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DOI: http://dx.doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2020.v29.n59.p228-257
Resumo
Apreendeu-se a expansão do Ensino Secundário em Minas Gerais, no Brasil,
entre 1942 e 1961. Examinaram-se informações no Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos e no
Ministério da Educação e Cultura; legislação de ensino na Assembleia Legislativa
de Minas Gerais; historiografia sobre o Ensino Secundário. Houve crescimento
populacional de 45,56% no período, com expansão de 621,5% no número de
matrículas no Ensino Secundário (de 21.439, em 1942, para 154.688, em 1963)
e de 137 estabelecimentos, em 1945, para 437, em 1959 (219% de crescimento).
Houve intenso movimento legiferante estadual até 1930, mas, depois, o governo
central assumiu a legislação educacional. A historiografia sobre o Ensino
Secundário mineiro localizada compreendeu 57 trabalhos, com predomínio da
História das Instituições Escolares. Houve forte expansão do Ensino Secundário
em Minas Gerais, com oferta privada predominante, notadamente católica,
mediante subvenções públicas.
Palavras-chave: História. Educação. Ensino secundário. Minas Gerais. Expansão.
Abstract
EXPANSION OF SECONDARY EDUCATION IN MINAS GERAIS:
STATISTICS, LEGISLATION, AND HISTORIOGRAPHY (1942-1961)
Considerable expansion of secondary education in Minas Gerais, Brazil, can be
perceived from 1942 to 1961. An examination was made of information in the
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), in the Revista Brasileira de
* Doutora em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), na qual concluiu estágio de pós-doutorado. Profes-
sora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Uberaba (Uniube). Beneficiária do Edital
Universal do CNPq. E-mail: giseli.vale.gatti@gmail.com
** Doutor em Educação: História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), com
estágio de pós-doutorado concluído na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Professor Titular da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Beneficiário do Programa Pes-
quisador Mineiro da Fapemig. E-mail: degatti@ufu.br
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Giseli Cristina do Vale Gatti; Décio Gatti Júnior
Resumen
LA EXPANSIÓN DE LA ENSEÑANZA SECUNDARIA EN MINAS GERAIS:
ESTADÍSTICAS, LEGISLACIÓN E HISTORIOGRAFÍA (1942-1961)
Se recoge la expansión de la Enseñanza Secundaria en Minas Gerais, en Brasil,
entre 1942 y 1961. Se examinaron informaciones en el Instituto Brasilero de
Geografía y Estadística, en la Revista Brasilera de Estudios Pedagógicos y en el
Ministerio de la Educación y Cultura; legislación de enseñanza en la Asamblea
Legislativa de Minas Gerais; historiografía sobre la Enseñanza Secundaria. El
crecimiento de la población del 45,56% ocurrió en este período. Se denota un
crecimiento de matrículas en la Enseñanza Secundaria (de 21.439, en 1942,
para 154.688, en 1963 – 621,5%) y de 137 escuelas, en 1945, para 437, en
1959 (219% de crecimiento). Hubo un intenso movimiento legislativo estatal
hasta 1930. Sin embargo, después, el gobierno central asumió la legislación
educativa. La historiografía sobre la Enseñanza Secundaria minera localizada
comprende 57 trabajos, con predominio en la Historia de las Instituciones
Escolares. Ocurrió una fuerte expansión de la Enseñanza Secundaria en Minas
Gerais, con oferta privada predominantemente, sobre todo católica, mediante
subvenciones públicas.
Palabras clave: Historia. Educación. Enseñanza secundaria. Minas Gerais.
Expansión.
Introdução
A forma como se estruturou o Ensino Se- ou na configuração das instituições escolares,
cundário é um tema importante da pesquisa mas, também, nas disputas entre diferentes
histórico-educacional brasileira e internacio- instâncias promotoras do ensino, estatais, da
nal, todavia, em um país de dimensões conti- sociedade civil e confessionais.
nentais como o Brasil, é de se esperar que o Desse modo, no sentido de buscar conferir
ritmo da escolarização nesse nível de ensino no maior precisão ao modo como se expandiu e
território nacional tenha sido desigual e, possi- se estruturou o Ensino Secundário no Brasil,
velmente, diferente, seja no aspecto legislativo um conjunto de pesquisadores brasileiros,
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vinculados à instituições de educação superior que foi fundamental a consulta aos dados sobre
localizadas em diferentes estados e regiões do estabelecimentos desse nível de ensino conti-
país, uniram-se para desenvolver uma investi- dos em duas publicações, a Revista Brasileira
gação acerca das especificidades estaduais do de Estudos Pedagógicos (O ENSINO..., 1945)
processo de escolarização em nível secundário e a publicação intitulada Estabelecimentos do
no Brasil, tendo como marco temporal geral o Ensino Secundário em Funcionamento no Brasil
período compreendido entre os anos de 1942 até 1959 (inclusive) (BRASIL, 1959b), realizada
e 1961, momento no qual se tinha indícios que pela Seção de Prédios e Aparelhamento escolar
o processo de expansão deste nível de ensino da Diretoria do Ensino Secundário do Ministé-
teria sido mais intenso. rio da Educação e Cultura, em 1959.
Em nosso caso, estivemos dedicados a in- Quanto à legislação de ensino, houve con-
vestigar a realidade da expansão do Ensino sulta aos acervos da Assembleia Legislativa de
Secundário no Estado de Minas Gerais entre Minas Gerais, do Arquivo Público Mineiro, bem
as décadas de 1940 e 1960, por meio de três como o necessário cotejamento com informa-
frentes de pesquisa. Na primeira, estivemos ções bibliográficas. Esta consulta realizou-se
preocupados com os dados estatísticos gerais presencialmente, para o reconhecimento do
e específicos sobre o Ensino Secundário. A acervo e dos diligentes funcionários respon-
segunda frente abarcou a legislação do Ensino sáveis, mas, também, com auxílio destes, no
Secundário em termos nacionais, mas, sobre- trabalho direto com o material já disponível
tudo, em âmbito estadual. Por fim, a terceira on-line.
frente de pesquisa abrangeu a historiografia Por fim, no que se refere à historiografia
nacional sobre o Ensino Secundário em Minas sobre o Ensino Secundário em Minas Gerais,
Gerais (GATTI; GATTI JÚNIOR, 2020). foram consultados o catálogo de teses e disser-
Para tanto, foram acionadas diferentes e tações da CAPES, o acervo particular de livros
importantes fontes de pesquisa. No que se e periódicos e os principais periódicos da área
refere ao exame das informações estatísticas de Educação e de História da Educação.
sobre a população e sobre o Ensino Secundá- A partir desse conjunto significativo de
rio em Minas Gerais, esta atividade delongou informações levantadas foi possível proceder
muito tempo da investigação e foi realizada, a análise dos dados que serão apresentadas a
inicialmente, por meio da consulta ao conteú- seguir em três seções específicas. A primeira
do específico sobre Minas Gerais disposto em delas abordará a expansão do Ensino Secundá-
vinte e dois volumes do Anuário Estatístico rio em Minas Gerais, por meio da análise dos
do Brasil do Instituto Brasileiro de Geografia e dados estatísticos levantados. Na segunda se-
Estatística (IBGE), publicados entre os anos de ção, o exame recairá sobre a legislação do Ensi-
1946 e 1968 (BRASIL, 1946, 1947, 1948, 1949, no Secundário, com análise que evidenciará os
1950, 1951, 1952, 1953a, 1953b, 1954, 1955, aspectos específicos do Estado de Minas Gerais
1956, 1957, 1958, 1959a, 1960, 1961, 1962, e sua relação com as normativas nacionais. Por
1964, 1965, 1966, 1968). fim, a análise recairá sobre a historiografia que
Em seguida, com a finalidade de precisar foi possível levantar até o presente momento
se os estabelecimentos escolares do Ensino sobre o Ensino Secundário em Minas Gerais.
secundário em Minas Gerais estiveram vincu- Nas considerações finais, buscou-se apresentar
lados à iniciativa do Estado, da sociedade civil algumas conclusões a que se foi possível chegar
ou das confissões religiosas, foi necessário um até o presente momento, bem como apontar
trabalho de investigação sobre cada um dos es- questões que podem animar a continuidade
tabelecimentos de Ensino Secundário em fun- da pesquisa sobre o Ensino Secundário em
cionamento nos anos de 1945 e de 1959, para o Minas Gerais.
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No que se refere à evolução da população Essa assertiva parece ser confirmada pelo
urbana e rural, é possível depreender da Tabela número de municípios que possuíam mais de
3 que houve estabilidade populacional na zona 50 mil habitantes em Minas Gerais, que, em
rural, mas, por outro lado, houve crescimento 1940, somavam 15 municípios, destacadamen-
robusto da população urbana, com passagem de te, Belo Horizonte (211.650 habitantes), Juiz
1.693.040 habitantes, em 1940, para 3.940.557 de Fora (106.482), Teófilo Otoni (86.242) e
em 1960, o que assinala um crescimento da Barbacena (72.519), quase dobrando o número
ordem de 132,75% em apenas duas décadas. de municípios com mais de 50 mil habitantes
Percebe-se, desse modo, que a manutenção no ano de 1960, quando foi alcançado o número
da estabilidade populacional na zona rural foi de 27 municípios que possuíam mais de 50 mil
conseguida muito provavelmente graças a um habitantes, conforme pode ser visto detalhada-
processo de saída do homem do campo à cidade. mente na Tabela 4.
No que se refere ao munícipio de Belo Hori- para 693.328 habitantes, em 1960, o que assi-
zonte, capital do Estado de Minas Gerais, houve nalou um crescimento populacional da ordem
um incremento populacional significativo, com de 227,58% em duas décadas. Nessa direção, é
a passagem de 211.650 habitantes, em 1940, provável que o interesse de porções populacio-
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nais cada vez mais significativas em residir na 49,7 e 50,3%. No que se refere a cor, entre
capital favoreceu esta situação acima da média 1940 e 1950, os dados apontam em média para
do próprio Estado. 59,8% de brancos, seguido de pardos (23,1%),
Todavia, cabe assinalar que as curvas as- pretos (16,95%) e, com boa distância, amarelos
cendentes de crescimento populacional tam- (0,02%). Os não declarados perfizeram uma
bém puderam ser vistas, ainda que mediante média no período de 0,13%.
menor intensidade, em outras municipali- Um conjunto de dados importantes refere-se
dades, tais como Juiz de Fora, que passou de à faixa etária da população, com consequências
106.482 habitantes, em 1940, para 182.481 na direção da demanda por escolarização em
habitantes, em 1960, assinalando um aden- nível inicial, mas, em seguida, em nível secun-
samento populacional em duas décadas de dário também. Deste modo, em Minas Gerais,
71,37%, o que não deixa de ser um número no período compreendido entre 1940 e 1950, é
robusto, bem como Teófilo Otoni, cuja popula- possível afirmar que a população era predomi-
ção cresceu 49,7% em duas décadas, passando nantemente jovem, com concentração entre 0
de 86.242 habitantes, em 1940, para 129.111 e 24 anos. De um total de 6.736.416 habitantes
habitantes, em 1960. em 1940, 4.357.498 estavam na faixa de 0 a 24
Quanto ao número de homens e mulheres anos, o que perfazia um percentual significati-
entre as décadas de 1940 e 1950, foi possível vo, de aproximadamente 64,7%. Em 1950, por
perceber que houve equilíbrio nos percentuais seu turno, o percentual da população de 0 a 24
para cada um dos sexos, com a população mas- anos permaneceu alto, 64,1% da população
culina, em 1950, somando 3.836.758 habitan- total de 7.717.792 habitantes, conforme pode
tes e a feminina, 3.881.034, respectivamente, ser examinado na Tabela 5 a seguir.
Tabela 5 – Número de habitantes por faixa etária no Estado de Minas Gerais (1940/1950)
FAIXA ETÁRIA 1940 1950
00-04 1.079.690 1.278.885
05-09 1.002.305 1.093.276
10-14 900.226 985.255
15-19 738.796 862.458
20-24 636.481 731.477
Subtotal 4.357.498 (64,7%) 4.951.351 (64,1%)
25-29 527.431 589.394
30-39 759.138 892.639
40-49 528.310 616.366
50-59 310.146 365.681
60-69 165.295 195.167
70-79 59.417 70.555
80 + 25.575 27.074
Ignorada 3.606 9.565
Total 6.736.416 (100%) 7.717.792 (100%)
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo com base em dados obtidos em Brasil (1946, 1947, 1948, 1949, 1950,
1951, 1952, 1953a, 1953b, 1954, 1955, 1956, 1957, 1958, 1959a, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1966, 1968).
No que se refere à leitura e à escrita desde lação do Estado, e a maior parte da população,
os cinco anos de idade, entre 1940 e 1950, a 64,3%, permanecia sem saber ler e escrever.
população do Estado de Minas Gerais era, em Houve sensível melhora entre 1940 e 1950,
sua maior parte, analfabeta, sendo o percentual mas sem mudança significativa, conforme se
daqueles que sabiam ler e escrever muito baixo, pode examinar na Tabela 6.
alcançando, em média, apenas 35,7% da popu-
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Tabela 6 – Leitura e escrita, desde 5 anos de idade, no Estado de Minas Gerais (1940-1950)
Ano Sabe ler e escrever % Não sabe ler e escrever % Total
1940 1.868.515 33,2 3.758.878 66,8 5.627.397
1950 2.461.921 38,2 3.976.980 61,8 6.438.901
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo com base em dados obtidos em Brasil (1946, 1947, 1948, 1949, 1950,
1951, 1952, 1953a, 1953b, 1954, 1955, 1956, 1957, 1958, 1959a, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1966, 1968).
Os dados até aqui apresentados colaboram populacional, sobretudo na faixa etária com-
para a percepção da situação demográfica do preendida entre 0 e 24 anos, que integrava
Estado de Minas Gerais durante as décadas de 60% da população do Estado de Minas Gerais.
1940 a 1960, período no qual é visível um cres- Contudo, o atendimento dessa demanda,
cimento populacional continuado, com enorme no que se refere ao Ensino Secundário, só foi
adensamento da população em conglomerados possível com a conjugação de esforços das
urbanos, sendo o crescimento do número de iniciativas pública e particular. No setor pú-
cidades com mais de 50 mil habitantes uma blico houve investimentos federais, estaduais
amostra significativa. e municipais, mas a centralidade da oferta de
Além disso, a população em idade escolar é matrículas e de conclusões esteve a cargo das
a predominante, alcançando percentuais acima escolas estaduais, responsáveis, em 1955, por
de 60%, o que, sem dúvida, esteve a provocar 84% das matrículas e 68% das conclusões do
um incremento da demanda por escolarização, setor público.
sobretudo junto a uma população na qual per- Todavia, o atendimento particular era imen-
sistia um percentual elevado, de mais de 60%, samente maior, pois que, nesse mesmo ano de
que não sabia ler e escrever. 1955, o setor público abrigava apenas 11.050
Desse modo, no que se refere à escolari- matrículas, enquanto o setor privado dava lu-
zação, houve respostas à demanda social que se gar a 56.820 matrículas, perfazendo um total
avolumava, por meio de iniciativas estatais, da de 67.970 matrículas, das quais 16,3% no setor
sociedade civil e confessionais, que se fizeram público e significativos 83,7% no setor privado.
ver tanto na criação de escolas dedicadas às De fato, a predominância da oferta privada
séries iniciais, nas zonas urbana e rural, como sobre a pública é visível no período que se
na expansão de estabelecimentos e de matrí- estende de 1942 a 1963, sendo que podemos
culas no Ensino Secundário, foco deste artigo expor dados que se referem aos anos de 1942,
e que será examinado logo a seguir. 1952, 1955 e 1963, sendo os dois últimos mais
completos, em intervalos próximos no tempo,
1.2. O Ensino Secundário no Estado com a vantagem de que estas datas aproxi-
de Minas Gerais (1940-1960) mam-se satisfatoriamente da periodização
A demanda por escolarização ganhou aden- escolhida para a presente investigação, a título
samento ao longo do Século XX. O período de lembrete, de 1942 a 1961. No sentido de
compreendido entre as décadas de 1940 e corroborar o que se esteve a expor nos últimos
1960 teve ainda o agravante de sofrer enorme parágrafos, apresentamos a seguir os dados
pressão demográfica, devido ao crescimento contidos na Tabela 7.
Tabela 7 – Ensino Secundário em Minas Gerais (1942, 1952, 1955 e 1963)
Ano Matrículas Conclusões
Públicas % Privadas % Total Públicas % Privadas % Total
1942 - - - - 21.438 - - - - 4.609
1952 - - - - 58.258 - - - - 8.549
1955 11.050 16,3 56.820 83,7 67.870 1.572 14,2 9.469 85,8 11.041
1963 39.744 25,7 114.944 74,3 154.688 4.848 23,3 15.919 76,7 20.767
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo com base em dados obtidos em Brasil (1946, 1947, 1948, 1949, 1950,
1951, 1952, 1953a, 1953b, 1954, 1955, 1956, 1957, 1958, 1959a, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1966, 1968).
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Tabela 9 – Municípios do Estado de Minas Gerais com 03 ou mais escolas secundárias em 1945.
Estabelecimentos
No. Munícipio Privados Subtotal
Públicos
Sociedade Civil Confessionais
01 Belo Horizonte 03 03 13 19
02 Juiz de Fora 00 02 04 06
03 Uberlândia 01 02 01 04
04 Poços de Caldas 01 00 02 03
05 São João del Rei 00 00 03 03
06 Ubá 01 01 01 03
07 Uberaba 00 01 02 03
Total 06 09 26 41
Fonte: Elaborado pelos autores deste artigo com base em dados obtidos em O Ensino... (1945, p. 305-309).
Belo Horizonte, capital do Estado de Minas del Rei, por seu turno, tem a totalidade de
Gerais, possuía, em 1945, o maior número de suas escolas secundárias vinculadas à Igreja
estabelecimentos de Ensino Secundário do Católica em 1945.
Estado, com 19 unidades, em um universo de Todavia, no conjunto desses sete munícipios,
137 estabelecimentos, perfazendo 13,9% do o percentual de concentração de estabeleci-
total do Estado, bem acima da segunda colo- mentos no setor privado é mais significativo do
cada, a cidade de Juiz de Fora, com 6 escolas que o que aparece no Estado de Minas Gerais
secundárias, perfazendo 4,4%. como um todo, perfazendo 85,4% das unidades
É notável que 13 dentre 19 escolas se- escolares de Ensino Secundário, enquanto o se-
cundárias em Belo Horizonte estivessem tor público era responsável por apenas 14,6%
vinculadas a confissões católicas, o que quase das escolas secundárias, o que é sensivelmente
alcançava 70% do total de estabelecimentos mais significativo do que os resultados gerais
de ensino secundário da capital do Estado, do Estado de Minas Gerais, que ficavam, de
sendo este um percentual parecido com o modo geral e respectivamente, com 81% (setor
alcançado pelos sete municípios elencados na privado) e 19% (setor público) em 1945.
Tabela 9, com 63,4% de escolas secundárias Os dados sobre os estabelecimentos de
vinculadas a confissões religiosas. São João ensino secundário em Minas Gerais em 1959
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indicam que 234 municípios abrigavam esco- 17 unidades, seguido por Uberaba, que avançou
las secundárias, em um total de 437 unidades. em relação à 1945, quando apresentava apenas
Dentre estes municípios, 144 possuíam apenas 3 escolas secundárias, passando a ter, em 1959,
uma unidade, enquanto 59 outros possuíam 9 escolas secundárias. As cidades de Gover-
duas escolas secundárias e 17 municípios nador Valadares, Montes Claros e Uberlândia
abrigavam três escolas secundárias. permaneceram empatadas, com 5 unidades em
Os demais municípios, em número de 14, cada, seguidas pelos municípios de Araguari,
possuíam quatro ou mais estabelecimentos do Diamantina, Itajubá, Ituiutaba, Muriaé, Ouro
Ensino Secundário. Belo Horizonte, capital do Preto, Poços de Caldas e Teófilo Otoni, com 4
Estado, mantém a dianteira, com 51 escolas se- escolas secundárias cada, conforme pode ser
cundárias. Em segundo lugar, Juiz de Fora, com examinado na Tabela 10 a seguir.
A expansão do Ensino Secundário em Minas de Minas Gerais que passaram a ofertar vagas
Gerais e, por desdobramento, do número de para este nível de ensino escolar, com passagem,
estabelecimentos, docentes, matrículas e con- em um intervalo de apenas cinco anos, de 37%
clusões colaborou de modo substantivo para o dos municípios, em 1957, para 61%, em 1962,
aumento do número de munícipios do Estado conforme está demonstrado na Tabela 11.
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A expansão do Ensino Secundário em Minas Gerais: estatísticas, legislação e historiografia (1942-1961)
por meio de disciplinas de apelo prático, tais jogos e exercícios, não só para tornal-os mais re-
como a taquigrafia e a escrita à máquina, com sistentes, como para lhes dar a calma, a coragem
emprego de métodos de ensino que valorizem e a decisão com qualquer emergencia de vida.
a observação e a indução, bem como com a Art. 8º. A educação moral procurará formal-os
valorização da educação física e da formação cidadãos honestos de uma Republica liberal: ̶
individualmente probos, amantes e defensores
moral, no sentido da defesa da liberdade e do
da liberdade, respeitadores da autoridade e da
respeito às autoridades e à lei, conforme consta lei. (MINAS GERAIS, 1909).
dos artigos 5 a 8 do Decreto nº 2.513, de 17 de
abril de 1909, expostos a seguir: No Regulamento do Ginásio da Capital e de
Barbacena, aprovado por meio do Decreto nº
Art. 5º. O ensino que se ministra no ‘Curso
Fundamental’ comprehende: 1º. A lingua por-
3.321, de 22 de setembro de 1911, aparece de
tuguesa; 2º. o francez, o inglez e o allemão modo claro o que se esperava em termos de
(praticamente); 3º. as mathematicas, o desenho finalidade da existência do Ginásio Mineiro,
e a contabilidade; 4º. elementos de astronomia; mas também das matérias de ensino, com sua
5º. geographia e historia; 6º. moral cívica e ru- distribuição ao longo das séries, conforme se
dimento de direito constitucional; 7º. noções de pode examinar a seguir:
sciencias physicas e naturaes, de hygiene e de
agricultura e pecuaria; 8º. tachygraphia, escripta Art. 1º.: O Gymnasio Mineiro tem por fim o
á machina e musica. ensino linguas, sciencias, lettras e artes que
proporcione ao espirito uma cultura geral de
Art. 6º. No ensino de qualquer disciplina não caracter principalmente pratico.
serão permitidos os processos que repousam ex-
clusivamente sobre a memoria em abstracções, Art. 2º.: Continúa dividido em externato e in-
devendo ser empregado unicamente o methodo ternato, estabelecidos o primeiro na capital do
da observação e da inducção, não só para que Estado e o segundo na cidade de Barbacena.
os conhecimentos sejam apprehendidos com Art. 3º.: Cada um dos referidos estabelecimentos
segurança maior, como para que a intelligencia terá corpo docente, pessoal administrativo e
se desenvolva mais prompta e completamente. regimento interno proprios; mas serão regidos
Art. 7º. A educação physica tenderá a rebustecer respectivamente pelo presente regulamento, e
o corpo dos alunos e a adextralos nos diversos sujeitos á mesma autoridade superior.
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Em seguida, o que se observa é que houve 1915, aprovado pela Câmara dos Deputados,
necessidade de modificar novamente o Regu- que teve impacto na legislação mineira, por
lamento do Ginásio Mineiro, devido à altera- meio do Decreto nº 4.363, de 07 de abril de
ção em legislação federal, especificamente o 1915 (BRASIL, 1915). O mesmo se repetiu em
Decreto Federal nº 11.530, de 18 de março de relação ao Decreto Federal nº 16.782, de 13 de
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Ainda no que se refere aos trabalhos encon- deles em linha de pesquisa de História da
trados até o presente momento, contabilizou- Educação ou em sua proximidade. A lista
se 46 autores e coautores, boa parte deles dos autores e coautores consta do Quadro 2
vinculados a programas de pós-graduação, exposto a seguir.
em especial da área de Educação, muitos
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poníveis; sua legislação, com acesso a acervos BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
documentais bastante completos; sua historio- Estatística. Anuário Estatístico do Brasil (Ano
grafia, composta por um conjunto importante XII - 1951). Rio de Janeiro, 1952.
de trabalhos de investigações, publicados em BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
teses, dissertações, livros, capítulos e artigos. Estatística. Anuário Estatístico do Brasil (Ano
XIII - 1952). Rio de Janeiro, 1953a.
É desta base de informações e análises que se
tornará possível avançar para uma análise com- BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
parativa, que possa perceber a forma tomada Estatística. Anuário Estatístico do Brasil (Ano
XIV - 1953). Rio de Janeiro, 1953b.
pela expansão do Ensino Secundário em outros
estados da Federação brasileira. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. Anuário Estatístico do Brasil (Ano
XV - 1954). Rio de Janeiro, 1954.
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A expansão do Ensino Secundário em Minas Gerais: estatísticas, legislação e historiografia (1942-1961)
APÊNDICE A
Pequeno álbum fotográfico do ensino secundário
no Estado de Minas Gerais – ordem alfabética
Figura A-1 – Colégio Angélica, Coronel Fabriciano
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