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ACRE – HISTÓRIA E ETNOLOGIA

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

As habitações e a aldeia

Organizam-se em famílias individuais, não existindo grandes casas comunais,


nenhum indício de metades ou clãs ou, tampouco, famílias alargadas.
As aldeias Machiguenga da região de Montaria, no Peru, consistem em uma ou
várias famílias, de dez a trinta pessoas por aldeia, onde cada família vive em
pequenas casas espalhadas em intervalos ao longo dos rios, ou isoladas,
escondidas por folhagens e arbustos que servem de proteção em caso de guerra
ou ataques. Normalmente estas casas distam no mínimo dez a quinze minutos a
pé umas das outras. Para uma pessoa que não esteja acostumada com esta
situação, a interação social entre as casas parece muito pequena, mas num nível
menos superficial existem relações que mantêm os grupos locais juntos (cf.
ROSENGREN, 1987 )./;
Cada família constrói sua própria casa. Existem relatos de que no final do século
XVIII construíam casas hemisféricas de palha para os homens solteiros
dormirem e os demais guardarem suas armas. Segundo Tessmann (1930), estas
casas são de uso temporário, sendo a permanente retangular com teto de duas
águas. Ambos os tipos de casas são encontrados ainda hoje.
Há informações de que antigamente os Kampa construíam casas abertas dos
lados e que estas não possuíam jirau (cf. CRAIG, 1967). Este tipo de casa
vazada foi encontrada por Seeger e Voael (cf. SEEGER & VOGEL, 1978) entre
os Kampa do rio Breu.
A Revista de Atualidade Indígena, em artigo sobre os Kampa, descreve suas
casas como sendo de palafitas, semelhante à dos regionais e de outros grupos do
Purus e Juruá. A cobertura destas casas é feita com palha de jarina e paxiuba. A
casa é bem limpa, assim como todo o terreno, permanentemente varrido com
vassouras de palha.
De acordo com Seeger e Vogel (1978), a casa dos Kampa varia de acordo com o
lugar onde está construída. Quando situam-se à margem dos rios principalmente
se são visíveis desde seu leito, assumem a aparência de casas de regionais, com
paredes e divisões internas, portas e janelas. Estando escondidas, geralmente em
terras altas, as
casas são "uma estrutura de projeção quadrangular, combinando troncos de
vários calibres que sustentam uma cobertura de duas águas de folhas de palmeira
em raias superpostas, cujos beirais prolongam o ângulo reto formado por esta
cobertura para além da estrutura da casa. No seu interior encontramos um ou
dois planos formados por assoalhos de tábuas de paxiuba, flexíveis, separadas
por frestas (...) Os planos se encontram a alturas variáveis do solo, podendo
distar até l,80m". (SEEGER S, VOGEL, 1978).
No plano mais baixo, que pode eventualmente coincidir com o próprio solo,
encontra-se o lugar do fogo, em torno do qual se dá a atividade de preparo do
alimento, que pode ser consumido no próprio local. O plano mais alto concentra
as pessoas em função de atividades tais como dormir, conversar, tecer, e abriga
os objetos de valor e utilidade que constituem os haveres de uma família Kampa.
Estes são roupas, terçados, teares, espingardas e tarrafas, que são guardados nas
vigas do teto.
Em alguns casos, aldeias Kampa com casas semelhantes às dos regionais têm,
mais para dentro da mata, casas tradicionais para onde se retiram ao adoecer ou
ao receber visitas indesejáveis, e é também onde praticam os seus rituais.
Nas aldeias tradicionais existe um terreiro entre as casas onde as crianças
brincam. É nesse terreiro que dançam quando há festas, e é também nele que
acontecem os rituais onde se consome ayahuasca.
As casas são afastadas do chão de modo que fiquem livres da umidade e dos
animais. O piso é mantido cuidadosamente limpo. As casas são vazadas a ponto
de permitir a circulação da menor brisa, vinda de qualquer direçào, durante os
quentes dias amazônicos. Os beirais pretendidos evitam a entrada das fortes
rajadas de chuvas dos temporais. Na época das "friagens" costumam fazer
braseiros em baixo das casas para aquecê-las.
Dentro da casa o espaço é dividido em função do lugar onde se come, onde se
dorme e de lugares onde se trabalha: o dos homens e o das mulheres, que fiam e
tecem. Estes espaços não têm existência sincrônica. O lugar onde se fia pode ser
também o onde se dorme.
As casas hemisr-possuem um permanentemente acesc centro, e cestas
pene.
acima deste, nas quais se guarda comida para protegê-la dos insetos. Em
algumas casas ainda pode-se encontrar (cf. ROSENGREN, 1987) uma pequena
plataforma abaixo do teto, originalmente usada para guardar milho, cujo acesso
é feito através de uma escada.
À construção da casa é feita por um homem com a ajuda de algum outro
homem. Levam de um a dois meses para finalizá-la. Grande parte deste tempo é
gasto na coleta e preparo do material. Devido ao calor e ao clima úmido a casa
se estraga rapidamente e constantemente está precisando de mudanças e reparos.
A casa pode ser habitada por uns cinco anos, após os quais precisa ser posta
abaixo e queimada, pois começa a ficar infestada de insetos, tornando-se
inabitável.
Na casa hemisférica dos Machiguenga não existem janelas mas há suficiente luz
e circulação de ar. Dentro da casa normalmente há um jirau para se dormir e
esteiras recobri.ndo o chão e as paredes; pode haver uma tora servindo de banco.
Instrumentos, armas, roupas e tudo que as pessoas da casa n c n s ;, d e r em de
"valor" fica per.duradc nas vigas do telhado c^ na parede, soltos ou em cestas.
Existem normalmente duas portas, pequenas e estreitas. Uma volta-se para a
frente da casa e a outra para os fundos. A porta da frente leva à seção masculina,
enquanto a porta ao fundo da casa leva à seção feminina. Esta divisão em seções
não significa que as pessoas não possam entrar através da porta da seção oposta
ou permanecer nesta seção, mas elas evitam fazê-lo, a menos que isso seja
altamente incoveniente. Procuram então ficar ali o menor tempo possível. Os
homens, principalmente, relutam em passar para a seção feminina da casa ou
entrar pela porta dos fundos, a da cozinha (cf, ROSENGREN, 1987).
Os Kampa possuem o hábito de ter animais domésticos. Cachorros são os
animais mais comuns entre eles, e foram introduzidos em sua cultura, pêlos
espanhóis. Pequenos roedores são também capturados como mascotes, mas
dificilmente sobrevivem a mais que algumas caçadas sem sucesso. Com
macacos, araras, papagaios, veados e pequenos caititus (porcos do mato) ocorre
o mesmo.

ECONOMIA

Divisão Sexual do Trabalho

O dia de uma aldeia Kampa começa às 4:30h da manhã.


Acordam pouco comunicativos, saem para o rio, depois de recolhidos os
mosquiteiros e esteiras, e vão lavar o rosto, molhar e pentear os cabelos; além
de outras necessidades matinais. As mulheres, auxiliadas pelas meninas,
buscam água no rio e preparam a primeira refeição (basicamente banana
e mandioca, e, se tiver, a sobra de alguma carne). Os homens partem então
para caçarf pescar ou coletar madeira, enquanto as mulheres vão cuidar das
roças, limpar e colher coisas para o almoço; no caminho colhem cocão e uma
castanha que chamam de muru-muru. Varrem o terreiro, limpam e arrumam
suas casas, cuidam das crianças. Para o almoço preparam mandioca cozida
ou sopa de banana, com peixe ou carne de caça como complemento. Após o
almoço, os homens, se for o caso, irão preparar roças. Durante a tarde as
mulheres se dedicam ao trabalho de fiação e tecelagem das kushmas, uma
espécie de túnica. Ao final da tarde, depois do banho de rio e de terem-se
pintado, as famílias se reúnem para comer a última refeição do dia.
A pesca com timbó, que está mais próxima de uma coleta do que da pesca
propriamente dita, é realizada também por mulheres e crianças, que recolhem os
peixes, anestesiados, guardando-os em cestas.
A criação de animais domésticos, galinhas, patos e mutuns,, cujos ovos são
consumidos — como o são, em caso de penúria extrema, os próprios animais —,
é uma tarefa feminina.
O trabalho da derrubada, queimada e plantio das roças é tarefa
masculina, realizada pelo homem de cada família conjugal,
contando com a cooperação dos filhos homens solteiros. Algumas
vezes os homens auxiliam as mulheres a buscar o produto de roças
distantes, em aldeias abandonadas. A construção das casas, assim
como a coíeta e o preparo do material necessário, é uma
função masculina.
As mulheres fazem todos os seus trabalhos em volta da casa e na vizinhança
próxima, enquanto os homens caçam, pescam e procuram lugares adequados
para a abertura de novas roças fora da esfera do lar.

Agricultura, Caça, Pesca e Coleta

Para a agricultura os homens fazem derrubadas, abrindo clareiras e então


realizam a queimada.
A principal plantação é a mandioca (75% das roças). Plantam também batata
doce, abóbora, milho, amendoim, abacaxi, banana, melancia, cana de açúcar,
pimenta, cacau, algodão, tabaco, ayahuasca e em alguns casos também coca.
A agricultura constitui a parte mais substancial de sua alimentação, responsável
pelo fornecimento do estoque principal de calorias a essa população (cf.
SEEGSR & VQGEL, 1979).
Em alguns casos, pais e filhos têm roças comuns. Isto acontece quando o pai é
viúvo ou quando o filho adulto ainda não está casado. Existe um elevado grau
de partilha do produto, pois famílias recém-chegadas podem não ter ainda
roças produtivas. Irmãos, sogros, cunhados e genros dão um auxílio nestes
casos, assegurando uma reciprocidade da qual também poderão se valer.
Suas roças são bem cuidadas,limpam-nas permanentemente durante todos os
períodos. Normalmente são feitas ao longo do curso dos rios, mas devido às
inundações alguns grupos procuram fazê-las em lugar suficientemente
alto para que não sejam atingidas. O tamanho da roça vgria de um quarto de
hectare a dois hectares por família.
O prato principal de suas refeições é a mandioca servida normalmente na forma
de sopa com uma carne ou alguma larva (cf. ROSSNGREN, 1987}.
Os Kampa têm fama de ser exímios caçadores. A caça é uma atividade eni geral
solitária. Raramente caçam em grupos, algumas vezes podem levar um menino,
irmão ou sobrinho. Deste modo o caçador consegue um auxiliar para o trabalho
de levantar e cercar a caça, ajuda que algumas vezes também é dada por
cachorros. Servindo como auxiliares, as crianças vão aprendendo a arte de caçar.
De acordo com Seeger e Vogel, caçam com arco e flecha e eventualmente com
rifles; usam também um dispositivo de tocaia, camuflado com palha, que oculta
um caçador. Este dispositivo é armado no alto de árvores frutíferas no período
de frutificação. Existem informações de que usam armadilhas, mas não foi
encontrado nenhum dado concreto sobre isso. Há informações de que os
Machinguenga usariam uma substância grudenta nos ramos das árvores para
colar os pássaros. O uso de rifles, ao menos no alto Juruá, é muito raro, pois as
munições alcançam preços proibitivos aos índios. Caçam veados.
caititus, queixadas, capivaras, antas, cutias, tatus, quatis, pacas, mutuns, patos
selvagens e outras aves. Possuem vários tipos de sinais acústicos para entrar em
contato durante a caça. Quando o caçador anda muito para encontrar uma caça,
procura só matar um animal que ele possa aproveitar por inteiro.
Pescam com timbó junto à embocadura de igarapés. Esse tipo de pesca é uma
atividade comunal. Pescam também com anzol; originalmente usavam anzóis de
osso, flechas e arpões de acordo com a característica dos peixes; atualmente
usam às vezes tarraía e também armadihas para peixes. Pescam pacu, curimatã,
traíra, mandi, surubim, pintado e outros peixes menores da área. Na época da
seca realizam a "pesca de mergulho", onde localizam o peixe nos poços mais
profundos e o fisgam.
Coletam palmitos' diversos, cocos de várias1 qualidades, cacau, sapoti e
variados frutos silvestres. Coletam também plantas medicinais e outras drogas.
Existe entre os Kampa uma mistura de folhas de coca com um cipó e uma pedra
pulverizada, chamada choco. Essa mistura era o único alimento utilizado por
eles na ocasião das expedições de guerra ou das "correrias",
durante as quais era proibido o ato de cozinhar, pois a fumaça poderia trair a
expedição. Essa mistura é usada nas caças de longa distância ou nos períodos
prolongados de escassez de alimentos.
O jaboti é rastreado e coletado por homens, mulheres ou meninos. É um
alimento muito apreciado. Pode ser armazenado sem grandes dificuldades.
Juntamente com os peixes, a tartaruga é um alimento permitido no período da
couvade, o resguardo pós-parto do casal (cf. SEEGER 6 VOGEL, 1978) .
A extração das madeiras de lei é uma atividade muito importante para os Kampa
brasileiros, pois é através dela que conseguem obter os produtos da sociedade
nacional. As madeiras mais exploradas nos rios Breu e Amõnea são o cedro e o
aguano. A vantagem do comércio está sempre do lado do patrão, pois a madeira
de lei no alto Juruá vale muito pouco, enguanto as mercadorias dos patrões
alcançam preços altíssimos.
O corte da seringa é uma atividade que de um modo geral os Kampa não
realizam, pois lhes restringiria a mobilidade, acorrentando-os por dívida ao
barracão (cf. SEEGER & VOGEL, 1978) .

TROCAS

Desde os tempos pré-colombianos os povos andinos suprem de instrumentos de


metal os Kampa, em troca de produtos da floresta como penas e peles, além de
ornamentos (cf. BODLEY, 1973).
Recentemente foram encontrados, na região peruana dos Kampa, machados das
culturas andinas e artefatos de ouro dos Incas.
Também pode-se encontrar entre os Kampa cerâmica de boa qualidade
proveniente de índios Pano, provavelmente trocada por cestas.
Mas há um tipo de troca mais frequente, mais formalizada e mais importante
para os Kampa que a troca intertribal: é uma troca interna, ou melhor intratribal,
que eles chama de ayompari.
Esta troca é citada em vários textos como o de Hinkler (1976], mas é
especialmente explicada por Bodley em seu artigo "Deferred excnange among
the Kamps indians" [1973Í.
O ayompari é uma troca cerimonial e pode demorar um ano ou mais para ser
completada, conforme seja maior ou menor a habilidade ou o desejo de
completá-la. Ela envolve diferentes tipos de artigos, diferentes mecanismos de
troca e serve a diferentes propósitos.
Trocas ocasionais com indivíduos podem ser feitas, sãs o tipo mais desejável de
troca se dá entre "parceiros de trocas", é o que se pode chamar de sistema
ayompari, em que um indivíduo concorda em trocar sob determinadas regras
com outro indivíduo. Um chama 50 outro de ayompari, parceiro de trocas, ou
niompari, meu parceiro de trocas. Ao aceitar um artigo de seu ayompari, o
parceiro está concordando em suprí-lo com o artigo que o outro deseje em troca,
daí algum tempo, no futuro.
Por exemplo um homem dá a eu ayompari um jogo de flechas, estabelecendo
um relacionamento de divida com o outro. Pede em troca então uma faca
inoxidável. O segundo ornem poderá ter um ayompari que esteja em contato
com brancos, com quem ele pode conseguir a faca.
Como a troca leva no mínimo um ano para se completar, visitar o ayompari
pedindo o pagamento de dívidas antigas é um passatempo favorito e altamente
atualizado dos Kampa.
São encontros nervosos, acalorados, se xingam, gesticulando muito com os
braços, trocando desculpas e recusas. Os parceiros ficam de pé, um em frente ao
outro, trocando insultos por horas e horas. Ocasionalmente estes encontros
podem degenerar em brigas formalizadas.
A troca pode terminar de dois modos: ou pelo acordo de ambas as partes, ou por
uma das partes não reconhecer o seu débito.
Quanto à troca em si, pode-se trocar artigos Kampa por artigos Kampa, artigos
Kampa por artigos industrializados, artigos Kampa e industrializados por artigos
Kampa. De acordo com levantamento realizado por Bodley, a troca mais comum
é a do segundo tipo, ou seja, artigos Kampa por artigos industrializados.

Uma das vantagens ayompari é a aquisição objetos de metal e industrializados


sem haver uma ruptura no estilo de vida tradicional.
Para Bodley existem outras duas vantagens tão
importantes quanto a primeira: entretenimento e paz.
As expedições de troca são consideradas eventos emocionantes e divertidos.
Elas ocorrem durante a estação das secas, de junho a outubro, pois as trilhas são
impenetráveis durante o período das chuvas. Dois ou três homens, parentes
próximos, viajam juntos.
Em um passado recente havia constantes lutas e guerras entre pequenos grupos
locais, e isso ainda não foi esquecido.

ESTRANGEIROS
Os estrangeiros são ainda vistos com suspeitas e qualquer não parente é um
inimigo em potencial. Sempre se pergunta aos estrangeiros quem são e qual a
sua atividade naquele local. O termo ayompari é muitas vezes usado quando
num encontro com estrangeiros a situação está muito tensa.

O ayompari ainda dá uma desculpa para se voltar no próximo ano e, desse


modo, estabelecer alianças em território hostil.

PARENTESCO

A estrutura social dos Kampa se baseia na família conjugal, que é a unidade


institucional do parentesco. A regra do casamento estabelece como cônjuges
preferenciais os primos cruzados, reais ou classificatórios (cf. SEEGER £,
VOGEL, 1978).
Rosengren (1987) diz que o sistema de parentesco usado pêlos Machiguenga é
de tipo
dravidiano. Uma divisão das pessoas próximas em parentes e afins, ou seja, em
casáveis e não casáveis. Encontra-se uma distinção em parentes cruzados e
paralelos. Esta distinção é feita em apenas três gerações: a geração de ego, a
primeira geração ascendente e a primeira geração descendente. Para outras
gerações, fora desta faixa, a única distinção que se íaz é de sexo, não havendo
mais as distinções entre paralelos e cruzados, pois estes não estão mais na faixa
que se poderia chamar de casáveis. No relatório de Seeger e Vogel, o parentesco
Kampa é descrito como sendo um sistema de duas seções, de acordo com o
sistema iroquês.
O casamento resulta de um entendimento formalizado entre os pais, os
cunhados, ou entre o pretendente e o futuro sogro. São frequentes os casamentos
antes da puberdade da mulher. No plano sexual, porém, ao são consumados após
o rito de passagem da primeira menstruação. Há notícia de divórcio em casais
relativamente jovens.
Conforme Rosengren (1987), no primeiro ano de casamento a residência é
matrilocal; após este período não existem regras normativas que regulem a
residência. Em termo de regras estatísticas, o mais correto seria descrevê-la
como neolocal.
Porém a neolocal implica haver uma independência da casa dos pais e, na
realidade, não ocorre bem assim. Esta casa neolocal não só está na vizinhança da
dos pais da esposa, como também envolve frequentes e importantes relações
entre a antiga e a nova casa. O autor sugere como padrão de residência o
uxorivicinal, pois as duas casas estão conectadas por forte interação social. De
acordo com o autor, em uma dimensão sociológica se perderia muito não
levando em conta a proximidade espacial e social.
Nos trabalhos lidos por Rosengren sobre regras de residência Machiguenga
havia um, de O.R. Johnson, que classificava a residência como sendo próxima à
dos parentes tanto da esposa quanto do marido, o que aparentemente é
incoerente com a teoria uxorivicinal apresentada. Este fato é esclarecido por
Rosengren do seguinte modo: O. R. Johnson não explica o tipo de parentes
envolvidos, e tanto o casamento entre primos cruzados quanto o de troca de
irmãs são formas comuns de casamentos entre eles; o homem sempre encontra
não apenas afins, mas irmãos e consanguíneos de duas gerações, morando
próximos.

CULTURA MATERIAL

Ornamentos

Os Kampa são conhecidos pelo uso da kushma e pela pintura com urucum. Ao
que parece, dão muito valor aos adornos plumários, cocares e flechas, que,
conforme Winkler (1978), são de grande valor artístico.
Eventualmente usam penas de pássaros vivos que se recuperam, mas o normal é
caçá-los para este fim. Utilizam penas de arara, periquito, tucano, papagaio e
gavião.
A kushma pode ser descrita como um vestido de algodão cru, usado tanto por
homens quanto mulheres, tingido em uma grande cabaça, numa infusão de
vegetais, incluindo urucum e que contém uma alta percentagem de tanino.
Kushma é o nome genérico dado na região a este tipo de vestimenta usada por
diversas tribos. Os Kampa a chamam de kitsárentsi. A cor da kushma recém-
tingida é de um marrom avermelhado escuro, e com o uso vai escurecendo mais.
A interação destas cores na floresta faz uma perfeita camuflagem,
principalmente se a pessoa estiver imóvel. Quando estão fora de suas casas
dormem diretamente no chão, deixando cabeça, mãos e pés dentro da kushma,
ficando deste modo completamente cobertos. Estas roupas de algodão grosso
são uma próteçao e fet ivá contra todos os tipos de insetos noturnos.
A produção da kushma, incluindo o t ing intento e a coleta do material, é tarefa
feminina, mas não de todas as mulheres, apenas das que a fazem muito bem ou
que conhecem bem as técnicas, e que portanto, produzem também para outras
famílias.
As mulheres fiam o algodão cru e o armazenam em carretéis. Tingem estes
útilizando corantes vegetais, como o aguano, ou com tinta de tecido da
sociedade nacional, porém suas cores não são firmes. Os fios são tecidos
transformando-se em peças de três metros de comprimento por um de largura,
com padrões de listras mais ou menos largas (cf. SEEGER & VOGEL, 1978).
A kushma é enfeitada por COLARES feitos de contas silvestres que se
compõem, como cachos para as mulheres e como feixes de cordões em
bandoleira para os homens

Muitos usam tatuagens, estas são feitas com agulha e espinhos de palmeira;
usam fuligem para colorir. A face nterna do antebraço e o rosto ao os lugares
preferidos para
as tatuagens, que representam desenhos abstratos, traços, pontos e setas, cujo
sentido, de acordo com Seeger e Vogeí (1978) seria apenas estético.
Escurecem os dentes com um substância negra (cf. STEWÀRD & MÉTRAUX,
1948).
A pintura com urucum é muito comum entre estes índios. Misturando o urucum
com gordura animal (cf. CRAIG, 1967) ele é aplicado à face em padrões
especiais. A pintura vermelha é uma proteçâo contra maus espíritos e pode ser
complementada com pontos azuis (cf. WINKLER, 1978) .
O Kampa indica seus sentimentos através da pintura com o urucum, pintando o
que ele chama de "linhas de alegria", "linhas de tristeza" e "linhas de cólera".
Este costume é importante no encontro de estranhos, que de antemão já sabem a
reação de seus interlocutores (cf. CRÀIG, 1967; WINKLER, 1978).
Os Machiguenga normalmente pintam também os seus animais domésticos.
Winkler narra que antigamente homens e mulheres usavam um labrete no lábio
inferior perfurado. De acordo com Steward e Métraux, os homens Kampa
usariam este artefato de madeira no septo nasal e no lábio inferior, ao passo que
os Machiguenga o usariam no lábio superior. Costumes que em fins dos anos 70
eram observados apenas nos mais idosos (cf. WINKLER, 1978) .

INSTRUMENTOS E ARTEFATOS
Ao que consta, a cerâmica feita por eles é crua, pintada de vermelho, feita de
rolinhos alisados de argila, apresentando marcas de dedos. Para ter um produto
melhor fazem trocas com índios Pano da região.
Potes e vasilhames diversos, pratos, colheres tradicionalmente são feitos de
cabaça. Hoje em dia, usam muitos utensílios de alumínio.
Possuem instrumentos musicais, como um tambor duplo feito de couro de
macaco, flauta de pã com cinco a oito tubos, flauta doce feita de osso, flauta
doce com seis furos, flauta transversa com dois furos, além de um tipo de
pequeno berimbau de boca.
Usam tabocas compridas para empurrar a canoa no rio, para varaus e jiraus.
Usam tabocas pequenas na fabricação de flautas. Usam borracha na confecção
de sapatos, tambores e bolas. Usam cera de abelha na confecção de flautas e
flechas. Fazem pentes com espinhos de árvores (cf. STEWARD &
MÉTRAUX, 1948).
A arma mais usada ainda hoje é o arco e flecha, que normalmente não tem as
pontas envenenadas. Seus arcos são longos e suas flechas possuem 2,5m. Pintam
as pontas das flechas com urucum. Prende-se a ponta na flecha por meio de um
cordão de algodão recoberto com cera de abelha (cf. WINKLER, 1978). Para
fazer as flechas usam cana brava. As pontas são feitas de taboca afiada ou
pupunha entalhada, com grande poder de penetração. São empenadas com
mutum, jacamim ou jacu. Os arcos são de pupunha ou pijuava, e o
encordoamento de fibra de carnaúba.

INFORMAÇÕES CULTURAIS E REGRAS SOCIAIS


Os Kampa são polígamos. Quatro é o maior número encontrado de esposas,
mas, ao que parece, este número pode ser excedido em raras ocasiões. O grande
número de esposas impõe ao marido um considerável esforço físico e
económico; obriga-o a estar constantemente viajando. Para Craig, o grande
número de esposas poderia explicar a separação das casas. Esta separação daria
ao marido a certeza de suas esposas não serem roubadas, em sua ausência, por
um vizinho menos afortunado.
As crianças são bem tratadas e os velhos "tolerados com algum respeito" pêlos
familiares mais próximos. Quando as crianças se portam mal, apanham ou são
assustadas com algum barulho que se diz ser de jaguar (cf. STEWARD &
MÉTRAUX, 1948).
Steward e Métraux citam a ocorrência da troca de mulheres.
Nas aldeias formadas por casas do tipo palafitas, junto às margens, normalmente
são construídas também aldeias afastadas das margens, onde o espaço Rampa é
reconstituído e voltam a ser atualizados os valores e as formas culturais deles. É
nesta aldeia que fazem os rituais. É na aldeia tradicional que se fabrica, durante
as horas de sol alto ao poente, a mistura de coca com um tipo de cipó e uma
pedra moída, chamada choco, que está intimamente ligada aos valores
masculinos e guerreiros dessa sociedade (cf. SEEGER & VOGEL, 1978).
Quanto ao fato das aldeias tradicionais estarem sempre localizadas em local alto,
o relatório de Seeger e Vogel diz o seguinte:
"É bom morar no alto porque há menos mosquitos do que na margem; porque
não se
corre risco de inundações ou, o que é mais frequente na área, de terras caídas.
Mas é bom morar nas terras altas, sobretudo porque é mais perto do sol, que
representa para eles uma motivação da ordem, do sagrado. O sol é Pava, que é
meu pai, termo de respeito que se usa para com a divindade solar (...) Esse tipo
de localização pode estar relacionado com problemas de defesa. Com relação à
sociedade nacion l, isso funciona de maneira desviada, pois defende ocultando
do olhar e do alcance" (cf. SEEGER & VOGEL, 1978) .
Seus assentamentos têm pouca estabilidade; estão sempre mudando, às vezes
mesmo para lugares distantes. Abandonam suas aldeias para procurar um
"patrão melhor" (comprador de madeira de lei), ou quando vão visitar parentes
no Ucayali, ou quando ocorre algum falecimento.
"Os Kampa se expressam sempre de maneira contida. Algumas vezes falam
muito mas não têm grandes efusões verbais, gestuais ou afetivas. As pessoas
acompanham com os olhos, das suas casas, e sem interromper seus afazeres, os
que chegam e os que partem. Os que chegam são recebidos como se jamais se
tivessem afastado, e a despedida dos que se vão parece a de quem vai para voltar
já. (...)Esta economia de expressão confere à Kamparia uma postura que é .um
misto de dureza e contenção orgulhosa. As vezes chegam a ser impassíveis
assumindo um aspecto hierático realçado e composto pela túnica de algodão cor
de aguano, a kushma (...)" (cf. SEEGER & VOGEL, 1978).
Quando um visitante chega a uma casa deve avisar a sua chegada por meio de
sinais acústicos. Os moradores só tomam conhecimento do recém-chegado
quando este colocar o que estiver trazendo no chão. Após um cumprimento
formal, oferecem comida, que, se for aceita, significa uma visita amistosa; do
contrário é uma visita tensa, ou por motivos desagradáveis, podendo ser uma
declaração de guerra.
O suicídio ocorre com relativa frequência entre eles. As causas podem ser a
perda de um cônjuge num acidente ou por idade avançada (cf. WINKLER,
1978). De acordo com Seeger & Vogel o suicídio pode ocorrer também por
ciúmes.
A refeição é comida isoladamente por cada família conjugal, à qual pode-se
eventualmente acrescentar algum hóspede. No relatório de Seeger e Vogel, a
refeição é descrita do seguinte modo:
"No círculo dos comensais
os homens ocupam um arco, enquanto mulheres e crianças se dispõem em outro.
Mulheres e crianças comem em um prato comum e com as mãos, no que às
vezes são acompanhados pêlos homens. Em geral, porém, constatei que estes
comiam em pratos separados e eram servidos em ordem hierárquica. A mulher
que encabeça o grupo feminino da casa serve os homens — o primeiro prato
para o pai quando este está presente, ou para o marido; em seguida vem os
hóspedes do sexo masculino, por ordem de procedência. Eu era servido antes de
meu motorista, e depois dos homens mais velhos e importantes da casa.
Mulheres e crianças são as últimas a se servirem e as mães comem ao mesmo
tempo que alimentam os filhos" (cf. SEEGER & VOGEL, 1978:35-36).

CHEFE
À função de curaca (koraka), chefe, não corresponde a um cargo. A chefia não é
nem hereditária, nem vitalícia. É difícil perceber as condições que determinam o
acesso de um homem à posição de curaca e as determinações desse papel no
sistema cultural Kampa (cf. SEEGER & VOGEL, 1978). Os curacas, nos casos
vistos por Seeger e Vogel, normalmente possuem renome como guerreiros.
Renome este estabelecido na época das "correrias". A propósito, copio o que se
segue:
"De Kitora e Samuel dois curacas se diz que foram 'matadores'— cayéri. Além
disso, têm muitos parentes, 'sabem' beber ayahuasca, são caçadores (ou foram)
excelentes, homens sábios que curam doenças (através de práticas xamânicas
com alucinógenos)" (cf. SEEGER & VOGEL, 1973:44).
O chefe, curaca, ao que parece, tem sua posição determinada pêlos laços de
parentesco, pois reúne sempre grandes "clãs" a sua volta, pelo seu prestígio
como caçador e guerreiro, além de ser detentor de saberes importantes no
domínio de sua cultura.
Entre os Machiguenga, de acordo com Rosengren, a liderança é transmitida
patrilinearmente e se restringe ao comando da caça ou da pesca, da abertura de
novas roças, e também da organização durante as guerras. Também de acordo
com este autor, existem dois princípios de organização política: o sexo e a idade.
Os homens dominam as mulheres, e os de mais idade dominam os mais novos.
CONTAS E MEDIDAS

Os Machiguenga contam o
tempo pela lua (doze em cada ano), pelas suas fases e pelo desabrochar de certas
flores.
Os Kampa, de um modo geral, medem pequenos objetos por palmos ou varas,
não possuindo medida de peso. A orientação em viagens é feita através da
posição do sol (cf. STEWARD & MÉTRAUX, 1948).
Para contar, só existem l, 2 e 3 (patiro, piteri e muhuani). Os outros números são
compostos pela junção destes: por exemplo, 4 seria l e 3 (cf. WIENER, 1880) .
De acordo com este autor, Wiener, quantidades que ultrapassem o número dez,
são designados genericamente por muito ou bastante.
Saúde e Doenças
Em relatórios da FUNAI consta que não é normal a incedência de malária,
acreditando-se que o fato se deve ao uso da kushma, que os protege das picadas.
Segundo estes relatórios, por estarem os Rampas distantes de outras aldeias e
outras cidades, estão mais protegidos de doenças contagiosas comuns.
Apresentam-se fortes e aparentam ótimo estado de saúde (cf. Relatório FUNAI
1981).
Seeger e Vogel (1978) consideram a assistência médico-sanitária aos Rampa
praticamente nula. Os Kampa do rio Amônea recorrem às vezes ao posto de
enfermagem do 7o BEC em vila Taumaturgo. Jamais foram vacinados e contam
apenas com a boa vontade de algum regional para que lhes compre os caríssimos
remédios. Os mesmos autores afirmam ainda ter constatado entre esses índios
hepatite, bronquite, sarampo, gripe e escabiose. A -malária também pôde ser
vista, apesar da atuação da SUGAM. Em seu relatório consta, no entanto, não
terem encontrado Kampa desnutridos, coisa muito frequente entre os regionais.
De acordo com os próprios índios, a febre amarela teria dizimado boa parte dos
Kampa da região do rio Amônea.

COSMOLOGIA

Xamanismo
Muitas doenças são tratadas com ervas, mas aquelas causadas pelo sobrenatural
são tratadas pêlos xamãs.
De acordo com Steward e Métraux, estes são alguns dos "remédios" usados
pêlos Kampa:
o coração da jaguatirica é usado para dar coragem; a vesícula biliar é usada para
realizar adivinhações oraculares; a biles do macaco é usada contra problemas
oculares; a biles da rã é usada contra dor de dente. Excremento de urso é usado
para evitar a obesidade; o besouro pitiro pulverizado é usado contra a anemia.
Costumam esfregar folhas secas de paio de balsa na cabeça para acabar com
dores (cf. STEWARD í MÉTRAUX, 1948).
Qualquer elemento de desequilíbrio é encontrado pelo xamã. Uma de suas
funções é a de descobrir o responsável pela doença, em caso de feitiço. Para
descobrir quem fez o feitiço, o xamã Kampa salpica coca em sua mão, mistura e
descobre a pessoa culpada através da configuração formada (Ordinaire, 1892
apud. STEWARD & MÉTRAUX, 1948). Para curar, ele sopra fumaça de tabaco
e fricciona coca no paciente; faz então uma sucção, livrando-o do "corpo
estranho", do "ser invasor" que o feiticeiro pôs nessa pessoa. Fumando e
bebendo cayampi, ele se empenha em matar o feiticeiro, devolvendo o feitiço
para ele (TESSMAN, 1930 apud. STEWARD & MÉTRAUX, 1948).
Os Kampa usam várias substâncias mágicas: o cyperus piriri, por exemplo, é
esfregado no arco para que ele atire bem, ajudando a não perder a caça. Os
xamãs o engolem junto com tabaco, antes de realizar um tratamento de sucção,
para "limpeza" do paciente (TESSMAN, 1930 apud. STEWARD &
MÉTRAUX, 1948).
A escada é um objeto importante para o Xamã Machiguenga, pois ela simboliza
a conexão entre nosso mundo e o mundo superior, o mundo dos céus, chamado
menkoriptisa. No mundo do céu, o estrato superior, vivem seres benignos,
chamados sáangarite, que protegem as pessoas em geral e que ajudam o xamâ a
diagnosticar as doenças (cf, ROSENGREN, 1987).
O xamã Kampa passa por um período de aprendizagem. Durante este período, e
mesmo depois, obtém, mantém e aumenta seus poderes, através do consumo
contínuo de drogas: basicamente o tabaco na forma de um xarope concentrado a
ayahuasca. O tabaco não é um alucinógeno, mas em doses maciças é um tóxico
poderoso. Tanto que se acredita que seja a fonte de poder do xamã, permitindo-
lhe ver os espíritos e comunicar-se com eles, ao curar e diagnosticar a doença.
Ao que parece, é o tabaco que mantém o poder dos espíritos junto ao xamã. A
ayahuasca é um alucinógeno que o põe em comunicação direta com o mundo
dos espíritos, de modo que estes o visitam, ou sua alma deixa seu corpo e visita-
os em lugares distantes. Há também o uso de diversas plantas sagradas; cada
espécie de planta está associada com um grupo específico de bons espíritos.
O xamã tem sempre à mão um suprimento de ayahuasca para suas necessidades,
e de tempos em tempos ele conduz uma cerimônia grupal, envolvendo o uso da
ayahuasca, onde resolve casos complicados. Esta cerimônia é essencialmente
uma sessão xamânica de cura.

RITUAIS

A cerimônia da ayahuasca começa quando a noite cai, pois a droga precisa do


escuro para que sejam percebidos os efeitos visuais. A quantidade necessária da
droga, na forma de um xarope espesso, é preparada com antecedência para ser
usada na cerimônia.
A ayahuasca é uma bebida difundida em vários grupos do alto Amazonas. Na
língua Kampa é chamada de kamárampi, derivada do verbo kamarank, vomitar.
A denominação ayahuasca vem do Quêchua, dos Inças do Peru pré-colombiano,
e significa "a pequena morte" ou "a entrelaçadora de almas e espíritos dos
mortos".
A ayahuasca é feita de extrato do cipó banisteriopis, misturado à psychotria
viridis.
O xamã é o encarregado do preparo e distribuição da bebida aos participantes do
ritual.
O grande objetivo do uso da ayahuasca é o de efetuar curas, tanto no plano físico
quanto no espiritual, obtendo informações sobre as causas de uma doença cuja
cura não foi possível pêlos métodos comuns. Ò xamã descobre a "verdadeira"
causa da doença, percebendo qual o tratamento eficaz.
À seguir, colocamos duas descrições da cerimónia da ayahuasca entre . os
Rampa. Primeiro, a de Gerald Weiss (WEISS, 1973); depois, a do relatório de
Seeger e Vogel (SEEGER & VOGEL, 1978).
"Na cerimónia, o xamã e a vasilha contendo a droga são o centro das atenções.
Durante a sessão, as mulheres são separadas dos homens. Usando uma cabaça, o
xamã bebe uma quantidade do líquido e então passa a bebida a outro
participante. O procedimento é repetido várias vezes, em intervalos, até que todo
o suprimento seja consumido. Após meia ou uma hora, a droga
começa a fazer efeito. O xamã, então, canta. Sob o efeito da droga, ele canta
uma música atrás de outra.
Os bons espíritos chamados pêlos participantes aparecem em forma humana,
mas somente o xamã os vê claramente. Quando o xamã canta, na realidade está
repetindo o canto dos espíritos. Estes se comunicam com os expectadores
através do xamã.
À atmosfera da cerimónia é tranquila, sem frenesis, apesar do transe. A -sessão
pode durar até o amanhecer". (cf. WEISS, 1973) .
"D Samuel [curaca e xamã da aldeia] preparou a bebida num fogo improvisado,
perto do terreiro onde mais tarde se realizaria o ritual. A bebida é uma decocção
do cipó machucado, disposto na panela em camadas alternadas com folhas de
semiloca. Após duas horas de cozinhar, é retirado do fogo para esfriar.
2) Em seguida, Samuel, Irándji e Nopi (neta e nora, respectivamente)
prepararam o terreiro, cortando todos os tufos de erva e varrendo-o até que
estivesse muito limpo.
3) Ao pôr do sol, todos se banharam no rio, vestiram kusmas limpas e se
pintaram com cuidado e capricho. Irándji e Nopi, que normalmente não se
pintam, porque têm vergonha, cumpriram esse processo de preparação para o
ritual.
4) Todos foram tomar a refeição da noite juntos, em casa de Samuel.
5) Depois da noite cair inteiramente, Samuel estendeu uma linha de esteiras no
terreiro, preparou um braseiro e pôs a panela de bebida no chão, em frente à sua
esteira. Todos tomaram assento. Fomos advertidos de que durante o ritual não se
falava nem se acendiam fósforos.
6) [sic] Com todos sentados, de costas para uma lua cheia que despontava,
Samuel distribuiu a primeira rodada de cuias, depois de ter bebido a sua.
Passaram-se cerca de dez ou quinze minutos em absoluto silêncio, quando,
então, Samuel começou a cantar. Aos poucos, os demais
entraram,contraponteanco o canto de Samuel.
7)Todos fumavam e, às vezes, se abanavam com suas kushmas (por causa do
enjoo que a bebida provoca), ou se levantavam para vomitar longe dali"
(SEEGER & VOGEL, 1978).
Outro ritual dos Kampa é a festa chamada de festa do masato, no Peru, e
caicumada, no Brasil, nome de uma bebida fermentada de mandioca. Esta festa é
realizada uma vez por mês, na noite de lua cheia. Nesta noite eles fazem uma
festa com danças, música de tambores e flautas. Enfeitam-se e bebem muito.
No começo dançam, mas depois começa a se tornar fisicamente impossível
dançar, pois estão completamente bêbados. A festa dura até não haver mais
bebida, o que pode levar até uns três dias. Durante a festa apenas se bebe;
nenhuma comida é servida (cf. CRAIG, 1967; cf. WINKLER, 1978).
Na caicumada, brasileira, conforme relato de Seeger e Vogel, a bebida é
distribuída a homens e mulheres por uma mulher, que é também
responsável pela sua fabricação. Cada pessoa recebe uma cuia
transbordando e deve esvaziá-la, parâmetro do bom bebedor que é apreciado e
festejado. Homens e mulheres, agrupados separadamente, bebem até ficar altos.
Todos, fazem uma enorme algazarra e a contenção normal do dia a dia se
transforma numa jocosidade generalizada. As mulheres, além de beber,
fumam, coisa que normalmente não fazem; além disto Seeger e Vogel dizem
que as mulheres se dirigiram a eles em português, o que não é normal fazerem
com estranhos, ainda mais sendo brancos, pois são muito reservadas. As
mulheres normalmente não gostam de falar português; mesmo quando sabem
não falam. Nesta ocasião, como havia pouca gente na aldeia, não realizaram as
danças da caicumada (cf. SEEGER & VOGEL, 1978} .
Winkler descreve que quando um caçador mata um veado, tira um pedaço de
uns seis a nove centímetros do osso femural da caça e grava neste desenhos
geométricos mágicos, guardando-o. Quando deseja se casar, dá os ossos
guardados para a noiva, que os entrega a seus pais como uma
X amostra da capacidade de caça do noivo (cf. WINKLER, 1978).
O único rito de passagem citado é o da puberdade feminina, mas não foram
encontradas citações a respeito de como se dá este rito. A iniciação masculina
náo foi citada. O casamento se d'á sem cerimónia especial.
Quanto aos ritos funerários, abandonam o cadáver numa clareira ou o queimam,
podendo também atirá-los num rio. Os doentes sem chances de cura são
abandonados com provisões. Após uma morte abandona-se a aldeia (cf.
STEWARD & MÉTRAUX, 1948). Isto se explica pela sua concepção do
destino post-mortem.
As crianças Rampa recebem um primeiro nome ao começar a andar, sendo
novamente "batizadas" aos sete anos.
Seeger e Vogel citam a existência da instituição da couvade, ou seja, o
resguardo pós-parto. Não explicam se é realizada por ambos os pais ou não.
BONS E MAUS ESPÍRITOS
Deste item até o final do trabalho as informações foram tiradas do artigo
"Campa cosmology" de Gerald Weiss, publicado in Native south american
ethnology of the least know continent, Patrícia Lyon (org.), Little Brow Co.
1974.

Para os Kampa o universo é habitado não apenas por formas de


vida que podemos observar, mas também por seres normalmente
invisíveis aos olhos humanos, que são os espíritos, imortais,
poderosos, capazes de um rápido vôo ou de uma transformação
instantânea. Reconhecem-se dois tipos de espíritos: os bons e os
maus.
Os bons espíritos são frequentemente chamados de axaninka, a
auto-denominação dos Kampa, o que mostra a relação de
proximidade que existe entre os Kampa e estes espíritos. Um
termo mais específico seria amatsénka, que pode ser traduzido
como "nossos espíritos". São também chamados de maninkari,
"os ocultos".
Os bons espíritos vivem em montanhas do território dos Kampa,
em lugares distantes, nos limites do mundo conhecido ou, ainda,
em outro estrato do universo, -o. estrato celeste. Nestes locais os
espíritos vivem em sua verdadeira forma, humana, vivendo como
os Kampa, exceto pelo fato de que não conhecem doença, miséria
e morte. Periodicamente se rejuvenescem banhando-se em
hananeríte, a Via Láctea, o rio celeste da eterna juventude. Muitos
desses bons espíritos, divindades, são estrelas visíveis no céu à
noite. Por exemplo, Antares, a estrela vermelha da constelação de
Escorpião, é Kikákiri, uma divindade mitológica, um bom
espírito.
Os Kampa reconhecem vários astros como divindades. Por
exemplo: a lua, Kaxiri, uma divindade masculina, pai do sol. O
sol, Pava, é a divindade máxima dos Kampa.
Em sua verdadeira forma, eles, como já foi dito, sáo humanos,
mas invisíveis aos nossos olhos. Apenas os xamãs possuem a
capacidade de vê-los, devido a seus poderes
especiais.
Assim como os mortais, estes bons espíritos são homens e
mulheres, apesar de que seus órgãos genitais são diminutos, pois
se reproduzem de outra forma, sem necessidade da união sexual.
Eles nascem e em uma única lunação já se encontram em sua
forma adulta.
Os Kampa identificam muitos pássaros como sendo manifestações
materiais de bons espíritos, mandados por seres que vivem no
estrato celeste, especialmente os de forma mais bonita e de mais
bela plumagem. Geralmente, ao falar desses pássaros sagrados,
referem-se a eles como homipava, filhos do sol. Acreditam que
estes bons espíritos, quando querem podem materializar uma
forma visível aos olhos humanos para dar instruções a um grupo
de Kampa. Outros pássaros são vistos como sendo mandados por
bons espíritos que moram nas montanhas. Entre estes se incluem
o tucano e o beija-flor. Além de animais como o quati e o porco do
mato.
Alguns animais possuem um status ambivalente: podem ser
manifestações de bons ou maus espíritos. Duas espécies de
pássaros estão nesta categoria: amempore e etsóni. Amempore é o
condor. Etsóni é um pássaro também com plumagem preta e
pescoço branco, da mesma família. Eles vivem entre o céu e a
terra. Os xamãs dizem que, quando os etsóni estão voando em
círculo, estão tocando flauta de pã e dançando.
Os maus espíritos são chamados kamári, o que, traduzido, seria
"aquele ou aquela coisa repugnante, malévola ou repreensível".
Os demónios habitam o estrato mais baixo do universo
sharinkaveni onde mora o senhor dos demónios, Korioshipiri.
Mas também abundam na Terra, não nos limites longínquos mas
no próprio território dos Kampa,
— nas florestas e rios — o que significa, na realidade, perigo
constante.

A brisa de um demônio que passa causa doença, o ataque de um


demônio ou apenas o simples susto pode causar a morte imediata
ou uma forma de loucura na qual a vítima faz a si própria injúrias
físicas.

Breve descrição dos demônios»


Katsivoréri são demônios que vivem em cavernas e saem apenas
durante a noite. São criaturinhas pretas e com asas que carregam
um companheiro nas costas. Ao contrário dos bons espíritos, seus
órgãos genitais são imensos. Este demônio mata sua vítima que se
transforma num demônio do mesmo tipo.
Os mankóite são descritos como tendo forma humana, mas
despenteados e com suas kushmas muito velhas e cobertas de
plantas parasitas. Quem vê um mankóite pode ter morte
instantânea.
Shashinti é outro tipo de demônio extremamente magro,
qualidade que os Kampa associam à fraqueza e a transmissão de
doenças. Quando aparece para alguém, quebra-lhe o corpo em
partes, que depois reagrupa, fazendo reviver a vítima. Ao voltar
para casa, doente, lembra-se de tudo o que ocorreu e de repente
morre.
Outro tipo de demônio, irampavánto, pode aparecer para um
homem sozinho na floresta sob a forma de uma mulher atraente
— ou de um homem atraente, no caso de uma mulher sozinha --,
impondo-se sedutoramente e convidando o outro para ter relações
sexuais com ele. Após o coito, conta a verdade para o parceiro que
morre. Logo após ele revive, volta para casa lembrando do
ocorrido e então morre. Pode, na melhor das hipóteses, ficar
maluco.
Míromi é um demónio que possui a forma de um grande tapir ou
de uma mula, com olhos imensos e pênis gigantesco. Pode ter
também a forma de velhinho, vestido com uma kushma velha,
andando com a ajuda de cajado e possuindo também enormes
órgãos genitais. Ele ataca homens solitários na floresta dirigindo
seu órgão genital em direção à vítima. Esta morre e é
transformada em um míromi feminino.
Korinto é um monstro devorador de homens, tão grande quanto
uma casa. Ele não é mais encontrado no território dos Kampa. Os
xamãs há muito tempo atrás os aprisionaram em uma caverna
próxima às cabeceiras do riacho Tsikireni, afluente do rio Ene.
Imposhitóniro e Shonkatiniro são demónios aquáticos que vivem
nos rodamoinhos e passagens difíceis dos rios, onde esperam para
tentar afogar e matar os viajantes que passem. O pai de
Shonkatiniro é Tsomiriniro, que recolhe, em seu estômago, as
almas dos Kampa afogados e os transforma em marido para suas
filhas.
Em alguns pontos dos rios vivem demónios que recolhem sobras
de comida e fazem bruxaria com elas, enfeitiçando e fazendo
adoecer as pessoas que comeram esta comida. O arco-íris é a
fumaça da fogueira de alguns destes demônios. Alguns Kampa
dizem que o arco-íris é a kushma destes demônios. Tanto o arco-
íris como os demónios são chamados de oyéchari ou também
tsavirentsi.
Pequenos rodamoinhos de vento que de vez em quando fazem
voar as folhas nas proximidades da aldeia são considerados maus
espíritos que trazem doenças. Eles podem ser chamados de
kaviónkari, tiviónkari e shinkíreri.
Diz-se que os demônios transformam sempre suas vítimas, após a
morte, em demónios do mesmo tipo.
Grande número de insetos são representações materiais de
demónios: a borboleta morfo (morpho s.p.), a borboleta caligo
(caligo s.p.) chamada maatsarantsi, "roupas- velhas", por causa
de sua cor de kushma velha e; também a formiga leão (fam.
mumeleonidae). Todos estes insetos causam doenças. O escorpião
também é associado a um demônio, pois os insetos nocivos, de um
modo geral, têm proveniência demoníaca.
Vários pássaros, incluindo um tipo de beija-flor e os pássaros
ambíguos, vários animais, incluindo jaguares e morcegos, são
considerados demoníacos.
Os kampa possuem uma crença, muito difundida nos Andes, de
que os brancos das cidades grandes matam os índios para extrair
a gordura de seus corpos, que usam em automóveis e aviões. Para
os kampa há algo de demoníaco nos brancos, são poderosos, não
são benevolentes nem generosos (cf. WEISS, 1974) .

FEITIÇARIA

A feitiçaria constitui uma categoria especial de atividade demoníaca. O termo


Kampa é matsi. Acreditam na existência de feiticeiros humanos e não humanos.
Os não humanos são vários tipos de abelhas e formigas.
Quando alguém cai doente e o xamã diagnostica que alguma espécie de formiga
ou abelha causou a doença por bruxaria, as pessoas da aldeia saem para procurar
nas redondezas estes insetos e os destroem, destruindo assim os seres materiais
usados para a bruxaria.
Feiticeiros humanos são sempre crianças, geralmente
meninas, que enterram materiais como pedaços de esteiras, ossos ou pedaços de
mandioca em volta da casa. Estes materiais, no entender dos Kampa, podem
entrar no corpo de alguém e fazer um sério mal a ele.
As crianças são seduzidas por demônios na forma de animais — grilos, esquilos
ou outros — que lhes ensinam bruxarias. Quando aparecem a elas com esse
propósito, eles o fazem sob a forma humana. A criança é abordada e, deste
modo, começa inocentemente mas, ao fazer feitiços, torna-se uma ameaça
social.
Quando um xamã diagnostica uma doença causada por feitiço humano, ele
normalmente designa alguma criança na aldeia, muitas vezes na própria- família
da vítima, como feiticeira. Esta criança é tratada de forma bruta e forçada a
desenterrar os materiais que escondeu. Se a vítima melhora, a criança é perdoada
com o conselho de desistir das bruxarias. Se a vítima morre, a criança é morta
ou comercializada com os brancos (cf. WEISS, 1974). Outras fontes confirmam
estes fatos: "as crianças kampa e Amuexa são frequentemente acusadas de
bruxaria, os kampa normalmente torturam e podem até queimá-las vivas
(NAVARRO, 1924 apud STEWARD & MÉTRÀUX, 1948). Sala (1905/1908)
cita o caso de uma garota de nove anos, que, em 1896, estava na iminência de
ser morta devido à acusação de feitiçaria (STEWARD & MÉTRAUX, 1948).
Entre os Amuexa, considerados um sub-grupo Kampa, os feiticeiros são
surrados, privados de comida e confinados em um quarto com muita fumaça.
Trazem então o paciente e fazem com que ele retire os ossos, espinhos ou outros
objetos que causaram o mal. Se a vítima não melhora, o feiticeiro é morto e
jogado ao rio (IZAGUIRRE, 1924 apud STEWARD & MÉTRAUX, 1948).

DESTINO POST-MORTEM
A alma dos Kampa, ishire, sobrevive à morte e se junta a um ou outro tipo dos
espíritos imortais, os bons ou maus espíritos. A alma individual se parece com a
pessoa cujo corpo habitou. O centro da lame é o coração, e o mesmo termo é
usado para ambos: noshire, "meu coração", "minha alma". A alma é o que
anima, o que dá vida ao corpo.
A alma pode deixar o corpo por instantes — por exemplo, quando o xamã leva a
sua, num voo a um lugar distante, ou quando a pessoa está dormindo.
Para os Kampa o corpo é apenas e "roupa" da alma, pois
o eu essencial é a alma.
Quando o Kampa morre, pode unir-se aos bons ou maus espíritos. Se foi de fato
muito bom em vida, torna-se um bom espírito. Se suas fraquezas humanas eram
muito fortes, vira um espírito mau, que voltará à aldeia em que viveu, atacando
as pessoas que nela habitam. Além disto, todo Kampa atacado por um demônio
torna-se, após a morte, um demônio de mesmo tipo. Os feiticeiros também
viram demônios. Eles consideram, portanto, que o mais comum é a pessoa
tornar-se um mau espírito e, por esta razão, abandonam a aldeia toda vez que
ocorre uma morte; partem, então, para a criação de uma nova aldeia, pois o
morto é um demônio em potencial.
Para prevenir o ataque de demônios, quando um louco ou um feiticeiro é morto,
eles o queimam, na expectativa de que a alma potencialmente perigosa seja
destruída pela chama junto com o corpo(cf. WEISS, 1974).

O Cosmo
A natureza para eles é um mundo de aparências. Por exemplo o que para nós é
terra sólida é, para quem vive no estrato abaixo de nós, um céu sutil, rarefeito. O
que para nós é um céu sutil e rarefeito é, para quem habita o estrato acima de
nós, terra sólida. Este é portanto um mundo de aparências, pois diferentes tipos
de seres vêem as mesmas coisas diferentemente.
Os olhos humanos podem ver normalmente os bons espíritos na forma de
clarões ou de pássaros, enquanto os espíritos se vêem em sua verdadeira forma
humana. Para os olhos do jaguar os seres humanos têm a forma de porcos do
mato, e é por isso que ele os caça.
É um mundo que opera de acordo com princípios mecânicos que poderíamos
chamar de mágicos.
No pensamento Kampa, o universo atual é o resultado de uma série de
transformações; em algum tempo na futuro será destruído pelo pader de Pava, o
sol. Para el.es não existe a criação, mas sim a transformação de uma coisa em
outra. Portanto, em seu pensamento, a forma original do universo não é o nada,
mas sim alguma coisa que sofreu uma transformação.
Os primeiros seres humanos Kampa viviam aqui na Terra, mas eram imortais.
Muitos possuíam poderes, O céu estava mais próximo da terra e esta falava.
A mitologia Kampa é uma longa história de como os Kampa originais foram
irreversivelmente se transformando nos primeiros representantes de várias
espécies de animais e plantas, assim como em corpos astronómicos, e em formas
do relevo, rochas, montanhas, etc.
Em cada caso o mecanismo foi a mudança, tanto através da transformação feita
por uma divindade quando de auto-transformaçâo. O desenvolvimento do
universo foi primeiramente um processo de diversificação dos seres originais em
todas as categorias de seres e coisas do universo. Os Kampa atuais são
descendentes dos Kampa que escaparam de se transformar. A mortalidade foi
acrescentada à esfera da vida humana, e, com o aumento do número de mortes, a
terra gradualmente deixou de falar.
Quando o atual universo for destruído, os Kampa serão destruídos com ele e um
novo mundo aparecerá, com habitantes imortais. O céu estará outra vez próximo
à terra e esta falará novamenteícf. WEISS, 1974).

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