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Resumo: O texto tem como objetivo refletir sobre masculinidade e feminilidade na Educação
Infantil, ambiente quase que eminentemente feminino. Apresenta os resultados de uma
pesquisa que investigou as relações sociais de gênero nesse nível de ensino em uma escola
na qual atuava um homem como professor. Para a consecução da pesquisa foram observadas
as práticas pedagógicas de uma professora e do professor de Educação Infantil. Ao final das
observações foram entrevistados: a professora, o professor, a coordenadora pedagógica, a
diretora e uma atendente de creche. Com base nas contribuições teóricas acerca de cultura e
gênero e da análise do material empírico, mostra-se que a identidade masculina e feminina,
bem como os papéis sociais para ambos os sexos, historicamente, são construções humanas
que podem ser modificadas, principalmente na escola.
Abstract: The text aims to reflect about masculinity and femininity in children’s education, an
almost entirely feminine environment, bringing findings of a study that investigated the social
relations of gender in this level of teaching in a school where a man worked as a teacher.
Data was composed by observations of pedagogical practices of a woman teacher and a man
teacher of Early Childhood Education. After that, those teachers, the pedagogical coordinator,
the headmaster and a nursery worker were interviewed. Based on theoretical contributions
about culture and gender, the paper shows that the masculine and the feminine identities
and social roles for both sexes, historically, are human constructions that can be modified,
especially at school.
Key words: gender in early childhood education, masculinity and femininity in teaching,
culture and education.
Tânia Suely Antonelli Marcelino Brabo, Valéria Pall Oriani
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Alguns resultados da pesquisa realizada por Oriani, com bolsa CNPq, em nível de mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação
da Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP/Campus de Marília, intitulada Direitos humanos e gênero na Educação Infantil: concepções e práticas
pedagógicas serão apresentados, mostrando como são controversas as relações que se estabelecem no cotidiano escolar.
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Relações de gênero na escola: feminilidade e masculinidade na Educação Infantil
educação utilizadas para transformar da educação e das circunstâncias de domésticas, representava também
crianças em mulheres e homens. vida a que estavam submetidas. uma solução para o problema de
A essas divisões se acrescentariam A educação constituiu uma ban- mão-de-obra para a escola primá-
ainda as divisões religiosas [...]”. deira nas reivindicações das mulheres ria, pouco procurada pelo elemento
Além do mais, diante das diferen- brasileiras. As ideias liberais, apesar masculino devido à má remuneração
tes concepções de educação para a de não defenderem uma educação conforme se lê em Tanuri (1979, in
mulher, um discurso era comum a que promovesse a emancipação Brabo, 2005).
muitos grupos sociais, “as mulheres feminina, constituíram um avanço, Desde o seu surgimento, a esco-
deveriam ser mais educadas do que mas é importante questionar: qual la reforçou o papel tradicional da
instruídas [...] a ênfase deveria recair escola foi proporcionada às meninas? mulher na família e na sociedade,
sobre a formação moral, sobre a Sabe-se que o ensino proporcionado formava boas mães e esposas pro-
constituição do caráter [...]”. para ambos os sexos refletia a visão fessoras, comprometidas apenas
Somente na Constituição de que se tinha do papel social de cada com a instrução elementar e não com
1823 é que se encontra a ideia de um deles, ou seja, para a mulher, con- a formação integral do educando;
proporcionar legalmente instrução vém frisar, mais uma vez, um ensino defensoras dos valores tradicionais,
ao sexo feminino, mas essa tendên- voltado à educação doméstica com o resistentes às mudanças ocorridas na
cia liberal é sufocada com a disso- objetivo de refinar o seu comporta- sociedade como um todo, atuando
lução da Assembleia. No projeto de mento. Ademais, a lei de 1827, apesar como reforçadoras e mantenedoras
lei da Constituição de 1824, no que de estabelecer a educação para ambos da ideologia dominante.
se refere ao ensino, aparece apenas os sexos, só admitia as meninas nas Outra peculiaridade da femini-
uma referência à instrução femini- escolas de primeiro grau. Os níveis zação do magistério no Brasil é que
na, com a justificativa de propiciar mais altos eram exclusivamente para representou um paliativo para a rei-
à mulher melhores condições de os meninos. vindicação feminina de entrar para
cumprir suas funções domésticas; Em 1846, foi fundada a primeira a vida profissional, não por ser con-
mas foi um avanço, pois reconhe- escola Normal Paulista; essa escola siderado uma verdadeira profissão,
cia legalmente a necessidade de se destinava-se exclusivamente ao sexo mas porque era visto como um pro-
instruir a mulher brasileira (Saffioti, masculino por haver desinteresse em longamento das funções maternas.
1976). Embora defendessem a edu- relação à educação intelectual da Na escola, elas não reivindicavam
cação para a mulher, apenas para mulher e por achar que a instrução o poder, ao contrário, sujeitavam-se
preparar boas mães de família que da mulher deveria ser inferior àquela à hierarquia paternalista de poder.
iriam formar o homem do futuro, ministrada aos meninos, o que levou Diferentemente, na Europa, confor-
essas ideias liberais, transplantadas a uma tardia instalação da 1ª Escola me aponta Freitag (1986), a femini-
da Europa, influenciaram algumas Normal Feminina (Tanuri, 1979, in zação fazia parte das reivindicações
mulheres brasileiras das classes Brabo, 2005). das mulheres de participar das de-
mais abastadas no que se refere a Louro (1997, p. 450) nos mostra cisões e do poder dos subsistemas,
seus direitos. ainda como havia resistência por tendo estas conseguido, em alguns
No final do século XIX, foram parte da sociedade para a inserção países europeus, atingir postos
essas mulheres que, contando com da mulher na docência: “para al- importantes na máquina educativa.
uma imprensa reivindicatória, luta- guns parecia insensatez entregar às Bourdieu (1999) é outro autor
vam pela educação da mulher, assim mulheres usualmente desprepara- que contribuiu para desvelar a
como de outras necessidades básicas das, portadoras de cérebros ‘pouco construção das identidades, dizen-
da população feminina, mostrando desenvolvidos’ pelo seu ‘desuso’ a do que estas se iniciam a partir dos
que um pensamento emancipador educação das crianças.” brinquedos oferecidos à criança
florescia no País. Nísia Floresta, ao Pode-se considerar que o ma- desde a mais tenra idade. As ações
traduzir o livro de Mary Wollstone- gistério representava uma das úni- no processo de socialização não são
craft, Vindication of the Rights of cas oportunidades para a mulher neutras e se direcionam na pers-
Women, aborda a privação dos direi- exercer uma profissão, elevar seus pectiva androcêntrica de mundo,
tos das mulheres brasileiras e a injus- conhecimentos, e uma forma de por meio de discursos e do habitus.
tiça cometida pelos homens, que as não interferir na sua função social As diferenças apontadas por Bour-
148 impediam de se desenvolver, e de- primeira, de esposa e mãe. Além de dieu (1999) atuam inclusive nas
nunciava que as desigualdades pro- representar uma profissão na qual escolhas profissionais, já que se
moviam a inferioridade, resultante a mulher conciliava suas funções pautam em aptidões naturais para
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Relações de gênero na escola: feminilidade e masculinidade na Educação Infantil
indicar o que cada um deve fazer. desvalorização da profissão, tendo Como afirma Harding (1993,
Profissões que, por exemplo, envol- em vista que, se as habilidades são p. 13-14),
vem o cuidar são atribuídas às mu- naturais, então, não requerem uma
lheres tendo em vista que possuem o formação específica. A pesquisa feminista não representa a
dom nato da maternidade. Não é por Louro (1997, p. 450) enfatiza substituição da lealdade a um gênero
acaso que as profissões que acabam que, se a maternidade era a função pela lealdade a outro – a troca de um
subjetivismo pelo o outro-, mas a
se tornando guetos femininos são primordial da mulher, bastaria pen-
transcendência de todo gênero, o que,
as mais desvalorizadas; prova disso sar que o magistério representava
portanto, aumenta a objetividade.
é a feminização pela qual passou o “[...] a extensão da maternidade,
magistério, conforme apontamos an- cada aluno ou aluna vistos como um
Assim, com o objetivo de pensar
tes. De acordo com Almeida (1998), filho ou uma filha “espiritual”. [...]
as contribuições das teorias femi-
quando o magistério era um campo a docência não subverteria a função
nistas para as relações de gênero
masculino, representava uma pro- feminina fundamental, ao contrário,
na escola, especificamente em uma
fissão valorizada e, quando perdeu poderia ampliá-la e sublimá-la”.
escola de Educação Infantil na qual
seu valor, acabou sendo ocupada por Todas essas questões apontadas
um homem atua como docente,
mulheres. justificam a ausência do homem
apresentaremos, posteriormente,
A desvalorização do trabalho da atuando como professor na Educa-
algumas constatações da pesquisa
mulher, para Safiotti (1976), é ape- ção Infantil e, embora sejam poucos,
anteriormente citada, que permitem
nas mais uma artimanha utilizada eles precisam ser considerados e ou-
explicitar considerações a respeito
pelo sistema capitalista para manter vidos, tendo em vista que esse nível
de como professores e professoras
a competitividade entre eles e elas e, de ensino representa os primeiros
contatos da criança com um grupo de Educação Infantil lidam com
portanto, justificar o equilíbrio das as questões de gênero no cotidiano
ordens econômicas. Afinal, de acor- social diferente dos membros da
família além do que esses contatos escolar, ambiente em que masculi-
do com a perspectiva capitalista, é o nidades e feminilidades precisam se
homem quem deve manter o sustento contribuirão também para a cons-
trução da identidade de gênero da relacionar e são construídas.
do lar e não a mulher. De acordo com Medrado e Lyra
Ao se tratar da docência, essa criança. Ademais, o fato de homens
procurarem o magistério, principal- (2008), é dentro do feminismo, a
perspectiva parece ainda mais pre- partir da década de 1980, que os
mente para atuarem com crianças
sente em níveis educacionais como a estudos sobre as masculinidades
pequenas, pode significar um pro-
Educação Infantil, em que os cuida- começam a aparecer, mas, a partir de
cesso decorrente dos avanços com
dos são necessários, além do educar. 1990, é que começam a se destacar.
relação a relações sociais de gênero.
Acrescente-se a isso a visão apontada Conforme Fialho (2006, p. 2)
Sendo assim, consideramos im-
por Carvalho (1999, p. 71) de que foi Robert Connel quem definiu o
portante conhecer as rotinas peda-
gógicas de uma escola de Educação conceito de masculinidade como
[...] quanto mais o trabalho docente
Infantil Municipal da cidade de “[...] uma configuração de prática
com crianças é idealizado como
Marília/SP, na qual atuava um ho- em torno da posição dos homens
não-intelectual, enfatizando suas
dimensões relacional e afetiva, mais mem para compreender como e se na estrutura das relações de gênero
se aproximam as imagens da escola as relações de gênero influenciavam [...]”. Devido à diversidade de iden-
primária e seu trabalho docente das nas práticas pedagógicas. tidades, como aponta Fialho (2006),
características tidas como femininas. Entretanto, é importante ressaltar não é possível se falar a respeito
que questões como essas só ganha- de masculinidade, mas de mascu-
Assim, a mulher é eleita como ram visibilidade como responsáveis linidades, numa reflexão similar à
ideal para atuar com as crianças pela discriminação e pela subordina- do movimento feminista quando
pequenas porque, de acordo com ção das mulheres a partir das con- afirma a necessidade de se referir
suas características biológicas, ela tribuições teóricas das feministas. às mulheres, na tentativa de abarcar
traz consigo a aptidão natural para Os questionamentos suscitados por a diversidade humana.
o cuidar. Essa mesma justificativa, elas permitiram pensar não apenas Dentre as masculinidades, existe
aliada ao fato de que o salário da mu- em homens e mulheres, mas nas uma ideal, que serve de base para as
lher seja suplementar ao do marido, relações que se estabelecem entre demais que, segundo Fialho (2006), 149
o responsável pelo sustento da famí- eles e o quanto essas relações são foi definida como hegemônica por
lia, se aplica aos baixos salários e à permeadas de poder. Robert Connel, a partir do conceito
de Gramsci (1978). A masculinidade para a masculinidade e “não apenas processo de feminização do magisté-
hegemônica subordinaria as demais apreender e analisar os signos e sig- rio associa-se às péssimas condições
masculinidades que permanecem nificados culturais disponíveis sobre de trabalho, ao rebaixamento salarial
em constate conflito pela conquista o masculino [...]” Nesse sentido, é e à estratificação sexual da carreira
da hegemonia. Conforme Weaver- possível pensar em como a educação docente, assim como a reprodução
Hightower (2011, p. 190), as outras influencia e é influenciada por esses de estereótipos por parte da escola”.
masculinidades são marginalizadas: signos e significados culturais que Dessa forma, de acordo com Sar-
“As masculinidades de classe, de definem as masculinidades e como mento (2004, p. 105), em pesquisa
raça, rural e deficiente física, ape- ela pode atuar para a construção de realizada em Portugal com edu-
sar de suas semelhanças com os relações menos desiguais. cadores de infância, a escolha dos
comportamentos da masculinidade Para Weaver-Hightower (2011, homens por essa profissão feminina
hegemônica, recebem menos recom- p. 191), a educação está diretamente requer determinação:
pensa material e exaltação cultural relacionada à difusão desses símbo-
por causa de seu status marginal”. los que reproduzem as característi- Mais do que as educadoras, os
Para Badinter (1993), as mascu- cas da masculinidade hegemônica. homens-educadores têm que possuir
Segundo argumenta, “Da pedagogia convicções muito fortes para levarem
linidades e feminilidades estão em
por diante seus propósitos, dado
constante relação, porque a mascu- ao currículo e aos regimes discipli-
terem que se confrontar com muitas
linidade se fundamenta nas feminili- nares, formas hegemônicas parti-
pressões sociais, quer de tipo familiar
dades para se constituir. Ela afirma, culares são favorecidas, exaltadas, quer do tipo mais geral, que identi-
recompensadas e em última análise ficando o exercício desta profissão
Embora o ‘macho’ e a ‘fêmea’ reproduzidas enquanto as formas com o gênero feminino, não aceitam
possam ter características univer- subordinadas são sancionadas, mar- a inscrição de homens na mesma.
sais, ninguém pode compreender a ginalizadas ou punidas”.
construção da masculinidade ou da A esse respeito, é importante Em consonância com a perspec-
feminilidade sem referência ao ou-
pensar: se e como essas questões tiva da autora, Carvalho (1998, p. 5)
tro. Longe de ser pensada como um
absoluto, a masculinidade, atributo
influenciam as práticas pedagógicas afirma que
do homem, é relativa e reativa. Tanto dos homens? Eles teriam um modelo
que, quando a feminilidade muda – diferente de atuação? Como são Trata-se de pessoas do sexo mascu-
em geral, quando as mulheres querem vistos e avaliados na docência da lino, lidando quotidianamente com
redefinir sua identidade –, a mascu- Educação Infantil? expectativas, conceitos e tarefas cul-
linidade se desestabiliza (Badinter, turalmente associados à feminilidade
e que, uma vez que a estreita corre-
1993, p.11). Homens, masculinidades lação entre feminilidade e mulheres,
e docência masculinidade e homens também
Complementando, a autora afir- é um pressuposto estabelecido, são
ma ainda que a identidade de um De acordo com Carvalho (1998), igualmente expectativas, conceitos
homem passa por outros agravantes o modelo hegemônico de masculi- e tarefas estreitamente associadas às
para seu delineamento. Ao contrário nidade nas sociedades ocidentais se mulheres.
das mulheres, os homens precisam baseia principalmente no sucesso
comprovar a todo instante que real- profissional para indicar a percep- É preciso considerar, além do
mente são homens, questão que se ção que os homens têm de si e dos mais, de acordo com Ribeiro e Si-
torna um problema, tendo em vista outros. queira (2007), que a mídia exerce
que o peso social se torna maior, Entretanto, segundo Vianna uma grande influência no que se
porque qualquer comportamento que (2001, p. 90), e como vimos ante- refere à masculinidade dos professo-
saia dos padrões heteronormativos riormente neste texto, a profissão res. Em pesquisa realizada por essas
permite o questionamento da mas- docente “que inicialmente constitui- autoras com homens docentes, elas
culinidade do homem. se por ser masculina, a partir do identificaram o surgimento de um
Sendo assim, como afirmam Me- século XX passou pelo processo novo homem. Esse novo homem se
drado e Lyra (2008, p. 825), pesqui- de feminização, que não se carac- diferencia dos padrões esperados do
sar sobre masculinidades significa terizou apenas pela predominância homem tradicional, principalmente
150 discutir preconceitos e estereótipos feminina, mas também pela des- em relação à família. Tais atitudes,
além de repensar a possibilidade de qualificação do trabalho docente”. de acordo com Ribeiro e Siqueira
construir outras versões e sentidos Além disso, conforme aponta, “o (2007), representam uma diminuição
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Relações de gênero na escola: feminilidade e masculinidade na Educação Infantil
no distanciamento entre homens e que são frequentemente noticiados. masculinos e do endosso dos in-
mulheres. A nosso ver, essa consta- Segundo Werebe (1988), a pedo- teresses dos homens e dos meni-
tação mostra um avanço nas relações filia corresponde ao abuso sexual de nos”. Fica claro que essas situações
sociais de gênero. crianças pelo adulto, e geralmente o apontadas pelo autor dizem respeito
Para Medrado e Lyra (1998), a adulto corresponde a alguém próxi- ao funcionamento da “ordem de
mídia tem realmente contribuído mo a criança ou de confiança da fa- gênero” na instituição educacional
para uma nova imagem de homem mília Assim, o medo do abuso acaba e em outros espaços. Diante das
que ele identifica como o novo pai, gerando repulsa à proximidade de colocações feitas, resta-nos ir para
que, além de se responsabilizar homens com as crianças. De acordo dentro da escola, comprovando os
pelo sustento da família, também com Saparolli (1998), possivelmen- apontamentos feitos pela literatura
demonstra carinho em relação às te, são os mitos e as ideias arraigadas aqui relembrada.
crianças. sobre a masculinidade, associados ao
Outro autor que se refere a essa medo do abuso, que ainda mantêm o Um estranho no ninho:
imagem de novo pai é Fonseca homem afastado da atuação docente professor na Educação
(1998). Para ele, essa imagem na Educação Infantil. Infantil
tem sido recorrente em autores da É importante ainda apontar o que
Psicologia, que buscam respostas Weaver-Hightower (2011, p. 189) Essas questões se mostraram
sobre a participação dos pais no afirma e que ilustra as questões apon- presentes no cotidiano da escola de
desenvolvimento da criança, além tadas desde o início do texto no que diz Educação Infantil da cidade de Marí-
disso, esse tema tem se expandido respeito à cultura. O autor lembra que lia/SP2 onde realizei minha pesquisa
nas pesquisas acadêmicas brasileiras “a masculinidade não está somente de mestrado. Para a consecução da
e, principalmente, na mídia. conectada aos corpos masculinos ou pesquisa foram observadas as práti-
A busca por uma nova imagem a feminilidade aos corpos femininos”. cas pedagógicas de uma professora e
de homem parece surgir em resposta Argumenta que a masculinidade das de um professor de Educação Infan-
à pressão pela qual passa o homem “mulheres é um componente crucial til. Ao final das observações foram
para manter-se dentro dos padrões da manutenção dos projetos de gênero entrevistados a professora, o profes-
normativos heterossexuais e, no caso mais amplos da sociedade, legiti- sor, a coordenadora pedagógica, a
de atuar em uma profissão conside- mando e desafiando e destacando os diretora e uma atendente de creche.
rada feminina como a docência, o traços da masculinidade do homem e Durante as observações e entre-
julgamento a respeito de sua mas- também a opressão das mulheres e dos vistas, foi constatado o quanto os es-
culinidade pode causar problemas, queer”. Quando essa masculinidade tereótipos parecem estar naturaliza-
conforme pondera Garcia (1998). das meninas é identificada na escola, dos nesse contexto e, a olhos menos
Além disso, as expectativas que por exemplo, quando elas se interes- atentos, insensíveis à problemática
se criam a respeito de um homem sam por atividades dos meninos, tanto de gênero, passam despercebidos.
atuando com crianças também cau- adultos quanto colegas logo agem no Em relação à sua masculinidade,
sam questionamentos. De acordo sentido de restringi-las, colocando a o professor, em entrevista, afirmou
com Cruz (1998), se à mulher é feminilidade “em seu lugar”, o mesmo que, em seus primeiros dias de atu-
associada a figura materna, com as se pode dizer com relação aos meninos ação, sentiu-se avaliado. Além do
características afetuosas que se espe- desde a Educação Infantil, conforme estranhamento natural de um homem
ra da mãe, ao homem, a imagem não constatamos na escola e na vida em atuar nessa profissão totalmente
é a de um pai carinhoso ou educador, sociedade. Qualquer comportamento feminina, ele contou que sabia que,
mas de alguém que não consegue considerado desviante é mal visto. mesmo de forma indireta, sua mas-
conter sua sexualidade. Essa imagem Ainda seguindo as afirmações culinidade havia sido questionada.
negativa da masculinidade gera des- do autor, ao mesmo tempo, na
confianças em relação ao homem, escola, educadoras “participam da [...] eu não ouvi diretamente, as outras
principalmente no que se refere reprodução da dominação mascu- pessoas vinham e falavam para mim,
elas pensavam que você tinha algum
aos cuidados com a criança, sendo lina por meio da incorporação da
problema com a masculinidade,
agravada pelos casos de pedofilia, masculinidade, de comportamentos
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De acordo com dados obtidos junto à Secretaria Municipal de Educação de Marília (SP), o número de docentes da Educação Infantil é de quatrocentas
e quarenta e cinco mulheres e de apenas um professor.
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Relações de gênero na escola: feminilidade e masculinidade na Educação Infantil
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