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RESUMO
O artigo apresenta pesquisa sobre a comunidade quilombola de Santa Rita de Bracuí, em Angra dos
Reis, no Rio de Janeiro. Este estudo destaca a importância do local e relata como a municipalidade
tem tratado o processo de degradação e a sua notável revitalização. O projeto vem se desenvolvendo a
partir da utilização da metodologia Building Information Modelling (BIM) para representação e
manutenção da técnica construtiva e cultural do quilombo. A justificativa destaca o quanto os
quilombos têm importância na história brasileira, como símbolos de resistência e de que forma as
novas tecnologias podem impactar nas técnicas construtivas, trazendo benefícios. A metodologia se
amparou em pesquisa bibliográfica e material previamente publicado (livros e artigos) e visitas à
comunidade, informações advindas de jornais locais e sites de turismo. A conclusão vincula todas as
questões apresentadas, reforçando a importância de preservar e proteger o patrimônio histórico.
1
UFF – PPGAU – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. samantagavina@gmail.com
2
UFF – PPGAU – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo e TAR – Departamento de Arquitetura.
luciananemerdiniz@gmail.com
1. Introdução
A importância histórica e cultural dos Quilombolas inicia no passado quando o espaço do
Quilombo se formou como local de resistência à escravidão e luta pela liberdade, uma vez que eram
formados por escravos fugidos do sistema escravagista. Essas comunidades formadas no Brasil
durante o período colonial, por africanos feudatários e seus descendentes. Esses agrupamentos
também eram conhecidos como mocambos.
Segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas (CONAQ) o termo quilombola é originário do idioma africano quimbuco e remete a
ideia de “sociedade formada por jovens guerreiros que pertenciam a grupos étnicos desenraizados de
suas comunidades”. Importante considerar que o Território Remanescente de Comunidade
Quilombola é uma conquista da comunidade afrodescendente no Brasil, originária da resistência ao
modelo escravagista imposto pelas lideranças, no Brasil Colônia. Alguns grupos foram formados por
meio de terras provenientes de “heranças, doações, pagamentos em troca de serviços prestados ou
compra de terras, durante a vigência do sistema escravocrata após sua abolição” (CONAQ, s.d).
Na Constituição Federal Brasileira de 1988 observa-se o destaque ao sentido de preservação
histórica e cultural dos diferentes povos que compõem a sociedade, através da obrigatoriedade aos
municípios protegerem e preservarem seus bens culturais. Em seu artigo 126, se tem:
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à
ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais
se incluem: [...] V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (Brasil, 1988: 126).
No período que antecedeu a abolição da escravatura, numa região lindeira ao Rio Bracuí e à
noroeste do que se conhece hoje como o Centro da cidade, se formou o Quilombo de Santa Rita do
Bracuí.
Segundo FIOCRUZ (2012) por volta de 1877, o Comendador José Joaquim de Souza Breves,
legou a seus ex-escravos cerca de 260 alqueires da chamada Fazenda Santa Rita do Bracuhy, no
município.
No entanto, no século passado, cerca de 100 anos depois, a especulação imobiliária levou os
descendentes dos antigos escravos do Comendador José Breves a começaram a ser pressionados pela
Bracuhy Administração, Participações e Empreendimentos Ltda. a deixar o local.
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Acrescenta FIOCRUZ (2012) que o processo de grilagem daquelas terras que culminou com a
expulsão de algumas famílias dos ex-escravos da região através do represamento da água que serve à
comunidade ao uso de homens armados para ameaçar os moradores.
O reconhecimento como remanescente de quilombos de Santa Rita do Bracuí, ocorreu em
1999, realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). (FIOCRUZ,
2012). Tal procedimento tinha como objetivo garantir a posse coletiva das terras.
A área possui 616 hectares, onde vivem 129 famílias descendentes de africanos
escravizados para o trabalho na cafeicultura, realizado no século XIX [...] O
Quilombo teve a declaração de reconhecimento de suas terras concedida pelo
(INCRA) no corrente ano. (EBC, 2023).
O registro fotográfico serviu como referência para o projeto do novo quilombo, cujo programa
arquitetônico irá atender de forma atualizada e inclusiva a população quilombola residente na área,
bem como melhor integrá-la ao município.
No terreno, de cerca de 3.500,00 m², utilizada uma taxa de ocupação de 30% (trinta por cento)
foi estabelecido que o bloco anexo da educação abrigará: cinco salas de aulas com 20 lugares cada,
dois banheiros e refeitório para 24 pessoas e a infraestrutura para seu funcionamento (cozinha,
despensa, lixos, DML, recepção e lavagem e vestiário). Todos ambientes se voltam para o pátio
coberto, seguindo a lógica da edificação principal.
Figura 3: Planta do prédio principal. Fonte: Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, 2023.
No Brasil, existem algumas iniciativas exitosas com a aplicação do BIM, considerando esta
preservação do legado histórico, cultural e do método construtivo. O Hotel dos Quilombolas, em
Pernambuco (Orbitz, 2023) é uma construção que reúne recursos naturais e sistema BIM para
controle de execução, o que traz uma proposta para o turismo sustentável. Assim também a Casa de
Cultura e Escola Bracuí também conta com a inovação proporcionada pelo BIM, integrando
elementos da cultura afrodescendente e elencando diversos benefícios, como: maior eficiência na
obra, melhor acompanhamento do projeto, redução de erros e desperdícios, bem como maior
segurança e qualidade no processo construtivo.
A Modelagem da Informação da Construção é um método construtivo virtual, que oferece
mais precisão de dados, em uma edificação.
"[...] definimos BIM como um conceito que se expressa a partir de Tecnologia de
modelagem e um conjunto associado de processos para produzir, comunicar e
analisar modelos de construção." (Eastman et al, 2014)
O BIM não é somente um modelo 3D para visualização do espaço projetado, é composto por
um banco de dados que permite agregar informações, aumentar a produtividade e racionalizar o
processo construtivo (Crespo e Russel, 2007, p. 2). Ao aplicar o BIM para armazenar os dados da
técnica de construção ancestral, é possível documentar de forma precisa e detalhada os métodos e
materiais utilizados. Essas informações podem incluir detalhes como o tipo de materiais empregados,
as técnicas de construção utilizadas, as dimensões e características dos elementos construtivos, entre
Figura 4: Materiais construtivos. Fonte: Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, 2023.
Neste sentido, Castelhano (2013) destaca a contribuição dos profissionais com a iniciativa,
uma vez que favorece um trabalho colaborativo e em tempo real.
O uso do BIM tampouco se limita ao projeto. Sendo uma ferramenta colaborativa,
ele permite que os profissionais com diferentes funções trabalhem no mesmo projeto
em diferentes fases. Ele reduz sensivelmente o tempo gasto em cada projeto ao
mesmo tempo em que melhora o nível de detalhamento e proximidade com a
realidade (Castelhano, 2013, p. 22).
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A adoção do BIM também se alinha aos três principais aspectos de produção da contratação
enxuta – transformação, fluxo e gestão de valor. Foram identificadas 56 interações entre os princípios
do lean construction com as funcionalidades BIM, como eliminação de desperdício e entregas rápidas
(Arayici et al 2011 apud Felisberto, 2014, p. 70).
Ainda de acordo com Felisberto (2014), a modelagem BIM vem sendo utilizada em projetos
de construção em todo o mundo, integrando usuários e fomentando a aprendizagem inicial,
percebendo o poder de modelagem ao mesmo tempo em que geram dados mais complexos e
detalhados, “permitindo apoiar os seus diversos processos vinculados, como projeto, fabricação e
contratação” (Solihin e Eastman, 2015, p. 69 apud Felisberto, 2014, p. 71).
Outro ponto importante é que essa Modelagem da Informação da Construção congrega
diversas áreas do conhecimento, tais como Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação,
permitindo a ideação do modelo virtual da edificação, “no qual se avalia com procedência as soluções
construtivas adotadas, recursos necessários, tempo de execução e qualidade do projeto” (Pereira e
ChirolI, 2022, p. 3) e desta maneira, contribuindo para o desenvolvimento sustentável.
Um dos principais benefícios elencados pelos autores é que a tecnologia BIM não se restringe
às análises em papel impresso e documentação gráfica, e com essa funcionalidade permite uma
comunicação assertiva entre os vários setores da construção. Para eles, as ferramentas impressas são
passíveis de equívocos e no software há possibilidade de reunir diversos elementos gráficos, em um
só arquivo. Acrescenta-se que o software Autodesk Revit 2021 proporciona a modelagem da
edificação, simulação, conferência e eventual edição dos modelos usados, assim como o Autodesk
Navisworks Manage 2021, a fim de compatibilizar e extrair as referências pertinentes ao estudo.
O modelo BIM da AutoDesk possui recursos de coordenação da informação entre
colaboradores em ambiente de rede extranet, o que exige um planejamento nas regras de acesso aos
dados e busca de padronização para evitar conflitos de comunicação (Crespo e Ruschel, 2007, p. 4).
A tecnologia BIM chegou ao Brasil em meados dos anos 2000, mas destaca-se em diversos
países, por seu potencial de melhorias e por imprimir uma melhor qualidade no setor construtivo
realçando, assim, o aumento da produtividade, qualidade dos projetos, confiabilidade dos dados,
possibilidade de realização de análises, entre outros recursos (Gomez, 2022).
Para Gonçalves (2022), o aparato tecnológico favoreceu a precisão documental do patrimônio
arquitetônico, destacando-se: o escaneamento a laser, a fotogrametria digital e o BIM. “O
levantamento tridimensional constitui uma potente tecnologia para registro de edificações e sítios
históricos, resultando em nuvens de pontos com precisão dimensional milimétrica” (Dezen-Kempter
et al, 2015 apud GONÇALVES, 2022, p. 8).
Figura 5: Perspectiva do Conjunto. Fonte: Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, 2023.
4. Conclusão
Ao olhar para o projeto que será implantado para a comunidade quilombola em Angra dos
Reis se verifica o quanto os investimentos em infraestruturas comunitárias e políticas públicas que
valorizem as suas tradições culturais são necessários. Além disso, é crucial aumentar a consciência da
sociedade sobre a importância de preservar estas áreas com suas culturas, educação, valores e
costumes, esses, são pilares estruturais para a promoção de uma sociedade mais justa e igualitária no
Brasil.
Na pesquisa, por meio da bibliografia consultada e com o objetivo de compreender as
contribuições que a metodologia BIM pode impactar nas técnicas construtivas dos quilombos, foi
possível identificar que a combinação da tecnologia com as práticas tradicionais proporciona
soluções eficientes, duráveis e compatíveis com a preservação cultural e arquitetônica. Um método
que valoriza as memórias, os costumes, os valores e as emoções dos povos nativos, bem como o
sentimento de pertencimento e manutenção do valor subjetivo do agrupamento e do território.
O uso da realidade aumentada, por sua vez, contribuiu para a visualização prévia do projeto a
ser desenvolvido. Outro recurso foi a visualização das informações em tempo real, por diversos
profissionais envolvidos na iniciativa, o que favoreceu a troca de percepções e análises mais
elaboradas. Nesta visão, conclui-se que o BIM foi e é uma ferramenta eficaz e importante para o
resgate da história da formação do Quilombo de Santa Rita de Bracuí, preservando e valorizando as
técnicas construtivas desenvolvidas pela cultura dos quilombos, mantendo as tradições vivas e
valorizadas, ao mesmo tempo em que contribui para um futuro melhor e mais sustentável.
5. Referências bibliográficas
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