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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ (UEM)

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


LETRAS PORTUGUÊS-INGLÊS
2023

Disciplina: Tópicos de Literatura Infantojuvenil Brasileira Código: 10755/31


Docente Responsável: Mirian Hisae Yaegashi Zappone
Discente: Gabriele Clara Previato Barboza RA: 117102

Resenha do texto “Retórica, poética e poesia”, de Jonathan Culler

CULLER, J. Retórica, poética e poesia. In: ______. Teoria da literatura: uma


introdução. São Paulo: Beca Editorial, 1999, pp.72-81

No quinto capítulo de sua obra “Teoria Literária: uma introdução”, o escritor


Jonathan Culler se propõe a apresentar, analisar e concatenar os conceitos literários de
Retórica, Poética e Poesia, termos segundo os quais, inclusive, é intitulada esta seção do livro.
Para iniciar sua exposição, o autor apresenta sua definição de poética, que seria algo que tem
a função de “ explicar os efeitos literários através da descrição das convenções e operações de
leitura que os tornam possíveis". Logo em seguida, Culler apresenta a principal divergência
entre as visões dele e de Aristóteles explicando que, para ele, a poética está intrinsecamente
ligada à retórica, enquanto o filósofo grego as separava, já que a primeira delas seria a arte da
imitação, enquanto a retórica seria a arte da persuasão. O autor apresenta ainda, de forma
sucinta, outras visões acerca dessa divergência em relacionar ou não os dois conceitos, mas
conclui seu pensamento inicial reafirmando que a poesia se relaciona com a retórica pois esta
trata-se de uma linguagem que se vale de figuras de linguagem e da necessidade de persuasão.
Em continuidade ao raciocínio da dualidade de conceitos, o autor afirma que, por mais
que a poética e a retórica estejam interligadas, não se pode reduzir o ramo da poesia a uma
mera elucidação das figuras retóricas das quais os escritores se utilizam, mas sim defini-la
como parte expressiva de uma retórica expandida, que realiza o estudo dos recursos que
compõem o ato linguístico.
No âmbito das figuras retóricas, J. Culler é bem direto ao apontá-las como um desvio
do uso comum e ao informar sobre a importância de se discutir sobre elas dentro da teoria
literária. O autor só entra em um cenário mais complexo e não tão inteligível ao público leitor
quando passa a tratar da pouca distinção teórica entre os conceitos de “figura” e “tropo” e das
discussões sobre “comum” e “literal” advindas desse tema. Como exemplo, é utilizado o fato
de Jacques Derrida, em seu livro “White Mythology”, chegar à conclusão de que as definições
de metáfora não passam elas mesmas de conceituações apoiadas em outras metáforas. Para
elucidar uma possível confusão quanto ao tópico, Culler retoma sua costumeira sucintez ao
deixar claro que o problema não é que não exista distinção entre os dois conceitos, mas que
ambos são estruturas fundamentais da linguagem, e não exceções e distorções desta.
A partir dos esclarecimentos feitos, o capítulo se volta às figuras retóricas utilizadas na
literatura e, reunindo distintas opiniões de diferentes teóricos acerca de quais seriam as
principais, acaba por apontá-las como sendo: a) a metáfora: tradicionalmente, a mais
importante das figuras, é a responsável por tratar algo como sendo outra coisa e, por tratar de
proposições elaboradas, é a mais facilmente justificada no meio literário; b) a metonímia:
estabelecida como figura de destaque principalmente por Roman Jakobson, que a define como
uma ligação de termos não mais por semelhança, mas por meio da contiguidade; c) a
sinédoque: figura que trabalha com a substituição do todo pela parte; e d) a ironia:
justaposição da aparência à realidade que tende a romper com o que é esperado.
Em sequência, Culler afirma que, por mais importantes que sejam as estruturas
retóricas para a literatura, esta depende também de estruturas mais amplas, como os gêneros
literários. A partir disso, o autor trabalha incisivamente com questionamentos acerca da
divisão que se faz acerca dos gêneros literários, podendo esta ser baseada em “quem fala”,
conforme fizeram os gregos na divisão lírica-épica-dramática, ou na “relação
falante-público”, que foca em como a voz do texto é passada ao seu receptor. O autor afirma,
em seguida, que a esses três gêneros elementares, hoje já se pode adicionar o gênero moderno
do romance, que se dirige ao leitor através de um livro.
Entre os gêneros apresentados, o texto debruça-se sobre o lírico, que do final do século
XVIII à metade do século XIX, foi visto como a mais pura essência da literatura. Ao tratar da
poética em seu capítulo, o autor dirige seu foco principalmente à diferenciação do poema
enquanto estrutura - o texto em si - e enquanto evento no mundo, um fato histórico que
acontece no mundo não-ficcional. Para o primeiro enfoque, o que importa é a relação entre o
sentido e os traços não-semânticos do texto, como som e ritmo. Para o segundo, o que é mais
levado em consideração é a relação entre o ato do autor que escreve o poema e da voz que ali
fala. Sob esta ótica, Culler pontua de forma assertiva que, por mais que a tendência seja
entender essa voz do poema como a voz de seu escritor, isso não ocorre, uma vez que o autor
quem fala o poema, mas se coloca em uma outra posição para locucionar o que é dito. Assim
sendo, são dois os elementos principais da relação poética: o autor, indivíduo histórico, e a
voz da elocução feita através do poema.
Rumando à conclusão do capítulo, o autor reitera a importância de se distinguir as
vozes que compõem uma produção lírica, o que é, segundo ele, imprescindível para o estudo
das obras poéticas. Para ilustrar seus apontamentos, Culler coerentemente cita os versos
iniciais de alguns do mais famosos poemas líricos, tais como a "Ode to the West Wind", de
Shelley e "The Tiger" de Blake, para pontuar a dificuldade em se compreender os atos
não-poéticos pelos quais as vozes dos poemas estariam passando para que compusessem tais
versos. Neste âmbito, o autor destaca a extravagância como sendo uma característica notável
do gênero lírico e menciona as inflexões hiperbólicas, recurso através do qual os poemas se
fazem tão intensos e indubitavelmente líricos.
Concluindo o texto, Jonathan Culler trata da importância de elementos literários como
a apóstrofe, personificação, prosopopéia e hipérbole na poesia lírica, destacando sua
capacidade de distinguir a lírica de outros atos de fala, tornando-a a forma mais literária. O
crítico literário encerra seu pensamento adiantando o conteúdo que será visto no capítulo
seguinte, o sexto da obra - “Narrativa” - , e relaciona-o com o conteúdo visto no ramo da
poesia, fazendo um paralelo entre os poemas serem, através das operações retóricas,
sondagens na poética, bem como os romances seriam sondagens na teoria narrativa. Em suma,
a partir da leitura do capítulo, é possível a assimilação de diversos termos, conceitos e
questionamentos pertinentes ao estudo da literatura, principalmente no que diz respeito ao
âmbito das figuras retóricas e da poética na composição literária.

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