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Marco Aurélio Luchetti

A Ficção Científica |
nos Quadrinhos
ESTE LIVRO

A importância das His-


tórias em Quadrinhos (HQ)
é hoje inegável.
O que começou como
um divertimento de massas,
sem pretensões artísticas ou
intelectuais, se transformou,
apesar dos ataquessofridos,
numa arte viva, influente e
original.
Prima-irmã do cinema
na simbiose de texto e ima-
gem, é o canal natural para
a sobrevivência de uma das
formas mais antigas de ex-
pressão usada pelo homem:
o desenho.
Desde as cavernas, o
desenho tem acompanhado
o desenvolvimento da cultu-
ra universal em seus mo-
mentos de maior brilho.
Nos dias de hoje, em que
esta disciplina está quase
excluida das artes plásticas,
ela triunfa nas tiras diárias
e nas sofisticadas “Grafic
Novels”. Aliado à mais re-
presentativa das formaslite-
rárias modernas — a Ficção
Científica (FC) —, o dese-
A
FICÇÃO CIENTÍFICA
NOS
QUADRINHOS
CAPA: Luis Diaz

Luchetti, Marco Aurélio


A Ficção Científica nos Quadrinhos/Marco Aurélio Lu-
chetti. — São Paulo: GRD, 1991.
Bibliografia.
152 págs.il.

1 História e crítica. 2 Estórias em quadrinhos. 3 Ficção


Científica. 4 Quadrinhologistas. 5 Forma narrativa. 6 Poder de
comunicação. 7 Apreciação crítica.

I. Título.

CDD-741.5952
-808.836

Reservados os direitos de tradução. Copyright by Marco Aurélio


Luchetti. Direitos da presente edição reservados por Gumercindo
Rocha Dorea, rua 13 de Maio, 363, CEP 01327, São Paulo, SP.
Marco Aurélio Lucchetti

A
FICÇÃO CIENTÍFICA
NOS
QUADRINHOS

Edições GRD
São Paulo
1991
Osagradecimentos do autor a Adolfo Aizem, Jaime Rodrigues
e às editoras, empresas, pessoas € sindicatos que de alguma forma
colaboraram na realização desta obra: Bjorn Karlstrom; Charlton
Comics Group; Cop Hardi; Daily Mirror Newspapers Ltd.; Dar-
gaud Editeur; DC Comics Inc.; Deodato Borges/Dcodato Filho;
E.C. Publications, Inc.; Éditions Casterman; Editions du Lombard;
Editions Lc Terrain Vaguc; Editora Edrel Ltda.; Editora Taika
Ltda.; Express Service; Fiction House Magazines; Gráfica Editora
Penteado Ltda.; Grafipar; HM Comunications, Inc.; Ica Press; IPC
Magazines Ltd.; King Features Syndicate, Inc.; Jean-Claude Forcsl;
Ledpcr Syndicate; Les Humanoides Associés; Librairie Hachettc;
London Express Features; McClure Newspaper Syndicate; Mike
Friedrich e Dick Giordano; Milo Manara/Distribution Stalctli; Na-
tional Newspaper Syndicate; NEA Service, Inc.; Press Editorial;
SEFAM; Sclecciones Ilustradas; Vaillant; Warren Publishing Co.,
c Watson Portela.
ÍNDICE

Dedicatória ........ccecceccerscererreanoneranecaereso 9
Umapalavrinha com os leitores ........cccccccerererress 11
Introdução ......cccccecccecerreerarsor cer crs ceras 13
Buck Rogers ..........cc.c.s ecc crrs sr ecreracrrrencrros 15
A Sereia Lunar ......ccccercerrerosrercrannacrrenscrsrs 19
Brick Bradford .........cccccesccssccc cresce rrcrareaca 21
Alex Raymond,o Júlio Verne dos quadrinhos ............. 27
Mandrake, O Mágico ......ccccerererrrcr core cre rererrão 37
A Máquina do Tempo ................ Cerrera ra reresasão 43
Nasce o Super-Homem .........ccsccrreerrerrrerareraca 47
Connie .......cccceecce crer eras e raniara raca s aan arara 59
OsGibis de Ficção Científica .......cccccccccccrrerecrees 61
A Ficção Científica nas histórias-em-quadrinhos Inglesas .... 81
Edgar Pierre Jacobs e a Ficção Científica ,................ 85
Tintin Desvenda A Lua ............cccciserccrrrererreo 93
Deus criou a mulher... c Forest criou Barbarella ........... 97
Esteban Maroto .............cc.ccccsscrersererererrera 105
A Warren — Vampirella ................ci isso ccrer os 107
De Futuropolis a Pilote ..............s.csissscsccserresa 113
Philippe Druillet .........cscciccccis cer essa rererenos 117
Jcan Giraud, aliás Moebius ....i...cccccccccrcrrrrrereão 121
Métal Hurlant, da França para o mundo .................. 123
E surge um novo gênero: a Ficção Científica crótica ........ 129
A Sobrevivente: a volta dos robôs .............c.cccecer. 133
Ranxerox.......cccescrerccecrr re rra nr csan era rasaaaasa 135
A Ficção Científica nos quadrinhos brasileiros ............. 137
E os heróis da Ficção Científica chegam no Brasil .......... 141
Bibliografia ........cccccccic esc c erre carro rcrerrrana 145
Nota final .......ccceeeec cessar re raia erros 149
DEDICATÓRIA

Estc trabalho é dedicado a todos aqueles que, de uma forma


ou de outra, sc dedicam às histórias-cm-quadrinhos de Ficção Cicn-
tífica.
Ele é, igualmente, dedicado:
À minha avó, Assumpta,in memoriam, que mc deu um de meus
primeirosgibis;
A meuspais, Rubens Francisco e Teresa;
À minha prima, Ana Célia, uma entusiasta do fantástico c do
insólito;
A meu primo, Júlio César, por nossos longos passcios;
A mcu grande amigo Ronaldo Corrêa Hacncl;
Ao João Dilcler, in memoriam, uma das primciras pessoas a
acreditar em mcu trabalho c que mc incentivou a escrever sobre
quadrinhos;
A meuscolegas dos tempos de Engenharia Civil, João Olivetti
e Mário de Magalhães Berto;
À Bárbara, por nossos extensos paposa respeito deliteratura
e quadrinhos;
E à Ivana, para quem“as distâncias não existem para a recor-
dação; c somente o esquecimento é um abismo que nem a voz nem
o olho podem atravessar”.
Espero poder encontrar a todos cles, em outros tempos, outros
mundos.
UMA PALAVRINHA COM OS
LEITORES
Aprendi a ler com pouca idade e desde os quatro anos, mais
ou menos,já delirava com a coleção de histórias-cm-quadrinhos de
mcu pai. Mais tarde, através da revista portuguesa Tintin e do livro
História em Quadrinhos & Comunicação de Massa, editado pelo
MASP, em 1970, quandoda realização do 1 Congresso Intemacional
de História em Quadrinhos, travci conhecimento com a vida dos

1
autores c personagens destc fantástico mundo. Então, de mero co-
Iccionadore leitor de gibis, tornei-me pesquisador. Queria conhe-
cer mais e mais todo o universo dos comics, um universo onde já
convivem milhares c milhares de hérois. Bem, por volta de 1978,
acreditando que cmnosso país não havia ainda sido escrito um livro
oficial a respeito do tema, comecei a redigir um, Os Mestres dos
Quadrinhos, tendo escrito dois capítulos, Milton Caniff e A! Capp;
porém, desisti da empreitada, uma vez que não sabia se abordava
apenas quadrinistas do passado ou também os do presente. O tem-
po passoue, cm 1986, quando escrevia um artigo para o número 10
dc Fanzim, um fanzine de meu amigo Aníbal Barros Cassal, de Por-
to Alegre, novamente a idéia assaltou-me: o Brasil necessita, urgen-
temente, de um livro sobre histórias-em-quadrinhos, que solucione
todas as dúvidas dosleitores. Mas, de que forma abordaria o assun-
to? A resposta mefoi dada pelo próprio ensaio que redigia para a
publicação do Cassal, As Mulheres nos Quadrinhos: escreveria a
história dos quadrinhosatravés dos gêncros. Comoestava na cabeça
com todas as informações acerca das heroínas e super-heroínas
aparecidas nos comics, comecei a trabalhar no primeiro volume da
série, 4s Mulheres nos Quadrinhos. Em julho de 1987,o livro estava
concluído, com aproximadamente quatrocentas laudas, fartamente
ilustradas. Na época, eu colaborava no Evidência, um semanário
de Ribeirão Preto, no qual mantinha umaseção sobre quadrinhos.
Certo dia, o Gumercindo Rocha Dorca, então assessor de imprensa
da prefcitura desta cidade, leu um de meusartigose através da re-
dação do jornal descobriu meu endereço, fazendo a mim e a meu
pai, a quem já conhecia de nome e de quem já havia lido uma ou
outra história-cm-quadrinhos, uma visita. Na ocasião, mostrei-lhe
os originais do As Mulheres nos Quadrinhose perguntei-lhe da pos-
sibilidade de ele vir a editá-lo. GRD o achou extenso demais, o que
iria implicar num alto custo de produção. Os meses se passaram €
minha amizade com o Gumercindo se consolidou ainda mais. Em
29 de dezembro de 1988, quandoia até a prefeitura para me despe-
dir dele, já que seria um dos últimos dias em que permaneceria,
efetivamente, em Ribeirão Preto, pensei cm oferecer-lhe 4 Ficção
Científica nos Quadrinhos, que se encontrava em fase de pesquisa.
Falei com ele a respeito, que aceitou, de imcdiato, a idéia e o resul-
tadoaíestá...

12
INTRODUÇÃO
As histórias-em-quadrinhos nasceram com o lançamento de
The Katzenjammer Kids (Os Sobrinhos do Capitão), de Rudolph
Dirks (1877-1968), há mais de noventa anos, no domingo 12 dc de-
zembro de 1897, nas páginas do American Humorist, o suplemento
dominical a coresdo New York Joumal, de propriedade de William
Randolph Hearst (1863-1951), o magnata da imprensa. Ao longo
de todo este tempo, desenvolveram-se, deixando de ser simples his-
torietas cômicas — nos Estados Unidos, os quadrinhos são chama-
dos de comics, palavra derivada de comic, que significa cômico —,
até se tornarem uma formadeliteratura adulta.
Concebidasa partir das histórias cm imagens — histórias ilus-
tradas nas quais o texto vinha num bloco compacto colocado abaixo
ou ao lado de cada desenho — do século passado, as historietas
inicialmente apareciam apenas aos domingos. Clare Briggs (1875-
1930) foi o primeiro quadrinista a romper com esta tradição, ao
criar, em 1903, A. Piker Clerk, para o Chicago American, também
pertencente a Hcarst. Centrada num apostadorde cavalos, 4. Piker
Clerk dependia das corridas para ser publicada no jornal, Entretan-
to, somente em 1907 tivemoso surgimento da primeirahistória-em-
quadrinhosa ser estampada todosos dias em daily strips (tiras diá-
rias), com a criação de Mutt and Jeff(Mutt e Jeff), de Harry Conway
(Bud) Fisher (1885-1954). Os anos se passaram e as páginas domi-
niciais e tiras diárias multiplicaram-se em dezenas e dezenas de sé-
ries, porém ainda se mantendo presas à comicidade. Contudo,este
panorana começou a mudar em 1921, quando Edgar (Ed) Wheelan
(1888-1966) criou Minute Movies, para o Matthew Adams Service.
Minute Movies deu início às historietas seriadas e nela vislumbramos
o embrião da aventura,queiria se desenvolver plenamente em Wash

13
Tubbs, criada em 1924, por Royston Campbell (Roy) Crane (1901-
1977), e, mais tarde, passandoa se intitular Captain Easy (César, o
Capitão sem Medo ou Capitão César).
Apesar de muitos críticos de quadrinhos considerarem que a
aventura nos comics se iniciou em 7 de janeiro de 1929, com a dis-
tribuição de Tarzan, baseada nas novelas de Edgar Rice Burroughs
(1875-1950) e ilustrada por Harold Rudolph (Hal) Foster (1892-
1982), e Buck Rogers, ela principiou verdadeiramente com Wash
Tubbs. Mas, se a primazia de ser o marco zero da aventura nas his-
tórias-em-quadrinhos não coube a Buck Rogers, esta historieta teve
o mérito de ser a primeira de ficção científica.

FIRST IN THE FUTURE


Buck Rogers, no traço de Rick Yager
€& National Newspaper Syndicate

14
BUCK ROGERS
“Júlio Verme foi meu pai. H. G. Wells foi meu sábiotio.
Edgar Allan Poe foi o primo com asas de morcego que guar-
dávamos lá em cima, na sala do sótão. Flash Gordon e Buck
Rogers (oram meus irmãos e amigos. Aí têm minha ascendên-
cia”
Ray Bradbury

Philip Francis (Phil) Nowlan nasceu em 1888, na Filadélfia,


Pensilvânia. Em 1910, formou-se em Jornalismo, pela Universidade
da Pensilvânia, começando a trabalhar no North American, Public
Ledger e no Retail Ledger. Depois, iniciou uma assídua colaboração
nas revistas de ficção científica, utilizando-se do pseudônimo de
Frank Phillips. Para o número de agosto de 1928 daAmazing Stories,
Nowlan escreveuum conto,Armageddon 2419.4.D., sobre um piloto
norte-americano, Anthony Rogers, que afetado por um gás tóxico,
cai num sono profundo, despertando cinco século depois. Devido
ao grande êxito conquistado poresta narrativa, Nowlan redigiu uma
sequência, The Airlords ofHan, aparecida na Amazing de março de
1929, Estas duas histórias atraíram a atenção do editor John Flint
Dille, que convenceu Nowlan, a princípio um tanto hesitante, a
adaptá-las para as histórias-em-quadrinhos.
* Richard W. (Dick) Calkins nasceu em 1895, em Grand Rapids,
Michigan. Estudouno Chicago Art Institute e iniciou sua carreira
artística como cartunista do Detroit Free Press. Em 1917, tornou-se
chargista esportivo e ilustrador do Chicago Examiner, de Hearst;
porém,logo passou a integrar a Força Aérea norte-americana, mas
não teve oportunidade de presenciar nenhumaação durante a Pri-

15
mcira Guerra Mundial, devido a scu término. Retornouà vida civil,
em 1919, no posto de tenente — durante um bom período, assinou
Lt. Dick Calkins em seus desenhos —, voltando para o Chicago Exa-
miner, onde além de realizar suas ilustrações e cartuns sobre espor-
tes, criou um painel semanal, Amateur Etiquette. Depois, entrou pa-
ra o staff artístico daJohn F. Dille Co. e, quando Dille resolveu lan-
çar umatira bascada em Armageddon 2419A.D., Calkinsfoi o esco-
lhido para ilustrá-la. Dick Calkins faleceu em 1962.
Em 7 dc janciro de 1929, nas páginas do Courier Press, de
Evansville, Indiana, apareceu a tira inicial daquela queseria a pri-
meira história-em-quadrinhos de ficção científica: Buck Rogers in
the Year 2429A.D., que, mais tarde, recebeu título de Buck Rogers
in the 25th Century, passando depois a se chamar simplesmente Buck
Rogers.
Phil Nowlan escreveu osroteiros de Buck Rogers até sua morte,
em 1940, cedendo seu lugar a Dick Calkins (1940-1947), Bob Barton
(1947-1951) e Richard Sidney (Rick) Yager (1951-1958). Em segui-
da, a séric conheceu umainfinidade de autores, valendo destacar o
escritor de ficçãocientífica Fritz Leiber. Quanto aos desenhos, Cal-
kins, em 1947, foi substituído por Murphy Anderson, que, por sua
vez, deixou a historicta entregue aos cuidados de Leon Dworkins
(1949-1951) e Rick Yager (1951-1958). De 1958 a 1959, Anderson
novamente se encarregou das ilustrações das tiras de Buck Ropers,
passando, por fim, esta tarefa a George Tuska, que dela se encar-
regou até 1967, quandoa série teve sua publicação suspensa. Já com
relação às páginas dominicais, que se iniciaram em 30 de março de
1930, elas tiveram, como principais roteiristas, Phil Nowlan (1930-
1940) e Rick Yager (1940-1958), e, como principais desenhistas,
Russell Keaton (1930-1933), Rick Yager (1933-1958), Murphy An-
derson (1958-1959) e George Tuska (1959-1965).

A HISTÓRIA DE BUCK ROGERS

Buck Rogers guarda enorme semelhança com o conto Rip Van


Winkle, de Washington Irving (1783-1859). Buck, o personagem
central da série, um jovem de vinte anos, récem-desmobilizado da
Força Aérea norte-americana, fora incumbido por seus patrões de
vistoriar as galerias inferiores de uma mina abandonada próxima a
Pittsburgh. Estava entretido nesta tarefa, quandoo teto atrás de si
desmoronou. Porém, ele não morreu e, devido a um estranho gás
contido nas rochas da mina, adormeceu, acordando quinhentos

16
anos mais tarde,no século XXV, Ao sair da mina, deparou com um
mundo totalmente modificado: os mongóis do Descrto de Gobi ha-
viam conquistado a Ásia c, depois de destruírem a Europa, ataca-
ram a América. Em pouco tempo,os nortc-amcricanostiveram de
se refugiar nas [lorestas, de onde ofereceram uma brava resistência

go, Kane e Ardalo se instalam numa cidade maravilhosa, populada


cravos mecanicos. Subito, os dois bandidos interplanetarios verifi-
cam que foram notados de um avião.

Tic-slack- Click-bizz-
Este é tor-
plick-tic-
pedo voa-
om dor. Click-
plimtic.

f
Jr.

=;
C
C

e
Buck Rogers. recorte de página inteira do Suplemento Juvenil (1930)
€& National Newspaper Syndicate 17
ao inimigo. E nesta luta, Buck aliou-se a scus conterrâneos. Logo
na primeira tira de sua história, Buck conheceu aquela queiria se
tornar sua cterna namorada,a loura e dengosa Wilma Dcering, con-
cebida nos moldes das melindrosas dos anos 20. Já seu principal
adversário, nos quase quarenta anos de existência dc Buck Rogers,
foi, sem dúvida, Killer Kanc, um norte-amcricano que passou para
o la lo dos mongóis, uma vez que fora desprezado por Wilma. Por
sua vez, Killer contava sempre com a colaboração da pérfida Ardala
Valmar.
Apesar dos argumentos um tanto ingênuos de Nowlan e dos
desenhos um pouco simplistas demais de Calkins, em Buck Rogers
já vamos encontrar todos os elementos da ficção científica, que se-
riam utilizados, posteriormente, com maior requinte, por Alex Ray-
mond e outros quadrinhistas. Nela, já temos as armas de desinte-
gração,as astronavesa jato, as botas magnéticas, as cidades subma-
rinas,os cintos voadores,o circuito fechado dc televisão, a minissa-
ia, as plataformas espaciais, o raio Lascr c os robôs.

BUCK ROGERS NO RÁDIO, NO CINEMA


E NA TELEVISAO

Dc 1931 a 1939, a Columbia Broadcasting produziu um seriado


radiofônico com as aventuras de Buck Rogers. Buck foi vivido pelos
atores Matthew Crowlcy, Carl Frank e John Larkin; Wilma Dcc-
ring, por Adelc Ronson; Killer Kane, por Bill Shelley; e Ardala Val-
mar, por Elaine Mclchior. Em 1939, a Universal Pictures realizou
Buck Rogers, um seriado de doze capítulos, com roteiro de Norman
Hall e Ray Trampe e direção de Ford L. Bccbe e Saul Goodking.
Osintérpretes foram: Larry “Buster” Crabbe (Buck) e Constance
Moore (Wilma). Nos anos 50, Buck Rogcrs chegou à televisão, nu-
ma séric produzida pcla ABC, com episódios de trinta minutos.
Kem Dibbs personificou Buck c Lou Prentiss, Wilma. Em 1979, Li-
vemos o lançamento de Buck Rogers no Século 25 (Buck Rogersin
the 25th Century), um longa-metragem realizado pela Universal,
com roteiro de Glen A. Larson e Leslic Stevens, direção de Danicl
Haller e trazendo no clenco: Gil Gerald (Buck), Erin Gray (Wilma),
Henry Silva (Killer Kane) c Pamela Henslcy (Ardala Valmar). No
final da década de 70, Buck Rogers virou novamente série de tele-
visão, o que motivou seu retorno aos jornais, agora com desenhos
de Gray Morrow. Entretanto, os tempos já eram outros a tira foi
cancelada em pouco tempo, devido à pouca aceitação do público.

18
A SEREIA LUNAR

Chester Gould (1900-1985) criou Dick Tracy, cuja estréia sc


deu na página dominical de 4 de outubro de 1931 (as tiras diárias
começaram a ser publicadas cm 12 de outubro deste mesmo ano),
comdistribuição do Chicago Tribune-NewYork News Syndicate. Ri-
chard (Dick) Tracy, o titular da séric, é detetive da polícia de uma
cidade anônima, mas onde se notam claramente as características

Lunita. capa da revista Linas


& Tribune Media Services, Inc. 19
da Cicago da décadade 30, infestada degangsters e impregnada pelo
germe da corrupção — desenhada num estilo caricatural, algo [cito
de propósito, para atenuara violência incrente ao tema, Dick Tracy
é, no entanto, uma das mais realistas e violentas historictas das his-
tórias-cm-quadrinhos — . Após um extenso namoro,Dick desposou
Tess Trueheart, cujo pai, um comerciante, morreu assassinado no
primeiro episódio datira. Desta união, nasceu uma menina, Bonnie
Braids.
Chester Gould veio a falecer em 11 de maio de 1985, porém
desde 1977 Gould apenas supervisionava Dick Tracy, que estava
confiada a Max Allan Collins (roteiros) e Richard Martin Fletcher,
quejá a partir de .961 trabalhava anonimamente na série. Com a
morte de Fletcher, em 1982, as ilustrações foram entregues a Dick
Locher.
Os leitores devem estar se perguntando: por que falar de um
detetive em um livro sobre ficção científica nos quadrinhos? Bem,
em 1963-1964, Chester Gould prestou uma valiosa contribuição a
este assunto, ao conceber Lunella (Lunita), a primeira sereia lunar.
E quem é Lunita? Como muitos daqueles que ora nos lêem
estão fazendo esta indagação, vamos conhecer um pouco de sua
história: em 1963, os norte-americanos realizaram uma viagem de
pesquisas à Lua. Ao retornarem à Terra, não notaram que tinham
uma penetra a bordo. Esta penetra era Lunita, uma garota linda e
de cabelos louros — as únicas coisas que empanavam, em parte, sua
beleza eram as duas antenas na cabeça; entretanto, era através delas
que se reabastecia da encrgia solar —, possuidora de incríveis po-
deres, tais como hipnotizar pessoase fazercalor e gelo como corpo.
Lunita e o filho adotivo de Dick, Júnior, um desenhista da polícia,
logo se sentiram atraídos um pelo outro e se casaram. Em 1965, os
pais de Lunita fizeram uma rápida aparição na historieta, levando-a
de volta para seu lar, a Lua; mas, ao perceberem o quanto ela amava
Júnior e que longe dele seria infeliz e como a sereia lunar estava
grávida — Júnior e Lunita tiveram umafilha —, decidiram que seria
melhor deixá-los juntos e, por um breve período, os dois viveram
com os pais de Lunita. De volta à Terra, nossa amiga passou a au-
xiliar o marido em scu trabalho, revelando-se também uma ótima
desenhista. No entanto, encontrou a morte em agosto de 1978, de-
vido à explosão de uma bomba colocada no carro de Dick. Era o
fim de uma era.
BRICK BRADFORD

Willian Rilt nasceu em 1902, em Evansville. Após terminar o


Colegial, iniciou-se na carrcira jornalística, trabalhando na impren-
sa local. Em 1930, mudou-se para Cleveland, Ohio, arrumando um
emprego no Cleveland Press. Três anos mais tarde, a Central Press
Association, sediada em Cleveland e em 1937 incorporada ao King
Features Syndicate, de Hcarst, solicitou-lhe a criação de uma histo-
ricta de aventuras destinada a ser distribuída aos jornais do Meio-
Oeste norte-americano. Assim, em companhia do desenhista Cla-
rence Gray, concebeu Brick Bradford (também denominada Dick
James, no Brasil), cuja estréia se deuna tira diária de 21 de agosto
de 1933 (as páginas dominicais apareceram somente em novembro
de 1934), no New York American Joumal. Numa mistura de Mitolo-
gia com asnarrativas de Abraham Merritt (1884-1943), Ritt fez de

Um ser huma- U Comp é


no... Morto há y À H bonita... Pobre
milhares de EA

Brick Bradtord. em Viagem ao interior de uma mocdu


& King Features Syndicate, Inc. 21
Brick Bradford um dos grandes clássicos da Era de Ouro das Histó-
rias-em-Quadrinhos. Em 1935, escreveu outra historieta, The Time
Top, igualmente desenhada por Gray e que por algum tempo foi
complemento às páginas coloridas de Brick Bradford. Nos meados
da década de 30, tentou outra série, Chip Collins, Adventurer, de
curta duração. Em 1952,por razões ainda hoje desconhecidas, dei-
xou de ser o roteirista de-Brick Bradford, voltando a escrever para
o Cleveland Press, mantendo uma coluna regular, You're Telling Me,
neste jornal. Foi também autor de diversos contos,vindoa falecer
em 20 de setembro de 1972.
Quanto a Clarence Gray, nasceu em 192, em Toledo, Ohio.
Desde pequeno,sentiu-se atraído pelo desenho e na época em que
fregentava o Colegial, entrou em diversos cursos para arte. Após
graduar-se, accitou uma oferta de trabalhar no departamentoartís-
tico do Toledo News-Bee e, durante os anos 20, ilustrou charges
esportivas e políticas para este periódico. Além de seu trabalho no
Toledo, passou a colaborar em diversas revistas de circulação na-
cional. Em 1933, encontrou a grande chance de mostrar ao mundo
suaarte, ao se tornaro ilustrador de Brick Bradford. O texto de Ritt,
preciso e repleto de fantasias, encontrou em Gray a pessoa certa
para transformá-lo em desenho. Dono de um traço limpo, sem gran-
des rebuscamentos, porém gracioso, Gray é um dos mestres dos
quadrinhos, atingindo o apogeu dc sua carrcira artística entre 1935
e 1945. Com a saída de Ritt da série, Gray abandonouas tiras diárias
de Brick Bradford em 1952, confiando-as a Paul Norris c dedicou-se
às páginas dominicais, até sua morte em 7 dc janeiro de 1957, quan-
do elas passaram a ser realizadas também por Norris.
E quem é Brick Bradford? É um jovem atlético louro, filho de
um riquíssimo norte-americano. De compleição nórdica, Brick foi
muito bem definido pelo quadrinhólogo Edouard François: “A per-
sonagem de Brick Bradford é, em nosso entender, a mais tipicamen-
te americana da galcria das histórias-cm-quadrinhos realistas dos
Estados Unidos: jovem, atlético, tem bom senso, otimismo e bem
poucos complexos, além de que, se se revela incapaz de compreen-
der as teorias do sábio Kopak, nem por isso é medíocre, e faz prova
de honestas qualidades intelectuais. Mas, sobretudo, sabemos que
é corajoso e cavalheiresco, nunca hesitando em enfrentar um peri-
go, quandosetrata de ir socorrer alguém, mesmo com risco de sua
própria vida. E então, caso a vítima seja uma mulher, auxiliá-la até
sob a ameaça de um incêndio na floresta, ou com o risco de ir cair
entre os medonhos pés de um robô gigante...”

22
A saem DA TELA CONTINUA GEL RELATO: '
“ QUASE TODOS ESCAPAM PARA AS
MONTANHAS...”

4 WILLIAM
and RITT
' CLARENCE
Ago fe Qt
GRAY
"Poucos FICARAM NOS SEUS POSTOS.

ELES. STRONGALA.O HO DESESPERA-


DO.CUIA INVEANÇÃO AMENÇAVA AGORA À
CIVILIZAÇÃO QUE Ei E PRETENDA

M FISTADO DAS MAQUINAS E DO MATER/ALISMO A QUE ESTAVA ACOSTU -


fRavO. NOSCO POVO FO! LOGO FORÇADO 4 ACEITAR A VIDA “o
TAAITIVA...

E;
An
Ria vo | .

& King reatuics Syndicate. Inc.


No desenrolar de suas aventuras, Brick encontrou antigas €
perdidas civilizações, visitou o centro da Terra, o espaço sideral e
outras dimensões. Em uma de suas histórias, O Senhor do Abismo
(tiras diárias de 13 de abril de 1936 a 6 de fevereiro de 1937), temos
umaantevisão do nazismo c de Adolf Hitler (1889-1945), com Tc-
muchin II, o imperador de Karakorum. É nesta aventura, na qual
Temuchin descjava conquistar os Estados Unidos, que apareccu
pela primeira vcz o Doutor Kalla Kopak, grande sábio e cientista
que trabalhava a serviço de Karakorum c que, com o passar do tem-
po, tornou-se amigo dc Brick.
De toda a longa saga Bradfordiana, duas histórias, em particu-
lar, merecem destaque: Viagemao Interiorde uma Moeda e O Mons-
tro de Metal. Em Viagemao Interior de uma Moeda (tiras diárias de
8 de fevereiro de 1937 a 7 de janciro de 1938), Ritt aproveitou-se da
teoria dos mundos c submundos do universo atômico. Ncla, o Dou-
tor Kopak descobre um novo clemento químico, batizado por cle
de Kopakium — este elemento, de número atômico 85, era jus-
tamente o que faltava à Tabela Periódica de Elementos Químicos,
organizada pclo químico russo Ivanovitch Mcndclcicv (1834-1907),
constituída, na época, de noventa c dois clementos químicos (atual-
mente, ela conta com cento e três c o 85 é o Astatínio) —, cuja
incandescência produz o raio K, que permite visitar o mundo dos
átomos. A bordo de uma esfera, que através do raio K diminui de
tamanho, Kalla e Brick penctram em uma mocda, encontrandoali
todo um universo, com planctas, sistemas solares, animais de toda
espécie, cavcrnas, criaturas aladas, florestas, occanos e seres huma-
nos. Porém, além deles, há dois clandestinos na esfcra, June Salis-
bury, filha do famoso arqueólogo cientista Doutor Van Atta Salis-
bury e amicíssima de Brick, c o Professor Franz Ego, também cicn-
Lista, ex-colega de Kalla na Sorbonne, mas que utilizou seus conhe-
cimentos para o Mal. Após a exploração douniverso atômico, Brick
e seus amigos retornaram a nosso mundo, contudo sem trazerem
com eles o Professor Ego, que encontrou um triste fim, ao cair num
mar infestado de monstros. Entretanto, cle não foi o único homem
de Ciências, em Brick Bradford, a trilhar um caminho tortuoso: cm
O Monstro de Metal (tiras de 13 de feverciro de 1939 a 16 de março
de 1940), travamos contato com Avil Blue (Avil é um anagrama de
Evil, que significa Mal), outro cientista e um dos mais périíidos e
cruéis inimigos de Brick. Nesta aventura, o Doutor Kopak cria o
robô, poucos anos depois deles terem aparecido no filme Metrópolis
(Metrópolis, 1926), de Fritz Lang (1890-1976), e na peça R.U.R.

24
(1922), de Karcl Capck (1890-1938), e muitos anos antes dc Isaac
Asimov eternizá-los em Eu, Robô (I, Robot, 1950), onde formulou
as Três Leis da Robótica: 1 — Um robô não pode [ferir um ser hu-
mano ou, por omissão, permitir que um scr humano sofra algum
mal;2— Um robô devc obedecer as ordens que lhe sejam dadas por
seres humanos, exccto nos casos em que tais ordens contrariem a
Primeira Lei; 3—- Um robô deve proteger sua própria existência,
desde que tal proteção não entre em conílito com a Primeira e a
Segunda Lei —. Kalla acaba tendo os planos de sua criação rouba-
dos por Avil Bluc e, seguindo as instruções contidas nestes planos,
y
Avil constrói um gigantesco robô com o qual pretende dominar o
mundo; porém,ele é derrotado por Brick e o robô acabase voltando
contra seu próprio criador — aqui, vemos uma forte alusão ao Fran-
kenstein (Frankenstein, 1818), de Mary Wollstonccraft Godwin
Shelley (1797-1851), no qual o monstro se rebela contra scu pai, o
Doutor Victor Frankenstcin. Possivelmente, a luta entre criatura e
criador tem sua origem na Bíblia, na desobcdiência de Adão a Deus,
ao comero fruto proibido oferecido por Eva (Génesis, capítulo 3),
— esmagando-osob seus pés. Mas, o robô nãoé destruído e, no fim
da história, desaparece no mar, de onde um dia poderá retornar e
amcaçar novamente a Terra.
Se nas tiras diárias, Brick possuía por companheira constante
a doce, mciga c morena June Salisbury, o mesmojá não acontecc
nas páginas dominicais, nas quais suas acompanhantese, por con-
seguinte, namoradas, estavam sendo sempre substituídas. Foi justa-
mente nas páginas coloridas das décadas dc 30 e 40, que Brick viajou
no tempo,indo do passado ao [uturo,a bordo do Time Top (Cronos-
fera ou Balão do Tempo). Numa destas viagens, conheceu o deslcal
e implacável Martin Bloodstone (Martin Crucl ou Sanguinário), um
pirata; € em outra, travou contrato com Rota, a Rainha de Futura,
a fantástica cidade do ano 1.001.942 d.C., uma garota linda, de ca-
belos vermelhos — Rota é muito parecida com Crystal Blue,sobri-
nha de Avil e principal figura feminina de O Monstro de Metal, um
dos raros momentosnas tiras cm que não temosa presença dc June
— e que caiu de amores por Brick, sendo seu par cm algumas his-
Lórias.
Brick Bradford antecedeu em alguns meses Flash Gordon e se
em Flash Gordon otrio central é constituído por Flash, Dale Arden
e o Doutor Hans Zarkov, em Brick Bradford, igualmente, encontra-
mos um trio: Brick, June e o Doutor Kalla Kopak, substituído, mais
tarde, pelo professor Salisbury.
Em 1947, a Columbia Pictures produziu um seriado, Brick Brad-
ford, de quinze capítulos, dirigido por Spencer Gordon Bennet e
estrelado por Kanc Richmond (Brick), Linda Johnson (June Saun-
ders) e Pierre Watkin (Professor Salisbury).
Apesar de ainda hoje aparecer nosjornais, Brick Bradford é
apenas uma pálida visão do que era quando realizada por William
Ritt e Clarence Gray. Paul Norris praticamente o assassinou com a
historicta, que, atualmente, além de contar com enredos chatos e
desprovidos de qualquer [antasia, apresenta desenhos duros e de
baixíssima qualidade artística.

26
ALEX RAYMOND,O JÚLIO
VERNE DOS QUADRINHOS
Alexander Gillespic (Alex) Raymond nasceu em 2 de outubro
de 1909, em New Rochelle, Estado de Nova York, sendo o primciro
de sete filhos. Interessou-sc pelo desenho com pouca idade, recc-
bendo muitos elogios e incentivos do pai, um engenheiro civil c
construtor de estradas, que cobriu as paredes de seu escritório com
vários desenhos do jovem Alex. Entretanto, sua carreira artística foi
interrompida, abruptamente, com a morte do pai, quando contava
com doze anos. Por esta época, ganhou uma bolsa de estudos num
curso deatletismo e, mais tarde, ao ganhar uma outra, para estudar
e jogar futebol americano no Colégio Notre Dame, recusou-a, para
se tornar office-boy, na Wall Street. A Quebra da Bolsa de Nova
York, em 1929, forçou-o a procurar outro emprego, fazendo-lhe
renascer a paixão pcla arte. Entrou como aluno da Grand Central
School ofArt e procurou seu ex-vizinho e amigo Russell (Russ) Wes-
tover (1886-1966), criador da história-cm-quadrinhosTillie, the Toi-
ter, a fim delhe pedir alguns conselhos. Westovcr, então, empregou-
o comoseu assistente e, em breve, Raymond tornou-se desenhista-
fantasma de Blondie (Loirinha ou Belinda), de Murat Bernard
(Chic) Young (1901-1973) e de Tim Tyler's Luck (Tim e Tok ou Tim
e Tom) — praticamente toda a produção de 1933 desta série foi
realizada por Raymond —, de Lyman Young, irmão de Chic.
Em fins de 1933, Joseph Connolly, o diretor do King Features
Syndicate, desejava historietas para competir com as populares
Buck Rogers, Tarzan e Dick Tracy. Um livro, When Worlds Collide
(1930), de Philip Wylie (1902-1971) e Edwin Balmcr, foi o ponto de
partida para que Alex Raymond criasse Flash Gordon, a concor-

27
"Os ING PERCORREM ÀS PRISÕES DA CIDADE |
RAIOS ANTIEXPLOSIVOS, HEM?MAS UM 4] “à SHCUERA DE VOLUNTÁRIOS PARA ESAMEDOMORRE. |
TRABALHO CE ZARKOV! ISSO SIGNIFICA AFAMA
RECOMPENSA
QUE PLES SE TORNARAM QUASE INVEN- | E PORTUNA.. os f VENTES: Li '
CVEIS! SE PUDESSEMOS CAPTURAR b
FLASH' ESPERE 'TENHO UM PLANO! |
1
i
|
|
|
1

e al

À DISTÂNCIA É CALCULADA E DISPARAM A ARMA. O PROJÉTIL


PERCORRE TREZENTOS QUILÔMETROS E
SE ESPATIFA COM TREMENDO IMPACTO!

E OS PRISIONEIROS SOBREVIVENTES
E SE APROXIMAM DO CAMPO DOS LON
CEIROS NEGROS, À UNIDADE AVAN-

TRANS MAM O CAMPO NUMA


FORNALHA! SO FLASH E DALE
CONTINUAM RESISTINDO COMO
PODEM!
A SEGUIR: O CERCO GE APERTA!

Flash Gordon. capítulo de No reino das cavernas


28 € King Features Syndicate, Inc.
rente de Buck Rogers. Em pouco tempo, Flash Gordon suplantou
Buck Rogers no gosto do público, uma vez que esta estava presa às
imposições científicas da época — seus autores eram orientados
pelo Professor Selby Maxwell — e Raymond nãotinhalimites para
sua imaginação, soltando-a em grandes vôos e dando a Flash Gor-
don um caráter de pura [antasia.
A primeira página dominical de Flash Gordon foi estampada
nos jornais norte-americanos em 7 de janciro de 1934. Nela, em
poucos quadrinhos, travamos contato com toda a siluação e com os
principais personagens da séric: um plancta vem em direção à Terra
e o fim do mundo parcccinevitável; vários cientistas, entre os quais
o Doutor Hans Zarkov, trabalham fcbrilmcnte para evitar a colisão;
a bordode um avião, viajam duas pessoas, Flash Gordon, um louro
e jovem desportista, e Dale Arden, uma simples passageira; depois,
o avião é atingido por um meteorito vindo do misterioso planeta,
tendo uma dasasaspartida; Flash se salva, saltando de pára-quedas,
levando consigo Dale; e os dois descem próximo ao observatório do
Doutor Zarkov. Na prancha seguinte, Zarkov os faz prisionciros e
os força a embarcar, com cle, num fogucte, com o qual tentará des-
viar o planctóide. Após uma tumultuada viagem e desastroso pouso,
os três terrestres encontram-se em Mongo,o estranho planeta, po-
voado de monstros, muitos anos mais avançados, tecnologicamente,
que a Terra e governado, de forma despótica, pelo impicdoso Ming,
que possuifortes traços orientais.
Flash, como Brick Bradford, seu predecessor, representa tí-
pico herói, incapaz de cometer qualquer deslize. Representando o
Bem,luta contra o Mal, simbolizado por Minge sua filha, a princesa
Aura, que controla os dragões de Mongo. No começo de Flash Gor-
don, Aura estava apaixonada por Flash, mas acabouse casando com
Barin — a luta entre Flash e Barin em O Tomeio da Monte (neste
torneio, Flash e Barin se sagram vencedores e recebem de Ming
duas regiões inexploradas de Mongo,o Reino das Cavernas e o Rei-
no das Florestas, respectivamente, que os dois intrépidos homens
devem conquistar) é um dos pontosaltos da saga Gordoniana e, por
conseguinte, da arte de Raymond —.
Quanto a Dale Arden, personifica a mocinha por excelência,
sendo uma das mais bonitas e charmosas mulheres dos comics. Ne-
la, tudo está na medida certa, o busto, os quadris e as pernas, além
da expressão angelical e pura do rosto. Com Dale, Raymond chegou
à perfeição do tipo feminino, dando-lhe uma classe inigualável.
Desde seus primeiros contatos com Flash, ela nutriu grande admi-

29
ração porele; admiração esta que se transformou em intensa pai-
xão, apesar de ainda hoje os dois não estarem casados, fazendo de
Dale umadasnoivas eternas das histórias-em-quadrinhos. Vivendo
sempre em prantos, devido a Flash correr constantes perigo de vida
ou quandonão é a própria que se encontra em apuros, nas mãos de
algum malfcitor, como Brukka, o Gigante.
E com relação ao Doutor Hans Zarkov? Se Zarkov, inicialmen-
te, foi mostrado como um louco, pouco a pouco, revelou-se um sá-
bio, momentancamente transtornado com o risco do choque da
Terra com Mongo — algo que,felizmente, não ocorreu —, e tornou-
se, então, amigo inscparável de Flash. Os dois, tendo Dale eterna-
mente ao lado, conheccram várias regiões de Mongo,entre as quais
o Mundo Aquático e o Reino de Frígia, país ao norte de Mongo,
onde sua governante, a Rainha Fria, veio a ser mais uma das apai-
xonadas por Flash.
Em 1941, quando Aura, regencrada,se voltou contra o próprio
pai, Flash derrotou Ming. Logoapós, Flash e scus amigos partiram
de volta à Terra, onde combateram os nazistas.
Alcx Raymond fez de Flash Gordon umaspace opera, podendo
ser, sem dúvida alguma, comparado ao escritor Jack Williamson.
Entretanto, o mais fantástico em sua obra são suas previsões, o que
o torna o Júlio Verne (1828-1905) dos quadrinhos. Já em 1934, épo-
ca em que a propulsãoa jato era objeto de estudo de apenas uma
mcia-dúzia de cientistas, os leitores de Flash Gordon estavam ple-
namentc (amiliarizados com ela; a mesma coisa acontecendo com
o raio Laser (conhecido nas histórias de Flash comoo raio da Mor-
tc). Sua fantasia parecia não conhecer limites e muito daquilo que
colocou na historicta tornou-se umarealidade: a célula foto-elétri-
ca, a tela quadrangular de televisão e o telefone de uma só peça.
Porém,as profecias e influências de Raymond não se restringiram
somente ao mundo científico e alcançaram, igualmente, a moda e o
esporte. A minissaia, lançada por Mary Quant, uma inglesa de vinte
e um anos de idade, em 1961, era usada largamente por Dale e ou-
tras mulheres de Flash Gordon; e, nas modernasescolas de halte-
rofilismo, adotam-sc as posições físicas de Flash.
A partir de 1937, Raymond aprimorou o traço e, em 1938,
abandonou os balões cm proveito de uma narração contínua. Esla-
mos plenamente dc acordo com o que foi dito no livro História em
Quadrinhos & Comunicação de Massa: “Este foi talvcz um crro, a
história perdeu em cespontancidade o que ela ganhou em homoge-
ncidade”. Realmente, Flash Gordondeixou de ser umahistória-em-
quadrinhos para se transformar numahistória em imagens.
Além de Flash Gordon, Alex Raymond ainda realizou Jungle
Jim (imdas Selvas), a companion strip ou top (historicta comple-
mentar) desta, criada para competir com Tarzanc iniciada também
em 7 de janciro de 1934. Em 22 de janciro de 1934, criouSecretAgent
X-9 (Bill, o Detective Secreto ou Agente Secreto X-9 ou O Agente X-9),
que escrita por Dashicll Hammett (1894-1961), o famoso novelista
de histórias de detetive c mistério c criador do detetivc particular
Sam Spade, era destinada a concorrer com Dick Tracy. Devido à
sobrecarga de trabalho, Raymond abandonou Agente Secreto X-9,
em novembro de 1935, para se dedicar exclusivamente a Flash Gor-
don eJim das Selvas. Em 1944, alistou-se na Marinha norte-ameri-
cana, deixando de descnhá-las — a última página dominical assina-
da por ele data de 30 de abril deste ano —. Na Marinha, foi incor-

31
porado como capitão e primeiramente enviado ao Escritório de Pu-
blicidade do Corpo Diplomático, na Filadélfia, como diretor de arte;
em seguida, para a costa Oeste; e, porfim, ao Pacífico Sul. Serviu a
bordo do porta-aviões U.S.S. Gilbert Island, comooficial de infor-
mações públicas e artista combatente, presenciando as ações mili-
tares em Okinawa e Bornéo. Ao retornarà vida civil, em janeiro de
1946, Raymond era majore trazia várias idéias para uma novalira,
cujo personagem principal era um ex-oficial da Marinha que se
transformara em criminalista. Esta historicta, Rip Kirby (Nick Hol-
mes), com roteiro de Ward Greene,estreou nosjornais em abril de
1946 e, nela, Raymond empregou o mesmocarinho e o mesmoestilo
artístico,já vistos em suascriações anteriores.
Possuidor de uma belíssima arte, fortemente influenciada por
diversos ilustradores, tais como Franklin Booth (1874-1948), Matt
Clark, Charles Gibson (1867-1944) e John Lagatta, durante os anos
de 1950 e 1951, Raymond foi o presidente da National Cartoonists
Society (Sociedade Nacional dos Cartunistas), recebendo dela, em
1949, o prêmio Billy deBeck, como melhor quadrinista do ano ante-
rior.
Depois de longas reflexões, Raymond assim sc expressou com
relação aos quadrinhos: “Cheguei, honestamente, à conclusão de
que a história-em-quadrinhos, em si, é uma forma dearte. Reflete
avida eo Lempo com mais precisão e é mais artísLica que a ilustração
de revista, pois é inteiramente criativa. Um ilustrador trabalha com
uma máquina fotográfica c modelos; já um desenhista de historictas
começa com uma folha de papel em branco e sonha inteiramente
uma obra. Ele, ao mesmo tempo, é roteirista de cincma, diretor,
montadore ator”,
Contudo, Raymond teve sua vida brutalmente cortada, em 6
de setembro de 1956, quando visitou seu amigo, o também dese-
nhista de quadrinhos Stan Drake, em seu estúdio, em Westport,
Connecticut. O carro de Raymond, um Mercedes 300 SL, encontra-
va-se no mecânico, por isso, ele fora a pé. Depois de conversarem
um pouco, saíram à rua. Drake adquirira, recentemente, um Cor-
vette e Raymond,antigo corredor, mostrou-se interessado no auto-
móvel. Drake entregou-lhe o volante. Estava chovendo. Raymond
subiu a estrada de Clapboard Hill, depois desceu, em direção ao
cruzamento da Clapboard Hill com a Morningside Drive. Não co-
nhecia a estrada. Acelerou. O carro derrapou, voltou-se duas vezes
e foi esmagar-se contra uma árvore, a cem quilômetros por hora.
Stan Drake, jogado para fora, sofreu numcrosas escoriações, que-
brando algumas costelas. Raymond morreu instantancamente.

32
OS DEMAIS DESENHISTAS DE FLASH GORDON

Com a ida de Alex Raymond para a Marinha, Flash Gordon


passou às mãos de Austin Briggs (1908-1973), que, com a ajuda de
Paul Norris, sc dedicou cla até 1º de agosto de 1948, quando pas-
sou aos cuidados de Emmanucl Mac Raboy (1914-1967). Em de-
zembro de 1967, devido à morte de Mac Raboy, Danicl (Dan) Barry
tornou-se o responsável pela séric. Em 27 de maio de 1940, Flash
Gordon ganhou uma versão cm tiras diárias, com desenhos de Aus-
Lin Briggs. Ao sc tornar desenhista das páginas dominicais, Briggs
abandonou as tiras e elas foram suspensas em 3 de julho de 1944,
para retornar em 19 de novembro de 1951, sob a pena de Dan Barry,
permanccendo até hoje nos diários.

CA EeTA. Fasu:
O CONTINENTE PERO DO
PE MONGO:
INEXPLOZADO & VIRGEM

ExpuCAR. AS LEN-
Pas SoBRE OS
SEUS MONOTROS.
QuE DIZao?

Dias mars TARDE,


FLASH Dae e
DaRmKOV
ESTAMOS 4 CHEGAR
AG REGIÕES INEX-
PLORADAS, FLASH.
VOU PÔR A TRABA-

Hash Gordon. na concepção de AL Williamson


ty Charlton Comies Group 33
Se Alex Raymond manteve-se fiel aos velhos escritores dc fic-
ção científica, tais comoJúlio Verne, Dan Barry, que, ao longo des-
tes anos, tevc uma série de assistentes — entre os quais scu irmão
Seymour (Sy) Barry, atual desenhista de The Phantom (O Fantas-
ma); Ric Estrada; Frank Frazetta; Bob Fujitani; Carlos Garzon,e
Harvey Kurtzman, renovou a história, ao aproximá-la muito mais
dos autores modernos, a começar pela primeiratira, que se inicia
com a [rasc: “Numafria noite de inverno, um foguete corta os céus
de Ohio”, numa óbvia homcnagem a Ray Bradbury, cujo conto O
Verão do Foguete, contido em As Crônicas Marcianas (The Martian
Chronicles, 1951), inicia-se da seguinte forma: “Um minuto antes,
era inverno em Ohio”. Contudo, Barry iria homenagear não apenas
Bradbury, mas também outrosescritores, destacando-se Isaac Asi-
mov, Arthur Charles Clarkee Clifford Donald Simak (1904-1988).
Flash Gordon, de scu início até os anos40,teria como roteirista
Don Moore; a partir de então,passaria pelas mãos de vários argu-
mentistas, merecendo menção Fred Dickenson, que desde 1952
escreve os roteiros de Nick Holmes.
Na década dc 60, Flash Gordon tevc uma versão para osgibis,
sendo desenhada por Recd Grandall, Ric Estrada e Al Williamson.
Este último deuà historicta as mesmascaracterísticas que ela pos-
suía quando realizada por Raymond, algo quefaria novamente com
O Agente Secreto X-9, a partir de janciro de 1967, ao se encarregar
dela, junto com Archie Goodwin (roteiros) — Williamson e Good-
win, então, atribuíram a Secret Agent X-9 o título de Secret Agent
Corrigan (O Agente Secreto Phil Corrigan ou Agente Secreto ou O
Agente Secreto) —. A única coisa que temos a lamentar é que um
quadrinhista como Al Williamson, dono de um senso artístico ex
traordinário e um digno continuador da obra de Alex Raymond,
tenha, atualmente, de ser arte-finalista de histórias-em-quadrinhos
de super-heróis. Bem,isto denota a franca decadência do quadri-
nho norte-americano.

E FLASH GORDON CONQUISTA AS TELAS

Em 1936, Flash Gordon [oi levada às telas cinematográficas,


num seriado de treze episódios, com direção de Frederick Stephani
e trazendo no elenco Larry “Buster” Crabbe (Flash); Jean Rogers
(Dale Arden); Charles Middleton (Imperador Ming); Frank Shan-
non (Doutor Zarkov); e Priscilla Lawson (Princesa Aura). Dois
anos mais tarde, seria rodado um novo seriado, Flash Gordon's Trip

3a
to Mars (Flash Gordon em Marte), dirigido por Ford Beebe, apre-
sentando o mesmo elenco e com quinze capítulos. Em 1940, a Uni-
versal Pictures produziria mais um, Flash Gordon Conquers the Uni-
verse (Flash Gordon Conquista o Universo), com doze episódios,
direção de Ford Becbe e Ray Taylor e Carol Hughes substituindo
Jean Rogers, no papel de Dale, e Shirley Deane tomando o lugar
de Priscilla Lawson, ao viver a Princesa Aura. Em 1980, Flash Gor-
don novamente ganhouas telas de cinema, agora numa super-pro-
dução de Dino de Laurentiis, com roteiro de Lorenzo Semple Jr,,
direção de Mike Hodgese interpretação de Sam Jones(Flash); Me-
lody Anderson (Dale Arden); Topol (Doutor Zarkov); Max Von
Sydow (Imperador Ming): e Ornella Mutti (Princesa Aura). Apesar
de muito bem produzida e contar com a presença do competente
Max Von Sydow e a beleza de Ornclla Mutti,esta película foi total-
mente exccrada pela crítica. Em Vídeo Guia 88, escreveu-se o se-
guinte sobre ela: “Não tem o charme dos scriados dos anos 30. Flash
parcce ter saído de um comercial de TV. Levado em tom defarsa,
salva-sc apenas o humor de Sydow no papel do grande vilão”.

Buster Crabbe, no papel de Flash Gordon


A historicta de Raymond conheceu enorme fama em todo o
mundoe, em 1953, tivemossua Lransposição para a televisão alemã,
em doisepisódios, com Steve Holland (Flash), Irene Champlin (Da-
lc) e Joe Nash (Doutor Zarkov).
Em 1971, Howard Ziehm e William (Bill) Osco produziram
para a Graffiti Productions, de Los Angeles, na Califórnia, Flesh
Gordon — jogo de palavras entre o nome da personagem de Alex
Raymond e Flesh, quesignifica carne, além de ser o título de um
livro de Philip José Farmer e um filme underground do artista pop
Andy Warhol (1930-1987) —, uma paródia erótica de Flash Gor-
don, dirigida por Howard Zichm e Michael Benveniste e estrelada
por Jason Williams (Flesh) e Suzanne Fields (Dale Ardor).

ALEX RAYMOND E SEUS


IMITADORES

Dentre as inúmeras imitações que Flash Gordon conheceu,


não resta a menor dúvida de que a melhor foi Don Dixon and the
Hidden Empire (Don Dixon), criada por Bob Moore (roteiros) e
Carl Pfeufer (desenhos) e estampada no Brooklyn Eagle. Tendo co-
mo complementoa historicta Tad ofthe Tanbark, Don Dixon circu-
lou de 6 de outubro de 1935 a 6 de julho de 1941 e, ao longo das
histórias, Don Dixon, seu amigo Matt Haynes, que logo desapare-
ceu da série, e o Doutor Lugoff, um cientista, penetram em Pharia,
uma estranha região, onde lutam contra gigantes, pigmeus, bruxas
e feiticeiros c contra Karth, o usurpador, que se apoderara do trono
da Princesa Wanda — por.maisde uma vez, Wandaé salva por Don
de um destino mais crucl que a morte —. Após passarem algum
temponacivilização, Don, o Doulor Lugoff e Wanda voltam a Pha-
ria € a princesa, enfim, retoma seu lugar como regente.
Se Don Dixon nos fazia recordar longinquamente Flash Gor-
don, devido aos desenhosde Pleufer serem bem próximos àqueles
dos primeiros anos de Raymond e a amizade de Don com o Doutor
Lugolf ser uma clara referência à de Flash com o Doutor Zarkov,
há uma outra história-em-quadrinhos, Jonny Wiking (1942), do des-
conhecido Bjorn Karlstrom,na qual o plágioà Flash Gordon é mais
direto, desde o argumento — Corzo, um planeta, se aproxima da
Terra; o choque entre os dois é incvitável; o engenheiro Berg e scu
jovem ajudante, Jonny Wiking, partem num foguete a fim de evitar
a colisão; etc, etc — até a concepção dos desenhos, como as armas,
carros velozes, cidades fulurísticas, naves espaciais e roupas são ba-
sicamente inspiradas no clássico de Alex Raymond.

36
MANDRAKE,
O MÁGICO
Lec Falk nasceu em 1905, em St. Louis, Missouri. Desde cedo,
revclou tendências a sc tornar, quando adulto, um escritor profis-
sional e, nos tempos de colégio, escreveu artigos, contos e poemas
para o jornalzinho da escola. Após graduar-se na Universidade de
Hlinois, começou a trabalhar numa agência de publicidade de sua
cidade natal, como redator. Nesta época, 1933, travou contato com
Phil Davis, um cartunista c ilustrador também nascido em St. Louis,
em 4 de março de 1906.
Davis Éstudou na Washington University Art School, trabalhou
para a companhia telefônica e, em 1928, tornou-se ilustrador de
anúncios do St. Louis-Post Dispatch, além de realizar capas € ilus-
trações para diversas revistas. De sua amizade com Falk, germinou
a idéia de conccbcrem juntos uma história-cm-quadrinhos.
Em 1934, o New York American Joumal decidiu criar uma pá-
gina reservada à emoção e ao mistério, a Floyd Gibbon's Daily Page
of Thrill and Mistery. Seu editor, Floyd Gibbons,incluiu, entre ou-
tras novidades, uma historieta realizada por Falk e Davis. Esta his-
tória-em-quadrinhos, Mandrake the Magician (Mandrake, o Mágico
ou Mandrake), fez sua estréia em 11 de junho de 1934, em tiras diá-
rias (a página dominical só viria em fevereiro de 1935), neste jornal,
sendo distribuída aos demais pelo King Features Syndicate.
Mandrake, o titular da série, possui o tipo físico de seu dese-
nhista, apesar de algunscríticos de quadrinhos acharem que lembra
muito o ator Adolphe Mcnjou (1890-1964). Mandrake tem, igual-
mente, várias características dos atores norte-americanos do perío-

37
do em que foi criado: o bigodinho à moda de Clark Gable (1901-
1960), o porte refinado de Willian Powell e o olhar agudo e exótico
de Lew Ayres.
Mandrake apareceu no último quadrinho da quintatira (15 de
junho) de sua primeira aventura, O Cobra (tiras de 11 de junho de
1934 a 24 de novembro de 1934), Lothar (Lotar), seu fiel criado, um
enormenegroafricano,trajando umapele de leopardo e um barrete
vermelho na cabeça, encarregou-se de apresentar o mago aos de-
mais personagensda história e aosleitores.
Mas, quem é Mandrake? Seu nome vem de Mandrágora (gê-
nero de planta da família das Solanáceas, muito empregada em fei-
tiçarias, na antiguidade e na Idade Média). Estudou magia no Co-
légio de Mágica do Tibete, tendo comoorientador Theron, um velho
mágico. Mandrake sempre se mantém em contato telepático com
seu mestre, através do cubo mágico que já por diversas vezes os
bandidos tentaram roubar. Comocolegas nesse colégio, Mandrake
teve seu irmão gêmco, Derek, e Alcena (Alena), uma jovem de ex-
trema beleza. Só que enquanto Mandrake se utilizou de seus pode-
res para o Bem, Dcrck c Alcna usaram dosseus apenas para o Mal;
porém todas as vezes que tentaram cometer algumafalcatrua, aca-
baram sendo vencidos pclo ex-colega.
Em suas primeiras aventuras, Mandrake utilizava-se muito
mais de seus truques, tornando-seinvisível, fazendo desaparecer as
armas de seus inimigos ou realizando projeções mentais e outros
ilusionismos. E sãojustamente estas histórias, publicadas entre 1934
e 1944, as melhores da carreira desse Houdini (1874-1926) das his-
tórias-em-quadrinhos. Por essa época, Mandrakeviajava muito; nu-
made suas aventuras, vamos encontrá-lo no Sul dos Estados Unidos
às voltas com o fantasma do bucanciro Jean Laffite (17807-18257);
em outra, vai para África e se envolve com magia negra; numa outra,
visita Lapore, umacidade no oeste da Índia, na qual encontra fa-
quires, haréns e tapetes voadores; e ainda também conhece o
estranho país de Savcssá, onde tudo é às avessas. Igualmente, o ve-
mos lutando contra outro mágico, o Grande Grando ou contra a
Gang do Polvo — alguns anos mais tarde, já na década de 60, mais
uma rede de bandidosiria se colocar no caminho de Mandrake, a
Quadrilha do Oito, uma organização criminosa que age desde os
tempos imemoriais e que possui ramificações em todas as partes do
mundo —. A Bruxa de Kaloon (tiras de 12 de abril de 1943 a 23 de
outubro de 1943) e O Jardim de Wuzu são duas histórias marcantes
deste mágico de fraque e cartola. Nelas, Davis atingiu o apogeu de

38
“DE vEZ EM QUANDO, DA- MOS A MANIA ma “ TRANSPORTADO POR. UM RAIO DE ENERA
VIAGENS. NÃO PRECISAMOS DE AVIÕES NEM DE. PURA E BANHADO PELA LUZ INVIDÍVEL,
OUTROS VEÍCULOS. OLHEM PARA ESTE HOMEM. ESTARA EM NOVA (ORQUE DENTRO
VAI TALVEZ PARA NOVA (ORQUE"" DE-SEGUNDOS.”

“O NOSSO POVO ESTA SEMPRE A VISITAR AS


VOSDAS CIDADES E OS VOSSOS LARES, mas
NUNCA NOS MOSTRAMOS. O NOSSO FIM É ESTU-
DAR OS VOSSOS HAMBITOS CLRIOBOS E QUEZI-
LENTOS PARA MEDITAR NELES”
atures Syndicate. Inc.
Mandrake no futuro

“CHEGADO LH E PROTEGIDO PE-


LA LUZ INVISÍVEL PROPRIA, IRA
ONDE QUISER. QUANDO ESTI-
VER PRONTO A REGRESSAR,
VOLTARA NUM RAIO DE ENER-
GIA INVERGA”

sua arte; não tanto pelas figuras humans, uma vez que Franc, Glinco,
Rasco, Axel e Wuzu,alguns dos personagens delas, são totalmente
caricatos, mas pelos ambientes tétricos, sombrios e melancólicos
ondeelas se desenvolvem, cenários estes que chegam ao mais puro
e indizível horror. É numa de suasaventurasiniciais, datada de 1935,
que surge Saki, o Maior Ladrão de Bagdá, também conhecido pcla
acunha de Camelo de Barro, um de seus principais inimigose que,
como o Cobra, está sempre planejando um novo golpe.
É nessa história contra Saki, que se dá umadas primeiras apa-
rições de Narda,a Princcsa de Cockaigne, um pequeno país imagji-
nário situado nos Balcãs. Nos primeiros anos de seu namoro com
Mandrake, ela continuou morando na Europa; entretanto, no co-
meço da década de 40, Falk c Davis resolveram trazê-la de vez para
a América, adaptando-a logo ao american way of life. Martha, a
esposa de Davis e habilidosa desenhista de modas, foi quem criou
o guarda-roupa de Narda.

39
Desdeo início, Mandrake, o Mágico já possuía fortes elementos
fantásticos c deficção científica, com Mandrake encontrando ho-
mens lanudos, lobisomens, monstros, múmias, robôs e seres peque-
ninos. No entanto,a partir dos anos 50,suas histórias voltaram-sc,
por completo, à ficção científica e animais pré-históricos que pcr-
mancccram congelados, por séculos, e voltaram á vida; concursos
intcrgaláticos dc beleza feminina foram realizados, com Narda rc-
presentando a Terra; homens do futuro, entre os quais desccn-
dentes de Mandrake, vicram à nossa época; outras dimensões, com
o Mundo dos Espelhos, foram visitadas; e seres extraterrestres pas-
saram visitar nosso plancta, dc forma constante.
Apósa morte dc Phil Davis, em 16 de dezembro de 1964, vítima
de um ataque cardíaco, a séric passou pelas mãos dc vários desc-
nhistas, podendo-sc destacar Martha Davis e André Lc Blanc. Con-
tudo, Mandrake, o Mágico acabou sendo entregue aos cuidados de
Fred Fredericks, pscudônimo de Harold Fredcricks Jr., então, um
jovem e promissor cartunista.
Com Fredcricks, a tira voltou a ter a beleza dos primeiros anos
de Davis. E esse ilustrador, dono de um estilo inconfundível, termi-
nou dando scu toque à historicta, Mandrake começou a sc vestir
“com roupas comuns — atualmente,voltoua usaro [raquec a cartola
— e a fazer menos truques hipnólicos, mas continuou a ajudar o
velho Chefe O'Hara na caça aos criminosos, apesar de também au-
xiliar Jcd, dirctor da Inferintel, uma agênciainternacional deinteli-
gência, nesta tarefa. Lotar deixou de ser um personagem caricatu-
rado,dc lábios grossos, nariz achatado e olhar dc tolo, para ganhar
fcições bem Ícitas c um ar de inteligência. Quanto a Narda, que
antes vivia em outra casa, passou a morar no mesmo teto de Man-
drake, Xanadu, a mansão do mágico, onde fica a maior parte do
tempo, desfrutando das delícias da piscina — um detalhe curioso é
que esta princesa de nossos dias não possui umbigo —. Em 1970,
foi introduzida na história uma prima de Lotar, Karma (Darla), que
se tornou sua namorada. Por essa época, igualmente, surgiu Hojo,
o gordo cozinheiro chinês, lutador de caratê e judô.
Em 1939, Mandrake conquistou o cinema, num seriado de dozc
capítulos, produzido pela Columbia Pictures, com direção de Sam Ncl-
son e Norman Deming, tendo como rotciristas Joscph Polland, Basil
Dickey c Ned Dandy,e trazendo Warren Hull no papel do mágico c Al
Kikumc, no de Lotar. Quanto a Narda, não sc fazia a menor menção a
ela; entretanto, nossa princesa teve melhor sorte no seriado radiofônico
que foi ao ar nos anos 40, quando ganhou vida através da voz da atriz
Francesca Lenni. Já Mandrake, nas novelas de rádio, era interpretado
por Raymond Edward Johnson e Lotar, por Juano Hernández.

40
4 *
N
Vocês não se preoceupem
com 1580 que é€eu vou
resolver n situacão

Mandrake levo
mão, e Derin
parece vestido
umo maravil
princesa

0708 D—7
Mandrake. em No reino dos pequenines 41
€ King Peatures Syndicate, Inc.
Brucutu
& NUA Service. Inc.

42
A MÁQUINA DO TEMPO
As viagens através do tempo sempre estiveram presentes na
literatura de ficção científica. Em 1889, Mark Twain (1835-1910)
escreveu UmTanque na Corte do Rei Artur (A Connecticut Yankee
in King Arthur's Court), uma das primeiras narrativas a enfocar o
assunto, que, cm 1941, ganhou uma versão às avessas, King Arthur's
Knight in a Yankce Court — no número 1 da edição brasileira da
revista Tintin, cditada pela Editorial Bruguera, do Rio de Janciro;
no final dos anos60, tivemos a publicação da história O Cavalheiro
que Veio do Frio, realizada pelo quadrinista Sergi e na qual um ca-
valhciro da Idade Média, mantido congelado por vários séculos,
retorna à vida em nossa época, não conseguindo se adaptar a cla —
por A. W. Bernal. Entretanto, a mais conhecida c interessante no-
vela envolvendo o Lema é A Máquina de Explorar o Tempo ou À
Máquina do Tempo (The Time Machine, 1895), de Herbert George
Wells (1866-1946), que,inclusive, mereceu um estudo de Jorge Luis
Borges (1899-1986), em Otras Inquisiciones.
Como as histórias-cm-quadrinhos, constantemente, tomam
emprestadas idéias concebidas na literatura, no cinema, rádio,tca-
tro e nas demais formas de arte, era inevitável que a máquina do
tempo também fosse aproveitada nelas. Porém, nos quadrinhos, a
presença das máquinas de viajar no tempo não se restringiram ao
Balão do Tempo, de Brick Bradford, ou à máquina do Professor
Chronos, como muitoslcilores devem estar pensando; em 1939, V.
T. Hamlin introduziu uma destas máquinas na historieta Alley Oop
(ou Brucutu).
Vincent T. Hamlin nasceu em 10 de maio de 1900, em Perry,
Iowa. Com apenas dezessete anos, participou da Primeira Guerra
Mundial, combatendo os alemães na França. Passou algum tempo

43
internado no hospital, devido ao gás venenoso lançado pclos teutos.
Foi quando tevc início sua carreira de cartunista; as cartas que man-
dava a seus [amiliares e amigos eram ilustradas com vinhetas que
revelam um apuradosenso de humor. De volta aos Estados Unidos,
cursou Jornalismo na Universidade de Missouri. Mais tarde, mu-
dou-sc para o Texas, onde trabalhou em diversos jornais c começou
a descnvolver cada vez mais seu estilo artístico. Ao trabalhar no
departamento publicitário de uma indústria petrolífera, conheceu
um gcólogo, estudioso da vida pré-histórica. Entusiasmado com o
assunto, Hamlin [cz diversas pesquisas sobre o mesmo e resolveu
criar uma história-em-quadrinhos passada neste período da civili-
zação humana. O resultado foi Brucutu, que estreou nosjornais,
comotira diária, em 7 de agosto de 1933 (as páginas dominicais
apareceram cm9 de setembro de 1934), com distribuição da News-
paper Enterprise Association (NEA) Service, Inc..
Brucutu, um autêntico homem dascavernas,é forte, irrequicto,
brigadore de cérebro pouco desenvolvido. Certa vez, Hamlin assim
o definiu: “Minha personagem, Brucutu, com quem tenho estado
intimamente ligado por todos estes anos, é uma alma bondosa e
gentil... apesar de sua aparência física mostrar o contrário. Fisica-
mentc, Brucutu é o homem que eu gostaria de ter sido. Intelcctual-
mente, acho que estou um ou dois pontos acima, mas não mais do
que isso”. Brucutu é um dos muitos cidadãos do Reino de Moo
(Mu), uma sociedade que apesar de primitiva, não deixa de possuir
as mesmas qualidades c deícitos de nossa civilização atual, Os de-
mais habitantes de Mu são: Foozy (Fuzi), o intelectual da tribo, do-
no,às vezes, de algumas idéias um tanto quanto amalucadas e me-
lhor amigo de Brucutu; o intrigucnto e invejoso Grand Vizicr
(Grande Sabichão); o Rei Guzzle (Guz), uma cópia carbono de
Brucutu, e a Rainha Umpateedle (Umpa), um casal que representa
muito bem a visão do casamento nos quadrinhos, ou seja, uma ins-
Liluição na qual quem manda é a mulher, quase sempre ciumenta,
desengonçada c fcia — , neste pormenor, Brucutu segue a mesma
tradição de Bringing up Father (Procópio e Sophia ou Vida Apertada
ou A Vida Apertada de Pafúncio ou Pafúncio ou Pafúncio e Marocas
ou Ensinando Papai), criada em 1911, por George McManus(1884-
1954) —; e Oola (Ula), a adorável, bela, suave e terna namorada de
Brucutu — ela é totalmente o oposto dele —, que nada mais é que
a versão pré-histórica das Bathing beauties dos filmes de Mack Sen-
nett (1880-1960).

44
Durante scis anos, Hamlin situou as aventuras de Brucutu na
pré-história, fazendo a comunidade de Mu conviver pacificamente
com os brontossauros, dinossauros, pterodátilos ete — inclusive,
Bruculu tem como animal dc estimação e mcio dc locomoção um
dinossauro, Dinny —, num crro cronológico, proposital, de alguns
milhõesde anos. Então, começou a scntir os efeitos do restrito palco
que representam Mu a pré-história. Necessitava renovar Brucutu
ou podcria ter seu contrato com a NEAcancelado, já que estava se
repetindo nas histórias. Entretanto, o que poderia fazer? Aí, tevc a
idéia genial da máquina do tempo. Luiz Antônio Sampaio, em seu
artigo Alley Oop, nos fala sobre isto: “Comcçou na tira de 5 de abril
de 1939, quando um estranho objecto apareccu em Mu. E logo cm
seguida desaparcceu. No dia seguinte, no último quadrinho da tira,
Oop e Oola simplesmente desapareceram, para, duas tiras depois,
reapareccrem em pleno século XX. Era a máquina do tempo do
Dr. Elberty Wonmug. E consequentemente a incrível viagem dos
nossos heróis dos tempos ncbulosos da pré-história para o ano de
1939. (...) Oop e Oola, dois típicos exemplares da pré-história, csta-
vam cm pleno século XX. E falando inglês normalmcntc!”. Mas,
nem bem haviam sc adaptado à nossa época, nossos amigos foram
mandados pclo Professor Wonmug (Papanatas) e seu assistente
Oscar Boom (Oscar Bomba) a diversos períodos do mundo: estive-
ram no Egito dosfaraós, na Romaantiga, na Idade Média, no Vclho
Ocste, conviveram com piratas e alé mesmo visitaram a Lua, além
dc estarem, assiduamente, cm Mu c cm nosso século. A máquina
do tempo do Professor Papanatas (oi o fim das preocupações de
Hamlin e da monotonia cm Brucutu.
Nos anos 50, Hamlin passou a contar com a colaboração de
Dave Grauc, na feitura de Brucutu. A partir de 1966, Grauc tornou-
sc o responsável pelastiras diárias e, cm 1973, com a aposentadoria
de Hamlin, assumiu o controle total sobre a historicta, que ainda
hoje encantaos velhos c os novosleitores dos quadrinhosdc jornais.

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O protessor Papanatas, ÚUla ca maquina do tempo
€& NEA Service. Inc. 45
Actions Comics, nº |, onde o Super-Homem fez a sua estréia
& DC Comies Inc.
NASCE O SUPER-HOMEM
“Estou deitado na cama, contando camneirinhos, quan-
do, de repente, me vem uma idéia. Concebo um personagem
como Sansão, Ilércules e todos os homens fortes de que já
ouvi falar, reunidos num único. Só que mais ainda...”
Jerry Siegel

Após descnvolverem-se com enorme rapidez pelos diários


norte-americanos,as histórias-cm-quadrinhos chegaram ao merca-
do derevistas, em 1933, com o nascimento dos comic books (gibis)
— publicações cm formato de 17 x 26 cms. e que aprescntam histó-
rias completas, a cores. Já em 1929, um editor tentou lançar uma
publicação semanal, The Funnies, com historictas totalmente novas
e completas; entretanto, a revista não vingou, talvez devido a scr
tablóide, o que lembrava demais os suplementos dominicais de qua-
drinhos dos jornais —. O primeiro gibi, Funnies on Parade, possuía
trinta e duas páginas e só teve um número, que circulou de forma
promocional para a firma Proctor & Gamble. No começo de 1934,
tivemos,efetivamente, o lançamento dos comic books, com Famous
Funnies, de sessenta e quatro páginas, produzido pela Eastem Color
Printing Company para a Dell Publishing Company e que apresen-
tava, como Funnies on Parade, republicações detiras diárias e pá-
ginas dominicais dos jornais. New Fun Comics, da National Peri-
odical Publications (DC Comics), surgido em fevereiro de 1935,
inaugurou uma nova era para os quadrinhos:as histórias realizadas
especialmente para os magazines. Em março de 1937, a mesma DC
lançou Detective Comics — a sigla DC foi composta a partir das
iniciais desta revista —, a primeira publicação dedicada a um só

47
gênero, no caso histórias-cm-quadrinhos de detetive e mistério.
Mais tarde, desejandoa criação de um gibi que contivesse historie-
tas de ação c aventura, a DC publicou, em abril de 1938, o primeiro
númcro dc Action Comics — contudo,a revista está datada de junho
de 1938 —, cuja principal atração cra Supernan (Super-Homem),
de Jerry Sicgel e Joc Shuster.

O INÍCIO

“Quando cu cra garoto,” disse, certa vcz, Jerome (Jerry) Sie-


gel, nascido em 17 de outubro de 1934, em Cleveland, “imaginava
que um dia scria repórter. Passava muito tempo olhandoas garotas
mais atraentes da escola e elas ncm notavam minha existência. En-
tão, me ocorreu que,se eu tivesse algo extraordinário, especial mes-
mo, comoagilidade para saltar entre os prédios ou levantar carros
com uma mão, poderia conquistá-las e conquistar o mundo. Sempre
imaginava que podia atrair as pessoas sc tivesse esses super pode-
res...”. Na época, Sicgcl trabalhava como garoto de entregas e ga-
nhava quatro dólares semanais, dando partc de scu salário para
ajudar a família; o resto, investia cm histórias-cm-quadrinhos. Com
Joseph (Joc) Shuster — Shustcr nasccu em 10 de julho de 1914, em
Toronto, no Canadá. Em 1923, mudou-se, com ospais, para Clevc-
land, vindo logo a conhecer Sicgel —, scu amigo e parceiro, criou
um fanzine — a melhor definição para este gêncro de publicação
foi dada no quinto número de Pop Quadrinhos, um fanzine editado
por Genildo (Scott) Tavares: “FANZINE (Fanatic-Mapazine) é
uma revista ou jornal artesanal cditada por desenhistas ou colccio-
nadoresdc histórias-cm-quadrinhos, onde todosos assuntos relati-
vos aos quadrinhos são abordados livremente, por isso é também
chamado de Imprensa Alternativa. Circula entre as pessoas mais in-
tcressadas por quadrinhos, como os próprios desenhistas, colccio-
nadorcse até simples leitores, em número bastante resumido. É
impresso, geralmente, em xcrox e além de ter em seu conteúdohis-
tórias-cm-quadrinhos, tem artigos, desenhos, seção dc cartas etc”
—, Science Fiction, no qual escrevia hislórias que eram desenhadas
por Shuster. Na edição de janciro de 1933 desta publicação,reali-
zaram uma pequenahistória intitulada No Reino do Super-Homem.
Nela, o pcrsonagem principal cra um cientista que havia ganho fan-
tásticos poderes mentais, porém utilizando-os para o Mal. Pensa-
ram em transformá-la numa fira, mas sentiram que a idéia precisava
scr amadurecida.

48
Numanoite quente de verão de 1934, Siegel não conseguia dor-
mir €, em meio a pensamentos desordenados, idealizou um projeto
que o levou à criação de uma figura que se tornou o símbolo dos
super-heróis. No dia seguinte, pela manhã, procurou Shustere, jun-
tos, colocaram no papel o que havia sido imaginado durante aquela
noite de insônia e calor. Fizeram umatira com o material e saíram
oferecendo-a aos editores. Entretanto, ninguém se interessou pela
historieta que acabou ficando engavetada até 1938, quando Harry
Donnenfeld, editor de Detective Comics, ao lançar uma outra revi-
sta, Action Comics, dedicada agora à aventura, foi orientado por
Max €. Gainesa se utilizar dela.
Fortemente inspirada na novela Gladiator (1930), de Philip
Wylie, Super-Homem em pouco tempo tornou-se uma coqueluche
entre os leitores de Action Comics, ganhando no verão de 1939 um
gibi próprio, Superman. Também em 1939, mais precisamente a par-
tir de 16 de janeiro, passou a aparecer diariamente nosjornais, em
tiras (a página dominical foi lançada em 5 de novembro deste mes-
mo ano), com distribuição do McClure Syndicate. Inicialmente feitas
por seus criadores, as aventuras diárias do Homem de Aço coube-
ram, mais tarde, a Wayne Boring, que as realizou até seu cancela-
mento, em 1º de maio de 1966.

A HISTÓRIA DO SUPER-HOMEM

Em Krypton, um longínquo planeta, Jor-El, um cientista, des-


cobriu que o mesmoestava prestes a explodir, devido àsfortesins-
tabilidadesde scu núclco. Tentou advertir o Conselho Científico de
Krypton a respcito do perigo iminente; todavia, ninguém acreditou
em suas palavras. Pouco antes da explosão de Krypton, Jor-El co-
locou seu filho, Kal-El, de dois anos, num foguete que construíra,
enviando-o à Terra. Ao chegar aqui, a espaçonave foi encontrada
por Jonathan e Martha Kent, um casal de meia-idade, sem filhos,
residente em Smallville (Pequenópolis), uma cidadezinha do inte-
rior dos Estados Unidos. Eles se apaixonaram pela criança, à pri-
mcira vista, e após deixarem-na na porta de um orfanato, adotaram-
na. Com o passar do tempo, Kal-El se inteirou dos poderes que
adquirira, devido à gravidade menor da Terra e ao sol amarelo de
nosso sistema — Krypton era banhado por um sol vermelho —, tais
como o dom de voar — no início, ele apenas saltava a grandes dis-
tâncias —, incrível força física; pele altamente resistente — nem

49
uma bala de canhão afeta o Super-Homem —; super-velocidade;
visão de calor; visão de raio-X; e visão telescópica, o único poder
que Siegel e Shuster aproveitaram docientista maligno de O Reino
do Super-Homem. Somente uma coisa é capaz de abater o Homem
de Aço, a exposição aos raios de Kryptonita — fragmentos de Kryp-
ton, que chegaram à Terra. Há cinco variedades de Kryptonita: dou-
rada, verde, vermelha, azul e branca, sendo que apenas as três pri-
meiras causam dano ao Super-Homem; inclusive, a verde pode ma-
tá-lo —. Já adulto, Clark Kent, a identidade secreta adotada por
Kal-El, resolveuutilizar estes poderes no combate ao Mal. Tornou-
se, então,repórter do Daily Star (Estrela Diária), quelogo se trans-
formou no Daily Planet(Planeta Diário), recebendo ordens de Perry
White, o editor, e sofrendo sempre as ridicularizações de sua cole-
ga, a morenae atraente Lois Lane — em nosso país, Lois teve seu
nometrocado para Míriam nosgibis da EBAL, quebrando, assim,
a regra de que o Super-Homem só se apaixona por mulheres com
as iniciais L.L., entre as quais Lana Lang,a ruiva filha do arqueo-
logista e explorador Professor Lang e namorada de Clark, quando
este era rapaz; Lori Lemaris, a scrcia de Atlântis; e Lyla Lcerrol
(Myla Lerror), a mais bonita e famosa atriz cinematográfica de
Krypton —. Lois, uma perseverante e batalhadora repórter, em
constante busca de notícias, nutre uma intensa paixão pelo Super-
Homem, nem imaginando que ele está tão próximo dela, todos os
dias, como Clark. Ela não percebe que as únicas diferenças entre
Clark e o Super-Homem são os óculos usados pelo primeiro e o
traje colante azul, com um grande S desenhadono peito, do segundo
— o uniforme do Homem de Amanhã é composto, ainda, por uma
capa, calção e botas vermelhas —. Nosanos70,o Planeta Diário foi
comprado pelo Galaxy Broadcasting System (Sistema Galáxia de
Comunicação), de propriedade de Morgan Edge, um exemplotípi-
co do capitalista bem sucedido e arrogante. Morgan tirou Clark de
seu cargo de repórter do Planeta, transformando-o em anchorman
(âncora) do jornal televisivo WGBS Six O'Clock News — poraí,
constatamos o quanto os norte-americanos estão mais adiantados
em relação a nós, uma vez queno início da década de 70 os âncoras
estavam presentes até mesmo num gibi. Este tipo de apresentador
de jornal de televisão só foi chegar em nosso país em 1988, através
de Boris Casoy, do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), e de Car-
los Nascimento, da TV Cultura, de São Paulo —, tendo por contra-
ponto sua antiga namorada, Lana Lang. Depois, Clark passou a di-
vidir seu tempo entre o velho Planeta Diário e a WGBS.

50
OS OUTROS PERSONAGENSDE SUPER-HOMEM

Lois Lane — Presença constante nas histórias do Homem de


Aço, desde Action Comics número 1, Lois é filha de Sam e Ella
Lane, tendo nascidona fazenda de seus pais, próxima à cidadezinha
de Pittsdale. Quanto à data de seu nascimento, é impossível de se
precisar. Possui duas irmãs: Lucy, mais nova do queela, e uma outra
irmã, cujo primeiro nome nunca foi divulgado e que se casou com
um homem chamado Tompkins, dando a luz à uma garotinha,Susie
Tompkins. O primeiro grau, Lois o cursou em Pittsdale, passando,
depois, a frequentar o Raleigh College, onde demostrou certas ap-
tidões para as Ciências. Contudo, se formou em Jornalismo, mu-
dando-se para Metrópolis — o nome dado a Nova York, nas aven-
turas do Super-Homem —, com a intenção de se tornar a melhor
repórter da cidade. Após uma breve passagem pelo Estrela Diária,
Lois empregou-se no Planeta Diário, tendo em ambosos empregos,
como colega de trabalho, Clark Kent. “Como originalmente conce-
bida pelos criadores, Lois Lane não passava de uma prostituta; era
uma repórter egoísta, de pouca ética e moral, o tipo de mulher que
não gostaríamos de desposar. O exemplo mais gritante de sua gros-
seria era sua aversão pelo alter-ego do Super-Homem, Clark Kent.
Ela raramente perdia uma oportunidade para degradá-lo ou humi-
lhá-lo. (...) Todavia, com o decorrer dos anos, seu caráter mudou,
passando de uma repulsiva prostituta a uma cabccinha-de-vento
cheia de curiosidade”. Apesar destas afirmações de Joe Brancatelli,
em The World Encyclopedia ofComics, a respeito de Lois, ela é uma
ambiciosa, atraente, impulsiva, inteligente e persistente jornalista,
conservando sempre em mente as palavras de Norman Kingsley
Mailer: “Um escritor da maior grandeza é capaz de abalar os nervos
e a medula de uma nação”. Porém, hoje, comoele, deve se sentir
apenas mais um personagem em cena.
Jimmy Olsen — Inicialmente,era apenas um office-boy do Pla-
neta Diário, tornando-se repórter no número 13 de Superman. Ten-
do, como símbolo máximoda classe jornalística, Clark Kent, é, jun-
tamente com Lois Lane, um dos melhores amigos do Super-Ho-
mem, Sua namorada é Lucy Lane.
Krypto — Mascote de Kal-El, em Krypton. Jor-Elo utilizou em
umaviagem espacial de experiência, mas um cometa desvioua nave
em que viajava de seu destino, a Terra. Anos mais tarde, Krypto
alcançou nosso planeta, ganhando super poderes e novamente se
unindo a seu dono.

52
Supergirl (Supernoça) — É,na realidade, Kara, prima de Kal-
Ele filha de Zor-El, irmão de Jor-El, e de Alura. Nasceu em Argo,
uma cidade de Krypton, que sobreviveu à destruição do plane-
ta,sendo lançada no espaço com a explosão. Porém, quando Kara
contava com quinze anos,Argo foi ameaçada pela Kryptonita e seu
pai a mandou para a Terra, em um pequenofoguete. Aqui, adquiriu
super poderes, assumindoa identidade de Linda Lee e escondendo
seus cabelos louros com uma peruca morena. Ficou algum tempo
no orfanato,até ser adotada pelo casal Fred e Edna Danvers. For-
malmente apresentada ao mundo por Super-Homem, em 1962, de-
dicou-se, a partir de então, ao combate do crime. Em novembro de
1972, ganhou umarevista só para suas aventuras, Supergirl, que du-
rou dez edições, deixando de circular em setembro-outubro de
1974. As histórias e desenhos pertenciam a Mike Sekowsky, que deu
um novo visual à heroína — a melhorfase da carreira de Supermoça
—, concedendo-lhe, inclusive, roupas modernas. Por esta época,ela
se formou na universidade, indo para Metrópolis e empregando-se
na KSF, uma estação de televisão. Ali, encontrou-se com uma ex-
colega dos tempos de faculdade, Nasty, a sobrinha de Lex Luthor,
que tornou-se sua verdadeira sombra, sempre suspcitando de que
Supermoça e Linda Lee Danvers eram a mesma pessoa — contudo,
isto nunca chegou a ser provado —. Infelizmente, Supermoça aca-
bou morrendo numaluta titânica contra o Anti-Monitor, mostrada
em Crisis on Infinite Earths (Crise nas Infinitas Terras) número 7
(outubro de 1985). Abrindo um rápido parêntese, Crise foi, em nos-
so entender, um dos maiores desrespeitos cometidos por umaedi-
tora para com seus leitores. Se a DC havia criado diversos universos
paralelos, com centenas de heróis e super-heróis espalhados por
eles, paciência. O que nunca poderia fazer era matar alguns destes
personagens ou simplesmente desaparecer com outros, como se
nunca tivessem existido. Como é que fica o público fiel, que há mais
de cinco, dez, vinte, trinta ou quarenta anos acompanha os comic
books e que já havia se afeiçoado aos heróis? É porisso, que acre-
ditamos que osgibis realmente acabaram.
Lex Luthor — Logo em seu primeiro encontro com o Homem
de Aço (Action Comics número 23, abril de 1940), Luthor apresen-
tou-se como “apenas um homem comum — mas, com o cérebro de
um super-gênio!”. Luthor é, verdadeiramente, um gênio da Ciência;
entretanto, usou toda sua inteligência para o Mal. o arqui-inimigo
do Super-Homem, fazendo de tudo para destruí-lo e poder assim,
com toda a tranqiilidade, conquistar o mundo.

53
Quando o Direlor sal...

Há semanas, expus êse tubo de ensalo


chelo de micróbios aos ralos da kryptonlts
verde! Achel-a quando ainda quebravo
pedras aqui ne prisão!

Lex Luthor
O DC Comics Inc.

Mr Mxyzpilk
& DC Comics Inc.

WITH MY SHRINKING RAY, LL RORM THE


UNIVERSE, STEALING CITIES AND REDUCING
THEM TO MINIATURE SIZE INSIDE MY
BOTTLES! THEN I'LL RESTORE THE CITIES
TO THEIR NATURAL SIZE ON BRYAK / ç
BRYAK WiLL LIVE
AGAIN, UNDER
My RULE:!!

Brainiac e Koko
O DC Comics Inc.

54
Mr. Mxyzptlk (pronuncia-se Mix-yes-pitel-ick) — Apareceu
em The Mysterious Mr. Mxyzptlk (Superman número 30, setembro-
outubro de 1944). É um duende da quinta dimensão, cujos poderes
são impossíveis de se definir; porém, sabemosque podevoar e ani-
mar objetos inanimados. Todavia, o queele mais adora, na realida-
de, é importunar o Super-Homem com suas brincadeiras de mau
gosto. A única forma de mandá-lo de volta a seu mundo, por um
prazo de noventadias, é fazê-lo pronunciar ou soletrar seu nome ao
contrário.
The Prankster (O Galhofeiro) — O palhaço do submundo do
crime. Um criminoso com um mórbido senso de humor.
Brainiac — O segundo maiorinimigo do Super-Homem. É,na
verdade, um engenhoso humanóide estraterrestre totalmente com-
putadorizado que, algum tempo antes da explosão de Krypton,rou-
bou a cidade de Kandor, a capital do planeta — Kryptonópolis, a
cidade-natal de Kal-El, tranformou-se, então, na capital de Krypton
— , reduzindo-a, graças ao raio encolhedor, e conservando-a dentro
de uma grande garrafa em sua nave espacial. Depois, Kandor foi
descoberta pelo Homem de Amanhãe colocada, sã e salva, na For-
taleza da Solidão, um local inexpugnável, localizado no Polo Norte
e para onde sedirige, quando pode, o Super-Homem, a fim de des-
cansar e meditar.

OS CONTINUADORES

Após Siegel e Shuster se desligarem de Super-Homem, em


meados da década de 40,a historieta coube a Wayne Boring e, mais
tarde, a uma gama enorme de quadrinhistas; alguns bons, outros
medíocres. Entre os roteiristas, podemos destacar: Cary Bates; E.
Nelson Bridwell; Geoff Brown; Gerry Conway; Bill Dennehy; Leo
Dorfman; Maxine Fabe; Mike Friedrich; David George; Bob Ha-
ney; Robert Kanigher; Jack Kirby; Paul Levitz; Elliot S. Maggin;
Alan Moore; Denny O'Neil, um dos melhores argumentistas dos
gibis; Martin Pasko; Jim Shooter; Steve Skeates; Len Wein; e Marv
Wolfman. Já com relação aos desenhistas, tivemos: Dan Adkins;
Murphy Anderson; Ross Andru; Tex Blaisdell; Bob Brown; Fran-
cisco Chiaramonte; Vince Colletta; Dick Dillin; Mike Esposito;
Frank Giacoia; Joe Giella; Dick Giordano; Gil Kane; Jack Kirby;
George Klein; José Garcia Lopez; Pablo Marcos; Frank McLau-
ghlin; Mike Mignola; Winslow Mortimer; Irv Novick; Jerry Ordway;
Bob Oskner; George Pérez; John Rosenberger; Werner Roth; Ge-

55
orge Roussos; Bob Rozakis; Josef Rubinstein; Kurt Schaffenberger;
Frank Springer; Jim Starlin; Joe Staton; Curt Swan, o melhor de-
senhista das aventuras do Homem de Aço,junto com Murphy An-
derson, desdc Joc Shuster; e Al Williamson. Em 1986, John Byrne,
considerado por muitos como um excelente artista, aproveitou-se
das reformulações impostas ao universo DC,a partir de Crise nas
Infinitas Terras, para remodelar o Super-Homem, recontando sua
origem, sua chegada à Terra, os super poderes que adquiriu — in-
clusive, tornou-o menos poderoso —, como conseguiu seu emprego
no Planeta Diário, seu encontro com Lois Laneetc, etc.
Nestes mais de cinquenta anos circulando nos gibis de todo o
mundo — segundo o escritor Harlan Ellison, o Homem de Aço é
uma das criações conhecidas em todo o globo, ao lado de Robin
Hood, Sherlock Holmes e Tarzan —, Super-Homem enriqueceu
muitas pessoas. Entretanto, seus criadores encontram-se quase na
miséria, vivendo num asilo dc Los Angeles — eles venderam os di-
reitos de Super-Homem à DC, por cento trinta dólares —. Sicgel
sofre de problemas cardíacos e Shuster está praticamente cego. É,
triste ironia...

E SUPER-HOMEM CHEGA AOSDEMAIS MEIOS -.


DE COMUNICAÇÃO

A popularidade de Super-Homem cresceu e não permitiu que


ele ficasse confinado apenasàs histórias-em-quadrinhos. Em 1940,
suas aventuras conquistaram o rádio, tornando estas palavras len-
dárias: “Mais rápido que umabala! Mais possante que uma loco-
motiva! Capaz de ultrapassar o mais alto arranha-céu com um sim-
ples salto! Vejam! Lá no céu! É um pássaro! É um avião! É o Su-
per-Homem! Sim, é o Super-Homem. Um estranho visitante de ou-
tro planeta que veio à Terra com poderes e habilidades muito além
dos homens mortais. Super-Homem, aquele que pode mudar o cur-
so de um rio, entortar barras de aço com as próprias mãos e que,
disfarçado como Clark Kent, um bem-comportado repórter de um
grande jornal metropolitano, trava umaluta interminável pela ver-
dade, pela justiça e pelo american way oflife”. Super-Homem e seu
alter-ego, Clark Kent, ganharam vida através de Clayton (Bud) Col-
Iyer (1908-1969), que fazia a distinção entre os dois, dando a Clark
a voz de um tenore, ao Super-Homem, a de um barítono — o que
demonstrava a mudança para os ouvintes era a modificação do tom
de voz no meio da frase: “Este é um trabalho para o Super-Ho-

56
Christopher Reeve como Super-Homem

mem!” —, O seriado radiofônico, sempre apresentado de segunda


a sexta-feira, com uma duração de quinze minutos, estreou no dia
12 de fevereiro de 1940, trazendo ainda, além de Bud Collycr, Jcan
Alexander como Lois Lance; Julián Noa, no papel de Perry White;
e Jackie Kelk, no de Jimmy Olsen. Em 26 de novembro de 1941, cra
lançado Superman, também conhecido como The Mad Scientist, o
primeiro desenho animado do Super-Homem. A este, seguiram-sc
outros dezesseis — o último, Underground World, fez sua eslréia nas
telas cinematográficas em 30 de julho de 1944 —, todos a cores e
realizados pelos Max Fleischer Studios, para a Paramount Pictures,
tendo pordiretores Dave Fleischer (1894-1979), Seymour Kneitel,
Isidore Sparber e Dan Gordon. Mais uma vez, Bud Collyer cmpres-
tou sua voz ao Homem de Aço.

57
Entretanto, Super-Homem só se transformaria numa pessoa
de carne-e-osso, em 1948, quandoo ator Kirk Alyn o personificou
no seriado Superman, com produção de Sam Katzman, para a Co-
lumbia Pictures, e direção de Spencer Gordon Bennet e Thomas
Carr. Lois Lane foi vivida por Noel Neill; Perry White, por Pierre
Watkin; e Jimmy Olsen, por Tommy Bond. Dois anos mais tarde,
realizou-se um novo seriado, Atom Man vs. Superman (O Homem
Atômico contra Super-Homem), com o mesmo produtor, tempo de
duração, elenco e, igualmente, distribuído pela Columbia. A dire-
ção coube apenas a Bennet. Em 1950, produziu-se o longa-metra-
gem Superman and the Mole Men (Super-Homem e os Homens-Tou-
peiras), com direção de Lee Sholem e com George Reeves (Clark
Kent/Super-Homem)e Phyllis Coates (Lois Lane). Georgee Phyllis
ainda viveriam estes personagens num seriado detelevisão, Adven-
tures of Superman (As Aventuras de Super-Homem), que permane-
ceunosvídeos de 1951 a 1957, num total de cento e quatro episódios.
Nesta série, Jimmy Olsen e Perry White foram encarnados por Jack
Larson e John Hamilton, respectivamente.
Super-Homem seus amigos ganharam fama, também,no tea-
tro, num musical, It's a Bird... It's a Plane... It's Superman!, escrito
por David Newman e Robert Benton, com músicas de Charles
Strouse, letras de Lee Adams e coreografia de Betty Walberg.A
peça estreou em 29 de março de 1966, no Alvin Theatre, em Nova
York, com Bob Holliday (Clark Kent/Super-Homem), Jean Hot-
chkins(Lois Lane) e Eric Mason (Perry White). Apesardascríticas
impiedosas, que arrasaram, por completo, a coreografia, o espetá-
culo foi um grande sucesso daquela temporada.
Em 1978, Alexander e Ilya Salkind produziram Superman, o
Filme (Superman The Movie), uma super-produção distribuída pela
Wamer Bros., com direção de Richard Donner, roteiro de Mario
Puzo, David Newman, Leslie Newman e Robert Benton, música de
John Williams e um elenco multi-milionário, que incluiu Marlon
Brando (Jor-El); Susannah York (Lara, a mãe de Kal-El); Glenn
Ford (Jonathan Kent); Phyllis Thaxter (Martha Kent); Christopher
Reeve (Clark Kent/Super-Homem), um perfeito canastrão; Margot
Kidder (Lois Lane); Marc McClure (Jimmy Olsem); Jackie Cooper
(Perry White); Gene Hackman (Lex Luthor), ele e Jackie são os
únicos que desempenharam satisfatoriamente seus papéis; Ned Be-
atty (Otis, o capanga trapalhão de Luthor); e Valerie Perrine (Eve
Teschmacher, a sedutora namorada de Luthor). Além deste, Chri-
stopher Reeve personificaria o Homem de Amanhã em outrostrês
filmes de longa-metragem.

58
CONNIE

Francis (Frank) Godwin nasceu em 20 de outubro de 1889 na


capital dos Estados Unidos, Washington,e estudou arte naArt Stu-
dents League, em Nova York, onde tornou-se amigo de James Mont-
gomery Flagg, um dos mais conceituadosilustradores norte-ameri-
canos. Graças à sua amizade com Flagg, passou a colaborar nas mais
importantes revistas da época, entre as quais Collier's, Cosmopoli-
tan, Judge e Liberty. Quanto aos quadrinhos, Godwin só foi se inte-
ressar poreles a partir de 1927, quando criou sua primeira historie-
ta, Connie.
Connie é, possivelmente, uma das mais interessantes mulheres
dos comics. Nos anosiniciais da tira, Constance Kurridge (seu nome
completo) era uma bela loura, que morava com os pais e cuja vida
consistia de festinhas, piqueniques e namoricos com rapazes de
pomposos nomes, tais como Percival Lewellyn-Smith e Clarence
Dillingworth. Com a chegada da Grande Depressão, ela começou a
auxiliar a mãe nostrabalhos de caridade — um dos poucos momen-
tos em que a crise provocada pela Quebra da Bolsa de Nova York,
em 1929, foi mostrada com tanto realismo nas histórias-em-qua-
drinhos —. Por volta de 1932, Connie arrumou trabalho, primeiro
como repórter, depois como detetive, numa espécie de Sam Spade
de saias. Mais tarde, tornou-se uma aventureira, visitando várias
partes do mundo, desde a América do Sul até a Rússia, Entretanto,
a Terra parecia ser pequena para essa jovem e ela passou à explo-
ração interplanetária, ao lado do Doutor Alden e de seufilho Hugh,
descobrindo várias civilizações desconhecidas em Vênus, Marte,
Júpiter e em outros planetas do sistema solar. Connie chegou,igual-
mente, a viajar no tempo, através da máquina do velho Professor
Chronos,indo parar em 2938 — este episódio, publicado nos Esta-

59
dos Unidos nas páginas dominicais de 2 de agosto de 1936 a 28 de
fevereiro de 1937, no Brasil apareceu num álbum, No século XXX,
editado pela Correio Universal, em 19 de março de 1938 —. No sé-
culo XXX, Connie defronta-se com uma Terra totalmente modifi-
cada: o mundo está dividido em duas super-potências, as Nações
Unidas, onde os postos-chaves, incluindo o de presidente, são ocu-
pados por mulheres, e o Quadrante Amarelo; enormes e velozes
veículos cortam o espaço;e as armas são as mais extravagantes pos-
síveis. Auxiliando as Nações Unidas contra o Quadrante Amarelo,
Connie, seu amigo Jack e o Doutor Chronosviajam à Lua, graças à
construção de uma acronave Ícita por Chronos, a fim de buscar o
Chronolite, um novo metal capaz de resistir à ação do neutralizador
sofreram um grande retrocesso, uma vez que perderam sua coerên-
cia narrativa — a maior parte do que é produzido atualmente não
tem o menor sentido —, espontaneidade e ingenuidade.
Connie, distribuída pelo Ledger Syndicate, desapareceu de cir-
culação em 1944, Depois, Godwin iria se dedicar à Rusty Riley (Pe-
drinho e Célia), até sua morte, por ataque cardíaco, em 5 dc agosto
de 1959, em sua casa, em New Hope,Pensilvânia.

Connie
O Ledger Syndicate
OS GIBIS DE FICÇÃO
CIENTÍFICA
Os comic books propagaram-se, rapidamente, em dezenas c
dezenas de títulos e, neles, as historictas de ficção científica inicia-
ram-se com o lançamento de Planet Comics, em janciro de 1940,
pela Fiction House Magazines. Planet Comics, o primeiro gibi des-
Linado às histórias-cm-quadrinhos de antecipação, teve seu título
tirado de Planet Stories, uma pulps — magazines editados em papel
de baixa qualidade c que apresentavam contos c novelas cujas cenas
se sobrepunham aos enredos — publicada pela própria Fiction
House. Nessa revista, entre outras criações, apareceram Áuro, Lord
of Jupiter, Auro, (Lord de Júpiter); Cosmo Corrigan; Crash Barker,
mais tarde intitulada Crash Parker$Flint Baker, de Dick Bricfer; Ga-
le Allen; Kenny Carr ofthe Martian Lancers; Mysta ofthe Moon (Mys-
ta, a Rainha da Lua), de Maurice Whitman; The Red Comet (O
Cometa Vermelho), de Men Jackson; Star Pirate, de Len Dodson e
Murphy Anderson; c a melhor delas, Futura, de John Douglas.
Futura, uma historicta com grande carga de erotismo, estreou
na Planet Comics número 43 (1946). A titular da série, Futura, era
uma jovem terrestre que fora levada para o plancta Cymradia, uma
vez que a raça dos cymradianos passava por um processo de extin-
ção e seus últimos representantes procuravam pessoas mais jovens
que fossem capazes de suportar um transplante de cérebro. Futura
conscguiu escapar de seus captores e sozinha e sem armas empre-
endcu uma luta contra eles.
Planet Comics circulou até 1954, num total de setenta e três
edições.

61
A ERA DA EC

William M. Gaines, nascido em 1º de março de 1922,na cidade


de Nova York, herdou, em 1947,de seu pai, Max C. Gaines, a Edu-
cational Comics (EC) Publications, uma editora em franca decadên-
cia e especializada em revistas educativas em quadrinhos,tais como
Picture Storiesfrom the Bible e Picture Storiesfrom World History. O
jovem Gaines, então, remodelou a empresa, mudando-lhe, inclusi-
ve, o nome — ela passou a se chamar Entertaining Comics ( a sigla
EC continuou a mesma) Publications —, e começou a editar gibis
de amor, faroeste e humor — estes, com animais como personagens
centrais —. Entretanto, estas publicações também não obtiveram
uma boa acolhida de público. O sucesso só viria mesmo no início
dos anos 50, quando empreendeu a New Trend (numa traduçãoli-
teral, Nova Tendência) em seus magazines.A partir desta data, Gai-
nes publicou uma série de títulos — Crime Suspenstories; Crypt of
Terror; Frontline Combat; The Haunt of Fear; Shock Suspenstories;
Two-Fisted Tales; The Vault of Terror; Weird Fantasy; e Weird Scien-
ce —, onde mesclava fantasia, ficçãocientífica, guerra, horrore sus>
pense, em histórias deseis a oito páginas impregnadas de terror
violência.
Weird Fantasy — inicialmente intitulada Moon Girl, começou
a ser publicada no outono de 1947. Nesta fase inicial, apesar de
apresentar alguns elementos de ficção científica, era mais uma re-
vista de super-heróis. Em seu número 9 (setembro-outubro de
1949), teve seu nometrocado para 4 Moon, a Girl... Romance e
passou a estampar em suas páginas historietas românticas. Adotou
seu título definitivo no número 13 (maio-junho de 1950), voltando-
se exclusivamente para a antecipação — e Weird Science — seus
dois primeiros númcros, publicados no outono de 1947 e no inverno
de 1947-1948, respectivamente, intitularam-se Happy Houlihans e
apresentaram histórias humorísticas. Do númcro 3 (verão de 1948)
ao 8 (setembro-outubro de 1949) recebeu o nome de Saddle Justice
e da edição 9 (novembro-dezembro de 1949) à 12 (março-abril de
1950) intitulou-se Saddle Romances (nestas duasfases, apresentou
histórias-em-quadrinhos defaroeste, salpicadas com alguns toques
românticos). Em seu número 13 (maio-junho de 1950), ganhou o
nome de Weird Science e suas características finais —, os dois gibis
de ficção científica da EC, em março de 1954, no número 23,fundi-
ram-se numa revista só, Weird Science-Fantasy, que na edição 30

62
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63
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(julho-agosto de 1955) tornou-se Incredible Science Fiction, desapa-
recendo de circulação no número 33, datado de janeiro-feverciro
de 1955.
Em ambasas publicações, bem como nas demais, sob a coor-
denação de Albert (Al) Feldstein, um jovem escritore ilustrador de
talento — Feldstein começou a trabalhar com Gaines em 1948, tor-
nando-se em pouco tempo o segundo nome de importância da edi-
tora, tomandoa seu cargoastarefas de desenhista, editor e reteiris-
ta —,a EC deu uma grandeliberdade de expressão a seus autores,
formando a modernaescola norte-americana de quadrinhos. Entre
seus colaboradores, a EC contou com nomes como Reed Grandall;
Willian (Bill) Elder; George Evans; Frank Frazetta; Graham Ingels;
Jack Kamen; Bernard Krigstein; Harvey Kurtzman; Joe Orlando;
Al Williamson; e Wallace Wood (1927-1983). Nestes gibis aparece-
ram, igualmente, algumas quadrinizações de contos de famososau-
tores de ficção cicntífica, tais como Fredric Brown (1906-1972);
William Anthony Parker White, mais conhecido como Anthony
Bouchcr (1911-1968); Ray Bradbury, Damon Knight; e Richard
Matheson.
Com Weird Fantasy ce Weird Science, as histórias-em-quadri-
nhos de ficção cicntífica igualaram-se à ficção científica literária.
Nas historictas apresentadas nestas revistas, encontramos bonsar-
gumentos desenhados com esmero. O desaparecimento delas foi
uma enorme pcrda para os quadrinhos. E qual a razão do fim destas
publicações? Desinteresse de Gaines e Feldstein? Dificuldades fi-
nanceiras por parte da editora? Falta de público? Nada disso; apc-
nas a censura norte-americana que lançou seus enormes tentáculos,
como um repulsivo monstro extra-terrestre, sobre os comics.
Neste grande golpe desferido contra as histórias-em-quadri-
nhose mais especificamente aos comic books, no começo da década
50, em plena época da Caça às Bruxas, promovida pclo Senador
Joseph Raymond McCarthy (1908-1957), do Partido Republicano,
os quadrinhos foram taxados de subversivos e de atentarem contra
a moral e os bons costumes. Nos Estados Unidos, na Europa, no
Brasil e em outros países escrevcram-seartigos, livros e panfletos
contra as historietas, como pode scr evidenciado porestes três tex-
tos que ora reproduzimos:
“Sadismo, canibalismo, bestialidade, erotismo grosseiro, tor-
turas, assassinatos, raptos, monstros, loucos, criaturas meio-ho-
mem, meio-animal. Mclodrama grosseiro, façanhas extravagantes

64
em países estranhos ou em outros planetas, histórias de piratas...
Vulgaridade, humor de baixo nível. Histórias sentimentais criadas
para retardados mentais. Baixeza de pensamento e de expressão.
Tudoisso, dia após dia, semana após semana...” (John K. Ryan)
“Esses jornais (os que publicam as histórias americanas) des-
pejam no cérebro maleável das crianças a mais baixa pornografia,
o gosto peloassassínio e pelas façanhas dos gangsters... O desejo de
se tornar um espião... A esperança de participar de uma guerra civil
destinada a destronar os reis...” (Georges Sadoul)
“É constante nashistórias de quadrinhos, mesmonas cômicas,
o culto à violência.(...) É raríssima a história que não tenha uma
morte no mínimo. Essa brutalidade descambainvariavelmente para
o sadismo, que ensina aos jovens leitores métodos requintados de
tortura, Além da violência, é constante também o apelo ao sexo, ao
sensualismo. (...) A ciência, na história em quadrinhos, obedece à
orientação ideológica do imperialismo, voltada para o aprimora-
mento das armas de destruição. Oscientistas são sempre indivíduos
anormais, loucos, empenhados na construção de um engenhoterri-
velmente poderoso que lhes facultará o domínio da humanidade.”
(Bráulio Pedroso)
Esses ataques, unidos à publicação do livro do Doutor Frede-
ric Wertham, Seduction of the Innocent (Rinchart and Company,
Nova York, 1954), no qual este psicanalista afirmava que as histo-
rictas levavam os jovens ao crime e à corrupção — todosesses sábios
cidadãos não foram inteligentes o bastante para vislumbrar uma
pequena e óbvia verdade: as histórias-em-quadrinhos nada mais são
do que um reflexo do momento em que foram produzidas, desnu-
dando por completo a sociedade onde estão inseridas, revelando o
que esta sociedade possui de bom e de ruim,daí... —, fizeram com
que várias editoras fossem fechadas e diversos títulos saíssem do
mercado, provocando um total declínio dos gibis. Isto nos leva a
pensar na afirmação do crítico, poeta e teatrólogo Thomas Stearns
Eliot (1888-1965), em Notas para uma Definição de Cultura (Notes
toward a Definition of Culture, 1948): “A cultura pode ser apenas a
preocupação de uma pequena minoria, e portanto não há lugar para
ela na sociedade do futuro ou na sociedade do futuro a cultura, que
foi posse de poucos, deve ser colocada à disposição de todos”.

DC, A ÚLTIMA ESPERANÇADOSGIBIS NOS ANOS50

Com a implantação na década de 50, do Comics Code Authority


(Código de Ética das Histórias-em-quadrinhos) que impôs umasérie

65
derestriçõesàs historietas, todas as revistas da EC, com exceção da
satírica MAD, assim como de outras editoras, entre as quais as da
Fiction House, foram canceladas. Osgibis, então, mergulharam num
completo marasmo. Nesta época, apareceram diversas revistas ro-
mânticas, muitos super-heróis saíram de linha e a maior parte da
produção caiu nas mãos de péssimosroteiristas e inábeis desenhis-
tas. A ficção científica praticamente desapareceu das bancas de jor-
nais — a mesmacoisa se aplicando ao horror —, ficandorestrita a
algumas poucas publicações da DC, das quais se destacam Strange
Adventures, quecirculou de agosto-setembro de 1950 a outubro-no-
vembro de 1973, num total de duzentose quarenta e quatro edições,
e Mystery in Space, publicada de abril-maio de 1951 a setembro de
1966 (cento e dez números). Entre os argumentistas destas revistas,
tivemos John Broome, Sid Gerson e importantes autores das pulps,
tais como Otto Binder, o prolífico Gardner Fox, Edmond Moore
Hamilton (1904-1977) e Henry Kuttner. Quanto aos desenhistas,
podemos destacar, entre outros, Murphy Anderson, Sy Barry, John
Giunta, Jerry Grandenetti, Sid Greene, Carmine Infantino, Gil Ka-
ne, Jack Kirby, Joe Kubert, Jim Mooney e Bob Oskner.
A DC foi a responsável pela criação de um dos marcos das
histórias-em-quadrinhos de ficção científica, Adam Strange —his--
torieta, infelizmente, muito pouco apreciada e divulgada em nosso
país —, que fez sua primeira aparição em Showcase número 17, em
novembro-dezembro de 1958, com roteiro de Gardner Fox e dese-
nhos de Mike Sekowsky. Grande parte dos argumentos desta série
coube a Fox; entretanto, com relação às ilustrações, ela só [oi en-
contrar seu perfeito ilustrador em Carmine Infantino.
Infantino, um nova-iorquino, nascido em 24 de maio de 1925,
desde cedo interessou-se pelos quadrinhos e estudou Arte na Scho-
olofIndustrialArts e naArt Students League. Iniciou-se na profissão
de desenhista de histórias-em-quadrinhos ilustrandoJack Frost, pa-
raa Timely, em 1942. Quatro anos depois, entrou para ostaff da DC.
Dono de um estilo elegante, suave e totalmente pessoal, encontrou
em Adam Strange a oportunidade de mostrar sua imensa criativida-
de e talento.
O personagem central desta historieta, que sempre contou
com arte-final de Murphy Anderson ou Joe Giella, é Adam Strange,
um jovem arqueólogo, que encontrara o tesouro perdido dos Incas,
nas selvas do Peru. Perseguido pelos indígenas guardiães do local,
vui-se, inesperadamente, apanhado no meio de um intenso fulgor.
De imediato, encontrou-se em outra selva, onde se deparou com

66
umabela garota, Alanna, que falava umalíngua totalmente desco-
nhecida para ele. A moça, então, fez-lhe sinal para que a seguisse;
eles cruzaram a mata e chegaram em umafantástica cidade queela
chamou de Ranagar —, mas, até aí, Adam não entendia nada do
que Alanna falava. Só passou a compreender a linguagem usada por
ela e pclos demais habitantes de Ranagar, ao utilizar o Mentaliza-
dor, um aparelho inventado pelo pai da moça, o cientista Sardath.
Aos poucos, Adam compreendeu o que lhe acontecera: fora colhi-
do pelo raio Zeta, enviado à Terra por Sardath; e transportado para
Rann, um planeta da galáxia Alpha Centauro,distante de nós vinte
e cinco trilhões de milhas. Adam e Alanna logo se apaixonaram e
ele tornou-se o principal protetor de Rann; apesar de não possuir
super poderes, lutou contra todo e qualquer tipo de inimigoe inva-
sor, como os Conquistadores de Cristal, os Demônios de Areia e os
Pirilampos Gigantes. Adam e Alanna casaram-se, numa cerimônia
realizada na Justice League ofAmerica 121, o que contribuiu para a
aposentadoria do herói.
À DC, igualmente, devemos o aparecimento de:
Challengers of the Unknown (Os Desafiantes do Desconhcci-
do), um quarteto pesquisadorde fatos estranhos, formado por Ace
Morgan, um piloto e chefe do grupo; Professor Haley, um cientista;
Red Ryan, um acrobatade circo, alpinista e perito em eletrônica; e
Rochy Davis, campeão de luta-livre — criados por Jack Kirby, Os
Desafiantes do Desconhecido [oram introduzidos na revista Show-
case número 7 (1957), ganhando em abril-maio de 1958 um gibi só
para cles, Challengers of the Unknown, que deixou de ser publicado
em junho-julho de 1978 (oitenta e sete edições) —;
Os Aventureiros das Estrelas, cuja formação é: Homer Glint,
famoso caçador e escritor; Karel Sorensen, rainha da beleza e
campeã de tiro; e Rick Purvis, um atleta — Os Aventureiros das
Estrelas teve Gardner Fox, por argumentista, e Sid Greene, por
descnhista —;
The Doom Patrol (A Patrulha do Destino ou Patrulha da Lei),
formada por Cliff Steele, ex-piloto de corridas de automóveis, cujo
corpo ficou totalmente carbonizado num acidente, só restando in-
tacto o cérebro, que foi transferido para um robô, tornando-se o
Homem Robô; Larry Traynor, o Homem Negativo, um ser radioa-
tivo que tem a velocidade da luz; Rita Farr, a moça elástica — Rita
teve sua carreira como atriz interrompida quando inalou uma
estranha fumaça vulcânica, que lhe deu o poder de aumentar ou
diminuir de tamanho —; e o Chefe, o cientista que concebeu o Ho-

67
mem Robô e que depois reuniu este grupo de proscritos e margj-
nalizados da sociedade — pouco se sabe a seu respeito, a não ser
que é um gênio e que chefia a Patrulha do Destino de sua cadeira
de rodas —. Apesar de rejeitados pelo mundo,2 Patrulha do Des-
tino o protege contra os inimigos;
Captain Comet (Capitão Cometa);
Léo Futuro, o coronel da Patrulha do Espaço; e
Metal Men (Os Homens Metálicos), um grupo — o desajeitado
Chumbo,o troncudo Ferro, o vulnerável Lata, o comprido Mercú-
rio, o elegante Ouro a sinuosa Tina — criado pelo Doutor Magnus.

OS ANOS 60

Se a década de 50 foi o período áureo das novelas gráficas —


termoutilizado por Jean-Pierre Dionnet, em 4 Ficção Científica e
os Comic Books, para designar as histórias-em-quadrinhos curtas €
que não apresentavam hcróis regulares, sendo uma espécie de con-
tos ilustrados —, a década seguinte assistiu a volta à fórmula dos
anos 40, isto é, o retorno dos super-heróis. O grande responsável
por isto foi Stanley Lieber, mais conhecido como Stan Lee.
Stan Lee nasceu em 1922, em Nova York. Aos dezessete anos,
entrou na indústria dos gibis, como redator da Timely Comics —
esta editora, transformada, mais tarde, em Atlas Comics e,atual.
mente, recebendo o nome de Marvel Comics, é uma das maiores
produtoras de comic books dos Estados Unidos, encontrando uma
concorrencia à altura somente na DC —, de propriedade de Martin
e Arthur Goodman — hoje, a Marvel é pertencente ao Andrews
Group —. Em 1942, quando Jack Kirby e Joe Simon,os redatores-
em-chefe da Timely, transleriram-se para a DC, Stan tomou-lhes o
lugar e, pouco a pouco, galgou todos os cargos da empresa — na
atualidade, é o editor da Marvel —. Hábil roteirista, escreveu de
tudo, desde histórias de faroeste a historietas românticas. Contudo,
especializou-se nos super-heróis, ganhando porisso o título de O
Homero do Século XX, renovando por completo o tema, tornando-
os figuras mais humanas, com problemasexistenciais, financeiros €
até mesmosentimentais.
A revolução empreendida por Stan Lee no mito dos super-he-
róis iniciou-se em novembro de 1961, com a publicação do primeiro
número de The Fantastic Four (Quarteto Fantástico ou Os Quatro
Fantásticos). A partir desta revista seguiram-se diversas outras, nas
quais os personagens possuíam, mais ou menos, características fan-
tásticas, com alguns pendendo realmente para a ficção científica.

68
E com relação às médias e pequenas editoras norte-america-
nas? O que acontecia com elas, em relação aosgibis de antecipação?
A Charlton Comics, quena década de50 lançara Mysteries of Unex-
plored Worlds (abril de 1956), Space Adventures (1952) e Strange
Suspense Stories (junho de 1952), três imitações baratas das revistas
da EC, valorizadas apenas por conterem trabalhos de Steve Ditko,
nosanos 60 mergulhou também na onda dossuper-heróis, valendo
destacar Captain Atom (dezembro de 1962), onde temosSteve Dit-
ko comoroteirista e desenhista e, de passagem, alguns elementos
de ficção científica. Já a Dell Publishing Company, editou Brain Boy
(abril-junho de 1962), com arte de Gil Kane; e a Gold Key foi a
responsável pelo lançamento de Magnus Robot Fighter 4.000 A.D.
(Magnus), em fevereiro de 1963. Porém, estas revistas não passaram
de sua décima edição, com exceção de Magnus, que foi cancelada
em janeiro de 1977, em seu número 46.

A PRODUÇÃO ALTERNATIVA

Noscomix, as publicações underground norte-amcricanas,ti-


vemoso aparecimento dos magazines Magic Carpet (Comics & Co-
mix); Mayhem (Kelva Communications); Imagine e Star Reach, am-
bos da Star Reach Productions; e, entre muitos outros, Witzend
(Wonderful Publishing Empire). Nestas revistas, encontramos algu-
mashistorietas de ficçãocientífica, merecendo destaque o trabalho
de Frank Brunner; Howard Chaykin (Cody Starbuck); Jim Starlin;
e Mike Friedrich (roteiro) e Dick Giordano (desenhos), em Stepha-
nie Starr. Todos estes quadrinhistas vieram das grandes editoras;
entretanto, optaram pelos comix, para apresentar algo de novo ao
público, o mesmo acontecendo com Steve Ditko, ao realizar Aven-
ging World e Mr. A, para revistas underground. Entre os fanzinistas
puros, temos Brent Anderson, que possui um estilo de desenho bem
próximo do de Gray Morrow; Raye Horne; Marcia Martin; Jim Pin-
koski, o realizador de Addam Blaise, uma historieta inspirada em
Adam Strange; Eric Vanicoff; e, entre muitos outros, Mal Warwick.

O PRESENTE E O FUTURO

Nos anos 70, os comic books não apresentaram nada de espe-


cial, pelo menos no quese refere à ficção científica; aliás, particu-
larmente acreditamos que os gibis morreram no início da década de
70, quando terminou a Segunda Idade de Ouro dos Gibis (1961-

69
1973) — a primeira foi de 1937 a 1945 —, porém, comodisse Jean-
Pierre Dionnet, em artigo já citado, “antes de morrerem,os super-
heróis tiveram scucanto decisne através da DC, graças a Jack Kirby,
editor, autor e desenhador de umatentativa sem precedentes: qua-
tro comic books que desenvolveram outras tantas facetas de um
mesmo tema — luta de todas as criaturas de boa vontade contra
as forças do Mal”. Além destes quatrogibis de Jack Kirby, Forever
People (fevereiro-março de 1971); New Gods (fevereiro-março de
1971); Mister Miracle (março-abril de 1971); e Superman's Pal Jim-
my Olsen (Os Amigos do Super-Homem: Míriam Lanee Jimmy OlI-
sen), com histórias da Newsboy Legion (Legião Jovem), cabe ressal-
tar Kamandi e Starfire (Galax). .
Kamandi, the Last Boy on Earth (Kamandi, o Ultimo Rapaz
sobre a Terra) surgiu em outubro-novembro de 1972, num gibi pró-
prio, editado pela DC, com roteiro, desenhose supervisão de Jack
Kirby. Num futuro bem distante, a Terra está devastada pela guerra
atômica e, devido à radioatividade, os sobreviventes passaram a ha-
bitar o interior de nosso planeta; para tanto, organizaram-se em
núcleos comunitários, denominados Comandos, e lá passaram a vi-
ver, sem coragem de subirà superfície. Porém, um dia, um dos des-
cendentes desta raça de homens subterrâneos, o jovem Kamandi,
decide visitar o mundo aqui de cima. Umavczna superfície, encon:
tra tudo em ruínas e dominado pelos animais, como cães, lcões,
lobose tigres, com os homenssendo considerados comoseres infe-
riores poreles. A partir do número 41, Kamandi coubc a Stevc En-
glchart, Jack C. Harris e Denny O'Neil (argumentos) e Alíred P.
Alcala, Manucl Auad, Dick Ayres, Ernie Chuae, entre muitos ou-
tros, Keith Giffen (desenhos).
Galax é uma jovem de dezoito anos,filha de mãe branca pai
amarelo, nascida em um mundo devastado pelos conílitos. Nesta
época, num futuro não muito remoto, os homenssão caçados pclos
mygorgs, uma raça de monstros trazidos de outra dimensão pelo
clero, para auxiliarem na gucrra centre duas supcr-potências. Porém,
os adversários Lrouxeram Os yorgs, Os inimigos naturais dos my-
gorgs. Logo, os mygorgs compreenderam quem mantinha o poder
no plancta e revoltaram-se contra os seres humanos,transforman-
do-os em seus escravos. A sociedade humana foi esmagada, seus
conhecimentos se perderam e uma parte dela se tornou proscrita,
como Galax, passando a lutar contra a tirania dos mygorgs e yorgs,
que escravizavam os homens e os mandavam para morrerpor eles.
Galax, uma heroína de fartos seios e roupas provocantes, estre-
ou nos quadrinhos numarevista própria, Starfire, da DC, em agos-

70
6 DC Comics Inc.
to-setembro de 1976. Contudo, ela não foi aprovada pelo Código
de Ética das Histórias-em-Quadrinhose seu gibi deixou decircular
no número 8 (outubro-novembro de 1977). Tom DeFalco, Elliot S!
Maggin e David Micheline se encarregaram de suas histórias; en-
quanto Vince Colletta, Robert Smith e Mike Vosburg, dos desenhos
e da arte-final. A supervisão geral coube ao veterano Joe Orlando.
Bem,isto é tudo o que podeserressaltado de ficção científica
nosgibis. Algumas coisas foram deixadas, fatalmente, de lado, ou
por nosso desconhecimento ou por serem mera repetição de histó-
rias já citadas. Entretanto, ao analisarmos 0 imenso universo dos
comic books, concordamos plenamente com as palavras de Jcan-
Pierre Dionnet: os gibis estão morrendo.E o queos estão matando?
Saturação do público? Talvez. Preferência dosleitores por outros
meios de comunicação, comoa televisão, onde tudo já vem masti-
gado? Talvez. As imposições do Código de Ética das Histórias-em-
Quadrinhos” Talvez. Mas, acreditamos que o principal fator resida
na falta de idéias dos roteiristas e desenhistas, que a partir da dé-
cada de 70 passaram a produzir quase que exclusivamente historie-
tas de super-heróis, estereotipando-as demais. Após o baque sofri-
do nosanos50, osgibis se revigoraram com a injeção de ânimo
por Neal Adams, Eugene (Gene) Colan, Dick Giordano, Jack Kir-
by, Stan Lee, Denny O'Neil, Frank Robbins, John Romita e James
(Jim) Steranko,entre tantos outros, que os elevaram novamente à
condição de arte. Entretanto, após estes homens, o que tivemos?
Mais nada, a não ser o apareciemnto de um ou outro expoente,
como Haward Chaykin, Mike Grcell, Michael Kaluta, Barry Windsor
Smith, Roy Thomas e Berni Wrightson, que mostraram realmente
um trabalho de bom nível. Por isso, mais de umavez, frisamos: não
só os gibis de ficção científica morreram, mas os comic books como
um todo estão com seus dias contados!

ALGUNS OUTROSGIBIS DE FICÇÃO CIENTÍFICA

ALF (ALF)
Marvel Comics Group
Março de 1988 — Continua
Ficção científica humorística, narrando as aventuras ou melhor
as desventuras de um extra-terrestre, Alf, aqui na Terra.

72
ALIEN LEGION
Epic Comics
1988 — Continua

ROCKETS AND RANGE RIDERS


Richfieid Oil Corp.
1957 (número promocional)
Arte de Alex Toth.

ROCKET SHIP X
Fox Features Syndicate
Setembro de 1951

ROCKET TO THE MOON


Avon Periodicals
1951
Adaptação da novela Mazaofthe Moon, de Otis Aldebert Kli-
ne, com desenhos de Joe Orlando.

SCIENCE COMICS(1º séric)


Fox Features Syndicate
Defevereiro de 1940 a setembro de 1940 (oito números)

SCIENCE COMICS (2º série)


Fox Features Syndicate
1946 (cinco números)

SCIENCE COMICS(gibi canadense)


Export Publication Ent.
Março de 1951

SIX MILLION DOLLAR MAN (O HOMEM DE SEIS MI-


LHÕES DE DÓLARES)
Charlton Comics
De junho de 1976 a outubro de 1977 (cinco números)
Historictas com o personagem das novelas de Martin Caidin e
quefoi vivido num seriado detelevisão pelo ator Lee Majors. Quan-
do o material norte-americano terminou, a Bloch Editores, do Rio
de Janeiro, que publicava a revista no Brasil, encomendou a Rubens
Francisco (R. F.) Lucchctti (roteiros) e Mário Lima (desenhos), a
produção de novas histórias.

73
CAMELOT 3000 (CAMELOT 3000)
DC Comics Inc.
A nosso ver, a mais bem concebida historieta de [antasia e fic-
ção científica para gibis, dos anos 80. O Rei Arthur e sua esposa,
Guinevcre; os cavaleiros da Távola Redonda; Merlin, o mago; e a
mcia-irmã de Arthur, Morgana Le Fey, ressurgem no século XXX,
quando a Terra está sendo invadida por alienígenas e parece imi-
nente a destruição da Inglaterra.
Roteiros de Mike W. Barr e desenhos de Brian Bolland.

Capa do 1º volume dir sério Cermelor 4000


e DO Comies Inc.
SLASH (SLASH, O GUERREIRO DO APOCALIPSE)
DC Comics Inc.
1988 (seis números)
Mini-série produzida por Paul Gulacy, na qual vemos diversas
citações cinematográficas, mais precisamente aos filmes Guerra nas
Estrelas (Star Wars, 1977), de George Lucas; Psicose (Psycho,
1960), de Sir Alfred Hitchcock (1899-1980); e à série de fitas Sex-
ta-Feira 13, entre outros.
ATTACK ON PLANET MARS
Avon Periodicals
1951
Adaptação da novela Tarrano the Conqueror, de Ray Cum-
mings, ilustrada por Carmine Infantino, Joe Kubert e Wallace
Wood.
CAPTAIN FLIGHT COMICS
Four Star Publications
De março de 1944 a feverciro-março de 1947 (onze números)
CAPTAIN ROCKET
Fox Features Publications
1950
CAPTAIN SCIENCE
Youthful Magazines
De novembro de 1950 a dezembro de 1951 (sete números).
Apresentou trabalhos de Joe Orlando e Wallace Wood.
CRUSADER FROM MARS
Ziff-Davis Publications Co.
Dejanciro-março de 1952 ao outono dc 1952 (dois números)
DOCTOR SOLAR, MAN OF THE ATOM (SOLAR, O HO-
MEM-ÁTOMO)
Gold Key
De outubro de 1962 a abril de 1969 (vinte e sete númcros)
AN EARTH MAN ON VENUS
Avon Periodicals
1951
FORBIDDEN WORLDS
Americam Comics Group
Dejulho-agosto de 1951 a agosto de 1967 (cento e quarenta c
cinco números)

75
FROM BEYOND THE UNKNOWN
DC Comics Inc.
De outubro-novembro de 1969 a novembro-dezembro de 1973
(vinte e cinco números)
LARS OF MARS
Ziff-Davis Publications Co.
De maio-junho de 1951 a julho-agosto de 1951 (dois números)

LOST WORLDS
Standard Comics
De outubro de 1952 a dezembro de 1952 (dois números)
Desenhos de Mike Sekowsky e Alex Toth.

MAN O' MARS


Fiction House Magazines
1953

OUT OF THIS WORLD


Avon Periodicals
junho de 1950
Trabalhos de Joe Kubert. A

OUT OF THIS WORLD


Charlton Comics
De1957 a 1960 (dezesseis números)

RACE FOR THE MOON


Harvey Publications
De março de 1958 a novembro de 1958 (três números)
Trabalhos de Jack Kirby, Robert (Bob) Powell e Al William-
son.

ROBOTMEN OF THE LOST PLANET


Avon Periodicals
1952

ROCKETMAN
Ajax/Farrell Publications
1952

76
Mini-séric produzida por Paul Gulacy, na qual vcmosdiversas
citações cincmatográficas, mais precisamente aos filmes Guerra nas
Estrelas (Star Wars, 1977), de Gcorge Lucas; Psicose (Psycho,
1960), de Sir Alfred Hitchcock (1899-1980); e à séric de fitas Scx-
ta-Feira 13, entre outros.
SPACE ACTION
Ace Magazines
De junho de 1952 a outubro de 1952 (três números)
SPACE BUSTERS
Ziff-Davis Publications Co.
Do verão de 1952 ao outono de 1952 (três números)
SPACE DETECTIVE
Avon Periodicals
De julho de 1951 a julho de 1952 (quatro números)
SPACE: 1999
Charlton Comics
Dc novembro de 1975 a novembro de 1976 (sete númcros)
Quadrinização do scriado de televisão, com descnhos dec Joc
Staton e Gray Morrow.

SPACE PATROL
Ziff-Davis Publications Co.
Do vcrão de 1952 ao outono de 1952 (dois números)
Trabalhos de Bernard Krigstcin.
SPACE WESTERN COMICS
Charlton Comics
De outubro de 1952 a agosto de 1953 (cinco númcros)

STAR TREK (JORNADA NAS ESTRELAS)


Gold Key
Revista iniciada cm julho de 1967, aproveitando o sucesso da
séric da televisão.

STAR WARS (GUERRA NAS ESTRELAS)


Marvel Comics Group
O primciro número deste gibi, desenhado por Howard Chay-
kin, foi para as bancas cm julho de 1977, conhecendo junto aoslci-
tores o mesmo êxito do filme de Gcorge Lucas.

mn
STRANGE WORLDS
Marvel Comics Group
De dezembro de 1958 a julho-agosto de 1959 (cinco números)
UNKNOWN WORLDS OF SCIENCE FICTION ( formato
20,5 X 27,5 cms., em preto e branco)
Marvel Comics Group
De dezembro de 1974 a novembro de 1975 (seis números)
VIDEO JACK
Epic Comics
1988 — (Seis números)
WEIRD TALES OF THE FUTURE
S.P.M. Publications/Aragon Publications/Stanmor Publications
De março de 1952 a julho de 1953 (oito números)
Trabalhos de Basil Wolverton.
WEIRD WORLDS
DC Comics Inc.
Deagosto-sctembro de 1972 a outubro-novembro de 1974 (dez
números)
Apresentou as quadrinizações das novelas John Carter e Pellu-
cidar, de Edgar Ricc Burroughs c desenhos de Sal Amendola, Mur-
phy Anderson, Michacl Wm. Kaluta, Gray Morrow e Joc Orlando.

AVENTURA E FICÇÃO — magazinc, no formato Veja, edita-


do pela Editora Abnil e cuja publicação iniciou-se em 5 de setembro
de 1986. A partir de janeiro de 1989, quando passou a ter como
redatora-che[fe Monica Beatriz Hagstrôm B. Santos, deixou de ape-
nas estampar matcrial proveniente da Marvel norte-americana,pa-
ra dar também esppaço às histórias-cm-quadrinhos de artistas cu-
ropeus,entre os quais Florenci Clavé, Milo Manara e Víctor Mora,
bem como a quadrinhistas latino-amcricanos,valendo destacar Al-
berto Breccia, além de conceder oportunidade aos artistas nacio-
nais, tais como Flávio Calazans — editor dc 4 Barata, a maisantiga
revista brasileira de quadrinhosalternativos —, Luiz Gustavo, E. C.
Nickel, Watson Portela, Franco de Rosa e os Deodatos(pai c filho),
de mostrarem um pouco de seus trabalhos aoslcitores de sua terra
natal. Infelizmente, Aventura e Ficção deixou de circular em seu
número vinte e um (janeiro de 1990).

78
A ERA METALZÓICA — romance gráfico produzido por Pat
Mills (texto) c Kevin O'Neill (desenhos), para a DC. No Brasil foi
editado em março de 1989, na Graphic Novel 9.

LEGIÃO ALIEN — outro romancegráfico, desta vez editado


originalmente pcla Marvel. Realizado por Carl Potts e Alan Zcle-
netz (criação) — Zelenctz ocupou-se, igualmente, do roteiro —,
Frank Cirocco (cor). Entre nós, apareceu cm Graphic Novel 15 (se-
tembro de 1989).

ARENA — romance gráfico inteiramente produzido por Bru-


ce Jones — o artista Paul Mounts apenas coloriu —, para a Marvel.
Em nosso país foi publicado na Graphic Novel 18 (dezembro de
1989).
STORM — história-cm-quadrinhos de origem holandesa,
escrita c desenhada por diversos artistas, valendo destacar Saul
Dunn e Dick Matcna (roteiros) e Don Lawrence (desenhos). Até
agora, foram editados scis números.

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Ano 2000, capa do nº
80 CC APC Magazines Td
A FICÇÃO CIENTÍFICA NAS
HISTÓRIAS-EM-QUADRINHOS
INGLESAS
Os quadrinhos ingleses para jornais, com raras exceções, são
de alta qualidade, tanto no que sc refere ao texto, quanto no que
diz respeito aos desenhos. Para tanto, tomcmos como exemplos as
tiras Gun Law (Matt Dillon), de Harry Bishop, e Modesty Blaise, de
Peter O'Donncllc James (Jim) Holdaway (1927-1970), verdadeiros
clássicos nos gêneros que representam,o faroeste e a espionagem,
respectivamente.
Em 1932, Harry Guy Bartholomcw, editor do jornal londrino
Daily Mirror, ansioso por estabeleceras histórias-em-quadrinhosin-
glesas nos mesmos moldes das norte-americanas,ou seja, em tiras
diárias, encontrou um jovem de talento, Norman Pett, para dar iní-
cio a este sonho. Assim, cm 5 de dezembro de 1932, iniciou-se Jane's
Joumal, the Diary of a Bright Young Thing (Jane Pouca-Roupa), de
Pett, a primeira daily strip inglesa a conquistar popularidade junto
ao público. No dia 24 de julho de 1943, o mesmo Mirror estampou
a tira inicial de Garth, apontada por muitos quadrinhólogos, entre
os quais Denis Gilford, como a equivalente inglesa de Super-Ho-
mem. Porém, scu criador, Stephen P. (Steve) Dowling, certa vez,
numa entrevista que concedeu ao próprio Gifford, desmentiu isso,
alegando que não se inspirou na criação de Siegel e Shuster, mas
em Terry and the Pirates (Terry e os Piratas), de Milton Caniff (1907-
1988).
Garth é um personagem misterioso, de corpo atlético e louro.
Sobre seu passado, nada se sabe; em seu primeiro episódio, surge

81
no Tibete, vagando, semi-inconscicnte, pelo occano, numajangada.
Gala, uma nativa, que seria a primeira das muitas manoradas de
Garth, é quelhe restitui as forças, através de um beijo. Entretanto,
nosso herói pouca atenção dá a seus romanccs, uma vez que tem
todo o tempo tomado pelas lutas constantes com lobisomens, mons-
tros e seres alicnígenas, além dasviagens pelo espaço-tempo. Garth,
devido aos temas de suas histórias, se aproxima muito mais de Brick
Bradford; inclusive, como Brick ou Flash Gordon, possui um cicn-
tista, o Doutor Lumiêre, como amigo e mentor.
Após a saída de Dowling da série, em 1957, ela foi continuada
por John Allard. Em 7 de dezembro de 1971, Allard cedeu seu lugar
a Frank Bellamy (1917-1975), que revitalizou o personagem. Com
a morte de Bellamy, Garth passou às mãos de Martin Ashbury.

JEFF HAWKE

JeffHawke, de Sidney Jordan, começou a ser publicada em 15


de fevereiro de 1954, nas páginas do Daily Express. Jeff, astronauta,
engenheiro astronáutico c coroncl da Royal Space Force (RSF), ten-
do como companheiro de aventuras um canadense de nome Mcle-
an, mais conhecido como Mac, ao longo de vinte anos — JeffHawke
deixou de circular em 18 de abril de 1974 —, envolveu-se com belas
e voluptuosas alienígenas, merecendo destaque Vesta e Cio-Kon-
dar, que adquire a forma feminina que quiser, inclusive, transfor-
mando-se na Monalisa; desvendou velhos mistérios extra-tgrres-
tres, entre os quais o de Nessie, o Monstro do Lago Ness; e viajou
várias vezes à Lua.

DANIELLE

Danielle, uma realização de Jonh M. Burns e R. O'Neill, apa-


receu nosjornais britânicos nos anos 70.A história da loura Danielle
começa com ela exilada, pela própria mãe, no estranho planeta de
Velarmos. Nofinal, ficamos sabendo que a Grande-Sacerdotista
Velvena, mãe de Danielle, não passava de um robô; a verdadeira
Velvena havia sido assassinada ao tentar perdoar filha. O crime
de Danielle fora amar um homem, Zobal, algo terminantemente
proibido em Janus, seu planeta natal, onde os homensexistem ape-
nas como objetos de prazer. Nos episódios subsequentes, Danielle
envolveu-se em diversas aventuras espaço-temporais, inclusive vin-
do à Terra.

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AXA

Axa é umaterrestre do ano 2080.Poressa época, nosso mundo


já sofreu uma guerra atômica total. Para os humanos, só existem
dois locais para se viver: a Cidade Coberta, na qual tudo é esterco-
tipado e esterclizado pela alta tecnologia, ou na Grande Contami-
nação, uma terra bárbara, cruel e hostil. Axa, uma mulher inde-
pendente; feminista, mas dotada de enormefeminilidade; e contcs-
tadora, opta por habitar na Grande Contaminação. Axa, uma versão
futurística de Red Sonja (Sonja, a Guerreira ou Sônia, a Superfêmea
dos Cabelos de Fogo), das novelas de Robert Erwin Howard (1906-
1936), estreou no final da década de 70, com roteiros de Donne
Avenell e desenhos de Romcro.

ANO 2000

Nos anos70,lançou-se na Inglaterra a revista 2000 A.D. (Ano


2000), dedicada exclusivamente à ficção científica. Nela, aparece-
ram, entre outras séries, CARNE — no século XXIII, a Terra está
com falta de carnc, então, um grupo de caçadores,chefiado por Earl
Reagan,recua sessenta e cinco milhões de anos no tempo,até a era
dos dinossauros, em busca de tão precioso alimento —; Dan Dare,
uma das mais populares historictas inglesas; Os Heróis do Harlem
— por volta do ano 2000, o aerobol, um misto de basquetebol, fu-
tebole kung-fu, com os competidores voandoatrás da bola pof meio
de jatos às costas, acionados por bolões que trazem nos cintosé um
esporte que conquistou o público —; Invasão!, na qual a Grá-Bre-
tanha, em 1999, é invadida pelos asiáticos; Judge Dredd (O Juiz Im-
placável), passada na Nova York de 2099, infestada de criminosos,
que têm no Juiz Dredd — por esta época, os juízes são policiais
eleitos pelo povo para imporem a Lei —, seu mais cruel e ferrenho
inimigo; e M.4.C.H. 1, onde um homem, ativado por uma forma
computadorizada de acupuntura, tem uma força de cinquenta ho-
mens, € luta contra os terroristas.
EDGAR PIERRE JACOBS E A
FICÇÃO CIENTIFICA

A ficçãocientífica já recebeu várias definições, conforme po-


demosverificar a seguir:
“É uma narrativa em prosa que trata de umasituação que não
podcria se apresentar no mundo que conhecemos, mascuja existên-
cia se funda sobre a hipótese de uma inovação qualquer,de origem
humanaou extraterrestre, no domínio da ciência ou da tecnologia,
ou melhor, da pseudociência ou da psedotecnologia”. Kingsley
Amis
“O que eu e muitosescritores do gênero temosfeito é escrever
a história das idéias dos homens, desde o momento em que saímos
das cavernas.A história da humanidade é a história da criatura que
aprendeu a sobreviver com idéias, sonhos e conceitos. Tudo isso é
ficção científica que sc tornou realidade. Nós progredimos de um
patamar para outro”. Ray Bardbury
“Ficção científica é a extrapolação de algum feito científico.”
Robert A. W. Lowndes
“Ficção científica é a literatura da imaginação disciplinada”.
Judith Mernill
Entretanto, coube ao quadrinhista Edgar Pierre Jacobs dar a
mais completa definição do gêncro: “A ficção científica é uma pre-
figuração das realidades científicas do amanhã... ou uma extrapo-
lação romanceada das teoriascientíficas de hoje... ou simplesmente
uma história de aventuras onde o homem e seus problemasde todos
os dias se encontram colocados num ambiente insólito ou perante
uma situação irracional... Tendo eventualmente, em filigrana, uma
certa moral (a das fábulas, evidentemente). (...) A ficção científica

85
é um sonhocientífico que ocupou lugar das lendas antigas. Pode-
mos dizer que se trata do maravilhoso moderno. O homem teve
sempre necessidade, de forma consciente ou não, do maravilhoso,
pois a vida cotidiana, estritamente utilitária, não lhe basta. E como
é difícil acreditar hoje nos contos de fadas, a ciência, presente por
toda parte, surgiu como sua substituição. Deste modo, o foguete
espaço-temporal ocupa o lugar do cavalo alado e do tapete voador,
enquanto a toca dos mágicos transformou-se nolaboratório secreto
de mil luzescintilantes e os gigantes, ogres e dragões fabulosos sur-
giram como marcianos, selenitas e outros seres extra-terrestres.
Quanto aobeloe valente cavaleiro,ele foi simplesmente reciclado
em super-homens...”. Foi ele, também, quem melhor soubeexplicar
o interesse dosleitores pela ficção científica: “Vivemos numa época
em que a ciência está onipresente em todos os domíniosda ativida-
de humana, nada havendo, portanto, de espantoso no fato de ela
influenciar igualmente a literatura e, em particular, a literatura de
expressão gráfica. Deste modo,o lcitor, que antigamente procurava
a aventura, o fantáslico ou o mistério em regiões longínquas, nos
castelos enfeitiçados ouno covil dos mágicos, sente hoje as mesmas
emoções ao seguir o autor até Alpha-Centauro, a bordo de uma
nave espaço-temporal ou a penctrar no segredo dos laborató-
rios!...”.
Os dados sobre o nascimento de Edgar Pierre Jacobs são
escassose totalmente controversos. Alguns autores afirmam que ele
nasceu em 1904; outros em 1908, em Bruxelas (Bélgica) ou um
de seus subúrbios. Aos doze anos de idade, durante a Primeira
Guerra Mundial, travou contato, pela primeira vez, com umajópera,
ao assistir, no Théátre des Galeries, a uma apresentação de Fausto
(Faust, 1831), de Johann Wolfgang Goethe (1749-1832). Sentindo-
se atraído poreste tipo de espetáculo, tornou-se barítono de ópera,
atuando no Théátre Royal de la Monnaie, em Bruxelas, e, maistarde,
em algunsteatros da França. Todavia, a ocupação deste país pelos
nazistas, no decorrer da Segunda Guerra Mundial, cortou sua car-
reira teatral. Jacobs precisou, então, arrumar outro emprego, enve-
redandopara o desenho. Ele próprio conta como foi o início de seu
trabalho comoilustrador: “Encontrei o diretor artístico de Bravo.
Bravo era o equivalente, se assim se pode dizer, de Tintin, tendo
uma liragem de trezentos mil exemplares antes da guerra, o que
representava umacoisa fantástica; era uma revista muito disputada.
Então, contrataram-me para [azer ilustrações de contos e novelas
e, como eu conhecia bem a história do vestuário, encontrava-me à
vontade no papel de ilustrador... Num certo momento, começou a

86
TST
EEE ANSvopaz
a

E&= O RAIO
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E STE novo álãRPA não é um álbum


Major WALTON novo. a
Tem mesmof TÁ nto so ses con
teúdo, mais d Ra anos de idade.
A apresentação Às técnicas de im-
pressão mode vivam por certo
o seu brilho. | ] não transformam
nem o espirito. En o estilo. nem o
entusiasmo (co &n tudo nada de In

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e Tditions dic DLombard 87


se publicar neste semanário uma história de ficção científica que
era umadas primeiras a scr divulgada na Europa e que se chamava
Flash Gordon, de Alex Raymond. Era uma famosa série americana
que tivera enorme êxito, mas fora inesperadamente suspensa devi-
do à entrada dos Estados Unidos na guerra. Pediram-me, então,
como tinha havidoessa interrupção,para retomara continuação de
Flash Gordon, O aspecto cômico do caso é que eu não fazia a mcnor
idéia do argumento original”,
Apósfinalizar Gordon L'Intrepide (nome dado a Flash Gordon,
por Bravo) e tendo tomado gosto pela antecipação, Jacobs conce-
beu Le Rayon U (O Raio U), publicada do número 5 ao 52 do ter-
ceiro ano de Bravo (1943) e do número 1 ao 15 do quarto ano de
Bravo (1944). Nas primeiras pranchas de O Raio U, Jacobs estava
ainda muito preso à obra de Alex Raymond,tanto na criação dos
ambientes, quanto na elaboração dos personagens. As armas, as
espaçonaves, as florestas e os palácios mostrados em O Raio U pa-
recem ter sido tirados de uma página de Flash Gordon. Flash tor-
nou-se Lorde Calder; Dale, Sylvia; o Doutor Zarkov, Professor
Marduck; e Ming transformou-se em Imperador Babilos III, da
Austrádia. Porém, aos poucos, Jacobsfoi abandonando seus víncu-
los com a historicta norte-amcricana, para criar um trabalho artís-
tico pessoal, aproximando-se das novelas O Mundo Perdido (The
Lost World, 1912), de Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) e Viagem
ao Centro da Terra (Voyage ao Centre de la Terre, 1864), de Júlio
Verne. Com toda a certeza, a melhor crítica a O Raio U foi a dada
pelo quadrinhólogo português Vasco Granja: “Le Rayon U é da-
quelas histórias em que o leitor deve mergulhar sem qualquer pre-
conceito, descobrindo, à sua própria custa, o tema constlantc na
obra de Jacobs: a procura da luz (ou seja, do conheciment D) por
homens que travam permanentemente uma dura batalha contra as
forças poderosas atuando nas trevas”.
Além de sua colaboração com Bravo, Jacobs igualmente [ez
numerosas ilustrações para revistas de vida curta, entre as quais
A.B.C., Bimbo, Lutin e Stop. Também desenhou os cenários ou co-
loriu algumas das aventuras de Tintin, de Hergé. Em 1946, Leblanc,
um jovem editor belga, desejava lançar umarevista semanal de his-
tórias-em-quadrinhos, cujo princípio maior era “instruir divertin-
do”; assim, em 26 de setembro de 1246, publicou-se o número inau-
gural desta nova publicação que recebeu o nomeda criação dc Her-
gé, Tintin. Por um par de anos, Hergé, Jacobs e outros dois quadri-
nhistas belgas, Paul Cuvclier (1923-1978) e Laudy, encarregaram-se
sozinhos da feitura de Tintin. Neste período, Jacobsilustrou a adap-

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Dalitior du Combiard 89
tação de H.D. Davray do romance 4 Guerra dos Mundos (The War
of the Worlds, 1898), de H. G. Wells, aparecida do número 1 do
primeiro ano de Tintin ao número 15 do segundo ano (17 de abril
de 1947), além decriar os dois personagens queo celebrizaram:: o
Capitão Sir Francis Percy Blake e o Professor Philip Edgar Angus
Mortimer, em Le Secret de L'Espadon (O Segredo do Espadão).
O Segredo do Espadão, dividida em duas partes, publicadas do
número 1 do primeiro ano ao número 49 do segundo ano de Tintin
(4 de dezembro de 1947) e do número 2 doterceiro ano do mesmo
(8 dc janeiro de 1948) ao número 36 do quarto ano de Tintin (8 de
setembro de 1949), respectivamente — a história completa possui
cento e quarcnta e quatro pranchas a cores —, mostra o mundo
dominado pclo Império Amarelo, governado pelo Imperador Ba-
sam-Damdu, um déspotae usurpador. Mas, nem tudoestá perdido,
umavez que o Capitão Blake, do serviço secreto britânico, e o pro-
fessor Mortimer, um sábio cientista, se opóem a esta dominação.
Mortimer inventa a única arma capaz de destruir a poderosa arti-
lharia e o bem preparado exército de Basam-Damdu, o Espadão,
um fantástico avião semclhante a um pcixe gigantesco, preparado
até mesmo para viajar debaixo da água. Nesta aventura, já aparece
o principal inimigo de Blake e Mortimer, o Coroncl Olrik. Aventu-
reiro sem escrúpulos, gangster notório, hábil na arte dos disfarces,
a própria encarnação do Mal, Olrik, aqui convertido em conselheiro
militar de Basam-Damdu, é uma transposição para os quadrinhos
do sinistro Professor Mariarty, o arqui-inimigo dc Sherlock Hol-
mes. Se em O Raio U a idéia preponderante em toda a obra de
Jacobs, a luta do Bem contra o Mal, fica apenas evidenciada, êm O
Segredo do Espadão ela se mostra de forma clara. E no final desta
história, temos uma mensagem de esperança e otimismono futuro:
por mais que vivamos num regime totalitário, onde os criminosos
imperam, estes bandidostirânicos terão um triste fim e os raios do
sol da justiça e da liberdade um dia voltarão a brilhar.
No número 12 do quinto ano de Tintin (23 de março de 1950),
iniciou-se Le Mystêre de la Grande Pyramide, que terminou no nú-
mero 22 do sétimo ano de Tintin (28 de maio de 1952). Com cla,
Jacobs mostrou outra característica encontrada ao longo de todo
seu trabalho com as histórias-cm-quadrinhos — pequeno em quan-
tidade, mas de qualidade irrefutável —, ou seja, apesar de contar
uma história de aventuras, onde pretende distrair e fazer viajar a
imaginação dos leitores, Jacobs procura igualmente interessar e
despertar a atenção ou a curiosidade destes mesmosleitores, levan-

90
do-os à reflexão. Depois,viria La Marque Jaune (A Marca Amarela,
1953-1954). Nela, fazemos turismo por Londres, passeando pela
Estação de King's Cross, Piccadilly Circus, Oxford Street, Tavistock
Square e pelo Museu Britânico, entre outroslocais interessantes e
bem conhecidos. Porém, apesar da precisão geográfica com que
estão situados estes e os demais lugares, a Londres de Jacobs não
tem nada a ver com a Londresreal. A cidade concebidaporele está
envolta em mistérios, sendo o principal deles um estranho persona-
gem que usa uma enorme capa, um chapéu de abas largas e um par
de óculos que mantêm scurosto oculto e que sempre deixa no local
de seus crimes um M escrito com giz amarelo. Jacobs cria todo um
clima de suspense em A Marca Amarela, na melhor tradição dos
livros de Conan Doyle e de Arthur Henry Sarsheld Ward, mais co-
nhecido como Sax Rohmer (1883-1959). François Riviêre, em Tra-
Jectórias e Labirintos do Medo na Obra de Jacobs,assim se referiu a
A Marca Amarela: “O seu fio narrativo constitui um dos momentos
emotivos mais perfeitos das histórias-cm-quadrinhos, naquilo em
que cataliza um máximo de emoções características da literatura de
mistério, abundando cm referências que lhc dão uma cspessura du-
rável”.
O Segredo do Espadão, Le Mystêre de la Grande Pyramide e À
Marca Amarela, apesar de possuírem algumas pitadas de ficção
científica, pendem muito mais para a aventura — as duas primciras
histórias — e o suspense — A Marca Amarela —. Já L'Enigme de
L'Atlantide (O Enigma da Atlântida, 1955-1956), calcada, como O
Raio U, em O Mundo Perdido c Viagem ao Centro da Terra, inaugura
o ciclo da antecipação, propriamente dita, em Les Aventures de Bla-
ke et Monimer (As Aventuras de Blake e Mortimer), com nossos ami-
gos encontrandoo continente perdido da Atlântida, ao penctrarem
no interior de uma caverna da Ilha de São Miguel, no Arquipélago
dos Açores. No segundo episódio da série de ficção científica,
S.0.8. Météores (S.0.S. Meteoros, 1958-1959), a Terra está ameaça-
da por um novo dilúvio. Entretanto, a melhor história de Blake e
Mortimer, neste gêncro, é Le Piége Diabolique (Armadilha Diabó-
lica, 1960-1961), na qual Mortimer viaja através do tempo, como o
explorador de4 Máquina do Tempo, de Wells, indo desde as épocas
pré-históricas até o futuro, passando pela Idade Média.
O trabalho seguinte de Jacobs, L'Affaire du Collier (O Caso do
Colar, 1965-1966), é basicamente umanovela de detetive e mistério,
onde Blake e Mortimer ajudam a resolver o roubo do colar que

91
pertenceu a Maria Antonieta (1755-1793), mais uma vez vencendo
Olrik.
Porfim, chegamosa Les Trois Formules du Professeur Sato (As
Três Fórmulas do Professor Sato, 1971-1972), em que Jacobsretor-
na, mais uma vez, à ficção científica, com a criação de um robô
voador, concebido pelo sábio japonês Akira Sato,cibernético famo-
so e chefe do Institute ofSpace andAeronautical Science. A segunda
parte desta aventura, Mortimer contre Mortimer até hoje, ao que sa-
bemos, não foi concluída.
Realizador de um trabalho magistral e ímpar nas histórias-em-
quadrinhos, tendo como tema a ficção científica, Jacobs é um autor
pouquíssimo conhecido do grande público brasileiro, necessitando
urgentemente de ser editado por algumade nossas editoras. Coube
aelc e mérito de ter dado a melhor descrição das qualidades neces-
sárias para se ser um bom quadrinhista: “Ter imaginação, possuir
uma cultura geral muito extensa, saber redigir um texto, acreditar
naquilo que escreve c, tanto quanto possível, saber desenhar...”.

92
TINTIN
DESVENDA A LUA

A Lua. A deusa da noite. Os antigos a chamavam de Sclene,


Ártemis, Cíntia e Luna. Os homens sempre a adoraram e temcram.
A Lua. Tão decantada pelos poetas e escritores. Através da
imaginação humana,várias civilizações nela viveram. Porém, o ho-
mem desfez todas estas lendas, quando ali desceram, em 20 de julho
de 1969,os astronautas norte-americanos Neil Armstrong, Michacl
Collins e Edwin Aldrin Jr., da Apolto 11. Entretanto, os segredos
da Lua já haviam sido desvendados por nós, entre 1953 e 1954. Mui-
tos leitores devem estar duvidando disto, não? Mas, é a mais pura
verdade. Bem, uma meia-verdade, uma vez havíamos conhecido a
Luaatravés de uma história-cm-quadrinhos. Para sermos mais pre-
cisos, nas páginas de duas aventuras de Tintin.
Tintin, uma das coqueluches do quadrinho franco-belga,estre-
ou em Au Pays des Soviets, publicada em capítulos no semanário
Vingtiême Siecle, em 1929. Algumasde suashistórias, entre as quais
L'Etoile Mysterieuse (A Estrela Misteriosa, 1941-1942), Les 7 Boules
de Cristal (As 7 Bolas de Cristal, 1943-1944) e Le Temple du Soleil
(O Templo do Sol, 1946-1948), contêm algunstraços de ficção cicn-
tífica. Todavia, Objectif Lune (Rumo à Lua, 1953) e sua continua-
ção, On a Marché sur la Lune (Explorando a Lua, 1954), são duas
genuínas aventuras de antecipação.
Tintin, a principal criação de Hergé, pseudônimo de Georges
Rémi (1907-1983), é um jovem e audacioso repórter, sempre vestido
com calças bombachas e eternamente acompanhado por Milou
(Milu), umfoxterrier de agudo sensocrítico e que vivc comentando,
de modoirônico, as façanhas de seu dono — façanhasestas que os

93
a A Em Ra Sea tal
Faitan dois mnstos Ágora Ou o foguete se levaniaracomo. Atenção! Preparem-se...
«ee mm for previsto, Ou Tudo explodira Faltam exatamente
, Que fu eu fazer? minuto... quando eu apertar este trinta segundos...
P Como puoe dexar 7 botão +.
me arrastara es Al e
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og incrivel “.. mino?
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esta (ançada (,..
€ regulares 2. coração... Oxata tudo corra Doo
como foi pre- Seja O que kr» = Ma
visto /... Deus quiser/.. R Edy

94
Uma prancha de Rumoà lua
€& Editions Casterman
levam a praticamente todos os rincões do mundo —. Com o tempo,
outros personagens foram sendo acrescentadosà série, tais como o
Capitão Haddock, um velho marinheiro e inveterado beberrão; os
Dupond e Dupont, uma dupla de policiais trapalhões na mesma
linha do Inspetor Jacques Clouseau,interpretado por Peter Sellers
(1925-1980), na série de filmes de4 Pantera Cor-de-Rosa, dirigidos
por Blake Edwards; Bianca Catasfiore, uma detestável cantora de
ópera; e o Professor Tournesol (Girassol), um cientista que tem de
sapiência o que tem de surdez.
Em Rumo à Lua, Tintin e o Capitão Haddock são convidados
pelo Professor Girassol a irem até a Sildávia, onde alguns anos antes
havia sido descobertas ricas jazidas de urânio. O governo sildavo,
então, empreendera a criação de um centro de pesquisas atômicas,
convocando diversos sábios de todo o mundo,entre os quais Giras-
sol, a fazerem parte dele. A Girassol fora confiada a direção da
seção de astronáutica, um ramo da ciência que domina muito bem,
O Professor, sempre secundado pelo Engenheiro Frank Wolff, de-
senvolveu os planos de um foguete de propulsão a jato, o X-FLR 6,
com o qual pretende chegar na Lua. Tintin e o Capitão Haddock
são seus parceiros nesta arriscada aventura. Mais tarde, uma série
de contratempos começam a ocorrer, a fim de dificultar a constru-
ção do X-FLR 6. É neste momento que os Dupont fazem sua triunfal
entrada, vindo até a Sildávia para protegerem Tintin, Haddock e
Girassol de qualquer possível atentado. Em Rumo à Lua, Tintin,
pela primeira vez, deixa a Terra, seu ambiente costumeiro, para se
lançar numa empreitada da qual não sabe se escapará com vida.
Tudo depende dos cálculos de Girassol estarem corretos. Como
disse Claude Le Gallo, em Tintin Herói do Século XX: “A partida
do foguete é um momento intensamente dramático: assistimos às
diferentes reações de cada uma das personagens perante o aconte-
cimento, suas emoções são muito bem expressas em algumas frases
simples. Tin abandona suas queridas paisagens para evoluir num
universo de mostradores e de alavancas. Graças à cor, Hergé joga
com tons frios a fim de acentuar o caráter um pouco desumano de
uma máquina na qual o homem se integra perfeitamente”. Muito
antes do cosmonauta russo Iúri Alekseyevitch Gagárin (1934-1968)
afirmar que “a transição do azul celeste para o preto do cosmosé
suave... e maravilhosa”, os jovens leitores de Tintin já tinham esta
sensação, ao mesmo tempo que no último quadrinho de Rumo à
Lua constatavam a pequenez do Homem perante o Universo.

95
Logo nas pranchas iniciais de Explorando a Lua, por pouco o Ca-
pitão Haddock não se transforma no primeiro ser humanoa se perder
no espaço, ao sair loucamente do foguete — bebera demais e queria
voltar para sua bela e amada Terra — ; contudo,Tintin conseguetrazê-lo
de volta ao foguete. Depois, chegam em nosso satélite e passam a cx-
plorá-lo. Ostrajes e os veículos usados por Tintin e seus amigos nesta
exploração não ficam a dever nada àqueles utilizados por norte-ameri-
canos e russos em suas viagens espaciais. Nesse ínterim, três clandesti-
nos são descobertos a bordo do foguete: os Dupont e o Coronel Boris,
mais conhecido como Jorgen, um espião que chantageava Frank Wolff
a fim de conseguir os planos do X-FLR 6, para vendê-los ao inimigo.
Claude Le Gallo, em seu ensaio sobre Tintin, assim comentou esta pas-
sagem: “A personagem notável desta epopéia é, certamente, o Enge-
nheiro Frank Wolff. Este homem de ciência, transformado em espião
por causa de sua paixãopelojogo,reflete a mais dolorosa das realidades.
A espionagem verdadeira não é apanágio dos James Bond muito bri-
lhantes mas de homens vulgares, frequentemente submetidos à chanta-
gem, não deixando de ser uma atividade degradante para o homem.
Wolff pagasuas faltas com o sacrifício da vida, preferindo Hergé acabar
a existência dele com uma esperança de reabilitação. Quanto a Jorgen,
este antigo coroncl sildavo vendido ao inimigo, não é mais do que um
espião empedernidocujo desaparecimento ninguém lamentará. A mor-
te das personagens, mesmoacidental, é coisa rara nas aventuras de Tin-
tin, dando Hergé frequentes provas de ternura em relação aos seres
nascidos da sua imaginação”. Por fim, Tintin e seus companheiros vol-
tam, sãos e salvos, à Terra, justamente quandoo nível de oxigênio no
foguete já estava quase a zero.
Verdadeiramente, Rumo à Lua e Explorando a Lua são duas
obras indispensáveis em umabiblioteca de histórias-em-quadrinhos
de ficção científica. Quando as produziu, Hergé estava no apogeu
de sua criatividade.
DEUS CRIOU A MULHER... E
FOREST CRIOU BARBARELLA

“Então o Senhor Deus [ez cair um sono pesado sobre


Adão, e este adormcccu; e tomou uma de suas costelas, e scr-
rou a came em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus
tomou do homem, formou uma mulher.”
Gêncsis2:21-22

Década de 60: período áurco de Jean-Paul Belmondo;da con-


solidação do mito Brigittc Bardot; de Jcan-Luc Godard; Alain Res-
nais; Pier Paolo Pasolini (1922-1975); da Nouvelle Vague; do Cine-
ma Novo; Norman Kingsley Mailer; Alain Robbc-Grillet; Marguc-
ritc Duras; do Nouveau-Romanfrancês; da arte Pop; da contra-cul-
tura; dos filmes de James Bond; Bob Dylan; Joan Baez; The Beatles;
The Rolling Stones; do Festival de Woodstock; do amorlivre; dos
assassinatos de John Fitzgerald Kennedy (1917-1963), Robert Fran-
cis Kennedy (1925-1968) ce Martin Luther King (1929-1968); dos
hippies; da independência da Argélia (1 de junho de 1962); da libe-
ralização das mulheres; da liberação do tabu do sexo nos mcios de
comunicação de massa; daspílulas; dos primeiros topless nas praias
de Saint-Tropcz, na França; da Revolução de 1964 (Brasil, 31 de
março de 1964); c do suicídio de Norma Jean Baker, mais conhecida
como Marilyn Monroe (1926-1962). Os anos 60 propiciaram, igual-
mente,a consolidação da Playboy — fundada em dezembro de 1953
por Hugh Hclner c tendo Marilyn Monroc como primeiraplaymate
(garota do poster central), Playboy deu início às revistas masculinas

97
om!
MADAME É
AIKTOR » MIT €
você AMAVEL...
ESTUO... CONHEÇONAS
MEWS ENLEVOS
TÊM ALGO DE
MECÂNICO

Barbarella e o robô
98 & Jéan-Claude Forest
de qualidade — e o aparecimento de sua concorrente mais forte,
Penthouse, surgida em Londres, em 1965, numainiciativa de Robert
Charles Joseph Edward Sabatini (Bob) Guccione, um dinâmico fo-
tógrafo ítalo-americano.
No campodaliteratura, nos Estados Unidos na Inglaterra,
os livros de David Herbert Lawrence (1885-1930) e Henry Miller
(1891-1980), entre outros, até então proibidos, começaram a ser
comercializados normalmente naslivrarias. Surgiram, também, no-
vas modalidadesdeliteratura, entre as quais a ficçãocientífica eró-
tica, que tem em Philip José Farmer seu mais alto expoente.
nesta década também que, no Brasil, um editor, Gumercindo
Rocha Dorca (Edições GRD), renova literatura da terra, lançando
autores que puseram um ponto final na “mesmice editorial” brasilei-
ra, tanto no romance quanto no conto € na poesia: Gerardo Mello
Mourão, Rubem Fonseca, Maria Alice Barroso, Nélida Pinon, entre
outros. E no campo da ficção científica? A barreira ("ficção científica
não é literatura...”) foi rompida com os nomes de Fausto Cunha,Di-
nah Silveira de Queiroz, Guido Wilmar Sassi, Levy Menezes, André
Carneiro, Antonio Olinto, ao mesmo tempo que dava a conhecer aos
leitores obras de Ray Bradbury, Walter M. Miller Jr., James Blish,
Robert A. Heinlcin, Fredric Brown.
Naárea cinematográfica — já em 1933 a atriz Eva Maria Kies-
ler, conhecida como Hedy Lammar, aparecia em nu frontal no filme
Êxtase (Reka), as cenas de nudismo e mesmoas de sexo explícito
passaram a ser rotineiras nosfilmes.
Mas, falemos dos quadrinhos: até os anos 60, a participação
das mulheres dentro das histórias-em-quadrinhos era bem peque-
na. Ou elas eram as eternas namoradas dos heróis, colocando-os
nas mais sérias dificuldades (Dale Arden); ou então, simples donas-
de-casa (Belinda); ou esposas ciumentas, feias e ranzinzas (Maro-
cas); ou eram as figuras centrais de suas historietas (Jane Pouca-
Roupa) — contudo,histórias estas que só ressaltavam o caráter
machista dos quadrinhos —. Entretanto, com a revolução sexual/so-
cial que ocorreu em nossa sociedade na década de 60, o panorama
mudou completamente e as mulheres acabaram conquistando uma
posição privilegiada nos comics e passaram, digamosassim, a pen-
sar. Com isso, tivemosa criação de Valentina (1965), de Guido Cre-
pax; Jodelle (1966), de Pierre Bartier e Guy Peellaert; Phoebe Zeit-
Geist (1966), de Michael O'DonoghueSpringer; Pravda (1968), de
Pascal Thomas e Guy Pcellaert; e, para citarmos as mais populares,
Paulette (1970), de Georges Wolinski e Georges Pichard. Porém,

99
quem abriu o caminho para todas elas foi Barbarella, de Jean-Clau-
de Forest.
Forest nasceu em Perreux, França, em 1930,estreandonashis-
tórias-em-quadrinhos aos dezenove anos, com uma adaptação da
novela 4 Flecha Preta (The Black Arrow, 1888), de Robert Louis
Stevenson (1850-1894). No início da década de 60, realizou várias
histórias apresentando o vagabundo Carlitos, a imortal criação de
Sir Charles Spencer Chaplin (1889-1977), como figura central. En-
tre meados dos anos 50 e começo dos anos60, fez numerosasilus-
trações e capas para as mais diferentesrevistas e coleções de livros,
destacando Fiction, Hitchock, Le Rayon Fantastique, V-Magazine,
Les Nouvelles Littéraires e Le Livre de Poche. Poresta época, dese-
nhou também algumas historietas — Princesse Étoile (1956), Cen-
drillon (1958) e Les Deux Isabelles (1959), escritas por Jacques Du-
mas (Marijac); e Bicot and Dotothée dans L'espace (1962), roteiri-
zada peloescritor Alain Dorémicux, o organizador da antologia dos
contos de ficção científica Viagens ao Além (Voyages dans 'Ailleurs,
1971), onde já se notam elementosfantásticos. Contudo,sua grande
chance surgiu com Barbarella. Se Deus criou a mulher, com Eva, €
se o cincasta Roger Vadim recriou-anofilme E Deus Criou a Mulher
(Et Dieu Crea la Femme, 1956), estrelado porBrigitte Bardot, coube
a Forest recriá-la nos comics, ao dar vida a esta ninfa espacial.
Barbarella foi criada para V-Magazine, uma revista trimestral,
editada por Georges H. Hallet, amigo pessoal de Forest, e que dav
total liberdade aos autores. Aparccida em 1962, em capítulos, Bar
barella teve dois anos mais tarde suas aventuras reunidas num áli
bum publicado porEric Losfeld, proprietário das Éditions Le Ter-
rain Vague, uma editora de vanguarda especializada em livros e pu-
blicações de/sobre autores malditos, cinema, erotismo, fantasia,
horrore histórias-em-quadrinhos. Este álbum que inicialmente foi
proibido na França, ganhou várias edições em todo o mundo, apa-
recendo nos Estados Unidos (Grove Press), Grécia, Itália (Milano
Libri Edizioni), Noruega, Suéciae, entre muitos outrospaíses, Bra-
sil, cabendo a tradução para o português ao humorista Jô Soares.
Barbarella é uma bela e sexy loura, deliciosamente feminina,
mas, ao mesmo tempo, lutadora por seus direitos. Para defini-la
melhor, é como se unissem num único ser, graças à pena € à imagi-
nação de Forest, a naturalidade de Brigitte Bardot, a beleza esta-
tuesca de Ursula Andress, a impctuosidade de Virna Lisi e a sen-
sualidade selvagem de Sophia Loren. Barbarella é adepta do amor
livre, não se importando em [azer amor com um homem, uma mu-
lher ou um andróide.

100
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CONO ENCONTRAR —
À MIE DAI
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Barbarella e Pygar
ns o
“ Jean-Claude Porest
-

101
q .
Sua história se passa em Lythion, um distante planeta no qual
pousasua naveavariada. Em Lythion, a terráquea Barbarella fica
conhecendo Sogo, umacidade cercada por enormelabirinto, para
o qual são mandadostodos aqueles que demonstram qualquertipo
de fraqueza outara. Além da guarda negra, o labirinto é vigiado
ainda pelos tubarões voadores, que nunca mergulham entre os mu-
ros e nem se elevam aos céus, voando rente à muralha e atacando
todos aqueles que tentam se suicidar ao subirem no muro — os
tubarões voadores de Forest, certamente, serviram de inspiração
para que o cantor/compositor brasileiro de música-brega Arrigo
Barnabé compusesse Os Tubarões Voadores —. Sogo é governado
pela Rainha Negra, que não permite nenhuma forma detara entre
seus súditos; entretanto, ela própria é uma tarada, nutrindo certa
paixão por Barbarella, a quem chama de Linda-Linda. Nofinal,
Sogo é contaminada por veneno e a Rainha Negra, segundo suas
próprias palavras, perde seu trono, seus prazeres, sua cama € sua
coroa; porém, tanto ela, como Barbarella, são salvas por Pygar, o
último dos Ornithantropos, uma espécie de anjo.
Em 1967, em co-produção França-ltália (Marianne Produc-
tions e Dino de Laurentiis), Roger Vadim dirigiu Barbarella, com.
roteiro de Terry Southern, auxiliado por Vadim, Forest, Clau
Brulé, Vittorio Bonicelli, Clemente Biddle Wood, Brian Degag e
Tudor Gates. Com um custo — alto, para a época — de três milhões
e meio de dólares e distribuição da Paramount, o filme apresentou
Jane Fonda (Barbarella), John Phillip Law (Pygar) e Anita Pallen-
berg (Rainha Negra), nosprincipais papéis. Roger Vadim foi esco-
lhido para dirigir Barbarella após os produtores terem contactados
vários cineastas, entre os quais Marco Ferreri, Richard Fleischer,
Guy Hamilton e Mario Monicell. Jean-Luc Godard também havia
se mostradointeressado em dirigir a pelicula, mas, suas brigas com
Robert Benayoun,redator-chefe de Positif, revista especializada em
cinema e editada por Eric Losfeld, o detentor dosdireitos de adap-
tação cinematográfica de Barbarella, não permitiram que realizasse
seu desejo. Quanto a Jane Fonda, então esposa de Vadim,foi a
eleita para encarnar Barbarella, depois de testes com as atrizes Ira
de Furstenberg, Joan Shrimpton e Elizabeth Wiener. Muito mal re-
cebido pela crítica, o filme Barbarella valeu pela decoração, na qual
Forest interviu de maneira decisiva, como na construção do labirin-
to, e pela beleza das mulheres nele apresentadas. O comunicólogo
espanhol Luis Gasca definiu este pormenor com muita proprieda-
de: “O desfile de belezas surrealistas é contínuo, ainda que Vadim

102
se limite a apresentá-las em sequências rápidas, quase subliminares.
Um livro sobre as mulheres fantásticas no cinema, tem que conter
em suas páginas as heteras comedoras de orquídeas,as garotas-ár-
vores de Sogo, as mulheres que ficaram cristalizadas ao se fundir
com as rochas da cidade, as hirsutas mulheres-leão, as jovens que
cobrem a cabeça com chapéus em formade lábios, a Vênus de pêlos
verdese as Justines martirizadas pela Rainha Negra, como em uma
história-em-quadrinhos masoquista. Anita Pallenberg, a ines-
quecível Rainha Negra de Barbarella, foi que comandou em seus
domíniosesse desfile de mulheres de sonho”.
Barbarella foi retomada em mais dois álbuns de Forest, Les
Colêres du Mange Minutes (1974), no qual temos uma Barbarella
mais remoçada, e Le Semble-Lune (1977), onde nasce o filho de
nossa amiga galática. Porém, nenhum dos dois teve o sucesso e a
beleza gráfica do primeiro.

AS DEMAIS MULHERES DE FOREST

Também devemos a Jcan-Claude Forest a criação de Bébé


Cyanure, para a revista Chou-Chou, da qual ele era co-redator-che-
[e, entre 1964 e 1965. Contudo, não chegou a terminar nenhum epi-
sódio desta nova personagem, uma vez que este magazine durou
apcnas quinze números — Chou-Chou, segundo Numa Sadoul, era
“uma revista de histórias-em-quadrinhos para adolescentes de
mente evoluída” —.
Bébé Cyanure é uma heroína interplanetária, como Barbarella,
com quem muito se parece,no quese refere às roupas, muito justas
e que lhe modelam o corpo, diferindo dela no tocante à cor dos
cabelos — os de Bébé são pretos — e no que diz respeito à idade
— Bébé é bem mais jovem que Barbarella. A ação de suas aventuras
se passa no ano 3250, em Vênus, onde vive com o irmão mais novo.
Seus pais eram astronautas e nunca retornaram de uma viagem de
exploração espacial.
Grande amante do fantástico e da ficção científica, Forest ain-
da criou Hypocrite, uma garota, que guarda certa semelhança fisio-
nômica com Bébé Cyanure e que teve a primeira de suas aventuras,
Hypocrite et le Monstre du Loch-Ness, estampada no France-Soir, em
1971, em tiras diárias — é algo raro, na França, a criação de perso-
nagens para jornais; a maioria é criada para aparecer em revistas €
álbuns —. A trama de Hypocrite et le Monstre du Loch-Ness gira em

103
torno de castelos, fantasmas e monstros, possuindo um detetive no |
estilo de Sherlock Holmes. Hypocrite ainda apareceria em outras
duas aventuras, Comment Decoder L'Etircorpyh (1973) e N'Importe
quoi de Cheval (1974), ambas editadas pela Dargaud Éditeur, em sua
coleção Histoires Fantastiques, e reunidas, mais tarde, num único
volume das Editions Serg, sob título de La Revanche d'Hypocnite.
Apesar de suas histórias serem bem engendradas e cheias de fan-
tasias e de contar com um visual agradável, Hypocrite não conquis-
tou a mesma fama de Barbarella.
ESTEBAN MAROTO |
o
Wo : Ê
feiticeinNt£oa
Vermelhrillutar.
Preciso dilidbtomo
você do d Con-
tinue subyitM no

Estarei sonhando?
Deve ser outra bruxaria!
E sinto que está cada
vez mais bróxi-
ma!

A Feiticeira da Névoa Vermelha... Sua inc


vel beleza enlouquece os homens há século
Com o poder do amor, ela atrai Wolff e
arrasta num torvelinho... até as alturas &
um mundo sem céu!
O traço de Tisteban Maroto
à Warren Publishing Co. 105
104
Esteban Maroto nasceu em março de 1942, em Madri. No co-
meço dos anos60, tornou-se assistente de Manuel López Blanco,
na série Las Aventuras del FBI, mas, logo passoua ter carreira in-
dependente, desenhando Buck John e El Principe de Rhodes, bem
como diversas historictas para a distribuidora Selecciones Ilustra-
das, de Barcclona. Entretanto, só em 1967 realizaria sua obra mais
auspiciosa, Cinco por Infinito (Cinco por Infinitus), que lhe valeu o
prêmio de melhor autor de histórias-em-quadrinhos daAcademy of
Comic Book Arts, dos Estados Unidos.
O argumento da séric pode ser resumido no seguinte: cinco
pessoas, Alfa, uma psiquiatra com fantásticos poderes mentais; An-
tares, prolessor de astronomia e dotado de grande inteligência; Ar-
go, um extra de filmes de aventuras, muito ágil e rápido nosreflexos;
Libra, uma atriz de cinema, amiga de Argo; e Taurus, um guarda-
costas profissional, de excepcional força física; são convocadas por
Infinitus, um estranho ser que os convida a ajudá-lo a combater os
vários perigos que amcaçam as diversas civilizações que habitam o
universo. Dc enredo simples e um tanto repetitivo, Cinco por Infi-
nitus desenvolveu-se cm vinte cpisódios, que valem pelos desenhos
primorosos de Maroto.
A seguir, Esteban Maroto produziu La Tomba de los Dioses;
Manly; Wolff (1971), escrita em parceria com o roteirista Sadko; e
Korsar, inteiramente realizada por ele — as três últimas historictas
pendem para o gênero hcróico-fantástico criado por Robert E. Ho-
ward, nas novelas de Conan the Barbarian (Conan, o Bárbaro), nos
anos 30. Curiosamente, muitos críticos pensam que Conan foi cria-
do para os quadrinhos; o que é um erro lamentável, uma vez que
nasceu na pulps Weird Tales, aparecendo nos comics somente em
outubro de 1970, quando foi para as bancas o número um de sua
revista, Conan, the Barbarian, editada pela Marvel — . Maroto, igual-
mente conccbcu um grande númcro de histórias-cm-quadrinhos
para a Warren Publishing Company e uma de suas últimas produções
foi Zodiaco (Zodíaco), uma fantasia a respeito dos signos zodiacais,
com roteiro de Sanchez Abuli.

106
A WARREN

VAMPIRELLA

“Vampirella é uma garota. Quando nós mandamos a


capa promocional para nossos distribuidores, eles disseram:
Impossível! Não distribuiremos isso". Eu perguntei: 'Por que
não?”Eles responderam: “Porque é umagarota. Ela tem seios.
Ela tem coxas." Eu repliquei: 'E daí?”Eles disseram: “As crian-
ças não sabem disso." Ora, há apenas umaorganização que eu
conheço que acredita nisso... o Código de Ética das Histórias-
em-Quadrinhos. Então, um deles argumentou comigo: 'Você
poderia... cobrí-los um pouco” E eu contra-argumentei: 'Não,
porque se nós fizermos isso, arruinaremos com a personagem
que Frank Frazetta criou. E ele é italiano. ele virá e matará
vocês!”
James Warren

Muito antes da escritora inglesa Tanith Lee escrever Sabella


(Sabeila or the Blood Stone, 1980), onde nos apresenta Sabella, uma
vampira espacial, nos quadrinhos já tínhamos a presença de uma
vampira galática, cujo nome, Vampirella, é uma combinação de
Vampyr,título de um filme, O Vampiro (Vampyr, 1932), do cineasta
dinamarquês Carl Dreycr (1889-1968), com a terminaçãoella, de
Barbarella,
Vampirella é a personagem mais conhecida da Warren Publi-
shing Company, uma editora de propriedade de James Warren, o
responsável pelo ressurgimento do horror nos quadrinhos norte-
americanos, após um hiato de quase dez anos. Seus magazines,Cree-
py (194) e Eerie (setembro 1965), renovaram osgibis, desde o for-

107
mato — 20,5 x 27,5 cms. — alé a escolha dos temas das historietas,
não se restringindo às figuras tradicionais das histórias de horror,
lobisomens, monstros e vampiros, mas mostrando o horror de nosso
dia-a-dia, infestado de loucos, maníacos e psicopatas, seguindo na
mesmalinha das extintas publicações da EC. Além de contar com
alguns artistas desta empresa, entre os quais Frank Frazetta, John
Sevcrin, Al Williamson e Wallace Wood, a Warren deu igualmente
oportunidade aos novos quadrinhistas, alguns oriundos de países
de fala hispânica, tais como: Auraleon; Azpiri, dono de um estilo
de desenho semelhante ao de Esteban Maroto e realizador de Ze-
phyd (1980), uma das fantasias mais bem feitas nestes últimos tem-
pos; Luis Bermcjo; Joaquim Blazques; Jaime Brocal; Leo Duraão-
na; José Gonzalcz; Pablo Marcos; Esteban Maroto; Gonzalo Mayo;
Isidro Mones; José Ortiz; Martin Salvador; Leopoldo Sánchez e
Sanjulian.

Vampirella. vista por José Ortiz


108 € Warren Publishing Co.
Vampirclla é o que hoje, vulgarmente, chamamosde gatinha;
ou melhor, é uma gatona morena, de rosto angelical, olhos claros e
enormese boca voluptuosa, sempre trajando um exíguo maiô negro
que mal lhe cobre os [artos seios e o sexo, além de botas também
negras. Como ornamentos, traz um par de brincos e algumas pul-
scirasc, para aumentar ainda mais seu charme natural, tem um pc-
queno morcego tatuado no scio esquerdo. Estreou no primeiro nú-
mcro de sua própria revista, Vampirella, em setembro de 1969. O
logotipo do magazine e o desenho da personagem ficaram a cargo
de Frank Frazctta; a história da bela e sedutora vampira coube a
Forrest J. Ackerman, um dos maiores colecionadores mundiais de
matcrial de e sobrc fantasia, ficção científica e horror e coordena-
dor da Famous Monsters of Filmiand, uma revista dedicada a co-
mentarfilmes destes Lrês gênerose igualmente editada pela Warren;
“a-vestimenta de Vampirella foi uma criação de Trina Robbinse as
ilustrações foram cntregucs a Tom Sutton.
Bcm, conhcçamos um pouco dahistória de Vampirella: é ori-
ginária de Drakulon, um mundo onde os rios eram de sangue, o
alimento básico de seus habitantes. Nosso tão famoso Conde Drá-
cula, também nativo deste plancta, pesquisando sobre Drakulon,
descobriu queclc iria sair de scu cixo, que os pólos iriam sc inverter,
as florestas iriam desaparecer, sendo substituídas por descrtos c os
rios de sangue secariam c, portanto, todo o povo morreria. Avisou
o Conselho Científico de Drakulon a respeito de suas descobertas;
porém, ninguém lhe deu ouvidos. Drácula, então, entrou em conta-
to, através defeitiçaria, com umaantigae justa deusa, a Invocadora,
que lhe orientou como salvar Drakulon. Entretanto, ao invés de
seguir os ensinamentos da Invocadora, Drácula passou a servir ao
Caos, o deus doido, que com seus sete demônios, Asmodeus, De-
mogórgan, Fursan, Moloch, Nubcrus, Valcfar e Zabylon, pretende
dominar o universo. Drácula foi enviado para a Terra € iniciou seu
crucl reinado em busca de sangue. Vampirella terminou vindo tam-
bém para cá, uma vez quese ficasse em Drakulon pereceria como
os demais. Vampirella é a última representante de sua raça, sendo
assim definida por ela própria: “Venho de um mundo chamado
Drakulon e sou da raça dos Vampiros. Posso transformar-me num
morcego e preciso alimentar-me de sangue, como os terrestres de
água.«. Sou estranha à Terra... mas não sou um monstro da noite,
não sou um produto dasuperstição... Última, da minha raça, trago
a recordação impcrecível do mundo que era meu... Drakulon! As
águas corriam, quentes e profundas, mais vermelhas do que o vi-

109
10 Vampirela. vista por José Ortiz
«& Warren Publishing Co.
nho... Nãoexistiam feras... existiam criaturas que se amavam e ama-
vam a vida... Sou tudo quanto resta de um mundo de contosde fadas,
de sonhos, de criaturas gentis... um mundo que preferiu morrer a
matar... Chamam-me Vampiro... Alguns temem-me, outros ode-
iam-me... sou estranha para todos... Mas que as supertições não
destruam a amarga doçura de Drakulon... Onde Vampiro significa-
va pessoa gentil, de coração bondoso... Assim sobrevivi. E vivo...
Tento restabelecer a gentileza e a bondade perdidas... Sobreviverei,
mas sem egoísmos... Recordarei as minhas raízes, a minha herança...
Sou última da minha raça... Sou Vampirella!”. Uma vez na Terra
e aukiliada por um velho mágico, Pendragon, Vampirella lançou-se
numa desefreada luta contra Drácula e as forças de Caos. Entre
seus perseguidores, conta com dois descendentes do Doutor Van
Helsing, o ferrenho adversário do Conde Drácula nolivro Drácula
(Dracula, 1897), de Bram Stoker (1847-1912), Conrad Van Helsing,
um médium cego,e seu filho, Adam, um apaixonado por Vampirel-
la. Graças a um espesso líquido sintético preparado por Conrad
Van Helsing e que deve ser bebido a cada vinte e quatro horas,
Vampirella conseguiu controlar sua sede de sangue, tornando-se
uma boa-vampira.
Dentre os roteiristas de Vampirella, tivemos: Chad Archer,
Gerry Boudreau, T. Casey Brennan, Bill DuBay, Steve Englehart,
Archie Goodwin, Budd Lewis e, entre outros, Flaxman Loew. Já,
com relação aos desenhistas, podemos destacar o trabalho de: Ho-
ward Chaykin; José Gonzalez, o responsável por uma maior eroti-
zação da personagem; Gonzalo Mayo; José Ortiz; Leopoldo Sán-
chez; Tom Sutton; e Zesar.
Além dos quadrinhos, Vampirelia ganhou a literatura, em seis
novelizações feitas por Ron Goulart, em 1976. Noinício dos anos
80, cogitou-se a realização de um longa-metragem com ela como
personagem principal, trazendo a modelo Barbara Leigh, quea per-
sonilicou várias vezes nas capas de seu magazine, no papel-título;
entretanto, o projeto acabou sendo engavetado.
Com a falência da Warren, em 1983, Vampirella parou de cir-
cular, deixando saudades em muita gente.

1994

A última publicação da Warren, 1984, mais tarde intitulada


1994, ao contrário de Creepy, Eerie e Vampirella, que eram centra-
das nas historietas de fantasia, horror e suspense e que, ocasional-
mente apresentavam alguma história ligada à ficção científica, era,

11
por inteira, dedicada às histórias-em-quadrinhos de antecipação.
Iniciada em 1978, 1994 além dos costumeiros colaboradores da War-
ren, entre os quais Bill DuBay, Nicola Cuti, Richard (Rick) Margo-
poulos e Len Wcin (roteiristas) e Alfred P. Alcala, Ernie Colon e
Alex Nino (desenhistas), trouxe alguns nomes importantes do mo-
derno quadrinho norte-americano, tais como Richard Corben,
Frank Springer e Frank Thorne, o criador de Ghita ofAlizarr, uma
versão mais ousada de Sonja, a Guerreira.
O lançamento de 1994, uma revista onde ficçãocientífica e ero-
Lismo se misturavam, [oi uma das causas que levou a Warren à [a-
lência, devido à repetição visual e narrativa das histórias nela apre-
sentadas. Em dezembro de 1982, a editora anunciou a paralisação
dos títulos que editava e em 29 de agosto de 1983 foi oficialmente
declarada fechada e todo o estoque de números atrasados e o mo-
biliário de seusescritórios Iciloados publicamente. Assim, mais uma
era chegava a um triste final.

1 Warren Publishing Co.

112
DE FUTUROPOLIS A PILOTE

A produção de historietas de ficçãocientífica provenientes da


Bélgica e da França não se limitaram apenasa alguns episódios de
Blake e Mortimer e Tintin ou à Barbarella. Entre 1937 e 1938, Junior
publicou Futuropolis, uma história em imagens realizada por René
Pellos e fortemente influenciada pelo filme Metrópolis. Além desta
memorável obra-prima, Pellos foi autor também de Electropolis
(1940), uma continuação a Futuropolis e que até hoje se encontra
inacabada, c de La Guerre du Feu, a adaptação do romance homô-
nimo de J. H. Rosny Ainé, pscudônimo de Joseph-Henri Boex
(1856-1940), publicado em 1909.
No começo dos anos 40, em Cog Hardi, apareceu Guerre a la
Terre, escrita por Marijac e desenhada por A. Liquois. Nesta histó-
ria-em-quadrinhos calcada em 4 Guerra dos Mundos, de H. G.
Wells, temosa invasão da Terra poralienígenas belicosos. Guerre a
la Terre teve uma sequência, ilustrada por Dut e na qual, como sem-
pre acontece neste tipo dehistória, os terráqueos saem vencedores.
Em 1945, começou-se a publicarem Vaillant, uma das mais bem
desenhadas historictas de ficção científica, Les Pionniers de L'Es-
pérance, de Roger Lécureux e Raymond Poivet. Espérance, uma na-
ve espacial com tripulação de ambosos sexos e de todas as raças,
tem por missão velar pela ordem no espaço sideral. Poivet, um de-
senhista de grande imaginação,criou nesta série monstros híbridos,
insetosgigantese planetas desconhecidos; sendo,igualmente, o au-
tor de outrahistória-em-quadrinhosfantáslica, Mark Reynes(1946),
publicada em O.K,.
Seguindo na mesma onda deliberalização de Barbarella, Clau-
de Moliterni e Robert Gigi criaram nas páginas de V-Magazine, em
1964, Scarlett Dream, onde a ficção científica e o policial se mesclam.

113
Scarlett, a heroína da série,se vale do sexo para conseguir vitórias
sobre seus inimigos. Mas, às vezes, as coisas não correm conforme
o esperado e em um deseus episódios acabou sendo violentada por
Styx, seu principal adversário. Em 1968, era a vez de surgir outra
heroína sensual, Epoxy, fruto da imaginação de Jean Van Hamme
e Paul Cuvelier. Em Epoxy, publicada em álbum pela Le Terrain
Vague, a mitologia grega se mistura com a ficção científica. Le Ter-
rain Vague foi também a responsável pelo lançamento de outro belo
trabalho, Saga deXam, de Nicolas Devil. Saga, originária do planeta
Xam, aparece na Terra em diferentes épocase locais, dando à sua
história um caráter quase surrealista. A riqueza do trabalho de De-
vil deve-se às cores que usa com enorme maestria e à utilização de
diversas formas de desenho,entre as quais a inconografia japonesa
e as ilustrações com base em fotografias.
No início dos anos 70, Nvemos o aparecimento de Agar, uma
Mliterni e Robert Gigi responsável,

Um ângulo da Saga de Xam


114 & Eric Losfeld
PILOTE

Em 29 de outubro de 1959, as bancas de jornais francesas re-


cebiam o primeiro númcro do hcbdomárioPilote, editado pela Dar-
gaud Éditeur, de propricdade de Georges Dargaud. Em grande for-
mato, 26 x 29 cms., dirigido por René Goscinny (1926-1978) até
junho de 1974 — neste mês, Pilote ganhou umapcriodicidade mcn-
sal, um novo formato, 21 x27 cms., e passou a scr dirigido pelo pró-
prio Dargaud —, este magazine não se destinava,isto é, não se des-
tina, uma vez que é publicado ainda hoje, ao público infanto-juvenil,
os leitores costumciros dos quadrinhos franco-belgas, mas a um pú-
blico mais adulto c tornou-se responsável pcla revelação de grandes
nomesdas histórias-cm-quadrinhos de expressão francesa, sendo a
primeira de uma séric dc revistas, tais como A Suivre, das Éditioons
Casterman; Circus, das Éditions Jacques Glénat; L'Écho des Sava-
nes, fundada por Claire Brétécher, Marcel Gotlib e Nikita Mandry-
ka, assíduos colaboradores da Pilote; e Metal Hurlant, da Les Hu-
manoides Associés.
Tanto nas edições normais como nos númcros especiais de Pi-
lote, apareceram alguns quadrinhistas que se espccializaram em his-
torictas de antecipação ou realizaram histórias-cm-quadrinhosre-
lacionadas ao gêncro. Entre cles, podemoscitar: Enki Bilal; Philip
Caza; Coucho;Philippe Druillet; Didier Eberoni; Le Tendre; Loro;
Loustcl; Angus MckKic; Aristides Othon, mais conhecido como
Fred, realizador de Philémon, uma das mais oníricase fantasiosas
séric de quadrinhos; Pailler; Picotto; Ribcra, criador de Dracurella,
a filha do Conde Drácula, que não quer seguir a linha de maldade
do pai e que possui por animal de estimação um dragão, Gri-Grill;
Enric Sio, um dos mais conhecidos e representativos desenhistas
espanhóis; Alexis, pscudônimo de Dominique Vallet (1946-1977);
e Jacques Lob e Robert Gibi, os responsáveis pcla realização de Le
Dossier des Soucopes Volantes (Quadrinhos de Ufologia), que mos-
trava através dos quadrinhosfatos verídicos de pessoas que viram
ou tiveram contatos com os discos-voadorese seus tripulantes.
Dospersonagens deficçãocientífica aparecidos em Pilote, um
que merece destaque é Valérian, criado por Pierre Christin, sob o
pseudônimode Linus, e Jean-Claude Mézitres, em 1967, na história
Valérian contre les Mauvais Réves. Nesta primeira aventura, temos
muito mais uma história humorística, com situações parecidas às da
série de cartuns Marcianinho, de Patrick (Pat) Mallet, e desenhos
calcados nos de André Franquin. Entretanto, a partir do segundo

15
episódio, A Cidade das Águas Vivas ou A Cidade das Águas Move-
diças (La Cité des Eaux Mouvantes, 1968-1969), Valérian se define
claramente como uma história-em-quadrinhos de ficçãocientífica,
apesar da configuração dos personagens ser um tanto caricaturada.
A ação dahistória se passa nofuturo, onde a estrutura da sociedade
humana se modificou radicalmente, chegando a época na qual o
homem tem a oportunidade de apenas se divertir. Valérian é um
agente da Espaço-Tempo, uma organização incumbida de patrulhar
a História e o Universo, velando pela segurança da Terra e seu im-
pério. Valérian é o perfeito anti-herói, sendo meio egoísta e covar-
de, não possuindo nem um pouco do destemor da maioria dos he-
róis das histórias-em-quadrinhos tradicionais de ficção científica.
Em suas missões por outros planetas e ao longo do Tempo,ele tem
por acompanhante a adorável e charmosa Laureline, com quem se
comunica telepaticamente, sempre que estão afastados um do ou-
tro.
Laureline, de caráter oposto ao de Valérian, é ao mesmo tem-
po o cérebro e o corpo da série, cabendo-lheas decisõese as ações
em Valérian. Como foi dito na Encylopédie des Bandes Dessiné-
es:“Laureline é uma heroína única em toda a história das histórias-
em-quadrinhos, cabendoa ela levar a temposlongínquose aosespa-
ços intersiderais a sede de justiça e de liberdade queagitaram maio
de 1968”,
Ao longo de mais de dez aventuras de Valérian, Christin, o
autor dos roteiros, fez referências a diversos escritores de ficção
científica, de Isaac Asimov a A. E. Van Vogt, passando por Poul
Anderson e Theodore Sturgeon.

116
PHILIPPE
DRUILLET

“O homem irá às estrelas no futuro e talvez já lá tenha


estado no passado.
O universo que ele encontrará será absolutamente dife-
rente de tudo o que conhecemos. Comodisse 11. P. Lovecraft,
o raio de ação de nossa imaginaçãoé limitado. Masdifícil ain-
da é vere fazer ver este universo. Philippe Druillet consegue-
o. (...) Nãofaço distinção entre a ficção científica e o fantásti-
co. Considero realismo tudo o que nos apresenta O universo
em profundidade, abaixo da superfície que apercebemos com
nossos sentidos e nossos instrumentos. Neste sentido, Druillet
é para mim o mais importante desenhista de nossa época.”
Jacques Bergier

Philippe Druillet nasceu em 1944, em Toulouse,na França, pas-


sando os primeiros anos de sua vida, até a mortc do pai na Espanha.
Dcvolta à sua terra natal, terminou os estudos c lançou-se à carreira
artística, como fotógra(o. Grande amante do [antástico e da ficção
científica c profundamente inspirado na obra de escritores como
Howard Phillips Lovecraft (1890-1937); Leigh Brackett (1915-1978),
a senhora Edmond Hamilton; e Catherine L. Moore, pscudônimo
de Catherinc Reggie, a senhora Henry Kuttncr, realizou scu primei-
rotrabalho dc histórias-cm-quadrinhos, Le Mystêres desAbimes, lan-
gado em álbum de luxo pela Le Terrain Vague, em 1966. O persona-
gem principal desta historicta, Lonc Sloane, uma espécic de cowboy
espacial que viaja por todo o cosmos, scria ainda o protagonista de
seis episódios publicados cm Pilote entre fevereiro de 1970 e abril de

119
1971 e, mais tarde, coletados no volume Les 6 Voyages de Lone Sloa-
ne, editado pcla Dargaud Éditeur em sua coleção Histoires Fantasti-
ques, que como o próprio nomejá indica é uma série destinada a
publicar histórias-cm-quadrinhos tendo como tema o fantástico e o
insólito.

Umdesenho de Philippe Druiliet


118 €& Tditions Le Terran Vague
Prosseguindo a saga de Lone Sloane, em 1972 Druillet conce-
beu sua máxima, Delirius, segundo o texto de Jacques Lob. Delirius
é o nome dado a um plancta insano, também chamado de“O planeta
dos ccm mil prazeres”, no qual se concentram todos os prazeres
imagináveis e inimagináveis do mundo, um local marcado, igual-
mente, pela corrupção e extrema violência — algo que Howard
Chaykiniria utilizar em American Flagg!, alguns anos mais tarde —.
Delirius é o centro de divertimentos de todo o universo, onde nin-
guém pode sc sentir aborrecido, a menos que figurena lista-negra
do Imperador Shaan — os quadrinhose especialmente os deficção
científica fazem umacrítica constante aos governantes, mostrando-
os sempre como tiranos despóticos —.
Para nós, é até difícil falar sobre Druillet e sobre um trabalho
de tamanha importância e de tão elevado nívelartístico quanto De-
lirius; as palavras não conseguem expressar de forma adequada sua
grandeza. Talvez, a melhor definição para ele tenha sido escrita pelo
próprio Lob, em grandesletras, nas pranchas dez e onze de Deli-
nius:“VOIR DELIRIUS ET MOURIR DE PLAISIR”(“VER DE-
LIRIUS E MORRER DE PRAZER”).
Hábil ilustrador, Druillet mostrou toda sua pcrícia ncste tra-
balho, manipulando com precisão a cor dentro da estrutura narra-
tiva da história. Concebeu cada página como um todo, onde a trama
se integrou num estilo gráfico que deu uma nova dimensãoà frag-
mentação dos elementos no intcrior da prancha. Os desenhosgran-
diosos de Delinius, que, às vezes, chegam a ocupar duas páginas, são
ricos de detalhes, nos obrigando a olhar detidamente e repetidas
vezes para eles, a fim de os captarmos de forma completa.
Depois de Delirius e ainda na Pilote, viriam Yragael ou la fin
des Temps (1973-1974), segundo o roteiro de Demuth;os três pri-
meiros episódios de Urm le Fou; e Vuzz, na qual colocou em cena
um anti-herói grotesco, disforme e degenerado.
Druillet, igualmente, fez ilustrações para as revistas Fiction e
Galaxie; colaborounasrevistas L'Echo des Savanes, Planéte e Rock
& Folk, entre outras; e foi um dos fundadores da editora Les Hu-
manoides Associés, tendo diversos trabalhos seus publicadosnare-
vista Métal Hurlant. Entretanto, a morte de sua esposa, Nicole, em
mcados dos anos 70, o abalou profundamente, fazendo com que
reduzisse de mancira drástica suas atividades. Porém, se Druillet
tivesse realizado apenas Delirius, seu nome já estaria inscrito na
constelação dos grandes mestres das histórias-em-quadrinhos.

119
EE

OMEW OINIRE Ox pao


SA MSTACAROR DALS CE QU SuT

a,uiés ea
LtJada MES!

Uma prancha de Mocbrus (O desvio)


120 € Les Tumanoides Associés
JEAN GIRAUD, ALIÁS MOEBIUS
Jcan Giraud nasceu em 8 de maio de 1938, em Fontenay-sous-
Bois, na França. Estudou desenho por correspondência, realizando
suas primciras histórias-em-quadrinhos por volta de 1956. Entre
1961 c 1966, junto com Jean-Claude Méziêres, colaborou na Histoi-
re des Civilisations, da Librairie Hachette. Por essa época, conheccu
Joseph Gillain, mais conhecido como Jijé, que lhe confioua arte-fi-
nal de La Route de Coronado, um episódio da série de faroeste Jerry
Spring, aparecido no semanário belga Spirou, em 1961, Logo depois,
em 1963, Jcan Giraud, assinando apenas Gir ilustrou Fort Navajo
(Forte Navajo), a primeira história de Lieutenant Blueberry (Tenente
Blueberry), a mais barrocae perfeita epopéia do Oeste norte-ame-
ricano, para Pilote, com rotciros de Jean-Michel Charlicr, e, utili-
zando-se do pseudônimo Mocbius, produziu várias histórias para
Hara-Kiri, onde predominavam o humor-negro e o surrealismo.
Realizou, igualmente, algumas historictas de ficção científica para
Pilote, entre as quais La Déviation (O Desvio, 1973), uma [antasia
de sctc páginas, em quecle c sua família, sua esposa Claudine e seus
filhos Jcan e Hélêne, são personagens. Porém,foi em Métal Hurlant,
assinando todos seus trabalhos como Mocbius, que pôde desenvol-
ver todo seu potencial artístico, sendo a partir daí que nasccram
suas melhores histórias-cm-quadrinhosde fantasia e de ficção cicn-
tífica, nas quais vemos umacrítica feroz à nossa sociedade cada vcz
mais violenta e massificada, cabendo menção à 4 Balada, onde dei-
xa claro que em nosso mundo não há lugar para aqueles que so-
nham; 4 Garagem Her mética de Jerry Comelius; O Homen é Bom?;
The Long Tomorrow, uma história de detetive passada no futuro,
com roteiro de Dan O'Bannon; Rock City; O Universo é Pequeno;
Les Yeux du Chat (Os Olhos do Gato), uma obra-prima do horror,

121
roteirizada pelo cincasta Alejandro Jodorowsky; e toda a série do
Incal, comoo detetive John Difool, também escrita por Jodorowsky.
Quadrinhista de valor, Jean Giraud, ou melhor, Moebius, conquis-
tou fama internacional, inclusive tendo suas obras editadas nos
Estados Unidos, um mercado hiper-fechado, pela Epic Comics,
uma subsidiária da Marvel Comics Group.
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Uma prancha de Les armécs die Conquérant
122 «e Les Tlumanoides Associés
MÉTALHURLANT,
DA FRANÇA PARA
O MUNDO
Pilote conheceusua fasc de ouro centre o final da década de 60
c 1974, quando deixou de ser uma revista semanal para sc transfor-
mar num mensário. Por esta época, suas vedetcs eram Astérix, le
Gaulois (Asterix, o Gaulês), de René Goscinny e Albert Udcrzo;
Lucky Luke, de Goscinny c Maurice de Bevtrc (Morris); Tanguyet
Laverdure (Tanguy e Laverdure), de Jean-Michel Charliere Jijé; c,
entre muitas outras, Lieutenant Blueberry (Tenente Blueberry), de
Charlicr e Gir, além de contar com a colaboração de Alexis, Druil-
let, Fred e Gotlib. Em suma, em suas páginas misturavam-sc, dc
forma dosada, aventura, fantasia e humor. Porém, Pilote é uma pu-
blicação editada por uma grande empresa, a Dargaud Éditeur, o que
implica que ashistórias apresentadas nela devem ter um apclo co-
mcrcial. O resultado disto? Muito simples: a editora exige isto ou
aquilo de scus autores, o que lhes limita a capacidadecriativa.
Gir, com Tenente Blueberry, realizou uma das maisbelas e bar-
rocas epopéia do Oeste nortc-amcricano; entretanto, o que sempre
o atraiu foi o fantástico. Em Pilote, fez algumasincursões no gêncro,
mas a revista não lhe deu a oportunidade de se dedicar de corpo e
alma à fantasia, obrigando-o a desenhar mais e mais hislórias do tão
conhecido tencnte da cavalaria dos Estados Unidos.E isto encheu-
lhe a paciência.
Claire Brétécher, Gotlib c Nikita Mandrika foram os primciros
quadrinhistas formados pelo magazine de George Dargaud cria-
rem umapublicação própria, L'Echo des Savanes, dedicada à sátira

123
e ao humor, em 1972. Então, Gir e Druillet juntaram-sc a outros
dois atores de quadrinhos, Jean-Picrre Dionnct e Jean-Claude Gal,
e imaginaram o lançamento de três publicaçõestrimestrais, Métal
Hurlant, Super Ringard e Le Zonard, onde poderiam darlivre curso
à imaginação, sem ficarem presos às imposições editoriais ou às
exigências dosleitores. Todavia, os problemas com o custo de pro-
dução dotrio de revistas, bem como com distribuição delas,fizc-
ram com que escolhessem apcnas uma. Voltaram a se reunir outras
vezes e, certa noite, ou melhor, certa madrugada, chegaram a um
consenso: editariam Métal Hurlant, um magazine trimestral desti-
nadoao fantástico c à ficção cicntífica, assim definido pelo próprio
Dionnct:“Métal Hurlant é umarevista de histórias-em-quadrinhos
e de antecipação, sem heróis musculosos nem mísseis cromados...
Umarevista de fantasmasutilizando a técnica dos quadrinhos de
aventuras... Nela, não podem se repctir os erros do underground
nem sofisticação dos álbuns publicados por Losfeld. É necessário
que os sonhos scjam verossímcis para se desenvolverem. (...) Que-
rer ser livre, recusar a censura,eis o que levou a uma revista dife-
rente; ninguém Linha vontade de aplicar as regras clássicas”, Ber-
nard Farkas uniu-se ao grupo, como administrador, c a Éticnnc Ro-
bial coube a paginação da revista. No dia 15 de janciro de 1975,
distribuiu-se o primciro número de Méta! Hurlant, trazendo na capa
umailustração de Mocbius. Efetivamente, Métal Hurlant nasceu li-
vre e deu liberdade a seus colaboradores — a única exigência era
que fossc feito um trabalho de qualidade —.
Nos númcros iniciais desta publicação, em cinco episódios,
apareceu uma das melhores c mais injusliçada historictas de toda a
história das histórias-cm-quadrinhos, Les Armées du Conquérant,
realizada por Dionnct (roteiro) e Gal (desenhos), na qual através
de um texto preciso e sucinto e ilustrações barrocas e minuciosas,
constatamostoda a estupidez da guerra e que por mais forte e bem
preparado que um exército esteja, vai encontrar um adversário,seja
ele qual for, melhor estruturado e que,fatalmente,o derrotará.
Dentre um dos mais assíduos colaboradores de Métal Hurlant,
além dos já citados Dionnet, Gal e Gir, tivemos, igualmente, o nor-
te-amcricano Richard Vance Corben. Criador da série Den (1973-
1975), Corben é muito estimado em sua pátria e também fora dela,
inclusive, aqui no Brasil. Mas, na verdade, nunca produziu um tra-
balho realmente artístico e sério. Seus personagens são caricatos;
seus enredos são sem começo, meio e fim; e as cores, em suas histó-
rias, são usadas indevidamente, O crítico espanhol Manuel Garcia
Quintana, em Métal Hurlant, uma Resposta, afirmã que algumas de

124
suas historietas “inspiram-se ousão influenciadas peloestilo de Lo-
vecraft”. É muita pretensão afirmar isso de alguém que ainda não
desenvolveu de forma accitável um estilo narrativo.
Depois, pouco a pouco, Métal Hurlant passou a contar com a
colaboração de outros quadrinhistas, tais como: Enki Bilal, Caza,
Nicole Clavcloux, Serge Clerc, Jean-Claude Forest, Paul Gillon, Je-
ronaton, Jacques Lob, Jean-Claude Mézitres, Chantal Montellicr,
Jean Paul Nail, Petillon, Picaret, Denis Sire, Jacques Tardi, Zha e
os brasileiros Sérgio Macedo € Alain Voss. Sérgio não conseguiu
fama alguma em nosso país, tendo aqui editado O Karma de Gaar-
got, em capítulos, nas páginas da extinta O Grilo, no início dosanos
70. Já Alain Voss, é conhecido no Brasil apenas por uma mcia-dúzia
de entusiastas de histórias-em-quadrinhos deficção científica.
Métal Hurlant, como tudo neste mundo,teve sua primavera —
fase de crescimento —, verão — apogeu —, outono — declínio —
e já se encontra no inverno dc sua existência, uma vcz que a maior
parte daquilo que publica, atualmente, é de péssima qualidade,
pendendo mais para o humor. Seus fundadores, que já nem nela
colaboram, devem sentir um cnorme desgosto ao ver em que estado
se encontra sua querida filha.
No entanto, Métal Hurlant deu frutos. E que frutos foram
estes? Ora, as edições alemã, Schwer Metall, e norte-americana,
Heavy Metal.
Schwer Metal! publicou uma história fascinante, 3.000Anos De-
pois, cujo enredo é o seguinte: os habitantes da Terra, após duas
guerras atômicas sucessivas, onde mais da metade da população foi
aniquilada, chegam à conclusão de que a melhor solução para seus
problemas é a paz. Enfrentando mil perigos no mundo do pós-gucr-
ra, entre os quais a radioatividade, traçam planos para enfrentar a
ameaça das chuvas radioativas,a falta de água potável, a fome e as
doenças. Por fim,no despontar do terceiro milênio, a população da
Terra é uma só, sob as ordens de um só mandatário, falando uma
mesmalíngua € vivendo completamente em paz. Entretanto, esta
tranquilidade é quebrada, quando extraterrestres belicosos tentam
dominar nosso plancta. Bem,os leitores devem estar se perguntan-
do quem são os autores de uma história tão bem engendrada. Por
mais incrível que possa parecer, não são franceses ou norte-amceri-
canos: são dois brasileiros, Deodato Borges e Deodato Filho.
Deodato Borges, o roteirista de 3.000 Anos Depois, nasceu em
20 de janeiro de 1935, em João Pessoa, na Paraíba, onde vive até
hoje, trabalhando comogerente do jornal Correio da Paraíba. Gran-

125
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É
EE 7 A
'j

Uma prancha de 3.000 anosdepois


126 € Deodato Borges/Deodato Tillho
de amante das histórias-em-quadrinhos, quando seufilho veio ao
mundo, em 23 de maio de 1963, em Campina Grande, também na
Paraíba,ele lançava a primeira revista de quadrinhos do Nordeste,
As Aventuras de Flama, baseada numa novela radiofônica de enor-
me sucesso na época, transmitida pela Rádio Borborema, de Cam-
pina Grande. Deodato Filho, ao lado do pai, lançou várias revistas
próprias, tais como HQ e Leve Metal. Inicialmente influenciado por
Will Eisner, Frank Miller e Jim Steranko, desenvolveu um estilo de
desenho pessoal e cabea ele, sem dúvida, o título de melhor dese-
nhista brasileiro de histórias-em-quadrinhos,na atualidade. É uma
pena, que como Sérgio Macedo e Alain Voss, seja mais conhecido
e reconhecido lá fora, do que em suaterra natal. 3.000Anos Depois
foi publicada no Brasil no primeiro número de Andróide, da Press
Editorial.
Heavy Metal, editada pelo mesmo grupo que lançou a revista
satírica National Lampoon Comics, estreounas bancas dos Estados
Unidos, em abril de 1977, tendo na capa de seu número um uma
ilustração de Nicollet e, na quarta capa, uma de Druillet. Inicial-
mente, estampou cm suaspáginas apcnas matcrial já saído em Métal
Hurlant; porém, depois, passou a dar ênfase à produção norte-ame-
ricana, publicando: Orion, de Gray Morrow; Sabre, de Don McGre-
gor e Paul Gulacy; e alguns trabalhos do cartunista underground
Vaughn Bodé (1941-1975) e de Jeff Jones, além de quadrinizações
de contos e novelas de autores modernosdeficção científica, entre
as quais Empire, de Samuel R. Delany, com desenhos de Howard
Chaykin; More than Human, de Theodore Sturgeon, adaptada por
Doug Moench e Alex Nino; 4 Rose for Ecclesiastes, de Roger Ze-
lazny, com ilustrações de Gray Morrow; e Shattered like a Glass
Gobin, de Harlan Ellison e Stout.
Vale destacar, que4 RoseforEcclesiastes foi incluída no álbum
The Illustrated Roger Zelazny, produzido pelas Byron Press Publica-
tions para a Baronet Publishing Company e editado em fevereiro de
1978. Todasashistórias deste volume,ilustradas por Gray Morrow,
são um bonito trabalho, onde as cores foram usadas com notável
perfeição. The Hlustrated Roger Zelazny é um livro que deve estar
não somente nas bibliotecas daqueles que apreciam ficção científica
ou quadrinhos, mas as artes em geral.

127
E AÍ? CÊ FALOU ALGUMA CONA
SOBRE UMA MISSÃO E QUE TINHA

PRECISO APRENDER MAS SOBRE


MIM MESMO, PRA CONHECER
OH! MESSIAS, VOCÊ MELHOR! QUEROTER CER-
EL... EUTE TEZA DE QUE FAREI AS COSAS
YO AFERENTE DESAA VEZ /O MEU
PALYAL ENTENDER! ALÉM DO MAIS,
TENHO AGUNS AMIGOS PRECI -
SANDO CONHECER À 5 MESMOS,
FALA GUE NOS AJUDEM DEPOIS /
AM! YOU TE LEVAR LUGAR
INCRÍVEL CHAMADO EDENTI /

Int AN
Uma página de Entidade Zero
128 & Watson Portela
E SURGE UM NOVO GÊNERO:
A FICÇÃOCIENTÍFICA
ERÓTICA
Nestes anos 80, presenciamos o surgimento de um novo tipo
de histórias-em-quadrinhosde ficção científica: as historietas onde
se misturam enredos de antecipação e erotismo, estes beirando a
pornografia, Entre seus cultores, aqui no Brasil, temos Watson Por-
tela, realizador das histórias Entidade Zero, Laboratório e Paralelas,
entre outras. No exterior, dos quadrinhistas que se dedicaram a esta
modalidade de quadrinhos, o que conseguiu elaborar um trabalho
mais criativo foi, em nosso entender, Milo Manara.
Maurillio (Milo) Manara nasceu em 12 de setembro de 1945,
em Luson, na província de Bolzano,Itália. Pintor, escultor, publici-
tário e sax-tenor nas horas vagas, apaixonou-se pelas histórias-em-
quadrinhos ao conhecer a obra de Jean-Claude Forest e Hugo Pratt,
no estúdio do escultor Berrocal. E foi precisamente através das his-
torietas que Manara pôde dar vazãoàssuasidéias, durante a época
em que esteve perseguido pelas autoridades italianas — em 1968,
durante os distúrbios políticos que agitaram o mundo, ele era um
militante maoísta —, iniciando suas atividades nesta forma de arte
com os desenhos anônimos de Genius e Jolanda, para revistinhas
eróticas de grandestiragens. Genius e Jolanda circularam de 1969
a 1973; porém, Manara não abandonouas histórias-em-quadrinhos,
umavez que já havia sido atingido pela febre dos comics. Em 1973,
realizou seu primeiro grande trabalho, La Parola Giuria, uma série
didática publicada na Corriere dei Ragazzi. Três anos mais tarde, .
produziu paraa Alterlinus, segundo um roteiro de Silverio Pisu, ba-

129
seando-se num conto chinês do século XVI, Lo Scimmiotto, uma
parábola política, na qual se notam claras influências de Moebius.
Logo em seguida, desenhou cinco episódios da L'Histoire de France
en Bandes Dessinées, da Librairie Larousse. Em novembro de 1978,
apareceu L'Uomodelle Nevi, volume dezenove da coleção Un Uo-
mo Un'Awentura, das Edizioni Cepim, de Milão, contando a lenda
do abominável homem das neves. Entretanto, só foi mostrar toda
sua maestria na arte de conceber umahistorieta com 1/ Giuoco (O
Clic, a Rendição do Sexo), aparecida em avant-premiére na revista
Glamour número4, em julho de 1982, passando depois a ser publi-
cadaa cores no magazine masculino Playmen. Mais tarde, em 1984,
as páginas foram reunidas em um álbum, lançado em vários países
da Europa e também editado no Brasil.
O Clic conta a história de como o Doutor Fez Contini, um ex-
médico, roubou um invento de seu ex-colega, o Doutor Kranz, de
Genebra. Esta invenção, um aparelho capaz de curar qualquer caso
de impotência sexual, consistia de um receptor de cerca de dois
milímetros que deveria ser implantado no cérebro do paciente e que
devido sua composição logo se integraria às células nervosas,e de
um transmissor de pequeno tamanho que podia ser levado no bolso
e que dispunha de um botão o qual permitia regular a intensidade
do estímulo, do mínimo ao máximo. Cláudia Cristiani, a esposa de
Aleardo, um rico empresário italiano, apesar de bonita e jovem, era
um tanto retraída, fechada fria, pouca atenção dando ao Doutor
Fez, a quem detestava, achando-o mesmo repugnante, por causa de
seu insistente assédio. Fez terminou por raptá-la e instalou em seu
cérebro o aparelhinho. Ao retornar ao convívio do lar, Cláudia, sem
nada saber do quese passara, já não era a mesma, tornando-se uma
verdadeira máquina do amor. A um simples giro do botão, efetuado
por Fez, ela pouco se importava com o local — umaloja de depar-
tamentos movimentada, um cinema superlotado, o meio da selva de
umailha deserta, o saguão cheio de um hotel e um celeiro — para
se desnudar e fazer sexo com quem estivesse à sua frente — um
vendedor, um mordomo, um desconhecido e até mesmo um cachor-
ro —, para desespero de Aleardo e de Joana, sua melhor amiga.
O segundo trabalho de Manara no qual se misturam erotismo
e ficção científica, 1] Profumo del! Invisibile (O Perfume do Invisível),
é uma de suas mais recentes realizações — o copyright data de 1987.
Nele, retoma um temajá utilizado por H. G. Wells, em TheInvisible
Man (O Homem Invísivel, 1897), ou seja, o da invisibilidade. Em O
Perfume do Invisível, como em O Clic, temos a participação de um

130
cientista, um professorde física, que durante algumas experiências
descobriu uma espécie de pomada feita a partir de fibras ópticas e
que não reflete a luz de modo normal, isto é, uma vez passada a
pomada sobre qualquer objeto, inclusive pessoas, este se torna in-
visível, Na fabricação desta mistura, teve de se utilizar de um exci-
piente, escolhendo o caramelo; porisso, quandoinvisível, a única
coisa que detecta a presença do professor é o forte cheiro de cara-
melo — notranscorrer de todaa história, ele é tratado apenas por
Caramelo —. Ele, desde os tempos de infância, tinha uma intensa
paixão por Beatriz (Bia) D'Altavilla, hoje transformada na primeira
bailarina de uma companhia debalé,e julgava que seu amorplatô-
nico era plenamente correspondido. Entretanto, Beatriz nem sabia
de sua existência e só se preocupava com seus prazeres mundanos.
Contudo, nos quadrinhos assim como nas outras artes, entre as
quais o cinema a literatura, as coisas acontecem de formadiversa
que na realidade,e a vida acabou sorrindo para nosso bom amigo
Caramelo, que nunca tivera uma experiência amorosa, e encontrou
a pessoaideal para compartilhar de suas frustraçõese segredos em
Mel, a bem proporcionada de corpo, descontraída, desinibidae en-
graçadinha secretária de Beatriz. Foi justamente no quarto de Bea-
triz que Mel surpreendeu, certo dia, Caramelo meio visível/meio
invisível. Depois, ela contou a todo mundo respeito dofantástico
acontecimento,que a princípio pensou ser um sonho, mas ninguém
acreditou em suas palavras.
Através de suas historietas, repletas de humore, infelizmente,
consideradas por alguns retrógrados como mero sexo explícito sujo
e barato, Manara retrata, como ninguém,atualmente, no campo das
histórias-em-quadrinhos, todas as hipocrisias e injustiças de nossa
civilização, que está prestes a ser tragada por suas mesquinharias
como foi tragado o Nuovo Teatro Tenda pelas águas do mar — ver
as páginas finais de O Perfume do Invisível —.

MAIS UM POL
QUINHO E vai OLHEM ELA LA!
MELHORAR... A E BEATRIZ
SENTINELA PO | DALTÁVILLA 7
DERA DES"
CANSAR

O perfiune do invisível
& Milo Manara/Distribution Staletti 131
EJA so os GUAR-
PAS! IS = O TEM
ATÉ NO
INFERNO, COM
CELTEZA!

ii
———
Siro mini dy
==Ep

Ur jo ina de 4 sobrevivente
b
G
A SOBREVIVENTE: A VOLTA
DOS ROBOS

Osrobôs,tão bem retratados por excelentes ilustradores das


pulps, tais como Alejandro, Virgil Finlay, Frank Kelly Freas, Fuqua,
Tillotson e Van Dongene já muito comentados neste nosso traba-
lho, tiveram uma participação importante em La Survivante (A So-
brevivente), de Paul Gillon.
Gillon, um apaixonado por cinema, music-hall, teatro e, espe-
cialmente, por histórias-cm-quadrinhos, nasceu em 11 de maio de
1926, na França. Começousua carreira artística fazendo caricaturas
para o France-Dimanche e Samedi-Soir, entre outros jornais, lan-
çando-se como quadrinhista, no ano de 1947,aoilustrar alguns ro-
teiros de Roger Lécureux, em Vaillant. Mais tarde, realizou Fils de
Chine (1950-1953), onde reconstituiu a longa marcha de Mao Tsé-
Tung (1893-1976), para assumir o poder, na China; Capitaine Cor-
moran (1954-1959), com o argumentista Jean Ollivier; e Wango
(1958-1960), sob um argumento de Lécureux. Em 1964,criou Les
Naufragés du Temps, em parceria com Jean-Claude Forest, para
Chou-Chou. A séric foi interrompida antes mesmodo fim darevista;
entretanto, reapareceu dez anos depois no France-Soir, no qual fo-
ram publicadosdois grandes episódios, aparecidos, respectivamen-
te, entre maio é setembro de 1974 e maio e novembro de 1975 —
mais tarde, eles foram cnfcixados em quatro álbuns da Hachette —.
Dedicando-se pela primeira vez à ficção científica com Les
Naufragés du Temps, Gillon terminou especializando-se neste gê-
nero, produzindo várias historietas de antecipação para Métal Hur-
lant — inclusive, em Métal Hurlant foram estampadas novas histó-
rias de Les Naufragés du Temps, agora totalmente realizadas por
Gillon, desde os roteiros até os desenhos —.

133
Em 1985, nas páginas de L'Écho des Savanes, vamos encontrar
um Gillon mais moderno e ousado com a 4 Sobrevivente, umahis-
tória-em-quadrinhos para adultos, desenhada a partir de uma idéia
original de Claude Maggiori.
A sobrevivente, em questão, é uma bela, jovem e sensual mo-
rena, Aude Albrespy, a única pessoaa se salvar de uma catástrofe
nuclear — na hora do cataclisma, encontrava-se no fundo do mar,
pesquisando —. Em Paris, ela encontravivos apenas os robôs, os
Cibers, criados para servir o homem — são eles que realizam os
trabalhos de patrulhamento nas estradas, vendas naslojas, serviço
de quarto nos hotéis etc —. Cada vez mais nervosa, devido à cruel
solidão quelhe foi impostae ao longo jejum sexual, Aude termina
por fazer amor com Ulisses, um dos Cibers. Porém, não sentiu-se
satisfeita com ele, desejando, ardentemente, um homem. Como se
os anjos tivessem ouvido suas súplicas, um outro sobrevivente, o
astronauta Stanney — durante a catástrofe atômica, ele passeava
pelas luas de Plutão — a contata no Hotel Grillon, na Praça da Con-
córdia — local este que Aude transformara em seu novolar, sendo
sempre ficlmente atendida pelos Cibers —. Após o encontro de Au-
de com Stanney, Ulisses passa a sentir algo que apenas nós, os hu-
manos, sentimos: ciúmes. Este sentimento apodera-se do robôprin-
cipalmente a partir do banho que Stanney dá em Aude — algo que
só cabe a ele, Ulisses —. Se em toda a história já ficava patente a
tragédia — Gillon equiparou-se aqui a Ray Bradbury e Richard
Matheson, que possuem alguns textos que preconizam um futuro
negro para a Terra —, no final de 4 Sobrevivente, o trágico assume
proporçõesgigantescas, com a morte de Stanney, nas mãos de Ulis-
ses, e Aude compreendendo que era a única pessoa viva em todo o
mundo e passando a gritar a plenos pulmões, com seus gritos to-
mando conta de toda a Cidade Luz. Um belo fim, apesar de um
tanto quanto macabro.

134
RANXEROX

Gaetano (Tanino) Liberatore nasceu em 12 de abril de 1953,


na aldeia de Quadri, no centro da Itália. Começou a desenhar desde
os cinco anosde idadee na adolescência frequentou o liceu artístico
de Pescara, próximo a Quadri. Cursou arquitetura e, entre 1974 e
1978, já radicado em Roma,fez capas de discos para a gravadora
Ricordi-RCA. Em 1978, um de seus ex-colegas de liceu, Andrea Pa-
zienza, apresentou-o à redação de Cannibale, uma revista de histó-
rias-em-quadrinhos vanguardistas. Nesta publicação, travou conta-
to com Stefano Tamburini, que criara em 1978 um robô de quase
dois metros de altura, com a colaboração de Pazienza. Entretanto,
a série, inicialmente publicada na própria Cannibale, só se transfor-
mou num sucesso quando passou a ser desenhada por Liberatore.
A nova versão de Ranxerox estreou em 1981, na revista italiana Fri-
gidaire e correu o mundo,sendo editada no Brasil (Animal), Canadá
(Chic), Espanha (E! Víbora), Estados Unidos (Alien World e Heavy
Metal) e na França (L'Écho des Savanes).
Não sabemos como uma historieta tão repugnante, pessima-
mente desenhada, com excesso de violência e pornografia gratuita,
escrita numa linguagem de baixíssimo calão, sem começo, meio €
fim e sem nenhuma mensagem, pôdeter encontrado acolhida entre
os leitores. Ranverox destila degradação por todos os lados, a co-
meçar por Lubna, a namoradinha de Ranxerox, uma ninfeta de pou-
co mais de treze anos, cujos únicos pensamentos são para sexoe as
drogas. Talvez a única coisa que esta história-em-quadrinhosre(lita
seja a mente confusa e doentia de seu roteirista, Tamburini, que
encontrou a morte em 1986, ao tomar uma overdose de heroína.

135
US-1 CONTINUA SOFRENDO A : FALTAM APENAS ApGures SEGUNDOS
DOS RAIOS REDUTORES, EN - PARA A NAVE SEUS COMPONENTES
ro PVANEA, VAGAROSAMENTE, PENETRAREM INTERIOR DA MOEDA...
PARA MOEDA! E a
el OS APARELHOS.
QUANDO : BR FUNCIONAM NOR-
BINGIRMOS A ATE” B NALMENTE «+
E MOEDA ESTA: |
R REMOS
MENORES

| ESTES a)VEL Cm
| NÃO ESTAMOS MAIS MU os raios E
A MAQUINA PRA! | DIMINUINDO | Agi a ao
68 fas REDUTO: | M e FUNCIONAR! ÉS
j E ] LO

Uma página de No mundo dos gigantes


136 €&Gráfica Iiditora Penteado Ltda.
A FICÇÃO CIENTÍFICA NOS
QUADRINHOSBRASILEIROS
O Brasil, que tevc a primazia de lançar a primcira revista de
histórias-cm-quadrinhos do mundo, O Tico-Tico, da S. A.“O Ma-
lho”, do Rio de Janciro, em 1905, nunca deu importância à implan-
tação de uma indústria quadrinhística nacional. O grande boomdos
quadrinhosbrasileiros aconteceu entre o final dos anos 50 e o co-
mceço dos 70, quando várias cditoras pequenas de São Paulo, entre
as quais Edições”O Livreiro”; Edrel; Gráfica Editora Novo Mundo;
Gráfica Editora Penteado (GEP); Graúna; Indústria Gráfica Benti-
vegra; La Selva; Prelúdio; Saber; e Taika, primeiro chamada de Con-
finental ce Outubro, lançaram uma enorme quantidade de gibis no
mcrcado. A maior parte das revistas publicadas neste período fo-
ram de horror c de super-heróis. Entretanto, em algumas ocasiões,
vamos cncontrar nelas algumas incursões pela ficção científica. Por
exemplo, mesmo nas histórias de alguns heróis e super-heróis, tais
como Bola de Fogo, de Wilson Fernandes; Fantar, de Milton Mat-
tos ce Edmundo Rodrigues; Fikon, dc Fernando Ikoma; Homcm
Lua, de Gedconc Malagola; Mylar, o Homem Mistério, de Luis Me-
rí ce Eugenio Colonnese, Pabeyma, de Nelson C. y Cunha e Paulo
Iutaka Fukuc; Raio Negro, de Gedconc Malagola; Satanik, de Ru-
bens Francisco Lucchctti, Di Tullio c Nico Rosso; Supcrargo, de
Rubens Cordeiro; Super Heros, de Paulo Fukue; e Zhor, o Atlanta,
de Francisco de Assis e Walmir Amaral, notamos claramcntc cle-
mentos de antecipação.
Em 1970, a revista Coleção de Clássicos Juvenis em Quadri-
nhos, das Edições“O Livreiro”, apresentou Viagem à Lua, a quadri-
nização da novela Da Terra à Lua (De la Terre à la Lune, 1865), de

137
Júlio Verne, adaptada por Rubens Francisco Lucchetti e Edmundo
Rodrigues, que além de notável desenhista é um excelente editor.
Noinício da década de 70, apareceu No Mundo dos Gigantes,
um gibi de cem páginas, publicado pela GEP e no qual Jony Star e
sua noiva Evânia, juntamente com Taj-Al, um pesquisador indiano;
Matsu, um explorador japonês; e o Doutor Gederson, partem numa
arriscada missão planejada por Gederson:a bordo da naveArgus-1,
nossos amigos ficaram reduzidos a uma ínfima partícula de uma
molécula e poderão penetrar em uma moeda, podendo,assim, ex-
plorar os fantásticos mundos queali existem. Entretanto, algo saiu
errado e Jony Star e seus companheiros vêem-se miniaturizados a
quinze centímetros dealtura, envolvendo-se em rhil perigos. Numa
mistura de Viagem ao Interior de uma Moeda com o seriado televi-
sivo Land of the Giants (Terra dos Gigantes), produzido por Irwin
Allen, entre 1968 e 1970, esta historieta teve roteiro de Gedeone
Malagola e desenhos de Paulo Hamasaki e Moacir Rodrigues; a
ilustração da capa do magazine coube a Walter da Silva Gomes.
Em fins dos anos 70, a Grafipar, de Curitiba, lançou Próton,
uma revista de trinta e seis páginas, em formatinho, dedicada exclu-
sivamenteàs histórias-em-quadrinhos defantasia € ficção científica.
Nela, apareceram trabalhos de alguns quadrinhistas modernos,
dentre os quais devemos ressaltar Ataíde Braz e Franco de Rosa
(roteiros) e Roberto Kussumoto, Watson Portela, Seabra e Vilachã
(desenhos), além de contar com alguns veteranos como colabora-
dores, tais como Flávio Colin e Walmir Amaral.
Nesta década dos 80, o Estúdio Ofeliano de Almeida, do Rio
de Janeiro, dirigido por Eduardo Ebenezer Ofeliano de Almeida,
através da Press Editorial, de São Paulo, lançou Androide, que em
seus dois números mostrou colaborações de Cynthia Carvalho; Si-
demar de Castro; Mozart Couto, um desenhista um tanto irregular,
uma vez que sabe desenhar muito bem, mas apresenta, na maioria
da vezes, um traço grosseiro; E. €. Nickel; e Emir Lima Ribeiro,
muito conhecido dos fanzinistas, por sua super-heroína de mais de
dois metros de altura, Welta ou Velta, que já completou dez anos
de existência em revistas editadas pelo próprio Emir e até hoje não
encontrou entrada em nenhuma das editoras comerciais brasileira.
A Press foi, igualmente, responsável pelo lançamento de Contatos
Imediatos, que apresentou Os Guerreiros do Crepúsculo, uma longa
história de E. C. Nickel; Radar, e Superficção, onde se destacam
Mozart Couto, Itamar Gonçalves, Watson Portela, Franco de Rosa
e Gustavo Valadares.

138
Isto é tudo o que podeserressaltado da produção nacional de
historietas de ficção científica. É muito pouco para um país das
dimensões do nosso, com uma população que já beira os cento €
cingiienta milhões de habitantes. Esperemos que um dia estetriste
quadro mude, fazendo com que nossas editoras dêem uma remu-
neraçãojusta aos roteiristas e desenhistas e possam, enfim, os qua-
drinhosbrasileiros se desenvolver como um indústria.

pr OS SORTEADOS DER-
) TE NCENTES ACLAGEE 2, DE-
À N vERÃO SE DIRIGIR AQCENTRO
F CIRÚDGICO, ONDE IRÃO GER

ISA SIMPLES, LO—


LIBERADOS!

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Umpágina de Solidão
O Grafipar 139
E OS HERÓIS DA FICÇÃO
CIENTÍFICA CHEGAM NO
BRASIL
Buck Rogers — estreou, em nosso país, em 12 de novembro de
1936, no Suplemento Juvenil número 299, do Grande Consórcio Su-
plementos Nacionais, dirigido por Adolfo Aizen.
Dick Tracy — lançado no Brasil em 13 de janeiro de 1938, pelo
Suplemento Juvenil número 482. Já Lunita, apareceu, pela primeira
vez entre nós, na página de histórias-em-quadrinhos de O Globo,
nos anos 60.
Brick Bradford — fez sua estréia, com o nome de Dick James,
no Suplemento Juvenil 27, em 10 de outubro de 1936.
Flash Gordon — teve seu lançamento, em nosso país, no Su-
plemento Juvenil número 3, em 28 de março de 1934.
Don Dixon — apareceu no final da década de 30, n'O Globo
Juvenil.
Jonny Wiking — estreou m'A Gazeta Juvenil número 7, em 29
de abril de 1948,
Mandrake — [oi lançado no Suplemento Juvenil 101, em 10 de-
agosto de 1935.
Connie — presumivelmente, teve sua estréia, no Brasil, em 19
de março de 1938, quando do lançamento do álbum No SéculoXXX.
Naspáginas de O Globo Juvenil recebeu dois títulos: Sônia e Mabel
Loy.
Brucutu — lançadoentre nós em 23 de abril de 1939, na página
central colorida da revista Gibi, de propriedade de Roberto Mari-
nho,

141
Super-Homem — fez sua estréia em 8 dg abril de 1939,na pri-
meira Edição Magestosa d'A Gazetinha.
Auro, Lord de Júpiter, Futura e Mysta, a Rainha da Lua — apa-
receram na revista O Gun, da Empresa Gráfica O Cruzeiro, nos anos
40.
Adam Strange — estreou, em nosso país, noinício da década
de 60,na revista Homem no Espaço, da Empresa Gráfica O Cruzeiro,
com o nome de Joe Cometa. Mais tarde, passou a aparecer, com seu
título original, em diversas publicações da EBAL. Como Os Desa-
fiantes do Desconhecido, Os Aventureiros dasEstrelas, A Patrulha
do Destino e Léo Futuro, nunca teve umarevista própria.
Magnus — em meados dos anos 60,figurou na Homem no
Espaço.
Kamandi — lançado pela EBAL, em agosto de 1979, na revista
Lançamento, em fornatinho.
Galax — apareceu em março de 1978, na Lançamento.
| Jeff Hawke — [ez sua estréia, entre nós, no primeiro número
da Eureka, da Casa Editora Vecchi, em março de 1974.
Axa — apresentada aos leitores brasileiros através do álbum
Axa, A Destemida, impresso pela EBAL, em junho de 1981, e que
apresentava as duas primeiras histórias da heroína: A Libertada cA
Escolhida.
Blake e Mortimer — deles, entre nós, apareceu apenas O Caso
do Colar, publicada, em capítulos, na Tintin, em fins da década de
60.
Tintin — tem suas aventuras, incluindo Rumo à Lua e Explo-
rando a Lua, publicadas no Brasil, desde os anos 60, pela Editora
Record.
Barbarella — seu álbum foi editado pela Linográfica Editora,
de São Paulo, em 1969.
Cinco por Infinitus — esta história que marcou a estréia de
Esteban Maroto, em nosso país, apareceu numasérie de vinte fas-
cículos publicados pela EBAL, no começo da década de 70.
Zephyd — apareceu num belo álbum colorido da EBAL, em
agosto de 1980,
Vampirella — estreou, em nosso país, na revista Vampirella, da
Editora Kultus, de São Paulo. Apesar de dartítulo à publicação, a
habitante de Drakulon figurou apenas no primeiro número de seu
gibi, que parou de circular na quarta edição.
Scarlett Dream — os leitores brasileiros conheceram-na atra-
vés da história Operação Oriente, estampada no Almanaque do Gibi
Atualidade, da Rio Gráfica Editora, em dezembro de 1975.

142
Valérian — figurou em O Globinho, o suplemento dominical a
cores de histórias-em-quadrinhos do jornal carioca O Globo, em
meados dos anos 80,
Moebius — em janeiro de 1977, numa publicação alternativa,
Super-8 Quadrinhos, um tablóide editado pela Programa/Artes Vi-
suais, do Rio de Janeiro,ele teve sua primeira historieta, O Major
Fatal, publicada no Brasil.
O Clic e O Perfume do Invisível — histórias aparecidas, no Bra-
sil, em álbuns de luxo,na coleção Ópera Erótica, da Livraria Martins
Fontes Editora, em 1986 e 1987, respectivamente.
Ranxerox — a revista Animal, entre seus números 1 e 5 (1988),
publicou, em capítulos,a história Ranxerox em New York.
A Sobrevivente — aparecida, entre nós, na Coleção Ópera Eró-
tica, da Martins Fontes, em 1988.

143
BIBLIOGRAFIA

ARTIGOS

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Mandrake no País dos Faquires e no País dos Homens Pequeni-
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Interior de uma Moeda, Editora Brasil-América, Rio de Janeiro,
1984
— BENÍTEZ, Óscar W. — Mandrake el Mago, in Mandrake em la
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número 43,Ivaldi Editore, Genova, maio-junho de 1975
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Primeiras Histórias do Superman, LPM Editores, Porto Alegre,
inverno de 1987
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Kadath: Fanzine de Ciência Ficción y Fantasia, número 1, Buenos
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ras, número 147, Aguiar & Dias, Lisboa, 22 de julho de 1976
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tastic, números 8 e 9, Barcelona, maio € junho de 1972
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Livraria Bertrand, 14 de abril de 1973
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número 20 do 6º ano, Livraria Bertrand, Amadora,6 de outubro
de 1973
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mero 40 do 7º ano, Livraria Bertrand, Amadora, 22 de fevereiro
de 1975
— GRANJA, Vasco — Como Jacobs Iniciou sua Carreira, n Tintin,
número 45 do 9º ano, Livraria Internacional, Amadora, 26 de
março de 1977
— LE GALLO, Claude — Tintin Herói do Século XX, in Tintin,
números 11 e 13 do 4º ano, Livraria Internacional, Amadora, 7
de agosto de 1971 e 21 de aposto de 1971
— LUCCHETTI, Marco Aurélio — Mandrake, o Homem do Mis-
tério, in Fanzim Extra, número 3, Aníbal Barros Cassal (editor),
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— MAINE,Régis — Mandrake ou o Ídolo das Festas Infantis, in O
Cobra, LPM Editores, Porto Alegre, primavera de 1986
— QUINTANA,Manuel Garcia — Métal Hurlant, uma Resposta,
in Tintin, números de 20 a 33 do 10º ano, Livraria Internacional,
Amadora, de 1º dc outubro de 1977 a 31 de dezembro de 1977
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Obra de Jacobs, in Tintin, números 25 e 26 do 8º ano, Livraria
Internacional, Amadora, 8 de novembro de 1975 e 15 de novem-
bro de 1975
— SAMPAIO,Luiz Antônio — Alley Oop, in Mestres do Terror,
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— SGARBI, Armando — Connie, in Jomal da Gibizada, número
20, Valdir de Amorim Damasô (editor), Macció, setembro/de-
zembro de 1988
— TRAINI, Rinaldo — De Tarzan a Alley Oop, in Alley Oop, nú-
mero 1, Comic Art Editrice, Roma, abril de 1975
— MEINBERG, Maria Aparecida & LUCCHETTI, Marco Auré-
lio — É um Pássaro? É um Avião? É o Superman aos50,in Vídeo
número 20, Promoções e Eventos, São Paulo, abril de 1988
— Flash Gordon, uma Odisséia no Espaço, in Mundo de Aventuras,
especial número 21, Aguiar & Dias, Lisboa, dezembro de 1978
— Flash Gordon e o Começo da Era Espacial, in Antologia da Bd
Clássica, volume 4, Editorial Futura, Lisboa, 1983
— A Saga dos Deodatos, m Fon-Fon! número 4, Aníbal Barros Cas-
sal (editor), Porto Alegre, julho de 1988

FANZINES

— Pop Quadrinhos número 5, Genildo“Scott” Tavares (editor),


Maceió,feverciro de 1989

LIVROS

— ALESSANDRINI, Marjorie (organização) — Encyclopédie des


Bandes Dessinées, Albin Michel, Paris, 1979
— BUONO,Oeste del Buono — Enciclopedia del Fumetto 1, Mi-
lano Libri Edizioni, Milão, 1969
— COMA,Javier — Del Gato Félix ao Gato Fritz, Editorial Gustavo
Gili, Barcelona, 1979
— DUVEAU, Marc — Comics U.S.A., Albin Michel, 4º trimestre
de 1975
— EWALD FILHO,Rubens — Dicionário de Cineastas, LPM Edi-
tores, Porto Alegre, outono de 1988
— FLEISHER,MichaclL. — The Great Superman Book, Harmony
Books, Nova York, outubro de 1978
— GARRICK, P.R. — Masters ofComic BookArt, Images Graphi-
ques, Nova York, 1978
— GROSSMAN,Gary H. — Superman Serial to Cereal, Popular
Library, Nova York, abril de 1976
— GUNN, James E. — Altenate Worlds, A & W Visual Library,
1975
— HORN, Maurice (organização) — The World Encyclopedia of
Comics, Chelsea House Publishers, Nova York, 1976

147
— HOUAISS,Antônio — Pequeno Dicionário Enciclopédico Koo-
gan Larousse, Editora Larousse do Brasil, Rio de Janeiro, 1979
— NASCIMENTO, R. C. — Quem é Quem na Ficção Científica I,
João Scortecci Editor, São Paulo, 1985
— O'BRIEN,Richard — The Golden Age of Comics, Ballantine
Books, Nova York, 1977
— OVERSTREET, Robert M. — The Comic Book Price Guide
1976-1977, Cleveland, 1976
— OVERSTREET, Robert M. — The Comic Book Price Guide
1978-1979, Cleveland, 1976
— POST, J. B. — The Atlas of Fantasy, Ballantine Books, Nova
York, junho de 1979
— ROTTENSTEINER, Franz — The Fantasy Book, Collier Books,
Nova York, 1978
— ROVIN, Jeff — The Encyclopedia of Superheroes, Facts on File
Publications, Nova York, 1985
— SADOUL, Numa — Mister Moebius et Docteur Gir, Albin Mi-
chel, Paris, 1º trimestre de 1976
— SILVA, Diamantino da — Quadrinhos para Quadrados, Bels,
Porto Alegre, 1976
— STRAZZULLA, Gactano — Fumetti di Ieri e di Opggi, Cappelli
Editore, Bologna, 1977
— VANDOREN, Charles — Webster's American Biographies, G &
C Mcrriam Company, Springfield, 1975
— COUPERIE,Pierre; DESTEFANIS, Proto; FRANÇOIS, Edo-
uard; HORN, Maurice; MOLITERNI, Claude; e TALABOT,
Gerald Gassiot — História em Quadrinhos & Comunicação de
Massa, MASP, São Paulo, 1970
— Enciclopedia Ilustrada del Cine (4 volumes), Editorial Labor,
Barcelona, 1970
— Vídeo Guia 88, Editora Nova Cultural, São Paulo, 1987

REVISTAS

Les Cahiers de la Bande Dessinée, número 7 (Linus e Méziêres),


Éditions Jacques Glénat, Grenoble, 3º trimestre de 1973
Les Cahiers de la Bande Dessinée, número 26 (Jean-Claude Forest),
Éditions Jacques Glénat, Grenoble, 1975
Les Cahiers de la Bande Dessinée, número 30 (EdgarPierre Jacobs),
Éditions Jacques Glénat, Grenoble, 1976

148
NOTA FINAL

E assim, chegamosaofinal de 4 Ficção Científica nos Quadri-


nhos.
Tentamos, com ele, dar um panorama geral do que foi publi-
cado,até hoje, no que diz respeito às histórias-em-quadrinhos de
antecipação.
Se porventura, algum (a) personagem não foi comentado (a),
[oi por nossototal desconhecimento dele (a). Caso algum leitor te-
nha dados sobre os autores ou personagens aqui citados ou sobre
outros relacionados com os quadrinhos de ficção científica, gosta-
ríamos que entrasse em contato com nossos editores. Eles nos en-
caminhariam estas informações, para uma eventual segunda edição
ampliada de 4 Ficção Científica nos Quadrinhos.

Obrigado pela atenção.


Marco Aurélio Lucchctti
Ribeirão Preto, 13 de maio de 1989.

149
3 edições GRD
“Os contos de José dos Santos Fernandes são exem-
plares quanto à mistura das influências de Asimov, Brad-
bury, Lessing, Clark — e o resultado é não só um bem
dotado equilíbrio entre elas, mas a manifestação de uma
“personalidade” independente do escritor, que se mostra
capaz de construir um universo ficcional próprio”. (J. €.
Ismael, in Cultura,n.º 561, O Estado de S. Paulo, 11/5/91).

“A boa notícia é que volta à ativa a coleção “Ficção


Científica GRD”, que nos anos 60 lançou alguns dos clás-
sicos no gênero. A nova série já conta com seis títulos e,
entre eles, um destaque inegável: o romance Só a terra
permanece, de George R. Stewart. Manipulando um tema
Já tradicional na FC — a destruição da civilização, a hu-
manidade em perigo de extinção —, Stewart constrói um
livro inquietadore fascinante”. (Luis Felipe Miguel, in Cor-
reio Brasiliense, Brasília, 5/4/91).

“A pedra que canta é um reedição da primeira an-


tologia de contos do autor, Só sei que não vou por aí !,
publicado em 1989 pela mesma editora. A ficção científica
de Henrique Flory pertence à linha chamada Cyberpunk,
que surgiu na década de 80. (...) Quase todas as histórias
se passam numaterra devastada pela poluição, onde epi-
demias provocam movimentos messiânicos e assassinos
psicopatas caçam novas vítimas entre as ruínas das gi-
gantescas megalópolis”. (Jorge Luís Calife, in Idéias e
Livros, Jornal do Brasil, RJ, 4/5/91).

> o
A a E
a A v
2: A e
0 N
Filme fornecido pela Editora
Impresso na
Gráfica A Tribuna de Santos Ltda.
Rua General Câmara, 300
Telefone 32-8692
CEP 11.010 - Santos
nho atinge um grau de apu-
ro técnico e criatividade
que, não se duvide, o trans-
formará na arte que irá ca-
racterizar a segunda meta-
de do século XX.
A necessidade de siste-
matizar os estudos deste gê-
nero de desenho-ficção le-
vou o autor a realizar esta
pesquisa que GRD oferece
ao público, certo de que se-
rá de extrema utilidade pa-
ra todos os que desejam in-
formação sobre esta mara-
vilhosa manifestação artís-
tica. Encontra-se aqui uma
detalhada exposição dos
principais heróis da FC em
HQ, com descrições das
personagens, informações
completas sobre seus auto-
res (desenhistas e roteiris-
tas) e o histórico da sua pu-
blicação.
Amplamente ilustrada,
possui ainda uma cuidadosa
bibliografia para orientar o
leitor que deseje ampliar
seus conhecimentos sobre
a matéria.
HANNO DELLE MACCHINE: CHE NON VALGONO
NULA?! DISTRUGGERL! TUTTI SARA PER NO!
UN GiVOCO* ORA rc a COSTRUIRE
SUBITO. LA TORGÉE 1
PER STABILIRE IL
COLEGAMENTO a E
CON SATURNO!

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35 ano

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