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PROFERIDO NA AUGUSTA PRESENÇA a ^ i ^ ^
S U A M A G E S T A D E 0 I M P E R A D O R
Por occasião da distribuição dos prêmios aos Srs. artistas, que concorreram
na Esposição inaugurada no dia 6 de Março
POR
DOUTOR EM SCIENCIAS
PROFESSOR DE HISTORIA DAS ARTES, ESTHETlCA
E ARCHEOLOGIA NA ACADEMIA IMPKRIÀL DAS BELLAS-ARTES DO
RIO DE JANEIRO, LENTE ADJUNTO Á FACULDADE DAS SCIENCIAS
DA UNIVERSIDADE DE BRUXELLAS, E T C , E T C , ETC.
M O D E J A I V E I R O
TYPOGRAPHIA—PAULA BRITO
10 RUA DO SACRAMENTO 10
1
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I
D I S € U R s a m m
Senhor i
Meus Senhores ! Por mais que alguns phiiospphos, seduzidos pelo amor cia
h u m a n i d . d e , tenham querido inculcar uma época em que o progresso da c i v i -
lização por si só ha de ser bastante para reduzir todos os homens a uma, absoluta
igualdade, o conhecimento da natureza humana e a e x p e r i ê n c i a de largos séculos
desmentem este sonho i n f a n t i l . À diversidade das intelligencias, das aptidões e
dos caracteres t r a ç o u entre os homens u m sulco p r o f u n d o , que debalde t e n t a r ã o
annullar os mais ousados socialistas. O ignorante, que v i v e estranho ao mundo
de que faz p a r t e ; o fementido, que apunhala na alma do amigo os mais ineffa-
vejg sentimentos; o invejoso, que de industria desconhece as grandes faces do
talento, da i n s p i r a ç ã o e do h e r o í s m o , nno podem ser equiparados ao sábio, que
existe como u m centro de attracções intellectuaes no meio da c r e a ç ã o , aos grandes
c a r a c t é r e s , que illustram as grandes v i r t u d e s ; ao homem de gênio, de quem deriva
tudo quanto ha formoso e gigantesco na c i v i l i z a ç ã o ; porque os primeiros consti-
tuem a parte retrogada e dissolvente das n a ç õ e s , os outros f o r m a m o seu elemento
motor. Uns inventaram a censura, o embusie e a calumnia, para amesquinharera
as p r o p o r ç õ e s dos grandes inventos, desprestigiarem o m é r i t o , e darem em terra
com os â n i m o s ainda n ã o tisnados á tocha da i n f â m i a ; outros, verdadeiros estan-
dartes do progresso, permittiram que, a sombra das maravilhas sahidas de suas
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mãos, se fosse formando a critica judiciosa e sensata, para apontar as qualidades, las-
t i m a r os defeitos, e c u m p r i r desta arte a sua dupla m i s s ã o de orientar o gênio trans-
viado eacostumar o espirito publico aos juizos difficeis e milindrosos da esthetica.
São destes ú l t i m o s os verdadeiros a r ü s t a s , isto é, os homens a quem a Acade«
mia manifesta todos os annos a sua estima, concedendo-lhes os seus p r ê m i o s .
Enganai-vos, que por cima de tudo isto passaram victoriosos os soldados de Ale-
xandre, depois passaram todos os grandes povos e o a r r u i n a r a m completamente. A
vossa seiencia da natureza, em que os phenomenos sociaes se explicavam pelos
movimentos planetários e a t é pelos accidentes m e t e o r o l ó g i c o s ? Desappareceram,
como os vossos sonhos em política e em theogonia. Restaõ-vos somente para vossa
gloria os gigantescos monumentos da architectura e da esculptura, que, com as
prodigiosas fantazias de Wiasa e de V a l m i c h i , salvaram-vos do esquecimento
da posteridade, ou mesmo do desprezo dos vossos i m p l a c á v e i s conquistadores-
Vinde, teVra amarga dos Egypcios, pátria da melancolia e da . s u p e r s t i ç ã o !
Onde estão os vossos antigos esplendores, e que resta de tanta m a g n i f i c ê n c i a ?
Os pharaós foram vencidos pelos Persas decadentes, e suas m ú m i a s cahiram
em poeira debaixo dos pés oppressores dos estrangeiros do Occidente; vossa
estoica moral f o i condemnada por uma outra moral, e o caminho do sol, m á x i m o
esforço de vossa fantástica seiencia, encheu-se de urzes e tojos, desde que a
escola de Alexandria c o m e ç o u a cultivar a geometria e a seiencia dos n ú m e -
ros : restam p o r é m os edifícios de Philè, de Elephantina e de Karnac, para i r e m
restaurando pouco a pouco essa estatua gigantesca que, baseada nas pyramides,
enchia de pasmo e assombro a humanidade, com sua linguagem a u m tempo
estranha e vehemente.