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Mudar a perspetiva, adaptar a escala: Tecnologias

macro e microlíticas do início do mesolítico na


Península Ibérica.

Figura 1: Areeiro 3: Areeiro bladelets. Photo J. P. Ruas

Departamento de História
Unidade Curricular: Pré-História
Docente: Prof.º Dr. º João Carlos Muralha Cardoso
Discente: Eva Francisco Saldanha (nº2023127867)
Ano letivo: 2023/2024 -1ºSemestre

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Índice

Introdução -------------------------------------------------------------------- 3

Estudo do artigo-------------------------------------------------------------- 4

Comparação com outros artigos ------------------------------------------- 5

Opinião Argumentativa------------------------------------------------------ 9

Conclusão--------------------------------------------------------------------- 10

Referências Bibliográficas ------------------------------------------------ 11

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Introdução
Este trabalho foi realizado no âmbito da unidade curricular de pré-história, como
proposta avaliativa do primeiro semestre. O trabalho desenvolvido teve como fonte
principal um dos artigos propostos pelo professor, “Changing the Perspective, Adapting
the Scale: Macro- and Microlithic Technologies of the Early Mesolithic in the SW
Iberian Peninsula” publicado em 2022 na revista Open Arqueology pela autora e
arqueóloga Ana Cristina Araújo.

Este artigo procura introduzir o tópico das tecnologias Macro e Microlíticas na região
sudoeste da Península Ibérica, e analisa minuciosamente os artefactos líticos
encontrados nos sites arqueológicos estudados: Toledo, Areeiro e Barca do Xerez Baixo.
É a pesquisa detalhada neste artigo que permite investigar as particularidades distintas
de cada uma das regiões, examinando os materiais descobertos, as técnicas de produção
empregadas e as possíveis utilizações de tais ferramentas líticas. Concede também uma
análise profunda das estratégias de subsistência e da diversidade dos processos de
manufaturação que caracterizam a época mesolítica.

O período inicial do Mesolítico na península ibérica é principalmente caracterizado pela


sua topografia diversificada e diversos recursos naturais que criam um cenário favorável
para a inovação e diversidade tecnológica.

Através da análise crítica deste artigo, é pretendido atingir uma compreensão


aprofundada relativamente ao papel das tecnologias macro e microlíticas no
desenvolvimento cultural das comunidades mesolíticas na Península Ibérica.

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Estudo do Artigo
A autora inicia o artigo a introduzir o tema que vai ser estudado, anunciando que
foram analisados três sites arqueológicos que apresentam uma grande abundância de
produções líticas da época inicial do Mesolítico e também explicando que a abordagem
científica em cada um dependeu das suas especificidades, tendo em consideração a
diversidade de materiais e processos de manufaturação desenvolvidos no período.

As três amostras recolhidas encontram se espalhadas pelo sudoeste da península


ibérica, sendo estas: Toledo, Areeiro 3 e Barca de Xerez Baixo. Relativamente ao site
Toledo a autora destaca a sua importância por ser bastante diverso e rico, o que
consequentemente o coloca numa posição de primazia como o principal site de conchas
registado na península ibérica. Este local é o representante perfeito do início da vida
costeira, onde são encontrados registos de marisco, moluscos e vários táxons ribeirinhos
em diferentes superfícies da zona, estes eram colhidos diariamente pelos seus
habitantes.

O procedimento implementado para a análise deste site é baseado na


reconstrução mental do processo de produção e tendo em consideração um número de
aspetos morfológicos, técnicos e atributos métricos. Este site é bastante marcado pela
produção de pequenas ferramentas, pela baixa qualidade das matérias-primas,
especialmente as provenientes das rochas siliciosas, isto faz com que haja uma baixa
taxa de transformação e uma produção pouco refinada que não funciona para
instrumentos de caça, assim Toledo tem uma predominância de utensílios domésticos.

O Areeiro é um site aberto, localizado na base do maciço calcário da


Extremadura, no centro de Portugal. Este local não preservou material orgânico como o
carvão, devido à acidez do solo, mas é possível encontrar na área pedra de boa
qualidade, que foi a matéria-prima mais utilizada pelas populações. No entanto, é
possível observar que este site apresenta uma faceta diferente do modo de vida
mesolítico pois está mais relacionado com a exploração das terras altas calcárias do
interior, maioritariamente ligadas a atividades cinegéticas. A abordagem analítica deste
local privilegia o componente de armadura, realizado através de lâminas de boa
qualidade e da aplicação de esquemas carinados, o objetivo principal desta indústria era
a martelação de pequenas peças. Foi também por meio da reconstrução mental do ciclo

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de produção que se consegue obter uma maior definição das técnicas utilizadas,
principalmente em relação à criação de lâminas finas e pequenas.

O último site analisado é a Barca do Xerez de Baixo, que está localizado na


margem direita do rio guadiana, atualmente submerso sob a albufeira do Alqueva. Este
local, tal como os outros, demonstra um registo de várias ocupações temporárias. As
atividades de caça e processamento de carcaças eram recorrentes no local,
principalmente de auroques (bois selvagens). Este local destaca-se pela presença de uma
indústria maioritariamente macrolítica, é vista como sendo a mais representativa da
península ibérica, e pelo seu elevado grau de preservação, que concede uma certa
facilidade para a análise do seu sistema tecnológico. A indústria deste site focava-se
então na produção massiva de lascas provenientes de quartzito, vários fragmentos eram
modificados até se tornarem ferramentas formais que serviam para diversas
funcionalidades entre os quais, trabalhos com couro, osso, minerais, madeira, etc.

O principal questionamento desta autora torna-se de que modo podemos


interpretar a diversidade de utilização matérias-primas em três sites arqueológicos
diferentes, com três soluções líticas diferentes no contexto do início do mesolítico no
SW da Península Ibérica. Deste modo, no fim do artigo a autora procura concluir de
forma breve ao demonstrar como analisou estes três sites, respeitando sempre as
especificidades de cada um, o que permitiu uma melhor compreensão dos materiais
usados e dos pensamentos daqueles que os produziam.

Comparação com outros artigos


Artigo 1- “Microlithic Technology in the Stone Age”

Um dos artigos que escolhi para correlacionar com este tema foi “Microlithic
Technology in the Stone Age” do autor Jan Michael Burdukiewicz, integrante do
instituto de arqueologia da universidade de Wroclaw, na Polónia.

Este artigo corrobora aquilo já antes descrito pela autora Ana Cristina Araújo,
referindo que as tecnologias microlíticas mais reconhecidas são provenientes da época
mesolítica e que na zona da europa estas são muito abundantes. O autor também
relaciona estas pequenas ferramentas como sendo uma descoberta extraordinária que

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demonstra a complexidade da tecnologia humana durante o período mesolítico, refere
também a definição de um conjunto lítico, como sendo distinguidos por serem muito
menores que outras ferramentas de tamanhos normais.

Ambos concordam que é através de variados processos que


estes artefactos são encontrados, e que muitas vezes servem de
diagnóstico para uma diversidade de culturas mesolíticas
afetando assim a adaptação humana a ambientes florestais e
novos terrenos.

Fig.2- Facas mesolíticas compostas do início da era atlântica 1 -


Oleni Ostrov, túmulo 100, Lago Ladoga, Rússia (após Gurina 1956);
2 - Bloksbjerg, Zelândia, Dinamarca (depois de Clark 1975)

Artigo 2- “Reliable and maintainable technologies: artifact


standartization and the early to later mesolithic transition in northern
England”

Este artigo escrito por Jelmer W. Eerkens tem uma abordagem mais especifica
que não encontramos no artigo da Ana Cristina Araújo relativamente á utilização destas
ferramentas para a caça e de que modo eram necessárias nas diferentes estações do ano
na época inicial do mesolítico, refere também a evolução que ocorreu desde o início ao
fim deste período e de que modo estas ferramentas foram influenciadas por essas
mudanças.

O autor deste artigo concorda com o dito anteriormente nos outros dois artigos
analisados, escrevendo que para compreender na sua totalidade, o período mesolítico é
necessário examinar as produções líticas. A análise destas coleções ocorre através de
uma ampla gama de escalas espaciais, sociais e temporais que se tornam num caminho
promissor para expandir o nosso conhecimento sobre o comportamento pré-histórico.
Assim concorda com o descrito no estudo de Ana Cristina Araújo ao atribuir a cada site
as suas devidas especificidades.

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Concorda também na importância de perceber como os produtores desenhavam
as suas armas e de como esse facto pode ser bastante informativo relativamente ao
modo de como as pessoas se adaptavam à cultura material para se encaixarem
naturalmente no ambiente social.

Artigo 3 – “Microlithic variation and the Mesolithic occupations of


western India”

Este artigo foi um trabalho conjunto entre diversos autores, entre os quais estão:
Charusmita Gadekar, Juan José García-Granero, Marco Madella e Ajithprasad
Pottentavida. Este é o artigo mais similar ao de Ana Cristina Araújo pois analisa um
certo site arqueológico específico de modo a obter uma pesquisa detalhada sobre as
produções líticas encontradas, o local escolhido foi Vaharvo Timbo que se encontrava
situado na Aldeia Runi, Sami Taluka do Distrito de Patan em Gujarat na Índia. O
objetivo principal deste estudo é avaliar a natureza do conjunto lítico a partir de uma
ocupação puramente caçadora-coletora.

O período mesolítico na Índia é caracterizado por populações humanas


seminómades que realizavam diversas atividades como a caça, colheitas de alimentos e
pesca, tal como o registado no sudoeste da península ibérica. Há uma verificação do
aumento acentuado da humanidade destas populações atestado pelo crescimento
significativo do número de sites. É também possível referir através da análise destes
locais que muitas das atividades do dia a dia eram realizadas com a ajuda de
ferramentas microlíticas que também podiam ser utilizadas para outras funções como
criar outros instrumentos mais compostos (por exemplo: foices).

Relativamente ao site Vahardo Timbo os pesquisadores referem que a maioria


das ferramentas não demonstra evidencias de danos nas bordas, o que faz questionar o
porquê de as pessoas investirem tempo e energia para as fabricar se depois não as
usavam. Mas também é um facto que os habitantes se encontravam envolvidos em
atividades de caça devido à abundância de restos faunais.

Inicialmente os conjuntos líticos eram classificados pelas suas matérias-primas,


depois iniciou-se a classificação em termos das ferramentas acabadas (retocadas em
formas pré-concebidas) e após surge também a debitação lítica que era feita de acordo

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com as suas características morfológicas. O retoque das ferramentas geométricas visa
transformar uma lâmina numa ferramenta eficiente ao amplificar a borda afiada natural
da mesma, o que nos faz considerar que tenham sido utilizadas como pontas de
projeteis, flechas, farpas e inserções laterais.

Ambos os estudos concordam que esta variabilidade de funções e matérias-


primas necessita de ser explorada minuciosamente por futuros exploradores, para obter
uma melhor compreensão das produções microlíticas e o seu lugar nas sociedades
caçadoras/coletoras mesolíticas.

Fig.3 - Exemplos do conjunto lítico recuperado de


Vaharvo Timbo: a-j) trapézios, k-l) semilunares, m-p)
pontas, q) triângulo isósceles e r-z) vários tipos de
lâminas. Cortesia do Departamento de Arqueologia e
História Antiga, The M.S. Universidade de Baroda,
Vadodara. Créditos das fotos: Ajithprasad P (Projeto
Arqueológico do Norte de Gujarat).

Estes três artigos completam a pesquisa de Ana Cristina Araújo apesar de não
serem realizados com foco na mesma área, mas só por se centralizarem na temática das
tecnologias microlitas na época mesolítica faz com que concordem em vários aspetos
relativamente à importância destas tecnologias e aos seus efeitos no estilo de vida de
população.

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Opinião Argumentativa
Este artigo introduz um tema bastante específico que permite explorar profundamente
certos comportamentos que ocorreram no início do mesolítico relativamente às
produções tecnológicas macro e microlíticas no sudoeste da península ibérica, assim a
autora traz relevância para estas indústrias inicias e o papel que representaram para as
populações futuras.

É através da análise de três sites arqueológicos que a sua pesquisa é conduzida, estes
apesar de nem sempre poderem ser definidos com precisão transmitem diversos
testemunhos e evidências de um passado histórico, que sem as explorações realizadas
nos mesmos estariam perdidos.

A autora utiliza vários termos técnicos específicos que por vezes (especialmente por
estar em inglês) tive mais dificuldade em compreender, isso fez com que procurasse
obter esse esclarecimento através de pesquisa, ficando assim a conhecer várias
denominações de processos utilizados na época mesolítica. Tal ocorreu com o termo
“Flintknapping” que é um processo de redução, que remove o máximo de flocos
possíveis da pedra base, de modo a fazer ferramentas mais pequenas, este método era
maioritariamente utilize no site arqueológico Areeiro 3. Outro termo utilizado foi o
“Debitage Process” que ocorre durante o processo de produção da ferramenta, onde os
“knappers” produzem muito desperdício de flocos, que é chamado de “debitage”, ao
estudar este processo os arqueólogos conseguem obter uma ideia melhor de como as
ferramentas foram feitas e que matérias-primas os seus produtores preferiam.

O artigo está muito bem estruturado e com os tópicos divididos de forma esclarecedora,
isto faz com que se torne mais fácil entender o processo que a autora utilizou para
realizar o seu estudo e quais foram os pontos fundamentais da mesma. É de forma
explicita e aprofundada que a escritora apresenta os sites e as suas características
geomorfológicas principais, que têm bastante influencia para as produções líticas
encontradas em cada um.

É a própria autora que realiza as escavações em Toledo e em BXB o que lhe permite
uma transmissão mais especializada do conhecimento pois coordenou as explorações
arqueológicas que possibilitaram encontrar estes artefactos macro e microlíticos que nos
ajudam a compreender as atividades realizadas na época mesolítica.

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Considero que a autora tem um artigo muito fundamentado e com uma argumentação
incontestável, que é provada através da leitura posterior de outros estudos com o mesmo
tema, mas realizados noutros locais. Não havendo mais pesquisas realizadas no
Sudoeste da península ibérica relativamente a estas tecnologias e a este período
demonstra mais uma vez o grau de importância do estudo da autora, pois descobre e
cataloga vestígios históricos importantes que marcam o início da produção lítica na
sociedade mesolítica.

Conclusão
A partir da análise do artigo escrito pela Arqueóloga Ana Cristina Araújo sobre as
tecnologias macro e microlíticas no sudoeste da Península ibérica no período inicial do
mesolítico podemos extrair diversas conclusões pois transmite uma perspetiva mais
aprofundada sobre as inovações tecnológicas adotas pelas comunidades residentes nesta
região durante o mesolítico, que é um período crucial da Pré-História.

Relativamente as tecnologias microlíticas a autora descreve diversos métodos de


produção mais refinados, e as técnicas como a lascagem sugerem uma continuidade
para com os costumes do paleolítico superior. Estas ferramentas líticas sugerem a sua
utilização em funções especificas como a pesca, caça, colheita de alimentos e a
confeção de outros objetos. As tecnologias macroliticas são menos abordadas, estando
apenas presentes num dos sites, a BXB, estas ferramentas precisavam de processos de
produção diferentes que eram realizados pelos knappers, as suas funcionalidades
estariam mais focadas para atividades de resistência, como a manipulação de objetos
como o couro, madeira, osso, etc. ou o processamento de alimentos.

Para além disso, a autora procura demonstrar a importância do estudo destas produções
líticas para tentar compreender não apenas a parte da evolução técnica, mas também de
que modo estas ferramentas influenciaram as transformações sociais, económicas e
ambientais que delinearam as vidas das comunidades mesólitos na Península Ibérica.

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Sítios Digitais/ Bibliografia

Araújo, Ana. (2022). Changing the Perspective, Adapting the Scale: Macro- and
Microlithic Technologies of the Early Mesolithic in the SW Iberian Peninsula. Open
Archaeology.

BURDUKIEWICZ, J. M. (2005). Microlithic Technology in the Stone Age. Mitekufat


Haeven: Journal of the Israel Prehistoric Society / 351–337 ,‫ ל"ה‬,‫מתקופת האבן‬.
http://www.jstor.org/stable/23383568

Eerkens, J. W. (1998). RELIABLE AND MAINTAINABLE TECHNOLOGIES:


ARTIFACT STANDARDIZATION AND THE EARLY TO LATER MESOLITHIC
TRANSITION IN NORTHERN ENGLAND. Lithic Technology, 23(1), 42–53.
http://www.jstor.org/stable/23273202

Gadekar, Charusmita & García-Granero, Juan José & Madella, Marco & Pottentavida,
Ajithprasad. (2022). Microlithic variation and the Mesolithic occupations of western
India. PLOS ONE. 17. e0267654. 10.1371/journal.pone.0267654.

Referências das Imagens

Fig.1: Areeiro 3: Areeiro bladelets. Photo J. P. Ruas (Disponível no artigo “Changing


the Perspective, Adapting the Scale: Macro- and Microlithic Technologies of the Early
Mesolithic in the SW Iberian Peninsula”)

Fig.2: Facas mesolíticas compostas do início da era atlântica 1 - Oleni Ostrov, túmulo
100, Lago Ladoga, Rússia (após Gurina 1956);2 - Bloksbjerg, Zelândia, Dinamarca
(depois de Clark 1975). (Disponível no artigo “Microlithic Technology in the Stone
Age”.)

Fig.3 - Exemplos do conjunto lítico recuperado de Vaharvo Timbo: a-j) trapézios, k-l)
semilunares, m-p) pontas, q) triângulo isósceles e r-z) vários tipos de lâminas. Cortesia
do Departamento de Arqueologia e História Antiga, The M.S. Universidade de Baroda,
Vadodara. Créditos das fotos: Ajithprasad P (Projeto Arqueológico do Norte de Gujarat).
(Disponível no artigo “Microlithic variation and the mesolithic ocupations of western
India”.)

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