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Arquitetura Indígena no Brasil

Em frente a grande precariedade de dados históricos disponíveis, e a grande


diversidade de culturas indígenas brasileiras, fica quase que impossível retratar
cada uma delas em particular.
Sabemos que o Brasil sempre foi habitado por índios antes do descobrimento, e
depois houve o contato com os jesuítas, com os colonizadores, os negros
africanos, os bandeirantes, ao longo dos anos, caracterizando-se em uma rica
fusão de culturas, exceto aquelas regiões mais distantes do litoral, aonde a ação
colonizadora não penetrou, ainda prevalece uma forte influência tipicamente
brasileira.

Mas por que “índio“? Só a título de lembrança ou curiosidade, quando os


portugueses e jesuítas chegaram no Brasil, eles achavam que tinham chegado
na Índia. Então, aos nativos que habitavam o litoral, foram classificados como
“Tupi” (língua solta), e os nativos do interior como “Tapuia” (língua travada),
dividiam-se em três grupos – Caraíbas(canibais do
Amazonas), Aruaques (ilhotas do Amazonas próximas do Oceano Atlântico)
e Jês(região central).
Voltando a arquitetura indígena…
Aldeia ou Taba
É formada por um conjunto de 04 a 10 ocas, aonde residem várias famílias
indígenas (ascendentes e descendentes), podendo chegar à 400 pessoas.

A forma mais comum presente nas habitações indígenas são as aldeias,


também conhecidas portabas. Tal solução arquitetônica, foi utilizada em grande
escala pelos índios tupis, e índios guaranis do sul do Brasil.
Essas construções são distribuídas de forma ortogonal, de modo a formar uma
grande praça central, na qual podem ser realizadas atividades cotidianas, festas,
cerimônias e rituais sagrados. Cada uma dessas casas é denominada de
“oguassu, maioca ou maloca (casa grande)”, sendo dividida internamente pela
estrutura do telhado em espaços quadrados de 6m x 6 metros, onde reside em
cada uma delas, uma família. Este espaço é
denominado oca (tupi) ou oga (guarani). O tamanho de cada casa, depende do
tamanho da tribo, podendo chegar a mais de 200 metros de comprimento.
Geralmente, não passavam de 150 metros de comprimento, por cerca de 12
metros de largura. Os indígenas eram sedentários. Quando uma casa ficava
velha, e a cobertura em palha extremamente seca, era queimada e outra de
igual formato era construída em seu lugar. A maneira de residir era
muito controlada, respeitava-se ainda a vivência dos demais habitantes da casa,
antes de tomar qualquer decisão.

A casa era o lugar preferencial das mulheres. Ali elas exerciam suas
atividades do lar, e no corredor central, próximo aos pilares que sustentam a
cumeeira, preparavam o alimento da tribo. No final deste corredor havia uma
entrada em cada extremidade da maloca, e no meio da casa, no lado que dava
para o pátio, havia uma terceira. Esses acessos eram baixos, obrigando cada
pessoa a se abaixar em sinal de respeito. Este tipo de oca circular, com a
cumeeira apontada para cima, foi muito utilizada pelas tribos Jês e Xavantes.
Toda construção é realizada pelos homens, as mulheres apenas socam o barro
que irá ser assentado no chão.
A tribo dos índios Carajás ocupavam as margens do rio Araguaia, e
desenvolveram uma forma de aldeia ainda mais complexa. Construíam casas
com estrutura reforçada, constituídas por 3 arcos paralelos, cada um formado
por um par de pilares fincados no chão, e vigas para que possam ser amarradas,
em suas extremidades, na cumeeira. Os carajás antigos já costumavam fazer
suas casas no formato retangular.
Já a tribo dos índios do Xingu (centro-oeste), constroem suas ocas fazendo
referência ao corpo de um animal ou de um homem. A parte frontal da habitação
determina que seja o peitoral, assim como os fundos sejam as costas. O chão
representa a solidez da casa, aonde serão cravados os pilares de sustentação,
e toda a sua estrutura. A ala íntima da casa, é diagramada pelos semi-círculos
laterais, e são designados como as “nádegas” da casa. A vedação com ripas de
madeira e bambu, referem-se as costelas, e o revestimento das paredes seriam
os pêlos ou cabelos, assim como a cumeeira faz referência a cabeça. O tipo de
construção dos xinguanos se assemelha muito com a tribo dos índios Morubos,
pois ambas construções são antropomórficas, associando a construção a uma
espécie de proteção xamânica.

Yanomami
Os índios Yanomamis, ocupam a região norte do Amazonas, e constroem suas
aldeias em formato circular, chamando-as de “shabonos“. Seu dimensionamento
é feito conforme o número de ocupantes que abriga, e normalmente reside
apenas um grupo familiar em cada casa.
Possui um grande vão central, chegando a quase 15 metros, que é coberto por
folhas de palmeiras, sobre a estrutura de galhos e varas. O homem cuida da
construção em si, enquanto a mulher fica responsável para coletar os galhos, os
cipos que servirão para amarração das estruturas, e as folhagens de bananeira
para vedação.
O que diferencia uma aldeia e outra entre as tribos indígenas brasileiras, é a
condição climática, e a disponibilidade de materiais regionais, como elementos
e detalhes construtivos.
A maior parte das aldeias utilizava a amarração de cipós nas estruturas de
madeira. Vejamos alguns tipos:
Assim como utilizavam entalhes no madeiramento das estruturas para facilitar o
encaixe das peças, e a amarração com os cipós:

Herdamos alguns termos indígenas na arquitetura: biboca (casa


pequena), caiçara (palhoça), capuaba(casa da roça), copé (cabana de
palha), copiar(varanda), favela (casa miserável cujo significado indígena
é urtiga), jirau (armação para guardar apetrechos, cama de varas), maloca (o
mesmo que favela; e, em tupi quer dizer casa grande), oca(cabana ; em tupi
significa casa), poperi (abrigo provisório), taba (aldeia
indígena), tapiri (choça), tijupá ou tijupara (cabana
de índio), urupema(peneira; por extensão, ramado semelhante usado na
vedação de portas, janelas e de forro). Quando os termos não são pejorativos,
trata-se de construções que o colonizador adotou da cultura
indígena: carijó, barbaquá: (instalações para produção de erva-mate); ou são de
origem das culturas inca ou asteca (cancha, chácara, galpão, tambo).
Uma das características das casas indígenas é sua construção integral
com materiais vegetais. Isso tem levado alguns autores a identificar qualquer tipo
de construção vegetal como sendo de influência indígena. É necessário ter muito
cuidado para estas qualificações! Precisamos estar atentos para a natureza e a
etnia das ocupações, para não nos confundirmos.

https://www.caurn.gov.br/?p=10213

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