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D Í S C I K S O A Ü N E M O >

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PROFERIDO NA AUGUSTA PRESENÇA a ^ i ^ ^

S U A M A G E S T A D E 0 I M P E R A D O R

MO DIA 26 DE SETEMBRO DE 187Q

Por occasião da distribuição dos prêmios aos Srs. artistas, que concorreram
na Esposição inaugurada no dia 6 de Março

POR

DOUTOR EM SCIENCIAS
PROFESSOR DE HISTORIA DAS ARTES, ESTHETlCA
E ARCHEOLOGIA NA ACADEMIA IMPKRIÀL DAS BELLAS-ARTES DO
RIO DE JANEIRO, LENTE ADJUNTO Á FACULDADE DAS SCIENCIAS
DA UNIVERSIDADE DE BRUXELLAS, E T C , E T C , ETC.

(Mandado publicar ás expénsas da Congregação da Academia das Bellas Artes


do Rio de Jaoeiro.)

M O D E J A I V E I R O
TYPOGRAPHIA—PAULA BRITO
10 RUA DO SACRAMENTO 10

1
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I
D I S € U R s a m m

Senhor i

Meus Senhores ! Por mais que alguns phiiospphos, seduzidos pelo amor cia
h u m a n i d . d e , tenham querido inculcar uma época em que o progresso da c i v i -
lização por si só ha de ser bastante para reduzir todos os homens a uma, absoluta
igualdade, o conhecimento da natureza humana e a e x p e r i ê n c i a de largos séculos
desmentem este sonho i n f a n t i l . À diversidade das intelligencias, das aptidões e
dos caracteres t r a ç o u entre os homens u m sulco p r o f u n d o , que debalde t e n t a r ã o
annullar os mais ousados socialistas. O ignorante, que v i v e estranho ao mundo
de que faz p a r t e ; o fementido, que apunhala na alma do amigo os mais ineffa-
vejg sentimentos; o invejoso, que de industria desconhece as grandes faces do
talento, da i n s p i r a ç ã o e do h e r o í s m o , nno podem ser equiparados ao sábio, que
existe como u m centro de attracções intellectuaes no meio da c r e a ç ã o , aos grandes
c a r a c t é r e s , que illustram as grandes v i r t u d e s ; ao homem de gênio, de quem deriva
tudo quanto ha formoso e gigantesco na c i v i l i z a ç ã o ; porque os primeiros consti-
tuem a parte retrogada e dissolvente das n a ç õ e s , os outros f o r m a m o seu elemento
motor. Uns inventaram a censura, o embusie e a calumnia, para amesquinharera
as p r o p o r ç õ e s dos grandes inventos, desprestigiarem o m é r i t o , e darem em terra
com os â n i m o s ainda n ã o tisnados á tocha da i n f â m i a ; outros, verdadeiros estan-
dartes do progresso, permittiram que, a sombra das maravilhas sahidas de suas
. — 4 —

mãos, se fosse formando a critica judiciosa e sensata, para apontar as qualidades, las-
t i m a r os defeitos, e c u m p r i r desta arte a sua dupla m i s s ã o de orientar o gênio trans-
viado eacostumar o espirito publico aos juizos difficeis e milindrosos da esthetica.
São destes ú l t i m o s os verdadeiros a r ü s t a s , isto é, os homens a quem a Acade«
mia manifesta todos os annos a sua estima, concedendo-lhes os seus p r ê m i o s .

Tal é , senhores, a natureza e excellencia do acto que hoje celebramos; e


por isso vemos reunido neste recinto tudo quanto ha mais nobre e illustre no
nosso heróico i m p é r i o : autoridades venerandas, professores abalizados, a c a d ê m i c o s
briosos e distinctos, cidadãos de todas as classes, probos e honrados, todos, todos
á porfia querem ver e conhecer os mimosos filhos das musas; todos querem
gozar o espectaculo grandioso do t r i u m p h o do geniõ coroado pelas augustas m ã o s
do seu mais illustre protector.
Se, p o r é m , este acto já era de sua natureza grande e solemne, tornou-se
solemnissimo depois que muitos e m u i brilhantes successos collocaram o Brasil
em uma época essencialmente o r g â n i c a , em que cada facto social deve achar
sua r a z ã o nas necessidades do paiz, e corresponder a u m ideal conforme á s aspirações
da época. Temperados á chamma da verdade, fortificados nas luctas incessantes
do progresso, exultando de prazer ao vermos f u l g i r e m os louros da gloria na
fronte de tantos gênios nacionaes, que se v ã o illustrando no c u l t i v o da musica,
da architectura, da estatuaria e da pintura, j á não podemos considerar os phenome-
nos artisti os realizados por brazileiros como u m élo desprendido da cadêa dos
factos que nos illustram, uma pagina solta desse l i v r o immorredouro em que se
v ã o archivando uma após uma todas as glorias nacionaes.

E quanto, Srs. artistas, n ã o são augustas as vossas f u n c ç õ e s , quando assim


vos vêdes ligados aos destinos da sociedade brazileira ! Como n ã o deveis e x u l t a r de
enthusiasmo quando refletirdes que foram os vossos antecessores na arte de sanetifi-
car o bello, os esteios mais fortes do progresso, os percursores mais illustres da
civilização, os prophetas mais infalliveis de todas as religiões que durante o
v?sto curso dos séculos elevaram seus templos no coração e na consciência da
humanidade? ! Chamai a historia u n i v e r s a l , n ã o como é geralmente ensinada nas
nossas escolas, onde se deixam á sombra todos factos que respeitam o descobri-
mento da verdade, mais trazendo comsigo toda a i n t u i ç ã o do passado, e man-
dai-a desiobrar diante de v ó s a grandiloqua prophecia da realidade; evocai a
alma do mundo antigo, e contemplai-a em toda a sua n u d e z !
V i n l e , povos sonhadores da India,_dessa terra de mysteriosas t r a d i ç õ e s ,
v i n l e dizer-m3 o que vos resta da vossa antiga grandeza ! Osyllogismo, quepreten-
deis terdes inventado? i r a . ossivel, que esse escreveu-o Deos entre os v o c á b u l o s do
pensaraanto do p r i m e i r o h o m e m ; os princípios da vossa philosophia theologica, que
egundo os sacerdo tesde A r i ú n a continham effectivamente toda a seimeiaf a vossa
c o n s t i t u i ç ã o política e social, que encerrava virtualmente todas as c o m b i n a ç õ e s
p o s s í v e i s para r e s o l v e r e m todas as hypotheses i m a g i n á v e i s o problema do f u t u r o ?
— 5 —

Enganai-vos, que por cima de tudo isto passaram victoriosos os soldados de Ale-
xandre, depois passaram todos os grandes povos e o a r r u i n a r a m completamente. A
vossa seiencia da natureza, em que os phenomenos sociaes se explicavam pelos
movimentos planetários e a t é pelos accidentes m e t e o r o l ó g i c o s ? Desappareceram,
como os vossos sonhos em política e em theogonia. Restaõ-vos somente para vossa
gloria os gigantescos monumentos da architectura e da esculptura, que, com as
prodigiosas fantazias de Wiasa e de V a l m i c h i , salvaram-vos do esquecimento
da posteridade, ou mesmo do desprezo dos vossos i m p l a c á v e i s conquistadores-
Vinde, teVra amarga dos Egypcios, pátria da melancolia e da . s u p e r s t i ç ã o !
Onde estão os vossos antigos esplendores, e que resta de tanta m a g n i f i c ê n c i a ?
Os pharaós foram vencidos pelos Persas decadentes, e suas m ú m i a s cahiram
em poeira debaixo dos pés oppressores dos estrangeiros do Occidente; vossa
estoica moral f o i condemnada por uma outra moral, e o caminho do sol, m á x i m o
esforço de vossa fantástica seiencia, encheu-se de urzes e tojos, desde que a
escola de Alexandria c o m e ç o u a cultivar a geometria e a seiencia dos n ú m e -
ros : restam p o r é m os edifícios de Philè, de Elephantina e de Karnac, para i r e m
restaurando pouco a pouco essa estatua gigantesca que, baseada nas pyramides,
enchia de pasmo e assombro a humanidade, com sua linguagem a u m tempo
estranha e vehemente.

Vinde sympathica e gloriosa Grécia, mãi formosa do h e r o í s m o e da poesia!


que f o i feito dos vossos deuses, que povoavam outr'ora os caminhos, as grutas,
os rios, os lagos, os mares, o ar, o fogo, e que, reunidos em conselho, deci-
diam, do alto do Olympo, da sorte do universo ? Todos cahiram ante a mages-
tade do Deos de Sócrates e das tradições mosaicas. Onde está á vossa ligislação,
desde que appareceu a de Roma ? Onde está a vossa philosophia ? Desabou ao
sopro da seiencia v u l g a r dos Á r a b e s , que mandaram á Europa o telescópio
para refutal-a. Vossa formosa Minerva escondeu as faces enrubecidas de ver-
gonha, quando v i u no berço da creação moverem-se Copernico e Galileu, isto
é, dous tios immortaes fundadores do raethodo das- sciencias experimentaes,
que cercearam por suas bases as escolas deduetivas, que pareciam g ê m e a s da
eternidade. Restam p o r é m os poemas e as estatuas, para, com as leis da archi-
tectura, civilisarem todos os povos que vos suecederam na scena do mundo.
Vinde, Roma opulenta e magestosa, leito p r i m i t i v o de todas as virtudes
cívicas, séde perenne dos p o n t í f i c e s ; que vos resta de vossas antigas pretenções
de aniquilar as sociedades, reduzindo todos os povos do orbe á humilde
condição de vassalos dos vossos vassallos ? Apenas uma saudosa recordação
no espirito dos homens ambiciosos e p é r f i d o s ; que f o i feito dessas trezentas
m i l entidades divinas, que guiavam as vossas legiões a t r a v é z dos continentes
e dos mares, e que colligidas contra a Pérsia, Babylonia, Syria, Egytpo, Grécia,
Carthago e todo o Occidente, deram em terra com a liberdade social, que h a v i a m
proclamado os povos hellenicos? Todos desappareceram ante o Deos ú n i c o da
Bíblia, da Concepção colossal do christianismo. Onde f o i que se escondeu vossa
antiga fortaleza, vossa lei e vossos grandes moralistas ? Tudo, tudo se esvaeceu
ao sopro tempestuoso dos b á r b a r o s ; e quando vieram os povos modernos, apenas
acharam u m l i v r o , o grande Digesto, para provar-lhes que Virgílio e Tácito
foram c o n t e m p o r â n e o s de grandes jurisconsultos; ficaram sobretudo à s gigantescas
abobadas, os vastos amphitheatros, os circos, as pontes e os arcos de t r i u m p h o ,
q u è espalhados por toda a parte, attestam uma civilisação e x t r a o r d i n á r i a , uma
p r e p o t ê n c i a política sem exemplo na historia dos povos antecessores.
E vós t a m b é m , sociedades que nascestés sob o reino da idade media, levan-
tai-vos despidas d ó s vossos r i d í c u l o s a t t â v i o s , e vinde dizer-me o que resta de
v o s s a ' l ó g i c a , de vossa dialéctica, seiencia dedalica em que cada palavra era uma
substancia, cada frase u m thema de profundas cogitações, e cada argumento u m
i n e ò m p r e h e n s i v e l exemplo de p e n e t r a ç ã o ? Nada! A r n a u l d de Villeneuve, que v ó s
n ã o comprehendestes, Á b é l à r d , que v ó s perseguistes, e Rogério Bacon que v ó s
quizestes sacrificar, j á haviam cavado a vossa r u i n a antes que na Inglaterra, em
França e na Itália apparecessem os tres r e s t à u r a d o r e s das sciencias positivas.
Resta-vos p o r é m a cathedral gothica, a mole gigantesca de ferro e g r é s , para
disculpar-vos os erros e os transvios, e symbolisar eternamente a fé catholica é m
todo o ardor de sua pureza p r i m i t i v a .
E ainda essa architectura, em que se achavam concentradas todas as vossas
e s p e r a n ç a s , todas as ambições da theologia, quem a derrocou ? Foi o architecto
Brunelleschi, que senhor da p r ó p r i a i n d e p e n d ê n c i a inteíleclual, oppoz a r a z ã o á
t r a d i ç ã o , e de u m surto venceu a a n t i g ü i d a d e . A h i está a Sé de F l o r e n ç a , que
repelliu a i n v a s ã o ascética na Itália, constituindo-se a primeira estrophe desse
mavioso cântico da intelligencia, o allegro dessa grandiosa symphonia, concurso
maravilhoso de todas as manifestações do espirito a que chamamos Renascença!
A h , filha formosa da a n t i g ü i d a d e e x h u m a d a ! poema de inspirações i n f i n i t a s !
quem f o i que te trouxe ao mundo ? Foram os peripatheticos, que suppunham
regenerar ^sociedade fazendo-a l ê r Aristóteles nos livros de Avicennes e d'Aver-
r ó e s , nos quaes nem ao menos uma paraphrase do pensamento do mestre se
encontrava ? Foi a escholastica, dos doutores da antirazão, que gastaram tres secu-.
los de renhidas discussões a propósito de u m parallogismo ? Foi Carlos V I I I c
L u i z X I I , que aplainando a serra dos Alpes tentaram aniquilar o gênio italiano,
aterrado pelo espectaculo das victorias de uma civilisação semi-barbara ? F o i
Colombo, o duplicador da superfície da terra, cujos grandes descobrimentos prolon-
garam por mais de dous séculos a d u r a ç ã o da idade media ? Foi Gutenberg, que
para i l l u m i t t a r as novas sociedades, recebeu dollas a triste condição de m u l t i p l i c a r
i n t e m p è r a d a m e n t e os mysticos e os escholasticos, inimigos radicaes de todo o
progresso ? Foi Machiaveílo, que escreveu u m volume para ensinar aos d é s p o t a s
a fazerem de nações inteiras m a t é r i a bruta de suas e x p e r i ê n c i a s peculiares?
Foi L u t h é r o . e m f i m , que tentou fundar o reino do f u c t u r o restaurando o i m p é r i o
do passado? N ã o ! f o i Erasmo, o delicioso chorista d'Utrech, o pintor do
c r u x i f i x o de Basiléa, que, depois de r e e d i ü c a r nos seus Adagios o bom senso da
antigüidade, mandou ao papa, no elogio da loucura, o primeiro ensaio t r i u m -
phante da critica moderna e l i v r e ; f o i Copernico, o retratista de T h o r n , que
i n s t r u í d o nas eternas harmonias da esthetica, preferio no estudo dos cosmos o sys-
t ê m a racional heliocentrico, ao s y s t ê m a visual de Ptolemeu; foi Kepler, a u m
tempo musico, desenhador e geometra, que da simples inspecção de uma figura
plana, deduziu as quatro leis a d m i r á v e i s que pozeram nas m ã o s de Newton a
chave do mundo p l a n e t á r i o ; foi Galileu, que do estudo da pintura passou ao
da musica, para depois, elevando-se á astronomia, merecer da posteridade o titulo
de descobridor do Armamento; foram finalmente Dante, Leonardo de Vinci,
Petrarca, Miguel Ângelo e Raphael, que, cultivando as artes da paz, souberam
realizar, sem violência nem perfídia, a grande r e v o l u ç ã o moral e intellectual de
que sahiram victoriosos os princípios da civilização moderna.
Eis, senhores artistas, algumas dessas verdades que os historiadores costumam
esquecer, n ã o obstante o terem ellas mudado radicalmente a face do mundo.
Iniciados na arte de eternizar a v i r t u d e , a illustração e o h e r o í s m o , destinados,
a serdes perante as gerações do provir os fieis interpretes das nossas glorias,
penetrai-vos, pois, do venerando encargo de que vos achaes i n c u m b i d o s ; dessa
espécie de magistratura de que vos revistio a civilização, e n ã o vos e s q u e ç a i s
nunca que as sociedades futuras terão os olhos fitos nos primores sahidos do
vosso engenho, quando quizerem historiar a vossa época. Gloriosa phalange de
soldados do progresso, que vinde cada dia ajuntar mais uma pedra ao monu-
mento da p á t r i a , não desanimeis ao verdes o abutre da inveja crocitar f r e n é t i c o
em torno dos vossos t r o p h é o s ; erguei o escopro creador e desabai-o r á p i d o sobre
a m a t é r i a p r i m a : o monstro intrincheirado nos sarçaes lodacentos da p r e g u i ç a ,
f u g i r á espavorido o r u m o r da inspiração, e desaparecerá consumido pela p r ó p r i a
raiva, quando sentir aproximar-se o facho da verdade !
E v ó s , senhores, illustrados promotores da prosperidade p á t r i a , a quem deve
a nação tantos elementos de vitalidade, dignai-vos de considerar sempre as artes
liberaes como o faziam outr'ora os legisladores gregos: pelas suas grandes faces,
e á luz dos interesses da civilização. Mais felizes do que esses o p e r á r i o s , que ora
vedes cobrirem o peito com o g a l a r d ã o do trabalho, com o p r ê m i o das virtudes
paciíicas, que tão dignamente exercem, os cultores da seiencia s a ú d a m na creação
de u m g r a ü d c fóco de desenvolvimento intellectual a aurora de u m dia esplendido.
Se uma igual prespectiva se abrisse para os artistas, tenho a firme c o n v i c ç ã o de
que seria altamente profícua, n ã o somente as bellas artes, senão a todos os
ramos de desenvolvimento industrial.
A numerosa classe, que tem a honra de contar em seu seio talentos como Carlos
Gomes, tão enthusiasticamente victoriado pela I t á l i a ; Mesquita, cujas CÍ mposições
sagradas cada vez mais o reconimendam á a d m i r a ç ã o publica ; Archaugelo
8 —

Fiorito, que durante cinco annos consecutivos de trabalhos incessantes n ã o


deixem de a u x i l i a r o progresso da arte nacional; Vicior Meirelles, o illustrado
auetor da Primeira Missa, da Moema, e de alguns a d m i r á v e i s esboços relativos á
historia p á t r i a ; Agostinho da Motta, o gracioso pintor das nos-as paizagens;
Ferro Cardoso, que depois de reedificar grande parte da famosa L u v a n i a , proje-
c t o u ligar por uma a r t é r i a sumptuosa os grandes bairros de Bruxellas, tornan-
do-se por semelhantes factos, elle, brazileiro, o p r i m e i r o architecto da B é l g i c a ;
Chaves Pinheiro, cujas formosas p r o d u c ç õ e s , uma das quaes é colossal, assegu-
ram-lhe um lugar distineto na historia da arte c o n t e m p o r â n e a ; Porto-Alegre, o
illustre decano dos artistas nacionaes, c u j o nome é uma das maiores glorias do
B r a z i l ; uma classe t ã o provida de homens eminentes, e em particular a Acade-
mia, que apezar de ver limitadas por muitas c í r c u m s t a n c i a s as c o n s e q ü ê n c i a s
do seu ensino, tem formado os principaes professores das nossas escolas
especiaes, imploram e merecem a vossa illustrada p r o t e c ç ã o . Os artistas carecem
de trabalho, principalmente de trabalhos de utilidade pubhea. Eis o ponto
essencial, a q u e s t ã o de máxima i m p o r t â n c i a , para quem quizer considerar
o progresso das bellas artes no Brazil debaixo do seu verdadeiro aspecto. Entre
os muitos artistas celebres de que faz m e n ç ã o a historia, raros f o r a m aquelles que
se illustraram nas escolas ofíiciaes. Incumbidos de grandes encargos, quasi todos
t i r a r a m disto as regras do m é t o d o , e o enthusiasmo necessário para as grandes
realizações. A satisfação desta primeira necessidade t r a r i a , pois, necessariamente,
a solução do problema do ensino.
E j á que toco em tão importante assumpto, seja-me permittido annunciar-vos
solemnemente que a academia de S. Lucas acaba de distinguir com um primeiro
p r ê m i o o nosso compatriota João Zeferino da Costa, actual pensionista do g o v e r n o ;
porque este facto, confirmando de algum modo a excellencia do ensino que offerece
a Academia das bellas artes do Rio de Janeiro, m i l i t a em favor da opinião que
professo, que n ã o é tanto nas condições actuaes do methodo, como em circumstan-
cias exteriores a elle, que está encerrado o segredo do progresso e do verdadeiro
desenvolvimento das bellas artes.
E que vos falta senhores, que formais os grandes poderes do Estado, para
vencerdes as difficuldades e os obstáculos de tão gloriosa tarefa ? As riquezas,
as honras, os interesses geraes, e por c o n s e q ü ê n c i a o gosto, os costumes e as
p a i x õ e s patrióticas, tudo xisto n ã o está nas vossas poderosas m ã o s ? Á r b i t r o s dos
nossos destinos, os primores das artes n ã o se cream sem a vossa vontade!
F a l l a i ; o gênio impaciente vos escuta; o granito e o m á r m o r e das montanhas
r o l a r ã o até os alicerces dos nossos e d i f í c i o s ; e a pátria agradecida, que j á s a ú d a
em v ó s os cultores da verdade e os promotores do bem, s a u d a r á igualmente os
admiradores ferventes do b e l l o !

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