Você está na página 1de 2

ENSINO SECUNDÁRIO – GEOGRAFIA – C Ano Letivo 2023/24

TEMA 2. Um Mundo Fragmentado

Guião de observação do documentário “Comércio pouco justo”

“O vídeo que foi apresentado na TVI24, no programa “Observatório do Mundo” é um


documentário do canal Arte de França, intitulado “Comércio pouco justo”.

Trata-se de um trabalho de jornalismo de investigação e


denúncia sobre a apropriação, por parte das
multinacionais, de conceitos como “Comércio Justo”,
“Comércio Sustentável” e outros semelhantes, com a
conivência conveniente de entidades certificadoras de
terceira parte, como a Max Havelaar/FLO, Rainforest
Alliance, etc.

A Rede Ibérica “Espaço por um Comércio Justo”, da qual a Mó de Vida é membro, foi
fundada, precisamente, tendo entre os seus objetivos, a denúncia destas práticas e a união
de organizações que partilham visões diferentes destas referidas no documentário.

No nosso manifesto fundacional podemos ler ..”A relação que estabelece o Comércio Justo,
através da importação de produtos, é complexa e não pode ser simplificada a umas poucas
normas. Apoiamos os processos participativos de definição de critérios, com base na
imprescindível transparência, face a modelos de certificação de produtos tipo FLO. Este
selo reduz o Comércio Justo a algumas das características do produto, especialmente (ou
quase exclusivamente) ao preço pago e à forma de financiamento. Deste modo, permite
que as multinacionais e até o Banco Mundial afirmem que fazem Comércio Justo, nalguma
parte da sua atividade, quando o seu conjunto é o paradigma do comércio injusto que se
pretende combater”...

Este e outros documentários, a exemplo de artigos e estudos que têm sido publicados, vêm
confirmar todas as nossas inquietações e perplexidade. Confirmam que temos de ir mais
além do exercício passivo de um consumo ético, baseado em selos e certificações. O
exercício da cidadania pressupõe uma atitude mais ativa e crítica em relação à produção,
consumo e ao sistema que serve os grandes grupos, em detrimento de quem produz e
consome e da preservação dos ecossistemas. Não nos
alegramos por ter razão, quanto ao que vimos denunciando há anos, conjuntamente com
muitas outras organizações, porque isto significa que milhões de agricultores/as e
produtores/as são extremamente explorados na sua força de trabalho e outros tantos/as
consumidores/as são enganados na sua boa fé e, por vezes, ingenuidade.”
DOCUMENTÁRIO

«O negócio do comércio justo»

de Donatien Lemaitre
Quantas vezes já fomos tentados pelo chamado «comércio
justo» em detrimento do que resulta das trocas tradicionais
entre centros comerciais ou hipermercados e clientes?

Na Europa há cada vez mais consumidores a pugnarem por um comércio ético, baseado nas etiquetas que
deverão dar sentido aos produtores de bens e mercadorias integrados nessa rede internacional. Porque
significarão, que os pequenos produtores africanos ou latino-americanos terão sido devidamente pagos para
a criação dessa matéria-prima, sem se curvarem aos ditames dos importadores e cadeias de distribuição
vinculados à economia globalizada.

Max Havelaar, Rainforest Alliance são marcas que estão a crescer graças à confiança dos seus consumidores.
Mas qual é a realidade para lá das etiquetas? Foi esse o objetivo que levou Dominique Lemaître do México
ao Quénia passando pela República Dominicana para demonstrar como essa ideia generosa do comércio
justo está a ser recuperada pelos especialistas de marketing ou por multinacionais sem qualquer sintonia com
o objetivo dos seus criadores.

Os primeiros a quererem apossar-se das marcas de comércio justo foram as grandes cadeias de distribuição:
estarão os “consumidores” preparados para pagar mais caro o seu café se os produtores forem melhor
remunerados? As grandes superfícies passaram a atribuir mais espaço aos produtos com as etiquetas do
comércio justo. Mas, ao mesmo tempo, aumentaram a margem de lucro em tais produtos.
Assim, enquanto os produtores do comércio justo ganham pouco mais do que os demais concorrentes (e
sem jamais saírem do patamar de pobreza em que se encontravam!), as grandes insígnias aumentam os seus
lucros.
E, mesmo pelo lado dos produtores, o sistema também não se mostra irrepreensível: o realizador constata
que nas plantações de bananas da República Dominicana os pequenos proprietários, que exportam de acordo
com a etiqueta Max Havelaar exploram o trabalho escravo de trabalhadores haitianos ilegais. Conclui-se que
o comércio justo tem as suas cooperativas, os seus programas de crescimento, mas também as suas
componentes obscuras...

Outra surpresa: para corresponder à procura crescente de bananas com a etiqueta de comércio justo, a Max
Havelaar também atribuiu a sua etiqueta a grandes produtores: na empresa Savid exportam-se 150 toneladas
semanais de bananas graças a trabalhadores haitianos mal pagos e mal alojados, mesmo que legalizados. Assim,
o consumidor europeu, que se julgava a contribuir para os pequenos plantadores do Terceiro Mundo, acaba
por dar ainda mais dinheiro a ganhar às grandes explorações em regime de latifúndio.
É caso para nos questionarmos se não chegámos ``a fase da industrialização do comércio justo?
A concluir o documentário Donatien Lemaître interessa-se pelas multinacionais do setor agroalimentar.
Desloca-se então ao Quénia para verificar o partenariado entre a Rainforest Alliance e a Lipton, do grupo
Unilever, que garante lucros substanciais às duas partes, mas de forma alguma aos trabalhadores sazonais das
plantações de chá.

O documentário mostra que, sendo uma bela ideia, o comércio justo está a dar lucro a quem já dominava
anteriormente o comércio internacional.

Publicada por Jorge Rocha http://ventossemeados.blogspot.pt/2013/08/documentario-o-negocio-do-comercio.html Clara Pilar

Você também pode gostar