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RESUMO
O artigo apresenta pesquisa sobre o espaço quilombola da comunidade de Santa Rita de Bracuí,
localizado em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Este estudo explora a importância do lugar e relata
como a municipalidade tem tratado o processo de degradação e a sua notável revitalização,
tornando-se um excelente exemplo de preservação da paisagem cultural e do património histórico. O
projeto vem se desenvolvendo a partir da utilização da metodologia Building Information Modelling
(BIM) para representação e manutenção da técnica construtiva e cultural do quilombo. A justificativa
destaca o quanto os quilombos têm importância na história brasileira, como símbolos de resistência e
luta pela liberdade, e de que forma as novas tecnologias podem impactar nas técnicas construtivas,
trazendo benefícios como a durabilidade da solução projetual e o acompanhamento por diversos
profissionais envolvidos na iniciativa, em tempo real. A metodologia se amparou em pesquisa
bibliográfica e material previamente publicado (livros e artigos). Em seguida, foram obtidos dados
sobre visitas à comunidade, informações advindas de jornais locais e sites de turismo. O foco
principal do estudo foi resgatar a história da formação do Quilombo de Santa Rita de Bracuí e
destacar sua preservação. A construção dos quilombos representa um movimento típico do período
colonial, quando muitos escravizados conseguiram fugir das plantações e procuravam por refúgio nas
florestas. Nesses lugares estabeleciam conexões profundas com seus territórios, ao mesmo tempo
em que resguardavam sua identidade cultural. Desta maneira, em localidades isoladas, os
quilombolas puderam reconstruir suas vidas longe da opressão do sistema escravista. Até hoje, estes
1. Introdução
A importância histórica e cultural dos Quilombolas inicia no passado quando o
espaço do Quilombo se formou como local de resistência à escravidão e luta pela liberdade,
uma vez que eram formados por escravos fugidos do sistema escravagista. Essas
comunidades formadas no Brasil durante o período colonial, por africanos feudatários e seus
descendentes. Esses agrupamentos também eram conhecidos como mocambos.
Segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas (CONAQ) o termo quilombola é originário do idioma africano quimbuco e
remete a ideia de “sociedade formada por jovens guerreiros que pertenciam a grupos
étnicos desenraizados de suas comunidades”. Importante considerar que o Território
Remanescente de Comunidade Quilombola é uma conquista da comunidade
afrodescendente no Brasil, originária da resistência ao modelo escravagista imposto pelas
lideranças, no Brasil Colônia. Alguns grupos foram formados por meio de terras
provenientes de “heranças, doações, pagamentos em troca de serviços prestados ou
compra de terras, durante a vigência do sistema escravocrata após sua abolição” (CONAQ,
s.d).
Na Constituição Federal Brasileira de 1988 observa-se o destaque ao sentido de
preservação histórica e cultural dos diferentes povos que compõem a sociedade, através da
obrigatoriedade aos municípios protegerem e preservarem seus bens culturais. Em seu
artigo 126, se tem:
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência
à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira, nos quais se incluem: [...] V – os conjuntos urbanos e
sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico. (BRASIL, 1988, p. 126).
O registro fotográfico serviu como referência para o projeto do novo quilombo, cujo
programa arquitetônico irá atender de forma atualizada e inclusiva a população quilombola
residente na área, bem como melhor integrá-la ao município.
Atualmente, no espaço quilombola da comunidade de Santa Rita de Bracuí, os
recursos utilizados nas edificações são oriundos da natureza, sendo encontrados em
abundância. Mendonça et al. (2017, p. 346 -347) ressaltam o quanto o Quilombo do Bracuí,
se tornou um turismo de memória, que vive a realidade do lugar. Para os autores, a
proposta do Bracuí tem um conceito a gestão comunitária e a valorização dos saberes local
criando um “turismo de base comunitária de memória”, que não é um teatro, e está sempre
revelando as lutas pela conquista da titulação da terra quilombola.
Há seis anos o artigo de Mendonça et al. (2017, p. 347 - 348) definia o turismo no
local como meio para buscar o fortalecimento da história dos descendentes de negros
escravos do Bracuí, que estavam: num processo de reconhecimento e de autoconhecimento
como quilombolas, na espera pela titulação em fase final e na luta para a criação de uma
escola Quilombola.
O reconhecimento da titulação das terras ocorreu recentemente, como já informado
e, pelo que será exposto a seguir, verifica-se que é chegado o momento da criação do
espaço almejado pelos quilombolas.
Figura 2: Planta de situação. Fonte: Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, 2023.
Figura 3: Planta do prédio principal. Fonte: Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, 2023.
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Em inglês Building Information Modeling – BIM (EASTMAN et al., 2014).
Figura 4: Materiais construtivos. Fonte: Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, 2023.
Ainda de acordo com Felisberto (2014), a modelagem BIM vem sendo utilizada em
projetos de construção em todo o mundo, integrando usuários e fomentando a
aprendizagem inicial, percebendo o poder de modelagem ao mesmo tempo em que geram
dados mais complexos e detalhados, “permitindo apoiar os seus diversos processos
vinculados, como projeto, fabricação e contratação” (SOLIHIN; EASTMAN, 2015, p.69 apud
FELISBERTO, 2014, p.71).
Outro ponto importante é que essa Modelagem da Informação da Construção
congrega diversas áreas do conhecimento, tais como Arquitetura, Engenharia, Construção e
Operação, permitindo a ideação do modelo virtual da edificação, “no qual se avalia com
procedência as soluções construtivas adotadas, recursos necessários, tempo de execução e
qualidade do projeto” (PEREIRA; CHIROLI, 2022, p.3) e desta maneira, contribuindo para o
desenvolvimento sustentável.
Um dos principais benefícios elencados pelos autores é que a tecnologia BIM não se
restringe às análises em papel impresso e documentação gráfica, e com essa
funcionalidade permite uma comunicação assertiva entre os vários setores da construção.
Para eles, as ferramentas impressas são passíveis de equívocos e no software há
possibilidade de reunir diversos elementos gráficos, em um só arquivo. Acrescenta-se que o
software Autodesk Revit 2021 proporciona a modelagem da edificação, simulação,
conferência e eventual edição dos modelos usados, assim como o Autodesk Navisworks
Manage 2021, a fim de compatibilizar e extrair as referências pertinentes ao estudo.
O modelo BIM da AutoDesk possui recursos de coordenação da informação entre
colaboradores em ambiente de rede extranet, o que exige um planejamento nas regras de
acesso aos dados e busca de padronização para evitar conflitos de comunicação (CRESPO;
RUSCHEL, 2007, p. 4).
A tecnologia BIM chegou ao Brasil em meados dos anos 2000, mas destaca-se em
diversos países, por seu potencial de melhorias e por imprimir uma melhor qualidade no
setor construtivo realçando, assim, o aumento da produtividade, qualidade dos projetos,
confiabilidade dos dados, possibilidade de realização de análises, entre outros recursos
(GOMEZ, 2022).
Para Gonçalves (2022), o aparato tecnológico favoreceu a precisão documental do
patrimônio arquitetônico, destacando-se: o escaneamento a laser, a fotogrametria digital e o
BIM. “O levantamento tridimensional constitui uma potente tecnologia para registro de
Figura 5: Perspectiva do Conjunto. Fonte: Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, 2023.
4. Conclusão
Ao olhar para o projeto que será implantado para a comunidade quilombola em
Angra dos Reis se verifica o quanto os investimentos em infraestruturas comunitárias e
políticas públicas que valorizem as suas tradições culturais são necessários. Além disso, é
crucial aumentar a consciência da sociedade sobre a importância de preservar estas áreas
com suas culturas, educação, valores e costumes, esses, são pilares estruturais para a
promoção de uma sociedade mais justa e igualitária no Brasil.
Na pesquisa, por meio da bibliografia consultada e com o objetivo de compreender
as contribuições que a metodologia BIM pode impactar nas técnicas construtivas dos
quilombos, foi possível identificar que a combinação da tecnologia com as práticas
tradicionais proporciona soluções eficientes, duráveis e compatíveis com a preservação
cultural e arquitetônica. Um método que valoriza as memórias, os costumes, os valores e as
emoções dos povos nativos, bem como o sentimento de pertencimento e manutenção do
valor subjetivo do agrupamento e do território.
O uso da realidade aumentada, por sua vez, contribuiu para a visualização prévia do
projeto a ser desenvolvido. Outro recurso foi a visualização das informações em tempo real,
por diversos profissionais envolvidos na iniciativa, o que favoreceu a troca de percepções e
análises mais elaboradas. Nesta visão, conclui-se que o BIM foi e é uma ferramenta eficaz e
importante para o resgate da história da formação do Quilombo de Santa Rita de Bracuí,
preservando e valorizando as técnicas construtivas desenvolvidas pela cultura dos
quilombos, mantendo as tradições vivas e valorizadas, ao mesmo tempo em que contribui
para um futuro melhor e mais sustentável.
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