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TT44

CONSIDERAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO DE PASSIVO AMBIENTAL DE


IMÓVEIS RURAIS

MARCEL DE MELLO INNOCENTINI


ENGENHEIRO AGRÔNOMO DO INCRA SR-05 (REGIONAL BAHIA), COORDENADOR TÉCNICO DA
DIVISÃO DE OBTENÇÃO DE TERRAS, COORDENADOR DA CÂMARA TÉCNICA AGRONÔMICA

EDMUNDO BARBOSA DA SILVA


ENGENHEIRO AGRÔNOMO, CHEFE DOS SERVIÇOS DE OBTENÇÃO DE TERRAS DO INCRA SR-05
CONSIDERAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO DE PASSIVO AMBIENTAL DE
IMÓVEIS RURAIS
MARCEL DE MELLO INNOCENTINI; EDMUNDO BARBOSA DA SILVA

TRABALHO DE NATUREZA ACADÊMICA

Resumo

A efetiva inclusão dos aspectos ambientais nas análises econômicas esbarra na


dificuldade de quantificação do passivo ambiental dos imóveis rurais. O objetivo deste
trabalho é analisar se as metodologias de avaliação de impactos ambientais (AIA), valoração
econômica de recursos naturais (VA) e recuperação ambiental (RA) são suficientemente
adequadas e permitem estipular valores do passivo ambiental de imóveis rurais. Analisam-se
as características destas três áreas e suas relações com o tema em estudo. Também são
analisados casos concretos que utilizam as metodologias citadas, bem como seus critérios e
aplicabilidade na avaliação do passivo ambiental. Analisam-se planilhas de custos e valores
que têm sido consignados em trabalhos recentes. Verificou-se que as metodologias de AIA
são instrumentos que auxiliam as fases de identificação, levantamento e caracterização do
passivo ambiental. Conceitualmente, a AIA também pode auxiliar nas fases de determinação
de medidas mitigadoras das desconformidades ambientais. Em relação à VA, verificou-se que
as metodologias indiretas são mais prontamente aplicáveis, apesar de haver casos específicos
em que as metodologias diretas são úteis. Concluiu-se também que as metodologias de RA
são ferramentas muito importantes para a identificação de aspectos quantitativos e
qualitativos de insumos e serviços, relacionados diretamente com a avaliação do passivo
ambiental de imóveis rurais.

Palavras-chave: Passivo ambiental, Recuperação, Impacto, Valor.

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1. Introdução

É fato, em vários setores da sociedade, a preocupação crescente com os


aspectos ambientais envolvidos na atividades humanas, notadamente naquelas de
caráter econômico. Tem-se observado que há uma ampliação do conceito de meio
ambiente, incrementando ainda mais o nível de análise e a importância dos aspectos
ambientais. Dessa maneira, o ambiente não é mais considerado somente em sua
vertente físico-natural, mas engloba também aspectos sociais, econômicos, políticos e
culturais.
Paralelamente, nota-se que a sociedade também tem aumentado seus esforços para a
diminuição da degradação ambiental, seja através da substituição de insumos, do
aumento da eficiência dos produtos, da reutilização, da diminuição do consumo, ou por
meio da criação de instrumentos de controle e monitoramento das atividades
impactantes e degradantes do meio natural.
A utilização indiscriminada e irracional dos recursos naturais como meio de obtenção
de insumos indispensáveis à produção primária de bens, tem acarretado a degradação
profunda de vários ecossistemas no planeta. O Brasil, por ser um país emergente de
economia agropecuária, encontra-se em situação de fragilidade no tocante à utilização
e conservação dos recursos naturais. Por sua vez, é sabido que as atividades
agropecuárias e extrativistas são causadoras de impactos ambientais em medida
proporcional ao nível de intervenção antrópica. Considerando as características dessas
atividades, verifica-se que é crescente a demanda pela definição de valores e
quantidades para estes impactos, de forma a correlacioná-los e incluí-los no balanço
econômico da atividade econômica rural. Para tanto, no nível ecológico deve-se
considerar o ecossistema, e, nos níveis social e econômico considera-se o imóvel rural
e sua área de influência.
Por ser um assunto relativamente recente, há algumas imprecisões e
distorções em relação à essa quantificação do custo dos impactos antrópicos nos
imóveis rurais. O entendimento mais aceito e apregoado é que esse custo,
denominado aqui de passivo ambiental dos imóveis rurais, fundamenta-se na
determinação de valores a serem invertidos em uma propriedade rural de forma a
regularizar sua utilização ou estado atual, relativamente aos aspectos ambientais,
legais e técnicos.
A regularização ambiental inicia-se como o levantamento das condições
momentâneas das áreas restritas ou protegidas de um imóvel rural, notadamente as
áreas de preservação permanente (APP) e as áreas de reserva legal (RL). A
caracterização destas áreas permitirá a definição sobre a necessidade e níveis de
intervenção, para que as mesmas desempenhem ou continuem a desempenhar sua
função ecológica dentro do sistema produtivo do imóvel. A definição dos níveis de
intervenção, técnicas, métodos e condições, constituem a base para a definição de
valores relativos ao passivo ambiental. Destaca-se que há outras maneiras de se
chegar à essa determinação, seja através de técnicas indiretas ou por meio de
pesquisas de mercado.

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Ressalta-se também, que o passivo ambiental não é caracterizado somente
nestas regiões que possuem seu uso restrito ou protegido legalmente, cabendo a
definição, delimitação e caracterização das porções do imóvel que, apesar de serem
de livre uso do proprietário, não estão sendo racionalmente manejadas. Assim,
considera-se como passivo ambiental, as áreas em que o processo de degradação
já encontra-se instalado, carecendo de intervenções para que o local seja
estabilizado e recuperado.
A avaliação do passivo financeiro é uma realidade presente em quase todas
as transações e negociações do ramo empresarial. Muitas vezes ouve-se falar da
incorporação de pequenas ou médias empresas por aquelas de maior expressão
financeira. Este processo de incorporação demanda o levantamento dos ativos e
passivos da incorporada, tendo em vista a assunção dos mesmos por parte do
incorporador. No tocante aos imóveis rurais, tem-se notado que a avaliação do
passivo ambiental é uma demanda real da sociedade, sendo atualmente requerida
nas transações de imóveis rurais, no cumprimento dos mandamentos legais, no
licenciamento ambiental, além de ser um tema tratado e considerado nas decisões
dos tribunais.
Paralelamente à importância atual atribuída a este tema, deparam-se com as
dificuldades de definição e obtenção desses custos de regularização ambiental, de
sorte que há necessidade do incremento dos estudos e tecnologias que auxiliem e
subsidiem a avaliação do passivo ambiental dos imóveis rurais. As dificuldades e
imprecisões atualmente existentes são intrínsecas do estudo dos eventos naturais,
caracterizados pelo seu elevado grau de subjetividade e complexidade. Não seria de
se estranhar, portanto, as premissas, considerações, critérios e situações que se há
de assumir, tendo em vista a definição de valores financeiros aos bens ambientais.
Nesse sentido, considera-se a avaliação do passivo ambiental um tema amplo
e agregador do conhecimento acumulado em outras ciências e temáticas
ambientais. Entre estas, destacam-se: a avaliação de impactos ambientais, a
recuperação de áreas degradadas, os sistemas de informação geográfica, o
reflorestamento, o manejo de bacias hidrográficas, os sistemas de gestão ambiental
(SGA’s), a valoração econômica de recursos naturais, a contabilidade ambiental e o
monitoramento ambiental. De maneira geral, considerando a temática do passivo
ambiental, poder-se-ia afirmar que os aspectos técnicos, econômicos, sociais e
culturais estão completamente interrelacionados, transparecendo, assim, a
interdisciplinaridade inerente ao tema.
Tem-se como premissa neste trabalho, a análise do passivo ambiental como
um tema englobador das temáticas, conceitos e técnicas concernentes à avaliação e
estudos de impactos ambientais, à recuperação ambiental e à valoração econômica
do meio ambiente. Para tanto, desenvolver-se-á o tema de modo a atingir os
objetivos a seguir descritos.

2. Objetivos

2.1. Objetivo geral

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- Analisar se as metodologias de avaliação de impactos ambientais (AIA),
valoração de recursos naturais (VA) e recuperação ambiental (RA) são
suficientemente adequadas e permitem estipular valores do passivo ambiental de
imóveis rurais.
2.2. Objetivos específicos

- Analisar e descrever as características das metodologias demandadas pela


ciência da avaliação do passivo ambiental de imóveis rurais;
- Integrar os temas relativos à avaliação de impactos ambientais, valoração de
recursos ambientais e recuperação ambiental;
- Definir aspectos de abordagem relativamente à definição e escolha dos
métodos mais adequados para a avaliação do passivo ambiental dos imóveis rurais;
- Analisar alguns trabalhos executados, relativos ao tema em questão
buscando balizar e contextualizar a aplicação das técnicas e conceitos propostos
para o estudo;

3. Revisão da Literatura

Na forma como observado na introdução, a complexidade dos efeitos das


atividades humanas exige a ampliação do conceito de meio ambiente, de modo a
considerá-lo como uma teia de relações que envolvem vários aspectos e setores da
sociedade. Assim, o ambiente, no contexto do passivo ambiental, não deve ser
considerado somente em sua vertente natural, mas deve incluir também os aspectos
atinentes ao meio antrópico. O quadro 1, a seguir, permite a identificação de alguns
níveis de análise, considerando a verificação da amplitude de impactos relativos ao
uso dos recursos naturais pelo homem.

Quadro 1. Ampliação do conceito de ambiente (Adaptado de FLORIANO, 2007).


AMBIENTE

NATURAL ANTRÓPICO

ABIÓTICO INTERAÇÕES BIÓTICO SOCIAL CULTURAL ECONÔMICO

Matéria Solos Animais Alimentação Educação Rural


Energia Clima Vegetais Saúde Política Industrial
Espaço Paisagem Protozoários Segurança Arte Comercial
Tempo Ecossistema Fungos Abrigo Associações Serviços
Geomorfologia Bactérias Lazer Tradições Viabilidade
Vírus Renda Ética

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Essa ampliação conceitual acarreta, necessariamente, a consideração de que
as atividades produtivas causam efeitos em todos os níveis de análise, de forma a
visão tradicional de impactos ambientais carece eminentemente de extensão. Por
sua vez, entende-se que essa extensão faz parte de um processo de análise ainda
em construção, da forma que se vê como uma demanda social a inclusão de
aspectos ambientais nas atividades econômicas da sociedade. Esse processo social
é desenvolvido e estimulado visando contemplar e satisfazer, mesmo que
incipientemente, a expectativa da conservação dos recursos naturais, considerando
um desejo de desenvolvimento sustentável clamado na opinião pública mundial.
No Brasil, verifica-se que a determinação efetiva da magnitude e extensão do
passivo ambiental é uma demanda premente e relevante na fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, no tocante às contas ambientais
nacionais e aos indicadores de sustentabilidade. As informações sobre o valor
econômico dos recursos naturais e dos impactos ambientais permitirão ao IBGE
incluir, no cálculo dos agregados macroeconômicos, os valores correspondentes aos
danos ambientais e à exaustão dos recursos naturais (SOUZA, 2004).
BERGAMINI JUNIOR (1999), analisando o passivo sob a ótica da
contabilidade ambiental verificou que esta, atualmente, é pouco utilizada devido à
dificuldade de mensuração econômica do passivo ambiental. O autor considera que
o passivo ambiental deve englobar, entre outros: as multas e penalidades geradas
pela não conformidade; o total de gastos ambientais capitalizados durante o período
de regularização; e as compensações para terceiros decorrentes de danos
ambientais causados no passado.
No mesmo contexto da contabilidade ambiental, FILHO (2002) traz a
importância da identificação do passivo ambiental nas negociações – compra e
venda – de empresas. Analisa as penalidades que podem ser imputadas aos novos
proprietários pelos efeitos nocivos ao meio ambiente causados pelas empresas,
independentemente da pessoa que figure como proprietário na ocasião em que o
fato gerador da penalidade ocorreu. Metodologicamente, tal autor avalia que o
passivo ambiental das empresas pode ser identificado, entre outras formas, através
dos EIA’s e dos RIMA’s, exigidos pelos órgãos técnicos de controle ambiental e
pelas instituições financeiras como subsídio para a concessão de créditos.
Aliás, os critérios e objetivos ambientais estipulados pelas instituições
financeiras como premissa na liberação de créditos é uma forma pela qual estas
instituições, de caráter eminentemente financeiro, utilizaram para incorporar essa
vertente exógena em suas atividades. Deve-se ponderar que tal incorporação teve
como fato gerador as pressões sociais, recente e notadamente nos países da União
Européia.
Alternativamente, uma das possibilidades seria analisar o passivo ambiental
através da ótica dos empreendedores e incorporadores, ao modo citado no
CONVÊNIO DNIT/IME (2004), que o considera equivalente ao total das
externalidades (impactos) ambientais não amortizadas (não mitigados ou
controlados), geradas pelo empreendimento. Essas externalidades devem ser
consideradas sobre o meio ambiente natural e antrópico na área de influência do
empreendimento.

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No âmbito da microeconomia, a questão ambiental tem sido tratada
buscando-se internalizar no preço do produto, os custos externos dos efeitos
ambientais da produção, fazendo com que o preço final reflita a degradação do
ambiente e as estimativas para sua recuperação (MATTOS & MATTOS, 2004). Os
cenários considerados nas análises econômicas usuais tradicionalmente refletem as
variações das rendas em detrimento das externalidades. Porém, no entender de
SOUZA (2004), dever-se-ia dedicar mais esforços nas avaliações dos custos e
benefícios externos referentes ao meio ambiente. Face à sua considerável
dificuldade (política, teórica e técnica) de determinação, esses custos e benefícios
não podem ser internalizados. Caso houvesse essa internalização, a mesma
auxiliaria nos processos de decisão que afetam a sociedade e o meio ambiente.

3.1. Legislação, normas, documentos e informações pertinentes

Evidente está que o tema do passivo ambiental pode ser considerado sobre
vários pontos de vista. Dessa maneira, e, com vistas à apuração dos fatos que
atualmente ensejam e demandam a avaliação do passivo ambiental dos imóveis
rurais, procede-se análise de informações, documentos, normas e leis que referem-
se ao tema em questão. Na forma como exposto anteriormente, verifica-se que o
tema aqui analisado é componente de várias esferas da sociedade, porém, procura-
se analisar neste tópico as implicações, recomendações e solicitações atinentes à
esfera normativa. Ressalta-se que se dará ênfase aos aspectos relacionados às
transações, utilização, requerimentos, empreendimentos e características intrínsecas
dos imóveis rurais de vocação agropecuária/extrativista.
Uma da primeiras referências ao tema do passivo ambiental nos imóveis
rurais, que inclusive balizou a própria definição de passivo ambiental, foi a
determinação das porções dos imóveis rurais que devem ter seu uso restringido ou
protegido. A publicação do Código Florestal em 1965 definiu as áreas consideradas
de preservação permanente (APP’s), nas quais só pode haver intervenções em
casos muito especiais de utilidade pública e/ou interesse social.
Além da obrigatoriedade de conservação da vegetação nas APP’s, o Código
Florestal brasileiro (Art. 1º) ainda define a porção do imóvel que deve ser mantida ou
manejada a título de reserva legal (RL), consistindo naquela
“área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a
de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos
naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à
conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora
nativas.”
Paralelamente às obrigações referentes à manutenção ou manejo de áreas
específicas de um imóvel rural, estão aquelas obrigações relacionadas ao
cumprimento da função social. Esta prerrogativa consta no Estatuto da Terra (Lei n.º
4.504/64) e na Lei Agrária (Lei n.º 8.629/93) e contextualiza a “retribuição social”
devida à sociedade por um proprietário, por conta da posse e domínio de um imóvel.
Analisa-se a definição de função social do imóvel segundo a Lei Agrária:
“Art. 9º - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os
seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;

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II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.
§ 1º - Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os
graus de utilização da terra e de eficiência na exploração especificados nos
§§ 1º a 7º do Art. 6º desta Lei.
§ 2º - Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis
quando a exploração se faz respeitando a vocação natural da terra, de
modo a manter o potencial produtivo da propriedade.
§ 3º - Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das
características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos
ambientais na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da
propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas. [...]”
O trecho transcrito acima permite a observação de que a função social do
imóvel está condicionada, entre outros requisitos, ao cumprimento das obrigações
ambientais, notadamente daquelas constantes e justificadas no Código Florestal.
Assim, entende-se que tais considerações derivam justamente de uma postura
racional por parte do proprietário rural, no tocante ao uso dos recursos naturais de
sua propriedade, sendo que a condução da propriedade deve ser efetuada de modo
a atender não só a função social, mas também a ‘função ambiental’.
A racionalidade no uso das terras, segundo o Código Florestal, engloba os
conceitos de preservação, manutenção ou manejo dos recursos naturais visando
intrinsecamente a conservação e sustentabilidade dos mesmos. Este fato fica
evidenciado com o advento da RL, havendo, inclusive, obrigações quanto aos
procedimentos à serem observados pelo proprietário ou possuidor, de forma a dar
efetividade à função da RL. O Código Florestal (Art. 44) estabelece que, nos imóveis
que não atendem às recomendações relativas à RL, o proprietário deve adotar as
seguintes providências:
“Art. 44. O proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de floresta
nativa, natural, primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetação nativa
em extensão inferior ao estabelecido nos incisos I, II, III e IV do art. 16,
ressalvado o disposto nos seus §§ 5º e 6º, deve adotar as seguintes
alternativas, isoladas ou conjuntamente:
I – recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio, a cada
três anos, de no mínimo 1/10 da área total necessária à sua
complementação, com espécies nativas, de acordo com critérios
estabelecidos pelo órgão ambiental estadual competente;
II – conduzir a regeneração natural da reserva legal;
III – compensar a reserva legal por outra área equivalente em importância
ecológica e extensão, desde que permaneça no mesmo ecossistema e
esteja localizada na mesma microbacia, conforme critérios estabelecidos em
regulamento.
§ 1º Na recomposição de que trata o inciso I, o órgão ambiental estadual
competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse
rural familiar.
§ 2º A recomposição de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o
plantio temporário de espécies exóticas como pioneiras, visando a
restauração do ecossistema original, de acordo com critérios técnicos gerais
estabelecidos pelo CONAMA.

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§ 3º A regeneração de que trata o inciso II será autorizada, pelo órgão
ambiental estadual competente, quando sua viabilidade for comprovada por
laudo técnico, podendo ser exigido o isolamento da área. [...]”
As disposições acima implicam que o proprietário ou possuidor de um imóvel
rural tem até trinta anos para proceder à recuperação da área de RL de seu imóvel,
podendo valer-se da regeneração natural ou da compensação de áreas. Neste
sentido, a Lei n.º 8.171/91 é favorável, pois determina que a partir de 1992 todo
proprietário ou posseiro rural se obriga, se for o caso, a recompor em sua
propriedade a Reserva Florestal Legal, mediante o plantio, a cada ano, de pelo
menos 1/30 (um trinta avos) da área total para complementar a referida reserva
florestal.
No Código Florestal há inclusive a referência à alguns aspectos técnicos que
devem ser observados para a consecução da obrigação. Entre estes, estão a
possibilidade de uso de espécies exóticas e a aferição da viabilidade da regeneração
natural por técnico competente. Observa-se também que há expressivo repasse de
responsabilidades ao órgão ambiental estadual, de sorte que alguns procedimentos
necessariamente devem ser adotados com o aval desse colegiado.
Procura-se trazer à análise neste trabalho, alguns excertos que refletem o
entendimento dos tribunais em relação à necessidade de cumprimento das
obrigações legais atinentes aos imóveis rurais. Neste sentido, segue reprodução
parcial do acórdão TCU 1.362/2004 – Plenário, que trata da avaliação de imóvel
rural em vias de desapropriação por não cumprir a função social:
[...] 5. Devem ser distinguidas duas ordens de conseqüências da
constatação de passivo ambiental em imóvel em desapropriação: uma de
natureza sancionatória e outra relativa à obrigatoriedade de recomposição
do dano. As sanções administrativas e penais não são forma de
recomposição do dano ambiental e, independente das referidas sanções,
havendo o dano ambiental, há o dever de recomposição ambiental.
5.1. A responsabilidade pela recomposição do passivo ambiental é dever
constituinte da propriedade (e da posse), conforme estabelece o art. 44 da
Lei 4.771/65. [...]
Trata-se de presunção legal no sentido de que o proprietário de imóvel ou
seu possuidor são os causadores do dano ambiental e, ainda, no sentido de
que eventual adquirente de imóvel está a adquirir não somente suas
benfeitorias mas, também, o seu passivo ambiental (isto é, o dever de
recompor acompanha a propriedade de a posse). [...]
5.3. O INCRA tem o direito de receber o bem incólume (sem o passivo
ambiental) ou obter a recuperação do passivo ambiental pelo desapropriado
ou ressarcir-se dos valores despendidos na recuperação ambiental ou
descontar do valor da desapropriação o valor correspondente ao
ressarcimento. Por essa razão, nem se encontrando o imóvel incólume, nem
tendo o imóvel sido recuperado pelo expropriado, deve o INCRA descontar
o valor correspondente à recomposição ambiental do valor da indenização,
para que seja justo, como exige a Constituição. [...]
5.5. O passivo ambiental já compunha o patrimônio do expropriado
anteriormente à desapropriação. É que o valor do bem expropriado é obtido
pela soma dos ativos que compõem o imóvel subtraída dos passivos
incorporados ao mesmo (o valor do imóvel é a soma do valor da terra nua,
mais as benfeitorias e menos os passivos). Caso o INCRA indenize
computando apenas os ativos vinculados ao imóvel estará enriquecendo
sem causa o expropriado.[...]

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A postura do Tribunal de Contas da União (TCU), expressa no trecho acima,
não enfatiza a possibilidade da recuperação da área de RL em até 30 anos, como
visto anteriormente, mas sim exige de plano sua compensação. Analogamente,
outras possibilidades trazidas pelo Art. 44 do Código Florestal não são devidamente
contempladas na citação. Este fato, como se verá, pode ocasionar distorções
quando se analisa o contexto da avaliação do passivo ambiental.
Uma das distorções é que o passivo ambiental de um imóvel rural, na forma
como disposto acima, pode ser analisado de forma virtual, na forma como se explica.
Um imóvel rural pode ser enquadrado em três situações distintas, relativamente à
regularidade da RL devida. Há imóveis rurais que não possuem RL sequer
averbadas em cartório, nem tampouco materializadas em campo. Outros imóveis
possuem apenas a averbação em cartório da área gravada a título de RL, mas não
possuem qualquer referência à localização física da RL dentro dos limites do imóvel.
A terceira opção seriam os imóveis que estão completamente regulares quanto à
averbação cartorial e a delimitação física da RL em campo.
Em relação à avaliação do passivo ambiental, inevitavelmente incorre-se em
imprecisões, quando se considera a situação de inexistência física da RL em campo.
Esse fato deriva exclusivamente da necessidade básica da delimitação físico-
geográfica das áreas de uso restrito ou protegidas – RL e APP – como premissa
para o início do processo de avaliação do passivo ambiental de um imóvel rural.
Ademais, outros fatores pesam sobre essa situação, ao se considerar os critérios
exigidos para a localização da RL, conforme expresso no Código Florestal.
“Art. 16 [...]
§ 4º A localização da reserva legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental
estadual competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal
ou outra instituição devidamente habilitada, devendo ser considerados, no
processo de aprovação, a função social da propriedade, e os seguintes
critérios e instrumentos, quando houver:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o plano diretor municipal;
III - o zoneamento ecológico-econômico;
IV - outras categorias de zoneamento ambiental; e
V - a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação
Permanente, unidade de conservação ou outra área legalmente protegida.
[...]
§ 8o A área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição de
matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a
alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação da área, com as exceções previstas
neste Código. [...]”
Verifica-se do trecho transcrito acima, a necessidade de aprovação da
localização da RL de um imóvel rural, sendo que, no contexto da avaliação do
passivo ambiental, isso é objeto de entendimentos diversos. Alguns técnicos
admitem a possibilidade de avaliação do passivo ambiental em uma área proposta,
segundo critérios técnico-legais, para a localização efetiva da RL, sendo sua
aprovação de localização apenas um formalidade a ser cumprida, visto que a
proposição se deu segundo critérios legítimos. Há também o entendimento de que
uma avaliação do passivo ambiental em área de RL, fundamentada em valores
monetários a serem invertidos para a recuperação florística e ecológica do local,

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necessariamente deve ter como base a sua existência e regularidade de fato,
considerando os termos expressos no art. 16 do Código Florestal, ou seja, o
pronunciamento e a consumação do órgão ambiental competente.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem analisado a questão da
responsabilidade pelo ressarcimento do passivo ambiental, sendo que o
entendimento principal alinha-se à impessoalidade do infrator. Neste sentido vão os
recursos especiais 343.741/PR ( 1 ) e 264.173/PR ( 2 ) daquele colegiado.
Os excertos analisados refletem as disposições e regulamentos que direta ou
indiretamente ensejam à avaliação do passivo ambiental. Notam-se que os tribunais
também vêm considerando o tema em suas decisões, de forma que fica patente a
importância adquirida pelo tema em questão, notadamente entre os assuntos
jurídicos. Paralelamente, também tem sido observado entendimento consoante em
outros setores da sociedade, destacando-se os setores ligados aos registros de
imóveis (MARSIGLIO, 2006).
Outra demanda relacionada ao tema avaliação do passivo ambiental dos imóveis
rurais é o licenciamento ambiental das atividades potencialmente poluidoras.
Segundo a resolução CONAMA n.º 237/1997, algumas atividades econômicas, que
envolvem os imóveis rurais em alguma fase do ciclo de produção, necessitam ser
licenciadas, visando seu pleno funcionamento e regularidade junto ao órgão
ambiental. Entre estas estão:
- Serviços de utilidade: recuperação de áreas contaminadas ou degradadas;
- Turismo: complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e
autódromos;
- Atividades diversas: parcelamento do solo;
- Atividades agropecuárias: projeto agrícola, criação de animais, projetos de
assentamentos e de colonização;

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[RESP 343.741/PR – RECURSO ESPECIAL 2001/0103660-8 – DJ DATA:
07/10/2002 PG:00225 – Relator Ministro FRANCIULLI NETTO – 04/06/2002 T2 – SEGUNDA
TURMA] – RECURSO ESPECIAL. FAIXA CILIAR. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.
RESERVA LEGAL. TERRENO ADQUIRIDO PELO RECORRENTE JÁ DESMATADO.
IMPOSSIBILIDADE DE EXPLORAÇÃO ECONÔMICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
OBRIGAÇÃO PROPTER REM. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADA. As questões relativas à aplicação dos artigos 1º e 6º da
LICC, e, bem assim, à possibilidade de aplicação da responsabilidade objetiva em ação civil pública,
não foram enxergadas, sequer vislumbradas, pelo acórdão recorrido. Tanto a faixa ciliar quanto a
reserva legal, em qualquer propriedade, incluída a da recorrente, não podem ser objeto de exploração
econômica, de maneira que, ainda que não se dê o reflorestamento imediato, referidas zonas não
podem servir como pastagens. Não há cogitar, pois, de ausência de nexo causal, visto que aquele
que perpetua a lesão ao meio ambiente cometida por outrem está, ele mesmo, praticando o ilícito. A
obrigação de conservação é automaticamente transferida do alienante ao adquirente,
independentemente deste último ter responsabilidade pelo dano ambiental. Recurso especial não
conhecido.
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[RESP 264.173/PR – RECURSO ESPECIAL 2000/0061820-9 – DJ DATA:02/04/2001
PG:00259 – JBCC VOL.:00190 PG:00117 – RJADCOAS VOL.:0024 PG:00077 – RT VOL.:00792 –
Min. JOSÉ DELGADO – 15/02/2001 – TJ – PRIMEIRA TURMA] ADMINISTRATIVO. RESERVA
FLORESTAL. NOVO PROPRIETÁRIO. LEGITIMIDADE PASSIVA. 1. O novo adquirente do imóvel é
parte legítima passiva para responder por ação de dano ambiental, pois assume a propriedade do
bem rural com a imposição das limitações ditadas pela Lei Federal. 2. Recurso provido.

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- Uso de recursos naturais: silvicultura, exploração econômica da madeira
ou lenha e subprodutos florestais, atividade de manejo de fauna exótica e
criadouro de fauna silvestre, utilização do patrimônio genético natural,
manejo de recursos aquáticos vivos, introdução de espécies exóticas e/ou
geneticamente modificadas, uso da diversidade biológica pela
biotecnologia;
O fato da inclusão das atividades acima listadas, componentes de um rol de
outras atividades demandantes de licenciamento ambiental, obriga a realização de
estudos e avaliações que subsidiem o processo de licenciamento ambiental. A
depender do tipo de licença requerida, do tipo de atividade, da localidade, entre
outros fatores, há maior ou menor necessidade de detalhamento dos estudos. De
maneira geral, para os empreendimentos de médio ou grande porte, concebidos no
âmbito dos imóveis rurais, uma das exigências é a elaboração de estudo de impacto
ambiental (EIA), que gera um relatório de impacto ambiental (RIMA) da atividade
proposta.
Conforme adiante analisado, uma das etapas do EIA é o levantamento dos
atributos naturais, condições intrínsecas e específicas da região de influência do
empreendimento proposto, notadamente das áreas de uso restrito ou protegidas
(APP e RL). Outra etapa diz respeito ao estudo de implantação e viabilidade das
medidas mitigadoras dos impactos ambientais negativos causados pela eventual
instalação do empreendimento. Observar-se-á neste trabalho que estes dois
elementos – levantamento e mitigação –, entre outros, são componentes primazes
em um processo de avaliação do passivo ambiental.
Os tópicos seguintes (3.2 a 3.4) procuram trazer à análise as metodologias
existentes, relativas à avaliação de impactos ambientais, recuperação ambiental e
valoração ambiental, de forma a contextualizá-las em relação ao tema de avaliação
do passivo ambiental dos imóveis rurais.

3.2. Avaliação de Impactos Ambientais

SOUZA (2004), considera que a avaliação relacionada a fatores ambientais


está fundamentada no que certas atividades podem estar promovendo, como
alterações positivas ou negativas, para o meio ambiente. Neste sentido, é
fundamental que se saiba avaliar se é mais importante implantar essa atividade que
promoverá alteração ambiental, ou não realizá-la e optar pela permanência do
ambiente saudável, evitando soluções onerosas para esses problemas que
surgiriam.
Genericamente, considera-se que o impacto gerado pelas atividades
humanas é positivo quando valoriza o meio ambiente – entendido em suas vertentes
física, econômica, social, cultural, etc –, ou negativo, quando desvaloriza o
agroecossistema por meio de agressões. Pode-se exemplificar o fato acima
considerando a implantação e manutenção, em bases racionais, de uma área de
pastagem para apascentamento de bovinos. Este empreendimento evidentemente
causa impacto negativo sobre a vegetação original local devido à supressão, porém,
devido à boa cobertura do solo, pode haver uma diminuição do escorrimento
superficial de água, há a geração de renda ao proprietário e há também o aumento

11
da possibilidade de investimento em atividades alternativas de renda que são menos
impactantes. Por outro lado, há aumento do risco de incêndio, a necessidade
eventual do uso de agrotóxicos, os aspectos operacionais de manejo podendo haver
superpastejo ocasionando a degradação do solo, a necessidade de manejo efetivo
da fertilidade do solo com aplicação de fertilizantes químicos ou orgânicos. Torna-se
patente, portanto, a complexidade e a inter-relação de aspectos que devem ser
observados em um processo de avaliação de impactos ambientais relacionados às
atividades rurais.
Analisam-se agora os aspectos considerados no Termo de Referência (TR),
que é o instrumento orientador para a elaboração de qualquer tipo de estudo
ambiental, entre eles o EIA, RIMA, Plano de Controle Ambiental (PCA), Relatório de
Controle Ambiental (RCA) e o PRAD.
ABSY et alii (1995) considera que o TR deve estabelecer as diretrizes
orientadoras, conteúdos e abrangência do estudo exigido do empreendedor, em
etapa antecedente à implantação da atividade modificadora do meio ambiente. É
elaborado pelo órgão ambiental a partir das informações prestadas pelo
empreendedor na fase do pedido de licenciamento ambiental, e seu roteiro básico de
elaboração é constituído dos seguintes itens:
a) Identificação do empreendedor;
b) Caracterização do empreendimento (tecnológico-operacional);
c) Métodos e Técnicas utilizadas para a realização dos estudos ambientais:
- detalhamento dos métodos e passos metodológicos;
- prognóstico;
- identificação de recursos tecnológicos e financeiros para mitigar os impactos
negativos;
- medidas de controle e monitoramento dos impactos;
d) Delimitação da área de influência do empreendimento:
- considerações sobre a bacia hidrográfica;
- apresentação de critérios ecológicos, sociais, econômicos que a definiram;
- áreas de influência direta e indireta;
- considerar atributos como solo, recursos hídricos, atmosfera, fauna, flora,
componentes sociais, políticos e culturais;
e) Espacialização da análise e apresentação dos resultados (mapas);
f) Diagnóstico ambiental da área de influência:
- situação do meio natural antes da implantação;
- análise de ambientes alternativos;
g) Prognóstico dos impactos ambientais e alternativos:
- efeitos ambientais potenciais (positivos e negativos), prevenção, controle,
mitigação e reparação;
- análise da implantação ou não do projeto;
h) Controle ambiental do empreendimento:
- análise e seleção de medidas eficientes de mitigação, anulação de impactos
negativos e potencialização de impactos positivos, alem de medidas
compensatórias ou reparatórias;
- elaboração de plano de acompanhamento e monitoramento de impactos.

12
Os parâmetros acima listados permitem a observação de que se procurou
considerar, em sua concepção, aspectos ligados aos meio natural e antrópico, de
forma a contemplar tanto quanto possível as esferas eventualmente impactadas
pelas atividades. A abrangência também se estende à escala temporal, devendo-se
considerar situações presentes e estudos futuros. Verifica-se que o rol de
parâmetros são relativos à qualquer tipo de atividade, de sorte que sua aplicação em
sistemas agropecuários e extrativistas é prontamente viável, carecendo apenas das
adaptações necessárias.
As atividades agropecuárias simplificam as comunidades rurais, tendo efeito
sobre a riqueza e composição de espécies e abundância de indivíduos. LOUZADA et
alii (2001), analisa que há duas categorias principais de fatores de alteração
ambiental causados pelo homem nestes agroecossistemas: a) alteração de habitats
por desmatamento e substituição de vegetação; e b) introdução de insumos
agrícolas. Nesse contexto, o autor ressalta a possibilidade de uso de espécies
bioindicadoras, com vistas à apuração das modificações ambientais casadas pela
ação antrópica nos sistemas agrícolas.
No contexto da avaliação do passivo ambiental, devem ser consideradas, em
um primeiro momento, as alterações ocorridas em áreas de uso restrito ou
protegidas, tendo em vista o levantamento das desconformidades com os
regulamentos ambientais. Nos imóveis rurais, em função da vocação individual dos
mesmos, verifica-se que as APP’s mais intervencionadas são as encostas com
declividade maior que 100% e as matas ciliares, tendo em vista o fato destas
representarem grande parte das APP’s rurais.
As principais causas da degradação das matas ciliares, de acordo com
MARTINS (2001), são o desmatamento para a expansão da área cultivada nas
propriedades rurais, para a expansão de áreas urbanas e para a obtenção de
madeira; os incêndios; a extração de areia nos rios; e os empreendimentos turísticos
mal planejados. Com o passar do tempo e, em função da intensidade de uso, a
degradação pode ser agravada através da redução da fertilidade do solo pela
exportação de nutrientes pelas culturas, do uso do fogo, da compactação e erosão
do solo devido aos animais e às maquinas.
A Secretaria de agricultura e abastecimento do estado de São Paulo
(SECRETARIA..., 2002), ao realizar o diagnóstico ambiental da agricultura no estado
de São Paulo, define alguns dos principais impactos ambientais relacionados às
práticas agrícolas (tabela 1).

Tabela 1. Principais impactos ambientais causados pelas práticas agrícolas e seus


níveis de avaliação
Tipo de Agentes /
Parâmetros para AIA Outros parâmetros
degradação Características

13
- produtividade da
- perda de solo (t.ha-1
biomassa
.ano-1)
- banco de sementes
- sedimentos em - composição do solo
- biota do solo
suspensão - índice de turbidez
Erosão - biodiversidade
- sólidos solúveis - índice de qualidade
- eutrofização
em suspensão da água
- perda de fertilidade
- taxa de deposição e
- acompanhamento do
granulometria
manejo do solo

- taxa de infiltração e - biota do solo


composição da água - biota nos remanescentes
Poluição - fertilizantes infiltrada nativos alcançados pela
Química - agrotóxicos - composição química onda de dispersão
- nitratos e resíduos de - população de
agrotóxicos polinizadores

- degradação dos
remanescentes
florestais - área do incêndio
Queimadas e - índice de avanço sobre
- perda da biota e - intensidade do fogo
outras remanescentes bióticos
dos nutrientes do - espécies e vegetação
práticas - impacto do calor e
solo nativa afetadas
associadas fumaça sobre a biota
- impedimento da
regeneração do
solo

Fonte: Adaptado de SECRETARIA..., 2002.

Cabe destacar que os impactos ambientais gerados pelas atividades agrícolas


são tão variáveis quanto as possibilidades de utilização dos imóveis rurais nas
atividades produtivas. Assim, os impactos são funções das características dos
fatores impactantes e do agroecossistema impactado, devendo-se considerar, entre
outros, a natureza das atividades desenvolvidas, a vocação dos imóveis, o zelo do
proprietário, os aspectos da resiliência do ecossistema, etc.
Com vistas a subsidiar um dos propósitos deste trabalho, parte-se para a
análise dos aspectos de alguns métodos adaptados para uso no EIA, que, conforme
se concluirá, serão de grande valia na definição de critérios e diretrizes para a
realização de atividades de avaliação do passivo ambiental de imóveis rurais
(Adaptado de ABSY et alii, 1995 e COSTA et alii, 2005).

A) Análise do valor de uso: Originalmente foi desenvolvido como método para


preparar a tomada de decisão em planejamento. Utiliza-se para isso de um conjunto

14
de negociações complexas, que corresponde às preferências do decisor com
relação à um sistema multifuncional de objetivos a ser ordenado.
A ordem é definida em função do valor de uso das alternativas de negociação.
Os valores de uso, quantificados numericamente, fornecem informações sobre em
que medida o sistema de objetivos do decisor pode ser atingido através de
alternativas de negociação.
Para avaliação de efeitos ambientais, o sistema de objetivos é substituído por
uma estrutura de relevância, formada por aqueles fatores ambientais dos quais
advêm efeitos positivos e negativos sobre um fator natural ou mesmo uma qualidade
ambiental pré-definida.
B) Simulação dinâmica de sistemas: A simulação é a reprodução de um
sistema real na forma de um modelo que, por sua vez, procura reproduzir estrutura
e/ou características mais significativas deste sistema. A modelagem faz sentido
quando é impossível manipular todos os dados da realidade ou quando fatores, tais
como tempo e custo elevados, inviabilizam esse trabalho. Verifica-se que o meio
ambiente é passível de estruturação em sistemas, cuja dinâmica é definida por
processos de retroalimentação.
C) Análise do custo-benefício: O uso deste método esbarra na dificuldade e
imprecisão intrínsecas da definição de valores monetários para os impactos
ambientais. Observa-se a necessidade de atribuição de valores monetários para
indicadores que só podem ser avaliados qualitativamente, ao lado de outros que
podem ser quantificados com precisão.
Paralelamente à disponibilidade dos métodos adaptados para serem
utilizados no EIA, graças à demanda crescente de metodologias que garantam
subsídios mínimos aos estudos, conta-se atualmente com possibilidade de
utilização de alguns métodos e técnicas especialmente desenvolvidos para tal
(ibidem). Expende-se:
D) Análise do risco ecológico: Procura organizar as funções e usos dos
espaços de acordo com o potencial natural existente. Também procura ordenar o
uso múltiplo do espaço de forma a não interferir – ou interferir o mínimo possível –
nas funções do sistema natural, ou seja, evitar sobrecargas nos ecossistemas. A
definição de valores para os indicadores ambientais é feita através de funções de
agregação da lógica matemática (álgebra booleana), de forma a se obter a
intensidade dos danos potenciais e a sensibilização dos fatores naturais a danos, os
quais, quando combinados, resultarão no risco de danos ambientais. Baseia-se no
preceito básico: uso – causa – efeito ecológico desencadeado – usos atingidos. O
aspecto quantificação dos impactos é considerado a maior vantagem.
E) Lista de checagem (Check List): É uma lista dos indicadores do meio
natural e do meio antrópico utilizada na análise dos efeitos do projeto. Serve de
caracterização e favorece a execução da etapa posterior, que é a hierarquização e
avaliação dos indicadores segundo o grau de significância. É um dos métodos mais
usados em AIA. Tem a vantagem do emprego direto na avaliação qualitativa dos
impactos mais relevantes.
F) Matriz de interação: É uma forma de organização de informações que
permite a visualização, em uma mesma estrutura, das relações entre indicadores do
meio antrópico e do meio natural. A mais utilizada é a Matriz de Leopold, que é

15
bidimensional e consigna informações lineares do empreendimento (transformação
do território, extração de recursos, processos, alteração do uso do solo, disposição
de resíduos, etc) e informações colunares das condições ambientais (fatores
biológicos, culturais, ecológicos, litológicos, atmosféricos, hidrológicos, etc).
Cada célula da matriz mostra a relação existente, numericamente arbitrada
entre os valores 1 e 10, entre uma ação do empreendimento e uma característica ou
condição ambiental, qualificando a magnitude e a significância dos impactos dela
resultante. A magnitude é colocada no canto superior esquerdo e a significância no
canto inferior direito de cada célula. Permite a identificação de características dos
impactos, tais como: tipo de ação, método de ignição, sinergia e criticidade,
extensão, periodicidade e intensidade.
G) Redes de Interação (Networks): São construídas para identificar a
totalidade das conexões entre vários efeitos ambientais que podem resultar das
intervenções humanas. Os efeitos diretos e os efeitos seqüenciais podem ser
mostrados através de esquemas ou de equações matemáticas.
Os efeitos ambientais de determinada intervenção resultará da identificação
das condições iniciais do meio, das conseqüências das ações e efeitos, bem como
das ações corretivas e dos mecanismos de controle a serem implementados.
Apresentam como vantagem o fato de permitirem boa visualização de
impactos secundários e demais ordens; sobretudo quando computadorizados, além
da possibilidade de introdução de parâmetros probabilísticos, mostrando tendências.
H) Superposição de dados gráficos (Overlay): Técnica que utiliza de meios
gráficos superpostos para analisar aspectos ambientais.
I) Metodologias espontâneas (Ad Hoc): Baseiam-se no conhecimento
empírico de peritos no assunto. São adequadas para os casos de escassez de
dados, fornecendo orientações para outras avaliações. Os impactos são
identificados, caracterizados e sintetizados por meio de tabelas e matrizes. Tem a
vantagem da possibilidade de estimativa rápida da evolução de impactos, entretanto
não examinam detalhadamente as intervenções e variáveis ambientais envolvidas,
considerando-as de forma subjetiva, qualitativa e pouco quantitativa.
Com vistas a subsidiar o entendimento da aplicação dos métodos de
avaliação de impactos ambientais acima discutidos, segue a reprodução de uma
estrutura, baseada na metodologia da análise do risco ecológico (item D), utilizada
na ponderação dos impactos ambientais em áreas a serem adquiridas para a
instalação de assentamentos da reforma agrária. A primeira parte é referente aos
critérios de ponderação, atribuindo valores numéricos aos fatores analisados. Na
seqüência a tabela 2, exemplifica a segunda parte, relativa à pontuação atribuída às
atividades e intervenções características de projetos de assentamento de famílias de
trabalhadores rurais. Informa-se que a metodologia a seguir descrita decorre dos
procedimentos de vistoria de imóveis rurais executada pelo INCRA, especialmente
no estado da Bahia.

PRIMEIRA PARTE: CRITÉRIOS DE PONTUAÇÃO E NÍVEIS DE ANÁLISE DE IMPACTOS.

- Abrangência Espacial: Indica a área geométrica que será afetada por um


determinado impacto ambiental

16
Critério Pontos

Terreno do empreendimento + parte da zona de influência direta 1

Toda a zona de influência direta 2

Toda a zona de influência direta + parte da zona de influência indireta 3

Toda a zona de influência indireta 4

- Ocorrência: A ocorrência é definida como o intervalo de tempo existente entre o


início de uma atividade modificadora e o aparecimento de um impacto ambiental
Manifestação do impacto Pontos

Longo prazo (+ de 5 anos) 1

Médio prazo (de 1 a 5 anos) 2

Curto prazo (até 1 ano) 3

Imediata 4

- Duração Temporal: A duração temporal representa o espaço de tempo no qual o


impacto ambiental continuará atuando
Tempo de ocorrência do impacto Pontos

Fase de instalação 1

Fase de operação 2

Ocorrência além da fase de operação 3

- Efetividade: A efetividade indica a força de modificação que um impacto exerce ou


pode exercer sobre um determinado ambiente. Quanto mais efetivo é um
determinado impacto, maior será a sua intensidade e por conseguinte, sua
importância
Grau de modificações possíveis Pontos

Menos que 30% de modificação de uma característica ambiental 1

Entre 30% e 60% de modificação de uma característica ambiental 2

Entre 60% e 90% de modificação de uma característica ambiental 3

Mais de 90% de modificação de uma característica ambiental 4

- Grau: Relativo à natureza dualística exclusiva do impacto


Critério Pontos

Impacto positivo +1

17
Impacto Negativo -1

- Reversibilidade: Indica a possibilidade de um impacto ambiental ter seus efeitos


revertidos por medidas mitigadoras ou não
Critério Pontos

Impacto facilmente revertido, seja com medidas mitigadoras, seja naturalmente 1

Impacto que pode ser facilmente revertido com medidas mitigadoras, ou naturalmente
2
com intervalo de tempo longo

Impacto que somente pode ser revertido com a utilização de técnicas muito
3
dispendiosas ou situações onde a reversão será apenas parcial

Impacto irreversível 4

- Magnitude: equivalente à função algébrica [Abrangência x Ocorrência x Duração]


- Intensidade: equivalente à função algébrica [Efetividade x Grau x Reversibilidade]
- Importância: equivalente à função algébrica [Magnitude x Intensidade]

SEGUNDA PARTE: PONTUAÇÃO ATRIBUÍDA ÀS ATIVIDADES E INTERVENÇÕES.

Tabela 2. Ações, impactos, pontuações e medidas mitigadoras relacionados ao nível


de análise do meio físico. Fonte: INCRA SR 05 (regional Bahia)
Ações Ponderação dos Impactos

Abr O Dur Efeti Rev


ang co açã vida ersi Int
ênci rr o de bilid en Medidas
a ên tem (D) ade Mag si mitigador
Impacto esp ci pora Gr (F) nitu da as
Impor
acial a l (C) au de de (recomen
Causa Caract. tância
(A) (B (E G=( F dação)
(G*F)
) ) A*B =(
*C) D*
E*
F)

MEIO FÍSICO
Barramento de Garantir que
Represament Diminuição da
riacho com a o volume
o de curso vazão a jusante 2 4 2 1 -1 1 16 -1 -16
finalidade de represado
d’água do barramento.
garantir o não
abastecimento ultrapasse
doméstico de Aumento do 200mil m³
água espelho d´água 2 4 2 1 -1 1 16 -1 -16 (lei estadual)
do corpo hídrico. e que a
ã

18
Alteração do
nível do lençol 2 3 2 1 -1 1 12 -1 -12
freático

Efetuar uma
Utilização de Eutrofização de
2 2 3 1 -1 2 12 -2 -24 adubação
adubos corpos hídricos. fundamenta
formulados e
da por
orgânicos para
Adubação recomendaç
a adubação de
dos lavouras ão técnica; e
manutenção
permanentes substituir
das culturas
e demais adubos
permanentes; e Contaminação do
culturas. 3 2 3 1 -1 2 18 -2 -36 formulados
adubos lençol freático. pela
orgânicos para
adubação
a produção de
verde e
subsistência.
orgânica.
Diminuição do
assoreamento
Cercamento 2 3 3 1 +1 1 18 +1 +18
dos corpos
Delimitação e propiciando a
hídricos.
conservação regeneração ---
da RL. natural da Propicia a
mata. recarga de lençol 3 2 3 1 +1 1 18 +1 +18
freático.
Adubação e
Implantação Esgotamento da correção da
Movimentação fertilidade natural 1 3 2 1 -1 2 6 -2 -12
e tratos área
da camada do solo
culturais de utilizando
superficial do
culturas de adubação
solo,propiciand
subsistência Assoreamento orgânica
o a erosão
(milho, feijão dos corpos 2 4 2 1 -1 2 16 -2 -32
laminar.
e mandioca). hídricos.
Compactação
Manejo de do solo das Utilização de
pastagem áreas de baixa
Compactação do
para criação pastagem, 1 4 3 1 -1 3 12 -3 -36 Unidade
solo.
de moares e devido ao Animal por
bovinos. pisoteamento área.
pelo animais.
Cercamento
Diminuição do
das áreas de
risco de
APP,
assoreamento 2 3 3 2 +1 1 18 +2 +36 ---
permitindo a
dos corpos
recuperação
Delimitação, hídricos
natural da flora.
conservação
das áreas de Regeneração
APP da vegetação
Diminuição do
das áreas de
risco de
topo de morro 1 4 3 1 +1 1 12 +1 +12 ---
deslizamento de
e de
terra.
declividade >
que 45°.
Construção
de fossas
sépticas,
garantindo
Assentament Contaminação da uma
o de famílias Produção de água por distâncias
de efluentes patógenos de 1 4 2 1 -1 1 8 -1 -8 mínimas dos
trabalhadores líquidos. veiculação corpos
rurais hídrica. hídricos
conforme a
física do
solo do
local.

19
SUB-TOTAL (A): -108

A análise resumida na tabela acima é estendida de forma a considerar a


influência da atividade nos níveis biótico e sócio-econômico. O resultado geral da
utilização deste método de AIA é dado pela soma dos subtotais calculados dos
impactos considerados nos três níveis de análise citados. O resultado pode ser nulo,
positivo ou negativo, havendo proporção direta, portanto, entre resultado algébrico
do cálculo e o nível do impacto analisado.
A metodologia supra citada permite a análise, que pode ser resumida nos
seguintes pontos:
- caracteriza-se por ser um método bastante abrangente, que possibilita a
consideração e análise de várias causas relacionadas aos impactos
ambientais;
- é dependente da sensibilidade do técnico responsável, incrementando,
portanto, o nível de subjetividade da análise;
- é prontamente adaptada para a avaliação de impactos das atividades rurais e
garante a consideração de medidas mitigadoras específicas para os impactos
elencados;
- é analisada algebricamente, considerando que o item discriminador das
análises é o fator “grau” (D), que identifica a natureza do impacto (positivo ou
negativo). Dessa forma, infere-se que o resultado da avaliação dos impactos
ambientais é genericamente analisado nos subtotais de cada nível de análise
e no total geral. A magnitude dos impactos ambientais considerados é
proporcional ao resultado total, a depender do sinal. Se positivo, significa que
os impactos positivos das atividades suplantam os negativos e vice-versa.
Quanto mais próximo de zero, há maior equivalência entre os impactos
positivos e negativos;
- A análise numérica também pode ser realizada por meio da comparação
entre os impactos em cada nível, obtendo-se os percentuais equivalente e
proporcional dos impactos.
COSTA et alii (2005), analisando o uso das técnicas de AIA nos estudos
ambientais realizados no Ceará, avaliou 84 EIA/RIMA’s. Inadvertidamente, o autor
verificou que em mais de 20% deles, não foi possível identificar o número de
variáveis ambientais contempladas, conforme depreende-se do gráfico 1, a seguir.

20
Análise do nº de variáveis ambientais contempladas nos RIMA's do Ceará

18

16

14

12
Nº de RIMA's

10

0
101 151 201 251 301 351 451 501 551 601 651 701 751 Não
0a 51 a
a a a a a a a a a a a a a ident
50 100
150 200 250 300 350 400 500 550 600 650 700 750 800 if.

Nº de RIMA's 1 6 5 6 8 12 5 8 3 1 0 0 0 1 1 18

Gráfico 1. Análise do número de Variáveis contempladas nos EIA/RIMA do estado


do Ceará. (COSTA et alii, 2005)

Os autores concluem que um dos pontos fracos das técnicas estudadas de


AIA, é a determinação dos custos do impacto ambiental gerado das atividades
licenciadas. Este fator é uma demanda generalizada dos métodos de avaliação de
impactos ambientais. A elaboração e determinação de medidas mitigadoras dos
impactos ambientais é a primeira fase relacionada ao controle dos impactos, porém
as mesmas devem ser analisadas no contexto de sua viabilidade. A viabilidade de
implantação de uma medida refere-se aos aspectos técnicos, operacionais e
econômicos. O custo de implantação de uma medida mitigadora, indiretamente
relaciona-se com o custo do impacto ambiental, de sorte que em qualquer EIA, o
custo das medidas necessariamente é uma variável a ser definida. Considera-se
também que o custo da mitigação é diretamente proporcional ao valor do passivo
ambiental do ecossistema analisado, apesar da existência de outros custos indiretos
que devem ser contabilizados.
RODRIGUES & CAMPANHOLA (2003), trazem uma proposta de sistema
integrado de AIA, com vistas a ser aplicável a qualquer atividade do meio rural e
apontar os pontos críticos das atividades agropecuárias, para correção e manejo.
Buscam dar subsídios ao desenvolvimento de projetos pelo chamado “Novo rural”,
personificado pelo indivíduo da zona rural ocupado em atividades não-
agropecuárias.
O sistema é denominado Avaliação Ponderada de Impacto Ambiental de
Atividades do Novo Rural (APOIA-Novo Rural). É caracterizado por um conjunto de
matrizes escalares formuladas de maneira a permitir a valoração de indicadores da
performance ambiental de uma atividade considerando 62 indicadores em cinco
dimensões: ecologia da paisagem, qualidade dos compartimentos ambientais,

21
valores sócio-culturais, valores econômicos e gestão/administração. Fixa o
estabelecimento rural como unidade de análise e como fator temporal considera as
situações anterior e posterior à implantação ou as áreas com e sem influência da
nova atividade.
Procurou-se, neste tópico, analisar os trabalhos existentes que envolvem
metodologias de avaliação de impactos ambientais. Inadvertidamente nota-se que os
métodos abrangem aspectos anteriores e posteriores à implantação de
empreendimentos. Neste trabalho, os empreendimentos interessantes são aqueles
baseados em atividades agropecuárias ou extrativistas desenvolvidas em
localidades rurais. Como pôde ser observado, estes tipos de atividades também são
causadoras de impactos ambientais e há métodos que abrangem sua avaliação.
Porém, verificou-se também que um ponto chave a ser desenvolvido que é a
determinação dos custos relativos aos impactos ambientais. Passa-se, então, à
análise das técnicas e informações relativas à recuperação ambiental.

3.3. Recuperação ambiental

Com vistas à analisar a complexidade inerente à recuperação ambiental,


NARDELLI & NASCIMENTO (2000) apud SOUZA (2004), observam que tal
processo exige tempo, recursos e conhecimento dos diversos fatores que compõem
ou podem interferir na área a ser recuperada. Consideram que a etapa inicial seria o
conhecimento aprofundado da amplitude do problema ambiental analisado, seguido
da elaboração do plano de recuperação com os objetivos de médio e longo prazo,
“bem definido e coerente com a realidade”.
Recuperação significa que o local degradado será retornado a uma forma de
utilização de acordo com o plano pré-estabelecido para o uso do solo. Implica que
uma condição estável será obtida em conformidade com os valores ambientais,
estéticos e sociais da vizinhança. Significa, também, que o sítio degradado terá
condições mínimas de estabelecer um novo equilíbrio dinâmico, desenvolvendo um
novo solo e uma nova paisagem (IBAMA, 1990 apud SOUZA, 2004). O gráfico 2, a
seguir, demonstra as possibilidades de recuperação ambiental de um ecossistema
degradado. Objetiva também, resumidamente, apresentar outros conceitos
relacionados ao tema da recuperação ambiental considerando suas posições
relativamente à função e à estrutura do ecossistema.

22
Gráfico 2. Possibilidades de desenvolvimento de ecossistema florestal degradado
para implantação da agropecuária, sob sistemas alternativos de manejo. (Adaptado
de GALVÃO & PORFÍRIO-DA-SILVA, 2005)

No âmbito das possibilidades de recuperação de ecossistemas, busca-se uma


definição adequada para a recuperação de áreas degradadas (RAD), ou
recuperação ambiental (RA), de forma que a descrita por GRIFFITH (2002) é a mais
abrangente, segundo os objetivos deste trabalho. Para este autor, a RAD ou RA,
“é um conjunto de ações planejadas e executadas por
especialistas de diferentes áreas do conhecimento humano,
que visam proporcionar o restabelecimento da auto-
sustentabilidade e do equilíbrio paisagístico semelhantes aos
anteriormente existentes em um sistema natural que perdeu
estas características.”
Por sua vez, DIAS (2003) apud SOUZA (2004), define que a etapa inicial do
planejamento deve ser a caracterização. Esta etapa ainda pode ser realizada,
basicamente, por meio de duas abordagens.
A primeira é denominada abordagem restritiva ou segmentada. Caracteriza-se
pela análise discriminada de cada componente ambiental e baseia-se na
quantificação de indicadores de qualidade dos diversos compartimentos do
ambiente. Também é prevista uma análise qualitativa destes indicadores.
Alternativamente tem-se a abordagem ampla ou não-segmentada, baseada
na interpretação e quantificação de características ecológicas que determinam a
resiliência e a sustentabilidade do ambiente. Busca identificar a presença de um
equilíbrio entre os grupos tróficos dos produtores, consumidores e decompositores.
Segundo o autor, para a avaliação de um processo de degradação ambiental, deve-
se atentar, especialmente, em duas características do ecossistema: a capacidade de
suporte e a biodiversidade.

23
Estes métodos de abordagem ecossistêmica podem ser analisados aos
métodos de avaliação de impactos ambientais (AIA) considerados no tópico anterior.
Observa-se que maioria dos métodos de AIA descritos endossam a segmentação
ambiental como forma de análise, porém o fazem considerando os níveis físico,
social e econômico. A abordagem segmentada, aqui apregoada, refere-se à
discriminação de componentes de um daqueles níveis descritos, o meio físico, com
vistas à análise do estágio de degradação em cada um dos seus compartimentos
sistêmicos. Por outro lado, a abordagem ampla apregoa uma visão holística do
ambiente, considerando as inter-relações entre os sistemas ambientais e, por isso, é
mais condizente com a prática de campo do levantamento da degradação em um
ambiente.
Pode-se graficamente observar o comportamento esperado de dois
ecossistemas pertencentes ao mesmo bioma, mas manejados de diferentes
maneiras, conforme o gráfico 3, a seguir.

Gráfico 3. Comportamento esperado no desenvolvimento de um ecossistema


primário florestal de vocação agropecuária manejado racionalmente ou segundo o
modelo tradicional (SOUZA, 2004)

O gráfico acima elucida o nível de requerimento exigido de um


agroecossitema, considerando a forma tradicional de expansão da fronteira agrícola
brasileira. Normalmente observa-se que a utilização dos recursos naturais nesses
locais é feita além dos limites naturais, estabelecidos pelos níveis de fertilidade dos
solos, capacidade de suporte, resiliência e sustentabilidade. Esse fato faz com que a
degradação ambiental real seja sempre superior à degradação observada,
garantindo assim maior complexidade ao processo de definição de técnicas e custos
de recuperação. Garante-se a afirmação através da consideração óbvia da
impossibilidade de restauração de um ambiente à condição exatamente anterior à

24
degradação, mesmo porque a própria definição do início do processo de degradação
geralmente é uma das variáveis desconhecidas.
A maioria dos projetos de recuperação almeja o desenvolvimento de uma
cobertura vegetal equilibrada ecologicamente, de tal sorte que as estratégias de
recuperação são tão variáveis quanto os ecossistemas a serem recuperados.
GRIFFITH (2002), trabalhando principalmente na recuperação ambiental das áreas
mineradas, informa que, até o passado recente, os processos de recuperação
ambiental no Brasil apresentavam dois caminhos distintos: a) o fechamento da área
para a revegetação natural, com possibilidade de enriquecimento (sucessão
ecológica); e b) o estabelecimento de um “tapete verde” e espécies agressivas e de
rápido crescimento.
Apesar da estratégia do tapete verde possibilitar uma rápida cobertura e
proteção do solo, tal estabelecimento não apresentava sustentabilidade em médio e
longo prazos. Por sua vez, a estratégia sucessional apresentava-se muito lenta em
sua fase inicial, podendo comprometer os objetivos de curto prazo. O autor conclui
que o ideal na recuperação de ambientes degradados, seria contemplar as
vantagens observadas nas duas estratégias, garantindo uma rápida cobertura do
solo, evitando perdas com erosão do solo e garantindo maior produtividade e
sustentabilidade ao ecossistema recuperado em longo prazo. Graficamente as idéias
das estratégias podem ser observadas no conjunto abaixo (fig. 1), que considera a
produtividade observada em cada estratégia de recuperação (P) versus o tempo (t).

Figura 1. Desempenho contínuo da produção de biomassa (P) de um ecossistema


de acordo com a estratégia de recuperação utilizada. Fonte: GRIFFITH et alii, 2000.

O tempo de recuperação ambiental através da regeneração natural é


freqüentemente longo, sobretudo em áreas de degradação severa, com baixa
disponibilidade de propágulos ou sementes, predação de plantas, perda de agentes
de dispersão, baixa disponibilidade de micro-habitats favoráveis ao estabelecimento
de algumas espécies, baixa disponibilidade de nutrientes no solo, ausência de
simbiontes de bactérias/fungos, secas sazonais, competição com gramíneas e
samambaias e ocorrência de fogo (LAMB et alii, 1997 apud LUZ, 2002).
De maneira geral, o mesmo autor apresenta algumas dificuldades que podem
se apresentar nos processos de recuperação, tais como: presença de pragas; falta
de conhecimento sobre distribuição, tamanho e composição das espécies; falta de
remanescentes representativos; a distância a fragmentos nativos; a presença de
espécies que sirvam de fonte de alimento e habitat para dispersores; a necessidade
de animais para a recolonização; e a dificuldade de reintrodução animal.

25
De toda sorte, KAGEYAMA & CASTRO (1989) destacam que tanto as
atividades de manejo quanto a recuperação florestal devem ser baseadas na
sucessão secundária. Os autores a consideram como o conceito mais apropriado a
ser utilizado na regeneração artificial de florestas mista, já que é o processo pelo
qual as espécies se regeneram na floresta natural.
Convém destacar o exemplo histórico relativo à recuperação da floresta da
Tijuca, no Rio de Janeiro, que contou com o plantio sistemático de espécies vegetais
nativas durante vários anos, culminando em sua recomposição tal qual é conhecida
nos dias atuais. Destaca-se também a importância do reflorestamento com estímulo
à regeneração natural realizado pela empresa ACESITA-FLORESTAL. A empresa
povoou uma área de 500 hectares no município de Acesita (MG) com 12 espécies
arbóreas nativas. Depois de 15 anos do plantio, FREITAS (1977) apud KAGEYAMA
& CASTRO (1989), em seu inventário, indicou a presença de 122 espécies arbóreas,
inclusive espécies características dos estágios finais da sucessão (clímax).
MELO (2004), propôs-se a estudar a estrutura de 10 reflorestamentos
implantados com base na sucessão secundária, a região do vale do rio
Paranapanema, em São Paulo. As idades das parcelas variavam de 1 a 13 anos e
foram analisadas comparativamente à uma parcela testemunha, representada por
uma área em regeneração natural há 23 anos, todos localizados em região de
floresta estacional semidecidual. Os parâmetros analisados foram biomassa,
fitossociologia e regeneração natural. O autor conclui que o abandono de áreas
visando a regeneração natural, embora muitas vezes seja a única alternativa
disponível, não é uma técnica de restauração tecnicamente recomendável. Este fato
foi evidenciado pelo fato dos reflorestamentos apresentarem evolução mais rápida,
relativamente à área em regeneração natural, no tocante aos indicadores do
parâmetro biomassa.
O autor também analisou que nenhuma das variáveis dendrométricas
apresentou correlação expressiva com a riqueza de espécies plantadas, concluindo
que a opção por plantios com baixa densidade (até 1.240 plantas/ha) e baixa riqueza
(até 11 espécies), não interfere no desempenho do reflorestamento, em termos de
formação de biomassa. Em relação aos aspectos sucessionais, foi constatado que
as espécies pioneiras e secundárias iniciais dominam o dossel dos reflorestamentos.
A plantas de regeneração natural são observadas somente nos reflorestamentos
com idade maior que 7 anos e suas densidade e riqueza mostraram-se
correlacionadas apenas com a idade do reflorestamento e a distância até o
fragmento natural mais próximo.
MONTALVO et alii (1997) apud SOUZA (2000), ressalta que a ausência de
vida silvestre na área silvestre pode comprometer a sustentabilidade da restauração,
por se considerar que vegetais e animais são mutuamente dependentes, além de
que suas associações influenciam diretamente em vários processos ecológicos
integrantes do equilíbrio dinâmico do ecossistema. Estes processos são
caracterizados, principalmente, pela polinização, predação e dispersão.
Os estudos até então elencados permitem a observação de que o
conhecimento da magnitude do problema ambiental é fundamental na definição das
estratégias de recuperação. Tratou-se até aqui dos aspectos generalizados da

26
recuperação. Os tópicos seguintes são específicos das metodologias e abordagens
sobre a recuperação de voçorocas, nascentes e matas ciliares.

3.3.1. Recuperação de voçorocas

As técnicas e análises a seguir constam dos trabalhos realizados por SELBY


(1993) e IBAMA (1990) apud SOUZA (2004).
A recuperação de voçorocas pode ser segmentada em três procedimentos:
desvio da água na sua parte superior, preenchimento e revegetação. Em alguns
casos torna-se necessário a redução do ângulo dos taludes laterais ou mesmo a
reconstrução, na forma de bancadas, das paredes laterais no interior da voçoroca.
Este procedimento demanda a estabilização das paredes, que pode ser obtida pelo
uso de gabiões.
O desvio das águas é realizado por meio de valetas ou canais com gradiente,
construídos paralelamente às suas margens e revestidos com materiais que garanta
a redução da erosão pela condução da água. O ideal é que estas valetas possuam
degraus invertidos para diminuir o impacto e velocidade da água.
De forma complementar, devem ser colocados matacões e restos vegetais
dentro da voçoroca, que serão estabilizados por meio de barreiras construídas
perpendicularmente ao eixo maior, chamadas de paliçadas. Os taludes laterais
devem ser revegetados com espécies que garantam a estabilidade, evitem o
impactos das águas e tenham boa adaptação e agressividade.

Figura 2. Voçoroca localizada em área rural em estágio avançado de degradação,


exigindo cuidados intensivos para sua estabilização e recuperação.

3.3.2. Recuperação de nascentes

Considerando as técnicas aplicáveis à recuperação dos arredores das


nascentes ou olhos d’água, verifica-se na literatura que há algumas metodologias
disponíveis e outras em desenvolvimento. Analisa-se, a seguir, algumas orientações

27
exaradas dos trabalhos de OSAKY (1994) e VALENTE & GOMES (2002) apud
SOUZA (2004). Inicialmente esclarece-se que, mesmo se tratando da recuperação
de nascentes, as atividades de recuperação não devem ser apenas localizadas, mas
devem abranger toda a microbacia que as contêm.
Na área da bacia hidrográfica, preconiza-se a utilização de práticas
conservacionistas que favoreçam a infiltração da água no solo, por meio da
manutenção da permeabilidade da superfície, além da presença de obstáculos que
reduzam a velocidade da enxurrada.
Podem ser utilizados métodos vegetativos, executados em nível, tais como:
reflorestamento, plantios de cobertura do solo, cultivo em faixas e cordões de
vegetação permanente. O terraceamento é o método mecânico mais utilizado,
considerando que os terraços de base estreita são mais indicados, devido ao
revolvimento do solo em área menor.
Em relação às atividades a serem executadas na área localizada da nascente,
destaca-se o isolamento da nascente com cercas, particularmente nas propriedades
de exploração pecuária, para evitar o assoreamento, o pisoteio e a contaminação
por dejetos animais. Outra atividade é a manutenção da vegetação no entorno da
nascente, principalmente daquelas espécies que possuem raízes pouco profundas,
visando evitar a retirada de água diretamente do lençol e a conseqüente redução da
vazão.
OSAKY (1994) apud SOUZA (2004), recomenda a retirada da vegetação
freatófita, como por exemplo a Thypha sp. (taboa), por consumir muita água por
transpiração, notadamente nas nascentes de pequena vazão e naquelas onde é
necessário melhorar a qualidade da água. Em alguns casos, a depender dos
objetivos da recuperação, pode ser necessária a instalação de sistemas de
decantação e filtragem.
A recuperação de nascentes é um tema estudado em vários centros de
pesquisa. Muitas vezes se ouve falar dos parâmetros relacionados à determinação
da recuperação efetiva ou indicadores de que a recuperação está se processando
em níveis adequados. Um desses parâmetros indicados é o aumento da vazão do
curso d’água do qual a nascente é tributária. Deve-se ponderar a utilização deste
indicador condicionada à situação observada na região de localização da nascente.
Tem-se como premissa na recuperação de nascentes o conjunto de atividades que
visam aumentar a infiltração da água no solo, além de evitar o carregamento de
partículas por meio do escorrimento superficial da água. Assim, o aumento da vazão
dos cursos d’água deve necessariamente ocorrer devido à uma maior recarga do
sistema hidrológico da bacia hidrográfica, proporcionada pela maior infiltração das
águas pluviais e pela maior permanência da água no sistema.

3.3.3. Recuperação das matas ciliares

FERNANDEZ (2000) apud SOUZA (2004), atenta para a demanda de estudos


sobre as formas que os cursos d’água encontram para retornar ao seu equilíbrio
anterior. Neste sentido, o autor aponta para uso de técnicas de monitoramento de
margens para se entender os mecanismos que participam deste processo,
considerando isso como a base para a sucesso da recuperação das matas ciliares.

28
Inadvertidamente, em muitos casos é necessária a revegetação, de tal sorte
que, para seu sucesso, são fundamentais os conhecimentos básicos da ecologia da
maioria das espécies nativas componentes do ecossistema ciliar. Deve-se atentar
para os mecanismos de propagação, reprodução, regeneração, distribuição espacial,
interação planta versus animais, grau de adaptação e produção de sementes (RÊGO
et alii, 2000 apud SOUZA, 2004).
Paralelamente à estas determinações, MARTINS (2001), recomenda o
conhecimento dos aspectos hidrológicos do local, notadamente a delimitações dos
terrenos permanentemente alagados, os periodicamente alagados e os não
alagados. Esta discriminação irá fundamentar a seleção das espécies e seu local de
plantio.
O mesmo autor analisa os fatores que influenciam a escolha do modelo mais
adequado para a recuperação da área ciliar degradada. Alguns subsídios que devem
ser obtidos são: informações sobre as condições ecológicas da área; determinação
do estado de degradação; aspectos da paisagem regional; disponibilidade de
sementes e mudas; e comportamento ecológico e silvicultural das espécies em uma
determinada condição.

Figura 3. Exemplo de curso d’água em desconformidade com a legislação ambiental,


demonstrando a ausência de vegetação ciliar e os indícios de assoreamento e
degradação do solo.

Poder-se-ia, analogamente ao já discutido neste estudo quanto às estratégias


“tapete verde”, “sucessional” ou “mista”, classificar os modelos de recuperação de
áreas ciliares em sistemas simples ou complexos. Da mesma forma, assim também
estariam implícitas as vantagens e desvantagens analisadas nos contextos de curto,
médio e longo prazos. Considera-se aqui, além dessas, a vertente financeira,

29
atentando para o fato dos modelos mais complexos, apesar de terem custos de
implantação mais elevados, resultam em ambientes mais heterogêneos. Nestes
ambientes, as funções da floresta são restabelecidas, carecendo, portanto, de
intervenções menos onerosas. Novamente aqui, a complexidade e heterogeneidade
garantem a economia e sustentabilidade no longo prazo.
Atenta-se, também na recuperação de matas ciliares, que o planejamento e
as atividades de recuperação devem ser condizentes e consideradas no ambiente
geográfico da bacia hidrográfica, devendo haver compatibilidade de ações
executadas em todo local, além daquelas executadas especificamente na região
ciliar.
Em relação à técnicas de recuperação de matas ciliares, verifica-se na
literatura grande número de modelos de plantio, espécies recomendadas e
recomendações de tratos culturais. Cada situação, particularizada no levantamento
inicial, deve refletir a ocupação atual, o grau de degradação local, e as
características do entorno atual, no entanto, a obtenção de informações sobre o uso
pretérito da área e de seu entorno, bem como do fator ou fatores de degradação que
incidiram em cada local, são também informações críticas que devem ser obtidas
ainda nessa fase, para que se possam definir posteriormente as ações de
restauração que serão empregadas em cada situação (GANDOLFI, 2006).
A tabela 3 a seguir, traz a relação de algumas ações que podem ser
implementadas em regiões ciliares degradadas, visando sua recuperação. A
complementação dos códigos está subseqüente à tabela.

Tabela 3. Ações empregadas em diferentes modelos de recuperação de matas


ciliares de acordo com o potencial de auto-recuperação da área e o potencial de
dispersão do entorno da área.
Potencial de auto- Potencial de dispersão do entorno
recuperação da área
Nulo ou pequeno Médio Grande
Nulo ou pequeno 1-5-6-7-8-9 1-2-3-6-7-8 1-2-3-6-9
Médio 1-6-7-8-9 1-2-7-8-9 1-2-4-6
Grande 1-4-6-9 1-7 1
Fonte: Adaptado de GANDOLFI, 2006.
Obs. Técnicas: 1. Isolamento da área; 2. Preparo da área para recepção de propágulos vindos por
dispersão; 3. Introdução de pioneiras atrativas a dispersores; 4. Indução da germinação do banco de
sementes autóctone; 5. Transferência da serapilheira ou de banco de sementes alóctone; 6.
Condução da regeneração natural; 7. Adensamento de espécies com semeadura, ou transplante de
plântulas, ou plantio de mudas; 8. Enriquecimento de espécies com semeadura, ou transplante de
plântulas, ou plantio de mudas; 9. Introdução de consórcios com semeadura, ou transplante de
plântulas, ou plantio de mudas.

MARTINS (2001) informa que, em determinadas situações de degradação do


solo, ou em função do relevo acidentado das áreas ciliares, pode ser conveniente o
plantio de espécie única, que apresente rápido crescimento, proporcione a cobertura
do solo na menor tempo possível e reduza o avanço do processo erosivo em curto
prazo. É necessário ponderar que esta recomendação deve ser considerada no

30
contexto das normas e regulamentos ambientais, que ordenam essas atividades de
recuperação. Um exemplo é a legislação do estado de São Paulo, que determina o
número mínimo de espécies a serem contempladas em projetos de recuperação de
matas ciliares no estado, conforme o disposto na Resolução SMA n.º 21/2001.
Alternativamente, quando a área ciliar a ser recuperar é muito extensa e/ou
quando há limitações financeiras para a recuperação, pode-se optar pela técnica das
“ilhas vegetativas” (MARTINS, 2001). Uma variante desta técnica é apresentada por
KAGEYAMA & GANDARA (2000) apud MARTINS (2001), e corresponde à um
modelo de plantio de espécies não pioneiras (secundárias e climácicas) em ilhas, e
espécies pioneiras na área total. Essa técnica, apesar de ser de baixo custo, tende a
ser um processo mais lento, cuja estabilização variará em função do número e
tamanho das ilhas e do número de espécies componentes.
Entre os modelos sucessionais também há várias opções para a recuperação.
O modelo mais simples é o plantio em linha com uma espécie pioneira, alternada
com uma linha de espécie não pioneira. A variação imediata deste modelo proposto,
seria a utilização de diferentes combinações de espécies, características de cada
grupo sucessional, dentro da mesma linha de plantio. Outra variação possível seria o
plantio em quincôncio, no qual uma muda de espécie não pioneira fica no centro de
um quadrado formado por quatro mudas de espécies pioneiras em cada ângulo.
Atentando para a particularidade das condições hidrológicas, características
das áreas ciliares, pode-se contar com a técnica do plantio em módulos. Este
modelo visa implantar as espécies mais adaptadas para cada ambiente. Assim, para
as áreas de brejo, são implantados módulos compostos por espécies adaptadas ao
encharcamento permanente do solo. Já nas áreas mais distantes do curso d’água e
naquelas outras não sujeitas à inundação, são utilizados módulos compostos de
espécies típicas destes locais, escolhidas em função do bioma regional
(RODRIGUES & GANDOLFI, 1998 apud MARTINS 2001).
Para os projetos de recuperação de matas ciliares que objetivam a rápida
cobertura florestal do local, em extensões menores, garantidos com um fornecimento
adequado de mudas e lastro financeiro suficiente, pode-se optar pelo plantio
adensado, que é caracterizado pelo plantio em linhas intercaladas de espécies
pioneiras e não pioneiras em alta densidade. Neste modelo a densidade de plantas
pode chegar a até dez mil plantas por hectare.
Em função das condições locais da região ciliar e dos indicadores de auto-
recuperação da área e de potencial de dispersão de propágulos da região de
entorno, apurados no levantamento inicial, uma alternativa condizente seria a
implantação de plantios de enriquecimento. Estes modelos visam a condução à
recuperação em áreas específicas nas quais os processos de regeneração natural já
se encontram em curso, cabendo apenas sua complementação e estímulo. Por
serem métodos parciais, são caracterizados pelo menor custo, mas
necessariamente devem ser projetados de forma individual.
De maneira geral, verificou-se que há várias abordagens e possibilidades de
recuperação, em função dos objetivos e disponibilidades. Restou evidente que os
projetos de recuperação ambiental devem incorporar as vantagens das estratégias
analisadas, sendo indispensável a inclusão dos aspectos favorecedores da

31
regeneração natural. Destarte, os critérios utilizados necessariamente devem ter por
suporte as diretrizes da sucessão ecológica.
Em relação à avaliação do passivo ambiental, nota-se que as técnicas de
recuperação ambiental são umas das mais utilizadas para seu subsídio e
quantificação. Desta forma, a definição do(s) modelo(s) de recuperação ambiental a
serem implantados, as técnicas a serem utilizadas, a quantificação de insumos e
serviços necessários, são componentes principais na determinação de valores do
passivo ambiental de um imóvel rural. Esses fatores são fundamentais em tal
determinação, devido ao fato de que o custo de recuperação, que é um componente
básico da avaliação do passivo ambiental, é função direta da(s) técnica(s) a ser(em)
dispensada(s) no local degradado.

3.4. Valoração econômica de recursos ambientais

São fatos notórios: a busca por alternativas para que o desenvolvimento


sócio-econômico seja sustentável e a ameaça, já factível, da escassez dos recursos
naturais. Nesse sentido, e, no âmbito das atividades econômicas, é fundamental que
sejam considerados os aspectos negativos externos provocados por qualquer tipo de
processo produtivo. Mais do que isso, é necessário internalizá-los economicamente.
A ciência econômica possui diversas maneiras de analisar os aspectos
tocantes ao ambiente natural, entre elas citam-se: a economia de recursos naturais,
a economia ambiental e a economia ecológica. Expende-se (Adaptado de MATTOS
& MATTOS, 2004).
A economia de recursos naturais, difundida nas décadas de 1960 e 1970,
enfatizava a forma de utilização dos recursos naturais. Tinha por objetivo a
determinação do uso ótimo que se poderia dar aos recursos naturais disponíveis.
Sua ineficácia contribuiu para a consideração do fato de que o ritmo de crescimento
econômico é função da raridade dos recursos disponíveis para mover a economia.
A economia ambiental, difundida na década de 1980, se preocupava com a
poluição, que era considerada uma “externalidade” do processo de produção e
consumo. Uma das características era a proposição de instrumentos econômicos
(taxas e subsídios) para corrigir os efeitos externos ao mercado.
Ambas as teorias acima foram ineficientes em relação à capacidade de
incorporação do ambiente natural na análise econômica, pois não consideravam
aspectos ecossistêmicos. Destarte, a ciência econômica evoluiu no sentido de
incorporar as questões relativas às interações ecológicas, as funções do meio
ambiente, o trabalho dos ecossistemas e o valor dos bens e serviços do ambiente.
Surgia, então, a economia ecológica, que dá ênfase ao uso sustentável das funções
ambientais e à capacidade dos ecossistemas de sustentar o desenvolvimento
econômico.
BUARQUE 1994 apud MATTOS &MATTOS (2004) analisa que a economia
ecológica deve incorporar a dimensão ecológica e as situações de logo prazo. Já
AMÂNCIO (2001), informa que a economia ecológica busca usar convenientemente
os conceitos da economia e ecologia, ainda que se diferencie das abordagens
convencionais destas ciências, nos termos de sua percepção do problema e da
importância que atribui às interações econômico-ambientais. O autor considera que

32
o campo de análise da economia ecológica abrange a matriz de produção como um
todo: inicia-se pelos recursos naturais, passa pelos processos de produção e
consumo e vai até as descargas e resíduos do processo. Vai mais além, ao
considerar que o ponto central da análise é o da minimização da entropia entre o
fluxo de recursos naturais na transformação da produção e consumo e no seu
retorno à natureza sob a forma de lixo e poluição.
Segundo MATTOS & MATTOS (2004),
“a introdução do capital natural na análise econômica é necessária, já que
os custos da degradação ambiental e do consumo dos recursos naturais
não tem sido adicionados aos processos produtivos, avaliando-se, assim, os
fluxos de estoques naturais e contribuindo para a definição de uma escala
sustentável da economia.”
Neste contexto, os autores consideram essencial a valoração ambiental,
quando não se queira ultrapassar os limites de irreversibilidade da degradação dos
recursos naturais. Não só a estimativa, mas também a inclusão dos valores
ambientais na análise econômica, são tentativas de corrigir os aspectos negativos do
livre mercado.
Tendo em vista a necessidade de atribuição de valores financeiros aos bens
ambientais, analisam-se a seguir algumas metodologias desenvolvidas para esta
finalidade. A maioria dos trabalhos que tratam da valoração econômica dos recursos
ambientais é do exterior. No Brasil, verifica-se que o setor econômico que apresenta
maior quantidade de estudos que envolvem as técnicas de valoração econômica, é o
sucro-alcooleiro, a exemplo dos apresentados por MATTOS & MATTOS (2004).
A seguir, transcrevem-se alguns conceitos, métodos e procedimentos gerais
para os serviços técnicos de avaliação de recursos naturais e ambientais, nos
termos contemplados na parte 6 da NBR 14.653 (avaliação de bens), da Associação
Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, ainda sem vigor por estar em fase de
elaboração.
a) Valoração ambiental: identificação do valor de um recurso ambiental ou custo de
reparação de um dano ambiental;
b) Valor de uso: valor atribuído a um recurso ambiental pelo seu uso presente ou
pelo seu potencial de uso futuro;
c) Valor de uso direto: dado em função do bem-estar que ele proporciona através
de seu uso direto na atividade de produção ou no consumo, por exemplo, no
caso de extração ou visitação;
d) Valor de uso indireto: dado pelo bem-estar que ele proporciona através de suas
funções ecossistêmicas, por exemplo, a proteção do solo, o estoque de carbono
retido nas florestas, etc.;
e) Valor de opção: atribuído a um recursos ambiental, hoje desconhecido, mas
realizável no futuro, associado a uma disposição de conservá-lo para uso direto e
indireto, por exemplo, o benefício decorrente de fármacos não descobertos
desenvolvidos a partir da flora nativa de uma região;
f) Valor de existência: valor de “não-uso” que deriva de uma posição moral, cultural,
estética ou altruística em relação aos direitos de existência de espécies não-
humanas ou de preservação de outras riquezas naturais mesmo que não
apresentem uso atual ou possibilidade de uso futuro.

33
O mesmo texto adverte que, embora os recursos ambientais não tenham,
usualmente, valor de mercado, o seu valor econômico, como os demais bens, deriva
de seus atributos, os quais podem ou não estar associados a um uso. Destarte, a
escolha do método é função do objetivo da valoração, das hipóteses assumidas, da
disponibilidades de dados e do conhecimento de atributos intrínsecos do bem a
valorar. A tarefa de valorar economicamente em recurso ambiental consiste em
inferir quanto varia o bem-estar das pessoas devido à mudanças na quantidade e
qualidade dos bens e serviços ambientais, seja na sua apropriação por uso ou não.
Analiticamente, seu conceito pode ser resumido na equação a seguir:

VERA = VU + VE = (VUD + VUI + VO) + VE


, onde:
VERA: valor econômico do recurso ambiental; VU: valor de uso; VE: valor de existência; VUD:
valor de uso direto; VUI: valor de uso indireto; VO: valor de opção.

Discorre-se sobre os métodos de valoração econômica de recursos


ambientais:

A) MÉTODOS DIRETOS: são aqueles que admitem a alteração do bem-estar pela


variação da disponibilidade de um recurso ambiental.

A.1.) Método da produtividade marginal: identifica o valor do recurso ambiental por


sua contribuição como insumo ou fator de produção para a obtenção de um produto.
Aplica-se aos casos onde é possível associar os recursos ambientais à produção de
recursos privados.
A.2.) Método do mercado de bens substitutos: utilizado para os casos onde a
variação da produção, embora afetada pelo recurso ambiental, não oferece preços
observáveis de mercado, ou estes são de difícil mensuração. Nestes casos, recorre-
se à um mercado de bens substitutos para o produto ou para o recurso ambiental.
A.3.) Método dos preços hedônicos: basicamente busca valores marginais e utiliza
preços de mercado de bens (principalmente de imóveis) ou custos de serviços para
estimar o valor das diferenças de nível de atributos ambientais importantes na
formação destes preços ou custos.
A.4.) Método do custo de viagem: identifica o valor hedônico do recurso ambiental
com o seu valor recreacional, estimado pela curva de demanda da atividade, com
base nos custos ocorridos pelo usuário ao visitá-lo. Aplica-se na valoração de
parques, áreas de lazer, e de proteção ambiental.
A.5.) Método da valoração contingente: identifica a disposição a pagar dos
indivíduos pelo uso, preservação ou restauração de um recurso ambiental, ou a
disposição a receber como compensação por sua perda ou queda de qualidade
ambiental. As estimativas são feitas por meio de pesquisas de campo, que indagam
diretamente ao entrevistado sobre sua verdadeira disposição a pagar ou a receber
pelas variações quantitativas e/ou qualitativas no recurso ambiental. É o único
método capaz de captar, entre outros, o valor de existência.

34
B) MÉTODOS INDIRETOS: se utilizam de estimativas de custos associadas aos
danos. No contexto da valoração ambiental, deve ser usado quando os métodos
diretos não puderem ser aplicados face à carência de dados.

B.1.) Custos de reposição: estima os gastos necessários para restaurar a


capacidade produtiva e as funções ecossistêmicas de um recursos ambiental
degradado. Deve-se considerar a perda econômica relativa ao período entre o tempo
inicial da degradação e o tempo total da recuperação. Este valor de perda anterior à
total recuperação seria equivalente ao custo de reposição multiplicado por uma taxa
social de retorno do capital, aplicada ao longo do tempo de reposição.
B.2.) Custo de re-localização: é uma variante do custo de reposição.
B.3.) Custos defensivos (custos de proteção evitados): estima o valor de um R.A. por
meio dos gastos evitados ou a serem evitados com atividades defensivas,
substitutas ou complementares.
B.4.) Custo de controle evitados: valora os danos ambientais por meio da estimativa
dos gastos necessários que foram evitados para controlar ou minimizar as atividade
ofensivas ao meio ambiente.
B.5.) Custo de oportunidade da conservação: este método não valora o recurso
ambiental, mas sim o custo de sua conservação por meio da mensuração do custo
de oportunidade de atividades econômicas restringidas pelas ações de proteção
ambiental, considerados os benefícios econômico-ecológicos da conservação.
Os métodos acima descritos carregam certo grau de subjetividade e incerteza
em sua aplicação. Ressalta-se que a utilização dos mesmos é condicional ao
encontro de características de mercado que a subsidiem, porém há alguns métodos
que são baseados exclusivamente em pesquisas mercadológicas ou pessoais. Os
métodos diretos são demandantes de informações mais qualificadas sobre o
mercado em que o bem a ser valorado está inserido, enquanto que alguns dos
métodos indiretos permitem a elaboração de planilhas de composição de custos.
Trazendo para o campo aplicado, segue a tabela 4, que consigna informações
relativas à abordagem associada às florestas tropicais no contexto de sua valoração
econômica, de acordo com as metodologias já descritas.

Tabela 4. Valores associados às florestas tropicais, considerando as possibilidades


de abordagem e os conceitos da valoração econômica de recursos naturais
VALOR DE USO VALOR DE NÃO-USO
Valor de uso direto(1) Valor de uso indireto(2) Valor de opção(3) Valor de existência(4)
- Produtos madeireiros - Proteção dos corpos
(madeiras, combustíveis) d’água

- Produtos não madeireiros - Redução da poluição


(alimentos, medicamentos, do ar
- Usos futuros - Biodiversidade
utensílios, material
associados a (1) e (2) Valores culturais
genético) - Seqüestro de carbono

- Usos educacionais, - Regulação


recreacionais, culturais microclimática

35
Possíveis abordagens para a valoração

- Custos evitados
- Custo de viagem
- Gastos defensivos
- Valoração contingente
- Produtividade
- Produtividade marginal - Valoração contingente - Valoração contingente
marginal
- Custo de oportunidade
- Custo de reposição
- Custo de reposição
- Valoração contingente

Fonte: MATTOS & MATTOS, 2004.

As informações acima arroladas trazem a importância da inclusão dos


aspectos ambientais nas análises econômicas realizadas. Em relação às técnicas e
métodos, verifica-se que, apesar de ser um tema recente e complexo, já há algumas
possibilidades de tratamento dos aspectos ambientais. A literatura traz algumas
informações a respeito deste tema, havendo considerável número de trabalhos
realizados no exterior que tratam da valoração ambiental. Como se verá, a aplicação
dos métodos é condicional, uma vez que carece de parâmetros bem estabelecidos,
mas que devem ser obtidos em um ambiente complexo. De toda sorte, esta é uma
temática em desenvolvimento que tem muito a contribuir na determinação do
passivo ambiental de imóveis rurais.

4. Análise da aplicação das metodologias e estudos de caso

Com vistas à fundamentação das metodologias aplicadas à avaliação do


passivo ambiental dos imóveis rurais, procede-se à busca e análise de casos e
experiências reais relacionados ao tema. Subsidiariamente, procura-se
contextualizar as informações discutidas nos tópicos anteriores fundamentando que
as mesmas são bases para a análise do passivo ambiental.
As fases principais de um processo de determinação de valores do passivo
ambiental de imóveis rurais são: levantamento, caracterização, definição estratégica
do(s) método(s) de recuperação e análise de custos. Suceder-se-á algumas
situações que exemplificam estas fases. Expende-se.
PINTO et alii (2005) em estudo na bacia hidrográfica do ribeirão Santa Cruz,
no município de Lavras/MG, apurou que da área total da bacia, 11,04%
apresentaram algum tipo de uso conflitante, ou seja, estavam ocupadas por
atividades genericamente não recomendadas. A bacia hidrográfica analisada possui,
segundo os autores, 17,5% de sua área classificada como de preservação
permanente. Destes, apenas 47,34% estão ocupadas com vegetação nativa. Dentre
os principais usos conflitantes destacaram-se a pastagem, as culturas agrícolas, o
solo exposto e o café.

36
As restrições e proibições de uso analisadas são de caráter técnico ou legal,
de sorte que os autores consideraram a necessidade de conservação não só das
APP’s, mas também das áreas de RL. Concluiu:
“A APP total (17,5%), junto com os 20% da RL totalizam 37,5% da área da
bacia hidrográfica, que deveriam apresentar vegetação nativa. No entanto o
percentual encontrado para a vegetação nativa está bem abaixo (25,74%),
havendo necessidade de florestamento em 11,76% da área da bacia
hidrográfica, equivalente a 1.022 hectares.”
Deve-se ponderar que o passivo ambiental é considerado não só como o
descumprimento dos condicionantes legais estabelecidos para as APP’s e RL’s, mas
também quanto à qualquer outra forma de utilização do solo que incorra em prejuízo
ao meio ambiente. Destarte, a identificação da área territorial do imóvel rural onde
ocorram as situações acima, é condição sine qua non para o estabelecimento de
valores do passivo ambiental.
Atualmente, as tecnologias aliadas das geociências permitem uma gama de
análises relativamente ao uso dos solos dos imóveis rurais. O trabalho anteriormente
descrito reflete a utilidade destas tecnologias no levantamento das áreas de passivo
ambiental dos imóveis rurais que compõem uma bacia hidrográfica. Verifica-se,
portanto, que o passo inicial de um processo de avaliação do passivo ambiental de
um imóvel rural – o levantamento –, pode ser cumprida parcialmente por meio do
uso destas ferramentas.
Diz-se parcialmente, pois é sabido que, em todo trabalho que demande o
levantamento do uso das terras, as visitas de campo são fundamentais para a
complementação e conferência dos dados e informações obtidas previamente. No
contexto da avaliação, somente a vistoria de campo permite ao técnico a
caracterização do passivo ambiental nas áreas já identificadas e mesmo a
verificação in loco do uso irracional do solo em outros pontos do imóvel. Nestes
casos, a vistoria pode identificar a existência de erosão em pontos localizados, a
presença de voçorocas, a existência de fontes localizadas de poluição, etc. Assim,
análise dos aspectos bióticos, abióticos e locacionais é fundamental para a
determinação do estágio de degradação em que se encontram tais áreas.
A caracterização dos estágios de degradação, por sua vez, são fundamentais
para a definição estratégica do(s) método(s) de recuperação, ou seja, a
determinação das ações mitigadoras ou controladoras a serem dispensadas para a
recuperação destas áreas. Observa-se que caracterização nada mais é do que a
obtenção de informações sobre as áreas degradadas do imóvel rural, nos aspectos
tocantes a: ecossistema; cobertura vegetal atual; fator degradante; potencial de
recuperação; condições ambientais da vizinhança; uso, tipo e características do solo;
topografia e relevo; aspectos operacionais da eventual dispensa de tratos culturais à
área; interesse do proprietário na recuperação; disponibilidade de recursos para
recuperação; outros aspectos por demais específicos para serem listados.
O rol de informações constituintes da fase de caracterização do passivo
ambiental do imóvel em muitos aspectos se confunde e se integra aos propósitos
considerados na temática da avaliação de impactos ambientais. No caso dos
imóveis rurais têm-se a particularidade de que AIA não é prévia à implantação do
empreendimento, visto que este já se encontra em andamento e com passivos
ambientais. Tem-se, portanto, uma situação de impacto ambiental já efetivada,

37
carecendo ainda de análises quanto aos níveis atingidos pelo mesmo, além da
necessidade de determinação das ações mitigadoras cabíveis naquelas situações.
LOUZADA et alii (2001) relata que as práticas agrícolas podem alterar
profundamente as condições químicas e físicas do ambiente, notadamente através
do uso de defensivos, manejo inadequado dos programas de adubação e irrigação.
Nesse sentido, o autor ressalta a possibilidade do uso de espécies sentinelas e
monitoradoras com vistas à quantificar e qualificar esses efeitos e indicar as
alterações nas práticas de manejo. Tem-se, portanto, mais uma possibilidade de
aplicação destas tecnologias nas fases iniciais do processo de caracterização do
passivo ambiental dos imóveis rurais.
TEIXEIRA et alii (2007) apresentou estudo que tratou do tratamento contábil
devido aos gastos com reflorestamentos. Sua metodologia de pesquisa considerava
a avaliação mercadológica de um mesmo imóvel rural que, alterna e exclusivamente,
poderia ser encontrado em duas situações: degradada ou em conformidade com a
legislação ambiental. Naquele contexto, considerou-se que a conformidade
ambiental era obtida por meio da manutenção e conservação da vegetação nativa
nas APP’s e também na RL. A média dos valores apurados para um imóvel
degradado foi R$3.243,00 por hectare, enquanto que para a situação regular a
média foi R$2.788,00 por hectare, demonstrando, assim, o comportamento do
mercado nas condições apresentadas em sua pesquisa. Este resultado demonstra,
na visão do autor, que os gastos com recuperação ambiental não geram ativos nem
despesas. Conclui que, provavelmente devido à diminuição da área aproveitável do
imóvel, além do incipiente ônus imposto pelas penalidades – caracterizado pelo
baixo valor das multas –, os gastos com recuperação são contabilizados como
perdas.
Em termos de avaliação do passivo ambiental, pode-se analisar os resultados
do trabalho acima pormenorizado, considerando, entre as metodologias já descritas,
a aplicação do método da produtividade marginal (valoração de recursos naturais).
Segundo esta metodologia, a diferença do valor apurado para o imóvel,
considerando as duas situações, é equivalente ao valor do passivo ambiental do
imóvel. Tal análise parte do princípio que foram considerados valores de mercado
para o bem, fundamentados em atributos ambientais do imóvel rural, de forma que a
diferença de valores (R$3.243 – R$2.788 = R$455,00/ha) representa o valor de
mercado do passivo ambiental.
A diferença de valores obtida poderia ser analisada sob três aspectos
principais:
- Corresponde à quantia, em dinheiro, que se obteria após a aquisição do imóvel,
pela utilização dos recursos naturais, independentemente da existência de
restrição legal de uso;
- É equivalente a quanto se espera obter pelo consumo, ou seja, é equivalente ao
lucro obtido em um mercado que envolve o imóvel e o consumidor dos produtos
obtidos;
- Este lucro esperado tem seu valor diluído na área total do imóvel, apesar de ser
“obtido” em áreas protegidas ou restringidas.
Considerando as informações da tabela 4 (tópico 3.4), identifica-se que, no
caso de um imóvel rural, cuja cobertura vegetal nativa ocupasse grande parte de

38
seus limites, se esta cobertura apresentasse considerável potencial madeireiro, e,
além disso, houvesse um mercado consolidado na região de localização do imóvel,
poder-se-ia lançar mão do método da produtividade marginal para a determinação
parcial de seu passivo ambiental. A determinação do passivo ambiental, neste caso,
dar-se-ia nas seguintes etapas: a) levantamento físico das áreas de passivo
ambiental (hectares); b) levantamento do potencial madeireiro das áreas adjacentes
às áreas de passivo, com vistas à obtenção de rendimentos de extração (m³/ha) das
espécies individuais com valor comercial; c) determinação de custos de extração e
transporte; d) cálculo da receita bruta obtida se se extraísse a madeira virtualmente
existente nas áreas de passivo ambiental (preços conforme a tabela 5); e) cálculo do
lucro líquido virtual obtido na área.
O valor do passivo ambiental da referida área seria equivalente ao lucro virtual
obtido na área (item e), acrescido do custo de levantamento do potencial madeireiro
das áreas adjacentes (item b), do custo de levantamento das áreas de passivo
ambiental (item a) e de outros custos, multas ou taxas que por ventura vierem a
incidir sobre o imóvel ou sobre a atividade.

Tabela 5. Preços das madeiras nativas em algumas regiões do estado de São Paulo
(em Reais)

39
Ainda analisando outras aplicações das metodologias de valoração ambiental
para a determinação do valor do passivo ambiental, atenta-se para o exemplo
trazido por MOTTA (1998), relativo ao custo da erosão do solo. O autor ressalta as
abordagens possíveis e as restrições existentes no tratamento do assunto. Citam-se.
a) Custo de reposição: enfoca a perda de nutrientes do solo decorrente do processo
erosivo. Baseia-se no custo de repor os nutrientes (N, P e K) através do uso de
fertilizantes. Além da incapacidade dos fertilizantes em restabelecer os níveis
originais de produtividade do solo, a reposição focaliza apenas um dos impactos
da erosão nas propriedades do solo e não provê necessariamente um indicador
do valor do solo como um recurso;
b) Produtividade marginal: mede o efeito da erosão na produtividade agrícola. O
custo da erosão é medido pela quantidade de produto agrícola que deixou de ser
produzido em função da ação da erosão. Frisa-se que a valoração do impacto da
erosão no rendimento das lavouras não é trivial, visto que diversos fatores
influenciam na produtividade agrícola, dificultando assim o isolamento do efeito
da erosão;
c) Preços hedônicos: trata-se de uma abordagem alternativa que utiliza o preço das
propriedades para estimar o valor econômico da erosão do solo. Analisa, através
de métodos estatísticos, o diferencial de preço ou aluguel de imóveis rurais que
apresentam taxas de erosão distintas. Este tipo de abordagem exige dados sobre
preços e um mercado dos imóveis rurais bem desenvolvido, restringindo assim
sua aplicabilidade em países em desenvolvimento.
A metodologia dos preços hedônicos, recomendada como um método direto
de valoração econômica dos recursos ambientais, pode ser analisada como uma
variante do método residual, indicado para determinação do valor de benfeitorias
reprodutivas, na forma como indicado na parte 3 (avaliação de imóveis rurais) da
NBR 14.653 da ABNT. O método residual é caracterizado pela determinação indireta
do valor de uma benfeitoria reprodutiva (lavouras, pastagens, etc), dada pela
diferença apurada entre o valor de mercado dos imóveis rurais que apresentam e
dos que não apresentam a referida benfeitoria. Assim como analisado na descrição
da metodologia dos preços hedônicos, a aplicação do método residual de avaliação
imobiliária também é condicional à existência de um mercado específico, bem
consolidado e que permita a discriminação financeira de uma benfeitoria específica.
Em termos práticos, o passivo ambiental pode ser analisado segundo o rol de
atividades passíveis de serem implantadas para a recuperação de um ambiente
degradado. Esta análise baseia-se na discriminação de premissas e critérios
constituintes de linhas de financiamentos ou projetos regionais de recuperação.
Nesse sentido, analisam-se algumas atividades de recuperação descritas como
‘linhas temáticas referenciais’ apoiadas na elaboração de projetos de recuperação
das áreas degradadas em assentamentos de trabalhadores rurais (MDA, 2006).

ATIVIDADES TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE APP E RL:


- cercamento;
- construção de viveiros;
- demarcação topográfica da RL;
- reflorestamentos com espécies nativas nas áreas de APP e RL;

40
- implantação de sistemas agroflorestais;
- atividades alternativas de produção (apicultura, artesanato, etc),
associados à recuperação ambiental e como instrumento de valorização
das áreas a serem conservadas/recuperadas e de combate às práticas de
uso indevido do fogo;
- elaboração do plano de manejo florestal sustentável em áreas na
Amazônia com RL maior que 80%.

PRÁTICAS TECNOLÓGICAS QUE VISEM A RECUPERAÇÃO DOS SOLOS (visam atender


condicionantes do licenciamento ambiental):
- fechamento e estabilização de voçorocas;
- descompactação dos solos;
- terraceamento, construção de curvas de nível e bacias de contenção;
- implantação de cordões vegetados ou de pedras, em nível;
- calagem e gessagem em áreas degradadas;
- compostagem e adubação verde.

No contexto do passivo ambiental, as atividades acima arroladas representam


as possibilidades de implementação das medidas mitigadoras ou controladoras dos
impactos identificados nas fases anteriores do processo. Definidas as atividades
suficientes para a regularização do imóvel rural, parte-se para a geração de planilhas
de operacionalização. Estas planilhas contêm quantidades e valores de insumos e
serviços e seus totais correspondem, em parte, ao passivo ambiental do imóvel rural
analisado.
A metodologia acima, descrita para a avaliação do passivo ambiental,
caracteriza-se por uma abordagem indireta do problema, pois parte de soluções
previamente estabelecidas carecendo apenas de definições operacionais para a
aplicação.
Traz-se agora à analise, um imóvel rural localizado no Sul do estado da
Bahia, cujo processo de vistoria e avaliação fez parte das diretrizes de obtenção de
terras do INCRA. O imóvel em questão está localizado no bioma mata atlântica e
possui vocação pecuária, conforme depreende-se do mapa de levantamento do uso
do solo, de acordo com a figura 4, a seguir.

41
Figura 4. Mapa de uso do solo de imóvel rural, demonstrando a localização proposta
para as áreas de reserva legal (Fonte: INCRA SR-05)

Apesar do registro de averbação cartorial da área de RL, não havia qualquer


informação sobre a localização da mesma, de sorte que foi necessário a proposição
de sua localização por parte do INCRA. A análise do mapa acima permite identificar
que a localização da RL se deu principalmente sobre as áreas onde havia
remanescentes característicos do ecossistema local (Floresta Ombrófila).
A vistoria in loco do imóvel também apurou as localidades que estavam sendo
utilizadas em desconformidade aos requisitos técnicos e legais, notadamente nas
APP’s e RL. Salienta-se neste exemplo, que o levantamento das desconformidades
nas áreas de RL se deram com base em uma localização proposta para as mesmas,
considerando que a aprovação da localização da RL é função do órgão ambiental

42
estadual. Este levantamento fundamentou a confecção de outro mapa, que consigna
informações sobre a localização das áreas de passivo ambiental, conforme a figura
5, a seguir.

Figura 5. Mapa de levantamento e caracterização de passivo ambiental em imóvel


rural. (Fonte: INCRA SR-05)

A determinação do valor do passivo ambiental do imóvel acima analisado se


deu conforme a metodologia descrita a seguir, e que faz parte do referencial de

43
procedimentos técnicos no âmbito do INCRA, especialmente nas suas atividades
realizadas no estado da Bahia. Ressalta-se que as informações a seguir são
extraídas do “Relatório dos Procedimentos de Caracterização e Avaliação do
Passivo Ambiental dos Imóveis Rurais na Jurisdição do INCRA SR-05”, (INCRA,
2006).
O território do estado da Bahia abrange três biomas principais – mata
atlântica, caatinga e cerrado –, de forma que, considerando este biomas e, com
vistas à caracterização do passivo ambiental, foram definidos cinco níveis possíveis
de degradação ambiental, que demandam atividades de recuperação através de
cinco métodos (A, B, C, D, e E). A aplicação, isolada ou conjuntamente, dos
métodos é definida na escala demonstrada no quadro 2 abaixo.

Quadro 2. Escala dos estágios de conservação/degradação e a abrangência


da intervenção de acordo com cinco métodos de recuperação.
Nível de intervenção / Estágio de degradação

0% 25% 50% 75% 95% 100%


A B C D E
100% 75% 50% 25% 5% 0%

Estado de conservação

No caso do INCRA, o valor do passivo ambiental dos imóveis rurais é obtido


por meio da estimativa de custos de recuperação das áreas de uso restrito que se
encontram degradadas (metodologia da recuperação ambiental). Estes custos de
recuperação são classificados em custos diretos e custos indiretos.
Os custos diretos referem-se às atividades de isolamento, enriquecimento
vegetal, revegetação total ou recuperação ambiental, conforme planilhas analíticas
específicas que contemplam os métodos abaixo descritos.
Os custos indiretos estão diretamente relacionados à locação e regularização
das área de reserva legal (RL). Tais custos derivam das atividades de levantamento
topográfico, regularização cartorial e regularização junto ao órgão ambiental. São
caracterizados por serem variáveis e específicos para cada imóvel avaliando, e, por
isso são definidos caso a caso. Assim, no caso dos imóveis que possuam RL
devidamente averbada em cartório e demarcada em campo, os custos indiretos
serão nulos.
Outra possibilidade ocorre nos imóveis que apresentam a RL averbada,
porém não demarcada em campo. A terceira possibilidade caracteriza-se pela
inexistência de averbação cartorial da RL, e, conseqüentemente, a inexistência de
demarcação da área, nos termos da lei. Nos dois últimos casos, os custos indiretos
serão compostos por: levantamento topográfico das áreas de RL em quantos blocos
forem necessários, de acordo com a proposição da localização feita pelo técnico
vistoriador/avaliador; averbação ao registro imobiliário do imóvel para constar, além
da área destinada à preservação a título de RL, a localização georreferenciada
através da anexação de planta e memorial descritivo da área; regularização, junto ao
órgão ambiental estadual competente, desta área proposta para a localização da RL.

44
Destarte, a determinação do(s) método(s) a ser(em) aplicado(s), e,
conseqüentemente, o valor de uma parcela passivo ambiental, são funções do
estágio de degradação encontrado no momento da vistoria do imóvel. Passa-se à
descrição dos métodos.

Método A – Isolamento.
Este método contempla a melhoria e favorecimento das condições de
regeneração natural como a melhor opção para a recuperação do ambiente
degradado. Para que este método seja recomendado, devem ser observados fatores
como: estágio médio/avançado de regeneração natural já em processo; presença
expressiva de espécies vegetais e animais, qualitativa e quantitativamente; bom
estado de conservação do solo; existência de maciço vegetal nativo, em extensão
suficiente, localizado num raio de até 3 quilômetros do local a ser recuperado;
compatibilidade do método com a vocação natural do imóvel.
O isolamento recomendado, de acordo com a vocação do imóvel, demanda a
construção de cercas (se já não existirem), para evitar a entrada de animais de
criação e pessoas. Assim, nos imóveis onde a atividade predominante é a pecuária
caprina/ovina recomenda-se a construção de cercas de arame farpado com 7 fios,
estacas espaçadas de 1,00 x 1,00m e mourões espaçados de 30 x 30m. Já no
imóveis onde predomina a pecuária bovina as cercas deverão ter 4 fios de arame
farpado, estacas espaçadas de 1,50 x 1,50m e mourões espaçados de 30 x 30m.
Porém, independente da necessidade de construção das cercas, e, considerando as
características das áreas lindeiras ao local a ser recuperado, deverão ser feitos e
mantidos aceiros com largura média de 2,0m, visando a conservação das cercas e
prevenção de incêndio na área a ser recuperada.
Salvo a recomendação única do isolamento como forma de recuperação
ambiental, este método sempre deve ser recomendado em conjunto com pelo
menos um dos outros métodos descritos a seguir.

Figura 6. Cerca de arame farpado própria para contenção de ovinos/caprinos que


está parcialmente aceirada e isola gleba com vegetação de caatinga.

45
Método B – Enriquecimento Vegetal com Poucas Mudas
Caracteriza-se pelo plantio de mudas de espécies nativas, de acordo com o
bioma, em baixa densidade, visando apenas auxiliar a recuperação natural do local
degradado. Deve ser recomendado aos locais onde, apesar de caracterizada a
debilitação da estrutura e função do ecossistema, ainda possuem alguma
capacidade de regeneração natural, sendo que esta deve ser apenas auxiliada e
acelerada em pequena escala.
Os locais para onde este método deve ser recomendado caracterizam-se por:
identificação ativa dos estágios iniciais de regeneração natural; pouca ou
inexpressiva degradação do solo por processos erosivos; morfologia de relevo que
permita sua aplicação eficiente; presença de maciço vegetal característico do bioma
em tamanho suficiente e em situação que possa também auxiliar a regeneração
natural local; incapacidade de recuperação através da regeneração natural, em
tempo razoável, se se recomendasse apenas o isolamento.
Este método contempla a utilização de insumos e mão-de-obra
correspondente, aproximadamente, à terça parte das recomendações do método D,
descrito abaixo. Assim, para o bioma Mata Atlântica, deve ser utilizado o
espaçamento de 4,0 x 7,0m, gerando uma densidade de 357 plantas/ha. Para o
Cerrado o espaçamento a ser utilizado é 6,0 x 8,0m, totalizando 208 plantas/ha. Na
caatinga, o espaçamento de plantio é 9,0 x 8,0m com 139 plantas/ha.

Método C – Enriquecimento Vegetal com Mais Mudas


É caracterizado pelo plantio de mudas de espécies nativas, de acordo com o
bioma, em média densidade, com o objetivo de auxiliar a recuperação natural do
local degradado. Deve ser recomendado aos locais onde a debilitação da estrutura e
função do ecossistema é bastante considerável, porém ainda possuem alguma
capacidade de regeneração natural, sendo que esta deve ser devidamente auxiliada
e acelerada.
Os locais para onde este método deve ser recomendado caracterizam-se por:
identificação ativa dos estágios iniciais de regeneração natural; identificação dos
estágios iniciais degradação do solo por processos erosivos; morfologia de relevo
que permita sua aplicação eficiente; presença de maciço vegetal característico do
bioma em tamanho suficiente e em situação que possa também auxiliar a
regeneração natural local; incapacidade de recuperação através da regeneração
natural, em tempo razoável, se se recomendasse apenas o isolamento.
Este método contempla a utilização de insumos e mão-de-obra
correspondente, aproximadamente, à dois terços das recomendações do método D,
descrito a seguir. Assim, para o bioma Mata Atlântica, deve ser utilizado o
espaçamento de 3,0 x 4,5m, gerando uma densidade de 741 plantas/ha. Para o
Cerrado o espaçamento a ser utilizado é 4,0 x 6,0m, totalizando 416 plantas/ha. Na
caatinga, o espaçamento de plantio é 6,0 x 6,0m com 278 plantas/ha.

Método D – Revegetação Total


Contempla o plantio de mudas em maior densidade, de forma a acelerar a
recuperação ambiental do local degradado. Deve ser recomendado aos locais onde:
há completa descaracterização do bioma; há indícios claros de degradação do solo

46
devido à erosão; observa-se que a resiliência do ambiente está seriamente
comprometida, de forma que a regeneração natural, apesar de capaz de recuperar o
local, não o faria em tempo razoável; não existe, nas proximidades do local a ser
recuperado, maciço vegetal de tamanho suficiente, capaz de servir de fonte natural
de sementes e propágulos de forma a auxiliar a regeneração natural; devido às
características morfológicas do relevo, os métodos anteriores não seriam
prontamente eficazes.
Nas áreas onde a vegetação nativa pertence à Mata Atlântica, recomenda-se
plantio de mudas em espaçamento de 3,0 x 3,0m, totalizando uma densidade de
plantio de 1.111 plantas/ha. No cerrado o espaçamento definido é 4,0 x 4,0m, com
densidade de 625 plantas/ha. Nas áreas de caatinga, as mudas devem ser
plantadas no espaçamento de 5,0 x 5,0m, com densidade de 400 plantas/ha.

Método E – Recuperação Ambiental Total


Este método é caracterizado pela recomendação de técnicas especializadas
de recuperação do local degradado. Deve ser recomendada a critério de profissional
especializado nesta área, visto ser um método bastante peculiar e extremamente
variável em função do nível de descaracterização/degradação do ambiente em
questão. É, por definição, um método específico e único que será utilizado em áreas
restritas e, por este motivo, não pode ter um custo padrão definido previamente em
planilha.
De modo geral, este método deve ser recomendado para os casos
excepcionais de degradação, quando os métodos anteriores, mesmo que utilizados
isolada ou conjuntamente, seriam ineficazes ou ineficientes em tempo razoável.
Demandam, a princípio, técnicas de recuperação ambiental que vão além da
simples revegetação, como, por ex., a intervenção mecanizada, o terraceamento, a
construção de barreiras mecânicas contra a erosão, o uso de técnicas de
remediação/descontaminação do solo, a contenção imediata de assoreamento, o
uso de espécies vegetais exóticas com finalidades especiais (uso de espécies
leguminosas anuais para melhorar as condições de solo no horizonte superficial),
serviços extras ou necessidade de mão-de-obra especializada não previstos nos
outros métodos, a necessidade de obras de construção civil, a necessidade de
elaboração de projetos específicos multidisciplinares, etc. Como exemplo de
degradação ambiental que demandariam este método para a recuperação pode-se
citar: presença de erosão pronunciada do solo, por sulcos profundos ou voçorocas;
contaminação do solo por lixões ou outro tipo de fonte poluidora; locais com relevo
extremamente acidentado; exposição de horizonte C associado à outro fator descrito
acima.
Por não ser uma recomendação padronizada, demanda maior sensibilidade
do técnico vistoriador/avaliador, para a definição de sua necessidade, sendo que a
estimativa dos custos serão definidos posteriormente por profissional devidamente
habilitado, ouvindo o órgão ambiental estadual.

A análise da metodologia utilizada pelo INCRA revela que seus critérios de


avaliação do passivo ambiental dos imóveis rurais são baseados, principalmente,
nas técnicas e conceitos da recuperação ambiental, já pormenorizada neste

47
trabalho. Identifica-se que a fase inicial de levantamento é feita indissociavelmente
da vistoria in loco do imóvel rural.
Nota-se que há um fusão de etapas nos procedimentos posteriores do
processo, da forma que expende-se a seguir. Considerando a necessidade da
existência de procedimentos ‘padronizados’ aplicados ao quantum de imóveis
vistoriados pela instituição, e, com vistas à determinação de um valor monetário
relativo ao passivo ambiental dos imóveis rurais, buscou-se como alternativa a fusão
das etapas de caracterização e avaliação do passivo ambiental. Isso é evidenciado
pelo fato do técnico vistoriador ter de enquadrar a situação observada em campo à
um dos métodos existentes, ou seja, a caracterização é feita em um molde rígido e
pré-definido. Ressalta-se que há previsão de liberdade ao técnico para inclusão ou
exclusão de itens de avaliação do passivo, desde que devidamente justificados.
Apesar disto, é uma metodologia bastante abrangente, e contempla custos
existente mas que não são considerados em outras metodologias, a exemplo dos
custos indiretos de levantamento topográfico das áreas de RL. Por outro lado,
analisa apenas parcialmente os casos em que a degradação ocorre fora das áreas
protegidas ou restritas, como por exemplo, nas voçorocas. Este tipo de degradação
do solo normalmente ocorre nas áreas de cultivo ou exploração pecuária mal
manejadas, aliada à uma condição topográfica desfavorável.
Em outras regionais do INCRA, a avaliação do passivo ambiental dos
imóveis rurais ocorre de maneira semelhante, e é adequada às peculiaridades locais
nos aspectos tocantes às características do bioma, aos aspectos sociais,
econômicos e culturais regionais. No estado de Minas Gerais, por exemplo, uma das
metodologias de avaliação do passivo ambiental contempla a regeneração natural
induzida através da prática da roçada seletiva. Esta técnica visa favorecer e acelerar
o processo de recuperação do dano ambiental.
Naquela instituição, outras técnicas são recomendadas nos pontos em que se
observa que a conservação e o manejo do solo não estão sendo adequados,
principalmente nos terrenos de topografia acidentada, que apresentam erosões
laminares e em sulcos e mesmo algumas voçorocas. Nestes casos, para atenuar o
efeito desse dano, recomenda-se a estabilização das voçorocas, obtida por meio da
construção manual de canais (com 0,1 m2 de seção) para o desvio das enxurradas e
realização de plantio de pastagem com equipamentos manuais. Como medida de
proteção, a fim de resguardar da entrada do gado até a total recuperação da
voçoroca, há necessidade de construção de cercas.
Nas matas ciliares, as medidas mitigadoras são qualificadas e quantificadas
conforme o cenário encontrado em cada curso d’água. Onde está desvegetado é
necessário proceder ao plantio de espécies pioneiras, clímax e secundárias, com
densidades que varias de 333 a 1.111 mudas/hectare, considerando as fases
sucessionais de cada gleba.

48
Figura 7. Exemplo de revegetação em área ciliar.

Verificou-se até agora, que há grande variabilidade de opções e alternativas,


características dos métodos de recuperação arrolados. Cada método de
recuperação, quando analiticamente analisado corresponderá à um custo, chamado
de custo de recuperação do passivo ambiental. Estes custos são calculados em
função de quantidades e valores de insumos e serviços, que por sua vez são
variáveis que dependem das características do método, dos aspectos operacionais,
das características regionais do mercado, das condições do local a ser recuperado,
da sensibilidade e experiência do técnico, etc. Paralelamente, percebe-se que esta
fase do processo de avaliação do passivo ambiental carrega certo grau de
subjetividade e bom senso, correlacionando-se perfeitamente, portanto, com o
caráter inerente das decisões que envolvem eventos biológicos.
A questão dos tratos culturais a serem dispensados às mudas, no caso de
revegetação, é um assunto que divide o técnicos. Há correntes que defendem a
dispensa intensiva de tratos culturais às mudas, por considerarem que o ambiente a
ser recuperado geralmente apresenta estágios avançados de degradação. Esse fato,
segundo os defensores dessa corrente, demanda das mudas maior agressividade e
adaptação, de sorte que os tratos culturais como calagem e adubação garantiriam
maior índice de sucesso na implantação. Por outro lado, há técnicas que preconizam
a dispensa mínima de tratos culturais, por se considerar que o uso de espécies
nativas na revegetação deve acompanhar o processo natural de regeneração natural
e sucessão ecológica.
Muitos dos trabalhos relativos à técnicas estimativas de custos, além dos
projetos de recuperação elaborados por instituições públicas, que envolvem a
revegetação como uma das estratégias, são controversos no tocante à adubação
das mudas. Como exemplo, MCLENDON (1991) & REDENTE (1992) apud

49
GRIFFITH (2002), demonstraram a proporcionalidade inversa entre a taxa de
sucessão secundária e o nitrogênio disponível para as mudas de projetos de
revegetação em campos do oeste dos EUA.
Com vistas à subsidiar a elaboração de planilhas de custos, segue a tabela
6, que traz informações sobre os principais componentes dos custos diretos e
indiretos relativos ao passivo ambiental de imóveis rurais.

Tabela 6. Relação de componentes de custos diretos e indiretos relativos à


avaliação do passivo ambiental de imóveis rurais.
COMPONENTES DE IMPLANTAÇÃO E MANUTENÇÃO DE RECOMPOSIÇÃO

INSUMOS SERVIÇOS

1. Fertilizante químico 1. Roçada manual (seletiva)


2. Fertilizante orgânico 2. Roçada mecânica
3. Calcário 3. Preparo do solo
4. Formicida 4. Sulcamento
5. Ferramenta 5. Marcação de covas
6. Sementes 6. Coveamento
7. Mudas 7. Plantio
8. Estacas 8. Replantio
9. Mourão 9. Controle de formiga
10. Arame 10. Coroamento
11. Grampo 11. Adubação e calagem
12. Balancim 12. Aplicação de insumos
13. Caldas 13. Limpeza e capina
14. Combustível 14. Carregamento e transporte
15. Coleta e beneficiamento de sementes
16. Manejo em viveiro de mudas
17. Empreitada de cercas
18. Aceiramento
19. Diária de caráter geral
20. Coordenação e acompanhamento

OUTROS COMPONENTES DE CUSTOS DO PASSIVO AMBIENTAL

1. Levantamento e demarcação de APP e RL (serviços topográficos)


2. Honorários técnicos do profissional vistoriador
3. Contratação de profissional especializado / elaboração de peças técnicas
4. Impostos
5. Taxas e emolumentos
6. Multas
7. Regularização cartorial
8. Regularização ambiental
9. Pesquisas de mercado / cotações de preços
10. Custo do capital
11. Custo de oportunidade
12. Compensações para terceiros

50
5. Custos de recuperação

Conforme analisado anteriormente, um dos empecilhos que atualmente


dificulta os procedimentos de avaliação do passivo ambiental dos imóveis rurais é
justamente a carência de estudos e estimativas de custos relativos à recuperação
ambiental. Procura-se neste tópico, verificar algumas estimativas de custos de
recuperação existentes na literatura, visando definir uma faixa média de custos para
estas atividades. Esclarece-se que os valores consignados nas tabelas
subseqüentes foram obtidos considerando os componentes acima expendidos além
das considerações adaptadoras já arroladas.
Deve-se considerar que não existem programas de grande abrangência para
financiamento da recuperação, sequer para aumento da consciência pública a
respeito da importância da recuperação. Dessa forma, tanto a iniciativa quanto os
custos, atualmente, são de responsabilidade exclusiva dos agricultores.
KAGEYAMA & GANDARA 2000 apud MELO (2004), atentam que o tempo
necessário para a formação dos plantios – quando se tornam desnecessárias mais
intervenções na área – diminuiu de 5-7 anos para 2 anos e os custos passaram de
US$4,000.00 (R$7.840,00) para US$1,500.00 (R$2.940,00), graças aos esforços
das pesquisas. JOLY et alii (1995) apud MELO (2004), estimaram em,
aproximadamente, US$1,976.00 (R$3.872,96) o custo médio de recuperação de um
hectare de mata ciliar.
As tabelas 7 a 16, a seguir, consignam alguns valores referentes à
recuperação ambiental e que são relacionados ao valor do passivo ambiental dos
imóveis rurais.

Tabela 7. Características e estimativas de custos diretos dos métodos de


recuperação ambiental em função dos biomas mata atlântica, cerrado e caatinga
MATA ATLÂNTICA
Espaçamento
Método Densidade (pl./ha) m²/planta Equivalência (%) Custo (R$/ha)
(metros)
A - - - - *
B 4,0 x 7,0 357 28,0 32,1% 804,40
C 3,0 x 4,5 741 13,5 66,7% 1.567,81
D 3,0 x 3,0 1.111 9,0 100% 2.235,90
E - - - >100% **
CERRADO
A - - - - *
B 6,0 x 8,0 208 48,0 33,3% 493,98
C 4,0 x 6,0 416 24,0 66,7% 916,72
D 4,0 x 4,0 625 16,0 100% 1.336,55
E - - - >100% **
CAATINGA
A - - - - *
B 9,0 x 8,0 139 72,0 34,8% 330,53
C 6,0 x 6,0 278 36,0 69,5% 610,20
D 5,0 x 5,0 400 25,0 100% 875,82
E - - - >100% **

51
Fonte: INCRA SR-05 (regional Bahia). * isolamento com custo em R$/Km, variável em função do
modelo de cerca. ** a critério de profissional competente.

Tabela 8. Custos indiretos de recuperação ambiental


Componente Unidade Valor unitário

Levantamento topográfico R$/Km 150,00 a 230,00*

Averbação cartorial R$/matrícula 11,00

Regularização no órgão ambiental R$/imóvel 10,00


Fonte: INCRA SR-05 (regional Bahia).
* Variável em função do município;

Tabela 9. Valores sugeridos* de construção de aceiros e cercas para bovinos, ovinos


e caprinos
Descrição Unidade Valor

Cerca de arame farpado para bovinos (4 fios) R$/Km 2.850,75

Cerca de arame farpado para ovinos/caprinos (7 fios) R$/Km 4.533,00

Confecção de aceiro com largura média de 2,0m R$/Km 200,00

Fonte: INCRA SR-05 (regional Bahia).


* Há a possibilidade de utilização de padrões regionais de construções de cercas, sendo que estes
valores podem ser alterados conforme a realidade local.

Tabela 10. Valores referenciais de implantação de viveiro rústico para produção de


dez mil mudas de espécies nativas, considerando um ciclo de produção.
Custo
Custo Total Custo/Muda
Componentes Unidade Unitário Quant.
(R$) (R$)
(R$)
1. Mão de obra
1.1. Preparo de Substrato/envase d.h. 29
1.2 Coleta de sementes d.h. 10
1.3. Beneficiamento semente d.h. 8
1.4.Semeadura/repicagem/plantio d.h. 10
1.5. Construção viveiro rústico d.h. 9
1.6. Manejo geral d.h. 84
SUBTOTAL 1 15,00 150 2.250,00 0,225
2. Insumos
2.1. Matéria orgânica 150,00 0,015
m³ 25,00 6
2.2. Adubos 22,40 0,002
t 560,00 0,04
2.3. Sacos plásticos 440,00 0,044
mil 40,00 11
2.4. Mourões 185,00 0,019
un. 5,00 37
2.5. Varas rústicas 400,00 0,040
m 0,20 2000
2.6. Ferramentas 400,00 0,040
conj. 400,00 1
SUBTOTAL 2 1.597,40 0,16

52
TOTAL 3.847,40 0,38
Fontes: SFC/SEMARH, TCPO 10/PINI, PRBSF e INCRA SR 05 (regional Bahia)

Tabela 11. Valores referenciais das estratégias e componentes da recuperação


ambiental relacionadas com a avaliação do passivo ambiental de imóveis rurais no
bioma mata atlântica.
Descrição Unidade Valor

Regeneração natural induzida por meio de roçada R$/ha 270,00


seletiva durante 2 anos
Formação de pastagem com semeadura manual de R$/ha 455, 76
gramíneas (características regionais)
Revegetação de área de mata atlântica desmatada R$/ha 1.805,57
considerando 1.111 mudas/ha
Manejo e enriquecimento de vegetação de mata R$/ha 679,60
atlântica com 333 mudas/ha
Construção manual de canal com 0,1 m² de seção em R$/Km 680,00
vertentes da voçoroca
Construção de cercas de 3 fios de arame farpado, R$/Km 3.292,50
estacas de eucalipto tratado espaçadas de 2 x 2m
Fonte: INCRA SR 06 (regional Minas Gerais)

Tabela 12. Valores referenciais de revegetação no bioma mata atlântica e


construção de cerca de isolamento.
Descrição Unidade Valor

Revegetação incluindo insumos serviços e mudas,


manutenção por 2 anos de área de mata, 625 R$/ha 2.159,16
mudas/ha
Construção de cercas de 3 fios de arame farpado, R$/Km 2.755,00
estacas espaçadas de 2 x 2m
Fonte: INCRA SR 23 (regional Sergipe)

Tabela 13. Valor referencial de revegetação no bioma mata atlântica.


Descrição Unidade Valor

Revegetação em área de mata atlântica, 625


R$/ha 1.370,00
mudas/ha, manutenção por 2 anos
Fonte: INCRA SR 10 (regional Santa Catarina)

Tabela 14. Orçamentos de recomposição florística no bioma mata atlântica em áreas


em diferentes estágios de regeneração natural ou cobertura vegetal.
Implantação Manutenção TOTAL
Descrição
(R$)
US$/ha R$/ha US$/ha R$/ha

53
Área de campo, 2.000 mudas/ha, 1,143.60 2.230,02 1,325.20 2.584,14 4.814,16
60% leguminosas arbóreas nativas
Área de capoeira, 625 mudas/ha 977.70 1.906,52 1,082.30 2.110,49 4.017,01

Área de capoeirão, 400 mudas/ha 744.50 1.451,78 1,005.00 1.959,75 3.411,53


Área de capoeirinha, 1.111 1,190.60 2.321,67 1,387.20 2.705,04 5.026,71
mudas/ha
Área de pastagem, 2.500 mudas/ha,
60% de leguminosas arbóreas 1,255.90 2.449,01 1,344.00 2.620,80 5.069,81
nativas
Área de aterro, 2500 mudas/ha,
60% de leguminosas arbóreas 1,137.90 2.218,91 898.50 1.752,08 3.970,99
nativas
Fonte: Revista Florestar Estatístico, vol. 1, n.º 3, Nov./1993 – Fev./1994.
Obs.: US$1.00 = R$ 1,95 (Junho, 2007)

Tabela 15. Valores referenciais de revegetação no bioma cerrado.


Descrição Unidade Valor

Revegetação em APP ou RL incluindo insumos serviços


e mudas, manutenção por 2 anos de área de mata ou R$/ha 2.049,00
cerradão, 667 mudas/ha

Revegetação em área de cerrado leve, 350 mudas /ha R$/ha 1.290,40

Fonte: INCRA SR 04 (regional Goiás)

Tabela 16. Valores referenciais de restauração florestal no bioma cerrado, custos de


viveiro de mudas e cercas de isolamento
Descrição Unidade Valor

Restauração florestal, 1.700 mudas/ha, mudas R$/ha 5.732,54


compradas, manutenção por 1 ano

Restauração florestal, 1.700 mudas/ha, mudas R$/ha 3.950,26


produzidas, manutenção por 1 ano

Restauração florestal, 600 mudas/ha, mudas


compradas, plantio em ilhas, inclui semeadura direta de R$/ha 3.523,72
árvores nativas e adubos verdes, manutenção por 1 ano

Restauração florestal, 600 mudas/ha, mudas


produzidas, plantio em ilhas, inclui semeadura direta de R$/ha 2.894,68
árvores nativas e adubos verdes, manutenção por 1 ano

Custo total de viveiro para produção de 10.000 mudas


(estrutura, material, mão-de-obra e sementes). Um ciclo R$ 9.516,00 (R$0,95/muda)
de produção

54
Construção de cerca de 4 fios de arame farpado, estacas
espaçadas de 30 x 30m, mourões a cada 800m, R$/Km 3.156,60
balancins a cada 15m
Fonte: INCRA sede e SR 28 (regional Distrito Federal)

6. Considerações Finais

Este trabalho procurou verificar a adaptação de métodos consolidados, ou em


fase de consolidação, relativamente à um tema recente, mas que tem demandado a
atenção de muitos técnicos envolvidos com atividades ambientais. Justamente por
ser um tema recente, o processo de avaliação do passivo ambiental de imóveis
rurais ainda carece de instrumentos que balizem os seus procedimentos, sejam de
caráter técnico ou legal.
Aliado à este fato, encontram-se os conceitos e premissas que envolvem os
verdadeiros propósitos da avaliação do passivo ambiental, quais sejam, aqueles
aninhados à efetiva implantação de atividades regularizadoras dos aspectos
ambientais nos imóveis rurais. Nesse sentido, vê-se como fundamental o
envolvimento das comunidades rurais com atividades de educação ambiental. Esse
envolvimento visa fortalecer e reforçar a importância da conservação dos recursos
naturais, ampliando a concepção, por parte da comunidade, de que os mesmos
devem ser utilizados racionalmente, sempre tendo em mente a sustentabilidade
ambiental.
Outro fator importante é que nos programas de recuperação ambiental que
envolvem atividades de revegetação, devem ser respeitados os preceitos da
sucessão ecológica, com vistas à auxiliar a regeneração natural. Os estudos têm
demonstrado que estes eventos são estratégias naturais e, portanto, devem ser
facilitados e incrementados. Assim, os projetos de revegetação devem incluir a
utilização e manejo estratégicos de espécies características de todas as fases da
sucessão secundária (pioneiras, secundárias e climácicas).
Ficou patente neste trabalho, que o levantamento, caracterização e avaliação
do passivo ambiental é uma ciência em construção. Entende-se que, até que haja
metodologias e técnicas consolidadas para tanto, o tema deve ser considerada como
tal. Destarte, o estímulo aos estudos e o desenvolvimento de tecnologias que
subsidiem e incrementem a avaliação do passivo ambiental é um fator fundamental
para que haja a referida consolidação. Ressalta-se que a consolidação que se
almeja é aquela capaz de orientar e disciplinar a avaliação do passivo ambiental com
bases reais, gerando estimativas condizentes com as quantias necessárias para a
regularização efetiva dos aspectos ambientais dos imóveis rurais e que considerem
a realidade dos fatos.
Paralelamente aos fatores acima arrolados e, com vistas à efetivação dos
propósitos da avaliação do passivo ambiental, é desejável que haja a
compatibilização das políticas de reforma agrária, agrícola e de meio ambiente.
Essa recomendação se fundamenta na crescente demanda de utilização dos
recursos naturais, que necessariamente deve ser baseada em critérios de
racionalidade e sustentabilidade. Toma-se por base, portanto, os critérios de
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade concernentes ao tratamento de aspectos

55
ambientais e que devem ser incorporados à integração das políticas públicas nos
níveis municipal, estadual e nacional.
As informações, técnicas, métodos e considerações acima discutidos,
permitem a análise que leva às seguintes conclusões:
- Relativamente à aplicabilidade ao tema passivo ambiental, verificou-se que a
avaliação e os estudos de impactos ambientais prestam-se, originalmente, à
identificação qualitativa e quantitativa de impactos causados sobre o meio ambiente
por empreendimentos de base empresarial. Procura responder perguntas do tipo: O
que pode acontecer se...?; O que é necessário fazer ou evitar...?; Quais as
alternativas...?
- No entanto, a AIA é um instrumento capaz de identificar desconformidades –
passivos ambientais – em relação à um sistema de gestão ou utilização de recursos
naturais – neste caso o imóvel rural de vocação agrosilvopastoril. Conclui-se,
portanto, que este é um instrumento útil na identificação, caracterização e
levantamento do passivo ambiental dos imóveis rurais;
- As atividades de avaliação do passivo ambiental necessariamente devem
incorporar este aspecto amplo e globalizador, característico da AIA, no tocante ao
levantamentos dos atributos físicos, sociais, econômicos e culturais, visando
caracterizar o ambiente em que será avaliado o passivo.
- As metodologias de valoração econômica dos recursos naturais são
caracterizadas pela determinação de valores para recursos ambientais existentes.
Visa, fundamentalmente, “atribuir um valor para conservar”. Atendem
satisfatoriamente à demanda latente atinente à necessidade de atribuição de valores
monetários aos bens coletivos, neste contexto, os ambientais. É calcada na
premissa de que todo bem tem um valor, um custo.
- A grosso modo, segundo os conceitos da valoração econômica, poder-se-ia
visualizar a avaliação do passivo ambiental como a avaliação monetária de um bem
que não existe em um lugar, mas que, social, técnica e legalmente, deveria existir.
Assim, a sua análise metodológica revela que as técnicas mais prontamente
adaptáveis ou utilizáveis à avaliação do passivo ambiental são as técnicas indiretas.
Estas técnicas se assemelham àquelas analisadas no tema recuperação ambiental.
- Atendendo a um conceito parcialmente atendido na valoração econômica do
ambiente, estão as metodologias de recuperação ambiental, que estimam custos de
recuperação. Verificou-se que tais metodologias são altamente especializadas e
individualizadas, de acordo com as características do local a ser recuperado. Há
grande variabilidade de técnicas e estas são funções do ecossistema, do estágio da
degradação, da disponibilidade de recursos, entre outros fatores.
- Verificou-se que o custo da regularização das desconformidades pode se
calculado por meio do valor dos insumos e serviços necessários para reverter esta
situação. Conclui-se, portanto, que a recuperação ambiental é uma ferramenta
importante para identificar aspectos qualitativos e quantitativos relativos à estes
insumos e serviços.
- Subsidiariamente, e em alguns casos, em caráter alternativo, os conceitos e
métodos de valoração ambiental podem estipular valores do passivo ambiental por
meio da atribuição de valor econômico ao aspecto ou atributo ambiental, caso ele
existisse e/ou estivesse conforme aos parâmetros pré-estabelecidos.

56
- As conclusões até aqui pormenorizadas permitem generalizar que a tônica
deste trabalho não é apenas a análise de metodologias adequadas ou adaptadas à
avaliação do passivo ambiental de imóveis rurais, mas contextualizar que isso
deixou de ser uma demanda latente e passou a ser um fator cobrado por vários
setores da sociedade.
- Finalmente, entende-se que a determinação de valores de passivo ambiental
visa atender objetivos maiores, que vão além da simples atribuição de valores
monetários que “saldam” estes passivos nos imóveis rurais. Deve-se sim, enxergar a
avaliação do passivo ambiental como uma etapa inicial, fundamental e necessária
para a efetiva recuperação dos ecossistemas degradados.

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