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Resumo
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1. Introdução
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Ressalta-se também, que o passivo ambiental não é caracterizado somente
nestas regiões que possuem seu uso restrito ou protegido legalmente, cabendo a
definição, delimitação e caracterização das porções do imóvel que, apesar de serem
de livre uso do proprietário, não estão sendo racionalmente manejadas. Assim,
considera-se como passivo ambiental, as áreas em que o processo de degradação
já encontra-se instalado, carecendo de intervenções para que o local seja
estabilizado e recuperado.
A avaliação do passivo financeiro é uma realidade presente em quase todas
as transações e negociações do ramo empresarial. Muitas vezes ouve-se falar da
incorporação de pequenas ou médias empresas por aquelas de maior expressão
financeira. Este processo de incorporação demanda o levantamento dos ativos e
passivos da incorporada, tendo em vista a assunção dos mesmos por parte do
incorporador. No tocante aos imóveis rurais, tem-se notado que a avaliação do
passivo ambiental é uma demanda real da sociedade, sendo atualmente requerida
nas transações de imóveis rurais, no cumprimento dos mandamentos legais, no
licenciamento ambiental, além de ser um tema tratado e considerado nas decisões
dos tribunais.
Paralelamente à importância atual atribuída a este tema, deparam-se com as
dificuldades de definição e obtenção desses custos de regularização ambiental, de
sorte que há necessidade do incremento dos estudos e tecnologias que auxiliem e
subsidiem a avaliação do passivo ambiental dos imóveis rurais. As dificuldades e
imprecisões atualmente existentes são intrínsecas do estudo dos eventos naturais,
caracterizados pelo seu elevado grau de subjetividade e complexidade. Não seria de
se estranhar, portanto, as premissas, considerações, critérios e situações que se há
de assumir, tendo em vista a definição de valores financeiros aos bens ambientais.
Nesse sentido, considera-se a avaliação do passivo ambiental um tema amplo
e agregador do conhecimento acumulado em outras ciências e temáticas
ambientais. Entre estas, destacam-se: a avaliação de impactos ambientais, a
recuperação de áreas degradadas, os sistemas de informação geográfica, o
reflorestamento, o manejo de bacias hidrográficas, os sistemas de gestão ambiental
(SGA’s), a valoração econômica de recursos naturais, a contabilidade ambiental e o
monitoramento ambiental. De maneira geral, considerando a temática do passivo
ambiental, poder-se-ia afirmar que os aspectos técnicos, econômicos, sociais e
culturais estão completamente interrelacionados, transparecendo, assim, a
interdisciplinaridade inerente ao tema.
Tem-se como premissa neste trabalho, a análise do passivo ambiental como
um tema englobador das temáticas, conceitos e técnicas concernentes à avaliação e
estudos de impactos ambientais, à recuperação ambiental e à valoração econômica
do meio ambiente. Para tanto, desenvolver-se-á o tema de modo a atingir os
objetivos a seguir descritos.
2. Objetivos
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- Analisar se as metodologias de avaliação de impactos ambientais (AIA),
valoração de recursos naturais (VA) e recuperação ambiental (RA) são
suficientemente adequadas e permitem estipular valores do passivo ambiental de
imóveis rurais.
2.2. Objetivos específicos
3. Revisão da Literatura
NATURAL ANTRÓPICO
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Essa ampliação conceitual acarreta, necessariamente, a consideração de que
as atividades produtivas causam efeitos em todos os níveis de análise, de forma a
visão tradicional de impactos ambientais carece eminentemente de extensão. Por
sua vez, entende-se que essa extensão faz parte de um processo de análise ainda
em construção, da forma que se vê como uma demanda social a inclusão de
aspectos ambientais nas atividades econômicas da sociedade. Esse processo social
é desenvolvido e estimulado visando contemplar e satisfazer, mesmo que
incipientemente, a expectativa da conservação dos recursos naturais, considerando
um desejo de desenvolvimento sustentável clamado na opinião pública mundial.
No Brasil, verifica-se que a determinação efetiva da magnitude e extensão do
passivo ambiental é uma demanda premente e relevante na fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, no tocante às contas ambientais
nacionais e aos indicadores de sustentabilidade. As informações sobre o valor
econômico dos recursos naturais e dos impactos ambientais permitirão ao IBGE
incluir, no cálculo dos agregados macroeconômicos, os valores correspondentes aos
danos ambientais e à exaustão dos recursos naturais (SOUZA, 2004).
BERGAMINI JUNIOR (1999), analisando o passivo sob a ótica da
contabilidade ambiental verificou que esta, atualmente, é pouco utilizada devido à
dificuldade de mensuração econômica do passivo ambiental. O autor considera que
o passivo ambiental deve englobar, entre outros: as multas e penalidades geradas
pela não conformidade; o total de gastos ambientais capitalizados durante o período
de regularização; e as compensações para terceiros decorrentes de danos
ambientais causados no passado.
No mesmo contexto da contabilidade ambiental, FILHO (2002) traz a
importância da identificação do passivo ambiental nas negociações – compra e
venda – de empresas. Analisa as penalidades que podem ser imputadas aos novos
proprietários pelos efeitos nocivos ao meio ambiente causados pelas empresas,
independentemente da pessoa que figure como proprietário na ocasião em que o
fato gerador da penalidade ocorreu. Metodologicamente, tal autor avalia que o
passivo ambiental das empresas pode ser identificado, entre outras formas, através
dos EIA’s e dos RIMA’s, exigidos pelos órgãos técnicos de controle ambiental e
pelas instituições financeiras como subsídio para a concessão de créditos.
Aliás, os critérios e objetivos ambientais estipulados pelas instituições
financeiras como premissa na liberação de créditos é uma forma pela qual estas
instituições, de caráter eminentemente financeiro, utilizaram para incorporar essa
vertente exógena em suas atividades. Deve-se ponderar que tal incorporação teve
como fato gerador as pressões sociais, recente e notadamente nos países da União
Européia.
Alternativamente, uma das possibilidades seria analisar o passivo ambiental
através da ótica dos empreendedores e incorporadores, ao modo citado no
CONVÊNIO DNIT/IME (2004), que o considera equivalente ao total das
externalidades (impactos) ambientais não amortizadas (não mitigados ou
controlados), geradas pelo empreendimento. Essas externalidades devem ser
consideradas sobre o meio ambiente natural e antrópico na área de influência do
empreendimento.
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No âmbito da microeconomia, a questão ambiental tem sido tratada
buscando-se internalizar no preço do produto, os custos externos dos efeitos
ambientais da produção, fazendo com que o preço final reflita a degradação do
ambiente e as estimativas para sua recuperação (MATTOS & MATTOS, 2004). Os
cenários considerados nas análises econômicas usuais tradicionalmente refletem as
variações das rendas em detrimento das externalidades. Porém, no entender de
SOUZA (2004), dever-se-ia dedicar mais esforços nas avaliações dos custos e
benefícios externos referentes ao meio ambiente. Face à sua considerável
dificuldade (política, teórica e técnica) de determinação, esses custos e benefícios
não podem ser internalizados. Caso houvesse essa internalização, a mesma
auxiliaria nos processos de decisão que afetam a sociedade e o meio ambiente.
Evidente está que o tema do passivo ambiental pode ser considerado sobre
vários pontos de vista. Dessa maneira, e, com vistas à apuração dos fatos que
atualmente ensejam e demandam a avaliação do passivo ambiental dos imóveis
rurais, procede-se análise de informações, documentos, normas e leis que referem-
se ao tema em questão. Na forma como exposto anteriormente, verifica-se que o
tema aqui analisado é componente de várias esferas da sociedade, porém, procura-
se analisar neste tópico as implicações, recomendações e solicitações atinentes à
esfera normativa. Ressalta-se que se dará ênfase aos aspectos relacionados às
transações, utilização, requerimentos, empreendimentos e características intrínsecas
dos imóveis rurais de vocação agropecuária/extrativista.
Uma da primeiras referências ao tema do passivo ambiental nos imóveis
rurais, que inclusive balizou a própria definição de passivo ambiental, foi a
determinação das porções dos imóveis rurais que devem ter seu uso restringido ou
protegido. A publicação do Código Florestal em 1965 definiu as áreas consideradas
de preservação permanente (APP’s), nas quais só pode haver intervenções em
casos muito especiais de utilidade pública e/ou interesse social.
Além da obrigatoriedade de conservação da vegetação nas APP’s, o Código
Florestal brasileiro (Art. 1º) ainda define a porção do imóvel que deve ser mantida ou
manejada a título de reserva legal (RL), consistindo naquela
“área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a
de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos
naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à
conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora
nativas.”
Paralelamente às obrigações referentes à manutenção ou manejo de áreas
específicas de um imóvel rural, estão aquelas obrigações relacionadas ao
cumprimento da função social. Esta prerrogativa consta no Estatuto da Terra (Lei n.º
4.504/64) e na Lei Agrária (Lei n.º 8.629/93) e contextualiza a “retribuição social”
devida à sociedade por um proprietário, por conta da posse e domínio de um imóvel.
Analisa-se a definição de função social do imóvel segundo a Lei Agrária:
“Art. 9º - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os
seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
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II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.
§ 1º - Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os
graus de utilização da terra e de eficiência na exploração especificados nos
§§ 1º a 7º do Art. 6º desta Lei.
§ 2º - Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis
quando a exploração se faz respeitando a vocação natural da terra, de
modo a manter o potencial produtivo da propriedade.
§ 3º - Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das
características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos
ambientais na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da
propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas. [...]”
O trecho transcrito acima permite a observação de que a função social do
imóvel está condicionada, entre outros requisitos, ao cumprimento das obrigações
ambientais, notadamente daquelas constantes e justificadas no Código Florestal.
Assim, entende-se que tais considerações derivam justamente de uma postura
racional por parte do proprietário rural, no tocante ao uso dos recursos naturais de
sua propriedade, sendo que a condução da propriedade deve ser efetuada de modo
a atender não só a função social, mas também a ‘função ambiental’.
A racionalidade no uso das terras, segundo o Código Florestal, engloba os
conceitos de preservação, manutenção ou manejo dos recursos naturais visando
intrinsecamente a conservação e sustentabilidade dos mesmos. Este fato fica
evidenciado com o advento da RL, havendo, inclusive, obrigações quanto aos
procedimentos à serem observados pelo proprietário ou possuidor, de forma a dar
efetividade à função da RL. O Código Florestal (Art. 44) estabelece que, nos imóveis
que não atendem às recomendações relativas à RL, o proprietário deve adotar as
seguintes providências:
“Art. 44. O proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de floresta
nativa, natural, primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetação nativa
em extensão inferior ao estabelecido nos incisos I, II, III e IV do art. 16,
ressalvado o disposto nos seus §§ 5º e 6º, deve adotar as seguintes
alternativas, isoladas ou conjuntamente:
I – recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio, a cada
três anos, de no mínimo 1/10 da área total necessária à sua
complementação, com espécies nativas, de acordo com critérios
estabelecidos pelo órgão ambiental estadual competente;
II – conduzir a regeneração natural da reserva legal;
III – compensar a reserva legal por outra área equivalente em importância
ecológica e extensão, desde que permaneça no mesmo ecossistema e
esteja localizada na mesma microbacia, conforme critérios estabelecidos em
regulamento.
§ 1º Na recomposição de que trata o inciso I, o órgão ambiental estadual
competente deve apoiar tecnicamente a pequena propriedade ou posse
rural familiar.
§ 2º A recomposição de que trata o inciso I pode ser realizada mediante o
plantio temporário de espécies exóticas como pioneiras, visando a
restauração do ecossistema original, de acordo com critérios técnicos gerais
estabelecidos pelo CONAMA.
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§ 3º A regeneração de que trata o inciso II será autorizada, pelo órgão
ambiental estadual competente, quando sua viabilidade for comprovada por
laudo técnico, podendo ser exigido o isolamento da área. [...]”
As disposições acima implicam que o proprietário ou possuidor de um imóvel
rural tem até trinta anos para proceder à recuperação da área de RL de seu imóvel,
podendo valer-se da regeneração natural ou da compensação de áreas. Neste
sentido, a Lei n.º 8.171/91 é favorável, pois determina que a partir de 1992 todo
proprietário ou posseiro rural se obriga, se for o caso, a recompor em sua
propriedade a Reserva Florestal Legal, mediante o plantio, a cada ano, de pelo
menos 1/30 (um trinta avos) da área total para complementar a referida reserva
florestal.
No Código Florestal há inclusive a referência à alguns aspectos técnicos que
devem ser observados para a consecução da obrigação. Entre estes, estão a
possibilidade de uso de espécies exóticas e a aferição da viabilidade da regeneração
natural por técnico competente. Observa-se também que há expressivo repasse de
responsabilidades ao órgão ambiental estadual, de sorte que alguns procedimentos
necessariamente devem ser adotados com o aval desse colegiado.
Procura-se trazer à análise neste trabalho, alguns excertos que refletem o
entendimento dos tribunais em relação à necessidade de cumprimento das
obrigações legais atinentes aos imóveis rurais. Neste sentido, segue reprodução
parcial do acórdão TCU 1.362/2004 – Plenário, que trata da avaliação de imóvel
rural em vias de desapropriação por não cumprir a função social:
[...] 5. Devem ser distinguidas duas ordens de conseqüências da
constatação de passivo ambiental em imóvel em desapropriação: uma de
natureza sancionatória e outra relativa à obrigatoriedade de recomposição
do dano. As sanções administrativas e penais não são forma de
recomposição do dano ambiental e, independente das referidas sanções,
havendo o dano ambiental, há o dever de recomposição ambiental.
5.1. A responsabilidade pela recomposição do passivo ambiental é dever
constituinte da propriedade (e da posse), conforme estabelece o art. 44 da
Lei 4.771/65. [...]
Trata-se de presunção legal no sentido de que o proprietário de imóvel ou
seu possuidor são os causadores do dano ambiental e, ainda, no sentido de
que eventual adquirente de imóvel está a adquirir não somente suas
benfeitorias mas, também, o seu passivo ambiental (isto é, o dever de
recompor acompanha a propriedade de a posse). [...]
5.3. O INCRA tem o direito de receber o bem incólume (sem o passivo
ambiental) ou obter a recuperação do passivo ambiental pelo desapropriado
ou ressarcir-se dos valores despendidos na recuperação ambiental ou
descontar do valor da desapropriação o valor correspondente ao
ressarcimento. Por essa razão, nem se encontrando o imóvel incólume, nem
tendo o imóvel sido recuperado pelo expropriado, deve o INCRA descontar
o valor correspondente à recomposição ambiental do valor da indenização,
para que seja justo, como exige a Constituição. [...]
5.5. O passivo ambiental já compunha o patrimônio do expropriado
anteriormente à desapropriação. É que o valor do bem expropriado é obtido
pela soma dos ativos que compõem o imóvel subtraída dos passivos
incorporados ao mesmo (o valor do imóvel é a soma do valor da terra nua,
mais as benfeitorias e menos os passivos). Caso o INCRA indenize
computando apenas os ativos vinculados ao imóvel estará enriquecendo
sem causa o expropriado.[...]
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A postura do Tribunal de Contas da União (TCU), expressa no trecho acima,
não enfatiza a possibilidade da recuperação da área de RL em até 30 anos, como
visto anteriormente, mas sim exige de plano sua compensação. Analogamente,
outras possibilidades trazidas pelo Art. 44 do Código Florestal não são devidamente
contempladas na citação. Este fato, como se verá, pode ocasionar distorções
quando se analisa o contexto da avaliação do passivo ambiental.
Uma das distorções é que o passivo ambiental de um imóvel rural, na forma
como disposto acima, pode ser analisado de forma virtual, na forma como se explica.
Um imóvel rural pode ser enquadrado em três situações distintas, relativamente à
regularidade da RL devida. Há imóveis rurais que não possuem RL sequer
averbadas em cartório, nem tampouco materializadas em campo. Outros imóveis
possuem apenas a averbação em cartório da área gravada a título de RL, mas não
possuem qualquer referência à localização física da RL dentro dos limites do imóvel.
A terceira opção seriam os imóveis que estão completamente regulares quanto à
averbação cartorial e a delimitação física da RL em campo.
Em relação à avaliação do passivo ambiental, inevitavelmente incorre-se em
imprecisões, quando se considera a situação de inexistência física da RL em campo.
Esse fato deriva exclusivamente da necessidade básica da delimitação físico-
geográfica das áreas de uso restrito ou protegidas – RL e APP – como premissa
para o início do processo de avaliação do passivo ambiental de um imóvel rural.
Ademais, outros fatores pesam sobre essa situação, ao se considerar os critérios
exigidos para a localização da RL, conforme expresso no Código Florestal.
“Art. 16 [...]
§ 4º A localização da reserva legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental
estadual competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal
ou outra instituição devidamente habilitada, devendo ser considerados, no
processo de aprovação, a função social da propriedade, e os seguintes
critérios e instrumentos, quando houver:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o plano diretor municipal;
III - o zoneamento ecológico-econômico;
IV - outras categorias de zoneamento ambiental; e
V - a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação
Permanente, unidade de conservação ou outra área legalmente protegida.
[...]
§ 8o A área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição de
matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a
alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação da área, com as exceções previstas
neste Código. [...]”
Verifica-se do trecho transcrito acima, a necessidade de aprovação da
localização da RL de um imóvel rural, sendo que, no contexto da avaliação do
passivo ambiental, isso é objeto de entendimentos diversos. Alguns técnicos
admitem a possibilidade de avaliação do passivo ambiental em uma área proposta,
segundo critérios técnico-legais, para a localização efetiva da RL, sendo sua
aprovação de localização apenas um formalidade a ser cumprida, visto que a
proposição se deu segundo critérios legítimos. Há também o entendimento de que
uma avaliação do passivo ambiental em área de RL, fundamentada em valores
monetários a serem invertidos para a recuperação florística e ecológica do local,
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necessariamente deve ter como base a sua existência e regularidade de fato,
considerando os termos expressos no art. 16 do Código Florestal, ou seja, o
pronunciamento e a consumação do órgão ambiental competente.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem analisado a questão da
responsabilidade pelo ressarcimento do passivo ambiental, sendo que o
entendimento principal alinha-se à impessoalidade do infrator. Neste sentido vão os
recursos especiais 343.741/PR ( 1 ) e 264.173/PR ( 2 ) daquele colegiado.
Os excertos analisados refletem as disposições e regulamentos que direta ou
indiretamente ensejam à avaliação do passivo ambiental. Notam-se que os tribunais
também vêm considerando o tema em suas decisões, de forma que fica patente a
importância adquirida pelo tema em questão, notadamente entre os assuntos
jurídicos. Paralelamente, também tem sido observado entendimento consoante em
outros setores da sociedade, destacando-se os setores ligados aos registros de
imóveis (MARSIGLIO, 2006).
Outra demanda relacionada ao tema avaliação do passivo ambiental dos imóveis
rurais é o licenciamento ambiental das atividades potencialmente poluidoras.
Segundo a resolução CONAMA n.º 237/1997, algumas atividades econômicas, que
envolvem os imóveis rurais em alguma fase do ciclo de produção, necessitam ser
licenciadas, visando seu pleno funcionamento e regularidade junto ao órgão
ambiental. Entre estas estão:
- Serviços de utilidade: recuperação de áreas contaminadas ou degradadas;
- Turismo: complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e
autódromos;
- Atividades diversas: parcelamento do solo;
- Atividades agropecuárias: projeto agrícola, criação de animais, projetos de
assentamentos e de colonização;
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[RESP 343.741/PR – RECURSO ESPECIAL 2001/0103660-8 – DJ DATA:
07/10/2002 PG:00225 – Relator Ministro FRANCIULLI NETTO – 04/06/2002 T2 – SEGUNDA
TURMA] – RECURSO ESPECIAL. FAIXA CILIAR. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.
RESERVA LEGAL. TERRENO ADQUIRIDO PELO RECORRENTE JÁ DESMATADO.
IMPOSSIBILIDADE DE EXPLORAÇÃO ECONÔMICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
OBRIGAÇÃO PROPTER REM. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADA. As questões relativas à aplicação dos artigos 1º e 6º da
LICC, e, bem assim, à possibilidade de aplicação da responsabilidade objetiva em ação civil pública,
não foram enxergadas, sequer vislumbradas, pelo acórdão recorrido. Tanto a faixa ciliar quanto a
reserva legal, em qualquer propriedade, incluída a da recorrente, não podem ser objeto de exploração
econômica, de maneira que, ainda que não se dê o reflorestamento imediato, referidas zonas não
podem servir como pastagens. Não há cogitar, pois, de ausência de nexo causal, visto que aquele
que perpetua a lesão ao meio ambiente cometida por outrem está, ele mesmo, praticando o ilícito. A
obrigação de conservação é automaticamente transferida do alienante ao adquirente,
independentemente deste último ter responsabilidade pelo dano ambiental. Recurso especial não
conhecido.
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[RESP 264.173/PR – RECURSO ESPECIAL 2000/0061820-9 – DJ DATA:02/04/2001
PG:00259 – JBCC VOL.:00190 PG:00117 – RJADCOAS VOL.:0024 PG:00077 – RT VOL.:00792 –
Min. JOSÉ DELGADO – 15/02/2001 – TJ – PRIMEIRA TURMA] ADMINISTRATIVO. RESERVA
FLORESTAL. NOVO PROPRIETÁRIO. LEGITIMIDADE PASSIVA. 1. O novo adquirente do imóvel é
parte legítima passiva para responder por ação de dano ambiental, pois assume a propriedade do
bem rural com a imposição das limitações ditadas pela Lei Federal. 2. Recurso provido.
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- Uso de recursos naturais: silvicultura, exploração econômica da madeira
ou lenha e subprodutos florestais, atividade de manejo de fauna exótica e
criadouro de fauna silvestre, utilização do patrimônio genético natural,
manejo de recursos aquáticos vivos, introdução de espécies exóticas e/ou
geneticamente modificadas, uso da diversidade biológica pela
biotecnologia;
O fato da inclusão das atividades acima listadas, componentes de um rol de
outras atividades demandantes de licenciamento ambiental, obriga a realização de
estudos e avaliações que subsidiem o processo de licenciamento ambiental. A
depender do tipo de licença requerida, do tipo de atividade, da localidade, entre
outros fatores, há maior ou menor necessidade de detalhamento dos estudos. De
maneira geral, para os empreendimentos de médio ou grande porte, concebidos no
âmbito dos imóveis rurais, uma das exigências é a elaboração de estudo de impacto
ambiental (EIA), que gera um relatório de impacto ambiental (RIMA) da atividade
proposta.
Conforme adiante analisado, uma das etapas do EIA é o levantamento dos
atributos naturais, condições intrínsecas e específicas da região de influência do
empreendimento proposto, notadamente das áreas de uso restrito ou protegidas
(APP e RL). Outra etapa diz respeito ao estudo de implantação e viabilidade das
medidas mitigadoras dos impactos ambientais negativos causados pela eventual
instalação do empreendimento. Observar-se-á neste trabalho que estes dois
elementos – levantamento e mitigação –, entre outros, são componentes primazes
em um processo de avaliação do passivo ambiental.
Os tópicos seguintes (3.2 a 3.4) procuram trazer à análise as metodologias
existentes, relativas à avaliação de impactos ambientais, recuperação ambiental e
valoração ambiental, de forma a contextualizá-las em relação ao tema de avaliação
do passivo ambiental dos imóveis rurais.
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da possibilidade de investimento em atividades alternativas de renda que são menos
impactantes. Por outro lado, há aumento do risco de incêndio, a necessidade
eventual do uso de agrotóxicos, os aspectos operacionais de manejo podendo haver
superpastejo ocasionando a degradação do solo, a necessidade de manejo efetivo
da fertilidade do solo com aplicação de fertilizantes químicos ou orgânicos. Torna-se
patente, portanto, a complexidade e a inter-relação de aspectos que devem ser
observados em um processo de avaliação de impactos ambientais relacionados às
atividades rurais.
Analisam-se agora os aspectos considerados no Termo de Referência (TR),
que é o instrumento orientador para a elaboração de qualquer tipo de estudo
ambiental, entre eles o EIA, RIMA, Plano de Controle Ambiental (PCA), Relatório de
Controle Ambiental (RCA) e o PRAD.
ABSY et alii (1995) considera que o TR deve estabelecer as diretrizes
orientadoras, conteúdos e abrangência do estudo exigido do empreendedor, em
etapa antecedente à implantação da atividade modificadora do meio ambiente. É
elaborado pelo órgão ambiental a partir das informações prestadas pelo
empreendedor na fase do pedido de licenciamento ambiental, e seu roteiro básico de
elaboração é constituído dos seguintes itens:
a) Identificação do empreendedor;
b) Caracterização do empreendimento (tecnológico-operacional);
c) Métodos e Técnicas utilizadas para a realização dos estudos ambientais:
- detalhamento dos métodos e passos metodológicos;
- prognóstico;
- identificação de recursos tecnológicos e financeiros para mitigar os impactos
negativos;
- medidas de controle e monitoramento dos impactos;
d) Delimitação da área de influência do empreendimento:
- considerações sobre a bacia hidrográfica;
- apresentação de critérios ecológicos, sociais, econômicos que a definiram;
- áreas de influência direta e indireta;
- considerar atributos como solo, recursos hídricos, atmosfera, fauna, flora,
componentes sociais, políticos e culturais;
e) Espacialização da análise e apresentação dos resultados (mapas);
f) Diagnóstico ambiental da área de influência:
- situação do meio natural antes da implantação;
- análise de ambientes alternativos;
g) Prognóstico dos impactos ambientais e alternativos:
- efeitos ambientais potenciais (positivos e negativos), prevenção, controle,
mitigação e reparação;
- análise da implantação ou não do projeto;
h) Controle ambiental do empreendimento:
- análise e seleção de medidas eficientes de mitigação, anulação de impactos
negativos e potencialização de impactos positivos, alem de medidas
compensatórias ou reparatórias;
- elaboração de plano de acompanhamento e monitoramento de impactos.
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Os parâmetros acima listados permitem a observação de que se procurou
considerar, em sua concepção, aspectos ligados aos meio natural e antrópico, de
forma a contemplar tanto quanto possível as esferas eventualmente impactadas
pelas atividades. A abrangência também se estende à escala temporal, devendo-se
considerar situações presentes e estudos futuros. Verifica-se que o rol de
parâmetros são relativos à qualquer tipo de atividade, de sorte que sua aplicação em
sistemas agropecuários e extrativistas é prontamente viável, carecendo apenas das
adaptações necessárias.
As atividades agropecuárias simplificam as comunidades rurais, tendo efeito
sobre a riqueza e composição de espécies e abundância de indivíduos. LOUZADA et
alii (2001), analisa que há duas categorias principais de fatores de alteração
ambiental causados pelo homem nestes agroecossistemas: a) alteração de habitats
por desmatamento e substituição de vegetação; e b) introdução de insumos
agrícolas. Nesse contexto, o autor ressalta a possibilidade de uso de espécies
bioindicadoras, com vistas à apuração das modificações ambientais casadas pela
ação antrópica nos sistemas agrícolas.
No contexto da avaliação do passivo ambiental, devem ser consideradas, em
um primeiro momento, as alterações ocorridas em áreas de uso restrito ou
protegidas, tendo em vista o levantamento das desconformidades com os
regulamentos ambientais. Nos imóveis rurais, em função da vocação individual dos
mesmos, verifica-se que as APP’s mais intervencionadas são as encostas com
declividade maior que 100% e as matas ciliares, tendo em vista o fato destas
representarem grande parte das APP’s rurais.
As principais causas da degradação das matas ciliares, de acordo com
MARTINS (2001), são o desmatamento para a expansão da área cultivada nas
propriedades rurais, para a expansão de áreas urbanas e para a obtenção de
madeira; os incêndios; a extração de areia nos rios; e os empreendimentos turísticos
mal planejados. Com o passar do tempo e, em função da intensidade de uso, a
degradação pode ser agravada através da redução da fertilidade do solo pela
exportação de nutrientes pelas culturas, do uso do fogo, da compactação e erosão
do solo devido aos animais e às maquinas.
A Secretaria de agricultura e abastecimento do estado de São Paulo
(SECRETARIA..., 2002), ao realizar o diagnóstico ambiental da agricultura no estado
de São Paulo, define alguns dos principais impactos ambientais relacionados às
práticas agrícolas (tabela 1).
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- produtividade da
- perda de solo (t.ha-1
biomassa
.ano-1)
- banco de sementes
- sedimentos em - composição do solo
- biota do solo
suspensão - índice de turbidez
Erosão - biodiversidade
- sólidos solúveis - índice de qualidade
- eutrofização
em suspensão da água
- perda de fertilidade
- taxa de deposição e
- acompanhamento do
granulometria
manejo do solo
- degradação dos
remanescentes
florestais - área do incêndio
Queimadas e - índice de avanço sobre
- perda da biota e - intensidade do fogo
outras remanescentes bióticos
dos nutrientes do - espécies e vegetação
práticas - impacto do calor e
solo nativa afetadas
associadas fumaça sobre a biota
- impedimento da
regeneração do
solo
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de negociações complexas, que corresponde às preferências do decisor com
relação à um sistema multifuncional de objetivos a ser ordenado.
A ordem é definida em função do valor de uso das alternativas de negociação.
Os valores de uso, quantificados numericamente, fornecem informações sobre em
que medida o sistema de objetivos do decisor pode ser atingido através de
alternativas de negociação.
Para avaliação de efeitos ambientais, o sistema de objetivos é substituído por
uma estrutura de relevância, formada por aqueles fatores ambientais dos quais
advêm efeitos positivos e negativos sobre um fator natural ou mesmo uma qualidade
ambiental pré-definida.
B) Simulação dinâmica de sistemas: A simulação é a reprodução de um
sistema real na forma de um modelo que, por sua vez, procura reproduzir estrutura
e/ou características mais significativas deste sistema. A modelagem faz sentido
quando é impossível manipular todos os dados da realidade ou quando fatores, tais
como tempo e custo elevados, inviabilizam esse trabalho. Verifica-se que o meio
ambiente é passível de estruturação em sistemas, cuja dinâmica é definida por
processos de retroalimentação.
C) Análise do custo-benefício: O uso deste método esbarra na dificuldade e
imprecisão intrínsecas da definição de valores monetários para os impactos
ambientais. Observa-se a necessidade de atribuição de valores monetários para
indicadores que só podem ser avaliados qualitativamente, ao lado de outros que
podem ser quantificados com precisão.
Paralelamente à disponibilidade dos métodos adaptados para serem
utilizados no EIA, graças à demanda crescente de metodologias que garantam
subsídios mínimos aos estudos, conta-se atualmente com possibilidade de
utilização de alguns métodos e técnicas especialmente desenvolvidos para tal
(ibidem). Expende-se:
D) Análise do risco ecológico: Procura organizar as funções e usos dos
espaços de acordo com o potencial natural existente. Também procura ordenar o
uso múltiplo do espaço de forma a não interferir – ou interferir o mínimo possível –
nas funções do sistema natural, ou seja, evitar sobrecargas nos ecossistemas. A
definição de valores para os indicadores ambientais é feita através de funções de
agregação da lógica matemática (álgebra booleana), de forma a se obter a
intensidade dos danos potenciais e a sensibilização dos fatores naturais a danos, os
quais, quando combinados, resultarão no risco de danos ambientais. Baseia-se no
preceito básico: uso – causa – efeito ecológico desencadeado – usos atingidos. O
aspecto quantificação dos impactos é considerado a maior vantagem.
E) Lista de checagem (Check List): É uma lista dos indicadores do meio
natural e do meio antrópico utilizada na análise dos efeitos do projeto. Serve de
caracterização e favorece a execução da etapa posterior, que é a hierarquização e
avaliação dos indicadores segundo o grau de significância. É um dos métodos mais
usados em AIA. Tem a vantagem do emprego direto na avaliação qualitativa dos
impactos mais relevantes.
F) Matriz de interação: É uma forma de organização de informações que
permite a visualização, em uma mesma estrutura, das relações entre indicadores do
meio antrópico e do meio natural. A mais utilizada é a Matriz de Leopold, que é
15
bidimensional e consigna informações lineares do empreendimento (transformação
do território, extração de recursos, processos, alteração do uso do solo, disposição
de resíduos, etc) e informações colunares das condições ambientais (fatores
biológicos, culturais, ecológicos, litológicos, atmosféricos, hidrológicos, etc).
Cada célula da matriz mostra a relação existente, numericamente arbitrada
entre os valores 1 e 10, entre uma ação do empreendimento e uma característica ou
condição ambiental, qualificando a magnitude e a significância dos impactos dela
resultante. A magnitude é colocada no canto superior esquerdo e a significância no
canto inferior direito de cada célula. Permite a identificação de características dos
impactos, tais como: tipo de ação, método de ignição, sinergia e criticidade,
extensão, periodicidade e intensidade.
G) Redes de Interação (Networks): São construídas para identificar a
totalidade das conexões entre vários efeitos ambientais que podem resultar das
intervenções humanas. Os efeitos diretos e os efeitos seqüenciais podem ser
mostrados através de esquemas ou de equações matemáticas.
Os efeitos ambientais de determinada intervenção resultará da identificação
das condições iniciais do meio, das conseqüências das ações e efeitos, bem como
das ações corretivas e dos mecanismos de controle a serem implementados.
Apresentam como vantagem o fato de permitirem boa visualização de
impactos secundários e demais ordens; sobretudo quando computadorizados, além
da possibilidade de introdução de parâmetros probabilísticos, mostrando tendências.
H) Superposição de dados gráficos (Overlay): Técnica que utiliza de meios
gráficos superpostos para analisar aspectos ambientais.
I) Metodologias espontâneas (Ad Hoc): Baseiam-se no conhecimento
empírico de peritos no assunto. São adequadas para os casos de escassez de
dados, fornecendo orientações para outras avaliações. Os impactos são
identificados, caracterizados e sintetizados por meio de tabelas e matrizes. Tem a
vantagem da possibilidade de estimativa rápida da evolução de impactos, entretanto
não examinam detalhadamente as intervenções e variáveis ambientais envolvidas,
considerando-as de forma subjetiva, qualitativa e pouco quantitativa.
Com vistas a subsidiar o entendimento da aplicação dos métodos de
avaliação de impactos ambientais acima discutidos, segue a reprodução de uma
estrutura, baseada na metodologia da análise do risco ecológico (item D), utilizada
na ponderação dos impactos ambientais em áreas a serem adquiridas para a
instalação de assentamentos da reforma agrária. A primeira parte é referente aos
critérios de ponderação, atribuindo valores numéricos aos fatores analisados. Na
seqüência a tabela 2, exemplifica a segunda parte, relativa à pontuação atribuída às
atividades e intervenções características de projetos de assentamento de famílias de
trabalhadores rurais. Informa-se que a metodologia a seguir descrita decorre dos
procedimentos de vistoria de imóveis rurais executada pelo INCRA, especialmente
no estado da Bahia.
16
Critério Pontos
Imediata 4
Fase de instalação 1
Fase de operação 2
Impacto positivo +1
17
Impacto Negativo -1
Impacto que pode ser facilmente revertido com medidas mitigadoras, ou naturalmente
2
com intervalo de tempo longo
Impacto que somente pode ser revertido com a utilização de técnicas muito
3
dispendiosas ou situações onde a reversão será apenas parcial
Impacto irreversível 4
MEIO FÍSICO
Barramento de Garantir que
Represament Diminuição da
riacho com a o volume
o de curso vazão a jusante 2 4 2 1 -1 1 16 -1 -16
finalidade de represado
d’água do barramento.
garantir o não
abastecimento ultrapasse
doméstico de Aumento do 200mil m³
água espelho d´água 2 4 2 1 -1 1 16 -1 -16 (lei estadual)
do corpo hídrico. e que a
ã
18
Alteração do
nível do lençol 2 3 2 1 -1 1 12 -1 -12
freático
Efetuar uma
Utilização de Eutrofização de
2 2 3 1 -1 2 12 -2 -24 adubação
adubos corpos hídricos. fundamenta
formulados e
da por
orgânicos para
Adubação recomendaç
a adubação de
dos lavouras ão técnica; e
manutenção
permanentes substituir
das culturas
e demais adubos
permanentes; e Contaminação do
culturas. 3 2 3 1 -1 2 18 -2 -36 formulados
adubos lençol freático. pela
orgânicos para
adubação
a produção de
verde e
subsistência.
orgânica.
Diminuição do
assoreamento
Cercamento 2 3 3 1 +1 1 18 +1 +18
dos corpos
Delimitação e propiciando a
hídricos.
conservação regeneração ---
da RL. natural da Propicia a
mata. recarga de lençol 3 2 3 1 +1 1 18 +1 +18
freático.
Adubação e
Implantação Esgotamento da correção da
Movimentação fertilidade natural 1 3 2 1 -1 2 6 -2 -12
e tratos área
da camada do solo
culturais de utilizando
superficial do
culturas de adubação
solo,propiciand
subsistência Assoreamento orgânica
o a erosão
(milho, feijão dos corpos 2 4 2 1 -1 2 16 -2 -32
laminar.
e mandioca). hídricos.
Compactação
Manejo de do solo das Utilização de
pastagem áreas de baixa
Compactação do
para criação pastagem, 1 4 3 1 -1 3 12 -3 -36 Unidade
solo.
de moares e devido ao Animal por
bovinos. pisoteamento área.
pelo animais.
Cercamento
Diminuição do
das áreas de
risco de
APP,
assoreamento 2 3 3 2 +1 1 18 +2 +36 ---
permitindo a
dos corpos
recuperação
Delimitação, hídricos
natural da flora.
conservação
das áreas de Regeneração
APP da vegetação
Diminuição do
das áreas de
risco de
topo de morro 1 4 3 1 +1 1 12 +1 +12 ---
deslizamento de
e de
terra.
declividade >
que 45°.
Construção
de fossas
sépticas,
garantindo
Assentament Contaminação da uma
o de famílias Produção de água por distâncias
de efluentes patógenos de 1 4 2 1 -1 1 8 -1 -8 mínimas dos
trabalhadores líquidos. veiculação corpos
rurais hídrica. hídricos
conforme a
física do
solo do
local.
19
SUB-TOTAL (A): -108
20
Análise do nº de variáveis ambientais contempladas nos RIMA's do Ceará
18
16
14
12
Nº de RIMA's
10
0
101 151 201 251 301 351 451 501 551 601 651 701 751 Não
0a 51 a
a a a a a a a a a a a a a ident
50 100
150 200 250 300 350 400 500 550 600 650 700 750 800 if.
Nº de RIMA's 1 6 5 6 8 12 5 8 3 1 0 0 0 1 1 18
21
valores sócio-culturais, valores econômicos e gestão/administração. Fixa o
estabelecimento rural como unidade de análise e como fator temporal considera as
situações anterior e posterior à implantação ou as áreas com e sem influência da
nova atividade.
Procurou-se, neste tópico, analisar os trabalhos existentes que envolvem
metodologias de avaliação de impactos ambientais. Inadvertidamente nota-se que os
métodos abrangem aspectos anteriores e posteriores à implantação de
empreendimentos. Neste trabalho, os empreendimentos interessantes são aqueles
baseados em atividades agropecuárias ou extrativistas desenvolvidas em
localidades rurais. Como pôde ser observado, estes tipos de atividades também são
causadoras de impactos ambientais e há métodos que abrangem sua avaliação.
Porém, verificou-se também que um ponto chave a ser desenvolvido que é a
determinação dos custos relativos aos impactos ambientais. Passa-se, então, à
análise das técnicas e informações relativas à recuperação ambiental.
22
Gráfico 2. Possibilidades de desenvolvimento de ecossistema florestal degradado
para implantação da agropecuária, sob sistemas alternativos de manejo. (Adaptado
de GALVÃO & PORFÍRIO-DA-SILVA, 2005)
23
Estes métodos de abordagem ecossistêmica podem ser analisados aos
métodos de avaliação de impactos ambientais (AIA) considerados no tópico anterior.
Observa-se que maioria dos métodos de AIA descritos endossam a segmentação
ambiental como forma de análise, porém o fazem considerando os níveis físico,
social e econômico. A abordagem segmentada, aqui apregoada, refere-se à
discriminação de componentes de um daqueles níveis descritos, o meio físico, com
vistas à análise do estágio de degradação em cada um dos seus compartimentos
sistêmicos. Por outro lado, a abordagem ampla apregoa uma visão holística do
ambiente, considerando as inter-relações entre os sistemas ambientais e, por isso, é
mais condizente com a prática de campo do levantamento da degradação em um
ambiente.
Pode-se graficamente observar o comportamento esperado de dois
ecossistemas pertencentes ao mesmo bioma, mas manejados de diferentes
maneiras, conforme o gráfico 3, a seguir.
24
degradação, mesmo porque a própria definição do início do processo de degradação
geralmente é uma das variáveis desconhecidas.
A maioria dos projetos de recuperação almeja o desenvolvimento de uma
cobertura vegetal equilibrada ecologicamente, de tal sorte que as estratégias de
recuperação são tão variáveis quanto os ecossistemas a serem recuperados.
GRIFFITH (2002), trabalhando principalmente na recuperação ambiental das áreas
mineradas, informa que, até o passado recente, os processos de recuperação
ambiental no Brasil apresentavam dois caminhos distintos: a) o fechamento da área
para a revegetação natural, com possibilidade de enriquecimento (sucessão
ecológica); e b) o estabelecimento de um “tapete verde” e espécies agressivas e de
rápido crescimento.
Apesar da estratégia do tapete verde possibilitar uma rápida cobertura e
proteção do solo, tal estabelecimento não apresentava sustentabilidade em médio e
longo prazos. Por sua vez, a estratégia sucessional apresentava-se muito lenta em
sua fase inicial, podendo comprometer os objetivos de curto prazo. O autor conclui
que o ideal na recuperação de ambientes degradados, seria contemplar as
vantagens observadas nas duas estratégias, garantindo uma rápida cobertura do
solo, evitando perdas com erosão do solo e garantindo maior produtividade e
sustentabilidade ao ecossistema recuperado em longo prazo. Graficamente as idéias
das estratégias podem ser observadas no conjunto abaixo (fig. 1), que considera a
produtividade observada em cada estratégia de recuperação (P) versus o tempo (t).
25
De toda sorte, KAGEYAMA & CASTRO (1989) destacam que tanto as
atividades de manejo quanto a recuperação florestal devem ser baseadas na
sucessão secundária. Os autores a consideram como o conceito mais apropriado a
ser utilizado na regeneração artificial de florestas mista, já que é o processo pelo
qual as espécies se regeneram na floresta natural.
Convém destacar o exemplo histórico relativo à recuperação da floresta da
Tijuca, no Rio de Janeiro, que contou com o plantio sistemático de espécies vegetais
nativas durante vários anos, culminando em sua recomposição tal qual é conhecida
nos dias atuais. Destaca-se também a importância do reflorestamento com estímulo
à regeneração natural realizado pela empresa ACESITA-FLORESTAL. A empresa
povoou uma área de 500 hectares no município de Acesita (MG) com 12 espécies
arbóreas nativas. Depois de 15 anos do plantio, FREITAS (1977) apud KAGEYAMA
& CASTRO (1989), em seu inventário, indicou a presença de 122 espécies arbóreas,
inclusive espécies características dos estágios finais da sucessão (clímax).
MELO (2004), propôs-se a estudar a estrutura de 10 reflorestamentos
implantados com base na sucessão secundária, a região do vale do rio
Paranapanema, em São Paulo. As idades das parcelas variavam de 1 a 13 anos e
foram analisadas comparativamente à uma parcela testemunha, representada por
uma área em regeneração natural há 23 anos, todos localizados em região de
floresta estacional semidecidual. Os parâmetros analisados foram biomassa,
fitossociologia e regeneração natural. O autor conclui que o abandono de áreas
visando a regeneração natural, embora muitas vezes seja a única alternativa
disponível, não é uma técnica de restauração tecnicamente recomendável. Este fato
foi evidenciado pelo fato dos reflorestamentos apresentarem evolução mais rápida,
relativamente à área em regeneração natural, no tocante aos indicadores do
parâmetro biomassa.
O autor também analisou que nenhuma das variáveis dendrométricas
apresentou correlação expressiva com a riqueza de espécies plantadas, concluindo
que a opção por plantios com baixa densidade (até 1.240 plantas/ha) e baixa riqueza
(até 11 espécies), não interfere no desempenho do reflorestamento, em termos de
formação de biomassa. Em relação aos aspectos sucessionais, foi constatado que
as espécies pioneiras e secundárias iniciais dominam o dossel dos reflorestamentos.
A plantas de regeneração natural são observadas somente nos reflorestamentos
com idade maior que 7 anos e suas densidade e riqueza mostraram-se
correlacionadas apenas com a idade do reflorestamento e a distância até o
fragmento natural mais próximo.
MONTALVO et alii (1997) apud SOUZA (2000), ressalta que a ausência de
vida silvestre na área silvestre pode comprometer a sustentabilidade da restauração,
por se considerar que vegetais e animais são mutuamente dependentes, além de
que suas associações influenciam diretamente em vários processos ecológicos
integrantes do equilíbrio dinâmico do ecossistema. Estes processos são
caracterizados, principalmente, pela polinização, predação e dispersão.
Os estudos até então elencados permitem a observação de que o
conhecimento da magnitude do problema ambiental é fundamental na definição das
estratégias de recuperação. Tratou-se até aqui dos aspectos generalizados da
26
recuperação. Os tópicos seguintes são específicos das metodologias e abordagens
sobre a recuperação de voçorocas, nascentes e matas ciliares.
27
exaradas dos trabalhos de OSAKY (1994) e VALENTE & GOMES (2002) apud
SOUZA (2004). Inicialmente esclarece-se que, mesmo se tratando da recuperação
de nascentes, as atividades de recuperação não devem ser apenas localizadas, mas
devem abranger toda a microbacia que as contêm.
Na área da bacia hidrográfica, preconiza-se a utilização de práticas
conservacionistas que favoreçam a infiltração da água no solo, por meio da
manutenção da permeabilidade da superfície, além da presença de obstáculos que
reduzam a velocidade da enxurrada.
Podem ser utilizados métodos vegetativos, executados em nível, tais como:
reflorestamento, plantios de cobertura do solo, cultivo em faixas e cordões de
vegetação permanente. O terraceamento é o método mecânico mais utilizado,
considerando que os terraços de base estreita são mais indicados, devido ao
revolvimento do solo em área menor.
Em relação às atividades a serem executadas na área localizada da nascente,
destaca-se o isolamento da nascente com cercas, particularmente nas propriedades
de exploração pecuária, para evitar o assoreamento, o pisoteio e a contaminação
por dejetos animais. Outra atividade é a manutenção da vegetação no entorno da
nascente, principalmente daquelas espécies que possuem raízes pouco profundas,
visando evitar a retirada de água diretamente do lençol e a conseqüente redução da
vazão.
OSAKY (1994) apud SOUZA (2004), recomenda a retirada da vegetação
freatófita, como por exemplo a Thypha sp. (taboa), por consumir muita água por
transpiração, notadamente nas nascentes de pequena vazão e naquelas onde é
necessário melhorar a qualidade da água. Em alguns casos, a depender dos
objetivos da recuperação, pode ser necessária a instalação de sistemas de
decantação e filtragem.
A recuperação de nascentes é um tema estudado em vários centros de
pesquisa. Muitas vezes se ouve falar dos parâmetros relacionados à determinação
da recuperação efetiva ou indicadores de que a recuperação está se processando
em níveis adequados. Um desses parâmetros indicados é o aumento da vazão do
curso d’água do qual a nascente é tributária. Deve-se ponderar a utilização deste
indicador condicionada à situação observada na região de localização da nascente.
Tem-se como premissa na recuperação de nascentes o conjunto de atividades que
visam aumentar a infiltração da água no solo, além de evitar o carregamento de
partículas por meio do escorrimento superficial da água. Assim, o aumento da vazão
dos cursos d’água deve necessariamente ocorrer devido à uma maior recarga do
sistema hidrológico da bacia hidrográfica, proporcionada pela maior infiltração das
águas pluviais e pela maior permanência da água no sistema.
28
Inadvertidamente, em muitos casos é necessária a revegetação, de tal sorte
que, para seu sucesso, são fundamentais os conhecimentos básicos da ecologia da
maioria das espécies nativas componentes do ecossistema ciliar. Deve-se atentar
para os mecanismos de propagação, reprodução, regeneração, distribuição espacial,
interação planta versus animais, grau de adaptação e produção de sementes (RÊGO
et alii, 2000 apud SOUZA, 2004).
Paralelamente à estas determinações, MARTINS (2001), recomenda o
conhecimento dos aspectos hidrológicos do local, notadamente a delimitações dos
terrenos permanentemente alagados, os periodicamente alagados e os não
alagados. Esta discriminação irá fundamentar a seleção das espécies e seu local de
plantio.
O mesmo autor analisa os fatores que influenciam a escolha do modelo mais
adequado para a recuperação da área ciliar degradada. Alguns subsídios que devem
ser obtidos são: informações sobre as condições ecológicas da área; determinação
do estado de degradação; aspectos da paisagem regional; disponibilidade de
sementes e mudas; e comportamento ecológico e silvicultural das espécies em uma
determinada condição.
29
atentando para o fato dos modelos mais complexos, apesar de terem custos de
implantação mais elevados, resultam em ambientes mais heterogêneos. Nestes
ambientes, as funções da floresta são restabelecidas, carecendo, portanto, de
intervenções menos onerosas. Novamente aqui, a complexidade e heterogeneidade
garantem a economia e sustentabilidade no longo prazo.
Atenta-se, também na recuperação de matas ciliares, que o planejamento e
as atividades de recuperação devem ser condizentes e consideradas no ambiente
geográfico da bacia hidrográfica, devendo haver compatibilidade de ações
executadas em todo local, além daquelas executadas especificamente na região
ciliar.
Em relação à técnicas de recuperação de matas ciliares, verifica-se na
literatura grande número de modelos de plantio, espécies recomendadas e
recomendações de tratos culturais. Cada situação, particularizada no levantamento
inicial, deve refletir a ocupação atual, o grau de degradação local, e as
características do entorno atual, no entanto, a obtenção de informações sobre o uso
pretérito da área e de seu entorno, bem como do fator ou fatores de degradação que
incidiram em cada local, são também informações críticas que devem ser obtidas
ainda nessa fase, para que se possam definir posteriormente as ações de
restauração que serão empregadas em cada situação (GANDOLFI, 2006).
A tabela 3 a seguir, traz a relação de algumas ações que podem ser
implementadas em regiões ciliares degradadas, visando sua recuperação. A
complementação dos códigos está subseqüente à tabela.
30
contexto das normas e regulamentos ambientais, que ordenam essas atividades de
recuperação. Um exemplo é a legislação do estado de São Paulo, que determina o
número mínimo de espécies a serem contempladas em projetos de recuperação de
matas ciliares no estado, conforme o disposto na Resolução SMA n.º 21/2001.
Alternativamente, quando a área ciliar a ser recuperar é muito extensa e/ou
quando há limitações financeiras para a recuperação, pode-se optar pela técnica das
“ilhas vegetativas” (MARTINS, 2001). Uma variante desta técnica é apresentada por
KAGEYAMA & GANDARA (2000) apud MARTINS (2001), e corresponde à um
modelo de plantio de espécies não pioneiras (secundárias e climácicas) em ilhas, e
espécies pioneiras na área total. Essa técnica, apesar de ser de baixo custo, tende a
ser um processo mais lento, cuja estabilização variará em função do número e
tamanho das ilhas e do número de espécies componentes.
Entre os modelos sucessionais também há várias opções para a recuperação.
O modelo mais simples é o plantio em linha com uma espécie pioneira, alternada
com uma linha de espécie não pioneira. A variação imediata deste modelo proposto,
seria a utilização de diferentes combinações de espécies, características de cada
grupo sucessional, dentro da mesma linha de plantio. Outra variação possível seria o
plantio em quincôncio, no qual uma muda de espécie não pioneira fica no centro de
um quadrado formado por quatro mudas de espécies pioneiras em cada ângulo.
Atentando para a particularidade das condições hidrológicas, características
das áreas ciliares, pode-se contar com a técnica do plantio em módulos. Este
modelo visa implantar as espécies mais adaptadas para cada ambiente. Assim, para
as áreas de brejo, são implantados módulos compostos por espécies adaptadas ao
encharcamento permanente do solo. Já nas áreas mais distantes do curso d’água e
naquelas outras não sujeitas à inundação, são utilizados módulos compostos de
espécies típicas destes locais, escolhidas em função do bioma regional
(RODRIGUES & GANDOLFI, 1998 apud MARTINS 2001).
Para os projetos de recuperação de matas ciliares que objetivam a rápida
cobertura florestal do local, em extensões menores, garantidos com um fornecimento
adequado de mudas e lastro financeiro suficiente, pode-se optar pelo plantio
adensado, que é caracterizado pelo plantio em linhas intercaladas de espécies
pioneiras e não pioneiras em alta densidade. Neste modelo a densidade de plantas
pode chegar a até dez mil plantas por hectare.
Em função das condições locais da região ciliar e dos indicadores de auto-
recuperação da área e de potencial de dispersão de propágulos da região de
entorno, apurados no levantamento inicial, uma alternativa condizente seria a
implantação de plantios de enriquecimento. Estes modelos visam a condução à
recuperação em áreas específicas nas quais os processos de regeneração natural já
se encontram em curso, cabendo apenas sua complementação e estímulo. Por
serem métodos parciais, são caracterizados pelo menor custo, mas
necessariamente devem ser projetados de forma individual.
De maneira geral, verificou-se que há várias abordagens e possibilidades de
recuperação, em função dos objetivos e disponibilidades. Restou evidente que os
projetos de recuperação ambiental devem incorporar as vantagens das estratégias
analisadas, sendo indispensável a inclusão dos aspectos favorecedores da
31
regeneração natural. Destarte, os critérios utilizados necessariamente devem ter por
suporte as diretrizes da sucessão ecológica.
Em relação à avaliação do passivo ambiental, nota-se que as técnicas de
recuperação ambiental são umas das mais utilizadas para seu subsídio e
quantificação. Desta forma, a definição do(s) modelo(s) de recuperação ambiental a
serem implantados, as técnicas a serem utilizadas, a quantificação de insumos e
serviços necessários, são componentes principais na determinação de valores do
passivo ambiental de um imóvel rural. Esses fatores são fundamentais em tal
determinação, devido ao fato de que o custo de recuperação, que é um componente
básico da avaliação do passivo ambiental, é função direta da(s) técnica(s) a ser(em)
dispensada(s) no local degradado.
32
o campo de análise da economia ecológica abrange a matriz de produção como um
todo: inicia-se pelos recursos naturais, passa pelos processos de produção e
consumo e vai até as descargas e resíduos do processo. Vai mais além, ao
considerar que o ponto central da análise é o da minimização da entropia entre o
fluxo de recursos naturais na transformação da produção e consumo e no seu
retorno à natureza sob a forma de lixo e poluição.
Segundo MATTOS & MATTOS (2004),
“a introdução do capital natural na análise econômica é necessária, já que
os custos da degradação ambiental e do consumo dos recursos naturais
não tem sido adicionados aos processos produtivos, avaliando-se, assim, os
fluxos de estoques naturais e contribuindo para a definição de uma escala
sustentável da economia.”
Neste contexto, os autores consideram essencial a valoração ambiental,
quando não se queira ultrapassar os limites de irreversibilidade da degradação dos
recursos naturais. Não só a estimativa, mas também a inclusão dos valores
ambientais na análise econômica, são tentativas de corrigir os aspectos negativos do
livre mercado.
Tendo em vista a necessidade de atribuição de valores financeiros aos bens
ambientais, analisam-se a seguir algumas metodologias desenvolvidas para esta
finalidade. A maioria dos trabalhos que tratam da valoração econômica dos recursos
ambientais é do exterior. No Brasil, verifica-se que o setor econômico que apresenta
maior quantidade de estudos que envolvem as técnicas de valoração econômica, é o
sucro-alcooleiro, a exemplo dos apresentados por MATTOS & MATTOS (2004).
A seguir, transcrevem-se alguns conceitos, métodos e procedimentos gerais
para os serviços técnicos de avaliação de recursos naturais e ambientais, nos
termos contemplados na parte 6 da NBR 14.653 (avaliação de bens), da Associação
Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, ainda sem vigor por estar em fase de
elaboração.
a) Valoração ambiental: identificação do valor de um recurso ambiental ou custo de
reparação de um dano ambiental;
b) Valor de uso: valor atribuído a um recurso ambiental pelo seu uso presente ou
pelo seu potencial de uso futuro;
c) Valor de uso direto: dado em função do bem-estar que ele proporciona através
de seu uso direto na atividade de produção ou no consumo, por exemplo, no
caso de extração ou visitação;
d) Valor de uso indireto: dado pelo bem-estar que ele proporciona através de suas
funções ecossistêmicas, por exemplo, a proteção do solo, o estoque de carbono
retido nas florestas, etc.;
e) Valor de opção: atribuído a um recursos ambiental, hoje desconhecido, mas
realizável no futuro, associado a uma disposição de conservá-lo para uso direto e
indireto, por exemplo, o benefício decorrente de fármacos não descobertos
desenvolvidos a partir da flora nativa de uma região;
f) Valor de existência: valor de “não-uso” que deriva de uma posição moral, cultural,
estética ou altruística em relação aos direitos de existência de espécies não-
humanas ou de preservação de outras riquezas naturais mesmo que não
apresentem uso atual ou possibilidade de uso futuro.
33
O mesmo texto adverte que, embora os recursos ambientais não tenham,
usualmente, valor de mercado, o seu valor econômico, como os demais bens, deriva
de seus atributos, os quais podem ou não estar associados a um uso. Destarte, a
escolha do método é função do objetivo da valoração, das hipóteses assumidas, da
disponibilidades de dados e do conhecimento de atributos intrínsecos do bem a
valorar. A tarefa de valorar economicamente em recurso ambiental consiste em
inferir quanto varia o bem-estar das pessoas devido à mudanças na quantidade e
qualidade dos bens e serviços ambientais, seja na sua apropriação por uso ou não.
Analiticamente, seu conceito pode ser resumido na equação a seguir:
34
B) MÉTODOS INDIRETOS: se utilizam de estimativas de custos associadas aos
danos. No contexto da valoração ambiental, deve ser usado quando os métodos
diretos não puderem ser aplicados face à carência de dados.
35
Possíveis abordagens para a valoração
- Custos evitados
- Custo de viagem
- Gastos defensivos
- Valoração contingente
- Produtividade
- Produtividade marginal - Valoração contingente - Valoração contingente
marginal
- Custo de oportunidade
- Custo de reposição
- Custo de reposição
- Valoração contingente
36
As restrições e proibições de uso analisadas são de caráter técnico ou legal,
de sorte que os autores consideraram a necessidade de conservação não só das
APP’s, mas também das áreas de RL. Concluiu:
“A APP total (17,5%), junto com os 20% da RL totalizam 37,5% da área da
bacia hidrográfica, que deveriam apresentar vegetação nativa. No entanto o
percentual encontrado para a vegetação nativa está bem abaixo (25,74%),
havendo necessidade de florestamento em 11,76% da área da bacia
hidrográfica, equivalente a 1.022 hectares.”
Deve-se ponderar que o passivo ambiental é considerado não só como o
descumprimento dos condicionantes legais estabelecidos para as APP’s e RL’s, mas
também quanto à qualquer outra forma de utilização do solo que incorra em prejuízo
ao meio ambiente. Destarte, a identificação da área territorial do imóvel rural onde
ocorram as situações acima, é condição sine qua non para o estabelecimento de
valores do passivo ambiental.
Atualmente, as tecnologias aliadas das geociências permitem uma gama de
análises relativamente ao uso dos solos dos imóveis rurais. O trabalho anteriormente
descrito reflete a utilidade destas tecnologias no levantamento das áreas de passivo
ambiental dos imóveis rurais que compõem uma bacia hidrográfica. Verifica-se,
portanto, que o passo inicial de um processo de avaliação do passivo ambiental de
um imóvel rural – o levantamento –, pode ser cumprida parcialmente por meio do
uso destas ferramentas.
Diz-se parcialmente, pois é sabido que, em todo trabalho que demande o
levantamento do uso das terras, as visitas de campo são fundamentais para a
complementação e conferência dos dados e informações obtidas previamente. No
contexto da avaliação, somente a vistoria de campo permite ao técnico a
caracterização do passivo ambiental nas áreas já identificadas e mesmo a
verificação in loco do uso irracional do solo em outros pontos do imóvel. Nestes
casos, a vistoria pode identificar a existência de erosão em pontos localizados, a
presença de voçorocas, a existência de fontes localizadas de poluição, etc. Assim,
análise dos aspectos bióticos, abióticos e locacionais é fundamental para a
determinação do estágio de degradação em que se encontram tais áreas.
A caracterização dos estágios de degradação, por sua vez, são fundamentais
para a definição estratégica do(s) método(s) de recuperação, ou seja, a
determinação das ações mitigadoras ou controladoras a serem dispensadas para a
recuperação destas áreas. Observa-se que caracterização nada mais é do que a
obtenção de informações sobre as áreas degradadas do imóvel rural, nos aspectos
tocantes a: ecossistema; cobertura vegetal atual; fator degradante; potencial de
recuperação; condições ambientais da vizinhança; uso, tipo e características do solo;
topografia e relevo; aspectos operacionais da eventual dispensa de tratos culturais à
área; interesse do proprietário na recuperação; disponibilidade de recursos para
recuperação; outros aspectos por demais específicos para serem listados.
O rol de informações constituintes da fase de caracterização do passivo
ambiental do imóvel em muitos aspectos se confunde e se integra aos propósitos
considerados na temática da avaliação de impactos ambientais. No caso dos
imóveis rurais têm-se a particularidade de que AIA não é prévia à implantação do
empreendimento, visto que este já se encontra em andamento e com passivos
ambientais. Tem-se, portanto, uma situação de impacto ambiental já efetivada,
37
carecendo ainda de análises quanto aos níveis atingidos pelo mesmo, além da
necessidade de determinação das ações mitigadoras cabíveis naquelas situações.
LOUZADA et alii (2001) relata que as práticas agrícolas podem alterar
profundamente as condições químicas e físicas do ambiente, notadamente através
do uso de defensivos, manejo inadequado dos programas de adubação e irrigação.
Nesse sentido, o autor ressalta a possibilidade do uso de espécies sentinelas e
monitoradoras com vistas à quantificar e qualificar esses efeitos e indicar as
alterações nas práticas de manejo. Tem-se, portanto, mais uma possibilidade de
aplicação destas tecnologias nas fases iniciais do processo de caracterização do
passivo ambiental dos imóveis rurais.
TEIXEIRA et alii (2007) apresentou estudo que tratou do tratamento contábil
devido aos gastos com reflorestamentos. Sua metodologia de pesquisa considerava
a avaliação mercadológica de um mesmo imóvel rural que, alterna e exclusivamente,
poderia ser encontrado em duas situações: degradada ou em conformidade com a
legislação ambiental. Naquele contexto, considerou-se que a conformidade
ambiental era obtida por meio da manutenção e conservação da vegetação nativa
nas APP’s e também na RL. A média dos valores apurados para um imóvel
degradado foi R$3.243,00 por hectare, enquanto que para a situação regular a
média foi R$2.788,00 por hectare, demonstrando, assim, o comportamento do
mercado nas condições apresentadas em sua pesquisa. Este resultado demonstra,
na visão do autor, que os gastos com recuperação ambiental não geram ativos nem
despesas. Conclui que, provavelmente devido à diminuição da área aproveitável do
imóvel, além do incipiente ônus imposto pelas penalidades – caracterizado pelo
baixo valor das multas –, os gastos com recuperação são contabilizados como
perdas.
Em termos de avaliação do passivo ambiental, pode-se analisar os resultados
do trabalho acima pormenorizado, considerando, entre as metodologias já descritas,
a aplicação do método da produtividade marginal (valoração de recursos naturais).
Segundo esta metodologia, a diferença do valor apurado para o imóvel,
considerando as duas situações, é equivalente ao valor do passivo ambiental do
imóvel. Tal análise parte do princípio que foram considerados valores de mercado
para o bem, fundamentados em atributos ambientais do imóvel rural, de forma que a
diferença de valores (R$3.243 – R$2.788 = R$455,00/ha) representa o valor de
mercado do passivo ambiental.
A diferença de valores obtida poderia ser analisada sob três aspectos
principais:
- Corresponde à quantia, em dinheiro, que se obteria após a aquisição do imóvel,
pela utilização dos recursos naturais, independentemente da existência de
restrição legal de uso;
- É equivalente a quanto se espera obter pelo consumo, ou seja, é equivalente ao
lucro obtido em um mercado que envolve o imóvel e o consumidor dos produtos
obtidos;
- Este lucro esperado tem seu valor diluído na área total do imóvel, apesar de ser
“obtido” em áreas protegidas ou restringidas.
Considerando as informações da tabela 4 (tópico 3.4), identifica-se que, no
caso de um imóvel rural, cuja cobertura vegetal nativa ocupasse grande parte de
38
seus limites, se esta cobertura apresentasse considerável potencial madeireiro, e,
além disso, houvesse um mercado consolidado na região de localização do imóvel,
poder-se-ia lançar mão do método da produtividade marginal para a determinação
parcial de seu passivo ambiental. A determinação do passivo ambiental, neste caso,
dar-se-ia nas seguintes etapas: a) levantamento físico das áreas de passivo
ambiental (hectares); b) levantamento do potencial madeireiro das áreas adjacentes
às áreas de passivo, com vistas à obtenção de rendimentos de extração (m³/ha) das
espécies individuais com valor comercial; c) determinação de custos de extração e
transporte; d) cálculo da receita bruta obtida se se extraísse a madeira virtualmente
existente nas áreas de passivo ambiental (preços conforme a tabela 5); e) cálculo do
lucro líquido virtual obtido na área.
O valor do passivo ambiental da referida área seria equivalente ao lucro virtual
obtido na área (item e), acrescido do custo de levantamento do potencial madeireiro
das áreas adjacentes (item b), do custo de levantamento das áreas de passivo
ambiental (item a) e de outros custos, multas ou taxas que por ventura vierem a
incidir sobre o imóvel ou sobre a atividade.
Tabela 5. Preços das madeiras nativas em algumas regiões do estado de São Paulo
(em Reais)
39
Ainda analisando outras aplicações das metodologias de valoração ambiental
para a determinação do valor do passivo ambiental, atenta-se para o exemplo
trazido por MOTTA (1998), relativo ao custo da erosão do solo. O autor ressalta as
abordagens possíveis e as restrições existentes no tratamento do assunto. Citam-se.
a) Custo de reposição: enfoca a perda de nutrientes do solo decorrente do processo
erosivo. Baseia-se no custo de repor os nutrientes (N, P e K) através do uso de
fertilizantes. Além da incapacidade dos fertilizantes em restabelecer os níveis
originais de produtividade do solo, a reposição focaliza apenas um dos impactos
da erosão nas propriedades do solo e não provê necessariamente um indicador
do valor do solo como um recurso;
b) Produtividade marginal: mede o efeito da erosão na produtividade agrícola. O
custo da erosão é medido pela quantidade de produto agrícola que deixou de ser
produzido em função da ação da erosão. Frisa-se que a valoração do impacto da
erosão no rendimento das lavouras não é trivial, visto que diversos fatores
influenciam na produtividade agrícola, dificultando assim o isolamento do efeito
da erosão;
c) Preços hedônicos: trata-se de uma abordagem alternativa que utiliza o preço das
propriedades para estimar o valor econômico da erosão do solo. Analisa, através
de métodos estatísticos, o diferencial de preço ou aluguel de imóveis rurais que
apresentam taxas de erosão distintas. Este tipo de abordagem exige dados sobre
preços e um mercado dos imóveis rurais bem desenvolvido, restringindo assim
sua aplicabilidade em países em desenvolvimento.
A metodologia dos preços hedônicos, recomendada como um método direto
de valoração econômica dos recursos ambientais, pode ser analisada como uma
variante do método residual, indicado para determinação do valor de benfeitorias
reprodutivas, na forma como indicado na parte 3 (avaliação de imóveis rurais) da
NBR 14.653 da ABNT. O método residual é caracterizado pela determinação indireta
do valor de uma benfeitoria reprodutiva (lavouras, pastagens, etc), dada pela
diferença apurada entre o valor de mercado dos imóveis rurais que apresentam e
dos que não apresentam a referida benfeitoria. Assim como analisado na descrição
da metodologia dos preços hedônicos, a aplicação do método residual de avaliação
imobiliária também é condicional à existência de um mercado específico, bem
consolidado e que permita a discriminação financeira de uma benfeitoria específica.
Em termos práticos, o passivo ambiental pode ser analisado segundo o rol de
atividades passíveis de serem implantadas para a recuperação de um ambiente
degradado. Esta análise baseia-se na discriminação de premissas e critérios
constituintes de linhas de financiamentos ou projetos regionais de recuperação.
Nesse sentido, analisam-se algumas atividades de recuperação descritas como
‘linhas temáticas referenciais’ apoiadas na elaboração de projetos de recuperação
das áreas degradadas em assentamentos de trabalhadores rurais (MDA, 2006).
40
- implantação de sistemas agroflorestais;
- atividades alternativas de produção (apicultura, artesanato, etc),
associados à recuperação ambiental e como instrumento de valorização
das áreas a serem conservadas/recuperadas e de combate às práticas de
uso indevido do fogo;
- elaboração do plano de manejo florestal sustentável em áreas na
Amazônia com RL maior que 80%.
41
Figura 4. Mapa de uso do solo de imóvel rural, demonstrando a localização proposta
para as áreas de reserva legal (Fonte: INCRA SR-05)
42
estadual. Este levantamento fundamentou a confecção de outro mapa, que consigna
informações sobre a localização das áreas de passivo ambiental, conforme a figura
5, a seguir.
43
procedimentos técnicos no âmbito do INCRA, especialmente nas suas atividades
realizadas no estado da Bahia. Ressalta-se que as informações a seguir são
extraídas do “Relatório dos Procedimentos de Caracterização e Avaliação do
Passivo Ambiental dos Imóveis Rurais na Jurisdição do INCRA SR-05”, (INCRA,
2006).
O território do estado da Bahia abrange três biomas principais – mata
atlântica, caatinga e cerrado –, de forma que, considerando este biomas e, com
vistas à caracterização do passivo ambiental, foram definidos cinco níveis possíveis
de degradação ambiental, que demandam atividades de recuperação através de
cinco métodos (A, B, C, D, e E). A aplicação, isolada ou conjuntamente, dos
métodos é definida na escala demonstrada no quadro 2 abaixo.
Estado de conservação
44
Destarte, a determinação do(s) método(s) a ser(em) aplicado(s), e,
conseqüentemente, o valor de uma parcela passivo ambiental, são funções do
estágio de degradação encontrado no momento da vistoria do imóvel. Passa-se à
descrição dos métodos.
Método A – Isolamento.
Este método contempla a melhoria e favorecimento das condições de
regeneração natural como a melhor opção para a recuperação do ambiente
degradado. Para que este método seja recomendado, devem ser observados fatores
como: estágio médio/avançado de regeneração natural já em processo; presença
expressiva de espécies vegetais e animais, qualitativa e quantitativamente; bom
estado de conservação do solo; existência de maciço vegetal nativo, em extensão
suficiente, localizado num raio de até 3 quilômetros do local a ser recuperado;
compatibilidade do método com a vocação natural do imóvel.
O isolamento recomendado, de acordo com a vocação do imóvel, demanda a
construção de cercas (se já não existirem), para evitar a entrada de animais de
criação e pessoas. Assim, nos imóveis onde a atividade predominante é a pecuária
caprina/ovina recomenda-se a construção de cercas de arame farpado com 7 fios,
estacas espaçadas de 1,00 x 1,00m e mourões espaçados de 30 x 30m. Já no
imóveis onde predomina a pecuária bovina as cercas deverão ter 4 fios de arame
farpado, estacas espaçadas de 1,50 x 1,50m e mourões espaçados de 30 x 30m.
Porém, independente da necessidade de construção das cercas, e, considerando as
características das áreas lindeiras ao local a ser recuperado, deverão ser feitos e
mantidos aceiros com largura média de 2,0m, visando a conservação das cercas e
prevenção de incêndio na área a ser recuperada.
Salvo a recomendação única do isolamento como forma de recuperação
ambiental, este método sempre deve ser recomendado em conjunto com pelo
menos um dos outros métodos descritos a seguir.
45
Método B – Enriquecimento Vegetal com Poucas Mudas
Caracteriza-se pelo plantio de mudas de espécies nativas, de acordo com o
bioma, em baixa densidade, visando apenas auxiliar a recuperação natural do local
degradado. Deve ser recomendado aos locais onde, apesar de caracterizada a
debilitação da estrutura e função do ecossistema, ainda possuem alguma
capacidade de regeneração natural, sendo que esta deve ser apenas auxiliada e
acelerada em pequena escala.
Os locais para onde este método deve ser recomendado caracterizam-se por:
identificação ativa dos estágios iniciais de regeneração natural; pouca ou
inexpressiva degradação do solo por processos erosivos; morfologia de relevo que
permita sua aplicação eficiente; presença de maciço vegetal característico do bioma
em tamanho suficiente e em situação que possa também auxiliar a regeneração
natural local; incapacidade de recuperação através da regeneração natural, em
tempo razoável, se se recomendasse apenas o isolamento.
Este método contempla a utilização de insumos e mão-de-obra
correspondente, aproximadamente, à terça parte das recomendações do método D,
descrito abaixo. Assim, para o bioma Mata Atlântica, deve ser utilizado o
espaçamento de 4,0 x 7,0m, gerando uma densidade de 357 plantas/ha. Para o
Cerrado o espaçamento a ser utilizado é 6,0 x 8,0m, totalizando 208 plantas/ha. Na
caatinga, o espaçamento de plantio é 9,0 x 8,0m com 139 plantas/ha.
46
devido à erosão; observa-se que a resiliência do ambiente está seriamente
comprometida, de forma que a regeneração natural, apesar de capaz de recuperar o
local, não o faria em tempo razoável; não existe, nas proximidades do local a ser
recuperado, maciço vegetal de tamanho suficiente, capaz de servir de fonte natural
de sementes e propágulos de forma a auxiliar a regeneração natural; devido às
características morfológicas do relevo, os métodos anteriores não seriam
prontamente eficazes.
Nas áreas onde a vegetação nativa pertence à Mata Atlântica, recomenda-se
plantio de mudas em espaçamento de 3,0 x 3,0m, totalizando uma densidade de
plantio de 1.111 plantas/ha. No cerrado o espaçamento definido é 4,0 x 4,0m, com
densidade de 625 plantas/ha. Nas áreas de caatinga, as mudas devem ser
plantadas no espaçamento de 5,0 x 5,0m, com densidade de 400 plantas/ha.
47
trabalho. Identifica-se que a fase inicial de levantamento é feita indissociavelmente
da vistoria in loco do imóvel rural.
Nota-se que há um fusão de etapas nos procedimentos posteriores do
processo, da forma que expende-se a seguir. Considerando a necessidade da
existência de procedimentos ‘padronizados’ aplicados ao quantum de imóveis
vistoriados pela instituição, e, com vistas à determinação de um valor monetário
relativo ao passivo ambiental dos imóveis rurais, buscou-se como alternativa a fusão
das etapas de caracterização e avaliação do passivo ambiental. Isso é evidenciado
pelo fato do técnico vistoriador ter de enquadrar a situação observada em campo à
um dos métodos existentes, ou seja, a caracterização é feita em um molde rígido e
pré-definido. Ressalta-se que há previsão de liberdade ao técnico para inclusão ou
exclusão de itens de avaliação do passivo, desde que devidamente justificados.
Apesar disto, é uma metodologia bastante abrangente, e contempla custos
existente mas que não são considerados em outras metodologias, a exemplo dos
custos indiretos de levantamento topográfico das áreas de RL. Por outro lado,
analisa apenas parcialmente os casos em que a degradação ocorre fora das áreas
protegidas ou restritas, como por exemplo, nas voçorocas. Este tipo de degradação
do solo normalmente ocorre nas áreas de cultivo ou exploração pecuária mal
manejadas, aliada à uma condição topográfica desfavorável.
Em outras regionais do INCRA, a avaliação do passivo ambiental dos
imóveis rurais ocorre de maneira semelhante, e é adequada às peculiaridades locais
nos aspectos tocantes às características do bioma, aos aspectos sociais,
econômicos e culturais regionais. No estado de Minas Gerais, por exemplo, uma das
metodologias de avaliação do passivo ambiental contempla a regeneração natural
induzida através da prática da roçada seletiva. Esta técnica visa favorecer e acelerar
o processo de recuperação do dano ambiental.
Naquela instituição, outras técnicas são recomendadas nos pontos em que se
observa que a conservação e o manejo do solo não estão sendo adequados,
principalmente nos terrenos de topografia acidentada, que apresentam erosões
laminares e em sulcos e mesmo algumas voçorocas. Nestes casos, para atenuar o
efeito desse dano, recomenda-se a estabilização das voçorocas, obtida por meio da
construção manual de canais (com 0,1 m2 de seção) para o desvio das enxurradas e
realização de plantio de pastagem com equipamentos manuais. Como medida de
proteção, a fim de resguardar da entrada do gado até a total recuperação da
voçoroca, há necessidade de construção de cercas.
Nas matas ciliares, as medidas mitigadoras são qualificadas e quantificadas
conforme o cenário encontrado em cada curso d’água. Onde está desvegetado é
necessário proceder ao plantio de espécies pioneiras, clímax e secundárias, com
densidades que varias de 333 a 1.111 mudas/hectare, considerando as fases
sucessionais de cada gleba.
48
Figura 7. Exemplo de revegetação em área ciliar.
49
GRIFFITH (2002), demonstraram a proporcionalidade inversa entre a taxa de
sucessão secundária e o nitrogênio disponível para as mudas de projetos de
revegetação em campos do oeste dos EUA.
Com vistas à subsidiar a elaboração de planilhas de custos, segue a tabela
6, que traz informações sobre os principais componentes dos custos diretos e
indiretos relativos ao passivo ambiental de imóveis rurais.
INSUMOS SERVIÇOS
50
5. Custos de recuperação
51
Fonte: INCRA SR-05 (regional Bahia). * isolamento com custo em R$/Km, variável em função do
modelo de cerca. ** a critério de profissional competente.
52
TOTAL 3.847,40 0,38
Fontes: SFC/SEMARH, TCPO 10/PINI, PRBSF e INCRA SR 05 (regional Bahia)
53
Área de campo, 2.000 mudas/ha, 1,143.60 2.230,02 1,325.20 2.584,14 4.814,16
60% leguminosas arbóreas nativas
Área de capoeira, 625 mudas/ha 977.70 1.906,52 1,082.30 2.110,49 4.017,01
54
Construção de cerca de 4 fios de arame farpado, estacas
espaçadas de 30 x 30m, mourões a cada 800m, R$/Km 3.156,60
balancins a cada 15m
Fonte: INCRA sede e SR 28 (regional Distrito Federal)
6. Considerações Finais
55
ambientais e que devem ser incorporados à integração das políticas públicas nos
níveis municipal, estadual e nacional.
As informações, técnicas, métodos e considerações acima discutidos,
permitem a análise que leva às seguintes conclusões:
- Relativamente à aplicabilidade ao tema passivo ambiental, verificou-se que a
avaliação e os estudos de impactos ambientais prestam-se, originalmente, à
identificação qualitativa e quantitativa de impactos causados sobre o meio ambiente
por empreendimentos de base empresarial. Procura responder perguntas do tipo: O
que pode acontecer se...?; O que é necessário fazer ou evitar...?; Quais as
alternativas...?
- No entanto, a AIA é um instrumento capaz de identificar desconformidades –
passivos ambientais – em relação à um sistema de gestão ou utilização de recursos
naturais – neste caso o imóvel rural de vocação agrosilvopastoril. Conclui-se,
portanto, que este é um instrumento útil na identificação, caracterização e
levantamento do passivo ambiental dos imóveis rurais;
- As atividades de avaliação do passivo ambiental necessariamente devem
incorporar este aspecto amplo e globalizador, característico da AIA, no tocante ao
levantamentos dos atributos físicos, sociais, econômicos e culturais, visando
caracterizar o ambiente em que será avaliado o passivo.
- As metodologias de valoração econômica dos recursos naturais são
caracterizadas pela determinação de valores para recursos ambientais existentes.
Visa, fundamentalmente, “atribuir um valor para conservar”. Atendem
satisfatoriamente à demanda latente atinente à necessidade de atribuição de valores
monetários aos bens coletivos, neste contexto, os ambientais. É calcada na
premissa de que todo bem tem um valor, um custo.
- A grosso modo, segundo os conceitos da valoração econômica, poder-se-ia
visualizar a avaliação do passivo ambiental como a avaliação monetária de um bem
que não existe em um lugar, mas que, social, técnica e legalmente, deveria existir.
Assim, a sua análise metodológica revela que as técnicas mais prontamente
adaptáveis ou utilizáveis à avaliação do passivo ambiental são as técnicas indiretas.
Estas técnicas se assemelham àquelas analisadas no tema recuperação ambiental.
- Atendendo a um conceito parcialmente atendido na valoração econômica do
ambiente, estão as metodologias de recuperação ambiental, que estimam custos de
recuperação. Verificou-se que tais metodologias são altamente especializadas e
individualizadas, de acordo com as características do local a ser recuperado. Há
grande variabilidade de técnicas e estas são funções do ecossistema, do estágio da
degradação, da disponibilidade de recursos, entre outros fatores.
- Verificou-se que o custo da regularização das desconformidades pode se
calculado por meio do valor dos insumos e serviços necessários para reverter esta
situação. Conclui-se, portanto, que a recuperação ambiental é uma ferramenta
importante para identificar aspectos qualitativos e quantitativos relativos à estes
insumos e serviços.
- Subsidiariamente, e em alguns casos, em caráter alternativo, os conceitos e
métodos de valoração ambiental podem estipular valores do passivo ambiental por
meio da atribuição de valor econômico ao aspecto ou atributo ambiental, caso ele
existisse e/ou estivesse conforme aos parâmetros pré-estabelecidos.
56
- As conclusões até aqui pormenorizadas permitem generalizar que a tônica
deste trabalho não é apenas a análise de metodologias adequadas ou adaptadas à
avaliação do passivo ambiental de imóveis rurais, mas contextualizar que isso
deixou de ser uma demanda latente e passou a ser um fator cobrado por vários
setores da sociedade.
- Finalmente, entende-se que a determinação de valores de passivo ambiental
visa atender objetivos maiores, que vão além da simples atribuição de valores
monetários que “saldam” estes passivos nos imóveis rurais. Deve-se sim, enxergar a
avaliação do passivo ambiental como uma etapa inicial, fundamental e necessária
para a efetiva recuperação dos ecossistemas degradados.
7. Referências Bibliográficas
CEPEA. Informativo CEPEA – Setor Florestal n.º 63. Centro de estudos avançados
em economia aplicada. Piracicaba: Esalq/USP, março de 2007.
57
CONVÊNIO DNIT/IME. Estudos concernentes à construção da BR-163 trecho: divisa
MT/PA a Rurópolis/PA (BR-163) e entroncamento BR-163 com BR-230 a
Mirituba/PA. Projeto básico ambiental. Programa de recuperação de áreas
degradadas. Minuta. Dezembro/2004. Disponível em <http://www.centran.eb.br>,
acesso em junho de 2007.
58
MARTINS, S. V. Recuperação de matas ciliares. Viçosa: Aprenda fácil, 2001. 146 p.
59