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Para meu pai, que me deu essa dedicatória.
Para os óculos escuros da professora que me achava brilhante.
4.
Last evening we went dancing and I broke your leg.
Forgive me. I was clumsy, and
I wanted you here in the wards, where I am the doctor!
Kenneth Koch, Variations on a theme by William Carlos Williams
Três ou mais coisas inexplicáveis
que dariam poemas lindos sobre algo
:A recuperação do fôlego
:O susto, solamente
:Impacto
quando nos dissipamos
na memória de alguém.
NMM
Dançomania causando
explosões miocárdicas;
paralisia das partes coloridas
do cérebro;
colapso do corpo
Eletrochoque
Havia um tempo
para estudar
os gatilhos das histerias coletivas
que terminaram
em morte
E me afastei
porque sei que há um ímã
no centro da terra
puxando todos nós
feitos de ferro (e outros materiais
que enferrujam)
O grande ímã
um dia nos permitirá
que voemos
São 7:01
E os aviões retomam suas quedas.
As turbulências acontecem
sempre ao redor da cabeça
Mergulhei
fui fundo na pesquisa
ela que pensou
que aprendemos
Afundo
agora escuro e rarefeito
pesco ainda alguns animais marinhos
que parecem voar
Objeto de estudo
a lista se prolonga
como a vida e a cidade
Os demais
se modificam numa velocidade
estúpida
Depois as letras
as cartas.
O que custa, Daniel, fingir que me enxerga, que não está sozinho? Quando meus dedos te tocam e arranham, está
arranhando a pele e não o coração. Por que não encena atenção quando falo de literatura? Quando leio meus versos?
Na noite, te penso ler meus versos. No pensamento você pensa em mim, lendo lentamente, me abraçando de sussurros.
Estou ali do seu lado, completa, o abajur não me incomoda. Estou de olhos fechados. Você acha que estou dormindo, por isso
sussurra, suspira.
Eu gosto do Daniel que penso. Poderia fugir com o pensamento.
Viver de nuvem.
Mas o intangível talvez me irrite, não poder ter nas mãos. Amar sem roupa, de fora e de dentro, beber da sua saliva com
todas minhas bocas. Te amo tanto tanto, meu tutano. Tarântulas das suas tranças, medo de te perder. Você não vê?
Sabe aquele verso que falo, que não morro, caio despenco absoluta? Sonhei, Caetano Veloso tinha morrido, tocava sonhos,
quando a música se fez mais clara e mais sentida, quando a poesia realmente fez folia em minha vida, acordei. E o que custa você
acordar do meu lado? Me beijar de manhã, passar os dedos na minha maça, chupar minhas uvas, fazer uma salada de frutas.
Redesenhar meus traços. Me amar de cabeça para baixo. Parar de ser filho da puta?
O que que custa? Sou tão sincera quando te devoro, com os olhos. Te fotografo.
Quando você esbarra ombro a ombro, bebe comigo, fala das garotas que te irritam de tanto amar. E se eu te amasse
menos, não posso? Quero ter um filho com seus olhos. Escombros.
E tempestades.
Me chama para dançar? Não chama. O que posso fazer desta chama que não apaga? Vira brasa, só incendeia. Explode.
Você fuma tanto, me traga. Apaga o cigarro na minha perna depilada? Escuta meus segredos do íntimo, consome esta intimidade.
Daniel quando anda de bike deixa marcas de pneu na minha epiderme, desce de bote no meu sangue. Vou escrever uma
carta te culpando dos meus cortes, posso me arruinar. Sou uma mulher de fases, lunar. Felina, que caminha sobre o telhado da
sua casa, atiça os cachorros e faz você pensar em fantasmas.
Minha fantasia é te ver nos saraus, com as pessoas sensíveis, trincadas. Cuidado, frágil é o caralho. Pisa mais em mim.
Você é de pedra e eu de agua, bato bato e não te furo, quero te atravessar. Tiro ao alvo. Você não costuma me errar. Naufrago.
Enfaixa minhas feridas, dá beijinho que sara, me segura quando desabo. Daniel, me come, me come com vontade, o que
custa? Estou sem tempero? Pois então me tempera. Imperatriz. Vem ser o rei do meu castelo de cartas, meu às de espadas no
poker, minha carta na manga. Minha folhinha de agenda. Cheira meus cabelos, lavei com sabonete de coco.
Você não gosta?
Faz música das minhas declarações, se você não está feliz com o ritmo. Finge que sou sua fanta, me engole de vez. Eu sou
além do que os olhos dizem. Tenho medo de aviões e você me deixa alta, sou baixinha. Finge, mente, escuta mais uma vez o som
do meu coração. Tumtumtum. É paixão e mais mais mais. Olha o trem chegando.
Vou para Veneza estudar. Fazer doutorado, virar doutora. Deixa eu te medicar? Não me deixa ir embora, me impede,
detém? O que custa, você me amar um pouco, não estou pedindo muito, eu sei dos seus gostos. Eu te conheço. Por que você não
quer me conhecer? Olha, eu sei que todo mundo me chama de Ricardo, mas o que custa o que custa?
Fingir que sou Maria?”
Visita
(Desabando
Destruindo
Poemas
não lidos)
Afundando
no fogo
Se os atlânticos
não notassem
trava guerra
com a sua)
devido.
aaaaaaaah
dormir
sonhar
bater na porta
responder desculpe
aqui.
Ensaio para sempre
Prefiro samba
ou bossa nova
Qualquer experimento bucólico sobre entregar algo a alguém
(como acontece na linguagem)
Você compreendeu
deitou do meu lado um pouco mais tímida
E dentro da noite
o motoqueiro continua fazendo rotatórias
com os braços abertos
de vez em quando ele fecha os olhos e se sente
invisível
nem você.
i
Papai Noel é uma criança ou sua vida é draminha toda vermelha e branca
do seu corpo
pisar em ossos
de quem amei
e possibilidades
As crianças queriam
no útero
na hora do intervalo
de fato não há
manivelas batendo
OK
viva a felicidade
A felicidade
e velhos selvagens.
ii
longe de casa
longe de casa
longe de casa?
e você me levou até sua máquina do tempo
como amuletos
pisando na contramão
de quem passava.
Primeira Dança
Na escola em que estudamos tem uma árvore com nossos nomes talhados
Aí eu paro
Tiro o sapato
E danço o resto da vida.”
Chacal.
Para amar mais uma vez: notas que abandonaram comigo, para entrega.
Parece que alguém está me chamando, Roberto, você entende? Lá longe no longe.
Consegue ver?
Aqueles lábios no deck daquele navio não, não, na cabine do capitão. Me chamam. Eles querem me levar para passear, vai
ver estou pedindo por isto, lá no fundo. Icebergs se chocando friamente e eu meia zonza. Sei que peço por resgate,
silenciosamente. Isso tudo porque você não soube me amar corretamente, como deveria. Espero que se perdoe e me perdoe, no
final, mas este sonho não era meu, nunca foi. Mesmo assim pedras são arremessadas contra minhas janelas. Uma vida toda
respirando a sua vida, e a minha sufocada, ficando roxa. Não dá mais para ficar nesta casa. Cada vez menor e menor, sem lugar
para ecos, não há mais espaço para mim. Estou diminuindo com ela.
Roberto, eu não quero sumir, não agora, não, ainda não.
Sabe, gostava de te ver no Evoé, limpando os dentes com os palitos e te imaginando de paletó falando mal dos livros, que
ainda não leu. Olhava abismada, um abismo inteiro. Buraco de solidão feito no formato exato das suas lindas mãos. Você me
tocava e loguinho estava tudo preenchido.
Mas Roberto, quem é você agora?
Vicejo ao despedir, a despedida. Por que você tinha que me expulsar de silêncio? Devagarinho, me encher desta fuga que
meus pés se negam assumir? Lotar minhas malas de mim mesma e manchar para sempre sua lembrança dos palitos de dente,
agora sujos de carne nojenta e você chorando sem mais nem menos, e na verdade sou eu quem chora, com os pés em falso
sobre os vãos, e a marginal.
Me sinto estragada, sem validade, perdida.
Mas eles me chamam. Deve haver uma forma de me ocupar no final das contas, uma fuga onde não pensei tê-la, formas
alternativas de se redesenhar, apagar este borro que você me causou, no meu rascunho. Me rascunhar novamente. Traço a traço,
e as traças devorando os troços. Meu e seu, nossos troços.
Por que você não fala nada? Em, diz? O que?
É claro que você não entende, você nunca entendeu nada, nadica de nada, nem se entender consegue. Para pessoas
assim a vida deveria ter algum tipo de manual.
Os chamex, molhados na mesa, o que estava escrito neles? Que amor é este que você não fala, que me mostrava e agora
esconde?
Esconde onde, Roberto?
Esta vida está que um horror total, me poupe deste suspense, já não basta te amar?
Dói mais em mim que em você, você não faz ideia. Queria te colocar num retrato enorme na sala, dizer para Amélia, minha
filha, seu pai era este de queixo furado, rosto gigante de quase dois metros quadrados, fechando a parede. E o sofá de canto,
onde me deitaria por horas e horas te contemplando, apenas lá. Dava para ver as rugas. Que inferno, Roberto!
Esta chuva mais uma vez, querendo me ilhar.
Quantas vezes estive no seu lugar, sendo deixada. Muitas vezes sem sentir a colisão, mas tantas, tantas estive. Ficando
com o chão e as paredes, quatro por quatro de um universo só meu. E nem essa coisa que estou lhe dando, recebia. Eram apenas
o adeus, quando tinha o adeus, vazio e só. Olha, sua filha não vai querer ir comigo. Aliás, não precisa me responder nenhuma
pergunta, eu sei todas as respostas, absoluta. Sei que anda mudo, mudado, e que virei mais um personagem de quem te inventa.
Eu te queria para mim, Roberto, como quis.
Então não faça nenhuma besteira desta ausência, enquanto não estiver. Espero, inclusive, que se recupere de ser quem
você é. Que haja uma reabilitação para este vicio em parágrafos.
Sei que, parcialmente, a culpa foi minha de querer disputar atenção com a poesia, mas saiba que será somente sua,
quando acordar entre farrapos de versos velhos, de folhas molhadas engasgando ao seu redor. E a água subindo subindo,
subterrânea. E você – imóvel. Morrerá de palavras.
E eu, não estarei para ver, não pago por isto. É meio que fato conhecido: quem transa com arte, pare o vazio. Olha, Amélia
está indo comigo, decidi de última hora, mesmo que ela embirre por ficar. Se quiser sua filha aqui terá de lutar por isto, mas sem
estas canetas, estas borrachas, estas folhas amassadas. Quero sentir as suas mãos Roberto, uma última vez, quero sentir
qualquer coisa. Qualquer batalha. Olha, estas lágrimas, vê?
São de frio.
Aproveita e transforma em verso também, tudo em verso estas porcarias de merda de bosta de mar em verso, que um dia
você se afoga. Eles estão me chamando, Roberto, aqui dentro. Vai eu e sua filha Amélia. Vamos virar navegantes e nosso navio
terá um nome talhado em seu casco, e será liberdade. Seremos sereias, praias, piratas, e não do seu mar. Do nosso.
Agora, se pensar, se chegar a fazer, se matar. Não peça para que nos avise. Nos poupe de seu desaparecimento. Não
queremos imprimir cartazes, colá-los. Queremos o vento na vela aberta, o rum na boca a canção no ouvido, canções de noite
lenta. Olhando para você agora, chega até me dar saudades, quão fundo você foi nestes olhos? Se eu soubesse que você
aceitaria sair, escapar. Mergulharia, te buscava, mas não sei, sabe?
Para sempre te amei, no passado, naquela loja de discos que você me beijava e dizia que queria, que iria sempre estar
comigo, para qualquer estrofe que viesse, fosse?
Você me proseou e caí em poesia.
Quem poderia dizer que seria tudo um grande origami sem forma, quem poderia dizer que seria este naufrágio todo, que se
tornaria tudo rasuras?
Meu amor, quem, quem pudera?
Donnie Darko
Sempre reciprocidade.
Por isso nos sentimos meio incompletos quando alguém vai embora.
e o uivo na garganta.
Cocoon
O lançamento de mísseis
são 3 da manhã
Quando olho
meus dentes no espelho me sinto Willy Wonka
estamos todos procurando amigos numa selva densa
que cresceu um dia por aqui
Quando as recordações
no fim de ano
para a cozinha
e lá permanecem
anjos caem
e ainda escrevo
porque sinto que conjugávamos “eu vivo”
do trampo no centro
Acendíamos um cigarro
no caminho
permanece intacto
e um fedor constante
e perseguição
Processo de descarte
dos brinquedos da infância
Rasgar em autópsia
o animal selvagem da adolescência
Renomeação
da volúpia triste de escrever
A partir e a encerrar
no mesmo pavio aceso
do que dá origem
aos casais se dilacerando
aos homens que fazem a autópsia
dos crocodilos, leões, hienas
de cada um
Foda-se