das
a e q u a ç ã o d e Nicolsky-Eisenman (equação 10). p e q u e n a s alterações n a c o n d u t i v i d a d e p r o d u z i d a s p o r baixas con-
A a b o r d a g e m descrita a n t e r i o r m e n t e p a r a m e d i r uréia, utili- centrações de analito.
zando-se u m biossensor p o t e n c i o m é t r i c o b a s e a d o em enzima,
a s s u m e q u e a renovação d e c o n c e n t r a ç ã o de a m ó n i a , a partir de Biossensores Baseados em Enzimas com
u r é i a n o estado estacionário, f o r n e c e u m a relação c o n s t a n t e e n t r e Detecção Óptica
íons a m ó n i o e uréia, i n d e p e n d e n t e d a c o n c e n t r a ç ã o . R a r a m e n t e Sensores ópticos c o m enzimas e c o r a n t e s i n d i c a d o r e s imobiliza-
este é o caso, especialmente e m c o n c e n t r a ç õ e s elevadas de subs- d o s f o r a m desenvolvidos para m e d i r glicose e o u t r o s substratos
trato, r e s u l t a n d o e m u m a resposta n ã o linear d o sensoT. A line- de interesse clínico. Estes biossensores c o n t a m c o m a b s o r v â n c i a /
a r i d a d e d o sensor t a m b é m é l i m i t a d a p e l o f a t o d e a hidrólise d a reflexão, f l u o r e s c ê n c i a e l u m i n e s c ê n c i a c o m o m o d o s d e detecção
d e valores de p H e oxigênio. O s m é t o d o s d e imobilização de
enzimas l e m b r a m aqueles utilizados p a r a c o n s t r u i r biossensores
eletroquimicos, i n c l u i n d o a p r i s i o n a m e n t o físico ou encapsula-
m e n t o n a matriz de u m gel, adsorção física e m substratos e
ligação covalente ou absorção e m u m s u p o r t e insolúvel. Utili-
zando-se u m exemplo b a s e a d o n u m o p t o d o para P02l u m indi-
c a d o r sensível é co-imobilizado c o m u m a enzima oxidase, n a
e x t r e m i d a d e d e u m a s o n d a d e f i b r a óptica. A s o n d a é utilizada
para m o n i t o r a r a fluorescência d o i n d i c a d o r . A a t e n u a ç ã o de
f l u o r e s c ê n c i a d o i n d i c a d o r pelo 0 2 a c o n t e c e n a s e q ü ê n c i a . A
d i m i n u i ç ã o n a P 0 2 r e s u l t a n t e d e u m a reação catalisada pela
e n z i m a resultará e m m e n o r a t e n u a ç ã o d o i n d i c a d o r f l u o r e s c e n t e
e u m sinal d i r e t a m e n t e p r o p o r c i o n a l à c o n c e n t r a ç ã o d o subs-
trato. E m u m exemplo d e s o n d a d e b i o s s e n s o r óptico para glicose,
u m c o r a n t e c a t i õ n i c o sensível ao oxigênio (Ru[fen] 3 z + ) é imobili-
zado, j u n t a m e n t e c o m a glicose oxidase, n a superfície de u m a
fibra óptica. 1 4 A d i m i n u i ç ã o na P 0 2 , d e c o r r e n t e de oxidação
enzimática d e glicose, resulta e m u m a u m e n t o n a i n t e n s i d a d e d e
l u m i n e s c ê n c i a d o r u t ê n i o tris ( f e n a n t r e n o ) .
Biossensores ópticos similares f o r a m p r e p a r a d o s para o u t r o s
Nonactina —
analitos. Por exemplo, u m biossensor óptico para colesterol foi
e l a b o r a d o c o m base e m a t e n u a ç ã o de f l u o r e s c ê n c i a de u m c o r a n t e
sensível ao oxigênio, q u e é a c o p l a d o ao c o n s u m o d e oxigênio
Camada com urease
uiuirna asso- r e s u l t a n t e d a oxidação enzimática d e colesterol pela e n z i m a coles-
2NH* i COg « — uréia
ciada por terol oxidase. 2 0 B i l i r r u b i n a sérica foi d e t e c t a d a utilizando-se bilir-
ligação * / r u b i n a oxidase, co-imobilizada c o m o c o r a n t e r u t ê n i o , e m fibra
cruzada / ( rbc { rbc) •
ó p t i c a . " Foi r e l a t a d o q u e sensoT de b i l i r r u b i n a a p r e s e n t a baixo
uréia
ureia / K' limite d e detecção, d e 10 p m o l / L , faixa linear até 3 0 m m o l / L e
rbc j r e p r o d u t i b i l i d a d e típica de 3 % (coeficiente d e variação [CV]),
rbc ( rbc)
uréia c e r t a m e n t e a d e q u a d o p a r a aplicações clínicas.
F i g u r a 5 - 1 3 Eletrodo potenciométrico de enzima para determinação A m u d a n ç a de p H r e s u l t a n t e d e reações enzimáticas t a m b é m
da uréia sanguínea, baseado na imohilizacãa da enzima urease na foi m e d i d a o p t i c a m e n t e . O c o r a n t e i n d i c a d o r f i u o r e s c e í n a é fre-
superfície de eletrodo de membrana polimérica seletivo para ions de q ü e n t e m e n t e utilizado c o m o i n d i c a d o r sensível ao p H p a r a cons-
truir tais sensores. A f o r m a p r o t o n a d a de f i u o r e s c e í n a n ã o p r o d u z
amAnia.
Eletroquímica e S e n s o r e s Químicos CAPÍTULO 5 103

f l u o r e s c ê n c i a , m a s a base c o n j u g a d a a p r e s e n t a f o r t e f l u o r e s c ê n c i a e v i t a n d o , assim, a n e c e s s i d a d e d e a l g u m a etapa de r e g e n e r a ç ã o


a 5 3 0 n m , q u a n d o excitado a 4 9 0 n m . U t i l i z a n d o glicose oxidase ( m u d a n ç a d e p H etc.) p a r a a dissociação d a ligação f o r t e e n t r e o
c o m o e n z i m a , u m o p t o d o de p H foi e m p r e g a d o p a r a a c o m p a n h a r e l e m e n t o de r e c o n h e c i m e n t o e o alvo.
a f o r m a ç ã o d e ácido glicônico. A d e s v a n t a g e m de sensores ópticos Esses sensores, q u e são utilizados n a clínica, t i p i c a m e n t e são
b a s e a d o s e m m u d a n ç a s de p H é q u e eles são f o r t e m e n t e d e p e n - b a s e a d o s e m reagentes m a r c a d o s , tais c o m o enzimas, f l u o r ó f o r o s ,
d e n t e s d e p H e d a c a p a c i d a d e t a m p o n a n t e da a m o s t r a . A l é m e t i q u e t a s e l e t r o q u í m i c a s , e, p o r c o n s e g u i n t e , f u n c i o n a m m a i s
disso, a faixa de t r a b a l h o d o s e n s o r é d e t e r m i n a d a pela p K a do c o m o i m u n o e n s a i o s / e n s a i o s de ligação t r a d i c i o n a i s , exceto p e l o
i n d i c a d o r , de 6,8 a 7,2 p a r a a f i u o r e s c e í n a , d e p e n d e n d o d a força f a t o de q u e u m e l e m e n t o d e r e c o n h e c i m e n t o é i m o b i l i z a d o n a
iônica da matriz de a m o s t r a . U m i n d i c a d o r sensível ao p H s u p e r f í c i e de u m e l e t r o d o a d e q u a d o o u o u t r o t i p o d e t r a n s d u t o r .
t a m b é m p o d e ser utilizado p a r a m o n i t o r a r reações enzimáticas Por e x e m p l o , sensores e l e t r o q u í m i c o s de oxigênio f o r a m u s a d o s
p r o d u t o r a s de a m ó n i a (p. es., a ação d a u r e a s e s o b r e a uréia). p a r a executar i m u n o e n s a i o s enzimáticos h e t e r o g ê n e o s (do t i p o
s a n d u í c h e o u competitivo), u t i l i z a n d o catalases c o m o e n z i m a
Sensores de Afinidade m a r c a d o r a (catalisa H2O2 —> 2 H + e O2) e i m o b i l i z a n d o a n t i c o r p o s
S e n s o r e s d e a f i n i d a d e c o n s i s t e m e m u m a classe especial de bios- de c a p t u r a s o b r e a s u p e r f í c i e exterior da m e m b r a n a p e r m e á v e l a
sensores e m q u e os e l e m e n t o s d e r e c o n h e c i m e n t o s biológicos gás. A p ó s as etapas d e e q u i l í b r i o e lavagem, a q u a n t i d a d e d e
imobilizados são o b r i g a t o r i a m e n t e p r o t e í n a s , a n t i c o r p o s (imu- e n z i m a ligada é d e t e c t a d a pela adição de s u b s t r a t o e pelo acom-
n o s s e n s o r e s ) o u o l i g o n u c l e o t í d e o s (p. ex., D N A , R N A , aptâme- p a n h a m e n t o d o a u m e n t o d e c o r r e n t e gerada, e m f u n ç ã o d a
ros etc.) c o m altas a f i n i d a d e e especificidade p a r a u m analito p r o d u ç ã o local de oxigênio p r ó x i m o à s u p e r f í c i e d o sensor.
c l i n i c a m e n t e i m p o r t a n t e . Esses sensores f o r a m desenvolvidos F o r a m desenvolvidos i m u n o e n s a i o s enzimáticos h e t e r o g ê n e o s ,
c o m o alternativas aos ensaios c o n v e n c i o n a i s p a r a a u m e n t a r a baseados em detecção de peróxido por eletrodo, com o uso de
v e l o c i d a d e e a c o n v e n i ê n c i a de u m vasto n ú m e r o d e testes q u e e t i q u e t a s de e n z i m a oxidase o u alterações d e p H u t i l i z a n d o a
s e r i a m n o r m a l m e n t e e x e c u t a d o s e m a n a l i s a d o r e s de i m u n o e n - urease como u m a enzima rotuladora.
saio sofisticados. D e m a n e i r a ideal, a ligação direta e n t r e a espécie S e n s o r e s de a f i n i d a d e b a s e a d o s e m ligação de oligonucleóti-
imobilizada e o respectivo alvo e m u m a a m o s t r a clínica deve deos t a m b é m estão disponíveis. Por exemplo, foi desenvolvida
p r o d u z i r u m sinal p r o p o r c i o n a l à c o n c e n t r a ç ã o d o a n a l i t o . N o u m a série d e sensores d e D N A , o n d e u m s e g m e n t o de D N A
e n t a n t o , o s e n s o r i a m e n t o "direto" e m c o n c e n t r a ç õ e s de analito c o m p l e m e n t a r à fita-alvo é i m o b i l i z a d o e m u m s e n s o r eletroquí-
q u e c o b r e m t o d a a g a m a de aplicações clínicas é m u i t o difícil de m i c o a d e q u a d o . Estes dispositivos o p e r a m direta ( c o m b a s e n a
alcançar. A l é m disso, a g r a n d e a f i n i d a d e d e tais reações de o x i d a ç ã o e l e t r o q u í m i c a d a g u a n i n a n o DNA-alvo) (Figura 5-14,
ligação, necessária p a r a atingir a s e n s i b i l i d a d e ó t i m a , t a m b é m A) o u i n d i r e t a m e n t e ( c o m m a r c a d o r e s / r ó t u l o s e l e t r o q u í m i c o s
limita a reversibilidade destes dispositivos. A s s i m , sensores eletro- e x ó g e n o s (veja o texto a seguir e a Figura 5-14, B) e m m o d o s de
químicos baseados em afinidade, ópticos ou em outros modos t r a n s d u ç ã o . Por e x e m p l o , foi d e m o n s t r a d o u m "sensor geno"
d e t r a n s d u ç ã o , são t i p i c a m e n t e dispositivos d e utilização única, e l e t r o q u í m i c o sem r ó t u l o r e l a t i v a m e n t e simples paTa d e t e c ç ã o da

A Sonda de captura Amostra Oxidação de guanina no DNA-alvo

1..-T
I I 1 1 1 1 UC 1 I I
A I AT T 1CC

"1 1 ] I I ] I I / 11 11

)
1 i 1 1 0 O 1 1
A I ATT I C C
v I I 1 1
/ V -.

v
1 v
A I AT T I C C W / C
A s , /

Espécie de intercalação redox


B Senda de captura Amostra de oxidação/redução

I.--T Ox I I I I I I I I
:
L.-C Ox
cX
A I A T T I C C O* Ox Ox Ox
Ox I I I I I I I I

~i 1 1
A I AT T I CC
i 1 1 .V®,
%
A
I I
.Ox. Ox
I
1—I
I I
I
Ox , Ox
I
I
I
I
I

I I I 1
Sa
~i I l i I I I 11
A I AT T I CC
n
; S.Rad

F i g u r a 5 - 1 4 Exemplos de configurações de biossensores de DNA: (A) detecção direta de eletrooxidação de bases


de guanosina no DNA-alvo após hibridação com sonda de captura imobilizada tia superfície do eletrodo, (B)
eletrodetecção de hibridação utilizando espécies redox exógenas que se inceicalam em complexo hibridado, entre a
sonda de DNA de captura imobilizada e o DNA-alvo.
104 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

p r e s e n ç a d e m u t a ç õ e s d e L e i d e n n o fator V, utilizando s o n d a s 2. Astrup P, Severinghaus JW. The hístory of blood gases, acids and bases.
de c a p t u r a c o m a i n o s i n a s u b s t i t u i n d o g u a n o s i n a d e ácidos CopenhagemMunksgaard, 1986.
nacléicos. 1 6 S o n d a s t a m b é m f o r a m desenvolvidos para se ligarem 3. Bates RG. Determination of pH: theory and piactice. New York: John
ao D N A selvagem e m u t a n t e , c o m base n o c o n h e c i m e n t o de Wiley & Sons, 1973.
s e q ü ê n c i a s d e bases d o D N A selvagem e m u t a n t e na região da 4. Eedioui F, Villeneuve N. Electrochemical nitric oxide sensors for
m u t a ç ã o . Estas s o n d a s f o r a m imobilizadas n a superfície d o s ele- biological samples: principie, selected exampies and applications.
Electroanalysis 2003;15:5-18.
t r o d o s d e t r a b a l h o d e pasta d e c a r b o n o . A p ó s a amplificação e m
5. Btjster P, Vader HL, Vink CLJ. Influence of erythrocytes on direct
cadeia d a p o l i m e r a s e ( P C R ) d a amos t ra d e D N A , u m p e q u e n o
potentiometric determination of sodium and potassium. Ann Clin
v o l u m e dessas a m o s t r a s (10 (iL) é i n c u b a d o d u r a n t e seis m i n u t o s
Biochem 1983;20:116-20.
c o m e l e t r o d o d e s o n d a m o d i f i c a d a . E m seguida, após u m a r á p i d a
6. Coulier WH. Means for counting parti cies suspended in a fluid.
e t a p a d e lavagem, a p r e s e n ç a d o amplicon-alvo ligado à superfície
LIS Parent 2,656,508, Oct 20, 1953. Washington DC: US Patent
é o b s e r v a d a p o r voltametria de p u l s o diferencial utilizando-se Office.
v a r r e d u r a a n ó d i c a . A p r e s e n ç a d e u m pico de oxidação de 7 Cullen D, Sethi R, Lowe C. A multi-analyte miniature conductance
g u a n i n a , q u e o c o r r e e m +1,00 V versus referência de A g / A g C l , biosensor. Anal Chim Acta 1990;231:33-40.
indica a p r e s e n ç a d o DNA-al vo n a amos t ra original. 8. Emr S, Yacynych A. Use of polymer films in amperometric biosensors.
Diversos a r r a n j o s de sensores d e "genes" utilizam oligonucle- Electroanalysis 1995;7:913-23.
otídeos m a r c a d o s e l e t r o q u i m i c a m e n t e ou s o n d a s eletroquímicas 9. Feldman BJ, Oserioh JD, Hata BH, D'Alessandro A. Determinadon of
q u e estão inseridas seletivamente e m D N A d u p l e x h i b r i d a d o s . lead in blood by square wave anodic stripping voltammetry at a carbon
C o m o ilustrado n a Figura 5-14, B, q u a n d o n ã o se estiver utili- disk ultramicroelectrode. Anal Chem 1994;66 1983-7.
z a n d o a eletro atividade i n t r í n s e c a d a g u a n i n a {que r e q u e r s o n d a s 10. Lcc HJ, Yoon IJ, Yoo CL, Pyun HJ, Cha GS, Nam H. Potentiometric
d e oligo de c a p t u r a imobilizada e m eletrodos, c o m a inosina evaluatinn of solvenr polymeric carbonate-selective membranes based on
s u b s t i t u i n d o g u a n o s i n a , veja a n t e r i o r m e n t e ) , a detecção d a hibri- molecular tweezer-type neutral camers. Anal Chem 2000;72:
d a ç ã o d a s e q ü ê n c i a d e DNA-al vo é alcançada e m u m a das duas 4694-9.
m a n e i r a s . E m u m a a b o r d a g e m , após p e r m i t i r a ligação d o oligo 11. Li X, Rosenwcig Z. A fiber-optic sensor for rapid analysis of bilirubin in
de c a p t u r a imobilizado d o a n c o r a d o à superfície d o e l e t r o d o à seium. Anal Chim Acta 1997;353:263-73.
seqüência-alvo, a h i b r i d a ç ã o é d e t e c t a d a pela exposição d a super- 12. Ma SC, Meyerhoff ME, Yang V. Heparin-responsive electrochemical
sensor: a preliminary report. Anal Chem 1992;64:694-7.
fície d o e l e t r o d o a u m a espécie eletroativa exógena ( C o [III]
13. Mathison S, Bakker E. Effect of transmembtane electrolyte diffusion on
tris-fenantrolina, c o m p l e x o s d e r u t ê n i o etc.) q u e interage (inter-
the detection limk of carrier-based potentiometric ion sensors. Anal
cala) c o m o duplex, m a s n ã o c o m D N A de fita simples. A p ó s a
Chem 1998;70:303-9.
r e m o ç ã o d e espécies eletroativas n ã o associadas p o r lavagem, a
14. Moreno-Bondi MC, Wnlfbeis OS, Leinei MJP, Schaffar BPH. Oxygen
p r e s e n ç a d a h i b r i d a ç ã o é f a c i l m e n t e detectada p o r voltametria,
optode for use in a fiber-opttc glucose biosensor. Anal Chem
v a r r e n d o o potencial d o e l e t r o d o s u b j a c e n t e para oxidar ou 1990;62:2377-80.
reduzir q u a l q u e r espécie eletroativa intercalada, s e n d o q u e o 15. Ohara TJ, Rajagopalan R, Heller A. "Wired" enzyme ele ctro d es for
nível d e c o r r e n t e d e t e c t a d a é p r o p o r c i o n a l ao n ú m e r o d e espécies amperometric determination of glucose or lactate in the presence of
de D N A d u p l e x n a superfície d o eletrodo. intetfering substances. Anal Chem 1994;66:2451-7.
U m a s e g u n d a a b o r d a g e m envolve a detecção de DNA-alvo via 16. Ozkan D, Erdem A, Kara P, Ketman K, Meric B, Hassmann J, et al.
ensaio d e ligação d o t i p o s a n d u í c h e , utilizando u m oligonucleo- Allele-speciftc genotype detection of factor V leiden mutation from
t í d e o m a r c a d o e l e t r o q u i m i c a m e n t e (oligo m a r c a d o c o m ferro- polymerasc chain reaction amplicons based on label-free e 1 ectrochemical
ceno, ó s m i o [III] t r i s b i p i r i d i n a etc. p a r a ligar-se a o u t r a s e q ü ê n c i a genosensor. Anal Chem 2002:74:5931-6.
de DNA-alvo d i f e r e n t e da d o oligo de captura imobilizado n a 17. Pioda LA, Simon W, Bosshard HR, Curtius CH. Determination of
s u p e r f í c i e d o eletrodo). Exposição s e q ü e n c i a l d o e l e t r o d o à potassium íon concentration in serum using a highly selective liquid-
a m o s t r a de D N A ( g e r a l ment e após amplificação p o r P C R ) , u membrane electrodc. Clin Chim AtU 1970;29-289-93.
excesso de oligo r e p ó r t e r m a r c a d o é r e m o v i d o p o r lavagem, e, e m 18. Robinson DL, Venton BJ, Helen MLAV, Wightman RM. Detecting sub-
seguida, o m a r c a d o r ligado à superfície é e l e t r o q u i m i c a m e n t e second dopamine release with fast-scan voltammetry in freely moving
medido. Novamente, a quantidade de corrente medida é propor- rats. Clin Chem 2003;49:1763-73.
cional ao n ú m e r o de espécies de DNA-alvo p r e s e n t e n a a m o s t r a 19. Thevenot DR, Toth K, Durst RA, Wilson GS. Electrcchemical
inicial. biosensors: recommended definitions and classifications. Biosen
Bioelectron 2001;16:121-31.
20. Trettnak W, Wolfbeis OS. A fiber-optic cholesterol hiosensor with
REFERÊNCIAS an oxygen optrode as the transducer. Anal Biochem 1990; 184:
1. Apple FS, Koch DD, Graves S, Ladenson JH. Relationship berween 124-7,
direct potentiometric and flame photometric measurement of sodium in 21. Wang J, Lu F Oxygen rich oxidase enzyme electrodes for operation in
blood. Clin Chem 1982;28:1931-5. oxygen-free solutions. J Am Chem Soe 1998;120:1048-50.
CAPÍTULO 6

Eletroforese*
Raymond E. Karcher, Ph.D., e James P. Landers, Ph.D.

OBJETIVOS E n d o s m o s e (fluxo e n d o s m ó t i c o , e l e t r o e n d o s m ó t i c o ) j
1. Definir "eletroforese" e dar uma breve descrição da teoria da M o v i m e n t o preferencial da água e m u m a direção através d e
u m m e i o eletroforético devido à ligação seletiva d e u m t i p o
eletroforese.
de carga na superfície d o meio.
2. Citar os usos dos procedimentos eletroforéticos em um laboratório.
M o b i l i d a d e E l e t r o f o r é t i c a : A velocidade d e m i g r a ç ã o ( c m / s ) de
3. Citar as funções dos seguintes constituintes em um procedimento
u m s o l u t o carregado e m u m c a m p o elétrico, expressa pela
eletroforético: tampões, corantes, meios de suporte e fonte de
u n i d a d e de força d o c a m p o (volts/cm). Ela t e m o s í m b o l o
energia.
\x e u n i d a d e s de cm 2 /(V)(s).
4. Discutir separação, detecção e quantificação em um procedimento P r o t e ô m i c a : U m tipo de análise r e l a c i o n a d o às m u d a n ç a s
eletroforético. globais da expressão de p r o t e í n a s q u a n d o visualizadas mais
5. Listar cinco tipos diferentes de eletroforese. c o m u m e n t e p o r eletroforese e m gel b i d i m e n s i o n a l e
6. Definir "blotting" e seu uso em um laboratório clínico. analisadas p o r espectrometria de massa.
7. Definir eletroendosmose. Wicít Flow (Fluxo p o r C a p i l a r i d a d e ) : M o v i m e n t o da água d o s
8. Identificar como cada um dos seguintes fatores afeta a eletroforese; reservatórios de tampão e m direção ao centro de u m gel ou
pH inapropriado do tampão, eletroendosmose, solução de coloração u m a fita de eletroforese p a r a reposição da água p e r d i d a pela
deficiente, sobrecarga de amostra, voltagem alta, meio de suporte evaporação.
inapropriado e amostra hemolisada.
9. Listar os componentes essenciais de um sistema de eletroforese

A
capilar.
eletroforese é u m a técnica analítica p o d e r o s a e versátil
10. Citar três vantagens da eletroforese capilar sobre a eletroforese
capaz de separar e analisar u m a v a r i e d a d e de analitos
convencional.
ionizados. Este capítulo discute as d e f i n i ç õ e s e os concei-
11. Descrever a diferença entre injeção de amostra hidrodinâmica e
tos básicos, a teoria, a descrição e os tipos de eletroforese, i n c l u i n d o
eletrocinética na eletroforese capilar.
as eletroforeses p o r microchifi e capilar e suas aplicações n a rotina
d o laboratório clínico, assim c o m o os campos e m desenvolvi-
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES
m e n t o da g e n ô m i c a e da p r o t e ô m i c a .
A n f ó l i t o : U m a molécula q u e c o n t é m grupos ácidos e básicos
( t a m b é m d e n o m i n a d a zwitterion). CONCEITOS BÁSICOS E DEFINIÇÕES
Cromatografia Eletrocinética Micelar (MEKC): U m híbrido
E l e t r o f o r e s e é u m t e r m o a b r a n g e n t e q u e se refere à migração de
de eletroforese e c r o m a t o g r a f i a e n v o l v e n d o a adição de partículas ou solutos carregados e m u m m e i o l í q u i d o sob a influ-
agentes q u í m i c o s ao t a m p ã o para p r o d u z i r micelas, as quais
ência de u m c a m p o elétrico, /onto/orese é u m t e r m o similar, mas
auxiliam na separação de moléculas sem carga.
se aplica s o m e n t e à migração de íons p e q u e n o s . Eletroforese de
Densitometria: U m método instrumental para medir a
zona é a técnica mais c o m u m e n t e u s a d a e m aplicações clínicas.
absorvância, a r e f l e c t â n c i a ou a fluorescência de cada
Nesta técnica, as moléculas carregadas m i g r a m e m zonas, n o r m a l -
f r a ç ã o separada e m u m a fita eletroforética (ou o u t r o meio)
m e n t e e m u m m e i o de s u p o r t e poroso, c o m o u m gel de agarose,
à m e d i d a q u e esta passa p o r u m sistema óptico de m e d i ç ã o .
após a a m o s t r a ter sido m i s t u r a d a a u m a s o l u ç ã o t a m p ã o . E
E l e t r o f e r o g r a m a : U m a r e p r e s e n t a ç ã o d e n s i t o m é t r i c a de zonas
gerado u m e l e t r o f e r o g r a m a , u m a r e p r e s e n t a ç ã o d e zonas de pro-
de p r o t e í n a s e m u m m a t e r i a l de s u p o r t e após separação e
teínas, cada u m a f i n a m e n t e separada das zonas vizinhas, sobre o
coloração material d e s u p o r t e . As zonas de p r o t e í n a são visualizadas q u a n d o
E l e t r o f o r e s e ; A m i g r a ç ã o de p a r t í c u l a s ou solutos carregados
o m e i o de s u p o r t e é c o r a d o c o m u m c o r a n t e especifico para
e m u m m e i o l í q u i d o s o b a i n f l u ê n c i a de u m c a m p o p r o t e í n a ; o m e i o é, e n t ã o , seco, e as zonas são q u a n t i f i c a d a s e m
elétrico.
u m d e n s i t ô m e t r o . O m e i o de s u p o r t e é seco e m a n t i d o c o m o u m
E l e t r o f o r e s e C a p i l a r : U m m é t o d o n o qual as técnicas clássicas registro p e r m a n e n t e .
d e eletroforese e m placa são realizadas e m u m t u b o capilar
de sílica f u n d i d a de p e q u e n o calibre.
TEORIA DA ELETROFORESE
E l e t r o f o r e s e e m M í c r o c h i f : U m tipo de eletroforese o n d e a
E m u m sistema eletroforético, as espécies químicas, as quais
separação é c o n d u z i d a e m canais f l u i d o s e m u m microchif.
a d q u i r e m carga elétrica ao se t o m a r e m ionizadas, movem-se e m
E l e t r o f o r e s e p o r Focalização I s o e l é t r i c a (IEF): U m m é t o d o
direção ao c á t o d o (eletrodo negativo) ou ao â n o d o (eletrodo
eletroforético q u e separa c o m p o s t o s anfotéricos e m u m
positivo), d e p e n d e n d o d o t i p o d e carga q u e p o s s u e m . O s í o n s
m e i o q u e c o n t é m u m g r a d i e n t e de p H estável.
positivos (cátions) m i g r a m e m direção ao c á t o d o e os íons nega-
tivos (ânions) m i g r a m e m direção ao â n o d o (Figura 6-1). U m
a n f ó l i t o , u m a molécula q u e é carregada p o s i t i v a m e n t e o u nega-
tivamente, a d q u i r e u m a carga positiva (liga p r ó t o n s ) e m u m a
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições originais dos D rs. solução mais ácida d o q u e seu p o n t o isoelétrico (pi),* e migra e m
Emmanucl Epstein e Kern L. Kluttall, nas quais se baseiam partes deste capítulo. direção ao cátodo. E m u m a solução mais alcalina, o anfólito está

105
106 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

0
— 2 2 —

r n
Fonle de energia:
corrente constante ou
voltagem constante
Cátodo
(eletrodo
F i g u r a 6 - 2 Um diagrama esquemático de um aparelho de
negativo)
eletroforese típico mostrando dois reservatórios para tampão com placas
lisas para direcionar o fluxo de energia (1J, eletrodos (2J, suporte
eletroforético (3J, fitas de contara (4), tampa (5) e fonte de energia.

P o r t a n t o , a m o b i l i d a d e eletroforética é d i r e t a m e n t e p r o p o r c i o n a l
à carga líquida e i n v e r s a m e n t e p r o p o r c i o n a l ao t a m a n h o mole-
cular e à viscosidade d o m e i o eletroforético.
O u t r o s fatores q u e a f e t a m a m o b i l i d a d e i n c l u e m o fluxo
e n d o s m ó t i c o (discutido p o s t e r i o r m e n t e ) e o <wick flow (fluxo p o r
c a p i l a r i d a d e ) . O ú l t i m o resulta d o calor g e r a d o p e l o processo
eletroforético, o q u e causa e v a p o r a ç ã o d o solvente d o s u p o r t e .
Este efeito de secagem faz o t a m p ã o subir p a r a o s u p o r t e eletro-
forético a p a r t i r d e a m b o s os c o m p a r t i m e n t o s de t a m p ã o . Este
f l u x o de t a m p ã o a partir d e a m b a s as direções é c h a m a d o u<icít
floiv e afeta a migração d e p r o t e í n a s e, p o r t a n t o , a m o b i l i d a d e .

DESCRICÃO DA TÉCNICA
Figura 6-1 Movimento de cátions e âniotis em um campo elétrico. A i n s t r u m e n t a ç ã o d a eletroforese, os reagentes e o p r o c e d i m e n t o
geral são discutidos n e s t a seção.

Instrumentação e Reagentes
U m d i a g r a m a e s q u e m á t i c o de u m sistema de eletroforese conven-
n e g a t i v a m e n t e ionizado (libera p r ó t o n s ) e migra e m direção ao cional é m o s t r a d o n a Figura 6-2. Dois reservatórios (1), c o m
â n o d o . C o m o as p r o t e í n a s c o n t ê m m u i t o s g r u p o s a m i n o ( - N H 2 ) placas lisas para c o n t r o l a r o f l u x o d e energia, c o n t ê m o t a m p ã o
e carboxila ( - O O O H ) ionizáveis, elas se c o m p o r t a m c o m o anfó- u s a d o n o processo. C a d a reservatório de t a m p ã o c o n t é m u m
litos e m solução. e l e t r o d o (2) feito de p l a t i n a o u d e c a r b o n o , cuja p o l a r i d a d e é
A velocidade d e migração é d e p e n d e n t e d e fatores tais c o m o d e t e r m i n a d a pelo m o d o d e c o n e x ã o à f o n t e d e energia. O s u p o r t e
(1) carga elétrica liquida d a m o l é c u l a , (2) t a m a n h o e f o r m a d a eletroforético (3), n o qual a separação ocorTe, p o d e c o n t a t a r o
m o l é c u l a , (3) fnrça d o c a m p o elétrico, (4) p r o p r i e d a d e s d o m e i o t a m p ã o d i r e t a m e n t e , ou por m e i o d e fitas de c o n t a t o (4). T o d o
de s u p o r t e c (5) t e m p e r a t u r a de operação. A m o b i l i d a d e eleLru- o e q u i p a m e n t o é c o b e r t o (5), para m i n i m i z a r a evaporação e
f o r é t i c a (p) é d e f i n i d a c o m o a velocidade de m i g r a ç ã o ( c m / s ) p o r proteger o sistema, e é ligado p o r u m a f o n t e de c o r r e n t e direta.
u n i d a d e de força d e c a m p o (volts/cm). A E q u a ç ã o 1 expressa a
m o b i l i d a d e eletroforética e é derivada de d u a s f ó r m u l a s : u m a F o n t e s d e Energia
e x p r e s s a n d o a força de i m p u l s o d o c a m p o elétrico sobre o íon e A f u n ç ã o d e u m a f o n t e d e energia e m u m processo eletroforético
a o u t r a e x p r e s s a n d o a força de r e t a r d a m e n t o causada pela resis- é f o r n e c e r força elétrica. As f o n t e s de energia disponíveis comer-
tência friccionai d o m e i o . 5 c i a l m e n t e p e r m i t e m a o p e r a ç ã o e m c o n d i ç õ e s c o n s t a n t e s de (1)
c o r r e n t e , (2) voltagem ou (3) potência, s e n d o todas ajustáveis. O
f l u x o d e c o r r e n t e através d e u m m e i o q u e oferece resistência
elétrica está associado à p r o d u ç ã o d e caloT Joule:

onde C a l o r - (E)(í)(t) (Z)


ji = m o b i l i d a d e elerr o forética e m cm 2 /(V)(s)
Q • a carga l í q u i d a d o íon Onde
r = o raio i ô n i c o d o s o l u t o E = força eletromotriz (EMF) e m volts (V)
T| = a viscosidade d a solução t a m p ã o na qual a m i g r a ç ã o está I = c o r r e n t e e m a m p e r e s (A)
ocorrendo t = t e m p o e m s e g u n d o s (s)

O calor g e r a d o d u r a n t e a eletroforese a u m e n t a a c o n d u t â n c i a d o
sistema ( d i m i n u i a resistência). C o m f o n t e s d e energia c o m vol-
tagem c o n s t a n t e , o a u m e n t o r e s u l t a n t e da c o r r e n t e , d e v i d o ao
*0 ponto isoelétrico de uma molécula é o pH no qual ela não tem carga a u m e n t o da agitação térmica d e t o d o s os íons dissolvidos, causa
liquida e não se moverá em um campo elétrico. u m a u m e n t o d a velocidade de m i g r a ç ã o da p r o t e í n a e d a taxa de
Eletroforese CAPÍTULO 6 107

evaporação de água d o meio d e s u p o r t e estacionário. A perda de variam de soluções t a m p ã o p u r a s e m u m capilar a géis insolúveis
água causa u m a u m e n t o da c o n c e n t r a ç ã o iônica e u m a d i m i n u i - (p. ex., papéis, placa o u colunas de a m i d o , agarose o u poliacrila-
ção a i n d a m a i o r da resistência (fi). Para m i n i m i z a r estes efeitos mída) ou m e m b r a n a s d e acetato d e celulose. O s géis são molda-
na velocidade de migração, é m e l h o r usar u m a f o n t e d e energia dos n o m e s m o t a m p ã o q u e será u s a d o n o p r o c e d i m e n t o e p o d e m
c o m c o r r e n t e c o n s t a n t e . D e a c o r d o c o m a lei de O h m : ser u s a d o s na direção horizontal o u vertical. N o s dois casos, a
resolução m á x i m a é alcançada se a a m o s t r a é aplicada e m u m a
E = (I)(R) (3) zona d e início b e m fina. A separação é b a s e a d a nas diferenças
das razões c a r g a / m a s s a das p r o t e í n a s e, d e p e n d e n d o d o t a m a n h o
Portanto, se R d i m i n u i , a E M F aplicada t a m b é m diminui (a corrente d o p o r o d o meio, possivelmente n o t a m a n h o molecular.
permanece constante). Isto, por sua vez, d i m i n u i o efeito d o calor e
m a n t é m a velocidade de migração relativamente constante. Gel de Amido e Acetato de Celulose
Para a e l e t r o f o r e s e p o r focalização isoelétrica (IFE), u m a O gel d e a m i d o foi o p r i m e i r o m a t e r i a l a ser u s a d o c o m o u m
f o n t e d e energia capaz de m a n t e r a p o t ê n c i a c o n s t a n t e é n o r m a l - meio de s u p o r t e para eletroforese. Ele foi u s a d o p a r a separar
m e n t e usada, u m a vez q u e a c o r r e n t e e a voltagem m u d a m à m a c r o moléculas d e a c o r d o c o m suas cargas superficiais e seus
m e d i d a q u e a separação o c o r r e nesta técnica. O s sistemas d e t a m a n h o s . C o m o o p r e p a r o de u m gel d e a m i d o r e p r o d u t í v e l é
e l e t r o f o r e s e c a p i l a r (CE) (discutidos p o s t e r i o r m e n t e ) u s a m f o n t e s difícil, este m e i o agora é r a r a m e n t e u s a d o n o l a b o r a t ó r i o clínico.
d e energia capazes de f o r n e c e r voltagens n a faixa de quilovolts. As m e m b r a n a s de acetato de celulose são filmes secos, opacos e
As técnicas de p o t ê n c i a p u l s a d a e d e c a m p o p u l s a d o m u d a m q u e b r a d i ç o s feitos através d o t r a t a m e n t o da celulose c o m ani-
p e r i o d i c a m e n t e a o r i e n t a ç ã o d o c a m p o e m relação aplicado à d r i d o acético. C o m o elas precisam ser e m b e b i d a s em t a m p ã o
direção de m i g r a ç ã o pela alternância de p o t ê n c i a aplicada a dife- p a r a a m o l e c e r e m antes d o u s o e t a m b é m p o r necessitarem de
rentes pares d e e l e t r o d o s ou g r u p o s d e eletrodos. D u r a n t e cada c l a r e a m e n t o antes de serem analisadas p o r d e n s i t o m e t r i a , elas
ciclo, as m o l é c u l a s precisam se r e o r i e n t a r na nova direção de r a r a m e n t e t ê m sido usadas e m aplicações clínicas de r o t i n a . Atu-
c a m p o para se e n c a i x a r e m através dos p o r o s d o gel antes q u e a a l m e n t e , os géis de agarose e d e p o l i a c r i l a m i d a t ê m sido os meios
migração c o n t i n u e . C o m o o t e m p o de r e o r i e n t a ç ã o d e p e n d e d o de s u p o r t e preferidos para a eletroforese.
t a m a n h o da m o l é c u l a , a mi gração real se t o r n a u m a f u n ç ã o da
f r e q ü ê n c i a d e alteração de c a m p o . Isto p e r m i t e a separação d e Agarose
moléculas m u i t o grandes, cais c o m o f r a g m e n t o s de D N A q u e n ã o A agarose é u m a fração e s s e n c i a l m e n t e n e u t r a , p u r i f i c a d a d o
são separados pelos poros r e l a t i v a m e n t e p e q u e n o s d o s géis de ágar, o b t i d a pela separação e n t r e a agarose e a agaropectina, u m a
agarose ou poliacrilamida. 1 2 fração mais a l t a m e n t e carregada graças aos g r u p o s laterais carbo-
xílicos e sulfatos ácidos. Ela é usada e m eletroforese e m gel de
Tampões agarose (AGE) para a separação de (1) p r o t e í n a s d o soro, da u r i n a
O t a m p ã o serve c o m o u m c o m p o n e n t e m u l t i f u n c i o n a l n o pro- e d o f l u i d o cerebrospinal (CSF), (2) v a r i a n t e s da h e m o g l o b i n a ,
cesso eletroforético já q u e ele (1) c o n d u z a c o r r e n t e aplicada, (2) (3) isoenzimas, (4) l i p o p r o t e í n a s e (5) o u t r a s substâncias. C o m o
estabiliza o p H n o qual a eletroforese é realizada e (3) d e t e r m i n a o t a m a n h o d o p o r o n o gel de agarose é g r a n d e o b a s t a n t e p a r a
a carga elétrica d o soluto. A força iônica d o t a m p ã o i n f l u e n c i a q u e todas as p r o t e í n a s p a s s e m s e m i m p e d i m e n t o , a separação é
(1) a c o n d u t â n c i a d o s u p o r t e , (2) a d e n s i d a d e da n u v e m iônica baseada s o m e n t e n a razão c a r g a / m a s s a da p r o t e í n a . As v a n t a g e n s
(íons d o t a m p ã o e í o n s diversos) e m t o r n o da m o l é c u l a carregada, d o gel de agarose i n c l u e m sua baixa a f i n i d a d e p o r proteínas e sua
(3) a velocidade d e sua m igração e (4) a nitidez das zonas eletro- t r a n s p a r ê n c i a após secagem, o q u e p e r m i t e u m a análise densito-
foréticas. C o m o a u m e n t o da c o n c e n t r a ç ã o de tampão, a n u v e m métrica excelente. E e s s e n c i a l m e n t e livre d e grupos ionizáveis e,
iônica a u m e n t a e m t a m a n h o e a molécula se t o r n a r e t a r d a d a e m p o r t a n t o , exibe p e q u e n a e n d o s m o s e (discutida p o s t e r i o r m e n t e ) .
seu m o v i m e n t o . O s t a m p õ e s d e alta força iônica geram separa- A maioria d o s p r o c e d i m e n t o s de r o t i n a p o r A G E é realizada
ções d e b a n d a s m a i s nítidas, m a s t a m b é m p r o d u z e m mais calor em géis de m i c r o z o n a p r é - e m p a c o t a d o s , p r o d u z i d o s comercial-
Joule devido aos níveis a u m e n t a d o s d e corrente, u m efeito q u e m e n t e . A amostra é aplicada através d e u m m o l d e plástico f i n o
leva à d e s n a t u r a ç ã o de p r o t e í n a s termolábeis. com p e q u e n a s f e n d a s c o r r e s p o n d e n t e s aos p o n t o s d e aplicação
A força iônica ( t a m b é m d e s i g n a d a pelo s í m b o l o ]u) é calcu- de a m o s t r a (poços) e m p r o c e d i m e n t o s m a n u a i s , ou através d e u m
lada de acordo c o m o seguinte-. p e n t e aplicador se u m sistema a u t o m a t i z a d o é u s a d o . O m o l d e
é c o l o c a d o n a superfície da agarose, e a m o s t r a s d e 5 a 7 |uL são
colocadas e m cada p o ç o . A p ó s p e r m i t i r q u e a a m o s t r a se d i f u n d a
V- = 0,5^ C£ f (4) n a agarose p o r 5 m i n u t o s , q u a l q u e r excesso é r e m o v i d o p o r
capilaridade e o m o l d e é r e m o v i d o . U m a separação p o r A G E para
a m a i o r i a das aplicações de r o t i n a para soro exige u m t e m p o de
onde eletroforese de 20 a 30 m i n u t o s .
c, = c o n c e n t r a ç ã o iônica e m m o l / L O p e r a c i o n a l m e n t e , de 0 , 5 a 1,0 g de a g a r o s e / d L de t a m p ã o
^ = a carga d o í o n f o r n e c e u m gel c o m resistência a d e q u a d a e boas p r o p r i e d a d e s de
migração para proteínas e f r a g m e n t o s de D N A n a faixa d e 0,5 a
A força iônica de u m eletrólito ( t a m p ã o ) c o m p o s t o de íons m o n o - 20,0 k p b (quilopares de bases; C a p í t u l o 17). F r a g m e n t o s de D N A
valentes é igual à sua m o l a r i d a d e ( m o l / L ) . A força iônica de u m a m e n o r e s p o d e m ser s e p a r a d o s c o m agarose d e graus especiais de
solução de eletrólito a 1 m o l / L c o m u m íon m o n o v a l e n t e e u m t e m p e r a t u r a d e gelificação baixa. C o m o os ácidos nucléicos t ê m
íon divalente é 3 m o l / L e para u m eletrólito d u p l a m e n t e diva- essencialmente as m e s m a s razões c a r g a / m a s s a , a separação é
lente ela é 4 m o l / L . baseada p r i n c i p a l m e n t e n o t a m a n h o da m o l é c u l a e p a r c i a l m e n t e
n a f o r m a molecular, os quais d e t e r m i n a m o q u ã o r á p i d o a molé-
Meios de Suporte cula o u o f r a g m e n t o p o d e m m i g r a r através dos p o r o s d o gel.
O m e i o d e s u p o r t e f o r n e c e a matriz na qual a separação ocorre. F r a g m e n t o s d e D N A m e n o r e s t ê m velocidades d e migração e m
Vários tipos de m e i o s de s u p o r t e são usados e m eletroforese e agarose q u e são i n v e r s a m e n t e p r o p o r c i o n a i s aos logaritmos de
108 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

seus pesos moleculares, mas esta relação diminui à medida que Separação
o t a m a n h o do fragmento aumenta. Todos os fragmentos maiores Para realizar uma separação eletroforética, u m material de suporte
que 50 a 100 kpb migram à mesma velocidade pelo gel de agarose hidratado, como u m gel de poliacrilamida ou de agarose pré-
e requerem u m a técnica alternativa, tal como a eletroforese de m o n t a d o , tem o excesso de tampão retirado e, então, é colocado
campo pulsado para a separação. na câmara de eletroforese. Deve-se tomar cuidado para que o gel
não tenha bolhas nem excesso de líquido. A seguir, a amostra é
Poliacrilamida adicionada ao suporte e colocada em contato com o tampão
A poliacrilamida é u m polimero preparado pelo aquecimento da previamente adicionado às câmaras dos eletrodos. A eletroforese
poliacrilamida com vários catalisadores, com ou sem agentes de é realizada por u m determinado período de tempo sob condições
ligações cruzadas. O gel de poliacrilamida é (1) termoestável, (2) de voltagem ou corrente constante.
transparente, (3) durável e (4) relativamente inerte quimicamente.
Além disso, estes géis não têm carga, eliminado, portanto, a Coloração
endosmose, e são preparados em uma variedade de t a m a n h o de Q u a n d o a eletroforese está completa, o suporte é removido da
poros Q u a n d o comparado ao gel de agarose, o t a m a n h o médio célula eletroforética e é rapidamente seco ou colocado e m u m
de u m poro em u m gel de poliacrilamida a 7,5% típico é cerca fixador para evitar a difusão dos componentes da amostra. Ele é
de 5 n m (.50 Ã), grande o suficiente para permitir que a maioria então corado para a visualização das zonas de proteínas indivi-
das proteínas séiicas migre sem impedimento, mas as proteínas duais. Após a lavagem do excesso de corante, o suporte é seco.
com u m raio molecular e / o u u m comprimento que exceda os O s corantes usados para a visualização das frações de protei-
limites críticos serão mais ou menos retardadas em sua migração. nas separadas estão listados na Tabela 6-1 e diferem de acordo
Algumas destas proteínas são (1) fibrinogênio, (2) p r lipoproteína, com o tipo de aplicação. A quantidade de corante absorvida pela
(3) a7-macroglobina e (4) y-globulinas. C o m a poliacrilamida, as amostra é afetada por muitos fatores, tais como o tipo de proteína
proteínas são separadas com base na razão carga/massa e no e o grau de sua desnaturação pelos agentes fixadores, A maioria
t a m a n h o molecular, u m f e n ô m e n o conhecido como peneira dos métodos comerciais para a eletroforese de proteínas séricas
molecular. Devido ao caráter carcinogênico potencial da acrila- usa A m i d o Black B ou os membros das séries de Azul Brilhante
mida, o cuidado adequado deve ser t o m a d o durante a manipu- de Coomassie como corantes para coloração. As ísoenzimas são
lação deste material q u a n d o o gel é preparado manualmente. tipicamente visualizadas pela incubação do gel em contato com
Q u a n d o usada para a separação de ácidos nucléicos, a polia- uma solução de substrato, o qual está ligado estrutural ou quimi-
crilamida é capaz de separar moléculas de D N A que diferem tão camente a u m corante, antes da fixação. O nitrato de prata ou o
pouco quanto 2% em comprimento (1 pb em 50 pb). Ela t a m b é m d i a m i n o de prata têm sido usados para corar proteínas e polipep-
acomoda maior quantidade de amostra (até 10 pg) em u m único tídios com uma sensibilidade de 10 a 100 vezes maior do que a
poço de amostra, e comparado com o D N A a partir da agarose, dos corantes usados com o mesmo propósito. 1 '' A fixação e a
o D N A recuperado d e u m gel de poliacrilamida é extremamente coloração seletivas de subclasses de proteínas também são alcan-
puro, sem inibidores- A poliacrilamida é principalmente útil para çadas pela combinação de uma molécula corante com u m a anti-
misturas de fragmentos menores de D N A e separa fragmentos globulina como é feito na imunofixação.
menores do que 1 kpb; entretanto, seu poro p e q u e n o impede
que D N A superespiralado entre n o gel. Detecção e Quantificação
U m a vez que a separação eletroforética e a coloração estejam
completas, é possível quantificar as zonas individuais como por-
Sistemas Automatizados
Devido ao volume a u m e n t a d o de exames, principalmente de
proteínas séricas, muitos laboratórios estão passando a usar siste- TABELA 6-1 Comprimentos de Onda Sugeridos para a Quantificação
mas automatizados de eletroforese, como os sistemas Helena de Zonas de Proteínas por De n s iro me t ria Direta
SP1FE 3.000 (http://www.helena.com) ou Sebia Hydragel-
Hydrasys (http://www.sebia-usa.com). Estes sistemas oferecem a Comprimento
operação automatizada de (1) aplicação da amostra e reagente, Tipo de de Onda
(2) separação eletroforética, (3) coloração dos analitos e (4) Separação Coloração Nominal (nm)

secagem de vários t a m a n h o s de gel. Eles são capazes de processar Proteínas séricas em geral Amido Black B 640
de 10 a 100 amostras simultaneamente A maioria dos sistemas (Naftol Azul Preto)
capilares tem a capacidade de auto-amostragem para o processa- Azul Brilhante d e 595
m e n t o seqüencial de amostras, mas o sistema Beckman Coulter C o o m a s s i e G-25G
(Azul Brilhante G)
Capilary Zone Eletrophoresis (CZE) (http://www.beckman.com)
Azul Brilhante d e 560
permite o processamento simultâneo de sete amostras pelo uso C o o m a s s i e R-250
de capilares múltiplos Analisadores por microchip mais moder- (Azul Briliiante R)
nos, como o Agilent 2.100 Bioanalyzer (http://www.chem. Ponceau S 520
agilent.com), ficaram significativamente menores e aumentaram ísoenzimas NAD(P)H(NBTH) Azul de nitrotetrazólici 570
a velocidade do processo de separação de proteínas, ácidos nucléi- formazan (como o íormazan)
cos ou m e s m o células inteiras Estes avanços reduziram substan- 2 o n a s d e iipoproteínas Fat Red 7fl (Vermeiho 540
cialmente o trabalho associado a esta técnica. d e S u d a n 7B)
Óleo Vermeiho 0 520
(Oil Red 0)
Procedimento Geral Preto d e Sudan B 600
As operações gerais feitas na eletroforese convencional incluem (Sudan Black B)
(1) separação, (2) coloração, (3) detecção e (4) quantificação. F r a g m e n t o s de DNA Brometo de etídeo 2 5 4 (Ex)
(fluorescente) 5 9 0 (Em)
Além disso, várias técnicas eletroforéticas por "bíotting" têm sido
Proteínas de CSF Nitrato de prata *
desenvolvidas.
Eletroforese CAPÍTULO 6 109

c e n t a g e m d o total o u c o m o c o n c e n t r a ç ã o a b s o l u t a pela d e n s i t o - Gama C3 BLP AMG ALB


m e t r i a direta, se a c o n c e n t r a ç ã o total d e p r o t e í n a s é c o n h e c i d a .
N o d e n s i t ô m e t r o , o gel (ou o u t r o meio) passa p o r u m sistema
óptico d e m e d i ç ã o e a absorvância de cada fração é exibida e m
u m registrador o u e m u m m o s t r a d o r eletrônico. N a m a i o r i a d o s
casos, a área sob cada pico é a u t o m a t i c a m e n t e i n t e g r a d a . A
FIB TRF HP AAT
q u a n t i f i c a ç ã o confiável das zonas coradas pela d e n s i t o m e t r i a
exige (1) u m a luz d e c o m p r i m e n t o d e o n d a a p r o p r i a d o , (2) u m a F i g u r a 6 - 3 Um esquema simplificado de um padrão de proteínas do
resposta linear d o i n s t r u m e n t o e (3) u m f u n d o t r a n s p a r e n t e n a soro de um indivíduo com haptoglobina tipo 2-1 (separação por PAGE).
fita q u e está s e n d o analisada. A l i n e a r i d a d e de resposta p o d e ser Algumas zonas conccm mais do que uma proteína, como demonstrado
verificada c o m u m filtro de d e n s i d a d e n e u t r o p r o j e t a d o c o m por técnicas imunológicas. AAT, alfa^antitripsina; ALB, albumina;
zonas separadas ou a d j a c e n t e s d e d e n s i d a d e , as quais a u m e n t a m AMG, alfa^macroglobulina; BLP, beta-lipo proteína; C3, complemento 3;
de f o r m a linear e t ê m valores d e absorvância esperados. O regis-
FIB, fibrinogênio; gama, gama-globulina; HP, haptoglobina; TRF,
tro d o p a d r ã o d e absorvância o b t i d o para cada zona checa as
transferrina.
f u n ç õ e s ópticas, m e c â n i c a s e elétricas d o d e n s i t ô m e t r o .
As características g e r a l m e n t e e n c o n t r a d a s e m u m d e n s i t ô m e -
tro i n c l u e m (1) a c a p a c i d a d e d e analisar géis d e 2 5 a 100 m m de
c o m p r i m e n t o ; (2) o c o n t r o l e a u t o m á t i c o de g a n h o , o q u a l ajusta c o m o m o s t r a d o n a Figura 6-3. Elas são classificadas d e acordo c o m
o p i c o mais i n t e n s o d e u m eletroferograma p a r a a escala com- o t i p o e a estrutura d o m a t e r i a l de s u p o r t e u s a d o e são c o m u m e n t e
pleta; (3) a zeragem d e f u n d o a u t o m á t i c a , q u e seleciona o p o n t o designadas c o m o A G E , eletroforese e m gel de acetato de celulose
mais baixo n o e l e t r o f e r o g r a m a c o m o linha de base, d e tal f o r m a (CAE), eletroforese e m gel d e poliacrilamida (PAGE) etc.
q u e os picos m e n o r e s n ã o são p e r d i d o s ou "removidos"; (4)
c o n t r o l e d e c o m p r i m e n t o de o n d a variável e m u m a faixa d e 4 0 0 Eletroforese em Placa de Gel
a 700 n m , (5) f e n d a s variáveis p a r a p e r m i t i r o ajuste d o t a m a n h o O s m é t o d o s tradicionais, u s a n d o u m gel retangular i n d e p e n d e n -
d o feixe; (6) u m dispositivo d e integração com seleção a u t o m á t i c a t e m e n t e d a espessura, são designados pelo t e r m o eletroforese e m
e m a n u a l dos p o n t o s de c o r t e e n t r e os picos; (7) escala a u t o m á - placa d e gel. Sua principal v a n t a g e m é sua capacidade de separar
tica, u m a característica q u e avança a fita eletro forética de u m s i m u l t a n e a m e n t e várias amostras e m u m a m e s m a corrida. O s
canal d e a m o s t r a para o p r ó x i m o e (8) a c a p a c i d a d e de m e d i r meios de amido, agarose (AGE) e poliacrilamida (PAGE) têm sido
f l u o r e s c ê n c i a ultravioleta. usados neste f o r m a t o . E o p r i n c i p a l m é t o d o u s a d o e m laboratórios
O u t r a s características desejáveis i n c l u e m (1) integração com- de química clínica para a separação de várias classes de p r o t e í n a s
p u t a d o r i z a d a e impressão, (2) diagnóstico e m b u t i d o p a r a proble- séricas e de C S F e f r a g m e n t o s d e D N A ou R N A . O s géis (normal-
mas n o aparelho, (3) escolha d e u m a das várias velocidades de m e n t e agarose) p o d e m ser m o l d a d o s e m u m a superfície plástica
análise e (4) c a p a c i d a d e de m e d i r n o m o d o reflectância. O s de apoio ou inseridos c o m p l e t a m e n t e e m u m a célula plástica
m o d e l o s c o m u m c o m p u t a d o r pessoal s e p a r a d o p a r a o processa- vedada, o q u e p e r m i t e t a n t o a eletroforese h o r i z o n t a l q u a n t o a
m e n t o de d a d o s p e r m i t e m o a r m a z e n a m e n t o e a r e f o r m a t a ç ã o vertical e a s u b m e r s ã o para r e s f r i a m e n t o , se necessário.
dos d a d o s , se desejado, e r e i m p r e s s ã o ou transmissão posterior O s géis e m placa p o d e m ser m o l d a d o s c o m aditivos, tais c o m o
para u m computador hospedeiro. (1) anfólitos, q u e criam u m g r a d i e n t e d e p H (ver Eletroforese p o r
As técnicas m o d e r n a s d e análise d e D N A , as q u a i s p o d e m Focalização Isoelétrica [IEF]) ou (2) dodecil sulfato d e sódio
p r o d u z i r dúzias de b a n d a s de f r a g m e n t o s d e D N A de diferentes (SDS), q u e d e s n a t u r a p r o t e í n a s (ver Eletroforese B i d i m e n s i o n a l
c o m p r i m e n t o s , r e q u e r e m u m n o v o tipo de d e n s i t ô m e t r o desig- [2-D]). A l é m das p r o t e í n a s séricas convencionais, as aplicações
n a d o c o m o u m "analisador d e c a m a d a plana" ou "analisador d e i n c l u e m a separação d e isoenzimas, l i p o p r o t e í n a s , h e m o g l o b i n a s
imagem digital". 3 Estes i n s t r u m e n t o s (1) u s a m detectores o u e f r a g m e n t o s d e D N A e R N A . As separações e m u m a ú n i c a
câmeras c o m u m dispositivo a c o p l a d o d e c o m a n d o ( C C D ) ultra- d i m e n s ã o d o s dois ú l t i m o s f r e q ü e n t e m e n t e envolvem a adição d e
sensível, (2) t ê m resolução de até 1.200 p o n t o s p o r polegada e u m a m i s t u r a de m a r c a d o r e s de t a m a n h o s de f r a g m e n t o s c o n h e -
(3) são capazes d e analisar e a r m a z e n a r as leituras de i n t e n s i d a d e cidos, d e n o m i n a d o s laddert e m u m p o ç o para p e r m i t i r a identifi-
d e luz digitalizada a p a r t i r de g r a n d e s áreas. cação d o t a m a n h o dos f r a g m e n t o s d a a m o s t r a .
A l é m d a análise p o r d e n s i t o m e t r i a , os géis d e eletroforese
agora estão s e n d o analisados p o r e s p e c t r ó m e t r o s de massa para Eletroforese em Disco
d e t e r m i n a r os pesos m o l e c u l a r e s das p r o t e í n a s e seus p r o d u t o s A eletroforese de p r o t e í n a s séricas u s a n d o gel de agarose gera
d e clivagem, 11 e p a r a o s e q ü e n c i a m e n t o de peptídios.' 1 s o m e n t e cinco zonas, d e n o m i n a d a s : (1) a l b u m i n a , (2) a r , (3)
a
r i (4) p- e (5) y-globulinas, e m b o r a algum s u b f r a c i o n a m e n t o das
TIPOS DE ELETROFORESE a r e p-globulmas seja possível c o m géis d e alta resolução. C o m o
O sistema d e eletroforese d e f r o n t e i r a móvel original desenvol- o t a m a n h o d o p o r o e m u m gel d e poliacrilamida é c o n t r o l a d o
v i d o p o r Tiselius, e m 1937, separava as p r o t e í n a s séricas em pela c o m p o s i ç ã o e m p o r c e n t a g e m da acrilamida e é m u i t o m e n o r
a p e n a s p o u c a s frações. As técnicas m o d e r n a s u s a m diferentes d o q u e o e n c o n t r a d o e m u m gel d e agarose, estes géis p o d e m
m e i o s e m diversos f o r m a t o s físicos e u m a v a r i e d a d e de configu- gerar 20 ou mais frações e são a m p l a m e n t e u s a d o s para e s t u d a r
rações i n s t r u m e n t a i s p a r a alcançar separações m u i t o m e l h o r e s d o p r o t e í n a s séricas individuais, e s p e c i a l m e n t e as variantes genéticas
q u e aquelas o b t i d a s p o r Tíselius A seção seguinte descreve várias e as isoenzimas.
técnicas diferentes usadas para a separação d e u m a diversidade C o m PAGE, as amostras são separadas e m géis individuais
de analitos. p r e p a r a d o s e m tubos de v i d r o abertos nas extremidades ( d e n o m i -
n a d o s PAGE e m bastão), os quais f o r m a m u m a p o n t e entre dois
Eletroforese de Zona reservatórios de t a m p ã o . E m b o r a os t u b o s de géis pré-moldados
As técnicas de eletroforese de zona p r o d u z e m zonas de proteínas, estejam agora disponíveis c o m e r c i a l m e n t e , a técnica original
q u e são h e t e r o g ê n e a s e fisicamente separadas u m a das outras envolvia u m sistema triplo de gel c o n s i s t i n d o em u m gel separador
110 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

de p o r o p e q u e n o , u m gel espaçador de p o i o m a i o r e u m a c a m a d a a n f ó l i t o s individuais a t i n g e m seus valores d e pl d u r a n t e a eletro-


fina de u m a solução de m o n ô m e i o d e p o r o grande c o n t e n d o forese. Eles estabelecem zonas t a m p o n a d a s estreitas, c o m p H s
cerca de 3 [J.L d e soro. As composições diferentes causavam des- estáveis, mas ligeiramente diferentes, através das quais as proteí-
continuidades; na matriz eletroforética, o q u e d e u o n o m e original n a s c o m m o v i m e n t o s mais lentos m i g r a m e p a r a m e m seus pis
à técnica, eletroforese e m disco. N e s t e sistema, q u a n d o a eletrofo- individuais. C o m o os anfólitos carreadores são g e r a l m e n t e usados
rese começa, t o d o s os íons das proteínas m i g r a m facilmente e m c o n c e n t r a ç õ e s relativamente altas, u m a f o n t e d e alta voltagem
através dos géis d e p o r o g r a n d e (os quais n ã o i m p e d e m o movi- (acima d e 2 . 0 0 0 V) é necessária. C o m o resultado, a matriz ele-
m e n t o da maioria das proteínas d o soro) e se a m o n t o a m n o gel troforética deve ser resfriada. A IEF é a m p l a m e n t e u s a d a e m
de separação e m u m a zona m u i t o estreita. Este processo m e l h o r a p r o g r a m a s d e r a s t r e a m e n t o n e o n a t a l p a r a o teste d e v a r i a n t e s d e
a resolução e c o n c e n t r a os c o m p o n e n t e s proteicos na b o r d a (ou hemoglobinas.
zona d e início), d e tal f o r m a q u e a pré-concentração das amostras
c o m baixo c o n t e ú d o protéico (p. ex., CSF) p o d e n ã o ser necessá- Eletroforese Bidimensional (2-D)
ria. A separação ocorre, então, n o gel inferior d e separação c o m A eletroforese b i d i m e n s i o n a l (2-D) é a m p l a m e n t e u s a d a para
a d i m i n u i ç ã o d e velocidade de migração d e algumas proteínas e s t u d a r famílias de proteínas e pesquisar diferenças genéticas ou
causada pelo f e n ô m e n o de peneira molecular. d e d o e n ç a s o u p a r a estudar o c o n t e ú d o protéico de células d e
vários tipos. 6 Esta técnica usa IEF d e p e n d e n t e d e carga na prU
Eletroforese por Focalização Isoelétrica m e i r a d i m e n s ã o e a eletroforese d e p e n d e n t e d o peso m o l e c u l a r
A e l e t r o f o r e s e p o r focalização isoelétrica (TEF) separa c o m p o s t o s na s e g u n d a d i m e n s ã o . A p r i m e i r a eletroforese d i m e n s i o n a l é
anfotéricos, tais c o m o as proteínas, c o m m a i o r resolução e m u m realizada e m u m m e i o de p o r o g r a n d e , tal c o m o u m gel d e
m e i o p o s s u i n d o u m g r a d i e n t e d e p H estável. A p r o t e í n a migra agarose ou u m gel de poliacrilamida de p o r o g r a n d e . O s a n f ó l i t o s
para u m a zona n o m e i o o n d e o p H d o gel c o i n c i d e c o m o p l da são a d i c i o n a d o s p a r a gerar u m g r a d i e n t e d e p H . A s e g u n d a
proteína. Neste p o n t o , a carga da p r o t e í n a torna-se zero e sua d i m e n s ã o é f r e q ü e n t e m e n t e poliacrilamida e m u m f o r m a t o linear
migração cessa. A Figura 6-4 ilustra o p r o c e d i m e n t o e m o s t r a as ou e m gradiente. Este tipo d e eletroforese alcança o m a i o r p o d e r
c o n d i ç õ e s eletroforéticas antes e d e p o i s da c o r r e n t e ser aplicada. d e resolução para a separação de f r a g m e n t o s de D N A . N e s t a
As zonas de p r o t e í n a s são m u i t o finas p o r q u e a região associada aplicação, u m a A G E n o r m a l é realizada na p r i m e i r a d i m e n s ã o e
a u m d a d o p H é m u i t o estreita. A d i f u s ã o n o r m a l é t a m b é m b r o m e t o de etídeo é a d i c i o n a d o ao gel para a s e g u n d a d i m e n s ã o
c o n t r a b a l a n ç a d a p o r q u e a p r o t e í n a a d q u i r e u m a carga q u a n d o p a r a abrir os f r a g m e n t o s e causar m u d a n ç a s e m suas m o b i l i d a d e s
migra a partir d e sua posição d e pi e s u b s e q ü e n t e m e n t e migra eletroforéticas.
de volta d e v i d o às forças eletroforéticas. As p r o t e í n a s q u e d i f e r e m O m é t o d o d e eletroforese 2-D de O ' Farre 11 usa PAGE-IEF
e m seus valores de p i d e s o m e n r e 0 , 0 2 u n i d a d e s de p H p o d e m e m bastão n a p r i m e i r a d i m e n s ã o e i n c o r p o r a a n f ó l i t o s q u e
ser separadas pela IEF. c o b r e m u m a faixa de p H d e 3 a 10 u n i d a d e s . O gel é r e t i r a d o d o
O g r a d i e n t e d e p H é criado p o r anfólitos carreadores, u m t u b o d e gel ao final da eletroforese e c o l o c a d o e m c o n t a t o c o m
g r u p o d e ácidos p o l i a m i n o c a r b o x í l i c o s anfotéricos, q u e t ê m dife- u m gel f i n o d e poliacrilamida c o m g r a d i e n t e e m placa, q u e incor-
renças t ê n u e s n o s valores d e pKa e pesos moleculares de 3 0 0 a p o r a o S D S . As p r o t e í n a s separadas p o d e m ser detectadas u s a n d o -
1.000 Da. Misturas d e 50 a 100 diferentes c o m p o s t o s são adicio- se (1) corantes de C o o m a s s i e , (2) coloração pela prata, (3) radio-
n a d a s ao m e i o e c r i a m u m "gradiente d e p H n a t u r a l " q u a n d o os grafia (exposição d o filme radiográfico a emissões d e polipeptí-
dios m a r c a d o s r a d i o a t i v a m e n t e ) o u (4) análises f l u o r o g r á f i c a s
Cátodo Q (filme de raio X exposto a p o l i p e p t í d i o s m a r c a d o s c o m trítio e m
p r e s e n ç a d e u m cintilador). O s dois ú l t i m o s m é t o d o s são 100 a
(íons OH")
1.000 vezes mais sensíveis d o q u e os corantes d e C o o m a s s i e .
pH ~7 A s eletroforeses b i d i m e n s i o n a i s preparativas e analíticas for-
n e c e m técnicas d e alta resolução para a separação d e p r o t e í n a s e
são os m é t o d o s preferidos q u a n d o amostras complexas p r e c i s a m
9
ser agrupadas para caracterização, c o m o na p r o t e ô m i c a . U m
Anfólitos 8
listiirados proteoma é a expressão d o c o m p l e m e n t o protéico d e u m g e n o m a .
7 A p r o t e ô m i c a , então, é o e s t u d o de m u d a n ç a s globais n a expres-
Proteínas 6 são de proteínas e o e s t u d o sistemático de interações proceína-
A, B e C •5 p r o t e í n a através d o i s o l a m e n t o de complexos protéicos ( C a p i m l o
8). O objetivo da p r o t e ô m i c a é a descrição geral, q u a n t i t a t i v a da
4
expressão proteica e suas m u d a n ç a s sob a i n f l u ê n c i a d e pertur-
bações biológicas, tais c o m o d o e n ç a s o u t r a t a m e n t o c o m
drogas. 1
D e s e n v o l v i m e n t o s mais recentes nesta área c o m b i n a m técni-
cas analíticas p a r a alcançar u m a separação e m 2-D pela u n i ã o ,
p o r exemplo, d e IEF líquida c o m c r o m a t o g r a f i a líquida de alta
eficiência ( H P L C ; C a p í t u l o 7) e m fase reversa c o m sílica n ã o
Figura 6 - 4 Esquema de um procedimento de IFE. I, Uma mistura
porosa, e detecção de proteínas intactas p o r e s p e c t r o m e t r i a de
homogânea de anfólitos caneadores, faixa de pH de 3 a 10, na qual as
massa p o r t e m p o d e vôo e ionização p o r eletrospray.
proteínas A, B e C, com pi 8, 6 e 4, respectivamente, são adicionadas.
II, A corrente é aplicada e os anfólitos carreadores rapidamente migram
para as zonas de pH onde a carga líquida é zero (o valor de pi). Ill, As Técnicas de Blotting
proteínas A, B e C migram mais lentamente até suas respectivas zonas E m 1975, E d w a r d S o u t h e r n desenvolveu u m a técnica q u e é
de pi onde a migração pára. A alta capacidade tamponante dos anfólitos a m p l a m e n t e u s a d a para d e t e c t a r f r a g m e n t o s d e D N A . Esta
carreadores cria zonas de pH estável nas quais cada proteína pode técnica, c o n h e c i d a c o m o " S o u t h e r n Blotting", r e q u e r primeira-
alcançar o seu pi. m e n t e u m a separação eletroforética de f r a g m e n t o s d e D N A o u
Eletroforese CAPÍTULO 6 111

d e R N A p o t A G E . A seguir, u m a tira de n i t i o c e l u l o s e ou u m a Tampões para CE


m e m b r a n a d e n á i l o n é colocada sobre o gel de agarose, e os C o m o n a eletroforese c o n v e n c i o n a l , a escolha d e u m t a m p ã o é
D N A s ou f r a g m e n t o s de D N A são t r a n s f e r i d o s (ou "blotted") para essencial para se o b t e r u m a separação b e m - s u c e d i d a com a C E .
ela p o r c a p i l a r i d a d e ou p o r tj/otímg elétrico ou a v á c u o . Eles são, N a prática, é indispensável selecionar u m t a m p ã o q u e (1) n ã o
e n t ã o , d e t e c t a d o s e i d e n t i f i c a d o s pela hibridização c o m u m a i n t e r f i r a n a c a p a c i d a d e d e detecção d e analitos d e interesse, (2)
s o n d a m a r c a d a de ácido n u c l é i c o c o m p l e m e n t a r . Esta técnica é m a n t e n h a a s o l u b i l i d a d e dos analitos, (3) m a n t e n h a a capacidade
a m p l a m e n t e usada e m biologia molecular para (1) i d e n t i f i c a r t a m p o n a n t e d u r a n t e análise e (4) p r o d u z a a separação desejada.
u m a s e q ü ê n c i a específica d e D N A , (2) d e t e r m i n a r a presença, a Para t a m p õ e s de p H baixos, (1) fosfato, (2) acetato, (3) f o r m a t o
p o s i ç ã o e o n ú m e r o de cópias d e u m gene e m u m g e n o m a , e (3) e (4) citrato t ê m sido u s a d o s efetivamente. Para t a m p õ e s n a faixa
tipar o D N A (ver C a p í t u l o 17 p a r a maiores detalhes). d e p H básico, (1) Tris, (2) tricina, (3) b o r a t o e (4) C A P S (ácido
As técnicas de " N o r t h e r n " e " W e s t e m " Mottmg, d e n o m i n a d a s N-cicloexil-3-aminopropanossulfônico) são eletrólitos aceitáveis.
p o r analogia ao S o u t h e r n bíotting, f o r a m s u b s e q ü e n t e m e n t e A força iônica é u m a variável i m p o r t a n t e q u e t e m efeitos
desenvolvidas para separar e d e t e c t a r ácidos n b o n u c l é i c o s (RNAs) adversos ( t a n t o positivos q u a n t o negativos) n a separação, princi-
e proteínas, r e s p e c t i v a m e n t e . O N o r t h e r n bloíting é realizado p a l m e n t e p o r q u e t a m p õ e s de alta força iônica geram calor Joule
e x a t a m e n t e d a m e s m a f o r m a q u e o S o u t h e r n fclotíing, exceto q u e excessivo. E m b o r a a termostatização capilar (dissipação i n e r e n t e
u m a s o n d a m a r c a d a de R N A é u s a d a para a hibridização. O c o m b i n a d a c o m r e s f r i a m e n t o ativo) seja m u i t o efetiva, a c o r r e n t e
W e s t e r n bíotting é u s a d o p a r a separar, detectar e identificar u m a (calor Joule) associada a c o n c e n t r a ç õ e s d e t a m p ã o m a i o r e s d o que
o u mais p r o t e í n a s e m u m a m i s t u r a complexa. Ela envolve primei- 100 m m o l / L p o d e s u p e r a r a termostatização capilar e m voltagens
r a m e n t e a separação d e p r o t e í n a s individuais e m gel de poliacri- maiores. U m a exceção a essa regra é o t a m p ã o b o r a t o , u m t a m p ã o
l a m i d a e, e n t ã o , a t r a n s f e r ê n c i a , ou "blottmg", p a r a u m a tira de clássico p a r a C E , q u e gera c o r r e n t e r e l a t i v a m e n t e baixa (e, por-
n i t r o c e l u l o s e ou e m u m a m e m b r a n a d e n i t r o c e l u l o s e p o r electra- t a n t o , calor Joule) e m c a m p o s aplicados altos. C o n s e q ü e n t e -
bíotting (transferência p o r aplicação de u m c a m p o elétrico). A tira m e n t e , n a faixa de p H d e 7 a 9, é r e c o m e n d a d o t a m p ã o b o r a t o
ou a m e m b r a n a reage, e n t ã o , c o m u m reagente q u e c o n t é m u m a 500 mmol/L.
a n t i c o r p o p r o d u z i d o c o n t r a a p r o t e í n a d e interesse, (ver C a p í t u l o
10 para m a i o r e s d e t a l h e s e aplicações desta técnica). Injeção da Amostra
Para realizar u m a separação p o r C E , v o l u m e s de a m o s t r a de 1 a
Eletroforese Capilar 5 0 n L são i n j e t a d o s n a c â m a r a capilar p o r injeção hidrodinâmica
N a C E , as técnicas clássicas de eletroforese são realizadas e m u m ou p o r injeção eletrocinética. N a i n j e ç ã o h i d r o d i n â m i c a , u m a alí-
t u b o capilar d e sílica f u n d i d a , d e d i â m e t r o i n t e r n o p e q u e n o , q u o t a d e amostra é i n t r o d u z i d a pela aplicação de u m a pressão
tipicamente coberto (externamente) com u m a camada polimérica positiva ao frasco de e n t r a d a d a a m o s t r a . A l t e r n a t i v a m e n t e , a
( p o h i m i d a ) fina. Por exemplo, o d i â m e t r o e x t e r n o d o t u b o capilar gravidade p o d e ser usada pela elevação d o frasco de e n t r a d a (ou
u s a d o p a r a fazer tais t u b o s varia c o m u m e n t e de 180 a 375 fim; p e l o a b a i x a m e n t o d o r e s e r v a t ó r i o d e saída) para p e r m i t i r que o
o d i â m e t r o i n t e r n o , de 20 a 180 [im; e o c o m p r i m e n t o total, de s i f o n a m e n t o o c o r r a . O v o l u m e d e a m o s t r a aplicado é i n f l u e n -
20 cm até vários metros. Este t u b o capilar f u n c i o n a c o m o u m a ciado p o r vários p a r â m e t r o s , inclusive p o r (mas n ã o restrito a) (1)
câmara eletroforética capilar q u e é c o n e c t a d a a u m d e t e c t o r n a d i â m e t r o i n t e r n o d o capilar, (2) viscosidade d o t a m p ã o , (3)
sua e x t r e m i d a d e terminal i f i e, através d e reservatórios de t a m p ã o , pressão aplicada, (4) t e m p e r a t u r a e (5) t e m p o . N a i n j e ç ã o eletro-
a u m a f o n t e d e alta voltagem (Figura 6-5). A p r i n c i p a l v a n t a g e m cinética (EK), u m a alíquota de u m a a m o s t r a é i n t r o d u z i d a pela
d a C E é sua dissipação eficiente de calor c o m p a r a d a c o m a d a aplicação de u m a voltagem e n t r e u m frasco d e a m o s t r a e o reser-
eletroforese tradicional. A m e l h o r a n a dissipação de calor p e r m i t e v a t ó r i o d e t a m p ã o de saída p o r u m intervalo d e t e m p o determi-
a aplicação d e voltagens n a faixa d e 2 5 a 30 kV, a q u a l a u m e n t a n a d o . A m a g n i t u d e d a voltagem é d e p e n d e n t e d o analito e d o
a eficiência de separação e r e d u z o t e m p o de separação e m alguns sistema t a m p ã o u s a d o , m a s envolve t i p i c a m e n t e u m a força de
casos a m e n o s d e 1 m i n u t o . 9 O s v o l u m e s d e a m o s t r a são m a n t i - c a m p o d e 3 a 5 vezes m e n o r d o q u e aquela usada para a separa-
d o s n a faixa de picolitro a n a n o l i t r o para m i n i m i z a r distorções ção. E i m p o r t a n t e n o t a r q u e , e n q u a n t o os m é t o d o s h i d r o d i n â -
n o c a m p o aplicado causadas pela presença de a m o s t r a . m i c o s i n t r o d u z e m u m a a m o s t r a representativa da a m o s t r a c o m o
u m t o d o , a i n j e ç ã o eletrocinética favorece aqueles analitos que
t ê m m a i o r m o b i l i d a d e eletro forética e, p o r t a n t o , é c o n s i d e r a d a
u m a f o r m a d e i n j e ç ã o " t e n d e n c i o s a " . C o m q u a l q u e r d o s dois
m o d o s , para m a n t e r u m a alta eficiência de separação, o compri-
Eletroforese m e n t o d o espaço o c u p a d o pela a m o s t r a deve p e r m a n e c e r <2%
d o c o m p r i m e n t o total d o capilar.

^V 4 O
Detecção
O s m o d o s d e detecção q u e têm s i d o u s a d o s p a r a a c r o m a t o g r a f i a
Coleta de l i q u i d a de alta eficiência são i g u a l m e n t e aplicáveis para a C E . Por
Capilar
dadosyArmaze-
exemplo, os f o t ô m e t r o s ultravioleta-visível são a m p l a m e n t e usados
// namento
sflC; c o m o detectores p a r a m o n i t o r a r as separações p o r CE. 1 3 Entre-
Lâmpada 7j. yjr" Dggdorj
t a n t o , ao c o n t r á r i o das células de f l u x o nos sistemas d e cromato-
grafia líquida (LC), o d i â m e t r o i n t e r n o d o t u b o capilar (20 a 100
/
Fonte de alta MIL fim) d e f i n e o c a m i n h o óptico ( O P L ) p a r a a detecção. U m a vez
voltagem q u e a detecção óptica é d e t e r m i n a d a pela lei d e Beer, o d i â m e t r o
i n t e r n o d o capilar d e 20 a 100 f i m limita a detecção da absor-
Tampão de Tarripãu de vância UV-VIS de I0~ 6 a 10~8 m o l / L . A l é m das limitações d o
entrada/Injeção saída B i O P L , q u a n d o v o l u m e s e m n a n o l i t r o s são i n j e t a d o s , a massa
da amostra
i n j e t a d a de analito é e x t r e m a m e n t e p e q u e n a . T é c n i c a s ópticas
Figura 6 - 5 Esquema da instrumentação de CE
112 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

mais sensíveis q u e t ê m sido empregadas c o m C E i n c l u e m (1) c o m u m p o l í m e r o a d e q u a d o q u e é aplicado n o i n t e r i o r d o capilar,


f l u o r e s c ê n c i a , (2) índice d e refração, (3) q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a e u s a d o p a r a u m a separação e, e n t ã o , s u b s t i t u í d o . A separação é
(4) f l u o r e s c ê n c i a i n d u z i d a p o r lasei (LIF), a ú l t i m a s e n d o capaz b a s e a d a n o t a m a n h o p a r a D N A e p a r a p r o t e í n a s s a t u r a d a s por
d e limites d e detecção de IO"18 a IO"21 m o l / L . S D S e r e q u e r u m gel p o r q u e eles c o n t ê m razões c a r g a / m a s s a que
A l é m d o u s o d e d e t e c t o r e s sensíveis, técnicas t ê m sido desen- n ã o variam. U m a v a r i e d a d e d e matrizes políméricas t e m sido
volvidas p a r a p r é - c o n c e n t r a r a a m o s t r a . U m a das técnicas mais d e f i n i d a p a r a análise t a n t o d e D N A (p. ex., poliacrilamida e
simples para isto é induzir u m efeito d e " e m p i l h a m e n t o " dos materiais celulósicos) q u a n t o d e p r o t e í n a s (p. ex., matrizes deri-
c o m p o n e n t e s da amostra, algo f a c i l m e n t e c o n s e g u i d o pela explo- vadas d o dextran). U m a das exigências q u e f r e q ü e n t e m e n t e
ração das diferenças d e força iônica e n t r e a matriz d a a m o s t r a e a c o m p a n h a este t i p o d e análise é a r e d u ç ã o d o f l u x o eletrosmó-
o t a m p ã o de separação. 2 Isto resulta do f a t o de q u e íons da tico. Isto é c o n s e g u i d o p o r r e v e s t i m e n t o d a superfície (1) cova-
a m o s t r a t ê m m o b i l i d a d e eletroforética d i m i n u í d a e m u m l e n t e m e n t e , (2) a b s o r t i v a m e n t e o u (3) d i n a m i c a m e n t e .
a m b i e n t e d e m a i o r c o n d u t i v i d a d e . Q u a n d o u m a voltagem é apli- O u t r o m o d o de C E é a IEF capilar (cIEF). A I E F em u m
cada ao sistema, íons d o espaço c o r r e s p o n d e n t e à a m o s t r a ins- capilar é c o m p a r á v e l a I E F e m t u b o e é d e t e r m i n a d a pelos
t a n t a n e a m e n t e aceleram e m d i r e ç ã o à zona d e t a m p ã o d e sepa- m e s m o s p r i n c í p i o s e p r o c e d i m e n t o s . Ela difere d a I E F conven-
ração a d j a c e n t e . A o cruzar a fronteira, o a m b i e n t e de m a i o r c i o n a l n a m e d i d a q u e é realizada u s a n d o u m a solução livre de
c o n d u t i v i d a d e i n d u z u m a d i m i n u i ç ã o da velocidade eletroforé- anfólitos o u u m gel p r é - m o l d a d o . C o m o e s p e r a d o para o m o d o
tica e s u b s e q ü e n t e " e m p i l h a m e n t o " dos c o m p o n e n t e s d a a m o s t r a de C E e improvável p a r a a IEF c o n v e n c i o n a l , as zonas focalizadas
e m u m a zona de t a m p ã o m e n o r d o que o espaço o r i g i n a l m e n t e m i g r a m p e l o detector e m linha d u r a n t e o processo de focalização
o c u p a d o pela a m o s t r a . D e n t r o de u m c u r t o espaço de t e m p o , o ou d e p o i s dele.
g r a d i e n t e d e força iônica se dissipa e as moléculas carregadas de
analito c o m e ç a m a se mover da zona de amos t ra " e m p i l h a d a " e m Eletroforese e m Microchíp
direção ao c á t o d o . O e m p i l h a m e n t o é u s a d o c o m i n j e ç ã o hidros- As p l a t a f o r m a s de eletroforese e m m i c r o c h i f j f o r a m primeira-
tática ou E K e t i p i c a m e n t e resulta e m u m a u m e n t o d e 10 vezes m e n t e desenvolvidas n o s a n o s d e 1990.' O s desenvolvimentos
da c o n c e n t r a ç ã o d a a m o s t r a e, p o r t a n t o , u m l i m i t e de detecção s u b s e q ü e n t e s por i n ú m e r o s laboratórios levaram à tecnologia de
menoT. micro chip analítica ao p o n t o e m q u e ela r e p r e s e n t a b e m u m a pla-
U m a a b o r d a g e m alternativa d e e m p i l h a m e n t o é u m a técnica t a f o r m a alternativa à C E . E similar e m p r i n c í p i o à C E , mas os
d e "focalização" q u e se baseia nas diferenças d e p H e n t r e o espaço mícrocKips d i f e r e m dos capilares p o r q u e os canais d e separação, cs
o c u p a d o pela a m o s t r a e o t a m p ã o de separação. Isto t e m d e m o n s - canais de injeção de a m o s t r a e os reservatórios são todos fabrica-
t r a d o ser m u i t o ú t i l p a r a a análise de peptídios, p r i n c i p a l m e n t e d o s n o m e s m o substrato planar usando-se u m processo fotolito-
c o m o r e s u l t a d o d e sua relativa estabilidade e m u m a a m p l a faixa gráfico d e f i n i d o pela indústria microelerrônica. A l é m disso, o
de pH. 1 0 p r e p a r o da a m o s t r a e / o u os Teatores p r é e pós-coluna, os detecto-
res e as f o n t e s d e excitação t a m b é m t ê m sido integrados aos
chips.
Modos de Operação
A C E p e r m i t e múltiplos m o d o s de operação i n c l u i n d o (1) eletro-
forese de zona, (2) isotacoforese, (3) IEF e (4) eletroforese e m gel.
A C Z E é a f o r m a mais simples de C E e é ú n i c a p o r sua capa- Microchíp
c i d a d e de separar e l e t r o f o r e t i c a m e n t e analitos n a a u s ê n c i a d e u m
m e i o d e s e p a r a ç ã o ( p o l í m e r o , anfólitos). O p o d e r da C Z E é a Reservatório >
c a p a c i d a d e de separar espécies carregadas p o r eletroforese s e m de tampão *
u m a matriz d o tipo p e n e i r a e é a m p l a m e n t e aplicável a vários
analitos. 1 5 U m s u b m o d o da C Z E é a eletroforese capilar iônica, q u e
se refere à análise d e íons inorgânicos por CZE, p a r t i c u l a r m e n t e Amostra „/•
q u a n d o se usa detecção indireta. Neste m o d o de detecção, u m
íon f o r t e m e n t e a b s o r v e n t e é a d i c i o n a d o ao eletrólito d e corrida
O r Cruz em T para a
injeção da amostra
e m o n i t o r a d o e m u m c o m p r i m e n t o de o n d a q u e f o r n e c e u m a Injeção
absorvãncia de f u n d o alta e c o n s t a n t e . A m e d i d a q u e os íons d o
soluto se m o v e m e m suas zonas discretas d u r a n t e o processo de
eletroforese, eles d e s l o c a m o agente d e detecção i n d i r e t a e este
p r o d u z u m a d i m i n u i ç ã o na a b s o r v ã n c i a de f u n d o q u a n d o a zona
passa através d o detector.
A c r o m a t o g r a f i a e l e t r o c i n é t i c a micelar ( M E K C ) é u m h í b r i d o
de eletroforese e cromatografia, mas é diferente d a cromatografia
eletrocinética capilar ( C E C ) , n a qual o capilar é d e fato preen-

r
chido c o m u m a fase sólida. A M E K C é u m a técnica eletroforética
r a r a m e n t e efetiva u m a vez q u e separa t a n t o solutos n e u t r o s c o m o
carregados. A separação de espécies neutras é conseguida pelo uso Detecção
d e micelas f o r m a d a s p o r aditivos n o t a m p ã o de separação (p. ex.,
d o d e c i l sulfato de sódio). A i n t e r a ç ã o diferencial de analitos com
as micelas d e t e r m i n a a separação c o m base n a cromatografia,
e n q u a n t o a aplicação de u m c a m p o elétrico d e t e r m i n a a separação Resíduos
eletroforética d o s analitos carregados e o fluxo.
A eletroforese capilar em gel (CGE) é d i r e t a m e n t e comparável à
eletroforese tradicional e m placa o u t u b o p o r q u e os m e c a n i s m o s F i g u r a 6 - 6 Desenho simplificado da microestrutura de cruz em T
de separação são idênticos. 6 O t a m a n h o de s e p a r a ç ã o é a l c a n ç a d o de chips usados para a separação eletroforética
Eletroforese CAPÍTULO 6 113

O m o d e l o de cruz e m T clássico de u m microchip d e canal Cargas fixadas na superfície


ú n i c o {Figura ó-6) envolve u m canal p e q u e n o (injeção) q u e inter- íons imóveis
cepta u m c a n a l m a i s l o n g o (separação) c o m u m reservatório n a s
e x t r e m i d a d e s de cada u m desses canais. O m o d e l o de cruz e m T íons móveis
é i m p o r t a n t e p a r a a injeção de v o l u m e s de a m o s t r a u m a o r d e m
de m a g n i t u d e m e n o r n o sistema de cKiJ; d o q u e n o sistema
capilar. Isto é realizado através da i n j e ç ã o eletrocinética d a
a m o s t r a pela aplicação de u m c a m p o de várias c e n t e n a s d e volts
através d a a m o s t r a e d o s reservatórios de d e s p e j o de a m o s t r a ,
i n d u z i n d o , assim, a m i g r a ç ã o d e 5 0 a 5 0 0 p L d e a m o s t r a n a cruz
-c
de injeção, U m a v o l t a g e m m a i o r (1 a 4 kV) é e n t ã o aplicada ao o
D.
canal de separação, a q u a l m d u z a s e p a r a ç ã o das zonas d e analitos • I I
a n t e s q u e elas a l c a n c e m a j a n e l a de d e t e c ç ã o posterior.
D o m e s m o m o d o q u e a detecção óptica é c o n d u z i d a e m u m 01
u
sistema capilar, ela p o d e ser realizada e m u m ú n i c o canal de u m •fc
03
microcfiip. Por exemplo, a detecção p o r absorvância UV-VIS t e m Q_
3
sido usada, m a s é mais difícil d o q u e n a C E p o r q u e os substratos 00
usados p a r a fabricar os chips f r e q ü e n t e m e n t e n ã o são t ã o " p u r o s "
q u a n t o a sílica f u n d i d a u s a d a n o s capilares, o u têm d i f e r e n t e s
p r o p r i e d a d e s espectrais e algumas vezes a b s o r v e m até m e s m o luz.
C o n s e q ü e n t e m e n t e , a detecção é p r i n c i p a l m e n t e através de LIF
Solução
p o r q u e este é f a c i l m e n t e i m p l e m e n t a d o c o m a c o n f i g u r a ç ã o
homogênea
p l a n a r d o microchip. O s limites cie detecção para os f l u o r o c r o m o s
Potencial de Stern Potencial Zeta (Ç)
s e m e l h a n t e s à f l u o r e s c e í n a t ê m sido f a c i l m e n t e d e m o n s t r a d o s n o
nível de 10~ n m o l / L e e s t e n d i d o s a limites tão baixos q u a n t o 10 13
m o l / L — u m limite de detecção de massa de p o u c a s c e n t e n a s de Figura 6 - 7 Distribuição de íons + e - em tomo da superfície de um
moléculas. Isso p e r m i t e a detecção, por exemplo, d e f r a g m e n t o s de suporte eletroforético. Uma camada de íons - está fixada na superfície
D N A amplificados p o r reação em cadeia da polimerase (PCR) e m do sólido. (Esta pode ser de íors + sob condições adequadas). Uma
u m nível q u e c o m p e t e c o m a auto-radíografia de ''P a partir d e segunda camada de íons + é atraída para a superfície. Uma solução
S o u t h e r n blots. 6 O s t e m p o s de separação de u m microcKifi típico homogênea se estende além da superfície do sólido.
são de a p r o x i m a d a m e n t e 50 a 200 segundos. N o c e n á r i o de diag-
nóstico clínico, os principais analitos de interesse p a r a a extrapo-
lação da p l a t a f o r m a de mieroc/ii/) são as p r o t e í n a s e o D N A .
o p o s t a . C o m o estes í o n s são a l t a m e n t e h i d r a t a d o s , seus movi-
C o m o r e s u l t a d o d o g r a n d e n ú m e r o d e intercaladores fluores-
m e n t o s t a m b é m c a u s a m o m o v i m e n t o d o solvente. Este f e n ô -
c e n t e s q u e p o d e m set i n c o r p o r a d o s n o D N A dupla-fita ( d s D N A )
m e n o , d e n o m i n a d o endosmose, causa o m o v i m e n t o pr ef er enci al
e d o excelente limite de d e t e c ç ã o q u e resulta da LIF, as separações
da água e m u m a direção. As m a c r o m o l é c u l a s e m solução q u e de
de D N A p o r microchipa t ê m se desenvolvido mais r a p i d a m e n t e d o
o u t r a m a n e i r a se m o v e r i a m n a direção o p o s t a a este f l u x o p o d e m
q u e as separações de p r o t e í n a s . Isso t e m acelerado a v e l o c i d a d e
p e r m a n e c e r imóveis o u até m e s m o ser a r r a s t a d a s d e volta e m
n a q u a l os m é t o d o s de eletroforese capilar e p o r microchzf t ê m
d i r e ç ã o ao p ó l o o p o s t o se estiverem i n s u f i c i e n t e m e n t e carrega-
e m e r g i d o c o m o alternativas à eletroforese e m placa d e gel tradi-
das. N o s m e i o s eletroforéticos n o s quais as cargas superficiais são
c i o n a l para a análise d e D N A , p a r t i c u l a r m e n t e p a r a aplicações
m í n i m a s (gel de a m i d o , agarose p u r i f i c a d a o u gel de poliacrila-
e m s e q ü e n c i a m e n t o . Isso tem sido d e m o n s t r a d o p e l o seqüencia-
mida), a endosmose t a m b é m é m í n i m a . C o m o a superfície
m e n t o d o G e n o m a H u m a n o usando-se C L .
i n t e r n a de u m capilar de vidro c o n t é m m u i t o s destes g r u p o s
carregados, a e n d o s m o s e é m u i t o f o r t e e é r e a l m e n t e a p r i n c i p a l
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS força i m p u l s i o n a d o r a da migração e m sistemas de C E .
Vários aspectos técnicos d o processo eletroforético d e v e m ser
c o n s i d e r a d o s p a r a se o b t e r u m a eficiência aceitável. Eles i n c l u e m Tampões
(1) a e l e t r o e n d o s m o s e , (2) o m a n u s e i o de t a m p õ e s e de soluções O s t a m p õ e s são b o n s m e i o s d e c u l t u r a para o c r e s c i m e n t o d e
d e corantes, (3) as c o n s i d e r a ç õ e s sobre as a m o s t r a s e (4) os m u i t o s m i c r o r g a n i s m o s e d e v e m ser r e f r i g e r a d o s q u a n d o n ã o estão e m
p r o b l e m a s c o m u m e n t e e n c o n t r a d o s n a execução da eletroforese. uso. A l é m disso, u m t a m p ã o gelado m e l h o r a a r e s o l u ç ã o e reduz
a e v a p o r a ç ã o d o s u p o r t e eletroforético. O t a m p ã o u s a d o e m u m
Endosmose ou Fluxo Eletroendosmótico e q u i p a m e n t o d e v o l u m e p e q u e n o deve ser d e s c a r t a d o após cada
C e r t o s m e i o s de s u p o r t e eletro for éticos e m c o n t a t o c o m a água corrida devido às m u d a n ç a s de p H causadas pela eletrólise d a
a d q u i r e m carga negativa devido à absorção de íons hidtoxila. Estes água q u e a c o m p a n h a a eletroforese. Se os v o l u m e s u s a d o s são
íons se t o r n a m fixados à superfície e se t o r n a m imóveis. O s íons m a i o r e s d o q u e 100 mL, os t a m p õ e s dos dois reservatórios p o d e m
positivos e m solução se a g r u p a m e m t o r n o dos sítios de carga ser c o m b i n a d o s , m i s t u r a d o s , a r m a z e n a d o s a 4 o C e reutilizados
negativa fixos, f o r m a n d o u m a n u v e m iônica p r i n c i p a l m e n t e d e e m q u a t r o corridas eletrofotéticas s u b s e q ü e n t e s .
íons positivos. O n ú m e r o de íons negativos associados a esta
n u v e m iônica a u m e n t a c o m o a u m e n t o da distância dos sítios de Solução de Coloração
carga negativa fixos até que, e v e n t u a l m e n t e , íons positivos e nega- Lima solução d e c o l o r a ç ã o típica p o d e ser u s a d a várias vezes. O
tivos estejam presentes e m c o n c e n t r a ç õ e s iguais (Figura 6-7)- c o r a n t e o u o s u b s t r a t o reagente, n o caso d e isoenzimas, p o d e ser
Q u a n d o se aplica c o r r e n t e a tal sistema, as cargas ligadas ao c o n s i d e r a d o i n a d e q u a d o s e m p r e q u e as zonas de p r o t e í n a s pare-
s u p o r t e imóvel p e r m a n e c e m fixas, m a s a n u v e m d e íons e m c e r e m m u i t o f r a c a m e n t e coradas. A s o l u ç ã o de c o l o r a ç ã o deve
solução está livre para se m o v e r p a r a o e l e t r o d o de p o l a r i d a d e ser g u a r d a d a h e r m e t i c a m e n t e f e c h a d a p a r a evitar a e v a p o r a ç ã o .
114 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Amostragem divididas n ã o são i n c o m u n s e n ã o d e v e m ser c o n s i d e r a d a s


U m a vez que a a l b u m i n a n o soro é dez vezes mais concentrada do erros. E m algumas amostras, as a r e p-lipoproteínas p o d e m
que as oci-globulinas, a q u a n t i d a d e de soro aplicada deve evitar a migrar à f r e n t e de suas posições n o i m a i s e parecer c o m o
sobrecarga d o gel com albumina, mas deve ser a d e q u a d a para quan- u m a b a n d a atípica. O c a s i o n a l m e n t e , u m a zona de
tificar OCi-globulma. As quantidades típicas de soro aplicadas n a a l b u m i n a dividida é o b s e r v a d a n a bis-albuminemia, mas
eletroforese e m gel de agarose são de 0,6 a 2,0 [_iL, d e p e n d e n d o das u m a zona de a l b u m i n a g r o s s e i r a m e n t e alargada p o d e ser
necessidades d o teste. Se os procedimentos exigem múltiplas aplica- devida a certos m e d i c a m e n t o s q u e se ligam à a l b u m i n a .
ções, tal c o m o n a análise de ísoenzimas, a preocupação com relação 6. As bandas atípicas e m u m p a d r ã o de Ísoenzimas p o d e m ser
à sobrecarga de albumina n ã o é mais u m fator importante. As r e s u l t a d o da ligação p o r u m a i m u n o g l o b u l i n a . U m a zona
amostras de urina necessitam da concentração de 5 0 a 100 vezes de p r o t e í n a irregular, m a s nítida, n o p o n t o de p a r t i d a , que
para a sensibilidade adequada, e as de C S F p o d e m ou n ã o necessitar n ã o t e m a aparência regular e u m t a n t o d i f u s a das
de concentração, d e p e n d e n d o da tccnica dc coloração empregada. proteínas, p o d e ser de f a t o p r o t e í n a d e s n a t u r a d a r e s u l t a n t e
de u m soro d e t e r i o r a d o . Q u a n d o se d e p a r a c o m u m a
Manutenção de um Capilar Saudável b a n d a n ã o usual e m q u a l q u e r lugar d e u m p a d r ã o de
A p r e p a r a ç ã o e a m a n u t e n ç ã o d e u m capilar t ê m u m p a p e l vital p r o t e í n a sérica, a p o s s i b i l i d a d e de que seja u m a
n a o b t e n ç ã o de resultados reprodutíveis c o m C E . Q u a n d o se usa p a r a p r o t e í n a verdadeira (Ver C a p í t u l o 18 para maiores
u m capilar n o v o o u se m u d a para u m novo t a m p ã o de separação, detalhes) deve s e m p r e ser c o n s i d e r a d a . F i n a l m e n t e , é u m a
o capilar deve ser a d e q u a d a m e n t e e q u i l i b r a d o c o m o t a m p ã o d e b o a prática de l a b o r a t ó r i o incluir u m soro- c o n t r o l e e m
separação, u m processo d e n o m i n a d o c o n d i c i o n a m e n t o . O con- cada corrida eletroforética p a r a avaliar sua q u a l i d a d e e a d o
d i c i o n a m e n t o é p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e q u a n d o se usa u m densitômetro.
t a m p ã o c o n t e n d o fosfato. Para a r e p r o d u t i b i l i d a d e aceitável, u m
t a m p ã o c o n t e n d o fosfato deve ser e q u i l i b r a d o n o capilar p o r n o
m í n i m o 4 h o r a s antes da eletroforese. C o m o c o m q u a l q u e r
superfície de sílica n ã o t r a t a d a , os grupos silanol ionizados são R E F E R E N CI A S
ideais p a r a a i n t e r a ç ã o c o m os analitos carregados, particular-
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In: Landers JP, ed. Handbook of capillary electrophoresis Boca Raton:
d o gel.
CRC Press, 1994-549-62,
3. As £0?Txl5 áütorcidets de proteínas p o d e m ser devidas (a) a
10. Oda RP, Bush VJ, Landers JP. Clinicai applications of capillary
aplicadores curvos, (b) à i n c o r p o r a ç ã o de u m a b o l h a de at
electrophoresis. In: Landers JP, ed. Handbook of capillary
d u r a n t e a aplicação da a m o s t r a , (c) à sobrecarga de a m o s t r a
electrophoresis, 2nd ed. Boca Raton: CRC Press, 1997:639-73.
ou (d) à secagem excessiva d o s u p o r t e eletroforético antes
11 Ogorzalek RR, Loo JA, Andrews PC. Obtaining molecular weights of
ou d u r a n t e a eletroforese.
proteins and their cleavage produets by directly combining gel
4. A s megulaiidades (outras além das zonas q u e b r a d a s ) n a electrophoresis with mass spectrometry. Methods Mol Biol
aplicação da a m o s t r a p r o v a v e l m e n t e são devidas aos géis de 1999;112 473-85.
agarose excessivamente ú m i d o s . Partes das amostras 12. 0'ReilIy MJ, Kinnon C. The cechnique of pulsed field gel
aplicadas p o d e m p a r e c e r desbotadas. electrophoresis and its impact on molecular immunology. J Immunol
5. As bandas não usuais são n o r m a l m e n t e artefatos q u e p o d e m Methods 1990;131:1-31.
ser f a c i l m e n t e r e c o n h e c i d o s . As amostras h e m o l i s a d a s são 13 Pentoney Jr SL, Sweedler JV Op tical detection techniques for capillary
causas f r e q ü e n t e s de u m a p-globulina a u m e n t a d a ( o n d e a electrophoresis. In: Landers JP, ed. Handbook of capillary
h e m o g l o b i n a livre migra) o u d e u m a b a n d a n ã o usual e n t r e electrophoresis, 2nd ed. Boca Raton- CRC Press, 1997:379-423.
as a 2 - e p-globulinas, o r e s u l t a d o de u m c o m p l e x o 14 Rabilloud T. A comparison between low background silver diamiriine
h e m o g l o b i n a - h a p t o g l o b i n a . U m a b a n d a n o p o n t o de and silver nitrate protein stains Electrophoresis 1992; 13-429-39.
partida p o d e ser d o f i b r i n o g ê n i o , e deve-se verificar se a 15 St Claire III RL. Capillary electrophoresis. Anal Chem 1996;68:569-86.
a m o s t r a é soro a n t e s q u e esta b a n d a seja r e p o r t a d a c o m o 16. Viskari P, Landers JP. Unconventional derection methods for
u m a p r o t e í n a a n o r m a l . B a n d a s de a]-, a 2 - e |3-globuIinas microfluidic devices. Electrophoresis 2006;27i 1797-810
CAPÍTULO 7

Cromatografia*
M. David Ullman, Ph.D., e Carl A. Burtis, Ph.D.

OBJETIVOS C r o m a t o g r a f i a L í q u i d a — E s p e c t r o m e t r i a d e Massa (LC-MS):


1. Definir cromatografia, fase estaciona riaj fase móvel e resolução. U m processo analítico q u e usa u m c r o m a t ó g r a f o l í q u i d o
2. Apresentar as duas formas básicas de cromatografia e os princípios a c o p l a d o a u m e s p e c t r ô m e t r o d e massa.
C r o m a t o g r a f i a P l a n a r : U m a técnica de separação n a qual a
básicos de cada uma delas.
fase estacionária é u m papel (cromatografia e m papel, [PC])
3. Citar cinco técnicas de separação utilizadas em procedimentos
o u u m a c a m a d a de partículas sólidas dispersas e m u m
cromatográficos e apresentar o princípio de cada uma delas.
s u p o r t e (cromatografia e m c a m a d a f i n a , [TLC]).
4. Apresentar o princípio da cromatografia em camada delgada e seu
C r o m a t o g r a f i a p o r T r o c a d e í o n s : T i p o de cromatogr af i a e m
uso em um laboratório clínico.
q u e a separação é baseada, p r i n c i p a l m e n t e , nas diferenças
5. Definir e calcular fator de retenção e discutir como este fator é
das a f i n i d a d e s de troca iônica d o s c o m p o n e n t e s da amostra.
usado para identificar compostos em um procedimento C r o m a t o g r a m a : U m gráfico ou o u t r a a p r e s e n t a ç ã o da resposta
cromatográfico. d o detector, c o n c e n t r a ç ã o de u m a substância a ser analisada
6. Apresentar a teoria da cromatografia em fase gasosa e seu uso em (analito) n o e f l u e n t e o u o u t r a q u a n t i d a d e u s a d a c o m o
um laboratório clínico. m e d i d a de c o n c e n t r a ç ã o d e e f l u e n t e uersus v o l u m e de
7. Apresentar o princípio da cromatografia em fase líquida de alta e f l u e n t e ou t e m p o .
eficiência e seu uso em um laboratório clínico. Fase E s t a c i o n á r i a : A fase estacionária é u m a das d u a s fases q u e
8. Citar exemplos de detectores usados em procedimentos f o r m a m o sistema cromatográfico. P o d e sei u m sólido, u m
cromatográficos e como eles quantificam a concentração de gel o u u m l í q u i d o . Se f o r líquido, p o d e ser d i s t r i b u í d o
substâncias. s o b r e u m s u p o r t e sólido. Esse s u p o r t e sólido p o d e o u n ã o
c o n t r i b u i r para o processo de p r e p a r a ç ã o .
Fase M ó v e l : U m gás o u l í q u i d o q u e se infiltra através ou ao
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES l o n g o d o leito estacionário n u m a direção d e f i n i d a .
C r o m a t o g r a f i a : U m m é t o d o físico de separação n o qual os R e s o l u ç ã o : U m a m e d i d a d o q u ã o e f i c a z m e n t e dois picos
c o m p o n e n t e s a s e r e m s e p a r a d o s são distribuídos e n t r e duas a d j a c e n t e s estão separados.
fases: u m a delas é estacionária (fase estacionária), e n q u a n t o
a o u t r a (a fase móvel) se m o v i m e n t a e m u m a di reção

A
definida.
cromatografia é utilizada n o laboratório clínico p a r a
C r o m a t o g r a f i a d e Fase R e v e r s a : U m tipo d e cromat ografia de
separar e q u a n t i f i c a r vários analitos clínicos relevantes.
p a r t i ç ã o líquida na qual a fase móvel é significativamente
.Este capítulo inclui discussões gerais sobre (1) conceitos
mais polaT d o q u e a fase estacionária.
básicos, (2) m e c a n i s m o s de separação, (3) resolução e (4) tipos
C r o m a t o g r a f i a d e P a r t i ç ã o : M o d o de cromat ografi a n o qual a
específicos d e cromatografia, i n c l u i n d o o planar, na f o r m a gasosa
separação é b a s e a d a , p r i n c i p a l m e n t e , nas diferenças entre as
e líquida de alta eficiência. Ele se e n c e r r a c o m u m a discussão
solubilidades d o s c o m p o n e n t e s da a m o s t r a na fase
sobre c o m o a cromatografia é utilizada n a s análises qualitativa e
estacionária (cromatografia e m fase gasosa) ou nas
quantitativa.
diferenças e n t r e as solubilidades dos c o m p o n e n t e s n a s fases
móvel e estacionária (cromatografia líquida).
C r o m a t o g r a f i a e m C o l u n a : U m a técnica d e separação na qual
CONCEITOS BÁSICOS
A c r o m a t o g r a f i a é u m processo físico o n d e os c o m p o n e n t e s
o leito estacionário está d e n t r o de u m t u b o .
(solutos) d e u m a m i s t u r a de amostras são separados c o m o resul-
C r o m a t o g r a f i a e m Fase G a s o s a (GC): U m t i p o de
tado d e sua distribuição diferencial e n t r e as fases estacionária e
c r o m a t o g r a f i a e m c o l u n a n o qual a fase móvel é u m gás.
móvel. D u r a n t e esse processo, a fase m ó v e l t r a n s p o r t a a a m o s t r a
C r o m a t o g r a f i a e m Fase G a s o s a — E s p e c t r o m e t r i a d e Massa
através d e u m leito, c a m a d a o u c o l u n a q u e c o n t e n h a a fase esta-
(GC-MS): U m processo analítico q u e usa a cromat ografia
cionária. A m e d i d a q u e a fase móvel f l u í ao passar pela fase
e m fase gasosa acoplada a u m e s p e c t r ô m e t r o de massa.
estacionária, os solutos p o d e m (1) se fixar a p e n a s n a fase estacio-
C r o m a t o g r a f i a L í q u i d a (LC): F o r m a de c r o m a t o g r a f i a de
nária (sem migração); (2) p e r m a n e c e r a p e n a s na fase móvel
c o l u n a na q u a l a fase móvel é u m líquido.
(migração c o m a fase móvel); o u (3) se distribuir e n t r e as d u a s
Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC): U m tipo
fases (migração diferencial). Esses solutos c o m a f i n i d a d e mais
d e L C q u e usa u m a eficiente c o l u n a c o n t e n d o p e q u e n a s
elevada pela fase estacionária se p r e n d e m n a m e s m a e m i g r a m
partículas de fase estacionária.
mais l e n t a m e n t e d o q u e os q u e t ê m m e n o r a f i n i d a d e . O s c o m
m e n o r a f i n i d a d e p e r m a n e c e m p r i n c i p a l m e n t e n a fase móvel e
m i g r a m mais r á p i d o . Assim, os solutos c o m m e n o r a f i n i d a d e
separam-se d o s solutos c o m m a i o r a f i n i d a d e pela fase estacioná-
ria. O s solutos f o r t e m e n t e ligados são deslocados, s u b s e q ü e n t e -
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias do Dr.
m e n t e , da fase estacionária, alterando-se a natureza física o u
LarryD. Bowers, nas quais se baseiam partes deste capítulo.
q u í m i c a da fase móvel. Neste capítulo, o t e r m o e m inglês chroma-

115
116 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Figura 7 - 1 Formas de cromatografia.

togrãph. foi traduzido t a n t o c o m o v e r b o q u a n t o c o m o s u b s t a n t i v o .


C o m o verbo, significa separar p o r cromatografia; c o m o substan-
tivo, se refere à m o n t a g e m d o s c o m p o n e n t e s necessários para
realizai u m a separação p o r cromatografia.
A s d u a s f o r m a s básicas d e cromatografia são a p l a n a r e a
c r o m a t o g r a f i a e m c o l u n a (Figura 7-1). N a c r o m a t o g r a f i a p l a n a r ,
a fase e s t a c i o n á r i a reveste u m a tira de papel (cromatografia e m
papel) o u u m a superfície sólida (cromatografia e m c a m a d a f i n a
[TLC]). N a c r o m a t o g r a f i a e m papel, a fase estacionária é u m a
c a m a d a de água ou u m solvente polar q u e Teveste as fibras d o
papel. N a T L C , u m a fina c a m a d a d e partículas d e u m m a t e r i a l
c o m o a sílica gel é e s p a l h a d a u n i f o r m e m e n t e n u m a placa d e v i d r o
o u n u m a folha d e plástico ou a l u m í n i o . Q u a n d o a c a m a d a f i n a
consiste de partículas de d i â m e t r o p e q u e n o (4,5 y m ) , a técnica é
c o n h e c i d a c o m o cromatografia em camada fina de alta eficiência
(HPTLC).
N a c r o m a t o g r a f i a e m c o l u n a , a fase estacionária p o d e ser
sílica p u r a o u u m p o l í m e r o , o u p o d e ser u m r e v e s t i m e n t o sobre
O
partículas de s u p o r t e o u ligada q u i m i c a m e n t e a elas. A fase esta-
— V \i
c i o n á r i a p o d e ser " e m p a c o t a d a " n u m t u b o o u revestir a superfície
i n t e r n a d o m e s m o . A c r o m a t o g r a f i a em c o l u n a inclui t a n t o a 1 r~
2 3
c r o m a t o g r a f i a e m fase gasosa (GC) q u a n t o a c r o m a t o g r a f i a
Minutos
l í q u i d a (LC), d e p e n d e n d o se a fase móvel é u m gás ou u m
l í q u i d o . O p e r a c i o n a l m e n t e , o i n s t r u m e n t o u s a d o p a r a realizar
u m a separação G C ou L C é c o n h e c i d o c o m o cromatógrafo a gds Coluna: C18, 3 |J, 0,46 x 10 cm
ou líquido. Q u a n d o a fase estacionária na L C consiste e m partí- Eluente: lsocrálico, fosfato 0,025 M
culas de d i â m e t r o p e q u e n o , a técnica é a c r o m a t o g r a f i a l í q u i d a Tampão: pH 3,0 em acetonitrila a 25%
d e alta e f i c i ê n c i a ( H P L C ) . Q u a n d o u m c r o m a t ó g r a f o a gás ou Taxa de vazão: 2 mL/min
l i q u i d o é c o n e c t a d o a u m espectro m e t r o de massa, as técnicas Detecção: 215 nm, 0,1 AUFS
c o m b i n a d a s o u "hifenizadas" são a c r o m a t o g r a f i a e m fase
gasosa—espectrometria d e m a s s a (GC-MS), e a c r o m a t o g r a f i a Componentes 1. Doxepina
2. Desipramína
l í q u i d a — e s p e c t r o m e t r i a d e m a s s a (LC-MS).
3. Imipramina
N a G C e n a L C analíticas, a fase móvel (ou eluente) sai da
4. Nortriptilina
c o l u n a e passa através d e u m d e t e c t o r que p r o d u z u m sinal ele-
5. Amitriptilína
t r ô n i c o o qual. é t r a ç a d o c o m o f u n ç ã o d o t e m p o , da distância ou
d o v o l u m e . O gráfico r e s u l t a n t e é u m c r o m a t o g r a m a (Figura 7-2).
O t e m p o de retenção, ou v o l u m e de retenção, ocorre q u a n d o u m
soluto sai d o i n j e t o r e passa através da coluna e d o detector. O s Figura 7 - 2 Cromatograma de uma separação por HPLC de fase
d a d o s r e p r e s e n t a d o s p e l o c r o m a t o g r a m a são u s a d o s para a j u d a r reversa de antidepressivos triciclicos com o uso de um detector com
a i d e n t i f i c a r e q u a n t i f i c a r o(s) soluto(s). C o m o os solutos e m fotômetro UV configurado para 215 nm. O sinal é exibido a 0,1 AUFS.
eluição são exibidos g r a f i c a m e n t e c o m o u m a série de picos, eles HPLC, cromatografia líquida de aita eficiência; UV, ultravioleta;
f r e q ü e n t e m e n t e são c h a m a d o s de Jricos croma tográficos. Esses picos AUFS, unidades de absorvãncia em escala completa. (Cortesia de
são descritos e m t e r m o s de (1) a m p l i t u d e , (2) altura e (3) área. Vydac/The Separa ti ons Group, Hesperia, Calif.)
Cromatografia CAPÍTULO 7 117

N a cromatografia planar, as zonas separadas são detectadas p o r trocas c o m os íons de c o n r a ^ e m . E n t ã o , os íons d o s o l u t o são
suas cores n a t u r a i s ou visualizadas através da modificação q u í m i c a seletivamente eluídos pela m o d i f i c a ç ã o d o p H ou da força iônica,
q u e p r o d u z " m a n c h a s " ou "faixas", q u e são usadas d e m a n e i r a o u a m b o s , da fase móvel.
qualitativa para identificar vários analitos o u p a r a quantificá-los. A s partículas da troca d e cátions c o n t ê m grupos f u n c i o n a i s
carregados n e g a t i v a m e n t e e são u s a d a s p a r a separar ou "trocar"
MECANISMOS DE SEPARAÇÃO solutos catiônicos. O s exemplos i n c l u e m g r u p o s f o r t e m e n t e
As separações cromatográficas são classificadas pelos m e c a n i s m o s ácidos, tais c o m o os íons s u l f o n a d o s , ou g r u p o s p o u c o ácidos,
q u í m i c o s ou físicos u s a d o s para separar os solutos. Estes i n c l u e m c o m o os íons carboxilados o u os g r u p o s carboximetil (CM),
(1) a troca de íons, (2) a partição, (3) a adsorção, (4) a exclusão fosfato (F), sulfometil (SM), sulfoetil (SE) o u s u l f o p r o p i l (SP). O s
p o r t a m a n h o e (5) os m e c a n i s m o s de a f i n i d a d e . Basicamente, as a g r u p a m e n t o s de troca d e â n i o n s são u s a d o s para separar os
aplicações clínicas u s a m as separações cromatográficas baseadas solutos aniônicos. Eles p o s s u e m a m i n a s q u a t e r n á r i a s f o r t e m e n t e
n o s m e c a n i s m o s d e troca d e íons e d e partição. básicas c o m cargas positivas. O s e x e m p l o s i n c l u e m os grupos
trietilaminoetil ou os g r u p o s p o u c o básicos, tais c o m o a m i n o e t i l
Cromatografia de Troca Iônica (AE), dietilaminoetil (DEAE), g u a n í d o e t i l (GE) e epicloridrina-
A cromatografia d e troca iônica baseia-se e m u m a troca d e íons trietanolamina (ECTEOLA).
e n t r e u m a s u p e r f í c i e estacionária carregada e os í o n s d e carga A cromatografia de troca iônica tem m u i t a s aplicações clínicas,
oposta na fase móvel (Figura 7-3). D e p e n d e n d o das condições, i n c l u i n d o a separação de (1) aminoácidos, (2) peptídios, (3) proteí-
os solutos são c á t i o n s (carregados p o s i t i v a m e n t e ) o u â n i o n s (car- nas, (4) nucleotídios, (5) oligonucleotídios e (6) ácidos nucléicos.
regados n e g a t i v a m e n t e ) . Eles são s e p a r a d o s de a c o r d o c o m as O u t r a s aplicações i m p o r t a n t e s da cromatografia de troca iônica são
diferenças e m sua caTga iônica ou c o m a m a g n i t u d e desta carga a separação e a r e m o ç ã o de íons inorgânicos das misturas aquosas.
iônica. O p e r a c i o n a l m e n t e , as superfícies das partículas de u m a Por exemplo, a água d e i o n k a d a é p r e p a r a d a utilizando-se colunas
resina plástica o u de sílica s e r v e m c o m o fase estacionária na qual d e "leito misto" de resinas de cátion e â n i o n .
os g r u p o s f u n c i o n a i s c o m cargas c a n ó n i c a s ou iónicas fixas são
revestidas ou ligadas. Para m a n t e r a n e u t r a l i d a d e eletroquímica, Cromatografia de Partição
u m íon intercambiável, c h a m a d o íon de contagem, é e n c o n t r a d o A distribuição diferencial de solutos e n t r e dois líquidos imiscíveis
b e m p r ó x i m o á carga fixa e os íons de s o l u t o n a fase móvel fazem é a base para a separação pela cromatografia d e partição (FigUTa

Cromatografia de troca iônica Cromatografia de partição

A separação baseia-se na troca de A separação baseia-se no particionamento


íons entre a superfície e os eluentes. dos solutos entre duas fases liquidas.

Cromatografia de a d s o r ç ã o Cromatografia por e x c l u s ã o de tamanho

A separação deve-se a uma série de A separação baseia-se no tamanho molecular.


etapas de adsorção/dessorção.

Figura 7 - 3 Exemplos de mecanismos de separação usados em cromatografia. (Cortesia de James K. Hardy,


Akron, Obio [http://ull.ciieinistrvuakron.edu/].)
118 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

7-3). O p e r a c i o n a l m e n t e , u m dos líquidos imiscíveis serve c o m o Solvente em eluição


fase estacionária. Para p r e p a r a r essa fase, u m a película f i n a d o
l í q u i d o é a d s o r v i d a ou ligada q u i m i c a m e n t e n a superfície das
l
partículas d e s u p o r t e ou s o b r e a p a r e d e i n t e r n a de u m a c o l u n a Frente d e _ Moléculas
capilar. A separação baseia-se nas diferenças d a s o l u b i l i d a d e rela- solvente pequenas
tiva das moléculas d e s o l u t o e n t r e as fases estacionária e móvel. 1 / atrasadas
A c r o m a t o g r a f i a de p a r t i ç ã o é classificada c o m o cromatogra- (capturadas
fia líquido-gasosa ( G L C ) ou c r o m a t o g r a f i a líquida-líquida (LLC). em leitos)
A L L C é categorizada, a d i c i o n a l m e n t e , c o m o de fase n o r m a l ou Frente -
d e fase reversa. N a L L C de fase n o r m a l , u m l í q u i d o polar é uti-
lizado c o m o fase estacionária e u m solvente r e l a t i v a m e n t e n ã o -
p o l a r o u u m a m i s t u r a d e solventes é u s a d a c o m o fase móvel. N a
c r o m a t o g r a f i a d e fase reversa, a fase estacionária é não-polar e a Moléculas
fase móvel é r e l a t i v a m e n t e polar. y Í & V grandes
eluídas (ultra-
A cromatografia de supressão iônica e a d e p a r e a m e n t o iônico
Frente passaram os
são duas f o r m a s d e c r o m a t o g r a f i a d e fase reversa usadas p a r a
leitos)
separar solutos iónicos. N a cromatografia de supressão iônica, a
n a t u r e z a iônica d e u m analito p o u c o ácido ou básico é neutrali-
zada o u " s u p r i m i d a " através da alteração do p H d a fase móvel. A o O Partícula d e gel
se neutralizar esse g r u p o iônico, o soluto se torna m e n o s p o l a r e
• Molécula grande
mais c a p a c i t a d o para interagir c o m a fase estacionária não-polar.
C o m isso, o analito s u p r i m i d o a d q u i r e as p r o p r i e d a d e s de u m a • Molécula pequena
espécie n e u t r a e é s e p a r a d o pela cromatografia de fase reversa. N a
cromatografia d e p a r e a m e n t o iônico, u m íon de c o n t a g e m — d e Figura 7 - 4 Representação esquemática da cromatografia em coluna
carga oposta ao d o analito — é a d i c i o n a d o à fase móvel, o n d e de filtração em gel. (Modificado de Bennett TP. Graphic biochemistry,
f o r m a pares de íons c o m os analitos iónicos, desloca os pares de vol I. Chemistry ofbiological molecules ISIew York. Macmillan, 1968.)
base habituais e neutraliza o(s) íon(s) d o analito. E n t ã o , esses pares
de íons são separados pela cromatografia de fase reversa. N a
prática, a cromatografia de p a r e a m e n t o iônico é p a r t i c u l a r m e n t e
útil para separações de drogas terapêuticas e seus metabólitos.

Cromatografia de Adsorção
A base d a s e p a r a ç ã o pela c r o m a t o g r a f i a de a d s o r ç ã o encontra-se
n a s diferenças e n t r e a a d s o r ç ã o e a dessorção dos solutos n a
superfície de u m a partícula sólida (Figura 7-3). A s interações
eletrostáticas, dispersivas e as p o n t e s d e h i d r o g ê n i o são as forças
físicas q u e c o n t r o l a m esse t i p o d e cromatografia. N a G C , esse
p r i n c í p i o é utilizado para s e p a r a r c o m p o s t o s d e baixo peso mole-
cular (p. ex., metila, etila e álcoois isopropílicos) e c o m p o s t o s q u e
n o r m a l m e n t e são gases e m t e m p e r a t u r a a m b i e n t e .

Cromatografia por Exclusão de Tamanho


A cromatografia p o r exclusão de t a m a n h o , t a m b é m c o n h e c i d a
c o m o cromatografia de filtração em gei, permeaçâo em geí, exclusão
estérica, exclusão molecular o u peneira molecular, separa os solutos Suporte
Braço espaçador Ligante
c o m base e m seu t a m a n h o m o l e c u l a r (Figura 7-3). O f o r m a t o e
a h i d r a t a ç ã o moleculares t a m b é m são fatores desse processo,
Diversos materiais são utilizados c o m o fases estacionárias n a Figura 7 - 5 Princípio da cromatografia por afinidade O analito
c r o m a t o g r a f i a p o r exclusão d e t a m a n h o , i n c l u i n d o (1) d e x t r a n (enzima, anticorpo, antígeno, receptor de tecido etc.) liga-se ao ligante
de ligação cruzada, (2) poliacrilamida, (3) agarose, (4) poliesti- de apoio. Subsequentemente, é eluído com um eluente geral {tal como
reno-divinil-benzeno, (5) v i d r o p o r o s o e (6) c o m b i n a ç õ e s desses um agente caotrópico), uma alteração de pH ou eluente bioespecífico
itens. As esferas desses materiais são porosas, s e n d o seus p o r o s {tal como um inibidor ou substrato).
de t a m a n h o s q u e p e r m i t a m q u e as moléculas p e q u e n a s sejam
t e m p o r a r i a m e n t e a p r i s i o n a d a s (Figura 7-4). As moléculas grandes
d e m a i s p a r a a d e n t r a r os p o r o s p e r m a n e c e m i n t e i r a m e n t e n a fase
m ó v e l e são r a p i d a m e n t e eluídas d a coluna. As moléculas c o m (Figura 7-5). As interações e n z i m a / s u b s t r a t o , h o r m ô n i o / r e c e p t o r
t a m a n h o i n t e r m e d i á r i o t ê m acesso a várias frações d o v o l u m e d o o u a n t í g e n o / a n t i c o r p o são u s a d a s nesse tipo d e cromatografia.
p o r o e e l u e m e n t r e as moléculas g r a n d e s e p e q u e n a s . N a prática, O p o d e r da c r o m a t o g r a f i a p o r a f i n i d a d e reside e m s u a seleti-
esse t i p o de c r o m a t o g r a f i a é mais u s a d o c o m p r o p ó s i t o s prepara- vidade. N o l a b o r a t ó r i o clínico, a c r o m a t o g r a f i a p o r a f i n i d a d e t e m
tórios d o q u e analíticos. sido utilizada p a r a separar os analitos, tais c o m o h e m o g l o b i n a s
glicosiladas (colunas d e b o r o n a t o de fenila) e l i p o p r o t e í n a s d e
Cromatografia por Afinidade baixa e m u i t o baixa d e n s i d a d e (colunas de h e p a r i n a ) . ' T a m b é m
N a c r o m a t o g r a f i a p o r a f i n i d a d e , a interação biológica ú n i c a e t e m sido utilizada p a r a p r e p a r a r grandes q u a n t i d a d e s de proteí-
específica d o analito e d o ligante é utilizada p a r a a s e p a r a ç ã o nas e a n t i c o r p o s p a r a e s t u d o s s u b s e q ü e n t e s .
Cromatografia CAPÍTULO 7 119

RESOLUÇÃO A separação incompleta ocorre q u a n d o o valor calculado de


A r e s o l u ç ã o (R s ) é u m a m e d i d a d e s e p a r a ç ã o c r o m a t o g r á f i c a e jRs é m e n o r d o q u e 0 , 8 , e n q u a n t o a s e p a r a ç ã o basal é o b t i d a
r e q u e r q u e dois picos t e n h a m t e m p o s d e eluição diferentes para q u a n d o Rs é m a i o r d o q u e 1,25 ( F i g u r a 7-7). C o n f o r m e d e m o n s -
os c e n t r o s d o s p i c o s e a m p l i t u d e s u f i c i e n t e m e n t e e s t r e i t a p a r a t r a d o n a F i g u r a 7-8, q u a n d o R s f o r inaceitável p a r a u m a d e t e r m i -
e l i m i n a r o u m i n i m i z a r a s o b r e p o s i ç ã o ( F i g u r a 7-6). 4 Ela é expressa, n a d a s e p a r a ç ã o , ele p o d e r á ser m e l h o r a d o através d e u m a altera-
m a t e m a t i c a m e n t e , c o m o segue: ç ã o n o (1) f a t o r d e r e t e n ç ã o da. c o l u n a (k*), (2) n a e f i c i ê n c i a d a
c o l u n a (N) o u (3) n a s e l e r i v i d a d e d a c o l u n a ( a ) . O f a t o r d e r e t e n -
V. ( B ) - V T ( A) ç ã o descreve a d i s t r i b u i ç ã o d o s s o l u t o s e n t r e as fases e s t a c i o n á r i a
Rs = (D
w(A) +uj(B) e móvel. A e f i c i ê n c i a d a c o l u n a é u m a f u n ç ã o da i n t e r a ç ã o fisica
e n t r e as m o l é c u l a s d o s o l u t o e o m a t e r i a l d e c o m p o s i ç ã o d a
c o l u n a . A s e l e t i v i d a d e caracteriza a a f i n i d a d e q u í m i c a específica
e n t r e as m o l é c u l a s d o s o l u t o e a c o m p o s i ç ã o d a c o l u n a . D e s s a
onde f o r m a , r e a r r a n j a n d o a e q u a ç ã o (1) e e x p r e s s a n d o os p a r â m e t r o s
V r (A) = v o l u m e d e r e t e n ç ã o d o soluto A e m termos d e retenção, eficiência e seletividade, a resolução
V r (B) = v o l u m e d e r e t e n ç ã o d o soluto B t a m b é m é expressa c o m o :
u-'{A) = a m p l i t u d e ( u n i d a d e s d e volume) medida na base para
o soluto A
w(B) - amplitude (unidades de volume) m e d i d a na base para
o soluto B
0,5 0,6 0,7

A resolução t a m b é m é expressa e m t e r m o s de tempo, com


Vj(A) e V r (B) s e n d o s u b s t i t u í d o s p e l o s t e m p o s d e r e t e n ç ã o t r (A)
e t r (B), e c o m if(A) e u<(B) s e n d o e x p r e s s o s e m u n i d a d e s d e
tempo.

0,B 1,0 1,25

Ponto de
injeção
Figura 7-7 Separação dos picos cromatográficos presentes n u m a
p r o p o r ç ã o d e 1:1 c o m o u m a f u n ç ã o da r e s o l u ç ã o (RJ. ( E x t r a í d o d e
S n y d e r LR: A r a p i d a p p r o a c h to s e l e c d n g t h e b e s t e x p e r i m e n t a l
c o n d i t i o n s for high-speed liquid c o l u m n c h r o m a t o g r a p b y Part 1
E s t i m a t i n g inicial s a m p l e r e s o l u t i o n r e q u i r e d by a given p r o b l e m . J
C h r o m a t o g r Sei 1 9 7 2 , 1 0 . 2 0 2 . )

R e s o l u ç ã o ruim

o
Ponto de Frente de

V solvente

Resolução boa em
decorrência da
eficiência d a coluna

Resolução boa em
virtude da seletividade
Figura 7-6 D i a g r a m a e s q u e m á t i c o d e u m c r o m a to g r a m a o b t i d o a da coluna
p a r t i r d e u m cro m a t o grafo d e c o l u n a e leito a b e r t o ( p l a n a r ) N a
c r o m a t o g r a f i a e m leito a b e r t o (embaixo) os c o m p o s t o s f o r t e m e n t e r e t i d o s
(B) m o v e m - s e m a i s l e n t a m e n t e d o q u e os c o m p o n e n t e s m e n o s r e t i d o s .
N a c r o m a t o g r a f i a e m c o l u n a (em cima) o c o m p o s t o B é e l u í d o m a i s t a r d e
q u e o c o m p o s t o A , m a i s u m a vez e m v i r t u d e da r e t e n ç ã o m a i s f o r t e .
R„ R e s o l u ç ã o , V r (A), v o l u m e d e r e t e n ç ã o p a r a o s o l u t o A , Vv(B), v o l u m e
d e r e t e n ç ã o p a t a o s o l u t o B, w(A), l a r g u r a d e b a n d a ( u n i d a d e s d e Figura 7-8 Efeito da selecividade e d a e f i c i ê n c i a n a r e s o l u ç ã o
v o l u m e ) m e d i d a n a b a s e p a r a o s o l u t o A; tu(B), l a r g u r a d e b a n d a cromatográfica. A , Resolução ruim. B , Resolução boa e m decorrência
( u n i d a d e s d e v o l u m e ) m e d i d a n a b a s e p a r a o s o l u t o B; V m , v o l u m e e n t r e da e f i c i ê n c i a da c o l u n a . C , R e s o l u ç ã o b o a e m v i r t u d e da s e l e t i v i d a d e da
o i n j e t o r e os detectores; d(A) d i s t â n c i a p e r c o r r i d a p e l o soluço A; c o l u n a . ( E x t r a í d o d e J o h n s o n EL, S t e v e n s o n R- Basic l i q u i d
A, s o l u t o A; B, s o l u t o B. r h r o m a t o g r a p h y - Palo A l t o , C a l i f : V a n a n A s s o c i a t e s , 1978.)
120 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

A p ó s a secagem da placa, OK c o m p o n e n t e s separados são


localizados e i d e n t i f i c a d o s por diversos p r o c e d i m e n t o s , tais c o m o
Frente de i l u m i n a ç ã o ultravioleta (LA/), fluorescência, b o i r i f a ç ã o c o m rea-
mento do gentes q u e geram cores específicas ou auto-radiografia. A migra-
solvente
solvente ção d e u m soluto é expressa p o r seu valor de Rf, o qual é calculado
Cuba
a partir da relação:

distância d o p o n t o de aplicacão até o c e n t r o d o soluto


Kf — :

Placa de Solvente distância d o p o n t o de aplicação até a f r e n t e da fase móvel


com a camada de
aplicação da (3)
f i n a d e sílica g e l Ponto para o qual
amostra
a a m o s t r a migrou A sílica gel c o n t i n u a s e n d o u m a d s o r v e n t e a m p l a m e n t e uti-
lizado n a T L C . O u t r o s adsorventes i n c l u e m os inorgânicos e
Figura 7-9 Ilustração da T L C . O solvente sobe pela c a m a d a f i n a de
orgânicos, tais c o m o o (1) óxido d e a l u m í n i o ( n e u t r o e ácido), o
a d s o r v e n t e através da ação capilar. TLC, C r o m a t o g r a f i a d e c a m a d a f i n a .
(2) silicato d e m a g n é s i o , a (3) terra d e d i a t o m á c e a (fueseigi/hr), a
{Modificado de B e n n e t t T P : G r a p h i c biochemistry, vol 1. C h e m i s t r y of
(4) celulose, a (5) p o l i a m i d a , as (6) resinas de troca iônica e a (7)
biological molecules. N e w York: M a c m i l l a n , 1968.)
sílica alquilada, A s placas c o b e r t a s c o m u m agente c o m p l e x a n t e
quiral t a m b é m estão disponíveis e são usadas p a r a a separação
dos e n a n t i ô m e r o s d e a m i n o á c i d o s e c o m p o s t o s similares. As
placas c o m sílica são usadas na T L C d e fase reversa, o q u e t e m
se m o s t r a d o útil na c r o m a t o g r a f i a d e c o m p o s t o s polares. O u s o
VN ( a - d e partículas de d i â m e t r o p e q u e n o n a fase estacionária levou ao
R, = x XI — (2) d e s e n v o l v i m e n t o da H P T L C . As separações p o r H P T L C são mais
lc'l 1 4 { a
eficientes e reprodutíveis e m v i r t u d e d o u s o das partículas de
d i â m e t r o p e q u e n o . A h i d r a t a ç ã o i n a d e q u a d a e a evaporação d o
o n d e Ic' = fator d e r e t e n ç ã o o u capaci dade (um t e r m o t e r m o d i - solvente devem ser c u i d a d o s a m e n t e controladas. E n c o n t r a m - s e
nâmico), N = n ú m e r o d e p r a t o s teóricos ( u m t e r m o cinético q u e disponíveis placas de T L C codificadas a laser, o n d e cada placa é
r e p r e s e n t a a eficiência da coluna) e a = fator de seletividade ( u m identificada d e f o r m a individual a fim de impedir erros de regis-
termo termodinâmico). tro e a r q u i v a m e n t o .
Esses fatores s o f r e m variação p a r a afetar o grau d e resolução N a prática, a m a i o r i a das separações poT T L C é qualitativa
de u m a d e t e r m i n a d a separação.* E n t r e t a n t o , u m a a b o r d a g e m o u s e m i q u a n t i t a t i v a ( c o m p a r a ç ã o visual). Porém, existem densi-
prática p a r a m e l h o r a r a resolução é p r i m e i r a m e n t e ajustar o fator t ô m e t r o s m o d e r n o s c o n t r o l a d o s p o r c o m p u t a d o r q u e varrem, e m
de r e t e n ç ã o p a r a u m valor aceitável, m e l h o r a n d o e n t ã o sua efici- faixas, os c r o m a t o g r a m a s das a m o s t r a s e de u m calibrador nas
ência. Por f i m , se necessário, a seletividade. deverá ser modifi- placas d e H P T L C e q u e disponibilizam capacidades q u a n t i t a t i -
cada. vas. 11 A s v a n t a g e n s da T L C i n c l u e m (1) simplicidade, (2) rapidez,
(3) versatilidade, (4) c a p a c i d a d e d e processar u m a g r a n d e q u a n -
t i d a d e d e amostras e m u m t e m p o m í n i m o e (5) baixo custo e m
CROMATOGRAF]A_PLANAR t e r m o s d e reagentes e e q u i p a m e n t o s . '
N a c r o m a t o g r a f i a p l a n a r os solutos são separados n u m a superfí-
cie p l a n a da fase estacionária A cromat ografi a em p a p e l e a T L C
são subclassificações da c r o m a t o g r a f i a p l a n a r (Figura 7-1). N a
CROMATOGRAFIA EM COLUNA
c r o ma t o g r a f ia e m papel, a fase estacionária é u m a c a m a d a d e N a cromatografia e m coluna, a fase estacionária recobre o u é
água o u solvente p o la r q u e reveste as fibras d o papel. q u i m i c a m e n t e ligada a partículas d e a p o i o q u e são, s u b s e q ü e n t e -
Na T L C uma fina camada de adsorvente é u n i f o r m e m e n t e m e n t e , " e m p a c o t a d a s " n u m t u b o , ou esta m e s m a fase reveste a
superfície i n t e r n a desse t u b o . A G C e a L C são subclassificações
e s p a l h a d a n u m a placa de v i d r o o u n u m a l â m i n a de plástico ou
a l u m í n i o . As placas p r o n t a s estão c o m e r c i a l m e n t e disponíveis e da cromatografia e m c o l u n a (Figura 7-1).
são cobertas p o r diversos adsorventes (p. ex., sílica gel, microce-
lulose, ó x i d o d e a l u m í n i o o u d e x t r a n d e ligação cruzada). A Cromatografia e m Fase Gasosa
amostra é a d i c i o n a d a c o m o u m a p e q u e n a m a n c h a ou faixa N a G C , u m a fase móvel gasosa é utilizada para passar u m a
p r ó x i m a à b o r d a inferior d a placa. E n t ã o , a placa é colocada n u m m i s t u r a de solutos voláteis através de u m a c o l u n a q u e c o n t e n h a
r e c i p i e n t e ou cuba f e c h a d a de vidro c o m a b o r d a inferior mergu- a fase estacionária. A fase móvel, c h a m a d a c o m f r e q ü ê n c i a de gás
l h a d a e a faixa de amostra logo acima da fase móvel (Figura 7-9). de arraste, é t i p i c a m e n t e u m gás inerte, tal c o m o o ni t r ogêni o, o
A fase móvel migra ao subir na placa pela ação capilar. A p ó s a hélio o u o argônio. A separação d o s o l u t o baseia-se n a s diferenças
fase móvel deslocar-se p o r u m a distância desejada, a placa é relativas n a s pressões d e v a p o r d o s solutos e e m suas interações
r e m o v i d a da cuba e seca. A separação adicional é o b t i d a na T L C c o m a fase estacionária. Assim, u m soluto mais volátil elui da
se a placa for trabalhada n u m a s e g u n d a direção. A l é m dessa c o l u n a antes d o m e n o s volátil. A l é m disso, u m s o l u t o q u e inte-
técnica "ascendente", as placas de c a m a d a f i n a t a m b é m são tra- raja seletivamente c o m a fase estacionária elui da c o l u n a d e p o i s
b a l h a d a s de m a n e i r a radial. d e u m o u t r o com u m m e n o r grau de interação. O e f l u e n t e da
c o l u n a c o n d u z os solutos s e p a r a d o s até o d e t e c t o r na o r d e m de
sua eluição. O s solutos são identificados, q u a l i t a t i v a m e n t e , pela
*Para descrição mais detalhada desses parâmetros e de seu impacto na resolução
s e m e l h a n ç a entre seus t e m p o s de r e t e n ç ã o o u sua massa espec-
cromaiográfica, o leitor deve consultar Ullman MD, Burtis CA. Chromatography.
In: Burtis CA, Ashwood ER, Bruns DE, eds. Tietz textbook of clinicai chemistry tral. O t a m a n h o d o pico (área o u altura) é p r o p o r c i o n a l à q u a n -
and molecular diagnostícs, 4th ed. Fhiladelphia. Saunders, 2006-141-63 tidade de soluto d e t e c t a d o e é utilizado p a r a quantificá-lo.
Cromatografia CAPÍTULO 7 121

A cromatografia sólido-gasosa (GSC) e a cromatografia As colunas capilares, também conhecidas c o m o coluruis tubu-
líquido-gasosa de partição (GLC) são categorias da G C . N a GSC, lares abenas de parede revestida, são fabricadas revestindo-se a parede
as separações ocorrem, basicamente, pelas diferenças na adsorção interna de u m tubo de sílica fundida c o m uma fina película da
na superfície da fase sólida. N a LCG u m líquido não-volátil fase líquida. Elas variam de 0,1 a 0,5 m m de ID e de 10 a 150 m
reveste, ou é quimicamente ligado a partículas da coluna, o u é de comprimento. A tubulação capilar de sílica fundida ultrapura
ligado diretamente na parede interna da coluna capilar. A sepa- usada e m tais colunas é muito frágil. Para reforçar fisicamente a
ração ocorre, basicamente, pelas diferenças na repartição d o s tubulação adiciona-se u m fino revestimento externo de poliamida
solutos entre a fase móvel gasosa e a fase estacionária líquida. ou alumínio, o que aumenta a durabilidade da coluna.
As colunas capilares são muito eficientes, mas possuem baixa
Instrumen tação capacidade de amostra. A l é m das colunas empacotadas e capila-
U m cromatógrafo básico a gás (Figura 7-10) consiste n o seguinte: res, h o u v e progresso n o desenvolvimento de microcolunas de G C
1. U m a coluna cromatográfica para separar os solutos em cfuf?í de s i l í c i o /
2. U m suprimento de gás de arraste e u m aparelho de controle Vários materiais têm sido utilizados c o m o fase estacionária
de vazão para regular o f l u x o desse gás de arraste através d o na GLC. Esses incluem os polímeros metilsilicone, polímeros de
sistema silicone substituído e os poliésteres de silicone. Tais materiais são
3. U m injetor para introduzir uma alíquota de amostra o u de revestidos o u quimicamente ligados na superfície das partículas
analito derivado dentro da coluna de apoio o u nas paredes da coluna.
4. U m aquecedoT de coluna para esquentá-la
5. U m detector acoplado para detectar os analitos separados Suprimento e Controle de Vazão do Gás de Arraste
conforme eluem da coluna U m a vazão constante de gás de arraste é necessária pata a efici-
6. U m computador para controlar o sistema e processar os ência da coluna e para tempos de eluição reprodutíveis. O s siste-
dados mas que fornecem taxas de vazão constantes variam de dispositi-
vos mecânicos simples a dispositivos eletrônicos sofisticados. Por
Coluna Cromatográfica exemplo, u m sistema simples consistindo n u m tanque de gás
O s dois tipos principais de coluna usados na cromatografia em comprimido, uma válvula de agulha para ajustar a vazão, u m
fase gasosa são a empacotada e a capilar. As colunas empacotadas medidor de vazão e uma válvula de pressão é suficiente para
são preenchidas c o m partículas de apoio usadas sem revestimento muitas aplicações. A operação que demanda temperatura progra-
(GSC) o u que foram revestidas o u quimicamente ligadas à fase mada requer u m controlador de vazão diferencial sofisticado, tal
estacionária (GLC). Elas variam de 1 a 4 m m de diâmetro interno c o m o u m sistema de controle eletrônico de pressão programado
(ID), a partir de 1 m ou mais de comprimento, e são fabricadas para regular a vazão e a pressão d o gás de arraste durante u m a
a partir de tubos de vidro ou aço inoxidável. Embora as colunas corrida cromatográfica. Tal controlador é operado n u m m o d o de
estreitas sejam mais eficientes, as colunas mais largas suportam vazão ou de pressão constante. N o m o d o de vazão constante, é
maiores quantidades de amostra. A G C rápida è u m tipo de G C calculada a pressão necessária para manter esse fluxo consranre
n o qual separações de alta velocidade são obtidas usando-se i n d e p e n d e n t e m e n t e da viscosidade d o gás de arraste. Então, u m
colunas convencionais de c o m p r i m e n t o curto. As colunas maiores transdutor de pressão m e d e e m a n t é m a pressão interna necessá-
são mais eficientes, mas requerem pressões maiores do gás de ria para a vazão constante.
arraste. A magnitude da vazão d o gás de arraste d e p e n d e d o tipo de
coluna. Por exemplo, as colunas empacotadas requerem uma taxa
de vazao de 10 a 6 0 m i y m i n . As taxas de vazão para as colunas
Suprimento de capilares são muito menores (de 1 a 2 m L / m i n ) e a manutenção
f a s e móvel de uma taxa de vazão constante é ainda mais crítica pata a ope-
ração eficiente dessas colunas.
Diversos gases são utilizados para arraste, d e p e n d e n d o da
Controlador de vazão
Compuíador/ coluna e do detector. O hidrogênio e o hélio são os gases de
( G C ) ou b o m b a (LC)
controlador arraste preferidos paTa as colunas capilares. Entretanto, só devem
ser usados hidrogênio e hélio de alta pureza, já que as impurezas
do gás de arraste (1) lesionam a coluna, (2) d i m i n u e m o desem-
p e n h o de alguns detectores e (3) afetam a quantificação de
maneira adversa na análise de traços. Nas colunas empacotadas,
o gás de arraste usado c o m mais freqüência é o nitrogênio, que
é utilizado n o s detectores por ionização de chama (FID), de
Integrador/ captura de elétron (ECD) o u de condutividade térmica (TCD).
registrador O hélio também é usado n o s FIDs e T C D s e as misturas de
nitro gênio-argônio-metano são usadas no E C D . O s gases de
arraste devem ser puros e secos, s e n d o que a tubulação usada
para conectar a fonte de gás ao G C deve estar livre de contami-
Detector(as)
nação. O s leitos de peneiras moleculares e os retentores especia-
lizados e m linha têm sido utilizados para remover o u reduzir o
c o n t e ú d o da mistura, hidrocarboneto ou oxigênio, d o gás de
arraste. 5
Descarta

Injetor
Figura 7 - 1 0 D i a g r a m a e s q u e m á t i c o de u m c r o m a t ó g r a f o d e gás o u A função de u m injetor é introduzir u m a alíquota da amostra a
liquido. GC, Cromatografia em fase gasosa; LC, Cromatografia líquida. ser analisada dentro da coluna; isso inicia o processo cTomato-
122 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

gráfico e tem que ser feito c o m u m a interrupção mínima d o fluxo mantida n u m nível constante preestabelecido duTante a execução
gasoso para dentro da coluna. N a maioria dos métodos clínicos da cromatografia (operação isotérmica) ou alterada e m função d o
de G C , as amostras são dissolvidas e m líquidos não-aquosos e Lempo (operação c o m temperatura programada o u c o m gradiente
introduzidas na coluna por meio de u m injetar alinhado. Nas de temperatura).
colunas empacotadas utiliza-se uma microsseringa de vidro para N a prática, o aquecimento de coluna c o m temperatura pro-
injetar uma alíquota de 1 a 10 pL da amosfra dissolvida através gramada é usado na maior parte das aplicações clínicas. C o m a
de u m septo que serve c o m o interface entre o injetor e o sistema programação da temperatura, os solutos com menores pontos de
cromatográfico. Na prática, a agulha da seringa é inserida através ebulição eluem primeiro, seguidos pelos que têm pontos de ebu-
do septo injetor e dentro de uma região aquecida. Depois, os lição mais elevados. C o n s e q ü e n t e m e n t e , uma mistura de solutos
analitos voláteis e o solvente são "vaporizados" e varridos para complexa c o m u m amplo espectro de p o n t o s de ebulição é sepa-
dentro da coluna pelo gás de arraste. Para garantir a volatilização rada e m picos cromatográficos nítidos e distintos n u m tempo
rápida e completa d o soluto, a temperatura do injetor é mantida m e n o r d o que a operação isotérmica. A temperatura é progra-
e m 3 0 ° C a 5 0 ° C acima da temperatura da coluna. mada e controlada por u m computador e seu software resi-
O s problemas c o m u n s na análise da G C incluem vazamentos dente.
do septo e adsorção dos c o m p o n e n t e s da amostra dentro d o septo
durante a injeção. A l é m disso, c o m o o septo está aquecido, Detectores
formam-se, com freqüência, produtos da decomposição, que ter- Vários detectores sensíveis são usados n o s cromatógrafos a gás.
m i n a m por "sangrar" para dentro da coluna. Isso resulta e m picos Entre eles encontram-se as unidades universais que detectam a
falsos, chamados picos-"fantasmas", que aparecem no cromato- maioria dos analitos e os dispositivos extremamente seletivos, que
grama. O sangue n o septo é maior em temperaturas mais elevadas detectam apenas analitos específicos (Tabela 7-1). C o m o exemplo
na porta de injeção. Para minimizar esse problema, utiliza-se u m temos os FIDs, os seletivos termo iónicos (TSDs), os ECDs, a
septo revestido de teflon e c o m baixo sangramento. A superfície fotoionização (PIDs) e os T C D s . Muitos outros dispositivos têm
interna d o septo é c o nt i nuamente limpa pelo gás de arraste, que sido utilizados c o m o detectores de G C e tornou-se uma prática
é ventilado antes de passar para dentro da coluna. Essa aborda- c o m u m colocar dois ou mais detectores e m série para melhorar
gem é especialmente eficaz e a maioria dos injetores disponíveis a especificidade e a sensibilidade analíticas. 6 Tipos diferentes de
no mercado está equipada c o m características de limpeza contí- espectrómetros de massa t a m b é m são usados c o m o detectores
nua. O septo é u m c o m p o n e n t e consumível e deve ser substituído nos cromatógrafos a gás (Capítulo 8).
pelo m e n o s a cada 100 injeções. Detector de Ionização de Chama. O FID é o detector mais
Em decorrência da baixa capacidade de amostra e das taxas c o m u m e n t e utilizado em análise clínica (Figura 7-11). Entre as
de vazão gasosa utilizadas na coluna capilar, são usadas as técnicas suas vantagens estão a (1) simplicidade, a (2) confiabilidade, a (3)
de injeção com e sem fracionamento para introduzir as amostras versatilidade, a (4) sensibilidade e a (5) facilidade de operação.
nas colunas. N o m o d o fracionado, apenas uma pequena porção Durante a operação) o efluente da coluna é misturado c o m
da amostra vaporizada adentra a coluna, e n q u a n t o que n o m o d o hidrogênio e ar e os c o m p o n e n t e s em eluição são queimados por
sem fracionamento a maior parte da amostra adentra a coluna. u m a chama. Cerca de 1 molécula em 10.000 produz u m cátion
Operacionalmente, o m o d o de vazão fracionado é utilizado para orgânico e libera u m elétron que é detectado por u m eletrodo
amostras que contêm concentrações relativamente elevadas do(s) coletor posicionado acima da chama. A magnitude d o sinal
analito(s)-alvo; o m o d o sem fracionamento é utilizado para amos- gerado está relacionada com a massa de material carbônico que
tras que c o n t e n h a m concentrações relativamente baixas do(s) chega ao detector. Este sinal é usado para a detecção e quantifi-
analiro{s)-alvo. cação dos solutos e m eluição.
Estão disponíveis portas de injeção c o m temperatura progra- Detector Seletivo Termoiônico. O T S D , também c o n h e c i d o
mável, s e n d o utilizadas em ambos os modos, fracionado e não- c o m o detector de niirogêmo-fósforo (NPDJ, é uma variação do FID
fracionado. A amostra é injetada n u m a temperatura ligeiramente na qual um leito alcalino é eletricamente aquecido na área acima
mais alta do que o p o n t o de ebulição d o solvente. A maior parte do jato. A presença dos átomos alcalinos na chama aumentará
dos componentes da amostra condensa n o vidro ou na lã de sílica em cerca de 15 vezes o sinal dos compostos que c o n t ê m nitrogê-
fundida n o material inserido n o injetor enquanto o solvente é nio, e em cerca de 3 0 0 vezes os sinais dos compostos que c o n t ê m
removido. Então, o injetor é rapidamente aquecido em taxas de fósforo.
até 100"C/min. O aquecimento rápido vaporiza os analitos que Detector de Fotoionização. O PID também é uma variação d o
fluem, então, para dentro da coluna. O aquecimento muito FID. N o PID, entretanto, a energia para a ionização é fornecida
rápido é vantajoso a partir do m o m e n t o em que os componentes por uma lâmpada U V intensa e m vez de uma chama. O PID tem
termicamente instáveis são expostos s o m e n t e a temperaturas ele- u m limite de detecção menor d o que o FID porque produz u m
vadas por um período de t e m p o curto. A separação da remoção sinal mais estável (produz m e n o s "ruído" basal).
do solvente e a vaporização do analito permitem a injeção de Detector de Condutividade Térmica. O T C D baseia-se no prin-
volumes de amostra de até centenas de microlitros. Isto melhora cípio de que a adição de um c o m p o s t o a um gás altera a condu-
a detecção do analito q u a n d o a matriz de amostra não é o fator tância térmica deste gás. Ele é usado, com freqüência, na G C
hmitante. capilar. O principio de operação do E C D baseia-se na reação
entre os compostos eletronegativos, tais c o m o o flúor, o cloro, o
Controle de Temperatura bromo e o iodo, e os elétrons térmicos. C o m o nem todos os
Operacionalmente, tanto as colunas empacotadas quanto as capi- c o m p o n e n t e s c o n t ê m esses grupos funcionais, a derivação com
lares requerem u m controle cuidadoso da temperatura da coluna, reagentes c o n t e n d o misturas policloradas ou polifluoradas é uti-
do injetor e do detector. O controle da temperatura da coluna é lizada com freqüência na E C D .
obtido colocando-se a coluna n u m forno o u aquecendo-a através
de aquecimento resistivo. As temperaturas d o injetOT e d o detec- Computador/Controlador
tor são controladas n o r m a l m e n t e através d o aquecimento resis- O s computadores proporcionam o controle d o sistema e o pro-
tivo. D e p e n d e n d o da aplicação, a temperatura da coluna é cessamento dos dados, tanto para os cromatógrafos a gás quanto
Cromatografia CAPÍTULO 7 123

TABELA 7 - 1 Exemplos de Detectores Usados nos Cromatógrafos a Gás


Tipo de Detector Princípio de Operação Seleliuidade Limite de Detecção Comentários

Condutância térmica (TCD) Mede a variação da condutividade térmica Universal < 400 pg propano/mL He
no gás de arraste duruante a eluição
dos compostos
Ionização de chama (FID) CHNO + calor ^ CHNCT + er; elétrons Hidrocarboneto 10 a 100 pg CHO
coletados para a detecção
Seletivo termoiânico Um leito alcalino ioniza seletivamente N, P 0,4 a 10 pg N
(TSD; NPD) os compostos que contêm N ou P 0,1 a 1,0 pg P
Captura de elétron (ECD) e" + R + N2 -> Re" + N2 Re" + N2 + e"; Grupos eletronegaíívos Compostos contendo
elétrons em excesso coletados; 0,05 a 1,0 pg Cl"
concentração inversamente relacionada
Espectrômetm de massa e - + ABC -> A*+ BC; monitora a proporção Universal (ajustável) 1 ng na varredura Proporciona confirmação
(MS) massa/carga através da varredura ou 10 pg na SIM estrutural; as proporções
da monitoração de um único ion (SIM) de ions são constantes
na SIM
Fotoionizaçáo (PID) CHNO + fótcn ^ CHNO* + er; Hidrocarboneto 1 a 10 pg CHO Pode ser uma melhoria
detecta elétrons para FID
Condutividade eletrolitica Detector de reação pós-coluna para a Compostos contendo 0,1 a 1,0 pg Ci"
(Hall) detecção seletiva dos compostos halogênio, S e N 2,0 pg S
contendo tialogênio, S ou N 4,0 pg N
Fotcmétrico a chama (FPD) Hidrocarbonetos contendo P e S emitem Compostos contendo P e S 0,9 pg CHP
luz quando queimados nnma chama 20 pg CHS
do tipo FID; a luz emitida é detectada
Intra vermelho com Luz de comprimento de onda infravermelho Universal (ajustável) 1 ng forte absorvedor Varrido em busca de
transformação de Fourier absorvida pelo composto de interesse de infravermelho informação estrutural
(FTIR) ou absorvância medida
para a quantificação

NPD, Detector de nitrogêno-fósfcno.

p a r a os c r o m a t ó g r a f o s l í q u i d o s (Figura 7-12). C o m o u m contro- b i t ú r i c o s n u m a f o r m a solúvel n u m solvente orgânico, tal c o m o


l a d o r d o processo, o c o m p u t a d o r regula vários p a r â m e t r o s , tais o d i c l o r o m e t a n o . E n t ã o , u m v o l u m e deste solvente é vigorosa-
c o m o (1) a c o m p o s i ç ã o e a taxa d e vazão da fase móvel, (2) a m e n t e c h a c o a l h a d o c o m o soro acidificado. Q u a n d o as c a m a d a s
pressão n a p a r t e de trás da c o l u n a , (3) as t e m p e r a t u r a s d a c o l u n a a q u o s a e orgânica se s e p a r a m , a m a i o r p a r t e d o s b a r b i t ú r i c o s está
e d o detector, (4) a i n j e ç ã o de a m o s t r a , (5) a seleção e a o p e r a ç ã o p r e s e n t e n a fase orgânica e m u i t a s interferências, c o m o as prote-
d o d e t e c t o r e (6) as várias e t a p a s de t e m p o r i z a ç ã o q u e c o m a n d a m ínas, p e r m a n e c e m n a fase aquosa. A extração d o solvente t a m b é m
a o p e r a ç ã o d o sistema. Para o p r o c e s s a m e n t o d o s d a d o s , o com- é usada c o m f r e q ü ê n c i a a f i m d e a u m e n t a r a c o n c e n t r a ç ã o de
p u t a d o r m o n i t o r a os sinais gerados pelos detectores d o sistema u m analito antes da análise cromatográfica.
e c o m a n d a a aquisição e o a r m a z e n a m e n t o d o s d a d o s e m inter-
valos de t e m p o específicos. A área, o u altura, d e cada p i c o cro- Derivação da Amostra
matográfico é d e t e r m i n a d a a partir d o s d a d o s a r m a z e n a d o s e M u i t o s c o m p o s t o s c l i n i c a m e n t e relevantes são não-voláteis e, p o r
u s a d a p a r a calcular a c o n c e n t r a ç ã o d o analito r e p r e s e n t a d o p o r isso, são difíceis de separar pela G C . P o r é m , a m o d i f i c a ç ã o ou
cada pico. O s a l g o r i t m o s disponíveis p a r a esse cálculo i n c l u e m derivação q u í m i c a de tais c o m p o s t o s a u m e n t a a sua volatilidade
os b a s e a d o s e m curvas de calibração ou e m fatores d e conversão p a r a a análise p o r G C . As reações q u í m i c a s utilizadas para f o r m a r
a partir da calibração i n t e r n a o u externa. Se for desejado, é pre- esses derivados não-polares i n c l u e m (1) acilação, (2) sililação, (3)
p a r a d o e impresso u m relatório c o m p l e t o p a r a cada corrida cro- a esterificação e a (4) oximação. A l é m de a u m e n t a r a volatilidade
matográfica. O p c i o n a l m e n t e , os d a d o s são a r m a z e n a d o s p a r a d o soluto, a derivação t a m b é m é usada para a u m e n t a r a especi-
serem r e c u p e r a d o s e r e p r o c e s s a d o s c o m diferentes p a r â m e t r o s de ficidade e a sensibilidade d e d e t e r m i n a d o s ensaios. Por exemplo,
integração. o u s o de u m r e a g e n t e quiral p a r a derivar a a n f e t a m i n a m e l h o r a
a especificidade e p e r m i t e a s e p a r a ç ã o d o s i s ô m e r o s D e L n u m a
Considerações Práticas c o l u n a d e G C c o m u m . A m e l h o r a n a detecção t a m b é m é alcan-
Várias técnicas a f e t a m a aplicação prática d a G C n o l a b o r a t ó r i o çada através d a p r e p a r a ç ã o d e derivados d o p e n t a f l u o r o p r o p i l
clínico, i n c l u i n d o as utilizadas para extrair e derivar a m o s t r a s para uso com o E C D .
para análise.
Cromatografia Líquida
Extração da Amostra A separação p o r L C baseia-se n a distribuição d o s solutos e n t r e
Para a análise p o r G C , a e x t r a ç ã o d o analito a p a r t i r d a amostra u m a fase móvel líquida e u m a fase estacionária. 1 Q u a n d o partí-
é f r e q ü e n t e m e n t e necessária. Por exemplo, para extrair barbitú- culas d e d i â m e t r o p e q u e n o são u s a d a s c o m o a p o i o da fase esta-
ricos d o soro, este é p r i m e i r o acidificado p a r a converter os bar- cionária, a técnica é a H P L C . C o m o são necessárias pressões
124 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

relativamente elevadas para bombear líquidos através das colunas


de HPLC, a técnica t a m b é m foi classificada c o m o cromatografia
líquida, de alta pressão. N o laboratório clínico, a H P L C é a forma
de LC mais utilizada.

Instrumentação
U m cromatógrafò líquido básico (Figura 7-10) consiste dos seguin-
tes elementos: 8
1. U m a coluna cromatográfica para separar os solutos
2. U m reservatório de solvente para aumentar a fase móvel
E n t r a d a d e ar 3. U m a o u mais bombas para forçar a fase móvel liquida através
d o sistema
4- U m injetor para introduzir u m a alíquota de amostra na
P o s i ç ã o final d a
coluna
coluna capilar
5. Detector(es) para captar os analitos separados conforme
Jato eluam da coluna
6. U m computador que controla o sistema e processa os
Entrada dados
de H,
Colunas Cromatcgráficas
Tanto as colunas empacotadas quanto as capilares são usadas nos
cromatógrafos líquidos. O s avanços na tecnologia da coluna
aumentaram a seletividade, a estabilidade e a capacidade de
reprodução das colunas analíticas da LC e os materiais usados
para tamponar e revestir a superfície interna dessas colunas. 10
Dimensões dâ Coluna. A tecnologia moderna da coluna pro-
duziu-as em diferentes dimensões c o m a tendência c a m i n h a n d o
para as colunas com IDs e volumes internos pequenos. Para o
uso n o laboratório clínico, a maior parce das colunas de H P L C
é fabricada a partir de tubos feitos de aço inoxidável 316 que
possuem IDs variando de 0,1 m m a 5 m m e comprimentos de
Gás composto
5 0 m m a 2 5 0 m m (Tabela 7-2), A l é m disso, estão sendo desen-
volvidas colunas (chamadas "nanobore") que possuem IDs de 25
a 100 pm. A s colunas tubulares abertas também estão disponí-
veis, tendo u m I D menor d o que 25 pm. Geralmente, as colunas
c o m IDs menores (1) são mais eficientes, (2) possuem limites de
detecção menores e (3) requerem volumes de fase móvel menores.
Por exemplo, uma coluna c o m ID de 2 m m requer cerca de cinco
Figura 7-11 D i a g r a m a e s q u e m á t i c o d e u m FID e q u i p a d o c o m gás vezes menos solvente do que uma coluna com ID de 4,7 m m
c o m p o s t o . F/D, Detector d e ionização de c h a m a . ( M o d i f i c a d o d e Hyver (Tabela 7-2). Os encaixes no final da coluna que possuem zero
KJ: H i g h r e s o l u t i o n gas chromatography, 3rd ed. Palo Alto, Calif: de volume morto e f u n d e m para reter as partículas de suporte
Hewlett Packard, 1989.) são usados para conectar a coluna ao injetor n o interior da ter-
minação, e o detector n o exterior da terminação.
A s colunas capilares usadas na LC são construídas revestindo-
1 Controle do se a parede interna de u m tubo de sílica fundida c o m u m a
Injelor 1 processador Temperaturas película fina da fase líquida. Essas colunas variam de 0,1 a 1,0

m m de diâmetro, e de 10 a 5 0 c m de comprimento.
Detecção

Medição Taxas
Detectores
• de vazão
Cálculo

TABELA 7 - 2 Tipos de Coluna Utilizados na HPLC
Equipamento Programa de tempo Funções de
Terminologia de ID da Coluna Volume Útima
auxiliar temporização
Gráfico Coluna (mm) de Vazão
Padrão 4,6 1,25 mL/min
4,0 1,0 mL/min
Cavidade estreita 3,0 0,6 mL7min
Relatório da 2,0 200 pL/min
análise Microcavidade/capilar 1,0 50 (iL/min
0,5 12 (.iL/min
0,3 4 luL/min
Figura 7 - 1 2 F u n ç õ e s dos c o m p u t a d o r e s n o s c r o m a t ó g r a f o s a gás e
líquido. HPLC, Cromatografia liquida de alta e/i ciência; ID, diâmetro interna.
Cromatografia CAPÍTULO 7 125

Para i m p e d i r q u e u m a c o l u n a analítica adsorva irreversivel- grandes moléculas de p r o t e í n a têm o acesso n e g a d o ao n ú c l e o


m e n t e as p r o t e í n a s c o n t i d a s n a alíquota d e amostra, c o m u m a i n t e r n o e p a s s a m através da coluna. As c o l u n a s p r e e n c h i d a s c o m
r e d u ç ã o s u b s e q ü e n t e t a n t o na resolução q u a n t o na vida útil da e m p a c o t a m e n t o d e acesso restrito viabilizam a injeção direta d e
coluna, coloca-se u m a c o l u n a de p r o t e ç ã o e n t r e o injetor e a amostras biológicas c o m altas c o n c e n t r a ç õ e s d e proteína, q u e
c o l u n a analítica. U m a c o l u n a d e p r o t e ç ã o é e m p a c o t a d a c o m a u l t r a p a s s a m a p r e p a r a ç ã o da a m o s t r a e m e l h o r a m a precisão
m e s m a fase estacionária, ou similar, da m e s m a f o r m a q u e a analítica.
c o l u n a analítica. Ela coleta m a t é r i a p a r t i c u l a d a e q u a i s q u e r c o m - A l é m dos e m p a c o t a m e n t o s descritos a n t e r i o r m e n t e , os empa-
p o n e n t e s f o r t e m e n t e retidos d a a m o s t r a e, p o r t a n t o , preserva a c o t a m e n t o s de partículas estão c o m e r c i a l m e n t e disponíveis c o m
vida útil da c o l u n a analítica. (1) características d e fase reversa e n o r m a l , (2) c o m p a t i b i l i d a d e
Empacotamentos de Partículas na Coluna. A s partículas empa- c o m altas t e m p e r a t u r a s (até 100°C) o u (3) t a m a n h o s g r a n d e s de
cotadas nas colunas t ê m d i â m e t r o s q u e variam e n t r e 1,8 e 10 p m . p o r o (p. ex., 3 0 0 A).
E m geral, q u a n t o m e n o r o d i â m e t r o da partícula, mais eficiente Empacotamentos de Coluna Monolítica Particulada. Uma coluna
é a c o l u n a . C o m o a pressão o p e r a c i o n a l traseira d e u m a c o l u n a m o n o l í t i c a é aquela disposta c o m o u m a fase c o n t í n u a h o m o g ê -
d e L C é i n v e r s a m e n t e p r o p o r c i o n a l ao q u a d r a d o d o d i â m e t r o d a n e a ( " e x a t a m e n t e c o m o o c o n c r e t o n u m a forma"), 1 0 ao invés de
partícula, são necessárias pressões relativamente altas p a r a e m p a c o t a d a c o m partículas individuais. Existem as c o l u n a s basea-
b o m b e a r líquidos através das c o l u n a s de H P L C . C o n s e q ü e n t e - das e m sílica assim c o m o as baseadas e m p o l í m e r o . Essas d u a s
m e n t e , as colunas d e H P L C mais curtas são usadas c o m f r e q ü ê n - colunas p o s s u e m t a n t o p o r o s g r a n d e s (com a p r o x i m a d a m e n t e 2
cia a f i m d e evitar a n e c e s s i d a d e de o p e r a ç ã o e m pressões trasei- p m de diâmetro), que criam g r a n d e d e n s i d a d e de poros, q u a n t o
ras proibitivas. Tais c o l u n a s t a m b é m são úteis n a s técnicas d e p o r o s p e q u e n o s (com a p r o x i m a d a m e n t e 13 n m d e diâmetro), q u e
e s p e c t r o m e t r i a d e m a s s a - H P L C (HPLC-MS) pOT ocasião d o s criam u m a área de superfície i n t e r n a grande. O p e r a c i o n a l m e n t e ,
baixos v o l u m e s de solvente necessários para p r o d u z i r separações ter a m b o s os tipos de p o r o é v a n t a j o s o p o r q u e a área d e superfí-
a d e q u a d a s ( C a p í t u l o 8). O s e m p a c o t a m e n t o s de f o r m a t o irregu- cie elevada p r o p o r c i o n a b o a separação e a alta p o r o s i d a d e mini-
lar ou esférico q u e p r o p o r c i o n a m pressões traseiras m e n o r e s miza a pressão traseira, viabilizando assim altas taxas d e vazão.
t a m b é m estão disponíveis. C o m isso, o t e m p o de análise é b a s t a n t e reduzido. Tais c o l u n a s
O s tipos de e m p a c o t a m e n t o p a r t i c u l a d o i n c l u e m os m a t e r i a i s são envolvidas e m t u b u l a ç õ e s c o m p o l i t e t r a f l u o r o e t i l e n o i n e r t e
ligados, p o l i m é r i c o s , quirais e de acesso restrito. (PTFE) e a r m a z e n a d a s e m t u b o s de aço inoxidável. A t u b u l a ç ã o
E m p a c o t a m e n t o s d e Fase L i g a d a . Nesse tipo de e m p a c o t a - i n e r t e elimina os v o l u m e s n u l o s n a i n t e r f a c e e n t r e o t u b o de aço
m e n t o , a fase estacionária é q u i m i c a m e n t e ligada à superfície d a s inoxidável e o b a s t ã o m o n o l í t i c o , m e l h o r a n d o a resolução. D u a s
partículas de sílica através d e u m éster d e sílica ou de u m a liga v a n t a g e n s adicionais dessas c o l u n a s são a de q u e p o d e m ser
p o l i m é r i c a d e silicone. O s e m p a c o t a m e n t o s d e fase ligada (1) são usadas c o m gradientes de vazão da fase móvel (p. ex., taxa de
m e c â n i c a e q u i m i c a m e n t e estáveis, (2) p o s s u e m vida útil longa e vazão crescente n o final da separação) e q u e diversas c o l u n a s são
(3) p r o p o r c i o n a m d e s e m p e n h o c r o m a t o g r á f i c o excelente. O s pareadas n u m a série para a u m e n t a r a resolução c o m u m p e q u e n o
e m p a c o t a m e n t o s d e fase ligada estão disponíveis para a c r o m a t o - a u m e n t o na pressão traseira. T a m b é m estão disponíveis as c o l u n a s
grafia de t r o c a i ô n i c a e p a r a as de fase n o r m a l e reversa. N a capilares monolíticas.
H P L C d e fase n o r m a l , os g r u p o s f u n c i o n a i s da fase e s t a c i o n á r i a
são p o l a r e s e m r e l a ç ã o aos da fase móvel, c o n s i s t i n d o , n o r m a l - Reservatório de Solvente
m e n t e , e m solventes não-polares, tal c o m o o h e x a n o . São exem- O s solventes utilizados c o m o fase m ó v e l estão c o n t i d o s nesses
p l o s d e g r u p o s f u n c i o n a i s p o l a r e s de H P L C d e fase n o r m a l o reservatórios. E m suas f o r m a s simples, os reservatórios são garra-
silanol, a m i n o e nitrila. A H P L C d e fase reversa r e q u e r u m a fas ou frascos d e vidro n o s quais são inseridas "linhas de alimen-
fase e s t a c i o n á r i a não-polar. O e m p a c o t a m e n t o d e fase Teversa tação" para a b o m b a . Para r e m o v e r partículas d o s solventes, são
mais p o p u l a r é o tipo C18, n o qual as m o l é c u l a s d e octadecil- colocados filtros a l i n h a d o s nas concavidades das linhas d e ali-
s i l a n o são ligadas a partículas d e sílica. U m a c o l u n a c o m e m p a - m e n t a ç ã o . O s sofisticados sistemas d e m a n e j o da fase m ó v e l
c o t a m e n t o d e o c t a d e c i l é c h a m a d a , f r e q ü e n t e m e n t e , coluna c o m e r c i a l m e n t e disponíveis c o n t ê m garrafas especialmente pro-
O D S ( O D S , o c t a d e c i l sílica - octadecyl sílica). As características jetadas c o m f u n d o s cónicos i n t e r n o s q u e viabilizam o u s o d e
d e r e t e n ç ã o e seletividade da c o l u n a da fase reversa são a l t e r a d a s p e q u e n o s volumes d e solvente. Estes sistemas de m a n e j o t a m b é m
p e l o a c o p l a m e n t o de o u t r o s g r u p o s à sílica, tais c o m o octila, a p r e s e n t a m três o u q u a t r o t a m p a s d e válvula q u e p e r m i t e m a
fenila ou c i a n o p r o p i l a . filtração, o a r m a z e n a m e n t o e a liberação de solventes, e u m a
E m p a c o t a m e n t o s P o l i m é r i c o s . O c a r b o n o grafitado ou os torneira para a retirada d e gás a v á c u o .
copolímeros m i s t u r a d o s são utilizados c o m o e m p a c o t a m e n t o poli-
mérico (p. ex., poliestireno-divinil-benzeno) o u s u b s e q ü e n t e m e n t e Bomba
derivados c o m a troca iônica o u c o m os grupos f u n c i o n a i s C 4 , São usadas b o m b a s d e pressão c o n s t a n t e e d e d e s l o c a m e n t o
C 8 ou C 1 8 . As colunas p r e e n c h i d a s c o m esses e m p a c o t a m e n t o s c o n s t a n t e nas c r o m a t o g r a f i a s líquidas, c o m estas ú l t i m a s s e n d o
a p r e s e n t a m níveis de d e s e m p e n h o comparáveis aos das c o l u n a s usadas de m a n e i r a mais a m p l a D u r a n t e a sua operação, a b o m b a
c o m base de sílica e são estáveis c o m o p H entre 2 e 13. d e d e s l o c a m e n t o c o n s t a n t e retira (aspira) a fase móvel d o reser-
E m p a c o t a m e n t o s Q u i r a i s . O s e m p a c o t a m e n t o s quirais são v a t ó r i o d e solvente e libera u m a vazão c o n s t a n t e r e p r o d u t í v e l da
utilizados para separar os e n a n t i ô m e r o s , q u e são e s p e l h a m e n t o s m e s m a através d o sistema c r o m a t o g r á f i c o .
d o m e s m o c o m p o s t o . N o l a b o r a t ó r i o clínico, esse tipo d e e m p a - U m a b o m b a alternada de dois pistões é u m tipo d e desloca-
c o t a m e n t o é u s a d o para s e p a r a r e q u a n t i f i c a r os e n a n t i ô m e r o s m e n t o c o n s t a n t e q u e usa u m disco assimétrico p a r a guiar estes
medicamentosos. pistões para d e n t r o e para fora de d u a s câmaras d e b o m b e a m e n t o
E m p a c o t a m e n t o s d e Acesso R e s t r i t o . C o m esse t i p o d e (Figura 7-13). A ação a l t e r n a d a d a b o m b a , e n t r e t a n t o , cria "pul-
e m p a c o t a m e n t o as superfícies externas das partículas de a p o i o sações de b o m b a " q u e r e s u l t a m de alterações n a taxa d e vazão.
são protegidas p o r u m a rede hidrofílica. O s solutos m e n o r e s , As alterações afetam os sinais de saída de alguns detectores,
c o m o os m e d i c a m e n t o s , passam através da rede pare d e n t r o d o s a u m e n t a n d o , c o n s e q u e n t e m e n t e , o r u í d o basal q u e i n f l u e n c i a o
poros, q u e são revestidos c o m fase estacionária h i d r o f ó b i c a . A s limite d e detecção d o sistema. A m a i o r i a das b o m b a s a l t e r n a d a s
126 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

z C T H ) Do r e s e r v a t ó r i o Do r e s e r v a t ó r i o n o"n~»y

Válvula d e
controle d e
entrada
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Isolamento

Válvula d e c o n t r o l e
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Figura 7 - 1 3 V i s ã o em corte de u m a b o m b a alternada de dois pistões (Extraído de W a l k e r J Q , Jackson M T


]r, M a y n a r d JB. C h r o m a t o g r a p h i c systems: M a i n c e n a n c e and t r o u b l e s h o o t i n g , 2 n d ed. N e w York: Acadernic
Press, 1977 )

m ó v e l p e r m a n e c e c o n s t a n t e através da corrida c r o m a t o g r á f i c a .
Esse m o d o é u s a d o , n o r m a l m e n t e , nas preparações simples e p a r a
a separação d a q u e l e s c o m p o s t o s c o m estruturas e / o u t e m p o s de
r e t e n ç ã o similares. U m a fase móvel isocrática é u m solvente
ú n i c o (p. ex., m e t a n o l ) ou u m a m i s t u r a p r e p a r a d a d e diversos
solventes (p ex., m e t a n o l , acetonitrila e água) liberada a p a r t i r
de u m reservatório de solvente individual. A l t e r n a t i v a m e n t e ,
u m a fase móvel muItisso(vente é m e d i d a e p r o p o r c i o n a d a a p a r t i r
d e d o i s o u mais reservatórios. A m a i o r i a das separações d e H P L C
é executada s o b c o n d i ç õ e s isocráticas.
A eluição e m g r a d i e n t e é u s a d a para separações mais c o m p l e -
xas. 2 Messe m o d o , a c o m p o s i ç ã o d a fase móvel é alterada d u r a n t e
a c o r r i d a d e f o r m a p a u l a t i n a o u c o n t í n u a . São usadas m u i t a s
técnicas diferentes para gerar perfis de gradiente. N u m a técnica
são usadas d u a s o u mais b o m b a s e m paralela. Vários perfis de
g r a d i e n t e são gerados pela p r o g r a m a ç ã o da saida de cada b o m b a .
A l t e r n a t i v a m e n t e , a fase móvel é a l i m e n t a d a para o l a d o i n t e r n o
de u m a única b o m b a . Por exemplo, até q u a t r o reservatórios d e
solvente p o d e m ser c o n e c t a d o s à válvula i n t e r n a d e verificação
de u m a ú n i c a b o m b a via válvulas de dosagem. E n t ã o , varia-se a
c o m p o s i ç ã o da fase móvel através da p r o g r a m a ç ã o d o t e m p o
d u r a n t e o q u a l o solvente é liberado através de cada u m a das
L 1 I l l válvulas de dosagem.
Tempo
Injetor
Figura 7 - 1 4 E x e m p l o s de eluição isocrática e g r a d i e n t e n a L C . Para iniciar u m a separação de LC, p r i m e i r o introduz-se u m a
LC, C r o m a t o g r a f i a líquida. a l í q u o t a da a m o s t r a (p. ex., 0,2 a 5 pL) n a c o l u n a através de u m
injetor. O t i p o mais utilizado d e injetor é o d e alça fixa (Figura
7-15). N a posição d e e n c h i m e n t o , u m a alíquota da a m o s t r a é
i n t r o d u z i d a s o b pressão atmosférica n u m a alça de aço inoxidável.
N o m o d o de injeção, a alça da a m o s t r a é girada n o f l u x o c o r r e n t e
usa a m o r t e c e d o r e s d e p u l s o mecânicos ou eletrônicos e / o u da fase móvel f a z e n d o c o m q u e a a m o s t r a f l u a p a r a d e n t r o da
cabeças múltiplas q u e o p e r a m fora de fase para liberar u m a fase c o l u n a cromatográfica. Esses injetores são (1) precisos, (2) f u n -
c o n t i n u a m e n t e móvel. O u t r a técnica utiliza u m t e m p o de reabas- c i o n a m e m pressões elevadas e (3) têm sido p r o g r a m a d o s para
t e c i m e n t o mais r á p i d o d o q u e o t e m p o de distribuição. As s e r e m utilizados e m sistemas a u t o m a t i z a d o s .
b o m b a s a l t e r n a d a s o p e r a m a até 10.000 libras p o r polegada qua- A p a r e l h o s de a u t o - a m o s t r a g e m d i g i t a l m e n t e c o n t r o l a d o s e
d r a d a (psi) e geram taxas d e vazão de 0,01 m L / m i n a 2 0 m L / m i n q u e i n c o r p o r a m u m injetor e m alça estão disponíveis comercial-
ou mais, d e p e n d e n d o d o t a m a n h o da cabeça e da c o n f i g u r a ç ã o m e n t e . Esses dispositivos sofisticados são precisos e p o d e m ser
da b o m b a . p r o g r a m a d o s para a o p e r a ç ã o c o n t í n u a e a u t o m a t i z a d a A l é m
A b o m b a da H P L C é o p e r a d a n u m m o d o isocrático ou gra- disso, a alça da a m o s t r a é lavada d e m a n e i r a a u t o m á t i c a , c o m a
d i e n t e (Figura 7-14). N o m o d o isocrático, a compos i ção da fase fase móvel entre as a m o s t r a g e n s para i m p e d i r a m o v i m e n t a ç ã o
Cromatografia CAPÍTULO 7 127

t— Alça d a —»
/ amostra \

Entrada do eluente E n t r a d a —»
do •'
eluente

Coluna cromatográfica

Alça d e e n c h i m e n t o Injeção da amostra


da amostra

Figura 7 - 1 5 Visão em corte de u m injetor de amostra em alça c o m u m e n t e usado.

TABELA 7 - 3 E x e m p l o s de D e t e c t o r e s U t i l i z a d o s nos Cromatógraíos Líquidos de A l t a Eficiência

Tipo de Intervalo de Limite de


Detector Principio de Operação Aplicação Detecção Comentários
Fotômetro UV (comprimento Mede a absorvância da luz UV Seletivo <1 ng 0 analito deve abson/er a luz UV ou ser
de onda fixo) derivado
Fotômetro UV (comprimento Mede a absorvância da luz UV Seletivo <1 ng 0 detector é "ajustado" para um
de onda variável) comprimento de onda específico
Série de díodos Mede a absorvância de luz Seletivo <1 ng 0 detector proporciona o espectro completo
Fluorímetro Mede a fluorescência Muito seletiva pg a n g 0 analito deve fluorescer ou ser derivado
Refratômetro Mede a variação no índice de retração Universal 1 ug
Eietroquímico Mede, eletroquimicamente, o analito Seletivo pg a n g 0 detector é útil para as
oxidado/reduzido catecolaminas

UV, ultrãviolétd

d a a m o s t r a . A c a p a c i d a d e d e injetar múltiplas alíquotas a partir tos orgânicos absorve n a região de UV, c o m u n s p o u c o s absor-
de u m ú n i c o frasco d e a m o s t r a , o u de a d i c i o n a r reagentes a partir v e n d o até m e s m o a região visível d o espectro eletromagnético.
d e frascos designados para derivar analitos i m e d i a t a m e n t e a n t e s O s f o t ô m e t r o s o p e r a m c o m o detectores de c o m p r i m e n t o de
d a injeção, é característica a d i c i o n a l d e m u i t o s aparelhos d e auto- o n d a fixo o u variável. A m a i o r i a d o s f o t ô m e t r o s U V de compri-
amostragem. m e n t o de o n d a fixo usa a l i n h a de r e s s o n â n c i a i n t e n s a de 2 5 4
n m p r o d u z i d a p o r u m a l â m p a d a d e arco de m e r c ú r i o . Esse t i p o
Detectares d e detector é e x t r e m a m e n t e sensível e o p e r a a 0 , 0 0 5 u n i d a d e s de
FoTam desenvolvidos m u i t o s detectores p a r a u s o c o m c r o m a t ó - absorvância e m escala c o m p l e t a (AUES). Para prover u m a flexi-
graíos l í q u i d o s (Tabela 7-3). O s exemplos i n c l u e m o (1) f o t o m é - b i l i d a d e m a i o r aos detectores d e c o m p r i m e n t o de o n d a fixo, são
trico, (2) e s p e c t r o f o t o m é t r i c o , (3) f l u o r i m é t r i c o e (4) eletroquí- utilizadas o u t r a s l i n h a s d e ressonância m e n o s intensas d a l â m p a d a
mico. U m c o m p o n e n t e - c h a v e e i n t e g r a n t e de tais detectores é a de m e r c ú r i o A l t e r n a t i v a m e n t e , u m f ó s f o r o é c o l o c a d o e n t r e a
célula d e vazão (Figura 7-16), através d a qual passa o p r o d u t o l â m p a d a e a célula de vazão e a f l u o r e s c ê n c i a e m i t i d a r e s u l t a n t e
e l u í d o p r o v e n i e n t e da c o l u n a c r o m a t o g r á f i c a . O s analitos dissol- d a excitação c o m 254 n m é u s a d a c o m o f o n t e de luz. Esta ú l t i m a
vidos são e n t ã o d e t e c t a d o s e é g e r a d o u m sinal eletrônico. (Os a b o r d a g e m é utilizada n o s f o t ô m e t r o s d e c o m p r i m e n t o d e o n d a
e s p e c t r ó m e t r o s de massa, c o m o os detectores da LC, são apresen- d u p l o q u e o p e r a m e m dois c o m p r i m e n t o s de o n d a fixos (p. ex.,
tados n o C a p í t u l o 8.) 254 n m e 2 8 0 n m ) . As l i n h a s d e ressonância i n t e n s a s de 214 n m
Fotômetros e Espectrofotômetros, O s f o t ô m e t r o s de U V e de luz e 2 2 9 n m de u m a l â m p a d a de arco de zinco ou c á d m i o , respec-
visível m e d e m a energia r a d i a n t e absorvida pelos compostos con- t i v a m e n t e , t a m b é m são u s a d a s p a r a a detecção e m c o m p r i m e n t o s
f o r m e eles e l u e m da c o l u n a cromatográfica (Capítulo 4). Estes d e o n d a m e n o r e s , o n d e mais c o m p o n e n t e s a b s o r v e m .
detectores o p e r a m nas regiões de energia r a d i a n t e de 190 a 4 0 0 O s e g u n d o tipo de f o t ô m e t r o é o d e t e c t o r de c o m p r i m e n t o
n m e de 4 0 0 a 700 n m , respectivamente. O s dispositivos são de o n d a variável. Ele o p e r a n u m c o m p r i m e n t o de o n d a selecio-
versáteis e d e t e c t a m m u i t o s solutos p o r q u e a maioria dos compos- n a d o a p a r t i r d e u m d e t e r m i n a d o i n t e r v a l o de c o m p r i m e n t o s de
128 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Entrada da Saída da l â m p a d a s de arco de d e u t é r i o e d e x e n ô n i o , ou os ktsers, t ê m sido


amostra amostra utilizados c o m o f o n t e s d e luz nesses detectores.
Detectores Eletroquímicos. N o s detectores q u í m i c o s ampero-
Lâmpada UV
métricos ( C a p í t u l o 5), u m analito eletroativo a d e n t r a a célula de
vazão, o n d e é o x i d a d o o u r e d u z i d o n u m a superfície de e l e t r o d o
sob potencial c o n s t a n t e . O s c o m p o s t o s eletroativos de interesse
clínico, c o n v e n i e n t e m e n t e analisados p o r H P L C c o m detecção
eletroquímica, i n c l u e m as catecolaminas u r i n á r i a s ( C a p í t u l o 26).
A l é m disso, "etiquetas" q u i m i c a m e n t e eletroativas (p. ex., b r o m o )
são a d i c i o n a d a s aos c o m p o s t o s c o m o os ácidos graxos insatura-
dos ou p r o s t a g l a n d m a s
O s detectores coulométricos t a m b é m são utilizados. Q u a n d o
postos e m série, tais detectores são u s a d o s para detectar e quanti-
ficar os c o m p o s t o s co-eluentes q u e diferem e m seus potenciais de
meia o n d a (o potencial n o m á x i m o d e m e i o sinal) e m pelo m e n o s
Fotocélula 60 mV. Esses detectores são e x t r e m a m e n t e seletivos e sensíveis,
dual c o m intervalos d e resposta razoavelmente grandes. São utilizados
n o laboratório clínico para a análise de m e t a n e f r i n a s , ácido vanil-
Célufa m a n d é l i c o , ácido homovanílico e ácido acético 5-hidroxindol n a
d e fluxo urina b u m a n a s e m grandes preparações de amostra.

Computador
Entrada de Saída de D a m e s m a f o r m a q u e n o s c r o m a t ó g r a f o s a gás, a i n c o r p o r a ç ã o
referência referência da i n f o r m á t i c a n a i n s t r u m e n t a ç ã o d a H P L C resultou e m sistemas
c o m d e s e m p e n h o s analíticos m e l h o r a d o s (Figura 7-12). Nestes
Figura 7-16 E s q u e m a ópcico d e u m f o t õ m e t r o simples e d e u m a sistemas, u m c o m p u t a d o r p r o p o r c i o n a t a n t o a f u n ç ã o d e con-
célula d e f l u x o . UV, Ultravioleta. trole d o sistema q u a n t o a de p r o c e s s a m e n t o dos dados. Para
maiores d e t a l h e s o leitor d e v e T á c o n s u l t a r a discussão a n t e r i o r
s o b r e o u s o d e c o m p u t a d o r e s n o s c r o m a t ó g r a f o s a gás.
o n d a . O detector é " s i n t o n i z a d o " p a r a o p e r a r n a absorvância
m á x i m a para u m d e t e r m i n a d o a n a l i t o ou c o n j u n t o de analitos, Cons/cferaçâes Práticas
o q u e a u m e n t a a aplicabilidade e a seletividade d o detector Várias técnicas afetam a aplicação prática da H P L C n o l a b o r a n >
(Figura 7-2). U m a o u t r a v a n t a g e m desse detector é a sua capaci- rio clínico, i n c l u i n d o as utilizadas p a r a p r e p a r a r amostras e fases
d a d e d e o p e r a r e m c o m p r i m e n t o s de o n d a mais baixos (p. ex., móveis.
190 n m ) . C o m o mais c o m p o s t o s (p. ex., colesterol) absorvem e m
c o m p r i m e n t o s de o n d a m e n o r e s , essa c a p a c i d a d e a u m e n t a a Preparação da Amostra
versatilidade d o detector. N o s c o m p r i m e n t o s d e o n d a m e n o r e s , A p r e p a r a ç ã o d a amostra é u m a etapa i m p o r t a n t e n a análise
p o r é m , m u i t o s solventes a b s o r v e m a luz U V e são inúteis c o m o c r o m a t o g r á f i c a p o r H P L C e inclui p r o c e d i m e n t o s para a concen-
fase móvel. Felizmente, a acetonitrila e o m e t a n o l , dois solventes tração, p u r i f i c a ç ã o e derivação da a m o s t r a .
a m p l a m e n t e utilizados n a c r o m a t o g r a f i a de fase reversa, têm Concentração e/ou Purificação da Amostra. Freqüentemente é
absorção de U V m í n i m a a 2 0 0 n m . necessário c o n c e n t r a r ou p u r i f i c a r u m analito n u m a a m o s t r a
C o n j u n t o s de d i o d o t a m b é m são utilizados c o m o detectores a n t e s d a separação e da q u a n t i f i c a ç ã o p o r H P L C . Diversas técni-
de H P L C p o r q u e r a p i d a m e n t e p r o d u z e m d a d o s espectrais p o r cas cie extração de líquido e de fase sólida (SPE) são usadas c o m
t o d o o intervalo de c o m p r i m e n t o d e o n d a cie 190 a 6 0 0 n m e m esse p r o p ó s i t o . A ú l t i m a t o i n o u - s e m u i t o p o p u l a r p o r q u e cartu-
cerca de 10 milissegundos. D u r a n t e a o p e r a ç ã o , o detector de chos de extração da fase sólida o u as placas n o f o r m a t o S P E de
c o n j u n t o de d i o d o passa a luz p o l i c r o m á t i c a através d a célula d e 9 6 p o ç o s s i m p l i f i c a r a m b a s t a n t e a p r e p a r a ç ã o da a m o s t r a .
vazão d o detector. A luz t r a n s m i t i d a é dispersa p o r u m a grade de Existem, hoje, dispositivos para a extração a u t o m á t i c a e para
diíração e direcionada, e n t ã o , p a t a u m c o n j u n t o d e f o t o d i o d o s , a p r e p a r a ç ã o d a amostra. Eles consistem, p r i n c i p a l m e n t e , e m
o n d e é m e d i d a a i n t e n s i d a d e da luz e m c o m p r i m e n t o s de o n d a braços e m e c a n i s m o s robóticos p a r a a liberação a l t a m e n t e precisa
variados. Tais detectores t ê m sido úteis n a i d e n t i f i c a ç ã o de drogas d e v o l u m e s de solvente. D e p e n d e n d o d o i n s t r u m e n t o , as amostras
na u r i n a e n o soro. p o d e m ser p r e p a r a d a s e analisadas i n d i v i d u a l m e n t e o u e m lotes.
Fluorimetros. O s f l u o r í m e t r o s são utilizados n o s cromatógra- Derivação Ü3 Amostra. Alguns analitos p r e c i s a m ser derivados
fos l í q u i d o s para detectar os c o m p o s t o s f l u o r e s c e n t e s c o n f o r m e q u i m i c a m e n t e a n t e s o u depois da separação c r o m a t o g r á f i c a p a r a
e l u e m d a c o l u n a A l é m disso, os reatores pré e pós-coluna são a u m e n t a r sua c a p a c i d a d e de s e r e m detectados. Por exemplo, n o s
utilizados para rotular q u i m i c a m e n t e u m c o m p o s t o c o m u m a analisadores a u t o m a t i z a d o s d e a m i n o á c i d o s , os a m i n o á c i d o s
marca f l u o r e s c e n t e para a detecção posterior. Por exemplo, os eluídos reagem c o m n i n i d r i n a n u m r e a t o r pós-coluna ( C a p í t u l o
a m i n o á c i d o s ou o u t r a s a m i n a s p r i m á r i a s são rotulados, f r e q ü e n - 18). E n t ã o , as espécies c r o m o g ê n i c a s resultantes são detectadas
t e m e n t e , c o m marcas de dansil o u f l u o r e s c a m i n a e seguidos pela com u m fotõmetro. Outros exemplos incluem a marcação de
separação H P L C e pela d e t e c ç ã o f l u o r i m é t r i c a . A m a i o r i a d o s a m i n o á c i d o s ou outras a m i n a s p r i m á r i a s c o m "etiquetas" d e
f l u o r í m e t r o s utilizados c o m os c r o m a t ó g r a f o s líquidos tem u m dansil ou fluorescência n u m r e a t o r p r é ou pós-coluna, seguida
p r o j e t o relativamente simples e são e x t r e m a m e n t e seletivos e pela detecção f l u o r o m é t r i c a .
sensíveis para c o m p o s t o s q u e e m i t e m fluorescência d e n t r o d o Preparação da Fase Móvei. A o se p r e p a r a r a fase móvel, os gases
intervalo de c o m p r i m e n t o de o n d a o p e r a c i o n a l d o detector. A s dissolvidos n o solvente devem ser r e m o v i d o s o u s u p r i m i d o s e o
Cromatografia CAPÍTULO 7 129

solvente t a m b é m deve ficar livre d e matéria p a r t i c u l a d a . Q u a n d o m e n t a l . Existe software para a i d e n t i f i c a ç ã o d e c o m p o s t o s através


a fase móvel for c o m p o s t a p o r dois ou mais solventes, os m e s m o s da pesquisa e m bibliotecas de espectro U V b a s e a d a n o s valores
deverão ser m i s t u r a d o s d e f o r m a a d e q u a d a . corrigidos de R,.11
R e t i r a d a do Gás d o Solvente. U m problema c o m u m na L C C o m as colunas capilares da G C e d a LC, é possível introdu-
é a evolução de b o l h a s de gás dissolvido q u e crescem c o n f o r m e zir, s i m u l t a n e a m e n t e , os c o m p o n e n t e s d e u m a i n j e ç ã o ú n i c a nas
a fase m ó v e l passa d o l a d o d e alta pressão (coluna) para o l a d o d u a s colunas feitas de fases estacionárias diferent es . As colunas
d a pressão a m b i e n t e (pós-coluna) d o sistema c r o m a t o g r á f i c o . são c o n e c t a d a s para separar os detectores de tipos iguais ou
Essas b o l h a s devem ser r e m o v i d a s ou s u p r i m i d a s p o r q u e criam diferentes. A igualdade e n t r e as p r o p r i e d a d e s de r e t e n ç ã o d e u m
u m sinal eletrônico instável (sinal basal ruidoso) q u a n d o passam ú n i c o analito e o c o m p o s t o d e referência e m duas c o l u n a s de
através de u m detector. O p e r a c i o n a l m e n t e , (1) a retirada d o gás fases diferentes a u m e n t a a c h a n c e da identificação correta desse
a vácuo, (2) a e l i m i n a ç ã o pelo hélio, (3) a pressão traseira pós- analito. A identificação de a n a l i t o mais confiável, p o r é m , é pro-
d e t e c t o r ou (4) a retirada d o gás p o r m e m b r a n a a v á c u o são p o r c i o n a d a por u m d e t e c t o r q u e a p r e s e n t a i n f o r m a ç ã o estrutu-
técnicas usadas para evitar esse p r o b l e m a . ral, assim c o m o o e s p e c t r ô m e t r o de massa ( C a p í t u l o 8).
Clareza d o S o l v e n t e . As fases móveis devem ser p r e p a r a d a s a
partir d o s solventes d o grau d e H P L C livres d e m a t é r i a particu- Quantificação do Analito
lada. A m a i o r i a dos solventes d e H P L C comerciais é pré-filtrada. O s sinais eletrônicos gerados pelo(s) detector(es) t a m b é m são
E n t r e t a n t o , se n ã o o f o r e m , eles devem ser filtrados através d e u s a d o s p a r a p r o d u z i r i n f o r m a ç ã o q u a n t i t a t i v a . T ê m sido usadas
u m filtro de 0,5 p m .
M i s t u r a d o S o l v e n t e . D u r a n t e a o p e r a ç ã o de gradiente, os
solventes da H P L C q u e c o n s t i t u e m a fase m ó v e l são m i s t u r a d o s
mais c o m u m e n t e c o m u m m i s t u r a d o r estático ou d i n â m i c o . O s
m i s t u r a d o r e s estáticos c o n t a m c o m a d i n â m i c a de f l u x o l a m i n a r ,
e n q u a n t o os m i s t u r a d o r e s d i n â m i c o s u s a m agitadores magnéti-
cos. A viscosidade d o solvente afeta as características d a mistura;
a m i s t u r a i n a d e q u a d a é d e t e c t a d a p o r m u i t o s detectores U V e
p o d e ser expressa c o m o u m sinal basal instável.

Segurança CD

As p r e c a u ç õ e s n o r m a i s n o l a b o r a t ó r i o devem ser praticadas £

d u r a n t e a o p e r a ç ã o de H P L C . O e f l u e n t e da c o l u n a deve ser
c o l e t a d o n u m recipiente a d e q u a d o e a r m a z e n a d o de m o d o apro-
p r i a d o a n t e s d o descarte. A liberação explosiva d a pressão n u m
sistema H P L C n ã o é u m a a m e a ç a i m p o r t a n t e ; os líquidos são
6 8 0 2 1 6 3
a p e n a s ligeiramente c o m p r i m i d o s e, c o m isso, a c u m u l a m p o u c a Tempo (minutos)
energia.

Concentração
ANÁLISES QUALITATIVA E QUANTITATIVA
A c r o m a t o g r a f i a é b a s i c a m e n t e u m a técnica de separação Entre-
t a n t o , é utilizada t a n t o para análises qualitativa [identificar o(s) Figura 7-17 U s o d e calibradores e x t e r n o s na p r o d u ç ã o d e u m
anahto(s) de interesse] q u a n t o para a quantitativa. gráfico de calibração. (Extraído d e Krull I, Swarta M . Q u a n t i t a t i o n i n
m e t h o d validation. L G G C . 1998;16:1084-90.)
Identificação do Analito
O t e m p o de retenção, o v o l u m e ou a distância percorrida n u m a
placa são usados, c o m freqüência, para a identificação, compa-
r a n d o s e esse resultado com o de u m c o m p o s t o de referência. A
aparência d o pico, b a n d a ou p o n t o de u m soluto n u m m e s m o
m o m e n t o que o d o c o m p o s t o d e referência é consistente c o m os
dois c o m p o s t o s s e n d o o m e s m o . A aparência simultânea n ã o prova
a identidade, já que é possível que outros c o m p o s t o s t e n h a m o
m e s m o t e m p o de retenção c o m o o c o m p o s t o de referência.
N a c r o m a t o g r a f i a p l a n a r os c o m p o s t o s de referência são cro-
m a t o g r a f a d o s s i m u l t a n e a m e n t e c o m a amos t ra d e s c o n h e c i d a . A
identificação p o r tentativa é feita pela c o m p a r a ç ã o e n t r e as dis-
tâncias de m i g r a ç ã o e as características de detecção dos compos-
tos d e referência e as d o s analitos d e s c o n h e c i d o s . Se o R/ (veja a
e q u a ç ã o 3) d o analito d e s c o n h e c i d o e o R, d o c o m p o s t o d e refe-
rência f o r e m diferentes, dever-se-á considerar q u e os c o m p o s t o s
t a m b é m serão diferentes. Se f o r e m iguais, presumir-se-á que os
8 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8
c o m p o s t o s serão idênticos. E n t r e t a n t o , c o m o mais de u m com-
T e m p o (minutos)
p o s t o p o d e ter o m e s m o R ( n u m d e t e r m i n a d o sistema c r o m a t o -
gráfico, a identificação p r e s u m i d a precisa ser c o n f i r m a d a p o r Figura 7 - 1 8 U s o d e calibradores i n t e r n o s na p r o d u ç ã o d e u m
o u t r a s técnicas, tal c o m o o u s o de (1) reagentes específicos e m gráfico de calibração (sendo o pico 1 o p a d r ã o i n t e r n o ) (Extraído de
spray, (2) f o r m a ç ã o de c o m p l e x o s c o m a n t i c o r p o s ou (3) isola- Krull I, Swartz M . Q u a n t i t a t i o n i n m e t h o d validation. L C - G C .
m e n t o d o c o m p o s t o seguido pela análise q u í m i c a e / o u instru- 1998;16:1084-90)
130 PARTE II Instrumentação e T é c n i c a s Analíticas

técnicas d e calibração i n t e r n a s e externas. C o m a calibracao 2. Dolan JW, Snyder LR, Gradienc elution chromatography. In: Meyers
externa, as s o l u ç õ e s d e referência q u e c o n t e n h a m q u a n t i d a d e s RA, ed. Encyclopedia of analytical chemistry. Chichester: John Wiley &
de analitos s ã o processadas de u m m o d o i d ê n t i c o ao das amostras Sons, 2000=11342-60.
q u e c o n t ê m o a n a l i t o (Figura 7-17). U m a curva d e calibração d e 3. DorseyJG. Liquid chromatography: introduction. In: Meyers RA, ed.
altura d o p i c o , área d o p i c o o u d e n s i d a d e d e p o n t o s vctsms c o n - Encyclopedia of analytical chemistry. Chichester: John Wiley & Sons,
2000:11231-3.
c e n t r a ç ã o d o calibrador é c o n s t r u í d a e utilizada para calcular a
4- DorseyJG. Column theory and resolution in liquid chromatography. In:
c o n c e n t r a ç ã o dn a n a l i t o nas amostras. C o m a calibração interna,
Meyers RA, ed. Encyclopedia of analytical chemistry. Chichester: John
t a m b é m c h a m a d a padronização interna, são preparadas s o l u ç õ e s
Wiley & Sons, 2000.1133442.
d e referência de c o n c e n t r a ç õ e s de a n a l i t o c o n h e c i d a s e é adicio-
5. Eiceman GA. Instrumentation of gas chromatography in clinicai
nada a cada u m a delas e a cada a m o s t r a u m a q u a n t i d a d e cons-
chemistry. In: Meyers RA, ed. Encyclopedia of analytical chemistry.
tante d e u m c o m p o s t o d i f e r e n t e , o u padrão i n t e r n o (Figura 7-18).
Chichester: John Wiley Si Sons, 2000:10671-9.
Traçando-se u m a c u r v a da p r o p o r ç ã o entre a altura d o p i c o (ou 6. Eiceman GA, Gardea-Torresdey J, Overton E, Carney K, Dorman F. Gas
área) o u a d e n s i d a d e de p o n t o s d o analito e m relação à altura do chromatography. Anal Chem 2002;74-22771-80.
p i c o ( o u área) e a d e n s i d a d e d e p o n t o s d o padrão i n t e r n o versus 7. Jain R, Shcrma J. Planar chromatography in clinicai chemistry. In
a c o n c e n t r a ç ã o d o analito, é c o n s t r u í d a u m a curva d e calibração Meyers RA, ed. Encyclopedia of analytical chemistry. Chichester: John
q u e corrige as perdas sistemáticas. E n t ã o , essa curva é usada para Wiley St Sons, 2000:1583-603.
calcular a c o n c e n t r a ç ã o d o a n a l i t o na amostra através d e inter- 8. LaCourse WR. Column liquid chromatography: equipment &
polação. instrumentation. Anal Chem 2002;74:2813-32.
9. Lough WJ. Reveised phase liquid chromatography. In: Meyers RA, ed.
Encyclopedia of analytical chemistry. Chichester; John Wiley & Sons,
REFERÊNCIAS 2000:11442-50,
1. Clarke W, Hage D. Clinicai applications of affinicy chromatography. In: 10. Majors R. Advances in HPLC column packing design. LC-GC- Column
Aboul-Enein HY, ed. Sepaiation techniques in clinicai chemistry. New Technology Supplement. June 2004:8-11.
York: Mareei Dekker, 2003:321-60. 11. Sherma J. Planar chromatography. Anal Chem 2002;74:2653-62.
C
APÍ
TUL
O 8
Espectrometria de Massas*
Thomas M. Armesley, Ph.D., Alan L. Rockwood, Ph.D.,
e Nicholas E. Sherman, Ph.D.

OBJETIVOS í o n Molecular: O íon não fragmentado da molécula original.


1. Discutir o princípio da análise por espectrometria de massas. Ionização por Eletrospray. U m a técnica c o m u m e n t e empregada
2. Descrever porque o espectro metro de massas é considerado um o n d e a amostra é ionizada sob pressão atmosférica antes de
sua introdução n o analisador de massas.
detector universal.
M A L D I : Acrônimo para l o n i z a ç ã o / D e s s o r ç ã o a Laser Assistida
3. Determinar os cinco componentes de um espectrômetro de massas
por Matriz.
e relacionar a finalidade de cada componente.
M o n i t o r a m e n t o d o I o n S e l e c i o n a d o (SIM): U m a técnica de
4. Comparar e confrontar a ionização de elétrons, química e por
espectrometria de massas (MS) na qual apenas os íons
eletrospray.
especificados de interesse são monitorados.
5. Relacionar os três tipos de feixes dos espectrómetros de massas, e
P i c o Básico: O íon e m maior abundância n o espectro de
determinar os princípios e usos de cada tipo.
massas; é atribuído u m valor relativo de 100%.
6. Discutir os espectrómetros de massas de captura (trapping), Proteômica: Identificação e quantificação de proteínas e suas
incluindo três tipos e os princípios e usos de cada tipo. modificações põs-translacionais em u m dado sistema o u
7. Comparar a espectrometria de massas em tandem com a sistemas.
espectrometria de massas com único estágio, Razão entre Massa e Carga (m/z): A medida obtida pela
8. Descrever as similaridades e diferenças entre MALDI e SELDI. divisão do n ú m e r o de massa de u m íon pela sua carga.
9. Descrever as aplicações clínicas da cromatografia gasosa- SELDI: A c r ô n i m o de Dessorção/Ionização a Laser Realçado de
espectrometria de massas, cromatografia líquida-espectrometria de Superfície.
massas, espectrometria de massas MALDI-TOF, e espectrometria de
massas-ICP.

A
10. Descrever o papel da espectrometria de massas no campo da
e s p e c t r o m e t r i a de m a s s a (MS) é u m a t é c n i c a analítica
proteômica.
qualitativa e q u a n t i t a t i v a m u i t o p o d e r o s a q u e é
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES empregada para m e d i r u m a grande variação de anali-
tos clinicamente relevantes. Quando a MS é associada tanto à cro-
Análise d e Massas: O processo pelo qual uma mistura de
matografia de gás quanto à líquida, as análises resultantes apresentam
espécies iónicas é identificada segundo a relação entre a
capacidade analítica expandida c o m aplicações clínicas diversas.
massa e a carga (m/z) (íons).
A l é m disso, devido à sua capacidade de identificar e quantificar
Cromatografia Gasosa-Espectrometria de Massas (GC-MS):
proteínas, a MS, é uma ferramenta analítica fundamental, empre-
U m processo analítico que emprega um cromatógrafo
gada n o campo emergente da proteômica. O capítulo inicia c o m
gasoso associado a u m espectrômetro de massas.
uma discussão sobre os conceitos básicos e definições da MS,
Cromatografia Líquida-Espectrometria de Massas (LC-MS):
seguida pelas discussões sobre os instrumentos de M S e suas
U m processo analítico que usa u m cromatógrafo líquido
aplicações clínicas.
associado a u m espectrômetro de massas.
Cromatograma I ô n i c o Total (TlC)i A soma de todos os íons
CONCEITOS BÁSICOS E DEFINIÇÕES
produzidos exibidos em f u n ç ã o de tempo.
U m espectrômetro d e massas é u m instrumento analítico que,
Espectro de Massa: U m gráfico da abundância relativa de cada
em primeiro lugar, realiza a ionização de uma molécula-alvo sepa-
íon traçado e m função da sua relação entre a massa e a
rando e medindo, então, a massa da molécula ou seus fragmen-
carga (m/z).
tos. A análise de massas é o processo pelo qual uma mistura de
Espectrometria de Massa c o m D i l u i ç ã o de Isótopo (IDMS):
espécies iónicas é identificada segundo a razão entre a massa e a
U m a técnica analítica usada para quantificar u m com p osto
carga (m/z) (íons). 17 A análise é igualmente qualitativa e quanti-
relativo a uma espécie isotópica de concentração conhecida
tativa; é extremamente útil na determinação da composição ele-
ou fixada.
mentar e es ti u tuia dos compostos inorgânicos c orgânicos.
Espectrometria de Massas (MS): U m a técnica analítica que usa
U m espectro de massa é representado pela abundância rela-
u m espectrômetro de massas para identificar e quantificar
tiva de cada í o n traçado c o m o função de sua razão m/z (Figura
substâncias n u m a amostra.
8-1). Em geral, cada ion apresenta uma única carga (s: = 1); assim,
Espectrômetro de Massas: U m instrumento o n d e as moléculas
a relação m/z é igual à massa. O í o n não-fragmencado da molé-
ionizadas são separadas e medidas conforme sua razão entre
cula original é chamado de í o n molecular. A o íon mais abun-
massa e carga.
dante n o espectro de massa é atribuído u m valor relativo de 100%
e que é chamado de pico básico. O emprego da abundância
relativa de cada fragmento iônico minimiza a variabilidade depen-
dente d o aparelho, s e n d o então possível comparar o espectro de
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias de Larry D. massas com os espectros obtidos n o s outros aparelhos. C o m o a
Bowers, nas quais se baseiam partes deste capítulo. fragmentação dos íons e m ligações específicas depende de sua

131
132 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

100 r

204' TIC Spectra Lib


Cromatógrafo Sim
EiP Maích

80

4r 60
\ I /
Fonte de ions Computador

u 40
160
118
\
\
20 42 91 Analisador(es) de m a s s a Sistema de vácuo
/ 65 I

LA
60
\
80 100 120
!
140 160
|
180
r
200
Massa/carga
Detector
100 r

308

Figura fi-2 D i a g r a m a em b l o c o dos c o m p o n e n t e s d e u m sistema d e


80
c r o m a cografia-especcrômetro de massa. O analisador d e massa e o
detector estão sempTe sob vácuo. A fonte de íons p o d e estar sob v á c u o
ou s o b c o n d i ç õ e s de pressão p r ó x i m a ã atmosférica, d e p e n d e n d o d o
^ 60
m o d o d e ionização O sistema d e c o m p u t a d o r é u m a p a r t e integral da
ra
o aquisição de d a d o s e d o r e s u l t a d o .
c
<ra
•n 40
_a
<

20 além de ser u m d e t e c t o r universal, o e s p e c t r ô m e t r o de massas é


118
195 262 t a m b é m u m d e t e c t o r a l t a m e n t e específico. A m b o s os r e s u l t a d o s
l

A
44 I 236 /
159 e x i b e m o aspecto de u m c r o m a t o g r a m a c o m i n t e n s i d a d e d e sinal
I I
I .I «I / . i' i A traçado e m f u n ç ã o d o t e m p o . O s t e m p o s d e r e t e n ç ã o são e n t ã o
50 100 150 200 250 300 m e d i d o s e as alturas de pico, o u áreas de pico, são integradas
Massa/carga p a r a u s o n a análise quantitativa.
B
Q u a n d o apenas u n s p o u c o s analitos são de interesse para
análise q u a n t i t a t i v a e seu espectro de massa é c o n h e c i d o , o espec-
Figura 8-1 E s p e c t r o d e massa dos derivados da d-metan£eta mi na :
t r ô m e t r o de massas é p r o g r a m a d o para m o n i t o r a r apenas os íons
(A) p e n t a f l u o r o p r o p i o n i l e (B) carberoxiexaflu o r o b u t ir il.
de interesse. Esta técnica de detecção seletiva é c o n h e c i d a c o m o
m o n i t o r a m e n t o d o í o n s e l e c i o n a d o (SIM). C o m o o S I M se
c o n c e n t r a n u m n ú m e r o l i m i t a d o d e íons, mais sinais são coleta-
d o s para cada massa selecionada. Isto a u m e n t a a relação e n t r e o
sinal e o r u í d o d o analito e eleva o limite i n f e r i o r d e detecção.
natureza química, é possível d e t e r m i n a r a e s t r u t u r a de u m analito E m geral, u m c o m p o s t o d e s c o n h e c i d o é c o n s i d e r a d o i d e n t i f i c a d o
a partir d e seu espectro de massa. Bibliotecas c o m p u t a d o r i z a d a s se as a b u n d ã n c i a s relativas de três ou q u a t r o íons se e n c o n t r a m
dos espectros estão disponíveis p a r a a j u d a r n a identificação do(s) e m a c o r d o d e n t r o de + 2 0 % d a q u e l a s de u m c o m p o s t o de refe-
analito(s). rência.
C o m a interface de u m c r o m a t ó g r a f o l í q u i d o o u gasoso, o O s e s p e c t r ó m e t r o s d e massas t a m b é m são u s a d o s p a r a distin-
e s p e c t r ô m e t r o de massas f u n c i o n a c o m o u m detector p o t e n t e , guir e quantificar, s i m u l t a n e a m e n t e , u m c o m p o s t o c o m u m a
f o r n e c e n d o i n f o r m a ç õ e s e m t e m p o real sobre os analitos, indivi- a b u n d â n c i a n o r m a l d o i s ó t o p o a partir d e u m a n á l o g o e n r i q u e -
d u a l m e n t e , n a m e d i d a e m q u e são eluídos d e u m a c o l u n a d e cido c o m u m isótopo estável (p. ex., 2 H e m relação a ] H , 1 3 C e m
cromatografia, D e p e n d e n d o das características o p e r a c i o n a i s d o relação a I 2 C, I5 N e m relação a I4 N, o u l s O e m relação a I 6 0 ) ,
e s p e c t r ô m e t r o de massas e da largura d o p i c o d o analito, diversas Para análise, u m c o m p o s t o m a r c a d o c o m u m isótopo estável é
v a r r e d u r a s da massa espectral são adquiridas, caracteristicamente u s a d o c o m o p a d r ã o i n t e r n o p o r q u e se c o m p o r t a d e m a n e i r a
através d o pico. A s o m a de t o d o s os íons p r o d u z i d o s é exibida q u a s e idêntica ao c o m p o s t o nativo d u r a n t e a p r e p a r a ç ã o da
como uma função d o tempo para produzir um c r o m a t o g r a m a a m o s t r a e na análise c r o m a t o g r á f i c a . A capacidade d e q u a n t i f i c a r
i ô n i c o total (TIC). O e s p e c t r ô m e t r o de massas é c o n s i d e r a d o u m u m c o m p o s t o e m relação a u m a espécie de isótopos c o m c o n c e n -
"detector universal" p o r q u e todos os c o m p o s t o s a p r e s e n t a m tração c o n h e c i d a o u fixa é c o n h e c i d a c o m o anáhse de diluição de
massa e, t e o r i c a m e n t e , p o d e m ser detectados. T a m b é m é possível isótopos, e a técnica de e s p e c t r o m e t r i a d e massas é d e s i g n a d a
p r o g r a m a r o sistema d e d a d o s a f i m d e exibir apenas í o n s pré- e s p e c t r o m e t r i a d e massas c o m d i l u i ç ã o d e i s ó t o p o s ( I D M S ) . A
selecionados a d q u i r i d o s d u r a n t e a v a r r e d u r a espectral d e massas técnica I D M S foi utilizada p a r a desenvolver m é t o d o s definitivos
O r e s u l t a d o e x i b i d o é c h a m a d o d e perjil iônico extraído. Assim, p a r a diversos analitos c l i n i c a m e n t e i m p o r t a n t e s .
Espectrometria de Massas CAPÍTULO 8 133

INSTRUMENTOS íon e n u m radical. 17 N a m a i o r i a d o s casos este íon radical, sub-


U m e s p e c t r ô m e t r o d e massas consiste n u m a f o n t e de íons, s e q ü e n t e m e n t e , s o f r e u m r e a r r a n j o u n i m o l e c u l a r para p r o d u z i r
sistema d e vácuo, analisador d e massa, d e t e c t o r e c o m p u t a d o r u m cátion e u m radical:
(Figura 8-2).

AB + *-> A + +B'
Fonte de íoris
T o d a s as técnicas de M S r e q u e r e m u m a etapa de ionização o n d e
u m íon é p r o d u z i d o a partir d e u m á t o m o n e u t r o ou de u m a D e a c o r d o c o m sua estabilidade química, as p r o p o r ç õ e s rela-
molécula. Diversas a b o r d a g e n s f o r a m empregadas para f o r m a r tivas d o íon m o l e c u l a r e d o s íons f r a g m e n t a d o s são razoavel-
íons, canto e m c o n d i ç õ e s de altu vácuo 1:01110 de pressões quase m e n t e reproduzíveis. O s í o n s positivos são r e p e l i d o s u u reinuvi-
atmosféricas. A ionização p o r i m p a c t o de elétrons (EI) e a ioniza- d o s da câmara d e ionização p o r m e i o d e u m c a m p o elétrico. O s
ção química (Cl) são técnicas d e ionização usadas q u a n d o h á cátions são c o n c e n t r a d o s e l e t r o s t a t i c a m e n t e e i n t r o d u z i d o s n o
e n t r a d a de moléculas n a fase gasosa n o analisador de massas d o a n a l i s a d o r d e massas.
c r o m a t ó g r a f o gasoso. Q u a n d o u m c r o m a t ó g r a f o líquido de alta
eficiência está e m interface c o m u m e s p e c t r ô m e t r o de massas Ionização Química
(HPLC-MS), u s a m o s as seguintes f o n t e s de ionização: (1) ioniza- A C l é u m a técnica de ionização "suave" o n d e u m p r ó t o n é
ção p o r ektrospray (ESI), 3 (Z) ionização c o m spray sônico (SSI), (3) t r a n s f e r i d o para, ou retirado d e u m analito de fase gasosa p o r
ionização q u í m i c a c o m pressão atmosférica (APCI) e (4) fotoioni- m e i o de u m a m o l é c u l a gasosa reagente. O s gases reagentes típicos
zação c o m pressão atmosférica (APPI). O u t r a s técnicas d e ioniza- são: (1) m e t a n o , (2) a m ó n i a , (3) i s o b u t a n o , e (4) água. O gás
ção i n c l u e m (1) p l a s m a c o m a c o p l a m e n t o indutivo (ICP), (2) reagente é dirigido p a r a u m a f o n t e d e ionização q u í m i c a (Cl)
i o n i z a ç ã o / d e s s o r c ã o a laser assistida p o r matriz (MALDI), 1 ^ (3) especial, de m o d o que a pressão da f o n t e é elevada para cerca de
i o n i z a ç ã o / d e s s o r c ã o a fosev assistida por matriz c o m pressão atmos- 0,1 totr. U m feixe de elétrons ioniza o gás reagente e p r o d u z
férica (AP-MALDI), e (4) b o m b a r d e i o a t ô m i c o r á p i d o (FAB). espécies reativas, f r e q u e n t e m e n t e c o m o resultado de reações das
m o l é c u l a s de íons, c o m o C H + , n o caso d o m e t a n o . As colisões
Ionização por Impacto de Elétrons e n t r e o gás reagente reativo e o analito p r o v o c a m a t r a n s f e r ê n c i a
N a EI, as moléculas n a fase gasosa são b o m b a r d e a d a s c o m elé- d e p r ó t o n s . C o m o a m o l é c u l a p r o t o n a d a n ã o é a l t a m e n t e exci-
trons e m i t i d o s a p a r t i r de u m f i l a m e n t o a q u e c i d o , e atraídas p a r a t a d a n e s t e processo, a f r a g m e n t a ç ã o e n c o n t r a d a é r e l a t i v a m e n t e
u m e l e t r o d o coletor (Figura 8-3). Este processo deve ocorrer sob p e q u e n a . Isto é v a n t a j o s o para a d e t e r m i n a ç ã o da massa molecu-
v á c u o p a r a i m p e d i r a o x i d a ç ã o d o f i l a m e n t o . U m a diferença e m lar d o analito e para sua q u a n t i f i c a ç ã o . A C l c o m c a p t u r a d e íons
potencial de 70 eV gera e l é t r o n s c o m energia suficiente para, eletronegativos se t o r n o u p o p u l a r n a q u a n t i f i c a ç ã o de drogas
n u m a p r ó x i m a colisão, c o m a m a i o r i a das moléculas orgânicas, c o m o as benzodiazepinas. A f o r m a ç ã o de íons negativos ocorre
p r o d u z i r u m c á t i o n radicai para a EI, c o n s i s t i n d o igualmente n u m q u a n d o elétrons a q u e c i d o s são c a p t u r a d o s p o r u m s u b s t i t u t o
eletronegativo c o m o o cloro o u f l ú o r n o analito. Assim, o n ú m e r o
Amostra de d e c o m p o s t o s q u e s o f r e ionização negativa é p e q u e n o e h á
fase gasosa r e d u ç ã o d o sinal (ruído) de f u n d o . Q u a n d o aplicável, a ionização
i q u í m i c a c o m íon eletronegativo a p r e s e n t a limites de detecção
Porta d e entrada m u i t o favoráveis.

Filamento Eletrodo
Ionização por Eletrospray
(cátodo) A i o n i z a ç ã o p o r eletrospray (ESI) é u m a técnica o n d e u m a
~\
zL
/repulsur
a m o s t r a é ionizada sob pressão a t m o s f é r i c a a n t e s da sua i n t r o d u -

ima
N
ai ltjrii/3çãu !
ção n o analisador de massas. 1 9 A amostra, t i p i c a m e n t e u m
e f l u e n t e H P L C , atravessa u m capilar estreito de m e t a l ou de sílica
Camara I J f u n d i d a n o qual se aplicou u m a v o l t a g e m d e 3 a 5 k V (Figuia
8-4, A). As forças eletrostáticas n o l í q u i d o r e s u l t a m na expulsão
das gotículas e l e t r i c a m e n t e carregadas da p o n t a d o capilar. U m
•"^Extração
/ gás coaxial n e b u l i z a d o r a j u d a a dirigir as gotículas carregadas n o
Focxv
s e n t i d o de u m e l e t r o d o c o n t a d o r . As gotículas e v a p o r a m q u a n d o
Aceleração da
voltagem
I'
Feixe d e (ons
•Saida da fenda p a s s a m pela região de pressão atmosférica, e x p e l i n d o gotículas
m e n o r e s . O p r ó t o n o u a m ó n i a , a d u z i d o s d a molécula, q u e p o d e m
estar associados c o m m o l é c u l a s solventes são "dessolvatados"
( r e g i ã o d e v ô o livre)
p a r a f o r m a r í o n s "nus", q u e e n t ã o atravessam a b e r t u r a s n u m
c o n e de a m o s t r a g e m e u m ou mais cones de extração (sltiminérs)
antes de e n t r a i n o analisador de massa.
U m a característica ú n i c a da ESI é a p r o d u ç ã o de m ú l t i p l o s
Figura 8 - 3 Impacto dc e l é t r o n s sobre a f o n t e d e íons O s ímãs íons c o m carga, e s p e c i a l m e n t e a partir de p e p t í d i o s e p r o t e í n a s .
p e q u e n o s são u s a d o s p a r a colimar u m feixe d e n s o d e elétrons, q u e é E c o m u m observar a p r o x i m a d a m e n t e u m a carga para cada 10
extraído d e u m f i l a m e n t o a q u e c i d o c o l o c a d o n u m p o t e n c i a , negativo. O r e s í d u o s de a m i n o á c i d o s n u m a p r o t e í n a . Por exemplo, c o m o u m a
feixe de elétrons é p o s i c i o n a d o na f r e n t e d e u m e l e t r o d o repulsor, q u e m o l é c u l a com massa 2 0 . 0 0 0 p o d e p r o d u z i r 20 cargas, p o d e ser
se e n c o n t r a n u m p o t e n c i a l l i g e i r a m e n t e positivo e m c o m p a r a ç ã o c o m a d e t e c t a d a em m/z 1.000 ( 2 0 . 0 0 0 / 2 0 ) n u m a m e n o r resolução e
f o n t e d e íons. O e l e t r o d o r e p u l s o r envia q u a l q u e r f r a g m e n t o d e íon n u m analisador mais b a r a t o . Isto e x p a n d e m u i t o a faixa d e massas
c o m carga positiva p a r a a a b e r t u r a n a f r e n t e da f o n t e d e íons. As placas acessível a tal i n s t r u m e n t o .
de aceleração exercem u m a f o r t e a t r a ç ã o sobre os f r a g m e n t o s de íons D e v e m o s n o t a r q u e a Figura 8-4, A, s e n d o u m a ilustração
c o m carga positiva. simplificada, m o s t r a a s o n d a s e n d o dirigida para o c o n e d e amos-
134 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Cortina g a s o s a

Gás 5 kV
nebullzador v

/ Dotoctor d e
\ massa

Amostra
da solução

/+ +"\ • ' + * + (M + H)~


:,+ + , g:
•* J + 1
(M * H)

>
Descarga coruri<j Cortina g a s o s a

Gás 5 kV
nabulizador
/ Detoclor
\ do massa
B
Amostra da
solução

(M+H) +
CHgOH CH3OH; CH 3 OH 2
M 5 kV M M CHgOH

Figura 8 - 4 Representação esquemática de fontes de ionização com ekirospray (A) e química com pressão
atmosférica (B). Observe os pontos diferentes onde ocorre a ionização, como descrito no texto.

tragem d o detector de massas. Para aumentar a performance e APCI, primariamente, sob dois aspectos. Em primeiro lugar,
minimizar a contaminação d o detector de massas, as configura- substitui o injetor de descarga corona por uma lâmpada de ultra-
ções modernas dos aparelhos anularam a sonda e / o u o detector violeta ( U V ) (tipicamente uma lâmpada de descarga de criptõnio
de massas telativo ao c o n e de amostragem. de 10 eV) para gerar íons na fase gasosa por meio da fotoioniza-
A l é m da ESI, existem outras técnicas baseadas na ionização ção, Em segundo lugar, geralmente inclui u m gás reagente adi-
por spray. Estas técnicas diferem da ESI porque se baseiam, pri- cional facilmente ionizado c o m o o tolueno. C o m o ocorre com a
mariamente, em processos físicos diferentes da alça voltagem para APCI e C l , depois que os íons primários são produzidos (p. ex.,
gerar o spray. Por exemplo, a SSI emprega u m gás nebulizador a partir d o tolueno), eles sofrem u m a série de reações iónicas
supersônico e o termospray usa o aquecimento rápido e a vapori- moleculares que eventualmente resultam na ionização das molé-
zação parcial para gerar u m sfira^. culas du analito.

Ionização Química com Pressão Atmosférica (APCI) Plasma de Acoplamento Indutivo


A A P C I é similar à ESI. Por exemplo, ocorre sob pressão atmos- O ICP é u m método de ionização sob pressão atmosférica.
férica, envolve nebulização e dessolvatação, e utiliza a mesma C o n t u d o , ao contrário da maioria dos métodos de ionização sob
amostra e cones de extração que a ESI. A principal diferença pressão atmosférica, que são "suaves" e produzem pouca fragmen-
encontra-se n o m o d o de ionização (Figura 8-4, B). N a APCI não tação, o ICP é a ionização "dura" extrema, levando, caracteristi-
se aplica voltagem alguma n o capilar de entrada. Em vez disso, camente, a uma atomização completa da amostra durante a ioni-
Utiliza-se u m injetor de descarga corona para emitir uma n u v e m zação. C o n s e q ü e n t e m e n t e , seu uso primário é para a análise
de elétrons que ioniza os compostos depois de uma série de elementar. N o laboratório clínico é particularmente útil na
reações iónicas moleculares, de m o d o similar à Cl, mas com análise de traços de metal e de metal pesado nos tecidos ou
moléculas solventes c o m o a água e o metanol f u n c i o n a n d o c o m o líquidos do corpo. O ICP é extremamente sensível (p. ex., partes
moléculas reagentes em lugar da amónia ou d o metano c o m o na por trilhão) e é capaz de faixas dinâmicas extremamente elevadas.
CL O s produtos destas reações secundárias p o d e m conter agru- A amostra é tipicamente preparada pela digestão ácida e o líquido
pamentos de moléculas de solventes e analito de m o d o que se digerido c introduzido na fonte de toas poi meio de u m nebuli-
empregam, igualmente, u m tubo de transferência aquecido o u zador alimentado por uma bomba peristáltica. A amostra nebu-
um fluxo contracnTrenre de u m determinado gás, por exemplo, lizada é transmitida para o plasma quente gerado sob pressão
o nitrogênio, para desagrupar os íons. C o m o ocorre na ESI existe atmosférica pela potência do acoplamento indutivo n o plasma
uma fragmentação relativamente pequena e a APCI é usada para com o uso de u m gerador de radiofreqüência (R.F) c o m alta
análise quantitativa ou para MS em tandem. potência. U m pequeno orifício o b t é m amostras d o plasma e os
íons são transmitidos para o analisador de massas, por meio de
Fotoionização com Pressão Atmosférica uma série de estágios de b o m b e a m e n t o diferencial. O ICP-MS é
A APPI fornece uma abordagem complementar à ESI o u à APCI relativamente livre da maioria das interferências. N o entanto,
e é considerada mais universal na escala de polaridade. Difere da algumas interferências, c o m o p e q u e n o s poliatômicos formados
Espectrometria de Massas CAPÍTULO 8 135

n a l â m p a d a p o r m e i o d a s reações moleculares iónicas, c a u s a m soro, é exposta a u m a ou mais destas superfícies d e a f i n i d a d e e


p r o b l e m a s . Por exemplo, A r O T interfere c o m o ferro e m m/z 56. c o m as quais alguns analitos v ã o se ligar p r e f e r e n c i a l m e n t e . A
U m a solução para este p r o b l e m a é a reação d i n â m i c a celular, q u e superfície é lavada para r e m o v e r o m á x i m o de ligações inespecí-
consiste n u m gás d e pressão m o d e r a d a c o l o c a d o a n t e s d o anali- ficas possível, e acrescenta-se u m a matriz para a u m e n t a r a dessor-
sador de m/z- U m gás reagente, c o m o o N H 3 , é dirigido para a ção e / o u ionização. O alvo, e n t ã o , é analisado, g e r a l m e n t e c o m
reação celular o n d e reage c o m interferências poliatôtnicas e as u m analisador d e massas T O F . A i n t e r a ç ã o p o d e ser m u i t o espe-
r e m o v e a n t e s d a sua i n t r o d u ç ã o n o analisador de massa. cífica, c o m o u m a n t i c o r p o , e p u r i f i c a r e s s e n c i a l m e n t e u m a pro-
teína, ou p o d e ser específica p a r a u m a classe d e c o m p o s t o s , p o r
Dessorção/Ionização da Matriz Assistida por Laser exemplo, espécies fosforiladas o u glicosiladas. S u a p r i n c i p a l van-
(MALDI) tagem é a p e q u e n a perda de amostra e n q u a n t o a purificação e
M A L D I foi descrita, o r i g i n a l m e n t e , e m 1987. 7 C o m o usada atu- análise o c o r r e m n a m e s m a superfície.
a l m e n t e , o analito é dissolvido n u m a solução da matri^ q u e é u m
c o m p o s t o d e baixo peso m o l e c u l a r capaz d e absorver UV. Esta Bombardeio Rápido de Átomos (FAB)
solução é colocada n u m alvo que, e n t ã o , é i n t r o d u z i d o n o espec- O FAB é u s a d o para p r o d u z i r íons a partir de p o l í m e r o s d e alto
t r ô m e t r o d e massas. A razão e n t r e a matriz e o analito situa-se, peso molecular. P r o d u z í o n s q u a n d o u m feixe de á t o m o s d e alta
g e r a l m e n t e , e n t r e 1.000 e 1. C o m a e v a p o r a ç ã o d o s solventes velocidade colide c o m a s u p e r f í c i e d e u m l í q u i d o não-volátil
voláteis, o c o m p o s t o m a t r i z se cristaliza e i n c o r p o r a as moléculas (geralmente glicerol) c o n t e n d o o(s) analito(s). Acredita-se q u e a
analito. A Figura 8-5 ilustra o u s o de u m laser U V p a r a vaporizar pTotonização o c o r r e q u a n d o os analitos n a superfície das gotícu-
p e q u e n a s q u a n t i d a d e s de matriz e analito n u m a n u v e m de í o n s las vaporizadas passam para o e s t a d o gasoso. O FAB foi ampla-
dirigida p a r a o a n a l i s a d o r de massa. A M A L D I g e r a l m e n t e é m e n t e s u p l a n t a d o pela ESI e pela M A L D I .
associada a u m a n a l i s a d o r d e massas c o m t e m p o d e v ô o ( T O F )
p o r q u e p r o d u z p a c o t e s i ó n i c o s de sinal p u l s a d o discretos. Sistema de Vácuo
C o m exceção de alguns e s p e c t r ó m e t r o s d e massas d o tipo c a p t u r a
Dessorção/lonização a Laser Realçada por d e í o n s (icm trap) a separação dos íons n u m analisador de massas
Superfície r e q u e r q u e estes n ã o c o l i d a m c o m n e n h u m a o u t r a m o l é c u l a
A d e s s o r ç ã o / i o n i z a ç ã o a laser realçada p o r superfície (SELDI) 6 d u r a n t e a interação c o m os c a m p o s m a g n é t i c o s ou elétricos. Para
associa a p u r i f i c a ç ã o p o r a f i n i d a d e e M A L D I n o alvo. A situação t a n t o é necessário o uso d e u m v á c u o d e IO"3 até 10~9 torr,
mais c o m u m envolve a p r o d u ç ã o de u m alvo d e superfície d e p e n d e n d o d o t i p o d e a n a l i s a d o r de massas Para atingir tal
M A L D I , m o d i f i c a d o p o r algum t i p o d e p r o p r i e d a d e de captura nível de v á c u o , u m e s p e c t r ô m e t r o de massas e m p r e g a t a n t o u m
p o r a f i n i d a d e ( h i d r o f ó b i c a , iônica, c r o m a t o g r a f i a d e a f i n i d a d e d e v á c u o m e c â n i c o c o m o u m a b o m b a de alto v á c u o eficiente.
m e t a l imobilizado [IMAC], D N A , a n t i c o r p o s etc.). A amostra em D u r a n t e a operação, a b o m b a de v á c u o m e c â n i c a remove o ar d o
q u e s t ã o , f r e q ü e n t e m e n t e n u m a m i s t u r a c o m p l e x a tal c o m o o sistema até u m a pressão e m q u e a b o m b a de alto v á c u o seja,
e n t ã o , eficaz. U m a b o m b a d e d i f u s ã o é a b o m b a d e alto v á c u o
de m e n o r custo e m a i o r c o n f i a b i l i d a d e . As b o m b a s t u r b o m o l e -
culares e c r i o b o m b a s t a m b é m são usadas n o s analisadores de
EriIrada da luz UV üo laser , ' massas, s e n d o q u e o u s o das b o m b a s t u r b o m o l e c u l a r e s está cada
vez mais d i f u n d i d o . As b o m b a s d e alto v á c u o r e q u e r e m m a n u -
t e n ç ã o d e r o t i n a para u m a ó t i m a operação.

Analisadores de Massas, Detectores de íons e


Espectrómetros de Massa e m Tandem
O s e s p e c t r ó m e t r o s de massas m e d e m m/z e n ã o a massa molecu-
lar. Isto r e p r e s e n t a u m i m p a c t o f u n d a m e n t a l sobre os p r i n c í p i o s
físicos d e f u n c i o n a m e n t o dos e s p e c t r ó m e t r o s de massas e i n f l u e n -
Eslfíg o cia t o d o s os aspectos d o p r o j e t o d e i n s t r u m e n t a ç ã o , o p e r a ç ã o e
da i n t e r p r e t a ç ã o d o s resultados.
amostra
\ Classes Gerais de Espectrómetros de Massas
^4
O s e s p e c t r ó m e t r o s de massas são classificados de u m m o d o geral
c o m o (1) i n s t r u m e n t o s d o tipo feixe ou (2) i n s t r u m e n t o s d o tipo
\/ V
c a p t u r a de íons (trapfjmg). N u m i n s t r u m e n t o d o t i p o feixe, os íons
se m o v e m pelo i n s t r u m e n t o e a t i n g e m o detector, o n d e são
Dentro do
d e t e c t a d o s d e f o r m a destrutiva. O processo inteiro, a p a r t i r d o
. .v . analisador
m o m e n t o e m q u e o í o n p e n e t r a n o analisador até o m o m e n t o
- / / \ íons d a rnalnz e neutros do massa
V \ em q u e é d e t e c t a d o , g e r a l m e n t e leva de m i c r o s s e g u n d o s a milis-
s e g u n d o s . N u m analisador d o t i p o d e captura de íons, eles são
Matriz c r i s t a l i z a d a c o m
analito incluído m a n t i d o s n u m a região e s p a c i a l m e n t e c o n f i n a d a p o r m e i o d e
u m a c o m b i n a ç ã o d e c a m p o s magnéticos, e / o u eletros tá ticos e / o u
Figura 8 - 5 Visão genérica d o p r o c e s s o d e dessorção da ionização da de R F elétrica. O s c a m p o s de c a p t u r a de íons são m a n i p u l a d o s
matriz assistida p o r laser. A m a t r i z co-ciistalizada e moléculas de analitos d e m a n e i r a q u e p e r m i t a m a realizaçao d e m e d i ç õ e s m/z- O s
são irradiadas c o m u m laser U V . O laser vaporiza a matriz, p r o d u z i n d o t e m p o s d e c a p t u r a v a r i a m de u m a f r a ç ã o de s e g u n d o até m i n u t o s ,
u m a n u v e m d e íons da matriz, ions analitos e n e u t r o s . O s i o n s da fase e m b o r a a maioria das aplicações clínicas se e n c o n t r e n a extremi-
gasosa são dirigidos p a r a u m a n a l i s a d o r d e massa. d a d e f i n a l desta faixa.
136 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Figura 8-7 Voltagens D C aplicadas no grupo quadrupolar de


bastões.

Figura 8 - 6 Diagrama de um filtro de massa quadrupolo, incluindo


a porção RF das voltagens aplicadas nos bastões quadrupolares.
passagem, análoga à largura de banda de u m filtro de interferên-
cia em ótica, motivo pelo qual os espectrómetros de massas
quadrupolos são freqüentemente chamados de "filtros de massas"
Aparelhos do Tipo Feixe em vez de "espectrómetros de massas".
O s espectrómetros de massas do tipo feixe incluem aparelhos (1) O s espectrómetros de massas quadrupolos se baseiam n u m a
quadrupolo, (2) setoi magnético, e (.3) T O E E conveniente cate- superposição de potenciais RF e corrente direta ( D C ) aplicados
gorizar os aparelhos do tipo feixe e m duas categorias amplas: aos bastões quadrupolos. Considerando, e m primeiro lugar, o
aqueles que produzem u m espectro de massas por meio da var- c o m p o n e n t e D C , as voltagens D C são aplicadas nos eletrodos
redura da faixa m/z n u m período de tempo {quadrupolo e setor n u m padrão quadrupolar. Por exemplo, u m potencial D C posi-
magnético), e aqueles que adquirem imagens instantâneas suces- tivo é aplicado nos eletrodos 1 e 3, c o m o indicado na Figura 8-7,
sivas do espectro das massas (TOF). Esta categorização não é e u m potencial D C negativo equivalente é aplicado n o s eletrodos
definitiva porque alguns aparelhos p o d e m ser adaptados para 2 e 4. O s potenciais D C são relativamente pequenos, da ordem
operações c o m ou sem varredura. N o entanto, a categorização é de poucos volts. Superpostos aos potenciais D C encontram-se os
útil porque abrange a maioria dos instrumentos atualmente dis- potenciais RF, também aplicados de m o d o quadrupolar. O s
poníveis, e porque os aparelhos c o m e sem varredura são adap- potenciais RF variam até a faixa de quilovolt, e a freqüência é da
táveis para diferentes empregos mais eficientes. ordem de 1 MHz. A freqüência é fixada de forma típica, apesar
Quãdnjpolo. O s espectrómetros de massas quadrupolos são, às de uma operação c o m freqüência variável ser possível.
vezes, c o n he c ido s c o m o filtros de massas quadrupolos (QMFs). O aparelho pode ser operado igualmente n o m o d o de monito-
Analiticamente são, n o m o m e n t o , mais empregados c o m o espec- ramento de íons seíeriormdos (SIM), c o m o n o m o d o de varredura. N o
trómetros de massas porque substituíram os espectrómetros de m o d o SIM, as voltagens RF e D C são fixas. Conseqüentemente,
setor magnético c o m o instrumento-padrão. Embora estes instru- o centro da passagem de banda e a sua largura são fixas. Por
m e n t o s sejam inferiores aos de setor magnético e m termos de (1) exemplo, o espectrômetro de massas pode ser calibrado para a
sensibilidade, (2) maior capacidade de massa, (3) resolução, e (4) passagem de íons com m/z 363 ± 0,5. A m b o s os centros m/z e
exatidão de massa, os quadrupolos oferecem uma combinação Am/z, são calibrados pela escolha adequada da D C e da RF.
atrativa e prática de características, inclusive: (1) facilidade de A combinação dos limites m/z inferiores e superiores estabe-
uso, (2) flexibilidade, 0 ) d e s e m p e n h o adequado para a maioria lece uma passagem de banda (Am/z) e, finalmente, uma resolu-
das aplicações, (4) custo relativamente baixo, (5) sem exigências ção [(iti/í)/(Atn/^]. Geralmente os instrumentos quadrupolares
cruciais de localização, e (6) sistemas de software altamente desen- são limitados a uma resolução de diversos milhares, que é sufi-
volvidos. ciente para atingir a resolução isotópica de íons de carga indivi-
U m espectrômetro de massas quadrupolo consiste e m quatro dual de m/z cão elevada quanto diversos milhares. N o entanto,
bastões paralelos, condutores elétricos dispostos em quadrado avanços técnicos permitiram que os espectrómetros de massas
(Figura 8-6). O s quatro bastões forniam u m canal comprido quadrupolos conseguissem resoluções que ultrapassam 10.000.
através d o qual o feixe de íons passa. O feixe penetra perto d o O s benefícios da alta resolução incluem a redução das interferên-
eixo, n u m a extremidade d o quadrado, atravessando-o n u m a cias. A l é m disso, uma resolução elevada associada a uma eletrô-
direção geralmente em paralelo ao eixo e saindo na outra extre- nica de alta precisão permitiu a medida de "massas exatas" (isto
midade do quadrado. O feixe de íons que penetra n o quadrupolo é, uma precisão de massa muito elevada) usando instrumentos
pode conter íons c o m diversos valores de m/z, mas apenas os quadrupolares. As medidas de massa exatas são úteis na confir-
íons situados dentro de uma faixa m/z muito estreita (caracteris- mação de u m a fórmula química. Em virtude de seu menor custo
ticamente Am/z < 1) são transportados com sucesso através do e simplicidade relativa e m comparação com os instrumentos de
aparelho para atingir o detector. O s íons fora desta faixa estreita setor magnético, os QMFs geralmente apresentam interface com
são ejetados radialmente. A faixa A m/z representa uma banda de as cromatografias gasosa e líquida.
Espectrometria de Massas CAPÍTULO 8 137

Setor Magnético. O s espectrómetros de massas de setcr mag- dos a mais. Para capturar c o m exatidão tais sinais transitórios, o
nético raramente são usados n o laboratório clínico, por isso não sistema de registro de dados deve funcionar n u m a escala de
vão ser descritos com detalhe agora. Paia uma boa introdução à t e m p o de ~ 1 nanossegundo. O s avanços n o processamento ele-
tecnologia do setor magnético, o leitor deve consultar a edição trônico do sinal tornaram esta técnica prática e com custo rela-
anterior deste livro.* Estes espectrómetros de massas clássicos são tivamente modesto, o que foi um fator importante no a u m e n t o
de fácil compreensão, versáteis, confiáveis, altamente sensíveis, e da popularidade da TOF-MS.
no seu m o d o de operação c o m "dupla focalização", capazes de A T O F é uma técnica basicamente pulsada e se associa pron-
uma resolução m/z e precisão de massa muito elevadas C o n t u d o , tamente a métodos de ionização pulsada, sendo a M A L D I o
São caracteristicamente caros, grandes e pesados. A l é m disso, exemplo mais comum. A MALDI-TOF apresenta seu maior
freqüentemente seu uso é difícil. C o n s e q u e n t e m e n t e , outros ins- impacto na área da identificação de proteínas e peptídios e atual-
trumentos substituíram de forma ampla os espectrómetros de m e n t e é pouco utilizada para análise quantitativa devido à varia-
massas d e setor magnético. C o n t u d o , existem dois p e q u e n o s ção nas amplitudes de sinal, que dificultam a quantificação.
espectrómetros de massas de setor magnético com dupla focali- U m a outra área e m que a T O F - M S se distingue é na análise
zação de bancada potencialmente úteis para o químico clínico. de alta massa porque sua faixa de massas é quase ilimitada. N o
Tempo de VÔO. A espectrometria de massas T O F (TOF-MS) é MALDI-TOF, por exemplo, a detecção de proteínas c o m pesos
uma técnica sem varredura o n d e u m espectro de massas com- moleculares acima de 1 0 0 . 0 0 0 não é i n c o m u m . A T O F também
pleto é adquirido c o m o u m a imagem instantânea, em vez de é empregada com fontes de ions ESI e EI. Por razões técnicas, os
uma varredura através de u m série seqüencial de valores m/z aparelhos ESI-TOF e EI-TOF diferem consideravelmente dos apa-
durante a apresentação da amostra. A espectrometria de massas relhos MALDI-TOF, de m o d o que os aparelhos T O F têm, geral-
T O F é m u i t o popular e apresenta diversas vantagens, inclusive mente, uma única finalidade, pois fontes de íons não são inter-
(I) uma faixa quase ilimitada m/z, (2) elevada velocidade de cambiáveis entre os diferentes tipos de aparelhos TOF. Espera-se
aquisição, (3) alta exatidão de massa, (4) resolução moderada- que a capacidade de análise de massa elevada aumente de impor-
m e n t e elevada, (5) alta sensitividade, e (6) custo razoável. tância com o uso cada vez mais freqüente de m é t o d o s de diag-
T a m b é m são bem adaptados às forças de ionização pulsadas, que nóstico baseados na proteômica pelos laboratórios clínicos.
é uma vantagem e m algumas aplicações, particularmente c o m
M A L D I e técnicas relacionadas. Espectrómetros com Captura de Massa
Os espectrómetros de massas T O F modernos produzem A o contrário dos aparelhos em feixe, estes espectrómetros de
medidas exatas de massa, caracteristicamente com exatidão em massas se baseiam na captura ou trafjfimg de íons para capturar e
baixas partes por milhão (ppm). Isto possibilita que as medidas conter durante u m período de tempo prolongado numa pequena
T O F c o n f i r m e m a fórmula molecular de u m composto. Ao con- região do espaço. Os tempos de captura variam desde uma fração
trário dos instrumentos de setor magnético que também são de segundo até minutos. Diferente dos instrumentos do tipo feixe,
capazes de medidas de massa exatas, as medidas exatas obtidas com a divisão entre os aparelhos de varredura e sem varredura tem
T O F são práticas nos experimentos de cromatografia de rotina e menor significado para os instrumentos com captura de íons. A
são, portanto, potencialmente úteis para o químico clínico. principal diferença prática entre os instrumentos c o m e sem var-
O s espectrómetros de massas T O F são conceitualmente redura está relacionada c o m o pico de inclinação, c o m o foi discu-
simples d e compreender porque se baseiam n o fato de que u m tido na seção sobre TOF. E m termos de produção de espectros
íon mais leve se move mais depressa d o que u m í o n mais pesado, de inclinação os aparelhos de captura são mais parecidos com os
desde que apresentem a mesma energia cinética. U m a TOF-MS instrumentos sem varredura, c o m o os T O F (sem inclinação), do
lembra u m cachimbo longo. O s ions são criados o u injetados na que c o m os instrumentos c o m varredura. Isto ocorre porque a
extremidade final do cachimbo e, então, acelerados com um amostra é capturada n u m instante e analisada, então, n o laser.
potencial de diversos quilovolts. Eles se m o v e m pelo tubo de vôo C o m o a amostra é capturada em u m instante, não existe inclina-
e atingem o detector na extremidade final do tubo de vôo. O ção dos espectros, independente da realização de análise de m/z
tempo decorrido para atravessar o tubo é c o n h e c i d o c o m o t e m p o com u m procedimento c o m ou sem varredura.
de vôo, q u e está relacionado à m/z do íon. As classes de captura d e íons ou ions traps incluem (1) ions
O t e m p o de v ô o para u m íon com massa m e energia cinética traps quadrupolos (QIT), que se baseiam nos campos de RF para
E atravessar uma distância L n u m a região livre de campos elétri- possibilitar a captura dos íons; (2) ions trafs lineares, que são
cos é d a d o por: muito próximos d o QIT n o s seus princípios de operação; e, (3)
espectrómetros de massas por ressonância iônica ciclotrônica
m | (ICR), baseados n u m a c o m b i n a ç ã o de campos magnéticos e ele-
trostáticos para a captura.
Ions Traps Quadrupolos. O s QITs são utilizados, primaria-
mente, c o m o detectores G C o u HLPC. Eles são (1) relativamente
compactos, (2) de baixo custo, (3) versáteis, (4) excelentes para
U m cálculo da amostra para um i o n c o m peso molecular de estudos exploratórios, e (5) úteis para a caracterização estrutural
200 k D a (3,32 X 10~ M kg) c o m uma energia cinética de 10 keV e para a identificação de amostras.
(1,60 X 10~15 J), se m o v e n d o através de u m percurso de 1 m, A operação do Q I T se baseia n o m e s m o princípio físico que
produz u m tempo de vôo de 10,18 microssegundos, e u m íon o espectrômetro de massas quadrupolos descrito anteriormente.
com peso molecular de 201 leva apenas cerca de 25 nanossegun- A m b o s os instrumentos empregam a capacidade dos campos RF
para confinar os íons. N o entanto, o campo RF de u m ion trap é
projetado de m o d o a capturar ions e m três dimensões e m vez de
permitir a travessia dos íons, c o m o n u m QMF, que confina os
*Annesley T, Rockwood AL, Sherman NE. Mass spectrometry. ]n: Burtis CA, íons apenas em duas dimensões.
Ashwood ER, Bruns DE, eds. Tietz textbook of clinicai chemistry and molecu- U m diagrama de u m espectrômetro de massas de ion trap
lar diagnostica, 4l1, ed. St Louis: Saunders, 2006:165-90. encontra-se na Figura 8-8. A área de captura é muito pequena,
138 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

em separado. Devemos observaT aqui, n o entanto, que os experi-


Tampa da extremidade
mentos com múltiplos estágios M S / M S ( M S / M S / M S . . . , ou MS")
do eletrodo (entrada
d e elétrons)
são prontamente realizados n o s instrumentos c o m iom traps.
A capacidade de armazenar íons também implica outras van-
tagens distintas. U s a n d o a abordagem de varredura c o m ejeção
seletiva de massa, a resolução de massa n o Q I T é inversamente
proporcional à taxa de varredura. C o m a redução da taxa de
varredura, foi obtida uma resolução de massa similar à obtida
c o m os aparelhos de setor. Por exemplo, esta técnica foi usada
Superfícies Anel d e para determinar o estado da carga de íons proteicos c o m carga
eletrodos múltipla gerada na ESI.
A QIT também compartilha algumas vantagens com a TOF-MS.
E m particular, a espectrometTia de massas c o m captura de íons
z
é muito sensível. A l é m do mais, a amostragem é dissociada da
varredura de m o d o fazendo c o m que não exista pico de inclina-
ção de massa espectral na GC -M S e na HPLC-MS.
Ion Trap Lineãr. O Ion trap linear é u m instrumento com
I captura de íons RF que se baseia e m u m Q M F linear modificado.
Tampa da extremi- Em lugar de ser u m aparelho de passagem c o m o u m Q M F linear
d a d e do eletrodo normal, os campos eletrostáticos são aplicados nas extremidades
(sairia d e íons) para prevenir que os íons deixem o aparelho. Assim, uma vez
retidos os ions são manipulados em muitas maneiras usadas e m
u m QIT. U m a vantagem do quadrupolo linear trap geralmente é
Figura 8 - 8 D i a g r a m a d o q u a d m p o l o c o m c a p t u r a de ions {ions (rap).
apresentar uma faixa dinâmica superior a u m QIT. O s espectró-
metros de massas do tipo triplo quadrupolo comerciais estão
s e n d o oferecidos c o m o terceiro quádruplo modificado para fun-
cionar c o m o u m trap linear.
Ressonância lônica Ciclotrônica. A ICR-MS se distingue pelas
m e d i n d o apenas poucos centímetros de comprimento. A captura medidas de acurácia de alta resolução e de alta massa. As medidas
de íons por si só seria pouco mais que uma singularidade da física obtidas c o m resoluções superiores a 1 milhão não são i n c o m u n s
se não fosse o fato de que os íons dentro da área p o d e m ser e é possível uma exatidão de massa sub-ppm. A ICR é uma
manipulados, de m o d o a se dissociar em fragmentos característi- técnica de captura e compartilha muitas das vantagens dos ins-
cos, e ejetados de m o d o a gerar u m espectro de massas. trumentos de captura RF; con tu d o, existem ainda outras manei-
Apesar dos QITs e Q M F s terem sido descritos aproximada- ras de manipular íons e m uma ICR-MS do que n u m QIT, e
mence ao m e s m o tempo, o Q M F inicialmente foi mais popular medidas M S n são facilmente obtidas c o m u m a ICR-MS.
c o m o aparelho analítico. Posteriormente, duas descobertas impor- U m a ICR M S se baseia n o princípio de que os íons imersos
tantes mudaram o uso d o QIT. Em primeiro lugar, descobriu-se n u m campo magnético sofrem u m movimento circular (movi-
que a inclusão na área de captura o u trctp de uma pressão mais m e n t o ciclotrônico). U m a ICR-MS típica usa u m campo magné-
elevada (IO -3 torr) de gás com baixo peso molecular melhorava a tico supercondutor elevado (3 a 12 tesla). Dentro deste campo e
resolução da massa e reduzia os limites de detecção. Em segundo dentro de u m alto vácuo está mon tad a u m a "câmara" formada,
lugar, o desenvolvimento de uma ejeção seletiva de massas ou uma caracteristicamente, por seis eletrodos de metal dispostos c o m o
função de varredura de instabilidade de massa, melhorava a var- as faces de u m cubo. O s íons estão suspensos dentro da câmara
redura QIT. N o caso de ausência de voltagem D C e uma baixa e sofrem movimentação ciclotrônica, que impede que os íons se
voltagem RF, os íons de todas m/z são armazenados n o campo percam radialmente (a direção radial é definida e m perpendicu-
QIT. C o m o aumento da voltagem RF, os ions com m/z crescente lar às linhas d o campo magnético). U m potencial baixo ( - 1 V)
se tornam axialmente instáveis e saem, seqüencialmente, do QIT é aplicado na tampa da extremidade para manter os íons axial-
de acordo com seu m/z• O s íons que deixam o QIT através de mente dentro da armadilha. A combinação de campos elétricos
uma tampa da extremidade são detectados por meio de u m mul- e magnéticos mantém os íons c o n f i n a d o s dentro da célula.
tiplicador externo de elétrons. U m a melhora adicional na sensi- U m a Transformada de Fourier (FT) é usada para extrair u m
bilidade do QIT foi a aplicação de u m comprimento de onda c o m espectro de massa a partir d o sinal bruto. D e v i d o ao uso fre-
modulação axial nos eletrodos da tampa da extremidade. A volta- qüente da FT na ICR, a técnica freqüentemente é chamada de
gem oscilante a u m e n t o u a eficiência da ejeção de íon a partir da FT-ICR ou FTMS. O s instrumentos FT-ICR são os mais versáteis
área de captura e melhorou a resolução da massa. de todos os espectrómetros de massas e são capazes de muitos
A l é m d o m o d o de operação c o m voltagem oscilante, o QIT tipos de medidas, inclusive diversos tipos de experimentos M S /
é capaz de operar em outros m o d o s . Por exemplo, o Q I T também MS.
é operado n u m m o d o de armazenamento seletivo de massas que
envolve a seleção de condições RF e D C de m o d o que apenas Espectrómetros de Massas em Tandem ou
íons de uma massa sejam armazenados n o Q I T em qualquer Seqüenciais
momento. A espectrometria de massas e m tandem, ou espectrometria de
A capacidade de aplicar comprimentos de ondas personaliza- massas/espectrometria de massas ( M S / M S ) se tornou uma
dos ao Q I T o torna u m dos mais versáteis dos espectrómetros de técnica importante n o s laboratórios clínicos e é usada para
massas, rivalizado apenas pelo espectrômetro de massa ICR. Isto análise quantitativa das amostras de rotina. N o entanto, também
é mais fortemente evidenciado na espectrometria de massas e m é excelente para caracterização estrutural e identificação de com-
tandem ( M S / M S e técnicas relacionadas), q u e vai ser discutida postos e, conseqüentemente, é útil para estudos exploratórios,
Espectrometria de Massas CAPÍTULO 8 139

m e s m o q u a n d o u m teste f i n a l p o d e ser b a s e a d o n u m a tecnologia e m l a b o r a t ó r i o clínico. N o e n t a n t o , estes a p a r e l h o s n ã o são


diferente, c o m o o i m u n o e n s a i o . A característica mais i m p o r t a n t e capazes d e realizar v a r r e d u r a s verdadeiras de íon p r e c u r s o r o u
desta técnica é sua seletividade m u i t o elevada. Q u a n d o associada v a r r e d u r a s com p e r d a s n e u t r a s c o n s t a n t e s .
à m a i o r seletividade de u m a H P L C , a i n t e r f e r ê n c i a n u m e s t u d o
b e m p r o j e t a d o c o m M S / M S (e e s p e c i a l m e n t e n u m teste H L P O Detectares
M S / M S ) são m u i t o baixas. E m v i r t u d e de sua baixa taxa de C o m exceção de u m ICR-MS, quase t o d o s os espectrómetros de
interferências, baixo custo de cons umí vei s ( c o m o o c o r r e c o m a massa usam multiplicadores de elétrons para detecção de íons. As
m a i o r i a d o s m é t o d o s MS) e elevadas taxas d e r i t m o de transfe- classes de multiplicadores d e elétrons c o m p r e e n d e m (1) multipli-
rência de a m o s t r a , cada vez m a i s l a b o r a t ó r i o s clínicos estão com- cadores d e d m o d o discretos, (2) multiplicadores de elétrons d i n o d o
p r a n d o e u s a n d o e s p e c t r ó m e t r o s de massas e m tandem. c o n t í n u o (CDEMs), t a m b é m c h a m a d o s dc multiplicadores d e
O p r i n c í p i o físico dos e s p e c t r ó m e t r o s de massas e m tandem é canal cle elétrons, (CEMs) e (3) multiplicadores de elétron de placa
mais b e m c o m p r e e n d i d o se c o n s i d e r a r m o s os aparelhos d o tipo microcanal (MCP), t a m b é m c o n h e c i d o s c o m o multiplicadores d e
feixe, t a n t o u m e s p e c t r ô m e t r o d e massas de setor m a g n é t i c o c o m o elétrons de placa multicanal. E m b o r a sejam diferentes e m seus
u m e s p e c t r ô m e t r o de massa q u a d r u p o l o . D o i s e s p e c t r ó m e t r o s de detalhes, todos três f u n c i o n a m p o r m e i o de u m processo de mul-
massa estão dispostos s e q ü e n c i a l m e n t e c o m u m a "câmara d e tiplicação similar, c h a m a d o , às vezes, de processo e m avalanche ou
colisão" colocada e n t r e os dois aparelhos. O p r i m e i r o a p a r e l h o é em cascata, q u e se repete p o r m e i o de u m a cadeia de d i n o d o s ,
u s a d o para selecionar íons de u m m/z e m particular, c h a m a d o n u m e r a d o s e n t r e 12 e 24 n a maioria dos projetos. O processo d e
t a n t o de "íon precursor" c o m o " í o n pai". O íon precursor é diri- multiplicação produz, tipicamente, u m g a n h o de IO4 até 10h, o n d e
gido para a câmara de colisão, o n d e os íons colidem c o m molé- a geração de u m elétron n o p r i m e i r o d i n o d o p r o d u z u m pulso de
culas d e gás n o f u n d o , e se q u e b r a m em íons m e n o r e s , c h a m a d o s IO4 até 10 a elétrons n o final da cascata. A duração d o pulso é m u i t o
"íons-produto" ou "íons filhos". O s e g u n d o e s p e c t r ô m e t r o de curta, geralmente inferior a 10 n a n o s s e g u n d o s .
massas a d q u i r e o espectro de massas dos íons-produto. U m detector adicional u s a d o n o s e s p e c t r ó m e t r o s de massas
Existem diversas f u n ç õ e s d e varredura possíveis c o m os espec- é o c o p o de Faraday.
trómetros d e massas e m tandem. U m a "varredura d o í o n - p r o d u t o "
envolve a calibragem d o p r i m e i r o espectrômetro de massas, M S I , Computador e Programa
a f i m de selecionar u m m/z d e t e r m i n a d o e realizar a varredura d o N o s e s p e c t r ó m e t r o s de massa m o d e r n o s , o sinal b r u t o p r o d u z i d o
espectro de massa completo d o íon-produto. Esta varredura é fre- pelo i n s t r u m e n t o é digitalizado e o sinal digital é registrado e
q ü e n t e m e n t e usada para caracterização estrutural. U m a v a r r e d u r a p r o c e s s a d o p o r c o m p u t a d o r e s e seu p r o g r a m a residente. E m
d o "íon precursor" reverte este r e l a c i o n a m e n t o c o m o s e g u n d o d e c o r r ê n c i a da (1) c a p a c i d a d e d e resolução de massa, (2) d a
espectrômetro de massas, MS2, a fim de selecionar u m íon-produto, f u n ç ã o d e v a r r e d u r a , (3) d a c a p a c i d a d e d e m u d a r a u t o m a t i c a -
e M S I é varrido através d o espectro. O s picos n a varredura do íon m e n t e d o m o d o d e ionização positivo p a r a o negativo, e (4) d a
precursor são indicativos de quais destes íons p r o d u z e m u m íon- velocidade c o m q u e diversos sinais m/z são m o n i t o r a d o s , os
p r o d u t o específico, u m a capacidade que f r e q ü e n t e m e n t e é usada i n s t r u m e n t o s m o d e r n o s para a M S g e r a m q u a n t i d a d e s e n o r m e s
paTa analisar classes específicas de compostos. A chave para a d e d a d o s b r u t o s . A l é m disso, o u s o da M S e m diversas aplicações
elevada seletividade da M S / M S é q u e caracteriza u m c o m p o s t o r e q u e r q u e os f a b r i c a n t e s f o r n e ç a m c o m p u t a d o r e s e p r o g r a m a s
s e g u n d o duas p r o p r i e d a d e s físicas, massa d o íon precursor e massa sofisticados.
d o íon-produto, e m vez de u m a ú n i c a p r o p r i e d a d e . Se for associada Por exemplo, n o s l a b o r a t ó r i o s de toxicologia, u m a f u n ç ã o
a u m a separação cromatográfica, o t e m p o de retenção será e n t ã o i m p o r t a n t e d o sistema de d a d o s é a pesquisa da biblioteca pro-
acrescentado à caracterização, e os analitos serão caracterizados p o r c u r a n d o a j u d a r n a i d e n t i f i c a ç ã o d o c o m p o s t o . Existem diversas
três p r o p r i e d a d e s físicas. Esta seletividade elevada elimina a maioria bibliotecas comerciais, i n c l u i n d o a (1) Wiley Registry of Mass
das interferências potenciais. Spectral Data, (2) a U.S. N a t i o n a l I n s t i t u t e of S t a n d a r d s a n d
C o m o a c o n t e c e c o m os e s p e c t r ó m e t r o s d e massas de estágio T e c h n o l o g y (NIST) Mass Spectral D a t a b a s e , e (3) Pfleger, M a u r e r ,
ú n i c o , os e s p e c t r ó m e t r o s de massa e m tandem são grosseiramente W e b e r d r u g libraries. A l é m disso, diversos l a b o r a t ó r i o s g e r a m
caracterizados c o m o i n s t r u m e n t o s d o tipo feixe e d e captura. O suas p r ó p r i a s bibliotecas. A q u a l i d a d e e a q u a n t i d a d e de espec-
i n s t r u m e n t o d o tipo de feixe mais p o p u l a r é o triplo q u a d r u p o l o . tros disponíveis, o a l g o r i t m o de busca, e se espectros c o n d e n s a -
Neste instrumento, o primeiro quadrupolo ( Q l ) funciona como d o s ou c o m p l e t o s são pesquisados são fatores i m p o r t a n t e s n a
M S I , e o terceiro q u a d r u p o l o (Q3) f u n c i o n a c o m o M S 2 . E n t r e correlação d o s espectros. Existem diversos algoritmos de pesquisa
estes dois q u a d r u p o l o s encontra-se o u t r o q u a d r u p o l o , Q 2 , q u e disponíveis n a s bibliotecas, s e n d o o mais p o p u l a r o da correlação
f u n c i o n a c o m o a câmara d e colisão. b a s e a d a em p r o b a b i l i d a d e s e a a b o r d a g e m d a correlação d o
O u t r a evolução tecnológica n a e s p e c t r o m e t r i a de massas e m p r o d u t o s e m e a d o m o d i f i c a d o pelo N I S T . A m b a s as a b o r d a g e n s
tandem é a c o m b i n a ç ã o de dois e s p e c t r ó m e t r o s de massas T O F , f o r n e c e m u m a avaliação da q u a l i d a d e d a correlação e n t r e os
T O F / T O F Estes aparelhos são m u i t o sensíveis e a p r e s e n t a m espectros o b s e r v a d o s e os espectros da biblioteca
excelente r k m o d e transferência para M A L D I - M S / M S , s e n d o
e s p e c i a l m e n t e a p r o p r i a d o s p a r a a pesquisa e m p r o t e ô m i c a . N o
e n t a n t o , estes i n s t r u m e n t o s são incapazes de realizar v a r r e d u r a s APLICAÇÕES CLÍNICAS
verdadeiras d e í o n p r e c u r s o r o u v a r r e d u r a s c o m p e r d a s n e u t r a s A associação dos espectrómetros de massas c o m cromatógrafos
constantes. gasosos ou líquidos ( G C - M S e LC-MS) resultou e m i n s t r u m e n t o s
O s c h a m a d o s e s p e c t r ó m e t r o s d e massas h í b r i d a s i n c l u e m analíticos versáteis com a capacidade de resolução dos cromatógra-
u m a c o m b i n a ç ã o de dois tipos diferentes de e s p e c t r ó m e t r o s de fos, e com a especificidade sofisticada e baixos limites de detecção
massas n u m a disposição tandem. U m a a b o r d a g e m p o p u l a r é a de u m espectrômetro de massas. Tais i n s t r u m e n t o s são f e r r a m e n t a s
c o m b i n a ç ã o de u m q u a d r u p o l o p a r a M S I e u m T O F para M S 2 . analíticas poderosas utilizadas e m laboratórios clínicos para iden-
C o m o o c o r r e c o m os i n s t r u m e n t o s T O F / T O F , estes i n s t r u m e n - tificar e quantificar analitos orgânicos. Por exemplo, f o r n e c e m
tos são a t u a l m e n t e u s a d o s , p r i n c i p a l m e n t e , p a r a pesquisa de informações estruturais e quantitativas sobre analitos individuais
p r o t e ô m i c a , mas p o d e m , e v e n t u a l m e n t e , e n c o n t r a r aplicações n a m e d i d a e m que são eluídos d e u m a coluna cromatográfica.
140 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Estas técnicas associadas são m u i t o sensíveis e só há necessidade Cromatografia Líquida Acoplada à


de q u a n t i d a d e s e m n a n o g r a m a s o u picogramas para análise. Espectrometria de Massas (LC-MS)
O s espectro m e eros de massas M A L D I - T O F e SELDI, e as E m c o m p a r a ç ã o c o m a c r o m a t o g r a f i a gasosa, a i n t e r f a c e dos
técnicas de ionização I C P t a m b é m a u m e n t a r a m a capacidade c r o m a t ó g r a f o s líquidos c o m os e s p e c t r ó m e t r o s de massa é mais
analítica d o s e s p e c t r ó m e t r o s de massas. O s e s p e c t r ó m e t r o s de difícil p o r q u e os analitos estão diluídos n u m l í q u i d o e n ã o n o
massa M A L D I - T O F e S E L D I estão s e n d o usados, p r i n c i p a l m e n t e , gás. Isto causa dificuldades para o sistema de b o m b e a m e n t o a
p a r a detecção e n ã o p a r a a análise de r o t i n a das amostras d o v á c u o d o e s p e c t r ô m e t r o de massas. C o m o foi d i s c u t i d o anterior-
paciente. U m a aplicação i m p o r t a n t e da M S é seu uso c o m o fer- m e n t e , diversas técnicas d e i n t e r f a c e f o r a m desenvolvidas paTa
r a m e n t a analítica p r i m á r i a para descobertas n o c a m p o e m expan- associação e n t r e u m c r o m a t ó g r a f o l í q u i d o e u m e s p e c t r ô m e t r o
são e c r e s c i m e n t o r á p i d o , q u e é a p r o t e ô m i c a . de massas, p e r m i t i n d o a aplicação bem-sucedida de H P L C - M S e
H P L C - M S / M S para u m a g r a n d e v a r i e d a d e de c o m p o s t o s . E m
Cromatografia Gasosa Acoplada à teoria, d e s d e q u e o c o m p o s t o esteja d i l u í d o n u m l í q u i d o , é pos-
Espectrometria de M a s s a s (GC-MS) sível introduzi-lo n u m sistema H P L C - M S . Assim, analitos polares
A G O M S é usada n a análise de c o m p o s t o s biológicos h á diversas e n ã o polares, e c o m p o s t o s c o m g r a n d e peso molecular, c o m o as
décadas. Por exemplo, é u s a d a p e l o N I S T c o m o u m m é t o d o p r o t e í n a s , são analisados p o r m e i o desta técnica.
definitivo de qualificar materiais d e referência p a d r ã o e atribuir U m a área i m p o r t a n t e e m q u e a H P L C - M S / M S é clinica-
valores certificados a m u i t o s analitos clínicos ( C a p í t u l o 2). U m a m e n t e usada é a d e t e c ç ã o e a c o n f i r m a ç ã o de alterações genéticas
das aplicações mais c o m u n s d a G C - M S encontra-se na detecção e d o s erros inatos d o m e t a b o l i s m o . 4 A capacid ade d e analisar
de drogas p a r a f i n s clínicos o u forenses. M u i t a s drogas apresen- c o m p o s t o s m ú l t i p l o s n u m a ú n i c a corrida analítica faz desta
t a m pesos moleculares r e l a t i v a m e n t e baixos e p r o p r i e d a d e s não- técnica u m a f e r r a m e n t a eficaz p a r a detecção. Por e x e m p l o , a M S
polares e / o u voláteis, q u e t o r n a m estes c o m p o s t o s particular- c o m eletTospTãy (eletronebulização) e m tandem se t o r n o u o m é t o d o
m e n t e a d e q u a d o s p a r a análise pela G C . A ionização por i m p a c t o de referência r e c o n h e c i d o , n a análise da c a r n i t i n a e acilcarnitina
de elétrons c o m detecção de massas p o r m e i o de v a r r e d u r a com- p a r a identificar acidemias orgânicas e defeitos d e oxidação de
pleta é a a b o r d a g e m mais u s a d a p a r a u m a detecção a b r a n g e n t e ácidos graxos. T a m b é m é u m a f e r r a m e n t a excelente n a análise de
de drogas. A i d e n t i f i c a ç ã o de c o m p o s t o s d e s c o n h e c i d o s é reali- a m i n o á c i d o s , usada p a r a diagnosticar diversos erros inatos d o
zada c o m a c o m p a r a ç ã o de t o d o o seu espectro de massa c o m m e t a b o l i s m o . N o caso da análise d e c a r n i t i n a e d e a m i n o á c i d o s ,
u m a biblioteca o u base d e d a d o s especial. Diversas agências fede- estes c o m p o s t o s variam na sua p o l a r i d a d e , o q u e causa p r o b l e m a s
rais ou estaduais o b r i g a m q u e apenas a G C - M S seja u s a d a para c o m a consistência d o s fatores d e resposta. Para resolver esta
c o n f i r m a r a p r e s e n ç a de drogas e m amostras s u p o s t a m e n t e con- q u e s t ã o , alguns p r o c e d i m e n t o s e m p r e g a m u m a derivação butil-
sideradas positivas n a s análises i m u n o i s to químicas. éster d o g r u p o carboxila para forçar u m caráter c a t i ô n i c o sobre
A G C - M S a p r e s e n t a diversas aplicações além da detecção de os a m i n o á c i d o s e produzir, desta m a n e i r a , deficiências d e ioniza-
drogas. Diversos c o m p o s t o s x e n o b i ó t i c o s são p r o n t a m e n t e anali- ção s e m e l h a n t e s para estes c o m p o s t o s . F o r a m descritos testes
sados pela G C - M S . Foi descrita a sua aplicação n a pesquisa de p a r a acilcarnitinas e a m i n o á c i d o s q u e n ã o r e q u e r e m derivação. 5 , 2 0
esteróides anabólicos, pesticidas, p o l u e n t e s e erros inatos d o O u t r o s c o m p o s t o s c l i n i c a m e n t e relevantes passíveis d e análise
metabolismo." pela H P L C - M S i n c l u e m i m u n o s s u p r e s s o r e s , anti-retrovirais,
U m a limitação i m p o r t a n t e da G C - M S é a necessidade de q u e a m i n a s biogênicas, ácido m e t i m a l ô n i c o e diversos h o r m ô n i o s
os c o m p o s t o s s e j a m voláteis o b a s t a n t e p a r a p e r m i t i r a transfe- esteróides. 1,2,10,14
rência da fase sólida para o gás c a r r e a d o r móvel e, desta m a n e i r a ,
ser e l u í d o da c o l u n a analítica para o detector. E m b o r a m u i t o s Espectrometria de M a s s a s MALDI-TOF
c o m p o s t o s biológicos sejam passíveis de separação cromatográfica A M A L D I - T O F foi usada para analisar u m g r a n d e n ú m e r o d e
c o m a C G , u m n ú m e r o m a i o r ainda de c o m p o s t o s é m u i t o polar classes diferentes d e c o m p o s t o s . Seu uso se e n q u a d r a e m u m a
o u seu t a m a n h o é g r a n d e d e m a i s para ser analisado p o r esta das três g r a n d e s categorias a seguir: (1) detecção de u m c o m p o s t o
técnica. ou mais, e m particular, (2) identificação d e proteína(s) (Figura
8-9), o u (3) i d e n t i f i c a ç ã o de u m o r g a n i s m o . O s requisitos para a
i d e n t i f i c a ç ã o de u m a p e q u e n a m o l é c u l a p e l o M A L D I são: (1) a
m o l é c u l a deve co-cristalizar c o m a matriz, s e m reagir; (2) ser capaz
E s p e c t r o # 1 O B C [BP = 2 1 3 9 . 0 , 2 3 5 8 8 ]
de ser r e m o v i d a da matriz e; (3) f o r m a r u m íon ou u m a d u t o
100 capaz d e ser d e t e c t a d o . A p e s a r d e a M A L D I ser simples e r á p i d a ,
901 o u t r a s técnicas de M S e n ã o M S f r e q ü e n t e m e n t e são t ã o boas ou
a) 80 até m e s m o m e l h o r e s para a análise d e p e q u e n a s moléculas, espe-
n 70 13XS.V; c i a l m e n t e se o interesse residir n a análise quantitativa.
TJ
in 60 M A L D I - T O F t a m b é m foi u s a d a n a identificação d e organis-
jÜ 50 eTCjCttS
m o s , c o m o bactérias. Foi descrito u m m é t o d o q u e t e n t a identi-
- 401 t:ri
ficar bactérias p o r m e i o de u m m a p a de identificação {fingerprin-
£ 30 !• >» icui
5° 20 9 5 - » Ü'J
X.JJJL ting) de p r o t e í n a s extraídas s o b c o n d i ç õ e s mais suaves. 1 * A base
2380.0219
2154.990
10 lfc88.66B l |1824."7SI35 ' 23^2.02 46!
,2332.024® desta técnica é q u e bactérias diferentes d e v e m expressar p r o t e í n a s
' í í J È %— -- ^ —
ú n i c a s na faixa d e massa entre 2 a 2 0 k D a , p e r m i t i n d o sua clas-
CD sificação de acordo c o m o seu /mgerfirmtíng de massa protéica. O s
C\J CO
to CM in co principais p r o b l e m a s 1 8 são: a ausência d e u m a i n f o r m a ç ã o real
CO LTl cn m
<M
da massa protéica p a r a várias bactérias e a falta de investigação
M a s s a (m/z)
das diferentes cepas da m e s m a bactéria. O s m a p a s d e identifica-
ção das massas das proteínas devem ser catalogados p a r a cada
Figura 8 - 9 U m e x e m p l o de u m espectro M A L D I - T O F e x i b i n d o bactéria e d e t e r m i n a d o s de m o d o a ser c o m p l e t a m e n t e r e p r o d u -
p e p t i d i o s gerados n u m digerido tríptico d e u m p o n t o central a p a u i r de zíveis para u m d e t e r m i n a d o m é t o d o de extração. A l é m d o mais,
u m gel SDS-PAGE, 2-D.
Espectrometria d e M a s s a s C A P Í T U L O 8 141

há n e c e s s i d a d e d e m a i s e s c u d o s sobre as m u d a n ç a s n o nível das A t u a l m e n t e , a M S é u s a d a c o m o Totina para realizar diversas


proteínas entre d i f e r e n t e s cepas o u i s o l a d o s s u p o s t a m e n t e da tarefas e m p r o t e ô m i c a . A tarefa mais básica é a i d e n t i f i c a ç ã o d a
m e s m a bactéria. p roteín a. A a b o r d a g e m típica é c o n h e c i d a c o m o m é t o d o "bottom-
up", o n d e as proteínas são separadas — t a n t o pela eletroforese e m
gel q u a n t o por m é t o d o s b a s e a d o s e m s o l u ç ã o — e e n t ã o d i g e r i d o s .
Espectrometria d e M a s s a s SELDI O s f r a g m e n t o s resultantes são a n a l i s a d o s e utilizados para iden-
A S E L D I - M S foi usada na análise d e marcadores b i o l ó g i c o s de tificar a(s) proteína(s) presenre(s). Este p r o c e s s o é d e m o r a d o e
d o e n ç a s . A p r e missa básica é q u e o d i a g n ó s t i c o d o e s t a d o pato- apresenta diversos imprevistos. C a d a vez mais m u i t a p e s q u i s a é
lógico p o d e ser feito p e l a m o n i t o r a ç ã o à distância d o sítio real dirigida à análise d e misturas de proteínas. A p e s a r d e s o l u c i o n a r
da d o e n ç a — na m a i o r i a das vezes n o soro, urina o u n o líqu i d o m u i t o s d o s p r o b l e m a s a s s o c i a d o s à análise das p r o t e í n a s isoladas
cerebrospinal. A s p r o t e í n a s são purificadas por a f i n i d a d e a partir por gel, esta t é c n i c a sofre u m a g r a n d e d e s v a n t a g e m — a c o m p l e -
do f l u i d o b i o l ó g i c o , e o s m a r c a d o r e s são i d e n t i f i c a d o s c o m b a s e xidade. Atualmente, n e m a instrumentação n e m o programa de
n u m a g r a n d e diferença de a b u n d â n c i a entre o c o n t r o l e e a análise s ã o a v a n ç a d o s o s u f i c i e n t e para identificar f a c i l m e n t e
d o e n ç a . Estes m a r c a d o r e s n e m m e s m o s ã o i d e n t i f i c a d o s n o s está- todas as proteínas n u m a mistura r e a l m e n t e c o m p l e x a . C o m o
dios iniciais d o teste. O p o d e r da t e c n o l o g i a é a c a p a c i d a d e d e resultado, c o l o c o u - s e m u i t a ênfase n o s m é t o d o s de separação d e
identificação rápida d e m ú l t i p l o s m a r c a d o r e s b i o l ó g i c o s e m proteínas e / o u p e p t í d i o s . M u i t o s g r u p o s i n t r o d u z i r a m m é t o d o s
potencial q u e p o d e m ser u s a d o s e m c o n j u n t o , c o m o u m a ferra- para começaT a lidar c o m este nível d e c o m p l e x i d a d e . As aborda-
m e n t a de d i a g n ó s t i c o — a l t a m e n t e preferível a m u i t o s d o s testes gens mais populares são: (1) f r a c i o n a m e n t o subcelular, (2) cro-
isolados para marcadores b i o l ó g i c o s e m u s o a t u a l m e n t e . matografia m u l t i d i m e n s i o n a l , e (3) marcação p o r a f i n i d a d e e / o u
purificação. C o m a associação destas abordagens, diversos milha-
res de e s p é c i e s d e p r o t e í n a s foram i d e n t i f i c a d o s . O b v i a m e n t e
Espectrometria d e M a s s a s ICP estes n ú m e r o s são m e l h o r e s d o q u e o s m é t o d o s "battom-ufi" d o s
3 ICP-MS é usada n a d e t e r m i n a ç ã o d e traços de e l e m e n t o s e m géis, mas a i n d a estão l o n g e d o q u e é necessário para u m a prote-
diversos tipos de amostras. N o e n t a n t o , sabe-se que a toxicidade de ômica completa.
j m e l e m e n t o p o d e d e p e n d e i d o estado orgânico o u inorgânico e m A s d u a s ú l t i m a s áreas q u e p r e c i s a m ser a b o r d a d a s são: a
que o e l e m e n t o está presente. N e s t e s casos, é mais importante se q u a n t i f i c a ç ã o e o s e q ü e n c i a m e n t o de novo e / o u m o d i f i c a ç õ e s
assegurar das concentrações das espécies tóxicas do q u e da c o n c e n - pós-tTaducionais. E m p r i m e i r o lugat, a maioria das p r o t e í n a s
Tação total d o e l e m e n t o . Para estender a utilidade desta técnica, os i d e n t i f i c a d a s deve ser q u a n t i f i c a d a e m relação a m u d a n ç a s n o
sistemas de C G e H P L C a t u a l m e n t e estão s e n d o associados c o m e s t a d o o u tipo celular. A q u a n t i f i c a ç ã o n a M S para esta finali-
iCP-MS para separar espécies elementares individuais antes da d a d e é relativa e requer u m a c o m p a r a ç ã o entre u m a c o n d i ç ã o
málise pelo ICP-MS. 1 2 C o m o ocorre c o m qualquer m é t o d o analí- padrão e u m a alterada. A s técnicas atuais nesta área a i n d a e s t ã o
:ico, o ICP-MS é passível de sofrer interferências. U m exemplo na fase d e d e s e n v o l v i m e n t o , mas g e r a l m e n t e e n v o l v e m a marca-
:ípico é que o A r O + apresenta u m m/x de 56 q u e interfere c o m o ção t a n t o de u m s u b g r u p o de p e p t í d i o s ( i s ó t o p o - c o d i f i c a d o c o m
Drincípio i s ó t o p o d o Fe'. D u a s s o l u ç õ e s para este tipo de problema marcação de a f i n i d a d e ) q u a n t o de t o d o s o s p e p t í d i o s ( m a r c a ç ã o
ião: (1) espectrómetros de massas de alta resolução que resolvem as metabólica). A p e s a r de haver alguns p r o b l e m a s c o m a marcação,
pequenas (subdalton) diferenças de massa entre os analiros-alvo e o m a i o r deles — c o m o o d e i d e n t i f i c a ç ã o — e n v o l v e a c o m p l e x i -
is interferências; o u (2) a reação celular dinâmica, que remove d a d e absoluta da amostra a ser analisada. O s e g u n d o p r o b l e m a
quimicamente o c o m p o s t o que provoca a interferência. é i g u a l m e n t e d i s t i n t o e r e l a c i o n a d o . A s m o d i f i c a ç õ e s pós-tradu-
c i o n a i s são, c l a r a m e n t e , o principal m e c a n i s m o de c o n t r o l e n a s
células. A espectrometria de massas é ímpar c o m o u m a t é c n i c a
Proteômica q u e t a n t o identifica q u a n t o localiza e x a t a m e n t e u m a m o d i f i c a -
\los ú l t i m o s 2 0 a n o s , v i m o s u m e n o r m e progresso e m g e n ô m i c a ção. C o n t u d o , o programa para a u t o m a t i z a ç ã o deste p r o c e s s o
:om centenas de genomas completos o u quase completos. ainda é m u i t o precário n a c a p a c i d a d e d e coletar o s dados. O q u e
C o n t u d o , esta i n f o r m a ç ã o m u i t a s vezes n ã o f o r n e c e u u m a ampla falta é u m programa para o s e q ü e n c i a m e n t o de novo q u e inter-
: o m p r e e n s ã o da f u n ç ã o celular — p r i n c i p a l m e n t e e m vista da prete u m espectro d e massa c o m p o u c a o u n e n h u m a i n t e r v e n ç ã o
n i r í a d e de m u d a n ç a s q u e o c o r r e m c o m as proteínas produzidas d o usuário, e s p e c i a l m e n t e na área d e m o d i f i c a ç õ e s pós-traducio-
i partir d o g e n o m a d u r a n t e t o d o o ciclo d e vida de u m a célula. nais. A t u a l m e n t e , a m a i o r i a d o s espectros m o d i f i c a d o s é inter-
\ía m e t a d e da d é c a d a de 1 9 9 0 , a M S v e i o para a vanguarda das pretada de f o r m a m a n u a l por especialistas a l t a m e n t e t r e i n a d o s
écnicas analíticas usadas n o e s t u d o das proteínas, q u a n d o o e m e s p e c t r o m e t r i a de massas, a c r e s c e n t a n d o dias o u até m e s m o
e r m o p r o t e ô m i c a foi criado. A p e s a r de a d e f i n i ç ã o ainda ser s e m a n a s de t e m p o para a análise por amostra. Estes d o i s proble-
questionada, a p r o t e ô m i c a , n o s e u s e n t i d o m a i s a m p l o , abrange mas, a l é m da c o m p l e x i d a d e da amostra, precisam ser resolvidos
d c o n h e c i m e n t o de (1) estrutura, (2) f u n ç ã o e (3) expressão de antes que a p r o t e ô m i c a evolua para u m c a m p o m a d u r o .
o d a s as proteínas n o s c o n t e x t o s b i o q u í m i c o s o u b i o l ó g i c o s de T o d a s estas q u e s t õ e s são abordadas e m diversos trabalhos,
o d o s o s o r g a n i s m o s . 8 N u m s e n t i d o mais básico e prático, a t o d o s os meses, n a s p u b l i c a ç õ e s d e s d e a Vroteomia até a Clinicai
proteômica se refere à i d e n t i f i c a ç ã o e q u a n t i f i c a ç ã o das proteínas Chemistry. A p e s a r d e u m a listagem e x t e n s a ser impossível, e x i s t e m
: suas m o d i f i c a ç õ e s p ó s - t r a d u c i o n a i s n u m d e t e r m i n a d o sistema diversas revisões o u referências de o p i n i ã o q u e r e p r e s e n t a m
o u sistemas). Esta é u m a tarefa d e s a f i a d o r a p o r q u e cada g e n e p o n t o s d e b o m p a d r ã o para e x p l o r a ç ã o d o m u n d o da p r o t e ô -
ipresenta, e m potencial, 100 o u mais i s o f o r m a s q u i m i c a m e n t e mica, e m rápida mudança. 1 1 , 1 3 , 1 6 A p r o t e ô m i c a , c o m o é praticada
listintas de proteínas. A l é m d i s s o , m u i t a s outras m o l é c u l a s a t u a l m e n t e , n ã o é algo a ser u s a d o para a análise d e rotina de
metais, l i p í d i o s etc.) i n t e r a g e m de m o d o n ã o c o v a l e n t e c o m amostTas de p a c i e n t e s , mas é d e interesse e m l o n g o t e r m o para
uroteínas. C o n s e q ü e n t e m e n t e , n u m g e n o m a c o m o o h u m a n o , d e s c o b e r t a s q u e sejam p o t e n c i a l m e n t e capazes de produzir,
) o d e haver u m r e p e r t ó r i o de m i l h õ e s d e "proteínas" q u e preci- algumas das quais p o d e n d o f i n a l m e n t e vir a ser e m p r e g a d a s n o
a m ser identificadas e q u a n t i f i c a d a s . laboratório clínico.
142 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

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CAPÍTULO 9

Princípios da Enzimologia Clínica*


Renze Bais, Ph.D., A.R.C.P.A., e Mauro Panteghini, M.D.

OBJETIVOS Centro Ativo: A parte da enzima ou de outra proteína na qual


1. Definir enzima e descrever como estas são classificadas de acordo
ocorre a ligação inicial entre o substrato e a enzima para
formar o complexo enzima-substrato intermediário.
com suas estruturas ou ações sobre os seus substratos.
Coenzima: Uma substância difusível, termolábíl, de baixo peso
2. Definir os seguintes termos:
molecular que, quando combinada a uma proteína inativa
Sítio ativo
denominada apoenzima, forma um composto ativo ou uma
Apoenzima enzima completa denominada holoenzima.
Holoenzima Constante de Michaeiis-Menten (K m ): Definida,
Co-fator operacionalmente, como a concentração de substrato que
Coenzima permite que uma reação enzimática proceda com a metade
Ativador de sua velocidade máxima.
Cinéticas de primeira ordem e de ordem zero Desnaturação: Alteração parcial ou total da estrutura de uma
Km proteína, sem mudança da estrutura covalente, pela ação de
certos procedimentos físicos (aquecimento, agitação) ou de
inibição enzimática (competitiva, não-competitiva, incompetitiva) agentes químicos. A desnaturação é reversível ou
irreversível.
3. Descrever as equações de Michaeiis-Menten e de Lineweaver-Burk
Energia de Ativação: Em enzimologia, é a energia necessária
e relacioná-las à cinética enzimática pela definição de velocidade
para uma molécula formar um complexo ativado. Em uma
de reação, Vmw e Km.
reação catalisada por enzima, isso corresponde à formação
4. Desenhar e rotular uma curva de Michaeiis-Menten e um gráfico de
do complexo enzima-substrato ativado.
Lineweaver-Burk.
Enzima: U m a molécula protéica que catalisa reações químicas
5. Listar os fatores que afetam a velocidade de uma reação sem ser alterada ou destruída.
enzimática e como os mesmos atingem a cinética enzimática. Enzimas Imobilizadas: Enzimas solúveis ligadas a uma matriz
6. Citar a forma pela qual cada tipo de inibição afeta a cinética insolúvel, orgânica ou inorgânica, ou encapsuladas em uma
enzimática e ilustrar como cada um dos três tipos afeta a membrana para aumentar sua estabilidade e possibilitar seu
velocidade da reação enzimática usando um gráfico de uso repetido ou contínuo.
Lineweaver-Burk. Gráfico de Líneweaver-Burk: Gráfico do recíproco da
7. Listar os fatores fisiológicos que afetam os níveis de enzimas do velocidade de uma reação catalisada por enzima (ordenada;
sangue, eixo y) versus o recíproco da concentração de substrato
8. Comparar os métodos disponíveis para a análise de enzimas (abscissa, eixo x).
clinicamente significantes e descrever como a velocidade de uma Holoenzima: Composto funcional formado pela combinação
reação catalisada por enzima se relaciona com a quantidade de de uma apoenzima e sua coenzima apropriada.
atividade enzimática presente em um sistema. Inibidor: U m inibidor é uma substância que diminui a
velocidade de uma reação química; o processo é
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES denominado inibição.
Isoenzima; U m a enzima de um grupo de enzimas relacionadas
Apoenzima: A parte protéica de uma enzima sem o co-fator
necessário para a catálise. que catalisam a mesma reação, mas que têm diferentes
estruturas moleculares e são caracterizadas por diversas
Ativador: Uma molécula efetora que aumenta a atividade
catalítica de uma enzima quando esca se liga a um sítio propriedades físicas, bioquímicas e imunológicas.
Katal: A quantidade de atividade enzimática que converte u m
específico.
Atividade Catalítica: A propriedade de um catalisador que é rnol de substrato por segundo sob condições específicas de
medida pela velocidade de conversão catalisada de uma reação.
reação química específica produzida em um sistema de Monitoramento Contínuo: Uma forma de reação na qual esta
ensaio específico. é monitorada continuamente e os dados são apresentados
Catalisador: U m a substância que aumenta a velocidade de uma no m o d o analógico ou digital.
reação química, mas não é consumida ou modificada por Produto: Substância produzida pela conversão catalisada por
ela. U m a enzima é um biocatalisador. enzima de um substrato.
Reação de Ordem Zero: Reação na qual a velocidade de reação
é independente da concentração de reagente.
Reação de Primeira Ordem: Uma reação na qual a velocidade
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições originais do DT. de reação é proporcional à concentração de reagente.
Donald "W. Moss e de nosso amigo e colega Dr. A. Ralph Henderson (já Reação de T e m p o Fixo: U m a forma de reação de dois pontos
falecido), nas quais se baseiam partes deste capítulo. na qual as medidas são feitas em tempos específicos. Esta

143
144 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

forma é preferida para ensaios nos quais a velocidade de interesse clínico, identificadas pelos n o m e s triviais, abreviados e
reação é de primeira ordem quanto à concentração inicial sistemáticos, e pelos seus códigos numéricos.
de substrato. A l é m disso, uma prática c o m u m e conveniente é usar abre-
Substrato: U m reagente em uma reação catalisada. viaturas c o m letras maiúsculas para os n o m e s de certas enzimas,
U n i d a d e Internacional: A quantidade de enzima que catalisa a tais c o m o ALT, para alanina aminotransferase, AST, para aspar-
conversão de u m micromol de substrato por m i n u t o sob tato aminotransferase, LD, para lactato desidrogenase, c CK,
condições específicas d o m é t o d o de ensaio. para creatinoquinase (Tabela 9-1),

Enzimas c o m o Proteínas
PRINCÍPIOS BÁSICOS Estrutura Básica
Esta seção se inicia c o m a discussão da nomenclatura de enzimas Todas as moléculas de enzimas possuem as estruturas primária,
e prossegue c o m discussões de enzimas c o m o proteínas e catali- secundária e terciária características de proteínas (Capítulo 18).
sadores. Além disso, a maioria das enzimas t a m b é m exibe um nível qua-
ternário de estrutura. Para muitas enzimas, suas atividades catalí-
tica e biológica requerem duas ou mais cadeias polipeptídicas
Nomenclatura de Enzimas dobradas (subunidades) associadas c o m o propósito de formar
Historicamente, enzimas individuais foram identificadas u s a n d o uma molécula funcional. O arranjo destas subunidades define a
se o n o m e d o substrato o u grupo sobre o qual a enzima age, estrutura quaternária. As subunidades p o d e m ser cópias da mesma
adicionando-se, então, o sufixo -ase. A l é m disso, algumas enzimas cadeia polipeptídica (homomultímeros [p- ex., c o m o a isoenzima
receberam n o m e s empíricos, c o m o tripsina, diastase, ptialina, MM da creatinoquinase, ou a isoenzima H 4 da lactato desidroge-
pepsina e emulsina. Subseqüentemente, a C o m i s s ã o de Enzimas nase]) o u p o d e m ser polipeptídios distintos (heteTomultímeros).
(EC) da U n i ã o Internacional de Bioquímica (IUB) desenvolveu A atividade catalítica de uma molécula enzimática depende,
u m princípio racional e piálicu para a identificação de enzimas geralmente, da integridade de sua estrutura. Qualquer rompi-
(http://www.chem.qmw.ac.uk/iubmb/enzyme/).' mento da estrutura é a c o m p a n h a d o pela perda da atividade, u m
C o m o sistema IUB, u m n o m e trivial e um sistemático são processo c o n h e c i d o c o m o desnaturação. Se o processo de desna-
dados para cada enzima. O n o m e sistemático descreve a natureza turação é m í n i m o , ele p o d e ser revertido c o m a recuperação da
da reação catalisada e está associado a uma designação única em atividade enzimática pela retirada d o agente desnaturante. Entre-
código numérico. O n o m e trivial ou prático, que p o d e ser idên- tanto, c o n d i ç õ e s desnarurantes prolongadas o u intensas resultam
tico ao n o m e sistemático, mas freqüentemente é u m a simplifica- na perda irreversível de atividade. As condições desnaturantes
ção dele, é adequado para o uso diário. A designação numérica incluem: (1) temperaturas elevadas, (2) extremos de p H e (3)
única para cada enzima consiste e m quatro números, separados ad içao de compostos químicos. A inativaçao da maioria das
por pontos. O número tem c o m o prefixo as letras EC, d e n o t a n d o enzimas por calor ocorre a uma velocidade apreciável à tempera-
Enzyme Commisiion- Todas as enzimas são atribuídas a u m a de seis tura ambiente e, na maioria dos casos, é quase instantânea acima
classes, caracterizadas pelo tipo de reação que catalisam: (1) oxi- de 6 0 ° C . As polimerases são u m a exceção e mantêm a atividade
dorredutases, (2) transferases, (3) hidrolases, (4) liases, (5) isome- em temperaturas tão altas quanto 90° C . Temperaturas baixas são,
rases e (6) Iigases. A Tabela 9-1 lista enzimas selecionadas de portanto, usadas paTa preservar a atividade enzimática, especial-

r
TABELA 9 - 1 N ú m e r o s da C o m i s s ã o d e E n z i m a s (EC), N o m e s Sistemáticos e Triviais, J u n t a m e n t e c o m as Abreviações
F r e q ü e n t e m e n t e A d o t a d a s das E n z i m a s d e M a i o r I m p o r t â n c i a D i a g n o s t i c a

Número EC Nome Sistemática Nome Trivial Abreviação


1.1.1.27 L-lactato: NAD+ oxidorredutase Lactato desidrogenase LD
1.1,1.49 D-gliccse-6-füsfato; NADP+ oxidorredutase Gliccse-6-fosfato desidrogenase GBPD
1,4.1.3 L-glutamatcr NAD(P)+ oxidorredutase (desaminadora) Glutamato desidrogenase GLD
2.3.2.2 (5-glutamil)-peptidio: aminoácido 5-glutamiltransferase y-GI utam iltransferase GGT
2.6.1.1 L-aspartato: 2-oxoglutarato aminotransferase Aspartato aminotransferase (transa minase) AST
2.6.1.2 L-alanina: 2-oxoglutarato aminotransferase Alanina aminotransferase (transaminase) ALT
2.7.3.2 ATP: creatina W-fosfotransferase Creatinoquinase CK
3.1.1.3 Triacilglicerol acil-hidrolase Lipase LIP
3.1.1.7 Acetilcolina acetil-hidrolase Acetilcolinesterase, colinesterase verdadeira, —

colinesterase 1
3.1.1.8 Acilcolina acil-hidrolase Pseudocolinesterase, hutiril colinesterase, CHE
colinesterase II (colinesterase sérica)
3.1.3.1 Ortolosfórico-mono Éster fosfo-hidrolase (ótimo alcalino) Fosfatase alcalina ALP
3.1.3.2 Ortolosfóricü-monoáster losfo-hldrolase (ótimo ácido) Fosfatase ácida ACP
3.1.3.5 5'-ritioruclea1ídeo fcsío-hidrolase 5'-Mucleotidase NTP
3.2.1.1 1,4-ot-D-glucano glucano-fiidrolase Amilase AMY
3.4.21.1 Químiotripsina CHY
3.4.21.4 Tripsina TRY
3.4.21.36 Elastase-1 E1
Princípios da Enzimologia Clínica CAPÍTULO 9 145

m e n t e e m soluções a q u o s a s c o m o o soro. E x t r e m o s de p H d í m e r o s M B mistos de c r e a t i n o q u i n a s e (CK-MB) e as três isoen-


t a m b é m c a u s a m o d e s e n r o l a m e n t o das e s t r u t u r a s m o l e c u l a r e s zimas híbridas, LD-2, LD-3 e LD-4, da lactato d e s i d r o g e n a s e .
das enzimas e, exceto para p o u c a s exceções, d e v e m ser evitados
n a p r e s e r v a ç ã o d e a m o s t r a s enzimáticas. A a d i ç ã o de c o m p o s t o s Causas Nao-genéticas de Formas Múltiplas de Enzimas
q u i m i c o s , c o m o a uréia e c o m p o s t o s r e l a c i o n a d o s , r o m p e as M u i t o s tipos d i f e r e n t e s de m o d i f i c a ç õ e s p ó s - t r a d u c i o n a i s de
p o n t e s de h i d r o g ê n i o e as interações h i d r o f ó b i c a s , d e f o r m a q u e m o l é c u l a s enzimáticas geram m ú l t i p l a s f o r m a s q u e são c o m u -
a exposição d e enzimas a soluções c o n c e n t r a d a s desses reagentes m e n t e c o n h e c i d a s c o m o isoformas (Figura 9-1). T e m sido mos-
resulta e m inativação. t r a d o q u e vários desses processos c a u s a m a h e t e r o g e n e i d a d e d e
várias enzimas, n a matéria viva ou c o m o r e s u l t a d o d e m u d a n ç a s
Isoenzimas e Outras Formas Múltiplas de Enzimas o c o r r i d a s d u r a n t e extração o u a r m a z e n a m e n t o .
I s o e n z i m a s são formas múltiplas de u m a enzima q u e p o s s u e m a Sabe-se q u e as m o d i f i c a ç õ e s dos r e s í d u o s n a s cadeias polipep-
c a p a c i d a d e de catalisar a reação característica da e n z i m a , m a s tídicas de m o l é c u l a s enzimáticas o c o r r e m nas células vivas p a r a
d i f e r e m e m e s t r u t u r a u m a vez q u e são codificadas p o r genes gerar m ú l t i p l a s f o r m a s Por e x e m p l o , a r e m o ç ã o d e g r u p o s a m i d a
e s t r u t u r a i s distintos.* Essas variantes enzimáticas p o d e m o c o r r e r é responsável p o r p a r t e d a h e t e r o g e n e i d a d e d a amilase e d a ani-
d e n t r o de u m ú n i c o órgão, ou m e s m o d e n t r o d e u m ú n i c o tipo drase c a r b ô n i c a (cada u m a destas enzimas t a m b é m existe c o m o
celular. Elas f r e q ü e n t e m e n t e t ê m diferenças quantificáveis signi- isoenzima verdadeira). A m o d i f i c a ç ã o t a m b é m o c o r r e c o m o resul-
ficativas n a atividade catalítica. E n t r e t a n t o , t o d a s as f o r m a s de t a d o d e p r o c e d i m e n t o s d e extração. M u i t a s enzimas dos eritróci-
u m a e n z i m a e m p a r t i c u l a r p o s s u e m a c a p a c i d a d e d e catalisar sua tos, inclusive a d e n o s i n a d e s a m i n a s e , fosfatase ácida e a l g u m a s
reação característica. f o r m a s d e fosfoglicomutase, c o n t ê m g r u p o s sulfidrila q u e são
susceptíveis à oxidação, r e s u l t a n d o e m m o l é c u l a s enzimáticas
Origens Genéticas de Variantes Enzimáticas variantes c o m carga m o l e c u l a r alterada.
As isoenzimas verdadeiras são o c a s i o n a d a s pela existência de mais M u d a n ç a s q u e a f e t a m os c o m p o n e n t e s não-protéicos das
de u m locus gênico q u e codifica a e s t r u t u r a d a p r o t e í n a enzimá- moléculas enzimáticas t a m b é m p o d e m c o n t r i b u i r p a r a a hetero-
tica. M u i t a s enzimas h u m a n a s (talvez m a i s d o q u e u m terço) são g e n e i d a d e m o l e c u l a r . Por e x e m p l o , m u i t a s enzimas são glicopro-
c o n h e c i d a s p o r serem d e t e r m i n a d a s p o r mais d o q u e u m locus teinas, e variações n a s cadeias laterais d e c a r b o i d r a t o s são u m a
gênico estrutural. O s genes e m d i f e r e n t e s loci s o f r e r a m modifica- causa c o m u m de falta de h o m o g e n e i d a d e nas p r e p a r a ç õ e s dessas
ções d u r a n t e o curso da evolução d e tal f o r m a q u e as p r o t e í n a s enzimas. A l g u m a s p o r ç õ e s de c a r b o i d r a t o , e s p e c i a l m e n t e ácido
enzimáticas codificadas p o r eles n ã o t ê m e s t r u t u r a s idênticas. N - a c e t i l n e u r a m í n i c o (ácido siálico), são f o r t e m e n t e ionizadas e,
O s m ú l t i p l o s genes q u e d e t e r m i n a m u m g r u p o p a r t i c u l a r de c o n s e q ü e n t e m e n t e , têm u m p r o f u n d o efeito sobre algumas pro-
isoenzimas n ã o estão n e c e s s a r i a m e n t e ligados de f o r m a í n t i m a p r i e d a d e s das m o l é c u l a s d e enzimas. Por exemplo, a r e m o ç ã o de
e m u m cromossomo-, eles estão f r e q u e n t e m e n t e localizados e m g r u p o s d e ácido siálico t e r m i n a i s da fosfatase alcalina h u m a n a
c r o m o s s o m o s diferentes. Por exemplo, a m b o s os genes e s t r u t u r a i s h e p á t i c a e / o u óssea c o m n e u r a m i n i d a s e reduz m u i t o a heteroge-
q u e c o d i f i c a m as amilases salivar e p a n c r e á t i c a estão localizados n e i d a d e eletroforética d a e n z i m a .
n o c r o m o s s o m o 1, e n q u a n t o os genes q u e c o d i f i c a m as m a l a t o A agregação de m o l é c u l a s enzimáticas u m a s c o m as o u t r a s ou
d e s i d r o g e n a s e s m i t o c o n d r i a l e citoplasmática estão localizados c o m p r o t e í n a s não-enzimáticas p o d e originar f o r m a s m ú l t i p l a s
n o s c r o m o s s o m o s 7 e 2, r e s p e c t i v a m e n t e . E n t r e as enzimas de q u e são separadas p o r técnicas q u e d e p e n d e m d e diferenças dos
i m p o r t â n c i a clínica q u e existem c o m o isoenzimas, e m v i r t u d e da t a m a n h o s moleculares. Por e x e m p l o , q u a t r o c o m p o n e n t e s d e
p r e s e n ç a d e m ú l t i p l o s loci genicos, estão a lactato desidrogenase, colinesteiase c a t a l i t i c a m e n t e ativos c o m pesos m o l e c u l a r e s q u e
a c r e a t i n o q u i n a s e , a a - a m i l a s e e algumas f o r m a s d e fosfatase v a r i a m d e cerca d e 8 0 . 0 0 0 a 3 4 0 . 0 0 0 D a são e n c o n t r a d o s n a
alcalina. m a i o r i a d o s soros, c o m o c o m p o n e n t e mais p e s a d o , C 4 , contri-
O u t r a categoria de f o r m a s m o l e c u l a r e s m ú l t i p l a s surge b u i n d o p a r a a m a i o r p a r t e d a atividade enzimática.
q u a n d o as enzimas são olígoméricas e c o n s i s t e m e m m o l é c u l a s
c o m p o s t a s de s u b u n i d a d e s . A associação de d i f e r e n t e s tipos de Distribuição de Isoenzimas e Outras Formas Múltiplas de Enzimas
s u b u n i d a d e s e m diversas c o m b i n a ç õ e s gera u m a v a r i e d a d e de A d i s t r i b u i ç ã o d e isoenzimas n ã o é u n i f o r m e p o r t o d o o c o r p o ,
m o l é c u l a s de enzimas ativas. Q u a n d o as s u b u n i d a d e s são deriva- e variações e n o r m e s n a a t i v i d a d e d e d i f e r e n t e s isoenzimas são
das de genes e s t r u t u r a i s distintos, d e m ú l t i p l o s loci o u d e múlti- e n c o n t r a d a s n o s níveis de órgão, celular e subcelular. D i f e r e n ç a s
plos alelos, as moléculas h í b r i d a s e n t ã o f o r m a d a s são c h a m a d a s tecido-específicas t a m b é m são e n c o n t r a d a s n a s d i s t r i b u i ç õ e s de
lioen^imcís híbridas. A c a p a c i d a d e d e f o r m a r isoenzimas h í b r i d a s é algumas f o r m a s m ú l t i p l a s de enzimas q u e n ã o são causadas pela
u m a evidência de similaridades e s t r u t u r a i s consideráveis e n t r e as existência de m ú l t i p l o s loci g ê m e o s .
d i f e r e n t e s s u b u n i d a d e s . As isoenzimas h í b r i d a s são t a m b é m for-
m a d a s m vitra e in vivo, em células nas q u a i s os d i f e r e n t e s tipos Mudanças na Distribuição de Isoenzimas durante o
de s u b u n i d a d e s c o n s t i t u i n t e s estão presentes n o m e s m o compar- Desenvolvimento e Doenças
t i m e n t o subcelular. O s loci gênicos m ú l t i p l o s e suas isoenzimas r e s u l t a n t e s f o r n e c e m
O n ú m e r o de d i f e r e n t e s isoenzimas híbridas q u e são f o r m a - u m m e i o para a a d a p t a ç ã o d e p a d r õ e s m e t a b ó l i c o s às necessi-
das a p a r t i r d e dois pTotômeros n ã o - i d ê n t i c o s d e p e n d e d o n ú m e r o dades de m u d a n ç a de d i f e r e n t e s órgãos e tecidos n o c u r s o d o
d e s u b u n i d a d e s n a molécula enzimática c o m p l e t a . Para u m a d e s e n v o l v i m e n t o n o r m a l ou e m resposta a m u d a n ç a s a m b i e n t a i s .
e n z i m a d i m é r i c a , é f o r m a d o u m d í m e r o misto (isoenzima híbrida). Sabe-se q u e c o n d i ç õ e s patológicas t a m b é m estão associadas a
Se a e n z i m a é u m t e t r â m e r o , três enzimas heteropoliméTicas alterações das atividades d e isoenzimas específicas.
p o d e m ser f o r m a d a s . E x e m p l o s de isoenzimas h i b r i d a s são os O s p a d r õ e s de vários g r u p o s d e isoenzimas m u d a m d u r a n t e
o d e s e n v o l v i m e n t o n o r m a l e m tecidos de m u i t a s espécies. Por
exemplo, as m u d a n ç a s nas p r o p o r ç õ e s relativas de várias isoenzi-
*A IUB recomenda que o termo "isoenzima" seja restrito a formas que se mas são n o t a d a s d u r a n t e o d e s e n v o l v i m e n t o e m b r i o n á r i o d o
originam de genes que codificam as estruturas das proteínas enzimáticas em m ú s c u l o esquelético. As p r o p o r ç õ e s das isoenzimas q u e m i g r a m
questão. m a i s e m direção ao c á t o d o n a eletroforese, t a n t o de L D q u a n t o
146 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Figura 9-1 Modificações não-genéticas q u e podem gerar múltiplas formas de enzimas (isoformas). (De Moss
DW- Isoenzymes. London, C h a p m a n Sj_ Hall, 1982, com a gentil permissão de Springer Science and Business
Media.)

d e C K , a u m e n t a m progressivamente neste tecido, até aproxima- C e r t a s doenças, tais c o m o as distrofias m u s c u l a r e s progressi-


d a m e n t e o sexto mês d e vida intra-uterina, q u a n d o o p a d r ã o se vas, p a r e c e m u m a falha d o s tecidos afetados e m a m a d u r e c e r
assemelha à q u e l e d o m ú s c u l o d i f e r e n c i a d o . M u d a n ç a s q u a n t i t a - n o r m a l m e n t e o u e m m a n t e r u m e s t a d o n o r m a l . As células can-
tivas m e n o r e s n a distribuição d e isoenzimas p o d e m c o n t i n u a r até cerosas m o s t r a m u m a p e r d a progressiva d a e s t r u t u r a e d o meta-
o n a s c i m e n t o e o início da v i d a pós-natal. b o l i s m o das células saudáveis das quais elas se o r i g i n a m . Por-
O fígado t a m b é m mostra m u d a n ç a s características nos padrões t a n t o , o p a d r ã o de isoenzimas d e tecido m a d u r o e d i f e r e n c i a d o
de várias isoenzimas d u r a n t e a embriogênese. N o início d o desen- p o d e ser p e r d i d o o u m o d i f i c a d o se a d i f e r e n c i a ç ã o n o r m a l for
volvimento fetal, três isoenzimas da aldolase, A, B e C, j u n t a m e n t e i n t e r r o m p i d a ou m u d a d a , e m u i t o s exemplos de m u d a n ç a s d e
com os vários tetrâmeros híbridos, têm sido detectados e m extratos isoenzimas associadas a tais processos t ê m sido descritos.
hepáticos E n t r e t a n t o , ao n a s c i m e n t o — c o m o n o fígado a d u l t o — a Observa-se t a m b é m q u e as distribuições das isoenzimas d e
aldolase B é a isoenzima p r e d o m i n a n t e . M u d a n ç a s notáveis n a aldolase, L D e C K n o s m ú s c u l o s de pacientes c o m di s t t of i a
distribuição das isoenzimas d e álcool desidrogenase t a m b é m m u s c u l a r progressiva são similares àquelas d o s estágios iniciais d o
ocorrem n o fígado h u m a n o d u r a n t e o desenvolvimento pré-natal. d e s e n v o l v i m e n t o d o m ú s c u l o fetal. As a n o r m a l i d a d e s das isoen-
As m u d a n ç a s n o s p a d r õ e s de isoenzimas d u r a n t e o desenvol- zimas n o m ú s c u l o c o m d í s t r o f i a t ê m sido i n t e r p r e t a d a s c o m o
v i m e n t o r e s u l t a m de m u d a n ç a s n a s atividades relativas dos íoci u m a falha e m atingir ou m a n t e r u m grau n o r m a l d e diferencia-
gênicos d e n t r o de u m t i p o p a r t i c u l a r d e células e m desenvolvi- ção. O s p a d r õ e s de isoenzimas n o s tecidos e m r e g e n e r a ç ã o
m e n t o (p. ex , células musculares). O u t r a s alterações n o b a l a n ç o t a m b é m p o d e m m o s t r a r a l g u m a t e n d ê n c i a a se assemelhar às
de isoenzimas n o o r g a n i s m o c o m o u m t o d o p o d e m derivar de distribuições fetais. O r e a p a r e c i m e n t o dos p a d r õ e s fetais da dis-
m u d a n ç a s n o n ú m e r o ou n a atividade d e células q u e c o n t e n h a m tribuição de isoenzimas t a m b é m é u m a característica da transfor-
g r a n d e s q u a n t i d a d e s d e u m a isoenzima característica. U m m a ç ã o m a l i g n a e m m u i t o s tecidos. Esse f e n ô m e n o foi p r i m e i r a -
exemplo é o a u m e n t o d o n ú m e r o e da atividade d o s osteoblastos, m e n t e e s t u d a d o de f o r m a extensiva n o caso das isoenzimas d e
q u e são responsáveis pela mineralização d o esqueleto e n t r e o L D . O s t u m o r e s malignos, e m geral, m o s t r a m u m a m u d a n ç a
início d o p e r í o d o pós-natal e o início d a terceira década de vida. significativa n o b a l a n ç o d e isoenzimas e m direção às f o r m a s q u e
O excesso d e fosfatase alcalina (ALP) d o s osteoblastos ativos e n t r a m i g r a m mais p a r a o c á t o d o n a eletroforese, LD-4 e LD-5. O
n a circulação, o n d e sua p r e s e n ç a é r e c o n h e c i d a p o r suas proprie- declínio n a atividade das i s o e n z i m a s LD-1 e LD-2 resulta e m
dades características, e eleva a atividade de A L P sérica total de p a d r õ e s q u e l e m b r a m aqueles q u e o c o r r e m n o s tecidos e m b r i o -
pessoas jovens acima da d o s a d u l t o s c o m esqueleto m a d u r o . U m a nários. O s t u m o r e s d e p r ó s t a t a , cérvix, m a m a , cérebro, estômago,
A L P d o f í g a d o t a m b é m c o n t r i b u i p a r a a atividade total dessa c ó l o n , reto, b r ô n q u i o e l i n f o n o d o s estão e n t r e aqueles q u e
e n z i m a n o p l a s m a n o r m a l , e a q u a n t i d a d e desta i s o e n z i m a n o m o s t r a m esta t r a n s f o r m a ç ã o . Por o u t r o lado, gliomas b e n i g n o s
p l a s m a m o s t r a u m a u m e n t o p e q u e n o e progressivo c o m o avançar m o s t r a m , c o m p a r a t i v a m e n t e , u m a u m e n t o relativo d e isoenzimas
da idade. aniônicas.
Princípios da Enzimoiogia Clínica CAPÍTULO 9 147

Diferenças de Propriedades entre as Múltiplas Formas de p r o d u t o s d e n t r o de u m curto p e r í o d o de tempo. Portanto, o


Enzimas aparecimento de q u a n t i d a d e s a u m e n t a d a s de enzimas na cor-
As diferenças estruturais entre as múltiplas formas de u m a enzima rente sanguínea é facilmente detectado, embora a q u a n t i d a d e de
dão origem a maiores ou m e n o r e s diferenças das propriedades proteína enzimática liberada de células danificadas seja p e q u e n a
físico-químicas, tais como (1) mobilidade eletro for ética, (2) resis- q u a n d o comparada com o nível total de proteínas não-enzimáti-
tência à inativaçao e (3) solubilidade, ou das características cata- cas n o sangue. Dessa forma, u m a enzima e m particular é reco-
líticas, como a velocidade de reação com substratos análogos ou nhecida por seu efeito característico sobre u m a certa reação
resposta a inibidores. O s m é t o d o s de análise de isoenzimas têm, química i n d e p e n d e n t e m e n t e de u m grande excesso de outras
p o r t a n t o , sido desenhados d e forma a investigar u m a ampla proteínas.
variedade de propriedades catalíticas e estruturais das moléculas
enzimáticas. 6 Especificidade e Centro Ativo2
Técnicas de biologia molecular, c o m o clonagem e seqüencia- A interação entre a enzima e seu substrato envolve a c o m b i n a ç ã o
m e n t o de genes, têm revolucionado a investigação das estruturas de u m a molécula de enzima com u m a molécula de substrato (ou
primáiias de isoenzimas. As diferenças das estruturas p n m á r i a s duas, n o caso de reações bissubstrato), A reação envolve a ligaçao
entre isoenzimas, sejam derivadas de íoci gêmeos múltiplos ou de da molécula de substrato a u m a região especializada da molécula
diferentes alelos, são agora conhecidas para várias enzimas. A l é m da enzima, seu c e n t r o ativo. O s vários grupos que são importan-
disso, muitas perguntas têm sido respondidas sobre se múltiplas tes na ligação do substrato estão juntos n o centro ativo, e é lá
formas de enzimas r e p r e s e n t a m isoenzimas verdadeiras (genetica- q u e ocorre o processo de ativação e transformação do substrato.
m e n t e determinadas) ou se o t i g i n a m de modificações pós-tradu- A composição e o arranjo espacial d o centro ativo t a m b é m cons-
cionais. t i t u e m a base para a especificidade de u m a enzima.
As isoenzimas resultantes da existência de bei gênicos múlti- O sítio ativo variará entre as enzimas, mas, em geral:
plos n o r m a l m e n t e diferem q u a n t i t a t i v a m e n t e e m suas proprieda- 1. O sítio ativo de u m a enzima é relativamente p e q u e n o se
des catalíticas. Essas diferenças p o d e m ser manifestadas em carac- c o m p a r a d o ao v o l u m e total da molécula enzimática, pois sua
terísticas c o m o (1) atividade molecular, (2) valores de Kra para o(s) estrutura p o d e envolver m e n o s de 5 % do total de aminoáci-
substrato(s), (3) sensibilidade a vários inibidores e (4) velocidades dos da molécula.
relativas de atividade c o m análogos de substratos. Por outro lado, 2. O s sítios ativos das enzimas são estruturas tridimensionais
múltiplas formas enzimáticas q u e se originam de modificações f o r m a d a s c o m o resultado da estrutura terciária global da pro-
póS'traducionais, tais c o m o agregação, n o r m a l m e n t e têm proprie- teína. Isto resulta dos aminoácidos e co-fatores n o sítio ativo
dades catalíticas similares. de u m a enzima, sendo espacialmente estruturados e m u m a
As isoenzimas mwhiíoci n o r m a l m e n t e t a m b é m diferem n a relação exata e tridimensional c o m respeito u m ao outro e à
especificidade antigênica, e m b o r a essas diferenças possam ser estrutura da molécula de substrato.
m e n o s p r o n u n c i a d a s entre isoenzimas que surgiram, de forma 3. N o r m a l m e n t e , a atração entre as moléculas da enzima e as
relativa, recentemente na história evolutiva e são i n t i m a m e n t e moléculas de seu substrato é u m a ligação não-covalente. As
relacionadas e m estrutura. Reação imunológica cruzada t a m b é m forças físicas usadas nesse tipo de ligação incluem (1) p o n t e s
n ã o é i n c o m u m entre isoenzimas multiíoci. As múltiplas formas de hidrogênio, (2) interações eletrostáticas e hidrofóbicas e
enzimáticas resultantes de modificações pós-síntese freqüente- (3) forças de van der Waals.
m e n t e apresentam d e t e r m i n a n t e s antigênicos c o m u n s . A capaci- 4. O s sítios ativos das enzimas c o m u m e n t e ocorrem e m fendas
dade de detectar diferenças e n t r e moléculas de isoenzimas anti- e frestas na proteína. Isto exclui a massa de solvente e reduz
genicamente similares d e p e n d e do grau de especificidade do a atividade catalítica da enzima.
a n t i c o r p o monoclonal. 5. A especificidade da ligação d o substrato é u m a f u n ç ã o do
Diferenças n a resistência à desnaturação são c o m u m e n t e arranjo espacial exato de átomos n o sítio ativo da enzima que
encontradas entre isoenzimas verdadeiras, sejam elas p r o d u t o s c o m p l e m e n t a a estrutura da molécula de substrato.
de múltiplos bei ou de múltiplos alelos. O u t r a s formas múltiplas
de enzimas f r e q ü e n t e m e n t e n ã o diferem ou diferem apenas CINÉTICA ENZIMÁTICA
m u i t o p o u c o a esse respeito. A diferença mais c o m u m e n t e explo- As enzimas a t u a m através da f o r m a ç ã o de u m complexo enzima-
rada entre isoenzimas é a diferença de carga molecular líquida substrato (ES), n o qual u m a molécula de substrato está ligada ao
que resulta das composições alteradas de aminoácidos das molé- centro ativo da molécula enzimática. O processo de ligação trans-
culas. Esta diferença forma a base de suas separações por eletro- forma a molécula de substrato em seu estado ativado. A energia
forese de zona, cromatografia d e troca iônica ou focalização íso- de ativação ocorre sem a adição d e energia externa de f o r m a que
elétrica. a barreira de energia para a reação é d i m i n u í d a e a conversão a
p r o d u t o s é acelerada. O complexo ES se desfaz para gerar os
Enzimas c o m o Catalisadores p r o d u t o s da reação (P) e a enzima livre (E):
U m catalisador é u m a substância que a u m e n t a a velocidade de
E + S <; ^ E S ^ P + E /i\
u m a reação química em particular, sem que seja c o n s u m i d a ou ~ .i /

p e r m a n e n t e m e n t e alterada. Enzimas são catalisadores protéicos


de origem biológica. Praticamente todas as reações químicas que
ocorrem na matéria viva são catalisadas p o r enzimas específicas. Todas as reações catalisadas por enzimas são, em teoria, reversí-
POTtanto, a vida p o r si só é considerada c o m o u m a série integrada veis. E n t r e t a n t o , n a prática, sabe-se que a reação é n o r m a l m e n t e
de reações enzimáticas e algumas doenças c o m o o desarranjo do mais rápida e m u m a direção do q u e e m outra, de tal forma que
p a d r ã o n o r m a l de metabolismo. u m equilíbrio é alcançado q u a n d o o p r o d u t o da reação direta ou
inversa p r e d o m i n a , algumas vezes tão a c e n t u a d a m e n t e q u e a
Eficiência reação é praticamente irreversível.
Biologicamente, u m d e t e r m i n a d o n ú m e r o de moléculas enzimá- Se o p r o d u t o da reação e m u m a direção é removido assim
ticas converte u m n ú m e r o e n o r m e de moléculas de substrato a q u e é f o r m a d o , o equilíbrio d o primeiro processo enzimático será
148 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

deslocado de maneira que a reaçan procederá naquela direção


até sua finalização. As seqüências de reações nas quais o produto
de uma reação catalisada enzimaticamente se torna o substrato
da próxima enzima são características de processos biológicos.
Analiticamente, várias reações enzimáticas p o d e m estar ligadas
para fornecer u m m e i o de medida da atividade da primeira
enzima o u a concentração do substrato inicial da cadeia.
Q u a n d o uma reação secundária catalisada por u m a enzima,
conhecida c o m o u m a reação indicadora, é usada para determinar
a atividade de uma enzima diferente, a reação primária catalisada
pela enzima a ser determinada precisa ser a etapa limitante da
velocidade. As condições são escolhidas para garantir que a velo-
cidade da reação catalisada pela enzima indicadora seja direta-
m e n t e proporcional à velocidade de formação de produto na
primeira reação.

Fatores que Determinam a Velocidade das


8 16 24 32
R e a ç õ e s Catalisadas por Enzimas
O s fatores que afetam a velocidade de reações catalisadas por C o n c e n t r a ç ã o d e s u b s t r a t o e m mol/L x 1 0 ^

enzimas incluem concentrações de enzima e de substrato, pH,


Figura 9 - 2 Curva de Michaeiis-Menten relacionando 3 velocidade
temperatura e presença de inibidores, ativadores, coenzimas e
(taxa) de uma reação enzimaticamente catalisada com a concentração de
grupos prostéticos.
substrato. O valor de é dado pela concentração de substrato na qual
se o b t é m a metade da velocidade máxima.
Concentração Enzimática
N a reação enzimática representada na equação (1), assume-se que
a reação de equilíbrio entre enzima e substrato é muito rápida,
q u a n d o comparada à quebra de ES em enzima livre e produtos.
Por outro lado, a velocidade global da reação sob condições
constantes é considerada, portanto, proporcional à concentração plexo e n e n h u m incremento posterior da velocidade de reação.
d o complexo ES. Desde que u m excesso de moléculas de subs- A velocidade máxima possível para a reação foi alcançada.
trato livre seja mantido, a adição de mais moléculas de enzima U m a curva de Michaeiis-Menten típica é descrita pela
ao sistema de reação aumenta a concentração d o complexo ES e equação*
a velocidade glohal de reação. Esre a u m e n t o é responsável pela
velocidade de reação ser proporcional à concentração de enzima Vm,[Sl
presente no sistema e é a base para a determinação quantitativa (2)
K„+[S]
de enzimas através da medida de velocidades de reação. A s con-
dições de reação são selecionadas para garantir que a velocidade
onde é a velocidade que o valor observado da velocidade (u)
de reação observada seja proporcional à concentração de enzima
atinge e m altos valores de substrato ([S]). Ele aumenta c o m o
e m uma faixa tão ampla quanto possível.
a u m e n t o da concentração de enzima. A constante d e Michaeiis-
M e n t e n (Km) é a concentração de substrato na qual v - V m a i / 2 ,
Concentração de Substrato e é u m a constante para u m a determinada enzima que atue sob
A l é m de descrever a dependência da velocidade de reação sobre
determinadas condições. Se u m equilíbrio é estabelecido entre
a concentração de enzima sob condições em que o excesso de
enzima e substrato, JCm é a constante de equilíbrio dessa reação.
substrato esteja presente, a formação de u m complexo ES também
Entretanto, o símbolo K s (constante do substrato) é usado caso
explica a relação hiperbólica entre a velocidade de reação e a
se deseje este significado, e é reservada para o valor de [S]
concentração de substrato (Figura 9-2). Tais curvas são denomi-
determinado, experimentalmente, no qual a reação procede à
nadas gráficos de Michaeiis-Menten.
metade de sua velocidade máxima (<; = V m 3 J 2 ) .
Embora não seja errado estabelecer u m experimento para
Reações de um Único Substrato
determinar a variação de ti com [S], o valor exato de Vmax não é
Se a concentração enzimática é mantida constante e a concentra- facilmente determinado a partir de curvas hiperbólicas. A l é m
ção de substrato é variada, a velocidade de reação é quase direta- disso, muitas enzimas se desviam d o c o m p o r t a m e n t o ideal e m
m e n t e proporcional à concentração de substrato e m valores altas concentrações de substrato e, de fato, p o d e m ser inibidas
baixos deste último. Sob essas condições, a velocidade da reação pelo excesso de substrato, por isso o valor calculado de V msv não
é proporcional e d e p e n d e n t e da concentração de substrato, uma p o d e ser obtido na prática. N o passado, era c o m u m transformar
situação d e n o m i n a d a reação de primeira o r d e m . E m baixas con- a equação de Michaeiis-Menten (2) em uma das várias formas
centrações de substrato, s o m e n t e uma fração de enzima está recíprocas, e l/v era graficamente representado contra 1/[S] o u
associada ao substrato, e a velocidade observada reflete a baixa [S]/v graficamente representado contra [S].
concentração d o complexo ES. Em altas concentrações de subs-
trato, a velocidade de reação é conhecida c o m o reação d e o r d e m
zero e é independente da concentração de substrato. C o m uma
reação de ordem zero, toda a enzima está ligada ao substrato, e
"Uma derivação desta equação é encontrada em Bais R, Panteghini M. Princi-
u m a velocidade de reação muito maior é obtida. A l é m disso,
pies of clinicai eniymology. In: Burtis CA, Ashwood ER, Bruns DE, eds. Tietz
c o m o toda a enzima está presente na forma do complexo, não é textbook of clinicai chemistry and molecular diagnostica, 4rl ed. St Louis:
possível n e n h u m aumento posterior da concentracão do com- Saunders, 2006:191-263.
Princípios da Enzimologia Clínica CAPÍTULO 9 149

0,10 m o l / L . O c a s i o n a l m e n t e , q u a n d o o s u b s t r a t o t e m solubili-
í K_ d a d e l i m i t a d a ou q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o d e u m d e t e r m i n a d o
+• (3)
V [S] V s u b s t r a t o i n i b e a atividade d e u m a o u t r a e n z i m a necessária em
\ «•»
u m sistema de reações acopladas, as c o n c e n t r a ç õ e s ideais de
s u b s t r a t o n ã o p o d e m ser usadas.
Essa e q u a ç ã o , q u a n d o r e p r e s e n t a d a p o r gráficos, geia u m a
l i n h a reta q u e intercepta e m 1 / V ^ , n a o r d e n a d a , e na
Reações ds Dois Substratos
abscissa. O gráfico n o q u a l as r e p r e s e n t a ç õ e s são feitas é c o n h e -
E m b o r a a discussão inicial t e n h a se c o n c e n t r a d o n o efeito de
cido c o m o g r á f i c o de L i n e w e a v e r - B u r k (Figura 9-3).
m u d a n ç a s n a c o n c e n t r a ç ã o d e u m ú n i c o s u b s t r a t o n a velocidade
A g o r a é prática de r o t i n a d e t e r m i n a r as c o n s t a n t e s cinéticas,
d e reação, a m a i o r i a das reações enzimáticas é d o seguinte tipo:
c o m o K,n e V max , usando-se u m p a c o t e de software. H á u m g r a n d e
n ú m e r o d e tais pacotes disponíveis, que variam d e rotinas espe-
cializadas para simulações cinéticas ou p a r a ajuste de d a d o s a
pacotes m a t e m á t i c o s , estatísticos o u gráficos gerais ( h t t p : / / m e d . Substrato 1 + Substrato 2 li P r o d u t o 1 + P r o d u t o
u m i c h . e d u / b i o c h e m / e n z r e s o u r c e s / s o f t w a r e . t t m ) . A l g u n s desses (4)
SI S2 PI P2
pacotes são gratuitos ( d o m í n i o público, f e r r a m e n t a s compartilha-
das ou licença grátis) o u estão c o m e r c i a l m e n t e disponíveis. U m
exemplo d o p r i m e i r o é o p a c o t e de f e r r a m e n t a s c o m p a r t i l h a d a s
E N C O R A 1.2, disponível de R.J.W. Slats e c o l a b o r a d o r e s da E n t r e as reações bissubstrato i m p o r t a n t e s n a enzimologia clínica
D e l f t Universify of T e c h n o l o g y ( h t t p : / / w w w . b t . t u d e l f t . n l / ) . estão as reações catalisadas p o r desidrogenases ou p o r a m i n o -
D y n a F i t é u m e x e m p l o d e u m a r o t i n a disponível c o m e r c i a l m e n t e transferases — nas quais o s e g u n d o s u b s t r a t o é u m a coenzima
( h t t p : / / w w w . b i o k i n . c o m / d y n a f i t ) q u e realiza a regressão não- específica, tal c o m o a n i c o t i n a m i d a a d e n m a d i n u c l e o t í d e o redu-
linear p o r m í n i m o s - q u a d r a d o s d e cinética q u í m i c a , cinética enzi- zida ( N A D H ) o u a N A D fosfato r e d u z i d a ( N A D P H ) . As concen-
mática ou d a d o s de ligação e n t r e Iigantes e receptores. trações de a m b o s os substratos a f e t a m as velocidades das reações
Q u a n d o se está m o n t a n d o m é t o d o s de ensaios enzimáticos, de dois substratos. O s valores d e e V m a x para cada substrato
é necessário (1) explorar a relação e n t r e velocidade d e reação e são o b t i d o s a p a n i r de e x p e r i m e n t o s n o s quais a c o n c e n t r a ç ã o
c o n c e n t r a ç ã o de substrato e m u m a g r a n d e faixa d e concentra- d o p r i m e i r o s u b s t r a t o é m a n t i d a e m níveis saturantes, e n q u a n t o
ções, (2) d e t e r m m a T Km e (3) d e t e c t a r q u a l q u e r i n i b i ç ã o em altas a c o n c e n t r a ç ã o d o s e g u n d o s u b s t r a t o varia, e vice-versa.
c o n c e n t r a ç õ e s de substrato. A s cinéticas d e o r d e m zero são m a n - N a prática, a escolha das c o n c e n t r a ç õ e s de s u b s t r a t o é limi-
tidas se o s u b s t r a t o estiver p r e s e n t e e m g r a n d e excesso com con- tada p o r considerações c o m o (1) a solubilidade dos substratos.
centrações de p e l o m e n o s 10 e p r e f e r e n c i a l m e n t e 100 vezes a d o (2) a viscosidade e a absorvância inicial alta das soluções concen-
valor d e K m . Q u a n d o [S] = 10 x Km, v é a p r o x i m a d a m e n t e 9 1 % tradas e (3) os custos relativos dos reagentes. A l é m disso, a seleção
da teórica. O s valores d e K,„ p a r a a m a i o r i a das enzimas são de c o n c e n t r a ç õ e s apropriadas de s u b s t r a t o é s o m e n t e u m dos
d a o r d e m d e IO' 5 a 10"_í m o I / L ; p o r t a n t o , as c o n c e n t r a ç õ e s fatores a serem c o n s i d e r a d o s n a f o r m u l a ç ã o de u m sistema ideal
d e substrato são n o r m a l m e n t e escolhidas na faixa de 0,001 a de ensaio para a m e d i ç ã o da atividade enzimática específica.
Escolhas críticas precisam t a m b é m ser feitas c o m respeito a
o u t r o s fatores f r e q ü e n t e m e n t e i n t e r d e p e n d e n t e s q u e a f e t a m a
0,07 - velocidade de reação, tais c o m o as c o n c e n t r a ç õ e s de ativadores e
o tipo e o p H d o sistema t a m p ã o A a b o r d a g e m empírica tradi-
cional para a otimização tem sido s u b s t i t u í d a p o i técnicas mais
0,06 novas de co-otimização simplex e m e t o d o l o g i a d e superfície-res-
posta. 9 C o m o exemplo, esta técnica t e m sido usada r e c e n t e m e n t e
para d e t e r m i n a r as condições ideais para o m é t o d o de análise de
0,05
amilase, r e c o m e n d a d o pela F e d e r a ç ã o I n t e r n a c i o n a l d e Q u í m i c a
Clínica e M e d i c i n a Laboratorial ( I F C C ) . 5
0.04 Interceptação na =• — = 0,0345
w
ordanada rcnx Reações Enzimáticas Consecutivas
6 = — - — = 29 C o m o d i s c u t i d o a n t e r i o r m e n t e , sabe-se q u e u m a reação enzimá-
0.03 ,rax
0,0345 tica n o r m a l m e n t e é mais r á p i d a e m u m a direção d o q u e e m
o u t r a , o q u e faz c o m q u e a reação seja p r a t i c a m e n t e irreversível
Se o p r o d u t o d a reação em u m a direção for r e m o v i d o logo após
0.02
sua f o r m a ç ã o , o e q u i l í b r i o d o p r i m e i r o processo enzimático será
d e s l o c a d o d e m a n e i r a que a reação possa c o n t i n u a r n a q u e l a
0,01 direção até sua finalização. As s e q ü ê n c i a s de reação nas q u a i s o
Intercepção 1 p r o d u t o d e u m a reação catalisada e n z i m a t i c a m e n t e se t o r n a o
na abscissa - 0 , 8 x 10 4 , e Km = 1,25 x lO^ 4
s u b s t r a t o d e u m a o u t r a enzima, f r e q ü e n t e m e n t e através de
i
—T— T m u i t o s estágios, são características d e processos m e t a b ó l i c o s
-0,8 -0.4 0.4 0,8 1,2 A n a l i t i c a m e n t e , várias reações enzimáticas p o d e m estar ligadas a
f i m de f o r n e c e r u m m e i o d e m e d i r a atividade da p r i m e i r a
— xitr^
[S\ e n z i m a o u a c o n c e n t r a ç ã o d o s u b s t r a t o inicial da cadeia.
Q u a n d o u m ensaio d e e n z i m a ligada, c o n h e c i d o c o m o reação
Figura 9 - 3 Transformação de Lineweaver-Burk da curva da Figura 9- indicadora, é u s a d o para d e t e r m i n a r a atividade d e u m a e n z i m a
2, com l / u representado n a ordenada (eixo y) e 1/[S] ria abscissa (eixo diferente, é essencial q u e a reação p r i n c i p a l seja a e t a p a l i m i t a n t e
x). As intercepcções indicadas permitem o cálculo de Vma). e K,r. As da velocidade. Por exemplo, n a d e t e r m i n a ç ã o da atividade da
u n i d a d e s de v e [S] são aquelas dadas na Figura 9-2. a s p a r t a t o a m i n o t r a n s f e r a s e , a reação i n d i c a d o r a é a r e d u ç ã o do
150 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

2-oxoglutarato formado na reação de aminotransferase, a malato do aumento de temperatura na reação enzimática. Na teoria, a
pela malato desidrogenase e N A D H . A atividade da enzima indi- velocidade inicial de reação medida aumentará instantaneamente
cadora precisa sei suficiente para garantir a remoção pratica- com a elevação da temperatura. Na prática, entretanto, um tempo
mente instantânea do produto da primeira reação, a fim de evitar finito é necessário para permitir que os componentes da mistura
reversão significativa da primeira reação. A enzima medida nor- de reação, inclusive a solução de enzima, atinjam a temperatura
malmente está agindo sob condições de saturação em relação a de equilíbrio, e para permitir a formação de uma quantidade
seu substrato; entretanto, a concentração do substrato da enzima mensurável de produto. Durante esse período de tempo a enzima
indicadora (isto é, o produto da primeira reação) permanece na está sofrendo inativação térmica e desnaturação, um processo que
região da curva de Michaeiis-Menten na qual v é diretamente tem um coeficiente de temperatura muito grande para a maioria
proporcional à [S]. Portanto, a velocidade da reação catalisada das enzimas e, portanto, toma-se praticamente instantâneo em
pela enzima indicadora é diretamente proporcional à velocidade temperaturas entre 60°C e 70°C. Os efeitos que contrabalançam
de formação de produto na primeira reação. a velocidade aumentada da reação catalisada e a inativação enzi-
Durante u m período de retardamento, que ocorre após o mática mais rápida, à medida que a temperatura aumenta, são
início da primeira reação, a concentração de seu produto atinge responsáveis pela existência de uma temperatura ótima aparente
um estado de equilíbrio (steady state). C o m o a velocidade da para a atividade enzimática (Figura 9-4).
segunda reação depende da atividade da enzima indicadora e da C o m o citado anteriormente, em algumas temperaturas críti-
concentração de seu substrato (o produto da reação principal), a cas, uma enzima sofrerá inativação térmica influenciada por
duração do período de retardamento é reduzida pelo aumento vários fatores. Estes incluem (1) a presença de substrato e sua
da concentração da enzima indicadora, diminuindo, assim, a concentração, (2) o pH e (3) o tipo e a força iônica do tampão.
concentração do produto da primeira reação no estado de equi- O armazenamento de amostras de soro em temperaturas baixas
líbrio. é necessário para minimizar a perda de atividade enzimática
enquanto se aguarda a análise. Entretanto, enzimas individuais
pH variam em suas características de estabilidade, e as condições de
A velocidade das reações catalisadas por enzimas é uma função armazenamento adequadas variam de forma correspondente. A
típica do pH. Por exemplo, muitas das enzimas no plasma san- amilase, por exemplo, é estável à temperatura ambiente (22°C a
guíneo exibem atividade máxima in vitro na faixa de pH de 7 a 25°C) por 24 horas, enquanto a fosfatase ácida é muitíssimo
8. Entretanto, tem-se observado atividade em valores de pH tão instável, até mesmo quando refrigerada, a menos que seja mantida
baixos quanto 1,5 (pepsina), e tão altos quanto 10,5 (ALP). O pH em pH abaixo de 6,0. A ALP exibe uma propriedade não usual:
ideal para uma determinada reação direta pode ser diferente do a tendência da atividade de preparações parcialmente purificadas
pH ideal observado para a reação inversa correspondente. A e congeladas da enzima aumentar após descongelamento em um
forma da curva de dependência do pH é resultado de um número período de 24 horas ou mais. Esse efeito é compartilhado por
de efeitos separados, incluindo a ionização do substrato e o grau preparações liofilizadas e reconstituídas da enzima e afeta seu uso
de dissociação de certas cadeias laterais de aminoácidos-chave na para fins de garantia de qualidade. Poucas enzimas são inativadas
molécula protéica, tanto n o centro ativo quanto em qualquer nas temperaturas de refrigeradores; um exemplo clinicamente
outro lugar da molécula. O pH e o ambiente iônico também importante é a isoenzima do tipo hepático da lactato desidroge-
terão efeito na conformação tridimensional da proteína e, por- nase, LD-5, que parece ser menos estável em temperaturas mais
tanto, sobre a atividade enzimática em tal grau que as enzimas baixas. Como resultado, soros para as determinações de LD
possam ser irreversivelmente desnaturadas em valores extremos devem ser mantidos à temperatura ambiente e não-refrigerados.
de pH. Historicamente, a escolha da temperatura do ensaio de enzimas
Os efeitos pronunciados do pH sobre as reações enzimáticas de importância clínica tem sido assunto de debate extensivo. Atu-
reforçam a necessidade de se controlar esta variável por meio de
soluções-tampão adequadas. Os ensaios enzimáticos devem ser
realizados no pH correspondente à atividade máxima porque a
curva de pH-atividade tem sua inclinação mínima próximo a esse
pH, e uma pequena variação no pH causará uma mudança
mínima na atividade enzimática. O sistema-tampão deve ser capaz
de contrabalançar o efeito de adição da amostra (p. ex., o soro,
por si só, é u m tampão poderoso) no sistema de ensaio, e os
efeitos de ácidos e bases formados durante a reação (p. ex., for-
mação de ácidos graxos pela ação da lípase). C o m o os tampões
têm sua capacidade tamponante máxima próxima a seus valores
de pKn (-log da constante de ionização Ka), sempTe que possível
um sistema-tampão deverá ser escolhido com o valor de pK,
dentro de 1 unidade do pH desejado para o ensaio. A interação
entre os íons do tampão e outros componentes do sistema de
ensaio (p. ex., íons metálicos ativadores) pode fazer com que
certos tampões não sejam considerados.

Temperatura
A velocidade de uma reação enzimática é proporcional à sua
temperatura de reação. Para a maioria das reações enzimáticas, os T e m p e r a t u r a (°C)
valores de Q 1 0 (as velocidades de reação relativas em duas tempe- Figura 9-4 Diagrama esquemático mostrando o efeito da
raturas diferindo de 10°C) variam de 1,7 a 2,5. N o entanto, um temperatura sobre as velocidades de reações catalisadas não-enzimátíca e
aumento da velocidade da reação catalisada não é o único efeito enzimaticamente.
Princípios da Enzimologia Clínica CAPÍTULO 9 151

a l m e n t e , a escolha da t e m p e r a t u r a d e r e a ç ã o d e i x o u de ser u m [5], e n t r e t a n t o , t o d a s as m o l é c u l a s d e e n z i m a s c o m b i n a m p a r a


p o n t o d e d e b a t e , u m a vez q u e a m a i o r i a , se n ã o t o d o s os sistemas f o r m a r ES, d e f o r m a q u e V m a x n ã o é a f e t a d a p e l o i n i b i d o r . Essas
analíticos o p e r a m a 37 °C. A l é m disso, os m é t o d o s d e r e f e r ê n c i a características da i n i b i ç ã o c o m p e t i t i v a são d e m o n s t r a d a s n o
p a r a diversas e n z i m a s c l i n i c a m e n t e relevantes já f o r a m d e t e r m i n a - g r á f i c o d e L i n e w e a v e r - B u r k ( F i g u r a 9-5).
d o s a 37 C C. 1 0 1 5 N a prática, o c o n t r o l e preciso da t e m p e r a t u r a A i n i b i ç ã o c o m p e t i t i v a r e s u l t a da c o m p e t i ç ã o e n t r e m o l é c u l a s
d e n t r o d e ± 0 , 1 ° C d u r a n t e a r e a ç ã o e n z i m á t i c a é essencial. d e s u b s t r a t o p o r u m ú n i c o sítio d e ligação. N a s r e a ç õ e s c o m d o i s
s u b s t r a t o s , altas c o n c e n t r a ç õ e s d o s e g u n d o s u b s t r a t o p o d e m c o m -
Inibidores e Ativadores p e t i r c o m a ligação d o p r i m e i r o . A i n i b i ç ã o c o m p e t i t i v a t a m b é m
A s v e l o c i d a d e s d a s r e a ç õ e s e n z i m á t i c a s são a f e t a d a s p o r o u t r a s c o n t r i b u i p a r a a r e d u ç ã o da v e l o c i d a d e d e u m a r e a ç ã o e n z i m á t i c a
s u b s t â n c i a s a l é m d a e n z i m a o u d o s u b s t r a t o . Estes m o d i f i c a d o r e s c o m o t e m p o e a não linearidade das curvas de progresso d e
p o d e m ser i n i b i d o r e s , q u a n d o s u a s p r e s e n ç a s r e d u z e m a veloci- reação.
d a d e d e r e a ç ã o , o u a t i v a d o t e s , q u a n d o elas a u m e n t a m a veloci- U m i n i b i d o r n ã o - c o m p e t i t i v o e m geral é e s t r u t u r a l m e n t e dife-
d a d e d e r e a ç ã o . A t i v a d o r e s e i n i b i d o r e s g e r a l m e n t e são m o l é c u l a s r e n t e d o s u b s t r a t o . A s s u m e - s e q u e ele se liga a u m sítio da m o l é -
p e q u e n a s ( c o m p a r a d a s à e n z i m a ) , o u a t é m e s m o í o n s . Eles v a r i a m c u l a d e e n z i m a d i f e r e n t e d o sítio d e ligação d o s u b s t r a t o ; p o r t a n t o ,
e m e s p e c i f i c i d a d e d e s d e , m o d i f i c a d o r e s , q u e e x e r c e m e f e i t o s simi- n ã o existe c o m p e t i ç ã o e n t r e i n i b i d o r e s u b s t r a t o , e u m c o m p l e x o
lares s o b r e u m a g r a n d e v a r i e d a d e d e r e a ç õ e s e n z i m á t i c a s d i f e r e n - t e r n á r i o e n z i m a - s u b s t r a t o - i n i b i d o r (ESI) é f o r m a d o . A ligação d o
tes, p o r u m l a d o , até s u b s t â n c i a s q u e a f e t a m s o m e n t e u m a ú n i c a i n i b i d o r à e n z i m a n ã o altera a a f i n i d a d e da e n z i m a p o r s e u subs-
r e a ç ã o . O s r e a g e n t e s , tais c o m o os á c i d o s foTtes o u â n i o n s e t r a t o (isto é, a p e r m a n e c e i n a l t e r a d a ) , m a s o c o m p l e x o ESI n ã o
cátions multivalentes, que d e s n a t u r a m ou precipitam proteínas, é q u e b r a d o p a r a gerar p r o d u t o s . C o m o o s u b s t r a t o n ã o c o m p e t e
d e s t r o e m a a t i v i d a d e e n z i m á t i c a e, p o r t a n t o , p o d e m ser c o n s i d e - c o m o i n i b i d o i p e l o s sítios d e ligação na m o l é c u l a d e e n z i m a , u m
rados c o m o exemplos extremos de inibidores enzimáticos não- a u m e n t o n a c o n c e n t r a ç ã o d e s u b s t r a t o n ã o s u p e r a o efeito d e u m
e s p e c í f i c o s . Esses efeitos g e r a l m e n t e n ã o são i n c l u í d o s e m discus- i n i b i d o r n ã o - c o m p e t i t i v o . P o r t a n t o , V m a x é r e d u z i d a na p r e s e n ç a
sões s o b r e i n i b i ç ã o e n z i m á t i c a , e m b o r a eles t e n h a m i m p l i c a ç õ e s d e t a l i n i b i d o r , e n q u a n t o Km n ã o é alterada, c o m o d e m o n s t r a o
p r á t i c a s óbvias n o t r a t a m e n t o e a r m a z e n a m e n t o d e a m o s t r a s n a s g r á f i c o d e Lineweaver-Burk ( F i g u r a 9-5).
q u a i s a a t i v i d a d e e n z i m á t i c a será m e d i d a . A a t i v i d a d e de a l g u m a s E m u m t i p o d e i n i b i ç ã o reversível e s p e c i a l m e n t e r a r o , c o n h e -
e n z i m a s d e p e n d e d a p r e s e n ç a d e g r u p o s q u í m i c o s específicos, tais c i d o c o m o inibição incompetitiua, são o b t i d a s l i n h a s p a r a l e l a s
c o m o os g r u p o s s u l f i d r i l a r e d u z i d o s (—SH), n o c e n t r o ativo. Rea- q u a n d o se c o m p a r a as r e p r e s e n t a ç õ e s gráficas d e í/v c o n t r a 1 / [ S ]
g e n t e s q u e a l t e r a m esses g r u p o s (p. ex., o x i d a n t e s d e g r u p o s S H ) c o m e s e m i n i b i d o r (Figura 9-5); isto é, t a n t o K m q u a n t o Vm!Dt
a g e m , p o r t a n t o , c o m o i n i b i d o r e s gerais d e tais e n z i m a s . estão diminuídas A inibição incompetitiva é ocasionada pela
A l g u n s f e n ô m e n o s d e a t i v a ç ã o o u i n i b i ç ã o e n z i m á t i c a são c o m b i n a ç ã o do inibidor com o complexo ES e é mais c o m u m
causados por interação entre o modificador e u m c o m p o n e n t e
n ã o - e n z i m á t i c o d o s i s t e m a d e r e a ç ã o , tal c o m o o s u b s t r a t o (p. ex.,
a c o m b i n a ç ã o d e Mg 2 " c o m o a d e n o s i n a t r í f o s f a t o (ATP) p a r a
f o r m a r MgATP, o substrato necessário para a reação de CK). N a
m a i o r i a d o s casos, e n t r e t a n t o , o m o d i f i c a d o r c o m b i n a c o m a
própria enzima de forma análoga à combinação da enzima com
o substrato.

Inibição da Atividade Enzimática


O s i n i b i d o r e s são classificados c o m o reversíveis o u irreversíveis.
Inibição Reversível. I n i b i ç ã o reversível significa q u e a a t i v i d a d e
da enzima é restaurada completamente q u a n d o o inibidor é
f i s i c a m e n t e r e m o v i d o d o s i s t e m a . Esse t i p o d e i n i b i ç ã o é caracte-
r i z a d o p e l a e x i s t ê n c i a d e u m e q u i l í b r i o e n t r e a e n z i m a (E) e o
i n i b i d o r (i) :

E+I< 1B1 (5)

A c o n s t a n t e d e e q u i l í b r i o da r e a ç ã o , K, (a constante de inibição), é
u m a m e d i d a da a f i n i d a d e d o i n i b i d o r pela e n z i m a , da m e s m a
f o r m a q u e K m g e r a l m e n t e r e f l e t e a a f i n i d a d e da e n z i m a p o r seu [S]
substrato.
U m inibidor competitivo é geralmente u m análogo estrutural Figura 9 - 5 Efeitos de diferentes tipos de inibição n o gráfico duplo-
d o s u b s t r a t o e se liga à e n z i m a n o sítio d e ligação d e s t e s u b s t r a t o , recíproco de l / v contra 1/[S]. Assumiu-se que cada u m dos inibidores
m a s c o m o n ã o é i d ê n t i c o ao m e s m o , a q u e b r a e m p r o d u t o n ã o reduz a atividade da enzima da m e s m a forma, representada pela variação
ocorre. Q u a n d o o processo de inibição é c o m p l e t a m e n t e compe- e m l/v de a para b na c o n c e n t r a ç ã o de substrato c. A linha O é o
titivo, a e n z i m a se c o m b i n a c o m o s u b s t r a t o o u c o m o i n i b i d o r , gráfico da enzima sem o inibidor, C com u m inibidor competitivo, N C
m a s n ã o c o m os d o i s s i m u l t a n e a m e n t e . E m b a i x a s c o n c e n t r a ç õ e s c o m u m inibidor não-competitivo e U C com u m m i b i d o r incompcutivo.
d e s u b s t r a t o , a ligação d o s u b s t r a t o é r e d u z i d a p o r q u e a l g u m a s ( D e Moss DW. M e a s u r e m e n t of enrymes. In: Hearse DJ, de Leiris J, eds.
moléculas de enzima estão c o m b i n a d a s c o m o inibidor. Assim, a Enzymes in cardiology: diagnosis a n d research Chichester- J o h n Wiley
c o n c e n t r a ç ã o d e E S e, p o r t a n t o , a v e l o c i d a d e d e r e a ç ã o g l o b a l Sons Limited, 1979. Reimpresso com permissão de J o h n Wiley &
e s t ã o r e d u z i d a s , e K m está a p a r e n t e m e n t e a u m e n t a d a . E m altas Sons, Limited).
152 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

n a s reações de dois substratos, nas quais u m complexo t e r n á r i o tes — tais c o m o Br" ou NO}~, — estiverem presentes. A l g u m a s
ESI se f o r m a após o p r i m e i r o s u b s t r a t o ter se c o m b i n a d o à enzimas r e q u e r e m a presença f o r ç a d a de dois íons ativadores. K+
enzima. e Mg 2 * sãu essenciais para a atividade d e p i r u v a t o q u i n a s e , e Mg" +
Inibição Irreversível. O s inibidores irreversíveis t o m a m a molé- e Zn' + são necessários para a atividade de ALP.
cula da enzima inativa pela m o d i f i c a ç ã o covalente e p e r m a n e n t e
d e u m g r u p o f u n c i o n a l necessário à catálise. Seu efeito é progres- Coenzimas e Grupos Prostéticos
sivo com o t e m p o , t o r n a n d o - s e c o m p l e t o se a q u a n t i d a d e de As c o e n z i m a s são n o r m a l m e n t e moléculas mais c o m p l e x a s d o
i n i b i d o r p r e s e n t e exceder a q u a n t i d a d e total de enzima. A velo- q u e os ativadores, e m b o r a s e j a m moléculas m e n o r e s d o q u e as
c i d a d e d e reação e n t r e e n z i m a e i n i b i d o r é expressa c o m o a f r a ç ã o próprias p r o t e í n a s enzimáticas. A l g u n s c o m p o s t o s , tais c o m o os
d a atividade enzimática q u e é i n i b i d a e u m t e m p o fixo p o r u m a d i n u c l e o t í d e o s N A D e N A D P , são classificados c o m o coenzimas
d e t e r m i n a d a c o n c e n t r a ç ã o d e i n i b i d o r . A c o n s t a n t e de veloci- e são substratos específicos e m reações de dois substratos. Seus
d a d e d a reação d o i n i b i d o r c o m a enzima é u m a m e d i d a d a efi- efeitos n a velocidade de reação seguem o p a d r ã o de Michaeiis-
ciência d o inibidor. M e n t e n de d e p e n d ê n c i a da c o n c e n t r a ç ã o d e substrato. A s estru-
U m a categoria f i s i o l o g i c a m e n t e i m p o r t a n t e d e inibição enzi- turas destas d u a s coenzimas são idênticas, exceto pela p r e s e n ç a
m á t i c a irreversível é p r o d u z i d a pelas antienzimas, exemplificadas d e u m g r u p o fosfato adicional n o N A D P ; c o n t u d o , desidrogena-
p o r v á n o s tipos de i n i b i d o r e s de tripsina. Estes são proteínas q u e ses individuais, para as quais essas coenzimas são substratos, são
se ligam à tripsina d e m a n e i r a irreversível, a n u l a n d o sua atividade p r e d o m i n a n t e m e n t e , ou m e s m o a b s o l u t a m e n t e específicas para
proteolítica. U m desses i n i b i d o r e s está p r e s e n t e n a tração c^-glo- u m a ou o u t r a f o r m a .
b u l i n a das p r o t e í n a s séricas; o u t r o s são e n c o n t r a d o s n o feijão de C o e n z i m a s , c o m o N A D e N A D P , são ligadas a p e n a s m o m e n -
soja e n o feijão de lima. I n i b i d o r e s d e proteólise similares presen- t a n e a m e n t e à e n z i m a d u r a n t e o curso d a reação, c o m o é o caso
tes n o plasma e v i t a m o a c ú m u l o d e t r o m b i n a e m excesso e de d o s substratos e m geral. P o r t a n t o , n e n h u m a reação o c o r r e a
o u t r a s enzimas d e coagulação, m a n t e n d o , assim, o processo de m e n o s q u e a c o e n z i m a a p r o p r i a d a esteja p r e s e n t e n a solução.
coagulação sob controle. D i f e r e n t e m e n t e dessas coenzimas t o t a l m e n t e solúveis, algumas
Inibição por Anticorpos. A c o m b i n a ç ã o de moléculas de enzimas coenzimas são mais o u m e n o s ligadas de f o r m a p e r m a n e n t e às
c o m a n t i c o r p o s específicos f r e q ü e n t e m e n t e n ã o t e m efeito sobre moléculas de enzima, nas quais elas fazem p a r t e d o c e n t r o ativo
a atividade catalítica, q u e é m a n t i d a pelo c o m p l e x o enzíma-anti- e s o f r e m ciclos d e m u d a n ç a s q u í m i c a s d u r a n t e a reação.
c o r p o . E n t r e t a n t o , e m alguns casos, a reação da enzima c o m o A h o l o e n z i m a ativa resulta d a c o m b i n a ç ã o da a p o e n z i m a
a n t i c o r p o reduz, ou até m e s m o cessa a atividade enzimática. A inativa c o m o grupo prostético. U m exemplo de g r u p o p r o s t é t i c o é
explicação mais provável p a r a esse t i p o de i n i b i ç ã o é que a molé- o piridoxal fosfato (P-5'-P), u m c o m p o n e n t e da A S T e da ALT. O
cula d e a n t i c o r p o restringe o acesso das moléculas de s u b s t r a t o g r u p o prostético P-5'-P sofre u m ciclo d e conversão da p o r ç ã o
ao c e n t r o ativo p o r i m p e d i m e n t o estérico o u , e m casos extremos, piridoxal à p i r i d o x a m i n a e é c o n v e r t i d o de volta d u r a n t e a trans-
m a s c a r a c o m p l e t a m e n t e o sítio d e ligação d o substrato. Entre- ferência de u m g r u p o a m i n a d e u m a m i n o á c i d o p a r a u m oxiá-
t a n t o , parece q u e alguns e x e m p l o s de inibição enzimática pela cido. G r u p o s prostéticos, tais c o m o ativadores com u m a f u n ç ã o
c o m b i n a ç ã o c o m a n t i c o r p o s são causados p o r u m a m u d a n ç a estrutural, n ã o têm q u e ser a d i c i o n a d o s para q u e se o b t e n h a a
c o n f o r m a c i o n a l i n d u z i d a n a molécula de e n z i m a . atividade catalítica c o m p l e t a da enzima, a m e n o s q u e o trata-
m e n t o prévio t e n h a causado a p e r d a d o g r u p o prostético d e
Ativação Enzimática
algumas m o l é c u l a s enzimáticas. E n t r e t a n t o , a m o s t r a s d e soro
O s ativadores a u m e n t a m as velocidades das reações enzimatica-
n o r m a l e patológico c o n t ê m q u a n t i d a d e s apreciáveis d e apo-ami-
m e n t e catalisadas p o r u m a v a r i e d a d e d e m e c a n i s m o s de ativação.
notransferases, q u e são convertidas às h o l o e n z i m a s ativas após
Por exemplo, m u i t a s e n z i m a s c o n t ê m íons metálicos c o m o p a r t e
u m p e r í o d o a d e q u a d o de i n c u b a ç ã o c o m P-5'-P.
integral de suas estruturas. A f u n ç ã o d o m e t a l p o d e ser a de
estabilizar as estruturas terciária e q u a t e r n á r i a das proteínas. A
r e m o ç ã o d e íons metálicos divalentes p o r t r a t a m e n t o com u m a
solução de c o n c e n t r a ç ã o a d e q u a d a de ácido e t i l e n o d i a m i n o t e t r a ' ENZIMOLOGIA ANALÍTICA
cético (EDTA) é a c o m p a n h a d a p o r m u d a n ç a s c o n f o r m a c i o n a i s O s l a b o r a t ó r i o s clínicos estão p r e o c u p a d o s c o m a m e d i ç ã o d a
c o m a inativação da enzima. Esta f r e q ü e n t e m e n t e é reativada p o r atividade o u da massa protéica d e enzimas n o soro o u plasma.
diálise c o n t r a u m a solução d o í o n metálico a p r o p r i a d o , o u sim- Essas enzimas são p r e d o m i n a n t e m e n t e intracelulares e n o r m a l -
p l e s m e n t e pela adição d o í o n à m i s t u r a de reação m e n t e estão presentes n o soro s o m e n t e e m baixas c o n c e n t r a ç õ e s .
Q u a n d o o íon ativador é u m a p a r t e essencial da molécula da M e d i n d o - s e as m u d a n ç a s nas c o n c e n t r a ç õ e s dessas enzimas e m
e n z i m a f u n c i o n a l , seja c o m o u m e l e m e n t o p u r a m e n t e e s t r u t u r a l doenças, é possível inferir a localização e a n a t u r e z a das m u d a n ç a s
o u c o m o u m a f u n ç ã o catalítica adicional, ele n o r m a l m e n t e está patológicas n o s tecidos do c o r p o .
i n c o r p o r a d o de m a n e i r a m u i t o f i r m e à m o l é c u l a da e n z i m a .
P o r t a n t o , g e r a l m e n t e n ã o é necessário a d i c i o n a r o ativador às Medidas de Velocidades de Reação
misturas de reação e o excesso d o i o n p o d e , até m e s m o , ter u m A velocidade de u m a reação catalisada p o r e n z i m a é d i r e t a m e n t e
efeito inibidor. E n t r e t a n t o , e m alguns casos, o ion ativador está p r o p o r c i o n a l à q u a n t i d a d e de enzima ativa p r e s e n t e n o sistema.
ligado s o m e n t e fraca ou t r a n s i t o r i a m e n t e à e n z i m a (ou ao seu Conseqüentemente, a d e t e r m i n a ç ã o da velocidade d e reação s o b
substrato) d u r a n t e a catálise. A s amostras de enzimas p o d e m , condições definidas e controladas fornece um m é t o d o muito
p o r t a n t o , ser deficientes n o í o n , de f o r m a q u e sua adição a u m e n t a sensível e específico para a q u a n t i f i c a ç ã o de enzimas e m a m o s t r a s
a velocidade de reação o u , d e fato, p o d e ser essencial p a r a q u e a c o m o o soro.
reação ocorra. Por exemplo, todas as enzimas d e t rans ferência de A d e t e r m i n a ç ã o da velocidade d e reação envolve a m e d i d a
fosfato (quinases), tais c o m o a c r e a t i n o q u i n a s e , r e q u e r e m a pre- cinética d o total de variação p r o d u z i d a e m u m d e t e r m i n a d o
sença d e íons Mg 1+ . O u t r o s c á t i o n s ativadores c o m u n s são M n í + , intervalo d e t e m p o . O s m é t o d o s d e reação d e t e m p o f i x o e de
Fe 2+ , Ca z + , Zn 3+ e K \ Mais r a r a m e n t e , os ã n i o n s p o d e m a t u a r m o n i t o r a m e n t o c o n t í n u o são u s a d o s p a r a m e d i r velocidades de
c o m o ativadores. U m e x e m p l o é a amilase, q u e f u n c i o n a e m sua reação. N o m é t o d o d e t e m p o fixo, o total d a variação p r o d u z i d a
velocidade m á x i m a s o m e n t e se Cl" o u o u t r o s ã n i o n s m o n o v a l e n - pela e n z i m a é m e d i d o após a p a r a d a da reação ao final de u m
Princípios da Enzimologia Clínica CAPÍTULO 9 153

intervalo de tempo fixado. N o método de monitoramento con- inversa e (3) a desnaturação da enzima. Embora seja possível
tínuo, o progresso da reação é monitorado continuamente. comparar as velocidades de reação produzidas por diferentes
Analiticamente, a atividade enzimática é determinada pela quantidades de uma enzima sob condições de primeira ordem, é
medida do decréscimo de concentração do substrato ou pelo mais fácil padronizar tais comparações quando a concentração
aumento de concentração dos produtos. Prefere-se a medida de da enzima é a única variável que influencia a velocidade de
formação de produto porque a determinação do aumento da reação. Portanto, as enzimas são normalmente medidas sob con-
concentração de uma substância acima de um nível inicialmente dições que são inicialmente saturantes com respeito à concentra-
igual a zero ou abaixo disso é analiticamente mais confiável do ção de substrato. A velocidade de reação durante a fase de ordem
que a medida do declínio de um nível inicialmente alto. zero é determinada pela medida de produto formado durante um
No momento em que a enzima e o substrato são misturados, período fixo de incubação, onde a velocidade permanece cons-
a velocidade da reação é zero. A velocidade, então, aumenta tante (Figura 9-7). A medida das velocidades de reação em qual-
rapidamente a um valor máximo que permanece constante por quer parte da curva A dá resultados idênticos à verdadeira "velo-
um período de tempo (Figura 9-6). Durante o período de veloci- cidade inicial". Entretanto, a curva B desvia da linearidade em
dade de reação constante, a velocidade depende somente da todo o seu curso, e a velocidade decai com o tempo. A partir da
concentração de enzima e é completamente independente da curva C, resultados corretos são obtidos somente se a velocidade
concentração de substrato. Diz-se que a reação segue a cinética for medida ao longo do segmento II. Resultados incorretos são
de ordem zero porque sua velocidade é proporcional ao poder obtidos se a velocidade for medida durante a fase de retarda-
zero da concentração de substrato. N o fim, entretanto, quanto mento (I) ou durante a fase III.
mais substrato é consumido, a velocidade de reação declina e A seleção cuidadosa das condições de reação, tais como as
entra na fase de dependência de primeira ordem da concentração concentrações de substratos e co-fatores, melhora as curvas de
de substrato. Outros fatores que contribuem para o declínio da progresso de reação, eliminando as fases de retardamento e pro-
velocidade de reação incluem (1) acúmulo de produtos que longando o período de linearidade, de tal forma que os métodos
podem ser inibitórios, (2) a importância crescente da reação de análise de tempo fixo são viáveis. As melhorias das técnicas
óticas, que levam a medidas de formação de produto mais con-
fiáveis e sensíveis, também permitiram que a duração da incuba-
ção fosse diminuída quando comparada aos ensaios mais antigos.
Isso resultou em um aumento correspondente no intervalo sobre
c qual a atividade enzimática é medida. Contudo, existe um
limite superior de atividade em todos os métodos de tempo fixo,
acima do qual as curvas de progresso não serão mais lineares.
Neste caso, a quantidade de variação medida no intervalo de
tempo fixo não representa mais as condições de velocidade de
ordem zero verdadeira.
A velocidade de reação inicial teoricamente aumenta sem
limite com o aumento da concentração da enzima, contanto que
nenhum outro fator, tal como concentração de substrato, se
torne limitante. Na prática, a velocidade de reação se torna tão
Tápida em atividades enzimáticas altas que é impossível medir a
velocidade inicial da reação, mesmo com métodos de monitora-
mento contínuo. Portanto, existe um limite superior de atividade
que é aceito sem modificação do procedimento de ensaio mesmo
nos métodos de monitoramento contínuo, mas esse limite nor-
malmente é muito mais alto do que o adequado aos métodos de
tempo fixo correspondentes. Algumas amostras requerem, por-
T e m p o (s) tanto, tratamento especial. Além disso, o monitoramento contí-
nuo permite a identificação da porção de ordem zero apropriada
da curva de progresso para cada amostra e a identificação de
F i g u r a 9 - 6 Variações nas concentrações de substrato e velocidade de
amostras que necessitam de tratamento especial. Os métodos de
reação durante um ensaio da atividade de lactato desidrogenase a 37°C
monitoramento contínuo, portanto, possuem uma vantagem
em tampão fosfato, com piiuvato e N A D H como substratos. A reação é
decisiva no ensaio enzimático e devem ser usados sempre que
acompanhada pela observação da diminuição da absOTvância a 340 nm
possível. É também possível medir a atividade enzimática pela
à medida que o N A D H é oxidado a NAD + . A velocidade de reação
determinação do tempo necessário a fim de consumir toda uma
aumenta rapidamente a um valor máximo, a partir do qual declina
quantidade fixa de substrato, mas os métodos semelhantes a este
apenas levemente até que metade do N A D H tenha sido consumida.
têm sido, na sua grande maioria, descontinuados.
Durante essa fase da reação, a velocidade é essencialmente zero com
relação à concentração de substrato. N o ponto no qual a velocidade cai
abaixo de ceTca de 90% do seu valor máximo, a concentração de Unidades para Expressar a
N A D H é aproximadamente 10 x K A Km para o N A D H é da ordem Atividade Enzimática
de 5 x IO"6 mo l/L, enquanto para o piruvato ela é 9 x IO'3 mol/L. Quando as enzimas são medidas por suas atividades catalíticas,
Portanto, utiliza-se uma concentração inicial de piruvato os resultados de tais determinações são expressos em termos da
aproximadamente 10 vezes a de N A D H . (As concentrações são por litro concentração do número de unidades de atividade presente em
de mistura de reação). (De Moss DW. Mesurement of enzymes. In: um volume ou massa conveniente de amostra. A unidade de
Hearse DJ, de Leiris J, eds. Enzymes in cardiology: diagnosis and atividade é a medida da velocidade na qual a reação procede. Em
research. Chichester: John Wiley & Sons Limited, 1979. Reimpresso enzimologia clinica, a atividade de uma enzima geralmente é
com permissão de John Wiley & Sons, Limited.) expressa em termos de alguma unidade conveniente de volume,
154 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Tempo em unidades

F i g u r a 9 - 7 Formas de gráficos mostrando a variação na velocidade da reação enzimática como u m a função d o


tempo. Em A, a velocidade é constante durante toda a corrida, e as velocidades calculadas em I, II e III serão
idênticas à velocidade inicial. Em B, a velocidade diminui continuamente; as velocidades calculadas em I, II e III
serão diferentes e menores do que a velocidade inicial real. Em C, u m a medida em II será representativa da
velocidade máxima, mas em 1 (período de retardamento) e III (depleção de substrato) ela será m e n o r do que em II.

tal c o m o atividade p o r 100 m L ou p o r litro de soro o u p o r 1,0 de ensaio, ele é m e d i d o f o t o m e t r i c a m e n t e , e n q u a n t o ela p r o c e d e .


m l de eritrócitos e m p a c o t a d o s . C o m o a velocidade d a reação A s reações "auto-indicadoras" desse tipo são p a r t i c u l a r m e n t e
d e p e n d e de p a r â m e t r o s e x p e r i m e n t a i s , tais c o m o (1) p H , (2) tipo valiosas p o r q u e p e r m i t e m o m o n i t o r a m e n t o c o n t í n u o . Exemplos
d e t a m p ã o , (3) t e m p e r a t u r a , (4) natureza d o substrato, (5) força i m p o r t a n t e s d e reações a u t o - i n d i c a d o r a s são a d e t e r m i n a ç ã o da
iônica, (6) c o n c e n t r a ç ã o de ativadores e (7) o u t r a s variáveis, estes atividade de d e s i d r o g e n a s e pelo m o n i t o r a m e n t o da variação da
precisam ser especificados n a d e f i n i ç ã o d a u n i d a d e . absorvância a 3 3 9 (340) n m das c o e n z i m a s N A D H ou N A D P H
Para p a d r o n i z a r c o m o as atividades enzimáticas são expressas, d u r a n t e a oxidação o u r e d u ç ã o . O u t r o e x e m p l o é a m e d i d a da
a E C da I U B p r o p ô s q u e a u n i d a d e d e atividade enzimática fosse atividade de A L P pela geração d o íon í>nitrofenolato a m a r e l o a
d e f i n i d a c o m o a q u a n t i d a d e de enzima q u e catalisa a reação de partir d o s u b s t r a t o p-nitrofenil f o s f a t o e m solução alcalina. Estes
1 (imol de s u b s t r a t o p o r m i n u t o , e q u e essa u n i d a d e fosse d e n o - ensaios são tão versáteis q u e reações acopladas são f r e q ü e n t e -
m i n a d a u n i d a d e internacional (U). A c o n c e n t r a ç ã o catalítica m e n t e usadas p a r a f o r n e c e r u m a variação ótica observável acom-
deve ser expressa e m t e r m o s d e U / L ou k U / L , a q u e l e q u e forne- p a n h a n d o u m a reação p r i n c i p a l n a qual tal variação n ã o está
cer o valor n u m é r i c o mais c o n v e n i e n t e . Neste capítulo, o s í m b o l o presente.
U é u s a d o p a r a d e n o t a r a u n i d a d e i n t e r n a c i o n a l . N a q u e l e s exem-
plos n o s quais existe a l g u m a incerteza sobre a n a t u r e z a exata d o
s u b s t r a t o ou q u a n d o h á d i f i c u l d a d e e m calcular o n ú m e r o de Otimização, Padronização e
m i c r o m o l e s r e a g i n d o ( c o m o c o m m a c r o m o l é c u l a s , tais c o m o Garantia de Qualidade
a m i d o , p r o t e í n a e lipídios complexos), a u n i d a d e deve ser expressa Para m e d i r a atividade enzimática c o m c o n f i a n ç a , t o d o s os fatores
c o n f o r m e o g r u p o o u r e s í d u o q u í m i c o m e d i d o a p ó s a reação (p. q u e afetam a velocidade d e reação — o u t r o s além d a c o n c e n t r a ç ã o
ex., u n i d a d e s d e glicose ou u n i d a d e s de a m i n o á c i d o s forma- de e n z i m a ativa — d e v e m ser o t i m i z a d o s e r i g i d a m e n t e controla-
dos). dos. A l é m disso, c o m o a v e l o c i d a d e de reação está n o seu m á x i m o
A u n i d a d e derivada d o SI para a atividade catalítica é o k a t a l . ou p r ó x i m o dele s o b c o n d i ç õ e s ideais, é o b t i d o u m sinal analítico
Ele é d e f i n i d o c o m o m o l e s p o r s e g u n d o . T a n t o a U n i ã o I n t e r n a - maior, q u e é mais a c u r a d o e p r e c i s a m e n t e m e d i d o d o q u e u m
cional de Q u í m i c a P u r a e A p l i c a d a (International Union of Pure sinal m e n o r o b t i d o sob c o n d i ç õ e s subideais. M u i t o esforço, por-
and Applied Chemistry) q u a n t o a I U B r e c o m e n d a m agora q u e a t a n t o , t e m sido feito para se d e t e r m i n a r as c o n d i ç õ e s ideais para
atividade enzimática seja expressa e m moles p o r s e g u n d o , e q u e as m e d i d a s das atividades d e enzimas de i m p o r t â n c i a clínica.
a c o n c e n t r a ç ã o enzimática seja expressa e m t e r m o s de katals p o r
litro (kat/L). 4 Assim, 1 U = IO"6 m o l / 6 0 s = 16,7 x 10~9 m o l / s , Otimização
ou 1,0 n k a t / L = 0 , 0 6 U / L . A otimização das c o n d i ç õ e s d e reação p a r a ensaios enzimáticos
t e m , t r a d i c i o n a l m e n t e , envolvido a variação d e u m ú n i c o f a t o r e
o e s t u d o de seu efeito sobre a v e l o c i d a d e de reação. E n t ã o , repete-
Medidas de Substratos se o e x p e r i m e n t o c o m u m s e g u n d o fator, e assim p o r diante, até
A quantidade de substrato transformada em produtos durante q u e os efeitos de todas as variáveis t e n h a m sido testados. U m a
u m a reação e n z i m a t i c a m e n t e catalisada é m e d i d a por u m a varie- c o m b i n a ç ã o ideal d e variáveis é selecionada de a c o r d o c o m esses
d a d e de técnicas analíticas, tais c o m o e s p e c t r o f o t o m e t r i a , fluori- e x p e r i m e n t o s , e a validade das c o n d i ç õ e s escolhidas é verificada.
metria ou q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a ( C a p í t u l o 4). Por exemplo, se Essa a b o r d a g e m e m p í r i c a t r a d i c i o n a l tem s i d o s u b s t i t u í d a por
u m a reação enzimática for a c o m p a n h a d a p o r u m a m u d a n ç a nas técnicas mais novas de co-otimização simples e m e t o d o l o g i a de
características de absorvância de algum c o m p o n e n t e d o sistema superfície d e resposta. 9
Princípios da Enzimologia Clínica CAPÍTULO 9 155

Padronização Garantia de Qualidade


O s esforços atuais paia a padronização de enzimas estão concen- A aplicação sistemática de u m programa de garantia de qualidade
trados n o desenvolvimento de u m sistema que forneça a possibi- (QA) é essencial q u a n d o se m e d e enzimas para garantir que a
lidade de comparação de resultados de testes, independente- eficiência analítica satisfatória dos ensaios enzimáticos seja
m e n t e do m é t o d o de medida. Para atingir este objetivo tem sido mantida n o dia-a-dia. Preparações liofilizadas e líquidas, con-
proposto u m "sistema de referência" baseado nos conceitos de tendo várias enzimas, estão disponíveis a partir de fontes comer-
confiabilidade metrológica e de hierarquia de m é t o d o s analíti- ciais e são usadas para fins de Q A . N o passado, /iooÍs (misturas)
cos. 3 U m p r o c e dime nt o de referência e materiais de referência de soro preparados n o laboratório eram usados amplamente para
certificados são a base da cadeia de confiabilidade metTológica fins de QA; seu uso tem sido bastante d e s c o n t i n u a d o por razões
(Figura 9-8). C o m o parte dessa hierarquia, têm sido desenvolvi- de biossegurança. Preparações liofilizadas e líquidas, c o n t e n d o
dos procedimentos de referência a 37°C para as enzimas mais várias enzimas, estão disponíveis a parrir de fontes comerciais, e
c o m u n s , e u m grupo de laboratórios de referência realiza as elas têm uma função útil e m Q A . E m geral a reprodutibilidade
medidas e m u m nível metrológico apropriadamente alto.10'15 de resultados de ensaios enzimáticos no dia-a-dia tem u m coefi-
O s procedimentos de referência ajustam padrões de precisão ciente de variação de ± 5% a 10%.
e exatidão contra os quais são avaliados os d e s e m p e n h o s relativos
d o s m é t o d o s planejados para o uso de rotina. O procedimen to Medida da Concentração de
de referência é usado para determinar u m valor certificado para Massa Enzimática
o material de referência. Esse material certificado é, então, usado Vários imunoensaios para se medir massa de enzimas e isoenzi-
pelos fabricantes para determinar valores para os calibradores mas humanas, em vez da atividade catalítica, têm sido descritos.
comerciais, resultando em confiabilidade do valor obtido n o Para desenvolver tais ensaios, proteínas enzimáticas purificadas
laboratório. precisam ser preparadas para (1) atuarem c o m o calibradores, (2)
Para um sistema de referência ser capaz de padronizar os serem marcadas e (3) serem usadas para produzir o anticorpo
resultados de diferentes ensaios de uma determinada atividade específico para a enzima. Esses m é t o d o s identificam todas as
emimática, algumas condições precisam ser satisfeitas. 8 Primeiro, moléculas c o m os determinantes antigênicos necessários para o
o procedimento de referência usado para determinar o valoT d o reconhecimento pelo anticorpo, de tal forma que moléculas de
material de referência e o(s) método(s) de rotina a ser(em) enzima inativas, que estão imunologicamente inalteradas, são
calibrado(s) deve ter especificidades idênticas para a enzima e m medidas juntamente c o m as moléculas ativas. Tem sido obser-
análise e suas isoenzimas ou isoformas específicas. Segundo, as vado que isto é importante para a determinação de algumas
propriedades do material calibrador devem ser as mesmas o u enzimas digestivas, tais c o m o a tripsina, q u a n d o precursores ina-
m u i t o similares às da enzima em análise e m sua matriz natural, tivos e inibidores da atividade catalítica estão presentes n o
geralmente o soro. plasma. N a maioria dos casos, n o entanto, n ã o ocorre degradação
o u variações da enzima ativa n o sangue de forma que a equiva-
lência clínica dos diferentes procedimentos de medida é obtida.
Na prática, entretanto, os i m u n o e n s a i o s não têm sido ampla-
m e n t e usados para a determinação das atividades enzimáticas
totais para fins diagnósticos, porque esses ensaios geralmente não
p o d e m competir e m velocidade, precisão e custo c o m a medida
automatizada da atividade catalítica total. A l é m disso, várias ati-
vidades enzimáticas n o soro são causadas por misturas de isoen-
zimas imunologicamente distintas, de tal forma que u m ensaio
que utiliza u m único tipo de anticorpo n o r m a l m e n t e determina
s o m e n t e uma das formas enzimáticas. N o entanto, essa desvan-
tagem na determinação da atividade enzimática total torna-se
uma vantagem considerável na medida das isoformas e isoenzi-
mas específicas, e os m é t o d o s imunológicos têm assumido grande
importância na análise de isoenzimas para fins diagnósticos
(Capitulo 19).

Enzimas c o m o R e a g e n t e s Analíticos
As enzimas são usadas c o m o reagentes analíticos para a medida
de vários metabólitos e substratos e, e m imunoensaios, para
detectar e quantificar reações imunológicas.

Medidas de Metabólitos
O uso de enzimas c o m o reagentes analíticos para medir metabó-
litos freqüentemente oferece a vantagem de grande especificidade
para a substância a ser quantificada. Essa alta especificidade
n o r m a l m e n t e remove a necessidade dos estágios de separação o u
Figura 9 - 8 O sistema de referência proposro para medição de purificação preliminares, de tal forma que a análise é realizada
ensima mostrando a confiabilidade do resultado do laboratório diretamente em misturas complexas c o m o o soro. Uricase (urato
conforme o procedimento de medida de referencia. (De Panteghini M, oxidase), urease e glicose oxidase são exemplos de enzimas alta-
Ceriotti F, Schumann G, Siekmann L. Establishing a reference sysrem mente específicas usadas em ensaios clínicos importantes, tais
in clinicai enzymology. Clin Chem Lab Med 2001;39:795-800. c o m o as medidas de ácido úrico, uréia e glicose em fluidos bio-
Reimpresso com permissão de Walter de Gr li v ter.) lógicos. Entretanto, alta especificidade n e m sempre é atingida na
156 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

prática, e o c o n h e c i m e n t o das especificidades pelos substratos Portanto, a constante de velocidade de primeira ordem, k, é igual
das enzimas reagentes é, portanto, essencial para permitir que
possíveis interferências n o ensaio possam ser antecipadas e cor-
rigidas. As reações acopladas são freqüentemente usadas para
O s métodos nos quais alguma propriedade relacionada à
criar u m sistema analítico enzimático para a determinação de um
concentração de substrato (tais c o m o absorvância, fluorescência,
c o m p o s to e m particular. Por exemplo, a glicose é determinada,
quimioluminescência etc.) é medida em dois tempos fixos durante
usando-se a reação da hexoquinase. A hexoquinase converte
o curso da reação são c o n h e c i d o s c o m o métodos cinéticos de dois
outros açúcares além da glicose a seus ésteres 6-fosfato. Entre-
pontos. Eles são, teoricamente, os mais precisos para a determina-
tanto, a reação indicadora para monitorar essa mudança é cata-
ção enzimática de substratos. Entretanto, esses m é t o d o s são tec-
lisada pela glicose 6-fosfato desidrogenase, uma enzima que é
nicamente mais exigentes do que os m é t o d o s de equilíbrio, e
altamente específica para seu substrato; assim, o processo global
todos os fatores que afetam a velocidade de reação, tais c o m o
é altamente específico para a glicose.
p H , temperatura e quantidade de enzima, precisam ser mantidos
constantes de u m ensaio para o outro, assim c o m o o m o m e n t o
Métodos de Equilíbrio
das duas medidas. Essas condições são prontamente alcançadas
Na maioria dos ensaios usados para determinar enzimaticamente
em analisadores automatizados. U m a solução de referência do
a quantidade de uma substância, é permitido que a reação con-
analito (substrato) deve ser usada para a calibração. Para garantir
tinue até sua finalização de forma que t o d o o substrato tenha
condições de reação de primeira ordem, a concentração de subs-
sido convertido em u m produto mensurável. Esses m é t o d o s são
trato deve ser baixa q u a n d o comparada c o m a K,n (isto é, na
d e n o m i n a d o s end £oint (ponto final) ou, mais corretamente,
ordem de m e n o s do que 0 , 2 x I O . Prefere-se, portanto, as
m é t o d o s de equilíbrio, u m a vez que a reação cessa q u a n d o o equi-
enzimas c o m altos valores de para análises cinéticas para dar
líbrio é alcançado. As reações nas quais o p o n t o de equilíbrio
uma faixa mais ampla de uso da concentração de substrato.
corresponde praticamente à conversão completa do substrato são
obviamente preferíveis para esse tipo de análise. N o entanto,
equilíbrios desfavoráveis são freqüentemente deslocados da
Imunoensaio
Em u m i m u n o e n s a i o enzimático, é permitido que anticorpos ou
direção desejada por reações enzimáticas ou não-enzimáticas adi-
antígenos marcados c o m enzimas reajam primeiramente com o
cionais que convertem ou "aprisionam' 1 u m produto da primeira
ligante e, então, u m substrato enzimático é subseqüentemente
reação.
adicionado. ALP, peroxidase de rábano, glicose 6-fosfato desidro-
A medida que a concentração de substrato cai a baixos níveis
genase e p-galactosidase têm sido usadas c o m o marcadores enzi-
e m direção ao final da reação, a ÍC, da enzima tornasse impor-
máticos. U m a modificação dessa metodologia é o ensaio de imu-
tante na determinação da velocidade de reação. Enzimas com
noabsorção enzimática (ELISA), n o qual u m dos c o m p o n e n t e s
altas afinidades por seus substratos (valores baixos de ÍCJ são,
da reação está ligado a u m a superfície de fase sólida. Nessa
portanto, mais adequadas para análises de equilíbrio. O s métodos
técnica, uma alíquota da amostra é colocada para interagir com
de equilíbrio são muito insensíveis às pequenas variações das
o anticorpo na fase sólida. A p ó s lavagem, u m segundo anticorpo
condições de reação. N ã o é necessário ter exatamente a mesma
marcado c o m enzima é adicionado para formar u m complexo
quantidade de enzima em cada mistura de reação o u manteT o
Ab-Ag-Ab-enzima. O excesso de anticorpo marcado com enzima
p H o u a temperatura absolutamente constantes, desde que as
livre é, então, lavado e o substrato é adicionado; a conversão do
variações não sejam tão grandes que a reação não seja completada
substrato é proporcional à quantidade de antígeno. N o s imuno-
dentro d o tempo fixado permitido.
ensaios, a especificidade da enzima não é importante, mas sim
sua sensibilidade.
Métodos Cinéticos
As reações de primeira ordem o u de pseudoprimeira ordem são
Aplicações Analíticas d a s Enzimas
as reações mais importantes para a determinação cinética da
concentração de substrato. Para qualquer reação de primeira
Imobilizadas
A s enzimas imobilizadas, reutilizáveis, têm sido usadas e m alguns
ordem, a concentração de substrato [S] em u m determinado
sistemas de ensaio. Nestes ensaios, as enzimas imobilizadas têm
t e m p o í após o início da reação é dada por
sido quimicamente ligadas a adsorventes, tais c o m o (1) celulose
microcristalina, (2) dietilaminoetil celulose (DEAE), (3) carboxi-
[S] - [S0] x e (6)
metil celulose e (4) agarose. O s grupos diazo, triazina e azida são
usados para aderir a proteína enzimática à matriz insolúvel, for-
o n d e [S0] é a concentração de substrato inicial, ê é a base d o
m a n d o partículas e m contato c o m a solução de substrato, ou
logaritmo natural, e k é a constante da velocidade.
uma superfície e m contato c o m a solução de substrato, tal c o m o
A variação da concentração de substrato e m u m intervalo de
uma membrana ou u m revestimento na superfície interna de u m
t e m p o fixo é diretamente proporcional à sua concentração inicial,
vaso c o n t e n d o a solução de substrato. Dentre as enzimas dispo-
uma propriedade geral das reações de primeira ordem.
níveis nesta forma imobilizada estão (1) urease, (2) hexoquinase,
Para uma reação enzimática, as cinéticas de primeira ordem
(3) a-amilase, (4) glicose oxidase, (5) tripsina e (6) leucina ami-
ocorrem quando [S] é pequena q u a n d o comparada a K„,. Assim
nopeptidase. A estabilidade ao calor e a outras formas de inati-
vação é consideravelmente aumentada comparada com enzimas
e m solução. As enzimas proteolíticas imobilizadas não estão sujei-
» = 4»t<[S] (7) tas à autodigestão. Entretanto, algumas propriedades da enzima,
*v m tais c o m o sua ÍCn o u seu p H ideal, p o d e m ser alteradas.
As enzimas incorporadas e m membranas formam parte de
OU eletrodos enzimáticos (Capítulo 5). A superfície de um eletrodo
sensível a íons é revestida c o m uma camada de gel poroso no
« = k[S] (8) qual uma enzima foi polimerizada. Q u a n d o o eletrodo é imerso
Princípios da Enzimologia Clínica C A P Í T U L O 9 157

e m u m a solução d o substrato apropriado, a ação da enzima 6. Moss DW. Isoenzyme analysis. London: The Chemical Society,
p r o d u z í o n s p a r a os q u a i s o e l e t r o d o é sensível. 1979.
7. Nomenclature Committee, I.E. 1978. Recommendations of the
Medida de isoenzimas e isoformas Nomenclature Committee of IUB on the Nomenclature and
Classification of Enzymes. New York; Academic Press, 1979.
Diversas técnicas analíticas t ê m sido usadas para m e d i r isoenzimas
8. Panteghini M, Ceriotti F, Schumann G, Siekmann L. Establishing a
o u i s o f o r m a s . Elas i n c l u e m e l e t r o f o r e s e { C a p í t u l o 6), f o c a l i z a ç ã o
reference system in clinicai enzymology. Clin Chem Lab Med
isoelétrica, c r o m a t o g r a f i a ( C a p í t u l o 7), i n a t i v a ç ã o q u í m i c a e dife-
2001;39-795-800.
r e n ç a s n a s p r o p r i e d a d e s catalíticas, m a s o s m é t o d o s d e r o t i n a m a i s
9. Raurela GS, Snee RD, Millet WK. Response-surface co-optimization of
c o m u n s a g o r a se b a s e i a m e m e n s a i o s i m u n o q u í m i c o s .
reaction condirions in clinicai chemical methods. Clin Chem
O s métodos imunoquímicos de análise de isoenzimas são parti-
1979;25.1954-64.
c u l a r m e n t e aplicáveis a i s o e n z i m a s d e r i v a d a s d e m ú l t i p l o s íoci
10 Schumann G, Bonora R, Ceriotti F, Clerc-Renaud P, Ferrem CA,
g ê n i c o s p o r q u e essas são, e m geral, m a i s d i s t m g u í v e i s a n t i g e m c a -
Férard G, et al. IFCC primary reference procedures for the
mente. Entretanto, o maior p o d e r discriminatório dos anticorpos
measu remem of catalytic activity concentrations of enzymes at
m o n o c l o n a i s t e m t r a z i d o d e f o r m a p o t e n c i a l t o d a s as m ú l t i p l a s
37 ' C . Part 2 Reference procedure for the measurement of catalytic
f o r m a s d e u m a enzima para o alcance da análise i m u n o q u í r m c a .
concentration of creatine kinasc Clin Chem Lab Med
A l g u n s d e s s e s m é t o d o s f a z e m u s o d a a t i v i d a d e c a t a l í t i c a d a s iso-
2002 ; 40(6):63542.
e n z i m a s . P o r e x e m p l o , a a t i v i d a d e r e s i d u a l p o d e ser m e d i d a a p ó s
11. Schumann G, Bonora R, Ceriotti F, Clerc-Renaud P, Ferrero CA, Férard
a r e a ç ã o c o m o a n t i - s o r o . Esses m é t o d o s n ã o d e p e n d e m da ativi-
G, et al. IFCC primary reference procedures for the measurement of
d a d e c a t a l í t i c a d a i s o e n z i m a q u e está s e n d o d e t e r m i n a d a . E n t r e -
catalytic activity concentrations of enzymes at 37 "C. Part 3. Reference
tanto, c o m o desenvolvimento de sistemas de i m u n o e n s a i o s
procedure for the measurement of catalytic concentration of lactate
a u t o m a t i z a d o s , os m é t o d o s d e r o t i n a m a i s c o m u n s p a r a se d o s a r
dehydrogenase Clin Chem Lab Med 2002;40:643-8
i s o e n z i m a s , tais c o m o C K - M B , s ã o E L I S A s d e f a s e s ó l i d a . 12 Schumann G, Bonora R, Ceriotti F, Férard G, Ferrero CA, Franck PFH,
A e s c o l h a e a a p l i c a ç ã o d e v á r i o s m é t o d o s d e a n á l i s e d e iso-
et al. IFCC primary reference procedures for the measurement of
e n z i m a s n a e n z i m o l o g i a c l i n i c a s ã o d i s c u t i d a s n o C a p í t u l o 19 e m catalytic activity concentrations of enzymes at 37 "C. Part 4- Reference
relação a sistemas de isoenzimas específicos. procedure for the measurement of catalytic concentration of alanine
aminotransferase Clin Chem Lab Med 2002 ; 40-719-24
13. Schumann G, Bonora R, Ceriotti F, Férard G, Ferrero CA, Franck FFH,
R EFERÊ N CIAS
et al. IFCC primary reference procedures for the measurement of
1- C o m m i s s i o n o n B i o c h e m ic a l N o m e n c l a t u r e I. N o m e n c l a t u r e of catalytic activity concentrations of enzymes at 37"C, Part 5. Reference
m u l t i p l e f o r m s of enzymes. J Biol C h e m 1977;252:5939-41
procedure for the measurement of catalytic concentration of asparta:e
2. Copeland RA Enzymes a practical introduction to strucrure, aminotransferase. Clin Chem Lab Med 2002;40.725-33.
mechanism, and data analysis Basel: V C H Publíshers, 1996.
14. Schumann G, Bonora R, Ceriotti F, Clerc-Renaud P, Férard G,
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Ferrero CA, et al. IFCC primary reference procedures for the
quantities in samples of biological origin—Metrological traceability of
measurement of catalytic activity concentrations of enzymes at 37*C.
values for catalytic concentrations of enzymes assigned to calibrators and
Part 6. Reference procedure for the measurement of catalytic
control materiais. ISO, Geneva, Switzerland.
concerniation of gamma-glutamyltransferase. Clin Chem Lab Med
4. IUPAC Commission on Quantities and Units and IFCC Expert Panei
2002;40:734-8.
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15. Schumann G, Aoki R, Ferrero CA, Ehlets G, Férard G, Gella FJ, et al.
Quantities and units in clinicai chemistry. Clin Chim Acta
IFCC primary reference procedures for the measurement of catalytic
1979;96 157F-83F.
5 Lorenz K. A p p r o v e d r e c o t n m e n d a t i o n o n I F C C m e t b o d s ferr t h e
activity concentrations of enzymes at 37 "C. Part 8. Reference procedure
m e a s u T e m e n t of catalytic c o n c e n t r a t i o n s of enzymes. PaTt 9 I F C C
for the measurement of catalytic concentration of Ot-amylase. Clin Chem
m e t h o d for amylasc. C l i n C h e m Lab M e d 1998;36:185-203.
Lab Med 2006;44: in press.
C A P Í T U L O I O

Princípios das Técnicas


Imunoquímicas*
L.J. Kricka, D. Phil., F.A.C.B., C.Chem., F.R.S.C., F.R.C.Path.

OBJETIVOS Anti-soro Policlonal: Anti-soro produzido em u m animal


1. Definir os seguintes termos:
hospedeiro n o r m a l e m resposta à administração de u m
Anticorpo imunógeno.
Avidez: Força total de ligação d e u m anticorpo a u m antígeno;
Antígeno
inclui a soma das afinidades das ligações de todos os sítios
Hapteno
de c o m b i n a ç ã o individuais n o anticorpo.
Imunoensaio
Bacteriófago: Q u a l q u e r vírus q u e infecta u m a bactéria.
Imunógeno
Ensaio de I m u n o a b s o r v â n c i a Ligado à E n z i m a (ELISA): U m
Monoclonal
i m u n o e n s a i o d o tipo s a n d u í c h e de enzima em q u e u m dos
Policlonal
c o m p o n e n t e s da reação está ligado à superfície de u m a fase
2. Esquematizar e classificar os componentes de uma molécula de sólida para facilitar a separação dos reagentes marcados
anticorpo IgG. ligados ou livres.
3. Descrever os tipos de interações que ocorrem entre um antígeno e H a p t e n o : U m d e t e r m i n a n t e q u i m i c a m e n t e d e f i n i d o que,
um anticorpo. q u a n d o c o n j u g a d o a u m carreador imunogênico, estimula a
4. Comparar as reações de precipitação às reações de aglutinação. síntese de anticorpos específicos para o h a p t e n o .
5. Descrever e apresentar a utilidade clínica de cada um dos itens a I m u n o e n s a i o : Ensaio baseado n a reação de u m antígeno com
seguir: u m anticorpo específico para este antígeno.
Difusão em gel I m u n ó g e n o : U m a substância capaz de induzir u m a resposta
Imunoeletroforese imune.
Imunofixação Marcador: Q u a l q u e r substância c o m p r o p r i e d a d e mensurável
Western blotting de se ligar a u m antígeno, anticorpo ou substâncias ligantes
Calibração (como avidina, biotina ou proteína A).
6. Listar os marcadores usados nos imunoensaios isotópicos e T é c n i c a de I s m u n o e n s a i o E n z i m á t i c o de Multiplicação
não-isotópicos.
(EMIT): U m i m u n o e n s a i o de não-separação baseado n a
marcação enzimática.
7. Comparar imunoensaios competitivos aos não-competitivos e
W e s t e r n Blotting: Ensaio baseado em u m a m e m b r a n a n o qual
imunoensaios heterogêneos aos homogêneos.
as proteínas são separadas por eletroforese seguida da
8. Descrever:
transferência para u m a m e m b r a n a e detecção com
I m u n o e n s a i o enzimático
a n t i c o r p o marcado.
Ensaio de imunoabsorvância ligado à enzima
Imunoensaio multiplicado por enzima
9. Descrever ensaio de imunofluorescência e imunoensaio de

A
fluorescência polarizada. s reações i m u n o q u í m i c a s f o r m a m a base para os ensaios
10. Citar o princípio da imunocitoquímíca. clínicos sensíveis e específicos c o n h e c i d o s c o m o i m u n o -
11. Citar a utilidade clínica dos imunoensaios em um laboratório clínico. ensaios. I , z , 7 , 1 ° E m u m i m u n o e n s a i o típico, u m a n t i c o r p o
é utilizado c o m o reagente para d e t e c t a r o analito (antígeno) de
interesse. A especificidade a p u r a d a e a alta a f i n i d a d e dos anti-
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES corpos p o r a n t í g e n o s específicos, j u n t a m e n t e c o m a h a b i l i d a d e
A f i n i d a d e : Energia de interação de u m ú n i c o sítio de i n c o m p a r á v e l dos a n t i c o r p o s para fazer ligações cruzadas com
c o m b i n a ç ã o de u m a n t i c o r p o com o seu epítopo os antígenos, p e r m i t e m a i d e n t i f i c a ç ã o e a q u a n t i f i c a ç ã o de
c o r r e s p o n d e n t e n o antígeno. substâncias específicas p o r u m a v a r i e d a d e de m é t o d o s . Vários
A n t i c o r p o : Molécula da classe das i m u n o g l o b u l i n a s (Ig) (p ex , destes ensaios, a t u a l m e n t e , são agora a u t o m a t i z a d o s . O s prin-
IgA, IgG ou IgM) q u e se liga, especificamente, a u m cípios dos m é t o d o s mais c o m u m e n t e utilizados no l a b o r a t ó r i o
antígeno ou h a p t e n o . são discutidos n e s t e capítulo.
A n t i c o r p o M o n o c l o n a l : P r o d u t o de u m ú n i c o clone ou
linhagem de plasmócitos. CONCEITOS BÁSICOS E DEFINIÇÕES
A n t í g e n o : Q u a l q u e r material capaz de reagir com u m O s a n t i c o r p o s são imunoglobulinas que se ligam, especifica-
a n t i c o r p o sem, necessariamente, ser capaz de induzir a m e n t e , a u m a grande variedade de antígenos naturais e sintéticos
formação de anticorpo. c o m o proteínas, carboidratos, ácidos nucléicos, lipídios e outras
moléculas. Analiticamente, a i m u n o g l o b u l i n a G (IgG) é o rea-
gente i m u n o q u í m i c o de uso mais f r e q ü e n t e . Ela é u m a glicopro-
* 0 autor agradecidamente reconhece as contribuições originais do Dr. Gregory teína (peso molecular [MW] 158.000 Da) composta de duas
Buffone nas quais se baseiam partes desce capítulo. cadeias duplas, cada grupo é c o m p o s t o por u m a cadeia pesada

159
160 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

x X
o 5
o o
ü o

Fragmento Fc

Cbh — —Cbh
Clivagem por pepsina

Clivagem por papaína

Cadeia

Fragmento
F(ab')2

Região
'variável

Fagmento Fab
Sítios de ligação
ao antigeno
Figura 10-1 Diagrama esquemático da molécula de anticorpo IgG (imunoglobulina G) mostrando
carboidrato (Cbh), pontes dissulfeto (SS) e os principais fragmentos produzidos por tratamento com enzimas
proteolíticas (F[ab'JZl Fc, Fab, Fd).

(y) e uma leve (X, ou k), ligadas por pontes dissulfeto (Figura 10-1). 5. Acessibilidade de uma configuração imunogênica particular
As pontes dissulfeto intercadeias mantêm as cadeias duplas para o mecanismo de formação de anticorpos
unidas e criam uma molécula simétrica. A seqüência de amino- 6. Característica de ser estruturalmente estranho ao organismo
ácidos variável na região aminoterminal de cada cadeia determina A força ou energia da interação entre o anticorpo e o antigeno
a especificidade antigênica de u m anticorpo em particular. Cada é descrita por dois termos. A afinidade refere-se à grandeza ter-
seqüência única de aminoácidos é u m produto de uma única modinâmica que define a energia de interação de u m único sítio
linhagem de plasmócitos ou clone, e cada linhagem de plasmó- de combinaçao do anticorpo e seu epítopo correspondente no
citos produz anticorpos com especificidades únicas. U m antigê- antigeno. A avidez refere-se à força total de ligação do anticorpo
nico complexo é capaz de induzir uma variedade de anticorpos ao antigeno e i n c l u i a soma das afinidades das ligações de todos
com diferentes especificidades, derivados de diferentes linhagens ns sítios de combinação individuais no anticorpo. Portanto, a
celulares. U m anticorpo desenvolvido desta forma é denominado afinidade é uma propriedade da substância ligada (antigeno) e a
poíicíonal e exibe diversas especificidades em sua reatividade com avidez é uma propriedade do ligante (anticorpo).
o imunógeno. Cada região única do antigeno molecular que se O anti-soro policlonal é produzido em u m animal normal
liga a u m anticorpo complementai é denominada epítopa (deter- hospedeiro em resposta à administração de u m imunógeno. E m
minante antigênico). contraste, u m anticorpo m o n o c l o n a l é o produto de u m único
U m i m u n ó g e n o é uma proteína ou uma substância acoplada clone ou linhagem de plasmócitos, e não uma mistura heterogê-
a u m carreador, geralmente uma proteína. Quando o imunógeno nea de anticorpos produzidos por vários clones celulares em res-
é introduzido em u m hospedeiro estranho, ele induz a formação posta à imunização. Os anticorpos monoclonais atualmente são
de u m anticorpo. U m hapteno é u m determinante quimica- empregados amplamente como reagentes em técnicas de imuno-
mente definido que, sozinho, não estimula a resposta imune. N o ensaio.3 O método usual de produção de anticorpos monoclonais
entanro, quando conjugado a u m carreador imunogênico, a envolve a fusão de linfócitos sensibilizados de baços ou linfonodos
molécula conjugada estimula a síntese de u m anticorpo especí- de camundongos imunizados com uma linhagem celular de
fico para o hapteno. Algumas propriedades gerais necessárias mieloma m u r i n o de uma cultura de tecidos (uma linhagem de
para a imunogenicidade incluem o seguinte: linfócitos B imortalizados). A s linhagens celulares de mieloma
1. Áreas de estabilidade estrutural na molécula m u r i n o mais comumente utilizados são deficientes para a enzima
2. Randomicidade da estrutura hipoxantina guanina fosforribosiltransferase (HGPRT) e, por-
3. Peso molecular m í n i m o de 4.000 a 5.000 Da tanto, não sintetizam bases putirias a partir de timidina e hipo-
4. Capacidade para ser metabolizado (critério necessário, mas xantina na presença de aminopterina. Após a fusão, as células são
não suficiente para algumas classes de antígenos) colocadas em u m meio de seleção contendo hipoxantina, aminop-
Princípios das Técnicas Imunoquímicas CAPÍTULO 10 161

terina e t i m i d m a (meio H A T ) para crescer seletivamente as linha- técnica mimetiza a seleção imune e isola os anticorpos com
gens celulares híbridas fusionadas. As células híbridas fusionadas muitas especificidades de ligação diferentes. C o m este processo
irão sobreviver no meio H A T porque combinam a imortalidade foram formadas grandes bibliotecas que apresentam mais de IO12
das células do mieloraa ao material genético das células esplénicas anticorpos.
necessário paia a síntese da HGPRT. As colônias que surgem a
partir das células fusionadas são examinadas quanto à produção LIGAÇÃO ANTÍGENO-ANTICORPO
de anticorpos, e as linhagens celulares secretoras de anticorpos da Nesta seção serão discutidos vários fatores que afetam a ligação
especificidade desejada são clonadas em subculturas. Assim, uma dos antígenos aos anticorpos
linhagem clonal única é então isolada para pioduzir u m anticorpo
com especificidade para u m único epítopo antigênico e com uma
única energia de ligação ou afinidade. Forças de Ligação
Os anticorpos monoclonais apresentam uma vantagem ana- Várias forças agem em cooperação para produzir a ligação antí-
lítica, pois dois anticorpos de especificidades diferentes podem geno-anticorpo. As três principais forças contribuidoras são 0 )
ser usados em u m único ensaio. Por exemplo, u m anticorpo de interações eletrostáticas dipolo-dipolo tipo van der Waals-
fase sólida específico para u m único epítopo e outro anticorpo L o n d o n , (2) interações hidrofóbicas e (3) ligação coulômbica
marcado — específico para u m epítopo diferente — reagem com iônica (primariamente entre os grupamentos C O O " e N H / n o
o antígeno em uma única incubação. Esta combinação elimina antígeno e no anticorpo).
(1) a adição seqüencial em duas etapas do antígeno e do anti-
corpo marcado à fase sólida, (2) uma etapa de incubação e (3)
uma etapa de lavagem, que pode ser necessária quando se utili- Mecanismo de Reação
zam anticorpos policlonais que se ligam a ambos os sítios. N o A ligação de u m antígeno a u m anticorpo não é estática, mas é
entanto, a incomparável capacidade do anticorpo monoclonal uma reação de equilíbrio que acontece em três fases, A reação
para reagir com u m único epítopo em u m antígeno multivalente inicial (fase 1) de u m antígeno multivalente (Ag,.) com u m anti-
resulta na incapacidade da maioria dos anticorpos monoclonais corpo (Ab) bivalente ocorre m u i t o rapidamente em comparação
para fazer ligação cruzadas e precipitar antígenos macromolecu- ao crescimento subseqüente dos complexos (fase 2) e é descrita
lares. Portanto, anticorpos monoclonais não são utilizados em pela seguinte equação:
todos os imunoensaios nos laboratórios clínicos, especialmente
naqueles que utilizam os métodos tradicionais de precipitação.
A tecnologia de phage-display é urna abordagem m vitro dife- -•'U + A b < " >A g n A b ^ = = ^ A g a A b i , (i)
t_L k-2
rente para a produção de anticorpos que mimetiza o sistema
imune. 11 Neste processo, os genes codificadores dos domínios
variáveis das cadeias pesada e leve da imunoglobulina, isolados
de linfócitos, são amplificados pela reação em cadeia da polime- onde ícj > » k2, n é o número de epítopos por molécula, e a e b
rase (Capítulo 17) e introduzidos em u m vetor bacteriófago fila- são os números de moléculas de antígeno e anticorpo por com-
mentoso para formar bibliotecas combinatórias de genes V H e V[_. plexo. A fase 3 da reação envolve a precipitação do complexo
Bacteriófagos individuais apresentam cópias de u m anticorpo após o mesmo atingir u m tamanho crítico. A velocidade destas
específico em suas superfícies e, então, a biblioteca de fagos é reações depende da concentração de eletrólitos, p H e tempera-
analisada para procurar anticorpos de especificidade definida tura, bem como dos tipos de antígeno e anticorpo e da afinidade
através da utilização de u m antígeno imobilizado ("panning"). Esta de ligação do anticorpo.

o
O
o
VfY K Ã Excesso de anticorpo
Todos os sitios aníigênicos
estão recobertas por anticorpos
Y y y e a formação de rede é
inibida.
Complexos solúveis

Zona de equivalência
(Proporção ideal)
Este estado ocorre quando estão
o o
VYY presentes 2 ou 3 moléculas de
o o
% anticorpo para cada molécula
de antígeno; produz a formação
máxima de rede e, portanto, a
Complexos insolúveis
precipitação máxima.

Excesso de antigeno
O O, Todos os sítios dos anticorpos

O o yV & estão saturadas pelos antígenos.


Trios (2 antígenos + 1 anticorpo)
são o tamanho máximo alcançado
pelas partículas. Nenhum
Antígeno Anticorpo Complexos solúveis
precipitado é formado.

Figura 1 0 - 2 Diagrama esquemático para a reação de precipitação. A, Excesso de anticorpo, B, Zona de


equivalência. C, Excesso de antígeno.
162 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

Reação de Precipitação é Cs" > Rb + > NH4* > 10 > Na J > Li*. Esta OTdem corresponde à
Se o número de sítios de combinação do anticorpo [Ab] é signi- diminuição do raio iônico e aumento do raio de hidratação. Para
ficativamente maior do que o número de sítios dc ligação do os hapieno;) aiiiònicus e sais aniônicos, a ordem de inibição da
antigeno [Ag], estes sítios de ligação no antigeno são então rapi- ligação é CNS~> N 0 3 " > I~ > Br" > C l " > F~, novamente na ordem
damente saturados pelo anticorpo, antes de ocorrer a ligação de diminuição do raio iônico e aumento do raio de hidratação.
cruzada, resultando na formação de pequenos complexos antí-
geno-anticorpo compostos de A g A b (Figura 10-2, A). Para o caso Efeito do Polímero
no qual o anticorpo está moderadamente em excesso ([Ab] > A adição de u m polímero linear à mistura de antigeno e anticorpo
[Ag]), a probabilidade de ligação cruzada do A g pelo A b é maior
causa u m aumento significativo na taxa de crescimento do imuno-
e, por isso, a formação de complexos grandes é favorecida (Figura
complexo e aumenta sua precipitação, especialmente com anti-
10-2, B). N o caso em que o [Ag] está em grande excesso, a forma-
corpo de baixa avidez. Várias espécies de polímeros, como (1)
ção de grandes complexos é menos provável e teoricamente o
dextran (um polímero D-glucose de alto peso molecular), (2) álcool
tamanho m í n i m o dos complexos é Ag^Ab (Figura 10-2, C).
polivinil e (3) polietileno glicol 6.000 (PEG ou Carbowax) são
Este modelo descreve os resultados observados quando os
empregadas nos métodos imunoquímicos. As características mais
antígenos e anticorpos são misturados em várias razões de con-
desejáveis do polímero são (1) alto peso molecular, (2) alto grau de
centração. A curva mostrada na Figura 10-3 é u m diagrama
linearidade (ramificação mínima) e (3) alta solubilidade em água.
esquemático da cUTva de precipitação clássica. Embora a concen-
PEG 6.000 apresenta estas características e é particularmente útil
tração de anticorpo total seja constante, a concentração de anti-
corpo livre, [Ab]f, e de antigeno livre, [Ag] h varia para qualquer nos métodos imunoquímicos nas concentrações de 3 a 5 g / d L .
razão A g / A b determinada. U m a baixa razão A g / A b existe na
seção A da Figura 10-3 (zona de excesso de anticorpo). Sob estas
condições, [Ab] f existe em solução, mas [Ag] f não. A medida que MÉTODOS QUALITATIVOS
o antigeno total aumenta, o tamanho dos imunocomplexos As técnicas imunoquímicas utilizadas com propósitos qualitati-
aumenta até a equivalência (Figura 10-3, seção B) em que exista vos incluem (1) difusão passiva em gel, (2) imunoeletroforese
pouco ou n e n h u m |Ab]f ou [Ag] f . Esta é a zona de equivalência (1EP) e (3) Western blotting.
e é a razão de combinação ideal para a ligação cruzada no sistema
particular sob análise. Quando a razão A g / A b aumenta (Figura
10-3, seção C), o tamanho dos imunocomplexos d i m i n u i e [Ag]f Difusão Passiva em Gel
aumenta (zona de excesso de antigeno). Vários métodos imunoquímicos qualitativos e quantitativos uti-
lizam meios semi-sólidos, como ágar ou agarose. Esta prática
Fatores Químicos estabiliza o processo de difusão com relação à mistura causada
Os fatores químicos que influenciam a ligação antigeno/anticorpo pela vibração ou convecção e permite a visualização de bandas
incluem espéc:es iónicas, força iõnica e moléculas poliméricas. de precipitação para avaliação quantitativa e qualitativa da reação.
A razão antígeno-anticorpo, concentração de sal e intensificação
Efeitos das Espécies de íons e Força tônica por polímero possui a mesma influência na reação antígeno-
Os sais catiônicos promovem a inibição da ligação do anticorpo anticorpo em géis assim como nas reações em solução.
a u m hapteno catiônico. A ordem de inibição por vários cátions Se a matriz não interage com as espécies moleculares sob
investigação, a difusão passiva dos Teagentes na matriz semi-sólida
é descrita pela equação de Fick

B
dQ
=-D (2)
dt dx

onde:
dQ = Quantidade de substância em difusão que passa pela
área A durante o tempo
Parâmetro dt = Variação do tempo
dC/dx = Gradiente de concentração
D = Coeficiente de difusão

O coeficiente de difusão, D, é uma função direta da tempe-


ratura; também é inversamente proporcional ao volume molecu-
lar hidratado das espécies em difusão. A razão dQ/dt é uma
função de dC/dx, o gradiente de concentração. A quantidade de
espécies e m difusão transferida da o r i g e m ao p o n t o distante
(através da distância de migração) depende do tempo em que se
[Antigeno] permite ocorrer a difusão.
A concentração inicial de antigeno e anticorpo é crítica. Cada
Figura 10-3 Diagrama esquemático da curva de precipitação molécula n o sistema atinge u m único gradiente de concentração
ilustrando as diferentes zonas de concentração de antigeno. A, Excesso com o tempo. Q u a n d o as fronteiras de difusão do antigeno e do
de anticorpo. B, Equivalência. C, Excesso de antigeno. O parâmetro anticorpo se sobrepõem, a reação começa, mas a formação de
medido pode ser a quantidade de proteína precipitada, dispersão de luz uma l i n h a de precipitação não ocorre até u m excesso moderado
ou outro parâmetro mensurável. A concentração de anticorpo é de anticorpo set atingido. U m a banda de precipitação pode se
mantida constante neste exemplo. formar e ser dissolvida várias vezes à medida que chegam antíge-
Princípios das Técnicas Imunoquímicas CAPÍTULO 10 163

nos ao local, até que o e q u i l í b r i o seja estabelecido e a posição da ficos para os antígenos de interesse (Figura 10-6). 5 N a prática, a
b a n d a de precipitação seja estabilizada. C R I E é mais sensível e p r o d u z u m a m a i o r resolução q u e aquela
A difusão simples e d u p l a são as duas abordagens básicas possível c o m a I E R U m exemplo da aplicação clínica da C R I E é
utilizadas para aplicações qualitativas de difusão passiva. N a apresentado na Figura 10-7.
difusão simples, u m gradiente de concentração é estabelecido N a contra-imunoeletroforese ( C I E ) , duas linhas paralelas de
para u m ú n i c o reagente. Esta abordagem é d e n o m i n a d a imunodi- poços são feitas n o ágar. U m a f i l e i r a é p r e e n c h i d a c o m solução
fusão simples e geralmente depende da difusão de u m antígeno n o de antígeno e a f i l e i r a oposta é p r e e n c h i d a c o m solução de anti-
ágar i m p r e g n a d o c o m a n t i c o r p o . U m a técnica q u a n t i t a t i v a corpo (Figura 10-8) U m a v o l t a g e m é aplicada ao gel fazendo c o m
baseada neste p r i n c í p i o é chamada de imunodifusão radial ( R I D ) .
A segunda abordagem é a chamada difusão dupla, e m que o
gradiente de concentração é estabelecido t a n t o para o antígeno 0
q u a n t o para o a n t i c o r p o (Figura 1 0 4 ) . Esta abordagem é conhe-
cida c o m o técnica de Ouckterlony. N a prática, ela p e r m i t e a com-
paração direta de dois o u mais materiais de teste e fornece u m
m é t o d o simples e d i r e t o u t i l i z a d o para d e t e r m i n a r se os antígenos
nos espécimes testados são idênticos, reagem de f o r m a cruzada
o u são não-idênticos.

Imunoeletroforese
A I E P (imunoeletroforese) é u m a técnica i m u n o q u í m i c a utilizada
para separar e identificar as várias espécies de proteínas contidas
e m u m a solução c o m u m , c o m o o soro o u l i q u i d o r a q u i d i a n o
( C a p í t u l o 6). Esta técnica é extensivamente usada n o estudo de
misturas de antígenos e na avaliação das gamopatias humanas. As
proteínas d o soro são separadas de acordo c o m sua m o b i l i d a d e
eletroforética (Figura 10-5). A p ó s a eletroforese, u m anti-soro
c o n t r a a proteína de interesse é colocado e m u m p o ç o paralelo e
adjacente à amostra. A difusão simultânea d o antígeno a p a r t i r
da amostra separada e d o a n t i c o r p o a p a r t i r do poço resulta n a
formação de arcos de precipitação c o m formas e posições caracte-
rísticas das proteínas i n d i v i d u a i s separadas na amostra.
O
N o l a b o r a t ó r i o clínico, este m é t o d o é aplicado para avaliar as Figura 10-5 Configuração para imunoeletroforese. Os poços de
proteínas de m i e l o m a h u m a n o . N o e n t a n t o , o m é t o d o está sendo
amostras são feitos n o ágar/agarose, as amostras são aplicadas e a
g r a d u a l m e n t e substituído pela eletroforese de i m u n o f b t a ç ã o , par-
eletroforese é realizada para separar as proteínas da amostra. O anti-soro
t i c u l a r m e n t e n o estudo de antígenos proteicos e seus p r o d u t o s
é aplicado nos sulcos e o gel é incubado em uma câmara Úmida a 4°C
fracionados, e na avaliação de m i e l o m a .
por 24 a 72 horas A raia x representa o formato das zonas de proteína
A imunoeletroforese cruzada ( C R I E , t a m b é m c o n h e c i d a
após a eletroforese; as raias j e ? mostram a reação das proteínas 5 e 1
c o m o imunoeletroforese bidimensional) é a variação da I E P e m que
com os seus anti-soros específicos nos sulcos c e i O anti-soro contra as
a eletroforese t a m b é m é utilizada e m u m a segunda d i m e n s ã o para
proteínas I a é está presente n o sulco b.
d i r i g i r o antígeno d e n t r o de u m gel c o n t e n d o a n t i c o r p o s especí-

©
Ag Ag'

A GêI contendo
anliçorpo

Ab Sojimda
dimensão

í
m
O Primeira
dimensão

© 0
Figura 10-6 [munoeletroforese cruzada bidimensional (CRIE).
A, Configuração para a primeira dimensão da CRIE. O segmento d o
Figura 10-4 Imunodifusão dupla em duas dimensões pela técnica gel marcado pelas linhas pontilhadas é recortado e colocado na segunda
Cuchterlony A, Reação de identidade R, Reação de não-identidade. placa. B , U m gel superior c o n t e n d o anticorpo é adicionado. A
C, Reação de identidade parcial. D , Esquema para a formação de eletroforese agora é realizada a 90° em relação à corrida da primeira
esporão. Ag, Antígeno; Ab, anticorpo dimensão.
164 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

TRIPSINA que o antigeno e o anticorpo migrem u m em direção ao outro


em uma velocidade mais rápida. U m a linha de precipitação é
formada onde eles se encontram. Esta informação qualitativa é
utilizada pata identificar o antigeno e é fornecida dentro de 1 a
2 horas. A C I E é aplicada na detecção de antígenos bacterianos
n o sangue, urina e líquido cerebrospinal.
A imunofixação (IF) ganhou ampla aceitação como u m
método i m u n o q u í m i c o utilizado para identificar proteínas. C o m
esta técnica, primeiro a eletrofotese é realizada em gel de agarose
pata separar as proteínas na mistura. Subsequentemente, o anti-
soro espalhado diretamente sobre o gel faz com que a(s) proteína(s)
de interesse precipite(m). O imunoprecipitado é preso dentro da
matriz de gel e todas as proteinas não precipitadas são então
removidas por lavagem do gel. E m seguida o gel é corado para
identificação das proteínas. Na prática, entretanto, a C R I E é mais
sensível que a IF, em termos de limite de detecção, e também
• apresenta uma melhor resolução. A l é m disso, as proteínas com
© Origem © mobilidades eletroforéticas semelhantes ou idênticas são mais
bem distinguidas por CRIE, pois na IF elas se apresentam como
Figura 10-7 Padrão da imunoeletroforese cruzada (CRIE) obtido uma única banda. A IF atualmente é utilizada de forma ampla
com duas concentrações diferentes de tTipsina adicionada ao soro na avaliação de proteínas de mieloma e sua utilidade está ilus-
normal. A primeira dimensão foi realizada da esquerda para a direita, e trada na Figura 10-9.
a segunda dimensão de baixo para cima. Dois géis separados são
mostrados, com a maior concentração de tripsina embaixo. O anticorpo Western Blotting
contra a r a n ti tripsina estava presente no gel da segunda dimensão. O As técnicas discutidas previamente utilizam u m exame direto da
padrão resultante mostra duas espécies distintas de a ran ti tripsina. o imunoprecipitação da(s) proteína(s) no gel. N o entanto, certos
inibidor de protease livre (direita) e o complexo protease-antiprotease meios, como a poliacrilamida, não são úteis para a imunopreci-
(esquerda). Este exemplo ilustra a capacidade da CRIE para avaliar pitação direta ou nem sempre existe uma concentração de anti-
mudanças na estrutura especifica da proteína geno suficiente para produzir u m imunoprecipitado que é retido
n o gel durante os procedimentos subseqüentes. A técnica de

©
Eletroendosmose

I
Ill
Paço com
anticorpo

i
Zona de formação
de precipitado

Poço com <u


amostra
(antigeno)

Migração
eietroforética I

O Figura 10-9 Imunofixação de u m soro contendo uma paraprotema


kappa K de IgM. Raia 1, eletroforese do soro corado para proteína; raia
2, anti-IgG, específico para o fragmento Fc, raia 3, anti-IgA, específico
Figura 10-8 Contra-imunoeletroforese mostrando reaçao positiva para a cadeia a; raia 4, anti-IgM, especifico para a cadeia a; raia 5,
entre anti-Haemop/uíus influenzae E (poço superior) e uma amostra de anticadeia leve K; raia 6, anti cadeia leve X. (Cortesia de Katberine Bayer,
liquido cerebrospinal (CSF) contendo H. influenzae B (poço inferior). Filadélfia.)
Princípios das Técnicas Imunoquímicas CAPÍTULO 10 165

Western b l o t t i n g é usada nestas circunstâncias. Ela envolve uma baixas quanto 500 n g / m L , ou 2,5 ng por banda no gel. O limite
etapa de eletroforese, seguida pela transferência das proteínas de detecção da técnica é d i m i n u í d o para aproximadamente 100
separadas para uma membrana de nitrocelulose ou náilon colo- pg na detecção quimioluminescente do anticorpo marcado com
cada sobre o gel por u m processo chamado de etectrobíotting. U m a enzima e na detecção de emissão de lu2 pela utilização de filme
vez fixadas à membrana, as proteínas são detectadas por sondas de raios X ou fotográfico. 11
de anticorpos marcados com moléculas como isótopos radioati- U m a técnica mais simples, que elimina a etapa de separação
vos ou enzimas. Utilizando estas sondas, os limites de detecção eletroforética, é conhecida como dot biottmg. U m a amostra da
são de 10 a 100 vezes menores que os valores obtidos pela imu- proteína a ser analisada é aplicada à superfície da membrana
noprecipitação direta e coloração das proteínas. Esta técnica é como u m pequeno "ponto". Após a secagem da amostra, a mem-
análoga ao Southern b l o t t i n g (eletroforese de D N A seguida de brana então é exposta a um anticorpo marcado específico para
transferência para uma membrana) e N o r t h e r n blotting (eletro- o antígeno em teste contido na mistura de proteínas aplicada à
forese de R N A seguida de transferência para uma membrana). membrana. E m seguida a membrana é lavada e o anticorpo
A Figura 10-10 mostra u m exemplo da análise por Western marcado que se ligou à proteína na membrana é detectado com
b l o t t i n g aplicado à detecção de anticorpos contra o vírus da u m sistema de detecção fotométrica ou quimioluminescente.
imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1). Q u a n d o aplicados aos
ensaios de antígenos, detectam-se concentrações de antígenos tão MÉTODOS QUANTITATIVOS
As técnicas imunoquímicas são utilizadas para desenvolver
métodos quantitativos e incluem (1) difusão radial e eletroimu-
noensaios, (2) ensaios turbidimêtricos e nefelométricos, e (3)
ensaios imunoquímicos marcados.

Imunodifusão Radial e Eletroimunoensaio


A R I D (imunodifusão radial) e o eletroimunoensaio são comu-

gpífió
I 1 mente utilizados em mensurações imunoquímicas quantitativas.
—ypiGO
H Imunoensaio de Imunodifusão Radial
A R I D é u m método de difusão passiva em que u m gradiente de
pftü pGG
pS5— ^5 concentração é estabelecido para u m único reagente, geralmente
pt> • pata o antígeno. O anticorpo é uniformemente disperso na
9P*1 •
matriz de gel A difusão do antígeno de u m poço para o gel é
permitida até que exista u m excesso de anticorpo e, assim, ocorra
p32
a imunoprecipitação; u m anel bem definido de precipitação em
p24 M • p:'4 volta do poço indica a presença de antígeno. O diâmetro do anel
continua aumentando até que se alcance o equilíbrio. Os padrões
são aplicados de forma simultânea à amostra para gerar a curva-
plb m padrão da área do anel ou diâmetro versus concentração.

Eletroimunoensaio
Forle Fraco
O eletroimunoensaio (conhecido como técnica de "foguete") é
u m tipo de imunoensaio onde u m único gradiente de concentra-
ção é estabelecido para o antígeno. U m a voltagem é aplicada para
dirigir o antígeno do poço de aplicação para dentro de uma
suspensão homogênea de anticorpo no gel (Figura 10-11). Este
Figura 10-10 Análise por Western blotting de amostras de soro
processo produz uma migração unidírecional do antígeno e
fortemente positiva e fracamente positiva para anticorpo HIV-1.
resulta em u m limite menor de detecção. A altura da linha de
Proteínas nucleares (GAG, antígenos grupo-especifico) pl8, p24 e p55;
precipitação resultante em forma de foguete é proporcional à
polimerase (POL) p32, p51 e p65; e proteínas do envelope (ENV) gp41,
concentração de antígeno. A quantificação é feita pelo uso de
gpl20 e gpléO (Cortesia de Bio-Rad Laboratories Diagnostics Group,
padrões na mesma placa j u n t o às amostras desconhecidas. Sub-
Hercules, Calif.)
seqüentemente, a estimativa das concentrações das amostras des-

Padrões Duplicatas das amostras de pacientes Padrões

Figura 10-11 Imunoeletroforese em foguete da albumina sérica humana. As amostras dos pacientes foram
aplicadas em duplicatas. Os padrões foram colocados nas extremidades opostas da placa
166 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

conhecidas é obtida a partir da altura dos foguetes. A curva-


padrão é linear somente para u m curto intervalo de concentração A b + A g i—. 1 AbAg (3a)
*w|
e, conseqüentemente, as amostras devem ser diluídas ou concen-
tradas, quando necessário.
[AbAg]
K = (3b)
[Ab][Ag]
Ensaios Turbidimétrico e Nefelométrico
A turbidimetria e a nefelometria são técnicas convenientes utili-
zadas para medir a velocidade de formação de imunocomplexos onde:
in uitro. Os princípios instrumentais para estes métodos são des- k] = Constante de velocidade para a reação de associação
critos no Capítulo 4 Alguns estudos demonstraram que a reação k i = Constante de velocidade para a reação de dissossiação
entre anrígeno e anticorpo começa em milissegundos e continua K = Constante de equilíbrio para a reação completa
por horas. O desempenho de ambos os tipos de ensaios tem
melhorado significativamente através do aumento da velocidade C o m o previsto a partir da lei de ação da massa, as concentra-
da reação pela adição de polimeros lineares hidrossolúveis. ções de A b , A g e A b : A g são dependentes da magnitude de k j e
Os métodos imunoquímicos, turbidimétrico e nefelométrico, k~]. Para o anti-soro policlonal, a avidez média das populações de
utilizando protocolos de velocidade e de pseudo-equilibrio, foram anticorpo determina K, e a magnitude de k b em comparação a
descritos para proteínas, antigenos e haptenos. Nos ensaios de k~ h determina o limite máximo de detecção alcançável com uma
velocidade, as medidas geralmente são realizadas nos primeiros determinada população de anticorpo.
minutos da reação porque a maior variação ( d l / d t ) na intensi-
dade da luz dispersa (Is) é obtida durante este intervalo de tempo. Tipos de Marcadores
Para os ensaios de pseudo-equilibrio, é necessário aguardar de 30 Na década seguinte aos desenvolvimentos pioneiros de Yalow e
a 60 minutos para que a d L / d t seja menor em relação ao tempo Berson, 12 todos os imunoensaios utilizavam marcadores radioati-
requerido para fazer as medidas necessárias. (Nota: Estes ensaios vos em ensaios competitivos. Desde a introdução de imunoen-
são chamados de pseudo-equilibrio e não de equilíbrio porque o saios enzimáticos, na década de 1970, foram desenvolvidos ensaios
verdadeiro equilíbrio não é atingido dentro do tempo permitido sofisticados com marcadores não-isotópicos (Tabela 10-1).'
para estes ensaios.)
Os métodos nefelométricos em geral são mais sensíveis que Princípios Metodológicos
os métodos turbidi métricos e apresentam l i m i t e de detecção Para capitalizar a especificidade apurada e aumentar a sensibili-
menor, de aproximadamente 1 a 10 m g / L para uma proteína dade dos ensaios imunoquímicos, vários princípios metodológi-
sérica. Limites menores de detecção são obtidos em líquidos cos foram aplicados no desenvolvimento destes métodos. Isto
como o cefalorraquidiano e a urina por causa das baixas concen- i n c l u i tipos de reações competitivas e não-competitivas e diferen-
trações de lipídios e proteínas, que resultam em uma razão sinal- tes esquemas de processos para realizar os ensaios.
ruído maior. A l é m disso, para proteínas de baixo peso molecular
como a mioglobina ( M W 17.800 Da), os limites de detecção são Tipos de Reação Competitivas versus Não-competitivas
diminuídos pela utilização de u m procedimento acentuado poT C o m o mostrado na Figura 10-12, os dois principais tipos de
látex, baseado em esferas de látex revestidas com anticorpos. reação utilizados em ensaios imunoquímicos são denominados
Os ensaios nefelométricos e turbidimérricos também são apli-
cados na dosagem de drogas (haptenos) com o uso de técnicas de
inibição. Para fazer o reagente, a droga de interesse é acoplada a
uma molécula carreadora, como a albumina sérica bovina. O
TABELA 10-1 M a r c a d o r e s U t i l i z a d o s e m Imunciensaíoa
hapteno ligado à albumina compete com o hapteno hvre (droga
N ã o - i s o tópicos
introduzida na amostra) pelo anticorpo anti-hapteno. Na presença
de hapteno livre, a formação de imunocomplexos é reduzida Quimioluminescente Éster de acridina, éster sulfonil acridina, isoluminol
porque mais sítios dos anticorpos são saturados e, então, a disper- Co-íator Trifosfatc de adenosina, dinuclectídeo flavina
são da luz é diminuída. A diminuição da dispersão da luz é relativa adenina
à concentração de hapteno livre. Ambos os métodos, cinético e Enzima Fosfalase alcalina, luciíerase de bactéria marinha,
de pseudo-equilibrio, foram descritos. Na ausência de hapteno p-galactcsidase, luciferase de vaga-lume, glicose
livre, o hapteno ligado à albumina reage com os sítios disponíveis oxidase, glicose-6-fosfata desidrogenase,
n o anticorpo anti-hapteno para formar imunocomplexos de peroxidase de raiz forte, lisozima. malato
ligação cruzada com alta capacidade de dispersão da luz. desidrogenase, microperoxidase, urease, xaniiria
oxidase
Ensaios Imunoquímicos com Marcadores Fluorófcro Quelato de európio, fluoresceína, licoeriirina,
Os métodos previamente discutidos baseiam-se na análise da quelato de lérbio
formação de imunocomplexos como u m índice de reação antí-
Radical livre Nitróxido
geno-anticorpo. C o m o demonstrado anteriormente por equação
Inibidor Metolrexato
(1), a reação total ocorre em fases sequenciais e somente na fase
Metal Sal de ouro, sal de selinio, sal de prata
final ocorre a formação de imunocomplexos. N o entanto, a
Partícula Bactericfago, eritrócito, esferas de látex,
ligação micial do anticorpo ao antigeno é realizada com antige-
lipossomo, quantum dot
nos e anticorpos que apresentam marcadores para desenvolver
Substância Conversão ascendente da nanopartícula contendo
vários ensaios imunoquímicos sensíveis e específicos. A reação
fosforescente lantanídio
que descreve esta ligação inicial e a constante cinética para a
reação completa são mostradas nas equações (3a) e (3b), respec- Polinucleotídeo DMA

tivamente. Substrato Galado piranosídeo umbeliferona


Princípios das Técnicas Imunoquímicas CAPÍTULO 10 167

Competitivo (reagente limitado)

Simultâneo

Ab + Ag + A g - L Ab:Ag + Ab:Ag-L
(livre) (ligado)

Seqüencial
ki
Etapa 1 Ab + Ag Ab:Ag + Ab
k-i
Etapa 2 Ab:Ag + Ab + A g - L Ab:Ag + A b : A g - L + Ag-L

Não-campetitivo (excesso de reagente, dois sítios, sanduíche)

+ A b L
gg-Ab ^ >^-Ab:Ag " >gg-Ab:Ag:Ab-l

Figura 10-12 Desenho experimental do imunoensaio.


Ab, anticorpo; Ag, antígeno; L, marcador; fej, constante d e velocidade
de associação; k_i, constante de velocidade de dissociação.

competitivo (ensaio c o m reagente l i m i t a d o ) e nâo-competitivo (ensaio


Figura 10-13 Diagrama esquemático da curva dose-resposta para
c o m reagente em excesso, dois sítios o u sanduíche).
um imunoensaio típico. A porção analiticamente útil da curva é
Imunoensaios Competitivos. E m u m ensaio i m u n o q u i m i c o com-
triangulada pelos pontos a e b
p e t i t i v o , todos os reagentes são simultânea o u seqüencialmente
misturados juntos. N a abordagem simultânea, o antígeno marcado
(Ag*) e o antígeno não marcado (Ag) c o m p e t e m pela ligação c o m
o a n t i c o r p o . A avidez d o a n t i c o r p o pelos antígenos, marcado c conjugados. A incubação s i m u l t â n e a da amostra c o m os anticor-
não marcado, deve ser a mesma neste sistema. Sob estas condi- pos, c o n j u g a d o e de captura, se t o r n a possível q u a n d o são u t i l i -
ções, a p r o b a b i l i d a d e de o a n t i c o r p o se ligar ao antígeno marcado zados a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s , c o m especificidade para epítopos
é inversamente p r o p o r c i o n a l à concentração de antígeno não distintos, s i m p l i f i c a n d o assim o p r o t o c o l o do ensaio.
marcado; p o r t a n t o , conseqüentemente, o marcador ligado é inver- Os i m u n o e n s a i o s não-competitivos são realizados de f o r m a
samente p r o p o r c i o n a l à concentração de antígeno não marcado. simultânea o u seqüencial. Todavia, na f o r m a simultânea, u m a
E m u m ensaio c o m p e t i t i v o seqüencial, o a n t í g e n o não alta concentração d o a n a l i t o satura os a n t i c o r p o s de captura e
marcado é m i s t u r a d o ao a n t i c o r p o em excesso, p e r m i t i n d o sua conjugado. Sob estas condições, o analito, presente e m altas
ligação até que se atinja o e q u i l í b r i o (Figura 10-12, etapa 1). O concentrações, reage s i m u l t a n e a m e n t e c o m os a n t i c o r p o s de
antígeno marcado é então a d i c i o n a d o sequencialmente (Figura captura e conjugado, r e d u z i n d o o n ú m e r o de complexos f o r m a -
10-12, etapa 2), p o s s i b i l i t a n d o assim o e q u i l í b r i o . A p ó s a separa- dos e p r o d u z i n d o u m r e s u l t a d o falsamente baixo. Assim, a curva-
ção, o marcador ligado é m e d i d o e u t i l i z a d o para calcular a padrão do ensaio apresenta u m "efeito de gancho" n o q u a l a
concentração de antígeno não m a r c a d o . U t i l i z a n d o este m é t o d o resposta do ensaio desaparece de m o d o r e p e n t i n o em altas con-
de duas etapas, u m a fração m a i o r de antígeno n ã o marcado é centrações d o analito. Este efeito ocorre nos ensaios para analitos
ligada p e l o a n t i c o r p o em comparação a esta mesma fração n o cujos limites das concentrações patológicas n o r m a i s são m u i t o
ensaio s i m u l t â n e o , especialmente q u a n d o se u t i l i z a m baixas con- amplos. Por exemplo, ensaios para g o n a d o t r o f i n a c o r i õ n i c a ( C G )
centrações de antígeno. C o n s e q ü e n t e m e n t e , o l i m i t e de detecção e a - f e t o p r o t e í n a (AFP) são p a r t i c u l a r m e n t e propensos a este pro-
d o i m u n o e n s a i o seqüencial ê 2 a 4 vezes m e n o r e m relação ao blema. As diluições das amostras geralmente são reanalisadas
ensaio s i m u l t â n e o , d a d o k] » k_). O a p r i m o r a m e n t o n o l i m i t e para verificar este t i p o de i n t e r f e r ê n c i a analítica. N a prática, o
de detecção é resultado do a u m e n t o da ligação A g A b (e, por- efeito de gancho é e l i m i n a d o se for a d o t a d o o f o r m a t o de ensaio
t a n t o , e m u m a d i m i n u i ç ã o da ligação de A g * ) , q u e é favorecida seqüencial, e se as concentrações dos a n t i c o r p o s de captura e
pela adição seqüencial de A g e A g * . Se k] > k_], a dissociação de conjugados f o r e m s u f i c i e n t e m e n t e altas para c o b r i r as concentra-
A g A b torna-se mais provável, r e s u l t a n d o em m a i o r competição ções do analito em t o d a variação analítica do ensaio.
entre A g * e A g . U m a curva de ligação i m u n o q u í m i c a típica é
apresentada na Figura 10-13. Ensaios imunoquímicos Heterogêneos versus Homogêneos
Imunoensaios Não-competitivos. E m u m i m u n o e n s a i o não- Os ensaios i m u n o q u í m i c o s que requerem a separação de marca-
c o m p e t i t i v o típico, o a n t i c o r p o de " c a p t u r a " é p r i m e i r o adsor- dores livres e ligados são chamados de heterogêneos. Os ensaios
v i d o passivamente o u ligado covalentemente à superfície de u m a homogéneos não precisam de separação.
fase sólida. E m seguida, permite-se que o antígeno da amostra EnSâiOS Heterogêneos. Os ensaios heterogêneos assumem, de
reaja e seja capturado pelo a n t i c o r p o da fase sólida. O u t r a s pro- f o r m a i m p l í c i t a , q u e k] e várias técnicas de separação física
teínas são retiradas p o r lavagem e u m a n t i c o r p o marcado (conju- ( Q u a d r o 10-1) são utilizadas para separar o antígeno marcado
gado) é a d i c i o n a d o . Este reage c o m o antígeno ligado p o r m e i o livre (Ag*) do antígeno marcado fígado ( A g * : A b ) .
de u m segundo e p í t o p o d i s t i n t o . O excesso de a n t i c o r p o marcado A precipitação do antígeno m a r c a d o ligado ( A g * : A b ) a p a r t i r
não l i g a d o é r e m o v i d o p o r lavagens adicionais. E m seguida, o da m i s t u r a de reação é alcançada t a n t o q u í m i c a q u a n t o i m u n o -
marcador ligado é m e d i d o e sua concentração o u atividade é logicamente. Q u i m i c a m e n t e , adiciona-se u m composto q u í m i c o
d i r e t a m e n t e p r o p o r c i o n a l à concentração de antígeno capaz de precipitar proteínas, c o m o o ( N H ^ S O ^ I m u n o l o g i c a -
N o s ensaios não-competitivos, os anticorpos, p o l i o u m o n o - m e n t e , adiciona-se u m segundo a n t i c o r p o " p r e c i p i t a n t e " . N a
clonais, são utilizados t a n t o c o m o a n t i c o r p o s de captura c o m o adsorção em fase l í q u i d a , partículas de carvão ativado o u carvão
168 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

QUADRO 10-1 Métodos de Separação Utilizados nos TABELA 10-2 Limites de Detecção para Marcadores
Imunoensaios Isotópicos ou Não-isotópicos e m Imunoensaios

ADSOHÇÃO Limite de
Carvão, llorisil, talco Detecção em
Zeptomoles*
PRECIPITAÇÃO Marcador (10 21 moles) Método
Polímero de precipitação: polietileno glicol Fosfatase alcalina 50.000 Fotometria
Solvente ou sal de precipitação: etanol, dioxano, (NH^SOj,
300 Fluorescência com
Proteína A cu precipitação por dois anticorpos (secundário)
resolusão de tempo
100 Fluorescência
ANTICORPOS DE FASE SÓLIDA
10 Cascata enzimática
Anticorpos ou outras proteínas de ligação (p. ex., proteína A, biotina-avidina e
1 Quimioiuminescência
biotina-estreptavidina) adsorvidos ou ligados cova lente mente a u m a matriz
p-D-galactosidase 5.000 Quimioiuminescência
insolúvel (p. ex., esferas de plástico, superfície interna de tubos plásticos ou
1.000 Fluorescência
micropoços e esferas magnéticas)
Quelato de európio 10.000 Fluorescência resolvida

DIVERSOS no tempo

Eletroforese Glicose-6-fosfato 1.000 Quimioiuminescência

Filtração em gel desidrogenase


3
Troca Jónica H 1.000.000 Cintilação
Separação radial Peroxidase de raiz forte 2.000.000 Fotometria
1 Quimioiuminescência
125|
1.000 Cintilação

revestido c o m d e x t r a n são d i r e t a m e n t e adicionadas à m i s t u r a da Tris(bipiridíl) rutênio (II] 20 1 Eletroquimioluminescência

reação p a i a adsorver o antigeno livre. A s partículas de carvão * U m leptomole •= J 0 J atomoles o u 106 finto moles.
c o m antigeno a d s o r v i d o são então removidas após sua sedimen- ^Comunicação pessoal.
tação o u por centrifugação.
A adsorção e m fase sólida é u m a técnica de separação ampla-
m e n t e utilizada. C o m este m é t o d o , a ligação e a competição dos
antígenos marcados o u n ã o marcados pelos sítios de ligação d o
a n t i c o r p o o c o r r e m n a superfície de u m suporte sólido. N a super- A equação resultante é chamada de f u n ç ã o spline. M é t o d o s empí-
fície deste s u p o r t e , o a n t i c o r p o de captura é a d e r i d o p o r adsorção ricos de elaboração de curvas u t i l i z a m diferentes m o d e l o s mate-
física o u p o r ligação covalente. V á r i o s tipos diferentes de s u p o r t e máticos, i n c l u i n d o h i p e r b ó l i c o , p o l i n ó m i o e log-logístico e suas
sólido são utilizados, i n c l u i n d o a superfície i n t e r n a de t u b o s variantes (p. ex., log-logística de q u a t r o parâmetros) para calcular
plásticos o u poços de placas de m i c r o t i t u l a c ã o e a superfície a curva para ajustar os dados da padronização.
exrerna de materiais insolúveis, c o m o celulose o u esferas o u Deve-se considerar que a incerteza da f o r m a da c u r v a entre
partículas de látex magnéticas. os sucessivos padrões e a imprecisão na m e d i d a de cada padrão
Ensãios Homogêneos. Os ensaios hom ogêneos n ã o necessitam é u m a f o n t e de erro e m todos os m é t o d o s para elaboração da
de separação dos antígenos o u anticorpos marcados livres e curva. A imprecisão p o d e não ser constante e m t o d o o i n t e r v a l o
ligados. 8 Neste t i p o de ensaio, a atividade d o m a r c a d o r a d e r i d o de concentração representado pelos padrões e, neste caso, a res-
ao antigeno é d i r e t a m e n t e m o d u l a d a pela ligação d o a n t i c o r p o . posta variável é chamada de heterocedástica.
A m a g n i t u d e da m o d u l a ç ã o é p r o p o r c i o n a l à concentração de
antigeno ou a n t i c o r p o a ser m e d i d a . C o n s e q ü e n t e m e n t e , é neces- Limites da Detecção Anaucica
sário somente i n c u b a r a amostra c o n t e n d o o antigeno a n a l i t o Os l i m i t e s de detecção analítica de i m u n o e n s a i o s competitivos
c o m o antigeno marcado e a n t i c o r p o e, e m seguida, a atividade são d e t e r m i n a d o s , p r i n c i p a l m e n t e , pela a f i n i d a d e d o a n t i c o r p o .
d o m a r c a d o r é m e d i d a d i r e t a m e n t e " n o l u g a r " , t o r n a n d o estes Cálculos i n d i c a m que o m e n o r l i m i t e de detecção de 10 f m o l / L
ensaios tecnicamente mais rápidos e mais fáceis. (isto é, 6 0 0 . 0 0 0 moléculas de a n a l i t o e m u m v o l u m e de amostra
t í p i c o de 100 p L ) é possível e m u m ensaio c o m p e t i t i v o u t i l i z a n d o
Padronização dos Imunoensaios u m a n t i c o r p o c o m a f i n i d a d e de I0 13 m o l / L .
A padronização de u m i m u n o e n s a i o envolve u m a série de ensaios Para os i m u n o e n s a i o s não-competitivos, a capacidade dos
c o m padrões de valores conhecidos e a construção de u m a l i n h a detectores para m e d i r o m a r c a d o r d e t e r m i n a o l i m i t e de detecção
reta o u curva, a p a r t i r dos dados resultantes) para associar o sinal d o e x p e r i m e n t o . A Tabela 10-2 ilustra os l i m i t e s de detecção para
à concentração das séries analisadas. Esta curva dose-resposta é os i m u n o e n s a i o s não-competitivos u t i l i z a n d o marcadores isotópi-
então utilizada para d e t e r m i n a r a concentração dos espécimes cos e não-isotópicos. U m marcador radioativo, c o m o 125 I, apre-
desconhecidos. A ligação dos p o n t o s sucessivos da curva-padrão senta ba ixa atividade especifica (7,5 m i l h õ e s de marcadores sao
geralmente é d e t e r m i n a d a pelas médias de u m a equação mate- necessários para a detecção de 1 desintegração/segundo) q u a n d o
m á t i c a a p r o p r i a d a . V á r i o s m é t o d o s para a construção de curvas c o m p a r a d o a marcadores enzimáticos, q u i m i o l u m i n e s c e n t e s e
são empregados ( C a p í t u l o 13). M é t o d o s de interpolação p e r m i - fluorescentes. Os marcadores enzimáticos f o r n e c e m u m a a m p l i -
t e m a ligação dos p o n t o s sucessivos p o r linhas retas ( i n t e r p o l a ç ã o ficação (cada marcador e n z i m á t i c o p r o d u z vários p r o d u t o s mole-
linear) o u linhas curvas ( i n t e r p o l a ç ã o curvilínea). N a ú l t i m a , u m culares detectáveis) e o l i m i t e de detecção para u m a enzima é
p o l i n ó m i o c ú b i c o (y = a + bx + cx 2 + dx^) associa a resposta (y) à m e l h o r a d o se a detecção f o t o m é t r i c a c o n v e n c i o n a l f o r substitu-
concentração d o p a d r ã o (x). A m e l h o r p l o t a g e m é o b t i d a p o r ída pela detecção q u i m i o l u m i n e s c e n t e o u b i o l u m i n e s c e n t e . A
m e i o de u m a série de recálculos (iterações) que suavizam as c o m b i n a ç ã o da amplificação c o m a reação de detecção ultra-sen-
junções entre as curvas, ligando os p o n t o s sucessivos n a curva. sível t o r n a os i m u n o e n s a i o s enzimáticos q u i m i o l u m i n e s c e n t e s
Princípios das Técnicas Imunoquímicas CAPÍTULO 10 169

não-competitivos u m dos tipos de i m u n o e n s a i o s mais sensíveis. ador para m ú l t i p l o s marcadores (p. ex., Eu + 1 e fatores de ampli-
Os marcadores fluorescentes t a m b é m apresentam alta atividade ficação de vários milhares são alcançados).
específica; u m ú n i c o f l u o r ó f o r o de alto r e n d i m e n t o q u â n t i c o é
capaz de p r o d u z i r 100 m i l h õ e s de f ó t o n s / s e g u n d o . N a prática, Exemplos de Imunoensaios Marcados
vários fatores d i m i n u e m o l i m i t e de detecção de u m i m u n o e n - Exemplos específicos de diferentes tipos de i m u n o e n s a i o s marca-
saio. Estes i n c l u e m (1) sinal de f u n d o do detector, 1,2) reagentes dos são discutidos na seção seguinte. O u t r o s estão descritos n o
do ensaio e (3) ligação inespecífica do reagente marcado. Q u a d r o 10-2.
Os marcadores secundários, c o m o a b i o t i n a , t a m b é m são
usados para p r o d u z i r amplificação em u m i m u n o e n s a i o . A ligação Radioimunoensaio
constante de complexos b i o t i n a - a v i d i n a é extremamente alta (IO 15 Os r a d i o i m u n o e n s a i u s (RIAs) f o r a m desenvolvidos na década de
m o l / L ) . Esta alta ligação p e r m i t e o d e l i n e a m e n t o de sistemas de 1960 e utilizavam c o m o marcadores os isótopos radioativos de
imunoensaios mais sensíveis que os sistemas de anticorpos i o d i n a , U 5 l e 131 I, e t r í t i o ( J H ) . n C o m b i n a ç õ e s dos marcadores (p.
simples. O sistema biotina-avidina utiliza o p r i m e i r o a n t i c o r p o ex., ^ C o e 125 I) t a m b é m eram utilizados para ensaios simultâneos
m a r c a d o c o m b i o t i n a . A b i o t i n a é aderida ao a n t i c o r p o em u m a (p. ex., v i t a m i n a B I Z e folato). Na prática, a competição entre os
p r o p o r ç ã o relativamente alta sem a perda da í m u n o r r e a t i v i d a d e antígenos o u anticorpos radiomarcados o u não marcados, e m
do a n t i c o r p o . A adição de u m marcador c o n j u g a d o c o m avidina u m a reação antígeno-anticorpo, analiticamente é utilizada para
f o r m a u m complexo A g A b - b i o t i n a : a v i d i n a - m a r c a d o r . U m a d e t e r m i n a r a concentração de antígeno o u a n t i c o r p o não marcado.
amplificação a d i c i o n a l é o b t i d a pela ligação b i o t i n a : a v i d i n a : Esta técnica t e m c o m o vantagem a especificidade da interação
b i o t i n a p o r q u e a taxa de ligação de b i o t i n a : a v i d i n a é 4 : 1 (p- ex., antígeno-anticorpo e da capacidade de se m e d i r quantidades
A g : A b - b i o t i n a : a v i d i n a : [ 3 marcadores b i o t i n a ] ) . Se o marcador é m u i t o pequenas de elementos radioativos. Os R I A s são utilizados
u m a enzima, várias moléculas de enzima n o complexo c o m p l e t o para d e t e r m i n a r a concentração de anticorpos o u qualquer antí-
p r o p o r c i o n a m u m grande a u m e n t o na atividade enzimática, j u n - geno c o n t r a o qual tenha sido p r o d u z i d o u m a n t i c o r p o específico.
tamente c o m a pequena q u a n t i d a d e de antígeno a ser determi- Q u a n d o utilizado para m e d i r a concentração de u m antígeno, o
nada, de u m m o d o correspondente, o ensaio c o m o antígeno é R I A requer que o antígeno esteja disponível na f o r m a p u r a e
mais sensível. O u t r a s estratégias para d i m i n u i r os limites de marcado c o m isótopo radioativo. U m desenho e x p e r i m e n t a l alter-
detecção analítica dos i m u n o e n s a i o s i n c l u e m o uso de conjuga- nativo utiliza a n t i c o r p o marcado (p ex., ensaio i m u n o r r a d i o m é -
dos estreptavidina-tireoglobulina, e complexos macromoleculares trico [ I R M A ] ) e não requer antígeno p u r i f i c a d o p o r q u e o antígeno
de t i r e o g l o b u l i n a s c o m marcações m ú l t i p l a s e estreptavidina-tireo- não precisa ser marcado. Isto t a m b é m e l i m i n a potenciais proble-
g l o b u l i n a . Nestes reagentes, a t i r e o g l o b u l i n a age c o m o u m carre- mas que possam ser causados pela lodinação de antígenos instá-

i
Q U A D R O 1 0 - 2 I Exemplos de Outras Imunoensaios Não-isotópicos

IMUNOENSAIOS BIOLUMINESCENTES IMUNOENSAIO COM SUBSTÂNCIA FOSFORESCENTE


Apoaequorina nativa ou recombinante (da água-viva bicluminescente Aequorea) é Imunoensaio heterogêneo em que uma nanopartícula fosforescente conversora
utilizada como marcador. Ela é ativada por uma reação com celenlerazira, e a emissão é utilizada como marcador. A nanopartícula (200 a 400 nm de diâmetro) é um
de luz a 469 nm é desencadeada pela reação com íons de cálcio (cloreto de cálcio) oxissulfeto de lantanídeo cristalino. Ele absorve dois ou mais fótons de luz
iníravermelha (980 nm) e produz emissão de luz em um comprimento de onda
IMUNOENSAIO DE TRANSFERÊNCIA DE EXCITAÇÃO DE FLUORESCÊNCIA mais curto (deslocamento anti-Sfokes). A fosforescência não é influenciada pelas

Ensaio competitivo homogêneo no qual um antígeno marcado com fluoróforo (doadoij condições da reação (p. ex., temperatura ou tampão) e não ocorre conversão de
sinal dos componentes biológicos da amostra (baixo ruído de fundo), 0 ensaio
compete com um antígeno na amostra pelos sítios de ligação em um anticorpo
múltiplo é possível porque diferentes tipos de partículas produzem diferentes
marcado com um corante fluorescente (aceptor). A fluorescência do doador é extin-
comprimentos de ondas de fosforescência (p. ex., as partículas de oxissulfeto de
guida quando o mesmo se liga ao anticorpo marcado com o aceptor
ítrio/érbio são verdes [550 nm] e as partículas de oxissulfeto ítrio/túlio são azuis
[475 nm])
IMUN0-PCR
imunoensaio heterogêneo no qual um fragmento de DNA de fila simples CL dupla
IMUNOENSAIO COM QUANTUM DOT
é utilizado como um marcador para um anticorpo em um ensaio sanduíche. 0
imunoensaio heterogêneo em que uma partícula de material semicondutor de
DNA marcado ligado é amplificado utilizando-se a reação em cadeia da polime-
dimensão nanométrica (menor que 10 nm) é utilizada como marcador. Um
rase (PCR). 0 produto da amplificação de DNA é separado por eletroforese em quantum dot á um nanocristal altamente fluorescente composto por CdSe, CdS,
gel, corado com brometo de etídio e quantificado por análise densitométrica ZnSe, InP ou InAs ou uma camada de ZnS ou CdS sobre, por exemplo, um núcleo
CdSe, 0 ensaio múltiplo é possível com estes marcadores porque as propriedades
IMUNOENSAIO DE CANALIZAÇÃO DE OXIGÊNIO LUMINESCENTE (L0CI) de emissão podem ser moduladas pelas alterações no tamanho e na composição
Imunoensaio sanduíche homogêneo no qual um antígeno se liga a uma partícula do nanocristal (p. ex., CdS emite luz azul, InP emite luz vermelha)
preenchida com corante sensibilizador recoberta por anticorpos (diâmetro de 250
nm) e a uma partícula revestida por anticorpo (diâmetro de 250 nm) preenchida IMUNOENSAIO DE DIFUSÃO DA LUZ EM FASE SÓLIDA
com uma mistura de precursores de um composto quimioluminescente e de um Esferas de índio são revestidas por vidro para medir a ligação do anticorpo a um
fluoróforo. A irradiação produz oxigênio singlete na superfície da partícula com antígeno. A ligação dos anticorpos aos antígenos aumenta a espessura da camada
corante sensibilizador Este se difunde para a outra partícula que está mais dielétrica, que produz um grau maior de difusão que as áreas onde somente um
próxima e ligada através da reação imunoquímica entre o antígeno e os anticor- antígeno está ligado. A quantificação é realizada por densitometria
pos rias partículas ("canais"). 0 oxigênio singlete reage com o precursor do
composto quimioluminescente na partícula para formar um dioxano quimiolumi- IMUNOENSAIO DE EFEITO DE SUPERFÍCIE
nescente, que então se decompõe para emitir luz por meio de um mecanismo Um anticorpo é imobilizado na superfície de um guia de ondas (lâminas de
quartzo, vidro ou plástico, ou um prisma revestido por ouro ou prata), e a ligação
sensibilizado pelo fluoróforo. Nenhum sinal é obtido das partículas carregadas
do antígeno é medida diretamente pela reflexão interna total da fluorescência,
com precursores do fluoróforo que não estão ligados a um antígeno por meio de
ressonância de superfície de plasmônio ou reflexão total atenuada
uma reação imunológica
170 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

veis. Os anticorpos são proteínas mais estáveis e são facilmente


marcados sem que se danifique a função da proteína H
Os R I As de não separação também foram desenvolvidos com
base na modulação dos marcadores trítio ou n , I por micropartí- fY II
culas carregadas com u m cintilante. 6 Estes ensaios de proximi- íí
nh 2 O
dade de cintilação encontraram aplicação rotineira em ensaios
de detecção de alta amplitude utilizados para o descobrimento H 2 0 : + p-iodofenol
de drogas. M a r c a d o r c o m peroxidase Luz
Embora seja popular, o emprego dos RLAs nos laboratórios de raiz f o r t e
clínicos d i m i n u i u principalmente por causa das preocupações
com a manipulação segura e a utilização e descarte dos reagentes O—O CH3
radioativos. I O

Imunoensaio Enzimático
O imunoensaio enzimático (EIA) utiliza as propriedades catalíti-
/-V/
\J
cas das enzimas para detectar e quantificar as reações imunológi- orou
cas. As enzimas mais comumente empregadas como marcadores (AMPPD)
nos ELAs são a fosfatase alcalina (ALP), a peroxidase de raiz forte M a r c a d o r c o m fosfatase Luz
(HRP), a glicose-6-desidrogenase (G6D) e a |3-galactosidase. alcalina
Vários sistemas de detecção são utilizados para monitorar os
EIAs. Os ensaios que produzem compostos que são monitorados NADP

fotometricamente são empregados de forma ampla e foram auto-


matizados. Os EIAs que utilizam substratos fluorogênicos ou M a r c a d o r c o m fosfatase

quimioluminogênicos também são populares porque sua medição


é inerentemente sensível. As reações enzimáticas em cascata
também são aplicadas à detecção de marcadores enzimáticos no
c
CtLCHnOH NAD Formãzan
E I A . O princípio de u m ensaio em cascata para a A L P está ilus-
trado na Figura 10-14. A vantagem deste tipo de ensaio é que ele
AIcoo! desidrogenase Di aforas e
combina a propriedade de amplificação de duas enzimas — o
marcador A L P e a álcool desidrogenase no reagente — produ- y / V
CHICHO NADH " " INT
zindo u m ensaio extremamente sensível (Tabela 10-2)
Exemplos de E I A incluem ensaio de imunoabsorvância ligado Figura 10-14 Ensaios ultra-sensíveis para os marcadores peroxidase
à enzima (ELISA), técnica de imunoensaio enzimático de mul-
de raiz forte e fosfatase alcalina. A, Ensaio quimioluminescente para o
tiplicação ( E M I T ) e imunoensaio de doador enzimático clonado marcador peroxidase de raiz forte empregando luminol. B, Ensaio
(CEDIA).
quimioluminescente para um marcador com fosfatase alcalina
Ensaio de Imunoabsorvância Ligado à Enzima. O ELISA é uma empregando AMPPD (fosfato dissódio 3-(4-metoxispiro[l,2-dioxetano-
técnica de E I A heterogêneo. Neste tipo de ensaio, um dos com- 3,2'-mciclo[3.3.1.1]-decano]4-il)fenil). C, Ensaio fotométrico para o
ponentes da reação é aderido à superfície de uma fase sólida, marcador fosfatase alcalina utilizando uma reação de detecção em
como u m poço de microtitulacão. Esta aderência é uma adsorção cascata. ÍNT, violeta de p-iodonitrotecrazólio.
inespecífica ou uma ligação química ou imunoquímíca e facilita
a separação dos reagentes marcados ligados ou livres. Tipica-
mente, é adicionado com o ELISA uma alíquota da amostra ou
do padrão contendo o antigeno a ser medido, permitindo a Técnica de Imunoensaio Enzimático de Multiplicação. E M I T é
ligação deste ao anticorpo na fase sólida. Após lavar a fase sólida, u m E I A homogêneo (Figura 10-15).8 Esta técnica é de realização
u m anticorpo marcado com enzima diferente do anticorpo ligado simples porque não necessita de uma etapa de separação e é
é, então, adicionado formando-se u m "complexo sanduíche", utilizada no desenvolvimento de uma ampla variedade de expe-
com Ab-ligado à fase sólidaAgAb-enzima. O anticorpo em rimentos com drogas, hormônios e metabólitos. Os ensaios do
excesso (não ligado) é retirado por meio de lavagem e adiciona-se tipo E M I T são facilmente automatizados e estão incluídos no
u m substrato enzimático. O marcador enzimático, então, catalisa repertório da maioria dos analisadores automatizados clínicos e
a conversão do substrato em produto(s) e a quantidade deste é de imunoensaios.
proporcional à quantidade de antigeno na amostra. Os anticor- N a técnica E M I T , o anticorpo contra o analito, droga, hor-
pos na amostra também são quantificados pela utilização de u m m ô n i o ou metabólito é adicionado à amostra do paciente junta-
procedimento ELISA no qual o antigeno, e não o anticorpo, é mente com o substrato. Assim ocorre a ligação do anticorpo ao
ligado à fase sólida e o segundo reagente é u m anticorpo especí- analito. U m a alíquota da enzima conjugada ao analito, droga,
fico marcado com enzima para o anticorpo do analito. Por h o r m ô n i o ou metabólito é então adicionada como segundo rea-
exemplo, em placas de microtitulacão, os ELISAs são extensiva- gente. O conjugado enzima-analito liga-se com o excesso de anti-
mente utilizados para a detecção de anticorpos para vírus e para- corpo antianalito formando u m complexo antígeno-anticorpo.
sitas n o soro ou no sangue total. A l é m disso, conjugados enzimá- Esta ligação do anticorpo antianalito com o conjugado enzima-
ticos acoplados a substratos que produzem produtos visíveis são analito afeta a enzima e altera sua atividade. A variação relativa
utilizados para desenvolver ensaios semelhantes ao ELISA com na atividade da enzima é proporcional à concentração do analito
resultados que são visualmente interpretados. Estes tipos de na amostra do paciente. A concentração do analito é calculada
ensaios são m u i t o úteis para aplicações em (1) triagens, (2) pronto a partir da curva-padrão preparada através da análise dos padrões
atendimento e (3) testes em domicilio. que contenham quantidades conhecidas de analito.
Princípios das Técnicas Imunoquímicas CAPÍTULO 10 171

Imunoensaio de Doador Enzimático Cionado. C E D I A é u m terra raras (lantanídeo) ( C a p i t u l o 4). Estas técnicas são baseadas
segundo t i p o de E I A h o m o g ê n e o {Figura 10-15). Este é o pri- n o f a t o de as emissões fluorescentes dos quelatos de l a n t a n í d e o
m e i r o E I A desenhado e desenvolvido p o r técnicas de engenharia (p. ex., e u r ó p i o , t é r b i o e samáno) apresentarem vida longa (> 1
genética.' C o m esta técnica, fragmentos inativos de p-gala c t o si- (is) em comparação à fluorescência de f u n d o típica e n c o n t r a d a
das e (o d o a d o r enzimático e o aceptor) são preparados p o r m a n i - nas amostras biológicas. N o F I A c o m resolução de tempo, u m
pulação do gene Z d o operori lac de Esckerichia coli. Estes dois m a r c a d o r de quelato de e u r ó p i o é excitado p o r u m pulso de
fragmentos reagrupam-se espontaneamente para f o r m a r a enzima excitação l u m i n o s o (0,5 (is), e a emissão de fluorescência de vida
ativa, m e s m o que o d o a d o r enzimático esteja aderido a u m antí- longa d o m a r c a d o r é m e d i d a após u m atraso (400 a 800 |Js); nesse
geno. N o e n t a n t o , a ligação d o a n t i c o r p o ao c o n j u g a d o antígeno- t e m p o q u a l q u e r sinal de f u n d o de vida c u r t a já decaiu.
d o a d o r enzimático i n i b e o reagrupamento, b l o q u e a n d o então a O i m u n o e n s a i o de fluorescência polarizada ( F P I A ) é u m t i p o
f o r m a ç ã o da enzima ativa. A s s i m , a competição entre o antígeno de F I A h o m o g ê n e o a m p l a m e n t e utilizado (Figura 10-16). C o m
e o c o n j u g a d o antígeno-doador enz i m áti c o p o r u m a q u a n t i d a d e esta técnica, a polarização da fluorescência a p a r t i r de u m conju-
f i x a de a n t i c o r p o na presença de u m aceptor enz i m áti c o m o d u l a gado fluorosceína-antígeno é d e t e r m i n a d a pela velocidade de
a atividade enzimática m e d i d a . A l t a s concentrações de antígeno rotação d u r a n t e o t e m p o de vida do estado excitado em solução.
p r o d u z e m a m e n o r i n i b i ç ã o da atividade enzimática; baixas con- U m p e q u e n o c o n j u g a d o antígeno-fluorosceina de rotação rápida
centrações, causam a m a i o r p r o d u ç ã o . apresenta u m baixo grau de polarização; n o e n t a n t o , a ligação a
u m a grande m o l é c u l a de a n t i c o r p o d i m i n u i a velocidade de
Fluoroimunoensaio rotação e a u m e n t a o grau de polarização. Assim, a ligação ao
O f l u o r o i m u n o e n s a i o ( F I A ) utiliza u m a m o l é c u l a fluorescente a n t i c o r p o m o d u l a a polarização. A alteração na polarização é
c o m o u m marcador i n d i c a d o r para detectar e q u a n t i f i c a r as então m e d i d a e relacionada à concentração de antígeno.
reações imunológicas. Exemplos de f l u o r ó f o r o s empregados O u t r o t i p o de F I A de não separação utiliza u m sistema de
c o m o marcadores n o F I A e suas propriedades estão listados na m u l t i c a m a d a para e l i m i n a r a necessidade de separação das frações
Tabela 10-3. U m p r o b l e m a i n i c i a l era a fluorescência de f u n d o ligadas e livres. O dispositivo consiste de duas camadas de agarose
da amostra que l i m i t a v a a u t i l i d a d e do F I A . Este p r o b l e m a f o i separadas p o r u m a camada opaca de ó x i d o de ferro. A amostra é
c o n t o r n a d o pela utilização de técnicas de imunoensaios c o m adicionada à camada superior (10 Jim) e se d i f u n d e através da
resoluções de t e m p o que u t i l i z a m elementos quelantes da série camada de ó x i d o de ferro (10 |j,m) para a camada sinalizadora
delgada (1 |J.m), que c o n t é m complexos anticorpo-antigeno-roda-
m i n a . O conjugado antígeno-rodamina é deslocado da camada
sinalizadora pelo antígeno na amostra e se d i f u n d e para a camada
CEDIA
superior. O conjugado antígeno-rodamina ligado residual na
-fAjj
Ab + EA + ED-A,-' A t r A g + {EA-ED- \ o. >4 camada sinalizadora é m e d i d o por f l u o r o m e t r i a f r o n t a l de super-
Enzima ativa fície. O conjugado livre deslocado não c o n t r i b u i para o sinal
Sem Ag p o r q u e o mesmo é protegido da excitação de luz da fluorescência
pela camada de ó x i d o de ferro. V á r i o s outros tipos de FIAs h o m o -
A b A g - E D + EA
gêneos f o r a m desenvolvidos e estão listados n o Q u a d r o 10-2.
Ausência Ár atividade
enzimática imunoensaio QuimioluminGscentG
Q u i m i o l u m m e s c ê n c i a é a emissão de luz p r o d u z i d a d u r a n t e u m a
EMIT reação q u í m i c a ( C a p í t u l o 4). E m u m i m u n o e n s a i o q u i m i o l u m i -
nescente, u m a m o l é c u l a q u i m i o l u m i n e s c e n t e é utilizada c o m o
¥
A«-Enzima + A b A b iAg + Ag-Enzima
1 Enzima ativa

Quantidade
Ab: Ag-Enzima variável de Ag
Ausénciíí de atividade enzimática Ag-F + Ab Ab:Ag-F + Ab:Ag + Ag-F

F i g u r a 1 0 - 1 5 Imunoensaios homogêneos com as técnicas de Alta polarização Baixa polarização


(rotação lenia) (rotação rápida)
imunoensaio de doador enzimárico cionado (CEDIA) e técnica de
imunoensaio multiplicado por enzima (EMIT). EA, aceptor
enzimático; ED, doador enzimático; SD, micToparticula cintilante; Figura 10-16 Fluoroimunoensaio de polarização homogênea.
Ab, andcorpo; Ag, antígeno. F, Fluoresceína; Ab, anticorpo; Ag, antígeno.

T A B E L A 10 3 Propriedades dos Marcadores Fluorescentes

Rendimento Quântico Tempo de


Fluoróforo Excitação (nm) Emissão (nm) de Fluorescência 4 Vida (ns)

Isotiociariato de lluorosceina 492 520 0,0-0,85 4,5


Európio (p-naftoil irifluoroaceíona) 340 590,613 - 500.000
Luciíerina amarela VS 430 540 - -

Ficobiliproieína 550-620 580-660 0,5-0,98 -

Isotiocianata de rcdamina B 550 565 0,0-0,7 3,0


Umbelrferona 380 450 - -

*í?entíimenío quântico de fluorescênciasFração de moléculas que emite um fólon.


172 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

marcador indicador para detectar e quantificar as reações imu- Imunoensaio Simplificado


nológicas. O isoluminol e os ésteres de acridina são exemplos de A integração dos avanços técnicos realizados na imunologia mole-
marcadores quimioluminescentes, A oxidação do isoluminol cular com aqueles realizados nas ciências do material e processa-
pelo peróxido de hidrogênio na presença de uma catalisador (p. mento resultou no desenvolvimento de vários imunoensaios "sim-
ex-, microperoxidase) produz uma emissão de luz a 425 n m de plificados" para uso no consultório médico ou em domicílio
vida relativamente longa. A oxidação do éster de acridina pelo (Capítulo 12). Os esforços iniciais foram direcionados para os
peróxido de hidrogênio alcalino na presença de u m detergente testes de gravidez e fertilidade, e foram baseados na aglutinação e
(p. ex.p T r i t o n X-100) produz u m flash de luz rápido a 429 nm. inibição de aglutinação utilizando hemácias marcadas ou partícu-
Os ésteres de acridina são marcadores de atividade altamente las de látex em uma lâmina. Subseqüentemente, imunoensaios
específica (sendo o limite de detecção pata o marcador de 800 sanduíches foram adaptados para aplicações semelhantes Por
zeptomoles) que podem ser utilizados para marcar tanto anticor- exemplo, como listado na bula, o teste de gravidez I C O N I I
pos quanto hapteno,1? (Figura 10-17, A). (Beckman Coulter, Fullerton, Calif.) é um ensaio operacional-
mente simples e sensível para a gonadotrofina coriônica humana
que detecta C G em concentrações menores que 10 m U I / m L no
Imunoensaio de Eletroquimiolunninescência soro e 20 m U I / m L na urina. C o m o mostrado na Figura 10-18, o
E m u m imunoensaio de eletroquimioluminescência, uma molé- teste I C O N I I é u m dispositivo E I A sanduíche que utiliza anti-
cuia eletroquimioluminescente, como o rutênio, é utilizada corpo monoclonal m u r i n o imobilizado na superfície de uma
como marcador indicador em imunoensaios competitivos ou membrana microporosa de náilon localizada n o topo de u m forro
sanduíche. Nestes ensaios, o r u t ê n i o (II) tris(bipiridil) (Figura absorvente. O forro funciona como uma bomba capilar para
10-17, B) é submetido a u m a reação eletroquimioluminescente transferir o líquido da membrana. Para realizar a análise, uma
(620 n m ) c o m t r i p r o p i l a m i n a em uma superfície de eletrodo. alíquota de urina é adicionada à superfície da membrana; a C G
C o m este marcador, vários ensaios foram desenvolvidos em u m é removida à medida que o líquido é transferido, resultando na
f l u x o celular, c o m esferas magnéticas como fase sólida. As remoção da C G da amostra pela sua ligação ao anticorpo de
esferas são capturadas na superfície de eletrodo e o marcador captura na membrana. Em seguida, u m anticorpo monoclonal
não ligado é lavado da célula c o m tampão de lavagem. O mar- m u r i n o anti-CG adequado, conjugado com ALP, é adicionado e
cador ligado à esfera é submetido a uma reação eletroquimio- permite-se sua transferência para o forro absorvente. A solução de
luminescente, e a emissão de luz é medida por u m tubo foto- lavagem é então adicionada, seguida por u m substrato indoxil-
m u l t i p l i c a d o r adjacente. fosfato. O conjugado ligado converte esse substrato em u m corante
índigo insolúvel, que aparece como u m ponto azul discreto. A
segunda geração do teste I C O N inclui duas zonas adicionais de
Amostra, conjugado, solução de
lavagem, substrato

Produto colorido
Substrato
insolúvel
V*
Aík Phos

AB
** Fluxo
CG

©©

0
A ^ \ / V ^ K --i'
r r V
B ^ \ / Y
H
T1 X'H-,

Figura 10-17 Marcadores lu min esc entes. A, Ester de acridina,


marcador quimioluminescente. (De Law S-], Miller T, Piran U, et ai. Figura 10-18 Sistema do imunoensaio ICON ilustrando a
Novel poly-substituted aryl acridinium esters and their use in membrana com o anticorpo imobilizado (a), membrana de separação
immunoassay. ] Biolum Chemilum 1989;4:88-98 ) B, Ester de rutênio fbj; recipiente (c), e forro absorvente (d). CG, gonadotrofina coriônica
(II) tris(bipiridil) NHS (N-hidroxisuccinimida), marcador humana^ AB, anticoTpo monoclonal paTa CG; Âlk Phos, fosfatase
eletroquimioluminescente. alcalina.
Princípios das Técnicas Imunoquímicas CAPÍTULO 10 173

controle. U m a zona com anti-ALP imobilizado age como u m e o sinal decorrente da captura do analito. A vantagem desta
controle do procedimento; este se liga ao conjugado A L P e abordagem é a simplificação do trabalho porque todos estes testes
também aparece como um p o n t o azul. A outra zona contém u m são realizados simultaneamente na mesma lâmina ou no mesmo
anticorpo m o n o c l o n a l m u r i n o irrelevante imobilizado; este tubo, n o caso, de ensaios baseados e m microesferas.
detecta a presença de anticorpos heterófilos nas amostras, parti' Combinações de marcadores distinguíveis, tais como os que-
cularmente anticorpos humanos anticamundongo. Isto mimetiza latos de európio (613 n m , tempo de vida da emissão de 730 (is)
o antígeno e liga os anticorpos murinos conjugados e de captura, e de samário (643 n m , tempo de vida da eirissão de 50 |is),
fornecendo então o que parece ser u m resultado positivo. também fornecem a base para imunoensaios quantitativos simul-
Outros sistemas de pronto atendimento ( P O C T ) requerem tâneos. Estes dois quelatos apresentam diferentes emissões
somente a adição da amostra, simplificando o protocolo do máximas de fluorescência e tempos diferentes de decaimento da
ensaio e m i n i m i z a n d o possíveis falhas resultantes de erro do fluorescência e, portanto, são facilmente distinguidos a partir da
operador. O TestPack Plus ( U n i p a t h Limited, Bedford, Reino medição a 613 n m , com tempo de atraso de 0,4 ms (európio) e
U n i d o ) é u m teste de gravidez que consiste em uma única etapa 643 n m , com tempo de atraso de 0,05 jis (samário). O ensaio para
e que ilustra os princípios gerais dos novos dispositivos. O mesmo o antígeno prostático especifico livre e ligado e para mioglobulina
utiliza partículas de selênio coloidal (diâmetro de 160 nm) mar- e amdrase carbônica I I I são dois exemplos da utilidade clínica de
cadas com anticorpo monoclonal anti-a-CG, que apresenta cor testes combinados neste formato de ensaio simultâneo.
vermelha e fácil visualização. A amostra (urina) é aplicada ao
poço da amostra e penetra em u m forro de fibra de vidro con- Microarranjos de Proteínas
tendo o conjugado. Qualquer C G na amostra de urina combina Arranjos de centenas ou milhares de pontos de dimensões micro-
com o anticorpo marcado com selênio, e a mistura migra ao métricas, com antígenos ou anticorpos imobilizados na superfície
longo de uma tira de nitrocelulose para uma região onde uma de u m chip de vidro o u plástico, estão emergindo como u m a
linha de anticorpo policlonal anti-CG e uma l i n h a ortogonal de ferramenta importante nos estudos genõmicos e na avaliação das
complexo anti-(3-CG.CG estão imobilizados. O complexo captura interações proteína-proteína. 9 Este formato facilita os imunoen-
o anti-a-CG marcado com selênio que não reagiu, formando o saios para análise simultânea de multianalitos utilizando, por
sinal menos, visível na janela de observação. Se a C G estiver exemplo, conjugados marcados com enzimas ou fluoróforos. Os
presente na amostra de urina, então os complexos anti-a-CG arranjos são feitos pela impressão o u marcação de gotas de 1 n L
marcado com selênio:CG ligar-se-ão ao anti-CG policlonal imo- de soluções protéicas em u m a superfície plana, como u m a lâmina
bilizado e u m sinal mais será formado, denotando u m resultado de v i d r o para microscopia. Em u m ensaio sanduíche típico, o
positivo. O restante da mistura de reação migTa para o final da arranjo na superfície da lâmina é incubado com a amostra e, em
tira e reage com o indicador de p H , vermelho de quinaldina, em seguida, com o conjugado. O conjugado ligado é detectado uti-
uma janela " f i m de teste" para sinalizar que o f l u x o no sistema lizando-se quimioluminescencia ou fluoresceína por meio de u m
f u n c i o n o u corretamente. Variações deste tipo de dispositivo uti- escaneador. O padrão do sinal fornece informações sobre a pre-
lizam esferas recobertas com anticorpo, carregadas com corante sença e a quantidade de analitos individuais na amostra, ou a
azul, e possuem janelas separadas para os controles positivo, reatividade de u m único analito com u m a série de proteínas
negativo e de procedimento (p. ex., Clearview; U n i p a t h , Bedford, dispostas na superfície da lâmina.
Reino U n i d o ) .
Interferências
imunoensaios para Análise Simultânea de Multianalitos U m problema em particular reconhecido nos imunoensaios san-
Os tipos de imunoensaios para análise simultânea de multiana- duíches é a interferência causada por anticorpos humanos circu-
litos, nos quais dois o u mais analitos são detectados em u m único lantes que reagem com imunoglobulinas de animais, particular-
ensaio, estão se t o r n a n d o cada vez populares, tanto nos i m u n o - mente os anticorpos humanos anticamundongo ( H A M A ) . Este
ensaios de rotina quanto na pesquisa proteômica. Duas estraté- tipo de anticorpo causa interferência positiva ou negativa nos
gias diferentes foram desenvolvidas com base em suas zonas de ensaios sanduíche baseados em anticorpo com dois sítios que
reação discreta (arranjos planos o u conjuntos de microesferas) o u utilizam anticorpo m o n o c l o n a l m u r i n o de captura como rea-
combinações de diferentes marcadores. 9 gente. O H A M A causa interferência falso-positiva por formar
Por exemplo, n o sistema Triage P O C T paTa triagem de abuso uma ponte entre o anticorpo de captura antiimunoglobulina
de drogas (BioSite Diagnostics, San Diego, Calif.), sete drogas são m u r i n o e o conjugado de i m u n o g l o b u l i n a m u r i n o , mimetizando,
analisadas simultaneamente, através do uso de zonas de testes assim, u m analito específico. Considera-se que u m resultado
discretas em u m pequeno pedaço de membrana de náilon. Cada falso-negativo seja causado pelos H A M A s que reagem c o m u m
zona de reste é composta por anticorpos contra uma droga espe- dos reagentes do ensaio (anticorpo imobilizado ou conjugado) e
cífica imobilizada na superfície da membrana. Esta zona captura prevenindo a formação do sanduíche com o analito específico.
o conjugado droga-sal de ouro livres da amostra que contém a Os H A M A s freqüentemente estão presentes no sangue de
mistura da reação do conjugado anticorpo-antidroga sal de ouro- pacientes que receberam anticorpo m o n o c l o n a l m u r i n o utilizado
droga e aparece como uma banda púrpura. U m a variante desta como agente terapêutico o u para exames por imagem. Eles
estratégia utiliza pequenos pedaços de vidro ou plástico sobre os também ocorrem por causa da exposição aos antígenos murinos
quais são marcados arranjos de anticorpos de captura ou antí- (p. ex., como resultado do manuseio de camundongos). O soro
geno para diferentes testes (p. ex., arranjo de antígenos para teste m u r i n o não i m u n e geralmente é incluído nos imunoensaios
de anticorpo anti nuclear [ A N A ] ) Outra estratégia utiliza combi- baseados em anticorpo monoclonal m u r i n o para formaT comple-
nações de microesferas distinguíveis (p. ex., cada uma com u m xos com o H A M A . N o entanto, apesar desta precaução, ainda
sinal de fluorescência único) em que cada tipo de esfera é reco- encontra-se a reatividade gerando resultados falso-positivos ou
berto com u m anticorpo de captura o u antígeno diferente. O negativos. A presença de H A M A s e outros anticorpos antiani-
conjunto de esferas é misturado à amostra e aos reagentes de mais não é disfarçada pelos experimentos de diluição porque as
detecção de fluorescência. A medição das fluorescências identi- amostras que contêm anticorpos antianimais não geram resulta-
fica as diferentes esferas (por meio do seu sinal de fluorescência) dos proporcionais. A reanálise da amostra após a incubação com
174 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

urna proteína o u soro a n i m a l (p. ex., I g G de c a m u n d o n g o o u g r u p a m e n t o sanguíneo, R h e o u t r o s tipos antigênicos são ampla-
soro m u r i n o para H A M A s ) t a m b é m c o n f i r m a u m a interferên- m e n t e empregados nos bancos de sangue. Os anti-soros específi-
cia. cos, c o m o a n t i - A , a n t i - C e anti-Kell, são utilizados para detectar
estes antígenos na superfície d o e r i t r ó c i t o . N a hemaglutinação
OUTRAS TÉCNICAS IMUNQQUÍMICAS i n d i r e t a o u passiva, os eritrócitos são utilizados c o m o partículas
O u t r o s m é t o d o s analíticos de interesse c l í n i c o que empregam carreadoras de antígenos estranhos (ou de a n t i c o r p o , em alguns
a n t i c o r p o s i n c l u e m os ensaios c i t o q u í m i c o s e de aglutinação. testes); esta técnica apresenta aplicações amplas. O u t r o s tipos de
materiais disponíveis sob a f o r m a de partículas finas, c o m o o
Imunocitoquímica látex, t a m b é m são utilizados c o m o carreadores de antígenos,
A n t i c o r p o s reagentes marcados são utilizados c o m o sondas especí- p o r é m , estes materiais são mais difíceis de revestir, p a d r o n i z a r e
ficas para antígenos protéicos o u peptídicos para examinar células armazenar. E m u m a variação correlacionada c o m esta técnica,
i n d i v i d u a i s q u a n t o à capacidade sintética, e para marcadores espe- c o n h e c i d a c o m o inibição dá hemaglutinação, determina-se a capa-
cíficos para identificação de várias linhagens celulares. A i m u n o - cidade dos antígenos, haptenos o u outras substâncias, para i n i b i r
q u í m i c a expandiu r a p i d a m e n t e p o r m e i o de métodos imunoenzi- especificamente a h e m a g l u t i n a ç ã o de células sensibilizadas (reves-
máticos, como os ensaios marcados c o m H R P (imunoperoxidase). tidas) pelos anticorpos.
A utilização de marcadores enzimáticos p r o p o r c i o n a várias vanta- E m geral, os métodos de aglutinação são bastante sensíveis,
gens e m relação ao uso de marcadores fluorescentes, E m p r i m e i r o mas não são tão q u a n t i t a t i v o s c o m o o u t r o s m é t o d o s i m u n o q u í -
lugar, eles p e r m i t e m o uso de tecidos fixados (embebidos o u não micos discutidos a n t e r i o r m e n t e . Os i m u n o e n s a i o s não-isotópi-
em parafina) que fornecem u m a preservação excelente da m o r f o - cos, especialmente os EIAs, são tão convenientes q u a n t o as
logia celular e e l i m i n a o p r o b l e m a de autofluorescência do tecido. reações de aglutinação e, p o r esta razão, estão s u b s t i t u i n d o os
E m segundo lugar, as colorações c o m imunoperoxidase são perma- métodos de aglutinação em vários laboratórios.
nentes e é necessário apenas u m m i c r o s c ó p i o de lu2 c o m u m para
identificar as marcações. O s métodos c o m imunoperoxidase
t a m b é m são aplicáveis na microscopia eletrônica. REFERÊNCIAS
1. Diamandis EP, Christopoulos TK. Immunoassay. San Diego
Ensaios Imunoquímicos de Aglutinação Academíc Press, 1996.
A aglutinação é a " f o r m a ç ã o de g r u m o s " e m suspensão de células 2. Gosling JP. Immunoassays- A practical approach. Oxford: Oxford
que expressam antígenos, m i c r o r g a n i s m o s o u partículas na pre- Press, 2000.
sença de a n t i c o r p o s específicos, t a m b é m conhecidos c o m o agiu- 3. Kohler G, Milstein C. C o n t i n u o u s cultures of fused cells secreting
tininas. Os ensaios baseados na aglutinação são utilizados há antibody of predefmed specificity. N ature 1975;256:495-7.
vários anos para a medição q u a l i t a t i v a e q u a n t i t a t i v a de antígenos 4- Kricka LJ. Chemilummescenc and biolum mescent tcchniques. Clin
e anticorpos. A formação de g r u m o s visíveis das partículas, c o m o C h e m 1991-37 1472-81
células e partículas de látex, é utilizada para i n d i c a r a reação 5. Laurell CB. Antigen-antibody crossed electrophoresis. Anal
p r i m á r i a entre antigeno e a n t i c o r p o . O m é t o d o de aglutinação Biochem 1965-10:358-61.
requer (1) partículas estáveis e u n i f o r m e s , (2) antigeno p u r o e (3) 6. Picardo M, Hughes KT. Scintillation proximity assays. In: Devlin jP
a n t i c o r p o específico. Os a n t i c o r p o s I g M apresentam m a i o r pro- High throughput screening. New York: Mareei Dekket, 1997:307-16.
b a b i l i d a d e de p r o d u z i r aglutinação c o m p l e t a d o que os anticor- 7. Pnce CP, Newman D], eds Principies and practice of immunoassay,
pos I g G p o r causa do t a m a n h o e da valência da m o l é c u l a de I g M . 2nd ed. New York: Stockton Press, 1997.
P o r t a n t o , q u a n d o apenas a n t i c o r p o s I g G estão envolvidos, p o d e 8 Rubenstein KE, Schneider RS, Ullman EF. "Homogeneous" enzyme
ser necessária a utilização de acentuador q u í m i c o o u de u m immunoassay: new immunochemical technique. Biochem Biophys
m é t o d o antiglobulina-aglutinação. C o m o em todas as reações Res C o m m u n 1972;47:846-51.
i m u n o q u í m i c a s na q u a l a agregação é m e d i d a n o f i n a l da reação, 9. Schena M. Protein microarrays. Sudbury, MA: Jones and Bartlett,
a razão a n t í g e n o / a n t i c o r p o é crítica. As concentrações extremas 2005.
de a n t i g e n o o u a n t i c o r p o i n i b e m a agregação. 10 Wild D, ed. T h e immunoassay handbook, 3rd ed. San Diego:
A hemaglutinação descreve u m a reação de aglutinação na Elsevier, 2005
q u a l o antigeno está localizado e m u m e r i t r ó c i t o . Os eritrócitos 11. W i n te i G. Synthetic h u m a n antibodies and a strategy for protein
não são apenas bons carreadores passivos de antigeno, mas engineering. FEBS Lett 1998;430:92-4.
t a m b é m são f a c i l m e n t e revestidos c o m proteínas estranhas, sendo 12. Yalow RS, Berson SA. Aísay of plasma insulin in h u m a n subjeets by
de fácil obtenção e estoque. Os testes diretos e m eritrócitos para immunological methods Nature 1959;184:1648-69.
/

CAPÍTULO 1 1

Automação em LaboratóriG
de Análises Clínicas*
James C. Boyd, M.D., e Charles D. Hawker, Ph.D., M.B.A., F.A.C.B

OBJETIVOS analista; t a m b é m d e f i n i d a c o m o operação c o n t r o l a d a de


1. Distinguir as abordagens para automação em análises em lote, de u m aparato, processo o u sistema p o r dispositivo mecânico
o u eletrônico sem i n t e r v e n ç ã o h u m a n a .
acesso aleatório, independente, seqüencial, multicanal e via única,
centrífugo e de fluxo contínuo.
Configuração do Analisador: O formato no qual os
i n s t r u m e n t o s analíticos estão configurados; d i s p o n í v e l e m
2. Listar as operações comumente automatizadas de uma análise
sistemas aberto e fechado. N o sistema aberto, o o p e r a d o r
clínica e descrever cada operação individualmente.
de l a b o r a t ó r i o m o d i f i c a os parâmetros da análise e c o m p r a
3. Descrever uma estação de trabalho laboratorial automatizada e
reagentes de vários fornecedores. N o sistema fechado, a
integrada.
m a i o r i a dos parâmetros é d e t e r m i n a d a pelo fabricante que
4. Definir o que é teste laboratorial remoto (point-of-care testing) e
t a m b é m fornece os reagentes e m u m recipiente especial.
fornecer exemplos de analisadores de testagem laboratorial remeta. C o n t a m i n a ç ã o C r u z a d a (Carry-Over)-. O t r a n s p o r t e de u m a
q u a n t i d a d e de analito o u de reagente que parte da reação
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES de u m a amostra para a seguinte e a c o n t a m i n a .
A l í q u o t a : U m a porção da q u a n t i d a d e t o t a l de u m a amostra L a b o r a t ó r i o C e n t r a l : U m t i p o de l a b o r a t ó r i o centralizado para
(n); u m processo paia d i v i d i r u m a solução em alíquotas (v). o q u a l as amostras são enviadas para análise.
A n á l i s e de Acesso A l e a t ó r i o : U m t i p o de análise n o q u a l T a x a de P r o d u ç ã o de A m o s t r a : A velocidade na q u a l u m
q u a l q u e r amostra, pelo c o m a n d o d o sistema processador, é sistema analítico processa as amostras.
analisada p o r q u a l q u e r processo d i s p o n í v e l em seqüência Testagem C e n t r a l i z a d a : U m m o d o de testagem n o q u a l as
o u não a outras amostras e sem preocupação c o m suas amostras são transportadas para u m a u n i d a d e central, o u
ordens iniciais. " n ú c l e o " , para análise.
A n á l i s e de F l u x o C o n t í n u o : U m t i p o de análise n o q u a l cada Testagem L a b o r a t o r i a l R e m o t a ( P O C T ) : U m sistema de
amostra d o lote passa pelo m e s m o f l u x o c o n t í n u o na testagem e m que a análise é realizada n o local o n d e a
mesma velocidade e é s u b m e t i d a às mesmas reações assistência médica é f o r n e c i d a ; t a m b é m c o n h e c i d o c o m o
analíticas. teste à cabeceira, próximo ao paciente, descentralizado e fora do
A n á l i s e e m L o t e : U m t i p o de análise n o q u a l m u i t a s amostras laboratório.
são processadas na mesma sessão o u " c u r s o " analítico.
A n á l i s e I n d e p e n d e n t e : U m t i p o de análise n o q u a l cada
amostra e m u m l o t e possui os espaços físicos e q u í m i c o s

O
separados de q u a l q u e r o u t r a amostra.
t e r m o a u t o m a ç ã o f o i aplicado na q u í m i c a clínica para
A n á l i s e M u l t i c a n a l : U m t i p o de análise n o q u a l cada amostra
descrever o processo pelo q u a l u m i n s t r u m e n t o analítico
é s u b m e t i d a a m ú l t i p l o s processos analíticos para q u e vários
realiza m u i t o s testes c o m o m í n i m o de e n v o l v i m e n t o p o r
resultados de testes sejam o b t i d o s de u m a única amostra;
parte de u m analista. A d i s p o n i b i l i d a d e de i n s t r u m e n t o s automa-
t a m b é m c o n h e c i d a c o m o análise multiteste.
tizados p e r m i t e que os l a b o r a t ó r i o s processem m a i o r n ú m e r o de
A n á l i s e Paralela: U m t i p o de análise n o q u a l todas as amostras
testes sem a u m e n t o comparável de f u n c i o n á r i o s . A evolução da
são submetidas a u m a série de processos analíticos ao
automação n o l a b o r a t ó r i o c l í n i c o chegou ao patamar da automa-
m e s m o t e m p o , de f o r m a paralela.
ção na i n d ú s t r i a m a n u f a t u r e ira, p r o g r e d i n d o da automação fixa,
A n á l i s e p o r V i a Ú n i c a : U m t i p o de análise n o q u a l cada
e m q u e u m i n s t r u m e n t o realiza sozinho u m a tarefa repetitiva,
amostra é s u b m e t i d a a u m processo ú n i c o para q u e apenas
para a automação programável, q u e p e r m i t e que u m i n s t r u m e n t o
sejam p r o d u z i d o s os resultados para u m ú n i c o a n a l i t o .
desempenhe várias tarefas diferentes. A automação inteligente
T a m b é m c o n h e c i d a c o m o análise de teste único.
t a m b é m f o i acrescentada e m alguns i n s t r u m e n t o s o u sistemas,
A n á l i s e S e q ü e n c i a l : U m t i p o de análise e m q u e cada amostra
p e r m i t i n d o que eles se a u t o m o n i t o r e m e que r e s p o n d a m de
e m u m l o t e entra n o processo analítico u m a após a o u t r a e
f o r m a a p r o p r i a d a às condições variáveis.
cada r e s u l t a d o o u c o n j u n t o de resultados emerge na mesma
U m b e n e f í c i o da a u t o m a ç ã o é a redução na v a r i a b i l i d a d e dos
o r d e m q u e as amostras e n t r a r a m .
resultados e nos erros das análises via eliminação das tarefas que
A u t o m a ç ã o : O processo p e l o q u a l u m i n s t r u m e n t o analítico
são repetitivas e m o n ó t o n a s para a m a i o r i a dos i n d i v í d u o s . O
realiza m u i t o s testes c o m o e n v o l v i m e n t o m í n i m o de u m
aperfeiçoamento da r e p r o d u t i b i l i d a d e o b t i d o c o m a automação
l e v o u a u m a m e l h o r a significativa na qualidade dos testes labora-
toriais.
M u i t o s l a b o r a t ó r i o s p e q u e n o s agora se c o n s o l i d a r a m e m enti-
dades maiores e mais eficientes e m resposta às tendências do
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias de Ernest mercado n o q u e diz respeito à redução de custos. O i m p u l s o para
Maclin e D.S. Young, nas quais se Laseiam partes deste capítulo. automatizar esses megalaboratórios a b r i u novas portas na auto-
176 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

mação l a b o r a t o r i a l . A automação não é mais simplesmente usada u n i f o r m e m e n t e o a u m e n t o de t r a b a l h o e, c o m isso, a u m e n t a r a


para auxiliar o técnico l a b o r a t o r i s t a na realização do teste, mas eficiência o p e r a c i o n a l (Tabela 11-1) A adição de u m m ó d u l o
ela agora i n c l u i (1) processamento e transporte de amostras, (2) quase sempre é usada para a u m e n t a r a taxa de p r o d u ç ã o da
injeção de amostras em analisadores automáticos e (3) avaliação a m o s t r a do analisador c o m o m e d i d a n o n ú m e r o de resultados
dos resultados dos testes realizados. A c r e d i t a m o s que a automa- d o teste p r o d u z i d o p o r hora. O s m ó d u l o s t a m b é m p o d e m adi-
ção dessas funções adicionais seja crucial para a prosperidade c i o n a r f u n c i o n a l i d a d e a u m analisador, c o m o na adição de u m
f u t u r a d o l a b o r a t ó r i o clínico. 1 , 3 m ó d u l o de eletrodo íon-seletivo para mensuTação de eletrólitos.
Este c a p í t u l o discute os p r i n c í p i o s que se aplicam à automa- Nos analisadores de acesso aleatório, os m ó d u l o s adicionais
ção das etapas i n d i v i d u a i s d o processo analítico — t a n t o nos p o d e m fornecer u m m e n u mais a m p l o de testes disponíveis.
analisadores i n d i v i d u a i s q u a n t o na integração da automação em Os analisadores centrífugos usam pipetas distintas para
t o d o o l a b o r a t ó r i o clínico. colocar em seqüência alíquotas de amostras e reagentes nas
câmaras distintas de u m rocor, e as amostras são subseqüente-
CONCEITOS BÁSICOS m e n t e analisadas em paralelo (análise paralela) T a l analisador
O s analisadores automatizados geralmente i n c o r p o r a m versões p o d e ser operado n o m o d o de q u í m i c a ú n i c a / a m o s t r a m ú l t i p l a
mecanizadas das técnicas e p r o c e d i m e n t o s manuais básicos o u de amostra ú n i c a / q u í m i c a m ú l t i p l a .
usados em l a b o r a t ó r i o . P o r é m , a i n s t r u m e n t a ç ã o m o d e r n a oferece
u m a grande variedade de configurações. A configuração mais
c o m u m é o analisador de acesso aleatório. N a análise de acesso AUTOMAÇÃO DO PROCESSO ANALÍTICO
a l e a t ó r i o o u r a n d ô m i c o , as análises são realizadas seqüencial- As seguintes etapas i n d i v i d u a i s necessárias para c o m p l e t a r u m a
m e n t e e m u m a coleção de amostras, c o m cada amostra analisada análise são referidas em c o n j u n t o c o m o operações de unidade
para u m a seleção diferente de testes. Os testes feitos nos analisa- ( Q u a d r o 11-1). Essas operações são descritas i n d i v i d u a l m e n t e
dores de acesso aleatório são selecionados c o m o uso de diferen- nesta seção, c o m exemplos que d e m o n s t r a m c o m o elas f o r a m
tes frascos de (1) reagentes l í q u i d o s , (2) pacotes de reagente o u automatizadas em termos de desempenho analítico e operacio-
(3) tabletes de reagente, d e p e n d e n d o do analisador. Essa aborda- nal. N a m a i o r i a dos sistemas automatizados essas etapas n o r m a l -
gem p e r m i t e a mensuração de u m a grande q u a n t i d a d e variável e m e n t e são realizadas seqüencialmente, mas e m alguns instrumen-
de analitos em cada amostra. Os perfis o u grupos de testes são tos elas p o d e m ocorrer em paralelo.
d e f i n i d o s para a amostra n o m o m e n t o em que os testes a serem
realizados e n t r a m n o analisador (1) por m e i o de u m p a i n e l ele-
t r ô n i c o (na m a i o r i a dos sistemas), (2) p o r instrução de u m sistema
de i n f o r m a ç ã o d o l a b o r a t ó r i o em c o n j u n t o c o m u m código de
barras n o t u b o da amostra, o u (3) p o r seleção d o o p e r a d o r dos
pacotes de reagentes apropriados.
H i s t o r i c a m e n t e , outras configurações de analisadores usadas
i n c l u e m (1) f l u x o c o n t í n u o , (2) m o d u l a i e (3) analisadores cen-
I
trífugos. Os analisadores de f l u x o c o n t í n u o f o r a m os p r i m e i r o s
Q U A D R O 1 1 - 1 | Operações de Unidade no Processo Analítico
a serem analisados e usados e m laboratórios de análises clínicas.
I n i c i a l m e n t e , esses analisadores f o r a m usados em u m a configu- - Identificação tia amostra
ração para análise p o r v i a ú n i c a e realizavam u m a análise seqüen- • Preparação da amostra
cial de cada amostra Subseqüentemente, as versões de análise • Distribuição da amostra
m u l t i c a n a l f o r a m desenvolvidas o n d e a análise de cada amostra • Aspiração e carregamento da amostra
era feita em cada u m dos canais e m paralelo. Os resultados de • Processamento da amostra
testes não solicitados n o m e n u de teste eram descartados depois • Injeção de amostra e transporte interno
da análise completa. A i n f l e x i b i l i d a d e n o m e n u dos testes que • Manejo e armazenamento de reagente
p o d i a m ser realizados nesses analisadores e v e n t u a l m e n t e levou à • Distribuição de reagente
sua substituição n o m e r c a d o p o r configurações mais versáteis. • Fase de reação química
O s analisadores m o d u l a r e s f o r a m desenvolvidos p o r fabrican- • Abordagens de mensuração

tes para fornecer mais escalabilidade, o u seja, para m a n i p u l a r • Processamento de sinal, manejo de dados e controle tio processo

TABELA 11-1 Exemplos de Sistemas Modulares com Parâmetros-chave

Nome do Variação da Produção, Elementos-chave Montagem


Sistema Módulos Resultados por Hora Comuns do Módulo Comentários
SYNCHRON CX7 Analisadores 825 Sampleador e computador Na fábrica Combina o CX3 e o CX4
MODULAR Moduladores 170-10.000 Rotas para estantes, estação Na fábrica Módulos analíticos comuns e
D, P, E de carregamento e computador e no campo múltiplos podem ser usadas
WorkCell Analisadores 1.650 químicos e 240 Triltio e computador Na fábrica Combina o 1.650 e o Centaur
imunoquímicos
LX4201 Analisadores 2.830 Computador Na fábrica Combina dois analisadores LX20
AU54G0 Series Analisadores 3.200-6.600 Rotas de transferência de Na fábrica Combina atê 3 módulos de
estantes (racKj e computador analisadores e 2 módulos ISE
Automação em Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 11 177

QUADRO 11-2 Tecnologias Usadas para Identificação entrada o u em alguns analisadores por impressora embutida que
Automática e Coleta de Dados esteja ligada quando o analisador for programado.
Muitos métodos são usados para se obter rotulagem secun-
Código de barras dária quando não há disponibilidade de rótulos com código de
Reconhecimento óptico de caracteres barras. Pode-se escrever u m número n o frasco de coleta ou colar
Reconhecimento de fita magnética e de caracteres de tinta magnética u m r ó t u l o codificado no tubo original o u no frasco da amostra.
Identificação de voz Os números do r ó t u l o p o d e m precisar de correlação com uma
Identificação de radiofreqüência lista de tarefas o u de cargas manual o u gerada por computador.
Monitores sensíveis ao toque A lista de carga geralmente registra os números seqüenciais com
Canetas ópticas
as posições físicas dos frascos o u tubos na zona de carregamento
Placas de impressão da mão
do analisador. Essa zona de carregamento pode ser (1) uma
Leitores de marcas ópticas
bandeja giratória, (2) u m a correia mecânica ou (3) u m rnck
Cartões inteligentes
(estante) ou grupo de racks pelos quais as amostras são distribu-
ídas em uma ordem predeterminada para a estação de aspiração
da amostra do analisador.
Nos analisadores que não associam a identidade da amostra
e a aspiração da mesma automaticamente, a seqüência dos resul-
Identificação de Amostras tados produzidos deve ser manualmente associada à seqüência
E m geral o elo de identificação (identificador) entre paciente de entrada das amostras. Alguns analisadores i m p r i m e m ou
e amostra é feito à cabeceira do paciente e a manutenção dessa transmitem para o computador p r i n c i p a l cada resultado ou
conexão durante (1) o transporte da amostra ao laboratório, grupo de resultados de uma amostra, seja pela posição da amostra
(2) a subseqüente análise da amostra, e (3) a preparação do na zona de carregamento, o u pelo n ú m e r o de acesso programado
relatório é essencial. Várias tecnologias estão disponíveis para para aquela posição.
identificação automática e coleta de dados (Quadro 11-2). N a
prática, a identificação automática i n c l u i apenas tecnologias
que detectam eletronicamente u m a característica única ou u m a Codificação de Barras
série de dados característicos associados ao objeto físico. Por U m dos principais avanços na automação da identificação de
exemplo, identificadores como (1) n ú m e r o de série, (2) n ú m e r o amostras em laboratórios de análises clínicas é a incorporação
do lote, (3) cor, (4) fabricante, (5) n ú m e r o do paciente e (6) da tecnologia de codificação de haTras nos sistemas analíticos.
número da Previdência Social (Social Securit^) são usados para Na prárica, u m r ó t u l o codificado com barras (quase sempre
identificar u m objeto ou paciente via banco de processamento gerado pelo sistema de informação do laboratório e contendo o
de dad os eletrônico. E m laboratório clínico, etiquetar c o m número de acesso da amostra) é colocado no recipiente da
código de barras tornou-se a tecnologia de escolha devido à amostra e " l i d o " , subseqüentemente, por u m o u mais leitores de
identificação automática. O uso desses códigos reduziu os erros código de barras colocados em posições estratégicas na seqüência
de identificação. analítica. A informação suplementar e identificadora resultante
é então transferida e processada pelo programa do sistema.
Iniciar a identificação por código de barras à cabeceira de u m
Rotulagem paciente garante u m a integridade maior da identidade da
E m muitos sistemas de informação laboratorial, a entrada ele- amostra em u m analisador. Os sistemas para transferir a infor-
trônica de u m pedido de teste no laboratório ou no posto de mação sobre a identidade do paciente para os tubos de sangue
enfermagem para u m paciente exclusivamente identificado cria à cabeceira do paciente foram introduzidos em alguns hospitais
u m r ó t u l o para a amostra com u m n ú m e r o seqüencial exclusivo e várias empresas estão agora oferecendo esses sistemas.
do laboratório. U m registro é estabelecido e permanece incom- Identificação positiva e inequívoca de cada amostra é obtida
pleto até que o resultado (ou grupo de resultados) entre n o em analisadores com código de barras em menos de 2 segundos.
computador e seja comparado com o n ú m e r o seqüencial. O As vantagens do uso de rótulos codificados incluem;
rótulo exclusivo é fixado n o tubo de coleta da amostra quando 1. Eliminar listas de tarefas para o sistema.
o sangue é extraído. O alinhamento adequado do r ó t u l o no tubo 2. Evitar erros cometidos na colocação dos tubos no analisador
de coleta é essencial para o processamento subseqüente da ou durante a amostragem.
amostra, quando rótulos com código de barras são usados. A 3. Analisar as amostras em uma seqüência definida.
chegada da amostra n o laboratório é registrada manualmente o u 4. Evitar possível mistura de tubos quando o soro precisa ser
pelo procedimento computadorizado íogin. E m outros sistemas, transferido para u m recipiente secundário.
a amostra é rotulada à cabeceira do paciente, j u n t o à identifica- Exemplos de código de barras usados em analisadores quí-
ção do paciente e às informações adicionais, e entra no labora- micos são ilustrados na Figura 11-1.
tório c o m o pedido médico. Lá a amostra recebe u m número U m sistema de codificação de barras é composto por uma
seqüencial como parte do procedimento login, que pode (ou não) impressora de código de barras e u m leitor de código de barras
ser realizado por computador. o u scanner. Sistemas de impressão de códigos de barras e bidi-
Após o registro, iniciam-se os processos de manejo técnico mensionais estão disponíveis. U m código de barras unidimen-
das amostras. Para os processos que requerem a Temoção física sional é u m grupo de barras retangulares e de espaços organiza-
do soro do tubo original, novos rótulos contendo as informações dos em padrão predeterminada, que seguem regras não-ambí-
essenciais do r ó t u l o original devem ser colados em qualquer guas para representar os elementos dos dados denominados
tubo adicional. Alguns analisadores automatizados retiram caracteres. U m código de barras é transferido e fixado em u m
amostra diretamente do tubo coletor original enquanto, simul- objeto por u m "rótulo de código de barras" que contenha o
taneamente, lêem o número seqüencial da etiqueta com código código de barras e, opcionalmente, outra informação confiável
de barras no tubo. Caso seja necessário, rótulos secundários c o m não-codificada. Simbologia é o termo usado para descrever as
código de barras podem ser gerados na hora do registro de regras que especificam o m o d o como os dados são codificados
178 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

HEITHflN L0UISE C
AF-115475 F 79 BD:D7/D2/12
HEITHAN LGUISE C
AF-11B475 F 79 ED:D7/QE/1E
Uso de Sangue Total para Análise
514CS6 06/17/91 CL 514D9S OS/17/31 CL Q u a n d o o sangue total é usado em u m sistema de análise, o

• •
111 IEJIGC PM 111 111 lGiGD PM 11»
LDH ISO CK ISO LDH ISO CK ISO tempo de preparação da amostra é eliminado. Os eletrodos íons-
seletivos automatizados ou semi-automatizados, que medem a
atividade do íon no sangue total em vez da concentração de íon,
foram incorporados em sistemas automatizados para fornecer
certos resultados de testes alguns minutos após a extração de uma
amostra. Essa abordagem é agora comumente usada para análises
HEITMflN LQUISE C
HEITHflN LOLISE C
PF-118475 F 79 60:07/02/12
de eletrólitos e de alguns outros analitos comuns. O u t r a aborda-
AF-110475 F 75 BE:•7/DB/1E
514CI9G QE/17/91 CL 51409S osy 17/31 CL gem envolve a aplicação manual o u automatizada de sangue total
111 IQIQC PM 111 111 1G:GG PM 111
LDH ISG CK ISO LDH 150 CK ISO em filmes de reagente seco e a observação visual ou instrumental
de uma mudança quantitativa (Capítulo 12).

Automação da Preparação da Amostra


Vários fabricantes desenvolveram sistemas de preparação total-
Figura 11-1 Exemplo de códigos de barras usados em analisadores mente automatizados. (Esses sistemas serão descritos mais adiante
químicos que contenham a mesma informação. A, Código 39. B, neste capítulo.)
Código] 2 / 5 C, Código 128B D, Codabar. (Cortesia de Computer
Transceiver Systems, Inc.) Entrega da Amostra
Vários métodos são usados para entrega de amostras em labora-
tórios, i n c l u i n d o (1) serviço de portador, (2) sistemas de tubos
pneumáticos, (3) veículos de t r i l h o elétrico e (4) robôs móveis.
em barras e espaços. A largura das barras e dos espaços e o
n ú m e r o de cada u m deles são determinados p o r uma especifica- Serviço de Portador
ção para essa simbologia. Combinações diferentes de barras e Historicamente, os portadores são usados para transportar amos-
espaços representam caracteres diferentes. Q u a n d o u m scanner de tras dos locais de coleta para os laboratórios e entre estes. Embota
código de barras é passado sobre o código, o raio de luz do scanner fidedigno de forma geral, o serviço de portadores cria certos
é absorvido pelas barras escuras e não são refletidos; o raio de problemas. A entrega é u m processo quantitativo e os portadores
luz é refletido pelos espaços em claro. U m detector de fotocélula normalmente servem apenas u m determinado ponto de retirada
no scanner recebe a luz refletida e converte essa luz em u m sinal em tempos específicos. Planejamentos para coleta imediata são
elétrico que é então digitalizado. U m código de barras unidimen- possíveis, mas acrescentam custos ao processo analítico e atrasam
sional é "verticalmente redundante", pois a mesma informação os relatos dos resultados. A l é m disso, a perda ou quebra de uma
é repetida verticalmente — as alturas das barras podem ser trun- amostra ocorre quando se lida manualmente com as mesmas.
cadas sem perda alguma de informação. Na prática, a redundân-
cia vertical permite que u m símbolo com defeitos de impressão, Sistemas de Tubos Pneumáticos
como manchas e vazios, seja lido. Os sistemas de tubos pneumáticos fornecem o transporte rápido
de amostra e são confiáveis quando instalados como serviços de
Erros de Identificação ponta a ponta. N o entanto, quando mecanismos de troca são
H á muitas oportunidades para se cometer erros com as amostras introduzidos para permitir que os carregadores (contêineres em
e com os resultados. Os riscos começam à cabeceira do paciente forma de bala usados para carregar amostras) sejam enviados a
e a u m e n t a m a cada etapa d o p r o c e s s a m e n t o , e n t r e a coleta e a vários locais, sabe-se que problemas mecânicos ocorrem e causam
análise da amostra pelo instrumento. O risco fica m u i t o maior erro de rota nos carregadores. A l é m disso, atenção cuidadosa ao
quando a transcrição manual é usada no processamento, na formato do sistema de tubo pneumático é necessária para evitar
rotulagem e rerrotulagem, e na criação de listas de carregamento. a hemólise da amostra. Evitar acelerações e desacelerações súbitas
U m n ú m e r o de acesso incorreto, n o qual os dígitos são transpos- e usar material de embalagem apropriado dentro dos carregado-
tos, ou uma lista de carregamento com números de acesso trans- res minimizarão a hemólise.
postos podem fazer com que os resultados sejam atribuídos ao
paciente errado. U m outro erro pode acontecer quando as amos- Veículos de Trilho Elétrico
tras precisam ser inseridas em certas posições na zona de carga. Os veículos de t r i l h o elétrico possuem uma capacidade maior de
A leitura humana errada, tanto do rótulo da amostra quanto da transporte do que os sistemas de tubos pneumáticos e não dani-
lista de carregamento, pode causar a colocação de amostras, ficam as amostras por forças de aceleração e / o u desaceleração.
calibradores ou controles em lugar errado. A leitura automática Alguns sistemas mantêm o carregador na posição vertical com o
do código de barras reduz a taxa de erro de 1 (um) em 300 uso de argola de suspensão (um dispositivo que permite a u m
caracteres (para entrada humana) para 1 (um) em 1 (um) milhão corpo inclinar-se livremente em qualquer direção ou suspenso
de caracteres pata que permaneça nivelado quando seu apoio estiver incli-
nado). Isso faz com que o carregador se mova tanto vertical
Preparação da Amostra quanto horizontalmente sobre u m t r i l h o elétrico instalado. Os
A coagulação do sangue em tubos de coleta de amostra, sua recipientes contêm gelo seco ou pacotes de gel congelados com
subseqüente configuração e a transferência do soro para tubos as amostras caso seja desejado. Eles são especialmente úteis para
recipientes precisam de u m tempo limitado para se completar. o transporte rápido de amostras entre andares ou locais do labo-
Q u a n d o realizado manualmente, esse processo resulta em atraso ratório que estejam a alguma distância u m do outro, utilizando
na preparação de uma amostra para análise. Para eliminar os todo o espaço do teto acima do laboratório. A principal desvan-
problemas associados à preparação da amostra, estão sendo tagem é o custo do t r i l h o em movimento e das estações de car-
desenvolvidos sistemas para automatizar esse processo. regamento e descarregamento se o laboratório estiver expandindo
Automação em Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 11 179

ou se movendo; além disso, as estações podem ser maiores que enquanto u m processamento já está em progresso. Esse processo
as estações do tubo pneumático. Se a estação não estiver locali- permite que a operação da máquina e as ações humanas ocorram
zada diretamente no laboratório central (testagem centralizada; paralelamente para que ocorra máxima eficiência. E m alguns
laboratório central) poderá ser necessário pessoal adicional para analisadores, as amostras podem ser adicionadas continuamente
descarregar os carrinhos e transportar as amostras até o destino pelo operador à medida que se t o r n a m disponíveis. U m a carac-
final, e o sistema de trilho elétrico pode não atingir o objetivo terística desejável em qualquer analisador automatizado é a capa-
desejado de transporte rápido de amostra. cidade de inserir novas amostras na frente de amostras já posi-
cionadas na zona de carga. Essa característica permite a análise
Robôs Móveis oportuna de uma amostra com alta prioridade médica quando
Os robôs móveis têm sido usados com sucesso para o transporte ele chega ao laboratório clínico. Q u a n d o a identificação de uma
de amostras dentro e fora do laboratório central.' 6 Eles são amostra é lida de forma automática, o operador consegue repo-
facilmente adaptados para transportar recipientes de amostras sicionar facilmente as amostras na zona de caTga. Q u a n d o a
de várias formas e tamanhos, além de serem reprogramáveis identificação da amostra está ligada à lista de carga, entretanto,
quando há mudanças na geometria do laboratório. A l é m disso, a inserção ou reposição das amostras deve ser acompanhada pela
em laboratórios de m u i t o movimento, a entrega de amostras nos revisão da lista de carga.
bancos do laboratório por u m robô móvel pode ser mais fre- A transmissão de doenças infecciosas pelo equipamento
qüente que por humanos e mostrou ser custo-efetiva. Robôs automatizado é uma preocupação nos laboratórios de análises
móveis de vários fabricantes foram instalados em laboratórios de clinicas. O principal método de transmissão por equipamento é
análises clínicas. Os modelos econômicos seguem uma linha n o através de respingos de soro ou sangue durante a aquisição de
chão, enquanto outros possuem sistemas de orientação mais amostras das sondas de amostra que se movem rapidamente. O
sofisticados. Suas limitações incluem a necessidade de agrupar uso de sensores de nível que restringem a penetração das sondas
as amostras (análise de lote) para maior eficiência e, na maioria de amostragem nas amostras e fornecem u m controle mais suave
dos casos, elas precisam de pessoal para depositar e remover as do movimento reduz m u i t o os respingos.
amostras do robô móvel em cada local de parada. Devido ao potencial para contaminação quando os tampões
dos principais recipientes são abertos ou destampados para
Carregamento e Aspiração de Amostra decantar o soro em recipientes de amostra, várias empresas
Na maioria das situações, a amostra para análise automática é o desenvolveram sistemas de amostragem com recipientes fecha-
soro. M u i t o s analisadores testam o soro diretamente dos primei- dos para uso em seus analisadores químicos e hematológicos
ros tubos de coleta de vários tamanhos. C o m tais analisadores, automatizados. Nesses sistemas, a sonda de amostra passa por
os tubos de coleta mais usados contêm u m material separador uma agulha oca que penetra pTimeiro n o anteparo de borracha
que forma uma barreira entre o sobrenadante e as células (Capi- do recipiente principal. Essa configuração evita o dano ou a
tulo 3). obsnução da sonda de amostra enquanto permite que u m sensor
Muitos analisadores também testam em recipientes ou tubos de nível (usado para reduzir a contaminação cruzada e detectar
de soro transferido dos tubos originais. Os formatos dos reci- pouca amostra) permaneça atLvo. Depois que a sonda de amostra
pientes de testagem são especiais para cada analisador. Cada é retirada, a agulha oca externa também é retirada para que o
recipiente deve ser desenhado a f i m de minimizar o volume anteparo volte a se vedar e a amostra não escape. A amostragem
m o r t o — o excesso de soro que deve existir em u m recipiente em recipientes fechados é amplamente usada em analisadores
para permitir a aspiração de todo o volume necessário para o hematológicos.
ensaio. Os recipientes devem ser feitos de material inerte para
que não interajam com os analitos que estão sendo medidos. Processamento de Amostra
Eles também devem ser descartáveis para que haja redução dos A automação de procedimentos analíticos deve ter a capacidade
custos e seus formatos devem, mesmo sem tampa, minimizar a de remover as proteínas e outros interferentes de algumas amos-
evaporação. tras e de separar as frações livre e ligada de imunoensaios hete-
As amostras podem sofrer outras formas de degradação além rogêneos .
da evaporação. As amostras que contêm constituintes termolá-
beis podem sofrer degradação desses analitos se mantidos em Remoção de Proteínas e Outros Interferentes
temperatura ambiente. Outros constituintes, como bilirrubina, A remoção de proteínas e de outros interferentes das amostras
são fotolábeis. A termolabilidade é reduzida quando as amostras é, às vezes, necessária para garantir a especificidade de u m
e os calibradores são mantidos em uma zona de carregamento método analítico. Diálise, cromatografia e filtração são usadas
refrigerada. A fotodegradação é reduzida com o uso de recipien- com esse propósito. 2
tes semi-opacos e a colocação de coberturas plásticas de cor fume
ou laranja sobre os recipientes de amostra. Separações em Sistemas de Imunoensaio
A zona de carga de u m analisador é a área na qual as amos- A automação de procedimentos de imunoensaio requer a sepa-
tras são mantidas no instrumento antes de serem analisadas. A ração das frações livre e ligada de imunoensaios heterogêneos.
área que comporta o material pode ser uma bandeja circular, Várias abordagens têm sido usadas.
uma estante ou série de estantes em forma de cassete ou n u m a Para automatizar essa etapa de separação, vários analisadores
cadeia de recipientes em forma de serpentina na qual tubos de imunoensaio automatizados utilizam anticorpos ou proteínas
individuais são inseridos. Q u a n d o as amostras não são identifi- ligados em u m sistema de fase sólida. Nessa abordagem, a ligação
cadas automaticamente, elas devem ser colocadas no dispositivo de anticorpos e antígenos ocorre em superfície sólida na qual os
de testagem na seqüência correta como especificado por uma anticorpos ou outras proteínas reativas foTam absorvidos ou
lista de carga. O mecanismo de amostragem determina o volume quimicamente ligados. Tipos diferentes de fases sólidas são
exato da amostra que deve ser removido. usados, incluindo (1) contas, (2) tubos revestidos, (3) lâminas de
Para a maioria dos analisadores, os recipientes para a próxima microtitulação, (4) micropartículas magnéticas e não-magnéticas
amostragem devem ser preparados em uma bandeja separada e (5) matrizes fibrosas. Detalhes adicionais sobre os sistemas
180 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

automatizados que usam várias fases sólidas são encontrados nos de 1%, embora os avanços recentes no controle da velocidade
livros de Chan, 4 de Price e Newman. 1 5 dos materiais e do dispensador permitam razões mais baixas. A
escolha apropriada do material da sonda de amostragem, da
Introdução da Amostra e Transporte Interno geometria e das condições da superfície minimiza a imprecisão.
O método usado para introduzir a amostra n o analisador e seu A contaminação cruzada f o i reduzida em alguns sistemas
subseqüente transporte n o mesmo é a principal diferença entre através da lavagem das superfícies interna e externa da sonda de
os sistemas de fluxo contínuo e descontínuo. Nos sistemas de amostragem com grandes quantidades de diluentes. O lado
fluxo contínuo a amostra é aspirada pela sonda de amostragem externo da sonda de amostragem é limpo em alguns instrumen-
dentro de u m f l u x o líquido, pela qual é transportada para as tos para evitar a transferência de uma porção da amostra anterior
estações analíticas no instrumento. Na análise independente a para o p r ó x i m o recipiente de amostra. Nos sistemas de f l u x o
amostra é aspirada pela sonda de amostragem e então liberada, independente com recipientes de reação descartáveis e cubetas
quase sempre com reagente, pelo mesmo orifício dentro de u m de medição, a contaminação cruzada é causada pelo sistema de
recipiente de reação ou outro recipiente. A contaminação cruzada pipetagem. E m instrumentos com cubetas reaproveitáveis ou
é u m problema em potencial em ambos os sistemas. células de fluxo, a contaminação cruzada pode ocorrer em cada
ponto nos quais as amostras passam de m o d o seqüencial. Pontei-
Analisadores de Fluxo Contínuo ras descartáveis de sondas de amostragem eliminam a contami-
A Technicon Instruments C o r p . f o i a pioneira n o uso de bombas nação de uma amostra por outra n o interior da sonda e a conta-
peiistálticas e de tubulações plásticas para movimentar amostras minação cruzada de uma amostra para outro no próximo reci-
e reagentes em análise de f l u x o contínuo. A bomba peristáltica piente. C o m o uma nova ponteira é usada para cada pipetagem,
ainda é usada em alguns analisadores com eletrodos ions-seleti- a contaminação cruzada é completamente eliminada.
vos. As bombas peristálticas prendem "uma alíquota" de f l u i d o Na prática, a redução da contaminação cruzada é uma exi-
entre dois cilindros que ocluem a tubulação. A medida que os gência mais rigorosa para os analisadores automatizados que rea-
cilindros rolam sobre a tubulação, o fluído preso é empurrado lizam imunoensaios, já que alguns analitos possuem maior varia-
para frente e, conforme o cilindro dianteiro se levanta da tubu- ção de concentrações nas amostras. Por exemplo, as concentra-
lação, é acrescentado ao f l u i d o à sua frente. Para garantir a pro- ções de gonadotrofina co rio nica variam de 1 a 106. Alguns siste-
porcionalidade entre os calibradores, controles e amostras, a mas usam etapas extras como lavagens adicionais ou u m disposi-
bomba deve atuar uniformemente sobre o tubo da amostra e a tivo adicional de lavagem para reduzir a contaminação cruzada
velocidade do cilindro deve permanecer constante. Embora a para limites aceitáveis. C o m o as etapas extras reduzem a produ-
tubulação de p o l i v i n i l deforme com o tempo, as mudanças na ção total, as funções de lavagem adicionais são iniciadas (por
velocidade do f l u x o em relação ao tempo do processamento são seleção do operador) apenas para análises com grande faixa ana-
mínimas. A curto prazo, pequenas mudanças na proporcionali-
lítica.
dade entre os calibradores e os elementos desconhecidos são
corrigidas por calibração a cada 20 minutos, aproximadamente.
Manuseio e Armazenamento de Reagente
Sistema de Processamento Independente Muitos sistemas automatizados usam reagentes armazenados em
Pipetas de deslocamento positivo de líquido são usadas para testar recipientes de plástico ou de vidro. Para os analisadores nos quais
amostras na maioria dos sistemas automatizados independentes u m inventário de trabalho é m a n t i d o n o sistema, os volumes de
nos quais as amostras, calibradores e controles são liberados por reagentes armazenados dependem do número de testes a serem
uma única pipeta para a próxima etapa no processo analítico. realizados sem a intervenção de u m operador. Sempre que pos-
U m a pipeta de deslocamento positivo pode ser projetada para sível, os fabricantes usam reagentes únicos para os procedimentos
u m dos dois modos operacionais: (1) para liberar apenas a amostra de teste, embora dois ou mais reagentes possam ser necessários
aspirada dentro do receptáculo de reação ou, (2) para liberar a para alguns testes. Alguns analisadores usam reagentes em forma
amostra junto com o diluente Ambos os sistemas usam uma de tabletes secos; outros usam fitas ou lâminas impregnadas com
seringa de plástico ou de vidro com u m êmbolo cuja ponta é reagente, e outros dependem inteiramente de eletrodos para
normalmente de Teflon. reagir a amostras.
As pipetas podem ser caracterizadas como de volume fixo, Para muitos analisadores nos quais as amostras não são pro-
variável ou selecionável (Capitulo 2). As pipetas de volume selecio-
cessadas continuamente, os reagentes são armazenados em refri-
nável permitem a seleção de u m número limitado de volumes
geradores e introduzidos nos instrumentos, quando necessário.
predeterminados. Em geral as pipetas com volume selecionável são
Nos sistemas maiores, as seções dos compartimentos de armaze-
utilizadas em sistemas que permitam muitas aplicações diferentes,
namento de reagentes são mantidas em uma temperatura de 4°C
enquanto as pipetas de volume fixo são normalmente utilizadas
a 10°C. Armazenamento refrigerado para reagentes também é
para amostras e reagentes em instrumentos dedicados ao desempe-
fornecido na maioria dos sistemas de imunoensaio. Muitos dos
nho de uma pequena variedade de testes.
reagentes fornecidos em forma líquida pelos fabricantes desses
sistemas permanecem estáveis por 2 a 12 meses.
Contaminação Cruzada (Carry-Over)
A contaminação cruzada é definida como o transporte de uma Alguns sistemas usam reagentes ou anticorpos que foram
quantidade de analito ou reagente de uma reação para a Teação imobilizados em uma câmara de reação ou serpentina a f i m de
subseqüente. C o m o isso afeta erroneamente os resultados analí- permitir seu uso repetido em uma reação química. Outros siste-
ticos da reação subsequente, a contaminação cruzada deverá ser mas usam enzimas imobilizadas sobre membranas acopladas a
minimizada- A maioria dos fabricantes de sistemas de fluxo inde- eletrodos sensores. Os produtos de reação são então medidos
pendente reduz a contaminação cruzada, estabelecendo uma pelo aparelho sensor. Apenas uma solução-tampão é necessária
razão adequada de lavagem/amostra e incorporando estações de como diluente ou lavagem e, assim, a membrana tem validade
lavagens para sonda de amostragem. A razão lavagem/amostra prolongada por vários meses. Alguns podem ser reciclados por
pode chegar a 4:1 para l i m i t a r a contaminação cruzada a menos até 7.500 testes, o que reduz o custo de cada teste.
Automação em Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 11 181

Identificação de Reagente Fase de Reação Química


Os rótulos nos recipientes de reagentes contêm informações As amostras e os reagentes interagem na fase de reação química.
c o m o (1) identificação d o reagente, (2) v o l u m e d o c o n t e ú d o ou O s fatores q u e são i m p o r t a n t e s nessa fase i n c l u e m ( 1 ) r e c i p i e n t e
número de testes para os quais o conteúdo será usado, (3) prazo n o qual a reação ocorre, (2) tempo da reação ou reações, (4)
de validade e (4) número do lote. M u i t o s recipientes de reagente mistura e transporte dos reagentes e (5) condição térmica dos
agora contêm código de barras com algumas dessas informações, fluidos. C o m o discutido anteriormente, a separação das frações
possibilitando ao fabricante recuperar qualquer informação per- ligadas e não-ligadas é uma quinta questão para alguns sistemas
tinente, quando necessário. de imunoensaio.
Outras vantagens para o uso de código de barras incluem (1)
facilidade no controle de inventário, (2) capacidade de inserir Tipo de Recipiente e Cubeta de Reação
recipientes de reagente em seqüência randômica, e (3) capaci- E m u m sistema de fluxo contínuo, cada amostra passa pelo
dade de distribuição automática de u m determinado volume de mesmo curso contínuo na mesma velocidade e é submetido às
reagente líquido. A l é m disso, quando u m código de barras está mesmas reações analíticas que qualquer outra amostra. E m tais
conectado a u m sistema sensor de nível na sonda de reagente, sistemas a reação ocorre no tubo, que serve tanto como reci-
ele avisa o operador se há quantidade suficiente de reagente para piente de f l u x o como cubeta.
completar uma carga de trabalho. Nos sistemas independentes, cada amostra em u m lote possui
Em sistemas de imunoensaio, u m código de barras em u m o próprio espaço físico e químico, separado de qualquer outra
recipiente de reagente contém informação importante sobre cali- amostra. Os analisadores independentes usam recipientes indi-
bradores (múltiplos), como a definição do algoritmo de uma viduais de reação (descartáveis ou reutilizáveis) transportados
curva e os valores das constantes da curva definidos na hora da pelo sistema depois que a amostra e o reagente foram distribuí-
fabricação do reagente. Os materiais calibradores fornecidos nos dos, ou usam uma câmara de reação estacionária. E m alguns
próprios tubos com código de barras na hora da fabricação sistemas de f l u x o independente, os recipientes de reação são
garantem que as funções de calibração sejam devidamente inte- reutilizados; em outros, eles são descartados após cada uso. O
gradas na análise uso de cubetas descartáveis simplificou a automação e eliminou
a contaminação cruzada nas cubetas e a manutenção das células
de fluxo. O aprimoramento da tecnologia de fabricação e dos
Sistemas Abertos versus Fechados plásticos (especialmente acrílico e cloreto de polivinil) possibili-
Os analisadores automatizados também são classificados como tou a confecção de cubetas descartáveis.
"abertos" ou "fechados". E m u m analisador aberto, o operador Os recipientes de reação são reutilizáveis em muitos instru-
consegue mudar os parâmetros relacionados com uma análise e mentos. O prazo de validade para esses recipientes e cubetas
pTeparar reagentes "em casa", ou utilizar reagentes de vários depende de suas composições (p. ex., 1 mês para plástico e 2
fornecedores. Tais analisadores normalmente possuem flexibili- anos para os vasos de vidro tradicionais). Os vasos de pirex
dade considerável e se adaptam prontamente a novos métodos normalmente não são substituídos, exceto quando fisicamente
e analitos. danificados.
U m analisador de sistema fechado precisa que o reagente A seqüência n o r m a l de lavagem de u m recipiente/cubeta de
venha em u m recipiente ou formato específico fornecido pelo reação requer a aspiração da mistura de reação da cubeta em
fabricante. Em geral, os reagentes líquidos para sistemas abertos uma estação de lavagem in sim. U m a solução de lavagem deter-
são mais baratos que os componentes patenteados exigidos pelos gente, alcalina ou ácida é dispensada e aspirada repetidamente
analisadores fechados. Porém, os sistemas fechados possuem da cubeta e, posteriormente, é enxaguada várias vezes com água
uma vantagem embutida n o custo, pois a reconstituição ou deionizada e seca com ar a vácuo ou pressurizado.
preparação dos reagentes para uso não requer o tempo de u m Os sistemas de reagente seco que usam SÍÍCÍÉ.S com filmes de
laboratorista. A variabilidade na reconstituição de reagentes multicamadas ou tiras de tecido impregnadas não precisam dis-
secos foi superada pelo uso de reagentes líquidos prontos ou pelo tribuir ou misturar os reagentes líquidos. N o entanto, esses
fornecimento de líquidos pré-medidos. A estabilidade dos rea- instrumentos ainda precisam de u m mecanismo que mantenha
gentes para alguns sistemas abertos está agora se aproximando uma temperatura estável e forneça o posicionamento preciso da
de maior estabilidade característica de muitos sistemas fechados. unidade de reação para mensurações ópticas.
A maioria dos sistemas de imunoensaio é fechada, assim como
o é a maioria dos sistemas desenvolvidos para aplicações em teste Cronometragem das Reações
laboratorial remoto. O tempo permitido para que uma reação ocorra depende de
vários fatores. E m alguns analisadores o tempo de reação depende
Distribuição de Reagente da velocidade do transporte da mistura de reação pelo sistema
Os reagentes líquidos são adquiridos e distribuídos para câmaras para a estação de mensuração, dos eventos cronometrados da
de mistura e de reação por meio de bombas (através de tubos) ou adição do reagente (ou da ativação) relativos à mensuração, ou
por dispositivos de seringa de deslocamento positivo. Em alguns de ambos. Nos analisadores de acesso aleatório, as amostras e os
analisadores automatizados de alta produção, os reagentes e diluen- reagentes são adicionados em uma cubeta em uma sequência
tes são extraídos de recipientes volumosos por tubos, e a amostra programada e os sinais detectores são medidos em intervalos
do recipiente de amostra é extraída por sonda aspiradora. para acompanhar o curso de cada reação. Normalmente, o
Dispositivos em forma de seringa, tanto para reagente quanto período de tempo para uma reação nesses sistemas está restrito
para distribuição de amostra, são comuns em muitos sistemas a u m valor máximo definido pelo fabricante, mas pode ser pro-
automatizados. Esses dispositivos são normalmente de desloca- gramado para ser mais curto.
mento positivo, e o volume de reagentes que eles distribuem é
programável. Nos analisadores em que mais de u m reagente é Mistura de Reagentes
adquirido e distribuído pela mesma seringa, a lavagem ou enxágüe Várias técnicas são usadas para misturar os reagentes. E m u m
da sonda é essencial para evitar a transferência de reagente. sistema de fluxo independente, essas técnicas incluem:
182 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

1. Aplicação em jorro 1. U m a fonte óptica


2. Agitação magnética 2. U m meio de isolamento de espectro
3. Deslocamento lateral vigoroso 3. U m detector
4. Pá em rotação
5. Uso de energia ultra-íônica Fonte Óptica
Os analisadores de fluxo contínuo contam com a ação girató- As fontes de energia radiante usadas nos sistemas automatizados
ria do curso em u m cilindro de mistura. Para os sistemas de rea- incluem lâmpadas de tungsténio, quartzo halogenado, deutério,
gentes secos torna-se óbvia a necessidade de mistura porque o soro mercúrio, xenônio e lasers. Na lâmpada de quartzo halogenado,
interage completamente com os químicos secos à medida que f l u i o vapor de halogênio de baixa pressão (p. ex., iodo ou bromo) é
pela matriz da unidade de reação. C o n t u d o , independente da envolvido em u m envelope de sílica f u n d i d o n o qual u m fila-
técnica usada, misturar é u m processo difícil de automatizar. mento de tungsténio serve como fonte de luz incandescente. O
espectro produzido compreende comprimentos de ondas de apro-
Condicionamento Térmica ximadamente 300 a 700 nm.
A regulação térmica requer o estabelecimento de u m ambiente
com temperatura controlada em contato p r ó x i m o com o reci- Isolamento de Espectro
piente de reação e da transferência de calor do ambiente para a Nos sistemas automatizados, o isolamento de espectro comu-
mistura de reação. Banhos de ar, banhos de água e contato com mente é obtido com filtros de interferência. Os filtros de inter-
placas aquecidas têm sido usados para regulagem térmica em ferência típicos possuem máximos de transmitância de 3 0 % a
analisadores comerciais. 80%, e larguras das faixas de 5 a 15 n m (Capítulo 4). E m vários
analisadores de multitestes, os filtros são montados em u m disco
Abordagens de Mensuração de filtros, e o filtro apropriado é movido para o lugar sob o
Os analisadores químicos automatizados tradicionalmente con- comando do computador do sistema. Monocromadores com
tavam com fotômetros e espectrómetros para medir a absorvância grades móveis e fendas fornecem uma escolha contínua de com-
da reação produzida na fase de reação química. As abordagens primento de ondas. Eles fornecem grande flexibilidade e são
alternativas que agora estão sendo incorporadas nos analisadores especialmente adequados para o desenvolvimento de novas aná-
incluem fotômetros de reflectância, fluorímetros e luminôme- lises. Porém, como relativamente poucos comprimentos de ondas
tros. Os sistemas de imunoensaio têm usado esquemas de reação são necessários para análises em analisadores de rotina, muitos
que produzem fluorescência, quimioiuminescência e eletroqui- fabricantes usam uma grade estacionária, regulada holografica-
mioluminescência para melhorar a sensibilidade. Eletrodos íons- mente, acoplada a u m conjunto de fbtodiodos estacionários para
seletivos e outras técnicas eletroquímicas também são ampla- isolar o espectro. Esses dois elementos também são associados a
mente utilizados. guias de luz de fibra óptica para transferir a passagem da energia
da luz pelas cubetas para locais convenientes à mecanização. O
Fo tometria/Espectrofotometría uso desses elementos passivos melhora a confiabilidade de u m
A mensuração da absorvância requer os três componentes básicos sistema porque não há necessidade de peças para isolar o espectro
a seguir (Capítulo 4): (Figura 11-2).

Extensão do caminho Primeiro espelho


Espelho torôide de 5m da cubeta Lentes colimador
Vé. • \

lâmpada
de flash
da xenônio

340 nm
Segundo
espelho
colimador

700 nm
10 arranjos de diodo

Figura 11-2 O uso de arranjo de diodo no monocromador S Y N C H R O N C X 7 reduz a necessidade de peças


móveis. Para simplificar, apenas três traçados dos comprimentos das ondas dos raios são mostrados. (Cortesia de
Beclcman Coulter Inc; www.beckmancoulter.com.)
Automação em Laboratório de Análises Clinicas CAPÍTULO 11 183

Detectores Fotométricos quimioluminescência e da bioluminescência têm sido ampla-


Fotodiodos são usados em muitos sistemas automatizados, seja mente usadas como rótulos indicadores no desenvolvimento de
como componentes individuais o u múltiplos na forma de u m imunoensaios.
arranjo. Tubos fotomultiplicadores são necessários em muitos
sistemas de imunoensaios para fornecer u m sinal alto para o Eletroquímica
nível de ruído e u m detector rápido de tempo de resposta para Vários métodos de eletroquímica foram incorporados nos siste-
medidas fluorescentes e quimioluminescentes. mas automatizados. A abordagem eletroquímica mais usada
O alinhamento apropriado das cubetas com a(s) trajetória(s) envolve eletrodos íons-seletivos. Esses eletrodos substituíram a
da luz é importante nos analisadores tanto manuais quanto fotometria de chama na determinação de sódio e potássio. Os
automatizados. A l é m disso, a energia perdida e as reflexões detectores eletroquímicos também são usados para a medida de
internas devem ser mantidas em níveis aceitáveis. Se a trajetória outros eletrólitos e para aplicações indiretas na análise de vários
da luz não estiver perpendicular à cubeta, poderá haver impre- outros constituintes séricos (Capítulo 5). A relação entre a ativi-
cisão, especialmente em análises cinéticas. dade e concentração de íons nas amostras deve ser estabelecida
com soluções calibradoras, e tais eletrodos precisam ser calibra-
Fotometria de Reftectância dos com freqüência para compensar as alterações da resposta ao
N a fotometria de reflectância é medida a luz refletida dispersa. eletrodo.
A luz refletida vem da iluminação, com luz dispersa, de uma Bombas peristálticas são usadas para conduzir a amostra até
mistura de reação em u m suporte, ou da difusão da luz por uma as câmaras que contêm amostras fixas e eletrodos de referência.
mistura de reação em u m suporte iluminado. A intensidade da Os eletrodos devem permanecer em contato com a amostra
luz refletida do suporte de reagente é comparada àquela refletida durante 7 a 45 segundos para alcançar condições de estado
de uma superfície de referência. C o m o a intensidade da luz estável. O modelo mais c o m u m é fornecer eletrodos para analisar
refletida é não-linear à concentração do analito, os algoritmos três analitos, geralmente sódio, potássio e cloreto. C o m o as amos-
matemáticos são comumente usados para linearizar a relação de tras e calibradores normalmente passam por u m grupo de eletro-
reflectância para concentração. 2 dos , os resultados para todos os analitos são transmitidos paia a
maioria dos sistemas. A capacidade do eletrodo íon-seletivo
Fluorimetria
Fluorescência é a emissão de radiação eletromagnética por uma
amostra que absorveu radiação excitante de uma fonte externa.
A intensidade da luz emitida (fluorescente) é diretamente pro-
porcional à concentração da amostra excitada (Capítulo 4).
QUADRO 11-3 Funções de Processamento de Dadas e de
A fluorimetria é amplamente usada para imunoensaio auto-
Sinal Realizadas pelos Computadores de
matizado. Ela é aproximadamente 1.000 vezes mais sensível que
Analisadores Automatizados
a comparável espectrometria de absorvância, mas a interferência
de f u n d o ocasionada pela fluorescência do soro nativo é u m sério AQUISIÇÃO E CÁLCULO DE DADOS
problema. Essa interferência é minimizada com (1) o desenho Aquisição de sinal de resposta e cálculo da média de sinal
cuidadoso dos filtros usados para isolamento de espectro, (2) a Subtração de resposta em branco
seleção de u m fluoróforo com u m espectro de emissão diferente Correção de resposta de incógnita para interferências (p, ex., correções do tipo
daqueles dos componentes de interferência, o u (3) o uso de Allen)

fluorimetria com resolução por fase o u tempo (Capítulo 4). Regressão linear para determinar a inclinação
( A A / A í ) da taxa de reações; (AA/ACj da relação absorvância/concentração;
Diferentes configurações ópticas são representadas em equi-
( A f f A Q de qualquer parâmetro de resposta para a concentração
pamentos de diferentes fabricantes. A medida da fluorescência
Estatística (média, SD, CV) sabre a paciente ou valores de controle
em ângulo reto é u m a das abordagens comuns, com a luz emitida
Transformação matemática das relações não-lineares para contraparte linear
passando pelo filtro de interferência de emissão até u m tubo Transformação matemática dos resultados para unidades de transmissão alter-
fotomultiplicador. Na polarização de fluorescência, a fonte de nativa
luz está na forma de luz polarizada. A mensuração então é feita
pela mudança do ângulo da luz polarizada emitida por uma M0NIT0HAMENT0
molécula fluorescente (Capítulos 4 e 10). Teste de adequação de dados aos critérios de linearidade para curvas de
calibração ou taxa de reações

Turbidimetria e Nefelometria Teste do resultado do paciente contra os critérios de intervalo de referência


Teste do resultado do controle contra os critérios de um controle de qualidade-
T u r b i d i m e t r i a e nefelometria são técnicas ópticas aplicáveis espe-
padrao de desempenho
cialmente em métodos que medem a formação de precipitados
Teste de mudança na média dos resultados do paciente contra critérios de
em reações entre antígenos e anticorpos (formação de imutio- qualidade para detectar desvio de teste
complexos) (Capítulo 10). Essas técnicas são usadas para medir
proteínas plasmáticas e monitorar droga terapêutica. EXIBIÇÃO
Exibe as amostras que estão sendo analisadas, os pedidos de testes para cada
Quimioluminescência e Bioluminescência amostra e os tempos esperados para a conclusão
A quimioluminescência e a bioluminescência diferem da fluori- Acumula o grupo de resultados do paciente
Coteja os resultados para os dados impressos orientados para o paciente
metria no que diz respeito à origem da excitação, que é causada
Fornece mensagens de alerta para avisar o operador sobre o mau funciona-
poT u m a reação química o u eletroquímica, e não por fotolumi-
mento do instrumento, a necessidade de manutenção ou a situação clínica
nescência (Capítulo 4). As aplicações de quimioluminescência e
habitual
bioluminescência aumentaram de m o d o significativo com o Fornece diagramas de controle de qualidade para revisão do operador
desenvolvimento da instrumentação automatizada e de vários Fornece lluxograma de resolução de problemas para auxiliar o operador
novos sistemas de reagentes. Devido a seus limites de detecção
SD, desviopadiSo; C V , coeficiente de variação.
na faixa attamol (10' 1H mol) a zeptomol (10' 21 mol), as reações da
184 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

t a m b é m foi i n c o r p o r a d a e m analisadores automatizados de m é d i o xões de rede c o m T C P / I P (Transmission Controi Protocol/lnter-


e grande portes c o m o m ó d u l o s integrados de três o u quatro parâ- net Protocai).
metros, a u m e n t a n d o de m o d o significativo o r e n d i m e n t o desse 5. A s estações de t r a b a l h o são usadas para m o n i t o r a r e integrar
sistema, já que vários resultados são produzidos em paralelo. as funções de u m o u mais analisadores. N o r m a l m e n t e a
estação de t r a b a l h o (1) serve c o m o p o n t o de interação c o m
o o p e r a d o r de i n s t r u m e n t o , (2) aceita pedidos de testes, (3)
Processamento do Sinal, Verificação de m o n i t o r a o processo de testagem, (4) auxilia na análise de
Dados e Controle do Processo qualidade d o processo e (5) fornece meios para revisão e
A integração e a interface dos computadores nos analisadores verificação dos testes. N o r m a l m e n t e a estação de t r a b a l h o
automatizados e nos sistemas analíticos t i v e r a m grande i m p a c t o t e m interface direta c o m o c o m p u t a d o r p r i n c i p a l (LIS), acei-
na aquisição e n o processamento de dados analíticos. Os sinais t a n d o pedidos de testes e fazendo l e v a n t a m e n t o dos resulta-
analógicos dos deteccores são convertidos r o t i n e i r a e r a p i d a m e n t e dos dos mesmos. A m a i o r i a das estações de t r a b a l h o possui
(IO 3 a IO"5) para formas digitais p o r conversores que c o n v e r t e m meios para (1) apresentar gráficos Levy-Jennings de c o n t r o l e
sinais analógicos p a i a digitais. O c o m p u t a d o r e o p r o g r a m a resi- de qualidade, (2) m o n i t o r a r o processo de cada p e d i d o de
dente então processam os dados digitais em i n f o r m a ç ã o signifi- teste e (3) resolver problemas dos analisadores. Elas t a m b é m
cativa e ú t i l . O processamento de dados p e r m i t i u a automação p o d e m fornecer meios para auxiliar na revisão de resultados
de p r o c e d i m e n t o s c o m o imunoensaios não-isótopos e espectro- de testes realizados. A l g u m a s estações de t r a b a l h o possuem
m e t r i a de reflectância p o r q u e os algoritmos d o c o m p u t a d o r p r o g r a m a de c o m p u t a d o r baseado e m regras, o que p e r m i t e
t r a n s f o r m a m , p r o n t a m e n t e , respostas tradicionais complexas e ao operador programar as regras para a autoverificação dos
não-lineares em curvas de calibração linear. Várias funções reali- resultados dos testes.
zadas p o r computadores interligados e m analisadores automati-
zados estão listadas n o Q u a d r o 11-3. A s funções adicionais são AUTOMAÇÃO INTEGRADA PARA O
as seguintes: LABORATÓRIO CLÍNICO
1. Os computadores c o m a n d a m e ajustam a operação eletrome- H o u v e u m progresso significativo na integração das etapas i n d i -
cânica d o analisador, assegurando assim que todas as funções viduais do processo analítico nos sistemas analíticos. Conseqüen-
sejam realizadas u n i f o r m e m e n t e , de m o d o repetitivo e na temente, sistemas analíticos avançados de vários fornecedores
seqüência correta. O c o n t r o l e pelo c o m p u t a d o r das caracte- estão agora disponíveis para a automação (1) q u í m i c a , (2) hema-
rísticas operacionais d o e q u i p a m e n t o automatizado, do tológica, (3) de i m u n o e n s a i o , (4) de coagulação, (5) de m i c r o b i o -
cálculo dos resultados e da m o n i t o r a ç ã o da operação contri- logia e (6) de testes de ácido nucléico, o que fornece u m a opera-
b u i para o a u m e n t o da r e p r o d u t i b i l i d a d e dos resultados. ção eficiente e de custo-benefício c o m a m í n i m a participação do
2. O s c o m p u t a d o r e s a d q u i r e m , c o n s u l t a m , processam e armaze- operador. A l é m disso, os laboratórios de análises clínicas t a m b é m
n a m os dados operacionais dos analisadores. Os c o m p u t a d o - estão a u t o m a t i z a n d o suas operações pré e pós-analíticas.
res integrados m o n i t o r a m as funções dos i n s t r u m e n t o s para A l g u n s fabricantes desenvolveram sistemas de automação
a execução correta e reagem à f u n ç ã o i m p r ó p r i a , registrando i n d e p e n d e n t e que interagem d i r e t a m e n t e e que (1) classificam,
o local e a natureza do m a u f u n c i o n a m e n t o . (2) c e n t r i f u g a m , (3) destampam, (4) f r a c i o n a m e (5) r o t u l a m
3. Os c o m p u t a d o r e s p o s s i b i l i t a m interações na comunicação tubos. E m b o r a precisem d o t r a n s p o r t e m a n u a l dos t u b o s para as
entre o analisador e o operador. A s mensagens c o m p u t a d o r i - áreas analíticas, esses sistemas possuem etapas automatizadas n o
zadas sobre o diagnóstico para o usuário descrevendo o local processamento da amostra. Os sistemas de automação m a i s avan-
e o t i p o de p r o b l e m a p o s s i b i l i t a m a rápida identificação dos çados f o r n e c e m opções c o m o (1) aparato mecânico para trans-
problemas e sua p r o n t a correção. A s apresentações gráficas p o r t a r amostras, (2) interfaces de testagem direta c o m os analisa-
f o rn ec em orientação detalhada e interativa sobre resolução dores de m a i o r v o l u m e do l a b o r a t ó r i o e (3) a r m a z e n a m e n t o
de problemas para os operadores de i n s t r u m e n t o s , e demons- refrigerada e sistemas de recuperação.
tração visual d o status de cada amostra e dos dados de con- A automação e m larga escala do laboratório i n c l u i u m a área
trole de q u a l i d a d e associados. A p r o d u ç ã o de dados é sinali- automatizada de processamento de amostra onde estas são (1)
zada p o r comparação c o m os critérios presentes e apresentada identificadas, (2) rotuladas, (3) programadas para análise, (4) cen-
para avaliação d o operador. Tal i n f o r m a ç ã o p o d e especificar trifugadas e (5) classificadas. Depois que as amostras são proces-
que a l i n e a r i d a d e de u m a reação f o i excedida, que a reação sadas, os dispositivos mecânicos transportam-nas para as devidas
não é linear, que ocorreu exaustão do substrato, que a absor- estações de trabalho n o laboratório o n d e são analisados sem
vância de u m reagente está m u i t o alta o u m u i t o baixa, o u que intervenção h u m a n a . O programa de sistema (software) baseado
o desvio da l i n h a de base está excessivo. Os operadores p o d e m em normas (1) auxilia na revisão dos resultados laboratoriais,
reprogramar certas funções do analisador (p. ex., o i n t e r v a l o l i b e r a n d o automaticamente os resultados que não têm problemas
de t e m p o pata u m a reação cinética e o p o n t o d e t e r m i n a d o associados; e (2) identifica qualquer resultado p r o b l e m á t i c o para
da temperatura de reação); i n t r o d u z i r certos valores, c o m o chamar a atenção dos laboratoristas treinados. Depois da análise,
concentrações de calibradores; apresentar i n f o r m a ç ã o arma- todas as amostras são catalogadas e armazenadas em u m local de
zenada e m f o r m a b r u t a o u processada e d e f i n i r o f o r m a t o da armazenamento central, disponíveis para recuperação automati-
i n f o r m a ç ã o impressa p o r m e i o de simples interação c o m o zada caso seja necessário. C o m o discutido a n t e r i o r m e n t e , os
p r o g r a m a do c o m p u t a d o r . aspectos mais i m p o r t a n t e s dos projetos de automação e m larga
4. Os computadores integrados e m sistemas analíticos c o m u n i - escala são as abordagens usadas para processar e transpoTtaT as
cam-se c o m unidades c o m p u t a c i o n a i s centrais. N o passado, amostras e a integração geral dos componentes automatizados em
as interfaces usaram conexões seriais RS-232 para p e r m i t i r a u m f u n c i o n a m e n t o totalmente suave.
conexão interativa entre os sistemas do c o m p u t a d o r n o
m o d e r n o analisador de l a b o r a t ó r i o e o Laboratory I n f o r m a - Estações de Trabalho
t i o n System (LIS). M a i s recentemente, os fabricantes de ins- A tarefa de integrar a automação d o l a b o r a t ó r i o começa c o m a
t r u m e n t o s v ê m desenvolvendo interfaces E t h e r n e t para cone- estação de trabalho. E m geral, u m a estação de t r a b a l h o n o labo-
Automação em Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 11 185

ratório clínico tem tarefas definidas e contém instrumentos labo- ratorista a monitorar as funções de cada analisador e auxilia
ratoriais apropriados para realizar essas tarefas normalmente. também na revisão dos resultados laboratoriais gerados pelo
U m a estação de trabalho no laboratório moderno é quase grupo. O acesso às funções do painel frontal de cada analisador
sempre definida em termos do analisador automatizado que está é fornecido pela interface entre o analisador e o m ó d u l o de
sendo usado. Os atuais sistemas e instrumentos para laboratório controle central. Desse m o d o , o laboratorista transfere as amos-
são altamente desenvolvidos para operações independentes e se tras em cada instrumento n o grupo e depois monitora a opera-
encaixam n o conceito de estação de trabalho. A movimentação ção do instrumento subseqüente e revisa os resultados na estação
das amostras para dentro e fora da estação de trabalho é feita de trabalho central. A o incorporar as atividades de várias esta-
por transporte manual, e as atividades do operador de instru- ções de trabalho, n o rma lme n te para a maioria dos laboratórios
mento são bem diferentes daquelas em outras estações de traba- atuais, em uma única estação de trabalho, essa abordagem
lho. E m u m instrumento típico, o operador segue a seqüência promete poupar potencial humano n o laboratório.
recomendada pelo fabricante sobre calibração, controle de qua-
lidade e atividades de manutenção diária, usando as funções do Células de Trabalho
painel f r o n t a l do instrumento para introduzir as amostras para Outra extensão do conceito de grupo de instrumento é adicionar
análise. Se o analisador tiver uma interface bidirecional com u m preparação e manejo robóticos de amostra. U m sistema robótico
LIS (Capítulo 5) e capacidade para ler códigos de barras, a infor- é usado para desempenhar várias etapas na preparação da
mação sobre quais análises investigar em cada amostra será amostra, como verificar se a mesma está adequada e será centri-
obtida a p a n i r do LIS e o operador de instrumento apenas fugada, transportar e armazenar estas amostras. O sistema robó-
carregará as amostras rotuladas com código de barras na área de tico é responsável pela introdução de amostras no analisador
entrada de amostra. Os diagnósticos fornecidos pela maioria dos apropriado, p e r m i t i n d o que o laboratorista assuma, principal-
analisadores modernos dão ao analisador "inteligência" sufi- mente, o papel de m o n i t o r . U m a interface entre o m ó d u l o de
ciente para permitir ao operador "ausentar-se" do instrumento controle central e o controlador do robô (ou a combinação
por breves períodos, confiante em sua capacidade de realizar dessas funções em u m único computador) permite que as ativi-
uma operação fidedigna. O operador, entretanto, precisa acom- dades de u m grupo robótico sejam totalmente coordenadas.
panhar periodicamente (1) a operação do instrumento, (2) o
reabastecimento de reagentes, (3) a avaliação das mensagens Transporte Automatizado de Amostra
diagnosticas do instrumento e (4) a introdução de novas amos- Abordagens diferentes f o r a m desenvolvidas para o transporte e
tras na bandeja de abastecimento destas. a manipulação de amostras dentro do laboratório.

Grupos de Instrumentos
Para redução de custos, os fabricantes de instrumentos têm Esteiras Rolantes
desenvolvido abordagens que permitirão a u m ú n i c o técnico Esteiras rolantes são usadas no laboratório para transportar
controlar e monitorar simultaneamente as funções de vários amostras de uma estação de trabalho para outra. Esteiras rolan-
aparelhos. Inicialmente, tais estações de trabalho foram configu- tes industriais comuns são usadas com sucesso quando apenas
radas com grupos de instrumentos idênticos, como analisadores o transporte é necessário. Porém, quando estão integradas a
químicos, i m u n o q u i m i c o s ou hematológicos. Grupos de instru- outros sistemas robóticos para automatizar funções pré e / o u
mentos mais avançados p o d e m incorporar analisadores quími- pós-analíticas, essa tecnologia encontra dificuldade para lidar
cos e de imunoensaio do mesmo fornecedor, e u m a possível com a grande variedade de recipientes de amostra encontrada
extensão desse conceito é o desenvolvimento de grupos de ins- n o laboratório clínico. Para aumentar a variedade de tipos de
trumentos diferentes que combinem disciplinas laboratoriais recipientes de amostra que são transportados em u m sistema de
tradicionais. U r n exemplo pode ser u m grupo de analisadores esteira rolante, estas amostras são colocadas em transportadores
químicos e hematológicos. especialmente desenhados para se encaixarem na l i n h a da esteira
U m grupo de analisadores possui seu próprio m ó d u l o de rolante. As vezes conhecidos como "estantes" o u "racícs" (depen-
controle central (um PC) com u m programa que auxilia o labo- dendo do que transportam: amostras individuais ou grupos de

A, Cartesiano. B, Cilíndrico C, Articulado (polar) ou com juntas. (Modificado do Journal of the International
Federation of Clinicai Chemistty, 1992;4 175.)
186 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

amostras), os transportadores possuem receptáculos para tubos possuem uma complexidade considerável. Por conseqüência, o
de vários tamanhos, geralmente variando de 13 X 75 m m a 16 X processamento de amostras tem sido uma das áreas mais difíceis
100 m m — c a m i n h o s q u e estão d e a c o r d o c o m o C l i n i c a i a n d de automatizar. Várias tentativas foram feitas usando abordagens
Laboratory Standards Institute (CLSI) Protótipo A U L O O l - A . 6 tanto integradas quanto modulares que seTão discutidas mais
A transferência de amostras da esteira rolante para a estação adiante. Cada amostra que passa por uma área de processamento
de trabalho do laboratório foi implantada de várias maneiras. Por precisa passar por uma série de operações, começando com (1)
exemplo, muitos fabricantes equiparam seus instrumentos de recebimento da amostra; (2) inspeção para verificar a adequação
laboratório com dispositivos para obter amostras dos sistemas de da rotulagem, o tipo de recipiente, a temperatura e a quantidade
esteira rolante. Na prática, a automação do sistema requer u m de amostra; (3) identificar a amostra no LIS; (4) rotulá-la com
dispositivo que pare o tubo no local exato exigido pelo analisador u m número de acesso; e (5) separar as amostras urgentes e está-
e que verifique e transfira a identificação do código de barras do ticas das amostras de rotina A l é m disso, as amostras precisam
tubo para o analisador. Em outro exemplo, u m sistema robótico ser classificadas para centrifugação, aliquocação ou, caso contrá-
especializado é necessário para remover o tubo e colocá-lo na rio, preparadas para a estação de laboratório apropriada.
estante ou carrossel do analisador.
Sistemas de Processamento de Amostras
Braços Robóticos Independentes
Os braços robóticos conseguem realizar análises clínicas alta- U m exemplo de sistema de processamento de amostra indepen-
mente complexas. 16 Três tipos de mecanismos estão disponíveis dente é mostrado na Figura 11-4. Sistemas similares colocam as
comercialmente: cartesiano, cilíndrico e articulado {Figura 11-3). amostras processadas em estantes (mcíts) que precisam ser trans-
Devido à sua flexibilidade operacional, os robôs possibilitam a portadas manualmente para as áreas de teste, com algumas exce-
configuração rápida de sistemas para novos e variados protocolos. ções. Alguns são quase do tamanho de u m analisador automati-
Essa capacidade (1) aprimora a versatilidade e a segurança, (2) zado e outros podem ser um pouco maiores. Eles podem ser uma
melhora a precisão e a produtividade e (3) reduz erros em decor- boa escolha para os laboratórios (1) com cargas de trabalho
rência da combinação inadequada da identidade da amostra por diárias de 500 a 2.500 amostras, (2) com limitações de espaço,
humanos. ou (3) que desejam fazer melhorias e facilidade de uso com dife-
Atualmente o sistema cartesiano é a forma mais c o m u m de rentes analisadores de diferentes fornecedores. Alguns laborató-
robótica utilizada em laboratórios. Esses sistemas são construídos rios podem optar pelo uso de múltiplos de u m sistema de pro-
dentro de estações de pipetas programáveis e fornecem rotinas cessamento de amostra independente para automatizar o pro-
flexíveis de pipetagem adequadas a vários protocolos. cesso de arquivamento e de análise de amostra.
Esses sistemas irão (1) receber as amostras, (2) classificar, (3)
Processamento de Amostra Automatizado destampar, (4) aliquotar e (5) rotular recipiente com alíquotas da
Embora as operações manuais desempenhadas em uma área de amostra com código de barras — todas as tarefas de interface com
processamento de amostra pareçam simples, essas operações o LIS do laboratório. Alguns sistemas até incluem centrifugação
automatizada. Vários dos sistemas fazem a classificação de estan-
tes específicas de instrumentos para analisadores de diferentes
fornecedores. A l é m da classificação para determinados analisado-
res ou seções de laboratório, alguns usuários aplicam esses siste-
mas para aliquotar e selecionar referência ou para "dispensar"
teste, poupando u m tempo considerável na localização de amos-
tras originais após o teste em seus próprios laboratórios.

F i g u r a 11-4 A célula de trabalho Tecan Genesis FE500™ faz a


pré-classificaç^o, inspeciona o volume da amostra, centrifuga, Figura 11-5 Sistema Beckman Coulter Power Processor. Essa é a
destampa, divide em alíquotas e envia as amostras classificadas em fotografia de um sistema instalado em um grande laboratório de
estantes específicas paia diferentes analisadores com uma produção hospital. O desenho deste sistema inclui módulos para analisadores e
de até 500 tubos primários e secundários por hora. (Cortesia de para processamento pré-analítico. (Cortesia de Beckman Coulter Inc;
Tecan Trading AG, Suíça, www.tecan.com.) www.beckmancoulteT.com.)
Automação em Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 11 187

Sistemas de Automação Integrada e Modular transfere para o sistema de t r a n s p o r t e o u para u m sistema


V á r i o s fabricantes oferecem sistemas de automação integrada o u que utiliza esteiras (racícs). U m classificador de alto nível é
m o d u l a r para processamento de amostras que i n c l u e m f u n c i o - quase sempre usado para separar as amostras que precisem
nalidade adicional. A l é m das funções p r e v i a m e n t e descritas, de centrifugação das que n ã o precisam, o u para e n c a m i n h a r
esses sistemas n o r m a l m e n t e acrescentam (1) transportadores amostras para trajetos t o t a l m e n t e diferentes dentro do
mecânicos, (2) interface entre analisadores automatizados, (3) sistema de automação total. 11
c o n t r o l e mais sofisticado d o processo e, e m alguns casos, (4) u m 5. Centrifugação automatizada: uma área d o processador de
sistema de armazenamento e recuperação de amostra. T o d o s amostras que desvia da centrifuga as amostras na esteira
esses sistemas apresentam design m o d u l a r , p e r m i t i n d o ao cliente r o l a n t e que necessitam de centrifugação. As amostras são
escolher quais características/módulos devem ser incluídos. a u t o m a t i c a m e n t e balanceadas, centrifugadas (temperatura
A l g u n s dos sistemas usam design aberto, o q u e p e r m i t e a inter- a m b i e n t e o u refrigerada) e depois removidas da centrífuga e
face entre analisadores de vários fornecedores, e n q u a n t o o u t r o s colocadas de v o l t a ao sistema de transporte.
sistemas apresentam-no fechado e só possuem interface c o m o 6. Detecção do nível e avaliação da adequação da amostra (mtegri-
analisador d o p r ó p r i o fabricante o u c o m u m n ú m e r o l i m i t a d o dade da amostra): u m a área o n d e sensores são usados para
de analisadores Deve-se n o t a r q u e os sistemas fechados n o r m a l -
avaliar o v o l u m e de amostra e m cada r e c i p i e n t e e t a m b é m
m e n t e n ã o possuem u m p r o g r a m a (software) para c o n t r o l e de para verificar a presença de hemólise, l i p e m i a ou icterícia.
p r o c e d i m e n t o i n d e p e n d e n t e dos i n s t r u m e n t o s o u sistema, por-
7. Estação de destampamento: u m a área o u dispositivo n o sistema
t a n t o , o c o n t r o l e d o processo de automação está i n t e g r a d o ao a u t o m a t i z a d o o n d e tampas o u tampões de amostra são auto-
t r a b a l h o c o m os analisadores d o fornecedor. U m exemplo de
m a t i c a m e n t e removidos e descartados e m cesto de l i x o .
sistema de automação integrada é m o s t r a d o na Figura 11-5.
8. Estação de retampamento: u m a área o u dispositivo n o sistema
Para se o b t e r o m á x i m o de eficácia de u m sistema de auto-
a u t o m a t i z a d o o n d e tubos de amostra são a u t o m a t i c a m e n t e
mação, o p r o g r a m a (software) de c o n t r o l e d o p r o c e d i m e n t o deve
retampados c o m novos tampões o u cobertos c o m fecha-
conseguir ler a identificação ( I D ) d o c ó d i g o de barras da amostra
mento hermético.
e obter i n f o r m a ç ã o do L I S d o l a b o r a t ó r i o sobre o t i p o de amostra
9. Dispositivo de ahquotagem: aspira alíquotas de t a m a n h o s apro-
e os testes pedidos, p o d e n d o d e t e r m i n a r os processamentos
priados de cada recipiente de amostra o r i g i n a l e os transfere
requeridos para a amostra e a trajetória o u curso de ação exato
para novos recipientes para classificação e transporte para as
para cada amostra. Ele deve ser capaz de (1) calcular o n ú m e r o
m ú l t i p l a s estações de trabalho analíticas.
de alíquotas e o v o l u m e a p r o p r i a d o para cada u m a de acordo
10. Interface, com analisador automatizado: u m a conexão física
c o m os testes exigidos, (2) d i r e c i o n a r as amostras para os anali-
direta c o m u m analisador que p e r m i t e a aspiração d i r e t a da
sadores, (3) retampar as amostras e (4) reter as amostras para
amostra c o n t i d a n o recipiente aberto pela sonda de amostra-
revocação (recaü) automática. O p r o g r a m a deve m o n i t o r a r os
g e m d o analisador, e n q u a n t o o recipiente ainda está n o
analisadores n o c o n t r o l e da p r o d u ç ã o e t o m a r decisões automa-
t r a n s p o r t a d o r , o u p e r m i t e que o recipiente d o t r a n s p o r t a d o r
t i c a m e n t e se u m teste não estiver disponível. A checagem da
seja levantado e colocado n o analisador p o r braços r o b ó t i -
integridade da amostra deve ser a u t o m á t i c a ; decisões baseadas
cos. A l g u n s sistemas de automação possuem interface apenas
e m n o r m a s e critérios devem m o n i t o r a r a q u a l i d a d e da amostra
e t o m a r essas decisões. F i n a l m e n t e , a m a i o r i a dos softwares de com suas p r ó p r i a s marcas de analisadores o u c o m um
c o n t r o l e deve i n c l u h (1) "autoverificação", o que é a validação n ú m e r o l i m i t a d o de sistemas, e n q u a n t o outros usam u m
dos resultados d o analisador c o m tomadas de decisões baseadas desenho d e n o m i n a d o aberto que se adapta aos padrões d o
nas regras que sinalizam as exceções para a revisão d o laborato- C L S I e p e r m i t e interfaces c o m u m a variedade de analisado-
rista e (2) "auto-recuperação" de amostras para repetição, refle- res automatizados.
xão e d i l u i ç ã o da mesma. 11. Classificador: u m classificador a u t o m a t i z a d o para selecionar
E m b o r a a m a i o r i a desses sistemas esteja restrita a l i d a r c o m as amostras que n ã o irão para u m analisador que t e n h a
tipos específicos de recipientes de amostra, eles são capazes de interface c o m o t r a n s p o r t a d o r o u para u m a estação de tra-
processar grande parte da caTga de t r a b a l h o diária de u m grande b a l h o . Tal dispositivo n o r m a l m e n t e faz a classificação entre
l a b o r a t ó r i o clínico. Apesar de alguns l a b o r a t ó r i o s c o m cargas dc 30 e 100 grupos diferentes e m estantes ou transportadores.
t r a b a l h o consideradas baixas (600 a 8 0 0 tubos de amostra) jus- E m alguns sistemas, as estantes são específicas para d e t e r m i -
t i f i c a r e m o uso desses sistemas pela falta de assistência técnica, nados analisadores apenas p o r conveniência,
estes n o r m a l m e n t e são desenvolvidos para laboratórios c o m 12. Estações de retirada: áreas de armazenagem t e m p o r á r i a para
cargas de trabalho de 1.000 a 10.000 amostras p o r dia. A l é m d o amostras antes e depois da análise. A estação de retirada
p r o g r a m a de c o n t r o l e d o processo e da capacidade de interface p o d e ser igual ao classificador descrito a n t e r i o r m e n t e o n d e
c o m o L I S d o l a b o r a t ó r i o , cada u m desses sistemas i n c o r p o r a as amostras são classificadas para entrega m a n u a l . Porém, ela
alguns o u todos dos seguintes c o m p o n e n t e s : t a m b é m p o d e servir c o m o área de retenção (curral) para
1. Are a de entrada (input) de amostra: u m a área de retenção o n d e amostras que aguardam a autoverificação de resultados
amostras c o m código de barras são introduzidas n o sistema. q u a n d o é necessário repetir u m teste.
2. Estações de leitura de código de barras: leitores de código de 13. Sistema de armazenagem e recuperação: essa u n i d a d e t e m a
barras m ú l t i p l o s são colocados e m locais decisivos n o sistema mesma f u n ç ã o que a estação de retirada o u curral — reter
de processamento para rastrear as amostras e fornecer infor- amostras após análise caso seja necessário repetir u m teste,
mação de suas trajetórias para as estações n o sistema de mas c o m u m a grande diferença; essas unidades são n o r m a l -
processamento. m e n t e refrigeradas e c o m p o r t a m m u i t o mais amostras (3 a
3. Sistema de transporte, segmentos de u m a l i n h a na esteira 15 .000) que a estação de retirada o u curral. D e p e n d e n d o das
r o l a n t e q u e conduz as amostras até locais apropriados. cargas diárias de trabalho, o l a b o r a t ó r i o p o d e reter o equiva-
4. U m classificador de alto nível para classificar e encammhar as lente a 1 semana de amostras para repetir o u fazer testes
amostras: u m dispositivo que separa as amostras pelo t i p o adicionais. Os recipientes de amostra são carregados e recu-
( c o m o p o r altura d o tubo) o u pelo código d o p e d i d o e as perados c o m auxílio de u m r o b ô .
188 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

\ _ X Linha de
Anadsador químíca

P'OWrS«ldrX Unha de
LÍH ;-*riusli>i hematologia

ProoMi*nanto3
nâo-autcmatlzBdos

Figura 11 - 8 O uso de um sistema transportador para classificar


amostras de modo dinâmico durante o transporte destas elimina a
Figura 11-6 A testagem direta a partir de um trilho transportador necessidade de equipamento separado para classificá-las, mas requer um
em configuração de aro elimina a necessidade de separar o equipamento sistema transportador mais sofisticado com muitas estações e portões de
para classificar as amostras, mas pode limitar o ritmo do movimento da leitura de código de banas pata direcionar as amostras para estações de
amostra no trilho para uma velocidade de testagem mais lenta na trabalho apropriadas. (De Boyd JC, Felder RA, Savory J. Robotics and
estação de trabalho. {De Boyd JC, Felder RA, Savory j. Robotics and the changing face of the clinicai laboratory. Clin Chem 1996;42:1901-
the changing face of the clinicai laboratory. Clin Chem 1996,42:1901 - 10)
10.)

E m uma segunda abordagem, alguns sistemas de transporta-


dores de processamento automatizado classificam as amostras em
grupos de acordo com seus destinos n o laboratório, como para
testes químicos ou hematológicos, Depois da classificação, as
amostras separadas são direcionadas para a linha transportadora
exclusiva (Figura 11-7). Esse método segue a abordagem usada na
maioria das áreas de processamento de amostras manual. A
extensão do transporte de amostra via transportador depende das
atividades a serem incluídas. Por exemplo, esses desenhos p o d e m
incluir uma centrífuga e u n i dispositivo de aliquotagem, analisa-
Figura 11-7 Fazer a classificação de amostras laboratoriais, antes da
dores de interação química e imunoquímica, u m classificador
introdução em sistemas de transporte de amostra automatizado,
adicional, uma estação cie retirada, e até mesmo uma armazena-
simplifica o desenho e a construção de um transportador. (De Boyd JC,
gem refrigerada e uma estação de recuperação no f i m da linha
Felder RA, Savory J. Robotics and the changing face of the clinicai
de química. A linha de hematologia pode levar diretamente a
laboratory. Clin Chem 1996;42:1901-10.)
analisadores hematológicos e de coagulação e a uma máquina de
preparação de slide automatizada.
N a terceira abordagem, o classificador é integrado ao sistema
transportador e as amostras são classificadas enquanto são trans-
Classificação de Amostra Automatizada portadas (Figura 11-8). As vantagens dessa abordagem são que
Várias abordagens paia classificar amostras de modo automático
u m classificador de amostra exclusivo não é necessário n o sistema
foram usadas, incluindo (1) esteira rolante, (2) classificador auto-
de processamento de amostra e que, com o transporte de amostra
matizado usando es cantes e (3) classificadores independentes.
apropriado, a necessidade de alíquotas de amostra pode ser
Escolher a abordagem correta é u m determinante m u i t o impor-
evitada.
tante do esquema geral de automação em qualquer laboratório.

Integração com um Sistema Transportador Classificação Automatizada em Estantes


Três tipos de sistemas de classificação de transportador foram Alguns classificadores são projetados para classificar amostras em
usados. U m tipo usa u m aro contínuo n o qual todas as amostras estantes para transferência para determinadas seções do labora-
seguem o aro e passam por cada estação de trabalho o u analisa- tório o u paia analisadores, c o m o descrito anteriormente. Esses
dor. As amostras ou são testadas diretamente pelo instrumento sistemas classificam as alíquotas e os tubos originais nas estantes
analítico ainda n o transportador, ou u m robô anexado à estação para transporte manual para analisadores ou seções do laborató-
de trabalho remove as amostras selecionadas do transportador rio. E m alguns casos, as estantes podem ser específicas para u m
para análise (Figura 11-6). A vantagem dessa abordagem é não determinado analisador, eliminando o manuseio adicional de
sei necessário aliquotar as amostras já que elas passam por todas tubos.
as estações de trabalho nas quais os testes são realizados. C o n t u d o ,
o aro contínuo também tem algumas desvantagens, pois a taxa Armazenagem e Recuperação de Amostras
de produção de amostras é quase sempre limitada pelo analisador Automatizadas
de testes, mais lento no aro. As exceções incluem sistemas que A capacidade automatizada de armazenar e recuperar amostras,
usam trilhos de desvio que permitem às amostras desviar de quando necessário, é u m aspecto importante dos sistemas de
estações para chegarem aos seus destinos corretos. Deve-se notar liberação de amostras automatizadas. Alguns dos sistemas inte-
também que, se as amostras foram removidas de seus recipientes grados ]á descritos oferecem módulos de armazenagem e recupe-
na l i n h a de testagem, u m sistema de enfileiramento de recipien- ração de amostras como opções em seus sistemas. Esses módulos
tes vazios é necessário para devolver os tubos ao transportador. robóticos armazenam amostras refrigeradas em locais específicos
Automação em Laboratório de Análises Clinicas CAPÍTULO 11 189

Sistema de Sistema de
QUADRO 11-4 Etapas para a Mapeamento do Fluxo de
automação internação
<—
Trabalho em Laboratório Clínico da laboratório do laboratório

A A A
Descarregamento de recipientes de transporte
Pré-classificação
Preservação de temperatura
Entrada de pedido 1
V V W V
Gerenciamento de documento (requisições etc.)
Inslrumento de Inslrumento de Instrumento Inslrumento
Rotulagem transporte
procedimento analíbco analítico
Classificação
Centrifugação
Rotulagem de tubos de alíquotas Figura 11-9 M o d e l o de controle funcional do p r o t ó t i p o CLS1/
Distribuição de alíquotas NCCLS AUT003-A. As linhas sólidas e as setas mostram o fluxo de
Mais classificação informação lógica apoiado pelo protótipo As linhas pontilhadas e as
Entrega em seções do laboratório setas são os fluxos de informação lógica permitidos, mas não apoiados
Mais classificação
pelo protótipo. (Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS.
Preparação de listas de trabalho
Automação de laboratório: comunicações com sistemas automatizados
Destampamento
de laboratório clinico, instrumentos, dispositivos e sistemas de
Rotulagem de tubos específicos de u m analisador para amostras
informação. CLSI protótipo aprovado AUT003-A. Wayne, PA: Clinicai
Distribuição c u pipetagem de amostras específicas de um analisador
Carregamento de tubos em analisadores and Laboratory Standards Insticute, 2000. Figura reproduzida com
Realização de testes (etapas como extração, centrifugação, precipitação, dilui- permissão do CLSI.)
ção etc,, não são especificamente listadas)
Descarregamento de analisadores
Refàmpamento
Manipulações de dados (cálculos) permite ao laboratório identificar melhor quais etapas podem
Revisão e verificação de resultado ser consideradas paTa automação.
Relatório de resultados Alguns laboratoristas utilizam até 80% de dados empíricos
Distribuição de amostras para sistema de armazenagem e arquivamento como base para tomada de decisões sobre automação. Os labo-
Armazenagem oculta de amostras
ratórios de análises clínicas possuem muitos testes, recipientes
Testagem reflexiva
de amostras e situações excepcionais para avaliar. N o entanto,
Repetição de testagem, diluição, caso necessário
se 80% das situações e dos recipientes de amostras puderem ser
Testagem adicional a pedido do médico
padronizados e automatizados, o laboratório conseguirá uma
Recuperação de amostra para repetição do ensaio ou realização de teste
adicional redução substancial nos custos e mão-de-obra, o que deve ser
Descarte de amostras vencidas suficiente para justificar o investimento em automação, planeja-
mento e avaliação do tempo envolvido
U m a vez mapeado o f l u x o de trabalho e identificadas as
necessidades, as soluções alternativas são então consideradas.
Vendedores são convidados para fazer apresentações e acompa-
nhar visitas da equipe gerencial a outros laboratórios onde o
que são registradas em u m banco de dados mantido pelo sistema
fornecedor possua instalações bem-sucedidas. Nesse estágio é
de liberação dessas amostras. Q u a n d o u m usuário solícita a importante colocar em foco as necessidades identificadas pelo
recuperação de uma determinada amostra, o robô recebe
mapeamento do f l u x o de trabalho e não permitir que o vende-
comando paia lecupeiá-la do local arquivado apLOpiiado e enca- dor tente vender equipamentos que não sejam necessários.
minhá-la para a estação solicitada utilizando o sistema de trans-
porte. Alguns grandes laboratórios de referência adotaram siste-
Problemas de Integração
mas de grande armazenagem comumente usados em outras
Construir u m laboratório altamente integrado gera muitos pro-
indústrias em suas unidades laboratoriais.
blemas em potencial. C o m o é improvável que u m laboratório
use apenas o equipamento de u m único fabricante, a integração
CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS de instrumentos em dispositivos robóticos de fabricantes dife-
Nesta seção são discutidas as considerações práticas que influen- rentes normalmente é necessária. Devem ser tomadas decisões
ciam nas decisões em laboratório sobre a automação de parte ou sobre qual veículo será o controlador mestre e qual fornecedor
de todas as suas operações. desenvolverá o programa de computador (software) que fornecerá
o controle geral do esquema de automação. A l é m disso, os
Avaliação das Necessidades indivíduos ou empresas que serão responsáveis pela configura-
Qualquer consideração sobre automação total ou modular de ção da automação e pela geometria e cronograma da produção
laboratório deve iniciar com uma avaliação das necessidades.10 do laboratório deverão ser convocados e treinados. Embora os
Essa avaliação começa com o mapeamento do f l u x o de trabalho esquemas de automação industrial tenham sido desenvolvidos
atual n o laboratório, desde a chegada de amostras de pacientes para resolver muitos desses problemas, a experiência com essas
até a realização da testes e relatórios de resultados. O Quadro abordagens ainda é insuficiente no ambiente de laboratórios de
11-4 lista as etapas de u m fluxo de trabalho em potencial que análises clínicas.
devem ser mapeadas. O mapeamento dos fluxos de dados e de O leitor deve se referir ao protótipo A U T 0 0 3 - A do CLSI,
material (amostra) está diretamente relacionado com o fluxo de que é descrito na seção a seguir, e em particular ao M o d e l o de
procedimentos e auxiliará o laboratório na determinação das Controle Funcional (Seção 4.2), que descreve as relações entre
etapas que (1) são obstruídoras, (2) desperdiçam mão-de-obra e o LIS, LAS e vários outros dispositivos. 7 Nesse modelo, e em
(3) são propensas a erros.13 O mapeamento do fluxo de trabalho todas as séries de protótipos de automação CLSI, o termo LAS
190 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

representa o sistema de c o m p u t a d o r que c o n t r o l a a automação nários. N o entanto, análises selecionadas de u r i n a sao realizadas
d o sistema, e não o hardware de automação. C o m frequência é o nos analisadores disponíveis em algumas instituições. 9
L A S que possui o requisito d o p r o g r a m a (software) de c o n t r o l e
d o processo para m a n t e r a automação. O m o d e l o de c o n t r o l e Contadores de Células
f u n c i o n a l , m o s t r a d o na Figura 11-9, m a n t é m i n s t r u m e n t o s ana- Analisadores que realizam u m a contagem completa de sangue
líticos que p o d e m ser fisicamente i n c o r p o r a d o s ao sistema de f o r a m automatizados c o m o uso do " p r i n c í p i o de C o u l t e r " , o
automação e analisadores que não p o d e m ser i n c o r p o r a d o s , mas q u a l se baseia em (1) c o n d u t i v i d a d e de célula, (2) luz dispersa e
que a m d a possuem interface c o m o LIS. O m o d e l o não concede (3) c i t o m e t r i a de f l u x o . Células sanguíneas i n d i v i d u a i s são anali-
d o m i n â n c i a ao L I S o u L A S , mas p e r m i t e o f l u x o de i n f o r m a ç ã o sadas c o m aplicação de u m a o u mais dessas técnicas. O p r i n c í p i o
essencial em q u a l q u e r das duas direções buscando o uso mais de C o u l t e r baseia-se nas mudanças na impedância elétrica pro-
eficiente dos p o n t o s fortes de cada sistema. duzidas p o r partículas não-condutivas suspensas em u m e l e t r ó l i t o
q u a n d o estas passam através de u m a pequena abertura entre os
Dispositivo de Integração eletrodos. N a zona sensível da abertura, o v o l u m e de eletrólitos
U m objetivo n o des env ol v i m ento de u m l a b o r a t ó r i o integrado é deslocados pela partícula (célula) é m e d i d o c o m o u m a m u d a n ç a
ligar os i n s t r u m e n t o s e os dispositivos d o l a b o r a t ó r i o a u m na v o l t a g e m p r o p o r c i o n a l ao v o l u m e da partícula. C o m o con-
sistema a u t o m a t i z a d o paia m a x i m i z a i o n ú m e r o de funções auto- trole cuidadoso da q u a n t i d a d e de e l e t r ó l i t o que passa pela aber-
matizadas. A i n t r o d u ç ã o automática de amostra requer o desen- t u r a , vários milhares de partículas são contadas p o r segundo e
v o l v i m e n t o de interfaces mecânicas entre cada analisador e dis- medidas i n d i v i d u a l m e n t e . Células vermelhas, células brancas e
positivos, c o m o esteiras rolantes, robôs móveis o u braços robóti- plaquetas são identificadas p o r seus tamanhos. A l t e r n a r a cor-
cos. Atualizações para interfaces eletrônicas de i n s t r u m e n t o s para rente na faixa de r a d i o f r e q ü ê n c i a piovoca curto-circuito na
l a b o r a t ó r i o são necessárias para p e r m i t i r o c o n t r o l e das funções camada de l i p í d i o b i p o l a r da m e m b r a n a da célula, p e r m i t i n d o
d o painel f r o n t a l p o r u m c o m p u t a d o r remoto, a notificação da que a energia penetre na mesma. C o m essa técnica obtêm-se
i n f o r m a ç ã o sobre o estado d o i n s t r u m e n t o , e a coordenação da informações sobre a estrutura intracelular, i n c l u i n d o composição
d i s t t i b u i ç ã o de amostras entre os i n s t r u m e n t o s . A m a i o r i a das q u í m i c a e v o l u m e nuclear.
interfaces de L I S c o m analisadores de l a b o r a t ó r i o fornece apenas A c i t o m e t r i a de f l u x o n o r m a l m e n t e utiliza células tingidas
a capacidade de baix ar n ú m e r o s de acesso e pedidos de teste de c o m corante (solução de supravital eosina a 5 % em soro fisioló-
cada amostra, e de carregar (upload) os resultados gerados pelo gico), o n d e as células mortas são coradas, o u sondas fluorescen-
analisador. tes que, e m suspensão, atravessara, i n d i v i d u a l m e n t e , u m a fonte
de luz de u m laser. (Células não-tingidas t a m b é m são medidas )
Controladores e Programa do Processo A luz dispersa e a luz e m i t i d a são coletadas através de detectores
Os controladores de p r o c e d i m e n t o for nec em integração compu- de dispersão de luz f r o n t a l e lateral. A i n f o r m a ç ã o o b t i d a p o r
tadorizada de m u i t a s tarefas através de decisões que o c o r r e m na mensuração de luz dispersa q u a n d o a célula é atingida p e l o raio
atividade diária de u m l a b o r a t ó r i o C o n s e q ü e n t e m e n t e , u m pro- laser é então usada para estimar (1) a f o r m a da célula, (2) o
grama de c o n t r o l e d o processo é necessário para coordenar todas t a m a n h o , (3) a granulosidade celular, (4) a l o b u l a r í d a d e nucleaT
as atividades do l a b o r a t ó r i o . Para integrar todos os dispositivos e (5) a estrutura da superfície da célula. A l g u n s contadores de
n o l a b o r a t ó r i o , é preciso estabelecer comunicações c o m u m dis- células classificam as células brancas usando o p r i n c í p i o de
positivo c o n t r o l a d o r mestre. A l é m disso, a comunicação é neces- C o u l t e r — a c o n d u t i v i d a d e da célula e a dispersão de luz das
sária entre o c o m p u t a d o r L I S , o c o m p u t a d o r L A S (que fornece células não-tingidas para diferenciar os tipos de células. O u t r o s
c o n t r o l e do processo), os analisadores d o l a b o r a t ó r i o , os trans- contadores de células usam m ú l t i p l o s canais de c i t o m e t r i a de
portadores de amostra e os dispositivos de manipulação de f l u x o o u u m a c o m b i n a ç ã o de c i t o m e t r i a de f l u x o , c o n d u t i v i d a d e
amostra, c o m o centrífugas, aliquotadores, destampadores etc. A da célula e dispersão de luz.
distribuição de tarefas deve ser cuidadosamente especificada n o
desenvolvimento dessa rede de comunicações. Analisadores de Ácido Nucléico
A automação de análise de ácido nucléico se desenvolveu rapida-
OUTRAS ÁREAS DE AUTOMAÇÃO m e n t e c o m o consequência ao Projeto G e n o m a H u m a n o . 1 2 V á r i o s
A l é m dos dispositivos descritos a n t e r i o r m e n t e , u m a variedade de fabricantes desenvolveram automação para auxiliar n o isola-
i n s t r u m e n t o s e p r o c e d i m e n t o s foi automatizada e i n c o r p o r a d a à m e n t o e análise de ácidos nucléicos usando vários esquemas de
r o t i n a de l a b o r a t ó r i o s de análises clínicas. Eles i n c l u e m (1) ana- amplificação e seqüenciamento desse ácido. M u i t a s dessas técni-
lisadores de u r i n a , (2) contadores de células, (3) analisadores de cas f o r a m miniaturizadas usando tecnologia de chip.5M As aboi-
ácido nucléico, (4) sistemas de placa de m i c r o t i t u l a c ã o , (5) esta- dagens baseadas e m chip p r o m e t e m reduzir o t e m p o de análise e
ções de pipetagem automatizadas e (6) analisadores para testagem o c o n s u m o de reagentes, d i m i n u i n d o os custos a s s o c i a d o s à
l a b o r a t o r i a l remoca. r o b ó t i c a e à necessidade de aparato l a b o r a t o r i a l para as aborda-
gens em macroescala.
Analisadores de Urina
M u i t o s dos mesmos p r i n c í p i o s analíticos são usados para quan- Sistemas de Placa de Microtitulação
tificação dos c o n s t i t u i n t e s d o soro e da u r i n a . E mais difícil, Os sistemas de placa de m i c r o t i t u l a c ã o são c o m u m e n t e usados
entretanto, automatizar a testagem de u r i n a em v i r t u d e da grande em imunoensaios e em análises de ácido nucléico. C o m o são
variedade das concentrações dos constituintes da u r i n a . Essa usadas em testes imunoadsorventes associados à enzima ( E L I S A ) ,
variedade requer u m l i m i t e baixo de detecção para m e d i r con- as placas de m i c r o t i t u l a ç ã o n o r m a l m e n t e são feitas de poliesti-
centrações baixas, e linearidade para p e r m i t i r mensurações de r e n o e possuem 48 o u 96 cavidades revestidas c o m a n t i c o r p o
concentrações altas sem diluição. Essa requisição, j u n t o à específico para o antigeno de interesse. A p ó s a incubação d o soro
d e m a n d a relativamente baixa para testes de u r i n a comparada na cavidade da placa de m i c r o t i t u l a ç ã o , a cavidade é lavada para
c o m a d e m a n d a para testes de soro, restringiu o desenvolvimento remover antigeno solto, e u m segundo a n t i c o r p o c o m i n d i c a d o r
de analisadores projetados especialmente para constituintes uri- c o n j u g a d o é a d i c i o n a d o . D e p o i s de u m segundo p e r í o d o de
Automação em Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 11 191

incubação, a cavidade é lavada para remover o conjugado solto. Clinicai diagnostic technology: the tocai testing process. Volume 1. The
U m produto de coloração é desenvolvido com a adição de subs- preanalytical phase. Washington, DC: AACC Press, 2002:107-29.
trato de enzima e a reação termina em u m tempo determinado. 4. Chan DW. Immunoassay automation: an updated guide to systems. San
C o m o desenvolvimento de estações de pipetagem automatiza- Diego. Academic Press, 1995.
das, as etapas de manejamento de l i q u i d o necessárias em análises 5. Cheng J, For ti na P, Surrey S, Kricka LJ, Wilding P. Microchip-based
devices for molecular diagnosis of genetic diseases. Molecular Diagnosis
com placa de micra titulação foram totalmente automatizadas
1996;1:183-200.
para tornar essas análises u m a tecnologia viável para a realização
6. Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS. Laboratory
de grandes quantidades de imunoensaios. As estações de pipe-
automation: Specimen container/specimen carrier. CLS1/NCCLS
tagem automatizadas possuem u m robô cartesiano com uma
Approved standard AUTOOl-A. Wayne, PA: Clinicai and Laboratory
pipeta fixada n o final da sonda que se move em u m espaço
Standards Insrimte, 2000.
retangular. A sonda é capaz de se mover em eixos de X, Y e Z.
7. Clinicai and Laboratory Standards Insticute/NCCLS Laboratory
Os líquidos podem ser aspirados e depositados em qualquer automation: Communications wich automaced clinicai laboratory
local do espaço retangular. systems, instruments, devices, and information systems. CLSI/NCCLS
Approved standard AUT003-A. Wayne, PA: Clinicai and Laboratory
Estações de Pipetagem Automatizadas Standards Insriture, 2000.
As estações de pipetagem podem ser usadas para automatizar u m 8. Giuliano KK, Giant ME. Blood analysis at the point of caie: issues in
procedimento analítico para o qual u m analisador automatizado applicacion for use in critkally ilt patients. AACN Clin Issues. 2002
não existe ou seu custo não pode ser justificado. A maioria dos May, 13:204-20.
robôs de pipetagem é (1) relativamente fácil de programar, (2) 9. Guder WG, Ceriotti F, Bonini P. Urínalysis—challenges by new medicai
raramente falha, e (3) consegue distribuir alíquotas de líquidos needs and advanced technologies. Clin Chem Lab Med 1998;36:907.
com extrema precisão. Os robôs de pipetagem de canais múltiplos 10. Hawker CD, Garr SB, Hamilton LT, Penrose JR, Ashwood ER, Weiss
permitem o processamento paralelo de amoscras com 8 a 12 RL. Automated transport and sorting sysrem in a large reference
sondas de canal para lidar com as placas de microtitulação. laboratory: Part 1: Evaluation of needs and alteinatives and
development of a plan. Clin Chem 2002;48:1751-60.
11. Hawker CD, Roberts WL, Gatr SB, Hamilton LT, Penrose JR, et al.
Analisadores para Teste Laboratorial Remoto Automated cransport and sorting system in a large reference laboratory.
O teste laboratorial r e m o t o ( P O C T ) é u m componente analí-
Pare 2: Implementation of the system and performance measures over
tico que está crescendo rapidamente, 8 sendo também conhecido
three years. Clin Chem 2002;48:1761-67.
como teste " p r ó x i m o ao paciente", "descentralizado" e "portátil" 12. JaklevicJM, Garner HR, Miller GA. Instrumentation for the genome
(Capítulo 12). project. Annu Rev Biomed Eng 1999;1:649-78.
13. Middleton S, Mountain P. Process cantiol and on-line optirrmation. In.
Kosi GJi ed. Handbook of clinicai automation, robotícs, and
optimization. New York: John Wiley & Sons, 1996:515-40.
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1. Boyd J. Tech. Sight. Robocic laboiacory automation. Science. 2002 Jan sequencing: sample preparation and electrophoretic analysis. Curr Opin
18;295{5554):517-8. Biotechnol 2003;14:42-50.
2. Boyd JC, Hawker CD. Automation in the clinicai laboratory. In: Burtis 15. Price CP, Newman D], eds. Principies and practice of iminunoassafy,
CA, Ashwood ER, Biuns DE, eds. Tietz textbook of clinicai chemistry 2nd ed. New York: Stockton Press, 1997
and molecular diagnostics, 4th ed Philadelphia: Saunders, 2006:265-97- 16. Sasaki M, Kageoka T, Oguia K, Kataoka H, Ueta T, et al. Total
3. Boyd JC, Felder RA. Preanalytical automation in the clinicai laboratory. laboratory automation in Japan: past, present, and the future. Clin
In: Ward-Cook KM, Lehmann CA, Schoeff LE, Williams RH, eds. Chim Acta 1998;278:217-27.
CAPÍTULO 1 2

| Testagem Laboratorial Remota


Christopher P. Price, Ph.D., F.R.C.Path., e Andrew St. John, Ph.D., M.A.A.C.B.

OBJETIVOS Bastão de I m e r s ã o : U m i n s t r u m e n t o simples c o m superfície


1. Definir testagem laboratorial remota e outros termos usados para absorvente c o n t e n d o reagentes nos quais a amostra é
b o r r i f a d a o u o bastão é imerso na amostra. Isso p e r m i t e a
descrever o mesmo processo.
m o n i t o r a ç ã o da reação da amostra c o m os reagentes.
2. Descrever as requisições analíticas e as considerações tecnológicas
C o n e c t i v i d a d e : A p r o p r i e d a d e (p. ex., software e kard wire o u
para testagem laboratorial remota:
conexão sem fio) de u m dispositivo q u e p e r m i t e que ele
• Desenho
seja conectado a u m sistema de i n f o r m a ç ã o (p. ex., u m
• Interface do operador sistema de i n f o r m a ç ã o de l a b o r a t ó r i o ) c o m os p r i n c i p a i s
• Sistemas de identificação de código de barras objetivos de t r a n s m i t i r os dados d o paciente do dispositivo
• Distribuição de amostra para o registro d o paciente e de m o n i t o r a r o desempenho
• Célula de reação d o dispositivo.
• Sensores D i s p o s i t i v o s M i n i m a m e n t e Invasivos: Dispositivos para m e d i r
• Sistemas de comunicação e controle os constituintes dos f l u i d o s do c o r p o sem a necessidade de
• Armazenamento e gerenciamento de dados u m a v e n i p u n t u r a , c o m o n o caso de iontoforese paTa extrair
• Fabricação de dispositivos para testagem laboratorial remota l í q u i d o extracelular para a superfície da pele pata
3. Descrever exemplos de dispositivos: mensuração de glicose.
F l u í d i c o : Processo pelo q u a l o l í q u i d o se move d e n t r o de u m
Dispositivos in vitro:
espaço c o n f i n a d o , c o m o n o caso de u m t u d o estreito o u
• Tira qualitativa ou dispositivos de cartucho e/ou tira de use
m a t r i z porosa. T a l processo i n c l u i tensão de superfície,
único (p. ex., bastões de imersão, bastões complexos e tira
difusão e o uso de bombas.
immunostrip)
G e r e n c i a m e n t o de Q u a l i d a d e : Técnicas usadas para garantir a
• Cartucho qualitativo ou testes de tiras de uso único com m e l h o r qualidade n o desempenho. As técnicas i n c l u e m
dispositivo de monitoração (p. ex., mensuração de glicose e t r e i n a m e n t o e certificação dos operadores, c o n t r o l e de
outras aplicações) qualidade, garantia de q u a l i d a d e e a u d i t o r i a .
Dispositivos in vivo, ex vivo ou minimamente invasivos I n f o r m á t i c a : Estrutura, criação, gerenciamento, armazenagem,
4. Descrever a relação entre informática e testagem laboratorial remota: recuperação, disseminação e transferência de i n f o r m a ç ã o .
• Descrição da conectividade-padrãc T a m b é m usada para descrever o estudo da aplicação de
• Benefícios da conectividade da testagem laboratorial remota i n f o r m a ç ã o d e n t r o de organizações.
5. Descrever a abordagem para a implementação e o gerenciamento I n t e r f a c e de O p e r a d o r : A parte de u m dispositivo que o
da testagem laboratorial remota: operador precisa usar para que o dispositivo f u n c i o n e (p.
ex., l i g a i u m leitor, inserir identificação de amostra de
• Estabelecer a necessidade
paciente o u calibrar o dispositivo).
• Organizar uma comissão organizadora da testagem laboratorial
Sensor: U m dispositivo que recebe e responde a u m sinal o u
remota
estímulo. H á m u i t o s exemplos na v i d a i n c l u i n d o os
• Política e responsabilidade da testagem laboratorial remota receptores da língua, da orelha etc. U m a enzima é usada
• Procura e avaliação de equipamento c o m o u m sensor conectado ao t r a n s d u t o r na construção de
• Treinamento e certificação de operadores u m biossensor.
• Controle de qualidade, garantia de qualidade e auditoria Testagem L a b o r a t o r i a l R e m o t a ( P O C T ) : U m m e i o de testagem
• Manutenção e controle de inventário n o q u a l a análise é realizada n o l o c a l o n d e o c u i d a d o
• Documentação m é d i c o é dispensado j u n t o ao paciente.
• Acreditação e regulamento T i r a i m m u n o s t r i p : U m a m a t r i z porosa que c o n t é m u m a região
na q u a l u m reagente de a n t i c o r p o r o t u l a d o é seco na matri2
e o u t r a na q u a l u m a n t i c o r p o é q u i m i c a m e n t e ligado.
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES Q u a n d o u m a amostra é a d i c i o n a d a à p r i m e i r a região, o
A c r e d i t a ç ã o : U m a técnica de a u d i t o r i a usada para avaliar a analito de interesse se liga ao a n t i c o r p o , agora em solução,
qualidade de u m processo v e r i f i c a n d o se os padrões e se move ao l o n g o da tira, ligando-se ao segundo
operacionais d e f i n i d o s estão sendo seguidos, neste caso, n o a n t i c o r p o . A presença desse p r i m e i r o a n t i c o r p o r e t i d o na
d e s e m p e n h o da testagem l a b o r a t o r i a l r e m o t a . segunda região i n d i c a que o antigeno c o n t r a o qual os
A n a l i t o : A substância a ser analisada o u medida. T a m b é m a n t i c o r p o s f o r a m estimulados está presente na amostra.
denominado mensurando. T r a n s d u t o r : U m a substância ou dispositivo q u e converte
A u d i t o r i a : O exame de u m processo para verificar sua entrada de energia em u m a f o r m a , e m p r o d u ç ã o de energia
acuidade, que neste caso p o d e ser o uso da testagem de o u t r a f o r m a . São exemplos o cristal piezoeléctrico, o
l a b o r a t o r i a l r e m o t a para garantir que o resultado correto m i c r o f o n e e a célula fotoelétrica. A c o m b i n a ç ã o de u m
esteja sendo p r o d u z i d o e / o u que o resultado d o paciente sensor e u m t r a n s d u t o r deve levar a u m p r o d u t o que p o d e
esperado esteja sendo apresentado. ser " l i d e " por h u m a n o s .
194 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

A testagem l a b o r a t o r i a l r e m o t a ( P O C T ) é u m m e i o de
testagem n o q u a l a análise é reali2ada n o local o n d e o
c u i d a d o m é d i c o dado ao paciente. O u t r o s termos usados
para descrevei a P O C T i n c l u e m testagem (1) "à cabeceira") (2)
" p r ó x i m a ao paciente", (3) " n o c o n s u l t ó r i o m é d i c o " , (4) "extra-
analitos. 4 Ela t a m b é m resultou n o desenvolvimento de reagentes
secos, estáveis em dispositivos de dose ú n i c a descartáveis. E m b o r a
a p r o d u ç ã o dos testes para esses dispositivos seja baixa, o t e m p o
necessário para pToduzir resultados normalmente é c u r t o . A l é m
disso, esses dispositivos são quase sempre pequenos o bastante
l a b o r a t ó r i o " , (5) "descentralizada", (6) "fora do local", (7) "suple- para serem portáteis, m e l h o r a n d o ainda mais a possibilidade de
m e n t a r " , (8) " e m local a l t e r n a t i v o " e (9) " p o r t á t i l " . A P O C T é "oferecer testes ao paciente".
realizada em várias localizações ( Q u a d r o 12-1). 9 ' u Suas principais O s tópicos discutidos nesta seção i n c l u e m (1) requisitos do
vantagens são (1) redução d o t e m p o do processo de testagem i n s t r u m e n t o , (2) desenho d o i n s m i m e n r o e da i n t e r f a c e d o
( T A T ) , (2) redução d o risco de desconexão entre o processo de o p e r a d o r , (3) exemplos de dispositivos de P O C T e (4) o papel
testagem e a t o m a d a de decisão clínica (Figura 12-1), e (3) res ul- da i n f o r m á t i c a . Os leitores que quiserem i n f o r m a ç ã o a d i c i o n a l
tados de saúde m e l h o r a d o s ( Q u a d r o 12-2) p o d e m encontrá-la em textos mais abrangentes 6 8 1 0 1 1 o u c o m os
As seções a seguir descreverão a tecnologia disponível para a vendedores de dispositivos de P O C T .
P O C T e os fatores organizacionais que são i m p o r t a n t e s q u a n d o
u m a P O C T é instalada e m u m a u n i d a d e de saúde. Requisitos
A s características e requisitos dos dispositivos de P O C T estão
listados n o Q u a d r o 12-3.
CONSIDERAÇÕES ANALÍTICAS E
TECNOLÓGICAS Desenho
A m i n i a t u r i z a ç ã o há m u i t o t e m sido u m a tendência na instru- H á u m a grande variedade de dispositivos sendo usada para
mentação diagnostica clínica e resultou na evolução de disposi- P O C T (Tabela 12-1). Essa a m p l a tecnologia abrange u m a gama
tivos de P O C T pata m e d i r eletrólitos, gases sanguíneos e outros de analitos, e m u i t o s dos dispositivos usam os mesmos princí-
pios analíticos que aqueles encontrados e m analisadores de labo-
r a t ó r i o convencional. Os p r i n c i p a i s componentes n o desenho
Q U A D R O 12-1 Ambientes Onde a Testagem Laboratorial
Remota Pode Ser Empregada
Q U A D R O 1 2 - 2 | Vantagens da Testagem Laboratorial Remota
TRATAMENTO PRIMÁRIO
Residência Redução do tempo do processo de tEstagem (TAT) dos resultados do
Farmácia da comunidade teste
Centros de saúde (clínica geral, cuidados primários) Controle melhorado do paciente
Clínica em local de trabalho Redução do trabalho administrativo associado à requisição de teste
Consultório médico e clínica da comunidade Redução na demora resultante de coleta e requisições para a amostra
Centro de diagnóstico e treinamento Redução do tempo resultante com o transporte de amostra para o
Veículo de auxílio paramédico (ambulância, helicóptero, avião) laboratório
Redução do tempo resultante com log in (registro) de amostra
TRATAMENTOS SECUNDÁRIO E TERCIÁRIO Redução do tempo resultante da entrada de amostra em instalação de
Sala de emergência testagem complexa
Unidades de admissão
Ambulatório de diagnóstico e centro de tratamento
Sala de operação
Unidade de tratamento intensivo
Enfermaria
Clínica ambulatorial
Q U A D R O 12-3 Características/Requisições de um
Analisador de Testagem Laboratorial Remota

Primeiros resultados em um minuto ou menos


paciente Instrumentos portáteis com cartuchos de reagente para consumo

• it •
Capacidade de realizar análise direta de amostra em sangue total e urina
# interpre- pedido
(amostras não-processadas)
tação
médico Procedimentos de operação simples que não precisam de operadores
R treinados
transmissão E A flebotomia
Cardápio de teste flexível
: S M Resultados quantitativos ccm acuidade e precisão comparáveis àquelas do
U O laboratório central
relatório transporte
L S Calibração e controle de qualidade automáticos/integrados

T Armazenamento com temperatura ambiente para reagentes


T
Resultados fornecidos em cópia impressa, armazenados e disponíveis para
A R transmissão
validade D A registro
Instrumento de baixo custo
O
Serviço de intercâmbio
controle de Preservação automática de registro regulador
análise preparo
"qualidade"'
Modificado de Moclin E, WC. Pcint-ofcare leíiing tecnclogy.
]. Clin LíjanJ Assay 1995;18:21-33.
Figura 12-1 U m a representação esquemática das principais etapas Protocolo de. operação de um ou dots passos
em u m pedido, entrega e uso de u m resultado de teste diagnóstico.
Testagem Laboratorial Remota CAPÍTULO 12 195

TABELA 12-1 Classificação dos T i p o s de I n s t r u m e n t o s ou Dispositivos de Testagem Laboratorial R e m o t a

Tipo de Tecnologia Princípio Analítico Analitos

Testes qualitativos cu semiqualitativos Reflexão da luz Química da urina e sangue


de cartucho ou tira de uso único Imunoanálises de fluxo-lateral ou íiuxo Agentes de doença infecciosa, marcadores cardíacos, hCG
Testes quantitativos de cartucho/tira Reflexão da luz Glicose
de uso único com dispositivo de leitura Eletroquímica Glicose
Reflexão da luz Quimica do sangue
Movimento óptico de luz dispersa Coagulação
Imunoanálises de fluxo-lateral, fluxo ou Marcadores cardíacos, drogas, CRP, alergia
de fase sólida e testes de fertilidade
Imunolurbidimetria HbA1c, albumina urinária
Espectrofotometria Quimica do sangue
Eletroquímica pH, gases sanguíneos, eletrólitos, melabolitos
Dispositivos quantitativos de Eletroquímica pH, gases sanguíneos, eletrólitos, metabólitos
cartucho/bancada de uso múltiplo Fluorescência pH, gases sanguíneos, eletrólitos, metabólitos
Espectrofotometria de múltiplos comprimentos de onda Espécies de hemoglobina, bilirrubina
Fluorescência com resolução temporal Marcadores cardíacos, drogas, CRP
Impedância elétrica Hemograma completo

de u m a P O C T i n c l u e m (1) a interface do operador, sistemas de Analito


identificação de código de barras, (3) dispositivos de distribuição

"T
de amostra, (4) célula de reação, (5) sensores, (6) sistemas de
c o n t r o l e e c o m u n i c a ç ã o e (8) requisições do fabricante.
Sistema
Analito
Biorreativo
Interface do Operador
A interface do o p e r a d o r o u usuária c o m u m dispositivo de
P O C T deve (1) exigir interação m í n i m a d o operador, (2) orien-
tar o usuário d u r a n t e a operação e (3) tolerar pequenos eTros do
rL ^ A n a l i t o ^ J1 JT. jransc|Utor
I
Transdutor
operador. U m n ú m e r o m í n i m o de etapas deve i n c l u i r a identi-
ficação (1) do operador, (2) do paciente e (3) do teste a ser
m e d i d o . Os avanços na tecnologia de i n f o r m a ç ã o e na eletrônica
de c o n s u m o tiveram grande i m p a c t o nessa área. O u t r a s formas
<c
de interface do usuário i n c l u e m (1) teclados, (2) leitores de c
</5
código de barras e, (3) possivelmente, u m a impressora. E m
alguns dispositivos, o vídeo é o ú n i c o m e i o de mostrar o resul-
tado, e em outros ele pode integrar u m a tela de t o q u e que é Figura 12-2 Diagrama moscranda os principais tipos da tecnologia
usada para c o n t r o l a r o dispositivo. de sensores usados em inscrumemos de P O C T .

Sistemas de Identificação de Código de Barras


M u i t o s dispositivos de P O C T i n t e g r a m sistemas de leitura de Célula de Reação
código de barras c o m vários objetivos; d e n t r e eles (1) i d e n t i f i c a r A configuração do local o n d e a reação analítica ocorre varia de
o pacote de testes do sistema, (2) integrar os dados da calibração u m a simples a l m o f a d a porosa a u m a célula o u superfície de u m a
de fábrica e {3), e m alguns casos, p r o g r a m a r o i n s t r u m e n t o para câmara. C o n t u d o , para s i m p l i f i c a r a interface do usuário, é
processar u m teste e m p a r t i c u l a r o u g r u p o de testes. A l g u n s quase sempre necessário c o n f i g u r a r a c o m p l e x i d a d e da câmara
dispositivos de P O C T usam fitas magnéticas c o m o m e i o para de reação. Os avanços e m sistema f l u í d i c o e em técnicas de
armazenar i n f o r m a ç ã o similar, c o m o dados de calibração especí- fabricação são f u n d a m e n t a i s para o desenvolvimento de dispo-
ficos de lote. O u t t a função de i m p o r t â n c i a crescente em u m sitivos de P O C T . 5
leitor de código de barras é i d e n t i f i c a r t a n t o o o p e r a d o r q u a n t o
a amostra do paciente n o sistema. Isso p e r m i t e rastreaT a pessoa Sensores
que realizou o teste e associar os resultados ao paciente certo. M u i t o d o foco sobre os dispositivos de P O C T t e m a ver c o m o
avanço n o desenho de sensores. 13 V á r i o s desenhos de sensores
Distribuição de Amostra são ilustrados na Figura 12-2. O quimiossensor m o s t r a d o na
O acesso e a d i s t r i b u i ç ã o da amostra n o c o m p o n e n t e da tira, p r i m e i r a c o l u n a da Figura 12-2 é u m exemplo o n d e o analito
cassete o u cartucho t a m b é m são interações i m p o r t a n t e s do t e m u m a p r o p r i e d a d e intrínseca, c o m o a fluorescência, que pos-
usuário c o m o dispositivo e, em alguns casos, a remoção da sibilita sua detecção sem u m elemento de r e c o n h e c i m e n t o . O
amostra t a m b é m p o d e precisar da intervenção d o usuário. D e quimiossensor m o s t r a d o na segunda c o l u n a é u m desenho
f o r m a ideal, após a adição da amostra, não deve haver necessi- m u i t o mais c o m u m e é usado e m m u i t o s dispositivos de P O C T .
dade de interação a d i c i o n a l p o r parte do operador. 1 O elemento de transdução pode ser u m i n d i c a d o r q u í m i c o o u
196 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

molécula de ligação que reconhece o analito a ser medido e Bastões de Imersão. Bastões de imersão são dispositivos com
produz u m sinal normalmente elétrico ou óptico. U m biossensor almofada única, relativamente simples na construção, compostos
é mostrado na terceira coluna e se distingue de u m quimiossen- p o r uma almofada de material p o r o s o , como celulose, que pri-
sor por ter u m componente biológico ou bioquímico como ele- meiro é impregnada com reagente e depois seca.16
mento de reconhecimento. As enzimas são os elementos biológi- Bastões Complexos. As almofadas mais complexas são compos-
cos usados mais comuns, seguidas por anticorpos; a transdução tas por várias camadas, a mais importante delas é uma membrana
normalmente é feita via sinal óptico ou elétrico. semipermeável que evita que as células vermelhas entrem na
matriz. C o m esses dispositivos, u m fator crítico para o operador
Sistemas de Controle e Comunicação é a necessidade de cobrir toda a almofada com a amostra. A l é m
Mesmo no menor dispositivo há u m subsistema que coordena disso, como as reações muitas vezes não têm u m acompanha-
todos os outros sistemas, garantindo que todos os processos neces- mento até sua conclusão, é necessário cronometrar o tempo entre
sários para a realização de uma análise ocorram na ordem correta. a aplicação da amostra na almofada e a comparação da cor resul-
As operações que exigem controle incluem (1) inserção ou tante com u m quadro de cores. O desenvolvimento desses dispo-
remoção de tira, cartucho ou cassete; (2) controle de temperatura; sitivos de haste única inclui a colocação de duas almofadas. Eles
(3) injeção ou aspiração de amostra; (4) detecção de amostra; (5) são usados para mensuração de (1) concentrações diferentes de
mistura; (6) cronometragem do processo de detecção e (7) remoção u m mesmo analitoj como hemoglobina e glicose;10,16 (2) albumina
de resíduos. O movimento do f l u i d o é quase sempre obtido por e creatinina (semiquantitativa) para obter uma razão albumina-
meio mecânico através de bombas ou centrifugação, e por meio creatinina; 10 e (3) até 10 analitos diferentes de urina usando
das propriedades fluídicas, como a tensão superficial que, com tecnologia de reflexão da luz.10 U m dispositivo cromatográfico
freqüência, é u m elemento crítico no desenho de testes simples também f o i desenvolvido para mensuração quancitativa de coles-
com tiras e de sistemas microfabricados. 5 terol, que não requer o uso de n e n h u m instrumento. 1 0 A Tabela
12-2 lista alguns desses testes realizados por hastes de imersão
Gerenciamento e Armazenamento de Dados únicas ou múltiplas e a química usada para análise.
O gerenciamento de dados i n c l u i os dados da curva de calibra- Tiras Immunostríps. São sensores biológicos nos quais o agente
ção, dos limites de controle de qualidade (QC) e dos resultados de reconhecimento é u m anticorpo que se liga ao analito. A
dos pacientes, E m alguns sistemas a transferência e o gerencia- detecção do evento de ligação ou o transdutor de sinal é normal-
mento de dados ocorrem quando o medidor ou leitor está conec- mente por u m mecanismo óptico, espectrofotometria de reflexão
tado a u m pequeno dispositivo de bancada denominado estação da luz ou fluorescência. Os imunossensores geralmente usam
de ancoração (iocking station). Esses e outros dispositivos incluem tecnologias de fase sólida junto com (1) flow-through, (2) fluxo-
protocolos de comunicação que permitem a transferência de lateral ou (3) processos de imunocromatografia. N o formato de
dados para outros sistemas de gerenciamento/ fluxo-através, uma imunoanálise heterogenia ocorre em uma
célula de matriz porosa que age como a fase sólida. N o fluxo-
Fabricação de Dispositivos de POCT lateralj o estágio de separação ocorre à medida que a amostra
C o m o muitos métodos de P O C T são usados apenas uma vez e passa ao longo da matriz porosa.
depois descartados, a capacidade de reprodução de fábrica é uma
exigência importante para que o desempenho consistente alcance
uma grande quantidade de dispositivos ou tiras O processo de
fabricação inclui etapas executadas para garantir a reprodutibili-
dade dos dispositivos e para que estes permaneçam estáveis durante TABELA 12-2 E x e m p l o s de Testes c o m H a s t e Ú n i c a
o transporte e o armazenamento pelo tempo determinado. ou Múltipla

Teste Amostra Química


Exemplos de Dispositivos de POCT
Os dispositivos de P O C T são classificados como m vitro, in vivo, Acetominofeno Sangue lotai Acil desidrogenase
ex vivo ou minimamente invasivo. Alanina aminotransferase Sangue total Alamina/glutamato
Albumina Sangue total, urina Ligação por tintura
Colesterol Sangue total Colesterol oxidase
Dispositivos In Vitro
Creaíinina Sangue total, urina Impregnação de cobre
A diversidade da tecnologia de P O C T e a variedade de analitos
Glicose Sangue total Glicose oxidase
dificultam a concepção de uma classificaçao simples que evite
Lactato Sangue total Lactato desidrogenase
qualquer superposição entre as várias tecnologias. Para identificar
Acido úrico Sangue total Uricase
as tecnologias decisivas ou novas de POCT, a discussão a seguir
Álcool Urina Álcool desidrogenase
classifica os dispositivos de acordo com o tamanho e a comple- Bilirrubina Urina 2,4-dicloroanilina
xidade; (1) cartucho e / o u testes com tiras de uso único, (2) car- Hemoglobina Urina Atividade da peroxidase
tucho quantitativo e / o u testes com tiras de uso único e disposi- Leucócito-este rase Urina Hidrólise de aminoéster
tivo de monitoração e (3) cartuchos e sistemas de bancada de uso de pirrol
múltiplo. Cetonas Urina Reação de nitroprussido
de sódio
Cartucho ou Tira Qualitativa e/ou Dispositivos com Nitrito Urina Reação de ácido
Tira de Uso Único p-arsanílico

Muitos dispositivos se encaixam nessa categoria, incluindo (1) pH Urina Princípio de indicador

testes de urina com almofada única (bastões de imersão) que é duplo


Proteína Urina Indicadores de erros
lida de modo visual; (2) bastões mais complexos que usam refle-
protéicos
xão da luz para mensuração, e (3) cassetes ou cartuchos fabricados
Gravidade específica Urina Mudança no pH poliácido
que integram técnicas como imunocromatografia e são usados
Urobilinogênio Urina Reação de Ehrlich
como imunossensores.
Testagem Laboratorial Remota CAPÍTULO 12 197

h-Zona de aplicaçao Z Í X I H <]«

,150 jtL de sangua

t" X
Imunorreação: Ligação dos Ligaçao de
formação dos complexos anticorpos marcados
complexos de ligação com ouro

Figura 12-3 Diagrama esquemático dc uma imunoanálise de fluxo lateral para troponina T. (Cortesia de
Roche Diagnostics, Mannheim, Alemanha.)

U m formato típico de imunoanálise é u m dispositivo de


flow-through que possui u m anticorpo covalente mente integrado
à superfície de u m a matriz porosa. Q u a n d o a amostra do paciente
é adicionada à matriz, o analito de interesse se liga ao anticorpo. Filme de aplicaçao/fino reação -
A adição de u m segundo anticorpo rotulado forma u m sanduí-
che e captura o rótulo na posição do p r i m e i r o anticorpo. 10 Se o
rótulo for de partículas de hidrossol de ouro ou de látex tingido,
Molécula-alvo
o r ó t u l o será diretamente visto ou quantificado pela espectrofo-
tometria de reflexão da luz em u m leitor separado. O u t r a carac-
terística importante desse tipo de tecnologia é a integração de Reagente de captura
u m m o n i t o r automático de qualidade que indica positivo quando
todos os reagentes foram armazenados e o dispositivo f u n c i o n o u Revestimento óptico
corretamente. Em todos esses formatos diferentes, o fluxo uni-
forme e previsível da amostra através o u ao longo da matriz Suporte óptico
sólida é u m determinante valioso da capacidade de reprodução
dessa técnica. Logo, a escolha da matriz e de como ela interage
com a amostra é m u i t o importante, e os avanços na compreen- Figura 1 2 - 4 Diagrama esquemático dos princípios de uma
são da tecnologia da fase sólida e da química da superfície imunoanálise óptica (OIA) usando detecção de filme fino. (Cortesia de
c o n t r i b u í r a m m u i t o para o desenvolvimento de imunossenso- Inverness Medical-BioStar Inc.)
res.10 U m exemplo dessa tecnologia está na Figura 12-3. Neste
dispositivo a amostra de sangue é adicionada e f l u i primeiro
através de uma lã de fibra de vidro que separa o plasma do
sangue total. Simultaneamente, dois anticorpos monoclonais U m a abordagem alternativa usa reflexão de luz e amplifica-
anti-humanos t r o p o n i n a cardíaca T (cTnT), u m conjugado para ção de filmes finos nas chamadas imunoanálises ópticas. A pre-
biotina e outro rotulado com partículas de ouro, ligados à tro- sença de u m antigeno de doença infecciosa, como o Streptococcus
ponina T na amostra, O complexo t r o p o n i n a / a n t i c o r p o , então, A , é detectada através da ligação a u m anticorpo que reveste a
f l u i na direção lateral ao longo da tira de teste de nitrato de superfície do teste. Apenas a luz refletida através do f i l m e de
celulose, até alcançar a zona de captura, que contém estieptavi- anticorpo produz u m f u n d o dourado que muda para roxo
dina ligada a uma fase sólida. A biotma n o complexo t r o p o n i n a / quando a espessura do filme é aumentada devido à presença de
anticorpo se liga à estreptavidina e imobiliza o complexo. O u m antígeno (Figura 12-4). Os testes incluem controles automá-
complexo então é visto como uma faixa roxa devido às partículas ticos e fornecem resultados comparáveis àqueles fornecidos por
de ouro colocadas em u m dos anticorpos O anticorpo rotulado análises microbiológicas convencionais, mas bem mais rápido.
com ouro que não reagiu se move mais para baixo da tira, onde
é capnirado p o i uma zona que contém peptídio sintético com- Cartucho Quantitativo de Uso Único e Testes de Tira com
posto por epítopos de c T n T humana e visto como uma faixa Dispositivo de Monitoração
colorida similar, mas separada. A presença dessa segunda faixa A disponibilidade de detectores pequenos e compactos é u m
serve como u m indicador de qualidade importante porque resultado dos avanços na eletrônica moderna e na miniaturiza-
indica que a amostra f l u i u ao longo da tira de teste e que o ção. U m a parte integral de muitos desses instrumentos é u m a
dispositivo f u n c i o n o u corretamente. câmara com dispositivo de carga acoplado (COO), que é u m
detector de luz multicanal similar a u m tubo fotomultiplicador
198 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

em u m espectrofotômetro, mas detecta sinais bem mais baixos tivos menores e mais fáceis de usar com menos risco de erro,
em baixos níveis de luz Por exemplo, a Roche Cardiac Reader reduzindo a interferência de outros compostos e efeitos. Esses
contém u m C C D que quantifica tiras separadas de imunoanálise efeitos incluem (1) outras substâncias de redução, (2) baixa tensão
de fluxo-lateral para mensuração de troponina T, mioglobina e de oxigênio na amostra e (3) hematócritos em excesso. U m a etapa
D - D i m e r (D-Dímero). A maioria dos dispositivos incluídos nessa imporrante nesse desenvolvimento foi o uso de ferroceno e seus
categoria é usada para medir glicose. Além disso, muitos outros derivados como mediadores imobilizados na construção de uma
analitos de interesse clínico são medidos com tais dispositivos. tira de glicose eletroquímica. Ela é composta por u m eletrodo de
Mensuração de Glicose. Clinicamente, a P O C T é mais fre- referência A g - A g C l e u m eletrodo ativo à base de carbono,
qüentemente usada para medir a glicose. Esses dispositivos são ambos fabricados usando tecnologia de impressão de tela com o
biossensores porque todos eles usam a mesma enzima como ferroceno ou seus derivados contidos na tinta de impressão. A
agente de reconhecimento, seja glicose oxidase (GO), hexoqui- amostra é colocada na janela de observação da amostra e a
nase (HK) ou glicose desidrogenase ( G D H ) , com detecção foto- camada hidrófila serve para direcionar a amostra sobre a camada
métrica (reflexão da luz) ou eletroquímica. de reagente. A conversão da glicose é acompanhada pela reação
Em geral, todas as tiras modernas de glicose são uma forma do ferroceno e pela liberação de elétrons. A introdução da tec-
da tecnologia denominada filme espesso na qual o filme é com- nologia eletroquímica facilitou a produção de medidores menores,
posto por várias camadas, cada uma com uma função especifica. tiras sem esfregaço, com menos necessidade de limpar os instru-
Q u a n d o o sangue é adicionado à trra, tanto água quanto glicose mentos ópticos e resultados mais rápidos. Algumas dessas carac-
passam pelo filme ou camada analítica; para alguns sistemas terísticas estão agora disponíveis com medidores de glicose foto-
fotométricos, os eritrócitos devem ser excluídos. Os processos são métricos.
alcançados pelo que se chama separação de camada que contém Outras Aplicações. Vários dispositivos de P O C T com base em
vários componentes, i n c l u i n d o membranas de lã de fibra de imunossensores foram desenvolvidos e são capazes de medir u m
vidro e fórmulas especiais de látex. Em sistemas fotométricos, grupo de analitos, como (1) marcadores cardíacos, (2) testes de
u m a camada espalhada é importante para a distribuição rápida alergia, (3) testes de fertilidade, (4) drogas de abuso. Nesses dis-
e homogênea da amostra, enquanto as tiras eletroquímicas usam positivos, uma mistura de anticorpos é imobilizada na origem, e
sistemas de enchimento capilar. A camada de apoio normal- anticorpos complementares para vários analitos são imobilizados
mente é u m plástico f i n o que, no caso de tiras baseadas na nas várias posições ao longo da tira porosa. N o caso de drogas
reflexão da luz, também pode ter propriedades refletivas. Proprie- de abuso, os dispositivos são desenhados de forma que as respos-
dades da reflexão da luz adicional foram obtidas com a inclusão tas positivas só sejam obtidas quando a concentração estiver
de substâncias como óxido de titânio, bátio, sulfato e óxido de acima de u m valor de corte pré-calibrado 10
zinco. E m contraste com a tecnologia de filme espesso descrita
C o m sistemas que medem a reflexão da luz, a relação entre anteriormente, os sensores de uso único também foram construí-
esta e a concentração de glicose é desdita pela equação de dos usando tecnologia de filme fino, o exemplo comercial mais
Kubelka-Munk: c o m u m é o analisador í-STAT. Ele é u m dispositivo de mão para
gás sanguíneo que mede (1) eletrólitos, (2) glicose, (3) creatinina,
(4) certos parâmetros de coagulação, e (5) marcadores cardíacos.
Nos sensores de filme fino, os eletrodos são discos construídos
com filmes de óxido de metal f i n o usando técnica de microfabri-
cação. Os resultados são cartuchos de uso único contendo u m
arranjo de sensores eletroquímicos que opera em c o n j u n t o com
onde C é a concentração do analito, K é o coeficiente de absor- o analisador de mão. C o m o a camada do sensor é m u i t o fina, o
çãO) S é o coeficiente de dispersão e R é a porcentagem de refle- sangue permeia essa camada rapidamente e o cartucho do sensor
xão da luz. Na prática, as tiras de glicose são produzidas em usado imediatamente após é desempacotado. Isso é u m avanço
grandes lotes e, após u m controle de qualidade rigoroso, cada sobre alguns sensores de filme espesso que exigem equilíbrio ou
lote recebe u m código que é armazenado em uma fita magnética tempo para umedecer antes de serem usados para medir amostra
do lado inferior de cada tira. Esse código descreve o desempenho de sangue.
de cada lote, i n c l u i n d o a relação da calibração entre o sinal Os dispositivos de uso único para gás sanguíneo e outras
fotométrico ou eletroquímico e a concentração de glicose. Uma mensurações estão disponíveis através de sensores ópticos ou
tira que não requer codificação também já foi desenvolvida. optodos (Capítulos 4 e 5). U m exemplo desse tipo de tecnologia
Desde sua introdução, houve uma inovação permanente no é mostrado na Figura 12-5. Dentre as vantagens dos sistemas
desenvolvimento de medidores de glicose para tornar os disposi- ópticos comparados com os transdutores eletroquímicos inclui-

Sensor de PC0 2
Sensor de P0 2 /tHb/S0 2
de pH

Figura 12-5 Vista esquemática de antiderrapante


para os dedos
cassete de mensuração para o OPTI Sensor de Na+
Medicai Cricical Care Analízer. (Cortesia Adaptador para amostras
de OPTI Medicai, Roswell, Geórgia.) de seringa (removível
Sensor de K+
para amostras capilares)
Cl, Ca++ ou
sensor de glicose
Testagem Laboratorial Remota CAPÍTULO 12 199

se o fato de n ã o precisarem de calibração para c o r r i g i r o desvio ferro incluídas na amostra e induzidas ao m o v i m e n t o p o r u m


d o e l e t r o d o e, p o r t a n t o , os sensores são calibrados na h o r a da campo magnético oscilante Q u a n d o u m coágulo é f o r m a d o , o
fabricação. m o v i m e n t o das partículas é r e s t r i n g i d o ; isso é detectado p o r u m
H á vários dispositivos de uso ú n i c o para P O C T s q u a n t i t a t i - sensor i n f r a v e r m e l h o e o t e m p o levado para alcançar esse estado
vas que usam desenho de cassete o u c a r t u c h o e não tiras de é u m a indicação do t e m p o de coagulação.
fluxo-lateral. U m de tais dispositivos separa o plasma das células Tecnologia de detecção p o r g r â n u l o t a m b é m f o i usada para
vermelhas e depois o plasma reage c o m almofadas de reagentes m e d i r (1) t e m p o de p r o t r o m b í n a (PT), (2) t e m p o parcial de ati-
secos para glicose, colesterol o u triglicerídeos, m e d i n d o a absor- vação da t r o m b o p l a s t i n a ( A P 1 1) e (3) t e m p o de coagulação
vância em u m p e q u e n o focômetro. V á r i o s sistemas baseados em ativada ( A C T ) . Nessa abordagem, o i n s t r u m e n t o c o n t é m u m a
cassete f o r a m desenvolvidos para mensuração da h e m o g l o b i n a . f o n t e de luz i n f r a v e r m e l h a q u e d i r e c i o n a u m r a i o de luz coerente
E m u m sistema c o m o esse, a lise das células vermelhas ocorre para d e n t r o da amostra que se e n c o n t r a oscilante. O m o v i m e n t o
em u m a m i n i p r o v e t a , a h e m o g l o b i n a é convertida para metemo- das células vermelhas n o sangue resulta na refração da luz para
g l o b m a que é m e d i d a e m 570 n m ; a turbidez é corrigida p o r p r o d u z i r u m a i n t e r f e r ê n c i a o u " p a d r ã o " de grânulos que é regis-
u m a mensuração a d i c i o n a l em 8 8 0 n m . t r a d o pelo fotodetector. Esse "padrão'' m u d a q u a n d o o f l u x o
O u t r o t i p o de desenho de c a r t u c h o usa i m u n o a n á l i s e de luz capilar reduz a velocidade à m e d i d a que a amostra coagula. O
dispersa para m e d i r h e m o g l o b i n a glicosada, j u n t o à análise foto- t e m p o de o c o r r ê n c i a desse processo é a m e d i d a do t e m p o de
m é t r i c a para h e m o g l o b i n a total. O cartucho tem u m a estrutura coagulação.
relativamente complexa que c o n t é m partículas de látex revesti- Deve-se n o t a r que os t a m a n h o s de alguns desses sistemas
das de antígeno, a n t i c o r p o s para H b A l c e lise de reagentes que baseados e m cartuchos de uso ú n i c o são comparáveis a certos
são misturados após adição da amostra (Figura 12-6) A mensu- sistemas de bancada. A l é m disso, alguns dos dispositivos de uso
ração ocorre q u a n d o o c a r t u c h o é colocado e m u m l e i t o r c o m m ú l t i p l o possuem centrifugação onboard. O u t r o s analisadores
temperatura controlada, e o d e s e m p e n h o analítico é suficiente pequenos são usados fora do l a b o r a t ó r i o , mas precisam de cen-
para o m o n i t o r a m e n t o q u a n t i t a t i v o do c o n t r o l e glicêmico. O trifugação p r e l i m i n a r da amostra.
t a m a n h o do dispositivo p e r m i t e que ele seja usado em clínicas
o n d e t a m b é m se]a usado para a mensuração de a l b u m i n a uriná-
ria e creatinina. Sistemas de Cartucho e de Bancada de Uso Múltiplo
Dispositivos de P O C T para m o n i t o r a r terapia anticoagu- M u i t o s dos dispositivos de P O C T nessa categoria são usados
lante t a m b é m f o r a m desenvolvidos para uso em clínicas o u p o r para testagens essenciais e m locais c o m o (1) u n i d a d e de terapia
pacientes e m casa. A n t e r i o r m e n t e , os p r i m e i r o s sistemas usavam intensiva, (2) sala de cirurgia e (3) sala de emergência ( Q u a d r o
magnetos para detectar redução n o f l u x o da amostra o u movi- 12-1). A l g u n s desses dispositivos usam sensores de f i l m e f i n o o u
m e n t o resultante do processo de coagulação, mas isso exigia eletrodos em tiras para m e d i r glicose, lactato e uréia usando a
c r o n o m e t r a g e m cuidadosa e u m a grande amostra de sangue. mesma tecnologia descrita a n t e r i o r m e n t e , mas d i f e r e m p o r q u e
U m a tecnologia alternativa b o m b e i a u m a q u a n t i d a d e d e f i n i d a seus sensores são desenhados para serem reutilizáveis. Eles são
da amostra para frente e para trás, através de u m a abertura fabricados c o m filmes espessos de pasta e t i n t a , usando técnicas
estreita. Sensores ópticos m o n i t o r a m a velocidade c o m que a de impressão na tela para p r o d u z i r sensores i n d i v i d u a i s o u m ú l -
amostra se move e, à m e d i d a q u e o coágulo se f o r m a , a veloci- tiplos. A l é m de m e d i r m e t a b ó l i t o s , esses sensores t a m b é m são
dade d i m i n u i e, q u a n d o u m d e t e r m i n a d o nível é alcançado, o usados para m e d i r gases sanguíneos e eletrólitos. Os sensores
i n s t r u m e n t o i n d i c a o t e m p o . O u t r a abordagem t a m b é m usa possuem reagentes e calibradores d e n t r o de u m ú n i c o cartucho
m a g n e t i s m o em f o r m a de partículas paramagnéticas de ó x i d o de o u pacote, que é colocado n o c o r p o de u m analisador p o r t á t i l
para testagem essencial, de t a m a n h o p e q u e n o a m é d i o . Cada
pacote c o n t é m reagentes suficientes para m e d i r u m certo n ú m e r o
Puxador (puxe de amostras d u r a n t e u m certo t e m p o ; depois disso, ele é relati-
para liberar o v a m e n t e simples de repor.
tampão da bandeja) O u t r o s elementos i m p o r t a n t e s para dispositivos i n c l u e m os
sistemas de calibração de l í q u i d o s que usam u m a c o m b i n a ç ã o
- Maçaneta para de soluções de base aquosa e mensurações de c o n d u t â n c i a para
Prendedor remover cartucho
calibrar o p H e os eletrodos de P C 0 2 , c o m o oxigênio sendo
capilar Bandeja de calibrado c o m u m a solução livre de oxigênio e ar d o aposenco.
solução-tampâo A l é m disso, os pacotes c o m Q C automatizados são integrados
Absorvente vedada com
nesses analisadores, g a r a n t i n d o que as amostras c o m Q C sejam
(captura todo folha de metal
(600 |jL) analisadas e m intervalos regulares. Eles c o n t ê m pacotes ou
o liquido ao
frascos de m a t e r i a l c o m Q C e m b u t i d o s n o i n s t r u m e n t o e testa-
final do leste) Aglutinador
dos em intervalos p r e d e t e r m i n a d o s c o m u m programa de com-
p u t a d o r onboard i n t e r p r e t a n d o os resultados e gerando mensa-
Anticorpo
conjugado gens de alerta, caso seja necessário. Tais dispositivos t a m b é m t ê m
1 mL de amostra
a látex capacidade para ser m o n i t o r a d o r e m o t a m e n t e e p r o g r a m a d o
de sangue
para responder a problemas localizados a longa distância d o
Janela de l a b o r a t ó r i o central.
Oxidante leitura óptica
I n s t r u m e n t o s de P O C T para cuidados essenciais t a m b é m
estão disponíveis para m e d i r várias espécies de h e m o g l o b i n a e
F i g u r a 1 2 - 6 U m diagrama esquemático de Siemens Medicai
realizar determinações de C O - o x i m e t r i a . Esta ú l t i m a depende de
Solutions Diagnostics D C A 2000® H b A l c immunoassay cartridge.
espectro f o t o m e t r i a de m ú l t i p l o s c o m p r i m e n t o s de onda, o n d e a
(Usado com permissão de Siemens Medicai Solutions Diagnostics.
absorção de luz pelo sangue h e m o h s a d o é m e d i d a em 60 o u mais
D C A 2000 é uma marca registrada de Siemens Medicai Solutions
c o m p r i m e n t o s de o n d a para d e t e r m i n a r a concentração das
Diagnostics )
200 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

cinco espécies de h e m o g l o b i n a . U m fabricante recentemente esses processos p r o v a r a m ser e x t r e m a m e n t e difíceis e os p r i m e i r o s


a m p l i o u a espectrofotornetria de m ú l t i p l o s c o m p r i m e n t o s de dispositivos de P O C T não possuem hardware e software que adqui-
o n d a para m e d i r b i l i r r u b i n a d i r e t a m e n t e em sangue total. r a m e armazenem dados e os t r a n s f i r a para u m LIS. Por isso, os
Os dispositivos de bancada t a m b é m estão disponíveis para dados analíticos quase sempre n ã o e r a m capturados n o registro
realizar contagens de sangue completas (CBCs) usando princí- m é d i c o d o paciente o u precisavam ser m a n u a l m e n t e inseridos
pios analíticos similares àqueles usados em dispositivos baseados n o L I S c o m grande risco de erro na transcrição. Desse m o d o ,
e m l a b o r a t ó r i o . A l é m disso, uma tecnologia de c a r t u c h o de uso i n f o r m a ç ã o clínica i m p o r t a n t e era perdida e testes dispendiosos
ú n i c o está sendo desenvolvida c o m capacidade para oferecer precisavam ser refeitos. Os dispositivos de P O C T mais novos
diferenciação t o t a l de células brancas. Mensurações de i m u n o a - a b o r d a r a m esse p r o b l e m a i n c o r p o r a n d o o pré-requisito tamiwciTÊ
nálise agora t a m b é m estão disponíveis e m dispositivo compacto e sofware em seus desenhos, mas conectá-los aos sistemas de
para uso em clínicas e locais semelhantes. Tal dispositivo usa gerenciamento de i n f o r m a ç ã o p r o v o u ser p r o b l e m á t i c o , pois cada
reagentes secos e fluorescência com resolução t e m p o r a l para dispositivo t i n h a sua p r ó p r i a interface.
detecção. Os resultados são p r o d u z i d o s em menos de 20 m i n u t o s , Para abordar o p r o b l e m a da falta de c o n e c t i v i d a d e em ins-
e o cardápio i n c l u i proteína C-reativa (CRP), g o n a d o t r o f i n a coriô- t r u m e n t o s de P O C T , u m g r u p o de mais de 30 empresas envolvi-
nica h u m a n a ( h C G ) e marcadores cardíacos. 10 das na i n d ú s t r i a de P O C T c r i o u o C o n n e c t i v i t y I n d u s t r y C o n -
s o r t i u m ( C I C ) que desenvolveu u m c o n j u n t o de padrões de
Dispositivos In Vivo, Ex Vivo ou Minimamente Invasivos c o m u n i c a ç ã o — "ligar e usar" — para P O C T . ' A adesão a esses
E m b o r a a m a i o r i a dos dispositivos de P O C T seja usada pata padrões de conectividade garante que os dispositivos de P O C T
aplicações in uitro, há u m g r u p o m e n o r classificado c o m o in vivo, p r e e n c h a m os requisitos essenciais do usuário, c o m o (1) bidire-
ex vivo o u m i n i m a m e n t e invasivo (Tabela 12-3). A s aplicações in cionalidade, (2) a t r i b u t o s em c o m u m de conexão do dispositivo,
vivo o u de m o n i t o r a ç ã o c o n t í n u a são aquelas nas quais o dispo- (3) operacionalidade comercial d o software, (4) segurança e (5)
sitivo sensor é inserido na corrente sanguínea. D u r a n t e m u i t o s Q C e / o u estai de acordo c o m o regulamento.
anos essa aplicação f o i c o n f i n a d a a gases sanguíneos usando
tecnologia óptica, mas as aplicações eletroquímicas t a m b é m Descrição dos Padrões de Conectividade
f o r a m desenvolvidas t a n t o para gases q u a n t o para glicose. Os Os padrões de conectividade d o C I C são simplesmente represen-
sensores eletroquímicos t a m b é m são usados em aplicação ex vivo tados c o m o as duas interfaces entre os dispositivos de P O C T e
para os mesmos parâmetros, a diferença está nos sensores que os sistemas de i n f o r m a ç ã o (Figura 12-7). O dispositivo de inter-
são externos ao corpo, mas e m u m c i r c u i t o fechado de sangue face passa os resultados do paciente e a i n f o r m a ç ã o sobre o Q C
que deixa o c o r p o e r e t o r n a ao dispositivo sensor. A p r i n c i p a l entre o i n s t r u m e n t o de P O C T e os dispositivos, c o m o estações de
aplicação para os dispositivos m i n i m a m e n t e invasivos é, princi- ancoração, concentradores, servidores de terminais e gerenciado-
p a l m e n t e , a glicose, caso do dispositivo G l u c o W a t c h Biographer, res de dados d o l a b o r a t ó r i o r e m o t o . Este deve estar conectado a
mas os dispositivos para mensuração transcutânea de b i l i r r u b i n a vários sistemas de i n f o r m a ç ã o pela interface do registro de obser-
agora t a m b é m estão disponíveis, embora sejam adequados apenas vação o u pela interface dos dados eletrônicos, para transmissão
para triagem. de p e d i d o de i n f o r m a ç ã o e resultados de pacientes.

Informática e POCT Benefícios da Conectividade da POCT


A m a i o r i a dos dispositivos analíticos usada e m laboratórios de A t u a l m e n t e , u m dos benefícios mais i m p o r t a n t e s da conectivi-
análises clínicas está d i r e t a m e n t e ligada o u conectada por u m a dade é que ela facilita a caprura da P O C T do paciente e a trans-
interface eletrônica ao sistema de i n f o r m a ç ã o d o l a b o r a t ó r i o ferência de dados relacionados c o m a qualidade em registros médicos
(LIS). Nessa progressão, m u i t a s funções de i n f o r m á t i c a diferentes permanentes. A l é m disso, as inovações na área de qualidade da
são usadas, i n c l u i n d o a transferência eletrônica de dados de u m P O C T t a m b é m serão assistidas, sendo capaz de conectar facil-
analisador para o LIS e depois para o registro m é d i c o e l e t r ô n i c o mente os dispositivos a redes e àqueles que são responsáveis pelo
d o paciente. Isso dá aos profissionais de saúde acesso r á p i d o , dispositivo. V á r i o s fabricantes de dispositivos de P O C T agora
preciso e a p r o p r i a d o à i n f o r m a ç ã o e h i s t ó r i a médica d o f o r n e c e m programas de c o m p u t a d o r que p e r m i t e m aos laborató-
paciente. rios centrais m o n i t o r a r seus i n s t r u m e n t o s em locais remotos. E m
Esforços consideráveis t ê m sido feitos para i n c o r p o r a r esses c o n j u n t o c o m a t e c n o l o g i a de rede, o so/tuwre de c o n t r o l e r e m o t o
processos de i n f o r m á t i c a e m dispositivos de P O C T . C o n t u d o , n ã o só p e r m i t e m o n i t o r a r o desempenho do dispositivo, mas
t a m b é m p e r m i t e aos responsáveis pelo i n s t r u m e n t o executar
alguns p r o c e d i m e n t o s de serviço o u mesmo desligar t o t a l m e n t e
TABELA 12-3 o i n s t r u m e n t o , se necessário.
Tipos de Tecnologia de Testagem
Laboratorial Remota Ex Vivo. In Viiro e
Não-invasiva
CONSIDERAÇÕES SOBRE IMPLEMENTAÇÃO
E GERENCIAMENTO
Tipo de Princípio A implementação, o gerenciamento e a m a n u t e n ç ã o de u m
tecnologia Analítico Analitos serviço de P O C T em u m a instituição de saúde requerem plane-
In vivo Fluorescência óptica pH, gases no sangue j a m e n t o necessário, supervisão e c o n t r o l e de i n v e n t á r i o e a garan-
Eletroquímica Glicose subcutânea tia de c o n f i a b i l i d a d e dos resultados via t r e i n a m e n t o a d e q u a d o e
Ex vivo Fluorescência óptica pH, gases no sangue Q C . C o n s e q ü e n t e m e n t e , vários fatores devem ser considerados
Eletroquímica pH, gases no sangue, ( Q u a d r o 12-4).
elelrólitos, glicose
Não-invasíva EletroquímicaViontoforese Glicose transcutânea
Espectrofotornetria de Bilirrubina Estabelecimento da Necessidade
múltiplos comprimentos A s s i m c o m o acontece c o m a testagem l a b o r a t o r i a l em geral, a
de arda decisão de i m p l a n t a r u m serviço de P O C T requer (1) estabeleci-
T e s t a g e m Laboratorial R e m o t a C A P Í T U L O 1 2 2 0 1

2 Interfaces - 3 Especificações

Interface d e Interface (EDI) d e


dispositivo registro d e o b s e r v a ç ã o

Dispositiva Revisor de Receptor


observação observante

DML

L i i
1
DAP
3
w

Dispositivas, Gerenciadores de dados LIS, C D R ,


estações de d e POCT, pontos de acesso, outro CIS
ancoração concentradores

DML - dispositivo d e c a m a d a d e m e n s a g e m ORI = Interface d e registro d e o b s e r v a ç ã o


DAP = dispositivo e ponto d e a c e s s o

Figura 12-7 Diagrama esquemático das interfaces entres dispositivos de P O C T e sistemas d e informação.
( M o d i f i c a d o d e Clinicai a n d L a h o r a t o r y S t a n d a r d s I n s t i t u t e / N C C L S . Point-of-care conectivity: a p p i o v e d
S t a n d a r d C L S T ( a n t e r i o r m e n t e N C L L S , 2 0 0 6 ) . A p p r o v e d s t a n d a r d P O C T 1 - A 2 . W a y n e , PA: C l i n i c a i a n d
L a b o r a t o r y S t a n d a r d s Institute, 2001.)

QUADRO 12-4 Fatores que Precisam Ser Consideradas na QUADRO 12-5 Avaliação da Necessidade de um Serviço de
Implementação, Gerenciamento e T e s t a g e m Laboratorial R e m o t a
Manutenção do Serviço de POCT
Que testes são necessários?
Estabelecer a necessidade Qual é o TAT necessário?
Organizar e implementar uma comissão organizadora Que pergunta clínica está sendo feita quando se solicita esse teste?
Estabelecer uma política e um termo de responsabilidade para POCT Que decisão clínica tende a ser tomada ao receber o resultado?
Procurar equipamento e estimar preço Que atitude tende a ser tomada ao receber o resultado?
Treinar e certificar os operadores Que resultado deve ser esperado da atitude tomada?
Estabelecer QC, garantia de qualidade e política de auditoria Por que o laboratório não consegue oferecer o serviço exigido?
Garantir a documentação
A POCT fornecerá a precisão necessária dc resultado?
Estabelecer um modelo para acreditação e regulamentação da política de
Há pessoal disponível para realizar o teste?
POCT
Há instalações adequadas para realizar D teste e armazenar o equipamento e
reagentes?
Você aceita a política de POCT da organização?
Hã benefícios operacionais para essa estratégia de POCT?
m e n t o d a n e c e s s i d a d e , (2) c o n s i d e r a ç ã o s o b r e o s b e n e f í c i o s clí-
Há benefícios econômicos para essa estratégia de POCT?
n i c o s , o p e r a c i o n a i s e e c o n ô m i c o s e (3) a v a l i a ç ã o d o s c u s t o s e d a s
Será que uma mudança na prática será exigida para oferecer esses benefícios?
m u d a n ç a s n o processa clínico envolvido.
É possível oferecer essas mudanças na prática que podem ser exigidas?
L e r as p e r g u n t a s l i s t a d a s n o Q u a d r o 12-5 é útil p a r a e s t a b e -
lecer os r e q u e r i m e n t o s p a r a u m serviço d e P O C T . 1 2 R e s p o n d ê - l a s
a j u d a r á a i d e n t i f i c a i o t e s t e , e m si, m a s t a m b é m d e v e r á e x p l i c a r
QUADRO 12-6 Q u e s t õ e s d e Interesse Q u a n d o s e Faz u m a
poT q u e o s e r v i ç o a t u a l n ã o e s t á s u p r i n d o as n e c e s s i d a d e s d o Avaliação d o R i s c o para Considerar a
paciente o u d o médico. Implementação de um Serviço de POCT
Uma estimativa d o risco t a m b é m deve ser feita c o m o foco
principal sobre os procedimentos e processos que devem ser Solidez do serviço de POCT
realizados para garantir a manutenção de um serviço de alta Qualidade dos testes produzidos
qualidade. Questões de interesse que precisam ser abordadas Competência do operador do dispositivo
q u a n d o se faz tal e s t i m a t i v a e s t ã o listadas n o Q u a d r o 12-6. Efetividade do processo para transmissão dos resultados ao cuidador
Competência do cuidador para interpretar os resultados fornecidos

Organização e Implementação de uma Procedimentos no local para garantir que um registro preciso dos resultados

Comissão Organizadora de POCT seja mantido


Identificação das mudanças na prática que devem ser feitas para oferecer os
A o organizar e i m p l e m e n t a r u m serviço de P O C T , é i m p o r t a n t e
benefícios identificados
c o n s u l t a r t o d o s os e n v o l v i d o s n a o f e r t a d e tal serviço. Para isso
Como o pessoal será retreinado, caso seja apropriado
é bom estabelecer uma comissão organizadora. Essa comissão
Como as mudanças, na prática, serão implementadas
fica e n t ã o e n c a r r e g a d a d e g e r e n c i a r t o d o o p r o c e s s o p a i a oferecer
202 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

u m serviço de P O C T de alta qualidade. A comissão deve ser Procura e Avaliação de Equipamento


composta por representantes daqueles que usam o serviço e por Depois de estabelecer a necessidade, a comissão organizadora e
aqueles que oferecem o serviço, j u n t o a u m representante da a política, o próximo passo no processo é procurar o equipa-
equipe de gerenciamento da organização. Os usuários incluem mento. Isso envolve identificar primeiro o equipamento que
(1) médicos, (2) médicos assistentes, (3) enfermeiros, (4) auxiliares tenha o pré-requisito analítico e a capacidade para cumprir as
de enfermagem e (5) outros cuidadores, talvez até u m paciente. exigências clínicas de u m serviço de POCT. C o m o discutido n o
O grupo dos cuidadores deve incluir pelo menos u m represen- Capítulo 13 e no protocolo de CLS1, 2 as características do desem-
tante do laboratório e daqueles envolvidos no uso de outros p e n h o desses dispositivos são então obtidas e comparadas. Além
equipamentos de terapia e diagnóstico próximos ao paciente. disso, as exigências operacionais feitas ao operador também pre-
N o r m a l m e n t e u m profissional do laboratório será o presidente cisam ser identificadas, e o potencial para erro do operador
da comissão porque é o laboratório que fornecerá a alternativa determinado. Comprovação independente dessas características
necessária se houver erro no serviço. Além disso, os profissionais analíticas e operacionais é obtida (1) do fabricante, (2) de avalia-
do laboratório terão treinamento e conhecimento sobre as ques- ções publicadas feitas por agências governamentais, e (3) relatos
tões analíticas que poderão surgir. Recomenda-se também que a em literatura revisada pelos pares. Ao revisar os dados de desem-
comissão preste contas ao médico diretor. A comissão deve desig- penho, deve ser dedicada atenção especial à precisão da mensura-
nar membros que serão responsáveis pela supervisão do treina- ção, incluindo a concordância entre os resultados produzidos pelo
mento e da acreditação de todos os operadores de P O C T e dispositivo de P O C T e o m é t o d o laboratorial de rotina porque os
t a m b é m pelo controle e garantia de qualidade. O trabalho da pacientes p o d e m ser tratados com o uso de ambos os sistemas
comissão deve ser orientado pela política sobre P O C T da orga- analíticos. Essa concordância pode ser difícil de avaliar e talvez
nia«,0ü. u seja necessário buscar endosso de usuários atuais dos sistemas e,
possivelmente, realizar alguma forma de estudo interno.
Política e Responsabilidade da POCT U m a estimativa econômica d o equipamento, deve ser feita
Implantar u m serviço de P O C T requer uma política que estabe- incluindo custo de consumíveis e serviço. Provavelmente, será
leça todos os procedimentos necessários para garantir o forneci- um exercício comparativo entre os vários sistemas de laboratório
m e n t o de u m serviço de alta qualidade junto à responsabilidade remoto em consideração. Qualquer comparação de custos com
de todos os profissionais associados ao POCT. Essa política p o d e o serviço de laboratório estará apenas enfatizando o custo por
ser (1) parte do sistema de controle de qualidade total da orga- teste, o que não resultará em avaliação precisa do custo-utilidade
nização, (2) parte de sua política de gerenciamento e (3) necessá- do sistema. Porém, nesse ponto é útil ter uma boa avaliação dos
ria para propósitos de acreditação. 9 Os elementos de uma política custos relativos com pessoal associados aos diferentes sistemas,
de P O C T estão listados no Q u a d r o 12-7. porque essas características tendem a ser fundamentais no pro-
cesso de tomada de decisão. E provável que o sistema escolhido
seja operado por pessoal que já esteja desempenhando u m a gama
de funções envolvendo o cuidado aos pacientes e, portanto, o
tempo exigido para operar o dispositivo p o d e ser crítico.
Depois que os dados de comparação foram obtidos, classifi-
QUADRO 12-7 Elementos da Política de Testagem
cados e interpretados, o dispositivo de P O C T é selecionado.
Laboratorial Remota
Recomenda-se então que o profissional de laboratório faça uma
Catálogo de informação — tempo de revisão curta avaliação do equipamento para adquirir familiaridade com
Aprovado por o sistema. Essa avaliação ajudará a determinar o conteúdo da
Distribuição original rotina de treinamento que será elaborado em seguida e, caso
Políticas relacionadas necessário, a identificar e solucionar os problemas. Tal avaliação
Informação adicional deve documentar a concordância entre os resultados gerados com
Substituições de política os dispositivos e aqueles fornecidos pelo laboratório. Todas essas
Introdução — histórico
informações devem ser registradas em u m diário associado ao
Definição
equipamento. Além disso, a organização pode querer idealizar
Acreditação de serviços
algum critério de segurança, dar ao dispositivo alguma forma de
Auditoria de serviços
Serviços laboratoriais na organização — local
código local e registrar o código no registro do equipamento.
Logística
Política de testagem diagnostica Treinamento e Certificação
Gerenciamento de POCT — comissão e responsabilidade A confiança de (1) médico, (2) cuidador e (3) paciente nos resul-
Diretores tados gerados pelo dispositivo de P O C T depende do desempe-
Membros da comissão n h o e da solidez do i n s t r u m e n t o e da competência do operador.
Termos de referência
Muitas das agências envolvidas na regulamentação de serviço de
Responsabilidades
saúde agora exigem que todos os profissionais associados ao
Reuniões
Procura de equipamento e consumíveis — critérios para procura
fornecimento de resultados diagnósticos demonstrem sua com-
Processo de pesquisa
petência por meio de processo de regulamentação, e isso se aplica
Procedimentos operacionais-padrão igualmente aos profissionais de P O C T . Normalmente, os profis-
Treinamento e certificação de pessoal — treinamento sionais de saúde envolvidos com P O C T não receberam treina-
Certificação mento no uso dos dispositivos analíticos como parte da formação
Outra certificação profissional, mas p o d e m ter sido solicitados a operar vários ins-
Controle e garantia de qualidade — procedimentos trumentos complexos do equipamento.
• Documentação e revisão
Os elementos de u m programa de treinamento estão listados
Procedimentos de saúde e segurança
no Q u a d r o 12-8. Na prática, tal programa é estruturado para
Bibliografia
suprir as necessidades d o indivíduo e da organização. Ele p o d e
Testagem Laboratorial Remota CAPÍTULO 1 2 203

QUADRO 12-8 Principais Elementos do Programa de normalmente, compara o desempenho atual àquele da última
Testagem Laboratorial Remota vez em que a análise foi realizada. A garantia de qualidade
externa é u m processo a longo prazo e aborda outras questões
Entender o contexto do teste — contexto tisiopatológico em t o r n o da qualidade do resultado. Essa garantia de qualidade
• Exigência clínica para o teste compara o desempenho da testagem de diferentes locais e / o u
• Atitude iomada com base no resultado de diferentes partes do equipamento ou métodos. 10 A auditoria
• Natureza do teste e método usado é u m a forma mais retrospectiva de análise do desempenho e,
Preparação necessária do paciente — relevância de variação diurna além disso, tem u m a visão bolística de todo o processo. C o n t u d o ,
• Relevância da terapia com droga a base para garantir uma boa qualidade continua sendo u m
Requisição de amostra e coleta de amostra treinamento bem-sucedido e u m esquema de certificação.
Preparação do dispositivo analítico — máquina e/ou consumíveis
Classicamente, o Q C interno quantitativo envolve a análise
Desempenho do teste
da amostra para a qual a concentração de analito é conhecida e
Desempenho do controle de qualidade
a média e a variação dos resultados cotadas para o m é t o d o
Documentação do resultado do teste e do resultado do controle de qualidade
usado. Há vários desafios na abordagem clássica da P O C T . As
Comunicação do resultado do teste à equipe apropriada
primeiras preocupações são com a freqüência da testagem — urna
Interpretação do resultado e das tontes do dispositivo
amostra de Q C deve ser analisada toda vez que (1) u m a amostra
Questões de saúde e segurança (p. ex., descarte de amostra e dispositivo de
teste, limpeza da máquina e da área de teste)
é analisada, (2) u m novo operador usa o sistema, (3) u m novo
n ú m e r o de lote de reagentes é usado, ou (4) o sistema é cali-
brado? Não há consenso sobre a abordagem correta e o usuário,
provavelmente, deve se guiar pela reprodutibilidade e pelo
desempenho analítico geral do sistema A abordagem usada
t a m b é m é influenciada pelas circunstâncias locais, como o
mcluir apresentação formal a grupos ou a uma pessoa por vez, n ú m e r o e a competência dos operadores, junto com a freqüência
aprendizado autodirecionado com o uso de material reconhe- com que o sistema é usado. Para um analisador de bancada e / o u
ci do, ou aprendizado com auxílio de computador. Por exemplo, de multiteste, pelo menos uma amostra de Q C deve ser feita no
vários dos modelos atuais de gás sanguíneo e de eletrólito m í n i m o uma vez por t u r n o — três vezes por dia. Alguns analisa-
possuem módulos de treinamento auxiliados por computador. dores de cuidados essenciais são programados para realizar uma
Seja qual for a estratégia de treinamento usada, é importante checagem do Q C em intervalos determinados pelos responsáveis
documentar que o indivíduo completou satisfatoriamente o trei- pelo dispositivo.
n a m e n t o e que ele foi testado e julgado competente com uma Para os dispositivos de P O C T de uso único, a estratégia
combinação de perguntas relacionadas com a compreensão e descrita anteriormente não monitora completamente a quali-
com demonstração prática das habilidades adquiridas. Essas dade do sistema de teste. Por exemplo, q u a n d o o material de
habilidades são adquiridas com a realização de testes em uma Q C convencional é analisado em u m sistema de P O C T de teste
série de materiais de Q C e com a repetição da testagem de ou de uso únicos, apenas aquela unidade de testagem é monito-
amostras que foram recentemente analisadas (testagem paralela). rada. Logo, é impossível testar todas as unidades com material
Finalmente, o operador deve ser observado durante todo o pro- de controle porque, por definição, estes são sistemas de teste
cedimento envolvido na P O C T em pelo menos três ocasiões único e não é possível analisar o material de controle e a amostra
A competência a longo prazo é mantida com a prática regular do pacientes com a unidade única. Nessas circunstâncias, há
das habilidades e com a continuação dos estudos. E importante uma dependência maior sobre a reprodutibilidade de fábrica dos
inserir essas características em qualquer programa de treina- dispositivos para garantir u m serviço de boa qualidade. U m a
mento e educação. A revisão habitual do desempenho nos pro- n o r m a do CLSI de 2002 estabelece procedimentos de controle
gramas de controle e garantia de qualidade fornecerá meios para de qualidade para teste de uso único sob o p o n t o de vista do
supervisionar a competência dos operadores. C o n t u d o , isso n e m fabricante e d o usuário.''
sempre é suficiente, especialmente q u a n d o os operadores estão N o caso do usuário, alguns p o d e m querer continuar com a
trabalhando em turnos irregulares ou não podem ser convoca- estratégia de testagem de Q C semelhante àquela para dispositi-
dos para realizar u m a POCT. Nesse último caso, pode sei neces- vos de multiuso; isto é, analisar pelo menos uma amostra de Q C
sário fazer arranjos específicos para que os operadores possam durante cada jornada de trabalho. Se a testagem for infreqüente,
realizar os testes com material de Q C . O registro de erro do então outra abordagem seria analisar u m a amostra de Q C
computador também p o d e alertar q u a n d o surgirem problemas. sempre que houver uma m u d a n ç a n o sistema de testagem, como
Porém, é importante incentivar uma abordagem aberta de ava- u m lote diferente de materiais para testagem ou u m operador
liação da competência para que os próprios operadores busquem diferente. H á outras abordagens também, mas muitas não testam
ajuda q u a n d o acharem que problemas estão ocorrendo. Tal abor- todo o processo. Por exemplo, o uso de uma almofada de refle-
dagem aberta deve ser apoiada com auditoria e reuniões para xão da luz substituta, como u m a amostra de Q C , irá testar
rever o desempenho onde os problemas são ventilados e os apenas o desempenho do medidor de reflexão da luz, mas não
desenvolvimentos discutidos. A avaliação periódica da compe- testará o processo de adição de amostra etc. Do mesmo modo,
tência deve ser incorporada em u m programa formal paTa certi- algumas formas eletrônicas de Q C interno também não testam
ficação de que será uma exigência da maioria dos programas de a técnica de amostragem, mas simplesmente a funcionalidade do
acreditação. 12 cassete e da estação de ancoração. 10
A garantia de qualidade externa ou testagem d e proficiência
Controle de Qualidade, Garantia de Qualidade é uma abordagem sistemática para monitoração do Q C na qual
e Auditoria amostras padronizadas são analisadas por u m ou mais laborató-
Os programas de controle e garantia de qualidade fornecem u m rios para determinar a capacidade de cada participante. Nessa
meio formal de monitorar a qualidade de um serviço (Capítulo abordagem, o operador desconhece a concentração do analito e,
16). O programa d e Q C interno é uma visão a curto prazo e, portanto, ela é considerada próxima da "situação real de testa-
204 PARTE II Instrumentação e Técnicas Analíticas

gem". Os resultados são transmitidos para uma autoridade central, trole e da garantia de qualidade internos juntos ao sistema de
que então prepara u m relatório e envia u m a cópia para cada registro de erros e qualquer ação corretiva praticada.
laboratório participante. O relatório identificará a séiic de resul-
tados obtidos para todo o grupo de pardcipantes e poderá ser Acreditação e Regulamentação da POCT
classificado de acordo com os diferentes métodos usados pelos As características da organização e d o gerenciamento da P O C T
participantes no esquema. O esquema pode incorporar os labora- descritos anteriormente são iguais àquelas para a acreditação de
tórios e os usuários de P O C T , o que permite comparar os resul- quaisquer serviços diagnósticos. 1 A acreditação da P O C T deve
tados com os métodos baseados n o laboratório. Na prática, a fazer parte da acreditação geral dos serviços médicos d o labora-
garantia de qualidade externa ou testagem de proficiência é usada tório ou mesmo parte da acreditação do serviço clínico em geral,
na P O C T para determinar e d o c u m e n t a r o desempenho a longo como acontece em muitos países, incluindo os Estados U n i d o s
prazo e a concordância dos resultados entre o serviço de P O C T e o Reino U n i d o há vários anos. Assim, as Emendas sobre Melho-
e o laboratório central da organização. Também é possível efetuar ria em Laboratório Clínico (CLIA) da legislação de 1988, nos
u m esquema de garantia de qualidade externa dentro de u m Estados Unidos, estipulam que todas as P O C T s devem seguir
hospital ou estabelecimento organizacional; tal esquema normal- certos padrões. 14 ' 15 Nos Estados Unidos, os Centers for Medicare
m e n t e é dirigido por profissionais qualificados d o laboratório, o a n d Medicaid Services, o Joint Commission on Acreditation of
que permite comparar os resultados que estão sendo relatados Healthcare Organizations e o College of American Pathologists
pelo laboratório e por outros locais de P O C T dentro da mesma são responsáveis pela inspeção dos locais e cada u m compromete-
organização. Isso é importante quando os pacientes são tratados se a assegurar a conformidade com os regulamentos de testagem
em vários departamentos — ou q u a n d o as máquinas quebram e para POCT. 6
as amostras são levadas para outros locais de testagem. Q u a n d o
u m desempenho fraco é identificado em u m desses esquemas, é
importante registrar o problema e depois fornecei e registrar a
solução. C o m o parte desse exercício pode ser necessário rever REFERÊNCIAS
algumas anotações sobre o paciente para garantir que resultados
1. Bornett D. Accredi tation and point-of-care testing. Aim Clin Biochem
incorretos não tenham sido relatados e ações clínicas inapropria-
2000;37:241-3.
das tomadas. Além disso, se a solução destacar u m aspecto vulne-
2. Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS Evaluation of
rável do processo em geral ou de um operador em particular,
precísion performance of clinicai chemistry devices, 2rid ed. CLSI/
então u m processo de retremamento deverá ser instituído. NCCLS Document EP5-A2 Wayne, PA Clinicai and Laboratory
Standards Institute, 2004
Manutenção e Controle de Inventário 3. Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS, Point-of-care
O estabelecimento e a m a n u t e n ç ã o de um serviço de P O C T connectivity CLSI/NCCL3 Document POCT1-A2. Wayne, PA Clinicai
exigem u m suprimento p e r m a n e n t e de dispositivos e u m pro- and Laboratory Standards Institute, 2006.
grama formal para mantê-lo. Os pontos-chave nesse processo são 4 Clinicai and Laboratory Standards Institute/NCCLS. Quality
(1) manter as condições de armazenamento recomendadas, (2) management for unit-use testing. CLSI/NCCLS Document
estar ciente do prazo de validade dos consumíveis, e (3) garantir EP18-A. Wayne, PA: Clinicai and Laboratory Standards Institute,
que os estoques sejam liberados a tempo para que qualquer pre- 2002.
paração analítica seja adequada (p. ex., descongelamento). 5. Khandurina J, Guttman A Bioanalysis in microfluidlc devices.
Q u a n d o vários locais estão u s a n d o os mesmos materiais, então J CliTomatoET A 2002;943' 159-83.
u m sistema de controle de compra, de provisão e de inventário 6. Kost GJ, ed. Principies and practice of point-of-care testmg.
deve ser instaurado. Isso evitará a compra em grandes quantida- Philadelphia Lippincott Williams & Wilkins, 2002:ppó54.
7. National Academy of Engiiieering and Institute of Medicine. Reid PP,
des e que sistemas individuais sejam abastecidos por engano com
CompTon "WD, Grossman JH, Fanjiang G, eds Building a better
lotes diferentes de consumíveis.
delivery system. Washington, DC: National Academies Press, 2005:
A complexidade na m a n u t e n ç ã o de dispositivos reutilizáveis
pp262.
varia de sistema paia sistema, mas orientações claras dos fabri-
8. Nichols JH, ed. NACB Laboratory medicine practice guidelines:
cantes estão disponíveis e devem ser seguidas de forma rigorosa.
Evidence-based practice for point-of-caTe testing. Washington, DC:
As questões que n o r m a l m e n t e exigem total vigilância incluem
AACC Press, 2006; 1:187. (http://www.aacc.org/AACC/rn.erabers/nacb/
prazo de validade, biocontaminação, segurança com eletricidade, LMPG)
m a n u t e n ç ã o de instrumentos ópticos e uso inadvertido de con- 9. Price C P Point of care resting. BMj 2001;322:1285-88
sumíveis inapropriados. 10. Price CP, St John A, Hicks JM, eds. Point-of-care testing, 2nd ed
Washington, D C AACC Press, 2004 pp488.
Documentação 11 Price CP, St John A. Point-of-care testmg. In. Burtis CA, Ashwood ER,
A documentação de todos os aspectos de u m serviço de P O C T Rruns DE, eds. Tietz textbook of clinicai chemistry and molecular
continua sendo u m a das principais questões devido ao fato de diagnostics, 4th ed. St Louis: Saunders, 2006-299-320
que o armazenamento de dados em sistemas de laboratório e 12. Price CP, St John A. Point-of-care testing for managers and polícymakers
hospital é quase sempre limitado e inconsistente. Logo, é extre- Washington, DC: AACC Press, 2006 1-122.
m a m e n t e importante manter, n o mínimo, u m registro pTeciso (1) 13. Turner APF: In- Karube I, "Wilson GS, eds. Biosensors: fundamentais
d o teste solicitado, (2) d o resultado e (3) da ação praticada. and applications. Oxford: Oxford University Press, 1987:1-770.
Algumas dessas questões sobre documentação estão agora sendo 14. US Department of Health and Human Services. Medicare, Medicaid
and CLIA progTams. regulacions implementing the Clinicai Laboratory
resolvidas com o advento d o registro eletrônico do paciente, da
Improvement Amendments of 1988 (CLIA). Final rule. Federal Register
solicitação eletrônica e de u m a melhor conectividade da instru-
1992;57:7002-186.
mentação de P O C T com os sistemas de informação e com o
15. US Department of Health and Human Services. Medicare, Medicaid
registro do paciente. A documentação deve abranger os procedi-
and CLIA progTams: regulations implementing the Clinicai Laboratory
mentos operacionais-padrão para os sistemas de P O C T e os regis-
Improvement Amendments of 1988 (CLIA) and Clinicai Laboratory Act
tros de treinamento e certificação dos operadores, além do con- program fee collection Federal Register 1993;58:5215-37.
OPERAÇÕES LABORATORIAIS P A R T E III

CAPÍTULO 1 3

Seleção e Avaliação
Analítica de Métodos -
Por Técnicas Estatísticas
Kristian Linnet, M.D., D.M.Sc., e James C. Boyd, M.D.*

OBJETIVOS E r r o A l e a t ó r i o : EITO q u e resulta de variações imprevisíveis


1. Discutir a necessidade de método de seleção e a avaliação no con- i n f l u e n c i a d o pela q u a n t i d a d e de medidas. Esses efeitos
texto de um laboratório clínico. aleatórios originam variações em observações repetidas do
2. Definir e indicar fórmulas para o seguinte:
determinando.
E r r o Sistemático: U m c o m p o n e n t e de erro que, n o decorrer
Média
de u m a série de análises d o m e s m o d e t e r m i n a n d o ,
Mediana
p e r m a n e c e c o n s t a n t e o u varia de u m a forma previsível.
Desvio-padrão
Incerteza: U m parâmetro associado ao resultado de u m a
Coeficiente de correlação
medição que caracteriza a dispersão de valores q u e
Análise de regressão
p o d e r i a m ser razoavelmente atribuídos ao d e t e r m i n a n d o
Distribuição gaussiana
ou, mais r e s u m i d a m e n t e : a incerteza é u m p a r â m e t r o que
3. Determinar as considerações que devem ser examinadas na seleção
caracteriza o intervalo de valores d e n t r o do q u a l se espera
de um novo método analítico. q u e a q u a n t i d a d e a ser m e d i d a esteja contida.
4. Definir desempenho-padrão e metas analíticas. I n t e r v a l o de Med i ção : Intervalo fechado de valores possíveis
5. Definir o seguinte: permitidos para u m p r o c e d i m e n t o de m e d i ç ã o e delimitado
Viés pelos limites inferior e superior de determinação. Para esse
Limite de detecção intervalo, o erro total das medições está d e n t r o de limites
intervalo de medição analítica específicos d o m é t o d o . T a m b é m designado faixa de medição
Erro aleatório analítica.
Ene sistemático L i m i t e d e D e t e c ç ã o : A m e n o r q u a n t i d a d e de analito que p o d e
6. Delinear as tarefas envolvidas na avaliação de um método, incluindo ser detectada n u m a amostra, mas n ã o q u a n t i f i c a d a c o m o
medidas estatísticas que devem ser realizadas. u m valor exato. T a m b é m designado de limite inferior de
7. Construir um gráfico de diferença, dados os resultados de uma com- detecção, concentração m í n i m a detectável (ou dose o u
paração de métodos experimentais. valor).
M a t e r i a l de R e f e r ê n c i a (RM): U m material o u substância com
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES u m a o u mais propriedades suficientemente b e m
A n a l i t o : C o m p o s t o que é m e d i d o . estabelecidas a serem utilizadas n a calibração de u m
CLIA'88: U m a c r ô n i m o p a i a Clinicai Laboratary Improvement m é t o d o o u para atribuir valores a materiais.
Amendments de 1988. M a t e r i a l de R e f e r ê n c i a C e r t i f i c a d o (CRM): U m material de
D e t e r m i n a n d o : A " q u a n t i d a d e " q u e é r e a l m e n t e m e d i d a (p. referência e m que u m o u mais valores de p r o p r i e d a d e s são
ex., a concentração de analito). Por exemplo, se o analito é certificados p o r u m p r o c e d i m e n t o t e c n i c a m e n t e válido,
glicose, o d e t e r m i n a n d o é a concentração de glicose. Para a c o m p a n h a d o o u rastreável por u m certificado o u o u t r a
u m a enzima, o d e t e r m i n a n d o p o d e ser a atividade d o c u m e n t a ç ã o emitida por u m a e n t i d a d e certificadora.
enzimática ou a concentração de massa da enzima. Matriz: Todos os c o m p o n e n t e s de u m sistema de material, c o m
exceção do analito.
P r o c e d i m e n t o d e M e d i ç ã o d e R e f e r ê n c i a : P r o c e d i m e n t o de
m e d i ç ã o exaustivamente investigado e com d e m o n s t r a ç ã o
' O s autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias de David que fornece valores de incerteza de medição compatível
D. Koch, Theodcie Peters e Robert O. Krtngle, nas quais se baseiam partes com o objetivo de utilização, especialmente na avaliação da
deste capítulo. veracidade de outros p r o c e d i m e n t o s de medição para a
206 PARTE III O p e r a ç õ e s Laboratoriais

m e s m a q u a n t i d a d e e n a caracterização de materiais de A avaliação de m é t o d o n o l a b o r a t ó r i o clínico é f o r t e m e n t e


referência. i n f l u e n c i a d a p o r o r i e n t a ç õ e s (p. ex., Clinica! and Laboratory Stón-
P r o c e d i m e n t o de Referência Primário: U m procedimento dard Institute [CLSI; a n t e r i o r m e n t e N C C L S , www.clsi.org]) e a
t o t a l m e n t e c o m p r e e n d i d o , c o m elevadíssima q u a l i d a d e International Organization for Standardization (ISO, w w w . i s o . o r g ) .
analítica e o r ç a m e n t o d e incerteza total d a d o e m u n i d a d e s A l é m disso, atingir requisitos p a r a l i c e n c i a m e n t o d o l a b o r a t ó r i o
SI. tornou-se u m e l e m e n t o i m p o r t a n t e n o processo d e avaliação e
Q u a n t i d a d e : A q u a n t i d a d e de substância (p. ex., a seleção d e m é t o d o . Este c a p í t u l o a p r e s e n t a u m a visão geral de
c o n c e n t r a ç ã o d a substância). c o n s i d e r a ç õ e s d o processo de seleção de m é t o d o , seguida p o r
Rastreabilidade: A propriedade do resultado de u m a medida seções s o b r e estatística básica e m é t o d o s d e avaliação e compara-
ou d o valor d e u m p a d r ã o s e g u n d o a q u a l esses p o d e m ser ç ã o d e m é t o d o s . U m a lista das abreviaturas utilizadas n e s t e capí-
relacionados c o m referências estabelecidas, g e r a l m e n t e t u l o é a p r e s e n t a d a n o Q u a d r o 13-1.
p a d i õ e s n a c i o n a i s o u i n t e r n a c i o n a i s , p o r u m a cadeia
i n i n t e r r u p t a d e c o m p a r a ç õ e s , t o d a s p o s s u i n d o incertezas SELEÇÃO DE MÉTODO
indicadas. Isto é a lcançado p e l o e s t a b e l e c i m e n t o d e u m a A seleção a d e q u a d a de m é t o d o envolve consideração d a utilidade
cadeia de calibrações q u e leva a p a d r õ e s n a c i o n a i s o u m é d i c a , análise d e d e s e m p e n h o e critérios práticos.
i n t e r n a c i o n a i s p r i m á r i o s , de m a n e i r a ideal (por coerência a
l o n g o prazo), e m u n i d a d e s d e m e d i d a s d o Système Critérios Médicos
International (SI). A seleção d e m é t o d o s a p r o p r i a d o s para ensaios d e l a b o r a t ó r i o
S e l e c t i v i d a d e / E s p e c i f i c i d a d e : O grau e m q u e u m m é t o d o clínico é u m a parte vital na prestação d e assistência d e q u a l i d a d e
r e s p o n d e , exclusivamente, a u m analito d e f i n i d o . ao paciente, e avanços na assistência ao m e s m o são f r e q ü e n t e -
Viés: D i f e r e n ç a e n t r e a m é d i a ( e s t r i t a m e n t e a expectativa) de m e n t e baseados e m testes laboratoriais novos o u otimizados.
r e s u l t a d o s d o teste e u m valor de referência aceito. Viés é A averiguação da necessidade clínica para u m teste laborato-
u m a m e d i d a d e veracidade. rial é o p r i m e i r o passo para selecionar u m m é t o d o c a n d i d a t o
(Figura 13-1). Parâmetros-chave, tais c o m o o t e m p o a d e q u a d o e,
n e c e s s a r i a m e n t e , a utilidade clínica de u m ensaio, m u i t a s vezes

A
p o d e m SÊT o b t i d o s p o r discussões entre laboratoristas e m é d i c o s .
i n t r o d u ç ã o d e m é t o d o s novos ou revisados é c o m u m n o
A o i n t r o d u z i r novos ensaios de diagnóstico, estimativas confiá-
l a b o r a t ó r i o clínico (Figura 13-1) U m m é t o d o n o v o ou
veis d e s e n s i b i l i d a d e e e s p e c i f i c i d a d e clinicas d e v e m ser o b t i d a s
revisado deve ser c u i d a d o s a m e n t e s e l e c i o n a d o e o desem-
da literatura ou p o r c o n d u ç ã o d e u m e s t u d o clínico. Para a n a l í t o s
p e n h o e x a u s t i v a m e n t e avaliado n o l a b o r a t ó r i o antes de ser
estabelecidos, u m c e n á r i o c o m u m é a substituição d e u m m é t o d o
adotado na rotina. O estabelecimento de u m método novo
mais antigo e laborioso p o r u m m é t o d o n o v o e a u t o m a t i z a d o ,
t a m b é m p o d e envolver u m a avaliação de características d o anali-
q u e é mais e c o n ô m i c o p a r a utilização diária.
sador a u t o m a t i z a d o o n d e o m é t o d o será i m p l e m e n t a d o .

Critério de Desempenho Analítico


N a avaliação de características de d e s e m p e n h o de u m m é t o d o
Abordagem de introdução de novo método c a n d i d a t o , precisão, acurácia (veracidade), intervalo analítico,
limite de detecção e especificidade analítica são de i m p o r t â n c i a
Estabele- p r i m o r d i a l . A s seções sobre avaliação e c o m p a r a ç ã o d e m é t o d o s
cimento d e
necessidades neste capítulo c o n t ê m u m e s b o ç o desses conceitos e as respectivas
avaliações. O s p a r â m e t r o s de d e s e m p e n h o e s t i m a d o s para u m
m é t o d o p o d e m , e n t ã o , ser r e l a c i o n a d o s c o m as m e t a s de quali-
Seleção de
rrélado
d a d e q u e g a r a n t e m utilização m é d i c a aceitável dos r e s u l t a d o s d o s
testes (ver seção sobre M e t a s Analíticas). Sob o p o n t o de vista
p r á t i c o , a resistência d o m é t o d o d e r o t i n a é i m p o r t a n t e .
Delimilação
de meias de
Q u a n d o u m n o v o a n a l i s a d o r clínico é incluído n o processo
qualidade d e avaliaçao global, diversos p a r â m e t r o s i n s t r u m e n t a i s t a m b é m
\
r 7 >
)
A
j Avsllsçao
\ d e mélodo de mélodo
V Q U A D R O 1 3 - 1 J Abreviações

Mantiíenção Cl intervalo de confiança


Implemenlação
prevenliva CV Coeficiente de variação ( - SD/JT, onde x é a concentração)
CV% = CV x 10G%

Submissão Análise CVfl Coeficiente de variação analítica


Prálicas de canlrole
d e a mos Ira de rotina CVRB Coeficiente de variação de viés aleatório
d e qualidade
ISO International Organization for Standardization
GLR Análise de regressão dos mínimos quadrados ordinários

( Relatório d e \
resultados J
SD
SEM
SDfl
Desvio-padrão
Erro-padrão da média (= SD/VN)
Desvio-padrão analítico
Figura 13-1 Diagra ma de fluxo que ilustra o processo de SDRb Desvio-padrão de viés aleatório

introdução de u m novo m é t o d o na rotina. O diagrama destaca as xm Média


Xm„ Média ponderada
principais etapas d o m é t o d o de seleção, m é t o d o de avaliação e controle
WLR Análise de regressão ponderada dos mínimos quadrados
de qualidade.
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 13 207

exigem avaliação, incluindo precisão de pipetagem, contamina'


ções entre tipologia e entre reagentes, imprecisão do detector, o „ 0,30- 30
tr
tempo para o primeiro resultado relatável, a estabilidade de rea- y
gente n o interior do instrumentOj velocidade de transferência de c
dados, freqüência média de falhas d o instrumento e de reparo. > 0.20 20
Informações sobre esses parâmetros deverão estar disponíveis n o <D
"<D
manual do instrumento. ra
u 0,10
c 10
«D
rr
Outros Critérios í»
Diversas categorias de métodos candidatos p o d e m ser considera-
das. Novos métodos descritos na literatura científica p o d e m 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
exigir desenvolvimento "interno". Kits comerciais, por O U Í T O GGT (U/L)
lado, estão prontos para execução no laboratório, freqüente-
mente em um sistema analítico "fechado" de u m instrumento Figura 13-2 Distribuição de freqüência de valores de 100 y-
destinado a esse fim. Ao revisar métodos potenciais, deve ser glutamiltransferase (GGT).
dada atenção ao seguinte:
1. O principio do ensaio, com referências originais.
2 . 0 protocolo detalhado para efetuar o ensaio.
3. A composição de reagentes e materiais de referência, as quan- Distribuição de Freqüência
tidades fornecidas e os requisitos para o armazenamento (p. U m dispositivo gráfico para exibir u m grande c o n j u n t o de dados
ex., restrições de espaço, temperatura, luz e umidade) aplicá- é a distribuição de freqüência, também designada histograma. A
veis antes e depois da abertura da embalagem original. Figura 13-2 mostra uma distribuição de freqüência apresentando
4 A estabilidade dos reagentes e materiais de referência (p. ex., os resultados de medidas de y-glutamiltransferase (GGT) sérica
a vida de prateleira). de 100 homens, aparentemente saudáveis, com idades entre 20
5.Tempo do laboratorista e habilidades requeridas. e 29 anos. A distribuição de freqüência é construída mediante a
6. Possíveis riscos e precauções de segurança adequadas, de divisão da escala de medição em células de largura idêntica,
acordo com as normas pertinentes e a legislação. c o n t a n d o os números, n,, de valores que se situam dentro de cada
7. O tipo, a quantidade e a eliminação dos resíduos gerados. célula e desenhando u m retângulo acima de cada célula cuja área
8. Necessidades da amostra (isto é, as condições de coleta, (e altura, porque as larguras das células são todas iguais) é pro-
volume adequado, a necessidade de anticoagulantes e conser- porcional a TI,. Neste exemplo, as células selecionadas foram 5 a
vantes, e condições de armazenagem necessárias). 9, 10 a 14, 15 a 19, 20 a 24, 25 a 29, e assim por diante, com 60
9 . 0 intervalo de referência do método, incluindo informações a 64 sendo a última célula. O eixo das ordenadas da distribuição
sobre a forma como foi derivado, valores típicos obtidos na de freqüência fornece o n ú m e r o de valores dentro de cada célula.
saúde e na doença, bem como a necessidade de determinação Q u a n d o esse n ú m e r o é dividido pelo n ú m e r o total de valores no
de u m intervalo de referência para a própria instituição (ver c o n j u n t o de dados, a freqüência relativa de cada célula é
Capítulo 14 para obter detalhes sobre como gerar u m inter- obtida.
valo de referência). Muitas vezes a posição de u m valor dentro de u m a distribui-
10. Requisitos e limitações do instrumento. ção de valores é clinicamente útil. A abordagem nâo-pardmétrica
11. Custo-benefício. pode ser utilizada para determinar diretamente o perceniil de u m
12. Plataformas de computador com interface para o sistema de determinado objeto. Tendo classificado N objetos de acordo com
informática do laboratório. os respectivos valores, o percentil n, Percn, pode ser estimado
13. A disponibilidade de suporte técnico, suprimentos e serviço como o valor (N[n/100] + 0,5) das observações ordenadas. Em
Outras questões devem ser consideradas. Existe espaço suficiente, caso d e valor não-inteiro, a interpolação é realizada entre valores
energia elétrica, refrigeração e canalização para u m novo instru- vizinhos.
mento? A projeção de trabalho é compatível com a capacidade
de um instrumento novo? O repertório de teste de u m novo População e Amostra
instrumento é suficiente? Q u a l é o m é t o d o e a freqüência de O objetivo do rrabalho analítico é obter informações e tirar
calibração? Os recursos h u m a n o s d o laboratório são suficientes conclusões sobre u m a ou mais características de valores de popu-
ou será exigida formação adicional? Quais são as opções apropria- lações. No exemplo da GGT, o interesse está na localização e na
das para os procedimentos de controle de qualidade e testes de amplitude de valores de G G T em uma população de homens
aptidão? Qual é o custo estimado de realização d e u m ensaio saudáveis, com idades entre 20 e 29 anos. Assim, u m conceito
utilizando o método proposto, incluindo os custos de calibração, de população é o c o n j u n t o completo de todas as observações que
amostras para controle de qualidade e o tempo de trabalho dos poderiam ocorrer como resultado de realização de u m procedi-
técnicos? m e n t o particular, sob condições específicas.
A maioria de populações de interesse em química clinica é
infinita em t a m a n h o e, por isso, é impossível de sei plenamente
ESTATÍSTICA BASiCA estudada. Geralmente u m subgrupo de observações é retirado da
Nesta seção, conceitos e técnicas estatísticas fundamentais são população como base para formar conclusões acerca de caracte-
introduzidos no contexto de investigações analíticas típicas. Os rísticas da população. O grupo de observações que tenha, efeti-
conceitos básicos de populações, amostras, parâmetros, estatística vamente, sido selecionado entre a população é designado amostra.
e distribuições de probabilidade são definidos e ilustrados. Duas Por exemplo, os valores 100 de G G T são uma amostra de uma
distribuições de probabilidades importantes, a gaussiana e a t de respectiva população. N o entanto, uma amostra p o d e ser utili-
Student, são introduzidas e discutidas. zada para estudar as características da população apenas se tiver
208 PARTE III Operações Laboratoriais

sido devidamente selecionada. Por exemplo, se o investigador Parâmetros: Medidas Descritivas de uma
estiver interessado na população de valores de G G T dentre diver- População
sos lotes de materiais e de u m determinado período, a amostra Qualquer população de valores p o d e ser descrita pela medida das
deve ser selecionada pata ser representativa desses fatores, bem respectivas características. U m parâmetro é uma constante que
como fatores de idade, sexo e saúde. Conseqüentemente, é neces- descreve alguma característica particular de u m a população.
sária a especificação exata de população(ões) de interesse antes Embora a maioria de populações de interesse em trabalho analí-
de se desenvolver u m plano para a obtenção da(s) amostra(s). tico seja infinita em tamanho, para as definições seguintes vamos
considerar o t a m a n h o de população finito, com t a m a n h o N,
Probabilidade e Distribuições de onde N é muito amplo.
Probabilidade U m a importante característica de u m a população é a localiza-
Considere novamente a distribuição de freqüência na Figura 13-2. ção central. O parâmetro mais c o m u m e n t e utilizado para descre-
E m adição à localização e amplitude de valores de GGT, outras ver a localização de uma população de valores N é a média da
informações úteis são facilmente extraídas dessa distribuição de população (p):
freqüência. Por exemplo, 9 6 % (96 de 100) das determinações são
menores que 55 U / L , e 91% (91 de 100) são iguais ou superiores
a 10, mas inferiores a 50 U / L . U m a vez que o intervalo de célula
/* = I»,

é de 5 U / L nesse exemplo, afirmações como essas p o d e m ser N


feitas apenas na proximidade de 5 U / L . U m a amostra maior
permitiria u m menor intervalo de células e uma afirmação mais U m parâmetro alternativo que indica a tendência central de uma
refinada. Para uma amostra suficientemente grande, o intervalo população é a mediana, que é definida como percentil 50, Percho.
de célula p o d e ser tão reduzido que a distribuição de freqüência Outra característica importante de uma população é a disper-
pode se aproximar de uma cuTva contínua e suave como aquela são de valores em torno da média da população. U m parâmetro
mostrada na Figura 13-3. D e fato, se a amostra é suficientemente muito útil para descrever essa dispersão de uma população com
grande, podemos considerar que essa é uma representação valores N é a variância da população a" (sigma ao quadrado):
próxima da verdadeira distribuição de freqüência âa população. Em
geral, a forma funcional da curva de distribuição de freqüência
de uma população de uma variável x é denotada por ffr). çji _ $
A distribuição de freqüência de população nos permite fazer N
afirmações sobre a probabilidade de u m valor de G G T selecio-
n a d o aleatoriamente de u m a população de h o m e n s saudáveis,
com idades entre 20 e 29 anos. Por exemplo, a probabilidade Pr(x
> JXJ de que o valor de G G T x para u m h o m e m saudável com O desvio-padrão da população cr, a raiz quadrada positiva da
idade entre 20 e 29 anos, aleatoriamente selecionado, é maior variância da população, é um parâmetro freqüentemente utili-
que u m valor é igual à área da distribuição de frequência da zado para descrever a dispersão da população, nas mesmas uni-
população situada à direita de xa. Se xa = 58, então, a partir da dades (p. ex., mg/dL) de valores da população.
Figura 13-3, PrOc > 58) = 0,05. Do m e s m o modo, a probabilidade
Pr(xa < x < xb) que x seja maior que x0, mas m e n o r que xbl é igual
à área da distribuição de freqüência da população situada entre Estatística: Medidas Descritivas de Amostra
xa e xb. Por exemplo, se xa = 9 e xh = 58, então, a partir da Figura Tal como referido anteriormente, os químicos clínicos normal-
13-3, Pr (9 < x < 58) = 0,90. Em função de a distribuição de mente têm em mãos apenas u m a amostra de observações da
freqüência de população fornecer todas as informações sobre a população de interesse. U m a estatística é u m valor calculado a
probabilidade de um m e m b r o da população aleatoriamente sele- partir de observações de uma amostra para descrever u m a carac-
cionado, essa é designada distribuição de probabilidade de popu- terística particular dessa amostra. A média de amostra ^ é a
lação. Embora a distribuição de probabilidade verdadeira n u n c a média aritmética de uma amostra, que é u m a estimativa de p. De
seja conhecida na prática com exatidão, ela p o d e ser aproximada m o d o igual, o desvio-padrão da amostra (SD) é uma estimativa
pela observação de u m grande n ú m e r o de amostras. de p; e coeficiente de variação (CV) é a Tazão entre o SD e a
média, multiplicada por 100%. As equações utilizadas para cal-
cular x,„, SD e CV, respectivamente, são as seguintes:

1jxl
N
0.3

I 2 (iKj
jc 0,2 IPC, —
£ SD =
I ~ x
,,,)* N
<E N-l N-l
D
0,1 X
u
% / . . APS SD
C V = — x 100%
•T - f r
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
G G T (U/L)

Figura 13-3 Distribuição de freqüência de valores de onde, x, é uma medida individual e N é o n ú m e r o de medições
y-glutamiltransferase (GGT) na população. da amostra.
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Eslalíticas CAPÍTULO 13 209

0,6

/
— 99,72% - V = 03
\
0,5 — SSj/Mft» - \
\ \ ,V = 10
68,26% >

V
0,4 //
: if
•7/

/
: / \

\V
0,3 tf %
g
I w
I o.
y V
Figura 13-5 Distribuição d e p r o b a b i l i d a d e t para v = 1; 10 e
p-;jG \i-.i<7 ji-c p p i cr u t2cr u+Scr

Figura 13-4 Distribuição gaussiana d e probabilidade,


1 / u - m estatísticas de grandes amostras apresentam distribuição de pro-
PU)
O^Itz 2(7'"' babilidade gaussiana.
A distribuição de probabilidade gaussiana é completamente
caracterizada pela média u e variância a 2 . A notação N (p,c 3 ) é
freqüentemente utilizada para a distribuição de u m a variável
Amostragem Aleatória gaussiana com média p e variância a 2 . Determinações de proba-
U m a seleção aleatória de u m a população é aquela em que cada bilidade de u m a variável x que segue u m a distribuição N (p,cí2)
m e m b r o da população tem a mesma chance de ser selecionado. geralmente são realizadas considerando a variável z>
U m a amostra aleatória é aquela em que cada m e m b r o da amostra
é passível de ser selecionado aleatoriamente a partir da população x -pi
de interesse. Embora grande parte da análise e interpretação z=
estatística dependa da suposição de u m a população fixa, a coleta
real de dados f r e q ü e n t e m e n t e não satisfaz essa suposição. Em
particular, para os dados gerados seqüencialmente, é possível que que é designada variável gaussiana padrão. A variável z tem uma
observações adjacentes t e n d a m a ser mais semelhantes que distribuição de probabilidade gaussiana com (i = 0 e o 2 = 1, ou seja,
aquelas separadas n o tempo. U m a amostra originária de tais z é N(0,1). A probabilidade de que x esteja dentro de 2 o de p [isto
observações não pode ser considerada amostra selecionada alea- é, Pr( U - p | < 2a) =] é 0,9544. A maioria dos programas de pla-
toriamente de u m a população fixa. Felizmente, com freqüência nilha pode calcular probabilidades para todos os valores de z-
p o d e m ser tomadas precauções na concepção de uma investiga-
ção para validar aproximadamente a amostragem aleatória. Distribuição de Probabilidade t de Student
Para determinar probabilidades associadas a uma distribuição
Distribuição de Probabilidade Gaussiaria gaussiana é necessário conhecer o desvio-padrão da população a .
Na prática, a é freqüentemente desconhecido, por isso não
A distribuição de probabilidade gaussiana, ilustrada na Figura
podemos calcular z- N o entanto, se u m a amostra aleatória pode
13-4, é de f u n d a m e n t a l importância em estatística por várias
razões. C o m o m e n c i o n a d o anteriormente, u m determinado ser retirada de u m a população gaussiana, podemos calcular o SD
da amostra, substituir c por SD e calcular o valor t
valor analítico x não costuma ser igual ao valor verdadeiro p da
amostra que está sendo medida. Em vez disso, associado a esse
x- }1
valor x específico haverá u m erro de medição particular S = x - p, t-
que é o resultado da contribuição de muitas fontes de erro. Esses ~SD~
erros de medições tendem a seguir u m a distribuição de probabi-
lidade como aquela mostrada na Figura 13-4, o n d e os erros são Sob essas condições, a variável r tem u m a distribuição de proba-
simetricamente distribuídos, com os pequenos erros ocorrendo bilidade chamada de distnkuiçáo t de Student. A distribuição t é,
com mais freqüência que os maiores e com valor estimado de 0. na verdade, u m a família de distribuições, d e p e n d e n d o dos graus
Esse fato importante é conhecido como efeito de limite central de liberdade v,, para o desvio-padrão de amostra. Diversas distri-
para distribuições de erros: se u m erro de medição £ é a soma de buições t dessa família são mostradas na Figura 13-5. Q u a n d o o
várias fontes independentes de erro, £j £3,... £t, vários dos quais t a m a n h o da amostra e os graus de liberdade para SD são infini-
são contribuintes majoritários, a distribuição de probabilidade tos, não há incerteza n o SD e, por isso, a distribuição t é idêntica
de erro de medição £ tenderá a ser gaussiana q u a n d o o n ú m e r o à distribuição gaussiana padrão. N o entanto, q u a n d o o t a m a n h o
de fontes de erro tornar-se grande. da amostra é pequeno, a incerteza em SD leva a u m a u m e n t o de
O u t r a razão para a importância da distribuição de probabili- dispersão da distribuição £ e extremidades mais acentuadas
dade gaussiana é que muiros dos procedimentos estatísticos q u a n d o comparadas com a distribuição gaussiana padrão, con-
baseiam-se em u m pressuposto de distribuição gaussiana de forme ilustrado na Figura 13-5. A maioria dos programas de
valores; essa abordagem é c o m u m e n t e referida como paramé- planilhas pode calcular probabilidades para todos os valores de
trica. Além disso, esses procedimentos em geral não são signifi- 1, se fornecidos os graus de liberdade para SD.
cantemente invalidados por partirem dessa pressuposição. Final- S u p o n h a que a distribuição de valores de glicose sérica de
mente, a grandeza da incerteza associada à estatística de amostra jejum para h o m e n s saudáveis seja gaussiana e tenha u m a média
p o d e ser averiguada com base n o fato de que muitas análises de 90 m g / d L . S u p o n h a também que a seja desconhecido e que
210 PARTE III O p e r a ç õ e s Laboratoriais

u m a amostra aleatória de 20 h o m e n s saudáveis leve a u m S D de


a m o s t r a = 10,0 m g / d L . E n t ã o , p a r a e n c o n t r a r a p r o b a b i l i d a d e de
Pr(x > 105), p r o c e d e m o s c o m o se segue:
1. ta = {*„ - p ) / S D = (105 - 9 0 ) / 1 0 = 1,5
2. Pr (t > t j = Pr (í > 1,5) = 0,08, a p r o x i m a d a m e n t e , a p a r t i r de
distribuição c o m 19 graus d e l i b e r d a d e
3. Pr(x > 105) = 0 , 0 8
A distribuição t de S t u d e n t é c o m u m e n t e utilizada e m testes de
significância, tais c o m o a c o m p a r a ç ã o das médias de amostra, ou
t e s t a n d o se u m a curva de regressão difere significativamente de 1,
Descrições desses testes p o d e m ser e n c o n t r a d a s e m livros didáticos
e n o Tietz textbaok of c l i n i c a i chemútry, 3 rd edirian, p á g i n a s 274-87.

CONCEITOS BÁSICOS RELACIONADOS COM


MÉTODOS ANALÍTICOS
X
Esta seção d e f i n e os conceitos básicos utilizados neste capítulo:
calibração, veracidade (acurácia), precisão, linearidade, limite de
Figura 1 3 - 6 Relação entre concentração (jc) e a recosta de sinal (5)
detecção e outros.
para uma curva de calibração linear. A dispersão em resposta de sinal
(oy) é projetada no eixo i, originando a imprecisão de ensaio ( o j .
Calibração
A f u n ç ã o calibração è a relação e n t r e o sinal d o i n s t r u m e n t o (5)
e a c o n c e n t r a ç ã o d o analito (x), o u seja,
t e n d e a ser c o n s t a n t e ao longo d o intervalo de m e d i ç ã o analítica
y =f(x) (Figura 13-6). Se a imprecisão a u m e n t a p r o p o r c i o n a l m e n t e ao
nível de resposta d o sinal, o S D analítico d o m é t o d o t e n d e a
O inverso dessa f u n ç ã o , t a m b é m d e s i g n a d o f u n ç ã o de m e d i ç ã o , a u m e n t a T p r o p o r c i o n a l m e n t e ao nível de c o n c e n t r a ç ã o (*), o q u e
resulta n a c o n c e n t r a ç ã o a p a r t i r da resposta: significa q u e a imprecisão relativa, CV, é c o n s t a n t e ao l o n g o d o
intervalo d e m e d i ç ã o analítica, s u p o n d o - s e q u e a interseção da
x=f\y) l i n h a d e calibração seja zero.
E m i n s t r u m e n t o s de q u í m i c a clínica m o d e r n o s e automatiza-
Essa relação é estabelecida pela m e d i ç ã o de amostras c o m q u a n - dos, a relação entre a c o n c e n t r a ç ã o d o analito e o sinal f r e q ü e n -
t i d a d e s c o n h e c i d a s (a q u a n t i d a d e ) d o analito (calibradores). t e m e n t e é m u i t o estável e a f r e q ü ê n c i a de calibração é baixa (p.
Pode-se distinguir entre soluções q u i m i c a s c o m pureza-padrão e ex., e m intervalos de alguns meses). N a análise cromatográfica
amostras c o m q u a n t i d a d e s c o n h e c i d a s d e analitos presentes e m tradicional (p. ex., cromatografia líquida d e alta eficiência [HPLC]),
u m a m a t r i z típica a ser m e d i d a (p. ex., soro h u m a n o ) . A p r i m e i r a p o r o u t r o lado, é h a b i t u a l calibrar cada série analítica (corrida), o
situação se aplica n o r m a l m e n t e a u m p r o c e d i m e n t o d e m e d i ç ã o q u e significa q u e a calibiação é realizada d i a r i a m e n t e .
d e r e f e r ê n c i a , q u e n ã o é i n f l u e n c i a d a pelos efeitos de matriz, e
o s c g u n d u caso n o r m a l m e n t e c o r r e s p o n d e a u m m é t o d o de Veracidade e Exatidão
c a m p o que, m u i t a s vezes, é i n f l u e n c i a d o p o r c o m p o n e n t e s d e A veracidade d e m e d i d a s é d e f i n i d a c o m o o grau d e p r o x i m i d a d e
matriz e, p o r isso, deve ser calibrado, preferivelmente, u t i l i z a n d o e n t r e o valor m é d i o o b t i d o a p a r t i r de u m a g r a n d e série de resul-
a respectiva matriz. F u n ç õ e s d e calibração p o d e m ser lineares ou tados d e m e d i d a s e u m valor verdadeiro. 5 A diferença entre o
n ã o e, n o caso de i m u n o e n s a i o s , m u i t a s vezes p o d e m ter u m a valor m é d i o (estritamente, a expectativa m a t e m á t i c a ) e o valor
f o r m a especial (p. ex., m o d e l a d o pela curva logística de q u a t r o v e r d a d e i r o é o viés, q u e é expresso n u m e r i c a m e n t e e, poT isso, é
parâmetros). N o caso d e f u n ç õ e s d e calibração não-lineares, a i n v e r s a m e n t e r e l a c i o n a d o c o m a veracidade. A veracidade e m si
análise de regressão não-linear é aplicada para estimar a relação, é u m t e r m o qualitativo q u e p o d e ser expressa c o m o , p o r exemplo,
ou a t r a n s f o r m a ç ã o iogit é realizada p a r a produzir u m a f o T m a baixa, m é d i a o u alta. S o b o p o n t o de vista teórico, o valor verda-
linear. U m a a b o r d a g e m alternativa utiliza u m m o d e l o livre para deiro exato n ã o é obtenível, mas, ao c o n t r á r i o , u m "valor d e
estimar u m a curva spline alisada, q u e m u i t a s vezes é realizada p a r a referência aceitável", q u e p o d e ser d e t e r m i n a d o na prática, é
i m u n o e n s a i o s . A ú n i c a exigência é q u e deve haver u m a relação c o n s i d e r a d o o valor "verdadeiro". 5 A veracidade p o d e ser avaliada
u n i f o r m e entre o sinal e a c o n c e n t r a ç ã o d o analito q u e s o b r e p õ e p o r c o m p a r a ç ã o d e m e d i ç õ e s poT u m m é t o d o (de c a m p o ) deter-
o intervalo d e m e d i ç ã o analítica. C a s o contrário, há possibili- m i n a d o e u m m é t o d o d e referência. Essa avaliação p o d e ser
d a d e d e o c o r r e r erros (p. ex., o efeito g a n c h o e m i m u n o e n s a i o s e f e t u a d a p o r m e d i d a s paralelas d e u m c o n j u n t o de amostras d e
não-comperitivo5) provocados p o r u m a d i m i n u i ç ã o de sinal de pacientes ou p o r m e d i ç õ e s de m a t e r i a i s d e r e f e r ê n c i a (veT rastrea-
resposta e m c o n c e n t r a ç õ e s m u i t o elevadas. b i l i d a d e e incerteza). A I S O i n t r o d u z i u a expressão v e r a c i d a d e
A precisão d o m é t o d o analítico d e p e n d e da estabilidade de c o m o u m s u b s t i t u t o d o t e r m o "exatidão", q u e recebeu signifi-
resposta d o i n s t r u m e n t o para u m a d e t e r m i n a d a q u a n t i d a d e de cado ligeiramente diferente. Exatidão é o grau de p r o x i m i d a d e
analito. E m p r i n c í p i o , u m a dispersão aleatória de sinal d e u m entre o resultado de u m a medição e a verdadeira concentração
instrumento, em u m a determinada concentração, transforma a d o analito. A exatidão é, p o r t a n t o , i n f l u e n c i a d a p o r a m b o s , o
dispersão e m escala de m e d i ç ã o , c o m o já d e m o n s t r a d o esquema- viés e a imprecisão e, dessa f o r m a , reflete o erro total. Exatidão,
t i c a m e n t e (Figura 13-6). Aspectos d e t a l h a d o s d e estatística d e q u e p o r si só é u m t e r m o qualitativo, é i n v e r s a m e n t e r e l a c i o n a d a
calibração são b a s t a n t e complexos, mas algumas relações de apro- c o m a "incerteza" de m e d i ç ã o , q u e p o d e ser q u a n t i f i c a d a , c o m o
x i m a ç ã o são revisadas aqui. Se a f u n ç ã o de calibração é linear e descrita a d i a n t e (Tabela 13-1).
a imprecisão da resposta d o sinal é a m e s m a ao longo d o intervalo C o m relação à veracidade, os conceitos d e recuperação, oscila-
de m e d i ç ã o analítica, o desvio-padrão analítico (SDA) d o m é t o d o ção e contaminação t a m b é m p o d e m ser considerados. A recupera-
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 13 211

TABELA 13-1 ' Visão Geral dos Termos Qualitativos e TABELA 13-2 | Fatores C o r r e s p o n d e n t e s a Limites C l 95%
1
Medidas Quantitativas Relacionadas com o para um SD (o número de graus de liberdade
I D e s e m p e n h o de M é t o d o •í N - 1 )
Conceito Qualitativo Medida Quantitativa Cl 95%-
N Inferior Superior
Veracidade Wés
0 grau de concordância entre o Uma medida do erro sistemático 20 0,760 ' ,460
valor médio e o "valor 30 0,797 " ,346
verdadeiro" 40 0,819 1,283
Precisão Imprecisão (SD) 50 0,835 1,243
Repetibilidade fintramedida) Uma medida de dispersão de 60 0,848 1,217
Precisão intermediária (longo erros aleatórios 70 0,857 1,198
prazo) BO 0,865 1,183
Reprodutibilidade 30 0,872 1,171
(interlaboratorial) 100 0,878 1,161
Exatidão Erro de medição 150 0,898 1,128
0 grau de concordância entre uma Compreende influências sistemáticas 200 0,911 1,109
única medida com o "valor e aleatórias 250 0,919 1,096
verdadeiro" 300 0,926 1,087

2
cão é a fração ou a u m e n t o de percentual de concentração q u e é ^ T ® in Escorrida ^ intercorri da
medida em relação ao valoT adicionado. Experimentos de recu-
peração são geralmente realizados em análises de drogas. Podemos Em estudos laboratoriais de variação analítica, são as estimativas
distinguir entre recuperação de extração, o que f r e q ü e n t e m e n t e é de imprecisão que são obtidas. Q u a n t o maior o n ú m e i o de obser-
interpretado como a fração do composto que é obtido de u m vações, mais corretas são as estimativas. C o m u m e n t e o n ú m e r o
processo de extração, e a recuperação medida pelo procedimento 20 é tido como u m n ú m e r o razoável de observações (p. ex., suge-
analítico inteiro, em que a adição de u m padrão interno com- rido pela orientação d o CLSI sobre o tema). Para estimar tanto a
pensa as perdas do procedimento de extração. A recuperação de imprecisão intracorrida q u a n t o a total, u m a abordagem c o m u m
quase 100% é u m a condição indispensável para u m grau de é medir amostras de controle em duplicata em u m a série de cor-
veracidade elevado, mas isso n ã o garante resultados imparciais, ridas. Por exemplo, pode-se medir u m controle em duplicata para
mais de 20 corridas, nesse caso 20 observações estão presentes n o
devido à possível inespecificidade contra componentes da matriz
que diz respeito a ambos os componentes. Pode-se notar aqui que
n ã o ser detectada pelo experimento de recuperação. A oscilação
a dispersão de médias (xm) das duplicatas é dada como
é causada por instabilidade de reagente ou desgaste de instru-
m e n t o ao longo d o tempo, de m o d o que a calibração torna-se
^ MI: ^ ^ & miemorrida
tendenciosa. A contaminação também deve ser próxima de zero
para garantir resultados imparciais.
A partir dos 20 c o n j u n t o s de duplicatas, p o d e m o s derivar o S D
intracorrida utilizando a fórmula de atalho:

Precisão SD2 irirrac01-rtda= Sdj2/(2 x 20)


A precisão p o d e ser definida como o grau de concordância entre
os resultados independentes de medidas obtidas sob condições onde, d, refere-se à diferença entre o c o n j u n t o i° de duplicatas.
estipuladas. 5 O gra^ de precisão é n o r m a l m e n t e expresso com Ao estimar SDs, o conceito graus de liberdade (df) é utilizado.
base em medidas estatísticas de imprecisão, como o S D ou CV, Em u m a situação simples, o n ú m e r o de graus de liberdade iguala-
q u e é, então, inversamente relacionado com a precisão. Impreci- se a N - 1 Para N duplicatas, o n ú m e r o de graus de liberdade é
são de medições é exclusivamente relacionada com o e r r o alea- N (2 - 1) = N. Assim, ambos os componentes de variância são
tório de medições e não tem qualquer relação com a veracidade
derivados dessa forma. A vantagem dessa abordagem é que a
das medições. estimativa intracorrida baseia-se em várias corridas, fazendo com
A precisão é especificada como a seguir: 5 que u m a estimativa média seja obtida, em vez de apenas u m a
Repetibilidade: grau de concordância entre os resultados de medi-
estimativa de u m a corrida particular, se todas as 20 observações
ções sucessivas efetuadas nas mesmas condições (isto é, cor- tiverem sido obtidas na mesma corrida. O m é t o d o descrito é u m
r e s p o n d e n d o à precisão intracorrida). exemplo simples de análise de componente de variância.
Reprodutibilidade: grau de concordância entre os resultados de
N ã o há nada definitivo sobre o n ú m e r o 20 selecionado. Geral-
medições realizadas sob condições de medições variadas (p. mente a estimativa de imprecisão melhora com o aumento do
ex., tempo, operadores, calibradores, lotes de reagentes).
número de observações disponíveis. Na Tabela 13-2 fatores corres-
Duas especificações de reprodutibilidade são f r e q ü e n t e m e n t e pondentes a intervalos de confiança (CIs) de 9 5 % são dados em
utilizadas: precisão intercorrida ou total n o laboratório, em função do t a m a n h o de amostra para simples estimativa de SD de
geral denominada precisão intermédia e precisão interlaborato- acordo com a distribuição X 2. Esses fatores fornecem orientações
rial (p. ex., como foi observado nos esquemas de avaliação e
sobre a validade de estimativas de SDs para precisão. Suponha que
qualidade externas [EQAS]) (Tabela 13-1). tenhamos estimado a imprecisão de SD de 5,0 com base de N =
O desvio-padrão total (o T ) pode ser dividido em componentes
20 observações. Da Tabela 13-2 obtemos os percentis 2,5 e 97,5:
intra e intercorridas utilizando os princípios dos componentes
de análises de variância (variância é o quadrado de SD): 5,0 x0,76 c o < 5 , 0 x 1 , 4 6
212 PARTE III Operações Laboratoriais

Perfil de Precisão
A precisão g e r a l m e n t e d e p e n d e da c o n c e n t r a ç ã o d o analito a ser
c o n s i d e r a d o . A a p r e s e n t a ç ã o de precisão e m f u n ç ã o da concen-
tração d o analito é o perfil de precisão, o q u e é n o r m a l m e n t e
r e p r e s e n t a d o e m t e r m o s de S D o u C V c o m o u m a f u n ç ã o de
CV
c o n c e n t r a ç ã o d o analito (Figura 13-7, A - Q . A l g u n s exemplos
típicos p o d e m ser considerados. Primeiro, o S D p o d e ser cons-
t a n t e (isto é, i n d e p e n d e n t e da concentração), assim c o m o m u i t a s
vezes o é para analitos c o m faixa l i m i t a d a d e valores (p. ex., ele-
crólitos). Q u a n d o o S D é c o n s t a n t e , o C V varia i n v e r s a m e n t e à
c o n c e n t r a ç ã o (isto é, é alto na p a r t e inferior da faixa alta, e baixo SD
n a p o r ç ã o alta d o intervalo). Para analitos c o m faixas mais exten-
sas (p. ex., h o r m ô n i o s ) , o S D f r e q ü e n t e m e n t e a u m e n t a à m e d i d a
q u e a c o n c e n t r a ç ã o d o analito t a m b é m a u m e n t a . Se existe u m a Concentração d e analito
relação p r o p o r c i o n a l , o C V è c o n s t a n t e . Isso p o d e , f r e q ü e n t e -
m e n t e , se aplicar a u m a g r a n d e p a r t e da faixa de m e d i ç ã o analí-
tica. N a realidade, essa relação é a n t e c i p a d a p o r u m erro de
m e d i ç ã o r e s u l t a n t e da imprecisão d e v o l u m e d i s p e n s a d o . M u i t a s
vezes, existe u m a relação mais complexa. N ã o raro, o S D é rela-
tivamente c o n s t a n t e na p o r ç ã o inferior da faixa, de m a n e i r a q u e SD .'
o C V a u m e n t a n a área p r ó x i m a ao limite de detecção. E m con- B
centrações intermediárias, o C V p o d e ser r e l a t i v a m e n t e cons-
t a n t e e talvez d e c l i n e u m p o u c o e m c o n c e n t r a ç õ e s crescentes.
/
Linearidade
Linearidade refere-se à relação entre os valores m e d i d o s e espera- CV
dos d e n t r o d o intervalo d e m e d i ç ã o analítica. A linearidade p o d e
ser c o n s i d e r a d a e m relação às concentrações real ou a p a r e n t e d o
Concentração d e analilu
analito. Neste ú l t i m o caso, u m a diluição seriada d e u m a a m o s t r a
p o d e ser estudada. Isso é m u i t a s vezes realizado p o r i m u n o e n s a i o s , l
cada caso é investigado para d e t e r m i n a r se a c o n c e n t r a ç ã o m e d i d a I
l
d i m i n u i c o n f o r m e o esperado, d e acordo c o m o fator d e diluição.
l
A diluição geralmente é Tealizada c o m a matriz d e amostra apro-
priada (p. ex., soro h u m a n o individual o u agrupado). '
A avaliação da l i n e a r i d a d e p o d e ser realizada de diversas ' SD /
m a n e i r a s . U m a simples, m a s subjetiva, é avaliar v i s u a l m e n t e se a i
relação e n t r e a c o n c e n t r a ç ã o m e d i d a e e s p e r a d a é linear o u n ã o . 1 /
U m a avaliação mais f o r m a l p o d e ser realizada c o m base e m testes 1
\
estatísticos. Vários p r i n c í p i o s p o d e m ser aplicados aqui. Q u a n d o V /
m e d i ç õ e s repetidas estão disponíveis e m c a d a c o n c e n t r a ç ã o , a \ /
\ CV
variação aleatória e n t r e as m e d i ç õ e s e variação e m t o r n o de u m a
l i n h a de regressão estimada p o d e ser estatisticamente avaliada
(pelo teste F). Essa a b o r d a g e m t e m sido criticada, pois relaciona
apenas a m a g n i t u d e d o s e r r o s aleatório e sistemático, sem con- Concentração de analito
siderar os desvios absolutos d e l i n e a r i d a d e . Q u a n d o significativa
não-linearidade é e n c o n t r a d a , essa p o d e ser útil para explorar
Figura 13-7 Relações entre a concentração do analito e SD/CV. A,
O SD é constante, assim a C V varia inversamente à concentração do
alternativas não-lineares p a r a regressão linear (isto é, p o l i n ó m i o s
analito. B, A C V é constante em virtude da relação proporcional entre
d e graus mais elevados). 2
concentração e SD. C, Ilustra uma situação mista com SD constante em
O u t r a a b o r d a g e m c o m u m e n t e aplicada p a r a d e t e c t a r a não-
faixa baixa e uma relação proporcional com o restante do intervalo de
l i n e a r i d a d e é avaliar os resíduos d e u m a l i n h a d e regressão esti-
medição analítica.
m a d a e testar se os desvios positivos e negativos estão distribuídos
a l e a t o r i a m e n t e . Isso p o d e ser realizado p o r corridas teste (veja a
seção Análise de Regressão). U m a c o n s i d e r a ç ã o adicional p a r a
avaliar curvas d e diluição q u e deve ser levada e m c o n t a é se u m a as m e d i ç õ e s estão d e n t r o das tolerâncias declaradas pela impre-
l i n h a d e regressão estimada passa ou n ã o p o r zero. A l é m disso, cisão e viés d o m é t o d o . 5 N a prática, o limite s u p e r i o r é f r e q ü e n -
os testes de l i n e a r i d a d e estão relacionados c o m a avaliação de t e m e n t e d e f i n i d o p e l o limite d e l i n e a r i d a d e d e resposta d o ins-
veracidade s o b r e o intervalo de m e d i ç ã o analítica. A presença de
t r u m e n t o , e o limite i n f e r i o r c o r r e s p o n d e ao limite de quantifi-
l i n e a r i d a d e é u m a c o n d i ç ã o indispensável para u m elevado grau cação mais baixo ( L o Q - ver adiante). N o r m a l m e n t e presume-se
d e veracidade. U m a o r i e n t a ç ã o d o C L S I sugere p r o c e d i m e n t o ( s ) q u e as especificações d o m é t o d o se aplicam e m t o d a a faixa d e
de avaliação da linearidade. 2 m e d i ç ã o analítica. N o e n t a n t o , p o d e haver t a m b é m situações e m
q u e diferentes especificações sejam aplicadas aos diferentes inter-
Intervalo de Medição Analítica valos de m e d i ç ã o analítica. E preciso, a i n d a , estar c o n s c i e n t e se
U m intervalo d e m e d i ç ã o analítica ( i n t e r v a l o d e m e d i ç ã o , faixa S D ou C V é especificado d e n t r o d e certos limites d o intervalo
relatável) é o intervalo d e c o n c e n t r a ç ã o d o analito s o b r e o q u a l d e m e d i ç ã o analítica (ver perfil d e precisão).
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 13 213

Limite de Detecção* 0,5


O l i m i t e d e d e t e c ç ã o (LoD) é c l i n i c a m e n t e i m p o r t a n t e para
m u i t o s analitos, e s p e c i a l m e n t e p a r a os h o r m ô n i o s . A p r i m e i r a
0,4 Distribuição de valores de branco
geração d e ensaios d e h o r m ô n i o s q u a s e s e m p r e a p r e s e n t a alto
L o D , t o r n a n d o os r e s u l t a d o s baixos c l i n i c a m e n t e inúteis. O hor-
LoB
m ô n i o e s t i m u l a n t e d a tiróide (TSH) é u m b o m exemplo. C o n - Distribuição de valores d e amostra
(D 0 , 3
f o r m e os m é t o d o s d e análise f o r a m s e n d o aperfeiçoados, bai-
x a n d o o L o D , baixos resultados d e T S H p u d e r a m ser distingui-
A «
5
ai / \
d o s d o limite i n f e r i o r d o i n t e r v a l o de referência, t o r n a n d o o teste g 0,2 / BhLJ
Cl
útil p a r a o d i a g n ó s t i c o de h i p e r t i r e o i d i s m o .
\
Conceitos 0,1
C o n v e n c i o n a l m e n t e , o L o D t e m sido d e f i n i d o c o m o o m e n o r
valor q u e excede, d e f o r m a significativa, as m e d i ç õ e s d o b r a n c o . Aliei
0,0
Assim, o limite foi e s t i m a d o c o m base e m m e d i ç õ e s repetidas d o 1 2 3 4
b r a n c o e relatadas c o m o a m é d i a mais 2 ou 3 S D s d e m e d i d a s Concentração observada
d o b r a n c o . Existem alguns p r o b l e m a s c o m essa a b o r d a g e m con-
vencional. 1 5 P r i m e i r o , a distribuição d o s valores d o b r a n c o fre- 0,5-
q ü e n t e m e n t e é assimétrica, t o r n a n d o a aplicação de estatística
p a r a m é t r i c a i n a d e q u a d a (Figura 13-8, A). E m s e g u n d o lugar,
m e d i ç õ e s repetidas d e u m a a m o s t r a c o m u m a c o n c e n t r a ç ã o ver- 0.4
LoB LoD
dadeira, e x a t a m e n t e igual a o limite estatístico de significância
para m e d i d a s d o b r a n c o , r e s u l t a r ã o e m u m a distribuição c o m
|0,3
5 0 % d o s valores inferiores e 5 0 % e x c e d e n d o o limite e m viTtude "O
d o erro de m e d i ç ã o aleatório (Figura 13-8, A). A p e n a s se a con- B c
c e n t r a ç ã o v e r d a d e i r a da a m o s t r a for s u p e r i o r ao limite de signi- 9
O 0,2
ficância poder-se-á ter certeza d e q u e o valor da m e d i d a excederá
o limite c o m u m a p r o b a b i l i d a d e s u p e r i o r a 5 0 % (Figura 13-8j B).
E m s e n t i d o estatístico, deve-se levar e m c o n t a n ã o apenas a pro- 0,1
b a b i l i d a d e de q u e n ã o h a j a analito p r e s e n t e q u a n d o o ensaio
detecta u m sinal ( u m erro T i p o I), mas t a m b é m a p r o b a b i l i d a d e /
- f t e t o Alfrt
d e n ã o se detectar a p r e s e n ç a d o analito q u e r e a l m e n t e está 0.0
0 2 4 6 8 10
presente (um erro T i p o II).
T e n d o u m a d i s t r i b u i ç ã o assimétrica dos valores d o b r a n c o e Concentração observada
aplicando-se u m nível d e significância (alfa, a ) d e 5 % (Figura
Figura 13-8 Perfil de distribuição de valores de branco, que é
13-8, A), o p r o c e d i m e n t o m a i s direto p a r a a estimativa d o limite
truncado em zero e a distribuição de valores de amostra. A, Quando a
d e significância é a aplicação d e u m p r i n c í p i o n ã o - p a r a m é t r i c o
concentração verdadeira da amostra se iguala ao LoB, 50% das medidas
b a s e a d o e m valores o r d e n a d o s p a r a a estimativa d o percentil 95. 12
excedem LoB. B, Em concentração verdadeira de amostra igual a LoD,
T e n d o classificado N valores d e a c o r d o c o m o t a m a n h o , o per-
(100% - P) (aqui 95%) das medidas excedem IxiB
centil 9 5 é d e t e r m i n a d o ; Perc 9 5 é o valor ( N [ 9 5 / 1 0 0 ] + 0,5) da
observação o r d e n a d a . E m caso d e valoT não-inteiro, a interpola-
ção é realizada e n t r e valores vizinhos (ver exemplo). O percentil
limite da distribuição d o b r a n c o , q u e c o r t a o p e r c e n t u a l a n a çao d e a m o s t r a é gaussiana e, n e s t e caso, o percentil 5 d a distri-
e x t r e m i d a d e s u p e r i o r da distribuição, será d e s i g n a d o a seguir b u i ç ã o p o d e ser calculado a p a r t i r da m é d i a e de S D c o m o
c o m o limite de b r a n c o (LoB):

—1,65 SDq
L o B = Perc 100-a

o n d e , xra5 e S D s são a m é d i a e o desvio-padrão de m e d i ç õ e s d e


Para resolver o nível d e erro T i p o II, h á q u e se c o n s i d e r a r a a m o s t r a , respectivamente, e 1,65 é o valor d e x q u e t e m u m a
c o n c e n t r a ç ã o m í n i m a d e a m o s t r a q u e resulta e m valores d e con- p r o b a b i l i d a d e c u m u l a t i v a d e 9 5 % (Pr[x < 1,65 SDs]) = 0,95).
c e n t r a ç ã o q u e e x c e d e m o LoB c o m u m a p r o b a b i l i d a d e específica. Globalmente, temos
Se o nível d e erro T i p o II é f i x a d o e m 5 % , 9 5 % das medições
d e v e m exceder o L o B (Figura 13-8, B). N o r m a l m e n t e a distribui-
L o D = LoB + 1,65 S D C

*Os estudantes devem estar conscientes de que a definição de LoD está em


evolução. A maioria dos laboratoristas dos Estados Unidos considera que o LoD N o caso d e a distribuição d e a m o s t r a n ã o ser gaussiana, o per-
seja equivalente ao LoB. Em nossa opinião, a palavra "limite" é uma escolha centil 5 da distribuição d e a m o s t r a p o d e r á ser e s t i m a d o n ã o
ruim para o "LoD", que foi definido anteriormente. O conceito descrito aqui p a r a m e t r i c a m e n t e da m e s m a f o r m a q u e o LoB. N o e n t a n t o , a
poderia ser mais bem designado como "menor concentração detectável de forma estimativa p a r a m é t r i c a é mais eficaz e deve ser utilizada s e m p r e
confiável", mas temos dúvidas de que a sigla LCRD irá substituir LoD num
q u e possível.
futuro próximo - os editores.
214 PARTE III Operações Laboratoriais

Características do Branco e da Amostra 0,5


A amostra de branco(s) deve ser o mais semelhante possível a LoB LoD
amostras normais de pacientes (p. ex., para ensaio de uma droga
0,4
pode ser soro ou plasma livre da droga, e não apenas uma
solução-tampão). Para garantir que as medições sejam represen-
tativas, a compilação de medidas de certo n ú m e r o de amostras
Ü 0,3-
\
de branco pode ser preferível (p. ex., u m c o n j u n t o de 5 a 10 ou
mais amostras de branco de soro). Para compostos endógenos, "o \
<03
podem-se utilizar amostras livres do componente a ser dosado (p.
ex., precipitação com auxílio de u m anticorpo) pela degradação \ /
X
enzimática ou por adsorção em carvão. / \
N o que diz respeito à(s) amostra(s) com baixa concentração 0,1 /
de analito, prefere-se u m c o n j u n t o de soros de pacientes con- /
tendo o analito (p. ex., uma droga) em vez de amostra sérica única
derivada da mistura de várias amostras. Para compostos endóge- 0,0
0,00 0 , 0 2 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0 , 1 4 0,16 0,18
nos, de m o d o ideal u m c o n j u n t o de amostras com faixa baixa de
Concentração observada
concentração pode ser utilizado. U m a estimativa de SD, pode,
então, ser obtida a partir de medições repetidas do c o n j u n t o de Figura 13-9 Distribuições registradas de valores de 100 brancos e
amostras (p. ex., 10 medidas de cada uma das 10 amostras [ver o 100 amostras paia o exemplo de h o r m ô n i o hipotético. O LoB estimado
exemplo apresentado mais adiante neste capítulo]). As medições (= percentil 95 de distribuição de valores de branco) e o LoD estimado
devem ser realizadas em dias diferentes para que o SD reflita a estão indicados. Os SDs foram obtidos a partir da distribuiçfio de
variação analítica total. valores de amostra (na verdade, como uma estimativa de mistura de 10
medidas, que aqui estão combinadas).
Relatórios de Resultados
Em u m laboratório o LoB p o d e ser utilizado para decidir se a
apresentação de resultados deve ser relatada aos pacientes como Sensibilidade Analítica
"detectada" ou "não-detectada". Não detectado (isto é, um resul- O limite de detecção de u m método não deve ser c o n f u n d i d o
tado abaixo do LoB) significa que a concentração verdadeira é com a suposta sensibilidade analítica. Sensibilidade analítica é a
inferior ao LoD com 100 - P por cento de garantia, o n d e p é o capacidade de u m método analítico avaliar as pequenas variações
nível de erro do T i p o II, que freqüentemente é fixado em 5%. de concentração do analito. Isso é muitas vezes expresso, como
Assim, u m resultado inferior ao LoB deverá ser relatado como a inclinação da curva de calibração. 5 N o entanto, além da incli-
"inferior ao LoD" e não como "inferior ao LoB" ou "zero". U m nação da função de calibração, a variação aleatória da função de
resultado superior ao LoB (isto é, "detectado") significa que a calibração também deve ser considerada. Na verdade, a sensibili-
concentração verdadeira excede a zero com 100 - a por cento de dade analítica depende da relação entre o SD da função de cali-
garantia (onde a é o nível de erro do Tipo I) e o resultado deveria bração e o declínio. C o m o mencionado anteriormente, quanto
ser relatado como "superior a zero" ou "detectado". Resultados m e n o r a variação aleatória de resposta do instrumento e mais
iguais ou superiores ao L o Q (ver adiante) são relatados como intensa a inclinação, maior a capacidade de distinguir pequenas
resultados quantitativos. diferenças entre as concentrações do analito. Na realidade, a sen-
sibilidade analítica depende da precisão do método.
Um Exemplo de Estimativa de LoD de um Ensaio
Consideramos aqui u m ensaio h o r m o n a l hipotético, para o qual
o fabricante ou u m laboratório de pesquisa pretende estimar o Limite de Quantificação
LoD, Os valores de a = P = 5% são escolhidos. Supõe-se que o A incerteza relativa de medições em ou apenas que excedam o
fabricante tenha disponíveis 10 amostras de pacientes o n d e o L o D pode ser grande e muitas vezes u m resultado quantitativo
h o r m ô n i o esteja ausente em função de doença ou supressão n ã o é relatado. O limite inferior para a comunicação de resultados
farmacológica. Dez medidas de cada amostra de branco são rea- quantitativos, o LoQ, refere-se ao erro total a ser considerado
lizadas em 10 dias diferentes para garantir que a variação total aceitável para u m ensaio. A partir de u m perfil de precisão para
do ensaio seja refletida. Apenas valores não-negativos são forne- a análise e uma avaliação de viés na faixa baixa, L o Q p o d e ser
cidos pelo ensaio e 100 medições não-simétricas de branco com determinado em relação às especificações do método. Por exemplo,
relação à média são distribuídas (Figura 13-9) Assim, o LoB é u m laboratório pode especificar que o erro total (p. ex., expresso
estimado não-parametricamente como o percentil 95 da distri- aqui com viés + 2 SD) de u m ensaio é inferior a 4 5 % (correspon-
buição de medição. O percentil 95 corresponde a 95,5 da obser- d e n d o a u m viés de 15% e u m C V de 15%) da concentração de
vação ordenada (=100 x [95/100] + 0,5). As observações 95 a e medição. Neste caso o L o Q é o m e n o r valor de ensaio o n d e essa
96" têm os valores 0,0539 e 0,0548 U / L , respectivamente. A especificação é cumprida. L o Q constitui o limite inferior da faixa
interpolação linear entre essas observações resulra em LoB esti- atribuível a resultados de u m ensaio quantitativo.
mado de 0,0544 U / L (=0,0539 + 0,5 x [0,0548 - 0,05391).
Amostras com baixas concentrações são obtidas de pacientes.
Aqui estamos s u p o n d o que uma amostra é obtida a partir de Especificidade Analítica e de Interferência
cada 10 pacientes e que cada amostra é ensaiada 10 vezes (Figura A especificidade analítica é a capacidade de u m procedimento
13-9). U m a estimativa de mistura de SDs foi calculada 12 (neste determinar, exclusivamente, a concentração de u m analito alvo
caso, a raiz quadrada da média das variâncias) e é igual a 0,0299 na presença de substâncias ou fatores potencialmente interferen-
U / L . Uma estimativa do LoD é então obtida: tes na matriz da amostra (p. ex., hiperlipemia, hemólise, bilirru-
bina, anticoagulantes, anticorpos e produtos de degradação). Por
L o D = LoB + 1 . 6 5 S D s = 0 . 0 5 4 4 + 1 . 6 5 x 0.0299 = 0.104 U /L. exemplo, n o contexto de ensaio de uma droga, a especificidade
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 13 215

TABELA 13-3 Hierarquia de P r o c e d i m e n t o para Estabelecer Outros princípios amplamente utilizados consistem em rela-
Especificações de Qualidade Analítica para cionar metas a limites fixados pelas entidades reguladoras (p. ex.,
Clinicai LaboTatary Improvimenis Avaenàments [ C L I A '88]), o u enti-
M é t o d o s Laboratoriais
dades profissionais (p. ex., a meta de tendência de 3 % para o
I Avaliação do efeito de desempenho analítico sabre resultados clínicos
colesterol sérico [originalmente definido 5%]) estabelecidas pelo
em cenários clínicos específicos
The National Cholesterol Educarion Program. A Tabela 13-4 fornece
II Avaliação do efeito de desempenho analítico sobre decisões clínicas
u m a visão geral de metas para alguns analitos importantes. As
em geral:
metas são dadas em unidades de concentração que utilizam níveis
A. Dados baseados em componentes com variação biológica
de decisão ou concentrações críticas 0 0 , (p- ex., limites de refe-
B. Dados baseados em análise de opiniões de médicos
rência ou intervalos terapêuticos). Foi sugerido que o C V analí-
III Recomendações profissionais publicadas:
A. De corpos de especialistas nacionais e internacionais
tico de u m método não deve exceder u m quarto dos limites de
B. De grupos de especialistas locais ou individuais
CLIA, a fim de incluir a possibilidade de d e s e m p e n h o instável
IV Metas de desempenho estabelecidas por: do método e a utilização de procedimentos de controle de qua-
A. Organismos reguladores (p. ex., CLIA) lidade eficaz em termos de custos.
B, Organizadores de esquemas EQA
V Metas baseadas no estado real da arte:
A. Dados de EGA/esquema de testes de aptidão Métodos Qualitativos
B. Dados de publicações recentes sobre a metodologia Métodos qualitativoSj que atualmente estão g a n h a n d o cada vez
mais utilidade na forma de teste laboratorial remoto (POCT), são
concebidos para distinguir entre resultados abaixo ou acima de
u m valor de corte pTedefinido. Observe que o p o n t o de corte
não deve ser c o n f u n d i d o c o m o limite de detecção. Esses testes
é de relevância em relação a metabólitos da droga. A interferên- são avaliados, principalmente, com base na capacidade de classi-
cia de hiperlipemia, hemólise e biliirubina geralmente é depen- ficar corretamente os resultados c o m relação ao valor de corte.
dente da concentração e pode ser quantificada como u m a f u n ç ã o A probabilidade de classificar u m resultado como positivo
da concentração de compostos interferentes. C o m relação aos (superior ao valor de corte), n o caso em que o valor verdadeiro
imunoensaios, a interferência de proteínas (geralmente anticor- ultrapasse o valor de corte, é designada como sensibilidade
pos heterofílicos) deve ser reconhecida. clínica. Classificar u m resultado como negativo (abaixo d o valor
de corte), n o caso de o valor verdadeiro ser inferior ao valor de
METAS ANALÍTICAS corte, recebe o n o m e de especificidade clínica. Determinações da
O estabelecimento de metas para a qualidade analítica pode ser sensibilidade e especificidade clínicas baseiam-se na comparação
baseado em vários princípios. Em u m a conferência sobre o de resultados do ensaio c o m u m padrão-ouro. O padrão-ouro
assunto, foi sugerida u m a hierarquia consensual 1 4 (Tabela 13-3). pode ser u m teste i n d e p e n d e n t e q u e mede o mesmo analito, mas
O nível superior da hierarquia especifica metas com base em t a m b é m pode ser u m diagnóstico clínico determinado por
resultados clínicos de determinações clínicas específicas, que é métodos clínicos definitivos (p. ex., testes radiográficos, continua-
u m princípio lógico. ção ou análise de resultados). A sensibilidade e a especificidade
N o entanto, metas analíticas relacionadas com a variação clínicas p o d e m ser dadas c o m o u m a fração ou como u m a por-
biológica têm atraído considerável interesse. 7 Inicialmente, a centagem após multiplicação por 100. Erros-padrão de estimati-
imprecisão era o foco e foi sugerido que o SD analítico (CTA) vas são obtidos a partir de distribuição binomial.
deveria ser inferior a metade da variação biológica intra-indivi- U m a abordagem para a determinação de desempenho regis-
dual, o intra . B . A justificativa para essa relação á o princípio de trado de teste, em termos de sensibilidade e especificidade clíni-
adição de variâncias. Se u m material estiver sendo submetido à cas, é determinar a concentração verdadeira d o analito utilizando
monitoração de u m analito, a variação aleatória de medição para u m método de referência i n d e p e n d e n t e . Q u a n t o mais próxima
medição consiste em ambos os componentes de variação bioló- estiver a concentração d o p o n t o de corte, maiores freqüências de
gica e analítica. O SD total para a variação aleatória d u r a n t e a erro serão esperadas. N a verdade, o p o n t o de corte é definido de
monitoração é d e t e r m i n a d o pela relação tal forma que para as amostras com concentração verdadeira,
exatamente igual ao p o n t o d e corte, 5 0 % dos resultados serão
1 _2 . 2
° T = & tnrra-B ^ A positivos e 5 0 % serão negativos. As concentrações acima e abaixo
d o ponto de corte em que resultados repetidos são 9 5 % positivos
o n d e o c o m p o n e n t e biológico inclui a variação pré-analítica. Se ou 9 5 % negativos, respectivamente, foi designado o "intervalo
CA é igual ou inferior à metade do valor de o iri[ra , Bj a T apenas 95%" para o p o n t o de corte para aquele método (observe que
excede a intia , B p o r menos de 12%. Assittij se essa relação se man- este não é u m Cl; Figura 13-10).4 Assim, em u m a avaliação qua-
tiver verdadeira, a imprecisão analítica apenas acrescentará ruído litativa de u m teste, é importante especificar a composição de
aleatório limitado em u m a situação de a c o m p a n h a m e n t o . amostras em detalhes. D e acordo com orientação recente do
Além de imprecisão, metas para viés t a m b é m devem ser con- CLSI sobre o tema, recomenda-se preparar amostras com u m a
sideradas. O viés admissível p o d e ser relacionado com a largura concentração igual à concentração do ponto de corte e com
do intervalo de referência, que é determinado pela combinação concentrações 2 0 % abaixo e acima d o ponto. 4 Vinte réplicas de
de variações biológicas intra e intermateriais, em adição à varia- medidas são então realizadas em cada concentração e as porcen-
ção analítica. C o m base em considerações relativas à porcenta- tagens de resultados positivos e negativos são registradas. C o m
gem incluída em u m intervalo na presença de viés analítico, foi base nessas medidas, pode-se avaliar se o "intervalo 9 5 % " para o
sugerido que p o n t o de corte está dentro o u fora desse intervalo. C o m relação
Viés < 0,25 (a 2 i n m . f i + a2intE1,B),0.5
, ao procedimento sugerido, deve-se estar consciente das limitações
associadas a medições repetidas de misturas de amostra. As medi-
onde, üínt€r,B é o componente S D biológico intermateriais. ções individuais de amostras de pacientes c o m concentrações
216 PARTE III O p e r a ç õ e s Laboratoriais

TABELA 13-4 Metas Analíticas


METAS-LIMITE
D E S S E M FENHO M E T A S DE PRECISÃO FIXADAS ( E R R O M Á X I M O
ACEITÁVEL, ( S D MÁXIMO] TOTAL)
Analito Nível de DeGisão, xc CLIA'86 xB versus CL1A/4 Fraser4 CLIA ' 8 8

ROTINA QUÍMICA
Alanina aminotransfnrase 1 5 0 U/L 20% 2.5 6,1 10
Albumina 3,5 g/dL 10% 0,09 0,06 0,35
Fosfatase alcalina 150 Ü/L 30% 11 4,8 45
Amilase 100 U/L 30% 7,5 4,8 30
Aspartato aminotransferaso 1 30 U/L 20% 1,5 1,8 6,0
Bicarbonato 20 m m o l / L 0,46*
30 mmol/L 0,69*
Biliirubína, total 1 1,0 mg/dL 0,4 0,10 0,13 0,40
20 mg/dL 20% 1,0 2,6 4,0
Gás do sangue, PC02 35 m m Hg 5 m m Hg 1,3 0,84 5,0
50 m m Hg 5 m m Hg 1,3 1,2 5,0
Gás do sangue, PQ2 3 0 m m Hg 3 SD s 0,75 SD 5 3 SD 5
BO m m Hg 3 SD 0,75 SD 3 SD
195 m m Hg 3 SD 0,75 SD 3 SD
Gás do sangue, pH 7,35 0,04 0,01 0,01" 0,04
7,45 0,04 0,01 0,01" 0,04
Cálcio, total 1 7,0 mg/dL 1,0 0,25 0,07 1,0
10.8 mg/dL 1,0 0,25 0,11 1,0
13,0 m g / d L 1,0 0,25 0,13 1 0
Cloreto 1 90 mmol/L 5,0% 1,1 0,54 4,5
110 mmol/L 5,0% 1,4 0,66 5,5
Colesterol, total 1 200 mg/dL 10% 5,0 6,0 20
Colesterol, lipoproteína de alta densidade 35 mg/dL 30% 2,6 1,3 10,5
65 mg/dL 30% 4,9 2,3 19,5
Creatinoquinase 1 200 L / L 30% 15 23 60
Creatinoquinase, isoenzima M B 13 pg/L 3 SD 0,75 SD 1,2 3 SD
Creatinina 1,0 mg/dL 0,30 0,08 0,02 0,30
3,0 mg/dL 15% 0,11 0,07 0,45
Glicose 1
50 m g / d L 6,0 1,5 1,7 6,0
126 mg/dL 10% 3,15 4,2 12,6
200 mg/dL 10% 5,0 6,6 20
Ferro 150 ug/dL 20% 7,5 20 30
Lactato desidrogenase 300 U/L 20% 15 13 60
Lactato desidrogenase isoenzimas 100 U/L 30% 7,5 3,8 30
Magnésio 2,0 mg/dL 25% 0,13 0,04 0,50
Fosfato, inorgânico 4,5 mg/dL 0,19
Potássio 1 3,0 mmol/L 0,50 0,13 0,07 0,50
6,0 mmol/L 0,50 0,13 0,14 0,50
Proteína, total 1 7,0 g/dL 10% 0,18 0,10 0,70
Sódio 1 130 mmol/L 4,0 1.0 0,52 4,0
150 m m o l / L 4,0 1,0 0,60 4,0
Triglicerídeos 160 mg/dL 25% 1 17 40
Nitrogênio da uréia 1 27,0 mg/dL 9% 0,6 1,7 2,4
Acido úrico 6.0 m g / d L 17% 0,25 0,26 1,02

CLJA, Clinicai Ldboratorj Improviments Admendments


*Meta calculada a partir da metade da variação biológica intra-índividual, dados fornecidos par Fraser na ref. 7 ou como demarcado.
'Jvíêtodo de Referência/matenal credenciado pelo blauonal Referente System for Clinicai Laboratories
*Fraser CG. Bioiogicai variation m clinicai chemhtry An updãte- Coliated data, 1988-1991. Arch Paüuil Lab Med 1992; 116.916 23
s
Limites dos SDs sãa Wseddos em dados de. um grupo tle esjbeciaíistds do programa de Teste de Aptidão utilizado.
"Fraser CG. Generatioíi and application of arudy tical goals iji I abara tory medicine. A mui li deli' Instituto SuJictiote âi Sanita l991;27369-76 .

especificadas sao preferíveis p a r a q u e se o b t e n h a u m a c o m p r e e n - c o n j u n t o de a m o s t r a s d e p a c i e n t e s d e v e m ser realizadas. Para


são v e r d a d e i r a dos possíveis efeitos d e matriz. evitar diferenças artificiais i n d u z i d a s pela matriz, a m o s t r a s frescas
d e pacientes são o m a t e r i a l d e p r e f e r ê n c i a . U m a d i s t r i b u i ç ã o de
COMPARAÇÃO DE MÉTODO _ valores q u a s e u n i f o r m e sobre a faixa d e m e d i ç ã o analítica t a m b é m
C o m p a r a ç ã o das m e d i ç õ e s p o r dois m é t o d o s é u m a tarefa fre- é preferível. E m u m l a b o r a t ó r i o c o m u m , a c o m p a r a ç ã o d o s dois
q u e n t e e m l a b o r a t ó r i o s . D e p r e f e r ê n c i a , m e d i d a s paralelas d e u m m é t o d o s de c a m p o será a situação q u e ocorrerá c o m m a i s fre-
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Eslalíticas CAPÍTULO 13 217

Freqüência cumulativa
*-Alvc, = X v
9 5 %

Dado u m método de campo, algum viés ou não-especificidade


p o d e m estar presentes e os valores verdadeiro e alvo provavel-
m e n t e irão diferir entre si. Por exemplo, se medimos creatinina
por u m m é t o d o cromogênico, que co-determina alguns outros
componentes com a creatinina n o soro, provavelmente obtere-
5 0 %
mos u m valor-alvo maior do que q u a n d o utilizamos espectrome-
tria de massa por diluição isotópica específica (1D-MS) como
método de referência (isto é, o valor-alvo d o m é t o d o cromogênico
ultrapassa o valor verdadeiro determinado por medições repetiti-
vas com métodos de referência). Assin^ temos a relação

/ ^•Alvol ^-Vcrdfldeiroi VieS,


5 %

-2 1 O
U m a vez que os montantes de substâncias co-determinados p o d e m
variar de amostra para amostra, o viés provavelmente será um
Corte pouco diferente de amostra para amostra. Para u m conjunto repre-
sentativo de amostras de pacientes, podemos descrever os vieses
Figura 1 3 - 1 0 Distribuição de freqüência cumulativa de resultados associados a amostras individuais pela tendência central (média
positivos. O eixo x indica concentrações padronizadas para zero no ou mediana) e pela dispersão (Figura 13-11). Assim, o viés pode
ponto de corte (50% de resultados positivos), com unidade SD. ser dividido em u m a quantidade média, o viés médio e u m a parte
aleatória, viés aleatório. Para uma amostra individual, temos

^AIvoi ~ ^ -Verdadeiro!; + Viés Médio + Viés Aleatório,


qüência. M e n o s comumente, a comparação de u m m é t o d o de
campo com u m método de referência é realizada. Ao comparar Por exemplo, o método cromogênico de creatinina pode deter-
dois métodos d e campo, o enfoque é sobre as diferenças obser- minar, em média, valores de creatinina 15% mais elevados, o que
vadas. Nessa situação, não é possível estabelecer que u m c o n j u n t o constitui, assim, o viés médio. Para amostras individuais, o viés
de medições é o correto e, então, considerar o desvio d o outro particular pode ser ligeiramente superior ou inferior a 15%,
c o n j u n t o de medições a partir de concentrações presumidamente d e p e n d e n d o do c o n t e ú d o cromogênico real.
corretas. Em vez disso, a questão é saber se o novo m é t o d o pode
substituir u m existente sem uma mudança geral na medição de Viés Médio e Viés Aleatório
concentração. Para resolver essa questão, a dispersão das diferen- Levando os vieses médio e aleatório em conta, por u m método
ças observadas entre os pares de medições pelos métodos pode de campo, obtemos a seguinte expressão para u m a medida indi-
ser avaliada. Paia efetuar u m a análise formal e objetiva de dados, vidual de uma determinada amostra:
u m procedimei to estatístico com representação gráfica deve ser
aplicado. As abordagens comumente utilizadas são (1) u m gráfico =
Xaw +
= XvftdatitirDí + Viés Médio + Viés Aleatório; + ef
de diferença (viés), que mostra as diferenças em f u n ç ã o da con-
centração média de medições (gráfico de Bland-Altman); e (2) Para esse tipo de medição individual o erro total é o desvio
uma análise de regressão. Na seqüência, u m modelo de erro geral de x, d o valor verdadeiro,
é apresentado e aproximações estatísticas são demonstradas.
Erro total de x, - Viés Médio + Viés Aleatório, + e,
Modelo de Erro Básico
A ocorrência d e erros de medida está relacionada com característi- Assim, o etro total é composto de u m viés médio, u m com-
cas de desempenho do ensaio, primariamente com viés, imprecisão ponente de interferência aleatória relacionado com a matriz e,
e especificidade, como definida anteriormente. A influência global finalmente, u m elemento d e erro de medição aleatória. Este
desses fatores pode ser incorporada em u m modelo de erro. último c o m p o n e n t e pode ser avaliado a partir de medições repe-
tidas de uma determinada amostra pelo m é t o d o em questão e
Valor Verdadeiro e Valor-a Ivo pode ser expresso como u m SD (isto é, o SD analítico como
Levando-se em conta que u m m é t o d o analítico mede as concen- descrito anteriormente [inter ou intracorridasj). A estimativa de
trações de analito c o m alguma incerteza, é necessário distinguir outros elementos requer medidas paralelas entre o método em
o valor medido (x,) e o valor-alvo (X/y^) de u m a amostra subme- questão e u m m é t o d o de TefeTência, conforme explicado em
tida à análise por u m determinado método. detalhes posteriormente.
Este último é o resultado m é d i o que obteríamos se u m a certa A exposição acima define o erro total em termos um pouco
amostra fosse medida u m n ú m e r o infinito de vezes. O valor mais amplos do que muitas vezes ele é visto. U m a expressão
medido, provavelmente, se afasta do valor-alvo por alguma quan- tradicional de erro total é
tidade "aleatória" pequena (E). Para u m a determinada amostra
medida por u m método analítico, temos Erro total = Viés + 2 SD A

x, = X A + £f que muitas vezes é interpretado como o viés m é d i o mais 2 SD A .


Caso seja t o m a d a u m a perspectiva estatística monocaudal, a
Se o método é u m método de referência sem viés e inespecífico, expressão será modificada para Viés + 1,65 SD A , indicando que
o valor-alvo se iguala ao valor verdadeiro: 5 % dos resultados estão localizados fora d o limite. A interpreta-
218 PARTE III Operações Laboratoriais

"A Erros Grosseiros ou de Transcrição


O u t r o m o t i v o para oudiets em e s t u d o s de c o m p a r a ç ã o d e m é t o d o s
/
Distribuição de /\ / e n a prática diária são os erras grosseiros o u de transcrição. N o

medições da
mesma amostra
1
l
/ 1
passado, esse t i p o d e erro g e r a l m e n t e era associado à transferên-
cia m a n u a l d e resultados. H o j e e m dia, este tipo de erro n o r m a l -
m e n t e está r e l a c i o n a d o cora erros c o m p u t a c i o n a i s originários d e
interfaces e n t r e sistemas. Erros e m f o r m u l á r i o s d e p e d i d o s d e
/ e x a m e o u erros relacionados c o m m a n i p u l a ç ã o de f o r m u l á r i o s
/
\
/ de p e d i d o s p a r e c e m ser relativamente f r e q ü e n t e s (em e s t u d o s
\
V
sistemáticos f o r a m observados d e 1% a 5 % desses erros). N a fase
pós-analítica, i n t e r p r e t a ç ã o i n a d e q u a d a p o d e r á o c o r r e r (p. ex.,
relativo a intervalos de referência errôneos).
Distribuição de
desvios de valores-alvo
a partir de valor verdadeira
\
'
\
Modelo de Dados de Comparação de Método
para uma população de amostras A q u i c o n s i d e r a m o s n o s s o m o d e l o de erro e m relação à situação
V
de c o m p a r a ç ã o d e m é t o d o s . Para u m a d e t e r m i n a d a a m o s t r a

/
de pacientes /

/'
/ m e d i d a p o r dois m é t o d o s analíticos, 1 e 2, temos:
/

/
s '
*1.I =X1AIvoí + e l ; = Xverdadeiroi + V i é s M é d i o l + Viés A l e a t ó r i o l , +
ei,
Viés médio +
x2, =X2aívo, + E2,- = ^-VERDADE;ROÍ Viés M é d i o 2 + Viés Aleatório2, +
'*• "W e2j

A partir desse m o d e l o geral, p o d e r e m o s estudar algumas situa-


o
ções típicas. P r i m e i r o , a c o m p a r a ç ã o de u m m é t o d o de c a m p o a
Figura 13-11 Esquema de modelo de erro básico para medições u m m é t o d o de referência será tratada. Seg i n d o , a situação q u e
o c o r r e c o m m a i o r f r e q ü ê n c i a - a c o m p a r a ç ã o de dois m é t o d o s
por um método de campo.
Parte superior. A distribuição de medições repetidas da mesma amostra, de c a m p o - é c o n s i d e r a d a .
representando uma distribuição gaussiana em corno do valor-alvo (linha
vertical) da amostra, com uma dispersão correspondente ao desvio-padrão Comparação de um Método de Campo com um
analítico, OA- Método de Referência
Parte média-. Esboço esquemático de desvios de valor-alvo dos respectivos P o d e m o s c o m e ç a r s u p o n d o q u e o m é t o d o 1 é u m m é t o d o de
valores verdadeiros para uma população de amostras de pacientes. A dis- referência. Nesse caso, os c o m p o n e n t e s de viés p o r d e f i n i ç ã o
tribuição de uma forma arbitrária é demonstrada. A linha vertical indica d e s a p a r e c e m e t e m o s a seguinte situação:
a média de distribuição.
+
Parte inferior. A distância entTe zero e a média dos desvios de valor-alvo a xl; El; ^Verdadeiroi + El;
partir de valores verdadeiros representa o viés médio do método. x2, = X2AIvü1 + e2, = XyeidMklTOI + V i é s M é d i o 2 + Viés A l e a t ó r i o 2 j
+ E2;

A s diferenças e m p a r e l h a d a s tornam-se

4
{xl{ - xlj) = V i é s M é d i o 2 + Viés Aleatório2i (E2, - e l f )

T e m o s , assim, u m a expressão constituída poT u m t e r m o cons-


cão de viés c o m o s e n d o i d ê n t i c a ao viés m é d i o p o d e levar a u m t a n t e (o viés m é d i o d o m é t o d o 2) e dois t e r m o s aleatórios. O
erro total s u b e s t i m a d o . t e r m o viés aleatório é d i s t r i b u í d o e m t o r n o d o viés m é d i o , de
A interferência aleatória r e l a c i o n a d a c o m a matriz p o d e a c o r d o c o m u m a distribuição i n d e f i n i d a . O s e g u n d o t e r m o alea-
a s s u m i r várias f o r m a s . Essa p o d e ser u m c o m p o n e n t e de erro t ó r i o é u m a diferença e n t r e os dois erros de m e d i ç ã o aleatórios
aleatório adicional q u e o c o r r e r e g u l a r m e n t e (p. ex., c o m o foi q u e são i n d e p e n d e n t e s e, c o m u m e n t e , d e distribuição gaussiana.
o b s e r v a d o pelo p r i n c í p i o de Jaffé para a m e d i ç ã o de creatinina), S o b essas premissas, as diferenças e n t r e os erros de m e d i ç ã o
erro este q u e p o d e ser q u a n t i f i c a d o sob a f o r m a de u m S D ou aleatórios t a m b é m são aleatórias e gaussianas. N o e n t a n t o , lem-
CV. O p r o c e d i m e n t o m a i s direto é executar u m escudo compa- b r a m o s ao leitor q u e o S D para m é t o d o s analíticos quase s e m p r e
rativo b a s e a d o e m c o n j u n t o d e a m o s t r a s de pacientes, o n d e u m d e p e n d e d o nível d e c o n c e n t r a ç ã o , c o m o m e n c i o n a d o anterior-
d o s m é t o d o s é u m m é t o d o d e referência, c o n f o r m e explicado m e n t e . Para analitos c o m u m a vasta faixa de m e d i ç ã o analítica
mais à f r e n t e . (p. ex., alguns h o r m ô n i o s ) , t a n t o as interferências aleatórias rela-
O u t r a f o r m a d e i n t e r f e r ê n c i a aleatória relacionada c o m a c i o n a d a s c o m a matriz, c o m o o S D analítico, p r o v a v e l m e n t e são
matriz são erros grosseiros q u e o c o r r e m mais r a r a m e n t e , n o r m a l - d e p e n d e n t e s d a c o n c e n t r a ç ã o d e m e d i d a , m u i r a s vezes de m a n e i r a
m e n t e vistos n o c o n t e x t o d e i m u n o e n s a i o s e q u e dizem respeito a p r o x i m a d a m e n t e p r o p o r c i o n a l . Nesse caso p o d e ser mais útil
a interações inesperadas c o m a n t i c o r p o s . Esse t i p o de erro nor- avaliar as diferenças relativas - (x2j - xl;)/[(x2{ + xl)/2] - e, con-
m a l m e n t e irá se m o s t r a r c o m o u m p o n t o d i s c r e p a n t e (outher) e m s e q ü e n t e m e n t e , expressar m é d i a , viés aleatório e erro analítico
e s t u d o s de c o m p a r a ç ã o de m é t o d o s . U m a f o n t e b e m c o n h e c i d a c o m o p r o p o r ç õ e s . U m a alternativa é a p a r t i ç ã o d o intervalo d e
é a ocorrência de a n t i c o r p o s heterofílicos. Dessa forma, outliers m e d i ç ã o analítico total e m s e g m e n t o s (p. ex., três partes) e con-
d e v e m ser c o n s i d e r a d o s c u i d a d o s a m e n t e , e n ã o apenas descarta- siderar viés m é d i o , viés aleatório e erro analítico e m s e p a r a d o ,
dos d e u m p r o c e d i m e n t o de análise de d a d o s . e m cada u m desses segmentos. P r e f e r e n c i a l m e n t e , os s e g m e n t o s
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 13 219

p o d e m ser divididos relacionando-se concentrações consideradas A o considerar o protocolo de comparação, a orientação EP-
importantes para tomadas de decisões (p. ex., em Telação aos 9A2 do CLSI: Metfiod comparison and bias estima ti cm using patient
limites de intervalo de referência ou concentrações relacionadas sãmples sugere que, q u a n d o u m novo método é introduzido n o
com tratamento, ou ambos). laboratório como u m substituto para outro já estabelecido na
rotina, deve-se medir, por cada método, 40 amostras em duplica-
Comparação entre Dois Métodos de Campo tas. 3 Além disso, propõe-se que o fabricante do sistema analítico
Na comparação entre dois métodos de campo, as diferenças tenha feito u m estudo comparativo baseado em, pelo menos, 100
emparelhadas tornam-se amostras medidas em duplicata para cada método.
Embora essas orientações gerais sobre o t a m a n h o de amostras
(x2, - xl;) = (ViésMédio2 - Viés Médio 1) + (Viés Aleatório2, sejam úteis, outros aspectos são importantes. O poder estatístico
- Viés Aleatóriol,) + (e2, - el,) pode ser considerado como base para estabelecer u m t a m a n h o
adequado de amostra, tal como apresentado no âmbito de análise
Novamente, a expressão consiste em u m termo constante, a dife- de regressão. 11 Adicionalmente, a probabilidade de detecção de
rença entre os dois vieses médios e dois termos aleatórios. O interferências que ocorram raramente como outhers deve ser con-
primeiro termo aleatório é uma diferença entre dois componentes siderada para estabelecer o t a m a n h o apropriado de amostra.
de viés aleatório que p o d e m ou não ser independentes. Se os dois Finalmente, com relação à avaliação de métodos automatizados,
métodos de campo são baseados no mesmo principio de medição, uma atenção especial deve ser dada à seqüência de amostras para
os termos de viés aleatório possivelmente são correlacionados. Por avaliar oscilação, contaminação e não-linearidade.
exemplo, dois métodos cromogênicos para creatinina, possivel-
mente, estão sujeitos à interferência dos mesmos compostos cro- Gráfico de Diferença (de Bland-Altman)
mogênicos presentes em uma determinada amostra sérica. Por O procedimento foi originalmente introduzido por Bland e
outro lado, u m m é t o d o cromogênico e u m enzimático para crea- Altman para comparação de medições em medicina clínica, mas
tinina estão sujeitos à interferência de diferentes tipos de compos- o procedimento também foi adotado na química clínica. 1 O
tos e os termos de viés aleatório p o d e m ser relativamente inde- gráfico de Bland-Altman geralmente é entendido como represen-
pendentes. No termo 82,-81,, as mesmas relações descritas ante- tação de diferenças contra a média de resultados dos métodos.
riormente são aplicáveis. Pode-se notar que a fórmula geral para Assim, o gráfico de diferença nessa versão fornece informação
as diferenças expressas é a mesma para as duas situações. Assim, sobre a relação entre diferenças e concentração, o que é útil para
os mesmos princípios estatísticos gerais são aplicáveis. Nas seções avaliar se existem problemas em certos intervalos (p. ex., extre-
seguintes, iremos considerar a distribuição de diferenças sob diver- midade alta da faixa) causados pela não-linearidade de u m dos
sas circunstâncias e também as relações de medidas entre os métodos. Também pode ser de interesse observar se as diferenças
métodos 1 e 2, com base na análise de regressão. tendem a aumentar proporcionalmente à concentração ou se são
independentes da mesma. O modelo de erro básico descrito
Planejando um Estudo Comparativo de anteriormente aplica-se, também, ao gráfico de diferença.
Métodos A versão básica do gráfico de diferença consiste em traçar as
Ao elaborar u m m é t o d o de estudo comparativo, os métodos ana- diferenças contra a média das medidas. Se u m c o n j u n t o de
líticos a serem estudados devem ser estabelecidos em laboratório, medidas está sem o erro de medida aleatório, p o d e representar
de acordo com proU colos escritos e estáveis em u m trabalho de as diferenças contra esse valor. A Figura 13-12 mostra o gráfico
rotina. Os reagentes são comumente fornecidos como kits analíti- de u m exemplo consistindo de N = 65 amostras medidas p o r dois
cos, prontos para utilização, às vezes concebidos para u m instru- métodos de ensaio de droga. O intervalo ± 2 SD das diferenças
mento analítico particular (sistema aberto ou fechado). Os técni- quase sempre delineado em t o r n o da diferença média (isto é,
cos encarregados do estudo devem ser treinados para executar tais correspondente à média e aos percentis 2,5 e 97,5).
procedimentos e operar a instrumentação associada. Além disso, U m viés médio constante sobre o intervalo de medição ana-
é importante que u m sistema interno de controle de qualidade lítica distancia a concentração média de zero. A presença de
esteja implementado a fim de garantir que os métodos em estudos interferências aleatórias relacionadas com a matriz a u m e n t a a
comparativos sejam executados sob condições idênticas. amplitude de distribuição. Se o viés médio depende da concen-
Na fase de planejamento de estudo comparativo de métodos, tração ou da dispersão, varia de acordo com a concentração ou
vários pontos requerem atenção, incluindo o n ú m e r o de amos- ambos, as relações tornam-se mais complexas e o intervalo médio
tras necessárias, a distribuição de concentrações de analito (pre- ± 2 S D das diferenças p o d e não ser adequado como intervalo
ferencialmente uniforme sobre o intervalo de medição analítica), 9 5 % ao longo de toda a faixa de medição analítica.
b e m como a representatividade das amostras. Para abordar esse N o gráfico de Bland-Altman traçado para comparação de
último ponto, amostras de categorias relevantes de pacientes dados de ensaio de draga, existe uma tendência em direção ao
deveriam ser incluídas a fim de que possíveis fenômenos de a u m e n t o de dispersão com o a u m e n t o de concentração, o que é
interferências possam ser descobertos. Aspectos práticos relacio- u m reflexo do a u m e n t o de erro aleatório com o nível de concen-
nados com o armazenamento e tratamento de amostras (reci- tração. Assim, a representação gráfica de diferenças relativas,
piente etc.) e possíveis artefatos induzidos pela armazenagem (p. contra a concentração média é relevante (Figura 13-13). Agora
ex., congelamento de amostras) e a adição de anticoagulantes existe uma dispersão mais homogênea de valores concordantes
devem ser considerados. A comparação de medições deve ser com os limites estimados para a dispersão (isto é, a diferença
realizada, preferencialmente, d u r a n t e vários dias (p. ex., pelo média relativa ± to.o:5,<N-1) SD RelDif ).
menos 5 dias), de m o d o que a comparação dos métodos não se
torne dependente do desempenho dos métodos em uma corrida Gráfico de Diferença (de Btand-Altman) com
em particular. Finalmente, os aspectos éticos (p. ex., a concordân- Limites Especificados
cia de pacientes cujas amostras serão utilizadas ou amostras sem Em muitas situações em que a implementação de m é t o d o de
identificação, remanescentes de testes clínicos anteriores) devem campo está sendo considerada, pode-se almejar, primariamente,
ser considerados em relação à legislação vigente. verificar se as diferenças em relação ao m é t o d o em utilização estão
220 PARTE III Operações Laboratoriais

5 0 0 i
Limites Inferiores (95% Cl Monocaudal) de
Porcentagens Observadas (%) de Resultados
Localizados dentro 'de Limites Especificados
2 5 0 para D ife r e nç as Emparelhadas que Estão e m
Concordância c o m a Hipótese de pelo m e n o s
&$«Po° 03 95% das Diferenças se Encontrarem dentro
O o- ° 1 o
O VC.' CKTHT;— dos Limites
? 0
CM O" * 8
X Oo N Proporções Observadas
0
V° o ° o
20 85

- 2 5 0
30 87
40 90
50 90
60 90
- 5 0 0 70 30
Q 1 . 0 0 0 2 . 0 0 0 3 . 0 0 0 BO 91
90 91
(x1+x2)/2 100 91
150 92
Figura 13-12 Gráfico de diferenças de Bland-Altman para exemplo 200 93
de comparação de droga. As diferenças são traçadas contra a 250 93
concentração média. A diferença média (42 nmol/L) com ± 2 SD de 300 93
diferenças é mostrado (linhas tracejadas). 400 93
500 93
1.000 94

0 , 5

estudo mostra que a meta foi alcançada, pois o limite inferior


ç\l para a aceitação é de 90%. É evidente que u m n ú m e r o razoável
rí de observações deve ser obtido para que a avaliação tenha u m
X ° 9> &o o ~ ' o
+ 0 poder aceitável.
o r ~9j o -
0,0 r
O ' * Ao considerar limites adequados para u m estudo compara-
-n% v o* tivo, t a m b é m deve-se estar consciente dos componentes de erro
° <3 Oo do método de comparação. S u p o n h a que u m a imprecisão corres-
X 0 O Oo
I
CM p o n d e n t e a u m CV A de 5 % seja permitida para o novo m é t o d o
>(
e u m viés de até ±3% e m relação ao método de comparação seja
razoável. Se o CV A do m é t o d o de comparação é de 4%, os limites
para as diferenças tornam-se: ±[3% + 2(5 2 4 42)0,5] (isto é, ±15,8%
[supondo u m intervalo de 95%]). Aqui ignoramos a possibilidade
- 0 , 5
de interferências aleatórias relacionadas com a matriz.
1.000 2.000 3.000
(x1 +x2)l2 Análise de Regressão
A análise de regressão é c o m u m e n t e aplicada c o n f r o n t a n d o
Figura 13-13 Gráfico de diferenças relativas de Bland-Altman para resultados de comparações de métodos analíticos. Em geral
exemplo de comparação de droga. As diferenças são traçadas contra a realiza-se u m experimento o n d e se coleta u m a série de valores
concentração média. A diferença relativa média (0,042) com + 2 SD de emparelhados para comparar u m novo m é t o d o com u m m é t o d o
diferença relativa é demonstrada (iinfias tracejados). estabelecido. Essa série d e observações emparelhadas (xl„ x2) é
então utilizada para determinar a natureza e a intensidade da
relação entre os testes. A análise de regressão tem a vantagem
de permitir que a relação entre os valores-alvo para os dois
localizadas dentro de determinados limites especificados, em vez métodos em comparação seja estudada ao longo de t o d o o inter-
de distribuição de diferenças estimadas. Por exemplo, podem-se valo de medição analítica. Se a diferença sistemática entre
estabelecer limites correspondentes a ±15% como clinicamente valores-alvo (isto é, a diferença de viés médio entre os dois
aceitáveis e a aspiração que a maioria (p. ex., 9 5 % das diferenças) métodos ou o erro sistemático) estiver relacionada com a con-
esteja localizada dentro desse intervalo. centração do analito, tal relação poderá n ã o ser claramente
Pela contagem, pode ser determinado se a proporção espe- demonstrada q u a n d o da utilização dos gráficos de diferença
rada de resultados está dentro dos limites (isto é, 95%). Podem m e n c i o n a d o s anteriormente. Na análise de regressão linear,
ser aceitas porcentagens que não desviam, significativamente, do presume-se que a diferença sistemática entre os valores-alvo p o d e
porcentual suposto em determinado t a m a n b o de amostra deri- ser modelada como u m a diferença sistemática constante (desvio
vado de distribuição binomial (Tabela 13-5). Por exemplo, se 50 de interseção de zero) c o m b i n a d a com u m a diferença sistemática
medições emparelhadas forem realizadas em u m estudo compa- proporcional (desvio de inclinação da unidade) (Figura 13-14).
rativo de métodos, e caso seja observado que 46 dos resultados A interseção quase sempre p o d e representar alguma média de
(92%) estão dentro dos limites especificados (p. ex., ±15%), o diferença induzida pela matriz e a diferença proporcional pode
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 13 221

X2C ,,

x2
>
\

/
Jí1
Ac = X 2 - - X l 0 = cx0 I
Figura 13-15 Esqu e m a da relação entre os valores x l e x2 medidos
por dois métodos sujeitos a erros aleatórios com S D constantes ao longo
do intervalo de medição analítica. E presumida uma relação linear entre
os valores-alvo X2\| v o i ). O s valores x l , e x2, estão distribuídos de
forma gaussiana em torno de XI3AI™ e X 2 \ i ^ „ respectivamente, c o m o
demonstrado de m o d o esquematizado. <521 ÍOyJ está demarcado.
Figura 13-14 Ilustração de diferença sistemática A. entre dois
métodos e m u m determinado nível X l c d e acoido c o m a linha de
regressão. A diferença é o resultado entre uma diferença sistemática
{xlj, x2|) serão dispersos em corno da linha que expressa a relação
constante (desvio de interseção a partir de zero) e uma diferença
entre e X 2 ' A ] v o i . A Figura 13-15 descreve, esquematica-
sistemática proporcional (desvio de inclinação a partir da unidade). A
mente, como a distribuição aleatória de valores xl e x2 ocorre ao
linha pnntill-Lada representa a diagonal X 2 = X I .
redor da linha de regressão. Temos:

xl, = X I AJvoi + ei, = XrAivoi 4 Viés Aleatóriol,+ e l ;


X2Í = X2Alvoi + B2Í = X Z ' ^ , + Viés Aleatório2,+ E 2 ;
ser resultante de discrepância relacionada com a calibração dos
métodos. Em situações com SD s de erros aleatórios constantes, O s componentes de erro aleatório p o d e m ser expressos como SD s
procedimentos de regressão n ã o p o n d e r a d o s são utilizados (isto e, em geral, nós podemos assumir que os componentes viés ale-
é, m í n i m o s quadrados ordinários [OLR] e análise de regressão atório e analítico são independentes para cada analito, resul-
de Deming). Para os casos com SDs que são proporcionais ao t a n d o nas relações
nível de medição, os procedimentos de regressão p o n d e r a d o s
correspondentes são adequados. — < 7 r b i + (7' A I

Modelos de Erro em Análise de Regressão O , , - CT RB2 I (TA Z


C o n f o r m e descrito anteriormente, distinguimos entre o valor
medido (x,) e o valor-alvo (XAK™) de u m a amostra submetida à Os componentes de viés aleatório para os métodos 1 e 2 não
análise pot u m determinado método. Em análise de regressão necessariamente são independentes. Eles t a m b é m p o d e m não ser
linear, assumimos que u m a relação linear de distribuição gaussiana, o que é menos provável n o que diz
respeito aos componentes analíticos. Assim, ao aplicar u m pro-
X 2 A W =
CTN + J B X 1 ' A I „ I cedimento de regressão, os pressupostos explicitamente necessá-
rios devem ser considerados. E m situações sem componentes de
onde, XVAM e X2'A|TOi correspondem aos valores-alvo sem o viés viés aleatório, de qualquer significado, as relações são simplifica-
aleatório; ou seja, temos as relações das para

=
XIaIVOÍ Xr^hoi + Viés Aleatóriol,
'AL

X2Alvoi = + Viés Aleatório2i


AI
Este modelo geralmente é útil q u a n d o a diferença sistemática
entre X1'AITOÍ e X2'A]voi d e p e n d e da concentração medida Nessa situação, pode-se assumir, normalmente, que as distribui-
ções de etros são gaussianas e dados de SDs p o d e m ser conheci-
X2' A]voi - X I V , , = Oo + (P - D X 1 V , dos a partir do controle de qualidade.
O u t r o problema metodológico relacionado com dispersão de
A diferença sistemática é, portanto, composta de u m a parte fixa erro é saber se os componentes de erro aleatório são constantes
e u m a parte proporcional. ou alteram com a concentração d o analito, c o m o considerado
Em virtude de interferências aleatórias relacionados com anteriormente nas seções sobre gráficos de diferença. Em casos
matriz e erro analítico, os pares de medidas individuais de valores com intervalo considerável (p. ex., u m a década ou mais), esse
222 PARTE Ml Operações Laboratoriais

V
x2 x2
7
\
V
y
rl xl

Figura 13-16 E s q u e m a da relação entre os valores xl e x2 m e d i d o s Figura 13-17 O m o d e l o p r e s u m i d o em O L R ordinária. O s valores


por dois m é t o d o s sujeitos a erros aleatórios proporcionais. Admite-se xl estão distribuídos de f o r m a gaussiana e m t o r n o da linha com SD
q u e a relação entre os valores-alvo seja linear. Os valores x l ; e x2-, estão constante ao longo do intervalo de medição analítica. Assume-se q u e os
distribuídos de f o r m a gaussiana em t o r n o de X I ' A]V0I e valores xl n ã o apresentam erro aleatório. (CT„) é m o s t r a d o .
respectivamente, c o m a u m e n t o de dispersão e m altas concentrações,
c o m o m o s t r a d o n o esquema.

f e n ô m e n o t a m b é m deve ser levado em conta ao aplicar análise


de regressão. A Figura 13-16 mostra, esquematicamente, c o m o as
dispersões p o d e m aumentar, proporcionalmente, c o n f o r m e a
concentração.

Análise de Regressão de Deming e Análise de


Regressão Ordinária dos Mínimos Quadrados (SDs
Constantes)
Para estimar a relação entre os valores-alvo com precisão (isto é,
a 0 pata a 0 e b para (3), u m procedimento de regressão que leva
em conta erros em xl e x2 é preferível (isto é, abordagem de
D e m i n g [Figura 13-15]). N o e n t a n t o , o procedimento de regres-
são mais utilizado e m estudos de comparação de métodos, OLR,
n ã o leva em conta erros de xl, mas baseia-se n o pressuposto de
que apenas as medições de x2 estão sujeitas aos erros aleatórios
(Figura 13-17). N o p r o c e d i m e n t o de Deming, a soma dos quadra-
dos das distâncias de c o n j u n t o s de valores medidos (xl,, x2,) para
a linha de regressão é minimizada em u m ângulo d e t e r m i n a d o
pelo quociente entre os SD 5 para as variações aleatórias xl e x2.
Pode-se comprovar, teoricamente, que em virtude de as distribui- Figura 13-18 Em O L R , a soma dos q u a d r a d o s dos desvios a partir
ções de erros serem gaussianas, esse p r o c e d i m e n t o de estimativa da linha é minimizada na direção vertical. N a análise de regressão de
é o mais eficiente. N a Figura 13-18, o caso simétrico é ilustrado D e m i n g , a s o m a dos q u a d r a d o s dos desvios é m i n i m i z a d a e m u m
com u m a inclinação de regressão de 1 e SDs iguais para as varia- ângulo com a linha d e p e n d e n d o da razão de erro aleatório. Aqui, o caso
ções aleatórias xl e x2, caso em que a soma dos quadrados das simétrico é a p r e s e n t a d o com desvios ortogonais. (Reproduzidas com a
distâncias é minimizada, ortogonalmente, com relação à linha. autorização do L i n n e t K. Tfie performance of Demmg regression analysis ín
E m OLR, a soma dos quadrados das distâncias é minimizada na case of a misspecified analytical error -ratio. CIm Chem 1998;44' 1024-31
direção vertical com relação à linha (Figura 13-18). [Figura 1].)
Pode ser provado, teoricamente, que negligenciar o erro alea-
tório em xl induz a u m a estimativa viesada de declividade des-
cendente
do modelo de erro inadequado. A Figura 13-19 mostra o viés
P' =
P[tf2xrAiw/(o2xi'A]TO
+
cr*])] = P / [ l +
(ct^/oVaiJ2] como f u n ç ã o da proporção entre S D de erro aleatório e SD de
dispersão de valor-alvo X I ' . Para u m a razão até 0,1, o viés é infe-
onde, Oxi'Alvo É o S D dos valores-alvo X I ' . i 0 A m a g n i t u d e de viés rior a 1%. Para razão igual a 0,33, o viés eleva-se a 10% e, em
d e p e n d e da relação entre o SD para o erro aleatório em xl e o seguida, a u m e n t a ainda mais. C o m o exemplo, u m estudo com-
SD de valores-alvo !X1'. E m situações com ampla faixa de valores- parativo típico para dois métodos de determinação de níveis
alvo X l ' , esse viés p o d e ser desprezível e O L R p o d e ser utilizado séricos de sódio p o d e ser associado a u m viés de inclinação des-
para estimativa de inclinação e interseção, apesar do pressuposto c e n d e n t e de cerca de 10% (Figura 13-20).
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 13 223

Valor de inclinaçao esperado Procedimentos Computacionais para OLR e


1,0
Regressão de Deming
Assumindo a ausência de erros em jcl e u m a distribuição gaus-
\ siana de erro x2 com SD consEante em toda a faixa de medição
\ analítica, OLR é o melhor p r o c e d i m e n t o de estimativa, como
0,8 V
comprovado por Gauss n o século XVIII. Se forem assumidos
erros em ambos, xl e x2, a abordagem de D e m i n g será o m é t o d o
O
•a X de escolha. 10 Deve-se ter em mente que para esses procedimentos
paramétricos apenas as distribuições de erro devem ser gaussianas
o \ ou normais. O princípio dos mínimos quadrados não presume
0,6
que a normalidade seja aplicada, mas é ótimo sob condições de
Declive médio estimado por OLR • normalidade e os erros nominais d o Tipo I para testes estatísticos
associados a declive e à interseção permanecem verdadeiros sob
essa suposição. Os procedimentos são geralmente robustos para
0,4 desvios de normalidade) mas são sensíveis a outliers por causa da
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 elevação ao quadrado. Finalmente, a distribuição de valores-alvo
xl e xl não necessita ser gaussiana. U m a distribuição uniforme
ao longo d o intervalo de medição analítica quase sempre é van-
tajosa) mas a distribuição pode, em princípio, assumir qualquer
F i g u r a 1 3 - 1 9 Relações entre o valor verdadeiro de inclinação forma. Para ambos os procedimentos, poderemos avaliar o SD
(esperado) e o declive médio estimado pOT OLR. O viés de estimativa de da dispersão na direção venical em t o r n o da linha (comumente
inclinação por OLR aumenta negativamente com o a u m e n t o das razoes d e n o t a d o SDV,X e aqui designado SD 2] ). Temos
entre SDs para erros aleatórios em x l e os SDs da distribuição de valor-
alvo XI. SDj_l - [E(x2, - X2 alvoestirrui<io)V(N 2)1|0,5

U m a discussão mais aprofundada sobre a interpretação do SD 2 i


será abordada a seguir.
160 -
Para calcular a inclinação na análise de regressão de Deming, é
necessária a razão entre os SDs de erros aleatórios xl e x2, Isto é,

150
^<*ÍB1^ÍI)/(<4b2 + <Z)
o
| 140 Os SD A s p o d e m ser estimados a partir de conjuntos de medições,
em duplicata como
CM
X

130 SDi^d/lWíX^-xl,,) 2

2
SDAjHl/ZNmA,-^!,)
120
12G 130 140 150 160
ou, esses p o d e m estar disponíveis a partir de dados de controle
x1 mmol/L de qualidade.
Se u m valor específico para não está disponível e os dois
Figura 13-20 Comparação simulada de dois métodos de sódio. A métodos de campo que estão sendo comparados possivelmente
linha sólida indica a linha estimada média por OLR, e a linha
estão associados a níveis de erro aleatório com a mesma ordem
pontilhada é a linha de identidade. Embora não haja diferença
de grandeza, A. p o d e ser ajustado para 1. O procedimento de
sistemática entre os dois métodos, a linha OLR média afasta-se da linha Deming em geral é relativamente insensível a especificações
de identidade que corresponde a u m viés de inclinação descendente de
erradas de valores de X.
cerca de 10%.
Fórmulas para calcular inclinação (p), interseção (a n ) e os
respectivos erros-padrão estão disponíveis a partir de outras
fontes 10,11 e não serão repetidas aqui. Os pacotes de aplicativos
de informática c o m u m e n t e disponíveis para realizar análises por
N o exemplo apresentado anteriormente, a razão entre SD ambos as métodos serão revisados a seguir.
analítico e SD de distribuição de valor-alvo é elevada em função
da rigorosa regulação fisiológica de concentrações de eletrólitos, Avaliação de Erro Aleatório em Torno de uma
que significa que a variação biológica é limitada. A maioria dos Linha de Regressão Estimada
outros tipos de analitos exibe distribuições mais amplas e a razão Supõe-se que a inclinação e a interseção forneçam u m a estimativa
entre erro e distribuição de valor-alvo é menor. Por exemplo, para de diferença sistemática ou erro entre dois métodos analíticos ao
analitos com distribuição superior a u m a década e u m erro ana- longo do intervalo de medição analítica. Adicionalmente, u m a
lítico correspondente a u m C V de 5%, n o meio do intervalo de estimativa do erro aleatório é importante. C o m o m e n c i o n a d o
medição analítica, o viés de inclinacão O L R eleva-se para cerca anteriormente, é c o m u m considerar a dispersão em torno da
de - í % . linha na direção vertical, que é quantificada como SDV.,. (aqui
224 PARTE 111 Operações Laboratoriais

denotado SDZ1). O SÜ21, originalmente, foi introduzido no con- não. A diferença sistemática pode ser ajustada com relativa faci-
texto de OLR, mas também pode ser considerado com relação à lidade por uma re-escala de u m dos conjuntos de medições. No
análise de regressão de Deming. entanto, se o erro aleatório é muito grande, tal re-escalamento
não irá garantir a equivalência de medidas n o que diz respeito às
Interpretando SDy.x (SD21) com Erros Aleatórios amostras individuais. Assim, é importante avaliaT tanto a dife-
apenas em x2 rença sistemática e o erro aleatório ao decidir sc u m novo método
N o modelo assumido em O L R temos apenas erros aleatórios pode substituir u m OUÍTO já existente. Em u m a situação mais ou
associados às medições x2 (Figura 13-17). Essa situação ocorre menos simétrica, com uma declive próxima a unidade e dois
raramente na prárica, mas pode ocorrer (p. ex., quando u m con- métodos de campo com especificidade e precisão presumida-
junto de materiais de referência disponível foi determinado repe- mente iguais, o erro aleatório total expresso como SD 2Í pode ser
titivamente por u m m é t o d o de referência), então, na prática não subdividido em componentes de erros associados a cada teste,
há erro de medição aleatório presente. Nesse caso, a dispersão dividindo pela raiz quadrada de dois. Pode-se, então, avaliar os
em t o r n o da linha apenas reflete o erro aleatório de medições níveis de erro aleatório com relação às metas estabelecidas.
xl. Se não houver interferências aleatórias relacionadas com a
matriz, o erro aleatório será igual à imprecisão analítica e Avaliação de Outliers
teremos O principio de minimizar a soma do quadrado das distâncias da
linha torna os procedimentos de regressão descritos sensíveis à
°21 = W
A2 presença de outliers e a avaliação da ocorrência dos mesmos deve
ser realizada de forma rotineira. A distância de um suposto outiier
Se interferências aleatórias relacionadas com a matriz estiverem à linha é registrada em unidades SD e a exclusão do mesmo é~__
presentes, teremos realizada q u a n d o a distância excede u m limite predeterminado
(p. ex., 3 ou 4 unidades SD). N o caso de OLR, a unidade SD
_2 2
21 — ^AZ +<5
RB2 equivale a SD 2 i e a distância vertical é considerada. PaTa a análise
de regressão de Deming, a unidade é o SD de desvio dos pontos
onde, é o SD de efeitos aleatórios relacionados com a matriz, com relação à linha, em um ângulo determinado pela razão de
aqui suposto ser de distribuição normal e independente da erro de variância X. U m gráfico desses desvios, u m suposto gráfico
imprecisão do método. de resíduos, ilustra de forma conveniente a ocorrência de
outliers.I0,n A Figura 13-21, (A) ilustra u m exemplo de análise de
regressão de Deming, com ocorrência de u m outlier e o gráfico
Interpretando SDy.x (SD21) com Erros Aleatórios
em Ambos x1 e x2 de resíduos associado (B), que mostra claramente o padrão de
outliers. Nesse exemplo, o gráfico de resíduos foi padronizado para
N o que se refere à SD 2 i, temos aqui, sem interferências aleatórias
unidade SD. Utilizando esse exemplo u m limite de outlier de 4
relacionadas com a amostra
unidades SD, o outlieT foi rejeitada e uma reavaliação foi realizada.
_2 _ n2 _2 , _2 Nesse exemplo, a rejeição do outlier m u d o u a inclinação de 1,14
< >2i — P O a i f u A 2
para 1,03. No que se refere aos outliers, essas medidas não apenas
devem ser automaticamente rejeitadas, mas também a razão da
Assim, reflete tanto o erro aleatório em xl (com re-escala-
presença desses deve ser examinada.
mento) como em xl. Freqüentemente P é próximo da unidade
e, nesse caso, cT^2 torna-se aproximadamente a soma dos quadra-
Coeficiente de Correlação
dos individuais de SDs. Essa relação vale para ambas as análises
Além de descrever os componentes de erro aleatório relacionados
de Deming e OLR. Freqüentemente o O L R é aplicado em situações
com a análise de regressão, alguns comentários sobre o coeficiente
associadas a erro de medição aleatória tanto em xl quanto em xl
de correlação podem ser adequados. O coeficiente de correlação
e, nessas situações, o 2 i reflete os erros de ambos.
ordinário p, também designado coeficiente de correlação momento-
A presença de interferências aleatórias relacionadas com
produto de Pearson, é estimado como r a partir da soma dos
amostra em xl e x2 resulta na seguinte expressão:
quadrados dos desvios para valores xl e xl, como segue:

5
<*21 = t P Z ° A l + + [P Z °RB1 + O T = pAmf'

Assim, o valor CTji é influenciado pelo valor da inclinação, os Onde:


componentes de erro analítico c A ] e gA2 (agrupados no primeiro
colchete) e a R B 1 e c R B 2 (agrupados no segundo colchete). Em f>=2Xx l j - x l J G c 2 , - x 2 J
muitos casos a inclinação é próxima à unidade, caso em que
temos a simples adição de componentes. C o m o mencionado u = IX* l t — jcl m ) 2 q = E(jc2f — x 2 m ) 2
anteriormente, as interferências aleatórias associadas à matriz
p o d e m não ser independentes. Nesse caso, a simples adição de e
componentes não é correta porque o termo de covariância deve
x l m = I x l / h l x2m = &2,yN
ser incluído. N o entanto, em u m caso real, podemos estimar o
efeito combinado correspondente ao termo entre colchetes.
Informações sobre os componentes analíticos geralmente são O l h a n d o para o modelo teórico, p está relacionado com a razão
disponíveis, quer a partir de duplicatas de c o n j u n t o de medidas entre os SD s da distribuição de valores-alvo (cr^i-ai™ e cr^ivo) e o s
ou de dados de controle de qualidade. Baseado nessa informação, componentes independentes de erro aleatório total associados
o termo viés aleatório combinado no segundo colchete pode ser e a,?)
obtido subtraindo-se os componentes analíticos de c ^ . De u m
m o d o geral pode-se julgar se o erro aleatório total é aceitável ou P = °xiw™ +
a2,,)(a2l2a|m + a 2 J ] 0 , 5
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 13 225

30 intervalo é de 1 a 6. O S D de erro aleatório é p r e s u m i d a m e n t e cons-


tante e, nos dois casos, é fixado em 0,15 para ambos x l e xl, corres-
p o n d e n d o a u m C V de 5 % em nível 3. Dados os c o n j u n t o s de 5C
medições emparelhadas, o coeficiente de correlação é 0,93 n o casc
(A), e 0,99 n o caso (B). Além disso, u m único p o n t o situado fora dc
restante de observações exerce u m a forte influência (Figura 13-22, C),
20 E m C, 49 das observações são distribuídas d e n t r o d o intervalo 1 a 3,
com u m único p o n t o situado fora dos outros em torno do valor 6.
sendo que os outros fatores são iguais. O coeficiente de correlaçãc
C\L aqui tem u m valor intermediário de 0,97. Assim, u m único ponte
situado fora d o resto tem u m a forte influência (designado ponte
influente). Repare que n ã o se trata de u m p o n t o periférico, apenaí
10 - u m p o n t o aberrante com relação ao intervalo.
Embora seja a medida relevante para erro aleatório nos estudoí
comparativos de métodos, p ainda é a m p l a m e n t e utilizado comc
suposição de medida entre os dois métodos. C o n v é m notar que um£
diferença sistemática n ã o é expressa por p; assim, embora o coefi
ciente de correlação seja m u i t o elevado, p o d e haver u m viés conside
rável entre as medições dos dois métodos.

10 í>0 30 Análise de Regressão em Caso de Erros Aleatórios


Jí1 Proporcionais
C o m o discutido em relação ao perfil de precisão, para analitos cotr
intervalos amplos (p. ex., u m a ou várias décadas) o SD A raramente t
5 -
constante. A o contrário, u m a relação proporcional p o d e ser aplicada
Isso t a m b é m p o d e ser verdade paTa os c o m p o n e n t e s de viés aleatório
Nessa situação os procedimentos de regressão descritos anteriormente
ainda p o d e m ser utilizados, mas esses n ã o são ideais p o r q u e os erros
padrão de inclinação e interseção tornam-se maiores que aqueles o n d í
é aplicada u m a forma p o n d e r a d a de análise de regressão. As aborda-
w
o gens ideais são formas ponderadas de análise que levam em conta E
"D
ra relação entre o erro aleatório e a concentração do analito. 1011 Dad c
N
'c o Qn u m a relação proporcional, u m procedimento p o n d e r a d o atribui pesoí
o nOfl _ . CD
(pO(J3Ü maiores às observações em faixas inferiores, essas faixas de observa
~n ° O O
tc O O ções são mais precisas d o que aquelas que representam altas concen
CL
OT trações, que estão sujeitas a erros aleatórios maiores. Mais especifica
rd mente, as ponderações são aplicadas aos cálculos que são inversa
Z)
•g
"w m e n t e proporcionais ao q u a d r a d o de S D (variâncias), q u e expressa c
0 erro aleatório. Na forma p o n d e r a d a da análise de regressão doí

m í n i m o s quadrados (WLR), as distâncias {xl, e x2,) com relação £
linha n o sentido vertical são inversamente ponderadas de acordo c o n
o q u a d r a d o do valor SD A em d e t e r m i n a d o nível de concentraçãc
B -5 (Figura 13-23). Abordagens computacionais para a realização de WLB
10 20 30 estão disponíveis em outra publicação 1 0 e não serão repetidas aqui.
O m é t o d o de D e m i n g também pode ser realizado de forma p o n
(x1+x2)/2
derada (p. ex., assumindo-se SD s proporcionais). Na modificação p o n
derada do procedimento de Deming, distâncias a partir de (xl, e x2'„
Figura 13-21 A, Gráfico de dispersão com linha de regressão de
com relação à linha são inversamente ponderadas de acordo com c
D e m i n g (linha sólida), com u m outlier (ponto cheio). A l i n h a reta
q u a d r a d o de SD em u m a determinada concentração (Figura 13-24)
p o n t i l h a d a é a diagonal e a linha curva tracejada demarca a região de
Os procedimentos de regressão são utilizados de forma mais conve
confiança 9 5 % . B, Gráficos residuais padronizados com indicação de
niente q u a n d o realizados com aplicativos de computador específicos,
outlier.

Testes de Linearidade
A divisão de erro sistemático em u m c o m p o n e n t e constante e urr
Os c o m p o n e n t e s de erro aleatório total incluem t a n t o impreci- proporcional d e p e n d e d o pressuposto de linearidade, que deve sei
sões q u a n t o interferências aleatórias relacionadas com a amostra testado. U m teste conveniente é corridas-teste, que, pressupõe-se
(isto é, a 2 ,! = <52a1 + c^RBj e g2i2 = g2a2 + a 2 R B 2 ). Assim, p é u m avalia se os desvios negativos e positivos dos p o n t o s com relação i
indicador relativo da quantia de dispersão em t o r n o da linha de linha são distribuídos aleatoriamente ao longo de um intervalo de
regressão. Se o intervalo de valores é curto, p t e n d e a ser baixo, medição analítica. O termo corrida refere-se aqui a u m a seqüência df
e vice-versa, por u m longo intervalo de valores. Por exemplo, desvios com o m e s m o sinal. Considere, por exemplo, a situação, corr
considere exemplos simulados em q u e os erros aleatórios xl e x 2 u m a tendência descendente de valores xl na extremidade superior dt
são os mesmos, mas a amplitude de distribuição de valores-alvo intervalo de medição analítica (Figura 13-25, A). Os desvios padroni
diferem (Figura 13-22, A-B). E m (A) os valores-alvo são distribuí- zados acima e abaixo da linha (isto é, os resíduos) tenderão, então, í
dos u n i f o r m e m e n t e ao longo d o intervalo de 1 a 3, e em (B) o ser negativos nessa área, em vez de serem distribuídos aleatoriamente
226 PARTE III Operações Laboratoriais

Figura 13-23 Distâncias entre pontos e a linha na direção vertical


em WLR, assumindo SDs proporcionais para erros aleatórios em xl e
nenhum erro aleatório em xl. (De Linnet K. Ne cessar} sample size for
metkod compariscn SÍUJÍÍÊS hased on REGTÈSSÍON ANAÍJSIÍ. Clin Ctam
1999;45:882-94.)

*1

Figura 13-24 Distâncias de pontos e a linha de regressão


ponderada de Deming assumindo erros aleatórios proporcionais em x l e
Figura 1 3 - 2 2 Gráficos de dispersão ilustrando o efeito do intervalo sobre
xl. O caso simétrico é ilustrado c o m erros aleatórios iguais e um declive
o valor do coeficiente de correlação p A, Os valores-alvo estão distribuídos
de uma unidade produzindo projeções ortogonais sobre a linha. (De
uniformemente ao longo do intervalo de 1 a 3 com erros aleatórios de x l e
Linnet K. NecejMry sample size for methad ccmparison stutiies baseA cm
x2 correspondendo a um SD de 5% do valor-alvo em 3 (erro de S D
regressiOTi tmafysis. Clin Cftóm 1999;45:882-94 )
constantes). B, O intervalo i estendido para I a é com os mesmos níveis de
erros aleatórios. O coeficiente de correlação é igual a 0,93 em A, e 0,99 em
R Em C, o efeito de um único ponto aberrante i mostrado. Quarenta e nove
dos valores-alvo são distribuídos ao longo do intervalo 1 a 3, com um único
ponto em 6. O coeficiente de correlacão é 0,97.
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 1 3 227

acima e abaixo da linha 1 0 (Figura 13-25, B). D a d o u m n ú m e r o SD 3 proporcionais. O método não é tão eficiente quanto os
suficiente de pontos, tal sequência tornar-se-á estatisticamente procedimentos paramétricos correspondentes (isto é, procedi-
significativa em coiridas-teste. mentos de Deming e de Deming ponderado). 1 0 Inclinação e
interseção com Cls são fornecidas j u n t a m e n t e com coeficiente
Análise de Regressão Não-paramétrica de correlação de classificação de Spearman. U m aplicativo de
(Passing-Bablok) computador é necessário para o procedimento.
A inclinação e a interseção p o d e m ser estimadas por u m proce-
dimento não-paiamétrico, que é robusto para outíiers e não exige Princípio de Computação
pressupostos de distribuições gaussianas de erro. 13 Observe, no O procedimento consiste em calcular todos os conjuntos de
entanto, que os procedimentos de regressão paramétricos não inclinações possíveis a partir do c o n j u n t o de valores N (xl, x2):
presumem distribuições gaussianas de valores-alvo, mas apenas
distribuições de erro. Assim, a principal vantagem do procedi- Sf] = (x2, - x2j)/(xli - xl) para 1 < i < j < N
mento não-paramétrico é o d e s e m p e n h o robusto na presença de
owílirn. O método leva em conta erros de xl e *2, mas o método A inclinação é, em princípio, obtida como u m deslocado de
pressupõe que a razão entre erros aleatórios está relacionada com mediana
o inclinacão de maneira fixa:
=
i Sth - U/2 + k) para n ímpar

X =(SD 2 R B 1 + S D ^ ) / ( S D 2 R B 2 + S D L ) = l ^ 2 b = exp((log{S(ll/2 • Kj) + log(S W 2 + j + íq))/2)


para n par (média geométrica)
Caso contrário, uma estimativa enviesada de inclinação é
obtida. 10,13 O procedimento p o d e ser aplicado tanto em situações onde TI é o n ú m e r o total de valores StJ e K é o n ú m e r o de valores
de erros aleatórios com SD s constantes, quanto em casos com S, abaixo de -1. A interseção a 0 é obtida como a mediana de
todos (xli - ÍBcli).
Cls para inclinação e interseção são derivados conforme já
250 n descrito. 1 ' N e n h u m erro-padrão é obtido nesse procedimento
p u r a m e n t e não-paramétrico. Se o C l para o declive não inclui 1,
200 - ar o desvio é estatisticamente significativo e análogo à interseção.
<A o
Interpretação de Diferenças Sistemáticas entre
Métodos Obtidos com Base em Análise de
Regressão
100 A diferença sistemática entre dois métodos é identificada se a
interseção estimada diferir, de m o d o significativo, de zero ou o
declive desviar também significativamente de 1. Isto é decidido
50 com base nos testes t

0 t - (fl 0 - 0 ) / S E ( ü 0 )
0 25 50 75 100 125 15G t = (b-l)/SE(b)
x1
SE(ao) e SE(b) são erros-padrão da interseção estimada a 0 e o
40 declive b, respectivamente. Para O L R e WLR, os erros-padrão são
o calculados a partir de fórmulas apresentadas em outra publica-
•a
ca ção.10 Essas fórmulas t a m b é m se aplicam, aproximadamente, aos
N
n 20
"c procedimentos de D e m i n g e D e m i n g p o n d e r a d o . U m procedi-
O
L_
•a m e n t o exato é a aplicação de u m princípio de reamostragem
S. o 0 ^ C- -
computadorizado designado procedimento Jackknife, que, na
prática, pode ser realizado utilizando-se u m aplicativo apro-
"cn priado. 11
Cl o 0
Í -20 Cí Tendo estimado a 0 e b, temos a estimativa da diferença siste-
f/3
(1)
ce mática entre os métodos, Dc, em uma concentração selecionada
1
XIaIvoc
-40
Dc X2 XI Atvoc ^0 (b-l)Xl Alvoc
25 50 75 100 125 150
(xl +x2)l2 X2'AiV[)[esic é o valor-alvo estimado de 9Í2' alvo em Xl' c . Observe
que Dc refere-se à diferença sistemático (isto é, a diferença entre
Figura 1 3 - 2 5 Superior, Gráfico da dispersão mostrando um exemplo os valores-alvo) e, por isso, não é u m erro total, incluindo erros
de não-linearidade na forma de valores xl de desvios descendentes na de medição aleatórios.
parte superior do intervalo. Inferior, Gráficos de resíduos mostrando o O erro-padrão da diferença sistemática estimada Deltac deve
efeito da não-linearidade. Na extremidade superior do intervalo de ser considerado. A fórmula se aplica a O L R
medição analítica, uma seqüência (corrida) de resíduos negativos está
presente desde x = 150 até 200. SEÍDeítaJ = SD 2 1 [1/N + (Xl'Mvoc - xj2/u 10,5
228 PARTE III Operações Laboratoriais

Para W L R temos a fórmula análoga

SE(DeÍMc) = kall/Zw, + ( X l * ^ - x J 2 / u J 0 ' 5 3.000 o


o //
o n d e k?i = |?.(v2i - (X2' A i r o ( = J 2 /t«/(N -2)] 0,5 . As fórmulas anterio-
res para O L R e W L R se aplicam, aproximadamente, às regressões
de Deming e Deming ponderada, respectivamente. U m procedi- ^ 2.000 J
• J f
m e n t o exato consiste em aplicar o procedimento Jackknife utili-
zando u m programa de computador. 1 1 Ao avaliar o erro-padrão CM
em toda a faixa de medição analítica, uma região de confiança V
1.000
para a linha estimada pode ser mostrada. Fica claro pela estrutura

/
das fórmulas que a região de confiança é mais estreita n o centro
do intervalo (xm ou x^J. Se a comparação de métodos é realizada
para avaliar a capacidade de acompanhar a execução, a correção
de u m a diferença sistemática significativa Deltae será freqüente-
1.000 2.000 3.000
m e n t e realizada por recalibração (*2rec = (xl -ra0)/fc>)).A incerteza-
padrão associada é o erro-padrão de Deltac. Ainda que a interse- x1 (nmol/L)
ção e a inclinação não sejam significativamente diferentes de zero
e um, respectivamente, a expressão combinada Deltac p o d e ser 5 i
significativamente diferente de zero. Isso pode ocorrer em situa-
ções o n d e inclinação e interseção estejam no mesmo sentido
(Figura 13-14). o
"O
ta o o o
N
Exemplo de Aplicação de Análise de Regressão "E
o o
(Análise de Deming Ponderada) cc oo
Q- o
A aplicação de análise de D e m i n g ponderada p o d e ser ilustrada -e$r O CK^O> O
W?
pelo exemplo de comparação de ensaios droga (medições N = 65 "râ „o
o % Oo
(xl, x2). C o n f o r m e descrito anteriormente, neste exemplo o erro oo
aleatório das diferenças a u m e n t a com a concentração, sugerindo <U
CU
que a forma ponderada da análise de Deming está correta. A
Figura 13-26 mostra (A) a linha de regressão estimada com inter-
valos de confiança de 9 5 % e (B), u m gráfico de resíduos. A dis-
persão quase homogênea n o gráfico de resíduos apóia o modelo -5
de erro aleatório proporcional presumido e o pressuposto de 1.000 2.000 3.000
linearidade. A estimativa de inclinação (1,014) não é significati-
B (x1+x2)/2
vamente diferente de 1 (Cl 95%: 0,97 a 1,06) e a interseção não
é significativamente diferente de zero (Cl 95%: -6,7 a 47,4)
(Tabela 13-6). Corridas teste de linearidade não contradizem a Figura 13-26 U m exemplo de análise de regressão de Deming
ponderada paca comparação de ensaios de droga. A, A linha sólida é a
suposição de linearidade. A quantidade de erro aleatório é deter-
estimativa da linha de regressão ponderada de Deming, as curvas
minada em forma de fator de proporcionalidade SD^i igual a 0,11
tracejadas indicam a região de confiança 95%, e a linha pontilhada é a
ou 11%. N o presente exemplo, com inclinação próxima à u n i d a d e
linha de identidade. B E um gráfico de resíduos padronizados para
e dois métodos de campo com erros aleatórios pressupostos de
unidade de SD. A dispersão homogênea sustenta o modelo do erro
aproximadamente a mesma magnitude, dividimos o erro aleató-
proporcional assumido e a pressuposição de linearidade.
rio pela raiz quadrada de dois e obtemos CV T i = C V ^ = 7,8%.
Dados de controle de qualidade de laboratório têm fornecido
C V A S de 6,1% e 7,2% para os métodos 1 e 2, respectivamente.
Assim, neste exemplo, o erro aleatório pode ser, em grande parte,
atribuído ao erro analítico. O princípio do ensaio se aplica a
ambos os métodos de H P L C , que geralmente é um princípio TABELA 13-6 Resultados de Análises de Regressão de
específico de medição, e efeitos de viés aleatório consideráveis D e m i n g Ponderada para a Comparação de
não são esperados neste caso. Se u m ou ambos os métodos Exemplo de Ensaios de Drogas Medidas
fossem imunoensaios, a situação poderia ter sido diferente. de N = 6 5 (xl, x2)
Na tabela o valor estimado de diferenças sistemáticas nos
Estimativa SE Cl 95%
limites de intervalo terapêutico (300 e 2.000 n m o l / L ) são exibidos
(24,6 e 48,9 n m o l / L , reciprocamente). Isso corresponde a valores Inclinação (6) 1,014 0,022 0,97 a 1,06
percentuais de 8,2% e 2,4%, respectivamente. Os erros-padrão Interseção ( a j 20,3 13,5 - 6,7 a 4 7 4
estimados pelo procedimento Jackknife resultam em C l 95%, Coeficiente de correlação 0,98
como mostrado na tabela. E m concentração baixa, a diferença é ponderada
significativa (Cl 95%: 5,7 a 44 n m o l / L não inclui zero), que não Fator de proporcionalidade SD21 0,11
é o caso em nível elevado (CT 95%: - 1 9 a 117 nmol/L). Embora Corridas-teste para n.s.
as estimativas de interseção e inclinação, em separado, não sejam linearidade
Deltac = X i - X em 24,6 9,5 5,72 a 43,6
significativamente diferentes de valores hipotéticos nulos de zero
JÇ. = 300
e 1, de forma respectiva, a diferença combinada de Deltac é signi-
Deltac = X2 - X, em 48,9 34,2 - 1 9 , 3 a 117
ficativa em baixas concentrações neste exemplo. Se a diferença for
X = 2.000
considerada de importância médica e ambos os métodos estive-
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 13 229

rem sendo utilizados simultaneamente n o laboratório, u m a reca- rias 1,2 a 3,7 vezes mais amostras para obter a mesma precisão
libração de u m dos métodos deverá ser considerada. de estimativa de inclinação não-ponderada, comparada com a
abordagem ponderada. Dessa maneira, quanto maior a razão de
Discussão de Aplicação de Análise de intervalo, mais ineficaz é o m é t o d o não-ponderado.
Regressão
A maioria das avaliações de m é t o d o publicadas falha ao aplicar ACOMPANHAMENTO DE RESULTADOS
u m a análise de regressão rigorosa. Esta seção considera tanto a SERIADOS
utilização de OLR, em vez de regressão de Deming, quanto a U m aspecto importante na química clínica constitui n o
utilização de análise não-ponderada para o estabelecimento de a c o m p a n h a m e n t o de doença ou tratamento (p. ex., marcadores
erros aleatórios proporcionais. tumorais, em caso de câncer, ou concentrações de drogas n o caso
O L R é o procedimento de análise de regressão mais utilizado de controle terapêutico de medicamento). Para avaliar as altera-
em estudos de comparação de métodos. Assim, é i m p o r t a n t e ções de maneira racional, os diversos componentes de imprecisão
considerar o significado da não-consideração de eTros de medição devem ser considerados. , d Variações biológicas intramaterial
xl, conforme descrito a n t e r i o r m e n t e (Figuras 13-18 e 13-19). O (SDJMA.B), pré-analíticas (SDPA) e analíticas (SD a ) devem ser iden-
problema de viés relativo a declive é mais significativo q u a n d o se tificadas. Assumindo-se que a variação pré-analítica já esteja
trata de faixas de medição estreitas (p. ex., q u a n d o se compara incluída n a variação de SD intramaterial, u m SD total (SD T ) pode
medidas de eletrólitos). Foi r e c o m e n d a d o que OLR pode ser ser estimado:
aplicado q u a n d o o coeficiente de correlação for superior a 0,975
ou 0,99.^ O coeficiente de correlação, c o n t u d o , cambem d e p e n d e SD 2 T = SD 2 , nm , B + S D 2 a
do erro aleatório xl, que não tem qualquer influência sobre a
questão d o viés. O viés de escimativa de inclinação tem c o m o O limite de mudanças estatisticamente significativas, assim, é
conseqüência para a análise estatística o a u m e n t o de erro do Tipo kV2 S D t , o n d e k d e p e n d e d o nível de probabilidade desejado.
I (isto é, a hipótese nula é rejeitada com demasiada freqüência). C o n s i d e r a n d o u m nível bicaudal d e 5 % , k é 1,96. O fator mono-
D e p e n d e n d o do intervalo de concentrações de teste considerado caudal correspondente é 1,65. Se u m nível de probabilidade
e da quantidade de erro aleatório associado a xl, esse a u m e n t o superior é desejado, k deve ser a u m e n t a d o .
pode ser várias vezes superior ao nível n o m i n a l de 5%. Se o
intervalo de valores-alvo X I ' é amplo (p. ex., correspondendo a RASTREABILIDADE E MEDIÇÃO DE
várias décadas), o problema é negligenciável. INCERTEZA
Em estudos atuais de comparação de métodos é frequente a C o n f o r m e descrito anteriormente, nas seções sobre modelo de
aplicação de formas não-ponderadas de análise (isto é, O L R e erro, resultados laboratoriais são suscetíveis a erros sistemáticos
procedimento de Deming), embora os SD s variem com a concen- e aleatórios de vários tipos. A obtenção de concordância de
tração medida, como ocorre com u m a relação proporcional medições entre laboratórios, ou por longo período em determi-
(constante CV A ). Assim, é de interesse considerar o que acontece n a d o laboratório, muitas vezes pode sei problemática.
nessas situações. 10
Basicamente, O L R fornece estimativas imparciais de inclina- Rastreabilidade
ção e interseção, s e x l n ã o apresenta erro aleatório, independen- Para garantir concordância razoável entre as medições de métodos
temente d o SD dc erro aleatório x2 ser constante ou variar com de campo, o conceito de rastreabilidade entra em foco. A rastrea-
a concentração medida. Da mesma forma, o procedimento de bilidade é baseada n u m a cadeia ininterrupta de comparações de
D e m i n g fornece estimativas imparciais de inclinação e interseção medições, conduzindo a u m valor de referência conhecido (Figura
q u a r do SD varia, desde que a razão entre esses seja constante em 13-27). Tietz propôs u m a abordagem hierárquica para rastrear
toda a faixa de medição analítica. Esse aspecto é i m p o r t a n t e e valores de medições de rotina de métodos de referência e defini-
significa que, em geral, as estimativas de inclinação e interseção tivos em química clínica, e essa abordagem foi adaptada pela ISO
são confiáveis nessa situação, q u e f r e q ü e n t e m e n t e é encontrada. (p. ex., ver as orientações ISO 15193 e 15194). Para analitos b e m
N o entanto, outros aspectos devem ser considerados: a confiabi- estabelecidos, existe uma hierarquia de métodos com u m proce-
lidade da análise estatística associada e a eficiência dos procedi- d i m e n t o de referência primário n o topo, procedimentos de referên-
mentos de estimativa não-ponderada. A presença de u m SD A cia secur\dários em u m nível intermediário e, finalmente, métodos
proporcional para medições de x2 tende, independentemente, a de rotina, na parte inferior. 15 U m procedimento de referência
aumentar o erro do tipo 1 para o teste de desvio de inclinação primário é u m procedimento inteiramente compreendido, da
utilizando o procedimento OLR, pois o erro-padrão de inclina- mais alta qualidade analítica e com a estimativa total de incerteza
ção é subestimado. O f e n ô m e n o é mais p r o n u n c i a d o para distri- dada em unidades SI. 5 Os resultados obtidos pelo método de
buições de valor-alvo assimétrico, onde o erro d o Tipo I pode referência primário são alcançados sem que sejam comparados
aumentar de três a quatro vezes, passando a 15% a 20%, compa- com u m calibrador de referência d o analito a ser medido. O
rado-se ao nível n o m i n a l de 5%. 1 0 Para distribuições de valor-alvo procedimento de referência primário é utilizado para atribuir
uniformes e gaussianas, o a u m e n t o chega até 7,5% e 10%, res- valores aos calibradores primários. Posteriormente, o calibrador pri-
pectivamente. Finalmente, a precisão de estimativas de inclinação mário é aplicado na calibração de procedimentos de referência
e interseção é inferior àquela de W L R em caso de u m SD A pro- secundários. Procedimentos de referência secundários são utiliza-
porcional para medições xl. Para u m a razão de intervalo de 10 dos para medir a concentração do analito em calibradores secundá-
a estimativa de inclinação, com certa precisão, necessita de 2,3 rios, que n o r m a l m e n t e têm matriz semelhante àquela da amostra
vezes mais observações, q u a n d o comparada com o procedimento que está sendo medida por procedimentos de rotina (p. ex., soro
W L R . Para a interseção, o fator é 3,9." h u m a n o ) . Calibradores secundários geralmenre possuem elevada
O principal problema associado à aplicação da análise de qualidade analítica e são certificados. Lltilizando-se o cortisol
Deming não-ponderada, em caso de SD A s proporcionais consiste como exemplo, o procedimento de medição primário pode con-
n o nível sub ideal da abordagem não-ponderada. Para distribui- sistir em pesagem de cortisol e em u m a análise química de
ções uniformes com razões de intervalos de 2 a 100, são necessá- impurezas. U m calibrador primário é, então, u m a preparação de
230 PARTE III Operações Laboratoriais

rogeneidade ou micro-heterogeneidade complica a questão de


rastreabil idade.

Conceito de Incerteza
Para avaliar erros associados a resultados laboratoriais de uma
forma sistemática, o conceito incerteza foi introduzido em labora-
tório médico. 6 De acordo com ÍSO Guide to the Expresswn of
Uncertainty in Measurement ("GUM"), a incerteza é formalmente
definida como "um parâmetro associado ao resultado de uma
medição, que caracteriza a dispersão de valores que poderiam ser
os de m o d o lógico atribuídos ao determinando".' Na prática, isto
significa que a incerteza é dada como u m intervalo em torno de
u m resultado laboratorial relatado que especifica o local do valor
verdadeiro com u m a determinada probabilidade (p. ex., 95%).
Em geral, a incerteza de resultado, que é rastreável para uma
referência particular, é a incerteza daquela referência juntamente
com a incerteza global da cadeia de rastreabilidade. 6 Informações
atualizadas sobre aspectos da rastreabilidade encontram-se dispo-
niveis na internet na página do Joínt Commitíee on Traceability in
Laboratory Medicine (wu)W.bipm.org/en/committees/ic/ictlm/, Acces-
sed January, 2007).

Incerteza-padrão (us1)
O conceito incerteza é voltado para o usuátio final (médico) do
resultado, que está preocupado com o erro total possível e que não
está particularmente interessado se os erros são sistemáticos ou
aleatórios. No esboço do conceito de incerteza assume-se que qual-
quer componente de erro sistemático conhecido de u m método
de medição tenha sido corrigido, e a incerteza especificada inclui
a incerteza associada à correção de erro(s) sistemático(s). 6
Na teoria da incerteza, uma distinção entre as incertezas Tipo
A e B é realizada. As incertezas do Tipo A são estimativas basea-
das em freqüências de SDs (p. ex., u m SD de imprecisão). As
incertezas do Tipo B são componentes de incerteza para os quais
SDs baseados em freqüências não estão disponíveis. Ao contrá-
Atribuição de valor
Cal.: calibração rio, a incerteza é estimada por outras abordagens ou pelo parecer
dos peritos. Finalmente, a incerteza total é derivada de uma
combinação de todas as fontes de incerteza. Nesse contexto, é
Figura 13-27 Hierarquia de calibração de u m m é t o d o primário
prático operar com incertezas-padrão (tO, que são equivalentes aos
para u m m é t o d o de rotina. A incerteza a u m e n t a de cima para baixo.
SDs. A incerteza correspondente a u m determinado nível de
probabilidade é derivada da multiplicação de u m a incerteza-
padrão por u m fator de cobertura (k). Por exemplo, a multiplicação
por u m fator de cobertura de dois produz u m grau de probabili-
cortísol com fração de massa estabelecida (pureza) (p. ex., 0,998 dade de « 9 5 % , resultando em distribuição gaussiana. Ao consi-
e C l de 9 5 % ± 0,001). O procedimento de medição de referência derar a incerteza total de u m resultado analítico obtido por u m
secundária é u m método de diluição isotópica que utiliza espec- método de rotina, a variação pré-analítica, a imprecisão do
trometria de massa associada à cromatografia a gás. Após o cali- método, interferências aleatórias relacionados com matriz e
brador secundário, temos u m procedimento de medição utili- incertezas associadas à calibração e correções de vieses (rastreabi-
zado em preparação comercial de reagentes, calibradores e kits lidade) devem ser levados em conta. Expressando os componen-
analíticos para utilização rotineira em laboratórios de química tes de incerteza como incertezas-padrão, temos a relação geral;
clínica. O procedimento de medição selecionado é calibrado com
.. —L.2 _1_
2 2
_!_ 2
l05
u m calibrador primário ou secundário e é utilizado para a ' PAst ^Aa Hg st ^TracstJ
medição de quantidade n o calibrador de trabalho do fabricante.
Esse último é utilizado para calibrar o procedimento de medição o n d e os componentes individuais referem-se a incertezas pré-
regular da companhia, que é u m método validado n o que di2 analítica, analitica, do viés aleatório relacionadas com matriz e
respeito à especificidade analítica. O procedimento de medição rastreabilidade.
regular é aplicado para a quantificação do produto calibrador, que A incerteza pode ser avaliada de várias formas e, muitas vezes,
é o calibrador para o método de rotma. A incerteza de procedi- uma combinação de procedimentos é necessária, Em principio a
mentos de medição a u m e n t a a partir do topo em direção à incerteza p o d e ser julgada diretamente por comparação entre
base. medições, ou indiretamente, a partir de uma análise individual de
Apenas u m a minoria (25 a 30) de analitos de química clinica fontes de erro, de acordo com a lei de propagação de erro ("esti-
é rastreável por unidades SI (p. ex., eletrólitos), alguns metabóli- mativa de eiro"). A comparação de medição pode consistir em
tos (glicose, creatinina e ácido úrico), esteróides e alguns hormô- um estudo comparativo de métodos, com u m m é t o d o de referên-
nios da tiróide. Para h o r m ô n i o s proteicos, a existência de hete- cia baseado em amostras de pacientes, de acordo com os princí-
Seleção e Avaliação Analítica de Métodos — Por Técnicas Estatíticas CAPÍTULO 1 3 231

pios a n t e r i o r m e n t e enunciados ou p o r medição de materiais de Trata -se de uma relação complexa q u e n o r m a l m e n t e será difícil
referência de matriz certificados. de avaliar na prática. Em muitas situações, n o e n t a n t o , os fatores
contribuintes são independentes, simplificando assim o cenário.
Exemplo de Avaliação Direta da Incerteza Baseado Abaixo, alguns exemplos simples de expressões combinadas são
em Medições de um Material de Referência mostrados. As regras são apresentadas sob a f o r m a de SDs com-
Certificado binados ou coeficientes de variação (CVs) u m a vez que os com-
S u p o n h a que u m m a t e r i a l d e referência certificado (CRM) p o n e n t e s de entrada são independentes.
esteja disponível com u m valor d e t e r m i n a d o 10,0 m m o l / L e u m a
incerteza-padrão de 0,2 m m o l / L . Dez medições repetidas e m q=x +y SD(ÍJ) = [ S D ( X ) 2 + SDCJ) 2 ] 0 , 5
corridas i n d e p e n d e n t e s f o r n e c e m u m valor médio de 10,3 m m o l /
L com S D de 0,5 m m o l / L . O erro-padrão da média é, então, q=x-y SDiq)=[SD(x)2 + SD(y)2r
0 , 5 / V 10 - 0,16 m m o l / L . A m é d i a n ã o é significativamente dife-
rente do valor atribuído (t = (10,3 - 10,0)/(0,2 2 + 0,16 2 ) 0,5 = 1,17). q =ax S D ( Q ) = A S D ( x ) e C V ( < j ) = C V (x)
A incerteza-padrão total n o que diz respeito à rastreabilidade é,
então, "Tiacsi = [0>162 + 0,2 2 ] 0,5 = 0 , 2 6 m m o l / L . Se o viés tiver sido q=xp CV(q) =p°'5CV(x)
significativo, deve ser considerada u m a correção do m é t o d o e a
incerteza-padrão seria a m e s m a e m u m nível determinado. Assim, q=xy C M 4 ) = [ C V ( X ) 2 + CV(^) 2 ] 0 ' 5
as medições d o C R M f o r n e c e m uma estimativa de incerteza
associada à rastreabilidade. O s outros c o m p o n e n t e s devem SÊT q -x /y CW{q) = [ C V W 2 + C V ( ? ) 2 ] 0 ' 5
estimados separadamente. N o q u e diz respeito à imprecisão de
método, a imprecisão a longo prazo (p. ex., observada a partir de
Por exemplo, as fórmulas mostradas p o d e m ser utilizadas para
medições de controle de qualidade) deveria ser utilizada em vez
calcular a incerteza c o m b i n a d a de u m a solução calibradora, a
d o SD a curto prazo observado para o C R M . A q u i s u p o m o s que
partir das incertezas de compostos d e referência, pesagem e etapas
o S D a de longo prazo é de 0,8 m m o l / L . D a d o s sobre variação
de diluição.
pré-analírica p o d e m ser obtidos p o r amostragem de u m a séTie de
Algumas relações entre a S D e distribuições não-gaussianas
pacientes, em duplicata ou p o r j u l g a m e n t o (incerteza d o Tipo B)
t a m b é m p o d e m ser de relevância para os cálculos de incerteza
de dados da literatura o u dados sobre analitos semelhantes. Pre-
(Tabela 13-7). Assim, se a incerteza de u m valor de C R M é d a d a
s u m i m o s aqui que SD PA equivale à m e t a d e d o SD analítico (isto
com alguma percentagem, isso pode ser e n t e n d i d o c o m o referên-
é, 0,4 m m o l / L ) . Finalmente, n ã o possuímos informações sobre
cia à distribuição de probabilidade retangular. C o m relação à
eventual c o m p o n e n t e de viés aleatória que possamos escolher
calibração de frascos, a distribuição triangular f r e q ü e n t e m e n t e é
para ignorar n o presente exemplo. A incerteza-padrão de resulta-
utilizada.
dos torna-se, então

"x = 1 " PA a + uí + w t _ c J 0 , 5 = [0,4 Z + 0,8^ + 0 , 2 6 ^210.5


] ORIENTAÇÕES, EXIGÊNCIAS REGULADORAS
— 0,93 ( m m o l / L ) E LICENCIAMENTO
Várias orientações e exigências normativas são de relevância c o m
relação aos m é t o d o s analíticos utilizados n a química clinica.
Neste caso, os c o m p o n e n t e s principais de incertezas é a impreci-
Exemplos de orientações d o CLSI são citados e m subseções indi-
são a longo prazo n o laboratório.
viduais e e m vários d o c u m e n t o s ISO. Aqui, algumas orientações
gerais serão brevemente mencionadas.
Avaliação Indireta da Incerteza peia Quantificação ISO 15189 Medicai Laboratories Particular Requirementsfor Quality
dos Componentes de Fonte de Erro Individuais and. Oompetence é u m p a d r ã o universal para a gestão de qualidade
C o m base n u m m o d e l o quantitativo d e t a l h a d o de p r o c e d i m e n t o e m laboratórios médicos, q u e especifica requisitos em t e r m o s
analítico, a abordagem-padrão avalia as incertezas associadas aos gerais, aplicáveis a todas as áreas. 9 A p a d r o n i z a ç ã o p r e t e n d e
parâmetros de entrada individuais e c o m b i n a esses c o n f o r m e a f o r m a r a base para a certificação d e laboratórios médicos. E m
lei de propagação de incertezas. 6 A relação entre a incerteza- adição às condições gerais de l a b o r a t ó r i o c o m relação ao con-
p a d r ã o c o m b i n a d a u c (j) de u m valor y e a incerteza de parâmetros trole de qualidade, a padronização sobre a c o m p e t ê n c i a médica,
independentes jq, x2.. *n dos quais essa d e p e n d e é interpretação de resultados de testes, seleção de testes, interva-
0,5 los de referência, aspectos éticos e segurança. U m anexo é
H c b ( x l , x 2 , . . )] = [ S c , 3 t í ( x i ) 3 ]
relacionado com a gestão da q u a l i d a d e de sistemas de c o m p u -
t a d o r de laboratório.
o n d e q é u m coeficiente de sensibilidade (o diferencial parcial de
y com relação a x,). Esses coeficientes de sensibilidade indicam
c o m o o valor de y varia e m f u n ç ã o de m u d a n ç a s nos parâmetros
de entrada x,. Se as variáveis n ã o são independentes, a relação
torna-se T A B E L A 1 3 - 7 I Relações entre Desvio-padrão e
Intervalo para D i v e r s o s T i p o s de
0.5
u c b ( * i . * f c - - •)] = [ £ c M * ; ) 2 + [ S = 1 c l u ( « ( , x k ) 1 ] Distribuições

Distribuição Distribuição
o n d e u(xj, xk) é a covariância entre x, e xi, e c, e a são os coefi- Distribuição Gaussiana Retangular Triangular
cientes de sensibilidade. A covariância está relacionada com o
SD = Metade da largura SD = Metatte da SD = Metade
coeficiente de correlação por
de intervalo 95%/t o g 7 5 (v) largura/V3 da largura/V6
~ metade da largura de
intervalo 95%/2
232 PARTE III Operações Laboratoriais

N o que diz respeito às exigências normativas, os regulamentos REFERÊNCIAS


d o CLIA nos Estados U n i d o s têm exercido u m a grande influên- 1 Bland JM, A l t m a n D G . Statistical m e t h o d s for assessing agreement
cia sobre considerações na qualidade em química clínica (Tabela between two m e t h o d s of clinicai measurement. Lnncet 1986;i:307 10
13-4). Sob a perspectiva d o fabricante, os requisitos da Food and 2 Clinicai a n d Laboratoiy Standards I n s t i t u t e / N C C L S . Evaluation of the
Drug Adminiscration (FDA) para a validação de novos ensaios são linearity of quantitative me a s ure me nt procedures: a statistical approach,
de primordial importância nos Estados U n i d o s . Na Europa, a Approved guideline. C L S 1 / N C C L S D o c u m e n t EP6-A. Wayne, PA:
diretiva IVD (Directive 98/79 of tfie Europeãn Cornmunity on ln-Vitro Clinicai and Laboratory Standards Institute, 2003.
Diagnostics) é uma regulamentação legislativa européia dirigida a 3. Clinicai and Laboratory Standards Instituce/NCCLS. M e t h o d
diagnósticos resultantes de manipulação m vitro. A diretiva exige comparison a n d bias estimation using patient samplcs; Approved
que o fabricante tenha u m sistema de gestão de qualidade e que guideline, 2 n d ed. C L S I / N C C L S D o c u m e n t EP9-A2. Wayne, PA:
os p r o d u t o s sejam validados por laboratórios competentes. Exige- Clinicai and Laboratory Standards Institute, 2002.

se q u e a rastreabilidade dos valores atribuídos aos calibradores 4- Clinicai a n d Laboiacory Standards I n s t i t u t e / N C C L S User protocol for
evaluation of qualitative test performance; Approved guideline C L S I /
ou materiais de controle, ou de ambos, deva ser validada por
N C C L S D o c u m e n t EP 12 A. Wayne, PA: Clinicai and Laboratory
procedimentos de medição de referência disponíveis e / o u mate-
Standards Institute, 2002.
riais disponíveis da mais elevada qualidade,
5. Dyblcaet R. Vocabulary for use in measurement procedures a n d
description of reference materiais in laboratory medicine. Eui J Clin
PACOTES DE PROGRAMAS DE C h e m Clin Biochem 1997;35:141-73.
COMPUTADORES 6. Ellison SLR, Rosslein VI, Williams A, eds. Eurachem/Cicac guide, C G
G e r a l m e n t e as análises estatísticas de huje sãu realizadas em 4: quantifying uncertainty in analytical measurement, 2 n d ed.
planilhas ou por programas de estatística. N o que diz respeito a E U R A C H E M / C I T A C , 2000: 4, 5, 9, 17 (see www.
este último, grandes pacotes de programas gerais ou programas m e a s u t e m e n t u n c e T r a i n t y . o r g / m u / Q U A M 2 0 0 0 - l . p d f , accessed January
mais simples, mais ou menos especializados, são aplicáveis à área 25, 2007).
de química clínica. U m a grande diversidade de pacotes gerais está 7 Fraser C G . Biological variation- F r o m principies to practice.
n o mercado (p. ex., SPSS, SAS, Stata, Systat e StatGraphics). Washington, D C : A A C C Press, 2001:504, 133-41.
Entre os programas de médio p o r t e pode-se m e n c i o n a r Gra- 8. Harris EK, Boyd ] C . Statistical bases of reference values in laboratory
phPad (www.graphpad.com) e SigmaStat. O Excel (Microsoft) medicine. New YOTIC. Mareei Dekker, 1995:238-50.
t a m b é m c o n t é m várias rotinas de estatística. O s programas gerais 9 International Organization for Standardization (ISO) Medicai
p o d e m prescindir de procedimentos de interesse da química laboratories—Pai ticular requirements for qualicy a n d competence
clínica (p. ex., procedimentos de D e m i n g e de Passing-Bablok). (15189). Geneva: ISO, 2003.
10. Linnet K. Evaluation of regression procedures for m e t h o d s comparison
Entre os programas mais ou menos especializados para química
studjes. Clin C h e m 1993;39:424-32.
clínica, pode-se m e n c i o n a r Analyze-it (www.analyze-it.com),
11. Linnet K. Necessary sample size for method comparison studies based
M e d C a l c (www.medcalc.be)j EP-avaluator (D. Rhoads Assoe.,
o n regression analysis. Clin C h e m 1999;45:882-94-
www dgrhoads com) e u m programa distribuído por u m dos
12. Linnet K, Kondratovich M. Partly nonparametric approach for
autores (KL), CBstat (www.cbstat.com). O ú l t i m o programa
determining the limit of detection. Clin C h e m 2004;50:732-40.
inclui rotinas automáticas para estimativa de limite de detecção
13. Passing H, Bablok W. A new biometrical procedure for testing rhe
e avaliação de linearidade, de acordo com recentes diretrizes de equality of measurements f r o m two different analyrical methods. J Clin
CLSI (NCCLS) e rotinas para formas ponderadas de análise de C h e m Clin Biochem 1983;21:709-20.
regressão. 14. Petersen PH, Fraser C G , Kallner A, Kenny D, eds Strategies to set
global analytical qnality specifications in laboratory medicine. Scand ]
Clin Lab Invest 1999;59(7M75-585.
15. T h i e n p o n t LM, Van Uytfanghe K, Rodriguez C D Metrological
tiaceability of calibration in the estimation and use of c o m m o n medicai
decision-making criteria. Clin C h e m Lab Med 2004:42-842-50.
CAPÍTULO 1 4

Estabelecimento e Uso de
Valores de Referência
Helge Erik Solberg, M.D., Ph.D.

OBJETIVOS se encaixem e m p a d r õ e s q u e caracterizem o u t r a s d o e n ç a s alter-


1. Definir os seguintes termos: nativas (diagnóstico p o r exclusão).
A interpretação dos dados d o laboratório médico é u m
Valor de referência
exemplo de decisão feita p o r c o m p a r a ç ã o . São necessários, por-
Valor de referência com base no indivíduo
t a n t o , valores de referência p a r a t o d o s os testes realizados e m labo-
Valor de referência com base na população
r a t ó r i o clínico n ã o a p e n a s de i n d i v í d u o s saudáveis, m a s t a m b é m
Critério de seleção
d e pacientes c o m d o e n ç a s relevantes. 6,13,14 I d e a l m e n t e , os valores
Amostra aleatória
observados deveriam ser c o m p a r a d o s c o m diversas coleções d e
Prevalência
valores de referência: valores d e pessoas saudáveis, d e u m a p o p u -
2. Comparar os critérios de seleção e exclusão e fornecer exemplos de lação não-diferenciada de u m hospital, d e pessoas c o m a d o e n ç a
cada um. típica, de i n d i v í d u o s a m b u l a t o r i a i s e valores prévios dos p r ó p r i o s
3. Determinar os intervalos de referência usando mensurações i n d i v í d u o s testados .â U m r e s u l t a d o laboratorial de u m p a c i e n t e
paramétricas e não-paramétricas. a p e n a s n ã o é c l i n i c a m e n t e útil se n ã o h o u v e r u m a c o m p a r a ç ã o
4. Definir a p r o p r i a d a d o s d a d o s . O e s t a b e l e c i m e n t o e o uso desses valores
sensibilidade clinica, d e referência são os t ó p i c o s deste capítulo.
especificidade clinica e
valor preditivo ESTABELECIMENTO DE VALORES DE
dos testes laboratoriais e como calculá-los.
REFERÊNCIA
5. Demonstrar, usando uma fórmula, como o valor preditivo de um C e r t a s c o n d i ç õ e s são necessárias para se c o m p a r a r os resultados
teste laboratorial é afetado pela prevalência. laboratoriais de u m p a c i e n t e c o m valores de referência possíveis
e válidos:
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES 1. T o d o s os g r u p o s de indivíduos-referência d e v e m ser clara-
A n á l i s e M u l t i v a r i a d a : C o n s i d e r a ç ã o de mais d e u m teste m e n t e definidos.
simultaneamente. 2. O paciente e x a m i n a d o deve assemelhar-se s u f i c i e n t e m e n t e
E s p e c i f i c i d a d e (Clínica): P r o p o r ç ã o d e i n d i v í d u o s s e m d o e n ç a c o m os indivíduos-referência (em t o d o s os grupos seleciona-
q u e a p r e s e n t a m resultados negativos. dos para c o m p a r a ç ã o ) e m t o d o s os aspectos q u e n ã o aqueles
I n d i v í d u o - r e f e r ê n c i a : I n d i v í d u o s e l e c i o n a d o c o m o base d e s o b investigação.
c o m p a r a ç ã o c o m i n d i v í d u o s sob investigação clínica, 3 A s c o n d i ç õ e s sob as q u a i s as a m o s t r a s são o b t i d a s e processa-
m e d i a n t e u s o de critério d e f i n i d o . das para a análise d e v e m ser c o n h e c i d a s .
P a r a m é t r i c o : U m a a b o r d a g e m estatística para análise de valores 4. Todas as q u a n t i d a d e s c o m p a r a d a s devem ser d o m e s m o tipo.
de referência q u e r e q u e r e m hipóteses d e distribuições 5 T o d o s os r e s u l t a d o s laboratoriais devem ser p r o d u z i d o s c o m
específicas; a a b o r d a g e m não-paramêtnca, p o r o u t r o lado, o u s o de m é t o d o s a d e q u a d a m e n t e p a d r o n i z a d o s s o b sufi-
n ã o faz n e n h u m a s u p o s i ç ã o a respeito da distribuição. ciente c o n t r o l e d e q u a l i d a d e analítico (ver C a p í t u l o 16).
P a r t i ç ã o : Processo p e l o qual u m g r u p o d e referência é 6. O s estágios na p a t o g ê n e s e das d o e n ç a s de objetivo diagnós-
s u b d i v i d i d o para reduzir a variação biológica e m cada tico devem ser m e n c i o n a d o s .
grupo. 7. Sensibilidade e especificidade diagnostica, prevalência e custos
S e n s i b i l i d a d e (Clínica): P r o p o r ç ã o de i n d i v í d u o s c o m d o e n ç a laboratoriais devem ser c o n h e c i d o s para t o d o s os testes labo-
q u e a p r e s e n t a m resultados positivos. ratoriais usados.
Valor d e R e f e r ê n c i a : Valor o b t i d o p o r observação ou
m e n s u r a ç ã o d e u m tipo particular d e q u a n t i d a d e a respeito
d e u m indivíduo-referência. Definição
O t e r m o valores normais era f r e q ü e n t e m e n t e u s a d o n o passado.
Surgiu u m a c o n f u s ã o , p o i s a palavra normal possui diversas cono-
tações m u i t o diferentes. C o n s e q ü e n t e m e n t e , esse t e r m o é agora

O
s d a d o s coletados d u r a n t e a consulta médica, o e x a m e c o n s i d e r a d o obsoleto e n ã o deve mais ser u s a d o . E m vez disso, a
clínico e as investigações s u p l e m e n t a r e s precisam ser Federação I n t e r n a c i o n a l d e Q u í m i c a C l í n i c a e M e d i c i n a Labora-
i n t e r p r e t a d o s p o r c o m p a r a ç ã o c o m d a d o s d e referência. torial ( I F C C ) 6 r e c o m e n d a o u s o d o t e r m o valores de referência e
Se a c o n d i ç ã o d o p a c i e n t e parece ser característica de u m a d o e n ç a t e r m o s relacionados, c o m o referência individual, limite de referência,
e m particular, assemelha-se a u m a d o e n ç a particular, o m é d i c o mtervalo de referência e valores observados. O s valores d e r e f e r ê n c i a
p o d e basear o diagnóstico n a observação (diagnóstico positivo). são r e s u l t a d o d e u m certo t i p o d e q u a n t i d a d e o b t i d a de u m ú n i c o
Esse diagnóstico é feito observando-se s i n t o m a s e sinais q u e n ã o i n d i v í d u o o u g r u p o de i n d i v í d u o s c o r r e s p o n d e n t e a u m a descri-
234 PARTE III Operações Laboratoriais

ção declarada que precisa ser divulgada e viabilizada paia uso de entre aqueles aceitos. Portanto, é necessário usar a melhor
outros. amostra referência obtida após todas as considerações práticas
E conveniente uma breve descrição de qualidades associadas terem sido levadas em conta Os dados deveriam então ser usados
ao termo valores de referência, como valores de referência associados e interpretados com o devido cuidado por causa dos possíveis
à saúde {próximo ao que se e n t e n d e pelo termo obsoleto valores vieses introduzidos pela não-aleatoriedade do processo de seleção
normais). Outros exemplos de palavras qualificadoras são (1) da amosrra
paciente diabético, (2) paciente diabético hospitalizado e (3) paciente Muitas vezes os valores de referência são separados por sexo,
diabético ambulatória!. Essas pequenas descrições evitam o engano grupos de idade e outros critérios necessários. Assim, definir o
c o m u m de que os valores de referência estão associados apenas critério de partição para a subclassificação de uma parte dos
a saúde. individuos-referência selecionados em grupos mais homogêneos
Existe mais u m a distinção entre valores de referência com também p o d e ser necessário (Quadro 14-2).6,14 Os métodos esta-
base no indivíduo e com base na população. Os valores de referên- tísticos p o d e m determinar se a partição é necessária. (Isso é dis-
cia com base no indivíduo são valores prévios, de um mesmo indi- cutido em u m a seção subseqüente nesse capítulo.) O n ú m e r o de
víduo, obtidos q u a n d o este estava em u m estado definido de critérios de partição geralmente deve ser m a n t i d o o m e n o r pos-
saúde. Os valares ãe referência com base na população são aqueles sível para se obter amostras de t a m a n h o suficiente para a deriva-
obtidos de u m grupo de indivíduos-referência sistematicamente ção de estimativas estatísticas válidas.
definido e são usualmente os tipos de valores referidos q u a n d o A idade e o sexo são os critérios mais freqüentemente usados
o termo valores de referência é usado sem palavras qualificadoras. para o subagrupamento, pois diversas análises variam significan-
temente entre diferentes idades e gênero (ver Capítulo 3). A
Seleção de Indivíduos-Referência idade p o d e ser categorÍ2ada em intervalos iguais (p. ex., por
U m c o n j u n t o de critérios de seleção determina quais indivíduos décadas) ou intervalos que são limitados pelos períodos da vida
devem ser incluídos no grupo de indivíduos-referência. Esses nos quais se observam grandes variações. Além disso, muitas
critérios de seleção incluem declarações descrevendo a fonte da vezes é conveniente o uso de grupos qualitativos de idade (p. ex.,
população, as especificações de critérios de saúde ou as doenças (1) pós-natal, (2) primeira infância, (3) infância, (4) pré-púbere,
de interesse. 6,H A seleção dos indivíduos-referência se faz com (5) púbere, (6) adulto, (7) pré-menopausa, (8) menopausa ou (9)
base essencialmente na aplicação dos critérios definidos para um geriátrico). O peso e a altura t a m b é m têm sido usados como
grupo de candidatos examinados. As características requeridas critérios para a categorização de crianças.
dos valores de referência determinam quais critérios devem ser
usados no processo de seleção. O Q u a d r o 14-1 lista os critérios Coleta de Amostras
importantes para serem usados na produção de valores de refe- A padronização pré-analítica da (1) preparação dos individues
rência associados à saúde. antes da coleta da amostra, (2) a coleta da amostra propriamente
Idealmente, o grupo de indivíduos-referência deve ser uma dita e (3) a manipulação da amostra antes da análise pode ser
amostra aleatória de todos os indivíduos na população de origem, eliminar ou minimizar vieses ou variações advindos desses fatores.
que preencham completamente os critérios de seleção. C o n t u d o , Esses passos podem reduzir o "ruído" biológico que de outro
é impossível obter u m esquema de amostragem estritamente alea- m o d o poderia dissimular "sinais" biológicos importantes da
tório na maioria das situações por uma diversidade de razões doença, risco ou efeito do tratamento.
práticas. Isso poderia implicar o exame e a aplicação dos critérios As magnitudes das fontes pré-analíticas de variação são clara-
de seleção para uma população inteira (milhares ou milhões de mente di&tiiitas para diferentes análises. Portanto, poderia se
indivíduos), e a seleção aleatória de uma parcela de indivíduos supor que p o d e m ser considerados apenas aqueles fatores que

QUADRO 14-1 Exemplas de Critérios de Exclusão para


Valares de Referência Associados à Saúde* QUADRO 14-2 Exemplos de Critérios de Partição para
Possível Subagrupamento dos Grupos de
DOENÇAS Referência
Fatores de Risco
Obesidade IDADE (NÃO NECESSARIAMENTE CATEGORIZADA POR INTERVALOS IGUAIS)
Hipertensão SEXO
Riscos advindos da ocupação ou do ambiente FATORES GENÉTICOS
Riscos determinados geneticamente Origem étnica
Grupos sanguíneos (ABO]
Ingestão de Agentes Farmacologicamente Ativos Sistema de histocompatibilidade (HLA)
Tratamento medicamentoso para doença ou acometimento Geres
Contraceptivas orais
Abuso de dragas FATORES FISIOLÓGICOS
Álcool Estágio do ciclo menstrual
Tabaco Estágio da gestação
Condição física
Estados Fisiológicos Específicos
OUTROS FATORES
Gestação
Socioeconómico
Estresse
Ambiental
Exercício excessivo
Cranobiológico
"O qufldio apenas lista algumas classes principais de critáríos e r!<Tw ser suplementado
com outros critérios relevantes com hase nasfontesconhecidas de variação tio lógica. HLA, antígenos dos leucócitos humanos.
Estabelecimento e Uso de Valores de Referência CAPÍTULO 14 235

c a u s a m v a r i a ç ã o i n d e s e j a d a p a r a a q u a n t i d a d e biológica p a t a a Freqüência FraqüènriR cumulativa


0.15- 1,0-
q u a l se p r e t e n d e p r o d u z i r valores d e referência. A p o s t u r a d o
c o r p o d u r a n t e a coleta d a a m o s t r a , p o r exemplo, é a l t a m e n t e B
relevante p a r a o e s t a b e l e c i m e n t o d o s valores d e referência e m
0,10-
análises d e amostras não-difimdíveis, c o m o a a l b u m i n a n o soro,
mas irrelevante para aqueles difundiveis, c o m o o sódio sérico. 0,5-
C o m o alternativa para isso, m u i t o s c o n s t i t u i n t e s são analisa-
dos n a s m e s m a s amostras clínicas. P o t t a n t o , p r o j e t a r sistemas 0.05
especiais para cada t i p o de q u a n t i d a d e é impraticável. Por essa
razão, t ê m s i d o r e c o m e n d a d o s p r o c e d i m e n t o s p a d r o n i z a d o s
para a coleta de a m o s t r a s de sangue p o r v e n o p u n t u r a e p u n ç ã o
^

n ,
• ^
j
1,0 2,0 3,0 1.0 2,0 3,0
d a pele. 2 , 3
Triglicerídeo, soro (mmol/L)
A ingestão de m e d i c a m e n t o s antes d a coleta causa u m pro-
b l e m a especial, Pode-se fazer u m a d i s t i n ç ã o e n t r e as m e d i c a ç õ e s
indispensáveis e dispensáveis. A ú l t i m a categoria de m e d i c a m e n - Figura 14-1 Distribuições hipotética e observada de 500 valores de
triglicerideos n o soro (em m m o l / L ) . A, As banas verticais do histograma
tos s e m p r e deve ser evitada p o r pelo m e n o s 2 dias antes d a coleta
mostram o número de observações n o intervalo, dividido pelo número
da a m o s t r a . O u s o de m e d i c a m e n t o s indispensáveis, c o m o
total d e observações. A curva é a probabilidade de distribuição estimada
pílulas contraceptivas ou m e d i c a ç ã o essencial, p o d e ser u m cri-
da população, assumindo-se a amostragem aleatória e u m a distribuição
tério de exclusão o u p a r t i ç ã o .
gaussiana em escala logarítmica B, A razão acumulada (barras) e
probabilidade cumulativa de distribuição estimada (curva). Os dados
Procedimentos Analíticos e Controle de
f o r a m gerados p o r c o m p u t a d o r para esta ilustração.
Qualidade
O s c o m p o n e n t e s essenciais necessários p a r a a d e f i n i ç ã o d e u m
g r u p o de valores de referência são especificações a respeito d o
(1) m é t o d o de análise, i n c l u i n d o i n f o r m a ç ã o sobre e q u i p a m e n t o ,
reagentes, calibradores, t i p o de d a d o s b r u t o s e m é t o d o para
cálculo; d o (2) c o n t r o l e de q u a l i d a d e (ver C a p í t u l o 16); e d o (3) N a s seções seguintes, assume-se q u e exista u m a distribuição
critério d e c o n f i a n ç a (ver C a p í t u l o 13). A s especificações devem h o m o g ê n e a das referências — o u a distribuição c o m p l e t a e m
ser c u i d a d o s a m e n t e descritas d e m o d o q u e o u t r o p e s q u i s a d o r s u b g r u p o s (se a p a r t i ç ã o for desnecessária) ou u m a distribuição
seja capaz de r e p r o d u z i r o e s t u d o e avaliar a c o m p a r a b i l i d a d e e m subclasses após a partição,
d o s valores de referência c o m os valores o b t i d o s pelos m é t o d o s
utilizados para a p r o d u ç ã o d o s valores d o s pacientes n o labora- inspeção da Distribuição
t ó r i o d e r o t i n a . Deve-se usar u m m e s m o m é t o d o analítico para E aconselhável dispor g r a f i c a m e n t e a distribuição das referências
assegurar a c o m p a r a b i l i d a d e e n t r e os valores d e referência e os e s u b s e q ü e n t e m e n t e inspecioná-la. U m h i s t o g r a m a , c o m o mos-
observados. t r a d o n a Figura 14-1, A, é p r e p a r a d o m a n u a l m e n t e o u p o r u m
p r o g r a m a d e c o m p u t a d o r . O e x a m e d o h i s t o g r a m a é u m a salva-
Tratamento Estatístico dos Valores de g u a r d a c o n t r a a aplicação ou a i n t e r p r e t a ç ã o e r r ô n e a d o s m é t o d o s
Referência estatísticos e p o d e f o r n e c e r i n f o r m a ç õ e s i m p o r t a n t e s a respeito
A p ó s a realização d a análise das a m o s t r a s d e referência, os valores d o s d a d o s . E m u m e x a m e d e d i s t r i b u i ç ã o devem ser considera-
de referência são s u b m e t i d o s ao t r a t a m e n t o estatístico. Esse das as seguintes características:
t r a t a m e n t o inclui (1) p a r t i ç ã o dos valores de referência e m 1. Valores a l t a m e n t e d i s c r e p a n t e s (outliers) p o d e m r e p r e s e n t a r
g r u p o s a p r o p r i a d o s , (2) i n s p e ç ã o d a d i s t r i b u i ç ã o de cada g r u p o , valores e r r ô n e o s
(3) i d e n t i f i c a ç ã o d o s valores discrepantes {outliers) e (4) determi- 2. A s distribuições b i m o d a i s o u p o l i m o d a i s p o s s u e m mais de
n a ç ã o d o s limites de referência. u m pico e p o d e m i n d i c a r q u e a d i s t r i b u i ç ã o n ã o é h o m o g ê -
n e a e m razão d a m i s t u r a de d u a s ou mais distribuições. Se
Partição dos Valores de Referência a distribuição n ã o for h o m o g ê n e a , o critério u s a d o para
O s s u b c o n j u n t o s d e indivíduos-referência e d e seus valores d e selecionar os indivíduos-referência deve ser reavaliado, o u
r e f e r ê n c i a c o r r e s p o n d e n t e s p o d e m ser s e p a r a d o s d e a c o r d o c o m deve-se separar os valores d e a c o r d o c o m idade, sexo ou
sexo, i d a d e e outras características ( Q u a d r o 14-2). A p a r t i ç ã o t e n t a d o s o u t r o s fatores relevantes.
t a m b é m é c o n h e c i d a c o m o estratificação, categorização o u suhagru.- 3. A f o r m a d a distribuição p o d e ser assimétrica (inclinada) ou
pamento, e seus r e s u l t a d o s são c h a m a d o s d e partes, extratos, cate- m a i s ou m e n o s a g u d a d o q u e a d i s t r i b u i ç ã o gaussiana simé-
gorias, classes ou subgrupos. O objetivo d a p a r t i ç ã o é reduzir, se trica e e m f o r m a de s i n o (curtose — "grau de a c h a t a m e n t o "
possível e necessário, a variação e n t r e os i n d i v í d u o s para m i n i - — não-gaussiana). 11,13 ' 14
mizar o " r u í d o " biológico. A m e n o s q u e a variação e n t r e classes 4 A inspeção visual t a m b é m p o d e f o r n e c e r estimativas iniciais
resulte e m intervalos d e referência mais estreitos e específicos. d a localização dos limites de r e f e r ê n c i a q u e são úteis q u a n d o
Diversos critérios estatísticos p a r a a p a r t i ç ã o t ê m sido sugeridos." 1 se verifica a validação d a c o m p u t a ç ã o d o s d a d o s .
Pode-se fazer, p o r exemplo, teste de d i f e r e n ç a de m é d i a s ou
desvios-padrão das distribuições. E n t r e t a n t o , tem-se m o s t r a d o Identifícação e Manipulação dos Outliers
q u e d i f e r e n ç a s de localização ou variação p o d e m ser estatistica- U m outlier é u m valor e r r a d o q u e desvia significativamente dos
m e n t e significantes e a i n d a m u i t o p e q u e n a s p a r a justificar a p r ó p r i o s valores d e referência. A i n s p e ç ã o visual d o h i s t o g r a m a
s u b s t i t u i ç ã o de u m ú n i c o i n t e r v a l o de referência total c o m diver- é u m m é t o d o confiável p a r a a i d e n t i f i c a ç ã o cie possíveis outliers.
sos intervalos classe-específicos. Harris e Boyd"1 e Lathi e co- C o n t u d o , o i n s p e t o r precisa m a n t e r e m m e n t e q u e valores pró-
autores 7 descreveram o u t r o s critérios p a r a a p a r t i ç ã o e m é t o d o s x i m o s ao p o n t o mais d i s t a n t e da c a u d a longa d e u m a distribui-
estatísticos para esse p r o p ó s i t o . ção i n c l i n a d a p o d e m ser f a c i l m e n t e c o n f u n d i d o s c o m outliers. Se
236 PARTE III Operações Laboratoriais

a distribuição for positivamente inclinada, a inspeção do histo-


grama, exibindo-se o logaritmo dos valores, p o d e ajudar na iden-
tificação dos outliers. Alguns outliers também p o d e m ser identifi-
cados por testes estatísticos, 5,614 mas não há u m m é t o d o único
para detectar os outliers em todas as situações que estes p o d e m
ocorrer. A seguir, são listados os dois principais problemas mais
f r e q ü e n t e m e n t e encontrados-
1. Muitos testes assumem que o tipo da verdadeira distribuição
é conhecido antes de o teste ser usado. Alguns testes reque-
r e m especificamente q u e a distribuição seja normal (gaus-
siana). C o n t u d o , as distribuições biológicas são m u i t o fre-
q ü e n t e m e n t e não-gaussianas e seus tipos raramente são
conhecidos em p r o f u n d i d a d e . O teste de amplitude, descrito
nas recomendações da IFCC, 6 é relativamente robusto e
Figura 14-2 Intervalo de referência central de 9 5 % com percentil
envolve a identificação de u m valor extremo como outlier se
de 2,5 e 97,5 e seus intervalos de confiança de 0,90 das 5 0 0
a diferença entre os dois maiores valores (ou menores) na
concentrações séncas de rriglicerídeos (ver Figura 14-1), c o m a
distribuição exceder u m terço da amplitude de todos os
d e t e r m i n a d o pelo m é t o d o paramétrico (ver texto relacionado). As curvas
valores
são as probabilidades de distribuição estimadas.
2. Diversos testes para outliers assumem que os dados contêm
apenas u m único outlier. Assim, o teste de amplitude geral-
m e n t e falha na presença de vários outliers.
U m m é t o d o desenvolvido em 2005 parece fornecer u m a
solução promissora para ambos os problemas antes menciona- prática, suas diferenças numéricas são ínfimas q u a n d o baseadas
dos. 15 O algoritmo opera e m dois passos: (1) transforma matema- em pelo menos 100 valores de referência.
ticamente os dados originais para aproximar a u m a distribuição O intervalo interpercentil é (1) simples de se estimar, (2) mais
n o r m a l e (2) estabelece a detecção de limites com base na parte c o m u m e n t e utilizado e (3) r e c o m e n d a d o pela IFCC. Ê É definido
central da distribuição transformada. como u m intervalo limitado por dois percentis de distribuição
Os valores desviados identificados como possíveis outliers n ã o de referência. U m percentil denota u m valor que divide a distri-
devem ser descartados automaticamente. Os valores devem ser buição de referência de m o d o que uma porcentagem específica
incluídos ou excluídos de f o r m a racional. Os registros dos valores desses valores tenha magnitudes menores o u iguais ao valor limi-
suspeitos devem ser verificados e quaisquer erros, corrigidos. Em tante. Por exemplo, se 2,32 m m o l / L (205,3 m g / d L ) for o percen-
alguns casos, os valores desviados devem ser rejeitados por não til 97,5 de triglicerídeos séTicos, 97,5% da concentração dos
encontrarem causas não-passíveis de correção, como condições valores são iguais ou menores q u e esse valor.
previamente desconhecidas que qualificam os indivíduos para a A definição d o intervalo de referência com u m intervalo
exclusão d o grupo de Lndividuos-referência. central de 9 5 % limitado pelos percentis 2,5 e 97,5 é u m a arbi-
trariedade, mas u m a convenção c o m u m (Figura 14-2); isto é,
Determinação dos Limites de Referência 2,5% dos valores são cortados em ambas as caudas da distribui-
Na prática clínica, u m valor observado de u m paciente geral- ção de referências. 6 O u t r o t a m a n h o ou u m a localização assimé-
m e n t e é comparado com o intervalo de referência correspon- trica d o intervalo de referência pode ser mais apropriado em
dente, o qual é limitado por u m par de limites de referência. Esse casos particulares.
intervalo, o qual pode ser d e f i n i d o de diferentes maneiras, é u m a A precisão de um percentil como estimativa de u m valor de
condensação útil da informação carregada pelo grupo total de população depende d o t a m a n h o do subgrupo e é m e n o s preciso
valores de referência. q u a n d o o n ú m e r o de observações é baixo. Se assumirmos a
Os termos limites de referência e limitei de decisão clinica n ã o realização de u m a amostragem aleatória, é possível determinar o
devem ser confundidos. O s limites de referência descrevem a intervalo de confiança d o percentil (isto é, os limites dentro dos
distribuição de referências e fornecem informação sobre a varia- quais o verdadeiro percentil está localizado com u m grau de
ção observada dos valores n o grupo selecionado de indivíduos- confiança específico) (Figura 14-2). O intervalo de confiança 0,90
referência. Portanto, a comparação de novos valores com esses do percentil 97,5 (limite de referência superior) para os triglice-
limites fornece apenas informação sobre a similaridade ao dado rídeos séricos pode, por exemplo, ser de 2,22 a 2,62 m m o l / L
grupo de valores de referência. Em contrapartida, os limites de (196,5-231,8 m g / d L ) . Poderia se esperar o verdadeiro percentil
decisão clínica fornecem u m a separação ótima entre as categorias nesse intervalo com u m a confiança de 0,90 se todas as concen-
clínicas. Esses limites de decisão clínica têm base nos valores de trações de triglicerídeos séricos da população fossem mensuradas.
referência de diversos grupos de indivíduos (p. ex., indivíduos O t a m a n h o m í n i m o requerido da amostra, na teoria, para a
saudáveis e pacientes com doenças relevantes) e, dessa forma, são estimativa de percentis 2,5 e 97,5 é de 40 valores, mas pelo menos
usados com o propósito d e diagnóstico diferencial. 120 valoTes de referência são necessários paTa se obterem estima-
O termo amplitude de referência é utilizado algumas vezes para tivas confiáveis.
o t e r m o intervalo de referência, mas esse uso deve seT desencora- O intervalo interpercentil tem sido determinado tanto por
jado, pois o termo estatístico amplitude denota a diferença (um métodos estatísticos paramétricos como não-paramétricos. O
valor único!) entre os valores máximo e m í n i m o em u m a distri- m é t o d o p a r a m é t r i c o para a determinação de percentis e de seus
buição. intervalos de confiança assume u m certo tipo de distribuição e
As categorias de intervalos de referência incluem (1) intervalo isso se faz com base n a estimativa de parâmetros da população,
de tolerância, (2) intervalo de predição e (3) intervalo interper- como a média e o desvio-padrão (DP). Por exemplo, u m m é t o d o
centil. 6 A escolha entre esses três pode ser importante para definir paramétrico é usado q u a n d o se acredita que a verdadeira distri-
certos problemas estatísticos sistematicamente definidos, mas, na buição seja gaussiana e os limites de referência (percentis) sejam
Estabelecimento e Uso de Valores de Referência CAPÍTULO 14 237

determinados c o m o os valores localizados dois D P abaixo e 3. Determine os pereentis e n c o n t r a n d o os valores de referência


acima da média. Em sua maioria, os métodos paramétricos são, originais que correspondem aos números classificados com-
de fato, baseados na distribuição gaussiana. Se a distribuição de putados, desde que os números classificados sejam inteiros.
referência tiver outra forma, p o d e m ser usadas funções matemá- D o contrário, é necessária a interpolação entre os dois
ticas que transformam os dados para u m a forma mais apToxi- valores limitantes.
m a d a da gaussiana. O método não-paramétrico não assume nada 4. Finalmente, determine o intervalo de confiança de cada
a respeito do tipo de distribuição e não usa estimativas de parâ- percentil por meio do uso da distribuição binomial. A Tabela
metros de distribuição. Os pereentis são determinados simples- 14-1 facilita esse passo para o intervalo de confiança de 0,90
m e n t e pelo corte de u m a porcentagem necessária de valores em de pereentis 2,5 e 97,5. O s números classificados limitantes
cada cauda d o subgrupo da distribuição de referência. para cada percentil podem ser localizados na tabela.
Q u a n d o os resultados obtidos por esses dois métodos são A Tabela 14-2 mostra u m exemplo de determinação não-
comparados, as estimativas dos pereentis quase sempre são muito paramétrica de pereentis usando os valores de triglicerídeos
semelhantes. Geralmente se prefere u m método não-paramétrico séricos exibidos na Figura 14-1.
simples e confiável, especialmente em versão auto-suficiente
("Íjootsíraf)"), do que o m é t o d o paramétrico. Estimativa auto-suficiente (Soofsfrap)
O método autosuficiente 411c descrito aqui é u m a extensão do método
não-paramétrico. Contudo, o princípio autoíuficiente pode ser
Método Não-paraméírico
empregado em qualquer método de estimativa, paramétrico ou não-
Existem diversos métodos não-paramétricos disponíveis, 14 mas os
paramétrico. O método consiste nos seguintes passos:
baseados em dados ordenados são simples e confiáveis e permi-
1. Sorteie, com reposição, amostras aleatórias de t a m a n h o n a
tem a estimativa não-paramétrica dos intervalos de confiança dos
partir do subgrupo de n valores de referência. Pode-se sortear
pereentis. 4,6,12 ' 14
"com reposição" se cada valor aleatoriamente selecionado d o
Os passos em u m procedimento não-paramétrico são os
subgrupo é m a n t i d o n o subgrupo, de m o d o que possa par-
seguintes:
ticipar na seleção aleatória do próximo valoT. O n ú m e r o de
1. D i s p o n h a os n valores de referência em ordem crescente de Teamostragens deve ser alto (500 é u m n ú m e r o razoável de
magnitude e ordene os valores. O valor m í n i m o tem n ú m e r o repetições).
1 na classificação, o próximo valor tem n ú m e r o 2 e assim 2. Para cada reamostragem estime os limites de referência supe-
por diante até o valor máximo, classificação n ú m e r o n, ser rior e inferior (pereentis) por procedimento não-paramétrico
atingido. Devem-se atribuir números de classificação conse- baseado em classificação previamente descrita. (Omita o
cutivos para dois ou mais valores idênticos (empate de passo 4, estimativa dos intervalos de confiança.) G u a r d e as
dados). A disposição e classificação p o d e m ser feitas facil- duas estimativas para cada repetição.
m e n t e com u m programa de planilha como o EXCEL. 3. Após completar todas as repetições, use a média das reamos-
2. C o m p u t e os números classificados dos pereentis 2,5 e 97,5 tragens estimadas de cada u m dos dois limites de referência
como 0,025(n + 1) e 0,975(n + 1), respectivamente. como estimativa final.

TABELA 14-1 Intervalos de C o n f i a n ç a Não-paramétricos dos Limites de Referência*

POSIÇÃO DOS NÚMEROS POSIÇÃO DOS NÚMEROS


Tamanho da Amostra Inferior Superior Tamanho da Amostra Inferior Superior
119-132 1 7 566-574 8 22
133-160 1 8 575-598 9 22
161-187 1 9 599-624 9 23
1B8-189 2 9 625-631 10 23
190-218 2 10 632-665 10 24
219-248 2 11 666-674 10 25
249-249 2 12 675-698 11 25
250-279 3 12 699-724 11 26
280-307 3 13 725-732 12 26
308-309 4 13 733-765 12 27
310-340 4 14 766 773 12 28
341-363 4 15 774-799 13 28
364-372 5 15 800-822 13 29
373-403 5 16 823-833 14 29
404-417 5 17 834-867 14 30
418-435 6 17 868-871 14 31
436-468 6 18 872-901 15 31
469-470 6 19 902-919 15 32
471-500 7 19 920-935 16 32
501-522 7 20 936-967 16 33
523-533 8 20 968-970 17 33
534-565 8 21 971-1.000 17 34

* A tateia mostra a posição dos números do intervalo de confiança de 0,90 d o percentil 2,5 para amostras com 119 a 1.000 valores. Paia obter a posição
correspondente dos números do percentil 97,5, subtraia os números de (TI 1), onde n É o tamanho da amostra.
De IFCC.
238 PARTE III Operações Laboratoriais

TABELA 14-2 Determinação Não-paramétrica do Intervalo de Referência*


VALORES SORTEADOS E POSICIONADOS DE TRIGLICERÍDEOS SÉRICOS NA CAUDA ESQUERDA DA DISTRIBUIÇÃO:
Valores: 0,41 0,43 0,45 0,46 0,47 0,49 D,51 0,55 0,55 0,55
Posição: 1 2 3 4 5 6 7 8 £ 10
Valores: 0,56 0,58 0,58 0,61 0,62 0,62 0,64 0,64 0,65 0,65
Posição: 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

VALORES SORTEADOS E POSICIONADOS DE TRIGLICERÍDEOS SÉRICOS NA CAUDA DIREITA DA DISTRIBUIÇÃO:


Valores: 2,21 2,22 2,26 2,27 2,27 2,28 2,30 2,31 2,34 2,35
Posição: 481 402 483 484 485 48G 487 408 489 490
Valores: 2,40 2,50 2,55 2,62 2,63 2,65 2,72 2,78 2,90 2,91
Posição: 491 492 493 494 495 496 4â7 498 499 500

CÁLCULO DA POSIÇÃO DOS NÚMEROS DOS PERCENTIS:


Inferior: 0,025 (500 + 1) = 12,5
Superior: 0,975 (500 + 1) - 488,5

ENCONTRO DOS VALORES ORIGINAIS CORRESPONDENTES À POSIÇÃO DESSES NÚMEROS:


Limite de referência inferior {perGentil 2,5) Q.56
Limite de referência superior (percentil 97,5): 2,32 (por interpolação)

POSIÇÃO DOS NÚMEROS E VALORES DO LIMITE DE CONFIANÇA DE 0 , 9 0 DO LIMITE DE REFERÊNCIA INFERIOR:


Posição dos números (ver Tabela 14-1): 7 e 19
Limites de contiança: 0,51 e 0,65

POSIÇÃO DOS NÚMEROS E VALORES DO LIMITE DE CONFIANÇA DE 0 , 9 0 DO LIMITE DE REFERÊNCIA SUPERIOR:


Posição dos números (ver Tabela 14-1): 500 + 1 - 19 = 482
5C0 + 1 - 7 = 494
Limites de contiança: 2,22 e 2,62

RESUMO:
Limite de referência inferior: 0,58 [0,51-0,65] mmol/L
Limite de referência superior: 2,32 [2,22-2,62] mmol/L

I *A tabela mostra um exemplo usando as 500 concentrações de triglicerídeos séricos dispostas na Figura 14-1. Veja o texto para a descrição d o m é t o d o
não-paramé tricô. A unidade de todas as concentrações na tabela é de m m o l / L

Se a distribuição de referência não for significativamente


4. Determine o intervalo de confiança de 0,90 de cada limite diferente da distribuição gaussiana, os percentis 2,5 e 97,5 serão
de referência da distribuição das estimativas do percentil. estimados pelos valores aproximadamente dois DP em cada lado
Entre os métodos disponíveis para a estimativa dos limites de da média, ou mais precisamente
referência, prefere-se o m é t o d o auto-suficiente porque reproduz
estimativas confiáveis de ambos os percentis e seus intervalos de Percentil 2,5 = x - 1,96 x D P
confiança. E necessário u m computador para processar u m
grande n ú m e r o de repetições auto-suficientes. 12 Percentil 97,5 = x + 1,96 x D P

Método Paramétrico O intervalo de confiança de 0,90 de cada percentil é estimado


O método paramétrico 4 ' 6,13,14 é muito mais complicado que o pelos dois limites seguintes:
não-paramétricô e geralmente requer o uso de u m programa
estatístico de computador q u a n d o são processadas amostras
grandes. 12 O método paramétrico para estimar percentis assume
que a verdadeira distribuição é gaussiana. U m a fase crítica no Limite de confianca inferior = limite de percentil 2,81 X —j=
vn
método paramétrico, portanto, é testar o nível de ajuste da dis-
tribuição de referência a u m a hipótese de distribuição gaussiana. SD
U m teste simples é o exame da distribuição cumulativa (Figura Limite de confianca superior = limite de percentil + 2 , o l x —
14-1, B) q u a n d o traçado sobre u m papel de probabilidade gaus- vn
siana, a qual caracteriza u m eixo vertical não linear com base na
distribuição gaussiana. Se a distribuição for gaussiana, o traçado
deverá ser quase u m a linha reta. C o n t u d o , a avaliação visual dos Se a distribuição de referência não for gaussiana, a transfor-
desvios da uma linha reta é muito difícil, devido à não-lineari- mação matemática dos dados pode ajustar a forma para aproxi-
dade das distâncias verticais n o gráfico. Muitos programas esta- mar a distribuição gaussiana. U m a observação freqüente de inte-
tísticos de computador possuem bons testes de ajuste (p. ex., resse é que os valores transformados logaritmicamente de uma
testes com base em coeficientes de inclinação e curtose, o teste distribuição com a cauda direita longa (positivamente inclinada)
de Kolmogorov-Smirnov, ou o teste de Anderson-Darling). 6,12,14 se aproximam muito da distribuição gaussiana. Essa informação
Estabelecimento e Uso de Valores de Referência CAPÍTULO 14 239

é a base para o uso c o m u m das transformações logarítmicas e de semelhante ao teste de hipótese, mas raramente é testado esta-
raiz quadrada q u a n d o os limites de referência são estimados tisticamente n o sentido restrito. E aconselhável considerar os
como descrito n a seção seguinte. Se essas duas funções falharem valores de referência como u m critério para u m a avaliação m e n o s
em transformar os dados em uma distribuição próxima da gaus- formal do que o teste de hipótese.
siana, mais transformações gerais podem ser usadas. Essas funções O clínico ou o serviço de saúde deveria ter mais informações
são descritas em outra literatura relevante. 4,6,n ' 14 sobre os valores de referência necessários para a interpretação. 6
Para aplicar o procedimento paramétrico, são percorridos os Os intervalos de referência para todos os testes laboratoriais
seguintes passos: p o d e m ser apresentados ao médico ou ao serviço de saúde em
1. Transformar os dados com u m a funçãodogarítmica y = log(x) u m folheto, j u n t o com informações sobre (1) os métodos de
ou pelo uso de raiz quadrada: J ~ •. (Pode-se usar ou análise, (2) sua imprecisão e (3) a descrição dos valores de refe-
logaritmos naturais, ln(x), ou logaritmos comuns de Briggs, rência. U m a apresentação conveniente d o valor observado e d o
logioW.) Então, teste o ajuste à distribuição gaussiana pelo intervalo de referência n o m e s m o relatório pode ser útil para o
uso dos métodos descritos anteriormente. Se ambas as trans- clínico ocupado ou serviço de saúde. Por exemplo, os intervalos
formações falharem, deverão ser usadas mais funções gerais, de referência p o d e m ser pré-impressos n o formato dos relatórios,
as quais são n o r m a l m e n t e mais complicadas, ou o método ou o sistema de computador p o d e selecionar os intervalos de
não-paramétrico simples descrito anteriormente. referência apropriados, específicos de idade e sexo, de u m b a n c o
2. C o m p u t e , então, a média 0 ) e o desvio-padrão (DP,,) dos de dados e imprimir em seguida ao resultado d o reste nu em
dados transformados forma de gráfico.
3. A seguir, estime os pereentis e seus intervalos de confianca U m valor observado pode ser classificado como baixo,
na escala transformada com as fórmulas já apresentadas, com normal ou alto (três classes), d e p e n d e n d o de sua localização com
y para x e DP, para DP. relação ao intervalo de referência. Nos relatórios, uma prática
4. Finalmente, reconverta os pereentis e seus intervalos de con- conveniente é destacar resultados não-usuais (p. ex., mediante
fiança para a escala dos dados originais pelo uso de f u n ç ã o uso de letras B ou A, para baixo e alto, respectivamente).
inversa — antilogaritmos ou elevação ao quadrado, respecti- O u t r o método popular de classificação é a expressão d o valor
vamente. observado em u m a medida de distância estatística. Por exemplo,
Por exemplo, a média e o D P dos valores de triglicerídeos a bem conhecida unidade DP, ou a de desvio n o r m a l equiva-
séricos da Figura 14-1 após a transformação logarítmica (logarit- lente, é u m tipo de medida e é calculada pela diferença entre o
mos naturais) são J = 0,172 e DP 5 = 0,357. O percentil 2,5 é valor observado e a média dos valores de referência dividida por
seu DP. 6 Essa medida, contudo, n ã o será confiável se a distribui-
0,172 - 19,6 x 0,357 = - 0 , 5 2 8 ção dos valores for inclinada.

Percentil 2,5 = e" 0 ' 528 = 0,59 Regiões de Referência Multivariadas com
Base na População
O limite de referência inferior dos triglicerídeos séricos é, As seções anteriores deste capitulo discutiram os valores de
portanto, 0,59 m m o l / L (52,2 mg/dL). O intervalo de confiança referência com base na população univariada e quantidades
de 0,90 desse percentil é derivadas destas. C o n t u d o , esses valores não se ajustam à situa-
ção clínica c o m u m na qual os valores observados de diversos
- 0 , 5 2 8 - 2,81 x 0,357 A/5ÕÕ = - 0 , 5 7 3 testes laboratoriais estão disponíveis para interpretação e tomada
de decisão. Por exemplo, na média, 10 testes laboratoriais indi-
Limite de confiança inferior = e"0,573 = 0,56 viduais são requisitados em cada amostra recebida n o laborató-
TÍo. Cada valot observado é comparado com os valores ou inter-
- 0 , 5 2 8 + 2,81 x 0,357 /V5ÕÕ = - 0 , 4 8 3 valos de referência correspondentes (isto é, realização de compa-
rações unkmiadas múltiplas), ou o grupo de valores observado é
Limite de confiança superior = e~0,483 = 0,62; considerado como u m a única observação multivariada e inter-
pretado como tal por uma comparação muitwanada. Apenas o
isto é, 0,56 a 0,62 m m o l / L (49,5-54,9 mg/dL). O percentil 97,5 último método, conhecido como análise multivariada, evita
(e seu intervalo de confiança de 0,90) é encontrado pelo mesmo uma fração muito alta de resultados falso-positivos (ver as subse-
método como sendo 2,39 (2,29 a 2,50) m m o l / L [211,5 (202,7- ções seguintes).
221,2) mg/dL]. Os leitores p o d e m verificar esses resultados
como u m exercício de aprendizado. Conceito Multivariada
A comparação com a Tabela 14-2 demonstra que os métodos U m a observação univariada, como u m único resultado laborato-
não-paramétricos e os paramétricos resultam em estimativas de rial, pode ser representada graficamente como u m ponto sobre
limites de referência (pereentis) muito semelhantes. Os interva- u m a linha que representa c eixo ou escala de valores. Os resulta-
los de confiança paramétricos, contudo, são u m pouco mais dos obtidos pelos dois testes laboratoriais realizados na mesma
estreitos do que os não-paramétricos. amostra (uma observação bivariada) podem ser dispostos como
u m ponto em u m plano definido por dois eixos perpendiculares.
USO DE VALORES DE REFERÊNCIA Três resultados levam a uma observação trivariada e a u m ponto
A interpretação dos dados clínicos laboratoriais requer a com- n o espaço definido por três eixos perpendiculares. Q u a n d o
paração dos valores d o paciente com os valores de referência. existem mais de três observações, a mente h u m a n a não é capaz
de visualizar u m a observação multivariada (mais do que três
Apresentação de um Valor Observado com dimensões). Não obstante, é possível considerar a observação
Relação aos Valores de Referência multivariada como u m ponto em u m hiperespaço multidimensio-
U m valor observado (valor d o paciente) pode ser comparado nal com tantos eixos mutuamente perpendiculares quanto resul-
com os valores de referência. Essa comparação é freqüentemente tados de diferentes testes. (Nesse contexto, o prefixo hiper- significa
240 PARTE III Operações Laboratoriais

Indivíduo

Grupo (p'o)

li, |i x

F i g u r a 1 4 - 4 A relação entre as distribuições de referência com base


na população e n o indivíduo e intervalos de referência. O exemplo é
hipotético e as duas distribuições são, por simplicidade, gaussianas. As
médias e os desvios-padrão hipotéticos são ]i e G (para a população) e [i
e a, (individuo i); x, análise do resultado. (Modificado de Harris EK.
Figura 14-3 Regi ao de referência bivariada (elipse), comparada com Effects o n intra- and inter individual variation on the appropriate use of
a região definida por dois intervalos de referência univariados (pkno). normal ranges. Clin Chem 1974;20:1536.)
Nesse exemplo, as duas distribuições de referência univariadas ao longo
dos eixos (análise dos resultados d o teste 1) e (teste 2) são
gaussianas. A interpretação correta dos dois padrões, a e b, é possivel
apenas pela comparação com a região de referência bivariada (elipse). distribuição tem base em diversas amostras coletadas por u m
período de t e m p o em u m único indivíduo, o i-ésimo indivíduo.
Essa média hipotética é p , e o DP,
Se u m valor observado estiver localizado fora da dependência
dos percentis 2,5 e 97,5, o intervalo de referência pessoal ou com
"mais do que três dimensões".) Essas observações multivariadas são base n o indivíduo, a causa p o d e ser a alteração n o estado bioquí-
também conhecidas como padrões ou perfis. U m a distribuição mui- mico, sugerindo a presença de doença. A Figura 14-4 demonstra
tivariada, portanto, é representada por um agrupamento de pontos que esse valor observado ainda pode estar dentro d o intervalo
em u m plano, em u m espaço ou em u m hiperespaço, dependendo com base na população. A sensibilidade do último intervalo a
da dimensional idade da observação. Diversos métodos estatísticos alterações n o estado bioquímico do indivíduo d e p e n d e conse-
têm base em métodos multivariados e alguns destes são extensões q ü e n t e m e n t e da localização da média ps do indivíduo Telativa à
diretas de métodos univariados. 8 média c o m u m p e às magnitudes relativas dos DP Os e O corres-
pondentes. U m a média pi próxima à p e u m p e q u e n o Oj em
Região de Referência Multivariada relação ao (7pode ocultar totalmente as alterações do individuo
E possível definir u m a região de referência multivariada com base dentro d o intervalo de referência com base na população.
na junção da distribuição dos valores de leferência para dois ou Existem as duas seguintes soluções possíveis para o problema
mais testes laboratoriais. Essa região multivariada não é u m a áiea da insensibilidade clínica dos intervalos de referência com base
de ângulo reto ou um biperplann, rnas assemelha-se a uma elipse na população:
n o plano (Figura 14-3) ou u m corpo elipsóide ou hipercorpo 1. Podem ser feitas tentativas de reduzir a variação nos valores
q u a n d o existem mais de duas dimensões. Essa região de referên- de referência pela partição em subclasses mais homogêneas,
cia pode ser u m a extensão direta d o intervalo de 9 5 % univariado como discutido anteriormente.
a u m a situação multivariada; isso pode ser agrupado para próximo 2. Os valores prévios do indivíduo, obtidos em u m estado de
de 9 5 % dos pontos centrais dos dados de referência multivaria- saúde b e m definido, p o d e m se usados como a referência para
dos. 1 Nesse caso, apenas 5 % de resultados falso-positivos pode- qualquer valor f u t u r o . ^ A aplicação dos valores com base
riam ser esperados, i n d e p e n d e n t e m e n t e da dimensionalidade, n o indivíduo torna-se mais viável como "exame médico" por
O uso de regiões de referência multivariadas geralmente testes de laboratório, e o armazenamento de resultados em
requer o auxílio do computador. O programa de computador c o m p u t a d o r fica disponível para grandes segmentos da popu-
seleciona u m grupo dos resultados obtidos por diversos testes lação geTal.
laboratoriais realizados na mesma amostra e calcula u m índice.
A interpretação da observação multivariada com relação aos Transferibilidade dos Valores de Referência
valores de referência envolve, então, a comparação do índice com A determinação de valores de referência confiáveis para cada teste
u m valor critico estimado de u m grupo correspondente de valores n o acervo de dados do laboratório é u m a tarefa f u n d a m e n t a l que
de referência. 1 f r e q ü e n t e m e n t e está muito além das capacidades d o laboratório
individual. Portanto, o uso de valores de referência que são
Valores de Referência com Base no Indivíduo gerados em outro laboratório p o d e ser conveniente. Essa tarefa
A Figura 14-4 ilustra o problema inerente associado aos valores será possível se forem satisfeitas as seguintes condições: 9
de referência com base na população. A figura mostra duas dis- 1. A população examinada por ambos os laboratórios deve ser
tribuições de referência hipotéticas. U m a representa a distribui- descrita e combinada adequadamente.
ção de referência c o m u m com base em amostras únicas obtidas 2. O s subgrupos dos dados do laboratório de ambos lugares
de u m grupo de diversos individuos-refetência diferentes. Apre- devem ser comparados entre si para verificar vieses que
senta u m a média verdadeira (hipotética) p e u m DP de a . A outra possam surgir dos fatores analíticos.
Estabelecimento e Uso de Valores de Referência CAPÍTULO 14 241

Saudáveis Doentes
TABELA 1 4 - 3 | Valor Preditivo de um Teste Aplicado a
Populações Saudáveis e Doentes
População NB de Pacientes com NQ de Pacientes com
Resultado de Teste Resultado de Teste
Positivo Negativo
Totais
N° de pacientes
com doença VP FN
VP+FN
Ne de pacientes
sem doença FF lM
FP + l/A/ VP+ FP FN+ VN
Valor do teste
Totais

VP, verdadeiro-positivos (número de pacientes doestes corretamente Figura 14-5 Distribuições s i m u l a d a s d e p o p u l a ç õ e s saudáveis e
classificados pelo teste); FP, falso-positivos {número de pacientes Modoentes d o e n t e s . O b s e r v e q u e n o limiar d e decisão m o s t r a d o , a p r o b a b i l i d a d e
erroneamente classificados peta teste]- FN, falso-negativos (número de pacientes
d e u m sujeito c o m d o e n ç a (a) é m u i t o m e n o r d o q u e a p r o b a b i l i d a d e
doentes erroneamente dassifiçados pelo teste); VN, vetdadeiio-negativos
d e u m sujeito saudável (b). VP, verdadeiro-positivos; VN, verdadeiro-
(número de pacientes não-doenEes corretamente classificados pelo teste).
negativos; FP, falso-positivos; FN, falso-negativos.
Sensibilidade Clínica
= positividade na dowr rs. egressa em porcentagem
VP "
= 100 X
VP + FN
negativos. A movimentação do limite de decisão a u m valor
Especificidade Clínica
m e n o r aumenta a sensibilidade clínica — mas à custa de dimi-
= ausência de uma doença patticolai, expressa em porcentagem nuir a especificidade clinica. Assim, a detecção aumentada de
V V verdadeiro-positivos foi negociada para u m a u m e n t o n o n ú m e r o
= 100 x
fFP+VN) de resultados falso-positivos. Esse dilema ocorre na maioria dos
testes realizados na medicina.
V a l o r p r e d i t i v o d o teste p o s i t i v o ( V P )
D a d o u m resultado positivo, em quantos casos u m paciente
= porcentagem dos pacienta com Tesultados positivos qué são doentes
VP realmente tem a doença? O valor preditivo do teste positivo
^100x- responde a essa questão. O valor preditivo de u m teste combina
( V P + FP)
a prevalência da doença com os testes de sensibilidade e especi-
= (prevalência X sensibilidade)/[(prevalência X sensibilidade]
ficidade. A prevalência é a porção da população (ou daqueles a
+ (1 — prevalêricia)(l — especificidade)]
serem testados) com a doença. O valor preditivo do teste positivo
Valeu preditivo do teste negativo (VP") é o n ú m e r o de resultados verdadeiro-positivos dividido pelo
— porcentagem de pacientes com resultados negativos que não são doentes n ú m e r o de resultados positivos (resultados verdadeiro-positivos
VN
= 10Qx - - e falso-positivos combinados). O n ú m e r o de resultados verda-
ÍVN+FN)
deiro-positivos e falso-negativos é u m a função da prevalência na
população e da sensibilidade e especificidade do teste em questão.
O valor preditivo de u m teste negativo segue de maneira seme-
lhante, mas é usado menos freqüentemente. Isso responde a
questão "Dado u m resultado negativo, qual é a probabilidade de
o paciente realmente não ter a doença?" As fórmulas que p o d e m
ser usadas para o valor preditivo de u m teste positivo e para o
3. As performances analíticas de ambos os laboratórios devem
valor preditivo de u m teste negativo são encontradas na Tabela
ser concordantes.
14-3, para combinar a sensibilidade e especificidade do teste com
4- A preparação do indivíduo antes da coleta da amostra e a
a prevalência.
coleta da amostra propriamente dita deve seguir u m esquema
padronizado em ambos os laboratórios.

Sensibilidade e Especificidade Clínica REFERÊNCIAS


Conhecer a sensibilidade e especificidade do teste pode ajudar na
interpretação apropriada q u a n d o u m clínico ou um serviço de 1. Boyd ]C, Lacher DA. T h e multivanate reference range: an alternative
inter preta tio n of multi-test profiles. Clin C h e m 1982;28:259-65.
saúde usa u m teste de laboratório para auxiliar no estabelecimento
2. Clinicai and Laboratory Standards Institute. Procedures for the
do diagnóstico (como oposto uma tendência ou avaliação efetiva
collection of diagnnstic blood specimens by venipuncture: CLSI
do tratamento). A sensibilidade clínica de um ensaio é a fração
Approved Standard H3-A5, 5th ed. Wayne, PA: Clinicai and
daqueles indivíduos com u m a doença específica que o ensaio
Laboratory Standards Institute, 2003.
afirma corretamente. A especificidade clínica é a fração daqueles 3. Clinica] and Laboratory Standards Institute Procedures and devices for
indivíduos sem a doença que o ensaio afirma corretamente. A the collection of capillary blood specimens: CLSI Approved Standard
Tabela 14-3 lista as definições e as fórmulas pertinentes. H4-A5, 5th ed. Wayne, PA. Clinicai and Laboratory Standards
Alterar a decisão-1 imite de u m ensaio afeta tanto a sensibili- Institute, 2004-
dade como a especificidade clínica. Considere a situação em que 4. Harris EK, Boyd J C Statistical bases of reference values in laboratory
o grupo de doentes tem valores maiores que o grupo de não- medicine. New York: Mareei Dekker, 1995.
doentes (Figura 14-5). Os valores acima do limite de decisão são 5. H o r n PS, Feng L, Li Y, Pesce A]. Effect of ourliers and nonhealthy
classificados como positivos; aqueles n o limite ou abaixo são individuais on reference interval estimation Clin C h e m 2001;47:2137-45.
242 PARTE III Operações Laboratoriais

6. International Fedeiation of Clinicai Chemistry, Expert Panei on Theory 9. Ru s ta d P, Felding P, eds. Transnational biological reference inter vais.
of Reference Values Approved lecommendation on the theory of Proceduies and examples from rhe Nordic Reference Interval Project
tevererice va Ines. Párt 1. The roncept of reference values. J Clin Chem 2000- Scand J Clin Lab Invest 2004;64:265-441.
Clin Biochem 1987,25:337-42. Pare 2. Selection of individuais for the 10. Shulc EK, Willard KE, Rich SS, Connelly DP, Critchfield GC.
production of reference values. ] Clin Chem Clin Biochem 1987;25-639- Imptoved reference-interval estimation. Clin Chem 1985;31:1974-8.
44. Pan 3. Preparation of individuais and collection of specimens foi 11. Snedecor GW, Cochran WG. Statistical methods, 8th ed. Ames, Iowa;
the ptoduefion of reference values. J Clin Chem Clin Biochem Iowa State Uníveisity Press, 1989.
1988;26:593-8. Part 4. Conttol of analytical variation in the production, 12. Solberg HE. The 1FCC recommendation on estimation of reference
transfer, and application of reference values Eur J Clin Chem Clin intervala The RefVal progtam. Clin Chem Lab Med 2004;42.
Biochem 1991;29:531-5 Part 5. Statistical treatment of collected 710-4.
reference values: determination of reference limits. ] Chn Chem Clin 13. Solberg HE Establishment and use of reference values In: Burtis CA,
Biochem 1987;25:645-56. Pan 6 Presentation of observed values related Ashwood ER, Bruns DE, eds. TietE textbook of clinicai chemistry and
to reference values. J Clin Chem Clin Biochem 1987;25:657-62. molecular diagnostics, 4ih ed. St Louis: Saunders, 2006:425-48.
7. Lahti A, Petersen PH, Boyd JC, Rusiad F, Laake P, Solberg HE. 14 Solberg HE, Grasbeck R. Reference values Adv Clin Chem 1989;27-
Partitioning of n onga us s ia n-d i s tr i b u ted biochemical reference data into 1-79.
subgToups. Clin Chem 2004;50:891-900. 15. Solberg HE, Lahti A Detection of outbers in reference distributions:
8. Morrison DF. Multivariate statistical methods, 4th ed, Belmont, CA. performance of Horn s algorithm. Clin Chem 2005;51:2326-32.
Broolis-Cnle, 2005
CAPÍTULO 1 5

Informatica no Laboratório
de Análises Clínicas*
Brian R. Jackson, M.D., M.S., e James H. Harrison, Jr.. M.D.. Ph.D.

OBJETIVOS S i s t e m a d e I n f o r m a ç ã o H o s p i t a l a r (H1S): U m sistema de


1. Descrever os componentes de um sistema de computador, incluindo f u n ç õ e s c o m p u t a d o r i z a d a s q u e gerencia o a t e n d i m e n t o
hardware e software. do paciente dentro d o hospital.
S i s t e m a d e I n f o r m a ç ã o L a b o r a t o r i a l (LIS): U m sistema d e
2. Descrever os pontos-chave na aquisição e implementação de um
f u n ç õ e s c o m p u t a d o r i z a d a s para o g e r e n c i a m e n t o das
sistema da informática laboratorial.
operações laboratoriais e c o m u n i c a ç ã o d a s resultados de
3. Explicar o papel dos padrões de informação, incluindo HL7, LQINC e
testes laboratoriais.
SNOMED.
S i s t e m a O p e r a c i o n a l (OS): U m p r o g r a m a de c o m p u t a d o r
4. Listar as principais categorias de risco de segurança em um sistema de
mestre que controla as f u n ç õ e s básicas d o c o m p u t a d o r ,
informação de saúde, junto com estratégias atenuantes.
i n c l u i n d o dispositivos terminais d e imagens, resposta ao
teclado e ao mouse (dispositivo a p o n t a d o r ) ,
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES g e r e n c i a m e n t o de arquivos e c o n t r o l e de programas.
Go-live: O m o m e n t o e m q u e u m software (programa de T e c n o l o g i a d a I n f o r m a ç ã o (IT): U m a s s u n t o a m p l o n o que
c o m p u t a d o r ) ou u m hardware (dispositivos q u e c o m p õ e m diz respeito a tecnologia e o u t r o s aspectos d o
u m c o m p u t a d o r , inclusive a u n i d a d e central de g e r e n c i a m e n t o e p r o c e s s a m e n t o de i n f o r m a ç õ e s . O s
p r o c e s s a m e n t o , a m e m ó r i a e os dispositivos d e e n t r a d a e profissionais da c o m p u t a ç ã o são m u i t a s vezes c h a m a d o s
saída) é instalado p o r c o m p l e t o e testado, e inicia-se o u s o de especialistas em I I , e a divisão de u m a e m p r e s a o u
de r o t i n a u n i v e r s i d a d e que lida c o m a tecnologia d e softwares é
H I P A A : A c c o u n t a b i l i t y Act, c o m suas r e g u l a m e n t a ç õ e s g e r a l m e n t e c h a m a d a d e d e p a r t a m e n t o d e IT.
associadas a respeito da segurança e privacidade da W o r l d W i d e W e b : U m a rede d e servidores n a I n t e r n e t que
i n f o r m a ç ã o de saúde. p e r m i t e aos u s u á r i o s d e c o m p u t a d o r navegarem e n t r e
I n t e r f a c e : N o a m b i e n t e laboratorial, esse t e r m o g e r a l m e n t e se d o c u m e n t o s u s a n d o i n t e r f a c e s gráficas e ligações
refere ao m e c a n i s m o d e t r a n s m i s s ã o de d a d o s d e u m h i p e r t e x t o (linícs).
sistema de c o m p u t a d o r p a r a o u t r o , i n c l u i n d o f o r m a t o s
específicos d e dados.
I n t e r n e t : U m a r e d e m u n d i a l de c o m p u t a d o r e s disponível p a r a

A
u s o público.
M a l w a r e : U m t e r m o g e n é r i c o para software malicioso, i n f o r m á t i c a m é d i c a a b r a n g e o (1) projeto, (2) gerencia-
m e n t o e (3) e s t u d o d e sistemas q u e a r m a z e n e m e
i n c l u i n d o , mas n ã o l i m i t a d o , aos vírus d e c o m p u t a d o r e s .
M e l h o r d a C a t e g o r i a : U m t e r m o u s a d o p a r a descrever u m c o m u n i q u e m i n f o r m a ç õ e s médicas. A informática do
laboratório de análises clínicas é u m r a m o desse c a m p o q u e se
p r o d u t o que é c o n s i d e r a d o o m e l h o r e m u m a categoria
particular de p r o d u t o s . Isso implica a escolha de u m c o n c e n t r a n a c o m u n i c a ç ã o e n o g e r e n c i a m e n t o de i n f o r m a -
ções relacionadas aos testes laboratoriais e sua i n t e r p r e t a ç ã o .
c o m p l e m e n t o d e p r o d u t o s excelentes de múltiplos
v e n d e d o r e s e m vez de se a d q uirir t o d o o p o r t f ó l i o de u m A i n f o r m á t i c a é crucial p a r a o p e r a ç õ e s d o l a b o r a t ó r i o , pois a
p r i n c i p a l tarefa d o s laboratórios d e análises clínicas é a criação
único vendedor.
N e t w o r k : U m m e c a n i s m o p a r a c o n e x ã o de c o m p u t a d o r e s para e c o m u n i c a ç ã o da i n f o r m a ç ã o p a r a o diagnóstico d o p a c i e n t e
e m o n i t o r a m e n t o da terapia. O objetivo d a i n f o r m á t i c a dos
c o m p a r t i l h a m e n t o de d a d o s . As redes de c o m u n i c a ç ã o
i n c l u e m conexões sem f i o (wireíess) e c o n e x ã o física, j u n t o l a b o r a t ó r i o s de análises clínicas inclui (1) s u p o r t e às decisões
c o m hardware e software p a r a os d a d o s de r o t i n a . de o r d e m correta dos p e d i d o s de testes pelos clínicos, (2)
c o m u n i c a ç ã o precisa e a r m a z e n a m e n t o d e p e d i d o s e resulta-
R e g i s t r o C l í n i c o E l e t r ô n i c o ( E H R ) : U m registro m é d i c o e m
dos d e testes, (3) g e r e n c i a m e n t o de i n f o r m a ç õ e s i m p o r t a n t e s
c o m p u t a d o r . U m E H R p o d e incluir d a d o s hospitalares,
p a r a a p e r f o r m a n c e laboratorial de alta q u a l i d a d e e (4) assegu-
d a d o s de a t e n d i m e n t o a m b u l a t o r i a l e m e s m o d a d o s d o
paciente. rar a correta i n t e r p r e t a ç ã o d o s testes. A l g u n s desses processos
Sistema de G e r e n c i a m e n t o de Dados (DBMS): U m programa se e s t e n d e m além d o l a b o r a t ó r i o de análises clínicas e, assim,
de c o m p u t a d o r para criar e m a n t e r g r a n d e s coleções de a i n f o r m á t i c a d o laboratório está envolvida t a n t o n o s processos
informação. i n t e r n o s c o m o externos d o l a b o r a t ó r i o , q u e envolvem a infor-
m a ç ã o laboratorial. Este capítulo a p r e s e n t a u m a i n t r o d u ç ã o
ao p r o j e t o , aquisição e aplicação d e sistemas de i n f o r m a ç ã o
c o m base e m c o m p u t a d o r e s n o s l a b o r a t ó r i o s d e análises clíni-
cas, pois os c o m p u t a d o r e s digitais e as r e d e s d e c o m p u t a d o r e s
f o r n e c e m a t u a l m e n t e a e s t r u t u r a p r i n c i p a l p a i a armazena-
* 0 autor agradecidamente reconhece a contribuição prévia de Kent A. Spack- m e n t o e c o m u n i c a ç ã o d e i n f o r m a ç ã o laboratorial—e p o r q u e
man, na qual se baseiam partes deste capítulo. sua i m p o r t â n c i a irá c o n t i n u a r a crescer n o f u t u r o .
244 PARTE III Operações Laboratoriais

QUADRO 15-1 Um Resumo da História dos Computadores

Década de 1940 Primeiros computadores


Década de 1960 Computadores centrais e cartões perfurados
Década de 1970 Minicomputadores, terminais "buiros", tempo compartilhado
Década de 1980 Computadores pessoais
Década ds 1990 Servidores clientes, Internet, wimless (conexão sem fio)
Década de 2000 internet, clusters (agrupamento de computadores)

FUNDAMENTOS DE COMPUTAÇÃO
Esta seção fornece u m a introdução aos conceitos de informática,
incluindo (1) definições e história dos computadores digitais, (2)
representação dos dados digitais, (3) descrição de hardware e sof-
tware e (4) descrição de u m a rede de computadores.

Definições e História 0,01 1 100 10.000 1.000.000


Inicialmente, o termo "computador" se referia a uma pessoa que
Capacidade de armazenamento (Megabytes)
realizava cálculos numéricos. 1 0 Esse termo é agora mundialmente
usado para definir u m a máquina digital para manipulação de
dados digitais de acordo com uma lista de instruções conhecida Figura 15-1 Taxa de transferência de dados em megabytes/segundo
uctsws capacidade de a r m a z e n a m e n t o para os dispositivos de
como u m programa. 10 O E N I A C (Electrical Numerical Integrator
and Calculator) e o Colossus foram os primeiros computadores armazenamento e memória selecionados.
digitais do m u n d o . O Q u a d r o 15-1 apresenta u m resumo da
história dos computadores digitais.
imagens). Para comunicar corretamente esses tipos de dados
entre computadores, as definições numéricas e sua organização
Representação de Dados Digitais
no c o n j u n t o de dados (seu formato) precisam ser "entendidas"
Os números armazenados, processados e comunicados por com-
por cada computador. As definições compartilhadas e geralmente
putadores 10 são representados de forma binária (base 2, com valores
definições entendidas, ou padrões,3 permitem que os computado-
de 0 nu 1), pois o binário— correspondente a ligado e desligado^é
res sejam usados como dispositivos de comunicação e são impor-
a extensão ao processo em sistemas eletrônicos. Esses valores 0 e
tantes para a maioria dos benefícios que os computadores forne-
1 são referidos como "bits" {binar} digit) e são os blocos de constru-
cem hoje em dia. Muitas organizações de agrupamento-padrão
ção para números maiores. U m a lista de 8 bits representa 256
operam em todos os níveis do projeto de sistemas de c o m p u t a d o r
valores, de 0 a 255, assim como uma lista de 3 dígitos em base 10
e comunicação.
representa 1.000 valores, de 0 a 999. Os bits não são particular-
mente úteis por si só, exceto por representar valores verdadeiros
ou falsos. C o n t u d o , u m número de parâmetros que são úteis no Hardware de Computador
m u n d o real é representado adequadamente com 256 valores, Na versão mais simples, u m computador consiste em uma u n i d a d e
então u m grupo de 8 bits torna-se a unidade padrão dos dados de de processamento central (CPU), memória para armazenamento de
computador e é referida como u m (binary term). Os volumes dados e dispositivos para comunicação de dados para dentro e
de dados de computador (tamanho dos arquivos de dados, capaci- fora do computador (dispositivos de entrada/saída). A C P U e parte
dade de armazenamento etc.) são tipicamente mensurados em da memória são circuitos integrados. U m circuito integrado é u m
bytes, usando o prefixo kiío- (milhares de bytes), mesa- (milhões) e c o n j u n t o altamente miniaturizado de transistores interconectados
gig£í- (bilhões). Por convenção, em algumas áreas da computação, e outros componentes eletrônicos montados como uma unidade
esses prefixos se referem à base 10 (kilo = 1.000), enquanto em única sobre uma pastilha (wafer) de silicone. Os circuitos integra-
outros se referem ao equivalente binário mais próximo (kilo = dos são freqüentemente chamados de "cftips".
1.024). Na prática, essa distinção não é importante. A C P U é designada a executar operações matemáticas e lógicas
Os sistemas que representam dados de forma binária são sobre dados binários. As C P U s modernas contêm muitos milhões
referidos como sistemas digitais, O s dados digitais p o d e m ser de transistores. Os aperfeiçoamentos técnicos constantes n o
copiados com alta fidelidade entre localizações no computador desenvolvimento das C P U s têm melhorado o desempenho e dimi-
muitas vezes e n q u a n t o são processados. Ao contrário, muitos n u í d o o preço dos hardwares de computadores, Os dados que
dados no m u n d o real apresentam valores contínuos (tempera- aguardam pelo processamento da C P U ou que foram recente-
tura, cor, freqüência de som etc.) Esses tipos de valores são mente processados são armazenados em chips especializados cha-
referidos como anaiogícos e sua representação no ambiente dos mados de memória de acesso aleatório, ou RAM (random access
computadores digitais requer sua conversão para a forma digital memor}). A RAM permite acesso muito rápido a qualquer u m
(ianalógico-para-digital, ou conversão A/D). Os valores convertidos desses dados (por isso o n o m e de "acesso aleatório") e requer força
digitalmente são geralmente aproximações dos valores analógicos contínua para manter seu estado. Os computadores modernos
iniciais e a aproximação é melhorada pelo a u m e n t o do n ú m e r o têm tipicamente milhões a bilhões de bytes (megabytes a gigabytes)
de bytes que representam os dados analógicos n o consumo do de RAM. Exemplos de diversos dispositivos de armazenamento e
a u m e n t o crescente do total de arquivos de dados. suas taxas de transferência são mostrados da Figura 15-1.
Os computadores digitais representam dados não-numéricos Os dados a serem preservados entre os processamentos são
usando números que são definidos como correspondentes, por copiados da RAM para a memória de duração mais longa. Essa
exemplo, símbolos (para texto) ou cores e intensidades de cor (para memória de longa duração é geralmente fornecida por u m disco
Informática no Laboratório de Análises Clinicas CAPÍTULO 15 245

rígido (hn.rd disc drive). U m disco rígido consiste em u m ou mais e macrocomputadores comi'mente usam sistemas externos de
discus de inetal com coberturas de óxido metálico que são mag- matrizes de disco (Figura 15-2, LIS) em vez de discos TÍgidos
netizadas de m o d o reversível em padrões que representam os internos. Os grandes aglomerados de processadores de computador
valores de bit de 0 ou 1. Os disco rígidos têm feito grandes passos paralelos, muitas vezes chamados de "supercomputadores", são
na velocidade e capacidade e também são colaboradores importan- compostos de cemenas de microcomputadores com intercone-
tes para a diminuição do preço e razão de desempenho dos har- xões de alta velocidade e são usados para modelos matemáticos
dwares de computadores- A capacidade típica dos discos rígidos é de computadores complexos, como clima, fluxo de líquidos e ar
da extensão de gigabytes (bilhões de bytes). T ê m sido criados siste- e aplicações genômicas e proteômicas. E m b o r a cada um desses
mas de armazenamento maiores pela ligação dos discos rígidos tipos de sistemas contenha os elementos básicos de u m compu-
juntos em matrizes de disco (disc arrays). Embora os discos rígidos tador discutidos acima, cada u m t a m b é m oferece características
tenham velocidade impressionante, são muito mais lentos para o únicas ao seu propósito.
acesso de dados do que a R A M e, portanto, os dados são normal-
mente processados em alta velocidade pela RAM e periodicamente Software de Computador
copiados para u m disco para preservação. O hardware d o computador processa a informação de acordo com
Os computadores pessoais também oferecem diversas formas u m g T U p o de instruções, ou programa.13 Os programas são infor-
de memorieis portáteis. Os disquetes são feitos de u m plástico fino mação e, portanto, não tangíveis fisicamente; por isso, são cha-
e têm capacidade e velocidade de transferência muito mais baixas mados de "software" (parte lógica d o computador) em contraste
do que os discos rígidos. Os disquetes têm sido largamente a hardware (parte física d o computador).
suplantados pelos discos compactos (CDs), os quais têm capaci- Os computadores rodam primeiramente um programa de
dades maiores e representam os dados com padrões detectados controle chamado de sistema operacional (OS) que (1) coordena
por Liser em u m filme de metal ou tinta engastada em plástico. as atividades do computador, (2) gerencia seus dispositivos inter-
nos e periféricos e (3) fornece u m ambiente paia o funciona-
Pequenos carrões de memória t a m b é m estão disponíveis e têm
m e n t o de outros programas. O O S define as características de
capacidade e transferência de dados muito mais elevada.
operacionalidade d o computador, ou "personalidade". Os Win-
O C P U , RAM e outros chips são m o n t a d o s em u m grande dows XP e Vista, Linux e Macintosh OSX são OS, de microcom-
circuito chamado de "placa-mãe", a qual fornece vias de comuni- putadores m u n d i a l m e n t e conhecidos e muitos outros OS 5 são
cação entre os chips e outros componentes do computador. A usados para outros tipos de computadores. A combinação d o
placa-mãe também fornece conectores para os periféricos (veja a hardware com o O S define u m tipo particular de computador e
seguir) e redes e pode incluir encaixes para circuitos de placas é freqüentemente referida como u m a plataforma, pois fornece
especializados e menores chamados "cartões". Os cartões podem u m a base para outros programas.
ser usados, por exemplo, para conectar u m equipamento não- Os periféricos, dispositivos I / O etc. requerem programas cha-
padrão a u m computador ou para gerar capacidades especializa- mados de controladores de dispositivos (device driveis) ou simples-
das, como dispositivos gráficos de alta velocidade. mente controladores (drivers), para interpretar suas comunicações
A entrada/saida ( l / O ) é geralmente fornecida por u m teclado, e permitir que façam interface com o OS. A introdução de bar-
dispositivo apontador (tipicamente u m mouse ou mouse esfera— ramentos de comunicação-padrão, como o USB, tem simplifi-
cado o gerenciamento dos drivers, e foram incluídos drivers para
trackball), monitor de vídeo e impressora. Se u m computador
muitos tipos de dispositivos na distribuição dos OS. U m hardware
estiver conectado a u m a rede, I / O t a m b é m ocorre via comuni-
não usual ou para u m propósito especial pode ainda requerer a
cações em rede como em computadores maiores. As placas-mães instalação e o teste de u m driver de software especializado.
modernas implementam conexões de barramento-padrão para Os programas que suportam u m a tarefa particular para u m
esse e outros dispositivos externos (periféricos), como impressoras, usuário de computador, como a edição de texto, a análise de
digitalizadores (scanners) etc. U m a conexão de b a r r a m e n t o é planilha, o envio e recebimento de correspondência eletrônica
projetada para supoTtaT múltiplos dispositivos em u m circuito, (e-mail), etc., são referidos como programas de aplicativos o u apenas
usando um ambiente de comunicações compartilhadas; os exem- aplicativos. Os aplicativos f u n c i o n a m n o ambiente que o O S
plos incluem o barramento serial universal (USB) e o barramento fornece e p o d e m tirar vantagens dos serviços d o OS, como u m
serial de alto desempenho (Firewne—IEEE 1394). estilo particular de disposição gráfica, ou capacidades de impres-
U s a n d o esses componentes, diversos tipos de computadores são e de trabalho em rede.
têm sido montados, incluindo (1) computadores centrais (main- Os programadores de computador tipicamente criam o sof-
frames), (2) computadores de mesa (desktops), (3) portáteis e (4) tware escrevendo uma representação textual das instruções de u m
assistentes digitais portáteis ("computadores de mão"). Além programa, chamada de código fonte, u s a n d o u m ou muitos progra-
disso, pequenos e delicados computadores chamados de sistemas mas de linguagens.13 O código fonte pode ser completamente con-
vertido a instruções binárias (também chamadas de compilação ou
embutidos são freqüentemente incorporados nos dispositivos,
linguagem de máquina) e copiadas para o computador n o qual o
como instrumentos, eletrodomésticos e automóveis. Os grandes
programa será executado C o m o alternativa, o código fonte (ou
computadores são projetados primordialmente para suportar
u m a representação compacta dele) pode ser executado direta-
múltiplos usuários de rede confiáveis. Os servidores de empresa
m e n t e usando u m interpretador que converte a fonte em lingua-
(p. ex., Figura 15-2, CIS/EHR—clinicai information system gem de computador em u m processo passo-a-passo. O código
[CIS]/eletronic health record [EHR]) diferem dos microcompu- compilado geralmente rnda mais rápido que u m código interpre-
tadores principalmente em (1) robustez na construção, (2) n ú m e r o tado, mas os interpretadores permitem u m desenvolvimento
de processadores, (3) capacidade de memória e (4) redundância mais rápido d o código, são mais flexíveis e geralmente fornecem
de componentes internos. O s computadores centrais (ou macro com- u m a capacidade melhor de executar u m programa em múltiplas
putadores) (Figura 15-2, c o m p u t a d o r central hospitalar) são pro- plataformas. A abordagem ótima para u m a taTefa particular
jetados para suportar muitos usuários com pouco ou n e n h u m d e p e n d e dos seus objetivos e necessidades.
tempo ocioso ("dou/ntime") para manutenção. Ma prática, é possí- O software que interage com os usuários de c o m p u t a d o r o faz
vel substituir quase que qualqueT componente (incluindo CPUs através de u m a interface de uso que geralmente é disposta em
individuais ou RAM) em u m c o m p u t a d o r central sem perda de u m a tela. Os tipos mais amplamente utilizados de interfaces de
dados e n q u a n t o o computador continua a operar. Os servidores uso para microcomputadores são as interfaces de comanda por linha
246 PARTE III Operações Laboratoriais

Dispositivos portáteis

Radiologia sem PACS


CIS/EHR (Picture Archiving and Communication
Computador central Entrada de pedido Estaçao de trabalho
System)
do hospital (HIS) Relatório de resultados POC ("point-of-care")
10/ Farmácia
Admissão/descarte/
Outras sistemas de departamentos
transferência Finanças

A internet

IfUbríautí IIL7

7
Roteador
lie nuüc — —

Firewat!

L ii:: :il: irio r «tal èfiuiil &•


Hut> de rftdft
Usuário
rio LIS

Usuário
dn LIS
Garencisdur Matnz de Oisoo LIS
cs equipamentos

Usuário
do LIS

Ánüliaadoi dc luúurulOrio

Agrupamento de equipamentos laboratoriais


LAN laboratorial

Figura 15-2 D i a g r a m a simplificado d e u m a r e d e d e hospital o u l a b o r a t ó r i o (veja detalhes n o texto).

(Unix, Linux, Disc O p e r a t i n g System [DOS]) e as interfaces gráfi- dispositivos d e a p o n t a m e n t o p a r a interagir c o m os e l e m e n t o s da


cas para usuários ( W i n d o w s , M a c i n t o s h e G n o m e e K D E n o interface. S e u p r o j e t o sugere o u s o correto das interações e evita
Linux). As interfaces d e c o m a n d o de l i n h a f o r n e c e m u m a orien- a necessidade de m e m o r i z a r c o m a n d o s , mas t a m b é m p o d e ser
tação para a e n t r a d a d e texto e r e s p o n d e aos c o m a n d o s teclados i n c ô m o d o a n ã o ser q u e c o n s t r u í d o h a b i l m e n t e . Dessa f o r m a , a
e e n t r a d a d e d a d o s . As interfaces gráficas para usuários (GUI S ) escolha de u m a i n t e r f a c e para u m t r a b a l h o e m particular precisa
f o r n e c e m u m disposição (lajout) e m tela cheia para a interação d e consideração c u i d a d o s a sobre a natureza da tarefa e as neces-
c o m o usuário, b o t õ e s e m e n u s l i s t a n d o ações alternativas e sidades d o u s u á r i o d o c o m p u t a d o r .
Informática no Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 15 247

Rede de Computador com u m c o n j u n t o unificado de dados, enquanto trabalham em


As redes de computador são compostas de conjuntos de computa- múltiplas localizações. Isso se dá usando computadores de arma-
dores que compartilham conexões por fios ou por freqüência de zenamento de dados em rede, ou servidor. Os usuários p o d e m
rádio e transmissão de informação uns com os outros usando pro- executaT um programa (interface inicia! ou cliente) em seus compu-
tocolos-padrão ou especificações da forma, conteúdo e métodos de tadores que forneça a interface de uso e muito do poder de
transmissão de dados. Os protocolos de comunicação entre com- processamento do aplicativo, e transfira os dados pela rede até o
putadores são divididos naqueles projetados para o uso por servidor (ou retaguarda). Essa arquitetura cliente-servidar padrão tem
computadores em redes individuais geograficamente compactas sido considerada escalonável a grandes números de usuários a
conhecidas como redes de áreas locais (LANs—Figura 15-2, parte baixo custo, pois tira vantagem do poder de processamento dos
inferior) e aqueles para a conexão das redes de áreas locais juntas computadores dos próprios usuários.
através longas distâncias (WANs — redes de área alargada ou redes Por essas razões parcialmente relacionadas à necessidade de
de longa distância). instalar e sustentar software cliente complexo em muitas máqui-
As LAN, comumente usam o padrão "Ettarner", o qual define nas de usuários, esses sistemas cliente-servidor originais começa-
métodos para a transmissão de informação entre múltiplos com- ram a perder aprovação em comparação com sistemas que usam
putadores através de u m fio compartilhado ou grupos de freqüên- u m software cliente simples e de fácil m a n u t e n ç ã o (muitas vezes
cias de rádio. Essas redes geralmente são como uma estrela que chamado de cliente magro) com mais sistemas de retaguarda capa-
libera ramos dos computadores a u m concentrador (hub) central citados. Os navegadores de rede são c o m u m e n t e usados como
(Figura 15-2, par te central). Em edificações com múltiplos andares, clientes magros, e os sistemas como PubMed, Google e Amazon
geralmente são colocados u m ou dois hubs em cada andar com exemplificam a abordagem do cliente magro. Os sistemas de
conexões na "espinha dorsal" que corre verticalmente entre os cliente magro são freqüentemente construídos usando a arquite-
andares. As estações sem fio (freqüência de rádio) funcionam de tura de três camadas que inclui um software "mediador" c o m p o n e n t e
modo semelhante aos fiubs com fios. C o m o hardware apropriado, j u n t o com o servidor de dados de retaguarda. O mediador geren-
a Ethernet suporta a velocidade de transferência da rede, ou largura cia as comunicações entre os clientes e os servidor de dados e
da banda (baruíu/idtíi), em mais de 100 megabits por segundo. fornece u m processamento adicional para suportar as necessida-
As LAN, são conectadas a uma rede nacional de espinhas des dos clientes.
dorsais através de roteadores (Figura 15-2, parte central) que geren-
ciam a transferência de informação. A combinação dessas LAN S Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados
e das redes de espinhas dorsais constituem a I n t e r n e t (World Os bancos de dados são coleções organizadas de informação; 12
W i d e Web), uma rede global de redes. Hoje, a maioria dos dados sistemas de gerenciamento de bancos de dados (DBMSJ são
transferidos dentro e entre as LAN S usa u m grupo de protocolos programas de computador projetados para criar e manter essas
desenvolvido para a Internet chamado de T C P / I P (Transmission coleções de informações. U m DBMS tipicamente (1) permite que
Control Protocol/Internet Protocol). O T C P / I P define como os dados sejam estruturados em modos lógicos de uso, (2) indexa os
grandes arquivos de dados são quebrados em múltiplos "pacotes" dados pata que sejam pesquisados rapidamente e atualizados
(rajadas) de informação por u m computador que envia, como simultaneamente através de acesso local ou em rede (3) permite
esses pacotes são endereçados e como são verificados em relação que vários usuários recuperem e atualizem dados simultaneamente
a erros e reconstituídos aos arquivos originais pelo computador através de acesso local ou conectado à rede e (4) evita que os usu-
que os recebe. O T C P / I P também define como os computadores ários escrevam simultaneamente os mesmos elementos de dados.
são identificados na Internet (por endereços de ÍP numéricos) e Além disso, alguns bancos de dados suportam verificação interna
como os roteadores lêem pacotes de endereços e direcionam os da consistência dos dados, protocolam todas as interações dos
pacotes paTa seus destinatários. Os roteadores monitoram conti- usuários (trilha de auditoria), fazem cópia reserva enquanto ativos
n u a m e n t e as velocidades de transmissão entre si e outros rotea- e restabelecem os bancos de dados ao estado consistente anterior
dores e m a n d a m pacotes em direção a roteadores que estão n o caso de atualizações problemáticas ou errôneas.
menos congestionados. Dessa forma, a comunicabilidade dos O tipo de DBMS mais amplamente usado no presente são
roteadores na Internet tem a habilidade de desviar um roteador sistemas de gerenciamento de base de dados relacional. Os bancos
com falha ou u m problema regional, e os pacotes de u m único de dados relacionais implementam uma estrutura multitabela
grande arquivo de dados não necessita seguir o mesmo c a m i n h o semelhante a múltiplas planilhas. Os registros de dados são repre-
para o seu destino. sentados como listas nas tabelas, e os registros de diferentes
Os pacotes de dados transmitidos pela Internet não são auto- tabelas são ligados (relacionados) entre cada tabela através de
maticamente criptografados e n q u a n t o armazenados e direciona- elementos de dados compartilhados. O banco de dados relacio-
dos entre os roteadores e, portanto, seus conteúdos estão sujeitos nal suporta uma linguagem de programação-padrão para a des-
a cópia ou observação. Os pacotes também têm sido construídos crição do banco de dados, consulta e atualização, chamada de
com conteúdos e endereços de origem falsos. Dessa forma os
pacotes que entram em uma LAN vindos da Internet deveriam
ser visualizados como potencial falsificação, U m software de rede
privada virtual (VPN) resolve esse problema incorporando infor- QUADRO 1 5 - 2 Funções de Suporte de um Sistema de
mação de autenticação nos pacotes e criptografando os conteú- Informação Laboratorial
dos dos pacotes antes de estes entrarem na Internet. Assim, os
Entrada do registro do paciente e informação demográfica
VPN, permitem a comunicação segura através da Internet pela
Pedido de exame
transmissão de pacotes criptografados verificáveis entre localiza-
Rastreamento da amostra
ções confiáveis.
Entrada automática e manual de resultados de exames
Verificação da execução do teste
Aplicativos de Rede Controle de qualidade
As redes de computador suportam programas aplicativos que Diagrama/distribuição das resultados
permitem que muitos indivíduos interajam simultaneamente Acompanhamento de inventário e relatório de gerenciamento
248 PARTE III Operações Laboratoriais

Linguagem de Consulta Estruturada, ou SQL. Esses bancos de informação sobre os pacientes e pedidos médicos é passada do
dados são muito flexíveis e são particularmente úteis para a Sistema de I n f o r m a ç ã o Hospitalar (HIS) e sistema de informa-
consulta de dados de uma variedade de perspectivas. ção clínica ou E H R ( C I S / E H R ) através do motor de interface
para o LIS. Muitos hospitais usam dispositivos portáteis para
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO LABORATORIAL exames ao leito (point-ofcarc [POC] teíting) (Capítulo 12) que são
O sistema de informação laboratorial (LIS) é uma classe de sof- "aportados" a u m c o m p u t a d o r de estação de trabalho conectado
tware que recebe, processa e armazena a informação gerada pelo à rede do hospital (Figura 15-2, parte superior) e p o d e m também
fluxo de trabalho do laboratório. Esses sistemas são aplicativos passar resultados e dados de controle de qualidade por meio da
de bancos de dados em larga escala que estão p r o f u n d a m e n t e rede para o LIS. Os resultados laboratoriais e os dados de fatu-
incrustados nas operações laboratoriais, automatizando o fluxo ramento p o d e m ser retornados do LIS através do motor de inter-
de quase toda a informação relacionada ao laboratório. 3 C o m o face HL7 para o C I S / E H R e HIS para exposição para os clínicos
indicado n o Q u a d r o 15-2, os LISs suportam u m n ú m e r o de e processamento financeiro.
funções laboratoriais. Originalmente, os LISs eram sistemas autô- O diagrama da LAN do laboratório na metade inferior da
nomos que forneciam a entrada do pedido do exame e a dispo- Figura 15-2 retrata u m hub de rede conectando o LIS (1) ao motor
sição do relatório e impressão para o ambiente clínico geral. C o m de interface, (2) ao usuário dos computadores internos do labo-
o a u m e n t o do registro clínico eletrônico (EHR), contudo, tornou- ratório (cliente) e (3) à aparelhagem do laboratório. O processa-
se c o m u m a interface do LIS com o E H R para receber os registros m e n t o de amostras e os métodos manuais de exames laboratoriais
do paciente e pedidos de exames eletronicamente e, assim, retor- requerem técnicos para entrar diretamente e rever os dados em
nar os resultados dos exames para o E H R para exibição." Os LISs computadores desktop o u terminais, como mostrado à direita na
são destinados para laboratórios de análises clínicas, em vez de Figura 15-2. Os equipamentos automatizados p o d e m comunicar-
laboratório de pesquisa e, assim, têm suporte limitado especifi- se diretamente com o LIS através da rede ou conexões delicadas
camente para análise de dados ou protocolos de pesquisa. Essas (Figura 15-2, parte inferior, à direita), recebendo a informação do
últimas funções são mais c o m u m e n t e encontradas em sistemas pedido e transmitindo resultados (equipamentos de interface
de informação orientados para investigação, c o m u m e n t e referi- bidirecional), ou apenas transmitindo resultados (equipamentos
dos como sistema de gerenciamento de informação laboratorial de interface unidirecionai). As interfaces dos equipamentos podem
(LJMSs). seguir ou o padrão H L 7 descrito anteriormente ou o padrão
O desenvolvimento da entrada do pedido e dos sistemas ASTM. O padrão A S T M (American Society for Testing and
externos de exposição dos resultados para o laboratório gera u m Materials, agora conhecida simplesmente por ASTM Internacio-
desafio para a informática de laboratórios de análises clínicas, o nal), publicou o primeiro padrão de comunicação amplamente
qual está comprometido com a otimização do fluxo de informa- utilizado para interface de equipamentos de laboratório com os
ção da escolha inicial do pedido médico até a interpretação dos LISa e permanece em uso até hoje. Podem ser usados mais com-
resultados. Os detalhes do projeto desses sistemas externos putadores gerenciadores de equipamentos (Figura 15-2, parte inferior,
muitas vezes criam problemas nos pedidos e interpretação de à esquerda) paTa controlar os conjuntos de analisadores automá-
exames que não são reconhecidos até o laboratório rever o ticos e sistemas robóticos de manipulação das amostras e pode
sistema. 1 Para evitar esse tipo de problema, o laboratório deve ter gerar o processamento especializado da amostra com base em
conhecimento de todos os sistemas usados para pedido e visua- regras e a autoverificaçâo dos resultados
lização de resultados e devem revê-los antes de colocá-los por A rede do laboratório pode também se conectar à Internet
inteiro no uso de rotina. Ultimamente, esses sistemas são apro- através de u m roteador (Figura 15-2, centrai à esquerda) As cone-
priados para o laboratório que tem a responsabilidade principal xões com à Internet, com proteção apropriada, são c o m u m e n t e
de assegurar a exibição precisa e clara dos resultados laboratoriais usadas para (1) comunicação, (2) acesso a informações de refe-
e todos os sistemas sendo usados por essa c o m u n i d a d e clínica. rência e (3) troca de pedidos e resultados de exames com os sis-
temas de LIS em laboratórios de referência e outros afiliados O
Comunicações e Interfaces do LIS acesso à Internet é tipicamente restrito pelo uso de u m programa
O LIS opera tipicamente em u m ambiente de empresa médica firewall (Figura 15-2, ver t a m b é m a discussão sobre segurança a
que inclui muitos sistemas de informação conectados funcio- seguir), e as comunicações na Internet p o d e m ser também pro-
n a n d o sobre o hardware, incluindo (1) computadores centrais, (2) tegidas pela criação d e uma rede privada virtual (VPN) para
servidores de empresa e (3) computadores deskwp/lnptop (Figura partes externas.
15-2). As conexões entre os sistemas de informação e as conexões
a aparelhos são conhecidas como interfaces. Os LIS, p o d e m fazer
interface com sistemas por (1) registro hospitalar, (2) entrada de
pedido médico, (3) relatório de resultados, (4) faturamento, (5) Código 5306-6 do LOINC
laboratório de referência, (6) pesquisa de repositores de dados e Componente |Propriedade| Tempo | Sistema | Escala | Método
(7) outras funções. As interfaces dos sistemas geralmente têm
Rickettsía sp AB Título | PT | Soro | QN | FC

r
base no padrão de comunicação HL7 (Health Levei 7, www.hl7
org), o qual define as "mensagens" eletrônicas de texto para Q
transmissão de informação do paciente. 5 O HL7 permite alguma LU
2 78178004 anticorpos conjra rickattsia
flexibilidade na implementação dessas mensagens e, assim, a O
118590008 título
criação de uma interface HL7 requer planejamento e programa- Ui
ção local. Novos padrões da organização HL7 definem mais com- 123029007 coleta única
pletamente essas mensagens e p o d e m reduzir a variabilidade e o 11 9364003 amostra de soro —
custo das interfaces HL7 n o futuro. •O 30766002 quantitativo
As interfaces HL7 entre os principais sistemas são freqüente- •a
O
69207009 fixação do complemento
mente coordenadas por u m computador especializado chamado
"motor de interface" (centro da parte superior da Figura 15-2). A Figura 1 5 - 3 Partes dos nomes LOINC com códigos do SNOMED.
informática no Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 15 249

Sistemas-padrão de Codificação da cina, o S N O M E D promete permitir a análise de dados através


Informação de u m a ampla gama de sistemas de informação clínica.
A informação armazenada n o laboratório, e outras bases de dados
médicas, e transmitidas em mensagens HL7 é geralmente expressa Aquisição do LIS
usando códigos em vez de n o m e s ou descrições textuais. Os siste- A aquisição e a implementação do LIS é u m e n o r m e empreendi-
mas médicos de codificação representam conceitos de serviços de mento. Envolve a redefinição de grandes quantidades de dados
saúde como cadeias de caracteres alfanuméricos pré-definidas. e Tetreinamento de todo o pessoal e p o d e precisar de grandes
Esses códigos apTesentam vantagens sobre as descrições em texto mudanças n o fluxo de trabalho. U m laboratório pode esperar
por processamento automatizado, pois não são ambíguas, são uma perturbação significativa d u r a n t e 12 a 24 meses n o r m a l m e n t e
definidas sistematicamente e são independentes de linguagem. Os necessários para a transição. A experiência em outras indústrias
códigos p o d e m ser localmente desenvolvidos, c o m o códigos de tem mostrado que aproximadamente u m quarto desse projeto de
exames definidos pelo laboratório, ou p o d e m ser retirados de sistema de informação tem mais ou m e n o s sucesso, u m quarto
sistemas de padrões de codificação nacionais ou internacionais. falha completamente, e a metade restante é atrasada, superfatu-
Por serem globalmente definidos, os códigos-padrão não necessi- rada e / o u n ã o atende a d e q u a d a m e n t e às necessidades. Por essas
tam de tradução ("mapeamento") para outro esquema de códigos razões, a maioria dos laboratórios troca seu LIS apenas a cada 10
se os dados são compartilhados para fora d o ambiente local. Os ou 20 anos. As razões típicas para a substituição de u m LIS
sistemas-padrão de codificação clínica usados c o m u m e n t e incluem incluem:
os CID-9 e C/D-IO (Classificação Internacional de Doenças, Orga- • O vendedor está deixando de dar suporte ao LIS atual.
nização M u n d i a l de Saúde) para codificar os diagnósticos e C P T • O LIS atual é tão antigo que impede seriamente a efici-
(Current Procedural Terminology, Sociedade Americana de Medi- ência do laboratório.
cina), para codificação dos procedimentos médicos para fatura- • O laboratório é adquirido por, ou se f u n d e com outro
mento. LOINC e SNOMED são dois sistemas médicos de codifi- laboratório com u m LIS diferente.
cação particularmente pertinentes paia laboratório e patologia. • A instituição deseja harmonizar o LIS com outros siste-
mas de informação.
Nomes e Códigos para Identificação de C o m qualquer dessas razões, o risco e o nível de comprome-
Observações Clínicas (LOINC) timento necessários para a substituição d o LIS exigem q u e este
O L O I N C começou c o m o u m padrão para especificar n o m e s de seja organizado e cuidadosamente planejado u s a n d o bons softwa-
exames lahoratoriais (LOÍNC Laboratorial) e então se ramificou res e boas práticas de desenvolvimento de sistema. 14 Os passos na
em outros testes diagnósticos, como radiologia e exames físicos aquisição de u m LIS estão listados no Q u a d r o 15-3.
(LOINC Clínico).' O L O I N C é desenvolvido e m a n t i d o n o Insti-
tuto de Regenstrief em Indianapolis (www.regenstrief.org/ Análise dos Requisitos
loinc/). Tem o potencial de simplificar o desenvolvimento da O primeiro passo em qualquer projeto de tecnologia da infor-
interface e comunicações envolvidas nos exames laboratoriais, m a ç ã o (IT) é uma cuidadosa análise dos requisitos. Para u m LIS,
pela especificação de u m c o n j u n t o padronizado de n o m e s de devem-se, pelo menos, listar e identificar os seguintes:
exames. U m n o m e L O I N C tem seis componentes: (1) compo- • Drivers e critérios de sucesso d o prujeto-chave. Todos os
n e n t e / a n a l i t o , (2) tipo de propriedade (p. ex., massa), (3) aspecto patrocinadores e participantes d o projeto devem ter os
d o tempo (p. ex., coleta de 24 horas), (4) tipo de amostra/sistema, mesmos objetivos em m e n t e .
(5) tipo de escala (p. ex., semiquantitativa) e (6) tipo de método • Restrições e requisitos únicos de u m laboratório particu-
(Figura 15-3). O uso do L O I N C a u m e n t a provavelmente ã medida lar. C a d a laboratório é diferente, e u m sistema bem adap-
q u e a troca de dados entre sistemas de serviços de saúde diferen- tado a um laboratório p o d e ser completamente inapro-
tes se torna mais c o m u m . priado pata outro. N o mínimo, as restrições deveriam
incluir os (1) tipos de exames realizados, (2) volumes de
Nomenclatura Sistematizada de Medicina amostras e (3) natureza do negócio e ambiente clínico. O
(SNOMED) fluxo único de trabalho e as restrições semelhantes deve-
O S N O M E D (www.snomed.org) foi desenvolvido originalmente riam ser criticamente examinados, pois p o d e m refletir
pelo Colégio Americano de Patologistas (CAP). 9 O C A P tem, práticas históricas em vez de restrições verdadeiras.
desde então, feito u m a parceria com um grupo paralelo do Reino « Áreas nas quais o LIS atual é deficiente e tem requerido
U n i d o para produzir o S N O M E D Internacional. O S N O M E D soluções provisórias. Evitar, entretanto, atenção despro-
tem evoluído de suas raízes em anatomia patológica para tornar- porcional a essas áreas em detrimento de outras.
se o S N O M E D C T ( S N O M E D Termos Clínicos), u m a terminolo- • Características aceitáveis d o vendedor. Os pequenos ven-
gia padronizada extremamente poderosa que cobre toda a medi- dedores p o d e m ter a flexibilidade de customizar caracte-
cina clínica. U m a vez que os métodos sejam desenvolvidos para rísticas, mas a m a n u t e n ç ã o d o sistema por u m a década
permitir a codificação eficiente de descrições clínicas na medi- ou mais requer que o vendedor permaneça financeira-
mente viável e m a n t e n h a u m suporte de alta qualidade
por esse período. Ainda, é i m p o r t a n t e identificar o nível
d o risco d o vendedor que a organização está disposta a
QUADRO 1 5 - 3 P a s s o s na Aquisição de um Sistema de
aceitar.
Informação Laboratorial
• Custo aceitável. U m LIS movimenta facilmente cerca de
Análise de requisitos milhões de dólares apenas para a licença do software, e os
Solicitação de propostas custos da implementação, treinamento e produtividade
Demonstração de produto pelo vendedor reduzida temporariamente dos empregados muitas vezes
Implementação excedem os custos com a licença.
Teste A organização deve decidir se irá pagar u m m e l h o r da cate-
Go-live goria ou uma estratégia de sistema integrado. A abordagem do
250 PARTE 111 Operações Laboratoriais

melhor da categoria permite que seções particulares do laborató- • Construir u m roteiro b e m específico para os vendedores
rio escolham os componentes do sistema que têm a melhor seguirem para que façam apresentações razoavelmente
funcionalidade para aquela seção e pode resultar em um LIS comparáveis.
composto de m ó d u l o s de diferentes vendedores. Por exemplo, os • Agendar todos os vendedores para apresentar dentro de
sistemas de hanco de sangue e anatomia patológica são freqüen- u m curto intervalo de t e m p o (ou mesmo no mesmo dia)
temente considerados aquisições do melhor da categoria. A des- para que as comparações tenham base na informação
vantagem é que o laboratório ou o departamento de IT p o d e recente.
precisar de peritos para manter múltiplos sistemas. Além disso, N a maioria dos casos, u m vendedor irá oferecer voluntaria-
os dados em u m sistema podem ser difíceis de se transferir ou mente uma lista de contatos de instalações existentes, geralmente
não disponíveis para outros sistemas. Na prática, é possível aliar aquelas que têm experiências favoráveis. E preciso considerar o
a maioria dos sistemas a esforço e dinheiro, mas é difícil afirmar a pedido de uma lista completa das implementações e do vendedor
funcionalidade final de cada interface. A alternativa ao melhor e contatar alguns lugares a mais da lista preferida.
da categoria é apoiar-se em u m único vendedor de LIS que cubra Alguns laboratórios contratam consultores externos para
tudo. Infelizmente, muito poucos sistemas cobrem realmente ajudá-los com o processo de decisão. Na prática, consultores adi-
todo o espectro das funções de u m laboratório de análises clíni- cionam valioso investimento ao processo, particularmente se
cas, e mesmo esses p o d e m n ã o cobrir adequadamente todas as tiverem experiência com múltiplos vendedores de produtos e labo-
necessidades das seções do laboratório. ratórios. O papel do consultor na tomada de decisão deve ser
claro, e a maioria dos laboratórios deve usar consultores como
Solicitação de Proposta conselheiros em vez de delegar a tomada de decisão.
U m a vez definidos os requisitos, o próximo passo é identificar A negociação do contrato está além do objetivo deste capí-
os potenciais vendedores e sistemas. Os laboratórios muitas vezes tulo, mas vale a pena incluir diversos pontos. Os problemas
distribuem os requisitos aos vendedores na forma de uma solici- surgem em qualquer implementação de u m sistema maior e o
tação de proposta (RFP). U m a RFP deve incluir questões e requi- contrato é essencial como u m recurso de proteção. Durante a
sitos que são redigidas de m o d o a promover respostas o mais avaliação do vendedor e as ligações para clientes de referência,
claras possível. Os vendedores irão tentar apresentar seus siste- devem ser identificadas as áreas de potencial risco n o contrato.
mas da melhor maneira e p o d e m ter respostas ambíguas em áreas Deve-se ter atenção também aos tópicos que são omitidos ou que
o n d e seu sistema é pouco competente. E preciso ser muito espe- são ligeiramente encobertos n o contrato padronizado do vende-
cífico quanto a cada característica ou função desejada, e se está dor. Por exemplo, os detalhes sobre os serviços profissionais
incluída na oferta de custo. Deve-se perguntar diretamente se a p o d e m estar faltando no contrato padronizado, embora repre-
solução do vendedor inclui atualmente essa característica e / o u sente tipicamente uma grande porção do total do custo da insta-
função. Se faltar a m a característica, deve-se perguntar se há lação.
planos de, no futuro, essa característica ser disponibilizada e a
data de sua liberação, ou deve-se fazer uma requisição de uma Implementação
oferta de desenvolvimento customizado. E preciso deixar o ven- Existem disponíveis muitos manuais excelentes e cursos de trei-
dedor saber abertamente que a empresa planeja incluir suas n a m e n t o s sobre gerenciamento de projeto de software. Diversas
respostas ao RFP como u m adendo ao eventual contrato. No áreas importantes estão listadas no Q u a d r o 15-4 e discutidas a
m o m e n t o do desenvolvimento do RFP, é b o m colocar em prática seguir.
o plano de como as respostas ao RFP serão revisadas, incluindo
quem estará envolvido na tomada de decisão, qual será seu papel e Gerenciamento de Riscos
como o processo de decisão irá progredir. Q u a n d o o RFP estiver E i m p o r t a n t e identificar os principais riscos do projeto, e eventos
sendo completado, é razoável o uso da publicidade da informação que possam desviar ou atrasar o projeto, e desenvolver estratégias
para estreitar a lista de vendedores para seis ou menos. de minimizaçao e / o u contingência. Os planos de gerenciamento
de riscos devem ser revisados regularmente.
D e m o n s t r a ç ã o do Produto pelo Vendedor
Após receber e avaliar as respostas ao RFP, u m laboratório deve Garantia de Qualidade
convidar os vendedores de destaque para demonstrações. As U m objetivo chave é identificar os problemas o mais cedo possível
demonstrações são muito úteis para a revisão das características no processo. Estima-se que u m defeito descoberto tardiamente no
do sistema para ter u m a primeira impressão do sistema e ques- desenvolvimento de u m software custe 50 a 200 vezes mais que u m
tionar os vendedores. As estratégias seguintes ajudarão os labo- problema descoberto logo no início. 6 O mesmo princípio se aplica
ratórios a tirar o melhor benefício das demonstrações: à implementação do software.
• Reduzir a u m n ú m e r o pequeno os vendedores de desta-
que, idealmente dois, para evitar confusão e sobrecarga Teste
de informação. O teste é essencial, mas já que se espera que mesmo os testes mais
minuciosos detectem apenas cerca de metade dos defeitos, o teste
QUADRO 15-4 Áreas a Serem Consideradas Quando da não é, em u m primeiro m o m e n t o , tão eficaz. O teste irá, tipica-
Implementação úe um LIS mente, incluir tanto os testes de unidade, os quais asseguram que
os módulos individuais estão f u n c i o n a n d o adequadamente, e os
Gerenciamento de risco testes de integração, nos quais se assegura que os m ó d u l o s intera-
Garantia de qualidade gem apropriadamente entre si.
Teste
Treinamento Treinamento
Comunicação Muitas organizações falham em orçar adequadamente o treina-
Serviços profissionais m e n t o . A maioria do pessoal de laboratório necessitará reapren-
Go-live
der grande parte das tarefas de seu trabalho, pois u m LIS é
Informática no Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 15 251

QUADRO 1 5 - 5 Processos que Irão Contribuir para o pios listados n o Q u a d r o 15-5 a u m e n t a r ã o a probabilidade de
S u c e s s o no Desenvolvimento do Software sucesso. 6

Uma minuciosa análise de requisitos Ü O projeto devem estar completos SEGURANÇA DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO
artes no início da codificação
Q u a n d o o gerenciamento eletrônico dos dados do serviço de
0 código deve ser submetido a um segundo programador para ser testado
saúde se torna indispensável para o atendimento clínico, os
0 teste deve cobrir uma ampla gama de cenários e dados, incluindo valores
dados e a segurança d o sistema se tornam progressivamente
absurdos
importantes. Os sistema de informação dos serviços de saúde
0 teste precisa ser terminado antes da aceitação do primeiro lançamento do
programa e precisa ser repetido em seguida a cada subseqüente
geram grandes benefícios, mas a qualidade do a t e n d i m e n t o é
modificação (teste de regressão)
seriamente comprometida se os sistemas forem perturbados ou
A documentação completa deve incluir as especificações originais, ficarem indisponíveis A divulgação inapropriada dos dados do
modificações e validação de dados serviço de saúde resulta em (1) penalidades legais, (2) alteração
na vida dos pacientes e (3) perda da confiança do paciente. A
decisão de gerenciar eletronicamente os dados requer u m com-
p r o m e t i m e n t o correspondente contra danos n o sistema, assim
p r o f u n d a m e n t e incrustado n o fluxo de trabalho do laboratório. como perda, corrupção e uso incorreto dos dados.
O s laboratórios devem orçar não apenas as instruções, mas
Responsabilidade d o s Usuários
t a m b é m horas extras que o pessoal d o laboratório precisará tra-
A maioria das divulgações inapropriadas de informação de saúde
balhar além de sua jornada regular e treinamento. Deve-se con-
ocorre através de ações intencionais ou não intencionais de usuá-
siderar a designação de u m supervisor para cada seção e eleger
rios. Alguns indivíduos p o d e m tentar enganar os funcionários
q u e m vai receber treinamento extra e atuar como u m perito local
para conseguir informações não autorizadas ou acesso a médicos.
para os outros funcionários.
Esse tipo de ataque, conhecido como "engenharia social", é geral-
m e n t e muito mais fácil d o que tentar violar as salvaguardas da
Comunicação segurança técnica. Para evitar esses problemas, os usuários do
O s laboratórios devem esperar grande dose de incerteza e ansie- sistema devem ser treinados regularmente quanto às suas obriga-
dade por parte dos usuários d o sistema até a implementação estar ções com o uso apropriado da informação médica. Os usuários
completa. A pronta comunicação dos (1) prazos, (2) planos, (3) também deverão ser treinados para reconhecer requisições sus-
mudanças d e planos, (4) problemas etc. dão suporte moral. U m a peitas de informação de terceiros. A senha ou outra informação
linha aberta de feedback daqueles envolvidos n o projeto de imple- de acesso nunca deve ser compartilhada ou requisitada por outros
mentação ajudará a detectar problemas o mais facilmente possí- usuários Todos os usuários devem entender que os LISs criam
vel. Os clientes externos, incluindo outros laboratórios e médicos u m a trilha de auditoria, u m registro de ações dentro do sistema
locais, deverão estar cientes d o projeto, d o período da instalação identificado pelo usuário, que é periodicamente revisado.
de programas para uso de rotina e de quaisquer m u d a n ç a s que
o afetarão.
Segurança do Sistema
O objetivo da segurança d o sistema é evitar que indivíduos ou
Serviços Profissionais softwares não autorizados p e r t u r b e m ou d a n i f i q u e m o sistema.
A maioria dos vendedores oferece serviços de consultoria que Os sistemas p o d e m ser colocados em localizações protegidas
p o d e m ajudar na implementação, pois dão a o p o r t u n i d a d e de e seguras que t e n h a m baixo risco de fogo, alagamento etc. O
ganhar experiência e conhecimento sobre o novo sistema. O con- acesso físico ao sistema deve ser limitado ao pessoal treinado e
trato inicial deve especificar razão, termos e condições dos serviços autorizado. Os softwares padrões de defesa devem ser instalados
profissionais com o cliente, mantendo o direito de aprovar o pessoal contra aiaques de rede, incluindo invasores (crackers), ataques de
do vendedor e rejeitar indivíduos se necessário. negação de serviço (denial-os-sewice [DoS]) e várias formas de
malware..l]
Go-live Crackers são indivíduos que t e n t a m ganhar acesso não auto-
O go-live é o m o m e n t o em que o sistema de software ou hardware rizado nos sistemas de c o m p u t a d o r usando u m a variedade de
é completamente instalado e testado e inicia-se o uso de rotina. ferramentas de software e engenharia social. Existem disponíveis
Na prática, é u m estimulante se for u m marco amedrontador. Se numerosas ferramentas, incluindo (1) teste completo de senhas
houver sucesso, será u m feito impressionante para o laboratório. com base em dicionário de senhas, (2) sondagem das fraquezas
Se não, p o d e suceder u m desastre. As considerações-chave paTa d o sistema e (3) testes para desconfiguração. Se o cracker consegue
garantir u m inicio com sucesso incluem (1) agendar o go-live para acesso parcial ao sistema através de u m a senha de usuários por
u m período d e m e n o r movimento, p. ex., u m fim de semana; (2) engenharia social, existem técnicas disponíveis para tentar expan-
recrutar pessoal extra para suportar a perda de produtividade dir as permissões de acesso para níveis mais altos, particular-
devida à não-familiaridade com o novo sistema; e (3) ter u m a m e n t e para sistemas que não são corretamente configurados.
cópia do plano n o local e especificar as circunstâncias sob as Os ataques DoS p o d e m ocorrer q u a n d o u m ou mais compu-
quais terá q u e se recuar na implementação e retornar ao antigo tadores comprometidos na Internet, geralmente controlados por
sistema. u m cracker, são alvos de u m alto volume de comunicações em
rede para u m único endereço, sobrecarregando, assim, aquele
Desenvolvimento do Software computador e sua rede local. C o m o alternativa, se os computa-
O s laboratórios desenvolvem software com propósitos especiais, dores dentro de uma rede local estiverem comprometidos, u m
abrangendo pequenos esforços internos para tarefas específicas ataque DoS poderia ser iniciado localmente. Esses ataques ilus-
até projetos contratados para melhorar a funcionalidade d o LIS. tram a necessidade de uniformizar a segurança nos computadores
O desenvolvimento do software compartilha muito dos princípios em rede, e não apenas nos sistemas críticos individuais, como
e riscos da aquisição e implementação do LIS. Diversos princí- u m LIS.
252 PARTE III Operações Laboratoriais

Malware é u m n o m e genérico pata muitos tipos de softwares Em geral, os dados podem ser usados para o atendimento do
maliciosos, incluindo wrus, vermes (worms), cavalos de tróia, registra- paciente e melhora da qualidade por profissionais de saúde auto-
dores de digitaçâo (key loggers) e outros. Estritamente falando, os rizados. O uso de dados para pesquisa pode ser aprovado por
vírus atacam a si mesmos e a outros softwares no computador e uma comissão de revisão institucional que fiscaliza a pesquisa com
rodam q u a n d o aquele software é ativado. Os «jorms geram seu h u m a n o s e geralmente pedirá o consentimento do paciente, a
próprio mecanismo d e comunicação e viajam de computador menos que todas as informações de identificação sejam removi-
para computador de m o d o independente. Os cavalos de tróia das dos dados. 4
aparecem como softwares inócuos ou interessantes, mas realizam O primeiro passo na proteção da integridade e confidencia-
ações indesejadas q u a n d o executados. Os registradores de digita- lidade dos dados é a restrição do acesso aos dados somente a
ção são programas ocultos que capturam e transmitem toda a usuários treinados e autorizados. A maioria dos sistemas atuais
digitação do usuário, permitindo que os crackers capturem a conta com senhas. Para serem efetivas, as senhas não p o d e m ser
identificação da usuário e senhas. O Malware pode ser recebido compartilhadas com outros e devem ser construídas para que
diretamente, ser transmitido em u m e-mail ou anexo de conversa crackers e outros não a descubram (p. ex.j devem conter caracteres
on-íinej ou ser baixado automaticamente de sítios de rede mali- alfanuméricos). Existe u m breve guia para boas senhas disponível
ciosos. em National Institutes of Health - www.alw.nih.gov/Security/
A melhor proteção contra esses ataques é a combinação de Docs/passwd.html).
boas práticas de computação e u m software e / o u hardware de O u t r o s métodos de autenticação têm sido usados na tentativa
segurança. As boas práticas incluem (1) não abrir mensagens de de evitar as limitações das senhas. Pequenos sinais de autenticação
e-maiís desconhecidos, (2) não abrir anexos não solicitados de e< (tokens), como os "cartões inteligentes", carregam informações crip-
maíls ou conversas eletrônicas, (3) evitar sítios não confiáveis e tografadas que identificam o proprietário ou dispõem números
(4) configurar o software de Internet, como clientes de e-mail e em u m padrão único de troca conhecido pelo sistema em que se
pesquisadores de rede, a não baixar e abrir arquivas automatica- entra, junto com a senha. Esses dispositivos diminuem a chance
mente. Os pacotes de filtragem âos firewalls (Figura 15-2), servidores, de se obter uma informação útil para acesso através visualização
intermediários (proxy) e softwares firewall são muitas vezes usados em do usuário, registro de sua digitação ou captura de suas comuni-
combinação para impedir que u m software inapropriado entre cações de rede. A autenticação biométrica está também em ativo
pela rede. Os softwares de detecção de intrusão também monito- desenvolvimento) e, no futuro, os usuários poderão ser identifica-
ram as redes e alertam sobre atividades suspeitas de crackers ou dos por (1) impressão digital ou de mão, (2) padrões de veias, (3)
malwares. vasos da retina, (4) padrão da íris ou (5) mapeamento facial.
O malware tem se tornado u m problema sério e prevalente, Mesmo com u m ótimo controle de acesso e segurança de
particularmente para computadores que executam o Microsoft sisrema, falhas no software ou hardware ou desastres naturais p o d e m
Windows, que uma indústria desenvolveu para testar e denunciar danificar u m sistema e os dados nele contidos. Assim, é essencial
a vulnerabilidade a malware do software e cria programas que copiar (backup) regularmente os dados para uma localização segura.
bloqueiam e removem os malwares. Os vendedores de computador A maioria dos LIS., implementa u m backup rotativo para cartuchos
atualizam continuamente seus sistemas e liberam correções de fita. C o m o parte da rotatividade, algumas das fitas são tiradas
(fiatcKes), ou pequenos arquivos com código de computador cor- para que se u m desastre afetar o locai, não danifique também todos
rigido, que conserta as vulnerabilidades identificadas. Diversos os backups. Os sistemas altamente importantes podem também
estudos informais têm mostrado que u m computador com o criar u m hotbackup ("backup a quente"), um sistema duplicado
Microsoft Windows n ã o corrigido conectado à Internet irá se continuamente atualizado, fora da sede. Espera-se que os sistemas
infectar com malware dentro de poucos segundos a minutos, cruciais como os LISs tenham planos de cobertura de desastres que se
sendo de crucial importância aplicar as correções ao sistema tão antecipem à possibilidade de falha de qualquer ou de todos os
logo seja apropriado (pode-se requerer u m teste local por profis- componentes do sistema em uma varie dade de cenários, e forneça
sionais de IT) e mais computadores devem executar softwares "anti- procedimentos "do um ti me" (nos momentos em que o sistema está
vírus". Embora os /irewalls façam uma mensuração da proteção ocioso) e procedimentos de restauração dos serviços.
por manter a maioria dos malwares fora da rede local, é sempre
possível que uma nova forma de malware possa passar pelo firewall,
ou o malware pode ser introduzido após o firewall, por exemplo,
Retenção de Dados
Os resultados dos exames e outras informações técnicas devem
por u m laptop adicionado à rede. Em uma população de compu-
ser retidos pelo laboratório de acordo com requerimentos regu-
tadores Windows em u m laboratório, o efeito disso poderia ser
latórios aplicáveis. Q u a n d o os sistemas de informação são altera-
u m impacto muito grave nas operações laboratoriais.
dos ou aprimorados, é importante confirmar se os dados arqui-
vados dentro do intervalo de t e m p o requerido permanecem
Dados de Segurança e Privacidade acessíveis.
Ter dados médicos em sistemas eletrônicos é crucial para a qua-
lidade do atendimento e isso precisa ser protegido de perdas e
corrupção. Além disso, as informações médicas precisam ser tra-
tadas confidencialmente e divulgadas apenas para aqueles que REFERÊNCIAS
são parte do processo de atendimento médico. As regulamenta- 1. As cio n M, ed. Laboratoty errors & patient safety 2006. Vol 3, Issuc 3.
ções federais associadas ao H I P A A (Health Insurance Portability 2. Barros CE, Nigam MK, Fridsma DB, Gadd CS. Piedicting the impact of
and Accountability Act) determinam que as organizações de ser- a new information system on workflow using a discrere event
viços de saúde usem boas práticas específicas e salvaguardas para simuíation. Medinfo 2004;11:706-10.
proteger a segurança e privacidade dos dados que identifiquem 3. Cowan DF, ed. Infonnatics for the clinicai laboiarnry: a practical guide.
o paciente. 0 Essas regulamentações definem também (1) os direi- New York: Springer Vedag, 2003.
tos dos pacientes com relação aos seus dados, (2) usos apropria- 4. G u n n PP, Fremont AM, Bottrell M, Shugarman LR, Galegher J, Bikson
dos dos dados pelas organizações de serviço de saúde e seus T. The Health Insurance Portability and Accountability Acc Privacy
parceiros de negócios e (3) penalidades para o uso inapropriado. Rule: A practical guide for researchers. Med Care 2004;42:321-7.
Informática no Laboratório de Análises Clínicas CAPÍTULO 15 253

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CAPÍTULO 1 6

Gestão da Qualidade
George G. Klee, M.D., Ph.D., e James O. Westgard, Ph.D.

OBJETIVOS se u m m é t o d o está f u n c i o n a n d o a d e q u a d a m e n t e e se os
1. Definir qualidade, gestão da qualidade total, controle de processo r e s u l t a d o s dos testes d o p a c i e n t e p o d e m ser relatados. É
dos Seis Sigma e produção magra. descrito p e l o n ú m e r o d e m e d i d a s de controle e pelos
critérios d e decisão (regras d e controle) utilizados p a r a
2. Listar os exemplos de variáveis pré-analfticas, analíticas e pós-
julgar a aceitabilidade dos r e s u l t a d o s .
analíticas que afetam as resultados de testes laboratoriais e
P r o c e s s o d e T e s t e C o m p l e t o : D e f i n i ç ã o a m p l a d o p r o c e s s o de
determinam como cada um é controlado.
testes laboratoriais, q u e inclui as etapas pré-analítica,
3. Comparar o controle interno de qualidade com a avaliação externa
analítica e pós-analítica.
de qualidade
P r o d u ç ã o M a g r a : U m processo d e q u a l i d a d e q u e se c o n c e n t r a
4. Definir materiais de controle e estabelecer sua utilização no
n a criação d e mais valor pela e l i m i n a ç ã o de atividades
laboratório clínico; definir controle de qualidade.
c o n s i d e r a d a s desperdício.
5. Explicar a necessidade de mapas de controle no laboratório clínico Q C Estatístico: Aqueles aspectos d o c o n t r o l e d e q u a l i d a d e n o s
e descrever como introduzir dados em um mapa de controle. quais estatísticas são aplicadas, e m contraste c o m o objetivo
6. Listar e explicar as regras de Westgard para a interpretação de m a i s a m p l o da garantia d e q u a l i d a d e , q u e inclui m u i t o s
dados de controle laboratoriais. o u t r o s p r o c e d i m e n t o s , c o m o a m a n u t e n ç ã o preventiva,
7. Aplicar as regras de Westgard aos dados efetivos de controle e avaliações da f u n ç ã o d o i n s t r u m e n t o e testes d e validação
determinar que ações devem ser tomadas para corrigir valores de do d esempenho.
controle fora do limite. Q u a l i d a d e : C o n f o r m i d a d e às exigências d o s usuários o u
8. Definir testes de proficiência. clientes e a satisfação de suas necessidades e expectativas.
R e g r a s d e C o n t r o l e : U m critério d e decisão utilizado p a r a
i n t e r p r e t a r os d a d o s d o c o n t r o l e d e q u a l i d a d e ( Q C ) e fazer
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES u m j u l g a m e n t o sobre o estado d e c o n t r o l e (ou seja, l 3 s
Avaliação d a Q u a l i d a d e E x t e r n a : U m p r o g r a m a de q u a l i d a d e r e p r e s e n t a n d o u m a regra de c o n t r o l e o n d e u m a série é
n o qual as a m o s t r a s são s u b m e t i d a s a l a b o r a t ó r i o s p a r a julgada f o r a d e c o n t r o l e se u m a m e d i d a d e c o n t r o l e exceder
análise e os r e s u l t a d o s de u m l a b o r a t ó r i o i ndi vi dual são a m é d i a mais o u m e n o s 3 desvios-padrão).
c o m p a r a d o s aos resultados d o g r u p o de laboratórios R e g r a s M ú l t i p l a s d e W e s t g a r d : P r o c e d i m e n t o q u e utiliza u m a
participantes. série de regras d e c o n t r o l e p a r a testar as m e d i d a s d e
C o n t r o l e d e P r o c e s s o d o Seis S i g m a : M e t a de d e s e m p e n h o da controle: u m a regra 1^ é u s a d a c o m o u m aviso, seguida p o r
q u a l i d a d e q u e r e q u e r 6 sigma o u 6 desvios-padrão de l 3 s j 2 2s , R ^ , 4is e 10j usadas c o m o regras d e rejeição.
variação d o processo p a r a se ajustar aos limites de R e j e i ç õ e s Falsas: D e s e m p e n h o característico d e u m
tolerância d o processo. p r o c e d i m e n t o de Q C q u e descreve o q u ã o f r e q ü e n t e m e n t e
D e t e c ç ã o d e E r r o s : U m d e s e m p e n h o característico de u m u m a série analítica é rejeitada q u a n d o n e n h u m erro ocorre,
p r o c e d i m e n t o d e Q C q u e descreve o q u ã o f r e q ü e n t e m e n t e exceto pela imprecisão i n e r e n t e ao m é t o d o .
u m a série analítica é r e j e i t a d a q u a n d o os r e s u l t a d o s c o n t ê m T e s t e s d e P r o f i c i ê n c i a (PT): O processo p e l o qual a m o s t r a s
erros além da i m p r e c i s ã o i n e r e n t e ao m é t o d o . s i m u l a d a s de pacientes o b t i d a s a p a r t i r d e u m a f o n t e
G e s t ã o d a Q u a l i d a d e T o t a l ( T Q M ) : Filosofia e a b o r d a g e m de c o m u m são analisadas p o r laboratórios, s e n d o os r e s u l t a d o s
gestão q u e focaliza os processos e sua m e l h o r i a c o m o o deste p r o c e d i m e n t o avaliados p a r a se d e t e r m i n a r a
m e i o p a i a satisfazer as necessidades e exigências d o cliente. " q u a l i d a d e " d o d e s e m p e n h o dos laboratórios.
G r á f i c o d e C o n t r o l e d e Levey-Jenníngs: U m a exposição gráfica
simples na q u a l os valores observados são c o n f r o n t a d o s
c o m u m a série de valores aceitáveis, c o m o i n d i c a d o n o

O
gráfico pelas l i n h a s d e limites de c o n t r o l e s u p e r i o r e s p r i n c í p i o s da gestão, garantia e c o n t r o l e d e q u a l i d a d e
inferior, os quais são c o m u m e n t e extraídos da m é d i a , m a i s se t o r n a r a m a base pela qual os l a b o r a t ó r i o s clínicos são
o u m e n o s 3 desvios-padrão. a d m i n i s t r a d o s e o p e r a d o s . Este capítulo c o m e ç a c o m
I S O 9 0 0 0 : U m a série de p a d r õ e s i n t e r n a c i o n a i s p a r a a gestão u m a discussão sobre os f u n d a m e n t o s da gestão da q u a l i d a d e total
da q u a l i d a d e p r o d u z i d o s pela O r g a n i z a ç ã o I n t e r n a c i o n a l e segue c o m as descrições de (1) gestão da q u a l i d a d e total d o s
para Padronização. l a b o r a t ó r i o s clínicos, (2) c o n t r o l e das variáveis pré-analíticas, (3)
L i m i t e s de C o n t r o l e : L i n h a s sobre u m gráfico d e c o n t r o l e c o n t r o l e das variáveis analíticas, (4) avaliação d a q u a l i d a d e
utilizadas para avaliar o e s t a d o d e c o n t r o l e de u m m é t o d o ; e x t e r n a e p r o g r a m a s de testes d e p r o f i c i ê n c i a e (5) u s o c o m b i n a d o
c o m u m e n t e calculadas c o m o a m é d i a d o material de d e c o n t r o l e s mutáveis mais m é d i a s f l u t u a n t e s d o s valores de
c o n t r o l e mais o u m e n o s u m certo m ú l t i p l o d o desvio- p a c i e n t e s para a m o n i t o r a ç ã o d o c o n t r o l e d e q u a l i d a d e . O capí-
p a d r ã o o b s e r v a d o p a r a aquele material de c o n t r o l e . t u l o é c o n c l u í d o c o m discussões sobre as novas iniciativas de
P r o c e d i m e n t o de C o n t r o l e ( P r o c e d i m e n t o d e Q C ) : O q u a l i d a d e , i n c l u i n d o os p r i n c í p i o s e métricas d o s Seis Sigma, a
p r o t o c o l o e os materiais necessários p a r a u m analista avaliar p r o d u ç ã o e n x u t a e os p a d r õ e s I S O 9 0 0 0 .
256 PARTE 111 Operações Laboratoriais

FUNDAMENTOS DA GESTÃO DA QUALIDADE processo de teste laboratorial, a calibração é u m bom exemplo de


TOTAL custo incorrido para prevenir problemas. Da mesma forma, (1)
Os sistemas de qualidade nas organizações de assistência à saúde o controle de qualidade é um custo para a avaliação do desem-
c o n t i n u a m a se desenvolver com numerosas fontes de informação penho, (2) u m a série repetida é u m custo de insucesso interno
disponíveis na Internet. 8 As pressões públicas e privadas para para u m desempenho analítico insatisfatório e (3) pedidos repe-
conter os gastos são agora acompanhadas por pressões pela tidos de testes - devido à baixa qualidade pré-analítica ou analí-
melhoria da qualidade (QI). As pressões aparentemente contra- tica - constituem u m custa de insucesso externo.
ditórias pela redução d o custo e pela QI exigem que estas orga- Essa compreensão da qualidade e do custo leva a u m a nova
nizações de assistência à saúde adotem sistemas para gerenciar a perspectiva do relacionamento entre estes dois conceitos. A
qualidade. Q u a n d o confrontadas com estas mesmas pressões, melhoria na qualidade leva a reduções n o custo. Por exemplo,
outras organizações implementaram u m processo d e n o m i n a d o com u m a melhor qualidade analítica, u m laboratório elimina
gestão da qualidade total (TQM). Este processo é também refe- séries repetidas e pedidos repetidos de testes. Esse trabalho de
rido como (1) controle da qualidade total (QC), (2) liderança da repetição é desperdício. Se a qualidade melhora, o desperdício é
qualidade total, (3) melhoria contínua da qualidade, (4) ciência da reduzido, o que por sua vez reduz o custo. O pai deste conceito
gestão da qualidade, ou mais como (5) gestão da qualidade organiza- f u n d a m e n t a l foi o recentemente falecido W. Edwatds Deming,
cional Isso fornece tanto u m a filosofia de gestão para o desenvol- que desenvolveu e promulgou internacionalmente a noção de
vimento organizacional q u a n t o u m processo de gestão para a que a melhoria da qualidade reduz o desperdício e leva a u m a
melhoria da qualidade em todos os aspectos do trabalho. Muitas produtividade melhorada, o que por sua vez reduz custos e
organizações de assistência à saúde adotaram os conceitos e prin- fornece u m a vantagem competitiva. 7
cípios da T Q M .

Conceitos Metodologia
Neste capítulo, a qualidade é definida como a conformidade às A melhoria na qualidade ocorre q u a n d o problemas são elimina-
exigências dos usuários ou clientes e a satisfação de suas necessi- dos permanentemente. A experiência organizacional demonstra
dades e expectativas. Os ptincípios universais da T Q M são (1) que 8 5 % de todos os problemas são problemas de processo,
foco n o cliente, (2) compromisso com a gestão, (3) treinamento, e n q u a n t o os 15% restantes são problemas que requerem u m a
(4) capacidade e controle do processo e (5) medição utilizando melhoria na ação e desempenho de empregados individualmente.
ferramentas de melhoria da qualidade. 2 1 O foco nos usuários e Portanto, os problemas de qualidade são primariamente proble-
clientes é importante, particularmente em organizações de servi- mas de gestão, porque apenas a gestão t e m o poder de m u d a r os
ços, como as de assistência à saúde. Os usuários dos laboratórios processos de trabalho.
de assistência à saúde geralmente são as enfermeiras e os médicos; Essa ênfase nos processos de trabalho leva a u m a nova visão
seus clientes são os pacientes e outros grupos responsáveis pelo da organização como u m sistema de processos (Figura 16-2).^ Por
pagamento. exemplo, várias disciplinas terão diferentes visões sobre os pro-
Os custos devem ser compreendidos n o contexto da quali- cessos de trabalho de uma organização de assistência à saúde
dade. Se a qualidade significa conformidade às necessidades, (Quadro 16-1). O sistema global para a organização de assistência
então os "custos de qualidade" devem ser compreendidos em à saúde envolve a interação de todos esses processos e outros. 8
termos de "custos de conformidade" e "custos de não-conformi- Dada a importância primária desses processos para a organi-
dade", como ilustrado na Figura 16-1. Em termos organizacio- zação, a T Q M visualiza a organização como uma estrutura de
nais, os custos de conformidade são divididos em custos de suporte, em vez de u m a estrutura de comando. Os processos mais
prevenção e custos de avaliação. Os custos de não-confcrmidade imediatos exigidos para a prestação de serviços são aqueles empre-
consistem em custos de insucessos internos e externos. Para u m gados da linha de frente. O papel d o gestor sênior é dar suporte

Custos da
qualidade Clientes ou
usuários s x ^
istema \ f \ ^
jProcesso^ | P r o c e s s o ^ | Processo^[Processoj
Cuslos de Custos de não-
• n TTI r
J
Y [•mn í n
LJ [.
conformidade conformidade Itil /
Trabalhadores

Custos
\ Custos de
de linha
n J
J L. L
Custos de Custos de Gerentes

t ? t j T j TJ
prevenção avaliação de falhas falhas de seção
internas externas

Exemplos: Exemplos: Exemplos: Exemplos: Diretores de

¥ + ¥ í
Treinamento Inspeção Refugo Reclamações departamento
Calibração Controle Retrabalho Serviço
Manutenção de qualidade Séries Pedidos repetidos
repetidas

Figura 16-1 O custo da qualidade em termos de custos de Administrador


c o n f o r m i d a d e e custos de n ã o - c o n f o r m i d a d e às exigências dos clientes. da organização
(De Westgard J O , Barry PL. Cost-effective quality c o n t r o l : m a n a g i n g t h e
Figura 16-2 V i s ã o da gestão da q u a l i d a d e total d e u m a organização
quality a n d p i o d u c t i v i t y of analytical processes. W a s h i n g t o n , D C ;
c o m o u m sistema de processos.
A A C C Press, 1997.)
Gestão da Qualidade CAPÍTULO 16 257

QUADRO 16-1 Diferentes Visões dos Processos de Trabalho


de uma Organização de Assistência à Saúde
como Função de Cada Posição na Organização

MÉDICO/PROMOTOR DE SAÚDE
• Exame do paciente
• Testes do paciente
• Diagnostico do paciente
• Tratamento do paciente

ADMINISTRADOR DE SAÚDE
• Processos para admissão dos paGientes
• Conduzindo os serviços dos pacientes
• Liberação dos pacientes
• Faturamento dos custos de serviço

DIRETOR DO LABORATÓRIO
• Processos de aquisição de amostras
• Processamento das amostras
• Análise das amostras
• Relatório dos resultados dos testes

ANALISTA DO LABORATÓRIO
Figura 16-3 E s t r u t u r a da gestão da q u a l i d a d e total para a gestão da
• Aquisição das amostras
• Análise das amostras q u a l i d a d e em u m l a b o r a t ó r i o d e assistência à saúde. ( D e W e s t g a r d J O ,
• Realização do controle de qualidade B u r n e t t RW, Bowers G N . Quality m a n a g e m e n t science m clinicai
• Liberação dos resultados de testes do paciente c h e m i s t r y ' a d y n a m i c f r a m e w o i k f o r c o n t i n u a m imp-rovement of
quality. C l i n C h e m 1990;36:1712-6.)

aos empregados de linha e empoderá-los para identificar e resol-


ver os problemas em seu próprio processo de trabalho. QUADRO 1 6 - 2 Elementos de uma Abordagem "Projeto por
A importância da delegação de poder de decisão é facilmente Projeto" para Melhoria da Qualidade
compreendida se u m problema envolve processos de dois diferen-
Definição criteriosa do problema
tes departamentos. Por exemplo, se u m problema envolve uma
Estabelecimento das medições base para o desempenho do processo
ligação entre o processo A e o processo B (Figura 16-2), a estru-
Identificação das causas essenciais do problema
tura de gestão tradicional exige que o problema seja transferido
Identificação de uma solução para o problema
dos trabalhadores d e linha para u m gerente ou supervisor de
Verificação de que a solução realmente funGiona
seção, u m diretor de departamento e u m administrador da orga- "Padronização" ou generalização da solução para implementação de rotina de
nização. O administrador trabalha então com u m n ú m e r o igual um processo melhorado
de intermediários do outro departamento. O envolvimento Determinação das medições em andamento para monitoração e controle do
direto dos trabalhadores de linha e seus gerentes deve fornecer processo
uma resolução mais imediata do problema
Todavia, resolver tais problemas exige u m processo criteriosa-
mente estruturado para garantir que as causas básicas sejam iden-
tificadas e as soluções propostas, verificadas. O processo de
melhoria da qualidade "projeto por projeto" de Juran fornece atualmente aplicada, relaciona-se principalmente com medidas
diretrizes detalhadas que têm sido amplamente adotadas e inte- mais amplas e monitores de desempenho laboratorial, tais como
gradas à metodologia de solução de problemas das equipes (1) tempo de resposta, (2) identificação de amostras, (3) identifi-
atuais. 12 C o n f o r m e listado n o Q u a d r o 16-2, o esboço da metodo- cação do paciente e (4) utilidade do teste. Observe que avaliação
logia distingue etapas a serem seguidas para tal processo de QI. ãa qualidade é o termo apropriado para essas atividades, ao con-
trário de garantia da qualidade, que tem sido incorretamente usada
IMPLEMENTANDO A TQM para descrever essas atividades. A medida do d e s e m p e n h o não
Os princípios e conceitos da T Q M têm sido formalizados em u m melhora por si mesma o desempenho e f r e q ü e n t e m e n t e não
processo de gestão da qualidade (Figura 16-3). A estrutura tradi- detecta problemas a tempo de evitar efeitos danosos. A Q A exige
cional para a gestão da qualidade em u m laboratório de assistên- que tanto as causas dos problemas sejam identificadas através da
cia à saúde enfatiza o estabelecimento de (1) processos laborato- Q I quanto eliminadas através do planejamento da qualidade
riais de qualidade (QLPs), (2) Q C , (3) avaliação da qualidade (QP), ou que o Q C detecte os problemas cedo o suficiente para
(QA) e (4) sistemas de qualidade (QSs). 4 Os QLPs incluem pro- evitar suas conseqüências.
cessos analíticos e políticas, práticas e procedimentos gerais que Para fornecer uma estrutura completamente desenvolvida
definem como todos os aspectos do trabalho são realizados. O para a gestão da qualidade, os componentes da Q I e Q P devem
Q C enfatiza procedimentos de controle (procedimentos de QC) ser estabelecidos. A QI fornece u m processo estruturado de
estatísticos, mas t a m b é m inclui procedimentos de avaliação não- solução de problemas para ajudar a identificar a causa básica de
estatísticos, como as verificações de linearidade, avaliação de u m problema e a solução para este problema. O Q P é necessário
reagentes e de padrões e monitores de temperatura. A QA, como para (1) padronizar a solução, (2) estabelecer medidas para a
258 PARTE III Operações Laboratoriais

QUADRO 1 6 - 3 j Princípios Básicos de um Sistema de Qualidade TABELA 16-1 Processos de Testes Laboratoriais e seus
Erros Potenciais
Documentos e registros
Organização
Processo * * Enos Potenciais ^ ; * . , . . . • ; -> - ; -
Pessoal Pedido de teste Teste inadequado
Equipamento Escrita à mão não legível
Aquisição e inventário Identificação errada do paciente
Controle do processo Exigências especiais não identificadas
Gestão da informação Custo ou pedido atrasado
Gestão de ocorrências Aquisição da Tubo ou recipiente incorreto
Avaliação: externa e interna amostra Identificação incorreta do paciente
Melhoria do processo Volume inadequado
Serviço ao cliente Amostra inválida (p. ex., hemolisada ou muito diluída)
Adaptado ie: Jn.siiiufo d& Padrões Glínícos e Laboratoriais, A qwüity sustem jnoil ílr Coletada no momento errado
jtfaiith. aiíe, 2nd ed. Documento HS0Í-A2 GLSI. Wctym, PA: /nstituro de °ic ír>>?r Condições de transporte Inadequadas
Ciáiicos e Lab&ratmais, 2004. Medição analítica Instrumento nãe calibrado corretamente
Amostra confundida
Volume da amostra incorreto
Substância interferente presente
Problema de precisão do instrumento
monitoração do desempenho, (3) assegurar que o desempenho
Relatório dos testes Identificação errada do paciente
atingido satisfaça os requisitos de qualidade e (4) documentar o
Relatório não apresentado em mapa
novo QLP. O novo processo é então implementado através do QLP,
Relatório não legível
medido e monitorado através do Q C e da QA, melhorado através
Relatório atrasado
da QI e replanejado através do QP. Estes cinco componentes, que Erro de transcrição
trabalham juntos em u m ciclo de feedback, ilustram como a Qi Interpretação Substâncias interferentes não reconhecidas
continua é efetuada e a garantia de qualidade é construída em dos testes Especificidade do teste não compreendida
processos laboratoriais. Limitações de precisão não reconhecidas
A estrutura dos "cinco Qs" (Figura 16-3) também define Sensitividade analítica não apropriada
como a qualidade é objetivamente gerenciada com o "método Valores prévios não disponíveis para comparação
científico", ou o ciclo PFCA (planejar, fazer, controlar, agir). O
Q P fornece a etapa do planejamento, o QLP estabelece processos
padronizados da forma pela qual as ações são realizadas, o Q C e
a Q A fornecem medições para avaliações do quão b e m as ações
são realizadas e a QI fornece u m mecanismo através d o qual se que as amostras apresentadas sejam analisadas (Capítulo 3). Por-
atua sobre essas medições. A metodologia naturalmente aplicada tanto, o processo de teste completo deve ser gerenciado apropria-
a experimentos científicos t a m b é m deve ser a base para decisões damente nas fases pré-analítica, analítica e pós-analitica.
objetivas de gestão. As muitas etapas ou subprocessos que ocorrem a partir do
A objetividade, todavia, d e p e n d e da existência de requisitos pedido inicial de u m teste pelo médico até o m o m e n t o da inter-
quantitativos de qualidade para a avaliação d o d e s e m p e n h o nos pretação final d o resultado d o teste são obtidos através d o desem-
processos existentes e o planejamento d o desempenho nos novos p e n h o de u m a "análise de sistemas". A Tabela 16-1 lista as etapas
processos. O s laboratórios devem definir suas metas e objetivos ou subprocessos para u m laboratório clínico típico e os poten-
de serviço e estabelecer requisitos clínicos analíticos de quali- ciais erros associados a eles. Apesar de tal análise identificar os
dade para o teste do processo. Sem tais metas de qualidade, processos críticos para u m laboratório típico, cada situação labo-
n e n h u m a forma objetiva existe para (1) determinar se u m a qua- ratorial é diferente, p o d e n d o estar presentes processos e fontes
lidade aceitável está sendo alcançada, (2) identificar processos de erro adicionais. Assim, cada laboratório deve executar u m a
que necessitam de melhoria, ou (3) planejar ou projetar novos análise de sistemas de seu próprio sistema de testes laboratoriais
processos que assegurem a obtenção de u m nível especificado de para identificar aquelas áreas nas quais os erros p o d e m ocorrer.
qualidade. U m a vez que os processos t e n h a m sido documentados,
A T Q M t a m b é m é considerada u m sistema de qualidade que aqueles mais suscetíveis a erros devem ser identificados e receber
é implementado para assegurar qualidade. Por exemplo, u m a maior atenção. Muitas vezes os processos que levam ao maior
n ú m e r o de reclamações, tais como amostras perdidas ou resulta-
d o c u m e n t o do Clinicai and Laboratory Standards ínstitutes
(CLSI) descreve u m sistema de gestão da qualidade (QS) como dos atrasados, são julgados mais importantes. Todavia, outras
etapas, tais como a adequação da seleção do teste e a aceitabili-
u m "conjunto de elementos-chave de qualidade que devem ser
adequados para que as operações de trabalho de u m a organização dade de u m a amostra, p o d e m ser mais importantes para se alcan-
f u n c i o n e m , de forma a alcançar os objetivos estabelecidos de çar u m a assistência médica ótima. Diretrizes descrevendo proce-
qualidade da organização.'" 5 O s princípios básicos de u m Q S dimentos para a manipulação da amostra estão disponíveis em
estão listados n o Q u a d r o 16-3. Estes representam a necessária organizações como o CLSI; organizações de credenciamento, tais
infra-estrutura exigida por u m laboratório para fornecer serviços como a Academia Americana de Patologistas, Centros para o
laboratoriais de qualidade. Detalhes de como implementar u m Controle e Prevenção de Doenças e agências reguladoras estatais,
Q S são fornecidos n o d o c u m e n t o d o CLSI. 4 também são úteis. 3,4,8

CONTROLE DAS VARIÁVEIS PRÉ-ANALÍTICAS


O PROCESSO DE TESTE COMPLETO O estabelecimento de métodos efetivos para a monitoração e
Relatórios de testes exatos e adequados são responsabilidade do controle das variáveis pré-analíticas é difícil, pois muitas das
laboratório. Todavia, muitos problemas surgem antes e depois variáveis estão fora das áreas laboratoriais tradicionais (Capítulo
Gestão da Qualidade CAPÍTULO 16 259

QUADRO 16-4 | Variáveis no Processo Pré-analítico q u a n d o os resultados são verificados duas vezes. A informatização
reduz este tipo de erro de transcrição, pois os sistemas computa-
Uso do leste e diretrizes práticas dorizados possuem rotinas de detecção de erros programadas n o
Identificação da paciente terminal de funções de entrada. Essas rotinas p o d e m incluir (1)
Tempo de resposta verificação dos dígitos, (2) verificações de limites, (3) verificações
Registros laboratoriais de correlação de testes e (4) checagens de verificação com os
Erros de transcrição arquivos-mestre d o hospital.
Preparo do paciente
Coleta da amostra Preparação do Paciente
Transporte da amostra
Os testes laboratoriais são afetados por muitos fatores do paciente,
Separação da amostra e distribuição das alíquotas
tais c o m o a ingesta recente de alimento, álcool ou medicamentos,
fumo, atividade física, estresse, sono e postura durante a coleta
da amostra, e outras variáveis {Capítulo 3). A preparação apro-
priada d o paciente é essencial para se obterem resultados signifi-
3). A monitoração das variáveis pré-analíticas exige um esforço
cativos nos testes. O laboratório deve definir as instruções e
coordenado de muitos indivíduos e departamentos hospitalares,
procedimentos para a preparação d o paciente e obtenção da
devendo cada u m deles reconhecer a importância desses esforços
amostra.
na manutenção dc u m serviço de alta qualidade. A realização de
tal monitoração pode requerer suporte externo ao laboratório,
particularmente da comissão de práticas clínicas da instituição
Coleta da Amostra
As técnicas utilizadas para se obter u m a amostra afetam os testes
ou de alguma autoridade similar. U m a lista de variáveis impor-
laboratoriais {Capítulo 3). Recipientes inadequados e conservan-
tantes a se considerai estão listadas n o Q u a d r o 16-4, e são dis-
tes incorretos t a m b é m afetam os resultados dos testes, tornando-
cutidas a seguir.
os inadequados. U m a forma para monitorar e controlar este
aspecto do processamento laboratorial é designar u m a equipe
Aplicação d o s Testes e Diretrizes Práticas
laboratorial especialmente treinada para a coleta da amostra.
Tradicionalmente, a aplicação dos testes laboratoriais tem sido
monitorada ou controlada em algum grau, mas a ênfase atual n o
custo da assistência médica e a regulação governamental da assis-
Transporte da Amostra
A estabilidade das amostras durante o transporte desde o paciente
tência médica p o d e m aumentar a importância deste fator.
até o laboratório é f u n d a m e n t a l para alguns testes executados
localmente e para a maioria dos testes enviados para centros
Identificação do Paciente
regionais e laboratórios comerciais. Para controlar o transporte
A correta identificação de pacientes e amostras é uma grande
da amostra, o aspecto essencial é a possibilidade de se rejeitarem
preocupação para os laboratórios. A freqüência mais elevada de
amostras que chegam ao laboratório em u m a condição obvia-
eiras ocorre com a utilização de etiquetas escritas à mão e formu-
m e n t e insatisfatória (tais como u m a amostra descongelada que
lários de pedido. A utilização da tecnologia de código de barras
deveria ter permanecido congelada).
para a identificação d o paciente minimizou esta fonte potencial
de erros (Capítulo 11).
Separação d a s Amostras e Distribuição d a s
Tempo de Resposta (TAT) Alíquotas
A separação das amostras de sangue e a distribuição das alíquotas
O tempo decorrido desde que um teste foi pedido até que o
são funções usualmente executadas sob o controle direto do
resultado d o teste seja relatado é conhecido como o tempo de
l a b o r a t ó r i o . A s v a r i á v e i s p r i n c i p a i s s ã o a s (1) c e n t r í f u g a s , (2)
resposta para o teste. Fedidos de testes, amostras e relatórios
recipientes e (3) pessoal. As centrífugas devem ser monitoradas
atrasados e perdidos contribuem para TATs inaceitáveis. Por-
através de verificações da velocidade, temporizador e tempera-
tanto, na prática, é necessário registrar os tempos efetivos da (1)
tura. Tubos de coleta, pipetas, tampas e tubos com alíquotas são
coleta da amostra, (2) recebimento no laboratório e (3) relatório
fontes de cálcio e de contaminação por traços de metal; cada
dos resultados dos testes.
n ú m e r o de lote dos materiais deve ser testado quanto à contami-
nação pot cálcio e possivelmente por outros elementos.
Registros Laboratoriais
Q u a n d o tubos com alíquotas de soro chegam ao laboratório, um
formulário de pedido/relatório geralmente acompanha as amos*
CONTROLE DAS VARIÁVEIS ANALÍTICAS
tras. O n o m e do paciente, n ú m e r o de identificação e os testes
As variáveis analíticas devem ser controladas criteriosamente para
solicitados n o formulário devem ser comparados às informações
assegurar medições exatas por métodos analíticos. Métodos ana-
no rótulo do tubo da amostra para assegurar que eles são os
líticos confiáveis são obtidos através de u m processo criterioso de
mesmos. Além disso, a amostra deve ser inspecionada para se
(1) seleção, (2) avaliação, (3) implementação, (4) m a n u t e n ç ã o e (5)
confirmar a adequação do volume e a ausência de problemas que
controle (Capítulo 13). U m serviço laboratorial eficiente e inin-
possam interferir n o ensaio, tais como lipidemia ou hemólise. As
terrupto requer muitos procedimentos planejados para se evitar a
amostras devem então ser armazenadas apropriadamente, e as
ocorrência de problemas. Diferentes laboratórios experimentaram
informações de identificação e tempo de chegada, registrados em
diversos problemas com os mesmos métodos analíticos, pois
u m arquivo-mestre.
níveis diferentes de esforço foram alocadas para a assistência,
m a n u t e n ç ã o e suporte daqueles métodos.
Erros de Transcrição Certas variáveis devem ser monitoradas em u m a base labora-
Em laboratórios nos quais a identificação e rotina eletrônicas não torial ampla, pois elas afetam muitos métodos laboratoriais (Capí-
tenham sido implementadas, existe u m risco substancial de erro tulo 2). Além disso, certas variáveis afetam especificamente
de transcrição a partir da entrada m a n u a l dos dados, mesmo métodos analíticos individuais e estes necessitam do desenvolvi-
260 PARTE III Operações Laboratoriais

QUADRO 1 6 - 5 Esboço de um Documento de Procedimento do CLSI

Um documento 5 do CLSI descreve as seguintes seções a serem incluídas em um uma forma gradual. Por exemplo, as etapas envolvidas na execução de uma
procedimento laboratorial: medição da glicose sanguínea
A. Título: Um iflulo estabelece claramente a finalidade do documento, devendo D. Documentos relacionados: Se utilizada, esta seção fornece uma listagem de
ser conciso outros procedimentos que foram mencionadas neste procedimento
B. Finalidade ou princípio: O documento deve começar por uma seção que E. Referências: Os procedimentos precisam citar a fonte das informações,
simplesmente estabeleça a sua finalidade. Per exemplo, a seção de quando aplicável
"Finalidade" de um processo poderia ser descrita como: "Este processo F. Apêndices ou anexos: Exemplos de formulários completos, etiquetas ou
descrevo como (aqui, o nome do processo, [p. ex., aquisição da amostra.]) rótulos devem ser incluídos como apêndices ou anexos nos documentas
ocorre neste laboratório. A seção de "Finalidade" de um procedimento dos procedimentos. Informações adicionais contidas em uma tabela ou lista
poderia ser descrita como: "Este procedimento íomece instruções para a podem ser mais bem apresentadas em um apêndice ou anexo, em vez de
coleta de amostras digitais para a análise da glicose." As expressões "Este no corpo do procedimento
praeesso descreve como..." e "Este procedimento fornece instruções G. Autorfes): 0(s) autcr(es] do documento deve(m) ser registrado(s). G
para..." podem ser padronizadas no modelo e, portanto, incluídas em cada laboratório tem a opção de incluir as informações dos autores diretamente
processo e documento de procedimento no documento ou em outro documento que esteja relacionado ao
Informações concernentes à teoria, implicações clínicas do exame ou documento específico
metodologia do exame, ou quadro histórico, podem ser incluídas no início H. Assinaturas de aprovação: As evidências de que o documento foi aprovado
de um documento de procedimento para fornecer uma estrutura pela(s) pessoa(s) apropriadas é uma exigência das agências reguladoras e
educacional, clínica e científica para o leitor e usuário. Todavia, em de credenciamento, e de padrões internacionais. G laboratório tem a opção
íunção de essas informações poderem ser técnicas e enfadonhas, elas de incluir as informações das assinaturas de aprovação diretamente no
também podem ser posicionadas no final de um documento de documento ou em outro documento que esteja relacionado ao documento
procedimento específico
C. Instruções óo procedimento: C foco primário de um procedimento é
fornecer informações sobre "como fazer" uma tarefa particular de

Adaptado do Insncwis de Padrões Clínicos e Laboratoriais. Laboratory documente: Deüelapment and Contro l, 2rid eâ. Documento do CLSI GP-Q2-A5. Wd;ynás PA: Instituto de Padrões
Ciínicoí e Laboratoriais, ZOO6.

QUADRO 1 6 - 6 | Esboço para um Manual de Procedimentos Monitoração da Competência Técnica


O treinamento apropriado do pessoal do laboratório para se esta-
A. Tabela de Sumários belecer uma uniformidade na técnica é importante, assim como
B. Descrições dos Processos (opcionais, mas altamente recomendadas)
o cronograma de serviços suficientes de rotina para a manutenção
C. Procedimentos
de técnicas adequadas. U m a lista escrita de objetivos que deli-
D. Formulários Associados
neiam as tarefas e conhecimento essenciais é u m instrumento útil
Adaptado do Instiiitto de Padrões Clínicos e Laboratoriais- Lühomtory documente: no treinamento do pessoal em novos métodos analíticos. Os
Development and Contro!, 2nd ed. Documento do CLSÍ GP-02-A5. W/i-jne, PA: objetivos asseguram instruções sistemáticas que cobrem os pontos
J?Liriti;/;: de Pddrães Oniícj; íl Laboratoriais, 2006.
críticos. Antes que as análises para o uso clínico sejam executadas,
a competência técnica do pessoal deve ser verificada e séries prá-
ticas, realizadas. A monitoração periódica da competência pode
ser difícil, mas relatórios e resultados incidentais a partir de veri-
m e n t o de procedimentos para lidar especificamente com as carac- ficações de Q C externas e internas ajudarão a identificar proble-
terísticas dos métodos. mas específicos; esses problemas devem ser discutidos diretamente
com o pessoal envolvido. Programas de educação continuada e
Documentação d o s Protocolos Analíticos em serviço ajudam a manter e melhorar a competência. Confe-
O CLSI 5 define processo como u m c o n j u n t o de atividades inter- rências com empregados também ajudam a descobrir problemas
relacionadas ou interativas que transformam entradas em saídas não-técnicos que possam afetar a qualidade do trabalho.
{ISO 9OOO/http://www.iso.org). Na prática, u m processo pode
ser d o c u m e n t a d o como u m mapa de fluxo ou tabela que descreve Controle Estatístico d o s Métodos Analíticos
operações dentro do laboratório. U m d o c u m e n t o de procedi- O desempenho dos métodos analíticos é tipicamente monito-
mentos fornece passo-a-passo as instruções que u m indivíduo rado através da análise de amostras com concentrações conheci-
precisa seguir para completar com sucesso uma atividade no das e comparação subseqüente dos valores observados com os
processo. Tal procedimento é crítico se u m método fornecer os valores conhecidos. O s valores conhecidos são geralmente repre-
mesmos resultados q u a n d o utilizado por diferentes analistas n o sentados por u m intervalo de valoTes aceitáveis ou por limites
decorrer de u m longo período de tempo. O Q u a d r o 16-5 delineia superiores e inferiores para o controle (limites d e controle).
as informações que estão contidas em u m d o c u m e n t o de proce- Q u a n d o os valores observados se enquadram nos limites de
dimentos. Diretrizes mais detalhadas são fornecidas pelo CLSI. 5 controle, o analista se assegura de que o m é t o d o analítico está
As matérias necessárias em u m manual laboratorial estão listadas f u n c i o n a n d o adequadamente. Q u a n d o os valores observados se
n o Q u a d r o 16-6. Tal m a n u a l deve ser revisto anualmente e revi- enquadram fora dos limites de controle, o analista fica alertado
sado sempre que alterações ocorrerem. Além disso, manter pro- para a possibilidade de problemas na determinação analítica.
cedimentos obsoletos em uma pasta de arquivos (cópia em papel Várias fontes de informação sobre a aplicação do Q C estatístico
ou eletrônica) é uma boa prática. no laboratório clínico estão disponíveis. 10,18
Gestão da Qualidade CAPÍTULO 16 261

Materiais de Controle de valores, conforme indicado n o gráfico pelas linhas para os


As amostras que são analisadas para fins de Q C são conhecidas limites de controle superiores e inferiores. Q u a n d o os pontos
como materiais de controle. Elas precisam estar disponíveis (1) em marcados caem dentro dos limites de controle, esta ocorrência é
uma forma estável, (2) em alíquotas ou frascos e (3) para análise geralmente interpretada como que o m é t o d o está f u n c i o n a n d o
ao longo de u m período extenso de tempo. Além disso, deve adequadamente. Q u a n d o os pontos caem fora dos limites de
existir apenas uma variação mínima de frasco para frasco, de tal controle, problemas p o d e m estar se desenvolvendo.
forma que as diferenças entre as medições repetidas sejam atri- Os limites de controle são usualmente calculados a partir do
buídas ao m é t o d o analítico isoladamente. O material de controle desvio-médio (x) e SD (s) obtidos a partir das medições repetidas das
deve possuir preferencialmente a mesma matriz que as amostras amostras conhecidas por u m método analítico particular que deva
do teste de interesse; por exemplo, uma matriz protéica p o d e ser ser controlado. O desvio-médio e SD são calculados a partir das
melhor q u a n d o o soro for o material do teste a ser analisado pelo seguintes equações:
m é t o d o analítico. Materiais de fontes h u m a n a s geralmente são
T_Sx,
preferíveis, mas, devido à disponibilidade limitada e às conside-
rações sobre o d a n o biológico, os materiais oriundos de animais
oferecem uma certa vantagem em segurança e estão mais pron- ri
tamente disponíveis. A concentração do material analisado deve
estar nos intervalos de referência esperados e anormais, corres-
p o n d e n d o às concentrações q u e sejam críticas na interpretação («ix-XW
clínica dos resultados do teste.
n(n-l)
Na prática, os laboratórios adquirem materiais de controle de
uma dentre várias empresas q u e produzem os soros de controle
ou "produtos de controle". Esses produtos geralmente são forne- onde x, é uma observação individual de controle e n é o número
cidos em formas liofilizadas ou congeladas a seco que são recons-
de observações no período de tempo que está sendo monitorado.
tituídas pela adição de água ou de u m a solução diluente especí- A estimativa inicial deve estar baseada em medições obtidas ao
fica. Também estão disponíveis materiais com matri7es apresen-
longo de u m período de pelo menos 1 mês quando o método está
tando urina, líquido espinal e sangue total. Materiais de controle
funcionando adequadamente. Na prática, esta estimativa inicial
líquidos também estão disponíveis e possuem a vantagem da
pode não ser inteiramente precisa devido ao baixo número de
eliminação de erros causados pela reconstituição. Todavia, as
pontos de dados e possíveis informações estranhas nos dados. As
matrizes desses materiais líquidos contêm outros materiais que
estimativas são revistas quando mais dados tiverem sido acumula-
constituem uma fonte potencial de erros com alguns métodos e
das pelo registro de n e pelas somas de ^ e (xL2), e pela subseqüente
instrumentos analíticos.
utilização dos totais cumulativos nas equações prévias para fornecer
Além da matriz do produto, vários outros fatores devem ser
as médias e SDs cumulativos. Os efeitos dos dados estranhos são
considerados na seleção dos materiais de controle comerciais. A
minimizados pela eliminação dos valores que excederem a média em
estabilidade é importante, pois o laboratório frequentemente
mais de ±3,1 a 3,8 s's (onde o fator exato depende do número total
adquire o suprimento por u m ano de um lote ou série de fabricação. de pontos de dados: 3,14 para n = 30; 3,22, n = 40; 3,33, n = 60;
Diferentes séries (ou números de lote) do mesmo material possuem 3,41, n = 80; 3,47, n = 100; 3,66, n = 200; 3,83, n = 400).
diferentes concentrações, o que exige novas estimativas do desvio-
A distribuição dos erros do m é t o d o analítico é considerada
médio e padrão (SD). O tamanho das alíquotas ou frascos deve ser
uma distribuição simétrica e curva de Gauss. Os limites de con-
adequado para os métodos analíticos a serem monitorados. Frascos
trole são dispostos para incluir a maioria dos valores de controle,
de tamanho maior são geralmente menos caros (em uma base por
usualmente 9 5 % a 99,7%, que correspondem à média ± 2 ou 3
milímetro), mas os materiais não-utilizados podem eliminar econo-
SDs (s). Por ser a observância de u m valor no final da distribuição
mias potenciais. Dois ou três materiais diferentes devem ser selecio-
uma ocorrência relativamente rara (apenas 1 entre 20 m o m e n t o s
nados para fornecer concentrações que monitorem o desempenho para limites de 2 s, 3 entre 1.000 para limites de 3 s), tal obser-
em diferentes níveis de decisão clínica.
vação é duvidosa e sugere que algo possa ter acontecido ao
Os produtos de controle são adquiridos como materiais testa-
m é t o d o analítico. Tal ocorrência poderia ter causado u m deslo-
dos ou não-testados. Os materiais testados acompanham uma lista
camento na média (um problema de exatidão), o que poderia
de valores para as concentrações esperadas daquele material. Essa
resultar em uma probabilidade mais elevada de exceder os limites,
lista freqüentemente inclui tanto o desvio-médio quanto o SD para
ou ela poderia ter causado u m a u m e n t o n o SD (um problema
vários métodos analíticos comuns e preferencialmente para u m
de precisão), que poderia a u m e n t a r a distribuição e t a m b é m
método de referência utilizado para medir um material analisado
resultar em uma probabilidade mais elevada de exceder os limites
particular. Devido ao trabalho necessário para determinar estes
de controle da aceitabilidade.
valores, os materiais testados são mais caros. Apesar de os valores
A Figura 16-4, A, ilustra como as distribuições dos valores de
de teste fixados serem úteis na seleção dos materiais desejados, a
controle aparecem em três diferentes situações: (a) desempenho
determinação do desvio-médio e do SD no laboratório do usuário
estável no qual uma observação ocasional excede os limites de
é recomendável, pois esse processo melhora as características de
controle; (b) ocorrência d e u m erro sistemático que desloca a
desempenho dos procedimentos de controle estatístico.
média da distribuição e causa u m a expectativa ou probabilidade
maior de que os valores de controle possam ser observados fora
Princípios Gerais dos Gráficos de Controle de u m dos limites de controle; e (c) ocorrência de u m a u m e n t o
U m método c o m u m utilizado para comparar os valores observa- n o erro ou imprecisão aleatória, o que aumenta a distribuição e
dos para os materiais de controle com seus valores conhecidos é causa u m a probabilidade b e m maior de que u m valor de controle
a utilização dos gráficos de controle. Os gráficos de controle são possa ser observado fora de quaisquer dos limites de controle.
apresentações gráficas simples nas quais os valores observados são Na prática, os gráficos de controle são utilizados para compa-
plotados versus o m o m e n t o q u a n d o as observações são feitas. Os rar os valores de controle observados com os limites de controle
valores conhecidos são representados por uma variação aceitável e fornecer uma apresentação visual que é inspecionada e revista
262 PARTE III Operações Laboratoriais

a) Desempenho b) Problema de c) Problema de


de controle" (inaceitável). O termo "série analítica" é utilizado
estável exatidão; desloca- precisão; aumento
mento na média no desvio-padrão nesta discussão para se referir àquele segmento de dados para os
quais uma decisão sobre a aceitabilidade deve ser tomada. Este é
o grupo dos resultados do paciente que precisa ser relatado, com
base nos resultados de controle disponíveis para inspeção naquele
Limite de controle \ momento. O n ú m e r o total de observações de controle disponí-
veis para inspeção q u a n d o u m a decisão precisa ser tomada sobre
a aceitabilidade de uma série analítica é designada como N. Por
exemplo, q u a n d o uma observação de controle precede e uma se
segue a u m grupo de 10 amostras de pacientes cujos resultados
devem ser relatados, existem duas observações de controle
naquela série analítica. As regras de controle são símbolos dados
como A l , ou n L , o n d e A é a abreviação para uma estatística, n é
1
Limite de controle
o n ú m e r o de observações de controle e L se refere aos limites de
controle. Por exemplo, l 3s se refere à regra de controle na qual
uma observação excedendo os limites médios de controle + 3 s
é o critério para a rejeição da série analítica. Similarmente, l 2s se

| refere à regra de controle na qual uma observação excede à média


±2s.
•8
& Freqüência das observações
Características de Desempenho de um
£
Procedimento de Controle
O s diferentes procedimentos de controle discutidos anterior-
mente possuem diferentes capacidades de desempenho, depen-
d e n d o das regras de controle e da quantidade de observações de
controle escolhidas. Por exemplo, u m mapa de controle de Levey-
Jennings com os limites de controle dispostos como a média ± 2
s possui uma elevada taxa de rejeições q u a n d o o método está
realmente f u n c i o n a n d o de forma satisfatória ("falsos alarmes").
A utilização dos limites de controle de 3 s reduz os falsos alarmes
a 1% ou menos; todavia, os alarmes verdadeiros ou a detecção
de erros também passam por uma redução.
A seleção das regras de controle e das quantidades de medi-
ções de controle deve estar relacionada às metas de qualidade
estabelecidas pelo laboratório.' 5 Na prática, é necessário o conhe-
cimento das características de desempenho dos procedimentos
Tempo de controle para selecionar as regras de controle que detectam
problemas laboratoriais relevantes, sem causar alarmes falsos em
Figura 16-4 Base conceituai dos gráficos d e controle. A , demasia. Analistas experientes frequentemente utilizam uma
Distribuições de f r e q ü ê n c i a das observações d e c o n t r o l e para diferentes série de regras ou julgamentos informais para reduzir a quanti-
c o n d i ç õ e s d e errns. B t A p r e s e n t a ç ã o d o s valores d e controle dade de alarmes falsos, sem conhecer seus efeitos na detecção de
r e p r e s e n t a n d o aquelas distribuições nas quais a c o n c e n t r a ç ã o é problemas reais ou alarmes verdadeiros. Alguma avaliação quan-
m a r c a d a versus o t e m p o em u m m a p a d e controle. titativa destas duas características - alarmes falsos e alarmes ver-
dadeiros - deve existir sempre que as capacidades de novos pro-
cedimentos de controle forem avaliadas ou procedimentos de
rapidamente. Nestes mapas, a concentração ou valor observado controle fixados forem revistos.
é marcado n o eixo y versus tempo de observação no eixo x. Comu- E importante o reconhecimento da seriedade do problema
mente, os dados de 1 mês são marcados no mapa, geralmente da falsa rejeição e sua relação com os limites de controle esco lhi-
apenas u m ou dois pontos por dia, mas o eixo do tempo deve dos para o mapa de Levey-Jennings. Estas falsas rejeições são de
ser adequado para o m é t o d o que está sendo monitorado. U m fato uma propriedade inerente ao procedimento de controle. Elas
exemplo do gráfico de controle de Levey-Jennings é mostrado ocorrem em função dos limites de controle que tenham sido
na Figura 16-4, 6, o n d e os valores de controle representam as três selecionados, e não devido a problemas com o m é t o d o analítico.
situações na Figura 16^4, A, com 10 valores por situação (para Portanto, a utilização dos limites de controle de 2 s geralmente
u m total de 30 valores). Se o m é t o d o analítico estiver funcio- não é recomendada. C o m a utilização dos limites de controle de
n a n d o adequadamente, os valores de controle caem predominan- 3 5, o problema da falsa rejeição é eliminado, mas a detecção de
temente dentro dos limites de controle. Q u a n d o existe u m pro- erros infelizmente também é reduzida.
blema de exatidão, os valores de controle são deslocados para u m
lado e vários valores em u m a linha p o d e m cair fora de u m dos Mapa das Regras Múltiplas de Westgarg
limites. Q u a n d o existe u m problema de precisão, os valores de O procedimento das "regras múltiplas" desenvolvido por West-
controle f l u t u a m muito mais amplamente e podem exceder gard e colegas 19 utiliza várias regras de controle para interpretar
ambos os limites de controle superiores e inferiores. os dados de controle. A probabilidade de falsas rejeições é mantida
A interpretação dos dados de controle é guiada por certos baixa por meio da seleção apenas daquelas regras com baixas
critérios de decisão ou regras de controle, que definem q u a n d o probabilidades individuais de falsa rejeição (0,01 ou menos). A
u m a série analítica é julgada "em controle" (aceitável) ou "fora probabilidade de detecção de erros é melhorada através da seleção
Gestão da Qualidade CAPÍTULO 16 263

daquelas regras que são particularmente sensíveis aos erros alea- Maleital (te oonlrvlu d» atevada concunlroçâo

tórios e sistemáticos. O procedimento das Regras Múltiplas de


f
Westgard requer um mapa com as linhas para os limites de con- 16b
trole desenhadas na média ± 1 s, 2 s e 3 s. 1 160

MÂW\ aÍ-
As seguintes regras de controle são utilizadas:

--tFA
$ ®
"8 p
155
• lj, U m a observação de controle excedendo à média + 2 s —

._y_x_L__!.\í;_ _vj.il
\L..
utilizada apenas como uma regra de "advertência" que inicia 150

. • ii
o teste dos dados de controle pelas demais regras de con- Í3 ° 145
-g "O
trole 8 * * * .
140
• l 3s U m a observação de controle excedendo à média + 3 s — •si
primariamente sensível ao erro aleatório 135
• 2 D u a s observações de controle consecutivas excedendo à I I I I I I 1 I I I

mesma média + 2 s ou à média - limite de 2 5 — sensível ao 5 6 8 11 1314 17 25 27 29


Número das séries
erro sistemático
• R^is U m a observação excedendo à média + 2 s e outra exce-
dendo à média - 2 s — sensível ao erro aleatório 112
• 4i, Q u a t r o observações consecutivas excedendo à média + 1 108

AÍAjlSA /•
s ou à média - I s — sensível ao erro sistemático 104
• 10„ 10 observações de controle consecutivas caindo de u m
lado da média (acima ou abaixo, com n e n h u m outro requisito
sobre o t a m a n h o dos desvios) — sensível ao erro sistemático
f 1
Y-U-U A1Y /L.7
A utilização do procedimento das regras múltiplas é similar
à utilização de u m mapa de Levey-Jennings, mas a interpretação F - V - - Y - - - - - w
dos dados é mais estruturada. Para se utilizar o procedimento das
X I I _L _L
regras múltiplas são usadas as seguintes etapas:
5 6 8 11 1314 17 25 27 29
1. As amostras do material de controle são analisadas pelo Número das séries
método analítico a ser controlado em pelo menos 20 dias Material de controla de baixa concentração
diferentes. São recomendados dois materiais diferentes com
concentrações adequadas. A média e o SD são calculados para Figura 16-5 M a p a d e c o n t r o l e das regras m ú l t i p l a s de Westgard,
os resultados de cada material de controle sendo utilizado. c o m os limites d e c o n t r o l e d e s e n h a d o s na m é d i a ± l s , 2 s c 3 s . A
2. Utilizando-se u m software, u m gráfico de controle é constru- c o n c e n t r a ç ã o é p l o t a d a n o eixo y versus o t e m p o ( n ú m e r o das séries) n o
ído para cada u m dos materiais de controle utilizados. A eixo x. A , M a p a para m a t e r i a l d e c o n t r o l e d e elevada c o n c e n t r a ç ã o . B ,
concentração observada ou o valor de controle é marcado no M a p a p a r a material d e c o n t r o l e d e baixa c o n c e n t r a ç ã o , s, Desvio-padrão.
eixo 9, fixando-se a variação das concentrações para incluir a (De "Westgard J O , Barry PL, H u n t MR, G r o t h T. A multi-rule S h e w h a r t
média ± 4 s. As linhas horizontais são desenhadas para a c h a r t for quality control in clinicai chemistry. C l i n C h e m 19fil;27;493-
média, a média ± 1 s, a média ± 2 s e a média + 3 s. Na prática, 501.)
são úteis diferentes cores para estas linhas, talvez verde,
amarelo e vermelho para os limites de 1 s, 2 s e 3 s, respecti-
vamente. O eixo x é graduado paia o tempo, dia ou n ú m e r o inferior u m material de baixa concentração. E importante que a
de série e indicado adequadamente. regra seja aplicada d e n t r o de apenas uma série, de tal forma
3. Duas amostras de controle são introduzidas em cada séTie que erros sistemáticos entre as séries não sejam interpretados
analítica para cada u m a das duas concentrações (quando equivocadamente como erros aleatórios. Todavia, a regra pode
ser aplicada "através" dos materiais, significando que uma das
tiverem sido selecionados dois materiais diferentes). Os
observações está n o material de baixa concentração e a outra no
valores de controle são registrados e marcados pata cada uma
material de alta concentração, enquanto eles estejam dentro da
no seu respectivo mapa de controle.
mesma série. Alternativamente, observe que as regras 22s, 4]s e
4. Q u a n d o ambas as observações de controle caírem dentro dos
10* são aplicadas através das séries e materiais. Esta aplicação
limites de 2 s, a série analítica é aceita e os resultados do
aumenta efetivamente o n e melhora as capacidades do procedi-
paciente relatados. Q u a n d o uma das observações de controle mento.
exceder u m limite de 2 s, os resultados do paciente são retidos
e regras adicionais aplicadas. Por exemplo, os dados de con- Identificação das Fontes de Erros Analíticos
trole são inspecionados utilizando-se as regras l 3s , 2*. R#a e Os procedimentos de controle estatístico fornecem u m meio de
10*. Q u a n d o quaisquer das regras indicar que a série está fora alertar o analista para os problemas que fazem com que a quali-
do controle, a série analítica é rejeitada e os resultados do dade do desempenho analítico seja m e n o r que as metas estabe-
paciente não são relatados. Q u a n d o todas as Tegras indicarem lecidas para o laboratório. Todavia, esses procedimentos de con-
que a série está n o controle, a série analítica é aceita e os trole não identificam as fontes dos erros analíticos nem solucio-
resultados do paciente relatados. nam os problemas de controle. O analista deve responder ao sinal
5. Q u a n d o uma série estiver fora do controle, o tipo de erro é fora de controle para corrigir o problema e evitar futuras ocor-
determinado com base na regra de controle que tenha sido rências.
violada. Isso envolve procurar as fontes para aquele tipo de As diretrizes de Q C do CLSI 6 enfatizam a importância da cor-
erro. O problema é então corrigido e a análise da série inteira reção do problema, de forma oposta à repetição de rotina dos
é repetida, incluindo as amostras de controle e do paciente. controles, que, de fato, são apenas testes repetidos até que os con-
U m exemplo da aplicação do procedimento das regras múlti- troles estejam dentro da variação aceitável. Q u a n d o os procedimen-
plas é mostrado na Figura 16-5, o n d e o gráfico superior ilustra tos de controle são selecionados adequadamente, tomando-se como
u m material de controle de elevada concentração e o gráfico base a qualidade requerida para o teste e a imprecisão e inexatidão
264 PARTE III Operações Laboratoriais

QUADRO 16-7 Erros Sistemáticos Geralmente toração da inclinação analítica. Essas medições da amostra do
Relacionados a Problemas de Calibração paciente geralmente possuem variâncias muito maiores que os
controles de líquidos, pois elas contêm fontes biológicas, fisiopa-
Materiais de calibração impuras tológicas e pré-analíticas d e variação, além da variação analítica.
Preparo inadequado das soluções de calibração Todavia, se algumas dessas fontes de variação forem controladas,
Pontos estabelecidos e valeres fixados errôneos então as técnicas de média p o d e m ser utilizadas para gerar parâ-
Soluções de calibração instáveis metros de conduta que possuam variações da mesma ordem de
Soluções contaminadas magnitude dos controles de líquidos. As informações demográfi-
Técnicas de calibração inadequadas cas sobre pacientes específicos, tais como idade, sexo e área de
Funções de calibração não-lineares cu instáveis serviço do provedor de saúde têm sido usadas pata normalizar os
Formulários de amostra inadequados valores dos testes, resultando em variações menores das médias
Formulários de reagentes instáveis
dos grupos para os parâmetros de monitoração. Q u a n t o maior o
t a m a n h o da janela usada para a média dos valores do paciente,
menor a variância. O coeficiente de variação (CV) da média do
observadas para o método, as falsas rejeições devem ser minimiza- grupo diminui aproximadamente de forma proporcional à raiz
das. Instrumentos práticos para a seleção dos procedimentos ade-
quadrada do n ú m e r o de amostras. Várias técnicas estatísticas têm
quados de Q C têm sido descritos na literatura. 18 Q u a n d o alertado
sido usadas para calcular a média dos valores dos pacientes, tais
para u m problema de controle, o analista deve primeiro conduzir
como a média móvel ajustada exponencialmente. Em geral, há
uma inspeção do (1) método analítico, (2) equipamento, (3) reagen-
u m equilíbrio entre a variância diminuída versus o tempo aumen-
tes e (4) amostras para assegurar que o teste está funcionando cor-
tado para a detecção de erros q u a n d o números maiores dos
retamente. U m a inspeção pode parecer uma técnica qualitativa e
valores do paciente são usados nestas médias móveis. Para a maior
sensorial, mas é u m instrumento muito poderoso quando execu-
parte dos testes químicos, tamanhos de janela usando-se valores
tada com listas de verificação desenvolvidas para métodos analíticos
de amostra de 50 a 100 são freqüentemente necessários. 13 U m a
específicos. Esta inspeção deve incluir uma revisão dos registros,
vantagem das distribuições dos valores dos testes sobre os contro-
documentando alterações que ocorrem com o instrumento e rea-
les de líquidos é a inclusão da variação pré-analitica causada pela
gentes. Verificações concisas da função do instrumento são freqüen- coleta, transporte e armazenamento da amostra. Isso permite que
temente executadas para verificar o desempenho adequado do
os parâmetros derivados dos valores do paciente detectem altera-
sistema e separar as fontes de erros químicas das instrumentais. U m
ções nestas variáveis além das alterações nos testes analíticos.
analista experiente freqüentemente identifica o problema execu-
A Figura 16-6 ilustra u m algoritmo para a combinação de
tando este tipo de inspeção, enquanto analistas inexperientes são controles de líquidos com u m controle derivado dos valores do
auxiliados por listas de verificação formais.
paciente. Os mesmos sistemas de avaliação de regras múltiplas
O tipo de erro fornece por si só u m indício sobre a fonte do
usados para os controles de líquidos têm sido utilizados para
erro. Por exemplo, os erros sistemáticos freqüentemente relacio-
conduzir a estatística do Q C derivado dos valores do paciente.
nados a problemas de calibração estão listados no Q u a d r o 16-7. Pontos estabelecidos e valores de limiar são fixados para esse
Os erros aleatórios são mais provavelmente devidos a (1) falta de
parâmetro derivado, para otimizar a capacidade de detecção de
reprodutibilidade na pipetagem de amostras e reagentes, (2) dis-
erros para o erro sistemático. Observe que os algoritmos de média
solução de tabletes de reagentes e mistura da amostra e reagentes,
usados para gerar esses parâmetros derivados calculam a média
e (3) falta de estabilidade da temperatura das soluções, regulação de erros aleatórios, de tal forma que esses parâmetros derivados
do tempo e de sensores fotométricos e outros sensores. Os métodos
não são úteis para a detecção de erros aleatórios. C o m o ilustrado
analíticos individuais p o d e m não estar sujeitos a todas essas pos-
na figura, esse protocolo de controle combinado é mais exato
síveis fontes de erros; em vez disso, podem existir apenas poucas
q u a n d o tanto o controle de líquidos q u a n d o o controle derivado
fontes plausíveis para u m tipo particular de erro. Analistas expe-
do paciente se movimentam na mesma direção (ambos altos ou
rientes freqüentemente sabem quais são essas fontes comuns para
ambos baixos). Q u a n d o os controles se movimentam discordan-
os seus métodos analíticos particulares e rapidamente identificam
temente, é necessária u m a investigação adicional para definir se
as fontes, uma vez que o tipo de erro seja conhecido.
o problema está relacionado à (1) instabilidade dos controles de
U m a indicação do tipo de erro é a regra de controle que é
líquidos, (2) alterações nas características do paciente (tais como
violada. As diferentes regras de controle possuem diferentes sen- muitos pacientes doentes observados ao mesmo tempo), (3) alte-
sitividades para detectar erros aleatórios e sistemáticos. Por
rações pré-analíticas dos testes, ou (4) outras causas.
exemplo, as regras l 3s e FL, t e n d e m a responder ao erro aleatório;
as regras 22s, 4is e 10x, aos erros sistemáticos. Procedimentos de
controle que utilizem amostras do paciente em vez de materiais AVALIAÇÃO DA QUALIDADE EXTERNA E
de controle estáveis ajudam a identificar fontes pré-analíticas de PROGRAMAS DE TESTES DE PROFICIÊNCIA
erros, tais como manipulação e processamento da amostra. Pro- Todos os procedimentos de controle descritos previamente foca-
cedimentos externos de avaliação da qualidade p o d e m fornecer lizaram a monitoração d e u m único laboratório. Esses procedi-
informações mais abrangentes sobre os erros sistemáticos que as mentos constituem o que é freqüentemente d e n o m i n a d o Q C
disponíveis a partir dos procedimentos internos. As informações interno para distingui-los dos procedimentos usados para compa-
a partir de todos esses procedimentos são complementares e, rar os desempenhos de diferentes laboratórios, sendo estes
q u a n d o utilizadas em combinação, fornecem uma avaliação mais conhecidos como QA externa. Os dois procedimentos são com-
completa dos tipos de erros e suas possíveis fontes. plementares: o Q C interno é necessário para a monitoração
diária da precisão e exatidão do m é t o d o analítico, e a Q A externa
Uso Combinado dos Controles de Líquidos e é importante na m a n u t e n ç ã o da exatidão a longo prazo dos
Médias Móveis dos Valores do Paciente para a métodos analíticos.
Monitoração do Controle de Qualidade A participação em u m programa externo de testes de proficiên-
As distribuições dos valores medidos dos testes têm sido utilizadas cia é necessária para todos os laboratórios dos EUA que executam
para complementar os tradicionais controles de líquidos na moni- testes classificados como moderados e de alta complexidade. Muitos
Gestão da Qualidade CAPÍTULO 16 265

Figura 16-6 Protocolo para a combinação dos controles líquidos com o controle derivado dos valores de u m paciente.

pontos de atendimento executam alguns desses testes, devendo programas fazem isso de diferentes formas. Por exemplo, o teste t
também se inscrever em programas de testes de proficiência. O s é utilizado para testar a significância estatística de qualquer dife-
fornecedores atualmente aprovados dos programas de testes de rença entre a média observada de u m laboratório individual e a
proficiência distribuem kits de até cinco amostras para análise média do gTupo. Q u a n d o a diferença é significativa, o laboratório
três vezes ao ano pelo laboratório. O laboratório relata seus é alertado de que seus resultados estão tendenciosos em compa-
resultados ao fornecedor, que então os torna disponíveis para as ração com os resultados da maioria dos outros laboratórios. U m a
agências reguladoras. outra abordagem é dividir a diferença pelo SD global do grupo e
então expressar a diferença em termos de n ú m e r o d e SDs.
A s p e c t o s d o s Programas d e Avaliação da
Qualidade Externa Resultado Laboratorial - Média do G r u p o
Vários programas de Q A externa disponíveis ao laboratório SDI =
clínico são patrocinados por sociedades profissionais e fabrican- Desvio-padrão Global do G r u p o
tes de materiais de controle. A operação básica desses programas
envolve todos os laboratórios participantes, analisando o mesmo O n d e SDI é o intervalo ou índice do desvio-padrão e o SD gíofcal
lote de material de controle, usualmente com frequência diária do grupo é o SD para o grupo ou u m subconjunto selecionado do
como parte das atividades d o Q C interno. Os resultados são grupo. Diferenças maiores que 2 indicam que determinado labo-
tabulados mensalmente e enviados ao grupo patrocinador para ratório não está de acordo com o restante dos laboratórios do
análise dos dados. Relatórios resumidos são preparados pelo programa. Esses cálculos reduzem todos os resultados dos testes
patrocinador do programa e distribuídos para todos os laborató- aos mesmos valores, o que torna possível a interpretação dos
rios participantes. Esse tipo de relatório não tem sido disponibi- dados a partir de diferentes materiais analisados, sem referência
lizado em tempo real, sendo usado apenas para revisões mensais à média e s exatos para cada método analítico.
e para atividades periódicas de solução de problemas. C o n t u d o , Algumas informações adicionais sobre a natureza do erro
com os avanços nas telecomunicações e a acessibilidade e versa- sistemático são obtidas q u a n d o dois diferentes materiais de con-
tilidade da Internet onipresente, o Q C externo em tempo real trole são analisados por cada laboratório. A média observada do
está disponível. laboratório para o material A é plotada n o eixo y versus sua média
Os relatórios gerados a partir dos programas de Q A externa observada para o material B no eixo x. Os testes gráficos são
freqüentemente incluem u m a análise abrangente dos dados, d e n o m in a d o s gráficos de Youden. Idealmente, o p o n t o para u m
resumos estatísticos e gráficos. A média global dos laboratórios no laboratório deve cair no centro da curva. Pontos de dados caindo
programa ou a média dos valores de todos os laboratórios é tida a partir do centro, mas na linha de 45°, sugerem u m erro analí-
como "verdadeira" ou de valor correto, sendo usada para a com- tico proporcional. Pontos de dados caindo a partir do centro,
paração com a média do laboratório individual. Os diferentes mas não na linha de 45°, sugerem ou u m erro q u e é constante
266 PARTE III Operações Laboratoriais

paia ambos os materiais ou u m que ocorre com apenas u m de dois resultados incorretos forem produzidos para qualquer
material. material analisado, o laboratório é considerado "em experiência".
O relatório também p o d e incluir gráficos de Levey-Jennings Se um laboratório tiver dois ou mais resultados incorretos para
dos dados, mas por não estar tal informação disponível em tempo qualquer material analisado ou u m escore total m e n o r que 8 0 %
real, ela n ã o serve efetivamente para fins de Q C interno. Gráficos em duas de três inspeções, ele é classificado como "suspenso" e
de controle em branco m o n t a d o s para cada material analisado e deve cessar os testes de todos os materiais analisados naquela
cada material de controle p o u p a m do laboratório o tempo neces- categoria determinada até que seja reintegrado.
sário para preparar esses mapas manualmente. LJma nova exigência dos regulamentos definitivos do CLIA
é que os laboratórios devem realizar estudos de validação dos
Papel d o s Testes de Proficiência no métodos em todos os novos testes introduzidos após 24 de abril
Credenciamento de 2003. Antes disso, os laboratórios que implementassem novos
O s testes de proficiência (PT) são o processo n o qual amostras métodos e sistemas analíticos que tivessem sido esclarecidos pela
simuladas do paciente, feitas a partir de u m reservatório comum, Food and Drug Adminístration (FDA) podiam simplesmente
são analisadas por u m laboratório. Os resultados deste procedi- seguir as instruções dos fabricantes e considerar que as alegações
m e n t o são avaliados paia se determinar a "qualidade" do desem- de desempenho dos fabricantes eram válidas. C o m a publicação
p e n h o do laboratório. Existe controvérsia quanto à validade da regra definitiva, o d e s e m p e n h o de todos os novos testes deve
desse processo de avaliação laboratorial, mas o governo e as ser validado em cada laboratório para documentar a relatável: (1)
agências licenciadas o usam como u m m é t o d o objetivo para o variação, (2) precisão, (3) exatidão, e (4) intervalos de referência.
credenciamento do laboratório. Relatos da mídia destacando Para alguns métodos, p o d e ser t a m b é m necessário determinar o
problemas de qualidade dos laboratórios resultaram na tramita- limite de detecção e testar possíveis interferências.
ção de levisões pelo Congresso dos EUA sobre o Clinicai Labo- U m a outra alteração principal na regra definitiva foi a elimi-
ra tory Improvement Act de 1967 (CL1A '67) e as Clinicai Labo- nação de uma cláusula precoce que teria exigido que a FDA
ratory Improvement A m e n d m e n t s de 1988 (CL1A '88). U m a das revisasse as instruções d e Q C de um fabricante. Isso foi uma
revisões prevê o P T c o m o parte principal do processo de creden- cláusula-chave para permitir q u e os laboratórios simplesmente
ciamento do laboratório. As regras de implementação para esta seguissem as instruções de u m fabricante. Todavia, com a elimi-
legislação têm evoluído, com a norma legislativa final sendo nação de tal cláusula, os laboratórios possuem agora mais respon-
publicada em 24 de janeiro de 2003." Diretrizes interpretativas sabilidade para o estabelecimento de sistemas de Q C efetivos que
adicionais foram publicadas pelos Centros de Serviços de Assis- (1) monitorarão o processo analítico como u m todo, (2) levarão
tência e Socorro Médico (CMS), em janeiro de 2004, na forma em consideração as especificações de desempenho do método,
do Manual de Operações do Estado. O apêndice C desse docu- (3) detectarão erros imediatos e (4) monitorarão a precisão e a
m e n t o se refere especificamente às diretrizes para os laboratórios exatidão a longo prazo.
e serviços de testes laboratoriais. 1 A m u d a n ç a mais controversa na regra definitiva é a introdu-
A CLIA '88 exige que todos os laboratórios dos EUA se ção de "procedimentos equivalentes de Q C " . O CLIA estabelece
registrem n o governo e identifiquem os testes que executam. Os u m nível m í n i m o de Q C que deve ser executado por todos os
testes são classificados como "gratuitos" ou "não-gratuitos". Os laboratórios. Tipicamente, isso requer dois níveis de controles a
testes gratuitos são aqueles que qualquer laboratório pode execu- seiem analisados a cada 24 horas ou, para alguns testes, um nível
tar, contanto que siga as instruções dos fabricantes. N ã o há de controle a ser analisado a cada 8 horas. As novas diretrizes
outros requisitos para a gestão da qualidade desses testes. Os para o " Q C equivalente" p o d e m permitir aos laboratórios reduzir
laboratórios que executam testes "não-gratuitos" estão sujeitos o Q C diário para semanal ou até u m Q C mensal paTa sistemas
aos regulamentos completos d o CLIA, devendo ser inspeciona- analíticos que tenham controles de procedimento integrados. A
dos periodicamente pelo governo ou por certas organizações cláusula está obviamente visando testes de p o n t o de assistência
profissionais consideradas detentoras de padrões pelo menos tão (POCT) ou testes próximos ao paciente (NPT), nos quais o
rigorosos quanto os requisitos do CLIA, Duas de tais organiza- pessoal carece das habilidades para executar u m Q C e, portanto,
ções são a Academia Americana de Patologistas (CAP) e a Comis- confia em verificações com instrumentos, mais notadamente veri-
são Mista de Credenciamento de Organizações de Assistência à ficações eletrônicas ou Q C eletrônico. Apesar dos argumentos
Saúde (JCAHO). As regras de implementação do CLIA e as sobre a inadequação do Q C eletrônico, ele se tornou ampla-
diretrizes interpretativas delineiam os critérios para u m desempe- mente aceito nos P O C T e nos tratamentos NPT. Embora haja
n h o aceitável na inspeção e credenciamento do laboratório. pelo menos u m exemplo de sistema analítico com tecnologia de
Os requisitos do CLIA englobam várias classes extensas: (1) Q C melhorada que exige pouco ou n e n h u m Q C externo, 20 a
Stibparte J. Administração de Recursos; (2) Subparte K. Sistemas maioria dos sistemas analíticos ainda tem de demonstrar u m
de Qualidade; (3) Subparte M. Pessoal; e (4) Subparte Q. Inspe- desempenho que justifique u m a redução do Q C diário a apenas
ção. A regra final tratou principalmente de alterações na subpaTte u m Q C semanal ou mensal.
do QS, 1 ' com uma particular atenção aos sistemas pré-analíticos, Os programas de PT estão longe de serem monitores ideais
analíticos e pós-analíticos. Ela enfatiza de forma acentuada que do desempenho laboratorial. E m u m estudo de problemas de
se tenha u m Q S para m o n i t o r a r processos pré-analíticos e pós- inspeções de P T na Clínica Mayo, mais da metade dos erros nas
analíticos, porém o maior impacto da regra final é na Q A analí- inspeções estava relacionada diretamente a deficiências nas ins-
tica e no Q S analítico. 20 peções (p. ex., amostras inválidas e critérios de avaliação inade-
A CLIA "88 propôs critérios que agrupam os testes laborato- quados), e apenas 2 8 % p u d e r a m ser relacionados a problemas
riais nas categorias "especial" e "subespecial" e especificam os analíticos específicos. 14
testes representativos a serem monitorados em cada categoria.
Para ter êxito em uma dada categoria, u m laboratório deve pro- NOVAS INICIATIVAS DE QUALIDADE
duzir resultados corretos em quatro de cinco amostras para cada Várias novas iniciativas de qualidade têm sido desenvolvidas e
u m dos materiais analisados naquela categoria e alcançar u m implementadas para assegurar que os laboratórios incorporem os
total de pelo menos 8 0 % para três desafios consecutivos. Se mais princípios da gestão da qualidade e Q A em suas operações diárias.
Gestão da Qualidade CAPÍTULO 16 267

Isso inclui a implementação d o processo dos Seis Sigma, produ- tos, os defeitos são expressos c o m o defeitos p o r milhão (DPM),
ção enxuta e dos padrões I S O 9000. Além disso, a Joint C o m - então convertidos para uma métrica sigma utilizando u m a tabela
mittee foi Tiaceabilily in Laboratory Medicine (JCTLM) tem sido p a d r ã o disponível nos livros-texto do Seis Sigma. 11 Neste
organizada para fornecer u m a direção na equivalência internacio- m o m e n t o , q u a n d o os resultados da assistência à saúde e a redução
n a l m e n t e reconhecida e aceita das medições n a medicina labora- dos erros médicos são de grande interesse, o Seis Sigma fornece
torial e u m a determinabilidade para padrões de medição apro- u m a metodologia geral para descrever o resultado d o processo n a
priados. escala sigma.
Para ilustrar essa avaliação, considere o problema com u m a
O P r o c e s s o d o s Seis Sigma certa marca de p n e u s e m u m a certa marca de veículos utilitários
O c o n t r o l e de processo dos Seis Sigma é u m a evolução n a gestão esportivos (SUV) nos Estados Unidos. Utilizando-se dados dispo-
da qualidade que está s e n d o a m p l a m e n t e implementada nos níveis ao público, houve 200 acidentes e m veículos equipados
negócios e organização do n o v o milênio. 11 A métrica dos Seis com esses pneus, levando a u m a rechamada de 6.000.000 de
Sigma está sendo adotada c o m o a m e d i d a universal de qualidade pneus. A taxa de defeito é então estimada em 333 S D M
a ser aplicada a seus processos e aos processos de seus fornecedo- (2000/6,000.000), ou 0,033%, q u e corresponde a u m sigma de
res. O s princípios dos Seis Sigma são determináveis na aborda- 4,9, utilizando u m a tabela de conversão de S D M para sigma, U m a
gem da Motorola à T Q M n o início dos anos de 1990 e à m e t a taxa de defeito de 0 , 0 3 3 % seria considerada excelente em qual-
de d e s e m p e n h o de que " 6 sigma ou 6 desvios-padrâo de variação do quer organização de assistência à saúde, o n d e taxas de erro de 1%
processo devem se ajustar dentro dos /imitei de tolerância para o pro- a 5 % são f r e q ü e n t e m e n t e consideradas aceitáveis. 2 U m a taxa de
cesso"; por isso, o n o m e Seis Sigma ( h t t p : / / m u . m o t o r o l a . c o n i / ) . erro de 5,0% corresponde ao d e s e m p e n h o 3,15 sigma e u m a taxa
O Seis Sigma fornece u m a estrucura mais quantitativa para a de erro de 1,0% corresponde a 3,85 sigma. O Seis Sigma mostra
avaliação do d e s e m p e n h o do processo e evidências mais objetivas que a meta deve ser de taxas de erro de 0,1% (4,6 sigma) a 0,01%
para a melhoria do processo. A meta para o d e s e m p e n h o do (5,2 sigma) e, enfim, de 0,001% (5,8 sigma). A métrica sigma de
processo é ilustrada na Figura 16-7, que mostra u m a distribuição 6,0 a 3,0 representa a variação d o "melhor caso" pata o "pior
de erros de u m p r o c e d i m e n t o d e medição que se ajusta de forma caso". Métodos com o d e s e m p e n h o dos Seis Sigma são conside-
aceitável dentro das especificações de tolerância ou requisitos de rados "classe mundial"; métodos com o d e s e m p e n h o sigma m e n o r
qualidade para essa medição. Q u a l q u e r processo p o d e ser ava- q u e 3 n ã o são considerados aceitáveis para a produção.
liado em termos de u m a métrica sigma que descreva quantos Utilizando os dados sigma discutidos acima, é possível consi-
sigma cabem d e n t r o dos limites de tolerância. Para processos nos derar a q u a n t i d a d e de Q C necessária para os processos de
quais resultados insatisfatórios são contados c o m o erros ou defei- medição que possuem diferentes métricas de d e s e m p e n h o . Por
exemplo, u m "gráfico de f u n ç ã o de capacidade" é m o s t r a d o na
Figura 16-8, que descreve a probabilidade de rejeição de u m a série
analítica n o eixo y uersws o t a m a n h o do erro sistemático que deve
ser detectado n o eixo x. As linhas verticais íngremes correspon-
d e m aos métodos q u e possuem d e s e m p e n h o de 3, 4, 5 e 6 sigma
(esquerda para direita). As diferentes linhas ou curvas de capaci-
dade c o r r e sp o n d e m às regras de controle e à q u a n t i d a d e de
medições de controle dadas n a legenda à direita (do topo para a
base). Esses diferentes p r o c e d i m e n t o s de Q C possuem diferentes
sensitividades ou capacidades para detectai erros analíticos. As
metas práticas são de alcançar u m a probabilidade de detecção de
erros de 0,90 (p. ex., u m a chance de 9 0 % de detectar o erro
sistemático de t a m a n h o crítico, e n q u a n t o se m a n t é m a probabi-
lidade de rejeição falsa em 0,05 o u m e n o s [p. ex., u m a chance
Figura 16-7 A meta dos Seis Sigma "especificação da tolerância" de 5 % ou m e n o s de alarmes falsos]). Isso é fácil de alcançar em
para o d e s e m p e n h o do processo representa a exigência da qualidade. processos c o m d e s e m p e n h o de 5 a 6 sigma; são necessários u m a

N R

-x'
1,0
* 1 3S/2oí32S/R4&/3I S/6X
0,9
-•
/
/ '' / 6 1
// // 13S^2S/1W41S'

/ / /
/
>
0,8

/ /
* 4 '7"
0,7 k / / Y
12.5S
i

Ü,G •v // 4 1

/i // / / •7
Figura 1 6 - 8 Rekç ão do desempenho do / / /
t 12.5S
processo na escala sigma com as características de 0,5
t
/ / /} 2 1
d e s e m p e n h o de procedimentos laboratoriais de
0.4 9
f
// / // 13s/22s^4s
2 1
Q C c o m u m e n t e utilizados A probabilidade de //
// /
/
'
/ / .'/ 13S

/V '// /
rejeição é marcada n o eixo y versus a magnitude d o 0,3 >

2 1
erro sistemático no eixo x e a escala sigma n o eixo
0.2 / / 13.5S
x. As regras de controle e o n ú m e r o de medições
' V 2 1
de controle são dadas n a legenda à direita, em
q u e as 8 linhas, de cima para baixo, correspondem
0,1
^ : 23s
1 1
0,0
ás curvas do gráfico, de cima para baixo. 0. l,n 2.0 3,0 4,0
268 PARTE III Operações Laboratoriais

seleção mais criteriosa e esforços aumentados de Q C para pro- industrial ou de serviços ou outro tipo de organização, no setor
cessos de 4 a 5 sigma; e torna-se m u i t o difícil e caro para proces- público ou privado. A certificação I S O é efetuada por organiza-
sos com menos de 4 sigma. ções credenciadoras conhecidas como registradoras. As registrado-
ras revisam o manual d e qualidade da organização e auditam o
Produção Magra processo para assegurar que o sistema d o c u m e n t a d o no manual
A produção magra é u m processo de qualidade que está concen- esteja em ordem e seja efetivo. Muitas companhias maiores de
trado na criação de mais valor pela eliminação de atividades que diagnóstico receberam a certificação ISO 9000, e, em 1996, os
são consideradas desperdício. Por exemplo, qualquer atividade Laboratórios Clínicos da Excel Bestview de Mississauga, Ontário,
ou processo ineficiente que consuma recursos ou adicione custos Canadá, tornaram-se o primeiro laboratório clínico n o m u n d o a
ou tempo sem criar valor é revista ou eliminada. Na prática, ela receber a certificação I S O 9002.
enfoca as melhorias a "nível de sistema" (de forma oposta às
"melhorias de pontos"). Comissão Mista para Determinabilidade na
Devido a seu sucesso no a u m e n t o dos meios de eficiência, a Medicina Laboratorial
abordagem magra mostrou-se útil onde quer que haja u m con- Muitas organizações têm se envolvido n o desenvolvimento de
junto definido de atividades f u n c i o n a n d o para produzir u m uma base de exatidão determinável para materiais analisados de
p r o d u t o ou serviço. Por exemplo, uma "equipe magra" no Hos- interesse clínico (Figura 16-9). U m a diretriz nos esforços atuais
pital Saint Mary, u m hospital da Clínica Mayo, em Rochester, para desenvolver tal base é a Diretiva Européia 9 8 / 7 9 / E C em
Minn., utilizou a produção magra para melhorar a eficiência de dispositivos diagnósticos clínicos invitro (www.ce-mark.com/ivd.
seu sistema de pedidos de papéis para o trabalho laboratorial em pdf), que exige que "A determinabilidade dos valores especifica-
sua unidade de terapia intensiva. 15 C o m o a meta da produção dos para os calibradores e / o u materiais de controle deve ser
magra é o a u m e n t o da eficiência e do processo dos Seis Sigma a assegurada através de procedimentos de referência disponíveis
melhoria da qualidade, eles têm sido combinados e integrados para a medição e / o u materiais de referência disponíveis de natu-
n o gerenciamento de várias organizações, incluindo recursos de reza superior.
assistência à saúde e laboratórios clínicos. 9 Em 2002, a JCTLM foi criada para atender à exigência de
uma plataforma em todo o m u n d o para promover e dar direção
ISO 9000 na equivalência internacionalmente reconhecida e aceita das
A Organização Internacional para Padronização (ISO), em medições na medicina laboratorial e na determinabilidade sob
Genebra, Suíça (http://www.iso.ch), desenvolveu e promulgou os padrões de medida adequados (www.bipm.org/en/committees/
padrões I S O 9000. É u m conjunto de quatro padrões (ISO 9001- jc/jctlm/). Os três principais participantes na JCTLM são o
9004) aprovados para assegurar a gestão da qualidade e a Q A em Bureau Internacional d e Pesos e Medidas (BIPM), a Federação
organizações industriais e de serviços. 16 Eles foram primeiramente Internacional de Química Clínica e Medicina Laboratorial
publicados em 1987 e são usados em todo o m u n d o , por mais de (IFCC) e a Cooperação Internacional de Credenciamento de
80 países. Laboratórios.
Os padrões I S O 9000 representam um consenso internacio- A JCTLM criou dois grupos de trabalho: (1) JCTLM WG-1,
nal sobre os aspectos essenciais de u m QS para assegurar o fun- Materiais de Referência e Procedimentos de Referência e (2)
cionamento efetivo de qualquer negócio, seja u m fornecedor JCTLM WG-II, Redes d e Laboratórios de Referência. Eles são
responsáveis por fornecer suporte prático para as organizações de
diagnóstico in vitro (IVD) de todo o m u n d o n o estabelecimento
da determinabilidade metrológica de valores especificados para
calibradores e / o u mateiiais de controle, tal como requerido pela
futura Diretiva Européia sobre Diagnóstico In vitw e por regula-
mentos comparáveis em outros países.

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ANALITOS P A R T E IV

CAPÍTULO 1 7

Ácidos Nucléicos*
Yuk Ming Dennis Lo, M.A. (Cantab), D.M. (Oxon), D.Phil. (Oxon),
F.R.C.P. (Edin), M.R.C.P. (Lond), F.R.C.Path.,
Rossa W.K. Chiu, M.B.B.S., Ph.D., F.H.K.A.M. (Pathology), F.R.C.P.A.,
Carl T. Wíttwer, M.D., Ph.D., e Noriko Kusukawa, Ph.D.

OBJETIVOS 18. Discutir os marcadores usados para detecção de seqüências de


ácidos nucléicos após a hibritiização.
1. Definir o código genético e descrever o dogma central.
19. Descrever c princípio da eletroforese de ácido nucléico; descrever a
2. Discutir as diferenças entre DNA e RNA, incluindo as estruturas
função e a metodologia da eletroforese na discriminação de ácidos
física e química, função fisiológica e utilidade no teste de
nucléicos.
diagnóstico clínico.
20. Descrever o uso de RFLPs (Polimorfismo de Comprimento de
3. Comparar e contrastar a composição química das purinas e das
Fragmentos de Restrição) na avaliação do DNA isolado.
pirimidinas.
21. Comparar e contrastar as utilizações e os aspectos técnicos das
4. Descrever a estrutura de um cromossomo eucariótico.
técnicas de Northern blotting e Southern blottirig.
5. Descrever a estrutura física e^a composição química da cromatina e
22. Descrever o princípio dos ensaios de hibridização.
sua aparência durante os estágios do ciclo celular.
23. Descrever o princípio da PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) em
6. Diferenciar centrômeros e telômeros e descrever a função de cada
tempo real; discutir a diferença entre PCR em tempo real e PCR.
um deles.
24. Discutir como são realizadas as detecções de sondas e produtos na
7. Listar os processos envolvidos em replicação do DNA, transcrição e
PCR em tempo real.
tradução do mRNA.
25. Discutir a utilidade clínica da análise da curva de desnaturação em
8. Descrever a função fisiológica das DNA e RNA polimerases.
um laboratório de diagnóstico molecular.
9. Descrever a importância da epigenética, particularmente a
metilação do DNA, na função gênica.
10. Comparar e identificar esses tipos de alteração; inserção, deleção, PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES
rearranjo, expansão de repetição. A c i d o N u c l é i c o : U m p o l í m e r o feito d e m o n ô m e r o s de
11. Contrastar repetições curtas em tandem (em seqüência) e número n u c l e o t i d e o s ( u m a parte d e açúcar, u m ácido fosfórico e
variável de repetições em tandem, e discutir sua utilidade clínica u m a base p u r í n i c a ou pirimidínica); são exemplos o ácido
em um laboratório de diagnóstico molecular. desoxirribonucléico ( D N A ) e o ácido r i b o n u c l é i c o (RNA).
12. Caracterizar polimorfismo de um único nucleotídeo e descrever A l e l o : U m a cópia d e u m gene; alelos p o d e m c o n t e r variações
métodos de detecção de SNP (Polimorfismo de um Único na s e q ü ê n c i a ( m u d a n ç a s n a s e q ü ê n c i a de pares de bases)
Nucleotídeo). q u e a l t e r a m sua expressão o u as características f u n c i o n a i s
13. Comparar e contrastar genomas bacterianos e genomas virais. da p r o t e í n a c o r r e s p o n d e n t e .
14. Definir as funções dessas enzimas na tecnologia de ácidos A l t e r a ç ã o : U m a variação ou m u d a n ç a n a s e q ü ê n c i a d o D N A .
nucléicos: endonuclease de restrição, ligase, polimerases e Ela p o d e ser b e n i g n a ou causar d o e n ç a .
A m p l i c o n : O p r o d u t o de u m a reação d e amplificaçao, tais
transcriptase reversa.
c o m o reação e m cadeia da p o l i m e r a s e (PCR).
15. Desenhar a reação em cadeia da polimerase.
A m p l i f i c a ç ã o d e Sinal: U m m é t o d o q u e a u m e n t a o sinal
16. Descrever amplicon e discutir como a contaminação por ampliccns
resultante de u m a i n t e r a ç ã o m o l e c u l a r q u e n ã o envolva
é controlada em um laboratório de diagnóstico molecular.
amplificação d o DNA-alvo.
17. Comparar e contrastar técnicas de amplificação de sinal e técnicas
A m p l i f i c a ç ã o d o Alvo: Q u a l q u e r m é t o d o para a u m e n t a r a
de amplificação de alvo. q u a n t i d a d e d o ácido nucléico-alvo, ou seja, o ácido nucléico
de interesse.
A r r a n j o (Microarranjo, Chip de D N A , Chip de Genes):
Lâminas d e vidro ou plástico, ou esferas, nas quais as
s o n d a s d e D N A f o r a m ligadas c o m o p r o p ó s i t o de se
e s t u d a r D N A ou R N A e m u m a amostra.
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias de Elizabeth
R. Unger, Ph.D., M.D. e Margaret A. Piper, Ph.D., M.P.H., nas quais se baseiam A u t o s s o m o : U m c r o m o s s o m o não-sexual; existem 22 pares de
partes deste capitulo. autossomos no genoma h u m a n o .
272 PARTE IV Analitos

Base (do D N A ou R N A ) : As purinas e pirimidinas em u m a G e n o m a : O c o n j u n t o completo de cromossomos; o n ú m e r o


molécula de ácido nucléico. total de informação hereditária; o genoma h u m a n o contém
C e n t r õ m e r o : U m a constrição p i i m á n a em u m cromossomo; os duas cópias, d e n o m i n a d a s alelos, de cada u m dos genes
cenctômeTos desempenham uma função importante no autossômicos.
controle do movimento dos cromossomos entre células- G e n ó t i p o : A constituição genética de u m indivíduo, incluindo
filhas durante a divisão celular. seqüências de DNA. que p o d e m não afetar a aparência
Código Genético: A lista completa de códons de três exterior (fenótípo); o "genótipo" freqüentemente é usado
nucleotídeos (tripíei) e os aminoácidos ou ações que eles para se referir ao par específico de alelos que u m indivíduo
"codificam" possui em uma certa localização do genoma.
C ó d o n : U m a seqüência de três nucleotídeos que "codifica" u m H a p l ó t i p o : A associação de alelos específicos em múltiplas
aminoácido durante a tradução ou codifica o fim de uma localizações (íori) em u m a fita do cromossomo.
cadeia peptídica ("códon de parada" — "stop codon"); existem H e t e r o c r o m a t í n a : Regiões genômicas que são pobres eni genes
64 códons possíveis de três nucleotídeos no D N A nuclear. ou cobertas por genes transcncionalmente silenciosos,
C r o m a t i n a : D N A nuclear e suas proteínas estruturais sendo mais densamente empacotadas durante a intérfase do
associadas; a cromatina é arranjada e organizada em u m que a eucromatina.
padrão hierárquico n o qual o grau de sua condensação Hibridização: A ligação (anelamento ou pareamento) de duas
aumenta com os níveis mais altos de organização estrutural. fitas (complementares) de D N A por pareamento de bases.
C r o m o s s o m o : U m a estrutura altamente ordenada de u m a Histona: Uma proteína estrutural envolvida na organização
única molécula de D N A dupla-fita, compactada muitas tridimensional dos cromossomos e na regulação da função
vezes com a ajuda de proteínas. do D N A nuclear.
Deleção! U m a seqüência de D N A que é perdida em uma Inserção: U m a seqüência extra de D N A que está presente em
amostra em comparação a uma outra. As deleções p o d e m uma amostra em comparação com uma seqüência de
ser tão pequenas que p o d e m conter apenas u m referência.
nucleotídeo. I n t e r gênica: Seqüência de D N A entre genes.
D N A (Ácido Desoxirribonucléico): U m a substância biológica I n t r o n : A região não-codificadora de u m gene que não será
que carrega informação genética e é u m polímero de traduzida em proteína.
nucleotídeos dupla-fita. Ligase: U m a enzima q u e liga, covalente mente, duas fitas de
D N A Mitocondrial: O D N A circular dentro da organela DNA.
mitocondrial que codifica polipeptídios envolvidos na via Marcador: U m a molécula que está associada a u m analito e
de fosforilação oxidativa; esse D N A é particularmente que o torna mais fácil de ser observado.
transmitido através de gerações por herança materna. Metilação de D N A : A adição de u m grupo metil à posição
d N T P s : Desoxiriibonucleotídeo5 trifosfatos (geralmente dATP, correspondente ao quinto carbono dos resíduos de citosina
dCTP, d G T P e dTTP), os blocos de construção do D N A . nos dinucleotídeos C p G ; esse processo epigenético está
Eletroforese: Separação de moléculas por seus movimentos envolvido em crescimento e desenvolvimento de organismos.
causados por u m campo elétrico, freqüentemente através de Métodos de Amplificação: Técnicas para amplificar a
uma matriz de gel. Poliacrilamida e agarose são matrizes quantidade do alvo, do sinal ou da sonda, de forma que as
c o m u m e n t e usadas para separar D N A e R N A sujeitos a u m alterações de seqüência possam ser prontamente
campo elétrico. observadas.
Endonuclease: Uma enzima que hidrolisa u m a ligação Métodos de Detecção: Técnicas para identificar seqüências de
fosfodiéster interna, corcando u m ácido nucléico em duas ácido nucléico, geralmente após purificação e amplificação.
ou mais partes. Minisseqüenciamento: Uma técnica para identificar a
Endonucleases de Restrição: As endonucleases, geralmente de seqüência de bases próxima a u m oligonucleotídeo
bactérias, cortarão, cada uma delas, somente seqüências iniciador (frimer); também chamada extensão de base única
específicas de ácido nucléico. do primer ou extensão de u m único nucleotídeo (SNE).
Epigenética: Processos que alteram a f u n ç ã o gênica por outros Missense (de Sentido Trocado): U m a substituição de
mecanismos além daqueles que dependem de mudança da nucleotídeo que codifica u m aminoácido diferente. Essas
seqüência de DNA; esses processos incluem metilação de alterações de seqüência são c o m u m e n t e denominadas
D N A j imprintmg genômico, modificação de histona e "mutações" missense (de sentido trocado), mas elas p o d e m
remodelagem de cromatina. ser benignas e não causar qualquer doença.
E u c r o m a t i n a : Regiões genômicas que são ricas em genes; são Mutação: U m a alteração de seqüência ou, em alguns
coradas com menos intensidade e organizadas de forma contextos, uma alteração de seqüência que causa doença.
menos compacta (durante a intérfase) do que a Nonserwe, M u t a ç ã o Nonse7ise (Mutação sem Sentido): U m a
hetero cromatina. alteração de seqüência que converte um códon que
Exon: A região codificadora de u m gene que pode ser expressa determina u m aminoácido em u m códon de parada
como proteina logo após a tradução. ("sto£"), t e r m i n a n d o prematuramente a proteína.
Exonuclease-. U m a atividade enzimática que remove N o r t h e r n Bloí: U m m é t o d o para detectar seqüências
nucleotídeos terminais de u m polinucleotídeo. específicas de R N A com sondas marcadas após elas terem
Eenótipo: Características observáveis de u m organismo, sido separadas por eletroforese.
determinadas pela interação de genes e ambiente; a função Nuclease: U m a enzima que degrada o ácido nucléico.
expressa ou o p r o d u t o biológico de u m gene. Nucleossomo: U m a u n i d a d e de cromatina que consiste em
Fluorescência: Emissão de luz de u m comprimento de onda partículas centrais de nucleossomo (146 pares de bases do
mais longo depois de excitação com luz. D N A dupla-fita) e u m D N A de ligação (íinícer) enrolado ao
G e n e : U m a unidade básica da hereditariedade; uma unidade redor de u m c o n j u n t o de oito (octàmero) proteínas
de D N A que determina a produção de u m RNA. histonas.
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 273

Nucleotídeo: U m a unidade monomérica que consiste em uma suporte sólido (tal como papel) e os fragmentos de interesse
parte de açúcar, u m ácido fosfórico e uma base purínica ou são identificados por hibridização com uma sonda marcada.
pirimidínica; a ligação dos m o n ô m e r o s de nucleotideos Southern Mots detectam variantes de seqüência que
forma os polímeros de D N A e R N A . produzem uma alteração na distância entre sítios de
Oligonucleotídeo: U m pequeno polímero de ácido nucléico de restrição e, portanto, produzem uma alteração dos
fita simples. tamanhos dos fragmentos. Southmi Mots p o d e m detectar
Par de Bases: U m nucleotideo de purina e u m de pirimidina alterações pequenas no D N A , alterações estas que afetam
ligados por pontes de hidrogênio; n o pareamento de bases os sítios que as enzimas de restrição cortam, p o d e n d o
do D N A , a adenina se liga à timina e a guanina parei a com também detectar inserções e deleções grandes e alguns
citosina; no pareamento de bases do RNA, a adenina se rearranjos de seqüências de D N A .
liga à uracila em lugar da timina. T e l ô m e r o : A seqüência de D N A na extremidade de um
P C R e m T e m p o Real (Real-time P C R ) : Métodos para cromossomo; os telômeTos c o n t é m seqüências de
observar o progresso da produção de ácido nucléico nucleotídeo repetitivas que protegem as extremidades
(amplificação) pelo menos uma vez a cada ciclo. dos c r o m o s s o m o s da r e c o m b i n a ç ã o com outros
P i r i m i d i n a : Uma base c o n t e n d o u m anel de carbono e cromossomos.
nitrogênio; citosina, timina e uracila são pirimidinas. T r a d u ç ã o : O processo através do qual uma seqüência do
Polimerases: Enzimas envolvidas na replicação e transcticão do R N A mensageiro (mRNA) direciona a formação de u m
DNA. peptídio com a seqüência de aminoácidos desejada; a
P o l i m o r f i s m o de C o m p r i m e n t o de Fragmentos de Restrição tradução t a m b é m envolve os R N As de transferência
(RFLP): Uma alteração na seqüência do D N A que m u d a o (tRNAs), que reconhecem os códons tnplet no m R N A e
t a m a n h o dos fragmentos de D N A produzidos por digestão carregam o aminoácido correspondente; a tradução ocorre
do D N A com endonuclease de restrição. nos ribossomos e necessita de enzimas e outros fatores.
P o l i m o r f i s m o de u m Ú n i c o Nucleotídeo (SNP): U m a variante Transcrição: Processo de transferência de informação da
de u m único nucleotídeo (isto é, com uma base alterada) de seqüência de regiões génicas do D N A para u m a mensagem
uma molécula de D N A que ocorre na população com uma de RNA; fazer u m a "cópia" de R N A do D N A .
freqüência de pelo menos 1%. Transcriptase Reversa: U m a polimerase que catalisa a síntese
Primer (Iniciador): U m oligonucleotídeo que serve para iniciar de D N A a partir de u m molde de RNA; a enzima que faz
a adição de dNTPs, catalisada por enzima, por ligação uma "cópia" de D N A do RNA; contrasta com a transcrição.
(anelamento ou pareamento) a uma parte do ácido nucléico
que está sendo copiado (amplificado).

O
P r o m o t o r : U m a região reguladora do DNA; os promotores
estão envolvidos no controle da taxa e do m o m e n t o da diagnóstico molecular representa uma das áreas que se
transcrição. desenvolvem mais rapidamente em medicina laborato-
P s e u d o g e n e : U m elemento genético que não resulta em u m rial. Os avanços nesse campo têm sido possiveis por causa
produto gênico funcional (tal como u m R N A ou u m a d e nosso melhor entendimento de biologia molecular e genética
proteína). e de suas relações com as doenças humanas, e do desenvolvimento
P u r i n a : Uma base contendo dois anéis de carbono e d e tecnologias poderosas de análise de ácidos nucléicos.
nitrogênio; adenina e guanina são purinas.
ESSENCIAL
Reação em Cadeia da Polimerase (PCR): U m método m vitvo
de amplificação exponencial do D N A . Genes são as unidades básicas de herança correspondentes a
Replicação: A reprodução d o D N A das células-mães para as segmentos definidos de D N A (ácido desoxirribonucléico) que
células-filhas durante a divisão celular, copia das seqüências codificam produtos proteicos ou de R N A (ácido ribonucléico)
de DNA. com funções biológicas. O D N A é uma substância biológica que
R N A (Acido Ribonucléico): U m a substância biológica similar carrega informação genética e é u m polímero de nucleotideos ou
ao D N A exceto por ser, principalmente, de fita simples, bases. A informação genética é reproduzida de células-mães para
concer ribose como a parte de açúcar, ter u m grupo células-filhas durante a divisão celular pelo processo de replicação
hidroxila extra e conter uracila em lugar de timina; existem de D N A . Q u a n d o os genes são expressos ("Íigíidos"), a seqüência
diferentes tipos funcionais de RNA, incluindo R N A de D N A é transcrita em RNA. As moléculas de R N A são polí-
mensageiro (mRNA), R N A ribossômico (rRNA) e RNA de meros de ribonucleotídeos e existem em muitas formas funcio-
transferência (tRNA). nais, tais como R N A ribossômico (rRNA), R N A de transferência
Seqüência: A ordem dos pares de bases ou das bases em uma (tRNA) e R N A mensageiro (mRNA). O mRNA é o produto de
molécula de D N A ou RNA; uma porção de u m a molécula u m a seqüência nucleotídica transcrita e, em seguida, traduzida
de D N A com uma seqüência específica. em uma proteína, que é u m polímero de aminoácidos. Cada
Seqüenciamento: Qualquer método para determinar a aminoácido é codificado por um código de trinca de nucleoti-
identidade e a ordem exata das bases em uma molécula de deos, d e n o m i n a d o códon. O código genético h u m a n o inclui 64
D N A ou uma porção dela. códons, que codificam os 21 aminoácidos e três códons de
Sonda: U m ácido nucléico usado para identificar u m alvo por parada. Os códons do m R N A são lidos pelas regiões de anticó-
hibridização. d o n das moléculas de tRNA, que são pequenos R N As que trazem
Southern Blot: U m m é t o d o para detectar variantes da o aminoácido correspondente para a cadeia polipeptídica cres-
seqüência de D N A que envolve digestão do D N A , com cente. A cadeia polipeptídica é sintetizada por ribossomos, que
uma ou mais enzimas de restrição, e separação dos são complexos rnacromoleculares contendo TRNA. Recentemente,
fragmentos de D N A resultantes por eletroforese. Após outras moléculas dc R N A que n ã o codificam u m produto pro-
separação, o D N A é transferido (por "bioíting" - teico têm sido identificadas. Esses RNAs, chamados RNAs não-
transferência por absorção) do gel de eletroforese para u m codificadores, têm funções biológicas especializadas. U m exemplo
274 PARTE IV Analitos

de R N A não-codificador é o microRNA. Tem sido mostrado que (Figura 17-1). As p i r i m i d i n a s são citosina (C) e timina (T) e
alguns microRNAs inibem a produção de proteínas especificas. contêm u m anel de carbono e nitrogênio (Figura 17-1). Os quatro
A maioria das células h u m a n a s contém dois conjuntos com- nucleotídeos que são os blocos de construção do D N A são abre-
pletos do g e n o m a h u m a n o , que é organizado e empacotado em viados dATP (desoxiadenosina-trifosfato), d G T P (desoxiguano-
23 pares de cromossomos U m c r o m o s s o m o é uma estrutura sina-trifosfato), d C T P (desoxicitidina-trifosfato e d T T P (desoxiti-
altamente ordenada de uma única molécula de D N A com carac- mídina-trifosfato), respectivamente. Os nucleotídeos são unidos
terísticas estruturais especializadas, especificamente u m centrõ- por ligações fosfodiéster que ligam o grupo 5'-fosfato de um ao
m e r o e dois telômeros. Cada individuo herda u m c o n j u n t o do grupo 3'-hidroxíla do próximo (Figura 17-1). Não existem ligações
genoma h u m a n o de seu pai e u m c o n j u n t o de sua mãe. Portanto, 3'-3' ou 5 -5'; assim, as partes de açúcar e fosfato compõem as
o genoma h u m a n o contém duas cópias, denominadas alelos, de porções não-específicas da molécula (Figura 17-2). A seqüência
cada gene autossômico. Embora uma seqüência gênica codifique das bases varia de molécula para molécula e identifica de forma
u m a proteína específica com funções definidas, os alelos dos única cada u m dos polímeros de D N A , que, como discutido
genes podem apresentar variações de seqüência que, por sua vez, posteriormente, determina a identidade e a função do produtos
determinam as variações das características funcionais da proteína proteicos ou de R N A que o D N A codifica.
entre os indivíduos. As seqüências nucleotídicas primárias dos Embora as purinas e as pirimidinas sejam de composições e
dois alelos do gene formam o genótipo, enquanto a função tamanhos diferentes, q u a n d o em orientação apropriada, a
expressa ou o efeito biológico do produto gênico é d e n o m i n a d o adenina forma pontes de hidrogênio com a timina, e a guanma
fenótípo. Assim, pode-se estudar u m a doença h u m a n a ou u m forma pontes de hidrogênio com a citosina a fim de criar estru-
traço no nível genético por meio da determinação da seqüência turas planas ("planares") de dimensões similares (Figura 17-2). As
aléhca de u m gene (isto é, genotipagem), ou no nível de proteína, pontes de hidrogênio entTe as duas bases levam à formação de
através das avaliações da f u n ç ã o protéica (isto é, fenotipagem). u m par de bases. Isso, j u n t o ao fato de que a porção das bases
Exemplos de fenotipagem incluem a investigação de concentra- de cada nucleotídeo é hidrofóbica, contribui para a estrutura
ções ou atividades de enzima, grupos sangüíneos A B O e mobili- secundária energeticamente favorável do D N A : u m a dupla-hélice,
dade eletrofotética de variantes da hemoglobina. A escolha da voltada para a direita, a estrutura de "Watson e Crick" (Figura
genotipagem ou fenotipagem para fazer u m diagnóstico depende 17-2). Os pares de bases planares se empilham no interior da
da aplicação diagnostica específica, hélice, 10 bases por volta, e n q u a n t o o suporte de açúcar-fosfato
hidrofílico forma ligações não-covalentes com moléculas de água
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DOS ÁCIDOS ao seu redor. Para que os dois polímeros de D N A formem pontes
NUCLÉICOS de hidrogênio adequadas entre as bases, dois requerimentos
Existe uma relação íntima entre estrutura e função do ácido devem ser preenchidos: os polimeros devem estar em direções
nucléico. A função fisiológica do ácido nucléico é facilitada por opostas (antiparalelos), c o m o definido pelos grupos hidroxila
sua estrutura "estrategicamente projetada". livres em cada extremidade (3'-5' w 5'-3'), e as seqüências de cada
molécula devem ser de tal forma que pontes de hidrogênio A:T
C o m p o s i ç õ e s Moleculares e Estruturas de e G : C sejam sempre formadas pelo processo de pareamento de
DNA e RNA bases. As duas fitas de D N A que atendem a esses requerimentos
U m a única molécula de D N A é u m polímero que consiste em são chamadas complementares. Devido ao pareamento de bases e
um suporte de composição constante e grupos laterais arranjados à conformação dupla-hélice, o D N A dupla-fita (dsDNA) é u m a
em uma seqüência variável (Figuras 17-1 e 17-2). O polímero é molécula excepcionalmente estável.
sintetizado a partir de m o n ô m e r o s de nucleotídeos compostos pelo O RNA é quimicamente muito similar ao D N A , mas difere
açúcar desoxirribose, p o t u m resíduo fosfato e por uma base em aspectos importantes, A u n i d a d e de açúcar é a ribose com
purínica ou pirimidínica (Figura 17-1). As p u r i n a s são adenina u m grupo hidroxila adicionado à posição 2', e a pirimidina meti-
(A) e guanina (C) e contêm dois anéis de carbono e nitrogênio lada uracila (U) (Figura 17-1) substitui a timina. O R N A existe

PIRIMIDINAS PURINAS
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H- •// \'-H" k '' - "N Figura 17-1 A , Bases purínicas e pirimidinicas e a
Vl—/ \—N Cjdci formação de pares de bases complementares. As linhas
e ,o o II
Cadeia Desoxirribose tracejadas i n d i c a m a formação de pontes de hidrogênio.
O* \ > XrLbose**) (*No R N A , a timina é substituída p o r uracila, que difere
Timina (uracila*) Adenina
• > H AK/E Base da t i m m a s o m e n t e pela ausência do grupo metil.) B,

H xr nx
H \ f
B U m a cadeia de D N A fica simples As unidades de
nucleotídeo repetitivas estão unidas por ligações
N-—H—-0 M fosfodiéster que ligam o carbono 5' de u m açúcar ao
/ W * carbono 3' d o próximo. Cada m o n ô m e r o de nucleotídeo
II-- N-—H—.xj\
/ \\Y- o* \> consiste em u m a parte de açúcar, u m resíduo fosfato e
/= '/ n
Cadeia
N -1 ' 1
1 O. H 'Base u m a base. (**No R N A , o açúcar é ribose, que tem u m
/ A
0- — H - N Ligação g r u p a m e n t o 2'-hidroxil adicionado à desoxirribose.)
Cadeia
H fosfodiéster (Modificado de Piper MA, U n g e r ER. Nucleic acid
prubes: a primer for pathologists. Chicago, A S C P Press,
Citosina Guanina HO H
198^.1
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 275

5' em várias formas funcionais, mas geralmente como um polímero


de fita simples, que é muito m e n o r do que o D N A e tem uma
estrutura tridimensional irregular. Pesquisas recentes têm reve-
lado q u e as conformações do R N A não são estruturas aleatórias
e que o mecanismo de d o b r a m e n t o das moléculas de R N A é
complexo. 2 O dobramento produz u m a estrutura secundária que
p o d e ser descrita em u m desenho bidimensional. A estrutura
Suporte açúcar secundária adotada por uma molécula de R N A é, em u m nível
' -fosfato mais elevado, relacionada com sua seqüência de nucleotideos. A
estrutura secundária de seqüências de R N A específicas pode ser
cão reprodutível quanto a estrutura secundária de uma proteína.
Sabe-se, agora, que moléculas de R N A podem, ainda, interagir
para formar estruturas terciárias complexas (tridimensionais,
como uma escultura). A formação dessas estruturas envolve
outras interações químicas dentro da molécula de R N A e é inti-
m a m e n t e relacionada com novas funções do RNA, tais c o m o a
atividade catalítica das ribozimas. 2

Estrutura do C r o m o s s o m o
As moléculas de D N A são extremamente longas e, na célula
eucariótica, são mantidas em estruturas tridimensionais ordena-
das e compactas. Cada célula h u m a n a diplóide (isto é, células
com dois conjuntos de cromossomos) contém dois conjuntos
completos do genoma h u m a n o , com cada cópia consistindo em,
aproximadamente, 3,2 bilhões de pares de bases. Essa quantidade
e n o r m e de material genético é organizada em 23 pares de cro-
mossomos, com u m m e m b r o de cada par sendo de origem
materna e o outro de origem paterna. Os dois cromossomos de
cada par são similares (homólogos) e, exceto para os cromosso-
mos sexuais (X e Y), contêm os mesmos genes arranjados na
mesma seqüência. Cada cromossomo é uma estrutura altamente
ordenada de uma única molécula de dsDNA, compactada, muitas
vezes, com a ajuda de proteínas que se ligam ao D N A (Figura
17-3). Os cromossomos estão em seu estado mais compacto e
aparecem como estruturas similares a u m dedo durante a divisão
celular (especificamente n o estágio chamado metáfase). A cons-
trição primária, o centrômero, t a m b é m é observada em cada
cromossomo (Figura 17-3). As extremidades dos cromossomos
são d e n o m i n a d a s telômeros (Figura 17-3). Tanto centromeros
q u a n t o Lelômeros têm funções especializadas que serão discutidas
posteriormente. Os cromossomos não-sexuais, os autossomos, do
genoma h u m a n o são numerados na ordem de t a m a n h o decres-
cente. O arranjo cromossômico d o D N A h u m a n o não apenas
permite o empacotamento do e n o r m e genoma h u m a n o nas
dimensões físicas limitadas do núcleo celular, conforme aborda-
gem posterior, como t a m b é m essa organização estrutural está
i n t i m a m e n t e relacionada com o controle da transcrição, da repli-
cação, da recombinação e do reparo do DNA. 5
O D N A nuclear, juntamente com suas proteínas estruturais
associadas, incluindo proteínas histonas e não-histonas, é conhe-
cido c o m o cromatina. Esta é arranjada e organizada em u m
c; > Timina padrão hierárquico no qual o grau de condensação aumenta com
Guanina níveis maiores de organização estrutural. As unidades básicas da
cromatma são os nucleossomos Estes são feitos de D N A nuclear
- E Ciiosina
empacotado ao redor de proteínas. Eles estão presentes ao longo
de todo o comprimento de cada cromossomo (Figura 17-3).^ C a d a
u n i d a d e de nucleossomo consiste em uma partícula central de
Figura 1 7 - 2 DNA dupla-hélice, com o suporte açúcar-fosfato e o
nucleossomo e 20 a 80 pares de bases de D N A de ligação, que
pareamento das bases na parte central f o r m a n d o estruturas planares.
estão presentes entre nucleossomos adjacentes. A partícula central
(De Jorde CB, Carey JC, Bamskead MJ et al, eds. Medicai genetks, 3id
do nucleossomo envolve 146 pares de bases de d s D N A fortemente
ed. St Louis. Mosby, 2006.)
enrolados ao redor de u m conjunto de oito proteínas histonas
(um octâmero), duas de cada u m a de quatro proteínas histonas,
denominadas H 2 A , H2B, H 3 e H4. Os segmentos de D N A de
ligação estão associados à histona de ligação H l . Os nucleossomos
276 PARTE IV Analitos

DNA dupla-hélice

Nucleossomos

Crom atina

Uma volta d e
Telômeros cromatina c o n t é m
aproximadamente
100.000 bp
d e DNA

Certrâmero'

Cromátide

F i g u r a 1 7 - 3 Organização estrutural do D N A cromossômico humano. O D N A dupla-fita é enrolado ao redor


de histonas para formar os nucleossomos. O D N A nuclear, juntamente com suas proteínas estruturais associadas,
é chamado de cromatina. A cromatina, em seu estado mais compacto, forma os cromossomos. A constrição
primária de um cromossomo è a centrômero, e as extremidades do cromossomo são os telômeros. (De Jorde CB,
Carey JC, Bamshead MJ et al, eds. Medicai genetics, 3rd. ed. St. Louis: Mosby, 2006.)
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 277

são, em seguida, e m p a c o t a d o s e m níveis sucessivos d e complexi- n a m a i o r p a r t e d e seu c o m p r i m e n t o , exceto n a região de c o n t r o l e


d a d e e, ao final, p o d e m ser visualizados c o m o c r o m o s s o m o s dis- d e replicação e transcrição (a alça D). D i f e r e n t e m e n t e d o g e n o m a
cretos d u r a n t e a divisão celular (Figura 17-3). A i n t e g r i d a d e d a nuclear, o g e n o m a m i t o c o n d r i a l n ã o é e m p a c o t a d o nas u n i d a d e s
estrutura d o n u c l e o s s o m o é i m p o r t a n t e para a m a n u t e n ç ã o dos n u c l e o s s o m a i s . E m vez disso, ele tem u m a organização e s t r u t u r a l
a r r a n j o s de mais alto grau d a c r o m a t i n a . única, q u e os p e s q u i s a d o r e s a p e n a s c o m e ç a r a m a desvendar. Ele
A c o n d e n s a ç ã o d a c r o m a t i n a é u m processo d i n â m i c o q u e codifica 13 p o l i p e p t í d i o s , t o d o s envolvidos n a via da fosforilação
m u d a d e f o r m a c o o r d e n a d a e m associação ao ciclo celular (isto oxidativa, dois r R N A s e todos os 22 t R N A s necessárias para a
é, d u r a n t e u m a série o r d e n a d a d e m u d a n ç a s q u e levam ao cres- síntese m i t o c o n d r i a l d e proteínas. Várias o u t r a s p r o t e í n a s
c i m e n t o celular e à divisão de células para p r o d u z i r d u a s células- t a m b é m são necessárias para a f u n ç ã o m i t o c o n d r i a l n o r m a l e são
filhas). E m geral, a c r o m a t i n a é m u i t o m e n o s c o n d e n s a d a d u r a n t e codificadas p o r genes nucleares.
a i n t é r f a s e d o ciclo celular, p e r í o d o n o q u a l o D N A é replicado.
N o e n t a n t o , o grau de c o n d e n s a ç ã o da c r o m a t i n a d u r a n t e a FISIOLOGIA E REGULAÇÃO FUNCIONAL DO
intérfase varia e n t r e regiões d o g e n o m a . A s regiões g e n ô m i c a s ÁCIDO NUCLÉICO
q u e são ricas e m genes são, e m geral, organizadas d e f o r m a m e n o s O s ácidos nucléicos c o n s t i t u e m o d e p ó s i t o d e i n f o r m a ç ã o here-
c o m p a c t a e são d e n o m i n a d a s e u c r o m a t i n a . As regiões q u e são ditária e f o r n e c e m os m e i o s d e traduzir essa i n f o r m a ç ã o n a
p o b r e s e m genes o u q u e se e s t e n d e m s o b r e genes transcricional- m a q u i n a r i a celular d a vida. Expressão gênica se refere ao processo
m e n t e silenciosos (isto é, g e n e s q u e n ã o estão s e n d o transcritos) de transformar o projeto genético em produtos funcionais que
são e m p a c o t a d a s d e f o m i a m a i s d e n s a e são c h a m a d a s h e t e r o c r o - p a r t i c i p a m de vários processos biológicos d e u m a célula. O pro-
m a t i n a . N o s s o e n t e n d i m e n t o a respeito d a f u n ç ã o biológica d a cesso de expressão gênica é g o v e r n a d o pelo d o g m a central. O
h e t e r o c r o m a t í n a e d o s m e c a n i s m o s q u e g o v e r n a m sua f o r m a ç ã o dogma central d e t e r m i n a q u e a i n f o r m a ç ã o biológica seja transfe-
e m o n t a g e m t e m m e l h o r a d o n o s ú l t i m o s anos. A heterocToma- r i d a d o D N A p a r a o R N A e p a r a a p r o t e í n a (Figura 17-4). A
t i n a é i m p o r t a n t e para a m a n u t e n ç ã o das e s t r u t u r a s especializa- r e p r o d u ç ã o d o c o n t e ú d o d e D N A das células-mães para as células-
das d e c r o m a t i n a , a i n a t i v a ç ã o d o c r o m o s s o m o X nas fêmeas, a filhas d u r a n t e a divisão celulaT é d e n o m i n a d a r e p l i c a ç ã o . U m
m a n u t e n ç ã o d a e s t a b i l i d a d e d o g e n o m a poT estabilização das g e n e é expresso através d a t r a n s c r i ç ã o d e sua s e q ü ê n c i a d e D N A
s e q u ê n c i a s repetitivas d e D N A , e a regulação d a expressão gênica. 3 e m R N A . U m p o l i p e p t í d i o é, e n t ã o , sintetizado através da t r a d u -
O s c r o m o s s o m o s e u c a r i ó t i c o s c o n t ê m duas regiões especializadas ç ã o d a s e q ü ê n c i a d e bases d o R N A n a s e q ü ê n c i a c o r r e s p o n d e n t e
d e h e t e r o c r o r n a t i n a , e m p a r t i c u l a r o centrômero, localizado de aminoácidos.
p r ó x i m o ao m e i o d e cada c r o m o s s o m o , e os íêIotii£tos, localizados
n a s e x t r e m i d a d e s . O p r i m e i r o d e s e m p e n h a u m a f u n ç ã o impor- Replicação
t a n t e d i r e c i o n a n d o o m o v i m e n t o dos c r o m o s s o m o s e n t r e as C a d a vez q u e u m a célula se divide, o c o n t e ú d o de t o d o o D N A
células-filhas d u r a n t e a divisão celular, e n q u a n t o os ú l t i m o s dessa célula deve ser f i e l m e n t e d u p l i c a d o , d e f o r m a q u e o con-
c o n t ê m s e q ü ê n c i a s n u c l e o t í d i c a s repetitivas q u e p r o t e g e m as j u n t o total de i n f o r m a ç ã o h e r e d i t á r i a (o genoma humano) seja
e x t r e m i d a d e s d o s c r o m o s s o m o s de r e c o m b i n a ç ã o c o m o u t r o s m a n t i d o e m cada célula-filha. Esse processo é c h a m a d o replicação.
c r o m o s s o m o s . O n ú m e r o d e repetições t e l o m é r i c a s e m células E m v i r t u d e das leis de p a r e a m e n t o d e bases (isto é, a d e n i n a
somáticas d i m i n u i c o m a i d a d e , m a s é m a n t i d o n a s células ger- pareia s o m e n t e c o m t i m i n a , e g u a n i n a s o m e n t e c o m citosina), a
m i n a t i v a s e nas células t u m o r a i s pela e n z i m a telomerase. C o n s i - s e q ü ê n c i a de u m a única fita d e D N A dita a s e q ü ê n c i a d e sua fita
dera-se, n o s ú l t i m o s anos, q u e t e l ô m e r o s e telomerase desempe- c o m p l e m e n t a r . N a replicação, as d u a s fitas p a r e n t a i s d e u m a
n h a m f u n ç õ e s i m p o r t a n t e s n a patologia de d o e n ç a s h u m a n a s . ' m o l é c u l a de d s D N A servem, cada u m a delas, c o m o m o l d e p a r a
A l é m d o s blocos c e n t r o m é r i c o s ou teloméricos g r a n d e s da hete- a síntese de u m a fita-filha (Figura 17-5). O processo é c h a m a d o
r o c r o r n a t i n a , d o m í n i o s m e n o r e s da h e t e r o c r o r n a t i n a estão disper- semiconservativo p o r q u e as m o l é c u l a s d e d s D N A d u p l i c a d a s pro-
sos ao l o n g o d o g e n o m a e e s t ã o associados ao c o n t r o l e da expres- duzidas dessa m a n e i r a são, cada u m a delas, c o m p o s t a s d e u m a
são gênica. A m o n t a g e m d a h e t e r o c r o r n a t i n a se inicia n o nível
mais básico d a organização d e c r o m a t i n a , os n u c l e o s s o m o s , e
envolve metilação d o D N A , m o d i f i c a ç õ e s de h i s t o n a , R N A s não-
c o d i f i c a d o r e s e p r o t e í n a s d e ligação seqúência-específica ao Replicação
D N A . ' As implicações f u n c i o n a i s d a organização e s t r u t u r a l d a DNA
DNA
c r o m a t i n a t a m b é m serão d i s c u t i d a s p o s t e r i o r m e n t e .

I
Genoma Mitocondrial
Transcrição
O g e n o m a m i t o c o n d r i a l é o u t r o c o m p o n e n t e genét i co impor-
t a n t e das células eucarióticas. O g e n o m a m i t o c o n d r i a l h u m a n o
é u m p e d a ç o de D N A circular e t e m 16.500 bases (16,5 kb) d e
c o m p r i m e n t o . O D N A m i t o c o n d r i a l é t r a n s m i t i d o e n t r e gera- mRNA
ções p o r h e r a n ç a m a t e r n a , c o m a m i t o c ô n d r i a v i n d o d o s ovóci-
tos, e n ã o (geralmente) d o s e s p e r m a t o z ó i d e s . M ú l t i p l a s cópias d o

i
D N A m i t o c o n d r i a l estão p r e s e n t e s d e n t r o d e cada m i t o c ô n d r i a
e cada u m a das células c o n t é m u m n ú m e r o variável d e m i t o c ô n - Tradução
d n a s , d e p e n d e n d o d o r e q u e r i m e n t o energético do tipo específico
d e célula. P o r t a n t o , certos t i p o s celulares p o d e m c o n t e r até vários
m i l h a r e s d e cópias de D N A m i t o c o n d r i a l . Essa m a i o r a b u n d â n - proteína
cia, c o m p a r a d a ao d o D N A nuclear, t o r n a o D N A m i t o c o n d r i a l
a t r a e n t e para certas aplicações d e teste n a s quais a a m o s t r a de
D N A é l i m i t a d a (isto é, investigações de cenas d e crimes, detecção
d e p a t ó g e n o e paleontologia). O D N A m i t o c o n d r i a l é dupla-fita FigUfa 17-4 O dogma central.
278 PARTE IV Analitos

DNA início da transcrição Exons

3'
5'
Promotor
DNA parental

I
dupla-fita Fita contínua Transcrição
...
Introns
5'1 Pré-mRNA
Fitas-
filhas
3'

Direção do d e s e n o v e -
lamento da hélice
Fita descontínua J
mRNA
maduro I
•AAAAA
Processa-
mento do
mRNA

Forquilha de replicaçao
Figura 1 7 - 6 Transcrição do DNA e processamento do mRNA. Um
gene que codifica uma proteína contém uma região promotora com um
número variável de introns e éxons. A transcrição começa no sítio de
Figura 1 7 - 5 Replicação do DNA. O DNA dupfa-fita é separado
inicio de transcrição. O pré-mRNA é processado por capeamento
na forquilha de replicação. A fita contínua è sintetizada
(capping), poliadenilação e js£>Iicing de introns, tornando-se um mRNA
continuamente, enquanto a fita descontinua é sintetizada
maduro.
descontinuamente, mas ligada, posteriormente, pela DNA ligase.

a a p r o x i m a d a m e n t e 100 bases "acima" ("ufistream") (isto é, n a


fita p a r e n t a l (conservada) e u m a fita-filha. Para q u e a replicação e x t r e m i d a d e 5') d o sício d e início d a transcrição, n o qual a pri-
ocorra, a hélice dupla-fita original deve ser s e p a r a d a . A replicação m e i r a u n i d a d e de r i b o n u c l e o t í d e o é p a r e a d a c o m o m o l d e . ( N o
se inicia e m m ú l t i p l o s sítios (origens d e replicação) d u r a n t e esse R N A , a t i m i n a é s u b s t i t u í d a p o r uracila, q u e pareia c o m a d e n i n a . )
processo, mas cada o r i g e m d e replicação é u s a d a a p e n a s u m a vez O s p r o m o t o r e s são g e r a l m e n t e TICOS e m t i m i n a e a d e n i n a e m
d u r a n t e u m ú n i c o ciclo celular. p a d r õ e s d e r e p e t i ç ã o e t ê m sido d e n o m i n a d o s T A T A boxes. O
As fitas-filhas são sintetizadas pela D N A polimerase III, u m a início de transcrição r e q u e r m u i t o s co-fatores d e p r o t e í n a para se
enzima que lê o m o l d e parental e liga nucleotídeos à fita-filha ligar à R N A p o l i m e r a s e a f i m d e f o r m a r o c o m p l e x o d e iniciação
crescente de a c o r d o c o m as leis de p a r e a m e n t o de bases d o d s D N A . ativo. O u t r a s regiões d o D N A , c o n h e c i d a s c o m o a c e n t u a d o r e s
A D N A polimerase III c omeça a síntese na forquilha de replicação (enfumcErj), p o d e m interagir c o m o c o m p l e x o de iniciação c o m a
(Figura 17-5), o p o n t o de separação das fitas, c o m u m primer de f u n ç ã o d e e s t i m u l a r o u r e p r i m i r a transcrição. A regulação d a
R N A p e q u e n o q u e é p a r e a d o c o m o m o l d e parental. E m seguida, transcrição é o m e c a n i s m o p r i m á r i o q u e as células u s a m para
esse primer é excisado e s u b s t i t u í d o p o r D N A pela enzima d e reparo c o n t r o l a r a expressão gênica.
d o D N A , D N A polimerase I. C o m o a D N A polimerase III sintetiza O f i m d a transcrição (ou " t e r m i n a ç ã o d e cadeia") o c o r r e e m
D N A apenas n a direção 5'-3', u m a fita-filha, a fita c o n t í n u a , é resposta a s e q ü ê n c i a s específicas. O transcrito d e R N A rapida-
sintetizada c o n t i n u a m e n t e , e n q u a n t o a outra, a fita d e s c o n t í n u a , m e n t e se desliga d o m o l d e d e D N A . O p r o d u t o f i n a l é u m a
deve ser sintetizada de m o d o d e s c o n t í n u o (isto é, em s e g m e n t o s s e q ü ê n c i a c o m p l e m e n t a r d e r i b o n u c l e o t i d e o s , c h a m a d o pré-
p e q u e n o s IFigura 17-5]). O s f r a g m e n t o s da fita d e s c o n t í n u a são, m R N A , q u e c o n t é m a i n f o r m a ç ã o necessária para a síntese pro-
então, ligados pela enzima D N A ligase, téica (Figura 17-6). M o d i f i c a ç õ e s adicionais são necessárias, entre-
t a n t o , a n t e s q u e o m R N A possa ser e x p o r t a d o ao citoplasma,
Transcrição o n d e o c o r r e a síntese de p r o t e í n a . A e x t r e m i d a d e 5' d a m o l é c u l a
A i n f o r m a ç ã o d o D N A é organizada e m u n i d a d e s que especifi- de p r é - m R N A é m o d i f i c a d a pela adição d e resíduos de 7-metil
cam a p r o d u ç ã o d e m o l é c u l a s de p r o t e í n a s e d e R N A necessárias g u a n o s i n a a f i m d e f o r m a r u m a estrutura c h a m a d a cap (Figura
paTa a f u n ç ã o celular. Essas u n i d a d e s , c h a m a d a s genes, i n c l u e m 17-6). A e x t r e m i d a d e 3' é m o d i f i c a d a pela a d i ç ã o de múltiplas
as regiões c o d i f i c a d o r a s q u e d e t e r m i n a m as s e q ü ê n c i a s d e ami- bases d e a d e n i n a , c h a m a d a d e c a u d a poli A (Figura 17-6). T a n t o
n o á c i d o s d e u m a p r o t e í n a ; e as regiões reguladoras, c h a m a d a s o cap q u a n t o a c a u d a são necessários p a r a a t r a d u ç ã o d o m R N A
p r o m o t o r e s , c o n t r o l a m a taxa e o m o m e n t o de p r o d u ç ã o dessa e m p r o t e í n a , e eles p r o t e g e m a molécula de m R N A d e degrada-
p r o t e í n a (Figura 17-6). A região c o d i f i c a n t e de u m gene é dividida ção p o r exonucleases. A excisão o u splicing dos i n t r o n s não-codi-
e m s e g m e n t o s d e n o m i n a d o s éxons, intercalados c o m regiões não- ficadores é executada poT u m c o m p l e x o m o l e c u l a r d e n o m i n a d o
c o d i f i c a d o r a s d e n o m i n a d a s i n t r o n s (Figura 17-6). O n ú m e r o e o spliceossomo. Esses c o m p l e x o s são c o m p o s t o s d e múltiplas par-
t a m a n h o d o s i n t r o n s e éxons são variáveis e n t r e os genes. A tículas de r i b o n u c l e o p r o t e í n a nuclear p e q u e n a ( s n R N P s ) . O s
p r o d u ç ã o das p r o t e í n a s é m e d i a d a p o r moléculas de R N A que spliceossomos m e d e i a m a clivagem e a ligação d o R N A a s e q ü ê n -
c a r r e g a m a i n f o r m a ç ã o p a r a p r o t e í n a s específicas a p a r t i r d o cias d e r e c o n h e c i m e n t o específicas, c h a m a d a s s e q ü ê n c i a s d o
D N A d o n ú c l e o para o citoplasma, o n d e as p r o t e í n a s são sinte- d o a d o r e d o aceptor de splicing. A p ó s a r e m o ç ã o dos introns, os
tizadas. Essas m o l é c u l a s são os m R N A s . O processo d e transfe- éxons são justapostos u m a o o u t r o , f o r m a n d o u m a m o l é c u l a de
rência d e i n f o r m a ç ã o d a s e q ü ê n c i a d e D N A para R N A é c h a m a d o m R N A m a d u r o (Figura 17-6) q u e é t r a n s p o r t a d o para o cito-
transcrição. plasma, o n d e o c o r r e a t r a d u ç ã o e m p r o t e í n a .
C o m o a replicação, a transcrição r e q u e r separação das fitas
d o D N A d ú p l e x e usa u m a p o l i m e r a s e para copiar a f i t a - m o l d e Tradução
de D N A . Para a transcrição, a p o l i m e r a s e é a R N A p o l i m e r a s e A tradução é o processo através d o qual a s e q ü ê n c i a de m R N A
II, q u e se liga a s e q ü ê n c i a s d o p r o m o t o r . O s p r o m o t o r e s o c o r r e m d i r e c i o n a a s e q ü ê n c i a de a m i n o á c i d o s d u r a n t e a síntese de pro-
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 279

teína. Vinte e u m aminoácidos estão envolvidos na síntese pro- alteram a função gênica ou sua interpretação por mecanismos
téica e cada u m é especificado por uma seqüência de três nucleo- diferentes daqueles que dependem da alteração de seqüência d e
tideos, como urn códon. D N A . A epigenética praticamente tem se desenvolvido de forma
C o m o existem 64 possiveis códons, a maioria dos aminoáci- a incluir o estudo de metilação d o D N A , impnnting genômico,
dos é especificada por mais de u m códon. Além disso, dois modificação de histona, remodelagem de cromatina e outros. A
códons n ã o codificam aminoácidos, mas o sinal de terminação maioria desses processos acrescenta u m a ourra dimensão para o
de síntese protéica (códons de parada — stop codons) e u m códon, controle de expressão gênica.
U G A , que codifica uma parada ou o aminoácido selenocisteína, A metilação do D N A se refere à adição de u m grupo metil
d e p e n d e n d o das seqüências adjacentes das proteínas de ligação ao carbono da quinta posição dos resíduos de citosina em dinu-
ao RNA. A lista completa das seqüências de códon forma o código cleotídeos C p G . Aproximadamente 8 0 % de todos os dinucleotí-
genético, que é mostrado na Tabela 17-1 A tradução ocorre nos deos C p G do genoma h u m a n o são mediados e estes incluem,
ribossomos, que são complexos de ribonucleoproteínas que fun- principalmente, dínucleotídeos C p G isolados e em grupos, deno-
cionam como fábricas de síntese protéica, U m ribossomo se liga minados ilhas C p G , nos elementos de repetição do D N A não-
ao sítio de iniciação no m R N A para formar u m complexo de p r o m o t o r (Figura 17-7).4 Esses padrões de metilação são reprodu-
iniciação. D u r a n t e a síntese, os códons são "lidos" pelo tRNA, zidos durante a replicação do D N A por manutenção de D N A
pequenas moléculas de R N A que têm uma seqüência comple- metiltransferases (DNTM1), de forma que o padrão de metilação
mentar a u m códon de aminoácido (anticódon) e são ligadas à é h e r d a d o pelas células-filhas na divisão celular. Além disso, a
molécula de aminoácido especificada pelo códon. A medida que metilação do D N A está envolvida no crescimento e no desenvol-
a síntese procede, o anticódon de tRNA apropriado pareia com vimento de organismos. Após a fertilização do embrião, o genoma
o próximo c ó d o n no m R N A . U m a enzima do ribossomo catalisa, se torna desmetilado (exceto os loci marcados [ímprinted]; ver
então, a formação de uma ligação peptídica entre o aminoácido discussão mais adiante, neste parágrafo) para preparar a via do
ligado ao tRNA e a cadeia de proteína crescente. O t R N A ante- estabelecimento de padrões relacionados, em termos de desen-
rior é liberado e o próximo t R N A é adicionado. O ribossomo se volvimento, de metilação cie nouo d o D N A pelas D N A metiltrans-
move ao longo d o m R N A até que se atinja u m códon de parada ferases ( D N M T 3 a e DNMT3b). Impnniing genômico e compen-
e a síntese termine. O ribossomo e o produto piotéico são, então, sação da dosagem gênica de genes ligados ao X em fêmeas,
dissociados do m R N A . Mais de u m ribossomo p o d e se mover ao
longo da molécula de m R N A ao mesmo tempo, f o r m a n d o um
polissomo (ou polirribossomo),

Genética e Epigenética
Os fenômenos de genética e epigenética estão intimamente rela-
cionados. E m geral, os eventos genéticos estão associados à infor-
mação de seqüência do D N A e, portanto, incluem as conseqüên-
Figura 17-7 Padrão d e metilação d e D N A n o r m a l n o g e n o m a
cias da transmissão de uma seqüência particular de D N A (p. ex.,
h u m a n o . O s sírios de d í n u c l e o t í d e o s C p G são i n d i c a d o s p o r círculos.
a herança de mutações ou polimorfismos de DNA) ou da aqui-
As ilhas d e C p G em associação aos p r o m o t o r e s d e g e n e g e r a l m e n t e são
sição de variações da seqüência de D N A (p. ex., o acúmulo de
não-metiladas, e n q u a n t o d í n u c l e o t í d e o s C p G isolados são metilados.
mutações somáticas no envelhecimento ou no desenvolvimento
C í r c u l o s abertos: não-rnerilados; CÍTCUIOS cheios: m e d i a d o .
de câncer). Por o u t r o lado, a epigenética engloba processos que

T A B E L A 1 7 - 1 I Código Genético (Tradução do m R N A em Aminoácidos durante a Síntese de Proteína)


P O S I Ç Ã O DO N U C I F O T I D E O NO C Ó D O N

Terceiro

Primeiros Segundo U G A G

U U Fenilalariiria Fenilalanina Leucina Leucina


C Serina Serina Serina Serina
A Tiros i na Tirosina Parada Parada
G Cisteína Cisteína Selenocisteína* Triptofano

C U Leucina Leucina Leucina Leucina


C Prolina Prolina Prolina Prolina
A Histidína Histidína Glutamina Glutamina
G Arginina Arginina Arginina Arginina

A U Isoleucioa Isoleucina Isoleucina Metionina


c Treonina Treonina Treonina Treonina
A Asparagina Asparagina Usina Usina
G Serina Serina Arginina Arginina

G Ü Valína Vali na Valina Valina


C Alanina Alanina Alanina Alanina
A Ácido aspártico Ácido aspártico Ácido glutâmico Ácido glutâmico
G Glicina Glicina Glicina Glicina
*0 códon UGA pode codificar selenocisteína ou parada.
280 PARTE IV Analiíos

d e n o m i n a d a inativação d o X ou lionização, são t a m b é m media- qüência de pelo menos 1%, ela será u m poíimor/ismo. As variações
dos por metilação do D N A . Im£>rmtmg genõmico é um f e n ô m e n o de seqüência mais comuns são as mudanças de u m a única base,
epigenético através d o qual a f u n ç ã o genética de alelos específicos também chamadas p o l i m o r f i s m o s de u m ú n i c o nucleotídeo
é determinada pelo fato de o alelo ser herdado d o pai ou da mãe. (SNPs). Milhões de SNPs têm sido descritos, e muitos outros
O locus do fator de crescimento h u m a n o similar à insulina-2 H 1 9 novos c o n t i n u a m a ser relatados. Alguns deles são comuns, com
(IGF2-H19) n o cromossomo 15 é u m exemplo de u m íocus freqüências alélicas de 0,1 a 0,5 (isto é, presente em 10 a 50 das
marcado através do qual a herança dissõmica d o alelo paterno 100 cópias estudadas), apesar de outras mudanças de base única
ou materno resulta em conseqüências clínicas significativamente serem muito raras. As alterações de seqüência que são conhecidas
diferentes, denominadas síndromes de Prader-Willi e Angelman, por causar doenças são chamadas mutações. A maioria das muta-
respectivamente. A metilação diferencial do locus marcado n o ções SNP é missense e causa u m a substituição de aminoácido,
m o m e n t o do desenvolvimento da célula germinativa permite o e n q u a n t o em u m n ú m e r o significativamente menor são as muta-
reconhecimento da origem parental dos alelos marcados pelos ções nomense que resultam em u m códon de parada e terminação
processos celulares. prematura de cadeia polipeptídica.
Além de afetar o crescimento e o desenvolvimento, a metila- Freqüentemente as variantes de seqüência são herdadas juntos
ção do D N A é u m f e n ô m e n o epigenético bem reconhecido que em u m bloco contíguo, ou haplótipo. As associações a doenças
medeia o silenciamento de genes. 4 C o m exceção das ilhas C p G p o d e m depender não de qualquer mutação em particular, mas d o
dentro dos elementos de repetição d o D N A , outras ilhas C p G , efeito global de vários alelos ligados que definem o haplótipo. Por
particularmente aquelas encontradas em regiões promotoras de exemplo, a função de u m a enzima depende do haplótipo que
genes ativos, não são metiladas n o estado homeostático (Figura determina a seqüência de aminoácidos na proteína. Os haplótipos
17-7). Se, ao contrário, as ilhas C p G n o promotoT se tornassem p o d e m ser definidos por muitos íoci polimórficos.
hipermetiladas, os genes tornar-se-iam transcricionalmente silen- Algumas vezes os genes, ou m e s m o os cromossomos, estão
ciados. A hipermetilação anormal dos promotores de genes, em presentes em mais de duas cópias. Se as cópias extras dos genes
particular qualquer dos genes supressores de tumor e de genes perdem sua função, elas são conhecidas por pseudogenes. E
envolvidos n o reparo do D N A , é um f e n ô m e n o bem conhecido importante distinguir pseudogenes de genes funcionais, visto que
n o desenvolvimento de tumor. Tem sido mostrado que a metila- as variações de seqüência em pseudogenes raramente têm impor-
ção dos promotores gênicos compromete a associação dos fatores tância clínica. Alguns genes muito importantes estão presentes
de transcrição sensíveis à metilação, impedindo, portanto, a ati- em muitas cópias, fazendo com que a expressão global da proteína
vação gênica. não seja afetada se u m a mutação inesperada ocorrer em u m a
C o m o já discutido, as histonas são u m a parte integrante dos cópia. A maioria dos genes, entretanto, está presente em apenas
nucleossomos, a u n i d a d e estrutural de repetição básica da croma- duas cópias e a dosagem gênica normal é dois. Q u a n d o esses
tina. As proteínas histonas p o d e m ser modificadas pós-traducio- genes, tais como HER-2-neu, estão presentes em mais de duas
nalmente pot meio de processos que incluem acetilação, metila- cópias funcionais, diz-se que os genes estão amplificados. C o m o
ção, fosforilação e ubiquitinação. 3 A acetilação de certas hsinas consequência, mais transcritos de m R N A e proteínas geralmente
das histonas H 3 e H 4 por histona acetiltransferases diminui a são feitos, resultando em anormalidades celulares e possível pro-
interação histona-DNA e melhora a acessibilidade d o D N A à gressão ao câncer.
ativação transcricional. Ao contrário, a desacetilação de histonas
por histona desacetilases promove a formação de nucleossomos
compactos, levando à repressão da transcrição. A desacetilação Variação Humana
Se o D N A de dois indivíduos quaisquer é comparado, existe, em
de histonas é u m componente-chave na montagem da heterocro-
média, u m a diferença a cada 1.250 bases (isto é, aproximada-
matina, a cromatina transcricionalmente inativa. 3
Além das modificações de histona, os nucleossomos p o d e m m e n t e 9 9 , 9 % da seqüência são idênticos entre cópias do genoma
ser remodelados por processos dependentes de ATP, incluindo o escolhidas aleatoriamente). Muitas seqüências variantes, altera-
deslizamento do octâmero, o enovelamento do D N A e a substi- ções e polimorfismos d o genoma não afetam a saúde h u m a n a e
tuição de histonas. 5 O deslizamento d o octâmero permite o repo- são benignas ou silenciosas. Embora um SNP tenha sido identifi-
sicionamento dos octâmeros de histonas nos segmentos de D N A cado a cada 100 a 300 bases, muitos desses não são encontrados
adjacentes. A volta d o D N A se refere ao mecanismo através do freqüentemente na população. A grande maioria dos SNPs (97%)
qual o segmento de D N A , originalmente empacotado ao redor ocorre em regiões não-codificadoras; somente 3 % dos SNPs estão
associados aos éxons.
do nucleossomo, pode ser desenovelado. A substituição de his-
tonas permite a substituição de subunidades do octâmero com Aproximadamente 70% das mutações h u m a n a s são SNPs e
a maioria dessas é de mutações misseroe ou nonsense. Apenas 9 %
histonas variantes. C o n s e q ü e n t e m e n t e , os nucleossomos são
estruturas dinâmicas que p o d e m ser remodeladas de acordo com das mutações que causam doenças são SNPs que afetam sítios de
sfjlidng e resultam em concatenação alterada da seqüência codi-
as demandas transcricionais da célula. Resumindo, a função
gênica é mediada por u m a rede inter-relacionada de mecanismos ficadora. Finalmente, menos de 1% das mutações conhecidas
que causam doenças são SNPs que afetam a eficiência reguladora
epigenéticos. A interdependência entre o controle da função ou
expressão gênica e a organização estrutural da cromatina pode da transcrição por alterar as regiões do p r o m o t o r / a c e n t u a d o r em
introns ou a estabilidade d o transcrito de RNA.
ser estimada a partir dos duplos efeitos estrutural e funcional da
A maioria das mutações h u m a n a s remanescentes (23%) cons-
metilação de C p G , modificação de histona, formação de hetero-
titui pequenas inserções ou deleções. U m a inserção se refere à
cromatina e remodelagem de nucleossomos e cromatina
presença de bases extras, e n q u a n t o a deleção envolve a ausência
de certas bases em comparação com a seqüência de referência.
VARIAÇÃO DE SEQÜÊNCIA DOS ÁCIDOS
Mutações de inserção e deleção f r e q ü e n t e m e n t e resultam em
NUCLÉICOS u m a m u d a n ç a d o quadro de leitura dos códons, resultando em
Qualquer m u d a n ç a da seqüência (comparada com a seqüência seqüência de aminoácidos alterada após a mutação — c o m u m e n t e
de referência) é chamada u m a seqüência variante ou alteração. acompanhada por terminação de cadeia devido a u m códon
Se a seqüência variante ou alteração estiver presente a u m a fre- non.s£TLse.
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 281

Apenas 7% das mutações h u m a n a s são alterações de seqüên- de uma espécie virai pode ser tao grande que as seqüências-con-
cia mais complexas. Essas incluem duplicações ou deleções de senso para tipagem molecular são difíceis de serem encontradas.
éxons ou genes inteiros, translocações cromossómicas, expansões
de repetição (p. ex., expansões de repetição de trinucleotídeos), ENZIMAS DE ÁCIDOS NUCLÉICOS
reananjos gênicos (p. ex,, reatranjos gênicos em células B e T) e Enzimas de ácidos nucléicos são ferramentas importantes para o
loci polimórficos complexos relacionados com saúde e com doença diagnóstico molecular. Enzimas comuns que atuam em ácidos
(p ex , antígeno leucocitário h u m a n o [HLA]). nucléicos incluem aquelas que sintetizam polímeros longos e as
que degradam ácidos nucléicos em fragmentos menores. Essas
Variação Bacteriana enzimas são fundamentais para a replicação do D N A e transcrição
Os genomas bacterianos são consideravelmente menos comple- do R N A , e devem estar presentes em todas as células que repli-
xos do que o genoma h u m a n o ou outros genomas eucarióticos. cam. Além das enzimas de funções gerais, u m a variedade de
Bactérias comuns têm apenas u m cromossomo, geralmente u m enzimas únicas, encontradas em bactéria e vírus, atua em seqüên-
D N A dupla-hélice circular de 4 a 5 milhões de pares de bases, cias específicas de ácidos nucléicos. Muitas dessas enzimas têm
cerca de 1.000 vezes menos quantidade de D N A do que em uma sido purificadas e sintetizadas in uítro, algumas vezes "engenheira-
célula humana. Cerca de 9 0 % do D N A em bactérias codifica das" com alterações que melhoram seu desempenho ou sua esta-
proteínas. N ã o existem introns, mas existem múltiplas regiões bilidade. Nossa capacidade de manipular ácidos nucléicos in uifrro
intergênicas pequenas de seqüências repetitivas que estão disper- com essas enzimas tem possibilitado a biologia molecular moderna.
sas ao longo do genoma. A bactéria comum Escherichia coh As e m imas são também extensivamente utilizadas n o diagnóstico
contém aproximadamente 4-300 genes. de ácido nucléico, incluindo preparação de amostras, marcação
Além do cromossomo circular grande, que carrega os genes de sondas, geração de sinal e amplificação de alvos e sondas.
essenciais, as bactérias também carregam genes adicionais em As nucleases são enzimas que hidrolisam uma ou mais liga-
circulos menores de D N A dupla-fita, conhecidos como plasmí- ções fosfodiéster dos polímeros de ácidos nucléicos. As nucleases
deos. Estes variam em t a m a n h o de 1.000 a mais de 1 milhão de p o d e m requerer uma extremidade hidroxila livre (exonucleases),
pares de bases. Os plasmídeos são importantes n o diagnóstico com especificidade para o terminal 3' ou o 5', ou p o d e m atuar
molecular porque f r e q ü e n t e m e n t e codificam fatores patogênicos somente em ligações internas (endonucleases). Por exemplo,
e resistência a antibiótico. algumas técnicas que utilizam sondas são baseadas na atividade
O c o n j u n t o bacteriano de D N A p o d e ser alterado por (1) 5'-exonuclease que cliva ácidos nucléicos entre dois marcadores
ganho ou perda de plasmídeos; (2) alterações de uma única base, fluorescentes. As nucleases p o d e m ser específicas para D N A ou
pequenas inserções e deleções, como nos genomas eucarióticos, R N A e p o d e m atuar apenas em polímeros de fita simples ou
e (3) rearranjos de segmentos maiores, incluindo inversões, dele- dupla-fita. Por exemplo, a DNAse I digere D N A dupla-fita
ções e duplicações. Alguns genes, tais como os de R N A ribossõ- (dsDNA) e de nuclease S I atua somente em D N A de fita simples
mico, estão presentes em muitas cópias e p o d e m ser usados para (ssDNA). A DNAse I pode ser usada especificamente para degra-
identificar diferentes espécies de bactérias. Além disso, as seqüên- dar D N A em misturas de ácidos nucléicos q u a n d o se tem inte-
cias repetitivas intergênicas p o d e m servir como alvos múltiplos resse apenas em RNA. As RNAses são enzimas muito estáveis
para sondas de oligonuclsotídeos, permitindo a geração de perfis que constituem contaminantes comuns de laboratório.
únicos ou impressões digitais (/mgerprints) de D N A para espécies As endonculeases de restrição são encontradas em bactérias;
individuais de bactéria. essas encimas impedem a replicação de D N A estranho. Sua ação
é seqüência-específica, requerendo seqüências de reconhecimento
de geralmente 4 a 10 nucleotídeos na molécula de D N A dupla-
Variação Virai fita. Em cada local onde essa seqüência é encontrada, a enzima
Os genomas virais são consideravelmente menos complexos do corta ambas as fitas de forma reprodutível, resultando em cortes
que os genomas bacterianos. Vírus comuns que infectam seres que resultam em extremidades coesivas ou cegas. Por exemplo,
humanos variam em t a m a n h o de cerca de 5,000 a 250.000 bases, EcoRI é uma enzima de restrição de E. coíi que reconhece a seqüên-
ou 20 a 1.000 vezes menos quantidade de ácido nucléico do que cia de seis bases G A A T T C e corta entre o G e o A de ambas as
em E. coíi. C o m o os vírus usam a maquinaria celular do hospe- fitas, produzindo u m corte com extremidades coesivas:
deiro, eles não precisam de muitos genes. Vírus pequenos p o d e m
codificar apenas alguns genes, mas os vírus maiores podem codi- 5' ... G / A A T T C ... 3'
ficar centenas de genes. O genoma virai consiste em D N A ou 3' ... C T T A A / G ... 5'
RNA, e o ácido nucléico pode ser de fita simples ou dupla-fita,
linear ou circular, com u m ou múltiplos fragmentos e / o u cópias Note que os cortes de "extremidades cegas" seriam produzidos se
por partícula virai. C o m o em bactéria, não existem introns. De a enzima hidrolisasse a ligação entre A e T. As enzimas de restri-
fato, em alguns vírus, os éxons se sobrepõem com diferentes ção são usadas nos laboratórios para digerir fitas grandes de D N A
quadros de leitura que codificam produtos distintos a partir das em fragmentos menores e para preparar D N A de diferentes
mesmas seqüências de ácidos nucléicos. Regiões não-codificadoras origens para serem ligados nos procedimentos de clonagem.
estão geralmente presentes nas extremidades dos genomas linea- As ligases catalisam a formação de ligações fosfodiéster entre
res. Segmentos de repetição são encontrados com freqüência duas cadeias de ácido nucléico. As D N A ligases não são seqüência-
como repetições terminais ou internas e p o d e m estar invertidos. especificas e requerem a presença de u m molde complementar.
Alterações de seqüência em vírus são comuns. Áreas de alta Ao contrário, as R N A ligases usadas em processamento de m R N A
variação de seqüência p o d e m estar intercaladas entre domínios não requerem u m molde, mas são sensíveis à sequência.
conservados Freqüências maiores de variação podem estar corre- As polimerases catalisam a síntese de polímeros de ácidos
lacionadas com a fidelidade mais baixa da polimerase, o que pode nucléicos complementares usando u m a fira parental como molde.
permitir escapar do reconhecimento de anticorpos e de drogas In vitro, essas enzimas p o d e m estender u m primer de oligonucleo-
antivirais. Mutações comuns em virus incluem as mutações de tídeo que é anelado a uma fita-molde. A extensão requer que a
ponto, inserções e deleções A diversidade de seqüência dentro 3 ' O H da extremidade que se estende esteja livre, e que nucleotí-
282 PARTE IV Analitos

deos trifosfatos (NTPs) estejam presentes. A extensão pára se o freqüentemente, atingir uma amplificação de mais de u m milhão
molde ou os NTPs se esgotam ou se n e n h u m grupo 3 ' O H está de veses em menos de uma hora.
disponível no terminal que se estende. Polimerases termoestáveis,
tal como a Thermus aquaticus (Taq) D N A polimerase, são reagen- Reação e m Cadeia da Polimerase
tes essenciais para a automatização de muitos procedimentos de A reação e m cadeia da polimerase (PCR)1LI é o mais bem conhe-
amplificação de ácidos nucléicos cido e o mais amplamente empregado dos métodos de amplifica-
A transcriptase reversa catalisa a síntese de D N A a partir de ção de alvo. Por causa da disponibilidade comercial de D N A
u m molde de R N A ou D N A . A enzima é encontrada em retro- polimerases termoestáveis, kits e instrumentação, esse m é t o d o é
vírus, tais como o vírus da imunodeficiência h u m a n a 1 (H1V-1) amplamente utilizado tanto em pesquisa q u a n t o em laboratórios
(e em hepadnavirus). Os retrovírus têm genomas de RNA, e a clínicos.
atividade de transcriptase reversa é necessária como parte de sua A PCR requer uma D N A polimerase termoestável, desoxirn-
replicação No laboratório, a transcriptase reversa é usada para bonucleotídeos de cada uma das bases (coletivamente designados
fazer cópias de D N A complementar (cDNA) de R N A em amos- com dNTPs), a seqüência-alvo e u m par de oligonucleotídeos
trás e p o d e m ser usadas para clonagem, preparação de sonda e (denominados primers) complementares às fitas opostas que flan-
análises de ácidos nucléicos. queiam a seqüência a ser detectada. Na primeira etapa, os dúplb
ces-alvo são desnaturados em fitas simples por calor (Figura 17-8).
TÉCNICASJ)E AMPLIFICAÇÃO Q u a n d o a mistura é resfriada, os primers fornecidos em grande
O laboratório de diagnóstico molecular depende de técnicas de excesso (geralmente mais de u m milhão de vezes a concentração
amplificação para estudar pequenas quantidades de ácidos do alvo inicial) se anelam de forma específica às seqüências com-
nucléicos que são de interesse nas amostras clínicas. O genoma plementares do alvo. U m a vez q u e os fmmers estejam anelados, a
h u m a n o é tão grande que é difícil detectar pequenas alterações ação da polimerase sintetiza duas fitas de D N A adicionais con-
em uma pequena parte do genoma. Técnicas que a u m e n t a m a t e n d o os primers nas extremidades 5'. Os fmmers são posicionados
quantidade do alvo d e ácido nucléico ou o sinal de detecção de próximos o bastante de forma que a polimerase estenda cada u m a
uma única seqüência de interesse são designadas como m é t o d o s das fitas distante o suficiente para incluir o sítio de inicio do
de amplificação. N a amplificação do alvo, a região do ácido o u t r o primer. Geralmente a temperatura ideal para a polimeriza-
nucléico que envolve a área de interesse é copiada, muitas vezes, ção é u m valor intermediário entre as temperaturas de desnatu-
por métodos in fitro. Areas fora do alvo não são amplificadas. Na ração e de anelamento. O segundo ciclo t a m b é m se inicia com
amplificação de sinal, a quantidade do alvo permanece a mesma, a desnaturação, mas agora existem duas vezes mais fitas (o D N A
mas o sinal é então a u m e n t a d o por u m dos vários métodos, genômico original e os produtos de extensão do primeiro ciclo)
incluindo hibridização sequencial das estruturas de ácido disponíveis para o anelamento do primer e subsequente extensão.
nucléico ramificadoras e ação enzimática contínua sobre o subs- A variação de temperatura continua (tipicamente) encre três
trato que p o d e ser reciclado. Técnicas de amplificação podem, valores: uma temperatura alta o suficiente para desnaturar a

• NA genômico a Produtos longos a Produtos pequenos


produtos longos produtos pequenos a produtos
pequenos
Desnaturação
94°C
V

Anelamento
55°C

Extensão
72°C V.
- _ - l

Figura 17-8 Diagrama esquemático da reação em cadeia da polimerase (PCR) Ciclos repetitivos de
desnaturação, anelamento e extensão são determinados por variação seqüencial da temperatura de reação. Dois
primers (indicados como segmentos pequenos) pareiam com as fitas-molde opostas (linhas longas em vermelho e
preto) para definir a região a ser amplificada A extensão ocorre a partir das extremidades 3' (indicadas pelas
pontas de setas pela metade). Em cada ciclo, o D N A genômico é desnaturado e pareado com primer?, que se
estendem em direções opostas através da mesma região, produzindo produtos longos de comprimento
indefinido. Os produtos longos gerados por extensão de u m dos primers pareiam a outro primer durante o ciclo
seguinte, produzindo produtos pequenos de tamanho definido. Qualquer produto pequeno presente t a m b é m
produz mais produtos pequenos. Após n ciclos, até 2 n de novas cópias da região amplificada estão presentes [n
produtos longos e (2 n — n) produtos pequenos] mais uma (original) cópia genômica. U m a abordagem similar
pode ser usada para amplificar os alvos de R N A por transcrição reversa inicial do molde de PvNA para produzir
o molde de D N A .
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 283

1.2 são catalisadas p o r duas poíimerases diferentes, mas algumas


enzimas termoestáveis t ê m t a n t o a atividade de D N A polimerase
q u a n t o a de transcriptase reversa, de f o r m a que ambas as etapas
p o d e m ser realizadas ao m e s m o t e m p o c o m a mesma enzima.
A p ó s a amplificação, os p r o d u t o s p o d e m sei detectados p o i
0,8 -
vários m é t o d o s A simples eletroforese e m gel c o m coloração c o m
O b r o m e t o de etídio p o d e ser suficiente. Q u a n d o se deseja u m a
X acurácia m a i o r , u m dos primers p o d e ser marcado c o m fluores-
<£ cência, de f o r m a que após a P C R os fragmentos possam ser
0 0,4 - avaliados em u m aparelho de seqüenciamento âe D N A . A l t e r n a t i -
03
•a vamente, algumas formas de ensaio de h i b r i d i z a ç ã o p o d e m sei
01 usadas para verificar o u analisar o p r o d u t o a m p l i f i c a d o . M é t o d o s
ffl
a. automatizados são sempre atraentes e os de t u b o fechado são
'O
O p a r t i c u l a r m e n t e vantajosos n o l a b o r a t ó r i o clínico. A d i c i o n a r
0,0 -
u m a sonda o u u m corante fluorescente antes da amplificação
16 20 2/|
p e r m i t e aos termocicladores equipados c o m detecção óptica ana-
Tempo (minutos)
lisar a reação à m e d i d a que ela p r o g r i d e ( P C R e m t e m p o real)
1 1 1 1 1 o u depois que essa reação tenha sido completada ( m e d i d a do
32 40 48 p o n t o final), sem q u e se precise processar a amostra em u m a
Ciclos de PCR etapa de análise separada.
É n a t u r a l pensar sobre a P C R em termos de três eventos —
Amplificação do DNA
desnaturação do alvo dupla-fita, a n e l a m e n t o do alvo c o m os
f r i m m , e extensão da fita de D N A a p a r t i r do primer — o c o r r e n d o
Figura 17-9 Curvas exponencial e logística do D N A amplificado em três temperaturas, cada u m a r e q u e r e n d o u m certo p e r í o d o
por PCR. Assume-se u m tempo de duplicação de 30 segundos para a de tempo. D e fato, é c o m u m realizar a P C R m a n t e n d o a m i s t u r a
PCR. O u seja, dada a equação N t = Noe", em que N t é a quantidade de reacional em três temperaturas diferentes (p. ex., desnaturação a
D M A no tempo t e N 0 é a quantidade inicial de D N A , r é 1,386 m i n 1 9 4 ° C , a n e l a m e n t o a 5 5 ° C e extensão a 7 2 ° C ) . Os p r i m e i r o s
para PCR. U m a capacidade de carga de 1011 cópias de produto de PCR aparelhos focavam o c o n t r o l e preciso de t e m p e r a t u r a do b l o c o
por M.L f o i usada, assumindo que a reação é limitada pelo primar em 1 / 3 de a q u e c i m e n t o n o e q u i l í b r i o , n ã o n o c o n t r o l e d i n â m i c o da
da concentração da sua concentração (inicialmente a 0,5 |uM o u 3 x t e m p e r a t u r a da amostra. C o m o resultado, as temperaturas da
IO11 pares de moléculas de fmmer por (iL). Iniciando com apenas uma amostra não eram b e m definidas d u r a n t e as transições e tempos
cópia-alvo, leva somente 23 minutos (46 ciclos) para amplificar o alvo de ciclo longos se t o r n a r a m o p a d r ã o para assegurar q u e a amostra
até a saturação. (Modificado com permissão do editor de W i t t w e r CT, atingisse as temperaturas desejadas. A r e p r o d u t i b i l i d a d e entre
Kusukawa N. Real-time PCR. In: Persing D H , Tenover FC, Versalovic ], aparelhos e fabricantes era r u i m e a P C R requeria de 2 a 4 horas
Tang Y W , UngeT ER, Relman D A , W h i t e T ] , eds. Molecular para completar as amplificações típicas de 3 0 ciclos.
microbiology: diagnostic principies and practice, Washington, D C A S M Os aparelhos m o d e r n o s de P C R f o c a m transições rápidas
Press, 2004:71-84. © 2004 A S M Press.) entre temperaturas c o m o m í n i m o de pausa o u n e n h u m a pausa
(platôs de temperatura), seguindo u m p a r a d i g m a mais acurado
para a amplificação p o r P C R (Figura 17-10). Desnaturação, ane-
l a m e n t o e extensão são reações m u i t o rápidas. O uso de " p i c o s "
sequência-alvo, u m a temperatura baixa q u e p e r m i t a o anela- de temperatura na desnaturação e n o anelamento, em vez de
m e n t o dos primers c o m o alvo, e u m a terceira temperatura ideal platôs estendidos de temperatura, p e r m i t e u m a ciclagem rápida.
para a extensão pela polimerase. O t e m p o real necessário para a P C R depende d o t a m a n h o do
O ciclo repetitivo de temperaturas resulta no a c ú m u l o expo- p r o d u t o , mas q u a n d o ele é m e n o r que 5 0 0 b p , 3 0 ciclos reque-
n e n c i a l de u m p r o d u t o p e q u e n o (que consiste nos primers e em r e m somente 15 a 3 0 m i n u t o s . A l é m disso, a amplificação rápida
toda a seqüência entre eles). Se a eficiência de cada ciclo é ideal, m e l h o r a a especificidade. A Figura 17-11 mostra a amplificação
o n ú m e r o de seqüências-alvo d o b r a a cada ciclo (eficiência = 2,0). p o r P C R de u m p r o d u t o de 5 3 6 b p a m p l i f i c a d o e m velocidades
A eficiência da P C R depende dos primers e das condições de de ciclagem diferentes. C o m a ciclagem lenta convencional, são
ciclagem de temperatura, j u n t a m e n t e c o m a presença o u a ausên- gerados m u i t o s p r o d u t o s mespecíficos ( p e r f i l de ciclagem A ) .
cia de i n i b i d o r e s da polimerase. Os p r o d u t o s amplificados se Esses p r o d u t o s desaparecem q u a n d o o t e m p o de ciclagem é redu-
a c u m u l a m e x p o n e n c i a l m e n t e nos ciclos iniciais da P C R . E m zido (perfis B, C e D ) . D e fato, o r e n d i m e n t o da amplificação e
a l g u m p o n t o , entr etanto, a eficiência de amplificação cai e, even- a especificidade do p r o d u t o são ó t i m o s q u a n d o os tempos de
t u a l m e n t e , a q u a n t i d a d e de p r o d u t o atinge u m p l a t ô (Figura desnaturação e a n e l a m e n t o são m í n i m o s . O t e m p o de extensão
17-9) devido ou à exaustão dos c o m p o n e n t e s o u à competição necessário para cada ciclo depende do t a m a n h o d o p r o d u t o de
entre a n e l a m e n t o dos primers e d o p r o d u t o (isto é, as fitas simples P C R . Estes p o d e m ser tão pequenos q u a n t o 40 b p , até cerca de
de p r o d u t o estão e m concentrações tão altas que elas se anelam 40 kb. Para a m p l i f i c a r p r o d u t o s maiores que 5 k b , misturas de
umas c o m as outras e m vez de se anelarem c o m os primers). E m poíimerases q u e i n c l u e m alguma atividade 3'-exonuclease para
u m a reação de P C R típica, u s a n d o 0,5 p m de cada primer, a editar os nucleotídeos m a l pareados geralmente são usadas. E m
concentração de D N A m á x i m a atingível é cerca de 100 bilhões lugar de temperaturas de a n e l a m e n t o e extensão separadas,
de c ó p i a s / [ i L . ambos os processos p o d e m ser realizados na mesma temperatura,
C o m a adição de u m a etapa de transcriptase r e v e r s a i n i c i a l r e s u l t a n d o e m ciclagem de duas temperaturas e m vez de apenas
para f o r m a r c D N A de R N A na amostra, os alvos de R N A t a m b é m três. E m b o r a isso s i m p l i f i q u e a necessidade de i n s t r u m e n t a ç ã o e
p o d e m ser amplificados c o m sucesso e m cópias de D N A . A s programação, l i m i t a a escolha de fmmers e requer u m t e m p o de
etapas de transcrição reversa e amplificação do D N A geralmente extensão mais l o n g o em temperaturas subideais.
284 PARTE IV Analitos

DNA fita simples


Desnaturação

05- 85"
o
ÇC
75-
2
dJ 7 -V
a V -
.d) 65- • 3

Anelamenta do prímer
B V
\ /
ie 12 24
Tempo (segundos) DNA
du ala fita

Figura 17-10 D e m o nsU ação vis uni da emética da PCR. As três fases da PCR (desnaturação, anela mento e
extensão) ocorrem quando a temperatura é continuamente mudada (painel A). Próximo ao f i m da variação de
temperatura, a reação contém produtos de PCR fita simples e dupla-fita. Q u a n d o amostras de diferentes pontos
do ciclo são obtidas (por resfriamento rápido da mistura em água gelada, painel B) e analisadas, a transição do
D N A fita simples desnaturado ao D N A dupla-fita se revela como continua (painel C). A progressão da reação de
extensão pode ser seguida por bandas adicionais que aparecem entre os D N A s fita simples e dupla-fita (pontos
de tempo 5 a 7). (Modificado com permissão de W i t t w e r CT, H e r r m a n n M G . Rapid thermal cycling and PCR
kinetics. In: M Innis, D Gelfand, J Sninsky, eds. PCR applicadons, San Diego: Academic Press, 1999:211-229.
Copyright Elsevier, 1999.)

Q u a n d o a P C R é realizada sob ótimas condições, u m a ú n i c a sair do t u b o . M é t o d o s que realizam amplificação, detecção e


cópia do alvo pode ser detectada. N a prática, entretanto, a pro- caracterização em t u b o fechado e l i m i n a m o risco de c o n t a m i n a -
b a b i l i d a d e estatística de se detectar essa única cópia e m u m a ção p o r p r o d u t o . M e s m o c o m esses cuidados, u m c o n t r o l e nega-
solução de m o l d e d i l u í d a na P C R deve ser considerada. A distri- t i v o o u b r a n c o (todos os reagentes menos o D N A - a l v o ) é u m dos
b u i ç ã o de Poisson indica q u e se, e m média, u m a cópia d o alvo controles mais i m p o r t a n t e s da P C R .
está presente p o r t u b o , 3 7 % dos tubos não terão alvo, 3 7 % terão A P C R é u m processo flexível e não requer ácido nucléico
u m alvo e o restante terá mais de u m . Se existe u m a média de altamente p u r i f i c a d o . N a prática, entretanto, as amostras clínicas
duas cópias p o r t u b o , a p r o x i m a d a m e n t e 14% dos tubos não terão p o d e m c o n t e r quantidades imprevisíveis de impurezas que p o d e m
m o l d e e fornecerão u m resultado falso-negativo. Cerca de cinco i n i b i r a atividade da polimerase. Para garantir u m a amplificação
cópias em m é d i a são necessárias para que 9 9 % dos tubos i n c l u a m confiável, algumas formas de p u r i f i c a ç ã o de ácido nucléico são
pelo menos u m a cópia. Essa l i m i t a ç ã o de análise de cópia baixa f r e q ü e n t e m e n t e usadas. A natureza idiossincrática dos i n i b i d o r e s
se m a n t é m verdadeira para q u a l q u e r técnica de amplificação. de P C R d e n t r o das amostras clínicas requer a prova de que a
Usar soluções diluídas de m o l d e na P C R p o d e ser vantajoso. amostra ( o u preparação do ácido nucléico p u r i f i c a d o a paTtiT
Por exemplo, PCR digital é u m a técnica q u e depende dos sinais dela) p e r m i t i r á a amplificação. TJma seqüência de ácido nucléico-
de liga/desliga resultante da presença o u ausência de m o l d e em c o n t r o l e , geralmente diferente d o alvo, p o d e ser adicionada à
cada u m dos m u i t o s c o m p a r t i m e n t o s da reação. E m vez de tubos amostra ( o u extraída da amostra). Falha e m a m p l i f i c a r esse con-
convencionais, esses c o m p a r t i m e n t o s p o d e m ser d i m i n u t a s gotí- trole i n d i c a que purificação subseqüente da amostra é necessária
culas aquosas e m u m a emulsão de água e m óleo, o u polônias para remover i n i b i d o r e s da reação.
(colônias de P C R ) e m u m f i l m e f i n o de gel de acrilamida. 7 A P C R c o n v e n c i o n a l usa prímers que estão presentes em quan-
C o m o a P C R p o d e detectar u m a única m o l é c u l a de seqüên- tidades iguais, g a r a n t i n d o , assim, que a m a i o r i a dos p r o d u t o s seja
cia-alvo, u m a pequena q u a n t i d a d e de c o n t a m i n a ç ã o e m u m a a m p l i c o n dupla-fita. A PCíí assimétrica usa concentrações diferen-
amostra facilmente pode p r o d u z i r u m resultado falso-positivo. O tes dos dois primers para gerar mais u m a fita d o q u e outra. Por
m a i o r p o t e n c i a l de c o n t a m i n a ç ã o v e m d o p r o d u t o da reação de exemplo, o uso do primer A a 0,5 p M e d o primer B a 0,005 p M
amplificação d e n o m i n a d o a m p l i c o n (usado em lugar de produto produz, p r i n c i p a l m e n t e , D N A f i t a simples estendida do prímer
de PCR). A p ó s a amplificação, cada m i s t u r a reacional pode conter mais abundante. Isso é ú t i l para fins de s e q ü e n c i a m e n t o o u para
o equivalente a 100 bilhões de c ó p i a s / p L do a m p l i c o n . Portanto, fazer sondas de f i t a simples. O r e n d i m e n t o d o p r o d u t o , n o
d i m i n u t a s gotículas de aerossol c o n t ê m mais alvo d o que o neces- e n t a n t o , p o d e ser baixo. C o m razões menos extremas (p. ex.,
sário para u m s boa amplificação. O a m p l i c o n p o d e c o n t a m i n a r primei A a 0,5 p,M e primer B a 0,2 p M ) , o r e n d i m e n t o é, na
reagentes, pipetas e v idr ar i a. E f á c i l t r a n s f o r m a r u m l a b o r a t ó r i o m a i o r i a das vezes, preservado, c o m u m a fita sendo p r o d u z i d a em
em u m fiasco do D r . Seuss.14 Para evitar a c o n t a m i n a ç ã o p o r excesso suficiente paTa torná-la mais d i s p o n í v e l à hibridização
a m p l i c o n , áreas fisicamente separadas para pré e pós-amplifica- c o m sonda.
ção, pipetas c o m deslocamento positivo para m i n i m i z a r a conta- U m o u t r o m é t o d o variante c h a m a d o PCR aleloespecífica
m i n a ç ã o p o r aerossol e reagentes pré-aliquotados são freqüente- p e r m i t e a amplificação preferencial de u m alelo genético e m
m e n t e utilizados. O m o d o mais eficiente é não deixar o p r o d u t o relação ao o u t r o . A extremidade 3' de u m prímer é p o s i c i o n a d a
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 285

5'. A fica de R N A d o d u p l e x R N A / D N A é, então, digerida c o m


RNase H seguido pela síntese de D N A dupla-fita c o m u m primer
oposto. A seqüência p r o m o t o r a d o D N A dupla-fita transcreve,
então, m ú l t i p l a s cópias de R N A f i t a simples pela R N A p o l i m e -
rase) c o m p l e t a n d o o ciclo. C o m o na P C R , todos os reagentes
p o d e m ser i n c l u í d o s em u m a m i s t u r a e a amplificação é expo-
n e n c i a l c o m a conclusão em m e n o s de u m a h o r a . O m é t o d o é
p a r t i c u l a r m e n t e vantajoso q u a n d o o alvo é o R N A (p. ex., H I V
e vírus da hepatite C ( H C V ) na análise de ácido nucléico de
b a n c o de sangue).
o
Amplificação de Sinal de Cadeia Ramificada
< N e m sempre é necessário amplificar a seqüència-alvo. E m vez de
cr
i— aumentar a concentração do alvo, técnicas de amplificação de sinal
c/)
O usam ácidos nucléicos para ampliar a detecção de sinal. O m é t o d o
s de D N A de cadeia ramificada ( b D N A ) é u m a dessas técnicas de
<
< uso c o m u m . A estratégia de b D N A hibridiza o ácido nucléico-alvo

é
D c o m m ú l t i p l a s sondas de captura afixadas em u m poço de u m a
placa de microtitulaçâo. E m seguida é feita a hibridização c o m u m a
D série de sondas "extensoras", "pré-amplificadoras" e amplificado-
ras. A ú l t i m a sonda amplificadora altamente ramificada i n c l u i
o: múltiplas cópias de enzimas geradoras de sinal que atuam em u m
LU
Q_ substrato q u i m i o l u m i n e s c e n t e para produzir luz.
s
LU
K TÉCNICAS DE DETECÇÃO
O diagnóstico m o l e c u l a r depende t a n t o de m é t o d o s de detecção
genéricos q u a n t o específicos de ácidos nucléicos. As técnicas
genéricas m e d e m a q u a n t i d a d e total de ácido nucléico, e n q u a n t o
as técnicas específicas m e d e m u m a seqüência particular, freqüen-
temente pelo uso de sondas de ácido nucléico.
Para m e d i r o u visualizar a q u a n t i d a d e t o t a l de ácido n u c l é i c o ,
duas abordagens são c o m u m e n t e usadas: absorvância de ultravio-
leta e coloração c o m corantes fluorescentes A s moléculas de
ácido nucléico absorvem luz u l t r a v i o l e t a a 2 6 0 n m , u m a proprie-
dade que é c o m u m e n t e usada para m e d i r o c o n t e ú d o de ácido
TEMPG (minutos)
nucléico de u m a solução. Se u m a preparação de D N A d u p l a - f i t a
é p u r a , u m a solução de 5 0 m g / L t e m u m a absorvância de 1,0 a
2 6 0 n m A pureza de u m a solução de ácido nucléico p o d e ser
Figura 17-11 PCR rápida melhora a especificidade do produto. As
estimada p o r sua razão de absorvância a 2 6 0 e 2 8 0 n m (razão
amostras foram ciciadas 30 vezes através dos perfis A , B, C e D . M e l h o r
260:280). A o c o n t r á r i o dos ácidos nucléicos, as proteínas t ê m o
espedfícidade de amplificação de u m fragmento de P-globiria de 534 bp
m á x i m o de absorção a 280 n m . U m a preparação p u r a de ácido
é vista c o m ciclos mais rápidos ( C e D). (Reimpresso com permissão de
nucléico geralmente t e m u m razão 2 6 0 : 2 8 0 de 1,7 a 2,0.
Eaton Associates.)
E m b o r a as medidas de absorvância sejam simples e precisas,
elas não são sensíveis. Os corantes fluorescentes que se ligam ao
n o sítio p o l i m ó r f i c o e será p r o n t a m e n t e estendida apenas se ela ácido nucléico são 1.000 a 10.000 vezes mais sensíveis do que as
for t o t a l m e n t e c o m p l e m e n t a r ao alvo. Essa estratégia é usada para medidas de absorvância. O exemplo mais b e m c o n h e c i d o de u m
d i s t i n g u i r u m gene de seus pseudogenes e para a genotipagem de corante de ácido nucléico é o b r o m e t o de etídeo, u m corante
S N Ps. A P C R ale lo-es peei fica é t a m b é m u m m é t o d o c o m u m para intercalante de D N A dupla-fita, p o s i t i v a m e n t e carregado. Os
determinar haplótipos. corantes de cianina, tais c o m o S Y B R G r e e n I, são t a m b é m coran-
tes populares dos ácidos nucléicos p o r q u e eles não f l u o r e s c e m a
Métodos de Amplificação Baseados na menos que estejam ligadas a ácidos nucléicos, f o r n e c e n d o , assim,
Transcrição u m background m u i t o baixo. C o m a óptica apropriada, moléculas
Os m é t o d o s de amplificação baseados na transcrição f o r a m únicas de D N A p o d e m ser visualizadas c o m corantes de ácidos
criados após a replicação dos retrovírus. Esses métodos são conhe- nucléicos baseados em cianina. 8 O s corantes de ácido nucléico
cidos p o r vários nomes, i n c l u i n d o ensaios de amplificação p o d e m detectar D N A em géis o u em solução (tal c o m o na P C R
baseada na seqüência d o ácido n u c l é i c o ( N A S B A ) , de amplifica- e m t e m p o real).
ção mediada p o r transcrição ( T M A ) e de replicação de seqüência A absorvância de ultravioleta e os corantes fluorescentes não
auto-sustentada (3SR). Eles a m p l i f i c a m seus alvos sem ciclagem detectam, especificamente, diferentes seqüências de ácidos
de temperatura (isotermicamente) e usam as atividades coletivas nucléicos (isto é, eles não são seqüência-específicos). A especifi-
de transcriptase reversa, RNase H e R N A polimerase. O m é t o d o cidade das análises de ácido n u c l é i c o é f o r n e c i d a p o r hibridização
p o d e ser aplicado a alvos de R N A de f i t a simples o u de D N A das fitas complementares, geralmente entre u m a fita-alvo na
dupla-fita. U m a transcriptase Teversa é usada para sintetizar u m a amostra e u m a sonda f o r n e c i d a pelo ensaio. Os marcadores de
f i t a de c D N A a p a r t i r do m o l d e de R N A c o m u m primer que t e m detecção p o d e m estar covalentemente ligados o u i n c o r p o r a d o s
u m a seqüência p r o m o t o r a de R N A polimerase c o m o u m a cauda nas sondas de ácido n u c l é i c o . A s p r i m e i r a s sondas usadas na
286 PARTE IV Analitos

detecção de ácido nucléico e r a m marcadas radioativa mente. As a mais c o m u m . Sondas de oligonucleotídeos complementares são
sondas radioativas, raramente usadas nos dias de hoje em ensaios f r e q ü e n t e m e n t e i n c o r p o r a d a s nos ensaios moleculares para dis-
clínicos, t ê m sido substituídas p o r indicadores q u i m i o l u m i n e s - c r i m i n a r diferentes seqüências p o r hibridização. F i n a l m e n t e , a
centes, c o l o r i m é t r i c o s o u fluorescentes. M u i t o s marcadores f l u o - P C R e m t e m p o real e a análise de desnaturação estão e m e r g i n d o
rescentes estão disponíveis, p e r m i t i n d o a m u l t i p l i c i d a d e de cores c o m o técnicas de t u b o fechado, simples, que se e n q u a d r a m b e m
para aplicações em s e q ü e n c i a m e n t o de D N A , análise de t a m a n h o às necessidades do l a b o r a t ó r i o clínico.
de f r a g m e n t o , arranjos de D N A e P C R e m t e m p o real (todos
revisados p o s t e r i o r m e n t e neste capítulo). Técnicas i n c l u i n d o Eletroforese
polarização de fluorescência, transferência de energia p o r resso- T a n t o o D N A q u a n t o o R N A são carregados negativamente e
n â n c i a de fluorescência ( F R E T ) e supressão de fluorescência migrarão e m direção ao eletrodo positivamente carregado. A
(fluorescence L{uenching) p o d e m forneceT especificidade de detecção separação de diferentes ácidos nucléicos ocorTe q u a n d o se p e r m i t e
adicional. A polarização de fluorescência p o d e ser usada para que as misturas m i g r e m através de u m a m a t r i z de p o l í m e r o sob
d i s t i n g u i r marcador livre do ligado, caso a rotação m o l e c u l a r da u m campo elétrico. A separação se baseia, p r i n c i p a l m e n t e , no
sonda se altere c o m a ligação. A rotação molecular depende, peso molecular, c o m as moléculas menores m i g r a n d o mais rapi-
p r i n c i p a l m e n t e , d o t a m a n h o da molécula, de f o r m a que a ligação d a m e n t e através do p o l í m e r o d o que as maiores (Figura 17-12).
de u m a sonda pequena a u m alvo grande resulta em u m a u m e n t o Q u a n d o moléculas grandes (> 5 0 kb) t ê m de ser separadas,
de polarização que p o d e ser m e d i d o . As técnicas de F R E T depen- empregam-se campos elétricos pulsados para ajudar a movê-las
d e m da distância entre dois marcadores fluorescentes espectral- através da matriz do p o l í m e r o . A separação t a m b é m ocorre c o m
m e n t e distintos. O s dois marcadores o u são aproximados através base na c o n f o r m a ç ã o física o u f o r m a da molécula. Por exemplo,
da hibridização, o u t e r m i n a m ainda mais afastados, através de moléculas de fitas simples p o d e m se enovelar em estruturas
clivagem h i d r o l i t i c a de u m a sonda d u p l a m e n t e marcada. Final- secundárias, e moléculas dupla-fita p o d e m f o r m a r estruturas
m e n t e , a supressão o u o a u m e n t o de fluorescência p o d e ocorrer heterodúplices, nícked (apenas u m a f i t a clivada) e circulares super-
c o m a hibridização de u m o l i g o n u c l e o t i d e o fluorescente c o m seu hélices. A separação baseada na f o r m a p o d e fornecer informações
alvo. O efeito depende do corante fluorescente específico e a úteis, mas pode, t a m b é m , c o n f u n d i r a análise baseada em
supressão inerente de resíduos G n o alvo e / o u na sonda. A l t e r - t a m a n h o . Por exemplo, c o m o o R N A geralmente t e m u m alto
nativamente, u m a parte da supressão (íjuencfimg) p o d e ser pTopo- grau de estrutura secundária, a eletroforese de R N A geralmente
sitalmente i n c o r p o r a d a n a sonda. é realizada sob condições desnaturantes para destruir essas estru-
turas. A eletroforese de D N A é realizada sob condições não-des-
TÉCNICAS DE DISCRIMINAÇÃO naturantes, ou desnaturantes d e p e n d e n d o da aplicação.
U m a variedade de técnicas é usada paia d i s c r i m i n a r diferentes Agarose e fioiiacritaniida são os dois tipos de p o l í m e r o s c o m u -
ácidos nucléicos. A separação p o r t a m a n h o através de u m a m a t r i z m e n t e usados e m eletroforese. U m gel de agarose p o d e separar
de gel em presença de u m c a m p o elétrico (eletroforese) talvez seja fragmentos de ácido nucléico tão pequenos q u a n t o 20 bp, até
mais de 10 M b (10.000 kb), i n c l u i n d o cromossomos de leveduras,
fungos e parasitos. E n t r e t a n t o , a resolução de separações em
agarose é geralmente l i m i t a d a a u m a diferença de t a m a n h o de
2 % a 5 % . Os p o l í m e r o s de poliacTilamida são adequados à sepa-
MW (pb) ração de alta resolução (até cerca de 0 , 1 % de diferenças de
t a m a n h o ) de moléculas pequenas (até cerca de 2 kb), e são usados
5,000-
4,000 - no seqüenciamento de D N A .
3,000- A eletroforese é usada e m m u i t o s métodos de discriminação
2,000- de ácidos nucléicos. A análise direta dos p r o d u t o s de P C R p o r
1,500- eletroforese pode ter valor diagnóstico (p. ex., a presença de u m a
1,250- bactéria, u m vírus o u u m f u n g o em uma amostra). M u i t a s alte-
1,000- rações n o D N A h u m a n o são inserções de seqüências, deleções,
rearranjos e mudanças n o n ú m e r o de seqüências de repetição.
750" Se essas alterações se e n c o n t r a m d e n t r o de u m f r a g m e n t o que
p o d e ser f i e l m e n t e a m p l i f i c a d o p o r P C R , então essas variações
de t a m a n h o t a m b é m p o d e m ser d i r e t a m e n t e detectadas p o r ele-
500 -
troforese. M e s m o q u a n d o a variação não altera o t a m a n h o do
p r o d u t o de P C R (p. ex., SNPs), as enzimas de restrição p o d e m
ser f r e q ü e n t e m e n t e utilizadas para revelar p o l i m o r f i s m o s de
c o m p r i m e n t o de f r a g m e n t o s de restrição (RFLPs). N a P C R /
RFLP, os p r o d u t o s de P C R são digeridos c o m u m a o u mais
enzimas de restrição e analisados p o r eletroforese. Por exemplo,
se u m a amostra t e m u m a mutação q u e destrói u m sítio de reco-
n h e c i m e n t o da enzima, esta p o d e ser d i s t i n g u i d a de u m a amostTa
que não t e m a m u t a ç ã o . T a l ensaio p r o d u z i r á u m f r a g m e n t a de
P C R não-cortado q u a n d o a mutação estiver presente, e dois
fragmentos menores q u a n d o a m u t a ç ã o estiver ausente (Figura
17-13). Se a mutação estiver presente e m heterozigose ( u m a cópia
de D N A n o r m a l e u m a m u t a n t e ) , então u m f r a g m e n t o longo e
Figura 17-12 Uma fotografia de vários fragmentos de D N A após
dois menores serão observados.
eletroforese em gel de agarose ( 1 % w / v , gel de agarose SeaKem LE)
E m c o m b i n a ç ã o c o m a eletroforese, a ligação de sonda de
mostrando a separação das moléculas de D N A dupla-fita por tamanho.
o l i g o n u c l e o t i d e o p o d e ser usada para analisar, s i m u l t a n e a m e n t e ,
( A fotografia é cortesia de Lonza Rockland, Inc., Rockland, Me.)
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 287

Sítio de clivagem da Amplicon de PCR


endonuelease de restrição
Desnaturar fitas
Primer de PCR • Hibridizar com primer específico

Gene normal primer


-TCATTCACCCTGGAC....
Primer de PCR
Adicionar DNA polimerase, mistura de
nucleotídeos (dNTP) e didesaxinucleotí-
Gene mutado deos terminadores marcados (ddA,
Nenhuma clivagem d d G , d d T e ddC)
Extensão de primer e terminação

Resultado da Eletroforese
Normal Mutante Heterozigoio primer - > A G T A A G T G G G A C C T G.
—T C A T T C A Ç Ç Ç T G G A C.
r
M W (bp)

300 ddA

200 -

100 -
ddG
Figura 17-13 Exemplo de PCR-RFLP. U m fragmento de D N A
amplificado p o r PCR carrega u m sítio (unia seqüência única geralmente
com quatro o u mais bases) que é reconhecido e clivado por uma c
La.
C_ ddT
endonuelease de restrição. Se uma mutação está presente, esse sítio é
alterado e não é mais reconhecido pela enzima. A eletroforese revela
que o fragmento de uma amostra normal foi de fato cortado pela ddC
enzima, gerando dois fragmentos menores que o tamanho original,
enquanto o fragmento de u m mutante homozigoto não foi cortado e o
Figura 17-14 Reação de terminação de cadeia (Sanger). U m
tamanho original do amplicon é preservado. E m u m mutante
amplicon de PCR é desnaturado c, então, hibridizado a u m primer
heterozigoto, tanto o fragmento original quanto os fragmentos menores
oligonucleotideo especifico- A medida que a D N A polimerase estende o
são visíveis.
primer por incorporação de bases (dNTPs) complementares ao molde,
ocasionalmente ela incorpora u m análogo de base terminador (ddA,
ddG, d d T ou ddC) que interrompe a extensão seguinte. O resultado é
m u i t o s loa genéticos diferentes. E m cada locus, duas sondas de uma mistura de produtos estendidos c o m tamanhos variados Cada base
oligonucleotídeos são hibridizadas a seqüências adjacentes d o ter m i n adora pode ser marcada com u m dos quatro diferentes
D N A - a l v o , e a D N A ligase liga de f o r m a covalente as duas sondas marcadores fluorescentes (mostrados como diferentes símbolos no
somente se ambas estiverem p e r f e i t a m e n t e hibridizadas ao alvo. diagrama). Alternativamente, o primer pode carregar quatro diferentes
Se as sondas diferentes são projetadas para terem mobilidades marcadores fluorescentes nas reações individuais de terminação de
eletroforéticas diferentes, m u i t o s ioci p o d e m ser detectados em cadeia (contendo somente u m ddNTP) realizadas em tubos separados.
u m a c o r r i d a eletroforética. Para genotipagem de m ú l t i p l o s SNPs, O procedimento original incorporava u m d N T P radioativo durante a
as sondas de cada alelo são incluídas e a ligação é realizada após extensão, permitindo a detecção monocromática dos fragmentos
amplificação p o r P C R m u l t i p l e x . A ligação t a m b é m pode ser truncados que eram analisados por eletroforese em quatro pistas
usada para estimar o n ú m e r o relativo de cópias de m u i t o s loci separadas, cada uma para uma das bases terminador as (Figura 17-15).
diferentes, p o r exemplo, rastreamento de deleções o u duplicações
de m ú l t i p l o s éxons d e n t r o de u m gene. Neste caso, a ligação é
realizada antes da P C R c o m sondas que i n c l u e m seqüências seguida de u m a variação da reação de t e r m i n a ç ã o de cadeia
c o m u n s que servem c o m o primers de P C R em u m a amplificação desenvolvida p o r F. Sanger, n o f i n a l dos anos 1970." Essa reação
multiplex com sonda dependente de ligação*3 ( M P L À ) . E m ambos os ( t a m b é m d e n o m i n a d a reação de Sanger) gera fragmentos que são
casos, os p r o d u t o s de ligação são separados em géis de poliacri- t e r m i n a d o s em diversos c o m p r i m e n t o s pela i n c o r p o r a ç ã o de u m
l a m i d a de alta resolução e m presença de padrões de t a m a n h o dos quatro didesoxinucleotídeos, análogos de bases, d u r a n t e a
marcados, s i m i l a r ao seqüenciamento. extensão a p a r t i r de u m primer de seqüenciamento (Figura 17-14).
N o seqüenciamento de D N A , a seqüência exata de ácido O m é t o d o mais c o m u m para gerar esses fragmentos completos é
nucléico de u n i fragmento de D N A é d e t e r m i n a d a c o m taxas de o seqüenciamento em ciclo, r e p e t i n d o as etapas de a n e l a m e n t o ,
erros de a p r o x i m a d a m e n t e 0 , 1 % (uma base i d e n t i f i c a d a errada extensão e t e r m i n a ç ã o de cadeia e desnaturação p o r ciclagem de
e m 1.000). F r e q ü e n t e m e n t e a seqüência é analisada em ambas as temperatura, similar à P C R . Os fragmentos gerados são marcados
fitas (senso e anti-senso), o que fornece u m a acurácia ainda c o m u m corante fluorescente (pelo uso de primers marcados o u
maior. Alterações de bases que resultam em u m código de ami- didesoxinucleotídeos terminadores marcados), separados, então,
n o á c i d o alterado, códons de parada, deleções o u inserções p o d e m p o r eletroforese em gel de p o l i a c r i l a m i d a desnaturante o u capilar,
ser identificadas. A estratégia de seqüenciamento mais c o m u m e identificados p o r detecção de fluorescência à m e d i d a que os
usa P C R n a p r i m e i r a etapa para a m p l i f i c a r a região de interesse, fragmentos passam pelo detector (Figura 17-15). O seqüencia-
288 PARTE IV Analitos

Homozigoto (referência)
A G T A A G T

<3 I- O
•O T3
"O T3

1
Homozigoto (mutante)
A G T A A G C G G G A C
G
T
C
c
A
G
G
G
T Heterozigoto (mutante)
G A G 7 A A G Y G G A C
A ia a a
A aa•
T
G
A

Seqüenciamento
Seqüenciamento com quatro Leitura do seqüenciamento automático
com uma cor cores

Figura 17-15 Esquema d o s e q ü e n c i a m e n t o de D N A . Os p r o d u t o s de extensão gerados pela reação de


t e r m i n a ç ã o de cadeia (Sanger) são separados usando q u a t r o pistas (se s o m e n t e u m m a r c a d o r é usado), o u usando
u m a pista (se corantes de tons diferentes são usados para cada u m a das reações c o m terminadores). A estratégia
c o m q u a t r o cores é adequada à detecção a u t o m a t i z a d a da fluorescência resultante (mostrada p e l o i c o n e de o l h o )
t a n t o para eletroforese e m gel q u a n t o para eletroforese capilar. A direção da migração d o f r a g m e n t o é d o t o p o
para a base. A seqüência é lida da base para o t o p o dos géis, e da esquerda para a d i r e i t a d a seqüência
automática. São mostrados os exemplos de u m a amostra de referência ( h o m o z i g o t o T n c sítio p o l i m ó r f i c o ) , u m a
a m o s t T a m u t a n t e ( h o m o z i g o t o C ) e u m a amostra m u t a n t e heterozigota ( T e C).

mento de D N A no laboratório clinico é mais comumente usado requer eletroforese. E m vez disso, os dNTPs são adicionados, u m
na análise de doenças infecciosas, tais como genotipagem de H I V de cada vez, a u m molde iniciado e as adições bem-sucedidas são
quanto à resistência a drogas e de H C V para estabelecer prognós- monitoradas por luminescência.
tico e tratamento apropriados. Q u a n d o uma alteração de D N A cobre uma região grande que
O minisseqüenciamento, também conhecido como extensão não é facilmente amplificada por PCR, a análise por Southern
de primer de uma única base o u extensão de u m único nucleotí- blot pode ser usada para detectar a alteração. N o Southzm bfotting
deo (SNE), identifica a seqüência de bases p r ó x i m a a u m primet a amostra de D N A original (em lugar de u m fragmento amplifi-
de oligonucleotideo. Q u a n d o hibridizado ao p r o d u t o de PCR cado) é digerida por uma endonuclease de restrição, separada por
fita simples, a extensão enzimática do primer em presença de eletroforese em agarose, e transferida para u m suporte sólido
terminadores de didesoxinucleotídeos marcados identifica a base seguida por visualização seletiva dos fragmentos por hibridização
incorporada. Os ensaios de SNE podem ser do tipo multiplex com sondas marcadas. A análise de Southern blot revela polimor-
em seqüenciadores automáticos de D N A , variando-se os compri- fismos na seqüência de D N A baseada no perfil RFLP tornado
mentos dos primers de forma que o SNP seja resolvido pelo visível pelas sondas. Ela também pode detectar alterações estru-
t a m a n h o em uma corrida eletroforétíca. Os ensaios de extensão turais grandes, tais como deleções, duplicações, inserções e rear-
também p o d e m ser detectados por detecção colorimétrica em ranjos. O Southern fclotting é trabalhoso e muito mais demorado
placas de microtitulação, sistemas de detecção de captura do do que a PCR. Norcfiern biotting é uma técnica análoga que usa
p r o d u t o em microarranjos de D N A , ensaios de hibridização em R N A em lugar de D N A .
esfera detectados por cítometria de fluxo, polarização de fluores-
cência baseada em solução e espectrometria de massa.
Avanços técnicos recentes permitem o seqüenciamento de Hibridização
u m genoma bacteriano inteiro em uma única operação. A ampli- A hibridização de ácidas nucléicos fita simples para formar híbri-
ficação paralela intensa em folônias (colônias de PCR) microscó- dos dupla-fita específicos fornece u m nível m u i t o alto de discri-
picas o u gotículas de emulsão 6 é seguida por reações de extensão minação. O processo requer (1) que a sonda e os ácidos nucléicos-
que são observadas com fluorescência ou jjirosse^üenciíimÉTitci. O alvo sejam misturados sob condições que permitam o pareamento
pirosseqüenciamento, o u o seqüenciamento por síntese, não específico de bases complementares e (2) que exista u m método
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 289

para detectar quaisquer ácidos nucléicos dupla-fita resultantes. Os ensaios e m fase sólida são úteis p o r q u e amostras m ú l t i p l a s
U m a s o n d a é u m ácido nucléico cuja i d e n t i d a d e é conhecida, e p o d e m ser processadas juntas, f a c i l i t a n d o o controle, a lavagem e
alvo o u amostra é u m ácido n u c l é i c o cuja i d e n t i d a d e o u abundân- os p r o c e d i m e n t o s de separação. A hibridização e m suporte sólido
cia é revelada pela hibridização. E m u m ensaio de hibridização, é, n o entanto, menos eficiente d o que a hibridização em solução,
a sonda é análoga e m sua f u n ç ã o e i m p o r t â n c i a ao a n t i c o i p o em e as cinéticas são mais lentas e mais difíceis de se predizer. A m b o s
u m i m u n o e n s a i o . C o m o anticorpos nos imunoensaios, as sondas os ensaios, em fase sólida e em fase l í q u i d a , são usados rotineira-
p o d e m ser não marcadas o u marcadas c o m u m a das i n ú m e r a s m e n t e em l a b o r a t ó r i o clínico. Os ensaios e m fase sólida i n c l u e m
moléculas reveladoras, d e p e n d e n d o da técnica usada para detec- dot fclots, sondas alinhadas, arranjos, hibridização in si tu para amos-
tar a hibridização. As sondas p o d e m ser clonadas ( r e c o m b i n a n - tras de tecido, e Southern e Northern blotiing.
tes), geiadas p o r P C R , o u sintetizadas (oligonucleotídeos). Elas Os ensaios de h i b r i d i z a ç ã o e m m e m b r a n a s são conhecidos
p o d e m ser D N A o u R N A , e f i t a simples o u dupla-fita. c o m o dot híots o u line probes, d e p e n d e n d o da geometria das
As reações de hibridização p o d e m ser divididas em duas manchas i n d i v i d u a i s . A m e m b r a n a é i n c u b a d a c o m ácido n u c l é i c o
grandes categorias: fase sólida, n a qual a sonda o u o alvo é preso c o m p l e m e n t a r a u m a t e m p e r a t u r a constante, seguido p o r u m a
a u m suporte sólido e n q u a n t o o o u t r o está em solução, e h i b i i d i - o u mais lavagens para d i s c r i m i n a r o ácido nucléico h i b r i d i z a d o
zações em fase liquida, na q u a l ambos estão em solução. U m tanto do n ã o - h i b r i d i z a d o . O m é t o d o p e r m i t e que m ú l t i p l a s hibridiza-
surpreendente é o fato de os ácidos nucléicos ligados à matriz ções de sonda-alvo sejam realizadas s i m u l t a n e a m e n t e sob c o n d i -
sólida p o d e r e m ainda se ligar a ácidos nucléicos complementares. cões idênticas. Os resultados de u m ensaio de dot blot o u de line

Excitaçaa
Teste Refeiência Laser 2
Laser 1

Transcrição
reversa

Marcar com
corantes
fluorescentes

V - Monocromo

H Vermelho
G Verde
Y Amarelo
Cor
^ £ * 5 l = H s 5j ! i I s s| í ; i ü

Hibridizar com
o microarranjc
J
Combinado

T
Análise por
computador

Figura 17-16 Experimento de microananjo com duas cores U m ananjo de clones de D N A afixado em uma
lâmina de vidro. Os R N As mensageiros nas amostras-teste e referência são convertidos em c D N A difetencialmente
marcados por transcrição reversa e incorporação de dois corantes fluorescentes diferentes. As duas amostras são
hibndizadas juntas n o arranjo. O arranjo é lavado e a imagem é capturada duas vezes, cada uma com u m Use? de u m
comprimento de onda que excita u m dos corantes, mas não o outro. As imagens monocromáticas são, então,
convertidas a duas cores (verde para a amostra-teste [G] e vermelho para a referência [R]), e as imagens são combinadas.
Se a quantidade de c D N A é a mesma em cada uma das duas amostras, então a mancha composta será mostrada como
amarelo [Y]. Se uma está em maior abundância, então aquela cor será preservada. Regulações positiva (wf>regMÍ£ttioTi) ou
negativa (íiownTegulation) da expressão gêmea são, então, analisadas por programa de computador.
290 PARTE IV Analitos

prabe geralmente são qualitativos: caso a hibridização tenha ocor- terceiro canal monitora a hibridização. Todos os canais podem ser
rido, u m sinal é gerado na mancha especificada e uma interpre- lidos simultaneamente utilizando-se u m citômetro de fluxo.
tação simples de sim ou não é dada. A hibridização in situ é u m cipo especializado de ensaio de
Os microarranjos (também chamados arranjos de D N A ou suporte sólido no qual tecidos morfologicamente intactos, células
chips de D N A ) com milhares de manchas de hibridização peque- ou cromossomos afixados a uma lâmina de vidro fornecem a
nas foram introduzidos em meados dos anos 1990.11 Os micro- matriz para a hibridização. O processo é análogo à ímunoistoquí-
arranjos requerem equipamentos de detecção especializados, mica, exceto pelos ácidos nucléicos serem usados como sondas
programa de computador e informática para analisar os dados. em lugar de anticorpos. A força do método conta com a ligação
Eles são construídos em superfícies sólidas (geralmente em vidro, entre a avaliação morfológica e a detecção de seqüências especí-
mas algumas vezes em outros suportes, tais como blocos de gel ficas de ácido nucléico. Quando sondas fluorescentes são aplica-
ou superfícies cobertas com ouro) por síntese in situ de oligo- das a esfregaços de cromossomos metafásicos ou núcleo interfá-
nucleotídeos ou por posicionamento físico das sondas com a sico, a técnica é chamada hibridização in situ fluorescente ou
ajuda de equipamento de arranjo robótico ou de impressão ele- FISH. A detecção de aberrações numéricas ou translocações de
trônica. Por causa de sua expressiva capacidade paralela, os micro- cromossomos pode ser rapidamente atingida. F I S H também
arranjos têm atraído enorme interesse entre os pesquisadores que pode estar combinada com imunoistoquímica, de forma que a
querem monitorar o genoma inteiro para (1) identificação de informação a respeito tanto de quantidade de expressão de pro-
polimorfismos e mutações de seqüência e (2) quantificação de teína quanto de dosagem gênica pode seT obtida na mesma
expressão gênica. U m exemplo de u m microarranjo de duas cotes lâmina.
para expressão gênica é mostrado na Figura 17-16. Estudar a
expressão gênica em tumores pode levar à descoberta de novos
marcadores de diagnóstico o u prognóstico e de novos alvos tera- PCR em Tempo Real
pêuticos. A promessa dos microarranjos é acompanhada por N a PCR em tempo real, os dados são coletados durante a ampli-
desafios, incluindo a necessidade de requerimentos estritos de ficação do ácido nucléico e não em u m único ponto final (Figura
controles e de bom desenho experimental. 17-17). A hibridização em solução é combinada com amplifica-
Seguindo o advento dos microarranjos de alta densidade, os ção, detecção e quantificação, todas no mesmo tubo. Esses
arranjos de densidade menor foram introduzidos, sendo capazes ensaios em tubo fechado e em tempo real não requerem quais-
de processar ainda mais reações de hibridização do que os forma- quer adições, lavagens ou etapas de separação. A técnica usa
tos clássicos de dot blot ou de line probe. moléculas reveladoras fluorescentes e instrumentação, que regis-
Algumas vezes chamadas arranjos de densidade média, essas tra a fluorescência durante a ciclagem térmica. Os dados obtidos
ferramentas estão emergindo no laboratório clínico para doenças fornecem informação sobre identidade, quantidade e seqüência
genéticas, oncologia e farmarogenética para analisar amostras da amostra de ácido nucléico. Os corantes ou sondas fluorescen-
quanto a múltiplas mutações. Muitas companhias estão envolvidas tes capazes de sinalizar a quantidade relativa de D N A são adicio-
no fornecimento de sistemas de microarranjo e de arranjo de nados à mistura de PCR antes da amplificação. O mesmo tubo
densidade média, e a indústria está mudando rapidamente. Os de reação é usado pata amplificação e monitoramento de fluo-
arranjos não precisam estar presos a uma superfície bidimensional, rescência, e não existem transferências de amostra, adições de
desde que seus "endereços" possam ser decodificados. Por exemplo, reagente ou etapas de separação em gel, eliminando, assim, o
microesferas podem ser codificadas por intensidade de fluorescên- risco de contaminação de produto nas reações subseqüentes.
cia era dois canais diferentes, e n q u a n t o a fluorescência em um C o m o ü processo é simples e rápido, a PCR em tempo real está

Detecção • Identificação Figura 17-17 Monitoramento em


Quantificação do Produto tempo real durante a amplificação e a
• Identificação análise da desnaturação. O painel inferior
do Alelo mostra u m perfil de temperatura de um
ciclo rápido Hpico que é seguido por uma
rampa da temperatura para análise de
desnaturação. Quando a fluorescência é
monitorada durante a amplificação, uma
10 20 30 70 ao 90
Ciclos Temperatura , °C) vez a cada ciclo (iiíitas pontilhadas), ela
fornece informação sobre a presença o u
ausência de seqüências-alvo específicas,
permitindo a quantificação do alvo.
Amplificação Análise de desnaturação Q u a n d o a fluorescência é continuamente
monitorada através da fase de desnaturação
{área sombreada), ela pode fornecer
informação que verifique a identificação do
alvo ou estabeleça o genótipo. (Modificado
com permissão do editor de W i t t w e r CT,
Kusukawa N . Real-time PCR. In: Persing
D H , Tenover FC, Versalovic ], Tang Y W ,
Unger ER, Relman D A , W h i t e TJ, eds.
Molecular microbiology: diagnosric

10 30 principies and practice, Washington, D C :


15
Tempo (minutos) A S M Press, 2004:71-84.)
Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 291

substituindo muitas técnicas convencionais no laboratório de sonda é que a análise de desnaturação é possível com sondas
clínico. de hibridização, mas não com sondas que tenham sido hidroli-
A PCR em tempo real usa corantes fluorescentes como SYBR sadas. Quando a fluorescência é monitorada uma vez a cada ciclo
Green I, que cora o D N A dupla-fita produzido durante a ampli- em presença de SYBR Green I, observa-se a curva em forma de
ficação, ou sondas marcadas com fluorescência, que hibridizam S esperada (Figura 17-18). N o entanto, com as sondas de hidró-
com produto fita simples. Se o DNA-alvo estiver presente, a lise, a fluorescência é cumulativa e continua a aumentar mesmo
fluorescência aumentará. O momento, durante a PCR, no qual após a quantidade de p r o d u t o atingir u m platô. Por outro lado,
se começa a ver u m sinal depende da quantidade inicial do D N A - reações monitoradas com sondas de hibridização podem mostrar
alvo, e isso fornece u m método sistemático de quantificação. u m decréscimo na fluorescência em u m número alto de ciclos.
A l é m disso, quando a fluorescência é monitorada continua- Apesar dessas diferenças, todos esses métodos podem ser usados
mente, à medida que a temperatura é elevada uma curva de para detecção e quantificação. A detecção multiplex (múltiplas) é
desnaturação pode ser gerada. Freqüentemente a primeira deri- possível com sondas que são marcadas com corantes de tonalida-
vada dessa curva de desnaturação é plotada para ajudar visual- des diferentes ou com sondas que tenham temperaturas de des-
mente uma pessoa a determinar a posição da temperatura de naturação distintas.
desnaturação A análise de desnaturação pode ser usada para U m sinal fluorescente que aumenta durante a PCR e segue
verificar a identidade do produto amplificado e para detectar uma das formas de curva esperadas sugere que o alvo específico
variantes de seqüência tão baixas quanto às de uma única base. está presente e foi amplificado. A o contrário, u m sinal que per-
PCR em tempo real e análise de desnaturação podem ser consi- manece nos níveis iniciais mesmo após 40 a mais de .50 ciclos de
deradas como ensaios de hibridização "dinâmicos", nos quais a PCR sugeTe que o alvo está ausente e que nenhuma amplificação
formação ou a dissociação do duplex sonda-alvo (ou produto ocorreu. A análise de desnaturação pode ser usada para verificar
duplex) é monitorada em tempo real. a amplificação do produto esperado pela temperatura de desna-
O uso de sondas fluorescentes na PCR fornece u m nível a turação (Tm) de uma sonda ou do produto se o sinal fluorescente
mais de especificidade do processo. Sondas fluorescentes que for reversível. Exemplos no laboratório clínico incluem multipli-
hibridizam com produtos de P C R durante a amplificação alteram cidade de sondas para detectar a presença de mais de u m orga-
a fluorescência por dois possíveis mecanismos: (1) uma ligação nismo infeccioso ou para discriminar u m molde de controle
covalente entre dois corantes é quebrada por hidrólise, ou (2) a interno do alvo.
alteração de fluorescência segue a hibridização reversível da A PCR em tempo real oferece uma abordagem conveniente
sonda com o alvo. De acordo com essa diferença, quando uma e sistemática de quantificação por m o n i t o r a i a quantidade de
ligação covalente irreversível está envolvida as sondas são chama- p r o d u t o a cada ciclo. U m a de suas vantagens é sua grande faixa
das .sondas de hidrólise. Q u a n d o as sondas m u d a m de forma rever- dinâmica. A Figura 17-19 mostra u m a faixa estendida de calibra-
sível, a fluorescência na formação do duplex, elas são chamadas dores externos em uma PCR em tempo real típica. A medida que
sondas de hibridização. U m a diferença importante entre dois tipos a concentração inicial do molde aumenta, as curvas m u d a m para

Especificidade = Primer Especificidade = Seqüência Interna

Corante do dsDNA Hidrólise da Sonda Hibridização da Sonda


A fluorescência aumenta O sinal do fluoróforo é liberado A fluorescência aumenta por
quando o corante se liga ao de seu quencher (supressor) transferência de energia de
produto de DNA dupla-fita per hidrólise da sonda ressonância, quando as sondas
hibridizam com o produto

Monitora-
mento de
Cada Ciclo
de PCR

Ciclo Ciclo Ciclo

do Produto
;*\Tr i üü S u m i a
Monitora- \\> «

mento
Contínuo \
da PCR u x \

Temperatura (°C) Temperatura (°C) Temperatura (°C)

Figura 17-18 M o n i t o r a m e n t o em tempo real. A linha superior mostra os dados coletados uma vez a cada
ciclo de PCR, e a linha inferior mostra os dados coletados continuamente (cinco vezes por segundo) durante
todos os ciclos de PCR. Três diferentes sistema identificadores são mostrados (Modificado com permissão do
editor de Wittwer CT, Kusukawa N. Real-time PCR, In: Persing DH, Tenover FC, Versalovic ], Tang YW, IJnger
ER, Relman D A , W h i t e TJ, eds. Molecular microbiology: diagnostic principies and practice, Washington, D C :
A S M Press, 2004:71-84.)
292 PARTE IV Analitos

1.2"
A— ioio
o— 10®
1.0-
-o— 10 a
U •
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2 0.8 f
O -1— 10*
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9 Mn -»— 103
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' l 7 r •/ J f • / y — 1
A • p J" > y j f jA
n i i f l f V r f í Y i i I n í t t i » « t f í i t T • ** — o

Figura 17-19 Quantificação por PCR em tempo real. São


mostradas as curvas em tempo real típicas das reações de
amplificação de concentrações variáveis de alvo inicial (painel
A), e o log da concentração inicial plotada contra o número de
ciclos no qual o sinal aumenta acima do valor basal (painel B).
(Modificado com permissão do editor de Wíttwer CT,
Kusukawa Kl. Real-timc PCR. In: Persing D H , Tenover FC,
VeTsalovic J, Tang YW, Unger ER, Relman D A , W h i t e TJ, eds.
10 20 30 40 Molecular microbiology: diagnostic principies and praccice,
Ciclo Washington, D C : A S M Press, 2004:71-84 )

Resultado da
N° Necessário
Curva de
Sondas Marcadores Modelo Desnaturação

A
í
Dois Dais -G-
y /v
s
Sondas Adjacentes

A Figura 17-20 Quatro formas de genotipagem de SNP por

Um
t f \ análise de desnaturação. O tradicional modelo de hibridização
Um -G— /A'. de sonda (linha supetior) usa u m par de sondas, uma marcada
-c— ya i i V

S o n d a Única
/ \ com um f l u o r ó f o r o aceptor (círculo A) e a outra com u m
fluoróforo doador (círculo D). O modelo de hibridização de
sonda única (segunde linha) não usa a segunda sonda. O
modelo de desnaturação do amplicon (terceira linha) usa um
Corante corante de ligação ao D N A dupla-fita saturante. Os dois
/ Ã \
ri homozigotos, embora próximos em T m , podem ser
• / \ \

Nenhum Nenhum diferenciados com instrumentos de alta resolução, e o


•V hetro zigoto tem uma transição de temperatura baixa adicional
Desnaturação
do Amplicon causada por heteiodúylices. O modelo de sonda não-marcada
(linha in/erior), similar á desnaturação do amplicon, não requer
u m marcador fluorescente covalentemente ligado e requer u m
Corante A, corante de ligação ao D N A saturante. Entretanto, como uma
sonda é usada, as curvas de desnaturação resultantes são mais
Um Nenhum — facilmente separadas do que com a desnaturação do amplicon.
O homozioto do alelo G (ImJia tracejada na coluna mais ã
v \ direita), o homozigoco do alelo A (linha pontiEfwXíia) e o

Sonda N ã o - m a r c a d a heterozigoto G A (linria sdliáa).


Ácidos Nucléicos CAPÍTULO 17 293

os ciclos anteriores. O grau da m u d a n ç a depende da eficiência ligação ao D N A saturante. O p e r f i l de desnaturação do p r o d u t o


da P C R . O ciclo em que a fluorescência a u m e n t a acima dos de P C R é usado para a genotipagem e p o d e ser o b t i d o em apenas
níveis iniciais se correlaciona inversamente c o m o íog da c o n c e n ' 1 a 5 m i n u t o s . Aparelhos de desnaturação de alta resolução são
tração de m o l d e inicial. Esse " c i c l o " é, de fato, u m ciclo vníual melhores para essas " g e n o t i p a g e m de a m p l i c o n " . F i n a l m e n t e , a
q u e i n c l u i u m c o m p o n e n t e parcial d e t e r m i n a d o p o r interpola- ú l t i m a l i n h a m o s t r a u m desenho c o m u m a sonda não-matcada
ção, que p o d e ser calculado p o r vários métodos. Talvez o uso e u m corante de ligação ao D N A saturante. Os dois ú l t i m o s
c l í n i c o mais p o p u l a r da P C R em t e m p o real seja na avaliação de m é t o d o s são vantajosos pelo fato de os oligonucleotídeos marca-
carga virai, p a r t i c u l a r m e n t e de H I V e H C V . A necessidade clínica dos c o m fluorescência não serem necessários. A análise de des-
de quantificação é b e m estabelecida e os m é t o d o s em t e m p o real naturação c o m corantes saturantes t a m b é m p o d e ser usada para
f o r n e c e m respostas rápidas e precisas. E n t r e t a n t o , outros sistemas detectar heterodúplices (variação de seqüência d e n t r o de u m
de amplificação, p a r t i c u l a r m e n t e os m é t o d o s baseados e m trans- a m p l i c o n ) n o rastreamento de mutação. 9 A vantagem d o rastrea-
crição e D N A r a m i f i c a d o , são t a m b é m aceitos nesse campo alta- m e n t o de m u t a ç ã o p o r desnaturação é que n e n h u m a separação
m e n t e c o m p e t i t i v o . O u t r a s aplicações quantitativas de P C R em é necessária, sendo a análise realizada n o m e s m o t u b o de P C R .
t e m p o real i n c l u e m a quantificação de m R N A s (após transcrição
reversa), e m estudos de expressão gênica e avaliação de dosagem
gênica, na genética e oncologia. RESUMO
Existem m u i t o s métodos de análise de ácidos nucléicos e o
Análise de Desnaturação m é t o d o escolhido depende de diversos fatoies, i n c l u i n d o exigên-
N ã o apenas amplificação, detecção e quantificação p o d e m ser cias de cempo para realização e de r e n d i m e n t o . A necessidade da
realizadas p o r hibridização h o m o g ê n e a , mas informações de
pesquisa genômica de grande v o l u m e é diferente daquela de u m
genotipagem detalhadas t a m b é m p o d e m ser obtidas. A genotipa- l a b o r a t ó r i o de referência clínica, u m a clínica médica o u os labo-
gem é mais b e m realizada n o m e s m o t u b o p o r m o n i t o r a m e n t o
ratórios S T A T do f u t u r o . A análise de ácidos nucléicos é u m
da desnaturação dos dúplices h i b i i d i z a d o s d u r a n t e o aqueci- campo que se desenvolve r a p i d a m e n t e na m e d i c i n a laboratorial,
m e n t o c o n t r o l a d o , p r o d u z i n d o u m a curva de desnaturação
i m p u l s i o n a d a pela promessa de c o n f e r i r u m grande r e t o r n o . O
p r ó p r i a d o duplex. Tal característica m o n i t o r a a ligação do d ú p l e x t r a t a m e n t o c o m drogas p o d e ser ajustado para cada i n d i v í d u o
e m u m a faixa de temperaturas, ao c o n t r á r i o da análise em u m a
pelos testes moleculares apropriados? Os biochtps de diagnóstico
ú n i c a t e m p e r a t u r a das técnicas convencionais de hibridização,
p o d e m ser comparados c o m a revolução m i c r o e l e t r ó n i c a , conti-
tais c o m o dot falots o u m i c r o arranjos. As vantagens das curvas de
n u a n d o a fornecer mais i n f o r m a ç ã o a u m custo menor? O
desnaturação completas t a m b é m se a p l i c a m q u a n d o se conside-
seqüenciamento d o genoma c o m p l e t o para a análise de predis-
r a m somente técnicas homogêneas. Por exemplo, os métodos em
posição i n d i v i d u a l toinar-se-á u m a realidade? Técnicas simples,
t e m p o real que d e p e n d e m da h i d r ó l i s e para geração de sinal e / o u
poderosas e c o m custo-benefício c o n t i n u a r ã o a expandir nosso
aqueles que a d q u i r e m dados s o m e n t e e m u m a temperatura geral- e n t e n d i m e n t o sobre a complexidade dos ácidos nucléicos e sua
m e n t e resultam e m mais erros de genotipagem. A amplificação
f u n ç ã o central na vida. Os detalhes técnicos de muitas das técni-
em t e m p o real e a análise de desnaturação caracteiizam u m a cas i n t r o d u z i d a s aqui p o d e m ser encontrados e m outras fontes
c o m b i n a ç ã o poderosa de técnicas que r e q u e r e m apenas c o n t r o l e
bibliográficas. 1 5
de t e m p e r a t u r a e amostragem de fluorescência. M u i t a s outras
técnicas de genotipagem r e q u e r e m separação complexa e / o u
e q u i p a m e n t o de detecção após a P C R . A P C R e m t e m p o i e a l REFERÊNCIAS
c o m análise de curva de desnaturação p e r m i t e detecção, quanti- I. Blasco M A . Telomeres and h u m a n disease; ageing, cancei and beyond.
ficação e genotipagem em m e n o s de 3 0 m i n u t o s (Figura 17-17) N a t R e v G e n e t 2005,6 611-22.
sem processamento secundário o u e q u i p a m e n t o adicional. 2. C o n n GL, Draper DE. R N A scructure C u t r O p i n Stiuct Biol
Q u a n d o a fluorescência é m o n i t o r a d a c o n t i n u a m e n t e d e n t r o 1998;8.278-85.
de cada ciclo de P C R , as características de hibridização dos pro- 3. Grewa.1 SI, Moazed D Hecerochromatin and epigenetic control of gene
dutos de P C R e sondas p o d e m ser observadas (Figura 17-18, expression. Science 2003;301:798-802.
painéis inferiores). C o m S Y B R G r e e n I , as características de 4 Jones PA, Baylin SB. The fundamental role of epigenetic events i n
desnaturação do D N A a m p l i f i c a d o p o d e m i d e n t i f i c a r o p r o d u t o . câncer. N a l Rev Genet 2002;3:415-28.
N e n h u m a i n f o r m a ç ã o de hibridização é o b t i d a c o m sondas de 5 Khorasanizndeh S T h e nucleosome: í r o m genomíc organization to
h i d r ó l i s e , embora a desnaturação de sondas de hibridização seja genomíc regulation. Celi 2004; 116:259-72

i m e d i a t a m e n t e visível. A desnaturação da sonda ocorre e m u m a 6. Margulies M , Egholm M , A l t m a n W E , Attiya S, Bader JS, Bemben LA,

temperatura característica que p o d e ser explorada para c o n f i r m a r et al. Genome sequencing i n microfabricated high-density picolitre
xeacturs. Narure 2005,437.376-80.
a i d e n t i d a d e do alvo e analisar alterações de sequência sob a
7 M i t r a R D , Butty V L , Shendure J, W i l l i a m s B R , H o u s m a n D E , Church
sonda. Para análise de r o t i n a n o l a b o r a t ó r i o clínico, u m a única
G M . Digital genocyping and haplocyping w i t h polymerase colomes. Proc
curva de desnaturação geralmente é realizada ao f i n a l da P C R e m
N a t l Acad Sei U S A 2003;100:5926-31.
vez de m o n i t o r a r a hibridização ao l o n g o de t o d o o processo.
8. Perlcins TT, Quake SR, Smith D E , C h u S. Relaxation of a single
A genotipagem p o r análise de curva de desnaturação p o d e
D N A m o l e m l e observed by optical microscopy. Science 1994.264
ser o b t i d a p o t u m a v a r i e d a d e d e m é t o d o s c o m s o n d a e c o r a n t e .
822-6.
A l i n h a superior da Figura 17-20 mostra o desenho de pares de
9. Reed G H , W i t t w e r C T Sensitivity and specificity of single-nucleotide
sonda de hibridização tradicionais e os Tesultados de amostras
polymorpbism scanning by high-resolution melting analysls. C l í n C h e m
homozigotas selvagens, m u t a n t e s e heterozigotas, que são b e m 2004 ; 50-1748-54
discriminadas umas das outras. O m e s m o resultado p o d e ser 10 Sarki RK, G e l f a n d D H , Stoffel S, Scharf SJ, H i g u c h i R, H o r n GT, et al,
o b t i d o usando-se u m a única sonda de hibridização na q u a l o PtimeT-directed enzymatic amplification o f D N A w i t h a thermostable
sinal fluorescente é d i f e r e n c i a l m e n t e s u p r i m i d o na hibridização D N A polymerase. Science 1988;239.487-91.
(segunda linha). A terceira l i n h a mostra ura desenho n o q u a l I I . Sanger F, N t c k l e n S, Coulson A R , D N A sequencing w i t h chain-
n e n h u m a sonda é usada e o sinal é f o r n e c i d o p o r u m corante de terminating inhibitors. Proc N a t l Acad Sei U S A 1977,74.5463-7-
294 PARTE IV Analilos

12. Schena M , Shalon D , Davis KW, Brown PO. Quantitative monitoring o f 14- Seuss D . The cat i n the hat comes back! New York: Random House,
gene expression pattems w i t h a complementaiy D N A microarray. 1958.
Science 1995;270-46^70 15 Wittwer CT, Kusukawa N Nucleic acid cechniques. In: Bruris D,
13. Schouten ]P, McElgunn C], Waaijer R, Zwijnenburg D , Diepvens F, Pais Ashwood E. Burtis C, eds. Fundamentals of molecular diagnostics.
G. Relative quantifica tion of 40 nucleic acid sequences by multiplex Sr Louis: Saunders, 2007.46-79
ligation-dependent probe amplification. Nucleic Acids Res 2002;30:e57.
CAPÍTULO 1 8

Aminoácidos e Proteínas*
A. Myron Johnson, M.D.

OB-ETIVOS ligação ao antigeno); existem cinco classes de


1. Descrever a estrutura química básica de um aminoácido. i m u n o g l o b u l i n a ( I g A , I g D , IgE, I g G e I g M ) .
2. Explicar a formação (polimerização) de um peptídio a partir de Ligação P e p t í d i c a : Ligação amida f o r m a d a entre o g r u p a m e n t o
carboxila de u m a m i n o á c i d o e o g r u p a m e n t o a m i n a de u m
aminoácidos.
outro aminoácido.
3- Descrever a principal fonte de aminoácidos.
O l i g o p e p t í d i o : U m a cadeia relativamente c u r t a de a m i n o á c i d o s
4. Descrever o ciclo metabólico dos aminoácidos
(três a cinco resíduos).
5. Definir os seguintes termos:
P a r a p r o t e í n a : U m a proteína plasmática a n o r m a l que aparece
• Proteína
em grandes quantidades c o m o resultado de u m a c o n d i ç ã o
• Globulina
patológica; t a m b é m conhecida c o m o u m a proteína do
• Imunoglobulina mieíoma ( M C ) .
• Reação de fase aguda P o l i p e p t í d í o : U m a cadeia de a m i n o á c i d o s q u e c o n t é m
• Paraproteína a p r o x i m a d a m e n t e 6 a 30 resíduos.
• Proteína do complemento P r o t e í n a : Q u a l q u e r u m dos grupos de compostos orgânicos
6. Descrever a bioquímica, a função e a importância clínica dos complexos que c o n t e n h a m c a r b o n o , h i d r o g ê n i o , oxigênio,
aminoácidos e das proteínas. n i t r o g ê n i o e, geralmente, enxofre (o elemento característico
7. Descrever os quatro estágios da estrutura de uma proteína. é o n i t r o g ê n i o ) e estão a m p l a m e n t e d i s t r i b u í d o s em plantas
8. Comparar proteínas "fibrosas" e proteínas "globulares" e dar e animais.
exemplos de cada uma delas. P r o t e í n a de Bence-Jones: U m a p r o t e í n a plasmática o u u r i n á r i a
9. Listar as principais proteínas plasmáticas e imunogiobulinas. a n o r m a l que consiste em cadeias leves de i m u n o g l o b u l i n a
10. Listar as técnicas que são utilizadas para avaliar aminoácidos e m o n o c l o n a l , e x c r e t a d a em algumas doenças neoplásicas e
proteínas em fluidos corporais e descrever os princípios dessas caracterizada p o r suas propriedades m c o m u n s de
técnicas. solubilidade, já que precipita sob a q u e c i m e n t o a 5 0 ° C a
6 0 ° C e redissolve a 9 0 ° C a 100°C.
11. Descrever o principio da imunofixação e os padrões de migração
das proteínas plasmáticas. P r o t e í n a C o n j u g a d a : U m a proteína q u e c o n t é m u m o u mais
grupos prostéticos.
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES P r o t e i n a G l o b u l a r : U m a proteína c o m u m a m o r f o l o g i a
compacta que é solúvel em água o u soluções salinas,
A m i n o á c i d o : U m c o m p o s t o o r g â n i c o que c o n t é m ambos os
P r o t e í n a s Plasmáticas: Proteínas presentes n o sangue,
grupamentos f u n c i o n a i s a m i n o ( - N H 2 ) e carboxila
i n c l u i n d o proteínas transportadoras, f i b r i n o g ê n i o e o u t r o s
(-COOH).
fatores de coagulação, componentes do c o m p l e m e n t o ,
A m i n o á c i d o s Essenciais: A m i n o á c i d o s q u e não p o d e m ser
i m u n o g i o b u l i n a s , i n i b i d o r e s de enzimas e m u i t o s outros; a
sintetizados pela m a i o r i a dos mamíferos e, p o r t a n t o , são
m a i o r i a é e n c o n t r a d a em o u t r o s f l u i d o s corporais, mas e m
considerados constituintes essenciais da dieta para a
concentrações menores.
m a n u t e n ç ã o da saúde o u crescimento.
Reação de Fase A g u d a : Resposta d o c o r p o a u m a lesão o u
C o m p l e m e n t o : U m sistema f u n c i o n a l m e n t e associado,
i n f l a m a ç ã o , i n c l u i n d o febre, leucocitose e alterações de
c o m p r e e n d e n d o pelo m e n o s 20 proteínas séricas distintas,
proteínas.
que ajuda a destruir células estranhas identificadas pelo
sistema i m u n e .

A
G r u p o P r o s t é t i c o : U m a estrutura não-polipeptídica que está minoácidos, peptídios e proteína d e s e m p e n h a m funções
f o r t e m e n t e ligada à p r o t e í n a e é necessária à atividade de cruciais e m praticamente t o d o s os processos biológicos,
uma enzima o u o u t r a p r o t e i n a . c o m os a m i n o á c i d o s sendo as unidades estruturais básicas
I m u n o d e f i c i ê n c i a : D e f i c i ê n c i a o u incapacidade de certas partes das proteínas. 2 , 3 M u i t a s mutações genéticas r e s u l t a m na i n c o r p o -
d o sistema i m u n e para f u n c i o n a r , o que t o m a u m ração, nas proteínas, de a m i n o á c i d o s que p o d e m alterar as taxas
i n d i v í d u o suscetível a certas doenças que ele o u ela, de de síntese, a secreção o u o m e t a b o l i s m o das proteínas e suas
f o r m a geral, n ã o d e s e n v o l v e r ! a . funções. A l é m disso, existe u m grande n ú m e r o de a n o r m a l i d a d e s
I m u n o g i o b u l i n a s : U m a classe de proteínas, t a m b é m são herdadas d o m e t a b o l i s m o de a m i n o á c i d o s ( C a p í t u l o 44).
conhecidas c o m o anticorpos, sintetizadas pelas células B do Este capítulo i n c l u i discussões de (1) a m i n o á c i d o s , (2) proteí-
sistema i m u n e e m resposta a u m a n t i g e n o específico, nas e (3) técnicas analíticas usadas para analisar proteínas.
c o n t e n d o u m a região q u e se liga a esse antigeno (sítio de
AM INOÁCI DOS
A m i n o á c i d o s são as unidades estruturais básicas das proteínas.
O autor agradecidamente reconhece as contribuições prévias de RobeTt H. Suas medições nos f l u i d o s fisiológicos f o r n e c e m informações
Christenson Hassan M.E. A^iazy, Lawrence M. Silverman e Elizabeth M. i m p o r t a n t e s para o diagnóstico de m u i t a s condições patológicas
Rohlfs, nas quais se baseiam partes deste capítulo e herdadas.
296 PARTE IV Analitos

Bioquímica Básica Influência dos Grupos R


Os a m i n o á c i d o s são compostos orgânicos que c o n t ê m t a n t o u m Os grupos R dos diferentes a m i n o á c i d o s são responsáveis p o r
g r u p a m e n t o a m i n a ( - N H 2 ) c o m o u m g r u p a m e n t o carboxila suas propriedades especiais. Por exemplo, alguns grupos R são
( - C O O H ) . Aqueles que aparecem nas proteínas são chamados apoiares e, p o r t a n t o , h i d r o f ó b i c o s ; outros são polares e h i d r o f í l i -
ra-aminoácidos e t ê m a f ó r m u l a empírica R C H ( N H j ) C O O H . cos (Tabela 18-1). O u t r o s ainda se t o r n a m carregados, negativa
H % - ° " (os a m i n o á c i d o s ácidos) o u positivamente (os a m i n o á c i d o s
básicos). Os grupos R p o d e m ser lineares (p. ex., valina) o u cícli-
cos (p. ex., p r o l i n a ) , pequenos (p. ex., glicina) o u volumosos (p.
Vl-C—H ex., t r i p t o f a n o ) . A densidade eletrônica p o d e ser baixa, c o m o nas
^ À \ cadeias alifáticas; o u alta, c o m o nos anéis aromáticos. Essa diver-
sidade na q u í m i c a e na estrutura dos grupos R possibilita vários
Á t o m o de carbono a
tipos de interação entre esses grupos, u m fato de grande i m p o r -
A Tabela I 8 T lista os a m i n o á c i d o s i m p o r t a n t e s para a q u í m i c a tância para a determinação da estrutura protéica.
de proteínas. O s 22 a m i n o á c i d o s listados na seção I são utilizados A l g u n s aminoácidos t ê m grupos R c o m substituintes carrega-
para c o n s t r u i r o grande n ú m e r o de peptídios e proteínas biolo- dos o u ionizáveis. Esses substituintes t ê m seus p r ó p r i o s pKs. E m
gicamente ativos que existem na natureza. B i o q u í m i c a mente, as u m p H de a p r o x i m a d a m e n t e 7, o segundo g r u p o carboxila d o
propriedades ácido-básicas características dos a m i n o á c i d o s , t a n t o ácido glutâmico ( G l u ) e do ácido aspártico (Asp) está completa-
q u a n t o a natureza diveisa de seus g r u p a m e n t o s R e suas intera- m e n t e ionizado e carregado negativamente. Nesse p H fisiológico,
ções, c o n f e r e m aos peptídios e às proteínas sua versatilidade e m a m a i o r i a dos aminoácidos básicos está p o s i t i v a m e n t e carregadai
termos de estrutura e f u n ç ã o . e n t r e t a n t o , menos de 10% das histidinas estão p o s i t i v a m e n t e
carregadas. E m p H ~ 6 , a glicina, c o m pK^ de 2,34 e p K 2 de 9,60,
Propriedades Ácido-Bâsicas t e m u m a carga l í q u i d a p r ó x i m a de zero, i l u s t r a n d o o c o m p o r t a -
As propriedades ácido-básicas dos a m i n o á c i d o s d e p e n d e m dos m e n t o ácido-base d o g r u p o de a m i n o á c i d o s c o m grupos R q u e
g r u p a m e n t o s a m i n a e carboxila ligados ao c a r b o n o Ot, e dos não t ê m substituintes ionizáveis. A s diferenças de s o l u b i l i d a d e e
g r u p a m e n t o s básicos, ácidos o u o u t r o s g r u p a m e n t o s f u n c i o n a i s propriedades ácido-básicas dos a m i n o á c i d o s f o r n e c e m a base de
representados pelo R , N a faixa de p H fisiológico de 7,37 a 7,47, sua separação p o r (1) eletroforese, (2) cromatografia de partição,
o g r u p a m e n t o carboxila de u m a m i n o á c i d o está dissociado e o o u (3) cromatografia de troca i ô n i c a (Capítulos 6 e 7). As dife-
g r u p a m e n t o a m i n a está p r o t o n a d o , c o m o se segue: renças entre a natureza q u í m i c a dos grupos R p e r m i t e m , em
alguns casos, a identificação o u a medição de a m i n o á c i d o s espe-
H cíficos p o r reações fotométricas.
H SVr/-
l H ©
nh 3
rÍ-cC i - b - coo
Ligação Peptídica
U m a ligação p e p t í d i c a é formada q u a n d o o g r u p a m e n t o a - a m i n o
À %
de u m a m i n o á c i d o é covalentemente ligado ao a-carboxila de u m
segundo a m i n o á c i d o , c o m o se segue:
Esse t i p o de m o l é c u l a ionizada, c o m a coexistência de cargas
negativas e positivas, é c h a m a d o ion dipolar o u anfólito. E m baixo H H O, ,°H
N"" HjQ
p H , u m a m i n o á c i d o está em sua f o r m a catíônica, c o m ambos os H H-íN
g r u p a m e n t o s a m i n a e carboxila p r o t o n a d o s ( - b T I - ^ e - C O O H ) . Ri— + / Rj"—•'
A m e d i d a q u e o p H a u m e n t a , o g r u p a m e n t o carboxila perde seu
p r ó r o n e a f o r m a de a n f ó l i t o aparece em t o r n o de p H 6. C o m o
h ^ k
Primeiro Segundo
a u m e n t o posterior do p H , a a m i n a - N + H 3 t a m b é m é desproto- Dipeptídio
aminoácido aminoácido
nada, r e s u l t a n d o na f o r m a a n i ô n i c a da molécula. Esse processo
para u m a m i n o á c i d o m o n o a m i n a e m o n o c a r b o x í l i c o se dá c o m o A ligação peptídica é descrita pela estrutura na área circun-
se segue: dada. Por exemplo, a glicina e a a l a n i n a reagem para f o r m a r dois
dipeptídios diferentes, glicil-alanina nu alanil-glicina. N o glicil-
C á t i o n em p H < pi Anfólito e m p H = pi  n í o n em p H > PI alanina, a alanina é d e n o m i n a d a resíduo C-terminal do p e p t í d i o ;
<±> fcü
NH 3 O NH3 O NH, o a glicina é o resíduo N-íerminal p o r q u e seu g r u p a m e n t o a m i n a está
OtP OH livre. N o alanil'glicina, as denominações são invertidas. As desig-
R—h~ê R—b -ê r—h—ê
nações C- e N - t e r m i n a l se aplicam, t a m b é m , aos p o l i p e p t í d i o s e
Í V)H li 0: H ^
às proteínas.
HiO + 2H20

Metabolismo
As constantes de dissociação (razão entre a n f ó l i t o e cátion) E m u m i n d i v í d u o saudável, a f o n t e p r i n c i p a l de aminoácidos
e K ; (razão entre a n f ó l i t o e â n i o n ) geralmente são expressas loga- para a síntese de p r o t e í n a endógena é f o r n e c i d a pela ingestão de
r i t m i c a m e n t e c o m o p K i e p K 2 , o n d e p K = - l o g K , de f o r m a proteínas da dieta. E m b o r a a m a i o r i a dos a m i n o á c i d o s seja sin-
análoga à notação de p H . U m p K é o p H n o qual quantidades tetizada i n vivo, a m a i o r i a dos mamíferos não é capaz de sintetizar
iguais das formas pTotonada (associada) e desprotonada (disso- 8 a 10 dos 2 2 a m i n o á c i d o s c o m u n s . Estes são considerados
ciada) estão presentes. O p o n t o isoelétrico, p i , é o p H n o q u a l as constituintes "essenciais" ( a m i n o á c i d o s essenciais) da dieta para
moléculas existem na f o r m a de a n f ó l i t o e têm u m a carga l i q u i d a m a n u t e n ç ã o da saúde e do crescimento, o u ambos. 9 A s enzimas
igual a zero. O p o n t o isoelétrico de u m a m i n o á c i d o n e u t r o é proteolíticas n o trato gastrointestinal a t u a m nas proteínas ingeri-
calculado a p a r t i r dos pKs de seus grupamentos a m i n a e carboxila das l i b e r a n d o a m i n o á c i d o s , q u e são, então, absorvidos d o j e j u n o
( p i = V^tpK] + pK}]). O conceito de a n f ó l i t o e suas características para o s a n g u e e, subseqüentemente, tornam-se parte da m i s t u r a
de dissociação t a m b é m se aplicam a proteínas p o r q u e a m a i o r i a de aminoácidos do c o r p o . O fígado e outros tecidos se u t i l i z a m
delas é carregada negativamente e m p H fisiológico. dessa m i s t u r a para a síntese de proteínas plasmáticas e intracelu-
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 297

T A B E L A 18-1 Aminoácidos
MW
Nome e Abreviatura m Estrutura em pH 6 - 7 Comentários

I. AMINOÁCIDOS ENCONTRADOS NA MAIORIA DAS PROTEÍNAS


Aminoácidos Hidrofóbicos; Grupos R Apoiares
Alanina 89,09 H o Substrato da ALT; o menos hidrofóbicc do grupo
Ala HqC—c—cf
I \B
KH, cr
©

Leucina 131,17 H3C H O Grupo R de cadeia ramificada; essencial; cetogênico;


Leu \VH—CH2-C- C metabolismo defeituoso na doença da urina de
NH3 "o° xarope de bardo
©

lsoleucina
lie
131,17
H3 C—CH2-ch—C—C
I I V ©
J Essencial; parcialmente cetogênico; ver Leucina, acima

CH-s NH, O
$

Valína 117,17 H3C H O Essencial; parcialmente cetogênico; ver Leucina, acima


Val CH-lz—cf
H
3C/ NH3 "O3
O

Prallna 115,13 p Importante constituinte das proteínas do tecido


Pro
Qr* \P
Gonjuntivo {p. ex., colágeno e elastina); alguns
hidroxilados a Hyp durante a síntese do colágeno;
desestabiliza as a-hélices e as estruturas 3;
contém um grupo a-imina

Metionina 149,21 H o Essencial; importante na transferência de grupos


Met HjC—s—CH 2 -CH 2 -C—é metil; fornece enxofre para outros compostos
| V 0 que contêm enxofre
NH-, O
(]>
H
Fenilalanina 165,19 / = \ o Essencial; níveis elevados na fenilcetonúria
Phe
0"°*L'v
Triptofano 204,22 Essencial; metabólitos encontrados em tumor
Trp carcinóide; contém um anel indolico; precursor
de serotonina e melatonina
ÍJ.Hj ^

Aminoácidos Hidrofílicos; Grupos Polares Não-carregados


Glicina 75,07 H 0 aminoácido mais simples; oticamente inativo;
„ i êV 0
0

Gly inserido neste grupo porque seu grupo R (um


MH 3 ° único H) é incapaz de afetar a polaridade do resto
da molécula; usado na biossíntese de purinas e
porfirinas; usado in vitro como tampão

Serina 105,09 Constituinte do centro ativo de muitas enzimas; o


Ser HO—CH,- grupo hidroxila pode ser fcstorilado

NH. O
íL

Treonina 119,12 HO H O Essencial


Thr Yh—h—é
UjC NH3 0 Q
vi)
H
°
Cisteíria 121,16 Grupo sulfidrila funcional na atividade de muitas
Cys HS—CHj—n—</ enzimas; é responsável pelas pontes dissulfeto de
peptídios e proteínas; cistina é dicisteína,
Íh,
Cys-S-S-Cys; hcmocisteína tem um carbono a mais
do que cisteína e forma homocistina
(di-homocisteína)

Continua
298 PARTE IV Analitos

TABELA 18-1 Aminoácidos - C o n t .


MW
Nome e Abreviatura (Da) Estrutura em pH 6 - 7 Comentários

Selenocisteína 168,05 ? ° Forma ativa do selênio; encontrada em muitas


Secys HSe—CHj-C—ê enzimas envolvidas em reações de oxidorredução

©
Tirosina 181.1S H o Geralmente não-essencial; irtermediário na síntese
Tyr de catecclaminas, tiroxina e melanina; grupo
HO
' \ 0 tenólico funcional; reage com o reagente de Folin
NH 3
© no exame quantitativo de proteínas

Glutamina 146,15 Forma de armazenamento de amónia nos tecidos;


H2N H O
Gin tornece o nitrogênio amida usado na biossíntese de
c—ch2-CH2— — ê
purinas e pirimidinas
0 0
nh3
©

Asparagina 132,12 H Forma de armazenamento de amónia nos tecidos


Asn C—CH ,-i: -ê
&H.
<9

Hidroxiprolina 131,13 HO . o Constituinte do colágeno — a única proteína humana


Hyp / que contém quantidades apreciáveis; excreção na
NI I- X
0G urina é usada como um indicador da metabolismo
© * da matriz óssea; contém um grupo a-imina

Aminoácidos Dicarboxilicos; Grupos R Ácidos


Ácido aspártico 133,10 O H o Co substrato juntamente com Glu da AST; usado na
Asp ch2-c—ê biossíntese de pirimidinas
e
O JJH3 O 0
©
0
Ácido glutâmico 147,13 °v V Co-substrato juntamente com Ala da ALT e com
Glu V - C i h - C H «-í:- ê Asp da AST
0 / ' I
O nh3 O
©

Aminoácidos Básicos; Grupos R Básicos


Lisina 146,19 H O Essencial; NH2 terminal denominado e-amino
Lys h3n—ch,-ch2-ch2-ch2-c—ê
® i i e
NH 3 O
©

Arginina 174,20 H O Envolvido na síntese de uréia; o grupo básico é um


Arg t - N H - C H 2 - C H r C H 2 C—ê grupo guanidina
H,/ AH
N h ,, \ > e
© $

Histidina 155,16 H O 0 grupo imidazol da histidina é o grupo-tampão


©
His HN mais importante na faixa de pH fisiológico
" ' i T v 0e
NHj
©

II. AMINOÁCIDOS DIFERENTES


Tiroxina 776,93 Hormônio da tireóide
T<
HO ;> - o

Continua
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 299

S-1 Aminoádd<\s - Crmr.

MW
Nome e Abraviatura (Da) Estrutura em pH 6-7 Comentários

Triiodotiranina 651,01 1 I Homiônlo da tireóide; mais ativo da que T4


T, " O
n o — a — o — v . ) H&r-C—ê .
% // ^

fl-Alánina 89,09 Constituinte da vitamina ãoidn pantotênico


[i-Ata H-iK—CH 2 -CH2—i

Dikjroxjfenilaianina 197.1B 110 Intermediário na sintcso tie Ccrteoolainina


DOW 0
V
J u tf>

Acido y-amlnobutirlco 103,12 Mctabólito do Gfci; um neuno transmissor


SABA* H-iN CH-.-CH->—CHj-cf' .
Ü)

Omitina 132,1 G H o Intnrmwfiãrio rw síntese da uréia


0m* U,N CH-, CHt-CH*—C—C ^
H VP

Citadina 175,19 H i intermediário na síntese da meia


\ V /
Cltr" £- Ml-C:Hr-Ui-ji—tH 2 —C—(
6
1sH3 V

Fosfosserina 185,08 Na cascina c nm ouiras fo&íoproUHiias


V0 V o
1 tf
Hú—p—o r.iij-c.'—v
lp Ih, o"

Acida pirrolidina carboxílico 129,12 .--V, O Forma cíclica do GI11, raro; usado para term na/
cadeias peptidicas, como no AAmrmlnal das
cadeias L das -,-globulinas
H

Taurina 126,14 o Formas conjugadas com 0$ ácidos biliarcs; inibem a


G c?
'O—S—CH3-CH2-NH: transmissão de impulsos norvosns
&

Ácido f>-aminDÍsobutírica 103,12 " o Piesente na urina: urn metabólito das pirimidinas
® I //
j
p-AIB* MSN—CHJ-C—C
U v»
A1.1, ALuLiU U&LLtaiiiii.i3ux.'. AST, itauurUUxj UjiLaauúiW:*:.
',\l:rtviulHT.i litiL •mix níii íiiV.il.

lares. O fígado e os r i n s t a m b é m estão ativamente envolvidos na transportadores ligados à m e m b r a n a e da concentração i atraiu-


interconversão de a m i n o á c i d o s p o r transaminação e em sua m i n a i de Na + .
degradação p o r desaminação (Figura 18-1). A desaminação Q u a n d o os mecanismos de t r a n s p o r t e se t o r n a m saturados
p r o d u z íons a m ó n i o , q u e são c o n s u m i d o s r a p i d a m e n t e na síntese o u são defeituosos, os a m i n o á c i d o s escapam pela u r i n a , resul-
de uréia, A uréia, p o r sua vez, é excretada pelos rins. t a n d o e m u m a c o n d i ç ã o conhecida c o m o a m i n o a c i d ú r i a . Três
Os a m i n o á c i d o s n o sangue são f i l t r a d o s através das m e m b r a - tipos de a m i n o a c i d ú r i a f o r a m identificados:
nas glomerulares, mas n o r m a l m e n t e são reabsorvidas nos t ú b u l o s 1. A a m i n o a c i d ú r i a de t r a n s b o r d a m e n t o ocorre q u a n d o a con-
renais p o r sistemas de t r a n s p o r t e saturáveis. O m e c a n i s m o de centração plasmática de u m o u mais a m i n o á c i d o s excede o
reabsorção é u m sistema de t r a n s p o r t e ativo dependente dos l i m i t e renal (capacidade de reabsorção).
300 PARTE IV Analitos

/ \
Aminotransferases
Aminoácidos + a-cetoglutarato Cetoácidos + glutamato NH

Y \ 1

Biossíntese de proteínas do
V Pinjvatn Glicose
Uréia
{excretada
ligado e do plasma, purinas, pelo rim)
pirimidinas, porfirinas, hormô-
nios e outras proteínas

Corpos cetônicos Acetil-CoA


Ciclo do ácido
trícarboxllíco;
fosforilação s
O,
oxidativa
Síntese de
ácidos graxos

ATP

COj + HjO

Figura 18-1 U r a esquema generalizado do metabolismo de aminoácidos n o fígado.

2. A a m i n o a c i d ú r i a renal ocorre q u a n d o as concentrações plas- cado pelo D N A . É (1) a f o r m a b i o l o g i c a m e n t e ativa d o selênio,


máticas são n o r m a i s , mas o sistema de reabsorção t u b u l a r (2) f o r t e m e n t e regulada e (3) e n c o n t r a d a nos reinos de procario-
renal tem u m defeito c o n g ê n i t o o u a d q u i r i d o . tos e eucarlotos e m sítios ativos de enzimas envolvidas e m reações
3. A a m i n o a c i d ú r i a sem l i m i t e ocorre q u a n d o quantidades de oxidorredução. M u i t o s estudos experimentais t ê m demons-
excessivas de u m a m i n o á c i d o , originadas de u m b l o q u e i o trado q u e a selenocisteína é u m a m i n o á c i d o utilizado na síntese
m e t a b ó l i c o h e r d a d o , estão presentes na u r i n a , mas as concen- de proteínas mediada p o r r i b o s s o m o . O c ó d o n de t r i n c a de bases
trações plasmáticas são essencialmente n o r m a i s , p o r q u e t o d o d o R N A mensageiro ( r n R N A ) para Secys é U G A , considerado,
a m i n o á c i d o é excretado. N o t e que as a m i n o a c i d ú r i a s sem o r i g i n a l m e n t e , c o m o u m c ó d o n de parada, mas atualmente reco-
l i m i t e , tais c o m o a h o m o c i s t i n ú r i a , não são causadas p o r n h e c i d o p o r desempenhar duas funções, d e p e n d e n d o das seqüên-
defeitos renais congênitos o u adquiridos, mas são provocadas cias adjacentes do D N A , D o z e selenoproteinas de m a m í f e r o s
u n i c a m e n t e p o r saturação do sistema de reabsorção t u b u l a r f o r a m caracterizadas, e cada u m a delas c o n t é m selenocisteína
renal n o r m a l . i n c o r p o r a d a e m resposta ao c ó d o n U G A específico.
As concentrações plasmáticas de a m i n o á c i d o s v a r i a m d u r a n t e
o dia em cerca de 3 0 % ; os valores são mais altos n o m e i o da tarde
e mais baixos n o i n i c i o da m a n h ã . Essa variação d i u r n a é parti- Implicações Clínicas
c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e q u a n d o se analisam amostras para a As a m i n o a c i d ú r i a s p o d e m ser p r i m á r i a s o u secundárias. A doença
detecção de estados heterozigóticos do m e t a b o l i s m o defeituoso. p r i m á r i a é provocada p o r u m defeito enzimático h e r d a d o ,
As concentrações plasmáticas de a m i n o á c i d o s são altas t a m b é m c h a m a d o de erro mato do metabolismo. O defeito está
d u r a n t e os p r i m e i r o s dias de vida, especialmente em neonatos localizado na via pela q u a l u m a m i n o á c i d o específico é metabo-
p r e m a t u r o s , mas t e n d e m a ser baixas e m bebês c o m b a i x o peso lizado o u n o sistema de t r a n s p o r t e t u b u l a r r e n a l específico p e l o
ao n a s c i m e n t o pelas suas idades gestacionais, sendo a causa a má q u a l o a m i n o á c i d o é reabsorvido. A a m i n o a c i d ú r i a secundária é
n u t r i ç ã o ocasionada p o r i n s u f i c i ê n c i a placentária. Os valores devida à (1) doença de u m órgão, t a l c o m o o fígado, que é u m
maternos são baixos na p r i m e i r a metade da gravidez. local ativo d o m e t a b o l i s m o de a m i n o á c i d o s , (2) disfunção t u b u l a r
A excreção de a m i n o á c i d o n a u r i n a varia c o m a idade (Figura renal generalizada, o u (3) m á n u t r i ç ã o relacionada c o m a prote-
18-2). Os bebês prematuros, especialmente d u r a n t e a p r i m e i r a ína-energia. Erros inatos do m e t a b o l i s m o específicos são discuti-
semana de v i d a , d e m o n s t r a m u m a a m i n o a c i d ú r i a renal fisioló- dos c o m mais detalhe n o C a p í t u l o 44.
gica generalizada; m e s m o e m recém-nascidos a t e r m o , a aminoa-
c i d ú r i a é mais m a r c a n t e do q u e e m adultos. N a u r i n a de adultos Análise de Aminoácidos
n o r m a i s , a g l i c i n a geralmente é a fração p r e d o m i n a n t e . O l i m i t e M u i t o s p r o c e d i m e n t o s encontram-se disponíveis para m e d i r ami-
renal para m u i t a s substâncias é reduzido d u r a n t e a gravidez, e os noácidos e m amostras biológicas. Para diagnosticar patologias, os
aminoácidos, tais c o m o h i s t i d i n a , f e n i l a l a n m a , l i s m a e tirosina, três grupos de testes seguintes para análise de a m i n o á c i d o s são
c o m u m e n t e estão presentes na u r i n a . importantes:
A selenocisteína (Secys) é u m a m i n o á c i d o de destaque espe- 1. Testes de rastreamento, i n c l u i n d o a cromatografia em camada
cial. 4 E s t r u t u r a l m e n t e , a selenocisteína é u m análogo da cisteína f i n a ( T L C ) , testes c o l o r i m é t r i c o s da u r i n a e o teste m i c r o b i o -
q u e c o n t é m selênio, reconhecida c o m o o 2 P a m i n o á c i d o codifi- lógico de G u t h r i e
Aminoácidos e Proteínas ÍAPÍTULO 18 301

Figura 18-í Cromarogramas de T L C bidimensional de urina, mostrando a variação na excreção de


aminoácidos com a idade. A, Neonato. B, Bebê. C, Adulto. 1, Alanina; 2, serina; 3, glicina; 4, glutamina; 5,
histidina; tí, lisina/ornitina.

2. Testes q u a n t i t a t i v o s para m o n i t o r a r o t r a t a m e n t o o u confir- de plasma hepariniaadn em lugar de soro e outros anticoagulan-


mar u m diagnóstico inicial. tes. O plasma deve ser desproteinizado se a análise i n c l u i r os
3. Testes específicos que i d e n t i f i c a m u m a m i n o á c i d o o u metabó- aminoácidos que c o n t ê m enxofre. C o m o algumas drogas admi-
l i t o desconhecido. nistradas à mãe antes do p a r t o o u ao bebê i n t e r f e r e m nas amos-
tras, todas as medicações devem ser registradas.
Requisitos de Amostras
Para diagnosticar precisamente uma a m i n o a c i d ú r i a herdada,
deve-se t o m a r c u i d a d o para se o b t e r amostTas válidas e represen- Testes de Rastreamento
tativas. Por exemplo, i n d i v í d u o s devem seguir u m a d i e t a n o r m a l U m a variedade de métodos é utilizada para pesquisar aminoáci-
p o i 2 a 3 dias antes da coleta. As amostras de sangue e u r i n a dos nos f l u i d o s corporais. Eles i n c l u e m T L C , ensaio f o t o m é t r i c o
devem ser coletadas s i m u l t a n e a m e n t e . Dá-se preferência ao uso e o tesce de G u t h r i e .
302 PARTE IV Analitos

TLC aplicados às placas de camada fina pré-cobertas com celulose. O


A análise de aminoácidos por T L C é realizada em três etapas: (1) desenvolvimento é realizado em u m sistema solvente-vapor apro-
preparação das amostras, (2) separação cromatográfica e (3) iden- priado, seguido de secagem e coloração do cromatograma. A
tificação dos aminoácidos separados. Para a análise de aminoáci- solução de referência é uma mistura de aminoácidos de concen-
dos nos fluidos corporais e tecidos, o pré-tratamento da amostra tração conhecida. Quando várias alíquotas da mesma amostra
é frequentemente necessário para remoção de proteínas, lipídios, correm em uma única placa e cada uma delas é, então, corada
sais inorgânicos, ou outras substâncias que interferem na resolu- com corantes específicos distintos, freqüentemente é possível
ção cromatográfica. identificar muitos aminoácidos diferentes.
A quantidade de aminoácidos visível em u m cromatograma Cromatografia em Camada Fina Bidimensional. A T L C bidimen-
é influenciada não apenas pelo processo da doença, mas também sional é usada para identificar os aminoácidos livres n o sangue,
pelo volume de líquido aplicado ao cromatograma. Portanto, o na urina, no líquido cerebrospinal (CSF) e em outros fluidos
volume da amostra é calibrado tendo como referência seu conteúdo biológicos e tecidos. C o m essa técnica, primeiramente a proteína
de nitrogênio total ou a quantidade de creatinina em u m volume é precipitada com etanol absoluto, seguida por extração com
especificado da amostra. clorofórmio para remoção da uréia e outtas substâncias orgânicas
Na prática, a celulose continua a ser a fase estacionária de e inorgânicas. Os aminoácidos na fase aquosa são, então, separa-
escolha pata a T L C , porque os procedimentos que a utilizam dos por T L C em placas pré-cobertas com celulose. Dois sistemas
fornecem resolução cromatográfica superior e reduzem o tempo de solventes são usados; o primeiro contém amónia para aumen-
necessário para o desenvolvimento do sistema de solvente (Capí- tar a mobilidade dos aminoácidos com cadeias laterais básicas, e
tulo 7). Os procedimentos que utilizam papel, entretanto, são o segundo contém ácido fórmico para aumentar a mobilidade
dos aminoácidos com cadeias laterais ácidas.
m u i t o úteis quando amostras de sangue ou urina são coletadas
Na prática, uma alíquota da amostra é aplicada em uma
em discos de papel de filtro.
extremidade da placa de camada fina de celulose e, após a sepa-
U m grande número de solventes tem sido proposto para a
ração dos aminoácidos em uma direção, a placa é girada em u m
separação de misturas de aminoácidos. A T L C unidimensional é
ângulo reto e os aminoácidos são posteriormente separados por
mais aceita por causa de sua simplicidade, dos compostos múlti-
u m segundo solvente. Após o desenvolvimento, os aminoácidos
plos de referência e pelo fato de as amostras correrem facilmente
são visualizados com ninidrina-colidina Então, a distância migrada
em uma única placa. Na T L C bidimensional, após a primeira
por cada aminoácido e a frente do solvente são medidas a partir
migração, o cromatograma é girado a 90° e, então, transferido
do ponto de aplicação. As distâncias são usadas para calcular u m
para u m outro sistema de solventes, para uma segunda migração. Ry com a seguinte equação:
Quando se utiliza uma combinação de reagentes de coloração
seletiva com o sistema de solventes bidimensional, é possível distância do ponto de aplicação ao centro da mancha
identificar mais de 75 compostos de interesse bioquímico.
distância do ponto de aplicação à frente do solvente
M u i t o s corantes são utilizados para visualizar os aminoácidos
separados por T L C . O reagente mais amplamente usado para as A provável identificação é feita por comparação dos valores
avaliações qualitativa e quantitativa de aminoácidos é a nini- de Rf e as cores características dos aminoácidos desconhecidos
drina. A maioria dos aminoácidos reage com a n i n i d r i n a em com os valores da misturas de referência dos aminoácidos genuí-
temperatura ambiente, formando uma cor azul que se torna roxa nos cromatografados ao mesmo tempo.
sob aquecimento.
Testes Fotométricos de Rastreamento da Urina
tf J- .? Vários testes qualitativos são usados para o rastreamento, para a
oh Y /? oh +pR_t
i ir jC * $
' —«
— *• r i a avaliação ao acaso, ou informações complementares. Esses testes
h c
°2 ó são discutidos mais detalhadamente em uma edição anterior
deste livro. 1
Ninidrina Aminoácido Hidrindantina Aldeído
O O 0 0

4 Teste de Guthrie

ÇXX- * CXX
<\ ll
Ò
•O K U Vi
o nó
I
O teste de Guthrie é u m exame microbiológico semiquantitativo.
Os esporos de bactéria, geralmente Bariííui íubtifa, são incorpo-
rados em u m meio de ágar ao qual f o i adicionado u m i n i b i d o r
Ninidrina Hidrindantina Produto colorido de crescimento específico para o aminoácido a ser avaliado. O
i n i b i d o r geralmente tem uma estrutura molecular similar à do
A prolina e a hidroxiprolina, entretanto, produzem compos- aminoácido de interesse. Na prática, sangue ou urina do paciente
tos amarelos que são menos adequados para a observação visual; é colocado sobre u m pedaço de papel de filtro macio, e u m
conseqüentemente, corantes adicionais como a isatina (indol-2,3- círculo padronizado é "pressionado" sobre o papel e transferido
diona) são freqüentemente usados. A isatina converte a prolina para a superfície do ágar. A placa da ágar é, então, incubada e
e a hidroxiprolina em compostos azuis que são detectáveis contra posteriormente observada com relação ao crescimento bacte-
u m f u n d o amarelo. A adição de bases orgânicas, tais como a riano. Na presença de concentrações elevadas do aminoácido de
colidma, a soluções de n i n i d r i n a também produz um corante interesse, o efeito do i n i b i d o r de crescimento é reduzido ou
policromático, o que facilita a identificação dos diferentes ami- superado, e zonas de crescimento bacteriano são observadas. O
noácidos. sistema de teste é construído para mostrar crescimento somente
Cromatografia em Camada Fina Unidimensional. O princípio da quando a concentração do aminoácido de interesse excede seu
T L C unidimensional está descrito no Capítulo 7. Embora se limite de referência superior.
prefira a T L C bidimensional para a urina, a T L C unidimensional
do plasma e da urina detectará a maioria das aminoacidopatias Testes Quantitativos
e, geralmente, é a adequada para o rastreamento. C o m essa Os aminoácidos são medidos quantitativamente nos líquidos
técnica, as amostras, as soluções de referência e os controles são corporais com uma variedade de técnicas i n c l u i n d o (1) eletrofo-
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 303

tese capilar (CE), (2) cromatografia gasosa (GC), (3) cromatogra- metioninemias e homocistinúria. 8 Comparada com os métodos
fia líquida de alta eficiência (HPLC), (4) cromatografia liquida mais antigos, a MS-MS (1) é uma técnica mais sensível, (2) oferece
de troca iônica e (MS-MS) espectrometria de massa seqüencial. maior acurácia e precisão e (3) tem especificidade e sensibilidade
clínicas mais elevadas. Conseqüentemente, gera menos resulta-
Eletroforese Capilar dos falso-negativos e falso-positivos.
E m CE, as técnicas clássicas de eletroforese são realizadas em
tubos capilares de 20 a 200 cm de comprimento (Capítulo 7) de Testes de Aminoácidos Específicos
sílica fundida e de calibre pequeno (10 a 100 (J.m). Q u a n d o A l é m das técnicas analíticas gerais discutidas anteriormente,
acoplados a detectores sensíveis, a CE é capaz de medir quanti- existe uma variedade de testes simples específicos para os diferen-
dades fentomolares de aminoácidos. tes aminoácidos. Esses testes são usados n o diagnóstico de doenças
específicas.
Cromatografia Gasosa
As vantagens de G C incluem o tamanho pequeno da amostra e
a rapidez, mas u m a limitação importante é a volatilidade relati- PROTEÍNAS PLASMÁTICAS
vamente baixa de aminoácidos em temperaturas convencional- O corpo h u m a n o contém milhares de proteínas diferentes.5,11,12
mente usadas nessa técnica. Entretanto, é possível derivar quimi- Muitas são elementos estruturais de células ou tecidos organiza-
camente esses aminoácidos para aumentar sua volatilidade e dos; outras são solúveis nos líquidos intra e extracelulares.
melhorar suas características cromatográficas e de detecção.
Bioquímica Básica
Cromatografia Líquida de Alta Performance As proteínas são polímeros de aminoácidos ligados covalente-
Por causa de sua alta resolução e do tempo de análise relativa- mente através de ligações peptídicas. Cadeias m u i t o curtas de
mente curto, a H P L C é amplamente usadà para medir aminoá- aminoácidos ligados são denominadas dipeptídios, tripeptídíos,
cidos em amostras biológicas. A principal vantagem da H P L C tetrapeptídios o u pentapeptídios. Cadeias maiores que cinco Tesí-
sobre a G C é que as temperaturas relativamente altas necessárias duos em comprimento são chamadas oligopeptídios. Cadeias
pata a volatilização das amostras em G C não são necessárias nessa maiores (6 a 30 resíduos) são designadas polipeptídios. Q u a n d o
técnica. Portanto, a possibilidade de decomposição de aminoáci- o número de aminoácidos ligados excede 40 (massa molecular ~5
dos em temperaturas elevadas é evitada. kDa), a cadeia assume propriedades físicas associadas a proteínas.
Somente poucos aminoácidos são detectados por espectrofotô- Os diferentes grupos R encontrados nos aminoácidos fornecem
metros de ultravioleta (UV) ou luz visível, fluorímetros, ou detec- aos peptídios e proteínas estruturas e funções diversas.
tores eletroquímicos que são rotineiramente utilizados com os
analisadores de HPLC. Conseqüentemente, os aminoácidos são Estrutura
comumente derivados para análise por H P L C . As derivações pós- As proteínas são classificadas como fibrosas (principalmente
coluna com ninidrina ou reagentes fluorogênicos, tais como estruturais) ou globulares. Algumas proteínas fibrosas como (1)
o-ftaldialdeido ou fluorescamina, têm sido empregados com sucesso fíbrinogênio, (2) troponina, (3) colágeno e (4) miosina são de
para fms de detecção. As técnicas de derivação pré-coluna usando interesse clínico. A maioria das proteínas de interesse clinico,
(1) o-ftaldialdeído, (2) dansil, (3) fenil isotiocianato o u (4) derivados contudo, é de proteínas globulares solúveis, tais como (1) hemo-
de 9-fluorenilmetil cíoToformato têm sido utilizadas n a H P L C de globina, (2) enzimas, (3) hormônios peptídios e (4) proteínas
fase reversa. Métodos sensíveis q u e acoplam detecção eletroquí- plasmáticas. A curvatura e o dobramento complexos das cadeias
mica e derivação química também têm sido desenvolvidos. polipeptídicas resultam de inúmeras interações dos grupos R de
seus aminoácidos estruturais. Proteínas globulares são compac-
Cromatografia Líquida de Troca Iônica tas e têm pouco ou n e n h u m espaço para água no interior da
A cromatografia líquida de troca iônica tem sido amplamente molécula, onde se encontra a maioria dos grupos R hidrofóbicos.
empregada para separar e quantificar aminoácidos em uma varie- Grande parte dos grupos R polares está localizada na superfície
dade de amostras. Após a separação, os aminoácidos eluídos são da proteína, onde exercem uma influência importante (1) solu-
misturados com n i n i d r i n a ou algum outro indicador em u m bilidade, (2) comportamento ácido-básico e (3) mobilidade ele-
reator pós-coluna. As espécies coloridas resultantes são, então, troforética da proteína.
detectadas com u m espectrofotô metro, u m fluorímetro o u outros A maioria das proteínas globulares retém suas atividades bio-
aparelhos de detecção acoplados. Os aminoácidos são identifica- lógicas somente dentro de faixas estreitas de temperatura e p H .
dos através da comparação dos tempos de retenção dos compo- Períodos de exposição a altas temperaturas ou extremos de p H
nentes da amostra com os dos compostos de referência. A quan- fazem com que as moléculas de proteínas "desnaturem" e percam
tificação é feita comparando-se as áreas ou as alturas do pico da suas solubilidades e atividades biológicas. Por exemplo, muitas
amostra com as de conjuntos de calibradores ou, alternativa- enzimas perdem suas funções catalíticas após desnaturarem (Capí-
mente, usando se uma técnica de padronização interna. A detec- tulo 9).
ção fluorimétrica com fluorescamina e o-ftaldialdeído tem dimi- As proteínas globulares têm quatro classificações de estru-
nuído os limites de detecção, e colunas mais curtas e mais finas tura:
empacotadas com partículas menores operando a taxas de fluxo 1. Estrutura primária se refere à identidade e à ordem específica
mais elevadas têm d i m i n u í d o o tempo necessário para análise. de resíduos de aminoácidos na cadeia polipeptídica. Essa
seqüência, que depende exclusivamente das ligações covalen-
Espectrometria de Massa Seqüencial tes (peptídicas), é predeterminada pelo D N A codificador.
M S / M S se aplica à análise rápida de analitos específicos em 2. Estrutura secundária é u m arranjo regularmente repetido no
líquidos biológicos complexos (Capítulo 8). A MS-MS tem sido espaço da estrutura primária que se estende ao longo de uma
utilizada para rastrear neonatos com relação a doenças associadas dimensão. As estruturas secundárias de muitas proteínas glo-
ao metabolismo de aminoácido, como fenilcetonúria (PKU), bulares têm extensões de a-hélice, folha p-pregueada e eno-
doença da urina de xarope de bordo ( M S U D ) , tirosinemia, hiper- velamentos aleatórios (random coih), todos dependentes de
304 PARTE IV Analitos

i n ú m e r a s pontes de h i d r o g ê n i o e, ocasionalmente, de pontes e drogas servindo, f r e q ü e n t e m e n t e , c o m o reservatórios para sua


dissulfeto covalentes. liberação e uso. A s a p o l i p o p r o t e í n a s s o l u b i l i z a m l i p í d i o s ; a hemo-
3. E s t r u t u r a terciária envolve o d o b r a m e n t o i n t r a m o l e c u l a r da g l o b i n a t r a n s p o r t a oxigênio; e os fatores de coagulação protéicos
cadeia p o l i p e p t í d i c a em u m a estrutura t r i d i m e n s i o n a l com- afetam a hemostasia.
pacta c o m u m a forma específica. Centenas de proteinas diferentes estão presentes n o plasma
4. E s t r u t u r a quaternária se refere à associação de várias cadeias sanguíneo e são conhecidas, coletivamente, c o m o proteínas plas-
polipeptídicas o u subunidades e m uma u n i d a d e agregada máticas. A m a i o r i a é sintetizada n o fígado e se move para a
"oligoméiica" maior. corrente sanguínea através dos sinusóides hepáticos e das veias
M u i t a s proteínas c o n t ê m c o m p o n e n t e s que não são aminoácidos centrais do fígado ( C a p í t u l o 36). As proteínas plasmáticas circu-
conhecidos c o m o grupos prostéticos. Tais proteínas freqüente- l a m n o sangue e entre o m e s m o e os espaços extracelulares dos
m e n t e são designadas c o m o proteínas conjugadas e são classifi- tecidos. Seu m o v i m e n t o extravascular ocorre não apenas p o r
cadas de acordo c o m a natureza de seus grupos prostéticos c o m o difusão passiva, mas t a m b é m p o r mecanismos de transporte
(1) metaloproteínas, (2) l i p o p r o t e í n a s , (3) ghcoproteínas, (4) ativo, pinocítose e exocitose através e a p a r t i r das células. A
m a i o r i a das proteínas plasmáticas é catabolizada n o fígado. Para
m u c o p r o t e í n a s e (5) fosfoproteínas. T a n t o as glicoproteínas
algumas proteínas o s i n a l que marca para a degradação parece
q u a n t o as m u c o p r o t e i n a s t ê m grupos prostéticos glirídicos cova-
ser a perda de parte de o u t o d o o c o n t e ú d o de ácido siálico.
l e n t e m e n t e ligados. A q u a n t i d a d e de carboidrato varia de 5 % a
U m a alteração c o m u m , relevante para o l a b o r a t ó r i o clínico,
1 5 % nas glicoproteínas, e d e 1 5 % a 7 5 % n a s mucoproteínas. As
nas concentrações de proteinas e m doenças resulta da resposta
proteínas conjugadas livres de seus grupos prostéticos são conhe-
o u reação de fase aguda (APR), u m a resposta i n específica a
cidas c o m o apoproteínas.
i n f l a m a ç ã o (infecções, doenças auto-imunes etc.) o u lesão teci-
d u a l (trauma, cirurgia, i n f a r t o d o m i o c á r d i o o u tumores). As
Propriedades proteínas afetadas são conhecidas c o m o proteínas de fase aguda
M u i t a s propriedades das proteínas são usadas para a sua separa- (APPs). Proteínas c o m o (1) a r a n t i t r i p s i n a , (2) a r g l i c o p r o t e í n a
ção, identificação e análise. D e n t r e elas encontram-se as cinco ácida, (3) h a p t o g l o b i n a , (4) c e r u l o p l a s m i n a , (5) C 4 , (6) C 3 e (?)
propriedades a seguir: proteínas C-reativa (CPR), apresentam concentrações aumenta-
1. Ta?"tiiínfio molecular-, A m a i o r i a das proteínas consiste em das em resposta a u m a A P R e são conhecidas c o m o A P Ps positivas.
macro moléculas de alto peso molecular. D e v i d o aos tama- Outras, i n c l u i n d o (1) t r a n s t i r r e t i n a , (2) a l b u m i n a e (3) transfer-
n h o s e às diferentes massas moleculares das proteínas, é pos- r i n a , d i m i n u e m e são designadas A P P j negativas. As alterações nas
sível separá-las de moléculas menores p o r (1) diálise, (2) ultra- concentrações de proteínas plasmáticas são desencadeadas p o r
filtração, (3) cromatografia de filtração e m gel e (4) ultracen- citocinas liberadas n o local da i n j ú r i a . As concentrações plasmá-
trifugação e m gradiente de densidade. ticas de cada proteína A P R m u d a m a diferentes taxas após o d a n o
2. Solubilidade diferencial: A s o l u b i l i d a d e das proteínas é afetada i n i c i a l (Figura 18-3). N a prática, essas mudanças são úteis para a
p o r (1) p H , (2) força iônica, (3) temperatura e (4) constante dctccção dc inflamação, e medidas seqüenciais de p r o t e í n a s , tais
dielétrica do solvente. Q u a n d o esses parâmetros v a r i a m , as c o m o CRP, são úteis n o m o n i t o r a m e n t o do progresso da infla-
diferentes proteínas tornam-se mais o u menos solúveis. Por mação o u sua resposta ao t r a t a m e n t o .
exemplo, c o m variações na força iônica de u m a solução, as N a Tabela 18-2 encontram-se listadas as propriedades das
proteínas se t o r n a m mais solúveis (".wítmg-in") o u m e n o s solú- p r i n c i p a i s proteínas plasmáticas. As proteínas estão listadas na
o r d e m de suas m o b i l i d a d e s eletroforéticas em géis de agarose e m
veis ("salting-out").
p H 8,6. Seus intervalos de referência t e m p o r á r i o s para adultos
3. Carga elétrica-. O efeito d o p H i n t r o d u z i n d o , a u m e n t a n d o o u
estão listados na Tabela 18-83. Esses intervalos se baseiam na
alterando as cargas superficiais de u m a proteína cria várias
calibração usando E R M - D A 4 7 0 ( M a t e r i a l de Referência E u r o p e u ,
espécies de cargas diferentes que m i g r a m a diferentes taxas em
C l í n i c o [ D ] Proteínas IA]).
u m campo elétrico. A separação p o r eletroforese e a focalização
isoelétrica são baseadas nesse c o m p o r t a m e n t o . A cromatogra-
fia de troca iônica é baseada nas interações eletrostáticas de
Tipos de Proteínas Plasmáticas
A discussão a seguir é l i m i t a d a a várias das mais i m p o r t a n t e s
proteínas carregadas c o m u m m e i o sólido c o m carga oposta.
proteínas plasmáticas.
4. Adsorção em materiais inertes finamente diuídidos: Esses materiais
oferecem grandes áreas superficiais paia as interações c o m pro-
teínas. Essas interações p o d e m ser (1) hidrofóbicas, (2) absorti-
Albumina
vas, (3) iónicas o u (4) moleculares (pontes de hidrogênio) A a l b u m i n a é u m a proteína g l o b u l a r pequena c o m uma massa
5. Ligações específicas a anticorpos, coenzirrMs ou receptores de hormô- m o l e c u l a r de 66,3 k D a . E a p r o t e í n a mais a b u n d a n t e encontrada
n o plasma a p a r t i r do m e i o da gestação até a m o r t e , sendo res-
nios: A p r o p r i e d a d e ú n i c a de u m a proteína de reconhecer e
se ligar a u m composto c o m p l e m e n t a r c o m alta especificidade ponsável p o r a p r o x i m a d a m e n t e metade da massa correspondente
é a base dos ensaios i m u n o q u í m i c o s ( C a p í t u l o 10). As proteí- às proteínas plasmáticas. Por causa de sua alta concentração
plasmática e de seu t a m a n h o relativamente pequeno, a a l b u m i n a
nas t a m b é m p o d e m ser separadas por cromatografia de afini-
t a m b é m é o p r i n c i p a l c o m p o n e n t e proteico da m a i o r i a dos l í q u i -
dade, na q u a l u m ligante associado a u m m e i o sólido fornece
alta seletividade. dos corporais extravasculares, i n c l u i n d o (1) CSF, (2) l í q u i d o
intersticial, (3) u r i n a e (4) l í q u i d o a m n i ó t i c o . A p r o x i m a d a m e n t e
6 0 % d o t o t a l da a l b u m i n a do c o r p o se e n c o n t r a n o espaço extra-
Funções vascular. Ela não t e m cadeias laterais de c a r b o i d r a t o , mas é alta-
As proteínas e x i b e m inúmeras funções biológicas. Por exemplo, m e n t e solúvel em água devido à sua elevada carga l í q u i d a nega-
(1) as enzimas são proteínas que catalisam reações b i o q u í m i c a s tiva em p H fisiológico.
essenciais ao m e t a b o l i s m o ; (2) h o r m ô n i o s protéicos, p o l i p e p t í d i -
cos e oligopeptídicos regulam o m e t a b o l i s m o ; e (3) a n t i c o r p o s e Bioquímica e Função
componentes do sistema de c o m p l e m e n t o protegem contra infec- A a l b u m i n a é sintetizada, p r i n c i p a l m e n t e , pelas células parenqui-
ções.10 A l é m disso, proteínas plasmáticas m a n t ê m a pressão osmó- mais hepáticas. A capacidade sintética d o fígado é enorme. Por
tica d o plasma. Elas t r a n s p o r t a m h o r m ô n i o s , v i t a m i n a s , metais exemplo, na s í n d r o m e nefrótica, a taxa de síntese p o d e ser 3 0 0 %
Figura 18-3 Aumento; relativos de reagentes de fase aguda após um insulto agudo de curta duração. As
concentrações são expressas como múltiplas do limite superior do intervalo de referência. A linha tracejada
representa o limite de referência superior. CRP, proteina O reativa; AAT, a r antittipsina; C3, fator 3 do
complemento.

TABELA 18-2 | Propriedades de Proteínas Plasmáticas Selecionadas

Região Método de
Eletroforética Proteína Meia-vida P1 MW (D n Itens) Análise Preterido Comentários

Proteína de ligação 12 h 21.000 IN, IT, RID Transporta retinol


ao retinol (RBP) (vitamina A); complexada
com TTR
Translirretina (TTR) 48 h 4,7 54.980 IN, IT, RID Transporta hormônios
tireodianos, RBP
Albumina 15-19 dias 4-5,8 66.300 IN, IT, RID tira Uma proteína de transporte
reagente geral; mantém a pressão
osmótica do plasma
cti an-An1itripsina (AAT) 4 dias 4,8 51.000 IN, IT Inibidor de protease,
especialmente elastase
a,-Glicoprote[na ácida 5 dias 2,7-4 40,000 IN, IT, RID Função obscura; liga drogas
{AAG, orosomucúide) catiônicas e hormônios
a-rFetoproteína (AFP) 69.000 RIA, EIA, polarização Proteína fetal principal;
de fluorescência análogo de albumina
a2 Haptoglobina {Hp, HAP) 2 dias 4,1* 85.000-840.000 IN, IT Liga-se á hemoglobina;
reduzida por hemólise
a 2 - Macroglobulina 5 dias 5,4 720.000 IN, IT, RID Inibidor de enzima
(AMG) proieolítica geral
Ceruloplasmina (CER) 4,5 dias 4,4 132.000 IN, IT, RID, enzimática Oxidante-antloxidante
(especialmente para
ferro)
Pi Transferriria (Tl, 7 dias 5,7 79.600 IN, IT, RID Transporta ferro
siderofilina)
C4 206.000 IN, IT, RID Fator do complemento
Ps C3 180.000 IN, IT, RID Fator do complemento
PrMicroglobulina 11.800 RIA, EIA Usada para testar a
(BMG) função tubular renal;
elevada na linfocitose ou
quebra de linfócitos
y IflG 24 dias 6-7,3 144.000-150.000 IN, IT, imunotixação Anticorpo
igA 6 dias ~ 160.000 IN, IT, imunotixação Anticorpo
igM 5 dias 900.000 Netelometria, Anticorpo
imunotixação
Proteína C-reativa 6,2 -115.000 RID, RIA, IN, ÍT, Defesa não-específica contra
(CRP) imunoensaio da agentes infecciosos;
enzima homogênea remoção de restos
celulares

EIA, Enzima imunoensaio; IN, imunonefelomecna; IT, imunomibídimetiia; RIA, radioim uno ensaio; RID, i mu no difusão radial.
*Para o fenótipo Hp 1-1.
306 PARTE IV Analitos

TABELA 18-3 Intervalos de Referência Consenso Analbuminemia. Indivíduos com essa deficiência genética rara
T e m p o r á r i o s p a r a 14 P r o t e í n a s P l a s m á t i c a s d o
têm concentrações de albumina plasmática menores que 0,5 g / L ,
podendo ser moderadas no caso de edema. As manifestações
Soro H u m a n o R e f e r e n t e a E R M - D A 4 7 0 *
clínicas mais importantes estão relacionadas com o transporte
Proteína g/L mg/dL anormal de lipídios.
arGliccproteína ácida 0,5-1,2 50-120 Inflamação. As inflamações aguda e crônica são as causas mais
Albumina 35-52 3.500-5.200 comuns de hipoalbuminemia, resultante de (1) hemodiluição, (2)
ctrAniitripsina 0,9-2,0 90-200 perda para o espaço extravascular, (3) consumo elevado pelas
C3* 0,9-1,3t 90-1 aot células e (4) síntese reduzida.
C4 0,1-0,4 10-40 Doença Hepática. As concentrações reduzidas de albumina pre-
Ceruloplasmina 0,2-0,6 20-60 sentes na maioria dos casos de doença hepatocelular resultam de
Proteína C-reativa < 0,005 <0,5 (1) concentrações elevadas de imunoglobulina, (2) perda para o
Haptcglobina 0,3-2,0 30-200 espaço extravascular e (3) inibição direta da síntese por toxinas e
IgA 0,7-4,0 70-400 álcool. O fígado é capaz de sintetizar quantidades aumentadas de
igG 7-16 700-1.600
albumina até que o dano ou a perda parenquimal hepática sejam
igM 0,4-2,3 40-230
graves, com a perda de aproximadamente 95% da função.
Transtirretira (pré-albumina) 0,2-0,4 20-40
Perda Urinária. O glomérulo renal atua como uma peneira
a 2 -Macrcglobulina 1,3-3,0 130-300
molecular, excretando qualquer substância a uma taxa inversa-
Transferrina 2,0-3,6 200-360
mente proporcional ao seu raio molecular. C o m o a albumina é
De Dati Fj Schumann G, Thomas L, et al. Consensus of a group of relativamente pequena e globular, quantidades significativas são
Professional societies and diagnostic companies on giiidelmes for ínterim
filtradas para a urina glomerular. EntretantOi a maior parte da
reference ranges for 14 proteins in setum based on the standardhation
albumina é reabsorvida pelas células tubulares proximais. A urina
against the I F C C / B C R / C A P reference material (CRM 470). Eor ] Clin
n o r m a l excretada contém até 20 mg de albumina por grama de
C h e m Clin Biochem 1996; 34:517-20.
Estes valores se aplicam apenas para adultos entre 20 e 60 anos de idade. creatinina. Excreção acima desse valor sugere (1) filtração glome-
*ERM-DA470 (Material de Referência Europeu, Clinico [D] Proteínas [A]) era rular aumentada, (2) dano tubular ou hematúria ou (3) uma
inicialmente conhecido como Material de Referência Certificado 470 (CRM 470). combinação desses dois fatores.
1
Os valores são levemente mais baixos em amostras frescas (analisado menos Filtração elevada também ocorre em caso de exercício físico
de 8 h após a coleta).
e febre; portanto, a albumina urinária deve seT analisada sob
condições controladas e repetida se existir dúvida clínica com
relação à causa das concentrações aumentadas. Excreção mode-
radamente elevada (20 a 300 m g / L ) , ou microalbuminúria,
parece predizer o desenvolvimento futuro de doença renal clínica
ou mais da sua taxa normal. A taxa de síntese da albumina é em indivíduos com hipertensão o u diabetes meííitus. Exceto para
controlada, piincipaímente, pela pressão osmótica coloidal a analbuminemia hereditária, as menores concentrações de albu-
(COP), e também pelo consumo de proteínas. A l é m disso, a m i n a plasmática estão presentes em indivíduos com síndrome
síntese é d i m i n u í d a por citocmas inflamatórias. O catabolismo nefrótica ativa, associada à perda acentuadamente aumentada da
ocorre, principalmente, por pinocitose em todos os tecidos, com maioria das proteínas de tamanhos pequeno e médio para a urina
reutilização dos aminoácidos livres resultantes para a síntese de glomerular.
proteínas celulares. A meia-vida normal da albumina n o plasma Perda Gastrointestinal. Doença inflamatória do trato intestinal
é de 15 a 19 dias. está associada à perda gastrointestinal (GI) elevada de albumina.
A principal função da albumina é a manutenção da C O P Esse aumento geralmente é de pouco interesse a menos que a
tanto nos espaços vasculares como nos extravasculares. A albu- perda seja excessiva'ou persista. Enteropatia com perda protéica
mina também se liga a e transporta u m grande número de com- crônica pode resultar em perda similar àquela observada na sín-
postos, incluindo (1) ácidos graxos livres, (2) fosfolipídios, (3) íons drome nefrótica.
metálicos, (4) aminoácidos, (5) drogas, (6) hormônios e (7) bilir- Má Nutrição de Energia e Proteína. As concentrações de albu-
rubina. mina têm sido usadas para ajudar a detectar e monitorar o estado
A albumina é codificada por u m gene localizado no braço nutricional protéico. N o entanto, concentrações baixas geral-
longo do cromossomo 4, intimamente ligado aos genes da mente não se correlacionam com o grau de má nutrição, sendo
a-fetoproteína e da globulma de ligação à vitamina D, que com- mais freqüentemente provocadas pela APR.
partilham grande homologia de seqüência com a albumina. Mais Edema e Ascite. As concentrações plasmáticas de albumina
de 80 variantes genéticas têm sido descritas. Todas são herdadas são diminuídas em presença de edema e ascites. Entretanto,
em u m padrão autossômico codominante, com expressão, em edema e ascites geralmente são decorrentes de permeabilidade
heterozigotos, de ambos os produtos gênicos. Muitos isotipos vascular aumentada, em vez de hipoalbuminemia per se. As con-
t ê m migração eletroforética alterada, resultando na chamada centrações de albumina nesses fluidos variam de m u i t o baixas a
bisalbummemia. C o n t u d o , drogas e metabólitos ligados também mais altas do que as do plasma.
podem alterar a migração eletroforética da albumina. Poucas
variantes têm afinidades de ligação anormais para a tiroxina (T4). Considerações Laboratoriais
Indivíduos afetados são eutireóideo, mas têm soro total e con- A maioria dos laboratórios clínicos analisa a albumina por
centrações de T 4 livre anormais. métodos automatizados de ligação a corantes, usando os corantes
verde de bromocresol (BCG) ou p ú r p u r a de bromocresol (BCP).
Importância Clínica Esses corantes têm maior afinidade por albumina, portanto, a
Concentrações elevadas de albumina estão presentes somente na taxa inicial de ligação geralmente é medida e relacionada com a
desidratação aguda e não têm importância clínica. Concentra- concentração de albumina na amostra. O uso do soro é recomen'
ções reduzidas são vistas em inúmeras condicões clínicas. dado porque essas análises superestimam a albumina em pre-
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 307

seriça de fibrinogênio e lieparina A l é m disso, essas análises Considerações Laboratoriais


tendem a ser inexatas se o padrão de proteína sérica global for Embora A A G seja uma das proteínas de mais alta concentração
anormal. Nesses casos, a quantificação imunoquímica é recomen- na região da (Xx-globulina na eletroforese de soro de rotina, ela
dada. Outros ligantes, incluindo drogas e metabólitos, ligam-se à não cora bem com corantes de proteína por causa de seu alto
albumina, mas geralmente não afetam de forma significativa as conteúdo de C H O . Ela pode ser visualizada pelo uso de ácido
análises de ligação a corante de soro ou plasma a menos que suas periódico de Schiff ou outros corantes de carboidrato. A A G é
concentrações sejam extremamente altas. Os métodos imunoquí- quantificada por todos os métodos imunoquímicos, i n c l u i n d o
micos usados para soro são também usados para analisar concen- turbidimetria e nefelometria. Os intervalos de referência estão
trações m u i t o baixas de albumina em urina não-diluída, sendo listados na Tabela 18-3.
m u i t o rápidos e precisos. Os intervalos de referência estão lista-
dos na Tabela 18-3. a i-Antitripsina
A cij-antitripsina (AAT) é uma serpina (inibidor da serina protei-
ai-Glicoproteína Ácida nase) que inativa as serinas proteases, especialmente aquelas estru-
A a r g l i c o p r o t e í n a ácida (AAG), também conhecida como oroso- turalmente relacionadas com tripsina. Outras serpinas incluem (1)
•mucóide, contém u m alto porcentual de carboidrato com u m a^-antiquimiotripsina, (2) a 2 -antiplasmina, (3) antitrombina 111 e
grande número de resíduos de ácido siálico. Portanto, tem uma (4) inibidor de C l (Tabela 18-4).
carga líquida negativa m u i t o alta e é m u i t o solúvel em água. Ela
é o principal constituinte da fração seromucóide do plasma, u m Bioquímica e Função
grupo de proteínas precipitadas por HCIO^ e outros ácidos A A T é sintetizada, principalmente, pelas células parenquimais
fortes. hepáticas. O catabolismo também ocorre em células parenqui-
mais hepáticas por duas vias. E m uma, os complexos AAT-protease
Bioquímica e Função são removidos por receptores do complexo serpina-enzima. Em
A A A G é classificada como u m a das lipocalinas — proteínas que outra, a A A T sem ácido siálico é removida por receptores de
ligam substâncias lipofílicas. Cada molécula de A A G contém 181 asialoglicopToteína hepáticos.
aminoácidos e uma massa molecular total de 40 kDa, da qual Em termos molares, a A A T é o inibidor de proteinase de mais
aproximadamente 45% são carboidratos, incluindo 11% a 12% alta concentração no plasma. Fisiologicamente, é o i n i b i d o r mais
de ácido siálico. Ela é sintetizada, principalmente, pelas células importante da elastase leucocitária, liberada no processo de fago-
parenquimais hepáticas, e o catabolismo resulta na remoção da citose pelos leucócitos p o l i m o r f o nucleares. Essa enzima também
proteína sem ácido siálico pelos receptores hepáticos de asialogli- reage com a elastina na árvore traqueobrônquica e no endotélio
coproteína. vascular. O tamanho relativamente pequeno da A A T e a facili-
Embora sua verdadeira função fisiológica seja desconhecida, dade de difusão para esses tecidos são importantes na prevenção
A A G se liga a e inativa hormônios básicos e lipofílicos, i n c l u i n d o da perda do recolhimento elástico. A elastase não-inibida na
progesterona e o antagonista de progesterona R U 486. A A G árvore brônquica em virtude do excesso de elastase ou de uma
também se liga a e reduz a biodisponibilidade de muitas drogas, deficiência em A A T pode resultar em perda do recolhimento
i n c l u i n d o (1) propranolol, (2) quinidina, (3) clorpromazina, (4) elástico e desenvolvimento do enfisema.
cocaína e (5) benzodiazepinas. Se as concentrações de A A G são Pelo menos 75 variantes genéticas de A A T são conhecidas,
elevadas, pode ser necessário aumentar as dosagens da droga para sendo que muitas delas estão associadas a baixas concentrações
compensar essa ligação aumentada. séricas. O fenótipo selvagem c o m u m é Pi M M ; os fenótipos
associados à deficiência mais comuns e de importância clínica
importância Clínica são Pi ZZ e SZ. Outros fenótipos incluem Pi M Z e Pi SS. Os
As concentrações de A A G aumentam na APR, especialmente na indivíduos nulos raros não têm A A T .
doença inflamatória gastrointestinal (Gl) e nas neoplasias malig-
nas. As concentrações são aumentadas pelos corticosteróides e Importância Clínica
algumas drogas antiinflamatórias não-esteróides (NSAIDs). Estró- As concentrações de A A T são elevadas pela A P R e pelos estróge-
genos (p. ex., da gravidez ou contracepção oral) d i m i n u e m a nos (de gravidez, contracepção oral). Secundariamente, as con-
síntese de AAG. 3 '' As concentrações também são baixas nas sín- centrações de A A T são baixas em indivíduos com (1) síndrome
dromes de perda protéica, tais como a síndrome nefrótica. Diver- do desconforto respiratório neonatal, (2) pancreatite grave e (3)
sas variantes genéticas de A A G são conhecidas; entretanto, elas doenças associadas à perda protéica. Concentrações diminuídas
não são clinicamente importantes. de A A T provocadas por deficiência genética, ou primária, estão

TABELA 18-4 Outros Inibidores de Protease


Inibidor Peso Molecular (kDA) Proteases Fisiológicas Inibidas Doenças Associadas à Deficiência

«rAntiquimiotripsina 68 Catepsina G; quinase de mastócitas; Cirrose hepática; asma; enfisema


antígeno especííico da próstata *
a 2 -Antiplasmina 70 Plasmína Hemorragia (aumenta a lise de coágulo)
Antitrombina III1 65 Trombina Tromboembolismo
Inibidor de C l 1 104 C1r, C1s Angioedema hereditário
Inibidor de inter-a-tripsina 160 Desconhecida Nenhuma conhecida

* Vdríos inibidores se ligam e inatkiam o antigeno específico tia próstata (PSA), incluindo a rAn ti rrip j ina, a-M ücroglo&u linfl e a2-Antipiíismin£i.
Os complexos de aj-íiníiqnimionipjín/i geralmente são os que /rrcdomí riam no soro ou no plasma, fwtmeímente por causa cio desaparecimento rápido dos outros. Os níveis de P
complexada são aumentados na maioria dos {wcienrei com câncer de próstata, quando comparados com indivíduos normais ou com os que apresentam fiipertrofia. prostática benigna
fDeficiências quantitativas e qualitativas (funcional) relatadas.
308 PARTE IV Analitos

associadas a u m risco m u i t o alto de desenvolvimento de enfisema (Capítulo 43). A l é m disso, a concentração da AFP sérica é aumen-
pulmonar basilar (ao contrário da doença apical presente em tada em presença de muitas formas de carcinomas hepatocelulares
outras formas de enfisema). O início da doença geralmente e de células germinativas em crianças e adultos (Capítulo 20).
ocorre m u i t o mais cedo do que pata a maioria das outras formas As concentrações n o soro materno estão diminuídas em
de enfisema, com as alterações se iniciando n o f i n a l da segunda mulheres grávidas de fetos com trissomia do 18 ou do 21. As
até a quarta décadas de vida em 90% dos indivíduos Pi ZZ. O deficiências genéticas raras da AFP não parecem trazer qualquer
processo é aumentado pela poluição do ar e fumaça de cigarro. conseqüência clínica.
A deficiência de A A T também está associada a doenças do
fígado, incluindo colestase neonatal, cirrose e carcinoma hepato- a2-Macroglob ulina
celular. A colestase neonatal, ou "hepatite", é vista mais comu- A a 2 -macroglobulina ( A M G ) é u m importante inibidor de protei-
mente entre 3 e 8 semanas de vida e geralmente regride após nase do plasma. Diferentemente da A A T e da maioria dos outros
poucas semanas. Os duetos biliares intra e extra-hepáticos podem inibidores de proteínase, ela é uma molécula m u i t o grande (massa
ser pequenos, provavelmente por causa do fluxo biliar d i m i n u í d o . molecular ~725 kDa) e não se difunde do espaço plasmático para
Diferenciar essa doença da atresia biliar é importante porque a os líquidos extracelulares em quantidades significativas.
mortalidade é alta nos bebês Pi ZZ submetidos a cirurgias impor-
tantes. A l é m disso, os indivíduos com deficiência em A A T apre- Bioquímica e Função
sentam u m risco significativamente maior de desenvolver câncer A A M G inibe muitas classes diferentes de proteinases, incluindo
primário de fígado. aquelas com serina, cisteína e íons metálicos em seus sítios proteo-
U m a variante, Pi Mpittsburghi tem uma substituição de aminoá- líticos. Ela não é uma A P R em seres humanos. A A M G é sinteti-
cido met —> arg que resulta em maior atividade contra enzimas zada, principalmente, pelas células parenquimais hepáticas.
de coagulação, incluindo trombina e calicreína. Os heterozigotos
para essa variante têm uma doença hemorrágica ocasionada por Importância Clínica
seus efeitos anticoagulantes. Concentrações aumentadas de A M G ocorrem com os efeitos de
estrógenos. Por exemplo, mulheres em idade fértil exibem con-
Considerações Laboratoriais centrações maiores do que homens da mesma idade. As concen-
A A A T é o principal constituinte da banda de a r g l o b u l i n a na trações em bebês e crianças são duas a três vezes as concentrações
eletroforese de soro da rotina clínica. A A A G e a ra-lipoproteína de adultos, talvez como u m mecanismo de proteção contra a
também estão incluídas na banda de a r g l o b u l m a , mas não coram exposição elevada a proteases intestinais na primeira infância e
bem com corantes de peptídios por causa do seu conteúdo proteases bacterianas e leucocitárias durante as segunda e terceira
elevado de C H O e lipídio, respectivamente. Algumas variantes infâncias. Concentrações significativamente aumentadas podem
genéticas de A A T podem ser detectáveis pelo exame visual do estar presentes em indivíduos com síndrome nefrótica por causa
padrão eletroforético devido à mobilidade alterada o u à concen- da perda renal de proteínas de baixa massa molecular e síntese
tração diminuída, Existem de cinco a oito bandas de A A T na hepática elevada de todas as proteínas para compensar a resul-
eletroforese em gel ácido ou focalização isoelétrica (pis de apro- tante concentração sérica baixa de proteínas. Concentrações
ximadamente 4,2 a 4,9, dependendo do fenótipo genético). diminuídas de A M G estão presentes em indivíduos com pancrea-
Geralmente a A A T é quantificada por métodos imunoturbi- tite aguda grave e antes do tratamento de indivíduos com carci-
n o m a avançado de próstata. Embora existam variantes genéticas
dimétricos e imunonefelométricos. C o m o ela constitui cerca de
de A M G , elas não têm importância clínica conhecida.
90% dos inibidores séricos da atividade de tripsina ou de elastase
contra substratos pequenos, tais como benzoil-DL-arginina-p-
nitroanilida, também tem sido semiquantificada pela capacidade Considerações Laboratoriais
inibidora do soro para essas enzimas; entretanto, esse exame não Juntas, a A M G e a haptoglobina (Hp) constituem a maioria da
zona de a 2 ' g l ° b u l i n a na eletroforese de soro da rotina clínica. N o
é específico para A A T . Os intervalos de referência estão listados
período neonatal e' na hemólise in vivo, a A M G sozinha é o
na Tabela 18-3.
principal constituinte dessa zona. Os intervalos de referência
estão listados na Tabela 18-3.
a1 -Fetoproteína
A drfetoproteína (AFP) é uma das primeiras a-globulinas a apa-
\\2-Microglobulina
recer n o soro de mamíferos durante o desenvolvimento do embrião
A p 2 ' m i c r ° g l ° b u l i n a ( B M G ) é uma proteína de baixa massa mole-
e é a proteína sérica dominante n o início da fase embrionária. A
cular (11,8 kDa) encontrada nas superfícies celulares de todas as
AFP reaparece no soro de adultos durante certas patologias.
células nucleadas.

Bioquímica e Função Bioquímica e Função


A AFP é u m análogo de albumina, contendo aproximadamente A B M G é a cadeia leve ou a cadeia (3 dos antígenos leucocitários
4 % de carboidrato, com uma massa molecular de aproximada- humanos (HLAs) e consiste em uma única cadeia polipeptídica
mente 70 kDa. E uma proteína importante no soro fetal, sinteti- com uma ponte dissulfeto intracadeia e n e n h u m carboidrato.
zada principalmente pelo saco vitelino fetal e fígado. A AFP é Alguma B M G é derramada no plasma, particularmente pelos
visível entre a albumina e A A T na eletroforese do soro fetal ou linfócitos e células tumorais. O tamanho pequeno da molécula
do neonato. permite que a B M G passe através da membrana glomerular, mas
normalmente menos de 1% da B M G filtrada é excretada na
Importância Clínica urina. O restante da B M G é reabsorvido e catabolizado nos
AFP elevada no líquido amniótico ou no soro materno indica a túbulos proximais dos rins.
possibilidade de u m tubo neural aberto ou u m defeito da parede
abdominal do feto. A concentração de AFP também é aumentada Importância Clínica
em condições de (1) gestação múltipla, (2) morte fetal, (3) hemor- Altas concentrações plasmáticas de B M G ocorrem em indivíduos
ragias fetomaternas e (4) estimativa incorreta da idade gestacional com insuficiência renal, inflamação e neoplasias, especialmente
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 309

aqueles associados aos linfócitos B. O principal valor clínico da Atividade ferroxidase de Cp


análise de B M G é testar a função tubular renal em casos de
exposição duvidosa a metais pesados e, particularmente, em
H,0 Oi
transplantados renais, nos quais a rejeição do enxerto se mani- (ou — srç , (ou — SS—)
festa como função tubular diminuída. C o m o a B M G é sensível
a p H ácido, outras proteínas, como Cti-microglobulina ( A j M ) e
cistatina. C, podem ser mais úteis na urina. (Alternativamente, as CpCu©@ CpCu©

amostras de urina podem ser alcalinizadas.) Análises seqüenciais


de B M G sérica ou plasmática também são úteis para monitorar
tumores de células B. Ferro ferroso Ferro ferroso
(da Ferritina (para a
celular) transferrina
plasmática)
Ceruloplasmina
Figura 18-4 Função p r o p o s t a da c o b r e - c e i u l o p l a s m i n a (CpCu 1 *)
A ceruloplasmina (Cp) é uma o^-globulina que contém aproxi-
c o m o u m receptor de p r ó t o n ( í o n h i d r o g ê n i o ) d o ferro ferroso celular. A
madamente 95% do cobre sérico total, o que confere a ela uma
oxidação resultante de Fe 24 para o estado f é r r i c o p e r m i t e sua ligação e
cor azulada. Quando as concentrações de C p são significativa-
seu transporte pela t r a n s f e r r i n a plasmática. C p C u * è o x i d a d a
mente elevadas (p. ex., durante a gravidez) ou os pigmentos
(regenerada a C p C u 2 * ) p o r reações c o m o oxigênio, grupos t i o l oxidados,
amarelos normais do plasma estão reduzidos, como é visto na
o u outras substâncias oxidantes. ( M o d i f i c a d o de J o h n s o n A M .
artrite reumatóide ativa, o plasma pode ter u m t o m esverdeado.
C e r u l o p l a s m i n . I n : R i t c h i e RF, Navolotskais O , ed. S e r u m p r o t e i n s i n
c l i n i c a i m e d i c i n e . V o l . 1: L a b o r a t o r y section. S c a r b o r o u g h , M a i n e :
Bioquímica e Função
F o u n d a t i o n for B l o o d Research, 1996:13.01-13.03.)
A C p é sintetizada principalmente pelas células parenquimais
hepáticas. O cobre é adicionado à cadeia peptídica por uma
ATPase intracelular. Ele é essencial para o dobramento normal
da cadeia polipeptidica. A apoCp é sintetizada mesmo em ausên-
cia de cobre ou de ATPase, mas a maioria é degradada no meio
intracelular, sendo liberadas apenas quantidades moderadas na A doença de Wilson, o u degeneração hepato lenticular, difere
circulação. da deficiência alimentar pelo fato de o cobre total do organismo
A função fisiológica principal da C p envolve reações de estar aumentado de forma significativa e depositado nos tecidos,
redução e oxidação (redox) n o plasma. Ela funciona como oxi- incluindo as células parenquimais hepáticas, o cérebro e a periferia
dante o u antioxidante, dependendo de fatores, tais como a pre- da íris (resultando nos anéis de Kayser-Fleischer característicos). Os
sença de íons férricos livres e sítios de ligação da ferritina (Figura sintomas nos indivíduos com doença de W i l s o n geralmente se
18-4). A Cp é de importância vital na regulação do estado iônico iniciam na segunda ou terceira década de vida, mas podem se
do ferro, oxidando, em particular, Fez+ a FeJ* e, portanto, permi- manifestar mais cedo ou mais tarde. Mutações que destroem com-
tindo a incorporação do ferro na transferrina sem a formação de pletamente a função do gene podem estar associadas à crise da
produtos tóxicos de ferro. A albumina e a transcupreína são, doença hepática precocemente, já aos 3 anos de idade.
provavelmente, as proteínas de transporte de cobre mais impor- A l é m da deficiência genética rara de C p mencionada anterior-
tantes. mente, existem diversas variantes genéricas, sendo que nenhuma
delas tem importância clínica conhecida.
Importância Clínica
As concentrações de C p aumentam como resultado de uma APR. Considerações Laboratoriais
A CP, entretanto, é uma A P R fraca de reação tardia. As concen- Por causa de sua instabilidade, a C p pode perder alguns ou todos
trações são significativamente aumentadas por estrógenos, como os seus cobres espontaneamente ou por oxidação durante o arma-
ocorre na gravidez ou na contracepção oral. zenamento do soro in vino. A l é m disso, a fragmentação da cadeia
Indivíduos com deficiência genética primária de Cp apresen- peptídica por enzimas no soro e nos leucócitos normais pode
tam u m quadro clínico similar ao apresentado por aqueles com resultar em reatividade alterada com anticorpos. Essa instabili-
hemocromatose hereditária, por causa da incapacidade de incor- dade pode criar problemas com calibradores, materiais de con-
porar ferro na transferrina. Esses indivíduos têm cobre tecidual trole de qualidade e com as amostras dos pacientes. Dependendo
normal, mas reserva de ferro tecidual aumentada e ferro sérico do grau de degradação e d o método de análise, as concentrações
diminuído. reais podem aumentar ou d i m i n u i r . O soro ou o plasma das
As concentrações plasmáticas de Cp baixas secundárias cau- amostras de pacientes deve ser separado tão logo seja possível,
sadas p o r falta de incorporação de Cu 2 + na molécula durante a após a coleta, e analisado imediatamente ou armazenado sob
síntese são m u i t o mais comuns do que a deficiência primária. A condições apropriadas (até 3 dias a 4°C; armazenamento por
deficiência secundária pode ser ocasionada por (1) insuficiência períodos mais longos a - 7 0 ° C ) .
de cobre na dieta (incluindo má absorção), (2) incapacidade de A Cp é analisada i m u n o q u í m i c a ou funcionalmente (ativi-
transportar C u 2 ' do epitélio G I para a circulação (como na dade cobre oxidase). Os últimos ensaios medem somente a CP
doença de Menkes) ou (3) incapacidade de inserir C u 2 ' na molé- nativa contendo cobre, enquanto os primeiros medem tanto a
cula de C P em formação (como na doença de W i l s o n ) . As con- molécula intacta quanto, em vários graus, a apoCp e os fragmen-
centrações também podem ser baixas nas perdas de sangue ou tos proteoliticos. Os intervalos de referência estão listados na
nas síndromes de perda protéica renal ou gastrointestinal (GI). Tabela 18-3.
Deficiência alimentar, secundária à deficiência nutricional de
cobre, está associada a (1) neutropema, (2) trombocitopenia, (3) Proteína C-Reativa
ferro sérico baixo e (4) anemia hipocrômica, normocítica ou U m a substância presente nos soros de indivíduos gravemente
microcítica, que não responde à terapia com ferro. doentes que é capaz de se ligar ao polissacarídeo C da parede
310 PARTE IV Analitos

celular de Stre^tococcMs pneumonias foi primeiramente descrita em posta por quatro cadeias peptídicas ligadas por pontes dissulfeto
1930. E m 1941 foi demonstrado se tratar de uma proteína e em dois pares, uma configuração (a(3)2 similar à da H b . Cada
recebeu o n o m e de CRP. Ela é uma das primeiras APRs a se tornar monômero H p 1 se liga a até dois dímeros a(3 de H b , ou ao
elevada em doenças inflamatórias e também a exibir os aumentos equivalente de uma molécula de H b intacta; a cadeia p de H p se
mais dramáticos de concentração. Ela consiste em cinco subuni- liga às cadeias a de H b .
dades idênticas e é sintetizada, principalmente, pelo fígado.
Bioquímica e Função
Bioquímica e Função Durante a hemólise extracelular, a H b é liberada dos eritrócitos
Na presença de Ca 2+ , a proteína CRP se liga não apenas a polis- e os dímeros de H b livres se ligam quase imediatamente à H p .
sacarídeos presentes em muitas bactérias, fungos e protozoários Os complexos H p - H b são grandes o suficiente para evitar ou
parasitas, mas também a (1) fosforilcolina, (2) fosfatidilcolinas, reduzir consideravelmente a perda renal de H b e seu ferro. Os
tais como lecitina, e (3) poliânions, tais como ácidos nucléicos. complexos são removidos m u i t o rapidamente pelas células de
Na ausência de Ca 2 ", a C R p se liga a policátions, tais como as Kuppfer hepáticas, onde as proteínas são degradadas em ferro e
histonas. U m a vez complexada, a CRP ativa a via do comple- aminoácidos, que são, então, reutilizados. A l é m disso, os com-
mento clássica que se inicia em C l q . A CRP complexada, por- plexos H p - H b podem ser importantes para o controle dos pro-
tanto, é capas de iniciar (1) opsonização, (2) fagocitose e (3) Iise cessos inflamatórios locais. Por exemplo, o complexo H p - H b é
dos organismos invasores, tais como bactérias e virus. Ela faz isso uma peroxidase potente capaz de hidrolisar peróxidos liberados
de maneira similar à observada em complexos anticorpo-antí- durante a fagocitose pelos leucócitos polimorfonucleares nos
geno. A CRP t a m b é m é capaz de reconhecer substâncias autóge- sítios de inflamação. A H p é também u m agente bacteriostático
nas potencialmente tóxicas liberadas de tecidos danificados, de natural para bactérias que requerem ferro, tais como Eschenchia
se ligar a elas e, então, detoxificá-las ou eliminá-las do sangue. A coíi, evitando o ujçi do ferro da H b por esses organismos.
própria C R P é catabolizada após opsonização. Existem variantes genéticas de ambas as cadeias a e J3; o
polimorfismo comumente reconhecido envolve as primeiras. A
Importância Clínica cadeia cl2 é quase duas vezes maior que a cadeia a i (142 versus 83
Há m u i t o tempo a CRP foi reconhecida como uma das APPs aminoácidos), o que resulta na formação de polímeros de H p
mais sensíveis. As concentrações no plasma geralmente aumen- com massa molecular m u i t o elevada.
tam dramaticamente após (1) ínfarto do m i o c á r d i o / (2) estresse,
(3) trauma, (4) infecção, (5) inflamação, (6) cirurgia ou (7) proli- Importância Clínica
feração neoplásica. O aumento começa dentro de 6 a 12 horas As concentrações de H p são aumentadas por hormônios corti-
após o início de qualquer uma dessas doenças, e a concentração costeróides e muitos N S A I D s . A Hp, assim como a Cp, é uma
pode atingir 2.000 vezes o valor normal. A determinação de CRP APP fraca e de reação tardia. As concentrações de H p sao eleva-
é clinicamente ú t i l para (1) rastreamento de doença orgânica, (2) das nas síndromes de perda protéica seletiva, tais como a sín-
avaliação da atividade de doença inflamatória, (3) detecção de drome nefrótica, em indivíduos com fenótipos H p 2-1 ou 2-2.
infecções mtercorrentes n o lúpus eritematoso sistêmico (SLE), na Obstrução biliar na ausência de doença hepatocelular grave está
leucemia, ou após cirurgia (aumento secundário da concentração associada a alterações lipídicas importantes e concentrações
plasmática), e (4) tratamento de septicemia neonatal e meningite, aumentadas de H p .
quando as coletas de amostra para investigações bacteriológicas A depleção de H p geralmente é o indicador laboratorial mais
podem ser difíceis. As concentrações circulantes de CRP podem sensível de hemólise, seguida pela depleção de hemopexina (ou
constituir u m fator de risco independente, embora fraco, para a presença de complexos de hemopexina-heme) e pela presença
doença cardiovascular (Capítulo 23). Concentrações aumentadas de metemalbuminemia, hemoglobinúria, ou ambas. Sob circuns-
associadas à doença cardiovascular m u i t o provavelmente são tâncias normais, aproximadamente 1% dos eritrócitos circulantes
é removido da circulação ou destruído n o espaço intravascular a
devidas à, em vez de serem a causa de, inflamação vascular.
cada dia. U m aumento para somente 2% de destruição por dia
Sangue do cordão umbilical normalmente tem concentrações
esgotará completamente a H p plasmática na ausência de u m
baixas de CRP (1 a 35 |j.g/dL), mas com infecção intra-uterina,
estímulo de produção, tais como inflamação aguda ou terapia
as concentrações podem atingir 26.000 \lg/dL. As concentrações
com corticosteróide.
na primeira infância normalmente aumentam por uns poucos
Os estrógenos d i m i n u e m a síntese de H p . A maioria das
dias após o parto normal, cai a concentrações muitos baixas e,
formas de doença hepatocelular aguda ou crônica, i n c l u i n d o
então, aumentam gradualmente por diversas semanas, até as con-
hepatite virai aguda e cirrose com icterícia, está associada a con-
centrações de adulto.
centrações diminuídas de H p devido ao metabolismo alterado de
estrógeno e à lise de hemácias secundária a alterações de lipídios
Considerações Laboratoriais de membrana. A ausência genética (ahaptoglobinemia) e hipo-
C o m o a CRP normalmente está presente no plasma em baixas haptoglobmemia têm sido descritas em muitas populações, espe-
concentrações, são necessários métodos imunoquímicos altamente cialmente em indivíduos de origem africana. N o entanto, muitos
sensíveis para sua quantificação (Capítulo 23). Os ensaios atuais dos relatos se originaram de populações com altas taxas de
incluem (1) ímunoturbidimetria com partículas aumentadas ou doenças hemolíticas. A HpO verdadeira (deficiência total) é rara
nefelometria, (2) imunofluorescência e (3) imunoquimiolumines- na maioria, se não em todas as populações. A hipohaptoglobine-
cência. A CRP migra na eletroforese em acetato de celulose ou em mia genética, associada a concentrações m u i t o baixas de Hp, é
gel de agarose em qualquer posição da região y lenta à região (3 mais comumente observada. E m indivíduos H p 1-1 as síndromes
média, dependendo do conteúdo de íon cálcio do tampão. Os de perda protéica seletiva (p. ex., síndrome nefrótica) geralmente
intervalos de referência estão listados na Tabela 18-3. estão associadas a baixas concentrações.

Haptoglobina Considerações Laboratoriais


A H p é uma a?-glicoproteína que se liga, irreversivelmente, à A A A G deve ser analisada em associação à H p porque os outros
hemoglobina (Hb) livre. Ela é sintetizada pelo fígado e é com- fatores mencionados anteriormente — com exceção das síndro-
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 311

mes de perda protéica — influenciam nas concentrações de ambas Pelo menos 22 variantes genéticas de T R F foram identifica-
as proteínas em paralelo. Tradicionalmente, a H p foi medida das; diversas estão associadas à mobilidade ele tro for ética alterada,
analisando a atividade de peroxidase após a mistura do soro com o que pode ser confundido com paraproteína (ver imunoglobu-
u m excesso de hemoglobina livre, a chamada capacidade de linas). A atransferrinemia congênita, discutida anteriormente, é
ligação da hemoglobina (BC). E m média, [Hp] = [Hp BC] x 1,5; m u i t o rara.
aproximadamente 1 mg de hemoglobina está ligada por 1,5 mg
de H p , dependendo do fenótipo. Considerações Laboratoriais
Os métodos imunoquímicos são agora os testes preferidos Por causa da conveniência das medidas simultâneas de ferro
para aplicações clínicas por serem rápidos e facilmente automa- sérico e T I B C e o desejo de se conhecer o porcentual de saturação
tizados. Por causa das diferenças dos tamanhos moleculares e das de TRF, algumas vezes ele é indiretamente estimado a partir do
taxas de difusão correspondentes, as técnicas de difusão em gel, valor de T I B C pela seguinte equação:
tais como imunodifusão radial (RID), requerem correção para os
fenótipos e são, portanto, demoradas e inconvenientes. Imuno-
T R F ( m g / d L ) = 0,70 x T I B C ( | i g / d L )
ensaios em solução, tais como nefelometria e turbidimetria, são
também levemente influenciados pelo tamanho, mas as diferen- ou
ças são relativamente insignificantes. Os intervalos de referência T I B C = 1,43 x T f
estão listados na Tabela 18-3.
A transferrina é quantificada com maior precisão por métodos
Transferrina imunoquímicos, i n c l u i n d o i m u n o t u r b i d i m e t r i a e imunonefelo-
Transferrina ( T R F / T í ) , ou siderofilina, é a principal proteína metria. C o n f o r m e citado anteriormente, ela migra na região pi
plasmática de transporte de ferro (Capitulo 28). Embora ela se na eletroforese de soro de rotina, mas as variantes genéticas
ligue reversivelmente e transporte uma série de cátions divalen- podem causar problemas na interpretação desses padrões. Os
tes, somente a ligação de ferro e cobre tem importância clinica intervalos de referência estão listados na Tabela 18-3.
conhecida. A T R F é responsável pela maioria da capacidade total
de ligação ao ferro (TIBC) do plasma; uma molécula se liga a dois
íons férricos se a C p estiver presente para atuar como uma ferro- Transtirretina (Pré-albumina) e Proteína de Ligação
xidase (Figura 18-4). O complexo TRF-Fe ,+ transporta, então, ao Retinoi
ferro para as células para incorporação nos citocromos, H b e A transtirretina (pré-albumina) e a proteína de ligação ao retinoi
mioglobina, e para os locais de reserva, tais como fígado e sistema (RBP) são proteínas de transporte que migram juntas como u m
reticuloendotelial. Praticamente todos os tipos celulares têm complexo molecular 1:1. A transtirretina foi originalmente deno-
receptores de superfície para TRF. minada pré-albumina de ligação à tiroxina devido à sua mobili-
dade eletroforética, anodal com relação à albumina; ela foi reno-
Bioquímica e Função meada em 1981 para melhor caracterizar sua ligação e o trans-
A T R F é sintetizada, principalmente, no fígado e migra na região porte de ambos os hormônios da tireóide (tiroxina e triiodotiro-
P na eletroforese de soro da rotina clínica. As concentrações nina) e da RBP.
plasmáticas são reguladas quase sempre pela disponibilidade do
ferro, aumentando com a deficiência de ferro e d i m i n u i n d o com Bioquímica e Função
o tratamento bem-sucedido. C o m o ocorre com a albumina, cerca A transtirretina (TTR) é uma proteína não-glicosilada (massa
de metade da T R F se encontra fora do compartimento vascular molecular 34,98 kDa), composta por quatro subunidades idênti-
nos líquidos extracelulares, i n c l u i n d o linfa e CSF. cas ligadas não-covalen tem ente para formar u m espaço central
que contém os sítios de ligação a T 3 e T 4 . Ela se liga a e transporta
Importância Clínica aproximadamente 10% de ambos os hormônios, T3 com afini-
A avaliação das concentrações plasmáticas de T R F é ú t i l para o dade mais alta do que T 4 . (A globulina de ligação à tiroxina
diagnóstico diferencial da anemia e para o monitoramento do transporta certa de 70% e a albumina se liga ao "excesso" com
tratamento da anemia ferropriva. Em casos de deficiência de baixa afinidade.) Por causa da cooperatividade negativa, a ligação
ferro, a concentração de T R F se encontra elevada, mas a proteína de T T R à primeira molécula de h o r m ô n i o d i m i n u i a afinidade
está menos saturada com ferro. Quando a anemia é causada por de ligação da segunda, de forma que somente u m sítio está nor-
falha na incorporação de ferro nos eritrócitos e não por uma malmente ocupado. A T T R é sintetizada no fígado, em uma
deficiência de ferro, a concentração de T R F pode ser n o r m a l ou menor extensão, no plexo coróide do CNS. Sua síntese é estimu-
baixa, mas a proteína é m u i t o saturada com ferro. Nos estados lada por hormônios glicocorticosteróides, andrógenos e muitos
de sobrecarga de ferro, tais como na hemocromatose hereditária, NSAIDs, incluindo aspirina.
a concentração de T R F é normal, mas a saturação (normalmente A RBP é uma proteína transportadora monomérica pequena
.30% a 38%) está aumentada. Altas concentrações de T R F são (21 kDa) de todos os trans-retinol, a forma alcoólica e fisiologica-
observadas na gravidez e durante a administração de estrógeno. mente ativa da vitamina A . Ela é sintetizada n o fígado. O zinco
A T R F é uma APP negativa e concentrações baixas estão é necessário para a síntese, e o r e t m o l é necessário para o seu
presentes na inflamação ou em tumores malignos. M á nutrição transporte pelo aparelho de Golgi. Q u a n d o circula no plasma, a
de energia e proteína (PEM) pode estar associada a concentrações RBP está em u m complexo 1.1 com a transtirretina, o que impede
baixas, mas P E M é menos freqüente do que a doença inflamató- que a RBP seja filtrada pelos glomérulos renais e estabilize a
ria em países desenvolvidos. Perda protéica, como acontece na ligação do retinoi, reduzindo sua liberação para as células que
síndrome nefrótica ou nas enteropatias com perda protéica, não sejam alvo. A obtenção de retinoi pelas células-alvo é seguida
também causam baixas concentrações. Na atransferrinemia con- pela dissociação do complexo transtirretina-RBP e a retirada de
gênita, uma concentração m u i t o baixa de T R F é acompanhada apoRBP (RBP sem o retinoi) da circulação pelos rins. Ela é reab-
por sobrecarga de ferro e anemia hipocrômica grave resistente à sorvida pelas células do túbulo proximal renal e por células
terapia com ferro. catabolizadas; os aminoácidos são, então, reutilizados.
312 PARTE IV Analitos

Importância Clínica com a CRP, enquanto a via alternativa é ativada por lipopolissa-
Se o consumo de vitamina A é adequado e a função renal é carídeos bacterianos, proteases celulares e veneno de cobra. A
normal, as concentrações de T T R e RBP tendem a aumentai e ativação da via clássica através de C3 também ativa a via alterna-
a d i m i n u i r simultaneamente. A RBP sérica aumenta na doença tiva que, então, amplifica a produção de moléculas efetoras.
renal crônica, i n c l u i n d o a nefropatia diabética. As concentrações Outros mecanismos também p o d e m ativar o sistema comple-
de ambas as proteínas se encontram aumentadas no tratamento mento, i n c l u i n d o a ação de proteases liberadas por leucócitos e
com cor ticos terói de ou N S A I D e na doença de Hodgkin. outras células inflamatórias. A etapa c o m u m envolvida é a ativa-
Concentrações reduzidas de RBP são observadas principal- ção de C3 a C3b.
mente na (1) doença hepática, (2) má nutrição protéica e (3) APR. Durante a ativação, muitos componentes do complemento
A deficiência de zinco é caracterizada pelas concentrações séricas são clivados enzimaticamente em dois fragmentos — em geral (1)
baixas tanto de RBP quanto de vitamina A. u m fragmento maior que se liga a diversas superfícies, tais como
As concentrações de transtfrretina são freqüentemente usadas membranas bacterianas, mais (2) u m fragmento pequeno que
como u m indicador do estado protéico por causa de (1) sua meia- pode se tornar ativo na quimiotaxia e na permeabilidade vascular.
vida relativamente curta, (2) u m conteúdo elevado de triptofano, Os fragmentos maiores são designados p o i u m b minúsculo e os
(3) uma alta relação entre aminoácidos essenciais e não-essenciais menores por u m a minúsculo. Os fragmentos maiores geral-
e (4) mistura de tamanho pequeno. Entretanto, ela é uma A P R mente contêm u m sítio de ligação para as membranas celulares
negativa. As concentrações caem na inflamação e em tumores e os complexos imunológicos, mais, em muitos casos, u m sítio
malignos, e na cirrose do fígado e nas doenças com perda protéica enzimático que ativa, então, o(s) próximo(s) componente(s). Por-
do intestino ou dos rins. Portanto, u m reagente de fase aguda tanto, o fragmento ativo, ligado à célula, de C3 é C3b, enquanto
sensível, tal como a CRP, deve sempre ser analisado juntamente o peptídio C3a (potente an afila toxina) é liberado no líquido ao
com a T T R se as concentrações forem usadas para estimar o redor. Os fragmentos inativados são denominados pela letra i (p.
estado nutricional. A história e o exame físico também são aspec- ex., C3bi). *
tos importantes de tais avaliações. A ativação seqüencial da via clássica ou da via alternativa,
U m a variedade de variantes genéticas de T T R foi descrita, com ou sem ativação completa do complexo de ataque à mem-
algumas das quais estando associadas à ligação de T 3 e T4 aumen- brana, produz moléculas efetoras que iniciam a inflamação e
tada (hipertiroxinemia eutireóide familiar) ou diminuída. Diver- facilitam a eliminação de antígenos por lise (p. ex., bactérias) ou
sas variantes estão associadas à deposição extracelular de fibrilas fagocitose (p. ex., complexos imunológicos). Portanto, o sistema
amilóides em vários tecidos. Essas amiloidoses hereditárias autos- complemento é u m dos principais mediadores da inflamação.
sômicas dominantes incluem cardiomiopatia amiloidótica, poli- Edema e estase secundários permitem a passagem de outros
neuropatia amiloidótica familiar e amiloidose sistêmica senil. anticorpos, complementos e fagóeitos para dentro do espaço
extravascular, o que contribui para matar e remover agentes infec-
Considerações Laboratoriais ciosos e complexos imunológicos.
A T T R migra de forma ano dal com relação à albumina na
eletroforese de soro de rotina. A presença de uma banda de T T R Bioquímica e Função
é considerada u m marcador de eletroforese de boa qualidade. N o Os componentes do complemento são sintetizados principal-
entanto, as concentrações são apenas aproximadamente semi- mente pelo fígado, embora se acredite que pequenas quantidades
quantificadas a partir da intensidade da banda. A RBP se dissocia sejam sintetizadas por monócitos e outros tipos celulares. Sua
durante a eletroforese e tem uma migração anodal com relação principal função fisiológica é destruir ou remover agentes infec-
à transferrina, mas a banda geralmente é m u i t o fraca para ser
vista. As proteínas também têm sido quantificadas por métodos
imunoquímicos cle rotina. Os intervalos de referência estão lista-
dos na Tabela 18-3.

Proteínas do Complemento
O sistema complemento consiste em pelo menos 20 proteínas
do sangue e dos fluidos teciduais. Elas interagem (1) seqüencial-
mente com os complexos antígeno-anticorpo (Ag-Ab), (2) entre
si e (3) com membranas celulares de uma forma complexa, porém
flexível para destruir vírus e bactérias e, em algumas doenças, até
varne;a IfiA.I
mesmo as células do próprio hospedeiro (Figura 18-5). As proteí-
nas do complemento estão divididas em cinco grupos de acordo
com a função:
1. A via clássica, que inclui C l , C4, C 2 e C3 (em ordem de
ativação)
2. A via alternativa, que inclui C3, os fatores B e D , e a proper-
dina
ües
3. O complexo de ataque à membrana, que inclui C5 a C9
4. Inibidores e inativadores das vias mencionadas anterior-
mente, i n c l u i n d o o i n i b i d o r de C l , os fatores H e I, e a Figura " Resumo das cascatas d o c o m p l e m e n t o . A t i v a ç ã o através
proteína de ligação a C4 (C4bp) da via clássica é mostrada à esquerda e através da via alternativa à
5. Receptores celulares dos componentes ativados ou ligados à direita. A c o n t í n u a inativação p o r h i d r ó l i s e , de C 3 a C 3 i , é mostrada na
célula. p a r t e s u p e r i o r central. A ativação direta de C 3 p o r n e u t r ó f i l o s e
A v i a clássica é ativada, principalmente, por complexos Ab-Ag proteases plasmáticas t a m b é m p o d e ocorrer. Os mecanismos de concrole
ou pela formação de complexos de bactérias ou outros ligantes estão sombreados. (Cortesia de J W W h i c h e r , c o m modificações.)
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 313

ciosos, tais como bactérias e vírus. A maioria dos componentes determinam a especificidade antigênica das moléculas específicas
do complemento apresenta p o l i m o r f i s m o genético. de anticorpo produzidas por uma única célula plasmática o u p o i
u m "clone" de células plasmáticas idênticas. Os dois sítios de
Importância Clínica ligação ao antígeno (Fab) estão na extremidade de cada par de
A importância clínica do sistema complemento é demonstrada cadeias leve e pesada idênticas. O restante da molécula, a parte
pelas associações a doenças presentes em deficiências herdadas "constante", é o mesmo para toda molécula de imunoglobulina
ou secundárias de diversos componentes. Várias proteínas do de uma determinada subclasse e carrega os sítios efetores.
complemento, em especial C3 e C4, estão bastante aumentadas Embora a maioria das proteínas plasmáticas seja sintetizada
após uma APR; entretanto, elas são APPs fracas e de reação no fígado, as imunoglobulinas são sintetizadas pelas células plas-
tardia. A concentrações de C3 e C 4 também são elevadas na máticas, a progénie de céíulas-tronco para linfócito B na medula
obstrução biliar. C l , inibidor de C l , C3, proativador de C 3 óssea. Os linfócitos B mais maduros, encontrados principalmente
(fator B) e C 4 são os componentes mais freqüentemente avalia- em lmfonodos e sangue, desenvolvem imunoglobulinas recepto-
dos com finalidades clínicas, porque suas concentrações são ras na suas membranas de superfície. A o encontrar o antígeno,
importantes em doenças relativamente comuns e os ensaios estão esses linfócitos B se proliferam e se desenvolvem dentro das
prontamente disponíveis. células plasmáticas. Estas, então, secretam no sangue anticorpos
Tanto as variantes genéticas quanto as deficiências de aproxi- específicos capazes de ligar o antígeno adicional.
madamente todos os componentes do complemento foram des- Inicialmente, os linfócitos B têm receptores de superfície de
critas. As deficiências, em particular, p o d e m estar associadas a IgM e secretam I g M como a primeira o u a "principal" resposta a
doenças. Por exemplo, a deficiência genética cle C 2 e C 4 está u m antígeno. As cadeias pesadas das moléculas de receptores de
coiriu mente relacionada com (1) doenças auto-ímunes, do com- superfície de I g M são, então, modificadas in súw a cadeias pesadas
plexo imunológico, tais como SLE, (2) polimiosite e (3) glome- IgG ou IgA, mas as regiões variáveis permanecem inalteradas. A
rulonefrite. A o contrário, a deficiência de C3 (ou sua inibição) medida que as células se transformam dentro das células plasmá-
está associada à infecção, geralmente grave, causada particular- ticas, uma segunda exposição ao mesmo antígeno causa uma
mente por bactérias encapsuladas. A deficiência de qualquer u m resposta maior, secundária ou anamnéstica de secreção de IgG.
dos componentes do complexo de membrana (C5 a C9) pode A I g M continua, contudo, a ser sintetizada contra os antígenos
estar associada a infecções graves recorrentes, persistentes e / o u confinados ao sangue, tais como antígenos de superfície dos
por neisséria. A deficiência do i n i b i d o r de C l resulta em angio- eritrócitos e parasitas tropicais.
edema hereditário (HAE), com atividade contínua de C l e, por- Os sítios efetores que interagem com células (p. ex., IgE com
tanto, de C 2 e C4. O H A E é caracterizado por crises recorrentes mastócitos) e complemento estão na região constante (Fc) das
de edema subcutâneo, laríngeo, brônquico e GI, o que pode cadeias pesadas. Variações da região Fc resultam em classes e
representar risco de vida. Concentrações diminuídas de C 4 têm subclasses dentro das quais as imunoglobulinas estão agrupadas:
sido usadas para rastrear a doença; se as concentrações do inibi- IgM, IgG (quatro subclasses), IgA (duas subclasses), IgD e IgE.
dor de C l são normais em indivíduos com sintomas clínicos e Suas respectivas cadeias pesadas são chamadas (_i, y, a , 5, e. A
C 4 d i m i n u í d o , as análises funcionais devem ser realizadas. região de dobradiça (hinge) entre as porções Fc e Fab, que é sus-
Reduções secundárias das concentrações de qualquer compo- cetível à clivagem proteolítica, controla a interação entre as partes
nente p o d e m ocorrer como resultado da tuberculose. Os exem- Eab e Fc. A região flexível contém u m a o u mais metades de cis-
plos clássicos disso são depleção de C 4 em H A E e de C 3 e C 4 tinas, que fornecem as pontes dissulfeto mtercadeias. As variações
na glomerulonefnte pós-estreptocócica grave, sendo que no estruturais entre as classes de i m u n o g l o b u l i n a também resultam
ú l t i m o caso está associada, também, à produção reduzida pelo em diferenças de função.
fígado. E m doenças como SLE e outras doenças associadas à Cadeias leves, que são produzidas independente e ligeira-
formação de complexos imunológicos, a diferenciação entre a mente em excesso, são de dois tipos — K e X — e as regiões cons-
deficiência genética e a secundária pode requerer estudos de tantes delas têm estruturas diferentes. Elas aparecem em todas as
família, fenotipagem, análise de D N A , ou combinações desses. imunoglobulinas na proporção KrX. = 2:1; as duas metades de
uma determinada molécula sempre têm o mesmo tipo. Existem
Imunoglobulinas quatro subclasses de cadeias X. Os genes de cadeia pesada estão
As imunoglobulinas, ou anticorpos humorais, reconhecem antí- localizados no cromossomo 14; as cadeias leves K são codificadas
genos estranhos e iniciam os mecanismos que os removem ou por u m gene no cromossomo 2, enquanto o gene da cadeia X
destroem. A capacidade de reconhecer a enorme variedade de está no cromossomo 22.
antígenos é efetuada através de u m grau i n comum de heteroge-
neidade estrutural. Por exemplo, uma única bactéria tem inúme- Tipos de imunoglobulinas
ros antígenos de superfície; cada u m deles tem muitos determi- As porções constantes das cadeias pesadas (Fc) contêm os sítios
nantes ou epítopos, e cada epítopo estimula a produção de anti- que interagem com células e com o complemento .Variações no
corpos para aquele determinante. Isso resulta na notável hetero- fragmento Fc são responsáveis pelas classes e subclasses nas quais
geneidade das imunoglobulinas, ilustrada pelas bandas difusas as imunoglobulinas estão agrupadas-. IgM, IgG, com quatro sub-
vistas na eletroforese. classes, IgA, com duas subclasses, I g D e IgE.

Bioquímica Básica e Função Imunoglobulina G


Todas as moléculas de imunoglobulina são compostas por u m a A imunoglobulina G (IgG) é a principal imunoglobulina produ-
ou mais unidades básicas, consistindo em duas cadeias pesadas zida pelas células plasmáticas, compondo 70% a 75% do total de
(H) idênticas e duas cadeias leves (L) idênticas (Figura 10-1, Capí- imunoglobulinas. Desse total, 65% são extravasculares; o restante
tulo 10). Cada uma das quatro cadeias tem uma região variável se encontra n o plasma. Os anticorpos IgG são produzidos em
e uma constante, com a região variável envolvida n o reconheci- resposta à maioria das bactérias e vírus. Eles se ligam a proteínas
mento e ligação ao antígeno. As seqüências de aminoácido das estranhas, solúveis e pequenas e se agregam a elas, tais como
regiões variáveis na extremidade N - t e r m i n a l das quatro cadeias toxinas bacterianas. A IgG consiste em duas cadeias pesadas e duas
314 PARTE IV Analitos

leves. Sua massa molecular é de 144 a 150 kDa, incluindo menos o antigeno em linfócitos B, mas sua função primária é desco-
de 3 % de carboidrato. N a eletroforese em acetato de celulose ou nhecida.
em gel de agarose, a IgG migra, em geral, nas regiões y e |3 lenta,
como resultado da heterogeneidade das moléculas IgG Imunoglobulina E
A IgG tem quatro subclasses, I g G ^ IgGí, IgG3 e lgG 4 , que A IgE é tão rápida e firmemente ligada a mastócitos que somente
diferem principalmente em suas regiões de dobradiça (Junge). E m quantidades traço estão normalmente presentes no soro. A IgE
IgG 3 , a dobradiça é estendida por até 15 metades de cistinas, contém 15% de carboidrato e tem uma massa molecular de 188
permitindo uma ligação eficiente a C l q . Tanto IgG] quanto IgG 3 kDa. Sua estrutura é similar à de IgG. A IgE se liga a mastócitos
se ligam a receptores de Fc em células faguciláiias, ativam monó- por meio de sítios de ligação em sua região Fc. Q u a n d o o anti-
citos ídller (células K) e atravessam a placenta por u m processo de geno (alergênico) faz ligação cruzada de duas das moléculas IgE
transporte ativo dependente da ligação de Fc. A IgG! é a princi- ligadas, o mastócito é estimulado a liberar histamina e outras
pal IgG a atravessar a placenta e a proteger neonatos durante os ammas vasoativas que são responsáveis pela permeabilidade vas-
primeiros 3 meses de vida pós-termo. A meia-vida de IgGj, como cular e pela contração do músculo liso, ocorrendo em reações
as de IgG 2 e IgG 4 , é de cerca de 22 dias, m u i t o mais longa do alérgicas como (1) rinite, (2) asma (3) urticária e (4) eczema.
que a de IgG3 (7 dias).
Importância Clínica
Imunoglobulina M N o r m a l m e n t e o soro contém uma mistura policlonal e heterogê-
A I g M é a imunoglobulina mais primitiva e menos especializada. nea de anticorpos, que representa "idiotipos" múltiplos (produ-
Ela é a única i m u n o g l o b u l i n a sintetizada normalmente pela tos de muitos clones diferentes de células plasmáticas). Cada u m
maioria dos neonatos. Em soro de adultos, é a terceira imuno- desses produz u m único tipo de molécula de imunoglobulina. A
globulina mais abundante, sendo responsável por 5 % a 10% do proliferação benigna ou maligna de u m desses clones produz uma
total de imunogiobulinas circulantes. C o m o receptor de mem- concentração elevada de u m único idiotipo (um anticorpo m o n o
brana, a I g M é uma molécula monomérica, mas a maioria da I g M clonal), que pode aparecer como uma banda estreita e fina na
sérica é u m pentâmero; cada monômero é similar à molécula de eletroforese de proteínas. U m a segunda banda, mais fraca, de
IgG, exceto pelo fato de que a I g M pentamérica também contém cadeias leves livres também pode ser visível. Se uns poucos clones
u m glicopeptídio pequeno, a cadeia ], que é importante para a proliferam, podem existir várias bandas finas (p. ex., as bandas
polimerização Neoplasias das células plasmáticas podem secretar oligoclonais vistas na eletroforese de CSF em [1] doenças desmie-
I g M monomérica além de, ou em vez de, pentâmeros. A massa linizantes, tais como esclerose múltipla, [2] soro após transplante
molecular elevada de I g M (970 kDa; - 1 0 % de carboidratos) de medula óssea bem-sucedido, o u [3] resposta inicial a organis-
impede sua rápida passagem para os espaços extravasculares. A mos como o Streptococcus pneumonias). As doenças podem, por-
I g M não é transportada através da placenta e, p o r t a n t o , não tanto, estar associadas a uma redução ou a u m aumento das
está envolvida em doenças hemolíticas dos neonatos. Ela é u m imunogiobulinas policlonais normais, ou a u m aumento em u m
ativador de complemento eficiente, sendo as cadeias Fc espaça- ou mais idiotipos monoclonais.
das a uma distância correta para parear com os sítios de ligação
de C l q . Deficiência de Imunoglobulina
A defesa i m u n e depende de quatro sistemas complexos e intera-
Imunoglobulina A tivos: (1) imunidade celular (Imfócitos T), (2) anticorpos humo-
Aproximadamente 10% a 15% da imunoglobulina sérica é IgA, rais (imunogiobulinas), (3) sistema fagocítico e (4) sistema com-
que contém 10% de carboidrato, tem u m peso molecular de 160k plemento. Os dois últimos sistemas não são específicos pelo fato
Da, e uma meia-vida de 6 dias. Em sua forma monomérica, sua de eles não terem memória imunológica para o antigeno. Somente
estrutura é similar à de IgG, mas 10% a 15% de IgA no soro são o segundo e o quarto sistemas são compostos por proteínas plas-
diméricas, particularmente IgA 2 , que é mais resistente à destrui- máticas. Estados de i m u n o d e f i c i ê n c i a caracterizados por infec-
ção por algumas bactérias patogênicas do que I g A ^ Na eletrofo- ções recorrentes podem ser resultado de u m defeito em qualquer
rese, a IgA migra na região (B-y, anodal à maioria das IgGs. u m desses sistemas ou qualquer combinação deles.
U m a forma possivelmente mais importante de IgA é a U m a redução óbvia ou ausência da banda y na eletroforese
chamada IgA secretora, encontrada em (1) lágrimas, (2) suor, (3) indica deficiência de anticorpos IgG. A deficiência em I g G pode
saliva, (4) leite, (5) colostro, (6) secreção gastrointestinal e (7) sei secundária à perda protéica ou à falha adquirida da síntese,
secreção brônquica. A IgA secretora tem massa molecular de 380 mas pode ser causada por uma doença genética primária. O
k D a e consiste em duas moléculas de IgA, u m componente secre- diagnóstico de u m estado de deficiência é clinicamente impor-
tor (massa molecular de 70 kDa) e uma cadeia ) (15,6 kDa). Ela tante porque é possível se fazer a terapia de substituição com IgG.
é sintetizada, principalmente, pelas células plasmáticas nas mem- A presença de uma banda y aparentemente normal na eletrofo-
branas mucosas do intestino e do brônquio e nos duetos da rese de proteínas não descarta a deficiência de imunoglobulina.
mama lactante. O componente secretor faz a IgA secretora mais Algumas deficiências primárias envolvem apenas uma ou duas
resistente a enzimas, p e r m i t i n d o que ela proteja a mucosa contra classes ou subclasses de imunoglobulina; se a concentração total
bactérias e virus. Sua presença no colostro e leite provavelmente de imunoglobulina não é m u i t o reduzida, pode não se suspeitar
c o n t r i b u i para a proteção dos neonatos contra infecções intesti- da deficiência (p. ex., IgA ou u m a subclasse de IgG) a partir do
nais. A IgA ativa o complemento pela via alternativa (Figura 18-5), padrão eletioforético. A l é m disso, alguns pacientes têm concen-
mas a função exata de IgA no soro não está esclarecida. trações típicas de imunoglobulina, mas os anticorpos não reagem
normalmente a antígenos relacionados.
Imunoglobulina D Os bebês têm imunodeficiência fisiológica de IgG transitória,
A I g D é responsável por menos que 1% das imunogiobulinas com o valor mais baixo aos 3 meses de idade. A deficiência
séricas. Ela é monomérica, contém cerca de 12% de carboidrato, fisiológica prolongada ou grave pode estar associada a taxas
e tem uma massa molecular de 184 kDa. Sua estrutura é similar aumentadas de infecção, especialmente por bactérias encapsula-
à de IgG. C o m o a I g M , a I g D é u m receptor de superfície para das. As concentrações de IgG materna, transferida através da
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 315

placenta, aumentam rapidamente n o feto durante a ú l t i m a (3) fragmentos de moléculas de imunoglobulinas. Caso sejam
metade da gestação, mas caem rapidamente após o nascimento fragmentos, estes são normalmente de cadeias leves (proteínas de
(Figura 18-6). Os neonatos que estão particularmente sob risco Bence Jones) ou, raramente, de cadeias pesadas ou metades de
incluem (1) bebês prematuros, que começam com menos IgG moléculas. A m b o s os monômeros e os fragmentos podem poli-
materna c (2) bebes noa quais o início da síntese de IgG c tran- merizar. Cerca de 60% das paraproteínas estão associados a
sitoriamente atrasado. As determinações de IgG são inestimáveis tumores de células plasmáticas (mieloma m ú l t i p l o ou plasmoci-
nesses casos porque as concentrações podem se tornar perigosa- toma solitário) e aproximadamente 15% são causados por super-
mente baixas se o tratamento do bebê não for iniciado. O produção de linfócitos B, principalmente nos linfonodos — (1)
aumento das concentrações de I g M e da I g A salivar normal com linfomas, (2) leucemia linfocítica crônica, (3) macroglobulinemia
6 semanas de idade sugere u m prognóstico favorável. O contato de Waldenstrõm, ou (4) doença de cadeia pesada. Até 25% das
do neonato com antígenos ambientais normalmente faz com que paraproteínas são benignas e muitas nunca são descobertas.
os linfócitos B comecem a se multiplicar e as concentrações de U m a paraproteína deve ser identificada no sangue ou na
I g M comecem a aumentar, seguido, semanas a meses depois, urina, ou em ambos; suas cadeias pesada e leve devem ser tipadas;
pelas IgA e IgG e as concentrações das IgG, IgA e I g M policlonais devem ser
determinadas. Essas determinações ajudam a confirmar se a banda
Hiperimunoglobulinemia Policlonal n o padrão eletroforético é, de fato, uma paraproteína, ajuda na
Os aumentos policlonais das imunoglobulinas séricas são a res- avaliação do prognóstico, e mostra se as imunoglobulinas policlo-
posta normal a infecções. A resposta de IgG predomina nas res- nais são baixas a ponto de deixar u m paciente vulnerável a infec-
postas auto-imunes; IgA nas infecções de pele, de intestino, respi- ções. O prognóstico é baseado (1) na classe da paraproteína encon-
ratória e renal; e I g M nas infecções virais primárias e por parasitas trada, (2) na sua concentração n o momento do diagnóstico e (3)
sanguíneos, como malária. As infecções bacterianas crônicas podem na taxa em que sua concentração aumenta. A concentração no
causar u m aumento nas concentrações séricas de todas as imuno- momento do diagnóstico geralmente se correlaciona com o grau
globulinas. Em tais casos, as estimativas das diferentes imunoglo- atual do processo da doença. A taxa do aumento na concentração
bulinas raramente fornecem mais informações do que a eletrofo- é u m indicativo da taxa de crescimento da neoplasia.
rese de proteínas. N o entanto, elas são valiosas para o diagnóstico Paraproteínas de baixa concentração podem ser clinicamente
diferencial de doenças hepáticas e de infecções intra-uterinas. E m benignas, com radiografias de esqueleto e medula óssea normais.
(1) ciiTose biliar primária, a concentração de I g M é m u i t o aumen- Entretanto, os seguintes achados sugerem que a condição pode,
tada; (2) hepatite crônica ativa, a IgG e, algumas vezes, a I g M estão eventualmente, se tornar maligna: (1) a concentração de IgG é
aumentadas; e (3) cirrose porto!, a IgA e, algumas vezes, a IgG estão maior do que 2 g / d L ; (2) a concentração de IgA ou IgM é maior
elevadas E m infecções intra-uterinas, a produção de I g M pelo feto do que I g / d L ; (3) descoberta de uma paraproteína IgD ou IgE
aumenta e a concentração de I g M no sangue do cordão umbilical em qualquer concentração; (4) fragmentos de imunoglobulina
é elevada. As estimativas de IgE são usadas n o tratamento de asma estão presentes na urina ou n o soro, geralmente a proteína de
e outras condições alérgicas, especialmente em crianças. Bence Jones; (5) a concentração da paraproteína aumenta pro-
gressivamente; (6) as concentrações de imunoglobulina policlo-
Imunoglobulinas Monoclonais (Paraproteínas) nal d i m i n u e m m u i t o . Se esses critérios não estão presentes, a
U m único clone de células plasmáticas produz moléculas de condição provavelmente é benigna ou é uma "gamopatia mono-
imunoglobulina com estrutura idêntica. Se o tamanho do clone clonal de significado desconhecido" ( M G U S ) . Esses pacientes
aumenta muito, a concentração dessa proteína específica no soro devem ser monitorados por pelo menos cinco anos por causa da
do paciente pode produzir uma banda estreita e bastante discreta possibilidade de conversão à malignidade.
na eletroforese. Essas imunoglobulinas monoclonais, denomina- Mieloma Múltiplo. Mieloma múltiplo é uma neoplasia maligna,
das paraproteínas, podem ser (1) polímeros, (2) monômeros, ou geralmente de u m único clone de células plasmáticas, embora às

Adquirida Transplacetariamente Produção Endógena


IgM lyG IgA
100 \ \ 100 S \ \

80

ê
Ü 60

£ 40

5 20


I 1 i i—i 1—I
2 3 4 5 6 7 8 9 2 3 4 5 6 7 8 9 2 3 4 5 6 7 8 9
Idade Fetal (Meses) Idade Fetal (Meses)
Nascimento Idade (Anos) Nascimento Idade (Anos)
B

Figura 18-6 Concentrações de i m u n o g l o b u l i n a sérica antes do nascimento e n o p r i m e i r o ano de vida


expressas c o m o u m porcentual das concentrações de adulto.
316 PARTE IV Analitos

vezes dois ou mais clones possam estar envolvidos. As células Doença de Cadeia Pesada. As formas pouco comuns de IgG,
plasmáticas, na maioria das vezes, proliferam de forma difusa por I g A ou cadeias leves raramente polimerizam e causam uma sín-
toda a medula óssea, mas ocasionalmente elas f o r m a m u m t u m o r drome similar com alta viscosidade sanguínea. As doenças de
solitário denominado plasmocitoma. Lesões osteolíticas são produ- cadeia pesada, na qual a paraproteína consiste em apenas uma
zidas, e as outras células da medula óssea são reduzidas desenvol- cadeia pesada, geralmente incompleta, são doenças raras associa-
vendo trombocitopenia, anemia e leucopenia. A o mesmo tempo, das à infiltração linfóide. A mais c o m u m delas é a doença de cadeia
o desenvolvimento de clones normais de células plasmáticas é a , na qual o intestino é infiltrado e pode-se observar uma má
inibido; conseqüentemente, a síntese de outras imunogiobulinas absorção grave.
é reduzida e se observa uma síndrome de infecções recorrentes. Doença Amilóide e Crioglobulinemia. Ambas as doenças são
A incidência de mieloma m ú l t i p l o é baixa em indivíduos com algumas vezes caracterizadas por paraproteínas. U m a crioglobu-
idade menor do que 60 anos, mas aumenta rapidamente com a lina é uma proteína sérica que precipita em temperaturas mais
idade. Pacientes podem ter sintomas locais de uma lesão óssea, baixas do que a temperatura n o r m a l do corpo. A maioria das
tais como dor ou fraturas, mas mais freqüentemente têm sinto- crioglobulinas é formada por complexos de imunoglobulina poli-
mas inespecíficos, tais como (1) perda de peso, (2) anemia, (3) clonal, mas aproximadamente a metade é monoclonal, geral-
hemorragia, (4) infecções repetidas ou (5) insuficiência renal. mente IgM. Para avaliação da crioglobulina, uma temperatura de
U m a concentração sérica n o r m a l de fosfatase alcalina em u m 37 ° C deve ser mantida na coleta de sangue e na separação e no
paciente com lesões ósseas destrutivas é u m achado laboratorial armazenamento do soro, a f i m de evitar que a crioglobulina
altamente sugestivo. Características básicas do diagnóstico da precipite. A doença amilóide é caracterizada por depósitos de
doença são a descoberta de células plasmáticas neoplásicas em complexos de proteína fibrilar insolúvel em vários tecidos; com
u m aspirado de medula óssea, a demonstração radiológica de coloração especial, os depósitos são facilmente visualizados em
lesões osteolíticas e a identificação de uma paraproteína no soro cortes de biópsia. Alguns dos depósitos contêm fragmentos de
ou na urina. Todos os pacientes que podem desenvolver a doença cadeias leves, especialmente da região variável. Os depósitos ami-
devem ser rastreados com relação a paraproteínas; menos de 1% lóides também podem ocorrer em mieloma múltiplo.
dos portadores da doença não têm paraproteínas detectáveis. A
Tabela 18-5 lista as paraproteínas que podem estar associadas a
mieloma m ú l t i p l o e algumas de suas características. Proteína em Outros Líquidos Corpóreos
Tumores Linfóides. Tumores Imfóides, tais como linfomas o u A l é m do plasma, as proteínas de interesse clinico são encontradas
leucemias linfocíticas crônicas, originam-se de estágios iniciais do em diversos outros líquidos corpóreos e tecidos, i n c l u i n d o (1)
desenvolvimento de línfócitos B. E m geral, cerca de 1 em 5 deles urina, (2) CSF, (3) líquido amniótico, (4) saliva e (5) fezes.
produzem paraproteínas, comumente da classe IgM.
Macroglobulinemia d6 Waidenstrõm. Se ficar provado que uma
paraproteína é IgM, o diagnóstico provavelmente é maerogiofcuíí- Proteínas Urinárias
nemia de Waidenstrõm, e não mieloma múltiplo. Os clones da Proteinúria é definida como a presença de proteínas em excesso
macroglobulinemia de Waidenstrõm se originam dos linfócitos na urina, como é visto (1) em muitos tipos de doença renal
B mais maduros e, invariavelmente, produzem IgM; de fato, é a (Capítulo 34), (2) após exercício intenso e (3) na desidratação.
presença dessa proteína de massa molecular m u i t o alta que
produz o sintoma importante da doença — u m aumento na vis- Bioquímica e Função
cosidade do sangue. A proteinúria de Bence Jones ocorre em A membrana basal glomerular ( G B M ) do r i m atua como u m
80% desses casos, mas a condição é m u i t o menos maligna do que ultrafiltro para as proteínas plasmáticas. O grau pelo qual as
o mieloma m ú l t i p l o . Os linfonodos e o baço se encontram proteínas passam através da membrana é função (1) do tamanho
aumentados, mas a infiltração linfóide cresce de forma lenta, e molecular, (2) da carga iônica líquida e (3) da concentração plas-
os sintomas são comumente tratáveis por transfusão de hemo- mática das proteínas.' E m geral, o transporte das moléculas pro-
componentes ou plasmaférese. téicas através da membrana glomerular é inversamente relacio-

TABELA 18-5 Imunogiobulinas Monoclonais (Paraproteínas) no Mieloma Múltiplo


Paraproteína Idade da Incidência da Proteinúria
Plasmática Incidência* (%) Ocorrência* (Média) de Bence Jones {%) Comentários

IgG 50 65 60 Pacientes mais suscetíveis à imunodeficiência; as


paraproteínas atingem os níveis mais altos
IgA 25 65 70 Tendência à li ipe real cernia e amíloidese
Somente Bence 20 56 100 Freqüentemente doença renal; lesces ósseas;
Jones (cadeias amiloidose; prognóstico ruim
leves livres)
IgD 2 57 100 90% tipo Jl; freqüentemente possui lesão
extra-óssea, amiloidose e falha renal; 50% têm
linfonodos, ligado e baço aumentados;
prognóstico ruim
IgM 1 - 100 Podem ou não ter síndrome de hiperviscosidade
IgE 0,1 - A maioria -

Biclona! 1 - - -

Não-detectada <1 - 0 Normalmente redução das imunogiobulinas normais


* Aproximado.
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 317

n a d o c o m o t a m a n h o e c o m a carga negativa l í q u i d a . N o r m a l - los de seis meses, preferencialmente p o r u m teste q u a n t i t a t i v o . A


m e n t e as proteínas de massa m o l e c u l a r alta, tais c o m o I g M persistência de p r o t e i n ú r i a sugere doença renal básica. N a gravi-
(massa molecular • 9 0 0 k D a ) , estão presentes n o f i l t r a d o glome- dez n o r m a l , a excreção de proteinas pode a u m e n t a r para 2 0 0 a
r u l a r somente em quantidades-traço. Q u a n t i d a d e s relativamente 3 0 0 m g / d i a sem perigo. Esse p e q u e n o a u m e n t o contrasta c o m a
pequenas, mas significativas, de a l b u m i n a (massa m o l e c u l a r de p r o t e i n ú r i a da pré-eclâmpsia, u m a p r o t e i n ú r i a g l o m e r u l a r de até
66 k D a ) são passadas para o f i l t r a d o c o m o resultado de sua alta 3 g / d i a , e c o m as proteínurias de insuficiência renal latente o u
concentração plasmática e massa m o l e c u l a r relativamente baixa. de infecção d o t r a t o u r i n á r i o .
As proteínas c o m massas moleculares de 15 a 40 k D a são filtradas U m a realidade clínica a d i c i o n a l , a microalbuminúria, é reco-
mais p r o n t a m e n t e , mas em m e n o r q u a n t i d a d e p o r causa de suas n h e c i d a c o m o sendo de grande v a l o r p r e d i t i v o da n e f r o p a t i a
concentrações plasmáticas baixas. i m i n e n t e e m pacientes diabéticos do t i p o I.
A q u a n t i d a d e de u m a d e t e r m i n a d a proteína na u r i n a excre- Proteinúria Tubular. A p r o t e i n ú r i a t u b u l a r é caracterizada pelo
tada t a m b é m depende da extensão de sua reabsorção pelos aparecimento de proteínas de b a i x o peso m o l e c u l a r na u r i n a
t ú b u l o s renais, que t a m b é m é inversamente relacionada c o m o c o m o resultado da reabsorção d i m i n u í d a pelos t ú b u l o s proxi-
t a m a n h o molecular. Proteínas pequenas, tais coma B M G e a r mais. Pode ocorrer sozinha, mas é mais c o m u m e n t e associada à
m i c r o g l o b u l i n a ( A ] M ) , são reabsorvidas quase por c o m p l e t o se a p r o t e i n ú r i a glomerular. Q u a n d o a p r o t e i n ú r i a t u b u l a r ocorre
função t u b u l a r estiver n o r m a l . S o m e n t e u m a pequena quanti- sozinha, a excreção de a l b u m i n a é apenas ligeiramente aumen-
dade de proteína está presente na u r i n a n o r m a l excretada (20 a tada, mas f r e q ü e n t e m e n t e não o bastante para dar u m a reação
150 m g / d i a ) , e a m a i o r i a é a l b u m i n a . O restante é quase inteira- positiva na tira de papel. Testes mais específicos são necessários
m e n t e o u r o m u c ó i d e da p r o t e í n a de T a m m - H o r s f a l l , provavel- para detectar a p r o t e i n ú r i a t u b u l a r simples o u para identificá-la
m e n t e secretado pelos t ú b u l o s distais. A p e r m e a b i l i d a d e aumen- e m presença de p r o t e i n ú r i a g l o m e r u l a r . A eletroforese em agarose
tada da G B M é p r i m e i r a m e n t e sinalizada pelas quantidades ele- da u r i n a de pacientes em s o f r i m e n t o resulta e m u m padrão
vadas de a l b u m i n a na u r i n a . A perda da seletividade n o r m a l característico — bandas a e |3 i m p o r t a n t e s , u m a banda de albu-
("peneiração") é d e m o n s t r a d a pelo aparecimento de proteínas m i n a relativamente fraca, e algumas vezes u m a banda pós-y. Ele-
c o m massa m o l e c u l a r cada vez m a i o r na u r i n a . A reabsorção troforese em gel de p o l i a c r i l a m i d a e d o d e c i l sulfato de sódio
t u b u l a r d i m i n u í d a , o u d i m i n u i n d o , é sugerida pelas concentra- (SDS-PAGE) é ainda mais ú t i l , especialmente na detecção de
ções crescentes de proteínas de massa m o l e c u l a r baixa na u r i n a . p r o t e i n ú r i a t u b u l a r e m presença de p r o t e i n ú r i a glomerular,
p o r q u e ela separa as proteínas p e l o t a m a n h o molecular. As pro-
Importância Clínica teínas n o r m a l m e n t e excretadas n a p r o t e i n ú r i a t u b u l a r i n c l u e m
A l é m d o sangramento pós-renal, a proteinúria ocorre c o m (1) (1) B M G - 11,8 k D a , (2) lisozima - 14,5 k D a , (3) R B P - 21 k D a ,
p e r m e a b i l i d a d e g l o m e r u l a r a u m e n t a d a (proteinúria glomerular), na (4) A : M — 27 k D a , (5) A A G — 4 0 k D a e (6) diversos h o r m ô n i o s
q u a l a proteína u r i n á r i a é p r i n c i p a l m e n t e a a l b u m i n a , (2) reab- p o l i p e p t í d i c o s e enzimas. U m a m a n e i r a simples de rastrear a
sorção t u b u l a r defeituosa (proteinúria tubular), na q u a l as proteí- p r o t e i n ú r i a t u b u l a r é q u a n t i f i c a r a B M G o u a lisozima. A razão
nas urinárias são p r i n c i p a l m e n t e as de baixo peso molecular, (3) de desaparecimento proteína-creatinina para a proteína marca-
concentração a u m e n t a d a no plasma de u m a proteína de b a i x o d o r a t a m b é m é u m i n d i c a d o r ú t i l de excreção (p. ex., a razão para
peso m o l e c u l a r a n o r m a l , tais c o m o as cadeias leves de i m u n o g l o - a lisozima é a u m e n t a d a 100 vezes na s í n d r o m e de Fanconi) e é
b u l i n a (proteinúria de sobrecarga), e (4) secreção a n o r m a l de p r o t e í n a s u f i c i e n t e m e n t e confiável para a m a i o r i a dos fins diagnósticos e
n o t r a t o u r i n á r i o {proteinúria pós^enal). A s duas ú l t i m a s são as prognósticos.
menos c o m u n s . A proteinúria tubular aguda p o d e ocorrer c o m (1) queimaduras,
Proteinúria Glomerutaí, Esse é o t i p o mais c o m u m e mais grave (2) pancreatite aguda, (3) e n v e n e n a m e n t o p o r metal pesado o u
de p r o t e i n ú r i a . Os pacientes são r o t i n e i r a m e n t e rastreados c o m (4) administração de drogas genotóxicas e pode, p o s t e r i o r m e n t e ,
relação a essa doença por u m teste simples da a l b u m i n a usando ser c o m p l e t a m e n t e resolvida. A proteinúria tubular crônica é geral-
t i r a de papel. Se o resultado d o teste for negativo, a p r o t e i n ú r i a m e n t e irreversível. Sua etiologia p o d e ser hereditária, c o m o na
glomerular clinicamente significativa será excluída; se o resultado s í n d r o m e de Fanconi; o u a d q u i r i d a , c o m o na p i e l o n e f r i t e crônica
do teste for positivo, investigação posterior, como u m a avaliação o u n u m a doença sistêmicaj t a l c o m o cirrose o u sarcoidose.
q u a n t i t a t i v a da excreção de proteína, estará indicada. C o m o a Drogas, tais c o m o fenacetina, e toxinas, c o m o c á d m i o , t a m b é m
m a i o r i a da proteína excretada é a a l b u m i n a , a p r o t e i n ú r i a glome- causam d a n o t u b u l a r , que p o d e ser grave. E m alguns casos a
rular é freqüentemente classificada c o m o albuminúria. U m a u m e n t o p r o t e i n ú r i a t u b u l a r leve p o d e ser o ú n i c o sinal de d a n o renal
na permeabilidade g l o m e r u l a r ocorre e m inúmeras condições progressivo. Testes para a p r o t e i n ú r i a t u b u l a r estão sendo utiliza-
caracterizadas p o r lesão difusa dos TÍns. N o diabetes mellitus, a dos agora para m o n i t o r a r (1) rejeição de transplante renal, (2)
permeabilidade vascular a u m e n t a e a a l b u m i n ú r i a aparece q u a n d o e n v e n e n a m e n t o p o r c á d m i o e a m i n o g l i c o s í d e o , e (3) p i e l o n e f r i t e
a regulação metabólica é r u i m , pelo menos em parte, p o r causa crônica. A B M G é u m a p r o t e í n a marcadora favorita para a pro-
da glicosilação e da perda das cargas negativas nas membranas. teinúria tubular.
A proteinúria funcional o u benigna é u m a f o r m a de p r o t e i n ú r i a Proteinúria de Sobrecarga. A p r o t e i n ú r i a de sobrecarga i n c l u i
g l o m e r u l a r que provavelmente é causada p o r mudanças de f l u x o (1) h e m n g l o b i n ú r i a , (2) m i o g l o b i n ú r i a e (3) p r o t e i n ú r i a de Bence
sanguíneo através dos glomérulos. Ela é observada c o m (1) exer- Jones (concentrações plasmáticas elevadas de paraproteínas de
cício, (2) febre, (3) exposição ao f r i o , (4) insuficiência cardíaca cadeia leve de i m u n o g l o b u l i n a , c o m o visto n o m i e l o m a m ú l t i -
congestiva, (5) hipertensão e (6) arteriosclerose. As taxas de excre- plo). A detecção de cadeias leves depende das análises eletroforé-
ção protéica são menores q u e 1 g / d i a . A proteinúria ortostática o u tica e i m u n o q u í m i c a . A p r o t e i n ú r i a de sobrecarga de hemoglo-
postural, associada à posição ereta, é t a m b é m u m a f o r m a de pro- b i n a o u m i o g l o b i n a é detectada p o r testes i m u n o q u í m i c o s o u
t e i n ú r i a f u n c i o n a l , mas a excreção p o d e exceder 1 g / d i a . Dife- funcionais.
r e n t e m e n t e , a p r o t e i n ú r i a ortostática complica a avaliação de Proteinúria Pós-renal. A pToteinúria pós-renal se refere à pro-
pacientes assintomáticos. Se t r a n s i t ó r i a , provavelmente é benigna; teína q u e se o r i g i n a do trato u r i n á r i o abaixo dos r i n s e geralmente
mas se crônica o u não i n t e i r a m e n t e relacionada c o m a postura, é provocada p o r i n f l a m a ç ã o o u m a l i g n i d a d e . Ela é diagnosticada
as taxas de excreção de p r o t e í n a devem ser checadas em interva- p o r avaliação microscópica do s e d i m e n t o u r i n á r i o para células
31B PARTE IV Analitos

inflamatórias e malignas. A presença de eritrócitos ou leucócitos carbono e oxigênio, entre o sangue e o líquido extracelular do
em u m sedimento urinário centrifugado é uma prova valiosa de cérebro e suas estruturas acessórias. Neste capítulo, o termo bar-
que sua origem é dos rins, e náo extra-renal. reira sangue-CSF é usado como u m sinônimo para o endotélio
capilar de vasos do sistema nervoso central (CNS). A análise de
Considerações Laboratoriais proteína total e de proteínas específicas do CSF é usada, princi-
A detecção qualitativa da proteína em excesso na urma é mais palmente, para detectar permeabilidade aumentada da barreira
comumente realizada usando-se testes de tira de papel, muitos sangue-CSF para as proteínas plasmáticas ou síntese mtratecal
deles sendo métodos baseados em corantes. C o m o todas as técni- aumentada de imunogiobulinas.
cas de ligação a corante, os métodos com tira de papel são mais Permeabilidade Aumentada. A permeabilidade da barreira
sensíveis para a albumina do que para outras proteínas plasmáticas. sangue-CSF para as proteínas plasmáticas é aumentada por
Eles são, portanto, testes de rastreamento excelentes para a protei- pressão intracraniana elevada resultante de (1) u m t u m o r n o
núria glomerular, mas insatisfatórios para a detecção de proteinúria cérebro, (2) hemorragia intracerebral ou (3) lesão traumática.
tubular ou proteinúria de sobrecarga do tipo Bence Jones. A l é m disso, a permeabilidade aumentada é vista em inflamação
O ensaio quantitativo para a proteina total ou para as diferentes associada a (1) meningite bacteriana ou virai, (2) encefalite ou (3)
proteínas geralmente é realizado em coletas por u m período de poliomielite. Os aumentos mais notáveis de proteína total de
tempo. Períodos de 4. 8 e 12 horas podem ser apropriados para CSF são observados em meningite bacteriana. A proteína de CSF
monitorar u m transplantado renal ou u m paciente cujas perdas lombar se encontra aumentada quando a circulação de CSF é
renais agudas de albumina estão sendo compensadas com trata- mecanicamente obstruída acima do local da punção (como por
mento de reposição bem controlado. Na maioria dos casos, entre- u m t u m o r na medula espinal) e as proteínas plasmáticas se equi-
tantOj prefere-se uma coleta de 24 horas, tanto para a análise libram através das paredes dos capilares meníngeos para dentro
quantitativa total quanto para uma proteína específica e para a do CSF estagnado. O efeito de qualquer uma dessas condições
separação eletroforética. é que as proporções de proteínas específicas no CSF se asseme-
O intervalo de referência para a proteína urinária é 1 a 14 l h a m cada vez mais às do soro. Neonatos prematuros e a termo
m g / d L . A taxa de excreção em descanso é 50 a 80 m g / d i a , mas têm maior permeabilidade e, como resultado, concentrações con-
muitos laboratórios indicam o valor de referência como menor sideravelmente maiores de proteína total do CSF (até 130 m g /
que 100 rng/dia (menos que 150 m g / d i a na gravidez). A concen- dL) do que os adultos saudáveis.
tração pode atingir 300 m g / d L na urina de indivíduos saudáveis SíntSSS Intratecal. A demonstração de síntese intratecal aumen-
após exercício. tada de imunogiobulinas, particularmente IgG, é de grande impor-
tância para o diagnóstico de doenças desmielinizantes do CSF,
Proteínas do Líquido Cerebrospinal especialmente esclerose múltipla. Na esclerose múltipla, a dete-
O CSF para a análise laboratorial normalmente é obtido da rioração incompleta das bainhas de mielina dos axónios no C N S
região lombar. afeta, profundamente, a condução de impulsos nervosos. A causa
da desmielinização não é conhecida, e os locais das lesões são
Bioquímica e Função imprevisíveis; os sintomas resultantes variam enormemente. Os
O CSF é secretado pelo plexo coróide, ao redor dos vasos linfócitos B que infiltram as lesões sintetizam IgG e, ocasional-
cerebrais, e ao longo das paredes dos ventrículos cerebrais. Ele (1) mente, outras imunogiobulinas. C o m o os axônios do C N S estão
preenche os ventrículos e as cisternas, (2) banha a medula espinal em contato í n t i m o com o CSF, as imunogiobulinas produzidas
e (3) é reabsorvido para o sangue através das vilosidades da arac- na lesão aparecem no CSF.
nóide. A reposição do CSF é rápida, sendo trocada totalmente
cerca de quatro vezes por dia. Mais de 80% do conteúdo proteico Considerações Laboratoriais
do CSF se origina do plasma por ultrafiltração e pinocitose. O Diversas técnicas analíticas são usadas para avaliar a permeabili-
restante é de síntese intratecal. A concentração mais baixa de dade aumentada da barreira sangue-CSF para as proteínas plas-
proteína total e a menor proporção de moléculas protéicas maiores máticas e detectar a síntese intratecal de imunogiobulinas.
estão no f l u i d o ventricular. A medida que o CSF desce para a O intervalo de referência para a albumina no CSF lombar
espinha lombar (local a partir do qual as amostras são normal- pelo R I D é 17,7 a 25,1 m g / d L . N o CSF normal, IgA, IgD e I g M
mente coletadas), a concentração de proteína aumenta. são, cada uma, menores do que 0,2 m g / d L . Os intervalos de
C o m o o CSF é principalmente u m ultrafiltrado do plasma, referência para IgG são associados à idade; suas médias aumentam
normalmente há predominância de proteínas plasmáticas de de 3,5 m g / d L , no grupo de 15 a 20 anos de idade, para 5,8 m g /
massa molecular relativamente baixa, tais como (1) pré-albumma, dL, em adultos com 60 anos ou mais. O intervalo de referência
(2) albumina e (3) transferrina. N e n h u m a proteína com massa usual para IgG do CSF em adultos é de 0,8 a 4,2 m g / d L .
molecular maior do que a da IgG está presente em concentração
suficiente para ser visualizada por eletroforese. O padrão eletro-
forético de CSF normal após concentração do f l u i d o tem duas Proteínas do Líquido Amniótico, Saliva, Fezes e
características que se destacam — uma banda proeminente de Cavidades Peritoneai e Pleural
pré-albumina e duas bandas de transferrina. A segunda banda O líquido amniótico é analisado com relação à AFP e outros
eletroforética de transferrina é a proteína t (tau), uma forma de analitos no rastreamento pré-natal de defeitos fetais. A saliva é
transferrina que é produzida ou transformada mtratecalmente e, examinada com relação à IgA, na avaliação de possíveis deficiên-
por comparação com a transferrina plasmática, é deficiente n o cias imunológicas, e à B M G , na síndrome de Sjõgren. Análise de
teor de ácido siálico. A A T nas fezes é usada algumas vezes no diagnóstico de entero-
patia exsudativa ou outras formas de perda proteica gastrointes-
importância Clínica tinal; ao contrário de outras proteínas plasmáticas, a A A T é
A barreira sangue-CSF é u m conceito e não uma estrutura ana- resistente à quebra por enzimas proteolíticas n o intestino. Os
tômica. A barreira é definida pelos muitos fatores complexos que valores de A A T nas fezes maiores que 54 m g / L indicam perda
governam a distribuição de compostos, além de água, dióxido de aumentada.
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 319

Os acúmulos patológicos de l i q u i d o nas cavidades peritoneais ANÁLISE DE PROTEÍNAS


e pleurais, o u e m qualquer o u t r o lugar, v a r i a m g r a n d e m e n t e n o Os m é t o d o s para as diferentes proteínas f o r a m discutidos ante-
c o n t e ú d o proteico. Por exemplo, eles p o d e m ser (1) u k r a f i l t r a d o s r i o r m e n t e , nas seções i n t i t u l a d a s Considerações Laboratoriais.
c o m concentrações baixas de proteínas e quantidades m u i t o Nesta seção, técnicas (1) i m u n o q u í m i c a s , (2) eletroforéticas, (3)
pequenas de proteinas de massa m o l e c u l a r elevada o u (2) l í q u i d o s espectrofotométricas e (4) de espectrometria de massa são discu-
serosos c o m altas concentrações de proteínas e quantidades sig- tidas em geral. Elas são discutidas mais d e t a l h a d a m e n t e n o Capí-
nificativas de proteínas grandes, tais c o m o i m u n o g l o b u l i n a s . t u l o 4 e nos C a p í t u l o s 6-10.
Esses l í q u i d o s são d i v i d i d o s a r b i t r a r i a m e n t e de acordo c o m suas
concentrações protéicas em transudatos, c o m proteína t o t a l m e n o r Métodos Imunoquímicos Quantitativos
que 3 g / d L , e exsudatos, c o m concentrações de p r o t e í n a t o t a l A m a i o r i a dos métodos i m u n o q u í m i c o s se aplica à m e d i d a de
m a i o r que 3 g / d L Os transudatos geralmente r e f l e t e m alterações qualquer u m a das proteínas discutidas neste capítulo. Por causa
na p e r m e a b i l i d a d e das membranas filtrantes, e n q u a n t o os exsu- de sua rapidez e sua facilidade, os métodos nefelométricos e tur-
datos n o r m a l m e n t e resultam de infecção o u m a l i g n i d a d e ; os b i d i m é t r i c o s são mais a m p l a m e n t e usados em aplicações clínicas.
ú l t i m o s p o d e m conter u m grande n ú m e r o de leucócitos o u células Essas técnicas são realizadas p o r m e d i d a da q u a n t i d a d e de com-
malignas. plexo A g A b f o r m a d o (métodos de e q u i l í b r i o ) o u pela m e d i d a da
taxa de formação do complexo (métodos cinéticos). Essas medidas
são feitas p o r m e i o de técnicas t u r b i d i m é t r i c a s e nefelométricas.
Proteína Amilóide Amostras de soros lipêmicos não devem ser analisadas p o r esses
A m i l ó i d e ( d o grego "semelhante ao a m i d o " , p o r causa da colora- métodos p o r causa do extremo espalhamento de luz pelas partí-
ção c o m i o d o e outros corantes) se refere a depósitos patológicos culas lipídicas contidas neles Tais amostras devem ser centrifuga-
extracelulares associados a u m g r u p o de doenças coletivamente das e m u m a centrífuga de alta velocidade para separar os l í q u i d o s
d e n o m i n a d a s amiioidoses. Os depósitos exèrcem pressão sobre e obter soros claros antes da análise. Os tubos de ensaio c o n t e n d o
órgãos vitais e, eventualmente, causam a m o r t e . T o d o s os tipos as amostras, os controles e o calibrador, devem permanecer cober-
de a m i l ó i d e se l i g a m ao v e r m e l h o congo, q u e emite u m a fluores- tos d u r a n t e o teste para evitar c o n t a m i n a ç ã o p o r poeira e partícu-
cência verde-clara sob luz polarizada. C l i n i c a m e n t e , as a m i l o i d o - las de sujeira e para m i n i m i z a r a evaporação. As cubetas devem
ses são classificadas e agrupadas c o m o (1) a m i l o i d o s e p r i m á r i a , permanecer cobertas t a m b é m d u r a n t e o ensaio e q u a n d o f o r e m
(2) a m i l o i d o s e associada ao m i e l o m a m ú l t i p l o , (3) a m i l o i d o s e armazenadas. Partículas de poeira e outros corpos particulados na
secundária associada a doenças i n f l a m a t ó r i a s ou infecciosas, (4) m i s t u r a reacional resultam em sinais de espalhamento de luz
a m i l o i d o s e associada à idade ( a m i l o i d o s e senil) e (5) a m i l o i d o s e estranhos e levam a resultados equivocados.
familiar.
Os grupos u m e dois são caracterizados p o r plasmocitose na
Técnicas Eletroforéticas
m e d u l a óssea e p r o d u ç ã o e m excesso de células plasmáticas de
A eletroforese é usada em l a b o r a t ó r i o s clínicos para estudar e
cadeias leves m o n o c l o n a i s a n t i g e n i c a m e n t e idênticas, e são cole-
m e d i r o c o n t e ú d o protéico de f l u i d o s biológicos, i n c l u i n d o soro, 6
tivamente conhecidos c o m amiloidose AL. u r i n a e CSF. Técnicas eletroforéticas c o m u n s para soro i n c l u e m
A a m i l o i d o s e secundária está associada a depósitos de ami- o uso de acetato de celulose, de gel de agarose o u de eletroforese
l ó i d e A ( A A ) e é chamada amihidose A A . As proteínas A A são capilar. Procedimentos especiais i n c l u e m Weste-rn Motting, imuno-
fragmentos a m i n o t e r m i n a i s da proteína a m i l ó i d e A sérica ( S A A ; fixação e eletroforese bidimensional (2-D) ( C a p í t u l o 6). M é t o d o s ele-
220-23.5 k D a ) que circula c o m o u m complexo c o m l i p o p r o t e í n a s troforéticos similares t a m b é m são usados para avaliar proteínas
de alta densidade ( H D L ) . A S A A é uma proteína de fase aguda, da u r i n a e d o C S E
a u m e n t a n d o r a p i d a m e n t e e m infecções o u i n f l a m a ç ã o não-infec-
ciosa. A a m i l o i d o s e A A está f r e q ü e n t e m e n t e associada a doenças
Eletroforese de Proteínas Séricas6
i n f l a m a t ó r i a s não-infecciosas crônicas. Estas i n c l u e m (1) artrite
O soro é mais c o m u m e n t e u t i l i z a d o do que o plasma para a
r e u m a t ó i d e ( i n c i d ê n c i a até 2 0 % ) , (2) outras doenças i n f l a m a t ó -
eletroforese de r o t i n a de proteínas d o sangue para evitar a b a n d a
rias de articulação, (3) infecções granulomatosas e supurativas
do f i b r i n o g ê n i o em u m a região para a q u a l as i m u n o g l o b u l i n a s
crônicas, tais c o m o tuberculose e ostelomielite, e (4) tumores m o n o c l o n a i s f r e q ü e n t e m e n t e m i g r a m . N o e n t a n t o , alguns ana-
não-linfóides, tais c o m o carcinomas renal e gástrico e l i n f o m a de listas preferem usar o plasma para s e m i q u a n t i f i c a r a q u a n t i d a d e
H o d g k i n . O s depósitos da p r o t e í n a A A são e n c o n t r a d o s mais de f i b r i n o g ê n i o presente c o m o evidência de i n f l a m a ç ã o aguda o u
f r e q u e n t e m e n t e nos rins, n o fígado e n o baço, e geralmente f i b r i n ó l i s e i n vivo.
resultam e m s í n d r o m e n e f r ó t i c a e hepatoesplenomegalia. A Figura 18-7 ilustra as separações típicas p o r eletroforese de
A p r o t e í n a a m i l ó i d e senil é e n c o n t r a d a mais c o m u m e n t e n o p r o t e í n a sérica (SPE) e m condições n o r m a i s e patológicas. N a
coração ( a m i l ó i d e cardíaco senil), mas t a m b é m n o pâncreas e n o prática, a m a i o r i a das eletroforeses de proteínas séricas é realizada
cérebro ( d e n o m i n a d a placa amilóide). Parecem existir diferentes u s a n d o sistemas comerciais q u e i n t e g r a m aparelho, m a t e r i a l e
mecanismos patogenéticos para as três localizações de depósitos. reagentes de u m ú n i c o f o r n e c e d o r . Os tampões-padrão têm força
Os depósitos de a m i l ó i d e n o d u l a r o u i n f i l t r a t i v o t a m b é m p o d e m i ô n i c a baixa ( ~ 0 , 0 5 ) e p H ( ~ 8 , 6 ) . A amostra usual é de 3 a 5 p L ,
estar presentes na pele, nos p u l m õ e s , na traquéia e n o s órgãos aplicada c o m u m dispositivo m e c â n i c o para se obter u m a faixa
e n d ó c r i n o s , tais c o m o o pâncreas ( n o diabetes mellitus de longa regular da amostra ao l o n g o de u m a trajetória d o m e i o . Os parâ-
duração) o u a tireóide ( n o c a r c i n o m a medular). Essas formas são metros típicos para a c o r r i d a são 1,5 m A p o r 2 c m de largura d o
c o m u m e n t e assintomáticas, exceto a f o r m a cardíaca. acetato de celulose, o u 10 m A p o r 1 c m de largura do gel de
As a m i l o i doses familiares são p r i n c i p a l m e n t e neurológicas, agarose, e u m t e m p o de c o r r i d a de 40 a 6 0 m i n u t o s , p r o d u z i n d o
mas t a m b é m p o d e m envolver os rins e os vasos sanguíneos. u m a distância de migração de 5 a 6 c m para a a l b u m i n a . M u d a n -
Várias f o r m a s têm m o n ô m e r o s de t r a n s t i r r e t i n a a n o r m a l o u frag- ças em certas bandas estão c l a r a m e n t e associadas a doenças espe-
m e n t o s q u e c o m p a r t i l h a m d e t e r m i n a n t e s antigênicos c o m essa cíficas, o que t o r n a a eletroforese de proteínas séricas u m m é t o d o
proteína. de rastreamento valioso.
320 PARTE IV Analitos

Normal (Adulto) Normal (Pediátrico) Doença Renal Crônica


Padrão Proteína Concentração Padrão Proteína Concentração Padrão Proteína Concentração
(mg/dL) (mg/dL) (mg/dL)
TP 6.800-8.300 TP 6.900 TP 2 . 3 0 0 4-
Alb 3.500-5.000 B B Alb 4.390 Alb 1.110 4
AAT 100-200 AAT 240 AAT 260*
AAG 50-150 AAG 59 AAG 72*
Hp 30-215 Hp 65 Hp 101
AMG 125-140 • • ' • AMG 490 AMG 180
TRF 200-350 TRF 300 TRF 81
1
C3 70-150 '• C3 127 C3 71 *
C4 10-40 C4 27 C4 14*
IgA 40-390 IgA 180 IgA 67*
IgM 25-210 IgM 140 IgM 47*
IgG 525-1.650 IgG 870 IgG 200 A
CRP <2 CRP <1 CRP <1

Gamopatia Monoclonal IgG Gamopatia Monoclonal IgA


(Benigna) (Mieloma Múltiplo) Síndrome Nefrótica
Padrão Proteína Concentração Padrão Proteína Concentração Padrão Proteína Concentração
(mg/dL) (mg/dL) (mg/dL)
TP 6.900 / TP 9.100T - - TP 2.9001
Alb 4.380* Alb 2.170T Alb 6804.
AAT 200 AAT 250 AAT 160*
AAG 50 AAG 63 AAG 35*
Hp 75 Hp « M m Hp 370*
AMG 220 AMG 170 AMG 460 T
TRF 270 TRF 150 TRF 101T
C3 122 C3 90 C3 125*
C4 24 C4 20 C4 22*
IgA 70* IgA 5.800T IgA 250*
IgM 170* IgM 244- IgM 93*
IgG 1.330/ IgG 2004- IgG 4404-
CRP <1 CRP <1 CRP <1

Inflamação (Aguda) Lúpus Eritematoso Sistêmico Artrite Reumatóide (Adulto)


Padrão Proteína Concentração Padrão Proteína Concentração Padrão Proteína Concentração
(mg/dL) (mg/dL) (mg/dL)
TP 5.700* TP 7.800 • • TP 6.300
Alb 2.4701 Alb 3.390* Alb 2.840*
AAT 4001 AAT 230 AAT 400T
AAG 170T AAG 43 AAG 150Í
Hp 340 T Hp 111* Hp 2901
AMG 210 AMG 240 AMG 148
TRF 714- TRF 310 TRF 220*
C3 120/ C3 94* C3 90/
C4 17-" C4 12* C4 13^
IgA 270 igA 650T igA 260/

M
IgM 137 IgM 170 IgM 880
IgG 1.440 IgG 2.4801' IgG 930^
CRP 9,8 t CRP 7,8T CRP 6,1 T

Deficiência de Ferro Doença Hepática Crônica Hemólise Crônica e Deficiência de Ferro


Padrão Proteína Concentração Padrão Proteína Concentração Padrão Proteína Concentração
(mg/dL) (mg/dL) (mg/dL)
TP 6800 TP 6.300* TP 6.300
Alb 4770 Alb 2.2404- Alb 4.010
AAT 280 AAT 97* AAT 190
AAG 44 AAG 19* AAG 43
Hp 101 Hp <1* Hp <14.
AMG 220 AMG 290 AMG 400
mÊm
TRF 5301 TRF 1294- - - -
TRF 3901
C3 136 C3 53* C3 134
C4 22 C4 4* C4 14
IgA 150 IgA 4801 IgA 180
IgM 82 IgM 620/
4}
IgM 170
IgG 880 igG 2.370t IgG 700
CRP <11 CRP <1

Figura 1S-7 Padrões eletroforéticos típicos de urna c o n d i ç ã o n o r m a l e de algumas condições patológicas (gel
de agarose). Setas para cima e para baixo i n d i c a m , respectivamente, a u m e n t o e redução de u m i n t e r v a l o de
referência. Setas inclinadas para d i r e i t a o u para a esquerda i n d i c a m , respectivamente, variação d o n o r m a l para
u m a u m e n t o o u para u m a T e d u ç ã o d o i n t e r v a l o de referência. O asterisco indica o f e n ó t i p o H p 2-2.
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 321

Colorações técnicas de alta resolução são fortemente recomendadas. O uso


O azul brilhante de Coomassie (CBB), que é mais sensível do de coloração com prata e / o u IFE aumenta a sensibilidade e
que o A m i d o Black ou o Ponceau S, é amplamente usado para permite a análise de CSF não-concentrado. A l é m disso, com IFE,
corar as proteínas separadas. As concentrações de muitas proteí- as bandas de IgG são identificadas com certeza. A Figura 18-9
nas são m u i t o baixas para serem visualizadas como bandas ilustra u m padrão de eletroforese e subseqüente IFE, demons-
coradas distintas, ou são ofuscadas por proteínas de concentra-
trando a presença de bandas oligoclonais.
ções maiores que migram próximas a elas (p. ex., C p mascarada
por H p e A M G ) . A l é m disso, algumas proteínas coram m u i t o
pouco porque contêm proporções elevadas de lipídios (lipopro-
Quantificação de Proteína Total em Líquidos
teínas) ou carboidratos. A densitometria é utilizada para a quan-
Corpóreos
tificação grosseira de bandas individuais e para a representação Diversos métodos químicos e instrumentais são usados para
gráfica de padrões eletroforéticos corados, mas é preferível a medir o conteúdo de proteína total em fluidos biológicos, tais
análise visual por u m observador treinado. como soro, urina e CSF. C o m esses métodos, as seguintes hipó-
Corantes especiais para lipídios são necessários para visualizar teses são feitas:
lipoproteínas que migram em bandas de mobilidade variável da 1. Todas as moléculas de proteína são cadeias polipeptídicas
região a [ rápida (a.]-lipopToteína), da região ot2 ou pré-p (lipoproteínas puras, contendo em média 16% por peso de nitrogênio.
de densidade muito baixa) e da região p! (p-lipoproteína), ou que 2. Cada uma das centenas de proteínas individuais reage quimi-
permanecem na origem (quilomícrons; ver também Capítulo 23). camente como qualquer outra proteína.
Como mencionado anteriormente, a visualização da ai-glicoproteína Claramente a primeira hipótese não é verdadeira, e a segunda
ácida requer corante para as cadeias laterais de carboidrato. nem sempre é verdadeira. N o entanto, essas hipóteses simplifica-
doras tornam a medida da proteína total u m procedimento
Imunofixação prático, ainda que empírico.
A imunofixação (IFE) está gradativamente substituindo a imuno-
eletroforese (IEP) para a detecção de paraproteínas ou de compo- Medida de Proteína Total em Amostras de Soro
nentes M por causa de sua velocidade e facilidade de interpreta- Os métodos específicos usados para medir o conteúdo de proteína
ção. Embora esses dois procedimentos d i f i r a m em alguns deta- total de amostras de soro incluem os métodos (1) do biureto, (2)
lhes, seus princípios são similares. fotométricos diretos, (3) de ligação com corante, (4) de Folin-
Nas gamopatias monoclonais, os padrões de IFE geralmente Ciocalteu (Lowry), (5) de Kjeldahl, (6) refratométricos, (7) turbi-
produzem uma banda de precipitina claramente definida e dis- dimétricos e (8) nefelométricos. Diferentes materiais são usados
tinta com anti-soro contra uma cadeia pesada e uma cadeia leve. para calibrar esses métodos.
Essas bandas são compatíveis com a localização da imunoglobu-
lina específica do padrão de referência (Figura 18-8). U m a segunda Método do Biureto
banda, mais fraca, de cadeias leves livres também pode estar O método do biureto depende da presença de ligações peptídicas
presente. em todas as proteínas. Essas ligações peptídicas reagem com íons
Os padrões de IFE devem ser sempre confirmados pela quan- C u ' " em soluções alcalinas, formando u m p r o d u t o colorido, cuja
tificação das imunoglobulinas (IgG, IgA, IgM) na amostra. Eleva- absorvância é medida espectrofotometricamente a 540 n m . O
ções de imunoglobulinas específicas devem corresponder a bandas Teagente biureto contém tartarato de sódio e potássio para formar
coradas mais intensamente com relação ao padrão de IFE, mas se u m complexo com íons cúpricos e manter sua solubilidade em
uma proteína monoclonal está presente, o resultado da análise solução alcalina. O iodo é incluído como antioxidante. A inten-
pode ser apenas uma aproximação por causa do antígeno em sidade da COT produzida é proporcional ao número de ligações
excesso. As imunoglobulinas não afetadas freqüentemente são de peptídicas que estão reagindo e, portanto, à quantidade de pro-
concentração muito baixa. Para determinar as diluições apropria- teína presente no sistema reacional. Aminoácidos e dipeptídios
das da amostra a serem usadas para as diversas imunoglobulinas, não reagem, mas tripeptídios, oligopeptídios e polipeptídios
é ú t i l fazer a quantificação antes de se realizar a IFE. reagem e produzem produtos de cor rosa a violeta averme-
lhado.
Separação Eletroforética de Proteínas Urinárias A maioria dos métodos do biureto detecta entre 1 e 15 mg de
O procedimento de eletroforese da urina em gel de agarose ou proteína na alíquota analisada, uma quantidade presente em 15 a
acetato de celulose é idêntico ao do soro, exceto pelo faro de a 200 p L de u m soro contendo proteínas a 7 j ^ d L . Inúmeras versões
urina dever ser concentrada a aproximadamente 3 g / d L de pro- do método do biureto têm sido desenvolvidas e empregadas.
teína antes da aplicação, a menos que métodos de coloração mais Soro ou plasma podem ser usados em u m teste do biureto, mas
sensíveis sejam utilizados (p. ex., colorações com ouro e / o u prefere-se soro. U m a amostra em jejum não é necessária, mas pode
prata). A eletroforese da urina é comumente usada para detectar ser desejável para d i m i n u i r o risco de lipemia. Amostras hemolisa-
a presença de cadeias leves de imunoglobulina (proteína de Bence das não devem ser analisadas. As amostras bem fechadas de soro
Jones) ou outras proteínas de massa molecular baixa, típicas da são estáveis, por uma semana ou mais, à temperatura ambiente, e
proteinúria tubular. Comparação entre uma separação de urina por u m mês a 2°C a 4°C. Amostras que foram congeladas e des-
e uma separação correspondente do soro também pode indicar congeladas devem ser bem misturadas antes da análise.
o grau de seletividade da proteinúria glomerular. U m ponto
importante pata lembrar é que a urina normal pode conter Métodos Fotométricos Diretos
"degraus" de cadeia leve, o que pode se confundir com a proteína A absorção de luz U V em 200 a 225 n m e 270 a 290 n m tem
de Bence Jones. sido u s a d a para medir o conteúdo proteico de amostras biológi-
cas. A absorção de luz U V a 280 n m depende, principalmente,
Separação Eletroforética de Proteínas do Líquido dos anéis aromáticos de tirosina e triptofano em p H 8. Acurácia
Cerebrospinal e especificidade são prejudicadas por uma distribuição irregular
C o m concentração suficiente de CSF, é possível utilizar os desses aminoácidos entre as diferentes proteínas em uma mistura
mesmos procedimentos eletroforéticos usados para o soro, mas e da presença, nos líquidos corpóreos, de tirosina e triptofano
322 PARTE IV Analitos

A © C ©
&

Mi

•0
• » m • m m

SPE IgO IgA IgM 3K IgO IgA IgM

B © D ©
S s ç 8 9 s c

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IgO IgA IgM lg IgO IgA IgM

Figura 18-8 C o m p a r a ç ã o entre i m u n o f i x a ç ã o (I FE) e i m u ri o eletroforese (IEP) de dois pacientes c o m


gamopatias m o n o c l o n a i s . A , A m o s t r a de paciente c o m u m a p r o t e i n a m o n o c l o n a l I g G (kappa, K) c o n f o r m e
i d e n t i f i c a d o p o r I F E . A seta i n d i c a a posição da p r o t e í n a m o n o c l o n a l . A p ó s a eletroforese, cada trajetória, exceto
SPE, reage c o m seu anti-soro respectivo e, então, todas as pistas são coradas para visualização das bandas das
respectivas proteínas. (SPE: eletroforese de proteínas séricas q u i m i c a m e n t e predeterminadas; I g G , I g A , I g M , K e
A i n d i c a m o anti-soro u t i l i z a d o e m cada Trajetória.) B , M e s m a amostra de A , com.as proteínas identificadas p o r
IEP. A seta i n d i c a a posição da p r o t e i n a m o n o c l o n a l . Os soros d o c o n t r o l e n o r m a l (C) e d o paciente (S) estão
alternados. A p ó s a eletroforese, o anti-soro é a d i c i o n a d o a cada canal c o n f o r m e i n d i c a d o pelas etiquetas de I g
(anti-soro I g polivalente), I g G , I g A , I g M , k e A. Os anti-soros reagem c o m as proteínas separadas nas amostras,
f o r m a n d o p r e c i p i t a d o s na f o r m a de arcos. Os arcos de I g G e K são mais curtos e densos do que os d o c o n t r o l e
n o r m a l , m o s t r a n d o a presença da p r o t e í n a m o n o c l o n a l I g G (K). AS concentrações de I g A , I g M e cadeias leves A
são t a m b é m reduzidas. C, A m o s t r a de paciente c o m u m a p r o t e í n a m o n o c l o n a l I g A (lambda, A.) i d e n t i f i c a d a pela
técnica IFE, c o n f o r m e descrito em A . D , A mesma amostra de C , c o m proteínas identificadas p o r IEP, c o m o
descnto e m B. Os arcos de I g A e A a n o r m a i s da amostra d o paciente i n d i c a m u m a concentração elevada de u m a
p r o t e í n a m o n o c l o n a l I g A (A). Todas as separações f o r a m realizadas u s a n d o o sistema B e c k m a n C o u k e r Paragori.

livres, ácido úrico e bilirrubina, que cambém absorvem luz Métodos de Ligação ao Corante
próximo a 280 n m . As ligações peptídicas são responsáveis, prin- Os métodos de ligação ao corante são baseados na capacidade de
cipalmente, pela absorção de U V (70% a A205); absorção especí- as proteínas se ligarem a corantes, tais como A m i d o black 10B e
fica por proteína em 200 a 225 n m é 10 a 30 vezes maior do que C B B . As afinidades e capacidades de ligação desiguais das proteí-
em 280 n m . A interferência de tirosina e triptofano livres é sig- nas pelos corantes são uma limitação de todas essas aplicações
nificativa nesses comprimentos de onda curtos. Entretanto, uma que são ainda mais complicadas pela incapacidade de se definir
diluição 1:1.000 ou 1:2.000 do soro com NaCl, 0,15 m o l / L , u m material consistente para uso como calibrador. O método de
permite escapar dessa interferência. O método tem sido usado ligação ao corante de maior interesse atual, em particular para
para CSF após remoção de moléculas interferentes pequenas por análise de proteína total em CSF e urina, usa CBB G-250. C B B
filtração em gel. se liga a grupos amina protonados de resíduos de aminoácidos
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 323

Método Kjeldahl
N o método Kjeldahl, a amostra é primeiramente digerida com
ácido para converter o n i t r o g ê n i o da proteína em íon a m ó n i o . A
concentração de nitrogênio da amónia é, então, avaliada por
titulação ou nesslerização, é feita uma correção do nitrogênio
o r i u n d o de compostos não-protéicos t a m b é m presentes no soroj
e o valor do nitrogênio da a m ó n i a é m u l t i p l i c a d o por u m fator
cie 6,25 ( 1 0 0 % / 1 6 % ) para expressar o nitrogênio proteico como
proteína total. O método é caracterizado e reprodutível, mas
demorado, inconveniente e impraticável para o uso de rotina. A
determinação pelo método K j e l d a h l , no entanto, ainda perma-
nece como u m meio pelo qual se caracterizam-se e validam-se
materiais de referência para uso com o teste do biureto.

Refratometria
A refratometria é u m a alternativa rápida para a análise química
de proteína total do soro q u a n d o uma rápida estimativa é solici-
tada. Alguns laboratórios consideram-na uma maneira conve-
niente de determinar o conteúdo de proteína total antes que o
SPE seja realizado. E m concentrações de proteína inferiores a 3,5
g / d L , os resultados refratométricos provavelmente são impreci-
sos. E m uma concentração m a i o r que 11,0 g / d L , obtém-se u m
resultado válido pela diluição do soro com partes iguais de água,
seguido da leitura da amostra diluída. U m coeficiente de variação
( C V ) de rotina menor que 2,0% é uma previsão aceitável.

Métodos Turbidimétricos e Nefelométricos


A precipitação de proteína para os ensaios turbidimétricos o u
nefelométricos é alcançada com o ácido sulfossalicílico sozinho,
c o m ácido sulfossalicílio em combinação com sulfato de sódio,
o u ácido tricloroacético ( T C A ) , o u c o m o T C A sozinho. Os
métodos de precipitação para o ensaio de proteína total depen-
d e m da formação de u m b o m precipitado de partículas protéi-
cas insolúveis, u n i f o r m e s , que espalham a luz incidente em
suspensão.
A B C D
Calibração de Métodos de Proteína Total
Figura 18-9 Padrões elecroforéticos d o l i q u i d o c e r e b r o s p i n a l (CSF) A albumina bovina o u h u m a n a é usada rotineiramente para
corados c o m Paragon violeta após pré-concentração em centrífuga. A , C S F calibrar os métodos do biureto. A albumina é disponível e m alta
4 0 vezes c o n c e n t r a d o . B , Soro coletado 6 horas após a coleta de CSF. C, pureza, contém apenas aminoácidos, seu conteúdo de nitrogênio
I m u n o f i x a ç ã o da i m u n o g l o b u l i n a G (IgG) d o c o n c e n t r a d o de C S F p u r o . é uma fração constante de sua massa molecular, e o n ú m e r o de
D , I m u n o f i x a ç ã o de LgG de u m a d i l u i ç ã o 1:3 d o c o n c e n t r a d o de C S F . ligações peptídicas por molécula é conhecido.
A calibração dos métodos de precipitação e de ligação ao
corante geralmente é realizada usando-se uma diluição disponível
de u m soro, ou de uma mistura de soros, com uma razão albu-
m i n a / g l o b u l i n a normal. O soro deve ser obtido de u m o u mais
indivíduos saudáveis e analisados quanto à proteína total com
u m biureto calibrado ou o m é t o d o Kjeldahl. Para os métodos de
da cadeia pohpeptídica, e o m á x i m o de absorvância das espécies precipitação, as albuminas séricas bovina o u h u m a n a não devem
ligadas do corante d i m i n u i a 465 n m e aumenta a 5 9 5 n m . O ser utilizadas como calibradores com ácido sulfossalicílico porque
método é simples, rápido e linear até 150 m g / d L . essas proteínas puras fornecem cerca de 2,5 vezes a turbidez das
globulinas séricas; entretanto, o uso de a l b u m i n a pura é possível
Método de Folin-Ciocalteu (Lowry) como calibrador para a precipitação c o m T C A .
A maioria das proteínas contém tirosina ou triptofano, o u ambos,
mas cada proteína contém u m a proporção única deles. A albu- Intervalos de Referência
mina, por exemplo, t e m apenas 0 , 2 % de triptofano por peso, A concentração da proteína t o t a l do soro o b t i d o de u m adulto
enquanto o conteúdo de t r i p t o f a n o de globulinas varia entre 2 % saudável em m o v i m e n t o é de 6,3 a 8,3 g / d L , e a de u m adulto
e 3%. Esses aminoácidos, livres o u em cadeia polipeptidica dese- em descanso é de 6,0 a 7,8 g / d L . Os intervalos de referência para
novelada, reduzem o ácido fosfotúngstico-fosfomolíbdico (rea- neonatos, crianças pequenas e adultos com mais de 60 anos são
gente de Folin-Ciocalteu) e produzem u m a cor azul. Essa proprie- ligeiramente menores. As duas causas gerais de uma mudança na
dade é mais ú t i l para o teste de u m a proteína pura c o m compo- concentração da proteína total do soro são uma alteração do
sição e reatividade relativa conhecidas (p. ex., fibrinogênio) do v o l u m e de água do plasma e u m a alteração na concentração de
que para o teste de uma mistura de proteínas com concentrações uma o u mais proteínas específicas do mesmo. A d i m i n u i ç ã o do
e reatividades diferentes. v o l u m e da água do plasma (hemoconcentração) é chamada hiper-
324 PARTE IV Analitos

proteinemia relativa; concentrações de todas as proteínas plasmá- Determinação de Proteína Total no Líquido
ticas se e n c o n t r a m aumentadas em u m mesmo grau se o processo Cerebrospinal
é agudo. A hiper proteinemia é observada em casos de desidrata- As baixas concentrações de proteína n o CSF l i m i t a m os métodos
ção devido ao consumo inadequado de água o u perda excessiva que são usados para m e d i r seu conteúdo de proteína total. Os
desta, tais como nos casos graves de v ô m i t o e diarréia, na doença métodos turbidimétricos e as versões dos métodos de ligação ao
de A d d i s o n , ou na acidose diabética. A hemodiluição (aumento corance C B B são comumenre usados para esse f i m . A desvanta-
do volume de água do plasma) se reflete como h i p o p r o t e i n e m i a gem mais grave dos métodos t u r b i d i m é t r i c o s é a necessidade de
relativa: novamente, as concentrações de todas as proteínas plas- 0,2 a 0,5 m L de amostra. Os métodos do C B B são sensíveis o
máticas individuais d i m i n u e m em u m mesmo grau se a perda é bastante para uso com amostras tão pequenas quanto 25 p.L, mas
aguda. A hemodiluição ocorre c o m as síndromes de intoxicação eles subestimam as globulinas. C o m o a a l b u m i n a é a proteína
p o i água ou de retenção de sal, durante infusões intravenosas predominante do CSF, essa sub estimativa pode não ser grave o
grandes, e fisiologicamente q u a n d o u m i n d i v í d u o assume uma bastante para i m p e d i r o uso de u m m é t o d o do C B B .
posição reclinada.

Determinação de Proteínas Específicas no Líquido


Determinação de Proteína Total na Urina Cerebrospinal
M u i t o s métodos têm sido usados para m e d i r proteínas urinárias. A a l b u m i n a e a IgG são medidas n o CSF utilizando-se (1) nefelo-
0 m é t o d o do b i u r e t o aplicado à proteína precipitada c o m ácido metria, (2) i m u n o t u r b i d i m e t r i a , (3) eletroimunodifusão e (4) R I D .
ou a u m concentrado o b t i d o p o r filtração em m e m b r a n a t e m a A ausência aparente de I g G pode ser ocasionada por sua degra-
vantagem de ser igualmente sensível para cada uma das proteínas dação por protemases na amostra. O radioimunoensaio (RIA) ou
da mistura. M u i t o s laboratórios, entretanto, acham essa aborda- outros métodos altamente sensíveis são necessários para determi-
gem m u i t o demorada para o uso de r o t i n a e preferem os métodos nar proteínas específicas presentes em concentrações muitos
t u r b i d i m é t r i c o s e de ligação a corante porque são rápidos e baixas (p. ex., IgM). O intervalo de referência para concentrações
simples. Dos métodos de ligação a corante, o vermelho de piro- de albumina n o CSF lombar pelo R I D é de 17,7 a 25,1 m g / d L .
galol, Ponceau S e C B B são os mais utilizados. Os métodos Cada u m a das IgA, I g D e I g M , medidas por R I A , n o r m a l m e n t e
t u r b i d i m é t r i c o s e de ligação a corante têm cuivas de calibração é menor que 0,2 m g / d L . Os intervalos de referência para I g G são
não-lineares e reagem diferentemente com as proteínas. A maio- associados à idade; suas médias aumentam de 3,5 m g / d L , n o
ria subestima as proteínas de massa molecular baixa, na protei- grupo de 15 a 20 anos de idade, para 5,8, em adultos com 60
n ú r i a tubular, e as cadeias leves de i m u n o g l o b u l i n a , na protei- anos ou mais. O intervalo de referência usual para IgG no CSF
núria de sobrecarga. de adultos é de 0,8 a 4,2 m g / d L ; para a proteína total é de 15 a
45 m g / d L . As concentrações de proteína total são consideravel-
Para quantificar as proteínas urinárias, geralmente se usa
mente maiores em neonatos e, em adultos idosos saudáveis, con-
u m a coleta por u m período de tempo. Os períodos de cólera de
centrações até 60 m g / d L são consideradas normais.
4, 8 e 12 horas t ê m sido usados para m o n i t o r a r os transplanta-
dos renais o u u m paciente cujas perdas renais agudas de albu-
m i n a estejam sendo compensadas c o m tratamento de reposição
Espectrometria de Massa
A M S é usada para avaliar a massa molecular e a seqüência pri-
b e m controlado. N a maioria dos casos, no entanto, escolhe-se
mária de aminoácidos de peptídios e proteínas. Os avanços téc-
u m tempo de coleta de 24 horas, tanto para o ensaio quantita-
nicos da M S resultaram n o desenvolvimento de técnicas de ioni-
tivo de proteína específica o u total, quanto para a separação
zação por dessorção a laser assistida por matriz ( M A L D 1 ) , e ioni-
eletroforética. U m a abordagem alternativa é m e d i r as razões
zação por eletrospray (ES), que p e r m i t e m o seqüenciamento e a
p r o t e í n a / c r e a t i n i n a de amostras aleatórias.
determinação de massa de quantidades na o r d e m de p i c o m o l de
Os testes em tira de papel freqüentemente são usados para
proteínas c o m massas maiores que 100 k D a (Capítulo 8). U m
m e d i r semiquantitativamente a proteína em excesso na urina.
espectrômetro de massa por t e m p o de vôo é usado para detectar
C o m esses testes, a porção reativa do papel é coberta c o m u m
pequenas quantidades de íons que são produzidos pelo M A L D I .
indicador t a m p o n a d o que desenvolve a cor em presença de
Nesse tipo de espectrômetro, os íons são acelerados em u m
proteína. Os limites de detecção são de aproximadamente campo elétrico e movimentam-se em direção a u m detector. A
7 m g / d L C o m o todas as técnicas de ligação a corante, os métodos massa do íon é calculada a p a r t i r do tempo que ele leva para
de tira de papel são mais sensíveis à a l b u m i n a do que a outras atingir o detector. Para medir as massas das proteínas em uma
proteínas plasmáticas. Eles são, p o r t a n t o , testes de rastreamento mistura, uma quantidade pequena de amostra (0,5 a 2,0 fiL) é
excelentes para a proteinúria glomerular, mas insatisfatórios para seca na extremidade da sonda, que, então, é introduzida n o
a detecção de p r o t e i n ú r i a tubular o u de sobrecarga. E m b o r a a espectrômetro para análise. C o m essa técnica, as proteínas loca-
maioria dos testes meça proteína em excesso de 10 m g / d L , os lizadas nas superfícies das células são ionizadas e analisadas sele-
testes são apenas semiquantitativos e seu uso deve ser l i m i t a d o tivamente.
ao rastreamento e a estimativas aproximadas requeridas antes C o m a ionização ES, uma névoa fina de partículas altamente
que a amostra seja concentrada para a eletroforese ou d i l u í d a carregadas é produzida q u a n d o u m l í q u i d o f l u i de u m tubo
para o ensaio quantitativo. U m a amostra da p r i m e i r a u r i n a do capilar para dentro de u m forte campo elétrico (3 a 6 IcV). N a
dia é preferível porque ela tende a ser concentrada e não afetada prática, as fontes de ionização ES freqüentemente são acopladas
pelos fatores posturais. diretamente a H P L C de fase reversa o u colunas de capilaridade.
O intervalo de referência para a proteína total u r i n á r i a é de A possibilidade de se acoplar u m cromatógrafo l í q u i d o com uma
1 a 14 m g / d L . A taxa de excreção em descanso é de 5 0 a 80 fonte de ionização ES e u m espectrômetro de massa permite a
m g / d i a , mas m u i t o s laboratórios i n d i c a m o valor de referência remoção em tempo real de sais e contaminantes e a análise de
como m e n o r que 100 m g / d i a (< 150 m g / d i a na gravidez). A misturas complexas. E m b o r a seja diferente de M A L D I , ES apre-
concentração p o d e atingir 300 m g / d L na u r i n a de i n d i v í d u o s senta sensibilidade e aplicação similares para a análise de proteí-
saudáveis após exercício. nas grandes.
Aminoácidos e Proteínas CAPÍTULO 18 325

M S - M S é u m t i p o de M S aplicável ao s e q ü e n c i a m e n t o r á p i d o 3a. Ganrot PO. Varialion of the concenlrations of some plasma proteins in

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C A P Í T U L O 1 9

Enzimas*
Mauro Panteghini, M.D., e Renze Bais, Ph.D., A.R.C.P.A.

OBJETIVOS E n z i m a C o n v e r s o r a d e A n g i o t e n s i n a (ECA): E n z i m a q u e cliva


1. Listar os fatores que afetam as atividades enzimáticas no sangue. o decapeptídio angiotensina 1 para f o r m a r angiotensina I I
ativa.
2. Relatar as ações fisiológicas, a distribuição tecidual, o significado
F o s f a t a s e Á c i d a : E n z i m a da classe hidrolase q u e catalisa a
clínico e os métodos analíticos para as seguintes enzimas:
clivagem de o r t o f o s f a t o a p a r t i r de monoésteres
transaminases
ortofosfóricos sob condições ácidas.
creatinoquinase
Fosfatase A l c a l i n a : E n z i m a da classe hidrolase que catalisa a
lactato desidrogenase
clivagem de ortofosfato a p a r t i r de monoésteres
fosfatases
ortofosfóricos sob condições alcalinas.
y-g lutam i Itran sfe rase
G a m a - g l u t a m i l t r a n s f e r a s e : E n z i m a q u e catalisa reversivelmente
5'-nucleotidase a transferência de u m g r u p o g l u t a m i l de u m g l u t a m i l -
colinesterases p e p t í d i o e u m a m i n o á c i d o para u m p e p t í d i o e u m g l u t a m i l -
amilase aminoácido.
lípase G l i c o s e - 6 - f o s f a t o D e s i d r o g e n a s e ( G 6 P D ) ; E n z i m a que catalisa a
tripsina p r i m e i r a etapa na via da hexose m o n o f o s f a t o , isto é, a
3. Listar os métodos de análise de isoenzimas e descrever os padrões conversão de glicose-6-fosfato a 6-fosfogliconato, gerando
de migração das isoenzimas da creatinoquinase e da lactato NADPH.
desidrogenase após a eletroforese. G l u t a m a t o D e s i d r o g e n a s e : E n z i m a m i t o c o n d r i a l q u e catalisa a
4. Descrever duas enzimas clinicamente relevantes adicionais e relatar remoção do h i d r o g ê n i o d o L-glutamato para f o r m a r o
sua significância. c e t o a m i n o á c i d o correspondente q u e sofre h i d r ó l i s e
espontânea a 2-oxoglurato.
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES I s o e n z i m a : F o r m a m o l e c u l a r que se OTigina n o nível dos genes
5'-Nucleotidase: Fosfatase que age somente em nucleosideos-5'- que c o d i f i c a m as estruturas das proteínas enzimáticas e m
fosfatos, tais c o m o adenosina-5'-monofosfato ( A M P ) , questão.
l i b e r a n d o fosfato i n o r g â n i c o . I s o f o r m a : F o r m a enzimática m o l e c u l a r que f o i m o d i f i c a d a pós-
A l f a - a m i l a s e ; E n z i m a que catalisa a endo-hidrólise das ligações traducionalmente.
glícosídicas 1,4-alfa n o a m i d o , glicogênio e polissacarídeos L a c t a t o D e s i d r o g e n a s e (LD): E n z i m a da classe oxidorredutase
relacionados e oligossacarídeos que c o n t ê m três o u mais que catalisa reversivelmente a redução de p i r u v a t o a
u n i d a d e s de D-glicose ligadas p o r ligações 1,4-alfa. (L)-lactato, u s a n d o N A D H c o m o d o a d o r de elétron.
A m i n o t r a n s f e r a s e s : Subclasse de enzimas da classe transferase Lipase: U m a enzima que cliva h i d r o l i t i c a m e n t e u m â n i o n de
que catalisa a transferência de u m g r u p o a m i n o de u m ácido graxo a p a r t i r de u m t r i g l i c e r í d e o o u f o s f o l i p í d i o .
d o a d o r (geralmente u m a m i n o á c i d o ) para u m aceptor Q u i m i o t r i p s i n a : Serina protease d o pâncreas. H i d r o l i s a
(geralmente u m 2-cetoácido). A m a i o r i a dessas enzimas é de preferencialmente peptídios q u e c o n t ê m Leu, Phe, T y r o u
proteínas dependentes de p i r i d o x i l fosfato. A a l a n i n a e a T r p e ligações ésteres.
aspartato aminotransferase são exemplos que t ê m u t i l i d a d e T r i p s i n a : Serina endopeptidase q u e catalisa a clivagem de
clínica significante. ligações peptídicas na porção carboxila de A r g o u Lys.
Colinesterase: E n z i m a da classe hidrolase que catalisa a
clivagem do g r u p o acil de vários ésteres de c o l i n a , inclusive
acetilcolina e alguns compostos relacionados.
C r e a t i n o q u i n a s e ( C K ) : E n z i m a d i m é r i c a que catalisa a

O
f o r m a ç ã o de A T P a p a r t i r de A D P e creatina fosfato n o
i p r i n c í p i o s básicos de e n z i m o l o g i a clínica são discutidos
m ú s c u l o . T e m q u a t r o formas: C K - M M , C K - M B , C K - B B e
no C a p í t u l o 9. As enzimas i n d i v i d u a i s são discutidas
C K mitocondrial.
nesse capítulo. Por questões de organização, as enzimas
EIastase-1: Serina protease d o pâncreas. U m a
i n d i v i d u a i s são discutidas em relação à f u n ç ã o nos órgãos nos
carboxiendopeptidase que catalisa a h i d r ó l i s e de elastina
quais são importantes. U m a superposição considerável, entretanto,
nativa c o m a f i n i d a d e especial pelo g r u p o carboxila de A l a ,
existe nessa classificação porque m u i t a s enzimas são usadas para a
Val e Leu.
investigação de doenças e m diversos órgãos.

CONCEITOS BÁSICOS
A seleção de q u a l enzima m e d i r n o soro c o m p r o p ó s i t o prognós-
" O s autores a g r a d e c i d a m e n t e r e c o n h e c e m as contribuições prévias d o Dr. D o n a l d
W Moss e d e n o s s o caro colega Dr. A . R a l p h H e n d e r s o n (falecido), n a s quais se tico o u diagnóstico depende de vários fatores. U m fator i m p o r -
Laseiam partes deste c a p í m l o tante é a d i s t r i b u i ç ã o das enzimas entre os vários tecidos, c o m o
m o s t r a d o para enzimas selecionadas na Figura 19-1. As p r i n c i p a i s
328 PARTE IV Analitos

enzimas de v a l o r c l í n i c o estabelecido, j u n t o c o m sua o r i g e m Asparia ta


aminotransferase
tecidual e as aplicações clínicas estão listadas na Tabela 19-1. 10.000
A massa de u m órgão d a n i f i c a d o o u e m m a u f u n c i o n a m e n t o ,
j u n t o c o m o gradiente célula/sangue enzimático i n f l u e n c i a o 1 oco
•AOs
resultante a u m e n t o da atividade enzimática no sangue. E n t ã o , o &
gradiente de atividade da fcsfatase ácida prostática ( A C P ) entre
100
a próstata e o sangue é de cerca de 1.000:1, e a massa d o órgão
é 2 0 g. Por outro lado, o gradiente célula/sangue da a l a n i n a
10
aminotransferase ( A L T ) na célula hepática é 10.000:1 e a massa
S GÍ°
d o figado p o d e exceder 1.000 g. M e n o s células precisam estar
1
danificadas n o fígado do q u e n a prósrara para a a n o r m a l i d a d e Tecido
ser detectada por u m a u m e n t o da enzima n o sangue. E n t r e t a n t o , Alanina
se existir u m e n v o l v i m e n t o t o t a l d o ÓTgão, então o vasto n ú m e r o aminotransferase
10.000 AO
de células hepáticas afetadas eleva as concentrações sanguíneas
de q u a l q u e r enzima hepática. Por estimativa, se somente u m a e m 2
Co

Inn
1000
cada 7 5 0 células hepáticas estiver danificada, o a u m e n t o na quan- »s
tidade de A L T n o sangue é detectável.
O dano patológico a u m tecido engloba u m grande espectro de 100
efeitos. Portanto, u m a leve e reversível inflamação virai d o fígado, i—I
tal c o m o u m ataque leve de hepatite virai, provavelmente irá aumen- 10
tar somente a permeabilidade da m e m b r a n a celular e p e r m i t i r que Soí°

enzimas cito plasmáticas vazem n o sangue. U m forte ataque que 1


Tecido
cause necrose celular t a m b é m perturba a m e m b r a n a m i t o c o n d r i a l
e as enzimas m i t o c o n d r i a i s e citoplasmáticas são detectadas n o ^ feílcP vo Creatinoquinase

sangue. Portanto, o c o n h e c i m e n t o da localização intracelular das 50.000


^ * p f
enzimas ajuda a determinar a natureza e a severidade de u m pro- 10 000
cesso patológico se enzimas adequadas f o r e m medidas no sangue.

ENZIMAS MUSCULARES 1000

As enzimas discutidas nessa categoria i n c l u e m a creatinoquinase


100
( C K ) e a lactato desidrogenase ( L D ) .

10
Creatinoquinase
A c r e a t i n o q u i n a s e ( C K ) (EC2.7.3.2; adenosina trifosfatoicrea-
1
t i n a N-fosfotransferase) é u m a enzima d i m é r i c a (82 k D a ) que Tecido
catalisa a fosforilação reversível da creatina ( C r ) pela adenosina
trifosfato (ATP). H g ura 19-1 Os gradientes de concentração entre alguns tecidos e
soro humanos para aspartato aminotransferase, alanina aminotransferase
e creatinoquinase. O eixo do gradiente de concentração è logarítmico.
Fosfocreatina
(creatina fosfato)
Creatina

O H
CH3 NH O H CH3 N H
S
c— è — N - C v O
V N VH, n® y i V J W
b i t ó r i o . A enzima é r e l a t i v a m e n t e instável n o SOTO, sendo a ativi-
dade p e r d i d a c o m o resultado da oxidação do g r u p o s u l f i d r i l a d o
PH = 9. o j (|)0
sítio ativo da enzima. A atividade é parcialmente restaurada pela
+
CK, ME, incubação da preparação enzimática c o m compostos sulfidrílicos
pH = 6.7 c o m o a N-acetilcisteína, o d i t i o t r e i t o l (reagente de C l e l a n d ) e a
O o
g l u t a t i o n a . O agente de escolha a t u a l é a N-acetilcisteína.
A M P — P—O—P—Ü AMP—P—O-.0
i© |i© di ô Bioquímica
A d e n o s i n a trifosfato A d e n o s i n a difosfato
A atividade de C K é m a i o r n o tecido muscular estriado e n o
tecido cardíaco, os quais c o n t ê m cerca de 2.500 e 5 5 0 U / g de
proteína, respectivamente. O u t r o s tecidos, c o m o (1) o cérebro,
Eisiologicamente, q u a n d o o m ú s c u l o se c o n t r a i , o A T P é (2) o trato gastrointestinal e (3) a bexiga u r i n á r i a c o n t ê m signifi-
c o n v e r t i d o a adenosina difosfato ( A D P ) e a C K catalisa a refos- cativamente menos atividade e o fígado e os eritrócitos são essen-
forilação de A D P a A T P usando a creatina fosfato (CrP) c o m o cialmente desprovidos de atividade (Tabela 19-2).
reservatório da fosforilação. A C K é u m d í m e r o c o m p o s t o de duas subunidades, cada u m a
O s valores de p H ó t i m o para as reações direta ( C r + A T P —» c o m u m peso molecular de cerca de 41.000 D a . Essas subunida-
A D P + CrP) e reversa ( A D P + C r P C r + A T P ) são 9,0 e 6,7, des (B e M ) são os p r o d u t o s dos loci nos cromossomos 14 e 19,
respectivamente. O M g 2 + é u m í o n ativador o b r i g a t ó r i o que respectivamente. C o m o a f o r m a ativa da enzima é u m d í m e r o ,
f o r m a complexos c o m o A T P e o A D P . A faixa de concentração existem três diferentes pares de subunidades: B B ( o u CK-1), M B
ó t i m a para o M g 2 4 é u m p o u c o estreita e o excesso de Mg 3 *, ini- ( o u CK-2) e M M ( o u CK-3). A d i s t r i b u i ç ã o dessas isoenzimas nos
Enzimas CAPÍTULO 19 329

TABELA 19-1 Distribuição e Aplicaçao de Enzimas Importantes Clinicamente

Enzima Fontes Principais da Enzima no Sangue Aplicações Clínicas

Alanína aminotransferase Fígado Doenças parenquimais hepáticas


Fosfatase alcalina Fígado, osso, mucosa intestinal, placenta Doenças ósseas, doenças hepatobiliares
Amílase Glândulas salivares, pâncreas Doenças pancreáticas
Aspartato aminotransferase Fígado, músculo esquelético, coração, eritrócitos Doenças parenquimais hepáticas, doenças musculares
Colinesterase Fígado Envenenamento por inseticidas organofosforados, sensibilidade ao
suxametõnio, doenças parenquimais hepáticas
Creatinoquinase Músculo esquelético, coração Doenças musculares (intarto do miocárdio)
7-Glutamil transferase Fígado Doenças hepatobiliares, marcador de abuso de álcool
Lactato desidrogenase Coração, fígado, músculo esquelético, eritrócitos, Memólise, doenças parenquimais hepáticas, marcador tumoral
plaquetas, linfonodos
Lipase Pâncreas Doenças pancreáticas
5'-Nucleotidase Fígado Doenças hepatobiliares
Tripsina Pâncreas Doenças pancreáticas
- -

TABELA 19-2 C o n c e n t r a ç õ e s A p r o x i m a d a s da A t i v i d a d e de C r e a t i n o q u i n a s e (CK) T e c i d u a l (Expressa c o m o M ú l t i p l o s das


Concentrações de Atividade de CK no Soro) e C o m p o s i ç ã o de Isoenzimas Citoplasmáticas

ISOENZIMAS, %
Atividade
Tecido Relativa de CK CK-BB CK-MB CK-MM

Músculo esquelético (tipo 1, contração lenta ou fibras vermelhas) 50.000 <1 3 97


Músculo esquelético (tipo 11, contração rápida ou fibras brancas) 50.000 <1 1 99
Coração 10.000 < 1 22 78
Cérebro 5.000 100 0 0

M ú s c u l o lisa
Trato gastrointestinal 5.000 96 1 3
Bexiga urinária 4.000 92 6 2

vários tecidos h u m a n o s é m o s t r a d a na Tabela 19-2. Todas as três 3.417.3) h i d r o l i s a m seqüencialmente os resíduos de lisina da
espécies de isoenzimas são encontradas n o citossol da célula. C K - M M para p r o d u z i r duas i s o f o r m a s de C K - M M — C K - M M 2
E n t r e t a n t o , existe u m a quarta f o r m a q u e difere das outras t a n t o ( u m residuo de lisina r e m o v i d o ) e C K - M M ] (os dois resíduos de
i m u n o l o g i c a m e n t e q u a n t o pela m o b i l i d a d e eletrofoTética. Essa lisina removidos). A perda de lisina carregada positivamente
isoenzima ( C K - M t ) está localizada entre as m e m b r a n a s externa e p r o d u z u m a m o l é c u l a de C K mais negativamente carregada c o m
i n t e r n a da m i t o c ô n d r i a e c o n s t i t u i , n o coração, por exemplo, até m a i o r m o b i l i d a d e para o â n o d o na eletroforese. C o m o C K - M B
1 5 % da atividade t o t a l de C K . O gene para C K - M t está localizado tem somente u m a s u b u n i d a d e M , o d í m e r o c o d i f i c a d o pelos
n o c r o m o s s o m o 15. genes M e B é d e n o m i n a d o C K - M B 2 e o d í m e r o c o m a lisina
A atividade de C K t a m b é m é e n c o n t r a d a na f o r m a m a c i o m o - hidrolisada, C K - M B i .
lecular, a chamada m a c r o - C K . A m a c r o - C K é encontrada, fre-
q ü e n t e m e n t e de f o r m a transiente, no soro até 6 % dos pacientes Significado Clínico
hospitalizados, mas somente u m a pequena p r o p o r ç ã o destes t e m A atividade sérica de C K está m u i t o elevada em todos os tipos
atividade aumentada de C K n o soro. Ela existe em duas formas, de distrofia muscular. N a distrofia m u s c u l a r progressiva (particu-
tipos 1 e 2. A t i p o 1 é u m c o m p l e x o de C K , em geral C K - B B , e l a r m e n t e a d i s t r o f i a muscular de D u c h e n n e ligada ao sexo), a
u m a i m u n o g l o b u l i n a (Ig), f r e q ü e n t e m e n t e I g G , mas outros com- atividade enzimática n o soro é mais alta na p r i m e i r a infância e
plexos t ê m sido descritos, tais c o m o C K - M M c o m I g A . T e m sido na i n f â n c i a (7 a 10 anos de idade) e p o d e c o n t i n u a r a u m e n t a d a
estimado q u e a prevalência esteja entre 0 , 8 % e 2,3%. Ela freqüen- antes que a doença seja c l i n i c a m e n t e aparente. A atividade sérica
temente ocorre e m mulheres c o m mais de 5 0 anos. A t i p o 2 é de C K cai caracteristicamente à m e d i d a q u e os pacientes se
C K - M t oligomérica, c o m u m a prevalência descrita entre 0 , 5 % e t o r n a m mais velhos e a massa muscular f u n c i o n a l d i m i n u i c o m
2 , 6 % . E encontrada p r e d o m i n a n t e m e n t e e m adultos q u e estão a progressão da doença. CeTca de 5 0 % a 8 0 % das m u l h e r e s
gravemente doentes c o m malignidades o u doença hepática o u assintomáticas p o r t a d o r a s de d i s t r o f i a de D u c h e n n e m o s t r a m
em crianças que t e n h a m tecido c o m d a n o notável. O apareci- a u m e n t o s de três a seis vezes da a t i v i d a d e de C K . Valores u m
m e n t o dessa enzima n o soro está n o r m a l m e n t e associado a u m p o u c o altos de C K são n o t a d o s na m i o s i t e v i r a i , na p o l i m i o s i t e
prognóstico r u i m . A m a c r o - C K interfere na dosagem de C K - M B e nas doenças musculares similares. E n t r e t a n t o , nas doenças
p o r métodos de i m u n o i n i b i ç ã o . musculares neurogênicas, tais c o m o (1) m i a s t e n i a grave, (2)
T a n t o a s u b u n i d a d e M q u a n t o a B t ê m u m resíduo de lisina esclerose m ú l t i p l a j (3) p o l i o m i e l i t e e (4) p a r k i n s o n i s m o , a ativi-
t e r m i n a l , mas somente a p r i m e i r a é h i d r o l i s a d a pela ação de dade sérica da e n z i m a é n o r m a l . A a t i v i d a d e m u i t o alta é
carboxipeptidases n o r m a l m e n t e presentes n o sangue. As carboxi- t a m b é m e n c o n t r a d a na h i p e r t e r m i a m a l i g n a , u m a d o e n ç a f a m i -
peptidases B { E C 3.4.17.2) o u N ( a r g i n i n a carboxipeptidasej E C liar caracterizada p o r febre alta e ocasionada pela a d m i n i s t r a ç ã o
330 PARTE IV Analitos

de anestesia p o r inalação ( h a b i t u a l m e n t e h a l o t a n o ) ao indiví- genase ( G 6 P D ) que, enfim, convertem N A D P a N A D P H , o qual


d u o afetado. é m o n i t o r a d o espectrofotometricamente. Szasz e colegas otimiza-
Exercício e trauma muscular irão aumentar a C K sérica. Por r a m o ensaio pela adição de N-acetilcisteína para ativar C K ,
exemplo, o exercício sustentado, como em corredores de longa E D T A para ligar Ca 2 " e aumentar a estabilidade da mistura de
distância b e m treinados, aumenta o conteúdo de C K - M B do reação, e adenosina pentafosfato (Ap 5 A) além de A M P para i n i b i r
músculo esquelético devido ao fenômeno de "reversão fetal", n o adenilato quinase (AK). U m m é t o d o de referencia baseado nessa
qual os padrões fetais de síntese protéica reaparecem. Portanto, experiência prévia foi desenvolvido pela I n t e r n a t i o n a l Federation
a isoenzima C K - M B sérica pode aumentar em tais circunstâncias. o f C l i n i c a i Chemistry a n d Laboratory M e d i c i n e ( I F C C ) ; ele f o i
Essa explicação pode ser usada também para os valores de CK- m o d i f i c a d o para produzir u m procedimento de referência para a
M B elevados algumas vezes observados na falência renal crônica dosagem de C K a 37 °C. 7
(miopatia urêmica). A atividade de C K no soro é relativamente instável e é rapi-
Na rabdomiólise aguda com destruição muscular grave, as damente perdida durante o armazenamento. As estabilidades
atividades séricas de C K excedendo 200 vezes o limite de referên- médias são menores do que 8 horas à temperatura ambiente, 48
cia superior p o d e m ser encontradas. As atividades séricas de C K horas a 4 °C e 1 mês a - 2 0 °C. Portanto, a amostra de soro deve
também são aumentadas por outros traumas musculares diretos, ser armazenada a 4 ° C se o soro não for analisado imediatamente.
inclusive injeções intramusculares e intervenções cirúrgicas. U m leve grau de hemólise é tolerado porque os eritrócitos não
Finalmente, várias drogas em doses farmacológicas aumentarão contêm atividade de C K . Entretanto, amostras severamente
as atividades séricas de C K . hemolisadas são insatisfatórias porque as enzimas e os interme-
As variações na C K sérica e sua isoenzima M B após o infarto diários ( A K , A T P e G 6 P D ) liberados dos eritrócitos p o d e m afetar
do miocárdio serão discutidas no C a p í t u l o 33. Outras condições a fase de retardamento e o lado das reações no sistema de
cardíacas t a m b é m t ê m sido descritas como capazes de aumentar ensaio.
a C K sérica e a C K - M B no soro, tais como (1) cirurgia de íryfms A atividade sérica de C K está sujeita a muitas variações fisio-
da artéria coronária, (2) transplante cardíaco, (3) miocardite e (4) lógicas, i n c l u i n d o (1) sexo, (2) idade, (3) massa muscular, (4)
embolia p u l m o n a r . Para o diagnóstico de i n f a r t o agudo do mio- atividade física e (5) raça. Por exemplo, homens têm valores mais
cárdio, agora é vantajoso usar testes cardíacos não-enzimáticos altos que as mulheres, e os negros têm valores mais baixos que
específicos, tais como a t r o p o n i n a cardíaca I ou T. os não-negros. E m indivíduos caucasianos, o intervalo de referên-
A atividade sérica de C K demonstra uma relação inversa com cia é de 46 a 171 U / L para homens e de 34 a 145 U / L para
a atividade tireoidiana. Cerca de 6 0 % dos indivíduos hipotireói- mulheres quando dosado c o m u m ensaio confiável ao procedi-
deos mostram u m a elevação média da atividade de C K cinco vezes m e n t o de referência da I F C C a 37 °C.
maior do que o l i m i t e de referência superior. A p r i n c i p a l isoen-
zima presente é a C K - M M , sugerindo envolvimento muscular. Dosagem das Isoenzimas de CK
D u r a n t e o parto n o r m a l há u m a elevação de seis vezes na Os métodos eletroforéticos são úteis para a separação de todo o
atividade sérica de C K materna total. A intervenção cirúrgica padrão de isoenzimas de C K . As bandas de isoenzimas são visu-
durante o trabalho de parto aumenta ainda mais a atividade de alizadas pela incubação do suporte com uma mistura de ensaio
C K no soro. C K - B B pode estar elevada em neonatos, particular- de C K concentrada usando a reação reversa. O N A D P H f o r m a d o
mente em recém-nascidos com danos cerebrais ou c o m peso nessa reação é então detectado pela observação da fluorescência
m u i t o baixo ao nascimento. A presença de CK-BB n o sangue, branca azulada após excitação pela luz ultravioleta (360 nm). O
habitualmente em baixas concentrações, pode, entretanto, repre- N A D P H pode ser quantificado pela densitometria por fluores-
sentar u m achado n o r m a l nos primeiros dias de vida. cência, a qual é capaz de detectar bandas de 2 a 5 U / L . Exemplos
típicos de resultados obtidos por essa técnica com uma amostra
Métodos de Análise para Atividade e Conteúdo de de soro de u m adulto saudável e para u m paciente que havia
Isoenzimas sofrido u m infarto ! do m i o c á r d i o 24 horas antes são mostrados
A atividade de C K e o conteúdo de isoenzima são medidos no na Figura 19-2, A . O poder de discriminação da eletroforese
laboratório. t a m b é m permite a detecção de bandas de C K anormais, muitas
das quais estão mostradas na Figuia 19-2, B.
Dosagem da Atividade de CK Os métodos i m u n o q u í m i c o s são aplicáveis para a dosagem
Inúmeros métodos (1) fotométricos, (2) f l ú o r i m é t r i c o s e (3) direta de C K - M B . N a técnica de i m u n o i n i b i ç ã o , u m anti-soro
enzimas acopladas têm sido desenvolvidos para o ensaio da ativi- anti-subunidade C K - M é usado para i n i b i r tanto as subunidades
dade de C K , usando tanto a reação direta (Cr —» CrP) quanto a M da C K - M M quanto a única subunidade M de C K - M B e por-
reversa (Cr <— CrP). Analiticamente, a reação reversa é preferida tanto permite a determinação da atividade enzimática da subu-
porque ela procede cerca de seis vezes mais rápido do que a reação nidade B de C K - M B , das subunidades B de CK-BB e de macro-
direta. C K . Para determinar C K - M B , essa técnica assume a ausência de
CK-BB (e de outras fontes de interferência tais como macro-CK)
CK no soro testado, uma circunstância que não ocorre sempre. E m
Creatioa fosfato + ADP * creatma + ATP
p H 6,7 razão dessa inespecificidade, a técnica de i m u n o i n i b i ç ã o tem sido
HK suplantada pelos ensaios de massa de C K - M B .
ATP + glicose c'licose-6-fosfato + ADP Diferentemente da i m u n o i n i b i ç ã o , que mede a isoenzima
© GÓPD C K - M B pela determinação de sua atividade catalítica, os imuno-
gli cos e-6-fos fato + NADP 6-tosíogliconato + NADPH
ensaios de massa m e d e m a concentração de proteína C K - M B .
Vários ensaios de massa, usando vários marcadores, estão agora
disponíveis comercialmente e são usados para a determinação de
A C K catalisa a conversão de C r P a C r c o m a fosforilação C K - M B de rotina. As dosagens usam a técnica de "sanduíche",
concomitante de A D P a ATP. O A T P produzido é dosado pelas na qual u m anticorpo reconhece especificamente somente o
reações acopladas de hexoquinase (HK)/glicose-6-fosfato desidro- dímero M B . Os ensaios de massa são mais sensíveis que os
Enzimas C A P Í T U L O 19 331

CK-3 CK-3 QUADRO 19-1 Composições de Subunidades de Cinco


Isoenzimas de LD na Ordem Decrescente de
Suas Mobilidades para o Ânodo e m um Meio
Alcalino

LD 1 (HHHH; HJ
LD-2 (HHHM; H3M)
LD-3 (HHMM; H2M2)
LD-4 (HMMM; HM3)
LD-5 (MMMM; MJ

CK Bandas de CK
mitocondrial CK-3 CK-2 CK-1 de ocorrência Bioquímica
1 I comum A L D t e m u m peso m o l e c u l a r de 134 k D a e é composta de q u a t r o
rS
cadeias polipeptídicas de dois tipos: M ( o u A ) e H ( o u B), cada
ve +ve uma sob c o n t r o l e genético separado. A s estrututas de L D - M e
L D - H são determinadas p o r íoci nos cromossomos 11 e 12, res-
pectivamente. As composições de subunidades das cinco isoenzi-
B
t Bandas anormais mas estão listadas n o Q u a d r o 19-1 na o r d e m decrescente de suas
Macro-CK Macro-CK Albumina ou bandas normais m o b i l i d a d e s eletroforéticas e m direção ao â n o d o e m m e i o alca-
(tipo 2) (tipo 1) fluorescente que necessitam lino.
Isoformas de Isoforma de da aplicação de U m a sexta isoenzima de L D diferente, L D - X ( t a m b é m
CK-3 >CK-3 2 CK-2 >CK-2 1 técnicas de chamada de LD C ), composta de q u a t r o subunidades X (ou C),
e CK-3, separação está presente nos testes h u m a n o s pós-púberes. A sétima L D ,
especiais chamada de L D - 6 , t e m sido i d e n t i f i c a d a nos soros de pacientes
gravemente doentes.
Figura 19-2 A , Análises densitométricas da separação eletroforética
A atividade de L D está presente e m todas as células d o c o r p o
de isoenzimas de C K séricas de u m a d u k o saudável (à esquerda) e de u m
e é i n v a r i a v e l m e n t e e n c o n t r a d a apenas n o citoplasma da célula.
paciente (á direi:a) que teve u m i n f a r t o d o m i o c á r d i o 24 horas antes.
As concentrações da enzima e m vários tecidos são cerca de 5 0 0
B , Representação em diagrama das f o r m a s moleculares de C K
vezes maiores d o que aquelas encontradas n o r m a l m e n t e n o soro.
visualizadas na eletroforese.
Diferentes tecidos m o s t r a m diferentes composições de isoenzi-
mas. N o m ú s c u l o cardíaco, nos r i n s e nos eritrócitos, as isoenzi-
mas mais rápidas eletroforeticamente L D - 1 e L D - 2 p r e d o m i n a m ,
e n q u a n t o n o fígado e n o m ú s c u l o esquelético, as isoenzimas L D - 4
m é t o d o s baseados na atividade c o m u m l i m i t e de detecção para e LD-5 que m i g r a m mais para o cátodo p r e d o m i n a m — e m b o r a
C K - M B h a b i t u a l m e n t e < 1 f i g / L . O l i m i t e de referência s u p e r i o r o dano ao m ú s c u l o esquelético possa t a m b é m resultar c m padrões
para h o m e n s é 5,0 p g / L , c o m valores para as m u l h e r e s menores mais na direção d o â n o d o . As isoenzimas de m o b i l i d a d e inter-
d o que os valores para homens. 4 m e d i á r i a dão c o n t a da atividade de L D de fontes tais c o m o (1)
baço, (2) p u l m õ e s , (3) l i n f b n o d o s , (4) leucócitos e (5) plaquetas.
Lactato Desidrogeriase
A l a c t a t o d e s i d r o g e n a s e ( E C 1.1.1.27; L-lactato: N A D * oxidorre- Significado Clínico
dutase; LD) é u m a enzima de transferência de h i d r o g ê n i o que D e v i d o à sua ampla d i s t r i b u i ç ã o e m todos os tecidos, elevações
catalisa a oxidação d o L-lactato a p i r u v a t o c o m a mediação de séricas de L D o c o r r e m e m várias condições clínicas — inclusive
N A D + c o m o u m aceptor de h i d r o g ê n i o . (1) i n f a r t o d o m i o c á r d i o , (2) hemólise e (3) desordens d o fígado,
dos rins, d o p u l m ã o e d o m ú s c u l o .
A hemólise, se i n s u f i c i e n t e m e n t e grave, p r o d u z u m padrão
Lactato
de isoenzimas de L D similar àquele d o i n f a r t o d o m i o c á r d i o . A s
CH 3 Desidrogenase CH3
anemias megaloblásticas, h a b i t u a l m e n t e resultantes da deficiên-
pH 8,8 a 9,8
H - A - OH
+ N A D0
u NADH
cia de f o l a t o o u v i t a m i n a B ] 2 , causam q u e b r a da célula precursora
ÀXqO
çyí
pH 7,4 a 7,a AxO° de eritrócitos n a m e d u l a óssea (eritropoiese ineficaz), r e s u l t a n d o
na liberação de grandes quantidades de isoenzimas L D - 1 e L D - 2 .
L-lactato Piruvato
Elevações marcantes da atividade t o t a l de L D n o soro — de até
50 vezes o l i m i t e de referência superior — t ê m sido observadas
nas anemias megaloblásticas. Essas elevações r e t o r n a m rapida-
C o m o i n d i c a d o , a reação é reversivel, e o e q u i l í b r i o da reação mente ao n o r m a l após t r a t a m e n t o a p r o p r i a d o .
favorece f o r t e m e n t e a redução d o p i r u v a t o a lactato (P —» L) — a As elevações na atividade de L D são observadas na doença
"reação reversa". hepática, mas essas elevações n ã o são tão grandes q u a n t o os
A especificidade da enzima se estende d o L-lactato para vários aumentos n a atividade de aminotransferase. As elevações são espe-
2-hidroxiácidos e 2-oxiácidos relacionados. A oxidação catalítica cialmente altas (10 vezes o n o r m a l ) n a hepatite tóxica c o m icterí-
d o 2 - h i d r o x i b u t i r a t o , o m a i o r h o m ó l o g o p r ó x i m o ao lactato, a cia. Valores ligeiramente mais baixos são observados n a hepatite
2 - o x o b u t i r a t o é referida c o m o u m a atividade de 2 - h i d r o x i b u t i r a t o virai e n a m o n o n u c l e o s e infecciosa, a ú l t i m a f r e q ü e n t e m e n t e asso-
desidrogenase ( H B D ) . O E D T A i n i b e a enzima talvez p o r ligar ciada a elevações de LD-3. A atividade de L D é n o r m a l o u n o
Zn 2 + ; e n t r e t a n t o , o papel ativador p o s t u l a d o para os íons zinco m á x i m o o d o b r o d o l i m i t e de referência superior na cirrose e na
não está t o t a l m e n t e estabelecido. icterícia obstrutiva. A LD-5 sérica está f r e q ü e n t e m e n t e elevada e m
332 PARTE IV Anaiitos

pacientes com doença hepática primária ou com anoxia hepática Aminotransferases


secundária à d i m i n u i ç ã o da perfusão de oxigênio. As aminotransferases constituem u m grupo de enzimas que cata-
Pacientes c o m doença maligna m o s t r a m atividade de L D lisa a interconversão de aminoácidos a 2-oxiácidos pela transfe-
aumentada n o soro; até 7 0 % dos pacientes c o m metástases hepá- rência de grupos a m i n o . A aspartato aminotransferase (EC
ticas e de 2 0 % a 6 0 % dos pacientes com outras metástases não- 2.6.1.1; L-aspartato-.a-cetoglutarato aminotransferase; A S T ) e a
hepáticas têm atividade total de L D aumentada. L D - 1 notavel- alanina aminotransferase (EC 2.6.1.2; L-aIanina:a-cetoglutarato
mente aumentada é observada em tumores de células germinati- aminotransferase; A L T ) são exemplos de aminotransferases de
vas ( 6 0 % dos casos), tais como (1) teratoma, (2) seminoma de interesse clinico.
testículo e (3) disgerminoma de ovário. A percentagem de pacien- A dupla a-c e t o glu c a r ato/L-gl u t a m a to serve como u m par
tes com L D - 1 aumentada depende do estágio da doença. Para aceptor e doador de grupo a m i n o em todas as reações de trans-
propósitos de m o n i t o r a m e n t o , L D é relevante em predizer a ferência de amino.; a especificidade das enzimas individuais
duração e taxa de sobrevida em doença de H o d g k i n e em l i n f o m a deriva d o aminoácido em particular que serve como o o u t r o
n ã o - H o d g k i n e n o acompanhamento d o disgerminoma. doador de u m grupo a m i n o . Portanto, a A S T catalisa a reação:

Métodos de Análise para Atividade e Conteúdo de


Isoenzimas COO© COOc"! coo0 coo':
AST, P-5'-P I
A atividade de L D e o conteúdo de isoenzimas n o sangue são LI—C—NH2 + è—o
medidos n o laboratório. CH-, if.Hj
CHj Glfe
ÍH2 r o o 0
CH,
Dosagem da Atividade de LD
ioo0 CO<t
P
Métodos de r o t i n a para as reações direta (L —> P) e reversa (P —>
L) estão disponíveis. TJm m é t o d o de referência L —> P, otimizado L-Aspaitato a-Ceroglutaiato Oxalo acera to l,( ilnrsx^rn

para L D - 1 foi desenvolvido pela I F C C como u m procedimento


de referência a 37 °C. 8
O soro é a amostra preferida para a dosagem da atividade de A A L T catalisa a reação análoga:
L D . As amostras de plasma p o d e m estar contaminadas c o m
plaquetas, as quais c o n t ê m altas concentrações de L D . O soro
COO 9 COO° COO© coof*
deve ser separado do coágulo tão logo quanto possível após a ALT, P-5'-P
amostra ter sido obtida. O soro hemolisado não deve ser usado ! é b * k=o H—C—NTTR
p o r q u e os eritrócitos contêm 150 vezes mais atividade de L D CH2
(particularmente LD-1 e LD-2) do que o soro. As diferentes iso-
u 4H,
enzimas variam em suas sensibilidades ao frio, a - 2 0 °C. Por-
ílno e
èo<jP
tanto, as amostras de soro devem ser armazenadas à temperatura
ambiente, na qual n e n h u m a perda da atividade ocorre por pelo
L-Alaním a-Ceraglutaiato Fímvato L-Glufamato
menos 3 dias.
Os valores para a atividade de L D n o soro variam considera-
As reações são reversíveis, mas os equilíbrios das reações da
velmente, dependendo da direção da reação enzimática e do
A S T e da A L T favorecem a formação de aspartato e alanina,
método usado. O intervalo de referência para adultos, determi-
nado pelo procedimento de referência a 37 °C da I F C C é de 125 respectivamente.
O piridoxal-5'-fosfato (P-5'-P) e seu análogo amino, píridoxa-
a 220 U / L . O intervalo de referência para L D é maior em crian-
ças (180 a 360 U / L ) . mina-5'-fosfato, f u n c i o n a m como coenzimas nas reações de trans-
ferência de amino. O P-5'P está ligado à apoenzima e serve como
u m grupo prostético verdadeiro. O P-5'-P ligado à apoenzima
Dosagem das Isoenzimas de LD
aceita o grupo a m i n o do p r i m e i r o substrato, aspartato ou alanina,
A separação ele tro for ética em géis de agarose ou em membranas
para formar a enzima ligada ao P-5'-P e o p r i m e i r o p r o d u t o da
de acetato de celulose é o procedimento mais co m u mente usado
reação, oxaloacetato o u piruvato, respectivamente. A coenzima
para demonstrar as isoenzimas de L D . Após a separação das
na forma a m i n o então transfere seu grupo a m i n o para o segundo
isoenzimas por eletroforese, u m a mistura de reação é colocada
substrato, a-cetoglutarato, para formar o segundo p r o d u t o , glu-
sobre o meio de separação. O N A D H gerado sobre as zonas de
tamato. O P-5'-P é então regenerado.
L D é detectado p o r sua fluorescência, q u a n d o excitado p o r luz
Podem estar presentes n o soro tanto as apoenzimas deficien-
ultravioleta longa, ou por sua redução com u m sal tetrazólio para
tes em coenzimas quanto as holoenzimas. Portanto, a adição de
formar u m formazano colorido.
P-5VP sob condições que p e r m i t e m a recombinação com as
Usando-se u m a técnica em gel de agarose c o m quantificação
enzimas habitualmente produz u m aumento na atividade de ami-
f l u o r i m é t r i c a do N A D H gerado, os seguintes intervalos de refe-
notransferase. De acordo com o p r i n c í p i o de que todos os fatores
rência para as isoenzimas foram obtidos (expressos em porcenta-
que afetam a velocidade de reação devem ser otimizados e con-
gem d o total de L D ) : LD-1, 14% a 26%; LD-2, 2 9 % a 3 9 % ;
trolados, a I F C C recomenda a adição de P-5'-P nos métodos de
LD-3, 2 0 % a 26%; LD-4, 8 % a 16% e LD-5, 6 % a 16%.
aminotransferase para garantir que toda a atividade enzimática
ENZIMAS HEPÁTICAS seja dosada.

As enzimas nesta categoria incluem (1) alanina e (2) aspartato


aminotransferases, (3) y-glutamiltransferase ( G G T ) , (4) fosfatase Bioquímica
alcalina (ALP), (5) 5-núcleotidase (NTP), (6) colinesterase sérica As tiansaminases estão amplamente distribuídas através d o
( C H E ) e (7) glutamato desidrogenase ( G L D ) . As aminotransferases corpo. A A S T é encontrada p r i n c i p a l m e n t e (1) n o coração, (2)
e a A L P são amplamente usadas. Elas têm sido chamadas há m u i t o n o fígado, (3) n o músculo esquelético e (4) n o r i m . A A L T é
erroneamente, como u m grupo, "testes de função hepática". encontrada principalmente n o fígado e n o r i m (Tabela 19-3). A
Enzimas CAPÍTULO 19 333

TABELA 19-3 Atividades de Aminotransferases em Tecidos rase. A s concentrações aumentadas de aminotransferase t ê m sido
H u m a n o s , e m Relação ao Soro c o m o U n i d a d e observadas na colestase extra-hepática, c o m atividades t e n d e n d o
a serem maiores q u a n t o mais c r ô n i c a for a obstrução. As ativida-
AST ALT
des de aminotransferase observadas na cirrose v a r i a m c o m o
Coração 7.800 450 estado do processo c i r r ó t i c o e v a r i a m do l i m i t e de referência
Fígado 7.100 2.850 superior a q u a t r o o u cinco vezes m a i o r , c o m u m a p r o p o r ç ã o
Músculo esquelético 5.000 300 A S T / A L T m a i o r do que 1. A elevação na p r o p o r ç ã o p o d e r e f l e t i r
Rins 4.500 1 200 o grau de fibrose nesses pacientes. Isso parece ser a t r i b u í d o a u m a
Pâncreas 1.400 130 redução da p r o d u ç ã o de A L T n o fígado d a n i f i c a d o .
Baço 700 80 As elevações de duas a c i n c o vezes de ambas as enzimas
Pulmões 500 45 o c o r r e m e m pacientes c o m c a r c i n o m a p r i m á r i o o u metastático
Eritrócitos 15 7 do fígado, c o m a A S T n o r m a l m e n t e sendo m a i o r d o q u e a A L T ,
Soro 1 1 mas as atividades são f r e q ü e n t e m e n t e n o r m a i s nos estágios ini-
ciais da i n f i l t r a ç ã o maligna do fígado. Elevações leves o u mode-
De /Ong ] Practical clinicai £Tvrmioto,. Lontlres: D Vau Nostrcuui Co, Lld, 1965.
radas das atividades de A S T e A L T t ê m sido observadas após a
administração de vários m e d i c a m e n t o s , tais c o m o (1) drogas
a n t i i n f l a m a t ó r i a s não-esteróides, (2) a n t i b i ó t i c o s , (3) drogas
antiepilépticas, (4) i n i b i d o r e s d e h i d r o x i m e t i l g l u t a r i l - c o e n z i m a A
redutase (estatuías) o u (5) opiatos. E m pacientes c o m aminotrans-
ferases aumentadas, marcadores virais negativos e h i s t ó r i a nega-
A L T é exclusivamente citoplasmática; t a n t o formas m i t o c o n d r i a i s tiva de ingestão de álcool o u drogas, o p l a n e j a m e n t o deve i n c l u i r
q u a n t o citoplasmáticas de A S T são encontradas nas células- Essas causas menos c o m u n s de lesão hepática crônica, c o m o (1) hemo-
são isoenzimas geneticamente distintas c o m u m a estrutura dimé- cromatose, (2) doença de W i l s o n , (3) hepatite a u t o - i m u n e , (4)
rica composta de duas s u b u n i d a d e s polipeptídicas idênticas de cirrose b i l i a r p r i m á r i a , (5) colangite esclerosante e (6) deficiência
cerca de 4 0 0 resíduos de aminoácidos. Cerca de 5 % a 1 0 % da em a r a n t i t r i p s i n a .
atividade de A S T n o soro de i n d i v í d u o s saudáveis é de o r i g e m E m b o r a as atividades séricas de A S T e A L T se t o r n e m eleva-
mitocondrial. das sempre que u m processo p a t o l ó g i c o afeta a integridade da
célula hepática, a A L T é a enzima mais específica para o fígado.
Significado Clínico As elevações séricas da atividade de A L T são r a r a m e n t e observa-
A doença hepática é a causa mais i m p o r t a n t e de a u m e n t o de das em outras condições além da doença p a r e n q u i m a l hepática.
atividade de transaminase n o soro ( C a p í t u l o .36). N a m a i o r i a dos A l é m disso, as elevações da atividade de A L T persistem p o r mais
tipos de doenças hepáticas, a atividade de A L T é m a i o r d o que t e m p o do q u e aquelas da atividade de A S T .
a de A S T . Exceções p o d e m ser vistas em (1) hepatite alcoólica, A p ó s o i n f a r t o agudo d o m i o c á r d i o , aparece n o soro a ativi-
(2) cirrose hepática e (3) neoplasia hepática. N a h e p a t i t e v i r a i e dade a u m e n t a d a de A S T . A atividade de A S T t a m b é m está
e m outras formas de doenças hepáticas associadas c o m necrose a u m e n t a d a na distrofia m u s c u l a r progressiva e na d e r m a t o m i o -
hepática aguda, as concentrações séricas de A S T e A L T estão site, alcançando concentrações de até o i t o vezes o valor de refe-
elevadas m e s m o antes que os sinais clínicos e os sintomas da rência superior. Elas estão h a b i t u a l m e n t e d e n t r o d o i n t e r v a l o de
doença (tais c o m o icterícia) apareçam. A s atividades para ambas referência em outros tipos de doenças musculares, especialmente
as enzimas p o d e m alcançar valores tão altos q u a n t o 100 vezes o naquelas de o r i g e m neurogênica. Elevações leves o u moderadas
l i m i t e de referência superior, e m b o r a elevações de 10 a 4 0 vezes são notadas na doença h e m o l í t i c a .
sejam mais f r e q ü e n t e m e n t e encontradas. Os valores dos picos de V á r i o s estudos t ê m descrito a A S T ligada a i m u n o g l o b u l i n a s ,
atividade de aminotransferase o c o r r e m entre o sétimo e o 122 o u macro-AST. Os achados típicos são u m a u m e n t o persistente
dia. As atividades então d i m i n u e m gradativamente, chegando às da atividade sérica de A S T em u m i n d i v í d u o assintomático, c o m
atividades n o r m a i s pela terceira o u q u a r t a semana se a recupera- a ausência de q u a l q u e r p a t o l o g i a d e m o n s t r á v e l e m órgãos ricos
ção é de r o t i n a . Os picos de atividade não possuem relação c o m e m A S T . A atividade a u m e n t a d a de A S T reflete o desapareci-
o prognóstico e p o d e m cair c o m a p i o r a da c o n d i ç ã o d o m e n t o d i m i n u í d o do c o m p l e x o a n o r m a l do plasma. A s macro-
paciente. A S T não têm relevância clínica conhecida. E n t r e t a n t o , a i d e n t i -
A persistência de A L T a u m e n t a d a p o r mais de 6 meses após ficação é i m p o r t a n t e para evitar p r o c e d i m e n t o s diagnósticos
u m episódio de h e p a t i t e aguda é usada para diagnosticar h e p a t i t e desnecessários nesses i n d i v í d u o s .
crônica. A m a i o r i a dos pacientes c o m h e p a t i t e crônica t e m u m
m á x i m o de A L T m e n o r do que sete vezes o valor de referência
superior. A A L T p o d e estar persistentemente n o r m a l e m 1 5 % a Métodos de Análise
5 0 % dos pacientes c o m hepatite C crônica, mas a p r o b a b i l i d a d e O sistema de ensaio para a dosagem de atividade de a m i n o t r a n s -
de A L T c o n t i n u a m e n t e n o r m a l d i m i n u i c o m o a u m e n t o n o ferase c o n t é m dois a m i n o á c i d o s e dois oxiácidos. C o m o n ã o
n ú m e r o de dosagens. E m pacientes c o m hepatite C aguda, a A L T existe u m m é t o d o conveniente para dosar aminoácidos, é dosada
deve ser dosada p e r i o d i c a m e n t e d u r a n t e os p r ó x i m o s 1 a 2 anos a formação o u o c o n s u m o de oxiácidos. Os m é t o d o s de m o n i t o -
para d e t e r m i n a r se sua atividade r e t o r n o u ao n o r m a l . r a m e n t o c o n t í n u o são usados pelo a c o p l a m e n t o de reações de
N a lesão hepática i n d u z i d a pelo acetaminofeno, o p i c o de aminotransferases a reações de desidrogenases específicas. Os
aminotransferase é m a i o r do que 85 vezes o valor de referência oxiácidos f o r m a d o s n a reação são dosados i n d i r e t a m e n t e pela
superior em 9 0 % dos casos, u m v a l o r r a r a m e n t e visto na h e p a t i t e redução enzimática aos h i d r o x i á c i d o s correspondentes, sendo o
v i r a i aguda. A l é m disso, as atividades de A S T e A L T n o r m a l - a c o m p a n h a m e n t o da variação na concentração de N A D H m o n i -
m e n t e chegam r á p i d o a u m p i c o n o i n í c i o e caem r a p i d a m e n t e . t o r a d o espectrofotometricamente. O a-cetoglutarato, f o r m a d o na
A l é m das hepatites v i r a i e alcoólica, a esteato-hepatite não- reação de A S T , é Teduzido a m a l a t o na presença de m a l a t o desi-
alcoólica é a causa mais c o m u m de a u m e n t o s de aminotransfe- drogenase ( M D ) .
334 PARTE IV Analitos

a-cetüglutaiato —... L-Aspartato L-Malato NAD o,. .O


\
X
"N

-Y \ í
.W» tf I
'
O. OH

©
L-Glutamato Oxaloacetaro "• N A D H + H
T AH
y-UUi tamil transíerase
Ml
Reação de aminotransferase Reação de desidrogenase
(Formação de oxaloacetato) (Quantificação de 0* a lo acetato) n-4 pH S.2
Reação ensaio Reação t-ndkâdota t &
I
|j < i i , N
I W ""H
a niNHi
O piruvato f o r m a d o na reação de A L T é reduzido a lactato Glicílglicina O. OH
pela L D . O substrato, N A D H , e as enzimas auxiliares, M D o u cx Aceimnte V
O** OH
L D , precisam estar presentes em quantidade suficiente de tal ÍH2
Substrato (doaderr)
f o r m a que a velocidade de reação seja limitada somente pelas ÍLLH
y-Glu t amil-J>-ni tioanilida
quantidades de A S T e A L T , respectivamente. À m e d i d a que a (i—O
reação procede, o N A D H é oxidado a N A D \ O desaparecimento
^H2
do N A D H é acompanhado pela medida da d i m i n u i ç ã o da absor- I
vância a 340 n m por vários minutos. A variação da absorvância NH
por m i n u t o ( A A / m i n ) é p r o p o r c i o n a l aos micromoles de N A D H o=c
oxidados e, p o r sua vez, aos micromoles de substrato transfor- ÍH2
mado por m i n u t o . U m período de incubação p r e l i m i n a r é neces- O*1

sário para garantir que a redução dependente de N A D H de f>-Nitroani]ina


Resíduo doador ÍHNH,
oxiácidos endógenos na amostra esteja completa antes da adição
de a-cetoglutarato para iniciar a reação de aminotransferase.
OH
C o n f o r m e mencionado, a suplementação com P-5r-P garante que
y-Glutamilglicilglicina
toda a atividade de aminotransferase da amostra seja dosada.
Produto da transferência
Procedimentos de referência primários da I F C C para a
dosagem das atividades catalíticas de A S T e A L T a 37 ° C estão
disponíveis. 10,11 Para garantir a exatidão e a comparabilidade entre
A glicilglicina é cinco vezes mais efetiva como aceptor a do
os laboratórios, os valores do calibrador do p r o d u t o do fabricante
que a glicina ou o tripeptídio (gly-gly-gly). A reação de transferên-
e os resultados de dosagens obtidos na r o t i n a diária com sistemas
cia da peptidase é consideravelmente mais rápida do que a reação
comerciais devem estai de acordo com esses procedimentos de
de hidrólise simples.
dosagem de referência (Capítulo 9).
A atividade de A S T n o soro é estável por até 48 horas a
Bioquímica
4°C. As amostras devem ser armazenadas congeladas se forem
A G G T está presente (em o r d e m de abundância decrescente) (1)
mantidas por maiores períodos. A atividade de A L T deve ser
no t ú b u l o renal proximal, (2) n o fígado, (3) no pâncreas e (4) no
dosada n o dia da coleta da amostra uma vez que a atividade é
intestino. A enzima está presente n o citoplasma (microssomos),
perdida à temperatura ambiente, a 4 ° C e a - 2 5 °C. A estabili-
mas a maior fração está localizada na membrana celular e pode
dade de A L T é mais b e m m a n t i d a a - 7 0 °C. As amostras hemo-
transportar aminoácidos e peptídios paia as células através da
lisadas não devem ser usadas.
membrana celular na forma de y-glutamilpeptídios.
Q u a n d o se usam exames confiáveis aos procedimentos de }
referência da I F C C , os limites de referência superiores de A S T
para adultos são 31 U / L para mulheres e 35 U / L para homens, Significado Clinico
respectivamente. Os limites de referência superiores de A L T cor- Mesmo o tecido renal tendo a maior concentração de G G T , a
respondentes são 34 U / L e 45 U / L . enzima presente no soro se origina primariamente do sistema
hepatobiliar. Ela é u m indicador sensível da presença de doença
hepatobiliar, estando elevada na maioria dos indivíduos com
Gama-glutamiltransferase doença hepática independentemente da causa. Sua utilidade
As peptidases são enzimas que catalisam a clivagem hidrolítica clínica, entretanto, é limitada pela falta de especificidade. C o m o
de peptídios para formaT aminoácidos o u peptídios menores. a ALP, ela é mais alta nos casos de obstrução biliar intra- e pós-
Elas constituem u m grupo amplo de enzimas de especificidade hepática, alcançando atividades de cerca de 5 a 30 vezes o limite
variada. Algumas enzimas individuais agem como transferases de de referência superior. Altas elevações de G G T também são obser-
aminoácidos e catalisam a transferência de aminoácidos de u m vadas em pacientes com neoplasmas hepáticos primários ou metas-
peptídeo para u m outro aminoácido o u peptídio. A gama-gluta- táticos. Nessas condições, as variações podem ocorrer precoce-
miltransferase ( E C 2.3.2.2; y-glutamil-peptídio: aminoácido y-glu- mente e são mais pronunciadas do que aquelas de outras enzimas
tamiltransferase [ G G T ] ) catalisa a transferência do grupo y-gluta- hepáticas. Elevações moderadas (duas a cinco vezes o limite de
m i l de peptídios e compostos que o contêm para u m aceptor. Os referência superior) ocorrem em hepatites infecciosas. Aumentos
substratos para G G T i n c l u e m (1) o aceptor de y-glutamil, (2) pequenos da atividade de G G T são observados em pacientes com
alguns aminoácidos ou peptídios, (3) ou mesmo água, no caso fígado gordo, e aumentos similares mas transientes são notados em
de ocorrer u m a hidrólise simples. A enzima age somente sobre casos de intoxicação por drogas. N a pancreatite aguda ou crônica
peptídios o u compostos semelhantes a peptídios c o n t e n d o u m e alguns tipos de malignidades pancreáticas (especialmente se asso-
resíduo de glutamato t e r m i n a l ligado ao restante do composto ciadas a obstrução hepatobiliar), a atividade enzimática pode ser
n o t e r m i n a l carbóxi (-y-) c o m o a seguir- de 5 a 15 vezes o l i m i t e de referência superior.
Enzimas CAPÍTULO 19 335

A t i v i d a d e s aumentadas de G G T são encontradas nos sotos u m a grande variedade de substratos de ocorrência n a t u r a l e sin-
de pacientes c o m hepatite alcoólica e na m a i o r i a dos soros de téticos. Os íons divalentes, tais c o m o M g 2 + , Co 2 + , e M n z + , são
pessoas que são etilistas pesados. Concentrações aumentadas da ativadores da enzima, e o Z n 2 ' é o í o n metálico c o n s t i t u i n t e . Os
enzima t a m b é m são encontradas n o soro de i n d i v í d u o s que íons fosfato, borato, oxalato e cianeto são i n i b i d o r e s da atividade
recebem drogas anticonvulsivantes, tais c o m o a f e n i t o í n a e o de A L P . O t i p o de tampão presente na reação catalítica pode
fenobarbital. T a l a u m e n t o na atividade de G G T n o soro p o d e afetar a velocidade de atividade. Os tampões para o ensaio de
r e f l e t i r a i n d u ç ã o de atividade enzimática nova pela ação d o A L P são classificados c o m o (1) inertes (carbonato e barbiral), (2)
álcool e de drogas e / o u p o r seus efeitos tóxicos nas estruturas i n i b i d o r e s (glicina e p r o p i l a m i n a ) o u (3) ativadores (2-ainino-2-
microssomiais das células hepáticas. m e t i l - l - p r o p a n o l [ A M P ] , tris ( h i d r o x i m e t i l ) a m i n o m e t a n o [TRIS]
e dietanolamina [DEA]).
Métodos de Análise
Os primeiros exames de G G T usavam L-y-glutamil-fmi troa n i lida Bioquímica
( G G P N A ) como substrato, c o m glicilglicina servindo como o aceptor A atividade de A L P está presente na m a i o r i a dos órgãos do c o r p o
do resíduo y-glutamil. A p-nitroanilida produzida na reação é deter- e está especialmente associada a m e m b r a n a s e superfícies célula-
minada pela sua cor amarela, a qual é monitorada a 405 n m . res localizadas (1) na mucosa do i n t e s t i n o delgado e nos túbulos
E n t r e t a n t o , a G G P N A tem solubilidade l i m i t a d a na m i s t u r a c o n t o r c i d o s proximais d o r i m , (2) no osso (osteoblastos), (3) n o
de reação. P o r t a n t o , c o m G G P N A , é d i f í c i l obter concentrações fígado e (4) na placenta. E m b o r a a f u n ç ã o metabólica exata da
saturantes de substrato. Derivados de G G P N A , nos quais vários enzima não seja c o m p r e e n d i d a , parece que a A L P está associada
grupos f o r a m i n t r o d u z i d o s n o anel benzenoj t ê m sido usados c o m o transporte de lipídios n o intestino e c o m o processo de
para a u m e n t a r a h i d r o s s o l u b i l i d a d e . N o p r o c e d i m e n t o de refe- calcificação óssea.
rência de dosagem de G G T da I F C C , a L-y-glutamil'3-carbóxi-4- A A L P existe e m m ú l t i p l a s formas, algumas das quais são
n i t r o a n i l i d a serve c o m o substrato, c o m glicilglicina a t u a n d o
isoenzimas verdadeiras, codificadas e m loci separados (Figura 19-
c o m o u m aceptor. O t a m p o n a m e n t o é realizado pela p r ó p r i a
3). As formas de A L P do osso, d o fígado e do r i m c o m p a r t i l h a m
glicilglicina. O c o m p r i m e n t o de o n d a de dosagem do p r o d u t o de
u m a estrutura p r i m á r i a c o m u m codificada pelo mesmo locus
reação, S - a m i n o - ^ n i t r o b e n z o a L o , é 410 nm. 9
gênico, mas d i f e r e m n o c o n t e ú d o de carboidratos.
A G G T é u m a enzima c o m p a r a t i v a m e n t e estável i n vúro. A
atividade é estável p o r pelo menos 1 mês a 4 ° C e p o r 1 ano a Significado Clínico
- 2 0 °C. O soro não-hemolisado é a amostra preferencial, mas o
A s elevações na atividade de A L P sérica se o r i g i n a m c o m u m e n t e
plasma c o m E D T A t a m b é m pode ser usado. A h e p a r i n a p r o d u z
do fígado e do osso. C o n s e q ü e n t e m e n t e , as dosagens séricas de
turbidez na m i s t u r a de reação; citrato, oxaloacetato e f l u o r e t o
A L P são de p a r t i c u l a r interesse na investigação de doença hepa-
d i m i n u e m a atividade de 10% a 15%.
t o b i l i a r e na doença óssea associada a atividade osteoblástica
E m adultos, o l i m i t e de referência superior para a atividade
aumentada.
de G G T n o soro é de 38 U / L para mulheres e 55 U / L para
h o m e n s . Os limites de referência são a p r o x i m a d a m e n t e duas Doença Hepatobiliar
vezes maiores em pessoas de ancestralidade africana. E m neona-
A resposta do fígado a qualquer f o r m a de obstrução da árvore
tos a t e r m o n o r m a i s , a atividade de G G T ao nascimento é apro-
hepática i n d u z a síntese de A L P pelos hepatócitos. Algumas das
x i m a d a m e n t e de seis a sete vezes a faixa de referência para adultos.
enzimas recentemente formadas e n t r a m na circulação para aumen-
A atividade então declina, alcançando os valores de adultos na
tar a atividade enzimática n o soro. A elevação tende a ser mais
idade de 5 a 7 meses.
notável ( m a i o r do que três vezes) na obstrução extra-hepática d o
que na obstrução íntra-hepática e é t a n t o m a i o r quanto mais
completa ÍOT a obstrução. As atividades enzimáticas séricas p o d e m
Fosfatase Alcalina alcançar de 10 a 12 vezes o l i m i t e de referência superior e habitu-
A fosfatase a l c a l i n a { E C 3.1.3.1; ortofosfórico-monoésteT fosfo- almente r e t o r n a m ao nomnal c o m a remoção cirúrgica da obstru-
hidrolase [ ó t i m o alcalino]; A L P ) catalisa a h i d r ó l i s e alcalina de ção. U m a u m e n t o similar é visto e m pacientes c o m câncer hepá-

Fígura 19-3 identidades, designações Origens das Isoformas de Fosfatase Alcalina


cromossômicas e principais expressões
Loci gênicos
fisiológica e patológica de genes que
i
codificam fosfatases alcalinas humanas. I I
As ímkas tracejadas mostram duas origens Cromossomo 1 Cromossomo 2
alternativas propostas de fosfatase alcalina
intestinal fetal. A seqüência de um D N A q>
complementar (cDNA) é apresentada j Toocto não-sspociftGQ Célula
garmrvitivn
como idêntica àquela da fosfatase alcalina
1
intestinal adulta (AP). Todas as Mutações
Glicosilaçftn
isoenzimas e isoformas são glicoprotcínas, diferenciai patogênica»
impondo um maior grau de micro- no osso
heterogeneidade Diferentes processos de Variantes
clivagem ou preservação do domínio de tecido-espcci ficas
ancoramento na membrana podem gerar Expressão Expressão Expressão
inapropriada no inapropriada no inapropriada
isoformas adicionais. (Modificado de câncer
~l I 1 câncer no câncer
Moss DW. Perspectives in alkaline (Nagao) (Regan) (Kasahara)
Rim Figado Osso Outros
phosphatase research. Clin Chem I
1992;38:2486-92.) Modificações somáticas no câncer
336 PARTE IV Analitos

tico p r i m á r i o avançado o u c o m metástases hepáticas secundárias Métodos de Análise para Atividade e Conteúdo de
generalizadas. As doenças hepáticas q u e afetam p r i n c i p a l m e n t e as Isoenzimas
células parenquimais, tais c o m o a hepatite infecciosa, m o s t r a m A atividade de A L P e o c o n t e ú d o de isoenzimas são m e d i d o s no
geralmente atividades de A L P séricas somente m o d e r a d a m e n t e laboratório.
aumentadas (menos de três vezes) ou mesmo normais. Os aumen-
tos t a m b é m p o d e m ser vistos c o m o conseqüência de u m a reação Dosagem da Atividade de ALP
à terapia c o m droga. A isoenzima de A L P intestinal, u m a glico- O s m é t o d o s para a d e t e r m i n a ç ã o da atividade de A L P t ê m sido
proteína sem ácido siálico n o r m a l m e n t e depurada pelos recepto- direcionados para o a u m e n t o da velocidade e da sensibilidade do
res hepáticos de glicopioteínas sem ácido siálico, está f r e q ü e n t e ensaio pela seleção de substratos hidrolisados p r o n t a m e n t e e de
m e n t e aumentada em pacientes c o m cirrose hepática. tampões aceptores de fosfato e o uso de m é t o d o s de m o n i t o r a -
m e n t o c o n t i n u o baseados e m substratos auto-indicadores. O
Doença Óssea mais p o p u l a r dos substratos cromogênicos o u auto-indicadores
A A L P óssea é p r o d u z i d a pelo osteoblasto e t e m sido demons- para a A L P é o 4-fenil fosfato ( n o r m a l m e n t e abreviado como
trada nas vesículas da m a t r i z depositadas c o m o " g o m o s " deriva- 4-NPP o u PNPP a p a r t i r do n o m e antigo, f j - n i t r o f e n i l fosfato).
dos da m e m b r a n a celular. A enzima é, p o r t a n t o , u m excelente Esse éster não tem cor, mas o p r o d u t o f i n a l é amarelo n o p H da
i n d i c a d o r da atividade de formação óssea global. D e n t r e as reação:
doenças ósseas, as concentrações de A L P mais altas são encon-
4-Nitrofenil 4-Nlrrofenóxido (sem COT, 4-NiiTofenóxido (amarelo,
tradas na doença de Paget (osteíte deformante) c o m o resultado fosfato (sem cor) forma bemenóide) forma quinonóide)
da ação de células osteoblásricas à m e d i d a q u e elas t e n t a m recons-
t r u i r o osso que está sendo reabsorvido pela atividade descontro-
o.v ,o o... x.o U-. o e
f\ •N'-'
Rearranjos
lada dos osteoclastos. Valores de 10 a 25 vezes o l i m i t e de refe-
em pH
rência superior são usuais, e, em termos amplos, o a u m e n t o ALP, Mg2+ alcalino
-
reflete a extensão da doença. N a deficiência de v i t a m i n a D (osteo-
pH 10,3
malácia e r a q u i t i s m o ) , p o d e m ser observadas atividades de duas
a q u a t r o vezes o l i m i t e de referência superioT, e elas caem lenta- O O
m e n t e ao n o r m a l d u r a n t e o t r a t a m e n t o . Os hiperparatireoidis- o—P-o "
mos p r i m á r i o e secundário estão associados a elevações séricas 6W
de A L P de leves a moderadas, c o m a existência e o grau de ele- cr

vação r e f l e t i n d o a presença e a extensão do e n v o l v i m e n t o esque- 4 o—f»—o*


lético. Concentrações enzimáticas m u i t o altas estão presentes n o h9O W»
soro de pacientes c o m câncer ósseo osteogênico. A t i v i d a d e s leve-
m e n t e aumentadas de A L P têm sido observadas na osteoporose, A reação enzimática é m o n i t o r a d a c o n t i n u a m e n t e c o m u m
mas os i n d i v í d u o s c o m osteoporose não são claramente distin- espectrofotômetro pela observação da velocidade de formação de
guíveis de controles pareados pela idade. Elevações transientes íons 4-nitrofenóxidos a 405 n m . C o m as melhoras das condições
p o d e m ser encontradas d u r a n t e a cicatrização de fraturas ósseas. de reação, essa reação f o r m a a base dos métodos recomendados
O crescimento ósseo fisiológico a u m e n t a a A L P óssea n o soro e atualmente para o exame de A L P . Nesses métodos, o g r u p o fosfato
essa é a razão para que n o soro de crianças e m crescimento a liberado é transferido para a água. A velocidade de ação da fosfa-
concentração enzimática seja de l j 5 a 7 vezes aquela n o soro de tase é aumentada, entretanto, se certos aminoálcoois f o r e m usados
adultos saudáveis, o m á x i m o sendo mais precoce em meninas do c o m o tampões aceptores de fosfato. D e n t r e esses ativadores estão
que e m m e n i n o s . compostos tais c o m o (1) A M P , (2) D E A , (3) TR1S, (4) etilamino-
etanol ( E A E ) e (5) N-metiLd-glucamina ( M E G ) . O m é t o d o reco-
m e n d a d o pela I F C C (provisório) usa 4-NPP c o m o o substrato e
Outras Condições que Aumentam a ALP
A M P c o m o o tampão aceptor de fosfato.
U m a u m e n t o de até duas o u três vezes o l i m i t e de referência
Soro o u plasma h e p a r i n i z a d o devem seT usados para a
superior é observado em mulheres n o terceiro trimestre de ges- dosagem de A L P . A n t i c o a g u l a n t e s complexantes — tais como
tação, c o m a enzima a d i c i o n a l originada da placenta. Existem citrato, oxalato e E D T A — devem ser evitados p o r q u e ligam
t a m b é m relatos de u m a elevação f a m i l i a r b e n i g n a na atividade cátions, tais como M g J " e Z n : + , os quais são co-fatores necessários
sérica de A L P em razão do a u m e n t o da concentração de A L P para a dosagem da atividade de A L P . A m o s t r a s de soro recém
intestinal. A u m e n t o s benignos e transientes de A L P sérica p o d e m coletadas devem ser m a n t i d a s na temperatura a m b i e n t e e ensaia-
ser encontrados em criançaSj c o m variações f r e q ü e n t e m e n t e das tão logo q u a n t o possível, mas preferencialmente d e n t r o de 4
maiores d o que 10 vezes o l i m i t e de referência superior. São horas após a coleta. N o soro armazenado a u m a temperatura
observados aumentos t a n t o na f o r m a hepática q u a n t o na f o r m a refrigerada, a atividade de A L P a u m e n t a l e n t a m e n t e ( 2 % por
óssea. Essas variações parecem r e f l e t i r u m a redução na remoção dia). As amostras congeladas devem ser degeladas e m a n t i d a s na
de A L P d o sangue causada pelas modificações transientes da t e m p e r a t u r a a m b i e n t e p o r 18 a 24 horas antes da dosagem para
glicosilação da enzima. alcançar a reativação enzimática completa.
U m resultado da aplicação de técnicas de análise de isoenzi- As atividades de A L P no soro v a r i a m c o m a idade. A s crian-
mas para a caracterização de A L P n o soro f o i a descoberta de que ças apresentam atividade de A L P m a i o r do que os adultos sau-
formas da enzima essencialmente idênticas à isoenzima n o r m a l dáveis c o m o resultado da saída de A L P óssea dos osteoblastos
placentária aparece n o soro de alguns pacientes c o m doenças d u r a n t e o crescimento ósseo. Os intervalos de referência (percen-
malignas. Essas isoenzimas carcinoplacentárias ( d e n o m i n a d a s de tis 95 centrais) têm sido estabelecidos c o m o uso de procedimen-
isoenzima Regan) parecem resultar da depressão do gene de A L P tos de referência da I F C C a 37 ° C (Tabela 19-4).
placentário. A presença dessas isoenzimas é p r o n t a m e n t e detec-
tável n o soro por sua estabilidade a 65 °C. O s tumores t a m b é m Dosagem das Isoenzimas de A L P
p r o d u z e m A L P que parecem ser formas modificadas de isoenzi- Os ensaios para as isoenzimas de A L P são necessários q u a n d o (1)
mas não placentárias (p. ex., a isoenzima Kasahara). a f o n t e de u m a A L P sérica elevada não é obvia e deve ser escla-
Enzimas CAPÍTULO 19 337

recida, (2) a p r i n c i p a l p e r g u n t ã clínica está relacionada c o m a de A L P de alto peso m o l e c u l a r que é t a m b é m altamente carre-
detecção da presença de e n v o l v i m e n t o ósseo o u hepático e (3) n o gada negativamente- Desse m o d o , ela se move l e n t a m e n t e n o gel
caso de desordens metabólicas ósseas, averiguai quaisquer m o d i - de a m i d o o u p o d e m e s m o não entrar n o gel de p o l i a c r i l a m i d a .
ficações na atividade dos osteoblastos para m o n i t o r a r a atividade E n t r e t a n t o , ela migra mais na direção do â n o d o do q u e a p r i n -
da doença e o efeito das terapias apropriadas. cipal b a n d a hepática em m e i o não-peneirante, tal c o m o o acetato
Os critérios que t ê m sido usados para diferenciar as isoenzi- de celulose. As investigações sobre essa f o r m a t ê m revelado que
mas e outras formas m ú l t i p l a s de A L P i n c l u e m : (1) m o b i l i d a d e ela corresponde à f o r m a hepática p r i n c i p a l ligada à região de
eletroforética, (2) estabilidade à desnaturação pelo calor o u com- m e m b r a n a . Os complexos entre A L P e i m u n o g l o b u l i n a s , o u
postos q u í m i c o s , (3) resposta à presença de inibidores seletivos, macro-ALP, o c o r r e m ocasionalmente n o soro, gerando bandas
(4) a f i n i d a d e p o r lecitinas específicas e (5) características i m u n o - c o m migração a n o r m a l na zona de y-globulinas.
químicas. E m geral, a separação das formas óssea e hepática de A L P é
A p ó s a eletroforese, as bandas de A L P são visualizadas pela d i f í c i l pela s i m i l a r i d a d e estrutural. Para m e l h o r a r as suas separa-
incubação do gel em u m a solução de substrato t a m p o n a d o ções eletroforéticas, o soro é pré-tr atado p o r 15 m i n u t o s a 37 ° C
(p. ex., 1 - n a f t i l fosfato, ao q u a l u m sistema c r om ogêni c o, n o r m a l - c o m n e u r a m i n i d a s e para remover parte dos resíduos de ácido
m e n t e representado p o r u m sal d i a z ô n i o , é adicionado). A A L P siálico terminais. C o m o os resíduos de ácido siáiico da A L P óssea
hepática se move t i p i c a m e n t e mais r á p i d o para o â n o d o . A A L P são mais atacados do que aqueles da A L P hepática, a m o b i l i d a d e
óssea, que quase sempre gera u m a b a n d a mais difusa d o que a eletroforética da f o r m a óssea é mais reduzida d o q u e a da A L P
f o r m a hepática, tem u m a m o b i l i d a d e para o â n o d o ligeiramente hepática. A separação m e l h o r a d a p e r m i t e que a estimativa quan-
m e n o r , e m b o r a as duas bandas h a b i t u a l m e n t e se s o b r e p o n h a m titativa seja feita pela análise d e n s i t o m é t r i c a (Figura 19-4).
u m p o u c o . A A L P i n t e s t i n a l m i g r a mais l e n t a m e n t e d o que a A incubação ovemight da amostra de soro c o m n e u r a m i n i d a s e
enzima óssea, e n q u a n t o a isoenzima placentária aparece corau- t a m b é m é usada para c o n f i r m a r a presença de A L P intestinal.
m e n t e c o m o u m a b a n d a discreta adjacente à'fração óssea difusa. Esse t r a t a m e n t o reduz a m o b i l i d a d e eletroforética na direção d o
U m a b a n d a adicional, que está f r e q ü e n t e m e n t e presente n o soro â n o d o de todas as isoenzimas de A L P exceto aquela de o r i g e m
de pacientes c o m várias doenças hepáticas, c o n t é m u m a f o r m a intestinal, que é resistente à n e u r a m i n i d a s e p o r q u e seus residuos
de ácido siálico terminais não estão presentes na molécula.
Os i m u n o e n s a i o s para a d e t e r m i n a ç ã o direta de A L P óssea,
TABELA 19-4 Intervalos de Referência para as Atividades de os quais dosam t a n t o a atividade enzimática q u a n t o a concentra-
Fosfatase Alcalina n o Soro ção de massa, estão disponíveis comercialmente; entretanto, t e m
sido descrita a reatividade cruzada c o m a i s o f o t m a hepática ( 6 %
Sexo Idade (anos) Intervalo de Referência (U/L)
a 2 0 % ) . N a prática, é d i f í c i l p r o d u z i r a n t i c o r p o s que reajam
Masculino/Feminino 4-15 54-369 seletivamente c o m p r o d u t o s diferentes do gene para A L P não-
Homens 20-50 53-123 tecido-específico, inclusive as isoformas derivadas d o fígado e d o
>60 56-119 osso. Apesar de não t e r e m especificidade completa, os i m u n o e n -
Mulheres 20-50 42-98 saios da A L P óssea p o d e m oferecer algumas vantagens n o m o n i -
>60 53-141
t o r a m e n t o de doença óssea e n o efeito de terapias apropriadas,

: \ Sk«o itãü ImUxIu

Tratado com neuraminidase

r s
Toslulasc Fosfatas*; aliialinrt fasaa
ulcalinu I c p ã l i c a
B

Ânodo

Figura 19-4 A , Eletroforese e m gel de p o l i a c r i l a m i d a das fosfatases alcalinas d o osso e d o figado n o soro h u m a n o
A esquerda, M i s o n a de dois soros c o n t e n d o , respectivamente, a t o t a l i d a d e da fosfatase óssea e a t o t a l i d a d e da fosfatase
hepática. A direita, M i s t u r a dos mesmos dois soros após cada u m ter sido tratado c o m n e u r a m i n i d a s e p o r 10 m i n a
37 ° C . A direção d o â n o d o está representada pata baixo. A banda mais p r ó x i m a d o â n o d o é a fosfatase hepática.
B , Análises densitométricas dos padrões eletroforéticos mostrados em A . Linha Tracejada, A n á l i s e da m i s t u r a de soros
não tratados; liníui sólida, análise da m i s t u r a de soros tratados c o m n e u r a m i n i d a s e . O â n o d o está para a esquerda ( D e
Moss D W , Edwards R K . I m p r o v e d electrophoretic r e s o l u t i o n o f b o n e a n d liver alkaline phosphatases r e s u l t m g f r o m
p a r d a l digestion w i t h n e u r a m i n i d a s e . C l i n C h i m A c t a 1984;143:177-82.)
338 PARTE IV Analitos

u m a vez que o diagnóstico d o e n v o l v i m e n t o ósseo tenha sido atividade de NTP. O s métodos de estimativa de N T P no soro
estabelecido. precisam p o r t a n t o i n c o r p o r a r a alguns meios de correção da h i d r ó -
lise do substrato pelas fosfatases não específicas. N u m ensaio
5-Nucleotidase disponível comercialmente, a N T P sérica catalisa a h i d r ó l i s e de
A N T P ( E C 3.1.3.5; 5'-ribonucleotídeo fosfohidrolase) é u m a fos- I M P para gerar inosina, que é então convertida a h i p o x a n t i n a pela
fatase que age somente em núcleotídeos-5'-fosfatos, tais c o m o a purina-nucleosídeo fosforilase ( E C 2.4.2.1). A h i p o x a n t i n a é
adenosina-5'-monofósfato ( A M P ) , l i b e r a n d o fosfato i n o r g â n i c o . oxidada a urato pela x a n r i n a oxidase ( E C 1.2.3.2). D o i s moles de
p e r ó x i d o de h i d r o g é n i o são produzidos para cada m o l de h i p o -
NH, x a n t i n a liberado e c o n v e r t i d o a ácido úrico. A velocidade de
formação de p e r ó x i d o de h i d r o g ê n i o é m o n i t o r a d a p o r u m espec-
PP) t r o f o t ô m e t r o a 510 n m através da oxidação de u m sistema cromo-
I y ee H„0 IIOPO3
" "" N 0 CH 2 0P0 3 gênico. O efeito de A L P s sobre o I M P á i n i b i d o pelo f3-glicerofos-
fato. Esse material é u m substrato para A L P mas não para N T P ,
NwcIectiJase
e através da formação de complexos d o substrato c o m a p r i m e i r a

HO ÕH
t>H 6,6 a 7 enzima, ele reduz a p r o p o r ç ã o da atividade t o t a l de A L P que está
direcionada à hidrólise do substrato de N T P , o I M P .
Adenosina 5'- mo no fosfato
(AMP) A atividade de N T P n o soro o u n o plasma heparinizado é
NH, estável p o r pelo m e n o s 4 dias a 4 " C e 4 meses a - 2 0 ° C . O
i n t e r v a l o de referência para a atividade de N T P a 37 ° C é de 3 a
9 U / L , sem diferenças relacionadas ao sexo.
CH 2 OH
Colinesterase
Duas enzimas relacionadas t ê m a capacidade de h i d r o l i s a r acetil-
colina. U m a é a acetilcolinesterase ( E C 3.1.1.7, acetilcolina acetil-
HO OH
hidrolase), a qual é d e n o m i n a d a colinesterase verdadeira o u
Adenosina colina esterase I. A colinesterase verdadeira é encontrada (1) nos
eritrócitos, (2) nos p u l m õ e s e n o baço, (3) terminais nervosos e
Bioquímica (4) na matéria cinzenta d o cérebro. Ela é responsável pela h i d r ó -
A N T P é u m a glicoproteína a m p l a m e n t e d i s t r i b u í d a nos tecidos lise i m e d i a t a da acetilcolina liberada nos terminais nervosos para
d o c o r p o e está p r i n c i p a l m e n t e localizada na m e m b r a n a citoplas- mediar a transmissão d o i m p u l s o nervoso através da sinapse. A
mática das células nas quais ocorre. Seu p H ó t i m o está entre 6,6 degradação de acetilcolina é necessária para a despolarização d o
e 7,0. nervo de t a l f o r m a q u e ele seja repolarizado n o p r ó x i m o evento
de condução.
Significado Clínico A segunda colinesterase é a acetilcolina acil-hidrolase ( E C
Apesar de sua distribuição ubíqua, as atividades séricas de N T P 3.1.1.8, acilcolina acil-hidrolase, C H E ) . Ela t a m b é m é chamada
parecem refletir doenças hepatobihares c o m especificidade con- de (1) pseudocolinesterase, (2) colinesterase sérica, (3) b u t i r i l c o -
siderável. Por exemplo, A N T P está a u m e n t a d a de três a seis vezes linesterase e (3) c o l i n a esterase I I . E m b o r a ela seja e n c o n t r a d a (1)
naquelas doenças hepatobiliares nas quais existe interferência na n o fígado, (2) n o pâncreas, (3) n o coração, (4) na matéria cinzenta
secreção de bile. Isso pode ser devido a causas extra-hepáticas do cérebro e (5) n o soro, seu papel b i o l ó g i c o é desconhecido. O
(uma pedra o u u m t u m o r o c l u i n d o o d u e t o biliar), o u pode suigiT t i p o de reação catalisada pelas duas colinesterases é
de condições intra-hepáticas, tais c o m o a colestase causada pela
infiltração maligna do fígado o u cirrose biliar. Q u a n d o o dano à CH3
célula p a r e n q u i m a l p r e d o m i n a , c o m o na hepatite infecciosa, a H3C^ ! ^ch3
©^
atividade sérica de N T P está somente m o d e r a d a m e n t e elevada. CH3
0 CH, h 3 C ^ T ^.CH3
Os exames -para a atividade de N T P t ê m sido considerados Br H20
de valor em adição à dosagem de A L P t o t a l não-específica em u ©^

pacientes c o m suspeita de doença hepatobiliar. A atividade b G^S) 9 Br0 <f H


I CH 2 OH
a n o r m a l de N T P é r o t i n e i r a m e n t e interpretada c o m o evidência c=o Colinesterase
Acetato
de u m a o r i g e m hepática de atividade sérica de A L P aumentada. CH, Brometn de
E n t r e t a n t o , cerca de metade dos i n d i v í d u o s nos quais a atividade colina
m m ™ de acetil-
de A L P está a u m e n t a d a n o soro mostra N T P n o r m a l . A l t e r n a t i -
colina
vamente, a N T P a u m e n t a d a no soro de pacientes c o m A L P
hepática n o r m a l é f r e q ü e n t e m e n t e associada à presença de
doença hepática. Portanto, a dissociação freqüente das duas ati-
Bioquímica
vidades enzimáticas apóia a u t i l i d a d e de d e t e r m i n a ç ã o de A L P e As duas colinesterases d i f e r e m e m especificidade para alguns
N T P (hepáticas) para a u m e n t a r a eficiência diagnostica para substratos e n q u a n t o se c o m p o r t a m s i m i l a r m e n t e para outros. A
doenças d o fígado. enzima do soro age sobre a benzoilcolina mas não h i d r o l i s a acetil-
P-metilcolina. Essa especificidade é ao c o n t r á r i o c o m a enzima
das células vermelhas, que h i d r o l i s a acetiI-[3-metilcolina mas não
M é t o d o s de Análise benzoilcolina.
Os substratos geralmente mais usados na dosagem da atividade As variantes atípicas (genéticas) de C H E são as de interesse
de N T P são o A M P o u a inosina-5'-fosfato ( I M P ) . E n t r e t a n t o , esses clínico, caracterizadas pela atividade d i m i n u í d a contra acetilco-
substratos são ésteres de fosfato orgânicos e p o r t a n t o t a m b é m são l i n a e outros substratos, as quais são encontradas nos soros de
hidrolisados p o r outras fosfatases não específicas (alcalinas), u m a pequena fração de pessoas aparentemente saudáveis. O gene
mesmo em p H tão baixo q u a n t o 7,5, que é o p H ó t i m o para a que c o n t r o l a a síntese de C H E (símbolo B C H E ) existe e m m u i t a s
Enzimas < KPÍTULO 1 9 339

formas alélicas. O f e n ó t i p o n o r m a l , mais c o m u m , é designado f e n ó t i p o s mais suscetíveis à apnéia após a administração de suc-
U / U ( U para usual). A enzima nos soros de pessoas homozigotas c i m l c o l i n a são A / A , A / S , F / F , F / S , S / S , A / F e em certa m e d i d a
para a v a r i a n t e ( A / A ) é s o m e n t e fracamente ativa c o n t r a a m a i o r i a U / A . As dosagens da atividade de C H E t o t a l e a determinação
dos substratos para C H E e d e m o n s t r a resistência a u m e n t a d a à do " n ú m e r o d i b u c a í n a " e do " n ú m e r o f l u o r e t o " são necessárias
i n i b i ç ã o da atividade enzimática pela dibucaína. A v a r i a n t e F (de para caracterizar c o m p l e t a m e n t e as variantes de C H E . Os ú l t i m o s
resistência ao f l u o r e t o ) t a m b é m gera u m a enzima fracamente valores i n d i c a m a porcentagem de i n i b i ç ã o da atividade enzimá-
ativa mas c o m resistência a u m e n t a d a à i n i b i ç ã o pelo f l u o r e t o . A tica sobre substratos especificados na presença de concentrações
variante S (de silenciosa) está associada à ausência da enzima o u padrão de dibucaína o u f l u o r e t o .
à presença de u m a p r o t e í n a c o m atividade catalítica m í n i m a o u
ausente. As mutações que geram as variantes de C H E atípica e Métodos de Análise
resistente ao f l u o r e t o e n v o l v e m a m u d a n ç a na estrutura d o centro M u i t o s métodos de colinesterase usam ésteres de a c i l t i o c o l i n a
ativo. As enzimas variantes (aleloenzimas) são catalisadores menos tais c o m o a b u t i r i l t i o c o l i n a c o m o substratos.
efetivos d o que a f o r m a usual. A a f i n i d a d e das enzimas pelos
substratos está reduzida, (constante de M i c h a e l i s - M e n t i o n [ K m ] CH3
H 3 C_ I ^ c h 3
a u m e n t a d a) e a a f i n i d a d e para i n i b i d o r e s competitivos, tais c o m o
jjr CH3
d i b u c a í n a e f l u o r e t o , s i m i l a r m e n t e d i m i n u í d a . Isso dá o r i g e m às H3C I J:H 3
CH 2 H7O -•c-
propriedades características de resistência à dibucaína e ao f l u o - I I
CH, CH,
reto das variantes genéticas que são exploradas em suas caracte-
•S
V CH 2
rizações. As formas homozigotas, A / A o u F / F , são encontradas ÍH2
I I CH2
e m 0 , 3 % e 0 , 5 % da população caucasiana; suas incidências entre c=o Colinas lertue
CH3 I
I SH
os negros são até mais baixas. A herança de atividade de C H E CH2 Butiiato Tiocolina
a u m e n t a d a t a m b é m tem sido descrita e m poucas famílias. CH,
CH3
Significado Clínico Butiriltiocolina

As dosagens da atividade de C H E n o soro são usadas (1) c o m o


teste de f u n ç ã o hepática, (2) c o m o u m i n d i c a d o r de u m possível Esses substratos são h i d r o l i s a d o s a p r o x i m a d a m e n t e na mesma
e n v e n e n a m e n t o p o r inseticida e (3) para a detecção de pacientes velocidade dos ésteres de c o l i n a e a t i o c o l i n a f o r m a d a é dosada
c o m formas atípicas da enzima que estão em risco de respostas pela reação c o m agentes dissulfeto cromogênicos, tais c o m o o 5,
prolongadas a certos relaxantes musculares usados e m procedi- 5'-ditiobis (nitrobenzoato) ( D T N B ) .
m e n t o s cirúrgicos.
A s dosagens de atividade sérica de C H E t a m b é m servem
NO- OH CH3

A
c o m o i n d i c a d o r e s sensíveis da capacidade de síntese d o fígado. T II.CJ£IÍ 3
N a ausência de causas genéticas o u i n i b i d o r e s conhecidos, qual- <3, OH NO;
quer d i m i n u i ç ã o na atividade de C H E reflete síntese d i m i n u í d a CHT CH-, Á

T
I O
da enzima pelo fígado. U m decréscimo de 3 0 % a 5 0 % na C H E HÍAJ ÇHJ
©N
é observado na hepatite aguda. Decréscimos de 5 0 % a 7 0 %
CH 2 S
o c o r r e m n a cirrose avançada e n o carcinoma c o m metástase
i íiH
hepática. A C H E é essencialmente n o r m a l na icterícia obstrutiva, CH,

ò
Acido
exceto q u a n d o a causa é maligna. Dosagens seriais da C H E t ê m 5-mercapto
sido p r o m o v i d a s c o m o u m a indicação de prognóstico e m pacien- Tiocolina 2-n i trobenzô í CO;
X.O
tes c o m doença hepática e para m o n i t o r a r a função hepática após >( 5-MNBA
(colorido)
o transplante de fígado. NOY OIL NO, AH
D e n t r e os compostos fosfóricos orgânicos que i n i b e m a ativi- DTNB Dhsvlícu»
dade de C H E estão vários inseticidas, tais c o m o (1) p a r a t i o n , (2) (sem cor) uii&u
sarin e (3) tetraetil pirofosfato. Os trabalhadores da a g r i c u l t u r a e
das i n d ú s t r i a s químicas orgânicas p o d e m estar sujeitos ao enve- A reação do p r o d u t o t i o c o l i n a c o m o D T N B sem cor f o r m a
n e n a m e n t o pela inalação desses materiais o u pelo c o n t a t o c o m o ácido 5-mercapto-2-nitrobenzóico c o l o r i d o , o q u a l é m e d i d o
eles. Se m a t e r i a l suficiente é a b s o r v i d o para inativar t o d a a ace- espectrofotometricamente a 410 n m . Os sais i o d e t o de acetiltio-
tilcolinesterase do tecido nervoso, o resultado será a m o r t e . As colina, p r o p r i o n i l t i o c o l i n a , b u t i r i l t i o c o l i n a e s u c c i n i l t i o c o l i n a
duas C H E são inibidas, mas a atividade da enzima d o soro cai t ê m sido usados c o m o substratos.
mais r a p i d a m e n t e do que a da enzima d o e r i t r ó c i t o . A pergunta clínica a ser r e s p o n d i d a p o d e i n f l u e n c i a r a escolha
A s u c c i n i l d i c o l i n a (suxametônio) e o m i v a c ú r i o , drogas usadas d o substrato adequado para a dosagem da enzima. A dosagem da
em cirurgia c o m o relaxantes musculares, são h i d r o l i s a d o s pela atividade de C H E usando s u c c i n i l t i o c o l i n a é o m é t o d o de escolha
C H E , e seus efeitos farmacológicos n o r m a l m e n t e persistem para diagnosticar a sensibilidade à succinilcolina, c o m base pura-
somente o t e m p o necessário para o p r o c e d i m e n t o c i r ú r g i c o . E m mente na atividade da enzima registrada n o soro. Esse m é t o d o é,
pacientes c o m atividades enzimáticas baixas o u naqueles c o m entretanto, adequado para outras aplicações clínicas d o teste. 3
u m a v a r i a n t e fracamente ativa, a destruição da droga não ocor- Usando-se b e n z o i l c o l i n a c o m o u m substrato clássico, t e m
rerá s u f i c i e n t e m e n t e r á p i d o e o paciente p o d e entrar n u m sido d e m o n s t r a d a a diferença q u a l i t a t i v a entre as C H E . Por
p e r í o d o de paralisia p r o l o n g a d a dos músculos respiratórios exemplo, u m teste simples tem sido desenvolvido para classificar
(apnéia) necessitando de ventilação mecânica até que os efeitos o t i p o de C H E c o m o usual, i n t e r m e d i á r i a o u atípica ( " n ú m e r o
da droga g r a d u a l m e n t e se apaguem. O rastreamento pré-operató- dibucaína"), c o m base nas diferenças na sensibilidade à i n i b i ç ã o
r i o t e m sido preconizado para i d e n t i f i c a r pacientes n o s quais a pelo anestésico local dibucaína. U s a n d o essa abordagem, a C H E
a d m i n i s t r a ç ã o de s u x a m e t ô n i o p o d e levar a complicações. O grau usual é i n i b i d a em 8 0 % , mas a C H E atípica somente e m 2 0 % .
de sensibilidade à droga varia c o m o f e n ó t i p o d o paciente. Os Os i n d i v í d u o s heterozigotos para o gene n o r m a l e atípico m o s t r a m
340 PARTE IV Analitos

cerca de 6 0 % de i n i b i ç ã o da C H E . Para diferenciar outros genó- o u (5) fosfato m o n o - h i d r o g ê n i o — c o m o cloreto e o b r o m e t o


tipos, o f l u o r e t o de sódio tem sido usado c o m o u m i n i b i d o r de sendo os ativadores mais efetivos. A A M Y n o soro h u m a n o t e m
C H E . Os m é t o d o s de b i o l o g i a molecular t a m b é m estão sendo u m p H ó t i m o m o d e r a d a m e n t e estreito de 6,9 a 7,0.
usados para detectar os defeitos genéticos de C H E .
O soro é a amostra de escolha. A atividade enzimática n o Bioquímica
soro é estável p o r várias semanas se a amostra é armazenada sob A s A M Y s de ocorrência n a t u r a l n o plasma h u m a n o são molécu-
refrigeração e p o r vários anos se armazenada a - 2 0 ° C . las pequenas c o m pesos moleculares v a r i a n d o de 5 4 a 6 2 k D a . A
Usando-se o m é t o d o s u c c i n i l t i o c o l i n a / D T N B a 37 ° C , o enzima é, p o r t a n t o , pequena o suficiente para passar através dos
i n t e r v a l o de referência para adultos saudáveis c o m o g e n ó t i p o g l o m é i u l o s renais, e a A M Y é a única enzima plasmática fisiolo-
usual é estimado e m 33 a 76 U / L para mulheres e 4 0 a 78 U / L gicamente e n c o n t r a d a na u r i n a . A A M Y está presente em vários
para h o m e n s . A atividade m é d i a e m i n d i v í d u o s c o m o g e n ó t i p o órgãos e tecidos. A m a i o r concentração está presente nas glându-
heterozigoto é 2 2 U / L (varia de 5 a 35 U / L ) e para homozigotos las salivares, as quais secretam u m a A M Y p o t e n t e ( t i p o S) para
atípicos 1,5 U / L (varia de 1 a 4 U / L ) . U m v a l o r de < 23 U / L é iniciar a hidrólise de amidos e n q u a n t o a c o m i d a ainda está na
a p r o x i m a d a m e n t e cinco vezes mais provável de ocorrer em u m boca e n o esôfago. N o pâncreas, a enzima ( t i p o P) é sintetizada
i n d i v í d u o sensível à s u c c i n i l c o l i n a do que em u m i n d i v i d u o pelas células acinares e então secretada n o trato i nt est i nal p o r
n o r m a l . 1 A o nascimento, a atividade de C H E é mais baixa do m e i o do sistema d o dueto pancreático, A atividade de A M Y é
q u e os valores de adultos em cerca de 5 0 % . Ela a u m e n t a d u r a n t e t a m b é m encontrada e m extratos de (1) sémen, (2) testículos, (3)
os 3 a 6 p r ó x i m o s anos para exceder os valores de adultos em ovários, (4) tubas uterinas, (5) m ú s c u l o estriado, (6) p u l m õ e s e
cerca de 3 0 % . A p a r t i r d o q u i n t o ano de vida, a atividade começa (7) tecido adiposo. A enzima t a m b é m é encontrada (8) n o colos-
a d i m i n u i r antes de se estabilizar n o v a l o r d o adulto, o q u a l é tro, (9) nas lágrimas e (10) n o leite. A l g u n s tumores de p u l m ã o
alcançado na puberdade. Existe u m a d i m i n u i ç ã o significante de e ovário p o d e m t a m b é m c o n t e r atividade de A M Y considerável.
C H E ( ~ 3 0 % ) d u r a n t e a gravidez e n o i n í c i o d o p u e r p é r i o , expli- Os l í q u i d o s ascítico e p l e u r a l p o d e m conteT A M Y c o m o resultado
cado pela h e m o d i l u i ç ã o . da presença de u m t u m o r o u pancreatite.
A atividade de A M Y presente n o soro n o r m a l e na u r i n a t e m
Glutamato Desidrogenase origens pancreática (P-AMY) e da glândula salivar ( S - A M Y ) . Essas
A g l u t a m a t o desidrogenase ( E C 1.4.1.3; L - g l u t a m a t o : N A D ( P ) + isoenzimas são p r o d u t o s de dois loei i n t i m a m e n t e ligados n o
oxidorredutase, desaminante; G L D ) é u m a enzima m i t o c o n d T i a l c r o m o s s o m o 1. As isoenzimas de A M Y t a m b é m sofrem m o d i f i -
e n c o n t r a d a p r i n c i p a l m e n t e (1) n o fígado, (2) n o m ú s c u l o cardí- cações pós-traducionais de desaminação, glicosilação e desglico-
aco e (3) nos rins, mas pequenas quantidades o c o r r e m em outros silação para f o r m a r várias isoformas. Essas isoformas t ê m sido
tecidos, i n c l u i n d o (4) cérebro, (5) tecido muscular esquelético e separadas n o soro e na u r i n a c o m o uso de focalização isoelétrica
(6) leucócitos. A enzima catalisa a remoção do h i d r o g ê n i o do o u eletroforese.
L-glutamato para f o r m a r o cetimino-ácido correspondente que
sofre h i d r ó l i s e espontânea a Ot-cetoglutarato.
Significado Clínico
A G L D está a u m e n t a d a n o soro de pacientes c o m d a n o
A atividade de A M Y n o sangue é fisiologicamente baixa e cons-
hepatocelular, oferecendo u m diagnóstico d i f e r e n c i a l p o t e n c i a l
tante e a u m e n t a m u i t o na pancreatite aguda e na i n f l a m a ç ã o da
na investigação de doença hepática, p a r t i c u l a r m e n t e q u a n d o
g l â n d u l a salivar. N a pancreatite aguda, u m a u m e n t o na atividade
i n t e r p r e t a d a em c o n j u n t o c o m outros resultados de exames enzi-
sérica de A M Y ocorre d e n t r o de 5 a 8 horas do aparecimento de
máticos. A chave para esse diagnóstico d i f e r e n c i a l p o t e n c i a l é
sintomas. As atividades r e t o r n a m ao n o r m a l pelo terceiro o u
encontrada na d i s t r i b u i ç ã o intra-órgão e intracelular da enzima.
q u a r t o dia. U m a elevação na atividade de A M Y de q u a t r o a seis
C o m o u m a enzima exclusivamente m i t o c o n d r i a l , a G L D é libe-
vezes acima d o l i m i t e de referência superior é h a b i t u a l , c o m a
rada de células necróticas e é de v a l o r na estimativa da gravidade
concentração m á x i m a atingida de 12 a 72 horas. A m a g n i t u d e
do d a n o à célula hepática.
da elevação na atividade da enzima sérica não está relacionada à
A atividade de G L D n o soro é estável a 4 ° C por 48 horas e
gravidade d o e n v o l v i m e n t o pancreático; entret ant o, q u a n t o
a - 2 0 a C p o r várias semanas. O s l i m i t e s de referência superiores
m a i o r f o r o a u m e n t o , m a i o r a p r o b a b i l i d a d e de pancreatite
para G L D são 6 U / L (mulheres) e 8 U / L (homens), q u a n d o u m
aguda. A especificidade clínica da A M Y p a i a o diagnóstico de
m é t o d o o t i m i z a d o a 37 ° C é usado. 2
pancreatite aguda é, entretanto, baixa ( 2 0 % a 6 0 % , d e p e n d e n d o
da m i s t u r a da população de pacientes estudada) p o r q u e valores
ENZIMAS PANCREÁTICAS
aumentados são t a m b é m encontrados e m várias desordens intra-
Os ensaios de (1) amilase ( A M Y ) , (2) lípase (LPS), (3) t r i p s i n a a b d o m i n a i s agudas e em diversas condicões extra-hepáticas
( T R Y ) , (4) q u i m i o t r i p s i n a ( C H Y ) e (5) elastase 1 ( E l ) n o soro são (Tabela 19-5).
aplicados para a investigação de doença pancreática. A f u n ç ã o Doenças do trato biliar, tais c o m o colecistite, causam eleva-
pancreática e a patologia são discutidas n o C a p í t u l o 37. ções de até q u a t r o vezes da atividade sérica de A M Y c o m o u m
resultado d o e n v o l v i m e n t o pancreático p r i m á r i o o u secundário.
Amilase V á r i o s eventos intra-abdominais t ê m resultado em u m a u m e n t o
A alfa-amdase ( E C 3.2.1.1; 1,4-a-D-glucano glucano-hidrolase; significante nas atividades séricas de A M Y de até q u a t r o vezes e
A M L ) é u m a enzima da classe hidrolase que catalisa a h i d r ó l i s e algumas vezes maior. Tais a u m e n t o s p o d e m ser decorrentes de
de ligações 1,4-oc-glicosídicas e m polissacarídeos. T a n t o os poligli- d e r r a m a m e n t o de P - A M Y d o i n t e s t i n o na cavidade p e r i t o n e a l e
canos de cadeia reta (amilose) q u a n t o os poliglicanos ramificados então na circulação. T e m sido relatado q u e a p e r i t o n i t e e a apen-
( a m i l o p e c t i n a e glicogênio) são hidrolisados, mas em velocidades d i c i t e aguda p r o d u z e m u m a elevação leve (de até duas o u três
diferentes. A e m i m a não ataca as ligações a-1,6 nos pontos de vezes) da atividade sérica de A M Y . N a insuficiência renal, a ati-
ramificação. As A M Y são metaloenzimas de cálcio, c o m o cálcio vidade sérica de A M Y está a u m e n t a d a e m p r o p o r ç ã o à extensão
a b s o l u t a m e n t e necessário para a integridade f u n c i o n a l . Entre- da afecção renal ( h a b i t u a l m e n t e , não mais do que cinco vezes o
tanto, a atividade c o m p l e t a só é exibida na presença de vários l i m i t e de referência superior). A hiperamilasemia p o d e t a m b é m
ânions — tais c o m o (1) cloreto, (2) b r o m e t o , (3) n i t r a t o , (4) colato ocorrer nas doenças neoplásicas c o m elevações tão altas q u a n t o
Enzimas CAPÍTULO 19 341

TABELA 1 9 - 5 Causas de Hiperamilasemia ras n o exame de A M Y t e m m e l h o r a d o a estequiometria da reação


e levado a condições de h i d r ó l i s e mais controladas e consistentes.
Doença pancreática Pancreatite, qualquer causa (P-AMYt)*
Os substratos usados i n c l u e m oligossacarideos pequenos, tais
Trauma pancreático (P-AMYt)
c o m o m a l t o p e n t o s e e maltotetrose.
Doenças intra-abdominais Doença do trato bilrar (P-AMYt)
que não pancreatite Obstrução intestinal (P-AMYt)
infarto do mesentério (P-AMYt) w í. ix-iimnrue
Maltopentose »- malroinose + mal tose
Úlcera péptica perfurada (P-AMYt)
Gastrite, duodenite (P-AMYt) Matotiiose + maltose O^lícosidaK—>- 5 olice
Aneurisma aórtico roto
HoMuiruiK
Apendicite aguda Glicose + ATP G-6-P + ADP
Peritonite
G-Ó-P desidmeencise
Trauma G-6-P+NAD 6-P-gliconolactotia
Doença genitourinária Gravidez ectópica tubária rota (S-AMYt) + NADH + H ®
Salpingite (S-AMYt)
Malignidade ovariana (S-AMYt) OU

Insuficiência renal (Mista) a-amilíue


Maltotetrose *• 2 maltose
Miscelânea Lesões da glândula salivar (S-AMYt)
Abuso alcoólico agudo (S-AMYt) Mflítosí fosfoTjlasí
Malrose + F, ~1 glicose +^lícosc-l-P
Cetoacidose diabética (S-AMYt)
Macroamilasemia (Mista) P Poí^DJ licom u Wí e
Glícose-1'P ^ Glicose-6-P
Choque séptico (S-ÀMYt)
Cirurgia cardíaca
ff, G-6-F desidrogenase
G-6-P +NAD *- 6-P-gliconolactona
Tumores (habitualmente S-AMYt)
+ NADH+H®
Drogas (habitualmente S-AMYt]

*Aã iscÉnzimaj írnsdomiTUintes são mostradas entre parênteses. P-AMYj pancreática;


São t a m b é m usados substratos que empregam o 4-NP-glicosí-
S-AMY, íflíiitíTí tniítú, -nenhuma
ou ambas as enj irmãs {iodem esmr presentes. deo. Esses substratos são preparados pela ligação de 4-NP ao
t e r m i n a l r e d u t o r de u m oligossacarideo d e f i n i d o .

a-âTniktt£
4-NP-(glicnse)i *- 4-NP-(glicostí),12 + (ghccise)5,4.

5 0 vezes o l i m i t e de referência superior. As lesões da g l â n d u l a OC^liCOsiíJiüíí


4-NP-(gli<wV„ 4-N P-(gl ícose)^
salivar causadas p o r (1) infecção, (2) irradiação, (3) obstrução, (4)
cirurgia e (5) t u m o r e s t ê m sido descritas c o m o pr odutor as de u m a + x-glicose + NP
h i p e r a m i l a s e m i a d o t i p o S significante. A h i p e r a m i l a s e m i a pós-
operatória o c o r r e e m cerca de 2 0 % de todos os pacientes subme-
tidos a u m a a m p l a variedade de intervenções cirúrgicas, inclusive Se o oligossarídeo for malto-heptose (G7), o substrato é então
p r o c e d i m e n t o s extra-abdominais. A u m e n t o s de cerca de q u a t r o 4-NP-G7. C o m o i n d i c a d o , a A M Y quebra esse substrato para
vezes o l i m i t e de referência superior são encontrados e m 8 0 % p r o d u z i r oligossacarideos livres ( G 5 , G 4 e G 3 ) e 4-NP-G2, 4-NP-
dos pacientes c o m cetoacidose diabética. N a intoxicação alcoólica G 3 e 4-NP-G4. N o ensaio o r i g i n a l , a h i d r ó l i s e c o m b i n a d a pela
aguda, cerca de 10% dos i n d i v í d u o s t ê m u m a elevação de três A M Y na amostra e pela a-glicosidase ( E C 3.2.1.20; maltase)
vezes. F i n a l m e n t e , u m a a m p l a variedade de drogas precisa sempre reagente resulta e m mais do que 3 0 % d o p r o d u t o sendo N P livre.
ser considerada c o m o causa provável de h i p e r a m i l a s e m i a . O N P livre é detectado pela sua absorvância a 405 n m . Entre-
As macToamilases estão algumas vezes presentes nos soros e t a n t o , surgem problemas c o m o uso do ensaio de 4-NP-glicosídeo
causam h i p e r a m i l a s e m i a ; essas são complexos entre A M Y (habi- n o que diz Tespeito à p o u c a estabilidade da m i s t m a de ensaio
t u a l m e n t e d o t i p o S) e I g G o u I g A . Essas macroamilases não são reconstituída pela baixa h i d r ó l i s e d o 4-NP-glicosídeo pela a-gli-
filtradas pelos glomérulos dos rins em v i r t u d e de seu grande cosidase. Esse efeito t e m sido r e d u z i d o pela ligação covalente de
t a m a n h o ( m a i o r do que 2 0 0 k D a ) e são, p o r t a n t o , retidas n o u m g r u p o " b l o q u e a d o r " (isto é, u m g r u p o 4,6-etilideno [substrato
plasma, o n d e sua presença h a b i t u a l m e n t e a u m e n t a a atividade p r o t e g i d o pelo e t i h d e n o (EPS)]) ao t e r m i n a l não-redutor da molé-
de A M Y de duas a o i t o vezes a c i m a d o l i m i t e de referência supe- cula. O substrato b l o q u e a d o t e m d e m o n s t r a d o u m padrão de
rior. N e n h u m s i n t o m a c l í n i c o está h a b i t u a l m e n t e associado a h i d r ó l i s e mais vantajoso e, p o r t a n t o , a liberação a u m e n t a d a de
essa desordem. 4-NP. A I F C C tem o t i m i z a d o esse m é t o d o a 37 ° C e o t e m reco-
m e n d a d o c o m o u m p r o c e d i m e n t o de dosagem padrão para a
Métodos de Análise para Atividade e Conteúdo de AMY.12
isoenzimas U m m é t o d o alternativo c o m base n o i n d i c a d o r 2-cloro-fi'
A atividade de A M Y e o c o n t e ú d o de isoenzimas são m e d i d o s nitrofenol (CNP) usa 2-cloro-p-nítrofenil-a-D-maltotriosídeo
n o laboratório. ( C N P - G 3 ) c o m o substrato. Esse ensaio não requer glicosidases e
é considerado u m exame " d i r e t o " . Suas desvantagens i n c l u e m (1)
Dosagem da Atividade de AMY sua baixa velocidade de conversão do substrato comparada c o m
H i s t o r i c a m e n t e , os métodos sacarogênico, amiloclástico e a m i d o os ensaios G 7 ; (2) a variação na absortividade m o l a r do C N P
c r o m o l í t i c o são usados para a determinação da atividade de associada a variações n o p H , n a t e m p e r a t u r a e n o c o n t e ú d o
A M Y . Esses ensaios t ê m sido agora substituídos por m é t o d o s que protéico e (3) a presença do ativador, t i o c i a n a t o de potássio,
usam substratos d e f i n i d o s c o m cadeias glicosil menores. O uso causando mudanças alostéricas n a A M Y e i m p e d i n d o o uso de
de substratos de A M Y d e f i n i d o s e enzimas auxiliares e i n d i c a d o - a n t i c o r p o s para a determinação da P - A M Y .
342 PARTE IV Analitos

C o m exceção da h e p a r i n a , todos os anticoagulantes c o m u n s A atividade residual de A M Y de menos de 3 0 % n o sobrenadante


i n i b e m a atividade de A M Y p o r q u e q u e l a m Ca 2 + . P o r t a n t o os é i n d i c a t i v a de m a c r o a m i l a s e m i a (Figura 19-5).
ensaios de A M Y devem ser feitos s o m e n t e e m soro o u n o plasma E m adultos saudáveis, a P - A M Y representa a p r o x i m a d a m e n t e
heparinizado A A M Y é m u i t o estável; a atividade é m a n t i d a de 4 0 % a 5 0 % da atividade enzimática t o t a l n o soro. Usando-se
c o m p l e t a m e n t e d u r a n t e o a r m a z e n a m e n t o p o r 4 dias à tempera- o m é t o d o de i m u n o i n i b i ç ã o a 37 ° C , o i n t e r v a l o de referência
tura a m b i e n t e , 2 semanas a +4 ° C , 1 ano a - 2 5 ° C e 5 anos a para a atividade de P - A M Y nos soros de adultos é de 13 a 5 3
- 7 5 °C. U / L . A p ó s o n a s c i m e n t o , a atividade sérica de S - A M Y a u m e n t a
Os intervalos de referência para a A M Y d e p e n d e m d o u n i f o r m e m e n t e c o m a idade e alcança os valores de adultos aos
m é t o d o . U s a n d o ensaios confiáveis ao m é t o d o r e c o m e n d a d o 2 anos de idade. A atividade sérica de P - A M Y n ã o é demonstrá-
pela I F C C a 37 ° C , o i n t e r v a l o de referência sérico é de 37 a 107 vel e m crianças mais jovens d o que 6 meses, mas a atividade
U/L. a u m e n t a l e n t a m e n t e a p a r t i r daí para alcançar os valores de
adultos aos 5 anos de idade, r e f l e t i n d o o d e s e n v o l v i m e n t o pós-
Dosagem das Isoenzimas de AMY n a t a l da f u n ç ã o pancreática exócrina.
A falta de especificidade da dosagem de A M Y t o t a l t e m levado C o m a aplicação d e u m l i m i t e de decisão de u m a atividade
ao interesse pela dosagem d i r e t a da P - A M Y e m vez da atividade igual a três vezes o l i m i t e de referência superior, a especificidade
enzimática t o t a l para o diagnóstico diferencial de pacientes c o m clínica de P - A M Y para o diagnóstico de pancreatite aguda é
d o r a b d o m i n a l aguda. Os m é t o d o s para as isoenzimas de A M Y > 9 0 % . 6 A sensibilidade na detecção t a r d i a dessa condição é
c o m base e m (1) eíetroforese, (2) cromatografia de troca iônica, t a m b é m n o t a v e l m e n t e m e l h o r a d a c o m a P - A M Y . Os valores de
(3) focalização isoelétrica, (4) i n i b i ç ã o seletiva de S - A M Y c o m P - A M Y p e r m a n e c e m elevados e m 8 0 % dos pacientes c o m pan-
i n i b i d o r d o germe de t r i g o , (5) i m u n o p r e c i p i t a ç ã o p o r u m anti- creatite n ã o c o m p l i c a d a 1 semana após o início, q u a n d o somente
c o r p o m o n o c l o n a l e (6) i m u n o i n i b i ç ã o estão disponíveis. Entre- 3 0 % a i n d a m o s t r a m atividade de A M Y t o t a l a u m e n t a d a . Esse
t a n t o , s o m e n t e os m é t o d o s c o m base na i n i b i ç ã o seletiva de a u m e n t o p r o l o n g a d o n a atividade de P - A M Y n o soro t a m b é m
isoenzimas p o r anticorpos m o n o c l o n a i s são c l i n i c a m e n t e úteis. t o m a r e d u n d a n t e a dosagem t r a d i c i o n a l da A M Y t o t a l na u r i n a ,
Por exemplo, u m ensaio c o m a n t i c o r p o m o n o c l o n a l d u p l o está u m exame realizado p a i a alcançar m e l h o r sensibilidade diagnos-
disponível c o m e r c i a l m e n t e e usa a ação sinérgica de dois anticor- tica na fase tardia da pancreatite.
pos m o n o c l o n a i s i m u n o i n i b i t ó r i o s para S - A M Y . A p ó s a atividade U m a atividade d i m i n u í d a de A M P n o soro ( m e n o r d o que o
de S - A M Y estar i n i b i d a pela adição dos anticorpos, a atividade l i m i t e de referência i n f e r i o r ) i d e n t i f i c a pacientes c o m insuficiên-
de P - A M Y não i n i b i d a é dosada usando EPS-4-NP-G7 c o m o cia pancreática e x ó c r i n a e esteatorréia e t o r n a os exames de
substrato. Resultados de P - A M Y falso-positivos t a m b é m t ê m sido i n t u b a ç ã o para a f u n ç ã o pancreática desnecessários. Se, entre-
descritos e m i n d i v í d u o s c o m macroamilasemia, nos quais a imu- t a n t o , a P A M Y é n o r m a l , u m a f u n ç ã o pancreática reduzida não
n o g l o b u l i n a complexada a formas de A M Y d i m i n u i o u a n u l a a pode ser excluída.
capacidade dos a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s i n c l u í d o s n o ensaio ini-
b i r e m eficientemente a S-AMY. Lípase
M e d i a n t e eletroforese, a m a c r o - A M Y f o r m a h a b i t u a l m e n t e A lípase h u m a n a ( E C 3.1.1.3; triacilglicerol acil-hidrolase; LPS) é
u m a b a n d a m i g r a t ó r i a a m p l a , claramente d i f e r e n t e das bandas u m a glicoproteína de cadeia ú n i c a c o m u m peso m o l e c u l a r de
homogêneas q u e são produzidas pelas isoenzimas de A M Y pre- 48 k D a e u m p o n t o isoelétrico de cerca de 5,8. O gene LPS reside
sentes n o soro. Se a separação eletroforética não está disponível, n o c r o m o s s o m o 10. Para atividade catalítica c o m p l e t a e m a i o r
a precipitação d o m a c r o c o m p l e x o p o r u m a solução de polietile- especificidade, a presença de sais biliares e u m co-fator d e n o m i -
n o g l i c o l (PEG) 6 0 0 0 (240 g / L ) representa u m a boa alternativa. n a d o colípase, secretado pelo pâncreas, são necessários. A LPS é
u m a m o l é c u l a pequena e é f i l t r a d a atTavés dos gl omérul os. E
t o t a l m e n t e reabsorvida pelos túbulos renais, e n ã o é n o r m a l -
m e n t e detectada na' u r i n a .

Bioquímica
As lípases são definidas c o m o enzimas q u e h i d r o l i s a m ésteres de
glicerol de ácidos graxos de cadeia longa.

H2C-OFA(1) H 2 C—OH H 2 C—OH


HC—OFA(2) H(T—OFA(2) H^—OFA(2X
HJO | H,0 I
H2C-OFA<3) OHQ HJC—OFA(3) N U Q0 —OH
OH
Triglicciídco a.,p-Diglicerideü + P-Monoglicerideo * ,
AG(L)OH AG (3) OH
(Acidei graxo I) (Acido graxo III)

Í5úmeTÍ£flÇf3o
/
HIC—OH H 2 C—OH
HÍ—OH *Lípase HÍ—OH
I H-,0 |
H,C—OH
-—OH H,C—IOFA(2)
OH

M M P/S M M Glicerol + a-Monoglicerideo


A G ( 2 ) O H (Ácido
graxo II)

Figura 19-5 Demonstração de macroamilasemia por solução de S o m e n t e as ligações ésteres nos carbonos 1 e 3 (posições a )
polietilenoglicol (PEG) 6000. são atacadas, e os p r o d u t o s da reação são 2 moles de ácidos graxos
Enzimas CAPÍTULO 19 343

e 1 m o l de 2-acilglicerol (J3-monoglicerídeo) por m o l de substrato. tempo e serve como uma medida do ácido graxo produzido
O ú l t i m o é resistente à hidrólise, provavelmente em v i r t u d e da durante a reação. Esse método tem sido proposto como u m
restrição estérica, mas ele irá isomerizar espontaneamente à procedimento de dosagem de referência.
forma a (3-acilgIicerol). Essa isomerização permite que o terceiro N o método turbidimétrico, a LPS catalisa a hidrólise de
ácido graxo seja retirado em uma velocidade m u i t o menor. A LSP ácidos graxos em uma emulsão de ácido oléico com a d i m i n u i ç ã o
age somente quando o substrato está presente em u m a f o r m a simultânea na turbidez da mistura de reação. A absorvância a
emulsificada na interface entre a água e o substrato. A velocidade 340 n m é lida e o A A / m i n , é tomado como uma medida da
de ação da LPS depende da área de superfície do substrato dis- atividade de LPS.
perso. Os ácidos biliares garantem que a superfície do substrato Vários substratos e sistemas complexos auxiliares e indicado-
disperso permaneça livre de outras proteínas, inclusive as enzimas res são usados nos métodos espectrofotométricôs. Por exemplo,
lipoliticas, pelo revestimento da superfície do substrato insolúvel o l,2-0-dilauril-rac-glicero-3-ácido glutárico-(4-metil-resorufina)-éster
e pelo meio aquosa. tem sido proposto para a dosagem da atividade de LPS.' A LPS
A maior parte da atividade de LPS encontrada no soro é hidrolisa o substrato em u m m e i o alcalino a u m éster ácido
derivada do pâncreas, mas alguma parte também é secietada dicarbônico instável que se hidrolisa espontaneamente para gerar
pelas mucosas gástrica e intestinal. A concentração de LPS no ácido glutárico e metil-resorufina. Esta ú l t i m a é u m cromóforo
pâncreas é de cerca de 9.000 vezes maior do que em qualquer roxo azulado com pico de absorção a 580 n m .
outro tecido, e o gradiente de concentração entre o pâncreas e o
soro é de -"20.000 vezes. A ausência completa de LPS tem sido
descrita. Tal ausência congênita resulta em má absorção de
gordura e esteatorréia grave.

Significado Clínico
A dosagem de LPS n o soro é usada para diagnosticar pancreatite
aguda. A sensibilidade clínica é de 8 0 % a 100%, dependendo do
H 2 D:—OFA(3) \
], 2-O-d il a uri1-iac-g] icero-3-á eido glutáiico(4-metil-
l i m i t e de corte diagnóstico selecionado. A especificidade clínica re soru fi n a)«s te r
é de 8 0 % a 100%, dependendo da mistura da população estu-
dada. Após u m ataque de pancreatite aguda, a atividade sérica
de LPS (1) aumenta dentro de 4 a 8 horas, (2) chega a u m
máximo em 24 horas e (3) d i m i n u i ao longo de 8 a 14 dias. As
concentrações freqüentemente permanecem elevadas por mais
tempo do que aquelas de A M Y . As elevações entre duas e 50 vezes H2C—OH
o limite de referência superior têm sido descritas. O aumento na
H(t—OFA(2)
atividade sérica de LPS não é necessariamente proporcional à
H 2 d:—OFA(3)
gravidade do ataque.
Ocasionalmente a pancreatite aguda é difícil de diagnosticar
Esfitin(<ÍTi£G
p o i q u e ela precisa ser diferenciada de outras desordens intra-
abdominais agudas com achados clínicos similares, tais como (1)
úlcera gástrica o u duodenal perfurada, (2) obstrução intestinal
CHI
o u (3) obstrução vascular mesentérica. N o diagnóstico diferen-
cial, a elevação de LPS sérica maior do que cinco vezes o l i m i t e
de referência superior é u m achado diagnóstico mais específico
do que os aumentos na atividade sérica de A M Y . Giura rato
Doenças do trato biliar, tais como colecistite aguda, p o d e m Vermelho, X = 580 nm
causar u m aumento na atividade sérica de LPS. A obstrução do
dueto pancreático por u m cálculo o u por carcinoma do pâncreas A velocidade de formação de metil-resorufina é diretamente
o u a investigação do trato biliar pela pancieatografia retrógrada proporcional à atividade de LPS da amostra. O l i m i t e de referên-
endoscópica pode também aumentar a atividade sérica de LPS. cia superior é de 38 U / L a 37 °C. A atividade de LPS n o soro é
Finalmente, em pacientes com uma velocidade de filtração glo- estável à temperatura ambiente p o r 1 semana; os soros podem
merular reduzida, a atividade sérica de LPS está aumentada. ser armazenados por 3 semanas n o refrigerador e por vários anos
Portanto, deve-se tomar cuidado na interpretação de valores de se congelados.
LPS séricos elevados na presença de insuficiência renal.
Tripsina
Métodos de Análise A tripsina (EC 3.4.21.4; sem n o m e sistemático) é u m a serina
M u i t o s métodos para LPS t ê m sido descritos; eles têm usado proteinase que hidrolisa ligações peptídicas formadas pelos
substratos tanto triglicerídeos quanto não-triglicerídeos e técnicas grupos caTboxila de lisina o u arginina com outros aminoácidos.
{1) titrimétricas, (2) turbidimétricas, (3) espectrofométricas, (4) Os ésteres e as amidas que envolvem esses aminoácidos são cli-
fluorimétricas e (5) imunológicas. E m geral, substratos triglicerí- vados mais rapidamente do que as ligações peptídicas.
deos de cadeia longa (e alguns diglicerídeos) têm demonstrado
uma correlação de resultados com o estado clínico que é superior Bioquímica
àquele com os métodos que usam outros substratos. As células acinares do pâncreas h u m a n o sintetizam duas tripsinas
Nos métodos titrimétricos, a LPS catalisa a hidrólise de ácidos diferentes (1 e 2) na forma de proenzimas inativas (ou zimogê-
graxos em u m a emulsão de óleo de oliva o u de ácido oleico. Os nios), tripsinogênios 1 e 2. Esses zimogênios são armazenados em
ácidos graxos liberados são titulados com u m álcali diluído. A grânulos e secretados n o d u o d e n o sob o estímulo do nervo vago
quantidade de álcali usada é registrada como uma função do ou do h o r m ô n i o intestinal colecistocinina-pancreozimina. O trip-
344 PARTE IV Analitos

sinogênio 1 está presente em cerca de quatro vezes a concentração As células acinares do pâncreas h u m a n o sintetizam duas qui-
do tripsinogênio 2. N o trato intestinal, os tripsinogênios são miotripsinas diferentes (1 e 2, a ú l t i m a sendo a espécie principal)
convertidos à enzima ativa T R Y pela enzima intestinal enteroqui- na forma de pró-enzimas inativas (ou zimogênios), quimiotripsi-
nase ou pela T R Y pré-formada (autocatálise). Q u a n d o os tripsi- nogênio 1 e 2. Esses zimogênios são armazenados em grânulos e
nogênios são convertidos à T R Y ativa, u m pequeno peptídio é são secretados como q u i m i o t r i p s i n o g ê n i o no dueto pancreático.
clivado a partir da região N - t e r m i n a l do tripsinogênio (peptídio N o trato intestinal, os quimiotripsinogênios são convertidos a
de ativação do tripsinogênio ou TAP). C H Y pela ação da TRY. A C H Y é mais resistente do que a T R Y
A TRY-1 é t a m b é m descrita como catiônica e a TRY-2 como à degradação no intestino; é, p o r t a n t o , a enzima de escolha para
aniônica devido às suas mobilidades eletroforéticas diferentes. o ensaio em fezes (a atividade de C H Y nas fezes permanece
TRY-1 e TRY-2 t ê m pesos moleculares de 25,8 e 22,9 k D a e constante à temperatura ambiente pOT até 7 dias). O peso mole-
valores de p i de 4,6 a 6,5 e maior do que 6,5, respectivamente. cular das duas formas é aproximadamente 25 k D a . A C H Y , como
Os inibidores de T R Y — pclipeptidios pequenos, tais como a a TRY, é ligada no plasma pela a i - a n t i t r i p s i n a e pela a 2 -macro-
ax-antitripsina ( i n i b i d o r de protease a-j) e oti-macroglobina — que globina.
se c o m b i n a m irreversivelmente c o m T R Y e a inativam através do A p r i n c i p a l aplicação dos ensaios que medem a atividade de
bloqueio do centro ativo — estão presentes (1) n o suco pancreá- C H Y nas fezes é a investigação da insuficiência pancreática
tico, (2) no soro e (3) na urina. Esses inibidores protegem as crônica. A C H Y nas fezes está freqüentemente reduzida a menos
proteínas plasmáticas e outras contra a hidrólise pela T R Y e do que o limite de referência inferior (12 U / g de fezes) nos indi-
outras proteases se qualquer quantidade apreciável de enzima víduos que desenvolvem esteatorréia, mas não é ú t i l na identifi-
entrar no sistema vascular. A ausência de a^-antitripsina está cação de indivíduos com insuficiência pancreática precoce. As
associada a uma tendência aumentada para o enfisema panlobu- dosagens de C H Y em pacientes com insuficiência pancreática
lar no início da vida; esse exemplo ilustra os efeitos de proteases crônica tratados com suplemento oral de enzimas pancreáticas
não-inibidas sobre a função do órgão. podem indicar se a terapia está adequada ou se é necessária uma
suplementação aumentada.
Significado Clínica
E m indivíduos saudáveis, o tripsinogênio 1 livre é a p r i n c i p a l Elastase-1
forma encontrada no soro. A p ó s u m ataque de pancreatite aguda, A elastase-1 pancreática h u m a n a (EC 3.4.21.36; sem n o m e siste-
a TRY-1 sérica aumenta em paralelo c o m a atividade sérica de mático; E l ) também é uma serina protease. Ela é uma carboxien-
A M Y para atingir valores de pico de 2 a 400 vezes o l i m i t e de dopeptidase que catalisa a hidrólise de elastina nativa, a principal
referência superior. E m comparação com as dosagens de P - A M Y proteína fibrosa estrutural no tecido conjuntivo, com afinidade
e LPS, TRY-1 é o exame mais difícil de se realizar, necessitando especial pelo grupo carboxila de A l a , Val e Leu.
de várias horas para se completar. C o m o não existe u m papel A E l humana (peso molecular de cerca de 26 kDa) é sinteti-
d e f i n i d o da estimativa de T R Y na conduta de pacientes c o m zada pelas células acinares do pâncreas j u n t o de outras enzimas da
pancreatite aguda, esse exame é, porranto, considerado de valor digestão. A enzima é sintetizada como uma pré-proelastase. Após
clinico l i m i t a d o . A TRY-1 no soro está elevada na falência renal processamento à proelastase, ela é armazenada nos grânulos de
crônica, assim como a A M Y e a LPS séricas. Logo, a falência renal zimogênio e mais tarde é ativada a elastase pela T R Y no duodeno,
precisa ser excluída na interpretação de concentrações elevadas. sofrendo degradação m í n i m a durante o trânsito intestinal.
Na pancreatite crônica sem esteatorréia, as concentrações A dosagem de E l nas fezes é o procedimento não invasivo
plasmáticas de TRY-1 não são diferences das normais. Q u a n d o a mais confiável e sensível para o diagnóstico de insuficiência pan-
esteatorréia está presente, entretanto, as concentrações em j e j u m creática crônica. Entretanto, tal exame não separa consistente-
são m u i t o baixas. N a fase de recaída da pancreatite crônica, a mente os casos de insuficiência leve e moderada dos controles
T R Y plasmática pode estar consideravelmente elevada. N o carci- saudáveis. Diferentemente da C H Y fecal, a E l não fornece infor-
n o m a de pâncreas, as concentrações de T R Y podem estar altas, mações úteis para á conduta terapêutica do paciente.
normais ou até mesmo baixas. Na fibrose cística, as concentra- A enzima é estável em amostras de fezes por até 1 semana à
ções plasmáticas de T R Y têm sido descritas como aumentadas temperatura ambiente. O l i m i t e de referência inferior é de 200
em neonatos. A medida que a doença progride, a concentração |j.g/g de fezes.
cai. Amostras de sangue seco t ê m sido sugeridas para uso em
ensaios de rastreamento. OUTRAS ENZIMAS CLINICAMENTE
IMPORTANTES
Métodos de Análise
A A C P e a glicose-6-fosfato desidrogenase ( G 6 P D ) são enzimas
Os estudos iniciais usavam ensaios catalíticos, mas logo percebeu-
que t a m b é m têm relevância clínica.
se que outras enzimas proteolíticas presentes no soro poderiam
hidrolisar os mesmos substratos. O maior avanço tem sido o Fosfatase Ácida (Resistente ao Tartarato)
desenvolvimento de imunoensaios para quantificar T R Y no Sob o n o m e de fosfatase ácida (EC 3.1.3.2; ortofosfórico-mono-
sangue. N o caso de TRY-1, os imunoensaios detectam (1) tripsi- éster fosfo-hidrolase [ótimo ácido]; ACP) estão incluídas todas as
nogênio 1, (2) TRY-1 e (3) complexo TRY-1-ct ]-anti tripsina. Imu- fosfatases com atividade ó t i m a abaixo de p H 7,0. A A C P está
noensaios comerciais estão disponíveis. C o m o não existe padro- presente nos lisossomos, organelas presentes em todas as células
nização de ensaio, os limites de referência são dependentes do com a exceção possível dos eritrócitos. ACPs extralisossomais
método. t a m b é m estão presentes em muitas células. As maiores concen-
trações de atividade de A C P o c o r r e m (1) na próstata, (2) n o osso
Quimiotripsina (osteoclastos), (3) no baço, (4) nas plaquetas e (5) nos eritrócitos.
A q u i m i o t r i p s i n a (EC 3.4.21.1; sem nome sistemático; C H Y ) é As enzimas lisossomal e prostática são fortemente inibidas pelos
uma serina proteinase que hidrolisa ligações peptídicas que envol- íons tartarato dextrorrotatórios, enquanto as isoenzimas do eri-
vem grupos carboxila de (1) T r p , (2) Leu, (3) Tyr o u (4) Phe, c o m trócito e do osso não são. A maior parte da atividade baixa de
preferência pelos resíduos aromáticos. A C P fisiológica do soro (não hemolisado) é do t i p o resistente ao
Enzimas CAPÍTULO 19 345

tarrarato ( T R - A C P ) e provavelmente se o r i g i n a p r i n c i p a l m e n t e r TABELA 19-G | Classes de Gravidade da D e f i c i ê n c i a de


nos osteoclastos.
de Glicose-6-Fosfato Desidrogenase
Pelo menos q u a t r o genes d e t e r m i n a n t e s de A C P t ê m sido
(G6PD)
i d e n t i f i c a d o s e mapeados. O gene de A C P d o e r i t r ó c i t o está L
localizado n o c r o m o s s o m o 2 e é p o l i m ó r f i c o , e u m o u t r o gene Classe I Deficiência grave associada a anemia hemolítica
n o c r o m o s s o m o 19 codifica a T R - A C P expressa nos osteoclastos crônica
Classe II Deficiência grave (< 10% da atividade residual),
e outros macrófagos teciduais, tais c o m o os macrófagos alveolares
habitualmente sem anemia hemolítica crônica
e as células de K u p f f e r ( A C P t i p o 5). Os genes que c o d i f i c a m as
Classe III Deficiência moderada a leve (10% a 60% da atividade
A C P i n i b i d a s pelo tartarato lisossomal e prostática, mapeado nos
residual)
cromossomos 11 e 13, respectivamente, e x i b e m h o m o l o g i a con-
Classe IV Deficiência muito leve cu nenhuma deficiência
siderável.
Classe V Atividade aumentada (semente uma variante foi
As atividades de T R - A C P n o soro estão aumentadas fisiolo-
descrita, G6PD Heklcen)
gicamente e m crianças e m crescimento e patologicamente e m
condições de osteólise a u m e n t a d a e r e m o d e l a m e n t o ósseo. Ele-
vações n a atividade sérica de T R - A C P f r e q ü e n t e m e n t e o c o r r e m
(1) na doença de Paget, (2) n o b i p e r p a r a t i r e o i d i s m o c o m envol-
v i m e n t o esquelético e (3) na presença de invasão m a l i g n a dos
ossos p o r cânceres. A l t a s concentrações de T R - A C P n o soro
QUADRO 19-2 Síndromes Clínicas Associadas à Deficiência
de Glicose-6-Fasfato
desses pacientes r e f l e t e m a atividade osteoclástica a u m e n t a d a
apropriada, c o m o n o osso n o r m a l e m crescimento, o u malífica, Desidrogenase
c o m o na doença metastásica. Essa enzima é p o r t a n t o u m marca- Hemólise induzida por drogas
d o r p o t e n c i a l m e n t e ú t i l de condições c o m u m c o m p o n e n t e oste- Hemólise induzida por infecção
o l í t i c o notável. E n t r e t a n t o , a T R - A C P parece mostrar variações Favismo
Icterícia neonatal
d i n â m i c a s r e l a t i v a m e n t e pequenas e m comparação c o m outros
Anemia hemolítica não-esferocítica crônica
marcadores da reabsorção óssea (p. ex., aqueles relacionados ao
m e t a b o l i s m o d o colágeno t i p o I [ C a p í t u l o 38]). Isso pode ser
a t r i b u í d o ao fato de q u e a enzima é liberada n o m i c r o a m b i e n t e
d o osteoclasto e m vez de d i r e t a m e n t e na circulação.
A ú n i c a c o n d i ç ã o não-óssea na q u a l atividades elevadas de da doença é heterogênea, e cinco síndromes clínicas diferentes
T R A C P são encontradas n o soro é a doença de G a u c h e r d o t ê m sido reconhecidas ( Q u a d r o 19-2).
baço, u m a d e s o r d e m de armazenamento lisossomal. Suas fontes A m a i o r i a dos i n d i v í d u o s deficientes e m G 6 P D desenvolve
nessa doença são os macrófagos anormais n o baço e outros hemólise somente q u a n d o ocorre estresse oxidativo, c o m o nas
tecidos, os quais superexpressam esse c o n s t i t u i n t e macrofágico infecções e após a ingestão de certas drogas o u de feijão-de-fava.
n o r m a l . E m b o r a antes a m p l a m e n t e usada para detectar o u m o n i - Fora esses casos, eles h a b i t u a l m e n t e são assintomáticos. Entre-
torar o c a r c i n o m a de próstata, a d e t e r m i n a ç ã o da atividade de t a n t o , a deficiência de G 6 P D t a m b é m leva à hemólise c r ô n i c a de
A C P ( i n i b i d a p o r tartarato) n o soro agoTa é considerada obsoleta leve a grave, exarcebada pelo estresse oxidativo.
para esse p r o p ó s i t o e t e m sido substituída pelo antígeno prostá- O i n t e r v a l o de referência para G 6 P D nos eritrócitos é de 8
tico específico (PSA). Veja o C a p í t u l o 20. a 14 U / g de H b . Valores maiores d o que 18 U / g de H b são
As A C P são instáveis, especialmente e m temperaturas supe- f r e q ü e n t e m e n t e e n c o n t r a d o s e m q u a l q u e r c o n d i ç ã o associada
riores a 37 ° C e e m p H acima de 7,0. A acidificação da amostra c o m células sanguíneas vermelhas mais jovens d o q u e o n o r m a l
de soro a u m p H abaixo de 6,5 ajuda a estabilizar a atividade (como nas anemias hemolíticas n ã o devidas à deficiência e m
enzimática. As amostras de soro hemolisadas são c o n t a m i n a d a s G 6 P D ) , mas não são de significado clínico.
c o m q u a n t i d a d e s consideráveis de T R - A C P de e r i t r ó c i t o e devem
ser rejeitadas.

REFERENCIAS
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A G 6 P D ( E C 1.1.1.49; D-glicose-6-fosfato: N A D P + óxido-redutase) anaesthetic practicc. Anaesthesia 1997;52:244-60.
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gluconato, g e r a n d o N A D P H . A enzima é u m d í m e r o ( p r e d o m i -
NAD(P) + oxidoreductase (deaminating), EC 1.41.3). EurJ Clin Chem
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O gene que c o d i f i c a a G 6 P D está localizado n o c r o m o s s o m o
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e m c i n c o categorias de acordo c o m a q u a n t i d a d e de atividade activity in serum by a kinetic colorimetric assay using a new
enzimática e o f e n ó t i p o clínico (Tabela 19-6). A expressão clínica chromogenic substrate. Ann Clin Biochem 2001;38:365-70.
346 PARTE IV Analitos

6. P a n t e g h i n i M , C e r i o t t i F, Pagani F, Secchiero S, Z a n i n o t t o M , F r a n z i n i 37 ° C . Part 6. Reference p r o c e d u r e f o r the m e a s u r e m e n t o f catalytic


C , for the I t a l i a n Society o f C l i n i c a i B i o c h e m i s t r y a n d C l i n i c a i c o n c e n t r a t i o n o f y-glu t a m y l t r a n s fer a s e, C h n C h e m L a b M e d
M o l e c u l a r B i o l o g y ( S I B i o C ) W o r k i n g G r o u p o n Enzymes. 2002,40.734-8
R e c o m m e n d a t i o n s f o r t h e r o u t i n e use o f p a n c r e a t i c amylase 10. S c h u m a n n G , B o n o r a R , C e r i o t t i F, F é r a r d G , Ferrero C A , F r a n c k P F H ,
m e a s u r e m e n t mstead o f t o t a l amylase f o r the diagnosis a n d m o n i t o r i n g et al I F C C p r i m a r y reference procedures for the m e a s u r e m e n t o f catalytic
o f pancreatic pathology. C l i n C h e m Lab M e d 2002;40:97-100. activity c o n c e n t r a t i o n s o f enzymes at 37 ° C . Part 4. Reference p r o c e d u r e
7. S c h u m a n n G , B o n o r a R , C e r i o t t i F, C l e r c - R e n a u d P, Ferrero C A , Férard f o r t h e m e a s u r e m e n t o f catalytic c o n c e n t r a t i o n o f a l a n i n e
G , et al. I F C C p r i m a r y reference p r o c e d u r e s f o r t h e m e a s u r e m e n t o f aminotransferase. C l i n C h e m L a b M e d 2002;40-718-24
catalytic activity c o n c e n t r a t i o n s o f enzymes at 37 ° C . Part 2. Reference 11. S c h u m a n n G , B o n o r a R , C e r i o t t i F, F é r a r d G , Ferrero C A , F r a n c k P F H ,
p r o c e d u r e f o r t h e m e a s u r e m e n t o f catalytic c o n c e n t r a t i o n o f c r e a t i n e et al I F C C p r i m a r y reference p r o c e d u r e s for the m e a s u r e m e n t o f catalytic
kinase. C l i n C h e m L a b M e d 2 0 0 2 ; 4 0 : 6 3 5 - 4 2 . activity c o n c e n t r a t i o n s o f enzymes at 37 ° C . Part 5. Reference p r o c e d u r e
8 S c h u m a n n G , B o n o r a R , C e r i o t t i F, C l e r c - R e n a u d P, Ferrero C A , FéTard for t h e m e a s u r e m e n t o f catalytic c o n c e n t r a t i o n o f aspartate
G , et al. I F C C p r i m a r y reference procedures for the m e a s u r e m e n t o f aminotransferase. C l i n C h e m L a b M e d 2 0 0 2 ; 4 0 : 7 2 5 - 3 3 .
catalytic activity c o n c e n t r a t i o n s o f enzymes at 37 ° C . Part 3. Reference 12 S c h u m a n n G , A o k i R, Ferrero C A , Ehlers G , Férard G , G e l l a FJ, et al.
p r o c e d u r e f o r the m e a s u r e m e n t o f catalytic c o n c e n t r a t i o n o f lactate I F C C p r i m a r y reference procedures f o r t h e m e a s u r e m e n t o f catalytic
dehydrogenase. C l i n C h e m L a b M e d 2 0 0 2 ; 4 0 : 6 4 3 - 8 . activity c o n c e n t r a t i o n s o f enzymes at 37 ° C : Part 8. Reference p r o c e d u r e
9. S c h u m a n n G , B o n o r a R , C e r i o t t i F, C l e r c - R e n a u d P, Férard G , for t h e m e a s u r e m e n t o f catalytic c o n c e n t r a t i o n o f a-amylase: [a-Amylase:
Ferrero C A , et al I F C C p r i m a r y reference p r o c e d u r e s for t h e 1,4-a-D-glucan 4-glucanohydrolase ( A M Y ) , E C 3.2.1.1], C l i n C h e m Lab
m e a s u r e m e n t o f catalytic activity c o n c e n t r a t i o n s o f enzymes at M e d 2006;44:1146-55.
CAP
TÍULO 2

Marcadores Tumorais
Daniel W. Chan, Ph.D., D.A.B.C.C., F.A.C.B., Ronald A. Booth, Ph.D., F.C.A.C.B.,
e Eleftherios P. Diamandis, M.D., Ph.D., F.R.C.P.(C.)

OBJETIVOS Oncogene: U m gene celular m u t a d o n o r m a l (proto-oncogene)


1. Definir os seguintes termos: que causa a transformação maligna de células normais
Câncer quando ativado.
Marcador tumoral Prognóstico? U m a predição dos futuros curso e conseqüência
da doença do paciente baseada nos indicadores atualmente
Antígeno oncofetal
conhecidos (p. ex., idade, sexo, estágio do t u m o r ,
Marcador de carboidrato
concentração do marcador t u m o r a l etc.).
Oncogene
S í n d r o m e Ectópica: Produção de u m h o r m ô n i o por tecido
Gene supressor de tumor
t u m o r a l não-endócrino que n o r m a l m e n t e não produz o
Microarranjc
h o r m ô n i o (p. ex., produção de A D H pelo carcinoma de
2. Descrever as propriedades de um marcador tumoral ideal. células pequenas de pulmão).
3. Discutir o uso de valores de referência na detecção do câncer.
4. Discutir a aplicação clínica dos marcadores tumorais e seus usos

U
potenciais.
5. Descrever os usos clínicos do antígeno prostático-específico (PSA). m marcador t u m o r a l é uma substância produzida por
6. Listar pelo menos dois marcadores tumorais oncofetais e descrever u m t u m o r , o u pelo hospedeiro em resposta a u m tumor,
sua recomendação de uso na clínica. que é usada para diferenciar u m tecido tumoral do
7. Listar pelo menos dois marcadores tumorais de carboidrato, os n o r m a l ou para determinar a presença de u m t u m o r com base
tipos de câncer que eles detectam e as doenças não-tumorais que em medidas no sangue ou em secreções. Tais substâncias são
encontradas em células, tecidos ou fluidos corporais e são
causam sua elevação.
medidas qualitativa ou quantitativamente p o i métodos diagnós-
8. Listar dois genes supressores de tumor e dois oncogenes, e
ticos químicos, imunológicos o u moleculares.
comparar a função celular dos genes supressores de tumor e dos
Morfologicamente, o tecido t u m o r a l tem sido reconhecido
oncogenes.
pelos patologistas como mais parecido com o tecido fetal do que
com o tecido diferenciado de u m adulto normal. Os tumores são
classificados de acordo c o m seu grau de diferenciação como (1)
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES bem diferenciados, (2) pobremente diferenciados o u (3) anaplá-
A n t í g e n o O n c o f e t a l : Proteínas produzidas durante a fase fetal sicos (sem forma). Os marcadores tumorais são as contrapartidas
cujas concentrações se t o r n a m baixas o u não detectáveis bioquímicas ou imunológicas do estado de diferenciação do
após o nascimento. Elas reaparecem em algumas formas de t u m o r . E m geral, alguns marcadores tumorais representam a
câncer por causa da reativação de u m gene nas células reexpressão de substâncias produzidas n o r m a l m e n t e por u m
malignas transformadas. tecido embriogenicamente relacionado (Tabela 20-1).
Câncer: U m crescimento relativamente a u t ô n o m o de tecido. Alguns marcadores tumorais são específicos para u m tipo de
E s t a d i a m e n t o d o C â n c e r : O processo pelo qual o câncer é câncer, enquanto outros são vistos em diversos tipos de câncer.
d i v i d i d o em grupos de doença inicial e doença avançada; M u i t o s dos marcadores b e m conhecidos são observados tanto em
ú t i l para o prognóstico e para orientar o tratamento. doenças não malignas quanto no câncer. Consequentemente,
Gene Supressor T u m o r a l : U m gene envolvido na regulação do estes marcadores de t u m o r não são diagnósticos para o câncer.
crescimento celular; a perda de u m gene supressor de Entretanto, em muitos casos, as concentrações sanguíneas de
t u m o r tem o potencial de p e r m i t i r o crescimento marcadores tumorais refletem a atividade e o volume do t u m o r .
autônomo. Clinicamente, u m marcador t u m o r a l ideal deve ser específico
M a r c a d o r T u m o r a l : U m a substância produzida por u m tumor, para u m dado tipo de câncer e sensível o bastante para detectar
encontrada n o sangue, nos fluidos corporais ou nos tumores pequenos, para p e r m i t i r o diagnóstico precoce o u o seu
tecidos, e que pode ser usada para predizer a presença do uso n o rastreamento. Infelizmente, poucos marcadores são espe-
tumor, seu t a m a n h o e a resposta ao tratamento. cíficos para u m único t i p o de t u m o r (marcadores tumorais espe-
Marcadores T u m o r a i s de Carboidrato: Antígenos contendo cíficos); a maioria é encontrada em diferentes tumores do mesmo
u m componente de carboidrato principal, geralmente t i p o de tecido (marcadores tumorais associados). Eles estão pre-
encontrados na superfície das células ou secretados pelas sentes em quantidades maiores n o tecido t u m o r a l o u no sangue
células (p. ex., mucinas o u antígenos de grupos sanguíneos). de pacientes com câncer do que nos tumores benignos ou n o
Microarranjo: U m pedaço pequeno de silicone, plástico ou sangue de indivíduos normais. N a prática, os marcadores t u m o -
vidro, sobre cuja superfície foi construído u m arranjo rais são mais úteis na avaliação da progressão do estado da doença
bidimensional, estruturado, de compartimentos que são após o tratamento inicial e n o m o n i t o r a m e n t o das modalidades
acessados por suas posições no arranjo (os compartimentos de tratamento subseqüente.
p o d e m conter D N A , R N A , proteína, anticorpos ou Este capítulo começa com discussões gerais sobre (1) câncer,
pequenos pedaços de tecido). (2) o cenário histórico dos marcadores tumorais, (3) suas aplica-
348 PARTE IV Analitos

TABELA 20-1 "Níveis" de Expressão de Marcadores T u m o r a i s Associados ao D e s e n v o l v i m e n t o

P R O D U Ç Ã O D E M A R C A D O R E S T U M O R A I S POR D I V E R S O S T E C I D O S
Intimamente Relacionado Remotamente
Marcador Produção Normal Embriagenicamente Relacionado Não Relacionado

CEA Cólon Estômago, fígado, pâncreas Pulmão, mama Lintoma


AFP Fígado, saco vitelino Cólon, estômago, pâncreas Pulmão
hCG Placenta Tumores germinativos Fígado Pulmão epídármicG
Serotonina Carcinóide enteroendócrino Ad renal Célula pequena, pulmão Pulmão epidérmico
i
Modificado de Seíl S. Câncer Tjunkers. In: Moossa A R Schimpff SC, Rotaon M C , eds. Comprehenswe textbook of oncologj, 2™ ed, V o l 1. fia In more: W i l l i o m j & Wilkíns,
1991-225-38.
C E A , Antígeno caránoembrioiuÍTio-, A F P , alfa-fetoproteína-, h C G , gonaàeimfina coriõnica humana.

ções clínicas, (4) c o m o sua u t i l i d a d e é avaliada, (5) orientações envolver a ativação o u a expressão alterada de oncogenes o u a
clínicas para seu uso e (6) c o m o eles são m e d i d o s . Diversos mar- perda o u a inativação de u m gene supressor de t u m o r .
cadores t u m o r a i s c l i n i c a m e n t e relevantes de cada u m a dessas A detecção precoce de câncer oferece m a i o r chance de cura.
categorias são, então, discutidos e m detalhe. Estes são agrupados O o b j e t i v o é diagnosticar o câncer q u a n d o u m t u m o r a i n d a é
e m categorias gerais de enzimas, h o r m ô n i o s , antígenos oncofe- p e q u e n o o bastante para ser c o m p l e t a m e n t e r e m o v i d o cirurgica-
tais, marcadores de c a r b o i d r a t o , antígenos de grupos sanguíneos, mente. I n f e l i z m e n t e , a m a i o r i a dos cânceres não p r o d u z s i n t o m a
proteínas, receptores o u genes. I n f o r m a ç õ e s mais detalhadas até os t u m o r e s estarem m u i t o grandes para serem removidos
sohre os marcadores t u m o r a i s a q u i discutidos e vários outros c i r u r g i c a m e n t e o u até que as células malignas já t e n h a m se dis-
marcadores p o d e m ser encontradas e m u m livro-texto de 2 0 0 2 s e m i n a d o para outros tecidos (metastizado).
sohre o assunto. 3 E m b o r a outros m o d o s de t r a t a m e n t o , tais c o m o a admi ni s-
tração de toxinas químicas o u irradiação, sejam f r e q ü e n t e m e n t e
CÂNCER efetivos n a destruição d a m a i o r i a das células t u m o r a i s , eles geral-
N o s E U A , e m 2007, a estimativa de n ú m e r o de casos novos de m e n t e n ã o são curativos. As poucas células malignas residuais e
câncer, e x c l u i n d o o de pele, f o i 1,44 m i l h õ e s . O câncer de prós- viáveis são capazes de proliferar, desenvolver resistência ao trata-
tata o c u p o u a p r i m e i r a posição, seguido pelos cânceres de m e n t o posterior e, eventualmente, causar a m o r t e d o paciente.
p u l m ã o , m a m a , cólon-reto e bexiga. O câncer é u m i m p o r t a n t e
p r o b l e m a de saúde p ú b l i c a nos Estados U n i d o s e e m outros
países desenvolvidos. A t u a l m e n t e , u m a e m q u a t r o mortes, nos PASSADO, PRESENTE E FUTURO DOS
E U A , é devida ao câncer. Apesar d o e n o r m e e m p e n h o das pes- MARCADORES TUMORAIS
quisas, a taxa de m o r t a l i d a d e g l o b a l p o r câncer não m u d o u sig- O p r i m e i r o m a r c a d o r t u m o r a l descrito f o i a p r o t e í n a Bence
n i f i c a t i v a m e n t e d u r a n t e os ú l t i m o s 4 0 anos. N o e n t a n t o , a ten- Jones. Desde a sua descoberta, e m 1847, p o r precipitação de u m a
dência de m o r t a l i d a d e p o r câncer varia c o m os diferentes tipos p r o t e í n a n a u r i n a acidificada e fervida, a dosagem da p r o t e í n a
de t u m o r . Redução significativa ( m a i o r que 15%) de m o r t a l i d a d e Bence Jones tem sido u m teste diagnóstico para o m i e l o m a m ú l -
f o i observada na doença de H o d g k m e nos cânceres de cérvice, t i p l o ( u m t u m o r de células plasmáticas). M a i s de 100 anos após
estômago e útero. Já os a u m e n t o s de m o r t a l i d a d e ( m a i o r que a sua descoberta, os estudos, ganhadores d o P r ê m i o N o b e l , de
15%) o c o r r e r a m n o câncer de p u l m ã o , n o m e l a n o m a , n o m i e l o m a Porter e de E d e l m a n e P o u l i k , i d e n t i f i c a r a m a p r o t e í n a Bence
m ú l t i p l o e n o l i n f o m a n ã o - H o d g k i n . Essas tendências sustentam Jones c o m o a cadeia leve m o n o c l o n a l de i m u n o g l o b u l i n a secre-
a conclusão de q u e detecção precoce e t r a t a m e n t o mais efetivo tada p o r células plasmáticas malignas. PaTaproteínas m o n o c l o -
c o m b i n a d o s c o m prevenção (p. ex., redução d o h á b i t o de f u m a r nais aparecem c o m o bandas intensas n a área das g l o b u l i n a s nos
e u m a dieta m e l h o r ) p o d e m reduzir consideravelmente a taxa de padrões eletroforéticos d o soro. O diagnóstico d o m i e l o m a m ú l -
m o r t a l i d a d e p o r câncer n o f u t u r o . t i p l o é f r e q ü e n t e m e n t e feibo c o m base neste achado o u na pre-
A d e f i n i ç ã o simples de câncer é " u m crescimento relativa- sença de u m a concentração elevada de i m u n o g l o b u l i n a " m o n o -
m e n t e a u t ô n o m o de t e c i d o " . E n t e n d e r a causa d o crescimento c l o n a l " n o soro.
a u t ô n o m o e v i d e n t e m e n t e facilitaria a pesquisa de u m a cura; A segunda era dos marcadores t u m o r a i s , de 1928 a 1963,
e n t r e t a n t o , esta é u m a tarefa árdua u m a vez q u e cada t i p o de i n c l u i u a descoberta de h o r m ô n i o s , enzimas, isoenzimas e proteí-
cânceT t e m mecanismos celulares únicos e c o m u m e n t e m ú l t i p l o s nas, e suas aplicações para o diagnóstico d o câncer e o começo
q u e levam ao crescimento a u t ô n o m o . da análise cromossômica de t u m o r e s . O c a s i o n a l m e n t e , tais mar-
U m carcinógena é u m agente que causa câncer. Ele p o d e ser cadores f o r a m úteis n o diagnóstico de t u m o r e s i n d i v i d u a i s , mas
físico (p. ex., radiação), q u í m i c o (p. ex., u m h i d r o c a r b o n e t o poli- a aplicação geral dos marcadores t u m o r a i s para o m o n i t o r a m e n t o
cíclico) o u b i o l ó g i c o (p. ex., u m vírus). A exposição a tais agentes de pacientes c o m câncer n ã o c o m e ç o u até a terceira era, c o m a
p o d e causar câncer pela p r o d u ç ã o d i r e t a de efeitos genotôxicos descoberta da alfa-fetoproteína (AFP), e m 1963, e o antígeno
sobre o ácido d e s o x i r r i b o n u c l é i c o ( D N A ) (p. ex., c o m a radiação) c a r c i n o e m b r i o n ã r í o ( C E A ) , e m 1965. A p r o d u ç ã o desses marca-
n u pelo a u m e n t o da proliferação celular (p. ex., p o r u m h o r m ô - dores d u r a n t e o d e s e n v o l v i m e n t o fetal e nos t u m o r e s levou ao
nio), o u ambos (p. ex. através d o uso de tabaco). uso d o t e r m o marcadores tumorais associados ao desenvolvimento.
Avanços n a genética molecular têm proporcionado um A quarta era c o m e ç o u e m 1975 c o m o desenvolvimento de
m e l h o r e n t e n d i m e n t o da carcinogênese h u m a n a . A proliferação anticorpos m o n o c l o n a i s e seu uso subseqüente para detectar antí-
de células n o r m a i s é regulada p o r oncogenes p r o m o t o r e s de genos oncofetais e antígenos derivados de linhagens de célula
crescimento e compensada p o r genes supressores de t u m o r que t u m o r a l . C o m o exemplo, podem-se citar os antígenos de carboi-
r e s t r i n g e m o crescimento. O d e s e n v o l v i m e n t o d o câncer parece drato, tais c o m o C A 125, C A 15-3 e C A 27.29. Avanços na gené-
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 349

tica molecular, usando sondas moleculares e anticorpos m o n o c l o - m a r c a d o r de câncer de m a m a C A 27.29 detecta doença recor-
nais para detectar alterações em cromossomos o u proteínas, rente antes de q u a l q u e r evidência clínica e m pacientes c o m
i n c l u i n d o o estudo de oncogenes, genes supressores e genes envol- câncer de m a m a recebendo q u i m i o t e r a p i a adjuvante.
vidos no reparo do D N A , t ê m levado ao r á p i d o e n t e n d i m e n t o e A m a i o r i a dos valores de m a r c a d o r t u m o r a l se correlaciona
uso de marcadores t u m o r a i s e m nível molecular. Estes marcadores c o m a eficiência do t r a t a m e n t o e as respostas à terapia. N o câncer
estão se t o r n a n d o cada vez mais úteis em nível celular. Por exemplo, de mama, a concentração de marcadores, tais c o m o C A 15-3 o u
o oncogene ms m u t a d o p o d e ser detectado n o D N A celular libe- C A 27.29, m u d a c o m o t r a t a m e n t o e o resultado c l í n i c o d o
rado n o material fecal e, p o r t a n t o , pode ser usado para diagnosti- paciente. Os valores do m a r c a d o r geralmente a u m e n t a m c o m a
car câncer de cólon. A descoberta de genes de suscetibilidade ao doença progressiva, d i m i n u e m c o m a remissão e não m u d a m
câncer de mama, B i í C A J e BRCA2, t e m levado ao rastreamento significativamente c o m a doença estável. A cinética do marcador
de câncer de m a m a familiar em indivíduos de alto risco. t u m o r a l n o m o n i t o r a m e n t o de câncer p o d e t a m b é m ser mais
Neste i n í c i o do século X X I , novas tecnologias estão sendo complicada. Os valores de m a r c a d o r em resposta ao t r a t a m e n t o
aplicadas para a descoberta de marcadores t u m o r a i s e suas apli- p o d e m mostrar u m atraso i n i c i a l o u u m a u m e n t o paradoxal antes
cações clínicas. D e n t r e elas, é notável a i n t r o d u ç ã o das tecnolo- de d e m o n s t r a r o padrão esperado de m u d a n ç a .
gias de genômica e p r o t e õ m i c a , tais c o m o a m e d i d a de D N A A l é m disso, os a n t i c o r p o s contra marcadores t u m o r a i s mar-
c o m p l e m e n t a r ( c D N A ) , microarranjos de proteína e tecido, e o cados r a d i o ativamente são usados para localizar as massas t u m o -
uso de espectrometria de massa, c o m o u m a f e r r a m e n t a de diag- rais ( r a d i o i m u n o c i n t i l o g r a f i a ) o u pata fornecer uma direção para
nóstico. A l é m disso, o advento de técnicas de b i o i n f o r m á t i c a , a n t i c o r p o s marcados para atacar o local do t u m o r . C o m o exem-
i n c l u i n d o redes neurais, regressão logística, m á q u i n a de vetor plos, pode-se citar o uso de a n t i c o r p o s marcados r a d i o a t i v a m e n t e
s u p o r t e e outros algoritmos, está f a c i l i t a n d o o uso de análise c o n t r a C E A , para localizar tumores de c ó l o n , e a aplicação de
m u l t i p a r a m é t r i c a (analito m ú l t i p l o ) para o diagnóstico de câncer, a n t i c o r p o s marcados c o n t r a f e r r i t i n a , para t r a n s f o r m a r em alvo
p r o g n ó s t i c o e predição de t r a t a m e n t o . o c a r c i n o m a hepatocelular. Esta abordagem é t a m b é m usada n o
t r a t a m e n t o p o r p e r m i t i r q u e o a n t i c o r p o se ligue aos epítopos d o
APLICAÇÕES CLÍNICAS marcador t u m o r a l e m a t e as células malignas c o m a dose de
O s usos potenciais dos marcadores t u m o r a i s estão resumidos na radioatividade.
Tabela 20-2. E m geral, os marcadores t u m o r a i s p o d e m ser usados
para diagnóstico, p r o g n ó s t i c o e m o n i t o r a m e n t o dos efeitos d o
AVALIAÇÃO DA UTILIDADE CLÍNICA
t r a t a m e n t o e c o m o alvos de localização e terapia. D e m o d o ideal, Para avaliar a u t i l i d a d e clínica de u m marcador de t u m o r , é
u m m a r c a d o r t u m o r a l deve ser p r o d u z i d o pelas células malignas necessário estabelecer os valores de referência, calcular os valores
e ser detectável nos f l u i d o s corporais. Ele não deve estar presente preditivos, avaliar a d i s t r i b u i ç ã o de valores d o marcador e deter-
em pessoas saudáveis o u e m doenças benignas. A s s i m , ele p o d e m i n a r a f u n ç ã o dos valores n o gerenciamento da doença.
ser usado n o rastreamento da presença de câncer e m i n d i v í d u o s
assintomáticos na p o p u l a ç ã o geral, A m a i o r i a dos marcadores Valores de Referência
t u m o r a i s está presente em tecidos n o r m a i s , b e n i g n o s e malignas Os valores de referência de u m m a r c a d o r t u m o r a l são o b t i d o s de
e não é específica o bastante para ser usado n o rastreamento d o u m a população saudável, preferencialmente c o m i n d i v í d u o s pare-
câncer. N o e n t a n t o , se a i n c i d ê n c i a de câncer é alta entre certas ados p o r idade e sexo. A d e t e r m i n a ç ã o dos valores de referência
populações, o rastreamento p o d e ser viável. U m e x e m p l o é o uso é d e m o r a d a e requer u m a população saudável grande (n >120
de A F P n o rastreamento de c a r c i n o m a hepatocelular n a C h i n a indivíduos). 1 A análise estatística usando a m é d i a ± 2 de desvio-
e n o Alasca. O antígeno prostático específico (PSA) t e m sido padrão (SD) paTa u m a p o p u l a ç ã o c o m d i s t r i b u i ç ã o gaussiana
usado j u n t a m e n t e c o m o exame retal d i g i t a l para a detecção ( n o r m a l ) é u m m é t o d o f r e q ü e n t e m e n t e usado. Para u m a distri-
precoce de câncer de próstata. Por causa da elevação de PSA buição não-gaussiana, o m é t o d o dos percentis é u m a abordagem
sérico na hiperplasia prostática b e n i g n a ( B P H ) , a velocidade de simples e f r e q ü e n t e m e n t e usada (para discussão a d i c i o n a l de
PSA e o PSA livre t ê m sido usados para m e l h o r a r a detecção de valores de referência, ver C a p í t u l o 14).
câncer de próstata. Os valores de referência d e t e r m i n a d o s usando i n d i v í d u o s
O estadiamento clínico do câncer (estadiamento do câncer) é saudáveis desta f o r m a são aplicáveis a analitos c o m concentrações
sustentado pela quantificação d o marcador (ou seja, a concentra- fisiologicamente b e m definidas. Para testes c o m aplicações rela-
ção sérica de alguns marcadores reflete a carga t u m o r a l ) . O valor tivamente específicas, tal c o m o o uso de marcadores t u m o r a i s n o
do marcador n o m o m e n t o do diagnóstico pode ser usado c o m o diagnóstico e n o gerenciamento de câncer, u m l i m i t e de decisão
u m i n d i c a d o r prognóstico de progressão da doença e sobrevida do p o d e ser mais a p r o p r i a d o d o que o l i m i t e superior de u m a p o p u -
paciente. Isto é possível para u m paciente i n d i v i d u a l , mas as dife- lação saudável. N a m a i o r i a dos casos, usar pacientes c o m doença
rentes concentrações dos marcadores produzidos p o r tumores dis- b e n i g n a c o m o o g r u p o de não-doentes é mais adequado d o que
tintos geralmente não p e r m i t e m determinar o prognóstico de u m usar u m a p o p u l a ç ã o saudável. O l i m i t e de decisão p o d e ser
t u m o r a p a r t i r da concentração inicial. N o entanto, após o trata- d e t e r m i n a d o usando u m m o d e l o de valor p r e d i t i v o .
m e n t o inicial bem-sucedido, t a l c o m o cirurgia, o valor do marca-
dor deve d i m i n u i r . A taxa da d i m i n u i ç ã o pode ser predita usando Modelo de Valor Preditivo
a meia-vida d o marcador. Se a meia-vida após o t r a t a m e n t o é mais O m o d e l o de valor p r e d i t i v o i n c l u i a sensibilidade clínica, a
longa do que a meia-vida esperada, o tratamento não f o i b e m especificidade e o v a l o r p r e d i t i v o de u m teste. V a r i a n d o o l i m i t e
sucedido na remoção d o t u m o r . A m a g n i t u d e da redução do mar- de decisão, a sensibilidade clínica e a especificidade se alterarão
cador pode, entretanto, refletir o grau do sucesso do tratamento em direções opostas.
o u a extensão do e n v o l v i m e n t o da doença. U m a a b o r d a g e m ú t i l para avaliar testes m ú l t i p l o s para o
Detectar a recidiva do câncer p o d e ser ú t i l para i n i c i a r o m e s m o a n a l i t o o u marcadores m ú l t i p l o s para o m e s m o t i p o de
t r a t a m e n t o precoce o u a m u d a n ç a de terapia. Ensaios ultra-sen- câncer é a c u r v a característica de operação do receptor ( R O C )
síveis de PSA p e r m i t e m a detecção mais precoce de câncer de (Silver e colaboradores 9 ). A curva R O C p o d e ser c o n s t r u í d a pela
próstata após prostatectomia radical. T e m sido m o s t r a d o que o p l o t a g e m de s e n s i b i l i d a d e versus 1 m e n o s a especificidade o u a
350 PARTE IV Analitos

TABELA 20-2 i Aplicações Atuais de Marcadores T u m o r a i s e suas L i m i t a ç õ e s

Utilidade
Aplicação Atual Comentários

Rastreamento de câncer Limitada 1. Para rastreamento, deve-se ter um marcador que é elevado rios estágios iniciais da doença, quando a
doença está localizada e é potencialmente curável A maioria dos marcadores de câncer circulantes (com
exceção do PSA) é notavelmente elevada nos estágios avançados da doença, Dessa torrna, a
sensibilidade do diagnóstico é geralmente baixa para a doença em seu estágio inicial
2. Com exceção do PSA, a maioria dos marcadores de câncer não é específica para um tecido em particular,
e as elevações podem ser devidas a doenças em outros tecidos, incluindo doenças benignas e
inflamatórias. Portanto a especificidade diagnostica pode ser baixa, levando a muitos faiso-positivos.
No rastreamento, existe a necessidade de um méiodo diagnóstico definitivo que irá separar os positivos
verdadeiros dos falso-positivos. Se esse procedimento é invasivo (p. ex., cirurgia) e/ou caro, os pacientes
não o aceitarão
3. O rastreamento, mesmo que efetivo para o diagnóstico inicial de câncer, deve demonstrar benefício para
a população rastreada em termos de sobrevivência ou de outras conseqüências clínicas
Diagnostico de câncer Limitada O mesmo que anteriormente. Baixas sensibilidade e especificidade diagnosticas. Entretanto, para subgrupos
selecionados de pacientes de alto risco, nos quais a probabilidade de câncer é elevada (alta prevalência),
a análise de marcador tumoral pode ajudar o médico a solicitar testes mais elaborados (p. ex., técnicas
de imagem ou investigações iaparoscópicas)
Avaliação de prognóstico Limitada A maioria dos marcadores de câncer tem valor prognóstico, mas sua precisão não é boa o bastante para
do câncer garantir intervenções terapêuticas específicas. Por exemplo, níveis pré-operatórios mais altos de PSA
estão associados a penetração capsular, escore de Gleason elevado, margens cirúrgicas positivas e
estado dos linfonodos positivo, mas a decisão de tratar com dois diferentes métodos terapêuticos (p. ex.,
prostatectomia radical versus abordagens não cirúrgicas) não pode ser feita apenas com base nos dados
do marcador tumoral. O mesmo se aplica a muitos outros cânceres
Predição de resposta Importante Apesar da importância de se usarem biomarcadores na predição de resposta a terapias específicas,
terapêutica pouquíssimos marcadores conhecidos têm tal valor preditivo. Estes incluem os receptores de hormônio
esteróides, para predizer a resposta a antiestrógenos, e a amplificação de Her-2/neu, para predizer a
resposta à herceptina em pacientes com câncer de mama. Deve-se ter marcadores mais preditivos para
individualizar a terapia e maximizar a resposta clínica
Estadiamento do tumor Limitada O mesmo que para o prognóstico. Os dados não são hons o bastante para o estadiamento preciso a menos
que o valor reflita o volume do tumor
Detecção de recorrência Controversa Apesar da importância de se usarem biomarcadores para detectar recidiva do câncer, os marcadores atuais
do tumor ou remissão são limitados pelo seguinte
(a) O tempo do processo é curto (semanas a poucos meses) e não afeta significativamente o resultado,
mesmo que a terapia seja instituída mais cedo
|b) As terapias para o tratamento da doença recorrente não são efetivas no momento
(c) Em certos grupos de pacientes, os biomarcadores não são produzidos e não detectam recidivas
(d) Algumas vezes os biomarcadores fornecem informações equivocadas (p. ex., recidivas clínicas ocorrem
sem elevação do biDmarcador, ou o biomarcador é elevado de forma inespecífica, sem doença
progressiva, levando ao supertratamento ou à interrupção de um protocolo de tratamento atual e
hem-sucedido)
Localização de tumor Limitada Somente alguns poucos biomarcadores se encontram disponíveis para esta aplicação e o sucesso é limitado
e direcionamento
de agentes
radiaterapêuticos
Monitoramento da Importante Para pacientes com doença avançada, que são tratados com diversos métodos terapêuticos, é importante
eficiência da terapia saber se o tratamento funciona. A este respeito, os biomarcadores geralmente fornecem informação que
do câncer é prontamente interpretável, mais econômica, mais sensível e mais segura do que os procedimentos
radiológicos ou invasivos. Para certos cânceres, isto pode contrihuir para o registro aumentado de
pacientes em ensaios clínicos terapêuticos

Modificado de Didmaruiis EP Tumor markers: past, present, and future In. Di a inani is EP, Frttsch»- HA, Lijfi H, Cíifln DW Schumcs: MK. Tumor marlters: plr/siolog fmthcbiolo®,
technolngy, and clínica! ãpplica!ion. Washington, DC' AACC Press, 2002:5

t a x a d e p o s i t i v o s v e r d a d e i r o s versus a t a x a de falso-positivos. A Distribuição de Valores d o Marcador


vantagem da curva R O C é a representação do desempenho A aplicação do m o d e l o preditivo é difícil para analitos que n ã o
s o b r e a f a i x a i n t e i r a de l i m i t e s de d e c i s ã o . Pode-se a p o n t a r o constituem diagnóstico para u m a única doença. As concentra-
nível de decisão onde sensibilidade e especificidade ótimas ç õ e s d a m a i o r i a , se n ã o d e t o d o s os m a r c a d o r e s t u m o r a i s , s ã o
podem ser atingidas. Pela s o b r e p o s i ç ã o das c u r v a s R O C de e l e v a d a s e m m a i s d e u m a c o n d i ç ã o p a t o l ó g i c a . Q u a n d o se u s a i
vários marcadores, a m a i o r i a dos marcadores p r e d i t i v o s p o d e o m o d e l o p r e d i t i v o , é necessário selecionar u m a p o p u l a ç ã o q u e
ser s e l e c i o n a d a . A l g u n s e x e m p l o s são m o s t r a d o s nas Figuras i n c l u a g r u p o s c o m e s e m d o e n ç a . Q u a i s p a c i e n t e s d e v e m ser
20-1 e 20-2. incluídos nestes d o i s grupos? A d e c i s ã o d e v e ser b a s e a d a n a s
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 351

questões clinicas específicas. Se a questão se refere à sensibilidade


diagnostica de C E A para o carcinoma colorretal ativo, o grupo
de doentes deve i n c l u i r s o m e n t e pacientes c o m carcinoma color-
retal ativo. A seleção d o g r u p o de não-doentes é mais desafiadora.
Os i n d i v í d u o s saudáveis e aqueles c o m doenças benignas devem
ser incluídos? Se sim, q u a n t o s grupos de doença benigna devem
ser incluídos? Os pacientes e m remissão devem t a m b é m ser incluí-
dos p o r não t e r e m as doenças ativas? Os valores calculados de
05 PAPm
•o sensibilidade e especificidade d e p e n d e m m u i t o dos tipos de
uX grupos i n c l u í d o s e d o n ú m e r o de pacientes e m cada g r u p o .
A distribuição de valores de m a r c a d o r t u m o r a l é geralmente
ai mostrada c o m o a porcentagem de pacientes c o m valores elevados
CO
c o n f o r m e d e t e r m i n a d o usando vários valores de c o i t e dos grupos
saudáveis, benignos e cancerosos. Os critérios de estadiamento
internacional são usados para classificar pacientes com câncer, e
o diagnóstico é baseado nos achados patológicos. Os grupos são
selecionados a p a r t i r de experiências anteriores c o m marcadores
similares. U s a n d o o câncer de m a m a c o m o exemplo, as mulheres
normais são usadas c o m o a população saudável para efeito de
i
20 40 60 80 100 comparação. Os grupos c o m doenças iião-iiialigiias ou benignas
100 - Especificidade (%) são selecionados para i n c l u i r pessoas c o m as causas mais prováveis
de elevação d o marcador: doenças benignas de fígado e m a m a e
Figura 2 0 - 1 Curvas R O C para PSA, fosfatase ácida prostática por gravidez. Os grupos de câncer não m a m a metastático, usando
imunoensaio monoclonal (PAPm) e fosfatase ácida prostática enzimática carcinomas de e n d o m é t r i o , cólon, p u l m ã o , próstata e ovário, são
(PAPe). Os dados de 128 pacientes com doença prostática foram selecionados para mostrar a especificidade d o marcador. Evita-se
plotados com vários limites de decisão quantitativos (como indicado na agrupar todos os pacientes c o m câncer de m a m a e m u m a ú n i c a
figura) para cada ensaio. As unidades são p g / L para PAPm e PSA, e categoria p o r q u e a m a i o r i a dos marcadores é elevada n o câncer
U / L para PAPe. (De Rock RC, Chan DW, Bruzek DJ, et al. Evaluation de m a m a ativo. O g r u p o auxiliar consiste e m pacientes que não
of a monoclonal immunoradiometric assay for prostate-specific antigen. t i n h a m metástase, sofreram mastectomia e t r a t a m e n t o c o m qui-
Clin Chem 1987;33:2257-61.) mioterapia adjuvante, e n ã o t i n h a m evidência da doença. N ã o se
espera que o valor d o marcador seja elevado. O g r u p o c o m metás-
tase i n c l u i pacientes c o m remissão completa, remissão parcial o u
câncer de m a m a progressivo a c o m p a n h a d o por metástase local o u
distante. O g r u p o de câncer de m a m a progressivo tem a m a i o r
porcentagem de valores de marcador elevados. O grupo de remis-
são parcial t e m u m a porcentagem i n t e r m e d i á r i a de valores de
100
marcador elevados. O g r u p o de remissão completa tem a porcen-
tagem mais baixa de valores de marcador elevados.

Gerenciamento da Doença
A m a i o r i a dos marcadores t u m o r a i s é usada para m o n i t o r a r o
t r a t a m e n t o e a progressão d o câncer. Os marcadores p o d e m ser
usados para d e t e r m i n a r o sucesso d o t r a t a m e n t o inicial (p. ex.,
"O cirurgia o u radiação), detectar a recorrência de câncer e m o n i t o -
CD
rar a eficiência da m o d a l i d a d e de t r a t a m e n t o . Para m o n i t o r a r a
eficiência da terapia d o câncer, o valor d o m a r c a d o r deve aumen-
CU tar c o m a progressão d o câncer, d i m i n u i r c o m a regressão d o
cn
câncer, e não se alterar e m presença de doença estável. C o m o
t r a t a m e n t o p a r c i a l m e n t e bem-sucedido, o v a l o r do m a r c a d o r
p o d e não cair c o m a meia-vida n o r m a l . Ele p o d e cair para u m a
concentração estável que é m a i o r d o que o n o r m a l , ou p o d e cair
d e n t r o d o i n t e r v a l o de referência dos i n d i v í d u o s saudáveis. U m
a u m e n t o subseqüente d o v a l o r d o m a r c a d o r sugere recorrência
T d o câncer.
40 60 100 O W o r k i n g G r o u p o n T u m o r M a r k e r C r i teria da I n t e r n a t i o -
100 - Especificidade (%) n a l Society f o r O n c o d e v e l o p m e n t a l B i o l o g y a n d M e d i c i n e p u b l i -
c o u os seguintes critérios para a interpretação de alterações dos
Figura 2 0 - 2 R O C para CA 549 (kU/L) e CEA (jig/L). A valores de m a r c a d o r t u m o r a l 1 :
sensibilidade, a especificidade e a eficiência são baseadas no limite de • "Se n ã o f o r feito n e n h u m t r a t a m e n t o , pelo menos u m
decisão de CA 549 (11 kU/L) e CEA (5 fig/L). Os dados incluem a u m e n t o linear e m três amostras consecutivas ( o u seja,
pacientes com câncer de mama e doenças benignas de mama (331, para intervalos de t e m p o entre dois eventos consecutivos) e m
CA 549; 322, para CEA). Os valores de decisão são indicados na curva. u m a escala l o g a r í t m i c a deve ser registrado para
{De Chan DW, Beveiidge RA, Bruzek DJ, et al. Monitoring breast estabelecer u m a recidiva. Intervalos usuais p o d e m ser
câncer with CA 549. Clin Chem 1988;34:2000-4.) de três meses, mas eles são d e t e r m i n a d o s clinicamente.
352 PARTE IV Analitos

Após u m p r i m e i r o aumento, as amostras seguintes vimentos recentes têm p e r m i t i d o a identificação, por espectrome-
devem ser obtidas após duas a quatro semanas, tria de massa, de compostos de alto peso molecular ( M W ) ,
independentemente do nível absoluto." i n c l u i n d o proteínas e ácidos nucléicos. As novas tecnologias de
• Se for feito algum tratamento, as mudanças dos valores ionização f o r a m reconhecidas pelo Prêmio N o b e l de Q u í m i c a em
do marcador devem refletir a progressão clínica da 2002. Estes avanços levaram a investigações usando a tecnologia
doença. "Doença progressiva é definida por u m para o diagnóstico o u o prognóstico de câncer, ou para a desco-
aumento do nível do marcador de pelo menos 2 5 % . A berta de novos biomarcadores de câncer. E m uma abordagem,
amostragem deve ser repetida dentro de duas a quatro soro o u outros fluidos de pacientes c o m câncer o u de controles
semanas para a evidência adicional. O intervalo da são tratados c o m várias superfícies absorventes, tais como chips de
amostragem durante a terapia pode depender do t i p o troca tônica, hidrofóbicos ou de ligação ao metal. Após lavagem,
de t u m o r e deve ser relacionada ao acompanhamento para retirada do excesso de proteínas, os chips são sujeitos à análise
clínico." de espectrometria de massa usando o método M A L D 1 (ionização/
• U m a d i m i n u i ç ã o do valor do marcador de pelo menos dessorção por laser de matriz assistida) ou S E L D I (ionização/des-
5 0 % é indicativo de remissão parcial " c o m o conceito sorção por laser realçado de superfície)-TOF (espectrometria de
de que a carga t u m o r a l está relacionada a mudanças nos massa por tempo de vôo). Esta análise gera muitos picos de diver-
níveis séricos do marcador de t u m o r . " O grupo de sas razões massa/carga. C o m p a r a n d o esses padrões proteómicos
trabalho t a m b é m estabeleceu u m parecer geral de que c o m os padrões obtidos a partir de amostras de indivíduos saudá-
" u m a remissão completa não pode ser determinada por veis, e usando métodos de bioinformática e computacionais sofis-
níveis d o marcador, mas se os níveis estiverem elevados, ticados, alguns pesquisadores t ê m tentado identificar padrões que
a determinação clínica da remissão completa baseada estejam associados ao câncer. Esta abordagem tem sido estudada
nos métodos convencionais deve ser considerada para o diagnóstico de cânceres de ovário, próstata, bexiga e muitos
incorreta a menos que seja dada uma explicação sobre o outros. 3 As sensibilidades e especificidades diagnosticas descritas
nível elevado." desta tecnologia são impressionantes e superam aquelas obtidas
usando-se os biomarcadores de câncer atuais. N o entanto, este
ORIENTAÇÕES CLÍNICAS método não foi ainda avaliado prospectivamente, e muitas des-
O diagnóstico e o estadiamento do câncer envolvem muitas vantagens desta tecnologia t ê m sido identificadas. 5
ferramentas, i n c l u i n d o exame físico, imagem e estudos laborato- A mesma tecnologia e os mesmos princípios estão t a m b é m
riais. A aplicação dessas ferramentas t e m resultado em m u i t o s sendo usados para identificar novos biomarcadores de câncer.
marcadores tumorais que são usados para rastreamento, diagnós- A t é o m o m e n t o , muitas moléculas têm sido identificadas e estão
tico, estadiamento e prognóstico, e para direcionar os tipos de sob investigação para o uso clínico.
tratamento. Entretanto, n e m todos ns marcadores de t u m o r são
apropriados para todos os usos, e n e m todos os cânceres têm Microarranjos
marcadores estabelecidos. Dessa forma, cada t i p o de câncer e U m m i c r o a r r a n j o é u m pequeno pedaço de silicone, plástico ou
cada marcador t u m o r a l devem ser corretamente avaliados para vidro, em que foi produzido, sobre a superfície, u m arranjo bidi-
uso, e os médicos devem ser instruídos sobre o uso correto dos mensional, estruturado, de compartimentos que são acessados
marcadores para conservar os recursos. por suas posições no arranjo. Estes compartimentos p o d e m
M u i t o s grupos internacionais têm liberado orientações sobre conter D N A , R N A , proteínas, anticorpos o u pequenos pedaços
a seleção e o uso de marcadores tumorais na clínica. Estes grupos de tecido. Microarranjos de oligonucleotídeos pequenos imobili-
incluem a N a t i o n a l Academy o f Clinicai Biochemistry ( N A C B ) , o zados (p. ex., os chips da A f f y m e t r í x ) , c D N A s de vários genes,
European G r o u p o n T u m o r Markers ( E G T M ) , a A m e r i c a n Câncer proteínas e anticorpos t ê m sido construídos. 6 Alguns chips contêm
Society (ACS), a A m e r i c a n Society for Clinicai Oncology (ASCO), mais de 20.000 a 40.000 elementos e, conseqüentemente, possi-
e outros."3'12 Todos estes grupos são compostos por especialistas nas b i l i t a m a análise ampla do genoma em concentrações pequenas
áreas avaliadas, e muitos dos critérios são usados para consolidar de ácido ribonucléico mensageiro ( m R N A ) e proteína. As aplica-
as recomendações, i n c l u i n d o o nível de evidência do marcador ções de microarranjos i n c l u e m avaliação quantitativa de expres-
tumoral (níveis I a V, com o nível I sendo dos ensaios clínicos são gênica, detecção de mutações e polimorfismos, seqúencia-
múltiplos aleatoriamente b e m desenhados e controlados) e o mento de D N A e estudo de expressão de proteínas e de intera-
sistema de graduação de utilidade do marcador ( T M U G S ) 3 . A ções proteína-proteina. Algumas aplicações usam métodos semi-
Tabela 20-3 resume as recomendações de muitos desses grupos. auto matizados.
Estes dispositivos são t a m b é m usados para descobrir novos
METODOLOGIA ANALÍTICA candidatos a biomarcadores. U s a n d o a análise de microarranjo
Os marcadores tumorais são medidos por uma variedade de de perfis de expressão gênica de tecidos tumorais e normais,
técnicas analíticas, i n c l u i n d o ensaio enzimático (Capítulos 9 e genes altamente superexpressos são identificados, Os genes iden-
19); imunoensaio (Capítulo 10); ensaio de receptor e técnicas tificados são então avaliados para uso como biomarcadores
instrumentais, tais como cromatografia (Capítulo 7); eletroforese potenciais de câncer.
(Capítulo 6); espectrometria de massa conectada a cromatógrafos U m a outra aplicação de microarranjos é na classificação de
de l í q u i d o o u gás (Capítulo 8) e microarranjos (Capítulo 17). Os cânceres baseada em seus perfis de expressão gênica. Existem
detalhes dessas técnicas são encontrados nos capítulos indicados. agora inúmeros exemplos de pesquisa de subclassificação de cân-
A q u i discutiremos mais minuciosamente sobre o uso de espec- ceres de mama, ovário, próstata, cérebro, hematológicos e outros,
trometria e microarranjos para a análise de marcadores tumorais usando esta tecnologia. Para o câncer de mama, análise de micro-
protéicos e genéticos. arranjo de tecidos pode estratificar pacientes de acordo com o
prognóstico, e estas análises p o d e m ajudar na seleção de trata-
Espectrometria de Massa mento adjuvante. V a n de V i j v e r e colaboradores mostraram que
A espectrometria de massa de moléculas pequenas tem sido usada u m n ú m e r o relativamente pequeno de genes (cerca de 70) pode
no laboratório clínico por mais de 40 anos. Entretanto, desenvol- ser usado para classificar pacientes em grupos de alto e baixo
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 353

TABELA 20-3 Resuma das Recomendações dos Principais Guias


Tipo de Câncer NACB ASCO ACS EGTM

Mama ER e PR em todos os cárceres. Uso de rotina de CA 15-3 ou CA Nenhum Receptores de esteróide no tecido
CA 15-3/CA 27.29 para o 27.29 sozinhos não é prediz resposta à hormonoterapia;
monitoramento de doença recomendado CEA e uma proteína relacionada ao
avançada Aumento de CA 15-3 ou CA gene MUC1 no soro para
27.29 pode ser usado para prognóstico, seguimento e
sugerir falha do tratamento. monitoramento de tratamento
Uso de rotina de CEA não é HER-2/neu no tecido para predição da
recomendado. ER e PR resposta a herceptina
determinados para lesões (trastuzumab) em pacientes com
primárias. Uso de receptores doença avançada
de hormônio esteróide para
selecionar pacientes para
tratamento endócrino.
Superexpressão ou
amplificação de HER-2/neu
(c-ErbB-2) podem ser usadas
para selecionar pacientes
para tratamento com
t
herceptina (trastuzumab)
Ovário CA 125 como uma ajuda Nenhum Nenhum CA 125 como uma ajuda no
diagnostica e para diagnóstico, para monitoramento
monitoramento de de tratamento e predição precoce
tratamento de recidiva
Próstata PSA com DRE. %fPSA Orientações no caso PSA e DRE para tPSA com DRE para rastreamento
quando PSA está entre de desenvolvimento de rastreamento e (estudos), descoberta de caso ou
4 e 10 ng/mL e ORE é doença metastátioa detecção prognóstico. tPSA no seguimento e
negativa no monitoramento de tratamento
se meios adicionais de tratamento
podem ser oferecidos no caso de
elevação de tPSA. %fPSA para o
diagnóstico diferencial quando tPSA
está entre 4 e 10 ng/rnL e DRE é
negativa
Células germinativas AFP, hCG, LD para detecção Nenhum Nenhum AFP, hCG, LD e PLAP* para
e monitoramento de tumores descoberta de caso, estadiamento,
testiculares. AFP é diagnóstico prognóstico, seguimento e
para NSGCT monitoramento de tratamento. AFP
é diagnóstico para NSGCT
Cólon CEA para monitoramento CEA para prognóstico, detecção Nenhum CEA para descoberta de caso,
de tratamento de recidiva e monitoramento prognóstico, seguimento e
de tratamento monitoramento de tratamento
Neuroendócrino Catecolaminas urinárias, VMA, Nenhum Nenhum Nenhum
HVA como indicadores
para feocrcmocitoma e
neuroblastoma. Calcitonina
para carcinoma medular
de tireóide
Mieloma Eletroforese de proteína sérica Nenhum Nenhum Nenhum
de M estreita (spike M)
Pulmão Nenhum Nenhum Nenhum NSE no diagnóstico diferencial.
CYFRA 21-1, CEA e/ou NSA para
seguimento e monitoramento de
tratamento

Modificado de Diamandij EP TwmoT majkeTs• past, present, and future. In: Duínmridts EP, Frrtscfie HA, Liia H, Chan DW, Schuwrtj: MK. Twmor matkers: pfvjíioíogj, paihobiologj,
tecfinoíogj, and clinicai application. Wasíiington, DC: AACC PTÊSÍ, 2002:57.
NACB, National Academy of Clinicai Biochemíscrj; A S C O , American Sociecy of Clínica! Qncoloffl; ACS, American Câncer Societ-j; E G T M , Eitropean Group on Tumor MarJceTí;
tPAS, PSA totílí; fPSA, PSA livre-, N S G C T , tumores de células germiti-a ti nas não seminúmas.
"Nenhum" indica que o grupo relevante ainda não considerou este tipo de câncer.
*Vosfaiase alcalina plac&mãria (PLAP) é para o monitoramento de seminomas em não-fumantes apenas
354 PARTE IV Analitos

risco. A t é j u n h o de 2003, este m é t o d o foi aplicado c l i n i c a m e n t e isoenzima d o fígado é t e r m i c a m e n t e mais estável d o que a isoen-
para selecionar pacientes c o m câncer de m a m a para q u i m i o t e r a - zima de osso ( C a p í t u l o 19, para u m a discussão mais detalhada).
pia adjuvante. Outras doenças malignas, tais c o m o leucemia, sarcoma e l i n f o m a ,
A aplicação de microarranjos para a classificação e o prognós- complicadas c o m i n f i l t r a ç ã o hepática, p o d e m t a m b é m mostrar
tico de. câncer e para a descoberta de novos biomarcadores é relati- atividades elevadas de A L P .
vamente nova. Este m é t o d o t e m o potencial para revolucionar o A fosfatase alcalina placentdria (PLAP) é sintetizada pelo tre-
prognóstico d o câncer e a predição de tratamento pelo uso de chips foblasto e é elevada n o soro de mulheres grávidas. P L A P f o i pri-
c o m este objetivo. Entretanto, é necessária a padronização futura. m e i r a m e n t e identificada c o m o a isoenzima Regan, e m 1968, p o r
F i s h m a n e colaboradores, e f o i reconhecida c o m o u m dos p r i m e i -
ENZIMAS ros marcadores t u m o r a i s associados ao desenvolvimento junta-
As enzimas f o r a m u m dos p r i m e i r o s grupos de marcadores t u m o - mente c o m A F P e C E A . A P L A P é elevada e m u m a variedade de
rais i d e n t i f i c a d o s . Suas atividades elevadas f o r a m usadas para doenças malignas, i n c l u i n d o cânceres de ovário, p u l m ã o , trofo-
i n d i c a r a presença de vários tipos de câncer. A m e d i d a de ativi- blástico e gastrointestinal, s e m i n o m a e doença de H o d g k i n .
dade enzimática é relativamente fácil usando-se d e t e r m i n a ç ã o
espectrofotométrica, e, c o m a i n t r o d u ç ã o de i m u n o e n s a i o , o Lactato Desidrogenase
c o n t e ú d o de enzima p o d e ser m e d i d o c o m o u m a massa de antí- A lactato desidrogenase ( L D ) é u m a enzima d a via glicolítica e é
geno protéico e m vez de sua atividade catalítica. liberada c o m o resultado de d a n o celular. A elevação de L D n o
C o m poucas exceções, u m a u m e n t o da atividade o u d a massa câncer é p a r t i c u l a r m e n t e n ã o específica. Ela t e m sido demons-
de u m a enzima o u isoenzima não é específico o u sensível o bas- trada e m u m a variedade de cânceres - i n c l u i n d o fígado, l i n f o m a
tante para ser usado para i d e n t i f i c a r o t i p o de câncer o u o n ã o - H o d g k i n , l i n f o m a , leucemia aguda, câncer de testículo de
e n v o l v i m e n t o de u m órgão específico. U m a exceção para isto é célula g e r m i n a t i v a não s e m i n o m a t o s o , s e m i n o m a , neuroblas-
o PSA, que é expresso p o r glândulas prostáticas n o r m a i s , benig- t o m a e o u t r o s carcinomas, tais c o m o de m a m a , cólon, estômago
nas, hiperplásicas e cancerosas c m i n i m a m e n t e p o r o u t r o s tecidos. e p u l m ã o . T e m sido m o s t r a d o que a L D sérica se correlaciona
A t é a i n t r o d u ç ã o de PSA c o m o u m m a r c a d o r d o câncer de prós- c o m a massa t u m o r a l e m tumores sólidos e fornece u m i n d i c a d o r
tata, as enzimas de t u m o r t i n h a m p e r d i d o m u i t o de sua popula- p r o g n ó s t i c o paTa a progressão da doença. E n t r e t a n t o , sua i m p o r -
r i d a d e para uso c o m o marcadores de câncer. As enzimas f o r a m tância n o m o n i t o r a m e n t o d o t r a t a m e n t o é p a r t i c u l a r m e n t e l i m i -
h i s t o r i c a m e n t e usadas c o m o marcadores t u m o r a i s antes da des- tada. As diversas isoenzimas f o r n e c e m apenas especificidade
coberta de antígenos oncofetais e o advento de a n t i c o r p o s m o n o - m a r g i n a l d o e n v o l v i m e n t o de órgão. Por exemplo, a elevação da
clonais. A s anormalidades de enzimas c o m o marcadores de isoenzima L D 5 está associada a metástases de fígado A elevação
câncer são a expressão da f o r m a fetal da enzima (isoenzima) o u de L D 5 n o f l u i d o espinal t a m b é m pode ser u m a indicação
a p r o d u ç ã o ectópica de enzimas. precoce de metástases d o sistema nervoso central.
As enzimas estão presentes em concentrações m u i t o maiores
d e n t r o da célula e são liberadas na circulação sistêmica c o m o Enolase Neurônio-específica
resultado de necrose t u m o r a l ou de u m a m u d a n ç a na permeabi- A enolase é u m a enzima glicolítica t a m b é m conhecida c o m o
lidade da m e m b r a n a das células malignas. As atividades aumen- f o s f o p i r u v a t o bidratase. A enolase neurônio-específica (NSE) é a
tadas de enzimas são t a m b é m observadas n o b l o q u e i o de duetos f o r m a de enolase e n c o n t r a d a n o tecido n e u r o n a l e e m células d o
pancreáticos o u biliares e na i n s u f i c i ê n c i a renal. A localização sistema n e u r o e n d ó c r i n o d i f u s o e n o tecido d e absorção e descar-
i n t r a c e l u l a r da enzima p o d e t a m b é m d e t e r m i n a r a taxa da libe- boxilação de a m i n a ( A P U D ) . A N S E é e n c o n t r a d a em tumores
ração. Q u a n d o as enzimas são liberadas n a circulação sistêmica, associados à o r i g e m n e u r o e n d ó c r i n a , i n c l u i n d o câncer de p u l m ã o
a rnetástase dos tumores p o d e ter o c o r r i d o . A m a i o r i a das enzimas de célula pequena ( S C L C ) , n e u r o b l a s t o m a , f e o c r o m o c i t o m a , car-
n ã o é ú n i c a para u m órgão específico. A s s i m , as enzimas sãu mais cínóide, c a r c i n o m a m e d u l a r da tireóide, m e l a n o m a e t u m o r e s
adequadas c o m o marcadores t u m o r a i s n ã o específicos; entre- e n d ó c r i n o s pancreáticos.
t a n t o , as atividades elevadas de enzimas p o d e m sinalizar a pre- A concentração de N S E sérica p o d e ser m e d i d a por r a d i o i m u -
sença de m a l i g n i d a d e . A s isoenzimas e as f o r m a s m ú l t i p l a s de noensaio (RIA), ensaio de imunoadsorção enzimática ( E L I S A ) o u
enzimas p o d e m fornecer especificidade a d i c i o n a l de órgão. i m u n o e n s a i o enzimático automatizado (EIA). E m pacientes c o m
S C L C , é relatado que a sensibilidade é de 8 0 % . A especificidade
Fosfatase Alcalina é de pelo menos 8 0 % a 9 0 % . As concentrações de N S E parecem
A fosfatase alcalina (ALP) p o d e se o r i g i n a r d o fígado, d o osso o u se correlacionar c o m o estadiamento e fornecer u m prognóstico
da placenta; n o e n t a n t o , a A L P d o soro de adultos n o r m a i s se ú t i l para a progressão da doença. A i m p o r t â n c i a da N S E na detec-
o r i g i n a p r i n c i p a l m e n t e d o fígado o u d o t r a t o biliar. A t i v i d a d e s ção de recidiva da doença não f o i provada. E m b o r a as descobertas
elevadas de A L P são vistas n o câncer p r i m á r i o o u secundário de sejam confusas, a N S E t a m b é m parece ser ú t i l n o m o n i t o r a m e n t o
fígado. A A L P p o d e ser ú t i l na avaliação de câncer metastático da q u i m i o t e r a p i a e se correlaciona ao estado da doença. A u m e n t o s
c o m e n v o l v i m e n t o de osso o u fígado. As maiores elevações são transitórios são observados q u a n d o ocorre a hse do t u m o r . A
observadas e m pacientes c o m lesões osteoblásticas, tais c o m o e m imunocoloração d o tecido t u m o r a l para N S E pode t a m b é m ajudar
câncer de próstata c o m rnetástase óssea. Elevações m í n i m a s são a distinguir a S C L C de outros tipos histológicos de carcinoma.
vistas e m pacientes c o m lesões osteolíticas, tais c o m o câncer de T e m sido relatado que mais de 9 0 % das crianças c o m neuro-
m a m a c o m rnetástase óssea. blastoma avançado t ê m concentrações elevadas de N S E sérica.
Q u a n d o usada para a avaliação dc rnetástase de fígado, a As concentrações de N S E parecem se correlacionar c o m o esta-
atividade de A L P sérica mostra u m a m e l h o r correlação c o m a d i a m e n t o da doença, e as concentrações altas de N S E estão
extensão d o e n v o l v i m e n t o d o fígado d o que o u t r o s testes de associadas a prognóstico r u i m . O m o n i t o r a m e n t o d o t r a t a m e n t o
funções hepáticas. Para diferenciar a o r i g e m de atividades de A L P c o m N S E sérica é controverso, p a r t i c u l a r m e n t e c o m respeito ao
elevadas, outras enzimas hepáticas p o d e m ser analisadas, tais aspecto de especificidade. E n t r e t a n t o , as concentrações elevadas
c o m o 5'-nucleotidase o u y - g l u t a m i l transferase. A determinação de N S E em crianças c o m n e u r o b l a s t o m a estágio I V f o r a m asso-
de isoenzimas de A L P pode fornecer especificidade a d i c i o n a l . A ciadas a u m p i o r resultado.
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 355

Fosfatase Ácida Prostática Por causa desta meia-vida relativamente longa, 2 a 3 semanas
O uso clínico da fosfatase ácida prostática (PAP) t e m sido subs- podem ser necessárias para o PSA sérico retornar às concentrações
t i t u í d o pelo de PSA. A PAP não é tão sensível quanto o PSA para basais após certos procedimentos, i n c l u i n d o biópsia transretal,
o rastreamento o u para a detecção de câncer precoce. E menos ultra-sonografia transretal, ressecção transuretral da próstata e
provável que ela esteja elevada em B P H em comparação com o prostatectomia radical. Prostatite e retenção urinária aguda podem
PSA; n o entanto, não se obtém n e n h u m a informação mediu- também elevar a concentração de PSA E m b o r a o exame retal
do-se PAP quando o PSA está disponível. A t u a l m e n t e , o m é t o d o digital não tenha efeitos clinicamente importantes nas concentra-
preferencial para PAP é a medida de sua atividade enzimática. ções de PSA sérico na maioria dos pacientes, em alguns ele pode
levar a uma elevação de duas vezes.
Antígeno Prostático Específico Parece existir variação fisiológica significante de concentra-
O PSA é atualmente u m dos marcadores tumorais disponíveis ções de PSA sérico (até 30%). É relatado que o PSA sérico é
mais promissores. Ele é u m dos poucos marcadores órgão-especí- reduzido em 18% após u m paciente ter sido hospitalizado por
fico. O câncer de próstata é o câncer mais incidente em homens 24 horas. A razão para esta redução não é conhecida. Pode ser
mais velhos, e quando detectado precocemente (confinado ao porque, nesse caso, os pacientes estejam sedentários (p. ex., per-
órgão) é potencialmente curável por prostatectomia radical. Por- maneçam na posição deitada de barriga para cima) ou c o m a
tanto, a detecção precoce é i m p o r t a n t e para homens com u m a atividade sexual suspensa. Talvez seja u m a boa prática coletar
expectativa de vida de pelo menos 10 anos. Para uma atualização amostras de soro de pacientes no ambulatório.
da aplicação clínica de PSA, veja Freedland e Partin. 5
PSA Não-prostático
Bioquímica Originalmente, os pesquisadores pensaram que PSA era apenas
O PSA é uma glicoproteína de cadeia única de 237 resíduos de expresso n o tecido prostático. Entretanto, os estudos mostraram
aminoácidos e quatro cadeias laterais de carboidrato. Ele tem que PSA é t a m b é m expresso e m inúmeros tecidos, a maioria
peso molecular ( M W ) de 28.430. As ligações de carboidratos deles notavelmente regulada por h o r m ô n i o s . Esta descoberta não
ocorrem nos aminoácidos 45 (asparagina), 69 (serina), 70 (treo- é surpreendente porque o p r o m o t o r do gene de PSA contém três
nina) e 71 (serina). O p o n t o isoelétrico de PSA varia de 6,8 a 7,2 elementos de resposta a andrógeno e pode ser ativado por andró-
devido a suas várias isoformas. genos, progestinas e glucocorticóides. A presença de PSA n o
O gene de PSA, K L K 3 , está localizado no cromossomo tecido mamário está relacionada à positividade de receptor de
19ql3.42. Ele é similar ao gene da cahcreína-1. c o m 8 2 % de progesterona e estrógeno e se correlaciona c o m u m prognóstico
homologia. Funcionalmente, PSA é u m a serina protease da favorável, mas surpreendentemente com resistência ao trata-
família da calicreína. 8 Ele é produzido exclusivamente pelas m e n t o com tamoxifen. Encontrou-se que a positividade de PSA
células epiteliais dos ácinos e duetos da glândula prostática. O está significativamente associada a tumores menores, positivi-
PSA é secretado no l ú m e n d o dueto prostático e no f l u i d o dade de receptores de esteróides, celularidade baixa, tumores
seminal. Ele cliva uma proteína específica da vesícula seminal em diplóides, baixa fração de fase S, doença menos avançada e sobre-
diversas proteínas de baixo peso molecular como parte do pro- vivência mais longa. O PSA t a m b é m tem sido m e d i d o em f l u i d o
cesso de liquefação do coágulo seminal. Portanto, o PSA possui aspirado do m a m i l o (NAF) c o m o uma ferramenta possível para
atividade similar às de q u i m i o t r i p s i n a e de tripsina. A autodiges- avaliação de risco ao câncer de mama. Mulheres sem fatores de
tão de PSA tem sido descrita em três possíveis localizações - Lys risco tiveram PSA relativamente alto no N A F , e mulheres com
148, Lys 185 e A r g 85. A adição de inibidores de protease pode câncer de mama tiveram medidas de PSA no N A F em geral mais
ser i m p o r t a n t e para evitar a auto-hidrólise de PSA em solução. baixas.

Formas Moleculares do Antígeno Prostático Aplicações Clínicas


Específico O PSA é usado para rastrear, estadiar e m o n i t o r a r o tratamento
O PSA existe tanto livre como complexado na circulação sanguí- e a recidiva de câncer de próstata.
nea. A maior parte do PSA está complexada com o i n i b i d o r de
protease a v - a n t i q u i m i o t r i p s i n a (ACT) ( M W 100.000) o u com Detecção Precoce do Câncer de Próstata
a r m a c r o g l o b u l i n a ( A M G ) . U m componente m i n o r i t á r i o é o PSA O teste de PSA por si só não é efetivo para o rastreamento ou
livre (fPSA, M W 28.430). A maioria dos imunoensaios mede para a detecção de câncer de próstata precoce, porque o PSA é
t a n t o PSA livre como P C A complexado c o m A C T , mas n e n h u m específico para o tecido prostático, mas não para o câncer pros-
PSA complexado c o m A M G . N o f l u i d o seminal h u m a n o , o PSA tático. A B P H é u m a doença c o m u m em homens de 50 anos ou
pode ser fracionado em cinco isoformas. P S A A e PSA-B são mais. Estudos têm mostrado que os valores de PSA em pacientes
enzimas ativas, intactas, capazes de formar complexos c o m A C T . com B P H são similares, ainda que estatisticamente diferentes
PSA-C, - D e -E são formas cortadas com ligações dissulfeto cliva- daqueles associados ao câncer prostático precoce (ou seja, os de
das; elas possuem baixa ou n e n h u m a atividade enzimática. As pacientes com câncer confinado ao órgão) Infelizmente, a sobre-
formas inativas de fPSA são compostas por três formas molecu- posição de valores de PSA entre estes dois grupos é tão extensa
lares distintas - bPSA, pPSA e iPSA. O bPSA no tecido está que selecionar u m valor de corte ó t i m o de PSA, 4 ou 10 p g / L ,
geralmente localizado na zona de transição da próstata e contri- é quase impassível. O uso de PSA sérico j u n t a m e n t e com o
b u i para o fPSA em soro de paciente com B P H . O pPSA está exame retal digital seguido de ultra-sonografia transretal fornece
localizado na zona periférica da próstata e c o n t r i b u i para o fPSA u m diagnóstico mais preciso e sensível do que apenas o exame
em soro de paciente com câncer. digital.
A sensibilidade clínica de PSA no valor de corte de 4,0 p g / L
Propriedades Fisiológicas é 78%. A o reduzir o valor de corte para 2,8 p g / L , a sensibilidade
A taxa de depuração metabólica de PSA segue u m modelo de dois aumenta para 92%, enquanto a especificidade d i m i n u i de 3 3 %
compartimentos com meias-vidas iniciais de 1,2 e 0,75 horas para para 23%. Elevar o valor de corte para 8 Hg/L. melhora a especi-
PSA livre e PSA total e meias^idas subsequentes de 22 e 33 horas. ficidade para 9 0 % , mas d i m i n u i a sensibilidade. Pela análise
35G PARTE IV Analitos

R O C (Figura 20-1), o PSA é u m p r e d i t o r m e l h o r d o q u e a PAP pacientes c o m PSA elevado estão associadas a estágios mais avan-
para o diagnóstico de câncer de próstata e tem, p o r t a n t o , substi- çados. E n t r e t a n t o , o teste de PSA não é s u f i c i e n t e m e n t e conf i ável
t u í d o a PAP. para d e t e r m i n a r o estadiamento em base i n d i v i d u a l .
Para a u m e n t a r a possibilidade do teste de PSA de detectar o T a m b é m f o i observado q u e o PSA se correlaciona c o m está-
câncer de próstata i n i c i a l , várias abordagens são seguidas. U m a gios patológicos de extensão do t u m o r e rnetástase. Estágios
abordagem usa intervalos de referência ajustados p o r idade: 0 a patológicos avançados estão associados a maiores concentrações
2,5 lÀg/L para h o m e n s c o m idade entre 4 0 e 49 anos, 0 a 3,5 de PSA n o soro. Pacientes c o m doença c o n f i n a d a ao órgão
| i g / L , para os de 5 0 a 59 anos, 0 a 4,5 [ I g / L , para os de 6 0 a 69 r a r a m e n t e t ê m u m a concentração de PSA m a i o r que 5 0 | i g / L ,
anos, e 0 a 6,5 |-ig/L, para os de 7 0 a 79 anos. A o reduzir o l i m i t e s u g e r i n d o que pacientes c o m concentrações iguais o u maiores
superior d o i n t e r v a l o de referência, mais câncer será detectado q u e 5 0 H g / L t ê m mais p r o b a b i l i d a d e de ter extensão de t u m o r
e m h o m e n s mais jovens, para q u e m u m a cura p o t e n c i a l por extracapsular. C o m o o c o r r e sobreposição significativa dos
prostatectomia radical é mais benéfica. U m a o u t r a abo rdagem valores de PSA entre os estágios, o PSA não p o d e ser usado para
usa a densidade de PSA ( o u seja, a concentração de PSA d i v i d i d a d e t e r m i n a r o estágio p a t o l ó g i c o em u m d a d o i n d i v í d u o . Por-
pelo v o l u m e prostático c o n f o r m e d e t e r m i n a d o p o r ultra-sonogra- t a n t o , o PSA por si só não p o d e ser usado para d e c i d i r se u m
fia transretal). Pacientes c o m PSA entre 4 e 10 p.g/L, u m resul- paciente t e m câncer de próstata c o n f i n a d o ao órgão e, assim, se
tado negativo n o exame retal d i g i t a l e densidade de PSA elevada é u m provável c a n d i d a t o para a p r o s t a t e c t o m i a radical. A con-
t ê m risco a u m e n t a d o de câncer de próstata. A terceira abordagem centração de PSA p o d e servÍT c o m o u m guia e é mais ú t i l para
usa velocidade de PSA - a taxa de a u m e n t o de PSA c o m o u m a a avaliação de presença de rnetástase. Pacientes c o m concentra-
f u n ç ã o do t e m p o . A p ó s estabelecer u m a concentração basal de ções de P S A menores que 2 0 f i g / L r a r a m e n t e t ê m rnetástase
PSA em cada paciente, a taxa de a u m e n t o de PSA é e n t ã o calcu- óssea. Estudos t ê m m o s t r a d o que o PSA p o d e s u b s t i t u i r a c i n t i -
lada. O a u m e n t o de PSA e m pacientes saudáveis, c o m B P H e lografia óssea em pacientes c o m câncer de próstata recentemente
câncer de próstata parece ser diferente, c o m a m a i o r taxa (>0,75 diagnosticados e não tratados, q u e t ê m u m a concentração sérica
M g / l V a n o ) observada e m pacientes c o m câncer de próstata. A de PSA baixa ( m e n o r que 10 (Jg/L) e não t ê m sintomas relacio-
especificidade m e l h o r a para 9 0 % para B P H , e a sensibilidade é nados ao sistema esquelético.
7 2 % para câncer de próstata.
U m estudo de 1996 da velocidade de f P S A e n c o n t r o u que o Monitoramento do Tratamento
fPSA percentual é o marcador sérico mais precoce para predizer O uso c l í n i c o mais i m p o r t a n t e de PSA é o m o n i t o r a m e n t o do
diagnóstico subseqüente de câncer de próstata. O f P S A percen- t r a t a m e n t o d e f i n i t i v o de câncer próstata, Este t r a t a m e n t o i n c l u i
t u a l t e m sido usado para m e l h o r a r a sensibilidade e a especifici- prostatectomia radical, r a d i o t e r a p i a e terapia a n t i a n d r ó g e n o .
dade na detecção d o câncer de próstata, p a r t i c u l a r m e n t e em T a m b é m t e m sido sugerido q u e o PSA desempenha u m a f u n ç ã o
pacientes na zona diagnostica "cinza" de PSA entre 4 e 10 n g / L na progressão do t u m o r .
o u 2 e 20 n g / L . T e m sido relatado que o ProPSA (pPSA) é PrOStâtBCtOfTtiâ RsdiCât. Esta cirurgia remove t o d o o tecido
m e l h o r do que f P S A na detecção de câncer de próstata c o m PSA prostático. C o m o o PSA é p r o d u z i d o quase que exclusivamente
t o t a l na faixa de 2,5 e 4,0 Jig/L. O PSA complexado (cPSA) pelo tecido prostático, após a p r o s t a t e c t o m i a radical a concentra-
m o s t r o u especificidade m e l h o r em relação ao PSA t o t a l para a ção de PSA deve cair abaixo d o l i m i t e de detecção do ensaio. Isto
detecção de câncer de próstata em u m ensaio c l í n i c o m u l t i c ê n - p o d e requerer 2 a 3 semanas devido à meia-vida de 2 a 3 dias do
tricô. PSA. Se a meia-vida é mais longa do que o n o r m a l , deve-se
A l é m das abordagens descritas a n t e r i o r m e n t e , m u i t o s algorit- assumir que t u m o r residual está presente. Por exemplo, W a l s h e
mos usando PSA e o u t r o s analitos t ê m sido desenvolvidos para colaboradores relataram u m estudo a l o n g o prazo de 297 h o m e n s
a u m e n t a r a sensibilidade de detecção de câncer de próstata. Eles que f o r a m acompanhados p o r 1 a 13 anos após p r o s t a t e c t o m i a
i n c l u e m o uso de regressão logística e redes neurais artificiais, radical (Tabela 20-4). Para os 180 pacientes c o m câncer c o n f i n a d o
que não são discutidos aqui. ao órgão, somente 11 ( 6 % ) apresentaram concentrações de PSA
elevadas (>0,5 p g / L ) . Três desses pacientes tiveram recidiva docu-
Estadiamento da Câncer de Próstata mentada, e n q u a n t o os o u t r o s o i t o não t i n h a m evidência de
O PSA se correlaciona c o m estágios clínicos de câncer de prós- câncer. A freqüência de concentrações elevadas de PSA aumen-
tata; maiores concentrações de PSA e maiores percentagens de t o u c o m o avanço d o estágio patológico. D o grupo i n t e i r o , 12%

TABELA 20-4 A n t í g e n o Prostático Específico e Estado d o T u m o r e m 297 H o m e n s A c o m p a n h a d o s por 1 a 13 A n o s A p ó s


Prostatectomia Radical

NÍVEL PÓS-OPERATÓRIO DE P S A
>0,5 ng/L

Estágio Patológica <0,5 ng/L NED" NED Recidiva" <%)

Confinada ao órgão 169 8 3 6


Penetração capsular 51 3 10 20
Envolvimento da vesícula seminal 9 10 9 68
Linianodos positivos 4 15 6 84
Total 233 36 28

De Walsh PC, Oesterling ]E, Efisíeín ]i, et al. The value of prosmuspecifíc antigen in t T n a n a g e m e n t of Iccalizcd prosiate canal. Jn: Murphy G, Khowry 5, eds
[rrogrcss in urológica! câncer. New Yotk: Alan R Liss Inc, 1989:27-33-
* Nenhuma evidência da doença.
Recidiva local e/ou doença metas tática.
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 357

t m h a m concentrações elevadas de PSA sem evidência de recidiva. ficados como equimolares, se eles se ligam igualmente a fPSA e
M u i t o provavelmente estes pacientes t i n h a m doença residual. cPSA, e não equimolares, se eles se ligam diferentemente a fPSA
Todos os pacientes com recidiva de câncer tinham concentrações ou cPSA. Exemplos de ensaios equimolares são o ensaio de PSA
elevadas de PSA. ACCESS Hybritech (Beckman Coulter, Brea, Calif) e o ensaio
A medida de PSA é recomendada a cada 3 meses durante o imunométrico T O S O H N e x I A (que usa os mesmos anticorpos
primeiro ano após cirurgia, a cada 4 meses no segundo ano, e a que o ensaio Access). A Organização M u n d i a l de Saúde, a Fede-
cada 6 meses após esse período. O l i m i t e m í n i m o clínico de u m ração Internacional de Química Clínica e o National C o m m i t t e e
PSA elevado varia com cada instituição em uma faixa de 0,1 e for Clinicai Laboratory Standards têm desenvolvido duas prepa-
0,3 |Ug/L. O limite m í n i m o clínico será afetado pela sensibilidade rações internacionais para facilitar a tentativa de padronizar os
analítica do teste e a variação biológica do PSA sérico. E m qual- ensaios de PSA: 100% de PSA livre (código 96/686) e 90% do
quer caso, uma concentração de PSA crescente após prostatecto- complexo PSA-ACT e 10% de PSA livre (código 96/700).
mia radical é uma forte indicação de recidiva da doença. Sinais
clínicos de recidiva aparecem 1 a 5 anos após a elevação da con- Ensaios Ultra-Sensíveis
centração de PSA. Os ensaios de PSA ultra-sensíveis t ê m limites de detecção de 0,01
Radioterapia. A função do PSA no monitoramento de pacien- a 0,001 |-ig/L, que são significativamente menores do que os dos
tes após radioterapia definitiva é bem menos definida quando ensaios de PSA tradicionais. O principal uso do PSA ultra-sensí-
comparada c o m a função após prostatectomia radical. A maioria vel é a detecção de câncer de próstata residual após prostatecto-
dos pacientes mostra uma redução inicial de concentração de mia. Após prostatectomia radical, as concentrações circulantes de
PSA após radioterapia. PSA é melhor do que o exame retal digital PSA são extremamente baixas; 8 0 % dos pacientes têm u m PSA
para detectar câncer residual após radioterapia. mais baixo do que 0,01 p g / L , e 20% têm u m PSA abaixo de
Terapia Antiandrógeno. A terapia antiandrógeno i n c l u i orquiec- 0,001 f-ig/L. U m aumento de PSA pós-prostatectomia está asso-
tomia bilateral e tratamento com análogos1 de h o r m ô n i o libera- ciado à recidiva da doença. Métodos de PSA de rotma não
dor de h o r m ô n i o luteinizante, dietilestilbestrol e flutamida. O podem detectar u m aumento de PSA até que ele atinja cerca de
teste de PSA é ú t i l para predizer prognóstico e m o n i t o r a m e n t o 0,1 p g / L ; no entanto, métodos ultra-sensíveis podem detectar u m
de resposta ao tratamento a este tipo de terapia nos pacientes aumento m u i t o antes do métodos tradicionais (1 a 2 anos).
com câncer de próstata estágio D2. A concentração de PSA é Os métodos ultra-sensíveis também são úteis para medir PSA
inversamente proporcional ao tempo de sobrevivência e aumenta em mulheres porque as concentrações normais de PSA em
com a progressão do câncer, d i m i n u i na remissão e permanece mulheres são iguais ou menores que 0,01 (Jg/L. U m PSA aumen-
inalterada na doença estável. O PSA poderia substituir a cintilo- tado em mulheres é observado durante a gTavidez e em pacientes
grafia óssea para o m o n i t o r a m e n t o de pacientes com doença com câncer de mama.
avançada.
O tratamento com privação de andrógeno pode ter u m efeito Sistema Ativador de Plasminogênio do Tipo
direto na concentração de PSA, que é independente do efeito Uroquinase
antitumoral, porque a produção de PSA está sob a influência de O sistema ativador de plasminogênio do tipo uroquinase consiste
hormônios, tais como diidrotestosterona. Portanto, as concentra- em três componentes principais, o ativador do plasminogênio do
ções de PSA em pacientes que recebem terapia antiandrógeno tipo uroquinase (uPA, uma serina protease de 53 kDa), o receptor
podem ter u m significado diferente do que em pacientes rece- de uPA ligado à membrana (uPAR) e os inibidores do ativador
bendo outros tipos de terapias. do plasminogênio, PAI-1 e PAI-2. O uPA é produzido como u m
único polipeptídeo inativo, que é ativado por clivagem. A cliva-
Progressão do Tumor gem é catalisada por muitas proteases, incluindo catepsinas B e
Também tem sido sugerido que o PSA desempenha u m a função L e calicreína glandular humana 2. A forma ativa de uPA consiste
na progressão do tumor. O PSA digere as proteínas de matriz em uma cadeia A , que interage c o m seu receptor de superfície
extracelular l a m i n i n a e fibronectina, o que pode promover metás- celular (uPAR), e uma cadeia B cataliticamente ativa. A atividade
tase. O PSA também digere a proteína-3 de ligação ao fator de mais perfeitamente caracterizada de uPA é a conversão de plas-
crescimento similar à insulina (IGFBP-3), aumentando a concen- minogênio em plasmina ativa, que degrada os componentes da
tração local de fatores de crescimento similares à insulina, que matriz extracelular (ECM) e ativa as metaloproteinases da matriz
também podem promover crescimento tumoral. (MMPs), que posteriormente degradam a E C M e ativam e liberam
fatores de crescimento específicos [fator de crescimento de fibro-
Metodologia Analítica blastos (FGF)2 e fator de crescimento transformante (TGF)-p). A
Ensaios tradicionais e ultra-sensíveis estão disponíveis para medir atividade de uPA é controlada in vivo por duas moléculas inibi-
PSA. doras, PAI-1 e PAI-2. Elas não só amam como inibidores de uPA,
mas também t ê m muitas outras funções, i n c l u i n d o angiogênese,
Ensaios Tradicionais adesão e migração celular e inibição de apoptose.
Imunoensaios comerciais são usados para medir PSA. A maioria
deles usa sondas não isotópicas, tais como enzima, fluorescência Aplicações Clinicas
ou quimioluminescência. A maioria desses ensaios é automati- O uPA tem sido estudado como u m marcador de prognóstico
zada em u m sistema de imunoensaio. Diferentes análises e até para o câncer de mama e muitos outros cânceres, mas ainda não
mesmo a mesma análise com lotes distintos de reagentes podem está em uso ativo.
produzir resultados diferentes. As razões para tais diferenças são
devidas a alterações na calibração do ensaio, variação do lote, Câncer de Mama
tempo de reação do ensaio, matrizes de reagentes, sensibilidade O uPA foi a primeira protease envolvida em metástase avaliada
do ensaio e imprecisão. Os anticorpos reagem c o m diferentes quanto ao valor prognóstico em seres humanos Pelo menos 20
epítopos de PSA; assim, alguns deles reagem de forma diferente grupos independentes têm demonstrado que pacientes com
com as várias formas moleculares de PSA. Os ensaios são classi- câncer de mama com atividade alta de uPA em seus tumores
358 PARTE IV Analitos

p r i m á r i o s têm u m prognóstico livre de doença p i o r do que os ( C B ) é u m a protease d e p e n d e n t e de t i o l , n o r m a l m e n t e encon-


pacientes c o m atividade baixa de u P A . O impacto prognóstico de trada nos lisossomos, e é ativada pela catepsina D ( C D ) e pelas
uPA parece ser i n d e p e n d e n t e de outros marcadores usados tradi- M M P s de matriz. A C B ativada pode, na seqüência, ativar uPA
cionalmente, tais c o m o estado dos n ó d u l o s axilares, t a m a n h o do e M M P s específicas. A catepsina L ( C L ) t e m especificidade s i m i l a r
t u m o r , grau e estado do receptor de estrógeno (ER). N a maioria à de C B . A catepsina D , c o m o C B , é u m a protease lisossõmica;
dos estudos, o uPA é u m p r e d i t o r mais potente da sobrevivência e n t r e t a n t o , C D pertence ao g r u p o das aspartil proteases.
geral do que o t a m a n h o do t u m o r , grau ou estado de ER, e tão A expressão e a localização de C B parecem estar alteradas em
poderoso q u a n t o o estado nodal. Os pacientes que mais se bene- tumores c o m relação ao tecido n o r m a l . E m tecido t u m o r a l , C B
f i c i a r i a m da m e d i d a de u P A seriam aqueles recém-diagnosticados p o d e estai associada à m e m b r a n a plasmática o u sei secieLada.
c o m n ó d u l o s locais histologicamente negativos. A sobrevivência a Expressão a u m e n t a d a tem sido d e m o n s t r a d a em t u m o r e s de
l o n g o prazo deste g r u p o é 7 0 % a 8 0 % c o m apenas terapia local, m a m a , colorretal, gástrico, de p u l m ã o e de próstata, carcinomas,
e n e n h u m o u t r o benefício é ganho c o m q u i m i o t e r a p i a adjuvante. gliomas, melanomas e osteoclastomas, sugerindo u m a ligação
O uPA pode ser capas de detectar o pequeno n ú m e r o de pacien- c o m o desenvolvimento d o t u m o r , progressão, ou ambos. Loca-
tes sob m a i o r risco de doença recorrente e de p o u p a r os pacientes lização alterada de C B t a m b é m t e m sido vista em vários tecidos
curados de q u i m i o t e r a p i a desnecessária. t u m o r a i s , tais c o m o carcinomas de c ó l o n , cânceres de t i reói de,
PAI-1 t a m b é m t e m sido associado à progressão de câncer de gliomas e tumores epiteliais de m a m a . Pensa-se que estas expres-
mama. Paradoxalmente, concentrações elevadas de PAI-1 se cor- são e localização alteradas estejam envolvidas em invasão de
r e l a c i o n a m c o m doença mais agressiva. Isto parece ser devido ao tecido através de degradação da E C M e p r o m o ç ã o de cresci-
e n v o l v i m e n t o de PAI-1 na angiogênese e na i n i b i ç ã o de apoptose mento.
ao c o n t r á r i o da i n i b i ç ã o de uPA. Recentemente u m estudo pros-
pectivo de 674 pacientes c o m câncer de m a m a nódulo-negativo Aplicações Clínicas
d e m o n s t r o u que mulheres c o m altas concentrações de uPA, PAI-1, A m a i o r i a dos dados relativos ao valor prognóstico de C D é em
o u ambos, t ê m u m p e r í o d o livre de doença n o t a v e l m e n t e mais relação ao câncer de m a m a ; e n t r e t a n t o , sua u t i l i d a d e e m carci-
c u r t o d o que aquelas c o m concentrações baixas de ambas as n o m a de células escamosas ( S C C ) de cabeça e pescoço, carci-
proteínas. A evidência pata o uso prognóstico de u P A e PAI-1 n o m a hepatocelular e a d e n o c a r c i n o m a gástrico t e m sido investi-
deve p e r m i t i r que estes marcadores e n t r e m n o uso de r o t i n a da gada em poucos estudos. U m relato c o n t e n d o 2.810 pacientes
avaliação de câncer de m a m a . Recentemente, as revisões e os c o m câncer de m a m a m o s t r o u que t u m o r e s c o m C D alta tiveram
estudos de metanálise sugerem que u P A e PAl-1 estão p r o n t o s u m a sobrevivência livre de recidiva p i o r d o que aqueles c o m
para uso c o m o marcadores de prognósticos de câncer de m a m a baixas concentrações de C D . N o e n t a n t o , em S C C e outros
na clinica. cânceres, são necessários estudos posteriores para d e t e r m i n a r a
u t i l i d a d e prognóstica de C D c o m o u m marcador indepen-
Outros C á r c e r e s dente.
O u P A t a m b é m t e m d e m o n s t r a d o sua u t i l i d a d e c o m o u m mar- O uso de C L c o m o u m i n d i c a d o r de prognóstico t e m sido
cador de p r o g n ó s t i c o e m câncer colorretal. F o i observado que mais b e m estudado e m câncer de mama. A m a i o r i a dos estudos
u P A é u m m a r c a d o r de conseqüência da doença em pacientes m e d i u C L a p a r t i r de extratos de t u m o r e c o r r e l a c i o n a r a m altas
c o m invasão t u m o r a l , mas estado n o d a l negativo (estágio D u k e s concentrações de C L c o m u m a redução de sobrevivência livre de
B). T a m b é m se observou que altas concentrações de u P A se recidiva. C L parece ser u m m a r c a d o r de p r o g n ó s t i c o indepen-
c o r r e l a c i o n a m c o m doença agressiva e m cânceres gástrico e eso- dente t a n t o e m câncer de m a m a nódulo-negativo c o m o em
fágico. Estudos preliminares t ê m a p o n t a d o u P A c o m o u m mar- n ó d u l o - p o s i t i v o , especialmente q u a n d o c o m b i n a d o s c o m outros
cador de prognóstico em cânceres de ovário, renal, hepatocelular, marcadores de prognóstico, tais c o m o C B , C D , estado n o d a l e
pancreático, u r i n á r i o e de bexiga, gliomas e adenocarcinoma de estado de receptor de h o r m ô n i o esteróide.
p u l m ã o e cervical. P o r t a n t o , u P A p o d e f u n c i o n a r c o m o u m mar-
cador de p r o g n ó s t i c o geral e m câncer. Metodologia Analítica
A s concentrações de catepsina são geralmente medidas em extra-
Métodos Analíticos tos de tecido p o r R I A o u E L I S A o u d i r e t a m e n t e nos tecidos p o r
O ensaio o r i g i n a l desenvolvido para uPA mede sua atividade imunoistoquímica.
catalítica. Este ensaio t e m sido substituído pelo E L I S A , e m u i t o s
kits de pesquisa t ê m sido desenvolvidos para detecção de u P A e Metaloproteinases de Matriz
PAI-1 e m tecido t u m o r a l . G e r a l m e n t e , concentrações aumenta- As M M P s são u m a f a m í l i a de 23 endopeptidases dependentes de
das de u P A , PAI-1, o u ambos, i n d i c a m u m prognóstico r u i m . zinco, e s t r u t u r a l m e n t e relacionadas, capazes de degradar compo-
Concentrações de u P A abaixo de 3 n g / m g de t e c i d o t o t a l e de nentes da E C M (para maiores informações, ver referência 3). A
PAI-1 abaixo de 14 n g / m g de tecido total t ê m u m p r o g n ó s t i c o m a i o r i a das M M P s é secretada c o m o u m zimogênio, e a ativação
n o t a v e l m e n t e m e l h o r . A m a i o r i a dos estudos m o s t r a n d o u m envolve a remoção de u m d o m í n i o a m i n o t e r m i n a l de 10 k D a
valor prognóstico de u P A t e m usado E L I S A para detecção; entre- U m a vez na f o r m a ativa, sua atividade proteolítica é i n i b i d a p o r
t a n t o , alguns f o r a m feitos usando i m u n o i s t o q u í m i c a , que é mais i n i b i d o r e s teciduais conhecidos c o m o i n i b i d o r e s teciduais de
fácil e requer menos tecido, mas a interpretação é subjetiva e metaloproteinases ( T I M P s ) . A s M M P s t ê m sido f u n c i o n a l m e n t e
apenas semi quantitativ a. agrupadas em quatro subgrupos c o m base em sua especificidade
na E C M : colagenases, gelatmases, estromelismas e M M P s de
Catepsinas membrana.
As catepsinas são proteases lisossômicas, e as catepsinas B, D e As M M P s estão envolvidas e m m u i t a s funções, i n c l u i n d o
L t ê m sido investigadas q u a n t o às suas funções n o desenvolvi- r e m o d e l a g e m do tecido e cicatrização de feridas; ent ret ant o, elas
m e n t o e na progressão do t u m o r . C o m o outras proteases, as t a m b é m t ê m sido associadas ao crescimento do t u m o r , invasão e
catepsinas são sintetizadas c o m o precursores de alto peso mole- rnetástase. Expressão a u m e n t a d a t e m sido associada à agressivi-
cular que r e q u e r e m processamento para ativação. A catepsina B dade do t u m o r e a u m p i o r p r o g n ó s t i c o .
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 359

As M M P s p o d e m ser usadas n o f u t u r o c o m o preditores de rais estão listados na Tabela 20-5. A C T H , c a l c i t o n i n a e gonado-


recidiva o u risco m e tas tático. Elevadas concentrações séricas pré- t r o f i n a c o r i ô n i c a h u m a n a ( h C G ) são discutidas mais detalhada-
operatórias de M M P - 2 o u M M P - 3 são pteditivas de recidiva e m m e n t e a seguir.
pacientes c o m c a r c i n o m a u r o t e l i a l avançado. A l é m disso, altas
concentrações de M M P - 2 e m células de t u m o r ovariano p o d e m Hormônio Adrenocorticotrófico
predizer recidiva de t u m o r . A expressão de certas M M P s é predi- O A C T H é u m h o r m ô n i o p o l i p e p t í d e o c o m 39 a m i n o á c i d o s e
tiva de risco metastático. Por exemplo, a expressão de M M P - 1 está u m P M de 4-500, que é p r o d u z i d o pelas células corticotróficas
associada à metástase em l i n f o n o d o s nas metástases cervical e da glândula p i t u i t á r i a a n t e r i o r ( C a p í t u l o 39). E m 1928, f o i des-
p e r i t o n e a l n o câncer gástrico. A i n i b i ç ã o de M M P p o d e ser u m a crito u m paciente c o m c a r c i n o m a de célula pequena d o p u l m ã o
estratégia terapêutica para o câncer. que t i n h a os sinais e sintomas do q u e agora é sabido ser excesso
de cortisol. U m p e q u e n o n ú m e r o desses carcinomas p o d e pro-
HORMÔNIOS duzir p r o - A C T H , o precursor de A C T H . Este precursor t e m u m
Os h o r m ô n i o s t ê m sido reconhecidos c o m o marcadores t u m o r a i s M W de 22.000, u m a b i o a t i v i d a d e de 5 % , e a m a i o r parte da
por mais de 50 anos. A i n t r o d u ç ã o de métodos de R I A de espe- i m u n o a t i v i d a d e de A C T H . O R I A t r a d i c i o n a l mede t a n t o o
cíficos para u m h o r m ô n i o em p a r t i c u l a r que tenha m u i t a pouca precursor q u a n t o o h o r m ô n i o . Concentrações séricas elevadas de
reatividade cruzada c o m h o r m ô n i o s similares possibilita m o n i t o - A C T H p o d e m ser resultado da p r o d u ç ã o da p i t u i t á r i a o u ectó-
rar o t r a t a m e n t o de pacientes c o m câncer. pica. U m a concentração alta de A C T H (>200 n g / L ) é sugestiva
C o m a i n t r o d u ç ã o e o uso de a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s , a de o r i g e m ectópica. Falha do teste de supressão de dexametasona
m e d i d a de h o r m ô n i o s é agora acurada e precisa. A p r o d u ç ã o de é t a m b é m i n d i c a t i v a de p r o d u ç ã o ectópica. Cerca da metade da
h o r m ô n i o s n o câncer envolve duas rotas separadas. P r i m e i r o , o p r o d u ç ã o ectópica de A C T H é resultado de c a r c i n o m a de célula
tecido e n d ó c r i n o , que n o r m a l m e n t e o expressa, p o d e p r o d u z i r pequena do p u l m ã o . Outras doenças que elevam as concentra-
quantidades excessivas do h o r m ô n i o . Segundo, u m h o r m ô n i o ções de A C T H t ê m sido relatadas, i n c l u i n d o cânceres pancreá-
p o d e ser p r o d u z i d o e m u m lugar distante por u m tecido não tico, de mama, gástrico e de c ó l o n , e doenças benignas, tais c o m o
e n d ó c r i n o , que n o r m a l m e n t e n ã o o p r o d u z . A ú l t i m a c o n d i ç ã o doença p u l m o n a r obstrutiva crônica, depressão m e n t a l , obesi-
é chamada s í n d r o m e ectópica. Por exemplo, a p r o d u ç ã o de hor- dade, hipertensão, diabetes meííitus e estresse. O valor de A C T H
m ô n i o a d r e n o c o r t i c o t r ó f i c o ( A C T H ) é n o r m o t ó p i c a pela pituitá- n o m o n i t o r a m e n t o do t r a t a m e n t o ainda é desconhecido.
ria e é ectópica pela célula pequena do p u l m ã o . Conseqüente-
mente, a elevação de u m d a d o h o r m ô n i o não c o n s t i t u i diagnós- Calcitonina
t i c o de u m t u m o r específico p o r q u e u m h o r m ô n i o p o d e ser A c a l c i t o n i n a é u m p o l i p e p t í d e o c o m 32 aminoácidos, tem u m
p r o d u z i d o p o r u m a variedade de cânceres. M W de cerca de 3.400, e é p r o d u z i d a pelas células C da tireóide.
As síndromes de neoplasia e n d ó c r i n a m ú l t i p l a ( M E N ) (MEN-1, N o r m a l m e n t e , a calcitonina é secretada em resposta ao cálcio
M E N - 2 A e M E N - 2 B ) são exemplos de cânceres e n d ó c r i n o s fami- sérico a u m e n t a d o . Ela i n i b e a liberação de cálcio do osso e, por-
liares, que são herdados e m u m padrão autossômico d o m i n a n t e . tanto, reduz a concentração de cálcio sérico. A meia-vida sérica é
A s í n d r o m e se manifesta p o r t u m o r e s se o r i g i n a n d o de vários de cerca de 12 m i n u t o s . A concentração sérica em i n d i v í d u o s
tecidos n e u r o e n d ó c r i n o s A P U D . Estes tecidos sintetizam m u i t o s saudáveis é m e n o r que 0,1 M-g/L, e u m a concentração elevada está
h o r m ô n i o s polipeptídeos, tais c o m o A C T H , calcitonina, gas- geralmente associada ao carcinoma m e d u l a r da tireóide.
t r i n a , glucagon, i n s u l i n a , h o r m ô n i o melanócito-estimulante, A c a l c i t o n i n a é mais ú t i l na detecção de c a r c i n o m a m e d u l a r
secretina e p o l i p e p t í d e o i n t e s t i n a l vasoativo. A f r e q ü ê n c i a da f a m i l i a r da t i r e ó i d e ( F M T C ) , u m a doença autossômica d o m i -
p r o d u ç ã o h o r m o n a l se correlaciona c o m o grau da relação nante. M e m b r o s assintomáticos da f a m í l i a de pacientes afetados
e m b r i o l ó g i c a da o r i g e m do cânceT c o m o u t r o s tecidos do sistema se b e n e f i c i a m do rastreamento c o m t o m o g r a f i a c o m p u t a d o r i z a d a
A P U D . O gene M E N - 1 codifica m e n i n a e está localizado e m p o r q u e as concentrações basais de c a l c i t o n i n a são elevadas nestas
l l q l 3 . O c a r c i n o m a m e d u l a r de tireóide ( M T C ) , que é parte de pessoas. Teste provocativo c o m administração intravenosa de
M E N - 2 , t e m sido mapeado na localização cromossômica 10q 11.2. cálcio e pentagastrina t a m b é m p r o d u z concentrações aumenta-
Exemplos de h o r m ô n i o s que são usados c o m o marcadores t u mo- das de c a l c i t o n i n a . Câncer m i c r o s c ó p i c o o u o c u l t o t e m sido
detectado em pacientes que apresentam varredura radioisotópica
negativa e glândulas da tireóide n o r m a i s n o exame físico.
A s concentrações de c a l c i t o n i n a parecem se correlacionar
TABELA 20-5 H o r m ô n i o s c o m o Marcadores Tumorais c o m tais indicadores de extensão da doença, c o m o v o l u m e do
t u m o r e e n v o l v i m e n t o d o t u m o r e m metástases local e distante.
Hormônio Tipo de Câncer
A c a l c i t o n i n a é ú t i l para o m o n i t o r a m e n t o d o t r a t a m e n t o e a
ACTH Síndrome de Cushíng, pulmão (células detecção de recidiva da doença.
pequenas) A s concentrações de c a l c i t o n i n a são t a m b é m elevadas em
Hormônio antidiurética Pulmão (células pequenas), córtex alguns pacientes c o m c a r c i n ó i d e e câncer de p u l m ã o , mama, r i m
adrenal, pancreático, duodenal e fígado. A u t i l i d a d e da c a l c i t o n i n a c o m o u m marcador t u m o r a l
Bombesina Pulmão (células pequenas) nestas malignidades não f o i provada. A elevação de c a l c i t o n i n a
Calcitonina Medular de tireóide t e m sido relatada e m outras doenças não-malignas, tais c o m o
Gastrina Glucagonoma doença p u l m o n a r , pancreatite, h i p e r p a r a t i r e o i d i s m o , anemia
Hormônio de crescimento Adenoma pituitário, renal, pulmão perniciosa e doença de Paget do osso, e na gravidez.
hCG Embrionário, coriocarcinoma, testicular
(não seminomas)
Gonadotrofina Coriônica Humana
Lactogènio placentárlo humano Trofoblástico, gônadas, pulmão, mama
Concentrações elevadas de h C G são vistas na gravidez, doenças
Neurotisinas Pulmão (células pequenas)
tro fobias ti cas e tumores de células germinativas. A h C G t a m b é m
Hormônio paratireóide Fígado, renal, mama, pulmão, vários
é u m marcador ú t i l para tumores da placenta (tumores trofoblás-
Prolactlna Adenoma pituitário, renal, pulmão
Peptídeo intestinal vasoativo Pâncreas, broncogênlco,
ticos) e alguns tumores dos testículos. C o m o d i s c u t i d o n o Capí-
teocromocitoma, neurablastoma t u l o 43, ela t a m b é m é ú t i l para diagnóstico e m o n i t o r a m e n t o da
gravidez.
360 PARTE IV Analitos

Bioquímica detectar recidiva O l i m i t e de detecção d o ensaio é i m p o r t a n t e


A h C G é u m a glicoproteína de 45 k D a secretada pelas células p o r q u e q u a l q u e r atividade de h C G residual p o d e i n d i c a r a pre-
sinciciotrofoblásticas da placenta n o r m a l . Ela consiste e m duas sença de u m t u m o r . A especificidade d o ensaio para a subuni-
subunidades diferentes a e p. A s u b u n i d a d e a é c o m u m a vários dade p de h C G t a m b é m é u m fator i m p o r t a n t e p o r q u e níveis
outros h o r m ô n i o s : h o r m ô n i o l u t e i n i z a n t e ( L H ) , h o r m ô n i o folí- baixos de reatividade cruzada c o m L H o u F S H p o d e m causar
culo-estimulante (FSH) e h o r m ô n i o e s t i m u l a n t e da t i r e ó i d e resultados falso-positivos e teste o u t r a t a m e n t o adicionais i n a p r o -
( T S H ) . A s u b u n i d a d e P é ú n i c a para h C G , e os 28 a 3 0 a m i n o - priados.
ácidos que c o m p õ e m o t e r m i n a l c a r b o x i l são antigenicamente
distintos. O l i m i t e de referência s u p e r i o r em h o m e n s e mulheres Metodologia Analítica
não-grávidas é 5,0 U I / L . A dosagem de h C G sérica m e l h o r o u m u i t o nos anos de 1970. A
As produções das subunidades a e P de h C G estão sob con- especificidade d o ensaio m e l h o r o u c o m o uso de u m a n t i c o r p o
trole genético d i s t i n t o . N o i n í c i o da gravidez, a s u b u n i d a d e p contra a s u b u n i d a d e p de h C G c o m pouca reatividade cruzada
l i v r e é p r o d u z i d a j u n t a m e n t e c o m h C G intacta (molécula inteira). c o m outros h o r m ô n i o s glicoprotéicos, L H , F S H e T S H . A t u a l -
N o f i n a l da gravidez, p r e d o m i n a a s u b u n i d a d e a livre. A p r o d u - mente, a m a i o r i a das análises de h C G usa u m f o r m a t o i m u n o -
ção diferencial das subunidades t e m sido observada e m pacientes m é t r i c o ("sanduíche"). O ensaio de h C G m e d e a m o l é c u l a intacta
c o m câncer; entretanto, o n ú m e r o de pacientes que p r o d u z e m (inteira) q u a n d o u m a n t i c o r p o c o n t r a a s u b u n i d a d e a e u m
apenas a s u b u n i d a d e livre é relativamente p e q u e n o . A m a i o r i a a n t i c o r p o c o n t r a a s u b u n i d a d e P são usados n o f o r m a t o i m u n o -
dos pacientes c o m câncer p r o d u z subunidades p livres e molécu- m é t r i c o . Este t i p o de ensaio n ã o mede subunidades a e p livres
las intactas. p o r q u e as subunidades livres n ã o p o d e m f o r m a r u m sanduíche
c o m ambos os anticorpos. A análise de P - h C G t o t a l mede t a n t o
Aplicações Clínicas o h C G i n t a c t o q u a n t o as subunidades p livres. C o m o m a r c a d o r
A h C G é elevada em quase todos os pacientes c o m tumores t u m o r a l , prefeTe-se o ensaio de p - h C G t o t a l p o r q u e os pacientes
trofoblásticos ( M m i l h ã o U I / L ) , e m 7 0 % dos pacientes c o m c o m câncer p r o d u z e m quantidades notáveis da s u b u n i d a d e P
t u m o r e s cle testículo nao-seminomatoso, e m e n o s freqüente- livre. N e n h u m dos ensaios de h C G disponíveis c o m e r c i a l m e n t e
m e n t e nos pacientes c o m s e m i n o m a . Percentagens menores de foi aprovado pela F o o d and D r u g A d m i n i s c r a t i o n ( F D A ) para uso
elevação t ê m sido relatadas e m casos de m e l a n o m a e carcinomas c o m o ensaio de marcador t u m o r a l . A n t i c o r p o h e t e r ó f i l o ,
de m a m a , t r a t o gastrointestinal, p u l m ã o e ovário, e e m doenças incluindo anticorpo anticamundongo h u m a n o ( H A M A ) , pode
benignas, tais c o m o cirrose, úlcera d u o d e n a l e doença i n f l a m a - causar falso-positivos c o m o explicado n o C a p í t u l o 10. Testar
tória intestinal. A h C G t a m b é m é ú t i l , j u n t o c o m AFP, n a iden- h C G na u r i n a pode ajudar a diferenciar doenças trofoblásticas a
tificação de pacientes c o m t u m o r e s de testículo não-seminoma- p a r t i r de interferência n o ensaio.
coso. As concentrações de h C G se c o r r e l a c i o n a m c o m o v o l u m e
d o t u m o r e o p r o g n ó s t i c o da doença. A presença de h C G n o
s e m i n o m a p o d e i n d i c a r a presença de c o r i o c a r c i n o m a . C o m o a ANTÍGENOS ONCOFETAIS
h C G n ã o atravessa a barreira hematoencefálica, a razão n o r m a l A n t í g e n o s oncofetais são proteínas produzidas d u r a n t e a v i d a
entre o l í q u i d o cerebrospinal (CSF) e o soro é 1:60. A l t a s con- fetal. Estas proteínas estão presentes e m alta concentração nos
centrações n o C S F p o d e m i n d i c a r rnetástase n o cérebro. A l é m soros de fetos e d i m i n u e m para concentrações baixas o u desapa-
disso, a resposta à terapia de pacientes c o m rnetástase n o sistema recem após nascimento. E m pacientes c o m câncer, estas proteí-
nervoso central p o d e ser i n d i c a d a pelo m o n i t o r a m e n t o da con- nas reaparecem. A p r o d u ç ã o delas d e m o n s t r a que certos genes
centração de h C G n o CSF. são reativados c o m o resultado da transformação maligna das
A h C G é mais ú t i l para m o n i t o r a r o t r a t a m e n t o e a progres- células.
são de doença trofoblástica q u a n d o suas concentrações se c o r r e A descoberta dos antígenos oncofctais A F P e C E A nos anos
l a c i o n a m c o m o v o l u m e d o t u m o r . E m casos de pacientes c o m de 1960 revolucioncfu a era m o d e r n a dos marcadores t u m o r a i s .
h C G i n i c i a l m a i o r que 4 0 0 . 0 0 0 U I / L , é considerado u m alto A A F P f o i p r i m e i r a m e n t e e n c o n t r a d a n o soro de c a m u n d o n g o s
risco de falha d o t r a t a m e n t o . A p ó s remoção cirúrgica d o t u m o r , c o m câncer de fígado e p o s t e r i o r m e n t e e m soros de seres h u m a n o s
espera-se q u e a h C G d i m i n u a . A meia-vida n o r m a l da h C G sérica c o m c a r c i n o m a hepatocelular. O C E A f o i descoberto e m 1965
é de 12 a 2 0 horas. D i m i n u i ç ã o lenta o u concentrações persis- per G o l d e F r e e m a n e f o i c o n h e c i d o i n i c i a l m e n t e c o m o o "antí-
tentes de h C G sugerem a presença de doença residual. D u r a n t e geno de o u r o " ("Gold antigen"). A n t í g e n o s oncofetais que t e n h a m
a q u i m i o t e r a p i a , recomenda-se m e d i d a semanal de h C G . A p ó s sido usados c o m o marcadores t u m o r a i s , i n c l u i n d o A F P e C E A ,
se atingir a remissão, recomenda-se m e d i d a a n u a l de h C G para estão listados na Tabela 20-6.

TABELA 2 0 - 6 A n t í g e n o s Oncofetais c o m o Marcadores T u m o r a i s

Nome Natureza Tipo de Câncer

AFP Glicoproteína, 70 kDa, 4% de CHO Hepatocelular, células germinativas (não seminoma)


Antígeno p-oncofetal 80 kDa Cólon
Ferritina carcinotetal Glicoproteína, 600 kDa Fígado
CEA Glicoproteína, 22 kDa, 50% de CHO Colorretal, gastrointestinal, pancreático, pulmão, mama
Oncofetal pancreática Glicoproteína, 40 kDa Pancreático
Antígeno de célula escamosa Glicoproteína, 40-48 kDa Cervical, pulmão, pele, cabeça e pescoço (escamoso)
Aníigeno Tennessee Glicoproteína, 100 kDa Cólon, gastrointestinal, bexiga
Antígeno polipeptídico tecidual Citoqueratinas 8,18,19 Vários (mama, colorretal, ovariano, bexiga)

C H O , CarboidraLa.
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 361

Alfa-Fetoproteína concentrações de A F P em pacientes considerados livres de t u m o r


A AFP é u m marcador de carcinoma hepatocelular e de célula metastático pode indicar o desenvolvimento de metástase.
germinativa (não-seminoma). A combinação de A F P e h C G é usada para classificar e esta-
diar tumores de célula germinativa. Estes tumores p o d e m ser
Bioquímica predominantemente de u m tipo de célula ou p o d e m ser uma
A AFP é uma glicoproteína com uma massa molecular de 70 k D a . mistura de seminoma, saco v i t e l i n o , elementos coriocarcinoma-
Ela consiste em uma única cadeia polipeptídica, e aproximada- tosos (carcinoma embrionário) ou teratoma. A A F P é elevada em
mente 5% é carboidrato. AFP é sintetizada em grandes quanti- tumores do saco vitelino, enquanto h C G é elevada em coriocar-
dades durante o desenvolvimento e m b r i o n á r i o pelo saco v i t e l i n o cinoma. Ambas são elevadas n o carcinoma embrionário. E m
fetal e fígado. Ela é uma das principais proteínas na circulação seminomas, a A F P não é elevada, enquanto a h C G é elevada em
fetal, mas sua concentração máxima é cerca de 10% a de albu- 10% a 3 0 % dos pacientes que t ê m células sinciciotrofoblásticas
mina. A A F P é i n t i m a m e n t e relacionada genética e estrutural- no tumor. N e n h u m marcador é elevado em teratomas. U m o u
mente à albumina, tendo homologias extensas nas seqüências de ambos os marcadores são elevados em cerca de 9 0 % dos pacien-
aminoácido. A medida que a síntese de albumina aumenta tes c o m t u m o r de testículo não-seminomatoso. As elevações
durante o desenvolvimento fetal tardio, as concentrações de AFP foram encontradas em menos de 2 0 % dos pacientes com doença
no soro fetal começam a cair. Elas finalmente atingem as concen- no estágio I, 5 0 % a 8 0 % com doença no estágio II, e 9 0 % a 100 %
trações-traço encontradas em adultos normais 18 meses após o com doença n o estágio I I I . Estes marcadores se correlacionam
nascimento. com o volume do t u m o r e o prognóstico da doença.
O uso combinado de ambos os marcadores também é ú t i l no
Aplicações Clínicas m o n i t o r a m e n t o de pacientes com tumores de célula germinativa.
A concentração de AFP sérica é normalmente m e n o r que 10 A elevação do marcador indica recidiva da doença o u desenvol-
p g / L em adultos saudáveis. D u r a n t e a gravidez, as concentrações v i m e n t o de metástase. O sucesso da quimioterapia pode ser ava-
de A F P materna aumentam a partir de 12 semanas de gestação liado calculando-se a d i m i n u i ç ã o das concentrações de ambos os
até u m pico de cerca de 500 p.g/L durante o terceiro trimestre. A marcadores usando as meias-vidas de A F P (5 dias) e h C G (12 a
A F P fetal atinge u m pico de 2 g / L em 14 semanas e, então, cai a 20 horas).
cerca de 70 m g / L no nascimento. O uso de AFP para detectar E m 2005, a F D A aprovou u m novo teste, AFP-L3%, para
fetos com defeitos n o tubo neural é discutido no C a p í t u l o 43. detecção de H C C baseado na capacidade do A F P de se ligar à
A l é m da gravidez, concentrações elevadas de AFP sérica também lectina aglutinina de Lens culincnis ( L C A ) . C o m base em sua afi-
estão associadas a doenças hepáticas benignas, tais como hepatite nidade de se ligar à L C A , a AFP pode ser dividida em três glico-
e cirrose. A maioria dos pacientes com estas doenças benignas formas (AFP-L1, -L2 e -L3). A AFP-L1 t e m uma baixa afinidade
(95%) t e m concentrações de A F P mais baixas que 200 p g / L . por L C A e está associada a doenças hepáticas crónicas (hepatite
Exceto em pacientes grávidas, concentrações de A F P maiores e cirrose). A AFP-L2 t e m u m a afinidade intermediária e é ampla-
que 1.000 p g / L são u m indicativo de câncer. Nessas concentra- mente derivada de tumores de saco vitelino e câncer de fígado
ções de AFP, cerca da metade dos carcinomas hepatocelulares metastático. A AFP-L3 é quase exclusivamente produzida por
( H C C s ) p o d e ser detectada. N o entanto, porque a concentração hepatócitos malignos. Ela é m e d i d a por determinação do percen-
de AFP se correlaciona com o t a m a n h o do tumor, a detecção de tual de AFP-L3 em relação à A F P total.
H C C é mais ú t i l nos estágios iniciais, q u a n d o o t u m o r é pequeno A AFP-L3% parece ser ú t i l t a n t o para o rastreamento de
o bastante para ser operável (menos que 5 cm), do que q u a n d o populações de alto risco como para estimar prognóstico. Os
o t u m o r é grande. Para detectar pequenos tumores, a concentra- pacientes de alto risco para H C C [aqueles que têm hepatite
ção de corte para A F P tem que ser ajustada a u m valor baixo; crônica por infecção por vírus B ( H B V ) ou vírus C ( H C V ) , ou
u m ponto de corte de 10 a 20 p g / L tem sido recomendado. N o cirrose] freqüentemente têm concentrações elevadas de AFP. Esta
entanto, nesta concentração, hepatite e cirrose devem ser consi- descoberta complica a detecção precoce de H C C c o m base na
deradas possíveis causas da elevação. A F P total. Concentrações elevadas de A F P - L 3 % (>10% de AFP
Rastreamento de H C C t e m sido tentado em áreas de alta total) sugere a presença de H C C . N o corte > 10%, A F P - L 3 % tem
incidência, tais como África, C h i n a , Formosa, Japão e Alasca. O a capacidade de detectar tumores pequenos (<2 cm) 9 a 12 meses
rastreamento inicial em larga escala na C h i n a , usando técnicas antes da detecção por imagem, o que aumenta a probabilidade
menos sensíveis (p. ex., aglutinação e imunodifusão, que têm de tratamento efetivo. A produção de AFP-L3 pelo t u m o r t a m b é m
valores de corte de 400 a 1.000 p g / L ) , foi capaz de detectar parece se correlacionar c o m a agressividade do t u m o r e, p o r t a n t o ,
números notáveis de novos casos deste tipo de câncer. M é t o d o s pode ajudar na predição do curso clínico. E m b o r a AFP-L3% seja
de imunoensaio mais sensíveis, c o m valores de corte de 10 a 20 ú t i l para detecção e prognóstico de H C C , pode ser usada apenas
p g / L , e ultra-sonografia têm sido usados em Formosa e Japão quando AFP é elevada.
com mais sucesso na detecção de H C C nos estágios iniciais
AFP t a m b é m é ú t i l para determinar prognóstico e n o moni- Metodologia Analítica
toramento do tratamento de H C C . A concentração de A F P é u m Sistemas de imunoensaio automatizados são usados para medir
indicador prognóstico de sobrevivência. Concentrações elevadas AFP. O limite de detecção do imunoensaio de A F P é cerca de 1
de A F P (maiores que 10 p g / L ) e concentrações de b i l i r t u b m a a 2 p g / L . A AFP-L3% é medida por u m i n s t r u m e n t o automati-
sérica maiores que 2 m g / d L estão associadas a tempo de sobre- zado (LiBASys, W a k o Chemicals U S A , Inc., R i c h m o n d , V A ) que
vivência mais curto. separa as frações de A F P por colunas de cromatografia e deter-
A concentração de A F P t a m b é m é ú t i l para m o n i t o r a r o m i n a as frações específicas de A F P usando anticorpos monoclo-
tratamento e as alterações do estado clínico. Concentrações ele- nais e detecção fluorométrica.
vadas de A F P após cirurgia p o d e m indicar remoção incompleta
do t u m o r o u a presença de metástase. Queda o u aumento de Antígeno Carcinoembrionário
concentrações de A F P após terapia p o d e m determinar o sucesso O C E A é mais ú t i l como marcador para carcinomas colorretal,
ou a falha d o sistema de tratamento. U m aumento notável de gastrointestinal, de p u l m ã o e de mama. Ele f o i descoberto por
362 PARTE IV Analitos

G o l d e Freeman, em 1965, através da imunização de coelhos com p u l m ã o (>65% dos pacientes t ê m C E A elevado) e no monitora-
extratos de tecido de câncer de cólon h u m a n o . Os anti-soros mento do câncer.
resultantes f o r a m absorvidos com extratos de cólon h u m a n o
n o r m a l . Alguns anti-soros reagiram c o m os extratos de tumor, Metodologia Analítica
mas não com os extratos de tecido normal. O antígeno, que foi Tal c o m o com a AFP, a maioria dos ensaios usa o formato de
encontrado no tecido e m b r i o n á r i o , foi d e n o m i n a d o antígeno cm- ensaio i m u n o m é t r i c o ( I M A ) para a determinação de C E A sérico.
cinoembrionáno. A n t i c o r p o s pohclonais o u monoclonais, ou uma combinação de
ambos os tipos, têm sido usados nos imunoensaios de C E A .
Bioquímica N a população saudável, o l i m i t e superior de C E A é cerca de
C E A é uma glicoproteína c o m u m a massa molecular de 150 a 3 |Ug/L para não-fumantes e 5 JJg/L paia fumantes. C o m o a
300 kDa, que contém 4 5 % a 55% de carboídrato. Ele é uma medida da concentração de C E A é dependente do método, os
única cadeia polipeptídica consistindo em 641 aminoácidos, com valores deveriam sempre ser comparados usando-se o mesmo
lisina em sua posição N - t e r m i n a l . A heterogeneidade de C E A método. N o caso de mudança de método, todos os pacientes que
pode ser demonstrada usando-se focalização isoelétrica para estão sendo monitorados deveriam ser testados em paralelo com
separar as variantes. ambos os métodos, velho e novo. A concentração de C E A é
O C E A consiste em uma grande família de glicoproteínas de elevada em alguns pacientes c o m doenças benignas, tais como
superfície celular relacionadas. As proteínas C E A são codificadas cirrose (45%), enfisema p u l m o n a r (30%), pólipos retais (5%),
por cerca de 10 genes localizados no cromossomo 19. Até 36 doença benigna de mama (15%) e colite ulcerativa (15%).
diferentes glicoproteínas f o r a m identificadas na família C E A . As
principais proteínas são C E A e o antígeno de reação cruzada não CJTOQUERATINAS
específica ( N C A ) . O d o m í n i o estrutural de C E A , N C A 5 0 , e a As citoqueratinas são u m grande grupo de aproximadamente 20
cadeia pesada da i m u n o g l o b u l i n a I g G são m u i t o parecidos. Por- proteínas que compõem os filamentos intermediários do citoes-
tanto, C E A é parte da "superfamília" do gene da imunoglobu- queleto das células epiteliais e das células de origem epitehal (para
lina. maiores informações, ver referência 3). As citoqueratinas p o d e m
ser grosseiramente divididas em dois grupos, tipo 1, menores e
Aplicações Clínicas ácidas, e tipo 2, maiores e de neutras a básicas. Os membros clini-
O C E A é elevado em uma variedade de cânceres, tais como os camente úteis desta família são o antígeno polipeptídico tecidual
carcinomas colorretal (70%), de pulmão (45%), gástrico (50%), (TPA), antígeno pohpetídeo-específico tecidual (TPS), fragmentos
de mama (40%), pancreático (55%), ovariano (25%) e u t e r i n o da citoqueratina 19 ( C Y F R A 21-1) e antígeno SCC. Apenas o
(40%). Por causa das elevações associadas à doença benigna (ou antígeno S C C (SCCA) é disponível nos Estados Unidos.
seja, resultados falso-positivos) e o n ú m e r o de tumores que não
produzem C E A (ou seja, resultados falso-negativos), o teste de Antígeno Polipeptídico Tecidual
C E A não deveria ser usado para o rastreamento A descoberta de T P A antecedeu a de A F P e C E A ; entretanto, o
Testar C E A pode ser ú t i l para auxiliar o estadiamento clínico. T P A não é u m marcador t u m o r a l específico. O T P A é produzido
Concentrações persistentemente elevadas que são 5 a 10 vezes o por células normais e cancerosas, e concentrações elevadas de
l i m i t e de referência superior sugerem fortemente a presença de T P A sérico estão relacionadas â atividade proliferativa e à reno-
câncer de cólon, mas podem estar associadas a outros cânceres. vação de células, p e r m i t i n d o que ele seja usado como u m marca-
N o câncer de cólon, as concentrações de C E A se correlacionam dor de proliferação. O T P A aumenta na gravidez e retorna ao
com o estágio da doença. O C E A é elevado em 2 8 % dos pacien- n o r m a l 5 dias após o parto Ele é t a m b é m elevado em doenças
tes com câncer colorretal estágio A de Dukes e em 4 5 % dos inflamatórias; portanto, não é ú t i l para o diagnóstico do câncer.
pacientes com estágio B. A concentração de C E A pré-tratamento N o entanto, ele pode ser ú t i l para m o n i t o r a r metástases. O T P A
é prognóstico do desenvolvimento de rnetástase, e uma concen- é mais ú t i l para m o n i t o r a r câncer de mama, em combinação com
tração alta de C E A está associada a uma maior probabilidade de C E A e C A 15-3, câncer de cólon, com C E A e C A 19-9, e câncer
desenvolver rnetástase. H á evidências de que C E A é uma molécula ovariano, c o m C A 125. O T P A é ú t i l na diferenciação entre
de adesão celular que pode potencializar invasão e rnetástase. colangiocarcinomas (nos quais a concentração de T P A é elevada)
Após a terapia inicial bem-sucedida, C E A decai. D u r a n t e a e H C C (no qual a concentração de T P A não é detectável).
remissão, C E A é estável. A elevação dos valores de C E A pode
indicar recidiva da doença. O intervalo de tempo da elevação de Antígeno Polipeptídeo-Específico Tecidual
C E A até a recorrência clínica é cerca de 5 meses. U m a laparoto- O TPS é de fato u m sítio antigênico no complexo T P A especifi-
mia repetida pode ser realizada para confirmar a recidiva, que é camente reconhecido pelo anticorpo m o n o c l o n a l M 3 . Este
detectada em 9 0 % dos casos. N o m o n i t o r a m e n t o do câncer de epítopo foi apresentado como u m marcador específico de proli-
c ó l o n metastático, o C E A é ú t i l para acompanhar pacientes feração celular, e ele é detectável n o soro usando-se u m radioi-
durante a terapia e o curso clínico da doença. munoensaio específico. O TPS parece se correlacionar com a
O C E A é t a m b é m ú t i l para m o n i t o r a r carcinomas de mama, atividade prolifera tiva de minores de pulmão, independente-
de pulmão, gástrico e pancreático. N o câncer de mama, o C E A mente da histologia e do volume do tumor, com aumento de TPS
elevado está associado à doença metastática. E n q u a n t o o câncer observado com o aumento do estágio. A l é m disso, concentrações
de mama inicial ou localizado não eleva o C E A , a doença metas- elevadas de TPS se correlacionam com u m resultado pior.
tática freqüentemente o faz, t o r n a n d o o C E A ú t i l para o m o n i -
toramento de rnetástase durante o tratamento. As elevações Fragmentos de Citoqueratina 19
ocorrem com o desenvolvimento de rnetástase óssea o u de C Y F R A 21-1 é elevado em todos os tipos de câncer de p u l m ã o ,
p u l m ã o O uso de C E A em pacientes com câncer de m a m a está embora seja mais sensível para câncer de p u l m ã o de células não
sendo substituído por outros marcadores mais específicos, tais pequenas e SCC. As concentrações de C Y F R A 21-1 se correla-
como C A 15-3. N o câncer de p u l m ã o , a determinação de C E A cionam positivamente c o m o aumento do estágio e são úteis n o
é ú t i l para diagnosticar carcinoma de células não-pequenas do m o n i t o r a m e n t o do curso da doença e no acompanhamento pós-
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 363

cirúrgico. E m u m estudo de pacientes c o m câncer de p u l m ã o de c o m o marcadores de t u m o r e t e n d e m a ser mais específicos d o


células n ã o pequenas, mostrou-se que C Y F R A 21-1 se correla- que os marcadores n a t u r a l m e n t e secretados, tais c o m o enzimas
c i o n a i n d e p e n d e n t e m e n t e c o m a d i m i n u i ç ã o da sobrevivência, o e h o r m ô n i o s . B i o q u i r n i c a m e n t e , eles são m u emas de alto peso
estado n o d a l e o estágio d o t u m o r , c o n f i r m a n d o sua u t i l i d a d e m o l e c u l a r (Tabela 20-7) o u antígenos de grupos sanguíneos
c o m o u m marcador de t u m o r de p u l m ã o . (Tabela 20-8).
Ensaios de C A 15-3, C A 5 4 9 e C A 27.29 detectam u m a
Antígeno de Carcinoma de Célula Escamosa m u c i n a glicoprotéica de alto peso m o l e c u l a r expressa pelo epité-
S C C A é u m a glicoproteína previamente d e n o m i n a d a " an tígeno l i o m a m á r i o , conhecida c o m o episialina. O antígeno episiahna
4 associado ao t u m o r " . Subtrações de S C C A f o r a m separadas p o r circulante é u m a m o l é c u l a heterogênea. Ensaios de C A 15-3, C A
focalização isoelétrica e m frações neutras e ácidas. T e m sido mos- 5 4 9 e C A 27.29 detectam epítopos similares, mas diferentes, na
trado q u e ambas as células escamosas malignas e não-malignas episialina. As p r i n c i p a i s diferenças são os a n t i c o r p o s usados para
c o n t ê m a fração n e u t r a , e n q u a n t o a fração ácida é e n c o n t r a d a a detecção.
p r i n c i p a l m e n t e e m células malignas e é a f o r m a liberada na cir-
culação.
CA 15-3
O S C C A é elevado e m u m a variedade de SCCs, i n c l u i n d o
C A 15-3 é detectado p o r u m a n t i c o r p o m o n o c l o n a l m u r í n i c o
os de cérvice, p u l m ã o , pele, cabeça, pescoço, t r a t o digestivo,
( M A b ) D F 3 p r o d u z i d o c o n t r a u m extrato e n r i q u e c i d o c o m m e m -
ovários e trato u r o g e m t a l . E m geral, a concentração de S C C A é
brana de u m câncer de m a m a h u m a n o c o m metástase para o
p r o p o r c i o n a l avanço dos estágios d o câncer. O rastreamento não
fígado. U m o u t r o a n t i c o r p o m o n o c l o n a l , 115D8, f o i desenvol-
é efetivo, visto que s o m e n t e u m a pequena porcentagem de
v i d o c o n t r a a m e m b r a n a dos glóbulos de g o r d u r a d o leite
pacientes c o m estágios iniciais de câncei mostra valores elevados
h u m a n o . O antígeno DF3-reativo circulante é u m a molécula
de S C C A . Valores elevados de S C C A pré-tratamento parecem
heterogênea c o m u m a massa m o l e c u l a r de 3 0 0 a 4 5 0 k D a . A
estar associados a u m p i o r prognóstico. O S C C A é ú t i l na detec-
clonagem de c D N A i n d i c a que a parte central d o peptídeo D F 3
ção de recorrência de câncer e n o m o n i t o r a m e n t o de t r a t a m e n t o
consiste em u m a seqüência altamente conservada de nucleotí-
e progressão da doença.
deos de 60 pares de base e m repetição i n tandem. A variabilidade
M u l h e r e s saudáveis, não grávidas, t ê m valores de S C C A
do antígeno é resultado dos n ú m e r o s diferentes de repetições na
abaixo de 1,5 [J-g/L. As concentrações de S C C A sérico p o d e m
parte central d o peptídeo. O a n t i c o r p o D F 3 reconhece u m
estar elevadas (>1,5 f.ig/L) em certas doenças benignas, i n c l u i n d o
epítopo d e n t r o desta seqüência de repetição de 20 a m i n o á c i d o s
infecção p u l m o n a r , doença de pele, insuficiência r e n a l e doença
hepática. Ele t a m b é m está presente na saliva, n o suor e e m secre- d o centro d o peptídeo. O r e c o n h e c i m e n t o d o e p í t o p o é t a m b é m
ções respiratórias. Por causa disso, máscaras devem ser usadas afetado p o r glicação.
pelo pessoal de l a b o r a t ó r i o q u a n d o estiverem analisando S S C A .
Ele é m e d i d o usando ensaio i m u n o r r a d i o m é t r i c o o u i m u n o e n - Aplicações Clínicas
saio enzimático de m i c r o p a t t í c u l a s n o analisador I m x ( A b b o t t C A 15-3 é mais ú t i l na avaliação d o câncer de m a m a , sendo
D i a g n o s t i c , Chicago). elevado em 6 9 % dos casos avançados. Ele n ã o é ú t i l n o rastrea-
m e n t o p o r q u e é elevado e m m u i t a s doenças benignas, i n c l u i n d o
MARCADORES DE CARBOIDRATO t u m o r e s ovarianos benignos, doenças benignas da mama, hepa-
M a r c a d o r e s t u m o r a i s de c a r b o i d r a t o são (1) antígenos de super- tite crônica, cirrose hepática, sarcoidose, tuberculose, lúpus eri-
fície de célula t u m o r a l o u (2) secretados pelas células t u m o r a i s . tematoso sistêmico e h i p o t i r e o i d i s m o . C A 15-3 elevado t a m b é m
T e m sido observado que estes marcadores são c l i n i c a m e n t e úteis é e n c o n t r a d o e m outras doenças malignas, c o m o cânceres pan-

TABELA 20-7 Marcadores Tumorais de M u c i n a

Nome Antígeno e Fonte Anticorpo Tipo de Câncer

CA 125 Glicoproteína, >200 kDa, 0VCA 433 0C 125 Ovário, endométrio


Episialina
CA 15-3 Glicoproteína, 400 kDa, BrCa membrana enriquecida DF3 e115D8 Mama, ovário
CA 549 Glicoproteína de alto MW BC4E549,BC4N154 Mama, ovário
CA 27.29 Glicoproteína de alto MW B27.29 Mama
MCA Glicoproteína de 350 kDa b-12 Mama, ovário
DU-PAN-2 Mucina, epítopo peptídico de 1.000 kDa DU-PAN-2 Pancreático, ovário, gastrointestinal,
pulmão

M W , Peso molecular.

TABELA 20-8 Marcadores de Câncer Relacionados a A n t í g e n o de G r u p o Sanguíneo

Nome Antígeno e Fonte Anticorpo Tipo de Câncer

CA 19-9 Le"3 sialilado, CA de cólon SW-1116 19 9 Pancreático, gastrointestinal, hepático


CA 19-5 Lea e Leaa sialilado 19-5 Gastrointestinal, pancreático, ovário
CA 50 Lea sialilado e forma afucosil C50 Pancreático, gastrointestinal, cólon
CA 72-4 Tn sialilado B27.3. cc49 Ovário, mama, gastrointestinal, cólon
CA 242 CH0 sialilado C242 Gastrointestinal, pancreático
364 PARTE IV Analitos

creático (80%), de p u l m ã o (71%), ovariano (64%), colorretal câncer de m a m a e m pacientes após t r a t a m e n t o i n i c i a l seguido
( 6 3 % ) e de fígado (28%). p o r terapia adjuvante. U m a u m e n t o do valor de C A 549 após
C A 15-3 não deve ser usado para diagnosticar câncer de u m a d i m i n u i ç ã o i n i c i a l o u estabilização i n d i c a o desenvolvi-
m a m a p r i m á r i o p o r q u e a i n c i d ê n c i a de elevação ( 2 3 % ) é clara- m e n t o de metástase. N o m o n i t o r a m e n t o de pacientes c o m câncer
m e n t e baixa. Ele é mais ú t i l n o m o n i t o r a m e n t o d o t r a t a m e n t o e de m a m a avançado, C A 549 se correlaciona c o m a progressão da
da progressão da doença em pacientes c o m câncer de m a m a doença e a regressão e ajuda a detectar metástase.
metastático. U m a alteração significativa d o valor deve ser de pelo E m u m a população de m u l h e r e s saudáveis, 9 5 % da popula-
menos 2.5% e t e m sido correlacionada c o m a progressão da ção t ê m valores de C A 5 4 9 abaixo de 11 k U / L . Gravidez e doença
doença em 9 0 % dos pacientes e c o m a regressão em 7 8 % . de m a m a b e n i g n a m o s t r a m elevação m í n i m a , e alguns pacientes
N e n h u m a m u d a n ç a correlaciona-se c o m a estabilidade da doença c o m doença hepática b e n i g n a m o s t r a m u m a leve elevação. T e m
e m 6 0 % . U m a u m e n t o paradoxal em C A 15-3 p o d e ser visto sido m o s t r a d o que C A 549 é elevado em u m a variedade de car-
naqueles que r e s p o n d e m ao t r a t a m e n t o . Provavelmente isso é cinomas metastáticos não m a m á r i o s , i n c l u i n d o os carcinomas
causado pela lise d o t u m o r e liberação de C A 15-3; p o r t a n t o , ovariano ( 5 0 % ) , de próstata ( 4 0 % ) e de p u l m ã o (33%).
deve-se t o m a r c u i d a d o ao i n t e r p r e t a r precocemente as concentra-
ções de C A 15-3 d u r a n t e o t r a t a m e n t o C A 125
O uso mais i m p o r t a n t e de C A 15-3 é n o a c o m p a n h a m e n t o C A 125 é u m a glicoproteína de massa molecular alta ( > 2 0 0 k D a )
de pacientes c o m câncer de m a m a tratados sem evidência de reconhecida pelo a n t i c o r p o m o n o c l o n a l O C 125. Ela c o n t é m
doença. U m a u m e n t o das concentrações de C A 15-3 ( > 2 5 % ) 2 4 % de carboidrato e é expresso p o r t u m o r e s ovarianos epiteliais
d u r a n t e o a c o m p a n h a m e n t o sugere recidiva, especialmente e m e outros tecidos patológicos e n o r m a i s de o r i g e m de duetos m ü l -
tecido visceral o u ósseo. O i n t e r v a l o de t e m p o varia de 1 a 11 lerianos. A função fisiológica é desconhecida.
meses; e n t r etanto, o i m p a c t o clínico do i n t e r v a l o de t e m p o é Bast e colaboradores desenvolveram o M A b O C 125 usando
desconhecido. u m a l i n h a g e m celular ( O V C A 433) de u m a paciente c o m u m
cistoadenocarcinoma papilar seroso do ovário. O clone O C 125
Metodologia Analítica f o i selecionado p o r sua reatividade c o m a l i n h a g e m celular
D o i s a n t i c o r p o s são usados e m imunoensaios: M A b 115D8 é O V C A 433 e p o r sua falta de reatividade c o m u m a l i n h a g e m de
ligado a u m suporte s ó l i d o e f u n c i o n a c o m o o a n t i c o r p o de l i n f ó c i r a B da mesma paciente.
captura, e n q u a n t o M A b D F 3 é o a n t i c o r p o de detecção marcado.
A F D A tem aprovado m u i t o s dos ensaios disponíveis comercial-
Aplicações Clínicas
mente.
C A 125 é mais ú t i l c o m o m a r c a d o r de câncer ovariano. E m u m a
população saudável, o l i m i t e superior de C A 125 é 35 k U / L .
C A 27.29 Elevação de C A 125 é observada e m m u i t o s carcinomas não
C A 27.29 é detectado p o r u m a n t i c o r p o m o n o c l o n a l , B27.29, ovarianos, i n c l u i n d o tumores de e n d o m é t r i o , pancreático, de
que é p r o d u z i d o c o n t r a u m antígeno de ascite e m pacientes c o m p u l m ã o , de mama, colorretal e outros gastrointestinais. Ele
c a r c i n o m a de m a m a metastático. O e p í t o p o m í n i m o c o m o qual t a m b é m é elevado em mulheres na fase f o l i c u l a r do ciclo mens-
B27.29 reage é a seqüência de 8 a m i n o á c i d o s ( S A P D T R P A ) t r u a l e em doenças benignas, tais c o m o cirrose, hepatite, endo-
d e n t r o da seqüência de repetição in tandem dos 2 0 a m i n o á c i d o s metriose e pericardite, e n o i n i c i o da gravidez. C A 125 p o d e ser
do c e n t r o da m u c i n a . A seqüência reativa de B27.29 se sobrepõe ú t i l na avaliação do estado da doença em pacientes c o m endo-
à sequência de D F 3 usada n o ensaio de C A 15-3. metriose avançada, mas não n o rastreamento de câncer ovariano
C A 27.29 f o i aprovado pela F D A para uso c l í n i c o na detecção em populações assintomáticas, p o r q u e ele t e m baixa especifici-
de câncer de m a m a recorrente em pacientes c o m doença nos dade para o câncer de ovário. Ele t a m b é m não p o d e ser usado
estágios I I o u I I I . Ele fornece i n f o r m a ç ã o s i m i l a r à de C A 15-3; para diferenciar câncer ovariano de outras malignidades.
e n t r e t a n t o , ele não tem sido tão a m p l a m e n t e investigado. C A N o c a r c i n o m a ovariano, o C A 125 é elevado e m 5 0 % dos
27.29 é m e d i d o p o r i m u n o e n s a i o c o m p e t i t i v o em fase sólida. pacientes c o m doença n o estágio I, 9 0 % c o m estágio I I e mais
T a n t o o ensaio baseado em E L I S A q u a n t o o autom ati zado se de 9 0 % c o m estágios I I I e I V . A concentração de C A 125 se
e n c o n t r a m disponíveis. correlaciona c o m o t a m a n h o e o estadiamento do t u m o r . C A
125 é t a m b é m ú t i l para diferenciar doença b e n i g n a de maligna
em pacientes c o m massas ovarianas palpáveis. Esta diferenciação
C A 549
é i m p o r t a n t e porque a intervenção cirúrgica para massas ovaria-
C A 549 é u m a glicoproteína ácida c o m u m p o n t o isoelétrico de
nas malignas é m u i t o mais extensa do que a de massas benignas.
p H 5,2, N a eletroforese em gel de p o l i a c r i l a m i d a / d o d e c i l sulfato
E i n h o r m e colaboradores estudaram 100 pacientes que sofreram
de sódio sob condições redutoras, C A 5 4 9 p o d e ser separado e m
l a p a r o t o m i a diagnostica de massas anexiais palpáveis; desses, 23
duas espécies c o m massas moleculares de 4 0 0 e 512 k D a . U m
apresentaram m a l i g n i d a d e . U s a n d o u m v a l o r de decisão de 35
anticorpo monoclonal, uma IgGi murinica denominada BC4E
k U / L , a sensibilidade, a especificidade e os valores preditivos
549, originou-se p o r i m u n i z a ç ã o de c a m u n d o n g o s c o m prepara-
positivo e negativo para a doença m a l i g n a f o r a m , respectiva-
ções de m e m b r a n a p a r c i a l m e n t e p u r i f i c a d a da l i n h a g e m de
mente, 7 8 % , 9 5 % , 8 2 % e 91%.
células de t u m o r de m a m a h u m a n o T417. O o u t r o a n t i c o r p o ,
Q u a n d o usado e m termos de prognóstico, u m C A 125 pré-
B C 4 N 154 ( u m I g M m u r í n i c o ) , f o i desenvolvido c o n t r a m e m -
o p e r a t ó r i o m e n o r q u e 65 k U / L está associado a u m a taxa de
brana dos glóbulos de g o r d u r a de leite h u m a n o . sobrevivência de 5 anos significativamente m a i o r ( 4 2 % versus
5%). Concentrações de C A 125 pós-operatório e a taxa de declí-
Aplicação Clínica n i o são t a m b é m preditores de sobrevivência. Pacientes c o m meia-
D e f o r m a similar ao C A 15-3, C A 549 não é ú t i l para detectar vida p r o l o n g a d a (22 dias) r e s p o n d e r a m p o b r e m e n t e ao trata-
c a r c i n o m a de m a m a i n i c i a l p o r q u e a p r o p o r ç ã o de pacientes c o m m e n t o q u a n d o comparados c o m aqueles c o m u m a meia-vida
concentrações elevadas de C A 549 é baixa. Pela análise R O C , mais c u r t a (9 dias). A meia-vida n o r m a l de C A 125 é 4,8 dias.
C A 5 4 9 é m e l h o r do que C E A na identificação de câncer de C A 125 t a m b é m é ú t i l para detectar doença residual e m
m a m a ativo (Figura 20-2). Ele é ú t i l na detecção de recidiva de pacientes c o m câncer que seguem o t r a t a m e n t o inicial. A sensi-
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 365

bilidade de C A 125 para detectar tumores antes de laparotomia tes diagnosticados com câncer pancreático que têm concentra-
repetida é 5 0 % e a especificidade é 96%. Após quimioterapia, as ções elevadas. Concentrações elevadas de C A 19-9 (>37 k U / L )
concentrações de C A 125 fornecem uma indicação do prognós- discriminam o câncer pancreático da doença pancreática benigna;
tico da doença. U m a diminuição da concentração de C A 125 estudos relatam sensibilidades e especificidades que variam de
por u m fator de 10, após o primeiro ciclo de quimioterapia, é 69% a 93% e 76% a 99%, respectivamente. C o m o com todos os
u m indicativo de melhora. Elevação persistente das concentra- marcadores tumorais, elevar o limite de decisão aumenta a espe-
ções de C A 125 após três ciclos de quimioterapia indica u m cificidade para o câncer pancreático, mas d i m i n u i a sensibilidade.
prognóstico r u i m . Concentrações elevadas são encontradas em pacientes com cân-
N a detecção de metástase recorrente, o uso de C A 125 como ceres pancreático (80%), hepatobiliar (67%), gástrico (40% a
u m indicador é aproximadamente 75% acurado. O intervalo de 50%), hepatocelular (30% a 50%), colorretal (30%) e de mama
tempo da elevação de C A 125 até a recidiva clinicamente detec- (15%). Alguns pacientes (10% a 20%) com pancreatite e outras
tável é cerca de 3 a 4 meses. C A 125 se correlaciona com pro-
doenças gastrointestinais benignas têm concentrações elevadas
gressão ou regressão da doença em 80% a 90% dos casos.
até 120 k U / L . Concentrações de C A 19-9 se correlacionam com
o estadiamento de câncer pancreático. C o m o corte de 37 k U / L ,
Metodologia Analítica 67% dos pacientes com câncer pancreático ressecável e 87%
U m ensaio imunorradiométrico de C A 125 foi primeiramente daqueles com câncer não ressecável têm valores elevados. Aumen-
desenvolvido e produzido por Centocor, Inc., agora Fujirebio
tando o corte para 1.000 k U / L , 3 5 % dos pacientes com tumores
Diagnostics, Malvern, PA, usando u m único anticorpo. U m a
não operáveis e somente 5 % daqueles com tumores operáveis
segunda geração de ensaio ( C A 12511) usa u m anticorpo mono-
têm valores de C A 19-9 elevados.
clonal, M i l , como anticorpo de captura e O C 125 como o
C A 19-9 também é ú t i l para estabelecer prognóstico no diag-
conjugado. Vários imunoensaios automatizados se encontram
nóstico inicial. Concentrações de C A 19-9 sérico possuem valor
disponíveis.
preditivo independente para a determinação de ressecabilidade
de câncer pancreático e de sobrevivência do paciente em geral.
O u t r o s B i o m a r c a d o r e s de Câncer Ovariano
Concentrações elevadas ou crescentes também podem indicar
Muitos outros potenciais biomarcadores de câncer ovariano têm
sido descobertos usando-se tecnologias de microarranjo e outros recidiva 1 a 7 meses antes da detecção por radiografias ou dos
métodos. Alguns dos biomarcadores recentemente descobertos achados clínicos. Infelizmente, detecção precoce de recidiva não
incluem calicreínas, mesotelina, proteína HE4, prostasina, osteo- pode ser ú t i l por causa da falta de tratamento efetivo para câncer
pontina e outros antígenos de carboidrato que se mostraram ele- pancreático.
vados em uma pequena proporção dos cânceres de ovário (p. ex.,
C A 19-9, C A 15-3 etc.). Agora existe uma tendência geral de com- Metodologia Analítica
binar biomarcadores múltiplos, incluindo C A 125, para aumentar Várias empresas têm produzido imunoensaios para C A 19-9.
a sensibilidade de detecção de câncer ovariano, especialmente nos Geralmente o anticorpo C A 19-9 é usado tanto como anticorpo
sistemas de rastreamento. Outros têm proposto a taxa de aumento de captura como de sinal
de C A 125 como uma ferramenta de rastreamento efetiva. O uso
combinado dos marcadores séricos com ultra-sonografia transvagi- CA 72-4
nal geralmente aumenta a sensibilidade dos programas de rastrea-
C A 72-4 é um marcador de carcinomas do trato gastrointestinal
mento de câncer ovariano, mas compromete a especificidade. O
e de ovário. B72.3 é u m anticorpo monoclonal desenvolvido a
uso de marcadores bioquímicos como painéis no rastreamento de
partir da fração enriquecida em membrana de u m carcinoma de
câncer de ovário ainda está sob investigação.
mama de u m paciente com metástase de fígado. Quando 6 k U / L
ANTÍGENOS DE GRUPOS SANGUÍNEOS é usado como l i m i t e de decisão, as seguintes percentagens de
elevação são observadas: indivíduos saudáveis, 3,5%; doenças
Carboidratos de grupos sanguíneos identificados por anticorpos
gastrointestinais benignas, 6,7%; carcinoma gastrointestinal,
monoclonais que têm sido usados como marcadores de cânceres
40%; câncer de pulmão, 36%; e câncer de ovário, 24%. U m a
estão listados na Tabela 20-8. Estes incluem C A 19-9 (Le^ sialilado),
C A 50 (Lê" sialilado, formas afucosiladas), C A 72-4 (Tn sialilado) correlação clínica r u i m entre as concentrações de C E A e C A 72-4
e C A 242 (carboidrato sialilado co-expresso com C A 50). f o i encontrada n o câncer gástrico. Os valores de C E A e C A 72-4
podem ser complementares. A depuração plasmática de C A 72-4
CA 19-9 foi estudada pela dosagem sequencial de valores de C A 72-4 em
C A 19-9 é u m marcador de ambos os carcinomas colorretal e pacientes com carcinoma primário de mama e com cânceres gás-
pancreático. Este antígeno de carboidrato é u m glicolipidio - trico, colorretal e ovariano. Após remoção do tumor, o tempo
especificamente, gangliosideo lacto-N-fucopentose sialilado, que médio necessário para a concentração d i m i n u i r para 4 k U / L foi
é u m derivado sialilado do antígeno do grupo sanguíneo Lea e é 23,3 dias. Isto sugere que C A 72-4 pode ser ú t i l na detecção de
designado Lexíl. A expressão do antígeno requer o p r o d u t o gênico tumor residual nestes pacientes com câncer.
de Lewis, 1,4-fucosil transferase. C A 19-9 é sintetizado pelas C A 72-4 é medido usando-se u m ensaio imunorradiométrico
células dos duetos pancreático e biliar humanos normais e pelos ( I R M A ) fornecido por Fujirebio Diagnostics. Ele usa dois anti-
epitélios gástrico, do cólon, do endométrio e salivar. N o soro, ele corpos monoclonais que foram desenvolvidos n o National
existe como uma mucina, u m complexo glicoprotéico de alta Câncer Institute. B72.3 é o conjugado, enquanto cc49 é o anti-
massa molecular (200 a 1.000 kDa). Pacientes que são genotipi- corpo de captura.
camente Le ab (cerca de 5%) não expressam C A 19-9. O anticorpo
monoclonal contra C A 19-9 foi desenvolvido a partir de uma CA 242
linhagem de células de carcinoma de cólon h u m a n o , SW-1116.
C A 242 é u m marcador para cânceres pancreático e colorretal.
Ele é u m anticorpo monoclonal desenvolvido a partir de uma
A p l i c a ç õ e s Clínicas linhagem celular de carcinoma colorretal humano, C O L O 205.
A medida quantitativa de C A 19-9 n o soro tem sido aprovada O determinante antigênico é u m carboidrato sialilado. C A 242
pela F D A para uso como auxiliar no m o n i t o r a m e n t o de pacien- reconhece os epítopos de C A 50 e C A 19-9. Ele é encontrado
366 PARTE IV Aralitos

TABELA 20-9 Proteínas como Marcadores Tumorais

Nome Natureza Tipo de Câncer


PrMicroglobulina 11 kDa Mieloma múltiplo, linfoma de célula B,
leucemia lirifocítica crônica, macroglobulinemia
de Waldenstrcm
Peptídeo C 3,6 kDa Insulinoma
Ferritina Proteína de ligação ao ferro de 450 kDa Fígado, pulmão, mama, leucemia
Imunoglobulina 160-900 kDa, 3%-12% de CH0 Mieloma múltiplo, lintomas
Antígeno associado a melanoma 90-240 kDa Melanoma
Antígeno associado ao pâncreas 100 kDa, 20% de CH0 Pancreático, estômago
Proteína 1 específica da gravidez 10 kDa, 30% de CH0 Trofoblástica, célula germinativa
Precursor de prolrombina Prolrombina des-r-carboxi Hepatoceluiar
Inibidor de tripsina associado a tumor Polipeptídeo de 6 kDa Pulmão, gastrointestinal, ovário

nas células ductais e apicais da b o r d a d o pâncreas h u m a n o e n o e n t r e t a n t o , alguns m e m b r o s têm sido associados à progressão d o
e p i t é l i o e células globet da mucosa d o c ó l o n . câncer, especialmente S-100A4, S-100A2, S-100A6 e S-100p. S-
C o m u m valor de corte de 20 k U / L , os valores elevados de 1 0 0 A 4 é n o r m a l m e n t e expressa e m células i m u n e s selecionadas,
C A 242 f o r a m e n c o n t r a d o s e m 5% a 3 3 % dos pacientes c o m c o m expressão fraca e m q u e r a t i n ó c i t o s , m e l a n ó c i t o s e células de
doenças benignas d o c ó l o n , gástricas, hepáticas, pancreáticas e Langerhans 9 . Ela não é expressa n a m a m a , n o c ó l o n , na tireóide,
d o trato b i l i a r ; e m 6 8 % a 7 9 % dos pacientes c o m câncer pancre- n o p u l m ã o , n o r i m o u n o pâncreas. A expressão de S-100A4 n o
ático m a l i g n o ; em 5 5 % a 8 5 % dos pacientes c o m câncer color- câncer de m a m a , n o c a r c i n o m a escamoso d o esôfago e nos cân-
retal; e e m 4 4 % dos pacientes c o m câncer gástrico. Os coeficien- ceres gástricos se correlaciona c o m u m a conseqüência p i o r e
tes de correlação (R 2 ) dos valores de C A 242, C A 5 0 e C A 19-9 doença mais agressiva, e f o i m o s t r a d o que ela é u m m a r c a d o r
e m pacientes c o m doenças culurretais, d o fígado, pancreáticas e i n d e p e n d e n t e de p r o g n ó s t i c o na análise m u l t i v a r i a d a . A falra de
d o trato b i l i a r v a r i a m de 0,81 a 0,95. E m geral, C A 242 parece expressão e m tecido n o r m a l e sua expressão n o tecido t u m o r a l a
ser m e n o s eficiente que C A 19-99 o u C A 5 0 n a detecção de t o r n a m u m excelente c a n d i d a t o ao uso histológico de r o t i n a
câncer pancreático; e n t r e t a n t o , isto p o d e depender dos valores c o m o u m marcador de câncer.
de decisão usados. S-100(3 é r o t i n e i r a m e n t e usada c o m o u m marcador histológico
diagnóstico de m e l a n o m a e metástase de m e l a n o m a . Recente-
PROTEÍNAS m e n t e a m e d i d a de suas concentrações séricas t e m sido investi-
Diversas proteínas c o m p o t e n c i a l de m a r c a d o r t u m o r a l estão gada para m o n i t o r a r recidiva da doença. N a ausência de mela-
listadas n a Tabela 20-9. Incluídas neste g r u p o de marcadores de n o m a , as concentrações séricas de 3-100(3 são n o r m a l m e n t e não
t u m o r estão as proteinas q u e n ã o são enzimas, h o r m ô n i o s , o u detectáveis; entretanto, c o m doença recorrente, S-100J3 aumenta.
aquelas c o m c o n t e ú d o elevado de c a r b o i d r a t o . Pesquisa a d i c i o n a l Usando-se u m i m u n o e n s a i o ( L I A - m a t Sangtec 100; Byk-Sagtec
se faz necessária para avaliar a u t i l i d a d e clínica da m a i o r i a desses Diagnostics, A l e m a n h a ) , f o i sugerido que u m corte de 0,12 ] i g / L
marcadores. fornece sensibilidade e especificidade de 0,29 e 0,93, respectiva-
mente. S-100p é u m m a r c a d o r mais sensível e específico para
Imunoglobulina m e l a n o m a recorrente e é capaz de detectar recidiva mais cedo que
A i m u n o g l o b u l i n a m o n o c l o n a l t e m sido usada c o m o marcador L D o u A L P (marcadores tradicionais de recidiva de melanoma).
de m i e l o m a m ú l t i p l o p o r mais de 100 anos. Paraproteínas m o n o -
clonais aparecem c o m o bandas intensas n a área da g l o b u l i n a de Tireoglobuliria e Anticorpos
padrões eletroforéticos d o soro. M a i s de 9 5 % dos pacientes c o m A t i r e o g l o b u l i n a (Tg) é p r o d u z i d a pela g l â n d u l a tireóide c o m o
m i e l o m a m ú l t i p l o t ê m este padrão eletroforético. O apareci- precursor d o h o r m ô n i o da tireóide ( C a p í t u l o 41). O p r i n c i p a l
m e n t o de i m u n o g l o b u l i n a s m o n o c l o n a i s não malignas a u m e n t a uso da m e d i d a de Tg é c o m o m a r c a d o r t u m o r a l para pacientes
c o m a idade, a t i n g i n d o 5 % dos pacientes c o m mais de 75 anos. c o m u m diagnóstico de câncer de tireóide diferenciado. 1 0 A p r o -
Estas bandas m o n o c l o n a i s não malignas estão geralmente e m x i m a d a m e n t e dois terços desses pacientes t ê m u m T g pré-opera-
concentração mais baixa d o que as bandas malignas (<10 g / L ) e t ó r i o elevado. U m a concentração de Tg pré-operatória elevada
n ã o estão associadas à p r o t e í n a Bence Jones. A expressão "gamo- c o n f i r m a a capacidade d o t u m o r de secretar T g e valida o uso da
patia m o n o c l o n a l de significado i n d e t e r m i n a d o " ( M G U S ) é fre- m e d i d a pós-operatória de Tg para m o n i t o r a r a recidiva d o t u m o r .
q ü e n t e m e n t e usada para se referir a estas i m u n o g l o b u l i n a s . A E m termos pós-operatórios, o m é t o d o mais sensível para detectar
p r o t e í n a Bence Jones é u m a cadeia leve de i m u n o g l o b u l i n a t u m o r residual o u metástase é a observação após e s t í m u l o de
m o n o c l o n a l livre n a u r i n a . A concentração de i m u n o g l o b u l i n a T S H . E m t u m o r e s b e m diferenciados, u m a u m e n t o de dez vezes
m o n o c l o n a l n o diagnóstico i n i c i a l é u m i n d i c a d o r p r o g n ó s t i c o nas concentrações de T g é observado após e s t í m u l o de T S H .
de progressão da doença. D u r a n t e o t r a t a m e n t o , a concentração T u m o r e s p o b r e m e n t e diferenciados, que n ã o c o n c e n t r a m iodo,
sérica da p r o t e í n a Bence Jones u r i n á r i a o u a m e d i d a das cadeias p o d e m revelar u m a resposta brusca ao e s t í m u l o de T S H . M o n i -
leves livres n o soro r e f l e t e m o sucesso da terapia. Concentrações torar T g geralmente n ã o é ú t i l e m pacientes que n ã o t ê m T g
mais baixas estão associadas a u m resultado mais favorável. Para- pré-operatório elevado.
proteínas séricas são discutidas n o C a p í t u l o 18. A n t i c o r p o s a n t i t i r e o g l o b u l i n a p o d e m t a m b é m ser usados
para m o n i t o r a r doença residual o u recidiva, ou ambos. 11 M e d i d a s
Proteínas S-100 de anti-Tg seriadas t ê m sido propostas c o m o u m i n d i c a d o r prog-
As proteínas S-100 são u m g r u p o de pelo m e n o s 19 proteínas de nóstico i n d e p e n d e n t e d o t r a t a m e n t o p o r q u e u m a u m e n t o nos
ligação ao cálcio relacionadas. Sua f u n ç ã o fisiológica é incerta; a n t i c o r p o s anti-Tg p o d e sugerir recidiva d o t u m o r .
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 367

I M A e R I A são os dois principais métodos usados para a dores. As catecolaminas e seus metabólitos são discutidos no
medida de Tg. Os ensaios de I M A têm a vantagem de ter u m Capítulo 26.
tempo de incubação mais curto e são automatÍ2áveis; entretanto,
eles sofrem interferências maiores. As principais interferências Receptores de E s t r ó g e n o e Progesterona
em ambos os ensaios são anticorpos antitireoglobulina, que Os receptores de estrógeno e progesterona são usados para o câncer
causam uma subestimativa de Tg no I M A . Anticorpos antitireo- de mama como indicadores de hormonoterapia,' Os pacientes
glogulina podem ser medidos diretamente em todos os pacientes com receptores de estrógeno e progesterona positivos tendem a
ou, se ambos I M A e R I A são usados para medir Tg, u m resultado responder ao tratamento hormonal. Aqueles com receptores nega-
discordante sugere a presença de anticorpos antitireoglobulina. tivos serão tratados por outras terapias, tais como quimioterapia.
Os receptores de h o r m ô n i o também servem como fatores prognós-
Cromograninas ticos em câncer de mama. Pacientes positivos para os receptores
Cromograninas são uma família de componentes proteicos pre- de estrógeno e progesterona têm u m prognóstico melhor.
sentes nos grânulos secretores da maioria das células neuroendó-
crinas. A família granina consiste em três principais grupos de Bioquímica
proteína, cromogranina A (CgA), B (CgB) e secretogranina I I , III, Os receptores de estrógeno (ERs) e de progesterona (PRs) são
I V e V As cromograninas são encontradas nas células neuroen- membros da família de receptores de h o r m ô n i o esteróide nuclea-
dócrinas por todo o corpo, i n c l u i n d o as células neurais dos sis- res e estão envolvidos na ativação transcricional hormônio-dite-
temas nervosos central e periférico. Tem sido sugerido que elas cionada. Ambos os ERs e PRs estão presentes em um grande
desempenham uma função na regulação dos grânulos secretores. complexo proteico, e sob a ligação do h o r m ô n i o , os receptores
A l é m disso, as cromograninas secretadas podem ser proteolitica- migram para o núcleo, ligam-se ao D N A e ativam a transcrição.
mente processadas pata formar peptídeos bioativos. A cromogTa- Estrógeno e progesterona têm pelo menos dois receptores
nina A é a mais estudada das cromogtaríinas, é amplamente separados. Estrógeno tem E R a e E R p , que são transcritos a partir
expressa por tecido neuroendócrino e é co-secretada por células de genes distintos. Duas formas de PR, PR-A e PR-B, também
neuroendócrinas juntamente com hormônios peptídeos e neuro- existem e ambos são transcritos a partir do mesmo gene. PR-A
peptídeos. Esta ampla distribuição e co-secreção a torna u m exce- não tem os primeiros 165 aminoácidos de PR-B.
lente marcador histoquímico e plasmático de tumores neuroen- Os ERs e PRs são encontrados em tecidos, tais como os de
dócrinos. útero, glândula pituitária, hipotálamo e mama, e parecem estar
envolvidos n o desenvolvimento e na progressão do tumor. A l é m
Aplicações Clínicas disso, o estado de ER e PR se correlaciona tanto com o prognós-
Estudos têm mostrado que tanto CgA quanto CgB são úteis na tico quanto com a resposta ao tratamento; portanto, medir as
detecção de vários tumores neuroendócrinos, incluindo tumores concentrações de ERs e PRs é clinicamente útil.
carcinóides, feocromocitoma e neuroblastoma. Na maioria dos
casos, CgA é produzida em concentrações mais altas do que CgB; Aplicações Clínicas
entretanto, em alguns casos, CgB é positiva quando CgA é nega- A dosagem de ER no tecido t u m o r a l de mama é ú t i l como indi-
tiva, portanto, pode ser vantajoso medir as duas. N o caso dos cador prognóstico e na determinação de probabilidade de hor-
tumores carcinóides, os tumores dos intestinos anterior e médio monoterapia. Dos pacientes com carcinoma da mama, 60% t ê m
são normalmente tumores funcionais que produzem serotonina. tumores que são ER-positivos. E 7 a 8 vezes mais provável que
CgA é tão específico para detecção de ambos os tumores carci- estes respondam à terapia endócrina, tais como tamoxifen, tore-
nóides dos intestinos anterior e médio quanto o metabólito de mifeno e droloxifeno. A l é m disso, a U.S. National Câncer Insti-
serotonina ácido 5-hidroxiindolacético (5-HIAA), e é o marcador tute Consensus Statement sugere que todos os pacientes com
preferido dos tumores distais, que são comumente não funcio- câncer de mama que têm ER-positivos devem sofrer tratamento
nais. Embora os tumores não funcionais tenham perdido a capa- h o r m o n a l independentemente de suas idades, estado de meno-
cidade de secretar serotonina, eles retêm a capacidade de secretar pausa, estado nodal ou tamanho do tumor. Noventa e cinco por
cromograninas. Para detecção de feocromocitomas, C g A pode ser cento dos pacientes com tumores ER-negativos falham nesta res-
tão sensível e específico quanto as catecolaminas plasmáticas ou posta. Quanto maior o conteúdo de ER do tumor, mais alta é a
metanefrinas urinárias. taxa de resposta à terapia endócrina. Aproximadamente u m terço
das mulheres com carcinoma de mama metastático obtém remis-
Metodologia Analítica são clínica seguindo vários tipos de terapia endócrina direciona-
Atualmente, C g A é medida por imunoensaio. Dependendo do dos para d i m i n u i r suas concentrações de estrógeno. Tais terapias
ensaio, anticorpos policlonais o u monoclonais são usados. Deve- incluem ooforectomia, hipofisectomia e adrenalectomia (terapia
se tomar cuidado na escolha de u m teste, visto que C g A e as ablativa), e administração de antiestrógenos e andrógenos (terapia
outras cromograninas são m u i t o processadas após liberação, o aditiva). C o m o u m indicador prognóstico, a positividade de ER
que pode torná-las não detectáveis pelo ensaio e produzir resul- sugere uma melhor sobrevida de 5 anos; entretanto, após 5 anos
tados falso-negativos. Portanto, u m teste que reconheça as molé- os tumores ER-negativos têm u m prognóstico melhor.
culas intactas e processadas é desejável. Ensaios comerciais para Ocasionalmente um t u m o r é definido como ER-negativo,
a CgB ainda não estão disponíveis. mas a paciente responde à terapia endócrina (resultados falso-
negativos produzidos em u m ensaio de ER). Resultados falso-
positivos de ensaios de ER ( t u m o r ER-positivo, mas nenhuma
RECEPTORES E OUTROS MARCADORES resposta à terapia endócrina) são mais comuns do que os resul-
TUMORAIS tados falso-negativos. A explicação mais freqüente é a heteroge-
Outros marcadores tumorais - incluindo catecolaminas, poliami- neidade do tumor, com biópsia de um local que não é represen-
nas, ácido siálico associado a lipídio e receptores - t ê m sido tativo de outros depósitos tumorais. A l é m deste problema, existe
usados clinicamente com vários graus de sucesso. Os receptores evidência de que algumas células tumorais têm defeitos de recep-
são provavelmente os mais bem sucedidos deste grupo de marca- tor nas etapas anteriores às iniciais de ligação do h o r m ô n i o .
368 PARTE IV Analitos

O teste de PR é u m auxiliar útil para o ensaio de ERs. C o m o a plas alterações genéticas podem ser necessárias para a transfor-
síntese de PR parece ser dependente da ação do estrógeno, a dosagem mação de uma célula de u m estado normal para u m tumoral e,
da atividade de PR fornece a confirmação de que todas as etapas da finalmente para a disseminação metastática. Portanto, a avaliação
ação de estrógeno estão intactas. De fato, as pacientes com câncer de alterações cromossômicas pode preencher a lacuna deixada
de mama metastático com ambos os tumores ER- e PR-positivos têm pelos marcadores bioquímicos tradicionais do soro n o estabele-
uma taxa de resposta à terapia endócrina de 75%, enquanto aquelas cimento do risco de câncer e rastreamento de câncer.
com tumores ER-positivos e PR-negativos têm uma taxa de resposta Duas classes de genes estão envolvidas no desenvolvimento
de 40%. A l é m disso, somente 25% de pacientes ER-negativos/PR- do câncer- oncogenes e genes supressores. Os oncogenes são
positivos respondem à terapia endócrina, enquanto menos de 5 % derivados dos proto-oncogenes que podem ser ativados por muta-
dos pacientes ER-negativos/PR-negativos respondem. A porcenta- ções dominantes, tais como mutações de ponto, inserções, dele-
gem de amostras positivas é maior em mulheres pós-menopausa do ções, translocações ou inversões. A maioria dos oncogenes codi-
que naquelas que estão em pré-menopausa. fica proteínas que f u n c i o n a m em alguma etapa da ativação de
células para proliferação, e sua ativação leva à divisão celular.
Metodologia Analítica Grande parte dos oncogenes está associada a cânceres hematoló-
Os ensaios imunocitoquímicos são usados para medir receptores gicos, tais como leucemia e, em uma menor extensão, a tumores
de h o r m ô n i o esteróide. Tanto o método bioquímico quantitativo sólidos. A outra classe de genes tumorais, os genes supressores,
clássico para analisar os receptores de esteróide em amostras de tem sido isolada, na maioria das vezes, de tumores sólidos. A
tecido tumoral (ensaio de titulação) quanto os imunoensaios oncogenicidade de genes supressores é derivada da perda do
enzimáticos são obsoletos porque os ensaios imunocitoquímicos gene, ao invés de sua ativação, como com os oncogenes. Deleção
são mais baratos e mais simples, requerem menos tempo e podem ou monossomia podem levar à perda dos genes supressores de
ser realizados usando menos tecido. tumor. O principal gene supressor de tumor, TP53, atua no
Os ensaios imunocitoquímicos usam anticorpos monoclo- reparo do dano ao D N A e pode iniciar a apoptose (morte celular
nais para detectar proteínas receptoras de esteróide em seções de programada). O reparo é mediado pela ativação da produção de
tecido congelado, tecidos em bloco de parafina, aspirados por p21, que bloqueia o ciclo celular no final de G j para permitir
agulha fina e efusões malignas. Nestes procedimentos, o anti- que o reparo aconteça. A perda de função deste gene causada por
corpo monoclonal primário é incubado com uma seção fina do perda o u mutação pode resultar na incapacidade do processo de
tecido m o n t a d o em uma lâmina de microscópio. A localização e reparo do D N A e levar à tumotigênese.
a visualização d o material receptor são subseqüentemente reali- E esperado que o conhecimento da seqüência do genoma
zadas por uma coloração de imunoperoxidase indireta. Amostras h u m a n o e a identificação de todos os genes permitirão a deter-
com coloração em pelo menos 20% das células malignas são
minação de quais genes são expressos diferencialmente ou de
geralmente consideradas receptor-positivas. Ensaios imunocito-
forma anormal n o câncer, e da função das mutações ou dos
químicos não são influenciados pela presença de estrógenos,
rearranjos desses genes no desenvolvimento e na progressão do
antiestrógenos ou proteínas de ligação a esteróide. A l é m disso,
câncer. Por exemplo, a identificação de polimorfismos de u m
os métodos imunocitoquímicos possibilitam estudar o conteúdo
único nucleotídeo e de outras diferenças genéticas entre os indi-
de receptor especificamente em células tumorais.
víduos pode permitir o desenvolvimento de modelos para predi-
zer a predisposição i n d i v i d u a l ao câncer e a propagação de estra-
Receptor d o Fator de C r e s c i m e n t o tégias de prevenção efetivas, tais como vigilância, quimiopreven-
Epidérmico cão e modificações nutricionais e de estilo de vida.
O receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) é u m
protótipo de u m a família de receptores de tirosina quinase. Os
ligantes naturais do EGFR são o fator de crescimento epidérmico Oncogenes
(EGF) e o fator de crescimento transformante (TGF)-a. Em Os proto-oncogenes são genes celulares normais relacionados aos
tecido tumoral, estes fatores podem promover crescimento tanto genes de vírus tumorais. Foi observado que a ativação dos proto-
do tipo parácrmo quanto do tipo autócrino. Em uma análise de oncogenes está associada ao câncer. Estes genes codificam produ-
mais de 200 estudos completados entre 1985 e 2000, determi- tos que estão envolvidos nos processos celulares normais, tais
nou-se que a superexpressão de E G F R tinha valor prognóstico como vias de sinalização de fatores de crescimento. Superexpres-
em muitos cânceres. Foi observado que o EGFR é u m indicador são do oncogene levará ao crescimento celular anormal, resul-
de prognóstico forte em cânceres de cabeça e pescoço, de ovário, tando em câncer. Tem sido mostrado que dos mais de 40 proto-
cervical, de bexiga e esofágico. Os pacientes com EGFR elevado oncogenes identificados, somente uns poucos são marcadores
mostraram sobrevivência geral reduzida em 70% dos estudos. tumorais úteis.
Nos cânceres de mama, colorretal, gástrico e de endométrio,
observou-se que EGFR é u m indicador prognóstico moderado, Genes ras
com 5 2 % dos estudos mostrando sobrevivência reduzida quando Os genes ras foram primeiramente identificados como sendo
quantidades elevadas de E G F R são observadas. O fato de que responsáveis pelas propriedades tumorigênicas dos vírus dos sar-
E G F R está envolvido na progressão de vários tipos de tumor comas de Harvey (H^rcu) e Kirsten (K-ras), que produzem tumores
significa que ele representa u m potencial ponto de intervenção em animais, e forneceram a primeira evidência de que as equiva-
e tratamento destes cânceres. T ê m sido desenvolvidos muitos lências nas células humanas poderiam estar envolvidas n o desen-
compostos que inibem a sinalização de EGFR por bloqueio da volvimento de tumores. As proteínas codificadas pelos genes ras
ligação do ligante ou inibição da atividade de tirosina quinase. estão localizadas na face interna da membrana plasmática. Elas
EGFR é medido em tecido por ensaios imunocitoquímicos e se ligam a nucleotídeos de guanina e atuam como interruptores
hibridização in situ por fluorescência (FISH). moleculares que regulam os sinais mitogênicos dos fatores de
crescimento para o núcleo através das vias de transdução de sinal.
MARCADORES GENÉTICOS As proteínas Ras são ativadas em associação com os receptores
O crescimento tumoral é uma característica herdável das células de proteína-tirosina quinase e são necessárias para a proliferação
e se acredita que seja o resultado de mudanças genéticas. M ú l t i - induzida por fator de crescimento ou para a diferenciação de
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 369

m u i t o s tipos celulares. N^ras é e n c o n t r a d o n o braço c u r t o d o de E G F (EGFR; também conhecido como ErbBl/HER-1),


c r o m o s s o m o h u m a n o 1. Alterações e m N-ras parecem c o n s t i t u i r E r b B 2 / H E R - 2 / n e u , E r b B 3 / H E R - 3 e E r b B 4 / H E R - 4 . A família
u m a etapa crítica da caicinogênese. O gene N-ras m u t a d o é E G F de receptores t e m a mesma estrutura geral, c o n s i s t i n d o e m
e n c o n t r a d o e m n e u r o b las tomas e leucemia m i e l ó i d e aguda. K-ras u m d o m í n i o extracelular de ligação ao ligante ( E C D ) , u m ú n i c o
m u t a d o está presente e m 9 5 % dcs cânceres pancreáticos, 4 0 % domínio t r a n s m e m b r a n a e u m d o m í n i o intracelular de tirosina
dos cânceres de c ó l o n , e 3 0 % dos cânceres de p u l m ã o e bexiga, quinase. O d o m í n i o extracelular p o d e sofrer clivagem proteolí-
e e m percentagens mais baixas em o u t r o s tumores. U m a ú n i c a tica p o r metaloproteases, l i b e r a n d o o E C D ( c o n h e c i d o c o m o
m u t a ç ã o de p o n t o n o d é c i m o segundo c ó d o n de K-TOS altera o pl05) no sangue, que pode ser detectado. Todos estão envolvidos
a m i n o á c i d o c o d i f i c a d o de glicina para v a l i n a na p r o t e í n a p21. e m proliferação celular, diferenciação e sobrevivência. HER-2/neu
Esta m u t a ç ã o é de longe a mais f r e q ü e n t e m e n t e e n c o n t r a d a e m n o r m a l m e n t e é expresso n o e p i t é l i o de i n ú m e r o s órgãos,
cânceres. M u t a ç õ e s de K-ras parecem se correlacionar c o m prog- i n c l u i n d o p u l m ã o , bexiga, pâncreas, m a m a e próstata, e t e m se
n ó st ico p o b r e e sobrevivência livre de doença mais c u r t a e m m o s t r a d o elevado e m células t u m o r a i s .
pacientes c o m a d e n o c a r c i n o m a de p u l m ã o e c a r c i n o m a de endo-
m é t r i o . N o e n t a n t o , e m geral, a presença de mutações e m ras t e m Aplicações Clínicas
pouca aplicação prática para d e t e r m i n a ç ã o d o prognóstico. O ras A amplificação de H E R - 2 / n e u é observada e m t u m o r e s de m a m a ,
ativado é detectado p o r expressão d o p r o d u t o do gene ras, p21, ovariano e gastrointestinal. E m câncer de m a m a , parece ser ú t i l
e m tecido t u m o r a l . Por i m u n o i s t o q u í m i c a , o p r o d u t o de ras é c o m o i n d i c a d o r t a n t o de p r o g n ó s t i c o de sobrevivência geral
e n c o n t r a d o não apenas e m cerca de 4 0 % dos tumores de c ó l o n , c o m o de t a m a n h o de t u m o r o u expressão de E R e PR, mas n ã o
mas t a m b é m e m p ó l i p o s de c ó l o n , que supostamente são pré- tão b o m q u a n t a o n ú m e r o de l i n f o n o d o s envolvidos e m metás-
malignos. U m a intensidade relativa de coloração mais alta para tase. T e m sido m o s t r a d o que coiiceiitrações séTicas elevadas de
p21-ras pode d i s c r i m i n a r tecidos t u m o r a i s de n o r m a i s o u de antígeno de H E R - 2 / n e u se correlaciona c o m d i m i n u i ç ã o de res-
lesões benignas de tecidos de m a m a , pâncreas; estômago, p u l m ã o , posta à hormonoterapia de câncer de mama. Dos três oncogenes -
ú t e r o o u tireóide. O nível de expressão n o tecido parece se cor- HER-2/neu, ras e c-myc - H E R - 2 / m u t e m o valor prognóstico mais
relacionar c o m o estágio o u grau d o t u m o r , mas p21-ras p o d e forte e m câncer de mama.
t a m b é m ser visco e m a l g u m tecido n o r m a l , e outros estudos n ã o Concentrações sérícas de p l 0 5 são mais úteis e m câncer de
m o s t r a m diferença significativa entre t u m o r e s benignos e malig- m a m a , c o m a l g u m uso e m pacientes c o m câncer ovariano. As
nos. O uso de p21 c o m o m a r c a d o r t u m o r a l n o tecido o u n o soro concentrações de p l 0 5 e m câncer de m a m a se correlaciona c o m
n ã o é b e m estabelecido. Mutações dos oncogenes ras t ê m sido u m p r o g n ó s t i c o p i o r e u m estado livre de doença mais c u r t o .
detectadas n o D N A das fezes de 9 de 15 pacientes c o m tumores Concentrações elevadas de H E R - 2 / n e u t a m b é m se c o r r e l a c i o n a m
colorretais curáveis. c o m t a m a n h o s maiores de t u m o r , positividade de l i n f o n o d o e
escore de grau alto. As concentrações séricas de H E R - 2 / n e u n ã o
Gene c-myc são apenas usadas para o p r o g n ó s t i c o , mas p o d e m ser usadas para
O gene c-m^c é o proto-oncogene d o vírus d o m i e l o c i t o m a de aves. o r i e n t a r o t r a t a m e n t o . U m estudo de 719 pacientes c o m câncer
Ele se liga ao D N A e está envolvido na regulação da transcrição. de m a m a m o s t r o u q u e concentrações elevadas de H E R - 2 / n e u e m
O p r o d u t o gênico, p 6 2 , está localizado n o núcleo de células pacientes c o m cânceres ER-positivos apresentavam benefício
transformadas, e os níveis de c-nryc se c o r r e l a c i o n a m c o m a taxa clínico significativamente m e n o r das terapias h o r m o n a i s . A l é m
de divisão celular. A proteína c-myc é essencial para a replicação disso, o estudo m o s t r o u u m a t e n d ê n c i a e m direção a melhores
do D N A e aumenta a transcrição do m R N A . A ativação d o gene resultados c o m inibidores de aromatase dos pacientes c o m H E R -
c-myc está associada a l i n f o m a s de célula B e T, sarcomas e endo- 2/neu sérico elevado. As concentrações séricas de H E R - 2 / n e w são
teliomas. E m leucemias e l i n f o m a s , a expressão a u m e n t a d a de úteis e m pacientes c o m câncer de m a m a recorrente q u a n d o o
c-myc p o d e ser devida à amplificação o u translocação cromossô- tecido é d i f í c i l de ser o b t i d o . T r a t a m e n t o c o m herceptina ( u m
mica d o gene. E m leucemias agudas de células T, existe u m a a n t i c o r p o m o n o c l o n a l d i r e c i o n a d o c o n t r a o receptor de H E R -
translocação (8:14) ( q 2 4 : q l l ) q u e resulta e m ativação d o gene, e 2/neu) é agora a d m i n i s t r a d o apenas às pacientes c o m câncer de
esta ativação está associada a u m prognóstico r u i m . U m a d i m i - m a m a que têm amplificação de H E R - 2 / W u .
n u i ç ã o da expressão de c-mjc após o i n í c i o da q u i m i o t e r a p i a E m câncer ovariano, p l 0 5 elevado se correlaciona c o m agres-
sugere u m a resposta favorável. Superexpressão de p 6 2 p o d e ser sividade a u m e n t a d a d o t u m o r , estágio c l í n i c o mais avançado e
vista e m 7 0 % a 1 0 0 % dos cânceres de m a m a p r i m á r i o s usando p i o r conseqüência clínica. H E R - 2 / n e u n ã o é ú t i l e m c o m b i n a ç ã o
i m u n o i s t o q u í m i c a , e a intensidade da coloração é m a i o r c o m o c o m C A 125 o u sozinho para d i s t i n g u i r t u m o r e s ovarianos benig-
a u m e n t o d o estágio d o t u m o r . A m p l i f i c a ç ã o e m carcinomas de nos de malignos, mas ele pode ser ú t i l n a identificação de u m
p u l m ã o e gliomas se correlaciona c o m a agressividade clínica. s u b g r u p o de pacientes de alto risco.
Pode existir u m a expressão 5 a 4 0 vezes m a i o r de c-rrvyc e m cân-
ceres de c ó l o n q u a n d o se compara c o m mucosa n o r m a l , mas o Metodologia Analilica
n í v e l de expressão não se correlaciona c o m progressão. U m a A imunoistoquímica é usada para detectar quantidades
relação s i m i l a r tem sido e n c o n t r a d a e m cânceres cervical, gás- aumentadas da p r o t e í n a H E R - 2 / n e u e m células t u m o r a i s . F I S H
trico, de fígado e outros. Concentrações sérícas de c-myc t ê m sido t e m sido usado para a detecção da amplificação d o gene HER-
usadas para detectar recidiva, mas não para diferenciar câncer de 2/neu. A i m u n o i s t o q u í m i c a é u m p r o c e d i m e n t o relativamente
doenças benignas. simples e pode ser feita na m a i o r i a dos laboratórios, mas sofre
c o m a variação entre os analistas. F I S H é m e n o s dependente d o
Her-2/neu analista, mas só detecta a u m e n t o s n o n ú m e r o de cópias d o gene.
O gene Her-Z/neu ( t a m b é m c o n h e c i d o c o m o c-erbB-2) é assim Detecção d o E C D de H E R - 2 / n £ u (p 105) n o SOTO é feito por
c h a m a d o p o r sua associação c o m rumores neurais (neu). Este gene E L I S A e i m u n o e n s a i o a u t o m a t i z a d o . A m b o s os ensaios usam os
codifica u m a p r o t e í n a t r a n s m e m b r a n a de 185 k D a expressa e m mesmos anticorpos m o n o c l o n a i s que r e c o n h e c e m diferentes epi-
células epiteliais e pertence à f a m í l i a E G F de receptores de tiro- topos d o E C D que n ã o reagem de f o r m a cruzada c o m q u a l q u e r
sina quinase. A f a m í l i a E G F i n c l u i q u a t r o m e m b r o s ; o receptor o u t r o m e m b r o da f a m í l i a E G F . E i m p o r t a n t e destacar que n ã o
370 PARTE IV Analitos

existe interferência do a n t i c o r p o m o n o c l o n a l terapêutico, her- RET


ceptina, em q u a l q u e r u m dos ensaios. O receptor de tirosina quinase R E T está envolvido e m morfogê-
nese do r i m , maturação do sistema nervoso periférico e diferen-
bct-2 ciação de espermatogônia. O receptor R E T existe em u m com-
O p r o d u t o do oncogene bcl-2 é u m a nova proteína integral de plexo m u l t i m é r i c o que i n c l u i u m dos q u a t r o co-receptores ligados
m e m b r a n a de 25 k D a e 239 aminoácidos, que se localiza p r i n c i - ao g l i c o s i l f o s f a t i d i l i n o s i t o l (GPI) ( G F R a l , 2, 3 e 4). O complexo
p a l m e n t e nas m e m b r a n a s m i t o c o n d r i a i s e e m outras m e m b r a n a s responde a q u a t r o ligantes: fator n e u r o t r ó f i c o derivado da glia
celulares. Sabe-se q u e esta p r o t e í n a i n i b e apoptose e c o n t r i b u i ( G D N F ) , n e u r t u r i n a ( N T N ) , persefina (PSP) e artemina. A ativa-
para a sobrevivência de células tumorais, especialmente l i n f o m a ção de R E T parece ocorrer através de dimerização e transfosfoii-
e células leucêmicas. O proto-oncogene bcl-2 f o i i d e n t i f i c a d o e m lação do receptor que recruta i n ú m e r a s moléculas de sinalização.
l i n f o m a s foliculares, nos quais u m a translocação 14:18 resulta em RET, c o m o outros receptores de t i r o s i n a quinase, ativa as vias de
formação de u m gene f u s i o n a d o bcí-2-cadeia pesada de i m u n o g l o - crescimento posteriores e p o d e r e s u l t a i em sinalização descontro-
b u l i n a . A ativação do gene bcl-2 através do p r o m o t o r de i m u n o - lada do câncer.
g l o b u l i n a resulta em p r o d u ç ã o de altas quantidades da proteína A ativação inadequada de R E T t e m sido extensivamente estu-
bcl-2. A proteína é n o r m a l m e n t e expressa em células que têm u m dada em ( í ) câncer de t i r e ó i d e papilar, (2) M E N - 2 e (3) F M T C .
p e r í o d o de vida l o n g o (p. ex., n e u r ô n i o s ) e em células prolifera- E m cada u m , o mecanismo de ativação de R E T ocorre p o r m e i o
tivas de linhagens celulares de renovação rápida, tais c o m o as de dimerização e transfosforilação desreguladas do receptor RET.
células epiteliais basais. O oncogene bcí-2 é altamente expresso N o caso do câncer de t i r e ó i d e papilar, u m evento genético cria
em u m a variedade de cânceres hematológicos, i n c l u i n d o l i n f o - u m a fusão entre o d o m í n i o de tirosina quinase do R E T e u m
mas, mielomas e leucemias crônicas (doenças malignas caracteri- d o m í n i o de dimerização que p o d e ser d o a d o p o r m u i t o s genes.
zadas p o r sobrevivência celular prolongada). N o c ó l o n n o r m a l , E m M E N - 2 A e F M T C , mutações de p o n t o d o d o m í n i o extrace-
células bcl-2-positivas estão restritas a células epiteliais basais, lular i n d u z ligações dissulfeto entre os receptores, i n d u z i n d o ,
e n q u a n t o , e m p ó l i p o s displásicos e carcinomas, muitas células assim, a dimerização. E m M E N - 2 B , u m a mutação de p o n t o n o
positivas p o d e m ser encontradas nas regiões parabasal e superfi- d o m í n i o quinase parece alterar a especificidade do substrato da
cial. A expressão a n o r m a l d o gene bcl-2 parece sei u m evento do tirosina quinase e aparentemente leva à ativação i n a p r o p r i a d a das
i n í c i o da carcinogênese colorretal. A l é m disso, a superexpressão vias de crescimento posteriores.
do gene bcí-2 está associada ao desenvolvimento de resistência à
q u i m i o t e r a p i a citotóxica de câncer em u m a variedade tumores, Genes Supressores de Tumor
i n c l u i n d o tumores epiteliais e linfomas. P o r t a n t o , a detecção do H i s t o r i c a m e n t e , a evidência dos genes supressores de t u m o r f o i
p r o d u t o do gene bcl-2 em tumores é u m a indicação de progressão. derivada do estudo de células híbridas de células n o r m a l e
Estudos f u t u r o s p o d e m d e t e r m i n a r sua u t i l i d a d e para predizer m a l i g n a que se c o m p o r t a v a m n o r m a l m e n t e . Concluiu-se que
resistência à q u i m i o t e r a p i a . células n o r m a i s c o n t i n h a m u m gene que s u p r i m i u a expressão
da m a l i g n i d a d e . Reversão à m a l i g n i d a d e o c o r r e u q u a n d o as
BCR-ABL células em cultura p e r d e r a m cromossomos n o r m a i s . O estudo
A leucemia m i e l ó i d e crônica ( C M L ) é u m a doença m i e l o p r o l i f e - dos genes supressores p o d e f o r n e c e i u m a pista q u a n t o ao desen-
rativa resultante da expansão c l o n a l de u m a célula-tronco hema- v o l v i m e n t o d o câncer a p a r t i r do estado celular n o r m a l ao estado
topoiética m u l t i p o t e n t e t r a n s f o r m a d a . E m a p r o x i m a d a m e n t e b e n i g n o e canceroso e à metástase. O desenvolvimento do câncer
9 0 % dos pacientes corn C M L , o evento t r a n s f o r m a n t e é a f o r m a - de c ó l o n requer m ú l t i p l a s etapas que envolvem várias mutações.
ção do c r o m o s s o m o P h i l a d e l p h i a , u m a translocação balanceada A perda de u m gene d o c r o m o s s o m o 5 leva a u m a u m e n t o do
entre os cromossomos 9 e 22 [ t ( 9 ; 2 2 ) ( q 3 4 ; q l l ) ] c r i a n d o o gene crescimento celular. A d e n o m a em sua fase precoce está associado
de fusão BCR-ABL. A proteína derivada desta fusão é u m a tiro- à perda de grupos m e t i l da f i t a de D N A . C o m a mutação d o gene
sina quinase citoplasmática c o n s t i t u t i v a m e n t e ativa que ativa ras e a perda d o gene D C C n o c r o m o s s o m o 18, o ad enoma avança
muitas vias de sinalização que levam ao crescimento e à i n i b i ç ã o para o estágio t a r d i o . O c a r c i n o m a é e n c o n t r a d o c o m a perda do
da apoptose. gene TP53 no c r o m o s s o m o 17. F i n a l m e n t e , a metástase ocorre
A detecção da B C R - A B L é ú t i l n o diagnóstico de C M L e n o c o m outras perdas cromossômicas. A u t i l i d a d e clínica de detec-
d i r e c i o n a m e n t o do t r a t a m e n t o , p o r q u e existem muitas estraté- ção de mutações nos genes supressores de t u m o r recai não apenas
gias que t ê m c o m o alvo o gene B C R - A B L p o r oligonucleotídeos n o diagnóstico e n o prognóstico de câncer, mas t a m b é m na
anti-sensos, o u o d o m í n i o quinase de B C R - A B L pelo i n i b i d o r de predição de suscetibilidade q u a n d o a m u t a ç ã o está presente na
tirosina quinase ST1571. A detecção de BCR-ABL, p o r transcri- l i n h a g e m germinativa, tal c o m o c o m os genes de câncer de m a m a
ção reversa-reação de polimerase e m cadeia (RT-PCR), t a m b é m é B R C A 1 e BRCA2.
ú t i l n o m o n i t o r a m e n t o da doença residual m í n i m a em pacientes
que sofreram transplante de m e d u l a óssea. N o subgrupo de Gene Retinoblastoma
pacientes c o m leucemia linfoblástica aguda que possuem o cro- O r e t i n o b l a s t o m a (RB) é u m t u m o r r a i o de crianças que ocorre
m o s s o m o P h i l a d e l p h i a , u m a R T - P C R positiva para o gene BCK- t a n t o em famílias q u a n t o esporadicamente. O trabalho de
A B L representa u m risco m u i t o m a i o r de recidiva comparado ao K n u d s o n sobre a i n c i d ê n c i a f a m i l i a r específica de R B resultou
resultado negativo. E m pacientes c o m C M L após transplante de na hipótese two-hit. Ele c o n s i d e r o u que, na f o r m a herdada do
m e d u l a óssea, resultados de R T - P C R positivo aos 6 a 12 meses t u m o r , u m a mutação estava presente na l i n h a g e m g e r m m a t i v a e
f o r a m associados ao risco 26 vezes m a i o r de recidiva, e u m resul- e m todas as células do c o r p o , o o u t r o evento m u t a c i o n a l ocor-
tado positivo aos 3 meses não f o i p r e d i t i v o de risco. A q u a n t i d a d e r e n d o somaticamente em u m a das células da retina em desenvol-
de t r a n s c r i t o de B C R - A B L p o r ng de R N A t a m b é m se correlacio- v i m e n t o . N a f o r m a esporádica, ambas as mutações o c o r r e m
n o u c o m o risco de recidiva; menos de 1% dos pacientes c o m somaticamente n o m e s m o retinoblasto em d e s e n v o l v i m e n t o , u m
u m nível decrescente de m R N A de B C f r A B L o u menos de 5 0 evento relativamente raro. A hipótese tu/ofiit t e m servido c o m o
transcritos p o r j i g de R N A em queda, e 7 2 % dos pacientes c o m m o d e l o para outros genes supressores de t u m o r . O gene RB f o i
mais de 5 0 transcritos p o r |ig de R N A e m queda. localizado n o cromossomo 13q p o r perda de u m a região do
Marcadores Tumorais CAPÍTULO 20 371

b a n d e a m e n t o CTomossômico dos l i n f ó c i t o s d o sangue periférico APC


de pacientes c o m a f o r m a f a m i l i a r e p o r estudos de perda de U m dos p r i m e i r o s eventos nas supostas etapas de progressão das
heterozigosidade t a n t o de RBs q u a n t o de alguns osteossarcomas. lesões precursoras e m câncer de c ó l o n é a perda do gene polipose
E n t r e t a n t o , a m a i o r i a dos t u m o r e s não cem deleções grandes, adenomatosa de c ó l o n ( A P C ) era p ó l i p o s pré-malignos. O gene
mas mutações de p o n t o o u inserções e deleções pequenas que A P C codifica u m a proteína de 3 0 0 k D a que pode estar truncada
resultam em truncamenco p r e m a t u r o do p r o d u t o protéico. O nas células t u m o r a i s . A função n o r m a l do p r o d u t o do gene A P C
p r o d u t o protéico do gene RB é u m a fosfoproteína nuclear c o m não é conhecida, mas ele interage c o m proteínas, tais c o m o a - e
u m a massa m o l e c u l a r de cerca de 105 k D a ( p l 0 5 - R B ) . Esta pro- p-cateninas, envolvidas e m interações célula-célula em células
teína se liga a u m p r o d u t o de u m vírus t u m o r a l de D N A , epiteliais. Este gene é m u t a d o nas síndromes hereditárias de
i n c l u i n d o a proteína E I A d o vírus t u m o r a l m u r i n o e a p r o t e í n a câncer colorretal dos tipos p o l i p o s e e não-polipose. N o s tipos
E7 do p a p i l o m a v í r u s h u m a n o . Q u a n d o p l 0 5 - R B é h i p o f o s f o r i - polipose, centenas e até mesmo milhares o u mais de t u m o r e s
lado, ele se c o m p l e x a com^fatores de transcrição, tais c o m o E2F, benignos (pólipos) surgem antes d o desenvolvimento do câncer.
e b l o q u e i a a transcrição de genes das células na fase S. E2F N o s tipos não-polipose, m u i t o s p o u c o s pólipos são observados,
dimeriza c o m u m a proteína D P e regula a transcrição de vários mas o risco elevado de câncer é essencialmente similar. O gene
genes envolvidos na síntese de D N A . Inativação o u perda de A P C f o i detectado p o r u m a deleção intersticial do c r o m o s s o m o
p 105-RB desregula as sínteses de D N A e a u m e n t a a proliferação 5 q em u m paciente c o m centenas de pólipos. M a i s de 8 0 % dos
celular. P o r t a n t o , RB é u m gene supressor de t u m o r , na m e d i d a i n d i v í d u o s c o m câncer colorretal h e r e d i t á r i o t ê m mutações ger-
em que ele s u p r i m e a síntese de D N A . A detecção de mutações minativas em u m dos alelos A P C , i n c l u i n d o deleções grandes o u
e m RB é ú t i l na determinação da suscetihilidade de u m i n d i v í d u o mutações localizadas. As formas hereditárias de câncer c o l o r r e t a l
ao d e s e n v o l v i m e n t o de R B na f o r m a f a m i l i a r , mas ela não é usada são relativamente i n c o m u n s , mas mutações somáticas parecem
como marcador tumoral. ser de m u i t a i m p o r t â n c i a n o d e s e n v o l v i m e n t o de cânceres color-
retais não hereditários. M a i s de 7 0 % dos tumores colorretais,
Gene TP53 i n d e p e n d e n t e m e n t e do t a m a n h o o u da histologia, t ê m u m a
D e particular interesse é o gene TP53 que se localiza n o cromos- m u t a ç ã o específica em u m dos d o i s alelos A P C , e a mutação p o d e
somo 17q. Acredita-se que p 5 3 nativa o u selvagem c o n t r o l a a t a m b é m ser e n c o n t r a d a e m o u t r o s tipos de t u m o r , i n c l u i n d o
divisão celular p o i regulai a entrada na fase S. Este efeito de tumores de mama, esôfago e cérebro. A u t i l i d a d e da perda da
c o n t r o l e da proteína p 5 3 pode ser p e r d i d o p o r deleção d o gene p r o t e í n a A P C para diagnóstico e p r o g n ó s t i c o está agora sob inves-
o u produção de u m a proteína m u t a n t e capaz de c o m p e t i r . E n t r e tigação.
3 5 % e 4 0 % dos carcinomas de c ó l o n m o s t r a m deleção e m u m
alelo de TP53 e u m a mutação de p o n t o n o o u t r o alelo; p o r t a n t o , Neurofibromatose Tipo 1
n e n h u m a proteína p53 selvagem é expressa nestes/ tumores. N e u r o f i b r o m a t o s e t i p o 1 ( N F 1 ) , o u doença de v o n Recklinghau-
Deleção alélica de TP53 ocorre apenas raramente e m / a d e n o m a s sen, é u m a s í n d r o m e herdada e m padrão d o m i n a n t e , manifes-
(menos de 10%), sugerindo que a inativação de TP53 p o d e ser tada p r i n c i p a l m e n t e por proliferação de células da crista neural,
u m evento relativamente t a r d i o na carcinogênese de c ó l o n . A l é m r e s u l t a n d o e m n e u r o f i b r o m a s m ú l t i p l o s , manchas café-com-leite
disso, até 2 5 % dos cânceres de m a m a t a m b é m têm TP53 alterado. e n ó d u l o s de Lisch da íris. M u t a ç õ e s n o gene N F 1 t ê m sido
Mutações e m TP53 p r o d u z e m proteínas p 5 3 inativas, p e r m i t i n d o encontradas em ceTca de 2 0 % dos pacientes c o m N F 1 . O gene
que as células se m o v a m através do ciclo celular e c o n t r i b u i n d o N F 1 f o i localizado na região p e r i c e n t r o m é r i c a do c r o m o s s o m o
para o crescimento a u t ô n o m o do câncer. M u i t a s mutações dife- 17q, b a n d a 11. Ele é u m gene g r a n d e q u e codifica u m a p r o t e í n a
rentes de TP53 t ê m sido encontradas em cânceres h u m a n o s . p 3 0 0 , chamada n e u r o f i b r o m i n a . Esta proteína t e m u m alto grau
G r a n d e parte das mutações de p o n t o está localizada e m q u a t r o de s i m i l a r i d a d e c o m proteínas ativadoras de GTPase. E m b o r a o
regiões da proteína (resíduos de aminoácidos 117-142, 171-181, m e c a n i s m o de ação exato da p r o t e í n a não seja c o n h e c i d o , parece
134-158 e 270-286); três "hot-sfots" (regiões preferencialmente que a perda o u a inativação da f u n ç ã o da n e u r o f i b r o m i n a leva a
mutadas) afetam os resíduos 175, 248 e 273. A l é m disso, mutações alterações das vias de transdução d e sinal reguladas p o r proteínas
seletivas de g u a n i n a para t i m i n a são encontradas n o c ó d o n 249 G similares a ras pequenas, r e s u l t a n d o em sinais c o n t í n u o s do
e m H C C s h u m a n o s de pacientes de áreas de alta i n c i d ê n c i a da t i p o "ligado" de ativação celular. M u t a ç õ e s ínativadoras de N F 1
Á f r i c a e da Ásia associadas à exposição à aflatoxina. Mutações nos t a m b é m t ê m sido encontradas e m câncer colorretal, m e l a n o m a
códons 245 e 258 são encontradas na s í n d r o m e de L i - F r a u m e n i , e neurobíastoma.
u m a s í n d r o m e autossômica d o m i n a n t e rara, caracterizada p o r
diversos neoplasmas e m m u i t o s diferentes locais n o c o r p o . BRCA1 e BRCA2
A n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s c o n t r a proteínas p53 mutadas t ê m T e m sido m o s t r a d o que u m s u b g r u p o de pacientes c o m câncer
sido desenvolvidos. A p 5 3 selvagem está n o r m a l m e n t e presente de m a m a tem u m a predisposição herdada c o m o u m traço autos-
e m quantidades m u i t o pequenas que não são detectadas p o r s ô m i c o d o m i n a n t e para desenvolver cânceres de m a m a e ovário.
i m u n o i s t o q u í m i c a , e n q u a n t o a proteína m u t a n t e se a c u m u l a e m D o i s loci genéticos t ê m sido i d e n t i f i c a d o s : B R C A l , n o cromos-
quantidades f a c i l m e n t e detectáveis. Superexpressão das proteínas s o m o 17q, e BRCA2, que se localiza n o 13q 12-13. B R C A l codi-
m u t a n t e s t e m sido detectada e m até 7 0 % dos cânceres colorretais fica u m a proteína de 1863 a m i n o á c i d o s q u e p o d e atuar c o m o
p r i m á r i o s . Superexpressão de p 5 3 em cânceres de m a m a está fator de transcrição. A capacidade de detectar mutações e m
associada a p r o g n ó s t i c o r u i m , mas esta associação não é tão f o r t e B R C A l e B R C A 2 em células somáticas p e r m i t e a identificação
c o m o a associação c o m c-erbB-2. A t é 7 5 % dos S C C s parecem de i n d i v í d u o s nas famílias c o m câncer de m a m a que carregam o
superexpressar u m a proteína m u t a n t e (mutação misseme). Final- gene m u t a d o . Estima-se que 1 e m 2 0 0 mulheres nos Estados
mente, a n t i c o r p o s circulantes c o n t r a proteínas p53 m u t a n t e s t ê m U n i d o s p o d e ter u m a m u t a ç ã o g e r m i n a t i v a n o gene B R C A l . Isto
sido e n c o n t r a d o s nos soros de pacientes c o m cânceres de m a m a t e m criado u m d i l e m a ético p a r a os médicos, pacientes e suas
e p u l m ã o e l i n f o m a s das células B . Esta resposta d o a n t i c o r p o famílias e companhias de seguro e organizações de m a n u t e n ç ã o
pode ser ú t i l neste subgrupo de pacientes para o m o n i t o r a m e n t o da saúde, na m e d i d a e m q u e agora é possível predizeT c o m razoá-
de recidiva. vel certeza que u m i n d i v í d u o q u e carrega u m a m u t a ç ã o em u m
372 PARTE IV Analitos

destes genes desenvolverá cânceres de m a m a e / o u ovário. O que mutações e m ras que o c o r r e m em diversos cânceres), por análise
deve ser feito caso seja observado q u e u m i n d i v í d u o saudável de microssatélite do D N A c i r c u l a n t e o u p o r detecção de translo-
carrega u m a m u t a ç ã o n o gene BKCA? Portadores de u m a mutação cações cromossômicas c o m u n s que causam câncer. Alterações
n o gene BRCA1 t ê m u m risco de 8 5 % de desenvolver câncer de epigenéticas de D N A circulante, tais c o m o padrões de metilação
m a m a e u m risco de 4 5 % de desenvolver câncer de ovário c o m alterados, p o d e m t a m b é m ser detectadas. E m b o r a esta tecnologia
85 anos. Estes pacientes devem fazer mastectomia ou ovariecto- seja relativamente nova, d u r a n t e a p r ó x i m a década, a detecção
m i a preventiva? As c o m p a n h i a s de seguro e as organizações de de D N A circulante c o m b i n a r á u m n ú m e r o crescente de técnicas
m a n u t e n ç ã o de saúde devem ter taxas mais altas para os porta- c l i n i c a m e n t e úteis; e n t r e t a n t o , m u i t a s questões devem ainda ser
dores? Sempre f o i objetivo da pesquisa do câncer ser capaz de respondidas, tais c o m o a f o n t e d o D N A liberado de células e q u e
i d e n t i f i c a r i n d i v í d u o s sob risco. A g o r a que é possível, nós formas existem do D N A e d o R N A . N o f u t u r o , esta tecnologia
devemos desenvolver u m a política para lidar c o m a informação. 6 poderá ter a capacidade de fornecer u m p a i n e l mais global das
E m b o r a a detecção da m u t a ç ã o não seja ú t i l c o m o marcador a n o r m a l i d a d e s presentes n o paciente.
t u m o r a l p o r si só, c o m m a i o r e n t e n d i m e n t o de c o m o os p r o d u t o s
d o gene m u t a d o atuam, p o d e ser possível entender os eventos
moleculares que levam ao desenvolvimento de alguns cânceres
de m a m a e ovário.
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circulantes t ê m sido propostos c o m o marcadores de certos tipos serum t h y r o g l o b u l i n measurement and prognostic significance i n
de câncer. Para se usar D N A circulante c o m o marcador de câncer, patients w i t h differentiated t h y r o i d carcinoma. J C l i n E n d o c n n o l M e t a b
deve existir u m m e c a n i s m o para diferenciar D N A n o r m a l de 1998;83:1121-7.
D N A neoplásico. Isto é alcançado p o r detecção de mutações n o 12. Srurgeon C . Practice guidelínes foi t u m o r marker use in the clinic. C l i n
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C A P Í T U L O 2 1

Creatinina, Uréia e Ácido Úrico


Edmund J. Lamb, Ph.D., F.R.C.Path., e Christopher P. Price, Ph.D., F.R.C.Path.

OBJETIVOS a creatina é t r a n s p o r t a d a n o sangue para o u t r o s órgãos, tais c o m o


1. Resumir a biossíntese da uréia, creatinina e ácido úrico. músculos e cérebro, o n d e é fosforilada para fosfocreatina, u m
2. Determinar a função e a importância clínica da uréia, creatinina e composto de alta energia.
ácido úrico.
O
3. Discutir a utilidade clínica e as limitações da dosagem da uréia
HN NH 2 CreaiinOí/uinzise ^ ®
como um marcador da função renal.
x ^ °
4. Resumir o transporte renal do ácido úrico e determinar seu papei TsT
H3C ^CH 2 ATP ADP HJC"' X:H2
na patogenia da gota e dos cálculos do trato urinário.
5. Enumerar os requerimentos de amostras, os métodos analíticos, os O-'A ^ 0 ° e
c * S )
princípios e as interferências analíticas possíveis da uréia,
Creatina Fosfocreatina
creatinina e ácido úrico.

PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES
G o t a : U m g r u p o de d i s t ú r b i o s do m e t a b o l i s m o de p u r i n a e
pirimidina.
H i p e r u r i c e m i a : Excesso de ácido ú r i c o o u uratos n o sangue; é
u m pré-requisito para o desenvolvimento da gota e p o d e s
levar à doença renal.
k
( KV.tÚUlUI
H i p o u r i c e m i a ; D i m i n u i ç ã o da concentração de ácido ú r i c o n o
sangue, às vezes devida à deficiência de x a n t i n a oxidase, a
A interconversão de fosfocreatina e da creatina é u m a carac-
enzima necessária para a conversão da h i p o x a n t m a e m
terística p a r t i c u l a r dos processos metabólicos da contração mus-
x a n t i n a e da x a n r i n a e m ácido ú r i c o .
cular. U m a p r o p o r ç ã o de creatina livre (acredita-se q u e se]a de
Reação de Jaffe; A reação da creatinina c o m o p i era to alcalino
1% a 2 % ao dia) converte-se espontânea e irreversivelmente para
para f o r m a r u m c o m p o s t o c o l o r i d o . Usada paia m e d i r a
seu p r o d u t o de excreção na f o r m a de a n i d r i d o - a creacinina.
creatinina.
Logo, a q u a n t i d a d e total de c r e a t i n i n a p r o d u z i d a a cada dia é
T a x a de F i l t r a ç ã o G l o m e r u l a r ( G F R ) : Taxa em m i l i l i t r o s por
relativamente constante e é relativa à massa muscular. C o m b o a
m i n u t o na q u a l pequenas substâncias c o m o a c r e a t i n i n a e a
saúde, a concentração de c r e a t i n i n a na corrente sanguínea é
uréia são filtradas através dos g l o m é r u l o s renais. E u m a
relativamente constante. E n t r e t a n t o , d e p e n d e n d o da ingestão de
m e d i d a da q u a n t i d a d e de n é f r o n s ativos.
carne do i n d i v í d u o , a dieta p o d e i n f l u e n c i a r essa concentração.
U r é i a : O p r i n c i p a l m e t a b ó l i t o n i t r o g e n a d o do c a t a b o l i s m o
A creatinina encontra-se presente e m todos os f l u i d o s e secreções
protéico no h o m e m .
corporais, sendo f i l t r a d a l i v r e m e n t e pelo g l o m é r u l o . Apesar de
não ser reabsorvida em q u a n t i d a d e relevante pelos túbulos renais,
há u m a pequena secreção t u b u l a r , p o r é m significativa. A p r o d u -

A
ção de creatinina t a m b é m d i m i n u i c o n f o r m e o nível c i r c u l a n t e
c r e a t i n i n a , a uréia e o ácido ú r i c o são m e t a b ó l i t o s n i t r o - dessa creatinina a u m e n t a ; f o r a m propostos diversos mecanismos
genados não proteicos depurados d o corpo através do r i m para isso, i n c l u i n d o (1) i n i b i ç ã o da p r o d u ç ã o de creacinina, (2)
após a filtração g l o m e r u l a r . A s dosagens das concentra- reconversão da c r e a t i n i n a e m creatina e (3) conversão para o u t r o s
ções plasmáticas e séricas desses metabólitos são usadas c o m u - metabólitos.
m e n t e c o m o indicadores da f u n ç ã o renal e de outras condições.
Importância Clínica
CREATININA A creatinina é p r o d u z i d a e n d o g e n a m e n t e e liberada nos f l u i d o s
A c r e a t i n i n a ( M W 113 Da) é o a n i d r i d o cíclico da creatina q u e corporais n u m a taxa constante, e sua concentração plasmática é
é gerado c o m o p r o d u t o f i n a l da decomposição da fosfocreatina. m a n t i d a d e n t r o de l i m i t e s estreitos, p r e d o m i n a n t e m e n t e pela
Ela é excretada na u r i n a ; as dosagens da creatinina plasmática e filtração glomerular. C o n s e q ü e n t e m e n t e , t a n t o a concentração
de sua depuração renal são usadas c o m o indicadores diagnósticos plasmática da creatinina q u a n t o a sua depuração renal ("clearance
da função r e n a l ( C a p í t u l o 34). de creatinina") t ê m sido utilizadas c o m o marcadores da taxa de
f i l t r a ç ã o g l o m e r u l a r ( G F R ) . A aplicação e as limitações desses
Bioquímica e Fisiologia testes são debatidas no C a p í t u l o 34-
A c r e a t i n i n a é sintetizada nos (1) rins, (2) fígado e (3) pâncreas
p o r duas reações mediadas e n z i m a t i c a m e n t e . N a p r i m e i r a , a tran- Metodologia Analítica
samidação da a r g i n i n a e da g l i c i n a f o r m a o ácido guanidinoacé- A creatinina plasmática é m e d i d a c o m u m e n t e usando-se m é t o d o s
tico. N a segunda reação, a metilação d o ácido g u a n i d i n o a c é t i c o q u í m i c o s o u enzimáticos. O u t r o s m é t o d o s , i n c l u i n d o a espectro-
ocorre c o m a S - a d e n o s i l m e t i o n i n a c o m o d o a d o r de metila. E n t ã o , metria de massa c o m d i l u i ç ã o d o i s ó t o p o , t a m b é m t ê m sido
374 PARTE IV Analitos

utilizados. 3 '' 9 A m a i o r i a dos laboratórios usa adaptações do nao-linear; logo, é necessário u m i n t e r v a l o f i x o de dois pontos
mesmo m é t o d o para as medições t a n t o n o plasma q u a n t o na e m vez de u m a abordagem de m ú l t i p l o s p o n t o s de dados.
urina.
Concentração de Hidróxido
Métodos Químicos: a Reação de Jaffe A taxa de reação i n i c i a l é de pseudo-primeira o r d e m n o que diz
A m a i o r i a dos métodos clínicos para a dosagem da creatinina respeito às concentrações de h i d r ó x i d o acima de 0,5 m m o l / L .
baseia-se em sua reação c o m o p i c r a t o alcalino. C o m o descrito Porém, a 500 m m o l / L , há u m a degradação elevada d o complexo
pela p r i m e i r a vez p o r Jaffe em 1886, a creatinina reage c o m o i o n de Jaffe. A l é m disso, nas concentrações de h i d r ó x i d o acima de 200
picrato n u m m e i o alcalino p a t a resultar n u m c o m p l e x o laranja- m m o l / L , a absorvância do branco aumenta significativamente.
avermelhado.
U m p r o b l e m a analítico sério c o m a reação de Jaffe é a sua Comprimento de Onda
falta de especificidade para a c r e a t i n i n a . Por exemplo, relatou-se E m b o r a a absorvância m á x i m a da reação de Jaffe esteja entre 490
que m u i t o s compostos p r o d u z i r a m u m cromógeno semelhante e 500 n m , melhores linearidades e redução dos brancos já f o r a m
ao de Jaffe, i n c l u i n d o (1) o ácido ascórbico, (2) os p r o d u t o s que relatadas e m outros c o m p r i m e n t o s de onda, v a r i a n d o a escolha
substituem o sangue, (3) as cefalosporinas, (4) a glicose, (5) a de acordo c o m a concentração de h i d r ó x i d o .
g u a n i d i n a , (6) os corpos cetônicos, (7) a proteína e (8) o p i r u v a t o .
O grau de interferência desses c o m p o n e n t e s depende das condi- Temperatura
ções específicas da reação escolhida. O efeito das cetonas e ceto- A taxa de formação do complexo de Jaffe e a absortividade desse
ácidos provavelmente é de grande i m p o r t â n c i a clínica, embora complexo d e p e n d e m da temperatura, sendo observadas diferen-
este efeito seja m u i t o dependente d o m é t o d o . A s s i m , os relatórios ças mensuráveis até mesmo entre 2 5 ° C e 37°C. Conseqüente-
da interferência d o acetoacetato v a r i a m de u m a u m e n t o despre- mente, o c o n t r o l e de temperatura é u m c o m p o n e n t e i m p o r t a n t e
zível a u m a u m e n t o de 3,5 m g / d L (310 j J m o l / L ) na concentração da r e p r o d u t i b i l i d a d e do ensaio.
de creatinina aparente n u m a concentração de acetoacetato de
8 m m o l / L . A b i l i r r u h i n a é u m i n t e r f e r e n t e negativo na reação Métodos Enzimáticos
de Jaffe. A adição de ions de t a m p o n a m e n t o , tais c o m o b o r a t o Enzimas de várias vias metabólicas f o r a m investigadas para a
e fosfato, j u n t o c o m surfactante, t e m sido utilizada para m i n i m i - dosagem enzimática da creatinina. Todos os méto dos envolvem
zar os efeitos desta interferência. A l é m disso, adicionou-se ferri- u m a abordagem de m ú l t i p l a s etapas, levando a u m e q u i l í b r i o
cianeto - m é t o d o de 0 ' L e a r y - para oxidar a b i l i r r u b i n a em f o t o m é t r i c o (Figura 21-1). Existem basicamente três abordagens,
b i l i v e r d i n a , r e d u z i n d o p o r t a n t o a sua interferência. Os cromóge- descritas a seguir.
nos não-creatmina geralmente n ã o c o n t r i b u e m para a concentra-
ção u r i n á r i a m e d i d a da creatinina.
Creatininase
O m a i o r sucesso e m termos de uso c o m u m e especificidade
A creatininase (EC 3.5.2.10; creatinina amidoidrolase) catalisa a
veio a p a r t i r do uso da abordagem dosagem cinética em combi-
conversão da creatminâxem creatina. E n t ã o , a creatina é detec-
nação c o m a escolha cuidadosa das concentrações de reagente.
tada c o m u m a série de reações mediadas p o r enzima envolvendo
E m geral, os métodos manuais t ê m sido t r a d i c i o n a l m e n t e
a creatinoquinase, a p i r u v a t o quinase e a lactato desidrogenase,
m é t o d o s de e q u i l í b r i o , c o m a espera de 10 a 15 m i n u t o s para o
c o m o m o n i t o r a m e n t o da d i m i n u i ç ã o da absorvância a 340 n m
desenvolvimento da cor em temperatura ambiente. Os ensaios
(Figura 21-1, A ) . O i n í c i o da reação c o m a creatininase viabiliza
cinéticos f o r a m desenvolvidos para p r o p o r c i o n a r análises mais
a remoção da creatina endógena e d o p i r u v a t o n u m a reação de
específicas, rápidas e automatizadas. O s estudos iniciais das inter-
pré-mcubação. A cinética da reação é analiticamente problemá-
ferências nos métodos cinéticos i d e n t i f i c a r a m dois tipos de cro-
tica, sendo necessária u m a incubação de 30 m i n u t o s para p e r m i -
mógenos não-creatinina. N u m g r u p o , a taxa de formação de
tir que a reação alcance o e q u i l í b r i o . Essa lacuna f o i p r e e n c h i d a
adutos é m u i t o rápida e ocorre nos p r i m e i r o s 20 s após a m i s t u r a
p o r u m a abordagem cinética, p o r é m c o m u m a redução subse-
d o reagente e da amostra. O acetoacetato é u m exemplo desse
q ü e n t e na capacidade do m é t o d o em detectar a creatinina. C o n -
tipo de interferente. N o segundo g r u p o , a taxa de formação de
seqüentemente, esta abordagem n ã o é a m p l a m e n t e utilizada.
adutos não é significativa até que se a t i n j a m 80 a 100 s após a
m i s t u r a (p. ex., proteína). A "janela" entre 20 e 80 s, p o r t a n t o ,
Creatininase e Creatinase
f o i u m peTÍodo n o q u a l o sinal da taxa observada poderia ser
TJma abordagem alternativa t e m sido o uso da creatinase ( E C
a t r i b u í d o p r e d o m i n a n t e m e n t e à reação creatinina-picrato. A
3.5.3.3; creatina amidoidrolase), que resulta em sarcosina e uréia,
m e l h o r i a da especificidade nos ensaios cinéticos f o i alcançada
sendo a p r i m e i r a m e d i d a e m etapas posteriores mediadas p o r
selecionando-se os tempos das medições de taxa de 20 a 80 s após
enzima usando a sarcosina oxidase ( E C 1.5 3,1). Isto p r o d u z (1)
o i n í c i o da reação (mistura). A abordagem f o i i m p l e m e n t a d a em
glicina, (2) formaldeído e (3) peróxido de hidrogênio (Figura 21-1, B),
vários i n s t r u m e n t o s automatizados, e agora os ensaios cinéticos
sendo este ú l t i m o detectado e m e d i d o através de vários métodos.
são a m p l a m e n t e utilizados para m e d i r as concentrações de crea-
C o n t u d o , deve-se ter c u i d a d o q u a n t o às interferências (p. ex.,
t i n i n a nos f l u i d o s corporais.
pela b i l i r r u b i n a ) na seqüência f i n a l da reação. Esse p r o b l e m a t e m
Existe l i t e r a t u r a b e m abrangente a respeito da escolha das
sido m i n i m i z a d o pela adição de ferricianeto de potássio ( c o m
concentrações de reagente, do i n t e r v a l o de leitura, da escolha d o
sucesso l i m i t a d o ) o u b i l i r r u b i n a oxidase. A i n t e r f e r ê n c i a poten-
c o m p r i m e n t o de o n d a e da t e m p e r a t u r a da reação.
cial causada pelo ácido ascórbico f o i vencida pela inclusão de
ascorbato oxidase (L-ascorbato. oxigênio oxidorredutase, E C
1.10.3.3). A i n f l u ê n c i a da creatinina endógena i n t e r m e d i á r i a e
Concentração de Picrato da uréia t e m sido m i n i m i z a d a adicionando-se u m a etapa de pré-
A reação de Jaffe é de pseudo-primeira o r d e m n o que diz respeito incubação e depois i n i c i a n d o a reação com a creatirunase. Este
ao picrato de até 30 m m o l / L , c o m a m a i o r i a dos m étodos empre- sistema f o i i n c o r p o r a d o à p l a t a f o r m a de testes r á p i d o s do paciente
gando u m a concentração entre 3 e 16 m m o l / L . Nas concentra- (point-of-care) c o m u m dispositivo de teste usando detecção pola-
ções acima de 6 m m o l / L , a taxa de evolução da cor torna-se rográfica U m sistema de detecção alternativo envolve a dosagem
Creatinina, Uréia e Ácido Úrico CAPÍTULO 21 375

creatininase
creatinina + H , 0 creatina

creatinoquinase
creatina + ATP fosfocreatina + ADP

piruvato quinase
ADP + fosfoenolpiruvato piruvato + ATP

lactato desidrogeriase
piruvato + NADH + H 4 • lactato + NAD +

creatininase
B creatinina + H 7 0 creatina

creatinase
creatina + H 2 0 sarcosina + uréia

sare os/na oxidase


sarcosina + O, + H 2 0 formaldeído + giicina + H 2 0 2

peroxidase
indicador (reduzido) + H 2 0 2 indicador (oxidado) + 2 H 2 0

ou
formaldeído
desidrogenase
C formaldeído + NAD + + H 2 0 HCOOH + NADH + H"1
creatinina
desaminase
D creatinina + H 2 0 N-metilidantoína + NH-.

L-metilidantoinase
N-metilidantoína + ATP + H 2 0 > carbamoilsarcosina + ADP + Pi

L-carbamoilsarcosina
aminoidroiase
carbamoilsarcosina + H 2 0 sarcosina + C 0 2 + NH 3

sarcosina oxidase
sarcosina + O? + H , 0 H 2 0 + giicina + HCHO

peroxidase
indicador (reduzido) + H 2 0 2 indicador (oxidado) + 2 H 2 0

Figura 21-1 D e t e r m i n a ç ã o da c r e a t i n i n a usando-se diversos m é t o d o s e n z i m á t i c o s . Leia o t e x t o p a r a o b t e r


m a i s detalhes.

da redução d o d i n u c l e o t i d e o a d e n i n a n i c o t i n a m i d a ( N A D ) pelo u m a camada semipermeãvel e o p t i c a m e n t e opaca para reagir c o m


f o r m a l d e í d o na presença de f o r m a l d e í d o desidrogenase (Figura o azul de b r o m o f e n o l para elevar a absorvância e m 6 0 0 n m . U m a
21-1, C). segunda película m u l t i c a m a d a sem a enzima foi utilizada para
q u a n t i f i c a r a a m ó n i a endógena, v i a b i l i z a n d o a correção d o
Creatinina Desaminase b r a n c o . U m m é t o d o posterior de l â m i n a ú n i c a u t i l i z o u a seqüên-
A c r e a t i n i n a desaminase ( E C 3.5.4-21; c r e a t i n i n a i m i n o i d r o - cia de reação creatminase-creatinase. Relatou-se que os m e t a b ó l i -
lase) catalisa a conversão da c r e a t i n i n a e m N - m e t i l i d a n t o í n a e tos da l i d o c a í n a i n t e r f e r e m nesse m é t o d o . Esse sistema c r e a t i n i n a
a m ó n i a . O s p r i m e i r o s m é t o d o s concentravam-se n a detecção desaminase descrito t a m b é m foi u t i l i z a d o e adaptado para o uso
da a m ó n i a usando a g l u t a m a t o desidrogenase o u a reação de c o m o u m dispositivo de teste point-ofeare (Figura 21-1, D). E m
B e r t h e l o t . U m a abordagem alternativa envolve a enzima N - m e t i - todos os casos a cor p r o d u z i d a na película é q u a n t i f i c a d a pela
l i d a n t o i n a amidoidrolase (Figura 2 L 1 , D). espectro f o t o m e t r i a de reflectãncia. T a m b é m foi descrito u m
sistema de q u í m i c a seca n o q u a l foi utilizada u m a a b o r d a g e m não
Sistemas de Química Seca enzimática baseada n a reação c o m o ácido 3 , 5 - d i n i t r o b e n z ó i c o .
V á r i o s m é t o d o s de reagente seco m u l t i c a m a d a f o r a m descritos
para a dosagem da creatinina usando reações mediadas p o r Outros Métodos
enzima. U m a abordagem i n i c i a l de "duas l â m i n a s " empregava a F o i descrito u m m é t o d o d e f i n i t i v o que emprega a espectrometria
c r e a t i n i n a desaminase, c o m a a m ó n i a d i f u n d i n d o - s e através de de massa c o m d i l u i ç ã o de i s ó t o p o ( I D - M S ) . 9 U m m é t o d o para a
376 PARTE IV Aralitos

creatinina que tende a ser uma referência e é ligado a este método mulheres (de 11 a 20 m g / k g / d i a , 97 a 177 pnnol/kg/dia). A
definitivo usa a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) excreção da creatinina d i m i n u i com a idade. Tipicamente, para
de troca iônica isocrática com a detecção do ultravioleta ( U V ) em u m h o m e m de 70 kg, a excreção da creatinina d i m i n u i r á de
234 nm. 1 aproximadamente 1.640 para 1.030 m g / d i a (14,5 a 9,1 m m o l /
dia) com a progressão da idade dos 30 aos 80 anos. Acredita-se
Considerações sobre Qualidade com os Métodos que a dosagem da excreção urinária da creatinina seja u m indi-
de Creatinina cador ú t i l da totalidade de uma coleta cronometrada da urina.
C o m o foi debatido anteriormente, os diferentes métodos para
testar a creatinina plasmática tem graus dc acuidade c imprecisão URÉIA
variados. C o m o advento da análise cinética automatizada, dentro O catabolismo das proteínas e aminoácidos resulta na formação
do laboratório, por dia, espera-se urna imprecisão média de apro- da uréia, a qual é eliminada do corpo predominantemente pelos
ximadamente 3,0% nas concentrações patológicas, com desem- rins.
penho reduzido dentro do intervalo de referência Isto ainda está
Proteína
fora dos padrões de desempenho desejados, definidos em termos
de variação biológica
Proceóltie, /imicipalrnerue enrimárica
A estimativa da G F R baseada na concentração de creatinina
T
plasmática irá variar claramente dependendo da precisão e do
Aminoácidos
ajuste da dosagem da creatinina. 2 Q u a n t o mais u m método supe-
restimar a creatinina "real", maior será a subestimação da G F R
Transamirusção e desaminação oxidativa
e vice-versa. C o m o resultado da reação com cromógenos não-
creatinina, considerou-se que normalmente os métodos finais de
AmiYnia
Jaffe superestimam a concentração real de creatinina plasmática
em aproximadamente 20% nas concentrações fisiológicas. Con-
Síntese enzimática no "ciclo da uréia"
seqüentemente, os métodos cinéticos, enzimáticos e cromatográ-
ficos produzem medições de creatinina aproximadamente 20%
Uréia
mais baixas do que os métodos de Jaffe iniciais. Porém, uma vez
que isso pode resultar na superestimativa da GFR, alguns fabri-
cantes de reagentes e instrumentos calibraram seus ensaios para
produzir resultados de creatinina plasmática mais elevados. Bioquímica e Fisiologia
C o m o conseqüência, os métodos de creatinina disponíveis A uréia (CO[NFL] 2 ) é o principal p r o d u t o metabólico nitroge-
comercialmente podem demonstrar u m ajuste positivo, compa- nado do catabolismo protéico em humanos, c o n t r i b u i n d o para
rados com os métodos de ID-MS, particularmente nas concentra- mais de 75% do nitrogênio não protéico eventualmente excre-
ções dentro dos intervalos de referência. Inversamente, alguns tado. A biossíntese da uréia a partir da amónia derivada do
fabricantes manipularam seus testes para ajustar a saída do anali- nitrogênio de aminoácido é feita exclusivamente pelas enzimas
sador para a interferência do cromógeno não-creatinina (os cha- hepáticas do ciclo da uréia. D u r a n t e o processo de catabolismo
mados ensaios compensados). N a prática atual os coeficientes de da proteína, o nitrogênio de aminoácido é convertido para uréia
variação (CVs) interlaboratoriais <3% são atingíveis dentro de n o fígado pela ação das chamadas enzimas do ciclo da uréia
grupos de métodos. C o n t u d o , o consenso global interlaboratorial (Figura 21-2).
através dos métodos é bem mais fraco, e é c o m u m a variação de Mais de 9 0 % da uréia é excretada através dos rins, e as perdas
0,2 a 0,4 m g / d L (18 a 36 |umol/L) entre os laboratórios. A l é m através do trato gastrointestinal e da pele contribuem para a
disso, o consenso interlaboratorial e dentro do próprio laborató- maior parte da fração menor remanescente. Consequentemente,
rio se deteriora conforme a concentração de creatinina plasmá- a doença renal é associada ao acúmulo de uréia no sangue. U m
tica se aproxima do intervalo de referência: a relação exponencial aumento na concentração de uréia plasmática caracteriza o estado
entre a creatinina plasmática e a G F R significa que a imprecisão urêmico (azotêmico). A uréia não é reabsorvida ativamente e nem
nas baixas concentrações de creatinina contribui para u m erro secretada pelos túbulos, mas sim filtrada livremente pelos glo-
maior na estimativa da G F R do que nas concentrações de crea- mérulos. N u m r i m normal, de 4 0 % a 70% da uréia altamente
tinina mais elevadas. Obviamente, a padronização da dosagem difusível move-se passivelmente para fora do túbulo renal e para
da creatinina é crucial, e estão em andamento as tentativas de dentro do interstício, para, finalmente, reentrar n o plasma. A
preparar u m padrão internacional a ser utilizado na calibração retrodifusão da uréia também depende da taxa de fluxo da urina,
dos testes de creatinina plasmática/ com pouca entrada n o interstício nos estados de alto fluxo
(p. ex., gravidez) e vice-versa. Conseqüentemente, a depuração da
uréia subestima geralmente a GFR. Na ESDR, a diurese osmótica
Intervalos de Referência
nos néfrons funcionais remanescentes limita a retrodifusão da
Os intervalos de referência para a creatinina plasmática depen-
uréia de modo que a depuração da mesma aproxima-se da depu-
dem do método. Tipicamente, os intervalos de referência para a
ração da inulina (considerado o método de referência para avaliar
creatinina plasmática, medidos pelos métodos de Jaffe, são de 0,9
a GFR).
a 1,3 m g / d L (80 a 115 [ i m o l / L ) nos homens e de 0,6 a 1,1 m g /
d L (53 a 97 J i m o l / L ) nas mulheres, embora se devam aplicar
intervalos de referência significativamente menores quando se I m p o r t â n c i a Clínica
utilizam métodos específicos e mais precisos, tal como o ID-MS. A dosagem da uréia sanguínea e plasmática tem sido utilizada há
As concentrações de creatinina plasmática nos pacientes com muitos anos como u m indicador da função renal. Todavia, hoje
insuficiência renal terminal não tratada (ESRD) podem ultrapas- é geralmente aceito que a dosagem da creatinina proporciona
sar 11 m g / d L (1.000 jj.mol/L). informações melhores a esse respeito. Porém, a dosagem da uréia
A excreção urinária da creatinina é mais elevada nos homens plasmática e urinária amda pode fornecer informações clínicas
(de 14 a 26 m g / k g / d i a , 124 a 230 |umol/kg/dia) do que nas úteis em determinadas circunstâncias, e a dosagem da uréia nos
Creatinina, Uréia e Ácido Úrico CAPÍTULO 21 377

C 0 2 4- N H 3 elevada c o m concentrações normais de c r e a t i n i n a o r i g i n a n d o pro-


porções elevadas p o d e ser vista c o m qualquer dos estados pré-
- - 2 ATP
x
renais descritos a n t e r i o r m e n t e . A s taxas elevadas associadas às
• fCPSI Fumara to concentrações de c r e a t i n i n a elevadas p o d e m i n d i c a r a obstrução
pós-renal o u a azotemia pré-renal superpostas n a doença renal.
V
2 ADP + P A depuração da uréia é u m i n d i c a d o r i n f e r i o r da G F R , já que
1
a sua taxa de p r o d u ç ã o depende de vários fatores não renais,
Fosfato
i n c l u i n d o a dieta e a atividade das enzimas d o ciclo da uréia.
de carbamoil
U m a dieta rica e m p r o t e í n a provoca a u m e n t o s significativos na
yX \ excreção da uréia u r i n á r i a . A l é m disso, a q u a n t i d a d e variável de
O m i t i na Ar<;ini na retrodifusão i n f l u e n c i a r á ambas as concentrações de uréia plas-
/ ^ mática e u r i n á r i a . A dosagem da uréia u r i n á r i a ocupa p o u c o
/ \ espaço n o diagnóstico e n a c o n d u t a clínicos. E n t r e t a n t o , ela
p r o p o r c i o n a u m í n d i c e grosseiro d o e q u i l í b r i o global de nitrogê-
; i n i o e pode ser utilizada c o m o u m guia para a reposição nos
t ore pacientes que estejam recebendo alimentação parenteral. N u m a
i dieta protéica m é d i a , a excreção u r i n á r i a expressa c o m o nitrogê-
i( * n i o uréico é de 12 a 2 0 g / d i a .

\ j M e t o d o l o g i a Analítica
A m b o s os m é t o d o s q u í m i c o e enzimático são usados para quan-
Citrulina Argininossuccinaro
\ / ' / t i f i c a r a uréia nos l í q u i d o s corporais. s

/ \ _ MS Métodos Químicos
Aspar ca to " < A m a i o r parte dos métodos químicos para a uréia baseia-se na reação
.• N de Feaion, e m que o diacetil se condensa c o m a uréia para formar
ATP AMP - P o cromógeno diazina, o qual absorve fortemente a 540 n m .

Figura 21 -2 A via d o ciclo da uréia. CPS I, C a r b a m o i l fosfato H,N H © TÍ,C.


"'C:' 1
sintetase 1; * N - a c e t í l g l u t a m a t o c o m o efetor alostérico p o s i t i v o ; O T C , C=0 + I \ \ = Q + 2 H20
o r n i t i n a transcarbamilase; AAS, argininossuccinato sintetase; A L , HjN HjC^O Calor
HjC' " •
a r g i n i n o s s u c c i n a t o liase; AR, arginase; ADP, difosfato de adenosina; Uréia Diacecila
Diaziria
A M P , m o n o f o s f a t o de adenosina; ATP, tTifosfato de adenosina; Pi,
fosfato i n o r g â n i c o .
C o m o a diacetila é instável, n o r m a l m e n t e é gerada n o sistema
de reaçao da d i a c e t i l m o n o x i m a e d o ácido. E m b o r a a m p l a m e n t e
u t i l i z a d o n o passado, esse m é t o d o tem sido s u b s t i t u í d o pelas
abordagens enzimáticas.
l í q u i d o s da diálise é a m p l a m e n t e utilizada na avaliação da ade-
quação da terapia de substituição renal. V á r i o s fatores extra- Métodos Enzimáticos
renais i n f l u e n c i a m na concentração de uréia circulante, l i m i - Os métodos enzimáticos para a dosagem da uréia baseiam-se
t a n d o sua validade c o m o u m teste da f u n ç ã o renal. Por exemplo, n a h i d r ó l i s e p r e l i m i n a r da uréia c o m a urease (uréia a m i d o i d r o -
a concentração de uréia plasmática eleva-se c o m (1) u m a dieta lase, E C 3.5.1.5; cuja p r i n c i p a l f o n t e é o feijão) para gerar a m ó n i a ,
rica e m proteína, (2) catabolismo p r o t é i c o elevado, (3) reabsorção a qual é então q u a n t i f i c a d a . Esta abordagem t e m sido utilizada
das proteínas sanguíneas após a h e m o r r a g i a gastrointestinal, (4) nos sistemas (1) f o t o m é t r i c o de e q u i l í b r i o , (2) f o t o m é t r i c o ciné-
t r a t a m e n t o c o m c o r t i s o l o u seus análogos sintéticos, (5) desidra- tico, (3) c o n d u t i m é t n c o e (4) de q u í m i c a seca.
tação, e c o m (6) a perfusão reduzida dos r m s (p. ex., i n s u f i c i ê n c i a
Urease
cardíaca). Nessas situações pré-renais, a concentração de creati- 0 0
C=0 2 H20 2 NH ® - CO
n i n a plasmática pode estar n o r m a l . Nas condições pós-renais
obstrutivas (p. ex., m a l i g n i d a d e , nefrolitíase e p r o s t a t i s m o ) , as H,N

concentrações t a n t o da c r e a t i n i n a plasmática q u a n t o da uréia Uréia


serão elevadas, e m b o r a nessas situações haja quase sempre u m
A s abordagens espectrofotométricas para a quant i f i cação da
a u m e n t o m a i o r n a uréia plasmática d o que n a c r e a t i n i n a d e v i d o
a m ô m a i n c l u e m a reação de Bertfielot e o ensaio enzimático c o m
à retrodifusão elevada. Essas considerações o r i g i n a m a u t i l i d a d e
g l u t a m a t o desidrogenase [ L - g l u t a m a t o - N A D ( p ) oxirredutase
clínica p r i n c i p a l da uréia plasmática, a q u a l reside n a dosagem
(desaminante), E C 1.4.1.3]. Esta ú l t i m a a b o r d a g e m t e m sido
e m c o n j u n t o c o m a da creatinina plasmática e n o cálculo subse-
aceita c o m o m é t o d o de referência e adaptada para muitas plata-
q ü e n t e da p r o p o r ç ã o de n i t r o g ê n i o u r é i c o / c r e a t i n i n a . Essa pro-
f o r m a s analíticas.
porção t e m sido usada c o m o u m d i s c r i m i n a d o r grosseiro entre a
azo tem ia pré-renal e pós-renal. Por exemplo, para u m i n d i v í d u o q Qluianlúft) úkjúírogeridse
n o r m a l e m dieta n o r m a l , o i n t e r v a l o de referência para a p r o p o r - NH4 — 2-Ojcogliitarato ^7 Glufamaro + H20
ção está entre 12 e 2 0 m g u r é i a / m g de c r e a t i n i n a (49 a 81 m o l NADH NAD®
de u r é i a / m o l de creatinina). As proporções s i gni fi c ati vamente + H©
mais baixas d e n o t a m n o r m a l m e n t e (1) a necrose t u b u l a r aguda,
(2) a baixa ingestão de proteína, (3) a inanição o u (4) a doença N o s ensaios de plasma, o sistema de reação c o n t é m urease,
hepática aguda (síntese de uréia d i m i n u í d a ) . A uréia plasmática de m o d o que a adição de amostra c o n t e n d o uréia i n i c i a a reação.
378 PARTE IV Analitos

U m a d i m i n u i ç ã o na absorvância resultante da reação da gluta- x i m a d a m e n t e 400 mg. A s fontes de dieta c o n t r i b u e m para outros
m a t o desidrogenase é m o n i t o r a d a a 340 n m . N u m o u t r o exemplo 3 0 0 mg. N o s h o m e n s que c o n s o m e m u m a dieta sem p u r i n a , a
de sistema de teste enzimático para a uréia, a a m ô r i i a p r o d u z i d a reserva c o r p o r a l total de urato intercambiável é estimada em
a p a r t i r dessa uréia pela urease reage c o m o g l u t a m a t o e o tnfos- 1.200 mg. Nas mulheres, é estimada em 600 m g Por o u t r o lado,
fato de adenosina (ATP) na presença da g l u t a m i n a sintetase ( E C os pacientes c o m a r t r i t e gotosa e deposição tecidual de u r a t o
6.3.1.2). E n t ã o , o difosfato de adenosina ( A D P ) p r o d u z i d o nesca p o d e m ter reservas de u r a t o de até 18.000 a 3 0 . 0 0 0 mg. A super-
segunda reação enzimática é q u a n t i f i c a d o n u m a terceira e quarta p r o d u ç ã o de ácido ú r i c o pode resultar da síntese elevada dos
etapas usando p i r u v a t o quinase ( E C 2.7.1 40) e p i r u v a t o oxidase precursores da p u r i n a .
( E C 1.2.3.3), respectivamente, gerando, assim, p e r ó x i d o . N a O transporte r e n a l d o ácido ú r i c o é c o m p l e x o e envolve
etapa f i n a l , o p e r ó x i d o reage c o m o f e n o l e a 4-aminofenazona, q u a t r o etapas seqüenciais: (1) filtração glomerular de t o d o o
catalisado pela peroxidase de raiz-forte (doador: hidrogênio-peró- ácido ú r i c o n o plasma capilar que adentra o g l o m é r u l o ; (2) rea-
x i d o oxirredutase; E C 1.11.1.7), resultando n u m corante q u i n o n a - bsorção n o t ú b u l o c o n t o r c i d o p r o x i m a l de a p r o x i m a d a m e n t e
m o n o a m i n a , que é q u a n t i f i c a d o espectrofotometricamente. 9 8 % a 100% do ácido ú r i c o f i l t r a d o ; (3) secreção subseqüente
F o r a m descritos métodos para a dosagem da uréia usando d o ácido ú r i c o d e n t r o do l ú m e n na porção distai do t ú b u l o
sistemas de q u í m i c a seca e u t i l i z a n d o a abordagem da urease, p r o x i m a l ; e (4) reabsorção posterior n o t ú b u l o distai. A excreção
assim c o m o vários métodos de detecção. N u m a abordagem, u m a u r i n á r i a l í q u i d a do ácido ú r i c o é de 6 % a 12% da q u a n t i d a d e
m e m b r a n a semipermeável separa o p r i m e i r o estágio da teação filtrada.
envolvendo a urease, e a a m ó n i a é detectada usando-se u m a
teação de i n d i c a d o r d o p H simples. A uréia t a m b é m t e m sido Importância Clínica
m e d i d a usando-se u m m é t o d o c o n d u t i m é t r i c o n o q u a l u m a A t é hoje f o r a m reconhecidos mais de 20 distúrbios herdados do
amostra e u m reagente c o n t e n d o urease são incubados n u m a m e t a b o l i s m o da p u r i n a o r i g i n a n d o ranto a h i p e r u r i c e m i a q u a n t o
célula de c o n d u t i v i d a d e , sendo m o n i t o r a d a a taxa de variação a h i p o u r i c e m i a . A m a i o r i a deles é m u i t o rara, e o diagnóstico
dessa c o n d u t i v i d a d e a m e d i d a e m que a uréia é convertida e m d e m a n d a o a p o i o de u m l a b o r a t ó r i o especializado e m p u r i n a . Os
u m a f o r m a iônica. N u m a abordagem p o t e n c i o m é t r i c a , é empre- sintomas que devem gerar suspeitas i n c l u e m (1) insuficiência
gado u m e l e t r o d o seletivo e m relação ao íon a m ó n i o e a urease renal o u cálculos n u m a criança o u a d u l t o jovem, (2) " p e d r i n h a s "
é i m o b i l i z a d a n u m a m e m b r a n a : o p r i n c í p i o t e m sido aplicado na fralda de u m bebê, (3) problemas neurológicos inexplicáveis
em alguns dispositivos point-of-cãre. n u m bebê, criança o u adolescente e (4) a presença de gota n u m
A especificidade de todos os m é t o d o s geralmente é aceitável, h o m e m o u m u l h e r c o m menos de 30 anos de idade. fi
p a r t i c u l a r m e n t e n o caso do p r o c e d i m e n t o da urease-glutamato
desidrogenase; e n t r e t a n t o , deve-se esperar a interferência da Hiperuricemia
a m ó n i a endógena q u a n d o o p r o t o c o l o empregar a amostra para A h i p e r u r i c e m i a é d e f i n i d a mais c o m u m e n t e pelas concentra-
i n i c i a r a reação. Isto pode ser relevante nas amostras antigas, e m ções de ácido úrico plasmático acima de 7,0 m g / d L (0,42 m m o l / L )
algumas u rinas e em d e t e r m i n a d o s distúrbios metabólicos. T i p i -
camente, os C V s d e n t r o do prazo de menos de 3 , 0 % , c o m valores
m é d i o s abaixo de 4 , 0 % , são alcançados n o i n t e r v a l o de concen-
tração de 14 a 20 m g / d L (5,0 a 7,0 m m o l / L ) , D a d a a elevada QUADRO 21-1 Causas da Hiperuricemia
variação biológica intrínseca da uréia plasmática, isso se e n c o n t r a
FORMAÇÃO ELEVADA
bem d e n t r o dos padrões de d e s e m p e n h o analítico desejadus.
Primária
Idiopática
Intervalos de Referência Distúrbios metabólicos herdados
O i n t e r v a l o de referência para o n i t r o g ê n i o uréico plasmático nos
adultos saudáveis é de 6 a 20 m g / d L (2,1 a 7,1 m m o l / L expresso Secundária
c o m o uréia). N o s adultos c o m mais de 60 anos de idade, o inter- Ingestão excessiva de purina
valo de referência é de 8 a 23 m g / d L (2,9 a 8,2 m m o l / L ) . As Rodízio elevado de ácido nucléico (p. ex., leucemia, mieloma, radioterapia,
concentrações plasmáticas t e n d e m a ser ligeiramente mais baixas quimioterapia e trauma)
nas crianças e d u r a n t e a gravidez, sendo ligeiramente mais eleva- Psoríase
das nos h o m e n s do que nas mulheres. A s concentrações de uréia Metabolismo de ATP alterado
plasmática n u m paciente c o m E S R D não tratada alcançam tipi- Hipoxia tecidual
camente 108 a 135 m g / d L (40 a 50 m m o l / L ) . Pré-eclâmpsia
Álcool
ÁCIDO ÚRICO
EXCREÇÃO REDUZIDA
O ácido úrico é u m c o m p o s t o n i t r o g e n a d o ( C 5 H 4 N 4 0 3 / 2 , 6 , 8 -
Primária
t r i i d r o x i p u r i n a ) presente c o m o o p r i n c i p a l c o m p o s t o nitroge-
Idiopática
nado d o excremento dos répteis e pássaros. Ele é e n c o n t r a d o e m
pequenas q u a n t i d a d e s na u r i n a dos mamíferos, e seus sais Secundária
o c o r r e m nas articulações na gota. Doença renal aguda ou crônica
Reabsorção renal elevada
Bioquímica e Fisiologia Secreção reduzida
E m humanos, o ácido ú r i c o é o p r o d u t o p r i n c i p a l do catabolismo Envenenamento com chumbo

de nucleosídeos purínicos, adenosina e guanosina (Figura 21-3). Pré-eclâmpsia

As p u r i n a s d o catabolismo do ácido nucléico da dieta são conver- Ácidos orgânicos (p ex., lactato e acetoacetato)
Salicilato (baixas doses)
tidas d i r e t a m e n t e em ácido úrico. O v o l u m e p r i n c i p a l de purinas
Diuréticos de tiazida
excretado c o m o ácido úrico surge da degradação dos ácidos nucléi-
Trissomia do 21 (síndrome de Down)
cos endógenos. A taxa de síntese diária do ácido ú r i c o é de apro-
Creatinina, Uréia e Ácido Úrico CAPÍTULO 21 379

Ribose-5-fosfato
Síntese das purínas
ATP
\
PRPP Sintetase
AMP

Fosforribosilpirofosfato (PRPP)
Glulamina
PRPP-amidotransferase
G luta mato A
k , PP,

5-fosforribosilamina

(múltiplas etapas
subseqüentes da
biossíntese da purina)

Monofosfato de inosina (IMP)

(Etapas subseqüentes)

Monofosfato Monofosfato de
de adenosina guanosina
(AMP) (GMP)

Catabolismo das purínas

AMP IMP GMP

Purina 5'-nucleotidase
j-».p

Adenosina Pi ^•Pi

I Adenosina Inosina Guanosina


J desaminase
NH; Purina
P
'> nucleosídeo / Pi
d fosforílase
Ribose-1-P Ribose-1-P
•« t
Hipoxantina Guanina
o2

Xantina
oxidase

Xantina

02 Xantina oxidase

Ácido úrico

Vias alternativas da purina

Hipoxantina Guanina Adenina

PRPPN PRPP F PRPP


HGPRT* HGPRT* APRV
PPi ^PPi ^PP:

IMP GMP AMP

* Hipoxantins-guanina fosforribosil Iransferase.


\ Adenina fosforribosil Iransferase.

Figura 21-3 M e t a b o l i s m o das p u r i n a s . A , sintese; B , c a t a b o l i s m o e C , vias a l t e r n a t i v a s .


380 PARTE IV Analitos

nos h o m e n s o u acima de 6,0 m g / d L (0,36 m m o l / L ) nas m u l h e - (gota grave ligada ao X ) apresenta-se na adolescência o u n o início
res. A s causas principais da h i p e r u r i c e m i a estão resumidas n o da idade adulta c o m o (1) gota incipiente, (2) insuficiência renal o u
Q u a d r o 21-1. A h i p e r u r i c e m i a assintomática é detectada fre- (3) nefrolitíase. Sabe-se que ocorrem concentrações elevadas de
q ü e n t e m e n t e através da triagem b i o q u í m i c a . O acompanha- PRPP intracelular c o m o conseqüente a u m e n t o das concentrações
m e n t o de l o n g o prazo dos pacientes c o m h i p e r u r i c e m i a assinto- de ácido úrico, resultantes de mutações na PRPP sintetase ( E C
mática é e m p r e e n d i d o p o r q u e m u i t o s deles c o r r e m o risco de 2.7.61) (superatividade de PRPP sintetase), o que t a m b é m é herdado
apresentar doença r e n a l q u e p o d e se desenvolver c o m o resul- como u m traço recessivo ligado ao X . T a m b é m foi reconhecida u m a
tado dessa h i p e r u r i c e m i a e da h i p e r u r i c u r i a ; poucos desses nefropatia hiperuricêmica juvenil familiar autossômica d o m i n a n t e .
pacientes chegam a desenvolver a s í n d r o m e clínica da gota A deficiência de glicose-6-fosfatase t a m b é m leva à h i p e r u r i c e m i a
A dosagem d o ácido ú r i c o plasmático é usada p r e d o m i n a n - como resultado da superprodução e da subexcreção do ácido
t e m e n t e na investigação da gota, o u como resultado de u m a úrico.
h i p e r u r i c e m i a p r i m á r i a o u causada p o r outras condições o u A gota secundária resulta da hiperuricemia atribuível a diversas
tratamentos que o r i g i n a m h i p e r u r i c e m i a s secundárias. T a m b é m causas identificáveis A retenção renal do ácido úrico pode ocorrer na
é utilizada n o diagnóstico e m o n i t o r a m e n t o da hipertensão doença renal aguda o u crônica de qualquer tipo ou como conseqüên-
i n d u z i d a pela gravidez (toxemia pré-eclâmptica). cia da administração de medicamentos: os diuréticos, em particular,
estão implicados nesta ú l t i m a instância. A acidemia orgânica - causada
Gota
pela elevação do ácido acetoacético na cetoacidose diabética o u pela
A gota ocorre q u a n d o o u r a t o m o n o s s c d i c o se precipita dos
acidose láctica - pode interferir na secreção tubular do urato. A rota-
l í q u i d o s corporais supersaturados. Os depósitos de u r a t o são
tividade elevada do ácido nucléico e o conseqüente aumento no
responsáveis pelos sinais e sintomas clínicos. A artrite gotosa
catabolismo das purinas p o d e m ser encontrados na proliferação rápida
p o d e estar associada aos cristais de u r a t o n o l í q u i d o da articu-
das células tumorais e na destruição ampla dessas células na terapia
lação e a depósitos de cristais (tofos) n o tecido que c i r c u n d a a
c o m certos agentes quimioterápicos.
articulação. O s depósitos t a m b é m p o d e m ocorrer e m o u t r o
O t r a t a m e n t o de u m a crise aguda de gota envolve geralmente
tecido mole. E m qualquer lugar que ocorram, eles despertam
o uso de m e d i c a m e n t o s a n t i i n f l a m a t ó r i o s não esteroidais
u m a resposta i n f l a m a t ó r i a intensa consistindo em leucócitos
( N S A I D s ) . Os pacientes devem ser aconselhados a evitar (1) ali-
p o l i m o r f o n u c l e a r e s e macrófagos. A articulação d o dedão d o pé
( p r i m e i r a metatarsofalângica) é o sítio clássico da gota. A gota é mentos que t e n h a m u m c o n t e ú d o de p u r m a elevado (p. ex.,
u m a c o n d i ç ã o caracterizada p o r crises ocasionais e longos perí- fígado, rins, carne v e r m e l h a e sardinhas) e (2) m e d i c a m e n t o s que
odos de remissão. E i m p o r t a n t e aferir que a concentração plas- afetem a excreção do u r a t o (diuréticos de tiazida e sal i cila tos). As
mática de ácido ú r i c o é quase sempre n o r m a l d u r a n t e u m a crise intervenções farmacológicas específicas i n c l u e m o uso de medi-
aguda. A doença renal associada à h i p e r u r i c e m i a p o d e t o m a r camentos uricosúricos (p. ex., p r o b e n e c i d e sulfinpirazona) q u e
u m a o u mais formas: (1) n e f r o p a t i a gotosa c o m deposição de m e l h o r a m a excreção renal d o ácido ú r i c o b l o q u e a n d o os con-
u r a t o n o p a r ê n q u i m a renal, (2) deposição í n t r a t u b u l a r aguda de dutores nas células tubulares que m o d u l a m a reabsorção o u o
cristais de u r a t o e (3) nefrolitíase de urato. a l o p u r i n o l i n i b i d o r d e x a n t i n a oxidase. Nesse c o n t e x t o , a dosagem
A gota é classificada c o m o p r i m á r i a o u secundária. A gota pri- da excreção u r i n á r i a de ácido ú r i c o é u m auxílio na seleção do
mária está associada à h i p e r u r i c e m i a "essencial" que tem u m a base t r a t a m e n t o a p r o p r i a d o . Os pacientes que excretam menos de 6 0 0
poligênica. E m mais de 9 9 % dos casos, a causa é incerta, p o r é m m g / d i a (3,6 m m o l / d i a ) de ácido ú r i c o são candidatos ao trata-
deve-se provavelmente a u m a combinação de (1) superprodução m e n t o c o m medicamentos uricosúricos, os quais são contra-indi-
metabólica de purinas [ 2 5 % dos pacientes apresentam elevação da cados aos pacientes c o m cálculos de u r a t o o u i n s u f i c i ê n c i a renal.
atividade de fosforribosilpirofosfato [PRPP]-amidotransferase (E.C. Por o u t r o lado, os pacientes que excretam mais de 6 0 0 m g / d i a
2.4.2.14)], (2) excreção renal reduzida (80% dos pacientes exibem (3,6 m m o l , / d i a ) são candidatos ao t r a t a m e n t o c o m a l o p u r i n o l .
secreção tubular renal do ácido úrico d i m i n u í d a ) e (3) ingestão As N S A I D s azapropazona e ácido t i a p r o f ê n i c o possuem u m
alimentar elevada. M u i t o raramente a gota primária é atribuível a efeito u r i c o s ú r i c o è, p o r t a n t o , t ê m sua i m p o r t â n c i a n o c o n t r o l e
defeitos enzimáticos herdados nas vias do metabolismo da purina. de l o n g o prazo e agudo da gota.
A síndrome de Lesch-Nyhan caTacteriza-se pela deficiência completa de Cerca de u m em cada cinco pacientes c o m gota clínica t a m b é m
hipoxanrina-guanma-fosforribosíl transierase ( H G P R T , E C 2.4.2.8), tem cálculos de ácido ú r i c o n o t r a t o u r i n á r i o . E m b o r a o ácido
a enzima principal da via alternativa da purina (Figura 21-3). Este ú r i c o plasmático e u r i n á r i o deva ser m e d i d o em formadores de
distúrbio genético ligado ao X manifesta-se clinicamente por (1) cálculo, m u i t o s desses formadores de cálculo de ácido ú r i c o não
retardamento mental, (2) m o v i m e n t o s musculares anormais e (3) d e m o n s t r a m h i p e r u r i c u r i a o u h i p e r u r i c e m i a . E n t r e t a n t o , isso
problemas comportamentais (automutilação e agressividade pato- pode refletir o uso de intervalos de referência derivados n u m a
lógica). Nas primeiras semanas de vida, os pacientes p o d e m apre- sociedade ocidentalizada e rica e m p u r i n a . A causa da formação
sentar sintomas de cristalúria, insuficiência renal aguda e gota. de cálculos de ácido ú r i c o t a m b é m envolve a passagem de u m a
Estão presentes a hiperuricemia, hiperuricuria e atividades b e m u r i n a persistentemente ácida c o m perda de maré alcalina pós-
reduzidas de H G P R T nos eritrócitos, fibrobíastos e outras células. p r a n d i a l . O ácido ú r i c o não associado (pK a = 5,57) é relativamente
As concentrações intracelulares de PRPP e as taxas de síntese da insolúvel. A c i m a d o p H 5,57 ele existe p r e d o m i n a n t e m e n t e c o m o
p u r i n a são elevadas. Os sintomas neurológicos desta síndrome seu í o n u r a t o mais solúvel e, c o m u m p H 7,0, é acima de 10 vezes
p o d e m estar relacionados c o m a disponibilidade de purinas para mais solúvel. Assim, nos pacientes c o m p H u r i n á r i o persistente-
o cérebro em desenvolvimento, o qual possui capacidade limitada m e n t e abaixo de 6,0, as concentrações urinárias n o r m a i s de ácido
para novas sínteses de purina. Ele conta, p o r t a n t o , c o m as vias ú r i c o p r o d u z i r ã o supersaturação. C o m isso, a dosagem do p H
alternativas de p u r i n a para abastecê-lo c c m a maior parte dos u r i n á r i o n o decorrer do dia é f r e q ü e n t e m e n t e ú t i l . Os cálculos de
nucleotídeos p u r i n a que lhe são necessários. A tecnologia de D N A ácido ú r i c o p u r o c o n t r i b u e m para a p r o x i m a d a m e n t e 8 % de todos
t e m sido aplicada ao diagnóstico pré-natal no p r i m e i r o trimestre os cálculos do trato u r i n á r i o e, diferente de m u i t o s cálculos que
usando-se material de biópsia coriônica. Os ensaios de H G P R T c o n t ê m cálcio, são radiotransparentes. O a l o p u r i n o l é o esteio do
nos fibrobíastos sob cultura obtidos pela amniocentese p o d e m ser t r a t a m e n t o dos cálculos de ácido ú r i c o . A h i p e r u r i c u r i a t a m b é m
usados n o segundo trimestre. A deficiência parcial de H G P R T é u m fator de risco na formação d o cálculo de cálcio, Conseqüen-
Creatinina, Uréia e Ácido Úrico CAPÍTULO 21 381

temente, as tentativas de a u m e n t a r o p H u r i n á r i o c o m sais de Os m é t o d o s de uricase tornaram-se viáveis e populares c o m o


álcali potássio p o d e m ser contraproducentes c o m o resultado da resultado da d i s p o n i b i l i d a d e de preparações de alta qualidade e
formação elevada e cálculo de cálcio. baixo custo da enzima bacteriana. A precipitação p r e l i m i n a r da
proteína não é necessária. G e r a l m e n t e , apenas a guanina, a
Toxemia Pré-eclâmptica x a n t i n a e o u t r o s poucos análogos estruturais do ácido ú r i c o agem
Essa c o n d i ç ã o está associada à concentração crescente de ácido c o m o substratos alternativos e, então, apenas em concentrações
ú r i c o plasmático, causada provavelmente pela quebra t e c i d u a l improváveis nos l í q u i d o s biológicos.
uteroplacentária e pela perfusão renal reduzida. A dosagem da A reação é observada n o m o d o cinético o u n o m o d o de
u r a t o plasmático t e m sido utilizada c o m o u m i n d i c a d o r da gra- e q u i l í b r i o . A d i m i n u i ç ã o da absorvância c o m o u r a t o é convertida
v i d a d e da pré-eclâmpsia. Observou-se que as concentrações acima e m e d i d a c o m u m espectrofotômetro a 293 n m . Isto f o r m a a base
de 6,0 m g / d L (0,36 m m o l / L ) e m 32 semanas de gestação estão de u m p r o c e d i m e n t o de referência proposto, mas requer u m
associadas a u m a alta taxa de m o r t a l i d a d e perinatal. 5 espectrofotômetro de alta q u a l i d a d e c o m u m a passagem de b a n d a
estreita, o q u a l r a r a m e n t e se e n c o n t r a i n c l u í d o nos analisadores
Hipouricemia \ automatizados. A m a i o r i a dos ensaios enzimáticos do ácido ú r i c o
A h i p o u r i c e m i a é d e f i n i d a c o m o u m a condição na qual as con- plasmático envolve u m sistema de peroxidase pareado c o m u m
centrações plasmáticas de u r a t o são menores do que 2,0 m g / d L d e n t r e vários aceptores de o x i g ê n i o para p r o d u z i r u m cromó-
(0,12 m m o l / L ) . E m u i t o menos c o m u m d o que a h i p e r u r i c e m i a . geno. Por exemplo, u m m é t o d o m e d e o p e r ó x i d o de h i d r o g ê n i o
Pode ser secundária a qualquer u m a de várias condições. A l g u n s c o m o auxílio de u m a peroxidase da raiz-forte e u m aceptor de
exemplos são a (1) doença hepatocelular grave c o m síntese de oxigênio para resultar n u m c r o m ó g e n o n o espectro visível. Os
p u r i n a o u atividade de x a n t i n a oxidase reduzidas e (2) defeitos na aceptores de oxigênio que t ê m sido utilizados c o m esse p r o p ó s i t o
reabsorção t u b u l a r renal do ácido úrico. A reabsorção defeituosa i n c l u e m (1) 4-ammofenazona e u m f e n o l substituído, (2) 3-metil-
p o d e ser congênita, c o m o na s í n d r o m e generalizada de Fanconi, 1-benzotiazolma hidrazona ( M B T H ) , 2,2'-azinodil-(3-etil-benzotia-
o u a d q u i r i d a . O defeito de reabsorção p o d e ser a d q u i r i d o aguda- zo!ina)-6-sulfonato ( A B T S ) e (3) o-dianisidina.
mente, devido à injeção de m e i o de contraste radiopaco, o u cro- E m b o r a t e n h a m sido descritas m u i t a s combinações de aceptor
nicamente, devido à exposição a agentes tóxicos. O tratamento de oxigênio e fenol, a escolha deve ser guiada pela m i n i m i z a ç ã o
exagerado da h i p e r u r i c e m i a c o m a l o p u r i n o l o u medicamentos da interferência e pela absorvância suficiente para assegurar b o a
uricosúricos e a q u i m i o t e r a p i a d o câncer c o m 6-mercaptopurina precisão. O uso de u m f e n o l s u b s t i t u í d o r e s u l t a n d o n u m p r o d u t o
o u azatioprina (inibidores da síntese de novo de p u r i n a ) t a m b é m de alta absorção ajuda a reduzir a interferência p o t e n c i a l ao
p o d e m causar h i p o u r i c e m i a . M u i t o raramente, pode ocorrer d i m i n u i r a d e m a n d a de v o l u m e da amostra. Os interferentes
h i p o u r i c e m i a resultante de u m defeito m e t a b ó l i c o herdado. A principais a serem m i n i m i z a d o s são o ácido ascórbico e a b i l i r r u -
h i p o u r i c e m i a c o m b i n a d a c o m x a n t i n u r i a é encontrada raramente b i n a . Por exemplo, alguns m é t o d o s usam a ascorbato oxidase para
e sugere u m a deficiência de x a n t i n a oxidase, o u isoladamente o u e l i m i n a r o ácido ascórbico. O uso de aminofenasona c o m u m
fazendo parte de u m a deficiência do co-fator de m o l i b d ê n i o com- f e n o l s u b s t i t u í d o o u a adição de ferrocianeto tem sido feito para
b i n a d o (deficiência de sulfito o x i d a s e / x a n t i n a oxidase). m i n i m i z a r a i n t e r f e r ê n c i a da b i l i r r u b i n a . Demonstrou-se t a m b é m
que os metabólitos desconhecidos n o plasma dos pacientes c o m
M e t o d o l o g i a Analítica insuficiência renal, que supostamente são compostos fenólicos,
A s técnicas comuns para a dosagem do ácido ú r i c o nos l í q u i d o s interferirão ao c o m p e t i r e m c o m o fenol reagente, gerando u m a
corpoTais incluem (1) o ácido fosfotúngstico ( P T A ) , (2) a uricase baixa recuperação do urato. T e m sido empregado u m derivado
fenólico para m i n i m i z a r essa interferência, gerando assim u m
e (3) os m é t o d o s baseados em H P L C . 4
p r o d u t o altamente absorvente e r e d u z i n d o o v o l u m e da amostra.
T a m b é m f o r a m descritos os dispositivos que usam uricase n u m a
Métodos de Ácido Fosfotúngstico
forma de reagente seco para m e d i r o ácido ú r i c o . Por e x e m p l o ,
Esses m é t o d o s baseiam-se n o d e s e n v o l v i m e n t o de u m c r o m ó g e n o
u m sistema de película m u l t i c a m a d a emprega a uricase e a pero-
de reação azul (azul de tungsténio) à m e d i d a que o P T A é redu-
xidase separadas p o r u m a m e m b r a n a semipermeável a p a r t i r de
zido pelo u r a t o n u m m e i o alcalino. A absorvância do c r o m ó g e n o
u m corante que é o x i d a d o para f o r m a r u m p r o d u t o c o l o r i d o . U m
na m i s t u r a da reação é m e d i d a e m c o m p r i m e n t o s de o n d a de
sistema de m a t r i z de celulose emprega uricase, peroxidase e
6 5 0 a 7 0 0 n m . Os métodos P T A estão sujeitos a muitas interfe-
M B T H c o m o aceptor de oxigênio. A l é m disso, esse m é t o d o
rências, e os esforços para modificá-los t ê m sido p o u c o eficazes
precisa apenas de u m a amostra de plasma d i l u í d o que ajuda a
na m e l h o r i a de sua especificidade.
reduzir as interferências. O ácido ascórbico, entretanto, é u m
interferente significativo. U m terceiro sistema i n c o r p o r a a sepa-
Métodos de Uricase
ração do plasma das células vermelhas e a uricase, a peroxidase
Os m é t o d o s de uricase são mais específicos do que as abordagens
e o f e n o l s u b s t i t u í d o para m e d i r o ácido ú r i c o . Os três sistemas
P T A . A uricase [(urato-.oxigênio) oxirredutase; E C 1.7.3.3; p r i n -
empregam u m sistema de m e d i d o r de reflectância para facilitar
cipais fontes: As^ergilluí flavus, Candidã utilis, Bacülus fastidiosus e
a quantificação exata e precisa da variação de cor.
fígado suíno] é usada c o m o etapa ú n i c a o u i n i c i a l para o x i d a r o
ácido úrico. A uricase age n o ácido ú r i c o para p r o d u z i r alantoína,
p e r ó x i d o de h i d r o g ê n i o e d i ó x i d o de c a r b o n o .
Métodos de HPLC
O s métodos de H P L C que u s a m colunas de troca i ô n i c a o u de
fase i n v e r t i d a t ê m sido usados para separar e q u a n t i f i c a r o ácido
° x ú r i c o . O e f l u e n t e da c o l u n a é m o n i t o r a d o a 293 n m para detec-
"-s.À^n U r iM i e

- i JO
HiN -r tar o ácido ú r i c o em eluição. Os métodos de H P L C são específi-
cr X
\—í
cos e mais rápidos; as fases móveis são simples, e o t e m p o de
O' HjO;
retenção do ácido ú r i c o é m e n o r do que 6 m i n u t o s . Graças a
J, A
CO.. esses m u i t o s atributos, a H P L C t e m sido utilizada para desenvol-
U r a to Alantoína ver m é t o d o s de referência para m e d i r o ácido ú r i c o . U m m é t o d o
382 PARTE IV Analitos

definitivo proposto para o ensaio do ácido úrico no plasma usa A excreção pode d i m i n u i r de 2 0 % a 25% numa dieta sem purina
ID-MS. para menos de 400 mg/dia.

Intervalos de Referência REFERÊNCIAS


Usando-se u m método enzimático, relatou-se que o intervalo
1. A m b r o s e RT, K e t c h u m D F , S m i t h J W . C r e a t i n i n e d e t e r m i n e d by " h i g h
de referência para o ácido úrico estava na faixa de 3,5 a 7,2 m g /
p e r f o r m a n c e " l i q u i d c h r o m a t o g r a p h y . C l i n C h e m 1983;29:256-9.
d L (0,208 a 0,428 m m o l / L ) para os homens e de 2,6 a 6,0
2. M y e r s G L , M i l l e r W G , C o r e s h J, F l e m i n g J, G r e e n b e r g N , er al.
m g / d L (0,155 a 0,357 m m o l / L ) para as mulheres. A concentra-
R e c o m m e n d a t i o n s for i m p r o v i n g s e r u m c r e a t i n i n e m e a s u r e m e n t : A
ção de ácido úrico plasmático aumenta gradualmente com a
r e p o r t f r o m the l a b o r a r o r y w o r k i n g g r o u p o f t h e N a t i o n a l K i d n e y
idade, crescendo cerca de 10% entre os 20 e os 60 anos de
Disease E d u c a r i o n P r o g r a m . C l i n C h e m 2006,52:5-18.
idade. H á u m aumento entre as mulheres após a menopausa,
3. Perrone R D , M a d i a s N E , Levey A S . S e r u m c r e a t i n i n e as an Índex o f r e n a l
alcançando concentrações similares às dos homens. Durante a f u n c t i o n : N e w insights i n t o o l d concepts. C l i n C h e m 1992;38:1933-53.
gravidez, as concentrações de ácido úrico plasmático caem durante 4. Price CP, James D R . A n a l y t i c a l reviews i n c l i n i c a i b i o c h e m i s t r y : T h e
o primeiro semestre e até 24 semanas de gestação, quando as m e a s u r e m e n t o f urate. A n n C l i n B i o c h e m 1988;25:484-98.
concentrações começam a aumentar e, eventualmente, ultrapassar 5. R e d m a n C W G , B e i l i n LJ, B o n n a r J, W i l k i n s o n R H . Plasma u r a t e
os níveis fora da gravidez. Usando u m ensaio enzimático, os measurements i n p r e d i c t í n g f e t a l d e a t h i n hypertensive pregnancy.
intervalos de referência em 32, 36 e 38 semanas de gestação foram Lancet 1976;1:1370-3.
relatados como 1,9 a 5,5 m g / d L (0,110 a 0,322 m m o l / L ) , 2,0 a 6. S i m m o n d s H A . P u n n e a n d p y r i m i d i n e dísorders. I n : H o l t o n JB, ed.
5,8 m g / d L (0,120 a 0,344 m m o l / L ) e 2,7 a 6,5 m g / d L (0,157 a T h e i n h e r i t e d m e t a b o l i c diseases. C h u r c h i l l L i v i n g s t o n e 1994;
0,381 m m o l / L ) , respectivamente. 297-350.
U m a abordagem alternativa à interpretação das concentrações 7. Spencer K . A n a l y t i c a l Teviews i n c l i n i c a i b i o c h e m i s t r y : the e s t i m a t i o n o f

de ácido úrico plasmático é a de considerar o grau de hiperurice- creatinine. A n n C l i n B i o c h e m 1986;23:1-25.

mia em relação ao risco de desenvolvimento da gota; os homens 8. Taylor A ] , V a d g a m a P. A n a l y t i c a l reviews i n c l i n i c a i b i o c h e m i s t r y : t h e

com concentrações de ácido úrico plasmático acima de 9,0 m g / d L e s t i m a t i o n o f urea, A n n C l i n B i o c h e m 1992;29:245-64.


9. W e l c h M J , C o h e n A , H e r t z H S , N g KJ, Schaffet R , V a n der L i j n P.
(0,540 m m o l / L ) têm uma probabilidade 150 vezes maior de
D e t e i m i n a t i o n o f s e r u m c r e a t i n i n e by isotope d i l u t i o n mass
possuir artrite gotosa coexistente do que os homens com concen-
s p e c t r o m e t r y as a c a n d i d a t e d e f i n i t i v e m e t h o d . A n a l C h e m
trações de ácido úrico abaixo de 6,0 m g / d L (0,360 m m o l / L ) .
1986;58:1681-5.
A excreção urinária de ácido úrico nos indivíduos sob dieta
contendo purinas é de 250 a 750 m g / d i a (1,5 a 4,5 m m o l / d i a ) .
CAPÍTULO 2 2

Carboidratos
David B. Sacks, M.B., Ch.B, F.R.C.Path.

OBJETIVOS Diabetes M e l l i t u s G e s t a c i o n a l ( G D M ) : I n t o l e r â n c i a a
carboidratos que surge d u r a n t e a gestação.
1. Definir os seguintes termos:
Genes D i a b e t o g ê n i c o s : Genes que c o n t r i b u e m para o
Carboidrato
d e s e n v o l v i m e n t o d o diabetes; u m a base genética é
Monossacarídeo, dissacarídeo e polissacarídeo
i d e n t i f i c a d a e m m e n o s de 5% dos i n d i v í d u o s c o m diabetes
Cetora
t i p o 2.
Insulina
G l i c o g ê n i o : Polissacarídeo que t e m a f ó r m u l a ( C 6 H 1 0 O 5 ) n e é
Diabetes mellitus
u t i l i z a d o pelos músculos e p e l o fígado para a r m a z e n a m e n t o
Glicogênio de carboidratos.
Glicogênese Glicose; U m açúcar simples de seis carbonos que é o p r i n c i p a l
Glicogenólise combustível para a m a i o r i a dos organismos e u m
Glicólise i m p o r t a n t e precursor de o u t r o s c o n s t i t u i n t e s corporais.
Gliconeogênese H e m o g l o b i n a G l i c a d a : H e m o g l o b i n a que t e m u m Tesíduo de
Tolerância à glicose açúcar ligado; a H b A 1 C ê a p r i n c i p a l fração (~ 8 0 % ) de
Hiperglicemia e hipoglícemia h e m o g l o b i n a glicada; t a m b é m c o n h e c i d a c o m o gíico-
Glicação hemoglobina.
2. Dar exemplos de um monossacarídeo, dissacarídeo e H i p e r g l i c e m i a : Concentrações elevadas de glicose n o sangue.
polissacarídeo. H i p o g l i c e m i a : C o n c e n t r a ç õ e s reduzidas de glicose n o sangue.
3. Discutir a regulação da concentração da glicose no corpo e I n s u l i n a : H o r m ô n i o protéico p r o d u z i d o pelas células fS d o
determinar o intervalo de referência para a glicose em indivíduos pâncreas que d i m i n u i as concentrações de glicose n o
sadios. sangue.
4. Comparar o diabetes tipo 1 e tipo 2 em relação à prevalência, L a c t a t o : P r o d u t o i n t e r m e d i á r i o d o m e t a b o l i s m o de
causas, idade de aparecimento, sintomas e valores laboratoriais. carboidratos q u e se a c u m u l a n o sangue p r e d o m i n a n t e m e n t e
5. Determinar cs critérios básicos para o diagnóstico de diabetes q u a n d o ocorre d i m i n u i ç ã o da oxigenação tecidual; a
mellitus, incluindo as orientações da American Diabetes Association. concentração elevada de lactato n o sangue é chamada de
6. Discutir as relações metabólicas anormais entre a glicose, as acidemia láctica e resulta e m acidose láctica.
cetonas, os ácidos graxas e os ácidos metabólicos em um indivíduo M i c r o a l b u m i n ú r i a : Taxa de excreção de a l b u m i n a na u r i n a (20
deficiente em insulina. a 2 0 0 | i g / m i n ) entre a p r o t e i n ú r i a n o r m a l e a maciça; a
7. Delinear c procedimento para a administração de um teste oral de excreção u r i n á r i a elevada de a l b u m i n a precede e é
tolerância à glicose e interpretar os resultados. altamente p r e d i t i v a de n e f r o p a t i a diabética.
8. Listar os procedimentos laboratoriais envolvidos na avaliação do P r o d u t o s F i n a i s de Glicação A v a n ç a d a ( A G E ) : Proteínas q u e
diabetes mellitus em não-gestante. f o r a m m o d i f i c a d a s irreversivelmente p o r ligação não
9. Listar as três causas de hipoglicemia. enzimática da glicose; p o d e m c o n t r i b u i r para as
10. Listar quatro métodos de análise de glicose sérica, determinando os complicações crônicas d o diabetes.
requisitos para as amostras e os princípios de cada método, e listar
as interferências conhecidas em cada método.
11. Definir hemoglobina glicada e hemoglobina A1C| determinando a
utilidade clínica da determinação destas, e listar três métodos de

O
análise de hemoglobina glicada. carboidratos, i n c l u i n d o o açúcar e o amido, estão ampla-
12. Resolver os estudos de caso sobre a análise de carboidratos na mente distribuídos e m plantas e animais. Eles realizam
avaliação de distúrbios relacionados acs carboidratos. múltiplas funções, tais c o m o serem componentes estrutu-
rais e m R N A e D N A (açúcares ribose e desoxirribose) e fornecerem
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES u m a fonte de energia (glicose). A glicose forma-se a partir da (1)
C a r b o i d r a t o s : C o m p o s t o s neutros f o r m a d o s p o r carbono, quebra de carboidratos na dieta (grãos, vegetais amiláceos e legumes)
h i d r o g ê n i o e o x i g ê n i o (em u m a p r o p o r ç ã o de 1:2:1) q u e o u de estoques corporais (glicogênio) e (2) da síntese endógena a
c o n s t i t u e m u m a classe i m p o r t a n t e de alimentos. partir de proteínas o u da porção glicerol dos triglicerideos. Q u a n d o
Cetonas: C o m p o s t o s que surgem a p a r t i r da quebra de ácidos a ingestão de energia excede o seu gasto, o excesso é convertido e m
graxos; a deficiência de i n s u l i n a provoca o a u m e n t o de gordura e glicogênio para armazenamento n o tecido adiposo e n o
cetonas séricas, as maiores responsáveis pela acidose fígado o u músculo, respectivamente. Q u a n d o o gasto energético
m e t a b ó l i c a que ocorre e m i n d i v í d u o s c o m cetoacidose excede a ingestão calórica, a formação de glicose endógena ocorre a
diabética. p a r t i r da quebra dos estoques de carboidratos e de fontes não car-
Diabetes M e l l i t u s : G r u p o de d i s t ú r b i o s metabólicos d o boidratos (p. ex., aminoácidos, lactato e glicerol).
m e t a b o l i s m o de carboidratos n o q u a l a glicose é A i n s u l i n a , o glucagon e a e p i n e f r i n a m a n t ê m a concentração
subutilizada p r o d u z i n d o h i p e r g l i c e m i a . de glicose n o sangue e m u m i n t e r v a l o razoavelmente estreito sob
384 PARTE IV Analitos

condições diversas (alimentação, j e j u m o u exercício severo). A dos açúcares n o c o r p o h u m a n o possui a configuração D. H à


dosagem de glicose é u m dos p r o c e d i m e n t o s mais c o m u m e n t e várias estruturas diferentes, e tal variedade depende das posições
realizados em hospitais e em o u t r o s laboratórios q u í m i c o s de relativas dos grupos hidroxilas nos átomos de carbono.
serviços de saúde. O d i s t ú r b i o do m e t a b o l i s m o de carboidratos A f ó r m u l a da glicose pode ser escrita na f o r m a de aldeído
e n c o n t r a d o c o m mais f r e q ü ê n c i a é a glicose sanguínea elevada, o u enol, u m a espécie reativa de v i d a breve. A m u d a n ç a para o
devida ao diabetes méüitus, c o n d i ç ã o que afeta 8 % da população â n i o n e n o l é favorecida e m solução alcalina, c o m o segue:
dos E U A . A i n c i d ê n c i a de h i p o g l i c e m i a (glicose sanguínea redu-
zida) é desconhecida, mas é substancialmente m e n o r . H—0=0 H—C—OH H—C—06
H—i—OH — ^ ü—OH -iiiífÜül» C-OH + H,0
QUÍMICA I I I
E n o ]
O s carboidratos são derivados aldeídicos o u cetonas de álcoois Aldeído  n i o n enol

p o l i - h i d r o x i lados (mais de u m grupo - O H ) o u de compostos


q u e p r o d u z e m esses derivados q u a n d o hidrolisados. A presença de u m a dupla-ligação e u m a carga negativa no
â n i o n e n o l t o r n a a glicose u m a substância r e d u t o r a ativa que è
oxidada p o r agentes oxidantes relativamente moderados, tais
Monossacarídeos
c o m o íons c ú p r i c o ( C u 5) e férrico (Fe'"). A glicose e m solução
Monossacarídeo é u m açúcar simples que consiste e m u m a
alcalina q u e n t e reduz p r o n t a m e n t e os íons cúpricos a íons cupro-
u n i d a d e cetõnica o u aldeídica poli-hidroxilada e não p o d e ser
sos. A alteração de coloração é utilizada c o m o u m a indicação
h i d r o l i s a d o para u m a f o r m a mais simples. O esqueleto é f o r m a d o
c o n v i n c e n t e da presença de glicose, e, p o r m u i t o s anos, as glico-
p o r vários átomos de carbono. Os açúcares que c o n t ê m três,
ses sanguínea e u r i n á r i a f o r a m medidas dessa f o r m a . M u i t o s
quatro, cinco, seis e sete átomos de carbono são conhecidos c o m o
o u t r o s açúcares t a m b é m reduzem os íons cúpricos e m solução
trios es, tetros es, pentoses, fiexoses e heptoses, respectivamente. U m dos
alcalina e, coletivamente, são chamados de açúcares redutores.
átomos de c a r b o n o é u n i d o p o r u m a dupla ligação a u m á t o m o
O g r u p o aldeído reage c o m o g r u p o h i d r o x i l a n o c a r b o n o 5,
de oxigênio para f o r m a r u m g r u p o carbonila. U m aldeído t e m o
representado por u m anel s i m é t r i c o e descrito pela f ó r m u l a de
grupo carbonila na extremidade da cadeia carbônica, p o r é m , se o
H a w o r t h , n o q u a l se considera que a glicose possui a mesma
g r u p o c a r b o n i l a estiver em qualquer o u t r a posição, forma-se u m a
estrutura básica d o p i r a n o (Figura 22-3). Nessa f ó r m u l a , consi-
cetona (Figura 22-1). O carboidrato mais simples é o glicolalde-
dera-se o p l a n o do anel p e r p e n d i c u l a r ao p l a n o do papel, c o m
ído, o derivado aldeídico do etileno glicol. Os derivados aldeídi-
as linhas grossas a p o n t a n d o em direção ao leitor. Os grupos
cos e cetônicos do glicerol são, respectivamente, o gliceraldeído
hidroxilas na posição 1 ficam, p o r t a n t o , abaixo do p l a n o (con-
e a d iidroxia cetona (Figura 22-1). Os monossacarídeos que são
figuração a ) o u acima do p l a n o (configuração P) U m açúcar
aldeídos o u cetnnas são chamados, respectivamente, aldoses e cetases
(Figura 22-2). c o m anel de seis m e m b r o s que c o n t é m cinco carbonos e u m
oxigênio é u m a derivação do p i r a n o e é c h a m a d o de pmznose.
Os compostos que são idênticos em composição e d i f e r e m
Q u a n d o ocorre ligação c o m a f o r m a ç ã o de u m anel de cinco
somente em suas configurações espaciais são chamados de este-
membros q u e c o n t é m q u a t r o carbonos e u m oxigênio, o açúcar
reoisômeros. Os átomos de c a r b o n o na cadeia não r a m i f i c a d a são
possui a mesma estrutura básica do f u r a n o e é c h a m a d o de
n u m e r a d o s de 1 a 6, c o m o mostrado pelos n ú m e r o s à esquerda
furanose. A frutose é m o s t r a d a em duas formas cíclicas. A fruto-
da f ó r m u l a da D-glicose na Figura 22-2. A designação D- o u L-
piranose é a configuração do açúcar livre, e a frutofuTanose
refere-se à posição do g r u p o h i d r o x i l a n o á t o m o de c a r b o n o
ocorre sempre que a frutose existir c o m b i n a d a c o m dissacarídeos
adjacente ao ú l t i m o (parte i n f e r i o r ) grupo C H 2 O H . De f o r m a
e polissacarídeos, c o m o na sacarose e na i n u l i n a .
geral, a designação D- e L- para u m a molécula de açúcar refere-se
às formas estereoisoméricas d o á t o m o de c a r b o n o assimétrico
c o m a numeração maior.* Por convenção, os D-açúcares são Dissacarídeos
escritos c o m o g r u p u h i d r o x i l a à direita e os L-açÚcares são escri- D o i s monossacarídeos ligam-se covalentemente p o r u m a ligação
tos c o m o g r u p o h i d r o x i l a à esquerda (Figura 22-2). A m a i o r i a O-glicosídica, c o m a perda de u m a m o l é c u l a de água, para
f o r m a r u m dissacarídeo. A ligação q u í m i c a entre os açúcares
H-(-C—O | , j.
CH,OH sempre envolve o g r u p o aldeídico o u cetônico de u m monossa-
H—C=0 "t ' carideo ligado ao g r u p o á l c o o l (p.ex., maltose) o u u m grupo
H—C—OH
U i 2 H aldeídico o u cetônico (p.ex., sacarose) d o o u t r o monossacarídeo
° ch2oh CHjOH
(Figura 22-4). O s dissacarídeos mais c o m u n s são os seguintes:
Glico aldeído Gliceraldeído
D i id ioxiace Cona
(aldeído) (ceco na) Maltose = glicose + glicose
Lactose = glicose + galactose
Figura 22-1 C a r b o i d r a t o s de dois e três carbonos. Sacarose = glicose + frutose

Se a ligação entre dois monossacarídeos ocorre entre o grupo


H—C=0 H—c—0 ch3oh H—C=0 aldeídico o u cetônico de u m a m o l é c u l a e u m g r u p o h i d r o x i l a de
o u t r a m o l é c u l a ( c o m o n a maltose e na lactose), permanece no
H—k—OH HO—Í—H Í—O H—d:—oh
segundo monossacarídeo u m g r u p o cetônico o u aldeídico poten-
T

H—i—OH
-o—
ffi

H O — H
i

0
1

cialmente livre. C o n s e q ü e n t e m e n t e , o segundo resíduo de


1

4 H—C—OH HO—C—H h—d:—OH HO—à—H glicose p o d e ser o x i d a d o e é capaz de existir nas formas o. ou
o—
ffi

5 H — Í — O H H O — H H-Í—OH
ir!
o
1
1

6 ÍH2oh ÍH2oh <^H2oh Íh3oh


D-Glicose L-Glicose D-Frutose DGalaccose * E m b o r a sejam usadas as designações D e L nesse capítulo, os leitores devem
(Al dose) (Aldcse) (Ce rose) (Aldose)
atentai para o fato de que, n o sistema de Cahn-Ingold-Prelog, uma série de
regras determina as configurações. Nesse novo sistema, utilizam-se os símbolos
Figura 22-2 Açúcares típicos de seis c a i b o n o s . R e S paia designar as configurações.
Carboidratos CAPÍTULO 2 2 385

ch2oh
(3-piranosídicas. P o r t a n t o , o dissacarídeo é u m açúcar r e d u t o r ,
H I
mas seu p o d e r r e d u t o r é apenas a p r o x i m a d a m e n t e 4 0 % do
\A p o d e r r e d u t o r dos dois monossacarídeos j u n t o s . Alternativa-
HO > — r OH mente, se a ligação entre os d o i s monossacarídeos envolver os
H H ÓH grupos aldeídicos o u cetònicos de ambas as moléculas ( c o m o na
\
c — c \ sacarose), há a formação de u m açúcar não r e d u t o r , já que
N a -D-Glícose
// n e n h u m g r u p o aldeídico o u c e t ô n i c o permanece livre.
H C H C II a-D-Gl icopiianose

y( I! Polissacarídeos
Eir-.it.iTri
K I CH,OH A ligação de m ú l t i p l a s u n i d a d e s monossacarídicas resulta na
.-ri pÍT^nrt<i-
/ •T' formação de polissacarídeos. O s principais carboidratos de
V "<• reserva são a m i d o nas plantas e g l i c o g ê n i o nos animais, e ambos
TIO OH
f o r m a m grânulos d e n t r o das células. Os polissacarídeos p o d e m
ou n
fornecer s u p o r t e estrutural. A celulose é usada pelas plantas,
a-D-Ftutase e n q u a n t o a q u i t i n a é o p r i n c i p a l c o m p o n e n t e do exoesqueleto
a-D-F ru to p íts n ose de artrópodes (msetos e crustáceos).

6 C Amido e Glicogênio
- O -
A m a i o r i a dos amidos é c o m p o s t a p o r u m a m i s t u r a de amiloses
H—C
V
h/
c — c
"--C—H
// ' O e amilopectinas. A amilose consiste e m u m a longa cadeia não
r a m i f i c a d a de unidades de glicose ligadas p o r ligações a-1,4 c o m
o g r u p o aldeídico t e r m i n a l livre. N a a m i l o p e c t i n a , a m a i o r i a das
Esrturura da
Fora no unidades estão ligadas p o r ligações a-1,4, mas t a m b é m há liga-
furanose a-D-Frutose
a - D F r u tohjranosc ções a-1,6 a cada 24 a 3 0 resíduos, o q u e p r o d u z cadeias laterais.
A a m i l o p e c t i n a c o n t é m até 1 m i l h ã o de resíduos de glicose. A
Figura 22-3 A fóimula de Haworth pata os açúcares. estrutura do g l i c o g ê n i o é semelhante à da a m i l o p e c t i n a , mas a
ramificação é mais extensa e o c o r r e a cada 8 a 12 resíduos de
glicose. Essas ramificações a u m e n t a m a s o l u b i l i d a d e do glicogê-
n i o e p e r m i t e m que os resíduos de glicose sejam p r o n t a m e n t e
mobilizados. O glicogênio é mais a b u n d a n t e n o fígado e t a m b é m
ch3oh ch,oh é e n c o n t r a d o n o m ú s c u l o esquelético. A diferença e s t r u t u r a i
o. 11 H J H entre a amilose e a a m i l o p e c t i n a é i m p o r t a n t e na seleção d o
H substrato a m í d i c o a p r o p r i a d o para as determinações da amilase
OH H /
( C a p í t u l o 19). A taxa de h i d r ó l i s e é afetada pelas diferenças
OTT >1 (i H —
estruturais n o a m i d o .
Ah TT OH r í rr rui pn
G

Ct-D-Maltose
redutoT
Celulose
O-a-D-Glicopiranosil-ü —»4)- a-D-glicopiranose A celulose é u m i m p o r t a n t e polissacarídeo estrutural em plantas.
Ela é u m p o l í m e r o não r a m i f i c a d o de resíduos de glicose ligados
Grupo p o r ligações (3-1,4- A configuração p facilita a f o r m a ç ã o de longas

.
redutor cadeias retas, p r o d u z i n d o fibras de alta resistência tênsil. As
CH 2 OH CHJOH
l i g ações |ü-l,4 não são hidrolisadas p o r a-amilases. C o m o os
OH •O. OI
X II
A v h u m a n o s não p r o d u z e m celulases, eles não conseguem digerir
5
»• > 1 <0 o u H

>—K»
K OH H f i b r a vegetal.
iXi \Sl
A Ah H 011 Glicoproteínas
M u i t a s proteínas integrais de m e m b r a n a possuem oligossacarí-
(3-D- Lactose
deos covalentemente ligados na região extracelular, f o r m a n d o as
0-(3-D-Galactopiranosil-í 1—>4)-P-D-glicopiranose
glicoproteínas. A l é m disso, m u i t a s proteínas q u e são secretadas,
tais c o m o anticorpos, h o r m ô n i o s e fatores de coagulação, são
glicoproteínas. O n ú m e r o de resíduos de carboidratos ligados
varia entre as proteínas, e tais resíduos c o n s t i t u e m 1% a 7 0 %
-O 1- CHjOH ii do peso das glicoproteínas. Os oligossacarídeos são ligados p o r
ligações O-glícosídicas ao o x i g ê n i o da cadeia lateral dos resíduos
v °"n" H Is * P Ps? H HO
de serina o u t r e o n i n a o u p o r ligações N-gli cosi dicas ao nitrogê-
< .HIX ^l - o - X I L

n .
CHjOH
I I n i o da cadeia lateral dos resíduos de asparagina.
0]l
U m a f u n ç ã o biológica das cadeias de carboidratos é regular
Sacarose a vida ú t i l das proteínas. Por e x e m p l o , a perda dos resíduos de
O-a-D-G 1 i c op i rai\osil-{ 1 —> 2)- (3 -D-f ru t o f u ran o S e ácido siáhco da extremidade das cadeias oligossacarídicas nos
eritrócitos resulta na remoção dos glóbulos vermelhos da circu-
Figura 22-4 F ó r m u l a s estruturais de dissacaiídeos. lação. Os carboidratos t a m b é m estão envolvidos n o reconheci-
m e n t o célula-célula, na secreção e n o d i r e c i o n a m e n t o de proteí-
nas para d o m í n i o s celulares específicos.
386 PARTE IV Analitos

As glicopTOteinas de interesse especial são a h e m o g l o b i n a h o r m ô n i o s . A gheogênese é o n o m e para a conversão da glicose


glicada ( G H b ) e proteínas semelhantes q u e são utilizadas paia em glicogênio, o polissacarídeo de reserva mais i m p o r t a n t e n o
m o n i t o r a r o c o n t r o l e das glicoses a l o n g o prazo e m pessoas c o m fígado e n o músculo. O processo reverso, o u seja, a quebra do
diabetes mellitus. A l é m disso, a G H b é u m a m e d i d a do risco do glicogênio e m glicose e em outros p r o d u t o s i n t e r m e d i á r i o s , é
desenvolvimento de complicações do diabetes. chamado de glicogenólise. A formação da glicose a partir de fontes
Q u i m i c a m e n t e , a glicação é a adição não enzimática de u m não carboidratos, tais c o m o aminoácidos, glicerol o u lactato, é
resíduo de açúcar aos grupos aminas de proteínas. A hemoglo- chamada de g/iconeogénese. A conversão de glicose o u outras
b i n a adulta h u m a n a ( H b ) consiste geralmente em H b A ( 9 7 % hexoses em lactato o u piruvato é chamada de glicólise. A oxidação
do total), H b A2 (2,5%) e H b F (0,5%). A H b A é composta por completa até d i ó x i d o de carbono e água ocorre através do ciclo
q u a t r o cadeias polipeptídicas, duas cadeias a e duas cadeias p. de Krebs (ácido cítrico) e da cadeia de transporte de elétrons
A análise cromatográfica da H b A i d e n t i f i c a várias h e m o g l o b i n a s acoplada à fosforilação oxidativa na m i t o c ô n d r i a . Esse processo
menores, H b A l a , H b A l b e H b A] C ) q u e são coletivamente conhe- gera a adenosina trifosfato (ATP), molécula que fornece energia
cidas c o m a H b A j , hemogíofciriíxs rápidas (porque elas m i g r a m mais q u í m i c a para m u i t o s processos corporais. A oxidação da glicose
r á p i d o d o q u e a H b A e m u m campo elétrico), glica-hemoglobinas até d i ó x i d o de carbono e água t a m b é m ocorre através da via das
o u h e m o g l o b i n a s glicadas. A J o i n t C o m i s s i o n o n B i o c h e m i c a l pentoses, via que pToduz a f o r m a Teduzida da n i c o t i n a m i d a
N o m e n c l a t u r e da I n t e r n a t i o n a l U n i o n o f Pure a n d A p p l i e d a d e n i n a d i n u c l e o t í d e o fosfato ( N A D P H ) .
C h e m i s t r y recomenda o t e r m o neoghcoproteína para tais deriva- D u r a n t e u m breve j e j u m , ocorre a prevenção de u m grande
dos e o t e r m o glicação para descrever esse processo. Portanto, d e c l í n i o da concentração de glicose sanguínea através da quebra
e m b o r a o t e r m o giicosilada e glucosilada sejam a m p l a m e n t e u t i l i - de glicogênio armazenado n o fígado e da síntese de glicose n o
zados na literatura, prefere-se o t e r m o glicada. A H b A I c é f o r m a d a fígado. U m a pequena q u a n t i d a d e de glicose t a m b é m p o d e ser
pela condensação da glicose c o m o resíduo de v a l i n a da região p r o d u z i d a a p a r t i r da síntese nos rins. Esses órgãos c o n t ê m
N - t e r m i n a l de ambas as cadeias P da H b A para f o r m a r u m a base glicose-6-fosfatase, enzima necessária para a p r o d u ç ã o de glicose
de S c h i f f instável ( a l d i m i n a , p r é - H b A l c ; Figura 22-5). A base de a p a r t i r da glicose-6-fosfato, a foTma de glicose que é p r o d u z i d a
S c h i f f p o d e dissociar-se o u sofrer u m rearranjo de A m a d o r i para t a n t o pela gliconeogênese q u a n t o pela glicogenólise. O m ú s c u l o
f o r m a r u m a c e t o a m i n a estável, H b A i c . H b A l a ! e H b A 1 a l , q u e esquelético não possui essa enzima, e o glicogênio muscular,
f o r m a m H b A i a , t ê m frutose-1,6-difosfato e gliccse-6-fosfato, res- p o r t a n t o , não p o d e c o n t r i b u i r d i r e t a m e n t e para a glicose san-
pectivamente, ligadas ao a m i n o t e r m i n a l da cadeia p. A H b A i h , guínea. Nos casos de j e j u m mais p r o l o n g a d o (>42 horas), a gli-
i d e n t i f i c a d a p o r espectrometria de massa, c o n t é m ácido p i r ú v i c o coneogênese é a responsável p o r essencialmente toda a p r o d u ç ã o
ligado à valina a m i n o t e r m i n a l da cadeia p, provavelmente p o r de glicose. E m contraste, após u m a refeição, a glicose absorvida
u m a ligação c e t a m i n a o u e n a m i n a . A H b A l c ê a maior fração, é convertida e m glicogênio (para armazenamento n o fígado e n o
c o n s t i t u i n d o a p r o x i m a d a m e n t e 8 0 % da H b A ^ m ú s c u l o esquelético) o u em g o r d u r a (para armazenamento n o
A glicação pode ocorrer e m outros sítios na cadeia (3, tais c o m o tecido adiposo).
nos resíduos de lisina, e pode ocorrer na cadeia a . Essas G H b s i n d e p e n d e n t e m e n t e das grandes flutuações n o s u p r i m e n t o
não p o d e m ser separadas da h e m o g l o b i n a não glicada p o r métodos e na d e m a n d a de carboidratos, a concentração da glicose n o
baseados em carga (tais c o m o cromatografia p o r troca iônica), mas sangue é n o r m a l m e n t e m a n t i d a e m u m i n t e r v a l o estreito p o r
são medidas p o r cromatografia de afinidade ao boronato. h o r m ô n i o s que m o d u l a m o m o v i m e n t o da glicose d e n t r o do
c o r p o . Esses h o r m ô n i o s são insulina, que d i m i n u i a glicose
BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA sanguínea, e os h o r m ô n i o s contra-reguladores (glucagon, epine-
A glicose é a f o n t e p r i m á r i a de energia para o c o r p o h u m a n o . f r i n a , c o r t i s o l e h o r m ô n i o do crescimento), que a u m e n t a m as
A p ó s a absorção ( C a p í t u l o 37), o m e t a b o l i s m o de todas as concentrações de glicose sanguínea (Figura 22-6). A captação
hexoses procede de acordo c o m as necessidades corporais. Esse n o r m a l da glicose depende (1) da h a b i l i d a d e d o pâncreas em
m e t a b o l i s m o resulta em (1) p r o d u ç ã o de energia p o r conversão secretar i n s u l i n a , (2) da h a b i l i d a d e da i n s u l i n a em p r o m o v e r a
para d i ó x i d o de carbono e água, (2) armazenamento na f o r m a captação de glicose nos tecidos periféricos e (3) da h a b i l i d a d e da
de glicogênio no fígado e triglicerideo n o tecido adiposo o u (3) i n s u l i n a em s u p r i m i r a p r o d u ç ã o da glicose hepática. Os p r i n c i -
conversão para cetoácidos, a m i n o á c i d o s o u proteína. pais órgãos que são alvos da i n s u l i n a são o fígado, o m ú s c u l o
O esquema c o m p l e t o do m e t a b o l i s m o i n t e r m e d i á r i o dos esquelético e o tecido adiposo. Esses órgãos e x i b e m algumas
carboidratos é complexo e se conecta ao m e t a b o l i s m o de l i p í d i o s diferenças e m suas respostas à i n s u l i n a . Por exemplo, a i n s u l i n a
e a m i n o á c i d o s . Para detalhes, os leitores devem consultar u m estimula a captação de glicose atTavés de u m t r a n s p o r t a d o r espe-
l i v r o texto de b i o q u í m i c a . cífico de glicose, o G L U T 4 , no m ú s c u l o e nos adipócitos, mas
não nos hepatócitos.
Regulação da Concentração da Glicose
Sanguínea Regulação da Concentração da Glicose
A concentração da glicose n o sangue é regulada p o r u m a com-
Sanguínea pela Insulina
plexa interação de m ú l t i p l a s vias que é m o d u l a d a por vários
A i n s u l i n a é u m a p r o t e í n a p r o d u z i d a pelas células p das
Grupo amino i l h o t a s de L a n g e r h a n s n o pâncreas. A i n s u l i n a f o i (1) o p r i -
do N-cermirial Aldimina m e i r o h o r m ô n i o p r o t é i c o a ser s e q u e n c i a d o , (2) a p r i m e i r a
Glicose (base de Schiff) Ce coar substância a ser m e d i d a p o r r a d i o i m u n o e n s a i o ( R I A ) e (3) o
Rearranjo
NH: H—C=0 H—C-N—PA de A m a d o r i HnC—NH-pA p r i m e i r o c o m p o s t o p r o d u z i d o pela t e c n o l o g i a d o D N A recom-
PA h—d:— O H H — O H *" b=Q b i n a n t e para uso p r á t i c o . A i n s u l i n a é u m h o r m ô n i o anabó-
l i c o que e s t i m u l a a captação de glicose pelos tecidos a d i p o s o
rápido lento
e m u s c u l a r , p r o m o v e a conversão de glicose em g l i c o g ê n i o o u
Hb A + Glicose •— pré-Hb A , c Hb A l c g o r d u r a para a r m a z e n a m e n t o , i n i b e a p r o d u ç ã o de glicose
p e l o fígado, e s t i m u l a a síntese p r o t e i c a e i n i b e a q u e b r a pro-
Figura 22-5 F o r m a ç a o ds h e m o g l o b i n a A ] c , H b , H e m o g l o b i n a . téica. A liberação e o m e c a n i s m o de ação da i n s u l i n a são
Carboidratos CAPÍTULO 2 2

.. - Somatostatina

Ilhota

Glucagon \ Glicose Insulina


Epinefrina **

Hormônio do crescimento
Cortisol

Figura 22-€ Regulação h o r m o n a l da


\ i
glicose sanguínea. C o r t i s o l , h o r m ô n i o d o
crescimento e epinefrina t a m b é m antagonizam
Fígado Tecido adiposo Músculo
o efeito da i n s u l i n a . +, E s t i m u l o ; - i n i b i ç ã o . .

a b o r d a d o s de f o r m a mais d e t a l h a d a n o C a p í t u l o 45 da versão deo C em j e j u m é de c i n c o a dez vezes m a i o r d o que as concen-


a m p l i a d a deste capítulo. 1 2 trações de i n s u l i n a p o r causa da meia-vida m a i o r d o p e p t í d e o C
A i n s u l i n a h u m a n a (massa m o l e c u l a r de 5 . 8 0 8 Da) consiste (cerca de 35 m i n u t o s ) . O fígado n ã o extrai o peptídeo C , que é
em 51 a m i n o á c i d o s em duas cadeias ( A e B) unidas p o r duas r e m o v i d o da circulação pelos r i n s e degradado c o m u m a fração
pontes dissulfeto c o m u m a terceira p o n t e dissulfeto d e n t r o da excretada de f o r m a inalterada na u r i n a .
cadeia A . A i n s u l i n a de m u i t o s animais é i m u n o l ó g i c a e biolo-
gicamente semelhante à i n s u l i n a h u m a n a , e, n o passado, pacien-
tes f o r a m tratados c o m i n s u l i n a p u r i f i c a d a de pâncreas de gado Transporte de Glicose
o u de p o r c o . Praticamente todos os pacientes são a t u a l m e n t e U m dos efeitos f u n d a m e n t a i s da i n s u l i n a é a u m e n t a r a captação
tratados c o m i n s u l i n a h u m a n a r e c o m b m a n t e . de glicose pelas células. O m e c a n i s m o m o l e c u l a r da ação da
A pré-pró-insulina, u m a p r o t e i n a de cerca de 100 aminoáci- i n s u l i n a é e x t r e m a m e n t e complexo. O transporte de glicose para
dos, não é detectável na circulação sob condições n o r m a i s , já d e n t r o das células é m o d u l a d o p o r duas famílias de proteínas.
que ela é clivada e n z i m a t i c a m e n t e e c o n v e r t i d a e m pró-insulina. O co-transportador de s ó d i o e / o u glicose i n t e s t i n a l p r o m o v e a
A p r ó - i n s u l i n a fica armazenada nos grânulos secretores n o com- captação da glicose e da galactose da luz d o i n t e s t i n o delgado e
plexo de G o l g i das células p, o n d e sofre clivagem p r o t e o l í t i c a a reabsorção dessas moléculas a p a r t i r da u r m a n o r i m . A segunda
c o m a f o r m a ç ã o da i n s u l i n a e d o peptídeo de conexão (peptídeo família de transportadores de glicose, conhecidos c o m o transpor-
C). Esse processamento pós-traducional é catalisado p o r duas tadores de glicose facilitada (GLUTÍ), localiza-se na superfície de
endopeptidases reguladas p o r Ca + 2 d e n o m i n a d a s convertases de todas as células (Tabela 22-1). Esses transportadores são desig-
p r ó - h o r m ô n i o 1 e 2 ( P C I e PC2). Os i n t e r m e d i á r i o s da quebra nados G L U T 1 a G L U T 1 2 c o m base na o r d e m e m que f o r a m
da p r ó - i n s u l i n a , o f r a g m e n t o p r ó - i n s u l i n a 32,33 e o f r a g m e n t o identificados. C o m base nas semelhanças entre suas seqüências,
p r ó - i n s u l i n a 65,66, são a i n d a h i d r o l i s a d o s até i n s u l i n a e peptí- os G L U T s p o d e m ser d i v i d i d o s e m três subfamílias: classe I
deo C . N a m e m b r a n a celular, a i n s u l i n a e o p e p t í d e o C são ( G L U T 1 - 4 ) , classe I I ( G L U T 5, 7, 9 e 11) e classe I I I ( G L U T 6,
liberados na circulação p o r t a l em quantidades equimolares. 8, 10 e 12, recentemente descritos). O G L U T 1 é a m p l a m e n t e
A l é m disso, pequenas quantidades de p r ó - i n s u l i n a e de f o r m a s expresso e fornece, para muitas células, a q u a n t i d a d e basal de
i n t e r m e d i á r i a s da clivagem e n t r a m na circulação. glicose que elas necessitam. O G L U T 1 na barreira hematoence-
A p r ó - i n s u l i n a , que possui relativamente baixa atividade bio- fáhca e o G L U T 3 nos n e u r ó n i o s p r o p o r c i o n a m concentrações
lógica ( a p r o x i m a d a m e n t e 10% da potência da insulina), é a altas e constantes de glicose necessárias pelo cérebro. O G L U T 2
m a i o r f o r m a de reserva de i n s u l i n a . N o r m a l m e n t e , somente é expresso nos hepatóeitos, nas células (3 d o pâncreas e nas
pequenas quantidades (cerca de 3 % da q u a n t i d a d e de i n s u l i n a , m e m b r a n a s basolaterais das células epiteliais intestinais e renais.
em base m o l a r ) de p r ó - i n s u l i n a e n t r a m na circulação. C o m o a O G L U T 2 é u m sistema de transporte de baixa a f i n i d a d e e baixa
r e m o ç ã o hepática da p r ó - i n s u l i n a é somente 2 5 % da r e m o ç ã o capacidade que p e r m i t e o m o v i m e n t o i l i m i t a d o de glicose para
da i n s u l i n a , a meia-vida da p r ó - i n s u l i n a é duas a três vezes m a i o r d e n t r o e para f o r a dessas células. O G L U T 4 catalisa a etapa
e as suas concentrações n o estado de j e j u m são aproximada- l i m i t a n t e para a captação e o m e t a b o l i s m o da glicose n o m ú s c u l o
m e n t e 1 0 % a 1 5 % das concentrações de i n s u l i n a . esquelético, o m a i o r órgão de c o n s u m o de glicose. Q u a n d o as
Acredita-se q u e o peptídeo C tenha atividade biológica, e ele concentrações de i n s u l i n a circulante estão baixas, a m a i o r parte
parece necessário para garantir a estrutura correta da i n s u l i n a . do G L U T 4 fica inativa e m c o m p a r t i m e n t o s intracelulares. A p ó s
E m b o r a a i n s u l i n a e o p e p t í d e o C sejam secretados na circulação u m a refeição, o pâncreas libera i n s u l i n a , o q u e estimula a trans-
p o r t a l e m quantidades equimolares, as concentrações de peptí- locação do G L U T 4 para a m e m b r a n a plasmática, que, p o r sua
388 PARTE IV Analitos

TABELA 22-1 Transportadores de Glicose Humanos

Nome Tecido Função

GLUT1 (eritrócitos) Ampla distribuição, especialmente no cérebro, no rim, no cólon e em tecidos fetais Transporte basal de glicose
GLLTT2 (fígado) Fígado, céiuias p do pâncreas, intestino delgado e rim Transporte ilimitado de glicose
GLUT3 (cérebro) Ampla distribuição, especialmente em neurônios, placenta e testículos Transporte de glicose em neurônios
GLUT4 (músculo) Músculos esquelético 6 cardíaco e tecido adiposo Transporte de glicose estimulado por insulina
GLUT5 (intestino delgado) Intestino delgado, rins, músculo esquelético, cérebro e tecido adipose Transporte de frutose (não glicose)
GLUT6 Leucócitos e cérebro Transporte de Glicose
GLUT7 Fígado Liberação de glicose do retículo
endoplasmático
GLLÍT8 Testículos, biastocistos, cérebro, músculo e tecido adiposo Transporte de glicose
GLLFT9 Fígado e rins
GLimo Fígado e pâncreas
GLUT11 Coração e músculo esquelética Transporte de glicose
GLLÍT12 Músculos esquelético e cardíaco, tecido adiposo e mamas

vez, p r o m o v e a captação de glicose nos tecidos muscular esque- à medida que as células envelhecem, d i s p o n i b i l i z a n d o t e m p o
lético e adiposo. O transporte de glicose para d e n t r o d o m ú s c u l o suficiente para a ligação de glicose à h e m o g l o b i n a para f o r m a r
esquelético, e s t i m u l a d o pela i n s u l i n a , f i c a p r e j u d i c a d o e m i n d i - G H b . Foi d e m o n s t r a d a a ocorrência de concentrações altas de
v í d u o s c o m diabetes mellitus t i p o 2, mas ainda não se d e t e r m i - G H b em anemia p o r deficiência de ferro, provavelmente p o r
n o u o m e c a n i s m o patológico envolvido. O G L U T 5 é responsá- causa da alta p r o p o r ç ã o de eritrócitos velhos. O efeito das varian-
vel pela captação de frutose n o i n t e s t i n o . Pouco se sabe a respeito tes da h e m o g l o b i n a (tais c o m o H b F, H b S e H b C) depende d o
dos outros G L U T s . F o i d e m o n s t r a d o que os G L U T 6, 8, 11 e m é t o d o específico de análise (discutido adiante). 3 D e p e n d e n d o
12 t r a n s p o r t a m glicose. da h e m o g l o b i n o p a t i a p a r t i c u l a r e d o m é t o d o de ensaio, os resul-
tados p o d e m apresentar u m a elevação o u u m a d i m i n u i ç ã o
espúria. O u t r a f o n t e de erro e m métodos selecionados é a hemo-
Formação da Hemoglobina Glicada globina carbamilada que se f o r m a pela ligação de uréia à hemo-
A f o r m a ç ã o da G H b é essencialmente irreversível, e sua concen-
globina e está presente e m grandes quantidades na disfunção renal,
tração sanguínea depende t a n t o do t e m p o de v i d a d o g l ó b u l o
patologia c o m u m e m pacientes c o m diabetes.
v e r m e l h o (cerca de 120 dias) q u a n t o da concentração de glicose
sanguínea. C o m o a taxa de f o r m a ç ã o da G H b é d i r e t a m e n t e
p r o p o r c i o n a l à concentração da glicose sanguínea, a concentração Hormônios Contra-reguladores
de G H b representa os valores integrados da glicose ao iongo dai 6 a 8 M u i t o s h o r m ô n i o s possuem ações opostas às da i n s u l i n a . Esses
semanas precedentes. Esse fato fornece u m critério a d i c i o n a l para h o r m ô n i o s contra-reguladores são catabólicos e a u m e n t a m a
avaliar o c o n t r o l e da glicose, já que os valores de G H b estão produção de glicose hepática, i n i c i a l m e n t e pelo a u m e n t o da
livres das flutuações diárias da glicose e não são afetados p o r quebra do glicogênio e m glicose (glicogenólise) e, mais tarde,
exercício recente o u p o r ingestão de alimentos. A c o n t r i b u i ç ã o pelo estímulo da síntese de glicose (gliconeogênese). A resposta
da concentração de glicose plasmática para a G H b m e d i d a em i n i c i a l do c o r p o (em m i n u t o s ) à baixa glicose sanguínea é o
u m d a d o m o m e n t o depende d o i n t e r v a l o de r e m p o antes da a u m e n t o da p r o d u ç ã o de glicose estimulada pelo glucagon e pela
coleta de sangue; as concentrações de glicose mais recentes e p i n e f r i n a . C o m o t e m p o (3 a 4 horas), o h o r m ô n i o do cresci-
possuem m a i o r c o n t r i b u i ç ã o para a G H b d o que os valores mais m e n t o e o d o r t i s o l a u m e n t a m a mobilização da glicose e d i m i -
antigos, já que, pelo menos parcialmente, mais glóbulos verme- n u e m a utilização da glicose (Figura 22-6). H á t a m b é m evidên-
lhos sobrevivem a p a r t i r de u m p e r í o d o recente do q u e a p a r t i r cias de que a p r o d u ç ã o de glicose pelo fígado é u m a f u n ç ã o
de u m p e r í o d o de t e m p o mais remoto. A glicose plasmática nos inversa da concentração a m b i e n t e de glicose, i n d e p e n d e n t e de
30 dias precedentes d e t e r m i n a 5 0 % da H b A i e , e n q u a n t o que, fatores h o r m o n a i s (auto-regulação da glicose). O papel de o u t r o s
nos 60 a 120 dias precedentes, a glicose sanguínea d e t e r m i n a h o r m ô n i o s o u neurotransmissores não é claro, mas parece não
somente 2 5 % . A p ó s u m a alteração a b r u p t a nas concentrações ser i m p o r t a n t e . Os m ú l t i p l o s h o r m ô n i o s contra-reguladores
de glicose sanguínea, a taxa de alteração da H b A 1 c fica mais e x i b e m r e d u n d â n c i a e h i e r a r q u i a . O glucagon é o mais i m p o r -
rápida d u r a n t e os dois meses iniciais, seguida p o r u m a alteração tante, e a e p i n e f r i n a torna-se f u n d a m e n t a l na ausência do glu-
mais gradual que se a p r o x i m a do estado d i n â m i c o de e q u i l í b r i o cagon. Os outros fatores possuem papéis menos i m p o r t a n t e s .
depois de três meses. A meia-vida é de 35 dias.
A interpretação da G H b depende dos glóbulos vermelhos Glucagon
que possuem u m t e m p o de vida n o r m a l . Os pacientes c o m O glucagon é u m p o l i p e p t í d e o de 29 aminoácidos secretado
doença h e m o l í t i c a o u outras condições em que os glóbulos pelas células a do pâncreas. O m a i o r alvo do glucagon é o fígado,
vermelhos possuem u m t e m p o de sobrevivência mais c u r t o o n d e ele se liga a receptores específicos e a u m e n t a a adenosina-
e x i b e m u m a redução substancial na G H b . J As concentrações de 5'-monofosfato ( A M P ) e o cálcio intracelulares. O glucagon esti-
G H b a i n d a p o d e m ser utilizadas para m o n i t o r a r esses pacientes m u l a a p r o d u ç ã o de glicose n o fígado p o r glicogenólise o u gli-
q u a n d o a sobrevivência dos seus glóbulos vermelhos não estiver coneogênese (Figura 22-6). A l é m disso, o glucagon a u m e n t a a
alterada, mas devem-se comparar os valores c o m os valores ante- cetogênese n o fígado. OutTO alvo menos i m p o r t a n t e d o glucagon
riores do m e s m o paciente e não c o m os intervalos de referência é o tecido adiposo, o n d e o h o r m ô n i o a u m e n t a a lipólise. A
publicados. Os i n d i v í d u o s c o m perda recente significativa de secreção do glucagon é regulada p r i m a r i a m e n t e pelas concentra-
glóbulos v e r m e l h o s possuem valores baixos falsos p o r causa de ções de glicose plasmática, sendo as concentrações baixa e alta
u m a fração m a i o r de e n t r ó c i t o s jovens; a G H b então a u m e n t a r á de glicose plasmática estimuladoras e i n i b i d o r a s , respectiva-
Carboidratos CAPÍTULO 22 389

m e n t e . O diabetes meííitus d u r a d o u r o p r e j u d i c a a resposta d o da p i t u i t á r i a . A l é m disso, a somatostatina i n i b e a secreção de


glucagon à h i p o g l i c e m i a , a u m e n t a n d o a i n c i d ê n c i a de episódios glucagon e de i n s u l i n a pelo pâncreas, m o d u l a n d o , p o r t a n t o , a
hipoglicêmicos. Estresse, exercício e a m i n o á c i d o s t a m b é m relação recíproca entre esses dois h o r m ô n i o s .
i n d u z e m a liberação de glucagon. A i n s u l i n a i n i b e a liberação
de glucagon d o pâncreas e d i m i n u i a expressão gênica do gluca- C o r p o s Cetônicos
gon, d i m i n u i n d o , p o r t a n t o , sua biossíntese. Acredita-se que O desenvolvimento de cetose requer alterações t a n t o n o tecido
concentrações elevadas de glucagon secundárias à deficiência de adiposo q u a n t o n o fígado. Os substratos p r i m á r i o s para a for-
i n s u l i n a c o n t r i b u e m para a h i p e r g l i c e m i a e para a cetose do mação dos corpos cetônicos são ácidos graxos livres das reservas
diabetes. de gordura. N o r m a l m e n t e , os ácidos graxos de cadeia longa são
captados pelo fígado, reesterificados em triglicerídeos e armaze-
Epinefrína nados n o fígado, o u são convertidos em l i p o p r o t e í n a s de densi-
A e p i n e f r í n a (adrenalina), u m a catecolamina secretada pela dade m u i t o baixa e devolvidos ao plasma. E m i n d i v í d u o s c o m
m e d u l a adtenal, estimula a q u e b r a d o glicogênio (glicogenólise) diabetes descontrolado, as baixas concentrações de i n s u l i n a
e d i m i n u i a utilização da glicose, a u m e n t a n d o , p o r t a n t o , as causam a u m e n t o da lipóhse e d i m i n u i ç ã o da reesterificação de
concentrações de glicose sanguínea. Ela t a m b é m estimula a ácidos graxos e m triglicerídeos, a u m e n t a n d o , p o r t a n t o , os ácidos
secreção de glucagon e i n i b e a secreção de i n s u l i n a pelo pâncreas graxos livres n o plasma. A l é m disso, o a u m e n t o da p r o p o r ç ã o
(Figura 22-6), a u m e n t a n d o a i n d a mais, p o r t a n t o , a glicose san- entre o glucagon e a i n s u l i n a do paciente a u m e n t a a oxidação de
guínea. A e p i n e f r í n a parece exercer u m papel i m p o r t a n t e na ácidos graxos n o fígado. Portanto, o a u m e n t o da p r o d u ç ã o hepá-
contra-regulação da glicose q u a n d o a secreção do glucagon está tica de cetona e a d i m i n u i ç ã o do seu m e t a b o l i s m o nos tecidos
p r e j u d i c a d a (p.ex., nos casos de diabetes mellitus t i p o 1). O estresse periféricos causam a c ú m u l o de acetoacetato n o sangue. U m a
físico o u e m o c i o n a l a u m e n t a a p r o d u ç ã o de e p i n e f r í n a c o m pequena fração sofre descarboxilaçao espontânea e f o r m a acetona,
liberação de glicose para energia. Os t u m o r e s da m e d u l a adrenal, mas a m a i o r i a é convertida e m ]3-hidroxibutirato:
conhecidos c o m o /eocromocitomas secretam e p i n e f r í n a o u norepi-
n e f r i n a e m excesso e p r o d u z e m h i p e r g l i c e m i a m o d e r a d a
e n q u a n t o as reservas de glicogênio estão disponíveis n o fígado. cu o- P-liidroxihutirato O O
desiditigenase ( n o fígado)

Hormônio do Crescimento Ah2 /* *\ <^2

O h o r m ô n i o d o crescimento é u m p o l i p e p t í d e o secretado pela


O'"' CH 3
r
N A D H + H®
^
NAD®
ho^CH
A 3
glândula p i t u i t á r i a a n t e r i o r ( C a p í t u l o 40). Ele estimula a glico-
Acetoacetato
neogênese, a u m e n t a a lipólise e antagoniza a captação de glicose P-hidroxibutirato
estimulada pela i n s u l i n a .

Cortiso! Espontâneo

O cortisol, secretado pelo córtex adrenal em resposta ao h o r m ô - CO.


n i o a d r e n o c o r t i c o t r ó f i c o ( A C T H ) , estimula a gliconeogênese e H3C X:H3
a u m e n t a a quebra de proteínas e gorduras ( C a p í t u l o 39). H i p e r - Acetona

plasia o u tumores do córtex adrenaí p o d e m p r o d u z i r c o r t i s o l em


excesso ( s í n d r o m e de C u s h i n g ) , causando, p o r t a n t o , hiperglice- A p r o p o r ç ã o relativa na q u a l os três corpos cetônicos estão
m i a . Por o u t r o l a d o , i n d i v í d u o s c o m a doença de A d d i s o n presentes n o sangue varia d e p e n d e n d o do estado redox da célula.
d e m o n s t r a m insuficiência a d r e n o c o r t i c a l p o r causa da destrui- E m i n d i v í d u o s sadios, o |3-hidroxibutirato e o acetoacetato pre-
ção o u atrofia do córtex adrenal e p o d e m exibir h i p o g l i c e m i a . sentes em concentrações a p r o x i m a d a m e n t e equimolares consti-
t u e m p r a t i c a m e n t e todas as cetonas séricas. A acetona é u m
c o m p o n e n t e m e n o r . E m casos de diabetes grave, a p r o p o r ç ã o de
Outros H o r m ô n i o s que Influenciam o
fS-hidroxibutirato/acetoacetato p o d e a u m e n t a r em até 6:1 p o r
M e t a b o l i s m o da Glicose
causa da presença de grandes quantidades da f o r m a reduzida de
A tiroxina e a somatostatina também aíetam o metabolismo de
n i c o t i n a m i d a adenina d i n u c l e o t í d e o C N A D H ) , que favorece a
glicose.
p r o d u ç ã o de p - h i d r o x i b u t i r a t o .

Tiroxina
A tiroxina, secretada pela glândula tireóide, não está envolvida L a c t a t o e Piruvato
diretamente na homeostase da glicose, mas estimula a glicogenólise O ácido láctico, u m i n t e r m e d i á r i o n o m e t a b o l i s m o dos carboi-
e aumenta a taxa de esvaziamento gástrico e a absorção intestinal dratos, origina-se p r e d o m i n a n t e m e n t e do m ú s c u l o esquelético
da glicose (Capítulo 41). Esses fatores p o d e m produzir intolerância b r a n c o , cérebro, pele, m e d u l a renal e eritrócitos. A concentração
à glicose em indivíduos drotóxicos, mas tais indivíduos geralmente de lactato sanguíneo depende da taxa de p r o d u ç ã o nesses tecidos
possuem u m a concentração n o r m a l de glicose plasmática em e da taxa metabólica n o fígado e nos rins. O fígado utiliza apro-
jejum, x i m a d a m e n t e 65% (75 g / d i a ) d o lactato basal t o t a l p r o d u z i d o
p r e d o m i n a n t e m e n t e na gliconeogênese. O ciclo de C o r i é a
Somatostatina conversão da glicose e m lactato na periferia e a reconversão do
A somatostatina, t a m b é m c o n h e c i d a c o m o hormonio inibidor do lactato em glicose n o fígado. A remoção extra-hepática de lactato
hormônio de crescimento e h i s t o r i c a m e n t e c o n h e c i d a c o m o f a t o r é realizada p o r oxidação n o m ú s c u l o esquelético v e r m e l h o e n o
de i n i b i ç ã o da liberação de s o m a t o t r o f i n a (SRIF), é u m peptídeo córtex renal. O a u m e n t o m o d e r a d o na p r o d u ç ã o de lactato
de 14 aminoácidos e n c o n t r a d o n o trato gastrointestinal, h i p o - causa a u m e n t o da remoção hepática d o lactato, mas sua capta-
tálamo e células delta das ilhotas pancreáticas. E m b o r a a soma- ção pelo fígado é saturável q u a n d o as concentrações excedem 2
tostatina não pareça ter u m efeito d i r e t o n o m e t a b o l i s m o dos m m o l / L . D u r a n t e exercício intenso, p o r exemplo, as concentra-
carboidratos, ela i n i b e a liberação de h o r m ô n i o de crescimento ções médias de lactato p o d e m a u m e n t a r significativamente de
390 PARTE IV ftnalitos

cerca de 0,9 para mais de 20 m m o l / L em 10 segundos. N e n h u m a QUADRO 22-1 Classificação do Diabetes Mellitus e Outras
concentração de lactato é u n i f o r m e m e n t e aceita para o diagnós- Categorias de Intolerância à Glicose
tico de acidose láctica, mas concentrações de lactato que excedem
5 m m o l / L c o m p H m e n o r do q u e 7,25 i n d i c a m acidose láctica Diabetes tipo 1
significativa. A Imuriomediado
B Idicpático
SIGNIFICÂNCIA CLÍNICA Diabetes tipo 2
O diabetes mellitus e a h i p o g l i c e m i a são condições clínicas asso- Outros tipos específicas de diabetes
ciadas ao m e t a b o l i s m o a n o r m a l dos catboidratos. Diabetes mellitus gestacionai (GDM)
Tolerância à glicose prejudicada (IGT)
Diabetes Mellitus Glicose de jejum prejudicada (IFG)
O diabetes m e l l i t u s é u m g r u p o de distúrbios metabólicos d o Da American Diabetes Assoítaíion. Repoit of the experi camjntttee on lhe diagnosis
m e t a b o l i s m o dos carboidratos n o q u a l a glicose é suhurilizada, and clnssificaüon of diabetes míllitus Diabetes Care 1997;20:1183 1201
p r o d u z i n d o hiperglicemia. A l g u n s i n d i v í d u o s p o d e m experi-
m e n t a r episódios hiperglicêmicos agudos debilitantes, tais c o m o
ceroacidose o u coma hiperosmolar. Q u a n d o a doença p r o g r i d e ,
a u m e n t a o risco de os i n d i v í d u o s desenvolverem complicações
específicas, i n c l u i n d o r e t i n o p a t i a (que p o d e causar cegueira), mellitus não dependente de insulina, que atualmente são conhecidas
disfunção renal, n e u t o p a t i a (lesão nervosa) e aterosclerose. A c o m o diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2, respectivamente ( Q u a d r o
ú l t i m a c o n d i ç ã o p o d e causar derrame, gangrena o u doença arte- 22-1). O u t r a alteração significativa é a eliminação das categorias
rial coronária. de a n o r m a l i d a d e prévia de tolerância à glicose e a n o r m a l i d a d e
E m 1987, a prevalência de diabetes diagnosticada era de 6,8 p o t e n c i a l de tolerância à glicose.
milhões. E m 2001, o U.S. Centers o f Disease C o n t r o l and Pre-
v e n t i o n ( C D C ) e s t i m o u u m a prevalência de 7 , 9 % em adultos, Diabetes Mellitus Tipo 1
o u 16,7 milhões de pessoas. C o m o pelo menos 3 0 % de todos O diabetes mellitus t i p o 1 era c o n h e c i d o a n t e r i o r m e n t e c o m o
os casos são subdiagnosticados, acreditava-se que o n ú m e r o t o t a l I D D M ou diabetes t i p o I o u j u v e n i l . A p r o x i m a d a m e n t e 5 % a
poderia ser de cerca de 22 milhões. Esse a u m e n t o na prevalência 10% de todos os i n d i v í d u o s c o m diabetes mellitus estão nessa
do diabetes é u m f e n ô m e n o global, já que ela f o i estimada em categoria. Os sintomas (p. ex., p o l i ú r i a , p o l i d i p s i a e perda r á p i d a
4 , 0 % , e m 1995, em adultos ao redor do m u n d o e antecipou-se de peso) se apresentam de f o r m a aguda; os i n d i v í d u o s possuem
u m crescimento para 5 , 4 % (300 m i l h õ e s de adultos) em 2025. i n s u l i n o p e n i a ( u m a deficiência de insulina) p o r causa da perda
Dos 3 0 0 m i l h õ e s de adultos, mais de 7 5 % estarão em países e m das células p da i l h o t a pancreática e d e p e n d e m de t r a t a m e n t o
desenvolvimento. Essas estatísticas fazem c o m que o diabetes seja c o m i n s u l i n a para sustentar a v i d a e evitar cetose. A m a i o r i a dos
descrito c o m o " u m a das p r i n c i p a i s ameaças à saúde h u m a n a n o i n d i v í d u o s possui anticorpos que i d e n t i f i c a m u m processo auto-
século 21". A prevalência de diabetes mellitus a u m e n t a c o m a i m u n e (ver discussão adiante); alguns não possuem evidências
idade, e a p r o x i m a d a m e n t e metade de todos os casos ocorre em de a u t o - i m u n i d a d e e são classificados c o m o de tipo 1 idiopático.
pessoas c o m mais de 55 anos de idade. N o s Estados U n i d o s , O pico de incidência dessa doença ocorre na i n f â n c i a e na ado-
- 2 0 % da população c o m mais de 65 anos de idade t ê m diabetes. lescência. A p r o x i m a d a m e n t e 7 5 % a d q u i r e m a doença antes dos
H á predileção racial, e, c o m 65 anos de idade, 3 3 % dos hispâ- 3 0 anos de idade, mas o s u r g i m e n t o na porcentagem restante
nicos, 2 5 % dos negros e 17% dos brancos nos Estados U n i d o s dos i n d i v í d u o s p o d e ocorrer e m q u a l q u e r idade. A idade na
terão diabetes mellitus. E m 2002, estimou-se que o diabetes mellitus apresentação não é u m c r i t é r i o para a classificação.
era responsável p o r u m gasto de U S $ 132 bilhões em serviços
de saúde nos Estados U n i d o s . Os custos diretos f o r a m estimados
Diabetes Mellitus Tipo 2
em U S $ 9 2 bilhões, c o m 5 0 % sendo i n c o r r i d o s p o r i n d i v í d u o s
A n t e r i o r m e n t e c o n h e c i d o c o m o N I D D M , o diabetes t i p o 2
c o m mais de 65 anos de idade. A estimativa de 186.000 mortes
c o n s t i t u i a p r o x i m a d a m e n t e 9 0 % de todos os casos de diabetes.
anuais é a t r i b u í d a a diabéticos, sendo duas vezes mais mortes
O s pacientes (1) possuem sintomas m í n i m o s , (2) não são pro-
e m mulheres americanas diabéticas que em por tador as de câncer
pensos à cetose e (3) não são dependentes de insulina para i m p e d i r
de m a m a . A p r o x i m a d a m e n t e , u m em cada cinco dólares gastos
a ocorrência de cetonúria. As concentrações de insulina podem estar
nos serviços de saúde dos Estados U n i d o s e m 2 0 0 2 f o i c o m
dentro do intervalo de referência ou podem estar elevadas ou diminuí-
pessoas c o m diabetes mellitus.
das, e, na m a i o r i a das pessoas c o m essa f o r m a de diabetes, a ação
da i n s u l i n a está prejudicada. A obesidade está c o m u m e n t e asso-
Classificação ciada, e perda de peso sozinha geralmente a u m e n t a a hiperglice-
O diabetes f o i i n i c i a l m e n t e d i a g n o s t i c a d o p e l o teste o r a l de mia. Porém, m u i t o s i n d i v í d u o s c o m diabetes t i p o 2 p o d e m
t o l e r â n c i a à glicose ( O G T T ) . E m 1979, u m g r u p o de t r a b a l h o necessitar de u m a dieta especial, u m agente h i p o g l i c ê m i c o oral
do N a t i o n a l D i a b e t e s D a t a G r o u p p r o p ô s c r i t é r i o s m o d i f i c a - o u terapia c o m i n s u l i n a para c o n t r o l a r a hiperglicemia. A
dos para o d i a g n ó s t i c o . Esse esquema de classificação reco- m a i o r i a dos pacientes a d q u i r e a doença após 40 anos de idade,
n h e c e u duas f o r m a s maiores de diabetes — diabetes mellitus mas ela pode ocorrer em pessoas mais jovens. O diabetes t i p o 2
t i p o I ( d e p e n d e n t e de i n s u l i n a ; I D D M ) e diabetes mellitus t i p o e m crianças e adolescentes é u m p r o b l e m a emergente e signifi-
I I (não d e p e n d e n t e de i n s u l i n a ; N I D D M ) . Os termos diabetes cativo. Entre crianças n o Japão, o diabetes tipos 2 é, atualmente,
juvenil e diabetes adulto f o r a m abolidos. Para classificar o diabetes mais c o m u m d o q u e o t i p o 1.
c o m base na etiologia, e não c o m base no t r a t a m e n t o , a A m e r i -
can Diabetes A s s o c i a t i o n ( A D A ) , em 1995, f o r m o u u m g r u p o Diabetes Mellitus Gestacianal
de t r a b a l h o para reexaminar a classificação e o diagnóstico do O diabetes m e l l i t u s gestacional ( G D M ) é a i n t o l e r â n c i a a car-
diabetes mellitus. A classificação revisada, publicada em 1997, b o i d r a t o s de gravidade variável com surgimento ou primeiro reconhe-
e l i m i n a os termos diabetes mellitus dependente de insulina e diabetes cimento durante a gravidez.9 Observe q u e as mulheres c o m diabetes
Carboidratos CAPÍTULO 22 391

que f ica ra m grávidas não estão incluídas nessa categoria. As n o v o l u m e das células (3 para induzir o diabetes t i p o l sintomático.
estimativas da freqüência de tolerância a n o r m a l à glicose d u r a n t e A taxa de destruição de células é variável e geralmente mais rápida
a gravidez v a r i a m de 1% a 14%, d e p e n d e n d o da população em crianças do que em adultos
estudada e dos testes diagnósticos empregados. N o s Estados
U n i d o s , a G D M ocorre em 6 % a 8 % das gestações. A s mulheres
c o m G D M possuem u m risco significativamente elevado de Anticorpos
diabetes subseqüente, p r e d o m i n a n t e m e n t e a t i p o 2. A incidên- A n t i c o r p o s circulantes são marcadores da a u t o - i m u n i d a d e contra
cia acumulada do diabetes t i p o 2 após G D M varia entre as as células {3. Tais anticorpos são detectados n o soro anos antes
populações, de ~ 4 0 % a 7 0 % . A i n c i d ê n c i a anual está marcada- do i n i c i o da hiperglicemia. São eles2,13:
m e n t e elevada sobre a i n c i d ê n c i a na população geral e a u m e n t a 1. Os anticorpos antieéluhxs d/is ilhotas ( I C A s ) reagem c o m u m
d u r a n t e os p r i m e i r o s 5 anos, alcançando u m platô após 10 anos. antígeno sialoglicoconjugado presente n o citoplasma de todas
Nas 6 a 12 semanas pós-parto, todas as pacientes que t i v e r a m as células endócrinas das ilhotas pancreáticas. Esses anticor-
G D M devem ser avaliadas, e, caso o diabetes não esteja presente, pos são detectados nos soros de 0 , 5 % dos i n d i v í d u o s normai s
elas devem ser reavaliadas pelo m e n o s a cada 3 anos. e 7 5 % a 8 5 % dos pacientes c o m novos diabetes d p o 1 diag-
nosticados.
Outros Tipos Específicos de Diabetes Mellitus 2. Os auto-anücorpos antiinsulina (LAAs) estão presentes em mais
Essa subclasse i n c l u i os pacientes cuja hiperglicemia ocorre p o r de 9 0 % das crianças que desenvolvem diabetes t i p o 1 antes
causa de u m d i s t ú r b i o especifico subjacente, tais c o m o (1) defei- dos 5 anos de idade, mas e m menos de 4 0 % dos i n d i v í d u o s
tos genéticos da f u n ç ã o das células |3; (2) defeitos genéticos na que desenvolvem diabetes após os 12 anos de idade. A fre-
ação da i n s u l i n a ; (3) doença d o pâncreas exócrino; (4) endocri- quência desses a n t i c o r p o s em pessoas sadias é semelhante à
nopatias (p. ex., doença de C u s h i n g , acromegalia e glucago- dos I C A s .
n o m a ) ; (5) a administração de h o r m ô n i o s o u drogas que i n d u z e m 3. Os anticorpos antiisoforma de 65 kD dã ácido gUitâmico descar-
disfunção das células J3 (p.ex., glicocorticóides, tiazidas e (3-adre- boxilase ( G A D 6 5 ) são e n c o n t r a d o s e m até 10 anos antes do
nérgicos); (6) infecções; (7) formas i n c o m u n s de diabetes i m u n o - s u r g i m e n t o clínico do diabetes t i p o 1 e estão presentes em
mediada; o u (8) outras condições genéticas (p.ex., s í n d r o m e de - 6 0 % dos pacientes c o m novos diabetes diagnosticados. Os
D o w n , s í n d r o m e de K l i n e f e l t e r e p o r f i r i a ; ver A D A I a para u m a a n t i c o r p o s a n t i - G A D 6 5 são utilizados para i d e n t i f i c a r pacien-
lista detalhada). Esses tipos de diabetes eram conhecidos c o m o tes c o m diabetes t i p o 2 aparente que irá p r o g r e d i r para o
diabetes secundário. diabetes t i p o 1.
4. D o i s antígenos associados ao insuíinomíi, 1 A - 2 A e l A - 2 p
Tolerância à Glicose Prejudicada ( t a m b é m c h a m a d o de l A - 2 p A ) , t ê m c o m o alvo duas tirosina
Diagnostica-se tolerância à glicose prejudicada ( I G T ) em pessoas fosfatases. Esses antígenos são detectados em mais de 5 0 %
cujas concentrações de glicose sanguínea e m j e j u m são menores dos pacientes recém-diagnosticados c o m diabetes t i p o 1.
do que as concentrações necessárias para o diagnóstico de diabe-
tes meííitiis, mas possuem resposta à glicose d u r a n t e o O G T T Genética
e n t i e os estados n o r m a l e diabético. O O G T T é necessário para A suscetibilidade ao diabetes t i p o 1 é hereditária, mas a f o r m a
d e t e r m i n a r se o paciente pertence a essa classe. O desenvolvi- de hereditariedade é complexa e a i n d a não está d e f i n i d a com-
m e n t o de diabetes c o m claros sintomas ocorre c o m u m a taxa de p l e t a m e n t e . O diabetes t i p o 1 é u m a doença m u l t i g ê n i c a , e o
1% a 5 % p o r ano e m pessoas c o m I G T , mas u m a grande pro- p r i n c i p a l iocus é o complexo de h i s t o c o m p a t i b i l i d a d e p r i n c i p a l
porção reverte espontaneamente para a tolerância à glicose n o c r o m o s s o m o 6. Pelo menos o u t r o s 11 loci em 9 cromossomos
n o r m a l . A doença microvascular é rara nesse grupo, e os pacien- t a m b é m c o n t r i b u e m , c o m a região reguladora d o gene da insu-
tes geralmente n ã o e x p e r i m e n t a m complicações renais o u reti- l i n a n o c r o m o s s o m o l l p l 5 sendo u m locus i m p o r t a n t e . A taxa
nais do diabetes. Os pacientes t ê m u m a u m e n t o da prevalência de c o n c o r d â n c i a entre gêmeos idênticos é de a p r o x i m a d a m e n t e
de aterosclerose e m o r t a l i d a d e de doença cardiovascular. 3 0 % , e a p r o x i m a d a m e n t e 9 5 % dos brancos c o m diabetes t i p o 1
expressam o antígeno leucocitário h u m a n o ( H L A ) - D R 3 o u o
Glicose de Jejum Prejudicada H L A - D R 4 . Porém, até 4 0 % da população não diabética t a m b é m
A glicose de j e j u m prejudica ( I F G ) é análoga à I G T , mas é diag- expressam esses alelos. E m contraste, o alelo H L A - D Q B 1*0602
nosticada através de u m valor de glicose de jejum acima d o eleva significativamente o risco de diabetes t i p o 1. A tipagem de
n o r m a l , mas abaixo da concentração para o diagnóstico de dia- H L A p o d e indicar o risco absoluto de diabetes. O risco de u m
betes. E u m a etapa metaból i c a entre a homeostase n o r m a l da i r m ã o desenvolver diabetes é de 1%, 5 % e 10% a 2 0 % se o
glicose e o diabetes. A s s i m c o m o a I G T , as pessoas c o m I F G n ú m e r o de h a p l ó t i p o s for zero, u m e dois, respectivamente.
possuem u m risco elevado de desenvolvimento de diabetes e Porém, somente 10% dos pacientes c o m t i p o 1 t ê m u m parente
doença cardiovascular. A I F G e a I G T não são entidades clínicas, de p r i m e i r o grau afetado. A m u l t i p l i c i d a d e das regiões cromos-
mas são fatores de risco para diabetes e doença cardiovascular. sômicas independentes associadas a u m a predisposição ao dia-
betes t i p o 1 sugere que outros genes suscetíveis serão identifica-
Patogênese do Diabetes Meliitus Tipo 1 dos. A determinação r o t i n e i r a de marcadores genéticos não t e m
A maior parte do diabetes mellitus t i p o 1 ocorre devido a uma des- valor neste m o m e n t o para o diagnóstico o u c o n t r o l e de pacien-
truição auto-imune das células secretoras de insulina das células J3 tes c o m diabetes t i p o l . 1 j
pancreáticas.2,1"1 N a maioria dos pacientes, a destruição é mediada
por células T. T a l patologia é chamada de diabetes tipo I A ou Ambiente
i m u n o m e d i a d o . As células a , 5 e outras células das ilhotas perma- Acredita-se que fatores ambientais estejam envolvidos n o surgi-
necem preservadas. As células das ilhotas possuem u m infiltrado m e n t o do diabetes. Por exemplo, implicam-se alguns virus, c o m o
crônico de células m o n o nucleares, chamado de insu/ite. O processo os da rubéola, caxumba e o coxsackievírus B. Sugere-se ainda o
auto-imune que causa o diabetes tipo l inicia-se meses o u anos antes e n v o l v i m e n t o de outros fatores ambientais, c o m o p r o d u t o s quí-
da apresentação clínica, e é necessária u m a redução de 8 0 % a 9 0 % micos o u leite b o v i n o .
392 PARTE IV Analitos

Patogênese do Diabetes Mellitus Tipo 2 seletiva à glicose. A h i p e r g l i c e m i a parece c o n t r i b u i r para a não-


A resistência a insulina e a disfunção das células p são defeitos responsividade crescente das células p à glicose ( u m a condição
patológicos e m pacientes c o m diabetes t i p o 2. A resistência à chamada de gíico toxicidade), e o grau de disfunção se correlaciona
i n s u l i n a é u m a d i m i n u i ç ã o da h a b i l i d a d e da i n s u l i n a em agir no t a n t o c o m a concentração de glicose q u a n t o c o m a duração da
tecido periférico, e acredita-se que essa d i m i n u i ç ã o seja o pro- hiperglicemia. A recuperação da euglicemia resolve r a p i d a m e n t e
cesso p a t o l ó g i c o p r i m á r i o subjacente. A disfunção das células P o defeito. O u t r a s a n o r m a l i d a d e s da secreção de i n s u l i n a em
é a falta de h a b i l i d a d e do pâncreas em p r o d u z i r i n s u l i n a sufi- i n d i v í d u o s c o m diabetes t i p o 2 i n c l u e m a perturbação da libe-
ciente para compensar a resistência à insulina. C l i n i c a m e n t e , há ração pulsátil de i n s u l i n a e u m a p r o p o r ç ã o elevada e n t r e pró-
u m a deficiência relativa de i n s u l i n a no i n í c i o da doença e u m a i n s u l i n a e i n s u l i n a sanguíneas. Evidências em c a m u n d o n g o s
deficiência absoluta de i n s u l i n a nas etapas mais tardias da knockout i n d i c a m que a resistência à i n s u l i n a nas células P pode
doença. N ã o está claro se o diabetes t i p o 2 ocorre p r i m a r i a m e n t e c o n t r i b u i r para as alterações na secreção de i n s u l i n a , c o m o
devido ao defeito na secreção das células P, à resistência perifé- ocorre no diabetes t i p o 2.
rica à i n s u l i n a o u a ambos. Porém, há dados para apoiar o
conceito de que a resistência à i n s u l i n a é o defeito p r i m á r i o que Genes Diabetogênicos
precede o desarranjo na secreção da i n s u l i n a e o diabetes c l í n i c o Fatores genéticos c o n t r i b u e m para o desenvolvimento d o diabe-
p o r mais de 20 anos. I n d e p e n d e n t e m e n t e da falta de consenso, tes t i p o 2. Por exemplo, a taxa de c o n c o r d â n c i a para o diabetes
está claro que o diabetes mellitus t i p o 2 é u m a doença extrema- t i p o 2 em gêmeos idênticos se a p r o x i m a de 100%. A l é m disso,
m e n t e heterogênea e que u m a causa única é inadequada para há 10 vezes mais chance de ocorrer diabetes t i p o 2 e m u m indi-
explicar a progressão da doença da tolerância n o r m a l à glicose v í d u o obeso c o m u m pai que t e m diabetes do q u e e m u m
até o diabetes. O s defeitos moleculares f u n d a m e n t a i s na resis- i n d i v í d u o igualmente obeso sem u m a h i s t ó r i a f a m i l i a r de diabe-
tência à i n s u l i n a e na secreção da i n s u l i n a r e s u l t a m de u m a tes. A f o r m a de hereditariedade, p o r é m , é desconhecida, e o
c o m b i n a ç ã o genética e de fatores genéticos e ambientais. diabetes t i p o 2 é descrito c o m o " o pesadelo d o geneticista". Por
exemplo, ele é geneticamente mais c o m p l e x o do que distúrbios
Resistência à Insulina m e n d e l i a n o s e não é herdado de acordo c o m as regras mende-
Defme-se resistência à insulina como uma diminuição da resposta bio- lianas. M ú l t i p l o s fatores genéticos i n t e r a g e m c o m influências
íógica às concentrações normais de insulina circulante. Ela é encontrada exógenas (tais c o m o fatores ambientais) para p r o d u z i r o fenó-
tanto em indivíduos obesos não diabéticos quanto em pacientes c o m tipo.
diabetes tipo 2. A patofisiologia subjacente ainda não foi identifi- Os m ú l t i p l o s fatores c o m p l i c a m a busca p o r genes diabeto-
cada, mas geralmente se atribui a resistência à insulina a u m defeito gênicos n o diabetes t i p o 2.Vários m é t o d o s já i d e n t i f i c a r a m
na ação da insulina. A determinação da resistência à insulina na vários genes que estão associados ao diabetes t i p o 2. Porém,
clínica é difícil, e dosagens indiretas, tais como a concentração de i n d e p e n d e n t e m e n t e dos consideráveis esforços de investigação
insulina em jejum, são utilizadas para fornecer u m a avaliação indi- para a identificação da base genética do diabetes mellitus t i p o 2,
reta da função da insulina. H á u m largo espectro clinico de resistên- os defeitos genéticos identificados até o m o m e n t o são responsá-
cia à insulina que varia da euglicemia (com u m aumento notável na veis por menos de 5 % dos i n d i v í d u o s c o m diabetes t i p o 2.
insulina endógena) à hiperglicemia, independentemente das altas P o r t a n t o , o gene o u os genes que causam as formas c o m u n s de
doses de insulina exógena. diabetes t i p o 2 permanece(m) desconhecido(s). Os genes conhe-
A síndrome de resistência à insulina (também conhecida c o m o cidos afetam a secreção de i n s u l i n a , p a r t i c i p a m na ação da insu-
síndrome X o u síndrome metabólica, http://www.americanheaTt. l i n a o u regulam o peso corporal.
org) é u m a constelação de achados clínicos e laboratoriais associados
que consistem em (1) resistência à insulina, (2) hiperinsulinemia, Ambiente
(3) obesidade, (4) dislipidemia (triglicerídeo alto e colesterol H D L Fatores ambientais, tais c o m o dieta e exercício, são d e t e r m i n a n -
baixo) e (5) hipertensão. A síndrome metabólica é diagnosticada se tes i m p o r t a n t e s na patogênese d o diabetes t i p o 2. Evidências
u m i n d i v i d u o atender a três o u mais dos seguintes critérios: convincentes l i g a m a obesidade ao desenvolvimento de diabetes
• Obesidade a b d o m i n a l : circunferência da c i n t u r a m a i o r t i p o 2, mas a associação é complexa. E m b o r a 6 0 % a 8 0 % dos
do que 88,9 c m (mulheres) o u 101,6 c m (homens) i n d i v í d u o s c o m diabetes t i p o 2 sejam obesos, o diabetes se desen-
• Concentrações de triglicerideos maiores que 150 m g / d L volve em menos de 1 5 % dos i n d i v í d u o s obesos. Por o u t r o lado,
• Concentrações de colesterol H D L menores que 5 0 m g / praticamente todas pessoas obesas, m e s m o aquelas c o m tolerân-
d L (mulheres) o u menores que 40 m g / d L (homens) cia n o r m a l aos carboidratos, têm h i p e r i n s u l i n e m i a e são resis-
• Pressão sanguínea m a i o r o u igual a 1 3 0 / 8 5 m m H g tentes à i n s u l i n a . O u t r o s fatores, c o m o (1) história f a m i l i a r de
• Glicose plasmática de j e j u m (FPG) m a i o r ou igual a diabetes t i p o 2 (predisposição genética), (2) a duração da obesi-
110 m g / d L dade e (3) a d i s t r i b u i ç ã o de gordura, t a m b é m são i m p o r t a n t e s .
I n d i v í d u o s c o m essa s í n d r o m e t ê m risco elevado de doença H á u m a relação inversa entre o nível de atividade física e a
cardiovascular. Várias síndromes clínicas raras t a m b é m estão prevalência de diabetes t i p o 2. O risco de diabetes t i p o 2 d i m i n u i
associadas à resistência à insulina. O p r o t ó t i p o é a s í n d r o m e de em 6 % a cada elevação de 5 0 0 kcal n o gasto energético diário.
resistência à i n s u l i n a t i p o A , que é caracterizada p o r (1) h i p e r i n - Acredita-se que o m e c a n i s m o do efeito p r o t e t o r d o exercício é a
s u l i n e m i a , (2) acantose nigricans e (3) h i p e r a n d r o g e n i s m o ova- elevação da sensibilidade à i n s u l i n a n o m ú s c u l o esquelético e no
riano. t e c i d o adiposo.

Perda da Função das Células p Diagnóstico


A elevação da d e m a n d a das células P i n d u z i d a pela resistência à O diagnóstico d o diabetes mellitus depende u n i c a m e n t e da demons-
i n s u l i n a está associada a u m a perda progressiva de função das tração de hiperglicemia ( Q u a d r o 22-2). Para o diabetes t i p o 1, o
células J3 necessária para o desenvolvimento de h i p e r g l i c e m i a de diagnóstico geralmente é fácil, já que a h i p e r g l i c e m i a (1) aparece
j e j u m . O p r i n c i p a l defeito é a perda da liberação de i n s u l i n a a b r u p t a m e n t e , (2) é grave e (3) é a c o m p a n h a d a por sérios distúr-
i n d u z i d a p o r glicose, que é conhecida c o m o nãosresponsividade bios metabólicos. O diagnóstico do diabetes t i p o 2 p o d e ser
Carboidratos CAPÍTULO 22 393

QUADRO 22-2 Critérios para o Diagnóstico de QUADRO 22-3 Fatores Não Diabéticos que Podem
Diabetes Meliitus Influenciar o Teste Oral de Tolerância à Glicose

DIABETES MELLITUS PREPARAÇÃO DO PACIENTE

Qualquer um dos seguintes critérios é diagnóstico:' Duração do j e j u m


Ingestão anterior de carboidratos
1. Sintomas clássicos de diabetes e concentração de glicose plasmática
f Medicamentos (p.ex., tia2idas, contraceptivos orais e corticosteróides
casual i 2 0 ü mg/dL (11,1 mmol/L).
4
Trauma
2. Glicose plasmática de jejum > 1 2 6 rng/dL (7 mmol/L)
Doença intercorrente
3. Concentração de glicose plasmática após 2 horas de ingestão de glicose
Idade
>200 mg/dL durante o OGTT (11,1 mmol/L).
Atividade
Peso
GLICOSE DE JEJUM PREJUDICADA
Glicose plasmática em j e j u m entre 100 e 125 mg/dL (6,1 e 7,0 mmol/L)) ADMINISTRAÇÃO DE GLICOSE
Forma da glicose (anidra ou monoidratada)
TOLERÂNCIA À GLICOSE PREJUDICADA Quantidade de glicose ingerida
Deve-se atender a dois critérios: Volume administrado

1. Glicose plasmática em jejum < 1 2 6 mg/dL (7 mmol/L) Velocidade de ingestão

2. Concentração de glicose plasmática após 2 horas de ingestão de glicose


DURANTE 0 TESTE
durante o OGTT entre 140 e 199 mg/dL (7,8 e 11,1 mmol/L)
Postura
Da Ameriom Diótberes Asíociation. Standards of Medicai Care - 2007. D iatecesCare Ansiedade
2007;30 (Suppl !)• S4-S41- Cafeína
OGTT, Teste oral de tolerância â giieosé. Tabagismo
Se positivo, confirmar repetindo-se o teste no dia subseqüente.
Atividade
^Independente do tempo da refeição precedente.
Hora do dia
*Sein ingestão calórica Jui pele mfnas 8 Ti.
Observação: As concentrações de glicose no sangue comi ião aproximadamente 10% a 12%
menores do que as concentrações plasmáticas.

d i f í c i l p o r q u e as alterações metabólicas não são graves o sufi- elevada de glicose). A menos que i n i c i a l m e n t e os resultados sejam
ciente para o paciente n o t a r os seus sintomas. evidentemente anormais, deve-se realizar o OGTT era duas ocasiões
separadas antes de os resultados serem considerados anormais.
Concentrações de Glicose Plasmática em Jejum Deve-se atender às seguintes condições para a realização d o
Concentrações de F P G superiores a 126 mg/'dL (7 mmol/L) em mws de O G T T : (1) descontinuar, q u a n d o possível, os m e d i c a m e n t o s que
uma ocasião são u m diagnóstico de diabetes meí/itus (Quadro 22-2). afetam a tolerância à glicose; (2) realizar o teste d u r a n t e o p e r í o d o
Determina-se o diagnóstico da maioria dos casos de diabetes me Di tus m a t u t i n o após 3 dias de dieta ( c o n t e n d o pelo m e n o s 150 g de
c o m esse critério. Porém, alguns investigadores acreditam que a carboidratos p o r dia) e exercício sem restrições; (3) realizar o
hiperglicemia pode ser u m desenvolvimento relativamente tardio teste após u m j e j u m de 10 a 16 h s o m e n t e em i n d i v í d u o s
n o curso do diabetes t i p o 2, fato que retarda o diagnóstico e subes- a m b u l a t o r i a i s (a i m o b i l i z a ç ã o n o l e i t o p r e j u d i c a a tolerância à
tima a prevalência de diabetes meliitus na população. As complicações glicose), que devem permanecer sentados d u r a n t e o teste, sem
do diabetes, como retinopatia, proteinúria e doença neuromuscular, f u m a r . N ã o se deve realizar o teste de t o l e r â n c i a à glicose e m
estão presentes em aproximadamente 3 0 % dos pacientes c o m diag- pacientes hospitalizados, c o m doença aguda o u inativos. D e v e '
nóstico clínico de diabetes t i p o 2. O surgimento do diabetes tipo 2 se começar o teste e n t r e 7 e 9 horas da m a n h ã . Deve-se m e d i r
ocorre provavelmente pelo menos em 4 a 7 anos antes do diagnós- a glicose plasmática n o j e j u m , e d e p o i s a cada 3 0 m i n u t o s p o r
tico clínico. Recomenda-se, atualmente, a realização de u m a triagem 2 horas após u m a carga de glicose oral. Recomenda-se u m a
para a busca de indivíduos c o m alto risco de diabetes.1,11 A A D A carga de 75 g para a d u l t o s não gestantes, o q u e p o d e não ser
considera apropriada uma F P G ou u m a O G T T de 2 horas. Deve-se u m e s t í m u l o m á x i m o ; para crianças, 1,75 g / k g , administra-se
considerar a realização do teste e m todas as pessoas assintomáticas até o m á x i m o de 75 g. Deve-se dissolver a glicose e m 3 0 0 m L
c o m 45 anos de idade (ou em indivíduos mais jovens com risco de água, e deve-se i n g e r i r a solução preparada em até 5 m i n u t o s .
elevado), c o m repetição do teste a cada 3 anos. Deve-se i n g e r i r u m a f o r m a de glicose c o m e r c i a l mais palatável,
mas a i n d a n ã o está claro c o m o u t i l i z a r a f o r m a a n i d r a o u
Teste Oral de Tolerância à Glicose m o n o i d r a t a d a de glicose.
O O G T T é mais sensível do que a glicose de j e j u m n o começo O A D A não r e c o m e n d a o O G T T para uso c l í n i c o r o t i n e i r o
do curso do diabetes t i p o 2, o que resulta e m u m a falta de equi- c o m o o p r i m e i r o teste de triagem (para utilização na G D M , ver
valência entre os valores da glicose de j e j u m e de 2 horas. A discussão adiante). O O G T T c o n t i n u a a ser r e c o m e n d a d o de
dosagem e m série da glicose plasmática antes e após a adminis- f o r m a l i m i t a d a pela Organização M u n d i a l da Saúde ( O M S ) , e
tração oral de u m a q u a n t i d a d e específica de glicose deve fornecer sua utilização permanece controversa. A F P G e o O G T T não
u m método-padrão para a avaliação dos i n d i v í d u o s e para a i d e n t i f i c a m necessariamente os mesmos i n d i v í d u o s c o m o t e n d o
determinação dos valores e m i n d i v í d u o s sadios e doentes. E m b o r a diabetes. A sensibilidade da F P G é m e n o r do que a sensibilidade
o teste de tolerância à glicose seja mais sensível do que a deter- d o O G T T para diagnosticar diabetes, e alguns autores a f i r m a m
minação da FPG, ele é afetado p o r vários fatores que resultam que o O G T T i d e n t i f i c a m e l h o r os pacientes c o m risco de desen-
e m baixa reprodutibilidade ( Q u a d r o 22-3) 2 A l é m disso, aproxima- v o l v i m e n t o de complicações do diabetes. U m valor de F P G
d a m e n t e 2 0 % dos O G T T s caem na categoria não diagnostica m e n o r que 100 m g / d L é suficiente para descartar o diagnóstico
(p.ex., somente u m a amostra de sangue exibe concentração de diabetes meliitus.
394 PARTE IV Analitos

Monitoramento a Longo Prazo A D A para o diagnóstico l a b o r a t o r i a l de G D M baseiam-se no


A G H b se estabeleceu c o m o u m índice das concentrações de F o u r t h I n t e r n a t i o n a l W o r k s h o p - C o n f e r e n c e o n G e s t a t i o n a l Dia-
glicose sanguínea a longo prazo e c o m o u m a m e d i d a do risco de betes M e l l i t u s . 9
desenvolvimento de complicações em pacientes c o m diabetes Testes diagnósticos não são necessários para pacientes de
mellitus. 7,13 A G H b f o i f u n d a m e n t a l no Diabetes C o n t r o l a n d baixo risco. A situação de baixo risco limita-se às m u l h e r e s que
C o m p l i c a t i o n s T r i a l ( D C C T ) . 6 (Para prevenir v a r i a b i l i d a d e n o a t e n d e m a todos os critérios seguintes: (1) idade m e n o r q u e 25
ensaio [ver a seção sobre padronização d o ensaio, adiante neste anos, (2) peso n o r m a l antes da gravidez, (3) m e m b r o de u m
capítulo]) todos os ensaios de G H b no D C C T f o r a m feitos e m g r u p o étnico c o m u m a baixa prevalência de G D M , (4) sem
u m l a b o r a t ó r i o central que m e d i u a H b A ] c p o r cromatografia diabetes conhecida e m parentes de p r i m e i r o grau, (5) sem histó-
l í q u i d a de alta p e r f o r m a n c e [ H P L C ] ) . O D C C T d o c u m e n t o u r i a de tolerância à glicose a n o r m a l e (6) sem h i s t ó r i a de ocorrên-
que há u m a relação direta entre as concentrações de glicose cias obstétricas ruins. Para pacientes de risco m é d i o (todas as
sanguínea (avaliada pela H b A 1 f ) e o risco de complicações. Os pacientes que f i c a m entre os riscos baixo e alto), devem-se reali-
riscos absolutos de r e t i n o p a t i a e nefropatia f o r a m d i r e t a m e n t e zar testes e m 24 a 28 semanas de gestação (ver a discussão adiante
p r o p o r c i o n a i s à H b A í e média. O risco de r e t i n o p a t i a a u m e n t o u sobre estratégia de teste). Para pacientes de alto risco, devem-se
c o n t i n u a m e n t e c o m a elevação da H b A ) c , e u m a m e d i d a i n d i - realizar testes imediatos. Tais pacientes possuem q u a l q u e r uma
v i d u a l de H b A l c p r e v i u a progressão da r e t i n o p a t i a 4 anos mais das seguintes características: obesidade notável, h i s t ó r i a pessoal
tarde. D e fato, a análise subseqüente revelou que a H b A l c m é d i a de G D M , glicosúria o u u m a h i s t ó r i a f a m i l i a r de diabetes.
foi a preditoTa p r e d o m i n a n t e de progressão da retinopatia, e A primeira etapa no teste laboratorial é idêntica àquela para
u m a concentração de H b A l c 10% m e n o r ( c o m o u m a d i m i n u i - diagnosticar o diabetes em uma nãogestante (p.ex., u m a FPG 2:126
ção de 10% a 9 % ) f o i associada a u m a d i m i n u i ç ã o de 4 5 % n o m g / d L [7 m m o l / L ] o u glicose plasmática casual >200 m g / d L [11,1
risco. O risco de complicações microvasculares varia c o n t i n u a - m m o l / L ] . Porém, na ausência desse grau de hiperglicemia, faz-se u m
m e n t e c o m a H b A l c , e não há u m a concentração de H b A j c teste de sobrecarga de glicose c o m as pacientes de risco médio e alto
abaixo da q u a l o risco seja e l i m i n a d o . de acordo c o m u m dos dois métodos a seguir (Tabela 22-2)13:
Observaram-se correlações análogas entre a H b A l c e compli- 1. P r i m e i r a etapa: Realizar o O G T T c o m 100 g o u 75 g de
cações em pacientes c o m o diabetes tipo 2 n o U n i t e d K i n g d o m glicose. Esse m é t o d o de u m a etapa p o d e ter u m b o m c u s t o /
Prospective Diabetes Study ( U K P D S ) . ' 3 Cada redução de 1 % na benefício e m pacientes o u populações de alto risco (p.ex.,
H b A 1 t (p.ex., de 8 % para 7%) f o i associada a reduções de risco alguns.grupos americanos nativos). O O G T T c o m 100 g é o
de 3 7 % de doença microvascular, 2 1 % de mortes relacionadas ao teste-padrão mais c o m u m e n t e utilizado e apoiado pelos
diabetes e 14% de i n f a r t o do miocárdio. 1 5 C o m base n o D C C T dados divulgados. A l t e r n a t i v a m e n t e , pode-se realizar u m
e n o U K P D S , a A D A recomenda que u m objetivo p r i m á r i o do O G T T de 75 g, mas esse teste não é tão b e m v a l i d a d o q u a n t o
t r a t a m e n t o em adultos c o m diabetes deve ser a glicemia " p r ó x i m a o teste c o m 100 g, e os valores de corte são arbitrários. N o
da n o r m a l " c o m H b A 1 c menoT que 7%. N ã o se r e c o m e n d a a H b teste c o m 75 g, os critérios diagnósticos para as concentra-
A l c para o diagnóstico o u triagem de diabetes n o m o m e n t o , ' mas ções de glicose plasmática são as mesmas d o teste c o m 100
pode ser i m p l e m e n t a d a n o f u t u r o . g, exceto pelo fato de q u e não há dosagens de 3 horas (Tabela
I n t e r m e d i á r i o s lábeis (pré-Hb A i c , base de Schiff) da f o r m a - 22-2).
ção da H b A j c p o d e m estar presentes nas dosagens da H b A l c i
especialmente nos métodos c o m u n s de troca iônica, o que p o d e
p r o d u z i r resultados errôneos. A fração lábi! muda rapidamente com
TABELA 22-2 T r i a g e m e D i a g n ó s t i c o de Diabetes Meilicws
mudanças agudas na concentração de glicose sanguínea, e, portanto,
Gestacional
ela. não é uma indicadora do controle glicêmico a longo prazo. A p r é - H b
A l c c o n s t i t u i 5 % a 8 % da H b A ! c total em i n d i v í d u o s sadios e TRIAGEM
varia de 8 % a 3 0 % c m pacientes c o m diabetes, d e p e n d e n d o d o 1. Realize entra as semanas 24 e 28 de gestação cm todas mulheres

grau de c o n t r o l e da concentração de glicose sanguínea n o grávidas de médio e alto riscas não identificadas como portadoras de

m o m e n t o o u p r ó x i m o d o m o m e n t o de coleta do sangue. Se o intolerância à glicose.


2. Administre 50 g de carga oral de glicose independente da hora do dia ou
m é t o d o analítico m e d i r ambas as frações, a p r é - H b A l e deve ser
hora da última refeição.
r e m o v i d a p r i m e i r o para i m p e d i r resultados falsamente elevados.
3. Mega a glicose plasmática venosa em 1 fiora.
N a ausência de glicose, a p r é - H b A | c reverte-se para glicose e H b
4. Se a glicose estiver >140 m g / d L * realize o leste de tolerância à glicose,
A (Figura 22-5). Esse f e n ô m e n o fornece a base para alguns pro-
cedimentos de elimina ç ão da fração Iábil através da incubação
DIAGNÓSTICO
de glóbulos v e r m e l h o s lavados em salina. E m alguns m é t o d o s
1. Realize durante o período da manhã após jejum de 8 a 14 horas.
p o r b o r o n a t o (veT a seção adiante sobre a m e t o d o l o g i a analítica),
2. Mega a glicose plasmática venosa de jejum.
as condições d o ensaio favorecem a rápida dissociação da base 3. Administre oralmente 75 ou 100 g de glicose.
de S c h i f f 4. Meça a glicose plasmática de hora em hora por 3 horas (ou 2 horas se
forem administrados 75 g de glicose).
Diabetes Mellitus Gestacional 5. Pelo menos deis valores devem atender ou exceder os seguintes:
A gravidez n o r m a l está associada à elevação da resistência à Carga de 100 g Carga de
i n s u l i n a , especialmente n o f i n a l do segundo e do terceiro trimes- 75 g
tres. A euglicemia mantém-se através do a u m e n t o da secreção de Jejum 95 mg/dL 95 mg/dL
i n s u l i n a , c o m desenvolvimento de G D M nas mulheres que 1 h 180 mg/dL 180 mg/dL
f a l h a m em a u m e n t a r suficientemente a insulina. Os fatores de 2 h 155 mg/dL 155 mg/dL
risco para G D M são h i s t ó r i c o f a m i l i a r de diabetes em u m parente 3 h 14C mg/dL —

de p r i m e i r o grau, obesidade, idade m a t e r n a l avançada, glicosúria 6. Se os resultados estiverem normais em uma situação clinicamente
suspeita, repita durante o terceiro trimestre.
e ocorrências adversas selecionadas em u m a gestação a n t e r i o r
(p.ex., n a t i m o r t a l i d a d e o u macrossomia). As recomendações da especialistas recomendam um vaiar de corte de 130 mg/dL.
Carboidratos CAPÍTULO 22 395

2. Segunda etapa (Tabela 22-2): A p r i m e i r a etapa é uma carga N a conclusão do D C C T , 9 5 % dos participantes e n t r a r a m
de glicose oral de 50 g (a paciente não precisa estar em j e j u m ) n o estudo de a c o m p a n h a m e n t o a l o n g o prazo, c h a m a d o de
seguida p o r u m a determinação de glicose plasmática após 1 E p i d e m i o l o g y o f Diabetes I n t e r v e n t i o n s a n d C o m p l i c a t i o n s
h o r a . U m v a l o r de glicose plasmática igual o u m a i o r d o q u e ( E D I C ) . C i n c o anos após o t é r m i n o d o D C C T , não houve dife-
140 m g / d L (7,7 m m o l / L ) i n d i c a a ncccssidadc dc u m teste rença n o c o n t r o l e m e t a b ó l i c o (avaliado p o r dosagens da G H b )
d e f i n i t i v o . A p r o x i m a d a m e n t e 1 5 % das pacientes têm u m a entre os grupos que f o r a m tratados c o m a terapia c o n v e n c i o n a l
concentração de glicose plasmática venosa em 1 hora igual e a intensiva. Todavia, a progressão da r e t i n o p a t i a f o i ~ 7 0 %
o u m a i o r que 140 m g / d L (7,7 m m o l / L ) e precisam de u m m e n o r n o g r u p o tratado c o m terapia intensiva, d e m o n s t r a n d o
teste de tolerância à glicose completo. Esse subgrupo i n c l u i que os efeitos benéficos d o t r a t a m e n t o intensivo persistiram p o r
- 8 0 % de todas as mulheres c o m G D M . A l g u n s especialistas pelo menos vários anos além d o p e r í o d o da intervenção mais
r e c o m e n d a m u m valor igual o u m a i o r que 130 m g / d L . Esse estrita. Estudos subseqüentes i n d i c a m que a terapia intensiva
valor de corte a u m e n t a r á a sensibilidade para a detecção de reduz significativamente o risco de doenças cardiovasculares
G D M para 9 0 % , mas i n c l u i r á 2 5 % de todas as mulheres ( i n f a r t o e derrame).
grávidas. O segundo e d e f i n i t i v o teste é u m dos dois O G T T s
descritos a n t e r i o r m e n t e . O s critérios para o diagnóstico são Diabetes Tipo 2
diferentes daqueles para os i n d i v í d u o s não gestantes ( Q u a d r o Determinou-se o papel da hiperglicemia n o desenvolvimento de
22-2). complicações em indivíduos c o m diabetes tipo 2 n o U K P D S 1 5 . O
A i n d a há u m a falta de consenso sobre a utilização do O G T T U K P D S f o i u m grande estudo clínico multicêntrico e randomizado
c o m 100 g versus 75 g para o diagnóstico d e f i n i t i v o de G D M . que i n c l u i u 5.102 pacientes c o m diabetes t i p o 2 recém-diagnosti-
E m b o r a o O G T T c o m 75 g pareça prático e aceitável, há mais cada, que foram acompanhados p o r u m período m é d i o de 10 anos.
dados para o O G T T c o m 100 g. A l é m disso, os limites diagnós- Análogo aos achados do D C C T , o U K P D S demonstrou em pacien-
ticos apropriados p e r m a n e c e m em disputa. tes c o m diabetes t i p o 2 que o tratamento intensivo d i m i n u i em
E m b o r a a G D M seja assintomática e não seja p r e j u d i c i a l à ~ 1 0 % a 4 0 % o desenvolvimento de complicações microvasculares. 15
mãe, essa c o n d i ç ã o está associada ao a u m e n t o da incidência de E m b o r a o tratamento intensivo tenha d i m m u i d o a taxa de ocorrên-
m o r t a l i d a d e e m o r b i d a d e neonatais, i n c l u i n d o hipocalcemia, cia de complicações macrovasculares (grandes vasos sanguíneos), a
h i p o g l i c e m i a e macrossomia. A h i p e r g l i c e m i a m a t e r n a l faz c o m redução não foi estatisticamente significativa U m obstáculo impor-
que o feto secrete mais i n s u l i n a , r e s u l t a n d o n o estimulo do tante tanto do D C C T quanto do U K P D S foi que a terapia intensiva
crescimento fetal e da macrossomia. O r e c o n h e c i m e n t o é i m p o r - elevou a incidência de hipoglicemia grave em três vezes.
tante p o r q u e a terapia p o d e reduzir a m o r b i d a d e e a m c r t a l i d a d e
perinatais. As complicações maternais i n c l u e m alta taxa de cesa- Papel do Laboratório Clínico no Diabetes Meliitus
rianas, hipertensão e elevação d o risco de diabetes. O laboratório clínico tem u m papel vital tanto n o diagnóstico
A gravidez e m u m a paciente c o m diabetes preexistente q u a n t o n o c o n t r o l e do diabetes meílitus. A l g u n s dos p a r â m e t r o s
(~ 19.000 p o r ano nos Estados U n i d o s ) é diferente da G D M . T a l i m p o r t a n t e s q u e são d e t e r m i n a d o s estão m o s t r a d o s na Tabela
c o n d i ç ã o está associada a u m a i n c i d ê n c i a elevada de malforma- 22-3. E m 2 0 0 2 , a N a t i o n a l A c a d e m y o f C l i n i c a i B i o c h e m i s -
ções congênitas, mas u m c o n t r o l e glicêmico meticuloso d u r a n t e t r y ( N A C B ) p u b l i c o u orientações baseadas e m evidências para
as 8 p r i m e i r a s semanas p o d e d i m i n u i r significativamente o risco a análise l a b o r a t o r i a l n o diabetes meliitus. 13 A s o r i e n t a ç õ e s
de malformações congênitas. O c o n t r o l e restrito resulta em u m a f o r a m revistas pelo Professional Practice C o m m i t t e e da A D A
elevação na i n c i d ê n c i a de h i p o g l i c e m i a m ater nal , condição que e f o r a m consistentes nas áreas o n d e a A D A t a m b é m p u b l i c o u
é teratogênica em animais, mas não causa malformações e m recomendações. A s recomendações específicas para os testes labo-
humanos. ratoriais c o m base e m dados p u b l i c a d o s ou c o m base n o consenso
de especialistas estão presentes nessas recomendações. n Neste
Complicações Crônicas do Diabetes Meliitus capítulo, é apresentada u m a visão geral e r e s u m i d a dessas reco-
Diabetes Tipo 1 mendações.
E m b o r a se tenha h i p o t e t i z a d o p o r m u i t o s anos q u e u m m e l h o r
c o n t r o l e g l ic êmic o d i m i n u i r i a as taxas de complicações do dia- Diagnóstico
betes meliitus a l o n g o prazo, t a l hipótese f o i derrubada após a Pré-Clínico (Triagem). H á evidências de estudos em animais
p u b lica çã o d o D C C T em 1993 6 . O D C C T f o i u m estudo c l í n i c o de que a terapia de intervenção i m u n o l ó g i c a antes d o apareci-
m u l t i c ê n t r i c o e r a n d o m i z a d o que c o m p a r o u os efeitos da terapia m e n t o dos sintomas clínicos retarda o u previne o diabetes t i p o 1.
c o m i n s u l i n a c o n v e n c i o n a l e intensiva n o d e s e n v o l v i m e n t o e M u i t o s estudos clínicos extensos estão sendo realizados c o m o
progressão de complicações e m 1.441 pacientes c o m diabetes objetivo de avaliar várias estratégias terapêuticas designadas para
t i p o 1. D u r a n t e o p e r í o d o de estudo, q u e d u r o u , e m média, 6,5 retardar o u prevenir o i n í c i o d o diabetes t i p o 1 em h u m a n o s .
anos, pacientes i n t e n s i v a m e n t e c o n t r o l a d o s m a n t i v e r a m con- A t é que seja d i s p o n i b i l i z a d a u m a terapia de intervenção eficaz e
centrações de glicose sanguínea médias significativamente sejam desenvolvidas estratégias de triagem c o m b o m custo/bene-
menores. C o m p a r a d a c o m a terapia c o n v e n c i o n a l , a terapia fício para crianças, não se r e c o m e n d a a triagem de anticorpos. 5 3
intensiva r e d u z i u o risco de r e t i n o p a t i a , n e f r o p a t i a e n e u r o p a t i a A t u a l m e n t e , não se garante a triagem através da determinação
em 4 0 % a 7 5 % . 6 A terapia intensiva r e t a r d o u o i n í c i o e d i m i - do t i p o de H L A , c o m exceção e m estudos de pesquisa. A pri-
n u i u a velocidade da progressão dessas três complicações, inde- meira a n o r m a l i d a d e f u n c i o n a l das diabetes t i p o 1 e t i p o 2 é a
p e n d e n t e de sexo, idade o u duração do diabetes. Os riscos d i m i n u i ç ã o da secreção de i n s u l i n a estimulada por glicose.
absolutos de r e t i n o p a t i a e n e f r o p a t i a f o r a m p r o p o r c i o n a i s à Todavia, não se r e c o m e n d a , atualmente, a realização de testes de
G H b m é d i a (discutida adiante neste capítulo). A terapia i n t e n - secreção de i n s u l i n a para utilização clínica r o t i n e i r a .
siva t a m b é m r e d u z i u o d e s e n v o l v i m e n t o de hipercolesterolemia. A triagem do diabetes t i p o 2 e m i n d i v í d u o s assintomáticos
Esse i m p o r t a n t e estudo teve u m i m p a c t o significativo sobre os é alvo de m u i t a controvérsia. A A D A , que a n t e r i o r m e n t e não
objetivos terapêuticos e a compreensão da patogênese das com- apoiava a triagem, agora defende esse p r o c e d i m e n t o e m t o d o s
plicações do diabetes. os i n d i v í d u o s assintomáticos acima dos 45 anos de idade. 1 A s
396 PARTE IV Analitos

TABELA 22-3 Papel do Laboratório no Diabetes u m livro-texto padrão de m e d i c i n a . As orientações da N A C B


Mellitus t a m b é m f o r n e c e m informações sobre os testes que são utiliza-
dos.
DIAGNÓSTICO
C r ô n i c a . Os estudos D C C T 6 e U K P D S 1 3 d o c u m e n t a r a m
Pré-clinico (Triagem) Clínica
u m a correlação entre as concentrações da glicose sanguínea e o
Marcadores imunológicos Glicose sanguínea desenvolvimento de complicações do diabetes a l o n g o prazo. As
ICA OGTT dosagens de glicose e de proteínas glicadas f o r n e c e m u m índice
IAA Cetonas (urina e sangue) de c o n t r o l e glicêmico a c u r t o e l o n g o prazos, respectivamente
Anticorpos anti-GAD Outro (p.ex., insulina, peptídeo C e (ver a seção sobre proteínas glicadas adiante neste capítulo). C o n -
Anticorpos antiprateína tirosina testes de estímulo) seguem-se realizar a detecção e o m o n i t o r a m e n t o de complica-
fosfatase (IA-2) ções através da determinação de uréia, creatinina, excreção de
Marcadores genéticos (p.ex., HLA) a l b u m i n a u r i n á r i a e lipídios séricos. Pode-se m o n i t o r a r o sucesso
Secreção da insulina
de novas terapias, c o m o o transplante de células das ilhotas o u de
Jejum
pâncreas, através da dosagem d o peptídeo C sérico o u concen-
Pulsos
trações de i n s u l i n a .
Em resposta à carga de glicose
Glicose sanguínea
Hipoglicemia
A h i p o g l i c e m i a é u m a concentração de glicose sanguínea abaixo
CONTROLE do v a l o r e m j e j u m , mas a d e f i n i ç ã o de u m l i m i t e específico é
Aguda Crônica difícil. 1 4 O v a l o r de corte mais u t i l i z a d o é 5 0 m g / d L , mas alguns
autores sugerem 6 0 m g / d L . Pode ocorrer u m d e c l í n i o t r a n s i t ó r i o
Glicose Glicose em 1,5 a 2 horas após u m a refeição, e não é i n c o m u m observar,
Sangue Sangue (jejum-aleatório) e m 2 horas após a ingestão de u m a carga o r a l de glicose, u m a
Urina Urina concentração de glicose plasmática abaixo dos 5 0 m g / d L . D e
Cetonas Proteínas glicadas f o r m a semelhante, podem-se observar, ocasionalmente, valores
Sangue GHb de glicose sanguínea de j e j u m e x t r e m a m e n t e baixos sem sinto-
Urina Frutosamina mas o u evidências de doença subjacente.
Estado ácido e básico Proteína urinária Os sintomas de h i p o g l i c e m i a v a r i a m entre os i n d i v í d u o s e
(pH bicarbonato) UAE (microalbumínúria) n e n h u m deles é específico. A e p i n e f r i n a p r o d u z os sinais e sin-
Lactato Proteinüria tomas clássicos de h i p o g l i c e m i a : t r e m o r , suor, náusea, pulso
Outras anormalidades Avaliação de complicações (p.ex., r á p i d o , sensação de desmaio i m i n e n t e , f o m e e desconforto epi-
relacionadas è desidratação creatinina, colesterol e gástrico. Podem-se observar esses sintomas a u t ô n o m o s e m outras
celular ou terapia (p.ex., potássio, triglicerídeos) condições, c o m o n o h i p e r t i r e o i d i s m o , na f e c r o m o c i t o m a o u
sádío, fosfato e osmolalidade) Avaliação do transplante de m e s m o na ansiedade. E m b o r a controverso, alguns investigadores
pâncreas p r o p õ e m q u e u m a rápida d i m i n u i ç ã o na glicose sanguínea p o d e
{peptídeo C, insulina) deflagrar os sintomas mesmo se a p r ó p r i a glicose sanguínea não
chegar a concentrações hipoglicêmicas, e n q u a n t o o i n í c i o
gradual para u m a concentração de glicose semelhante p o d e não
p r o d u z i r sintomas.
O cérebro é c o m p l e t a m e n t e d e p e n d e n t e de glicose sanguínea
para a p r o d u ç ã o de energia sob condições fisiológicas, e aproxi-
m a d a m e n t e dois terços da utilização da glicose e m adultos e m
repouso ocorre n o sistema nervoso central ( C N S ) . C o n c e n t r a -
justificativas para a triagem são que (1) pelo menos 3 3 % dos ções m u i t o baixas de glicose plasmática (<20 o u 3 0 m g / d L )
i n d i v í d u o s c o m diabetes t i p o 2 não são diagnosticados, (2) as causam disfunção grave do C N S . D u r a n t e j e j u m o u hipoglice-
complicações estão f r e q ü e n t e m e n t e presentes n o m o m e n t o do m i a prolongada, as cetonas p o d e m ser utilizadas c o m o f o n t e de
diagnóstico e (3) o t r a t a m e n t o retarda o i n í c i o das complica- energia. O a m p l o espectro de sintomas e sinais de disfunção do
ções. C N S varia de d o r de cabeça, confusão, visão t u r v a e t o n t u r a a
Clinico. O diagnóstico l a b o r a t o r i a l de diabetes é realizado convulsões, perda de consciência e m e s m o m o r t e ; esses sintomas
exclusivamente através da demonstração de hiperglicemia. são conhecidos c o m o neuroghcopenia. A restauração da glicose
O u t r o s ensaios, c o m o o O G T T , c o n t r i b u e m para a classificação plasmática geralmente produz recuperação imediata, mas p o d e
e caracterização. E m b o r a se p r o p õ e a realização de outros testes ocorrer lesão irreversível.
(p.ex., análise d o peptídeo C e da insulina) para auxiliar n o A idade de i n í c i o de h i p o g l i c e m i a é u m a f o r m a conveniente
diagnóstico e na classificação da doença, tais testes não possuem para classificar o d i s t ú r b i o , mas ocorre sobreposição entre vários
u m papel fora dos estudos de pesquisa atualmente. 1 3 grupos. Por exemplo, alguns distúrhios de armazenamento de
Controlo glicogênio p o d e m surgir na terceira década de vida e p o d e m
A g u d a . Na cetoacidose diabética, n o coma hiperosmolar não ocorrer deficiências h o r m o n a i s na infância.
cetótico e na hipoglicemia, o l a b o r a t ó r i o clínico tem u m papel
essencial tanto n o diagnóstico q u a n t o n o m o n i t o r a m e n t o da Hipoglicemia em Recém-Nascidos e Bebês
terapia. Realiza-se f r e q ü e n t e m e n t e a determinação de vários As concentrações de glicose sanguínea n e o n a t a l são m u i t o
metabólitos para o r i e n t a r os clínicos nos regimes de tratamento menores do que e m adultos ( m é d i a de ~35 m g / d L ) e d e c l i n a m
para restaurar a euglicemia e corrigir outros distúrbios metabóli- logo após o n a s c i m e n t o q u a n d o as reservas de glicogênio do
cos. As anormalidades metabólicas dessas condições estão além fígado são depletadas. Podem ocorrer concentrações de glicose
do escopo deste l i v r o , e os leitores interessados devem consultar abaixo de 3 0 m g / d L em u m recém-nascido a t e r m o e 2 0 m g / d L
Carboidratos CAPÍTULO 2 2 397

e m u m recém-nascido p r e m a t u r o sem evidências clínicas de corticóides não é h i p o g h c ê m i c a . A deficiência h o r m o n a l causa


h i p o g l i c e m i a . As causas mais c o m u n s de h i p o g l i c e m i a n o p e r í o d o h i p o g l i c e m i a c o m mais freqüência e m crianças d o q u e e m
n e o n a t a l i n c l u e m p r e m a t u r i d a d e , diabetes m a t e r n o , G D M e adultos.
t o x e m i a materna. A h i p e r g l i c e m i a nesses casos é geralmente A demonstração de concentração de glicose plasmática baixa na
transitória. A h i p e r g l i c e m i a c o m i n í c i o na p r i m e i r a i n f â n c i a é presença de u m valor alto de insulina plasmática é altamente suges-
geralmente menos transitória e p o d e ocorrer p o r causa de erros tiva de t u m o r de células das ilhotas pancreáticas produtoras de
inatos d o m e t a b o l i s m o o u h i p o g l i c e m i a cetótica; esse t i p o de insulina. C o m o se encontra uma grande variação na concentração
h i p o g l i c e m i a geralmente aparece após j e j u m o u u m a doença de insulina na população sadia, a hiperinsulinemia ocorre e m menos
febril. de 5 0 % dos indivíduos c o m insulinoma. Concentrações de insulina
sérica inapropriadamente altas para os valores concomitantes de
Hipoglicemia de Jejum em Adultos glicose plasmática denotam uma secreção autônoma de insulina.
A h i p o g l i c e m i a resulta da d i m i n u i ç ã o da taxa de p r o d u ç ã o de Testes de provocação (glucagon, tolbutamida ou cálcio) o u testes de
glicose hepática o u da elevação da taxa de utilização de glicose. supressão (infusão de insulina e dosagem de peptídeo C), embora
O s sintomas sugestivos de h i p o g l i c e m i a são comuns, mas os recomendados n o passado, não são geralmente necessários.
d i s t ú r b i o s h i p o g l i c ê m i c o s são raros. Porém, a verdadeira hipogli- As neoplasias não-pancreáticas que causam h i p o g l i c e m i a são,
cemia geralmente i n d i c a u m a doença subjacente séria e p o d e ser c o m freqüência, neoplasias mesenquimais e x t r e m a m e n t e grandes
letal. N e m sempre é possível d e t e r m i n a r u m l i m i t e exato para a que parecem utilizar m u i t a glicose, mas t a m b é m p o d e m ter u m
detecção de h i p o g l i c e m i a , e podem-se e n c o n t r a r valores menores efeito i n i b i d o r sobre a mobilização desta.
q u e 3 0 m g / d L em m u l h e r e s sadias e pré-menopáusicas d u r a n t e A hipoglicemia causada p o r septicemia deve ser relativamente
o teste clássico, u m j e j u m de 72 horas. Os s i n t o m a s geralmente fácil de ser diagnosticada. O mecanismo ainda não está b e m
c o m e ç a m q u a n d o as concentrações de glicose sanguínea f i c a m d e f i n i d o , mas o esgotamento das reservas de glicogênio, a glico-
abaixo de 55 m g / d L , e o prejuízo na f u n ç ã o cerebral começa neogênese prejudicada e o a u m e n t o da utilização periférica da
q u a n d o a glicose fica abaixo de 5 0 m g / d L . glicose p o d e m ser todos fatores contribuintes. A tolerância à glicose
Deve-se c o n d u z i r o j e j u m de 72 horas e m u m h o s p i t a l . geralmente d i m i n u i em i n d i v í d u o s c o m doença renal, e pode
D u r a n t e o j e j u m , deve-se p e r m i t i r aos pacientes o c o n s u m o livre ocorrer hipoglicemia nos indivíduos c o m disfunção renal e m fase
de líquidos sem calorias e sem cafeína. Devem-se coletar as amos- terminal.
tras para as análises da glicose plasmática, i n s u l i n a , peptídeo C A l g u m a s condições que p r o d u z e m h i p o g l i c e m i a de j e j u m são
e p r ó - i n s u l i n a a cada 6 horas. Q u a n d o a concentração da glicose p r o n t a m e n t e aparentes, mas outras r e q u e r e m u m teste diagnós-
plasmática estiver igual o u m e n o r q u e 6 0 m g / d L , devem-se rea- tico extenso. Q u a n d o se d e m o n s t r a a existência da h i p o g l i c e m i a
lizar as análises a cada 1 a 2 horas. Deve-se c o n c l u i r o j e j u m de j e j u m , devem-se realizar testes específicos para a determinação
q u a n d o a concentração da glicose plasmática alcançar u m a con- da causa subjacente. O O G T T não é u m estudo a p r o p r i a d o para
centração pré-determinada ( c o m o 45 m g / d L o u menos) o u a avaliação de u m paciente c o m suspeita de h i p o g l i c e m i a .
q u a n d o o paciente exibir sinais o u sintomas de h i p o g l i c e m i a ou,
ainda, após 72 horas. A m a i o r i a dos pacientes c o m h i p o g l i c e m i a Hipoglicemia Pós-praridial
verdadeira m o s t r a u m v a l o r a n o r m a l m e n t e baixo após 12 horas Drogas, a n t i c o r p o s c o n t r a i n s u l i n a o u c o n t r a o receptor de insu-
do i n í c i o do j e j u m . As m u l h e r e s e x i b e m concentrações de glicose lina, erros inatos (p.ex., deficiência de frutose-l,6-bifosfato) e
significativamente menores d o que os h o m e n s . S o m e n t e a hipoglicemia reativa ( t a m b é m conhecida c o m o h i p o g l i c e m i a fun-
glicose plasmática baixa não é s u f i c i e n t e para a determinação do cional) p r o d u z e m h i p o g l i c e m i a n o estado pós-prandial (após
diagnóstico, e a ausência de sinais o u s i n t o m a s de h i p o g l i c e m i a refeição). Propõe-se que, para i n d i v í d u o s c o m sintomas vagos
d u r a n t e o j e j u m exclui o diagnóstico de u m d i s t ú r b i o hipoglicê- após ingestão alimentar, se utilize a t e r m i n o l o g i a hipoglicemia
m i c o c o m o causa de tais sintomas. reativa idiapática n u síndrome pós-prandial idiopática.
Já f o r a m relatadas mais de 100 causas de h i p o g l i c e m i a . A s N o T h i r d I n t e r n a t i o n a l S y m p o s i u m o n Hypoglycemia,
drogas são a causa mais prevalente, e muitas delas, i n c l u i n d o o definiu-se a h i p o g l i c e m i a reativa c o m o " u m d i s t ú r b i o c l í n i c o n o
p r o p a n o l o l , os salicilatos e a d i s o p i r a m i d a , p r o d u z e m hipoglice- q u a l o paciente t e m sintomas pós-prandiais sugestivos de h i p o -
m i a . Os agentes h i p o g l i c ê m i c o s orais que possuem meia-vida glicemia q u e o c o r r e m n o dia-a-dia e são a c o m p a n h a d o s p o r u m a
longa (35 horas para a c l o r p r o p a m i d a ) são a causa mais fre- concentração de glicose sanguínea m e n o r que 45 a 5 0 m g / d L
q ü e n t e de h i p o g l i c e m i a i n d u z i d a p o r droga e p o d e m ser m e d i d o s d e t e r m i n a d a p o r u m a dosagem específica de glicose em sangue
d i r e t a m e n t e n o sangue o u na u r i n a . A a d m i n i s t r a ç ã o de i n s u l i n a venoso o u sangue capilar, respectivamente." Os pacientes se
é detectada através da descoberta de baixas concentrações de q u e i x a m dos sintomas a u t ô n o m o s que o c o r r e m aproximada-
p e p t í d e o C c o m a elevação das concentrações de insulina. m e n t e e m 1 a 3 horas após a refeição, e parece que tais sintomas
O etanol p r o d u z h i p o g l i c e m i a através da i n i b i ç ã o da glico- são aliviados, p o r 30 a 45 m i n u t o s , p o r ingestão alimentar. Esses
neogênese, e essa i n i b i ç ã o se agrava pela desnutrição (estoques sintomas raramente o c o r r e m p o r causa de concentrações baixas
baixos de glicogênio), c o m o se observa c o m f r e q ü ê n c i a elevada de glicose sanguínea. I n i c i a l m e n t e , u m teste de tolerância à
e m i n d i v í d u o s c o m a l c o o l i s m o c r ô n i c o . Os i n d i v í d u o s c o m dis- glicose de 5 o u 6 horas era o p r o c e d i m e n t o - p a d r ã o para a deter-
f u n ç ã o hepática (p.ex., h e p a t i t e v i r a i , toxinas) possuem a glico- m i n a ç ã o da presença de h i p o g l i c e m i a pós-prandial, mas não se
neogênese prejudicada o u os estoques de glicogênio prejudica- c o n f i a mais e m tal p r o c e d i m e n t o . C o n s e q ü e n t e m e n t e , o O G T T
dos, o que p o d e resultar em h i p o g l i c e m i a . A d i m i n u i ç ã o da não deve ser utilizado no diagnóstico de hipoglicemia reativa.
p r o d u ç ã o de glicose hepática ocorre se a d i s f u n ç ã o atingir mais A h i p o g l i c e m i a p ó s - p r a n d i a l não é f r e q ü e n t e , e é necessária
de 8 0 % do fígado. As deficiências de h o r m ô n i o d o crescimento a d e m o n s t r a ç ã o de h i p o g l i c e m i a d u r a n t e a o c o r r ê n c i a espon-
(especialmente c o m deficiência c o n c o m i t a n t e de A C T H ) , glico- tânea de episódios s i n t o m á t i c o s para a d e t e r m i n a ç ã o d o diag-
corticóides, h o r m ô n i o s t i r e o d i a n o s o u glucagon t a m b é m p o d e m n ó s t i c o . Se isso não f o r possível, propõe-se a realização de u m
p r o d u z i r h i p o g l i c e m i a . E m b o r a a deficiência de glicocorticóides teste de tolerância à refeição de 5 horas (que e s t i m u l a a c o m p o -
(p.ex., doença de A d d i s o n ) esteja mais consistentemente asso- sição de u m a dieta n o r m a l ) o u u m teste de refeição "hiperglicí-
ciada à h i p o g l i c e m i a , a m a i o r i a dos adultos deficientes e m glico- d i c a " ( m u i t a glicose).
398 PARTE IV Analitos

Utiliza-se o diagnóstico de h i p o g l i c e m i a pata explicar u m a (cetonúria). Observa-se esse processo em condições associadas à
ampla variedade de d i s t ú r b i o s que parecem não se relacionar d i m i n u i ç ã o da disponibilidade de carboidratos (como falta de ali-
c o m concentrações a n o r m a i s de glicose sanguínea. Esses sinto- mentação o u vômitos freqüentes) o u d i m i n u i ç ã o da utilização de
mas inespecíficos i n c l u e m fadiga, espamos musculares, palpita- carboidratos [como diabetes melíitus, doença de reserva de glicogênio
ções, d o r m ê n c i a , f o r m i g a m e n t o , dor, suadouro, lerdeza m e n t a l , (doença de v o n Gierke) e alcalosej. O diabetes mellitus e o consumo
sonolência, fraqueza e desmaio. A t r i b u e m - s e i n c o r r e t a m e n t e as de álcool são as causas comuns de cetoacidose. A determinação
anormalidades c o m p o r t a m e n t a i s , o b a i x o d e s e m p e n h o escolar e semi quantitativa de corpos cetônicos n o sangue é mais acurada do
a d e l i n q ü ê n c i a às concentrações baixas de glicose. N ã o se deve que a determinação desses compostos na u r i n a n o tratamento de
realizar u m diagnóstico de h i p o g l i c e m i a a menos q u e o paciente cetoacidose diabética. E m b o t a n e m sempre excretadas proporcio-
atenda aos critérios da tríade cíe Whipple da concentração de glicose nalmente às concentrações das cetonas sanguíneas, as cetonas uri-
sanguínea: (1) sintomas causados o u provavelmente causados p o r nárias, por conveniência, são amplamente utilizadas no monitora-
h i p o g l i c e m i a , (2) glicose baixa m e d i d a n o m o m e n t o de ocorrên- m e n t o de controle em pacientes c o m diabetes t i p o 1. O teste de
cia dos sintomas e (3) alívio dos sintomas q u a n d o a glicose volta u r i n a para determinação de cetonas é realizado nos indivíduos c o m
à concentração n o r m a l . A demonstração de u m a concentração diabetes tipo 1 durante estresse o u doença aguda, c o m elevação
de glicose plasmática n o r m a l q u a n d o o i n d i v i d u o exibe sintomas consistente de glicose sanguínea que excede 2 4 0 m g / d L T a m b é m
exclui a possibilidade de u m d i s t ú r b i o h i p o g l i c ê m i c o . se realiza esse teste durante a gravidez o u quando há sintomas de
cetoacidose. Podem ocorrer leituras positivas de cetonas durante o
Hipoglicemia no Diabetes Mellitus j e j u m e na gravidez. Certos medicamentos p o d e m gerar testes falso-
A h i p o g l i c e m i a ocorre f r e q ü e n t e m e n t e t a n t o n o diabetes t i p o 1 positivos, enquanto a exposição prolongada das tiras de teste ao ar
q u a n t o n o diabetes t i p o 2. O s pacientes que u t i l i z a m i n s u l i n a pode produzir resultados falso-negativos.
e x p e r i m e n t a m a p r o x i m a d a m e n t e u m a dois episódios de h i p o -
glicemia s i n t o m á t i c a p o r semana, e a h i p o g l i c e m i a grave que A c i d o s e Láctica
requer assistência de outras pessoas o u está associada a perda de A acidose láctica ocorre e m duas formas clínicas — (1) t i p o A
consciência afeta cerca de 1 0 % dessa p o p u l a ç ã o p o r ano. E m (hipóxica), associada à d i m i n u i ç ã o de oxigenação tecidual, c o m o
pacientes que p r a t i c a m terapia intensiva c o m i n s u l i n a (p.ex., choque, h i p o v o l e m i a e disfunção v e n t r i c u l a r esquerda; e (2) t i p o
m ú l t i p l a s injeções o u i n f u s ã o subcutânea c o n t i n u a de i n s u l i n a ) , B (metabólica), associada a doenças (p.ex., diabetes meüitus, neo-
esses n ú m e r o s são duas a seis vezes maiores. O evento adverso plasias e doenças hepáticas), d r o g a s / t o x i n a s (p.ex., etanol,
p r i n c i p a l associado à terapia intensiva n o D C C T f o i u m a u m e n t o m e t a n o l e salicilatos) o u erros inatos d o m e t a b o l i s m o . A acidose
de três vezes na incidência de h i p o g l i c e m i a grave. D e f o r m a láctica não é i n c o m u m e ocorre em a p r o x i m a d a m e n t e 1 % dos
semelhante, ocorre h i p o g l i c e m i a e m pacientes c o m diabetes t i p o i n d i v í d u o s a d m i t i d o s n o hospital. Essa c o n d i ç ã o tem u m a taxa
2 (causado p o r agentes h i p o g l i c ê m i c o s orais o u insulina), mas de m o r t a l i d a d e m a i o r do q u e 6 0 % e se a p r o x i m a dos 1 0 0 % na
tal ocorrência é menos f r e q ü e n t e do que n o diabetes t i p o 1. A presença de hipotensão. O t i p o A é m u i t o mais c o m u m .
contra-regulação a n o r m a l da glicose e a perda de percepção da U m caso i n c o m u m de acidose láctica que não é diagnosticado
h i p o g l i c e m i a são dois mecanismos patofisiológicos q u e c o n t r i - c o m freqüência é a acidose D-láctica. A absorção e o a c ú m u l o de
b u e m para a h i p o g l i c e m i a e m pacientes c o m diabetes. D-lactato de bactérias intestinais anormais p o d e m causar acidose
sistêmica. Essa condição ocorre após u m a cirurgia de desvio
Contra-regulação Anormal da Glicose j e j u n o i l e a l e se manifesta c o m o u m estado m e n t a l alterado (de
As respostas contra-reguladoras ficam prejudicadas em pacientes t o n t u r a leve a coma) c o m concentrações sanguíneas elevadas de
c o m diabetes tipo 1, a u m e n t a n d o o risco de hipoglicemia. A secre- D-lactato. Praticamente todos os ensaios laboratoriais comu-
ção de glucagon em reposta à hipoglicemia é prejudicada por u m m e n t e utilizados para detecção de lactato u t i l i z a m a L-lactato
mecanismo desconhecido que ocorre n o início do curso do diabetes desidrogenase, enzima que não reconhece o D-lactato. O D -
t i p o 1. A secreção da epinefrina em reposta à hipoglicemia toma-se lactato pode ser m e d i d o p o r cromatografia gás-líquido o u enzi-
deficiente em u m m o m e n t o mais tardio n o curso da doença. Esses maticamente c o m u m a D-lactato desidrogenase específica.
defeitos são seletivos já que outros estímulos c o n t i n u a m a deflagrar O lactato n o l í q u i d o cerebrospinal (CSF) n o r m a l m e n t e acom-
a secreção de glucagon e de epinefrina. A contra-regulação da glicose p a n h a as concentrações sanguíneas. C o m alterações b i o q u í m i c a s
parece n o r m a l em pacientes c o m diabetes t i p o 2. n o C N S , p o r é m , os valores de lactato n o C S F m u d a m indepen-
d e n t e m e n t e dos valores sanguíneos. Observam-se concentrações
Perda de Percepção da Hipoglicemia elevadas n o C S F e m i n d i v í d u o s c o m acidentes cetebrovasculares,
A t é 5 0 % dos pacientes c o m diabetes t i p o 1 de l o n g a duração h e m o r r a g i a intracranial, m e n i n g i t e bacteriana, epilepsia e outros
(mais de 3 0 anos) não e x p e r i m e n t a m sintomas neurogênicos e distúrbios do C N S .
estão propensos a u m a h i p o g l i c e m i a mais grave. Acredita-se q u e
o m e c a n i s m o envolvido seja u m a d i m i n u i ç ã o da resposta da Erros Inatos do M e t a b o l i s m o de C a r b o i d r a t o s
e p i n e f r i n a à h i p o g l i c e m i a . E m pacientes c o m diabetes t i p o 1 A deficiência o u ausência de u m a enzima que p a r t i c i p a n o
tratados i n t e n s i v a m e n t e , são necessárias concentrações menores m e t a b o l i s m o de carboidratos p o d e resultar n o a c ú m u l o de
de glicose plasmática para o s u r g i m e n t o dos sintomas de h i p o - monossacarídeos, a c ú m u l o este q u e p o d e ser m e d i d o na u r i n a .
glicemia. A l g u n s autores a f i r m a m que a utilização terapêutica de A m a i o r i a dessas condições é h e r d a d a de f o r m a autossõmica
i n s u l i n a h u m a n a , em vez de outras insulinas, resulta em u m a recessiva (ver a versão a m p l i a d a deste capítulo). 1 2 Os açúcares
i n c i d ê n c i a elevada da perda de percepção da h i p o g l i c e m i a , mas aparecem c o m freqüência na u r i n a c o m o resultado de seu
a análise de 45 estudos não revelou diferenças significativas e m c o n s u m o excessivo, sem a presença de doença subjacente.
episódios hipoglicêmicos entre as espécies de i n s u l i n a . As técnicas utilizadas para separar e i d e n t i f i c a r os açúcares
i n c l u e m fermentação, rotação óptica, formação de osazona c o m
C e t o n e m i a e Cetonúria fenilidrazina, testes q u í m i c o s específicos e cromatografia em
A formação excessiva de corpos cetônicos resulta e m concentrações papel o u de camada fina. A d i s p o n i b i l i d a d e de fitas de teste
sanguíneas elevadas (cetonemia) e aumento da excreção na u r i n a c o m glicose oxidase, específicas para a glicose, s i m p l i f i c o u m u i t o
Carboidratos CAPÍTULO 22 399

a diferenciação da glicose de outras substâncias redutoras. POT m e n o r d o que a concentração de glicose plasmática. E m b o r a as
razões práticas, os açúcares u r i n á r i o s de interesse c l í n i c o são a concentrações de glicose na fase aquosa de glóbulos vermelhos
glicose e a galactose. Os testes u r i n á r i o s de bebês e crianças p o r e de plasma sejam semelhantes (a m e m b r a n a plasmática d o eri-
glicose oxidase o u redução de cobre i d e n t i f i c a r ã o os i n d i v í d u o s t r ó c i t o é t o t a l m e n t e permeável à glicose), o c o n t e ú d o de água
c o m erros inatos d o m e t a b o l i s m o . Devem-se i d e n t i f i c a r , poste- d o plasma ( 9 3 % ) é a p r o x i m a d a m e n t e 11% maioT d o que o
r i o r m e n t e , as substâncias redutoras distintas da glicose através c o n t e ú d o de água d o sangue total. N a m a i o r i a dos l a b o r a t ó r i o s
de p r o c e d i m e n t o s cromatográficos (ver a versão ampliada deste clínicos, utiliza-se plasma o u soro para a m a i o r i a das d e t e r m i n a -
capítulo). 1 2 ções de glicose; os m é t o d o s para o a u t o m o n i t o r a m e n t o da glicose
u t i l i z a m amostras de sangue t o t a l , mas tais m é t o d o s p o d e m
Doença de A r m a z e n a m e n t o de Glicogênio m e d i r a concentração de glicose n a fase plasmática. D u r a n t e o
O glicogênio, e m b o r a presente na m a i o r i a dos tecidos, é arma- j e j u m , a concentração de glicose n o sangue capilar é s o m e n t e 2
zenado p r e d o m i n a n t e m e n t e n o fígado e n o m ú s c u l o esquelético. a 5 m g / d L m a i o r d o que a concentração de glicose n o sangue
D u r a n t e o j e j u m , o glicogênio hepático é c o n v e r t i d o em glicose venoso. A p ó s u m a carga de glicose, p o r é m , as concentrações de
para o f o r n e c i m e n t o de energia para t o d o o c o r p o . Por o u t r o glicose n o sangue capilaT t ê m valores de 20 a 70 m g / d L [(média
lado, o m ú s c u l o esquelético n ã o possui glicose-6-fosfatase, e o - 3 0 m g / d L ) , equivalente a 2 0 % a 2 5 % ] maiores d o que as con-
glicogênio muscular só p o d e ser u t i l i z a d o l o c a l m e n t e para obten- centrações nas amostras de sangue venoso coletadas c o n c o m i -
ção de energia. A doença de a r m a z e n a m e n t o de glicogênio é u m tantemente. 1 4
n o m e genérico que agrupa pelo m e n o s 10 d i s t ú r b i o s de armaze- A glicólise d i m i n u i a glicose sérica e m a p r o x i m a d a m e n t e 5 %
n a m e n t o de glicogênio nos tecidos que são hereditários e raros. a 7 % e m 1 h o r a (5 a 10 m g / d L ) n o sangue coagulado n o r m a l
As diferentes formas de doença de a r m a z e n a m e n t o de glicogênio n ã o c e n t r i f u g a d o e m t e m p e r a t u r a a m b i e n t e . A taxa da glicólise
são categorizadas p o r n u m e r a i s de a c o r d o c o m a o r d e m c r o n o - i n nitTO é m a i o r n a presença de leucocitose o u c o n t a m i n a ç ã o
lógica n a q u a l elas f o r a m identificadas. C a d a f o r m â é causada bacteriana. E m soro estéril não h e m o l i s a d o separado, a concen-
p o r u m a deficiência de u m a enzima específica n o m e t a b o l i s m o tração de glicose é geralmente estável p o r 8 horas e m 2 5 ° C e até
d o glicogênio, o que p r o d u z u m d i s t ú r b i o q u a n t i t a t i v o o u qua- 72 horas e m 4 ° C ; observa-se i n s t a b i l i d a d e e m períodos mais
l i t a t i v o d o a r m a z e n a m e n t o de glicogênio. longos de a r m a z e n a m e n t o . O plasma r e m o v i d o das células após
C o m o o fígado e o m ú s c u l o esquelético possuem as maiores centrifugação m o d e r a d a c o n t é m leucócitos que t a m b é m meta-
taxas de m e t a b o l i s m o d o glicogênio, essas são as estruturas mais b o l i z a m a glicose — e m b o r a o plasma estéril sem células não
afetadas. As f o r m a s hepáticas (tipos I, I I I , I V e V I ) caracterizam- possua atividade glicolítica.
se p o r hepatomegalia ( p o r causa d o a u m e n t o dos estoques de Para a i n i b i ç ã o da glicólise e estabilização da glicose p o r três
g l i c o g ê n i o hepático) e p o r h i p o g l i c e m i a (causada pela falta de dias e m t e m p e r a t u r a a m b i e n t e , pode-se a d i c i o n a r f l u o r e t o de
h a b i l i d a d e de converter o glicogênio e m glicose). A h i p o g l i c e m i a s ó d i o (NaF) o u , menos c o m u m e n t e , iodoacetato de s ó d i o à
manifesta-se p o r sintomas clínicos a u t ô n o m o s (suadouro, treme- amostra. Os íons f l u o r e t o i m p e d e m a o c o r r ê n c i a da glicólise
deira e sensação de desmaio), retardo d o crescimento e achados através da i n i b i ç ã o da enolase, u m a enzima q u e precisa de M g 2 \
laboratoriais de d i m i n u i ç ã o das concentrações de i n s u l i n a e A i n i b i ç ã o ocorre p o r causa da f o r m a ç ã o de u m c o m p l e x o i ô n i c o
a u m e n t o das concentrações de glucagon n o sangue. As f o r m a s c o m Mg 2 + , fosfato i n o r g â n i c o e íons f l u o r e t o ; esse c o m p l e x o
musculares (tipos I I , I l l a , V e V I I ) , p o r o u t r o lado, possuem interfere na interação entre a e n z i m a e o substrato. O f l u o r e t o
sintomas leves q u e aparecem geralmente e m jovens adultos t a m b é m é u m a n t i c o a g u l a n t e fraco p o r q u e ele se liga ao cálcio;
d u r a n t e exercícios puxados p o r causa da falta de h a b i l i d a d e de p o r é m , p o d e ocorrer coagulação após m u i t a s horas, e, p o r t a n t o ,
f o r n e c i m e n t o de energia para a contração muscular. O u t r o s aconselha-se a utilização de u m a mistura combinada de fluoreto-
d i s t ú r b i o s musculares p o d e m e x i b i r sintomas semelhantes, mas Dxalato, c o m o 2 m g de oxalato de potássio (K2C2O4) e 2 m g de
tais d i s t ú r b i o s p o d e m ser p r o n t a m e n t e diferenciados através da N a F / m L de sangue, paTa prevenir a coagulação tardia. U t i l i z a m -
avaliação dos estoques de glicogênio. Realiza-se d i r e t a m e n t e o se, t a m b é m , o u t r o s anticoagulantes (p.ex., ácido e t i l e n o d i a m i n o -
diagnóstico específico de cada t i p o através da d e m o n s t r a ç ã o d o tetracético [ E D T A ] , citrato o u heparina). í o n s f l u o r e t o e m altas
defeito enzimático n o tecido. Para u m a descrição detalhada, os concentrações i n i b e m a atividade da urease e de outras enzimas;
leitores devem consultar C h e n e Burchell.' 1 c o n s e q ü e n t e m e n t e , as amostras p o d e m estai i m p r ó p r i a s para a
d e t e r m i n a ç ã o de uréia e m p r o c e d i m e n t o s que necessitam da
METODOLOGIA ANALÍTICA _ _ urease e para o ensaio d i r e t o de algumas enzimas séricas. O
Nesta seção, discutem-se os m é t o d o s analíticos para a determina- K^C^O^faz c o m que as células percam água, d i l u i n d o , p o r t a n t o ,
ção de glicose, corpos cetônicos, lactato, p i r u v a t o , h e m o g l o b i n a o plasma. P o r t a n t o , n ã o se devem u t i l i z a r as amostras coletadas
glicada, f r u t o s a m i n a , p r o d u t o s finais de glicação avançada, albu- nesses t u b o s para a dosagem de o u t r o s metabólitos. E m b o r a o
m i n a u r i n á r i a , i n s u l i n a , p r ó - i n s u l i n a , peptídeo C e glucagon. f l u o r e t o m a n t e n h a a estabilidade da glicose sanguínea a l o n g o
prazo, a taxa de d e c l í n i o na p r i m e i r a h o r a após a coleta da
D e t e r m i n a ç ã o de Glicose e m Fluidos amostra n ã o se altera. Provavelmente, então, a utilização d o t u b o
Corporais c o n t e n d o f l u o r e t o é desnecessária nas análises de r o t i n a se o
V á r i o s m é t o d o s são utilizados para m e d i r a glicose n o sangue, plasma for separado das células o u se a glicose f o r m e d i d a e m
SOTO, plasma e u r i n a . As avaliações d o College o f A m e r i c a n até 6 0 m i n u t o s após a coleta d o sangue. Porém, i n i b i d o r e s de
Pathologists ( C A P ) d e m o n s t r a m que t o d o s os m é t o d o s e x i b e m glicólise são necessários e m pacientes c o m c o n t a g e m m u i t o
u m coeficiente de variação ( C V ) m e n o r d o que 5 % para os elevada de leucócitos, pois há diferenças de até 65 m g / d L entre
valores de glicose e m soro l i o f í l í z a d o , sendo que, c o m métodos os valores de glicose c o m e sem i n i b i d o r e s glicolíticos após 1 a
automatizados, o C V é m e n o r d o que 2 , 6 % . 2 horas de c o n t a t o c o m as células sanguíneas.
C o m o o C S F pode ser c o n t a m i n a d o p o r bactérias o u outras
Coleta e Armazenamento de Amostra células, a d e t e r m i n a ç ã o da glicose deve ser realizada imediata-
E m i n d i v í d u o s c o m h e m a t ó c r i t o n o r m a l , a concentração de m e n t e . Se f o r inevitável u m atraso na dosagem, deve-se c e n t r i f u -
glicose de j e j u m e m sangue t o t a l é a p r o x i m a d a m e n t e 10% a 1 2 % gar e armazenar a amostra e m 4 ° C a -20°C.
400 PARTE IV Analitos

Nas coletas de u r i n a de 24 h , pode-se preservar a glicose Medem-se as absorvâncias das misturas de reação da amostra
através da adição de 5 m L de ácido acético glacial ao recipiente o u d o calibrador após o t é r m i n o das reações (reação n o estado
antes d o i n í c i o da coleta. Dessa forma, o p H f i n a l da u r i n a de e q u i l í b r i o d i n â m i c o , m é t o d o d o " p o n t o f i n a l " ) o u em u m
geralmente fica entre 4 e 5, c o n d i ç ã o na q u a l a atividade bacte- t e m p o fixo após o i n í c i o da reação (cinética de t e m p o fixo). N o s
riana é i n i b i d a . O u t r o s conservantes propostos são 5 g de ben- métodos de p o n t o f i n a l , podem-se calcular d i r e t a m e n t e as con-
zo ato de s ó d i o p o r amostra de 24 horas o u c l o r e x i d i n a e n i t r a t o centrações de glicose c o m base na absortividade m o l a r do
de sódio (NaN^) 0 , 1 % c o m cloreto de b e n z e t ô n i o 0 , 0 1 % . Tais N A D P H o u d o N A D H , mas recomenda-se a inclusão de u m
conservantes p o d e m ser inadequados e deve-se armazenar a g r u p o de calibradores para a detecção de possível deterioração
u r i n a em 4 Q C d u r a n t e a coleta. A s amostras de u r i n a p o d e m das enzimas e dos m e t a b ó l i t o s A T P , N A D P ' e N A D , todos ins-
perder mais de 4 0 % da glicose após 24 horas em t e m p e r a t u r a táveis. Os reagentes t a m b é m c o n t ê m substâncias que reagem
ambiente. c o m as coenzimas. Avalia-se a presença dessas substâncias através
d o a u m e n t o da absorvância observada em u m reagente b r a n c o
Dosagem da Glicose no Sangue d u r a n t e a dosagem. O calibrador mais c o n c e n t r a d o fornece u m a
A hexoquinase e a glicose oxidase são a m p l a m e n t e utilizadas e m verificação da l i n e a r i d a d e da resposta e a adequação do reagente
ensaios para m e d i r a concentração de glicose n o sangue. U t i l i z a - enzimático. O p r o c e d i m e n t o é linear de 0 a 5 0 0 m g / d L . Devem-
se a glicose desidrogenase e m alguns métodos. se d i l u i r as amostras de soro e de plasma c o m concentrações de
glicose maiores do que 5 0 0 m g / d L (geralmente c o m salina iso*
Métodos que Utilizam Hexoquinase tônica) e depois realizar o ensaio.
Os m é t o d o s que u t i l i z a m a hexoquinase ( H K ) baseiam-se em u m T a m b é m estão disponíveis p r o c e d i m e n t o s c o m a hexoqui-
ensaio enzimático que utiliza a H K e a glicose-6-fosfato desidro- nase nos quais as reações indicadoras p r o d u z e m p r o d u t o s colo-
genase (G-Õ-PD): ridos cujas absorvâncias p o d e m ser medidas na faixa visível.
Reage-se u m sistema de oxidação-redução c o n t e n d o metossulfato
Hexoquinase
Glicose Glicose-6-fosfato de fenazina (PMS) e u m composto tetrazólico substituído, o
+ ATP - + ADP
cloreto de 2-(fModofenil)-3-£-nitrofenil-5-feniltetrazólio (1NT),
c o m o N A D P H f o r m a d o na reação. O 1 N T r e d u z i d o t e m u m a
Glicose-ó-fosfato G-6-PD Ó-Fosfogliconaco coloração c o m absorvância m á x i m a e m 5 2 0 n m .

Métodos que Utilizam Glicose Oxidase


NADP" NADPH + H A glicose oxidase catalisa a oxidação da glicose e m ácido glicô-
(orNAD") (ar N A D H )
n i c o e p e r ó x i d o de h i d r o g ê n i o ( H z O z ) :

C o m o i n d i c a d o , a glicose é p r i m e i r o fosforilada pelo A T P G U St 0 l


Glicose + H 2 0 + 02 ' ° "^ ) Á c i d o glicõnico + 2 H 2 0 2
na presença de H K e Mg 2 + . A glicose-6-fosfato f o r m a d a é oxidada
pela G - 6 - P D e m ó-fosfogliconato na presença de n i c o t i n a n u d a -
adenina d i n u c l e o t í d e o fosfato ( N A D P * ) . A q u a n t i d a d e de N A D P A adição da enzima peroxidase e u m aceptor de o x i g ê n i o
reduzida ( N A D P H ) p r o d u z i d a é d i r e t a m e n t e p r o p o r c i o n a l à cromogênico, c o m o a o-dianisidina, resulta na formação de u m
q u a n t i d a d e de glicose na amostra e é m e d i d a pelo a u m e n t o na composto c o l o r i d o que é m e d i d o :
absorvância em 340 n m . Utiliza-se a G-6-PD derivada de leve-
dura n o ensaio, c o m N A D P " c o m o o co-fator. O N A D " é o co- o-Dianisidina + H 2 0 7
fator se for u t i l i z a d a a G j 6 - P D bacteriana (Leucontrnoc mesenteroi-
JVrmfjaie—^ o-Dianisidina O x i d a d a + H 2 0
deí), e o N A D H p r o d u z i d o t a m b é m é m e d i d o em 340 n m . F o i
desenvolvido e v a l i d a d o u m m é t o d o de referência c o m base (Colorido)
nesse p r i n c í p i o . N o m é t o d o de referência, desprotemiza-se o
soro o u o plasma através da adição de soluções de h i d r ó x i d o de
b á r i o ( B a J O H h ) e sulfato de zinco ( Z n S 0 4 ) . Mistura-se o sobre- A glicose oxidase é altamente específica para a {i-D-glicose.
n a d a n t e t r a n s p a r e n t e a u m reagente c o n t e n d o A T P , N A D " , C o m o 3 6 % a 6 4 % da glicose e m solução estão nas formas a e
hexoquinase e G-6-PD, incuba-se a solução r e s u l t a n t e em 2 5 ° C P, respectivamente, a reação c o m p l e t a requer m u t a r r o t a ç ã o da
até o t é r m i n o da reação e mede-se o N A D H . C a l i b r a d o r e s e f o r m a a para a f o r m a [3. A l g u m a s preparações comerciais de
brancos são utilizados d u r a n t e t o d o o processo, i n c l u i n d o a glicose oxidase c o n t ê m u m a enzima, a mutarrotase, que acelera
etapa de desproteinização. essa reação. Sem a mutarrotase, ocorre conversão espontânea se
E m b o r a a l t a m e n t e acurado e preciso, o m é t o d o de referência o t e m p o de i n c u b a ç ã o f o r estendido.
requer m u i t a precisão e é m u i t o d e m o r a d o para ser utilizado A segunda etapa, envolvendo a peroxidase, é m u i t o m e n o s
r o t i n e i r a m e n t e em u m l a b o r a t ó r i o clínico. U m m é t o d o alterna- específica do que a reação da glicose oxidase. Várias substâncias,
t i v o é aplicar a reação d i r e t a m e n t e ao soro o u ao plasma e u t i l i - c o m o ácido ú r i c o , ácido ascórbico, b i l i r r u b i n a , h e m o g l o b i n a ,
zar u m b r a n c o para c o r r i g i r as interferências das substâncias que tetraciclina e g l u t a t i o n a , i n i b e m a reação (provavelmente p o r
absorvem e m 3 4 0 n m . competição c o m o c r o m ó g e n o para H 2 O I ) p r o d u z i n d o valores
Pode-se u t i l i z a r soro o u plasma. Pode-se u t i l i z a r N a F c o m menores. A l g u m a s preparações de glicose oxidase c o n t ê m cata-
u m anticoagulante c o m o E D T A , h e p a r i n a , oxalato o u citrato. lase, enzima que d e c o m p õ e o p e r ó x i d o e d i m i n u i a intensidade
A s amostras hemolisadas c o n t e n d o mais de 0,5 g de hemoglo- da coloração f i n a l o b t i d a . Devem-se analisar s i m u l t a n e a m e n t e
h i n a / d L são insatisfatórias p o r q u e os ésteres de fosfato e as os calibradores e as substâncias desconhecidas sob as condições
enzimas liberadas dos glóbulos v e r m e l h o s i n t e r f e r e m n o ensaio. nas quais a taxa de oxidação é p r o p o r c i o n a l à concentração de
O u t r a s fontes de i n t e r f e r ê n c i a i n c l u e m drogas, b i l i t r u b i n a e glicose.
l i p e m i a (triglicerídeo ^ 5 0 0 m g / d L que causa u m a i n t e r f e r ê n c i a O s métodos c o m glicose oxidase são apropriados para a
positiva). dosagem da glicose n o CSF. A u r i n a c o n t é m altas concentrações
Carboidratos CAPÍTULO 22 401

de substâncias que i n t e r f e r e m na reação da peroxidase ( c o m o o dadoso para m a n t e r o c o n t r o l e da glicose sanguínea. Tal fato
ácido úrico) q u e p r o d u z e m resultados falsamente baixos. Por- tornou-se p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e c o m os resultados d o
tanto, não se deve utilizar o m é t o d o da glicose oxidase na u r i n a . D C C T e a recomendação aos pacientes para u t i l i z a r e m regimes
F o i descrito n a l i t e r a t u r a u m m é t o d o n o q u a l a u r i n a é p r i m e i r o de terapia intensiva c o m i n s u l i n a para a obtenção de u m a glice-
pré-tratada c o m u m a resina de troca iônica para a r e m o ç ã o de m i a p r ó x i m a a da n o r m a l . Esses regimes i n c l u e m m ú l t i p l a s inje-
substâncias interferentes. ções diárias de i n s u l i n a , b o m b a s de i n s u l i n a e injeções subcutâ-
A l g u n s i n s t r u m e n t o s u t i l i z a m u m eletrodo polarográfico de neas c o n t i n u a s de i n s u l i n a .
oxigênio que m e d e a taxa de c o n s u m o de oxigênio após a amostra Os m e d i d o r e s portáteis para a determinação das concentra-
ser a d icio nada a u m a solução c o n t e n d o glicose oxidase. C o m o ções da glicose sanguínea ( C a p í t u l o 12) são utilizados de três
essa dosagem envolve somente a reação da glicose oxidase, elimi- formas p r i n c i p a i s : (1) em instituições de saúde ( n o leito do
nam-se as interferências encontradas na etapa da peroxidase. Para paciente e e m clínicas o u hospitais); (2) em c o n s u l t ó r i o s médicos;
prevenir a formação de oxigênio d o b L O ? pela catalase presente e (3) pelos pacientes em casa, n o trabalho e na escola. N o s
em algumas preparações de glicose oxidase, remove-se a H 2 0 2 Estados U n i d o s , a ú l t i m a f o r m a de determinação, isto é, o auto-
através de duas reações adicionais: m o n i t o r a m e n t o da glicose sanguínea ( S M B G ) , utilizada p o r
a p r o x i m a d a m e n t e 1 m i l h ã o de pacientes c o m diabetes, é feito
Catahlse pelo menos u m a vez ao dia poT 4 0 % e 2 6 % dos i n d i v í d u o s c o m
H 2 Q + C 2 H , O H ) CH 3 CH0+2H 2 0
diabetes t i p o 1 e 2, respectivamente. 1 3
U t i l i z a n d o esses medidores, os pacientes m e d e m suas pró-
H , Q, + 2 H + +21" i ^ - b í í
^ l 2H, 0 prias concentrações de glicose sanguinea e m o d i f i c a m suas doses
2 +
de i n s u l i n a c o m base nos seus valores de glicose. N ã o é prático
para os pacientes realizarem as determinações de glicose através
Essa ú l t i m a reação é eficaz m e s m o q u a n d o ocorre d i m i n u i - dos métodos descritos a n t e r i o r m e n t e , mas estão disponíveis
ção da atividade da catalase n o estoque de reagentes. Aplica-se várias tiras de teste simples que p e r m i t e m dosagens rápidas e
esse p r o c e d i m e n t o d i r e t a m e n t e na u r i n a , soro, plasma o u CSF. razoavelmente acuradas c o m u m a gota de sangue total. Essas
Porém, não se deve utilizá-lo para a determinação da glicose em tiras u t i l i z a m a mesma m e t o d o l o g i a descrita a n t e r i o r m e n t e para
sangue total, já que as células sanguíneas c o n s o m e m o x i g ê n i o . a análise da glicose — p r e d o m i n a n t e m e n t e c o m glicose oxidase
E m sistemas automatizados c o m múltiplas camadas de lâminas o u hexoquinase — mas algumas tiras c o n t ê m glicose desidroge-
secas, mede-se a glicose através de u m p r o c e d i m e n t o utilizando-se nase. E m muitas tiras, colore-se u m i n d i c a d o r pela reação cro-
a glicose oxidase. Coloca-se 10 p L de amostra de soro, plasma, mogênica da glicose oxidase-peroxidase. Os reagentes são com-
u r i n a o u S C F sobre u m f i l m e poroso localizado acima de u m a binados na f o r m a seca em u m a pequena área de superfície de
camada q u e c o n t é m os reagentes. A glicose difunde-se através u m a tira de teste, e as cores que aparecem p o d e m ser avaliadas
d o f i l m e e reage c o m os r e a g e n t e s p a r a p r o d u z i r u m p r o - v i s u a l m e n t e p o r comparação c o m u m q u a d r o de cores (rara-
d u t o f i n a l c o l o r i d o o u u m indicador. Mede-se a intensidade desse m e n t e utilizado atualmente) o u q u a n t i f i c a d a s e m u m m e d i d o r
i n d i c a d o r através de u m f i l m e transparente posicionado abaixo da especial. A leitura uiswal com um quadro de cores não é suficiente-
camada de reagentes utilizando-se espectrofotometria de refletân- mente acurada para a m a i o r i a das circunstâncias clínicas. Estão
cia. As vantagens desse m é t o d o são a utilização de pequena quan- disponíveis pelo m e n o s 25 m e d i d o r e s diferentes de glicose san-
tidade de amostra, a não utilização de reagentes líquidos e a u m e n t o guínea q u e v a r i a m e m t a m a n h o , peso, m é t o d o de calibração e
da estabilidade d u r a n t e o armazenamento. outras características.
Para realizar a dosagem, coloca-se u m a amostra de sangue
Método que Utiliza Glicose Desidrogenase (geralmente de p o n t a de dedo, mas pode-se u t i l i z a r sangue t o t a l
A enzima glicose desidrogenase (p-D-glicose: N A D o x i d o r r e d u - anticoagulado, coletado em E D T A o u heparina) na zona de teste
tase, E C 1.1.1.47) catalisa a oxidação da glicose em glicolac- anexada a u m suporte plástico. Insere-se a t i r a de teste, então,
tona: n o m e d i d o r antes da aplicação da amostra. A p ó s u m período de
t e m p o , o resultado aparece e m u m m o s t r a d o r digital. Os medi-
Giicose desidrogenase dores u t i l i z a m f o t o m e t r i a de refletância o u eletroquímica para
Glicose - D-Glicose-5-lactona m e d i r a taxa da reação o u a concentração f i n a l dos p r o d u t o s . A
f o t o m e t r i a de refletância mede a q u a n t i d a d e de luz refletida da
região de teste q u e c o n t é m o reagente. E m sistemas e l e t r o q u í m i -
1
NAD NADH + H "
cos, a reação enzimática em u m e l e t r o d o i n c o r p o r a d o na tira de
teste p r o d u z u m f l u x o de elétrons. A corrente, q u e é d i r e t a m e n t e
Adiciona-se a mutarrotase para e n c u r t a r o t e m p o necessário p r o p o r c i o n a l à q u a n t i d a d e de glicose na amostra, é c o n v e r t i d a
para se alcançar o e q u i l í b r i o . A q u a n t i d a d e de N A D H gerada é e m u m a leitura digital. H á u m a grande variabilidade entre os
p r o p o r c i o n a l à concentração de glicose. A reação parece ser m e d i d o r e s em relação ao t e m p o d o teste (15 a 120 segundos) e
altamente específica para a glicose, não mostra i n t e r f e r ê n c i a p o r ao i n t e r v a l o de l e i t u r a (40 a 4 0 0 m g / d L a 0 a 6 0 0 m g / d L ) . A
anticoagulantes c o m u n s e substâncias n o r m a l m e n t e encontra- calibração é a u t o m á t i c a e m alguns dispositivos, e n q u a n t o o u t r o s
das n o soro e fornece resultados p r ó x i m o s aos obtidos c o m os u t i l i z a m tiras o u chips específicos . T o d o s os fabricantes f o r n e c e m
p r o c e d i m e n t o s que u t i l i z a m hexoquinase. O p r o c e d i m e n t o que soluções c o n t r o l e . E necessário q u e as instruções sejam estrita-
utiliza a glicose desidrogenase não é a m p l a m e n t e u t i l i z a d o nos m e n t e seguidas para a obtenção de resultados acurados. A l g u n s
Estados U n i d o s . m e d i d o r e s possuem u m a m e m b r a n a porosa que separa os eritró-
citos, e a análise é realizada n o plasma resultante. A Í concentrações
Automonitoramento da Glicose Sanguínea por de glicose no sangue total são aproximadamente 10% a 15% menores
Medidores de Glicose do que no plasma ou no soro, mos os medidores podem ser calibrados
O s pacientes c o m diabetes, especialmente aqueles que precisam para a exibição de valores de glicose plasmática, mesmo quando a
de terapia c o m i n s u l i n a , necessitam de u m m o n i t o r a m e n t o cui- amostra for sangue total. U m g r u p o de trabalho da I n t e r n a t i o n a l
402 PARTE IV Anafitos

Federation o f C l i n i c a i C h e m i s t r y ( I F C C ) r e c o m e n d o u recente- de glicose capilar realizadas p o r pacientes que u t i l i z a r a m medi-


m e n t e que os m e d i d o r e s de glicose relatem a concentração de dores c o m os valores l a b o r a t o r i a i s n ã o revelou uma m e l h o r a
glicose n o plasma, i n d e p e n d e n t e do t i p o de amostra o u de tec- significativa n o d e s e m p e n h o do m e d i d o r entre 1989 e 1999. 12
nologia.
Monitoramento Minimamente invasivo da Glicose
Objetivos Analíticos (Especificações de Desempenho) Sanguínea
H á m ú l t i p l o s objetivos analíticos propostos para o d e s e m p e n h o M e n o s de 10% dos pacientes c o m diabetes realizam rotineira-
dos m e d i d o r e s de glicose. Por exemplo, o objetivo analítico da m e n t e o S M B G porque esse p r o c e d i m e n t o é d o l o r o s o e incon-
A D A de 1996 é u m erro analítico m e n o r d o que 5 % . N e n h u m veniente. Desde a década de 1960, estudiosos estão t e n t a n d o
estudo p u b l i c a d o sobre medidores de glicose alcançou esse obje- desenvolver u m m é t o d o i n d o l o r de m o n i t o r a m e n t o das concen-
tivo. O C l i n i c a i a n d L a b o r a t o r y Standards I n s t i t u t e ( C L S , antigo trações de glicose sanguínea. Três m é t o d o s gerais são utilizados:
N a t i o n a l C o m m i t t e e for C l i n i c a i L a b o r a t o r y Standards [ N C C L S ] ) sensores implantáveis, m o n i t o r a m e n t o m i n i m a m e n t e invasivo e
recomenda q u e os resultados p o d e m variar em até 2 0 % das m o n i t o r a m e n t o não invasivo . I j
concentrações de glicose m e d i d a e m l a b o r a t ó r i o q u a n d o o valor
for m a i o r d o q u e 75 m g / d L e e m até 15 m g / d L da concentração Sensores Implantáveis
de glicose se esta for m e n o r o u igual a 75 m g / d L . H á o u t r o s V á r i o s biossensores implantáveis f o r a m desenvolvidos e avalia-
objetivos propostos. 1 3 dos t a n t o e m animais q u a n t o e m h u m a n o s . Os sistemas de
detecção baseiam-se em reações enzimáticas o u na geração de
Desempenho dos Medidores de Glicose sinais elétricos o u fluorescentes. O m é t o d o mais a m p l a m e n t e
Os avanços na tecnologia e l i m i n a r a m os erros mais c o m u n s n o estudado é o sensor e l e t r o q u í m i c o que utiliza glicose oxidase.
S M B G , c o m o a aplicação i m p r ó p r i a , t e m p o correto de realização Implanta-se esse sensor de f o r m a intravenosa o u subcutânea.
d o teste e r e m o ç ã o do excesso de sangue. A s inovações adicionais Estão sendo desenvolvidas alternativas às enzimas, i n c l u i n d o
que reduzem o erro do o p e r a d o r são (1) sistemas que a b o r t a m "receptores" artificiais de glicose. Os implantes subcutâneos são
o teste se o v o l u m e de amostra f o r i n a d e q u a d o , (2) programas os m e n o s bem-sucedidos. O i m p l a n t e de u m sensor d o t i p o
e m b u t i d o s que s i m p l i f i c a m o c o n t r o l e de qualidade e (3) m e m ó - agulha n o tecido subcutâneo i n d u z repostas i n f l a m a t ó r i a s que
rias que p e r m i t e m que o i n s t r u m e n t o armazene centenas de alteram a sensibilidade do dispositivo. Para m i n i m i z a r esse pro-
leituras de glicose que p o d e m ser transferidas para u m c o m p u - blema, utihza-se m i c r o d i á l i s e c o m fibras ocas o u u l t r a f i l t r a ç ã o
tador. c o m material b i o l o g i c a m e n t e inerte.
V á r i o s fatores afetam a acurácia e a r e p r o d u t i b i l i d a d e d o
S M B G . São eles (1) a v a r i a b i l i d a d e n o d e s e m p e n h o e n t r e usuá- Monitoramento Minimamente Invasivo da Glicose
rios — até 5 0 % dos valores p o d e m variar mais de 2 0 % dos valores Os dispositivos baseiam-se na observação de que a concentração
de referência; (2) o h e m a t ó c r i t o — a presença de a n e m i a (falso de glicose no f l u i d o intersticial se correlaciona c o m a concentração
a u m e n t o ) o u p o l i c i t e m i a (falsa d i m i n u i ç ã o ) p o d e resultar em de glicose sanguínea. Por exemplo, o p r i n c í p i o do G l u c o W a t c h
u m a v a r i a b i l i d a d e de até 3 0 % ; e (3) defeitos nas tiras de testes (Cygnus, R e d w o o d City, C A , Estados U n i d o s ) é a aplicação de
o u m a l f u n c i o n a m e n t o de i n s t r u m e n t o s (raro). O u t r a s variáveis u m a corrente elétrica fraca na pele, que m d u z o m o v i m e n t o
são alterações na a l t i t u d e , n a t e m p e r a t u r a a m b i e n t e o u na eletrosmótico da glicose através da pele o n d e ela é m e d i d a p o r
u m i d a d e ; h i p o t e n s ã o ; h i p o x i a ; e concentrações altas de triglice- u m detector c o m glicose oxidase. H á u m a alta correlação entre
rídeos. A l é m disso, esses ensaios não são confiáveis em concentrações as concentrações de glicose n o f l u i d o transdérmico e n o plasma.
muito altas e muito baixas de glicose (p.ex., <60 m g / d L e > 5 0 0 A aplicação mais clara do G l u c o W a t c h , projetado para m e d i r a
m g / d L ) . C o m o a d i m i n u i ç ã o do v o l u m e intravascular, u m a glicose três vezes p o r h o r a p o r até 12 horas, parece ser a detecção
característica c o m u m da cetoacidose diabética, a u m e n t a m u i t o de h i p o g l i c e m i a e m casos nos quais não há suspeita dessa condi-
a viscosidade d o sangue, há a possibilidade de o b t e n ç ã o de ção. E necessário realizar u m a calibração através da utilização de
resultados falsamente baixos de glicose sanguínea. V á r i a s drogas dosagens da glicose plasmática. Os estudos clínicos iniciais
i n t e r f e r e m , mas não e m todos os medidores. O u t r o fator i m p o r - revelam u m a correlação razoável do G l u c o W a t c h c o m o S M B G .
tante é a falta de correlação entre os medidores, até m e s m o de O dispositivo ainda não f o i rigorosamente testado e m a m b i e n t e
u m m e s m o fabricante, causada pelos diferentes métodos de ensaio d o m i c i l i a r o u em crianças, mas sua aprovação pela U.S. F o o d a n d
e arquitetura. F o r a m publicadas as características d o desempe- D r u g A d m i n i s t r a t i o n ( F D A ) provavelmente estimulará maiores
n h o analítico de vários medidores. 1 2 Os fatores relacionados c o m esforços para trazer outras tecnologias para o uso clínico.
os pacientes t a m b é m são i m p o r t a n t e s , p a r t i c u l a r m e n t e o treina-
m e n t o adequado. A educação c o n t í n u a nas visitas clínicas e a
comparação d o S M B G c o m a análise l a b o r a t o r i a l da glicose Monitoramento Não Invasivo da Glicose
m e l h o r a m a acurácia das leituras de glicose sanguínea dos O m o n i t o r a m e n t o não invasivo m viuo da glicose é u m a área de
pacientes. A l é m disso, é i m p o r t a n t e realizar a avaliação da investigação ativa. Dispositivos espectroscópicos p r ó x i m o s d o
técnica do paciente em intervalos regulares i n f r a v e r m e l h o m e d e m a absorção o u a reflexão de luz d o tecido
O d e s e m p e n h o de diferentes medidores varia a m p l a m e n t e . subcutâneo, mas há i n t e r f e r ê n c i a de m u i t a s substâncias. U m
Sob condições c u i d a d o s a m e n t e controladas nas quais todos os c o m p u t a d o r i n d i v i d u a l m e n t e calibrado e l i m i n a as interferências
ensaios f o r a m realizados p o r u m ú n i c o técnico m é d i c o , ~ 5 0 % para a obtenção d o resultado da glicose. Limitações semelhantes
das análises c o m os medidores atuais a t e n d e r a m ao c r i t é r i o da p r e v i n e m a utilização benvsucedida do espalhamento de luz. A
A D A de u m desvio m e n o r que 5 % dos valores de referência. O espectroscopia fotoacústica, m é t o d o que utiliza luz infraverme-
d e s e m p e n h o de medidores antigos f o i substancialmente pior. l h a pulsada, é u m a t e c n o l o g i a recente q u e parece promissora.
Observe que o d e s e m p e n h o alcançado pelos m e d i d o r e s de
glicose q u a n d o manuseados pelos técnicos médicos é m e l h o r do Determinação da Glicose na Urina
que o d e s e m p e n h o alcançado q u a n d o os m e d i d o r e s são manu- A determinação da glicose é rápida, barata e não-invasiva e é
seados pelos pacientes. A comparação de quase 2 2 . 0 0 0 dosagens utilizada para rastreaT grandes números de amostras.' , ! 3 O m o n i -
Carboidratos CAPÍTULO 2 2 403

toramento da glicose u r i n á r i a não é sensível e n e m específico !


I n t e r v a l o s de R e f e r ê n c i a para Glicose de
e não fornece n e n h u m a informação sobre as concentrações
J e j u m ( m g / d L ) p o r T i p o de A m o s t r a
da glicose sanguínea abaixo do l i m i t e renal (geralmente 180
m g / d L ) . Os testes de triagem mais antigos detectam todos os PLASMA/SORO
açúcares que reduzem cobre e também reagem com substâncias Adulto 74 a 99 (4,1 a 5,5 mmol/L)
redutoras que não são açúcares. Os testes específicos para a Criança 60 a 100 (3,5 a 5,5 mmol/L)
dosagem de glicose que são quantitativos ou semiquantitativos Recém-nascidos prematuros 20 a 60 (1,1 a 3,3 mmol/L)
estão amplamente disponíveis e substituíram os testes inespecí- Recém-nascidos a termo 30 a 60 (1,7 a 3,3 mmol/L)
ficos em adultos. Utiliza-se o teste de redução do cobre para fazei Sangue total 65 a 95 (3,6 a 5,3 mmol/L)
a triagem de recém-nascidos e bebês para a detecção de erros CSF 40 a 70 (60% do valor

inatos do metabolismo que podem resultar no aparecimento de do plasma)

açúcares redutores distintos da glicose (p.ex., galactose ou frutose) (2,2 a 3,9 mmol/L)

na urina.
URINA
24 horas 1 a 15 mg/dL (0,1 a 0,8 mmol/L)
Método Qualitativo para a Dosagem de Substâncias Redutoras
Totais
O reagente qualitativo de Benedict contém íons cúpricos com-
plexados com citrato em solução alcalina. As substâncias redu-
toras convertem íons cúpricos em íons cuprosos, formando Outros testes de tira (como o Keto-Diastix e o Chemstrip
h i d r ó x i d o cuproso amarelo ou óxido cuproso vermelho. U m a | j G K ) servem para a estimativa semiquantitativa da glicose e dos
adaptação conveniente do procedimento é comercializada na corpos cetônicos. A parte da tira para teste de glicose utiliza o
forma de c o m p r i m i d o (Clinicest). Os comprimidos contêm método da glicose oxidase-peroxidase. O peróxido de hidrogênio
sulfato cúprico anidro, h i d r ó x i d o de sódio ( N a O H ) , ácido cítrico produzido oxida o iodeto em iodo, gerando várias intensidades
e bicarbonato de sódio ( N a H C 0 3 ) . Misturam-se cinco gotas de maTrom que correspondem às concentrações crescentes de
(0,25 mL) de urina com 10 gotas de água em u m tubo de ensaio. glicose na urina. O limite de detecção é de 100 m g / d L .
Adiciona-se u m comprimido, e deixa-se a mistura em repouso
por 15 segundos. Agita-se, então, a mistura e observa-se a forma- Métodos Quantitativos para a Determinação da Glicose na Urina
ção de cor. Utiliza-se uma tabela de cores fornecida pelo fabri- As aplicações de vários procedimentos para a determinação semi-
cante para interpretar o resultado. Gera-se calor por causa do quantitativa de glicose na urina foram discutidas anteriormente
contato entre o N a O H e a água. A reação inicial entre o ácido na seção sobre a determinação da glicose em fluidos corporais.
cítrico e o N a H C 0 3 causa a liberação de dióxido de carbono Recomendam-se os procedimentos que utilizam hexoquinase ou
que deixa a mistura transparente e reduz o contato com o oxi- glicose desidrogenase para uma maior acurácia e especificidade.
gênio do ar para impedir a reoxidação dos íons cuprosos. Se uma Os procedimentos que utilizam glicose oxidase que dependem
quantidade grande de açúcar (>2 g / d L ) estiver presente na urina, somente do consumo de oxigênio o u da produção de H 2 0 2
a solução passa por várias cores e retorna para o marrom-esver- também são confiáveis. Não se utilizam para a urina os procedi-
deado. Esse evento pode causar uma leitura errônea baixa, a mentos com glicose oxidase que incluem a reação da H 2 0 2 -pero-
menos que toda a reação seja cuidadosamente observada. A xidase.
urina que reage dessa forma deve ser testada novamente com
duas gotas de urina em vez de cinco. As interferências falso-
Intervalos de Referência
posittvas podem ser causadas por outras substâncias redutoras
Embora a determinação da glicose seja feita por vários procedi-
que podem aparecer na urina.
mentos analíticos diferentes, os intervalos de referência não
variam significativamente entre os métodos. Os seguintes valores
Dosagem Semiquantitativa da Glicose na Urina são representativos das determinações de glicose:
Estão comercialmente disponíveis a partir de vários fabricantes Não há diferença entre os sexos. As concentrações de
tiras de teste convenientes, por exemplo, o Clinistix, o Keto- glicose plasmática a u m e n t a m com a idade — as concentrações
Diastix, o Chemstrip p G K e o Tes-Tape. Todos esses testes utili- da glicose de jejum aumentam aproximadamente 2 m g / d L por
zam a enzima glicose oxidase em u m ensaio cromogênico. Por década; concentrações pós-prandiais a u m e n t a m em 4 m g / d L
exemplo, o Clinistix tem u m papel de filtro impregnado com por década; e concentrações após u m a carga de glicose aumen-
glicose oxidase, peroxidase e o indicador o-tolidina. Outros indi- t a m em 8 a 13 m g / d L por década.
cadores podem ser utilizados, como o tetrametilbenzidina (TMB). As concentrações de glicose no CSF devem ser aproximada-
A zona de teste da tira é umedecida com u i i n a fresca e exami- mente 60% das concentrações do plasma e devem sempre ser
nada após 10 segundos. Aparecerá uma coloração azul se a comparadas com a glicose plasmática concomitantemente medida
glicose estiver presente em uma concentração igual ou maior do para uma interpretação clínica adequada.
que 100 m g / d L . Esse teste é mais sensível para a glicose do que
o teste de redução de cobre (Clinitest), cujo l i m i t e de detecção
C o r p o s C e t ô n i c o s no Soro
é de 250 m g / d L .
N e n h u m dos métodos comumente utilizados para a detecção e
Os resultados falso-positivos podem ser produzidos pela con-
determinação de corpos cetônicos n o soro ou na u r i n a
taminação da urina com H 2 0 2 ou u m agente oxidante forte,
reagem com todos os três corpos cetônicos. O teste do cloreto
como hipoclorito (água sanitária). Os resultados falso-negativos
férrico de Gerhardt reage somente com o acetoacetato. Os testes
podem ser produzidos pela presença de grandes quantidades de
que utilizam nitroprussiato são pelo menos 10 vezes mais sensí-
substâncias redutoras, como cetonas, ácido ascórbico e salicila-
veis ao acetoacetato do que à acetona e não reagem com o p-
tos. De forma geral, para exames de rotina, interpreta-se u m
hidroxibutirato. Portanto, a maioria dos testes a serem descritos
resultado negativo produzido pelo teste da tira como ausência
detecta essencialmente ou mede somente o acetoacetato. Pode
de glicose na urina.
ocorrer uma situação paradoxal. Q u a n d o se detecta inicialmente
404 PARTE IV Analitos

u m a cetoacidose e m u m indivíduo, o teste para detecção d e Determinação de P-hidroxib u tira to


cetonas p o d e ser f r a c a m e n t e positivo. C o m terapia, o 3-hidroxi- Nesse teste, o P-hidroxibutirato n a presença d e N A D + é conver-
b u t i r a t o é c o n v e r t i d o em acetoacetato e a cetose piora. O s testes t i d o pela p-hidroxibutirato desidrogenase e m acetoacetato, pro-
tradicionais p a r a detecção d e P-hidroxibutirato são indiretos e d u z i n d o N A D H q u e p o d e ser m e d i d a em u m a v a r i e d a d e d e
precisam de u m a fervura breve da urina p a r a a r e m o ç ã o de f o r m a s . E m u m a i m p l e m e n t a ç ã o , a diaforase catalisa a r e d u ç ã o
acetona e de acetoacetato p o r evaporação (com u m a conversão d o nitroazul d e tetrazólio (NBT) p e l o N A D H p a r a produzir u m
inicia] e s p o n t â n e a d o acetoacetato em acetona), seguido p o r c o m p o s t o roxo, e sua absorvãncia é lida e m u m m e d i d o r especial
oxidação leve d o P-hidroxibutirato em acetoacetato e em acetona q u e fornece u m a leitura digital.
c o m p e r ó x i d o , íons férricos e b i c r o m a t o . O acetoacetato f o r m a d o , O s valores de p-hidroxibutirato variam de 0,02 a 0,27 m m o l / L
p o r t a n t o , p o d e ser d e t e c t a d o c o m o teste de G e r h a r d t o u u m (0,21 a 2,81 m g / d L ) em indivíduos sadios após u m j e j u m n o t u r n o .
dos p r o c e d i m e n t o s q u e utilizam n i t r o p r u s s i a t o (ver a discussão O s corpos cetônicos n o sangue p o d e m chegar a 2,0 m m o l / L c o m
adiante). Está disponível c o m e r c i a l m e n t e u m ensaio enzimático u m exercício p r o l o n g a d o .
para P-hidroxibutirato s a n g u í n e o ou u r i n á r i o .
Determinação dos Corpos Cetônicos na Urina
Determinação de Corpos Cetônicos no Soro O Acetest e o Ketostix t a m b é m são a p r o p r i a d o s para a detecção
D e f o r m a geral, os testes descritos a n t e r i o r m e n t e n ã o são utili- d e c o r p o s cetônicos na urina. A sensibilidade e a especificidade
zados c o m o testes de rotina. O s testes s e m i q u a n t i t a t i v o s utiliza- dos testes são as m e s m a s descritas para o soro.
dos c o m mais f r e q ü ê n c i a , o Acetest e o Keto-Diastix, d e p e n d e m O teste de G e r h a r d t baseia-se n a reação d o cloreto férrico
da reação c o m o n i t r o p r u s s i a t o e são insensíveis ao p-hidroxibu- c o m acetoacetato, p r o d u z i n d o u m a cor v er mel h o -v in h o . O teste
tirato. P o r t a n t o , é i m p o r t a n t e l e m b r a r q u e u m teste de nitro- é inespecíficOj e outros c o m p o n e n t e s , c o m o salicilatos, f e n o l e
prussiato negativo n ã o descarta cetoacidose. antipirina, geram a m e s m a cor; portanto, u m a reação positiva
sinaliza somente u m a possível presença d e acetoacetato. Para
Acetest c o n f i r m a r sua presença, aquece-se a urina para d e c o m p o r o
O s c o m p r i m i d o s d e Acetesr c o n t ê m u m a mistura d e glicina, acetoacetato em acetona e remover a acetona. Repete-se, e n t ã o ,
n i t r o p r u s s i a t o d e sódio, fosfato d e sódio e lactose. O acetoace- o teste. Se agora o resultado for negativo, pode-se atribuir a
tato o u a acetona (em m e n o r extensão) n a presença de glicina coloração original c o m o presença d e acetoacetato. Esse teste foi
f o r m a m u m complexo lilás c o m o n i t r o p r u s s i a t o . O P-hidroxi- s u b s t i t u í d o pelos p r o c e d i m e n t o s d o Acetest e d o Ketostix.
b u t i r a t o n ã o reage c o m o n i t r o p r u s s i a t o . O fosfato de sódio cria
u m p H ó t i m o p a r a a reação, e a lactose a u m e n t a a coloração. L a c t a t o e Piruvato
Para mais detalhes sobre o p r o c e d i m e n t o d e t a l h a d o para a A d o s a g e m d o p i r u v a t o é útil n a avaliação de pacientes c o m erros
detecção dos c o r p o s cetônicos pelo Acetest, ver as instruções inatos d o m e t a b o l i s m o cujas c o n c e n t r a ç õ e s d e lactato sérico
fornecidas pelo f a b r i c a n t e e m cada e m b a l a g e m de c o m p r i m i d o s . a u m e n t a r a m . U m a p r o p o r ç ã o d e lactato para p i r u v a t o m e n o r
A p ó s a adição d e u m a gota de u r i n a , soro o u sangue, a cor d o q u e 25 sugere u m defeito n a gliconeogênese, e n q u a n t o u m
aparece e m 3 0 segundos, 2 m i n u t o s ou 10 m i n u t o s , respectiva- a u m e n t o nessa p r o p o r ç ã o (>35) i n d i c a condições intracelulares
m e n t e . O Acetest serve p r i n c i p a l m e n t e para a detecção d e c o r p o s reduzidas e n c o n t r a d a s na hipoxia. O s erros inatos associados a
cetônicos na u r i n a . Se for utilizado soro, os c o m p r i m i d o s devem u m a p r o p o r ç ã o l a c t a t o / p i r u v a t o elevada i n c l u e m deficiência d e
ser t r i t u r a d o s e u m a gota d e soro deve ser a d i c i o n a d a ao p ó . p i r u v a t o carboxilase e defeitos n a fosforilação oxidativa. O piru-
C a s o esse p r o c e d i m e n t o n ã o seja seguido, obtêm-se resultados vato t a m b é m é m e d i d o e m estudos clínicos q u e avaliam reper-
c o m valores f a l s a m e n t e baixos. Devem-se fazer controles negati- f u s ã o após i s q u e m i a miocárdica.
vos e positivos. Esse p r o c e d i m e n t o é mais confiável d o q u e o
m é t o d o d o Ketostix. Determinação de Lactato em Sangue Total
U m a reação positiva ( a p a r e c i m e n t o d e cor lilás) indica a O lactato é o x i d a d o em p i r u v a t o pela lactato desidrogenase na
presença d e corpos cetônicos na c o n c e n t r a ç ã o igual ou m a i o r presença de N A D + . O N A D H f o r m a d o nessa reação é m e d i d o
q u e .5 m g / d L (0,5 m m o l / L ) para u r i n a e 10 m g / d L para sangue. e s p e c t r o f o t o m e t r i c a m e n t e e m 3 4 0 n m e serve c o m o u m a m e d i d a
Utiliza-se u m a tabela d e cores fornecida na e m b a l a g e m para da c o n c e n t r a ç ã o de lactato:
estimar as c o n c e n t r a ç õ e s reais d e corpos cetônicos. Faz-se a semi-
Lactato desidrogenase
q u a n t i f i c a ç ã o através dos valores a p r o x i m a d o s atribuídos aos
p H 9,0 - 9,6
blocos d e cores, c o m 20 m g / d L (2 m m o l / L ) paia "pequeno", 30
L-Lactato ^ P i r u v a t o
a 40 m g / d L para " m o d e r a d o " e 80 a 100 m g / d L para "grande". / \
Se necessário, podem-se pTeparar diluições d o soro com salina para NAD® NADH + H®
medir as concentrações de corpos cetônicos acima de 80 m g / d L .
(Observe q u e q u a l q u e r diluição c o m salina i n t r o d u z erro já q u e O equilíbrio da reação t e n d e n o r m a l m e n t e p a r a a esquerda.
a reação é afetada p o r proteínas). As c e t o n a s n ã o são detectadas PoTém, através d o t a m p o n a m e n t o d o p H e n t r e 9,0 e 9,6, da
n o sangue o u n a urina e m i n d i v í d u o s c o m m e t a b o l i s m o d e adição d e u m excesso d e N A D ' e da captura d o p i r u v a t o pela
carboidTatos n o r m a l . hidrazina, o equilíbrio p o d e ser m u d a d o para a direita. O piru-
vato t a m b é m p o d e ser r e m o v i d o através da reação c o m L-gluta-
Ketostix m a t o na presença d e alanina a m i n o t r a n s f e r a s e .
O Ketostix é u m a m o d i f i c a ç ã o d o teste de nitroprussiato n o qual Por causa de sua alta especificidade e simplicidade, o m é t o d o
se utiliza u m a tira d e reagente e m vez de c o m p r i m i d o . O teste d o enzimático é o m é t o d o d e escolha para a dosagem d o lactato,
Ketostix fornece u m a reação positiva e m 15 segundos em u m a e m b o r a outros métodos t a m b é m possam sei utilizados (p.ex., cro-
amostra c o n t e n d o pelo m e n o s 5 0 mg d e acetoacetato p o r litro. matografia a gás e fotometria).
A tabela d e cores q u e a c o m p a n h a o teste f o r n e c e leituras para O analisador Vitros, antigo E k t a c h e m , utiliza u m ensaio n o
concentrações de cetonas d e 50, 150, 400, 8 0 0 e 1.600 m g / L . A qual o ácido láctico é o x i d a d o e m pLruvato pela lactato oxidase.
acetona t a m b é m reage, mas a sensibilidade é m e n o r . O H I 0 2 gerado oxida o c r o m ó g e n o d o sistema, e a absorvãncia
Carboidratos CAPÍTULO 2 2 405

d o c o m p l e x o c o l o r i d o resultante, m e d i d o e s p e c t r o f o t o m e t r i c a - valores n o C S F são g e r a l m e n t e s e m e l h a n t e s às c o n c e n t r a ç õ e s


mente em 540 n m , é diretamente proporcional à concentração sanguíneas, mas p o d e m m u d a T de f o r m a i n d e p e n d e n t e e m dis-
d e l a c t a t o n a a m o s t r a . C a d a m o l d e lactato q u e é o x i d a d o p r o d u z t ú r b i o s d o C N S . A diurese d e 24 h o r a s n o r m a l d e lactato é de
0,5 m o l d e c o m p l e x o colorido. 5,5 a 22 m m o l / d i a .

Coleta e Armazenamento de Amostras Determinação do Piruvato em Sangue Total


S ã o necessárias técnicas estritas de p r e p a r a ç ã o e m a n u s e i o de A reação envolvida n a d e t e r m i n a ç ã o d o p i r u v a t o é essencial-
a m o s t r a s para i m p e d i r alterações n a s c o n c e n t r a ç õ e s d e lactato m e n t e o reverso d a reação utilizada n a d e t e r m i n a ç ã o d o
d u r a n t e e a p ó s a coleta de sangue. O s p a c i e n t e s d e v e m estar e m lactato:
j e j u m e e m r e p o u s o c o m p l e t o p o r p e l o m e n o s 2 h o r a s p a r a as
c o n c e n t r a ç õ e s d e lactato a l c a n ç a r e m o estado de equilíbrio dinâ- Lactato dásidrogenase
mico. Piruvato == Lactato
As a m o s t r a s v e n o s a s devem ser o b t i d a s s e m a utilização d e / \
t o r n i q u e t e s o u i m e d i a t a m e n t e a p ó s a aplicação de u m torni- NADH + H~ NAD
q u e t e . A l t e r n a t i v a m e n t e , o t o r n i q u e t e deve ser r e m o v i d o a p ó s a
realização da p e r f u r a ç ã o , e deve-se deixar q u e o s a n g u e f l u a p o r P r ó x i m o de u m p H 7,5, a c o n s t a n t e d e e q u i l í b r i o favorece a
vários m i n u t o s a n t e s d e a a m o s t r a ser coletada. T a m b é m se p o d e reação para a direita. O m é t o d o é m u i t o específico e o 2-oxoglu-
coletai" s a n g u e arterial p a r a evitar esses p r o b l e m a s . O s p a c i e n t e s tarato, o oxalacetato, o acetoacetato e o P - h i d r o x i b u t i r a t o n ã o
d e v e m evitar realizaT exercícios c o m a m ã o o u c o m o b r a ç o i n t e r f e r e m n o s m é t o d o s colorimétricos. O p i r u v a t o é extrema-
imediatamente antes e durante o procedimento. m e n t e instável n o sangue, e devem-se observar as m e s m a s pre-
Pode-se coletar t a n t o sangue v e n o s o q u a n t o arterial e m serin- cauções já d e t a l h a d a s n a p r e p a r a ç ã o d e a m o s t r a s para a determi-
gas c o m h e p a r i n a , e o sangue deve ser i m e d i a t a m e n t e c o l o c a d o n a ç ã o de lactato.
e m u m a q u a n t i d a d e p r é - m e d i d a d e p r e c i p i t a n t e p r o t é i c o gelado, O sangue venoso em jejum, coletado q u a n d o o indivíduo
c o m o á c i d o tricloroacético, ácido m e t a f o s f ó r i c o ou ácido percló- está e m r e p o u s o , tem u m a c o n c e n t r a ç ã o de p i r u v a t o de 0,03 a
rico. O s o b r e n a d a n t e t r a n s p a r e n t e , após a c e n t r i f u g a ç ã o , é 0,10 m m o l / L (0,3 a 0 , 9 m g / d L ) . O s a n g u e arterial c o n t é m 0 , 0 2
estável e m 4 ° C por até 8 dias. E necessária m u i t a a t e n ç ã o para a 0 , 0 8 m m o l / L (0,2 a 0,7 m g / d L ) . O s valores p a r a o C S F são
a p r e p a r a ç ã o d a a m o s t r a . Se o s a n g u e n ã o for p r o c e s s a d o dessa 0 , 0 6 a 0,19 m m o l / L (0,5 a 1,7 m g / d L ) . A diurese d e p i r u v a t o é
f o r m a , o c o r r e u m r á p i d o a u m e n t o d o l a c t a t o n o sangue c o m o n o r m a l m e n t e m e n o r ou igual a 1 m m o l / d i a . Poucas indicações
r e s u l t a d o d a glicólise. Esse a u m e n t o é de 2 0 % e m 3 m i n u t o s e clínicas g a r a n t e m a d e t e r m i n a ç ã o das c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas
7 0 % e m 30 m i n u t o s e m 2 5 ° C . As a m o s t r a s coletadas d a f o r m a o u u r i n á r i a s de p i r u v a t o .
descrita nessa seção t a m b é m são a p r o p r i a d a s p a r a a d e t e r m i n a -
ção d o pÍTUvato.
Se for necessária u m a a m o s t r a de p l a s m a , deve-se coletar Proteínas Glicadas
s a n g u e e m u m t u b o c o n t e n d o 10 m g de N a F e 2 m g d e K 2 C 2 0 ^ A dosagem de p r o t e í n a s glicadas, p r i m a r i a m e n t e G H b , é eficaz
p o r mililitro d e sangue. A a m o s t r a deve ser i m e d i a t a m e n t e res- n o m o n i t o r a m e n t o d o c o n t r o l e de glicose a l o n g o prazo e m
friada, e as células, separadas e m até 15 m i n u t o s . Q u a n d o o pessoas c o m diabetes mellitus Ela f o r n e c e u m í n d i c e retrospectivo
p l a s m a é s e p a r a d o das células, o l a c t a t o fica estável. d o s valores i n t e g r a d o s d a glicose plasmática ao longo d e u m
p e r í o d o m a i o r d e t e m p o e n ã o está sujeita às a m p l a s f l u t u a ç õ e s
Intervalos de Referência observadas q u a n d o se d e t e r m i n a m as c o n c e n t r a ç õ e s de glicose
O s intervalos d e r e f e r ê n c i a para o lactato são: s a n g u í n e a . A d e t e r m i n a ç ã o das c o n c e n t r a ç õ e s de G H b , por-
t a n t o , é u m teste a d j u n t o valioso a m p l a m e n t e utilizado p a r a a
d e t e r m i n a ç ã o d a glicose s a n g u i n e a para o m o n i t o r a m e n t o d o
c o n t r o l e glicêmico a l o n g o prazo. A l é m disso, a G H b é u m a
LACTATO m e d i d a d o risco para o d e s e n v o l v i m e n t o de complicações d o
Amostra mmol/L mg/dL diabetes.

SANGUE VENOSO
Em repouso 0,5 a 1,3 5 a 12
No hospital 0,9 a 1,7 8 a 15
Métodos para a Determinação de Hemoglobinas
Glicadas
SANGUE ARTERIAL
H á mais d e 30 m é t o d o s d i f e r e n t e s p a r a a d e t e r m i n a ç ã o d e
Em repouso 0 , 3 6 a 0,75 3 a 7 G H b s . Esses m é t o d o s d i s t i n g u e m a h e m o g l o b i n a d a G H b c o m
No hospital 0,36 a 1,25 3 a 11 a utilização de técnicas baseadas e m diferenças de carga (cromato-
grafia de troca iônica, H P L C , eletroforese e isoeletrofocalização),
diferenças estruturais ( c r o m a t o g r a f i a d e a f i n i d a d e e i m u n o e n s a i o ) ,
análi se química ( f o t o m e t r i a e espectro f o t o m e t r i a ) ou massa (espec-
trometria d e massa). I n d e p e n d e n t e m e n t e d o m é t o d o , o resul-
O s i n d i v í d u o s n o h o s p i t a l a p r e s e n t a m u m a ampla variação t a d o é expresso e m p o r c e n t a g e m de h e m o g l o b i n a total. A seleção
de valores. O c o r r e acidose láctica c o m as c o n c e n t r a ç õ e s d e d o m é t o d o p o r u m l a b o r a t ó r i o é i n f l u e n c i a d a p o r vários fatores,
lactato s a n g u í n e o acima d e 5 m m o l / L (45 m g / d L ) . O exercício i n c l u i n d o (1) v o l u m e d a a m o s t r a , (2) p o p u l a ç ã o d e pacientes e
severo a u m e n t a d r a m a t i c a m e n t e as c o n c e n t r a ç õ e s de lactato, e (3) custo. Aconselha-se c o n s u l t a r os clínicos nesse processo. A
m e s m o o m o v i m e n t o d o s m ú s c u l o s da p e r n a pelos i n d i v í d u o s A D A r e c o m e n d a q u e os l a b o r a t ó r i o s utilizem s o m e n t e ensaios
e m r e p o u s o n o leito p o d e resultar e m a u m e n t o significativo. O de G H b c e r t i f i c a d o s p e l o N a t i o n a l G l y c o h e m o g l o b i n S t a n d a r d i -
valor p l a s m á t i c o é cerca de 7 % m a i o r d o q u e n o sangue total, zation P r o g r a m (agora c o n h e c i d o c o m o N G S P ) c o m o traçadores
e m b o r a essa d i f e r e n ç a d e p e n d a d o p r o c e d i m e n t o utilizado. O s de D C C T . 1 , 7 1 3
406 PARTE IV Analitos

Q u a s e t o d o s os l a b o r a t ó r i o s n o s Estados U n i d o s utilizam iónicas crescentes. A detecção é realizada e m 415 e 6 9 0 n m , e os


a t u a l m e n t e i m u n o e n s a i o o u c r o m a t o g r a f i a de troca iônica. resultados são q u a n t i f i c a d o s integrando-se a área sob os picos.
M é t o d o s mais antigos, c o m o c r o m a t o g r a f i a p o r a f i n i d a d e , ele- O t e m p o de análise é mais c u r t o d o q u e 3 a 5 m i n u t o s . Todos
troforese e isoeletrofocalização, p r a t i c a m e n t e d e s a p a r e c e r a m . os m é t o d o s de H P L C tiveram C V s m e n o r e s que 3 , 5 % e m u m a
N o v e n t a e n o v e p o r c e n t o d o s l a b o r a t ó r i o s relatam a H b Ai c . avaliação da C A P e m 2003. Utilizou-se o H P L C d a H h A | c para
a análise d e todas as amostras dos pacientes n o D C C T e n o
Minicolunas de Troca Iônica UKPDS.
A c r o m a t o g r a f i a de troca iônica separa as variantes d e hemoglo-
b i n a c o m base n a carga ( C a p í t u l o 7). A resina de troca catiônica Imunoensaio
(carregada n e g a t i v a m e n t e ) , e m p a c o t a d a e m u m a m i n i c o l u n a des- F o r a m desenvolvidos ensaios p a r a a H b A j c c o m a utilização de
cartável, t e m a f i n i d a d e pela h e m o g l o b i n a , q u e é p o s i t i v a m e n t e a n t i c o r p o s c o n t r a o p r o d u t o de A m a d o r i d a glicose (ceroamina)
carregada. A a m o s t r a d o p a c i e n t e é h e m o l i s a d a , e aplica-se u m a mais os p r i m e i r o s ( q u a t r o a oito) a m i n o á c i d o s n a e x t r e m i d a d e
a l í q u o t a d o h e m o l í s a d o n a c o l u n a . Aplica-se u m t a m p ã o e coleta- N-terminal d a cadeia P d a h e m o g l o b i n a . U m e n s a i o a m p l a m e n t e
se o eluente. A s G H b s — A t a + A ^ + A l c 1 expressas coletivamente utilizado m e d e a H b A i c e m s a n g u e rotal através da inibição da
c o m o H b Ai — são m e d i d a s e m u m e s p e c t r o f o t ô m e t r o . A d i c i o n a - aglutinação d o látex. O a g l u t i n a d o r , u m p o l í m e r o sintético q u e
se n a c o l u n a , e n t ã o , u m s e g u n d o t a m p ã o c o m força iônica c o n t é m m ú l t i p l a s cópias d a p o r ç ã o i m u n o r r e a t i v a d a H b A I c ,
d i f e r e n t e p a r a eluir a f r a ç ã o de h e m o g l o b i n a p r i n c i p a l mais liga-se ao a n t i c o r p o m o n o c l o n a l a n t i - H b A l c q u e fica ligado às
p o s i t i v a m e n t e carregada. Essa fração é lida em u m espectrofotô- esferas de látex. Essa a g l u t i n a ç ã o p r o d u z e s p a l h a m e n t o de luz
metro, e a G H b é expressa e m p o r c e n t a g e m d e h e m o g l o b i n a q u e é m e d i d o c o m o u m a u m e n t o n a absorvãncia. A H b A l c n a
total. A l t e r n a t i v a m e n t e , elui-se s o m e n t e a H b A j e faz-se u m a a m o s t r a d o p a c i e n t e c o m p e t e p e l o a n t i c o r p o n o látex, i n i b i n d o
diluição s e p a r a d a d o h e m o l i s a d o original, ao qual a H b A ( é a aglutinação e d i m i n u i n d o , p o r t a n t o , o e s p a l h a m e n t o d a luz.
comparada. I m u n o e n s a i o s enzimáticos q u e utilizam a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s
E m todos os m é t o d o s q u e utilizam c o l u n a d e troca iônica, é estão disponíveis c o m e r c i a l m e n t e . Esses ensaios são precisos e
i m p o r t a n t e controlar a temperatura dos reagem&s e das colunas p a r a f o r n e c e m r e s u l t a d o s q u e se c o r r e l a c i o n a m c o m os resultados d o
a o b t e n ç ã o d e resultados a c u r a d o s e reprodutíveis; a termostati- H P L C . O s a n t i c o r p o s n ã o r e c o n h e c e m os i n t e r m e d i á r i o s lábeis
zação é a técnica p r e f e r e n c i a l p a r a c o n t r o l a r a t e m p e r a t u r a das o u outras G H b s ( c o m o H b A I a o u H b A ^ ) p o r q u e a c e t o a m i n a
c o l u n a s . A l t e r n a t i v a m e n t e , pode-se aplicar u m f a t o r d e correção c o m a glicose e as s e q u ê n c i a s especificas d e a m i n o á c i d o s são
d e t e m p e r a t u r a se a t e m p e r a t u r a a m b i e n t e diferir d a tempera- necessárias p a r a a ligação. D e f o r m a s e m e l h a n t e , outras variantes
tura ó t i m a especificada. A l é m disso, deve-se m a n t e r u m c o n t r o l e d a h e m o g l o b i n a , c o m o a H b F, a H b A?, a H b S e a h e m o g l o b i n a
rígido d o p H e d a força iônica. As c o n d i ç õ e s de a r m a z e n a m e n t o c a r b a m i l a d a n ã o são detectadas. 3 O p r o c e d i m e n t o foi a d a p t a d o
da a m o s t r a t a m b é m são i m p o r t a n t e s . p a r a amostras d e s a n g u e capilar c o m a utilização de u m analisa-
As frações lábeis d a p r é - H b A j e l u e m c o m c e t o a m i n a s está- d o r d e b a n c a d a c o m c a r t u c h o s de reagentes designados para
veis e p r o d u z e m valores f a l s a m e n t e altos, ao m e n o s q u e essas utilização e m l a b o r a t ó r i o s de c o n s u l t ó r i o s m é d i c o s .
c e t o a m i n a s s e j a m d e s t r u í d a s p o r p r é - t r a t a m e n t o d o s glóbulos
v e r m e l h o s . Valores f a l s a m e n t e elevados t a m b é m a p a r e c e m Cromatografia de Afinidade
q u a n d o a carga d a h e m o g l o b i n a é alterada pela ligação d e com- A s colunas d e gel de a f i n i d a d e são utilizadas p a i a separar a G H b ,
p o n e n t e s n ã o c a r b o i d r a t o s q u e p o d e m ser co-cromatografados q u e se liga ao ácido m - a m i n o f e n i l b o r ô n i c o n a c o l u n a , da fração
c o m as G H b s , c o m o n a u r e m i a ( h e m o g l o b i n a carbamilada), n ã o glicada. Depois, adiciona-se sorbitol p a r a eluir a G H b . As
alcoolismo, e n v e n e n a m e n t o p o r c h u m b o o u t r a t a m e n t o c r ô n i c o absorvâncias das frações ligadas e n ã o ligadas, m e d i d a s e m 415 n m ,
c o m altas doses de aspirina ( h e m o g l o b i n a acetilada). A s variantes são utilizadas para calcular a p o r c e n t a g e m d e G H b . Essa técnica
d a h e m o g l o b i n a o u as h e m o g l o b i n a s q u i m i c a m e n t e m o d i f i c a d a s n ã o sofre i n t e r f e r ê n c i a das h e m o g l o b i n a s n ã o glicadas e s o f r e
que eluem s e p a r a d a m e n t e da H b A e da H b Alc têm p o u c o u m a i n t e r f e r ê n c i a desprezível d a f o r m a i n t e r m e d i á r i a lábil d a H b
efeito s o b r e as d o s a g e n s d a H b Ai c . Se n ã o for possível s e p a r a r A l c . Essa técnica n ã o é a f e t a d a por variações n a t e m p e r a t u r a e
a h e m o g l o b i n a m o d i f i c a d a (ou seu d e r i v a d o glicado) d a H b A possui u m a precisão aceitável. As variantes da h e m o g l o b i n a ,
ou da H b A l c , s e r ã o o b t i d o s r e s u l t a d o s e r r o n e a m e n t e elevados c o m o a H b F, a H b S o u a H b C , p r o d u z e m p o u c o efeito. O s
ou r e d u z i d o s . 3 U m a v a r i a n t e que elui c o m a H b A t c p r o d u z i r á m é t o d o s de a f i n i d a d e m e d e m a G H b total, i n c l u i n d o c o m p o n e n -
u m a s u p e r e s t i m a t i v a grosseira d a H b A ] c , e u m a v a r i a n t e q u e tes diferentes d a H b A ] c . pois esses ensaios d e t e c t a m as estrutu-
elui c o m a H b A s u b e s t i m a r á a H b Ai e . O b s e r v e q u e u m a ú n i c a ras das c e t o a m i n a s n o s r e s í d u o s d e lisina e valina e m a m b a s as
v a r i a n t e d a H b p o d e elevar o u d i m i n u i r f a l s a m e n t e a H b A ] c , cadeias a e P d a h e m o g l o b i n a . Alguns sistemas disponíveis comer-
d e p e n d e n d o d o m é t o d o utilizado. 3 cialmente são calibrados t a m b é m para d e t e r m i n a r u m valor
p a d r o n i z a d o d e H b Ai c . E m b o r a a m p l a m e n t e utilizado anterior-
HPLC m e n t e , p o u c o s l a b o r a t ó r i o s utilizam a c r o m a t o g r a f i a d e afini-
A H b Ai e e outras frações de h e m o g l o b i n a são separadas p o r dade atualmente.
H P L C c o m c o lu n a s de troca catiônica. Estão disponíveis vários
sistemas c o m p l e t a m e n t e a u t o m a t i z a d o s . O s ensaios precisam Remoção da Hemoglobina Glicada Lábil dos
s o m e n t e de 5 p L de sangue total, e as a m o s t r a s de p o n t a de d e d o Glóbulos Vermelhos
p o d e m ser coletadas e m u m t u b o capilar para análise. Dilui-se o A c o n c e n t r a ç ã o d a f o r m a lábil d e H b A l c ( b a s e de Schiff) f l u t u a
sangue a n t i c o a g u l a d o c o m u m reagente h e m o l í t i c o c o n t e n d o r a p i d a m e n t e e m r e p o s t a às m u d a n ç a s agudas n a s c o n c e n t r a ç õ e s
borato. As amostras são i n c u b a d a s e m 3 7 ° C p o r 30 m i n u t o s para d e glicose plasmática e deve ser r e m o v i d a antes d a realização de
r e m o ç ã o da base de Schiff e depois inseridas n o a u t o - a m o s t r a d o r ensaios c o m base e m carga. Essa r e m o ç ã o p o d e ser feita através
(Alguns i n s t r u m e n t o s têm u m a etapa mais curta de pré-incuba- d a i n c u b a ç ã o d o s glóbulos v e r m e l h o s e m soluções salinas ou
ção e ourros s e p a r a m a A j c lábil c r o m a t o g r a f i c a m e n t e , elimi- t a m p ã o e m p H 5 a 6 ou através d e diálise o u ultrafiltração dos
n a n d o a etapa de r e m o ç ã o d a base d e Schiff). Passa-se pela c o l u n a h e m o l i s a d o s . A m a i o r i a d o s kits p a r a ensaios de c o l u n a c o n t é m
u m g r a d i e n t e seqüencial d e três t a m p õ e s fosfato c o m forças reagentes q u e r e m o v e m esse c o m p o n e n t e lábil.
Carboidratos CAPÍTULO 2 2 407

Padronização do Ensaio e n t r e os p r o g r a m a s d e p a d r o n i z a ç ã o , c o m o objetivo f i n a l de


O s laboratórios clínicos m e d e m a G H b através de vários ensaios m e l h o r a r o a t e n d i m e n t o ao paciente. 1 1
que utilizam múltiplos m é t o d o s e quantificam diferentes compo-
nentes. O s resultados do D C C T acentuaram a necessidade d e u m a
determinação acurada da G H b e forneceram u m forte í m p e t o para Coleta e Armazenamento da Amostra
a padronização dos ensaios de G H b . N o final d o D C C T , observou- O s pacientes n ã o precisam estar e m j e j u m . Deve-se coletar
se que a ausência t a n t o de u m m é t o d o de referência q u a n t o d e u m sangue v e n o s o e m t u b o s c o m E D T A o u oxalato e f l u o r e t o . A
p a d i ã o ú n i c o de G H b t i n h a gerado confusão. N ã o foi possível estabilidade da a m o s t r a d e p e n d e d o m é t o d o de ensaio. 1 3 O
realizar a comparação entre laboratórios, e m e s m o u m a única s a n g u e total p o d e ser a r m a z e n a d o e m 4 ° C p o r até 1 s e m a n a .
amostra de controle de qualidade analisada p o r u m único m é t o d o A c i m a de 4°C, o a u m e n t o d a H b A í a + í l o c o r r e d e a c o r d o c o m o
teve C V s maiores do q u e 16,5%. T a m b é m se observou u m a g r a n d e t e m p o e a t e m p e r a t u r a , m a s a H b A l t é p o u c o afetada. N ã o se
variabilidade entre laboratórios n a E u r o p a . C o m i t ê s para padroni- r e c o m e n d a o a r m a z e n a m e n t o d a s amostras e m - 2 0 ° C . Para a
zar os ensaios de G H b foram d e t e r m i n a d o s sob a orientação d a m a i o r i a d o s m é t o d o s , as a m o s t r a s de s a n g u e total a r m a z e n a d a s
A m e r i c a n Association for Clinicai Chemi s t ry (AACC) e da I F C C . e m - 7 0 ° C são estáveis p o r p e l o m e n o s 18 meses. Devem-se reali-
O N G S P ( h t t p : / / w w w . n g s p org) foi i m p l e m e n t a d o e m 1996 zar testes c o m a m o s t r a s h e p a r i n i z a d a s e m até 2 dias, e essas
para calibrar os resultados da G H b de a c o r d o c o m valores equi- a m o s t r a s p o d e m n ã o estar a p r o p r i a d a s p a r a alguns m é t o d o s de
valentes aos d o D C C T . E m p r e g a n d o u m a r e d e de l a b o r a t ó r i o s análise (p.ex., elenroforese).
d e referência, o N G S P interage c o m os fabricantes dos m é t o d o s de
detecção da G H b p a r a ajudá-los n a calibração dos seus m é t o d o s
e traçar os valores de a c o r d o c o m o D C C T . 8 O s f a b r i c a n t e s Intervalos de Referência
c a n d i d a t a m - s e à certificação através d a realização d e testes d e O s valores das G H b s são expressos e m p o r c e n t a g e m d a h e m o -
a c o r d o c o m as o r i e n t a ç õ e s da C L S I / N C C L S EP5-A e m o s t r a m
g l o b i n a s a n g u í n e a total. G e r a l m e n t e se m e d e u m a das três
os resultados e m valores de A ] c equivalentes ao d o D C C T . Esse
p r i n c i p a i s f o r m a s d e G H b , isto é, H b Ai, H b Aj CJ o u de G H b
esforço d e calibração m e l h o r o u m u i t o a h a r m o n i z a ç ã o d o s resul-
total. A t u a l m e n t e , n o s E s t a d o s U n i d o s , a g r a n d e m a i o r i a d o s
t a d o s e r e d u z i u as diferenças interlaboratoriais. 8 O s r e s u l t a d o s
laboratórios m e d e a H b Alc. Os intervalos de referência variam
o b t i d o s c o m os ensaios certificados pelo N G S P c o n c o r d a m
d e p e n d e n d o d o t i p o de G H b m e d i d a e se a f r a ç ã o lábil está
t a n t o c o m os resultados d o D C C T e d o U K P D S que até p o d e m
presente n o ensaio. O intervalo d e referência para a H b A l c é
ser a l i n h a d o s c o m os d a d o s de r e s u l t a d o s clínicos desses e s t u d o s .
de 4 % a 6%.
A A D A r e c o m e n d a q u e os l a b o r a t ó r i o s clínicos utilizem s o m e n t e
O s efeitos d a i d a d e sobre o s intervalos de referência são
os ensaios c e r t i f i c a d o s p e l o N G S P e p a r t i c i p e m d o teste d e
controversos. A l g u n s e s t u d o s m o s t r a m elevações relacionadas à
proficiência o f e r e c i d o p e l o C A P . A avaliação do C A P - G H 2
idade ( ~ 0 , 1 % p o r d é c a d a após os 3 0 anos d e idade) e o u t r o s n ã o
utiliza a m o s t r a s a g r u p a d a s d e s a n g u e total e m três c o n c e n t r a ç õ e s
de G H b . O s valores a serem a t i n g i d o s são d e t e r m i n a d o s pela m o s t r a m n e n h u m a elevação. O s r e s u l t a d o s n ã o são afetados p o r
r e d e d o N G S P . P o r t a n t o , os l a b o r a t ó r i o s individuais p o d e m d o e n ç a s agudas. As variabilidades intra-individual e diária são
c o m p a r a r d i r e t a m e n t e seus r e s u l t a d o s de G H b com os resulta- m í n i m a s . E m pacientes c o m diabetes melíitus n ã o c o n t r o l a d o , os
dos d o D C C T . valores p o d e m chegar a d u a s vezes o limite superior d o intervalo
A I F C C a d o t o u u m m é t o d o d i f e r e n t e q u e gerou u m sistema d e referência, mas r a r a m e n t e e x c e d e m 15%. Valores maiores d o
d e referência p a r a a p a d r o n i z a ç ã o c o m base n a H b Ai c . O g r u p o q u e 15% r e q u e r e m estudos adicionais para investigar a possibili-
d e t r a b a l h o d a I F C C desenvolveu u m a m i s t u r a de H b A j c e H b d a d e d a presença de u m a h e m o g l o b i n a v a r i a n t e / O b s e r v e q u e os
Afl p u r i f i c a d a s c o m o material p r i m á r i o de referência. F o r a m valores-flíw da A D A a d v i n d o s d o D C C T e d o U K P D S , e n ã o
p r o p o s t o s c o m o c a n d i d a t a s a m é t o d o s de referência a espectro- os valores de referência n a p o p u l a ç ã o , são os valores utilizados
m e t r i a de m a s s a com ionização p o r eletrospray (ESI-MS) e a ele- para a avaliação d o controle m e t a b ó l i c o e m pacientes.
troforese capilar. Esses m é t o d o s m e d e m e s p e c i f i c a m e n t e a valina N ã o h á u m valor específico de H b A ] c abaixo d o qual se
glicada da região N - t e r m i n a l d a cadeia (3 d a h e m o g l o b i n a . A e l i m m a c o m p l e t a m e n t e o risco d e complicações diabéticas. A
análise é realizada através d a digestão d a m o l é c u l a d e h e m o g l o - A D A a f i r m a que o objetivo d o t r a t a m e n t o deve ser a m a n u t e n -
b i n a c o m a e n d o p r o t e i n a s e G l u - C , enzima q u e cliva a cadeia J3 ção d a H b A k J m e d i d a de a c o r d o c o m os m é t o d o s certificados
e n t r e a Glu-6 e a Glu-7, l i b e r a n d o o h e x a p e p t i d e o N - t e r m i n a l . pelo N G S P , abaixo d e 7%. (Algumas organizações r e c o m e n d a m
O s h e x a p e p t í d e o s glicados e n ã o glicados são s e p a r a d o s e q u a n - u m a H b AIc m e n o r q u e 6 , 5 % , e os valores p e l o m é t o d o d a I F C C
tificados p o r H P L C - E S I - M S o u p o r H P L O e l e t r o f o r e s e capilar. seriam m e n o r e s a i n d a ) . P o r t a n t o , os valores-alvo r e c o m e n d a d o s
A H b A ] c é m e d i d a c o m a p r o p o r ç ã o entre o hexapeptídeo N-ter- pela A D A são aplicados s o m e n t e se o m é t o d o de ensaio for
m i n a l glicado e o n ã o glicado. Esse m é t o d o é t r a b a l h o s o e ina- certificado c o m o e q u i v a l e n t e à r e f e r ê n c i a d o D C C T . C a d a labo-
p r o p r i a d o p a r a a análise r o t i n e i r a de a m o s t r a s dos p a c i e n t e s . As r a t ó r i o deve d e t e r m i n a r seu p r ó p r i o i n t e r v a l o de referência n ã o
c o m p a r a ç õ e s e n t r e os m é t o d o s de referência da I F C C e d o diabético. A precisão d o ensaio é i m p o r t a n t e p o r q u e cada p o r
N G S P (e o u t r o s sistemas de referência, i n c l u i n d o os sistemas d o c e n t o d e m u d a n ç a n a H b A k (p.ex., d e 7 % p a r a 8 % ) r e p r e s e n t a
J a p ã o e da Suécia) i n d i c a m u m a relação p r ó x i m a e estável. u m a alteração d e a p r o x i m a d a m e n t e 3 5 m g / d L n a glicose sanguí-
P o r é m , os r e s u l t a d o s d a H b A j c o b t i d o s utilizando-se os m é t o d o s nea média.
de referência d a I F C C são 1 , 5 % a 2 % m e n o r e s (p.ex., 5 , 3 % <us. N ã o h á c o n s e n s o sobre a m e l h o r f r e q u ê n c i a de realização d o
7 % ) d o q u e os r e s u l t a d o s d o N G S P {e m e n o r e s do q u e os resul- teste. A A D A r e c o m e n d a q u e a G H b deve ser monitorada rotineira-
t a d o s de o u t r o s sistemas d e referência). U m a u n i f o r m i z a ç ã o mente pelo menos duas vezes por ano em pacientes que atingem os obje-
i n t e r n a c i o n a l p r o p o r c i o n a r i a o a l i n h a m e n t o m u n d i a l d o s resul- tivos do tratamento (e que possuem controle ghcêmico estável).1'1 Essas
tados d a d e t e r m i n a ç ã o d a G H b c o m os r e s u l t a d o s dos p a c i e n t e s r e c o m e n d a ç õ e s são para pacientes c o m diabetes tipo 1 ou tipo 2.
d o D C C T e d o U K P D S . Iniciou-se u m esforço global e n t r e clí- E m certas situações clínicas, p o r exemplo, q u a n d o os pacientes
nicos e l a b o r a t o r i s t a s p a r a a o b t e n ç ã o de u m c o n s e n s o interna- n ã o atingem os objetivos d o t r a t a m e n t o o u q u a n d o h á m u d a n ç a
cional e m c o m o reconciliar as d i f e r e n ç a s n o s valores d e H b A l c n a terapia, recomenda-se m o n i t o r a m e n t o a cada 3 meses.
408 PARTE IV Analitos

Frutosamina cas. C o n c e n t r a ç õ e s d e á c i d o ascórbico m a i o r e s q u e 5 m g / d L


E m pacientes c o m diabetes meüitus selecionados (p.ex., G D M o u p o d e m causar i n t e r f e r ê n c i a negativa. M é t o d o s estão disponíveis
m u d a n ç a na terapia), p o d e haver a necessidade d a realização d e c o m e r c i a l m e n t e . Existe u m e n s a i o q u e m e d e a f r u t o s a m i n a
ensaios mais sensíveis às alterações a c u r t o prazo nas c o n c e n t r a - através da oxidação da c e t o a m i n a utilizando-se a e n z i m a cetoa-
ções m é d i a s d e glicose s a n g u í n e a d o q u e os ensaios d e d e t e r m i - m i n a oxidase c o m a l i b e r a ç ã o d e H ? 0 ? q u e é q u a n t i f i c a d o através
n a ç ã o d e G I Ib. O c o r r e t a m b é m ligação n ã o enzimática d a glicose d e u m a reação f o t o m é t r i c a . U m dispositivo a p r o v a d o p e l o F D A
aos g r u p o s a m i n a d e o u t r a s p r o t e í n a s além d a h e m o g l o b i n a q u e utiliza u m m e d i d o r p o r t á t i l d e u s o d o m i c i l i a r p o r adultos
(p.ex., p r o t e í n a s séricas, p r o t e í n a s d e m e m b r a n a e d o cristalino). foi d e s c o n t i n u a d o .
C o m o as p r o t e í n a s séricas t ê m u m a taxa de r e n o v a ç ã o mais
r á p i d a d o q u e os eritrócitos (a meia-vida d a a l b u m i n a circulante
é d e cerca d e 2 0 diasj, a concentração da albumina sérica glicada Intervalos de Referência
reflete o controle da glicose ao longo de um período de 2 a 3 semanas. O s valores e m u m a p o p u l a ç ã o n ã o diabética v a r i a m de 2 0 5 a
P o r t a n t o , as evidências de d e t e r i o r a ç ã o d o c o n t r o l e e d e m e l h o r a 2 8 5 [ i m o l / L . O intervalo d e referência corrigido p a r a a l b u m i n a
c o m a t e r a p i a a p a r e c e m mais c e d o n a dosagem da f r u t o s a m i n a é de 191 a 2 6 5 ( i m o l / L .
d o q u e n o s e n s a i o s d e d e t e r m i n a ç ã o de G H b .
A /rutoiamina é o n o m e genérico para as cetoaminas. 7 , 1 3 O
n o m e se refere à e s t r u t u r a d o p r o d u t o d o r e a r r a n j o d a c e t o a m i n a Produtos Finais de Glicação Avançada
f o r m a d o pela i n t e r a ç ã o da glicose c o m o g r u p o e - a m i n o n o s O m e c a n i s m o m o l e c u l a r p e l o q u a l a hiperglicemia p r o d u z efeitos
resíduos d e lisina d a a l b u m i n a . C o m o as dosagens d a G H b , as tóxicos é d e s c o n h e c i d o , m a s a glicação d e p r o t e í n a s teciduais
d o s a g e n s d e f r u t o s a m i n a p o d e m ser utilizadas c o m o u m índice p o d e ser i m p o r t a n t e . A ligação n ã o enzimática d a glicose às
d a c o n c e n t r a ç ã o m é d i a d e glicose s a n g u í n e a ao l o n g o d e u m moléculas d e longa d u r a ç ã o , c o m o o c o l á g e n o tecidual, gera
p e r í o d o d e t e m p o mais e x t e n s o ( p o r é m mais c u r t o q u e d a p r o d u t o s iniciais glicados estáveis de A m a d o r i . Esses p r o d u t o s
GHb). s o f r e m u m a série de r e a r r a n j o s adicionais, d e s i d r a t a ç ã o e reações
C o m o t o d a s as p r o t e í n a s séricas glicadas são f r u t o s a m i n a s e d e f r a g m e n t a ç ã o q u e r e s u l t a m e m p r o d u t o s f i n a i s d e glicação
a a l b u m i n a é a p r o t e í n a sérica mais a b u n d a n t e , acredita-se que a v a n ç a d a (AGE). A q u a n t i d a d e desses p r o d u t o s n ã o volta ao
a determinação da frutosamina é u m a dosagem da a l b u m i n a n o r m a l q u a n d o se corrige a hiperglicemia, e eles se a c u m u l a m
glicada, mas isso é q u e s t i o n a d o p o r alguns investigadores. c o n t i n u a m e n t e ao longo d o p e r í o d o d e d u r a ç ã o d a p r o t e í n a . A
E m b o r a o e n s a i o d e d e t e r m i n a ç ã o d e f r u t o s a m i n a seja a u t o m a - hiperglicemia acelera a f o r m a ç ã o d e A G E s ligados à p r o t e í n a e
tizado e mais b a r a t o e mais r á p i d o d o q u e o e n s a i o de d e t e r m i - os pacientes c o m diabetes meílitus, p o r t a n t o , t ê m u m a q u a n t i d a d e
n a ç ã o da G H b , há uma falta de consenso sobre sua utilidade elevada de A G E s e m seus tecidos c o r p o r a i s . Através d o s efeitos
clínica. sobre as p r o p r i e d a d e s f u n d a m e n t a i s das p r o t e í n a s e da matriz
extracelular, os A G E s p o d e m c o n t r i b u i r p a r a a o c o r r ê n c i a de
Determinação da Frutosamina complicações microvasculares e macrovas cu lares d o diabetes mellt-
O s m é t o d o s p a r a a q u a n t i f i c a ç ã o das p r o t e í n a s glicadas são (1) tus. A l é m disso, foi d e m o n s t r a d o q u e u m i n i b i d o r d a f o r m a ç ã o
c r o m a t o g r a f i a d e a f i n i d a d e c o m a utilização de ácido f e n i l b o r o - d e A G E s , a a m i n o g u a n i d i n a , p r e v i n e a o c o r r ê n c i a d e várias
n i c o i m o b i l i z a d o ( s e m e l h a n t e ao ensaio da G H b ) ; (2) H P L C de complicações d o diabetes e m m o d e l o s a n i m a i s e x p e r i m e n t a i s e
resíduos de lisina glicada a p ó s hidrólise das p r o t e í n a s glicadas; está s e n d o e s t u d a d o e m p a c i e n t e s e m e s t u d o s clínicos.
(3) u m p r o c e d i m e n t o f o t o m é t r i c o n o qual a hidrólise ácida suave Foram desenvolvidos vários ensaios para determinação de
libera 5 - h i d r o x i m e t i l f u r f u r a l e d e p o i s se p r e c i p i t a m as p r o t e í n a s AGEs. U m m é t o d o antigo, fluorescência relativa d e p e n d e n t e de A G E ,
c o m ácido rricloroacético e o s o b r e n a d a n t e reage c o m o ácido sofria de contribuições espúrias n a fluorescência total p o r adutos
2-tiobarbitúrico; e (4) o u t r o s p r o c e d i m e n t o s q u e utilizam fenili- em proteínas não-AGE, c o m o produtos de oxidação gerados pela
drazina e £-N-(2-furoilmetil)-L-lisina (furosina). N e n h u m desses glicose ou p o r lipídios que possuem espectros de fluorescência
ensaios é p o p u l a r p o r q u e eles n ã o são a p r o p r i a d o s p a r a os labo- semelhantes. Foi desenvolvido u m ensaio de Todiorreceptor que se
ratórios clínicos de rotina. O d e s e n v o l v i m e n t o d e a n t i c o r p o s baseia na presença de receptores de A G E s n a superfície de u m a
m o n o c l o n a i s c o n t r a a a l b u m i n a glicada, e m b o r a t e o r i c a m e n t e linhagem celular tumoral semelhante aos macrófagos; esse ensaio é
vantajoso, ainda n ã o resultou em u m a ampla disponibilidade de capaz de quantificar os A G E s e m proteínas circulantes (albumina)
ensaios de a l b u m i n a glicada comerciais. Deve-se o b s e r v a r q u e o e teciduais. Foram produzidos anticorpos contra a h e m o c i a n i n a de
a r m a z e n a m e n t o p r o l o n g a d o e m t e m p e r a t u r a s ultrabaixas (-96°C) caramujo c o m glicação avançada e a l b u m i n a sérica bovina c o m
i m p e d e a glícação m vitro das p r o t e í n a s séricas. glicação avançada. Esses anticorpos reagem com várias proteínas
U m m é t o d o alternativo p a r a a d e t e r m i n a ç ã o de f r u t o s a m i n a com glicação avançada. Foi desenvolvido u m ensaio imunoenzimá-
é u m a m o d i f i c a ç ã o d o m é t o d o original d e J o h n s o n e colabora- tico (ELISA) de competição c o m anticorpo policlonal anti-AGE
dores. S o b c o n d i ç õ e s alcalinas, a f r u t o s a m i n a s o f r e u m r e a r r a n j o para mediT a hemoglobina c o m glicação avançada. Utilizando esse
d e A m a d o r i e o c o m p o s t o r e s u l t a n t e t e m u m a atividade r e d u t o r a ensaio, demonstrou-se u m a correlação linear entre a H b Ai c e a
q u e p o d e ser d i f e r e n c i a d a d e o u t r a s substâncias r e d u t o r a s . N a hemoglobina com glicação avançada. E m pessoas sadias, a hemo-
p r e s e n ç a d e t a m p ã o c a r b o n a t o , a f r u t o s a m i n a se r e a r r a n j a e m globina com glicação avançada é responsável p o r 0 , 4 % da hemoglo-
u m a forma enólica que reduz o N B T e m formazam. Mede-se a b i n a circulante, com valores significativamente maiores e m pacien-
absorvãncia e m 530 n m e m dois m o m e n t o s e a m u d a n ç a de absor- tes c o m diabetes meiíitus. A p ó s u m a alteração aguda na glicemia, as
vãncia é p r o p o r c i o n a l à c o n c e n t r a ç ã o de f r u t o s a m i n a . E necessá- concentrações da h e m o g l o b i n a m u d a m , mas a taxa de m u d a n ç a é
ria u m a p r é - i n c u b a ç ã o de 10 m i n u t o s p a r a evitar a i n t e r f e r ê n c i a 2 3 % m e n o r d o que a d a H b A]<:. Portanto, a hemoglobina com
d e s u b s t â n c i a s r e d u t o r a s q u e reagem r a p i d a m e n t e . O ensaio é glicação avançada fornece u m a m e d i d a d o controle diabético que
f a c i l m e n t e a u t o m a t i z a d o e t e m u m a precisão analítica e n t r e d u r a mais t e m p o que o controle d a G H b , refletindo as concentra-
a m o s t r a s excelente. A h e m o g l o b i n a (> 100 m g / d L ) e a b i l i r r u b i n a ções de glicose sanguínea ao longo d e u m p e r í o d o maior da vida
(>4 m g / d L ) i n t e r f e r e m ; p o r t a n t o , n ã o se devem utilizar a m o s t r a s dos glóbulos vermelhos. A i n d a n ã o se d e t e r m i n o u se o conheci-
m o d e r a d a m e n t e a i n t e n s a m e n t e h e m o l i s a d a s e a m o s t r a s ictéri- m e n t o dos valores de hemoglobina-AGE oferece benefício clínico.
Carboidratos CAPÍTULO 2 2 409

A l b u m i n a Urinária As a m o s t r a s n o t u r n a s de 8 a 12 h o r a s ou d e 24 h o r a s são as
O s i n d i v í d u o s c o m diabetes mellitus p o s s u e m risco elevado de mais sensíveis, m a s c o m o a razão e n t r e a a l b u m i n a e a c r e a t i n i n a
d e s e n v o l v i m e n t o d e lesão renal ( C a p í t u l o 34). A lesão renal é mais prática e c o n v e n i e n t e p a r a o p a c i e n t e , r e c o m e n d a - s e a
t e r m i n a l q u e r e q u e r diálise o u t r a n s p l a n t e desenvolve-se e m utilização desse m é t o d o . A p r i m e i r a a m o s t r a d a m a n h ã é a
a p r o x i m a d a m e n t e u m terço dos i n d i v í d u o s c o m diabetes t i p o 1, m e l h o r p o r q u e ela tem u m a variação m t r a p e s s o a l da relação
e o d i a b e t e s é a causa mais c o m u m d e d i s f u n ç ã o r e n a l n o s e n t r e a l b u m i n a e c r e a t i n i n a m e n o r d o q u e u m a am os t r a aleató-
E s t a d o s U n i d o s e n a E u r o p a . E m b o r a a n e f r o p a t i a seja m e n o s ria d e u r i n a . Devem-se ensaiar pelo m e n o s três a m o s t r a s separa-
c o m u m e m i n d i v í d u o s c o m diabetes tipo 2, a p r o x i m a d a m e n t e das, coletadas e m dias diferentes, p o r causa da alta variação intra-
6 0 % d e t o d o s os casos de n e f r o p a t i a diabética o c o r r e m nessas mdividual (CV de 3 0 % a 5 0 % ) e variação d i u r n a ( 5 0 % a 100%
pessoas p o r causa da m a i o r i n c i d ê n c i a dessa f o r m a de diabetes. m a i o r d u r a n t e o dia). Deve-se armazenar a. u r i n a e m 4 ° C após a
A p r o t e i n ú r i a persistente detectável p o r testes rotineiros d e coleta. Alternativamente, pode-se adicionar 2 m L de 5 0 g / L d e azida
triagem (equivalentes a u m a taxa de excreção urinária de albumina d e sódio p o r 5 0 0 m L d e u r i n a , m a s n ã o se r e c o m e n d a a utiliza-
[TJAEJ > 2 0 0 p,g/min) indica n e f r o p a t i a diabética de claros sin- ção d e conservantes para alguns ensaios. A c o n t a m i n a ç ã o bacte-
t o m a s . D e f o r m a geral, associa-se essa c o n d i ç ã o c o m u m a d o e n ç a riana e a glicose n ã o t ê m efeito.
d e l o n g a d u r a ç ã o e é i n c o m u m sua o c o r r ê n c i a e m m e n o s d e 5
a n o s após o início d o diabetes t i p o 1. Q u a n d o o c o r r e n e f r o p a t i a Ensaios Semiquantitativos
diabética, a f u n ç ã o renal deteriora-se r a p i d a m e n t e e o c o r r e evo- Estão disponíveis vários ensaios s e m i q u a n t i t a t i v o s p a r a a triagem
lução da insuficiência renal. O t r a t a m e n t o nessa fase p o d e retar- d e U A E elevada. Essas tiras d e teste, m u i t a s das quais são otimi-
dar a taxa de progressão, m a s n ã o i n t e r r o m p e ou reverte a lesão zadas p a r a u m a leitura "positiva" e m u m a d e t e r m i n a d a c o n c e n -
renal. A n t e s dessa fase, n ã o se d e t e c t a u m a U A E elevada p o r tração d e a l b u m i n a , são a p r o p r i a d a s para os p r o g r a m a s d e
m é t o d o s d e r o t i n a . Essa variação d e 2 0 a 2 0 0 \xg/minuto (ou 3 0 triagem. Por causa d a a m p l a variabilidade n a U A E , u m valor
a 3 0 0 m g / 2 4 horas) de U A E elevada d e f i n e a ffiicroalbuminú- " n o r m a l " n ã o descarta d o e n ç a renal. C o m o esses ensaios m e d e m
ria. 1 3 O t e r m o microalbummúua, e m b o r a g e r a l m e n t e aceito, n ã o a c o n c e n t r a ç ã o de a l b u m i n a , a u r i n a diluída p o d e f o r n e c e r u m
é a p r o p r i a d o . Tal t e r m o implica u m a versão p e q u e n a d a molé- r e s u l t a d o falso-negativo. A n t e s da realização das análises, as
cula d e a l b u m i n a e m vez de u m a taxa de excreção de a l b u m i n a amostras refrigeradas de u r i n a d e v e m estar a 10°C pelo m e n o s .
maior do que a normal, mas m e n o r do que a anteriormente O teste A l b u S u r e s d e t e c t o u c o n c e n t r a ç õ e s de a l b u m i n a u r i n á r i a
d e t e c t a d a . P o r t a n t o , e m b o r a o t e r m o esteja e r r a d o , ele é ampla- m a i o r e s d o q u e 20 ou 3 0 m g / L . O ensaio é u m teste de inibição
m e n t e utilizado e p r o v a v e l m e n t e n ã o será s u b s t i t u í d o p o r alter- de a g l u t i n a ç ã o de látex n o qual se m i s t u r a a u r i n a c o m u m
nativas (p.ex., p a u c i a l b u m i n ú r i a ) . 1 3 a n t i c o r p o a n t i - a l b u m i n a h u m a n a d e cabra, c u j o título é a j u s t a d o
A p r e s e n ç a d e U A E elevada i n d i c a u m a u m e n t o n a taxa de p a r a q u e t o d o s os sítios d e ligação ao a n t i c o r p o sejam o c u p a d o s
escape transcapilar de a l b u m i n a e é, p o r t a n t o , u m m a r c a d o r de e m c o n c e n t r a ç õ e s d e a l b u m i n a u r i n á r i a iguais ou m a i o r e s d o
d o e n ç a microvascular. U m a U A E m a i o r d o q u e 2 0 p g / m i n u t o q u e 20 o u 3 0 m g / L . O excesso d e sítios de ligação à a l b u m i n a
causa u m risco v i n t e vezes m a i o r de d e s e n v o l v i m e n t o de d o e n ç a são d e t e c t a d o s pela a d i ç ã o de u m a gota de microesferas d e látex
r e n a l c l i n i c a m e n t e o b s e r v a d o e m i n d i v í d u o s c o m diabetes tipo revestidas c o m a l b u m i n a . C o n c e n t r a ç õ e s de a l b u m i n a abaixo d e
1 e t i p o 2. E s t u d o s prospectivos d e m o n s t r a r a m q u e u m a U A E 2 0 o u 3 0 m g / L p r o d u z e m aglutinação. O M i c r o - B u m i n t e s t
elevada p r e c e d e e é a l t a m e n t e preditiva de (1) n e f r o p a t i a diabé- utiliza azul de b r o m o f e n o l e m u m a matriz alcalina para detectar
tica, (2) d o e n ç a r e n a l t e r m i n a l e (3) r e t i n o p a t i a proliferativa e m c o n c e n t r a ç õ e s de a l b u m i n a acima de 4 0 m g / L . Esse teste se
i n d i v í d u o s c o m diabetes t i p o 1. O c o n t r o l e estrito da glicemia baseia n o erro p r o t é i c o d o i n d i c a d o r azul de b r o m o f e n o l . A
n a s diabetes t i p o 1 e tipo 2 retarda a progressão p a i a n e f r o p a t i a . sensibilidade d o d i a g n ó s t i c o é de a p r o x i m a d a m e n t e 9 5 % , m a s
A l é m disso, u m a U A E elevada identifica u m g r u p o d e indiví- c o m o outras p r o t e í n a s t a m b é m são detectadas, a especificidade
d u o s n ã o diabéticos c o m risco elevado para o d e s e n v o l v i m e n t o para a m i c r o a l b u m i n ú r i a é igual o u m e n o r a 8 0 % .
d e d o e n ç a arterial c o r o n á r i a . I n t e r v e n ç õ e s c o m o o c o n t r o l e da N a tira d e teste M i cr al ( R o c h e Diagnostics, I n d i a n á p o l i s ,
p r e s s ã o s a n g u í n e a , p a r t i c u l a r m e n t e c o m i n i b i d o r e s da e n z i m a I n d , EUA), u m a n t i c o r p o m o n o c l o n a l anti-IgG f o r m a u m com-
c o n v e r s o r a d e a n g i o t e n s i n a (ACE), e o c o n t r o l e das c o n c e n t r a - plexo c o m a |3-galactosidase. A a l b u m i n a n a u r i n a se liga ao
ções d e glicose s a n g u í n e a r e t a r d a m a taxa d e d e c l í n i o n a f u n ç ã o c o n j u g a d o e n z i m a - a n t i c o r p o n a tira de teste. O excesso d e con-
renal. j u g a d o fica r e t i d o e m u m a região s e p a r a d a q u e c o n t é m a l b u m i n a
imobilizada, e s o m e n t e a a l b u m i n a ligada ao i m u n o c o m p l e x o
Coleta e Armazenamento de Amostras a n t i c o r p o - e n z i m a se d i f u n d e p a r a a região d e reação. Nessa
O m é t o d o p a r a a coleta d e u m a a m o s t r a de u r i n a p a r a a d o s a g e m região, a a l b u m i n a reage c o m u m s u b s t r a t o t a m p o n a d o (verme-
s u b s e q ü e n t e da a l b u m i n a u r i n á r i a é i m p o r t a n t e . A s variações n o l h o de clorofenol) p a r a p r o d u z i r u m a coloração v e r m e l h a q u a n d o
f l u x o u r i n á r i o e m u m a pessoa p o d e ser corrigida pela expressão a P-ga 1 actos idas e h i d r o l i s a a galactose. Mergulha-se a tira d e teste
de a l b u m i n a e m relação à c r e a t i n i n a (isto é, a l b u m i n a / c r e a t i - n a u r i n a p o r 5 s e g u n d o s , e a i n t e n s i d a d e d a coloração após 5
n i n a ) . O c o r r e elevação d a U A E p o r fatores fisiológicos (p.ex., minutos é proporcional à concentração de albumina urinária.
exercício, p o s t u r a e diurese), e, p o r essa razão, deve-se p a d r o n i z a r Faz-se a c o m p a r a ç ã o visual direta c o m b l o c o s de cores impressos
a coleta de u r i n a . N ã o se d e v e m coletar as a m o s t r a s (1) após — amarelo, marrom-claro, m a r r o m - m é d i o , vermelho-tijolo e b o r d ô j
esforço, (2) n a p r e s e n ç a de infecção d o trato u r i n á r i o , (3) d u r a n t e r e p r e s e n t a n d o 0, 10, 20, 5 0 e 100 m g / L , r e s p e c t i v a m e n t e . N ã o
d o e n ç a aguda, (4) i m e d i a t a m e n t e após u m a cirurgia o u (5) após se observa n e n h u m a i n t e r f e r ê n c i a c o m drogas, glicose, uréia o u
u m a i n j e ç ã o aguda de f l u i d o . T o d a s as a m o s t r a s d e u r i n a seguin- o u t r a s proteínas. A c o m p a r a ç ã o c o m u m m é t o d o d e referência
tes são a t u a l m e n t e aceitáveis: d e m o n s t r a u m a sensibilidade e u m a especificidade d e aproxima-
1. C o l e t a de 24 h o r a s d a m e n t e 1 0 0 % e 9 1 % , r e s p e c t i v a m e n t e . O s t e m p o s de c o n t a t o
2. C o l e t a n o t u r n a d e 8 a 12 h o r a s c o m a u r i n a e d e leitura são críticos. U m a m o d i f i c a ç ã o desse
3. C o l e t a de 1 a 2 h o r a s (em l a b o r a t ó r i o ou clínica). teste (Micral II) utiliza u m a n t i c o r p o m a r c a d o c o m o u r o e m vez
4. P r i m e i r a a m o s t r a da m a n h ã para a d o s a g e m s i m u l t â n e a de de e n z i m a . Esse m é t o d o a u m e n t a a estabilidade, p e r m i t i n d o
albumina e de creatinina. c o m que a tira seja lida a q u a l q u e r m o m e n t o d e 1 a pelo m e n o s
410 PARTE IV Analitos

60 m i n u t o s . A s amostras de u r i n a com concentrações de albu- Insulina


m i n a maiores d o q u e 100 a 3 0 0 m g / L p o d e m ser diluídas e A aplicação clínica primária da dosagem da insulina é n a avalia-
submetidas a u m novo teste. A concentração atribuída ao bloco ção dos pacientes com hipoglicemia de jejum. T a m b é m se p r o p õ e
de cores é multiplicada pelo fator de diluição para a o b t e n ç ã o que a determinação da insulina seja valiosa n a seleção de u m a
da concentração n a amostra. Esses ensaios semiquantitativos são terapia inicial ótima para pacientes c o m diabetes meilitus tipo 2.
r e c o m e n d a d o s s o m e n t e para triagem. Porém, estudos publicados Em ceoria, q u a n t o m e n o r a concentração de insulina n o pré-
revelam q u e as sensibilidades limitam os seus valores para t r a t a m e n t o , mais apropriada é a insulina ou u m secretagogo de
tTiagem. O teste I m m u n o D i p (DCL, Prince Edward Island, insulina c o m o t r a t a m e n t o d e escolha. E m b o r a intelectualmente
Canadá), c o m o os métodos d o Micral, utiliza anticorpos m o n o - apelativo, não há evidências de q u e o c o n h e c i m e n t o da concen-
clonais contra a l b u m i n a h u m a n a . tração de insulina leve a u m t r a t a m e n t o mais eficaz. U m a utili-
zação emergente para os ensaios de insulina é a avaliação e
Ensaios Quantitativos controle das pacientes c o m s í n d r o m e d o ovário policístico. As
T o d o s os ensaios sensíveis e específicos paTa a d e t e r m i n a ç ã o da mulheres com essa condição t ê m resistência à insulina e meta-
albumina urinária utilizam i m u n o q u í m i c a com anticorpos c o n t r a b o l i s m o a n o r m a l de carboidratos que p o d e m responder aos
a l b u m i n a h u m a n a . As m e t o d o l o g i a s q u e estão disponíveis são agentes hipoglicêmicos orais. E m b o r a alguns investigadores reco-
(1) RIA, (2) ELISA, (3) i m u n o d i f u s ã o radial e (4) i m u n o t u r b i - m e n d e m a dosagem da insulina j u n t o c o m a glicose d u r a n t e um
metria. C a d a m é t o d o tem vantagens e desvantagens, e a escolha O G T T c o m o u m auxílio ao diagnóstico precoce de diabetes melli-
d e p e n d e d a experiência local e d o a p o i o técnico. E m b o r a tus, n ã o se r e c o m e n d a esse m é t o d o .
ensaios de ligação a i n d i c a d o r e s e ensaios de p r e c i p i t a ç ã o de E m b o r a se realize o ensaio de insulina há mais de 40 anos,
p r o t e í n a s t e n h a m sido descritos, tais ensaios são insensíveis n ã o há n e n h u m p r o c e d i m e n t o disponível altamente acurado,
e inespecíficos e n ã o devem ser utilizados. O s d e t a l h e s desses preciso e confiável que meça a q u a n t i d a d e de insulina e m u m a
m é t o d o s são e n c o n t r a d o s e m u m a versão a m p l i a d a deste capí- amostra de paciente. M u i t o s ensaios de insulina estão comercial-
tulo. 1 2 m e n t e disponíveis. 5 São utilizados i m u n o e n s a i o s para m e d i r a
insulina. Utiliza-se o t e r m o insulina imunorreatwa em referência
intervalos de Referência aos ensaios que p o d e m reconhecer, além da insulina, substratos
que c o m p a r t i l h a m epítopos antigênicos com a insulina. O s
exemplos são a pró-insulina, os intermediários de conversão da
Excecão Urinária de Alhumina pró-insulina e os derivados de insulina produzidos por glicação
Corrigida ou dimerização. O s anti-soros produzidos contra a insulina
(mg/g de m o s t r a m reatividade cruzada c o m pró-insulina, mas n ã o com o
creatinina p e p t í d e o C. A especificidade não é u m problema nos indivíduos
Condição íig/min mg/24 horas urinária) sadios p o r q u e concentrações baixas de pró-insulina não afetam
Normal <20 <30 <30
m u i t o as concentrações m e d i d a s d e insulina. E m certas situações
UAE elevada 20 a 200 30 a 300 30 a 300 (p.ex., pacientes c o m diabetes ou c o m tumores de células das
(micraalbuminüria) ilhotas), a pró-insulina está p r e s e n t e em altas concentrações, e o
Microalbuminúria >200 >300 >300 ensaio direto do plasma p o d e superestimar falsamente a concen-
(preteinúria clinica) tração real de insulina. C o m o a pró-insulina tem pouca ativi-
dade, pode-se chegar a conclusões incorretas sobre a disponibi-
lidade da insulina biologicamente ativa em pacientes c o m dia-
betes. A m a g n i t u d e d o erro d e p e n d e d a concentração de pTÓ-
insulina e da intensidade da reação cruzada d o anti-soro com a
N o p r o n u n c i a m e n t o oficial da A D A J é r e c o m e n d a d o u m a deter- pró-insulina n o ensaio.
minação inicial da U A E em (1) pacientes com diabetes tipo 1 A ADA determinou u m grupo de trabalho para padronizar o
q u e sofrem dessa condição há pelo m e n o s 5 anos e (2) e m todos ensaio de insulina. 10 A avaliação de 12 diferentes ensaios comercial-
os pacientes c o m diabetes tipo 2. N o diabetes tipo 2, deve-se mente disponíveis de 9 fabricantes mostrou CVs intra-ensaios de
realizar a triagem n o m o m e n t o d o diagnóstico e d u r a n t e a gra- 3,7% a 39% e CVs interensaios de 12% a 66%, com uma mediana
videz. Todos os pacientes com u m resultado negativo na triagem de 24%. U m a preparação de referência c o m u m para a insulina não
devem ser submetidos a novos testes anualmente. Se a triagem for m u d o u o C V interensaio e falhou em melhorar a uniformização
realizada com u m ensaio semiquantitativo, os resultados positi- dos resultados entre os ensaios. O s ensaios detectaram insulinas
vos devem ser avaliados por u m ensaio quantitativo. modificadas em vários níveis. O relatório concluiu que "a discor-
Se o teste c o n f i r m a t ó r i o for positivo, deve-se iniciar um tra- dância nos resultados dos ensaios de insulina comerciais é provavel-
t a m e n t o com inibidores da A C E . O s inibidores da A C E r e d u z e m mente mulrifatorial, e será preciso u m esforço contínuo para a
a UAE, e a N a t i o n a l Kidney F o u n d a t i o n r e c o m e n d a a utilização compreensão das diferenças e a obtenção da consistência e da uni-
desses inibidores e m pacientes n o r m o t e n s o s e hipertensos c o m formização desejadas entre os imunoensaios comerciais". 10
diabetes tipo 1 e ripo 2. N ã o tratada, a U A E a u m e n t a r i a 10% a O s intervalos de referência v a r i a m e n t r e os ensaios, e cada
3 0 % p o r ano, e n q u a n t o a p r o p o r ç ã o a l b u m i n a / c r e a t i n i n a e m l a b o r a t ó r i o deve d e t e r m i n a r seus próprios intervalos de refe-
indivíduos sob t r a t a m e n t o com inibidores da A C E deve estabi- rência. Devem-se relatar os valores e m u n i d a d e s SI ( p m o l / L ) .
lizar ou d i m i n u i r e m 5 0 % . A p ó s u m jejum n o t u r n o , as c o n c e n t r a ç õ e s de insulina e m
pessoas sadias, n o r m a i s e n ã o obesas variam de 12 a 150 p m o l /
Insulina, Pró-lnsulina, Peptídeo C e G l u c a g o n L (2 a 25 f j U I / m L ) . Ensaios mais específicos que têm reatividade
Vários m é t o d o s são utilizados para m e d i r insulina, pró-insulina, cruzada m í n i m a c o m a p r ó - i n s u l i n a revelam u m a c o n c e n t r a -
peptídeo C e glucagon. Neste capítulo, há u m a breve visão geral ção de insulina plasmática d e jejum m e n o r d o que 60 p m o l / L
desses m é t o d o s . O s detalhes adicionais são e n c o n t r a d o s e m u m a (9 ( l U I / m L ) . O s valores da insulina de jejum são maiores em
versão ampliada deste capítulo. 1 2 pessoas obesas, n ã o diabéticas e m e n o r e s em atletas treinados.
Carboidratos CAPÍTULO 2 2 411

Pró-lnsulina ser indetectãvel após u m a pancreatectomia radical e sua concen-


Geralmente, observam-se concentrações altas de pró-insulina em tração deve a u m e n t a r após u m transplante bem-sucedido de
indivíduos com tumores benignos ou malignos de células {3 do pâncreas ou de células das ilhotas.
pâncreas. A maioria desses tumores tem concentrações elevadas de O s ensaios para d e t e r m i n a ç ã o do peptídeo C não reagem
insulina, peptídeo C e pró-insulina, mas ocasionalmente somente c o m anticorpos anti-insulina. Porém, problemas metodológicos
há elevação da concentração de pró-insulina. Independente de sua p r o d u z e m grandes variações entre os métodos. Essas dificulda-
atividade biológica, a concentração de pró-insulina pode estar sufi- des incluem especificidade variável entre diferentes anti-soros,
cientemente alta para produzir hipoglicemia. Além disso, h á u m a reatividade cruzada variável c o m pró-insulina e o tipo de prepa-
forma rara de hiperproinsulinemia família[ causada por u m defeito ração de p e p t í d e o C utilizado c o m o calibrador. U m a compara-
na conversão para insulina. A dosagem da pró-insulina pode auxiliar ção, n o intervalo clinicamente relevante, utilizando q u a t r o ícits
na determinação da quantidade de material semelhante à pró-insu- comerciais e q u a t r o anti-soros comerciais contra o peptídeo C
lina que reage de forma cruzada em u m ensaio de insulina. Alguns resultou valores v a r i a n d o de 0,54 a 1,06 n m o l / L na m e s m a
indivíduos com diabetes tipo 2 demonstram proporções elevadas amostra. H á vários métodos i m u n o m é t r i c o s para a dosagem d o
de pró-insulina e de intermediários da conversão da pró-insulina; peptídeo C descritos e vários m é t o d o s estão disponíveis comer-
as concentrações altas estão associadas a fatoies de risco cardiovas- cialmente.
cular. Cada hiperglicemia relativamente leve produz hiperproinsu- As concentrações do peptídeo C e m jejum e m pessoas sadias
linemia com concentrações que excedem 4 0 % da concentração de variam de 0,78 a 1,89 n g / r n L (0,25 a 0,6 n m o l / L ) . A p ó s estí-
insulina nos pacientes com diabetes tipo 2. Concentrações elevadas m u l o c o m glicose ou glucagon, os valores variam de 2,73 a 5,64
de pró-insulina t a m b é m podem ser detectadas e m indivíduos com n g / m L (0,9 a 1,87 m o l / L ) , três a cinco vezes o valor n o pré-
falha renal crônica, cirrose ou hipertireoidismo. estímulo. O peptídeo C u r i n á r i o fica, geralmente, n o intervalo
A quantificação acurada d a pró-insulina é difícil p o r várias de 74 a 26 [J.g/L (25 a 8,8 p m o l / L ) .
razões; as concentrações sanguíneas são baixaS; a p r o d u ç ã o de
anticorpos é difícil; a maior parte dos anti-soros reage de forma
Glucagon
cruzada c o m insulina e p e p t í d e o C presentes em concentrações
Concentrações e x t r e m a m e n t e altas de glucagon estão presentes
m u i t o maiores; os ensaios m e d e m as formas d e clivagem da pró-
e m indivíduos c o m glucagonomas, que são tumores das células
insulina; e as preparações de referência de pró-insulina pura n ã o
a do pâncreas. O s indivíduos c o m esse tipo de t u m o r f r e q ü e n -
estão p r o n t a m e n t e disponíveis. As prc-insulinas biossintéticas
temente e x p e r i m e n t a m perda de peso, eritema migratório necro-
p e r m i t i r a m , recentemente, a p r o d u ç ã o de anticorpos monoclo-
lítico, diabetes mellitus, estomatite e diarréia. A maioria dos
nais contra a pró-insulina e a p r o d u ç ã o d e calibradores e de
tumores tem metástases n o m o m e n t o d o diagnóstico. As con-
preparações de referência.
centrações baixas de glucagon estão associadas a pancreatite
O s intervalos de referência para a pró-insulina são altamente
crônica e terapia c o m sulfoniluréia a longo prazo.
dependentes do método de análise, do grau de reatividade cruzada
Está disponível u m RIA de competição para m e d i r o gluca-
dos anti-soros e da pureza dos calibradores d i pró-insulina. Cada
gon. O s valores d o calibrador são atribuídos pelo fabricante
laboratório deve determinar seus próprios intervalos de referência.
através da utilização da Glucagon Internacional S t a n d a r d
Os intervalos de referência em indivíduos sadios em jejum relatados
(69/194) da O M S . '
na literatura variam de 1,1 a 6,9 p m o l / L a 2,1 a 12,6 p m o l / L .
As concentrações plasmáticas de glucagon n o jejum variam
de 20 a 52 p m o l / L (70 a 180 n g / L ) . Podem-se e n c o n t r a r valores
Peptídeo C até 500 vezes maiores d o q u e o limite superior e m indivíduos
A dosagem do p e p t í d e o C oferece algumas vantagens sobre a
c o m neoplasia de células a de secreção autonômica.
dosagem da insulina. C o m o o seu m e t a b o l i s m o hepático é
desprezível, as concentrações de p e p t í d e o C são indicadores
m e l h o r e s da f u n ç ã o da célula [} d o q u e a c o n c e n t r a ç ã o perifé-
rica da insulina. A l é m disso, os ensaios c o m peptídeo C n ã o REFERÊNCIAS
m e d e m a insulina exógena e n ã o reagem de f o r m a cruzada c o m 1. American Diabetes Association. Standards of medicai caie in diabetes—
os a n t i c o r p o s contra insulina que interferem nos i m u n o e n s a i o s 2007 Diabetes Care 2007;30 {Suppl 1):S4-S41.
para insulina. la. American Diabetes Association. Diagnosis and classificaiion of
A indicação primária para a medição do peptídeo C é a avalia- diabetes mellitus. Diabetes Care 2007;30:S42-7.
ção da hipoglicemia de jejum. Alguns indivíduos com tumores de 2. Atkinson MA, Eisenbarth GS. Type 1 diabetes: new perspectives o n
células P produtoras de insulina, particularmente se a hiperínsuli- diseasc pachogenesis and treatmenc. Lancec 2001;358-221-9.
nemia for persistente, p o d e m exibir concentrações elevadas de pep- 3. Bry L, Chen PC, Sacks DB. Effects of hemoglobin vaiiants and
tídeo C com concentrações normais de insulina. Q u a n d o ocorre chemically modified derivatives on assays for glycohemoglobin [Review],
hipoglicemia devida à injeção sub-reptícia de insulina, as concentra- Clin Chem 2001;47:153-63.
ções de insulina aumentam, mas as concentrações de peptídeo C 4. Chen Y-T, Buichell A. Glycogen storage diseases. In: Scriver AL,
Beaudet AL, Sly WS, Valle D, eds. The metabolic and molecular bases
permanecem baixas; essa diferença ocorre porque o peptídeo C não
of inherited disease, 7th ed. New York: McGtaw-HilI, 1995:935-65.
é encontrado em preparações comerciais de insulina e a insulina
5. Clark PM. Assays for insulin, proinsulin(s) and C-peptide A n n Clin
exógena suprime a atividade da função da célula p.
Biochem 1999 ; 36 (Pt 5):541-64.
As concentrações basal e estimulada (pelo glucagon ou pela
6. DCCT. The effect of intensive treatmenc of diabetes on the
glicose) de peptídeo C p o d e m fornecer u m a estimativa da capa-
deveiop ment and progression of long-term complications in insulin-
cidade e d a taxa de secreção de insulina de u m indivíduo.
dependent diabetes mellitus. N E ] M 1993;329:977-86.
E m b o r a valiosa na pesquisa clinica, a dosagem do peptídeo C 7. Goldstein DE, Littlc RR, Lorenz RA, Malane JI, Nathan D, Peterson
exerce u m papel desprezível n o controle rotineiro dos pacientes CM, et al. Tests of glycemia in diabetes. Diabetes Care 2004;27:1761-73.
c o m diabetes. 8 Little RR, Rohlfing CL, Wiedmeyer HM, Myeis GL, Sacks DB,
A determinação d o p e p t í d e o C é utilizada para m o n i t o r a r as Goldstein DE. T h e national glycohemoglobin standardizacíon program:
respostas individuais à cirurgia pancreática. O peptídeo C deve a five-year progress report. Clin C h e m 2001;47:1985-92.
412 PARTE IV Analitos

9. Metzger BE, Coustan DR. Summary and recommendations of the 13. Sacks DB, Bruns DE, Goldstein DE, Maclaren NK, McDonald JVI,
Fourth International Wo rfe shop-Confere ti ce on Gestational Diabetes Parrott M. Guidelines and recommendations for laboratory analysis in
Melhtus. Diabetes Care 1998;21=B 161-7. the diagnosis and management of diabetes mellitus. Clin Chem
10. Marcovina S, Bowsher RR, Miller W G , Sraten M, Myers G, Caudill SP, 1992;48:436-72.
et al. Standardizaticn of insulin immunoassays: report of the American 14. Service FJ. Hypoglycemic disorders. N Engl ] Med 1995;332:1144-52.
Diabetes Aísociation Workgroup C h n C h e m 2007;53:711-6. 15. U.K. Prospective Diabetes Study (UKPDS) Gioup. Intensive blood-
11. Saclcs DB. Global harmonization of hemoglobin A ^ . Clin Chem glucose control with sulphonylureas or insulin compared with
2005;51:681-3. conventional treatment and risk of complications in patients with type
12. Saeks DB. Carbohydrates. In: Burtis C, Ashwood E, Bruns D, eds. 2 diabetes (UKPDS 33). Lancet 1998;352:837-53.
Tietz textbook of clinicai chemistry and molecular diagnostica, 4th ed.
St. Louis: Saunders, 2006:837-902.
APÍTULO 2 3

Lipídios, Lipoproteínas,
Apolipoproteínas e Outros Fatores de
Risco Cardiovascular*
Nader Rifai, Ph.D., G. Russell Warnick, M.S.,
e Alan T. Remaley, M.D., Ph.D.

OBJETIVOS espumosas de macrófagos são formados dentro das camadas


1. Definir os seguintes termos: íntima e média das artérias de m é d i o e grande calibre.
Lipídio Colesterol: Álcool esreróide, C27H450H, que é u m c o m p o n e n t e
Ácido graxo essencial d o metabolismo lipídico. Freqüentemente
Prostagl andina encontrado esterificado com u m ácido graxo.
Apoliproteína
Fosfolipídio: Qualquer lipídio que contém fósforo, incluindo
Lipoproteína
aqueles com u m a estrutura central de glicerol
(fosfoglicerídeos) e esfingosina o u substâncias relacionadas
Quilomícron
(esfingomielinas). Os fosfolipídios são a principal forma de
Aterosclerose
lipídio nas membranas celulares.
2. Discutir o metabolismo do colesterol e dos triglicerídeos e
Lipídios: Qualquer grupo heterogêneo de gorduras e
determinar o intervalo de referência de cada um para indivíduos
substâncias semelhantes à gordura caracterizado por ser
aparentemente sadios.
insolúvel em água e solúvel em solventes não polares como
3. Determinar a importância das apolipoproteínas na saúde e na
álcool, éter, clorofórmio, benzeno etc.
doença.
Lipoproteínas: Qualquer complexo lipid io-proteína n o qual os
4. Comparar e contrastar as cinco classes de lipoproteína com base
lipídios são transportados n o sangue. As partículas de
na composição química e significância clínica.
lipoproteína consistem em u m núcleo hidrofóbico esférico
5. Listar as hiperlipoprcteinemias e expor os achados laboratoriais
de triglicerídeos ou ésteres de colesterol circundados por
associados a cada uma delas.
u m a m o n o c a m a d a de fosfolipídios, colesterol e
6. Listar as hipolipoprotsinemias e expor os achados laboratoriais
apolipoproteínas.
asscciados a cada uma delas.
P r o s t a g l a n d i n a : Qualquer grupo d e compostos derivados de
7. Expor os procedimentos básicos de exames para colesterol e
ácidos graxos insaturados de 2 0 carbonos (principalmente
triglicerídeos séricos e as exigências, princípios e interferências
ácido araquidônico) por meio d a via de ciclooxigenase.
para a amostra em cada um deles.
Estes compostos são potentes mediadores de u m grupo
diverso de processos fisiológicos.
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES
Q u i l o m í c r o n : U m a partícula da classe das lipoproteínas
Acido Graxo Essencial: U m ácido graxo que não é sintetizado responsável pelo transporte de colesterol exógeno e
pelo corpo h u m a n o . Ácidos linoléico, linolênico e triglicerídeos d o intestino delgado até os tecidos após as
araquidônico são exemplos. refeições. U m quilomícron é u m a partícula esférica com u m
Ácido Graxo; Q u a l q u e r ácido monocarboxílico de cadeia
núcleo de triglicerídeos circundado por u m a m o n o c a m a d a
linear. Os ácidos graxos são geralmente classificados c o m o :
de fosfolipídios, colesterol e apolipoproteínas.
ácidos graxos saturados, aqueles sem ligações duplas; ácidos
Triglicerídeo: U m composto orgânico que consiste em até três
graxos monoinsaturados, aqueles com u m a ligação dupla, e
moléculas de ácidos graxos esterificados ao glicerol.
ácidos giaxos poliinsaturados, aqueles com múltiplas
ligações duplas.
A p o l i p o p r o t e í n a s : C o m p o n e n t e s proteicos das lipoproteínas.
Aterosclerose: U m distúrbio n o qual depósitos de placas

O
amareladas c o n t e n d o colesterol, material lipóide e células s lipídios têm importantes funções em praticamente
todos os aspectos da vida: (1) servem como hormônios,
(2) servem como fonte de energia, (3) a ju d a m na digestão
e (4) agem como componentes estruturais nas m e m b r a n a s celu-
lares. Além disso, os lipídios e as lipoproteínas estão intimamente
envolvidos n o desenvolvimento d e aterosclerose, u m processo
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias dos Drs. John
patogênico que é a causa subjacente de distúrbios cardiovascula-
Albers e Paul Bachorik, nas quais se baseiam partes deste capítulo. Outras partes
foram adaptadas de Rifai N, Kwiterovich PO Jr. Disorders of lipid and lipopro-
res c o m u n s de (1) infarto d o miocárdio, (2) doença cerebrovas-
tein metabolism in children and adolescents. Em: Soldin SJ, Rifai N, Hick JMB, cular e (3) doença vascular periférica (Capítulo 33). Neste capítulo,
eds. Biochemical basis of pediatric diseases. 3rd ed. Washington. DC: A A C C são discutidos a bioquímica básica, o metabolismo, a importância
Press, 1998. clínica e a análise laboratorial de cada u m a das principais classes
414 PARTE IV Analitos

de lipídios e lipoproteínas e outros fatores de risco cardiovascular, que c o n t é m u m ácido graxo fixado ao g r u p o hidroxil n o anel A,
c o m o p r o t e í n a C-reativa e homocisteína. é r a p i d a m e n t e hidrolisado n o intestino e m colesterol livre e
ácidos graxos pelas colesterol esterases secretadas d o pâncreas
e intestino delgado.
LIPÍDIOS BASICC i 15-17 A n t e s de ser absorvido, o colesterol p r i m e i r a m e n t e é solubi-
O t e r m o lipídio aplica-se a uma classe de compostos q u e sâo lizado através de u m processo c h a m a d o emulsificação. A emulsi-
solúveis em solventes orgânicos, mas quase insolúveis e m água. ficação ocorre p o r meio d a formação de micelas mistas que
Q u i m i c a m e n t e , os lipídios c o n t ê m p r i n c i p a l m e n t e ligações c o n t ê m : (I) colesterol não-esterificado, (2) ácidos graxos, (3)
carbono-hidrogênio não-polares ( O H ) e tipicamente p r o d u z e m monoglicerídeos, (4) fosfolipídios e (5) ácidos biliares conjuga-
ácidos graxos e ou álcoois complexos após hidrólise. Alguns lipí- dos. O s ácidos biliares, ao agir c o m o detergentes, são o fator mais
dios t a m b é m c o n t ê m grupos carregados ou polares, c o m o grupos crítico na formação de micelas. E m sua ausência, a digestão e
(1) siálico, (2) fosforil, (3) amrno, (4) sulfuril ou (5) hidroxil. A absorção tanto d o colesterol c o m o do triglicerídeo são grave-
presença destes grupos químicos confere às moléculas Iipídicas m e n t e prejudicadas. A capacidade d o colesterol em f o r m a r
u m a a f i n i d a d e c o m a água e c o m os solventes orgânicos (anfipá- micelas t a m b é m é i n f l u e n c i a d a pela q u a n t i d a d e de gordura die-
ticos). Isso os possibilita existir na interface aquosa das membra- tética, mas n ã o p o r seu grau de saturação. Q u a n t i d a d e s aumen-
nas biológicas. D e m o d o geral, os lipídios são a m p l a m e n t e sub- tadas de gordura n a dieta resultam n o a u m e n t o de micelas mistas,
divididos e m seis grupos, c o m base na sua estrutura química: (1) o que por sua vez p e r m i t e q u e mais colesterol seja absorvido. A
colesterol, (2) ácidos graxos, (3) acilgliceróis, (4) esfingolipídios, m a i o r parte da absorção d e colesterol ocorre n o j e j u n o m é d i o e
(5) prostaglandinas e (6) terpenos. íleo terminal d o intestino delgado e é mediada pela proteína de
superfície do enterócito, N P C I L 1 . Esta proteína é o alvo para o
Colesterol fármaco ezetimiba que b l o q u e i a a absorção de colesterol. Geral-
O colesterol é e n c o n t r a d o quase exclusivamente em animais e é mente, entre 3 0 % e 6 0 % d o colesterol dietético são absorvidos
u m c o m p o n e n t e essencial da m e m b r a n a de todas as células. E p o r dia, o que representa até 1 g / d i a q u a n d o se faz u m a dieta
u m álcool esteróide c o m 27 átomos de c a r b o n o que são dispostos c o m alto teor de gordura. Q u a n d o o colesterol entra n a célula
em u m sistema em anel tetracíclico de esterano, c o m u m a cadeia da mucosa intestinal, é a c o n d i c i o n a d o c o m triglicerídeos, fosfo-
lateral C-H {Figura 23-1). O c o n h e c i m e n t o d o sistema de n u m e - lipídios e uma grande p r o t e í n a chamada apolipoproteína (apa) E-48
ração para os átomos de c a r b o n o no colesterol é i m p o r t a n t e e m partículas grandes de lipoproteína chamadas q u i l o m í c r o n s .
p o r q u e é a base d o sistema de n o m e n c l a t u r a de i n ú m e r a s enzimas O s quilomícrons são secretados n a linfa e s u b s e q ü e n t e m e n t e
envolvidas e m várias vias bioquímicas relacionadas c o m o coles- e n t r a m na circulação o n d e distribuem o lipídio dietético absor-
terol, como: (1) vitamina D (Capítulo 27), (2) h o r m ô n i o s esterói- vido para o fígado e tecidos periféricos.
des (Capítulo 40) e (3) vias da biossíntese de ácidos biliares. O
colesterol é p r i n c i p a l m e n t e c o m p o s t o de ligações O H e p o r t a n t o Síntese de Colesterol
quase não é solúvel e m água. E n t r e t a n t o , ele c o n t é m u m g r u p o O colesterol t a m b é m é sintetizado e n d o g e n a m e n t e , c o m quase
hidroxil ( O H ) polar e m seu anel A (Figura 23-1). Portanto, é u m a 9 0 % de sua síntese o c o r r e n d o n o fígado e intestino. A maior
molécula t a n t o polar c o m o n ã o polar (anfipãtica). parte das células periféricas, ao contrário, d e p e n d e de distribui-
ção exógena do colesterol pelas lipoproteínas. A biossíntese de
Absorção de Colesterol coleste;ol ocorre e m três estágios. N o primeiro estágio (Figura
Estima-se q u e a dieta n o r t e americana e m m é d i a c o n t e n h a apro- 23-2), acetil-CoA, u m intermediário metabólico essencial deri-
x i m a d a m e n t e 300 a 4 5 0 mg de colesterol p o r dia, que vêm vado de carboidratos, a m i n o á c i d o s e ácidos graxos, forma o tio-
p r i n c i p a l m e n t e do c o n s u m o de p r o d u t o s animais. U m a quanti- éster de seis carbonos H M G - C o A . N o segundo estágio (Figura
dade s e m e l h a n t e de colesterol é absorvida n o intestino a partir
das secreções e turnover biliares e liberação de células d a mucosa
KJ
intestinal. Praticamente t o d o o colesterol n o intestino está pre-
sente n a f o r m a não-esterificada (livre). O colesterol esterificado, H 3 < r ^ s SCoA
c
Acetil-CoA

At eco acetil-CoA

0 o
Esqueleto de petidrocidopenraiiofeiian treno 1 A
H3CR X:IÍ; SCOA
(esterano)
AEC toaceti 1-CoA

Acetil-CoA
HMG-CoA
sintctase

HO 1 ÇH3 o
^C—CH,-C—CH J
2 -C
JO I
OH
\
SCoA
HO
3-h í d rox Í.-3-m e tilgl u taril-C oA
Colesterol (HMG-CoA)

Figure 2 3 - 1 Estrutura do colesterol. Figure 2 3 - 2 Biossíntese do colesterol (estágio 1)


Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 415

Esidgio 2 2 NADPH

+ 2 HJ x © 2 NADP
G
O CH3 O ©' O ÇH3
/
C C H 3 Ç C H 2 - C Y.—CH2-C—CH 2 -CH 2 OH

<F OH SCOA HMG-CoA redutase Q /


OH
, , ., .- . , i- . (enzima l i m i t a d o r a da veloci-
.i-hidroxio-metilgiutanl-L-oA , i i Mevalonato
(HMG-CoA) ' — 3 ATP

Mnffi©
V 3 ADP
CO-j -+ Pi
•°o
H3C O O
Jt CHJ O
\ II Q >—o—P—0°
C—CHJ-CH 2 0—P—O—P—O FC—CH^A—CH,-CH20—. „ .

H / i® i© é A} Ae A0
°o-l=o
lsopentenil pirofosfato
A-
3-fosfo-5-pirofosfomevalonato
lsopentenil
PPl
pirofosfato
h3C V HlÇ
CH3 0 O
\ íí II ^
C = C H — C H 2 0 — P — O — P — O C
L- = CV-— C H I - C H I - « ! > = C — C H J - O — I — O — L I — O ®
0
Hjc/ i A® • u / i A Ae iP
Dimetilalil p i r o f o s f a t o Geranil pirofosfato

lsopentenil
pirofosfato
Transferase

H3C ÇH3 ÇH3 O O


\ 1 I II II ©
c=c—CH 2 —CH 2 ~C=C—CH 2 —CH 2 —C=0—( N 2 -O—P—O—P—O

H3C H i, l, Ae Ae
Farnesil p i r o f o s f a t o

NADPH + H ® — ^ Famesil
Síiuetase pirofosfato

MADP ITi

Esqualeno

Figure 23-3 Biossíntese d o colesterol (estágio 2).

23-3), o H M G - C o A é reduzido em mevalonato e em seguida é meras cadeias laterais são removidas da estrutura do anel tetrací-
descarboxilado em uma série de unidades isopreno de cinco clico de esterano para formar a molécula de 27 carbonos de
carbonos. Estas unidades de isopreno são então condensadas colesterol.
para formar primeiramente u m intermediário de 10 carbonos
(geranil pirofosfato) e depois u m de 15 carbonos (farnesil piro- Esteríficação do Colesterol
fosfato). Duas destas moléculas C15 então se c o m b i n a m para O colesterol é esterificado em ácido graxo para formar u m éster
produzir o p r o d u t o final d o segundo estágio, esqualeno, u m de colesteril por meio de duas enzimas diferentes. Na célula, o
hidrocarboneto aciclico de 30 carbonos. O segundo estágio é excesso de colesterol é esterificado por acilcolesterol aciltransfe-
importante porque contém a etapa que envolve a enzima micros- rase (ACAT), que ajuda a reduzir a citotoxi cidade d o excesso de
sômica H M G - C o A redutase, que é a enzima limitadora de velo- colesterol livre. U m a vez esterificados, os ésteres de colesteril são
cidade na biossíntese de colesterol e é inibida pelos fármacos d o armazenados nas gotas lipídicas intracelulares. A esterificação do
tipo estatinas. A enzima que forma farnesil pirofosfato, geranil colesterol pela A C A T (Figura 23-5) envolve a ativação d e p e n d e n t e
transferase, é u m i m p o r t a n t e segundo sítio de regulação (Figura de energia de u m ácido graxo com tiocoenzima A (CoASH) para
23-3) porque a inibição neste p o n t o permite a formação de iso- formar u m acil-CoA, que por sua vez reage com o grupo hidroxil
prenóides intermediários fisiologicamente importantes na ausên- n o colesterol para formar u m éster.
cia de síntese de colesterol. O terceiro estágio (Figura 23-4) ocorre Os ésteres de colesteril t a m b é m são formados na circulação
n o retículo endoplasmático, com muitos dos produtos interme- pela ação da lecitina colesterol aciltransferase (LCAT) n o coleste-
diários sendo ligados a u m a proteína carreadora especifica. O rol nas lipoproteínas, particularmente nas lipoproteínas de alta
esqualeno é inicialmente oxidado e depois passa por ciclização densidade (HDL). A reação da L C A T não requer C o A S H . Ela
para formar o intermediário de 4 anéis e 30 carbonos, o lancs- resulta de transferência de ácido graxo da posição do segundo
terol. Em u m a série de reações de oxidação-descarboxilação, inú- carbono da lecitina (fosfatidilcolina) em colesterol (Figura 23-5).
416 PARTE IV Analitos

Estdgio 3 O s ésteres de colesteril são responsáveis p o r cerca d e 7 0 % d o


colesterol total n o p l a s m a , e a L C A T é responsável pela f o r m a ç ã o

í
d a m a i o r p a r t e d o s ésteres de colesteril n o p l a s m a . A L C A T é
Esqualeno epoxidase secretada p e l o fígado na circulação e é ativada pela a p o l i p o p r o -
t e í n a A-I, a principal p r o t e í n a n o H D L . Q u a n d o o colesterol é
es ter ifiçado, ele p e r d e seu g r u p o h i d r o x i l livre e torna-se m u i t o
NADPH
mais h i d r o f ó b i c o , e vai d a s u p e r f í c i e das partículas d a l i p o p i o t e i n a
Esqualeno
para o centro hidrofóbico.

Catabolismo do Colesterol
Exceto p a r a células e n d ó c r i n a s especializadas q u e u s a m colesterol
'' I Esqualeno epóxido para a síntese de h o r m ô n i o s esteróides, a maioTia das células
periféricas a p r e s e n t a c a p a c i d a d e l i m i t a d a de catabolizar m a i s
colesterol. O s ésteres de colesteril são h i d r o l i s a d o s e m colesterol
livre p o r m e i o d e várias lípases e m t o d a s as células, mas, e m
seguida, o colesterol t e m q u e r e t o r n a r p a r a o f í g a d o para passar
p o r q u a l q u e r c a t a b o l i s m o posterior. A p r o x i m a d a m e n t e u m teTço
d a p r o d u ç ã o diária de colesterol, ou cerca de 4 0 0 m g / d i a , é
c o n v e r t i d a n o fígado e m ácidos biliares (Figura 23-6). C e r c a de
9 0 % d o s ácidos biliares são r e a b s o r v i d o s n o terço i n f e r i o r d o íleo
e são s u b s e q ü e n t e m e n t e r e t o r n a d o s para o fígado pela circulação
110
X êntero-hepática. O s á c i d a s biliares q u e e n t r a m n o i n t e s t i n o
Lnnoesterol
grosso são p a r c i a l m e n t e d e s c o n j u g a d o s pelas enzimas b a c t e r i a n a s
e m ácidos biliares s e c u n d á r i o s . O ácido cólico é c o n v e r t i d o , p o r
e x e m p l o , e m ácido desoxicólico, e o á c i d o q u e n o d e s o x i c ó l i c o é
c o n v e r t i d o e m á c i d o litocólico.
Zimosterol N e m t o d o o colesterol d i s t r i b u í d o para o f í g a d o é c o n v e r t i d o
e m sais biliares. G r a n d e p a r t e dele é n o v a m e n t e secretada n a
circulação e m lipoproteínas, e o restante é d i r e t a m e n t e excretado
na bile s e m alterações, o n d e é solubilizado e m micelas mistas
pelos ácidos biliares e fosfolipídios. Q u a n d o a q u a n t i d a d e de
colesterol n a bile excede a c a p a c i d a d e destes agentes solubilizan-
tes, é possível q u e o colesterol precipite e f o r m e cálculos biliares
de colesterol.

HO Á c i d o s Graxos
R C O O H é a f ó r m u l a q u í m i c a geral p a r a u m á c i d o graxo, o n d e
"R" é u m a cadeia alquil. O s c o m p r i m e n t o s d e cadeia d e á c i d o
graxo v a r i a m e c o m u m e n t e são classificados c o m o ácidos graxos
de cadeia c u r t a {2 a 4 á t o m o s d e c a r b o n o ) , cadeias m é d i a s (6 a
10 á t o m o s d e c a r b o n o ) ou cadeias longas (12 a 2 6 á t o m o s d e
Colesterol c a r b o n o ) . A q u e l e s ' q u e são i m p o r t a n t e s n a n u t r i ç ã o e m e t a b o -
lismo h u m a n o s são a classe de cadeia longa q u e c o n t é m u m
Figura 2 3 - 4 Biossíntese de colesterol (estágio 3). n ú m e r o p a r de á t o m o s d e c a r b o n o .
O s ácidos graxos t a m b é m são classificados de a c o r d o c o m seu
grau d e saturação. O s ácidos graxos s a t u r a d o s n ã o t ê m ligações
duplas ( C = C ) e n t r e seus á t o m o s de c a r b o n o ; os ácidos graxos
m o n o i n s a t u r a d o s c o n t ê m u m a ligação d u p l a ; e os ácidos graxos
IntTdcetul/XT p o l i i n s a t u r a d o s c o n t ê m múltiplas ligações d u p l a s (Figura 23-7).
Acido graxa + CoASH As ligações duplas n o s ácidos graxos p o l i i n s a t u r a d o s e m geral t ê m
Aat-CoA 5Í7itfitase *• Acil-CoA
u m intervalo d e três á t o m o s d e c a r b o n o . O s ácidos graxos d e
ATP ppi + A M P
peixes m a r i n h o s q u e m o r a m e m águas frias e p r o f u n d a s , c o m o o
salmão, p o s s u e m até seis ligações d u p l a s i n s a t u r a d a s e e m geral
ACAT +
t ê m mais de 20 á t o m o s de c a r b o n o de c o m p r i m e n t o . O s ácidos
Acil-CoA + colesterol Éster de colesterol CoASH
graxos i n s a t u r a d o s são mais p r o p e n s o s à oxidação pela reação
não-enzimática de oxigênio c o m suas ligações duplas. A m a r c a ç ã o
íntravascukn dos á t o m o s de c a r b o n o nos ácidos graxos começa n a e x t r e m i d a d e
Lecitina + colesterol —
LCAT
-—*- Éster de colesterol + lisolecitína d o carboxil t e r m i n a l (sistema d e n u m e r a ç ã o A) o u n a e x t r e m i d a d e
metil t e r m i n a l (sistema de n u m e r a ç ã o r\ o u td; Tabela 23-1). A l é m
Figura 2 3 - 5 Esterificação intracelular e intravascular de colesterol disto, os á t o m o s de c a r b o n o p o d e m ser m a r c a d o s c o m símbolos
mediada por A C A T e LCAT, respectivamente.
gregos, s e n d o q u e a é a d j a c e n t e ao g r u p o carboxil e ra é o m a i s
distante. N o sistema A, os ácidos graxos são abreviados d e a c o r d o
c o m o: (1) n ú m e r o de á t o m o s d e c a r b o n o , (2) n ú m e r o d e ligações
d u p l a s e (3) posição(ões) da(s) ligação(ões) dupla(s). Por exemplo,
Lipídios, Lípoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 417

Colesterol
n/
Fígado
X.
J
H l / v
7CL-h,idwxil(ise

Ti
C
j"
HO" ^ OH

/ 7 a-hidroxi coles te rol

OH
r coou
i r i
]
COO II

;jc
>
Ácidos
f " biliares
HO' OH HO OTT primários
ii
. Ácido
Ácido cólico
Glicina i Taurina Glicina quenodesoxi cólico Taurina
r r i
Acido Acido Acido Ácido
glicocólico taurocólico glicoquenodesoxicólico tauroquenodesoxicólico

intestino Transformação
bacteriana
{desconjugação e

L Xi
OH
7a-desidroxilacão)
COOH OOH

:r
JC
Ácidos

ir
biliares
secundários

110' HO'
H
Acido desoxicólico Acido litocólíco

Circulação enteropática Fezes

Figura 23-6 Síntese de ácido biliar.

H H H H o ácido linoléico seria escrito c o m o Cie:2 9 , n e c o n t é m 18 c a r b o n o s

h n
4 4 4 - c - e duas ligações i n s a t u r a d a s e n t r e os c a r b o n o s 9 e 10 e os c a r b o n o s
12 e 13. U s a n d o o sistema r| ou to, o ácido linoléico seria abre-
Saturado viado c o m o Cig:2n-6, o n d e a p e n a s o p r i m e i r o c a r b o n o que f o r m a
o p a r i n s a t u r a d o é escrito. A classificação d e Genebra ou sistemá-
tica, q u e se baseia e m seus n o m e s químicos, é u m terceiro sistema
H H H H de n o m e n c l a t u r a c o m u m para ácidos graxos (Tabela 23-1).
- A ^ U - A - N o s ácidos graxos s a t u r a d o s , a cadeia é e s t e n d i d a é flexível;
os á t o m o s de c a r b o n o s o f r e m r o t a ç ã o l i v r e m e n t e ao r e d o r de seu
A A eixo l o n g i t u d i n a l . O s ácidos graxos i n s a t u r a d o s , c o n t u d o , apre-
M o n o insaturado
s e n t a m d o b r a s rígidas d e 30° e m suas cadeias e m cada ligação
d u p l a . D e p e n d e n d o d o p l a n o n o qual esta d o b r a ocorre, o
í s ô m e r o eis ou t-mns é p r o d u z i d o . N o s m a m í f e r o s , todos os ácidos
H H H H H
graxos i n s a t u r a d o s d e o c o r r ê n c i a n a t u r a l são da v a r i e d a d e eis. O s
T ácidos graxos trans r e s u l t a m de h i d r o g e n a ç ã o catalítica n a qual
H as ligações d u p l a s i n s a t u r a d a s são q u i m i c a m e n t e reduzidas para
Poliinsaturado elevar seu p o n t o de f u s ã o , Este processo é u s a d o para " e n d u r e c e r "
ou solidificar g o r d u r a s n a fabricação de d e t e r m i n a d o s a l i m e n t o s ,
Figura 2 3 - 7 Ácidos graxos saturados e insaturados.
como a margarina.
418 PARTE IV Analitos

TABELA 23-1 Ácidos Graxos C o m u m e n t e Encontrados no Tecido H u m a n o


Nome Comum Nome Sistemático A-Numeração n-(co) Numeração
Láurico Dodecanóíco 12:0 12:0
Mirístico Tetradecanóico 14:0 14:0
Palmítico Hexadecanóico 16:0 16:0
Palmitoléico 9-Hexadecenóicc 16:1 9 16:1 n-7
Esteárico Gctadecanóico 18:0 18:0
Oleico 9-Qctadecenáico 18:1 9 18:1 n-9
Linoléico* 9,12-Octadecadienóico 18:2 912 18:2n-6
Linolênico* 9,12,15-Octadecairienóico 18:39.12,:s 18:3n-3
flraquídico Eicosanóico 20:0 20:0
Araquidônico 5,8,11,14-Eicosatetraenóico 2O : 45Í.".« 20:4n-6

"Ácidas graics essenciais.

A m a i o r i a das g o r d u r a s n o c o r p o h u m a n o é d e r i v a d a d a f o r m a r e l a t i v a m e n t e e f i c i e n t e de a r m a z e n a m e n t o de energia
dieta, q u e e m m é d i a c o n t é m até 4 0 % de g o r d u r a , 9 0 % d o s quais metabólica- A l é m disto, o a r m a z e n a m e n t o de energia pelos trigli-
são triglicerídeos. A l é m disso, os seres h u m a n o s são capazes d e cerídeos t a m b é m é eficiente e m t e r m o s d e espaço p o r q u e ele n ã o
sintetizar a m a i o r i a d o s ácidos graxos. E n t r e t a n t o , eles são inca- r e q u e r q u a l q u e r q u a n t i d a d e d e água p a r a h i d r a t a ç ã o , diferente-
pazes de sintetizar alguns ácidos graxos, c o m o o ácido linoléico m e n t e d o s carboidratos.
(C 1 8 :2 9 n ) , q u e é e n c o n t r a d o a p e n a s n a s p l a n t a s . Pelo f a t o d e ser
essencial p a r a a s a ú d e , c r e s c i m e n t o e d e s e n v o l v i m e n t o , é c h a m a d o Formação de Cetona
de á c i d o graxo essencial. O ácido linoléico é c o n v e r t i d o e m ácido D u r a n t e privação d e a l i m e n t o s p r o l o n g a d a ou q u a n d o o meta-
a r a q u i d ô n i c o , q u e é u m p r e c u r s o r p a r a a síntese d e prostaglan- b o l i s m o d e c a r b o i d r a t o s é d e f i c i e n t e , c o m o n o diabetes mellitus
d i n a e t a m b é m é i m p o r t a n t e n a mielinização d o sistema n e r v o s o d e s c o m p e n s a d o , a f o r m a ç ã o d e acetil-CoA excede o s u p r i m e n t o
central. de oxaloacetato. A a b u n d â n c i a de acetil-CoA resulta d e mobili-
O s ácidos graxos existem n a circulação e m e s t a d o n ã o esteri- zação excessiva de ácidos graxos d o tecido a d i p o s o e d e g r a d a ç ã o
f i c a d o o u livre, este ú l t i m o p r i n c i p a l m e n t e ligado à a l b u m i n a , ou excessiva d o s ácidos graxos p o i (3-oxidação n o fígado. O excesso
e m várias formas esterificadas, c o m o os triglicerídeos, fosfolipí- de acetil-CoA r e s u l t a n t e é desviado p a r a u m a via alternativa n a
d i o s o u ésteres d e colesteril. O g r u p o carboxil d o ácido graxo livre m i t o c ô n d r i a para a f o r m a ç ã o de: (1) ácido acetoacético, (2) ácido
t e m u m p K a de a p r o x i m a d a m e n t e 4,8; assim, as m o l é c u l a s de P-hidroxibutírico e (3) a c e t o n a , os três c o m p o s t o s c o n h e c i d o s
ácido graxo livre existem p r i n c i p a l m e n t e e m suas f o r m a s ioniza- c o l e t i v a m e n t e c o m o corpos cetônicos (Figura 23-9). A cetose, por-
das. A c o n c e n t r a ç ã o n o r m a l de ácidos graxos livres n o p l a s m a t a n t o , desenvolve-se a paTtir d e p r o d u ç ã o excessiva d e acetil-CoA,
h u m a n o é d e 0 , 3 a 1,1 m m o l / L (8 a 31 m g / d L ) . O f l u x o de ácidos à m e d i d a q u e o c o r p o t e n t a o b t e r energia necessária d a g o r d u r a
graxos livres através d o p l a s m a é considerável e sensível às d e m a n - a r m a z e n a d a n a a u s ê n c i a de u m s u p r i m e n t o a d e q u a d o de meta-
das fisiológicas d e energia e à d i s p o n i b i l i d a d e d e f o r m a s alterna- bólitos d e c a r b o i d r a t o ( C a p i t u l o 23). T o d o o processo d a cetose
tivas de c o m b u s t í v e l m e t a b ó l i c o , c o m o a glicose. é revertido por m e i o d a r e s t a u r a ç ã o de u m a c o n c e n t r a ç ã o ade-
q u a d a de c a r b o i d r a t o s . E m casos de privação d e a l i m e n t o s , a
Catabolismo do Ácido Graxo r e s t a u r a ç ã o consiste e m ingestão a d e q u a d a de c a r b o i d r a t o s . N o
O s ácidos graxos são catabolizados p o r oxidação e n z i m á t i c a n a diabetes mellitus, a cetose é revertida pela a d m i n i s t r a ç ã o de insu-
m i t o c ô n d r i a e p r o d u z e m energia p o r m e i o de u m a série de lina, q u e p e r m i t e q u e a glicose circulante n o s a n g u e seja c a p t a d a
reações c o n h e c i d a s c o m o fi-oxidação. Este processo t r a b a l h a repe- pelas células. U m a vez r e s t a u r a d o o e s t a d o m e t a b ó l i c o n o r m a l , a
t i d a m e n t e e e n c u r t a a cadeia de ácido graxo em dois á t o m o s de liberação de ácidos graxos a p a r t i r d e tecido a d i p o s o é s u p r i m i d a
c a r b o n o d e cada vez a partir da e x t r e m i d a d e c a r b o x i t e r m i n a i da e a p r o d u ç ã o r e t o m a d a de o x a l o a c e t a t o possibilita q u e ele seja
m o l é c u l a . Por e x e m p l o , u m m o l de ácido p a l m í t i c o (Cus) é con- c o n j u g a d o c o m acetil-CoA, q u e inibe f o r m a ç ã o posterior d e
v e r t i d o e m oito m o l e s de acetil-CoA. O acetil-CoA n o r m a l m e n t e c e t o n a (Figura 23-8).
n ã o a c u m u l a n a célula, m a s é c o n d e n s a d o e n z i m a t i c a m e n t e c o m
oxaloacetato, d e r i v a d o p r i n c i p a l m e n t e d o m e t a b o l i s m o d e car- Acilgliceróis (Ésteres d e Glicerol)
b o i d r a t o (Figura 23-8), p a r a p r o d u z i r citrato, u m c o m p o n e n t e O glicerol é u m álcool c o m três c a r b o n o s q u e c o n t é m u m g r u p o
p r i n c i p a l d o ciclo d o ácido tricarboxílico (ciclo de Krebs). O ciclo h i d r o x i l e m cada u m de seus á t o m o s de c a r b o n o . Q u i m i c a m e n t e ,
de Ktehs é u m a via c o m u m para a oxidação f i n a l d e q u a s e t o d o s é possível esterificar cada g r u p o hidroxil c o m u m ácido graxo
os combustíveis m e t a b ó l i c o s , i n d e p e n d e n t e de ser d e r i v a d o de (Figura 23-10). O s dois á t o m o s d e c a r b o n o t e r m i n a i s n a m o l é c u l a
c a r b o i d r a t o , g o r d u r a o u p r o t e í n a , e f i n a l m e n t e resulta n a p r o d u - d e glicerol são q u i m i c a m e n t e e q u i v a l e n t e s e d e s i g n a d o s c o m o a.
ção d e a d e n o s í n a trifosfato (ATP), a p r i n c i p a l m o l é c u l a de a r m a - e a 1 . O c a r b o n o c e n t r a l é c h a m a d o de (3. U m sistema de marca-
zenamento de energia n o corpo. O catabolismo completo do ção alternativo c o m u m usa o n u m e r a i 1 p a r a o a - c a r b o n o , 2 p a r a
ácido palmítico, p o r e x e m p l o , p r o d u z 16 m o l e s de CO2, 16 m o l e s p - c a r b o n o e 3 para o a ' - c a r b o n o . A classe d e acilglicerol é deter-
de H j O e 129 m o l e s d e A T P (2.340 calorias). A q u a n t i d a d e de m i n a d a pelo n ú m e r o de g r u p o s acil graxos presente: (1) u m ácido
energia p r o d u z i d a p e l o c a t a b o l i s m o d e 1 m o l de ácido p a l m í t i c o graxo, monoacilgliceróis (monoglicerídeos); (2) dois ácidos graxos,
(16 á t o m o s d e c a r b o n o ) é de a p r o x i m a d a m e n t e duas vezes a diacilgliceTÓis (diglicerídeos); e (3) três ácidos gTaxos, triacilglice-
p r o d u z i d a pelo c a t a b o l i s m o de u m a q u a n t i d a d e e q u i v a l e n t e (2,5 róis (triglicerídeos). E m u m monoacilglicerol, o ácido graxo p o d e
mol) d e glicose (6 á t o m o s d e c a r b o n o p o r molécula). O s triglice- ser ligado a q u a l q u e r d o s três á t o m o s de c a r b o n o . Por exemplo,
rídeos c o n t ê m três m o l é c u l a s d e ácido graxo e são, p o r t a n t o , u m a 1 - m o n o g l i c e r i d e o i n d i c a q u e u m ácido graxo está f i x a d o ao a -
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 419

Deficiência de insulina

Glicose I C i l i i ;*>*'
intracelular sílica

a-glicernifirwíiro Fo&íaticiuoe Glicet(d«x*>

Derivado* de acil-CoA dc cadeia longa Á c í d ios graxos


R—CH,-CK,-CHÍ-CO—SCoA
Pn:tciiu riruvato de fcdibenol
\
R — C L L J — C H ^ C H — C O — S < :» A
K'—eu.>-cc> SCoA
AJanina Piruvato Tjkíato
•HvO

CvAStl OH
V K -CHj-CH Cl li t:0—SCoA
Acecil-CoA • — —
\ o
NADPI: ri
\ \ R Cll, C-CHj-CO—SCnA £i

v
X*DP

Aceto*ic?ti l CoA (^hidruxi-|J-inctilglutaril-CoA


Ácidos graxos CO.
v-> Piocdna

l
Atctoaiviato ÀCClOlldL
Aspartato Oxaloacenatio
.vVXHilluUratO C HutaitlltiU

P-taidroxibutiratc
PfiHelna t:0,

Figura 2 3 - 6 Relações metabólicas entre intermediários d o metabolismo do carboidrato, gordura e proteína.


Observar q u e o acetil-CoA é produzido a partir de carboidratos e gordura. O s aminoácidos glicogênicos,
derivados do metabolismo da proteína, e n t r a m nas vias glicolíticas como oc-acetoácidos. Os aminoácidos
cetogênLcos e n t r a m c o m o acetil-CoA.

carbono. Este sistema de numeraçao aplica-se a todos os ac ilgli- periféricas após serem hidrolisados em ácidos graxos pelas
ceróis, incluindo os fosfoglicerídeos (Figura 23-11). lípases.
Os triglicerídeos constituem 9 5 % da gordura de armazena- O u t r a classe importante de acilgliceróis é aquela que contém
m e n t o no tecido e são a forma predominante de ésteres de glice- ácido fosfórico n o terceiro á t o m o de carbono (a 1 ), os chamados
ril encontrados n o plasma. Os resíduos de ácido graxo encontra- fosfoglicerídeos (Figura 23-11). Em sua forma mais simples, o grupo
dos em: (1) monoglicetídeos, (2) diglicerídeos ou (3) triglicerídeos A é u m á t o m o de hidrogênio e a molécula é chamada de diacil-
variam consideravelmente e, geralmente, incluem combinações fosfoglicerídeo. Em geral, o grupo A é alguma forma de álcool,
diferentes d e ácidos graxos de cadeia longa (Tabela 23-1). Em como: (1) colina, (2) serina, (3) inositol ou (4) etanolamina. Se o
geral, os triglicerídeos de oTigem vegetal, como o milho, girassol grupo A for colina, por exemplo, a molécula é chamada de fosfa-
e cártamo t e n d e m a ser enriquecidos nos ácidos graxos insatura- Lidiicolirm (lecitina). Se for etanolamina, a molécula é chamada de
fosfatidiletanolamina. C o m o os tipos de resíduos de ácido graxo
dos, como O C ] 8 :2 OU ácido linoléico e são óleos líquidos em
R.! e R 2 são variados, inúmeros tipos de fosfolipídios são forma-
temperatura ambiente. Os triglicerídeos de animais, especial-
dos. Estes fosfoglicerídeos são nomeados de acordo com os ésteres
mente os ruminantes, tendem a ter ácidos saturados, que variam
acil d o ácido graxo fixados e m C - l e C-2 d o glicerol. Os ácidos
de C 1 2 :0 até C ] 8 :0 e são sólidos em temperatura ambiente.
graxos saturados são tipicamente esterificados para a posição C-l,
Os triglicerídeos dietéticos são digeridos n o d u o d e n o e absor-
e n q u a n t o os ácidos graxos poliinsaturados f r e q ü e n t e m e n t e são
vidos no íleo proximal. Através da ação das lípases pancreáticas
fixados na posição C-2. Nas membranas mitocondriais internas,
e intestinais e na presença de ácidos biliares, eles são primeira-
encontram-se os fosfoglicerídeos mais complexos, conhecidos
mente hidrolisados em glicerol, monoglicerideos e ácidos graxos.
como cardiolifiiTias. Eles são derivados de duas moléculas de fos-
Após absorção, estes componentes dos triglicerídeos são nova-
foglicerídeos unidos por u m a p o n t e de glicerol.
mente reunidos como triglicerídeos nas células epiteliais intesti-
nais e, então, são acondicionados com o colesterol e apo B-48 Esfingolipídios
para f o r m a r quilomíerons. O s quilomíerons são secretados n o Os esfingolipídios são a q u a r t a classe de lipídios encontrada em
sistema linfático e subseqüentemente atingem a circulação. Os seres h u m a n o s e são derivadas do aminoálcool esfingosina (Figura
triglicerídeos são o combustível metabólico principal carregado 23-12). Este álcool diídrico c o m 18 carbonos contém u m grupo
pelos quilomíerons e são distribuídos para o fígado e células a m i n o em C-17. U m ácido graxo que contém 18 o u mais átomos
420 PARTE IV Analitos

á H2C-0 — R,
CoA
1-Monoglicerídeo HO—C^H
Acetil-CoA
H,D:—OH

"XoA
O H.C-OH
R c 0-11
CoASH 2-Monoglicerídeo 2— —
O v 0
H,^—OH
o

U
ÍH2 j]
COASH H ,C^ x
CoA O ^ C H 3
H,C—C—OH
O H2C^O— ü— Rj
í (!:H,
1,2-Diglicerídeo R3-IU-AH
O^^CúA H3D;—OH

|3'hidroxi- Ace to a ce t i 1-C oA


p-metilglutaril-CoA
H2C—O—<ü—R]

1,3-Diglicerídeo ho—ÍH O
O
H
h 3 Í ^ O _ Ü _ R ,
HnC^^CoA

O H2C—O—ü—R,
P-hidroxibutirato
desidrogenase
°s Jp Triglicerideo R 2 —C—O—CH o
fc
"-Ç
(no fígado) I
—O—C—R3
Íh2 CH^
A
'
NADH + H
_
NAD
© í Figura 2 3 - 1 0 Estrutura e classificação de ésteres de glicerol
o ^ ^CH3
(acilgliceróis). R], R z e R3 são ácido(s) graxo(s) de comprimentos de
Acetoacetato cadeia variados.
p-hidroxibutirato

Espontâneo Ácido fosfatídico


O HJC-O—U—RJ A = —H
R2—^—"O—<^H O
Fosfatidiletanolamina*
Acetona H 2 (Í:—o——o—a ©
A = CH2CH2NH3
ÍQ
F i g u r a 2 3 - 9 Formação d e corpos cetônicos.
Fosfatidilcolina (lecitina) @
A - —CH 2 CH 2 N(CH 3 ) 3

de carbono é fixado ao grupo a m i n o através de u m a ligação de Fosfatidilserina* ®


a m i d o pata formar CÉramida. Esta é u m a estrutura intermediária A = —CH 2 CHNH 3
na formação de: (1) esfingomielina, (2) galactosilceramida e (3) COO®
glicosilceramida (Figura 23-12). Além disso, as ceramidas que OH OH
contêm açúcar t a m b é m têm u m grupo sulfato fixado e m geral à Fosfatidilinositol
posição 2 d o resíduo de galactose para formar os sulfatídeos. As A =
glicosilceramidas t a m b é m têm porções adicionais de monossaca-
rídeos, como: (1) galactose, (2) N-acetilgalactosamina e (3) ácido * C o m u m e n t e conhecidos c o m o cefahnas.
N-acetilneuraminico, para formar globosídeos e gangliosídeos
complexos- Os gangliosídeos são especialmente abundantes nas Figura 23-11 Estruturas de fosfoglicerídeos e grupos álcool comuns
membranas da substância cinzenta do cérebro, e n q u a n t o os gli- associados a eles. R j e R 2 são ácidos graxos de comprimentos de átomo
cosfingolipídios têm u m papel mais geral nas interações celulares de carbono variáveis.
e são t a m b é m antígenos de grupo sanguíneo e tumores.

Prostaglandinas precursor recebeu o n o m e trivial de ácido fjrosttmóico. Por conven-


As prostaglandinas e compostos relacionados são derivados de ção, as prostaglandinas são abreviadas como PG, com a classe
ácidos graxos, principalmente araquidonato. Os tromboxanos, designada par u m a letra maiúscula (A, B, E, F, G, H e I), seguida
alguns derivados de hidroperoxi- e hidroxil-ácido graxo e leuco- de u m n ú m e r o e, em alguns casos, u m a letra grega (Figura 23-13).
trienos são todos quimicamente relacionados às prostaglandinas. C o m exceção da P G G e P G H , que têm a mesma estrutura em
Estes lipídios bioativos exercem ações fisiológicas diversas (Tabela anel (endoperóxido de ciclopentano) e são intermediárias na
23-2) em concentrações de apenas 1 (Jg/L. formação de outras PG, as letras referem-se a estruturas anelares
As prostaglandinas são u m a série de ácidos graxos insatura- diferentes. O n ú m e r o após a letra maiúscula em geral é subscrito
dos C 2 0 que c o n t ê m u m anel de ciclopentano; o ácido graxa e é usado para designar o n ú m e r o de ligações insaturadas nas
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 421

&f
HO H O O
A
HA—^=C(CH2)L2CH3
L .•
H2N—ÍH
HJA—OH
H

R,
Cl"
Esfingosina PGA PGB

HO H O HO
,Ri
/"X
o H(|:—A=Ç(CH2)|2CH3
R-C-NH-CH

H5C—OH
H
vX R3

Ceramida
IIÕ HÓ
PGE PGF

HO H o
I ^.^OH
O
R-Ü-NH-AH
HC—C=CH(CH2)|3CH3
o
J
©
H2C—O—P—O—CH^CH2N(CH3)3
ó©
•R.
Esfingomielma O •"/"•-•

HO H
HA—C=C(CH2)12CH3
KJG IIO
Q1
R—(!- nh^H A CH5oh Itrll PGI

0
O H
H 2 C—O O !
Figura 2 3 - 1 3 Principais classes de pTostaglandinas (séries). Ri e R3
são cadeias laterais de prostaglandinas.
1
OK
Galactosilceramida

TABELA 2 3 - 3 PTostaglandinas de Ocorrência Natural (PG)


HO H
PG Primária Outras PG
O HC—A —C(CH 2 )NCH 5
PGE1 PGA
Í-Ü-NH-AH H CH3 OH
PGF1A PGA?
H2C—O O ^ PGÈ2 19 A -0HPGA
'/I PGF!Q 19A-0HPGA;
'ÒH PGG, PGBT
Lin PGH2 PGB2
Glicosilceramida PGÍ2 19A-GHPGB 2
Trcmboxano Aa PGE3
Figura 2 3 - 1 2 Estruturas dos esfingolipídios. Tromhoxano B2 PGF3TT

TABELA 2 3 - 2 Efeitos Mediados pela Prostaglandina


Local de Ação Resposta Fisiológica sete, j u n t a m e n t e c o m dois t r o m b o x a n o s , são c o m u m e n t e e n c o n -
t r a d a s e m t o d o o c o r p o . Estas são c h a m a d a s de prostaglandinas
Músculo liso arterial Altera pressão arterial
primárias.
Músculo uterino Induz 0 parto, aborto terapêutico
E m b o r a as p r o s t a g l a n d i n a s p a r e ç a m s e m e l h a n t e s a h o r m ô -
Trato gastrointestinal inferior Aumenta motilidade
n i o s n a ação, elas são diferentes d o s h o r m ô n i o s c o n v e n c i o n a i s
Músculo liso brônquico Broncospasmo
Plaquetas Aumenta a coagulação
p o i s são sintetizadas n o local de ação e são p r o d u z i d a s e m quase
Capilares Aumenta permeabilidade t o d o s os tecidos. O ácido linoléico (Cig:2 9,13 ) é p r e c u r s o r de dois
Estômago Aumenta secreção do ácido gástrico d o s três ácidos graxos c o m 20 c a r b o n o s q u e f o r m a m as prosta-
Tecido adiposo Inibe lipólise de triglicerídeos g l a n d i n a s ; o ácido l i n o l ê n i c o (Cia:2 9 , n 1 5 ) é o u t r o p r e c u r s o r . Estes
ácidos graxos são c o n s i d e r a d o s essenciais p o r q u e n ã o são sinteti-
zados n o c o r p o e p o r t a n t o t ê m de estar presentes n a dieta. O s
cadeias laterais de P G , e n ã o d e n t r o d a e s t r u t u r a a n e l a r e m si. O t r ê s ácidos graxos C 2 o f o r m a d o s e m seguida são: (1) C 2 o:3 s , a , n
uso d a letra grega ( a o u p) aplica-se a p e n a s às séries F e refere-se (ácido eícosatrienóico), (2) C 2 0 : 4 ^ 1 , , M (eicosatetraenóico o u ácido
ao g r u p o hidroxil e n c o n t r a d o e m C-9. N a série a , o g r u p o hidro- a r a q u i d ô n i c o ) e (3) C 20 ;5 8,11,14,11 (ácido e i c o s a p e n t a e n ó i c o ) . Estes
xil projeta-se abaixo d o p l a n o d o anel n a m e s m a direção q u e o três ácidos graxos f o r m a m as séries PG], P G 2 e P G 3 , respectiva-
g r u p o h i d r o x i l G i l , e n q u a n t o a série P d e n o t a que o h i d r o x i l m e n t e . U m a vez f o r m a d a s , as p r o s t a g l a n d i n a s a p r e s e n t a m efeitos
e m G 9 está a c i m a d o p l a n o d o anel. Dezesseis p r o s t a g l a n d i n a s d e c u r t a d u r a ç ã o e são catabolizadas e m u m p e r í o d o d e s e g u n d o s .
d e o c o r r ê n c i a n a t u r a l f o r a m descritas (Tabela 23-3), m a s a p e n a s A inativação da p r o s t a g l a n d i n a parece ser m e d i a d a p o r d u a s
422 PARTE IV Analitos

enzimas, 15 tt-h idroxi-prostaglandina desidrogenase e A 13 -prosta- é responsável pela inibição da agregação plaquetária. O trombo-
glandina redutase. As prostaglandinas não são armazenadas. xano A2 é sintetizado a partir d o ácido araquidônico, mas t a m b é m
Entretanto, os ácidos graxos precursores C 2 0 estão presentes n o é produzido pelas plaquetas. Ele tem o efeito oposto da prostaci-
tecido, fixados à posição C-2 dos fosfoglicerídeos. Q u a n d o a clina porque estimula a contração do músculo liso arterial e
síntese de prostaglandina é estimulada, o precusor C 2 0 é hidroli- aumenta a agregação plaquetária. Ele tem u m a meia-vida de cerca
sado dos fosfolipídios pela fosfolípase A 2 . A liberação do ácido de 30 segundos e é rapidamente convertido em seu metabólito
graxo C-70 parece ser a etapa limitante da velocidade na síntese inativo, tromboxano B 2 . OS tromboxanos são ligeiramente dife-
de prostaglandina e é estimulada por vários mediadores, como a rentes em estrutura de outras prostaglandinas, pois contêm anéis
bradicmma, trombinas ou angiotcnsina II. de seis lados de cinco átomos de carbono e u m á t o m o de oxigê-
Embora seja provável que todas as prostaglandinas sigam u m a nio (Figura 23-15).
via sintética semelhante, C 2 0 :4 (ácido araquidônico) foi o mais
intensivamente estudado e é usado para ilustrar a via geral (Figura Terpenos
23-14). U m a vez liberado, o ácido araquidônico acompanha uma Os terpenos são polímeros da u n i d a d e de isopreno com cinco
de duas vias. A via da lipooxigenase produz o ácido 12-L-hidrope- carbonos e incluem vitaminas A, E e K (Capítulo 27) e os doli-
roxi-5,8,10,14 eicosatetraenóico (HPETE); o H P E T E espontanea- cóis, que desempenham u m papel importante na glicosilação da
mente decompõe-se em ácido 12-L-hidroxi-5,8,10,14 eicosatetrae- proteína.
nóico (HETE). A via alternativa é mediada pela ciclooxigenase
(COX) para produzir os endoperóxidos P G G 2 e P G H 2 . O que UPOPROTEÍNAS
controla a entrada em u m a via específica continua sendo especu- Os lipídios sintetizados n o fígado e intestino são transportados
lação; entretanto, sabe-se que os fármacos antunflamatórios não- n o plasma nos complexos macromoleculares conhecidos como
esteroidais ((NSAIDs): ácido acetilsalicílico, ibuprofeno e indo- lipoproteínas.
metacina] inibem as enzimas COX, reduzindo assim a síntese de
prostaglandina. COX-1 e COX-2 são duas isofotmas de COX. Química
COX-1 é constitutivamente expresso nas células, e n q u a n t o COX- As lipoproteínas são partículas tipicamente esféricas com lipídios
2 é sintetizado em resposta a inflamação. Os fármacos que são neutros não polares (triglicerídeos e ésteres de colesterol) em seu
específicos para COX-2 foram desenvolvidos para reduzir os núcleo e lipídios anfipáticos mais polares (fosfolipídios e coleste-
efeitos colaterais nefrogênicos e ulcerogênicos da inibição de rol livre) na sua superfície (Figura 23-16). 5 Eles t a m b é m contêm
COX-1, mas o uso prolongado destes fármacos recentemente foi u m a ou mais proteínas específicas, chamadas apolipoproteínas,
associado a a u m e n t o da incidência de infarto do miocárdio, o em suas superfícies. A associação dos lipídios d o núcleo com o
que p o d e limitar sua utilidade clínica. fosfolipídio e apolipoproteínas é não-covalente, ocorrendo prima-
P G I 2 J O U prostaciclina, é derivada do ácido araquidônico
riamente através da ligação do hidrogênio e forças de van der
(Figura 23-13) n o endotélio vascular. Ela tem u m a ação vasodila- Waals. A ligação dos lipídios às apolipoproteínas é fraca e possi-
tadora potente, especialmente nas artérias coronárias, e t a m b é m bilita a troca de lipídios e apolipoproteínas entre as lipoproteínas
plasmáticas e entre as membranas celulares e lipoproteínas. A
ligação da Iipoproteína é suficientemente forte, contudo, para
Fosfoglicerídeo com grupo C2Ü: 4 no segundo carbono possibilitar que as várias classes de lipoproteínas sejam isoladas
por u m a variedade de técnicas analíticas.

J-aí/oíipii.íe A?
(aumentada pela angiotemina JI,
Classificação
{jradicinittfl e crornfiína) As lipoproteínas têm propriedades físicas e químicas diferentes
(Tabela 23-4) porque contêm diferentes proporções de lipídios e
proteínas (Tabela 23-5). Tradicionalmente, as lipoproteínas foram
Lisofosfogl icei í deo + ácido araquidônico (C;o4) categorizadas com base nas diferenças em suas densidades hidra-
tadas, como determinado pela ultracentrifugação. Estas catego-
rias incluem: (1) quilomícrons, (2) Iipoproteína de muito baixa
i y fCiclooxiganflse densidade (VLDL), (3) Iipoproteína de densidade intermediária

HPETF. PCrG,
X)H

-Q -
IHill. HHI
ÕH
T r o m b o x a n o A : (TXAj)

X
PGE, PGI. TXA, OH

y
PGF,. TXB. HO' X>
ÕH
Figura 2 3 - 1 4 Síntese d e p r o s t a g l a n d i n a s a partir de p r e c u r s o r T r o m b o x a n o B 2 (TXB 2 )
a r a q u i d ô n i c o . PG, p r o s t a g l a n d i n a ; TX, t r o m b o x a n o ; H P E T E , H E T E ,
H H T 12-L-hidroxi-5,8 ,10-ácido h e p t a d e c a t r i e n ó i c o . Figura 2 3 - 1 5 Estnituras de tromboxanos.
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 423

Apolipoproteina (IDL), (4) lipoproteína de baixa densidade (LDL), (5) lipoprote-


Colesterol
não-esterificado Éster de ína de alta densidade (HDL) e (6) lipoproteína(a) [Lp(a)]. Hm
colesteril
geral, as lipoproteínas maiores contêm mais lipídios, triglicerí-
deos e éster de colesteril d o núcleo, são mais leves em densidade
Fosfolipídlo Triglicerídeos
e contêm u m a porcentagem m e n o r de proteína. N o estado de
jejum, a maior parte dos triglicerídeos plasmáticos está presente
n o VLDL. N o estado pós-prandial, os quilomíerons aparecem
temporariamente e contribuem de maneira significativa para a
concentração de triglicerídeos plasmáticos totais. O LDL carrega
cerca de 7 0 % do colesterol plasmático total, mas muito p o u c o
triglicerídeo (Tabela 23-5) O H D L tipicamente contém cerca de
2 0 % a 30% d o colesterol plasmático.
Lp(a) é u m a classe distinta de lipoproteínas 8 (Tabela 23-5),
que está estruturalmente relacionada com o LDL porque ambas
as lipoproteínas possuem u m a molécula de apo B-100 por partí-
cula e apresentam composições lipídicas semelhantes. Diferente-
m e n t e do LDL, a Lp(a) t a m b é m contém u m a proteína rica em
carboidrato [apo(a)] que é covalentemente ligada a apo B-100
J a S E > - - ^ através de ligação dissulfídica. A apo(a) exibe u m a homologia de
seqüência significativa com o plasminogênio e u m alto grau de
Figura 2 3 - 1 6 Estrutura de uma partícula de lipoproteína típica. variação n o comprimento da cadeia de polipeptídeo (Figura 23-
17). A apo(a) contém u m a disposição em tandem do motivo de
uma proteína chamada de d o m í n i o krmgíe. Os polimorfismos
de t a m a n h o diferente da apo(a) são causados por u m n ú m e r o
variável de domínios kríngie 4 do tipo 2.

TABELA 2 3 - 4 Características de Lipoproteínas Plasmáticas Humanas


Variável Quilomícron VLDL IDL LDL HDL Lp(a)

Densidade (g/mL) <0,95 0,95-1,006 1,006-1,019 1,019-1,063 1,063-1,21.0 1,040-1,130


Mobilidade eletroforétíca Origem Pré-beta Entre beta e Beta Alia Pré-beta
pré-beta
Peso molecular (Da) 0 , 4 - 3 0 x 10 s 5 - 1 0 x IO 6 3,9-4,8 x 10 6 2,75 x 10 6 1,8-3,6 x 10 5 2,9-3,7 x 10 6
Diâmetro (nm) >70 26-70 22-24 19-23 4-10 26-30
Raíão Lipídio: lipoproteína 99:1 90:10 85:15 80:20 50:50 75:26-64:36
Principais lipídios Triglicerídeos Triglicerídeos Triglicerídeos Ésteres de Foslolipídios Ésteres de
exógenos endógenos endógenos, colesteril colesteril,
ésteres de fosfolipídios
colesteril
Principais proteínas Al B-100 B-100 B-100 A-l (a)
B-48 C-l E A-ll B-100
C-l C-ll —

C-ll C-lll
C-lll E
V L D L , lipofwoteíníls de mui to baixa densidade, I D L , lipoproteínas de densidade intermediária, H D L , iifJOfJTOtemas de alta densidade, Lp(a), lipoproieinã(a).

TABELA 23-5 Composição Química (%) de Lipoproteínas Plastmátícas Humanas Normais


Esteres de lipídios COMPONENTES DA SUPERFÍCIE LIPÍDIOS BO NÚCLEO
do Núcleo Colesterol Fosfolipídios Apolipoproteínas Triglicerídeos Colesterol

Quilomíerons 2 7 2 86 3
VLDL 7 18 8 55 12
I0L 9 19 19 23 29
LDL 8 22 22 6 42
HDL 2 5 33 40 5 17
HDL 3 4 25 55 3 13

DÈ Havei RJ, Kane JF. Incroduction: Smwture and meiaboltsm of pfosma !JF)OT>RO leias Em • Scriver CR, Beauãet AL, S!j WS, Valle D, eds. The metabolic and molecular bases of
inherited diseases. 7° ed. VOL 11. Nova York. McGraiv-HíII, 1995 1841-50 Reproduzido com permissão de The McGraw-Hill Companies.
V L D L , lipoproteína de muito baixa densidade; IDL, UpoproleJna de densidade inrermedidna H D L , lipoproteína de alta densidade. Componentes de superfície e Jípídios do niícieo
fornecidoí como porcentagem de massa seca.
424 PARTE IV Analitos

As lipoproteínas t a m b é m são separadas por várias técnicas de proteínas. As apolipoproteínas têm as seguintes funções princi-
eletroforese. C o m u m p H de 8,6, o H D L migra com as a-globu- pais: (1) modular a atividade das enzimas que agem nas lipopro-
linas, o LDL com as j3-globulinas e V L D L e Lp(a) entre a e |3- teínas, (2) manter a integridade estrutural d o complexo lipo-
globulinas, na região pré-p-globulinas. O IDL forma u m a faixa proteico e (3) facilitar a captação de Iipoproteína agindo como
ampla entre p e pré-P-globulinas. Os quilomícrons c o n t i n u a m n o ligandos para receptores de superfície celular específicos. A
p o n t o de aplicação. As classes principais de Iipoproteína foram maioria das apolipoproteínas c o n t é m Hélices anfipáticas, que são
nomeadas de acordo com as localizações na eletroforese: pré-[3- a-hélices, sendo que uma face contém aminoácidos hidrofóbicos
lipoproteína, VLDL; |3-lipoproteína, LDL; e a-lipoproteína, e a outra face contém aminoácidos polares ou carregados. Esta
H D L . A separação por eletroforese das lipoproteínas era a base característica permite que as apolipoproteínas se liguem aos lipí-
para a classificação fenotípica mais antiga (Tipo 1-5) das dislipi- dios e ainda interajam com o ambiente aquoso circundante.
demias familiares.
METABOLISMO DAS LIPOPROTEÍNAS 57
APOLIPOPROTEÍNAS O metabolismo da Iipoproteína c o m u m e n t e é dividido nas vias:
As apolipoproteínas são os componentes protéicos das lipopro- (1) exógena, (2) endógena, (3) transporte de colesterol intracelu-
teínas. Algumas de suas características físicas e principais funções lar e (4) transporte reverso de colesterol.
estão resumidas na Tabela 23-6. Cada classe de Iipoproteína tem
várias apolipoproteínas em proporções diferentes. Apo A-I é a Via Exógena
principal proteína n o H D L . A p o C-I, II, III e E estão presentes O papel da via exógena é o transporte de lipídios dietéticos que
em várias proporções em todas as lipoproteínas. Apo B-100 é a são absorvidos pelo intestino até o fígado e células periféricas e
principal proteína n o LDL, e apo B-48, que é produzida a partir é amplamente mediado pelos quilomícrons (Figura 23-18). Qui-
d o R N A mensageiro de B-100 (mRNA) por u m processo de lomícrons nascentes, que são 9 0 % de triglicerídeos, são primei-
edição do R N A , está nos quilomícrons. Tanto apo B-100 como ramente agrupados pela proteína de transferência microssómica
apo B-48 estão firmemente ligadas às lipoproteínas e não realizam (MTP) n o retículo endoplasmático dos enterócitos pela combina-
trocas entre as diferentes lipoproteínas como as outras apolipo- ção de triglicerídeos e outros lipídios c o m apo B-48. Os quilomí-
crons são secretados na linfa e, após entrarem na circulação,
adquirem d o H D L lipoproteínas adicionais, como a apo E e a
apo C. A apo C-II é u m ativador potente da Iipoproteína lípase
(LPL), que é fixada à superfície luminal das células endoteliais e
rapidamente hidrolisa os triglicerídeos nos quilomícrons em
ácidos graxos livres. Os ácidos graxos liberados c o m b i n a m com
albumina e são captados pelas células musculares como fonte de
energia ou pelas células adiposas para armazenamento de energia
como triglicerídeos. C o m o conseqüência da lipólise, os quilomí-
crons são transformados em partículas remanescentes de quilo-
mícrons menores e excesso de fosfolipídios de superfície, e as
apolipoproteínas A são transferidas de volta para o H D L . Os
quilomícrons remanescentes ainda retêm, contudo, a maior parte
de seus triglicerídeos. Mas diferente dos quilomícrons nascentes,
eles são rapidamente captados pelo fígado ("endocitados") pelos
receptores hepáticos de remanescentes que reconhecem apo E e
apo B-48. Os triglicerídeos distribuídos para o fígado passam por
p-oxidação para fornecer eneTgia para a atividade de biossíntese
d o fígado. Eles t a m b é m são armazenados como gotas lipídicas

TABELA 2 3 - 6 Classificação e P r o p r i e d a d e s das P r i n c i p a i s A p o l i p o p r o t e í n a s Plasmáticas H u m a n a s


Peso Localização
Apolipoproteína Molecular (Da) Cromossômica Função Carreador da Lipoproteína

Apo A-l 29.016 11 Co-fator LCAT Quilomícron, HDL


Apo A-ll 17.414 1 Não conhecida HDL
Apo A-IV 44.465 11 Ativa LCAT Quilomícron, HDL
Apo B-100 512.723 2 Secreção de triglicerídeo da proteína de ligação VLDL, IDL, LDL
do fígado para o receptor LDL
Apo-B-48 240.800 2 Secreção de triglicerídeo do intestino Quilomícron
Apo C-l 6.630 19 Ativa LCAT Quilomícron, VLDL, HDL
Apo C-ll 8.900 19 Co-fator LPL Quilomícron, VLDL, HDL
Apo (Mil 8.800 11 Iriibe ativação de C-ll de LPL Quilomícron, VLDL, HDL
Apo E 34.145 19 Facilita captação de qullomícron remanescente Quilomícron, VLDL, HDL,
o ini
• IUL
Apo(a) 187.000-662.000 6 Desconhecida Lp(a)

V L D L , lipoproteínas dé muito baixa densidade; IDL, lipoproteínas de densidade intermediária-, LDL, [ipofwoteíníis de baixa deiuidade; H D L , lipoproteínas de alta densidade; Lp(a),
ItpopToieÍTui(a); LCAT, lecitina colfsleril acilvransfeiase', LPL, hpoprouí-na lípase-
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 425

F i g u r a 2 3 - 1 8 Via exógena de metabolismo de lipoproteína. TG, Triglicerídeo; CE) éster de colesterol; FC,
colesterol livre; PL, fosfolipídios; HDL, lipoproteínas de alta densidade; FA, ácido graxo; LPL, lipoproteína lípase;
B, apolipoproteína B-48; A, apolipoproteína A-I; C, apolipoproteína C-ll; E, apolipoproteína E. (De Rifai N.
Lipoproteins and apolipoproteins: Composition, merabolism, and association with coronary heart disease. Arch
Pathol Lab M e d 1986;110:694-701. Copyright 1986, American Medicai Association.)

Figura 2 3 - 1 9 Via endógena de metabolismo da lipoproteína. TG, Triglicerídeo; CE, éster de colesterol;
FC, colesterol livre; PL fosfolipídios; HDL, lipoproteínas de alta densidade; LDL, lipoproteínas de baixa
densidade; IDL, lipoproteínas de densidade intermediária; VLDL, lipoproteínas de muito baixa densidade; FA,
ácido graxo; LPL, lipoproteína lípase; LCAT, lecitina colesterol aciltransferase; B, apolipoproteína B-100; A,
apolipoproteína A-I; C, apolipoproteína C-ll; E, apolipoproteína E. (De Rifai N. Lipoproteins and
apolipoproteins- Composition, metabolism, and association with coronary heart disease. Arch Pathol Lab Med
1986;110:694-701. Copyright 1986, American Medicai Association.)
426 PARTE IV Analitos

intracelulares ou são n o v a m e n t e a c o n d i c i o n a d o s com apo B-100 Os heparócitos são exclusivos, pois o colesterol intracelular tem
e n o v a m e n t e secretados nas partículas de VLDL. vários outros destinos possíveis. Por exemplo, ele é: (1) novamente
acondicionado e secretado nas lipoproteínas, (2) convertido em sais
Via Endógena biliares ou (3) diretamente excretado na bile. O mecanismo principal
A função primária da via endógena é transferir os lipídios deriva- pelo qual as estatinas reduzem a incidência de eventos coronarianos
dos do fígado, especialmente triglicerídeos, para as células perifé- é u bloqueio da biossíntese de colesterol, que resulta na supra-regu-
ricas para metabolismo de energia. E m e d i a d a pela apo B-100 q u e lação {upregulation) do receptor do LDL. O aumento da concentração
c o n t é m lipoproteínas (Figura 23-19). O s lipídios hepáticos repre- de receptores LDL, particularmente n o fígado, remove as partículas
sentam lipídios que foram sintetizados pelo fígado ou lipídios pró-aterogênicas de LDL da circulação, sendo assim responsável pelo
dietéticos que f o r a m transferidos para o fígado pela via exógena. efeito antiaterogênico dos fármacos do tipo estatina. Os macrófagos
O VLDL, que c o n t é m aproximadamente 5 5 % de triglicerídeos também são exclusivos, pois expressam altas concentrações de vários
por massa e c o n t é m u m a molécula de apo B-100 e algumas apo tipos diferentes de receptores scãvenger, que reconhecem formas oxi-
E e apo C, é a principal lipoproteína que c o n t é m apo B que é dadas ou outras modificadas de LDL. Diferentemente do receptor
secretada pelo fígado. Assim como os quilomícrons, a apo O I 1 LDL, estes receptores scavenger não são infra-regulados em resposta
presente na superfície do V L D L t a m b é m ativa LPL nas células ao excesso de colesterol intracelular. Esta é u m a das principais razões
endoteliais. Isto leva à hidrólise de triglicerídeos V L D L e à libera- pela qual os macrófagos são propensos a acumular o excesso de
ção de ácidos graxos livres, que são captados pelas células perifé- colesterol nas gotas lipídicas intracelulares e formar as chamadas
ricas. A lipólise progressiva dos triglicerídeos a partir d o núcleo células espumosas, que d e s e m p e n h a m u m papel importante no
da V L D L transforma-o e m IDL e s u b s e q ü e n t e m e n t e e m LDL. desenvolvimento de placas ateroscleróticas.
A p r o x i m a d a m e n t e metade das partículas que c o n t ê m apo B-100
nesta via é removida pelos receptores remanescentes hepáticos Via de Transporte Reverso de Colesterol
antes de passar pela lipólise completa, e a porção restante é depois A f u n ç ã o da via de t r a n s p o r t e reverso de colesterol é remover o
convertida d u r a n t e t o d o o c a m i n h o até LDL. O triglicerídeo n o excesso de colesterol celular das células periféricas e retorná-lo
L D L é posteriormente removido pela proteína de transferência de para o fígado para excreção. Este processo é a m p l a m e n t e m e d i a d o
ésteres de colesterol (CETP), que remove o triglicerídeo do LDL pelo H D L (Figura 23-21). Pelo fato de a maioria das células peri-
e o troca pelos ésteres de colesteril do H D L . D u r a n t e a transfor- féricas não catabolizar colesterol e não secretar colesterol nas
mação lipolitica d o V L D L em partículas menores de LDL, o lipoproteínas, o colesterol sob determinadas circunstâncias irá se
excesso de fosfolipídios e apolipoproteínas de superfície, exceto acumular e se tornar tóxico para as células. O H D L ajuda as
para apo B-100, é transferido para o H D L . E m b o r a quase todas células e m sua h o m e o s t a s e d e colesterol removendo-o das células
as células expressem o receptor de LDL, a maior parte d o L D L p o r meio de vários mecanismos diferentes. O colesterol é ativa-
retorna ao fígado através do receptor do LDL, que Teconhece apn mente b o m b e a d o para fora das células pelo t r a n s p o r t a d o r
B-100. O colesterol que Tetornou para o fígado é reutilizado para A B C A 1 n a apo A-I pobre e m lipídios, q u e se liga às células. Este
a secreção de lipoproteínas o u é utilizado na produção de sais processo resulta n a f o r m a ç ã o de H D L nascente em forma de
biliares ou é excretado diretamente n a bile. disco, que é produzido n o fígado e n o intestino. O H D L discoi-
dal t a m b é m interage com A B C A 1 nas células periféricas, tal
Via de Transporte de Colesterol Intracelular c o m o os macrófagos, e remove o colesterol adicional. LCAT, que
A via de transporte de colesterol intracelujar representa os vários esterifica o colesterol n o H D L , d e s e m p e n h a u m papel impor-
mecanismos homeostáticos que as células usam para m a n t e r seu tante n o transporte reverso do colesterol p o r q u e os ésteres de
equilíbrio de colesterol. E m b o r a o colesterol seja um c o m p o n e n t e colesteril são m u i t o mais hidrofóbicos do que o colesterol e
necessário e essencial para todas as m e m b r a n a s celulares, o excesso c o n t i n u a m presos n o núcleo d o H D L até que sejam removidos
de colesterol alterará as propriedades biofísicas das m e m b r a n a s e pelo fígado. A esterificação do colesterol n o H D L converte o
mais tarde se tornará tóxico para a célula. Além da p r o d u ç ã o a H D L nascente e m forma d e disco e m H D L esférico. O H D L
partir da biossíntese celular, todas as células t a m b é m recebem esférico, a forma principal d e H D L na circulação, t a m b é m age
colesterol por meio da captação de lipoproteínas extracelulares c o m o u m aceptor extracelular para o colesterol que pode ser
pelos receptores da superfície celular, c o m o o receptor de LDL removido das células pelo t r a n s p o r t a d o r A B C G 1 ou p o r u m
(Figura 2.3-20). A maior parte dos receptores de lipoproteína dis- m e c a n i s m o de difusão passiva.
tribui as partículas de lipoproteína intactas para os lisossomos, N o estágio seguinte da via de transporte reverso de colesterol,
o n d e elas são degradadas. Quaisquer apolipoproteínas associadas o fígado remove seletivamente os ésteres de colesteril do H D L
são degradadas e m p e q u e n o s peptídeos e aminoácidos. Além esférico rico em lipídios e deixa o H D L com depleção de lipídios
disso, os ésteres de colesteril são convertidos em colesterol livre retornar para a circulação para rodadas adicionais de remoção de
por meio de lipase ácida lisossômica. Pelo fato de a maioria das colesterol das células periféricas. A C E T P t a m b é m d e s e m p e n h a
células n ã o catabolizar colesterol posteriormente, q u a l q u e r coles- um papel importante nesta via porque u m a fração significativa de
terol distribuído para a célula é: (1) usado para biogênese da colesterol que é removida das células pelo H D L é transferida como
m e m b r a n a , (2) armazenado nas gotas lipídicas intracelulares após ésteres de colesteril no LDL pela C E T P e é subseqüentemente
reesterificação por A C A T ou (3) carregado da célula pela via de removida da circulação pelos receptores hepáticos de LDL. A l é m
transporte reverso do colesterol. A l é m disso, as células têm u m de promover o efluxo do excesso de colesterol celular, o H D L
mecanismo complexo que envolve t a n t o a regulação transcricional t a m b é m tem propriedades antioxidantes, antiinflamatórias e anti-
c o m o pós-transcricional, de forma que qualquer excesso intrace- coagulantes, que ainda não são b e m compreendidas mas provavel-
lular de colesterol inibirá qualquer biossíntese posterior de coles- mente t a m b é m são benéficas n a redução da aterosclerose.
terol por meio d a infra-regulação (downregulation) de H M G - C o A
redutase e várias outras enzimas n a via da biossíntese de colesterol. IMPORTÂNCIA CLÍNICA 6
O excesso de colesterol intracelular t a m b é m inibirá a expressão A importância clínica dos lipídios está principalmente associada
do receptor d o LDL e induzirá a síntese de proteínas envolvidas a sua contribuição para a coronário paria ( C H D ) e para vários
n o transporte reverso de colesterol. distúrbios lipoprotéicos.
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 427

Figura 2 3 - 2 0 Via de transporte de colesterol intracelular. LDL, lipoproteínas de baixa densidade; ACAT,
acil-CoA colesterol aciltransferase-, HMG-CoA redutase, 3-htdrcxi-3-metilglutaril ccenzima A redutase. Devido à
presença de apolipoproteína B-100 em sua superfície, a partícula L D L é reconhecida por u m receptor de LDL
específico em uma depressão revestida e levada para a célula em u m a vesícula revestida (alto, à direita). As
vesículas revestidas fundem-se para formar u m e n d o s s o m o . O ambiente ácido do e n d o s s o m o faz c o m q u e a
partícula de LDL se dissocie dos receptores, q u e r e t o r n a m para a superfície da célula. As partículas de L D L são
levadas para um .isossomo, o n d e a apolipoproteína B-100 é degradada em aminoácidos e o éster de colesterol é
convertido em colesterol livre devido a exigências celulares. A concentração de colesterol celular é auto-regutada.
O s u p r i m e n t o excessivo de colesterol levará a: (1) u m a redução da velocidade de síntese de colesterol por meio
da inibição de H M G - C o A redutase, (2) u m a u m e n t o do a r m a z e n a m e n t o de ésteres de colesteril por meio da
ativação de A C A T e (3) u m a inibição da síntese de novos receptores LDL pela supressão da transcrição do gene
receptor em m R N A . (De Brown MS, Goldstein ]L. H o w LDL receptois influence cholesterol a n d atherosclerosis
Sei A m 1984;251:58-66. Copyright 1984 pela Scientific American, Inc, Todos os direitos reservados).

Associação a Coronariopatias Distúrbios Genéticos do Metabolismo da


O a u m e n t o do colesterol é u m fator na causa das doenças ateros- Lipoproteína
cleróticas (Capítulo 33). Já em 1910, W i n d a u s descrevia o coles- A maioria dos pacientes com dislipidemia n ã o tem uma única
rernl nas lesões de artérias com doença aterosclerótica. Inúmeros explicação genética imediatamente identificável ou u m a mutação
estudos estabeleceram q u e q u a n d o as concentrações de colesterol gênica. Devido à complexidade do metabolismo da lipoproteína,
total e de colesterol LDL são altas, a incidência e prevalência de muitos fatores que variam em importância, d e p e n d e n d o do indi-
C H D t a m b é m são altas. A o contrário do colesterol LDL, o víduo, provavelmente são responsáveis pela maioria dos casos de
a u m e n t o das concentrações de colesterol H D L mostrou ser pro- hipercolesterolemia. Por exemplo, sabe-se que: (1) dieta, (2) fre-
tetor para a C H D , tanto em estudos experimentais epidemioló- qüência de exercícios e (3) obesidade d e s e m p e n h a m os principais
gicos como clínicos. Pelo fato de a aterosclerose começar na papéis na contribuição para hipercolesterolemia. Além disso,
infância e poder levar décadas para manifestar-se clinicamente, a acredita-se que polimorfismos genéticos comuns de muitas: (1)
mensuração dos lipídios e lipoproteínas plasmáticas é u m meio enzimas, (2) proteínas estruturais e (3) receptores envolvidos n o
valioso de identificar indivíduos em risco para C H D e determi- metabolismo da lipoproteína têm coletivamente u m impacto
nar a terapia mais apropriada. maior na tendência de qualquer indivíduo a desenvolver u m a
428 PARTE IV Analitos

Macrófago
HDL dlscoidal

Figura 2 3 - 2 1 Via de transporte


reverso d e colesterol. HDL, l i p o p r o t e í n a s
de alta d e n s i d a d e ; LDL, l i p o p r o t e í n a s d e
Fígado
baixa d e n s i d a d e ; LCAT lecitina
colesterol aciltransferase; C E T P , p r o t e í n a
Transferidora d e ésteres d e colesterol;
APOA-J, a p o l i p o p r o t e í n a A - l ; A B G A 1 ,
t r a n s p o r t a d o r A l (ATP-biníJirtg cassete
AJ); A B C G I , t r a n s p o r t a d o r G l (ATP-
binding cassete G l ) ; SR-B1, receptor
Scavenger B-l; LDL-R, r e c e p t o r d e L D L .
A p ó s formação n o fígado e i n t e s t i n o , o
H D L n a s c e n t e d isco i dal r e m o v e o
colesterol das células periféricas p o r
meio do transportador ABCA1.
C o l e s t e r o l adicional t a m b é m p o d e ser
r e m o v i d o pelo H D L pelo t r a n s p o r t a d o r
A B C G I e p o r u m m e c a n i s m o de d i f u s ã o
passiva. O L C A T esterifica o c o n t e ú d o
d e colesterol d o H D L p a r a evitar q u e ele
e n t r e n o v a m e n t e nas células O s ésteres
de colesterol são d i s t r i b u í d o s p a r a o
fígado pelo r e c e p t o r SR-B1 o u p e l o LDL-
R após transferir p a r a L D L p e l a C E T P .

dislipidemia. Também há muitas causas secundárias de dislipide- A deficiência de apo C-II t a m b é m é herdada de m o d o autossô-
mia que são u m a conseqüência de distúrbios ou condições rela- mico recessivo, mas ocorre a u m a freqüência ainda mais baixa
tivamente comuns (Tabela 23-7). Embora raras, as causas genéti- do que as mutações de LPL.
cas estabelecidas de dislipidemia foram identificadas.
Hiperiipidemia Combinada Familiar
Deficiência na Atividade da Lipoproteína Lipase A hiperiipidemia combinada familiar (FCHL) é a forma familiar
A atividade deficiente da lipoproteína lipase devida a mutações mais c o m u m de hiperiipidemia. Seu defeito genético, contudo,
no gene da LPL é um distúrbio autossômico recessivo raro carac- é desconhecido. Ela é responsável por até 10% a 15% dos indi-
terizado por hiperqui lo micro ne mia notável, com concentrações víduos com C H D prematura. As famílias com F C H L freqüente-
de triglicerídeos que atingem 10.000 m g / d L (113 m m o l / L ) . A mente apresentam a u m e n t o das concentrações plasmáticas de
LPL é essencial pata a hidrólise de triglicerídeos nos quílomí- colesterol total e LDL (tipo lia) ou triglicerídeos (tipo IV), ou
crons e sua subseqüente conversão em quilomíerons remanescen- ambos (tipo Ilb). O s padrões da lipoproteína também variam em
tes. E possível também que a concentração de colesterol V L D L u m indivíduo com o passar d o tempo. Em todos os casos, as
seja a u m e n t a d a , mas as concentrações de colesterol H D L e LDL concentrações de apo B-100 são aumentadas devido à superpro-
sejam baixas (padrão do tipo I). Este distúrbio f r e q ü e n t e m e n t e é dução. O LDL nestes pacientes t e n d e a ser p e q u e n o e denso em
diagnosticado na infância, em geral após episódios recorrentes virtude de uma redução da razão lipídio-proteína. O colesterol
de dor abdominal intensa e ataques repetidos de pancreatite. O s LDL em geral é apenas modestamente a u m e n t a d o para cerca de
xantomas eruptivos e lipemia retinahs em geral estão presentes 190 m g / d L (2,14 m m o l / L ) , que é mais baixo d o que o tipica-
q u a n d o as concentrações plasmáticas de triglicerídeos excedem mente observado na hipercolesterolemia familiar heterozigota
2,000 e 4.000 m g / d L (22,6 a 45,2 m m o l / L ) , respectivamente. A (FH) (350 m g / d L ; 3,95 m m o l / L ) . Os triglicerídeos em geral
concentração de triglicerídeos f r e q ü e n t e m e n t e apresenta grandes ficam entre 200 e 400 m g / d L (2,26 e 4,52 m m o l / L ) , mas p o d e m
oscilações na resposta à dieta e outros fatores que não são b e m ser significativamente mais altos. A concentração de colesterol
compreendidos. Os indivíduos com este distúrbio não estão pre- H D L em geral é ligeiramente diminuída, particularmente em
dispostos a doença aterosclerótica. O diagnóstico é feito por meio pacientes com hipertrigliceridemia.
da determinação de atividade de LPL n o plasma coletado após a
injeção de heparina nos pacientes para liberar o LPL q u e está Hip erapobetalipopro teinemia
ligado aos sulfatos de heparina e outros glicosaminoglicanos na A hiperapobetalipoproteinemia é caracterizada por a u m e n t o das
superfície das células endotekais. concentrações de apo B-100 com colesterol LDL normal ou
O apo C-II deficiente ou defectivo, o principal ativador de apenas m o d e r a m e n t e a u m e n t a d o . A razão entre o colesterol LDL
LPL, t a m b é m resulta e m u m a deficiência de catabolismo de e a apo B-100 em geral é de 1,2 ou menos. As concentrações de
quilomícron, embora seja m e n o s grave d o que com mutações colesterol total e triglicerídeos p o d e m ser normais, mas em geral
genéticas de LPL. O diagnóstico é feito por meio da demonstra- são aumentadas, e as concentrações de colesterol H D L e apo
ção de baixa atividade de LPL n o plasma pós-heparina que é A-I são diminuídas. Este distúrbio aparentemente é causado por
restaurada após a adição de apo C-II à mistura do ensaio de LPL. u m a superprodução de VLDL e apo B-100 n o fígado. O m o d o
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 429

lADtLA Causas de Hiperlipidemia Secundária e n h e c i d a , parece estar associada a u m a u m e n t o d a p r o d u ç ã o e / o u


Dislipoproteínemin r e d u ç ã o da r e m o ç ã o de V L D L . A atividade d e LPL nestes indi-
v í d u o s é n o r m a l ou baixa, e a c o n c e n t r a ç ã o plasmática d e a p o
Distúrbio Causa
O I I é n o r m a l . As a p r e s e n t a ç õ e s clínicas i n c l u e m : (1) x a n t o m a s
Exógeno Fármacos: corticosteróides, isotretinoína eruptivos, (2) lipemia Tetinalis, (3) p a n c r e a t i t e e (4) tolerância
(Acutane), tiazídicos, anticonvulsivantes, a n o r m a l à glicose. As complicações ateroscleróticas p r e m a t u r a s
^-bloqueadores, esteróides anabólicos, n ã o são t ã o c o m u m e n t e o b s e r v a d a s c o m o n a F H . Esta s í n d r o m e
determinados contraceptivos orais h e t e r o g ê n e a parece ser h e r d a d a e m u m m o d o a u t o s s ô m i c o d o m i -
Álcool nante.
Obesidade
Endócrino e metabólico Partiria intermitente aguda
Diabetes mellitus Disbetalipoproteinemia (Tipo IH)
Hipopituitarismo A d i s b e t a l i p o p r o t e i n e m i a , t a m b é m c h a m a d a de h i p e r l i p o p r o t e i -
Hipotireoidismo n e m i a d o tipo III, é c a u s a d a p o r u m defeito n a Temoção d e
Lipodistrolia lipoproteínas remanescentes tanto dos quilomícrons como d o
Gravidez V L D L . A a p o E p r e s e n t e n a superfície das partículas d e lipopro-
Doença por depósito Doença de depósito de cistina teínas r e m a n e s c e n t e s interage c o m receptores h e p á t i c o s específi-
Doença de Gaucher cos e facilita a r e m o ç ã o destas partículas. A a p o E existe e m três
Doença de depósito de glicogênio p o l i f o r m i s m o s c o m u n s o u variantes, d e s i g n a d o s Ei, E 3 e E 4 .
Doença de Tay-Sachs juvenil A l g u n s i n d i v í d u o s c o m d i s b e t a l i p o p r o t e i n e m i a são h o m o z i g o t o s
Doença de Niemann-Pick para a i s o f o r m a a p o E 2 l q u e n ã o se liga d e m a n e i r a eficiente aos
Doença de Tay-Sachs receptores h e p á t i c o s d e r e m a n e s c e n t e s , levando, poTtanto, ao
Renal Insuficiência renal crôiíica a c ú m u l o d e partículas r e m a n e s c e n t e s . E m b o r a raras, as m u t a ç õ e s
Síndrome hemolítica-urêmica
genéticas n o gene da a p o E t a m b é m f o r a m associadas ao distúr-
Síndrome nefrótica
bio. As partículas r e m a n e s c e n t e s q u e se a c u m u l a m são ricas e m
Hepática Colestasia intra-hepática recorrente benigna
colesterol, t ê m u m a d e n s i d a d e m e n o r q u e 1,006 g / m L e são
Atresia biliar congênita
c o m u m e n t e c h a m a d a s d e p-VLDL ou l i p o p r o t e í n a P f l u t u a n t e ,
Agudo e transitário Queimaduras
c o m base e m seu p a d r ã o de m i g r a ç ã o eletroforética. T a n t o o
Hepatite
colesterol L D L c o m o o H D L estão mais baixos q u e o n o r m a l
Traumatismo agudo (cirurgia)
intarto do miocárdio
nestes indivíduos. A d i s b e t a l i p o p r o t e i n e m i a t e m início t a r d i o e
infecções bacterianas e virais
r a r a m e n t e se m a n i f e s t a n a infância. A m a n i f e s t a ç ã o clínica mais
Outras Anorexia nervosa distintiva d e d i s b e t a l i p o p r o t e i n e m i a é a p r e s e n ç a de x a n t o m a s
Inanição p a l m a r e s e d e p ó s i t o s d e g o r d u r a a m a r e l a n a s d o b r a s das p a l m a s .
Hipercaicemia idiopática X a n t o m a s t u b e r o s o s e t u b e r o e r u p t i v o s t a m b é m o c o r r e m , mas
Síndrome de Klinefelter n ã o são exclusivos desta s í n d r o m e . C o m u m e n t e se desenvolve
Progeria (síndrome de Hutchinson-Giltord) aterosclerose p r e m a t u r a , p a r t i c u l a r m e n t e n o s m e m b r o s inferio-
Lúpus eritematoso sistêmico res. A i n c i d ê n c i a de d i s b e t a l i p o p r o t e i n e m i a é d e aproximada-
Síndrome de Werner m e n t e 0 , 1 % n a p o p u l a ç ã o geral. A h o m o z i g o s i d a d e d e a p o E 2 ,
c o n t u d o , ocorre e m cerca d e 1 % d a p o p u l a ç ã o n a A m é r i c a d o
N o r t e . P o r t a n t o , a o c o r r ê n c i a dos alelos defectivos é necessária,
mas n ã o s u f i c i e n t e para p r o d u z i r o d i s t ú r b i o . A expressão ou
exato de h e r a n ç a e a prevalência d o d i s t ú i h i o c o n t i n u a m obscu- p e n e t r â n c i a d a d o e n ç a é a p a r e n t e m e n t e m o d u l a d a p o r fatores
ros. Relata-se q u e as m a n i f e s t a ç õ e s c o m u n s à h i p e r a p o b e t a l i p o - genéticos, h o r m o n a i s e / o u fatores a m b i e n t a i s , tais c o m o diabe-
p r o t e i n e m i a t a m b é m o c o r r e m c o m F C H L , s u g e r i n d o associações tes, h i p o t i r e o i d i s m o , o b e s i d a d e e dieta.
m e t a b ó l i c a s e genéticas e n t r e os dois d i s t ú r b i o s .

Hipertríglicerídemia Familiar Hipercolesterolemia Familiar


A h i p e r t r i g l i c e r i d e m i a f a m i l i a r ( F H T G ) é caracterizada p o r u m A F H é c a u s a d a p o r defeitos n a expressão e / o u f u n ç ã o d o recep-
a u m e n t o m o d e r a d o d o s triglicerídeos séricos. Acredita-se q u e a tor d o LDL, q u e se liga e r e m o v e L D L d a circulação. O L D L
s u p e r p r o d u ç ã o de g r a n d e s p a r t í c u l a s de V L D L c o m c o n t e ú d o d e e n t ã o se a c u m u l a n o p l a s m a , o q u e resulta e m a u m e n t o de sua
triglicerídeos a n o r m a l m e n t e alco é responsável por este d i s t ú r b i o , d e p o s i ç ã o n a pele, n o s t e n d õ e s e nas artérias, o n d e causa ateros-
m a s o d e f e i t o g e n é tic o exato é d e s c o n h e c i d o . O c o n t e ú d o d e clerose. A a p o B-100, a p r i n c i p a l p r o t e í n a n o LDL, é a u m e n t a d a
colesterol d o V L D L t a m b é m é a u m e n t a d o , m a s a c o n c e n t r a ç ã o p r o p o r c i o n a l m e n t e ao colesterol LDL. A c o n c e n t r a ç ã o de trigli-
d e colesterol L D L plasmático está d e n t r o d o i n t e r v a l o d e referên- cerídeos é n o r m a l ou a p e n a s ligeiramente a u m e n t a d a , e a con-
cia, o q u e sugere q u e h á u m a conversão tardia d e V L D L e m L D L c e n t r a ç ã o d e colesterol H D L é ligeiramente reduzida. A m a i o r i a
nestes pacientes. D i f e r e n t e m e n t e d a F C H L , a a p o B-100 n ã o é destes pacientes a p r e s e n t a defeitos genéticos n o receptor L D L e m
elevada. Provavelmente d e v i d o à h i p e r t r i g l i c e r i d e m i a , o colesterol si. M e n o s c o m u m e n t e , os defeitos e m d u a s p r o t e í n a s auxiliares,
H D L plasmático e m geral é n o t a v e l m e n t e r e d u z i d o . Este distúr- A R H - 1 e Psk9, q u e estão envolvidas n a i n t e i n a l i z a ç ã o ou proces-
b i o parece ser h e r d a d o e m u m p a d r ã o a u t o s s ô m i c o d o m i n a n t e s a m e n t o d o r e c e p t o r LDL, t a m b é m p o d e m causar F H . As m u t a -
c o m u m a expressão t a r d i a e u m a f r e q ü ê n c i a e s t i m a d a n a p o p u - ções n o r e c e p t o r L D L e P s k 9 são h e r d a d a s e m u m p a d r ã o autos-
lação d e cerca d e 1 e m 5 0 0 . s ô m i c o c o - d o m i n a n t e . O s pacientes h o m o z i g o t o s c o m F H são
g r a v e m e n t e atingidos, e n q u a n t o os heterozigotos e m geral t ê m
Hiperlipoproteinemia do Tipo V f e n ó t i p o mais b r a n d o , m a s a i n d a são c l i n i c a m e n t e afetados. O s
A h i p e r l i p o p r o t e i n e m i a d o tipo V é caracterizada p o r u m a u m e n t o defeitos n o A R H - 1 são h e r d a d o s e m u m p a d r ã o a u t o s s ô m i c o
d o s q u i l o m í c r o n s e V L D L . E m b o r a sua causa exata seja desco- recessivo.
430 PARTE IV Analitos

A FH heterozigota causada por mutações n o receptor LDL é TABELA 2 3 - 8 Painel de Tratamento do Adulto (PTA) III
u m dos distúrbios genéticos mais comuns, com u m a incidência Classifirarap de Colesterol LDL, Total e
de 1 em 500 nos EUA. O colesterol LDL plasmático m é d i o em
H D L (mg/dL)*
crianças e adultos heterozigotos em geral é duas ou três vezes
Colesterol LDL <100 Ideal
aquele dos indivíduos normais, e n q u a n t o o colesterol LDL dos
100-129 Próximo ou acima do ideal
homozigotos e m geral é quatro a seis vezes acima d o normal. A
130-159 Limítrofe alto
hipercolesterolemia f r e q ü e n t e m e n t e está presente ao nascimento
160-189 Alto
e persiste d u r a n t e toda a vida. Nos heterozigotos, os xantomas
>190 Muito alto
aparecem por volta d o final da segunda década, e as manifesta-
Colesterol total <200 Desejável
ções clínicas da doença aterosclerótica aparecem geralmente
200-239 Limítrofe alto
d u r a n t e a quarta década. >240 Alto
Nos homozigotos, os xantomas cutâneos geralmente se desen- Colesterol HDL <40 Baixo
volvem aos 4 anos de idade, se n ã o estiverem presentes já ao >60 Alto
nascimento. Se não houver tratamento, a morte por infarto do
Modíficado de resumo execuiwo do terceiro relato do N d ti on dl Cholesterol Education
miocárdio geralmente ocoire nos homozigotos antes d o final da
pTogiãm (NCEP) Expevt Pane! on Detecúon, Evãluation, and Treatment of Higíi
segunda ou terceira década de vida. Btooii Choksterol in Adules (Aduii Treacmenl Panei ÍI1). J A M A 2001 ;2 85:
2456-97.
Apolipoproteína B-100 Defectiva Familiar *LDL, lifjojwndna de baixa densidade-, H D L , lipoproieína de alta de-nsidad,1
A apo B-100 deiectiva familiar é resultado de mutações na apo
B-100, que reduz sua afinidade pelo receptor LDL. O colesterol
LDL é a u m e n t a d o , mas os triglicerideos e colesterol H D L em
geral são normais. Assim como na FH, estes indivíduos também D i a g n ó s t i c o de Distúrbios Lipoprotéicos1,9
têm u m a u m e n t o da incidência de C H D . A diferenciação clínica O diagnóstico inicial de dislipoproteinemia e a determinação da
entre este distúrbio e a FH heterozigota algumas vezes é difícil, melhor abordagem de t r a t a m e n t o para u m paciente são ampla-
mas o tratamento de ambos os distúrbios é semelhante. A fre- m e n t e dependentes da mensuração de: (1) colesterol total, (2)
qüência desta mutação é de 1:500 a 1:600 nos indivíduos hiper- triglicerídeos, (3) colesterol H D L e (4) colesterol LDL, o que
colesterolêmicos de populações de descendência européia, mas é c o m u m e n t e é chamado de perfil lipídico. Os resultados dos
muito rara nos não europeus. exames de lipídio e lipoproteína, contudo, têm de ser interpreta-
dos n o contexto de u m a anamnese para estabelecimento do risco
Hipoalfalipoprotein em ia de desenvolvimento de C H D . A anamnese e outros resultados de
A hipoalfalipoproteinemia, ou baixo colesterol HDL, é causada exames laboratoriais t a m b é m são importantes para determinar
por vários defeitos genéticos e f r e q ü e n t e m e n t e está associada a se u m a dislipoproteinemia é resultado de uni distúrbio lipopro-
u m a u m e n t o da incidência de C H D devido ao papel benéfico téico primário ou é conseqüência de u m a ou mais das causas
do H D L na prevenção da aterosclerose. As mutações ou deleções secundárias de hiperiipidemia (Tabela 23-7), que, se presentes,
do gene da apo A-I são u m a causa rara de hipoalfalipoproteine- provavelmente alterarão a abordagem de tratamento. Diferente-
mia. A deficiência de LCAT t a m b é m está associada a baixo H D L . m e n t e de outros exames laboratoriais, a hipercolesterolemia é
Estes pacientes geralmente têm córneas turvas, como resultado definida com base nos achados de estudos epidemiológicos que
de infiltração de lipídios, e glomerulosclerose devida à produção foram usados para estabelecer u m a concentração desejável para
de u m a partícula de lipoproteína anormal que fica presa n o redução do risco de C H D (Tabela 23-8), e não com base em u m
glomérulo. estudo de referência de indivíduos normais.* O exame de coles-
A doença de Tangier é u m distúrbio autossômico recessivo terol é r e c o m e n d a d o a cada 5 anos para todos os adultos acima
raro que t a m b é m está associado a u m a redução evidente do de 20 anos de idade e devem envolver a mensuração em jejum
HDL. Assim como com a FH, a elucidação d o defeito genético de: (1) colesterol total, (2) triglicerídeos, (3) colesterol H D L e (4)
na doença de Tangier adicionou muito ao nosso conhecimento colesterol LDL calculado o u medido. Se u m a amostra em jejum
sobre o metabolismo da lipoproteína e a via de transporte reverso não estiver disponível, então apenas o colesterol total e H D L
de colesterol em particular. O s principais sinais clínicos da devem ser considerados. Neste caso, se o colesterol total for maior
doença de Tangier são: (1) tonsilas alaranjadas hiperplásicas, (2) que 200 m g / d L (5,18 m m o l / L ) , ou o colesterol H D L for m e n o r
esplenomegalia e (3) neuropatia periférica. Outros possíveis sinais que 40 m g / d L (1,04 m m o l / L ) , então u m perfil lipoprotéico em
incluem hepatomegalia e opacidades das córneas. Há u m a u m e n t o jejum é necessário.
da deposição de ésteres de colesteril em vários tecidos d o corpo, Em seguida, deve-se fazer u m a avaliação do risco para C H D .
particularmente macrófagos, que formam células espumosas. A Esta se baseia nas evidências clínicas de C H D existentes ou na
doença de Tangier é causada por mutações n o transportador presença de problemas que estão estreitamente associados à
ABCA1, que medeia a primeira etapa da via de transporte reverso C H D , como: (1) doença sintomática da artéria carótida (angina),
de colesterol, o efluxo de colesterol das células (Figura 23-20). A (2) doença vascular periférica e (3) aneurisma aórtico abdominal,
A B C A 1 promove a Iipidação da apoA-I com fosfolipídios e coles- que são chamados equivalentes de risco de C H D . A avaliação de
terol. Sem este processo, a apo A-I é rapidamente catabolizada risco para C H D t a m b é m é baseada na presença de fatores de
por meio de depuração renal e hepática devido ao seu t a m a n h o risco conhecidos para C H D , como: (1) hipertensão, (2) taba-
pequeno. A A B C A l promove a lipidação de apo A-I t a n t o n o
fígado como n o intestino e é responsável pela biogênese da maior
* Várias tabelas de distribuições populacionais de lipídios foram publicadas em
parte d o H D L circulante. O efluxo de excesso de colesterol dos Rifai Kl, Warnick GR. Lipids, lipoproteins, apolipoproceins and other cardio-
macrófagos t a m b é m é amplamente d e p e n d e n t e da atividade vascular rísk factors. Em: Burtis CA, Ashwood ER, Bruns DE, eds. Tietz
de ABCA1, e, sem ele, eles rapidamente acumularão ésteres de textbook of clinicai chemistry and molecular diagnostks, 4th ed. Filadélfia
colesterol e f o r ma r ã o células espumosas. Saunders, 2006-90.3-81.
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 431

gismo e (3) história familiar ( Q u a d r o 23-1). Colesterol H D L baixo população. Embora haja alguma preocupação de que as recomen-
é considerado u m fator de risco, e n q u a n t o o colesterol H D L alto dações sejam m u i t o conservadoras, de acordo com a N C E P e a
é considerado u m fator de risco negativo. Os pacientes sem evi- American Academy of Pediatrics, apenas as crianças com mais de
dências clínicas para C H D o u sem equivalentes de risco para 2 anos de idade devem ser tríadas para hipercolescerolemia
C H D , mas com dois ou mais fatores de risco, que n ã o o a u m e n t o q u a n d o têm u m progenitor com hipercolesterolemia (mais de
d o colesterol LDL, devem ser posteriormente analisados para seu 240 m g / d L / 6 , 2 1 m m o l / L ) ou u m a história familiar positiva de
risco, usando u m algoritmo baseado n o Estudo Cardíaco de C H D precoce. A triagem universal para aqueles com mais de 16
Framingham, q u e inclui fatores como: (1) idade, (2) sexo, (3) anos de idade foi sugerida com base em u m achado de que até
colesterol total, (4) colesterol H D L , (5) pressão arterial e (6) 6 6 % dos adolescentes com a u m e n t o de colesterol LDL são per-
tabagismo. didos em u m protocolo de triagem mais seletivo.
O National Cholestetol E d u c a t i o n Piogram ( N C E P ) / E x p e r t
Panei o n Blood Cholesterol Leveis in C h i l d r e n and Adolescents Tratamento de Distúrbios Lipoprotéicos no
e a American Academy of Pediatrics definiram "colesterol alto" Adulto9
como concentrações de mais d o q u e o percentil 95 para coleste- As alterações terapêuticas n o estilo de vida (Quadro 23-2) são a
rol total e LDL, considerando limítrofes os valores entre os per- base da terapia para distúrbios lipídicos. A concentração de coles-
centis 75 e 95 e desejáveis os valores abaixo d o percentil 75. O terol LDL é usada para decidir sobre a terapia mais apropriada
colesterol H D L baixo t a m b é m foi d e f i n i d o como u m a concen- e para monitorar a efetividade da terapia. As diretrizes para o
tração abaixo de 35 m g / d L (0,90 m m o l / L ) . As crianças t e n d e m tratamento d o adulto para hipercolesterolemia são ilustradas na
a ter concentrações mais. altas de colesterol H D L do que os Tabela 23-9. Observar que a agressividade d o tratamento d e p e n d e
adultos; portanto, é importante determinai tanto as concentra- da categoria de risco d o paciente e de sua concentração inicial
ções de colesterol LDL c o m o H D L antes de classificar u m a de colesterol LDL. Aqueles pacientes com risco mais alto para
criança como hipercolesterolêmica. Diferentemente dos critérios C H D (risco de 10 anos maior que 20%) ou que já apresentam
para o sistema de classificação do colesterol baseada n o risco evidências clínicas de C H D , ou u m equivalente de risco de C H D ,
usados em adultos, as diretrizes para crianças e adolescentes apresentam o limiar mais baixo para tratamento de colesterol
foram baseadas em consenso, e n ã o diretamente na associação LDL e a meta mais baixa para colesterol LDL. Idealmente, estes
com C H D , em virtude da baixa incidência da doença nesta pacientes, após a terapia, devem ter u m colesterol LDL abaixo de
100 m g / d L (2,59 mmol/L), o que provavelmente envolverá, para
muitos deles, algum tipo de t r a t a m e n t o medicamentoso. Aqueles
QUADRO 2 3 - 1 Principais F a t o r e s d e R i s c o (Exclusiva
d e C o l e s t e r o l LDL)

• Tabagismo QUADRO 2 3 - 2 A l t e r a ç õ e s T e r a p ê u t i c a s n o Estilo d e


• Hipertensão (pressão arterial > 1 4 0 / 9 0 m m H g ou sob tratamento com Vida para P r e v e n ç ã o d e CHD
medicação anti-hipertensiva)
• Colesterol HDL baixo (<40 mg/dL)* Dieta
• História familiar de CHD prematura {CHD e m parente de primeiro grau do • Gordura saturada < 7 % das calorias, colesterol < 2 0 0 mg/dia
sexo masculino < 5 5 anos de idade; CHD em parente de primeiro grau do • Considerar aumento de tibra (10 a 2 5 g/dia) viscosa (solúvel) e estanóis/
sexo feminino < 6 5 anos de idade) esteróis vegetais (2 g/dia) c o m o opções terapêuticas para aumentar a
• Idade (homens > 4 5 anos; mulheres > 5 5 anos) redução do LDL
Tratamento do peso
Modificada de resumo executivo do terceiro relato dn National C/iclesterai Education
Aumento da Atividade Física
ProgYdm (NCEP) Expert Panei on Detectio-ri, Evaluation, and Traatment of High
Blood CHolesterol in Adults (Adult Treatment Panei JJJ). }AMA 2001;285:2486-97- Modificado de resumo executivo do terceiro relato do National Cfiofesteral Education
LDL, lipoproteína de baixa densidade-, HDL, lipoproteína de alta densidade. Ptogram (NCEP) Expert Panei on Deteciion, Evaluation, and Treíiiment o/High
"Colesterol HDL > 6 0 mg/dL conta como fator de risco "negativa"; sua presença Blood Cholesterol in Adult! (Aiíuit Treaíment Panei IH). JAMA 2001;285:
remoce um fator de risco da comagim total. 2486-97-

TABELA 2 3 - 9 I Metas para o Colesterol LDL e Pontos de Corte para Alterações Terapêuticas do Estilo de Vida (TLCl e Terapia
Medicamentosa nas Diferentes Categorias de Risco
Concentração de LDL na
qual se Iniciam Alterações Concentração de LDL
Terapêuticas do Estilo na qual Considerar Terapia
Categoria de Risco M e t a de LDL (m g / d L ) de Vida ( m g / d L ) Medicamentosa ( m g / d L )

CHD ou equivalentes risco de CHD <100 >100 > 3 0 0 (100-129; fármaco


(risco de 10 anos > 2 0 % ) opcional)
2 + fatores de risco (risco de <130 >130 Risco de 10 anos 1 0 % - 2 0 % : > 1 3 0
10 a r o s < 2 0 % ) Risco de 10 anos < 1 0 % : > 1 6 0
0-1 fator de risco (fisco de <160 >160 > 1 9 0 (160-189; fármaco para
10 anos < 1 0 % ) diminuir LDL opcional)

Modificado de resumo executivo do lerceira relato da National Cholesterol Education Piogram (NCEPJ Expert Panei on Deteaion, Eiwluation, and Treaiment of Higk Blood
Cfiolejterol MI Adults (Aduít Treaíment Panei i l í j . / A M A 2001\285:2486-97.
LDL, lipoproteírui de baixa densidade; C H D , carona-nopatia.
432 PARTE IV Analitos

pacientes e m u m a categoria de risco intermediária (risco de 10 Tratamento Pediátrico d o s Distúrbios


anos m e n o r q u e 2 0 % ) a presentam u m a concentração mais alta Lipoprotéicosl
para colesterol L D L e, em alguns casos, d e p e n d e n d o d o colesterol Para reduzir a c o n c e n t r a ç ã o sérica de colesterol nas crianças e
L D L inicial, p o d e m ser tratados apenas c o m alterações terapêu- adolescentes, a N C E P a d o t o u abordagens populacionais e indi-
ticas do estilo de vida, se efetivo. Para aqueles pacientes n a cate- viduais.
goria de mais baixo risco (fatores de risco de 0 a 1), o colesterol
LDL desejável é m e n o r q u e 160 m g / d L (4,14 m m o l / L ) e a terapia Abordagem Populacional
m e d i c a m e n t o s a deve ser considerada apenas se o colesterol L D L As crianças e os adolescentes n o n e - a m e r í c a n o s apresentam con-
inicial estiver acima de 190 mg/'dL (2,15 m m o l / L ) . T a m b é m h á centrações relativamente altas de colesterol e u m a alta ingestão
recomendações específicas para a freqüência de m o n i t o r a m e n t o de ácidos graxos saturados. A abordagem populacional tenta
dos exames de lipídios e lipoproteínas e para q u a n d o t e n t a r a reduzir a concentração m é d i a d e colesterol nos E U A p o r meio
terapia m e d i c a m e n t o s a naqueles pacientes que n ã o atingem as de modificações, n a população, na ingestão de nutrientes e nos
metas de t r a t a m e n t o do colesterol L D L apenas com alterações hábitos alimentares. Recomenda-se a Etapa 1 da dieta da Ameri-
terapêuticas d o estilo de vida. Assim c o m o para o t r a t a m e n t o de can H e a r t Association (AHA) (Tabela 23-10) para crianças com
pacientes c o m s í n d r o m e metabólica, recomenda-se u m a aborda- mais de 2 até 3 anos de idade. A N C E P t a m b é m e n c a m i n h o u
gem c o m b i n a d a de: (1) redução d o peso, (2) a u m e n t o da ativi- recomendações para: (1) escolas, (2) profissionais da área de
dade física e (3) controle a p r o p r i a d o dos níveis lipídicos. saúde, (3) agências governamentais, (4) indústria alimentícia e (5)
Os triglicerídeos a u m e n t a d o s e colesterol H D L baixo t a m b é m meios de comunicação de massa, para a j u d a r a influenciar e
são considerados distúrbios q u e alteram de maneira i n d e p e n - modificar os hábitos alimentares de crianças e adolescentes.
d e n t e o risco para C H D e p o d e m alterar o t r a t a m e n t o recomen-
d a d o . Em a m b o s os casos, c o n t u d o , o objetivo principal deve ser
o de reduzir o colesterol L D L e, secundariamente, o de corrigir Abordagem individualizada
os triglicerídeos a u m e n t a d o s ou d o baixo H D L , se estes distúr- A abordagem individualizada t e m c o m o objetivo reduzir as con-
bios persistirem após a r e d u ç ã o do colesterol LDL, C a d a paciente centrações de colesterol de crianças com mais de 2 anos de idade
sob risco de C H D deve t a m b é m ser avaliado q u a n t o a presença e adolescentes que estão em risco. Aqueles com u m a concentra-
de s í n d r o m e metabólica e deve ser tratado para quaisquer causas ção m é d i a de colesterol L D L entre 110 e 129 m g / d L devem ser:
subjacentes e quaisquer sintomas associados. O u t r o s exames de (1) colocados n a Etapa 1 da dieta da A H A (Tabela 23-10), (2)
lipoproteína r e c e n t e m e n t e desenvolvidos, como: (1) Lp(a), (2) aconselhados sobre outros fatores de risco para cardiopatias e (3)
lipoproteínas remanescentes, (3) L D L p e q u e n o e d e n s o e outros reavaliados após 1 ano. Aqueles com colesterol L D L m é d i o m a i o r
marcadores, c o m o (4) proteína C-reativa (CRP) e (5) homociste- que 130 m g / d L t a m b é m devem: (1) ser colocados na Etapa 1 da
ína, t a m b é m p o d e m ser valiosos n a estratificação de risco de dieta da A H A , (2) ser avaliados q u a n t o a causas secundárias e (3)
C H D , p a r t i c u l a r m e n t e para pacientes q u e estão em risco limí- ter a família submetida a triagem. Se, após 3 meses d o início da
trofe ou i n t e r m e d i á r i o com base nos exames convencionais para dietoterapia, a concentração de colesterol LDL c o n t i n u a r m a i o r
lipídios e lipoproteínas. que 130 m g / d L (3,37 m m o l / L ) , o paciente deve ser colocado na
U m a g r a n d e variedade de agentes farmacológicos para reduzir Etapa 2 da dieta da A H A , q u e impõe u m a redução maior da
o colesterol nos adultos está disponível 3 e é prescrita individual- ingestão de ácidos graxos saturados e da ingestão de colesterol
m e n t e ou e m c o m b i n a ç ã o para reduzir o colesterol LDL, (Tabela 23-10). A terapia m e d i c a m e n t o s a foi r e c o m e n d a d a pela
incluindo: (1) resinas de ligação ao ácido biliar (colestiramina e N C E P e m crianças com 10 anos de idade ou mais, caso a con-
colestipol), (2) niacina, (3) gemfibrozila, (4) ezetimiba e (5) inibi- centração de colesterol LDL c o n t i n u e maior que 190 m g / d L após
dores de H M G - C o A redutase (p.ex., a torvas ta tina, fluvastatina, adesão diligente à dietoterapia (6 meses a 1 ano). Recomenda-se
lovastatina, pravastatma, resuvastatina e sinvastatina); descobriu- u m a concentração de ação mais baixa de ,160 m g / d L (4,15
se que este ú l t i m o g r u p o reduz o colesterol LDL e m até 4 0 % . m m o l / L ) para pacientes q u e t ê m u m a história familiar positiva
Alguns desses fármacos são mais b e m tolerados p o r pacientes de C H D prematura ou aqueles com dois ou mais fatores de risco.
i n d i v i d u a l m e n t e do que outros, e todos d e m o n s t r a r a m segurança A p e n a s as resinas de ligação aos ácidos biliares, c o m o a colesti-
prolongada e m o s t r a r a m reduzir o risco de C H D . M u i t o s desses r a m i n a e colestipol, q u e agem ligando os ácidos biliares n o l ú m e n
fármacos a u m e n t a r ã o m o d e s t a m e n t e o colesterol H D L , mas a intestinal, são r e c o m e n d a d a s pelo grupo para uso e m crianças e
niacina em particular é efetiva n a elevação d o colesterol H D L . adolescentes. A eficácia, os efeitos colaterais ou a segurança de

Ingestão Vigente de Gordura por Adultos, Crianças e Adolescentes Norte-Americanos e as Dietas de Etapa TJm
e Etapa Dois da American Heart Association
INGESTÃO VIGENTE
Crianças e
Nutrientes Adultos Adolescentes Etapa Um Etapa Dais

GORDURA TOTAL
Porcentagem de calorias totais 35%-36% 36% <30% <30%
Gordura saturada 14% 15% <10% 7%
Gordura polinsaturada 6% 16% 10% 10%
Gordura monoinsaturada 13%-14% 15% 10%-15% 10%-15%
Colesterol (mg/dia) 300-400 400-500 <300 <200

Modi/rcúdo do Nariotidí Chdésterol Educaiion Progmm, Seção de Me embolismo L ipíáico, Diuisão do instituto do Coração, Puíynáo e Sangue: The. Repcnt of the Expert Panei on Blood
Cholesterol Leveis in Cfiildren anã Adolescente. Bethesda, M D . National Institutos of Health, 1991.
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 433

outros fármacos que reduzem o colesterol n ã o foram bem esta- (Tabela 23-9) foram usados n o t r a t a m e n t o clínico dos pacientes,
belecidos em crianças e adolescentes, e, portanto, seu uso é uma definição c o m u m de acurácia, em termos de m é t o d o de
desencorajado nesta população. referência, foi crucial para estabelecer a classificação de riscn
exata de C H D dos pacientes por meio de métodos rotineiros.
M u d a n ç a s na C o n c e n t r a ç ã o de Lipídios, Houve grande e m p e n h o para a melhora e padronização dos
Lipoproteínas e A p o l i p o p r o t e í n a s c o m o exames de perfil lipídico e lipoprotéico, para assegurar sua reali-
Envelhecimento zação adequada (Tabela 23-11) e a comparabilidade de seus resul-
Q u a n d o se interpretam os valores dos exames de lipídios e lipo- tados entre métodos diferentes e laboratórios diferentes, redu-
proteínas, é importante reconhecer que eles m u d a m com o enve- zindo assim o TÍSCO de classificação errônea dos pacientes para
lhecimento. Ao nascimento, a concentração plasmática típica de risco de C H D .
colesterol é de cerca de 66 m g / d L (1,71 m m o l / L ) e é quase
igualmente distribuída entre LDL e H D L , com uma quantidade M e n s u r a ç ã o d o s Lipídios
m u i t o p e q u e n a de VLDL. A concentração de triglicerídeos é de Os lipídios básicos que são medidos n o laboratório incluem: (1)
cerca de 36 m g / d L (0,41 m m o l / L ) apenas. Apo A-I, apo B-100 e colesterol, (2) triglicerídeos, (3) colesterol H D L e (4) colesterol
Lp(a) d o sangue d o cordão apresentaram concentrações médias LDL.
de cerca de 80, 33 e 4 mg/dL, respectivamente. As concentrações
de lipídios, colesterol da lipoproteína e apolipoproteína aumen- Exames para Colesterol
tam drasticamente durante os primeiros meses de vida, sendo Os métodos enzimáticos tornaram-se os exames preferenciais
que o LDL se torna o principal p o r t a d o r de colesterol plasmático para a mensuração de rotina do colesterol. Eles são precisos e
e então sc m a n t ê m relativamente sem alterações até a puberdade. exatos q u a n d o apropriadamente calibrados e facilmente adapta-
U m perfil q u e consiste em: (1) concentração de colesterol total de dos para uso em analisadores automatizados. Os reagentes para
cerca de 155 m g / d L (4,01 m m o l / L ) , (2) concentração de coleste- colesterol, comercialmente disponíveis, c o m u m e n t e c o m b i n a m
rol LDL de 90 m g / d L (2,33 mmol/L), (3) concentração de coles- todas as enzimas e outros componentes necessários em u m único
terol H D L de 53 m g / d L (1,37 mmol/L), (4) concentração de reagente fotométrico. O reagente em geral é: (1) misturado com
triglicerídeos de 55 m g / d L (0,62 m m o l / L ) , (5) concentração de u m a alíquota de 3 a 10 jiL de soro ou plasma e (2) incubado sob
apo B-100 de 86 m g / d L e (6) concentração de apo A-I de cerca condições controladas para desenvolvimento de cor, e (3) a absor-
de 130 m g / d L é típico para u m sujeito normal pré-puberdade. vâr.cia é medida na porção visível do espectro, geralmente a cerca
Após a puberdade, há um a u m e n t o dos triglicerídeos, colesterol de 500 n m . Os reagentes geralmente usam u m a colesteril-éster
LDL e apo B-100 em ambos os sexos e uma redução no colesterol hidTolase bacteriana para clivar os ésteres de colesteril:
H D L e apo A-I nos homens. As concentrações lipídicas conti-
n u a m a aumentar durante a vida adulta, sendo que o colesterol iTolestenl-ésier
total e LDL e apo B-100 são mais altos nos h o m e n s do que nas
Éster de colesteril + H ? 0 ^ colesterol + ácido graxo
mulheres até cerca de 55 anos de idade. Depois desta época, as
mulheres que n ã o estão recebendo suplementação de estrógeno (1)
apresentam colesterol total e LDL e apo B-100 mais altos d o que
os h o m e n s na mesma idade. Ao contrário de outros lipídios, O grupo 3 - O H do colesterol é então oxidado e m cetona em u m a
lipoproteínas e apolipoproteínas, a concentração de Lp(a) aumenta reação que exige oxigênio catalisada por colesterol oxidase:
lenta e gradualmente até atingir valores de Lp(a) do adulto após
o terceiro a n o de vida.
ÍOIMÍCTOI
ANÁLISE DOS LIPÍDIOS, LIPOPROTEÍNAS E Colesterol + O? > colest-4-en-3-ona + H 2 0 2
APOLIPOPROTEÍNAS 1 0 1 5 1 8
Os exames de rotina de lipídios e lipoproteínas são realizados (2)
pela maioria dos laboratórios clínicos. Os m é t o d o s de referência
correspondentes também foram desenvolvidos pelos Centers for O H 2 0 2 é então m e n s u r a d o em u m a reação catalisada por pero-
Disease C o n t r o l and Prevention (CDC). Estes métodos de refe- xidade q u e forma u m corante colorido:
rência foram cruciais na padronização dos exames de lipídios e
lipoproteínas. Q u a n d o os p o n t o s de corte relacionados com risco
+
H202 fenol + 4-aminoantipirina (3)
Peioxidase—^ , c o r a n t e quinoneimina + 2 H 2 0
I
TABELA 2 3 - 1 1 Recomendações do National
Cholesterol Education P r o g r a m para
Os métodos enzimáticos estão sujeitos a interferências de outros

L
D e s e m p e n h o A n a l í t i c o das M e n s u r a ç õ e s compostos coloridos ou daqueles que competem com a reação
de Lipídios e L i p o p r o t e í n a de oxidação, como: (1) bilirrubina, (2) ácido ascórbico e (3)
ERRO TOTAL COMPATÍVEL CCM hemoglobina. Os exames em geral são lineares até cerca de 600
(%) Viéis (%) CV (%) a 700 m g / d L (15,54 até 18,13 m m o l / L ) . Os reagentes foram
<±2 <3
refinados pela adição de substâncias como bilirrubina oxidase, e
Colesterol 8,9
<15 <i5 <5
leituras de duplo c o m p r i m e n t o de o n d a foram adicionadas para
Triglicerídeos
Colesterol HDL <13 <+5 <4 minimizar os efeitos da hemólise. A interferência da bilirrubina
C o l e s t e r o l LDL <12 <i4 <4 em geral não é u m a preocupação para concentrações abaixo de
5 m g / d L (85,5 [amol/L). Os reagentes enzimáticos, contudo, n ã o
C V j Coeficiente de vãriãçoo', HDL, {ipoproteinã de altã densidade, LDL>
são inteiramente específicos para colesterol porque outros este-
lipopTCieinã de baixa densidade
róis que c o n t ê m hidroxil, como o esterol vegetal sitosterol.
434 PARTE IV Aralitos

t a m b é m reagem com estas enzimas. N o plasma h u m a n o , c o n t u d o , Lactato


4
este não é u m problema maior p o r q u e estes esteróis interferentes, iPiruvato N A D H + H4 'T ^ - ) iactato + N A D f
em geral, estão em concentrações m u i t o baixas. Q u a n d o u m
sistema reagente-calibrador-instrumento de u m ú n i c o fabricante
A perda de absorvância à m e d i d a que o N A D H é c o n s u m i d o é
é usado, as mensurações do colesterol n o laboratório em geral
m e d i d a p o r u m f o t ô m e t r o a 340 n m .
são precisas, em u m a faixa de valores de referência de 1% a 3 % ,
O s m é t o d o s enzimáticos para triglicerídeos são b e m específi-
e estes sistemas são r o t i n e i r a m e n t e operados c o m coeficientes de
cos, pois n ã o detectam glicose ou fosfolipídios. Eles são lineares
variação de 1,5% a 2,5%.
na faixa de concentração até cerca de 700 m g / d L (7,91 m m o l / L )
e q u a n d o automatizados são operados c o m coeficientes de varia-
Triglicerídeos ção na faixa de a p r o x i m a d a m e n t e 2 % a 3 % . Pelo fato de o glice-
O s triglicerídeos t a m b é m são hoje c o m u m e n t e m e n s u r a d o s com rol ser u m p r o d u t o de processos metabólicos normais, está pre-
reagentes enzimáticos. Várias seqüências enzimáticas diferentes sente n o soro. Assim, a q u a n t i d a d e m e d i d a de triglicerídeos n o
têm sido usadas. E m todos estes métodos, a primeira etapa é a soro é ligeiramente superestimada, se n ã o for corrigida para gli-
hidrólise catalisada pela lipase dos triglicerídeos em glicerol e cerol e n d ó g e n o . E m indivíduos sadios, o glicerol e n d ó g e n o repre-
ácidos graxos. senta o equivalente a m e n o s de 10 m g / d L (0,11 m m o l / L ) de
triglicerídeos, e, p o r t a n t o , o erro causado pelo glicerol em geral
não é clinicamente significativo. E m determinadas condições,
+
Triglicerídeo 3 H z O——E a s e > glicerol + 3 ácidos graxos (4) como: (1) diabetes mellitus, (2) estresse emocional, (3) administra-
ção intravenosa de fármacos ou nutrientes que c o n t ê m glicerol,
O glicerol é então fosforilado em u m a reação d e p e n d e n t e de A T P (4) c o n t a m i n a ç ã o dos dispositivos de coleta de sangue pelo glice-
catalisada p o r gliceroquinase: rol e (5) a r m a z e n a m e n t o p r o l o n g a d o do sangue total sob condi-
ções n ã o refrigeradas, concentrações endógenas de glicerol intro-
Glicerol + A T P (5) duzem u m erro significativo. C o n s e q ü e n t e m e n t e , alguns labora-
tórios empregam u m exame de triglicerídeos alternativo, n o qual
Gliceroquinase i- r c ^
» ghceroioslato o glicerol e n d ó g e n o é p r i m e i r a m e n t e "apagado" ajustando-se os
4
adenosina difosfato (ADP) calibradores para c o m p e n s a r u m viés m é d i o ou c o n s u m i n d o
enzimaticamente o glicerol e m u m a etapa pré-reação antes de
N o s m é t o d o s mais c o m u m e n t e usados, o glicerofosfato é oxidado medir os triglicerídeos.
em diidroxiacetona e H 2 0 2 e m u m a reação catalisada p o r glice-
rofosfato oxídase: Colesterol da Lipoproteína de Aita Densidade
A concentração de H D L no plasma em geral é avaliada determi-
iGlicerofosfato + O i (6) nando-se a concentração de colesterol associada ao H D L . Basica-
mente, as lipoproteínas n ã o - H D L s ã o primeiro fisicamente remo-
Gliceiofosíato
vidas ou efetivamente mascaradas; então, o colesterol total é
— » diidroxiacetona + H2O2
medido.
O s exames de precipitação baseiam-se e m lipoproteínas não-
H D L - VLDL, IDL, Lp(a), LDL e quilomíerons - c o m poliâ-
e o H j O i formado na reação é medido como descrito na reação (3).
nions, c o m o : (1) sulfato de dextrano, (2) heparina ou (3) fosfo-
Alternativamente, o glicerofosfato é m e d i d o e m u m a forma
tungstato. O s poliânions reagem c o m grupos positivamente car-
reduzida de u m a reação p r o d u t o r a de nicotinamida-adenina
regados nas lipoproteínas, e esta interação é p o s t e r i o r m e n t e
d-inucleotídeo ( N A D H ) , e o N A D H é m e d i d o por u m espectro-
facilitada n a presença de cátions divalentes, c o m o o magnésio.
f o t ô m e t r o ajustado em 340 n m ou em u m a reação catalisada por
Q u a n d o os poliânions são adicionados a u m a alíquota de plasma
diaforase para f o r m a r u m p r o d u t o de reação cuja absorvância é
ou soro, forma-se u m precipitado de lipoproteínas n ã o - H D L e m
medida a 500 nm.
u m p e r í o d o de 10 a 15 m i n u t o s em t e m p e r a t u r a ambiente. O
precipitado é removido por centrifugação por pelo m e n o s 45.000
g-minutos ou o equivalente a 1.500 x g por 30 m i n u t o s . O coles-
Glicerofosfato 4 nicotinamida-adenina (7)
terol H D L é então m e d i d o enzimaticamente n o s o b r e n a d a n t e .
dinucleotideo (NAD) Várias combinações poliãnion-cátion divalente f o r a m usadas,
Glicerofosfato incluindo; (1) sulfato de heparina-MnClj, (2) sulfato de dextrano-
— ^ fosfato de diidroxiacetona MgCl 2 e (3) fosfotungstato-MgCl;. O s exames de colesterol H D L
são considerados imprecisos e m amostras q u e c o n t ê m altas con-
+ N A D H + H+
centrações de triglicerídeos, acima de 400 m g / d L (4,52 m m o l / L ) .
Para minimizar este problema, estas amostras são pré-tratadas
para remover ou reduzir a interferência por lipoproteínas ricas
N A D H + corante de tetrazólio— D ""°' a ——» f o r m a z a n 4 N A D + ^ e m triglicerídeos, que não precipitam c o m p l e t a me n te . As técni-
cas usadas para pré-trataT as amostras incluem: (1) centrifugação,
O u t r o s m é t o d o s m e d e m o A D P p r o d u z i d o na reação (5), como (2) filtração e (3) diluição. Sabe-se que os aditivos do tubo para
mostrado nas equações (9) e (10): coleta de sangue, i n c l u i n d o anticoagulantes, tais c o m o o citrato
e fluoreto, têm efeitos osmóticos grandes que fazem com que a
água desvie das células para o plasma e assim altere os resultados
Piruvato lipídicos. Estes aditivos t a m b é m diluem as lipoproteínas e m até
10% e p r o d u z e m valores e r r o n e a m e n t e baixos. O anticoagulante
A D P + piruvato de fosfoenol — t J ' n a s e — » A T P + piruvato ^
preferido para mensurações de lipoproteína é o ácido etilenodia-
minotetracético (EDTA) p o r q u e ele inibe a oxidação dos lipídios
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 435

e a proteólise das apolipoproteínas. C o n t u d o , ele provoca u m a Colesterol LDL = [Colesterol total] - [Colesterol HDL]
ligeira diluição de cerca de 3% q u a n d o comparado com as men- - [triglicerídeos]/5
surações de lipoproteína n o soro, nas quais se baseiam os p o n t o s
de corte vigentes. (11)
U m m é t o d o semelhante ao m é t o d o de precipitação do coles- onde todas as concentrações sao dadas em miligramas por deci-
terol H D L usa u m precipitante que forma u m complexo com litro. O triglicerídeo/2,22 é usado q u a n d o o colesterol LDL é
partículas magnéticas. U m a vez f o r m a d o o complexo de precipi- expresso em milimoles por litro. O fator [triglicerídeo]/5 é u m a
tante de lipoproteína-partícula magnética, ele deve ser rapida- estimativa da concentração d o colesterol V L D L e é baseado na
m e n t e removido sem centrifugação pelo uso de um imã externo. razão média entre triglicerídeos e colesterol n o VLDL.
O sobrenadante que contém H D L é então removido e o coleste- Na prática, a equação de Friedewald não deve ser usada em:
rol H D L é m e d i d o enzimaticamente. O método t a m b é m foi (1) amostras que têm concentrações de triglicerídeos acima de
adaptado para uso em u m analisador químico-clínico automati- 400 m g / d L (4,52 mmol/L), (2) amostras que contêm quantida-
zado, possibilitando que o sobrenadante seja analisado sem a des significativas de quilomícrons (amostras sem jejum) ou (3)
necessidade de removê-lo d o complexo sedimentado. pacientes com disbetalipoproteinemia. Nestes casos, o fator [tri-
Os exames diretos de colesterol HDL, também conhecidos gIicerídeo]/5 não fornece u m a estimativa precisa do colesterol
como exames homogêneos, atualmente são muito usados para VLDL, que leva a erros grandes n o colesterol LDL calculado.
mensurar rotineiramente o colesterol H D L . Em princípio, eles (3-Quantificação. Pelo fato de ser entediante realizá-la, a p-
f u n c i o n a m de maneira semelhante aos outros exames de coleste- quantificação em geral é reservada para amostras nas quais a
rol HDL, pois t a m b é m d e p e n d e m de mensuração enzimática do equação de Friedewald é inadequada, como naquelas com con-
colesterol d o HDL, mas, diferentemente de outros exames, não centrações de triglicerídeos acima d e 400 m g / d L (4,52 m m o l / L ) .
há separação física entre o H D L e as frações não-HDL. O plasma tratado com EDTA é a amostra escolhida, e o método
Em vez disso, o colesterol H D L é mensurado seletivamente envolve u m a combinação de ultracentrifugação preparatória e
mascarando d e maneira efetiva o colesterol das fiações não-HDL precipitação de poliânions. U m a alíquota de plasma (densidade
de forma que elas não reajam com as enzimas usadas para medir [d] = 1,006 g / m L ) é ultracentrifugada a 105.000 X g por 18 horas
o colesterol d o HDL. Isto é atingido por meio de uma variedade a 10°C. Sob estas condições, o VLDL, quilomícrons e P-VLDL
de métodos, d e p e n d e n d o do tipo de exame. Por exemplo, alguns acumulam-se em u m a camada flutuante, e n q u a n t o o infrana-
exames envolvem o uso de anticorpos ou vários polímeros ou dante com u m a densidade maior d o que 1,006 g / m L irá conter
agentes formadores de complexos, como ciclodextrina, que evitam principalmente LDL e H D L . Esta fração t a m b é m p o d e conter
que o colesterol nas frações não-HDL reaja com enzimas que qualquer IDL e Lp(a) que possa estar presente. A camada flutu-
m e d e m colesterol. Alguns exames t a m b é m dependem das modi- ante é removida com a ajuda de u m cortador de tubo. O infra-
ficações da colesteril esterase e colesterol oxidase, que os torna nadante é novamente misturado, reconstituído a u m volume
mais seletivos para colesterol HDL. Einalmente, alguns exames conhecido, e seu conteúdo de colesterol é medido. O colesterol
usam u m a etapa de consumo seletivo do colesterol das frações H D L em geral é medido em u m a alíquota separada de plasma.
não-HDL. Diferentemente dos outros exames de colesterol H D L , Entretanto, é possível t a m b é m medi-lo n o infranadante após a
não há u m a etapa pré-tratamento da amostra, e, portanto, exames precipitação das lipoproteínas restantes que contêm apo B-100
diretos p o d e m ser completamente automatizados. [IDL, LDL e Lp(a)]. O colesterol V L D L e o LDL são calculados
usando-se as seguintes equações:
Colesterol da Lipoproteína de Baixa Densidade
Tanto os métodos indiretos como os diretos são usados para
mensurar o colesterol LDL. [colesterol VLDL] = [colesterol total] (12)
- [d > 1,006 g / m L colesterol]
Métodos Indiretos
O s métodos indiretos partem do princípio de que o colesterol [colesterol LDL] = [d > 1,006 g / m L colesterol] (13)
total é composto principalmente de colesterol na VLDL, LDL e
- [colesterol HDL]
H D L . O colesterol LDL é então medido indiretamente pelo uso
da equação de Friedewald ou por p-quantificação. E i m p o r t a n t e
observar, c o n t u d o , que ambos estes métodos p o d e m n ã o ser O colesterol LDL medido pelo p r o c e d i m e n t o de p-quantificação
completamente responsáveis pelo colesterol associado ao I D L e não é afetado pela presença de: (1) quilomícrons, (2) outras
Lp(a). O alvo de acurácia atualmente aceito, o M é t o d o de Refe- lipoproteínas ricas em triglicerídeos ou (3) P-VLDL. O colesterol
rência usado n o s C D C para colesterol LDL, inclui IDL e Lp(a) V L D L em geral é calculado a partir da equação (12), e não
com LDL em u m a fração de LDL chamada de "broad-cut". medido diretamente n o sobrenadante ultracentrifugado. Este
Embora o I D L e Lp(a) em geral contribuam com apenas alguns m é t o d o é usado porque a recuperação quantitativa desta fração,
miligramas de colesterol por decilitro para a mensuração indireta particularmente q u a n d o as concentrações de triglicerídeos são
de colesterol LDL, suas contribuições p o d e m ser maiores e por- altas, geralmente é difícil. Este procedimento t a m b é m é útil n o
tanto mais problemáticas, particularmente em alguns pacientes diagnóstico de disbetalipoproteinemia.
com dislipidemia. Pelo fato de o colesterol associado ao IDL, ao A razão entre colesterol V L D L e triglicerídeos plasmáticos,
Lp(a) e ao L D L serem todos positivamente associados ao risco expressa em termos de massa, e m geral é de 0,2, o u ainda mais
para C H D , sua inclusão na fração LDL não é considerada u m baixa com pacientes com outras f o r m a s de hiperlipidemia. Na
problema na caracterização de risco de C H D nos pacientes. disbetalipoproteinemia, esta razão é de 0,3 ou maior devido à
Equação de Friedewald. N o método indireto mais a m p l a m e n t e presença de p-VLDL, e a razão a u m e n t a d a persiste m e s m o após
usado: (1) colesterol total, (2) triglicerídeos e (3) colesterol H D L o t r a t a m e n t o ser iniciado. A l é m disso, é possível observar
são medidos e o colesterol L D L é calculado a partir das mensu- d i r e t a m e n t e o P-VLDL por m e i o de eletroforese c o m gel de
Tações primárias por meio d o uso da equação empírica d e Frie- agarose d o s o b r e n a d a n t e p r o d u z i d o d u r a n t e o p r o c e d i m e n t o
dewald: de p-quantificação.
436 PARTE IV Analitos

Métodos Diretos c o m lipídios. Isso p o d e alterar, p o r exemplo, a c a p a c i d a d e de u m


V á r i o s m é t o d o s usados para a m e n s u r a ç ã o d i r e t a do colesterol a n t i c o r p o d e r e c o n h e c e r i g u a l m e n t e a p o B-100 e m partículas d e
L D L baseiam-se n a p r e c i p i t a ç ã o seletiva, c o m sulfato d e polivinil LDL, IDL, V L D L e Lp(a). O s d e t e r g e n t e s n ã o iónicos, c o m o o
o u h e p a r i n a a u m p H baixo. A l t e r n a t i v a m e n t e , u m m é t o d o de T w e e n 20 o u Tw een 80, e m geral são a d i c i o n a d o s às soluço es-
p r é - t r a t a m e n t o m a i s específico, mas e n t e d i a n t e , usa u m a mistura t a m p ã o d o s ensaios para r n m p e r as partículas de l i p o p r o t e í n a e
d e a n t i c o r p o s policlonais c o m a p o A-I e a p o E ligados a u m a t o r n a r rodos os locais antigênicos nas a p o l i p o p r o t e í n a s acessíveis
resina q u e se liga e r e m o v e V L D L , I D L e H D L . C o n t u d o , estes aos a n t i c o r p o s . A relativa i n s o l u b i l i d a d e d a a p o B t a m b é m
m é t o d o s f o r a m a t u a l m e n t e s u p l a n t a d o s p o r u m a nova classe d e t o r n o u difícil desenvolver c a l i b r a d o r e s e materiais de r e f e r ê n c i a
reagentes h o m o g ê n e o s diretos q u e são s e m e l h a n t e s aos reagentes confiáveis. T a m b é m foi d e m o n s t r a d o q u e os ensaios i m u n o t u r -
h o m o g ê n e o s desenvolvidos para m e d i r colesterol H D L . b i d i m é t r i c o s e i m u n o n e f e l o m é t r i c o s são afetados pela t u r v a ç ã o
Estes ensaios m e d e m s e l e t i v a m e n t e o colesterol n o L D L a p ó s do m e i o das amostras, c o m o aqueles c o m c o n c e n t r a ç õ e s de tri-
m a s c a r a r o colesterol associado às o u t r a s frações n a o - L D L o u p o r glicerídeos. A adição d e d e t e r g e n t e s aos t a m p õ e s d o ensaio r e d u z
m e i o d a solubilização seletiva d e L D L . Por exemplo, u m a abor- a dispersão d e luz n ã o especifica, o q u e t e m a j u d a d o a d i m i n u i r
d a g e m inicial beneficiou-se d o f a t o d e q u e a a p o B-100 é essen- este p r o b l e m a .
c i a l m e n t e a ú n i c a a p o l i p o p r o t e í n a n o LDL. U m a m i s t u r a d e
a n t i c o r p o s policlonais c o m a p o A-I e a p o E foi u s a d a p a r a ligar Apoliprotéinas A-1 e B-100
e m a s c a r a r o colesterol n o V L D L , I D L e H D L , e e n t ã o o coles- O s ensaios i m u n o t u r b i d i m é t r i c o s e i m u n o n e f e l o m é t r i c o s são
terol L D L é m e d i d o e n z i m a t i c a m e n t e . A análise d o colesterol t i p i c a m e n t e usados para m e d i r a p o A-I e a p o B-100. Alternativa-
L D L p o r m é t o d o s diretos n ã o envolve a m e n s u r a ç ã o d e triglice- m e n t e , técnicas mais sensíveis, c o m o o E L I S A e RIA, e m geral
rídeos, p o r t a n t o , é possível usar amostras s e m j e j u m . E m geral, são mais a d e q u a d a s p a r a aquelas a p o l i p o p r o t e í n a s p r e s e n t e s e m
estes ensaios p r o d u z e m r e s u l t a d o s s e m e l h a n t e s ao d o colesterol c o n c e n t r a ç õ e s significativamente m a i s baixas, c o m o a p o C - l e
L D L c a l c u l a d o e d a q u e l e s a p a r t i r da P - q u a n t i f i c a ç ã o nas amos- a p o C-II. Esforços consideráveis f o r a m d e s p e n d i d o s n o p a s s a d o
tras n o r m o l i p i d ê m i c a s . As avaliações d o s ensaios h o m o g ê n e o s de para p a d r o n i z a r as m e n s u r a ç õ e s d c a p o A-I c B-100. Isso m e l h o -
L D L i n d i c a m q u e os coeficientes d e variação ( C V ) e m geral f i c a m rou s i g n i f i c a t i v a m e n t e o d e s e m p e n h o geral desses ensaios.
e m 3 % e c o n s i s t e n t e m e n t e d e n t r o d a m e t a d e d e s e m p e n h o de
m e n o s de 4 % dos C V s (Tabela 23-11). E m c o n t r a p a r t i d a , os C V s Lipoproteína(a)8
p a r a cálculo d e Friedewald f o r a m e s t i m a d o s e m a p r o x i m a d a -
O s d e t e r m i n a n t e s a n t i g ê n i c o s r e p e t i d o s estão presentes e m
m e n t e 4 % n o s l a b o r a t ó r i o s especializados e e m até 1 2 % n o s
n ú m e r o s variáveis e m partículas Lp(a) diferentes. D e m o n s t r o u - s e
l a b o r a t ó r i o s clínicos d e rotina, c o m o e s t i m a d o a partir de pesqui-
q u e a i m u n o r r e a t i v i d a d e d o s a n t i c o r p o s d i r e c i o n a d o s para estes
sas de teste de proficiência. A u t i l i d a d e clínica dos testes d e
e p í t o p o s varia c o m o f u n ç ã o d o t a m a n h o d a apo(a). A s s i m , os
colesterol L D L h o m o g ê n e o s , c o n t u d o , n ã o foi b e m estabelecida
i m u n o e n s a i o s t e n d e m a s u b e s t i m a r a c o n c e n t r a ç ã o de apo(a) n a s
c o m o os m é t o d o s de colesterol L D L mais antigos para prever amostras c o m apo(a) d e t a m a n h o s m e n o r e s d o q u e a apo(a)
risco d e C H D . T a m b é m h á a l g u m a s evidências d e q u e os dife-
p r e s e n t e n o calibrador d o ensaio e s u p e r e s t i m a r a c o n c e n t r a ç ã o
rentes exames p o d e m n ã o ser específicos e m e d i r algumas das
de apo(a) nas amostras c o m apo(a) maior. O s ensaios b a s e a d o s
o u t r a s l i p o p r o t e í n a s q u e c o n t ê m a p o B suficientes para deixar
e m a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s t ê m a n t i c o r p o s q u e são i m u n o q u i -
passar algumas s u b f r a ç õ e s d e LDL, c o m o o d e n s o e p e q u e n o
m i c a m e n t e caracterizados e pré-selecionados c o m base e m sua
L D L pró-aterogênico. A l é m disso, os o u t r o s exames d e perfil
especificidade a e p í t o p o s ú n i c o s . E n t r e t a n t o , a caracterização dos
l i p í d i c o e l i p o p r o t e í n a q u e s ã o u s a d o s p a r a calcular o colesterol
a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s é u m p r o c e d i m e n t o b e m complexo, e
L D L pela e q u a ç ã o de Friedewald. f r e q ü e n t e m e n t e a i n d a são neces-
n e m t o d o s os a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s a t u a l m e n t e utilizados n o s
sários, p a r t i c u l a r m e n t e n a avaliação inicial d e u m p a c i e n t e .
ensaios c o m e r c i a l m e n t e disponíveis f o r a m b e m caracterizados e m
l e r m o s d a especificidade d o e p í t o p o . U m a d e s v a n t a g e m a d i c i o n a l
M é t o d o s Analisadores de D e s k t o p dos a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s é q u e eles n ã o são f a c i l m e n t e u s a d o s
O s analisadores portáteis, t a m b é m c h a m a d o s de: (1) "analisado- nos i m u n o e n s a i o s q u e r e q u e r e m a p r e c i p i t a ç ã o do c o m p l e x o
res de desktop", (2) "analisadores de c o n s u l t ó r i o m é d i c o " o u (3) antígeno-anticorpo.
"analisadores n o local de a t e n d i m e n t o " , f o r a m desenvolvidos Os métodos turbidimétrico, nefelométrico, radiométrico e
p a r a uso e m locais q u e n ã o os l a b o r a t ó r i o s ( C a p í t u l o s 5 e 12). enzimático são t o d o s usados a t u a l m e n t e p a r a m e n s u r a ç ã o de
V á r i o s desses dispositivos são capazes d e m e d i r o colesterol d e Lp(a). A maioria desses ensaios, exceto os i m u n o e n s a i o s enzimá-
m a n e i r a precisa e acurada, e a maioria t a m b é m q u a n t i f i c a os ticos (ELISA), baseia-se n o uso d e a n t i c o r p o s policlonais d e várias
triglicerídeos e colesterol H D L , c o m cálculo de colesterol LDL, espécies animais. C o m e r c i a l m e n t e disponível, os ELISA de ligação
e m alguns microlitros d e s a n g u e total, soro o u p l a s m a e m u m direta, d o tipo s a n d u í c h e , e m geral são b a s e a d o s n o uso de u m a
p e r í o d o de alguns m i n u t o s , o q u e t o r n a esses tipos de analisado- c o m b i n a ç ã o de a n t i c o r p o s m o n o c l o n a i s e policlonais. U m a abor-
res i d e a l m e n t e a d e q u a d o s p a r a p r o g r a m a s p ú b l i c o s de triagem de dagem beneficia-se d a presença t a n t o das partículas de apo(a)
colesterol. c o m o a p o B n o Lp(a). E m o u t r a a b o r d a g e m , t a n t o os a n t i c o r p o s
d e c a p t u r a c o m o de detecção s ã o específicos para apo(a). Atual-
M e n s u r a ç ã o de A p o l i p o p r o t e í n a s m e n t e , n ã o se sabe q u a l a b o r d a g e m seria m e l h o r com relação à
As a p o l i p o p r o t e í n a s são m e d i d a s p o r : (I) r a d i o i m u n o e n s a i o estimativa d o risco d e C H D o u A V C p o r q u e os m e c a n i s m o s
(RIA), (2) e n s a i o i m u n o a b s o r v e n t e ligado à e n z i m a (ELISA), (3) patogênicos envolvidos a i n d a n ã o f o r a m elucidados.
i m u n o d i f u s ã o radial (RID), ( 4 ) ens ai o i m u n o t u r b i d i m é t r i c o e (*5) T r a d i c i o n a l m e n t e , as c o n c c n t r a ç õ c s de Lp(a) f o r a m relatadas
ensaio imunonefelométrico. A concentração de uma determi- em t e r m o s d a massa d a p a r t í c u l a de Lp(a) total ou, alternativa-
n a d a a p o l i p o p r o t e í n a e m geral d e t e r m i n a o m é t o d o . m e n t e , e m t e r m o s d a p r o t e í n a Lp(a). Se o objetivo é f o r n e c e r
E m b o r a os ensaios para a p o l i p o p r o t e í n a evitem algumas das valores de Lp(a) q u e s e j a m i n d e p e n d e n t e s d o t a m a n h o de apo(a),
a r m a d i l h a s d o s ensaios d e l i p o p r o t e í n a , eles t ê m seus p r ó p r i o s recomenda-se q u e o ensaio d e Lp(a) use a n t i c o r p o s d i r e c i o n a d o s
desafios. O s e p í t o p o s nas a p o l i p o p r o t e í n a s n e m s e m p r e p o d e m para u m d o m í n i o apo(a) q u e n ã o o kringle 4 tipo 2 o u p a r a o
ser r e c o n h e c i d o s pelos a n t i c o r p o s q u a n d o f o r m a m c o m p l e x o s c o m p o n e n t e B-100 d e Lp(a). Isso possibilitaria q u e os valores
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 437

fossem expressos e m n a n o m o l e s p o r litro. As misturas p a n - m o n o - m i n a ç ã o d e i s o f o r m a s a p o E foi avaliada p o r técnicas de focaliza-


clonais de a n t i c o r p o s ao krmglfi 4 t i p o 2 p o d e m ser p r e f e r i d a s se ção isoelétrica (IEF) q u e p e r m i t e m a identificação d e variações
d e t e r m i n a d o s t a m a n h o s d e p o l i m o r f o s c o n t r i b u í r e m para o de carga das d i f e r e n t e s i s o f o r m a s . N o s e s t u d o s iniciais, os fenóti-
risco. A t u a l m e n t e , as m e n s u r a ç õ e s d e Lp(a) n ã o são b e m padro- pos d e a p o E f o r a m avaliados após I E F p o r imunobíottmg c o m
nizadas, e a m a i o r i a dos ensaios de Lp(a) n ã o foi avaliada para a n t i c o r p o s específicos para a p o E. É i m p o r t a n t e q u e as a m o s t r a s
sua sensibilidade ao t a m a n h o d e apo(a). C o n s e q ü e n t e m e n t e , os para esta técnica s e j a m analisadas frescas ou, se a r m a z e n a d a s , q u e
valores d e Lp(a) relatados n o s e s t u d o s clínicos são difíceis de s e j a m m a n t i d a s a - 7 0 ° C a n t e s da análise para m i n i m i z a r a intro-
s e r e m c o m p a r a d o s . Apesar disso, u m valoT d e cerca de 3 0 m g / d L d u ç ã o d e artefatos. A classificação e r r ô n e a o c o r r e u d e v i d o a
d a massa d a p a r t í c u l a d e Lp(a) total foi t r a d i c i o n a l m e n t e u s a d o m o d i f i c a ç õ e s pós-tTanslacionais o u glicosilação n ã o e m i m ã t i c a d e
c o m o c o r t e acima d o qual o a u m e n t o das c o n c e n t r a ç õ e s de Lp(a) a p o E. A i n t e r p r e t a ç ã o dos p a d r õ e s de eletroforese dessas varian-
é associado a u m a u m e n t o d o risco d e C H D . As c o n c e n t r a ç õ e s tes r e q u e r experiência significativa n o u s o da técnica.
Lp(a) t a m b é m f o r a m expressas e m t e r m o s de: (1) n ú m e r o d e A d i s p o n i b i l i d a d e de técnicas baseadas na reação e m cadeia
partículas, (2) massa de apo(a), (3) a p o B-100 o u (4) colesterol d e p o l i m e r a s e ( P C R ) p e r m i t e u m a análise d a variação na
Lp(a). A t u a l m e n t e , os valores de Lp(a) são m a i s c o m u m e n t e s e q ü ê n c i a d o n u c l e o t í d e o d o gene a p o E (Figura 23-22). U m a
expressos e m t e r m o s da massa de Lp(a) total. Hm vista d o atual a b o r d a g e m para g e n o t i p a g e m de a p o E usa o l i g o n u c l e o t í d e o s
estado d e p a d r o n i z a ç ã o precária para Lp(a), é difícil d e f i n i r os para amplificar as s e q ü ê n c i a s d o gene a p o E q u e c o n t ê m os
cortes exatos a serem u s a d o s c l i n i c a m e n t e . U m a a b o r d a g e m seria a m i n o á c i d o s nas posições 112 e 158; os p r o d u t o s a m p l i f i c a d o s
a d e estabelecer u m intervalo de referência p a r a cada ensaio e são digeridos c o m a e m i m a H h a l e d e p o i s s u b m e t i d o s à eletrofo-
relatar os r e s u l t a d o s isolados e m t e r m o s d o s valores d e p e r c e n t i s rese e m géis de p o l i a c r i l a m i d a . A l t e r n a t i v a m e n t e , os oligonucle-
d e n t r o destes intervalos. O s pacientes c a u c a s i a n o s c o m valores o t í d e o s alelo-específicos (ASO) f o r a m u s a d o s para a m p l i f i c a r
de Lp(a) acima d o percentil 80 são c o n s i d e r a d o s e m risco a u m e n - e s p e c i f i c a m e n t e as s e q ü ê n c i a s p o l i m ó r f i c a s E 2 | E 3 e E 4 d o gene
t a d o p a r a aterosclerose c o r o n a r i a n a ; e n t r e t a n t o , pelo fato de os a p o E. O sistema d e amplificação refratária a m u t a ç õ e s (ARMS)
valores d e Lp(a) variarem e n t r e os g r u p o s étnicos, os valores d e é o u t r a a b o r d a g e m q u e se baseia n a P C R alelo-específica, q u e
r e f e r ê n c i a d e v e m seT b a s e a d o s n a p o p u l a ç ã o . Por e x e m p l o , os d e p e n d e d o e m p a r e l h a m e n t o perfeito das bases dos n u c l e ó t i d o s
a f r o - a m e r i c a n o s e m geral a p r e s e n t a m c o n c e n t r a ç õ e s significativa- d a região 3' t e r m i n a l . E simples, r á p i d o e n ã o isotópico. O
m e n t e m a i s altas de Lp(a) d o q u e os caucasianos. m é t o d o d e p o l i m o r f i s m o d e c o n f o r m a ç ã o de fita simples (SSCP)
t a m b é m t e m sido u s a d o p a r a g e n o t i p a g e m de a p o E. E m b o r a
Apolipoproteína E detecte m u t a ç õ e s d e s c o n h e c i d a s d e a p o E, ele a p r e s e n t a a des-
A h o m o z i g o s i d a d e para a p o E 2 é característica d a h i p e r l i p o p r o - v a n t a g e m de exigir o l i g o n u c l e o t í d e o s r a d i o m a r c a d o s . Pelo f a t o
t e i n e m i a familiar d o tipo 111. A h o m o z i g o s i d a d e para a p o E 3 é de a isotipagem de restrição ser rápida, exigindo a p e n a s 1 h o r a
u m a c o n d i ç ã o necessária, mas n ã o s u f i c i e n t e p a r a expressão da para digerir o p r o d u t o de P C R e algumas h o r a s p a r a eletroforese
h i p e r l i p o p r o t e i n e m i a do tipo III. U m s e g u n d o defeito o u c o n d i - e n ã o r e q u e r e r reagentes radioativos, ela p o d e ser o m é t o d o mais
ção genética p a r e c e ser n e c e s s á r i o p a r a causar a h i p e r l i p i d e m i a prático neste m o m e n t o para g e n o t i p a g e m d e a p o E n o laborató-
característica. A heterozigosidade p a r a alguns m u t a n t e s raros de rio clínico diagnóstico. D e v i d o aos potenciais erros n a interpre-
a p o E t a m b é m p o d e m ser associados à h i p e r l i p o p r o t e i n e m i a d o tação o u artefatos inevitáveis n o m é t o d o d e f e n o t i p a g e m de a p o
tipo III. O e s t u d o de variantes a p o E a s s u m i u m a i o r i m p o r t â n c i a E, a g e n o t i p a g e m d e a p o E é m a i s confiável para d e t e r m i n a r os
n o s ú l t i m o s a n o s graças à associação e n t r e o alelo de a p o E 4 e o alelos de a p o E c o m u n s e é o m é t o d o e s c o l h i d o se o D N A estiver
mal d e A l z h e i m e r e a d e m ê n c i a , mas n ã o se sabe c o m o a a p o E 4 disponível p a r a análise. A m a i o r i a dos m é t o d o s d e g e n o t i p a g e m
está r e l a c i o n a d a c o m estes d i s t ú r b i o s . T r a d i c i o n a l m e n t e , a deter- de a p o E, c o n t u d o , n ã o é p r o j e t a d a para detectar m u t a ç õ e s raras.

112 158
5'

3
i.E2j TGC TGC .3'

K)
NH 2 - Cys Cys • COOH

5' . TGC CGC .3'


NH2 Cys Arg COOH

:eÍ)
5' • TGC CGC 3'
NH-' Arg Arg COOH

&
Amplificação do DNA pela PCR

/ I \
Identificação dos polimorfismos

Polimorfismo
em conformação Hibridação Isotipagem por restrição com
Seqüenciamenio Sistema refratário de amplificação
de fila única com ASO endonuclease Hhal de mutações (ARMS)

Figurã 23-22 Métodos diferentes para investigar polimorfismo da apolipoproteína E no nível genômico.
PCR, reação em cadeia de polimerase; ASO, oligonucleotideo alelo-específica. (De Siest G, Pillot T, Regis-Bailly
A, Leinínger-Muller B, Steinmetz J, et ai. Apolipoprotein E: A n importanr gene and procein to follow in
laboratory medicine. Clin C h e m 1995;41:1068-86.)
438 PARTE IV Analitos

Relataram-se discrepâncias d e 5 % a 2 0 % e n t r e os r e s u l t a d o s da macrófagos residentes. T a m b é m é citotóxico para vários tipos de


fenotipagem e genotipagem. células e é i m u n o g ê n i c o . U m m é t o d o E L I S A comercial p a r a
d e t e r m i n a ç ã o d e o x L D L está a t u a l m e n t e disponível.
Novos Ensaios de Lipídios e Lipoproteínas"! 6
Vários exames alternativos para lipídios e l i p o p r o t e í n a s estão Fontes de Variação e Viés na M e n s u r a ç ã o d o
s e n d o desenvolvidos p a r a m e d i r s u b f r a ç õ e s d e l i p o p r o t e í n a , lipo- Teste
proteínas de densidade intermediária (remanescentes) e L D L A s c o n c e n t r a ç õ e s das várias l i p o p r o t e í n a s e suas partes consti-
oxidado. t u i n t e s - lipídios e a p o l i p o p r o t e í n a s - v a r i a m entre os i n d i v í d u o s
( C a p í t u l o 3). A s variações analíticas p a r a estas m e n s u r a ç õ e s são
Ensaios de Subtração de Lipoproteína relativamente p e q u e n a s , g e r a l m e n t e cerca d e 2 % a 3% d e C V
Várias a b o r d a g e n s f o r a m u s a d a s p a r a q u a n t i f i c a r as l i p o p r o t e í n a s para colesterol e triglicerídeos e m e n o s de 4 % p a r a colesterol
totais e, e m a l g u n s casos, as s u b f r a ç õ e s d e n t r o das classes m a i o r e s L D L e H D L , e e m geral estão d e n t r o das diretrizes de d e s e m p e -
d e l i p o p r o t e í n a , e m u m a ú n i c a o p e r a ç ã o . M u i t o s desses m é t o d o s n h o analítico da N C E P (Tabela 23-ll). 1 1 E m c o n t r a p a r t i d a , as
d e l i p o p r o t e í n a total são realizados apenas p o r l a b o r a t ó r i o s espe- variações fisiológicas são m u i t o m a i o r e s e c o n t r i b u e m p a r a a
cializados, e a significância clínica e a u t i l i d a d e das d i f e r e n t e s m a i o r p a r t e da variância geral de c o n c e n t r a ç õ e s d e lipídios e
subfrações d e l i p o p r o t e í n a a i n d a n ã o estão c o m p l e t a m e n t e esta- lipoproteínas. Por esta razão, u m a c o n c e n t r a ç ã o u s u a l de lipídio
belecidas. o u l i p o p r o t e í n a de u m p a c i e n t e n ã o é confiavelrnente estabele-
O mais r á p i d o desses m é t o d o s é a espectroscopia p o r resso- cida a partir d e u m a ú n i c a m e n s u r a ç ã o . O N C E P L a b o r a t o r y
n â n c i a n u c l e a r magnética. Este m é t o d o detecta grupos acila S t a n d a r d i z a t i o n Panei l a n ç o u as seguintes r e c o m e n d a ç õ e s espe-
metila e m e t i l e n o d e ácidos graxos associados à l i p o p r o t e í n a , e cíficas sobre fatores pré-analíticos e p r o c e d i m e n t o s d e processa-
os sinais de i n ú m e r a s s u b f r a ç õ e s d e V L D L , L D L e H D L são m e n t o d e amostras p a r a r e d u ç ã o da variação de e x a m e d e lipídios
resolvidos m a t e m a t i c a m e n t e . O s valores são relatados e m t e r m o s e lipoproteínas:
d e c o n c e n t r a ç õ e s de colesterol d e l i p o p r o t e í n a c o m base e m 1. U m perfil lipídico e l i p o p r o t é i c o isolado deve ser m e d i d o
suposições s o b r e as c o m p o s i ç õ e s m é d i a s d e colesterol das diferen- a p e n a s q u a n d o o i n d i v í d u o está e m e s t a d o m e t a b ó l i c o
tes classes p r i n c i p a i s de l i p o p r o t e í n a . U m a única a m o s t r a é ana- estável.
lisada e m a l g u n s m i n u t o s c o m cerca de 0,5 m L de soro. O 2. O s indivíduos d e v e m m a n t e r sua dieta e peso usual p e l o
m é t o d o r e q u e r amostras frescas, e q u i p a m e n t o especializado e m e n o s 2 s e m a n a s antes da d e t e r m i n a ç ã o de seus lipídios e
experiência, e m b o r a seja p r o p e n s o à a u t o m a ç ã o . O u t r a aborda- lipoproteínas.
gem t e m s i d o usar u m a u l t r a c e n t r i f u g a ç ã o de g r a d i e n t e d e den- 3 . M ú l t i p l a s m e n s u r a ç õ e s e m u m p e r í o d o d e 2 meses, c o m
s i d a d e e m u m r o t o r vertical e m e d i r o colesterol c o n t i n u a m e n t e intervalo de p e l o m e n o s 1 s e m a n a , d e v e m ser realizadas antes
n a s frações eluídas d o g r a d i e n t e . O m é t o d o é capaz de derivar as d e se t o m a r u m a decisão clínica s o b r e f u t u r a s ações.
c o n c e n t r a ç õ e s de: (1) V L D L , (2) IDL, (3) LDL, (4) Lp(a) e (5) 4. O s indivíduos n ã o devem realizar atividade física vigorosa n o
colesterol H D L . Esta a b o r d a g e m é t e c n i c a m e n t e exigente e r e q u e r p e r í o d o d e 24 h o r a s antes d o exame.
i n s t r u m e n t a ç ã o q u e n e m s e m p r e está disponível n a maioria d o s 5. As amostras e m j e j u m o u sem j e j u m d e v e m ser usadas p a r a
laboratórios clínicos. As l i p o p r o t e í n a s t a m b é m f o r a m separadas e x a m e de colesterol total. E n t r e t a n t o , é necessária u m a
nas p r i n c i p a i s classes e s u b f r a ç õ e s p o r eletroforese, e m gel de a m o s t r a e m j e j u m de 12 h o r a s p a r a triglicerídeos e lipopro-
gradiente, d e soro n ã o f r a c i o n a d o ou f r a c i o n a d o . O eletroforeto- teínas.
grama é o b t i d o através da d e n s i t o m e t r i a , e as áreas sob os vários 6. O s indivíduos d e v e m sentar-se p o r peto m e n o s 5 m i n u t o s
picos de l i p o p r o t e í n a são integradas e convertidas e m concentra- antes da coleta da a m o s t r a .
ções equivalentes de colesterol l i p o p r o t é i c o através d o u s o de 7. O t o r n i q u e t e n ã o deve ser m a n t i d o p o r mais de 1 m i n u t o
supostas c o m p o s i ç õ e s médias de colesterol para l i p o p r o t e í n a s . A d u r a n t e a p u n ç ã o da veia.
eletroforese b i d i m e n s i o n a l d e lipoproteínas, q u e envolve eletro- 8. Deve-se usar soro o u p l a s m a p a r a m e d i r as c o n c e n t r a ç õ e s de
forese e m gel de agarose a c o m p a n h a d a de eletroforese e m gel de colesterol total, triglicerídeos e colesterol H D L . Q u a n d o o
g r a d i e n t e d e s n a t u r a n t e , oferece a mais alta res ol ução p a r a sepa- E D T A é u s a d o c o m o anticoagulante, o p l a s m a deve ser res-
ração das d i f e r e n t e s s u b f r a ç õ e s de lipoproteína, m a s é ampla- f r i a d o i m e d i a t a m e n t e p a r a 2 ° C a 4 ° C p a r a evitar m u d a n ç a s
m e n t e u s a d a c o m o objetivo de pesquisas e m v i r t u d e da comple- na composicão, e os valores devem ser m u l t i p l i c a d o s p o r
x i d a d e d o ensaio. 1,039.
9. Para exame de colesterol total, o soro deve ser t r a n s p o r t a d o
Lipoproteínas de Densidade Intermediária a 4 ° C ou c o n g e l a d o . O a r m a z e n a m e n t o das amostras a - 2 0 ° C
(Remanes cen tes) é a d e q u a d o para a m e n s u r a ç ã o d o colesterol total; n o e n t a n t o ,
D e m o n s t r o u - s e q u e os p r o d u t o s lipolíticos d o V L D L e quilomí- as amostras t ê m d e ser a r m a z e n a d a s a -70°C, ou m e n o s , p a r a
erons, c h a m a d o s de " l i p o p r o t e í n a s r e m a n e s c e n t e s " , e r a m predi- e x a m e de triglicerídeos, l i p o p r o t e í n a e a p o l i p o p r o t e í n a .
tivos p a r a risco d e C H D . U m m é t o d o que usa a n t i c o r p o s para 10. A s amostras d e s a n g u e devem s e m p r e ser c o n s i d e r a d a s p o t e n -
m e n s u r a r o c o n t e ú d o de colesterol das partículas s e m e l h a n t e s às cialmente infecciosas e, p o r t a n t o , devem ser m a n i p u l a d a s d e
r e m a n e s c e n t e s (RLP) tornou-se c o m e r c i a l m e n t e disponível. maneira adequada.
D e m o n s t r o u - s e q u e ele é útil n a previsão d o risco de C H D e m
vários estudos, m a s a i n d a n ã o é a m p l a m e n t e u s a d o .
OUTROS FATORES DE RISCO CARDÍACO 2
LDL Oxidado A p e s a r da forte associação e n t r e c o n c e n t r a ç õ e s de lipídios e risco
O L D L o x i d a d o (oxLDL), q u e é gerado m vivo, a p r e s e n t a várias d e C H D , há m u i t o é r e c o n h e c i d o q u e m e t a d e d e t o d o s os infar-
p r o p r i e d a d e s pró-ateTogênicas, i n c l u i n d o : (1) r á p i d a c a p t a ç ã o p o r tos d o m i o c á r d i o o c o r r e e n t r e i n d i v í d u o s sem h i p e r i i p i d e m i a
macrófagos p a r a f o r m a r células espumosas, (2) q u i m i o a t r a ç ã o p o r evidente. C o n s e q ü e n t e m e n t e , u m a a m p l a v a r i e d a d e d e m a r c a d o -
m o n ó c i t o s circulantes, (3) p r o m o ç ã o da d i f e r e n c i a ç ã o de m o n ó - res b i o q u í m i c o s n ã o lipídicos foi a t u a l m e n t e i d e n t i f i c a d a para
citos e m m a c r ó f a g o s teciduais e (4) inibição da m o t i l i d a d e dos possível uso na avaliação d o risco cardiovascular. D o i s dos mais
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 439

promissores sao a proteína C-reativa de alta sensibilidade (hsCRP) da concentração de hsCRP. E m u m experimento primário de
e a homocisteína. g r a n d e p o r t e sobre prevenção, a redução do risco de i n f a r t o d o
miocárdio f u t u r o associado ao ácido acetilsalicílico foi de 5 6 %
Proteína C-reativa de Alta Sensibilidade 1 3 , 1 4 entre aqueles c o m concentrações de h s C R P n o quartil mais alto
A C R P foi descoberta e m 1930, e mais tarde foi d e m o n s t r a d o e d i m i n u i u p r o p o r c i o n a l m e n t e c o m valores de h s C R P n o quartil
que ela é u m reagente de fase aguda. R o t i n e i r a m e n t e , é monito- mais baixo. Isso sugere que o ácido acetilsalicílico p o d e evitar
rada c o m o u m a indicação de infecção e de doenças auto-imunes eventos isquêmicos através de efeitos anti inflamatórios e antipla-
(Capítulo 18). quetários. Todos os fármacos estatínicos mostraram reduzir
A inflamação crônica t a m b é m é u m c o m p o n e n t e i m p o r t a n t e hsCRP, mas, de m o d o interessante, a m a g n i t u d e da redução d o
n o desenvolvimento e progressão de aterosclerose. I n ú m e r o s colesterol LDL causada pela terapia c o m estatina está m i n i m a -
estudos epidemiológicos d e m o n s t r a r a m que o a u m e n t o das con- m e n t e correlacionada c o m a m a g n i t u d e da redução da hsCRP.
centrações de C R P sérica é positivamente associado a risco de O s dados de vários experimentos randomizados de grande p o r t e
f u t u r o s eventos de C H D q u a n d o se usa o ensaio de hsCRP. sugerem que a redução d o risco cardiovascular atribuível à terapia
Estudos t a m b é m d e m o n s t r a r a m u m a associação significativa c o m estatina pode ser mais notável para aqueles com a u m e n t o
entre C R P e f u t u r o risco de: (1) s í n d r o m e metabólica, (2) diabetes das concentrações d e h s C R P na linha de base.
meiiitiís e (3) hipertensão. Estes achados s u s t e n t a m a hipótese de
que inflamação, aterotrombose, diabetes e hipertensão estão de Análise de CRP
alguma forma f i r m e m e n t e inter-relacionados e partilham meca- O s métodos de h s C R P foram desenvolvidos para detectar as
n i s m o s patogênicos c o m u n s . baixas concentrações necessárias para previsão d o risco vascular.
Das várias técnicas usadas para m e l h o r a r a sensibilidade dos
Bioquímica ensaios de CRP, a a b o r d a g e m mais b e m sucedida foi ampliar as
A C R P consiste e m cinco s u b u n i d a d e s de polipèptídeos n ã o propriedades de dispersão da luz do complexo antígeno-anti-
glicosilados idênticos e ligados n ã o covalentemente para f o r m a r c o r p o por meio do a c o p l a m e n t o covalente de partículas de látex
u m polímero cíclico em f o r m a de disco c o m u m peso molecular e m u m a n t i c o r p o específico, u m p r o c e d i m e n t o facilmente auto-
de 115 kDa. Ela c o n t é m p o u c o ou n e n h u m carboidrato e é sin- matizado usando-se i n s t r u m e n t a ç ã o labora to rial-padr ao. M u i t o s
tetizada n o fígado. Sua p r o d u ç ã o é controlada pela interleucina- ensaios de h s C R P comerciais c o m limites de detecção mais baixos
6 e liga-se a polissacarídeos presentes em muitas bactérias, fungos m e n o r e s que 0,3 m g / L estão disponíveis, alguns c o m imprecisão
e protozários, assim como policátions, c o m o as histonas. analitica d e n t r o do laboratório de m e n o s de 10%. E n t r e t a n t o , os
resultados da h s C R P de ensaios de diferentes laboratórios fre-
Importância Clínica q ü e n t e m e n t e são discordantes. H á esforços em a n d a m e n t o para
As diretrizes nacionais para m e n s u r a ç ã o da C R P c o m o marcador padronizar os ensaios hsCRP.
de risco de C H D f o r a m lançadas e m c o n j u n t o pela A H A e C D C
(AHA/CDC). Variabilidade Biológica da CRP
Apesar de ser u m reagente de fase aguda, a h s C R P exibe u m grau
Doença Cardiovascular relativamente baixo de variabilidade individual e m pacientes cli-
Estudos epidemiológicos prospectivos m o s t r a r a m que u m a única nicamente estáveis. E m u m estudo desses pacientes, duas mensu-
m e n s u r a ç ã o p o r h s C R P é u m forte previsor de: (1) infarto d o rações i n d e p e n d e n t e s de hsCRP, feitas com 90 dias de intervalo
miocárdio, (2) AVC, (3) d o e n ç a vascular periférica e (4) m o r t e entre elas, possibilitaram a classificação de 9 0 % dos participantes
cardíaca súbita em indivíduos sem u m a história de caidiopatia. no tercil exato ou i m e d i a t a m e n t e adjacente d o hiomarcador, u m a
E m u m a c o m p a r a ç ã o direta dos marcadores bioquímicos tradi- porcentagem comparável àquela observada para o colesterol.
cionais e novos d o risco de C H D , a h s C R P foi o preditor mais A l é m disso, a correlação ajustada à idade entre duas mensurações
forte d e eventos coronarianos futuros. de h s C R P de amostras de sangue retiradas c o m intervalo de 5
anos foi de 0,6, u m valor comparável àquele do colesterol. Ficando
Possível Papel da CRP na Aterogênese estabelecido que u m valor m e n o r que 10 m g / L é obtido, o painel
A t u a l m e n t e , n ã o se sabe se a C R P é u m m a r c a d o r que reflete a da A H A / C D C r e c o m e n d a que duas mensurações de h s C R P
i n f l a m a ç ã o sistêmica ou vascular ou se, na verdade, é u m parti- sejam feitas c o m u m intervalo de 2 semanas ou mais entre elas,
cipante na aterogênese. Achados de estudos patológicos e in nitro c o m u m valor médio usado para estimar o risco vascular. C o m o
m o s t r a r a m que a C R P a u m e n t a a expressão de: (1) moléculas de o a u m e n t o das concentrações p o d e refletir infecção subclínica, os
adesão da superfície celular endotelial local, (2) proteína-1 qui- valores de h s C R P maiores que 10 m g / L devem inicialmente ser
mioatrativa d o m o n n c i t o , (3) endotelina-1 e (4) inibidor-1 do desconsiderados, e o teste deve se repetido q u a n d o o paciente
ativador d o plasminogênio endotelial. A C R P t a m b é m : (1) reduz estiver estabilizado. A l é m disso, como os valores de h s C R P não
a bioatividade do óxido nítrico endotelial; (2) a u m e n t a a i n d u ç ã o são afetados pela ingestão de alimentos e exibem pouca variação
de f a t o r tecidual nos m o n ó c i t o s e a captação de LDL pelos circadiana, as amostras e m jejum n ã o são necessárias.
macrófagos e (3) o c u p a a m e s m a posição d o complexo do com-
p l e m e n t o de ataque à m e m b r a n a em lesões ateroscleróticas. A l é m Valores de Referência
disso, demonstrou-se que a expressão de C R P h u m a n a em O s dados de várias coortes norte-americanas e européias d e
c a m u n d o n g o s transgênicos a u m e n t a d i r e t a m e n t e a trombose g r a n d e p o r t e indicam que a distribuição das concentrações cir-
intravascular tanto n a lesão arterial c o m o nos m o d e l o s de lesão culantes de h s C R P parece comparável entre h o m e n s e mulheres
f o t o q u í m i c a d o r o m p i m e n t o endotelial. que não u s a m terapia de reposição h o r m o n a l (HRT) pós-meno-
pausa, s e n d o q u e o percentil 50 para ambos os sexos é de cerca
Papel r a Intervenção da Doença de 1,5 m g / L . As concentrações de h s C R P são mais altas nas
Vários agentes farmacológicos que d e m o n s t r a r a m capacidade mulheres q u e fazem uso de HR.T oral d o q u e e m mulheres q u e
cardioprorerora, c o m o o ácido acetilsalicílico e estatinas, irão n ã o o fazem. T a m b é m h á diferenças limitadas nas concentrações
reduzir h s C R P e / o u risco de C H D q u e está associado a a u m e n t o de C R P entre diferentes faixas etárias e grupos raciais e étnicos.
440 PARTE IV Analitos

duos com deficiência de cobalamina ou folato, ou em risco de


desenvolvê-la, e (3) avaliar tHcy como fator de risco para C H D .
E m b o r a inúmeros estudos t e n h a m demonstrado uma relação
causal entre tHcy e C H D , ainda há controvérsias sobre a impor-
tância clínica desta relação, como: (1) o polimorfismo M T H F R
677CAT, uma enzima essencial n o metabolismo de Hcy, é u m
fator de risco forte para a u m e n t o de tHcy, mas não para C H D ;
(2) há u m a discrepância aparente entre estudos de caso-controle
prospectivos e retrospectivos; e (3) u m estudo controlado prospec-
tivo falhou em mostrar benefícios de suplementação de folato na
prevenção de eventos de C H D . Devido a esta preocupação sobre
a importância clínica da relação causal entre tHcy e C H D , Refsum
e colaboradores desenvolveram as seguintes recomendações 1 2 :
1. A mensuração de tHcy na população geral para fazei triagem
Colesterol LDL, mg/dL para risco de C H D não é recomendada.
2. N o s pacientes jovens (com menos de 40 anos) com C H D ,
Figura 2 3 - 2 3 Algoritmo para avaliação de risco de CHD tHcy deve ser medido para excluir homocistinúria.
e m p r e g a n d o C R P e colesterol LDL. (De Rifai N, Ridker PM. Population 3. N o s pacientes com C H D ou pessoas em risco paia eventos
distributions of Oreactive piotein in apparently healthy m e n a n d de C H D , u m a alta concentração de tHcy deve ser usada como
w o m e n in the U n i t e d States: implication for clinicai interpretation. C h n fator prognóstico para eventos de C H D e mortalidade.
C h e m 2003;49.666-9.) 4. Pacientes com C H D c o m tHcy maior que 15 p m o l / L perten-
cem a u m grupo de alto risco; é especialmente i m p o r t a n t e
para eles seguir u m estilo de vida saudável e receber tratamen-
tos adequados para fatores de risco causais conhecidos.
5. O aumento de tHcy c o m b i n a d o com baixas concentrações de
Os valores de referencia de m e n o s de 1, 1 a 3 e maiores que 3 vitamina B deve ser tratado como u m a potencial deficiência
mg/L, que correspondem a tereis aproximados da distribuição de de vitamina. Outras causas de a u m e n t o de tHcy devem ser
C R P nos adultos sadios, são recomendados para classificação de consideradas.
indivíduos em grupos de risco baixo, m o d e r a d o e alto e m situa-
ções de prevenção primária pelo painel A H A / C D C . Devido ao
efeito aditivo prognóstico da h s C R P à triagem lipidica, foi pro- Análise de Homocisteína Total
posto u m algoritmo c o m b i n a n d o h s C R P e colesterol LDL u s a n d o Fisiologicamente, existe Hcy nas formas: (1) reduzida, (2) oxidada
pontos de corte da N C E P (Figura 23-23). e (3) ligada a proteína Métodos para tHcy foram primeiramente
introduzidos na metade da década de 1980 e resolveram os pro-
Homocisteína blemas relacionados à presença de múltiplas espécies de Hcy
Demonstrou-se que concentrações aumentadas da homocisteína instáveis n o plasma convertendo todas as espécies de Hcy à forma
total (tHcy) se correlacionam com CHD.' 1 reduzida. C o n s e q ü e n t e m e n t e , os métodos m o d e r n o s exigem pré-
tratamento de amostras d o plasma ou soro com u m agente
redutor, como: (1) ditioeritritol, (2) ditiotreitol, (3) mercaptoeta-
Bioquímica nol, (4) tributil fosfina ou (5) tris(2-carboxi-etil) fosfina, que con-
A homocisteína (Hcy) é u m aminoácido que contém enxofre; verte todas as espécies Hcy à forma reduzida, HcyH. Os métodos
cada molécula de homocisteína contém u m átomo de enxofre. m o d e r n o s para' tHcy incluem imunoensaios enzimáticos e
Ela é formada d u r a n t e o metabolismo de metionina e requer métodos baseados em cromatografia. Na prática, os imunoen-
ácido fõlico c o m o co-fator (Capítulo 27). Em concentrações saios são mais f r e q ü e n t e m e n t e usados com objetivos de rotina,
baixas, a Hcy é convertida de volta em metionina em u m ciclo como imunoensaio por fluorescência polarizada. Os ensaios cro-
que envolve tetraidro folato ou é catabolizada em cisteína por matográficos incluem u m a ampla variedade de métodos, como:
enzimas que requerem vitaminas B como co-fator. Conseqüente- (1) análise de aminoácidos; (2) cromatografia líquida de alta efi-
mente se descobriu que u m a deficiência de ácido fólico ou vita- ciência (HPLC) com detecção por ultravioleta, fluorescência ou
minas B s e Bi2 resulta em a u m e n t o das concentrações de Hcy eletroquímica; (3) eletroforese capilar com detecção por fluores-
(Capítulo 27). cência; (4) cromatografia a gás-espectrometria de massas ( G O
Hcy n o r m a l m e n t e não se acumula n o plasma porque é muito MS); e (5) cromatografia líquida com MS em tandem (MS-MS).
instável em solução aquosa e, q u a n d o presente em excesso, passa Os diferentes métodos para tHcy apresentam resultados compa-
por oxidação rápida em homocistina. ráveis, mas ainda há necessidade de melhora na padronização.
Para obter resultados precisos, recomenda-se que as amostras
sejam refrigeradas e rapidamente centrifugadas. Se as amostras
Importância Clínica forem deixadas em temperatura ambiente, a glicólise contínua
Inúmeros estudos sugeriram u m a associação entre concentrações das células sanguíneas p o d e dobrar as concentrações de homo-
elevadas de Hcy circulante e vários distúrbios vasculares e cardio- cisteína. A adição de fluoreto ou inibidores da S-adenosil-homo-
vasculares. 4 Além disso, as concentrações de tHcy t a m b é m estão cisteína hidrolase evitará este problema. Intervalos de referência
relacionadas com: (1) defeitos congênitos, (2) complicações da para concentrações de Hcy em jejum foram relatados como
gravidez, (3) distúrbios psiquiátricos e (4) deficiência mental nos sendo de 13 a 18 ]umol/L para soro e 10 a 15 n m o l / L para o
idosos. Clinicamente, a mensuração de tHcy é considerada impor- plasma. O intervalo de referência para Hcy total nos pacientes
tante: (1) para diagnosticar homocistinúria, (2) identificar indiví- pediátricos foi relatado c o m o sendo de 3,7 a 10,3 p m o l / L .
Lipídios, Lipoproteínas, Apolipoproteínas e Outros Fatores de Risco Cardiovascular CAPÍTULO 2 3 441

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Evaluation, and Treatment of H i g h Blood Cholesterol in Adults
CAPÍTULO 2 4

Eletrólitos e Gases Sanguíneos


Mitchell G. Scott, Ph.D., Vicky A. LeGrys, D.A., M.T.(A.S.C.P.), C.L.S.fN.C.A.),
e J. Stacey Klutts, M.D., Ph.D.

OBJETIVOS Fibrose Cística (CE): U m distúrbio hereditário da proteína


1. Definir os seguintes termos: reguladora da c o n d u t â n c i a t r a n s m e m b r a n a (CFTR) que
Eletrólito
causa a doença p u l m o n a r obstrutiva e pancreática crônica.
Gases Sanguíneos: P C 0 2 e P 0 2 (pressões parciais de dióxido de
Osmolalidade
carbono e oxigênio) geralmente n o sangue total.
Teste do suor
H e m o g l o b i n a (Hb): U m carreador de oxigênio, proteína
Gases sanguíneos
c o n t e n d o h e m e a b u n d a n t e n o s eritrócitos.
Saturação de oxigênio I o n t o f o r e s e p o r P i l o c a r p i n a : O processo de utilizar eletricidade
P50 para forçar o fármaco pilocarpina para d e n t r o da pele c o m
2. Listar os principais eletrólitos fisiológicos. o propósito de induzir suor naquele local.
3. Discutir as funções fisiológicas e regulação de sódio, potássio e I o n t o f o r e s e : U m m é t o d o n ã o invasivo de propulsão de altas
cloreto no organismo e listar os intervalos de referência saudáveis concentrações de u m a substância carregada
para cada um deles. t r a n s d e r m i c a m e n t e p o r u m a força eletromotiva repulsiva
4. Apresentar o princípio do método do eletrodo seletivo de íon utilizando u m a carga elétrica p e q u e n a aplicada a u m a
especificamente para a análise de sódio, potássio e cloreto. câmara iontoforética que c o n t é m u m agente ativo carregado
5. Listar as quatro propriedades coligativas de uma solução. de forma semelhante e o seu veículo.
M e n s u r a ç ã o Ácido-Base: A m e n s u r a ç ã o d o p H e gases
6. Apresentar o princípio do teste do suor quantitativo para fibrose
sanguíneos do sangue total.
cística.
O s m o m e t r i a : A técnica para m e n s u r a r a concentração de
7. Comparar testes do suor quantitativo e qualitativo.
partículas de soluto dissolvidas e m u m a solução.
8. Relacionar as questões críticas na realização do teste do suor.
P 5 0 : A P 0 2 para u m a dada amostra de sangue e m q u e m e t a d e
9. Apresentar a equação Henderson-Hasselbalch. da h e m o g l o b i n a do sangue está saturada com 0 2 ; P 50 reflete
10. Apresentar os métodos utilizados para definir pH, C02, 0 2 e a afinidade da hemoglobina pelo 0 2 .
saturação de oxigênio sanguíneos. p H : O logaritmo negativo da atividade do íon hidrogênio.
11. Listar as fontes de erro pré-analítico na análise dos gases Pressão Parcial: A fração da substância (mole) de gás
sanguíneos. multiplicada pela pressão total; p o r exemplo, a pressão
parcial de oxigénio, P 0 2 , é a fração de gás oxigênio
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES multiplicada pela pressão barométrica.
C l o r e t o d o S u o r : A concentração do cloreto n o suor; o cloreto Saturação de O x i g ê n i o : A fração (porcentagem) de
do suor a u m e n t a d o é característico de fibrose cística. h e m o g l o b i n a f u n c i o n a l que é saturada com oxigênio,
C u r v a d e Dissociação d o Oxigênio! A curva sigmoidal obtida abreviada c o m S 0 2 .
q u a n d o S 0 2 do sangue é representada graficamente contra Testagem L a b o r a t o r i a l R e m o t a : Teste clínico realizado
a P02. p r ó x i m o ao paciente, geralmente c o m u m dispositivo
Eletrólitos: Moléculas carregadas, de baixo peso molecular, m a n u a l e u m a amostra n ã o processada coletada
i m e d i a t a m e n t e antes d o teste.
presentes n o plasma e citosol, geralmente íons de sódio,
potássio, cálcio, magnésio, cloreto, bicarbonato, fosfato,
sulfato e lactato.

A
Eletrodos Seletivos de I o n (ISE): U m tipo de eletrodo m a n u t e n ç ã o da homeostasia da água é essencial para a
potenciométrico para u m a finalidade especial consistindo vida de todos os organismos. N o s mamíferos, a m a n u t e n -
em u m a m e m b r a n a seletivamente permeável para u m a ção da pressão osmótica e distribuição da água nos vários
espécie iônica. O potencial p r o d u z i d o na interface c o m p a r t i m e n t o s de fluidos corporais é p r i m a r i a m e n t e u m a
membrana-solução de amostra é proporcional ao logaritmo f u n ç ã o dos q u a t r o principais eletrólitos: sódio (Na*), potássio
da atividade iônica ou concentração. 0 0 , cloreto (Cl') e b i c a r b o n a t o ( H C O 3 ) . E m adição à homeosta-
E f e i t o de Exclusão d o Eletrólito: O s eletrólitos são excluídos sia da água, estes eletrólitos d e s e m p e n h a m u m papel i m p o r t a n t e :
da fração do v o l u m e de plasma total o c u p a d o por sólidos, o (1) n a m a n u t e n ç ã o do p H , (2) na f u n ç ã o apropriada do coração
q u e acarreta a subestimação da concentração de eletrólitos e músculos, (3) nas reações de oxidoiredução e (4) c o m o co-
por alguns m é t o d o s . fatores para enzimas. N a verdade, quase não existem processos
E q u a ç ã o de H e n d e r s o n - H a s s e l b a l c h : U m a equação que define metabólicos que sejam i n d e p e n d e n t e s dos eletrólitos ou que n ã o
a relação entre p H , bicarbonato e pressão parcial do gás sejam afetados p o r eles. As concentrações anormais de eletrólitos
dióxido de c a r b o n o dissolvido: p o d e m ser a causa ou a conseqüência de vários distúrbios. Por-
tanto, a determinação das concentrações dos eletrólitos é u m a
C H C Q 3
das funções mais i m p o r t a n t e s de u m laboratório clínico. A inter-
{H = £>fC' + log
( a + PCO,) pretação de valores anormais da osmolalidade e de ácido-base
requer c o n h e c i m e n t o específico dos eletrólitos. Por causa das

443
444 PARTE IV Analitos

suas inter-relações fisiológicas e clínicas, este c a p í t u l o d i s c u t e a Sódio


d e t e r m i n a ç ã o de eletrólitos, osmolalidade, estado ácido-base e O sódio é o p r i n c i p a l c á t i o n d o f l u i d o extracelular. O Na + repre-
oxigenação s a n g u í n e a . senta a p r o x i m a d a m e n t e 9 0 % d o s 154 m m o l de cátions inorgâ-
nicos p o r litro de plasma, por isso é responsável p o r q u a s e m e t a d e
ELETRÓLITOS d a força osmótica d o p l a s m a . P o r t a n t o , o m e s m o a p r e s e n t a u m a
O s eletrólitos são classificados c o m o ánions, íons c o m carga nega- f u n ç ã o c e n t r a l n a m a n u t e n ç ã o d a d i s t r i b u i ç ã o n o r m a l d e água e
tiva q u e se m o v e m e m direção a u m â n o d o , o u cátions, íons pressão o s m ó t i c a n o c o m p a r t i m e n t o d e f l u i d o extracelular (ECF).
carregados p o s i t i v a m e n t e q u e se m o v e m e m direção a u m c á t o d o . A dieta diária n o r m a l c o n t é m 8 a 15 g (130 a 2 6 0 m m o l ) de
O s eletrólitos fisiológicos i n c l u e m Na + , K \ Ca 2 + , Mg 2 ', C l , H C 0 3 ' N a C l , q u e é quase c o m p l e t a m e n t e a b s o r v i d o n o trato gastroin-
,H 2 P0 4 ", H2PO4 2 ', S0 4 2 " e alguns â n i o n s orgânicos, c o m o o lactato. testinal. O o r g a n i s m o r e q u e r a p e n a s 1 a 2 m m o l / d i a , e o excesso
E m b o r a os a m i n o á c i d o s e p r o t e í n a s e m solução t a m b é m carre- é excretado pelos rins, q u e são os reguladores finais da q u a n t i -
g u e m u m a carga elétrica, g e r a l m e n t e eles são c o n s i d e r a d o s sepa- d a d e de Na 1 (e p o r t a n t o de água) n o c o r p o .
r a d a m e n t e d o s eletrólitos. O s principais eletrólitos (Na + , K + , C l e O s ó d i o é l i v r e m e n t e f i l t r a d o pelos glomérulos. S e t e n t a a
H C 0 3 ) o c o r r e m p r i m a r i a m e n t e c o m o í o n s livres, e n q u a n t o o i t e n t a p o r c e n t o da carga d e N a " filtrada é e n t ã o a t i v a m e n t e
q u a n t i d a d e s significativas (>40%) de Ca 2 *, Mg2_f e elementos- r e a b s o r v i d a n o s t ú b u l o s proximais c o m o Cl', e a água segue
traço estão ligados a p r o t e í n a s c o m o a a l b u m i n a . p a s s i v a m e n t e de m a n e i r a isosmótica e e l e t r i c a m e n t e n e u t r a
A d e t e r m i n a ç ã o das c o n c e n t r a ç õ e s de f l u i d o s c o r p o r a i s d o s ( C a p í t u l o 34). O u t r o s 2 0 % a 2 5 % são r e a b s o r v i d o s n a alça d e
q u a t r o eletrólitos p r i n c i p a i s (Na + , K \ Cl' e HCO3") é c o m u m e n t e H e n l e j u n t a m e n t e c o m o Cl* e mais água. N o s t ú b u l o s distais, a
c o n h e c i d a c o m o "perfil eletrolítico". O u t r o s eletrólitos q u e apre- i n t e r a ç ã o d o h o r m ô n i o a d r e n a l a l d o s t e r o n a c o m a d u p l a Na + -K +
s e n t a m f u n ç õ e s especiais e m c o n t e x t o s particulares são discuti- e Na*-H + d e sistemas de troca resulta d i r e t a m e n t e n a reabsorção
d o s e m o u t r a s partes: C a 2 + e fosfatos n o C a p í t u l o 38; ferro n o de Na + , e i n d i r e t a m e n t e d e Cl", dos 5 % a 10% restantes d a q u a n -
C a p i t u l o 28, m a g n é s i o e elementos-traço n o C a p í t u l o 27; e ami- tidade filtrada. A regulação desta ú l t i m a fração d e N a ' f i l t r a d o
n o á c i d o s n o C a p í t u l o 18. d e t e r m i n a p r i m a r i a m e n t e a q u a n t i d a d e d e Na + excretado n a
u r i n a . Estes processos são discutidos n o C a p í t u l o 35.
A m o s t r a s para Determinação d o s Eletrólitos
Soro o u plasma são as a m o s t r a s mais c o m u n s analisadas para Na*, Amostras
K*, Cl' e H C O 3 . Estes são o b t i d o s a partir d o sangue c o l h i d o p o r As a m o s t r a s analisadas para Na + i n c l u e m (1) soro, (2) p l a s m a
v e n i p u n ç ã o e m u m t u b o a v á c u o ( C a p í t u l o 3). O sangue capilar, h e p a r i n i z a d o , (3) sangue total, (4) suor, (5) u r i n a , (6) fezes ou (7)
c o l h i d o e m t u b o s de m i c r o a m o s t r a s , t u b o s capilares ou aplicados f l u i d o s gastrointestinais. As coletas c o m t e m p o m a r c a d o d e
d i r e t a m e n t e d e u m a la n cet a digital para a l g u m dispositivo d e u r i n a , fezes o u f l u i d o s gastrointestinais são preferidas para per-
teste r á p i d o , t a m b é m é u m a a m o s t r a c o m u m . A s a m o s t r a s de m i t i r a c o m p a r a ç ã o dos valores c o m os intervalos d e referência
sangue total h e p a r i n i z a d o arterial ou v e n o s o o b t i d a s para deter- e para d e t e r m i n a r as taxas d e p e r d a d e eletrólitos. Soro, p l a s m a
m i n a ç ã o de gases s a n g u í n e o s e p H t a m b é m p o d e m ser utilizadas e u r i n a p o d e m ser estocados a 2 ° C a 4 ° C ou congelados. O s
c o m e l e t r o d o s seletivos d e í o n (ISEs) diretos. As diferenças dos eritrócitos c o n t ê m a p e n a s u m d é c i m o d o N a ' p r e s e n t e n o plasma,
valores e n t r e o soro e o p l a s m a e e n t r e amostras venosas ou p o r t a n t o a h e m ó l i s e n ã o causa erros significativos n o s valores de
arteriais são d o c u m e n t a d a s p a r a estes eletrólitos, m a s s o m e n t e as N a 1 ' n o soro o u p l a s m a . As a m o s t r a s lipêmicas devem ser ultra-
d i f e r e n ç a s d e K + e n t r e o soro e o p l a s m a são c o n s i d e r a d a s clini- c e n t r i f u g a d a s , e analisa-se o i n f r a n a d a n t e , a m e n o s q u e seja u s a d o
c a m e n t e significantes. A utilização d e h e p a r i n a , lítio o u sal de u m ISE direto.
a m ó n i o é necessária q u a n d o o ensaio é realizado c o m p l a s m a ou As a m o s t r a s de fezes ou f l u i d o s gastrointestinais r e q u e r e m
sangue total. A utilização de p l a s m a ou sangue total a p r e s e n t a a p r e p a r a ç ã o antes d a análise. A p e n a s as fezes líquidas justificam a
v a n t a g e m de m i n i m i z a r o t e m p o d o ensaio p o r n ã o ser necessário d i f i c u l d a d e da análise p o r q u e h á significativa p e r d a d e eletrólitos
esperar a coagulação d o sangue. A l é m disso, p l a s m a ou sangue q u a n d o as fezes estão líquidas. I m e d i a t a m e n t e após a coleta, deve
total a p r e s e n t a m u m a v a n t a g e m indubitável n a d e t e r m i n a ç ã o das ser retirada a matéria p a r t i c u l a d a das a m o s t r a s de fezes líquidas
c o n c e n t r a ç õ e s de K + , q u e são invariavelmente mais altas n o soro, p o r filtração o u c e n t r i f u g a ç ã o . O risco de c o n t a m i n a ç ã o bacte-
d e p e n d e n d o d a c o n t a g e m d e plaquetas. 1 6 r i a n a d o s sistemas d e a m o s t r a s d o s i n s t r u m e n t o s a u t o m a t i z a d o s
O s t u b o s de a m o s t r a s d e v e m ser c e n t r i f u g a d o s t a m p a d o s e o é m a i o r c o m amostras d e fezes; p o r isso, devem-se fazer a limpeza
s o r o ou p l a s m a deve ser s e p a r a d o p r o n t a m e n t e . S a n g u e s excessi- e p r o c e d i m e n t o s especiais logo após a análise.
v a m e n t e lipêmicos são f o n t e s d e erro analítico c o m alguns
m é t o d o s (ver a seguir a seção de efeito d e exclusão d o eletrólito). Metodologia Analítica
Assim, é necessária a u l t r a c e n t r i f u g a ç ã o d o s o r o o u p l a s m a para O s ó d i o é d e t e r m i n a d o : (1) p o r e s p e c t r o f o t o m e t r i a de a b s o r ç ã o
a m o s t r a s lipêmicas antes d a análise. A h e m ó l i s e gera resultados a t ô m i c a (AAS), (2) p o r e s p e c t r o f o t o m e t r i a de emissão d e c h a m a
e r r ó n e o s de c o n c e n t r a ç õ e s altas de K + , e este p r o b l e m a n ã o é (FES), (3) e l e t r o q u i m i c a m e n t e c o m Na + -ISE o u (4) espectrofoto-
detectável q u a n d o se analisa sangue total. A l é m disso, amostras m e t r i c a m e n t e . Destes m é t o d o s , os m é t o d o s ISE são os mais
n ã o h e m o l i s a d a s q u e n ã o são i m e d i a t a m e n t e processadas p o d e m c o m u m e n t e utilizados. O sódio e o potássio são r o t i n e i r a m e n t e
a p r e s e n t a r c o n c e n t r a ç õ e s a u m e n t a d a s de KH' por causa d a p e r d a analisados juntos, p o r isso os m é t o d o s d e análise são descritos
d e K" pelos eritrócitos q u a n d o o s a n g u e é e s t o c a d o a 4°C. Estes j u n t o s p o s t e r i o r m e n t e neste capítulo.
c u i d a d o s e o u t r a s p r e o c u p a ç õ e s à coleta da a m o s t r a e m a n u s e i o
estão descritos nas páginas seguintes d e f o r m a r e l a c i o n a d a aos intervalos de Referência
analitos individuais. O intervalo de referência para o Na" sérico é d e 135 a 145 m m o l / L
A coleta d e urina p a r a análise de Na*, K + , Cl" deve ser feita da i n f â n c i a à vida a d u l t a . O i n t e r v a l o p a r a recém-nascidos pre-
s e m a adição d e preservativos. Fezes e aspirados e d r e n a g e m d e m a t u r o s e m 4 8 horas é de 128 a 148 m m o l / L , e o valor para o
d i f e r e n t e s p o r ç õ e s d o trato gastrointestinal t a m b é m p o d e m ser s a n g u e de c o r d ã o u m b i l i c a l d e recém-nascidos a t e r m o é - 1 2 7
s u b m e t i d o s à análise d e eletrólitos. A coleta e análise d o s u o t são m m o l / L . A excreção d e sódio urinário varia de a c o r d o c o m a dieta
descritas p o s t e r i o r m e n t e n e s t e capítulo. alimentar, m a s para os i n d i v í d u o s c o m dieta-padrão c o n t e n d o 8
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 445

a 15 g / d i a , o intervalo típico é de 40 a 220 m m o l / d i a . Existe comentário dizendo que os resultados são falsamente elevados. Se
u m a grande variação durante o dia na excreção de Na + , sendo as concentrações de K~ são determinadas por ISE nas amostras de
que a taxa de excreção de Na + durante a noite é de apenas 2 0 % sangue total utilizando-se u m i n s t r u m e n t o de análise de gases
daquela durante o dia. A concentração de Na + do f l u i d o cerebros- sanguíneos ou u m dispositivo de teste rápido, o aumento nas
p i n a l é 136 a 150 m m o l / L . 2 0 A média de excreção de Na + fecal concentrações reais de K + causado por hemólise pode ser facil-
é m e n o r que 10 m m o l / d i a . mente ignorado. U m a porção da amostra deve ser centrifugada
para a inspeção visual quando a hemólise for suspeita.
Potássio Os erros pré-analíticos clinicamente significativos ocorrem
O potássio é o p r i n c i p a l cátion intracelular. Nas células teciduais, nas determinações de KT q u a n d o as amostras de sangue não são
sua concentração média é de 15C m m o l / L e, nos eritrócitos, é processadas prudentemente. A manutenção d o gradiente de K 4
de 105 m m o l / L ( - 2 3 vezes sua concentração no plasma). Altas intracelular-extracelular depende da atividade da Na'-K* ATPase
concentrações intracelulares são mantidas pela b o m b a de Na + , dependente de energia. Se u m a amostra de sangue total é res-
K + -ATPase, que é abastecida p o r energia oxidativa e transporta friada antes da separação, a glicólise é i n i b i d a e a Na + -K + ATPase
c o n t i n u a m e n t e K + para dentro da célula contra u m gradiente de dependente de energia não irá manter o gradiente, e o a u m e n t o
concentração. Esta b o m b a é u m fator crítico na manutenção e de K + plasmático irá ocorrer à medida que o K" escapar dos eri-
ajuste dos gradientes iónicos dos quais dependem os impulsos trócitos e de outras células. O aumento de K + n o soro é da ordem
nervosos e a contratilidade d o músculo. Q u a n d o a atividade da de 0,2 m m o l / L em 1,5 horas a 25°C, enquanto a 4 Q C, o a u m e n t o
b o m b a está d i m i n u í d a , a difusão de K* d o interior da célula para relatado é de 2 m m o l / L após 4 horas.
o plasma excede o transporte de IC para o meio intracelular Os valores de K + falsamente d i m i n u í d o s são inicialmente
mediado pela bomba. A importância destas considerações na observados se uma amostra não separada fica estocada a 37°C
integridade da amostra para análise de K + é discutida posterior- por causa da ocorrência da glicólise e deslocamento intracelular
mente neste capítulo. de K + . Mesmo à temperatura ambiente, a leucocitose inicial-
A necessidade corporal de K + é satisfeita com a ingestão na mente causa falsas diminuições nas concentrações de K + . A exten-
dieta alimentar de 5 0 a 150 m m o l / d i a . O potássio absorvido a são desta d i m i n u i ç ã o depende da contagem de leucócitos, tem-
partir do trato gastrointestinal é rapidamente distribuído, c o m peratura e concentrações de glicose, mas foi relatada como sendo
u m a pequena quantidade sendo absorvida pelas células e a maior 0,7 m m o l / L a 37°C. N o entanto, este efeito é bifásico. Inicial-
parte sendo excretada pelos rins. O potássio filtrado pelo glo- mente, o K + plasmático d i m i n u i como resultado da glicólise, mas
m é r u l o é quase que completamente reabsorvido nos túbulos 0 K* começa a escapar das células após a exaustão d o substrato
proximais e então é secretado nos túbulos distais na troca por glicose. Assim, a recomendação para a determinação mais confi-
Na + sob a i n f l u ê n c i a da aldosterona. ável de BC é: (1) coletar o sangue com heparina, (2) mantê-lo entre
Os fatores que regulam a secreção de K + n o t ú b u l o distai são: 2 5 ° C e 37°C e (3) separar o plasma em poucos m i n u t o s p o r meio
(1) ingestão de Na + e K + , (2) concentração plasmática de minera- de centrifugação em velocidade alta sem resfriamento. Todavia,
locorticóides e (3) balanço ácido-base. A taxa de filtração glome- em termos práticos, é improvável a ocorrência de u m erro consi-
rular d i m i n u í d a e a conseqüente d i m i n u i ç ã o na velocidade de derável na maioria dos casos em que a separação é feita em até
f l u x o n o t ú b u l o distai é u m i m p o r t a n t e fator na retenção de KT 1 h o r a e as amostras são mantidas em temperatura ambiente.
observada na insuficiência renal crônica. A acidose tubular renal A atividade dos músculos esqueléticos causa o efluxo de K +
e acidoses e alcaloses metabólica e respiratória t a m b é m compro- das células musculares para o plasma, resultando em uma eleva-
metem a regulação renal de excreção de fC. Estes tópicos serão ção notável nos valores de K* plasmático. U m exemplo em par-
discutidos nos Capítulos 34 e 35. ticular, mas c o m u m , ocorre quando u m torniquete n o braço não
é retirado antes de começar a coleta de sangue após o paciente
Amostras fechar o p u n h o repetidamente. Q u a n d o isto acontece, é possível
Os comentários feitos anteriormente sobre as amostras para que os valores de K* plasmático a u m e n t e m em 2 m m o l / L como
análise de Na + são geralmente aplicáveis àquelas para análise de artefato por causa da atividade muscular. 10
K*. N o entanto, alguns pontos adicionais devem ser considera-
dos. As concentrações de potássio n o plasma e n o sangue total
são 0,1. a 0,7 m m o l / L menores que n o soro, e os intervalos de Intervalos de Referência
referência estabelecidos para o K + sérico são 0,2 a 0,5 m m o l / L Os intervalos de referência relatados para o soro de adultos são
mais altos que aqueles para o K + plasmático. A extensão desta 3,5 a 5,0 m m o l / L e 3,7 a 5,9 para os recém-nascidos. Os inter-
diferença depende, n o entanto, da contagem de plaquetas porque valos freqüentemente citados são 3,5 a 4,5 e 3,4 a 4,8 m m o l / L
o K + adicional n o soro é primariamente u m resultado da r u p t u r a para o plasma em adultos. As concentrações d o f l u i d o cerebros-
de plaquetas durante a coagulação. lâ Esta variação na quantidade p i n a l são ~ 70% do plasma. 20 A excreção urinária de K + varia com
de K + adicional n o soro torna o plasma a amostra preferencial e a dieta alimentar, mas o intervalo tipicamente observado para
enfatiza a necessidade de notificar nos relatórios os intervalos de u m a dieta-padrão é 25 a 125 m m o l / d i a . A perda gastrointestinal
referência apropriados para soro ou plasma. pode ser de 60 m m o l / d i a em casos de diarréia grave.
As amostras para determinar as concentrações de K + n o soro
ou plasma devem ser coletadas por métodos que m i n i m i z a m a Metodologia Analítica para a Determinação de
hemólise, pois a liberação de K + de 0 , 5 % dos eritrócitos aumenta Sódio e Potássio
os valores de KT em 0,5 m m o l / L . U m aumento de 0 , 6 % de K + é Os métodos A A S , FES o u espectrofotométricôs são utilizados
estimado para cada 10 m g / d L de h e m o g l o b i n a (Hb) plasmática para a análise de Na* e K \ N o entanto, a maioria dos laboratórios
como decorrência da hemólise. Assim, u m a hemólise leve ( - 5 0 atualmente utiliza o m é t o d o ISE. Por exemplo, dos mais de 5.000
m g H b / d L ) irá aumentar os valores de K + - 3 % , hemólise mode- laboratórios participantes dos exames de proficiência do College
rada ( - 2 0 0 m g H b / d L ) 12% e hemólise intensa (>500 m g H b / d L ) o f A m e r i c a n Patbologists (CAP), > 9 9 % estavam utilizando o
3 0 % . Portanto, é imperativo que qualquer hemólise visível seja m é t o d o ISE para analisar Na + e K + em 2005. Os princípios de
notificada com os valores de K + relatados e que seja i n c l u í d o u m cada u m a dessas abordagens (que são discutidas em detalhes nos
446 PARTE IV Analitos

C a p í t u l o s 4 e 5) são os mesmos se a i n s t r u m e n t a ç ã o é dedicada o-nitrofenil-p-D-galactopiranosídeo ( O N P G ) . A taxa de p r o d u ç ã o


o u integrada a u m sistema m u l t i c a n a l . de o - n i t r o f e n o l (o c r o m ó f o r o ) é m e n s u r a d a a 4 2 0 n m .
O efeito de exclusão d o e l e t r ó l í t o t a m b é m interfere n a men-
su ração de N a * e K~.
CH^OH
Eletrodos Seletivos de íon
UH /
U m ISE é u m eletrodo p o t e n c i o m é t r i c o , de f i n a l i d a d e especial, G alactose
c o n s i s t i n d o e m u m a m e m b r a n a seletivamente permeável para
u m ú n i c o t i p o de espécie iônica. O p o t e n c i a l p r o d u z i d o na inter- P^flidctosiíídse
face membrana-amostra e m solução é p r o p o r c i o n a l ao l o g a r i t m o H OH o-nitrofenol
da atividade iônica o u concentração. o-n irro fe n il-p-D-ga I ac to p i ra n o s ídeo C1,™* " 420 nm)
O ISE integrado a analisadores q u i m i c o s geralmente c o n t é m
eletrodos N a + c o m m e m b r a n a s de v i d r o e eletrodos K + c o m
Os ioTió/oros macTodclicos são moléculas cujos átomos são orga-
m e m b r a n a s de troca i ô n i c a líquidas que i n c o r p o r a m v a l i n o m i -
nizados para f o r m a r u m a cavidade d e n t r o da q u a l os íons metá-
cina. (Os eletrodos típicos e os p r i n c í p i o s da p o t e n c i o m e t r i a são
licos se organizam e se l i g a m c o m alta a f i n i d a d e . Estes compostos
d e s d i t o s e m detalhes n o C a p í t u l o 5.) N a prática, o sistema de
t a m b é m são conhecidos c o m o éteres poíicíclicos, éteres de coroa ou
mensuração p o t e n c i o métrica é calibrado utilizando-se soluções
criptandos. Diferentes macrocíclicos são feitos c o m cavidades
calibradoras c o n t e n d o quantidades definidas de Na + e K \ Os
adaptadas para se ajustar ao raio í ô n i c o de diferentes elementos.
potenciais dos calibradores são d e t e r m i n a d o s e a concentração
A alteração espectral ocorre q u a n d o se liga u m c á t i o n aos i o n ó -
A E / A log é armazenada n a m e m ó r i a d o c o m p u t a d o r c o m o u m
foros que apresentam propriedades cromogênicas.
fator para calcular uma concentração desconhecida q u a n d o se
mensura E da amostra de v a l o r des c onhec i do. A calibração fre-
Espectrofotometria de Emissão de Chama
qüente, i n i c i a d a pelo usuário o u pela retirada automática de u m a
E m b o r a t e n h a sido u m dos métodos mais a m p l a m e n t e utilizados
amostra d o reservatório de calibrador, é característica da m a i o r i a
para m e n s u r a r a análise de Na + e K + , a t u a l m e n t e a FES não é
dos sistemas. A l g u n s i n s t r u m e n t o s são projetados para m e d i r N a +
mais u m m é t o d o l a b o r a t o r i a l c o m u m . C o m a FES, as amostras
e 10 n o sangue total, p a r t i c u l a r m e n t e os dispositivos de teste
são diluídas e m u m d i l u e n t e c o n t e n d o quantidades conhecidas
r á p i d o e os novos analisadores de gases sanguíneos.
de l í t i o ( o u césio, se o p r ó p r i o l í t i o está sendo mensurado) e
O s dois tipos de ISEs existentes são o i n d i r e t o e o d i r e t o . lSJo
aspiradas para d e n t r o de u m a chama de p r o p a n o . Os íons sódio,
ISE indireto, a amostra é i n t r o d u z i d a e m u m a câmara de mensu-
potássio, l í t i o e césio, q u a n d o excitados, e m i t e m espectros c o m
ração após ser m i s t u r a d a c o m u m grande v o l u m e de d i l u e n t e . A
linhas nítidas e b r i l h a n t e s a 589, 768, 671 e 852 n m , respectiva-
utilização de u m grande v o l u m e é vantajosa p o r q u e cobre ade-
mente. A luz e m i t i d a a p a r t i r dos íons excitados termicamente é
q u a d a m e n t e a superfície de u m e l e t r o d o grande e m i n i m i z a a
d i r e c i o n a d a através de f i l t r o s de interferência separados para os
concentração de proteína na superfície d o eletrodo. Os ISEs
foto detectores correspondentes. O sinal de emissão de L i + o u Cs +
i n d i r e t o s são mais c o m u n s nos analisadores a u t o m á t i c o s grandes
são utilizados c o m o padrões i n t e r n o s (geralmente 15 m m o l / L )
e de alta a m p l i t u d e , N o m é t o d o ISE direto, a amostra é exposta
aos quais são comparados os sinais de N a * e K~.
ao eletrodo sem d i l u i r . Os ISEs diretos são utilizados nos anali-
sadores de gases sanguíneos, dispositivos de testes rápidos e Efeito de Exclusão do Eletrólitol
o u t r o s i n s t r u m e n t o s de uso ú n i c o . U m teste de p r o f i c i ê n c i a d o O efeito de exclusão d o e l e t r ó l í t o é a exclusão de elerrólitos da
C A P e m 2 0 0 5 m o s t r o u que a p r o x i m a d a m e n t e dois terços dos fração d o v o l u m e t o t a l de plasma ocupada p o r sólidos. O v o l u m e
l a b o r a t ó r i o s u t i l i z a r a m ISE i n d i r e t o para m e n s u r a r Na + e K + . As de sólidos totais ( p r i n c i p a l m e n t e p r o t e í n a e l i p í d i o ) e m u m a
diferenças i m p o r t a n t e s e n t r e os m é t o d o s d i r e t o e i n d i r e t o , q u e alíquota dc plasma é de a p r o x i m a d a m e n t e 7%- A s s i m 9 3 % d o
causam diferenças significativas nos resultados analíticos, são v o l u m e d o plasma é, n a verdade, água. Os p r i n c i p a i s eletrólitos
discutidas na seção posterior de e/eito de. exclusão do eletrólíto. (Na + , K + , C l ' e HCO3) estão essencialmente c o n f i n a d o s na fase
Os erros observados n o uso de ISEs são decorrentes de: (1) aquosa. Q u a n d o u m v o l u m e f i x o de plasma total, p o r exemplo
ausência de seletividade analítica, (2) revestimento r e p e t i d o de 10 |uL, é p i p e t a d o para d i l u i ç ã o antes da análise p o r f o t o m e t r i a
p r o t e í n a n a m e m b r a n a sensível a íons e (3) c o n t a m i n a ç ã o da de c h a m a o u ISE i n d i r e t o , somente 9,3 (J.L d o plasma aquoso
m e m b r a n a o u p o n t e de sal pelos ions que c o m p e t e m o u reagem c o n t e n d o eletrólitos é realmente a d i c i o n a d o ao d i l u e n t e . Por-
c o m o í o n selecionado e, p o r t a n t o , a l t e r a m a resposta d o ele- t a n t o , a concentração de N a ' d e t e r m i n a d a pela f o t o m e t r i a de
t r o d o . Estes erros fazem c o m que sejam necessárias trocas perió- chama o u ISE i n d i r e t o de 145 m m o l / L é a concentração n o
dicas da m e m b r a n a c o m o parte da m a n u t e n ç ã o r o t i n e i r a . v o l u m e t o t a l do plasma e não n o v o l u m e aquoso d o plasma. N a
verdade, se o plasma c o n t é m 9 3 % de água, a concentração de
Na + n o plasma aquoso é 145 x ( 1 0 0 / 9 3 ) , o u 156 m m o l / L .
Métodos de Espectrofotometria Este " e r r o " negativo n a análise d o e l e t r ó l í t o plasmático é
Os m é t o d o s espectrofotométricos são baseados e m : (1) ativação c o n h e c i d o h á vários anos. E m b o r a apenas a concentração dos
enzimática, (2) detecção da alteração espectral p r o d u z i d a q u a n d o eletrólitos n o plasma aquoso seja fisiológica, assumiu-se q u e a
Na 4 o u K + se liga ao c r o m ó f o r o macrocíclico e (3) mensuração da fração d o v o l u m e de água n o plasma é s u f i c i e n t e m e n t e constante,
fluorescência. Estes tipos de m é t o d o s n ã o são utilizados r o t i n e i - de f o r m a q u e esta diferença p o d e ser ignorada. D e fato, todos os
r a m e n t e p o r q u e os reagentes são caros e existem poucos proble- intervalos de referência dos eletrólitos são baseados nesta supo-
mas c o m os métodos ISEs. C o n s e q ü e n t e m e n t e , os métodos sição e r e a l m e n t e r e f l e t e m as concentrações n o v o l u m e t o t a l d o
espectro f o t o métricos são empregados p r i m a r i a m e n t e e m alguns plasma, e n ã o n o v o l u m e de água. A l é m disso, p r a t i c a m e n t e todas
i n s t r u m e n t o s menores utilizados nos c o n s u l t ó r i o s m é d i c o s o u as concentrações mensuradas nos l a b o r a t ó r i o s q u í m i c o s clínicos
clínicas. são relativas ao v o l u m e t o t a l da amostra e m vez de serem relativas
U m ensaio espectrofotométrico c i n é t i c o para N a + é baseado ao v o l u m e de água. Este efeito de exclusão de eletrólíto torna-se
n a ativação da enzima (3-galactosidase pelo Na + para h i d r o l i s a i p r o b l e m á t i c o q u a n d o estão presentes condições patofisiológicas
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 2 4 447

que alteram o volume aquoso do plasma, como hiperlipidemia parenteral com emulsões lipídicas. s A l é m disso, mesmo na ausên-
o u híperproteinemia. Nestas condições, são obtidos valores falsa- cia de grandes alterações no volume das frações sólidas, os resul-
mente baixos de eletrólitos quando as amostras são diluídas antes tados obtidos pelos métodos diretos refletem de forma mais real
da análise, como na fotometria de chama ou ISE indireto 1 (Figura o estado clínico e por isso são mais efetivamente utilizados n o
24-1). Os métodos de fotometria de chama e ISE indireto estão diagnóstico e tratamento. Todavia, espera-se que os resultados
sujeitos ao efeito de exclusão do eletrólito por causa da diluição dos métodos diretos c o n t i n u e m sendo convertidos em concen-
do volume total de plasma e da suposição de que o volume trações do volume total de plasma pela utilização do m o d o
aquoso do plasma é constante. E m certas condições, como a chama, que é a recomendação do Clinicai and Laboratory Stan-
cetoacidose com hiperlipidemia grave8 o u mieloma m ú l t i p l o com dards Institute (CLSI). 4 As Tabelas 24-1 e 24-2 resumem os
hiperproteinemia grave, o efeito de exclusão negativo pode ser métodos de mensuração da concentração e atividade dos eletró-
tão grande que os resultados laboratoriais levam os médicos a litos, respectivamente.
acreditar que as concentrações de eletrólitos estão normais ou
baixas quando, na verdade, a concentração na fase aquosa pode Cloreto
ser alta o u normal, respectivamente. 1 O cloreto é o principal â n i o n extracelular, com concentrações
Nos métodos ISE diretos, a diluição não é realizada e a ativi- medianas no plasma e f l u i d o intersticial de - 1 0 3 m m o l / L (con-
dade do eletrólito mensurada é diretamente proporcional à con- centração do â n i o n inorgânico total de - 1 5 4 m m o l / L ) Juntos,
centração na fase aquosa, e não à concentração do v o l u m e total. o sódio e o cloreto representam a maior parte dos constituintes
A maioria dos métodos ISE diretos opera n o comumente conhe- osmoticamente ativos do plasma. Ele está envolvido de forma
cido " m o d o chama" para tornar os resultados deste método significativa na: (1) manutenção da distribuição da água, (2)
equivalentes àqueles obtidos por fotometria de chama e ISE pressão osmótica e (3) balanço ânion-cátion no ECE. E m con-
indireto. Neste m o d o , a concentração medida diretamente n o traste às suas altas concentrações n o ECF, a concentração de
plasma aquoso é multiplicada pela média da fração do volume Cl" n o f l u i d o intracelular dos eritrócitos é de 45 a 54 m m o l / L e
aquoso do plasma (0,93). Embora o ú l t i m o possa variar ampla- no f l u i d o intracelular da maioria das outras células teciduais é
mente, enquanto a atividade do i o n específico é constante, a de apenas - 1 m m o l / L .
concentração do íon na fase aquosa toina-se independente da Os íons cloreto da alimentação são quase que completamente
proporção relativa entre água e sólidos totais se os íons não absorvidos no trato intestinal, Eles são filtrados do plasma pelos
estiverem ligados às proteínas, como é o caso do Ca 2 *. Portanto, glomérulos e passivamente reabsorvidos, j u n t o com o Na + , nos
os métodos ISE diretos estão livres dos efeitos da exclusão de túbulos proximais (Capítulo 34). N o ramo ascendente grosso da
eletrólitos e os valores determinados pelos métodos ISE diretos, alça de Henle, o Cl' é ativamente reabsorvido pela bomba de
mesmo no m o d o chama, são diretamente proporcionais à ativi- cloreto, cuja ação promove a absorção passiva de Na + . Os diuré-
dade na fase aquosa e definem as concentrações dos eletrólitos ticos de alça, como furosemida e ácido etacrínico, i n i b e m a
de forma mais fisiológica e físico-química. bomba de cloreto. O Cl' excedente é excretado na urina e também
Os métodos ISE diretos atualmente são considerados os é eliminado no suor. E medido como u m indicador de fibrose
métodos de escolha para a análise de eletrólitos. Isto é baseado cística.
n o fato de que grandes alterações nos lipídios, proteínas e outros
sólidos plasmáticos ocorrem com freqüência em condições clíni- Amostras
cas relativamente comuns e em terapias como a alimentação O cloreto é mais freqüentemente mensurado no: (1) soro ou (2)
plasma, na (3) urina e no (4) suor. Ele é m u i t o estável no soro e
no plasma. Mesmo quando a hemólise é intensa, não ocorre
alteração significativa nas concentrações de C í no soro o u plasma
100

80 TABELA 2 4 - 1 Métodos para Mensurar a Concentração


ao Volume de Amostra Total e, Portanto,
| 60 100% 90% 80% Sujeitos ao Efeito de Exclusão do Eletrólito
H2O h2O HjO
•> Método Analilos
40
Fotometria de chama Na+, K4, Li+
Espectrometria de absorção atômica Ca54, Mg 2 " e outros
20
Amperometria/coulometria cr
Potenciometria indireta Na + , K+, Ca24, Cl'
Potenciometria direta 100 100 100
Fotometria de chama 100 90 80
ou
Potenciometria indireta
í TABELA 2 4 - 2 Métodos para Mensurar a Atividade,
Figura 24-1 Previsão da i n f l u ê n c i a da q u a n t i d a d e de água n a Molalidade ou Concentração na Fase
mensuração d o s ó d i o para u m a solução de N a C l a 100 m m o l / L p o r Aquosa e, Portanto, Não Sujeitos ao Efeito
e l e t r o d o seletivo de í o n (ISE) direto uersus f o t o m e t r i a de emissão de de Exclusão do Eletrólito
c h a m a o u I S E i n d i r e t o . As áreas vermelhas representam v o l u m e s n ã o Método Analitos
aquosos, q u e p o d e m consistir e m l i p í d i o s , proteínas ou m e s m o traços
de partículas de látex o u areia. (Reimpresso c o m a permissão de A p p l e
ISE com amostra não diluída H + (pH), Na+, K 4 , Ca34, Cl, Li4
Eletrodos de gás C0g (ÍÍÍO2), O2 (MJ2)
FS, K o c h D D , Graves S, L a d e n s o n ] H . R e l a t i o n s h i p between direct-
HCOg" (calculado a partir do pH e fC0 a )
potentiometric and flame-photometric measurement of s o d i u m in
Depressão da ponto de congelamento H 2 0 (osmolalidade)
b t o o d . C l i n C h e m 1982; 28:1931-5.)
448 PARTE IV Analitos

porque a concentração de Cl" nos eritrócitos é aproximadamente C F é o distúrbio genético letal mais c o m u m na população cau-
metade daquela n o plasma. M u i t o pouco Cl" se encontra ligado casiana com apresentações clínicas de amplo espectro, incluindo
a proteínas, por isso alterações na postura, estase ou uso de tor- doença pulmonar obstrutiva crônica e insuficiência pancreática.
niquetes também apresentam pouca influência na sua concentra- A C F é causada por u m defeito na proteína reguladora da con-
ção plasmática. A determinação de Cl* fecal pode ser ú t i l no dutância transmembrana da fibrose cística (CFTR), uma proteína
diagnóstico de alcalose hipoclorêmica congênita. que normalmente regula o transporte de eletrólitos através das
membranas epiteliais. Foram identificadas mais de m i l mutações
Metodologia Analítica em C F T R . Embora a análise mutacional direta esteja disponível,
Historicamente, o cloreto era mensurado nos sólidos e fluidos ela não é informativa em todos os casos, e o teste quantitativo
corporais por titulação mercurimétrica e métodos de espectrofo- de cloreto n o suor continua sendo o teste de diagnóstico padrão.
tometria. C o m o estes métodos não são mais utilizados, a titula- E m u m esforço para padronizar o teste, o C L S I desenvolveu o
ção coulométrica-ampeiométrica e os ISEs são os métodos prefe- documento de instruções C34-A2. 5 A l é m disso, a Cystic Fibrosis
renciais para mensurar Cl' nos fluidos corporais. Foundation produziu u m vídeo detalhando a execução e a inter-
pretação do teste do suor.
Titulação Coulométrica-Amperométrica O teste do suor freqüentemente é realizado juntamente com
As determinações coulométricas-amperométricas de C l depen- os programas de triagem do recém-nascido. A triagem de recém-
dem da geração de Ag + a partir do eletrodo de prata a ama taxa nascidos para a C F está se tornando mais c o m u m nos Estados
constante e da reação de Ag + com C l na amostra para formar Unidos e no mundo, pois estudos demonstraram uma melhor
cloreto de pTata insolúvel: nutrição das crianças submetidas à triagem. 9,12 A maioria dos
protocolos de triagem de recém-nascidos começa com o teste de
A g + + c r —»AgCl tripsinogênio imunorreativo (IRT) no soro a partir de uma gota
de sangue seca, seguido de u m segundo I R T ou teste de DNA. 1 7
Após atingir o p o n t o estequiométrico, o excesso de Ag + na As crianças com teste de triagem do recém-nascido positivo são
mistura desencadeia a paralisação do sistema de geração de Ag". conduzidos para o teste de cloreto no suor quantitativo, resul-
U m cronômetro marca o tempo passado entre o início e a pausa tando em u m aumento no n ú m e r o de testes de suor realizados
na geração de Ag + . O intervalo de tempo é proporcional à quan- em indivíduos com menos de 2 meses de idade.
tidade de Cl" presente na amostra, por isso a concentração do O teste do suor é realizado em três fases: (1) estímulo do suor
C l é calculada da seguinte forma: por meio de iontoforese por pilocarpina, (2) coleta do suor e (3)
análise qualitativa ou quantitativa do cloreto, sódro, condutivi-
dade ou osmolalidade do suor.
Cloreto ( m m o l / L ) - " tempo,, r3nm ,
^ ^ríililrarlíir
tem|:o„|lbl,dri tempo, h t a r i e r Estímulo da Sudorese e Coleta
Os eletrólitos aumentam transitoriamente n o suor logo após o
onde C^jbradoT é a concentração do calibrador. nascimento, por isso os indivíduos devem ter pelo menos 48
As aplicações deste principio (freqüentemente chamado de horas de idade antes da realização do teste do suor. O indivíduo
cloridômetro de Cotlove) são os métodos mais precisos para deve estar: (1) fisiológica e nutricionalmente estável, (2) comple-
mensurar Cl* em todos os intervalos de concentrações apresenta- tamente hidratado e (3) livre de doença aguda. A pele não deve
dos pelos fluidos corporais- O método está sujeito a interferên- apresentar cortes, rachaduras e inflamações para evitar a conta-
cias por outros íons halogêmos, pelos íons CN* e SCN", pelos minação da amostra de suor com fluidos serosos. Por exemplo,
grupos sulfídricos e por contaminação com metais pesados. o teste do suor nunca deve ser realizado sobre u m a área de
eczema.
Eletrodos Seletivos de íon Estimulo. Para estimular o suor, a sudorese localizada é pro-
Eletrodos seletivos para o cloreto são preparados utilizando-se duzida por iontoforese por pilocarpina de u m fármaco colinér-
membranas poliméricas solventes que incorporam os trocadores gico, o nitrato de pilocarpina, em uma área da pele. A iontofo-
de âníon do sal quaternário de amónio, como o decanol cloreto rese utiliza uma pequena corrente elétrica para depositar pilocar-
de tri-n-octilpropilamonia. Estes eletrodos, todavia, sofrem com pina dentro da glândula sudorípara a partir do eletrodo positivo,
a instabilidade da membrana e inconsistência lote a lote na enquanto uma solução eletrolítica no eletrodo negativo completa
seletividade de outros ânions. Os ânions que tendem a ser pro- o circuito. Nota: embora a Occupational Safety and Health
blemáticos são outros halóides e ânions inorgânicos, como o Administra ti o n ( O S H A ) não liste o suor como potencialmente
SCN", que são particularmente problemáticos por causa de sua infeccioso, os funcionários dos laboratórios devem tomar as
capacidade de se solubilizat na membrana orgânica polimérica mesmas precauções universais que eles teriam c o m qualquer
destes eletrodos. outro f l u i d o corporal.
Coleta. Após a iontoforese, o suor é coletado em: (1) suporte
Intervalos de Referência com gaze pré-pesado, (2) papel filtro, (3) espiral de Macroduct ou
Os intervalos de referência para o Cl" no soro ou plasma variam (4) células sensoras de condutividade N a n o d u c t utilizando técni-
entre 98 e 107 m m o l / L e 100 a 108 m m o l / L . Os valores séricos cas para minimizar a evaporação e contaminação. Se o suor é
variam pouco durante o dia. As concentrações de C l no f l u i d o coletado em uma gaze ou papel filtro, os eletrodos geralmente
espinal são - 1 5 % mais altos que n o soro. A excreção urinária de são feitos de cobre e são u m pouco menores que a área de esti-
Cl" varia com a dieta alimentar, mas o intervalo típico é de 110 mulação e coleta. A composição da solução eletrolítica pode ser
a 250 m m o l / d i a . selecionada para evitar a contaminação com a amostra de suor.
Antes de realizar a coleta, a gaze ou papel f i l t r o utilizados para a
Mensuração do Cloreto no Suor (Teste do Suor) coleta cio suor devem ser colocados em u m recipiente para
A análise d o suor para verificar a concentração do eletrólíto é pesagem com tampa de segurança selada, e o recipiente deve ser
utilizada para confirmar o diagnóstico de fibrose cística (CF). A marcado e pesado em u m a balança analítica. O leitor deve con-
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 449

sultar o documento C34-A2 do CLSI 5 para veiificat o procedi- C34-A2 do CLSI quanto às técnicas para m i n i m i z a i o potencial
mento detalhado para a estimulação e a coleta. de queimaduras. 5
Alternativamente para a estimulação do suor, os eletrodos e
a fonte de corrente são integrados, como ocorre nos sistemas Testes Qualitativos
Wescor Macroduct e N a n o d u c t (Wescor, Logan, Utah), que uti- U m teste de suor qualitativo representa u m teste de triagem para
lizam géis contendo pilocarpina. N o sistema Macroduct, o suor CF. Os indivíduos que apresentam resultados positivos ou limí-
é coletado em u m coletor em espiral tubular de microdiâmetro trofes devem ser submetidos ao teste quantitativo de suor. Os
descartável. Após a coleta de suor suficiente, o suor é transferido exemplos de testes de triagem incluem Wescor Sweat-Chek e
do espiral para u m recipiente de microamostra selável. O sistema Nanoduct para condutividade, C F Indicator System chloride
Nanoduct emprega uma célula sensora de condutividade inte- patch (PolyChrome Medicai Inc, Brooklin, M N ) e testes para
grada no dispositivo de coleta de uso único. osmolalidade. Os testes de triagem podem o u não mensurar a
Aspectos Críticos Associados à Estimulação e Coleta do Suor, quantidade de suor coletado e podem apresentar u m resultado
Durante a coleta, o analista deve: (1) evitar a evaporação e con- como positivo, negativo ou limítrofe ou dar a concentração real
taminação da amostra, (2) coletar uma quantidade suficiente de dos analitos do suor. Embora u m a variedade de sistemas seja
amostra e (3) minimizar as reações cutâneas. A determinação e a utilizada para o teste do suor, vários desses métodos relataram
aderência de u m volume ou peso m í n i m o são fundamentais para problemas, tornando-os inapropriados para o uso clínico. Por
a obtenção de resultados válidos do teste de suor. A necessidade exemplo, analisadores de condutividade antigos que utilizam reci-
de uma quantidade m í n i m a garante taxa de suor e concentração pientes coletores não aquecidos não são recomendados como
suor-eletrólito apropriadas. Isso independe do instrumento utili- procedimento diagnóstico por causa dos problemas relatados
zado para mensurar os eletrólitos do suor. Infelizmente, vários sobre evaporação e condensação de amostras e capacidade de
analistas interpretam erroneamente a necessidade de coletar o quantificar adequadamente as amostras de suor.
volume correto, acarretando testes de suor positivos falsos e nega- A Cystic Fibrosis Foundation aprovou o Wescor Macroduct
tivos falsos, o que apresenta implicação significativa n o trata- Sweat-Chek para a triagem em sítios clínicos, como hospitais
mento do paciente. comunitários, utilizando o critério de que u m indivíduo apresen-
A concentração suor-eletrólito está relacionada à taxa de suor. tando condutividade do suor de 50 m m o l / L ou maior deve ser
E m baixas taxas de suor, a concentração suor-eletrólito d i m i n u i encaminhado para u m centro de tratamento de CF para fazer o
e a oportunidade de evaporação da amostra aumenta. Para garan- teste quantitativo de cloreto n o suor. Note que os métodos de
tir u m resultado válido, a taxa média de suor deve exceder 1 g / condutividade do suor produzem resultados mais elevados, em
m 2 / m i n u t o . Para padronizar e simplificar o processo de coleta, aproximadamente 15 m m o l / L , que a concentração suor-cloreto.
os eletrodos e os materiais absorvente e de coleta devem ser Esta diferença provavelmente é causada pela presença de ànions
aproximadamente do mesmo tamanho. Amostras insuficientes não mensurados, como o lactato e o bicarbonato. 13 Por causa desta
não devem ser misturadas para a análise. diferença, os laboratórios não devem informar os resultados de
Q u a n d o a taxa aceitável é aplicada aos parâmetros descritos condutividade como se fossem resultados do cloreto. E m adição
no documento do CLSI, a amostra m i n i m a m e n t e aceitável para aos resultados de condutividade (em m m o l / L ) , o resultado deve
a análise de u m único sítio com a utilização de uma gaze ou papel incluir os intervalos de referência de condutividade do suor.
filtro de 2 por 2 polegadas para estimulação e coleta é de 75 mg
de suor coletados em 30 minutos. 5 C o m o sistema Macroduct, Testes Quantitativos
os eletrodos e a área de estimulação são menores e o m í n i m o de O diagnóstico de C F i n c l u i a mensuração quantitativa do cloreto
amostra aceitável é de 15 j.iL coletados em 30 minutos. do suor, que consiste em: (1) coleta do suor em uma gaze, papel
Q u a n d o o processo de coleta desvia dos parâmetros padroni- filtro ou espirais Macroduct; (2) avaliação da quantidade coletada
zados, o volume ou peso de suor m i n i m a m e n t e aceitáveis mudam. em peso (miligramas) ou v o l u m e (microlitros) e (3) mensuração
O suor deve ser coletado por apenas 30 minutos. Se o tempo de subseqüente da concentração de cloreto n o suor. A concentração
coleta exceder 30 minutos, deve-se aumentar a quantidade de de cloreto é determinada por titulação coulométrica com u m
suor necessária para garantir a estimulação adequada. A extensão cloridômetro ou titulação manual com nitrato mercúrico. Se o
do tempo de coleta permite uma oportunidade adicional para a laboratório escolher quantificar o cloreto do suor com u m ana-
evaporação do suor e, praticamente, não aumenta o rendimento lisador automático que emprega u m ISE, estes métodos devem
de suor de forma significativa. A aquisição da amostra m í n i m a ser validados sistematicamente quanto à acurácia, precisão e
não deve ser u m problema se forem seguidos o documento de menor limite de detecção. Para qualquer método, o menor l i m i t e
procedimento do CLSP e as recomendações do fabricante. A do intervalo de mensuração analítica para o cloreto do suor deve
porcentagem de amostra insuficiente, na média do processo de ser menor ou igual a 10 m m o l / L . N o contexto dos achados cli-
coleta, não deve exceder 5 % para os pacientes com mais de três nicamente significativos, uma concentração de cloreto no suor
meses de idade. As amostras de suor insuficientes resultam de maior que 60 m m o l / L é condizente com CF; concentrações entre
vários fatores, como: (1) idade, (2) peso, (3) raça, (4) condições 40 e 60 m m o l / L são consideradas limítrofes, e valores menores
da pele e (5) sistema de coleta. Por exemplo, as crianças pesando que 40 m m o l / L geralmente são considerados normais. Nos
menos de 2.000 gramas ou mais jovens que 38 semanas após a recém-nascidos, pode ser apropriado ajustar o intervalo de refe-
concepção ou de raça afro-americana apresentam probabilidade rência para menor que 30 m m o l / L . A l é m disso, algumas muta-
aumentada de produzirem amostra insuficiente. 11 Os resultados ções no gene da C F estão associadas a concentrações normais ou
do programa de triagem do recém-nascido apresentaram 17% de limítrofes de cloreto no suor. 17,ls
taxa insuficiente em crianças com duas semanas de idade, caindo
para 3 % a 11% nas crianças de três a oito semanas de idade. 1 ' Garantia de Qualidade
Queimaduras na pele do paciente após a iontoforese são Os laboratórios que realizam teste de suor de alta qualidade
extremamente raras, mas ocorrem com qualquer eletrodo. Se a devem; (1) selecionar os métodos apropriados, (2) apresentar
queimadura ocorrer no sítio de estimulação por pilocarpina, o volumes de testes para garantir familiaridade com o teste e (3)
suor não deve ser coletado. O leitor deve consultar o documento limitar as pessoas que executam u m teste a u m pequeno número
450 PARTE IV Analitos

de i n d i v í d u o s b e m treinados. Para m o n i t o r a r a acurácia e a pre- m e n t o de grandes v o l u m e s e análise automatizada das amostras


cisão do processo analítico, duas concentrações de c o n t r o l e garante que a m a i o r i a das mensurações de C 0 2 seja realizada c o m
devem ser analisadas d i a r i a m e n t e c o m as amostras dos pacientes. amostras que p e r d e r a m a l g u m C 0 2 gasoso dissolvido simples-
As concentrações de cloreto n o suor maiores que 160 m m o l / L m e n t e p o r q u e a preservação das condições anaeróbicas não f o i
não são f i s i o l o g i c a m e n t e possíveis e r e p i e s e n t a m c o n t a m i n a ç ã o praticada d u r a n t e o t e m p o e m que o plasma f o i colocado n o
da amostra o u erro analítico. U m a parte i m p o r t a n t e do p l a n o de e q u i p a m e n t o e processado. A s s i m , o t e r m o " b i c a r b o n a t o " p o d e
c o n t r o l e de qualidade i n c l u i a validação externa da acurácia da ser, na verdade, preferível ao " C O 2 t o t a l " . A l t e r n a t i v a m e n t e , é
análise do suor através da participação nos testes de p r o f i c i ê n c i a , provável que o resultado de u m a amostra de urgência, que é
c o m o aqueles oferecidos pelo CAP. r a p i d a m e n t e processada e i m e d i a t a m e n t e analisada, apresente
u m erro m u i t o m e n o r .
Fontes de Erro no Teste do Suor
M e t o d o l o g i a n ã o confiável, erros técnicos e erros na interpreta- Metodologia Analítica
ção acarretam resultados errôneos nos testes do suor. M é t o d o s O p r i m e i r o passo na mensuração do C 0 2 é a acidificação o u
que não m e d e m a q u a n t i d a d e de suor coletado o u que não alcalinização da amostra. A acidificação da amostra, c o m u m
apresentam u m a q u a n t i d a d e m í n i m a estabelecida estão sujeitos tampão ácido, converte as várias formas de C 0 2 n o plasma e m
a resultados negativos falsos p o r q u e não pode ser garantida u m a C 0 2 gasoso. A alcalinização da amostra converte t o d o o C 0 2 e
taxa adequada de suor. O u t r o s problemas c o m o teste d o suor ácido carbônico em H C 0 3 . A mensuração d o C 0 2 t o t a l nos
i n c l u e m erros p o r evaporação e c o n t a m i n a ç ã o e aqueles na d i l u i - i n s t r u m e n t o s automatizados m o d e r n o s é baseada e m eletrodos
ção, calibração do i n s t r u m e n t o , identificação da amostra e o u enzimática- N o s métodos baseados em eletrodos indiretos, o
emissão d o resultado. Estes erros o c o r r e m mais f r e q ü e n t e m e n t e C 0 2 gasoso liberado após a acidificação é d e t e r m i n a d o p o r u m
e m instituições que realizam relativamente poucos testes. Os e l e t r o d o P C 0 2 ( C a p í t u l o 5). A metodologia do /SE direto para C 0 2
laboratórios c o m p o u c o v o l u m e de testes para análise d o suor t o t a l não é c o m u m nos analisadores automatizados, s o m e n t e
devem considerar a descontinuação do teste e i n d i c a r os pacien- u m a pequena porcentagem dos laboratórios utiliza esta aborda-
tes para centros de t r a t a m e n t o da C F para teste e avaliação. Os gem. O s métodos diretos apresentam problemas c o m a especifi-
erros de interpretação são causados por: (1) c o n h e c i m e n t o técnico cidade. N o s métodos enzimáticos para C 0 2 , a amostra é p r i m e i r a -
i n a d e q u a d o , (2) falha em repetir os resultados limítrofes e posi- m e n t e alcalinizada para c o n v e r t e i t o d o o C O 2 e ácido c a r b ô n i c o
tivos, (3) falha em repetir os resultados negativos q u a n d o eles são e m HCO3". O H C 0 3 então é m e n s u r a d o utilizando-se u m ensaio
incompatíveis c o m o q u a d r o clínico e (4) falha em reperir o teste enzimático duplo:
em pacientes diagnosticados c o m C F q u e não apresentam o
curso c l í n i c o esperado. A má n u t r i ç ã o , desidratação, eczema e O 0
rachadura a u m e n t a m os eletrólitos n o suor, e n q u a n t o o edema o - ^ o 0 Fosfoenolpíruvato
carboxilase r = n
e a administração de m i n e r a l o c o r t i c ó i d e s d i m i n u e m os eletróli- O + HCO?
tos n o suor. Várias condições que não a C F estão associadas a H 2 C=C—<? 1
elevações nos eletrólitos do suor; todavia, estas condições geral- \x G
oo
m e n t e são distinguíveis da C F c o m base na apresentação clínica
do paciente c o m o descrito n o C L S I , d o c u m e n t o C 3 4 - A 2 . 5 Fosfoenolpíruvato Oxaloacetato

Bicarbonato (Dióxido de Carbono Total) <V°~ Malaco 0^.^,0


O d i ó x i d o de c a r b o n o t o t a l é a q u i u t i l i z a d o para descrever a desidrogenase |
1
q u a n t i d a d e mensurada c o m mais freqüência nos analisadores c=o = HO—CH
automatizados p o r : (1) acidificação de u m a amostra do soro o u
tSk ^
NADH NÀTV
NAD
CH
I 2
plasma e mensuração d o d i ó x i d o de c a r b o n o l i b e r a d o pelo pro-
cesso o u (2) alcalinização e mensuração d o b i c a r b o n a t o total. Sob cSP * H+
O - S ?
certas condições de coleta e m a n i p u l a ç ã o da amostra, os valores Oxaloacetato Malato
de d i ó x i d o de c a r b o n o d e t e r m i n a d o s desta f o r m a são compará-
veis c o m os valores para a concentração calculada de d i ó x i d o de A d i m i n u i ç ã o na absorvãncia da n i c o t i n a m i d a adenina d i n u -
c a r b o n o t o t a l o b t i d o s na análise de gases sanguíneos (ver seção cleotídeo reduzida (NADF1) a 3 4 0 n m é p r o p o r c i o n a l ao conte-
posterior neste capítulo nos métodos para gases sanguíneos). A ú d o t o t a l de C 0 2 .
fisiopatologia do b i c a r b o n a t o nos d i s t ú r b i o s acidobásicos é dis- Estes métodos enzimáticos são utilizados por cerca da metade
c u t i d a n o C a p í t u l o 35. de todos os laboratórios que r e l a t a m valores de C 0 2 total, e o
I S E i n d i r e t o é utilizado pela o u t r a metade.
Amostras
T a n t o o soro q u a n t o o plasma h e p a r i n i z a d o p o d e m seT analisa- Intervalos de Referência
dos. A amostra usual é o sangue venoso coletado c o m t u b o a Os intervalos de referência geralmente d e p e n d e m d o equipa-
vácuo, e m b o r a t a m b é m possa ser analisado o sangue capilar e m m e n t o , e os manuais dos fabricantes devem ser consultados e m
m i c r o t u b o o u t u b o capilar. A amostra coletada em t u b o a vácuo casos específicos. E m geral, os valores d o plasma e soro são 22 a
apresenta a determinação da concentração t o t a l de C O 2 mais 32 m m o l / L .
precisa: (1) q u a n d o o ensaio é realizado i m e d i a t a m e n t e após a
abertura d o tubo, (2) o q u a n t o antes após a coleta e (3) q u a n d o OSMOLALIDADE DO PLASMA E DA URINA
a amostra de sangue é centrifugada n o t u b o fechado. O ar A osmose é o processo que c o n s t i t u i o m o v i m e n t o do solvente
a m b i e n t e c o n t é m m u i t o m e n o s C 0 2 que o plasma e C 0 2 gasoso através da m e m b r a n a em resposta a diferenças de pressão osmó-
dissolvido. P o r t a n t o , o C O 2 irá escapar da amostra para o ar, c o m tica entre os dois lados da m e m b r a n a . A água migra através da
u m a conseqüente d i m i n u i ç ã o no valor de C 0 2 de até 6 m m o l / L m e m b r a n a em direção ao lado c o n t e n d o o s o l u t o mais concen-
após u m a h o r a de espera. N a prática, a logística do processa- trado. A o s m o m e t r i a é u m a técnica para mensurar a concentra-
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 451

ção de partículas de soluto que c o n t r i b u e m para a pressão osmó- exemplo, u m a solução aquosa 1 m o l a l ferve a u m a t e m p e r a t u r a
tica de u m a solução. A pressão osmótica governa o m o v i m e n t o 0 , 5 2 ° C mais alta e congela a u m a temperatura 1,858°C mais baixa
d o solvente (água nos sistemas biológicos) através das m e m b r a n a s que a água pura. A pressão osmótica da mesma solução está
que separam duas soluções. A s m e m b r a n a s que c i r c u n d a m os aumentada de zero a 17.000 m m H g (22,4 atmosferas). O t e r m o
vasos glomerulares e capilares são exemplos de m e m b r a n a s sele- osmolãlidãde expressa as concentrações relativas à massa d o sol-
tivas b i o l o g i c a m e n t e i m p o r t a n t e s . Estas são permeáveis à água e vente (solução 1 osmolal é d e f i n i d a p o r conter 1 o s m o l / k g H 2 0 ) ,
essencialmente a todas as moléculas pequenas e íons, mas não a e n q u a n t o o t e r m o osmolaridade expressa concentrações p o r v o l u m e
grandes moléculas protéicas. A s diferenças nas concentrações de de solução (solução 1 osmolar é d e f i n i d a p o r conter 1 o s m o l / L
moléculas o s m o t i c a m e n t e ativas que não atravessam u m a m e m - solução). A osmolalidade ( o s m o l / k g H z O ) é a expressão t e r m o d i -
brana i n d u z e m aquelas capazes de se m o v e r a estabelecei u m n a m i c a m e n t e mais exata p o r q u e as concentrações das soluções
e q u i l í b r i o o s m ó t i c o . Este m o v i m e n t o de solutos e íons permeá- expressas c o m base n o peso são independentes da temperatura,
veis exerce o que se conhece c o m o pressão osmótica. e n q u a n t o aquelas baseadas n o v o l u m e irão variar c o m a tempera-
A d e t e r m i n a ç ã o das osmolalidades do plasma e da u i i n a é tura. E m b o r a o t e r m o " o s m o l a r i d a d e " seja f r e q ü e n t e m e n t e utili-
utilizada para avaliar os d i s t ú r b i o s de eletrólitos e acidobásicos. zado na literatura médica, os laboratórios clínicos m e n s u r a m a
A comparação das osmolalidades d o plasma e da u r i n a d e t e r m i n a osmolalidade, que é t i m t e r m o mais i n f o r m a t i v o .
a adequação e estado de regulação da água pelos r i n s na deter- U m e l e t r ó l i t o em solução dissocia-se em duas (no caso do
m i n a ç ã o de distúrbios eletrolíticos graves, c o m o pode o c o r r e r n o N a C l ) o u três (no caso d o C a C l ; ) partículas, e, p o r t a n t o , os
diabetes insipidus o u na s í n d r o m e de secreção i n a p r o p r i a d a do efeitos coligativos destas soluções são m u l t i p l i c a d o s pelo n ú m e r o
h o i m ô n i o a n t i d i u r é t i c o ( S 1 A D H ) ( C a p í t u l o s 35 e 39). A s p r i n c i - de íons dissociados f o r m a d o s p o r molécula. C o n t u d o , várias
pais substâncias osrnóticas n o plasma n o r m a l são Na + , Cl", glicose soluções não se c o m p o r t a m de f o r m a ideal, e u m a solução 1
e uréia; assim a provável osmolalidade d o plasma é calculada a m o l a l p o d e apresentar u m a pressão osmótica m e n o r que a teori-
p a r t i r da equação empírica a seguir: camente esperada p o r causa da dissociação i n c o m p l e t a dos ele-
trólitos e associação entre as moléculas de s o l u t o e solvente. O
m O s m / k g = 1,86 (Na + [ m m o l / L ] ) coeficiente da atividade o s m ó t i c a é u m fator usado para corrigir
+ glicose [ m m o l / L ] o desvio d o c o m p o r t a m e n t o " i d e a l " d o sistema:
+ uréia [ m m o l / L ]
+ 9 O s m o l a l i d a d e = o s m o l / k g H 2 0 = (jmC

ou onde
(|) = coeficiente o s m ó t i c o
m O s m / k g = 1,86 (Na+ [ m m o l / L ] ) n = n ú m e r o de partículas na q u a l cada m o l é c u l a na solução
+ glicose [ m g / d L ] / 1 8 p o t e n c i a l m e n t e se dissocia
+ uréia N [ m g / d L ] / 2 , 8 C = m o l a l i d a d e em m o l / k g H ^ O
+9
A glicose e o e t a n o l apresentam coeficientes osmóticos de 1,00,
O 9 m O s m / k g a d i c i o n a d o à equação acima representa a c o n t r i - e n q u a n t o o t[) para o cloreto de sódio é 0,93 nas concentrações
buição de outras substâncias o s m o t i c a m e n t e ativas n o plasma, encontradas n o soro - p o r isso, a derivação de 1,86 x Na* ( m m o l )
c o m o o K \ Ca 2+ e proteínas. A constante 1,86 reflete as c o n t r i - na f ó r m u l a para calcular a o s m o l a l i d a d e plasmática. A osmolali-
buições d o N a * e Cl'. O i n t e r v a l o de referência para o osmolali- dade t o t a l ou pressão osmótica de u m a solução é igual à soma
dade do plasma é de 275 a 3 0 0 m O s m / k g . A comparação da das pressões osrnóticas o u osmolalidades de todas as espécies de
o s m o l a l i d a d e mensurada c o m a o s m o l a l i d a d e calculada ajuda a solutos presentes. O s eletrólitos Na + , Cl* e H C 0 3 * , presentes em
i d e n t i f i c a r a presença de u m "gap o s m o l a l " , considerado i m p o r - concentrações relativamente altas, são os maiores c o n t r i b u i n t e s
t a n t e na d e t e r m i n a ç ã o da presença de substâncias osrnóticas exó- para a osmolalidade do soro. Substâncias não eletrólitos, c o m o
genas. A s comparações das osmolalidades calculada e m e n s u r a d a a glicose e a uréia, que n o r m a l m e n t e estão presentes em baixas
t a m b é m são utilizadas para c o n f i r m a r o u descartar a suspeita de concentrações m o l a l , c o n t r i b u e m menos. A s proteínas séricas
p s e u d o - h i p o n a t r e m i a c o m o resultado do efeito de exclusão d o c o n t r i b u e m c o m menos de 0 , 5 % da osmolalidade t o t a l do soro
eletrólito previamente discutido. p o r q u e m e s m o a p r o t e í n a mais a b u n d a n t e está presente e m con-
E m adição ao a u m e n t o da pressão o s m ó t i c a q u a n d o o s o l u t o centrações m i l i m o l a r .
é a d i c i o n a d o ao solvente, a pressdo de vapor da solução diminui e Teoricamente, q u a l q u e r u m a das q u a t r o propriedades coliga-
torna-se m e n o r que a do solvente p u r o . C o m o resultado da tivas (pressão de vapor, p o n t o de ebulição, p o n t o de congela-
m u d a n ç a n a pressão de vapor, o ponto de ebulição da solução m e n t o o u pressão osmótica) p o d e ser utilizada c o m o base para
aumenta e torna-se m a i o r que o do solvente p u r o , e o ponto de mensuração da osmolalidade. N o e n t a n t o , a depressão do p o n t o
congelamento da solução d i m i n u i e torna-se m e n o r que o do sol- de congelamento é mais c o m u m e n t e usada nos l a b o r a t ó r i o s clí-
vente p u r o . nicos p o r ser mais simples.

Propriedades Coligativas Mensuração da Osmolalidade


E m q u í m i c a , as propriedades coligativas são os fatores q u e deter- Os i n s t r u m e n t o s utilizados para mensurar a o s m o l a l i d a d e
m i n a m c o m o as propriedades de u m a solução l í q u i d a são altera- i n c l u e m o o s m ô m e t r o de depressão do p o n t o de c o n g e l a m e n t o
das d e p e n d e n d o da concentração do soluto na solução. N o labo- e o s m ô m e t r o da pressão de vapor.
r a t ó r i o c l í n i c o , as propriedades coligativas das soluções consideradas
são: (1) pressão osmótica aumentada, (2) pressão de v a p o r d i m i - Osmômetro de Depressão do Ponto de
n u í d a , (3) p o n t o de ebulição a u m e n t a d o e (4) p o n t o de congela- Congelamento
m e n t o d i m i n u í d o . Todos eles são d i r e t a m e n t e relacionados ao Os componentes de u m o s m ô m e t r o de depressão do p o n t o de
n ú m e r o total de partículas de soluto p o r massa de solvente. Por congelamento incluem:
452 PARTE IV Analitos

1. U m b a n h o o u b l o c o de resfriamento t e r m o s t a t i c a m e n t e con- A n o m e n c l a t u r a relativa nesta área de análise f o i d e f i n i d a


trolado mantido a - 7 ° C . pelo C L S I * , algumas delas estão resumidas n o Q u a d r o 24-1.
2. U m m e c a n i s m o de agitação r á p i d a para i n i c i a r ("semear") o
c o n g e l a m e n t o da amostra. Comportamento dos Gases
3. U m a s o n d a t e r m i s t o r conectada a u m c i r c u i t o para mensurar A determinação das pressões dos gases n o ar expirado o u sangue
a t e m p e r a t u r a da amostra. ( O t e r m i s t o r é u m a esfera de v i d r o depende da aplicação de certos p r i n c í p i o s físicos ( Q u a d r o 24-1).
ligado a u m t r o n c o de m e t a l cuja resistência varia rapida- A pressão p a r c i a l de u m gás dissolvido n o sangue é, p o r d e f i n i -
m e n t e e previsivelmente c o m a temperatura.) ção, igual à pressão parcial d o gás em u m a fase gasosa ideal
4. U m de d i o d o emissor de luz ( L E D ) q u e i n d i c a o curso i m a g i n á r i a e m e q u i l í b r i o c o m o sangue. E m e q u i l í b r i o , a pressão
de t e m p o da curva de c o n g e l a m e n t o e o resultado f i n a l . parcial (tensão) de u m gás é a mesma nos eritrócitos e plasma,
Para mensurar a osmolalidade, p r i m e i r a m e n t e a t e m p e r a t u r a então a pressão parcial de u m gás é a mesma em t o d o o sangue
da amostra é d i m i n u í d a n o b a n h o e, c o m agitação branda, é e plasma. A pressão parcial de u m gás em u m a m i s t u r a gasosa é
super-resfriada a u m a t e m p e r a t u r a vários graus abaixo d o seu d e f i n i d a c o m o a fração da substância d o gás (fração m o l a r ) vezes
p o n t o de c o n g e l a m e n t o ( - 7 ° C ) . Q u a n d o o de L E D i n d i c a a pressão total.
que ocorreu super-resfriamento suficiente, a amostra é elevada a E n t r e os vários espaços o n d e os gases estão presentes estão:
u m p o n t o acima do l í q u i d o n o b a n h o de resfriamento e o agita- (1) sala o n d e o e q u i p a m e n t o está instalado, (2) árvore b r o n q u i a l
d o r é alterado de u m a velocidade b r a n d a de agitação para u m a e alvéolos do paciente e (3) câmara de mensuração d o equipa-
a m p l i t u d e vigorosa m o m e n t a n e a m e n t e , o que i n i c i a o congela- m e n t o laboratorial. E m todos estes espaços, a pressão prevalente
m e n t o da solução super-resfriada. Este congelamento é apenas é a pressão atmosférica (barométrica), P(Amb). Todavia, a pressão
até o estágio de c o n g e l a m e n t o parcial, c o m cerca de 2 % a 3 % d o parcial de cada u m dos gases presentes nestes espaços deve aumen-
solvente solidificado. O calor l i b e r a d o da fusão i n i c i a l m e n t e tar o valor da P(Amb), que irá variar c o m a altitude e pressão
aquece a solução, e então a temperatura atinge u m plarô e per- barométrica. A convenção científica reduz as mensurações dos
manece estacionária, i n d i c a n d o a temperatura de e q u i l í b r i o na volumes gasosos feitas à P(Amb) à temperatura (0°C o u 273,16 K )
q u a l está o c o r r e n d o o c o n g e l a m e n t o e d e r r e t i m e n t o da solução. e pressão (760 m m H g o u 101,325 kPa) padrões para os gases secos
N o f i n a l d o p l a t ô da t e m p e r a t u r a de e q u i l í b r i o , o galvanômetro ( S T P D ) para tornar os dados experimentais transferíveis. N a
n o v a m e n t e i n d i c a a d i m i n u i ç ã o da t e m p e r a t u r a à m e d i d a que a prática, entretanto, as mensurações da pressão parcial são sempre
amostra congela mais para se t o r n a r c o m p l e t a m e n t e sólida. feitas à temperatura c o r p o r a l (geralmente 37°C), à P(Amb) e na
U m exemplo do cálculo para se obter a o s m o l a l i d a d e é: se o presença de vapor d'água saturado ( P H 2 0 = 47 m m Hg). A utili-
p o n t o de c o n g e l a m e n t o observado for -0,53 D C, então zação desta convenção BTPS (padrão de temperatura e pressão
corporais) ( Q u a d r o 24-1) apresenta os seguintes efeitos práticos:
m o s m o l / k g H 2 0 - -0,53/-1,8 6 x 1.000 = 285 1. I n d i c a que os dados laboratoriais para os gases sanguíneos
são estritamente relacionados à localização geográfica d o
o n d e -1,86°C é a depressão do p o n t o de c o n g e l a m e n t o 1 m o l a l paciente, então os intervalos de referência tornam-se depen-
da água pura. dentes da altitude.
2. Assume que a t e m p e r a t u r a corporal-padrão é de 3 7 ° C e que
Osmâmetro da Pressão de Vapor o aparelho de mensuração t a m b é m m a n t é m a amostra de
O o s m â m e t r o da pressão de vapor é o u t r o t i p o de o s m â m e t r o . sangue exatamente a 37°C. Esta suposição requer cuidados
A mensuração da o s m o l a l i d a d e nesses i n s t r u m e n t o s , n o e n t a n t o , especiais c o m a estabilidade térmica do aparelho e e m situa-
não está d i r e t a m e n t e relacionada à m u d a n ç a na pressão do vapor ções e m que a t e m p e r a t u r a d o paciente não é 3 7 ° C c o m o na
(em m i l í m e t r o s de m e r c ú r i o ) , mas à d i m i n u i ç ã o da temperatura h i p o t e r m i a imposta. 1 5
da ponto de condensação do solvente p u r o (água) causada pela 3. Reconhece que as pressões parciais dos gases mensuradas no
d i m i n u i ç ã o na pressão de vapor do solvente pelos solutos. sangue coexistçm c o m a pressão de vapor saturado (SVP)
U m a diferença clínica i m p o r t a n t e entre a técnica de pressão constante e padrão, que é i d ê n t i c a para as condições de cali-
de vapor e o o s m ô m e t r o de depressão do p o n t o de congelamento bração d o i n s t r u m e n t o e condições de mensuração da amostra
é a falha d o p r i m e i r o e m i n c l u i r qualquer soluto v o l á t i l presente de sangue.
n o soro na sua mensuração da osmolalidade total. Substâncias As leis de Boyle e Charles e a hipótese de A v o g a d r o são
c o m o o etanol, m e t a n o l e i s o p r o p a n o l são voláteis e, p o r t a n t o , combinadas na c h a m a d a equação geral dos gases:
escapam da solução e a u m e n t a m a pressão de vapor em vez de
d i m i n u i r a pressão de vapor do solvente (água). Portanto, os p _(nRT)
osmômetros de pressão de vapor não são empregados na identifi-
V
cação de gap o s m o l a l nos distúrbios acidobásicos ( C a p í t u l o 35).

GASES SANGUÍNEOS E pH
O t r a t a m e n t o c l í n i c o de distúrbios metabólicos e respiratórios onde
depende da mensuração r á p i d a e precisa d o oxigênio e d i ó x i d o P = pressão e m u n i d a d e s de m i l í m e t r o s de m e r c ú r i o ( m m H g )
de c a r b o n o n o sangue. M e d i d a s ativas para m a n t e r a vida em o u quilopascal (kPa)
pacientes c o m d a n o c a r d i o p u l m o n a r d e p e n d e m a m p l a m e n t e da V - v o l u m e em litros no q u a l u m gás ideal está c o n t i d o ,
ventilação assistida u t i l i z a n d o misturas de gases que são adapta- T = temperatura e m graus K e l v i n ( 0 ° C = 273,16 K),
das em resposta aos resultados laboratoriais de ácido-base e gases n = n ú m e r o de moles d o gás
sanguíneos. A determinação dos gases sanguíneos t a m b é m exerce R = constante do gás
u m a parte i m p o r t a n t e na detecção n o desbalanço ácido-base e
m o n i t o r a ç ã o da terapia. Detalhes da patofisiologia dos gases san- A u n i d a d e do SI de P é o pascal (Pa). N o entanto, o emprego
guíneos em relação aos distúrbios acidobásicos e respiratórios são de m i l í m e t r o s de m e r c ú r i o ( t a m b é m c o n h e c i d o c o m o torr) conti-
discutidos e m detalhes n o C a p í t u l o 35. n u a sendo p o p u l a r (ver Q u a d r o 24-1 para os fatores de conversão).
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 453

Q U A D R O 24-1 Fatores de Conversão, Prefixos, S í m b o l o s e TABELA 2 4 - 3 Princípio s Físicos Aplicados às Mensuraçoes


Descritores Utilizados nas Discussões de de Gases Sanguíneos
M e n s u r a ç ã o de Gases no Sangue e no Ar
Expirado L e i d e B o y l e : 0 volume de um gás ideal a uma V oc 1/P
temperatura constante é inversamente proporcional
à sua pressão.
FATORES DE CONVERSÃO
Lei de C h a r l e s ( G a y - L u s s a c ) : Q volume de um V ccT
1 mm Hg = 0,133 kPa
gás ideal a pressão constante é diretamente proporcional
1 kPa = 7,5 mm Hg
à sua temperatura absoluta.
kPa: 1 quilopascal = 1.000 pascal. 0 pascal é a unidade derivada do SI de
Hipótese de Avogadro: Volumes iguais de gases Ni/Vi = nj/Vj
pressão; é igual a 1 Newton/m2.
ideais diferentes à mesma temperatura e pressão
PREFIXOS GERAIS contêm o mesmo número de moléculas.
P. pressão parcial ou tensão L e i d e D a l t o n : A pressão total exercida por uma mistura P- ÜPi
Use: P0„ PC Os,ffl20 de gases ideais é a soma das pressões parciais de cada
Alternativa: p0 2 um dos gases na mistura.
Si fração de saturação L e i d e H e n r y : A quantidade de gás solúvel C= a x P
Uso: S0a moderadamente dissolvido em um líquido é proporcional
Alternativa: s02 à pressão parcial do gás sobre o líquido.
c. concentração da substância
Uso: ct02 para a concentração total de 0 2
Uso: ctC02 para a concentração total de C02
Uso: ctHCOg para a concentração de bicarhonato P ( A m b ) = P O , + P C 0 2 + PN 2 + P H z O + PX
d: gás dissolvido, utilizado com a concentração da substância (cj
t: total, utilizado com a concentração da substância (c), portanto ctC02 = HC03~ o n d e PX é a pressão de qualquer o u t r o gás na amostra de ar. A
+ cdC03 lei de D a l t o n não se aplica aos gases em soluções. Isto é, a soma
Origem da amostra é indicada por letras minúsculas. Sangue total e plasma das pressões parciais de todos os gases dissolvidos p o d e ser m e n o r ,
são distinguidos por letras maiúsculas.
igual o u m a i o r que a pressão da solução mensurada. Por exemplo,
a: arterial B: sangue
se a soma das tensões dos gases é significativamente m a i o r que a
v: venoso P: plasma
c: capilar
pressão da solução, pode ocorrer a formação de bolhas, c o m o
Uso: POz (aB), para a pressão parcial de 0 2 no sangue arterial acontece n o sangue de mergulhadores e m e r g i n d o de locais pro-
f u n d o s (gerando u m a condição conhecida c o m o "doença des-
PREFIXOS ASSOCIADOS À RESPIRAÇÃO EXTERNA cornpressiva") o u na amostra de sangue resfriada sendo aquecida
V. volume de ar au sangue (unidade, litro) para análise. A lei de D a l t o n para as pressões parciais c o n t i n u a
V: taxa de volume {unidade, L/min) i m p o r t a n t e , de qualquer m o d o , para a calibração e c o n t r o l e dos
F. fração da substância, também chamada de fração molar aparelhos de mensuração.
e: ar expirado C o n s i d e r e u m calibrador de gás certificado c o n t e n d o 15%
i: ar inspirado de 0 2 ( L / L o u m o l / m o l ) e 5 % de CO?, e o restante de N 2 . Esta
a: ar alveolar mistura, após a saturação c o m vapor d'água a 3 7 ° C (para m i m e -
Uso: l/(a) significa ventilação alveolar; e l/(b), débito cardíaco; A32(i), fração de tizar o sangue o u ar alveolar d o paciente), é i n t r o d u z i d a na
0 2 no ar inspirado; FG2(a), pressão parcial de 0 2 no ar alveolar; e PC02{e),
câmata de mensuração de gases sanguíneos ( m a n t i d o a 3 7 ° C para
pressão parcial de C02 no ar expirado.
mimetizar a temperatura c o r p o r a l do paciente) c o m o p r o p ó s i t o
de calibrar o i n s t r u m e n t o para mensuraçoes subseqüentes de
OUTROS DESCRITORES
gases nas amostras dos pacientes. Se a pressão b a r o m é t r i c a local,
BTPS: Temperatura corporal (37°C ou 310,16 K) e ftessão ambiente
P ( A m b ) , nesta ocasião é de 747 m m Hg, então o gás calibrador
completamente Saturada (fH 3 0 - 47 mm Hg ou 6,25 kPa)
STPS: CbndiçÕes Afarmais de Temperatura (0QC ou 273,16 K) e ttessao (760 u m i d i f i c a d o está presente na câmara e m pressão ambiente, baro-
mm Hg ou 101,08 kPa) de gás Seco. métrica, c o m o a seguir
Amb: atmosfera ambiente (unidade é atm, atmosfera)
B: barométrica (atmosférica) P ( A m b ) = 747 m m H g = P 0 2 + P C 0 2 + P N 2 + P H 2 0
BTPS: Uso: ^amb), P[Amb)
SVP: Pressão de Lfcpor Saturado, a pressão de vapor da água. SVPT significa Para ajustar o i n s t r u m e n t o à P 0 2 e P C 0 2 do gás calibrador,
SVP em uma temperatura específica, p. ex., SVP37=C = 47 mm Hg; TH20 a P ( A m b ) deve ser ajustada a 47 m m H g , a P H 2 0 a 37°C. Por-
(saturado)
tanto
ATPS: Temperatura e /Cessão Anbientes aturadas com vapor d'água.

P ( A m b ) - P H 2 0 = P 0 2 + P C 0 2 + PNz
= 747 - 47 = 700 m m H g

A P ( A m b ) corrigida para PHnO representa a soma das pres-


A utilização das unidades do SI apresenta u m a vantagem prática
sões parciais para os gases secos cujas frações molares são conhe-
e m que 1 a t m é quase igual a 100 kPa (1 a t m = 101,325 kPa). As
cidas. Os valores exatos de P 0 2 e P C 0 2 para a calibração dos
pressões parciais expressas em quilopascais são, p o r t a n t o , estima-
i n s t r u m e n t o s são
das de f o r m a m u i t o aproximada às porcentagens dos gases na
mistura a 1 atm. A pressão, P (ou p)j p o d e significar a pressão P 0 2 = 700 x 0,15 = 105 m m H g
total, c o m o na expressão P(Amb) para a mistura de gases n o ar P C 0 2 = 700 x 0,05 = 35 m m H g
ambiente, o u a pressão parcial n o sangue, c o m o a P 0 2 (aB).
A lei de Dalton (Tabela 24-3) pode ser d e t e r m i n a d a para o ar
A lei de pressão parcial t a m b é m é aplicada em misturas de
ambiente como
gases definidas utilizadas para d e t e r m i n a r P 0 2 (0,5) o u P50 e o u t i a
454 PARTE IV Analitos

quantidades derivadas e c o n t r o l a a i n s t r u m e n t a ç ã o c o m amostras p H (= - l o g cH + ) e p K J (= - l o g K 1 ). O p H é d e f i n i d o c o m o o l o g


submetidas à t o n o m e t r i a . (Amostras de sangue submetidas à negativo da atividade de H * (flH + ), que é a entidade verdadeira-
t o n o m e t r i a apresentam P 0 2 e P C 0 2 ajustadas a pressões d e f i n i - m e n t e mensurada pelos p H m e t r o s . A equação H e n d e r s o n - H a s -
das pela exposição da amostra de sangue a u m a m i s t u r a de gás selbalch tornou-se
de composição precisamente conhecida.)
A lei de Henry prediz a q u a n t i d a d e de gás dissolvido e m u m cH c o ;
p H = p K ' + log
l í q u i d o em c o n t a t o c o m a fase gasosa (Tabela 24-3). ( a x PCO,)
O coeficiente de s o l u b i l i d a d e d o 0 2 no sangue a 3 7 ° C ( a 0 2 )
é 0,00140 ( m o l / L ) / m m H g . P o r t a n t o , q u a n d o a P 0 2 arterial é
ou
n o r m a l (100 m m Hg), a concentração de O2 dissolvido n o sangue
arterial, c d 0 2 , é 0,140 m m o l / L , o que é u m a p r o p o r ç ã o m u i t o
[ctC02 - ( a x PC02)]
pequena de c o n t e ú d o c t 0 2 n o sangue ( - 9 m m o l / L ) ; a m a i o r p H = p K ' + log
parte deste O? está ligado à h e m o g l o b i n a . O a u m e n t o da fração (cc x P C O , )
de 0 2 d o ar i n s p i r a d o para 1 0 0 % o u o a u m e n t o da pressão do
ar inspirado, c o m o na câmara hiperbárica, força mais 0 2 para fC é a constante de dissociação total (combinada) aparente para
d e n t r o da solução. A previsão das concentrações de c d 0 2 nestas o ácido carbônico. Deve-se n o t a r que K ' não depende somente da
terapias é ú t i l p o r q u e a oxigenação t e c i d u a l p o r 0 2 dissolvido temperatura, mas t a m b é m da forca iônica da solução.
torna-se progressivamente i m p o r t a n t e q u a n d o a d i s t r i b u i ç ã o de Para o sangue a 3 7 ° C , o v a l o r m é d i o n o r m a l é pJC'(P) = 6,103
O i mediada pela h e m o g l o b i n a está prejudicada. O c d 0 2 é calcu- e o coeficiente de s o l u b i l i d a d e para o gás C O i , a , é 0 , 0 3 0 6 m m o l
lado da mesma f o r m a : a C 0 2 a 3 7 ° C no plasma = 0,0306 m m o l / x L 1 x m m Hg' 1 .
L / m m H g . A s s i m , à P C 0 2 de 4 0 0 m m H g , o c d 0 2 = 4 0 X 0 , 0 3 0 6 I n s e r i n d o p K 1 e a para o plasma n o r m a l a 3 7 ° C , a equação
~ 1,224 m m o l / L . Henderson-Hasselbalch assume a seguinte f o r m a :

A p l i c a ç ã o da Equação Henderson- cHCo;


p H = 6,103 + log
Hasselbalch nas M e n s u r a ç õ e s de Gases (0,0306 x PC O , )
Sanguíneos
O d i ó x i d o de c a r b o n o e a água reagem para f o r m a r ácido carbô-
ou
n i c o , que p o r sua vez se dissocia em íons h i d r o g ê n i o e H C O / :

a C O ( 0 0 3 0 6 x F C
pH=6,103 + l o g ' - ' ° ^
hidrfltoçio asociaçào
,© (0,0306 x P C 0 2 )
co2 + h2q H 3 CO 3 HCO?

o n d e P C 0 2 é m e n s u r a d o e m m i l í m e t r o s de m e r c ú r i o e c H C O ^ ' e
Assim, as concentrações totais de (1) C 0 2 ( c t C 0 2 ) , (2) bicar- c t C 0 2 são mensurados em m i l i m o l e s p o r l i t r o . T e n d o o antilo-
b o n a t o c H C C V , (3) C Ò 2 dissolvido ( c t l C 0 2 ) e (4) í o n H + (cH 4 ) g a r i t m o , c o m b i n a n d o as constantes e expressando [ H " ] e m n m o l /
são inter-relacionadas, A constante K para a reação de hidratação L, a equação torna-se
é 2,29 X 10"3 (píC = 2,64 a 37°C). iC para a dissociação d o ácido
c a r b ô n i c o é 2,04 x 10"4 ( p K = 3,69). PCO,
cH+ = 2 4 , l x
H e n d e r s o n c o m h i n o u as duas reações acima e i n c o r p o r o u a
cHCo;
constante K' c o m u m valor de 4,68 x 10 7 , e assim u m p í C de
6,33 a 37°C:
Se os valores norm'ais são substituídos na equação,
cHC0
K'=,H*x > 40
cdCO, c H + - 24, l x — — n m o l / L = 38 j O n m o l / L
25,4
A concentração d o C 0 2 dissolvido incíui a pequena quanti-
dade de ácido c a r b ô n i c o não dissociado (dissolvido). Isto é Assim, pela mensuração de quaisquer dois dos q u a t r o parâ-
expresso c o m o c d C 0 2 = a X P C 0 2 , o n d e a é o coeficiente de metros, P C 0 2 o u c d C 0 2 ) p H , c t C O i o u c H C O ^ " e u t i l i z a n d o a
s o l u b i l i d a d e para o C 0 2 . O t e r m o c H C 0 3 " representa c t C 0 2 equação c o m os valores acima para p K 1 e a , os outros dois parâ-
menos c d C O í , o que i n c l u i o ácido c a r b ô n i c o . A concentração metros p o d e m ser calculados. U m a v a n t a g e m deste v a l o r cal-
de " b i c a r b o n a t o " p o r esta d e f i n i ç ã o i n c l u i b i c a r b o n a t o de sódio culado é q u e este reflete essencialmente a atividade de H C 0 3 ' na
2
não dissociado, c a r b o n a t o (CO3 *) e carbamato ( c a r b a m i n o - C 0 2 ; fase aquosa d o plasma. A s s i m , o m e s m o não é afetado pelos efeitos
R C N H C O O ' ) , q u e estão presentes em pequenas quantidades de exclusão de eletrólitos, c o m o p o d e ocorrer c o m outras men-
excedentes n o plasma. surações indiretas de H C 0 3 " .
Se a equação de H e n d e r s o n é rearranjada e c d C 0 2 é t r o c a d o
p o r tx x PCO-7, resulta a equação seguinte: Oxigênio no Sangue
O c o n t e ú d o total de O i , c t 0 2 , de u m a amostra de sangue é a soma
das concentrações de 0 2 ligado à h e m o g l o b i n a e O i dissolvido.
PC O,
cH+ =K'xax E m u m c t 0 2 de 9 m m o l / L , o c d O i é aproximadamente 0,14
cH C O , m m o l / L , e o restante de 0 2 é associado à h e m o g l o b i n a como a
oxiemoglobma (02Hb). O 0 2 H b é definido como a hemoglobina
E m 1916, Hasselbalch m o s t r o u q u e a transformação logarítmica nos eritrócitos c o m 0 2 ligado reversivelmente ao Fe2" d o grupa-
da equação possuía u m a f o r m a mais ú t i l e u t i l i z o u os s í m b o l o s m e n t o heme. Cada m o l de hemoglobina-Fe^ liga u m m o l de 0 2 .
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 455

U m g de h e m o g l o b i n a é capaz de ligar 1,39 m L ( 0 , 0 6 2 m m o L ) decorre do f a t o de que os valores destes parâmetros são m u i t o


de O 2 . Este valor refere-se à capacidade específica da hemoglo- semelhantes e m i n d i v í d u o s saudáveis c o m quantidades n o r m a i s
b i n a A ( H b A , o p r o d u c o gêmeo do a d u l t o n o r m a l ) de hgar-se ao de h e m o g l o b i n a n o r m a l . N o e n t a n t o , as suposições feitas para
0 2 , q u e liga reversivelmente o 0 2 ao seu g r u p a m e n t o heme. A i n d i v í d u o s n o r m a i s e saudáveis geram conclusões errôneas e m
m e t e m o g l o b i n a ( M e t H b ) , c a r b o x i e m o g l o b m a ( C O H b ) , sulfemo- pacientes seriamente doentes e naqueles c o m dísemoglobinas o u
g l o b i n a ( S u l f H b ) e ci ano m e t e m o g l o b i n a são formas da h e m o g l o - variantes de h e m o g l o b i n a q u a n d o estes valores são utilizados
b i n a q u e n ã o são capazes de ligação reversível ao 0 2 p o r causa p e r m u tavelmente.
das alterações químicas n o g r u p a m e n t o h e m e ( C a p í t u l o 28). Os m é t o d o s de espectrofotornetria são utilizados para deter-
Estas h e m o g l o b i n a s q u i m i c a m e n t e alteradas são coletivamente m i n a r 0 ? H b e h e m o g l o b i n a reduzida ( H H b ) c o m S 0 2 calculado
chamadas de dísemoglobinas. As h e m o g l o b i n a s c o m modificações de acordo c o m
geneticamente determinadas e m suas seqüências de a m i n o á c i d o s
que a k e t a m a ligação de O2 são coletivamente chamadas de cO,Hb
S02 -
variantes da h e m o g l o b i n a o u h e m o g l o b i n o p a t i a s . M a i s de 9 0 0 (cO,Hb+cHHb)
h e m o g l o b i n o p a t i a s f o r a m descritas ( h t t p : / / g l o b i n . c s e psu.edu),
sendo u m exemplo a h e m o g l o b i n a de célula f a l c i f o r m e (HbS).
A r e t i r a d a de 0 2 pelo sangue nos p u l m õ e s é p r i m a r i a m e n t e onde c 0 2 H b é a concentração de oxiemoglobina, c H H b é a con-
governada pela PG 2 d o at alveolar e pela capacidade do 0 2 de se centração de cieoxiemoglobina, e a soma de o x i e m o g l o b i n a e deo-
d i f u n d i r l i v r e m e n t e da m e m b r a n a alveolar para o sangue. M a i s x i e m o g l o b i n a representa t o d a a h e m o g l o b i n a capaz de ligar 0 2
de 9 5 % da h e m o g l o b i n a irão se ligar ao 0 2 à PO? n o r m a l m e n t e reversivelmente. A S 0 2 geralmente é expressa em porcentagem.
presente n o ar alveolar (~ 102 m m H g ) e c o m m e m b r a n a e hemo- A S 0 2 é f r e q ü e n t e m e n t e d e t e r m i n a d a p o r o x i m e t r i a de pulso.
g l o b i n a A n o r m a i s . E m u m a P 0 2 > 1 1 0 m m Hg, m a i s de 9 8 % Esta é u m a técnica não invasiva e m q u e u m sensor é colocado
de h e m o g l o b i n a A n o r m a l se ligar ao 0 2 . Q u a n d o toda hemo- e m u m a p a r t e r e l a t i v a m e n t e f i n a da a n a t o m i a d o paciente, geral-
g l o b i n a está saturada c o m 0 ? ., u m a u m e n t o a d i c i o n a l na P 0 2 d o m e n t e na p o n t a dos dedos o u n o l ó b u l o da orelha o u , em casos
ar alveolar a u m e n t a apenas a concentração de c d 0 2 n o sangue de neonatos, n o pé. Luz v e r m e l h a e i n f r a v e r m e l h a é d i r e c i o n a d a
arterial. A d i s t r i b u i ç ã o de 0 2 p e l o sangue para os tecidos é gover- através d o tecido, e a absorvancia cia luz t r a n s m i t i d a é mensu-
nada p e l o grande gradiente entre PO? do sangue a r t e r i a l e aquela rada. A o x i m e t r i a de pulso mede 0 2 H b e H H b , mas não C O H b ,
das células teciduais, e pela dissociação cie 0 2 H b n o s eritrócitos M e t H b o u S u l f H b . Estes dispositivos m e d e m absorvâncias a 6 6 0
em u m a P 0 2 m e n o r na interface sangue-célula tecidual. e 9 4 0 n m para as quais 0 2 H b e H H b apresentam padrões ú n i c o s
Três propriedades do sangue arterial são essenciais para de absorvância. Estes m o n i t o r e s geralmente são utilizados ao lado
garantir a d i s t r i b u i ç ã o adequada de 0 2 para os tecidos: do paciente acamado para m o n i t o r a r a saturação de 0 2 H b . N o
1. A P 0 2 arterial deve ser s u f i c i e n t e m e n t e alta ( - 9 0 m m H g ) e n t a n t o , o uso de S 0 2 na avaliação i n i c i a l de u m paciente c o m
p a r a criar u m gradiente de difusão d o sangue a r t e r i a l para as dísemoglobinas o u outras h e m o g l o b i n a s anormais gera interpre-
células teciduais. A baixa P 0 2 arterial ( h i p o x e m i a ) resulta em tações erradas. Por e x e m p l o , em u m paciente comatoso c o m 1 5 %
h i p o x i a t e c i d u a l (falta de 0 2 ) . de C O H b , a S 0 2 pela o x i m e t r i a de pulso simples p o d e ser de
2. A capacidade de ligação de O2 d o sangue deve ser n o r m a l . A 0,95, e n q u a n t o a fração de 0 2 H b pode ser na realidade de apenas
d i m i n u i ç ã o na concentração de H b p o d e causar a c o n h e c i d a 0,80. P o r t a n t o , deve-se d e t e r m i n a r a presença de dísemoglobinas
h i p o x i a anêmica. antes de utilizar S 0 2 c o m propósitos clínicos. O i n t e r v a l o de
3. A h e m o g l o b i n a deve ser capaz de ligar 0 2 nos p u l m õ e s e referência para S 0 2 em adultos saudáveis é de 9 4 % a 9 8 % .
liberá-lo nos tecidos (a a f i n i d a d e da h e m o g l o b i n a pelo 0 2 O u t r a expressão para "saturação" de oxigênio é F O ? H b , que
deve ser n o r m a l ) . U m a a f i n i d a d e m u i t o grande da hemoglo- é calculada da seguinte f o r m a :
b i n a pelo 0 2 p o d e causar h i p o x i a tecidual "baseada na afini-
d a d e " e m que o 0 2 não é libera cio na interface capilar-tecido
c 0 ; H b
(ver adiante). A PO? na extremidade venosa dos capilares deve F O , H b =
ser de a p r o x i m a d a m e n t e 38 m m H g , e, p o r t a n t o , a diferença ctHb
arteriovenosa n o r m a l na P 0 2 é de 5 0 a 60 m m H g .

o n d e a concentração da h e m o g l o b i n a t o t a l c t H b é igual a soma


Saturação de Oxigênio da Hemoglobina de 0 2 H b , H H b , C O H b , M e t H b e S u l f H b . Este valor requer a
A n t e s de d i s c u t i r os fatores q u e afetam a afinidade d a H b pelo
determinação de todas as espécies de h e m o g l o b i n a e geralmente
0 2 , é i m p o r t a n t e d e f i n i r o c o n c e i t o de saturação de o x i g ê n i o da
é realizado em u m co-oxí m e t r o . Estes i n s t r u m e n t o s são espectro-
hemoglobina (S02):
f o t ô m e t r o s que d e t e r m i n a m a q u a n t i d a d e t o t a l de h e m o g l o b i n a
e a porcentagem de cada u m a das espécies m e n c i o n a d a s acima
C o n t e ú d o de o x i g ê n i o
so2 = e m u m h e m o l i s a d o de sangue total. C o m isso, a absorvância é
Capacidade d o o x i g ê n i o m e n s u r a d a e m 6 a 128 c o m p r i m e n t o s de o n d a fixados entre 535
e 670 n m . A l g u n s co-oxí metros novos u t i l i z a m u m arranjo de
Esta é a fração (porcentagem) de h e m o g l o b i n a f u n c i o n a l que é diocio. C a d a espécie de h e m o g l o b i n a apresenta seu p r ó p r i o
saturada c o m o x i g ê n i o e é essencialmente u m a f o r m a i n d i r e t a de p a d r ã o de absorvância, p e r m i t i n d o q u e u m c o m p u t a d o r calcule
estimar a P 0 2 . N o e n t a n t o , existem pelos m e n o s crês abordagens a p o r c e n t a g e m de cada u m a . O i n t e r v a l o de referência para
diferentes para d e t e r m i n a r a "saturação" do oxigênio, e e m b o r a E 0 2 H b é 0,90 a 0,95.
cada u m a seja distinta, elas são f r e q ü e n t e m e n t e utilizadas ínter- O software utilizado pelos c o m p u t a d o r e s integrados aos ins-
cambiavelmente para d e t e r m i n a r a "saturação d o o x i g ê n i o " . Estes t r u m e n t o s de mensurar gases sanguíneos irá estimar a saturação
termos: (1) saturação de o x i g ê n i o da h e m o g l o b i n a ( S 0 2 ) , (2) d o oxigênio ( S 0 2 ) a p a r t i r d o p H , P 0 2 e h e m o g l o b i n a mensura-
o x i e m o g l o b m a fracionada ( F 0 2 H b ) e (3) saturação cio oxigênio dos c o m a utilização de equações empíricas. Se usado c o m o u m
estimada ( 0 2 S a t ) apresentam definições distintas estabelecidas t o d o , este valor refere-se c l a r a m e n t e à S 0 2 estimada, mas freqüen-
pelo C L S I (C46-A). f i A utilização ambígua destes três termos t e m e n t e é r e p o r t a d o c o m o " 0 2 S a t " . Valores calculados c o m o
456 PARTE IV Analitos

u
0 2 S a t " devem ser i n t e r p r e t a d o s c o m cautela p o r q u e esta abor-
dagem algorítmica assume: (1) a f i n i d a d e n o r m a l da h e m o g l o b i n a
pelo O i , (2) concentração de 2,3-difosfoglicerol (2,3-DPG) n o r m a l
e (3) ausência de disemoglobinas. Estas estimativas calculadas
v a r i a m 6 % e m relação aos valores mensurados. Conseqüente-
mente, a utilização dos valores estimados é desencorajada.'
A d i m i n u i ç ã o na F 0 2 H b i n d i c a baixa P 0 2 a r t e r i a l o u prejuízo
da capacidade da h e m o g l o b i n a de ligar-se ao 0 2 . A d i m i n u i ç ã o
na P 0 2 i n d i c a u m a capacidade reduzida do 0 2 de difundir-se do
ar alveolar para o sangue. Isto é decorrente de h i p o v e n t i l a ç ã o o u
desvio v e n o a r t e r i a l a u m e n t a d o , que é secundário à insuficiência
cardíaca o u p u l m o n a r . A h e m o g l o b i n a t o t a l baixa é considerada
c o m o resultante de u m a d i m i n u i ç ã o n o n ú m e r o de eritrócitos
c o n t e n d o concentrações n o r m a i s de h e m o g l o b i n a (anemia nor-
m o c r ô m i c a ) o u u m a d i m i n u i ç ã o na concentração m é d i a de
h e m o g l o b i n a nos eritrócitos (anemia h i p o c r ô m i c a ) . A d i m i n u i -
ção de F 0 2 H b t a m b é m ocorre c o m o resultado de intoxicações
que c o n v e r t e m parte da h e m o g l o b i n a nas espécies C O H b ,
M e t H b , S u l f H b o u c i a n o m e t e m o g l o b i n a que não irão ligar 0 2 Figura 24-2 C u r v a d e dissociação d o oxigênio paTa sangue h u m a n o

o u fazer trocas gasosas de f o i m a apropriada. C l i n i c a m e n t e , é c o m p H plasmático diferente, mas PCO2 constante de 4 0 m m H g ,

i m p o r t a n t e d i s t i n g u i r : (1) h i p o x e m i a arterial ( P 0 2 a r t e r i a l d i m i - concentração de 2,3-difosfoglicerol n o s eritrócitos de 5,0 m m o l / L e


n u í d a e d i m i n u i ç ã o em S 0 2 o u F 0 2 H b p o r causa da m e n o r t e m p e r a t u r a a 37°C.
d i s p o n i b i l i d a d e de 0 2 ) e (2) cianose ( d i m i n u i ç ã o de F 0 2 H b p o r
causa de altas concentrações anormais de h e m o g l o b i n a Teduzida
o u h e m o g l o b i n a q u i m i c a m e n t e alterada incapaz de carrear o 0 2 ) .
E i m p o r t a n t e n o t a r que, n o i n í c i o da cianose, a mensuração de
S O i o u S 0 2 estimada ( u 0 2 Sat T 1 ) p o d e ser n o r m a l se a cianose é valor de P 50 m e n s u r a d o difere d o valor-padrao da P 50 de a c o r d o
decorrente da presença de M e t H b o u C O H b . c o m a extensão e m que: ( I ) o p H difere de 7,40, (2) a P C 0 2 difere
A concentração de oxigênio n o sangue ( c t 0 2 ) é a soma de 0 2 de 40 m m H g , (3) a T difere de 37°C e (4) a concentração de
ligado à h e m o g l o b i n a e c d 0 2 - Os analisadores de gases sanguí- 2 , 3 - D P G difere de 5,0 m m o l / L P o r t a n t o , o valor de P50 torna-se
neos d e t e r m i n a m c t 0 2 p o r m e i o d o seguinte cálculo: u m a m e d i d a da alteração da a f i n i d a d e da h e m o g l o b i n a decor-
rente da i n f l u ê n c i a destes fatores. Q u a n d o o p H é ajustado e m
ct02 ( m L / d L ) = [FO,Hb X b O , x ctHb(g/dL)] + ( a 0 2 x P02) 7,40 e a P C 0 2 e m 4 0 m m Hg, esta P50 " p a d r ã o " é u m a mensu-
ração i n d i r e t a da concentração de 2 , 3 - D P G na ausência de H b
o n d e b 0 2 é igual a 1,39 m l V g e a , 0 2 , O coeficiente de solubili- variantes.
dade de 0 2 a 3 7 ° C , é igual a 0,0031 ( m L / d L ) / m m H g . Este
cálculo é baseado em F 0 2 H b e c t H b . Se for utilizada a S 0 2 l é Intervalos de Referência
necessário usar a concentração de h e m o g l o b i n a efetiva sub- Para adultos, 9 5 % dos limites são de 25 a 29 m m H g para a P50
t r a i n d o a concentração de q u a l q u e r d i s e m o g l o b i n a presente da m e d i d a a 37 U C e p H ( P ) c o r r i g i d o para 7,4. Para os recém-nasci-
concentração d e c t H b . A s s i m , n o exame i n i c i a l de u m paciente, dos, o i n t e r v a l o é de 18 a 24 m m H g p o r causa da presença de
pode ser necessário obter u m valor preciso de cíOt para ser uti- H b fetal (HbF).
lizado nos cálculos subseqüentes.
Importância Clínica'
Dissociação Hemogiobina-Oxigênio O s valores a u m e n t a d o s para P50 i n d i c a m deslocamento para a
O grau de associação o u dissociação entre o 0 2 e a h e m o g l o b i n a d i r e i t a da curva de dissociação d o 0 2 , i n d i c a n d o u m a a f i n i d a d e
é d e t e r m i n a d o pela P 0 2 e pela a f i n i d a d e da h e m o g l o b i n a pelo d i m i n u í d a da h e m o g l o b i n a pelo 0 2 . As p r i n c i p a i s causas são: (1)
0 2 . Q u a n d o a S 0 2 d o sangue é d e t e r m i n a d a e m u m i n t e r v a l o de h i p e r t e r m i a , (2) acidemia, (3) h i p e r c a p n i a , (4) altas concentra-
POT e representada graficamente c o n t r a a P 0 2 ) obtém-se u m a ções de 2 , 3 - D P G o u (5) presença de variantes da h e m o g l o b i n a
curva s i g m ó i d e conhecida c o m o c u r v a de dissociação d o oxigê- c o m a f i n i d a d e d i m i n u í d a pelo O?. AS concentrações de 2 , 3 - D P G
n i o . O forniu to da curva resulta da eficiência crescente da molé- t e n d e m a a u m e n t a r na alcalemia crônica, anemia e h i p o x e m i a
cula H H b de ligar-se ao 0 2 à m e d i d a que mais 0 2 é ligado crônica. A h e m o g l o b i n a Kansas é u m exemplo de h e m o g l o b i n a
( " c o o p e r a t i v i d a d e " ; ver t a m b é m C a p í t u l o 28). A posição da curva c o m afinidade d i m i n u í d a pelo 0 2 .
em relação à P 0 2 necessária para atingir u m a concentração par- Os efeitos fisiológicos da a f i n i d a d e d i m i n u í d a da h e m o g l o -
ticular de S 0 2 n o sangue é u m a função da a f i n i d a d e da hemo- b i n a são m í n i m o s . E m geral, a a f i n i d a d e ainda é suficiente para
g l o b i n a pelo 0 2 . p e r m i t i r que a h e m o g l o b i n a ligue quantidades adequadas de 0 2
A a f i n i d a d e da h e m o g l o b i n a pelo 0 2 depende de; (1) tempe- nos pulmões. A baixa afinidade facilita a dissociação da 0 2 H b
ratura, (2) p H , (3) P C 0 2 , (4) concentração de 2 , 3 - D P G e (5) nas células dos tecidos periféricos. A l é m disso, na anemia, a baixa
presença de h e m o g l o b i n a s m i n o r i t á r i a s , c o m o C O H b e M e t H b . a f i n i d a d e (como resultado d o a u m e n t o em 2 , 3 - D P G ) é u m meca-
A Figura 24-2 ilustra o efeito d o p H plasmático n a curva de n i s m o c o m p e n s a t ó r i o desejável. Os pacientes c o m h e m o g l o b i n a
dissociação (efeito B o h r ) . Gráficos semelhantes p o d e m ser feitos Kansas apresentam P5C de a p r o x i m a d a m e n t e 80 m m H g e baixa
para as variações de P C 0 2 , 2 , 3 - D P G e temperatura. c t H b , mas não são afetados.
Baixos valores para P50 s i g n i f i c a m deslocamento da curva de
Determinação da P50 dissociação do 0 2 para a esquerda, i n d i c a n d o u m a a f i n i d a d e
A P i 0 é d e f i n i d a c o m o a P 0 2 para u m a dada amostra de sangue a u m e n t a d a da h e m o g l o b i n a . As p r i n c i p a i s causas são: ( I ) h i p o -
em que a h e m o g l o b i n a d o sangue está 5 0 % saturada c o m 0 2 . O t e r m i a , (2) alcalemia aguda, (3) h i p o c a p n i a , (4) baixas concentra-
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 457

ções de 2 , 3 - D P G , (5) C O H b e M e t H b aumentadas o u (6) u m a t o c o l o aprovado pelo C L S I , H - 1 1 A 4 , descreve o p r o c e d i m e n t o


h e m o g l o b i n a variante. A d i m i n u i ç ã o de 2 , 3 - D P G é c o m u m e n t e apropriado.7
observada nos estados acidêmicos p e r s i s t i n d o p o r mais de O sangue venoso para mensurar gases sanguíneos e p H geral-
algumas horas; o a u m e n t o i n i c i a l na P 50 causado pela acidemia m e n t e é coletado c o m agulha e seringa, e m b o r a alguns laborató-
é gradualmente compensado por uma d i m i n u i ç ã o em 2,3-DPG, rios t a m b é m aceitem a coleta e m t u b o a vácuo c o n t e n d o h e p a r i n a
então a P 50 d i m i n u i para u m valor m e n o r q u e o n o r m a l . A con- sódica seca. N a coleta d o sangue venoso de u m a veia d o braço, a
seqüência fisiológica da a f i n i d a d e a u m e n t a d a da h e m o g l o b i n a amostra deve ser o b t i d a após a liberação d o t o r n i q u e t e , e n ã o se
pelo O? é a dissociação de 0 2 H b menos eficiente nos tecidos deve p e r m i t i r que o paciente f l e x i o n e os dedos o u cerre o p u n h o .
periféricos e m e n o r P 0 2 tecidual. A aplicação p r o l o n g a d a d o t o r n i q u e t e e / o u a atividade muscular
irá d i m i n u i r P 0 2 e p H venosos. Cateteres inseridos c o m p o r t a
Tonometria para injeção de heparina para terapias endovenosas são utilizados
A t o n o m e t r i a é o processo de exposição de u m l i q u i d o a u m a para coletar amostra após o cateter ser p r e e n c h i d o c o m p l e t a m e n t e
fase gasosa e m que cada gás da fase gasosa então se d i s t r i b u i e c o m u m jato de sangue (geralmente 5 vezes o v o l u m e d o cateter)
atinge u m e q u i l í b r i o entre o l i q u i d o e o gás. Esse e q u i l í b r i o antes da coleta da amostra. A falha em lavar c o m u m jato forte
p a r t i l h a a P C 0 2 e P 0 2 d o gás e m e q u i l í b r i o c o m o sangue, e este de sangue a p o r t a para injeção de f o r m a apropriada apresenta
é exposto ao t o n ô m e t r o . O e q u i l í b r i o p o r t o n o m e t r i a u t i l i z a gases efeitos imprevisíveis nas quantidades mensuradas e freqüente-
de composição conhecida, u m i d i f i c a d o s a 3 7 ° C para gerar u m a m e n t e gera resultados estranhos e não fisiológicos.
pressão de v a p o r d'água saturado de 47 m m H g . A P C 0 2 o u P 0 2 A s amostras arteriais o u venosas i d e a l m e n t e são coletadas
destes gases é calculada de acordo c o m a lei de D a l t o n (ver seção anaerobicamente c o m o anticoagulante h e p a r i n a liofilizada e m
a n t e r i o r , C o m p o r t a m e n t o dos Gases). A t o n o m e t r i a é utilizada seringas estéreis c o m capacidade de 1 a 5 m L . E m b o r a teorica-
para t r a t a r as amostras de sangue para vários estudos especiais m e n t e seja preferível a utilização de seringas de v i d r o para evitar
q u e são r a r a m e n t e requeridos na m a i o r i a dòs hospitais e para trocas gasosas através da parede da seringa, a m a i o r i a das seringas
preparar m a t e r i a l de c o n t r o l e de q u a l i d a d e e m t o d o o sangue. A para gases sanguíneos a t u a l m e n t e é de plástico e a troca de gás
d e t e r m i n a ç ã o direta da P50 e d o bicarbonato-padrão são duas que ocorre e m 1 h o r a é insignificante. A h e p a r i n a liofilizada é
aplicações da t o n o m e t r i a . As aplicações de garantia da q u a l i d a d e preferível à h e p a r i n a l í q u i d a . N o e n t a n t o , (1) o t a m a n h o da
i n c l u e m : (1) preparação de amostras de sangue total para o con- seringa, (2) a concentração e o v o l u m e da h e p a r i n a l í q u i d a e (3)
trole de q u a l i d a d e e (2) d e t e r m i n a ç ã o da linearidade dos eletro- o v o l u m e de sangue d r e n a d o para d e n t r o da seringa são i m p o r -
dos P 0 2 e P C 0 2 . tantes q u a n d o se utiliza a h e p a r i n a l í q u i d a . A anticoagulação
adequada ( - 0 , 0 5 m g h e p a r i n a / m L de sangue) é alcançada pela
Determinação de PC02, P02 e pH drenagem de solução de h e p a r i n a l í q u i d a suficiente para d e n t r o
Os i n s t r u m e n t o s utilizados para d e t e r m i n a r P C 0 2 , P 0 2 e p H são da seringa de f o r m a que.- (1) seja u m e d e c i d a u m a área m á x i m a
automatizados. A coleta e o m a n u s e i o apropriados da amostra da superfície i n t e r n a da seringa e (2) o ar e o excesso de h e p a r i n a
são essenciais para a d e t e r m i n a ç ã o precisa. sejam ejetados d e i x a n d o o espaço m o r t o da seringa p r e e n c h i d o
c o m heparina. U m a p r o p o r ç ã o alta entre h e p a r i n a e sangue gera
Amostras u m efeito cada vez mais notável na PCO? m e n s u r a d a e nos parâ-
O sangue t o t a l é a amostra escolhida para a análise de gases e metros calculados a p a r t i r desta PCOT.
p o d e ser o b t i d o de q u a l q u e r sítio acessível ao cateterismo vascular O b v i a m e n t e , a amostra coletada sob condições anaeróbicas deve
o u acessos venosos. Estes sítios c o m u m e n t e são os vasos sanguí- seT exposta o m í n i m o possível ao ar atmosférico. A P C 0 2 d o ar
neos das extremidades, mas estudos especiais p o d e m requerer seco é a p r o x i m a d a m e n t e 0,25 m m H g e é m e n o r que a d o sangue
acesso às câmaras cardíacas e aos vasos sanguíneos calibrosos d o ( ~ 4 0 m m Hg). E n t ã o o c o n t e ü d o de C 0 2 e P C 0 2 d o sangue
tórax. Os analistas devem estar cientes de q u e algumas amostras exposto ao ar irá d i m i n u i r e o p H d o sangue, q u e é u m a f u n ç ã o
são de d i f í c i l obtenção e devem ser m a n i p u l a d a s c o m o m á x i m o da P C 0 2 , irá aumentar. A P 0 2 d o ar atmosférico ( - 1 5 0 m m H g )
de c u i d a d o . A s diferenças entre os valores mensurados dos gases é a p r o x i m a d a m e n t e 6 0 m m H g m a i o r q u e a d o sangue arterial e
sanguíneos arteriais e venosos são mais p r o n u n c i a d a s para a P 0 2 . a p r o x i m a d a m e n t e 120 m m H g m a i o r que a d o sangue venoso.
N a verdade, a PO z é a ú n i c a razão clínica para a coleta mais d i f í c i l P o r t a n t o , o sangue dos pacientes r e s p i r a n d o o ar a m b i e n t e que
de sangue arterial. A P 0 7 geralmente é 6 0 a 70 m m H g m e n o r é exposto ao ar atmosférico recebe 0 2 . 1 5 E m contraste, o sangue
n o sangue venoso após a liberação de 0 2 nos capilares, e n q u a n t o c o m P 0 2 excedendo 150 m m H g , c o m o ocorre c o m os pacientes
a P C O j é 2 a 8 m m H g m a i o r n o sangue venoso. O p H geral- s u b m e t i d o s à terapia de 0 2 , perde 0 2 ao ser exposto ao ar.
m e n t e é apenas 0,02 a 0,05 unidades de p H m e n o r na amostra M e s m o q u a n d o a amostra é m a n i p u l a d a c o m c u i d a d o , o sangue
venosa. f r e q ü e n t e m e n t e é exposto ao ar presente n a agulha e n o espaço
A garantia da q u a l i d a d e das análises sanguíneas para os gases m o r t o da seringa. O erro será m í n i m o se a b o l h a resultante f o r
e p H é d e p e n d e n t e d o c o n t r o l e dos erros pré-analíticos ( C a p í t u l o ejetada i m e d i a t a m e n t e após a remoção da agulha d o sítio de
3) e d o c o n t r o l e dos i n s t r u m e n t o s analíticos e processamento dos p u n ç ã o . O efeito p o t e n c i a l de pequenas bolhas nos resultados de
testes. N e m sempre os profissionais d o l a b o r a t ó r i o c o n t r o l a m a gases sanguíneos f o i claramente d e m o n s t r a d o e m u m estudo em
coleta das amostras arterial e venosa, p o r isso eles devem traba- que u m a b o l h a de 100 f i L de ar a m b i e n t e f o i adicionada a 10
l h a r j u n t a m e n t e e de f o r m a cooperativa c o m médicos, enfermei- amostras de 2 m L de sangue c o m valores de P 0 2 entre 25 e 4 0
ras, terapeutas respiratórios e outros profissionais que o b t ê m m m H g . Nestas amostras, a P 0 2 a u m e n t o u 4 m m H g e m m é d i a
estas amostras. e m apenas 2 m i n u t o s , e n q u a n t o a P C 0 2 d i m i n u i u 4 m m Hg. 1 5
A p u n ç ã o arterial apresenta u m p e q u e n o risco m é d i c o e n ã o O sangue capilar arterializado algumas vezes é aceitável c o m o
deve ser realizada p o r pessoas que não f o r a m treinadas para este alternativa ao sangue arterial: (1) q u a n d o a perda de sangue
f i m . A p u n ç ã o arterial sempre é feita c o m seringa e agulha. O precisa ser m i n i m i z a d a , (2) q u a n d o u m a cânula arterial n ã o está
t o r n i q u e t e n ã o é utilizado, e n e n h u m a tração o u apenas u m a disponível o u (3) para evitar p u n ç ã o arterial repetida. O sangue
tração leve é aplicada ao ê m b o l o da seringa à m e d i d a que a cutâneo f l u i n d o l i v r e m e n t e origina-se das arteríolas e apresenta
pressão arterial e m p u r r a sangue para d e n t r o da seringa. O pro- composição semelhante a d o sangue arterial. Todavia, o sangue
458 PARTE IV Analitos

capitai arterializado não é aceitável: (1) q u a n d o a pressão sanguí- mudanças. E m u m sangue fresco d r e n a d o c o m P O j n o r m a l
nea sistólica é m e n o r que 95 m m H g , (2) e m casos de vasocons- m a n t i d o anaerobicamente, a respiração celular acarreta d i m i n u i -
trição, (3) de pacientes sob terapia de 0 2 , (4) de recém-nascidos ção na P 0 2 a u m a taxa de - 2 m m H g / h a t e m p e r a t u r a a m b i e n t e
d u r a n t e as p r i m e i r a s horas após o n a s c i m e n t o o u (5) de recém- e 5 a 10 m m H g / h a 37°C. O s efeitos adversos da glicólise e
nascidos c o m a s í n d r o m e do estresse respiratório. Estas situações respiração n o p H , c t C O ^ , PO2 e P C 0 2 do sangue são evitados
p r o p o r c i o n a m u m risco p a r t i c u l a r de misturar sangue capilar q u a n d o a análise é realizada em até 3 0 m i n u t o s após a coleta. Se
arterializado c o m sangue das vênulas, r e s u l t a n d o em valores a análise precisa ser adiada o u se as circunstâncias c r i a m u m risco
baixos de P O j errôneos. A p u n ç ã o capilar deve ser precedida de de atraso, a seringa o u o t u b o c o n t e n d o o sangue deve ser imerso
a q u e c i m e n t o d o sítio de p u n ç ã o na pele por 10 m i n u t o s para e m u m a m i s t u r a de gelo e água até ser possível realizar a análise.
alcançar a vasodilatação e f l u x o sanguíneo adequado nos capila- Sob estas condições, inibe-se a glicólise e as alterações são insig-
res locais. O a q u e c i m e n t o p o d e ser feito pela imersão d o braço nificantes.
o u da perna em água aquecida a 4 5 ° C para a coleta a p a r t i r dos As pequenas alterações esperadas nos valores c o m atrasos na
dedos de u m a criança o u de u m a d u l t o o u d o calcanhar de u m análise são reais apenas q u a n d o a c o n t a g e m de leucócitos ( W B C )
bebê. A p r i m e i r a gota de sangue deve ser enxugada, e as gotas é n o r m a l o u levemente elevada. A glicólise, e os efeitos resultan-
formadas subsequentemente devem ser recolhidas e m t u b o de tes n o p H , POT e P C 0 2 , a u m e n t a d r a m a t i c a m e n t e c o m a elevação
coleta capilar c o n t e n d o h e p a r i n a liofilizada. A p e n a s o sangue de acentuada na c o n t a g e m de leucócitos, c o m o ocorre na leucemia
f l u x o livre fornece amostra satisfatória, e a coleta das gotas assim q u a n d o a P 0 2 d i m i n u i r a p i d a m e n t e em vários minutos. 1 4 A ú n i c a
que estas são formadas m i n i m i z a m a exposição aeróbica. alternativa para o b t e r valores precisos dos gases sanguíneos destes
O transporte e a análise das amostras devem ser imediatos. pacientes é realizar a análise imediata u t i l i z a n d o dispositivos de
M é d i c o s que u t i l i z a m as mensurações dos gases sanguíneos e p H teste r á p i d o o u levando o analisador de gases sanguíneos até o
n o m a n e j o d o c u i d a d o c r i t i c o geralmente necessitam q u e o paciente.
t e m p o entre a aquisição da amostra e o resultado seja m u i t o
c u r t o . O ideal é q u e as amostras n u n c a sejam estocadas antes da
análise. E n t r e t a n t o , o atraso na análise em até 1 h o r a apresentará Instrumentação
efeitos m í n i m o s nos valores relatados para a m a i o r i a das amos- U m esquema característico de u m i n s t r u m e n t o típico é m o s t r a d o
tras. O p H do sangue fresco d r e n a d o e guardado d i m i n u i a u m a na Figura 24-3. Os p r i n c í p i o s e l e t r o q u í m i c o s e aspectos estrutu-
taxa de 0 , 0 4 a 0,08 p H U / h a 37°C, 0,02 a 0 , 0 3 / h a 2 2 ° C e rais dos eletrodos são discutidos n o C a p í t u l o 5. Desenvolvimen-
< 0 , 0 1 / h a 4 ° C . A d i m i n u i ç ã o n o p H é acompanhada p o r u m a tos recentes na i n s t r u m e n t a ç ã o i n c l u e m " p e r f i l de u r g ê n c i a " ,
d i m i n u i ç ã o c o r r e s p o n d e n t e na glicose e u m a u m e n t o equivalente e q u i p a m e n t o s para testes rápidos o u para serem utilizados ao
n o lactato. A P C O j a u m e n t a - 5 m m H g / h a 3 7 ° C , 1 m m H g / h lado d o paciente. V á r i a s empresas a t u a l m e n t e p r o d u z e m instru-
a 2 2 ° C e apenas - 0 , 5 m m H g / h a 2 ° C a 4 ° C . A glicólise pelos mentos: (1) pequenas, (2) portáteis, (3) a u t ô n o m o s e (4) fáceis de
leucócitos, plaquetas e reticulócitos é a causa p r i m á r i a destas setem operados, projetados para operações "satélites ao laborató-

O; alio
CO* baixn M
w
GasBs
calibradoras

O- baixo
CO. alto w

PH
alto

Tampôas-
pacrSo

PH
baixo

dtti
1 6
bomba

\
LOJ
T5
Sonda de
anostra J-AJV
w

Figura 24-3 Esquema de um equipamento de análise de gás sanguíneo. H, dispositivo de um ficaçãOj V, válvula;
C, câmara; B, banho de temperatura constante a 37°C; W, lixo; M, computador; D/P, mostrador/ mpressora. E
(eletrodos) onde Bj é POj, E2 PCOi, E^ pH e E^ Teferência para o pH..
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 459

r i o " e alguns e q u i p a m e n t o s de uso m a n u a l que u t i l i z a m eletrodos Diferença Líquido-Gás de um Eletrodo P02


descartáveis. U m a p r o p r i e d a d e p a r t i c u l a r do eletrodo P 0 2 deve ser considerada
A operação dos analisadores de gases sanguíneos tradicionais q u a n d o se calibra u m analisador de gás sanguíneo c o m u m gás.
começa c o m o o p e r a d o r e x p o n d o u m a amostra de sangue à Esta p r o p r i e d a d e é conhecida c o m o diferença sangue-gás ou líquido-
sonda de amostra. U m c o m a n d o através do teclado retira u m a gás. Os eletrodos P 0 2 e P C 0 2 são semelhantes na difusão do gás
amostra do sangue através da sonda p o r m e i o da b o m b a peristál- de u m a amostra l í q u i d a o u gasosa, passando através de u m a
tica q u e preenche a câmara c o m 6 0 a 150 p,L de amostra do m e m b r a n a permeável a gás, para u m a solução eletrolítica em
fluido. A b o m b a está sob o c o n t r o l e d o c o m p u t a d o r e pára após contato c o m os elementos de mensuração e referência. E m ambos
a admissão da amostra, p e r m i t i n d o que a amostra f i q u e na os eletrodos, a taxa de difusão de u m gás através das membranas
câmara para e q u i l í b r i o t é r m i c o e a mensuração seja completada. é m e n o r a p a r t i r de u m a fase l í q u i d a que a p a r t i r de u m a fase
A p ó s o t é r m i n o da mensuração, a b o m b a e m p u r r a a amostra para gasosa. N o entanto, os eletrodos P C 0 2 e P 0 2 u t i l i z a m princípios
o lixo, e n q u a n t o o resultado é d i s p o n i b i l i z a d o em u m m o s t r a d o r , diferentes de mensuração ( C a p i t u l o 5). C o m o o 0 2 , ao atravessar
em u m papel impresso e f r e q ü e n t e m e n t e em u m sistema de a m e m b r a n a do eletrodo P 0 2 i entra em u m a reação irreversível
i n f o r m a ç ã o do l a b o r a t ó r i o através de u m a interface. no cátodo polarizado, a corrente gerada pela reação é p r o p o r c i o -
n a l à quantidade de 0 2 reduzido. A q u a n t i d a d e de 0 2 disponível
Calibração para c o n s u m o depende da taxa de difusão do 0 2 através da m e m -
A m a i o r i a dos i n s t r u m e n t o s f o r a m ptojetados para autocalibra- brana U m estado de e q u i l í b r i o é alcançado q u a n d o a taxa de
ção. Sob o c o m a n d o do c o m p u t a d o r , gases calibradores e tampões difusão é igual à taxa de redução. Portanto, o eletrodo responde
são circulados em curtos intervalos através da câmara e respostas em m e l h o r grau ao 0 2 d i f u n d i n d o de u m a fase gasosa que de u m a
eletrônicas são c o n t i n u a m e n t e m o n i t o r a d a s e restauradas às suas fase l í q u i d a . A diferença líquido-gás para o eletrodo P 0 2 torna-se
constantes iniciais para P C 0 2 e P 0 2 altas e baixas e p H alto e significante q u a n d o u m eletrodo é calibrado c o m gás, mas é uti-
baixo dos materiais calibradores. N o s Estados U n i d o s , os regula- lizada para mensurar P 0 2 do sangue. A diferença geralmente é
mentos escritos para os C l i n i c a i L a b o r a t o r y I m p r o v e m e n t A m e n - expressa c o m o a razão entre a P 0 2 (amostra gasosa) e a P 0 2
d m e n t s de 1988 ( C L 1 A '88) estabelecem u m p o n t o de calibração (amostra líquida). Para a m a i o r i a dos eletrodos, a razão é c o m u -
a cada 3 0 m i n u t o s o u d e n t r o de 30 m i n u t o s de toda amostra de m e n t e de 1,02 a 1,06. Para a r o t i n a clínica, f r e q ü e n t e m e n t e se
paciente e dois p o n t o s de calibração a cada 8 horas. assume u m a razão de 1,04 e m vez de determiná-la.
E necessária a calibração f r e q ü e n t e dos eletrodos para p H ,
P C 0 2 e P 0 2 p o r q u e os eletrodos não são estáveis p o r longos Garantia de Qualidade
períodos de t e m p o . O sistema de mensuração do p H é calibrado Os elementos de garantia da qualidade ( Q A ) e controle da quali-
p r i m a r i a m e n t e c o n t r a tampões-padrão colocados m a n u a l o u dade ( Q C ) das mensuraçoes do p H e gases sanguíneos incluem: (1)
a u t o m a t i c a m e n t e d e n t r o da câmara de amostra. Os tampões são manutenção apropriada dos equipamentos, (2) utilização de mate-
soluções fosfato que devem satisfazer as especificações do N a t i o - riais de controle e (3) precisão na temperatura de mensuração.
n a l Inscitute o f Standards a n d Technology ( N I S T / h t t p : / / w w w .
n i s t . g o v / ) . Os tampões de calibração que satisfazem as especifica-
ções do N I S T são disponibilizados pelos fabricantes d o equipa- Manutenção da Instrumentação
m e n t o , geralmente em recipientes de t a m a n h o e f o r m a t o apro- A determinação confiável e precisa do p H e de gases sanguíneos
priados para encaixe c o m o u m reservatório n o e q u i p a m e n t o . Os necessita de m a n u t e n ç ã o meticulosa. Programas de software, dos
valores do p H dos tampões calibradores alto e baixo são estabe- c o m p u t a d o r e s dos e q u i p a m e n t o s f r e q ü e n t e m e n t e f o r n e c e m n o t i -
lecidos pelo fabricante, mas t i p i c a m e n t e encontram-se entre 6,8 ficações e rotinas de diagnósticos que alertam o o p e r a d o r e asses-
e 7,4 a 3 7 ° C . soram n o processo de solução dos problemas. A freqüência da
m a n u t e n ç ã o depende do n ú m e r o de análises realizado n o labo-
PC02 e P02 r a t ó r i o . A freqüência sugerida p e l o fabricante deve ser conside-
Gases de composição 0 2 e C O 2 conhecida são utilizados para rada c o m o m í n i m a , sendo q u e a experiência i n d i c a r á a freqüên-
calibrar os analisadores de gases. Gases c o m p r i m i d o s , c o m u m cia da m a n u t e n ç ã o .
certificado de análise f o r n e c i d o pelo fabricante, f r e q ü e n t e m e n t e A limpeza da câmara de amostra e dos canais é especialmente
são utilizados c o m o padrões p r i m á r i o s . A m i s t u r a " b a i x o gás" i m p o r t a n t e . A m a i o r i a dos i n s t r u m e n t o s c o m eletrodos perma-
para calibração geralmente apresenta composição f r a c i o n a d a de nentes apresenta u m dispositivo q u e a u t o m a t i c a m e n t e lava c o m
5 % de C O j , 0 % de 0 2 e 9 5 % de N 2 . A m i s t u r a " a l t o gás" apre- u m jato forte a câmara de amostra e os canais após cada mensu-
senta composição f r a c i o n a d a de 10% de C 0 2 , 2 0 % de 0 2 e 7 0 % ração de u m a amostra sanguínea. A lavagem m a n u a l deve ser feita
de N i . Estas composições c o r r e s p o n d e m a p r o x i m a d a m e n t e a u m q u a n d o r e c o m e n d a d a pelo fabricante. Pode ocorrer o e n t u p i -
i n t e r v a l o de calibração de 38 a 76 m m H g para P C O z e 0 a 150 m e n t o parcial o u c o m p l e t o da câmara e / o u dos canais m e s m o
m m H g para P 0 2 . q u a n d o a lavagem é feita de f o r m a correta. A freqüência de
O m o d o da calibração é d e t e r m i n a d o pelo m o d e l o d o equi- e n t u p i m e n t o s geralmente está relacionada ao n ú m e r o de amos-
p a m e n t o . A m a i o r i a dos e q u i p a m e n t o s c o n t é m u m b a r ó m e t r o tras de sangue capilar h e p a r i n i z a d o analisadas. Fios de f i b r i n a e
o u u m t r a n s d u t o r responsivo a P ( A m b ) de f o r m a que a pressão pequenos coágulos p o d e m estar presentes na amostra o u p o d e m
b a r o m é t r i c a sempre é conhecida. C o m estes equipamentos, é ser f o r m a d o s e n q u a n t o a amostra permanece n a câmara de aque-
necessário apenas registrar n o teclado a composição das frações cimento.
de O z e C 0 2 nas misturas de baixo e alto gases calibradores. A assistência imediata e confiável do fabricante o u de u m enge-
A t u a l m e n t e , a m a i o r i a dos analisadores se autocalibra sem a n h e i r o b i o m é d i c o i n t e r n o é essencial para que o laboratório realize
necessidade de interferência d o usuário. A l g u n s sistemas ainda várias análises diariamente. T a m b é m é i m p o r t a n t e que o fabricante
apresentam "pacotes" descartáveis de gases calibradores que são o u o almoxarifado d o laboratório t e n h a m disponíveis materiais
colocados d e n t r o dos analisadores. O c o m p u t a d o r calcula os auxiliares como: (1) materiais de calibração (tampões para p H e
valores para P O j e P C 0 2 (de acordo c o m a lei de D a l t o n ) para gases de qualidade certificada), (2) membranas para substituição e
os gases saturados c o m vapor d'água a 37°C. (3) pequenas peças para manutenção dos eletrodos.
460 PARTE IV Analitos

Testes de p r o f i c i ê n c i a estabelecidos pela l e i federal nos p o r ser o m a t e r i a l de c o n t r o l e que mais se a p r o x i m a das amostras
Estados U n i d o s ( C L 1 A '88) a d m i t i r a m nova i m p o r t â n c i a para o dos pacientes na suas interações c o m os eletrodos para gases.
c o n t r o l e de q u a l i d a d e n a análise de gases sanguíneos. Estas regras A i n d a , este material é mais sensível à deterioração das m e m b r a -
tornaram-se efetivas em j a n e i r o de 1991 e estabeleceram critérios nas permeáveis a gases dos eletrodos q u e os controles f l u i d o s
para o d e s e m p e n h o i n t e r l a b o r a t o r i a l satisfatório c o m o : (1) p H , aquosos. A s desvantagens substanciais são: (1) o t e m p o necessário
valor estipulado + 0,04; (2) P O í , valor estipulado ± 3 D P e (3) para a t o n o m e t r i a , p a r t i c u l a r m e n t e se f o r e m desejáveis duas o u
P C 0 2 , valor estipulado ± 8 % o u + 5 m m Hg, o que for maior. três concentrações d o c o n t r o l e ; (2) dificuldades para se o b t e r e m
V á r i o s analisadores novos apresentam " a u t o Q C " o u u t i l i z a m amostras de sangue frescas e n o r m a i s ; (3) necessidade de cálculos
" Q C e l e t r ô n i c o " . O a u t o Q C consiste em u m m a t e r i a l Q C on repetidos (e risco de erro de cálculo) de P C O i e P 0 2 dos gases
baard (na placa de c i r c u i t o ) que é a u t o m a t i c a m e n t e analisado pelo de e q u i l í b r i o ; (4) necessidade de m a n t e r misturas especiais de
e q u i p a m e n t o e m intervalos d e t e r m i n a d o s q u e p r e e n c h e m os gases e (5) i n a p l i c a b i l i d a d e n o c o n t r o l e da mensuração d o p H .
r e q u e r i m e n t o s reguladores. O Q C eletrônico é mais c o m u m e m
e q u i p a m e n t o s c o m cartuchos de eletrodos descartáveis e consiste Controle da Temperatura e Correção
em cartuchos q u e v e r i f i c a m a especificação eletrônica dos instru- A t e m p e r a t u r a exata de 3 7 ° C é essencial para a mensuração
mentos. Estes sistemas de Q C e l e t r ô n i c o devem fornecer u m acurada do p H e gases sanguíneos, a i n s t r u m e n t a ç ã o estado-da-
resultado q u a n t i t a t i v o , em vez de getai resultados qualitativos arte é f o r n e c i d a c o m sensores térmicos encaixados n o aquecedor
c o m o " O K " o u "não O K " , para serem aceitáveis para a m a i o r i a que c i r c u n d a a câmara de mensuração e se c o m u n i c a m c o m o
das agências reguladoras. Para discussão a d i c i o n a l deste tema, ver c o m p u t a d o r . A l a r m e s audíveis o u visíveis sinalizam o desvio da
testes rápidos n o C a p í t u l o 12. t e m p e r a t u r a além da tolerância estabelecida (geralmente 37 ±
0,1°C). T a m b é m são utilizados tampões sensíveis â temperatura,
Materiais de Controle c o m o o H E P E S (ácido N-[2-hidroxietil|-piperazina-N'-2-etanossul-
Os materiais de c o n t r o l e de qualidade v a r i a m de f l u i d o s comer- f ô n i c o ) o u T E S (ácido N - t r i s l h i d r o x i m e t i l ] m e t i l - 2 - a m i n o e t a n o s -
ciais c o m base e m sangue a f l u i d o s aquosos. A l t e r n a t i v a m e n t e , s u l f õ n i c o ) , nos p r o c e d i m e n t o s de garantia de qualidade do p H .
tampôes-padrão independentes t ê m sido usados para c o n t r o l e do N a equação de Henderson-Hasselbalch, p K 1 e a são utilizados
p H e sangue t o t a l s u b m e t i d o à t o n o m e t r i a para c o n t r o l e P C 0 2 c o m o constantes para a t e m p e r a t u r a a 3 7 ° C . A câmara de amostra,
e POj. c o m t e m p e r a t u r a c o n t r o l a d a , de u m i n s t r u m e n t o apresenta 37 ±
0 , l a C , e é nesta t e m p e r a t u r a que são realizadas todas as mensu-
Materiais de Controle com Base em Sangue e com Base e m rações de p H e pressão parcial dos gases. A t e m p e r a t u r a c o r p o r a l
Fluorocarbono de u m paciente f e b r i l p o d e estar elevada, 4 0 C C a 4 1 ° C , o u u m
M a t e r i a l de c o n t r o l e comercial c o m base e m sangue t i p i c a m e n t e paciente p o d e estar h i p o t é r m i c o para u m a cirurgia de revascula-
consiste e m e r i t r ó c i t o s h u m a n o s usados e m teste de h e m a g l u t i - rização c a r d i o p u l m o n a r e apresentar temperatura de 2 3 ° C . A
nação (tflnned) suspensos e m u m a solução t a m p ã o e selados em m a i o r i a dos i n s t r u m e n t o s de gases sanguíneos, após o Tegistro no
recipientes c o m u m a m i s t u r a gasosa c o m c o n t e ú d o s de O? e C O j teclado da t e m p e r a t u r a real d o paciente, irá calcular e apresentar
conhecidos. M a t e r i a i s de f l u o r o c a r b o n o não-sanguineos c o m o p H e P C 0 2 corrigidos de acordo c o m a t e m p e r a t u r a e calcular
p r o p r i e d a d e carreadora de O2 semelhante àquela d o sangue os valores derivados dos dados p r i m á r i o s corrigidos de acordo
t a m b é m estão disponíveis. Estes p r o d u t o s geralmente são feitos c o m a temperatura.
em três concentrações de: (1) p H , (2) P C 0 2 e (3) PO?. Q u a n d o A correção do p H e P C 0 2 de acordo c o m a t e m p e r a t u r a real
lacrados, estes tipos de m a t e r i a l de c o n t r o l e apresentam a vanta- do paciente geralmente é o m i t i d a em estados de h i p e r t e r m i a . A
gem de t e m p o de validade extenso na geladeira: 20 a 28 dias para m a g n i t u d e da correção para 4 0 ° C (104°F) seria de + 0,045 para
os eritrócitos usados em teste de h e m a g l u t i n a ç ã o e u m t e m p o o p H e + 13% para a P C 0 2 . Existem discordâncias c o m relação
m a i o r para os outros. aos estados hipotérmicos. 1 9 U m a p o l í t i c a p r u d e n t e para o labora-
t ó r i o é gerar e relatar resultados corrigidos de acordo c o m a
Materiais de Controle Fluidos Aquosos t e m p e r a t u r a para o pH
e PCOT apenas q u a n d o h o u v e r requeri-
O s materiais de c o n t r o l e f l u i d o s aquosos disponíveis consistem m e n t o específico do m é d i c o . A l é m disso, c o m o recomendação
e m m e i o t a m p o n a d o selado em recipientes c o m misturas gasosas. do C L S I (C46-A) É , os resultados corrigidos de acordo c o m a
O f l u i d o é e q u i l i b r a d o c o m o gás p o r m e i o de agitação vigorosa t e m p e r a t u r a n u n c a devem seT relatados sem os resultados origi-
m a n u a l p o r u m p e r í o d o de t e m p o prescrito i m e d i a t a m e n t e antes nais m e d i d o s a 37 Q C.
de o operador abrir o recipiente e colocar o f l u i d o n o instru-
m e n t o . A desvantagem dos controles aquosos é a falta de seme-
lhança c o m o sangue. Viscosidade e tensão s u p e r f i c i a l baixas Intervalos de Referência
conferem diferentes características à lavagem e p r e j u d i c a m a capa- Os intervalos de referência para P O i , S O i , PCO-j e p H d o sangue
cidade de r e f l e t i r coagulação. A m a i o r c o n d u t i v i d a d e elétrica arterial estão listados n o C a p í t u l o 45. A P 0 3 d o sangue arterial,
d i m i n u i a sua eficiência na detecção de superfície inadequada, e baixa ao nascimento, a u m e n t a para u m a concentração n o a d u l t o
os coeficientes t é r m i c o s mais baixos os t o r n a m lentos na detecção de 83 a 108 m m H g . A fração de saturação, S 0 2 (aB), p o d e ser
de falhas n o c o n t r o l e da temperatura. Estas desvantagens são tão baixa q u a n t o 0 , 4 0 ao nascimento, mas depois sobe para 0,95
mais evidentes em relação a P 0 2 . E m alguns laboratórios, con- a 0,98. A F 0 2 é 0 , 9 0 a 0,95 e m adultos saudáveis. A P 50 corrigida
troles s u b m e t i d o s à t o n o m e t r i a são utilizados j u n t a m e n t e c o m os para o p H 7,40 é 18 a 24 m m H g para os recém-nascidos e 24 a
controles comerciais, mas isso está se t o r n a n d o raro c o m o resul- 29 m m H g para os adultos. Os intervalos de referência para
tado da c o n f i a b i l i d a d e e da facilidade de uso dos analisadores de P C 0 2 d o sangue arterial, n o nível do mar, das crianças é u m
gases sanguíneos m o d e r n o s . p o u c o m e n o r em relação aos adultos. O i n t e r v a l o de referência
para os adultos é de 35 a 45 m m H g . Os valores d i m i n u e m c o m
Sangue total Submetido à Tonometria a a l t i t u d e acima d o nível do m a r na taxa de 3 m m H g / k m (5 m m
A utilização de sangue s u b m e t i d o à t o n o m e t r i a para c o n t r o l e de H g / m i l h a ) . D u r a n t e a gravidez, a P C 0 2 cai g r a d u a l m e n t e para
qualidade de P 0 2 e P C 0 2 é considerada o m é t o d o preferencial u m a m é d i a de 28 m m H g i m e d i a t a m e n t e antes d o paTto.
Eletrólitos e Gases Sanguíneos CAPÍTULO 24 461

O p H d o sangue arterial nas primeiras horas de v i d a pode 4 C l i n i c a i and Laboratory Standards I n s t i t u t e / N C C L S . Standardization of
variar n o intervalo de 7,09 a 7,50, mas depois varia entre 7,35 e sodium and potassium ion-selective electrode systems to thc flame
7,45. phoromecric reference method; A p p r o v e d Guideline, 2nd ed. C L S I /
N C C L S D o c u m e n t C29-A2. Wayne, FA: Clinicai and Laboratory
Standards Institute, 2000.
Monitoramento Contínuo e Não Invasivo d o s
5 C l i n i c a i and Laboratory Standards I n s t i t u t e / N C C L S . Sweat testing:
Gases Sanguíneos
Sample collection and quantitative analysis; A p p r o v e d Guideline, 2 n d
C o m o descrito anteriormente, os oxímetros de pulso são dispo-
ed. C L S I / N C C L S D o c u m e n t C34-A2. Wayne, PA: C l i n i c a i and
sitivos não invasivos que m o n i t o r a m S O j H b . Os oxímetros de
Laboratory Standards Institute, 2000.
pulso antigos eram suscetíveis a erros dependendo da colocação 6. C l i n i c a i and Laboratory Standards I n s t i t u r e / N C C L S . B l o o d gas and p H
e movimentação, mas novas tecnologias tornaram estes dispositi- analysis and related measurements. A p p r o v e d Guideline. C L S I / N C C L S
vos m u i t o confiáveis. D o c u m e n t C46-A. Wayne, PA: C l i n i c a i and Laboratory Standards
A monitoração transcutânea de P C 0 2 e PO2 apresenta u m Institute, 2001.
valor particular e sucesso geral n o cuidado neonatal e pediátrico. 3 7- Clinicai and Laboratory Standards I n s t i t u t e / N C C L S . Procedures for the
Estes dispositivos consistem em u m eletrodo adesivo envolto por collection of arterial b l o o d specimens; A p p r o v e d Guideline, 4 t h ed.
gel que aquece a pele de 4 3 ° C a 4 4 ° C para arterializar os capila- C L S I / N C C L S D o c u m e n t H11-A4. Wayne, PA: C l i n i c a i and Laboratory
res e facilitar a difusão do O2 através da pele. Embora os eletrodos Standards Institute, 2004-
sejam consideravelmente diferentes na aparência daqueles utili- 8. Creer M H , Ladenson J. Analytical errors due to lipidemia. Lab M e d
zados nos instrumentos analisadores de gases sanguíneos, eles 1983,14.351-5.
operam exatamente com o mesmo p r i n c í p i o eletroquimico. A 9, Cystic Fibrosis Foundation Center Committee: Sweat testing guidclines.
monitoração transcutânea de PO? varia amplamente dependendo Bethesda, M D . Cystic Fibrosis F o u n d a t i o n { h t t p : / / w w w . c f f org), 2005.

se o lado da aplicação reflete o f l u x o sanguíneo arterial, capilar 10. D o n BR, Sebastian A , C h e i t l i n M , Christiansen M , Schambelan M

o u venoso. Todavia, existe pouca diferença entre a P C O j arterial Pseudohyperkalemia caused by fist clenchíng d u r i n g phlebotomy. N Engl
J M e d 1990;322:1290-2.
e venosa; p o r isso, o m o n i t o r a m e n t o transcutâneo da P C 0 2 é
11. Eng W , LeGrys V A , Schechter M , Laughton M , Parker P M Sweat testing
menos problemático, e os oxímetros de pulso freqüentemente são
in preterm and f u l l t e r m infants less than 6 weeks of age. Pediatr
utilizados c o m o u m substituto para a P 0 2 . 3 N o entanto, é reco-
P u l m o n o l 2005;40:64-7-
mendado que os valores arteriais de base sejam obtidos antes de
12 Farrell PM, Lai HJ, L i Z, Kosorok M R , Lavoza A , Green C G , et al.
iniciar o m o n i t o r a m e n t o não invasivo.
Evidence o n improved outcomes w i t h early diagnosis of cystic fibrosis
A l é m do m o n i t o r a m e n t o de P 0 2 e P C 0 2 , estão disponíveis
through neonatal screening. enough is enough. J Pediatr 2005; 147:
dispositivos que t a m b é m m o n i t o r a m p H , eletrólitos e hemató- S30-S36
crito. U m deles é de uso ú n i c o , com cartucho alinhado consis- 13. H a m m o n d KB, Turcios N L , G i b s o n LE C l i n i c a i evaluation of the
t i n d o em seis eletrodos convencionais. 2 O cartucho é anexado a macroduct sweat collection system and conductivity analyzer i n the
uma l i n h a arterial e, c o m o comando do operador, drena " 1 , 5 diagnosis o f cystic fibrosis. J Pediatr 1994;124:255-60.
m L de sangue para dentro do cartucho o n d e acontece a análise. 14. Hess CE, Nichols AB, H u n t W B , Suratt PM. Pseudohypoxemia
A análise d u r a cerca de 60 segundos, e depois deste t e m p o o secondary to leukemia and thrombocytosis. Kl Engl J M e d 1979;301.
sangue retorna pela l i n h a arterial. Os cartuchos são submetidos 361-3.
à calibração de dois pontos antes de serem utilizados, e u m p o n t o 15. Mueller RG, Lang G E Blood gas analysis: effects o f air bubbles in
de calibração é usado para lavar os sensores após cada análise. syririge and delay i n estimation. Br M e d J C l i n Res 1982;285:1659.
16. Nijsten M W N , deSmet BJ, D o f f e r h o f f A S M . Pseudohyperkalemia and
platelet counts. 1SI Engl J M e d 1991 -,325:1107.
17. Parad RB, Comeau A M , D o r k i n H , Dovey M , Gerstle R, M a r t i n T,
R E F E R Ê N C I A S et al. Sweat testing infants decected by cystic fibrosis n c w b o i n screening.
J Pediatr 2005;147:S69-S72
1. A p p l e FS, Koch D D , Graves S, Ladenson JH. Relationship between
18. Rosenstein BJ, C u t t i n g GR. T h e diagnosis of cystic fibrosis: A consensus
direct-potentiometric and flame-photometiic measurement of s o d i u m in
statement. ] Pediatr 1998;132:589-95.
blood. C l i n C h e m 1982,28:1931-5.
19. Tallman R. Acid-base regulation, alpha-stat, and the E m p e r o r s new
2 B i l l m a n GF, Hughes A B , D u d a l l G G , W a l d m a n E, Adcock L M , H a l l
cio th es. J Cardiothorac Vasc A n e s t h 1997;11:282-8.
D M , et al C l i n i c a i performance of an in-line, ex-vivo point-of-care
20. Watson M A , Scott M G . C l i n i c a i u t i l i t y of biochemical analysis o f
m o n i t o r A multicenter study. C l i n C h e m 2002;48 2030-43
cerebrospinal f l u i d . C l i n C h e m 1995;41:343-60
3 Binder N , A t h e r t o n H , ThorkeLsson T, H o a t h SB Measurement of
transcuraneous carbon dioxide i n low birthweight infanta d u t i n g the
first two weeks o f l i f e . A m ] Perinatol 1994; 11 237-41
CAPÍTULO 2 5

Hormônios**
Michael Kleerekoper, M.D., F.A.C.B., M.A.C.E.

OBJETIVOS P a r á c r i n o : U m t i p o de função h o r m o n a l na qual o h o i m ô n i o


1. Deíinir os seguintes termos: sintetizado dentro de u m t i p o de célula e liberado por ela
Endocrinologia se liga a receptores h o r m o n a i s em células vizinhas, de t i p o
Hormônio esferoidal diferente, e afeta suas funções.
Receptor: U m a estrutura molecular, dentro de u m a célula ou
Hormônio peptídico
na sua superfície, caracterizada por (1) ligação seletiva de
Hormônio derivado de aminoácido
substâncias específicas e (2) efeito fisiológico específico que
Adeno-hipófise
acompanha a ligação; os exemplos são receptores na
Neuro-hipóiise
superfície celular para h o r m ô n i o s peptídicos,
Eixo hipotálamo hipófise
neurotransmissores, antígenos, fragmentos de complemento
Receptor hormonal
e i m u n o g l o b u l i n a s e receptores citoplasmáticos para
2. Listar três funções fisiológicas dos hormônios e discutir os h o r m ô n i o s esteroidais.
mecanismos envolvidos na regulação da secreção hormonal. Sistema C r o m a f i m : Células do corpo que se coram c o m sais
3. Discutir o significado de hormônio livre e ligado. de cromo.
4. Especificar os dois tipos de interação hormônio-receptor e o efeito Sistema E n d ó c r i n o : O sistema de glândulas que libera suas
específico que cada tipo produz na célula. secreções (hormônios) diretamente no sistema circulatório.
5. Listar os hormônios sintetizados no hipotálamo e na glândula Em adição ao sistema de glândulas endócrinas, estão
hipófise anterior e descrever suas principais ações fisiológicas. incluídos o sistema c r o m a f i m e o sistema neurossecretor.
6. Listar os hormônios armazenados na glândula hipófise posterior e Sistema H i p o t á l a m o - h i p o f i s á r i o : U m sistema de neurônios,
descrever suas principais ações fisiológicas. fibras, tecido endócrino e vasos sanguíneos responsável pela
7. Listar seis principais causas de desordens endócrinas. produção e liberação dos h o r m ô n i o s hipofisátios dentro da
8. Discutir três técnicas analíticas usadas para medir hormônios nos circulação sistêmica.
fluidos corporais.

PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES
A d e n o - h i p ó f i s e : L o b o glandular anterior da hipófise.
A u t ó c r i n o : U m m o d o de ação h o r m o n a l n o qual u m
h o r m ô n i o se liga aos receptores na superfície o u dentro da
U m h o r m ô n i o é u m a substância química produzida n o
corpo por u m órgão específico, células de u m órgão o u
células espalhadas que têm u m efeito regulatório especí-
fico na atividade de u m órgão ou órgãos. Eles são produzidos em
u m local n o corpo e exercem sua(s) ação(óes) em locais distantes
célula que o p r o d u z i u e, desse m o d o , afeta a função
através do que é chamado sistema e n d ó c r i n o . Tem havido cres-
daquela célula.
cente reconhecimento de que vários h o r m ô n i o s exercem ações
B i o r r i t m o : Ocorrência cíclica de eventos fisiológicos, como u m
localmente pelo chamado sistema parácrino. O u t r o s h o r m ô n i o s
r i t m o circadiano.
exercem suas ações nas células de origem, regulando sua própria
E n d o c r i n o l o g i a : O estudo científico da função e patologia das
síntese e secreção via sistema a u t ó c r i n o . Os h o r m ô n i o s endócri-
glândulas endócrinas.
nos clássicos i n c l u e m insulina, tiroxina e cortlsol. Neurotransmis-
Horaeostasia: O processo de manter o ambiente i n t e r n o d o
sores e neuro-hormônios são exemplos de sistema parácrino, e
c o r p o estável.
certos fatores de crescimento que estimulam a síntese e secreção
H o r m ô n i o : U m a substância química que tem u m efeito
de h o r m ô n i o s verdadeiros a partir da mesma célula são exemplos
regulatório na atividade de certo(s) órgão(s) o u tipos de
de sistemas autócrinos. A Figura 25-1 mostra a localização de
células.
várias glândulas endócrinas n o corpo, e a Tabela 25-1 resume os
H o r m ô n i o s H i p o t a l â m í c o s : H o r m ô n i o s do h i p o t á l a m o que
tipos de ações hormonais.
exercem controle sobre outros órgãos, principalmente a
glândula hipófise.
Meia-vida: E m endocrinologia, o tempo necessário para a
CLASSIFICAÇÃO
concentração de u m h o r m ô n i o cair ã metade n a circulação
Os h o r m ô n i o s são geralmente classificados como (1) p o l i p e p t í d i o
(sangue) ou em o u t r o f l u i d o corporal específico.
ou proteína, (2) esteróide o u (3) derivados de aminoácidos.

Hormônios Polipeptídicos ou Protéicos


* 0 autor agradecidamente reconhece as contribuições piévías do D r R o n a l d A insulina, o p a r a t o r m ô n i o ( P T H ) e a adrenocorticotrofina
) W h i t l e y , nas quais se baseiam partes deste capitulo.
+
( A C T H ) (Capítulos 22, 38 e 39, respectivamente) são exemplos
As Figuras 25*2 a 25-5 publicadas neste capítulo foram reproduzidas, com
de h o r m ô n i o s peptídicos ou protéicos. Esses h o r m ô n i o s são geral-
permissão, dos Capítulos 1 e 2 do Texibook of Endocrinaiogj, editado p o r M .
C o n n e S. M e l m e d , publicado pela H u m a n a Press em 1997. Somos m u i t o mente solúveis em água e circulam livremente n o plasma c o m o
gratos pela permissão de reprodução destes excelentes acréscimos ao nosso a molécula inteira ou c o m o fragmentos ativos ou inativos. A
texto. meia-vida destes h o r m ô n i o s no plasma é de 10 a 30 m i n u t o s ou
464 PARTE IV Analitos

Hipófise solúveis e m água, mas c i r c u l a m n o plasma l i v r e m e n t e (catecola-


Corpo pineal
minas) o u ligados a proteínas (tiroxina). Por exemplo, a t i r o x i n a
liga-se avidamente a três proteínas ligadoras e t e m u m a meia-vida
de cerca de 7 a 10 dias, e n q u a n t o as catecolaminas livres, c o m o a
epinefrina, t ê m u m a meia-vida m u i t o curta de 1 m i n u t o o u menos.
C o m o os h o r m ô n i o s p e p t í d i c o s e protéicos solúveis em água,
estes h o r m ô n i o s i n t e r a g e m c o m receptores associados á m e m -
Tlraòklo ParatírsúkleH brana e usam u m sistema de segundo mensageiro.
Timo
AÇÃO DOS HORMÔNIOS
As funções dos h o r m ô n i o s são classificadas, e m termos gerais,
c o m o (1) crescimento e d e s e n v o l v i m e n t o , (2) c o n t r o l e homeostá-
t i c o das vias metabólicas e (3) regulação da p r o d u ç ã o , uso e
Fígado estoque de energia.
Duodeno fcstõmaflo

Pârtcreas
Baço Crescimento e Desenvolvimento
Adronyí O crescimento e o d e s e n v o l v i m e n t o n o r m a i s de t o d o o orga-
Córtex renal
n i s m o h u m a n o é d e p e n d e n t e de u m a complexa f u n ç ã o integra-
tiva de muitos h o r m ô n i o s , i n c l u i n d o os esteróides go nada is
(estrógeno e andrógeno), h o r m ô n i o de crescimento, c o r t i s o l e
t i r o x i n a . O u t r o s h o r m ô n i o s são responsáveis especificamente
pelo crescimento e d e s e n v o l v i m e n t o das próprias glândulas endó-
crinas e, p o r t a n t o , responsáveis pelo c o n t r o l e da síntese e secre-
ção de outros h o r m ô n i o s . Estes são p r e d o m i n a n t e m e n t e os hor-
m ô n i o s da g l â n d u l a h i p ó f i s e a n t e r i o r e i n c l u e m :
• G o n a d o t r o f i n a s [ h o r m ô n i o luteinizante ( L H ) e h o r m ô n i o
f o l í c u l o estimulante ( F S H ) ] r e g u l a m o d e s e n v o l v i m e n t o , o
crescimento e a f u n ç ã o dos ovários e testículos. Estes
h o r m ô n i o s , p o r sua vez, regulam o crescimento puberal, o
desenvolvimento e a m a n u t e n ç ã o d o esqueleto e músculos
e a d i s t r i b u i ç ã o da g o r d u r a c o r p o r a l ( C a p í t u l o 42).
lusliculo Ovários
• A C T H regula o crescimento das glândulas adrenais e a
síntese e secreção de seus h o r m ô n i o s ( C a p í t u l o 39).
Figura 25-1 Localização das glândulas endócrinas em humanos.
• H o r m ô n i o e s t i m u l a n t e da t i r e ó i d e ( T S H ) regula o
(Modificada de Turner CD. General Endócrina lo gy, 4th ed,
crescimento da g l â n d u l a t i r e ó i d e e a i o d i n i n a ç ã o de
Philadelphia: W B Saunders, 1996)
a m i n o á c i d o s para p r o d u z i r os h o r m ô n i o s t i r e o i d i a n o s
t r i i o d o t i r o n i n a e t i r o x i n a ( C a p í t u l o 41). 1
A p r o d u ç ã o e liberação destes h o r m ô n i o s hipofisários são
controladas pelos h o r m ô n i o s h i p o t a l ã m i c o s do sistema h i p o -
tálamo-hipofisário.
menos, e amplas flutuações e m suas concentrações p o d e m ser
vistas e m várias circunstâncias fisiológicas e patológicas. Estes Controle Homeostático das Vias Metabólicas
h o r m ô n i o s i n i c i a m suas respostas ligando-se a receptores da As m ú l t i p l a s vias metabólicas estão sob c o n t r o l e h o r m o n a l .
m e m b r a n a celular (na superfície o u d e n t r o da m e m b r a n a ) e Exemplos i m p o r t a n t e s i n c l u e m a regulação da glicose sanguínea
( n o r m a l m e n t e ) e s t i m u l a n d o u m sistema celular de "segundo e a homeostasia d o m e t a b o l i s m o d o cálcio, água e eletrólitos.
mensageiro" { c o m o aqueles e n v o l v e n d o a adenosina m o n o f o s f a t o
cíclico [ A M P ] d e n t r o da célula) q u e levam às ações específicas Regulação da Glicose Sanguínea
destes h o r m ô n i o s na célula. E m resposta a u m aporte de glicose, há p r o n t a liberação de insu-
l i n a pelo pâncreas que regula a d i s t r i b u i ç ã o da glicose para d e n t r o
Hormônios Esteroidais das células (tecido adiposo, m ú s c u l o , fígado, cérebro) para o
O c o r t i s o l e o estrógeno são exemplos de h o r m ô n i o s esteroidais m e t a b o l i s m o necessário a f i m de p r o d u z i r energia a p a r t i r desta
( C a p í t u l o s 4 0 e 42, respectivamente). Eles são h i d r o f ó b i c o s e glicose. U m n ú m e r o de h o r m ô n i o s contra-reguladores e n t r a m e m
insolúveis e m água. N o plasma, estes h o r m ô n i o s c i r c u l a m ligados jogo para regular ainda este processo e assegurar que os níveis
reversivelmente às proteínas transportadoras (p. ex., g l o b u l i n a sanguíneos de glicose não se t o r n e m m u i t o baixos. Estes i n c l u e m
ligadora de c o r t i s o l e g l o b u l i n a ligadora de h o r m ô n i o sexual) glucagon, cortisol, e p i n e f r i n a e h o r m ô n i o de crescimento.
c o m somente u m pequena fração livre o u não ligada d i s p o n í v e l
para exercer a ação fisiológica.' 1,6,12 A meia-vida dos h o r m ô n i o s Regulação do Cálcio Séríco
esteroidais é de 30 a 9 0 m i n u t o s . Os h o r m ô n i o s esteroidais livres, U m receptor sensível a cálcio (CaSR) na g l â n d u l a p a r ó t i d a reco-
sendo h i d r o f ó b i c o s , e n t r a m na célula p o r difusão passiva e se nhece a concentração do cálcio i o n i z a d o n o a m b i e n t e e regula a
l i g a m a receptores intracelulares n o citoplasma o u no n ú c l e o . síntese e secreção d o p a r a t o r m ô n i o ( P T H ) . Q u a n d o a concentra-
ção d o cálcio i o n i z a d o cai (tão i m p e r c e p t i v e l m e n t e que a m a i o r i a
Hormônios Relacionados c o m Aminoácido dos métodos analíticos não é sensível o suficiente para detectar
Os h o r m ô n i o s que são derivados de a m i n o á c i d o s , c o m o as cate- a m u d a n ç a ) , a síntese e secreção d o P T H são estimuladas. Este
colaminas e a t i r o x i n a (Capítulos 2 6 e 41, respectivamente), são P T H a d i c i o n a l tentará restaurar o cálcio sérico (livre) aumen-
Hormônios CAPÍTULO 25 465

T A B E L A 2 5 - 1 I H o r m ô n i o s Freqüentemente Dosados e Precursores Hormonais


Natureza Química Principais
Órgãos Endócrinos e Hormônios dos Hormônios Sítios de Ação Principais Ações

HIPOTÁLAMO
Hormônio liberador de tireotrolina (TRH) Peptídio (3 aa, Glu-His-Pro)* Hipófise anterior Liberação de TSH e prolactina (PRL)
Hormônio liberador de gonadotrofina Peplídio {10 aa) Hipófise anterior Liberação de FSH e LH
(Gn-RH) ou hormônio liberador do
hormônio luteinizante (LIl-RII)
Hormônio liberador de corticotrofina (CRH) Peptídio (41 aa) Hipófise anterior Liberação de ACTH e hormônio p-lipotrópico
(LPH)
Hormônio liberador do hormônio Peptídios (40, 44 aa) Hipófise anterior Liberação do hormônio de crescimento (GH)
de crescimento (GH-RH)
Somatostatina1 (SS) ou hormônio inibidor Pepiídios (14 e 28 aa) Hipófise anterior Supressão da secreção de vários hormônios
do hormônio de crescimento (GH-IH) (p.ex., GH, TSH, gastrina, polipeptídio
intestinal vasoativo [VIP], polipeptídio
inibidor da gastrina [GIP], secretina,
motilina, glucagon e insulina)

LOBO ANTERIOR DA HIPÓFISE


Tireotrofina ou hormônio estimulante Glicoproteína, heterodímero* Glândula tireóide Estimulação da formação e secreção do
da tireóide (TSH) (a, 92 aa; p, 112 aa) hormônio da tireóide
Hormônio folículo estimulante (FSH) Glicoproteína, heterodímero* Ovários Crescimento de folículos com o LH,
(a, 92 aa; p, 117 aa) secreção de estrógeno e ovulação
Testículo Desenvolvimento dos túbulos seminíferos;
espermatogênese
Hormônio luteinizante (LH) Glicoproteína, heterodímero* Ovário Ovulação; formação do corpo lúteo;
(a, 92 aa; (3,121 aa) secreção de progesterona
Testículo Estimulação do tecido intersticial; secreção
de andrógenos
Prolactina (PRL) Peptídio (199 aa) Glândula mamária Proliferação da glândula mamária; promove
início da secreção de leite; antagonista da
ação da insulina
Hormônio de crescimento (GH) ou Peptídio (191 aa) Fígado Produção de IGF-I (promotor do
somatotrofina crescimento)
Fígado e tecidos periféricos Efeitos antiinsulina e anabólicos
Corticotrofina ou adrenocorticotrofina Peptídio (39 aa) Córtex adrenal Estimula a formação e secreção de
(ACTH) esteróide adrenocortical

LOBO POSTERIOR DA HIPÓFISE JRO-HIPÓF ISE)


Vasopressina ou hormônio antidiurético Peptídio (9 aa) Arteríolas Elevação da pressão sanguínea; reabsorção
(ADH) Túbulos renais de água

Oxitccina Peptídio (9 aa) Músculos lises (útero, Contração; ação no trabalho de parto e no
glândula mamária) transporte do esperma; ejeção de leite

GLÂNDULA PINEAL
Serotorina ou 5-hidroxitriptamina Indoleamina Sistemas cardiovascular, Ncurotransmisscr; estimulação ou inibição
(5-HT) respiratório e de vários músculos lisos e nervos
gastrointestinal; cérehro
Melatonina Indoleamina Hipotálamo Supressão da secreção de gonadetrofina e
GH; indução do sono

GLÂNDULA TIREÓIDE
Tiroxina (T,,) e triiodotironina (Ta) lodoamino ácidos Tecido corporal geral Estimulação do consumo de oxigênio e da
taxa metabólica do tecido
Calcitonína ou tirocalcitonina Peptídio (32 aa) Esqueleto Incerto nos humanos

GLÂNDULA PARATIREÓIDE
Paratormônio (PTH) ou paratirina Peptídio (84 aa) Rim Aumenta reabsorção de cálcio; inibe
reabsorção de fosfato; aumenta da
produção de 1,25-diidroxicolecalciferol
Esqueleto Aumenta da reabsorção óssea

Continua
466 PARTE IV Analitos

TABELA 25-1 H o r m ô n i o s Freqüentemente Dosados e Precursores H o r m o n a i s - Cont.

Natureza Química Principais


Órgãos Endócrinos e Hormônios dos Hormônios Sítios de Ação Principais Ações

CÓRTEX ADRENAL
Aldosterona Esferóide Rim Balanço de água e sal
Androstenedíona5 Esteróide Precursor hormonal Convertido para estrógeno e testosterana
Cortisol Este roide Vários Metabolismo dos carhoidratos, proteínas e
gorduras; efeitos antiinflamatórios; outros
Deidroepiandrosterona (DHEA) e Esteróides Precursores hormonais Convertidos para estrógeno e testosterona
sulfata de deidroepiandrostenediona
(SDHEA)
17-hidroxiprogestercna Esteróide Precursor hormonal Convertido para cortisol

MEDULA ADRENAL
Norepinefrina e epinefrina Aminas aromáticas Receptores simpáticos Estimulação do sistema nervoso simpático
Epinefrina Fígado e músculo, Glicogenólise
tecido adiposo Lipólise

OVÁRIO
DHEA e SDHEA Esteróides Precursores hormonais Convertidos para androstenediona
Estrógenos Esteróides fenólicos Órgãos sexuais femininos Desenvolvimento de características sexuais
secundárias
Gsso Controle da maturação esquelética
Inibiria A Peptídio (suburidade a Hipotálamo, tolículo Inibe a secreção de FSH; estimula a
e subunidade ovariano produção de ardrcgeno pelas células da
teca
Inibina B Peptídio (subunidade a e Ver Inibina A Ver Inibina A
subunidade pB)
Progesterana Esteróide Estruturas reprodutivas Preparação do útero para a implantação do
acessórias femininas óvulo fecundado, manutenção da gestação

TESTÍCULO
Inibina B Ver acima Hipófise anterior, hipotálamo Controle da secreção de LH e FSH
Testosterona Esteróide Órgãos sexuais masculinos Desenvolvimento das características sexuais
acessórios secundárias, maturação e função normal

PLACENTA
Estrógenos Ver acima Ver acima Ver acima
Progesterana Ver acima Ver acima Ver acima
Gonadotrofina coriônica (CG) ou Glicoproteína, heterodímero' Mesmos do LH Mesmas do LH; prolonga a função da corpo
coriogonadotrofina (a, 92 aa; p, 145 aa] lúteo

PÂNCREAS
Glucagon Peptídio {29 aa) Fígado Glicogenólise
insulina Peptídio" Fígado, gordura, músculo Regula o metabolismo dos carboidratos;
lipogênese

TRATO GASTROINTESTINAL
Gastrina Peptídio (17 aa) Estômago Secreção do ácido gástrico, crescimento da
mucosa gástrica
Grelina (GHRP) Peptídio {28 aa) Hipófise anterior Secreção de GH

RIM
1,25-(OH)2 colecalciferol Estero] Intestino Facilita a absorção de cálcio e fósforo;
Osso aumenta a reabsorção óssea
em conjugação com o PTH
Rim Aumenta a reabsorção de cálcio filtrado
Eritropoietina Peptídio (165 aa) Medula óssea Estimula a formação de células vermelhas
Sistema renina-angiotensina-aldosterona Peptídios (renina, 297 aa; Renina (renal) catalisa a Ang II aumenta a pressão sanguínea e
Ang 1,10 aa; Ang II, 8aa, hidrólise do estimula a secreção de aldosterona
produzida a partir da Ang 1 angiotensinogênio (hepático, (ver adrenal)
pela enzima conversora do 485 aa) em Ang 1 no
angiatensinagênio) espaço intravascular
Hormônios CAPÍTULO 25 467

TABELA 25-1 | H o r m ô n i o s Freqüentemente Dosados e Precursores Flormonaís - C o n t .


Natureza Química Principais
Úrgãos Endócrinos e Hormônios dos Hormônios Sítios de Ação Principais Ações

FÍGADO
IGF-I anteriormente denominada Peptídio (70 aa) Maicria das células Estimula o crescimento linear das células
somatomedina
IGF-II Peptídio (67 aa) Maioria das células Atividade semelhante à insulina

CORAÇÃO
Peptídio nairiurético tipo B Peptídio com uma ligação Tecidos vascular, renal Regula o volume sanguíneo e a pressão
dissulfídica dentro da e adrenal sanguínea
cadeia (32 aa)

TECIDO ADIPOSO
Adiponectina Peptídio oligòmero de Músculo Aumenta a oxidação de ácidos graxos
subunidades de 30 kD Fígado Suprime a formação de glicose
Leptina Peptídio (167 aa) Hipotálamo Inibe o apetite, estimula o metabolismo
Resistira Peptídio (94 aa) Fígado Resistência insulínica

VÁRIOS TIPOS CELULARES


Peptídio relacionado com o paratormônio Peptídios { 1 3 9 , 1 4 1 , 1 7 3 aa) Rim, osso Função fisiológica conjetural; ações
(PTH-RP) semelhantes ao PTH; criador de tumores

MONÓCITOS/LINFÓCITOS/MACRÓFAGOS
Ciiocinas (p. ex.: interleucinas 1-18, Peptídios Muitos Estimula ou inibe o crescimento celular;
fator de necrose tumoral, interferon) outro

*aa, resíduos aminoácidos.


^PTüdujiiio também pelo [rato gastrointestinal e pelo pâncreas.
^Hormônios glicofrrotêkos compostos de DOÚ peptídioi diferentes Aí cadeias A 5ÍÍO SEMEIHTÍNTES ÜTTI estrutura ou idênticas; AS cadeias (3 diferem entre os hormônios e conferem especificidade.
^Antlrostenciona lãmbém é produzida no ovário e no testículo.
"Dtms cadeias ligadas por dons ligações dismlfídicas' a , 21 aa; (3, 30 aa.

t a n d o a reabsorção t u b u l a r r e n a l de cálcio e t a m b é m o e f l u x o de afeta a m a i o r parte dos órgãos do c o r p o e m o d u l a , p o r exemplo,


cálcio do esqueleto. O P T H p o r sua vez catalisa a síntese do a freqüência cardíaca, o suor, a f e r t i l i d a d e e a reprodução.
h o r m ô n i o r e n a l c a l c i t r i o l ( 1 , 2 5 - d i i d r o x i v i t a m i n a D ) , o q u a l age
n o i n t e s t i n o para a u m e n t a r a absorção de cálcio. Esta resposta RECEPTORES HORMONAIS
m u i t o rápida do P T H e do c a l c i t r i o l r a p i d a m e n t e restaura o A ação " ú n i c a " o u específica de u m h o r m ô n i o e m seu tecido-alvo
cálcio livre para u m a concentração na q u a l o CaSR n ã o é mais é u m a f u n ç ã o da interação entre o h o r m ô n i o e o seu r e c e p t o r .
ativado e a síntese e secreção t a n t o do P T H c o m o d o c a l c i t r i o l C o m o discutido previamente, há vários tipos de interações hor-
v o l t a m aos níveis basais. mônio-receptor. 2 4 ' 6 ' 1 2 O c o m p l e x o h o r m ô n i o - r e c e p t o r p r o p o r -
ciona u m a especificidade m u i t o alta da ação do h o r m ô n i o , per-
m i t i n d o que o tecido-alvo reconheça o h o r m ô n i o a p r o p r i a d o
Regulação do Metabolismo dos Eletrólitos e de dentre as várias moléculas às quais ele é exposto. Isto é essencial
Água já que os h o r m ô n i o s geralmente c i r c u l a m e m concentrações pico-
Esta via é regulada peta aldosterona p r o d u z i d a pela glândula molares o u n a n o m o l a r e s (10~9 a 10~12 m o l / L ) . C o m o n o t a d o , os
adrenal, pela r e n i n a p r o d u z i d a pelos r i n s e pela vasopressina receptores h o r m o n a i s p o d e m estar na superfície celular o u n o
[ b o i m ô n i o a n t i d i u r é t i c o ( A D H ) ] pela h i p ó f i s e posterior. espaço intracelular d e n t r o d o citoplasma o u do núcleo.

Receptores de Superfície Celular


Regulação de Produção, Uso e Estoque de Os h o r m ô n i o s peptídicos ligam-se a receptores na superfície
Energia celular, e a m u d a n ç a c o n f o r m a c i o n a l que resulta desta ligação
E m condições n o r m a i s , estas funções de h o r m ô n i o s estão sob ativa u m sistema efetor, o qual, p o r sua vez, é responsável pelas
controle hormonal rigoroso. Em condições de mudança, normal- ações a jusante do h o r m ô n i o (Figura 25-2). 8 9 Para a m a i o r i a dos
m e n t e e m a u m e n t o da d e m a n d a d e energia, c o m o n o exercício, h o r m ô n i o s peptídicos, o efetor intracelular que é ativado pela
fome, infecção, t r a u m a o u estresse e m o c i o n a l , as concentrações interação h o r m ô n i o - r e c e p t o r é u m a proteína G específica (pro-
circulantes de m u i t o s h o r m ô n i o s estão aumentadas para contro- teína ligadora de g u a n i l - n u c l e o t í d i o ) , e os receptores são chama-
lar não s o m e n t e as concentrações circulantes de n u t r i e n t e s , mas dos de receptores ligados a proteína G ( G P C R s , Figura 25-3). 3,7,10,13
t a m b é m o m e t a b o l i s m o destes n u t r i e n t e s na direção da energia Os G P C R s são moléculas hepta-helicoidais c o m sete d o m í n i o s
necessária. E s t a atividade m u i t o complexa, a q u a l p o d e envolver que se estendem sobre a m e m b r a n a . O a m i n o t e r m i n a l é extrace-
h o r m ô n i o s de órgãos diferentes, t a m b é m está sob c o n t r o l e neu- lular e o c a r b o x i t e r m i n a l é intracelular. As p r i n c i p a i s classes
rológico c o m u m n ú m e r o de h o r m ô n i o s n e u r o e n d ó c r i n o s parti- estruturais de G C P R s f o r a m identificadas, cada u m a c o n t e n d o
c i p a n d o ativamente neste processo m e t a b ó l i c o i n t e g r a d o que receptores para s u b c o n j u n t o s específicos de h o r m ô n i o s (Figura
468 PARTE IV Analitos

Progesterona d o h o r m ô n i o n o estado livre ou não ligado. O h o r m ô n i o livre


5 entra na célula via difusão passiva e se liga aos receptores intra-
xá* celulares n o citoplasma ou n o n ú c l e o (Figura 25-2). Estes recep-
tores são caracterizados p o r u m d o m í n i o de ligação ao h o r m ô n i o ,
u m d o m í n i o de ligação ao D N A e u m d o m í n i o a m í n o t e r m i n a l
variável. A s s i m c o m o a interação dos h o r m ô n i o s protéicos o u
p o l i p e p t í d i c o s c o m os receptores na superfície celular m u d a a
c o n f o r m a ç ã o do Teceptor p r o t e i c o , a ligação de u m h o r m ô n i o
lipossolúvel ao d o m í n i o de seu receptor específico intracelular
m u d a a c o n f o r m a ç ã o m o l e c u l a r do receptor. Esta m u d a n ç a con-
f o r m a c i o n a l , chamada de ativação d o receptor, t o r n a o c o m p l e x o
h o r m ô n i o - r e c e p t o r capaz de se ligar a seqüências regulatórias
específicas n o D N A de u m gene-alvo, p e r m i t i n d o o c o n t r o l e da
expressão do gene específico. 3 Para que o receptor ligado ao
h o r m ô n i o se ligue ao D N A nuclear, ele deve se mover até o
núcleo se ele já não estiver lá.

AÇÕES HORMONAIS PÓS-RECEPTOR


Os receptores de superfície celular e i n t r a c e l u l a r t ê m diferentes
ações pós-receptor.

Receptores de Superfície Celular


U m a vez que os G P C R s estão ocupados p o r u m h o r m ô n i o , as
subunidades da p r o t e í n a G i n i c i a m u m a cascata de ativação de
enzimas específicas que g e i a m moléculas que servem c o m o
Respostas biológicas segundos mensageiros para efetuarem a resposta h o r m o n a l . Os
mais conhecidos deles são (1) adenilato ciclase, q u e gera o ade-
F i g u r a 2 5 - 2 Sinalização hormonal por receptores de superfície nosina m o n o f o s f a t o cíclico ( c A M P ) , e (2) fosfolípase C , a q u a l
celular e intracelulares. Os receptores para hormônios polipeptídicos gera o i n o s i t o l 1,4,5-trifosfato (IP3) e diacilglicerol. A p r o d u ç ã o
solúveis em água L H e fator de crescimento semelhante à insulina de segundos mensageiros, e a subseqüente m a g n i t u d e do efeito
OGF-I) são proteínas integrais da membrana localizadas na superfície d o h o r m ô n i o , é u m a f u n ç ã o da q u a n t i d a d e de h o r m ô n i o ligada
celular. Eles ligam os hormônios usando seqüências extracelulares e ao G P C R . A ligação de u m a pequena q u a n t i d a d e de moléculas
transduzem um sinal pela geração de segundos mensageiros, cAMP para de h o r m ô n i o na superfície celular leva à p r o d u ç ã o de m u i t a s
o receptor de LH e substratos fosforilados em tirosina para o receptor moléculas do segundo mensageiro, a m p l i f i c a n d o , então, o sinal
de IGF-I. Embora os efeitos na expressão de genes sejam indicados, enviado pelo h o r m ô n i o (o q u a l é e n t e n d i d o c o m o o p r i m e i r o
também são observados efeitos diretos nas proteínas celulares (p. ex., mensageiro).
canais iónicos). Por outro lado, o receptor para hormônio esteroidal As proteínas quinases dependentes de c A M P são u m a f a m í l i a
lipofilico progesterona está no núcleo celular. Ele se liga ao hormônio, de enzimas quej na presença de c A M P , fosforila u m n ú m e r o de
se torna ativo e capaz de modular diretamente a transcrição do gene enzimas e outras proteínas, r e g u l a n d o , p o r t a n t o , suas funções.
alvo. FT, fator de transcrição; R, molécula receptora. (De Conn PM, C o m o meios adicionais de regular as ações h o r m o n a i s , estas
Melmed S. Textbook of endocrinology. Totowa, NJ: Humana Press, quinases dependentes de c A M P consistem em duas subunidades
1997.) catalíticas e duas régulatórias. As subunidades regulatórias existem
c o m o u m d í m e r o que liga moléculas de c A M P , e a ligação de
c A M P libera as subunidades catalíticas, as quais são então ativas
c o m o enzimas fosforiíadas.
A fosfolípase C age n o f o s f o i n o s i t o l na m e m b r a n a celular
para p r o d u z i r IP3 e diacilglicerol. U m efeito do IP3 é abrir os
25-4). O g r u p o I é o m a i o r g r u p o , c o n t e n d o receptores para canais iónicos para f a c i l i t a i a entrada de cálcio n o citoplasma,
m u i t o s h o r m ô n i o s peptídicos e catecolaminas. O g r u p o I I c o n t é m o n d e ele parece agir c o m o u m segundo mensageiro.
receptores para a f a m í l i a dos h o r m ô n i o s gastrointestinais (secre- O s receptores de i n s u l i n a representam u m a classe de recep-
tina, glucagon, p o l i p e p t í d i o i n t e s t i n a l vasoativo). O g r u p o I I I tores de superfície celular q u e c o n t é m intrínseca atividade tiro-
c o n t é m o C a S R e o receptor de g l u t a m a t o . A estimulação de u m a sina quinase ativada p o t h o r m ô n i o , e acredita-se que não preci-
proteína G i n i c i a os processos intracelulares de transdução de sem de u m a pequena m o l é c u l a q u e f u n c i o n e c o m o u m segundo
sinal, os quais caracterizam a ação especifica do h o r m ô n i o . As mensageiro solúvel. 11 A estrutura do receptor de i n s u l i n a serve
proteínas G são compostas de subunidades a , P e y e são classi- c o m o o p r o t ó t i p o deste t i p o de receptor. Ela consiste em duas
ficadas de a c o r d o c o m a s u b u n i d a d e a , da q u a l 20 f o r a m iden- subunidades a e duas p ligadas p o r pontes dissulfídicas. Os
tificadas até o m o m e n t o (Figura 25-4). E n t r e as proteínas G , d o m í n i o s extracelulares ligadores de h o r m ô n i o são as subunida-
algumas e s t i m u l a m a a d e n i l a t o ciclase (proteínas G t i p o G J e des a , e n q u a n t o as subunidades P são intracelulares. Eles c o n t ê m
outras a i n i b e m ( t i p o G|). A l g u n s h o r m ô n i o s não peptídicos u m l o c a l para ligação de adenosina trifosfato (ATP) e u m d o m í n i o
t a m b é m usam receptores de superfície celular. quinase catalítico p o r i n t e r m é d i o do q u a l a t i r o s i n a quinase é
ativada i m e d i a t a m e n t e q u a n d o a i n s u l i n a se liga ao receptor. A
Receptores Intracelulares tirosina quinase m o d i f i c a as atividades das proteínas intracelula-
Os h o r m ô n i o s lipossolúveis são transportados n o plasma res por fosforilá-las, assim t r a n s m i t i n d o a "mensagem"da i n s u l i n a
ligados a proteínas carreadoras c o m somente u m a p e q u e n a fração para a célula.
Hormônios CAPÍTULO 25 469

NH 2 NH*

Estoque do retículo
endoplasrn ático

Cí*nodiJltri3 \
quin«S& ;

Figura 25-3 T r a n s d u ç ã o de sinal p o r receptores de superfície celular que estão acoplados c o m proteínas G .
São mostrados dois receptores sete de d o m í n i o s t r a n s m e m b r a n a , ligados a diferences proteínas G (G s e G J .
A ativação d o G J e v a à estimulação da e n z i m a efetora adenilato ciclase e à p r o d u ç ã o d o segundo mensageiro
c A M P , causando a ativação da p r o t e í n a quinase A ( P K A ) e a iniciação de potenciais cascatas de fosforilacão A
ativação da G q leva à estimulação da enzima efetora fosfolípase C-|3 e à p r o d u ç ã o dos segundos mensageiros IP3
e d i a c i l g l i c e r o l ( D A G ) , que a t i v a m a p r o t e í n a quinase C (PKC) e i n i c i a m u m a cascata p o t e n c i a l de fosforilacão.
{De C o n n P M , M e l m e d S, Eds. T e x t b o o k o f e n d o c n n o l o g y . T o t o w a , N ) : H u m a n a Press, 1997.)

C o m o os h o r m ô n i o s c u m p r e m u m a função reguladora, há Isto resulta n u m a mudança conformacional que permite que o


muitas etapas autolimitantes n o processo mencionado. Para o complexo hormônio-receptor se ligue a seqüências regulatórias
cAMP, isto envolve a mativação da estimulação da proteína G da específicas do D N A na terminação 5 ' do gene-alvo.5 A especifici-
adenilato ciclase pela guanosinatrifosfatase (GTPase). N a ausên- dade de ligação do receptor (ligado ao h o r m ô n i o ) para regiões
cia da interação do h o r m ô n i o com o G P C R (estado basal o u não específicas do D N A do gene-alvo é determinada por estruturas
estimulado), G s está ligado à guanosina difosfato (GDP) TJma chamadas dedos de zinco n o d o m í n i o de ligação do D N A do
vez que o h o r m ô n i o está ligado ao receptor, G D P é liberado de receptor. E a ligação do complexo hormônio-receptor a elementos
G s e substituído pelo G T P e o complexo G S -GTP ativa a adenilato regulatórios do D N A que aumenta ou reprime a transcrição
ciclase (Figura 25-5). O complexo G S -GTP é inativado pela gênica. O R N A mensageiro, o qual é aumentado ou reduzido
GTPase, restaurando o estado G S -GDP que não pode estimular pela ligação do hormônio-receptor ao gene-alvo, regula a síntese
a formação de c A M P até que mais h o r m ô n i o se ligue ao G P C R . de proteínas específicas que medeiam as ações fisiológicas do
Após poucos m i n u t o s (ou menos) da interação do h o r m ô n i o com h o r m ô n i o . O sistema é regulado ainda pela presença o u ausência
G P C R e do início da ação h o r m o n a l , o receptor é fosfcrilado de co-ativadores o u co-repressores da expressão gênica.
pela proteína quinase A e proteína quinase C Esta fosforilacão
do receptor h o r m o n a l permite a internalização do complexo a DESORDENS CLÍNICAS DOS HORMÔNIOS
partir da superfície celular para dentro da célula. Então, ocorre As doenças endócrinas resultam da deficiência ou do excesso de
a defcsforilação, p e r m i t i n d o a degradação do h o r m ô n i o e a reci- u m único h o r m ô n i o o u de vários h o r m ô n i o s , ou da resistência
clagem do G P C R para sua localização transmembrana original, à ação de h o r m ô n i o s , A deficiência h o r m o n a l pode ser congênita
aguardando a ligação com mais h o r m ô n i o . o u adquirida, enquanto o excesso h o r m o n a l pode ser decorrente
de uma superprodução endógena (de dentro do corpo) ou
Receptores Intracelulares exógeno por medicação em dose excessiva. A resistência h o r m o -
Fisiologicamente, os h o r m ô n i o s lipossolúveis se ligam ao d o m í n i o nal ocorre em vários níveis, mas é simplesmente caracterizada
de ligação h o r m o n a l de receptores citoplasmático ou nuclear. 8,9 como mediada por receptor, mediada por pós-receptor o u ao
470 PARTE IV Analitos

Superfamília do receptor acoplado à proteína G (GPCR)

Família A: Receptores relacionados com rodopsina e receptores


fi-adrenérgicos Família D: Receptores relacionados com o receptor de feromônio STE2

Grupa I: Receptores olfatário, adenosina, melanocortina Grupo I: Receptores de fator alfa feromônio
Grupo II: Receptores adrenérgico. muscarínico, de serotonina, de DA
Grupo 111: Receptores de rieurcpeptidio e opsinas de vertebrados
Grupo IV: Receptores de bradicinina e de opsinas de invertebrados
Grupo V: Receptores de hormônios peptídicos e glicoprotéicos, de Família E : Receptores relacionados com o receptor de feromônio
quimiocira STE3
Grupo VI: Receptores de melatonina e órfãos
Grupo I: Receptor de fator A feromônio

Família B: Receptares relacionados com receptores de calcitonína e


paratornnõnio Família F: Receptores relacionados com o receptor cAMP

Grupo I: Receptores de calcitonína, calcitonina-Wre e CRF


Grupo II: Receptores de PTH e PTHrP Grupo I: Receptor de Dictyostelium cAR1 -4
Grupo III: Receptores de glucagon, secretina, VIP e GHRH

Família C: Receptores relacionados com receptores de glutamato


metabotrópico

Grupo I: Receptores de glutamato metabotrópico


Grupo II: Receptores sensores do íon cálcio extracelular
A

GlicusiUi^ãu

Ligação agonista

Cisteínas conservadas
Ligação antagonista

T M D 1 - * TMD2/ ' TMD3-®TMD4 TMD5 TMD7


y
JZ • -
v y
a V j
%
•a!®
PdlmiT:

da PKA

Necessários para ligação da


catecolamina e ativação
k A s p 113 • Ser 204, 2 0 7
Proteína G acoplada

COOH

Fosforilação de |3ARK

Figura 2 5 - 4 Classificação e a r q u i t e t u r a básica dos receptores de superfície celular que se l i g a m às proteínas


G. O p a i n e l A lista as p r i n c i p a i s famílias e grupos de G P C R s . Os receptores m a m í f e r o s são restritos a famílias A ,
B e C . A f a m í l i a A é a m a i o r e i n c l u í os diversos receptores o d o r a n t e s e prototípicos G P C R s , c o m o o receptor
para r o d o p s i n a e o receptor |B-adrenérgico. O p a m e l B mostra u m a estrutura esquemática de u m dos mais
extensamente caracterizados G P C R s , o receptor (3-adrenérgico. A s p r i n c i p a i s características estruturais estão
indicadas e são expandidas n o texto. (De C o n n P M , M e l m e d S, Eds. T e x t b o o k o f e n d o c r i n o l o g y T o t o w a ,
NJ: H u m a n a Press, 1997 )
Hormônios CAPÍTULO 25 471

Ligante
ensaio, o h o r m ô n i o não marcado desloca quantidades rastreadas
de h o r m ô n i o marcado r a d i o a t i v a m e n t e dos sítios do receptor.
U m segundo c a m i n h o m e d e u m a resposta, c o m o a produção de
c A M P , q u a n d o u m a amostra testada é a d i c i o n a d a a u m a prepa-
ração que i n c l u i o receptor e os co-fatores necessários. E m geral,
os ensaios baseados em receptor são mais simples de se realizarem
que os bioensaios e t ê m m a i o r sensibilidade. O ensaio receptor
t a m b é m t e m u m a v a n t a g e m sobre os i m u n o e n s a i o s e m que eles
r e f l e t e m a f u n ç ã o biológica de u m h o r m ô n i o , chamada de capa-
cidade de se ligar a sítios específicos d o receptor. E m contraste,
os i m u n o e n s a i o s p o d e m m e d i r o h o r m ô n i o ativo e o p r ó - h o r m ô -
n i o i n a t i v o , o h o r m ô n i o p o l i m é r i c o e os m e t a b ó l i t o s q u a n d o
todos possuem u m d e t e r m i n a n t e a n t i g ê n i c o ou u m c o n j u n t o de
í «
N d e t e r m i n a n t e s em c o m u m . E m geral, os ensaios baseados em
|
GDP receptor não são tão sensíveis c o m o os i m u n o e n s a i o s , e enzimas
nas amostras biológicas p o d e m degradar o receptor o u destruir
o traçador marcado. A c o m p l e x i d a d e e l a b i l i d a d e adicionais das
preparações de receptores t a m b é m c o n t r i b u e m para a aplicação
Figura 2 5 - 5 C i c l o da p r o t e í n a G . ( D e C o n n P M , M e l r n e d S, l i m i t a d a destes ensaios na r o t i n a clínica dos laboratórios.
Eds. T e x t b o o k o f e n d o c r i n o l o g y . T o t o w a , N ] : H u m a n a Press,
1997.).) Técnicas de Imunoensaios
O s i m u n o e n s a i o s que empregam a n t i c o r p o s são a m p l a m e n t e
nível d o tecido-alvo. A s manifestações clínicas dependerão d o usados para q u a n t i f i c a r os h o r m ô n i o s ( C a p í t u l o 10). G e r a l m e n t e ,
sistema h o r m o n a l afetado e d o t i p o de a n o r m a l i d a d e ( C a p í t u l o s os ensaios de a n t i c o r p o marcado ( i m u n o r r é f r i m ) com marcado-
22, 26 e 38-42). A doença e n d ó c r i n a mais c o m u m nos Estados res n ã o isotópicos são o m é t o d o escolhido para m e d i r vários
U n i d o s é o diabetes mellitus ( D M ) . O D M t i p o 1 resulta da falên- h o r m ô n i o s , especialmente os maiores c o m o os h o r m ô n i o s pep-
cia do pâncreas em secretar a i n s u l i n a ainda que o pâncreas esteja tídicos e proteicos. Os ensaios i m u n o m é t r i c o s u s a m concentra-
de o u t r o m o d o n o r m a l ( C a p í t u l o 22). O D M t i p o 2 é o t i p o mais ções saturantes de dois o u mais a n t i c o r p o s (freqüentemente
c o m u m de D M e resulta da resistência do órgão-alvo à ação da m o n o c l o n a i s ) q u e são preparadas c o n t r a diferentes epítopos da
insulina, a q u a l é secretada p e l o pâncreas e m quantidades abun- m o l é c u l a de proteína. U m o u dois dos a n t i c o r p o s são n o r m a l -
dantes e circula e m altas concentrações. O D M secundário ocorre m e n t e ligados a u m sistema de separação de fase sólida e extraem
q u a n d o u m a doença não e n d ó c r i n a , c o m o a pancreatite, destrói o h o r m ô n i o da amostra de soro e o i m o b i l i z a m na superfície
o pâncreas, i n c l u i n d o as células secretoras de i n s u l i n a . A carac- sólida. O a n t i c o r p o remanescente é ligado a u m a m o l é c u l a sina-
terística b i o q u í m i c a do D M é a hiperglicemia. Por o u t r o lado, lizadora, a q u a l é m e d i d a depois q u e o a n t i c o r p o se liga ao hor-
existem tumores r a i o s do pâncreas p r o d u t o r e s de i n s u l i n a (insu- m ô n i o i m o b i l i z a d o . O sinal resultante é u t i l i z a d o para q u a n t i f i -
l i n o m a s ) nos quais a p r o d u ç ã o de i n s u l i n a não é regulada pela car o h o r m ô n i o ligado.
concentração sanguínea da glicose, e sua característica b i o q u í -
mica é a hipoglicemia. Técnicas Instrumentais
Os espectrómetros de massa ( C a p í t u l o 8) associados aos cromató-
FORMAS DE MEDIDA DOS HORMÔNIOS E grafos gasoso e l í q u i d o ( C a p í t u l o 7) são ferramentas analíticas
ANALITOS RELACIONADOS qualitativas e quantitativas poderosas que são amplamente usadas
Os h o r m ô n i o s são m e d i d o s p o r u m a variedade de técnicas ana- para m e d i r h o r m ô n i o s . Os avanços técnicos na espectrometria de
líticas, i n c l u i n d o biomarcadores, marcadores de receptores, i m u - massa resultaram n o desenvolvimento da técnica de ionização/
noensaio e técnicas i n s t r u m e n t a i s , c o m o a espectrometria de dessorção a laser assistida p o r m a t r i z ( M A L D i ) e de técnicas de
massa associada a cromatografia l í q u i d a o u gasosa. ionização p o r elmo spray que p e r m i t e m seqüenciamento de peptí-
dios e determinação de massa de quantidades de picomoles de
Técnicas de Bioensaio anahtos.
Os bioensaios são baseados nas observações de respostas fisioló-
gicas específicas para o h o r m ô n i o que esteja sendo dosado. Os
bioensaios i n vivo n o r m a l m e n t e envolvem a injeção do m a t e r i a l
REFERENCIAS
testado ( c o m o o sangue o u u r i n a de u m paciente) e m animais
1. Brení GA. The molecular basis o/ thjroid fwnnone ac.tion. N Engl j Meti
preparados adequadamente. As respostas da glândula-alvo, c o m o
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u m crescimento o u esteroidogênese, são então medidas. Os bio-
2. Edivards DP. The role of coactivators anti corepressors in the biolog) and
ensaios i n vitro envolvem a incubação de tecido, membranas,
mechflnism of acti cm of s tero íd homwne rcceptoTS. J Mammary Gkmd Biol
células dispersas o u linhas celulares permanentes em u m m e i o
Neofiksia 2000,5 307-24
de c u l t u r a d e f i n i d o , c o m subseqüente m e d i d a da resposta apro-
3. Fdrfel 2, Bourne RR, liri T. The expanding spectrum of G protein dijeflse- N
priada de u m h o r m ô n i o . A m a i o r i a dos bioensaios in vitro mede
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as respostas p r o x i m a l o u distai a u m segundo mensageiro, c o m o 4. Funder JW. Mmerfllocorticoids, glwcocorticoiíis, receptors and response elements.
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472 PARTE IV Analitos

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CAPÍTULO 2 6

Catecolaminas e Serotonina
Graeme Eisenhofer, Ph.D., Thomas G. Rosano, Ph.D., D.A.B.F.T., D.A.B.C.C.,
e Ronald J. Whitley, Ph.D., F.A.C.B., D.A.B.C.C.

OBJETIVOS precursor da dopamina e u m p r o d u t o intermediário na


1. Listar os hormônios sintetizados pela medula adrenal, assim como biossíntese da norepinefrina, epinefrina e melanina.
Metabólitos das Catecolaminas: Produtos do metabolismo das
as ações fisiológicas, regulação da secreção e significância clínica
catecolaminas, tais como o ácido diidrofenilacético, a
de cada um; determinar um métcdo de análise.
metoxitiramina, o ácido homovanílico, o diidrofenilglicol, o
2. Definir feocromocitoma e os resultados laboratoriais obtidos na
metoxi-hidroxifenilglicol, a normetanefrma, a metanefrina e
avaliação dessa doença.
o ácido vanililmandélico.
3. Resumir a via metabólica das catecclaminas e determinar a
M e t a n e f r i n a : U m metabólito farmacológica e fisiologicamente
significância clínica dos metabólitos.
inativo das catecolaminas resultante da O-metilação da
4. Discutir a significância clínica da serotonina e do seu metabólito; epinefrina; formada principalmente n o interior das células
determinar um método de análise. cromafins da adrenal; excretada na urina como u m
metabólito conjugado a sulfato; as dosagens dos metabólitos
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES livres e conjugados fornecem testes diagnósticos úteis para o
3,4-DÍidroxifenilglicol ( D H P G ) : O metabólito produzido feocromocitoma.
dentro dos nervos noradrenérgicos do sistema simpático Metoxi-hidroxifenoglicol ( M H F G ) : U m metabólito da
periférico ou do sistema nervoso central através da epinefrina e da norepinefrina formado primariamente pela
desaminação da norepinefrina (também pode ser formado a O-me til ação do diidroxifenil glicol e, em menores
partir da epinefrina); é O-metilado para metoxi- quantidades, pela desaminação da notmetanefrina e da
hidroxifenilglicol nos tecidos extraneurais. metanefrina; encontrado n o cérebro, sangue, CSF e urina,
Á c i d o 5-Hidroxiindolacético ( 5 ' H I A A ) : U m metabólito da onde suas concentrações podem ser usadas para dosar a
serotonina (5-hidroxitriptamina) que é excretado em renovação das catecolaminas.
grandes quantidades por pacientes com tumores Neuroblastoma: U m sarcoma constituído por neuroblastos
carcinóides. malignos, surgindo geralmente no sistema nervoso
A c i d o H o m o v a n í l i c o ( H V A ) : U m produto do metabolismo da autônomo (simpaticoblastoma) ou na medula adrenal;
dopamina; concentrações urinárias elevadas são usadas para considerado u m tipo de t u m o r neuroepitelial que afeta
diagnosticar neuroblastomas. principalmente os lactentes e crianças até 10 anos de idade.
A c i d o V a n i l i l m a n d é l i c o ( V M A ) : O principal produto final do N o r e p i n e f r i n a (noradrenalina): U m importante
metabolismo da norepinefrina e da epinefrina excretado neurotransmissor produzido por alguns neurônios cerebrais
pela urina; formado primariamente n o fígado através da e nervos simpáticos periféricos que agem sobre receptores
oxidação do metoxi-hidroxifenilglicol. adrenérgicos alfaj e beta^ produzida pelas células cromafins
Catecoíamina: Pertence a u m grupo de aminas biogênicas que da adrenal como u m precursor da epinefrina.
possuem uma ação simpaticomimética, cuja porção N o r m e t a n e f r i n a : U m metabólito O-metilado da norepinefrina
aromática da molécula é o catecol e a porção alifática, uma produzido por células extraneuronais e pela medula
amina; os exemplos incluem a dopamina, a norepinefrina e adrenal; excretada pela urina como u m metabólito
a epinefrina. conjugado a sulfato; as dosagens dos metabólitos livres e
Célula C r o m a f i m : Células neuroendócrinas derivadas da crista conjugados fornecem testes úteis para o diagnóstico do
neural embrionária, encontradas na medula da glândula feocromocitoma.
adrenal e em outros gânglios do sistema nervoso simpático; Serotonina (5-hidroxitriptamina): U m vasoconstritor
assim denominadas devido à presença de grânulos monoamínico sintetizado pelas células enterocromafins
citoplasmáticos que produzem uma reação acastanhada com intestinais ou em neurônios centrais ou periféricos;
os sais de cromo. encontrada em altas concentrações em vários tecidos
D o p a m i n a : U m a catecoíamina formada n o corpo pela corporais, i n c l u i n d o a mucosa intestinal, o corpo pineal e o
descarboxilação da dopa; é u m produto intermediário na sistema nervoso central.
síntese da norepinefrina, age como u m neurotransmissor S í n d r o m e Carcinóide: U m complexo sistema associado aos
no sistema nervoso central; é produzido perifericamente e tumores carcinóides e caracterizado por crises de rubor
age sobre receptores periféricos. cianótico da pele — com duração de minutos a dias — e por
E p i n e f r i n a (adrenalina): U m h o r m ô n i o catecolamínico evacuações diarréicas aquosas, crises broncoconstritivas,
secretado pela medula adrenal. quedas abruptas da pressão sanguínea, edema e ascite. Os
Feocromocitoma: U m tumor geralmente benigno, bem sintomas são provocados pela secreção tumoral de
encapsulado, lobular e vascularizado de tecido cromafim da serotonina, prostaglandinas e outras substâncias
medula adrenal ou dos paragânglios simpáticos. biologicamente ativas.
L - D o p a : U m aminoácido, 3,4-diidroxifenilalanina, produzido T u m o r Carcinóide: U m tumor amarelado, circunscrito,
pela oxidação da tirosina pela tirosina hidroxilase; é o originado das células enterocromafins, geralmente no
474 PARTE IV Analitos

i n t e s t i n o delgado, apêndice, estômago o u c ó l o n , e menos OH


c o m u m e n t e n o b r ô n q u i o ; algumas vezes usado HO. .ri HO. .NH-,
isoladamente para se referir ao t u m o r gastrointestinal
( t a m b é m d e n o m i n a d o avgentafinoma).
^ N •
Nlli
HO'
YT
I

A
H Norepineírina
s catecolaminas e a s e r o t o n i n a são aminas biogênicas que Serotonina (Noradrenalina)
servem c o m o sinais neuronais o u h o r m o n a i s e m u m a (5-Hidroximptamina, 5-HT)
a m p l a gama de processos fisiológicos. As catecolaminas
de o c o r r ê n c i a n a t u r a l , d o p a m i n a e n o r e p i n e í r i n a ( n o r a d r e n a - HO H
l i n a ) , f u n c i o n a m c o m o neuTOtransmissores n o cérebro e nervos HO . NH-. HO.
simpáticos p e r i f é r i c o s , e n q u a n t o a e p i n e f r i n a ( a d r e n a l i n a ) age
c o m o u m h o r m ô n i o l i b e r a d o pela m e d u l a adrenal. 2 As cateco-
l a m i n a s são essenciais para a m a n u t e n ç ã o da homeostase cor-
HO'
I HO"
CHi

p o r a l e n a resposta ao estresse agudo e c r ô n i c o , através de u m a Dopamina Epinefrina


[p(3,4-Diiciroxifenil)etil amina) (Adrenalina)
orquestração de atividades cardiovasculares, metabólicas, glan-
dulares e viscerais. A s e r o t o n i n a ( 5 - h i d r o x i t r i p t a m i n a ) t a m b é m
serve c o m o u m neurotransmissor n o cérebro e c o m o u m m o d u - Figura 26-1 Estrutura química das catecolaminas e da serotonina.
l a d o r das funções vascular e g a s t r o i n t e s t i n a l n a periferia. A
p r o d u ç ã o a n o r m a l de c a t e c o l a m i n a s o u de s e r o t o n i n a p o d e
o c o r r e r e m u m a série d e t u m o r e s n e u T o e n d ó c r i n o s nos quais
Biossíntese da Biossíntese da serotonina e
os sinais e s i n t o m a s clínicos r e f l e t e m as p r o p r i e d a d e s farmaco-
catecolamina da melatonina
lógicas das a m i n a s secretadas. A dosagem c l í n i c a das aminas
biogênicas o u dos seus m e t a b ó l i t o s a u x i l i a n a detecção e m o n i -
t o r a m e n t o t u m o r a l , e os avanços analíticos p r o d u z i r a m m é t o d o s
l a b o r a t o r i a i s sensíveis e específicos que se e n c o n t r a m d i s p o n í -
veis para a p r á t i c a c l i n i c a .
r T NHí

COOH
HO
Tirosina
QUÍMICA, BIOSSÍNTESE, LIBERAÇÃO E I
METABOLISMO Tiroiirifl hidroxilase Triplo/uno judroxilisf
A q u í m i c a das aminas biogênicas será descrita e m p r i m e i r o lugar,
seguida pela sua biossíntese, liberação e metabolismo. Esses peque-
HO.. ^
1 „NH2 HO
V
I

s *
nos c o m p o n e n t e s eletricamente carregados d e s e m p e n h a m u m
papel v i t a l na homeostase. X . J COOH
Tr o o H
HO

Química Diidroxifenilalanina (dopa) 5-H idroxi triptofano


As catecolaminas, d o p a m i n a , n o r e p i n e í r i n a (noradrenalina) e
e p i n e f r i n a (adrenalina) são f e n i l e t i l a m i n a s c o m grupos h i d r o x i l Ldescarboxilase dos aminoácidos aromáticos

nas posições três e q u a t r o d o anel benzênico, e u m a e t i l a m i n a na

Ti
cadeia lateral na posição u m (Figura 26-1). As substituições h i d r o - HO NHi HO„ NHi
x i l e m e t i l n o lado e t i l a m i n a da cadeia d i s t i n g u e m as catecolami-
L
nas i n d i v i d u a i s tanto e m sua estrutura q u a n t o e m sua função. As
HO
catecolaminas d e m o n s t r a m graus variáveis de instabilidade alca- Dopamina
H
l i n a nos f l u i d o s biológicos, e a sua estrutura d i i d r o x i b e n z ê n i c a o u 5-HidroxitTÍ ptamina (Serotonina)
catecol é sensível à formação oxidativa de q u i n o n a s na presença I I
Dopíi mi rui (3-/iícÍT0X!Ídse Serotonina N-ucelikransfeTasí
de ar e luz. A serotonina, c o m a sua estrutura i n d o l e a m í n i c a , é
d i s t i n t a das catecolaminas, mas é t a m b é m u m a i m p o r t a n t e a m i n a
OH
l
biogênica de ocorrência natural. A m e l a t o n i n a é a p r i n c i p a l i n d o -
l e a m i n a p r o d u z i d a a p a r t i r da serotonina pela glândula pineal. HO ..NH; HO. v NH
Yi ^ I
Cr CHJ
Biossíntese llO
A etapa l i m i t a d o r a da velocidade na biossíntese das catecolaminas Norepineírina N-Ace ci l-5-h i d roxitrí ptamina
envolve a conversão d a t i r o s i n a para 3 , 4 - d i i d r o x i f e n i l a l a n i n a I
Feniletanoluminú H idTM lindo í •
(L-dopa) pela enzima tirosina-hidToxilase (Figura 26-2). U m a enzima
NtruriLtrans/frajf 0-m ê [ i I na ii afera se
correlata, a t r i p t o f a n o hidroxilase, catalisa a conversão d o tripto-
fano a 5-hidroxitripcofano n a p r i m e i r a etapa da síntese da seroto- k I
OH H
n i n a . As fontes teciduais de catecolaminas são p r i n c i p a l m e n t e
HO.. A .N_ H3C—0„ ^ NH
dependentes da presença da tirosina hidroxilase, que está, e m TH,
grande parte, c o n f i n a d a aos n e u r ô n i o s dopaminérgicos e noradre- O CHj
nérgicos d o sistema nervoso central e aos sistemas simpático e HO
H
m e d u l a r adrenal nos tecidos periféricos. Semelhantemente, as Epinefrina N - A c e t Ll'5-me toxi tri p t a m i n a
fontes de serotonina são bastante dependentes da presença da (Melatonina)

t r i p t o f a n o hidroxilase nos n e u r ô n i o s serotoninérgicos d o sistema Figura 26-2 Biossíntese das catecolaminas e serotonina e
nervoso central, na glândula p i n e a l e e m alguns tecidos endócrinos metabolismo da serotonina para melatonina.
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 475

Corrente sanguínea
periféricos, p a r t i c u l a r m e n t e as células enterocromafins do trato
digestivo. As plaquetas t a m b é m c o n t ê m grandes quantidades de sero- Terminação
tonina, mas esta é derivada da serotonina sintetizada pelas células nervosa simpática
enterocromafins do trato gastrointestinal. - * DHPG
T a n t o a conversão de L-dopa pata d o p a m i n a q u a n t o a d o 5-
L-DOPA
h i d r o x i t n p t o f a n o paTa serotonina são catalisadas pela L-descarbo-
xilase dos a m i n o á c i d o s aromáticos (Figura 26-2), u m a enzima
c o m u m a extensa d i s t r i b u i ç ã o t e c i d u a l e ampla especificidade de
substratos para a m i n o á c i d o s aromáticos. A d o p a m i n a e a seroto-
n i n a formadas n o citoplasma pela L-descarboxilase dos a m i n o á -
cidos aromáticos são então transportadas e m grânulos secretóiios
vesiculares o n d e as aminas são concentradas e armazenadas p r o n t a s
para a liberação exocítica c o m o os principais neurotransmissores
dos n e u r ô n i o s d o p a m i n é r g i c o s e serotoninérgicos do sistema
nervoso central. A d o p a m i n a f o r m a d a nos n e u r ô n i o s noradre- NE
nérgicos e nas células c r o m a f i n s é p o s t e r i o r m e n t e c o n v e r t i d a e m
n o r e p i n e f r i n a pela d o p a m i n a P-hidroxilase, uma enzima c o m
presença exclusiva nos grânulos secretórios. A presença a d i c i o n a l
da f e n i l e t a n o l a m i n a N-metiltransferase nas células c r o m a f i n s da
m e d u l a adrenal acarreta a conversão posterior de n o r e p i n e f r i n a NMN
em e p i n e f r i n a .
A m e l a t o n i n a é sintetizada a p a r t i r da serotonina na g l â n d u l a
- • m h p g
pineal, p o r duas enzimas a l t a m e n t e específicas, sendo a p r i m e i r a
etapa catalisada pela serotonina-N-acetiltransferase e a segunda,
pela h i d r o x m d o l - O - m e t i l t r a n s f e r a s e .
Célula extra neuronal

Armazenamento e Liberação Figura 26-3 D i a g r a m a esquemático i l u s t r a n d o a d i n â m i c a da


As m o n o a m i n a s armazenadas nos grânulos secretórios existem síntese, liberação exocítica (RJ, Te captação n e u r o n a l ( N U ) , captação
e m u m e q u i l í b r i o altamente d i n â m i c o c o m o citoplasma circun- e x t r a n e u r o n a l (EU), extravasamento vesicular (VL), seqüestro vesicular
dante, c o m o extravasamento passivo de m o n o a m i n a s para o (VS) e m e t a b o l i s m o da n o r e p i n e f r i n a ( N E ) nas terminações nervosas
citoplasma sendo c o n t r a b a l a n ç a d o pelo transporte i n t e r i o r ativo simpáticas em relação c o m o tecido e x t r a n e u r o n a l e a c o r r e n t e
sob o c o n t r o l e dos transportadores vesiculares de m o n o a m i n a s sanguínea. A s m a g n i t u d e s relativas dos diversos processos estão
(Figura 26-3)- 1 A s m o n o a m i n a s c o m p a r t i l h a m o a m b i e n t e ácido refletidas n o t a m a n h o das setas. T H , T i r o s i n a hidroxilase; M A O ,
da matriz dos grânulos secretórios c o m o trifcsfato de adenosina m o n o a m i n a oxidase; C O M T catecol-O-metiitrans/erase, TYR, t i r o s i n a , L -
(ATP), p e p t í d i o s e proteínas, sendo as c r o m o g r a n m a s as mais dopa, 3 , 4 - d i i d r o x i f e n i I a l a n i n a ; DA, d o p a m i n a ; D H P G , 3,4-
conhecidas. A s cromograninas são componentes c o m u n s dos grâ- diidroxifenilglicol; N M N , normetanefrma; M H P G ,
n u l o s secretores que c o n t ê m m o n o a m i n a s . Sua presença dissemi- 3 - m etox i-4-hi dr o x i fe n i Igli co 1.
nada entre os tecidos e n d ó c r i n o s t o r n o u a sua dosagem n o
plasma ú t i l , e m b o r a relativamente inespecífica, c o m o u m marca-
d o r de t u m o r e s n e u r o e n d ó c r i n o s ( C a p í t u l o 20). cão d o s i n a l da transmissão n e u r o n a l , e n q u a n t o os t r a n s p o r t a -
As m o n o a m i n a s são liberadas das vesículas secretórias p a r a o dores das localizações e x t r a n e u r o n a i s são mais i m p o r t a n t e s para
espaço extracelular pelo processo de exocitose, que é e s t i m u l a d o a l i m i t a ç ã o da disseminação d o s i n a l e pela d e p u r a ç ã o das
p o r u m i n f l u x o de cálcio, p r i m a r i a m e n t e c o n t r o l a d o nos n e u r ô - catecolaminas da c o r r e n t e sanguínea. Para a n o r e p i n e f r i n a libe-
nios pela despolarização de m e m b r a n a mediada pelo i m p u l s o rada pelos nervos simpáticos, cerca de 9 0 % são r e m o v i d o s de
nervoso e nas células da m e d u l a adrenal pela a c e t i l c o l i n a libe- v o l t a para os nervos pela captação n e u r o n a l , 5 % são r e m o v i d o s
rada pelos nervos da inervação esplâncmca. A liberação n e u r o n a l p o r captação e x t r a n e u r o n a l e 5% escapam desses processos para
t a m b é m p o d e ocorrer através de processos não-exocíticos inde- e n t r a r e m na c o r r e n t e sanguínea. A o c o n t r á r i o , para a epine-
pendentes de cálcio q u e envolvem u m a u m e n t o da perda de f r i n a l i b e r a d a d i r e t a m e n t e na c o r r e n t e sanguínea pelas adre-
m o n o a m i n a s pelas vesículas de armazenamento para o citoplasma nais, cerca de 9 0 % são r e m o v i d o s pela captação e x t r a n e u r o n a l
e a reversão d o t r a n s p o r t e n o r m a l , m e d i a d o p o r t r a n s p o r t a d o r , de m o n o a m i n a s .
de m o n o a m i n a s para o i n t e r i o r para u m transporte para o exte- A l é m da t e r m i n a ç ã o das ações das m o n o a m i n a s liberadas, os
r i o r , para o a m b i e n t e extracelular. Exemplos desse processo i n c l u e m transportadores de m o n o a m i n a s da m e m b r a n a plasmática fun-
a liberação de catecolaminas i n d u z i d a pela t i r a m i n a e pela anfe- c i o n a m e m seqüência c o m os transportadores vesiculares de
tamina. m o n o a m i n a s para reciclar as catecolaminas para u m a nova libe-
ração {Figura 26-3). Desse m o d o , a m a i o r parte da n o r e p i n e f r i n a
Captação e Metabolismo liberada e recapturada pelos nervos simpáticos é seqüestrada de
U m a vez que as enzimas responsáveis pelo m e t a b o l i s m o das cate- volta para o i n t e r i o r dos grânulos secretórios pelos t ransport ado-
colaminas 1 possuem localizações intracelulares, o m e c a n i s m o pri- res vesiculares de m o n o a m i n a s , r e d u z i n d o , assim, a necessidade
m á r i o l i m i t a d o r da duração da ação das catecolaminas n o espaço de síntese de novos transmissores. Os transportadores de m o n o -
i n t r a c e l u l a r é a captação p o r t r a n s p o r t e ativo (Figura 26-3). A aminas da m e m b r a n a plasmática t a m b é m f u n c i o n a m c o m o p a r t e
captação é f a c i l i t a d a p o r t r a n s p o r t a d o r e s q u e p e r t e n c e m a duas dos sistemas de metabolização, exigindo ações adicionais de enzimas
f a m í l i a s de pr oteínas c o m localizações p r i n c i p a l m e n t e n e u r o - para a inativação reversível das a m i n a s liberadas.
nais e e x t r a n e u r o n a i s . Os t r a n s p o r t a d o r e s n e u r o n a i s de m o n o - As catecolaminas s o f r e m metabolização através de m ú l t i p l a s
aminas o f e r e c e m o p r i n c i p a l m e c a n i s m o para a r á p i d a t e r m i n a - vias que e n v o l v e m séries diferenciadas de diversas enzimas, c o m
476 PARTE IV Analitos

expressões diferenciadas nas variadas células e tecidos (Figura NE E


2 6 4 ) . 1 A m a i o r parte d o m e t a b o l i s m o acontece d e n t r o das mesmas
células o n d e as catecolaminas são sintetizadas, sendo a sua
m a i o r i a d e p e n d e n t e do extravasamento de aminas dos grânulos
secretórios para o citoplasma. N o s nervos simpáticos, a presença
da m o n o a m i n a oxidase ( M A O ) acarreta a conversão de norepi-
Nen'os Tecidos Células
n e f r i n a a 3 , 4 - d i i d r o x i f e n i l g l i c o l ( D H P G ) . O D H P G é, e n t ã o , em extraneuronais cromafins adrenais
simpáticos
grande parte metabolizado pela catecol-O-metiltransferase ( C O M T ) ,
em tecidos extraneuronais, a 3-metoxi«4-hidroxifenílglicol ( M H P G ) . MAO COMT COMT
O ácido v a n i l i l m a n d é l i c o ( V M A ) , o p r i n c i p a l p r o d u t o f i n a l d o I t + *
m e t a b o l i s m o da e p i n e f r i n a e da n o r e p i n e f r i n a , é p r o d u z i d o quase DHPG MN
q u e exclusivamente n o fígado. Esta p r o d u ç ã o é d e p e n d e n t e da
localização hepática da álcool-desidrogenase, u m a enzima neces-
sária para a conversão de M H P G a V M A . COMT
Nas células c r o m a f i n s adrenais, a presença a d i c i o n a l de C O M T
acarreta a metabolização da n o r e p i n e f r i n a à m e t a n e f r i n a (Figura
26-4). 1 U m a vez que a via i n t r a n e u r o n a l de desaminação predo-
m i n a e m m u i t o sobre a via e x t r a n e u r o n a l de O-metilação, a
n o r m e t a n e f r i n a e a m e t a n e f r i n a representam p r o d u t o s relativa-
m e n t e secundários d o m e t a b o l i s m o das catecolaminas. E m con-
SULT1A3 SULT1A3
seqüência, a m e d u l a adrenal representa a ú n i c a grande f o n t e
ADH IntasUnos
tecidual de n o r m e t a n e f r i n a e m e t a n e f r i n a , sendo responsável p o r
2 4 % a 4 0 % da p r i m e i r a e 9 0 % da segunda. A m e t a n e f r i n a e a + *
n o r m e t a n e f r i n a produzidas pela m e d u l a adrenal o u p o r tecidos NMN-SO 4
VMA MHPG-SO, MN-S04
extraneuronais — a p r i m e i r a a p a r t i r das catecolaminas q u e extra-
vasam dos grânulos secretórios, e a segunda de catecolaminas
liberadas de fontes simpático-adrenais — p o d e m ser desaminadas
para M H P G e então convertidas para V M A no fígado o u p o d e
ser sulfato-conjugado p o r u m a enzima sulfotransferase p r i n c i p a l - Depuração circulatória pelos rins
m e n t e expressa pelos tecidos gastrointestinais.
A s e r o t o n i n a não é u m substrato para a C O M T e segue vias
mais simples de metabolização d o que aquelas das catecolaminas.
Excreção urinária
A s e r o t o n i n a é desaminada a ácido 5 - h i d r o x ü n d o lacético (5-
H 1 A A ) , o p r i n c i p a l p r o d u t o de excreção u r i n á r i a do metabo-
lismo da s e r o t o n i n a . F i g u r a 2 6 - 4 Diagrama esquemático exibindo as principais vias do
metabolismo da norepinefrina e epinefrina derivadas de fontes
FISIOLOGIA DOS SISTEMAS simpaticoneuronais e adrenomedulares. A desaminação nos nervos
CATECOLAMINÉRGICOS E simpáticos (rosa) é a principal via do metabolismo das catecolaminas e
SEROTONINÉRGICOS envolve a desaminação intraneuronal da norepinefrina que extravasa dos
As catecolaminas e a serotonina regulam eventos fisiológicos ao grânulos de armazenamento ou da norepinefrina recapturada após a
nível celular através da interação c o m famílias de receptores de super- liberação pelos nervos simpáticos. O metabolismo nas células cromafins
fície celular. A n o r e p i n e f r i n a e a epinefrina atuam sobre duas adrenais (preto) envolve a O-metilação das catecolaminas que extravasam
grandes classes de receptores adrenérgicos, as famílias de adreno- dos grânulos de armazenamento para o citoplasma das células da
ceptores a e f}. 4 A d o p a m i n a t r a n s m i t e sinais p r i m a r i a m e n t e medula adrenal. A v i a extraneuronal (vermelbodaro) constitui uma via
através da interação c o m u m a ampla f a m í l i a de receptores dopa- relativamente secundária do metabolismo das catecolaminas liberadas
minérgicos. U m a família a i n d a m a i o r de subtipos de receptores dos nervos simpáticos ou da medula adrenal, mas é importante para o
serotoninérgicos f o i i d e n t i f i c a d a através de técnicas histológicas e processamento ulterior dos metabólitos produzidos pelos nervos
moleculares. O s principais efeitos fisiológicos das catecolaminas e simpáticos e células cromafins. As três metanefrinas produzidas pelos
da serotonina são explicados, e m parte, p o r essas diversas intera- tecidos extraneuronais das células cromafins adrenais são, mais adiante,
ções c o m receptores q u e o c o r r e m e m localizações função-específi- metabolizadas por desaminação ou por conjugação a sulfatos. NE,
cas p o r toda vasculatura e sistemas orgânicos do c o r p o . Norepinefrina; E, epinefrina; DHPG, 3,4-díidroxifenilglicol; MN,
metanefrina; NMN, normetanefrina; MHPG, 3-metoxi-4-
Sistema Nervoso Central hidroxifenilglicol; VMA, ácido vanililmandélico, MHPG-SO^, sulfato de
N o r e p i n e f r i n a , d o p a m i n a e serotonina são produzidas, p r i m a r i a - 3-metoxi-4-hidroxifenilglicol, NMN-SO^, sulfato de normetanefrina; MN-
mente, e m regiões do t r o n c o encefálico p o r n e u r ó n i o s c o m pro- SO4, sulfato de metanefrina; MAO, monoamina oxidase; COMT, catecol-
jeções para outras áreas d o cérebro e da m e d u l a espinal. 14 Cerca O-metiltransferase, ADH, álcool desidrogenase, SL/LTIA3,
da metade da n o r e p i n e f r i n a d o cérebro é p r o d u z i d a e m neurô- fenolsulfotransferase tipo 1A3.
nios p r o d u t o r e s de n o r e p i n e f r i n a na porção i n f e r i o r do t r o n c o
encefálico, q u e e n v i a m projeções axonais difusas p o r t o d o o
cérebro, até o c ó r t e x cerebral. Eles t a m b é m env i am fibras descen-
dentes para a m e d u l a espinal, o n d e estas estabelecem sinapses
c o m n e u r ô n i o s simpáticos pré-ganglionares q u e se c o m u n i c a m
c o m o sistema nervoso simpático periférico. Os n e u r ô n i o s pro-
dutores de n o r e p i n e f r i n a d o t r o n c o encefálico p a r t i c i p a m da
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 477

regulação da atividade do sistema nervoso simpático e do estado Exercício, alimentação excessiva, baixa ingesta de sal, posição
geral de atenção e vigilância. ereta, estresse m e n t a l e o envelhecimento a u m e n t a m a descarga
A d o p a m i n a produzida nos neurônios dopaminérgicos, que simpática. Concentrações plasmáticas aumentadas de norepine-
são responsáveis p o r mais da metade de toda a p r o d u ç ã o de f r i n a t a m b é m são encontradas em distúrbios c o m o insuficiência
catecolaminas do cérebro, possui funções e exibe distribuições cardíaca, hipertensão e depressão.
que são notavelmente diferentes daquelas da n o r e p i n e f r i n a . A
d o p a m i n a n o cérebro i n f l u e n c i a o c o m p o r t a m e n t o de busca de
gratificação, sendo i m p o r t a n t e para a iniciação e m a n u t e n ç ã o do Sistema Medular Adrenal
m o v i m e n t o . Os distúrbios da produção e liberação de d o p a m i n a As glândulas adrenais humanas r e c o b r e m os pólos superiores dos
n o cérebro estão, p o r t a n t o , envolvidos em estados de dependên- rins. Cada glândula consiste em u m córtex externo e u m a f i n a
cia a drogas e são centrais n o distúrbio do m o v i m e n t o que carac- medula central interna c o n t e n d o células cromafins. U m traço
teriza a doença de Parkinson. A neurotransmissão da d o p a m i n a característico das células cromafins medulares adrenais é a pre-
t a m b é m está envolvida n o processamento dos sinais sensórios e sença de numerosos grânulos de armazenamento de catecolami-
na regulação da liberação h o r m o n a l . Os neurônios d o p a m i n é r - nas. Esses grânulos se t o r n a m acastanhados q u a n d o expostos às
gicos da retma e do b u l b o o l f a t ó r i o possuem projeções ultracur- soluções de b i c r o m a t o de potássio, n i t r a t o de prata amoniacal ou
tas que t r a n s m i t e m sinais d e n t r o desses centros neuronais para tetróxido de ósmio devido à oxidação e polimerização da epine-
a visão e o olfato. Os n e u r ô n i o s dopaminérgicos n o h i p o t á l a m o f r i n a e da n o r e p i n e f r i n a . Este processo é conhecido c o m o "reação
possuem influências regulatórias sobre a liberação de diversos c r o m a f i m " , de onde v ê m os termos células cromafins e grânulos
h o r m ô n i o s da hipófise. cromafins.
A serotonina, assim como a n o r e p i n e f r i n a , é p r o d u z i d a por C o n q u a n t o seja f r e q ü e n t e m e n t e considerada u m a parte d o
pequenos grupamentos de n e u r ô n i o s em regiões d o t r o n c o ence- sistema nervoso simpático, a m e d u l a adrenal produz e secreta
fálico, mas serve a u m a diferente gama de funções c o m p o r t a m e n - u m a catecolamina diferente, a e p i n e f r i n a , c o m funções diferen-
tais e fisiológicas. Os processos fisiológicos e comportamentais tes daquelas da n o r e p i n e f r i n a secretada pelos nervos simpáticos.
influenciados p o r esse sistema serotoninérgico incluem a m e m ó r i a , A m e d u l a adrenal e os nervos simpáticos t a m b é m são regulados
aprendizado, c o m p o r t a m e n t o alimentar, padrões de sono, ter- separadamente, f r e q ü e n t e m e n t e em direções divergentes, e m
moTregulação, modulação da dor, função cardiovascular e regu- resposta a diferentes formas de estresse. A epinef ri n a é secretada
lação h i p o t a l â m i c a dos h o r m ô n i o s hipofisários. pelas células cromafins adrenais d i r e t a m e n t e na corrente sanguí-
nea para agir sobre células distantes dos locais de liberação. A
Sistema Nervoso Simpático e p i n e f r i n a e a n o r e p i n e f r i n a p o s s u e m u m a p o t ê n c i a de efeito
A transmissão nervosa simpática opera abaixo do nível da cons- c o i n c i d e n t e , mas t a m b é m d i f e r e n t e sobre os adrenoceptores a
ciência n o controle da função fisiológica de vários órgãos e tecidos e |3. A p r o x i m i d a d e entre os locais de liberação da n o r e p i n e -
corporais (Figura 26-5). 4 O sistema nervoso simpático desempe- f r i n a e da e p i n e f r i n a e os adrenoceptores t a m b é m d e t e r m i n a
n h a u m papel p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e na regulação da diferenças nas respostas mediadas pelo a d r e n o c e p t o r às duas
função cardiovascular e m resposta ao estresse postural, ao d o exer- catecolaminas. D e v i d o a esses fatores, a e p i n e f r i n a exerce os
cício físico, ao térmico e ao mental. C o m a ativação simpática, a seus efeitos e m populações de adrenoceptores diferentes daque-
freqüência cardíaca é aumentada, as arteríolas periféricas sofrem las da n o r e p i n e f r i n a A e p i n e f r i n a liberada pelas glândulas
constrição, as arteríolas esqueléticas se d i l a t a m e a pressão san- adrenais é mais i m p o r t a n t e c o m o u m agente m e t a b ó l i c o do
guínea se eleva. Os sinais simpáticos trabalham e m e q u i l í b r i o que c o m o u m h o r m ô n i o r e g u l a d o r h e m o d i n â m i c o . E m parti-
c o m a porção parassimpática do sistema nervoso a u t ô n o m o a f i m cular, a e p i n e f r i n a estimula a lipólise, a cetogênese, a termogê-
de manter u m ambiente i n t e r n o estável. nese e a glicólise, elevando a glicose plasmática através d o estí-
Os sinais eferentes o u aferentes do sistema nervoso central m u l o à glicogenólise e à gliconeogênese. A e p i n e f r i n a t a m b é m
são transmitidos através de n e u r ô n i o s simpáticos colinérgicos possui potentes efeitos sobre a f u n ç ã o p u l m o n a r , p r o v o c a n d o a
pré-ganglionares, que saem da medula espinal e convergem para dilatação das vias aéreas.
gânglios simpáticos ao longo da coluna espinal ou para gânglios
viscerais (Figura 26-5). Os ramos terminais das fibras pós-ganglio- Sistema Dopaminérgico Periférico
nares que se p r o j e t a m desses gânglios para órgãos-alvo possuem A d o p a m i n a geralmente é encarada como u m neurotransmissor
varicosidades que f o r m a m u m rico terreno de plexos para o cerebral ou c o m o u m i n t e r m e d i á r i o na produção de norepinefrina
contato sináptico c o m u m grande n ú m e r o de células efetoras e m e epinefrina nos tecidos periféricos. A contribuição do cérebro para
glândulas e fibras musculares. A maioria dos nervos simpáticos as concentrações plasmáticas e excreção urinária de metabólitos
pós-ganglionares libera n o r e p i n e f r i n a c o m o o seu neurotransmis- da dopamina é, c o n t u d o , relativamente secundária, e a d o p a m i n a
sor. E m localizações limitadas, as terminações dos nervos simpá- produzida pelos nervos simpáticos e pela medula adrenal é prin-
ticos l i b e r a m acetilcolina. As fibras simpáticas que l i b e r a m ace- cipalmente convertida em norepinefrina. A m a i o r parte da dopa-
tilcolina i n e r v a m as glândulas sudoríparas e a medula adrenal, m i n a e dos metabólitos dopaminérgicos circulantes e urinários é,
esta ú l t i m a estimulando a liberação de epinefrina pelas células portanto, derivada de outras fontes (Figura 26-6)-1
cromafins. Nos rins, a d o p a m i n a f u n c i o n a como u m a substância efetora
A n o r e p i n e f r i n a plasmática e a u r i n á r i a são p r i n c i p a l m e n t e autócrma ou parácrina que c o n t r i b u i para a regulação da excreção
derivadas de n e u r ô n i o s simpáticos pós-ganglionares c o m pouca de sódio. A o contrário dos sistemas catecolaminérgicos neuronais,
c o n t r i b u i ç ã o d o sistema nervoso central o u da liberação h o r m o - a produção de d o p a m i n a nos rins é, em grande parte, indepen-
nal pela m e d u l a adrenal. D e v i d o a processos intervenientes neu- dente da síntese local de L-dopa pela tirosina hidroxilase. A pro-
ronais e extraneuronais de remoção, a quantidade de norepine- dução de d o p a m i n a nos rins depende, principalmente, da capta-
f r i n a que escapa para a corrente sanguínea representa menos de ção de L-dopa da circulação e da sua conversão em d o p a m i n a pela
10% da n o r e p i n e f r i n a total liberada pelos nervos simpáticos. descatboxila.se dos aminoácidos aromáticos (Figura 26-6). Por-
Alterações da liberação e da concentração plasmática da norepi- tanto, a maior parte da d o p a m i n a excretada na u r i n a deriva da
nefr ina o c o r r e m e m resposta a estados fisiológicos e patológicos. captação renal de descarboxilação da L-dopa circulante.
478 PARTE IV Analitos

Cérebro
Cabeça e pescoço,
p. ex., pupilas,
glândulas salivares,
vasos intracranianos ^
e faciais

Trato respiratório}'" ^ __ C1 -
e pulmões Porção

— 1
cervical da
medula
Coração <J espinal

Sangue periférico ..
vasos
————
f
Gânglio
/
/
Parçáo
torácica da
medula
- ^ celíaco
Estomago, v espinal
fígado, pâncreas '' —

Gân
Medula ?[io
mesenterico
adrenal
superior


Porção
Gânglio mesentérico
Rins e lombar da
superior
intestinos medula
espinal

Cólon
pélvico
Porção
sacra da
Gânglios medula
• \ yX hipogástricos espinal
Bexiga urinária e
órgãos genitais

Órgaos- Gânglios Medula


aivo simpáticos espinal

Fibras simpáticas pré-ganglionares


(neurotransmissor-acetilcolira)

Fibras simpáticas pós-ganglionares


(neurotransmissor-norepinefrina) / - •

Figura 26-5 Diagrama esquemático da divisão simpática d o sistema nervoso a u t ô n o m o . As fibras


colinérgicas pré-ganglionaras (linlizis sólidas) da medula espinal se projetam para a cadeia simpática paravertebral,
gânglios periféricos viscerais e medula adrenal, e n q u a n t o fibras noradrenérgicas pós-ganglionares (Imfws tracejadas)
se projetam das gânglios simpáticos para os órgãos-alvo inervados. Cerca de 5% a 10% da norepinefrina liberada
pelos nervos simpáticos que m e r v a m os órgãos-alvo escapam das captações neuronal e extraneuronal para
adentrai a corrente sanguínea. Isso está e m contraste c o m a epinefrina, que funciona c o m o u m h o r m ô n i o
circulante, sendo liberada diretamente pela me d u l a adrenal para a corrente sanguínea. A maior parte das
catecolaminas que entram na corrente sanguínea é removida pelo processo extraneuronal de captação, s e n d o
metabolizada (p. ex., n o fígado) de m o d o que s o m e n t e pequenas proporções sejam excretadas pela unna.
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 479

Traio gastrointestinal, ânus. Essas redes c o n t ê m mais de 100 m i l h õ e s de n e u r ó n i o s


fontes endógenas sensórios, i n t e r n e u r ô n i o s e n e u r ô n i o s motores. O plexo mesen-
e dieta
térico situa-se entre as camadas l o n g i t u d i n a l e circular do m ú s c u l o
Dieta, nervos intestinal liso e c o n t r o l a os m o v i m e n t o s propulsivos (peristalse).
.>75% simpáticos, outras O plexo s u b m u c o s o i n e r v a o e p i t é h o glandular, as células endó-

ir rente
nguínea
1
DOPA
crinas intestinais e os vasos sanguíneos submucosos. Esta rede
sente o a m b i e n t e n o i n t e r i o r d o l ú m e n , regula o f l u x o sanguíneo
local e c o n t r o l a a secreção das células epiteliais.
- y O E N S está conectado ao sistema nervoso central através de
f
i _ n e u r ó n i o s parassimpáticos extrínsecos e simpáticos motores, assim
DOPA c o m o por n e u r ó n i o s sensórios espinais e vagais. Através dessas
L-AADO | conexões b i d i r e c i o n a i s , o E N S p o d e ser m o n i t o r a d o e m o d i f i -
cado. 3 A despeito da presença dessas conexões nervosas extrín-
DA
secas, o E N S t a m b é m p o d e f u n c i o n a r de f o r m a a u t ó n o m a e m

V algumas regiões intestinais. A transmissão n e u r a l d e n t r o d o E N S


é c o n t r o l a d a p o r u m a g r a n d e v a r i e d a d e de n e u r o t r a n s m i s s o -
DA-SO4 DA res e de p e p t í d i o s n e u r o m o d u l a d o r e s , tais c o m o a s e r o t o n i n a ,
3 |xmol/24h 2 n o r e p i n e f r i n a , acetilcolina, A T P e ó x i d o n í t r i c o . A s e r o t o n i n a
atua c o m o u m a m o l é c u l a p a r á c r i n a local, p a r t i c i p a n d o da trans-
dução .sensória da mucosa. M a i s de 9 5 % da s e r o t o n i n a c o r p o r a l
Figura 26-6 D i a g r a m a esquemático i l u s t r a n d o as p r i n c i p a i s fontes
é p r o d u z i d a n o i n t e r i o r d o trato gastrointestinal, c o m a m a i o r
de d o p a m i n a ( D A ) e dos p r i n c i p a i s m e t a b ó l i t o s da d o p a m i n a — ácido
p a r t e sendo sintetizada e armazenada nas células enterocroma-
h o m o v a n í l i c o ( H V A ) , ácido d i i d r o f e n i l a c é t i c o ( D O P A C ) e sulfato de
fins da mucosa i n t e s t i n a l . N e u r ó n i o s sensórios intrínsecos, ati-
d o p a m i n a (DA-SO^) — n o plasma e na u r i n a . O cérebro t e m
vados pela s e r o t o n i n a , e s t i m u l a m o r e f l e x o peristáltico e a secre-
c o n t r i b u i ç ã o r e l a t i v a m e n t e secundária, e n q u a n t o a d o p a m i n a sintetizada
ção, e n q u a n t o os n e u r ô n i o s sensórios extrínsecos i n i c i a m sensa-
n o trato gastrointestinal o u derivada da dieta c o n t r i b u i s u b s t a n c i a l m e n t e
ções intestinais, tais c o m o náusea, v ô m i t o s , d o r e distensão
para f o r m a ç ã o dos m e t a b ó l i t o s da d o p a m i n a na corrente sanguinea e na
a b d o m i n a i s . A s ações parácrinas da s e r o t o n i n a são finalizadas
u r i n a . Isso contrasta c o m a d o p a m i n a livre excretada na UTina, q u e é
através da captação para o i n t e r i o r das células epiteliais p e l o
derivada quase i n t e i r a m e n t e da extração renal da diidTOxiíenilalanina
m e s m o t r a n s p o r t a d o r de s e r o t o n i n a u t i l i z a d o pelos n e u r ô n i o s
c i r c u l a n t e ( D O P A ) e da descarboxilação local para d o p a m i n a pela L -
serotoninérgicos.
descarboxilase dos a m i n o á c i d o s aromáticos ( L - A A D C )

APLICAÇÕES CLÍNICAS
A dosagem das catecolaminas, da s e r o t o n i n a e dos seus metabó-
litos é usada nas investigações de u m a variedade de processos
E m b o r a os rins representem a p r i n c i p a l f o n t e de d o p a m i n a fisiopatológicos, mas as dosagens laboratoriais clínicas das aminas
l i v r e u r i n á r i a , esta fonte não é responsável pelas quantidades e dos seus m e t a b ó l i t o s são direcionadas, p r i n c i p a l m e n t e , para o
m u i t o maiores de m e t a b ó l i t o s excretados d a d o p a m i n a , tais diagnóstico dos tumores n e u r o e n d ó c r i n o s . Os tumores n e u r o e n -
c o m o o ácido homovanílico (HVA.) e o sulfato de d o p a m i n a . Pro- d ó c r i n o s p r o d u t o r e s de catecolaminas i n c l u e m f e o c r o m o c i t o m a s ,
porções substanciais desses m e t a b ó l i t o s são produzidas n o trato paragangliomas e neuroblastomas, e n q u a n t o os tumores p r o d u -
gastrointestinal, o n d e a d o p a m i n a parece f u n c i o n a r c o m o u m tores de s e r o t o n i n a são t i p i c a m e n t e carcinóides.
n e u r o m o d u l a d o r entérico o u c o m o u m a substância p a r á c n n a o u
a u t ó c r i n a . Todavia, ao c o n t r á r i o dos rins, o n d e a d o p a m i n a é Feocromocitoma
p r o d u z i d a p r i n c i p a l m e n t e a p a r t i r da L-dopa circulante, a p r o d u - Os tumores p r o d u t o r e s de catecolaminas que d e r i v a m de células
ção de d o p a m i n a n o t r a t o gastrointestinal exige a presença da c r o m a f i n s p o d e m o c o r r e r t a n t o n o i n t e r i o r das glândulas adre-
tirosina hidroxilase o u de outras fontes de L-dopa. nais, o n d e são d e n o m i n a d o s f e o c r o m o c i t o r n a s , c o m o e m locais
O c o n s u m o de a l i m e n t o s eleva as concentrações de L-dopa, extra-adienais, o n d e são d e n o m i n a d o s paragangliomas.' Os para-
de d o p a m i n a e dos m e t a b ó l i t o s da d o p a m i n a , p a r t i c u l a r m e n t e o gangliomas derivados de tecidos c r o m a f i n s simpáticos extra-adre-
sulfato de d o p a m i n a , i n d i c a n d o q u e os constituintes dietéticos nais geralmente p r o d u z e m quantidades significativas de catecola-
t a m b é m p o d e m representar uma i m p o r t a n t e f o n t e de d o p a m i n a minas — e t a m b é m são c o m u m e n t e d e n o m i n a d o s feocromocito-
periférica (Figura 26-6). A t u a l m e n t e está claro que o sulfato de mas extra-adrenais.
d o p a m i n a é p r i n c i p a l m e n t e p r o d u z i d o p e l o trato gastrointestinal A presença de u m f e o c r o m o c i t o m a geralmente é suspeitada
a p a r t i r da d o p a m i n a dietética ou da l o c a l m e n t e sintetizada. Isso d e v i d o aos sinais e sintomas que r e f l e t e m os efeitos biológicos
c compatível c o m os achados de que o trato gastrointestinal c o n t é m das catecolaminas liberadas pelo t u m o r . A hipertensão é o sinal
elevadas concentrações da enzima suífotransferase específica res- mais c o m u m , p o d e n d o ser m a n t i d a o u paroxística. Os sintomas
ponsável pela conjugação das catecolaminas e dos m e t a b ó l i t o s i n c l u e m cefaléia, palpitações, diaforese (sudorese excessiva), palidez,
c a t e c o l a m í n i c o s c o m sulfatos. náusea, crises de ansiedade e fraqueza generalizada. 8
Os feocromocitomas são raros, o c o r r e n d o e m menos de 0 , 2 %
Sistema Nervoso Entérico dos pacientes c o m hipertensão. C o n t u d o , e m v i r t u d e da elevada
O sistema nervoso e n t é r i c o (ENS) é d e f i n i d o c o m o u m sistema prevalência da hipertensão e d o a m p l o espectro de sintomas pro-
i n d e p e n d e n t e e i n t e g r a d o de n e u r ó n i o s e células de s u p o r t e duzidos pelos f e o c r o m o c i t o m a s , m u i t o s dos quais o c o r r e m e m
localizado n o t i a t o gastrointestinal, vesícula b i l i a r e pâncreas. 3 O outras condições clínicas, os f e o c r o m o c i t o m a s deve ser conside-
E N S é c o m p o s t o p o r duas redes de plexos de n e u r ó n i o s i n t r í n - rados em m u i t o s pacientes c o m e sem hipertensão. Os pacientes
secos, o plexo mesentérico e o plexo submucoso. A m b o s estão c o m u m alto risco de f e o c r o m o c i t o m a , nos quais os exames
e m b u t i d o s na parede d o i n t e s t i n o e se estendem d o esôfago ao p o d e m ser realizados i n d e p e n d e n t e m e n t e da presença de sinais
480 PARTE IV Analitos

e sintomas, i n c l u e m aqueles c o m u m a história f a m i l i a r o u c o m E m b o r a p r e d o m i n a n t e m e n t e benignos, cerca de 10% a 15%


u m a h i s t ó r i a prévia de t u m o r , o u c o m o achado i n c i d e n t a l de dos f e o c r o m o c i t o m a s são m a l i g n o s . O risco de f e o c r o m o c i t o m a s
u m a massa a d r e n a l d u r a n t e p r o c e d i m e n t o s a b d o m i n a i s r o t i n e i - malignos é m a i o r e m pacientes c o m t u m o r e s extra-adrenais, par-
ros de imagem. C o n s u l t e o Q u a d r o 26-1 para u m r e s u m o dos t i c u l a r m e n t e nos pacientes c o m mutações S D H B . O diagnóstico
pontos-chave sobre os f e o c r o m o c i t o m a s . do f e o c r o m o c i t o m a m a l i g n o não é possível c o m base nas carac-
A m a i o r i a dos f e o c r o m o c i t o m a s é esporádica, mas até cerca terísticas histopatológicas; e m vez disso, depende da evidência de
de u m q u a r t o possui u m a base hereditária. 1 0 As formas hereditá- lesões metastáticas (p. ex., n o fígado, p u l m õ e s , n ó d u l o s linfáticos
rias dos t u m o r e s são devidas a mutações e m cinco genes causa- e ossos). Todos os pacientes c o m u m a h i s t ó r i a prévia d o t u m o r
dores i d e n t i f i c a d o s até o m o m e n t o . Os f e o c r o m o c i t o m a s na estão sob o risco de doença recorrente o u m a l i g n a e deveriam ser
neoplasia e n d ó c r i n a m ú l t i p l a d o t i p o 2 r e s u l t a m de mutações n o s u b m e t i d o s a u m a triagem p e r i ó d i c a para o t u m o r .
proto-oncogene ret. Essas mutações t a m b é m r e s u l t a m e m u m a M e s m o se benignos, os f e o c r o m o c i t o m a s e os paragangliomas
predisposição para o câncer m e d u l a r de tireóide e para diversos p r o d u t o r e s de catecolaminas são t u m o r e s traiçoeiros q u e quase
o u t r o s tumores o u condições hiperplásicas. N a s í n d r o m e de v o n invariavelmente provocarão complicações cardiovasculares devas-
H i p p e l - L i n d a u ( V H L ) , mutações familiares específicas n o gene tadoras e a m o r t e , se não i d e n t i f i c a d o s e adequadamente trata-
supressor de t u m o r e s V H L d e t e r m i n a m a variada apresentação dos. 0 Desse m o d o , u m a vez q u e se suspeite de u m t u m o r desses,
clínica dos t u m o r e s , i n c l u i n d o angiomas retinais, hemangioblas- é i m p e r a t i v o que exames b i o q u í m i c o s apropriados sejam empre-
tomas d o sistema nervoso central, f e o c r o m o c i t o m a s e t u m o r e s gados para u m diagnóstico preciso. O diagnóstico b i o q u í m i c o d o
dos rins, pâncreas e testículos. O s paragangliomas e os feocro- f e o c r o m o c i t o m a t e m , t r a d i c i o n a l m e n t e , se apoiado nas dosagens
m o c i t o m a s f a m i l i a i s t a m b é m o c o r r e m s e c u n d a r i a m e n t e a muta- das catecolaminas urinárias, metanefrinas e V M A . 1 2 A m a i o r i a
ções dos genes das s u b u n i d a d e s B e D da succinato desidroge- dos pacientes c o m h i p e r t e n s ã o e sintomas provocados p o r feo-
nase ( S D H B e S D H D ) . Os f e o c r o m o c i t o m a s t a m b é m o c o r r e m c r o m o c i t o m a s ativos apresenta grandes aumentos nas suas dosa-
em cerca de 1 % dos pacientes c o m n e u r o f i b r o m a t o s e d o t i p o 1. gens, t o r n a n d o o t u m o r r e l a t i v a m e n t e fácil de ser diagnosticado.
Os exames p e r i ó d i c o s para f e o c r o m o c i t o m a s em pacientes c o m Os problemas o c o r r e m naqueles pacientes nos quais a h i p e r t e n -
as três p r i m e i r a s das q u a t r o síndromes familiais acima são atual- são é paroxística e que p o d e m apresentar u m a secreção insignifi-
m e n t e r e c o m e n d a d o s c o m o parte da triagem de r o t i n a e d o p l a n o cante de catecolaminas entre os episódios. Os resultados falso-
de vigilância. negativos para os exames são mais c o m u m e n t e encontrados nos
pacientes c o m " f e o c r o m o c i t o m a s silenciosos" nos quais os exames
são realizados não d e v i d o aos sinais e sintomas, mas p o r c o n t a
I
Q U A D R O 2 6 - 1 | Pontos-Chave dos Feocromocitomas de u m t u m o r adrenal descoberto i n c i d e n t a l m e n t e ( u m inciden-
taloma), o u c o m o paTte de u m p l a n o de vigilância de r o t i n a para
BIOLOGIA f e o c r o m o c i t o m a s recorrentes o u hereditários.
• Tumores raros, principalmente de células adrenais crcmatins que U m a vez que a não-descoberta de u m f e o c r o m o c i t o m a p o d e
produzem, armazenam, metabolizam e secretam catecolaminas, ter conseqüências fatais, u m a das considerações mais i m p o r t a n -
geralmente com uma predominância da norepinefrina sobre a epinefrina. tes na escolha do exame i n i c i a l é u m alto grau de c o n f i a b i l i d a d e
• Aqueles que se desenvolvem a partir de tecidos cromafins simpáticos de q u e o teste venha a fornecer u m resultado p o s i t i v o naquele
extra-adrenais — denominados paragangliomas — geralmente produzem raro paciente c o m o t u m o r . C o n t r a r i a m e n t e , isso t a m b é m pro-
quase exclusivamente norepinefrina e, muito raramente, p o r c i o n a r á a confiança de q u e u m resultado negativo excluirá o
predominantemente dopamina. t u m o r , e v i t a n d o , assim, a necessidade de m ú l t i p l o s o u repetidos
exames b i o q u í m i c o s , o u m e s m o estudos de i m a g e m caros e des-
APRESENTAÇÃO
necessários para descartar o t u m o r . Portanto, exames b i o q u í m i c o s
• Geralmente se suspeita do tumor em virtude dos sinais e sintomas de
c o n v e n i e n t e m e n t e sensíveis p e r m a n e c e m a p r i m e i r a escolha na
excesso de catecolaminas (p. ex., hipertensão, palpitações, cefaláias ou
investigação de u m paciente suspeito de ser p o r t a d o r de u m feo-
sudorese excessiva) ou pelo achado incidental de uma massa adrenal
cromocitoma.
durante os procedimentos de imagem realizados devido a condições
C o m as considerações acima em m e n t e , o e n c o n t r o de u m
clínicas não-correlacionadas.
g r u p o de especialistas no P r i m e i r o S i m p ó s i o I n t e r n a c i o n a l sobre
• A maioria dos feocromocitomas é benigna; 10% a 15% são malignos.
• Cerca de um quarto dos feocromocitomas possui uma base hereditária, F e o c r o m o c i t o m a realizado e m o u t u b r o de 2 0 0 5 r e c o m e n d o u q u e
resultando de mutações de cinco genes. os exames b i o q u í m i c o s iniciais para o f e o c r o m o c i t o m a deveriam
• Meros de 1% dos pacientes testados por causa de sinais e sintomas i n c l u i r as dosagens da excreção u r i n á r i a o u das concentrações
possuem o tumor (baixa prevalência pré-teste), mas a prevalência á mais plasmáticas das metanefrinas fracionadas ( n o r m e t a n e f r i n a e meta-
elevada entre os pacientes com mutações identificadas dos genes nefrina). 1 0 A base para a elevada eficácia diagnostica das metane-
causadores da doença ou entre aqueles com uma massa adrenal frinas fracionadas plasmáticas livres e urinárias é explicada pela
incidental; portanto, o exame desses pacientes está recomendado presença nas células medulares adrenais e f e o c r o m o c i t o m a em
independentemente da presença de sinais e sintomas. células t u m o r a i s de catecol-O-metiltransferase, a enzima q u e
metaboliza as catecolaminas para metanefrinas. Isso contrasta
DIAGNÓSTICO BIOQUÍMICO c o m o n e r v o simpático, que c o n t é m M A O mas não catecol-O-
• 0 diagnóstico bioquímico é baseada na evidência de produção excessiva metiltransferase. U m a vez q u e as catecolaminas são metaboliza-
de catecolaminas, geralmente determinado a partir de dosagens de das p r i n c i p a l m e n t e n o i n t e r i o r dessas células o n d e são sintetiza-
catecolaminas e dos seus metabólitos na urina ou no plasma. das, a presença de u m f e o c r o m o c i t o m a leva a u m a u m e n t o des-
• Uma vez que a secreção das catecolaminas pelos tumores é episódica,
p r o p o r c i o n a l na p r o d u ç ã o de O m e t i l a d o s , em vez dos metabóli-
mas o seu metabolismo a metanefrinas no interior dos lumores é
tos desaminados. M a i s i m p o r t a n t e , as metanefrinas são produzi-
continuo, as dosagens plasmáticas ou urinárias das metanefrinas
das c o n t i n u a m e n t e c o m o resultado do c o n t í n u o extravasamento
fracionadas fornecem testes diagnósticos mais confiáveis para o tumor do
de catecolaminas dos grânulos c r o m a f i n s de armazenamento para
que as dosagens das catecolaminas (metanefrinas aumentadas em > 97%
o citoplasma celular; p o r o u t r o lado, as catecolaminas p o d e m ser
e catecolaminas em 69% a 92% dos pacientes com feocromocitomas).
liberadas esporadicamente.
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 481

A elevada sensibilidade diagnostica da dosagem plasmática o u desfavorável. 15 O s neuroblastomas são mais notáveis n o que diz
urinária fracionada de normetanefrina e metanefrma t o m a esses respeito a u m subgrupo de casos com completa regressão o u matu-
testes a escolha mais adequada para a avaliação inicial de u m ração para g a n g l í o n e u r o m a , u m a neoplasia benigna. A m a i o r i a
paciente c o m suspeita de feocromocitoma. Os resultados negativos dos t u m o r e s c l i n i c a m e n t e diagnosticados, c o n t u d o , é agressiva
desses exames praticamente excluem u m feocromocilorna. As exce- e apresenta u m resultado desfavorável. O estágio clínico da
ções i n c l u e m pequenos tumores (< 1 cm) encontrados durante doença (localizada versus disseminada) c o n s t i t u i u m i m p o r t a n t e
triagens de rotina de tumores que não sintetizam norepinefrina o u fator p r o g n ó s t i c o . O s pacientes c o m estágios precoces mais
epinefrina. Os tumores que produzem exclusivamente dopamina localizados da doença, o u os lactentes c o m m e n o s de 1 ano de
p o d e m não ser descobertos através das dosagens de normetane- idade c o m u m t u m o r p r i m á r i o localizado e disseminação l i m i -
frina, metanefrina e aminas precursoras. Tais tumores, contudo, tada à pele, fígado e / o u m e d u l a óssea, são considerados de
p o d e m ser detectados através da dosagem de metoxitiramina plas- m e l h o r p r o g n ó s t i c o do que os o u t r o s estágios. I n f e l i z m e n t e , a
mática o u urinária, o metabólico O-metilado da dopamma. As i n c i d ê n c i a global de n e u r o b l a s t o m a metastático n o m o m e n t o
dosagens da dopamina plasmática também podem ser úteis, consi- do diagnóstico é de, a p r o x i m a d a m e n t e , 6 0 % e a necessidade de
derando que a dopamina urinária é, em grande parte, derivada de detecção mais precoce de crianças c o m t u m o r e s de dissemina-
extração renal e descarboxilação da L-dopa e, conseqüentemente, ção progressiva permanece u m desafio diagnóstico. C o n s u l t e o
proporciona u m teste relativamente insensível e inespecífico para a Q u a d r o 26-2 para u m resumo dos pontos-chave sobre os neu-
detecção de u m t u m o r produtor de dopamina (Figura 26-6). roblastomas-
As elevações das metanefrinas fracionadas plasmáticas o u A hipertensão e os sinais e sintomas de excesso de catecola-
urinárias são geralmente altas o suficiente para estabelecer con- minas são raros e m u m neuroblastoma, u m resultado da armaze-
clusivamente a presença da m a i o r i a dos casos de feocromoci- nagem ineficiente de catecolaminas que acarreta a metabolização
toma. Todavia, se o paciente apresentar u m t u m o r que produza intracelular e liberação principalmente como metabólitos inativos.
u m a pequena quantidade de catecolaminas, os resultados falso- Os pacientes c o m u m e n t e se apresentam c o m uma massa t u m o r a l
posítivos p o d e m c o n t i n u a r difíceis de serem distinguidos dos e sinais clínicos dos efeitos compressivos sobre estruturas vizinhas
verdadeiros resultados positivos e exames b i o q u í m i c o s adicionais ou anomalias hematológicas decorrentes d o envolvimento da
são necessários. 10 Antes que os exames bioquímicos sejam inicia- medula óssea.
dos, deve-se considerar a eliminação das possíveis causas de resul- As evidências laboratoriais de u m t u m o r f u n c i o n a l p r o d u t o r
tados falso-posirivos, Estas p o d e m ser devidas a condições inade- de catecolaminas são importantes na avaliação clínica q u a n d o se
quadas de coleta das amostras (p. ex., coleta de sangue sem u m suspeita de u m neuroblastoma. Os padrões de secreção de cate-
período prévio de 20 m i n u t o s de repouso em decúbito dorsal), colaminas e de metabólitos, n o entanto, p o d e m diferir acentua-
o u a medicamentos damente entre os pacientes com o t u m o r . As células d o neuro-
Q u a n d o os exames bioquímicos c o n t i n u a m a produzir resulta- blastoma possuem a capacidade de sintetizar d o p a m i n a e norepi-
dos duvidosos, o teste de supressão pela clonidina pode ser ú t i l nefrina, dependendo do seu grau de m a t u r i d a d e metabólica,
para uma ulterior confirmação o u exclusão de u m feocromoci-
toma. C o n f o r m e originalmente apresentado, este teste foi conce-
b i d o para diferenciar os pacientes com elevações das catecolaminas I
provocadas por feocromocitomas daqueles com aumentos provo- QUADRO 26-2 Pontos-Chave dos Neuroblastomas
cados pela ativação simpática. Através da ativação dos adrenocep-
BIOLOGIA
totes alfa 2 n o cérebro e nas terminações nervosas simpáticas, a
• Tumores que ocorrem quase exclusivamente em crianças e que se
c l o n i d i n a suprime a liberação da norepinefrina pelos nervos sim-
desenvolvem a partir de células da crista neural primitiva do sistema
páticos. Conseqüentemente, reduções da norepinefrina plasmática
simpaticoadrenal, sendo cerca de 6G% derivados de tecido simpáiico
elevada após a clonidina sugerem ativação simpática, enquanto a
extra-adrenal e 40% das adrenais.
ausência de u m a diminuição sugere u m feocromocitoma. Subse- • 0 comportamento biológico dos tumores é altamente variável, com regressão
qüentemente, o teste também se revelou ú t i l na distinção entre espontânea de alguns tumores, mas a maioria (60%) apresenta um curso
aumentos da normetanefrina plasmática causados p o r u m feocro- agressivo com doença maligna disseminada e um resultado desfavorável.
m o c i t o m a e aqueles provocados por ativação simpática.'
APRESENTAÇÃO
Neuroblastoma • Os reuroblaslomas produzem quantidades variáveis de dopamina e
O s neuroblastomas são neoplasias que se o r i g i n a m das células norepineírina, mas demonstram uma capacidade precária de armazenamento
da crista neural p r i m o r d i a l do sistema nervoso simpático.'' 5 Os e liberação das catecolaminas. Conseqüentemente, os tumores raramente
neuroblastomas são quase exclusivamente u m câncer pediátrico, produzem sinais e sintomas de excesso de catecolaminas.
sendo responsáveis p o r aproximadamente 7 % dos cânceres da " A suspeita da doença geralmente se baseia na palpação de uma massa,

infância, e a malignidade mais c o m u m d o p r i m e i r o ano de vida. nas complicações geradas pela ocupação de espaços peio tumor, ou pelos

A incidência de neuroblastomas é de, aproximadamente, 10 casos efeitos do envolvimento da medula óssea.


• As causas hereditárias dos neuroblastomas são raras; a maioria dos
p o r m i l h ã o de crianças. E m b o r a casos familiais tenham sido des-
neuroblastomas ocorre esporadicamente.
critos, a maioria dos neuroblastomas se desenvolve esporadica-
mente. G r a n d e parte destes neuroblastomas é intra-abdominai,
DIAGNÓSTICO BIOQUÍMICO
o r i g i n ando-se da glândula adrenal o u do abdome superior. Loca-
• 0 diagnóstico bioquímico é baseado na superprodução de dopamina e
lizações menos freqüentes i n c l u e m as regiões do tórax, pescoço,
norepinefrina, mas uma vez que os tumores possuem um maquinário para
o u pelve. Cerca de 6 0 % são extra-adrenais. As metástases nos
armazenamento e liberação de catecolaminas insuficientemente
neuroblastomas disseminados p o d e m envolver a m e d u l a óssea, desenvolvido, o diagnóstiGO dependerá, principalmente, das dosagens dos
os ossos, l m f o n o d o s , fígado e, menos freqüentemente, a pele, metabólitos das catecolaminas.
testículos e estruturas intracranianas. • As dosagens do VMA e do HVA urinários representam os testes mais
O c o m p o r t a m e n t o b i o l ó g i c o de u m neuroblastoma varia da amplamente utilizados, mas em um grande estudo prospectivo de triagem
regressão e maturação a u m curso agressivo c o m u m resultado demonstraram detectar somente 73% dos tumores.
482 PARTE IV Analitos

mas, assim c o m o os n e u r ô n i o s simpáticos pós-ganglionares, extra- F i n a l m e n t e , a especificidade clínica da detecção de neuroblas-


vasam f e n i l e t a n o l a m i n a N-metiltransferase e não p r o d u z e m epi- tomas c o m as dosagens das catecolaminas e dos seus m e t a b ó l i t o s
n e f r i n a . D e v i d o à variabilidade da p r o d u ç ã o e metabolização de p o d e ser i n f l u e n c i a d a pela escolha dos métodos laboratoriais,
catecolaminas, n ã o há u m marcador confiável ú n i c o da superpro- interferências dietéticas e outras condições de s u p e r p r o d u ç ã o de
dução de catecolaminas; combinações de catecolaminas e meta- catecolaminas. Avanços significantes na especificidade analítica
b ó l i t o s são, p o r t a n t o , f r e q ü e n t e m e n t e dosadas na avaliação diag- dos m é t o d o s laboratoriais r e d u z i r a m m u i t a s das fontes exógenas
nostica do n e u r o b l a s t o m a . de interferência. A his to patologia permanece c o m o o c r i t é r i o
O V M A e o H V A são as determinações mais a m p l a m e n t e diagnóstico d e f i n i t i v o para a distinção entTe os neuroblastomas
utilizadas para o diagnóstico d o neuroblastoma. A excreção uri- e os f e o c r o m o c i t o m a s o u o u t r o s tumores neurogênicos p r o d u t o -
nária elevada de H V A e de V M A é o resultado da excessiva pro- res de catecolaminas, tais c o m o os ganglioneuromas e os ganglio-
dução t u m o r a l de d o p a m i n a e n o r e p i n e f r i n a , respectivamente. neuroblastomas.
U m a pequena variação d i u r n a da excreção de H V A e de V M A
e u m a correlação positiva entre os testes u r i n á r i o s aleatórios e Carcinóide
os de 24 horas p e r m i t e m o c o n v e n i e n t e emprego de amostras Os carcinóides são t u m o r e s p r o v e n i e n t e s d o sistema n e u r o e n d ó -
urinárias aleatórias, c o m resultados expressos c o m o a p r o p o r ç ã o c r i n o d i f u s o do t r a t o g a s t r o i n t e s t i n a l e pâncreas. 9 D e r i v a d o s
e n t r e os m e t a b ó l i t o s das catecolaminas e a excreção de creati- p r i n c i p a l m e n t e das células e n t e r o c r o m a f i n s , esses t u m o r e s são
n i n a . U m a s e n s i b i l i d a d e clínica n a faixa de 9 0 % foi descrita para a m p l a m e n t e distribuídos pelo c o r p o , mas encontrados c o m m a i o r
os exames u r i n á r i o s de H V A e de V M A p o r alguns centros. f r e q ü ê n c i a nos tratos gastrointestinal (74%) e r e s p i r a t ó r i o ( 2 5 % ) .
O u t r o s , p o r é m , r e l a t a r a m u m a taxa mais baixa de detecção de 0 t u m o r c a r c i n ó i d e c o m u m tem u m aspecto sólido e amarelo-
n e u r o b l a s t o m a s . E m u m a m p l o p r o g r a m a de triagem p a r a neu- bronzeado. As células t u m o r a i s e x i b e m u m a m o r f o l o g i a m o n ó -
roblastomas, n o q u a l a p o p u l a ç ã o c o m resultados negativos na t o n a , c o m u m citoplasma g r a n u l a r róseo e núcleos a r r e d o n d a d o s
triagem foi rastreada para a o c o r r ê n c i a de n e u r o b l a s t o m a s , u m a c o m mitoses raras. A m a i o r i a dos carcinóides p o d e ser i d e n t i f i -
elevação de V M A , H V A , o u ambos os m e t a b ó l i t o s ácidos, detec- cada pela sua reação às colorações c o m prata e aos marcadores
tou-se apenas 7 3 % dos tumores. 1 3 O s pacientes c o m d o e n ç a e m celulares n e u r o e n d ó c r i n o s , tais c o m o a c r o m o g r a n i n a e a enolase
estágio i n i c i a l apresentam taxa mais elevada de resultados falso- neurônio-específica.
negativos, e os pr ogr amas de rastreamento geralmente n ã o foram Os tumores carcinóides são t r a d i c i o n a l m e n t e classificados de
bem-sucedidos na redução da taxa de n e u r o b l a s t o m a s metastá- acordo c o m a sua p r e s u m i d a o r i g e m a p a r t i r do i n t e s t i n o a n t e r i o r
ticos na p o p u l a ç ã o . e m b r i o n á r i o ( b r ô n q u i o s , p u l m ã o , estômago, d u o d e n o e pâncreas),
Marcadores adicionais da s u p e r p r o d u ç ã o de catecolaminas i n t e s t i n o m é d i o (íleo, j e j u n o , apêndice e c ó l o n p r o x i m a l ) , o u
foram empregados para m e l h o r a r a detecção b i o q u í m i c a dos neu- i n t e s t i n o posterior (reto e c ó l o n distai). 6 Os locais mais c o m u n s
roblastomas. As dosagens plasmáticas de d o p a m i n a e L - d o p a , o desses tumores são os b r ô n q u i o s o u p u l m õ e s ( 3 3 % ) , íleo o u
a m i n o á c i d o p r e c u r s o r da d o p a m i n a , t a m b é m p o d e m ter v a l o r j e j u n o ( 2 0 % ) , reto ( 1 0 % ) e apêndice (8%). U m n o v o sistema de
c l i n i c o e p e r m i t i r o uso alternativo do plasma. A dosagem dos classificação t a m b é m f o i p r o p o s t o levando e m c o n t a as variações
metabólitos O-metilados, especialmente a n o r m e t a n e f r i n a , t a m b é m das características histopatológicas. 9 A i n c i d ê n c i a g l o b a l de carci-
foi estudada. Q u a n d o n o r m e t a n e f r i n a , m e t a n e f r i n a , meeoxitira- nóides c l i n i c a m e n t e significantes f o i estimada e m u m a dois casos
mina, dopamina, norepinefrina, V M A e H V A urinários foram p o r 100.000 pessoas. Os t u m o r e s carcinóides p o d e m se desenvol-
dosados, a sensibilidade clínica para a detecção de neuroblasto- ver em todos os grupos etários, mas surgem mais f r e q ü e n t e m e n t e
mas foi de 9 7 % a 100%. M e s m o c o m u m p a i n e l estendido de em adultos, c o m u m a m é d i a etária de 63 anos para os tumores
dosagens de catecolaminas e m e t a b ó l i t o s , u m a baixa i n c i d ê n c i a d o i n t e s t i n o delgado e do t r a t o respiratório. C l i n i c a m e n t e , a
de tumores não-secretores c o n t i n u a sendo i d e n t i f i c a d a e deveria m a i o r i a dos pacientes é assintomática até que as metástases estejam
ser considerada na interpretação do resultado negativo de u m presentes. A obstrução i n t e s t i n a l e a d o r a b d o m i n a l são os mais
exame. freqüentes sintomas de apresentação.
N o s n e u r o b l a s t o m a s , o padrão d o m e t a b o l i s m o das cateco- Os tumores carcinóides e x i b e m c o m p o r t a m e n t o m a l i g n o
laminas está associado a i m p o r t a n t e s fatores p r o g n ó s t i c o s b i o l ó - agressivo d e p e n d e n d o da sua o r i g e m , p r o f u n d i d a d e de penetra-
gicos e genéticos. Taxas mais baixas de excreção de V M A , H V A , ção e t a m a n h o d o t u m o r p r i m á r i o . A m a i o r i a dos carcinomas
d o p a m i n a e n o r e p i n e f r i n a são mais f r e q ü e n t e m e n t e e n c o n t r a - retais é e n c o n t r a d a i n c i d e n t a l m e n t e na endoscopia. Eles freqüen-
das em lactentes c o m estágios iniciais da doença, o q u e p o d e temente são menores do que 1 c m e apresentam u m a baixa taxa
explicar a s e n s i b i l i d a d e clínica i n i c i a l mais baixa às dosagens de de metástases, e m b o r a possam exibir u m a extensa disseminação
V M A e ao H V A descrita em pacientes c o m n e u r o b l a s t o m a s e m local. Os carcinóides d o apêndice são observados em cerca de
estágios iniciais. Q u a n t i d a d e s elevadas de catecolaminas e dos u m a e m cada 3 0 0 apendicectomias. Quase todos t ê m menos de
seus m e t a b ó l i t o s na u r i n a , p o r o u t r o lado, estão relacionadas a 1 c m , e as metástases a distância são raras. Por o u t r o lado, 9 0 %
u m c o m p o r t a m e n t o t u m o r a l agressivo. Nos n e u r o b l a s t o m a s , a dos carcinóides intestinais q u e p e n e t r a m até a metade da parede
excreção relativa das catecolaminas e dos seus metabólitos t a m b é m muscular terão se d i s s e m i n a d o para os l i n f o n o d o s e locais distan-
p o d e i n d i c a r u m resultado desfavorável. Padrões m e t a b ó l i c o s tes n o m o m e n t o d o diagnóstico. M a i s de 7 0 % dos carcinóides
imaturos f o r a m observados n o tecido t u m o r a l d o n e u r o b l a s t o m a , intestinais de 1 a 2 c m de d i â m e t r o metastatizam para o fígado.
baseados na relação entre a excreção de d o p a m i n a ou H V A e a Felizmente, a m a i o r parte dos tumores carcinóides cresce lenta-
de n o r e p i n e f r i n a o u V M A . U m a elevada p r o p o r ç ã o H V A / V M A , m e n t e e os pacientes p o d e m viver p o r m u i t o s anos. C o n s u l t e o
d o p a m i n a / V M A o u d o p a m i n a / n o r e p i n e f r i n a indica deficiência Q u a d r o 26-3 para u m r e s u m o dos pontos-chave sobre os tumores
relativa da b e t a - h i d r o x i l a ç ã o c o m u m a r e d u ç ã o da conversão carcinóides.
nas células t u m o r a i s da d o p a m i n a para a n o r e p i n e f r i n a . O A s s i m c o m o as células endócrinas intestinais n o r m a i s , os
p a d r ã o m e t a b ó l i c o i m a t u r o foi associado a u m c o m p o r t a m e n t o carcinóides sintetizam, armazenam e l i b e r a m u m a variedade de
t u m o r a l agressivo e a o u t r o s fatores p r o g n ó s t i c o s desfavoráveis, h o r m ô n i o s e de aminas biogênicas. U m a das mais b e m caracte-
mas a aplicação c l i n i c a dos padrões m e t a b ó l i c o s n ã o f o i esta- rizadas dessas substâncias é a serotonina. Os tumores carcinóides
belecida. t a m b é m p r o d u z e m e secrecam outras substâncias b i o l o g i c a m e n t e
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 483

QUADRO 26-3 Pontos-Chave dos Carcinõides aumentadas uma vez que o 5 - H T P é convertido em serotonina
nos rins; o 5 - H I A A pode estar levemente elevado.
BIOLOGIA Os pacientes c o m tumores carcinõides produtores de seroto-
" São tumores neuroendócrinos derivados das células enterocromafins dos nina geralmente apresentam impressionantes elevações da excre-
tratos gastrointestinal e respiratório.
ção urinária de 5 - H I A A (de pelo menos 10 vezes), mas ocasional-
• Geralmente se desenvolvem como tumores pequenos (< 2 cm) de
mente as elevações são menores. Elevações falso-positivas p o d e m
crescimento lento, mas com propensão a metastatizar.
ocorrer se o paciente ingerir alimentos ricos em serotonina o u
• Sintetizam, armazenam e liberam uma variedade de hormônios peptídicos
medicamentos, tais como banana, abacaxi, kiwi, ameixa e abacate,
e aminas biogênicas, incluindo a serotonina.
e medicamentos para tosse contendo guaifenesina. Inversamente,
álcool, aspirina e outras drogas p o d e m s u p r i m i r as concentrações
APRESENTAÇÃO
de 5 - H I A A . Os pacientes deveriam evitar esses agentes durante
• Obstrução intestinal e dor abdominal.
• Sintomas relacionados à secreção de aminas vasoativas e peptídios
as coletas de u r m a de 24 horas. As coletas incompletas o u em
resultando na síndrome carcinóide (rubor, diarréia, brancoconstrição e excesso de u r i n a de 24 horas p o d e m ser mais precisamente ava-
insuficiência cardíaca direita) relativamente rara e geralmente ocorrendo liadas em termos de taxa de creatinina. O 5 - H I A A plasmático de
após o desenvolvimento de metástases. jejum foi proposto como u m conveniente substituto para as
coletas urinárias.
DIAGNOSTICO BIOQUÍMICO A maioria dos médicos se vale da dosagem de 5 - H I A A para
• 0 diagnóstico bioquímico depende, principalmente, das dosagens de diagnosticar a síndrome carcinóide. Mas quando u m paciente
serotonina, de seus metabólitos (5-HIAA) e dos precursores da serotonina fortemente suspeito de síndrome carcinóide exibe elevações
(5-HTP) na urina, plasma, sangue total e plaquetas. normais ou limítrofes de 5 - H I A A u r i n á r i o , a documentação de
" Os resultados falso-positivos são comuns devido a intluências concentrações elevadas de serotonina nas plaquetas, plasma, sangue
dietéticas. total ou u r i n a pode ajudar a estabelecer o diagnóstico. A seroto-
n i n a plaquetária f o i descrita c o m o mais sensível do que o 5 - H I A A
u r i n á r i o para a detecção dos carcinõides que produzem pequenas
o u moderadas quantidades de serotonina, tais como os carcinõi-
des do intestino anterior e posterior e os carcinõides do intestino
médio com u m pequeno v o l u m e t u m o r a l . A l é m disso, as concen-
ativas, i n c l u i n d o histamina, calicreína, hradicininas, taquicini- trações plaquetárias de serotonina não são afetadas pela dieta do
nas, prostaglandinas, d o p a m i n a e norepinefrina. A produção paciente. N o entanto, as plaquetas p o d e m estar saturadas na
dessas substâncias varia em relação ao tecido de origem do t u m o r . presença de taxas elevadas de secreção de serotonina, sendo o
Os carcinõides do intestino m é d i o liberam grandes quantidades 5 - H I A A frequentemente preferido para o m o n i t o r a m e n t o da pro-
de serotonina, enquanto os tumores derivados do intestino ante- dução elevada de serotonina.
rior secretam primariamente 5-hidroxitriptofano (5-HTP) (um pre-
cursor serotoninérgico) e histamina, em vez de serotonina. Os METODOLOGIA ANALÍTICA
carcinõides primários do intestino posterior geralmente não N a prática clínica, as determinações laboratoriais das catecolami-
exibem atividade secretora. nas, serotonina e dos seus metabólitos nos líquidos corporais são
A secreção de substâncias na circulação sistêmica desempe- principalmente realizadas para diagnóstico e acompanhamento
n h a u m i m p o r t a n t e papel no desenvolvimento da s í n d r o m e car- de pacientes c o m tumores produtores de catecolaminas e seroto-
cinóide. A síndrome completamente desenvolvida associada às nina. A maioria dos laboratórios dosa as catecolaminas livres
manifestações humorais desses tumores é impressionante, mas urinárias, metanefrina, n o r m e t a n e f r i n a e V M A na avaliação dos
rara, geralmente só ocorrendo após as metástases hepáticas, c o m feocromocitomas n As dosagens plasmádcas das catecolaminas são
a liberação dessas substâncias diretamente na circulação sistê- usadas em alguns centros médicos, sendo as metanefrmas plas-
mica. A apresentação clínica clássica da síndrome carcinóide máticas cada vez mais dosadas (Figura 26-7). Para a detecção dos
i n c l u i u m r u b o r p r o n u n c i a d o (especialmente na face e no neuroblastomas, o H V A e o V M A urinários são mais c o m u m e n t e
pescoço), diarréia, broncoconstrição e eventual insuficiência val- solicitados na prática clínica, mas outros metabólitos das cateco-
vular cardíaca direita. A superprodução de serotonina é encon- laminas e da dopamina também são dosados. A avaliação diag-
trada em 9 0 % a 100% dos pacientes c o m síndrome carcinóide, nostica dos pacientes c o m tumores carcinõides envolve, rotinei-
e acredita-se que esta seja responsável pela diarréia por causa dos ramente, a dosagem de 5 - H I A A ; a dosagem de serotonina nas
seus conhecidos efeitos sobre a motilidade gástrica e secreção de plaquetas e u r i n a t a m b é m é determinada.
fluidos.
A avaliação laboratorial clínica da síndrome carcinóide conta Coleta e Armazenamento das Amostras
c o m as dosagens da serotonina e dos seus metabólitos nos f l u i d o s As condições sob as quais as amostras de plasma e de u r i n a são
e tecidos corporais. 5 Nos pacientes c o m a típica síndrome carci- coletadas p o d e m ser cruciais para a confiabilidade e interpreta-
nóide, a 5 - H T P é convertida em serotonina e armazenada nos ção dos resultados dos exames. N o passado, muitos clínicos pre-
grânulos secretorios tumorais e nas plaquetas. U m a pequena quan- feriam as coletas de urina de 2 4 horas à coleta de amostras san-
tidade de serotonina permanece no plasma, mas é convertida em guíneas, uma vez que as primeiras evitavam as rígidas condições
5-H1AA, que é excretado pela urina. Esses pacientes apresentam associadas à coleta de catecolaminas sanguíneas (p. ex., as amos-
concentrações de serotonina elevadas n o sangue e plaquetas e tras devem ser colhidas após 20 m i n u t o s ou mais de repouso em
uma excreção urinária de 5 - H I A A aumentada. Todavia, alguns decúbito dorsal) e são mais convenientemente implementadas
tumores carcinõides do intestino anterior carecem da L-descai- pela equipe clínica. N o entanto, os pacientes acham a coleta de
boxilase ácida dos aminoácidos aromáticos e secretam 5-HTP, em u r i n a de 24 horas difícil e inconveniente. A confiabilidade do
vez de serotonina, na corrente sanguínea. 9 Os pacientes c o m esses m o m e n t o da coleta freqüentemente é duvidosa. As metanefrinas
tumores apresentam concentrações normais de serotonina no plasmáticas não são p r o n t a m e n t e influenciadas pelo trauma da
sangue e nas plaquetas, mas as quantidades urinárias estão f l e b o t o m i a como as catecolaminas, mas as condições de coleta
484 PARTE IV Analitos

A - Padrão B — Mulher normal de 36 anos de idade C - Mulher de 31 anos de idade


com feocromocitoma

HMBA HMBA
NMN EHPEA HMBA
MN

MTY

NMN

MN
LA , /, , s
*wV\J --
1 r -r— 1 i i
10 20 30 0 10 20 30 10 20 30
Tempo (min) Tempo (min) Tempo (min)

Figura 26-7 Cromatogramas obtidos pela HPLC com detecção eletroquímica após a injeção de uma solução-
padrão (A) e após injeções de extratos purificados de amostras do plasma de uma paciente normal (B) e de uma
outra paciente com um feocromocitoma. A solução-padrão continha 500 pg de normetanefrina (NMN),
metanefrina (MN) e metoxiriramina (MTY], e 1.000 pg de dois padrões internos, 3-hidT0xi-4-met0xikenzilamina
(HMBA) e 3-etoxi-4-hidroxifeni 1 ecoxiamina (EHPEA). Os valores mostrados para as concentrações plasmáticas de
N M N e MN em indivíduos com e sem feocromocitoma foram calculados após a correção para recuperações dos
padrões internos a partir de 2 mL de amostras de plasma sujeitos à extração por troca catiõnica.

da amostra de sangue ainda exigem consideração q u a n d o existem As amostras de plasma ricas e m plaquetas são preparadas a
problemas na distinção e n t r e resultados verdadeiramente positi- p a r t i r d o sangue t o t a l através de centrifugação e m baixa veloci-
vos e os falso-positivos. O paciente deve jejuar p o r 12 boras antes dade. A f i m de prevenir a redução da concentração de serotonina,
da coleta. Para as coletas urinárias, as i n f l u ê n c i a s da d i e t a e da o plasma r i c o em plaquetas é preparado d e n t r o de u m a h o r a
ativação s i m p a t i c o a d r e n a l associadas à atividade física o u a alte- depois que o sangue tenha sido coletado e colocado no gelo. A
rações posturais t a m b é m não são tão facilmente controladas c o m o f i m de reduzir a p r o b a b i l i d a d e de r u p t u r a plaquetária, as amostras
o são para as coletas sanguíneas. Coletas p o n t u a i s o u n o t u r n a s de n u n c a devem ser congeladas antes que o plasma livre de células
u r i n a corrigindo-se as diferenças na duração da coleta c o m a seja o b t i d o . Plasma e pellets são armazenados congelados a - 2 0 C
utilização da excreção u r i n á r i a de c r e a t i n i n a f o r n e c e m alternati- e analisados d e n t r o de u m a a duas semanas após a coleta.
vas para as coletas de u r i n a de 24 horas que p o d e m superar alguns A s amostras de u r i n a de 24 horas para s e r o t o n i n a e 5 - H 1 A A
desses problemas. são coletadas em garrafas m a r r o n s de 2 L de p o l i p r o p i l e n o con-
As catecolaminas nas amostras u r i n á r i a s preservam-se m e l h o r tendo, cada u m a , 2 5 0 m g de m e t a b i s s u l f i t o de sódio e E D T A
c o m ácido c l o r í d r i c o , a f i m de q u e se m a n t e n h a a u r i n a ácida. c o m o conservantes. As amostras são acidificadas até o p H 4 c o m
Para armazenamento p o r períodos prolongados de t e m p o , as ácido acético antes do c o n g e l a m e n t o . M a i s i m p o r t a n t e , a amostra
deve ser refrigerada d u r a n t e a coleta.
alíquotas t ê m m e l h o r conservação congeladas a - 8 0 ° C para m i n i -
mizar a auto-oxidação e a desconjugação. As amostras sanguíneas
são mais b e m coletadas e m tubos c o n t e n d o h e p a r i n a o u ácido Interferências e Influências da Dieta e de
etilenodiaminotetTacético ( E D T A ) , c o m o anticoagulantes, e guar- Medicamentos
dadas em gelo antes da centrifugação a 4 ° C , c o m separação do Os constituintes dietéticos o u m e d i c a m e n t o s t a n t o p o d e m pro-
plasma para posterior a r m a z e n a m e n t o a - 8 0 ° C . vocar u m a interferência analítica direta nos ensaios q u a n t o i n f l u e n -
A dosagem da s e r o t o n i n a n o sangue t o t a l é p o p u l a r u m a vez ciar os processos fisiológicos q u e d e t e r m i n a m as concentrações
que o d e m o r a d o i s o l a m e n t o das plaquetas não é necessário. Para plasmáticas e urinárias das m o n o a m i n a s e seus metabólitos. N a
a s e r o t o n i n a n o sangue t o t a l , o sangue venoso é extraído para p r i m e i r a circunstância, a interferência pode ser altamente variá-
u m t u b o c o n t e n d o E D T A potássico c o m o anticoagulante, deli- vel, d e p e n d e n d o do m é t o d o de dosagem em particular. N a ú l t i m a
cadamente m i s t u r a d o , colocado n o gelo e transferido para u m circunstância, a i n t e r f e r ê n c i a geralmente é de natureza mais gené-
t u b o de armazenamento. U m a a l í q u o t a de sangue é então remo- rica, sendo i n d e p e n d e n t e do m é t o d o de mensuração.
vida para u m a c o n t a g e m plaquetária. As amostras de s e r o t o n i n a O desenvolvimento de novas drogas, variações nas técnicas de
sanguínea são armazenadas congeladas a - 2 0 ° C , preferencial- ensaio e as contínuas melhorias nos p r o c e d i m e n t o s analíticos
m e n t e e m u m i n t e r v a l o de duas horas após a coleta. freqüentemente t o m a m difícil identificar quais medicamentos c o m
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 26 485

interferência direta deveriam ser evitados para u m d e t e r m i n a d o usadas para detectar as metanefrinas na u r i n a , a m a i o r i a dos
teste analítico. Fontes mais p r o n t a m e n t e identificáveis e generali- p r o c e d i m e n t o s de c r o m a t o g r a f i a l í q u i d a de alta performance
zadas de interferência, que são independentes do m é t o d o de ( H P L C ) é baseada na detecção eletroquímica (Figura 26-7). As
ensaio e m particular, tendem a estar associadas a drogas que condições da c o l u n a e as fases estacionárias v a r i a m ; as aplicações
possuem ações primárias sobre os sistemas m o n o a m í n i c o s . D e v i d o típicas i n c l u e m a cromatografia de fase reversa c o m reagentes de
à i m p o r t â n c i a desses sistemas c o m o alvos terapêuticos, tais medi- pareamento i ô n i c o e c r o m a t o g r a f i a de troca catiônica baseada em
camentos representam u m a f o n t e relativamente c o m u m de resul- sílica. M é t o d o s novos e progressivamente populares envolvendo
tados falso-positivos. Os antidepressivos tricíclicos e m particular H P L C acoplados a u m espectrômetro de massa ( L C - M S / M S )
são u m a i m p o r t a n t e f o n t e de resultados falso-positivos para as oferecem as vantagens do c u r t o t e m p o de corrida c r o m ato gráfica,
dosagens de n o r e p i n e f r i n a e n o r m e t a n e f r i n a , u m resultado das elevado r e n d i m e n t o da amostra e e l i m i n a ç ã o da interferência
ações primárias desses agentes n a i n i b i ç ã o da recaptação das m o n o - medicamentosa.
aminas. O u t r o s medicamentos que p o d e m provocar u m a interfe-
rência significante, mas que são menos c o m u m e n t e encontrados Catecolaminas Urinárias e Plasmáticas
d u r a n t e os exames para f e o c r o m o c i t o m a , i n c l u e m L-dopa, Sinemetj Os m é t o d o s f l u o r i m é t r i c o s e radioenzimáticos para análise das
alfa-metildopa ( A l d o m e t ) e os i n i b i d o r e s da M A O . catecolaminas u r i n á r i a s o u plasmáticas f o r a m substituídos pelos
A i n t e r f e r ê n c i a dietética p o d e ser p a r t i c u l a r m e n t e preocu- m é t o d o s H P L C . Numerosas técnicas pré-analíticas de limpeza
pante para as dosagens dos m e t a b ó l i t o s da serotonina utilizados estão disponíveis para a extração das catecolaminas do plasma e
n o diagnóstico dos carcinõides, exigindo u m a instrução dietética da urina. O procedimento de extração mais c o m u m envolve a extra-
detalhada para esses pacientes. As fontes dietéticas de 5-hidro- ção c o m a l u m i n a (Figura 26-9). Paia as catecolaminas urinárias,
x i i n d ó i s (p. ex., nozes, bananas, abacate, berinjela, abacaxi, ameixa o p r o c e d i m e n t o de extração c o m a l u m i n a p o d e ser c o m b i n a d o
e tomate) deveriam ser restritas p o r três a q u a t r o dias antes e c o m o u sem a etapa de t r o c a c a t i ô n i c a . Géis de ácido b ó r i c o
d u r a n t e a coleta de u r i n a . Se possível, os pacientes devem se abster o f e r e c e m u m a a b o r d a g e m a l t e r n a t i v a para a absorção seletiva
de todas as medicações conhecidas que possam provocar u m a das catecolaminas. Solventes orgânicos, desprotemização ácida,
aparente elevação (guaiacolato de glicerol, mefesina, fenacetina e u l t r a f i l t r a ç ã o e o u t r o s p r o c e d i m e n t o s de extração da fase sólida
acetaminofen) o u redução ( m e t a n a m i n a , fenotiazina, t r a n q ü i l i - t a m b é m p o d e m ser usados n o pré-tratamento das amostras.
zantes, ácido h o m o g e n t í s i c o , ácido acético e levodopa) do 5- M u i t o s p r o c e d i m e n t o s H P L C analisam extratos u t i l i z a n d o a cro-
F I I A A . A o c o n t r á r i o do 5 - H I A A , as dosagens da serotonina não m a t o g r a f i a de fase reversa c o m reagentes de p a r e a m e n t o i ô n i c o ;
são significativamente i n f l u e n c i a d a s pela ingestão em c u r t o prazo o u t r o s p o d e m usar as colunas H P L C de troca catiônica para
de alimentos ricos e m s e r o t o n i n a . separar as a m i n a s extraídas. A detecção e l e t r o q u í m i c a u t i l i z a n d o
a mensuração a m p e r o m é t r i c a o u c o u l o m é t r i c a é c o m u m e n t e
Intervalos de Referência usada para q u a n t i f i c a r as catecolaminas. A separação H P L C
O uso de populações de referência adequadamente combinadas t a m b é m p o d e ser acoplada à detecção p o r fluorescência, mas
é i m p o r t a n t e para u m a triagem eficaz de tumores pr oduto res de técnicas de derivação pré o u pós-coluna são necessárias para
m o n o a m i n a s entre diferentes populações de pacientes. As cateco- a p r i m o r a r o l i m i t e de detecção mais b a i x o e a especificidade
laminas e m e t a n e f i i n a s urinárias e plasmáticas possuem diferentes q u í m i c a . F o r a m descritos p r o c e d i m e n t o s automatizados q u e
faixas em pacientes hipertensos o u hospitalizados, comparadas c o m são adequados para as aplicações clínicas de r o t i n a ; o pré-trata-
v o l u n t á r i o s saudáveis, crianças, comparadas c o m os adultos, e m e n t o m a n u a l p o d e o u não ser necessário. M a i s r e c e n t e m e n t e
h o m e n s , c o m mulheres (Figura 26-8). A l é m disso, as quantidades para as dosagens u r i n á r i a s , a m e t o d o l o g i a da espectrometria de
de catecolaminas e metanefrinas nas amostras de u r i n a de 24 horas massa f o i desenvolvida c o m alta capacidade e especificidade de
e n o plasma são altamente desviadas para a direita. A normaliza- rendimento.
ção das distribuições geralmente pode ser o b t i d a através da trans-
formação logarítmica, p e r m i t i n d o , desse m o d o , uma determina- Ácido Vanililmandélico Urinário e Ácido
ção paramétrica de intervalos de referência. Homovanílico
O ácido v a n i l i l m a n d é l i c o ( V M A ) é o p r i n c i p a l p r o d u t o f i n a l do
Metanefrinas Urinárias e Plasmáticas m e t a b o l i s m o da n o r e p i n e f r i n a e da e p i n e f r i n a , e n q u a n t o o ácido
Fracionadas homovanílico (HVA) é o principal produto final do metabolismo
Metanefrinas, normetanefrina e metanetanefrinaj e o metabólito da d o p a m i n a . A m b o s os m e t a b ó l i t o s são excretados na u r i n a em
O - m e t i l a d o da d o p a m i n a , a m e t o x i t i r a m i n a , estão presentes n o quantidades u m t a n t o elevadas, t o r n a n d o a sua análise relativa-
plasma e u r i n a nas formas livre e conjugada a sulfato o u glicuro- m e n t e simples. O V M A , ao c o n t r á r i o do H V A , não é significan-
n í d e o . A s concentrações plasmáticas de conjugados livres são 20 temente conjugado. N o e n t a n t o , u m a vez que grandes quantida-
a 3 0 vezes mais elevadas d o que aquelas dos metabólitos livres, des de H V A t a m b é m estão presentes na u r i n a sob a f o r m a livre,
u m a conseqüência da depuração circulatória mais r á p i d a dos ambos os m e t a b ó l i t o s são c o m u m e n t e dosados sem uma etapa
m e t a b ó l i t o s livres d o q u e a dos conjugados. A depuração dos de hidrólise. C o m p a r a d a s às metanefrinas e às catecolaminas, as
m e t a b ó l i t o s livres se dá através da captação ativa para os tecidos dosagens de V M A e de H V A possuem u m l i m i t a d o valor para o
e pela posterior metabolização pela desaminação o u conjugação. diagnóstico do f e o c r o m o c i t o m a , mas são c o m u m e n t e usadas para
Os m e t a b ó l i t o s conjugados e n t ã o produzidos são depurados de o diagnóstico do n e u r o b l a s t o m a . O s p r i m e i r o s m é t o d o s espectro-
m o d o relativamente l e n t o através da extração renal e efeminação f o t o m é t r i c ô s para a determinação d o V M A e do H V A foram, em
pela u r i n a . A s metanefrinas u r i n á r i a s são então r o t i n e i r a m e n t e grande m e d i d a , substituídos pela cromatografia gasosa ou, mais
dosadas após a h i d r ó l i s e ácida, representando, p r i n c i p a l m e n t e , c o m u m e n t e , pela H P L C . Os m é t o d o s de cromatografia gasosa
m e t a b ó l i t o s conjugados, e n q u a n t o as metanefrinas plasmáticas c o m ionização p o r chama o u detecção espectrométrica de massa
geralmente são dosadas sob a f o r m a livre. são altamente específicos e p o d e m , s i m u l t a n e a m e n t e , d e t e r m i n a r
O isolamento das metanefrinas a p a r t i r da u r i n a o u do plasma V M A e H V A . A H P L C geralmente retrata a separação isocrática
geralmente é realizado c o m a cromatografia de troca tônica. E m b o r a da fase reversa c o m detecção e l e t r o q u í m i c a , espectrofotométrica,
a fluorescência nativa e a absorção de u l t r a v i o l e t a possam ser f l u o r i m é t r i c a o u pós-colunar. A s aplicações de H P L C são relati-
486 PARTE IV Analitos

A Normotensos (n = 175)
90- 60 n 0,46 2,76
80-
50
70 -
60 40
50
30-1
40 H
30 20
20
10-1
10
1
0 I I ! I I I -1—i i
1 2 3 4 5 6 0,25 0,5 1,0 2,0 4,0 8,0

B H i p e r t e n s a s (n = 110)
35 30-1 0,60 4,21
30- 25-

25-
20
20
15
15-
10 ^
10 -
5-
5

0 •1 'i r 0 ~l l~l
0 6 7 0,25 0,5 1,0 2,0 4,0 8,0

Norepinefrina plasmática (nrroUL)

C Normotensos (n=175)

70 35 0,10 0,55

60- 30

50 25

Figura 2 6 - 8 Distribuições de 40 20
freqüência para a norepinefrina
30 15
plasmática ( A e B ) e paia a
normetanefrina plasmática livre (C e 20-] 10
D ) e m voluntários normotensos

rL
saudáveis (A e C) comparados a 10 5
pacientes c o m hipertensão essencial
0 0
(B e D). As distribuições exibidas o 0,2 0,4 0,6 0.8 1.0 0,063 0,125 0,25 0,5 1,0
nos painéis na direita foram
D Hipertensos (n = 110)
normalizadas por transformação
35 30 i 0,13 0,77
logarítmica. O s intervalos de
confiança de 9 5 % (indicados pelas 30- 25 -
linhas verticais tracejadas) foram
25
estimados c o m a utilização de 20
distribuições normalizadas. Observe 20
que as distribuições nos hipertensos 15 -j
exibem u m desvio para 15
concentrações plasmáticas mais 10
10-
elevadas, comparadas às distribuições
5 -I
e m n o r m o t e n s o s c o m limites 5
inferiores e superiores de referência C L _ ~L
0
correspondentemente mais altos. o 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,063 0,125 0,25 0,5 1,0
Norepinefrina plasmática (nmol/L)
Catecolaminas e Serotonina CAPÍTULO 2 6 487

1. Adicione um 1 mL de 2. Adicione Tris EDTA ao 3. Adicione 5 mg de


á c i d o perclórico o u ácido tricloroacético a n t e s d a injeção d a
plasma a um tubo padrão interno alumina
de Eppendorf _ a m o s t r a d i r e t a m e n t e sobre a c o l u n a d e H P L C .
A 9 6=3 A m a i o r p a r t e dos ensaios H P L C e m p r e g a c o l u n a s d e fase
reversa de octadecilsilil (C18), e m b o r a p o d e r o s a s c o l u n a s de troca
Tris EDTA catiônica t a m b é m t e n h a m sido empregadas. A cromatografia geral-
pH 0,6 e
padrão interno m e n t e é realizada c o m u m a fase isocrática m ó v e l e m u m p H ácido
Plasma

w w
q u e c o n t é m u m m o d i f i c a d o r o r g â n i c o e, possivelmente, u m rea-
Alumina
g e n t e d e p a r e a m e n t o iônico. A s e r o t o n i n a é p r o t o n a d a e m u m a
faixa d e p H d e 3 a 6 , e a adição de r e a g e n t e de p a r e a m e n t o i ô n i c o
cria u m c o n j u g a d o sem carga q u e a u m e n t a a a f i n i d a d e da sero-
t o n i n a pela fase b i d r o f ó b i c a estacionária, Para as dosagens d e
4. Misture bem por 5. Centrifugue para 6. Aspire o sobrenadante
20 min formar os pellets de q u a n t i d a d e s m u i t o p e q u e n a s de s e r o t o n i n a ou p a r a projetos espe-
de plasma e Tris
cializados, a H P L C c o m d e t e c ç ã o a m p e r o m é t r i c a ou d e t e c ç ã o

O £3
alumina .
coulométrica f r e q ü e n t e m e n t e é preferida à detecção fluorimé-
Catecóis s e
adsorvem à trica. Para a p r i m o r a r a sensibilidade analítica, alguns p r o c e d i m e n -
Catecóis
alumina em tos H P L C i n c o r p o r a m a derivação pré-colunar c o m reagentes
adsorvidos à
um pH f l u o r e s c e n t e s e q u i m i o l u m m e s c e n t e s , a l c a n ç a n d o , desse m o d o ,
alumina
básico
limites de detecção n a faixa de f e n t o m o l .
' 0
Ácido 5-Hidroxiindolacético
Assim c o m o a s e r o t o n i n a , o 5-HLAA é f o r t e m e n t e f l u o r e s c e n t e e
u m a série de p r o c e d i m e n t o s f l u o r i m é t r i c o s f o r a m desenvolvidos
p a t a a análise q u a n t i t a t i v a M é t o d o s m a i s seletivos e sensíveis para
7. Lave a alumina 8. Remava os catecóis 9. Transfira o eluente q u a n t i f i c a ç ã o d o 5-HLAA n a u r i n a e n o p l a s m a i n c l u e m a croma-
duas vezes com H,0 em ácida diluído ácido para o frasco tografia gasosa, i m u n o e n s a i o s , H P L C e L C - M S / M S . A t u a l m e n t e ,
(p. ex., acético a 0,2 M) para injeção na HPLC a H P L C é o m é t o d o mais d i f u n d i d o d e d o s a g e m d o 5 - H I A A n o
l a b o r a t ó r i o clínico, t e n d o s u b s t i t u í d o a m p l a m e n t e os m é t o d o s
Catecóis
Misturado removidos fotométricos e fluorimétricos. N u m e r o s o s m é t o d o s de H P L C f o r a m
com H 2 0, da alumina descritos para a d o s a g e m d o 5-HLAA, t a n t o s e p a r a d a m e n t e q u a n t o
centrifugado- com formação em c o m b i n a ç ã o c o m o u t r a s substâncias de interesse clínico. A
e aspirado de vórtice
m a i o r i a dos p r o c e d i m e n t o s emprega separações d e fase reversa e
em pH ácido • w
p a r e a m e n t o i ô n i c o sob c o n d i ç õ e s isocráticas otimizadas. A sílica
ligada ao alquil, tal c o m o o octadecilsilil (C18), muitas vezes é
Figura 2 6 - 9 P r o c e d i m e n t o de extração p o r a l u m i n a das
utilizada c o m o a fase estacionária h i d r o f ó b i c a , e u m a mistura-
c a t e c o l a m i n a s plasmáticas A l é m da extração das c a t e c o l a m i n a s
t a m p ã o aquosa orgânica e m u m p H ácido é f r e q ü e n t e m e n t e
( n o r e p i n e f r i n a , e p i n e f n n a e d o p a m i n a ) , este p r o c e d i m e n t o t a m h é m
empregada c o m o fase móvel polar.
p e r m i t e a extração de o u t r o s catecóis, i n c l u i n d o o 3,4-diidrofenilglicol
A dececção e l e t r o q u í m i c a u t i l i z a n d o a d o s a g e m c o u l o m é t r i c a
(o m e t a b ó l i t o d e s a m i n a d o d a n o r e p i n e f r i n a e d a epinefrína), o ácido
ou a m p e r o m é t r i c a é preferível para a d o s a g e m específica de p e q u e -
3,4-diidroxifenilacético (o m e t a b ó l i t o d e s a m i n a d o da d o p a m i n a ) e a
n a s q u a n t i d a d e s d e 5-HLAA. A l g u n s sistemas H P L C utilizam a
L-dopa, o p r e c u r s o r da d o p a m m a . d e t e c ç ã o f l u o r i m é t r i c a , c o m o u s e m derivação, p a r a u m a d o s a g e m
m e n o s rigorosa d e 5 - H I A A . A extração p r e l i m i n a r d o 5 - H I A A
p o d e ser u s a d a c o m o e t a p a inicial d e p u r i f i c a ç ã o antes da análise
p o r H P L C . Solventes o i g â n i c o s , resinas d e troca a n i ô n i c a e
o u t r o s p r o c e d i m e n t o s de extração da fase sólida f o r a m utilizados.
v ã m e n t e livres de i n t e r f e r ê n c i a e p o d e m f o r n e c e r d o s a g e n s simul- Para m u i t o s sistemas, a i n j e ç ã o direta d e u r i n a n a c o l u n a analítica
t â n e a s de V M A , H V A e o u t r o s m e t a b ó l i t o s . constitui prática c o m u m e as amostras m u i t a s vezes são mera-
m e n t e diluídas c o m u m t a m p ã o p a r a proteger o sistema H P L C
Serotonina de c o n t a m i n a ç ã o .
A s e r o t o n i n a p o d e ser d o s a d a n o s a n g u e total, soro, p l a s m a rico
e m p l a q u e t a s , p l a s m a p o b r e em p l a q u e t a s (isto é, p l a s m a livre d e
plaquetas), pelkts isolados de plaquetas, u r i n a e l í q u i d o cerebros-
p i n a l (CSF). A H P L C c o m dececção f l u o r i m é t r i c a o u eletroquí- REFERÊNCIAS
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488 PARTE IV Analitos

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A

TUL
O 27
Vitaminas e Elementos-Traço*
Alan Shenkin, Ph.D., F.R.C.P., F.R.C.Path.,
e Malcolm Baines, F.R.S.C., F.R.C.Path.

OBJETIVOS N u t r i e n t e s Essenciais: Aqueles nutrientes (proteínas, minerais,


1. Definir vitamina e vitãmero. carboidratos, lipídios, vitaminas) necessários ao
2. Classificar as vitaminas de acordo com a solubilidade.
crescimento, às f u n ç õ e s n o r m a i s e à m a n u t e n ç ã o da vida;
esses devem ser supridos pelos alimentos p o r q u e n ã o
3. Listar as formas naturais de cada vitamina e as funções fisiológicas,
p o d e m ser sintetizados pelo corpo.
metabolismo, causas e sintomas de excesso e carência.
N u t r i ç ã o P a r e n t e r a l Total ( T P N ) : Prática de alimentar u m a
4. Descrever os métodos de análise para cada vitamina, os princípios
pessoa p o r via intravenosa, evitando o intestino.
das reações e as possíveis interferências.
V i t a m i n a : U m m i c r o n u t r i e n t e orgânico essencial que deve ser
5. Definir elemento-traço e elemento-ultratraço.
suprido exogenamente e em muitos casos é o precursor de
6. Listar as características dos elementos-traço.
u m a coenzima derivada m e t a b o l i c a m e n t e .
7. Listar os sete elementos-traço fisiologicamente essenciais e V i t ã m e r o : U m t e r m o utilizado para descrever qualquer u m dos
descrever o significado clínico de cada um. diversos compostos que p o s s u e m u m a d a d a atividade
8. Descrever as funções básicas dos sete elementos-traço vitamínica.
fisiologicamente essenciais.
9. Listar os métodos analíticos disponíveis para estimar os elementos-

S
traço.
u p r i m e n t o s a d e q u a d o s de v i t a m i n a s e elementos-traço são
10. Descrever as exigências da coleta de amostras para elementos-
f u n d a m e n t a i s para a m a n u t e n ç ã o da saúde e o desenvolvi-
traço.
m e n t o h u m a n o (http://www.iom.edu). 2 ' 6 A Tabela 27-1
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES resume a ingestão dietética r e c o m e n d a d a (RDA) estabelecida n o s
Estados U n i d o s da América e as recomendações para ingestão de
A p o e n z i m a : A porção protéica de u m a enzima que necessita de
nutrientes p o r populações (da c o m u n i d a d e européia) de vitami-
u m a coenzima.
nas e elementos-traço. As conseqüências de u m a ingestão inade-
A v i t a m i n o s e : U m a doença, descrita c o m o u m a s í n d r o m e da
quada de elementos-traço são mostradas na Figura 27-1.
deficiência, resultante da carência de v i t a m i n a .
C o e n z i m a : U m a substância difusível e termoestável o u
molécula orgânica (algumas vezes derivada de u m a
vitamina) de baixo peso molecular que, q u a n d o c o m b i n a d a VITAMINAS
c o m u m a proteína inativa d e n o m i n a d a apoenzima, f o r m a Vitaminas são compostos orgânicos necessários na dieta para a
u m c o m p o s t o ativo ou u m a enzima completa d e n o m i n a d a saúde, o crescimento e a reprodução. 1 ' Historicamente, os grupos
holoenzima com f u n ç ã o catalítica em u m sistema vitamínicos são representados por u m algarismo arábico subs-
enzimático. crito após u m a letra para designar similaridades estruturais ou
Co-fator: U m reagente natural, u s u a l m e n t e u m íon metálico ou funcionais (p. ex., A j [retinol] e A2 [3-diidrorretinol]) o u para
u m a coenzima, necessário a u m a reação catalítica. indicar a o r d e m aproximada em que são identificados c o m o
E l e m e n t o - t r a ç o : Molécula inorgânica e n c o n t r a d a em tecidos m e m b r o s d o c o n h e c i d o complexo B (p. ex., Bi [tiamina] e B 2
h u m a n o s o u animais em concentrações expressas e m [riboflavina]. N o m e s químicos usuais são utilizados. Esses fre-
miligrama por quilograma, ou inferior. q ü e n t e m e n t e refletem a presença de algum átomo específico
E l e m e n t o - u l t r a t r a ç o : Molécula inorgânica e n c o n t r a d a e m (tiamina), grupo f u n c i o n a l principal (piridoxamina), ou m e s m o
tecidos h u m a n o s o u animais em concentrações expressas u m a grande p a r t e da estrutura molecular (filo^uinorui). Partes de
e m micrograma p o r quilograma, ou inferior. alguns n o m e s refletem propriedades f u n c i o n a i s (colecalciferol).
E s t a d o N u t r i c i o n a l : A condição do corpo relacionada à U m a outra classificação está associada à solubilidade relativa
nutrição, geralmente, o u em referência a u m n u t r i e n t e das vitaminas. Aquelas do grupo li£>ossofúuEl (A, D, E e K) são
específico, c o m o u m elemento-traço. mais solúveis em solventes orgânicos, e n q u a n t o as d o complexo
H i p e r v i t a m i n o s e : U m a condição n ã o saudável resultante do B e a vitamina C são Ímirosíoiúwis. Esse f r a c i o n a m e n t o geral
excesso de vitamina. baseado n a solubilidade é útil n ã o apenas para registrar proprie-
H i p o v i t a m i n o s e : U m a condição n ã o saudável resultante da dades físicas gerais, mas t a m b é m c o m o u m lembrete de que as
carência de vitamina, intercambiável c o m a avitaminose. vitaminas hpossolúveis são (1) absorvidas, (2) transportadas e (3)
H o l o e n z i m a : O composto f u n c i o n a l (isto é, cataliticamente armazenadas por longos períodos. A maioria das vitaminas
ativo) f o r m a d o pela combinação de u m a apoenzima e u m a hidrossolúveis é m e n o s retida e mais excretada na urina. E m
coenzima apropriada. geral, as vitaminas hidrossolúveis f u n c i o n a m c o m o coenzimas
para diversas reações enzimáticas i m p o r t a n t e s de mamíferos e
microrganismos. E m contraste, as vitaminas lipossolúveis geral-
O autor agradecidamente reconhece as contribuições prévias de Donald B.
McCoTmíck, Harry L. Green, George G. Klee e David B. Milne, nas quais se m e n t e n ã o f u n c i o n a m c o m o coenzimas e são r a r a m e n t e utilizadas
baseiam partes deste capítulo. p o r microrganismos.
TABELA 27-1 Ingestões Oral e Intravenosa de Micro nutrientes por Adultos13

Nutrição parenteral
RDA (USA) PRI (Europa) Quantidade e m 2.000 kcal Ingestão IV

VITAMINAS
Apfl 900 700 1.000-2.160 1000
D ng 5-15 0-10 8,5-14,6 5
E mg 15 0,4/g PUFA 20-64 10
KMA 120 100-200 150
Tiamina mg 1,2 1,1 1,4-3,4 6
Riboílavina mg 1,3 1,6 2-6 3,6
Pirodoxina mg 1,3 1,5 2-13,8 6
Niacina mg 16 18 18-45 40
Folato jjg 400 200 340-880 600
B12 ng 2 1,4 3-15 5
Ácido panflotêriico ng 5* 2-12 1 7-20 15
Biotina fig 30* 15-100 100-660 60
Ácido ascórbico mg 00 45 100-300 200

ELEMENTOS-TRAÇO
Zinco mg 11 9,5 13-36 3,2-6,5
Cobre mg 0,9 1,1 2-3,4 0,3-1,3
Selênio pg 55 55 30-130 40-100
Cromo ng 25 30-200 10-20
Molibdênio pg 45* 74-240 19
Magnésio mg 2-3* 1-10 1 2,4-8 0,05-0,2

Referências de ingestão para recém-nascidos


e crianças são dependentes da idade e do peso.
RDA, ingestão Dietética Recomendada (Estados Unidos da América); PRI, Referência de Ingestão da População (EurofwjJ; PUFA, Aridoj giaics (raliinsa furados
'Ingestão aA^quntla.
' Faixa aceitável.

Funções teciduais
ótimas com estoque
corporal (se
existente) repleto

i
Mobilização de
estoques (se
existente]

Depleção inicial C o m p e n s a ç ã o (se possivel)


- absorção intestinal aumentada
- excreção renal reduzida
i
- velocidade de crescimento reduzida (zinco)

Conteúdo
intracelular reduzido

4,
Funções
bioquímicas Atividade enzimática intracelular reduzida
debilitadas - efeitos metabólicos
- sistemas antioxidantes
Expressão/regulação gènica

Efeitos funcionais
inespeclficos Curto prazo: Efeitos cognitivos
Fadiga/capacidade laboral
Funções imunológicas

Longo prazo: Danos ao DNA/membranas


celulares por radicais livres

Doenças Tipica para cada elemento-traço ou vitamina


clínicas - complicações em c a s o s de deficiências
múltiplas

X
Morte

Figura 27-1 Conseqüências de ingestões inadequadas de minerais e ele mentos-traço, (de S h e n k m A, A i l w o o d


MC. Trace elements and vitamina in adult intravenous nutiicion. In: Rombeau JL, Rolandelli R H , eds. Clinicai
nutrition: Parental nutrition. Philadelphia: W B Saunders, 2001:60-79).
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 491

TABELA 2 7 - 2 Necessidade de Vitaminas dos Seres H u m a n o s

Sintomas de
N o m e Químico Deficiência ou E n s a i o s Diretos e
Nome Comum Trivial Funções Gerais Doença Indiretos

LIP0SS0LÚVEIS
Vitamina A Retinol, retinal, ácido Visão, crescimento, reprodução Nictalopia, xeroftalmia, Fotométrico, HPLC,
retinóico queratomalácia fluorimétrico, RIA
Vitamina D2, D3 Ergocalciferol Modulação do metabolismo de Raquitismo (jovem), CPB, HPLC, RIA
Colecalciferol Ca2+, calcificação dos ossos osteomalácia (adulto)
e dentes
Vitamina E Tocaferóis, tocotrienóis Antioxidantes de lipídios Peroxidação lipídica, incluindo Fotométrico. HPLC, hemólise
insaturados, funções fragilidade das células de eritrócito
neurológicas e reprodutivas vermelhas, anemia hemolítica
(prematuros, recám-nascidos)
Vitamina K,, K2 Filoquinonas Coagulação sanguínea, Tempo de coagulação aumentada, HPLC, protrombina,
Menaquinonas osteocalcinas tempo de RIA, doença (pratrombina anormal, teste
hemorrágica (recém-nascido) de PIVKA)

HIDROSSOLÚVEIS
Vitamina B, Tiamina Metabolismo de carboidratos, Beribéri, Síndrome de Fluorimétrico, transcetolase,
funções nervosas, Wernicke-Korsakoff HPLC
Vitamina B2 Ribollavina Reações de oxidação-redução Estomatite angular, Fluorimétrico, HPLC, glutationa
dermatite, fotofobia redutase
Vitamina BE Pirodoxina, piridoxal, Metabolismo de aminoácidos, Convulsões epileptiformes, HPLC, aspartato transaminase,
piridoxamina fosfolipídios e glicogênio dermatite, anemia ácido piridóxico urinário
hipocrômica
Niacina Ácido nicotínico, Reações de oxidação-redução Pelagra Fluorimétrico, HPLC,
nicotinamida coenzimas niacinamida e
nicotinamida
Ácido folico Ácido Pteriolglutâmico Biossíntese de ácidos nucléicos Anemia megaloblástica, CPB, microbiológico,
e aminoácidos defeitos do tubo neural homocisteína
Vitamina B12 Cianocobalamina Metabolismo de aminoácido e Anemias megaloblástica e CPB, microbiológico, RIA,
cetoácido de cadeira perniciosa, neuropatia metiimalonato
ramificada
Biotina Reações de carboxilação Dermatite Microbiológico, CPB,
carboxilase, ligação de avidina
Ácido pantotênico Metabolismo geral, transferência Síndrome do ardor nos pés Microbiológico, RIA, CPB/HPLC
de grupas acetil e acil
Vitamina C Ácido ascórbico Formação do tecido conjuntivo, Escorbuto Fotométrico, HPLC, enzimático
antioxidante

HPLC, cromatografia Uquida de dito eficiência, RIA, radioímitinoensaia; CPB, ligação competiva de frateína, teste de PIVKA, frroietnós i-nduridas om enfoluídas no antagonismo ou
ausência de uituTTiírui K.

A Tabela 27-2 fornece u m a lista das 13 vitaminas conhecidas ésteres de retinil, p a r t i c u l a r m e n t e o palmitato. N a família da
e os grupos vitaméricos essenciais para os h u m a n o s . vitamina A estão incluídos alguns carotenóides da dieta (compos-
tos poliisoprenóides C40) q u e são classificados c o m o provita-
Vitamina A mina A, pois são clivados biologicamente para produzir retinol.
A vitamina A exerce muitas f u n ç õ e s importantes no c o r p o , t e n d o Exemplos são a-caroteno, p-caroteno e p-criptoxantina. O s com-
papel de particular significado n a visão. postos de vitamina A são óleos amarelados ou sólidos com baixo
p o n t o de fusão ( d e p e n d e n d o da pureza d o isômero), que são
Química praticamente insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgâ-
V i t a m i n a A é o t e r m o nutricional para o grupo de compostos nicos e óleo mineral.
c o m estrutura f o r m a d a de 20 carbonos c o n t e n d o u m anel de
cicloexenil (anel p-ionona) metil-substituido e u m a cadeia lateral Fontes Dietéticas
isoprenóide (Figura 27-2), com u m g r u p a m e n t o hidroxil (retinol), A vitamina A pré-formada é obtida de alimentos de origem
u m grupo aldeído (retinal), u m g r u p a m e n t o carboxílico (ácido animal, tais c o m o (1) fígado, (2) outros órgãos formados p o r
retinóico) ou u m g r u p a m e n t o éstei (éster de retinil) n o c a r b o n o músculos e (3) óleos de peixe. O u t r a s fontes são creme de leite
terminal C 1 5 . O retinol, o principal v i t ã m e r o da v i t a m i n a A, integral, manteiga e margarinas fortificadas. As pró-vitaminas A
será oxidado reversivelmente a retinal - que c o m p a r t i l h a todas carotenóides são obtidas de frutas e vegetais c o m pigmentos
as atividades biológicas d o retinol - ou sofrer posterior oxidação amarelo-alaranjados e de vegetais c o m folhas verdes. O U. S.
a ácido retinóico, q u e d e m o n s t r a parte de sua atividade biológica. N a t i o n a l H e a l t h a n d N u t r i t i o n E x a m i n a t i o n Survey ( N H A N E S -
As formas principais de a r m a z e n a m e n t o de vitamina A são os II) indicou que a p r o x i m a d a m e n t e 2 5 % das necessidades de vita-
492 PARTE IV Analitos

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Figura 2 7 - 2 Formas vitamínicas de A 1 ; A 2 e {3-caroteno
1tdu Mi<

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m i n a A são fornecidos pelos carotenóides e cerca de 7 5 % , pelo Figura 2 7 - 3 Participaçao de vitâmeros A no ciclo visual.
retinol pré-formado.

Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção O u t r a s funções da v i t a m i n a A incluem seu papel na (1)


A vitamina A pré-formada, n a maioria das vezes e m forma de r e p r o d u ç ã o , (2) crescimento e desenvolvimento e m b r i o n á r i o e (3)
éster de retinil ou carotenóides, está sujeita a u m a emulsificação funções imunológicas. N o crescimento n o r m a l e n a m a n u t e n ç ã o
antes de ser transportada pata as células do intestino. Lá, os da integridade das células epiteliais, o ácido retinóico age pela
ésteres de retinil são t r a n s p o r t a d o s através d a m e m b r a n a da ativação dos receptores de ácido retinóico (RAR) e receptores
mucosa e hidrolisados a retinol d e n t r o da célula, para serem retinóides X (RXR) n o núcleo para regular vários genes q u e
reesterificados pela proteína II de ligação ao retinol celular e codificam (1) proteínas estruturais, (2) enzimas, (3) proteínas da
empacotados e m quilomícrons. Estes e n t r a m n o sistema linfático matriz extracelular e (4) R B P e receptores. O retinol, seus meta-
mesentérico passando para a circulação sistêmica. bólitos e retinóides sintéticos p o s s u e m efeitos protetores contra
O s carotenóides, t a m b é m na forma micelar, são absorvidos o desenvolvimento de certos tipos de câncer, (1) b l o q u e a n d o a
pelas células da mucosa d u o d e n a l p o r difusão passiva. A eficiên- p r o m o ç ã o do tumor, (2) i n i b i n d o a proliferação, (3) i n d u z i n d o a
cia da absorção de carotenóides é m u i t o inferior àquela da vita- apoptose, (4) i n d u z i n d o a diferenciação ou (5) pela c o m b i n a ç ã o
m i n a A. U m a vez n o interior das células da mucosa, o P-caroteno dessas ações. Algum cuidado é necessário, entretanto, c o m
é convertido, p r i n c i p a l m e n t e em retinal, pela enzima p-caroteno- relação à utilização de s u p l e m e n t o s de vitamina A ou p-caroteno,
15-15'-dioxigenase, e o retinal é convertido, pela retinal redutase, u m a vez que esses a p a r e n t a m n ã o reduzir a incidência de câncer
e m retinol e esterificado. O s ésteres de retinil recém-sintetizados gastrointestinal e, sem dúvida, p o d e m a u m e n t a r a incidência de
passam, então, c o m os quilomícrons para o fígado, via sistema câncer de p u l m ã o e a m o r t a l i d a d e em certos outros cânceres.
linfático, o n d e a captação pelas células p a t e n q u i m a i s n o v a m e n t e
envolve hidrólise. N o fígado, o retinol é ligado à proteína de Necessidades e Recomendações para ingestão de
ligação ao retinol (RPB, peso molecular ~ 21.000 Da) e transtir- Nutrientes
retina (pré-albumina ligada à tiroxina) (peso molecular 5 5 . 0 0 0 Estudos históricos em seres h u m a n o s adultos sugeriram q u e a
Da) na p r o p o r ç ã o de 1:1:1, f o r m a n d o u m complexo com t a m a n h o ingestão de retinol de 500 a 6 0 0 (ig/dia é necessária para a
suficiente para evitar a perda p o r filtração glomerular. A distri- m a n u t e n ç ã o adequada das concentrações sanguíneas e para pre-
buição do retinol para o tecido é controlada pela disponibilidade venir os sintomas da deficiência. Por exemplo, o Food a n d Nutri-
do complexo proteína-vitamina A n a circulação, embora esse tion Board of the U.S. Institute of Medicine r e c o m e n d a o Equi-
m e c a n i s m o de controle possa ser c o n t o r n a d o por altas doses de valente de Atividade de Retinol (RAE) c o m o base de cálculo para
retinol. A excreção de v i t a m i n a A ocorre via fezes e urina, usual- a ingestão de retinol. Nesse sistema, a razão de equivalência de
m e n t e após conjugação ou oxidação. 1:12:24 é r e c o m e n d a d a (12 pg de p-caroteno ou 24 da mistura
de carotenóides têm a mesma atividade biológica que 1 pg de
Funções retinol). Utilizando esse sistema, as RDAs atuais para a vitamina
A vitamina A possui u m a f u n ç ã o significativa n a visão. O retinol A são RAE de 9 0 0 pg para h o m e n s c o m idade de 19 anos ou
todo-tram é a forma de vitamina A p r e d o m i n a n t e na circulação, e mais e de 700 pg para mulheres, com valores superiores permi-
as células da retina o isomenzam ao álcool 11-eis que é reversiva- tidos na gravidez e n a lactação. ü
m e n t e desidrogenado a 11-cis-retinal. Esse isômero esférico do
aldeído combina-se como u m a base de Schiff ligada a u m radical Deficiência
lisil de u m a proteína apropriada (p. ex., opsma) para gerar pigmen- A deficiência de vitamina A afeta principalmente recém-nascidos
tos fotossensíveis, tais como rodopsina. A iluminação de tais pig- e crianças, e a sua prevalência é objeto de vigilância da Organi-
mentos causa fotoisomerização e a liberação de rednal todo-trans e zação M u n d i a l de Saúde (OMS). O s fatores de risco incluem (1)
a proteína, u m processo que acopla u m a ampla m u d a n ç a confor- pobreza, (2) baixo peso ao nascer, (3) condições sanitárias precá-
m a d o nal com u m influxo de íons e a transmissão pelo nervo ótico. rias, (4) má nutrição, (5) infecção e (6) parasitismo C o m o o
O retinal todo-trans é isometizado a isômero 11-cis, que novamente a c ú m u l o de vitamina A no fígado ocorre d u r a n t e o último tri-
se combina com a proteína liberada para reconstituir o fotopig- mestre de gravidez, os p r e m a t u r o s são relativamente deficientes
mento, n u m ciclo visual mostrado n a Figura 27-3. em vitamina A ao nascerem. Prover u m a ingestão diária de vita-
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 493

m i n a A que alcance u m a R D A de 4 0 0 pg RAE é, p o r t a n t o , produzidas n o fígado têm sido medidas c o m o u m indicador do


i m p o r t a n t e . Recém-nascidos c o m peso inferior a 1.500 g (aqueles estado de vitamina A. A RBP p o d e ser m e d i d a p o r nefelometria,
que nascem antes de 30 semanas de gestação) praticamente n ã o mas sua concentração circulante p o d e ser afetada p o r u m a dieta
possuem vitamina A hepática alguma e estão c o r r e n d o o risco da i n a d e q u a d a em proteínas, energia ou zinco, todos esses necessá-
deficiência de vitamina A . A má absorção de gorduras, particu- rios para a síntese de RBP. U m outro fator q u e causa a imprecisão
l a r m e n t e aquela causada por doença celíaca ou pancreatite da avaliação d o estado de vitamina A é o efeito da resposta de
crônica, e a n u t r i ç ã o p o b r e e m energia e proteína p r e d i s p õ e m à fase aguda. A m b a s R B P e transtiretina são proteínas ausentes n a
deficiência de vitamina A . Doenças do fígado d i m i n u e m a síntese fase aguda, e, assim, as alterações inflamatórias resultarão n a
de RBP, e o abuso de etanol leva a lesões hepáticas e à competi- queda da concentração de ambas as proteínas e n o retinol plas-
ção com o retinol pela álcool desidrogenase, que é necessária para mático. Para distinguir as causas inflamatórias e nutricionais n a
a oxidação do retinol a retinal e ácido retinóico. A deficiência de redução da concentração plasmática do retinol é necessário medir
vitamina A p o d e levar à anemia, embora o m e c a n i s m o exato q u e u m a proteína típica de fase aguda, c o m o a proteína C-reativa
leva à essa doença n ã o seja exatamente c o m p r e e n d i d o . (CRP).
As características clínicas da deficiência de vitamina A são
alterações degenerativas nos olhos e n a pele e dificuldade de Intervalos de Referência
adaptação ao escuro ou cegueira -noturna (nictalopia). Efeitos mais A orientação para intervalos de referência para a vitamina A
sérios da deficiência são xeroftalmia, n a qual a c o n j u n t i v a se plasmática é (1) 20 a 40 [lg/dL (0,70 a 1,40 jj,mol/L) para crian-
torna seca c o m p e q u e n a s placas cinza c o m suiperfície espumosa ças com idade entre 1 e 6 anos, (2) 26 a 49 p g / d L (0,91 a 1,71
(manchas de Bitot), e a queratomálacia, que causa ulceração e p m o l / L ) para crianças com idade entre 7 e 12 anos, (3) 26 a 72
necrose da córnea. U s u a l m e n t e , esses sintomas estão associados p g / d L (0,91 a 2,51 p m o l / L ) para adolescentes c o m idade entre
a alterações n a pele, que incluem (1) secura, (2) aspereza, (3) 13 e 19 anos e (4) 30 a 80 [ i g / d L (1,05 a 2,80 p m o l / L ) para
erupções de pápulas e (4) hiperqueratose folicular. adultos. Valores acima de 30 p g / d L (1,05 p m o l / L ) estão associa-
dos a reservas apreciáveis n o fígado e se correlacionam b e m c o m
Toxicidade a ingestão de vitamina A. D e n t r o d o intervalo de referência,
E m b o r a o metabolismo da vitamina A seja f o r t e m e n t e regulado, valores para h o m e n s são, geralmente, ceTca d e 2 0 % superiores
os efeitos tóxicos da h i p e r v i t a m i n o s e A têm ocorrido c o m o resul- àqueles para mulheres. O intervalo de referência para o p-caro-
tado do excesso de ingestão da vitamina ou como efeito colateral t e n o plasmático é de 10 a 85 [ i g / d L (0,19 a 1,58 p m o l / L ) . Con-
de terapia inapropriada. A hipervitaminose A ocorre (1) após o centrações elevadas são e n c o n t r a d a s em pacientes com hipotireoi-
estoque hepático de retinol ou se seus ésteres excederem 3.000 dismo, nos quais a conversão para vitamina A é d i m i n u í d a , e e m
(ig/g de tecido, (2) após ingestão superior a 30.000 jig/dia por pacientes com hiperlipemia associada ao diabetes meilitus. O inter-
meses ou anos ou (3) se as concentrações plasmáticas de viamina valo de referência para a R B P plasmática é de 3 a 6 m g / d L .
A excederem 140 j i g / d L (4,9 jjmol/L). A intoxicação aguda por
u m a alta dose única é rara. A intoxicação crônica por doses mode- Vitamina D
r a d a m e n t e altas e ingeridas por longos períodos é caracterizada A vitamina D exerce papel essencial, c o m o h o r m ô n i o , no con-
p o r (1) dores nos ossos e nas juntas, (2) perda de cabelos, (3) trole dos metabolismos de cálcio e fósforo. Esse papel é discutido
secura e fissuras nos lábios, (4) anorexia, (5) hipertensão intracra- em detalhes n o C a p í t u l o 38.
niana benigna, (6) perda de peso e (7) hepatomegalia.
Evidências epidemiológicas e experimentais indicam q u e a Vitamina E
ingestão elevada de vitamina A p o r seres h u m a n o s , agindo via A vitamina E é u m antioxidante que atua c o m o u m sequestrador
ácido 13-cis-retinóico, é terá to gê nica. O Food a n d Nutri tion de oxigênio molecular e de radicais livres. Ele t a m b é m tem u m
Board of the U.S. Institute of Medicine tem r e c o m e n d a d o que papel n a respiração muscular.
o limite m á x i m o tolerável de ingestão de vitamina A pré-formada
seja de 3.000 ]ug/dia para h o m e n s e concentrações inferiores para Química
(1) mulheres em idade fértil, (2) recém-nascidos, (3) crianças e (4) Vitamina E é o termo nutricional para o g r u p o de tocoferóis e
adolescentes. 6 A carotenemia resulta da ingestão crônica exces- tocotrienóis de ocorrência natural e que possuem atividade bioló-
siva de alimentos ricos em carotenóides, principalmente cenoura.
Essa condição, e m q u e a pele amarelada é observada, é benigna
u m a vez que o excesso de caroteno é depositado, e n ã o convertido
e m vitamina A.

Avaliação Laboratorial do Estado


A dosagem da concentração plasmática de vitamina A é larga-
m e n t e utilizada para avaliar o estado desta vitamina. Este, n o
e n t a n t o , não é u m indicador ideal p o r q u e n ã o decai até que os H CH
estoques d o fígado atinjam níveis críticos. Acredita-se que isso CT
JL ' „ 1
ocorra q u a n d o observadas concentrações de a p r o x i m a d a m e n t e
20 jig/g de tecido hepática. O s m é t o d o s químicos inicialmente
utilizados, tais como os métodos de Carr-Price e Neeld-Pearson,
p CH3 H
foram inteiramente substituídos p o r cromatografia liquida de TUÚJÇRTÇR.II' >. F
alta eficiência (HPLC). As técnicas de fase normal e de fase CH3 3 CHJ ç
y H
reversa têm sido utilizadas em c o n j u n t o c o m detectores fotomé- T 1 1
- Y 1 w A
tricos, eletroquímicos ou espectrômetro de massa. 5 H H
C o m o o retinol circula n o plasma e m forma de complexo
com R B P e transtirretina n a p r o p o r ç ã o 1:1:1, essas proteínas Figura 2 7 - 4 Formas vitamínicas da vitamina E.
494 PARTE IV Analitos

gica similar ao RRR-a-tocoferol (anteriormente D-a-tocoferol). É trado a associação entre a r e d u ç ã o na ingestão de vitamina E (e
i m p o r t a n t e t a m b é m notar que R R R se refere às posições 2, 4 e 8 outros fatores da dieta) e u m a u m e n t o n a incidência de doença
de R na cadeia de Tocoferol. O s prefixos gregos a , (3, y e 5 indicam crônica, p a r t i c u l a r m e n t e em doenças cardiovasculares e câncer.
a presença o u ausência de g r u p a m e n t o s metil nas posições 5 e 7 Entretanto, a maioria dos estudos que avaliam a s u p l e m e n t a ç ã o
(Figura 27-4). Tocoferóis e tocotrienóis são (1) óleos viscosos à tem f a l h a d o ao tentar d e m o n s t r a r q u a l q u e r benefício.
temperatura ambiente, (2) lipossolúveis e (1) insolúveis em solu-
ções aquosas. Na ausência de oxigênio, os tocoferóis e tocotrienóis Necessidades e Recomendações para a ingestão
t a m b é m são estáveis e m a m b i e n t e ácido e quente, mas sensíveis de Nutrientes
ao oxigênio em soluções alcalinas e n a luz ultravioleta. A q u a n t i d a d e diária necessária de vitamina E está relacionada
com o c o n t e ú d o celular de ácidos graxos poliinsaturados. Acre-
Fontes Dietéticas dita-se q u e a necessidade m í n i m a de v i t a m i n a E para adultos é
As principais fontes dietéticas de vitamina E são (1) óleos e gor- de 3 a 4 m g / d i a para aqueles que c o n s o m e m u m a q u a n t i d a d e
duras, particularmente óleos de germe de trigo e óleo de girassol, m í n i m a de ácidos graxos essenciais n a dieta. Entretanto, a R D A
(2) grãos e (3) nozes. Carnes, frutas e vegetais c o n t r i b u e m p o u c o de v i t a m i n a E para adultos foi a u m e n t a d a , n o ano 2000, pelo
para o f o r n e c i m e n t o de v i t a m i n a E. O gama-tocoferol é a princi- Food a n d N u t r i t i o n Board dos Estados U n i d o s de 10 para 15
pal f o i m a de vitamina E e n c o n t r a d a em diversas sementes utili- m g / d i a . 4 A maioria das recomendações para a ingestão européia
zadas n a dieta nos Estados U n i d o s , mas está presente em apenas está relacionada à ingestão de ácidos graxos poliinsaturados. U m a
u m q u a r t o a u m d é c i m o da concentração de a-tocoferol n o outra modificação nas novas recomendações é de que as necessi-
plasma h u m a n o . dades diárias devem ser alcançadas apenas pelo RRR-a-tocoferol,
u m a vez q u e as outras formas de v i t a m i n a E n ã o são convertidas
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção em a-tocoferol, s e n d o p o b r e m e n t e reconhecidas pela proteína
N a presença da bile, a vitamina E é absorvida n o intestino transportadora de a-tocoferol n o fígado.
delgado. A maioria das formas de vitamina E é absorvida de
maneira não seletiva e excretada nas partículas de quilomícrons. Deficiência
Essas são transportadas para os tecidos periféricos (principal- Recém-nascidos p r e m a t u r o s e c o m baixo peso são particular-
m e n t e o adiposo) com o auxílio da lipoproteína lípase. O fígado m e n t e suscetíveis ao desenvolvimento de deficiência de v i t a m i n a
absorve os quilomícrons remanescentes, o n d e o a-tocoferol é E, u m a vez que a transferência placentária é pobre e os recém-
i n c o r p o r a d o à lipoproteína de densidade m u i t o baixa (VLDL). A nascidos possuem q u a n t i d a d e s limitadas de tecido adiposo. O s
vitamina E é excretada pela bile e n a u r i n a c o m o ácido tecoferô- sinais da deficiência incluem (1) irritabilidade, (2) edema e (3)
nico e seu conjugado (3-glicuronídeo. anemia hemolítica. Apesar de os sintomas da deficiência de vita-
m i n a E serem raros e m crianças e adultos, a deficiência ocorre
em algumas condições. Estados de m á absorção de lipídios, c o m o
Funções na fibrose cística e n a colestase crônica em crianças, são conhe-
A v i t a m i n a E é considerada necessária para (1) funções neuroló- cidos causadores de n e u r o p a t i a e a n e m i a hemolítica, assim c o m o
gicas e reprodutivas, (2) proteção de célula vermelha c o n t r a hemó- da d e s o r d e m genética a b e t a l i p o p r o t e m e m i a (as (Mipoproteínas
lise, (3) prevenção de retinopatia em recém-nascidos p r e m a t u r o s são t r a n s p o r t a d o r a s de v i t a m i n a E).
e (4) inibição de reações e m cadeias de radicais livres da peroxi-
dação de lipídios. Essa última ocorre, principalmente, com os Toxicidade
ácidos graxos poliinsaturados dos fosfolipídios de m e m b r a n a . O s O excesso da ingestão de v i t a m i n a E é u s u a l m e n t e atingido
tocoferóis e tocotrienóis i n i b e m f o r t e m e n t e a peroxidação de apenas p o r suplementação n a dieta e p o d e causar deficiência das
lipídios p o r q u e eliminam radicais peroxil e m velocidades supe- vitaminas D c K, p o r competição pela absorção. U m a revisão
riores àquelas que esses radicais livres reagem com a cadeia de detalhada sobre a ; tolerância e a segurança da vitamina E sugeriu
ácido graxo adjacente o u com as proteínas de m e m b r a n a . O s que a ingestão de até 3 . 0 0 0 m g / d i a é segura Efeitos colaterais
radicais tocoferil e tocotrienil resultantes p o d e m e n t ã o reagir com reversíveis, c o m o (1) sintomas gastrointestinais, (2) creatinúria
outros radicais peroxil para produzir tocoferonas (não são radicais elevada e (3) inibição da coagulação sanguínea, têm sido obser-
livres) ou ser regenerados pela transferência de u m elétron para vados para ingestões entre 1.000 e 3.000 m g / d i a . O Food a n d
o ascorbato, f o r m a n d o o radical ascorbil. Assim, as vitaminas E N u t r i t i o n Board dos Estados U n i d o s t e m r e c o m e n d a d o q u e o
e C agem sinergisticamente para diminuiT a peroxidação de lipí- limite m á x i m o tolerável de ingestão de v i t a m i n a E seja de 1.000
dios (Figura 27-5). Muitas avaliações epidemiológicas têm mos- jig/dia para adultos com 19 anos ou mais. 4

COOH
© 0
/
Radical livre Radical livre Vitamina E
de ascorbato \ \ // TocH o Radical peroxil
de ascorbato
\ / o
(da peroxidação de lipídios)

Desidroascorbsco
/ \ ©
V-\=/'w'00H
Ascorbato Toe " Radical q H i d r o p e r ó x i d o de lipídio
tocoferil
OH

Figura 2 7 - 5 Ação sinérgica entre a v i t a m i n a E e o ácido ascórbico na quebra da reação em cadeia de radicais.
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 495

rrV* P. CA., tjaar.Jo n" 4


.CHJ
NADPH
Desidrogenase depen-

^ T T I
CH3
dente de mDPH

NADP
<£>

Tipo Ki (me n aqui nonas) Q u i n o na


p. ex., ÍCjos) quando n - 7
Ditiol Ditiol reduzido
oxidado Warfarina,
alguns anti-

Redutase bióticos Redutase


Ditiol Ditiol
Figura 2 7 - 6 Formas vitamínicas da vitamina K.
reduzido oxidado

Avaliação Laboratorial do Estado Caiboxilase


0^, CO?
A H P L C é a t u a l m e n t e o m é t o d o p r e f e r e n c i a l para q u a n t i f i c a r os
tocofcróis n o soro. Alfa e y-tocoferóis são principais v i t â m e i o s
o b s e r v a d o s , e m b o r a o u t r o s s e j a m detectáveis c o m p e q u e n a s "R
COOH COOH
m o d i f i c a ç õ e s das c o n d i ç õ e s analíticas. C r o m a t o g r a f i a s gás-líquido I ÒH
H—C—COOH CH :
e d e c a m a d a f i n a têm sido utilizadas p a r a separar tocoferóis e I Hidroquinona
Ep óxido
tocotrienóis. CH 2 CII;
I
Proteína Proteína
Intervalos de Referência Proteína Gla
A r e c o m e n d a ç ã o para intervalos de referência para a v i t a m i n a E
n o soro ou n o p l a s m a ( h e p a r i n a ) são (1) 0,1 a 0,5 m g / d L (2,3 a Figura 27- Ciclo metabólico da vitamina K, o efeito da warfarina
11,6 | i m o l / L ) para n e o n a t o s p r e m a t u r o s , (2) 0,3 a 0,9 m / d L (7 e a formação das proteínas Gla.
a 21 jj,mol/L) para crianças (1 a 12 anos), (3) 0,6 a 1,0 m g / d L
(14 a 23 p,mol/L) para a d o l e s c e n t e s e (4) 0 , 5 a 1,8 m g / d L (12 a
4 2 |J,mol/L) p a r a a d u k o s . fígado, a d i s t r i b u i ç ã o intracelular o c o r r e p r i n c i p a l m e n t e n a
fração m i c r o s s ô m i c a . A liberação d a v i t a m i n a K para a c o r r e n t e
Vitamina K s a n g u í n e a p e r m i t e a associação c o m as p 4 i p o p r o t e í n a s circulantes
A v i t a m i n a K p r o m o v e a c o a g u l a ç ã o s a n g u í n e a e é necessária p a r a v i s a n d o ao t r a n s p o r t e p a r a o u t r o s tecidos.
a conversão d e diversos fatores d a c o a g u l a ç ã o e da p r o r r o m b i n a , E m tecidos m e t a b o l i c a m e n t e ativos e q u e utilizam v i t a m i n a
e t e m s i d o d e interesse crescente n o m e t a b o l i s m o ósseo. K, e s p e c i a l m e n t e o fígado, existe u m ciclo d e v i t a m i n a K micros-
s ô m i c o (Figura 27-7). A v i t a m i n a ( q u i n o n a ) é n o r m a l m e n t e redu-
Química zida à h i d r o q u i n o n a p o r u m sistema d e f l a v o p r o t e í n a sensível ao
O s c o m p o s t o s da série da v i t a m i n a K são as 2-metil-l,4-nafitoqui- tiol, q u e se a c o p l a ao oxigênio e ao d i ó x i d o de c a r b o n o p a r a
n o n a s , q u e a p r e s e n t a m substituições n o C 3 das cadeias laterais. f o r m a r u m a p r o t e í n a c o m r e s í d u o s y-carboxiglutamil, G l a (p. ex.,
As d u a s classes n a t u r a i s p r i n c i p a i s d e v i t a m i n a K são as filoqumo- p r o t r o m b i n a ) . O 2,3-epóxido d e v i t a m i n a K, q u e é mais t a r d e
nas (tipo Ki), sintetizadas p o r p l a n t a s , e as menaquinonas (tipo K 2 ),f o r m a d o , é r e d u z i d o para a f o r m a de v i t a m i n a K inicial ( q u i n o n a ) ,
de o r i g e m b a c t e r i a n a (Figura 27-6). Diversos análogos sintéticos u m processo i n i b i d o p o r a n t a g o n i s t a s da v i t a m i n a K, c o m o , p o r
e derivados t ê m sido utilizados n a n u t r i ç ã o h u m a n a . A m a i o r i a exemplo, a w a r f a r i n a . A p e n a s traços d e m e t a b ó l i t o s u r i n á r i o s d e
está r e l a c i o n a d a à o u é d e r i v a d a d a menadiona (K3), a q u a l n ã o v i t a m i n a s Ki e K 2 a p a r e c e m n a u r i n a . U m a p o r ç ã o considerável
a p r e s e n t a u m a s u b s t i t u i ç ã o n a posição 3 d a cadeia lateral, mas é v i t a m i n a K 3 ( m e n a d i o n a ) é c o n j u g a d a p a r a f o r m a r fi-glicuroní-
c o n v e r t i d a à m e n a q u i n o n a (MK). Esses c o m p o s t o s são d e s t r u í d o s deos e ésteres d e sulfato, q u e são excretados.
p o r soluções alcalinas e agentes r e d u t o r e s e são sensíveis à luz
ultravioleta. Funções
O papel essencial e mais b e m d e f i n i d o d a v i t a m i n a K é o d e f a t o r
Fontes Dietéticas dietético a n t i - h e m o r r á g i c o . U m a carboxilase d e p e n d e n t e de vita-
As p r i n c i p a i s f o n t e s dietéticas d e f i l o q u i n o n a s são (1) vegetais m i n a K c o n v e r t e r e s í d u o s g l u t a m i l específicos e m proteínas-alvo
verdes, (2) m a r g a r i n a s e (3) óleos vegetais, e n q u a n t o as m e n a q u i - a r e s í d u o s y-carboxiglutamil (Gla). Essa y-caiboxilação a u m e n t a a
n o n a s são o b t i d a s d e (1) q u e i j o s , (2) o u t r o s p r o d u t o s lácteos e a f i n i d a d e dessas p r o t e í n a s pelo cálcio. A v i t a m i n a K t a m b é m é
(3) ovos. necessária para a f o r m a ç ã o das p r o t e í n a s Gla (1) p r o t r o m b i n a
(fator II), (2) p r o c o n v e r t i n a (fator VII), (3) c o m p o n e n t e plasmá-
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção tico d a t r o m b o p l a s t i n a (fator IX) e (4) f a t o r de S t u a r t (fator X).
A absorção de vitamina K natural n o intestino delgado para o Essas, e m c o n j u n t o c o m d u a s o u t r a s p r o t e í n a s h e m o s t á t i c a s
sistema linfático é facilitada pela bile. A eficiência d a absorção d e p e n d e n t e s d e v i t a m i n a K, p r o t e í n a s C e S e Ca 2 + , i n i c i a m u m
varia d e 1 5 % a 6 5 % . As v i t a m i n a s Ki e K? são ligadas aos quilo- processo para f o r m a r t r o m b i n a q u e , e n t ã o , catalisa a conversão
m í c r o n s p a r a serem t r a n s p o r t a d a s das células da m u c o s a p a r a o d o f i b r i n o g ê n i o e m u m coágulo de f i b r i n a .
fígado. A m e n a d i o n a (K 3 ) é m a i s r á p i d a e c o m p l e t a m e n t e absor- P r o t e í n a s q u e c o n t é m resíduos y-carboxiglutamil t a m b é m são
vida p e l o i n t e s t i n o antes d e e n t r a r n a c o r r e n t e s a n g u í n e a . N o a b u n d a n t e s n o t e c i d o ósseo, c o m a osteocalcina c o r r e s p o n d e n d o
496 PARTE IV Analitos

a até 8 0 % d o c o n t e ú d o total d e y-carboxiglu tamil d o osso m a d u r o . recalcificado e c o m p a r a n d o o t e m p o de coagulação c o m aquele


O u t r a p r o t e í n a G l a m a j o r i t á r i a , a p r o t e í n a Gla de matriz ( M G P ) d e u m a amostra-controle n o r m a l . N a deficiência d e v i t a m i n a K,
- c o n t e n d o cinco resíduos ycarboxiglutamil - é encontrada na o P T p o d e ser s u p e r i o r a 3 0 s e g u n d o s (normal: 10 até 14 segun-
m u s c u l a t u r a lisa vascular, n o osso e e m m u i t o s tecidos m o l e s dos). Tentativas de p a d r o n i z a ç ã o i n t e r l a b o r a t ó r i o s levou à intro-
(coração, rins e p u l m ã o ) . Actedita-se que a M G P se a c u m u l a e m d u ç ã o d a N o r m a t i z a ç ã o I n t e r n a c i o n a l d a Razão (INR), o n d e P T
sítios de calcificação, i n c l u i n d o as válvulas aórticas e ossos calci- é expresso c o m o u m a f r a ç ã o de t e m p o d a amostra-controle.
ficados, além d e ser u m p o t e n t e i n i b i d o r da calcificação. A dosagem direta de f i l o q u i n o n a plasmática é, provavel-
m e n t e , o m e l h o r i n d i c a d o r d o e s t a d o d a v i t a m i n a K e t e m sido
Necessidades e Recomendações para Ingestão de c o r r e l a c i o n a d o a d e q u a d a m e n t e c o m a ingestão. A avaliação p o r
Nutrientes H P L C t i p i c a m e n t e r e q u e r 0,5 a 2,0 m L de soro o u p l a s m a e
E m b o r a as bactérias residentes d o i n t e s t i n o h u m a n o sintetizem envolve (1) a p r e c i p i t a ç ã o d e p r o t e í n a s e a extração d e lipídios
g r a n d e s q u a n t i d a d e s de m e n a q u i n o n a s , a a b s o r ç ã o desses com- ( g e r a l m e n t e e m h e x a n o ) , (2) a evaporação d o solvente, (3) u m a
p o s t o s t e m s i d o d e difícil d e m o n s t r a ç ã o , e a restrição de v i t a m i n a H P L C preparativa (para isolar a v i t a m i n a K de o u t r o s lipídios),
K n a dieta c o r r o b o r a essa d i f i c u l d a d e . A r e c o m e n d a ç ã o para a (4) a reevaporação d a f r a ç ã o rica e m v i t a m i n a K, (5) diluição n a
ingestão d e v i t a m i n a K foi r e c e n t e m e n t e revisada pelo F o o d a n d fase móvel e (6) H P L C e q u i p a d o c o m detector e l e t r o q u í m i c o ou
N u t r i t i o n B o a r d of t h e U.S. I n s t i t u t e of M e d i c i n e e é de 120 f l u o r i m é t r i c o , f r e q ü e n t e m e n t e após a r e d u ç ã o pós-coluna. Tipi-
jj.g/dia p a r a h o m e n s c o m i d a d e s u p e r i o r a 18 anos e 9 0 |j,g/dia c a m e n t e , os valores de i m p r e c i s ã o e n t r e e x p e r i m e n t o s são de
para m u l h e r e s , i n c l u i n d o aquelas grávidas e lactantes. 6 A ingestão 11% a 18% (coeficiente de v a r i a ç ã o [CV]), c o m limites de detec-
de f i l o q u i n o n a n a dieta d e p o p u l a ç õ e s n o r t e - a m e r i c a n a s e n a ção inferiores a 5 0 p m o l / L .
m a i o r i a das p o p u l a ç õ e s e u r o p é i a s e s t u d a d a s foi e s t i m a d a e m
cerca de 150 j j g / d i a para pessoas acima de 5 5 anos e 8 0 (ig/dia Intervalos de Referência
p a r a i n d i v í d u o s mais jovens. O i n t e r v a l o de referência p a r a a v i t a m i n a K plasmática é 0,13 a
1,19 n g / m L (0,29 a 2 , 6 4 n m o l / L ) .
Deficiência
E m b o r a a deficiência de v i t a m i n a K e m a d u l t o s seja í n c o m u m , Vitamina B1 - Tiamina
o risco a u m e n t a e m estados d e m á absorção d e g o r d u r a s (obstru- V i t a m i n a B! - t a m b é m c o n h e c i d a c o m o t i a m i n a - f o r m a a coen-
ção de d u e t o s biliares, fibrose cística e p a n c r e a t i t e crônica) e zima t i a m i n a p i r o f o s f a t o (TPP). Essa ê necessária para reações
d o e n ç a s hepáticas. O risco t a m b é m a u m e n t a c o m o u s o d e drogas essenciais d e descarboxilação catalisadas pelos complexos piru-
q u e i n t e r f e r e m n o m e t a b o l i s m o d e v i t a m i n a K, tais c o m o os v a t o d e s i d r o g e n a s e e 2-oxoglutarato d e s i d r o g e n a s e .
a n t i c o a g u l a n t e s c u m a r í n i c o s (p. ex., w a r f a r i n a ) ' e alguns antibió-
ticos (p, ex., cefalosporina). A coagulação s a n g u í n e a d e f e i t u o s a e Química
a observação d e p r o t r o m b i n a a n o r m a l , n ã o carboxilada, são até A e s t r u t u r a da tiamina (3-[4-amino-2-metil-pirimidil-5-metil]-4-
o m o m e n t o os ú n i c o s sinais b e m estabelecidos de deficiência d e metil-5-[p-hidroxietil]tiazol) a p r e s e n t a u m anel p i r i m í d i c o , pos-
v i t a m i n a K. s u i n d o u m g r u p a m e n t o a m i n o , ligado a u m anel tiazol p o r u m a
A o c o r r ê n c i a de doença hemorrágica e m recém-nascidos t e m p o n t e m e t i l e n o (Figura 27-8). O tiazol tem u m a cadeia lateral d e
sido a t r i b u í d a à (1) t r a n s f e r ê n c i a i n s u f i c i e n t e de v i t a m i n a K pela álcool p r i m á r i o e m C 5 , q u e é fosforilada in vivo para p r o d u z i r
p l a c e n t a , (2) i m a t u r i d a d e h e p á t i c a , l e v a n d o à síntese i n a d e q u a d a ésteres d e tiamina fosfato, s e n d o o mais c o m u m a T P P ( t a m b é m
d e p r o t e í n a s d a coagulação s a n g u í n e a e (3) baixa c o n c e n t r a ç ã o c o n h e c i d a c o m o t i a m i n a d i f o s f a t o , co-carboxilase). Esteres m o n o -
d e v i t a m i n a K n o leite m a t e r n o n a fase inicial de a m a m e n t a ç ã o . fosfato e trifosfato t a m b é m o c o r r e m .
As c o n c e n t r a ç õ e s d e p r o t r o m b i n a d u r a n t e episódios d e h e m o r -
ragias e m n e o n a t o s são a p e n a s 2 5 % d a c o n c e n t r a ç ã o total e m Fontes Dietéticas
adultos. A d i a r r é i a i n t e n s a e a utilização de a n t i b i ó t i c o s p a r a P e q u e n a s q u a n t i d a d e s de t i a m i n a e seus fosfatos estão presentes
s u p r i m i r a d i a r r é i a e x a c e r b a m essa situação, d e tal f o r m a que n a m a i o r i a dos tecidos vegetais e animais, m a s as f o n t e s mais
q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o d e p r o t r o m b i n a se t o r n a i n f e r i o r a 5 % a b u n d a n t e s são os grãos d e cereais n ã o r e f i n a d o s . O enriqueci-
d a q u e l a d o s adultos, o c o r r e s a n g r a m e n t o . A a d m i n i s t r a ç ã o pro- m e n t o d e f a r i n h a s e de p r o d u t o s alimentícios derivados, sobre-
filática de 0,5 a 1,0 m g de f i l o q u i n o n a i n t r a m u s c u l a r o u d e 2,0 t u d o os cereais matinais, a u m e n t a r a m c o n s i d e r a v e l m e n t e a dis-
m g oral i m e d i a t a m e n t e após o n a s c i m e n t o evita essa c o n d i ç ã o . p o n i b i l i d a d e dessa v i t a m i n a .

Toxicidade Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção


A utilização d e altas doses das v i t a m i n a s K de o c o r r ê n c i a n a t u r a l A a b s o r ç ã o da t i a m i n a o c o r r e p r i m a r i a m e n t e n o i n t e s t i n o delgado
(Kj e K 2 ) n ã o a p a r e n t a causar efeitos nocivos; e n t r e t a n t o , o trata- p r o x i m a l p o r processo saturável ( t r a n s p o r t a d o r de t i a m i n a ) e m
m e n t o c o m m e n a d i o n a (K 3 ) leva à f o r m a ç ã o de inclusões cito- baixas c o n c e n t r a ç õ e s (1 ^ i m o l / L o u inferior) e p o r d i f u s ã o passiva
plasmáticas e m eritrócitos, c o n h e c i d a s c o m o c o r p o s d e H e i n z , e
à anemia hemolítica.

Mil
Avaliação Laboratorial do Estado (li
Por a p r e s e n t a r c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas r e l a t i v a m e n t e baixas
( a p r o x i m a d a m e n t e 5 0 vezes inferiores às de v i t a m i n a D e 10 3 vezes
o ei
mais baixas d o q u e as das v i t a m i n a s A e E), a v i t a m i n a K s e m p r e HjC >r -s
l l
r e p r e s e n t o u u m desafio d o p o n t o de vista analítico. C o n s e q ü e n -
t e m e n t e , a avaliação d a presença de vi t ami na K t r a d i c i o n a l m e n t e d)H ÍH
foi acessada d e m a n e i r a f u n c i o n a l , p r i m a r i a m e n t e pelo efeito da Tiamina pirofosfaco
v i t a m i n a n o t e m p o d e coagulação. O t e m p o de p r o t r o m b i n a (PT)
Figura 2 7 - 8 Tiamina e a coenzima pirofosfato.
é analisado pela adição de t r o m b o p l a s t i n a tecidual ao plasma
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 497

e m concentrações superiores. A tiamina absorvida é fosforilada oftalmoplegia, (7) edema (beribéri úmido), (8) desgaste muscular
n a célula, p r i n c i p a l m e n t e a pirofosfato, mas, d o lado seroso, 9 0 % (beribéri seco), (9) taquicardia e (10) coração a u m e n t a d o . E m
da tiamina transferida está na f o r m a livre. A tiamina é transpor- recém-nascidos, os s i n t o m a s aparecem r e p e n t i n a m e n t e e são
t a d a pelo sangue portal até o fígado. A vitamina livre ocorre n o graves, u s u a l m e n t e envolvendo falha cardíaca e cianose.
plasma, m a s a T P P é o c o m p o n e n t e celular primário. Aproxima- A deficiência de tiamina ocorre por (1) ingestão i n a d e q u a d a
d a m e n t e 3 0 m g são armazenados pelo corpo, sendo 8 0 % como decorrente de dietas d e p e n d e n t e s de grãos beneficiados e n ã o
pirofosfato, 10% c o m o trifosfato e o restante como t i a m i n a e seu enriquecidos, c o m o arroz e trigo, e (2) ingestão de peixes crus
m o n o f o s f a t o . As três enzimas teciduais conhecidas p o r participa- c o n t e n d o tiaminases microbianas. O alcoolismo crônico geral-
rem n a f o r m a ç ã o dos ésteres d e fosfato são (1) tiaminoquinase, m e n t e leva à deficiência de tiamina causada pela redução da
(2) TPP-adenosina trifosfato (ATP) fosforil transferase (5'-adeni- ingestão, d i m i n u i ç ã o na absorção e estoques reduzidos e, clinica-
lico q u i n a s e citossólica) e (3) tiamina trifosfatase. mente, p o d e levar à s í n d r o m e de Wernicke-Korsakoff. O u t r o s
Cerca da m e t a d e dos estoques corporais é e n c o n t r a d a nos grupos de risco incluem (1) aqueles que recebem nutrição paren-
músculos esqueléticos, sendo o restante em maior parte distribu- tal total (TPN) sem a s u p l e m e n t a ç ã o adequada de tiamina, (2)
ído entre coração, fígado, rins e tecidos nervosos (incluindo o pacientes idosos utilizando diuréticos e (3) pacientes que fazem
cérebro, q u e c o n t é m a maior parte do trifosfato). A meia-vida diálise por m u i t o tempo.
estimada d a tiamina é de 9,5 a 18,5 dias.
Toxicidade
Funções N ã o são conhecidos relatos de efeitos adversos por c o n s u m o
A tiamina é necessária ao organismo c o m o pirofosfato (TPP) para excessivo de tiamina de alimentos e s u p l e m e n t o s (suplementos
dois tipos gerais de reação: (1) descarboxilação oxidativa de 2- de 50 m g / d i a são a l t a m e n t e disponíveis sem prescrições).
oxiácidos catalisada p o r complexos de desidiogenases e (2) for-
mação de 2-cetóis (cetoses) catalisada pela transcetolase. A T P P Avaliação Laboratorial do Estado
f u n c i o n a c o m o u m a coenzima c o o r d e n a d a ao Mg2+ n a conhecida C o m o a f u n ç ã o biológica básica da tiamina é a de agir c o m o co-
transferência de "aldeído ativo" e m complexos múltiplos enzimá- f a t o r de pirofosfato e m vários sistemas enzimáticos, duas estraté-
ticos que afetam a conversão descarboxilativa dos ácidos 2-oxiá- gias diferentes de avaliação do estado são utilizadas. E m u m a , o
cidos para os derivados da acetil-coenzima A (acil-CoA), tal c o m o analito, livre ou fosforilado, é d o s a d o d i r e t a m e n t e e m u m f l u i d o
na piruvato desidrogenase e n a 2-oxoglutarato desidiogenase. corporal ou e m u m tecido apropriado. N a segunda, as proprie-
Essas geralmente estão localizadas na mitocôndria, o n d e são efi- dades de co-fator enzimático são exploradas n u m ensaio funcio-
c i e n t e m e n t e utilizadas n o ciclo de Krebs (ciclo dos ácidos tricar- nal. A m b a s as estratégias têm vantagens e desvantagens, mas u m
boxílicos). consenso sobre qual é a mais útil ainda n ã o foi alcançado; as duas
A transcetolase é u m a enzima d e p e n d e n t e de TPP e n c o n t r a d a são provavelmente complementares, cada u m a a p r e s e n t a n d o
n o citosol d e células d e diversos tecidos, especialmente fígado e alguma, mas n ã o todas, as informações necessárias para avaliar a
células do sangue, o n d e as principais vias metabólicas de carboi- tiamina a d e q u a d a m e n t e .
dratos o c o r r e m . N a via das pentoses fosfato, q u e a d i c i o n a l m e n t e A enzima mais c o m u m e n t e utilizada para o ensaio f u n c i o n a l
s u p r e m q u a n t i d a d e s de n i c o t i n a m i d a adenina dinucleotídeo é a transcetolase, e estão disponíveis variados m é t o d o s para a sua
fosfato reduzidas (NADPH), necessárias para as reações de bios- dosagem. N o p r o c e d i m e n t o de Brin, as atividades das formas
síntese, essa enzima catalisa a transferência reversível da porção holo e apo de transcetolase de eritrócitos h e m o h s a d o s são
glicoaldeídica dos dois primeiros carbonos de u m a cetose fosfato medidas antes e depois da adição de TPP. O teste de ativação da
d o a d o r a para u m c a r b o n o aldeídico de u m a aldose fosfato. transcetolase é feito em d u a s etapas: u m a m e d e a atividade basal,
e a outra, o grau e m que a atividade basal é a u m e n t a d a pela T T P
Necessidades e Recomendações para Ingestão de exógena, e cada u m a é i n f l u e n c i a d a p o r diferentes fatores. Existem
Nutrientes evidências de que, e m estados de deficiência crônica, a síntese de
C o m o a t i a m i n a é necessária para o metabolismo de carboidra- a p o e n z i m a p o d e diminuir. E m estudos comparativos das concen-
tos, gorduras e álcool, existe u m a correlação direta e n t r e a neces- trações de T P P em eritrócitos, as melhores correlações são obtidas
sidade e a q u a n t i d a d e de ingestão de alimento metabolizável. com a atividade basal, e n ã o com o coeficiente de ativação.
Existe u m a necessidade maior e m situações nas quais o metabo- A dosagem direta da c o n c e n t r a ç ã o de tiamina circulante p o d e
lismo está a u m e n t a d o (p. ex., e m condições normais de a u m e n t o ser feita n o plasma, nos eritrócitos ou n o sangue total. Acredita-
de atividade muscular, gravidez ou lactação, ou em casos anor- se que a concentração n o plasma ou n o soro reflete a ingestão
mais de febre prolongada, pós-trauma e hipertireoidismo). Sinais recente e é, principalmente, t i a m i n a n ã o fosforilada e e m baixas
clínicos da deficiência em adultos são evitados com ingestões de concentrações (em torno de 10 a 20 n m o l / L ) . C o m o o eritrócito
tiamina superiores a 0,15 a 0,2 m g / 1 . 0 0 0 kcal, m a s 0,35 a 0,4 c o n t é m a p r o x i m a d a m e n t e 8 0 % d o total de tiamina do sangue
m g / 1 . 0 0 0 kcal p o d e m estar mais próximos da q u a n t i d a d e neces- total maioritariamente c o m o pirofosfato, e os estoques dos eri-
sária para m a n u t e n ç ã o da excreção urinária e para a atividade d e trócitos são depletados e m taxas similares a outros órgãos princi-
transcetolase de eritrócito d e p e n d e n t e de T P P d e n t r o dos inter- pais, a dosagem de T P P e m eritrócitos, por H P L C , é u m b o m
valos de referência normais. A R D A atual é 1,2 m g / d i a para indicador de estoques corporais. M é t o d o s típicos e m p r e g a n d o a
adultos d o sexo masculino e 1,1 m g / d i a para mulheres. Necessi- H P L C incluem (1) u m a etapa d e precipitação de proteínas, (2)
dades adicionais são r e c o m e n d a d a s na gravidez e lactação. 2 formação do f l u o r ó f o r o t i o c r o m o pré- ou pós-coluna, u s u a l m e n t e
com ferricianeto alcalino e (3) separação isocrática. Amostras de
Deficiência sangue total p o d e m ser analisadas de maneira similar para eritró-
Beribéri é a doença resultante da deficiência de t i a m i n a . Sinais citos lavados.
clínicos da deficiência de t i a m i n a envolvem, p r i m a r i a m e n t e , os
sistemas nervoso e cardiovascular. N o adulto, os s i n t o m a s mais Intervalos de Referência
f r e q ü e n t e m e n t e observados, são: (1) c o n f u s ã o m e n t a l , (2) anore- Algumas orientações de intervalos de referência para a atividade
xia, (3) fraqueza muscular, (4) ataxia, (5) paralisia periférica, (6) da transcetolase de eritrócito são de 0,75 a 1,30 U / g H b (48,4 a
498 PARTE IV Analitos

83,9 k U / m o l H b ) e, para o efeito n a p e r c e n t a g e m d e T P P (ativa- cífico e m c o n c e n t r a ç õ e s fisiológicas. E m altas c o n c e n t r a ç õ e s , a


ção), 0 % a 1 5 % c o n s i d e r a d o n o r m a l , 16% a 2 5 % m a r g i n a l m e n t e c a p t a ç ã o acontece p o r d i f u s ã o passiva.
d e f i c i e n t e e > 2 5 % g r a v e m e n t e d e f i c i e n t e c o m sinais clínicos. Para A conversão d e r i b o f l a v i n a a c o e n z i m a s o c o r r e n o c i t o p l a s m a
d o s a g e n s d i r e t a s d a c o n c e n t r a ç ã o de TPP, os intervalos típicos de células d a m a i o r i a d o s tecidos, mas, p a r t i c u l a r m e n t e , n o intes-
são 173 a 2 9 3 n m o l / L p a r a eritrócitos e 9 0 a 140 n m o l / L para tino delgado, fígado, c o r a ç ã o e r i m . O p r i m e i r o passo, t a m b é m
sangue total. obrigatório, é a fosforilação d e p e n d e n t e de A T P d a v i t a m i n a
catalisada pela f l a v i n o q u i n a s e . O p r o d u t o F M N é c o m p l e x a d o
Vitamina B2 - Riboflavina c o m a p o e n z i m a s específicas p a r a f o r m a r diversas f l a p r o t e í n a s
A v i t a m i n a B 2 , t a m b é m c o n h e c i d a c o m o riboflavina, é u m com- f u n c i o n a i s , mas a m a i o r p a r t e é p o s t e r i o r m e n t e c o n v e r t i d a e m
p o n e n t e essencial das coenzimas d e flavina a d e n i n a dinucleotí- F A D n u m a s e g u n d a reação d e p e n d e n t e d e A T P e catalisada pela
d e o (FAD) e flavina m o n o n u c l e o t í d e o (FMN), q u e estão envolvi- F A D sintase (pirofosfortlase). E m v i r t u d e d e o e s t o q u e de ribo-
das e m m u i t a s reações redox. flavina ser baixo, a excreção u r i n á r i a reflete a ingestão diária.

Química Funções
V i t a m i n a B z refere-se à r i b o f l a v i n a e seus m e t a b ó l i t o s relaciona- As coenzimas de r i b o f l a v i n a são aptas a participar d e processos
dos, q u e a t u a m c o m o co-fatores de diversas enzimas envolvidas de t r a n s p o r t e d e u m e d e dois e l é t r o n s e têm u m p a p e l central
e m reações d e redução-oxidação. O c o m p o s t o p a r e n t a l , ribofla- n o a c o p l a m e n t o da via d e o x i d a ç ã o d e dois elétrons da m a i o r i a
vina (7,8-dimetil-10-[r-D-ribitil]isoaloxazina) é u m c o m p o s t o dos substratos p a r a a t r a n s f e r ê n c i a d e u m e l é t r o n d a cadeia res-
a m a r e l o f l u o r e s c e n t e . Seu p a p e l fisiológico p r i n c i p a l é a t u a r piratória, e s t a n d o , assim, envolvidas n a p r o d u ç ã o d e energia.
c o m o p r e c u r s o r d e F M N (riboflavina-5'-fosfato) e FAD. A forma- A d i c i o n a l m e n t e , as f l a v o p r o t e í n a s catalisam reações d e (1) desi-
ção d o F M N , pela ação da f l a v i n o q u i n a s e , se d á pela fosforilação drogenações, (2) hidroxilações, (3) descarboxilações oxidativas,
d e r i b o f l a v i n a , e o F A D é f o r m a d o pela ação de F A D sintase, a (4) desoxigenações e (5) r e d u ç õ e s d e oxigênio a p e r ó x i d o d e
partir de F M N e A T P (Figura 27-9). As flavinas são termoestáveis, h i d r o g ê n i o . O u t r a s f u n ç õ e s i m p o r t a n t e s da r i b o f l a v i n a i n c l u e m
p o r é m são sensíveis à luz. o m e t a b o l i s m o d e drogas e m c o n j u n ç ã o c o m enzimas c i t o c r o m o
P-450 e o m e t a b o l i s m o d e lipídios.
Fontes Dietéticas As flavinas t a m b é m a p r e s e n t a m atividades pró-oxidativas e
F o n t e s ricas das f o r m a s da c o e n z i m a são o fígado, r i m e o c o r a ç ã o . antioxidativas. Acredita-se q u e essas c o n t r i b u e m p a r a a u m e n t a r o
M u i t o s vegetais t a m b é m c o n s t i t u e m boas fontes, assim c o m o o estresse oxidativo, peta c a p a c i d a d e de p r o d u z i r s u p e r ó x i d o e p o r
leite, mas os cereais a p r e s e n t a m baixo teor d e flavina. E n t r e t a n t o , catalisar a p r o d u ç ã o d e p e r ó x i d o d e h i d r o g ê n i o . C o m o anti-oxi-
as práticas a t u a i s d e f o r t a l e c i m e n t o e e n r i q u e c i m e n t o destes d a n t e , o F A D é u m a c o e n z i m a da g l u t a t i o n a Tedutase n a regene-
ú l t i m o s os fizeram c o n t r i b u i n t e s significantes d a d e m a n d a ração d e glutationa reduzida a p a r t i r de glutationa oxidada, neces-
diária. sária para a r e m o ç ã o de p e r ó x i d o s d e lipídios. A deficiência d e
riboflavina está associada ao a u m e n t o n a peroxidação d e lipídios.
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção As flavinas t a m b é m t ê m a h a b i l i d a d e de d i m i n u i r as concentra-
A m a i o r q u a n t i d a d e de r i b o f l a v i n a d a dieta é c o n s u m i d a c o m o ções de homocisteína, s e n d o o F A D u m co-fator d a metilenote-
u m c o m p l e x o d e p r o t e í n a s d o s a l i m e n t o s c o m as c o e n z i m a s F M N t r a i d r o f o l a t o r e d u t a s e n a remetilação da h o m o c i s t e í n a .
e FAD. Essas c o e n z i m a s são liberadas da associação n ã o c o v a l e n t e
a p r o t e í n a s pela acidificação gástrica. A v i t a m i n a é absorvida, Necessidades e Recomendações para Ingestão de
p r i m a r i a m e n t e , pelo i n t e s t i n o d e l g a d o p r o x i m a l p o r u m transpor- Nutrientes
t a d o r saturável, d e m a n e i r a r á p i d a e p r o p o r c i o n a l à ingestão, A avaliação da n e c e s s i d a d e d e r i b o f l a v i n a é f u n d a m e n t a d a n a
a n t e s d e atingir u m p l a t ô e m d o s e s p r ó x i m a s a 27 m g de ribofla- relação e n t r e a ingestão e os sinais óbvios de (1) h i p o r r i b o f l a v i -
vina p o r dia. O s sais biliares a p a r e n t e m e n t e facilitam a a b s o r ç ã o . nose, (2) excreção d a v i t a m i n a pela u r i n a , (3) c o n t e ú d o de ribo-
O t r a n s p o r t e de f l a v m a s pela c o r r e n t e s a n g u í n e a h u m a n a envolve flavina e m eritrócitos e (4) atividade d e g l u t a t i o n a r e d u t a s e e m
a ligação f r o u x a à a l b u m i n a e f o r t e a várias globulinas, particu- eritTÓcitos. C o m base e m c o n s i d e r a ç õ e s c o m o essas, a R D A atual
l a r m e n t e i m u n o g l o b u l i n a s . A c a p t a ç ã o de r i b o f l a v i n a pelas foi f i x a d a e m 1,3 m g / d i a p a r a h o m e n s a d u l t o s e 1,1 m g / d i a para
células d o s ó r g ã o s é u m processo q u e r e q u e r u m c a r r e a d o r espe- m u l h e r e s . Necessidades a d i c i o n a i s são sugeridas n a gravidez e
lactação.

Deficiência
A deficiência de r i b o f l a v i n a é caracterizada por (1) d o r de gar-
ganta, (2) hipeTemia, (3) e d e m a s de m e m b r a n a s d a f ar i nge e d a
m u c o s a oral, (4) queilose, (5) e s t o m a t i t e angular, (6) glossite
(língua c o m coloração m a g e n t a ) , (7) d e r m a t i t e seborréica e (8)
a n e m i a n o r m o c í t i c a e normocTÔmica. E n t r e t a n t o , alguns desses
s i n t o m a s , c o m o glossite e d e r m a t i t e , q u a n d o e n c o n t r a d o s nesse
cenário, p o d e m ser r e s u l t a n t e s de complicações associadas a
o u t r a s deficiências.
A p e s a r de a r i b o f l a v i n a ser a m p l a m e n t e e n c o n t r a d a e m ali-
m e n t o s , m u i t a s pessoas vivem l o n g o s p e r í o d o s d e baixa ingestão,
e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , sinais discretos d a deficiência são c o m u n s
e m m u i t a s partes d o m u n d o . E m adição à ingestão i n s u f i c i e n t e ,
FAD a deficiência f u n c i o n a l t e m s i d o i n d u z i d a p o r doenças, tais c o m o
h i p o t i r e o i d i s m o e insuficiência adrenal, q u e i n i b e m a conversão
Figura 2 7 - 9 Riboflavina e FMN como componentes do FAD, d e r i b o f l a v i n a às respectivas coenzimas. E m v i r t u d e da a m p l a
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 499

distribuição das coenzimas d e f l a v i n a rio m e t a b o l i s m o i n t e r m e - Vitamina B6 - Piridoxina, Piridoxamina e


d i á r i o e d o e n v o l v i m e n t o n o m e t a b o l i s m o d o ácido fólico, a Piridoxal
deficiência e m (1) p i r i d o x i n a , (2) v i t a m i n a K e (3) n i a c i n a afetará A piridoxina (piridoxal), a piridoxamina e o piridoxal são as três
sistemas enzimáticos adicionais àqueles q u e r e q u e r e m c o e n z i m a s f o r m a s n a t u r a i s de v i t a m i n a B 6 . Essas são convertidas e m pirido-
de f l a v m a . xal fostato, q u e é r e q u e r i d o p a r a a síntese, c a t a b o l i s m o e inter-
conversão de a m i n o á c i d o s .
Toxicidade
P r o v a v e l m e n t e c o m o r e s u l t a d o das limitações de s o l u b i l i d a d e e Química
a b s o r ç ã o gástrica, n e n h u m efeito adverso t e m sido associado As três f o r m a s naturais: (1) piridoxina (piridoxol) (PN), (2) pirido-
à ingestão d e riboflavina n o t a v e l m e n t e acima das c o n c e n t r a ç õ e s xamina (PM) e (3) piridoxal (PL) são p i r i d i n a s 2'metil-3-hidroxil-5-
da RDA. h i d r o x i m e t i l substituídas em C 4 (Figura 27-10). D u r a n t e as con-
versões metabólicas, cada v i t â m e r o é f o s f o r i l a d o n a p o s i ç ã o 5-
Avaliação Laboratorial do Estado hidroximetil. E m b o r a a p i r i d o x a m i n a 5' fosfato (PMP) e o piri-
O estado n u t r i c i o n a l da riboflavina é avaliado (1) pela d e t e r m i n a - doxal 5 ' fosfato (PLP, P-5'-P) s e j a m f o r m a s interconversíveis de
ção da excreção urinária d a riboflavina, (2) p o r u m ensaio funcio- coenzimas e m reações catalisadas p o r a m i n o t r a n s f e r a s e (transa-
nal utilizando o coeficiente de ativação d a estimulação da enzima minase), PLP é a f o r m a q u e p a r t i c i p a n a a m p l a m a i o r i a das
glutationa r e d u t a s e pelo F A D o u (3) p o r dosagens diretas d e ribo- reações d e p e n d e n t e s d e v i t a m i n a B^-
flavina, ou dos seus metabólitos n o plasma ou nos eritrócitos.
A r i b o f l a v i n a u r i n á r i a é d o s a d a p o r f l u o r i m e t r i a e procedi- Fontes Dietéticas
m e n t o s m i c r o b i o l ó g i c o s , mas, p a r a m e d i d a s especificas, a H P L C , A vitamina Bfi é a m p l a m e n t e distribuída e m tecidos animais e de
c o m b i n a d a c o m a detecção f l u o r i m é t r i c a , é o m é t o d o p r e f e r e n - plantas o n d e as f o r m a s fosforiladas, particular m e n t e o PLP, predo-
cial. E m c o n d i ç ã o de ingestão a d e q u a d a , a q u a n t i d a d e excretada m i n a m . Carnes, aves e peixes são boas fontes, assim c o m o levedu-
d i a r i a m e n t e é s u p e r i o r a 120 (J.g ou 8 0 p.g/g d e c r e a t i n i n a . C o n - ras, d e t e r m i n a d a s sementes, farelo e b a n a n a s . Cereais fortificados
dições q u e l e v a m a u m b a l a n ç o negativo de n i t r o g ê n i o e a admi- p r o n t o s para o c o n s u m o têm sido i m p o r t a n t e s f o n t e s dessa vita-
nistração d e a n t i b i ó t i c o s e d e t e r m i n a d o s psicotrópicos (derivados m i n a . A f o r m a comercial da v i t a m i n a mais c o m u m é o hidrocloreto
d a fenotiazina) elevam as c o n c e n t r a ç õ e s d e riboflavina n a u r i n a , de piridoxina, que é u m sólido hidrossolúvel, b r a n c o e cristalino.
c o m o c o n s e q ü ê n c i a d a d e p l e ç ã o tecidual e d e s l o c a m e n t o .
U m m é t o d o f u n c i o n a l u s u a l p a r a avaliar o estado d a ribofla-
vina é a d e t e r m i n a ç ã o da atividade de g l u t a t i o n a r e d u t a s e e m Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
eritrócitos e o a u m e n t o da atividade com a i n c u b a ç ã o n a p r e s e n ç a As f o n t e s de o r i g e m a n i m a l c o n t ê m p r i n c i p a l m e n t e PLP c o m
de F A D exógeno. 1 2 A maioria dos m é t o d o s avalia a velocidade de alguma PMP, e n q u a n t o as f o n t e s vegetais c o n t ê m t a m b é m piri-
variação d a absorvância, e m 3 4 0 n m , causada pela oxidação d o d o x i n a 5 ' glicosídio, q u e é a b s o r v i d a d e m a n e i r a d i f e r e n t e . As
N A D P H , e foi a u t o m a t i z a d a p a r a a o b t e n ç ã o rápida d e r e s u l t a d o s f o r m a s fosforiladas são h i d r o l i s a d a s pela ação i n t r a l u m i n a l da
e C V s inferiores a 2 % d e n t r o d e u m a avaliação, apesar d e alguns fosfatase alcalina intestinal, m a s o p i r i d o x i d i n a 5'glicosídio é
utilizarem a detecção de fluorescência. E m deficiência p r o l o n g a d a h i d r o l i s a d o p o r glicosidases inespecíficas n o i n t e r i o r das células
de riboflavina, a atividade d a a p o e n z i m a p o d e ser reduzida, de m a n e i r a m e n o s eficiente. O s v i t ã m e r o s não-fosforilados são
l e v a n d o a u m cálculo i n c o r r e t o d o coeficiente de atividade. p r o n t a m e n t e absorvidos pelas células da m u c o s a p o r d i f u s ã o
As d o s a g e n s diretas d e r i b o f l a v i n a , F M N e F A D e m eritróci- passiva. A q u i , c o m o e m o u t r a s células q u e n e c e s s i t a m de B 6 , os
tos ou n o p l a s m a p o d e m ser realizadas p o r H P L C , u s u a l m e n t e v i t ã m e r o s não-fosforilados p o d e m ser " a p r i s i o n a d o s " metabolica-
c o m a detecção p o r f l u o r e s c ê n c i a após a precipitação p r o t é i c a o u m e n t e nas f o r m a s fosforiladas pela f o r m a citoplasmática d a piri-
p o i eletroforese de z o n a de capilaridade, c o m a d e t e c ç ã o d a flu- doxal q u i n a s e , responsável p e l a catálise d e p e n d e n t e de A T P das
orescência i n d u z i d a p o r laser. três f o r m a s d e v i t a m i n a s . O s v i t ã m e r o s são d e f o s f o r i l a d o s a n t e s
de serem t r a n s p o r t a d o s para o fígado, via veia p o r t a l .
Intervalos de Referência A Figura 27-11 m o s t r a o m e t a b o l i s m o intracelular da vita-
O s intervalos d e referência p a r a a r i b o f l a v i n a de eritrócitos, uti- m i n a Bg. A m a i o r i a das células c o n t é m u m a p i r i d o x i n a (pirido-
lizando o m é t o d o f l u o r i m é t r i c o , é d e 10 a 5 0 |Ug/dL (266 a 1.330 x a m i n a ) ^ ' - f o s f a t o oxidase d e p e n d e n t e de F M N responsável p o r
n m o l / L ) e p a r a c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas é de 4 a 24 fJ.g/dL (106 catalisar a conversão d e p e n d e n t e d e oxigênio d a p i r i d o x i n a
a 6 3 8 n m o l / L ) . A o r i e n t a ç ã o p a r a intervalos de referência p a r a fosfato e d a p i r i d o x a m i n a f o s f a t o a P L P (e p e r ó x i d o de hidrogê-
o c o e f i c i e n t e d e ativação da g l u t a t i o n a r e d u t a s e p o r F A D , e m nio). A PLP e n t r a d i r e t a m e n t e n a s organelas celulares, c o m o
eritrócitos, é d e 1,20 (adequação), 1,21 a 1,40 (deficiência margi- m i t o c ô n d r i a s de h e p a t ó c i t o s se ligam a n u m e r o s a s a p o e n z i m a s
nal) e 1,41 o u s u p e r i o r (deficiência). 1 específicas p a r a realizar f u n ç õ e s catalíticas p o r t o d a a célula. E m
adição, os eritrócitos a p r i s i o n a m P L P c o m o u m a base d e Schiff
conjugada c o m hemoglobina. A vitamina B6 muscular representa
8 0 % d o s estoques c o r p o r a i s , m a i o r i t a r i a m e n t e c o m o PLP ligado
a glicogênio fosforilase. Acreditasse q u e o estoque total d e vita-
m i n a B 6 n o c o r p o seja cerca d e 1 m m o l .
R
A liberação d a v i t a m i n a livre, p r i n c i p a l m e n t e piridoxal,
ocorre q u a n d o c o n c e n t r a ç õ e s fisiológicas n ã o - s a t u r a n t e s são
absorvidas. O s fosfatos são e n t ã o h i d r o l i s a d o s pela fosfatase alca-
lina inespecífica localizada n a m e m b r a n a plasmática. A l g u m PLP
é t a m b é m liberado n a circulação p e l o fígado. E m b o r a a PLP seja
a p r i n c i p a l f o r m a tecidual d a v i t a m i n a B 6 e o piridoxal c o n s t i t u a
Figura 2 7 - 1 0 Formas livre e fosforilada da vitamina B^. R =
C H 2 O H para piridoxina, C H 2 N H 2 para piridoxamina e C H O para
m u i t o da v i t a m i n a circulante, o p r i n c i p a l c a t a b ó l i t o excretado n a
u r i n a é o ácido 4-piridóxico (4-PA).
piridoxal
500 PARTE IV Analitos

Difusão e/ou transporte para/do sangue

Aldeído
oxidíLse
Piíidoxamina Piridoxal *" Ácido pirídáxico Piridoxina
\ / \ /* Pi
/ \ /ATt>
lumasí
*.V
?r \ /"ATP
V
"A A-TA k
QuiruiSe Fosfatase uiitase
ADP ADP
Ja* ADP
H,0
Piridoxamina Piridoxal 5'- Piridoxina
5'-fosfaco fosfato 5 -fosfato
Obridose Oxida se

V- y

Figura 27-11 Metaholismo da vitamina

Funções q u e a a p o e n z i m a da g l u t a m a t o descarboxilase t e m a f i n i d a d e defi-


C o m o c o e n z i m a PLP, a v i t a m i n a B 6 f u n c i o n a e m mais d e u m a ciente pela coenzima, (2) acidúria x a n t u r ê n i c a , e m q u e a afini-
c e n t e n a d e reações e n v o l v e n d o o m e t a b o l i s m o d e m a c r o n u t r i e n - d a d e d a c i n u r e n i n a s e m u t a n t e pelo PLP é d i m i n u í d a e (3) h o m o -
tes. E s p e c i a l m e n t e , diversas são as enzimas d e p e n d e n t e s d e PLP cistinúria c a u s a d a p o r u m a c i s t a t i o n i n a P-sintase t a m b é m defei-
envolvidas n o m e t a b o l i s m o de a m i n o á c i d o s e q u e ligam esse tuosa. N e s t e s casos, q u a n t i d a d e s m a i o r e s (200 a 1.000 m g / d i a )
m e t a b o l i s m o às reações cetogênicas e glicogênicas. O u t r o s exem- d e v i t a m i n a a d m i n i s t r a d a são necessárias p o r t o d a a vida d o
plos d e enzimas d e p e n d e n t e s de PLP são (1) a m i n o á c i d o descar- paciente. O estado baixo da v i t a m i n a B 6 (em c o n j u n t o c o m a
boxilases, q u e levam à f o r m a ç ã o d e a m i n a s (p. ex., e p i n e f r i n a , v i t a m i n a B l 2 baixa e o estado d o folato) e m h u m a n o s foi relacio-
n o r e p i n e f r i n a , s e r o t o n i n a e y - a m i n o b u t i r a t o ) , (2) cistefna desulfi- n a d o à h i p e r - h o m o c i s t e i n e m i a , u m f a t o r d e risco i n d e p e n d e n t e
drase e s e r i n o hidroximetiltranfeTase, q u e utiliza PLP para inter- p a r a a d o e n ç a cardiovascular.
ferir n a p e r d a ou t r a n s f e r ê n c i a de cadeias laterais de a m i n o á c i d o s , C l i n i c a m e n t e , a n o r m a l i d a d e s eletroencefalográficas apare-
(3) fosforilase, q u e catalisa a fosforólise das ligações a - 1 , 4 d o c e m d e n t r o d e três s e m a n a s e as convulsões e p i l e p t i f o r m e s são
glicogênio, e (4) c i s t a t i o n i n a p-sintase, n a via d e t r a n s u l f u r a ç ã o c o m u n s e m i n d i v í d u o s jovens deficientes de v i t a m i n a B^. A l é m
d a h o m o c i s t e í n a . A d i c i o n a l m e n t e , a biossíntese d o g r u p a m e n t o disso, o c o r r e m m u d a n ç a s n a pele, i n c l u i n d o d e r m a t i t e c o m quei-
h e m e d e p e n d e d a f o r m a ç ã o inicial de 5 - a m i n o l e v u l i n a t o a p a r t i r tose e glossite. M a n i f e s t a ç õ e s hematológicas p o d e m incluir dimi-
da c o n d e n s a ç ã o d e glicina e succinil-CoA d e p e n d e n t e d e PLP, n u i ç ã o n o n ú m e r o de linfõcitos circulantes e, possivelmente,
seguida d a descaboxilação, e u m i m p o r t a n t e papel n o m e t a b o - a n e m i a n o r m o c í t i c a , microcítica o u sideroblástica.
lismo d e lipídios é a c o n d e n s a ç ã o d e p e n d e n t e de PLP d a L-serina
com o palmitoil-CoA para formar a 3-deidroesfinganina, u m Toxicidade
p r e c u r s o r de esfingomielinas. A p e s a r de n ã o serem c o n h e c i d o s relatos d e efeitos adversos p o r
c o n s u m o excessivo d e a l i m e n t o s c o n t e n d o a v i t a m i n a Bs, suple-
Necessidades e Recomendações para Ingestão de m e n t o oral c o n t e n d o altas doses p r o v o c a m efeitos n e u r o t ó x i c o s
Nutrientes e fotossensibilidade. C o m base n o p o n t o f i n a l d o desenvolvi-
A necessidade de v i t a m i n a Bg é a m p l a m e n t e relacionada c o m a m e n t o de n e u r o p a t i a sensorial, n o s E s t a d o s U n i d o s , as r e c o m e n -
ingestão de proteínas. 2 A p r o p o r ç ã o de 0,016 mg de vitamina dações atuais d e t e r i n i n a m u m a c o n c e n t r a ç ã o m á x i m a tolerável
Bfc/g de p r o t e í n a ingerida é sugerida para adultos n o r m a i s e p o d e p a r a a ingestão de 100 m g / d i a p a r a adultos.
seT extrapolada para crianças e adolescentes. As RDAs propostas
são 1,3 m g / d i a para h o m e n s c o m até 5 0 anos e 1,7 m g / d i a para Avaliação Laboratorial do Estado
h o m e n s c o m idade superior; para m u l h e r e s entre 19 e 50 anos, 1,3 A s s i m c o m o para o u t r a s v i t a m i n a s d o c o m p l e x o B q u e funcio-
m g / d i a , e acima de 50 anos, 1,5 m g / d i a . U m a s u p l e m e n t a ç ã o de n a m c o m o coenzimas, a avaliação b i o q u í m i c a da v i t a m i n a B 6 é
0,6 m g / d i a é sugerida n a gravidez, e d e 0,5 m g / d i a , n a lactação. 2 realizada p o r análises q u í m i c a s diretas d o v i t ã m e r o o u d e seus
metabólitos, o u p o r testes f u n c i o n a i s . Por exemplo, técnicas ana-
Deficiência líticas são utilizadas para m e d i r (1) PLP n o plasma o u e m células
A deficiência d e v i t a m i n a B 6 isolada é i n c o m u m , s e n d o mais vermelhas, (2) seu m e t a b ó l i t o 4-PA n a u r i n a ou plasma, (3) a
u s u a l m e n t e associada a déficits de outras v i t a m i n a s d o c o m p l e x o atividade e o coeficiente de ativação das a m i n o t r a n s f e r a s e s (aspar-
B. A s s i m c o m o para outras v i t a m i n a s hidrossolúveis q u e f u n c i o - tato e alanina) das células v e r m e l h a s e (4) a excreção de m e t a b ó -
n a m c o m o coenzimas, a s i n t o m a t o l o g i a progressiva d a deficiência lito n o teste d e sobrecarga de t r i p t o f a n o 1 . C o m o n e n h u m analito
dessa v i t a m i n a é d e p e n d e n t e da a f i n i d a d e relativa d a c o e n z i m a Teflete a d e q u a d a m e n t e o estado, u m a c o m b i n a ç ã o desses marca-
para u m a d a d a a p o e n z i m a e d a e x t e n s ã o n a qual a reação catalisa dores oferece a m e l h o r a p r o x i m a ç ã o .
pela h o l o e n z i m a é essencial. A l g u m a s interações c o m drogas PLP plasmático e 4-PA u r i n á r i o o u plasmático são os mais
levam à h i p o v i t a m i n o s e (avitaminose) da v i t a m i n a B 6 . 2 Essas c o m u m e n t e d o s a d o s p o r H P L C . PLP é d o s a d o pela detecção da
i n c l u e m a droga a n t i t u b e r c o l o s e isoniazida (hidrazida d o ácido f l u o r e s c ê n c i a dos f l u o r ó f o r o s p r é - f o r m a d o s s e m i c a b a z o n e ou u m
isonicotínico), q u e forma h i d r a z o n a s c o m o piridoxal e c o m o ácido p i r i d ó x i d o f o s f a t o . E d o s a d a a f l u o r e s c ê n c i a n a t u r a l d e
PLP, a p e n i c i l a m i n a , as drogas c o n t r a o m a l de P a r k i n s o n , b e n - 4-PA. U m m é t o d o h o m o g é n e o e n ã o radioativo utilizando u m a
serazida, c a r b i d o p a e teofilina. e n z i m a r e c o m b i n a n t e para avaliar PLP foi descrito e e m p r e g a 5
Existem diversos erros i n a t o s d o m e t a b o l i s m o responsivos à |iL de plasma, t e m limite de detecção de 5 n m o l / L e p o d e ser
v i t a m i n a B^, q u e i n c l u e m (1) convulsões e m recém-nascidos, e m a d a p t a d o a u m analisador a u t o m a t i z a d o .
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 501

A avaliação f u n c i o n a l do estado da vitamina B 6 p o d e ser fisiológica p r e d o m i n a n t e de cobalamina sérica é a metilcobala-


realizada pela atividade e o coeficiente de ativação da aspartato m m a , e n q u a n t o a citossólica é a adenosilcobalamina. A cianoco-
(ou alanina) aminotransferase das células vermelhas incubadas balamina tem peso molecular d e 1.335 D a e é g r a d u a l m e n t e
c o m PLP. Esses testes são m e n o s robustos que aqueles emprega- destruída pela exposição à luz.
dos para as vitaminas Bi e B 2 e considerados m e n o s práticos. A
dosagem de metabólitos urinários de triptofano, particularmente Fontes Dietéticas
o ácido x a n t u r ê n i c o , após a carga oral de 2 a 5 g de L-triptofano, Toda a vitamina Bj 2 é, em última análise, u m p r o d u t o de síntese
é u m dos índices mais c o m u n s utilizados para estudar o estado microbiana, e, em v i r t u d e das plantas n ã o utilizarem essa vita-
n u t r i c i o n a l p o r q u e as m u d a n ç a s são conhecidas p r e c o c e m e n t e e mina, as principais fontes na dieta são (1) carnes e derivados, (2)
as dosagens são relativamente fáceis. laticínios, (3) peixes e mariscos e (4) cereais fortificados p r o n t o s
para a ingestão.
Intervalos de Referência
A orientação do intervalo de referência para o PLP plasmático é Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
de 5 a 30 n g / m L (20 a 121 n m o l / L ) . C o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas A captação de vitamina B n a partir d o intestino para a circulação
inferiores a 5 n g / m L (20 n m o l / L ) são consideradas deficientes. é u m m e c a n i s m o complexo q u e envolve cinco moléculas de
Coeficientes de ativação inferiores a cerca de 1,5 para aspartato ligação à vitamina B12, receptores e transportadores. A vitamina
aminotransferase e 1,2 para alanina aminotransferase são consi- B12 liberada do alimento n o estômago se liga à h a p t o c o r r i n a
derados normais, mas d e p e n d e m , em u m certo nível, do m é t o d o (proteína R, u m a proteína da saliva) e viaja associada até o intes-
utilizado. tino, o n d e a h a p t o c o r r i n a é hidrolisada por enzimas pancreáticas.
A vitamina B ] 2 liberada se liga, então, ao fator intrínseco (IF),
Vitamina B12 - Cianocobalamina u m a glicoproteína com peso molecular de 5 0 kDa, produzida
A vitamina B ) 2 t a m b é m é conhecida c o m o ; c i a n o c o b a l a m i n a . E pelas células da mucosa gástrica. Q u a n d o o complexo vitamina
u m a v i t a m i n a hidrossolúvel e hematopoiética, necessária à matu- B12-IF chega n o íleo distai, este se liga a receptores da superfície
ração dos eritrócitos. das células epiteliais da mucosa e em seguida é internalizado.
D e n t r o dessas células, o complexo vitamina B ]2 -IF se dissocia e a
Química vitamina B 12 se liga à transcobalamina II (TcII). O complexo
V i t a m i n a B ) 2 é u m t e r m o genérico que se refere ao grupo fisio- vitamina B12-TcII é t r a n s p o r t a d o através da m e m b r a n a ligado a
logicamente ativo de substâncias q u i m i c a m e n t e classificadas um receptor de TcII e, então, é liberado n o plasma dos capilares
como c o b a l a m m a s o u corrinóides. Estes são compostos de anéis da mucosa e, s u b s e q ü e n t e m e n t e , n o sangue da veia portal. Q u a s e
tetrapirólicos que circundam á t o m o s centrais de cobalto e de toda a vitamina B ] 2 é capturada pelos hepatócitos, à m e d i d a que
cadeias nucleotídicas laterais ligadas ao cobalto. O anel tetrapi- o sangue circulante na veia portal passa pelo fígado. Essa é arma-
rólico, composto exclusivamente de cobalto e outras cadeias late- zenada n o fígado e liberada n o plasma para suprir a d e m a n d a
rais, é d e n o m i n a d o c o m n a . Todos os compostos que apresentam fisiológica. Se a q u a n t i d a d e de vitamina B 12 excede a capacidade
esse núcleo de corrina são d e n o m i n a d o s corrinóides. O com- dos receptores hepáticos, a maior parte do excesso é excretada
plexo cobalto-corrma é d e n o m i n a d o c o b a m i d a (Figura 27-12). pelos rins. De maneira usual, a p r o x i m a d a m e n t e 1 mg de vita-
As cobalaminas diferem entre si pela natureza dos grupos mina B 12 é armazenado n o fígado, q u a n t i d a d e c o r r e s p o n d e n t e à
laterais adicionais ligados ao cobalto. Exemplos são metil (metil- necessidade metabólica de 2.000 dias. Assim, q u a n d o o supri-
cobalamina), 5'-desoxiadenosina ([desoxiadenosil ou adenosil] m e n t o dietético de vitamina B ] 2 é i n t e r r o m p i d o ou os mecanis-
cobalamina), hidroxil (hidroxocobalamina), H 2 0 (aquacobala- mos de absorção são comprometidos, a deficiência de vitamina
mina) e cianeto (cianocobalamina). A cianocobalamina é u m B12 não é n o t a d a antes de cinco anos ou mais.
composto estável que forma cristais vermelhos escuros em f o r m a A vitamina B 52 é c o n t i n u a m e n t e secretada c o m a bilej mas a
de agulha. Esse é o composto de referência utilizado como cali- maioria é reabsorvida e disponível para as f u n ç õ e s metabólicas.
b r a d o r em m é t o d o s de m e d i d a de cobalamina sérica. A forma Se as concentrações circulantes excederem a capacidade de
captura pelo fígado, o excesso será excretado n a urina, mas n a
NH:
maioria das circunstâncias, a excreção se dá pelas fezes.
N-( N 5 '-deoxiadenosil-
N=^
Funções
CHj-s p
| OH QRI
A vitamina B12 é exigida c o m o coenzima para mais de 12
diferentes sistemas enzimáticos. E m h u m a n o s , é necessária (1)
c o m o coenzima, na forma de adenosilcobalamina, para a L-metil-
cobamida
malonil-CoA m u t a s e na conversão do L-metilmalonil-CoA e m
succinil-CoA, e (2) metilcobalamina, a coenzima da m e t i o n i n a
sintase n a conversão da homocisteina e m m e t i o n i n a . Defeitos
congênitos n a síntese de m u t a s e ou a inabilidade de sintetizar a
5:6-dimetil adenosilcobalamina (adenosil-Cbl) resultam n a necessidade de
-benzim jdaiol tratamentos para toda a vida do paciente da acidúria metilmalô-
nica e da cetoacidose metabólica. Defeitos congênitos na metio-
nina sintase ou na metil-Cbl síntese resultam em hiper-homocís-
CH2OH
teinemia grave.

Necessidades e Recomendações para Ingestão de


Figura 2 7 - 1 2 Estrutura cia S^deoxiadenosil c o b a l a m i n a ( M o d i f i c a d o Nutrientes
d e C h a n a r i n I: T h e megaloblastic anemias, 2 n d ed, O x f o r d : Blackwell O s estoques totais de vitamina B, 2 estão estimados entre 2 e 5
Scientific, 1979 ) mg para u m h o m e m adulto, dos quais 1 m g está n o fígado e u m a
502 PARTE IV Analitos

q u a n t i d a d e m e n o r , n o r i m . Acredita-se q u e h a j a u m a p e r d a diária tação e (6) d e m ê n c i a . Esta d e s o r d e m r e c e b e u o n o m e d e degene-


obrigatória dessa v i t a m i n a , de cerca d e 0 , 1 % d o total c o r p o r a l , ração c o m b i n a d a s u b a g u d a d a m e d u l a espinal.
i n d e p e n d e n t e d o t a m a n h o , s u g e r i n d o q u e a reposição diária p a r a
m a n t e r o e s t o q u e é de 2 a 5 pg. A dieta diária d e p o p u l a ç õ e s Toxicidade
o c i d e n t a i s c o n t é m 5 a 3 0 jig d e v i t a m i n a B ^ , c o m u m a m é d i a N ã o são c o n h e c i d o s os efeitos adversos r e l a c i o n a d o s ao c o n s u m o
de ingestão diária de 7 a 8 jig p o r h o m e n s a d u l t o s e de 4 a 5 p g excessivo d e a l i m e n t o s o u s u p l e m e n t o s dietéticos c o n t e n d o a
p o r m u l h e r e s a d u l t a s . Q u a n t i d a d e s p e q u e n a s adicionais p o d e m v i t a m i n a e m pessoas saudáveis.
ser sintetizadas pela m i c r o b i o t a intestinal. D o total i n g e r i d o , 1 a
5 jig são absorvidos. Avaliação Laboratorial do Estado
A R D A p a r a a v i t a m i n a B12 é b a s e a d a n a q u a n t i d a d e neces- Testes f u n c i o n a i s diretos e indiretos p a r a avaliar o e s t a d o d e
sária p a r a a m a n u t e n ç ã o d o e s t a d o n u t r i c i o n a l h e m a t o l ó g i c o e v i t a m i n a B 1 2 estão disponíveis. O s testes indiretos i n c l u e m ensaios
c o n c e n t r a ç õ e s n o r m a i s n o soro, a s s u m i n d o 5 0 % de aproveita- paTa (1) c o n c e n t r a ç õ e s u r i n á r i a s e sorológicas d o ácido metilma-
m e n t o d a v i t a m i n a ingerida. A R D A para a d u l t o s (19 a 5 0 anos) lônico, (2) h o m o c i s t e í n a plasmática, (3) teste d a supressão de
foi estabelecida e m 2,4 p g / d i a , c o m a u m e n t o de 2,6 ( i g / d i a n a d e s o x i u r i d i n a e (4) teste d a a b s o r ç ã o de v i t a m i n a B ] 2 .
gravidez e 2,8 f l g / d i a n a lactação. 2 Ensaios microbiológicos, de ligação competitiva de proteína
(CPB) e imunológicos t ê m sido empregados para a quantificação
Deficiência direta d a vitamina n o soro. O s ensaios microbiológicos t ê m sido
A deficiência d e v i t a m i n a B 12 e m h u m a n o s está associada à a m p l a m e n t e substituídos p o r outros m é t o d o s mais convenientes e
a n e m i a megaloblástica e à n e u r o p a t i a . A causa mais c o m u m é a precisos, entretanto, p e r m a n e c e m c o m o referência para a determi-
anemia perniciosa, d o e n ç a a u t o - i m u n e c o m a t r o f i a gástrica crônica nação da vitamina B 12 biologicamente ativa. Kits comerciais estão
r e s u l t a n t e de a n t i c o r p o s c o n t r a células gástricas parietais e IF, disponíveis para ensaios de C P B . E m u m ensaio a m p l a m e n t e utili-
dirigidos c o n t r a a H ' / K - A T P a s e das células gástricas parietais zado, a vitamina B 12 (cobalamina) compete com cobalamina marcada
H + / K \ A a n e m i a p e r n ici os a t a m b é m p o d e ocorrer e m crianças com S 7 Co por u m n ú m e r o l i m i t a d o d e sítios de ligação ao IF.
p o r f a l h a n a secreção de IF o u n a secreção d e I F b i o l o g i c a m e n t e A maioria dos testes i m u n o l ó g i c o s utiliza s e p a r a ç ã o e m fase
sólida via imobilização de ligantes d e I F e m esferas ou partículas
inativo. O u t r o s g r u p o s d e risco de deficiência de v i t a m i n a B 12
magnéticas. A v i t a m i n a livre, e n t ã o , p e r m a n e c e n o s o b r e n a d a n t e ,
i n c l u e m aqueles (1) acima de 6 5 anos, (2) c o m q u a d r o d e m á
e os analitos ligados se t o r n a m p a r t e d a fase sólida d a s u s p e n s ã o .
absorção, (3) vegetarianos, (4) p o r t a d o r e s de d e s o r d e n s auto-
Para dosagens s i m u l t â n e a s d e f o l a t o / v i t a m i n a B t 2 , c o n t a d o r e s d e
i m u n e s , (5) e m t r a t a m e n t o c o m drogas q u e s a b i d a m e n t e interfe-
cintilação gama q u e p o s s a m distinguir e n t r e os e l e m e n t o s 5 7 C o
rem na absorção ou n o metabolismo da vitamina, incluindo
(para v i t a m i n a Bi 2 ) e 125I (para o folato) devem ser e m p r e g a d o s .
ó x i d o nitroso, f e n i t o í n a , i ni bi dores da d i i d r o f o l a t o r e d u t a s e ,
M ú l t i p l o s sistemas a u t o m a t i z a d o s e s e m i - a u t o m a t i z a d o s estão dis-
m e t f o r m i n a e i n i b i d o r e s de b o m b a s d e p r ó t o n s e (6) recém-nas-
poníveis p a r a a d o s a g e m d e v i t a m i n a Bi 2 e folato utilizando, p o r
cidos c o m suspeitas d e d e s o r d e n s metabólicas.
exemplo, q u i m i o l u m i n e s c ê n c i a c o m o sinal.
A m á absorção intestinal da v i t a m i n a B] 2 p o d e ser causada p o r
Testes indiretos acessam a a d e q u a ç ã o f u n c i o n a l de v i t a m i n a
gastrectomia o u a m p u t a ç ã o do íleo, h a v e n d o u m a relação inversa
B n . A c o n c e n t r a ç ã o sérica d o ácido m e t i l m a l ô n i c o é a u m e n t a d a
e n t r e o c o m p r i m e n t o d o íleo a m p u t a d o e a absorção de v i t a m i n a
q u a n d o a carência de a d e n i l - C b l b l o q u e i a a conversão de metil-
B 12 . O u t r a s causas de m á absorção são (1) psilose (spru tropical),
m a l o n i l - C o A a succinil-CoA. A h o m o c i s t e í n a plasmática total é
(2) d o e n ç a s i n f l a m a t ó r i a s d o intestino delgado, (3) estase intesti-
u m i n d i c a d o r sensível d o e s t a d o d a v i t a m i n a B n p o r q u e a metil-
nal c o m c r e s c i m e n t o excessivo de bactérias q u e c o n s o m e m a vita-
C b l é necessária p a r a a r e m e t i l a ç ã o d a h o m o c i s t e í n a a m e t i o n i n a ,
m i n a B] 2 ingerida pelo h o s p e d e i r o e (4) infecção pelo vírus d a
mas n ã o é específica, e s t a n d o elevada n a deficiência d o folato e
i m u n o d e f i c i ê n c i a h u m a n a (HIV). Vegetarianos i n g e r e m m e n o s
das v i t a m i n a s B 6 e B 12 . As d o s a g e n s de h o l o t r a n s c o b a l a m i n a II
v i t a m i n a B 12 q u e os onívoros, e, e m b o r a os sinais clínicos sejam são p o t e n c i a l m e n t e úteis c o m o m a r c a d o r e s específicos da vita-
i n c o m u n s , m a r c a d o r e s b i o q u í m i c o s d o estado p o d e m i n d i c a r defi- m i n a B 12 b i o l o g i c a m e n t e disponível, p o r q u e a p e n a s a c o b a l a m i n a
ciência f u n c i o n a l de v i t a m i n a Bi 2 . U m a m p l o n ú m e r o d e d o e n ç a s ligada ao TcII está e s p e c i f a m e n t e disponível para a captação p o r
está associado à deficiência de c o b a l a m i n a e m recém-nascidos o u todas as células. A l g u n s m é t o d o s f o r a m descritos p a r a m e d i r a
n a infância. Dessas, a mais e n c o n t r a d a é a s í n d r o m e de I m e r s l u n d - h o l o t r a n s c o b a l a m i n a n o soro, u m deles utilizando u m a n t i c o r p o
Graesbeck, q u e é caracterizada p o r inabilidade de a b s o r ç ã o de m o n o c l o n a l para t r a n s c o b a l a m i n a h u m a n a imobilizada, e e m
v i t a m i n a B 12 c o m o u s e m IF e p r o t e i n ú r i a . A p a r e n t e m e n t e , essa seguida a dosagem d e c o b a l a m i n a liberada pela C P B . Esse m é t o d o
inabilidade é d e c o r r e n t e d a impossibilidade d o intestino d e absor- está disponível c o m o icit comercial.
ver o complexo B 12 -IF. O s e g u n d o motivo mais c o m u m é a defici- O teste de Schilling serve p r i n c i p a l m e n t e para avaliar a absor-
ência c o n g ê n i t a d e secreção gástrica de IF. ção de v i t a m i n a B 12 , e n ã o o e s t a d o n u t r i c i o n a l d a v i t a m i n a , m a s
O s efeitos h e m a t o l ó g i c o s d a deficiência d e v i t a m i n a B i 2 são p e r m i t e a diferenciação e n t r e as causas d a deficiência d e v i t a m i n a
indistinguíveis d a q u e l e s d e c o r r e n t e s d a deficiência d e f o l a t o . As Bi2 ( a n e m i a perniciosa e m á absorção intestinal). O procedi-
alterações m o r f o l ó g i c a s clássicas n o sangue são (1) h i p e r s e g m e n - m e n t o u s u a l m e d e a r a d i o a t i v i d a d e e m u m a a m o s t r a de u r i n a d e
tação d e n e u t r ó f i l o s , (2) macrocitose, (3) a n e m i a , (4) l e u c o p e n i a 24 horas, coletada após a a d m i n i s t r a ç ã o oral d e 0,5 [ig de vita-
e (5) t r o b o c i t o p e n i a , c o m as alterações megaloblásticas n a m e d u l a m i n a B 12 marcada c o m C o r a d i o a t i v o após o j e j u m de u m a n o i t e .
óssea a c o m p a n h a n d o as alterações n o sangue periférico. T o d a s as E m i n d i v í d u o s n o r m a i s , 8 % ou mais da dose a d m i n i s t r a d a é
lesões d a m e d u l a óssea são reversíveis c o m terapia à base d e excretada n a u r i n a , e n q u a n t o , n a a n e m i a perniciosa, m e n o s de
v i t a m i n a Bn- 1% (geralmente d e 0 % a 3 % ) é excretado. U m teste c o n f i r m a t ó -
E m adição às alterações h e m a t o l ó g i c a s , a deficiência dessa rio para a falta d e IF r e q u e r a ingestão d e v i t a m i n a B 1 2 e IF.
v i t a m i n a p o d e levar à d e s o r d e m d e s m i e l i n i z a n t e d o sistema
n e r v o s o central. Esta d e s o r d e m provoca o u t r a s c o n d i ç õ e s n e u r o - intervalos de Referência
lógicas sérias e f r e q ü e n t e m e n t e irreversíveis, tais c o m o (1) quei- A O M S d e f i n e c o n c e n t r a ç õ e s séricas de v i t a m i n a B 12 inferiores
m a ç ã o ou p e r d a da sensibilidade nas extremidades, (2) fraqueza, a 150 n g / L (110 p m o l / L ) c o m o deficiência e 201 n g / L (147
(3) espasticidade e paralisia, (4) e s t a d o de c o n f u s ã o , (5) d e s o r i e n - p m o l / L ) o u superiores c o m o aceitáveis. 14
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 503

C o n c e n t r a ç õ e s de ácido metilmalônico inferiores a 376 mática pela m a n u t e n ç ã o de íons metálicos n a forma reduzida
n m o l / L têm sido consideradas aceitáveis em populações de (particularmente ferro e cobre). Exemplos são (1) protocolágeno
idosos nos Estados U n i d o s , assim c o m o as inferiores a 320 n m o l / hidroxilase, que hidroxila resíduos prolil e lisil e m peptídeos
L em u m g r u p o de indivíduos idosos alemães. nascentes, e m proteínas d o tecido conectivo, tais c o m o o colá-
geno (2) biossíntese de carnitina, n a qual atua c o m o co-fator para
Vitamina C - Ácido Ascórbico a 6-N-trimetil-lisina hidrolase e y-butirobetaína hid rolas e, (3)
A vitamina C (ácido L-ascórbico) participa como agente redutor degradação da tirosina via 4 - O H fenilpiruvato dioxigenase, (4)
de muitas reações b i o q u í m i c a s de hidroxilação. síntese de h o r m ô n i o s adrenais via d o p a m i n a (3-hidroxilase, (5)
biossíntese de corticosteróides e aldosterona, (6) hidroxilação d o
Química colesterol n a formação de ácidos biliares e (7) metabolismo do
O t e r m o vitamina C refere-se a todas as moléculas que exibem folato e funções leucocitárias.
propriedades antiescorbúticas e m h u m a n o s e inclui o ácido O ácido ascórbico é u m dos mais efetivos antioxidantes
ascórbico e a sua forma oxidada, o ácido diidroascórbico ( D H A ) hidrossolúveis e m fluidos biológicos e é fisiologicamente impor-
(Figura 27-13). O ácido L-ascóibico é a f o r m a enólica da 2-oxo- tante n a depuração de espécies reativas de oxigênio e de nitrogê-
L-gulofuranolactona, e a hidroxila enólica d o C 3 do anel tem u m nio. O radical ascorbil é relativamente estável, graças à estabiliza-
pKa de 4,2, responsável pela sua natureza ácida. As plantas e a ção da ressonância dos elétrons n ã o pareados. O ascorbato rege-
maioria dos animais possuem a habilidade de sintetizar a vita- nera outras moléculas antioxidantes pequenas, i n c l u i n d o (1) a -
mina a partir de D-glicose via lactonas do ácido D-glicurônico e tocoferol, (2) glutationa reduzida, (3) urato e (4) P-caroteno, a
ácidos de L-gulônicos. O s h u m a n o s e outros mamíferos, entre- partir dos seus respectivos radicais, e p o d e p o r t a n t o prevenir
tanto, n ã o possuem a L-gulonolactona oxidase, a enzima que d a n o s oxidativos a macromoléculas biológicas, i n c l u i n d o D N A ,
catalisa a formação de 2-oxo-L-gulonolactona, que espontanea- lipídios e proteínas.
m e n t e tautomeriza a ácido L-ascórbico. Então, a sua ingestão
diária p o r h u m a n o s e alguns mamíferos é essencial. Necessidades e Recomendações para Ingestão de
Nutrientes
Fontes Dietéticas A q u a n t i d a d e necessária de v i t a m i n a C pata aliviar e curar os
Excelentes fontes de vitamina C são (1) frutas cítricas, (2) bagas, sinais clínicos do escorbuto é apenas de 10 m g / d i a , que é, pro-
(3) melões, (4) tomatesj (5) p i m e n t a s verdes, (6) brócolis, (7) vavelmente, p r ó x i m o da necessidade m í n i m a h u m a n a . Essa quan-
couve de Bruxelas e (8) vegetais de folhas verdes. tidade, entretanto, n ã o é a d e q u a d a para m a n t e r a concentração
próxima à saturação dos tecidos em h o m e n s adultos ou m a n t e r
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção o estado nutricional ótimo. A recomendações atuais do Institute
A absorção gastrointestinal d o ácido ascórbico ocorre, em baixas of M e d i c i n e dos Estados Unidos 11 são R D A de 90 m g / d i a para
concentrações, por transporte ativo d e p e n d e n t e de sódio e, em h o m e n s adultos e de 75 m g / d i a para mulheres, c o m o a u m e n t o
altas concentrações, p o r d i f u s ã o simples. O ácido ascórbico da dose d u r a n t e a gravidez e a lactação. Alguns grupos especiais,
absorvido move-se r a p i d a m e n t e das células intestinais para o c o m o os f u m a n t e s , devem tomar 3 5 m g / d i a adicionais.
sangue, por difusão facilitada. A captação de ascorbato é mediada
p o r transportadores d e p e n d e n t e s de sódio e do D H A p o r difusão Deficiência
facilitada por transportadores de glicose. A vitamina C é encon- A deficiência prolongada de vitamina C leva à doença clássica
trada na maioria dos tecidos, mas os tecidos glandulares, c o m o d e n o m i n a d a escorbuto, que ainda é observada em diversos
(1) pituitária, (2) córtex adrenal, (3) c o r p o lúteo e (4) timo, países. O s grupos de risco mais i m p o r t a n t e s incluem (1) h o m e n s
c o n t ê m altas quantidades. A retina possui concentrações de 20 idosos, particularmente os de vida solitária, (2) d e p e n d e n t e s de
a 30 vezes superiores à plasmática. A concentração corporal total álcool, (3) f u m a n t e s , (4) aqueles c o m dieta desbalanceada, (5)
de vitamina C é de 2 g, e a meia-vida biológica, de cerca de 16 alguns pacientes com doenças mentais, (6) pacientes com insufi-
dias. A excreção do ascorbato n ã o m o d i f i c a d o cresce com o ciência renal submetidos à diálise peritoneal ou hemodiálise e (7)
a u m e n t o da dosagem, e as doses ingeridas superiores a 5 0 0 mg alguns pacientes com câncer. A carência de vitamina C leva à
são excretatdas quase t o t a l m e n t e e m 24 horas. D H A que n ã o é inabilidade n a formação a d e q u a d a da substância intercelular do
reciclável p o d e ser delactonizado irreversivelmente para ácido tecido conjuntivo e traz conseqüências c o m o o inchaço, fragili-
2,3-dicetogulõnico e, em seguida, degradado a ácido oxálico para dade e f r e q ü e n t e m e n t e hemorragias ou injúrias das juntas e de
excreção urinária. outras áreas, o n d e o tecido e s t r u t u r a l m e n t e e n f r a q u e c i d o n ã o
suporta a tensão. Alguns pacientes c o m escorbuto p o d e m desen-
Funções volver anemia, alterações radiológicas características de osteopo-
O ácido ascórbico age c o m o co-fator de diversas oxidases de rose ou m o r t e súbita por falha cardíaca. As doenças causadas pela
f u n ç ã o mista em processos n o s quais promove a atividade enzi- deficiência de vitamina C q u e p o d e m refletir sua atuação c o m o
antioxidante incluem (1) risco a u m e n t a d o de doenças coronaria-
nas, c o m o d e m o n s t r a d o e m coorte de h o m e n s finlandeses, e (2)
HO O o o a u m e n t o d o risco de m o r t e p o r infarto, em coorte de pessoas
^1 idosas britânicas.
i '<

I
T ,%
on H,C
i ^OH
Toxicidade
A vitamina C geralmente é b e m tolerada por pessoas saudáveis,
e ingestões suplementares de 2 a 4 g / d i a - c o m o as feitas p o r
ÍH il-I
algumas pessoas para prevenir ou m e l h o r a r o resfriado - geral-
wiliu L-UrCL 1 IICU Ácidos desidroascórbic m e n t e n ã o são arriscadas, e m b o r a sejam relatadas irritações do
trato gastrointestinal. O u t r o s efeitos adversos potenciais, mas
Figura 2 7 - 1 3 Ácidos L-ascórbico e desidioascórbico raros, incluem (1) a u m e n t o n a excreção de oxalato e formação
504 PARTE IV Analitos

de cálculos renais, (2) a u m e n t o na excreção urinária de ácido está principalmente ligada a proteínas. E m adição, alguma biotina
úrico, (3) absorção excessiva de ferro, (4) d i m i n u i ç ã o nas concen- está associada n ã o covalentemente c o m o u m complexo c o m a
trações de vitamina B n , (5) c o n d i c i o n a m e n t o sistêmico e (6) avidina, u m a proteína d a clara d o ovo.
escorbuto recorrente. Ingestões de q u a n t i d a d e s superiores a 200
m g / d i a levam a u m p e q u e n o a u m e n t o de concentrações plasmá- Fontes Dietéticas
ticas n o estado de equilíbrio e sugerem que a sobrecarga de Boas fontes de biotina incluem (1) fígado, (2) rim, (3) pâncreas,
vitamina C seja improvável. O limite máximo tolerável em adultos (4) ovos, (5) levedura e (6) leite. Grãos de cereais, frutas, a maioria
foi estipulado em 2 g / d i a . dos vegecais e carnes são fontes pobres.

Avaliação Laboratorial do Estado Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção


Até o presente m o m e n t o n ã o existem testes funcionais para a A maioT p a r t e da biotina da dieta está associada a proteínas e é
adequação de vitamina C, assim a avaliação laboratorial do estado digerida p o r enzimas gastrointestinais para produzir peptídeos de
é realizada pela m e d i d a direta n o plasma, n a u r i n a ou e m tecidos biotinil, que p o d e m ser hidrolisados p o s t e r i o r m e n t e pela biotini-
das concentrações de ácido ascórbico, de vitamina C total ou, dase intestinal l i b e r a n d o a biotina. A avidina, u m a p i o t e i n a
raramente, de algum metabólito. A concentração plasmática de e n c o n t r a d a na clara do ovo crua, liga-se f o r t e m e n t e à biotina e
ascorbato é considerada u m indicador confiável da captação evita a sua absorção. O peptídeo biocitina (£-N-biotinil lisina) é
dessa molécula e tem sido avaliada f o t o m e t r i c a m e n t e pela oxida- resistente à hidrólise por enzimas proteolíticas n o trato intestinal,
ção c o m 2,4-dinitrofenilidrazina para formaT a bis-hidrazona ver- mas, j u n t a m e n t e c o m a biotina, é p r o n t a m e n t e absorvido. O
melha, ou c o m 2,4-dicloTofenol-indofenol, q u e é reduzido a u m a t r a n s p o r t a d o r multivitamina d e p e n d e n t e de sódio (SMVT) é u m
forma incolor. 13 U m a m a n e i r a mais especifica é utilizar a ascor- carreador de biotina, pelo qual o ácido p a n t o t ê n i c o e o lipoato
bato oxidase para converter ascorbato em desidroascorbato, que c o m p e t e m . O carreador está localizado nas microvilosidades da
é acoplado ao O-fenileno d i a m i n a para f o r m a r u m p r o d u t o que m e m b r a n a intestinal e transporta a biotina contra um gradiente
é m e d i d o p o r fluorimetria ou fotometria. Métodos utilizando de concentração do íon sódio. A enzima biocitinase plasmática
H P L C são mais específicos, mas geralmente c o n s o m e m mais e de eritrócitos catalisa a hidrólise de biocitina para liberar a
tempo. A detecção p o d e ser feita por u m a derivação pré-coluna biotina. A biotina é d e p u r a d a da corrente sanguínea mais rapi-
até quinoxalina fluorescente ou por m é t o d o s eletroquímicos ou d a m e n t e e m mamíferos deficientes do q u e nos normais. Essa é
colorimérricos. 1 O ácido ascórbico leucocitário é considerado u m captada por tecidos c o m o o fígado, músculo e rins e se localiza
indicador mais a d e q u a d o dos estoques corporais que a medida nas carboxilases citossólicas e mitocondriais.
de ascorbato plasmática, mas n ã o foi a d o t a d o a m p l a m e n t e em Cerca da metade da biotina absorvida é excretada c o m o os
virtude de problemas técnicos. Excreção urinária e concentrações metabólitos b i s n o r b i o t i n a e sulfóxido de biotina.
e m células vermelhas d o sangue (RBC) não são consideradas
índices específicos ou úteis do estado de vitamina C. A dosagem Funções
de concentrações urinárias de ácido ascórbico, especialmente A f u n ç ã o principal da biotina n o h o m e m é ser co-fator de reações
após o teste de sobrecarga, tem sido considerada útil n o diagnós- de carboxilação. C i n c o carboxilases são encontradas n o tecido
tico clínico d o escorbuto. 1 3 h u m a n o . U m a delas, u m a acetil-CoA carboxilase, é inativa e p o d e
agir c o m o veículo de a r m a z e n a m e n t o para a biotina. As demais
Intervalos de Referência carboxilases são para (1) acetil-CoA, (2) propionil-CoA, (3) [3-
C o m a ingestão a d e q u a d a de vitamina C, as concentrações plas- metilcrotonil-CoA e (4) piruvato. Essas enzimas o p e r a m p o r u m
máticas do total de vitamina (ácido ascórbico mais ácido desidro- m e c a n i s m o c o m u m , que envolve a fosforilação de b i c a r b o n a t o
ascórbico) são de 0,4 a 1,5 m g / d L (23 a 85 Jjmol/L). Valores pelo A T P para formar carbonil fosfato. Essa reação é seguida pela
inferiores a 0,2 m g / d L (11 (imol/L) são considerados deficiência. transferência de u m grupo carboxíl fosfato para o nitrogênio
A orientação para os intervalos de referência para as concentra- esteticamente m e n o s i m p e d i d o d a porção biotina. A enzima
ções de vitamina C nos leucócitos está entre 20 a 53 (ig/10 8 N(l)-carboxibiotinil resultante e n t ã o troca a f u n ç ã o carboxilato
leucócitos (1,14 a 3,01 fmol/leucócito), com concentrações infe- c o m u m centro reativo n u m substrato. C o m a acetil-CoA carbo-
riores a 10 | i g / 1 0 e leucócitos (0,57 f m o l / l e u c ó c i t o ) consideradas xilase citossólica, o p r o d u t o é malonil-CoA, utilizado na biossín-
deficientes. tese de ácidos graxos. N a m i t o c ô n d r i a , a piruvato carboxilase
catalisa a formação de oxaloacetato, que, e m c o n j u n t o com a
Biotina acetil-CoA, forma citrato. As demais carboxilases estão envolvidas
A biotina t a m b é m é conhecida c o m o vitamina H, o grupo pros- n o metabolismo de ácidos graxos ramificados e c o m n ú m e r o
tético de numerosas reações d e carboxilação. ímpar de átomos de carbono.

Química Necessidades e Recomendações para Ingestão de


A biotina é o ácido cis-tetraidro-2-oxotieno[3,4-ci]-imidazolina-4- Nutrientes
valérico (Figura 27-14). Ma maioria dos organismos, a vitamina C o r r e n t e m e n t e , não existe u m a R D A para biotina. A microbiota
intestinal contribui de maneira significativa para a biotina total
disponível n o corpo, d i f i c u l t a n d o determinação da necessidade
da dieta. C o n s e q ü e n t e m e n t e , f o r a m r e c o m e n d a d o s c o m o inges-
o j tão a d e q u a d a (AI) para adultos (acima de 19 anos) 30 jig/dia.
Biotina /——1—-N
s T y=o U m adicional de 5 [lg/dia é r e c o m e n d a d o e m lactantes. 2

Deficiência
A deficiência de biotina é tara, mas p o d e ser observada (1) com o
c o n s u m o prolongado de clara de ovo crua, (2) na T P N sem suple-
Figura 2 7 - 1 4 Biotina
mentação de biotina e (3) em pacientes com deficiência genética
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 505

d e biotinidase. As deficiências (1) e (2) p o d e m sofrer complicações f o r m a d o e é então reduzido a ácido diidrofólico (H2PteGlu ou
p o r efeitos n a microbiota intestinal q u e p r o d u z b i o t i n a . O s sinto- D H F / F H 2 ) o u a t e t r a i d r o f o l a t o ( H 4 P t e G l u ou T H F / F H 4 ) . A p e n a s
mas incluem (1) anorexia, (2) náusea, (3) vômito, (4) glossite, (5), as f o r m a s reduzidas são b i o l o g i c a m e n t e ativas. O s d e m a i s deriva-
palidez, (6) depressão e (7) d e r m a t i t e seca e escamosa. dos de folato a p r e s e n t a m m ú l t i p l o s resíduos d e ácido g l u t â m i c o
(H^PteGluj,). M ú l t i p l a s f o r m a s de ácido fólico são f o r m a d a s pela
Toxicidade substituição de g r u p o s f u n c i o n a i s , tais c o m o metil, formil, meti-
N ã o f o r a m r e l a t a d o s efeitos adversos da b i o t i n a q u a n d o ingerida l e n o , h i d r o x i m e t i l e o u t r o s n o s á t o m o s de n i t r o g ê n i o n o r e s í d u o
até 3 0 0 vezes o q u e se ingere n a dieta n o r m a l , c o m o o b s e r v a d o d e ácido pteróico, u s u a l m e n t e N 3 ou l i g a n d o N s c o m N l c . A
e m pacientes c o m deficiência d e b i o t i n i d a s e . forma principal é o 5-metiltetraidrofolato.

Avaliação Laboratorial do Estado Fontes Dietéticas


T r a d i c i o n a l m e n t e , a b i o t i n a tem sido d o s a d a em a m o s t r a s bioló- As f o n t e s principais d e a l i m e n t o s c o n t e n d o folato são (1) fígado,
gicas p o r ensaios microbiológicos, e m que o sangue total é pri- (2) e s p i n a f r e , (3) o u t r o s vegetais de folhas verde-escuras, (4)
m e i r a m e n t e digerido c o m p a p a í n a o u p o r hidrólise ácida p a r a l e g u m e s tais c o m o feijões d o s tipos r i m e lima e (5) suco de
liberar a b i o t i n a livre e as a m o s t r a s resultantes são a d i c i o n a d a s a laranja. E m adição, e m países o n d e o f o r t a l e c i m e n t o d e cereais
u m meio que não contém biotina, que é inoculado com u m c o m folato foi estabelecido, esses são f r e q ü e n t e m e n t e a f o n t e
m i c r o r g a n i s m o teste, c o m o , p o r exemplo, o Lãctahacillus planta- m a j o r i t á r i a d o folato d a dieta. D e s d e q u e o p r o g r a m a de fortifi-
rum. O u t r o s m é t o d o s para avaliar a b i o t i n a livre i n c l u e m os cação de t o d o s os grãos c o m ácido fólico (140 jlg p o r 100 g) foi
ensaios de ligação à a v i d m a , p o r ensaio de c o m p e t i ç ã o c o m a i n t r o d u z i d o pela F o o d a n d D r u g A d m i n i s t r a t i o n (FDA) n o s
b i o t i n a ligada ao r a d i o i s ó t o p o 3 H , o u u m ensaio n ã o radioativo E s t a d o s U n i d o s e m 1998, e s t u d o s de p o p u l a ç õ e s t ê m m o s t r a d o
d e a d s o r ç ã o utilizando a e s t r e p t a v i d i n a c o m agente ligante. A o d o b r o das c o n c e n t r a ç õ e s de f o l a t o plasmático. 8
excreção u r i n á r i a de b i o t i n a e d e ácido 3-hidToxiisovalérico p a r e c e
ser u m i n d i c a d o r mais a d e q u a d o d o e s t a d o de b i o t i n a q u e as Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
c o n c e n t r a ç õ e s na c m r e n r e s a n g u í n e a O folato é a b s o r v i d o das fontes, c o m o as listadas acima, princi-
p a l m e n t e c o m o metil- e formil-tetraidropteroilpoliglutamatos
Intervalo de Referência reduzidos. A b i o d i s p o n i b i l i d a d e d o folato d e a l i m e n t o s é variável.
Valores de intervalo d e r e f e r ê n c i a típicos para a b i o t i n a d o s a n g u e A b i o d i s p o n i b i l i d a d e d o ácido fólico c o m o s u p l e m e n t o p o d e ser
total estabelecidos p o r m é t o d o m i c r o b i o l ó g i c o estão e n t r e 0,5 e tão alta q u a n t o 1 0 0 % p a r a s u p l e m e n t o s c a p t u r a d o s pelo estômago
2,20 n m o l / L . vazio, c o m p a r a d a c o m cerca de 5 0 % para folato d e alimentos.
F o r m a s poliglutãmicas d o folato presentes e m a l i m e n t o s são pri-
Ácido Fólico m e i r a m e n t e convertidas e m m o n o g l u t a m a t o s pela piteroilpoliglu-
O ácido fólico é u m caTreador de grupamentos de u m carbono t a m a t o hidrolase n a m u c o s a intestinal. A absorção dos m o n o g l u -
e m muitas reações metabólicas. tamil folatos e m baixas c o n c e n t r a ç õ e s o c o n e p o r u m processo de
t r a n s p o r t e saturável c o m u m m e c a n i s m o adicional de absorção
Química a p a r e n t e m e n t e n ã o saturável q u a n d o as c o n c e n t r a ç õ e s de folato
Folato e ácido fólico são t e r m o s gerais p a r a u m a família d e com- intestinal excedem 5 a 10 [ I m o l / L . A p ó s a captação celular, a
postos q u e f u n c i o n a m c o m o c o e n z i m a s e m p r o c e s s a m e n t o de m a i o r p a r t e d o folato é r e d u z i d a e metilada e e n t r a na circulação
u n i d a d e s d e u m c a r b o n o . Esses são derivados d o ácido p t e r ó i c o c o m o 5-metiltetraidrofolato (5-MTHF), c i r c u l a n d o f r o u x a m e n t e
(Pte), n o q u a l u m a ou mais m o l é c u l a d e ácido g l u t â m i c o estão ligado à a l b u m i n a ou, e m u m grau inferior, à proteína de ligação
associadas. O ácido pteróico é c o m p o s t o por u m a n e l de pteri- ao folato de alta a f i n i d a d e . A captação por d e t e r m i n a d a s células
d i n a ligado a u m r e s í d u o de á c i d o p-aminobenzóico (Figura 27- (rim, placenta e plexo coróide) ocorre p o r m e i o de proteínas d e
15). Q u a n d o o ácido p t e r ó i c o é c o n j u g a d o com u m a m o l é c u l a ligação ao folato associadas à m e m b r a n a , q u e agem c o m o recep-
d e ácido L-glutâmico, o á c i d o pteroilglutâmico (PteGlu) é tores d e folato. U m a vez d e n t r o d a célula, o 5 - M T H F é desmeti-
l a d o e c o n v e r t i d o n a f o r m a p o l i g l u t a m i l pela folilpoliglulamalo
sintase, q u e a j u d a a reter o folato d e n t r o d a célula. Para a liberação
n a circulação, os poliglutamatos são reconvertidos e m m o n o g l u -
t a m a t o s pela p o l i g l u t a m a t o hidrolase.
h
o ° Y ° O ácido fólico e o m e t a b o l i s m o d a v i t a m i n a B ] 2 são ligados
pela reação q u e transfere u m g r u p a m e n t o metil d o 5 - M T H F para
a c o b a l a m i n a . E m casos de deficiência d e c o b a l a m i n a , o folato
é "aprisionado" como 5-MTHF e "metabolicamente morta", e
n ã o é reciclado c o m o t e t r a i d r o f o l a t o (THF).
O folato n o p l a s m a livre d e p r o t e í n a é f i l t r a d o n o glomérulo,
e a m a i o r p a r t e é r e a b s o r v i d a pelos t ú b u l o s renais proximais. O
folato é p r e d o m i n a n t e m e n t e excretado p e l o catabolismo, seguido
d a clivagem da ligação d o C 9 - N 1 0 p a r a p r o d u z i r p-aminobenzoil-
2-NHr4-OH Ácido p- Ácido L-glutâmico
pteridina a minob enzóico p o l i g l u t a m a t o s , os quais são, e n t ã o , h i d r o l i s a d o s a m o n o g l u t a m a -
tos e N-acetilado antes d a excreção. A excreção biliar d o folato
t e m sido e s t i m a d a e m cerca d e 100 \lg/dia, mas m u i t o dele é
Ácido pteróico r e a b s o r v i d o n a circulação ê n t e r o - h e p á t i c a .

Á c i d o fólico Funções
As coenzimas d o folato, e m c o n j u n t o c o m as coenzimas derivadas
Figura 2 7 - 1 5 Esmitura do ácido fólico.
das v i t a m i n a s B12, B 6 e B 2 , são essenciais para m e t a b o l i s m o d e
506 PARTE IV Analitos

u m c a r b o n o . B i o q u i m i c a m e n t e , u m a u n i d a d e de c a r b o n o da folato dietético (DFE) t e m sido utilizado para a j u s t a r p a r a apro-


serina o u glicina é transferida para o T H F p a r a f o r m a r o m e t i l e n o - x i m a d a m e n t e 5 0 % m e n o r a b i o d i s p o n i b i l i d a d e d e folato d e ali-
T H F , q u e é, e n t ã o , (1) utilizado n a síntese de t i m i d i n a (e incor- m e n t o s c o m p a r a d a c o m o á c i d o fólico s u p l e m e n t a r . A s R D A s
p o r a ç ã o ao D N A ) , (2) o x i d a d o a f o r m i l - T H F p a r a ser utilizado n a acuais d o I n s t i t u t e of M e d i c i n e d o s E s t a d o s U n i d o s são de 4 0 0
síntese d e p u r i n a s (precursores de R N A e D N A ) o u (3) r e d u z i d o p g / d i a d e D F E para a d u l t o s de 19 a n o s o u mais, de 6 0 0 p g / d i a
a metil-THF, q u e é necessário para a m e t i l a ç ã o da h o r n o c i s t e í n a de D F E n a gestação e de 5 0 0 p g / d i a de D F E para lactantes 1
à m e t i o n i n a . M u i t o dessa m e t i o n i n a é c o n v e r t i d a e m S-adenosil-
m e t i o n i n a , u m d o a d o r universal de g r u p o s m e t i l para D N A , Deficiência
R N A , h o r m ô n i o s , n e u r o t r a n s m i s s o r e s , lipídios de m e m b r a n a e A deficiência de folato p o d e resultar de (1) ausência de micror-
p r o t e í n a s . D i f e r e n t e s folatos estão envolvidos nessas reações, g a n i m o s intestinais (esterilização d o i n t e s t i n o ) , (2) absorção intes-
d e p e n d e n d o d o estado q u í m i c o dos f r a g m e n t o s de c a r b o n o trans- tinal i n a d e q u a d a (p. ex., a p ó s a m p u t a ç ã o cirúrgica o u d o e n ç a
feridos. celíaca o u spru), (3) ingestão dietética i n s u f i c i e n t e ( i n c l u i n d o
O á c i d o fólico t a m b é m está envolvido n o m e t a b o l i s m o de a l c o o l i s m o crônico), (4) d e m a n d a s excessivas ( c o m o na gravidez,
h o r n o c i s t e í n a . Elevações das c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas d e h o r n o - nas d o e n ç a s de f í g a d o e nas malignidades), (5) a d m i n i s t r a ç ã o d e
cisteína t ê m d e m o n s t r a d o ser fatores de risco i n d e p e n d e n t e s para drogas a n t i f o l a t o (p. ex., m e t o t r e x a t o ) e (6) terapia anticonvulsiva
d o e n ç a s c o r o n a r i a n a s e, p r o v a v e l m e n t e , d o e n ç a s cerebrovascula- (que a u m e n t a a d e m a n d a de folato, e s p e c i a l m e n t e d u r a n t e a
res. O e n v o l v i m e n t o d o f o l a t o e de suas f o r m a s coenzimáticas n o gravidez). A a n e m i a megaloblástica (caracterizada p o r g r a n d e s
m e t a b o l i s m o de hornocisteína e m e t i o n i n a está r e s u m i d o n a eritrócitos n u c l e a d o s d e m a n e i r a a n o r m a l n a m e d u l a óssea) é a
Figura 27-16. O folato é o p r i n c i p a l m i c r o n u t r i e n c e d e t e r m i n a n t e principal m a n i f e s t a ç ã o clínica d a deficiência do folato, e m b o r a
d o estado d e h o r n o c i s t e í n a , e a s u p l e m e n t a ç ã o c o m folato t e m perda sensorial e m u d a n ç a s n e u r o p s i q u i á t r i c a s t a m b é m p o s s a m
sido utilizada c o m o u m a m o d a l i d a d e d e t r a t a m e n t o paTa reduzir ocorrer.
as c o n c e n t r a ç õ e s de h o r n o c i s t e í n a circulante. A e x t e n s ã o dos A gravidez traz u m a d e m a n d a a u m e n t a d a d e estoques d e
b e n e f í c i o s clínicos associados a essa m o d a l i d a d e d e t r a t a m e n t o folato e m v i r t u d e d o a u m e n t o d a síntese de D N A c reações de
permanece desconhecida.9 t r a n s f e r ê n c i a s de u m c a r b o n o , e baixas c o n c e n t r a ç õ e s séricas de
folato na gravidez estão associadas a c o n s e q ü ê n c i a s adversas. Adi-
Necessidades e Recomendações para Ingestão de cionalmente, muitos estudos têm confirmado u m a redução nos
Nutrientes riscos de defeitos d o t u b o n e u r a l ( N T D s ) c o m a s u p l e m e n t a ç ã o
C o m b a s e e m c o n c e n t r a ç õ e s de folato e m a m o s t r a s d e b i ó p s i a de d e á c i d o fólico e m p e r í o d o s q u e a n t e c e d e m a c o n c e p ç ã o .
fígado, e a s s u m i n d o q u e o f í g a d o c o n t é m cerca da m e t a d e de Existem n u m e r o s o s p o l i m o r f i s m o s d e enzimas q u e a f e t a m o
t o d o s os estoques corporais, os e s t o q u e s c o r p o r a i s totais d o folato m e t a b o l i s m o de folato. Dessas, a m a i s e x t e n s i v a m e n t e e s t u d a d a
estão e s t i m a d o s e n t r e 12 e 2 8 m g . E s t u d o s s u g e r e m a n e c e s s i d a d e é a 5,10-metilenotetraidfofolato redutase (MTHFR), a enzima
diária m í n i m a e n t r e 60 e 2 8 0 p g p a r a r e p o r as perdas. 1 3 N o responsável pela r e d u ç ã o irreversível d e 5 , 1 0 - M T H F R a 5-metil-
cálculo da n e c e s s i d a d e n u t r i c i o n a l , o c o n c e i t o de equivalentes de t e t r a i d r o f o l a t o (5-MTF1F), o d o a d o r de m e t i l n a t r a n s f o r m a ç ã o

Dieta . H H NH2
I
Folato (F) . - H,C—S — C C—CH
| \
H H COOH
NADPH
©
+ H NADPH
© / Metionina
+ H ATP
Meti o ninei
Diidrofolato (FHi) -> Tetraidrofolato (FH4)
íideno.5ÍÍ
Dirncril
Serma PPi + Pi transferase
\ / "Ikiuü. ,
VitB6
S-Adenosil metionina
Glicina NP-Meril

N 5 ,N 10 -M etileno FH 4
FH4 transferose e ~ AceptoT
vitamina BJ2 Metil transferase
- Aceptor metilado
N5,N10-M etileno

/
FJHL redutase VitB,
S-Adenosil hornocisteína

N5-Metil FFI4
Adenosina

\ H H NHn
>.cl i IV. HS—C—C—CH
H2N h H,N H II II NH? -\
Cistationana \ I 1 1 /
H H V.OOH
H C — C — SH HC—Ç—S —C—C—CH Cistationina
Hornocisteína
Vit B * X
p-siriMiÊ
HOOC/ H HOOc/ h H H COOH
Vit Bfi
Cisteína Cistationina
+ NH? + a-Cetobutirato

Figura 2 7 - 1 6 Metabolismo de hornocisteína e metionina.


Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 507

d e h o m o c i s t e í n a e m m e t i o n m a . A variante h o m o z i g ó t í c a T T t e m
u m a i n c i d ê n c i a e m t o r n o d e 12% nas p o p u l a ç õ e s asiáticas e
OH "NH-,
caucasianas e u m a p e r d a de atividade enzimática d e cerca de t > 1
5 0 % , e n q u a n t o a v a r i a n t e heterozigótica C T tem u m a i n c i d ê n c i a ' I I xs-
' N''
d e até 5 0 % e m a l g u m a s p o p u l a ç õ e s . U m a o u t r a enzima envolvida
Ácido nicotínico (niacina) Nicotinamida (niacinamida)
n o m e t a b o l i s m o d e folato, a m e t i o n i n a sintase, t a m h é m apre-
senta dois p o l i m o r f i s m o s r e l a t i v a m e n t e prevalentes, apesar d e se
acreditar q u e esses sejam b e n i g n o s . Acredita-se q u e a a b s o r ç ã o NH,
d o folato, a p a r t i r de a l i m e n t o s c o n t e n d o p o l i g l u t a m i l folato, seja HO , 0 , OH N. , X -
r e d u z i d a p o r u m a v a r i a n t e da g l u t a m a t o c a r b o x i p e p t i d a s e II. A- " o o // "f
-o-H-o-H-o-, y - - s > '
r :

C
Toxicidade f y '\ <!>9 AH
N e n h u m efeito adverso tem sido r e l a t a d o pelo c o n s u m o d e ali-
m e n t o s f o r t i f i c a d o s c o m folato, assim, n e n h u m sinal d e toxici-
d a d e é associado à s u p l e m e n t a ç ã o de folato. Pelas l i m i t a d a s evi- a Coenzimas de pitidinas rmcleotídeos
)
V (1
i h

dências, u m a s u p l e m e n t a ç ã o excessiva t i p i c a m e n t e e m doses p—OH NADP


superiores a 10 m g / d i a irá p r e c i p i t a r ou exacerbar n e u r o p a t i a s C!)H
e m i n d i v í d u o s deficientes e m v i t a m i n a B ] 2 e é o f u n d a m e n t o
utilizado p a r a d e t e r m i n a r a c o n c e n t r a ç ã o s u p e r i o r tolerável de 1 Figura 2 7 - 1 7 Niacina, niacinamida e coenzima.
m g A l i a , a p a r t i r de a l i m e n t o s f o r t i f i c a d o s o u s u p l e m e n t o s p a r a
adultos. U m a c o m p l i c a ç ã o r e c o n h e c i d a d a s u p l e m e n t a ç ã o d e
folato é "mascarar" a deficiência de v i t a m i n a Bn, p o r q u e a a n e m i a v i t a m i n a s t e m q u e ser c o n s i d e r a d a , c o m relação ao m e t a b o l i s m o
associada a essa deficiência r e s p o n d e i s o l a d a m e n t e ao folato. Isso e, especialmente, às suas ações farmacológicas e m altas doses. A s
p o d e r e t a r d a r o t r a t a m e n t o da deficiência, p e r m i t i n d o q u e anor- e s t r u t u r a s d o s dois v i t â m e r o s e as duas f o r m a s coenzimáticas são
malidades neurológicas progridam. m o s t r a d a s n a Figura 27- 17-

Avaliação Laboratorial do Estado Fontes Dietéticas


O e s t a d o d o folato p o d e ser avaliado de m a n e i r a confiável p o r F o n t e s d e n i a c i n a i n c l u e m (1) levedura, (2) carnes magras, (3)
d o s a g e n s diretas das c o n c e n t r a ç õ e s n o soro, eritrócitos o u sangue fígado, (4) aves, (5) leite, (6) s a l m ã o e n l a t a d o e (7) diversos vege-
total, e suas f u n ç õ e s m e t a b ó l i c a s c o m o coenzimas pelas c o n c e n - tais de folhas verde-escuras. A d i c i o n a l m e n t e , alguns a l i m e n t o s
trações de m e t a b ó l i t o s , tal c o m o h o m o c i s t e í n a plasmática. As gêneros alimentícios, e s p e c i a l m e n t e cereais c o m o m i l h o e trigo,
c o n c e n t r a ç õ e s de folato séricas são c o n s i d e r a d a s indicativas d e c o n t ê m n i a c i n a ligada a diversos p e p t i d e o s e açúcares e m f o r m a s
ingestão r e c e n t e , e n ã o de e s t o q u e s teciduais, mas d o s a g e n s n u t r i c i o n a l m e n t e n ã o p r o n t a m e n t e disponíveis ( n i a c i n ó g e n o s ou
seriais t ê m sido utilizadas p a r a c o n f i r m a r a ingestão a d e q u a d a . n i a c i t m a ) . C o m o o t r i p t o f a n o é u m p r e c u r s o r d a n i a c i n a , as
A s c o n c e n t r a ç õ e s de folato e m sangue total o u e m eritrócitos são p r o t e i n a s f o r n e c e m u m a p o r ç ã o considerável d o equi val ent e de
indicativos mais a p r o p r i a d o s d e estoques teciduais, e t e m sido n i a c i n a (tão alto q u a n t o dois terços d a d e m a n d a d e niacina). E m
d e m o n s t r a d o q u e estão m o d e r a d a m e n t e c o r r e l a c i o n a d a s c o m as países o n d e a fortificação d e cereais processados é p r a t i c a d a , isso
c o n c e n t r a ç õ e s de folato d o fígado. significa até 2 0 % d a ingestão d e niacina.
E n s a i o s d e C P B a t u a l m e n t e s u b s t i t u e m a m p l a m e n t e procedi-
m e n t o s m i c r o b i o l ó g i c o s pelas dosagens de folato n o s o r o , sangue Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
total o u eritrócitos. O s N A D + e N A D P + da dieta são h i d r o l i s a d o s pelas enzimas da
m u c o s a intestinal para liberar n i c o t i n a m i d a q u e , e m c o n j u n t o
Intervalos de Referência c o m q u a l q u e r á c i d o n i c o t í n i c o , é r a p i d a m e n t e absorvida n o estô-
A coleta d e d a d o s d o N H A N E S d e 1988 a 1994 n o s Estados m a g o e n o i n t e s t i n o p o r d i f u s ã o facilitada d e p e n d e n t e de Na + e m
U n i d o s , n a qual q u a s e 3 . 0 0 0 a m o s t r a s d e sangue f o r a m analisa- baixas c o n c e n t r a ç õ e s e p o r d i f u s ã o passiva e m altas c o n c e n t r a -
das, p r o d u z i u intervalos de referências d e 2,6 a 12,2 Jig/L (6,0 a ções. N i c o t i n a m i d a é a p r i n c i p a l f o r m a circulante n o plasma,
2 8 n m o l / L ) p a r a o folato sérico e 103 a 411 f-lg/L (237 a 9 4 5 após absorção ou pela l i b e r a ç ã o d o N A D h e p á t i c o h i d r o l i s a d o ,
n m o l / L ) p a r a o folato e m eritrócitos; e n t r e t a n t o , essas amostras e depois se d i f u n d e na m a i o r i a d o s tecidos q u e r e q u e r e m N A D .
f o r a m coletadas a n t e s da o b r i g a t o r i e d a d e d e fortificação d e fari- U m a vez d e n t r o das células, o á c i d o n i c o t í n i c o e a n i c o t i n a m i d a
n h a s . A deficiência b i o q u í m i c a foi d e f i n i d a c o m o u m a concen- são convertidos n a s f o r m a s c o e n z i m á t i c a s N o s tecidos, a m a i o r
tração sética de f o l a t o <1,4 |Ug/L (<3,2 n m o l / L ) e <110 p.g/L p a r t e da v i t a m i n a está p r e s e n t e c o m o n i c o t i n a m i d a e m N A D e
(<253 n m o l / L ) p a r a o folato e m eritrócitos. N A D P , e m b o r a o f í g a d o possa c o n t e r u m a f r a ç ã o significativa d e
v i t a m i n a livre. Existe u m p e q u e n o estoque d a f o r m a ni aci na.
Niacina e Niacinamida O excesso d e n i a c i n a é excretado p r i n c i p a l m e n t e c o m o N-
Niflrina e niacinamida ( n i c o t i n a m i d a e a m i d a d o ácido nicotínico) m e t í l n i c o t i n a m i d a ( N M N ) , a p ó s metilação n o fígado.
são c o n v e r t i d a s nas coenzimas r e d o x u b í q u a s n i c o t i n a m i d a
a d e n i n a d i n u c l e o t í d e o (NAD) + e n i c o t i n a m i d a a d e n i n a dinucle- Funções
o t í d e o f o s f a t o (NADP) + . A n i a c i n a é essencial c o m o as c o e n z i m a s N A D e N A D P nas quais
a n i c o t i n a m i d a age c o m o u m a c e p t o r de elétrons ou d o a d o r de
Química h i d r o g ê n i o e m u m a m p l o n ú m e r o de reações redox. M u i t a s das
A niacina refere-se a (1) ácido n i c o t í n i c o (ácido piridína-3-carbo- enzimas f u n c i o n a m c o m o d e s i d r o g e n a s e s e catalisam u m a g r a n d e
xílico), (2) a respectiva a m i d a n i a c i n a m i d a ( n i c o t i n a m i d a ) e (3) diversidade d e reações, tais c o m o a conversão de álcoois e m
derivados q u e a p r e s e n t a m a m e s m a atividade biológica da nico- aldeídos o u cetonas, de h e m i a c e t a i s e m lactonas, aldeídos e m
t i n a m i d a . U m a d i s t i n ç ã o e n t r e as d u a s f o r m a s p r i m á r i a s das ácidos e certos a m i n o á c i d o s e m cetoácidos ( C a p í t u l o 19).
508 PARTE IV Analitos

A m a i o r i a das desidrogenases q u e utiliza N A D o u N A D P ções d o estado n u t r i c i o n a l d e niacina t e m sido baseada n a m e d i d a


f u n c i o n a reversível m e n t e . A g l u t a m a t o desidrogenase, p o r de dois metabólitos urinários, N ' - m e t i l n i c o t i n a m i d a e N'-metil-2-
exemplo, favorece a direção oxidativa, e n q u a n t o outras, c o m o a piridona-5-carboxamida. N o r m a l m e n t e , os adultos excretam 2 0 %
g l u t a t i o n a redutase, p r e f e r e n c i a l m e n t e catalisam r e d u ç ã o . O a 3 0 % de niacina n a f o r m a m e t i l n i c o t i n a m i d a e 4 0 % a 6 0 % c o m o
ácido n i c o t í n i c o , q u a n d o utilizado c o m o u m agente f a r m a c ê u - p i r i d o n a . A razão de excreção e n t r e p i r i d o n a e m e t i l n i c o t i n a m i d a
tico, t e m p r o p r i e d a d e s a n t i a t e r o g ê n i c a s i m p o r t a n t e s . Esse, efeti- de 1,3 a 4 é, p o r t a n t o , n o r m a l , m a s a deficiência latente d e niacina
v a m e n t e , (1) d i m i n u i as c o n c e n t r a ç õ e s d e triglicerídeos, (2) é indicada p o r valores inferiores a 1. A H P L C é o m é t o d o escolhido
a u m e n t a as de H D L colesterol e (3) m u d a as partículas L D L para a t u a l m e n t e , e m b o r a alguns m é t o d o s utilizando eletroforese de
u m f e n ó t i p o m e n o s aterogênico. capilaridade t e n h a m sido desenvolvidos.

Necessidades e Recomendações para Ingestão de Intervalos de Referência


Nutrientes U m a o r i e n t a ç ã o p a r a o i n t e r v a l o de referência para a taxa de
Necessidades de niacina são expressas c o m o equivalentes de excreção d e N ' - m e t i l n i c o t i n a m i d a é de 2,4 a 6,4 m g / d i a (17,5 a
n i a c i n a (NE), q u e levam e m c o n s i d e r a ç ã o a c o n t r i b u i ç ã o d o trip- 46,7 n m o l / d i a ) , o u 1,6 a 4,3 m g / g d e c r e a t i n i n a (11,7 a 31,4
t o f a n o d e r i v a d o d e p r o t e í n a . A ingestão m e d i a n a d e niacina pré- [ i m o l / g d e creatinina). 1 2
f o r m a d a a partir de alimentos, nos Estados U n i d o s , é d e 2 8 m g
p a r a h o m e n s e 18 mg para m u l h e r e s , e u m e s t u d o de d u a s p o p u - Ácido Pantotênico
lações c a n a d e n s e s m o s t r a r a m valores c o r r e s p o n d e n t e s de 41 m g e O á c i d o p a n t o t ê n i c o é u m c o m p o n e n t e d a coenzima ( C o A ) e é
2 8 m g / d i a . A d i c i o n a l m e n t e , a dieta m é d i a n o s Estados U n i d o s necessário para o m e t a b o l i s m o d e g o r d u r a , p r o t e í n a e carboi-
s u p r e e n t r e 0,7 e 1,1 g de t r i p t o f a n o p o r dia. C o m base e m d a d o s drato, via ciclo d o á c i d o cítrico.
d e excreção metabólica de niacina, as R D A s atuais são 16 m g / d i a
d e N E para h o m e n s e 14 m g / d i a para m u l h e r e s . U m a u m e n t o d e Química
4 N E pOT dia d u r a n t e a gravidei é r e c o m e n d a d o e u m a u m e n t o O á c i d o p a i u o i ê n i c u é d e o c o r r ê n c i a u b í q u a n a natureza, o n d e
d e 3 N E é r e c o m e n d a d o d i a r i a m e n t e para lactantes. 1 é sintetizado pela m a i o r i a d o s m i c r o r g a n i s m o s e p l a n t a s a p a r t i r
d o á c i d o p a n t ó i c o (ácido D-2,4-diidroxi-3,3-dimetilbutírico) e Ji-
Deficiência alanina. A adição de c i s t e a m i n a à e x t r e m i d a d e C - t e r m i n a l e a
A pelagra é a d o e n ç a h u m a n a clássica d e c o r r e n t e da deficiência e fosfoTilação f o r m a m a 4 ' - f o s f o p a n t e t e í n a , q u e atua c o m o u m
q u e t e m sido observada e n t r e aqueles q u e c o n s o m e m principal- g r u p o prostético associado c o v a l e n t e m e n t e às p r o t e í n a s carreado-
m e n t e u m a d i e t a baseada e m m i l h o , q u e é p o b r e e m n i a c i n a e ras d e acil e c o m o p a r t e da C o A (Figura 27-18). A f o r m a sintética
t r i p t o f a n o . E m b o r a sua p a t o g ê n e s e seja associada a u m a defici- comercial m a i s c o m u m é o sal de cálcio.
ência desses dois fatores, o u t r o s fatores c o m p l i c a d o r e s associados
são as carências d e PLP, F A D e ferro, q u e a t u a m n a c o n v e r s ã o d e Fontes Dietéticas
t r i p t o f a n o e m niacina. A pelagra t a m b é m é u m a m a n i f e s t a ç ã o O ácido pantotênico é a m p l a m e n t e distribuído e m alimentos,
ocasional e s e c u n d á r i a n a síndrome carcinóiãe, n a q u a l até 6 0 % d o m a j o r i t a r i a m e n t e e m c o m p o s t o s c o n t e n d o C o A , e é particular-
t r i p t o f a n o é catabolizado a 5 - O H t r i p t o f a n o e s e r o t o n i n a ; n a m e n t e a b u n d a n t e e m (1) a l i m e n t o s d e o r i g e m a n i m a l , (2) legumes,
doença de Hartnup u m a d e s o r d e m recessiva a u t o s s ô m i c a n a q u a l (3) grãos d e cereais n ã o - b e n e f i c i a d o s , (4) g e m a de ovo, (5) r i m ,
diversos a m i n o á c i d o s , i n c l u i n d o o t r i p t o f a n o , são p r e c a r i a m e n t e (6) f í g a d o e (7) levedura.
absorvidos; e e m t r a t a m e n t o s a n t i t u b e r c u l o s e c o m a droga iso-
niazida, q u e c o m p e t e c o m o PLP. A a p r e s e n t a ç ã o típica da pelagra Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
é d e u m a d o e n ç a c r ô n i c a d e g e n e r a t i v a associada a d e r m a t i t e , O ácido p a n t o t ê n i c o é o b t i d o n a dieta c o m o c o m p o s t o s de C o A
d e m ê n c i a e diarréia. e 4 ' - f c s f o p a n t e t e í n a , e é h i d r o l i s a d o pela pirofosfatase e pela
fosfatase f o r m a n d o d e f o s f o - C o A , f o s f o p a n t e t e í n a e p a n t e t e í n a n o
Toxicidade l ú m e n intestinal q u e , p o s t e r i o r m e n t e , são h i d r o l i s a d o s f o r m a n d o
E m b o r a n e n h u m efeito tóxico t e n h a sido associado à ingestão de o ácido p a n t o t ê n i c o . A v i t a m i n a é p r i m a r i a m e n t e a b s o r v i d a
n i a c i n a de a l i m e n t o s n a t u r a i s , o uso de s u p l e m e n t o s e doses c o m o ácido p a n t o t ê n i c o p o r u m processo saturável e m baixas
farmacológicas d e n i a c i n a p r o d u z i u efeitos adversos e m alguns
i n d i v í d u o s . E m d e s o r d e n s e m q u e h á d i s p o n i b i l i d a d e d e tripto-
f a n o reduzida, c o m o a d o e n ç a d o H a r t n u p e a s í n d r o m e carci-
4Fosfopa n te Ce inil
n ó i d e , doses diárias d e n i a c i n a d e 4 0 e 2 0 0 m g p o d e m ser
necessárias, e, n o t r a t a m e n t o d e dislipidemias, até 6 g diários W1-.
Pantotenil
p o d e m ser utilizados. Tais doses são c o m u m e n t e associadas à 1

^^ J
vasodilatação ou " r u b o r " , u m a q u e i m a ç ã o ou sensação de formi- OH CH, N
í O

\/
g a m e n t o da face ( q u e p o d e ficar ruborizada), d o b r a ç o e d o peito,
H L ! : — C H J — O — P — O — P — O-
e acredita-se q u e é m e d i a d a p o r p r o s t a g l a n d i n a s . O u t r o s efeitos

w
CH 3 AH AH
colaterais d e t r a t a m e n t o s c o m altas doses de n i a c i n a são (1) í HN
p r u r i d o , (2) n á u s e a , (3) v ô m i t o e (4) diarréia, e m b o r a esses sinto-
m a s f r e q u e n t e m e n t e d i m i n u a m c o m terapia c o n t í n u a . O s sinto- Ó ÒH

m a s d e ruboT t ê m sido i n t e r p r e t a d o s c o m o endpoint n a f o r m u l a - Coeniima A O OH


u».
ção d e u m a c o n c e n t r a ç ã o de ingestão m á x i m a tolerável para H N ^ O
AH
n i a c i n a , q u e foi estabelecida e m 3 5 m g / d i a para a d u l t o s .

l*
Avaliação Laboratorial do Estado
A t é o m o m e n t o , n e n h u m m a r c a d o r s a n g u í n e o é c o m u m e n t e uti- Figura 2 7 - 1 8 Pantotenato e 4'-fosfopanteteína como componente
lizado c o m o indicador d o e s t a d o de niacina. A maioria das avalia- de CoA.
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 509

c o n c e n t r a ç õ e s e p o r d i f u s ã o simples e m c o n c e n t r a ç õ e s altas. O Intervalos de Referência


processo saturável é facilitado p o r u m t r a n s p o r t a d o r multivita- A excreção u r i n á r i a d o ácido p a n t o t ê n i c o inferior a 1 m g / d i a é
m i n a d e p e n d e n t e de s ó d i o . A p ó s a absorção, o ácido p a n t o t ê n i c o c o n s i d e r a d a e x t r e m a m e n t e baixa. A suspeita de ingestão inade-
e n t r a n a circulação e é c a p t a d o pelas células de u m a m a n e i r a q u a d a é p o s t e r i o r m e n t e c o r r o b o r a d a se as c o n c e n t r a ç õ e s d o
similar à sua absorção intestinal. A síntese de C o A a p a r t i r d e s a n g u e f o r e m inferiores a 100 (J.g/L. A o r i e n t a ç ã o para i n t e r v a l o
p a n t o t e n a t o é regulada pela p a n t o t e n a t o q u m a s e . O ácido p a n - de referência p a r a o ácido p a n t o t ê n i c o n o sangue total ou n o
t o t ê n i c o é excretado n a u r i n a após a hidrólise d e c o m p o s t o s d e s o r o é de 3 4 4 a 5 8 3 H g / L (1,57 a 2,66 p m o l / L ) e p a r a a excreção
C o A pelas enzimas q u e clivam as porções fosfato e cisteamina. u r i n á r i a é de 1 a 5 m g / d i a (5 a 6 8 f i m o l / L ) .

Funções ELEMENTOS-TRAÇO
O ácido p a n t o t ê n i c o tem dois papéis m e t a b ó l i c o s p r i n c i p a i s (1) O t e r m o eíemento-traço era o r i g i n a l m e n t e utilizado para descrever
c o m o p a r t e da C o A e (2) c o m o g r u p o prostético d a p r o t e í n a a q u a n t i d a d e de analito i n o r g â n i c o residual d e t e r m i n a d o q u a n -
c a r r e a d o r a d e acil (ACP). N o p r i m e i r o papel, a C o A está p r i m a - t i t a t i v a m e n t e e m u m a a m o s t r a . M é t o d o s analíticos mais sensíveis
r i a m e n t e envolvida e m reações d e t rans ferênci a d e acetil e acil a t u a l m e n t e f o r n e c e m q u a n t i f i c a ç ã o mais a c u r a d a d a m a i o r i a d o s
e m processos catabóíicos de c a r b o i d r a t o s , lipídios e proteínas. m i c r o n u t r i e n t e s i n o r g â n i c o s presentes e m c o n c e n t r a ç õ e s m u i t o
E n q u a n t o p o r ç ã o 4 ' - f o s f o p a n t e t e í n a d a ACP, o g r u p o prostético, baixas e m f l u i d o s c o r p o r a i s e tecidos. A q u e l e s presentes e m
associado p o r ligação fosfodiéster, utiliza a e x t r e m i d a d e sulfidril f l u i d o s c o r p o r a i s ((.ig/dL) e e m tecido ( m g / k g ) são, e n t r e t a n t o ,
para trocar c o m m a l o n i l - C o A , para f o r m a r u m a ACP-S m a l o n i l a i n d a a m p l a m e n t e referidos c o m o "elementos-tiaço", e aqueles
tioéster, q u e tem a cadeia a l o n g a d a d u r a n t e a biossíntese d e e n c o n t r a d o s e m n g / d L o u |J.g/kg, c o m o " e l e m e n t o s - u l t r a t r a ç o " .
ácidos graxos. As necessidades dietéticas c o r r e s p o n d e n t e s são cotadas e m m g /
dia ou | i g / d i a , r e s p e c t i v a m e n t e . U m e l e m e n t o é c o n s i d e r a d o
Necessidades e Recomendações para Ingestão de essencial q u a n d o os sinais e s i n t o m a s i n d u z i d o s pela deficiência
Nutrientes dietética são u n i c a m e n t e revertidos p o r u m s u p r i m e n t o ade-
A AI foi estabelecida c o m o 5 m g / d i a p a r a i n d i v í d u o s acima de q u a d o de u m elemento-traço p a r t i c u l a r (Figura 27-19).
13 a n o s . D o s e s adicionais de 1 m g / d i a e 2 m g / d i a são sugeridas
p a r a m u l h e r e s grávidas e lactantes, respectivamente. 2 Considerações Analíticas
Fatores analíticos q u e devem ser c o n s i d e r a d o s nas dosagens d e
Deficiência elementos-traço i n c l u e m (1) a d e q u a ç ã o da a m o s t r a , (2) fatores
A extensa d i s p o n i b i l i d a d e d e á c i d o p a n t o t ê n i c o n o s a l i m e n t o s é pré-analíticos, (3) e q u i p a m e n t o p a r a coleta, (4) m e t o d o l o g i a e (5)
p r o p o r c i o n a l aos seus diversos papéis e faz com q u e a deficiência segurança na qualidade.
e m h u m a n o s seja improvável. O s s i n t o m a s p r o d u z i d o s e m volun-
tários a l i m e n t a d o s c o m a n t a g o n i s t a d e p a n t o t e n a t o o u c o m Adequação da Amostra
dietas semi-sintéticas p r a t i c a m e n t e livres d e p a n t o t e n a t o f o r a m A m o s t r a s de s a n g u e total, p l a s m a e s o r o são mais c o m u m e n t e
(1) irritabilidade, (2) h i p o t e n s ã o p o s t u r a l e b a t i m e n t o s cardíacos s u b m e t i d a s p a t a análises diretas d e elementos-traço. D e t e r m i n a -
acelerados n o exercício, (3) distresse epigástrico c o m anorexia e ção direta desses e l e m e n t o s , e n t r e t a n t o , t e m sido feita e m qual-
constipação, (4) d o r m ê n c i a e f o r m i g a m e n t o das m ã o s e d o s pés, q u e r f l u i d o c o r p o r a l ou tecido. Por exemplo, a m o s t r a s de t e c i d o s
(5) reflexos de t e n d õ e s p r o f u n d o s hiperativos e (6) fraqueza dos p a r a análise p o d e m ser obtidas p o r biópsia d e aspiração c o m
m ú s c u l o s extensores d o s d e d o s . H i s t o r i c a m e n t e , a deficiência de agulha (fígado ou osso) ou após u m a autopsia. A m o s t r a s d e
ácido p a n t o t ê n i c o t e m sido associada à s í n d r o m e d o " a r d o r n o s cabelo e u n h a s oferecem u m a m a n e i r a n ã o invasiva d e coletar
pés" vivenciada p o r p r i s i o n e i r o s da S e g u n d a G u e r r a M u n d i a l , n a a m o s t r a s teciduais e são utilizadas p a r a avaliar exposição a m e t a l
Ásia, aliviada a p e n a s c o m a s u p l e m e n t a ç ã o d e ácido p a n t o t ê n i c o , tóxico, mas p r o b l e m a s d e c o n t a m i n a ç ã o e x t e r n a q u e p o d e m
e n ã o pela s u p l e m e n t a ç ã o c o m o u t r a s v i t a m i n a s d o g r u p o B. surgir pela p o l u i ç ã o a m b i e n t a l , cosméticos o u x a m p u s são difíceis
de controlar.
Toxicidade
N ã o existem relatos de efeitos adversos, c o m exceção d e diarréia
m o d e r a d a ocasional, c o m d o s e s orais elevadas de ácido p a n t o t ê -
nico, c o m o , p o r exemplo, 20 g / d i a Ótir
100%

Avaliação Laboratorial do Estado


N ã o existem testes f u n c i o n a i s c o n v e n i e n t e s ou confiáveis p a r a o
estado d e ácido p a n t o t ê n i c o , assim a avaliação é feita p o i dosa-
gens diretas das c o n c e n t r a ç õ e s e m s a n g u e total o u u r i n a . Dosa-
gens n a u r i n a são, talvez, a m a n e i r a mais fácil d e c o n d u z i r e
i n t e r p r e t a r esses testes, e as c o n c e n t r a ç õ e s são i n t i m a m e n t e rela-
c i o n a d a s c o m a ingestão na dieta. 1 2 As dosagens e m sangue total
são preferíveis àquelas e m plasma, q u e c o n t é m a p e n a s ácido
p a n t o t ê n i c o livre e é insensível às variações d e ingestão d o ácido
p a n t o t ê n i c o . As c o n c e n t r a ç õ e s de ácido p a n t o t ê n i c o d e t o d o s os
f l u i d o s descritos a c i m a t ê m sido avaliadas por e n s a i o microbio-
lógico, mais c o m u m e n t e u t i l i z a n d o LdctobaciUus plantarum.
O u t r a s técnicas q u e t ê m s i d o utilizadas i n c l u e m (1) r a d i o i m u n o - Figura 2 7 - 1 9 Modelo da relação entre concentração tecidual e
ensaio, (2) c r o m a t o g r a f i a gasosa, (3) c r o m a t o g r a f i a gasosa-espec- ingestão de u m n u t r i e n t e essencial e a função biológica dependente.
t r o m e t r i a d e massa e (4) e n s a i o d e d i l u i ç ã o d o i s ó t o p o estável.
C o A e A C P t ê m sido d o s a d a s p o r m é t o d o s enzimáticos.
510 PARTE IV Analitos

A c o n c e n t r a ç ã o de elementos-traço essenciais e m células útil em situações nas quais o v o l u m e da amostra é limitado o u


nucleadas tem sido d e t e r m i n a d a em vários tipos de leucócitos e para elementos para os quais limites de detecção baixos são
e m plaquetas. E n t r e t a n t o , a separação de células brancas e pla- necessários, tais c o m o selênio e manganês. Sistemas ópticos c o m
quetas do sangue total está sujeita a sérios problemas de conta- correção d o b a r u l h o de f u n d o utilizando l â m p a d a de deutério
minação antes da análise d o elemento-traço. ou e m p r e g a n d o o efeito Z e e m a n são agora c o m p o n e n t e s de
padronização e m i n s t r u m e n t a ç ã o de ETA-AAS (Capítulo 4).
Fatores Pré-Analíticos AASs de chama e eletrotérmica são técnicas para avaliar elemen-
Existem n u m e r o s a s variáveis q u e afetam as determinações de tos isolados, e as análises d e diferentes elementos devem ser
elementos-traço antes de a realização da análise das amostras ser realizadas seqüencialmente, o que implica em desperdício de
realizada, e essas requerem controle cuidadoso. Por exemplo, (1) tempo e de amostra.
idade, (2) sexo, (3) origem étnica, (4) tempo de coleta e m relação
à ingestão de alimentos, (5) p e r í o d o do dia, (6) histórico de Espectrometria de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente
m e d i c a m e n t o s e (7) uso de tabaco devem ser relacionados q u a n d o Acoplado (ICP-OES)
se estabelecem intervalos de referência a partir de populações- A ICP-OES está s u b s t i t u i n d o a AAS e m alguns laboratórios. As
controle saudáveis. Para serem interpretados, os resultados principais variações para a i n s t r u m e n t a ç ã o de ICP-OES têm
t a m b é m r e q u e r e m o c o n h e c i m e n t o da extensão de q u a l q u e r levado à diminuição d o limite de detecção. Esta t a m b é m oferece
reação de fase aguda (APR). u m a ampla escala d i n â m i c a (p. ex., três ordens de m a g n i t u d e para
a maioria dos elementos) q u e permite análise simultânea obtida
Equipamento de Coleta a partir de u m a única alíquota diluída da amostra. A alta tempe-
A escolha d o recipiente paTa as amostras é i m p o r t a n t e p o r q u e a ratura d o plasma, 7.500 °C, t o r n a a técnica largamente livre de
c o n t a m i n a ç ã o p o r borracha, cortiça e plásticos coloridos tem sido interferências químicas, mas efeitos matriciais, b a r u l h o de f u n d o
u m problema. Para o plasma, tubos de h e p a r i n a lítica c o m o e interferências espectrais são superiores àquelas da AAS.
anticoagulante são apropriados para a maioria das análises. Para
o soro, tubos de vidro planos têm sido usados. Para metais-ultra- Espectrometria de Massa com Plasma Indutivamente Acoplado
traço (Mn, Cr), arranjos especiais devem ser feitos para coleta de (1CP-MS)
sangue via cânula plástica ou agulhas de aço siliconizadas, e, Essa técnica é mais sensível que ETA-AAS ou ICP-OES e é no
então, a a m o s t r a é colocada d e n t r o de u m recipiente pré-lavado m o m e n t o o m é t o d o preferencial pata elementos-ultratraço. Inter-
c o m ácido. T u b o s de coleta a vácuo para avaliar metal-traço estão ferências poliatômicas são mais prováveis para massas me n o r e s
disponíveis comercialmente. E u m a boa prática passar soluções que 80. ICP-MS t a m b é m tem sido usada para m e d i r isótopos
ácidas diluídas e m todos os recipientes e sistemas de coleta para estáveis e para a c o n d u ç ã o de m é t o d o s de traçador c o m isótopo
garantir que t o d o a material utilizado na coleta p e r m a n e ç a o estável e análise de diluição isotópica. O s princípios de espectro-
m á x i m o possível livre de c o n t a m i n a ç ã o . metria de massa são discutidos n o C a p í t u l o 8.
Para a coleta de u r i n a de 24 horas, é i m p o r t a n t e q u e essa n ã o
seja feita e m coletor de fibra descartável ou recipiente de aço Considerações da Garantia de Qualidade
inoxidável, e garrafas de polietileno devem ser utilizadas com U m esquema de garantia de qualidade efetiva p a i a as análises de
ácido acético glacial c o m o preservativo. elementos-traço e ultratraço requer a incorporação dos seguintes
itens e m cada grupo de amostras analisado: (1) brancos, (2)
Metodologia réplica das análises para obter precisão, (3) calibradores dos ele-
O s limites de detecção de métodos analíticos utilizados para deter- mentos-traço de interesse e m faixas de concentração esperadas
minação de elementos-traço e ultratraço e m amostras biológicas das amostras analisadas e (4) solução de referência ou controle
são importantes p o r q u e as concentrações desses elementos estão c o m concentrações conhecidas ou certificadas de elementos-traço
na faixa de n a n o g r a m a por grama ou micrograma por grama. N a para d e t e r m i n a r m e l h o r acuidade e precisão entre as réplicas. O
prática, a concentração dos elementos-traço e ultratraço devem material de referência deve ser do m e s m o tipo de matriz e conter
estar pelo m e n o s 10 vezes acima d o limite de detecção do m é t o d o , a p r o x i m a d a m e n t e as mesmas q u a n t i d a d e s de analito q u e as
assim assegurando acuidade suficiente e precisão. amostras. É t a m b é m essencial que os laboratórios que m e d e m
O s m é t o d o s analíticos c o m u m e n t e utilizados estão resumidos elementos-traço participem e m programas externos de avaliação
a seguir: de qualidade.

Espectrofotometria Elementos-Traço Individuais


Q u a n d o aplicados para análise de elementos-traço, os m é t o d o s O s elementos-traço discutidos a seguir incluem (1) cromo, (2)
de espectrofotometria são baseados n a utilização de u m reagente cobalto, (3) cobre, (4) flúor, (5) manganês, (6) molibdênio, (7)
f o r m a d o r de cor; entretanto, esses carecem de especificidade. selênio e (8) zinco.
Interferências t a m b é m acontecem e m amostras hemolisadas, lipê-
micas e ictéricas. N a prática, a técnica só é sensível para os ele- Cromo
mentos-traço mais a b u n d a n t e s c o m o ferro, zinco e cobre. O c r o m o é e n c o n t r a d o n a t u r a l m e n t e e m diversas materiais cris-
talinos. Este é u m e l e m e n t o de transição com m u i t o s interesses
Espectrofotometria de Absorção Atômica (AAS) industriais e é descartado n o a m b i e n t e c o m o rejeito industrial.
A AAS de c h a m a é a m p l a m e n t e utilizada para a d e t e r m i n a ç ã o de
zinco e cobre n o soro (Capítulo 4). Essa técnica não p e r m i t e Química
medir o cobre n a urina, que requer u m m é t o d o mais sensível e O c r o m o ( n ú m e r o atômico 24, massa atômica relativa 51,99) é
mais t e c n i c a m e n t e exigente, a espectrometria de absorção atômica u m metal de transição que se encontra nos seres vivos c o m as
c o m atomização eletrotérmica (ETA-AAS). Nessa técnica, volumes valências 3" ou 6 + , cada u m a p r e s e n t a n d o propriedades diferentes
das amostras tão p e q u e n o s q u a n t o 10 |jL são seqüencialmente e marcantes. O c r o m o trivalente (Cr3"1) é considerado elemento-
volatilizados e atomizados em um t u b o de grafite. Essa técnica é traço essencial que a u m e n t a a ação da insulina. O c r o m o hexa-
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 511

valente Cr 6 " é u m antioxidante forte e causa d a n o s em tecidos, Significado Clinico


embora seja r a p i d a m e n t e reduzido a Cr J * d u r a n t e o contato com Acredita-se q u e o c r o m o tenha u m papel na tolerância à glicose
alimentos e c o n t e ú d o gástrico. d i m i n u í d a , n o diabetes e e m d o e n ç a cardiovascular.
U m a forma biologicamente ativa do Cr 3 " é conhecida c o m o Tolerância à Glicose Diminuída e Diabetes. O estado nutricional
fator de tolerância A glicose (GTF) e é e n c o n t r a d o em leveduras deficiente de c r o m o p o d e ser u m fator q u e provoca a r e d u ç ã o de
de cervejarias, mas a sua f u n ç ã o ainda p e r m a n e c e incerta. Acre- tolerância à glicose em alguns pacientes. E n t r e t a n t o , a variabili-
dit a-se que sua estrutura seja u m complexo de c r o m o ern forma dade na ingestão dietética do c r o m o e a carência de u m m a r c a d o r
cie octaedro c o m duas moléculas de ácido nicotínico t e n d o laboratorial ou clínico útil para identificar facilmente aqueles
q u a t r o sítios de coordenação ligados ao ácido glutâmico, glicina pacientes com estado deficiente têm criado dificuldades. U m a
e cisteína. metanálise q u e investigou 15 experimentações c o m amostras
escolhidas ao acaso sobre o efeito do c r o m o na glicose, insulina
Fontes Dietéticas e h e m o g l o b i n a glicosilada (geralmente conhecida c o m o H b A ^ ) *
As estimativas de q u a n t i d a d e s de c r o m o em alimentos variam e m concluiu q u e n ã o havia efeitos d o c r o m o sobre a glicose ou insu-
virtude de dificuldades analíticas e c o n t a m i n a ç ã o pelo c o n t a t o lina em participantes não-diabéticos e q u e os dados para pessoas
c o m aço inoxidável d u r a n t e o processamento, estocagem e cozi- c o m diabetes eram inconclusivos. C o n s e q ü e n t e m e n t e , experi-
m e n t o do alimento. Boas fontes de c r o m o incluem (1) carnes mentações em grande escala são requeridas.
processadas, (2) grãos não-beneficiados, (3) feijões verdes, (4) Sugeriu-se que, a curto prazo, doses inferiores a 1.000 (J-g de
brócolis e (5) algumas especiarias. A estimativa de ingestão dieté- c r o m o por dia p o d e ser u m t r a t a m e n t o adicional útil para a
tica para adultos nos Estados U n i d o s varia de 20 a 30 [.ig/dia. diabetes tipo 2. A m o n i t o r a ç ã o da f u n ç ã o d o rim e a avaliação
S u p l e m e n t o s c o n t e n d o c r o m o são utilizados por cerca de 8 % dos clínica de qualquer m u d a n ç a dermatológica são r e c o m e n d a d a s .
adultos nos Estados U n i d o s . As dosagens utilizadas sugerem u m papel farmacológico para o
cromo, e u m a potencial toxicidade deve ser considerada. A
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção terapia com c r o m o n o controle e prevenção de diabetes é, con-
A absorção intestinal de Cr J + varia de 0 , 4 % a 2,5%, assim a s e q ü e n t e m e n t e , de interesse considerável e assunto de muita
excreção fecal é p r i n c i p a l m e n t e c r o m o dietético n ã o absorvido. controvérsia.
A p ó s a absorção, o c r o m o se liga à transferrina plasmática com Doença Cardiovascular. Acredita-se que a depleção de c r o m o
afinidade similar à do ferro. O cromo se concentra e m (1) fígado, possa estar associada a u m a u m e n t o n o risco cardiovascular.
(2) baço, (3) outros tecidos moles e (4) ossos h u m a n o s . A excreção Relatos de respostas favoráveis de lipídios ao s u p l e m e n t o de
urinária é cerca de 0,2 a 0,3 |j.g/dia, c o m a q u a n t i d a d e excretada c r o m o têm sido publicados.
d e p e n d e n t e da ingestão.
Toxicidade
Funções O cromo hexavalente é u m r e c o n h e c i d o carcinógeno, e a expo-
Acredita-se que u m octapeptídeo intracelular de baixo peso mole- sição a fumaças industriais e poeiras c o n t e n d o esse metal está
cular (LMWCr), t a m b é m c o n h e c i d o c o m o c r o m o d u l m a , se ligue associada à incidência a u m e n t a d a do câncer de p u l m ã o , derma-
ao C r ' 1 a u m e n t a n d o a resposta dos receptores de insulina. N o tite e ulcerações da pele (Capítulo 32).
m o d o de ação proposto, (l) os receptores inativos de insulina As espécies de C r + são relativamente atóxicas, em parte graças
localizados nas m e m b r a n a s plasmáticas são convertidos e m u m a à absorção intestinal deficiente e excreção rápida pela urina.
forma ativa pela ligação à insulina circulante, (2) essa ligação Entretanto, o picolinato de cromo é u m suplemento dietético
estimula o m o v i m e n t o do c r o m o ligado à transferrina plasmática extensamente utilizado, e foi relatado q u e este composto causa
d e n t r o da célula, (3) o cromo, então, se liga à a p o L M W C r , con- danos renais e hepáticos q u a n d o utilizado e m doses elevadas.
vertendo-a em sua forma inativa que então se liga a receptores de
insulina, p o t e n c i a n d o a atividade de quinase e (4) u m a vez que Avaliação Laboratorial do Estado
as concentrações de glicose e insulina plasmáticas a t i n j a m níveis U m a resposta benéfica à s u p l e m e n t a ç ã o de c r o m o em pacientes
n o r m a i s de glicemia, o fator L M W C r é liberado da célula para c o m intolerância à glicose é, atualmente, o ú n i c o meio de con-
t e r m i n a r seus efeitos. firmar a deficiência e m cromo. N e n h u m m é t o d o prático para
avaliar a depleção de c r o m o intracelular está disponível. A l é m
Necessidades e R e c o m e n d a ç õ e s para Ingestão de Nutrientes disso, sabe-se, a partir de experiências iniciais com animais, q u e
Por não haver evidência suficiente para estabelecer a necessidade o c r o m o circulante não está e m equilíbrio com as reservas fisio-
média estimada (EAR), a ingestão média, baseada em ingestões lógicas importantes.
estimadas, foi estabelecida e m 35 [ag de cromo por dia para A determinação direta do cromo n o plasma ou n o soro
h o m e n s e de 25 jag por dia para m u l h e r e s . N e n h u m limite supe- s o m e n t e é possível se for t o m a d o u m grande cuidado para impedir
rior tolerável foi estabelecido para a ingestão dietética de Cr 3 + . a contaminação antes e d u r a n t e a análise. O s p r o c e d i m e n t o s de
coleta de amostras devem evitar qualquer contato c o m aço inoxi-
dável, assim todos os sistemas para coleta de sangue de plástico
Deficiência
ou agulhas de aço siliconizadas devem ser utilizados, e as amostras
O s sinais clínicos da deficiência h u m a n a de cromo foram descri-
devem ser armazenadas e m recipientes lavados com ácido.
tos clara e p r i m e i r a m e n t e em pacientes que recebiam n u t r i ç ã o
A detecção de q u a n t i d a d e s a u m e n t a d a s de c r o m o na u r i n a é
parenteral por períodos prolongados. Todos os casos que têm
u m a confirmação da exposição ocupacional ou a m b i e n t a l recente
sido publicados apresentam histórias similares, c o m pacientes
a u m excesso de cromo.
previamente estáveis que desenvolveram (l) intolerância à glicose
e resistência à insulina, (2) perda de peso e em alguns casos (3)
déficits neurológicos. Adição de q u a n t i d a d e s substanciais de C r ' " *A Incemational Union of Pure Applied Chemistry (IUPAC) e a International
à dieta p o r via intravenosa (150 a 200 |ig/dia) reverte a intole- Federation of Clinicai Chemistry (IFCC) recomendam que o termo apropriado
rância à glicose, reduz a necessidade de insulina e leva à m e l h o r a para hemoglobina glicosilada seja hemoglobina beta-N-l-deoxi frutosil. Esta
eventual das desordens neurológicas. recomendação é controversa, e a aceitação global está sob debate.
512 PARTE IV Analitos

Intervalos de Referência m e n o r de cobre n o plasma (<10%) encontra-se ligada à a l b u m i n a .


A t u a l m e n t e , valores m u i t o baixos são considerados n o r m a i s para U m a visão geral d o m e t a b o l i s m o de cobre está ilustrada n a Figura
o soro (0,1 a 0,2 Hg/L [2 a 3 n m o l / L ] ) e, para urina, inferiores a 27-20.
0,2 (jg de c r o m o por L (<3 n m o l / L ) . E n t r e 0,5 e 2,0 m g de cobre p o r dia é excretado, via bile, pelas
fezes. O s pacientes com icterícia colestática o u outras f o r m a s de
Cobalto disfunção d o fígado estão, c o n s e q ü e n t e m e n t e , em risco de
O cobalto é essencial para seres h u m a n o s s o m e n t e c o m o parte a c ú m u l o de cobre causado p o r falha n a excreção. A presença de
integral da vitamina B ] 2 (cobalamina). N e n h u m a outra f u n ç ã o cobre n a urina é n o r m a l m e n t e inferior a 60 p g / d i a .
para o cobalto n o corpo h u m a n o é conhecida. Detalhes bioquí-
micos e f u n c i o n a i s da v i t a m i n a são discutidos a n t e r i o r m e n t e . Funções
A microbiota d o intestino h u m a n o n ã o pode utilizar cobalto para O cobre é u m c o m p o n e n t e catalítico de n u m e r o s a s enzimas e é
sintetizar cobalamina fisiologicamente ativa. A exigência h u m a n a t a m b é m c o m p o n e n t e estrutural de outras proteínas i m p o r t a n t e s
da vitamina Bn deve ser fornecida pela dieta. O cobalto livre (não em h u m a n o s , animais, plantas e microrganismos.
associado à vitamina B ]2 ) não interage com o c o n t e ú d o de vita- Produção de Energis. A citocromo c oxidase é u m complexo
m i n a B n do corpo. enzimático com múltiplas s u b u n i d a d e s c o n t e n d o cobre e ferro.
Localizada na face externa da m e m b r a n a mitocondtial, a enzima
Cobre catalisa a redução de q u a t r o elétrons do oxigênio molecular,
O cobre é u m elemento-traço i m p o r t a n t e que está associado a necessária pata a p r o d u ç ã o de ATP.
u m grande n ú m e r o de metaloproteínas. Está presente e m siste- Formação do Tecido Conjuntivo. A proteína lisina 6-oxidase (lisil
mas biológicos e m ambos os estados de valências 1* e 2*. oxidase) é u m a enzima d e p e n d e n t e de cobre essencial para a
estabilização de matrizes extracelulares, especificamente para a
Química ligação cruzada entre colágeno e elastina. A enzima está forte-
O cnhre ( n ú m e r o atômico 29, massa atômica relativa 63,54) apre- m e n t e associada ao tecido c o n j u n t i v o e está localizada (1) ria.
senta os estados de oxidação de Cu 1 + e Cu 2 + e m sistemas biológi- aorta, (2) n o tecido c o n j u n t i v o dérmico, (3) e m fibroblastos e (4)
cos. A fácil conversão entre estes íons proporciona ao e l e m e n t o no cítoesqueleto de m u i t a s outras células.
importantes propriedades de redox. E m virtude da elevada afini- Metabolismo do Ferro. Enzimas c o n t e n d o cobre, e d e n o m i n a -
d a d e por elétrons, estes são os íons de elementos-traço essenciais das (1) ferroxidase I (ceruloplasmina), (2) ferroxidase II e (3)
mais f o r t e m e n t e ligados às moléculas orgânicas. Por exemplo, o hefaestina n o enterócito, oxidam a f o r m a ferrosa à férrica. Isto
cobre e m material biológico é complexado c o m proteínas, peptí- permite a incorporação de Fe3* n a transferrina e, eventualmente,
deos e outros ligantes orgânicos. U m a série elaborada de proteínas na hemoglobina.
de ligação e transporte d e n t r o das células protege o g e n o m a contra Sistema Nervoso Centrai. A dopa m i n a monooxigenase (DM O)
ataques de radicais livres de cobre. Isto m a n t é m a concentração é u m a enzima que requer cobre c o m o co-fator e utiliza o ascor-
de cobre livre n o citoplasma m u i t o baixa (em t o r n o de 10"15 m o l / bato c o m o u m d o a d o r de elétrons. Esta enzima catalisa a conver-
L). A m e t a l o e m i m a c o n t e n d o cobre, superóxido dismutase (SOD), são de d o p a m i n a a n o r e p i n e f r i n a , u m neurotransmissor impor-
protege contra danos aleatórios causados por radicais livres n o tante. A m o n o a m i n a oxidase é u m a enzima c o n t e n d o cobre que
citoplasma e n o plasma. catalisa a degradação da serotonina n o cérebro.
Síntese de Melanina. A tirosinase é u m a enzima c o n t e n d o cobre,
Fontes Dietéticas localizada e m melanócitos e catalisa a síntese de melanina.
O c o n t e ú d o de cobre de alimentos é variável e é afetado p o r Funções Antioxidantes. A m b a s as S O D s , intracelular e extrace-
fertilizantes e fungicidas c o n t e n d o cobre aplicados em plantas lular, c o n t ê m cobre e zinco e são capazes de converter radicais
comestíveis e pela utilização dc utensílios de cozinha c o n t e n d o superóxidos em peróxido de hidrogênio, que é subseqüente-
cobre. O metal é o mais a b u n d a n t e e m carnes, tais c o m o o fígado m e n t e removido. A ceruloplasmina t a m b é m se liga a íons de
e o rim, c o m q u a n t i d a d e s relativamente elevadas t a m b é m encon- cobre e, assim, i m p e d e d a n o s oxidativos provocados p o r íons de
tradas e m mariscos, nozes, em grãos de cereais n ã o processados cobre livres, que geram radicais hidroxil.
e em produtos c o n t e n d o cacau. A ingestão m e d i a n a d o cobre nos Regulação da Expressão Gênica e da Manipulação de Cobre
Estados U n i d o s está ao redor de 1,0 a 1,6 m g / d i a . Intracelular. A síntese de m e t a l o t i o n e í n a é controlada p o r fatores
de transcrição que r e s p o n d e m ao cobre e é u m a proteína impor-
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção tante n a regulação da distribuição intracelular d o cobre. Proteí-
A extensão da absorção de cobre pelo intestino delgado varia c o m nas especializadas adicionais agem c o m o "chaperonas de cobre"
o c o n t e ú d o de cobre dietético e está ao redor de 5 0 % e m inges- para levar esse metal para espaços intracelulares e para prevenir
tões baixas (inferiores a 1 mg por dia), mas s o m e n t e 2 0 % em danos oxidativos causados por íons de cobre livres.
ingestões mais elevadas (>5 mg de cobre p o r dia). A absorção é Erros Inatos do Metabolismo de Cobre. A s í n d r o m e de M e n k e s
reduzida p o r outros c o m p o n e n t e s dietéticos, tais c o m o o zinco é causada por u m gene defeituoso que regula o metabolismo de
(via metalotioneína), m o l i b d a t o e ferro, e a u m e n t a d a por amino- cobre n o corpo. A doença de W i l s o n é h e r d a d a c o m o u m traço
ácidos. autossômico recessivo a p r e s e n t a n d o u m defeito n o metabolismo
O cobre absorvido é t r a n s p o r t a d o até o fígado pelo sangue do cobre e provoca a c ú m u l o do cobre (1) n o fígado, (2) n o
p o r t a l ligado à albumina, o n d e esse é i n c o r p o r a d o pelos hepató- cérebro, (3) no rim, (4) n a córnea e (5) e m outros tecidos. As
citos e m cuproenzimas e em outras proteínas c, então, e x p o r t a d o ATPases t r a n s p o r t a d o r a s de cobre do tipo P, conhecidas c o m o
pelo sangue periférico, p r i n c i p a l m e n t e c o m o ceruloplasmina A T P 7 A e ATP7B, são fatores essenciais para a m a n u t e n ç ã o do
para os tecidos e os órgãos. E m b o r a dois terços dos 80 a 100 m g balanço de cobre. O t r a n s p o r t e intestinal de cobre é p r e j u d i c a d o
do nível total do cobre n o c o i p o estejam situados no esqueleto por u m a m u t a ç ã o n o gene de A T P 7 A que leva à deficiência grave
e n o músculo, o fígado é o órgão-chave na homeostase de cobre. de cobre observada na s í n d r o m e de Menkes. O defeito n o gene
A ceruloplasmina é u m reagente positivo de fase aguda e a u m e n t a de A T P 7 B afeta a incorporação d o cobre na ceruloplasmina e a
d u r a n t e a infecção e após injúria de tecido. U m a q u a n t i d a d e excreção via bile, e esta é a base da doença de Wilson.
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 513

( Cobre \
• da dieta 1.2
Figaca
(-9,9 mg)
v
V
\

Plasma,
Cérebro, ceruloplasmina,
músculo, albumina, Sangue
coração, osso, aminoácidos (albumina,
pulmão, etc aminoácidos)
( - 9 0 mg)

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Figura 2 7 - 2 0 M e t a b o l i s m o d o cobre. ( M o d i f i c a d o d e H a i n s E D . C o p p e r . In: 0 ' D e ] ] BL, S u n d e R A , eds


H a n d b o o k of n u t r i t i o n a l l y essencial m i n e r a l e i e m e n t s . N e w York- Mareei Dekker, 1997:231-73.)

Necessidades e R e c o m e n d a ç õ e s para Ingestão de Nutrientes desenvolver as m u d a n ç a s típicas e m ossos, m e n c i o n a d a s anterior-


A ingestão dietética r e c o m e n d a d a para adultos é 0, 9 mg/dia. f i Ela mente.
está próxima d o limite inferior de 1,0 m g / d i a e n c o n t r a d o em Síndrome de Menkes. Esta s í n d r o m e ocorre tipicamente e m
levantamentos dietéticos, q u e sugeriram q u e a depleção marginal recém-nascidos d o sexo masculino com dois a três meses e q u e
de cobre poderia ser e n c o n t r a d a n a população dos Estados apresentam (1) perda n o desenvolvimento, antes normal, (2)
U n i d o s . O limite superior tolerável é de 10 mg/dia. hipotonia, (3) convulsões e (4) falha n o desenvolvimento. M u d a n -
ças físicas n o cabelo (pili torti/cabelo crespo), na aparência facial
e anormalidades neurológicas sugerem o diagnóstico. O s testes
Deficiência de primeira linha p o d e m e n c o n t r a r concentrações inferiores a 10
A deficiência de cobre tem sido observada e m numerosas condi- H m o l / L de cobre n o plasma, inferiores a 220 m g / L de cerulo-
ções: p l a s m i n a e d e m o n s t r a r pili torti por exames microscópicos.
Recém-nascidos Malnutrídos, Q u a n d o recém-nascidos malnu- Síndrome de Má Absorção. O s pacientes de risco incluem
tridos e c o m histórias de diarréia crônica foram reabilitados com aqueles com (1) doença celíaca, (2) spnt, (3) fibrose cística e (4)
f ó r m u l a baseada em leite de vaca, eles desenvolveram anemia s í n d r o m e do intestino curto. E m alguns casos, a ingestão excessiva
resistente ao ferro, n e u t r o p e n i a e outras desordens hematológi- de suplementos orais de zinco causa a deficiência de cobre pela
cas, além de lesões de ossos. A s u p l e m e n t a ç ã o de cobre n o leite indução da metalotioneína na mucosa intestinal pelo zinco, que,
reverteu essas anormalidades. então, seqüestra o cobre dietético, b l o q u e a n d o sua absorção.
Recém-nascidos Prematuros. A maior parte d o a c ú m u l o de Doença Cardiovascular. Estudos em animais mostraram que a
cobre n o fígado de fetos ocorre nos últimos três meses de gravi- deficiência grave de cobre causa d a n o s cardíacos, mas as anorma-
dez, e recém-nascidos p r e m a t u r o s com dieta n a qual o cobre não lidades diferem daquelas observadas e m doença cardiovascular
é suficiente estão em risco para doenças associadas à deficiência, h u m a n a . O s levantamentos epidemiológicos m o s t r a r a m t a m b é m
desde que os estoques de cobre do fígado são inadequados. q u e os valores a u m e n t a d o s de cobre do plasma são u m fator de
A n o r m a l i d a d e s hematológicas e ossos frágeis, facilmente fraturá- risco cardiovascular positivo. U m a u m e n t o na concentração plas-
veis, têm sido descritos. mática de ceruloplasmina, e p o r t a n t o de cobre, p o d e ser u m a
Apoio Nutricional. Adultos e crianças com nutrição intrave- resposta n ã o inespecífica à inflamação de artérias e n c o n t r a d a n a
nosa, sem adição de cobre suficiente, desenvolvem sintomas da arteriosclerose.
deficiência- As m u d a n ç a s hematológicas que ocorrem n a anemia
h i p o c t ô m i c a e n a n e u t r o p e n i a são revertidas pela suplementação Toxicidade
de cobre. Efeitos similares f o r a m relatados d u r a n t e a alimentação A doença de W i l s o n representa u m a d e s o r d e m genética d o meta-
enter al prolongada após jej u n o s tom ia. Crianças t a m b é m p o d e m bolismo de cobre q u e causa u m a u m e n t o de cobre até concen-
514 PARTE IV Analitos

trações tóxicas. A i n c i d ê n c i a d a d o e n ç a de W i l s o n é e s t i m a d a e m dias d e hoje, mais de 6 0 % d a p o p u l a ç ã o dos Estados U n i d o s


1 / 3 0 . 0 0 0 nascidos vivos. A a p r e s e n t a ç ã o é a l t a m e n t e variável; utiliza água f l u o r e t a d a . E m adição, diversas c o m p a n h i a s acrescen-
assim, adolescentes o u a d u l t o s jovens c o m d o e n ç a d e fígado t a m f l u o r e t o à água e n g a r r a f a d a ( h t t p : / / w w w . b o t t l e d w a t e r . o r g /
inexplicável ou c o m s i n t o m a s n e u r o l ó g i c o s são suspeitos de apre- public/ fluorida.htm).
s e n t a r essa s í n d r o m e , e m especial aqueles c o m histórico familiar
d a d o e n ç a . A s investigações locais iniciais i n c l u i r i a m o cobre e Função
c e r u l o p l a s m i n a d o plasma, q u e estarão, g e r a l m e n t e , e m níveis O íon f l u o r e t o é t r o c a d o p e l o radical hidroxil n a e s t r u t u r a cris-
inferiores (<50 [ig/dL, 8 f i m o l d e cobre p o r L e c e r u l o p l a s m i n a talina d a apatita, o c o m p o n e n t e p r i n c i p a l de ossos e d e n t e s . Isto
< 2 0 0 m g / L ) . E m b o t a o c o b r e total d o p l a s m a esteja d i m i n u í d o , estabiliza a superfície d o d e n t e e m regeneração. I n i c i a l m e n t e , o
a fração n ã o ligada à c e r u l o p l a s m i n a está a u m e n t a d a , p e r m i t i n d o b e n e f í c i o era c o n s i d e r a d o u n i c a m e n t e p a r a os d e n t e s de crianças
a d e p o s i ç ã o d o cobre n o cérebro, n o s olhos e n o s rins. e m e r u p ç ã o , mas os efeitos tópicos e m d e n t e s d e a d u l t o p a r a
O e x a m e o f t a l m o l ó g i c o c o m l â m p a d a de f e n d a p o d e detectar prevenir a cárie t a m b é m são r e c o n h e c i d o s .
d e p ó s i t o s de c o b r e n o o l h o (anéis de Kayser-Eleischer), e p o d e
haver a n o r m a l i d a d e s e m testes d e f u n ç ã o hepática, c o m a u m e n t o Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
n a excreção d e c o b r e u r i n á r i o (>500 p,g p o r L). A biópsia d e O s í o n s d e f l ú o r são e f i c i e n t e m e n t e a b s o r v i d o s n o e s t ô m a g o e
f í g a d o é útil e m casos suspeitos, e os resultados c o m mais d e 2 5 0 n o i n t e s t i n o d e l g a d o . Pelo m e n o s 9 5 % d o s 2,6 g d o fluoreto total
p g d e C u / g d e peso seco são u s u a l m e n t e e n c o n t r a d o s ( n o r m a l 8 d o c o r p o estão localizados n o s ossos e d e n t e s . Q u a s e 9 0 % d o
a 4 0 [ig d e cobre p o r g de p e s o seco). O r a s t r e a m e n t o d o gene e excesso d e f l ú o r são excretados n a u r i n a .
a detecção d a m u t a ç ã o são possíveis n o m o m e n t o . N a d o e n ç a de
W i l s o n o d i a g n ó s t i c o é f r e q ü e n t e m e n t e difícil n o s casos q u e Toxicidade
envolvem a f a l h a a g u d a d o fígado. U m a u m e n t o e x t r e m o de cobre A f l u o r o s e d e n t a l é a causa de m a n c h a s n o esmalte de dences e m
n o p l a s m a será e n c o n t r a d o ; e n t r e t a n t o , esse n ã o é a c o m p a n h a d o e r u p ç ã o , e estima-se q u e afeta, a t u a l m e n t e , cerca d e 2 0 % d a
d e a u m e n t o compatível n o s níveis d e c e r u l o p l a s m i n a . população.
A f o r m a c r ô n i c a d a d o e n ç a de W i l s o n é t r a t a d a p o r agentes A exposição o c u p a c i o n a l à p o e i r a c o n t e n d o f l ú o r inalada p o r
q u e l a n t e s de a d m i n i s t r a ç ã o oral, tais c o m o p e n i c i l a m i n a e trien- t r a b a l h a d o r e s q u e m a n i p u l a m a criolita d u r a n t e o r e f i n o d e
tina, q u e r e m o v e m o excesso d e c o b r e d o tecido e a u m e n t a m sua a l u m í n i o resultava e m a n o r m a l i d a d e s ósseas graves, m a s atual-
excreção pela u r i n a . m e n t e o e q u i p a m e n t o d e s e g u r a n ç a limita tal exposição.
A toxicidade t a m b é m p o d e acontecer d i r e t a m e n t e pela con-
t a m i n a ç ã o c o m cobre d e f o n t e s d a dieta e d e água.
Avaliação Laboratorial do Estado
A d e t e r m i n a ç ã o d o f l ú o r n a u r i n a é utilizada para avaliar a expo-
Avaliação Laboratorial do Estado sição às diferentes fontes de flúor. Para a água potável e a u r i n a , a
O s ensaios d e c o b r e e c e r u l o p l a s m i n a plasmáticos são convenien- d e t e r m i n a ç ã o direta emprega u m eletrodo específico para flúor.
tes e utilizados e x t e n s a m e n t e para c o n f i r m a r a deficiência grave
de cobre. E n t r e t a n t o , n ã o são i n d i c a d o r e s sensíveis n a d e p l e ç ã o
Intervalos de Referência
m a r g i n a l d e cobre.
As c o n c e n t r a ç õ e s d o f l u o r e t o e m f l u i d o s c o r p o r a i s e n o s tecidos
E m virtude de aproximadamente 9 0 % d o cobre d o plasma
v a r i a m e x t e n s a m e n t e d e p e n d e n d o d o c o n t e ú d o d o flúor n a água
estar associado à c e r u l o p l a s m i n a , fatores q u e a u m e n t a m a síntese
potável e d a ingestão pela dieta, pasta de d e n t e e e n x a g u a t ó r i o s
hepática de ceruloplasmina, c o m o u m A P R o u contraceptivos
bucais. Para a u r i n a , o intervalo estabelecido é de 0,2 a 3,2 m g /
orais, a u m e n t a m o c o b r e d o p l a s m a i n d e p e n d e n t e m e n t e d a inges-
tão de c o b i e n a dieta. E m recém-nascidos p r e m a t u r o s c o m ima- L (10,5 a 168 n m o l / L ) .
t u r i d a d e d o fígado e c o m baixa síntese d e c e r u l o p l a s m i n a , os
valores de c o b r e no p l a s m a inferiores a 3 0 | l g / L (<5 j i m o l de C u
p o r L) s u g e r e m a n e c e s s i d a d e d e a u m e n t o d a ingestão d e cobre.
Manganês
O m a n g a n ê s presente e m sistemas biológicos está ligado a proteínas
A relação entre as dosagens imunológica e enzimática de ceru-
e apresenta valências de 2* ou 3 + . Está associado p r i n c i p a l m e n t e à
loplasmina p o d e set u m índice útil d a depleção marginal de cobre.
f o r m a ç ã o d o tecido c o n j u n t i v o e ósseo, com f u n ç õ e s n o cresci-
A apoceruloplasmina n o soro a u m e n t a d u r a n t e a depleção de cobre
e irá contribuir para o ensaio de ceruloplasmina total, mas a ativi- m e n t o e r e p r o d u ç ã o e n o m e t a b o l i s m o de carboidrato e lipídios.
d a d e enzimática d i m i n u i m e s m o n a depleção marginal d o cobre.
Química
Intervalos de Referência O m a n g a n ê s ( n ú m e r o a t ô m i c o 25, massa a t ô m i c a relativa 5 4 , 9 4 )
Para adultos, o cobre p l a s m á t i c o está g e r a l m e n t e n o i n t e r v a l o d e é o p r i m e i r o m e t a l da série de transição ( 3 d V ) . D e n t r e os 11
7 0 a 140 [ i g / d L (10 a 22 ( i m o l / L ) . Valores para m u l h e r e s n a estados d e oxidação disponíveis para o m a n g a n ê s , a p e n a s o M n 2 +
i d a d e fértil e, e m especial, n a gravidez são mais elevados. A saída e Mn 3 * são e n c o n t r a d o s e m sistemas biológicos, a m a i o r p a r t e
de cobre n a u r i n a é n o r m a l m e n t e m e n o r q u e 6 0 H g / 2 4 h (< 1,0 ligada a proteínas.
j i m o l / 2 4 h), e valores s u p e r i o r e s a 200 Jig/24 h (3 [ i m o l / L ) são
e n c o n t r a d o s n a d o e n ç a de W i l s o n . Fontes Dietéticas
As f o n t e s ricas e m m a n g a n ê s i n c l u e m (1) grãos n ã o - b e n e f i c i a d o s ,
Flúor (2) nozes, (3) vegetais folhosos, (4) p r o d u t o s d a soja e (5) chás. A
O f l ú o r é o e l e m e n t o - t r a ç o m a i s e x t e n s a m e n t e utilizado dos cie- ingestão m é d i a n o s Estados U n i d o s é a p r o x i m a d a m e n t e 2 m g /
men tos-traço farmacologicamente benéficos graças à p r o p r i e d a d e de dia. As dietas vegetarianas q u e c o n t ê m q u a n t i d a d e s elevadas d e
prevenir cárie d e n t a l . grãos e d e nozes f o r n e c e m mais de 10 m g / d i a .

Fontes Dietéticas Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção


M u i t o s e s t u d o s n o s ú l t i m o s 5 0 anos estabeleceram q u e a adição O m a n g a n ê s dietético é a b s o r v i d o pelo i n t e s t i n o delgado p o r
d e f l ú o r à água potável reduz a incidência d a cárie d e n t a l , e, n o s m e c a n i s m o s q u e p o d e m ter u m a via c o m u m àquela d o ferro. A
Vitaminas e Elementas-Traço CAPÍTULO 2 7 515

absorção do manganês a u m e n t a e m baixas ingestões dietéticas e Pacientes c o m doença grave de fígado p o d e m apresentar
d i m i n u i e m ingestões elevadas, e estudos de rastreamento sugerem sinais neurológicos e c o m p o r t a m e n t a i s , decorrentes da neuroto-
eficiência n a absorção entre 2 % e 15%. U m a vez absorvido, o xicidade do manganês, induzidos p o r falha n a excreção de man-
m a n g a n ê s ligado à albumina é t r a n s p o r t a d o pelo sangue portal ganês n a bile. Deposição de m a n g a n ê s n o globus fpaüidws d u r a n t e
ao fígado e exportado, então, para outro tecido, ligado à trans- falha hepática resulta na hiperintensidade de sinal de ressonância
ferrina e, possivelmente, a ci2-macroglobulina. A excreção de magnética em T l .
manganês ocorre p r i n c i p a l m e n t e pelas fezes, via bile, s e n d o que O s pacientes que recebem o manganês intravenosamente
a excreção pela u r i n a é m u i t o baixa. d u r a n t e T P N t a m b é m m o s t r a r a m evidências de retenção e depo-
sição de m a n g a n ê s n o cérebro m é d i o e n o t r o n c o cerebral. O s
Funções sintomas típicos são tremor semelhante ao observado no mal de
O m a n g a n ê s é um constituinte de muitas metaloenzimas impor- Parkinson e anormalidades n a marcha.
tantes e t a m b é m age como u m ativador inespecífico de algumas Recomenda-se agora que s o m e n t e 1 (ig de m a n g a n ê s p o r
enzimas. O s íons Mn 2 + substituem os íons Mg 2 ' d u r a n t e a ativação quilograma (18 n m o l / k g ) seja a d m i n i s t r a d o d u r a n t e T P N em
dessas enzimas. recém-nascidos e q u a n t i d a d e s inferiores a 1 a 2 flg/dia (55 a 110
Superóxido Dismutase. A S O D d e p e n d e n t e de m a n g a n ê s é ^ m ó i / d i a ) em adultos. Todos os pacientes que requerem a nutri-
u m a enzima mitocondrial e constitui u m fator i m p o r t a n t e na ção intravenosa prolongada (IVN), especialmente aqueles porta-
limitação da toxicidade do oxigênio. A enzima catalisa a quebra dores de colestase, devem ser m o n i t o r a d o s q u a n t o à retenção de
do radical 02 a H2O2, que é, então, removido pela catalase e pela manganês.
glutationa peroxidase.
Piruvato Carboxiiase. Esta enzima atua em c o n j u n t o com a Avaliação Laboratorial do Estado
fosfoenol piruvato (PEP) carboxiquinase, u m a enzima ativada por C â n u l a s de plásticos devem ser utilizadas para a flebotomia, e a
íons manganês. Estas enzimas são necessárias para a formação do hemólise deve ser impedida d u r a n t e a separação da amostra. O
PEP a partir de piruvato, u m a reação-chave na síntese hepática sangue total tem a p r o x i m a d a m e n t e dez vezes mais manganês que
da glicose. o plasma ou o soro e n ã o é afetado pela c o n t a m i n a ç ã o por
Arginase. A arginase é a enzima terminal do ciclo da uréia, agulhas de aço utilizadas n a coleta da amostra. N a prática, isto
hidrolisando a L-arginina, a uréia e ornitina. A atividade da faz com que a m e d i d a de m a n g a n ê s d o sangue total seja o m é t o d o
arginase afeta a p r o d u ç ã o do óxido nítrico, por limitar a dispo- mais extensamente utilizado para m o n i t o r a r o estado d o manga-
nibilidade da L-argmina. nês e m laboratórios clínicos.
GliCOSil Transferases. Estas enzimas são responsáveis pela
adição seqüencial de moléculas de carboidratos nas proteínas Intervalos de Referência
para f o r m a r as proteoglicanas e, em última análise, o tecido O intervalo de referência para o manganês n o soro é de 0,5 a 1,3
conjuntivo e a cartilagem. São, c o n s e q ü e n t e m e n t e , i m p o r t a n t e s jag/L (9 a 24 nmol/L). O intervalo da referência p a T a o sangue total
para a integridade estrutural d o osso e da pele e para a cicatriza- é de 5 a 15 [ig/L (90 a 270 n m o l / L ) . Incrementos n o manganês
ção n o r m a l . sérico superiores a 5,4 M-g/L ( > 3 0 n m o l / L ) ou, sanguíneo, superio-
res a 20 |ig/L (> 360 n m o l / L ) indicam retenção de manganês.
Necessidades e RecomendaçõGs para Ingestão de Nutrientes
Em virtude da falta da i n f o r m a ç ã o de d e m a n d a s dietéticas de Molíbdênio
manganês, o Food a n d N u t r i t i o n Board estabeleceu c o m o ade- A necessidade essencial do m o l i b d ê n i o para animais e seres
q u a d a a ingestão para adultos do sexo masculino de 2,3 m g / d i a h u m a n o s é baseada e m sua incorporação às metaloenzimas.
e para os d o sexo f e m i n i n o de 1,8 m g / d i a . Há u m a preocupação
relativa à toxicidade potencial do manganês para recém-nascidos, Química
pois estes apresentam fígado i m a t u r o e reduzida excreção biliar M o l i b d ê n i o ( n ú m e r o atômico 42, massa atômica relativa 95,94)
do excesso de manganês. é u m metal da segunda série de transição. O elemento apresenta
diversos estados de oxidação, p o r é m o mais estável em sistemas
Deficiência biológicos é M o f i \ c o m o e n c o n t r a d o n o m o l i b d a t o (M0O4 2 ').
A deficiência visível do manganês não foi d o c u m e n t a d a em seres Existe u m a sobreposição entre a química do molibdênio, tungs-
h u m a n o s com dietas naturais. E n t r e t a n t o , em estudos com ténio e vanádio. As enzimas d e p e n d e n t e s de m o l i b d ê n i o são
animais, sinais de deficiência e x p e r i m e n t a l m e n t e induzida do ecologicamente vitais, facilitando os i m p o r t a n t e s ciclos do
manganês incluem (1) crescimento e f u n ç ã o r e p r o d u t o r a preju- carbono, nitrogênio e enxofre.
dicados, (2) anormalidades n o esqueleto, (3) tolerância à glicose
d i m i n u í d a e (4) d a n o s à síntese de colesterol. H o m e n s jovens Fontes Dietéticas
alimentados e x p e r i m e n t a l m e n t e c o m dietas de baixas concentra- Boas fontes d o m o l i b d ê n i o são (1) legumes, tais c o m o ervilhas,
ções de manganês desenvolveram lesões de pele e baixos níveis lentilhas e feijões, (2) grãos e (3) nozes. N o s Estados U n i d o s , a
de colesterol n o plasma. ingestão dietética média de adultos é 76 a 109 jlg M o p o r dia.
A deficiência de prolidase em recém-nascidos é u m a desor-
dem genética rara, que s a b i d a m e n t e é associada a anormalidades Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
na bioquímica d o manganês. O m o l i b d ê n i o é absorvido eficientemente e m formas dietéticas
b e m variadas, principalmente c o m o molibdato, e m b o r a a inibi-
Toxicidade ção competitiva da absorção pelo sulfato reduza a absorção intes-
O risco ocupacional à saúde de trabalhadores sujeitos à exposição tinal. Entre 8 0 % e 9 0 % do m o l i b d ê n i o n o sangue total encontra-
prolongada à poeira ou às emanações c o n t e n d o manganês é b e m se ligado às proteínas das células vermelhas. O transporte de
reconhecido (Capítulo 32). Sintomas neurológicos que se asse- q u a n t i d a d e s inferiores pelo plasma p o d e envolver a a 2 -macroglo-
m e l h a m à doença de Parkinson desenvolvem-se l e n t a m e n t e em bulina. A excreção urinária reflete d i r e t a m e n t e a ingestão dieté-
meses ou anos. tica do molibdênio.
516 PARTE IV Analitos

Funções a excreção urinária responde a a u m e n t o s ou d i m i n u i ç õ e s da


Diversas enzimas importantes de mamíferos, tais c o m o (1) sulfito ingestão. Medidas de urato ou sulfito na urina são os meios mais
oxidase, (2) x a n t i n a desidrogenase e (3) aldeído oxidase, reque- disponíveis de c o n f i r m a r desordens associadas a esse co-factor ou
rem m o l i b d ê n i o c o m o co-factoi. Este c o m p o n e n t e orgânico é u m a uma possível deficiência.
complexo de molibdopterina. A sulfito oxidase catalisa a última
etapa da degradação de aminoácidos que contêm enxofre, oxi- Intervalos de Referência
d a n d o o sulfito a sulfato e transferindo elétrons pata o citocromo H á a p r o x i m a d a m e n t e 0,5 p.g de M o por L (5 n m o l / L ) n o plasma
c. A xantina desidrogenase e a aldeído oxidase hidroxilam nume- ou n o soro e a p r o x i m a d a m e n t e 1 jig de M o por L (10 n m o l / L )
rosas substâncias heterocíclicas, tais como p u r i n a s e pteridinas. n o sangue total. O s valores de m o l i b d ê n i o n a urina, determina-
dos p o r ICP-MS, são de aproximadamente 40 a 60 n g / L .
Necessidades e Recomendações para Ingestão de Nutrientes
A R D A de M o para adultos foi estabelecida e m 4 5 jig p o r dia, Selênio
que está abaixo da ingestão dietética média estimada. O selênio (Se) é u m e l e m e n t o essencial para os h u m a n o s , s e n d o
u m constituinte da enzima glutationa peroxidase. Acredita-se q u e
Deficiência esteja relacionado i n t i m a m e n t e à vitamina E, d o p o n t o de vista
A deficiência d o molibdênio n ã o foi observada e m populações funcional.
saudáveis c o n s u m i d o r a s de dieta normal. H á um ú n i c o relaro de
paciente q u e recebeu nutrição intravenosa prolongada e que Química
desenvolveu intolerância clínica a aminoácidos intravenosos, O selênio (número a t ô m i c o 34, massa atômica relativa 78,96) é
especialmente à L-metionina. 1 3 Nesse caso, anormalidades bioquí- u m não-metal c o n t e n d o diversas valências e formas químicas. O
micas incluíram concentrações plasmáticas elevadas de metio- selênio está situado n o grupo VI da tabela periódica e, conse-
nina e baixas de ácido úrico. H o u v e u m a u m e n t o de sulfito q ü e n t e m e n t e , é u m elemento inorgânico com química relacio-
urinário, associado à baixa excreção do ácido úrico e de metabó- n a d a ao enxofre. N o s compostos biológicos ativos mais impor-
litos de xantina, sugerindo defeitos n a sulfito oxidase e na xanrina tantes c o n t e n d o selênio esse elemento encontra-se em forma de
oxidase. O t r a t a m e n t o com molibdato de a m ó n i a (300 p.g/dia) selenocisteína, o n d e o elemento enxofre da cisteína é substituído
aliviou as a n o r m a l i d a d e s clínicas e bioquímicas. por selênio. C o n s i d e r a d o o vigésimo primeiro aminoácido, a
H á também as doenças muito raras de herança recessiva que selenocisteína é i n c o r p o r a d a à cadeia nascente de proteínas
resultam de defeitos n a biossíntese do co-fator molibdênio; a maioria q u a n d o o códon específico U G A está presente n o mensageiro.
dos casos resulta em mortes prematuras ainda na infância. Inicialmente, esse c ó d o n era reconhecido, u n i c a m e n te , c o m o u m
c ó d o n de terminação (Capítulo 18).
Toxícidade C o m p o s t o s de selênio ingeridos (1) selenato, (2) selenita, (3)
O s compostos do molibdênio apresentam baixa toxicidade para selenocisteína e (4) s e i e n o m e t i o n i n a são metabolizados ampla-
seres h u m a n o s . A ingestão de m o l i b d ê n i o e m excesso induz a mente, via seleneto, q u e p o d e estar associado a u m a chaperona.
deficiência d e cobre em r u m i n a n t e s , ao obstruir a absorção de O seleneto é convertido, então, em selenofosfato, u m precursor
cobre pela f o i m a ç ã o de u m complexo insolúvel de t i o m o l i b d a t o i m p o r t a n t e na síntese de proteínas c o n t e n d o selenocisteína
de cobre. Esse d a d o levou à sugestão da utilização de molibdato (Figura 27-21).
de a m ó n i o n o t r a t a m e n t o da doença de W i l s o n .
Fontes Dietéticas
Avaliação Laboratorial do Estado O selênio entra na cadeia alimentar principalmente como seie-
As concentrações de molibdênio n o sangue total, soro c u plasma n o m e t i o n i n a , c o m p o n e n t e de plantas que fazem a captura d o
são muito baixas para serem detectadas deficiências. Entretanto, elemento a partir d o solo, mas a p a r e n t e m e n t e n ã o o utilizam. O

ProtEÍnas específicas para |Se]Cys

©Tl
[Se]Cys

Selenato Selenita Proteínas


[Se]Mec -i
(Se6') (Sen específicas para
[SejMet

Proteínas
Vias metabólicas do selênio Selenida
de [igação
(Adaptado de Suride.) A via 1 (Se3*)

1
ao selênio
usa a mserção traducional de
selenocisteína, mediada pelo
tRNA 5 ", enquanto a via 2 Selenofosfato
incorpora seíenocisteína Serina
usando tRNACT1.
[SelCys-tRNA

Selenoproteínas específicas para Se

Figura 27-21 Vias metabólicas do selênio.


Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 517

nível de selênio n o solo é altamente variável e é geralmente baixo Deficiência Grave


e m solos vulcânicos, o n d e os sais solúveis são lixiviados do solo D o e n ç a de K e s h a n . A evidência conclusiva para o papel d o
pela água. Nos Estados U n i d o s e n o C a n a d á , o trigo e outros selênio na nutrição h u m a n a veio com a publicação de resultados
cereais são boas fontes de selênio; as ingestões médias n a América de experimentações realizadas e m grande escala na C h i n a , q u e
d o N o r t e variam de 80 a 220 jig por dia, e n q u a n t o n o R e i n o m o s t r a r a m o efeito p r o t e t o r da s u p l e m e n t a ç ã o de selênio e m
U n i d o essas são de a p r o x i m a d a m e n t e 30 a 60 p g / d i a . Ingestões crianças e em adultos jovens s o f r e n d o de u m a cardiomiopatia
na C h i n a são tão baixas q u a n t o 11 p g / d i a e na Nova Zelândia, endêmica. 1 3 Esse q u a d r o foi observado em áreas d o país (região
28 pg/dia. 1 1 de Keshan) o n d e o solo apresenta baixas concentrações de
selênio.
Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção D o e n ç a de Kashin-Beck. Este tipo de artrite grave é descrito
A absorção intestinal das diversas formas dietéticas c o n t e n d o em partes da C h i n a e em áreas vizinhas da Rússia, o n d e as con-
selênio é eficiente, mas não é regulada. O s sais inorgânicos sele- centrações de selênio d o solo são p a r t i c u l a r m e n t e baixas.
n i t o e selenato utilizados como s u p l e m e n t o s dietéticos e na for- N u t r i ç ã o Artificial. A provisão i n a d e q u a d a de selênio em
tificação alimentar são absorvidos quase c o m p l e t a m e n t e , mas a dietas especializadas utilizadas em t r a t a m e n t o de erros inatos e
maior parte d o íon selenato é r a p i d a m e n t e excretada n a urina. d u r a n t e a nutrição parenteral em longo prazo conduziu a casos
O selênio c o n t i d o em sais inorgânicos é mais r a p i d a m e n t e incor- da deficiência. Os sintomas da deficiência grave incluem a fra-
porado à glutationa peroxidase e a outras selenoproteínas do que queza muscular. Casos envolvendo cardiomiopatia, que geral-
o selênio das fontes orgânicas, que c o n t ê m a selenometi o n i n a . m e n t e são fatais e se assemelham à doença de Keshan, além de
E n t r e t a n t o , leveduras enriquecidas com formas orgânicas de macrocistose e o pseudo-albinismo em crianças, f o r a m descritos.
sclcnio são consideradas m e n o s tóxicas e utilizadas mais extensa- Deficiências Marginais
m e n t e c o m o s u p l e m e n t o dietético. F u n ç ã o d a T i r ó i d e . O selênio e outros elementos-traço são
A p r o x i m a d a m e n t e 5 0 % a 6 0 % do selênio total do plasma necessários para a f u n ç ã o n o r m a l da tiróide, u m a vez que as
escão presentes c o m o a selenoproteína P, u m a proteína a l t a m e n t e importantes enzimas deiodinases são selenoproteínas. As doenças
básica c o n t e n d o múltiplos resíduos de histidina e aproximada- endêmicas da tiróide n o Zaire p o d e m estar relacionadas à com-
m e n t e 10 átomos d o selênio p o r molécula. Cerca de 3 0 % d o binação da depleção de iodo e selênio. C u i d a d o s devem ser
selênio do plasma está presente c o m o glutationa peroxidase t o m a d o s p o r q u e o estímulo do m e t a b o l i s m o dos h o r m ô n i o s
(GSHPx-3),) e o restante é i n c o r p o r a d o à albumina, em f o r m a de tireoidianos p o d e induzir o hipotireoidismo.
s e l e n o m e t ionina. A excreção urinária do selênio é a rota princi- F u n ç ã o I m u n e . A deficiência de selênio é a c o m p a n h a d a pela
pal de saída e reflete a ingestão dietética recente. perda de i m u n o c o m p e t ê n c i a e esta é relacionada à redução de
selenoproteínas n o fígado, n o baço, e nos l i n f o n o d o s . A resposta
Funções i m u n e celular e a f u n ç ã o das células B são prejudicadas.
Trinta o u mais proteínas biologicamente ativas c o n t e n d o seleno- D e s o r d e n s R e p r o d u t i v a s . Fonte a d e q u a d a de selênio é neces-
cisteína f o r a m identificadas até o m o m e n t o . Algumas das mais sária para a r e p r o d u ç ã o bem-sucedida e m u m a variedade de
i m p o r t a n t e s estão listadas a seguir. animais da pecuária. A fertilidade h u m a n a masculina pode ser
Glutationa Peroxidase. Esta enzima possui quatro isoformas, afetada pela depleção de selênio, desde q u e esse é necessário para
GSHPx-1 e m células vermelhas, GSHPx-2 na mucosa gastrointes- a síntese da testosterona e para a m a n u t e n ç ã o da viabilidade do
tinal, GSHPx-3 n o plasma e GSHPx-4 localizada e m m e m b r a n a s . esperma.
Estas enzimas utilizam a força redutora da glutationa para remover D e s o r d e n s d o H u m o r . A depleção marginal d o selênio tem
u m á t o m o de oxigênio d o peróxido de h i d r o g ê n i o e de hidrope- sido associada à ansiedade, à c o n f u s ã o m e n t a l e à hostilidade, e
róxidos de lipídios. melhoras têm sido observadas c o m a s u p l e m e n t a ç ã o .
lodotironina Deiodinase. As isoformas dos tipos 1, II e III são Estados Inflamatórios. Muitos estados inflamatórios e a eleva-
responsáveis pela conversão do h o r m ô n i o precursor T j na f o r m a ção do nível de estresse oxidativo p o d e m ser influenciados pelo
ativa T 3 . A enzima d o tipo I, a tiroxina-5-deiodinase, está locali- estado nutricional do selênio. Efeitos positivos do suplemento foram
zada n o fígado, n o rim e n o m ú s c u l o e é responsável p o r mais relatados em artrites, pancreatites e nos cuidados intensivos.
de 9 0 % da p r o d u ç ã o de T 3 do plasma. V i r u l ê n c i a V i r a i . U m a estirpe virulenta rara do vírus de
Tioredoxina Redutases. As três isoformas catalisam a r e d u ç ã o Coxsackie é provavelmente parte da causa de cardiomiopatia e m
d e p e n d e n t e de N A D P H da tiorredoxina e são i m p o r t a n t e s para regiões da C h i n a desprovidas de selênio. Isto é compatível com
a m a n u t e n ç ã o do estado redox intracelular. as variações sazonais da incidência da doença. E m estudos labo-
Selenoproteína P. Esta proteína é a principal enzima que ratoriais, u m a forma n ã o letal do vírus Coxsacitie B (CVB 3 / 0 )
c o n t é m selênio d o plasma, p o d e ser u m a proteína t r a n s p o r t a d o r a sofreu m u t a ç ã o p a t a u m a cepa virulenta q u a n d o inoculada em
desse e l e m e n t o e t e m f u n ç ã o antioxidante. c a m u n d o n g o s deficientes em selênio, provavelmente c o m o u m
resultado do estresse oxidativo. Estudos adicionais em animais
Necessidades e Recomendações para Ingestão de Nutrientes d e m o n s t r a r a m q u e u m a cepa do vírus influenza, a p r e s e n t a n d o
A R D A para o selênio está estabelecida em 55 (ig/dia para virulência m e d i a n a , exibe virulência a u m e n t a d a q u a n d o inocu-
adultos. E m diversos países da Europa, a ingestão é, atualmente, lada em c a m u n d o n g o s deficientes em selênio. A relevância destes
próxima o u quase inferior a 5 5 jlg/dia e a provisão de selênio estudos para os seres h u m a n o s ainda precisa ser avaliada.
p o d e n ã o estar s e n d o a ideal. 11 Q u i m i o p r e v e n ç ã o d o C â n c e r . Inquéritos epidemiológicos
e n c o n t r a r a m u m a ligação entre a incidência de câncer e o con-
Deficiência t e ú d o de selênio n o solo, sugerindo u m a incidência mais elevada
de d e t e r m i n a d o s cânceres e m indivíduos com baixa ingestão de
Existem doenças importantes de animais da pecuária causadas
selênio. Experimentos em grande escala e m populações chinesas
pela deficiência de selênio, tais c o m o a doença do m ú s c u l o
com risco elevado para desenvolver hepatite virai B e câncer
branco e m carneiros e gado e miopatia de músculos cardíaco e
hepático d e m o n s t r a r a m que o sal de cozinha e n r i q u e c i d o com
esquelético e m cordeiros e bezerros. E m h u m a n o s f o r a m identi-
selênio levou a u m a r e d u ç ã o de 3 5 % n a incidência de câncer n o
ficadas diversas faixas de deficiência.
518 PARTE IV Analitos

fígado. Parece provável que a suplementação de selênio acima da Zinco


necessidade dietética mínima previna câncer, em particular, o A descoberta de u m a variedade de desordens clínicas relaciona-
câncer prostático. das ao zinco demonstrou diretamente a importância desse ele-
m e n t o na nutrição h u m a n a . Trata-se d o segundo elemento-traço
mais a b u n d a n t e n o corpo, sendo superado apenas pelo ferro.
Toxicidade
Algumas áreas da C h i n a e dos Estados Unidos contêm quantida- Química
des elevadas de selênio n o solo, por isso os alimentos produzidos O zinco (número atômico 30, massa atômica relativa 65,39) é um
localmente apresentam excesso de selênio. O d o r de alho ria res- íon particularmente estável O zinco apresenta u m a rápida ciné-
piração, peida de cabelo e u n h a s danificadas são sinais clínicos tica de troca dos Iigantes e geometria de coordenação flexível e
de selenose. O limite superior tolerável foi estabelecido em 400 constitui u m bom aceptor de elétrons (ácido de Lewis forte), sem
|!g/dia para adultos, sendo m e n o r para crianças. reações redox. Há u m a hipótese de que 10*11 m o I / L de íons de
zinco estão presentes n o citoplasma e que, em equilíbrio com
Avaliação Laboratorial do Estado metaloenzimas de zinco e numerosos fatores de transcrição, eles
A espectrometria de absorção atômica em forno de grafite atuam como u m "hormônio mestre", particularmente, na divisão
(CFAAS) é, n o m o m e n t o , o procedimento mais extensamente e crescimento celulares.
utilizado para dosar o selênio plasmático e / o u o do soro. Os
componentes principais de selênio d o plasma são GSHPx-3 extra- Fontes Dietéticas
celular e selenoproteína P. O zinco é amplamente distribuído nos alimentos, principalmente
GSHPx-1 das células vermelhas e GSHPx-3 plasmática são ligado às proteínas. A biodisponibilidade de zinco dietético é
dosadas por métodos enzimáticos com o peróxido de butilo ter- d e p e n d e n t e da digestão destas proteínas para liberarem o zinco,
ciário como substrato usual, já que esse não é tão afetado pela p e r m itin d o que esse elemento se ligue a peptídeos, aminoácidos,
catalase q u a n t o o peróxido de hidrogênio. fosfato e outros Iigantes dentro do trato intestinal. As fontes
Após u m ano em T P N e sem suplementos de selênio, pacien- dietéticas mais disponíveis c o n t e n d o zinco são carne vermelha e
tes apresentam baixos níveis plasmáticos de selênio e de G S H P x peixe. O germe de trigo e o farelo integral são boas fontes, mas
em células vermelhas. C o m reposição de selênio na forma de o conteúdo de zinco é reduzido pela moagem e processamento
ácido selenoso, há u m a u m e n t o rápido de GSHPx-3 nas primei- desses alimentos. 10 A ingestão mediana para h o m e n s nos Estados
ras 24 horas, alcançando concentrações normais dentro de u m a U n i d o s é de aproximadamente 14 m g / d i a e para mulheres 9
a duas semanas. G S H P x de células vermelhas leva de três a quatro mg/dia.
meses para ser regenerada, o que é compatível com o necessário
para a formação dessas células na presença do selênio. Absorção, Transporte, Metabolismo e Excreção
A principal proteína d o plasma contendo selênio, selenopro- A regulação da absorção intestinal liquida de zinco é controlada
teína P, é determinada por métodos imunológicos. A concentra- pela eficiência na absorção e varia geralmente de 2 0 % a 5 0 % do
ção de selenoproteína P n o plasma responde rapidamente à suple- conteúdo dietético. Para ingestão de 12,2 mg de Zn por dia, a
mentação. absorção fracional é 26%, mas para ingestões baixas, como 0,23
As concentrações plasmáticas de selenoproteína P, de GSHPx- mg de Zn por dia, foi demonstrado u m a u m e n t o para 100%. A
3 plasmática e de selênio total são diminuídas pela APR em lesões interação com outros constituintes dietéticos, tais como fitato,
ou em infecções. Este efeito deve ser considerado ao interpretar fibra, cálcio e ferro, reduz a absorção líquida de zinco.
valores d o selênio do plasma em pacientes em pós-operatórios ou Ferro em dosagens suplementares (até 65 mg/dia) pode dimi-
naqueles com infecção ou doença inflamatória. n u i r a absorção de zinco, de m o d o que mulheres grávidas e lac-
A excreção d o selênio pela urina é, principalmente, u m tantes em tratamento de reposição de ferro p o d e m requerer
reflexo da ingestão dietética recente e não é empregada extensi- suplementação de"zinco.
vamente em exames de populações. A análise do selênio d o O zinco absorvido é transportado para o fígado o n d e ocorre
cabelo e das unhas tem sido utilizada como medida da ingestão a incorporação ativa em metaloenzimas e em proteínas d o plasma.
dietética de selênio a longo prazo. Aproximadamente 8 0 % do zinco plasmático estão associados à
Na prática, as medidas plasmáticas de selênio ou G S H P x albumina, e o restante, em maior parte, está ligado fortemente a
fornecem u m a boa estimativa do estado e em particular da ade- u m a proteína de alto peso molecular, a aj-macroglobulina. O
quação da ingestão rcccntc, desde que essas medidas sejam inter- zinco associado à albumina está em equilíbrio com os aminoáci-
pretadas relativamente ao conhecimento sobre mudanças de dos do plasma (principalmente histidma e cisteina), e esta
APR, com a G S H P x de células vermelhas fornecendo o índice de pequena fração ultrafiltrável (<1 %) pode ser importante para os
ingestão a longo prazo. mecanismos celulares da absorção (Figura 27-22).
O conteúdo corporal total de zinco em adulto é de aproxi-
Intervalos de Referência m a d a m e n t e 2 a 2,5 g, e o metal está presente em células de todos
O intervalo da referência para o selênio n o sangue total, plasma os tecidos e órgãos metabolicamente ativos. Aproximadamente
ou soro, cabelo e u n h a deve ser estabelecido localmente, desde 5 5 % d o total são encontrados em músculos e aproximadamente
que esses índices são afetados pela ingestão dietética d o selênio. 3 0 % em ossos. A concentração de zinco das células vermelhas é
A orientação de valores de intervalo de referência de selênio para aproximadamente dez vezes superior à plasmática, em virtude de
o plasma de adulto é de 63 a 160 p g / L (0,8 a 2,0 |amol/L). grandes quantidades de anidrase carbônica.
Valores de Se inferiores a 40 pg por L (0,5 p,mol/L) indicam A ligação de zinco ao fator de transcrição 1 regulador de metal
provável depleção de selênio. (MTF1) ativa a expressão da metalotioneína (Mt). Esta proteína
A atividade de GSHPx-1 de células vermelhas para adultos multifuncional, d e b a i x o peso molecular (9.000 a 10.000 Da), tem
varia de 13 a 25 U / g Hb, sendo que os valores para crianças são u m elevado conteúdo de cisteina e liga-se reversivelmente ao
ligeiramente inferiores. Os intervalos de referência locais relacio- zinco. A M t é importante n o tráfico intracelular de zinco e auxilia
nados à idade são, mais u m a vez, necessários. na manutenção das concentrações intracelulares de zinco. A
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 519

Zn do
Fígado dieta -10
(1Uí>mg) mg/dia

205 m g / d \ \
\

Tecidos moles, 25 mg/d


Pool plasmático (2,4 mg)
músculos, ossos (albumina, alfa 3 -
etc (1.100 mg) macroglobulina,
5,7 mg/d
aminoácidos)

5,3 mg^d

Rim
f f^ih na. \
\ iransniraçSc ' w
Ffc7es
-9,6 mg/cto
Urína
0,4 mgidia
v y

Figura 2 7 - 2 2 Sumário do metabolismo de zinco.

síntese hepática da M t é induzida por inrerleucina-1, interleucina- Recém-nascidos e crianças e m fase inicial da infância necessitam
6 e glicocorticóides, e m resposta à infecção, ao t r a u m a e a outros de q u a n t i d a d e s inferiores. E m virtude de a u m e n t o de ácido fítico
fatores de estresse. e de fibras na dieta, os vegetarianos estritos p o d e m necessitar de
A excreção fecal inclui t a n t o o zinco dietético n ã o absorvido q u a n t i d a d e s até 5 0 % maiores d e zinco por dia. 6
q u a n t o o zinco secretado n o v a m e n t e n o intestino. A excreção
u r i n á r i a de zinco é n o r m a l m e n t e apenas cerca d e 0,5 m g / d i a , Deficiência Clinica
mas a u m e n t a e x t r e m a m e n t e d u r a n t e doença catabólica e cetose. C o m o p o d e se esperar, a partir das múltiplas funções bioquími-
A liberação d o c o n t e ú d o intracelular do músculo esquelético foi cas do zinco, a apresentação clínica das doenças de deficiência é
estabelecida c o m o fonte do excesso de zinco urinário. variada, não específica e está relacionada ao grau e à duração da
depleção. Sinais e sintomas i n c l u e m (1) crescimento reduzido
c o m n a n i s m o , (2) a u m e n t o da incidência de infecção, possivel-
Funções
m e n t e relacionado a alterações n a f u n ç ã o i m u n e , (3) diarréia, (4)
Mais d e 3 0 0 metaloenzimas d e zinco ocorrem e m todas as seis
lesões de pele e (5) alopecia.
categorias de sistemas enzimáticos. Exemplos i m p o r t a n t e s e m
EfeitOS no Crescimento. A deficiência dietética de zinco é pre-
tecidos h u m a n o s incluem (1) anidrase carbônica, (2) fosfatase
valente e m todos os países o n d e a dieta é baseada e m cereais ricos
alcalina, (3) D N A e R N A polimerases, (4) timidina quinase, (5)
e m fitato e fibra, mas p o b r e e m proteína animal. E m crianças, o
carboxipeptidases e (6) álcool desidrogenase. O s papéis-chave d o
crescimento reduzido e outras anormalidades n o desenvolvi-
zinco n a síntese de proteínas e de ácidos nucléicos explicam a
m e n t o são reversíveis pela s u p l e m e n t a ç ã o c o m zinco. O zinco d o
falha d e crescimento e de cicatrização de feridas observadas e m
leite h u m a n o é absorvido eficientemente, graças à presença de
indivíduos c o m deficiência d e zinco.
fatores c o m o o picolinato e o citrato.
Proteínas f o r m a m d o m í n i o s capazes de se ligarem a átomos
Acrodermatite Enteropática. A acrodermatite e n t e r o p ática (AE)
tetraédricos de zinco, p o r coordenação c o m histidina e cisteina,
é caracterizada pela d e r m a t i t e periorificial e acral, alopecia e
para formar estruturas dobradas conhecidas c o m o "dedos de
diarréia; os sintomas são reversíveis pela s u p l e m e n t a ç ã o oral de
zmco". Estas têm papéis importantes na expressão gênica, a t u a n d o
zinco. Esta condição, a n t e r i o r m e n t e fatal, é u m erro inato de
como fatores de transcrição q u e se ligam ao DNA, c o m o elemen-
caráter autossômico recessivo q u e afeta a absorção de zinco pela
tos-chave na biologia d o desenvolvimento e t a m b é m na regulação
mucosa intestinal.
da síntese de h o r m ô n i o s esteróides, tireoidianos, e outros.
Nutrição Parenteral. Alguns pacientes que requerem n u t r i ç ã o
intravenosa pós-cirúrgica são suscetíveis à depleção de zinco e m
Necessidades e Recomendações para Ingestão de Nutrientes v i r t u d e de baixos índices de ingestão oral antes e após u m a
N o s Estados U n i d o s , a ingestão dietética de referência (DRI) para cirurgia. Esses t a m b é m p o d e m apresentar a u m e n t o na perda de
o zinco é de 11 m g / d i a para h o m e n s e 8 m g / d i a para mulheres. zinco pela via intestinal e m conseqüência de diarréia e, via urina,
520 PARTE IV Analitos

a partir do catabolismo muscular durante períodos de balanço c o m zinco são utilizadas, c o n s e q u e n t e m e n t e , para p o s t u l a r u m
n i t r o g e n a d o negativo. O u t r o s p r o b l e m a s i n c l u e m (1) diarréia, (2) estado d e depleção marginal.
depressão m e n t a l , (3) d e r m a t i t e , (4) r e t a r d o n a cicatrização e (5) Zinco PlâSmátiCO. E m v i r t u d e da possível c o n t a m i n a ç ã o d e
alopecia, q u e p o d e m ser o b s e r v a d o s d u r a n t e o p e r í o d o a n a b ó l i c o zinco, originária d e eritrócitos, p l a q u e t a s e leucócitos d u r a n t e a
de g a n h o r e c o r r e n t e d e peso, q u a n d o há zinco i n s u f i c i e n t e n o coagulação e a c e n t r i f u g a ç ã o , a m o s t r a s d o p l a s m a são preferidas
regime n u t r i c i o n a l para a c o m p a n h a r o nível de r e p a r o n o tecido. às séricas para a análise de z m c o . As c o n c e n t r a ç õ e s de zinco d o
Provisão i n t r a v e n o s a a d e q u a d a de zinco para atingir u m b a l a n ç o p l a s m a são m e d i d a s g e r a l m e n t e p o r C F A A S .
positivo está associada à m e l h o r a d o b a l a n ç o d e n i t r o g ê n i o . C u i d a d o s devem ser t o m a d o s p a r a c o n t r o l a r fatores pré-ana-
Doença Infecciosa. A d e p l e ç ã o d e zinco d i m i n u i a i m u n i d a d e líticos q u e d i m i n u i r ã o o zinco d o plasma, i n d e p e n d e n t e m e n t e
e tem u m efeito d i r e t o n o trato gastrointestinal, q u e a u m e n t a a d a ingestão dietética. Estes i n c l u e m a coleta da a m o s t r a e m
gravidade d e infecções entéricas. U m a revisão de d a d o s o b t i d o s relação (1) às refeições, (2) à h o r a d o dia e (3) ao uso de esterói-
d e e x p e r i m e n t o s c o n t r o l a d o s m e d i n d o efeitos da s u p l e m e n t a ç ã o des, tais c o m o a pílula c o n t r a c e p t i v a . Q u a l q u e r causa de hipoal-
c o m zinco e m crianças de países d e baixa r e n d a e n c o n t r o u bene- b u m i n e m i a t a m b é m d i m i n u i o zinco plasmático. A a l b u m i n a d o
fícios clínicos significativos e m casos d e diarréia p e r s i s t e n t e e de p l a s m a é u m A P R negativo e, a p a r t i r d o pool plasmático, é redis-
d o e n ç a respiratória. A i n t e r a ç ã o c o m v i t a m i n a A é i m p o r t a n t e t r i b u í d a pelos espaços intersticiais d u r a n t e a infecção, após
p o r q u e , e m p o p u l a ç õ e s c o m risco d e deficiência de zinco e vita- t r a u m a e e m d o e n ç a crônica. A i n d u ç ã o d a síntese h e p á t i c a da
m i n a A, a provisão a p e n a s d e zinco a u m e n t a a i n c i d ê n c i a de M t d u r a n t e o A P R , e s u b s e q ü e n t e q u e l a ç ã o de zinco, d i m i n u i
i n f e c ç ã o respiratória, mas, q u a n d o a v i t a m i n a A t a m b é m é adi- a i n d a mais a c o n c e n t r a ç ã o n o p l a s m a . É, p o r t a n t o , essencial
c i o n a d a , as infecções respiratórias são d i m i n u í d a s . c o n s i d e r a r os resultados de zinco plasmáticos e m c o n j u n t o c o m
a a l b u m i n a e C R P plasmáticas o u u m o u t r o m a r c a d o r d e A P R .
Efeitos Subclínicos d a Deficiência Zinco em Células Sanguíneas. Foi sugerido q u e o c o n t e ú d o d e
M e s m o q u e a deficiência de zinco n ã o seja grave o b a s t a n t e para zinco e m células b r a n c a s e p l a q u e t a s reflete d e m a n e i r a m a i s
causar sinais e s i n t o m a s clínicos, ela p o d e provocar efeitos sub- a d e q u a d a o c o n t e ú d o de zinco tecidual. E m e s t u d o s de d e p l e ç ã o
clínicos (1) n a f u n ç ã o i m u n e , (2) n a síntese e n a ação de h o r m ô - d e zinco e m seres h u m a n o s , foi d e m o n s t r a d o q u e o c o n t e ú d o d e
nios e (3) na f u n ç ã o n e u r o l ó g i c a . zinco d e n e u t r ó f i l o s , linfócitos e p l a q u e t a s d i m i n u e m mais rapi-
Função imune. Pacientes d o O r i e n t e M é d i o c o m deficiência d a m e n t e q u e o zinco plasmático. E n t r e t a n t o , o v o l u m e relativa-
de zinco e r a m c o n h e c i d o s p o r m o r r e r a n t e s d o s 2 5 anos, e m m e n t e g r a n d e de s a n g u e r e q u e r i d o e os p r o b l e m a s c o m c o n t a m i -
v i r t u d e de diversas infecções e de d o e n ç a s parasíticas. N a defici- n a ç ã o t o r n a m difícil a aplicação desses ensaios e m pacientes
ência de zinco, h á u m a r e d u ç ã o n a atividade d e t i m u l i n a sérica, hospitalizados o u p a r a avaliação d e c o n c e n t r a ç õ e s de zinco n a
u m h o r m ô n i o específico d o t i m o envolvido n a f u n ç ã o d e células população.
T, q u e provoca u m d e s e q u i l í b r i o e n t r e células helper T h l e T b 2 . Zinco no Cabelo. Baixas c o n c e n t r a ç õ e s d e zinco n o cabelo t ê m
A atividade lítica de células naturai killer t a m b é m d i m i n u i . Estas sido associadas à deficiência d o c r e s c i m e n t o d e crianças. Entre-
m u d a n ç a s c o m p l e x a s r e s u l t a m e m falha d a resposta i m u n e t a n t o , variáveis c o m o a taxa d e c r e s c i m e n t o de cabelo e a conta-
celular. m i n a ç ã o externa p o r t i n t u r a s e c o s m é t i c o s levaram a resultados
Hormônios. O zinco t e m u m p a p e l i m p o r t a n t e n a síntese e n a s inconsistentes.
ações d e m u i t o s h o r m ô n i o s , p o r m e i o de fatores de transcrição Enzimas Dependentes de Zinco. A p e s a r d o g r a n d e n ú m e r o
c o n t e n d o zinco. A d e p l e ç ã o d e zmco é associada a c o n c e n t r a ç õ e s i d e n t i f i c a d o de m e t a l o e n z i m a s c o n t e n d o zmco, n e n h u m ensaio
circulantes baixas d e (1) testos ter o n a , (2) T 4 livre, (3) fator d o e n z i m á t i c o e m p a r t i c u l a r foi c o n s i d e r a d o a d e q u a d o c o m o indi-
c r e s c i m e n t o s e m e l h a n t e à i n s u l i n a (IGF)-I e (4) t i m u l i n a . As cador d o e s t a d o n u t r i c i o n a l de zinco.
c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas de IGF-I e a velocidade de c r e s c i m e n t o Zinco na Urina. H á u m a ligeira q u e d a n a excreção u r i n á r i a d e
a u m e n t a m e m crianças q u e estão r e c e b e n d o s u p l e m e n t o s c o m zinco d u r a n t e a deficiência dietética. As d i f i c u l d a d e s relacionadas
zinco. à c o n t a m i n a ç ã o d e a m o s t r a d u r a n t e a coleta fazem dessa estraté-
Efeitos Neurológicos. A deficiência grave d e zinco é c o n h e c i d a gia d e m e d i d a u m a o p ç ã o c o m valor prático l i m i t a d o .
p o r afetar o bem-estar m e n t a l , c o m graus vari ados d e c o n f u s ã o e
depressão, o q u e explica a i m p o r t â n c i a d e enzimas q u e c o n t ê m Intervalos de Referência
zinco n o d e s e n v o l v i m e n t o e n a f u n ç ã o cerebral. As c o n c e n t r a ç õ e s d e zinco n o s o r o são, g e r a l m e n t e , 5 % a 1 5 %
mais elevadas d o q u e as d o p l a s m a , e m v i r t u d e d e m u d a n ç a s n a
Toxicidade o s m o l a r i d a d e de f l u i d o s das células d o sangue, induzidas pela
O s efeitos clínicos d a ingestão de dieta c o n t a m i n a d a c o m zinco p r e s e n ç a d e anticoagulantes utilizados n a coleta d a a m o s t r a . As
são (1) d o r a b d o m i n a l , (2) diarréia, (3) n á u s e a e (4) v ô m i t o . c o n c e n t r a ç õ e s d i m i n u e m após a ingestão de a l i m e n t o s e são mais
Ingestões superiores a 6 0 m g d e Zn p o r dia são b l o q u e a d o r a s da elevadas pela m a n h ã d o q u e à n o i t e . A o r i e n t a ç ã o p a r a o inter-
absorção intestinal de cobre, l e v a n d o à deficiência desse ú l t i m o valo de referência é d e 8 0 a 120 p g / d L (12 a 18 p m o l / L ) .
elemento.

Avaliação Laboratorial do Estado Outros Possíveis Elementos Essenciais


E m b o r a a d e t e r m i n a ç ã o d e zinco n o p l a s m a seja insensível à Mais de 15 elementos-traço adicionais são c o n s i d e r a d o s p o t e n -
ingestão dietética e seja i n f l u e n c i á v e l p o r u m g r a n d e n ú m e r o de c i a l m e n t e i m p o r t a n t e s n a m e d i c i n a h u m a n a . E m u m a revisão
variáveis, ela c o n t i n u a s e n d o o teste de l a b o r a t ó r i o mais extensa- realizada p o r Nielsen, eles são e s t u d a d o s e m d e t a l h e s e se discu-
m e n t e utilizado para c o n f i r m a r a deficiência grave. T a m b é m é t e m os conceitos e m e r g e n t e s de "essencialidade". 1 C A l g u n s deles,
utilizada p a r a m o n i t o r a r a a d e q u a ç ã o d a provisão d e zinco, espe- c o m o (1) c h u m b o , (2) c á d m i o , (3) arsénio, (4) a l u m í n i o e (5)
c i a l m e n t e se i n t e r p r e t a d a e m c o n j u n t o c o m m u d a n ç a s nas con- n í q u e l , serão c o n s i d e r a d o s p o r l a b o r a t ó r i o s clínicos principal-
centrações d e a l b u m i n a sérica e d e A P R . N e n h u m p r o c e d i m e n t o m e n t e c o m o e l e m e n t o s tóxicos. O u t r o s , c o m o o lítio, são classi-
laboratorial identifica c l a r a m e n t e p o p u l a ç õ e s c o m d e p l e ç ã o mar- ficados c o m o f a r m a c o l o g i c a m e n t e b e n é f i c o s e o m o n i t o r a m e n t o
ginal d e zinco. Respostas clínicas e b i o q u í m i c a s à s u p l e m e n t a ç ã o d a dose p o d e ser necessário.
Vitaminas e Elementos-Traço CAPÍTULO 2 7 521

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CAPITULO 2 8

Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina*


Trefor Higgins, F.C.A.C.B., Ernest Beutler, M.D., e Basil T. Doumas, Ph.D.

OBJETIVOS B i l i r r u b i n a D i r e t a : A fração d e b i l i r r u b i n a q u e reage com o


1. Definir os seguintes termos:
reagente diazo n a ausência de álcool.
B i l i r r u b i n a I n d i r e t a : B i l i r r u b i n a livre q u e n ã o foi c o n j u g a d a
Hemoglobina
c o m o ácido glicurônico.
Ferritina
B i l i r r u b i n a N ã o - c o n j u g a d a : B i l i r r u b i n a livre q u e n ã o foi
Hemossiderina
c o n j u g a d a c o m o ácido glicurônico.
Transferrina
"Ferritina: O c o m p l e x o ferro-apoferritina, u m a das principais
Hemocromatose
f o r m a s n a s quais o ferro é a r m a z e n a d o n o c o r p o ; ela ocorre
Hemossiderose
(1) ria m u c o s a gastrointestinal, (2) n o fígado, (3) n o baço,
Bilirrubina (conjugada e não-conjugada) (4) n a m e d u l a óssea e (5) n a s células reticuloendoteliais.
Icterícia H e m e : Q u a l q u e r q u e l a t o d e f e r r o c o m os q u a t r o g r u p o s
2. Discutir a estrutura e a função da hemoglobina, inclusive a pirrólicos de u m a p o r f i r i n a , t a m b é m r e c o n h e c i d o c o m o
composição bioquímica, a fisiologia e a importância clínica. ferro-heme ou ferri-heme, q u e se refere aos q u e l a t o s do Fe(II)
3. Descrever a importância do heme ria fisiologia da hemoglobina. e Fe(III), r e s p e c t i v a m e n t e .
4. Listar quatro talassemias, citar as causas e descrever os achados H e m o c r o m a t o s e : U m a d o e n ç a genética rara causada p o r
laboratoriais associados a cada tipo. d e p o s i ç ã o d e h e m o s s i d e r i n a nas células p a r e n q u i m a i s ,
5. Definir "persistência hereditária de hemoglobina F". c a u s a n d o d a n o ao tecido e d i s f u n ç ã o d o fígado, d o pâncreas,
6. Explicar a nomenclatura usada para catalogar as várias hemoglobinas d o coração e da pituitária. T a m b é m c h a m a d a d o e n ç a de
e as classificações usadas para descrever as variantes de sobrecarga de ferro.
hemoglobina. H e m o g l o b i n a : O p i g m e n t o c a r r e a d o r de oxigênio dos eritrócitos,
7. Listar cinco métodos de avaliação de hemoglobina usados em um f o r m a d o p e l o eritrócito e m d e s e n v o l v i m e n t o n a m e d u l a
laboratório clínico e descrever o princípio de cada um. óssea. É u m a p r o t e í n a c o n j u g a d a c o n t e n d o q u a t r o g r u p o s
8. Citar as funções fisiológicas do ferro, da transferrina e da ferritina. h e m e e globina, c o m a p r o p r i e d a d e de oxigenação reversível.
9. Descrever a absorção, o transporte e o metabolismo do ferro.
H e m o g l o b i n o p a t i a : Q u a l q u e r doença herdada causada por
anormalidades da hemoglobina, resultando em condições
10. Listar e descrever os sintomas de três distúrbios do metabolismo do
c o m o a n e m i a falciforme, a n e m i a h e m o l í t i c a ou talassemia.
ferro.
HenfeSssiderina: U m a f o r m a d e a r m a z e n a m e n t o intracelular de
11. Listar cinco condições que afetam a concentração de ferro sérico e
ferro; os grânulos c o n s i s t e m e m u m c o m p l e x o m a l d e f i n i d o
explicar como ela é afetada em cada uma delas.
d e h i d r ó x i d o s férricos, polissacarídeos e p r o t e í n a s , c o m u m
12. Descrever os métodos de análise de ferro sérico, ferritina e
c o n t e ú d o férrico d e cerca d e 3 3 % d o seu peso.
capacidade total de ligação de ferro; citar a fórmula usada para
H e m o s s i d e r o s e ; U m a u m e n t o focal o u geral d o s estoques
calcular a saturação percentual de ferro. férricos n o tecido s e m d a n o t e c i d u a l associado. As
13. Descrever a via de biossíntese da bilirrubina, inclusive a conjugação h e m o s s i d e r o s e s h e p á t i c a e p u l m o n a r são caracterizadas p o r
no fígado. q u a n t i d a d e s a n o r m a i s d e h e m o s s i d e r i n a n o fígado e n o s
14. Citar a utilidade clínica da análise das concentrações de bilirrubina pulmões, respectivamente.
sérica, conjugada e não-conjugada, e do urobilinogênio. H i p e r b i l i r r u b i n e m í a : C o n c e n t r a ç õ e s excessivas d e b i l i r r u b i n a
15. Descrever os métodos de análise de bilirrubina; descrever os n o sangue, as quais p o d e m levar à icterícia; as
princípios e as possíveis interferências de cada um deles. b i p e r b i l i r r u b i n e m i a s são classificadas c o m o c o n j u g a d a s ou
n ã o - c o n j u g a d a s , d e a c o r d o c o m a f o r m a p r e d o m i n a n t e de
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES b i l i r r u b i n a n o sangue.
A n e m i a F a l c i f o r m e : U m t i p o a u t o s s ô m i c o d o m i n a n t e de a n e m i a Icterícia: U m a s í n d r o m e caracterizada p o r h i p e r b i l i r r u b i n e m i a e
h e m o l í t i c a c a u s a d a pela p r e s e n ç a de h e m o g l o b i n a S c o m d e p o s i ç ã o de p i g m e n t o biliar n a pele, n a s m e m b r a n a s
eritrócitos a n o r m a i s e m f o r m a de foice (células falciformes). m u c o s a s e n a esclera, c o m r e s u l t a n t e aparência a m a r e l a d a d o
B i l i r r u b i n a C o n j u g a d a : B i l i r r u b i n a q u e foi resgatada pelas paciente; t a m b é m c h a m a d a d e icterus.
células hepáticas e c o n j u g a d a p a r a f o r m a r o d i g l i c u r o n í d e o K e r n i c t e m s : U m a s í n d r o m e clínica d o n e o n a t o resultante de altas
de b i l i r r u b i n a hidtossolúvel. concentrações de bilirrubina não-conjugada, que passa pela
barreira h e m a t o e n c e f á l i c a i m a t u r a d o recém-nascido e causa
degeneração das células d a gânglia basal e d o h i p o c a m p o .
Mioglobina: U m a proteína contendo heme encontrada no
m ú s c u l o esquelético v e r m e l h o .
T a l a s s e m i a : U m g r u p o h e t e r o g ê n e o d e a n e m i a s hemolíticas
Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições prévias dos Drs. Virgil
F. Fairbanks e George G. Klee (hemoglobina e feno) e dos Drs. Keith G Tolman hereditárias q u e a p r e s e n t a m u m a taxa d e síntese d i m i n u í d a
e Robeit Rej (bilirrubina), nas quais se baseiam partes deste capítulo. d e u m a o u mais cadeias p o l i p e p t í d i c a s d a h e m o g l o b i n a e q u e
524 PARTE IV Analitos

são classificadas de acordo com a cadeia envolvida (a, p, 8);


as duas principais categorias são as a e p-talassemias.
T r a n s f e t t i t i a : U m a betaglobulina que transporta ferro n o
sangue.
U r o b i l i n o g ê n i o : U m composto incolor formado n o intestino
pela r e d u ç ã o da bilirrubina.

H e m o g l o b i n a (Hb), ferro e bilirrubina são analitos que


p o d e m ser considerados coletivamente nos processos de
p r o d u ç ã o n o qual a matéria-prima (ferro) é incorporada
a outras matérias-primas, e m u m processo complexo de múltiplos
estágios, r e s u l t a n d o e m u m p r o d u t o final (Hb). M Este p r o d u t o
final tem u m t e m p o d e v i d a limitado, após o qual ocorre a degra-
dação em u m p r o d u t o de excreção (bilirrubina). Nesse processo,
são e n c o n t r a d o s muitos mecanismos bioquímicos requintados
de controle, conservação e síntese. Por exemplo, esse processo
p o d e ser i n t e r r o m p i d o p o r (1) u m a deficiência n o s u p r i m e n t o de
matéria-prima, (2) perda de controle dos mecanismos de síntese,
(3) perda excessiva d o p r o d u t o final ou (4) conversão excessiva
ou deficiência n a eliminação de p r o d u t o s de excreção. Essas
interrupções manifestam-se em distúrbios clínicos de (1) b e m o -
globinopatias, (2) talassemias, (3) anemias p o r deficiência de
ferro, (4) d o e n ç a s hepáticas e (5) várias doenças genéticas—inclu-
Figura 28-1 Estrutura da subunidade da Hb. Cadeias de
sive as s í n d r o m e s de Crigler-Najjar e de Gilbert.
aminoácidos em segmentos era espiral ou helicoidais são ligadas por
segmentos pequenos não-helicoidais. Os segmentos helicoidais são
HEMOGLOBINA denominados de A a H. Nesta ilustração, os aminoácidos são
H e m o g l o b i n a é o pigmento carreador de oxigênio dos eritrócitos, designados de acordo com o segmento helicoidal ou não-helicoidal no
o qual é f o r m a d o n o eritrócito em desenvolvimento na medula qual eles ocorrem. (De Dickerson RE. X-ray analysis and piotein
óssea. E u m a proteína conjugada que c o n t é m quatro grupos h e m e structure. In: Neurath H, ed. The proceins: ccmposition, structure and
e globina e tem a propriedade de oxigenação reversível. function, 2nd ed. Vol. 2. New York: Academic Press, 1964:603-778.
Direitos autorais, Elsevier 1964.)
Química
A h e m o g l o b i n a é u m a h e m o p r o t e í n a , de forma globular, com
diâmetro d e 6,4 n m e peso molecular de a p r o x i m a d a m e n t e p r o m e t e m a estabilidade estrutural e / o u a funcionalidade da
64.500 Da. A porção h e m e é u m quelato que c o n t é m ferro com hemoglobina. O m o n ó x i d o de carbono, por exemplo, substitui
a porção glohina consistindo e m dois pares de cadeias polipeptí- preferencialmente o oxigênio d o h e m e para formar carboxiemo-
dicas de globina, designadas a e n ã o - a . As q u a t r o cadeias de globina. Portanto, a capacidade de transporte de oxigênio da
globina f o r m a m u m a c o n c h a de parede espessa c i r c u n d a n d o u m a hemoglobina é c o m p r o m e t i d a e, e m casos extremos, resulta e m
cavidade central, n a qual a p o i ç ã o heme, ligada por interação dos morte, devida à privação de oxigênio ao tecido. A m e t e m o g l o b i n a
resíduos de histidina das cadeias de globina ao ferro do heme, é f o r m a d a como resultado de u m a m u d a n ç a n o estado de oxida-
está suspensa (Figura 28-1). O ferro h ê m i c o está n o r m a l m e n t e n o ção d o á t o m o de' ferro n o h e m e do estado de oxidação ferroso
estado de oxidação ferroso (2*). normal (2*) para o estado férrico (3*). Isso resulta e m u m a notável
O s dois pares de cadeias de globina n a h e m o g l o b i n a n o r m a l diminuição da capacidade de transporte de oxigênio. A presença
(HbA) são d e n o m i n a d o s a e p. A cadeia a c o n t é m 141 resíduos de nitrato e m água de poço tem sido descrita como causadora de
de aminoácidos e a cadeia P, 146 resíduos de aminoácidos. N a metemoglobinemia. A sulfaemoglobina, c o m u m e n t e resultante
h e m o g l o b i n a fetal, HbF, a cadeia a é a m e s m a que a encontrada da exposição a certas drogas, é formada q u a n d o u m ou mais
na H b A , mas a cadeia n ã o - a é a cadeia y, que t e m o m e s m o oxigênios dos anéis porfirínicos d o h e m e é substituído por
n ú m e r o de resíduos d e aminoácidos e homologia estrutural subs- enxofre. A remoção da fonte de compostos químicos leva à res-
tancial com a cadeia p. A H b A z tem a cadeia a habitual, mas a tauração da hemoglobina n o T m a l .
cadeia n ã o - a é a cadeia 8. Por convenção, a cadeia a é sempre A h e m o g l o b i n a t a m b é m f o r m a adutos pela ligação de u m a
escrita p r i m e i r o nas abreviações da estrutura da h e m o g l o b i n a . molécula às cadeias de globina. Embora a ligação seja mais
Por exemplo, H b A é escrita c o m o OL-fii, H b F c o m o CL-ifj e H b A : c o m u m n o residuo d e a m i n o á c i d o N terminal, ela p o d e ocorrer
c o m o a 2 82- E m adultos normais, a H b A f o r m a cerca de 8 5 % a e m q u a l q u e r lugar ao longo da cadeia de globina. Por exemplo,
9 5 % da h e m o g l o b i n a total, a H b F é m e n o s do que 1%, e a H b A 2
a h e m o g l o b i n a carbamilada é f o r m a d a pela ligação de uréia, e a
é m e n o s do q u e 3,5%. Variações n a seqüência de resíduos de
h e m o g l o b i n a glicada é f o r m a d a pela ligação de glicose ao N-
aminoácidos das cadeias de globina (uma variação qualitativa)
terminal da p-glohina. O a d u t o h e m o g l o b i n a glicada, HbAi c , é
leva a hemoglobinopatias, e n q u a n t o diminuições n a p r o d u ç ã o
clinicamente i m p o r t a n t e c o m o u m m o n i t o r de controle glicê-
de cadeias de globina (uma variação quantitativa) levam a talas-
mico para pacientes com diabetes. A h e m o g l o b i n a fetal (HbF,
semias.
a 2 y 2 ) é a única q u e p o d e f o r m a r u m a d u t o acetilado. O h e m e ,
Hemoglobinas Quimicamente Modificadas a p r o t o p o r f i r i n a IX ferrosa, consiste em q u a t r o anéis pirrólicos
A h e m o g l o b i n a p o d e ser modificada pela ligação de compostos ao redor de u m á t o m o de ferro com q u a t r o dos seus seis pares
químicos para formar hemoglobinas q u i m i c a m e n t e modificadas. de elétrons ligados aos átomos de nitrogênio dos anéis pirrólicos
Algumas dessas hemoglobinas modificadas q u i m i c a m e n t e com- (Capítulo 29).
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 525

A h e m i n a resulta da oxidação relativamente fácil d o ferro da H h A , pode ser feito u m diagnóstico presuntivo de a-talasse-
hêmico do estado ferroso para o estado férrico. Para permanecer mia. A confirmação pelo teste de D N A é necessária para o
eletricamente neutra, u m composto com halogênio, geralmente diagnóstico definitivo.
cloreto, liga-se à hemina. Em solução alcalina, a h e m a t i n a é U m a única deleção gênica, escrita como (aa/a-) é, em geral,
formada pela substituição do á t o m o de halogênio da h e m m a por clinicamente silenciosa e não tem característica hematológica
u m grupo hidroxila. significante além de u m volume corpuscular médio (MCV) leve-
mente d i m i n u í d o ocasionalmente.
Bioquímica A deleção de dois genes, algumas vezes chamada traço a-talas-
O h e m e é sintetizado principalmente na medula óssea e n o sêmico e escrita como (aa/- ou a-/a-), tem características clínica
fígado (Figura 29-2, Capítulo 29). e hematológica significantes. O MCV, a hemoglobina corpuscu-
Este é u m processo de oito etapas com cada uma delas envol- lar média (MCH) e o índice de Mentzer ( M C V / c o n t a g e m de
vendo u m a enzima diferente geneticamente controlada. A pri- eritrócitos) estão todos diminuídos. O esíregaço de sangue peri-
meira e as três últimas etapas ocorrem na mitocôndria dos eri- férico mostra uma anemia microcítica e hipocrômica. N ã o há
troblastos c reticulócitos na medula óssea. Os quatro estágios picos anormais na cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC)
intermediários ocorrem n o citossol. e n e n h u m a banda não usual na eletroforese. A deleção é dita
Em c o m u m c o m todos os genes, os genes de globina consis- u m a deleção eis q u a n d o as duas deleções são n o mesmo locus
tem em éxons (seqüências codificadoras) e íntrons (sequências gênico {aa/-) e u m a deleção trans q u a n d o elas estão em loa
não codificadoras intercaladas) com códons [triplet (trinca) de gênicos opostos (a-/a-)
nucleotídeos] codificando aminoácidos específicos. Os genes U m a deleção de três genes a ( - / a - ) resulta em doença de
de globina têm três éxons e dois íntrons com uma região promo- H b H . Entretanto, u m a doença de H b H não causada por deleção
tora (específica para a cadeia de globina) na extremidade 5' de é vista, a qual é mais grave na apresentação clínica do que a
cada gene Os processos de transcrição e tradução são os mesmos doença de H b H por deleção mais típica. Os pacientes com
que em qualquer outra síntese de cadeias de aminoácidos. doença de H b H têm (1) concentração de hemoglobina baixa,
(2) M C V e M C H diminuídos e (3) contagem de eritrócitos ligei-
Função Fisiológica ramente aumentada. Os resultados relativos ao ferro são normais.
O ferro d o h e m e está n o r m a l m e n t e n o estado ferroso (2+) e é O cromatograma do HPLC, mostrado na Figura 28-2, mostra a
capaz de agir c o m o a principal entidade de transporte de oxigênio presença de bandas nítidas próximas ao p o n t o de injeção.
pela combinação reversível com o oxigênio. Cooperatividade é o A deleção de quatro genes a ê geralmente incompatível com
termo usado para descrever a interação das cadeias de globina de a vida sem transfusão maciça intra-uterina e pós-natal. A doença
tal forma que a oxigenação de u m grupo h e m e a u m e n t a a pro- é n o r m a l m e n t e chamada hidropisia fetal H b de Bart. Tipica-
babilidade de oxigenação de outro ou de todos os grupos heme. mente, as mães carregando u m feto com H b de Bart se apresen-
O efeito Bohr refere-se à redução da afinidade do oxigênio pelo tam, cerca de 20 a 25 semanas de gestação, com a manifestação
h e m e com u m a diminuição n o pH. Este efeito é particularmente de poliidrâmnio. A concentração de hemoglobina n o sangue do
importante n o músculo em exercício, o n d e os produtos d o meta- cordão umbilical é grandemente a u m e n t a d a para a idade e há
bolismo aeróbico, C 0 2 e ácido carbônico, d i m i n u e m o pH a 6 hipoalbumjnemia. A análise por H P L C do sangue do cordão
e a liberação d o oxigênio ligado ao heme é facilitada. umbilical, mostrada na Figura 28-2, mostra uma única banda
nítida n o p o n t o de injeção d o cromatograma. A eletroforese em
Importância Clínica pH alcalino mostra u m a banda de migração rápida. Na Figura
As talassemias e as hemoglobinopatias formam dois grupos dife- 28-3, são mostradas a H P L C e a eletroforese em p H alcalino do
rentes de doenças de origem genética. 9 As talassemias originam-se sangue do cordão umbilical de u m feto normal de 26 semanas e
da produção insuficiente de cadeia de globma. O n o m e é deri- de u m feto de idade gestacional similar com H b de Bart. A H P L C
vado da palavra grega para mar, thalasa, porque todos os casos do feto com H b de Bart mostra um pico único característico n o
iniciais de (3-talassemia foram descritos em crianças de origem ponto de injeção, e n q u a n t o a H P L C do feto normal mostra H b F
mediterrânea. As hemoglobinopatias, coletivamente, são varian- (tanto a acetilada quanto a normal) com alguma HhA. Em
tes estruturais de hemoglobina geradas a partir de mutações nos algumas partes do m u n d o , o n d e duas deleções gêmeas eis são
genes de globinas. Isso resulta em substituições ou interrupções comuns, o rastreamento de todos os futuros pais é realizado com
na seqüência n o r m a l de resíduos de aminoácidos em u m a ou a c o m p a n h a m e n t o e aconselhamento apropriados.
mais cadeias de globina da hemoglobina. Elas são as doenças As beta (p)-talassemias resultam de uma diminuição na
monogênicas mais c o m u n s n o m u n d o . síntese da cadeia de p-globina. Elas são comuns em áreas próxi-
mas (1) ao Mediterrâneo, (2) a províncias ao sul da C h i n a e
Talassemias (3) ao subcontinente indiano.
As talassemias são identificadas de acordo com a cadeia de Os métodos de rastreamento da população estão, agora, em
globina que apresenta deficiência de produção. Portanto, as a - uso" em várias localidades d o m u n d o o n d e a p-talassemia é
talassemias surgem da produção defeituosa da p r o d u ç ã o de comum.
a-globina; as P-talassemias, da p r o d u ç ã o deficiente de p-globina.
e as Ôp-talassemias de deficiências na p r o d u ç ã o de 5 e P-globi- pD-Talassemia (p-Talassemia Major)
nas. As talassemias são, ainda, classificadas pela extensão da Algumas vezes chamada anemia de Cooley, os indivíduos com
redução da p r o d u ç ã o de globina e da anemia resultante. Q u a t r o p-talassemia major (1) têm infecções frequentes, (2) parecem
genes de globina controlam a p r o d u ç ã o de a-globina. Deleções pálidos, (3) são desnutridos e (4) exibem esplenomegalia com
ou mutações pontuais em qualquer u m desses genes resultam mudanças ósseas faciais. Essas manifestações refletem principal-
em a-talassemia. A gravidade da anemia é u m reflexo n o n ú m e r o mente o grau de expansão óssea associada à eritropoiese ineficaz.
de deleções gênicas. Frequentemente, o diagnóstico de a-talas- A p n -talassemia resulta de mutações que interferem na tradução
semia é por exclusão. Na presença de índices talassêmicos na ou estão envolvidas na iniciação, n o alongamento ou na termi-
contagem sanguínea completa (CBC) e na ausência de elevação nação da síntese da cadeia de globina.
526 PARTE IV Analitos

30%
0,090
AU (a) (b)

20%
0,060-

0,030-
10%

A
í
A2

0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 ( 5

30% 30%

(d) (o)

20*?; 20%- p

10% 10%- 10%--

I A2 I
I I
l AAJ VA2 ml a n
0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5

30% 30% 30% t

(9) (h) <i)

20% 20%- 20%

10%- 10% 10%-

A2 i
li. j A2
,L I . A . l i l w A W l
A2 i/\'|
H 1 1 h

Figura 2 8 - 2 C r o m a t o g r a m a s de H P L C o b t i d o s de diversas variantes a, H b de Bart; b, (3 0 -talassemia major; c,


h o m o z i g o t o H p a r a fJ 4 -tal as se mia; cJ, H b H ; e, h o m o z i g o t o S; /, t r a ç o S; g, h o m o z i g o t o C ; h, traço C ; i, H b S - H b
G P h i l a d e l p h i a . (De Clarke G M , Trefor Kl, Higgins T N . L a b o i a t o r y Invéstigation of h e m o g l o b i n o p a t h i e s a n d
thalassemias: review a n d u p d a t e . C l i n C h e m 2000;46:1284-90.)

A a p r e s e n t a ç ã o clínica o c o r r e g e r a l m e n t e e m m e n o s de 1 tos, (2) n u m e r o s a s células-alvo, q u e p o d e m teT u m a p o n t e ligando


a n o de idade, c o m características q u e i n c l u e m (1) t a m a n h o as zonas de p i g m e n t o central e periférica, (3) policromasia,
p e q u e n o para a idade, (2) expans ão da c i r c u n f e r ê n c i a a b d o m i - (4) esferócitos ocasionais, (5) esquistócitos e (6) eritrócitos nucle-
n a l e (3) falha n o d e s e n v o l v i m e n t o . O e x a m e físico d o i n d i v í d u o ados. A ferritina está d e n t r o d o seu intervalo de referência. U m
p o d e revelar p r o t u b e r â n c i a f r o n t a l ( u m a p r o t u b e r â n c i a a r r e d o n - e s t u d o familiar 1 deveria, sempre, ser realizado e m u m a família
d a d a n a f r o n t e ) c a u s a d a pelo e s p e s s a m e n t o d o s ossos craniais, c o m u m a criança c o m p-talassemia major. A H P L C d o s a n g u e de
palidez e p r o e m i n ê n c i a d o s ossos da face. Hm crianças mais crianças c o m p-talassemia major m o s t r a u m g r a n d e pico de H b F ,
velhas, isso obscurece a base d o nariz e e x p õ e os d e n t e s . c o m n e n h u m pico de H b A e p o u c o ou n e n h u m pico de H b A j
R e s u l t a d o s típicos d a C B C i n c l u e m a n e m i a grave c o m a (Figura 28-2). A l g u m a s vezes, u m a b a n d a p e q u e n a nítida é vista
c o n c e n t r a ç ã o d e h e m o g l o b i n a e n t r e 3 0 e 6 5 g / L , o M C V de 4 8 n o p o n t o d e i n j e ç ã o e t e m sido c h a m a d a p s e u d o - H b d e Bart, mas
a 72 f L e a c o n c e n t r a ç ã o de h e m o g l o b i n a c o r p u s c u l a r m é d i a é, de fato, b i l i r r u b i n a .
( M C H C ) de 230 a 3 2 0 g / L . N o esfregaço d e sangue periférico, T r a n s f u s õ e s p o r t o d a a vida j u n t a m e n t e c o m terapia de que-
nota-se m o r f o l o g i a a n o r m a l d a célula v e r m e l h a d o s a n g u e lação são as principais terapias. O t r a n s p l a n t e d e m e d u l a óssea
(RBC), característica q u e inclui (1) g r a n d e n ú m e r o d e micráci- t a m b é m tem-se m o s t r a d o eficaz.
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 527

C S A F
C S F A

+ (b)

I Hl
(a)

i
i
0,125-
0,125

0,100
0,100 (d)

0.075
0,075

5 0.050
0,050
1
1\
1
0.025 0.025

0.000 O.OOO-

0,00 0.75 1.50 2.25 3,00 3,75 4,50 5,25 0,00 1.50 2.25 3,00 3,75 4,50 5,25
T e m p o (mm) T e m p o (min)

Figura 2 8 - 3 Eletroforese de hemoglobina sm p H alcalino (a) e ácido (b) dc um feto n o r m a l de 26 semanas


de idade gestacional {linha 2) e um feto c o m Hb de Bart de idade gestacional similar {linha 3) O s
cromatogramas de H P L C dos mesmos fetos normal (c) e com H b de Bart (d).

p ! '-Talassemia mia, (.3) p o n t i l h a m e n t o basofílico, (4) células-alvo e (5) RBCs


A p~-talassemia é atribuída a uma grande variedade de genõtipos, nucleadas no esfregaço de sangue periférico.
mas todos têm em c o m u m uma redução significativa da produ-
ção da P-globina com redução subseqüente da quantidade de p-Talassemia Minor
H b A presente. A gravidade clínica em indivíduos com variações O s pacientes com p-talassemia minor são muito freqüentemente
nas duas cadeias de P-globina é muito m e n o r do que quando assintomáticos, exceto em ocasiões de estresse hematopoiético,
existe uma variação em u m único gene, uma condição algumas tais c o m o em infecções ou na gravidei, q u a n d o eles p o d e m
vezes denominada p-talassemia dominante. Há uma redução da necessitar de transfusões de sangue devido ao desenvolvimento
gravidade das características clínicas com a co-herança de a-talas- de anemia. A C B C cm pacientes c o m traço P-talassêmico mostra
semia. A P-talassemia á encontrada em países do Mediterrâneo, hemoglobina e hematócrito n o limite inferior ou diminuídos,
especialmente em países n o Mediterrâneo Oriental. M C V (< 72 fL) a M C H (< 27 pg) diminuídos e uma amplitude
A apresentação clínica varia de sintomas similares aos da de distribuição dos eritrócitos ( R D W ) normal. Entretanto, para
P°-talassemia até aqueles associados ao traço p-talassêmico. As pacientes com doenças hepáticas e p - t a l a s s e m i a , o M C V e a
transfusões normalmente não são necessárias, e a terapia c o m M C H p o d e m estar aumentados para o limite superior do inter-
hidroxiuréia é freqüentemente usada paia aumentar a produção valo de referência.
de hemoglobina F e abrandar os sintomas da doença. A C B C O esfregaço de sangue periférico mostra RBCs microcíticas
mostra hemoglobina diminuída com (1) anisocicose, (2) hipocTO- com hipocromia ocasional, pecilocitose c células-alvo. O achado
528 PARTE IV Analitos

de u m a H b A 2 a u m e n t a d a (>3,5%) com índices talassêmicos apro- c a n d o que a variante tem mobilidade eletroforética similar a
priados ( M C V baixo, alta contagem de R B C e R D W n o r m a l ou outras hemoglobinas Gs e q u e a variante foi originalmente
próximo do normal) na C B C é essencial para o diagnóstico de e n c o n t r a d a n a tribo indígena C o u s h a t t a n o Sul dos Estados
P-talassemia miíior. Indivíduos com deficiência de ferro devem U n i d o s . O termo traço A S (algumas vezes abreviado c o m o traço
fazer reposição de ferro antes que u m diagnóstico definitivo de S) é usado para descrever a heterozigose de HbS, e o t e r m o SS,
p - t a l a s s e m i a seja feito, já que a H b A ; p o d e estar falsamente para descrever a homozigose d e H b S A homozigose de H b S é
d i m i n u í d a c o m a depleção d e ferro. A H P L C é o m é t o d o prefe- conhecida como a n e m i a f a l c i f o r m e ou doença falciforme, por
rencial para essa quantificação. Em 3 0 % a 4 0 % de todos os casos causa das células e m forma de foice que aparecem n o sangue de
de P-talassemia minor, a H b F t a m b é m estará a u m e n t a d a (>1,0%). indivíduos afetados
Na p - t a l a s s e m i a minor, o t e m p o de vida da R B C pode estar redu- U m sistema de n o m e n c l a t u r a sistemática é agora usado para-
zida e pacientes com diabetes p o d e m mostrar u m a H b A l c mais lelamente ao n o m e da variante para descrever (I) a cadeia afetada,
baixa q u a n d o comparados com indivíduos n o r m a i s com controle (2) a localização da cadeia e (3) a substituição d o aminoácido.
glicêmico equivalente. A m u t a ç ã o da p - t a l a s s e m i a pode ser iden- C o m o exemplo, a H b Spanish T o w n (a27[B8] ulu_>Val ) é u m a
tificada por S o u t h e r n Blot, usando-se sondas específicas pata a variante de hemoglobina n o m e a d a com o n o m e de um distrito
mutação, ou u m a reação em cadeia da polimerase (PCR) seqüên- em Kingston, Jamaica, e e n c o n t r a d a e m jamaicanos de descen-
cia-específica dência africana. Origina-se de u m a substituição de ácido glutâ-
mico p o r valina n a posição 27 da cadeia de a-globina, que está
5p-Talassemia localizada na posição 8 da hélice B da cadeia a
A deleção dos genes 5 e p resulta em Ô p - t a l a s s e m i a com ambas
as condições, heterozigota e homozigota, descritas. A doença é Classificação das Variantes de Hemoglobina
encontrada em vários grupos étnicos, mas é mais prevalente em As variantes de h e m o g l o b i n a são classificadas de acordo com o
países d o M e d i t e r r â n e o Oriental, especialmente Grécia e Itália tipo de mutação. As m u t a ç õ e s p o n t u a i s em u m a cadeia de
A análise da C B C mostra h e m o g l o b i n a reduzida (80 a 13.5 g/L) globina causam a substituição d e u m resíduo de a m i n o á c i d o [p.
c o m M C V e M C H nos limites inferiores ou ligeiramente dimi- ex., H b San Diego ( p 109ÍG1 lJVal—>Met)l. A hemoglobina C
nuídos. A análise por H P L C mostra um pico de H b A com u m a H a r l e m é um exemplo de u m a variante de hemoglobina na qual
concentração de H b A i reduzida e concentração de HbF aumen- dois resíduos de aminoácidos são substituídos, ou seja, valina
tada. Entretanto, n o tipo Sardo da ÔP-talassemia, existem índices substituindo ácido glutâmico na posição 6 e asparagina substi-
talassêmicos na C B C ( M C V e M C H baixos, R D W normal) com t u i n d o ácido aspártico na posição 73 da cadeia p .
u m a concentração de H b A z n o r m a l e uma concentração de H b F As variantes delecionais de h e m o g l o b i n a surgem da deleção de
entre 15% e 2 0 % . 1 a 5 resíduos de aminoácidos na cadeia de globina. As hemoglo-
binas de inserção surgem de u m a inserção de 1 a 3 resíduos de
Persistência Hereditária de Hemoglobina Fetal aminoácidos na cadeia d e globina As hemoglobinas de deleção/
O t e r m o persistência hereditária de hemoglobina fetal (HPFH) é inserção surgem da deleção de u m a parte da seqüência normal de
u s a d o para descrever u m grupo de condições genéticas nas quais resíduos de aminoácidos e da inserção de outra seqüência, com
a concentração de H b F está a u m e n t a d a acima do intervalo de resultante alongamento ou e n c u r t a m e n t o da cadeia de globina.
referência com u m a redução da síntese de P-globina e um As hemoglobinas de alongamento resultam de u m a mutação da
a u m e n t o compensatório da síntese de y-globina. Duas classes único par de bases ou frameshift ( m u d a n ç a n o q u a d r o de leitura)
principais de H P F H têm sido descritas, heterocelular e delecional. na extremidade 3' do éxon 3 ou na extremidade 5' do éxon 1 da
Diversas variantes delecionais de H P F H têm sido descritas, cadeia de a L >- ou de p - g l o b i n a As hemoglobinas híbridas/de fusão/
incluindo as variantes (1) Grega, (2) Indiana, (3) Italiana, (4) Corfu cruzadas resultam da fusão da cadeia de a - ou p - g l o b i n a com u m a
e (5) Negra. Nessas variantes de HPFFÍ delecionais, a concentração porção de u m a outra cadeia de globina.
de H b F pode estar tão alta q u a n t o 36%.
A H P F H n ã o delecional, algumas vezes chamada H P F H hete- Metodologia Analítica
rocelular, descreve u m g r u p o de doenças nas quais o a u m e n t o de A hemoglobina e os compostos relacionados são dosados por
H b F é distribuído h e t e r o g e n e a m e n t e entre as células vermelhas vários tipos diferentes de métodos. A l é m disso, diversas tecnolo-
de indivíduos h e m a t o l o g i c a m e n t e normais. A concentração de gias f o r n e c e m informação que levam ao diagnóstico de talasse-
H b F varia entre 1% e 13% da hemoglobina total em heterozigo- mias e hemoglobínopatias. Os m é t o d o s usados para esse fim são
tos e entre 19% e 21% em homozigotos divididos naqueles que (1) f o r n e c e m u m a provável identificação
e (2) f o r n e c e m u m a identificação definitiva. Exemplos de testes
Hemoglobínopatias que f o r n e c e m provável identificação são C B C , H P L C e eletrofo-
Mais de 900 hemoglobínopatias têm sido descritas ( h t t p : / / rese, S e q ü e n c i a m e n t o de D N A ou espectroscopia de massa for-
globin.cse.psu edu); entretanto, s o m e n t e poucas têm importân- necem informação definitiva. A amostra preferível para a inves-
cia clínica A identificação de variantes de h e m o g l o b i n a em áreas tigação de hemoglobinas e talassemias é u m a amostra fresca ce
que a n t e r i o r m e n t e t i n h a m baixa incidência (Europa Setentrio- sangue em ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), u m antico-
nal, América d o Sul e C a n a d á ) tem a u m e n t a d o nos últimos anos agulante. O a r m a z e n a m e n t o p o r mais de 5 dias a 4 °C pode
devido à imigração a partir de áreas de alta incidência d e hemo- c o m p r o m e t e r a integridade da amostra.
globinopatias (Africa, Sudeste da Ásia).
Dosagem de Hemoglobina no Sangue Total
Nomenclatura A dosagem da concentração de hemoglobina n o sangue venoso
As variantes de h e m o g l o b i n a têm sido n o m e a d a s com o uso de ou capilar é n o r m a l m e n t e realizada usando-se o m é t o d o da cia-
letras (S, C, D, E), n o m e familiar do caso-índice (Hb Lepore), o n o m e t e m o g l o b i n a . O princípio do m é t o d o é baseado na oxida-
lugar de descoberta da variante, ou a cidade natal ou o rio que ção d o Fe2" da h e m o g l o b i n a a Fe 1+ da metemoglobina pelo ferri-
passa pela cidade do p r o b a n d o . Em alguns casos, são usados a cianeto, com a metemoglobina, então, convertida em cianomete-
letra e o n o m e secundário, por exemplo, H b G Cousha t t a , indi- moglobina estável pela adição de cianeto de potássio (KCN)-
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 529

H t F e 2 + + FeU(CN)t HbFeu + Fe 2+ (CN) 6 4 "

HbFe"+ + CN~ -> HbFeuCN


I l l
s m s
o n d e HbFe 2 + r e p r e s e n t a u m m o n ô m e r o de h e m o g l o b i n a , H b F e 1 - ,
1 1
u m m o n ô m e r o de m e t e m o g l o b i n a , e H b F e ^ 1 C N , u m m o n ô m e r o
de c i a n o m e t e m o g l o b i n a . A a b s o r v â n c i a d a c i a n o m e t e m o g l o b i n a 1 1
é m e d i d a a 540 n m e usada para calcular a c o n c e n t r a ç ã o de i
hemoglobina.
B I
N
»
Contagem Sanguínea Completa
A C B C p o d e f o r n e c e r a p r i m e i r a indicação de u m a talassemia I
o u h e m o g l o b i n o p a t i a , e é essencial realizar u m a C B C c o m o
p a r t e de q u a l q u e r investigação de h e m o g l o b i n o p a t i a s e talasse- M I t
mias. E m talassemias, o M C V e a M C H estão abaixo d o i n t e r v a l o I I I
de referência. A h e m o g l o b i n a p o d e estar abaixo ou d e n t r o d o
i n t e r v a l o de referência. A l g u m a s vezes, o M C V está m u i t o baixo,
c o m a c o n t a g e m de R B C na m e t a d e s u p e r i o r ou a c i m a d o inter- Figura 2 8 - 4 Eletroforese alcalina e ácida de várias
valo d e referência. O R D W está d e n t r o d o i n t e r v a l o d e referência hemoglobinopatias. Linha 1, H b S, H b FA controle; Linha 2, HB S, H b
o u l e v e m e n t e acima dele. O esfregaço d e s a n g u e p o d e m o s t r a r F, H b C A controle; Linha 3, doença S C transfundida; Linha 4, doença
u m p a d r ã o microcítico e h i p o c r ô m i c o . N a s h e m o g l o b i n o p a t i a s , SC; Linha 5, H b A (normal); Linha 6, H b Presbyterian; Linha 7, H b S;
a C B C m u i t o f r e q ü e n t e m e n t e está n o r m a l . N o esfregaço de Linha 8, H b Ai aumentada (traço p-talassêmico), Linha 9, Hb J
s a n g u e periférico, p o d e m ser o b s e r v a d a s variações q u e estão asso- Baltimore, Linha 10, H b C.
ciadas a u m a v a r i a n t e d e h e m o g l o b i n a e m particular, c o m o a
p r e s e n ç a de células falciformes n a d o e n ç a f a l c i f o r m e ( H b S e m
As variações d e técnicas eletroforéticas q u e t ê m sido u s a d a s
h o m o z i g o s e ) ou células-alvo n a h o m o z i g o s e de H b E .
n a identificação de v a r i a n t e s de h e m o g l o b i n a i n c l u e m eletrofo-
Várias f ó r m u l a s derivadas de p a r â m e t r o s na C B C têm sido
rese p o r focalização isoelétrica e p o r focalização isoelétnca capilar
r e c o m e n d a d a s para d e t e r m i n a r se o p a c i e n t e tem talassemia. U m
( C a p í t u l o 6).
e s t u d o p r o p õ e q u e u m M C V m e n o r d o q u e 72 fL (intervalo de
Essas técnicas, e m b o r a a p r e s e n t e m m e l h o r resolução d o q u e
referência ~ 8 0 - 1 0 0 fL) 1 ' é sugestivo de talassemia e q u e esse
eletroforese em gel e m d i f e r e n t e s p H s , são t e c n i c a m e n t e difíceis
p a r â m e t r o s o z i n h o é o m e l h o r d i s c r i m i n a d o r de talassemia. O
de se realizar e t ê m u m baixo r e n d i m e n t o . C o n s e q ü e n t e m e n t e ,
índice d e M e n t z e r (Ml) rem sido p r o p o s t o c o m o u m p a r â m e t r o
a H P L C é mais a m p l a m e n t e u s a d a já que é mais simples e f o r n e c e
d e r a s t r e a m e n t o para a p-talassemia 9 , c o m valores m e n o r e s ou
resultados equivalentes aos d a m a i o r i a das complexas técnicas
iguais a 1 4 , 6 9 indicativos de talassemia. O M I t a m b é m t e m sido
eletroforéticas.
u s a d o para o r a s t r e a m e n t o de a-talassemia. O f a t o r d i s c r i m i n a n t e
(DF) t e m sido sugerido c o m o u m cálculo de r a s t r e a m e n t o para
d i s c r i m i n a r deficiência de f e r r o e talassemia.
HPLC
A H P L C , u s a n d o u m a c o l u n a e m p a c o t a d a c o m resina t r o c a d o r a
de cátions, f o r n e c e e m u m a ú n i c a análise a q u a n t i f i c a ç ã o d e
RDW
H b A 2 e H b F , e u m a i d e n t i f i c a ç ã o micial de q u a l q u e r v a r i a n t e
Fator d i s c r i m i n a n t e (DF) = ( M C V x M C V ) x x 100
de h e m o g l o b i n a p r e s e n t e (Figura 28-2). T ê m sido p u b l i c a d a s
Hb
listas extensas d e t e m p o s de r e t e n ç ã o de variantes de hemoglo-
b i n a t a n t o e m m é t o d o s comerciais c o m o n o s desenvolvidos e m
U m D F < 65 está associado à talassemia, e valores > 7 5 estão
laboratório. 1 1 ' 1 9 As v a n t a g e n s da H P L C sobre a eletroforese são
associados à deficiência de ferro. Valores e n t r e 65 e 75 são clas-
(1) resolução s u p e r i o r de variantes de h e m o g l o b i n a , (2) t e m p o d e
sificados c o m o d u v i d o s o s e p o d e m indicar deficiência de ferro
ensaio r á p i d o e (3) q u a n t i f i c a ç ã o a c u r a d a de frações de hemoglo-
c o m b i n a d a com u m a talassemia s u b j a c e n t e
bina, incluindo H b A z e H b F
O s p a r â m e t r o s de C B C e cálculos associados o u o esfregaço
de s a n g u e periférico, e n t r e t a n t o , são incapazes de f o r n e c e r o diag-
nóstico definitivo de talassemia ou h e m o g l o b i n o p a t i a s . E t a m b é m Espectroscopia de Massa por Eletrospray
crucial c o n h e c e r o estado de ferro d o p a c i e n t e já q u e a deficiência (Ele tropulveríza ção)
de ferro mimetiza ou ameniza as características de u m a talassemia A espectroscopia de m a s s a p o r eletrospray t o r n o u - s e o m e l h o r
s u b j a c e n t e E m b o r a a ferritina seja o e x a m e mais p o p u l a r para a m é t o d o n a escolha para a caracterização de variantes de h e m o -
d e t e r m i n a ç ã o d o estado de ferro, ela tem limitações. globina e a d u t o s de h e m o g l o b i n a . Esta técnica estabelece m u i t o
r a p i d a m e n t e (1) se a v a r i a n t e é u m a v a r i a n t e de cadeia a ou fS,
Eletroforese (2) a localização e a i d e n t i d a d e da s u b s t i t u i ç ã o d o r e s í d u o d e
O teste inicial mais c o m u m para o r a s t r e a m e n t o d e h e m o g l o b i - a m i n o á c i d o e (3) a q u a n t i d a d e d e v a r i a n t e presente. Ela neces-
n o p a t i a o u talassemia é a eletroforese u s a n d o gel d e agarose e u m sita, e n t r e t a n t o , d e várias etapas preparativas e e s p e c t r ó m e t r o s d e
t a m p ã o barbital de p H 9,2. E m b o r a esse m é t o d o seja c o m u m e n t e massa caros.
u s a d o , ele t e m várias limitações. P r i m e i r o , a H b A 2 n ã o p o d e ser
q u a n t i f i c a d a com precisão, e, s e g u n d o , m u i t a s variantes de h e m o - Análise de DNA
g l o b i n a m i g r a m a lima m e s m a velocidade, d i f i c u l t a n d o a identi- A principal f u n ç ã o da análise de D N A n a investigação de h e m o -
ficação. A p ó s a eletroforese (Figura 28-4), as h e m o g l o b i n a s são g l o b i n o p a t i a s e talassemias é identificar, nas p o p u l a ç õ e s c o m
visualizadas usando-se P o n c e a u S (coloração a v e r m e l h a d a ) ou u m a alta incidência c o n h e c i d a da d o e n ç a , aqueles i n d i v í d u o s
p r e f e r e n c i a l m e n t e A m i d o Black (coloração azul-escura a preta). específicos s o b risco e q u e p o d e m beneficiaT-se de aconselha-
530 PARTE IV Analitos

m e n t o genético. O s usos de análises d e D N A para esse p r o p ó s i t o s ã m e n t e seu s u p r i m e n t o de ferro, de tal f o r m a q u e m e n o s de


estão listados n o Q u a d r o 28-1 0 , 1 % d o c o n t e ú d o d e ferro c o r p o r a l é p e r d i d o d i a r i a m e n t e , prin-
c i p a l m e n t e nas células d e s c a m a d a s .
Testes para Hemoglobinas Variantes Específicas
Distribuição do Ferro no Corpo
Teste de Solubilidade de HbS O ferro corporal é d i s t r i b u í d o e m vários c o m p a r t i m e n t o s dife-
A h e m o g l o b i n a S, q u a n d o desoxigenada, é insolúvel e m t a m p ã o rentes q u e i n c l u e m (1) h e m o g l o b i n a , (2) ferro a r m a z e n a d o ,
fosfato c o n c e n t r a d o e produz turbidez visível. Q u a s e todas as (3) ferro tecidual, (4) mioglobina e (5) pool lábil. A q u a n t i d a d e m é d i a
oiitras^hemoglobinas, incluindo as h e m o g l o b i n a s A, F, C , E e D, de ferro nesses compartimentos está resumida na Tabela 28-1.
são solúveis e m tais soluções. Portanto, esse teste r a p i d a m e n t e
identifica amostras de sangue que c o n t ê m H b S . TJma substância Hemoglobina
redutora, hidrossulfito de sódio (Na2S20 4 , ditionita de sódio), é U m mililitro de eritrócitos c o n t é m 1 mg d e ferro. E m u m h o m e m
usada para desoxigenar a h e m o g l o b i n a , e a s a p o n i n a é usada para de 70 kg, a massa d e R B C é cerca de 2 L, c o n t e n d o , p o r t a n t o ,
lisar as R B C s . A turbidez a u m e n t a d a e m u m a amostra com H b S cerca de 2 g de ferro da h e m o g l o b i n a .
é n o t a d a pela visualização de u m cartão impresso (Figura 28-5)
através da amostra tratada, com u m decréscimo n a clareza do Armazenamento de Ferro
cartão impresso i n d i c a n d o a presença de HbS. Resultados falso- O ferro é a r m a z e n a d o na f o r m a de ferritina e de h e m o s s i d e r i n a .
positivos são e n c o n t r a d o s e m amostras c o m (1) c o r p o s de Heinz,
(2) altas c o n c e n tr a ç õ e s de proteína m o n o c l o n a l ou (3) aglutininas Ferritina
frias. R e s u l t a d o s falso-negativos são obtidos e m pacientes anêmicos A f e r r i t i n a consiste e m u m a c o n c h a proteica c i r c u n d a n d o um
( h e m o g l o b i n a < 8 0 g/L) o u e m amostras c o m u m hematócrito núcleo d e ferro, e n q u a n t o a h e m o s s i d e r i n a é f o r m a d a q u a n d o a
m e n o r d o q u e 15%. O u t r a s variantes de h e m o g l o b i n a , i n c l u i n d o
H b C H a r l e m , H b M e m p h i s e H b C Ziguinchor, t a m b é m dão resul-
tados falso-positivos. A interpretação d o teste é m u i t o subjetiva.

Teste de HbH
A H b H , p 4 , é u m t e t r â m e r o insolúvel e n c o n t r a d o e m pacientes
com a-talassemia. Inclusões p o n t i l h a d a s de H b H , n o r m a l m e n t e
descritas c o m o s e m e l h a n t e s a "bolas de golfe", são e n c o n t r a d a s
nas R B C s dc u m esfregaço d e sangue periférico de u m paciente
c o m a-talassemia t r a t a d o c o m azul d e m e t i l e n o ou azul de cresil
b r i l h a n t e a 3 7 ° C . O m é t o d o é trabalhoso e m u i t o subjetivo.
M u i t a s dessas inclusões estão presentes e m i n d i v í d u o s c o m
d o e n ç a d e H b H , e n q u a n t o células c o n t e n d o inclusões são raras
entre i n d i v í d u o s com traço talassemico.

Testes para Hemoglobinas Instáveis


O t r a t a m e n t o da a m o s t r a d e sangue c o m a q u e c i m e n t o a 5 5 ° C a
6 0 ° C o u c o m i s o p r o p a n o l é u s a d o para detectar a presença de
h e m o g l o b i n a s instáveis. Por exemplo, as h e m o g l o b i n a s instáveis
precipitam sob essas condições e são detectadas p o r u m a u m e n t o
da turbidez o u pela precipitação incompleta da amostra após tra-
t a m e n t o . A H b A n o r m a l leva cerca de 4 0 m i n u t o s para precipitar,
mas as h e m o g l o b i n a s instáveis precipitam e m 3 a 4 m i n u t o s .

FERRO Figura 2 8 - 5 Teste de solubilidade da Hb S. A desoxiemoglobma S


N o r m a l m e n t e , q u a n t i d a d e s m u i t o p e q u e n a s de f e r r o estão pre-
(tubo da esquerda) é insolúvel em t a m p ã o fosfato 2,.3 m o l / L . A o
sentes na m a i o r i a das células do c o r p o , n o plasma e e m outros
contrário, o h e m o l i s a d o n o r m a l (iubo da direita) é t r a n s p a r e n t e o
f l u i d o s extracelulares. Fisiologicamente, o c o r p o c o n s e r v a rigoro-
suficiente para q u e o i m p r e s s o seja f a c i l m e n t e lido através dele.

QUADRO 28-1 Utilizaçao da Análise d e DNA p a r a Investigar


TABELA 2 8 - 1 | Conteúdo Médio de Ferro dos
Hemoglobínopatias e Talassemias
Compartimentos de um Homem Médio de 70 kg12
Diagnosticar e caracterizar adalassemias. Compartimento Conteúdo de Ferro Total de Ferro no Corpo
Investigar distúrbios potencialmente fatais da síntese de hemoglobina no teto;
é realizada antes de 10 semanas de gestação em amostras de vilcsidaties Ferro da hemoglobina 2.000 67
coricnicas. Ferro de armazenamento 1.000 27
Caracterizar o genótipo de p-talassemia. (ferritina, hemossiderina)
Rastrear populações em risco para variantes de hemoglobina clinicamente Ferro da mioglobina 130 3,5
significantes Poo! lábil 80 2,2
Distinguir condições que têm apresentações clínicas e laboratoriais similares, Outro ferro tecidual 8 0,2
mas são devidas a condições genéticas diferentes. Ferro de transporte 3 0,08
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubíria CAPÍTULO 2 8 531

f e r r i t i n a é q u e b r a d a n o s Iisossomos s e c u n d á r i o s . A hemosside- e m soluções aquosas. C o m o a ferritina, a h e m o s s i d e r i n a n o r m a l -


rina, p o r t a n t o , parece r e p r e s e n t a r o p o n t o final d a via d e arma- m e n t e é e n c o n t r a d a p r e d o m i n a n t e m e n t e e m células d o fígado,
z e n a m e n t o intracelular d o f e r r o A f e r r i t i n a consiste e m u m a b a ç o e m e d u l a óssea.
c o n c h a de a p o f e r r i t i n a c o m p o s t a de 24 s u b u n i d a d e s , as quais são
cadeias d e ferritina L (leve) ou H (pesada) e u m n ú c l e o cristalino Ferro Tecidual
i n t e r n o d e oxiidróxido férrico ( F e O O H ) x (Figura 28-6). N u m e r o s a s enzimas e c o e n z i m a s celulares n e c e s s i t a m de ferro,
A ferritina é e n c o n t r a d a e m quase todas as células d o c o r p o . c o m o u m a p a r t e integral da m o l é c u l a ou c o m o u m co-fator.
N o s h e p a t ó c i t o s d o fígado e e m macrófagos, a f e r r i t i n a f o r n e c e Notáveis são as peroxidases e os cito cromos que, c o m o a h e m o g l o -
u m a reserva d e f e r r o p r o n t a m e n t e disponível p a r a a f o r m a ç ã o de b i n a , são h e m e p r o t e í n a s . O u t r a s enzimas, c o m o a aconitase e a
h e m o g l o b i n a e outras h e m e p r o t e í n a s . É a r m a z e n a d a d e f o r m a ferredoxina, c o n t ê m ferro q u e está c o o r d e n a d o c o m o e n x o f r e e m
q u e o ferro fica p r o t e g i d o dos f l u i d o s c o r p o r a i s e é incapaz de u m clusfer ( a g r u p a m e n t o ) ferro-enxofre. Essas enzimas e coenzi-
p r o d u z i r d a n o oxidativo, o q u e p o d e r i a ocorrer caso ele estivesse mas, q u e a p a r e c e m e m t o d a s as células n u c l e a d a s d o c o r p o , são
n a f o r m a iônica. N o s h o m e n s , a q u a n t i d a d e d e ferro a r m a z e n a d o d e n o m i n a d a s c o l e t i v a m e n t e compartimento de ferro teci dual, nor-
é a p r o x i m a d a m e n t e 8 0 0 mg, p r i n c i p a l m e n t e c o m o ferritina; e m malmente correspondendo a aproximadamente 8 mg
m u l h e r e s saudáveis, ela é de cerca de 2 0 0 mg. P e q u e n a s quanti-
d a d e s de f e r r i t i n a t a m b é m estão presentes n o soro em concentra-
ções a p r o x i m a d a m e n t e proporcionais ao a r m a z e n a m e n t o de ferro Mioglobina
corporal total. Lesão hepática e u m g r a n d e n ú m e r o de processos A m i o g l o b i n a assemelha-se m u i t o a u m a ú n i c a s u b u n i d a d e de
patológicos resultam n a liberação de q u a n t i d a d e s relativamente h e m o g l o b i n a , c o n t e n d o u m ú n i c o h e m e p o r molécula.
grandes de ferritina n o plasma.
O Pool Lábil de Ferro
Hemossiderina A p r o x i m a d a m e n t e 80 m g de f e r r o são e n c o n t r a d o s n o pool lábil.
A h e m o s s i d e r i n a é u m a ferritina agregada, p a r c i a l m e n t e despro- Esse c o m p a r t i m e n t o n ã o tem localização a n a t ô m i c a clara; n a
teinizada. A o c o n t r á r i o da ferritina, a h e m o s s i d e r i n a é insolúvel verdade, ele é u m c o n c e i t o d e r i v a d o de m e d i d a s cinéticas c o m
ferro m a r c a d o r a d i o a t i v a m e n t e . 1 6

Transporte d e Ferro
H24L0 O ferro é t r a n s p o r t a d o d e u m órgão a o u t r o p o r u m a p r o t e í n a
plasmática de t r a n s p o r t e d e ferro, apotransferrina. O c o m p l e x o
apotransferrina-Fe 1 ' é c h a m a d o transferrina. N o r m a l m e n t e j h á
u m total de a p r o x i m a d a m e n t e 2,5 m g de ferro n o plasma.
Células HeLa Q u a n d o a t r a n s f e r r i n a se liga ao receptor de transferrina nas células,
o c o m p l e x o t r a n s f e r r i n a / r e c e p t o r é i n t e r n a l i z a d o e m u m endos-
s o m o . Ele, e n t ã o , se t o r n a acidificado, l i b e r a n d o o ferro p o r sua
Músculo transferência e r e d u ç ã o a íon ferroso (Fe 2 í ), q u e é depois trans-
Timo p o r t a d o n a célula através d o t r a n s p o r t a d o r d e metais divalentes,
o D M T 1 . A a p o t r a n s f e r r i n a éj e n t ã o , t r a n s p o r t a d a de volta para
Células vermelhas
a superfície celular, p r o n t a p a r a t r a n s p o r t a r u m a o u t r a m o l é c u l a
do sangua
d e t r a n s f e r r i n a para o i n t e r i o r d a célula. Essa série de reações t e m
sido d e n o m i n a d a ciclo da transferrirux.
Cérebro
Coração R e g u l a ç ã o da H o m e o s t a s e do Ferro
A q u a n t i d a d e de ferro p e r d i d a d o c o r p o d e p e n d e a p e n a s m i n i m a -
m e n t e da carga d e ferro. A regulação d o c o n t e ú d o de ferro cor-
/ ^ ' V. X \
poral é, p o r t a n t o , alcançada quase i n t e i r a m e n t e pela m o d u l a ç ã o
d a q u a n t i d a d e de ferro a b s o r v i d o d o trato intestinal superior.

" • C o Balanço de Ferro Normal


A regulação d o c o n t e ú d o d e ferro c o r p o r a l é alcançada quase q u e
Linfócitos
c o m p l e t a m e n t e pela m o d u l a ç ã o d a q u a n t i d a d e d e ferro a b s o r v i d o
do trato intestinal superior. A dieta americana média fornece 10 a
Figado 15 m g de ferro diariamente, em grande parte em forma de (1) heme-
Baço
proteínas, (2) h e m o g l o b i n a e (3) mioglobina da carne. Normal-
m e n t e , cerca d e i m g de ferro é absorvido a cada dia, principalmence
n o d u o d e n o . O h e m e é absorvido, diretamente c o m o tal, através de
Soro
u m receptor específico. 12 Para ser absorvido, o ferro inorgânico deve
H0L24 estar n o estado ferroso (Fe2+).

•v_ys
Proteínas que Afetam a Homeostase do Ferro
Várias p r o t e í n a s d e s e m p e n h a m u m a f u n ç ã o na h o m e o s t a s e d o
Figura 2 8 - 6 Representação esquemática da estrutura de ferro. M u t a ç õ e s nessas p r o t e í n a s e m h u m a n o s e / o u suas inter-
s u b u n i d a d e s de ferritinas de vários tecidos. (De Harrison PM, Arosio P. r u p ç õ e s d i r e c i o n a d a s o u s u p e r p r o d u ç ã o e m ratos r e s u l t a m e m
T h e ferritins: molecular properties, iron storage f u n c t i o n a n d cellular / sobrecarga ou deficiência de ferro. A Tabela 28-2 r e s u m e os
regulation. Biochim Biophys Acta 1996; 1275-161-203 ) efeitos de a l g u m a s dessas p r o t e í n a s n a h o m e o s t a s e d o ferro. A
532 PARTE IV Analitos

TABELA 2 8 - 2 Proteínas que Afetam a Homeostase de Ferro


Proteína Efeito da Deficiência Suposta Função Comentários

HFE Fe aumentado Pode transmitir sinal que estimula a hepicidina A maioria dos pacientes ccm
hemocromatose hereditária é
homozigota para a mutação
845 A ^ G (C282Y) nesse gene
p-microglobina Fe aumentado Transporta HFE para a membrana
Transferrina Fe aumentado Transporta ferro no plasma
Receptor de transferrina-1 Letal, Fe de CNS aumentado Liga e internaliza a transferrina na membrana
Receptor de transferrina-2 Fe aumentado Pode transmitir sinal que estimula a
hepicidina
Ferroportina (SLC11A3] Fe aumentada Uma proteína transmembrana de transporte Herança dominante de sobrecarga de
de ferre que atua como receptor de ferro
hepicidina
Hefaestina Deficiência de Fe Oxida o íon ferroso a íon férrico na membrana Codificada por um gene ligado ao
intestinal luminal sexo. A deleção é a causa de
camundongos s/a
DMT1 Deficiência de Fe em roedores; Transporta íon terroso através das As mutações de ocorrência natural
sobrecarga de ferro em membranas encontradas no camundongo mke
humanos no rato Belgrade são as mesmas
Ceruloplasmina Fe aumentado Oxida ien ferrosa a íon férrico no plasma Acúmulo no cérebro e doença
neurológica
Hepicidina Fe aumentado Bloqueia o transporte de ferro pela ferroportina
Steap3 Deficiência de Fe Reduz o ferro no endossemo.

função exata d e cada uma dessas proteínas, entretanto, não é n ú m e r o de exames que tem sido preconizado para o diagnóstico
c o m p l e t a m e n t e entendida. de deficiência de ferro é um reflexo do fato que n e n h u m deles
sozinho é suficiente para detectai a deficiência de ferro moderada
I m p o r t â n c i a Clínica o u a deficiência de ferro e m uma circunstância clinicamente
A deficiência e m ferro e a sobrecarga de ferro são os principais complexa. N ã o existe u m m é t o d o melhor e vários estudos diferem
distúrbios d o metabolismo do ferro. Existem, além dessas, muitas nas conclusões obtidas com relação às vantagens de u m m é t o d o
doenças em q u e a distribuição anormal de ferro pode ter uma sobre o outro. 3
função primária o u secundária. A s últimas incluem doenças
c o m o (1) hiperferritinemia c o m catarata, (2) aceruloplasmine-
mia, (3) síndrome G R A C I L E (retaido do crescimento, aminoaci- Sobrecarga de Ferro
dúria, colestase, sobrecarga de feiro, lactacidose e morte precoce), O s termos sobrepostos hemossiderose e hemocromatose são con-
(4) neuroferritínopatia, (5) atransferrinemia e, possivelmente, dições associadas à sobrecarga de ferro.
(6) doenças neurodegenerativas, tais c o m o parkinsonismo, sín-
drome de Hallervorden-Spatz e doença de Alzheimer. Hemossiderose
H e m o s s i d e r o s e é u m termo usado para indicar sobrecarga de
Deficiência de Ferro ferro sem lesão tecidual associada. Ela ocorre localmente e m sítios
A deficiência de ferro é a doença mais prevalente em h u m a n o s . de hemorragia ou inflamação e pode ser generalizada e m pessoas
E particularmente uma doença de (1) crianças, (2) mulheres às quais tenha sido dada grande quantidade de ferro, c o m o medi-
jovens e (3) pessoas mais velhas, mas ocorre em pessoas de todas cação ou c o m o transfusões d e sangue.
as idades e classes sociais. Em crianças, ela é freqüentemente
devida à deficiência na dieta porque o leite contém baixo teor de Hemocromatose
ferro. Em adultos, ela é quase sempre resultado de perda crônica A h e m o c r o m a t o s e é uma doença na qual o corpo acumula quan-
de sangue o u parto.' 3 tidades excessivas de ferro. O s sintomas dc hemocromatose
Muitas medições diferentes têm sido preconizadas para o diag- incluem a "tríade clássica" de (1) bronzeamento da pele, (2) cirrose
nóstico de deficiência de ferro. Originalmente, ênfase foi dada aos e (3) diabetes. Outras manifestações incluem ca rd io mi opa tias e
índices de RBC. A anemia hipocrômica era geralmente conside- arritmias, deficiências endócrinas e possíveis artropatias.
rada u m s i n ô n i m o de deficiência de ferro na primeira metade do A hemocromatose secundária é a conseqüência da adminis-
século XX. Mais tarde, (1) a coloração da medula paTa identificação tração aumentada de ferro na forma de transfusões de sangue
de ferro, e as dosagens de (2) ferro sérico, (3) capacidade de ligação freqüentemente acompanhada pela absorção excessiva de ferro
de ferro, (4) ferritina sérica e (5) protoporfirina n o eritrócito se da dieta. As causas mais c o m u n s de hemocromatose secundária
tornaram úteis e são usadas e estudadas amplamente por suas são a talassemia major e os estados mielodisplásicos adquiridos,
capacidades de diagnosticar a deficiência de ferro. Tem sido obser- mas existem muitas doenças raras nas quais ocorre a sobrecarga
vado, também, que valores de receptor de transferrina circulante de ferro secundária.
e de hemoglobina no reticulõcito têm utilidade diagnostica. A o contrário da h e m o c r o m a t o s e secundária, a hemocromatose
Embora a maioria dos métodos identifique muito pronta- hereditária resulta de anormalidades herdadas de proteínas que
m e n t e a deficiência de ferro grave e não complicada, o grande regulam a homeostase do ferro. N o s últimos anos recentes, as
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 533

lesões genéticas responsáveis p o r m u i t a s f o r m a s d a d o e n ç a t ê m A c a p a c i d a d e d e ligação d e f e r r o i n s a t u r a d a sérica e a capaci-


sido descobertas. d a d e total de ligação d e ferro (T1BC) são d e t e r m i n a d a s pela
Hemocromstose Primária. Ahemocromatose hereditária é a d o e n ç a adição de Fe 3 " suficiente p a r a saturar os sítios de ligação ao ferro
clássica de sobrecarga d e ferro. Cerca de 10% a 15% dos norte- da t r a n s f e r r i n a . O excesso de Fe 3+ é r e m o v i d o , p o r exemplo, pela
e u r o p e u s são heterozigotos p a r a u m a m u t a ç ã o d o gene HFE, a d s o r ç ã o ao p ó leve d e c a r b o n a t o d e m a g n é s i o (MgCC^), e o
c . 8 4 5 G > A (C282Y) e, p o r t a n t o , a p r o x i m a d a m e n t e 5 / 1 . 0 0 0 são e n s a i o para o c o n t e ú d o d e ferro é, e n t ã o , r e p e t i d o . A T I B C é
homozigotos. O p r o d u t o gênico H F E parece ser necessário p a r a o b t i d a a p a r t i r dessa s e g u n d a m e d i ç ã o .
que a h e p i c i d i n a seja f o r m a d a c o m o u m a resposta à sobrecarga A s a t u r a ç ã o da t r a n s f e r r i n a é calculada c o m o a seguir:
d e ferro, mas os m e c a n i s m o s exatos pelos quais isso ocorre n ã o
são c o n h e c i d o s . A p e n e t r â n c i a b i o q u í m i c a d o estado h o m o z i g o t o S a t u r a ç ã o d a t r a n s f e r r i n a (%) = 100 x ferro s é r i c o / T I B C
para a m u t a ç ã o p r i n c i p a l (C282Y) é b a s t a n t e elevada. Mais de
5 0 % de tais i n d i v í d u o s têm saturações d a t r a n s f e n i n a e / o u con- Importância Clinica
centrações de ferritina elevadas 4 , e cerca d e 10% têm atividades A c o n c e n t r a ç ã o de ferro sérico se refere ao Fe 3+ ligado à transfer-
d e t r a n s a m i n a s e s g l u t â m i c o oxalacético séricas elevadas. Primeira- r i n a sérica e n ã o inclui o ferro c o n t i d o n o soro c o m o h e m o g l o b i n a
m e n t e , pensava-se q u e m u i t o s o u que a m a i o r i a dos h o m o z i g o t o s livre. A c o n c e n t r a ç ã o de ferro sérico está d i m i n u í d a e m m u i t o s ,
fossem s e r i a m e n t e afetados, 1 8 m a s agora se sabe que a p e n e t r â n c i a mas n ã o e m todos os pacientes c o m a n e m i a p o r deficiência de
clínica d o estado h o m o z i g o t o é m u i t o baixa, provavelmente d a ferro e e m d o e n ç a s i n f l a m a t ó r i a s crônicas, tais c o m o infecção
o r d e m d e 1%. 5 R a r a m e n t e a h e m o c r o m a t o s e hereditária resulta aguda, i m u n i z a ç ã o e i n f a r t o d o m i o c á r d i o (Tabela 28-3).
d e m u t a ç õ e s n o gene d o receptor de transferrina 2. C o n c e n t r a ç õ e s de ferro sérico maiores d o q u e o n o r m a l
A hemocromatose juveni! é u m a d o e n ç a h e r d a d a r a r a q u e se o c o r r e m (1) n o s d i s t ú r b i o s de carga de ferro, tais c o m o h e m o c r o -
a s s e m e l h a c l i n i c a m e n t e à h e m o c r o m a t o s e hereditária, m a s q u e matose, (2) e m pacientes c o m a n e m i a aplástica, (3) e m envene-
t e m u m a m é d i a de i d a d e de início m u i t o .mais precoce e u m a n a m e n t o a g u d o p o r f e r r o e m crianças, (4) a p ó s i n g e s t ã o o r a l
t e n d ê n c i a m a i o r ao d e s e n v o l v i m e n t o d e m a n i f e s t a ç õ e s endócri- de ferro c o m o m e d i c a m e n t o , (5) após a d m i n i s t r a ç ã o parenteral de
nas e cardíacas d o q u e a h e m o c r o m a t o s e hereditária. A m u t a ç ã o f e r r o o u (6) e m h e p a t i t e a g u d a . P o r e x e m p l o , u m c o m p r i m i d o
n ã o é n o gene HFE, mas n o g e n e q u e codifica a h e m o j u v e l i n a de 0,3 g de sulfato ferroso ingerido por u m a d u l t o p o d e a u m e n -
ou n o q u e codifica a h e p i c i d i n a . 2 0 t a r a c o n c e n t r a c ã o d e f e r r o sérico d e 5 0 a 9 0 f i m o l / L ( 3 0 0 a
A f o r m a d o m i n a n t e m e n t e h e r d a d a de d o e n ç a d e armazena- 5 0 0 iug/dL).
m e n t o d o ferro resulta d e m u t a ç õ e s n a f e r r o p o r t i n a (SLC11A3). T i p i c a m e n t e , cerca d e u m terço d o s sítios de ligação ao ferro
Nesse caso, o a r m a z e n a m e n t o d e ferro f r e q ü e n t e m e n t e o c o r r e d a t r a n s f e r r i n a é o c u p a d o p o r Fe , + . A t r a n s f e r r i n a sérica, por-
principalmente nos macrófagos, não n o parênquima hepático. O t a n t o , tem c a p a c i d a d e de ligação a o ferro de reserva considerável.
a c ú m u l o de ferro p a r e c e ser m a i s c o m u m e m a f r i c a n o s d o q u e Isso é c h a m a d o capacidade de ligação ao f e r r o i n s a t u r a d a sérica.
e m e u r o p e u s . E m b o t a a d i e t a possa ter u m p a p e l p r i n c i p a l , acre- A T I B C é u m a m e d i d a d a c o n c e n t r a ç ã o m á x i m a de f e r r o q u e a
dita-se q u e exista, t a m b é m , u m a p r e d i s p o s i ç ã o genética q u e p o d e t r a n s f e r r i n a liga. A T I B C sérica varia e m d i s t ú r b i o s d o m e t a b o -
ser responsável p e l o a u m e n t o d a carga d o ferro, e u m polimor- lismo d o ferro. Está f r e q ü e n t e m e n t e a u m e n t a d a n a deficiência
f i s m o que parece ser u m fator d e risco t e m sido i d e n t i f i c a d o e n t r e d e ferro e d i m i n u í d a nas d o e n ç a s i n f l a m a t ó r i a s crônicas o u
africanos/0 malignas, e está f r e q ü e n t e m e n t e d i m i n u í d a , t a m b é m , n a h e m o -
Hemocromatose Secundária. A causa mais c o m u m de sobre- cromatose.
carga de ferro s e c u n d á r i a é a P-talassemia. As anemias sideroblásti-
cas são u m g r u p o d e d i s t ú r b i o s de carga d e ferro, m u i t o s dos Comentários e Precauções
quais são d e causa d e s c o n h e c i d a . E m u m tipo h e r e d i t á r i o dessa Exceto q u a n d o a espectroscopia p o r absorção a t ô m i c a é u s a d a , a
d o e n ç a , h á a deficiência d e ácido 5 - a m i n o l e v u l í n i c o sintetase h e m ó l i s e t e m m u i t o p o u c o efeito n o s r e s u l t a d o s da d o s a g e m de
específica de eritrócito e m precursores de R B C , devida a m u t a - ferro sérico p o r q u e o ferro d a h e m o g l o b i n a n ã o é l i b e r a d o d o
ções e n v o l v e n d o o gene ligado ao X q u e codifica essa enzima. 8 O h e m e p e l o t r a t a m e n t o c o m ácido. E n t r e t a n t o , q u a n d o as amos-
a r m a z e n a m e n t o de f e r r o é c o m u m e m pacientes c o m a n e m i a tras d e soro m o s t r a m h e m ó l i s e i m p o r t a n t e , u m a p e q u e n a q u a n -
díseritropoiética c o n g ê n i t a e p o d e ser e n c o n t r a d o e m pacientes t i d a d e de ferro p o d e ser liberada da h e m o g l o b i n a .
c o m deficiências de enzimas d e R B C , p a r t i c u l a r m e n t e deficiên- M u i t o s fatores i n f l u e n c i a m a c o n c e n t r a ç ã o de ferro sérico e
cia e m p i r u v a t o q u i n a s e . a T I B C . Variações q u e p o d e m ser observadas e m diversas condi-
ções fisiológicas o u patológicas estão listadas n a Tabela 28-3.
Metodologia Analítica Variações n o dia-a-dta são b a s t a n t e a c e n t u a d a s e m pessoas saudá-
Vários m é t o d o s são u s a d o s p a r a a d o s a g e m de f e r r o e analitos veis. U m a variação d i u r n a d i s t i n t a resulta e m c o n c e n t r a ç õ e s
r e l a c i o n a d o s . E n t r e eles estão os m é t o d o s para (1) ferro sérico, de ferro sérico m e n o r e s de t a r d e d o q u e pela m a n h ã e a c e n t u a -
(2) c a p a c i d a d e de ligação de ferro, (3) s a t u r a ç ã o d a t r a n s f e r r i n a d a m e n t e baixas à n o i t e (tão baixas q u a n t o 2 a 4 ( i m o l / L [10 a
e (4) f e r r i t i n a sérica. 20 p g / d L ] e m pessoas saudáveis). D e v i d o às n u m e r o s a s causas d e
c o n c e n t r a ç ã o baixa de ferro sérico, os r e s u l t a d o s devem ser inter-
Métodos para a Determinação de Ferro Sérico, p r e t a d o s c o m c u i d a d o . A l é m disso, i n d i v í d u o s c o m deficiência
Capacidade de Ligação de Ferro e Saturação da m o d e r a d a d e ferro, algumas vezes, a p r e s e n t a m valores n o r m a i s
Transferrina d e c o n c e n t r a ç ã o d e ferro sérico e T I B C .
Princípio
O ferro é l i b e r a d o d a t r a n s f e r r i n a pelo d e c r é s c i m o d e p H d o soro; Métodos para a Determinação de Ferritina Sérica
ele é r e d u z i d o de Fe 3 a Fe 2+ e, e n t ã o , c o m p l e x a d o c o m u m cro- Princípio
m ó g e n o , tal c o m o b a t o f e n a n t r o l i n a o u ferrozina. Tais c o m p l e x o s A d o s a g e m d e f e r r i t i n a sérica p o d e ser Tealizada p o r q u a l q u e r u m
f é r r o - c r o m ó g e n o têm u m a absorva ncia e x t r e m a m e n t e alta n o d e vários m é t o d o s , i n c l u i n d o (1) ensaio i m u n o r r a d i o m é t r i c o ,
c o m p r i m e n t o de o n d a a d e q u a d o , q u e é p r o p o r c i o n a l à concen- (2) ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) e métodos (3) imu
tração de ferro. n o q u i m i o l u m i n e s c e n t e s e (4) i m u n o f l u o r o m é t r i c o s . O s reagentes
534 PARTE IV Analitos

TABELA 2 8 - 3 Condições Conhecidas que Afetam as Concentrações Séricas de Ferro, a Capacidade Total de Ligação de Ferro e a
Saturação da Transferrina
Condição Efeito
Variação diurna Valores normais pela manhã; valores baixos no meio da tarde; valores muito baixos próximo
à meia-noite
Cicio menstrual Antes da menstruação, valores elevados (SI aumentada de 10%-30%); durante a menstruação,
valores baixos (SI diminuído em 10%-3O%)
Gravidez Pode aumentar SI devido ao aumento de progesterona; pode diminuir SI devido à deficiência de ferro
Ingestão de lerro (inclusive vitaminas com ferro) Valores altos; pode aumentar SI em + 54 ^mol/L (+ 300 ng/dL) e Tsat em 100%
Contraceptivos orais (semelhantes a progesterona) Valores altos; pode aumentar SI para > 36 ^mol/L {> 200 pg/dL) e Tsat em 75%; também aumenta
Tl BC
Contaminação per ferro de seringa, tubo Vacutainer ou Valores altos; p. ex., SI > 30 pmol/L (> 170 pg/dL); Tsat de 75%-100%
outras vidrarias (o fenômeno pode ser rara, esporádico,
muito difícil de ser provado)
Injeção de ferro dextrano Valores muito altos; SI pode ser > 180 jimol/L (> 1.000 ug/dL), Tsat 100%; provavelmente a partir do
ferro dextrano circulante; o efeito pode persistir por várias semanas
Hepatite Valores muito altos; SI pode ser >180 (amoVL (:> 1.000 pg/dL) devido à hiperferritinemia de injúria do
tiepafócito
Inflamação aguda (infecção respiratória), abscesso, SI baixo ou normal; Tsat normal ou baixa
imunização, infarto do miocárdio
Inflamação crônica ou malignidade SI baixo ou normal; Tsat normal ou baixa
Deficiência de ferro SI baixo ou normal; Tsat baixa normal; TIBC aumentada
Sobrecarga de ferre (hemocromatose) SI alto; Tsat alta; TIBC normal ou baixa

De FíiítÍmiiÍíj VF. Laboratot) testing for iron status. Hosf> Pract 199^,26:19.
SI, conc£n£iafdo àe ferre sérico; TIBC, Capacidade temi de ligação de ferro, Tsat, saturação da transferrina.

para esse ensaio estão disponíveis na forma de kit e em instrumen- tem-se mostrado útil para diferenciar a anemia por deficiência de
tos de imunoensaio automatizados de diversos fabricantes. ferro daquela por inflamação crônica,' embora exista considerável
sobreposição entre essas categorias diagnosticas.
Importância Clínica
A ferritina está presente n o sangue em concentração muito baixa.
Embora seja uma proteína de fase aguda, sob condições normais BILIRRUBINA
ela reflete grosseiramente o teor de ferro corporal. A proteína A bilirrubina é o pigmento amarelo-alaranjado derivado das
circulante é basicamente a apofeiritina. Ela é pobre e m ferro e RBCs senescentes. A p ó s a formação nas células reticuloendote-
consiste principalmente e m cadeias L glicosiladas, pobres em liais, a bilirrubina é transportada e biotransformada principal-
ferro. A concentração de ferritina plasmática declina muito pre- mente n o fígado e excretada na bile e na urina.
cocemente no desenvolvimento da deficiência em ferro, muito
antes que sejam observadas variações na concentração de hemo-
globina d o sangue, n o t a m a n h o da R B C o u na concentração de Química
ferro sérico. Dessa forma, a dosagem da concentração de ferritina A bilirrubina é uma molécula tecrapirrólica linear (Figura 28-7)
sérica é usada c o m o u m indicador muito sensível da deficiência que é insolúvel e m água e prontamente solúvel em vários solven-
de ferro, que não é complicada por outras doenças concorrentes. tes apoiares. Ela tem tanto ísômeros trans quanto eis. Q u a n d o
Alternativamente, u m grande n ú m e r o de doenças crônicas resulta exposta à luz, a bilirrubina na configuração trans é convertida à
em concentração de ferritina sérica aumentada (Tabela 28-3). configuração eis, que é mais hidrossolúvel. Na prática, esta é a
justificativa clínica para a exposição de neonatos que t e n h a m
Método para a Determinação do Receptor de icterícia clinicamente significante à luz, para reduzir as concen-
Transferrina Sérica trações plasmáticas de bilirrubina não-conjugada. As quatro
As membranas celulares dos precursores de R B C em desenvolvi- frações de bilirrubina que t ê m sido isoladas do soro estão listadas
m e n t o na medula óssea são m u i t o ricas e m receptores de trans- n o Quadro 28-2.
ferrina, aos quais o complexo ferro-transferrina se liga antes de
ser internalisado e o ferro ser liberado da transferrina n o citossol.
O n ú m e r o de receptores de transferrina aumenta na presença de Bioquímica
deficiência de ferro e d i m i n u i n o excesso de ferro. Essas variações A bilirrubina I X a é produzida a partir d o catabolismo da pT0t0-
na quantidade de receptores de transferrina no tecido eritropoi- porfirina IX por uma h e m e oxigenase microssômica. O produto
ético são, também, refletidas e m variações n o receptor de trans- tetrapirrólico da abertura do anel na p o n t e a - m e t e n o é o pig-
ferrina sérico, mas, e m grande parte, os valores de receptor de m e n t o verde biliverdina, a qual é subseqüentemente reduzida à
transferrina sérico refletem a quantidade de atividade ertitropni- bilirrubina por uma enzima citossólica biliverdina redutase
ética, i n d e p e n d e n t e m e n t e do estado de ferro d o paciente. (Figura 28-8). Para cada mol de heme catabolisado por essa via,
é produzido u m m o l de (1) m o n ó x i d o de carbono, (2) bilirrubina
Método para a Determinação do Conteúdo de e (3) ferro férrico. A produção diária de bilirrubina a partir de
Hemoglobina no Reticulócito (CHr) todas as fontes no h o m e m é, e m média, de 2 5 0 a 3 0 0 mg. Apro-
Dispositivos automáticos que m e d e m o conteúdo de hemoglobina ximadamente 85% do total de bilirrubina produzida são deriva-
nos reticulócitos estão disponíveis comercialmente, e sua dosagem dos da porção h e m e da h e m o g l o b i n a liberada dos eritrócitos
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 535

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Figura 28-7 E s t r u t u r a da b i l i r r u b i n a I X a . Acima, A e s t r u t u r a de y e / r "Y S
tetrapirrol a b e r t a ou lineaT m o s t r a n d o as ligações Z. Abaixo, A i\.J
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c o n f o r m a ç ã o f e c h a d a m o s t r a n d o extensivas p o n t e s de h i d r o g ê n i o / \ ^ liv^fcn,. lX.i
\
internas. (Reimpresso com p e r m i s s ã o de Elsevier Science P u b l i s h i n g /-íN v
N —í
Co., Inc., de S c h i m d R. Bilirubin metabolisni: state of t h e a n . y,!
G a s t r o e n t e r o l o g y 1978'74:1307-12, com p e r m i s s ã o da A m e r i c a n
M e - —CIT,
Gastroenterological Association.)
Vn- CH=CH-j
VIA 1)1*11 11 ~J
•» è-.V»J . J Ceí- CU- CU, COOH
TYkitfl *!/-
Q U A D R O 2 8 - 2 | F r a ç õ e s de Bilirrubina ^ NAD? i"|• ~ HluvlIlMIlleivMI

Bilirrubina não-conjugada (a-úilirrubina) VfT - v Jo rransivíitc


iL IJLÍHHI.* li'.iwtxx(NCiiir;ii
Bilirrubina monoconjugada (p-bilirrubina) vil >.C
Bilirrubina desconjugada {y-bilirrubina) .Ott. .A
Vr.y Y Y % V
Uma fração irreversivelmente ligada à proteína (S-bilirrutina)
V-ri /
/ H Tí' V liiinuiiiiii: IXa
\ HH /

y M]
T
Ltl
senescentes, q u e são d e s t r u í d o s n a s células reticulocndotcliais d o
fígado, d o b a ç o e da m e d u l a óssea. O s 1 5 % restantes são p r o d u -
zidos a partir d o c a t a b o l i s m o de o u t r a s proteínas q u e c o n t ê m Figura 2 8 - 8 C a t a b o l i s m o d o berne a b i l i r r u b i n a I X a . (De B e r l m

h e m e , tais c o m o m i o g l o b i n a , c i t o c r o m o s e peroxidases. N I , Berk PD. Q u a n t i t a t i v e aspects o f b i l i r r u b i n m e t a b o l i s n i for

N o sangue, a b i l i r r u b i n a é ligada à a l b u m i n a e t r a n s p o r t a d a hematologists. Blood 1981:57-983-99)

para o fígado. A b i l i r r u b i n a e n t ã o se dissocia d a a l b u m i n a n a


m e m b r a n a d o h e p a t ó c i t o . D e p o i s , ela é t r a n s p o r t a d a através d a
m e m b r a n a (Figura 28-9). D e n t r o das células hepáticas, a bilirru-
bina é reversivelmente ligada a p r o t e í n a s solúveis c o n h e c i d a s
c o m o l i g a n d m a s ou p r o t e í n a Y. As ligandinas t a m b é m ligam nios. Eles c o n t ê m 6, 8 o u 12 á t o m o s de h i d r o g ê n i o a mais d o q u e
vários o u t r o s compostos, tais c o m o (1) esteróides, (2) bromossul- a b i l i r r u b i n a e são d e n o m i n a d o s (1) ejtercobilinogénio, (2) mesobiíi-
faleina (BSP), (3) verde de i n d o c i a n i n a e (4) alguns carcinógenos. nogênio e (3) urobitinogénio, respectivamente Parte d o urobilinogê-
N o i n t e r i o r dos hepatócitos, a b i l i r r u b i n a é r a p i d a m e n t e conju- nio é r e a b s o r v i d o d o intestino, c a p t a d o pelo fígado e reexcretado
gada c o m o ácido glicurônico p a r a p r o d u z i r m o n o e diglicuroní- na bile. U m a p e q u e n a p a r t e e n t r a n a circulação geral e aparece
d e o de b i l i r r u b i n a , q u e são, e n t ã o , excretados n a bile (Figura na u r i n a . N o trato intestinal inferior, os três u r o b i i i n o g ê n i o s são
28-10). A e n z i m a m i c r o s s ô m i c a b i l i r r u b i n a u r i d i n a difosfato oxidados aos p i g m e n t o s biliares c o r r e s p o n d e n t e s (1) estercobilma,
(UDP)-glicuronosiltransferase ( E C 2.4-1 17) catalisa a f o r m a ç ã o (2) m e s o b i l i n a e (3) urobilina, q u e são m a r r o m - a l a r a n j a d o s e os
de m o n o g h c u r o n í d e o de b i l i r r u b i n a e, talvez, a conversão de principais p i g m e n t o s das fezes.
m o n o g l i c u r o n í d e o a d i g l i c u r o n í d e o . N o i n t e s t m o , os glicuroní-
deos de bilirrubina são h i d r o l i s a d o s p o r P-glicuronidases d o
fígado, das células intestinais epitehais e de bactérias. A bilirru- Importância Clínica
b i n a n ã o - c o n j u g a d a é, então, reduzida pela m i c r o b i o t a intestinal Defeitos n o m e t a b o l i s m o da b i l i r r u b i n a r e s u l t a n d o e m icterícia
a três tetrapirróis incolores coletivamente c h a m a d o s urobilinogê- p o d e m ocorrer e m cada u m a das etapas d a via m e t a b ó l i c a (Figura
536 PARTE IV Analitos

Pool da
, heme livre /

/Macro moléculas % /
; BR-citossólicas *| Biliverdina
Receptor \(p. ex.. lioandina)J / Herreprateinas \
de (p. ex., citocromo P4Í:0) >
/Blllrrubimi (BR)\ afbiMiínf)?
V Albumina / /
BR / J

Itutispudo rrtumbr&nâ- Monoíjlicuronideo


/ - ?
mcmbrons? det3R

Bilirrubina (BR)
Protoiim Dialicurondeo
rfà ligaçüo de BR \ '
d& ânion s
OíQànkxi? Rfltículo UDP-glicu ronosiltrs nsferase
sndopiasmátK»
Momfcwarw
Msmbrarui canalicular
Plasma sinusoidai

Figura 2 8 - 9 C a p t a ç ã o , m e t a b o l i s m o e t r a n s p o r t e de b i l i r r u b i n a n o h e p a t ó c i t o . (De G o l i a n JL, S c h m i d R.


Bilirubin m e t a b o h s m . In P o p p e r H , S c h a f f n e r F, eds. Progress in liver diseases, Vol. 7, C h a p t e t 15. Philadeíphia:
W B S a u n d e r s C o , 1982.)

28-9). Os distúrbios são normalmente classificados como (1) dis- tada que leva aa-dano cerebral permanente) durante o primeiro ano
túrbios herdados do metabolismo da bilirrubina ou (2) icterícia de vida. A flebotomia e a plasmaferese reduzem a bilirrubina sérica,
neonatal. Todos esses distúrbios são caracterizados por elevações mas a encefalopatia normalmente se desenvolve. O transplante
predominantes na bilirrubina conjugada ou não-conjugada na hepático precoce é a única terapia efetiva.
ausência de outros exames hepáticos anormais. Somente nesses
distúrbios o fracionamento da bilirrubina é clinicamente útil. Síndrome de Crigler-Najjar (Tipo II)
Ocasionalmente, os pacientes apresentam elevações isoladas Esse é um distúrbio autossômico dominante raro caracterizado
da concentração de bilirrubina. Na maioria dos casos, isso é por uma deficiência parcial de UDP-glicuronosiltransferase. A
devido a distúrbios herdados do metabolismo da bilirrubina, bilirrubina não-conjugada é normalmente de 5 a 20 m g / d L (85
hiperbilirrubinemia familiar ou hemólise. U m algoritmo para a 340 jimol/L). Diferentemente da síndrome de Crigler-Najjar
diferenciar as causas familiares de hiperbilirrubinemia é apresen- tipo I, a tipo II responde notavelmente ao fenobarbital, e pode
tado na Figura 28-10. esperar-se uma vida normal.

Distúrbios Herdados do Metabolismo da Bilirrubina Síndrome de Lucey-Discroll


Os distúrbios herdados do metabolismo da bilirrubina incluem as A síndrome de Lucey-Discroll é uma forma familiar de hiperbi-
síndromes de (1) Gilbert, (2) Crigler-Najjar (Tipo I), (3) Crigler- lirrubinemia não-conjugada causada por um inibidor circulante
Najjar (Tipo II), (4) Lucey-Discroll, (5) Dubin-Johnson e (6) Rotor. de conjugação da bilirrubina. A hiperbilitrubinemia é moderada
e se mantém durante as primeiras 2 a 3 semanas de vida.
Síndrome de Gilbert
A síndrome de Gilbert é uma doença benigna manifestada por Síndromes de Dubin-Johnson e Rotor
hiperbilirrubinemia não-conjugada moderada. Esta anormali- A síndrome de Dubin-Jonhson é uma doença autossômica reces-
dade, que afeta 3% a 5% da população, é provavelmente herdada siva caracterizada por icterícia com bilirrubina conjugada predo-
c o m o u m traço recessivo autossômico. A concentração sérica de minantemente elevada e uma elevação menos importante da
bilirrubina varia entre 1,5 e 3 m g / d L (26 e 51 jimol/L) e tende bilirrubina não-conjugada. A síndrome Rotor é similar à sín-
a aumentar com o jejum. A síndrome de Gilbert se diferencia drome de Dubin-Johnson, mas sem pigmento negro no fígado.
facilmente da hepatite crônica pela ausência de anemia e bilirru- As duas doenças são benignas.
bina na urina, e pelos testes normais de função hepática. N ã o é
necessário tratamento, mas os pacientes devem ser informados Icterícia em Neonatos
que não têm doença hepática. Os distúrbios que causam icterícia em neonatos são classificados
c o m o hiperbilirrubinemia não-conjugada ou conjugada (Quadro
Síndrome de Crigler-Najjar (Tipo I) 28-3).
A síndrome de Crigler-Najjar tipo I é uma doença rara causada
pela ausência completa de UDP-glicuronosiltransferase e manifes- Hiperbilirrubinemia Não-conjugada
tada por concentrações muito altas de bilirrubina não-conjugada A hiperbilirrubinemia não-conjugada representa um risco para
(25 a 50 mg/dL). Ela é herdada como um traço recessivo autossô- o desenvolvimento de IteTnicterus, especialmente em lactentes
mico. A maioria dos pacientes morre de dano cerebral grave causado prematuros e de baixo peso ao nascimento. O kemicterus refere-
por kemicterus (encefalopatia relacionada com a bilirrubina aumen- se a uma síndrome neurológica que resulta em dano cerebral
Hemoglobina, Ferra e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 537

Bilirrubina sérica aumentada isolada Q U A D R O 2 8 - 3 j Classificação Fisiológica da Icterícia

HIPERBILIRRUBINEMIA NÃO-CONJUGADA
Produção Aumentada de Bilirrubina Não-conjugada a partir do Heme
Exclusão de hemólise, fracionamento Hemólise
subseqüente da bilirrubina
Hereditária
Adquirida
Conjugada Eritropoiese ineficaz
Tumover (renovação) rápido da massa de RBC aumentada (nos neonatos)

Possibilidade das Entrega Diminuída de Bilirrubina Não-conjugada (no Plasma) para o


seguintes síndromes: síndromes de acordo com a Hepatócito
concentração de bilirrubina: Insuficiência cardíaca congestiva direita
Dubin-Johnson Gilbert, < 3 mg/dL Anastomose portocava

Rotor Crigler-Najjar, iipo I; > 25 mg/dL Captação Diminuída de Bilirrubina Não-conjugada através da Membrana
Crigler-Najjar, tipo II; 5 a 20 mc/dL do Hepatócito
Inibição Competitiva
Lucey-Discroll, transitoriamente - 5 mg/dL
•rogas
Outros
Figura 2 8 - 1 0 Algoritmo para diferenciar causas familiares de Síndrome de Gilbert
hiperbilirrubinemia. Sepse, jejum

d e v i d o à d e p o s i ç ã o de b i l i r r u b i n a n o gânglio basal n o s n ú c l e o s Armazenamento Diminuído de Bilirrubina Não-conjugada no Citossol


d o t r o n c o cerebral. Essa s í n d r o m e é p r e v e n i d a p o r f o t o t e r a p i a e (Proteínas YeZDiminuídas)
Inibição Competitiva
t r a n s f u s ã o e m lactentes c o m c o n c e n t r a ç õ e s elevadas de bilirru-
Febre
bina não-conjugada.
As causas de h i p e r b i l i r r u b i n e m i a n ã o - c o n j u g a d a n o n e o n a t o
Biotransformação Diminuída (Conjugação)
são a icterícia fisiológica d o recém-nascido, a d o e n ç a h e m o l í t i c a
icterícia neonatal (fisiológica)
devida à i n c o m p a t i b i l i d a d e R h ou A B O e a h i p e r b i l i r r u b i n e m i a
Inibição (drogas)
d o leite m a t e r n o .
Hereditária (Crigler-Najjar)
Icteríciã Fisiológica do Recém-nascido. O s lactentes f r e q ü e n t e - Tipo I (deficiência enzimática completa)
m e n t e tornam-se ictéricos e m p o u c o s dias após o n a s c i m e n t o , Tipo II (deficiência parcial)
u m a d o e n ç a c o n h e c i d a c o m o icterícia fisiológica do recém- Disfunção hepatocelular
nascido. As c o n c e n t r a ç õ e s d e b i l i r r u b i n a a l c a n ç a m u m pico Síndrome de Gilbert
d e n t r o de 3 a 5 dias após o n a s c i m e n t o e p e r m a n e c e m elevadas
p o r m e n o s de duas s e m a n a s . O s fatores q u e c o n t r i b u e m para a HIPERBILIRRUBINEMIA CONJUGADA (CQLESTASE)
icterícia fisiológica são (1) u m a carga de b i l i r r u b i n a a u m e n t a d a Secreção Diminuída de Bilirrubina Conjugada no Canalículo
n o recém-nascido p o r q u e as R B C s t ê m t e m p o de vida m e n o r , Doença hepatocelular
(2) c o n j u g a ç ã o d i m i n u í d a d a b i l i r r u b i n a devida a u m a falta rela- Hepatite
tiva d e glicuronosiltransferase {enzima c o n j u g a d o r a ) nos primei- Colesfase (intra-hepática)
ros dias após o n a s c i m e n t o e (3) exposição d o s bebês a m a m e n t a - Síndromes de Dubin-Johnson e Rotor
dos a i n i b id o r e s da c o n j u g a ç ã o da b i l i r r u b i n a presentes n o leite Drogas (estradiol)
materno.
A icterícia fisiológica d o recém-nascido é tratada com fotote- DRENAGEM DIMINUÍDA
Obstrução extra-hepáiica
rapia. O lactente é exposto à luz de a p r o x i m a d a m e n t e 4 5 0 n m ,
Cálculos
q u e t o r n a a b i l i r r u b i n a mais hidrossolúvel, e ela é, então, excre-
Carcinoma
tada n a bile. As t r a n s f u s õ e s são r a r a m e n t e necessárias.
Estenose
Doença Hemolítica. A d o e n ç a h e m o l í t i c a n o recém-nascido
Atresia
resulta de i n c o m p a t i b i l i d a d e m a t e r n o - f e t a l d o s fatores R h e s u s d o
Colangife escierosante
sangue. E m tais lactentes, o s a n g u e m a t e r n o Rh-negativo torna-se
Obstrução intra-hepática
sensibilizado p o r u m a gravidez a n t e r i o r d e u m feto Rh-positivo Drogas
ou p o r u m a t r a n s f u s ã o d e s a n g u e Rh-positivo. O lactente torna-se Granuloma
ictérico c o m b i l i r r u b i n a n ã o - c o n j u g a d a n o p r i m e i r o ou s e g u n d o Cirrose biliar primária
dia d e vida e é suscetível ao kemicterus. Estreitamento do dueto biliar
Hiperbilirrubinemia do Leite Materno. Este tipo de hiperbilirru- Tumores
b i n e m i a afeta cerca de 3 0 % dos recém-nascidos a l i m e n t a d o s c o m
leite m a t e r n o . A causa exata da icterícia é d e s c o n h e c i d a . A d o e n ç a
d u r a p o u c a s s e m a n a s e é tratada, se necessário, pela d e s c o n t i n u i -
dade do aleitamento.
A hiperbilirrubinemia conjugada é vista com bastante freqüência
n o recém-nascido como u m a complicação da nutrição parenteral.
Hiperbilirrubinemias Conjugadas
Estas síndromes são caracterizadas pela hiperbilirrubinemia n a qual Atresia Biliar
a bilirrubina conjugada excede 1,5 m g / d L (24 [imol/L) As mais A atresia biliar é u m a d o e n ç a n a qual os d u e t o s biliares n ã o se
i m p o r t a n t e s são a hepatite n e o n a t a l idiopática e a atresia biliar. desenvolvem o u se desenvolvem d e f o r m a a n o r m a l . N ã o t e n d o
538 PARTE IV Analitos

saída paTa o intestino, a bile é acumulada dentro do fígado e Acido glicurônico. ,Acido glicurônico
.O ii
eventualmente, escapa para o sangue, causando hiperbilirrubine- T ^C'
mia mista. Possíveis causas incluem (1) citomegalovírus, (2) reo- ÇHj U HÍ Cl!
!l I :i -
vírus III, (3) vírus Epstein-Barr. (4) vírus da rubéola, (5) deficiên- Me CH Me CH2 H2C Mc Me (' 11
cia de a.,-antitripsina, (6) síndrome de D o w n e (7) trissomia 17
o u 18.
A atresia biliar extra-hepática, mais c o m u m do que o tipo intra- 0-— V , / O
N
hepático, p o d e envolver toda o u parte da árvore biliar extra-hepá-
tica. Se a icterícia persiste além de 14 dias de idade, uma dosagem
A k
I
ii

da bilirrubina conjugada o u direta deve ser feita para excluir a Bilirrubina d üsctiivj ilíada
atresia biliar. Se ela está elevada, a deve ser feito o teste de bile s 0
- H03SV - <t1 V) — - =
n N . N®Cl
na urina. Se a cor não é verde n e m amarela, é provável que seja
\sE—/
atresia biliar. A identificação precoce dessa doença é essencial
Acido glicurônico Ácido sulfanílico diazotado
para saber se esses lactentes irão beneficiar-se da operação de tv, O
portoenterostomia, a qual deve ser realizada antes de 60 dias após
o nascimento. Se a portoenterostomia não for bem sucedida, o CH2 CH,
|
transplante de fígado é o tratamento escolhido. As crianças rara- Me C H ,
mente vivem além de 3 anos a m e n o s que a lesão seja corrigida
cirurgicamente.
SOjH
A atresia biliar mtm-hepáüca é caracterizada por uma ausência
de duetos biliares intra-hepáticos. A icterícia normalmente aparece
^nAcido glicurônico
nos primeiros dias de vida. A bilirrubina sérica é elevada e o
Azobilirrubina B (isômero I)
colesterol sérico pode estar alto e levar à formação de xantomas.
I
H,< CH-
H,C Me Me ( II
M e t o d o l o g i a Analítica LJ
Várias técnicas analíticas são usadas para dosar bilirrubina e
metabólitos n o soro e na urina. 1JOH;C

Bilirrubina Sérica Ácido <tilíaailic< > diB2t*ado


Bilirrubina c compostos relacionados são dosados nos fluidos
corporais pelo uso de uma variedade de métodos (1) espectrofo-
tométricos, (2) cromatográficos e (3) eletroforéticos por capilar. AuiUi: xlk .râtiia
O s intervalos de referência para bilirrubina e compostos relacio-
nados estão listados no Capítulo 45. HjÇ CH 2
H2Ç Mc Me CH
Métodos Diazo
O s métodos químicos mais amplamente usados para a dosagem j{ ~ \ ;> N—N—\JH J
IIO.S
de bilirrubina são aqueles baseados na reação diazo, primeira- \ = = / N' '»
mente descrita por Ehrlich, em 1883. Nessa reação, o ácido sul-
i
fanílico diazotizado—o reagente diazo—reage c o m a bilirrubina
Aiabilirrubina A (isômem II)
para produzir dois azodipirróis {Figura 28-11), os quais são roxo-
avermclhados e m pH neutro e azuis e m valores de p H baixos o u
Figura 28-11 A reação do glicuronídeo de bilirrubina com o ácido
altos. Mais tarde, descobriu-se que o álcool acelera a reação. A
sulfanílico diazotado para produzir os isômeros I e 11 da azobilirrubina
fração de bilirrubina que reage c o m o regente diazo na ausência
B. A bilirrubina não-conjugada reage da mesma forma para produzir os
de álcool é d e n o m i n a d a bilirrubina direta. A bilirrubina indi-
isômeros 1 e 11 da azobilirrubina A.
reta é considerada c o m o a diferença entre a bilinubina total
(encontrada após a adição de álcool à mistura de reação) e a
fração de bilirrubina direta. Todas as variações posteriores têm
usado u m dentre os vários "aceleradores" que facilitam a reação
da bilirrubina não-conjugada (indireta) com o reagente diazo.
Bilirrubina Total. O m é t o d o diazo descrito por Jendrassik e
Grof, e m 1938, e depois modificado por D o u m a s e colaborado- adicionado e a absorvância da azobilirrubina alcalina (cor azul-
res10 m e d e n o total as frações de bilirrubina (1) não-conjugada, esvetdeada) é medida a 5 9 8 n m . Em analisadores clínicos auto-
(2) monoconjugada, (3) desconjugada e (4) 5-bilirrubina n o soro. matizados, a adição de tartarato alcalino é omitida e a absorvân-
Esse m é t o d o tem sido "credenciado" pelo Clinicai Laboratory cia é medida a 5 3 0 n m . O m é t o d o é calibrado com soluções de
Standards Institute (CSLI) c o m o o método de referência para a concentrações de bilirrubina conhecidas preparadas pela adição
dosagem de bilirrubina total n o SOTO. Nesse procedimento, o soro de bilirrubina não-conjugada de pureza conhecida ao SOTO humano.
é adicionado a uma solução aquosa de cafeína, acetato de sódio Tal bilirrubina, Material de RefeTência-PadTão (SRM) No. 916, está
e benzoato de sódio (acelerador), que desloca a bilirrubina não- disponível no National Institute of Standards and Technology
conjugada de seus sítios de associação na albumina e facilita sua (NIST), Gaithersburg, M D .
reação com o ácido sulfanílico diazotizado. Após uma incubação Bilirrubina Direta. O s m o n o c o n j u g a d o s e diconjugados de bilir-
de 10 minutos à temperatura ambiente, o tartarato alcalino é rubina (principalmente glicuronídeos) e a S-bilirrubina, por serem
Hemoglobina, Ferro e Bilirrubina CAPÍTULO 2 8 539

hidrossolúveis, reagem com o reagente diazo na ausência de u m oxidase estão e m boa concordância com aqueles obtidos pelo
acelerador. U m m é t o d o confiável para a bilirrubina direta n ã o p r o c e d i m e n t o de Jendrassik-Grof. A bilirrubina direta é dosada
deve medir qualquer bilirrubina não-conjugada. Para m a n t e r a em p H 3,7 a 4,5, nessa faixa de p H , a enzima oxida conjugados
bilirrubina não-conjugada sem reagir é necessário usar u m p H de bilirrubina e õ-bilirrubina, mas n ã o a bilirrubina não-conju-
próximo a 1,0 (soro ou plasma diluídos com HC1 a 0,05 m o l / L ) . gada. Em p H 10, a enzima oxida seletivamente os dois glicuroní-
A ditaurobilirrubina (bilirrubina conjugada com t a u r i n a e dispo- deos; a õ-bilirrubina n ã o é oxidada de forma alguma e s o m e n t e
nível c o m o sal dissódio), u m material sintético hidrossolúvel, é 5 % da bilirrubina não-conjugada é dosada c o m o conjugados.
usada pelos fabricantes de i n s t r u m e n t o s para calibrar os m é t o d o s
de bilirrubina direta. Está, t a m b é m , presente em material usado
para controle de qualidade e para testes de proficiência. Dosagem Transcutânea da Bilirrubina
Essa abordagem não-invasiva para dosar bilirrubina foi introdu-
zida p o r Yamanouchi, e m 1980. O primeiro b i l í r r u b i n ô m e t r o
Espectrofotomelria Direta (icterômetto) era u m f o t ô m e t r o de reflectância, o qual usava dois
Esse m é t o d o de dosagem baseia-se na absorção de luz pela bilir- filtros para corrigir a cor da hemoglobina e exigia medidas e m
r u b i n a p r ó x i m o a 460 n m e é restrito principalmente a amostras oito locais d o corpo. O s esforços para melhorar a precisão de tais
de sangue de recém-nascidos saudáveis nos quais a bilirrubina dosagens têm t i d o sucesso e levaram ao desenvolvimento de
não-conjugada é a espécie p r e d o m i n a n t e . A correção para oxie- aparelhos de eficiência aceitável. Em u m estudo, foi e n c o n t r a d o
moglobina, invariavelmente presente em soros de neonatos, é que o aparelho BiliCtack (SpectR* Inc., Norcross, Ga.) garante
alcançada pela dosagem da absorvância em dois c o m p r i m e n t o s resultados que estão a ± 2 m g / d L daqueles obtidos por u m pro-
de o n d a e pela resolução de u m sistema de duas equações simul- cedimento diazo. 31 O u t r o estudo e n c o n t r o u q u e o BiliCheck
tâneas t e n d o duas incógnitas. A concentração de bilirrubina na subestimava o soro q u a n d o sua concentracão era > 10 m g / d L
amostra é calculada a partir de u m a equação simples. (170 pmol/L). 1 1
Embora as dosagens transcutâneas de bilirrubina n ã o possam
substituir as determinações quantitativas laboratoriais, elas (1) íot-
Cromatografia Líquida de Alta Eficiência necem informação instantânea, (2) reduzem a necessidade de deter-
Os métodos de H P L C r a p i d a m e n t e separam e quantificam as minações de bilirrubina sérica, (3) p o u p a m lactentes do trauma
quatro frações de bilirrubina ( Q u a d r o 28-2). A H P L C tem sido das picadas nos calcanhares e (4) são custo-efetivas Além disso,
útil n a detecção e separação das diversas frações de bilirrubina e elas são úteis em determinar se é necessário tirar sangue de u m
dos fotoisômeros produzidos d u r a n t e a fototerapia e m recém-nas- bebê ictérico para orientar o tratamento, tal como fototerapia ou
cidos e, p o r t a n t o , na elucidação d o mecanismo pelo qual a foto- transfusão. U m a outra aplicação é predizer quais bebês necessita-
terapia d i m i n u i a concentração de bilirrubina no sangue de neo- rão de a c o m p a n h a m e n t o de acordo com o n o m o g r a m a "hora-
natos. Existem vários métodos p o r H P L C , de variável complexi- especifico" de bilirrubina sérica. 6
dade, para separar as frações de bilirrubina. U m m é t o d o por
H P L C simples e rápido usa u m a coluna Micronex RP-30, que n ã o
necessita de salting out de globulinas ou transformação química Bilirrubina Urinária
dos conjugados de bilirrubina. Este m é t ô d o separa a bilirrubina C o m o s o m e n t e a bilirrubina conjugada é excretada na urina, sua
sérica e m (1) õ-bilirrubina, (2) bilirrubina desconjugada (y-bilirru- presença indica hiperbilirrubinemia conjugada. O m é t o d o mais
bina), (3) bilirrubina m o n o c o n j u g a d a (p-bilirrubina), os (4) fotoi-
c o m u m e n t e usado para detectar bilirrubina na urina envolve o
sômeros E,Z ou Z,E e (5) bilirrubina não-conjugada. A descoberta
uso de uma vareta impregnada com u m reagente diazo. O s
da õ-bilirrubina solucionou o mistério das concentrações altas de
m é t o d o s de varetas detectam concentrações de bilirrubina tão
bilirrubina persistentes, a maioria reagindo diretamente, em
baixas q u a n t o 0,5 m g / d L .
pacientes c o m icterícia obstrutiva mtra-hepática o u pós-hepática
U m a amostra fresca de urina é necessária p o r q u e a bilirru-
muito t e m p o após a hepatite ter d i m i n u í d o ou a obstrução ter
b i n a é instável q u a n d o exposta à luz e à temperatura ambiente,
sido Tesolvida. Ela é a fração que demora mais a desaparecer do
e p o d e ser oxidada à biliverdina (a qual é diazo negativa) n o p H
soro porque segue o catabolismo da albumina, a qual tem u m a
n o r m a l m e n t e ácido da u r i n a . A tira reagente (Chemstrip, Roche
meía-vida de aproximadamente 19 dias.
Diagnostics, Basel, Switzerland; Multistix, Siemens Diagnostics,
A H P L C tem sido m u i t o útil na elucidação da natureza das
Tarrytown, N I ) é r a p i d a m e n t e imersa na amostra de urina, e a cor
espécies de bilirrubina que ocorrem n a t u r a l m e n t e n o sangue ou
que são formadas d u r a n t e a fototerapia. Clinicamente, ela oferece é lida 60 segundos depois. O mecanismo de reação para a bilir-
pouca, se alguma, ajuda ao médico n o diagnóstico diferencial de rubina conjugada urinária é o m e s m o que o descrito n a Figura
icterícia p o r q u e o c o n h e c i m e n t o da porcentagem das frações 28-11, exceto que o 2,6-diclorobenzeno-diazônio-tetrafluorobo-
de bilirrubina n o sangue não tem valor diagnóstico. rato (Chemstrip) e o sal 2,4-dicloroanilina diazónio (Multistix)
são os compostos diazo. Na prática, as varetas, as quais testam
u m a variedade de substâncias urinárias, são lidas por aparelhos
Métodos Enzimáticos fotométricos (p. ex., Clinitek, Siemens Diagnostics, Tarrytown,
Os m é t o d o s enzimáticos para bilirrubina total e direta e para NI), que t a m b é m i m p r i m e m os resultados.
conjugados d e bilirrubina com ácido glicurônico são baseados na As tiras C h e m s t r i p e Multistix para a bilirrubina na urina são
oxidação de bilirrubina com bilirrubina oxidase a biliverdina com testes altamente específicos e têm u m a baixa incidência de resul-
oxigênio molecular. Próximo a p H 8, e na presença d e colato de tados falso-positivos. E n t r e t a n t o , m e d i c a m e n t o s que colorem a
sódio e de dodecilsulfato de sódio, todas as quatro frações de u r m a de vermelho ou q u e dão cor vermelha em meio ácido, tais
bilirrubina são oxidadas a biliverdina, que é, ainda, oxidada a como a fenazopiridina, são conhecidos por produzirem leitura
p r o d u t o s roxos e, por fim, incolores. A diminuição n a absorvân- falso-positiva. G r a n d e s quantidades de ácido ascórbico ou de
cia, a 4 2 5 ou 4 6 0 n m , é proporcional à concentração de bilirru- nitrito t a m b é m p i o r a m o limite d e detecção d o teste. N a prática,
bina total. O s resultados obtidos pelo m é t o d o da bilirrubina a bilirrubina é r a r a m e n t e dosada na urma.
540 PARTE IV Analitos

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CAPÍTULO 2 9

Porfirinas e Doenças Associadas


ao Metabolismo das Porfirinas
Allan Deacon, B.S.C., Ph.D., F.R.C.Path., Sharon D. Whatley, Ph.D.,
e George H. Élder, M.D.

OBJETIVOS da biossíntese do heme, r e su l t a n d o em maior formação e


1. Definir os seguintes termos: excreção de porfirinas, seus precursores, ou amhos.
Precursores de Porfirinas: A L A e PBG, os intermediários
Porfirina
biossintéticos, q u e são metabolizados a p o r f i r m o g ê n i o s e
Porfobilinogênio
porfirinas.
Porfiria
Uroporfirina: U m a p o r f i r i n a com q u a t r o cadeias laterais de
2. Descrever a via biossintética e as funções fisiológicas do heme.
ácido acético e q u a t r o de ácido propiônico ligadas ao
3. Listar e descrever os sintomas das sete porfirias e os principais suporte d o tetrapirrol.
intermediários com níveis aumentados associados a cada uma Zinco-Protoporfirina (ZPP): U m s u b p r o d u t o normal, mas de
delas. m e n o r importância, da biossíntese d o heme, e n c o n t r a d o
4. Discutir a investigação laboratorial aplicada à clínica dos distúrbios nos eritrócitos; q u a n d o o Fe(ll) disponível é insuficiente
do metabolismo das porfirinas, incluindo os testes de rastreamento, para a biossíntese d o h e m e , mais ZPP é f o r m a d o .
os métodos de análise e as possíveis interferências em cada um
deles.

A
5. Descrever os efeitos da toxicidade do chumbo na via biossintética
s porfirias constituem u m g r u p o de doenças caracteriza-
do heme. das pela deficiência em u m a das enzimas da biossíntese
d o h e m e , o q u e resulta em s u p e r p r o d u ç ã o de intermedi-
PALAVRAS-CHAVE E D E F I N I Ç Õ E S ários da via.1 Estes intermediários são excretados em q u a n t i d a d e s
Porfirias Agudas: Doenças herdadas associadas à biossíntese d o excessivas n a urina, nas fezes, ou em ambos. As conseqüências
h e m e , caracterizadas p o r crises agudas causadas p o r clínicas d e p e n d e m da natureza dos precursores do h e m e q u e se
disfunções neuroviscerais; p o t e n c i a l m e n t e fatais; a c u m u l a m . Nas porfirias agudas, os precursores de porfirinas em
diagnosticadas por níveis elevados de porfobilinogênio excesso (ácido 5-aminolevulínico [ALA] e porfobilinogênio
(PBG) na urina. [PBG]) estão associados às crises agudas p o t e n c i a l m e n t e fatais
Acido 5-Aminolevulínico (ALA): Precursor imediato do causadas por disfunções neuroviscerais, que são f r e q ü e n t e m e n t e
porfobilinogênio; duas moléculas de ALA se c o m b i n a m provocadas p o r u m a variedade de drogas c o m u m e n t e prescritas,
para formar u m a molécula de porfobilinogênio. fatores h o r m o n a i s , álcool, jejum prolongado, estresse ou infec-
Coproporfirina: U m a porfirina c o m q u a t r o cadeias laterais d o ção. Nas porfirias não-agudas e nas porfirias agudas em que a pele
tipo metil e q u a t r o d o tipo ácido propiônico ligadas ao p o d e ser afetada, o a c ú m u l o de porfirinas resulta em fotossensi-
suporte do tetrapirrol. bilização e lesões na pele. O diagnóstico d e p e n d e da investigação
Porfirias Cutâneas: D o e n ç a s associadas à biossíntese do heme, laboratorial para d e m o n s t r a r o p a d r ã o de acúmulo do precursor
nas quais o acúmulo de porfirinas causa d a n o à pele d o h e m e específico para cada tipo de porfiria e requer a análise
q u a n d o esta é exposta à luz solar. de amostras apropriadas para os metabólitos-chave u s a n d o
Porfobilinogênio (PBG): Precursor imediato das porfirinas, m é t o d o s suficientemente sensíveis e específicos.
u m anel de pirrol com cadeias laterais do tipo acetil, O s avanços técnicos n a área de genética molecular possibili-
p r o p i o n i l e aminometil; q u a t r o moléculas de PBG se t a m investigar muitas porfirias ao nível molecular. E m b o r a n ã o
c o n d e n s a m para f o r m a r u m a molécula de 1- sejam essenciais para o diagnóstico de casos sintomáticos, estas
hidroximetilbilano, que é, então, convertido sucessivamente técnicas estão se t o m a n d o cada vez mais valiosas na investigação
a uroporfirinogênio-III, coproporfirinogênio-III, de famílias com porfiria.
protoporfirinogênio-IX, protoporfirma-IX e h e m e .
P o r f i r i n a s : Q u a l q u e r grupo de compostos c o n t e n d o a estrutura PORFIRINAS E QUÍMICA DO HEME
de p o r f m a , q u a t r o anéis de pirrol ligados p o r pontes de Antes de se discutirem a síntese das porfirinas e as doenças asso-
m e t e n o (ou pontes metênicas ou p o n t e s metenilas) e m u m a ciadas ao seu metabolismo, a estrutura, a n o m e n c l a t u r a e as carac-
configuração cíclica, a qual se ligam várias cadeias laterais. terísticas químicas desse grupo d e compostos serão revisadas.
Protoporfirina: U m a porfirina com quatro cadeias laterais do
tipo metil, duas do tipo vinil e duas do tipo ácido Estrutura e N o m e n c l a t u r a d a s Porfirinas
propiônico ligadas ao s u p o r t e do tetrapirrol; o complexo A estrutura básica das porfirinas consiste e m q u a t r o anéis m o n o -
protoporfirma-lX-ferro, o heme, é o grupo prostético da pirrólicos ligados por pontes de m e t e n o (ou pontes metênicas ou
h e m o g l o b i n a , dos citocromos e de outras hemoproteínas. pontes metenilas) para f o r m a r u m anel tetrapirrólico (Figura 29-
Porfirias: U m grupo de doenças metabólicas principalmente 1). M u i t o s compostos de p o r f i r i n a são conhecidos, mas apenas
herdadas que resultam d e deficiências parciais das enzimas u m n ú m e r o limitado é de interesse clínico. O s compostos de

541
542 PARTE IV Analitos

porfirina relevantes para as porfirias (Tabela 29-1) diferem nos porfirinas possuem uma absorvância particularmente intensa
substituintes que ocupam as posições periféricas 1 a 8. Variação próximo a 4 0 0 nm, f r e q ü e n t e m e n t e d e n o m i n a d a banda Soret.
na distribuição d o s m e s m o s substituintes nas posições periféricas Q u a n d o expostas à luz na tegião de 4 0 0 nm, as porfirinas revelam
d o anel de tetrapirrol origina isômeros de porfirinas, que são uma fluorescência vermelho-alaranjada característica na faixa de
geralmente representados por algarismos romanos (isto é, I, II, 5 5 0 a 6 5 0 n m . A absorvância e a fluorescência são alteradas pelos
III etc.). A forma reduzida de uma porfirina é conhecida c o m o substituintes ao redor do anel de porfirina e pelo metal ligante.
porfirinogênio (Figura 29-1) e difere pela presença de seis hidrogê- A quelação d o zinco altera o pico de fluorescência da protopor-
nios adicionais (quatro nas pontes de meteno e dois em nitrogênios firina para comprimentos de onda mais curtos e reduz a intensi-
presentes nos anéis). O s porfirinogênios são instáveis in viera e dade da fluorescência. A ligação forte d o ferro altera a natureza
são e s p o n t a n e a m e n t e oxidados a suas porfirinas corresponden- da protoporfirina de tal forma que o h e m e não apresenta fluo-
tes. Sob baixas tensões de oxigênio na célula, os porfirinogênios rescência significante.
são estáveis e formam os intermediários da via de síntese d o heme;
a aromatização da protoporfirina, na penúltima etapa da via, Solubilidade
requer uma enzima. As porfirinas são apenas levemente solúveis em água. As solubilida-
des diferentes de cada porfirina são importantes não somente para
Quelação de Metais o desenho dos métodos analíticos para sua extração e fraciona-
O arranjo dos quatro átomos de nitrogênio n o centro do anel de mento, mas também para a determinação da rota de sua excreção
porfirina faz c o m que as porfirinas possam quelar vários íons do corpo. Em pH 7, os grupos carboxila se encontram ionizados e
metálicos. A p r o t o p o r f i r i n a que c o n t é m ferro é conhecida c o m o a molécula tem uma carga líquida negativa. Abaixo de pH 2, os
heme; o ferro-heme refere-se especificamente ao c o m p l e x o Fe2" e nitrogênios pirrólicos e os grupos carboxila se tornam protonados,
o ferri-heme ao F e 3 \ O ferri-heme associado ao contra-íon cloreto de forma que a molécula apresenta uma carga líquida positiva.
é c o n h e c i d o c o m o hemina, o u hematina q u a n d o o contra-íon é Em p H fisiológico, a solubilidade de uma dada porfirina é
hidróxido. determinada pelo número de grupos carboxila substituintes. A
uroporfirina tem oito grupos carboxilato e é a porfirina mais
Propriedades Espectrais solúvel em m e i o aquoso. A protoporfirina tem somente dois grupos
As porfirinas são denominadas a partir da palavra grega para carboxilato e é basicamente insolúvel em água, mas se dissolve
"roxo" {parphyra), e sua cor está relacionada à estrutura d e dupla rapidamente em meios lipídicos e se liga prontamente às regiões
ligação conjugada d o anel tetrapirrólico. Os porfirinogênios não hidrofóbicas de proteínas, tais c o m o a albumina. A coproporfirina,
têm ligações duplas conjugadas e são, portanto, incolores. As com quatro grupos carboxilato, tem solubilidade intermediária.

Precursores das Porfirinas


A L A e PBG são conhecidos c o m o precursores das porfirinas
(Figura 29-2). Algumas vezes, o ALA é chamado aminolevulinato
(para enfatizar sua natureza tônica em p H fisiológico). O PBG
contém u m único anel pirrol (ao contrário das porfirinas que
contêm quatro) e é freqüentemente denominado monopirroí. O
PBG polimeriza rapidamente, em particular a altas concentrações
em solução ácida, para formar principalmente o isômero I da uro-
porfirina. A m b o s ALA e PBG são altamente solúveis em água.
Porfirina Por fi rini nogênio
Biossíntese do Heme
Figura 2 9 - 1 Representações de porfirina e porfirinogênio. O
A estrutura complexa d o anel tetrapirrólico do heme é constru-
sistema de numeração e as denominações do anel são baseados no
ído de forma gradativa a partir dos precursores muito simples
sistema de Fischer.

TABELA 2 9 - 1 Substituintes ao Redor do Maerociclo das Porfirinas dc Importância Clínica


POSIÇÃO
Porfirina 1 2 3 4 5 6 7 8

Uroporfirira-I Cm Cgi cm Cet cm Cet Cm Ce,


Urcporfirina-lll Cm ^e! cm Ce< cm c« C(i cm
Porfirina heptacarhoxilato-lll cm Ca Cm Cel cm C* C„ Me
Porfirina tiexacarboxilato-lll Me Ce, cra Cel cm Cl, C(i Me
Porfirina pentacarboxilatc-lll Me Cg Me CEI cm Cel Cet Me
Coproporíirina-lll Me CE, Me C£, Me Cel c„ Me
Coproporfirina-I Me Cet Me Cet Me CBt Me Cet
Isocoproporfirina Me Et Me CEt c. Cet Cet Me
Desidroisocoproporfirina Me Vn Me Cet Cm Cet Cet Me
Deetilisocoproporfirina Me H Me Cet cm Cet CBt Me
Protoporfirina Me Vn Me Vn Me Cet Cet Me
Pemptoporfirina Me H Me Vn Me Cel Cít Me
Deuteroporfirina Me H Me H Me Cd c„ Me
Mesopcrfifina Me Et Me Et Me Cel Cel Me

C™. Mrimtmcri! (—CHjCOOH); C„, caibmieiil (-CH 2 CH ; COOH); Me, me til (-CH,); Et, etil (-CH 3 CH,); Vn, vinil (-CH-CH,).
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 543

Mitocôndria Citüssol
2 ALA
Succinil-CoA
Glicina
S—CoA
PBG

> + "iK. X .
UtJ <".w Cs»
o ruK \ '•'> Porfobilinogênio (PBG)
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O Ácido aminolevulinico espontâneo)
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Proroporfirina IX Uropoifirinogênio III Uroporfirinogênio I

Fmioporfi-rinogÊnlo Umporfirinogênio UVúfior/ ÍTEn ogéni o


oxidase descarboxílase descarbnxilasc
Vn Me iJcr Mc Cei
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Procoporfirinogênio IX C op t'up oi fí ri n o g ê 111 o III Coproporfirinogênio I

V
Figura 2 9 - 2 Via biossintétia de porfirinas e h e m e . C c t , - C H i C H ^ C O O H ,
C m , - C H j C O O H , Me, - C H , ; Vn, - C H = C H : .

succinihcoenzima A (CoA) e glicma (Figura 29-2).' A via está requer piridoxal fosfato c o m o co-fator, que forma u m a base de
presente em todas as células nucleadas, e estima-se que a síntese Schiff com o grupo a m i n o da glicma na superfície da enzima.
diária de h e m e em h u m a n o s é de 5 a 8 m m o l / k g de peso do O carbânion da base de Schiff desloca a C o A d o succmil-CoA,
corpo. A via é compartimentalizada com algumas etapas ocor- com a formação do ácido a-ammo-f3-cetoadípico, que é, então,
r e n d o na m i t o c ô n d r i a e outras n o citoplasma. Pouco se sabe descarboxilado a ALA. A atividade de ALAS é limitante da taxa
sobre o transporte dos intermediários através da m e m b r a n a de sintese de h e m e desde que a capacidade catalítica das outras
mitocondrial, e n e n h u m defeito n o transporte foi relatado até enzimas da via esteja n o r m a l .
o m o m e n t o nas porfirias.
Ácido 5-Aminolevulinico Desidratase (EC 4.2.1.24),
5-Aminolevulinato Sintase (EC 2.3.1.37% ALAS ALAD
O ALAS é a enzima inicial da via e catalisa a formação de A L A O A L A D ( t a m b é m conhecido c o m o porfobilinogênio sintase) é
a partir de succinil-CoA e glicina. A enzima é mitocondrial e u m a enzima citoplasmática q u e catalisa a formação do PBG
544 PARTE IV Analitos

monopirrólico a partir de duas moléculas de A I A , c o m a elimi- Pro topo rfirin ogênio Oxida se (EC 1.3.3.4), PPOX
nação de duas moléculas de água. A enzima requer íons de zinco A PPOX é uma flavoproteína localizada na membrana mitocon-
c o m o co-fator e grupos sulfidrila reduzidas no sítio ativo, sendo, drial interna e catalisa a remoção de seis hidrogênios (quatro das
portanto, suscetível à inibição por chumbo. pontes de meteno e dois dos nitrogênios d o anel) para formar a
protoporfirina-IX. A oxidação não-enzimática também ocorre m
Hidroximetilbilano Sintase (EC 2.5.1.61), HMBS nitro. C o n t u d o , sob a tensão de oxigênio da célula, a PPOX é
A H M B S (também conhecida c o m o PBG desaminase) é uma essencial para a oxidação ocorrer. A protoporfirina produzida é
enzima cito plasmática que catalisa a formação de uma molécula a única porfirina que funciona na via d o heme. Outras porfirinas
do tetTapirrol linear 1-hidroximetilbilano (HMB; t a m b é m deno- são produzidas por oxidação não-enzimática e representam por-
m i n a d o pré-uroporfirínogênio) a partir de quatro moléculas de firinogênios que escaparam irreversivelmente da via.
PBG, com a liberação de quatro moléculas de amónia. A e m i m a
é suscetível à inibição alostérica por intermediários de etapas Ferroquelatase (EC 4.39.1.1), FECH
posteriores da via biossintética d o heme, especialmente copropor- A F E C H (também d e n o m i n a d a h e m e sintase) é uma proteína
firinogênio-III e protoporfirinogênio-IX. 1 3 ferro-enxofre localizada na membrana mitocondrial interna. Esta
enzima insere íon ferroso na protoporfirina para formar heme.
Durante este processo, dois hidrogênios são retirados dos nitro-
Uroporfirinogênio-Hl Sintase (EC 4.2.1.75), UROS gênios do anel. Outros metais n o estado divalente também
A U R O S é uma enzima citoplasmática que rearranja e torna atuarão c o m o substrato, produzindo o quelato correspondente
cíclico o H M B para formar o uroporfirinogênio-III. Cada anel de (p. ex., incorporação de Zn 24 na protoporfirina para produzir
pirrol de H M B contém u m substituinte metilcarboxilato e u m zinco-protoporfirina [ZPP]). N o s estados de deficiência de ferro,
etilcarboxilato, que estão na mesma orientação. Pela rotação de Zn 2+ compete com sucesso c o m o Fe 2+ nos eritTÓcitos em forma-
n e n h u m , um, ou dois anéis pirrólicos alternados o u adjacentes, ção, de forma que a concentração de zinco-protoporfirina nos
é possível chegaT aos quatro diferentes isômeros. A l é m de fechar eritrócitos aumenta. Além disso, outras porfirinas dicarboxílicas
a estrutura de anel, a enzima Toda o anel D via u m intermediário também servirão c o m o substratos (p. ex., mesoporfirina).
espirano, produzindo o isômero tipo III - esta rotação é vital
porque somente o isômero tipo III contribui para a biossíntese de Função do Heme
heme. O H M B é instável, e, nas porfirias em que o excesso de O h e m e funciona c o m o u m grupo prostético e m várias proteínas,
H M B se acumula, a ciclização ocorre não enzimaticamente com nas quais, d e p e n d e n d o de sua função, o ferro muda livremente
a formação d o isômero tipo I. Normalmente, apenas quantidades entre os estados de valência V e 3T. D e 70% a 8 0 % da síntese
mínimas de uroporfirinogênio-I são formadas. de h e m e ocorre na medula óssea e aproximadamente u m p o u c o
mais de 15% no fígado. As proteínas que c o n t ê m h e m e partici-
pam dc u m a variedade de reações ledox, incluindo:
Uroporfirinogênio Descarboxilase (EC 4.1.1.37), 1. Transporte de oxigênio (pela h emoglob in a no sangue) e arma-
UROD zenamento (pela mioglobina n o músculo)
Esta é a última enzima citoplasmática da via e catalisa a descarbo- 2. Respiração mitocondrial (pelos citocromos bi, cL e a3)
xilação dcs quatro grupos carboximetil para formar o coproporfi- 3. Destruição enzimática de peróxidos (pela catalase e peroxi-
rinogênio tetracarboxílico. A enzima usa ambos os isômeros I e dase)
III de uroporfirinogênio c o m o substrato. A descarboxilação se 4. Metabolismo de drogas (pelas oxidases de função mista d o
inicia n o anel D e procede gradualmente através dos anéis A, B citocromo P-450 microssômico)
e C, c o m a formação dos intermediários heptacarboxilato, hexa- 5. Dessaturação de ácidos graxos (pelo citocromo bs microssô-
carboxilato e pentacarboxilato em um único sítio ativo. A defici- mico)
ência de U R O D causa acúmulo destes intermediários além de seu 6. Metabolismo do triptofano (pela triptofano oxigenase)
substrato, uroporfirinogênio. Hm altas concentrações de subs- Reações d o óxido nítrico (NO) são freqüentemente mediadas
trato, a descaTboxilação ocorre por u m mecanismo aleatório. pela reação do h e m e com N O e m enzimas-controle, tais c o m o
guanilato ciclase.
Coproporfirinogênio Oxida se (EC 1.3.3.3), CPO Outros derivados tetrapirrólicos que ocorrem naturalmente
A C P O está situada n o espaço intermembranas da mitocôndria incluem a vitamina B 12 e a clorofila, cada uma das quais contendo,
e catalisa a descarboxilação oxidaliva seqüencial dos grupos 2- e respectivamente, u m átomo de cobalto o u magnésio quclado.
4-carboxietil a grupos vinil para produzir o protoporfirinogênio-
IX mais lipofílico, c o m a formação de um intermediário tricar- Excreção de Precursores do Heme
boxílico, o harderoporfirinogênio. O oxigénio é necessário c o m o Normalmente, apenas quantidades insignificantes dos precurso-
oxidante. A enzima requer grupos sulfidrila para sua atividade, o res se acumulam n o corpo. A rota de excreção d e p e n d e grande-
que a torna alvo da inibição por metais. A enzima é específica mente da solubilidade. O s precursores de porfirinas A L A e PBG
para o isômero tipo III, assim o metabolismo da série 1 das por- são hidrossolúveis e são excretados quase exclusivamente na
firinas não ocorre além do coproporfirinogênio-I. O produto da urina. O uroporfirinogênio, com oito grupos carboxilato, é pron-
enzima difere do substrato pelo fato de a substituição de dois dos tamente solúvel em água e também é excretado via rim. O último
grupos carboxietil por grupos vinil introduzir u m terceiro substi- intermediário da via, a protoporfirina (e também o protoporfiri-
tuinte na molécula. Portanto o n ú m e r o de possíveis formas iso- nogênio), que tem s o m e n t e dois grupos carboxilato, é insolúvel
méricas aumenta e, por convenção, o sistema de numeração e m água e é excretado nas fezes via trato biliar. As outras porfi-
muda, de forma que o isômero III se torna o isômero IX. N o s rinas são de solubilidade intermediária e aparecem tanto na urina
estados de deficiência de U R O D , u m dos grupos etilcarboxilato c o m o nas fezes. O coproporfirinogênio-I é retirado e excretado
do porfirinogênio pentacarboxilato acumulado é descarboxilado pelo fígado preferencialmente e m relação ao isômero III, de
por u m mecanismo desconhecido para formar as séries de isoco- forma que o coproporfirinogênio-I predomina nas fezes e o
proporfirina das porfirinas. coproporfirinogênio-III, na urina. Todos os porfirinogênios na
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 S4S

u r i n a ou nas fezes são l e n t a m e n t e o x i d a d o s às p o r f i r i n a s corres- n ã o traduzida ( U T R ) d o m R N A de A L A S 2 , c o m c o n s e q ü e n t e


pondentes. inibição da tradução.
U m a vez n o i n t e s t i n o , as p o r f i r i n a s são suscetíveis à m o d i f i -
cação pela m i c r o b i o t a intestinal. O s dois g r u p o s vinil da proto- AS PRINCIPAIS DOENÇAS ASSOCIADAS ÀS
p o r f i r i n a são reduzidos a g r u p o s etil, h i d r a t a d o s a g r u p o s h i d r o - PORFIRINAS
xietil, ou r e m o v i d o s , o r i g i n a n d o u m a v a r i e d a d e de p o r f i r i n a s A s porfirias c o n s t i t u e m u m g r u p o d e d o e n ç a s m e t a b ó l i c a s q u e
s e c u n d á r i a s . A m i c r o b i o t a intestinal p o d e t a m b é m metabolizar r e s u l t a m de deficiências parciais das enzimas da biossíntese d o
o h e m e (se d e o r i g e m a l i m e n t a r , c o m o c o m p o n e n t e s d e células h e m e 1 (Tabela 29-2). T o d a s são h e r d a d a s e m p a d r õ e s m o n o g ê n i -
esfoliadas da m u c o s a intestinal, ou de s a n g r a m e n t o gastrointes- cos, c o m exceção de algumas f o r m a s d e p o r f i r i a cutanea tarda
tinal) para p r o d u z i r u m a v a r i e d a d e de p o r f i r i n a s dicarboxílicas. (PCT) e de tipos raros d e p o r f i r i a eritropoiética. U m n ú m e r o
A l é m disso, algumas bactérias são capazes de síntese de novo d e g r a n d e de m u t a ç õ e s d o t i p o doença-específica já foi i d e n t i f i c a d o
porfirinas. e m cada u m d o s genes q u e c o d i f i c a m as enzimas defeituosas
(www.hgmd.cf.ac.uk). C a d a tipo de p o r f i r i a é d e f i n i d o pela asso-
Regulação da Biossíntese do Heme ciação d e características clínicas típicas c o m u m p a d r ã o especí-
O s u p r i m e n t o de h e m e e m t o d o s os tecidos é c o n t r o l a d o pela fico d e a c ú m u l o de p r e c u r s o r e s d o h e m e , q u e reflete u m a m a i o r
atividade d e A L A S m i t o c o n d r i a l , a p r i m e i r a enzima d a via. f o r m a ç ã o de substratos p a r a a e n z i m a d e f i c i e n t e n a q u e l e t i p o de
Existem duas isoformas de A L A S . A i s o f o r m a u b í q u a , A L A S 1 , p o r f i r i a (Tabela 29-3).
é codificada p o r u m gene d o c r o m o s s o m o 3 p 2 1 e expressa e m A s porfirias são caracterizadas c l i n i c a m e n t e p o r duas carac-
t o d o s os tecidos. P o r q u e t e m u m a meia-vida d e a p e n a s aproxi- terísticas principais; lesões d e pele e m áreas expostas ao sol e
m a d a m e n t e u m a hoxa, m u d a n ç a s e m sua taxa d e síntese p r o d u - crises neuroviscerais agudas, c o m p r e e n d e n d o t i p i c a m e n t e d o r
zem alterações a c u r t o p r a z o n a c o n c e n t r a ç ã o d a e n z i m a e n a a b d o m i n a l , n e u r o p a t i a periférica e d i s t ú r b i o m e n t a l . As lesões
atividade celular de ALAS. A síntese de A L A S 1 está sob c o n t r o l e de pele são causadas p o r f o t o d a n o catalisado p o r p o r f i r i n a s , e m
de "feedback" negativo pelo h e m e . N o fígado, m a s n ã o n a m a i o r i a q u e o oxigênio singlete é o p r i n c i p a l m e d i a d o r . Crises agudas
dos o u t r o s tecidos, A L A S 1 é i n d u z i d a p o r u m a g r a n d e g a m a de estão associadas ao a u m e n t o da f o r m a ç ã o d e A L A a p a r t i r da
drogas e p r o d u t o s q u í m i c o s q u e i n d u z e m as oxidases d e p e n d e n - atividade i n d u z i d a de A L A S 1 hepática e deficiência parcial d o
tes de citocTomo m i c r o s s ô m i c o P-450 (CYFs). P r o v a v e l m e n t e h e m e h e p á t i c o , f r e q u e n t e m e n t e e m resposta à i n d u ç ã o de CYPs
este efeito é m e d i a d o p r i n c i p a l m e n t e pela ativação t r a n s c r i c i o n a l hepáticos p o r drogas e o u t r o s fatores. A relação e n t r e essas alte-
direta por receptores n u c l e a r e s de resposta a droga, e m vez de rações b i o q u í m i c a s e a d i s f u n ç ã o n e u r o n a l q u e f u n d a m e n t a
seT pela depleção de u m a m i s t u r a r e g u l a d o r a d e h e m e intracelu- todas as características clínicas da crise a g u d a n ã o é c o n h e c i d a .
lar c o m o c o n s e q ü ê n c i a d o u s o d e h e m e para a m o n t a g e m d e N a Tabela 29-2, as p o r f i r i a s são divididas e m p o r f i r i a s agudas,
CYP. A i n d u ç ã o d e A L A S 1 é i m p e d i d a pelo h e m e , q u e atua n a s quais o c o r r e m as crises neuroviscerais agudas, e as p o r f i r i a s
desestabilizando o ácido r i b o n u c l é i c o m e n s a g e i r o ( m R N A ) d e não-agudas.
A L A S 1 , b l o q u e a n d o a e n t r a d a d e p r é - A L A S l n a m i t o c ô n d r i a e,
possivelmente, i n i b i n d o sua transcrição. Porfirias Agudas
A i s o f o r m a eritróide, ALAS2, é c o d i f i c a d a p o r u m gene d o O defeito h e r d a d o e m cada u m a das porfirias agudas a u t o s s ô m i -
c r o m o s s o m o Xq21-22 e é expressa s o n t e n t e nas células eritróides. cas d o m i n a n t e s [porfiria i n t e r m i t e n t e aguda (AIP), p o r f i r i a varie-
S u a atividade é regulada p o r dois m e c a n i s m o s distintos. A trans- gata (VP) e c o p r o p o r f i r i a h e r e d i t á r i a ( H C P ) ] é u m a m u t a ç ã o q u e
crição é a u m e n t a d a d u r a n t e a diferenciação eritróide pela ação leva à inativação total o u quase total de u m dos pares d e alelos
d e fatores de transcrição eritróide-específicos, e as c o n c e n t r a ç õ e s q u e c o d i f i c a m a enzima cuja deficiência parcial causa a d o e n ç a .
de m R N A são reguladas p o r ferro. A deficiência de ferro n a s A s atividades enzimáticas são, p o r t a n t o , quase n o r m a i s e m t o d o s
células eritróides p r o m o v e a ligação específica d e p r o t e í n a s regu- os tecidos e m q u e elas são expressas, r e f l e t i n d o a atividade d o
ladoras d e ferro a e l e m e n t o s de resposta ao ferro n a região 5' gene n o r m a l sobre a d o alelo m u t a n t e . O f o r n e c i m e n t o d e h e m e

TABELA 2 9 - 2 I Os Principais Tipos de Porfiria Humana


Enzima Crises Lesões
Doença defeituosa Prevalência * Neuroviscerais de pele Herança

PORFIRIAS AGUDAS
Porfiria de deficiência de ALA desidratase (ALADP) ALAD muito rara + - AR
Porfiria intermitente aguda (AIP) HMBS 1-2:100.000 + - AD
Coproporfiria hereditária (HCP) CPO 1-2:1.000.000 + + t,t AD
Porfiria variegata (VP) PPOX 1:250.000 +u AD

PORFIRIAS NÃO-AGUDAS
Porfiria eritropoiética congênita (CEP) UROS 1:1.000.000 - +* AR
Porfiria cutanea tarda (PCT) UROD 1:25.000 - +* Complexa (20% AD)
Pratoporfiria eritropoiética (EPP) FECH 1:130.000 - Complexa
(principalmente AD)

AR, ãuiossõmím recessiuo; AD, autossômico dominante.


* Prevalência estimada da doença clinicamente evideme no Reino Unido,
f
Lesões de pele. e crises neuroviscerais podem ocorrer isoladamente ou ao ttiísmo tempo.
frágil, bclha.
546 PARTE IV Analitos

TABELA 2 9 - 3 As Porfirias: Padrões de Superprodução dos Precursores do H e m e durante a Fase Clinicamente Evidente da
Doença
Pico de Emissão
PBG/ALA Porfirinas nos de Fluorescência
Porfiria na Urina Porfirinas na Urina Porfirinas nas Fezes Eritrócitos do Plasma

ALADP ALA Copro-lll Não aumentada Zn-proto -

AIP PBG > ALA Principalmente uropnrlírina Normal nu leve aumento Não aumentada 615 a 620 nmb
a partir de PBG de Copro, P roto3
CEP Não aumentada Uro-I, Copro-I Copro-I Zn-proto, Prato, 615 a 620 nm
Copro-I, üro-l
PCT Não aumentada Uro, Heptac Isocopro, Heptac Não aumentada 615 a 620 nm
d
HCP PBG > ALA Copro-lll, uroportirína a Copro-lll Mão aumentada 615 a 620 nmb
partir de PBG
VP PBG > ALAd Copro-lll, uroportirína a Proto-lX > Copro-lll, Não aumentada 624 a 628 nm
partir de PBG X-porfirina
EPP Não aumentada Não aumentada ± Preto® Proto 626 a 634 nm'

"A porfirina total pode estar aumentada por ~ausa da presença de uToporfirina em excesso.
h
Nem sempre aumentada durante a crise agu la.
'0uiras porfirinas meüIÍZÍTLaxiLa [OJMbsti íwídíU estão aumentadas em uma menor extensão; urofwr/ÍTTna é uma mistura tios isfimerots dos tipos I e 111; porfirina
hepiacaThaxilata è
tmncijjãimente do tipo ilJ.
''PBG e ALA podem estar normais quando há apenas lesões de pele
"Nd o aumentada em afrroxitnadamente 40% dos pacienta.
'Protofor/irina ligada à globina (se acorre liemólije na üTnasüraJ tem um pica em 626 a 628nm.

mantido e m quantidades normais ou próximas d o normal pela desaparecer dentro "3e poucos dias, mas, em casos graves, uma
maior expressão de ALAS, c o m u m conseqüente a u m e n t o da neuropatia motora predominante se desenvolve e pode progredir
concentração de substrato da enzima defeituosa. Essas mudanças para quadriparesia flácida. D o r e vômito persistentes p o d e m levar
compensatórias variam entre tecidos, sendo ruais proeminentes à perda de peso e à má nutrição. A fase aguda pode ser acompa-
n o fígado e imperceptível na maioria dos outros órgãos, e entre nhada por confusão mental c o m alterações abruptas de humor,
indivíduos. Portanto, em todas as porfirias agudas autossômicas alucinações e outros traços psicóticos. Entretanto, essas perturba-
dominantes, alguns indivíduos não mostram evidências de super- ções mentais desaparecem com remissão. A doença psiquiátrica
produção de precursores do heme, enquanto outros têm a doença persistente não é uma característica das porfirias agudas, embora
manifestada bioquicamente c o m ou sem sintomas clínicos. A alguns pacientes possam apresentar ansiedade ou depressão leves.
baixa penetrância clínica é uma característica relevante de todas A dor abdominal geralmente desaparece dentro de duas semanas,
as porfirias agudas autossômicas dominantes. Estudos de famílias mas a recuperação da neuropatia pode levar muitos meses e nem
indicam que aproximadamente 8 0 % dos indivíduos afetados são sempre é completa. A maioria dos pacientes tem uma ou poucas
assintomáticos ao longo da vida. Complicações a longo prazo de crises seguidas de recuperação completa e remissão prolongada,
porfiria aguda incluem doença renal crônica, hipertensão e car- A p r o x i m a d a m e n t e 5 % têm crises agudas repetidas que, e m mulhe-
cinoma hepatocelular. 1 res, p o d e m ocorrer n o período pré-menstrual.
E m AIP, o principal defeito é uma deficiência de HMBS, a qual Fatores desencadeantes p o d e m ser identificados e m quase
Tesulta em acúmulo de seu substrato PBG (e em menor extensão dois terços dos pacientes que têm crises agudas. Os mais impor-
de ALA). Em V P e HCP, as deficiências herdadas de enzimas de tantes são as drogas, álcool, especialmente quando o c o n s u m o é
etapas posteriores da via levam ao acúmulo de porfirinogênies, que excessivo, o ciclo menstrual, gravidez, restrição calórica, infecção
são potentes inibidores alostéricos de HMBS 1 1 e levam ao acúmulo e estresse. As drogas que provocam crises agudas incluem barbi-
secundário de PBG (e ALA). N a doença recessiva muito rara, turatos, sulfonamidas, progesteronas e a maioria dos anticonvul-
ALADP, uma deficiência herdada de A L A D resulta em acúmulo sivos, mas muitas outras estão envolvidas na precipitação de crises
de ALA e coproporfirina-III, mas não de PBG. agudas 1 (www.porphyria-europe.com). Muitos desses fatores desen-
As crises agudas neuroviscerais, potencialmente fatais, que cadeantes induzem CYPs hepáticos.
ocorrem em AIP, VP e H C P são clinicamente idênticas. 10 Crises Lesões de pele similares às de P C T e de outras porfirias que
agudas são mais c o m u n s em mulheres, com a primeira ocorrência se manifestam com bolhas estão presentes e m aproximadamente
geralmente entre 15 e 4 0 anos, e são muitos raras antes da puber- 8 0 % de pacientes com VP clinicamente manifestada (Tabela 29-
dade. 2). Aproximadamente 6 0 % dos pacientes com esta condição têm
As crises agudas quase sempre começam com dor abdominal, apenas lesões de pele. A pele é mais raramente afetada em HCP;
que rapidamente se torna muito forte, mas não é acompanhada lesões de pele sem uma crise aguda são i n c o m u n s e são geral-
por peritonismo ou outros sinais de uma condição cirúrgica mente provocadas por colestase intercorrente.
aguda A dor pode ocorrer também nas costas e nas coxas,
p o d e n d o ocasionalmente ser mais forte nestas regiões. Sintomas Porfirias Não-agudas
de neuropatia autonômica, tais c o m o vômito, constipação, taqui' Estas se enquadram em duas categorias, d e p e n d e n d o se os
cardia e hipertensão, são freqüentes. As convulsões, quando pacientes têm lesões de pele c o m bolhas o u fotossensibilidade
ocorrem, são muitas vezes causadas por hiponatremia. A dor pode aguda.
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 547

Porfirias Não-agudas com Lesões de Pele com A exposição ao Sol é seguida, g e r a l m e n t e d e n t r o de 5 a 30


Bolhas m i n u t o s , p o r u m a sensação b a s t a n t e dolorosa, de q u e i m a ç ã o ,
Estas incluem a P C T e a porfiria eritropoiética congênita (CEP). picada e c o m i c h ã o da pele, n a m a i o r p a r t e das vezes n a face e
A l é m disso, nas porfirias agudas, V P e H C P , p o d e m ocorrer lesões n o s d o r s o s das mãos. O s s i n t o m a s persistem p o r várias h o r a s ou
de pele idênticas. Lesões n a pele exposta ao sol, p a r t i c u l a r m e n t e o c a s i o n a l m e n t e dias, e n ã o são aliviados pela p r o t e ç ã o da pele
a dos dorsos das mãos, d o antebraço e d a face, estão presentes e m c o n t r a a luz. O s pacientes t i p i c a m e n t e p r o c u r a m alívio mergu-
todos os pacientes. O a u m e n t o da fragilidade mecânica da pele, l h a n d o as m ã o s em água ou c o b r i n d o a pele c o m toalhas ú m i d a s .
com t r a u m a trivial levando a feridas e bolhas subepidérmicas, C r i a n ç a s m e n o r e s p o d e m se t o r n a r m u i t o aflitas p o r causa da
ocorre e m p r a t i c a m e n t e t o d o s os pacientes. A hipertricose n a face dor. A pele p o d e parecer n o r m a l d u r a n t e t o d o o t e m p o , e m b o r a
e a p i g m e n t a ç ã o n ã o u n i f o r m e são t a m b é m c o m u n s . As feridas e se a p r e s e n t e f r e q ü e n t e m e n t e c o m eritema, q u e p o d e ser seguido
bolhas cicatrizam l e n t a m e n t e , d e i x a n d o cicatrizes atróficas, acnes de i n c h a ç ã o e d e m a tosa c o m crostas. Essas alterações g e r a l m e n t e
e áreas desptgmentadas. A C E P é u m a condição t a r a que ocorre d i m i n u e m d e n t r o de p o u c a s h o r a s , de f o r m a q u e q u a n d o a
geralmente n a primeira infância e é transmitida e m u m p a d r ã o criança chega ao m é d i c o n ã o existe n a d a para ser visto e o epi-
recessivo autossômico. As lesões de pele se assemelham às da PCT, s ó d i o p o d e ser c o n s i d e r a d o m e r a m e n t e c o m o u m a q u e i m a d u r a
V P e H C P , mas são mais graves e persistem d u r a n t e a vida. C o m grave pelo sol. O s episódios r e c o r r e n t e s levam a m u d a n ç a s crô-
a idade, a cicatrização progressiva, p a r t i c u l a r m e n t e se as feridas se nicas da pele q u e , e m geral, são p e q u e n a s e difíceis d e se detec-
t o r n a m infectadas, e as alterações atróficas levam à f o t o m u t i l a ç ã o tar. As lesões típicas são cicatrizes lineares superficiais sobre a
c o m erosões das falanges terminais, à destruição das orelhas, d o base d o nariz e e m q u a l q u e r o u t r o lugar d a face, e n q u a n t o a pele
nariz e da pálpebra, e à alopecia. O a c ú m u l o de p o r f i r i n a s n o s p o d e se t o r n a r mais espessa e pálida e s p e c i a l m e n t e s o b r e as
ossos é visível c o m o a eritrodontia; dentes vermelho-amarronzados articulações d o s dedos. O s s i n t o m a s t e n d e m a se t o r n a r mais
que a p r e s e n t a m fluorescência vermelha e m luz ultravioleta A graves d u r a n t e a primavera e verão, e p o d e m m e l h o r a r d u r a n t e
(UVA). A a n e m i a hemolítica c o m esplenpmegalia é c o m u m n a a gravidez.
CEP. A hemólise p o d e ser t o t a l m e n t e c o m p e n s a d a ou leve, mas, A complicação mais grave da E P P é a d o e n ç a hepática progres-
e m alguns pacientes, a a n e m i a é grave o bastante para requerer siva, que é causada pelo a c ú m u l o de p r o t o p o r f i r i n a n o fígado. 14
transfusões repetidas A p r o x i m a d a m e n t e 15% dos pacientes têm testes b i o q u í m i c o s de
A P C T , a mais c o m u m d e todas as porfirias, g e r a l m e n t e f u n ç ã o hepática a n o r m a i s , p a r t i c u l a r m e n t e aspartato a n u n o t r a n s -
ocorre d u r a n t e a q u i n t a e sexta décadas, e a m a i o r i a d o s pacien- ferase a u m e n t a d a , mas s o m e n t e cerca de 2 % dos pacientes desen-
tes a p r e s e n t a evidências de d a n o d o s h e p a t ó c i t o s , g e r a l m e n t e volvem d o e n ç a hepática. A EPP p o d e t a m b é m a u m e n t a r o risco
sem i m p o r t â n c i a , e alguns graus d e siderose h e p á t i c a . A P C T de colelitíase, c o m a f o r m a ç ã o d e cálculo biliar s e n d o p r o m o v i d a
resulta de u m a d i m i n u i ç ã o da atividade d e U R O D n o fígado, o p o r altas concentrações d e p r o t o p o r f i r i n a n a bile.
q u e leva à s u p e r p r o d u ç ã o de u r o p o r f i n n o g ê n i o e o u t r o s porfiri- A p r i n c i p a l a n o r m a l i d a d e b i o q u í m i c a na E P P é a d i m i n u i ç ã o
n o g ê n i o s carboximetil-substituídos. D o i s principais tipos d e d a atividade d e F E C H . E m b o r a esta r e d u ç ã o esteja p r e s e n t e e m
P C T p o d e m ser i d e n t i f i c a d o s pela d o s a g e m d a atividade de todos os tecidos, o excesso de p r o t o p o r f i r i n a é f o r m a d o princi-
U R O D n o fígado e e m tecido extra-hepático, ou pela análise d o p a l m e n t e e m células eritróides. O m o d o de h e r a n ç a da E P P é
gene U R O D . A p r o x i m a d a m e n t e 8 0 % d o s pacientes t ê m a f o r m a complexo, m a s t e m sido esclarecido r e c e n t e m e n t e pelos e s t u d o s
esporádica (tipo I) de PCT, n a qual o •defeito d a e n z i m a está moleculares e enzimáticos de famílias. 7
restrito ao fígado e o gene UROD parece ser n o r m a l . O restante
tem a P C T familiar (tipo II). Nesta f o r m a , a m u t a ç ã o d o gene ANORMALIDADES DO METABOLISMO DE
UROD leva à atividade parcial de U R O D e m t o d o s os tecidos, PORFIRINAS NÃO CAUSADOS POR
a qual é herdada em u m padrão d o m i n a n t e autossômico. E m PORFIRIA
a m b o s os tipos, a P C T c l i n i c a m e n t e evidente é f o r t e m e n t e asso- A s a n o r m a l i d a d e s d o m e t a b o l i s m o o u d a excreção d e p o r f i r i n a s ,
ciada ao a b u s o de álcool, estrógenos, infecção c o m vírus hepa- o u a m b o s , p o d e m ocorrer n a ausência de p o r f i r i a . O u t r a s
totrópicos, p a r t i c u l a r m e n t e o d a h e p a t i t e C ( H C V ) , e s t o q u e de d o e n ç a s precisam ser c o n s i d e r a d a s q u a n d o se i n t e r p r e t a m os
ferro h e p á t i c o a u m e n t a d o e m u t a ç õ e s n o gene da h e m o c r o m a - d a d o s de pacientes n o s quais h á a suspeita de porfiria.
tose (HFE)."5 A P C T p o d e t a m b é m ser causada pela exposição a
certos h i d r o c a r b o n e t o s a r o m á t i c o s polialogenados, tais c o m o Envenenamento pelo Chumbo
h e x a c l o r o b e n z e n o e 2,3,7,8-tetraclodibenzo-f>-dioxina. A exposição ao c h u m b o a u m e n t a a excreção u r i n á r i a de A L A e
c o p r o p o r f i r i n a - I I I e causa o a c ú m u l o de ZPP n o s eritrócitos. O
teste definitivo p a r a o e n v e n e n a m e n t o pelo c h u m b o é a m e d i ç ã o
Porfirias Não-agudas com Fotossensibilidade d o c h u m b o s a n g u í n e o , mas o c a s i o n a l m e n t e a exposição ao
Aguda c h u m b o é responsável pelos s i n t o m a s similares aos d a p o r f i r i a e
A porfiria eritropoiética (EPP) é caracterizada pela fotossensibi- p o d e ser u m a c h a d o i n e s p e r a d o q u a n d o se investigam pacientes
lidade aguda p o r t o d a a vida, c a u s a d a p e l o a c ú m u l o da proto- c o m suspeita de p o r f i r i a .
porfirina-IX n a pele. 1 ' 1 A ausência d a pele frágil, b o l h a s subepi- A excreção a u m e n t a d a d e A L A é s e c u n d á r i a e m relação à
d é r m i c a s e hipertricose a d i s t i n g u e c l i n i c a m e n t e de todas as inibição d e A L A D causada p e l o c h u m b o d e s l o c a n d o o zinco
o u t r a s porfirias c u t â n e a s . O s pacientes a p r e s e n t a m fotossensibi- de seu c e n t r o catalítico. O c h u m b o t a m b é m leva ao a u m e n t o de
lidade aguda n o r m a l m e n t e c o m idade e n t r e u m e seis anos, e excreção d e c o p r o p o r f i r m o g ê n i o - I I I pela u r m a . A C P O r e q u e r
a m b o s os sexos são i g u a l m e n t e a f e t a d o s Q u a n d o u m a criança g r u p o s sulfídrilas p a r a sua atividade e, p o r t a n t o , é potencial-
de u m a família d e E P P a t m g e a idade de 14 anos, o risco de m e n t e u m alvo para a inibição pelo c h u m b o . C o n t u d o , se a
desenvolver fotossensibilidade aguda se torna m u i t o m e n o r . O c o p r o p o r f i n n ú r i a i n d u z i d a pelo c h u m b o é c a u s a d a pela inibição
início da fotossensibilidade d u r a n t e a vida a d u l t a é m u i t o raro, desta enzima, e n t ã o n ã o está claro p o r que a excreção fecal de
a m a i o r i a dos casos t e m sido associada à mielodisplasia e é c o p r o p o r f i r i n a n ã o é a u m e n t a d a . As c o n c e n t r a ç õ e s a u m e n t a d a s
causada p o r m u t a ç õ e s somáticas a d q u i r i d a s d o gene F E C H e m de ZPP n o s eritrócitos associadas à exposição ao c h u m b o n ã o
células h e m a t o p o é t i c a s . são, p r o v a v e l m e n t e , causadas pela inibição d e F E C H p o r q u e a
548 PARTE IV Analitos

inibição desta enzima requer concentrações de c h u m b o mais Doenças Hematológicas


elevadas do q u e aquelas geralmente encontradas após a exposição N a anemia ferropriva, o zinco atua c o m o u m substrato alternativo
ao chumbo. A hipótese atual é que a exposição ao c h u m b o cria da FECH, levando ao aumento de ZPP. O aumento da protopor-
uma deficiência de ferro intracelular (talvez por afetar o trans- firina nos eritrócitos (principalmente ZPP) pode também ocorrer
porte de ferro para o interior da célula o u a inibição da ferro- nas anemias sideroblásticas, megaloblásticas e hemolíticas.
redutase), de forma que o zinco substitui o ferro c o m o substrato
da FECH. U m a vez formada, a ZPP do eritrócito permanece Dieta, Bactéria e Sangramento
elevada durante o t e m p o de vida dos eritrócitos. C o m o a meia- Gastrointestinal
vida de u m eritrócito é mais longa do que a do c h u m b o sanguí- A fração de porfirinas dicarboxílicas das fezes contém protopor-
neo, o m o n i t o r a m e n t o de trabalhadores expostos ao c h u m b o firina e outras porfirinas dicarboxílicas derivadas dela pela
requer a análise tanto d o c h u m b o sanguíneo total c o m o de ZPP. Tedução bacteriana o u pela remoção de grupos laterais vinil.
A medição d e ZPP também apresenta a vantagem d e não existir Protoporfirinas adicionais e outras porfirinas dicarboxílicas
interferência da contaminação de c h u m b o via pele quando a p o d e m ser formadas pela ação da microbiota intestinal sobre
amostra de sangue é coletada, especialmente se u m a amostra de hemoproteínas derivadas da dieta ou de hemorragia gastrointes-
ponta de d e d o é utilizada. tinal. M e s m o o sangramento gastrointestinal sem importância,
particularmente se ocorrer na parte superior do intestino, que
Outras Exposições Tóxicas pode não originar e m u m teste de sangue oculto positivo, pode
Coproporfirinúria secundária também pode ser causada pelos efeitos aumentar muito a concentração de porfirinas dicarboxílicas nas
tóxicos de álcool, arsênico, outros metais pesados e várias drogas. fezes. A confusão c o m EPP pode ocorrer quando a deficiência
de ferro associada aumenta a porfirina total n o eritrócito, e lesões
Tirosinemia Hereditária Tipo I de pele de algumas outras causas estão presentes, ou c o m VP,
A succinilacetona, que se acumula nesta doença, tem uma seme- q u a n d o doença hepática coexistente causa coproporfirinúria. A
lhança estrutural c o m A I A e é, portanto, u m inibidor competi- porfiria pode ser excluída quando n e n h u m a fluorescência de
tivo de A L A D . C o n s e q ü e n t e m e n t e , ALA se acumula e o excesso porfirina é detectável na espectroscopia de fluorescência d o
é excretado pela urina. Pacientes c o m tirosinemia hereditária plasma. As porfirinas p o d e m também vir diretamente da dieta.
sofrem de crises neurológicas muito similares a crises de porfiria
aguda. Pseudoporfiria
O ternio "pseudoporfiria" foi originalmente aplicado a pacientes
Doenças Renais com lesões *de pele similares às da P C T nos quais n e n h u m a
A função glomerular comprometida reduz o clareamento das anormalidade de acúmulo ou de excreção de porfirinas podia s e r ^
porfirinas hidrossolúveis normalmente excretadas na urina. A l é m demonstrada. 8 Muitas drogas são fotossensibilizadores potentes e
d o mais, estas porfirinas são pobremente clareadas por diálise e, p o d e m produzir lesões similares às de porfiria.
c o m o conseqüência, as porfirinas plasmáticas se encontram
aumentadas na doença renal em sua fase final. M e s m o na ausên- DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE
cia de evidência bioquímica de porfiria, os problemas dermato- PORFIRIAS
lógicos c o m u m e n t e afetam os pacientes de diálise e freqüente- Existem muitas situações clínicas que se beneficiam do teste labo-
mente compartilham características c o m u n s com os de P C T ratorial de porfirinas e seus precursores. Estas incluem pacientes
(melanose, elastose actínica, fragilidade e bolhas). A s concentra- c o m sintomas de porfiria aguda e lesões cutâneas típicas, tanto
ções de porfirina plasmática encontradas e m pacientes de diálise quanto os parentes de pacientes portadores de porfiria.
são geralmente muito maiores d o que o normal, mas raramente
se aproximam daquelas encontradas e m pacientes c o m lesões Pacientes com Sintomas de Porfiria
ativas de pele causadas por PCT. N o entanto, o ternio "porfiria A s características clínicas das porfirias não são suficientemente
associada à diálise" tem sido empregado para estes pacientes, especificas para permitir seu diagnóstico sem a investigação labo-
embora seja improvável que as porfirinas aumentadas sejam res- ratorial. Em pacientes c o m sintomas atuais causados por porfiria,
ponsáveis pelas lesões de pele. A P C T genuína pode ocorrer em é sempre possível demonstrar a produção excessiva de precursores
pacientes de diálise, e alguns dos casos de porfiria associada à de heme. O diagnóstico depende de demonstrar padrões especí-
diálise descritos na literatura não foram adequadamente investi- ficos de superprodução de precursores de h e m e (Tabela 29-3) e
gados para excluir a PCT. Estes pacientes são geralmente anúri- geralmente é direto, desde que amostras apropriadas sejam exa-
cos, e, sem o benefício de análise urinária, a avaliação cuidadosa minadas quanto aos intermediários relevantes usando técnicas
das porfirinas plasmáticas e fecais é necessária para distinguir suficientemente sensíveis. 2,3 Os estudos de D N A e de enzima n ã o
pseudoporfiria de P C T e porfirias agudas em que as lesões de fornecem informação sobre a atividade da doença, sendo rara-
pele possam ocorrer. mente necessários para confirmar o diagnóstico de porfiria clini-
camente evidente, e são principalmente utilizados em estudos de
Doenças Hepatobiliares famílias.
N a icterícia obstrutiva, icterícia colestática, hepatite e cirrose,
existe uma excreção urinária aumentada predominantemente de Pacientes com Sintomas Neuroviscerais Agudos
copropOTÍirina-I, porque a doença hepática causa u m desvio da U m a análise essencial em pacientes c o m suspeita de porfiria
secreção de coproporfirina-I da rota biliar para a Tenal. aguda é u m teste suficientemente sensível d o excesso de PBG na
Na síndrome de Dubin-Johnson, ocorre u m a u m e n t o na urina. 2,5 Falha em diagnosticar corretamente uma crise de porfi-
excreção urinária de coproporfirina-I e uma excreção reduzida de ria aguda não s o m e n t e atrasa o tratamento apropriado, mas p o d e
coproporfirina-III. N a síndrome de Rotor, a excreção urinária de levar t a m b é m a uma cirurgia desnecessária ou à administração
coproporfirina-I é aumentada com excreção normal de copropor- de drogas porfirinogênicas. U m a dessas intervenções médicas de
firina-III, e na doença de Gilbert ocorre o a u m e n t o da excreção risco p o d e ainda agravar a crise c o m conseqüências potencial-
urinária de ambos os isômeros. mente fatais. Em contrapartida, u m diagnóstico falso de porfiria
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 549

p o d e ser igualmente grave por retardar a cirurgia vital ou outro cência do plasma é realizada (para excluir VP). Se todos estes
t r a t a m e n t o e p o d e r t a m b é m levar ao uso i n a p r o p r i a d o de anal- testes são negativos, é m u i t o improvável que os sintomas sejam
gésico (p. ex., opiatos) e d e p e n d ê n c i a . ou t e n h a m sido causados por porfiria. N o e n t a n t o , é difícil
D u r a n t e u m a crise, a excreção de P B G é m u i t o elevada e o excluir a porfiria após longos períodos (ou seja, vários anos) de
a u m e n t o é geralmente 10 vezes o limite máximo de referência. remissão clínica. D e p e n d e n d o d o grau de suspeita clinica, os
PBG normal, n o m o m e n t o em que os sintomas estão presentes, estudos de enzima e D N A p o d e m continuar, mas freqüente-
exclui todas as porfirias agudas, exceto a m u i t o rara ALADP, m e n t e n ã o são recompensadores
c o m o causa. Hm AIP, o P B G n o r m a l m e n t e permanece elevado
por semanas ou m e s m o meses após u m a crise. C o n t u d o , em V P Pacientes com Sintomas Cutâneos
ou HCP, o PBG p o d e r a p i d a m e n t e voltar ao n o r m a l (algumas As lesões de pele das porfirias cutâneas são sempre acompanha-
vezes em dias), logo que a crise começa a diminuir. Portanto, se das por s u p e r p r o d u ç ã o de porfirinas. O c a m i n h o da investigação
u m a crise suspeita está e n t r a n d o em remissão, ou a suspeita deve ser ditado pela apresentação clinica (Tabela 29-2).
clínica de porfiria aguda persiste, a análise de porfirinas plasmá-
ticas e fecais, c o m m edição de ALA, se esses forem normais, é Pacientes com Bolhas, Fragilidade e Cicatrizes
aconselhável m e s m o que a excreção de PBG seja normal. O PBG Existem quatro porfirias principais, nas quais ocorrem lesões de
a u m e n t a d o na u r i n a requer avaliação cuidadosa; embora o pele clinicamente indistinguíveis de pele frágil e bolhas (Tabela
paciente claramente tenha u m a porfiria aguda, a doença p o d e 29-2). Porfirinas urinária e fecal totais devem ser medidas por u m
não ser a causa dos sintomas atuais. Alguns pacientes com AIP m é t o d o espectrofotométrico 2 1 ou fluorimétrico 2 com sensibili-
têm taxas de excreção de PBG m u i t o altas em ausência de sin- dade suficiente, e as porfirinas plasmáticas devem ser determina-
tomas e existe u m a correlação pobre entre o PBG urinário e os das por espectroscopia de fluorescência 9 Na prática, a análise
sintomas, sem o m í n i m o acima dos quais os sintomas aparecem. fecal é geralmente desnecessária p o r q u e as duas porfirias associa-
A excreção dé PBG a u m e n t a d u r a n t e u m a crise aguda, mas a das a bolhas mais comunas, P C T e VP, p o d e m ser identificadas
detecção desta m u d a n ç a requer informações sobre a excreção pela análise de urina e plasma (Tabela 29-3). Se esses testes são
basal d o paciente. Q u a n t o maior a excreção de P B G na urina, normais, a porfiria é então excluída como causa de quaisquer
maior a probabilidade de q u e a porfiria seja responsável pelos lesões de pele ativas. Q u a l q u e r a u m e n t o de porfirina urinária ou
sintomas; entretanto, o diagnóstico final deve sempre ser feito fecal total deve ser posteriormente investigado pela determinação
com bases clinicas. de porfirinas individuais u s a n d o u m a técnica capaz de resolver
Caso seja e n c o n t r a d o PBG elevado n a urina p o r um teste de todas as porfirinas de interesse clinico, incluindo isômeros. 1 O
rastreamento qualitativo/semiquantitativo, este achado deverá, padrão observado em cada u m a dessas porfirias é único.
então, ser c o n f i r m a d o por u m m é t o d o quantitativo especifico 12
para eliminar a possibilidade de u m resultado falso-positivo. A Pacientes com Fotossensibilidade Aguda
m e l h o r forma de se realizar este teste é utilizando a amostra E m caso de suspeita de EPP, a investigação essencial é a me d iç ã o
original de urina (armazenada preferencialmente congelada), de p o r f i r i n a no sangue (ou eritrócito), u s a n d o u m m é t o d o flu-
p o r q u e , n o m o m e n t o em que u m a nova amostra é obtida, o PBG orimétrico sensível. O s testes de r a st r e a m e n t o através de extração
^Çode ter voltado ao n o r m a l . d o sangue com solvente ou de microscopia de fluorescência dos
A forma de lidar com a crise é a m e s m a i n d e p e n d e n t e m e n t e entrócitos n ã o são confiáveis e n ã o deveriam ser utilizados. Se
d o tipo de porfiria, p o r t a n t o investigações posteriores n ã o se a concentração de p o r f i r i n a n o eritrócito/sangue está d e n t r o dos
m o s t r a m urgentes. A diferenciação entre as porfirias agudas é limites de referência, a EPP está excluída, Se a concentração é
essencial para a seleção de testes apropriados para os estudos de alta, o a u m e n t o p o d e ser causado pela p r o t o p o r f i r i n a livre, c o m o
famílias; a ausência de lesões de pele n ã o exclui VP ou H C P em EPP, ou pela ZPP, como na deficiência de ferro e n o envene-
(Tabela 29-2). Se a p o r f i r i n a fecal total é normal, pode-se, então, n a m e n t o por c h u m b o . Distinguir as protoporfirinas requer
excluir V P e HCP, e o paciente deve ter AIP. A análise da ativi- extração c o m solvente neutro, tais com o etanol, 6 para evitar a
dade de H M B S nos erirrócitos não é essencial e pode levar a desmetalação causada por ácidos fortes, seguida de espectrosco-
erros. Se a porfirina fecal total é elevada, as porfirinas devem ser pia de fluorescência ou H P L C para diferenciar p r o t o p o r f i r i n a
fracionadas pela técnica de cromatografia líquida de alto desem- livre de ZPP (máximo de emissão de fluorescência em 630 e 587
p e n h o (HPLC), capaz de separar isômeros de coproporfirina. 1 1 n m , respectivamente). A dosagem de p r o t o p o r f i r i n a fecal n ã o é
Em HCP, a coproporfirina-III é m u i t o elevada e a protoporfirina- i m p o r t a n t e para o diagnóstico de EPP, p o r q u e os a u m e n t o s
IX é p o u c o elevada ou normal. Em VP, a protoporfirina-lX (e p o d e m ser causados pela ação da microbiota intestinal sobre o
outras porfirinas dicarboxilato) é elevada e existe u m a u m e n t o h e m e da dieta ou d o s a n g r a m e n t o gastrointestinal.
m e n o r da coproporfirina (com p r e d o m i n â n c i a do isômero tipo
III) (Tabela 29-3). E i m p o r t a n t e lembrar que a protoporfirina-IX
Parentes de Pacientes com Porfiria
e outras porfirinas dicarboxilato p o d e m a u m e n t a r pela ação da
Rastrear m e m b r o s de u m a família para identificar indivíduos
microbiota intestinal sobre o h e m e (se o h e m e é de origem ali-
assintomáticos que t e n h a m h e r d a d o AIP, V P ou H C P e estão,
m e n t a r ou resultado de s a n g r a m e n t o gastrointestinal). Portanto,
p o r t a n t o , sob risco de crises agudas é parte essencial do cuidado
se o p a d r ã o de p o r f i r i n a fecal sugere VP, o plasma deve ser
das famílias com estas doenças. O rastreamento p o d e ser reali-
e x a m i n a d o p o r espectroscopia de fluorescência para a fluores-
zado pela m e d i ç ã o de metabólitos, ensaios enzimáticos, análise
cência característica máxima em 624 a 6 2 8 n m (Tabela 29-3). 9
d o D N A , ou u m a c o m b i n a ç ã o dessas abordagens. A determina-
Algumas vezes é solicitado ao laboratório que seja feito u m
ção de metabólitos é simples, mas tem pouca sensibilidade; além
diagnóstico retrospectivo de porfiria após o paciente ter se recu-
disso, esses testes são quase sempre normais antes da p u b e r d a d e
perado de u m a crise, ou e m relação à causa de u m a doença
e, p o r t a n t o , não são adequados para a investigação de crianças.
neuropsiquiátrica crônica algum tempo depois da crise da
A medição da atividade da enzima defeituosa é mais sensível,
doença. A primeira etapa é quantificar o PBG urinário: testes
mais t a n t o a sensibilidade q u a n t o à especificidade são limitadas
de rastreamento são m u i t o insensíveis para este fim. A porfirina
pela sobreposição entre atividades na doença e na população
fecal é m e d i d a (para excluir H C P ) e a espectroscopia de fluores-
n o r m a l . A detecção de mutação pela análise d o D N A é específica
550 PARTE IV Analitos

e mais sensível d o que os métodos bioquímicos. Ela está, por- Métodos para os Metabólitos
tanto, substituindo rapidamente outros métodos, particular- O s m é t o d o s para os metabólitos incluem os destinados a A L A e
mente porque tem uma vantagem adicional de possibilitar que a PBG.
doença assintomática seja excluída com certeza. Entretanto,
d e p e n d e da identificação anterior de uma mutação doença-espe- Porfobilinogênio
cífica na família sob investigação. E m aproximadamente 5% das A maioria dos m é t o d o s para PBG se baseia n a reação do reagente
famílias nas quais uma mutação não p o d e ser identificada, o de Ehrlich (4~dimetilammobenzaldeido e m solução ácida) com o
rastreamento d o gene, usando polimorfismos de um único nucle- carbono a - m e t e n o do anel pirrol para formar u m produto colo-
otideo (SNPs) intragênico, p o d e set útil, mas requer pelo m e n o s rido descrito de diversas maneiras c o m o "vermelho-rosado" ou
dois membros da família inequivocadamente afetadas. "magenta", que tem u m espectro de absorção característico c o m
A investigação de famílias tem u m a função mais limitada n o u m pico a 5 5 3 n m e u m ombro a 5 4 0 nm. As porfirinas não
c u i d a d o clínico d e o u t r a s porfirias. E m PCT, a f o r m a familiar c o n t ê m n e n h u m h i d r o g ê n i o a - m e t e n o e, p o r t a n t o , não reagem.
a u t o s s ô m i c a d o m i n a n t e p o d e ser i d e n t i f i c a d a pela análise de Algumas outras substâncias na u r i n a reagem c o m o reagente,
U R O D n o eritrócito ou por análise m u t a c i o n a l , mas n ã o existe originando p r o d u t o s vermelhos, em especial o urobilinogênio,
n e n h u m a evidência até o m o m e n t o de que os e s t u d o s de família inibem a reação, ou são elas mesmas pigmentadas, mascarando,
sejam necessários a m e n o s q u e solicitado p o r parentes ansiosos. portanto, o cromógeno vermelho. Todas as interferências preci-
N o entanto, pacientes de descendência d o Norte Europeu devem sam ser removidas. Isto é mais b e m alcançado pela cromatografia
ser testados para a mutação C 2 8 2 Y do gene da hemocromatose de troca iônica (primeiramente descrita por Mauzerall e
(HFE). A hemocromatose deve ser considerada nas famílias que Granick 12 ), mas métodos para a quantificaçao precisa de PBG
têm u m membro homozigoto para C 2 8 2 Y (Capitulo 2 8 ) . baseados neste procedimento são demorados. M é t o d o s mais sen-
Em EPP, testar pais não afetados quanto à presença d o alelo síveis baseados e m H P L C e espectrometria de massas (MS) estão
IVS3-48C de baixa expressão de FECH é útil para avaliar o risco disponíveis.
de futuros filhos terem a doença clinicamente evidente. A análise Testes de rastreamento qualitativos, nos quais a urina reage
mutacional d o gene FECH pode ser necessária para o aconselha- diretamente com o reagente de Ehrlich e é avaliada visualmente
m e n t o genético de algumas famílias.' pela formação d o cromógeno vermelho (p. ex., os testes de
Watson-Schwartz e Hoesch), são convenientes, mas têm sido cri-
ticados pelas baixas sensibilidade e especificidade, m e s m o que a
MÉTODOS ANALÍTICOS extração c o m solvente tenha sido utilizada para separar o com-
O s métodos analíticos usados para diagnosticar e monitorar por- posto PBG-Ehrlich do complexo urobilinogênio-Ehrlich. O
firias estão descritos resumidamente aqui. As descrições comple- m é t o d o de Mauzerall e Granick foi modificâno na tentativa de
tas podem ser encontradas no Tietz Textbook of Clinicai CJiímijtT^ criar uma alternativa que seja aceitável para fins de rastreamento.
and Molecular Diagnostics, 4 a edição. Buttery e Stuart"1 evitaram o uso de colunas, empregando u m
tratamento com resina e m batelada, e compararam visualmente
Coleta e Estabilidade das Amostras a cor final com a de u m padrão substituto. Blake et al2 elimina-
Todas as amostras devem ser protegidas da luz; as concentrações ram as etapas de centrifugação, usando seringas preenchidas com
de porfirina urinária p o d e m diminuir em até 5 0 % se mantidas resina c o m filtros separáveis, e compararam a cor final com uma
na luz por 24 horas. As porfirinas urinárias e o PBG são mais variedade de padrões artificiais. Essas modificações reduziram o
bem analisados em amostras frescas, coletadas no inicio da tempo necessário para realizar o teste para 10 minutos e produ-
manhã (10 a 2 0 mL) e sem conservantes. Urina diluída (creati' ziram um resultado semiquantitativo. U m kit comercial baseado
nina <4 m m o l / L [45 mg/dL]) não é adequada para análise. n o m é t o d o de Blake está disponível (Trace PBG Kit; Alpha
A coleta n o período de 24 horas oferece pouca vantagem, Laboratories, Eastleigh, Hampshire, U K ) e parece ser mais sensí-
atrasa o diagnóstico e aumenta o risco de coleta incompleta vel e especifico para o rastreamento inicial do que os procedi-
durante o período especificado. PBG e porfirinas são estáveis na mentos qualitativos c o m extração com solvente. Se o teste de
urina por até 4 8 horas n o escuro a 4 D C , e por pelo m e n o s u m rastreamento qualitativo é usado, é essencial incluir controles
mês a - 2 0 ° C . Amostras para a avaliação de A L A devem ser ime- apropriados e confirmar todos os testes positivos usando u m
diatamente refrigeradas. Amostras de urina p o d e m ser estocadas m é t o d o quantitativo específico.
a 4 ° C no escuro por pelo menos duas semanas sem perda signi-
ficante de ALA, e amostras congeladas são estáveis por semanas. Ácido 5-Aminolevulínico
Enquanto PBG é mais estável em torno de p H 8 a 9, A L A é mais A L A p o d e ser medido diretamente, mas é mais c o m u m e n t e
estável em torno de p H 3 a 4, embora ambientes mais ácidos convertido e m um pirrol reativo com Ehrlich pela condensação
reduzam a estabilidade de ALA. com u m reagente, tal c o m o acetilacetona, após a separação de
C e r c a d e 5 a 10 g de peso ú m i d o de fezes é a d e q u a d o p a r a PBG por cromatografia de troca aniônica e m dois estágios. U m
as medições de porfirina. As mudanças de concentração impor- m é t o d o de medição de PBG e ALA, baseado no método de
tantes para o diagnóstico são improváveis de ocorrerem dentro Mauzerall e Granick, 12 está disponível comercialmente (Bio-Rad
de 36 horas à temperatura ambiente e as amostras são estáveis Laboratories, Hercules, Calif).
por muitos meses a - 2 0 ° C .
Sangue, anticoagulado c o m ácido etilenodiaminotetracético Análise de Porfirina na Urina e nas Fezes
(EDTA), não apresenta perda de protoporfirina por até 8 dias à O s métodos de fracionamento de porfirina são complexos, demo-
temperatura ambiente, e por pelo m e n o s 8 semanas a 4 ° C no rados e não estão disponíveis e m todo laboratório. Por esta razão,
escuro. os testes de rastreamento qualitativos simples são freqüentemente
E u m b o m costume tratar todas as amostras recebidas usados para excluir a maioria das amostras que não requer inves-
de pacientes com suspeita de porfiria associada a bolhas c o m o de tigação posterior das poucas que justificam fracionamento das
"alto risco", porque existe uma maior freqüência de infecção com porfirinas individuais. O s testes de rastreamento nos quais os
vírus hepatotrópicos, particularmente HCV, e m PCT. extratos de urina ou fezes são examinados visualmente pela flu-
Porfirinas e Doenças Associadas ao Metabolismo das Porfirinas CAPÍTULO 2 9 551

orescência vermelha-rosada típica das porfirinas não têm sensi- sem dissociar o heme da hemoglobina. 6 O extrato é rastreado
bilidad e e não devem ser urilizados. O s métodos baseadas em e m u m espectrofluorímetro para distinguir os máximos de
varredura espectrofotométrica de extratos de urina acidificada emissão da protoporfirina e d o zinco quelado (Figura 29-3).
ou dc fezes quanto à presença da banda Soret são recomendados
e geram informações semiquantitativas. 5 O s métodos fluorimé- Análise de Porfirinas no Plasma
tricos quantitativos estão t a m b é m disponíveis. 2 As porfirinas do plasma p o d e m ser determinadas por espectros-
Todos os métodos de fracionamento de porfirinas são base- copia de fluorescência do plasma diluído e m salina 9 ou extratos
ados nas solubilidades diferentes das porfirinas individuais, desproteinizados, o u por HPLC. O primeiro desses métodos tem
devido aos seus (^substituintes diferentes e, em menor grau, à as vantagens de ser simples e incluir porfirinas que estão ligadas
sua posição ao redor do macrociclo. Portanto, os métodos covalentemente a proteínas plasmáticas. As porfirinas em p H
incluem extração diferencial com solventes, cromatogr afias e m neutro apresentam fluorescência na região de 610 a 6 4 0 nm; o
papel e de camada fina, e HPLC. O s métodos de extração com comprimento de onda da emissão máxima depende principal-
solvente geram apenas informações limitadas e, algumas vezes, mente da estrutura da porfirina, mas é t a m b é m influenciado
equivocadas, e não deveriam ser utilizados. HPLC de fase reversa11 pela natureza do complexo porfirina-proteína. Este m é t o d o é útil
é o m é t o d o escolhido atualmente e separa todas as porfirinas de c o m o uma primeira investigação quando há a suspeita de porfi-
interesse clinico, incluindo isômeros e quelatos de metal sem a ria cutânea.
necessidade de metilação prévia.
Medição de Enzimas
Análise de Porfirinas no Sangue A análise das enzimas individuais da via biossintética d o h e m e
Todos os m é t o d o s descritos a seguir requerem u m espectrofluo- raramente é solicitada para a investigação de pacientes com
rímetro instalado c o m u m fotomultiplicador sensível vermelho. sintomas de porfiria. C o n t u d o , a medição das atividades enzi-
Se este equipamento não estiver disponível no local, as amostras máticas é útil para os estudos de família quando a mutação
devem ser entregues a u m laboratório especializado porque as individual não p o d e ser identificada o u a análise de D N A não
medições no eritrócito e n o plasma são raramente necessárias está disponível, e para a identificação de subtipos, tais c o m o a
para a avaliação imediata de pacientes gravemente doentes. AIP não eritróide e as formas "homozigóticas" de porfirias domi-
O método mais simples para a porfirina do sangue total ou nantes aucossômicas. O s erirrócitos são uma fonte conveniente
do eritrócito é o descrito por Piomelli e modificado por Blake de enzimas cito plasmáticas (ALAD, H M B S , U R O S e U R O D ) ,
et al1 As porfirinas são extraídas e a hemoglobina e outras pro- mas a análise das enzimas mitocondriais (CPO, PPOX e FECH)
teínas são precipitadas ao se misturar o sangue diluído com uma requer células nucleadas, tais c o m o linfócitos o u fibroblastos e m
mistura de ácido dieril éter acético. As porfirinas são então cultura. As análises das enzimas que usam porfirinogênios c o m o
reextraidas e m ácido clorídrico e medidas fluorimetricamente substratos são tecnicamente difíceis porque o substrato é instá-
(Figura 29-3). Este m é t o d o tem a desvantagem de que as condi- vel, tem de ser preparado in sim e, particularmente com proto-
ções ácidas resultam e m liberação do zinco da ZPP e é, portanto, porfinogênio, sofre oxidação não-enzimática durante o teste.
uma medida da protoporfirina total. Para preservar o zinco
quelado, são necessárias coi^jições de extração neutras ou Análise de DNA
básicas. As células diluídas são misturadas com etanol, o qual O rastreamento de famílias quanto a porfirias pela análise de
precipita a hemoglobina c outras proteínas e extrai as porfirinas D N A é u m processo em duas etapas. Primeiramente, a mutação

Normal EPP D e f i c i ê n c i a d c forro

7r~Proto

Prcxo
ZfT Proto

56C 571! Si» 61G 63C 550 570 560 610 íiSíl JKI 5*í 3C-0 S» 630 650
Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm)

Figura 2 9 - 3 Espectro de emissão de fluorescência (excitação em 405 nm) dos extTatos etanóhcos dos
erkrócitos de um individuo normal e de pacientes envenenados por chumbo e protoporfiria eritropoiética (EPP).
Note que escalas diferentes são usadas.
552 PARTE IV Analitos

q u e causa a porfiria n a família investigada precisa ser identificada 5. Deacon AC, Élder G H . ACP Best Practice N o 165. Front line tests
p e l a a n á l i s e d o DN1A d e u m m e m b r o d a f a m í l i a e m q u e o diag- for the investigation of suspected porphyria ] Clin Pathol 2001;54:
n ó s t i c o d e u m t i p o e s p e c í f i c o d e p o r f i r i a foi c o n f i r m a d o e r r o n e - 500-7.
a m e n t e . S e g u n d o , os parentes d o paciente são rastreados para a 6. Garden ]S, Mitchell D G , Jackson KW. Improved e th anui extraction

mutação. A primeira parte deste processo é a mais complexa. procedure for determining zinc p r o t o p o r p h y i i n in whole blood. Clin
C h e m 1977;23-264-9.
C o m o a m a i o r i a das m u t a ç õ e s está restrira a u m a ou a p o u c a s
7. Gouya L, Marun-Schmitt C, Robreau AM, Austerlitz F, Da Silva V,
famílias, a identificação de u m a m u t a ç ã o e m u m a nova família
Brun P et ai Contributiori of a single núcleo ride polymorphísm to the
q u a s e s e m p r e r e q u e r p e l o m e n o s a a n á l i s e d e t o d o s os é x o n s , c o m
genetic predisposition for erythropoietic protoporphyria. Am J H u m
suas seqüências m t r ô n i c a s f l a n q u e a d o r a s , e da região p r o m o t o r a .
Genet 2006;78:2-14
S o m e n t e n o s p a í s e s o n d e as m u t a ç õ e s q u e o r i g i n a r a m as p o r f i r i a s
8. Green J], Manders SM Pseudoporphyria. J A m Acad Dermatol
p r e d o m i n a m , c o m o c o m VP, na Á f r i c a d o Sul, e AIP, n a Suécia,
2001-44 100-8
0 teste inicial para u m a ú n i c a m u t a ç ã o vale à p e n a . T é c m c a s - 9. Hift R, Davidson BP, van der H o o f t C, Meissner D M , Meissner PN.
p a d r ã o d e análise de m u t a ç ã o são empregadas. Plasma fluorescence scanning and fecal porphyrin analysis for the
diagnosis of variegate porphyria: precise determina ti on of sensitívity and
REFERÊNCIAS specifieity with determination of protopOTphyrínogen oxidase mutations
as a reference standard. Clin C h e m 2004;50.915-23.
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simple resín metbod with use of a surro gate standard. Clin C h e m
1991;37:2133-6.
%
CAPÍTULO 3 0

Drogas Terapêuticas
Thomas P. Moyer, Ph.D., e Gwendolyn A. McMillin, Ph.D.*

OBJETIVOS B l o q u e a d o r de C a n a l de Cálcio: U m dos grupos de drogas que


1. Definir os seguintes termos: inibem a entrada de cálcio para dentro das células ou inibe
índice terapêutico a mobilização de cálcio a partir do a r m a z e n a m e n t o
Mecanismo de ação intracelular, resultando n a lentificação da c o n d u ç ã o
Pico e vale da concentração da droga atrioventricular e sinoatrial e relaxamento do m ú s c u l o liso
arterial e d o músculo cardíaco; utilizados n o t r a t a m e n t o da
Estado de equilíbrio (sfeady-s/a/e)
angina, arritmias cardíacas e hipertensão.
Farmacodinâmica
C i t o c r o m o P 4 5 0 : T e r m o genérico para enzimas oxídativas de
Farmacogenética
f u n ç ã o mista, importantes na fisiologia de animais, plantas
Farmacocinética
e bactérias.
Dose-resposta
D r o g a G e n é r i c a : M e d i c a m e n t o n ã o protegido por p a t e n t e
Meia-vida da droga
T a m b é m é o n o m e específico em oposição ao n o m e
Biadisponibilidade
comercial patenteado.
Metabolismo de primeira passagem Efeito de P r i m e i r a Passagemi Metabolismo extensivo d e u m a
2. Listar e descrever os cinco fatores que afetam a farmacocinética droga com alta taxa de extração hepática antes de atingir a
das drogas. circulação sistêmica.
3. Estabelecer métodos de análise para a monitoração a avaliação das Farmacocinética: Atividade ou destino das drogas n o c o r p o
concentrações de drogas terapêuticas. dentro de u m período de tempo, incluindo processos de
4. Listar os métodos de análise disponíveis para avaliar a absorção, distribuição, localização em tecidos,
concentração terapêutica da droga. ** biotransformação e excreção
5. Listar cinco drogas antiepilépticas, seus usos específicos, s e u s F a r m a c o d i n â m i c a : Estudo dos efeitos bioquímicos e
metabólitos ativos (se aplicável) e o nome comercial de cada uma. fisiológicos das drogas e seus mecanismos de ação,
6. Listar cinco drogas de ação cardiológica, seus usos específicos, incluindo as correlações entre as ações e os efeitos da droga
s e u s metabólitos ativos (se aplicável) e o nome comercial de cada e sua estrutura química; t a m b é m estuda esses efeitos na
uma. ação de uma droga particular.
7. Listar cinco antidepressivos e seus modos de ação. Farmacogenéticai Estudo da influência da variação genética na
8. Explicar o uso clínico dc lítio, resposta da droga em pacientes, pela correlação entre a
9. Explicar o uso clínico das drogas imunossupressoras e dos expressão de u m gene ou polimorfismos de u m ú n i c o
antibióticos e descrever seus modos de ação. nucleotídeo e a eficácia ou toxicidade de u m a droga.
10. Identificar possíveis interações medicamentosas quando conhecidas F a r m a c o g e n ô m i c a : Relação e correlação entre a variação
a s informações apropriadas. genética e a resposta ou toxicidade associada a u m a terapia
medicamentosa {farmacologia e toxicologia).
PALAVRAS-CHAVE E DEFINIÇÕES Farmacologia: Todo o c o n h e c i m e n t o sobre agentes químicos e
A c i d o G a m a A m i n o b u t í r i c o (GABA): A m i n o á c i d o que serve seus efeitos em processos ativos.
c o m o neurotransmissor inibitório n o sistema nervoso I m u n o f i l i n a : T e r m o genérico para u m a proteína intracelular
central que se liga a drogas imunossupressoras c o m o ciclosporma,
Agentes A n t i a r r í t m i c o s : Agentes utilizados n o t r a t a m e n t o ou FK 506 e rapamicma.
prevenção de arritmias cardíacas. Agentes antiarrítmicos são I m u n o s s u p r e s s o r : Agente capaz de suprimir respostas imunes.
f r e q ü e n t e m e n t e classificados em quatro grupos principais, I n d u ç ã o Enzimática: A u m e n t o da síntese de u m a enzima em
de acordo com seu m e c a n i s m o de ação. bloqueadores de resposta a u m i n d u t o r ou o u t r o estímulo
canais de sódio, bloqueadores (3-adrenérgicos, prolongadores Interações M e d i c a m e n t o s a s : Efeitos de u m a droga n a absorção
da repolarização, ou bloqueadores de canais de cálcio. intestinal, metabolismo ou ação de outra droga.
A n t i e p i l é p t i c o : Substancia para prevenir ou suavizar crises Meia-vida da D r o g a : Tempo requerido para que m e t a d e da
convulsivas. droga administrada seja metabolizada e eliminada.
B e t a b l o q u e a d o r : Droga que induz o bloqueio adrenérgico dos M o n i t o r a ç ã o da D r o g a : Estudo dos efeitos de u m a substância
receptores (31 ou p2-adrenérgicos ou de ambos. química administrada em u m indivíduo.
Relação Dose-resposta: Relação entre a dose da droga
administrada e a resposta d o organismo à droga.
*Os autores agradecidamente reconhecem as contribuições dos Drs. Bonny L
Bukaveckas, Mark W. Linder c Leslie M Shaw, nas quais se baseiam partes deste X e n o b i ó t i c o s : Substância química estranha ao sistema
Capítulo. biológico.
554 PARTE IV Analitos

O manejo terapêutico de drogas (TDM) é uma atividade


clínica multidisciplinar iniciada pela solicitação d o
médico ao laboratório para quantificar a concentração
da droga n o f l u i d o biológico. Esses valores são utilizados para (1)
são similares quimicamente a substâncias endógenas naturais
importantes e p o d e m competir pelos sítios de ligação. A l é m
disso, algumas drogas bloqueiam (1) a formação, (2) a liberação,
(3) a absorção o u (4) o transporte de substâncias essenciais.
avaliar a adequação da terapêutica, (2) avaliar sua eficácia, ou (3) Outras produzem u m efeito pela interação c o m moléculas relati-
elucidar a causa da toxicidade induzida pela droga. vamente pequenas paTa formar complexos que ativamente se
Para ser efetivo, o T D M requer a aquisição de uma amostra ligam a receptores.
válida seguida da determinação da concentração da droga em Apesar de serem desconhecidas as exatas interações molecu-
tempo adequado, e interpretação dos resultados no contexto da lares que descrevem o m e c a n i s m o de ação de diversas drogas,
relação dose-resposta, tempo da última dose, e presença de outra modelos teóricos têm sido desenvolvidos para explicá-las. U m
droga. Os resultados devem ser apresentados e comparados com conceito postula que as drogas se ligam a receptores macromole-
valores de referência para que sejam corretamente interpretados. culares intracelulares através de pontes iónicas, de pontes de
O c o n h e c i m e n t o do impacto da genética na distribuição da hidrogênio e de forças de van der Walls. Esse m o d e l o teórico
droga se desenvolveu rapidamente nos anos de 1990 e continua ainda postula que se o complexo droga-receptor for suficiente-
a se desenvolver nos anos de 2000. Esse campo de c o n h e c i m e n t o mente estável e capaz de modificar o sistema-alvo, uma resposta
e sua relação c o m a distribuição da droga tornou-se c o n h e c i d o farmacológica observável irá ocorrer. C o m o a Figura 30-2 ilustra,
c o m o farmacogenômica. O T D M e a farmacogenômica são dis- a resposta é dose-dependente até o máximo efeito ser alcançado.
ciplinas altamente relacionadas e utilizadas em conjunto para O platô pode ser devido à saturação do receptor o u sobrecarga
esclarecer a posição global da farmacocmética de u m paciente. d o processo de transporte.
Os conceitos básicos da farmacogenômica que estão relacionados A utilidade de se monitorar a concentração da droga está
à interpretação dos resultados d o T D M estão inclusos neste baseada n o princípio de que a resposta farmacológica se correla-
capítulo. Revisões realizadas por 0 ' K a n e et al.10 e Weinshilboum 1 4 ciona c o m a concentração da droga n o local de ação (receptor).
e o website oferecido por Flockhart 4 são boas fontes de informa- Estudos têm demonstrado que, para diversas drogas, existe uma
ção adicional. forte correlação entre a concentração sérica da droga e o efeito
farmacológico observado. A l é m disso, anos relacionando as con-
CONCEITOS BÁSICOS centrações sanguíneas com os efeitos das drogas, têm demons-
A Figura 30-1 ilustra a relação conceituai entre a farmacodinâ- trado a utilidade clínica da informação da concentração da droga.
mica e farmacocinética. A primeira está relacionada à concentra- N o entanto, deve-se ter em mente que a concentração sérica da
ção da droga n o local de ação para se observar a magnitude do droga não é necessariamente igual à concentração n o receptor,
efeito 2 . Earmacocínética diz respeito à dose, intervalo entre doses mas apenas a reflete. \
e roteiro de administração (regra) para a concentração de droga Para os estudos de farmacocinética, é aceito que mudanças
n o sangue. na concentração da droga n o sangue (ou sérica) versus o tempo
O efeito farmacológico da droga é gerado pela interação são proporcionais às mudanças na concentração local d o receptor
direta da droga com u m receptor que controla uma função espe- o u d o tecido corporal. Essa hipótese é algumas vezes d e n o m i n a d a
cífica ou por alteração mediada pela droga n o processo fisiológico propriedade da homogeneidade cinética e é aplicável a todos os
que controla essa função. Isto é c o n h e c i d o c o m o mecanismo de m o d e l o s farmacocinéticos nas fases de pós-absorção e pós-distri-
ação. Em determinado tecido, o local no qual a droga age para buição d o tempo de curso. A Figura 30-3 ilustra essa propriedade
iniciar eventos levando a u m efeito biológico especifico é chamado para u m composto hipotético. Concentrações paralelas (log C)
de sítio de ação da droga. Para a maioria das drogas, a intensidade são esperacias no sangue, n o receptor e n o tecido c o m o passar
e a duração d o efeito farmacológico observado são proporcionais d o tempo. A Figura 30-3 é hipotética; a concentração absoluta
à concentração da droga n o receptor, prognosticado pela farma- de uma droga e m vários tecidos é altamente variável de droga
cocinética. pata droga.
A propriedade da h o m o g e n e i d a d e cinética é uma suposição
Mecanismo de Ação importante n o T D M , pois é a base na qual todos os valores de
O mecanismo às ação de uma droga é o processo bioquímico ou concentrações terapêuticas e tóxicas de referência são estabeleci-
físico que ocorre n o local da ação para produzir o efeito farma- dos. A variação das concentrações mensuráveis e m conjunto
cológico. A ação da droga n o r m a l m e n t e é mediada por u m recep- define a faixa terapêutica (Figura 30-4) que representa a relação
tor. Enzimas celulares e proteínas estruturais ou transportadoras entre a concentração mínima efetiva (MEC) e a concentração tóxica
são exemplos importantes de receptores de drogas. Macromolé- mínima (MTC). N u m ciclo de dosagem ótimo, a concentração
culas não-protéicfis também podem se ligar a drogas, resultando sanguínea no vale (concentração mínima atingida logo antes da
e m alteração das funções celulares controladas pela permeabili- próxima dose) não deve cair abaixo da MEC, e o £>ico da concen-
dade da membrana ou pela transcrição do D N A . Algumas drogas tração sanguínea não deve subir mais d o que a MTC. Isso noTmal-

Figura 30-1 Relação conceituai entre a fatmacodinâmica e a farmacocinética.


Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 555

Efskc máximo
Fa x a MTC
/ Cmax í 4
t&rapèiJtics
r

f \ ' N
\ T
MEC

Fstado do
(log) D o s e ccuilibiiu

F i g u r a 3 0 - 2 A curva logarítmica de relação causa-efeito. O platô


(efeito máximo) é devido à saturação nos receptores.
Tempo (t)

F i g u r a 3 0 - 4 As concentrações de pico, média e de vale a u m e n t a m


com múltiplas doses idênticas administradas a cada meia-vida, até que se
atinja o estado de equilíbrio. Para a maioria das drogas, isso leva de
cinco a sete meias-vidas. "No estado de equilíbrio, as concentrações de
pico e de vale ótimas são menores que as da T C M e maiores que as da
MEC. A faixa de valores entre a T C M e a M E C é chamada de "faixa
terapêutica" Cmáx ss e Cmin ss são as concentrações n o estado de
equilíbrio máximas e mínimas; C, a concentração média n o estado de
equilíbrio; T, o intervalo de dosagem; D, a dose; MTC, concentração
tóxica mínima; MEC, concentração efetiva mínima. (Modificado de
Gilman AG, G o o d m a n E, Gilman A, eds. T h e pharmacological basis of
therapeutics, 6th Ed New York- Macmillan, 1980 Reproduzido com a
permissão da McGraw-Hill Companies.)

Figura 3 0 - 3 Propriedade de homogeneidade^ínética


Concentrações sanguíneas se correlacionam com a concentração no
tecido e n o receptor, mas podem não ser iguais. p a c i e n t e ( Q u a d r o 30-1). Por exemplo, a c o n s i d e r a ç ã o da história
d o paciente, c o m ê n f a s e p a r t i c u l a r n o seu e s t a d o fisiopatológico
e terapia m e d i c a m e n t o s a associada, é essencial n a iniciação da
terapia c o m a droga e T D M . O u t r o s fatores i m p o r t a n t e s i n c l u e m
m e n t e é a t i n g i d o a d m i m s t r a n d o - s e a droga u m a vez a cada meia- c o m o a droga é (1) absorvida, (2) distribuída, (3) metabolizada,
vida, r e p r e s e n t a d o p e l o 1 n a Figura 30-4. Diversos regimes de (4) r e m o v i d a pelo fígado, (5) b i o t r a n s f o r m a d a e (6) excretada.
a d m i n i s t r a ç ã o da droga a t i n g e m o estado de equilíbrio da concen-
tração sérica d a droga c o n s i s t e n t e m e n t e m a i o r que M E C e m e n o r Absorção
q u e M C T d e n t r o d a faixa terapêutica. O estado de equilíbrio é A m a i o r i a das drogas a d m i n i s t r a d a s c o n t i n u a m e n t e a pacientes
o p o n t o n o qual a c o n c e n t r a ç ã o da droga n o c o r p o está e m p o r longos p e r í o d o s de t e m p o é prescrita p o r via extravascular.
equilíbrio com a taxa de dose a d m i n i s t r a d a e a taxa d e elimina- A p e s a r de as vias i n t r a m u s c u l a r e s e s u b c u t â n e a s serem utilizadas,
ção. C o n c e n t r a ç õ e s s a n g u í n e a s m a i o r e s d o que a M T C colocam a via oral é a p r i n c i p a l via para a d m i n i s t r a ç ã o d a m a i o r i a das
o p a c i e n t e e m risco para a toxicidade; c o n c e n t r a ç õ e s abaixo da doses extravasculares. O processo de absorção d e p e n d e (1) da
M E C o colocam e m risco p a r a o d i s t ú r b i o que a droga suposta- dissociação da droga n a sua f o r m a de a d m i n i s t r a ç ã o , (2) da sua
m e n t e estaria t r a t a n d o . A M T C e a M E C são referências úteis dissolução n o f l u i d o gastrointestinal e, depois, (3) da sua d i f u s ã o
n a terapia; este c o n c e i t o está i n c o r p o r a d o e m tabelas que serão através d a m e m b r a n a biológica a t i n g i n d o a circulação s a n g u í n e a .
a p r e s e n t a d a s p o s t e r i o r m e n t e n e s t e capitulo, r e s u m i n d o os d a d o s A taxa e extensão de absorção da droga p o d e m variar considera-
de cada droga especifica. As doses d e v e m ser p l a n e j a d a s de m o d o v e l m e n t e d e p e n d e n d o d a p r ó p r i a n a t u r e z a d a droga, da matriz
a atingir as c o n c e n t r a ç õ e s terapêuticas, e devem ser m o n i t o r a d a s n a qual é a p r e s e n t a d a , e d o m e i o fisiológico (p. ex., p H , motili-
para guiar ajustes n a dose, caso sejam necessários. A m e n o r d a d e gastrointestinal e vascularização).
diferença e n t r e M E C e M T C , o menor índice terapêutico e o A fração da droga q u e é absorvida para a circulação sistêmica
mais provável T D M serão necessários. O conceito-chave que deve é referida c o m o biodisponibilidade A b i o d i s p o n i b i h d a d e de u m a
ser l e m b r a d o é que a M E C e a M T C d e f i n e m a faixa terapêutica d e t e r m i n a d a droga é n o r m a l m e n t e calculada pela c o m p a r a ç ã o ,
para a m a i o r i a das drogas. para u m m e s m o o b j e t o d e e s t u d o , e n t r e a área n a c u r v a concen-
t r a ç ã o - t e m p o n o p l a s m a para doses equivalentes n a s f o r m a s intra-
venosa e oral. Para ser útil, a b i o d i s p o n i b i l i d a d e da droga deve
Distribuição da Droga ser g r a n d e o suficiente de m o d o q u e o c o m p o n e n t e ativo passe
Vários fatores p o d e m ter p r o f u n d a i n f l u ê n c i a n a f a r m a c o c i n é t i c a e m q u a n t i d a d e suficiente e n o t e m p o d e s e j a d o d o i n t e s t i n o para
d a droga e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , n a resposta farmacológica d o a circulação sistêmica. A b i o d i s p o n i b i l i d a d e p a r a drogas adminis-
556 PARTE IV Analitos

QUADRO 30-1 Fatores que Influenciam a Distribuição da resultando em u m a hiodisponibilidade muito baixa. Esse fenô-
Droga em Seres Humanos m e n o é chamado de efeito de primeira passagem.
A l é m da extensão da absorção, também é importante a taxa
FATORES DEMOGRÁFICOS de absorção. A absorção de uma droga é, de forma geral, consi-
Faixa etária (prematuros, recém-nascidos, crianças, pré-adolescentes, ado-
derada c o m o um processo de primeira ordem, e a constante da
lescentes, adultos, idosos)
taxa de absorção é normalmente maior que a constante da taxa
Peso
de eliminação. Ao manipular formulações para produzir produ-
Sexo
tos de liberação sustentada ou "lenta", a taxa de absorção apa-
Raça
rente de muitas drogas acaba s e n d o controlada. Por exemplo,
Constituição genética
formulações que geram liberação sustentada permitem que
FATORES RELACIONADOS A DOENÇAS drogas tomadas por via oral possam ser administradas menos
Doença hepática (cirrose, hepatite, colestase)
vezes ao dia. Outras condições que influenciam a taxa de absor-
Doença renal ção da droga incluem (1) motilidade gastrointestinal alterada, (2)
Distúrbios de tireóide (hipo ou hipertireoidismo] doenças do estômago e do intestino, (3) infecções gastrointesti-
Doenças cardiovasculares (insuficiência cardíaca, arritmias) nais, (4) radiação, (5) comida e (6) interação c o m outras substân-
Distúrbios ou doenças gastrointestinais (doença celíaca ou síndromes de má cias n o trato gastrointestinal. E preciso ter atenção particular-
absorção, úlcera péptica, colite) m e n t e ao se administrar drogas em conjunto quando elas afetam
Câncer a absorção intestinal, c o m o antiácidos, caulim, sucralfato, coles-
Cirurgia tiramina e medicações anti-úlcera, além da co-administração de
Queimaduras morfina, que diminui a motilidade intestinal.
Estado nutricional (estados caquáticos ou anoréticos)
Distribuição
FATORES EXTRACORPÓREOS A p ó s u m a droga ter entrado n o compartimento vascular, ela
Hemodiálise
interage com vários constituintes do sangue e é transportada
Diálise peritoneal
através de vários processos para diferentes órgãos e tecidos. A
Bypass cardiopulmonar
totalidade desse processo é conhecida c o m o distribuição. Os
Hipotermia ou hipertermia
fatores que determinam as características da distribuição de uma
droga são (1) ligação da droga aos c o m p o n e n t e s sanguíneos, (2)
FATORES QUÍMICOS E AMBIENTAIS INFLUENCIANDO:
Absorção da Droga ligação a receptores fixos, (3) passagem da droga através de mem-
Comida ou drogas administradas conjuntamente afetam a taxa de absorção branas e (4) habilitlhde de se dissolver em estruturas lipídicas. O
peso molecular, o pJC, a solubilidade lipídica e outras proprieda-
Distribuição da Droga des físicas e químicas da droga também são importantes determi-
Administração conjunta de drogas que afetam a I gação a proteínas plasmáti- nantes da distribuição.
cas ou receptores teciduais U m a vez que a droga tenha entrado na circulação sistêmica,
ela se distribui e se equilibra com diversos c o m p o n e n t e s do
Metabolismo da Droga sangue. U m dos grupos com maior significado clínico são as
Ingesta alimentar (carboidratos, proteínas, lipídios) competindo em sistemas proteínas plasmáticas. Existe u m equilíbrio entre drogas em sua
de metaholização forma livre e sua forma ligada a proteínas. Acredita-se, cm geral,
Administração conjunta de uma droga que induz metabolismo enzimático (p. que apenas a fração livre da droga fica disponível para distribuição
ex., fenobarbital) e eliminação. Além disso, apenas a droga livre é disponível para
Administração conjunta de uma droga que inibe o metabolismo enzimático atravessar as membranas celulares ou para interagir com recepto-
(p. ex., cimetidina] res de forma a desencadear respostas biológicas. Sendo assim, as
mudanças nas características de ligação protéica de uma droga têm
Excreção da Droga
profunda influência na distribuição e eliminação da mesma e na
Administração conjunta de uma droga que compete pelas vias de secreção
maneira em que suas concentrações n o estado de equilíbrio são
tubular renal (p. ex., probenicida, penicilina)
interpretadas. Cada droga tem suas próprias características de
Mudanças no fluxo urinário
ligação protéica que dependem de suas propriedades físicas e
Administração conjunta de compostos que aumentam a reabsorção tubular
químicas Por exemplo, drogas de caráter ácido tipicamente se
(p. ex,, bicarbonato de sódio ou fenobarbital)
ligam à albumina, e drogas de caráter básico se ligam às globulinas,
particularmente à glicoproteína ácida ai (AAG). Algumas drogas
se ligam tanto à albumina quanto às globulinas.
D e p e n d e n d o de sua afinidade pelas proteínas plasmáticas,
tradas oralmente é tipicamente maior que 70%. U m a exceção uma droga pode tanto ficar fortemente quanto fracamente ligada.
seria um caso na qual a luz d o trato gastrointestinal seja o local U m a droga com ligação protéica fraca se solta quando outra c e
de ação da droga (p. ex., antibióticos usados para esterilizar o maior afinidade chega ao local. Por exemplo, a fenitoína e o ácido
intestino). Nessa situação, a baixa biodisponibiíidade seria então valpróico competcm entre si pela ligação com a albumina. C o m o
considerada vantajosa. o ácido valpróico está presente em concentrações mais altas, sua
Algumas drogas são rápida e completamente absorvidas, mas massa causa um significativo deslocamento na fenitoína, de sua
têm baixa biodisponibiíidade para a circulação sistêmica. Isto é forma ligada a proteínas, para sua forma livre. A ligação protéica de
verdade para as drogas com alta taxa de extração hepática. Após a uma droga também d e p e n d e de características físicas das proteí-
administração oral, as drogas que são absorvidas na luz d o intes- nas plasmáticas, da presença ou ausência de ácidos graxos, bem
tino delgado são transportadas pela veia porta diretamente ao c o m o de outras drogas n o sangue. Em algumas situações, os
fígado. U m a droga c o m alta taxa de extração hepática será muito ácidos graxos deslocam a droga de seus locais de ligação protéica.
metabolizada pelo fígado antes de atingir a circulação sistêmica, E importante reconhecer que, m e s m o que a concentração total
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 557

de u m a droga permaneça a mesma, o deslocamento dela de seus livre de uma droga que está alterando suas capacidades cogniti-
locais de ligação protéica eleva as concentrações de droga livre e vas. A redução da dose do m e d i c a m e n t o de forma a diminuir
p o d e m levar à toxicidade clínica. suas concentrações pode resultar em melhoras cognitivas dramá-
Qualquer coisa que altere a concentração da fração livre de ticas nesses pacientes.
droga n o plasma, em última análise, altera a quantidade de droga Estimar a concentração da forma livre da droga continuará
disponível para entrar nos tecidos e interagir com sistemas recep- sendo de interesse com o T D M . Técnicas de ultrafiltração são
tores específicos. Algumas doenças p o d e m alterar a concentração úteis em satisfazer essa necessidade. Entretanto, deve-se lembrar
livre de drogas. Por exemplo, a composição do plasma pode ser que medidas laboratoriais apenas estimam as concentrações na
alterada por (1) um a u m e n t o de compostos nitrogenados não- circulação sanguínea. Qualquer artefato na coleta, no processa-
piotéicos na uremia, (2) distúrbios eletrolíticos e ácido-básicos e m e n t o e na estocagem d o sangue irá modificar o equilíbrio de
(3) u m a diminuição na albumina; nessas condições, as concen- dissociação de algumas drogas. A despeito dessas possíveis falhas,
trações de droga livre ficam f r e q u e n t e m e n t e elevadas. O s pacien- as medidas da forma livre da droga pela ultrafiltração são supe-
tes p o d e m ter efeitos adversos que são u m a conseqüência direta riores às medidas feitas na saliva. Poucas drogas mostram uma
d o a u m e n t o na concentração de droga livre. Se a concentração forte correlação entre a concentração salivar e a concentração
total da droga n o plasma for monitorada nesses pacientes, pouca plasmática. Além disso, é difícil coletar saliva de pacientes grave-
m u d a n ç a pode ser notada porque a concentração total perma- m e n t e doentes, como aqueles em UTIs.
nece inalterada ou até mesmo diminui, e n q u a n t o a fração livre
pode a u m e n t a r de forma significativa. Alterações na concentra- Metabolismo
ção de droga livre n ã o são detectáveis p o r q u e a concentração da O fígado é o principal órgão responsável pelo metabolismo de
droga p o d e n ã o estar muito diferente daquela observada em medicamentos. Ele cunveite drogas lipofílicas não-polares a
indivíduos saudáveis. Por exemplo, a fenitoína está 9 0 % ligada e formas mais polares e hidrossolúveis, u s a n d o reações de fase I ou
10% na forma livre em indivíduos saudáveis. Em pacientes com fase II (Figura 30-5). As reações de fase I modificam a estrutura
uremia, 2 0 % a 3 0 % da concentração plasmática de fenitoína química através de oxidação, redução ou hidrólise. As reações de
pode ser na sua forma livre. Se considerarmos u m a pessoa sau- fase II conjugam a droga (glicuronidação ou sulfatação) em
dável que tem concentração total de fenitoína de 15 p g / m L , a formas hidrossolúveis. Essas reações são realizadas n u m a fração
concentração de fenitoína livre é cerca de 1,5 p g / m L . Em u m microssômicas dos hepatócitos, onde as reações químicas ambien-
paciente urêmico que tem uma concentração total de 15 p g / m L , tais, bem como endógenas bioquímicos (xenobióticos) também
a concentração da droga em sua forma livre pode ser de 4,5 são processados pelos mesmos mecanismos.
p g / m L . U m a concentração de fenitoína livre de pg/mL é O papel do T D M se torna particularmente importante para
suficiente para desencadear efeitos colaterais graves, incluindo drogas que passam pelo metabolismo hepático ou gastrointesti-
letargia e a u m e n t o da freqüência de convulsões. Dessa forma, em nal. A ampla variabilidade da taxa metabólica de qualquer droga
pacientes urêmicos é interessante quantificar as concentrações de existe não só em diferentes pacientes como t a m b é m n o mesmo
fenitoína livre e ajustar a dose da medicação para manter sua paciente em diferentes m o m e n t o s e circunstâncias. Essa variabi-
concentração em aproximadamente 2,0 p g / m L . lidade se deve a diversos fatores (Quadro 30-1).
As alterações de concentrações protéicas em resposta ao
estresse agudo também alteram a concentração livre de drogas.

r
Por exemplo, após u m infarto agudo d o miocárdio, há u m rápido
a u m e n t o na concentração de AAG. A lidocaína é usada para
controlar arritmias causadas pelo infarto, mas essa droga tem
caráter básico e tem alta afinidade de ligação pela AAG. Doses Xenobiótico Absorvido
inicialmente adequadas de lidocaína para controle de arritmias
imediatamente após o infarto se tornam ineficientes 48 a 72
horas depois, porque as altas concentrações de AAG que ocorrem <1
após o infarto d i m i n u e m a disponibilidade da droga aos tecidos.
A arritmia reaparece, e como a concentração de lidocaína neces-
sária para controle chega a níveis tóxicos, a dose de lidocaína é
Fase I •« Metabolismo Fase II
(CYP) (Conjungaçces)
diminuída q u a n d o , na realidade, deveria ser a u m e n t a d a para • hidrólise • glicuranídeo
m a n t e r u m a concentração considerada ótima. • oxidação • acetato
• desalquilação • glutaticna
Algumas drogas apresentam saturação dos locais de ligação
• desidrogenação • sulfato
protéica disponíveis n o plasma em concentrações consideradas • redução • metionina
ótimas. Por exemplo, a ligação da disopiramida é concentração- • desaminação
d e p e n d e n t e e varia m u i t o de paciente para paciente. C o n s e q ü e n - • dessulfuração
temente, sua concentração total e as respostas clínicas observadas
Eliminação
t a m b é m são variáveis.
Qualquer mudança n o estado fisiológico normal pode alterar
a concentração de droga livre, levando a mudanças na distribui- Figura 3 0 - 5 E s q u e m a s i m p l i f i c a d o das reações m e t a b ó l i c a s

ção entre o plasma e os tecidos. Pacientes geriátricos muitas vezes primárias associadas c o m a m e t a b o l i z a ç ã o de x e n o b i ó t i c o s em seres

têm h i p o a l b u m m e m i a com u m a intensa diminuição dos sítios h u m a n o s . O s x e n o b i ó t i c o s a b s o r v i d o s (drogas o u o u t r o s c o m p o s t o s

de ligação protéica das drogas. Nos idosos, os sinais clássicos de exógenos) p o d e m ser e l i m i n a d o s s e m b i o t r a n s f o r m a ç ã o o u ser

intoxicação por u m medicamento n o r m a l m e n t e n ã o são aparen- t r a n s f o r m a d o s e m u m m e t a b ó l i t o através das reações d e Fase 1 e / o u de

tes; por outro lado, os sintomas clínicos de intoxicação acabam Fase II. O m e t a b ó l i t o p o d e ser n o v a m e n t e m e t a b o l i z a d o pelas Fase I o u

se manifestando com perda de f u n ç ã o cognitiva - particular- II antes d e ser e l i m i n a d o . As reações d e Fase I são p r i m a r i a m e n t e

m e n t e confusão mental. Pacientes idosos podem ser considera- oxidativas e são mais c o m u m e n t e m e d i d a s pelas isoenzimas d o

dos senis quando, na realidade, é o a u m e n t o da concentração c i t o c r o m o P^Q. AS reações d e Fase II envolvem a c o n j u g a ç ã o p a t a


f o r m a r g l i c u r o n í d e o s , acetatos e o u t r o s a d u t o s .
558 PARTE IV Analitos

A bio transformação das drogas p o d e produzir metabólitos, Testes pré-terapêuticos p o d e m reduzir os custos de saúde pública
que são farmacologicamente ativos. Nessas situações, o metabó- prevenindo hospitalizações o u os cuidados adicionais relaciona-
lito também deve ser m e d i d o , pois contribui com o efeito da dos c o m às A D R s , ao reduzir medicações desnecessárias e melho-
droga n o paciente. A primidona e a procainamida são exemplos rar a aceitação, mas devem ser considerados uma ferramenta
dessas drogas. Se o mecabólito é inativo, não precisa ser medido, complementar ao T D M e outros testes laboratoriais.
mas devem-se tomar medidas para garantir que ele não interfira
e m u m processo de análise. Excreção
A c i t o c r o m o P 4 5 0 oxidase (abrevia-se CYP e m m a m í f e r o s / A excreção de drogas o u produtos químicos do corpo ocorre
plantas; e P^50 para bactérias) é u m importante elemento na através das vias (1) biliar, (2) intestinal, (3) pulmonar o u (4) renal.
modificação química o u na degradação de produtos c o m o drogas Apesar de cada uma delas representar u m possível mecanismo de
e compostos endógenos. O s genes da CYP atualmente são eliminação de drogas, a excreção renal é a maioT via de elimina-
medidos e usados na farmacogenética. ção da maioria das drogas e metabólitos hipossoíúveis, o que é
importante para o T D M . Alterações na função renal p o d e m ter
Citocromo P 450 u m importante efeito na excreção e na meia-vida destes compos-
O termo CYP é usado de forma genérica para funções mistas de tos ou de seus metabólitos ativos; uma diminuição da função
enzimas oxidattvas (EC 1.14) são importantes na fisiologia de animais, renal causa aumento da concentração sérica e a u m e n t o na res-
plantas e bactérias.15 As CYPs metabolizam milhares de compostos posta farmacológica.
endógenos e exógenos. Muitas irão metabolizar múltiplos substratos,
e outras catalisarão diversas reações. N o fígado, esses substratos Utilidade Clínica
incluem drogas e compostos tóxicos, bem como produtos do meta- O T D M t e m maior validade quando a droga em questão é admi-
bolismo, como a bilirrubina. nistrada por u m longo período de t e m p o e t e m u m índice tera-
N o metabolismo das drogas, as CYPs são importantes ele- pêutico estreito. U m n ú m e r o de vantagens ocorre pelo uso do
m e n t o s da fase I do metabolismo de mamíferos. Muitas drogas T D M , o que inclui:
p o d e m diminuir ou aumentar a atividade de várias isozimas CYP 1. Pode-se diagnosticar não-adesão.
em u m f e n ô m e n o c o n h e c i d o c o m o i n d u ç ã o e inibição enzimá- 2. Pacientes que sofrem mudanças na apresentação da droga
tica. Essa é a maior fonte de interações medicamentosas adversas p o d e m ser reconhecidos.
(ADIs), porque as mudanças na atividade da enzima p o d e m 3. Regimes terapêuticos p o d e m ser ajustados durante períodos
afetar o metabolismo e o clearance de várias drogas. de m u d a n ç a fisiológica continua.
O s genes que codificam essas enzimas, b e m c o m o elas pró- 4- Concentrações basais associadas a u m a resposta terapêutica
prias, são designados através da abreviação CYP, seguida de um ótima p o d e m ser identificadas.
numeral arábico que mdica a família de genes, uma letra maiús- 5. O regime de dosagem mais apropriado da droga p o d e ser
cula que indica a subfamília, e outro número para o gene espe- mantido para u m paciente e m particular.
cífico. A convenção é usar itálico q u a n d o se refere a u m gene.
Por exemplo, CYP2EJ é o gene que codifica u m a enzima de METODOLOGIA ANALÍTICA
m e s m o n o m e - que é u m a das enzimas envolvidas n o metabo-
A evolução dp T D M tem sido facilitada pelo desenvolvimento de
lismo d o paracetamol (acetaminofeno). O citocromo CYP1-3 é
técnicas analíticas específicas, sensíveis e rápidas. 9
u m dos envolvidos c o m o metabolismo de drogas, e a maioria
das oxidações de fármacos em h u m a n o s se deve a isoenzímas
Técnicas Analíticas
CYP c o m o (1) CYP1A2, (2) CYP2B6, (3) C Y P 2 C 9 , (4) C Y P 2 C 1 9 ,
Técnicas analíticas que são utilizadas para medir drogas terapêu-
(5) C Y P 2 D 6 , (6) CYP2E1 e (7) CYP3A4-
ticas incluem o imunoensaio e técnicas instrumentais, c o m o os
procedimentos croma to gráficos e eletroforéticos, e as também
Farmacogenética chamadas "técnicas hifenadas", nas quais os cromatógrafos são
A farmacogenética é o estudo da influência da variação genética
associados a u m espectrõmetro de massa.
na resposta de pacientes às drogas, por m e i o da correlação da
expressão de u m gene o u d o polimorfismo de u m ú n i c o núcleo-
Imunoensaio
tídeo c o m a eficácia o u toxicidade de uma medicação. O objetivo
Historicamente, as técnicas de radioimunoensaio (RIA) foram
primário da farmacogenética é prognosticar c o m o os indivíduos
usadas para quantificar as concentrações de drogas em volumes de
responderão à ação das drogas e outros xenobióticos bioativos ou
microlitro de plasma com concentrações de nanogramas por mili-
potencialmente tóxicos, c o m base em certas características gené-
litro. Entretanto, poucas RIAs são agora usadas para o T D M .
ticas. A farmacogenética também ajuda a explicar por que as
A proliferação d o T D M a todos os laboratórios e médicos
reações adversas à medicação (ADR) ocorrem. O s testes de far-
foi alcancada com o desenvolvimento de imunoensaios não-iso-
macogenética na prática clínica analisam a genética do paciente
(genótipo) de forma a prognosticar diferenças farmacocinéticas
ou farmacodinámicas de medicações e outros compostos exóge-
nos. O s testes clínicos de farmacogenética resultam primaria-
m e n t e na seleção de medicações e de sua dosagem. Diretrizes
sobre dosagens específicas baseadas e m informações da farmaco- QUADRO 30-2 Aplicações Clínicas dos Tesles
genética estão se desenvolvendo de forma a dar suporte ao resul- Farmacogenéticos
tado de testes n o manejo terapêutico de medicações.
As aplicações clínicas dos testes farmacogenéticos são listadas Tiopurina S-metiliransferase (7PJW7]
n o Quadro 30-2. O s detalhes de cada u m foram previamente Citocromo P„so 2D6 (CYP2D6)
publicados. 7 Espera-se que esses testes, e outros futuros testes Citocromo P W 2C19 {CYP2C19}

baseados no genótipo, levem a mudanças na formulação de Citocromo P4S0 2C9 {CYP2C9\


N-acetil transíerases (NAT1 e NAT2\
drogas, novos testes, e melhoras na farmacoterapia dos pacientes.
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 559

t ó p i c o s ( C a p í t u l o 10). N u m e r o s o s sistemas e v o l u í r a m de f o r m a 5. C o m o os l a u d o s d o l a b o r a t ó r i o são p a n e d o p r o n t u á r i o d o


a dar m a r g e m a essa tecnologia t a n t o n o l a b o r a t ó r i o clínico c o m o p a c i e n t e , é útil f o r n e c e r este l a u d o n u m f o r m a t o q u e incor-
n o c o n s u l t ó r i o m é d i c o ( C a p í t u l o s 11 e 12). p o r e todos os d a d o s necessários para a i n t e r p r e t a ç ã o (p. ex.,
f o r m u l a ç ã o d a droga, f r e q ü ê n c i a e q u a n t i d a d e , c o n c e n t r a ç ã o
Métodos Instrumentais plasmática, h o r a da dose, i n t e r v a l o d a dose e o u t r a s drogas
A c r o m a t o g r a f i a de gás-líquido ( G L C ) p e r m i t e a separação da administradas em conjunto).
droga d e seus metabólitos, b e m c o m o a d i f e r e n c i a ç ã o c o m drogas
a d m i n i s t r a d a s c o n j u n t a m e n t e e c o m p o s t o s e n d ó g e n o s . A técnica GRUPOS ESPECÍFICOS DE DROGAS
tem a h a b i l i d a d e de separar e q u a n t i f i c a r diversas drogas d e n t r o Drogas que são r o t i n e i r a m e n t e m o n i t o r a d a s são classificadas pela
de u m a d a d a classe d e m e d i c a m e n t o s . As d e s v a n t a g e n s da G L C sua característica t e r a p ê u t i c a (p. ex., antibióticos, c o n t r o l e d e epi-
i n c l u e m a n e c e s s i d a d e de (1) u m g r a n d e v o l u m e de amostras, lepsia, m a n e j o d a f u n ç ã o cardíaca ou respiratória, supressão d a
para ser capaz de m e d i r as c o n c e n t r a ç õ e s biológicas e (2) deriva- resposta i m u n e ) . U m m é t o d o analítico p a r a a droga de u m g r u p o
ção q u í m i c a para garantir q u e o m a t e r i a l a n a l i s a d o t e n h a a vola- é m u i t a s vezes aplicável a outras drogas d o m e s m o grupo. A dis-
tilidade pié-requisitada. O s avanços n o d e s e n v o l v i m e n t o d e cussão q u e se segue é organizada de a c o r d o c o m classificações já
detectores d e e s p e c t r o m e t r i a d e massa, c r o m a t o g r a f i a gasosa reconhecidas. N o t e q u e algumas drogas, c o m o os salicilatos e o
espectrometria massa (GC-MS) e o uso de colunas capilares têm n i t r o p r u s s i a t o (que são avaliados pela q u a n t i f i c a ç ã o de tiocia-
a u m e n t a d o a sensibilidade dos i n s t r u m e n t o s a u m a extensão e m que nato), são discutidas n o C a p í t u l o 31.
a análise d e drogas a t u a l m e n t e é feita de f o r m a rotineira e m volumes
de amostras n a o r d e m de microlitros ((iL). Drogas Antiepilépticas
A c r o m a t o g r a f i a l í q u i d a de alta performance ( H P L C ) oferece Diferentes drogas a n t i e p i l é p t i c a s são usadas para tratar convul-
versatilidade c o m a p r e p a r a ç ã o de a m o s t r a s m í n i m a s . Suas espe- sões (Tabela 30-1). A p e n a s poucas das mais c o m u m e n t e prescritas
cificidade e sensibilidade, as necessidades relativas d e p e q u e n a s são discutidas aqui. O f e n o b a r b i t a l , a f e n i t o í n a e o ácido valpróico
a m o s t r a s e a facilidade de o p e r a ç ã o t o r n a m a H P L C u m a alter- são n o r m a l m e n t e q u a n t i f i c a d o s p o r i m u n o e n s a i o . O u t r a s drogas
n a t i v a prática à G L C . A H P L C t a m b é m se a d a p t o u à quantifica- antiepilépticas são n o r m a l m e n t e q u a n t i f i c a d a s por técnicas c o m o
ção s i m u l t â n e a de u m a a m p l a v a r i e d a d e d e drogas e seus meta- H P L C ou H P L C c o m b i n a d a c o m espectrometria de massa.
bólitos. A eletroforese capilar, u m a t é c n i c a r e l a t i v a m e n t e nova
( C a p í t u l o 6), t a m b é m v e m s e n d o utilizada p a r a m e d i r u m a varie-
Felbamato
d a d e d e drogas.
O f e l b a m a t o (Felbato!) f o i a p r o v a d o c o m o terapia p r i m á r i a o u
A c o m b i n a ç ã o d a H P L C c o m espectrómetros massa, cro-
a d j u n t a para tratar c o n v u l s õ e s parciais. Seu u s o é l i m i t a d o aos
matografia líquida-espectrometria de m a s s a / e s p e c t r o m e t r i a de
pacientes que n ã o r e s p o n d e m a outras drogas, p o r q u e o felba-
massa ( L C - M S / M S ) r e v o l u c i o n o u a a b o r d a g e m analítica para o
m a t o p o d e gerar g r a n d e risco de a n e m i a aplásica e insuficiência
T D M . Essa tecnologia p e r m i t e a análise direta de a m o s t r a s bioló-
hepática que não é relacionada c o m a concentração n o sangue.
gicas m í n i m a s , c o m altas sensibilidade, especificidade e precisão.
D u a s vezes p o r s e m a n a , devem-se m o n i t o r a r a c o n c e n t r a ç ã o san-
guínea, as t r a n s a m i n a s e s e as b i l i r r u b i n a s d e f o r m a a detectar
p r e c o c e m e n t e os efeitos colaterais. O f e l b a m a t o é particular-
Assuntos Analíticos de Interesse m e n t e eficiente n o c o n t r o l e d a s í n d r o m e d e L e n n o x - G a s t a u t .
A s s u n t o s analíticos d e c o n t í n u o interesse p a r a o serviço d o T D M O f e l b a m a t o é c o m p l e t a m e n t e a b s o r v i d o d o trato gastrointes-
incluem: tinal. Cerca de 3 0 % da droga se liga e m p r o t e í n a s plasmáticas, e
1. M é t o d o s de análise u s a d o s p a r a T D M devem ser r e p r o d u t í - a c o n c e n t r a ç ã o s a n g u í n e a ó t i m a da droga varia d e 4 0 a 120 p g /
veis e precisos. T o d o s os l a b o r a t ó r i o s clínicos c o m o serviço m L . Ela é e l i m i n a d a p e l o m e t a b o l i s m o h e p á t i c o ( C Y P 2 D 6 ) , c o m
d e T D M d e v e m estar a t i v a m e n t e envolvidos c o m u m c o n t r o l e sua meia-vida v a r i a n d o d e 14 a 21 h o r a s . O f e l b a m a t o satura o
i n t e r n o de q u a l i d a d e e u m p r o g r a m a de p r o f i c i ê n c i a externa. m e t a b o l i s m o q u a n d o sua c o n c e n t r a ç ã o ultrapassa 120 p g / m L ;
A l é m disso, o v o l u m e de a m o s t r a s e as análises ao l o n g o d o nessa c o n c e n t r a ç ã o , o m e t a b o l i s m o converte de p r i m e i r a o r d e m
t e m p o devem ser se le c ionados d o m é t o d o analítico mais apro- para o r d e m zero.
priado.
2. C a d a l a b o r a t ó r i o deve i n f o r m a r o profissional d e s a ú d e sobre
os intervalos de c o n c e n t r a ç ã o tóxica e terapêutica, o m é t o d o Gabapentina
analítico ( q u a n d o a p r o p r i a d o ) , os valores ativos, o v o l u m e de A g a b a p e n t i n a (Neurontín) é u m a n á l o g o d o á c i d o g a m a - a m i n o -
a m o s t r a necessário e as especificações d e t u b o s de coleta. b u t í r i c o (GABA), que p r o m o v e a liberação d e G A B A . ( G A B A é
3. Diretrizes devem estar disponíveis p a r a a coleta ideal de amos- u m p o t e n t e i n i b i d o r pré-sináptico e pós-sináptico n o sistema
tras e m u m i n d i v í d u o r e c e b e n d o u m a m e d i c a ç ã o q u e precisa n e r v o s o central.) A g a b a p e n t i n a n ã o interage d i r e t a m e n t e c o m o
ser m o n i t o r a d a . O e s t a d o d e equilíbrio e n t r e as c o n c e n t r a - r e c e p t o r G A B A e t a m b é m n ã o i m b e a ácido glutâmico-descarbo-
ções é o mais desejável; e n t r e t a n t o , o u t r o s p a r â m e t r o s p o d e m xilase, a e n z i m a q u e n o r m a l m e n t e c o n t r o l a a c o n c e n t r a ç ã o celular
ser a p r o p r i a d o s , d e p e n d e n d o das p r o p r i e d a d e s d a droga ou d e G A B A . A g a b a p e n t i n a se m o s t r a efetiva p a r a o t r a t a m e n t o de
das necessidades i n d i v i d u a i s d o p a c i e n t e . convulsões parciais resistentes.
4. A h o r a e a data da coleta d e u m a a m o s t r a , b e m c o m o da A absorção oral d a droga é c o m p l e t a . A g a b a p e n t i n a se liga
ú l t i m a dose d e m e d i c a m e n t o , d e v e m ser a n o t a d a s . Para a j^roteínas plasmáticas e m u m a taxa de 10%, e sua meia-vida d e
avaliar as c o n d i ç õ e s do e s t a d o d e equilíbrio, o t e m p o e m q u e e l i m i n a ç ã o é d e 5 a 9 h o r a s . A c o n c e n t r a ç ã o t e r a p ê u t i c a efetiva
u m p a c i e n t e está e m u m d e t e r m i n a d o e s q u e m a de trata- d a g a b a p e n t i n a é e n t r e 2 e 12 p g / m L . O s efeitos colaterais obser-
m e n t o deve ser c o n h e c i d o . As c o n d i ç õ e s in uitro q u e afetam v a d o s e m adultos, e m c o n c e n t r a ç õ e s m a i o r e s q u e 12 p g / m L , são
a estabilidade d a droga n a a m o s t r a (p. ex., p e n i c i l i n a , hepa- s o n o l ê n c i a , ataxia, v e r t i g e m e fadiga. A droga n ã o passa p e l o
r i n a e aminoglicosídeos), o u a especificidade d o teste (p. ex., m e t a b o l i s m o h e p á t i c o e n ã o ativa n e n h u m a e n z i m a d o m e t a b o -
p r e s e n ç a de h e m ó l i s e ) d e v e m ser c o n s i d e r a d a s n a m a n i p u l a - lismo, o q u e faz c o m q u e n ã o afete as c o n c e n t r a ç õ e s d e o u t r a s
ç ã o da a m o s t r a . drogas a d m i n i s t r a d a s c o n j u n t a m e n t e . Q u a n d o a d m i n i s t r a d a
560 PARTE IV Analitos

TABELA 3 0 - 1 Parâmetros Farmacocinéticos de Drogas Antiepiléptícas


Concentração
Efetiva Concentração Volume de
Mínima Tóxica Mínima Meia-vida Distribuição Biodisponi- Ligação Enzimas
(MEC) (MTC) Média Médio biíidade Protéica Importantes
Droga (jig/mL) (jig/mL) <h) (L/kg) Oral Média (%) Média {%) que Metabolizam

Felbamato 40 120 14-21 0,8 90 25 CYP2D6


Gabapentina 2 12 5-9 0,8 60 0 CYP2D6
Lamotrigina 1 8 20-30 1,2 98 60 CVP2C19, UGT
Levetiracetam 3 63 7 100 CYP2C19
MHC - metabólito 6-10 8-10 0,8 UGT
da oxicarbazepina
Fenobarbital 15 (criança) 35 (criança) 70 (criança) 1,0 90 40-60 CYP2C19, CYP2C9, UGT
20 (adulto) 40 (adulto) 90 (adulto)
Fenitoína 10 (livre: 1,0) 20 (livre: 2,0) -20 0,6 90 90 CYP2C9, CYP2C19, UGT
Tiagabina 0,005 0,52 7-9 96 CYP2C19
Topiramato 2 12 18-23 CYP2C19
Ácido valpróico 50 (livre: 5) 100 (livre: 10) 12-16 (adulto) 0,2 100 93 CYP2C19
8 (criança)
Zonisamida 10 30 50-70 1,4 50 50 CYP2C19

N A , N ã o ajpliodvel.

com antiácidos, a a b s o r ç ã o da g a b a p e n t i n a d i m i n u i e m aproxi- O levetiracetam é 1 0 0 % b i o d i s p o n í v e l . U m a vez absorvido,


madamente 20%. m e n o s de 10% se liga a p r o t e í n a s e seu v o l u m e d e distribuição
( q u a n t i d a d e da d i s t r i b u i ç ã o n o c o r p o ) é de 1 L / k g . A p ó s u m a
Lamotrigina dose otal, ele alcança c o n c e n t r a ç ã o m á x i m a e m 1 h o r a . A meia-
A l a m o t r i g i n a n ã o é u m a n á l o g o G A B A , m a s se liga ao receptor vida é de a p r o x i m a d a m e n t e 7 + 1 horas e o clearance r e n a l é de
G A B A e é c o n s i d e r a d a u m a g o n i s t a gabaérgico. A l a m o t r i g i n a 0 , 9 6 m L / m i n / k g . C e r c a d e 2 4 % da droga passa p o r m e t a b o l i s m o
age c o m o a f e n i t o í n a e a c a r b a m a z e p i n a , b l o q u e a n d o disparos h e p á t i c o via C Y P 2 C 1 9 , a t i n g i n d o a f o r m a m e t a b ó l i c a d e ácido
n e u r o n a i s repetitivos i n d u z i d o s pela despolarização de n e u r ô n i o s carboxílico. O levetiracetam é excretado p r e d o m i n a n t e m e n t e
d a m e d u l a espinal. A U.S. F o o d a n d D r u g A d m i n i s t r a t i o n (FDA) pela f u n ç ã o renal. U m a r e d u ç ã o de 4 0 % n a excreção de levetira-
a p r o v o u a l a m o t r i g i n a c o m o terapia a d j u v a n t e de convulsões cetam é esperada se o clearance de c r e a t i n i n a for m e n o r q u e 3 0
parciais. m L / m i n . C r i a n ç a s n a pré-adolescência excretam a droga 4 0 %
A l a m o t r i g i n a tem tolerância satisfatória e é c o m p l e t a m e n t e mais r á p i d o que os adultos. N ã o h á interações f a r m a c o c i n é t i c a s
absorvida n o trato gastrointestinal após a d m i n i s t r a ç ã o oral. e n t r e o levetiracetam e outras drogas para epilepsia.
C e r c a d e 6 0 % de l a m o t r i g i n a a p r o t e í n a s plasmáticas. A m e l h o r E m adultos, a c o n c e n t r a ç ã o m á x i m a n o s a n g u e se correla-
resposta o c o r r e q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o s a n g u í n e a n o vale está c i o n a c o m a dose. O valor m í n i m o de c o n c e n t r a ç ã o para c o n t r o l e
e n t r e 1 e 2 pg/mL., c o m a c o n c e n t r a ç ã o de pico v a r i a n d o e n t r e de convulsões é de 3 p g / m L . A c o n c e n t r a ç ã o de pico t e r a p ê u t i c o ,
5 a 8 p g / m L . A meia-vida varia e n t r e 2 0 e 3 0 h o r a s . A e l i m i n a ç ã o q u e é de 10 a 63 p g / m L , o c o r r e 1 h o r a após a dose. As concen-
ocorre através d o m e t a b o l i s m o d a u r i d i n a difosfato-glicoronosil- trações terapêuticas d e vale e x a t a m e n t e a n t e s da p r ó x i m a dose
transferase ( U G T ) ; o m e t a b ó l i t o é o éster g l i c u r o n í d e o . A admi- devem variar de 3 a 34 p g / m L .
nistração e m c o n j u n t o c o m drogas i n d u t o r a s d a C Y P 2 C 1 9 , c o m o O s efeitos tóxicos c o n h e c i d o s associados ao levetiracetam
o f e n o b a r b i t a l , a f e n i t o í n a ou a c a r b a m a z e p i n a , resulta e m dimi- i n c l u e m (1) d i m i n u i ç ã o dos eritrócitos e d o h e m a t ó c r i t o , (2)
n u i ç ã o da c o n c e n t r a ç ã o de l a m o t r i g i n a - a u m e n t o s n a d o s a g e m d i m i n u i ç ã o d a c o n t a g e m de n e u t r ó f i l o s , (3) s o n o l ê n c i a , (4)
d e cerca de 3 0 % são necessários para m a n t e r as c o n c e n t r a ç õ e s astenia e (5) t o n t u r a . A toxicidade p o d e ser associada às concen-
s a n g u í n e a s a d e q u a d a s . A l a m o t r i g i n a é u m p o t e n t e i n i b i d o r da trações s a n g u í n e a s n a dose t e r a p ê u t i c a . A a d m i n i s t r a ç ã o con-
d i i d r o f o l a t o r e d u t a s e . A s c o n c e n t r a ç õ e s d e folato d i m i n u e m j u n t a c o m cimecidina irá interferir c o m os testes, p r o d u z i n d o u m
q u a n d o a droga é a d m i n i s t r a d a . Se n ã o h o u v e r c o m p l e m e n t a ç ã o falso a u m e n t o na m e d i d a d e levetiracetam.
d e folato, p o d e m surgir rash e a n e m i a m e s m o q u a n d o as concen-
trações de l a m o t r i g i n a estão e m níveis terapêuticos. A droga Oxicarbazepina
t a m b é m se associa c o m o a p a r e c i m e n t o da s í n d r o m e d e Stevens- A oxicarbazepina ( O C B Z ) a p r o v a d a c o m o t e r a p i a de convulsões
J o h n s o n e m a p r o x i m a d a m e n t e 1 % d o s pacientes. Este efeito parciais c o m ou s e m generalização s e c u n d á r i a e m a d u l t o s , e
colateral n ã o se relaciona c o m a c o n c e n t r a ç ã o da droga. O s sinais c o m o terapia a d j u v a n t e para c o n v u l s õ e s d e início parcial e m
d e intoxicação q u e o c o r r e m q u a n d o a c o n c e n t r a ç ã o excede 10 crianças e n t r e 4 e 16 a n o s . A O C B Z é u m a pró-droga q u e é q u a s e
p g / m L i n c l u e m (1) t o n t u r a , (2) ataxia, (3) d i p l o p i a , (4) visão i m e d i a t a e c o m p l e t a m e n t e m e t a b o l i z a d a e m 10-hidróxi-10,ll-
t u r v a , (5) náuseas e (6) v ô m i t o s . diidrocarbamazepina, conhecida como monoidroxicarbamaze-
p i n a ( M H C ) , o m e t a b ó l i t o responsável p e l o efeito t e r a p ê u t i c o
Levetiracetam d a droga. A e n z i m a r e d u t a s e catalisa a conversão d a O C B Z a
O levetiracetam foi a p r o v a d o c o m o terapia a d j u n t a n o trata- M H C . A M H C sofre u m a c o n j u g a ç ã o c o m o g í i c u r ô n i o f o r m a d o
m e n t o de convulsões d e início parcial e m a d u l t o s c o m epilepsia. pela ação d a U G T . A M H C i n d u z de f o r m a seletiva a C Y P 3 A 4 ,
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 561

e n z i m a responsável p e l o m e t a b o l i s m o de estrógenos, i m u n o s s u - O f e n o b a r b i t a l é m e t a b o l i z a d o pela C Y P 2 C 1 9 e m f-hidroxi-


pressores e b l o q u e a d o r e s de canais d e cálcio d i i d r o p i r i d í n i c o s . f e n o b a r b i t a l , q u e é a m p l a m e n t e excretado c o m o g l i c u r o n í d e o
A c a r b a m a z e p i n a ativa a U G T , a u m e n t a n d o a taxa d e m e t a b o - (pela U G T ) . Q u a n d o h á d i m i n u i ç ã o d a f u n ç ã o hepática e r e n a l ,
lização d a M H C . os pacientes p a s s a m p o r m e n o r taxa d e m e t a b o h z a ç ã o da droga.
O m e t a b o l i s m o da O C B Z é extenso. C e r c a d e 9 6 % d a dose O álcool, a c a r b a m a z e p i n a , o u t r o s b a r b i t ú r i c o s e a r i f a m p i c i n a
é excretada n a u r i n a n a f o r m a de metabólitos, m e n o s de 1 % i n d u z e m enzimas oxidativas ( C Y P 2 C 1 9 e 2C9); essa i n d u ç ã o
c o m o a droga p u r a , e até 2 7 % c o m o M H C livre. A m a i o r p a r t e resulta e m (1) a u m e n t o d o m e t a b o l i s m o d a f e n i t o í n a , (2) r e d u ç ã o
da dose é r e c u p e r a d a c o m o o éster glicuronídeo, t a n t o da O C B Z d a c o n c e n t r a ç ã o sérica d e f e n o b a r b i t a l e (3) u m a r e d u ç ã o d o
c o m o d a M H C , e m taxas a p r o x i m a d a s de 9 % e de 4 9 % respec- efeito f a r m a c o l ó g i c o . M u i t a s o u t r a s drogas são afetadas pela
t i v a m e n t e . O v o l u m e de d i s t r i b u i ç ã o a p a r e n t e da M H C é de 0,8 i n d u ç ã o enzimática. Drogas c o m o (1) cloranfenicol, (2) cimeti-
L / k g . A p r o x i m a d a m e n t e 4 0 % d a M H C se liga a p r o t e í n a s séricas, d i n a , (3) dissulfiram, (4) isoniazida, (5) o m e p r a z o l e (6) topira-
p r i n c i p a l m e n t e à a l b u m i n a . A meia-vida d e e l i m i n a ç ã o é d e 1 a m a t o t a m b é m competem com o metabolismo do fenobarbital. A
2,5 h o r a s para a O C B Z e d e 8 a 10 h o r a s para a M H C . Esta eliminação do fenobarbital pode diminuir na presença de ácido
ú l t i m a m o s t r a u m a u m e n t o l i n e a r e p r o p o r c i o n a l à dose (baseado valpróico e salicilatos se o c o r r e r d i m i n u i ç ã o d o p H u r m á r i o .
n a dose d o O C B Z ) e m u m a taxa que varia d e 3 0 0 a 2 . 7 0 0 m g / D u r a n t e a a d m i n i s t r a ç ã o crônica t a n t o de ácido valpróico q u a n t o
dia. U m a vez q u e a M H C é excretada p r e d o m i n a n t e m e n t e pelos de salicilatos, a c o n c e n t r a ç ã o de f e n o b a r b i t a l p o d e a u m e n t a r e m
rins, a d o s a g e m diária de O C B Z d a d a a pacientes c o m clearance 10% a 2 0 % , e u m ajuste n a d o s a g e m p o d e ser necessário para
de c r e a t i n i n a m e n o r q u e 30 m L / m i n deve ser m e t a d e d a q u e l a evitar a intoxicação. O f e n o b a r b i t a l i n d u z enzimas oxidativas de
d a d a a pacientes c o m f u n ç ã o r e n a l n o r m a l f u n ç ã o mista (CYP2B6), r e s u l t a n d o e m a u m e n t o d o m e t a b o -
N o estado de equilíbrio, as c o n c e n t r a ç õ e s de M H C n o vale lismo de o u t r o s x e n o b i ó t i c o s a p ó s a p r o x i m a d a m e n t e 1 a 2
e m u m a a m o s t r a coletada e x a t a m e n t e antes d a p r ó x i m a dose se s e m a n a s de terapia.
c o r r e l a c i o n a m c o m a dose de O C B Z . O m o n i t o r a m e n t o d o vale D e v i d o à longa meia-vida de e l i m i n a ç ã o d o f e n o b a r b i t a l , as
é r e c o m e n d a d o para avaliar a a d e s ã o ou a a d e q u a ç ã o da dose. A c o n c e n t r a ç õ e s s a n g u í n e a s n ã o se m o d i f i c a m r a p i d a m e n t e . Dessa
resposta ó t i m a à O C B Z ocorre q u a n d o as c o n c e n t r a ç õ e s de vale f o r m a , u m a a m o s t r a coletada t a r d i a m e n t e e n t r e os intervalos das
de M H C estão e n t r e 6 e 10 p g / m L . O pico d e c o n c e n t r a ç ã o doses ( n o vale) é representativa d o efeito total. Resultados d e
plasmática de M H C ocorre e n t r e 4 a 6 h o r a s após a dose. C o m o a m o s t r a s coletadas e n t r e 2 e 4 h o r a s após a dose p o d e m ser
a c a r b a m a z e p i n a ativa a U G T , os pacientes q u e t o m a m esta droga e n g a n o s o s p o r q u e p o d e m ser coletadas n o pico de c o n c e n t r a ç ã o
j u n t a m e n t e c o m O C B Z têm níveis significantes d e r e d u ç ã o n a q u a n d o , na verdade, estão p r e c e d e n d o o p i c o real.
c o n c e n t r a ç ã o de M H C . O s efeitos tóxicos associados c o m O C B Z
i n c l u e m h i p o n a t r e m i a , v e r t i g e m , sonolência, d i p l o p i a , fadiga, Fenitoína
n á u s e a , vômitos, ataxia, alteração visual, d o r a b d o m i n a l , t r e m o r , A f e n i t o í n a ( d i f e n i l i d a n t o í n a ) , m a i s c o m u m e n t e disponível c o m o
dispepsia e alteração d a m a r c h a . Essa toxicidade p o d e ser obser- Dilãntina, m a s t a m b é m disponível c o m o d r o g a genérica, é usada
vada e m c o n c e n t r a ç õ e s terapêuticas. C o n c e n t r a ç ã o de s ó d i o n o t r a t a m e n t o de (1) convulsões tônico-clônicas generalizadas
abaixo de 1 2 5 m m o l / L e d i m i n u i ç ã o da tiroxina (T 4 ) são vistas p r i m á r i a s ou secundárias, (2) convulsões parciais ou parciais com-
e m pacientes tratados c o m O C B Z . plexas, e (3) n o status epilepíicus. A droga n ã o é eficiente p a r a
tratar crises de ausência. A f e n i t o í n a age m o d u l a n d o os canais
Fenobarbital de s ó d i o sinápticos ao p r o l o n g a r a inativação, o q u e r e d u z a
O f e n o b a r b i t a l é u s a d o n o t r a t a m e n t o de t o d o s os tipos d e con- h a b i l i d a d e d o n e u r ô n i o e m r e s p o n d e r a altas f r e q ü ê n c i a s de
vulsões, exceto n o t r a t a m e n t o de ausências, e é c o n h e c i d o p o r disparo. O efeito fisiológico dessa ação é reduzir a transmissão
diversos n o m e s comerciais, a l é m de ser e n c o n t r a d o e m c o m b i n a - sináptica central, a j u d a n d o n o c o n t r o l e da excitabilidade n e u r o -
ção c o m diversas drogas. E u s a d o n o t r a t a m e n t o d e convulsões nal anormal.
tônico-clônicas generalizadas, convulsões parciais, m o t o r a s focais, A f e n i t o í n a n ã o é p r o n t a m e n t e disponível e m soluções aquosas.
de l o b o t e m p o r a l e até m e s m o convulsões febris. T a m b é m se sabe Q u a n d o administrada de forma intramuscular, a maior parte da
q u e reduz a transmissão sináptica, r e s u l t a n d o em excitabilidade dose precipita n o local da aplicação e é absorvida d e í o r m a vaga-
d i m i n u í d a de toda a célula n e r v o s a , i n d u z i n d o sedação. O feno- rosa. U m a pró-droga c h a m a d a d e f o s f e n i t o í n a (Cereiryx) p e r m i t e
b a r b i t a l potencializa a inibição sináptica p o r m e i o da ativação d o a i n j e ç ã o i n t r a m u s c u l a r d e f e n i t o í n a e a u m e n t a a s ol ubi l i dade
receptor GABAA, a u m e n t a n d o a d u r a ç ã o d o f l u x o de cloro n a e m m e i o a q u o s o para a aplicação i n t r a m u s c u l a r . A p ó s a injeção,
sinapse. Isso a u m e n t a o limiar convulsivo e inibe a d i s s e m i n a ç ã o ela é r a p i d a m e n t e c o n v e r t i d a a f e n i t o í n a . A absorção oral d a
d e descargas d o foco epiléptico. f e n i t o í n a é vagarosa e m u i t a s vezes i n c o m p l e t a . Variações n a
A a b s o r ç ã o oral de f e n o b a r b i t a l é lenta, mas c o m p l e t a . O p r e p a r a ç ã o da droga f o r a m responsabilizadas pela baixa biodis-
t e m p o p a r a se alcançar o pico d e c o n c e n t r a ç ã o plasmática é d e p o n i b i l i d a d e . U m a vez absorvida, a droga se liga f o r t e m e n t e a
4 a 10 h o r a s após a dose. O f e n o b a r b i t a l liga-se a p r o t e í n a s plas- p r o t e í n a s ( 9 0 % a 9 5 % ) . C o m o t o d a s as drogas, os efeitos farma-
máticas e m u m a taxa d e 4 0 % a 6 0 % . A C Y P 2 C 1 9 é a p r i m e i r a cológicos d a f e n i t o í n a são d i r e t a m e n t e r e l a c i o n a d o s à q u a n t i d a d e
e n z i m a h e p á t i c a envolvida n o m e t a b o l i s m o , p r o d u z i n d o u m a de f o r m a livre presente. A p e n a s a f e n i t o í n a livre é capaz de cruzar
meia-vida d e e l i m i n a ç ã o d e 7 0 a 100 h o r a s . O m e t a b o l i s m o é m e m b r a n a s celulares e interagir b i o l o g i c a m e n t e e m i m p o r t a n t e s
i d a d e - d e p e n d e n t e (crianças ~ 70 horas; pacientes geriátricos - locais de ligação. O grau de ligação às p r o t e í n a s p o d e ser r e d u z i d o
100 horas). C o m o o m e t a b o l i s m o h e p á t i c o é o p r i m e i r o agente pela presença d e o u t r a s drogas, a n e m i a e h í p o a l b u m i n e m i a , o
de eliminação, u m a f u n ç ã o h e p á t i c a p r e j u d i c a d a implica p r o l o n - q u e ocorre c o m f r e q ü ê n c i a n o s idosos. Nessas condições, observa-
g a m e n t o d a meia-vida. se u m a u m e n t o d o efeito c o m a m e s m a c o n c e n t r a ç ã o de droga
A c o n c e n t r a ç ã o t e r a p ê u t i c a ó t i m a de f e n o b a r b i t a l é e n t r e 15 a p r e s e n t a d a e m pacientes n o r m a i s .
a 40 p g / m L . O p r i n c i p a l efeito colateral o b s e r v a d o e m a d u l t o s A c o n c e n t r a ç ã o terapêutica ideal para c o n t r o l e d e convulsões
c o m c o n c e n t r a ç ã o plasmática m a i o r que 4 0 p g / m L é sedação, s e m efeitos colaterais é d e 10 a 2 0 p g / m L . E m u m g r a n d e e s t u d o
apesar d e o p a c i e n t e desenvolver tolerância c o m a terapia p o p u l a c i o n a l , u m a taxa de resposta d e 5 0 % foi o b s e r v a d a e m
crônica. pacientes com c o n c e n t r a ç õ e s plasmáticas m a i o r e s que 10 p g / m T .
562 PARTE IV Analitos

e 86% de supressão da atividade convulsiva e m concentrações vida diminui para 4 a 7 horas. A fenitoína, o fenobarbital e a
acima de 15 pg/mL. 9 Essas concentrações também servem c o m o carbamazepina são indutores dessa enzima. O ácido valpróico e
diretrizes q u a n d o a droga é usada c o m o agente antiarrítmico a gabapentina não o são. A tiagabina não é considerada u m
cardíaco. Concentrações de fenitoína livre de 1 a 2 p g / m L são indutor de CYP3A4.
adequadas. Concentrações totais de fenitoína q u e excedem 20 A tiagabina alcança pico de concentração plasmática de apro-
p g / m L não melhoram o controle das convulsões e são associadas ximadamente 45 minutos após uma dose oral. Pacientes pediá-
a nistagmo e ataxia. Concentrações plasmáticas da droga acima tricos alcançam o pico de concentração e m aproximadamente 2,4
de 35 p g / m L foram relacionadas ao desencadeamento de ativi- horas. A tiagabina é b e m absorvida, sendo que o alimento
dade convulsiva. U m efeito colateral da fenitoína que não é diminui a taxa de absorção s e m alterar a quantidade absorvida
relacionado à concentração é o desenvolvimento de hiperplasia (dietas ricas em gordura prolongam o pico sérico de concentração
gengival. em 2,5 horas). A tiagabina é 9 5 % absorvida, com biodisponibi-
A fenitoína é metabolizada por enzimas de hidroxilação íidade oral de 90%. A farmacocinética da tiagabina é linear na
mictossômicas hepáticas, chamadas de C Y P 2 C 1 9 e CYP2C9. dose típica de 2 a 24 mg. Cerca de 96% da droga se liga a prote-
Aproximadamente 90% do metabolismo é mediado pela CYP2C9. ínas plasmáticas, principalmente à albumina e à A A G . A admi-
O principal metabólito é a 5-(/>hidroxifenil)-5-fenilidantoína, que nistração conjunta c o m ácido valpróico reduz a ligação protéica
é excretada c o m o éster glicuronídeo (pela U G T ) . Outros meta- a 94%, aumentando a fração livre de tiagabina e m 40%.
bólitos menores têm importância clínica mínima. O metabo- As concentrações séricas de tiagabina n o vale variam d e 5 a
lismo hepático da fenitoína p o d e apresentar-se saturado m e s m o 35 n g / m L na maioria dos pacientes recebendo doses terapêuticas
na faixa terapêutica. U m a vez que o metabolismo esteja saturado, e são proporcionais à dose. U m a única dose de 4 m g adminis-
pequenos aumentos na dose geram grandes mudanças na con- trada em crianças produz pico de concentração plasmática que
centração. Esse f e n ô m e n o explica parcialmente a grande variação varia de 5 2 a 108 n g / m L . N o estado de equilíbrio, u m adulto
de dose entre pacientes que é necessária paia atingir o efeito recebendo 4 0 m g / d i a terá u m pico de concentração na faixa de
terapêutico. Devido a esse f e n ô m e n o de saturação, a cinética de 110 a 2 6 0 n g / m L , e em u m adulto recebendo 8 0 mg por dia
primeira o r d e m não se aplica à fenitoína em concentrações que espera-se u m pico d e concentração plasmática na faixa de 2 2 0 a
ultrapassam 5 p g / m L . 5 2 0 n g / m L . Concentrações séricas maiores que 8 0 0 n g / m L
O m o m e n t o para coletar a amostra é determinado pela neces- indicam dose excessiva associada a efeitos adversos, c o m o astenia,
sidade de monitoramento. Se u m paciente apresenta qualquer ataxia, dificuldade d e concentração e depressão.
sintoma de intoxicação, interessa saber o pico de concentração.
Essa amostra deve ser coletada 4 a 5 horas após a dose, m e s m o
que o pico d e concentração seja demorado e ultrapasse 8 horas Topiramato
se a droga for dada junto c o m alimentação ou drogas que aumen- O topiramato é uma droga antiepiléptica de largo espectro. Tem
tam a acidez estomacal. Se a principal questão for a terapia ade- atividade bloqueadora em canais de sódio e potencializa a ativi-
quada, então a concentração n o vale é mais útil. Essa amostra dade d o GABA, além de potencializar a inibição dos receptores
deve ser coletada exatamente antes de a próxima dose ser dada. de glutamato. Devido à sua ação variada, o topiramato bloqueia
Várias interações medicamentosas resultam e m alterações da a difusão da convulsão mais d o que o a u m e n t o d o potencial
disponibilidade de fenitoína. Álcool, carbamazepina, outros bar- convulsivo.
bitúricos e rifampicina induzem C Y P 2 C 1 9 e C Y P 2 C 9 . Essa O ropiramato é administrado rotineiramente por via oral, é
indução resulta em (1) a u m e n t o d o metabolismo da íeuiLoína, absorvido rapidamente e p o u c o metabolizado. Sua disponibili-
(2) diminuição da concentração sérica da fenitoína livre e total e dade é afetada pela C Y P 2 C 1 9 . As concentrações séricas de outros
(3) redução d o efeito farmacológico. Drogas c o m o cloranfenicol, anticonvulsivantes n ã o são afetadas pela administração concomi-
cimetidina, dissulfiram, isoniazida, omeprazol e ropiramato com- tante d o topiramato. Exceção se faz em pacientes recebendo
petem c o m o metabolismo da fenitoína, resultando em u m fenitoína, que passam a ter níveis plasmáticos aumentados dessa
a u m e n t o das concentrações livre e total da droga c o m o melhora droga após a adição d e topiramato. A administração conjunta de
d o efeito farmacológico. Os salicilatos, o ácido valpróico, a fenil- fenitoína o u carbamazepina diminui as concentrações séricas de
butazona, o sulfisoxazol e a sulfoniluréias c o m p e t e m c o m a feni- topiramato. Mudanças nas doses de fenitoína ou carbamazepina
toína pelos locais de ligação protéica. O resultado final é a dimi- (p. ex., aumento o u retirada) para pacientes estabilizados c o m o
nuição da concentração sérica de fenitoína, enquanto que a uso de topiramato p o d e m precisar de ajustes na dose dessa droga.
concentração livre e o efeito farmacológico permanecem os Assim c o m o outras drogas anticonvulsivantes eliminadas por via
mesmos. O interesse em monitorar a concentração de fenitoína renal, pacientes c o m função renal alterada apresentam diminui-
livre é e m resposta a essas alterações nos locais d e ligação pro- ção do clearance renal.
téica. A concentração d e pico do topiramato é alcançada de 2 a 3
horas após a dose. Concentrações de pico na faixa de 9 a 12
Tiagabina p g / m L indicam que a dose é apropriada para se atingir uma
A tiagabina é indicada c o m o terapia adjunta e m adultos e crian- ótima atividade antiepiléptica. A concentração mínima, atingida
ças para o tratamento de convulsões parciais. E freqüentemente exatamente antes a próxima dose, deve ser maior que 2 p g / m L ,
administrada a pacientes recebendo pelo m e n o s mais uma droga para garantir uma adequada proteção contra convulsões. C o n -
antiepiléptica. A tiagabina é u m bloqueador seletivo d o G A B A centrações menores que 2 p g / m L indicam que a dose o u é
n o n e u r ô n i o pré-sináptico. A tiagabina reconhece e se liga aos subótima o u administrada com baixa freqüência.
locais associados de a captação do G A B A . Por m e i o dessa ação,
a tiagabina bloqueia a captação nos neurônios pré-sinápticos,
permitindo q u e mais G A B A esteja disponível para se ligar a Ácido Valpróico
receptores na superfície das células pós-sinápticas. O ácido valpróico é usado para o tratamento de c o n v u l s õ e s d o
A tiagabina tem uma meia-vida de 7 a 9 horas. E m pacientes tipo ausência. T a m b é m se mostrou útil contra convulsões par-
recebendo drogas antiepilépticas indutoras de CYP3A4, a meia- ciais e tônico-clônicas q u a n d o usado e m c o n j u n t o c o m outros
Drogas Terapêuticas CAPÍTULO 3 0 563

agentes, c o m o fenobarbital ou fenitoína. A droga inibe a Drogas com Ação Cardiológica


e n z i m a G A B A - t r a n s a m i n a s e , r e s u l t a n d o e m u m a u m e n t o da O s p a r â m e t r o s f a r m a c o c i n é t i c o s da digoxina e o u t r a s drogas c o m
concentração de G A B A n o cérebro. O ácido valpróico t a m b é m ação cardiológica estão r e s u m i d o s na Tabela 30-2. A digoxina, a
m o d u l a os canais d e s ó d i o s i n á p t i c o s ao p r o l o n g a r a i n a t i v a ç ã o , d i s o p i r a m i d a , a lidocaína, a p r o c a i n a m i d a e a q u i n i d m a são
q u e r e d u z a h a b i l i d a d e d o n e u r ô n i o e m r e s p o n d e r a altas fre- n o r m a l m e n t e m e d i d a s p o r i m u n o e n s a i o . Para q u a n t i f i c a r o u t r a s
q ü ê n c i a s . Essa ação gera a t i v i d a d e c o n t r a c o n v u l s õ e s t ô n i c o - drogas d e ação cardiológica, usa-se a H P L C .
clônicas.
O ácido valpróico é r a p i d a m e n t e e quase c o m p l e t a m e n t e Amiodarona
a b s o r v i d o após a a d m i n i s t r a ç ã o oral. O s picos de c o n c e n t r a ç ã o A a m i o d a r o n a é usada p a r a c o n t r o l a r t a q u i a r r i t m i a s supraventri-
o c o r r e m entre 1 e 4 h o r a s após a d o s e oral. O p r i n c i p a l m e t a b ó - culares e ventriculares. Essa droga é interessante c o m o s u b s t i t u t a
lito, o ácido 2-n-propil-3-cetopentanóico, é criado pela ação da de o u t r o s a n t i a r r í t m i c o s classe I c o m o p r o c a i n a m i d a ou quini-
C Y P 2 C 1 9 e t e m atividade a n t i c o n v u l s i v a n t e c o m p a r á v e l à d o dina, pois t e m u m a meia-vida longa (45 dias). A c o n c e n t r a ç ã o
ácido valpróico. A p e s a r de esse m e t a b ó l i t o n ã o se a c u m u l a r n o sérica efetiva dessa droga é m e d i d a 24 h o r a s d e p o i s de u m a ú n i c a
p l a s m a , o i s ô m e r o da enzima c i t o c r o m o exata envolvida n o meta- dose diária. Ela varia de 1 a 2 p g / m L . A droga é i n d i c a d a p a r a
b o l i s m o a m d a n ã o foi identificada. A meia-vida d e u m a dose c o n t r o l e d e taquicardias ventriculares e fibrilação resistente a
ú n i c a é d e 16 h o r a s e m a d u l t o s saudáveis, mas d i m i n u i para 12 o u t r a s f o r m a s de terapia. A a m i o d a r o n a é e x t e n s a m e n t e m e t a b o -
h o r a s na terapia c r ô n i c a e p o d e ser t ã o c u r t a q u a n t o 8 horas e m lizada pelo sistema C Y P 3 A 4 - S e u m e t a b o l i s m o é a f e t a d o de
crianças. E m n e o n a t o s e na d o e n ç a h e p á t i c a , q u a n d o o m e t a b o - f o r m a significativa pela a d m i n i s t r a ç ã o c o n j u n t a c o m carbamaze-
lismo está reduzido, a meia-vida se p r o l o n g a . O ácido valpróico p i n a , e r i r r o m i c i n a , f e n i t o í n a , r i f a m p i c i n a e erva-de-São J o ã o .
t e m alta taxa d e ligação pTOtéica (93%). E m algumas circunstân- A l é m disso, a p r e s e n ç a de a m i o d a r o n a p r o l o n g a r á o m e t a b o -
cias, q u a n d o a c o m p e t i ç ã o pela ligação a protéica a u m e n t a , c o m o lismo de diversas drogas, i n c l u i n d o ciclosporina, digoxina, ini-
na u r e m i a , na cirrose e n o u s o c o n c o m i t a n t e d e medicações, a b i d o r e s de protease, sirolimus, t a c r o l i m u s e vera pam i l . A c o n -
p o r c e n t a g e m d e ácido valpróico livre a u m e n t a . c e n t r a ç ã o de n o r a m i o d a r o n a , u m m e t a b ó l i t o e q u i v a l e n t e , é
A c o n c e n t r a ç ã o m í n i m a p a r a efeito t e r a p ê u t i c o de ácido val- t i p i c a m e n t e à da a m i o d a r o n a n o e s t a d o d e equilíbrio, e a l g u m a s
p r ó i c o é d e 5 0 p g / m L . C o n c e n t r a ç õ e s q u e ultrapassam 100 p g / vezes é m o n i t o r a d a j u n t o c o m a d r o g a de base.
m L são associadas a toxicidade h e p á t i c a e encefalopatia tóxica A a m i o d a r o n a é u m a n á l o g o e s t r u t u r a l da tiroxina, e m u i t o
aguda. T e m sido o b s e r v a d o o a c ú m u l o de glicina e m pacientes da sua toxicidade é r e l a c i o n a d a às interações q u e o c o r r e m n o s
q u e p a s s a m p o r t r a t a m e n t o c o m ácido valpróico. receptores de h o r m ô n i o s da t i r e ó i d e . A fibrose p u l m o n a r é u m
O clearance de ácido valpróico é r á p i d o , o q u e leva a u m evento f r e q u e n t e adverso r e l a c i o n a d o à dose, e c o n c e n t r a ç õ e s da
d i l e m a na dosagem. A dose deve ser a d e q u a d a p a r a gerar u m a droga m e n o r e s q u e 2 0 0 m g / d i a e u m a m a n u t e n ç ã o d o p i c o de
c o n c e n t r a ç ã o plasmática m a i o r q u e 4 0 p g / m L , e n q u a n t o se evita c o n c e n t r a ç ã o m e n o r d o q u e 2 p g / m L a j u d a m a prevenir esse
u m a c o n c e n t r a ç ã o q u e exceda 100 p g / m L . A a m o s t r a ideal para efeito colateral q u e a m e a ç a a vida.
m o n i t o r a r a c o n c e n t r a ç ã o é a q u e l a c o l h i d a e x a t a m e n t e antes da
p r ó x i m a dose, n o r m a l m e n t e logo cedo, p a r a c o n f i r m a r q u e u m a Digoxina
dose a d e q u a d a foi prescrita n o p e r í o d o anterior. A dosagem é A digoxina é u m f á r m a c o d o g r u p o dos glicosídeos cardíacos
u m p r o b l e m a particular e m crianças q u e d o r m e m p o r mais extraído das p l a n t a s "digitais" (p. ex., Digitítíis lanata). Ela res-
t e m p o d o q u e a meia-vida c o m p l e t a da droga. t a u r a a força de c o n t r a ç ã o cardíaca n a insuficiência cardíaca
O ácido valpróico m o d u l a a ação de várias o u t r a s drogas congestiva e t a m b é m é usada n o m a n e j o d e taquicardias supra-
antiepilépticas. Ele inibe o cleatance não-renal d o f e n o b a r b i t a l , v e n t n c u l a r e s . A droga se liga a s u b u n i d a d e a da N a ' / K + - A T P a s e
r e s u l t a n d o e m elevadas c o n c e n t r a ç õ e s dessa droga. Ele c o m p e t e n a face extracelular, i n i b i n d o t a n t o o e f l u x o celular d e N a +
com a f e n i t o í n a p o r locais de ligação protéica. A s c o n c e n t r a ç õ e s q u a n t o o i n f l u x o celular de K + n a célula miocárdica. Isso r e d u z
d e f e n i t o í n a livre p e r m a n e c e m a p r o x i m a d a m e n t e as m e s m a s , m a s o g r a d i e n t e s ó d i o / p o t á s s i o n a s fibras d e P u r k i n j e atriais, juncio-
a f e n i t o í n a total n o p l a s m a d i m i n u i . C o m o a c o n c e n t r a ç ã o de nais e ventriculares, r e s u l t a n d o e m d i m i n u i ç ã o d o p o t e n c i a l
f e n i t o í n a livre p e r m a n e c e a m e s m a , o efeito f a r m a c o l ó g i c o se t r a n s m e m b r a n a . Postula-se q u e a inibição da N a M C - A T P a s e
m a n t é m . O u t r a s drogas antiepilépticas q u e i n d u z e m enzimas a u m e n t a o m o v i m e n t o d o s í o n s cálcio para a célula, m e l h o r a n d o
hepáticas oxidativas a u m e n t a m o m e t a b o l i s m o d o ácido val- a d i s p o n i b i l i d a d e d o íon cálcio e m e l h o r a n d o a c o n t r a t i l i d a d e
próico-, esse a u m e n t o r e q u e r u m a d o s e mais alta para m a n t e r a cardíaca.
c o n c e n t r a ç ã o terapêutica efetiva. E m baixas c o n c e n t r a ç õ e s , a digoxina t o r n a o átrio m e n o s
excitável eletricamente. C o n c e n t r a ç õ e s m o d e r a d a s de digoxina
são necessárias p a r a reduzir a taxa de despolarização nas fibras
Zonisamida c o n d u t o r a s q u e d e s p o l a r i z a m e s p o n t a n e a m e n t e (fibras d e Pur-
A z o n i s a m i d a é u m b l o q u e a d o r d e canais de s ó d i o e cálcio. kinje), e c o n c e n t r a ç

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