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Artigo - Por Mauricio Eduardo Gorigoitía Vega - A Gestão Ambiental nas Cidades

Chegam as eleições e todos começam a traçar os seus programas de governo. Um dos itens a avaliar é a agenda
ambiental para a cidade, pois sem um meio ambiente preservado, dificilmente alcançaremos os padrões de qualidade de
vida que queremos e merecemos. Neste ponto podemos verificar que uma cidade ambientalmente melhor não é de
interesse deste ou daquele candidato, mas de todos. Os fatos que levam a cidade melhorar ou piorar, todos já conhecem,
a questão é apresentar soluções. Então, aqui vão algumas dicas:

ECOLOGIZAR E MUNICIPALIZAR A GESTÃO AMBIENTAL - Preservar o meio ambiente não pode - nem deve - ser
tarefa de uma secretaria ou órgão específico, muito menos ser tarefa apenas do poder público, mas também das
empresas, ONGs, sociedade em geral. Os caminhos para essa ‘ecologização’ podem ser vários, depende mesmo é da
decisão política dos dirigentes. Uma sugestão pode ser utilizar a própria estrutura ambiental existente para ampliar a
discussão, promover a capacitação necessária, estimular e monitorar a evolução de uma forma de administrar,
compartimentalizada, para outra, ecologizada. Os atuais Conselhos de Meio Ambiente poderiam ser o fórum ideal para o
início dessa discussão, buscando envolver todos os órgãos dos poderes executivo, legislativo, judiciário e também a
iniciativa privada e as ONGs nessa discussão, que pode se dar através de diversos seminários e audiências públicas. Outra
tarefa fundamental é a capacitação e treinamento dos funcionários municipais para ecologizarem a administração. Esta
capacitação já deveria levar em conta a necessidade de haver uma Reforma Ambiental que descentralize o licenciamento
ambiental, cabendo aos municípios licenciar as atividades poluidoras a nível municipal, ficando para os estados o
licenciamento intermunicipal e à União os licenciamentos que envolvam mais de um Estado, ficando os Estados e a União
com papel supletivo sobre os municípios, no caso de haver abusos ou desvios. Os atuais órgãos e estruturas que cuidam
do meio ambiente a nível municipal, por sua vez, ficariam com as funções de ação superlativa, orientativa, treinamento,
capacitação, informação, dos demais órgãos do Poder Público municipal, além de prestar consultoria a cada órgão no
sentido de buscar a correta adequação à questão ambiental. É só uma sugestão, mas haverá outras, de acordo com cada
caso, o importante é ter a vontade de fazer.

ÁGUAS - Um dos maiores problemas ambientais das cidades é a carência de um sistema de saneamento adequado, o que
leva não apenas à morte e contaminação de ecossistemas inteiros, mas aumentam os casos de doenças por veiculação
hídrica e a mortalidade infantil. Por isso, não dá para se pensar apenas no clássico sistema de coleta, transporte e
tratamento, que exige grandes investimentos e concentra a poluição em emissários. É preciso pensar também em
pequenos sistemas de fossa e filtro que as novas tecnologias têm tornado com eficiência de remoção de mais de 90% da
poluição. O poder público poderia incentivar estes pequenos sistemas com abatimento na conta de água e esgoto
proporcional à poluição que o sistema conseguisse remover. Deveria ainda ser estimulada a formação de Consórcios por
usuários de água por micro-bacias, para a gestão dos recursos hídricos, para garantir investimentos na recuperação dos
mananciais das cidades, leia-se, investir em reflorestamento de mata nativa e preservação das matas existentes, pois são
elas as responsáveis pelos poços e nascentes que abastecem as áreas que não recebem água encanada.

RECICLAR - Lixo não existe, todos sabem. O que chamamos de lixo é só matéria prima e recursos naturais misturados e
fora do lugar. Por exemplo, se o Poder Público incentivar a Coleta Seletiva, poderá devolver ao sistema produtivo
toneladas de papel, plástico, metais, vidros, além de aumentar a vida útil dos atuais aterros. Os entulhos de obras que
aterram margens de rios e entopem lixões podem ser moídos e se tornar em agregados para habitações populares. Os
restos de comida, cascas de frutas e legumes, dão excelente adubo para hortas a serem feitas em regime de cooperativa
nos terrenos vazios e abandonados das cidades, mas tudo isso só pode se tornar realidade se for coletado separado na
origem. Na minha opinião, é uma ilusão pretender coletar tudo misturado e levar para uma milagrosa usina de reciclagem
para ver o que pode ser aproveitado. O Poder Público pode estimular a formação de cooperativas de reciclagem o que,
além de ajudar o meio ambiente, ajuda a gerar emprego e renda para a população mais pobre e sem qualificação.

ECOSSISTEMAS - O segundo maior problema ambiental das cidades, sem dúvida, é a destruição de seus ecossistemas.
Além das queimadas, provocadas pela queima do lixo não recolhido, a grande responsável pela destruição dos
ecossistemas é mesmo a necessidade de moradia da população, de todas as classes sociais. Não há solução simples ou
fácil neste caso, já que não dá para se decretar o fim da natalidade ou proibir o acesso das pessoas às cidades. Assim,
cada novo condomínio ou loteamento precisa ser analisado com os rigores da lei, estabelecendo-se restrições que
permitam o máximo de aproveitamento e preservação dos ecossistemas e das árvores, negociando medidas
compensatórias, mitigadoras e reparadoras que levem no mínimo a repor em ecossistemas o dobro do que estiver sendo
autorizado retirar, tudo num ambiente de transparência e da legalidade, com audiências públicas no âmbito dos Conselhos
de Meio Ambiente. Nessas medidas compensatórias podem estar desde a recomposição do verde urbano quanto à
obrigatoriedade dos interessados em investirem na efetiva implantação das Unidades de Conservação e criação de RPPNs
(Reservas Particulares do Patrimônio Natural), para que os atuais proprietários de áreas florestadas possam ser
beneficiados com abatimento de impostos além de outras vantagens.

AMIGOS AMBIENTAIS - E, finalmente, uma Agenda Ambiental precisa incluir um amplo programa de Educação
Ambiental que inclua não só a conscientização da população, mas principalmente, que estimule a cidadania participativa
através dos fóruns próprios. As ONGs (Organizações Não Governamentais) Ambientalistas podem exercer papel
fundamental, segundo a natureza institucional de cada uma. As ONGs, ditas técnicas ou profissionais, podem ser parceiras
do Poder Público e empresas obrigadas a cumprir medidas compensatórias, na elaboração de projetos ambientais. As
ONGs ditas de combate podem ser aliadas na fiscalização das metas, prazos e efetividade dos projetos e exigências
assumidas por empresas e em projetos do próprio Poder Público, como a implantação dos serviços de água e esgoto.
Estimular o voluntariado ambiental nas cidades é apenas criar canais para que o sentimento de amor e o orgulho pelas
cidades, que todo morador possui potencialmente, seja transformado em energia de criatividade e ações práticas pela
melhoria do meio ambiente urbano.

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